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As várias artes poéticas contemporâneas Fabiano ... - Jornal O Lince

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palavras. Resulta ao mesmo tempo, no fim do poema, um sentido geral claro e expressivo, e um sentido<br />

figurado em cada parte, ambos colaborando para o efeito poético total. (Cândido, 1993).<br />

Dessa maneira, nem é apenas de metáforas que se faz um poema. Com isso, Ezra Pound (1934-1972)<br />

indica três procedimentos básicos para sua criação:<br />

1) Melopeia: musicalidade dos versos a partir dos recursos sonoros e fonéticos, como o ritmo do poema,<br />

a aliteração, assonância, entre outros;<br />

2) Fanopeia: a criação de imagens por meio das palavras dos versos; é o apelo à imaginação visual do<br />

leitor;<br />

3) Logopoeia: é a criação da mensagem do poema; recursos lingüísticos intelectuais ou emocionais.<br />

Portanto, para a produção poética requer-se a manipulação da linguagem, e é por meio de recursos<br />

linguísticos do significante (palavra) e do significado (ideia) que o poeta cria, ou recria, o seu mundo,<br />

dialogando com ele. <strong>As</strong>sim, Décio Pignatari afirma que o poema é um ser de linguagem.<br />

O poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo poema. Está sempre criando e<br />

recriando a linguagem. Vale dizer: está sempre criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo, O<br />

poeta é radical (do latim, radix, radicis = raiz): ele trabalha as raízes da linguagem. Com isso, o mundo<br />

da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos, flores e frutos. É por isso que um poema<br />

parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom) poema não se esgota: ele<br />

cria modelos de sensibilidade. É por isso que um poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o<br />

mais abstrato dos seres. É por isso que um poema é criação pura — por mais impura que seja. É como<br />

uma pessoa, ou como a vida: por melhor que você a explique, a explicação nunca pode substituí-la. É<br />

como uma pessoa que diz sempre que quer ser compreendida. Mas o que ela quer mesmo é ser amada.<br />

(Pignatari, 2004).<br />

Entretanto, esse diálogo nem sempre é harmônico. Sobre isso, Roman Jakobson afirma:<br />

A poesia vive em conflito com o tempo e o pensamento e manifesta essa tensão na linguagem,<br />

construção estética que dialoga com a história, pessoal e coletiva, ao mesmo tempo em que afirma sua<br />

própria identidade como artefato artístico [...] (Toledo, 1971).<br />

Dessa forma, é essa construção estética que interessa ao nosso estudo. Se a poesia vive em conflito<br />

com tempo e o pensamento, como afirma Jakobson, de que forma a poesia brasileira sobrevive em uma<br />

sociedade capitalista de consumo?<br />

Sociedade esta que torna o homem anônimo, mais um em uma grande massa de manobra do sistema<br />

de capital. E esse homem está sem voz. A poesia tenta restaurar, nesse homem, a sua individualidade.<br />

Talvez seja por isso o visível aumento das publicações de poesia, por pequenas ou médias editoras;<br />

edições financiadas pelo próprio autor; suplementos; periódicos; e até mesmo publicações em vários<br />

formatos nos meios virtuais.<br />

Sobre essa produção poética contemporânea, o crítico Manuel da Costa Pinto afirma haver duas<br />

vertentes:<br />

Existem duas ideias sobre a poesia brasileira que são consensuais, a ponto de terem virado lugarescomuns.<br />

A primeira diz que um de seus traços dominantes é o diálogo cerrado com a tradição. Mas não<br />

qualquer tradição. O marco zero, por assim dizer, seria a poesia que emergiu com a Semana de Arte<br />

Moderna de 22. A segunda ideia, decorrente da primeira, é que essa linhagem modernista se bifurca em<br />

dois eixos principais: uma vertente mais lírica, subjetiva, articulada em torno de Mário de Andrade,<br />

Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade; e outra mais objetiva, experimental, formalista,<br />

representada por Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto e a poesia concreta. (Pinto, 2004).<br />

O jornalista e poeta Rodrigo Garcia Lopes, em seu artigo “Muito além da academídia: Poesia brasileira<br />

hoje”, publicado na revista Coyote, fez severas críticas aos critérios adotados por Manuel da Costa Pinto:<br />

A presença de uma palavra como "consenso", logo na segunda linha de um livro que promete mostrar<br />

"a diversidade da nossa história poética e ficcional" (p. 10) é no mínimo perigosa. Como vimos com<br />

Noam Chomsky, o conceito de consenso, nas sociedades democráticas, é manufaturado, escamoteado,<br />

quase sempre para favorecer instituições (fundações, universidades, imprensa, academias, editoras) e<br />

os interesses dos grupos dominantes e hegemônicos da sociedade. A fabricação desse consenso se dá<br />

todos os dias, e a mídia é quem cuida disso, através de fórmulas prontas e muitas vezes subliminares. É<br />

a lógica do mercado interferindo na mente dos cidadãos. Ideias não são consensuais. São um campo de

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