Avaliação Pré-Anestésica em Paciente com Pneumopatia
Avaliação Pré-Anestésica em Paciente com Pneumopatia
Avaliação Pré-Anestésica em Paciente com Pneumopatia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pulmonar que permanecerá após a ressecção parenquimatosa. Em geral, são liberados para a cirurgia os pacientes <strong>com</strong> VEF1 p.<br />
o. previsto acima de 800 ml.<br />
Segall JJ e Butterworth BA, 1966, estudando 20 pacientes submetidos a ressecção pulmonar <strong>com</strong> VEF1 p. o. acima de 0,8 l,<br />
d<strong>em</strong>onstraram uma mortalidade <strong>em</strong> 30 dias de 15%, contrastando <strong>com</strong> uma mortalidade de 50% no mesmo período para aqueles<br />
<strong>com</strong> VEF1 abaixo de 40% (0,8 l). 4<br />
Os pacientes <strong>com</strong> hipertensão pulmonar são aqueles de maior risco anestésico-cirúrgico, inclusive de óbito transoperatório por<br />
ed<strong>em</strong>a agudo de pulmão e/ou des<strong>com</strong>pensação cardíaca, à custa sobretudo do ventrículo direito, manifestações estas decorrentes<br />
das dificuldades de adaptação pressórica e de fluxo na circulação pulmonar, conseqüentes à retirada abrupta de tecido<br />
funcionante. Geralmente são medidas as pressões de artéria pulmonar média <strong>em</strong> repouso e/ou no exercício, havendo contraindicação<br />
ao procedimento nos registros mais elevados (acima de 30 mmHg <strong>em</strong> repouso e 40 mmHg sob exercício).<br />
Os testes clínicos de exercício também são relevantes. Van Nostrand D e cols., já <strong>em</strong> 1968, d<strong>em</strong>onstravam a importância da<br />
limitação funcional clínica ao exercício <strong>com</strong>o um parâmetro a ser observado na indicação cirúrgica. A<strong>com</strong>panhando 91 pacientes<br />
submetidos a pneumonectomia, que mostraram-se incapazes de subir dois andares de escada, registrou uma mortalidade de 50%<br />
<strong>em</strong> 30 dias. 5<br />
Outro teste muito útil <strong>em</strong> situações especiais é o do consumo máximo de oxigênio. Smith TP e cols., 1984, registraram a<br />
ocorrência de 100% de <strong>com</strong>plicações <strong>em</strong> pacientes operados cujo consumo de oxigênio pré-operatório encontrava-se abaixo de<br />
15 ml/kg/min; no grupo <strong>com</strong> taxa de consumo de O2 entre 15 e 20 ml/kg/min, aconteceram <strong>com</strong>plicações <strong>em</strong> 66% dos pacientes; e,<br />
finalmente, nos doentes <strong>com</strong> consumo de O2 acima de 20 ml/kg/min, só houve um caso de <strong>com</strong>plicação .6<br />
Diante de tudo que foi exposto acima, pode-se ressaltar que a medida mais importante no estabelecimento e definição do risco<br />
pulmonar de um procedimento cirúrgico qualquer consiste na obediência à regra-padrão a ser seguida <strong>em</strong> qualquer ato médico:<br />
nihil non nocere (primeiro não prejudicar!).<br />
Análise de risco<br />
A escala de Torrington - 1988 7 permanece <strong>com</strong>o um bom indicador do risco cirúrgico de um paciente pneumopata. Após<br />
meticuloso estudo, ele definiu parâmetros clínico-laboratoriais úteis nesta avaliação, atribuindo-se-lhes escores de acordo <strong>com</strong> a<br />
sua importância clínica:<br />
• espirometria - 0 a 4<br />
• idade - 0 a 1<br />
• obesidade - 0 a 1<br />
• sítio - 0 a 3<br />
• estado pulmonar - 0 a 3<br />
Na espirometria, a relação VEF1/CVF acima de 75% denota boa função (s<strong>em</strong> pontuação); entre 65 e 75% (1 ponto); entre 50 e<br />
65% (2 pontos); e, abaixo de 50% (3 pontos). Além disso, VVM < 50% também vale 1 ponto.<br />
Em relação à idade, considera-se fator de risco (1 ponto) nos casos acima de 65 anos.<br />
Quanto ao sítio cirúrgico, as cirurgias torácicas e aórticas val<strong>em</strong> 2 pontos; as de <strong>em</strong>ergência val<strong>em</strong> também 2 pontos; e as d<strong>em</strong>ais<br />
1 ponto.<br />
A caracterização do estado pulmonar assim se caracterizou: história prévia de pneumopatia (1 ponto), tosse persistente (1 ponto);<br />
vício do fumo (1 ponto); sibilos presentes (1 ponto).<br />
No total, segundo Torrington, de 0 a 3 pontos t<strong>em</strong>os um risco baixo; de 4 a 6 pontos, um risco moderado; e de 7 a 12 pontos<br />
possíveis, um risco cirúrgico elevado.<br />
Ainda sobre a importância de testes de função pulmonar, merece destaque o trabalho pioneiro de Gaensler EA e cols., 1954, <strong>em</strong><br />
que a<strong>com</strong>panharam 460 pacientes portadores de tuberculose pulmonar submetidos a ressecções de parênquima (lobectomia e/ou<br />
pneumonectomia). Houve 50% de mortalidade nos pacientes <strong>com</strong> VVM < 50%, <strong>com</strong>binada <strong>com</strong> CVF < 70% do previsto. 8<br />
Modernamente, Epstein SK e cols., 1993, 9 associaram parâmetros laboratoriais e dados clínicos utilizados nas escalas de<br />
Goldman e Caldera, 1977 - risco cirúrgico do cardiopata submetidos a cirurgias não-cardíacas 10 - e Torrington, 7 na criação de<br />
índices capazes de avaliar o risco cardiopulmonar (IRCP) <strong>com</strong>o um todo. Segundo estes critérios, qualquer fator de risco implicaria<br />
na marcação de um ponto e uma pontuação final acima de quatro implicaria num alto risco para o paciente. Dentre os fatores de<br />
risco utilizados estão:<br />
• Sinais de ICC (turgência jugular, terceira bulha, ou fração de ejeção < 40% no ecocardiograma);<br />
• IAM há menos de 6 meses;<br />
• Contrações ventriculares pr<strong>em</strong>aturas > 5/min;<br />
• Estenose aórtica;<br />
• Condições gerais ruins;<br />
• Obesidade;<br />
• Fumo;<br />
• Tosse produtiva;<br />
• Sibilos;<br />
• Espirometria ruim;<br />
• VEF1/CVF < 70%;<br />
Sociedade Brasileira de Anestesiologia – Curso de Ensino à Distância 2002 4