Megaesôfago – Relato de caso
Megaesôfago – Relato de caso
Megaesôfago – Relato de caso
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Megaesôfago</strong> <strong>–</strong> <strong>Relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong><br />
Adriana Kátia da Rocha Neves 1 , Ana Katharyne Ferreira Fagun<strong>de</strong>s 1 , Breno Menezes dos Santos 1 , Elisa<br />
Paula <strong>de</strong> Oliveira Carieli 1 , Elisângela Nascimento Silva 1 , Francine Maria <strong>de</strong> França Silva 1 , Mariana <strong>de</strong><br />
França Oliveira da Silva 1 , Raylene Me<strong>de</strong>iros Ferreira Costa 1 , Telga Lucena Alves Craveiro <strong>de</strong> Almeida 2 ,<br />
Vanessa Carla Lima da Silva 2 .<br />
Introdução<br />
O esôfago é um órgão tubular,<br />
musculomembranoso, que tem como função transportar<br />
os alimentos da faringe até o estômago. Seu<br />
comprimento é <strong>de</strong> aproximadamente 30 cm em um cão<br />
<strong>de</strong> tamanho médio, e seu calibre varia <strong>de</strong> 2 a 2,5 cm <strong>de</strong><br />
diâmetro, quando vazio [1].<br />
O megaesôfago é uma enfermida<strong>de</strong> caracterizada<br />
pela dilatação generalizada do esôfago, on<strong>de</strong> ocorre<br />
perda parcial ou total do peristaltismo do órgão,<br />
produzida por uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m neuromuscular e po<strong>de</strong><br />
estar presente como manifestação <strong>de</strong> diversas doenças.<br />
Po<strong>de</strong> ser classificado como congênito e idiopático,<br />
on<strong>de</strong> o animal já nasce com ele e a causa é<br />
<strong>de</strong>sconhecida, ou adquirido, que po<strong>de</strong> ocorrer também<br />
<strong>de</strong> forma idiopática no individuo adulto sem<br />
antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> problemas esofágicos, ou secundário a<br />
doenças que causam alterações motoras no esôfago [2].<br />
As principais causas <strong>de</strong> megaesôfago secundário<br />
são miastenia grave, neuropatias <strong>de</strong>generativas,<br />
intoxicações por metais pesados, tumores e problemas<br />
cervicais, alem disso obstruções esofágicas<br />
(extramurais, murais ou intraluminais) comumente<br />
po<strong>de</strong>m causar estenose, com conseqüente dilatação da<br />
porção anterior [1].<br />
A doença é menos freqüente em gatos, e quando<br />
encontrada, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido a anomalias do anel<br />
vascular, corpos estranhos ou espasmo pilórico [2].<br />
Algumas raças <strong>de</strong> cães parecem ter predisposição como<br />
o Schnauzer, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Gol<strong>de</strong>n<br />
Retrivier e Setter Irlandês, já entre os gatos, o siamês<br />
parece ser o <strong>de</strong> maior predisposição [3].<br />
Os sinais clínicos refletem principalmente o<br />
prejuízo no transporte esofageano, com complicações<br />
secundárias como pneumonia por aspiração. O sinal<br />
mais comum nos animais acometidos é a regurgitação,<br />
que é a expulsão <strong>de</strong> alimentos não digeridos a partir do<br />
esôfago, e ocorre freqüentemente logo após a ingestão<br />
<strong>de</strong> sólidos. O animal apresenta emagrecimento e<br />
<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> progressiva, sente fome, mas não consegue<br />
se alimentar, <strong>de</strong>sconforto após as refeições,<br />
<strong>de</strong>sidratação e fraqueza. Em alguns pacientes po<strong>de</strong>-se<br />
palpar o esôfago cervical dilatado contendo alimento<br />
ou gás. Sinais respiratórios, como tosse, respiração<br />
1 Graduandos do curso <strong>de</strong> Medicina Veterinária da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
2 Resi<strong>de</strong>nte do Hospital Veterinário da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco. Av. Dom Manoel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, s/n, Recife, PE.<br />
Apoio: UFRPE<br />
ofegante, e cianose, po<strong>de</strong>m estar presentes, e geralmente<br />
indicam pneumonia por aspiração [4].<br />
O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, e no exame<br />
radiográfico, on<strong>de</strong> é Possível visualizar um esôfago<br />
dilatado, contendo gás e ingesta. Po<strong>de</strong> ocorrer também um<br />
<strong>de</strong>slocamento ventral da traquéia e do coração <strong>de</strong>vido ao<br />
aumento do órgão. Muitas vezes o megaesôfago po<strong>de</strong> não<br />
ser visualizado com clareza na radiografia simples, sendo<br />
necessário a utilização <strong>de</strong> radiografia contrastada, com<br />
administração <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> bário como meio <strong>de</strong><br />
contraste positivo, <strong>de</strong>ixando bastante evi<strong>de</strong>nte a presença<br />
<strong>de</strong> dilatação [4].<br />
O tratamento clínico consiste em pequenas refeições<br />
semi-sólidas ou líquidas em pequenas quantida<strong>de</strong>s com o<br />
animal em posição elevada, mantendo-o por 15 minutos<br />
nesta posição após a refeição [4]. Segundo [5], o<br />
fornecimento <strong>de</strong> pequenas "bolas <strong>de</strong> carne" preparadas a<br />
partir <strong>de</strong> alimento enlatado, com o animal em posição<br />
vertical parece estar associado com menores problemas <strong>de</strong><br />
regurgitação e pneumonia por aspiração.<br />
Material e métodos<br />
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco um canino, da raça<br />
daschund, fêmea, com três meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. O animal<br />
chegou com histórico <strong>de</strong> regurgitação há cerca <strong>de</strong> um mês.<br />
Durante a anamnese foi relatado que a ca<strong>de</strong>la tinha apetite,<br />
e se alimentava com muita voracida<strong>de</strong>, mas após alguns<br />
minutos apresentava regurgitação, bebia água normalmente,<br />
apresentando engasgos eventualmente. Segundo o<br />
proprietário, o animal vinha per<strong>de</strong>ndo peso há um mês. Ao<br />
exame físico foi observado um grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação <strong>de</strong> 5<br />
%, mucosas normocoradas, auscultas cardíaca e pulmonar<br />
sem alteração. Duranto exame, foi oferecido alimento<br />
sólido ao paciente, que ingeriu com gran<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>.<br />
Após alguns minutos o animal regurgitou o alimento.<br />
A suspeita clínica foi <strong>de</strong> megaesôfago idiopático. Foi<br />
solicitado esfofagograma e radiografia da região cervical,<br />
para a visualização do esôfago, e confirmação do <strong>caso</strong>. Os<br />
exames foram realizados no próprio Hospital.
Resultados e Discussão<br />
Apesar da literatura relatar que os animais da raça o<br />
Schnauzer, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Gol<strong>de</strong>n<br />
Retrivier e Setter Irlandês tem maior prediposição o<br />
animal em questão é um daschund [3].<br />
Suspeitou-se <strong>de</strong> mega esôfago <strong>de</strong>vido aos sintomas<br />
clínicos, sendo consi<strong>de</strong>rada congênita e idiopática, pois<br />
não se sabe o que levou o animal a apresentar tal<br />
alteração, e pelo fato <strong>de</strong>sta alteração ter aparecido em<br />
uma ida<strong>de</strong> tão nova, não havendo tempo <strong>de</strong> ser<br />
adquirida [2].<br />
Conforme visto na literatura [4] as radiografias<br />
torácicas revelam mediastino cranial ampliado, com ou<br />
sem evidência <strong>de</strong> pneumonia por aspiração, po<strong>de</strong> ainda<br />
haver evidências <strong>de</strong> um esôfago dilatado, cheio <strong>de</strong> ar,<br />
líquido, ou material ingerido. Tanto no esofagograma,<br />
quanto na radiografia da região cervical, foi possivel<br />
observar dilatação generalizada do órgão, com<br />
conteúdo em seu interior, como citado anteriormente,<br />
confirmando a suspeita <strong>de</strong> megaesôfago.<br />
O tratamento <strong>de</strong> escolha foi sintomático, afim <strong>de</strong><br />
minimizar os sinais clínicos e mudança <strong>de</strong> manejo, para<br />
que o animal pu<strong>de</strong>sse apresentar maior conforto<br />
durante a refeição, e na tentativa <strong>de</strong> reduzir a<br />
regurgitação e aspiração. Foi prescrito metoclopramida<br />
(0,5 mg/kg) e ranitidina (2 mg/kg), e alimentação<br />
pastosa, em posição elevada.<br />
Com aproximadamente 1 mês, o animal retornou ao<br />
Hospital Veterinário apresentando um quadro grave <strong>de</strong><br />
pneumonia por aspiração, e veio a óbito.<br />
O tratamento mais indicado conforme citado na literatura<br />
[4] é a mudança <strong>de</strong> manejo durante a refeição do animal,<br />
mesmo assim, observou-se a importância do<br />
acompanhamento clínico do animal, para que se possa<br />
diagnosticar o quanto antes qualquer agravamento do<br />
quadro, como neste <strong>caso</strong>, em que o animal <strong>de</strong>senvolveu<br />
pneumonia por aspiração, que segundo [4] é um quadro<br />
secundário a enfermida<strong>de</strong>.<br />
Referências<br />
[1] TORRES, P. <strong>Megaesôfago</strong> en el perro. Revision bibliográfica y<br />
proposición <strong>de</strong> una nueva classificación. Archivos <strong>de</strong> Medicina<br />
Veterinária. Valdivia, v.29, n.1, p.13 <strong>–</strong> 23, 1997.<br />
[2] FORBES, D.C.; LEISHMAN, D.E. Megaesophagus in cats.<br />
Canadian Veterinary Journal. V.26, n.11, p.354 <strong>–</strong> 356, 1985.<br />
[3] STURGESS, C.P.; CANDIFIELD, P.J.; GRUFFYD-JONES, T.J.;<br />
STOKES, C.R. A Gross and microscopical morphometric<br />
evaluation of feline large intestinal anatomy. Journal of<br />
Comparative Pathology, Exeter, v.124, n.4, p.255 <strong>–</strong> 264, 2001.<br />
[4] NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Anomalias do anel vascular.<br />
Cap.9, p.125, São Paulo: Manole, 1998.<br />
[5] TWEDT, D.C., Afecções do esôfago. In: ETTINGER, S.J.;<br />
FELDMAN, E.C.. Tratado <strong>de</strong> Medicina Interna Veterinária. Ed.4.<br />
São Paulo: Manole, 1997.