Volume 19 - Número 4 - Dezembro, 2000 - Sociedade Brasileira de ...
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Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />
NEUROCIRURGIA<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA<br />
ISSN 0103-5355<br />
<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> • <strong>Número</strong> 4 <strong>Dezembro</strong> <strong>2000</strong><br />
Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias<br />
assépticas da coluna vertebral<br />
Osteoma craniano<br />
Infarto cerebelar<br />
Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Aneurisma da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Hemangioma vertebral sintomático durante a gravi<strong>de</strong>z<br />
Meralgia parestésica na infância<br />
Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio
Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />
NEUROCIRURGIA<br />
Órgão Oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />
(ISSN 0103-5355)<br />
Junta Editorial<br />
Editores<br />
Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />
Milton K. Shibata<br />
Mário Gilberto Siqueira<br />
Editores Associados<br />
Atos Alves <strong>de</strong> Sousa<br />
Carlos Umberto Pereira<br />
Eduardo Vellutini<br />
Fernando Menezes Braga<br />
Francisco Carlos <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Hélio Rubens Machado<br />
João Cândido Araújo<br />
Jorge Luiz Kraemer<br />
José Alberto Gonçalves<br />
José Carlos Lynch Araújo<br />
José Perez Rial<br />
Manoel Jacobsen Teixeira<br />
Marcos Masini<br />
Nelson Pires Ferreira<br />
Sérgio Cavalheiro
Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia,<br />
órgão oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong><br />
<strong>de</strong> Neurocirurgia, <strong>de</strong>stina-se a<br />
publicar trabalhos científicos sobre neurocirurgia<br />
e ciências afins, inéditos e exclusivos.<br />
Em princípio, são publicados<br />
trabalhos redigidos em português, com<br />
resumos em inglês. Excepcionalmente,<br />
po<strong>de</strong>rão ser redigidos em inglês, com<br />
resumos em português.<br />
Os artigos submetidos à publicação<br />
<strong>de</strong>verão ser classificados em uma das<br />
categorias abaixo:<br />
• Artigos originais: informações<br />
resultantes <strong>de</strong> pesquisa clínica,<br />
epi<strong>de</strong>miológica ou experimental.<br />
Resumos <strong>de</strong> teses e dissertações.<br />
Preten<strong>de</strong>-se que, pelo menos, a<br />
meta<strong>de</strong> das páginas da revista seja<br />
<strong>de</strong>stinada a essa categoria;<br />
• Artigos <strong>de</strong> revisão: sínteses sobre<br />
temas específicos, com análise<br />
crítica e conclusões. As bases <strong>de</strong><br />
dados e o período <strong>de</strong> tempo abrangidos<br />
na revisão <strong>de</strong>verão ser especificados;<br />
• Artigos <strong>de</strong> atualização: artigos que<br />
se <strong>de</strong>stinam a fornecer atualização<br />
dos assuntos relacionados à neurocirurgia,<br />
com aplicações clínicas<br />
úteis e imediatas, dirigidos principalmente<br />
aos resi<strong>de</strong>ntes;<br />
• Relato <strong>de</strong> caso: apresentação, análise<br />
e discussão <strong>de</strong> casos que apresentam<br />
interesse relevante;<br />
• Notas técnicas: notas sobre técnica<br />
operatória e instrumental cirúrgico;<br />
• Artigos diversos: são incluídos, nesta<br />
categoria, assuntos relacionados à<br />
história da neurocirurgia, ao exercício<br />
profissional, à ética médica e a outros<br />
julgados como pertinentes aos objetivos<br />
da revista;<br />
• Cartas ao editor: críticas e comentários,<br />
apresentados <strong>de</strong> forma resumida,<br />
ética e educativa, sobre matérias<br />
publicadas nesta revista. O direito<br />
à réplica é assegurado aos autores<br />
da matéria em questão. As cartas,<br />
quando consi<strong>de</strong>radas aceitáveis<br />
e pertinentes, serão publicadas com<br />
a réplica dos autores.<br />
Normas gerais para publicação<br />
• Os artigos para publicação <strong>de</strong>verão<br />
ser enviados ao Editor, no en<strong>de</strong>reço<br />
apresentado ao final;<br />
Instruções para para para para para os os os os os autores<br />
aaa<br />
a<br />
• Todos os artigos serão submetidos<br />
à avaliação <strong>de</strong>, pelo menos, dois<br />
membros da Junta Editorial;<br />
• Serão aceitos apenas os artigos<br />
originais, cuja parte essencial não<br />
tenha sido publicada previamente.<br />
Os artigos, ou parte <strong>de</strong>les, submetidos<br />
à publicação em Arquivos<br />
Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia,<br />
não <strong>de</strong>verão ser submetidos, concomitantemente,<br />
a outra publicação<br />
científica. Dessas restrições, estão<br />
excluídas as Sinopses e outras publicações<br />
<strong>de</strong> Congressos e Reuniões<br />
Científicas;<br />
• Não serão aceitos artigos que não<br />
correspon<strong>de</strong>rem totalmente às nor mas<br />
aqui <strong>de</strong>scritas;<br />
• O Editor reserva-se o direito <strong>de</strong> recusar<br />
artigos submetidos à publicação<br />
e <strong>de</strong> sugerir ou adotar modificações<br />
para melhorar a clareza e<br />
a estrutura do texto e manter a uniformida<strong>de</strong><br />
no estilo da revista;<br />
• Os originais dos artigos recusados não<br />
serão <strong>de</strong>volvidos. Os autores serão<br />
comunicados por meio <strong>de</strong> carta;<br />
• A or<strong>de</strong>m preferencial <strong>de</strong> publicação será<br />
a cronológica, respeitando-se a proporcionalida<strong>de</strong><br />
acima referida;<br />
• Os direitos autorais <strong>de</strong> artigos publicados,<br />
nesta revista, pertencerão exclusivamente<br />
a Arquivos Brasileiros<br />
<strong>de</strong> Neurocirurgia. É interditada a<br />
reprodução <strong>de</strong> artigos ou ilustrações<br />
publicadas nesta revista, sem o consentimento<br />
prévio do Editor.<br />
Normas para submeter os<br />
artigos à publicação<br />
Os autores <strong>de</strong>vem enviar, ao Editor,<br />
o seguinte material:<br />
• Um original e uma cópia do texto<br />
impresso e editado em espaço duplo,<br />
utilizando fonte 12, em face única<br />
<strong>de</strong> papel branco <strong>de</strong> tamanho “A4”<br />
ou “carta”, respeitando margem<br />
mínima <strong>de</strong> 3 cm ao redor do texto.<br />
• Disquete digitado e formatado <strong>de</strong><br />
maneira idêntica ao original impresso,<br />
com i<strong>de</strong>ntificação do artigo<br />
e do processador <strong>de</strong> texto utilizado.<br />
• Duas coleções completas das ilustrações.<br />
• Declaração, assinada pelo autor<br />
principal, <strong>de</strong> que o trabalho é inédito<br />
e submetido exclusivamente à publicação<br />
em Arquivos Brasileiros<br />
<strong>de</strong> Neurocirurgia. Se for o caso,<br />
expressar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> arcar com as<br />
<strong>de</strong>spesas relativas à reprodução <strong>de</strong><br />
ilustrações coloridas.<br />
Normas para a estrutura dos<br />
artigos<br />
Sempre que possível, os artigos <strong>de</strong>vem<br />
ser estruturados, contendo todos os<br />
itens relacionados abaixo e paginados<br />
na seqüência apresentada:<br />
1. Página-título<br />
• Título do artigo; nome completo <strong>de</strong><br />
todos os autores; títulos universitários<br />
ou profissionais dos autores<br />
principais (máximo <strong>de</strong> dois títulos<br />
por autor); nomes das instituições<br />
on<strong>de</strong> o trabalho foi realizado; título<br />
abreviado do artigo, para ser utilizado<br />
no rodapé das páginas; nome,<br />
en<strong>de</strong>reço completo, telefone, e-mail<br />
e fax do autor responsável pelas correspondências<br />
com o Editor.<br />
2. Resumo<br />
• De forma estruturada, utilizando cerca<br />
<strong>de</strong> 250 palavras, <strong>de</strong>screvendo o objetivo,<br />
os métodos, o material ou a casuística,<br />
as principais contribuições e conclusões;<br />
indicar, em or<strong>de</strong>m alfabética,<br />
até seis palavras-chave (consultar<br />
In<strong>de</strong>x Medicus).<br />
3. Abstract<br />
• Título do trabalho em inglês; tradução<br />
correta do resumo para o inglês; indicar,<br />
em or<strong>de</strong>m alfabética, Keywords compatíveis<br />
com as palavras-chave.<br />
4. Texto principal<br />
• Introdução; casuística ou material<br />
e métodos; resultados; discussão;<br />
conclusão; agra<strong>de</strong>cimentos.<br />
5. Referências<br />
• Relacionar, em or<strong>de</strong>m alfabética,<br />
pelo sobrenome do primeiro autor<br />
e, quando necessário, pelo sobrenome<br />
dos autores subseqüentes; se<br />
existir mais <strong>de</strong> um artigo do mesmo<br />
autor, ou do mesmo grupo <strong>de</strong> autores,<br />
utilizar or<strong>de</strong>m cronológica<br />
crescente; os nomes <strong>de</strong> todos os autores<br />
<strong>de</strong>vem constar em cada referência;<br />
evitar a forma et al.; opcionalmente,<br />
em referências com mais<br />
<strong>de</strong> seis autores, utilize et al. após o<br />
nome do sexto autor; as referências<br />
relacionadas <strong>de</strong>vem, obrigatoriamente,<br />
ter os respectivos números<br />
<strong>de</strong> chamada indicados <strong>de</strong> forma
sobrescrita, em local apropriado do<br />
texto principal; dados não-publicados<br />
ou comunicações pessoais <strong>de</strong>vem ser<br />
citados, como tal, entre parênteses, no<br />
texto, e não <strong>de</strong>vem ser relacionados<br />
nas referências; utilizar abreviatura<br />
adotada pelo In<strong>de</strong>x Medicus para os<br />
nomes das revistas; veja abaixo exemplos<br />
<strong>de</strong> formatação das referências<br />
(observar, em cada exemplo, a pontuação,<br />
a seqüência dos dados, o uso <strong>de</strong><br />
maiúsculas e o espaçamento).<br />
Artigo <strong>de</strong> revista<br />
AGNER C, MISRA M, DUJOVNY M,<br />
KHERLI P, ALP MS, AUSMAN JI:<br />
Experiência clínica com oximetria<br />
cerebral transcraniana. Arq Bras<br />
Neurocir 16:77-85, <strong>19</strong>97.<br />
Capítulo <strong>de</strong> livro<br />
PEERLESS SJ, HERNESNIEMI JA,<br />
DRAKE CG: Surgical management of<br />
terminal basilar and posterior cerebral<br />
artery aneurysms. In Schmi<strong>de</strong>ck HH,<br />
Sweet WH (ed): Operative neurosurgical<br />
techniques. Ed 3. Phila<strong>de</strong>lphia,<br />
WB Saun<strong>de</strong>rs, <strong>19</strong>95, vol 1,<br />
cap 84, pp 1071-86.<br />
Livro consi<strong>de</strong>rado como todo (quando<br />
não há colaboradores <strong>de</strong> capítulos)<br />
MELZACK R: The puzzle of pain. N<br />
York, Basic Books Inc Publishers,<br />
<strong>19</strong>73, pp 50-1.<br />
Tese e Dissertação<br />
PIMENTA CAM: Aspectos culturais,<br />
afetivos e terapêuticos relacionados à<br />
dor no câncer. Tese (Doutorado).<br />
Escola <strong>de</strong> Enfermagem da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> São Paulo. São Paulo, <strong>19</strong>95,<br />
pp 109-11.<br />
Anais e outras publicações <strong>de</strong> congressos<br />
OSTERTAG C: Advances on stereotactic<br />
irradiation of brain tumors. In<br />
Anais do 3 o Simpósio Internacional<br />
<strong>de</strong> Dor, <strong>19</strong>97, São Paulo, pp 77 (abstr).<br />
Artigo disponível em formato eletrônico<br />
INTERNATIONAL COMMITTEE<br />
OF MEDIAL JOURNAL EDITORS:<br />
Uniform requirements for manuscripts<br />
submitted to biomedical journals. Ann<br />
Inter Med 126:36-47, <strong>19</strong>97. Disponível<br />
em URL: http://www.acponline.org/<br />
journals/annals/01jan97/unifreqr.htm.<br />
6. En<strong>de</strong>reço para correspondência<br />
• Colocar, após a última referência,<br />
nome e en<strong>de</strong>reço completos do<br />
autor que <strong>de</strong>verá receber as correspondências<br />
enviadas pelos leitores.<br />
7. Tabelas e quadros<br />
• Devem estar numerados em algarismos<br />
arábicos na seqüência <strong>de</strong><br />
aparecimento no texto; <strong>de</strong>vem estar<br />
editados em espaço duplo,<br />
utilizando folhas separadas para<br />
cada tabela ou quadro; o título <strong>de</strong>ve<br />
ser colocado centrado e acima; notas<br />
explicativas e legendas das<br />
abreviaturas utilizadas <strong>de</strong>vem ser<br />
colocadas abaixo; apresente apenas<br />
tabelas e quadros essenciais; as<br />
tabelas e os quadros editados em<br />
programas <strong>de</strong> computador <strong>de</strong>verão<br />
ser incluídos no disquete, indicando<br />
o nome e a versão do programa<br />
utilizado; caso contrário, <strong>de</strong>verão<br />
ser apresentados impressos em papel<br />
branco, utilizando tinta preta<br />
e com qualida<strong>de</strong> gráfica a<strong>de</strong>quada.<br />
8. Figuras<br />
• Enviar duas coleções completas das<br />
figuras, soltas em dois envelopes<br />
separados; as fotografias <strong>de</strong>vem ter<br />
boa qualida<strong>de</strong>, impressas em papel<br />
brilhante, 9 x 12, sem margens;<br />
letras e setas auto-a<strong>de</strong>sivas po<strong>de</strong>m<br />
ser aplicadas diretamente sobre as<br />
fotografias, quando necessário, e<br />
<strong>de</strong>vem ter tamanho suficiente para<br />
que permaneçam legíveis após<br />
redução; utilizar, obrigatoriamente,<br />
filme “branco-e-preto” para<br />
reproduzir imagens <strong>de</strong> filmes radiográficos;<br />
o nome do autor, o<br />
número e a orientação vertical das<br />
figuras <strong>de</strong>vem ser indicados no<br />
verso <strong>de</strong>stas; os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>vem<br />
ser apresentados em papel branco,<br />
a<strong>de</strong>quado e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, em<br />
dimensões compatíveis com as páginas<br />
da revista e elaborados profissionalmente;<br />
não serão aceitos<br />
fotografias e <strong>de</strong>senhos gerados em<br />
computador ou sob a forma <strong>de</strong> cópias<br />
xerox; gráficos elaborados em<br />
computador <strong>de</strong>vem ser incluídos no<br />
disquete, com indicação do programa<br />
utilizado; os autores <strong>de</strong>verão<br />
arcar com os custos <strong>de</strong> ilustrações<br />
coloridas.<br />
9. Legendas das figuras<br />
• Numerar as figuras, em algarismos arábicos,<br />
na seqüência <strong>de</strong> aparecimento<br />
no texto; editar as legendas, em espaço<br />
duplo, utilizando folha separada;<br />
i<strong>de</strong>ntificar, na legenda, a figura e os<br />
eventuais símbolos (setas, letras etc. )<br />
assinalados nest a; legendas <strong>de</strong> fotomicrografias<br />
<strong>de</strong>vem, obrigatoriamente,<br />
conter dados <strong>de</strong> magnificação e colo -<br />
ração; reprodução <strong>de</strong> ilustração já<br />
publicada <strong>de</strong>ve ser acompanhada da<br />
autorização, por escrito, dos autores<br />
e dos editores da publicação original<br />
e esse fato <strong>de</strong>ve ser assinalado<br />
na legenda.<br />
Outras informações<br />
• Provas da edição serão enviadas aos<br />
autores, em casos especiais ou<br />
quando solicitadas e, nessas circunstâncias,<br />
<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>volvidas, no<br />
máximo, em cinco dias; exceto para<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida, abreviaturas<br />
<strong>de</strong>vem ser evitadas; abreviatura<br />
utilizada pela primeira vez no texto<br />
principal, e nunca no resumo, <strong>de</strong>ve<br />
ser expressa entre parênteses e precedida<br />
pela forma extensa que irá<br />
representar; evite utilizar nomes<br />
comerciais <strong>de</strong> medicamentos; os<br />
artigos não po<strong>de</strong>rão apresentar<br />
dados ou ilustrações que possam<br />
i<strong>de</strong>ntificar um doente; estudo realizado<br />
em seres humanos <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer<br />
aos padrões éticos, ter o consentimento<br />
dos pacientes e a aprovação<br />
da Comissão <strong>de</strong> Ética da Instituição<br />
on<strong>de</strong> foi realizado; os autores<br />
serão os únicos responsáveis<br />
pelas opiniões e conceitos contidos<br />
nos artigos publicados; os autores<br />
serão os únicos responsáveis pela<br />
exatidão das referências bibliográficas<br />
apresentadas; quando apropriado,<br />
ao final do artigo publicado,<br />
serão acrescentados comentários a<br />
respeito <strong>de</strong>le. Esses comentários<br />
serão redigidos por alguém indicado<br />
pela Junta Editorial.<br />
En<strong>de</strong>reço do Editor:<br />
• Milton K. Shibata<br />
Rua Prof. Arthur Ramos, 96, cj. 12<br />
CEP 01454-010 – São Paulo, SP<br />
Telefax: (0xx11) 287-7241<br />
E-mail: mshibata@uol.com.br<br />
neuroh9j@uol.com.br
Presi<strong>de</strong>nte<br />
Cid Célio Jayme Carvalhaes<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte<br />
Mário Augusto Taricco<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Congresso<br />
Flávio Leitão<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte do Congresso<br />
Daniel Figueiredo<br />
Presi<strong>de</strong>nte Eleito da SBN<br />
Marcos Masini<br />
Presi<strong>de</strong>nte Eleito do Congresso<br />
Valter Costa<br />
Tesoureiro<br />
Roberto Colichio Gabarra<br />
Secretário-geral<br />
Benedicto Oscar Colli<br />
Secretaria Geral<br />
Rua Abílio Soares, 233, cj. 113 – CEP 04005-001<br />
Telefax: (0xx11) 3051-2070 – São Paulo, SP<br />
E-mail: neurosbn@zaz.com.br<br />
<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />
Neurocirurgia<br />
Neurocirurgia<br />
Diretoria<br />
(<strong>2000</strong>-2002)<br />
Primeiro Secretário<br />
Jair Leopoldo Raso<br />
Secretário Auxiliar<br />
Aziz Rassi Neto<br />
Conselho Deliberativo<br />
Atos Alves <strong>de</strong> Sousa<br />
Carlos Batista Alves <strong>de</strong> Souza<br />
Carlos Telles<br />
Evandro Pinto da Luz <strong>de</strong> Oliveira<br />
Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />
Jorge Luiz Kraemer<br />
José Carlos Lynch Araújo<br />
Léo Ditzel<br />
Mário Gilberto Siqueira<br />
Nelson Pires Ferreira<br />
Nilton Luiz Latuf<br />
Paulo Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mello<br />
Secretaria Permanente<br />
Rua Leandro Dupret, 204, cj. 52 – CEP 04025-014<br />
Telefax: (0xx11) 5579-1469 – São Paulo, SP<br />
E-mail: neurosbn@originet.com.br<br />
160
Editorial<br />
Prezados colegas<br />
Com este número, estamos iniciando uma nova fase da revista Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />
Neurocirurgia. As principais modificações foram na Junta Editorial e nas normas para análise<br />
<strong>de</strong> artigos submetidos à publicação.<br />
A nova Junta Editorial fica assim constituída:<br />
Editores: Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida, Milton K. Shibata e Mário G. Siqueira<br />
Editores Associados: Atos Alves <strong>de</strong> Sousa, Carlos Umberto Pereira, Eduardo <strong>de</strong> Arnaldo<br />
S. Vellutini, Fernando Menezes Braga, Francisco Carlos <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Hélio Rubens Machado,<br />
João Cândido Araújo, Jorge Luiz Kraemer, José Alberto Gonçalves, José Carlos Lynch Araújo,<br />
José Perez Rial, Manoel Jacobsen Teixeira, Marcos Masini, Nelson Pires Ferreira e Sérgio<br />
Cavalheiro.<br />
Os artigos submetidos para publicação serão analisados <strong>de</strong> acordo com as seguintes<br />
normas:<br />
1. Todos os artigos, <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificados, serão enviados a dois membros da Junta<br />
Editorial <strong>de</strong>sta revista.<br />
2. Após análise crítica do artigo, cada membro da Junta Editorial que o recebeu, sem ter<br />
conhecimento da avaliação feita pelo outro membro, atribuirá grau <strong>de</strong> 1 a 4 e o encaminhará<br />
para os Editores, com sugestões para modificações que julgarem pertinentes.<br />
3. Os artigos que, somados os pontos aferidos pelos dois revisores, alcançarem pontuação<br />
<strong>de</strong> 6 ou mais serão imediatamente aceitos para publicação; aqueles que atingirem<br />
pontuação entre 4 e 6 <strong>de</strong>verão retornar aos autores com sugestões <strong>de</strong> modificações;<br />
os <strong>de</strong>mais não serão aceitos para publicação.<br />
4. Quando apropriado, ao final do artigo aceito para publicação, serão acrescentados<br />
comentários feitos por um neurocirurgião (não necessariamente pertecente à Junta<br />
Editorial), experiente no assunto em questão.<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos aos colegas<br />
Rui D. Carvalho, José Luzio, Arnaldo Gama da Rocha,<br />
Djacir G. Figueiredo e Guilherme Cabral Filho<br />
pelos <strong>19</strong> anos <strong>de</strong> serviços prestados à<br />
Junta Editorial <strong>de</strong>sta revista.
Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />
Rua Prof. Artur Ramos, 96 – cj. 12 – São Paulo, SP – CEP 01454-010 – Telefax: (0xx11) 287-7241<br />
Editado por Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia, socieda<strong>de</strong> sem fins lucrativos, fundada em <strong>19</strong>82,<br />
registrada no CGC sob n o - 48.395.115/0001-59 e no 4 o - Registro <strong>de</strong> Títulos. Este periódico está catalogado no<br />
ISDS sob o n o - ISSN – 0103-5355 e in<strong>de</strong>xado na Base <strong>de</strong> Dados LILACS.<br />
É publicado, trimestralmente, nos meses <strong>de</strong> março, junho, setembro e <strong>de</strong>zembro. São interditadas a<br />
republicação <strong>de</strong> trabalhos e a reprodução <strong>de</strong> ilustrações publicadas em Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />
Neurocirurgia, a não ser quando autorizadas pelo Editor, <strong>de</strong>vendo, nesses casos, ser acompanhadas da<br />
indicação <strong>de</strong> origem.<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte: Dr. José Luzio<br />
Secretário-tesoureiro: Dr. Milton Kazunori Shibata<br />
Pedidos <strong>de</strong> assinaturas ou <strong>de</strong> anúncios <strong>de</strong>vem ser dirigidos à Secretaria Geral da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />
Neurocirurgia.<br />
Assinatura para o Exterior – US$ 35,00.<br />
Produzida e impressa na Lemos Editorial & Gráficos Ltda.<br />
Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista – São Paulo – CEP 01326-010<br />
Telefax: (0xx11) 3371-1855<br />
E-mail: lemos@lemos.com.br<br />
Home-page: http\\www.lemos.com.br<br />
Diretor-presi<strong>de</strong>nte: Paulo Lemos<br />
Diretor-superinten<strong>de</strong>nte: José Vicente De Angelo<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Negócios: I<strong>de</strong>lcio D. Patricio<br />
Diretora comercial: Exalta <strong>de</strong> Camargo Dias<br />
Representante no Rio <strong>de</strong> Janeiro: Roberto Amoêdo – Tel.: (0xx21) 262-9817<br />
Produção gráfica: Altamir França<br />
Produção editorial: Sandra Santana<br />
Diagramação: Flávio Santana<br />
Revisão: Lia Márcia Ando e Ricardo Castro
Índice<br />
<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> – <strong>Número</strong> 4 – <strong>Dezembro</strong>, <strong>2000</strong><br />
ARTIGOS ORIGINAIS<br />
165 Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias<br />
assépticas da coluna vertebral<br />
Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />
Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />
170 Osteoma craniano<br />
Carlos Umberto Pereira, João Domingos Barbosa Carneiro Leão,<br />
Alvino Dutra da Silva, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa,<br />
William Giovanni Panfiglio Soares, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos<br />
174 Infarto cerebelar<br />
Carlos Umberto Pereira, Alvino Dutra da Silva, Diane Guimarães Duarte,<br />
Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />
Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves<br />
ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO<br />
179 Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />
RELATO DE CASOS<br />
184 Aneurisma da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Marcelo Nery Silva<br />
189 Hemangioma vertebral sintomático durante a gravi<strong>de</strong>z<br />
Rogério Gomes Damasceno, Marcelo Luís Mudo, Mirto Nerso Prandini<br />
<strong>19</strong>5 Meralgia parestésica na infância<br />
Carlos Umberto Pereira, Ednaldo Monteiro Fontes Segundo,<br />
João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />
<strong>19</strong>8 Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />
Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo, Belarmino Fonseca Córdoba,<br />
Paulo Henrique Aguiar, José Augusto Buratini, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.,<br />
José Marcus Rotta, Sérgio Rosemberg<br />
NOTÍCIAS<br />
202 Congressos e Reuniões Científicas
Contents<br />
<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> – Number 4 – December, <strong>2000</strong><br />
165 Erythrocyte sedimentation rate and uncomplicated discectomy<br />
Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />
Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />
170 Cranial osteoma. Consi<strong>de</strong>rations about eight cases<br />
Carlos Umberto Pereira, João Domingos Barbosa Carneiro Leão,<br />
Alvino Dutra da Silva, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa,<br />
William Giovanni Panfiglio Soares, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos<br />
174 Cerebellar infarction. Consi<strong>de</strong>rations about 12 cases<br />
Carlos Umberto Pereira, Alvino Dutra da Silva, Diane Guimarães Duarte,<br />
Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />
Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves<br />
179 Clinical applications of hydrodinamics in ventriculoperitoneal shunt<br />
Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />
184 Supraclinoid internal carotid artery aneurysm and facial pain. Case report<br />
Marcelo Nery Silva<br />
189 Spinal hemangioma and pregnancy. Case report<br />
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João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />
<strong>19</strong>8 Brain metastasis from endometrial carcinoma – Contributions to pathophysiology,<br />
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Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo, Belarmino Fonseca Córdoba,<br />
Paulo Henrique Aguiar, José Augusto Buratini, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.,<br />
José Marcus Rotta, Sérgio Rosemberg<br />
202 Announcements<br />
164
Introdução<br />
Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
hemossedimentação nas cirurgias<br />
assépticas da coluna vertebral<br />
Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />
Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />
Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo<br />
RESUMO<br />
Foram estudados 25 p acientes submetidos à discectomia asséptica, cervical ou lombar, analisandose<br />
os valores da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação (VHS) nos períodos pré e pós-operatório.<br />
Os resultados obtidos foram analisados por meio dos testes do qui-quadrado e o t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt,<br />
sendo consi<strong>de</strong>rados estatisticamente significativos quando p < 0,05. Os dados foram compilados<br />
a analisados por meio do programa Epi Info 6, versão 6.01.<br />
Em pacientes com VHS pré-operatória normal, os valores pós-operatórios normalizaram-se mais<br />
precocemente (até cinco semanas) quando comparados àqueles cujos valores estavam aumentados<br />
(até oito semanas), ocorrendo sempre uma queda progressiva <strong>de</strong>sses valores. Na nossa<br />
experiência, o comportamento da VHS no pós-operatório parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r apenas do valor da<br />
VHS no pré-operatório. E esta não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das peculiarida<strong>de</strong>s referentes à doença e à discectomia<br />
propriamente dita, como segmento comprometido (cervical ou lombar), número <strong>de</strong> discos<br />
comprometidos, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se, ou presença <strong>de</strong> fragmento expulso no canal. A<br />
persistência <strong>de</strong> VHS elevada não <strong>de</strong>ve ser imputada a essas particularida<strong>de</strong>s. Portanto, achamos<br />
importante conhecer a VHS pré-operatória e interpretar os valores pós-operatórios juntamente<br />
com o quadro clínico e as alterações <strong>de</strong> neuroimagem.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação. Discite. Hérnia discal.<br />
ABSTRACT<br />
Erythrocyte sedimentation rate and uncomplicated discectomy<br />
Twenty-five patients submitted to aseptic discectomy by the author (cervical and lumbar) were<br />
studied in or<strong>de</strong>r to analyze the variations in erythrocyte sedimentation rate (ESR) before and after<br />
discectomies. The results were analyzed by Chi-square and t Stu<strong>de</strong>nt tests and consi<strong>de</strong>red<br />
statistically relevant when p < 0,05. Data was collected and analyzed by Epi Info program, version<br />
6.01.<br />
Patients with normal ESR before surgery showed a return toward normal values earlier (up to five<br />
weeks), when compared to those with elevated preoperative values (up to eight weeks), although<br />
these values were always <strong>de</strong>creasing. The behavior of ESR during the postoperative period seems<br />
to be <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt only to the preoperative ESR. The preoperative ESR values were not related the<br />
particularities of the disk disease and the discectomy such as location and number of the disk<br />
indicated for surgery, presence of extru<strong>de</strong>d disc fragment in the spinal canal. The persistence of<br />
elevated postoperative ESR should not be attributed to these particularities. Therefore, it is<br />
important to <strong>de</strong>termine the pre-operative ESR value to analyze persistent postoperative high ESR,<br />
in conjunction with the clinical and neuroimaging observations.<br />
KEYWORDS<br />
Erythrocyte sedimentation rate. Discitis. Discectomy.<br />
A discite séptica representa um <strong>de</strong>safio ao cirurgião<br />
da coluna vertebral no que diz respeito ao diagnóstico<br />
e ao tratamento. Os trabalhos existentes até o momento<br />
limitam-se ao estudo retrospectivo dos casos admitidos<br />
em <strong>de</strong>terminada instituição em um certo período, muitas<br />
vezes incluindo adultos e crianças, e com diferentes<br />
<strong>de</strong>finições da doença.<br />
Des<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> do século XX, houve aumento<br />
progressivo na incidência das discites sépticas (0,2%<br />
na década <strong>de</strong> <strong>19</strong>50, 0,8% na década <strong>de</strong> <strong>19</strong>60 e 1,4% na<br />
165
década <strong>de</strong> <strong>19</strong>70), provavelmente em virtu<strong>de</strong> da melhora<br />
nos recursos diagnósticos 4 .<br />
Acredita-se que a discite pós-operatória seja uma<br />
condição freqüentemente <strong>de</strong>scrita, raramente encontrada<br />
e é, sem dúvida, iatrogênica 6 . A incidência varia<br />
<strong>de</strong> 0,2% a 15% 24,26 . Em casos <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se e <strong>de</strong> instrumentação<br />
cirúrgica, a taxa <strong>de</strong> infecção po<strong>de</strong> chegar até<br />
a 8% 9 , e a 10,3% nas reoperações 21 . O espaço mais<br />
freqüentemente acometido é L4-L5, havendo <strong>de</strong>scrição<br />
<strong>de</strong> discite em discos não manipulados na cirurgia 10 .<br />
O risco <strong>de</strong> infecção pós-operatória é maior em<br />
pacientes idosos, diabéticos, <strong>de</strong>snutridos, em uso<br />
prolongado <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s, em longas hospitalizações,<br />
que se submeteram à radioterapia, com<br />
antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> neoplasia e naqueles com disrafismos<br />
espinhais 21,26 .<br />
A presença <strong>de</strong> tecido necrótico e hematoma no<br />
espaço discal age como meio <strong>de</strong> cultura favorável às<br />
discites (locus minoris resistentiae) 4 , po<strong>de</strong>ndo,<br />
também, ocorrer uma inflamação asséptica no espaço<br />
discal operado 16,20 . Puranen e cols. 22 acreditam que as<br />
discites primárias possam ser autolimitadas e na<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-imunização pelo trauma cirúrgico.<br />
Não há, na literatura, um consenso sobre a modalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> tratamento a ser empregada (clínico ou<br />
cirúrgico).<br />
A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação (VHS) é<br />
geralmente utilizada como critério <strong>de</strong> melhora e cura<br />
das discites, contudo, além <strong>de</strong> inespecífica, po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>morar até um ano ou mais para normalizar.<br />
Apesar <strong>de</strong> haver <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> discite com<br />
VHS normal 3,13,<strong>19</strong>,23 , este ainda é o exame mais importante<br />
para o diagnóstico. O método Westergren é <strong>de</strong>scrito<br />
como o mais fi<strong>de</strong>digno e, neste método, os valores<br />
normais da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação, na<br />
primeira hora, estão entre 4 mm e 7 mm, em homens, e<br />
entre 8 mm e 11 mm, em mulheres e crianças, sendo<br />
consi<strong>de</strong>rados estados patológicos os valores <strong>de</strong> VHS<br />
maiores que 15 mm/h 27 .<br />
A VHS não é um exame específico e, portanto, valores<br />
normais da VHS não excluem doença orgânica. A VHS<br />
po<strong>de</strong> estar normal em casos <strong>de</strong> tuberculose e carcinomas<br />
avançados. Valores elevados po<strong>de</strong>m acompanhar as<br />
seguintes situações: aumento da temperatura ambiente,<br />
convalescença <strong>de</strong> processos infecciosos, período pósoperatório,<br />
durante a menstruação e a gravi<strong>de</strong>z normal,<br />
em infecções agudas e crônicas, na presença <strong>de</strong> necrose<br />
e <strong>de</strong>gradação tissular, radioterapia e proteinoterapia,<br />
mieloma múltiplo, colagenoses, anemias e por falhas<br />
técnicas durante a realização do exame. A VHS po<strong>de</strong><br />
apresentar-se reduzida nas policitemias, insuficiência<br />
cardíaca congestiva, cianose, coqueluche, moléstia <strong>de</strong><br />
Niemann-Pick, hipercolesterolemia, terapêutica salicilada,<br />
uso <strong>de</strong> corticosterói<strong>de</strong>s e por falhas técnicas, como<br />
<strong>de</strong>mora na realização do exame, presença <strong>de</strong> bolhas <strong>de</strong> ar<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />
Leal FSCB e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />
ou coágulos no interior do tubo e por excesso <strong>de</strong> anticoagulante<br />
11,27 .<br />
Nos pacientes com discite, a VHS po<strong>de</strong> apresentarse<br />
elevada antes mesmo <strong>de</strong> haver alterações radiológicas<br />
e é o primeiro exame a respon<strong>de</strong>r à antibioticoterapia 8 .<br />
Encontra-se elevada em 47% a 100% dos pacientes com<br />
discite e seus valores variam entre 18 mm/h e 145 mm/<br />
h 2,5,17,18 . Segundo Osenbach e cols. 18 , em apenas 22%<br />
dos pacientes com discite, ao final da antibioticoterapia,<br />
a VHS atinge valores normais; em geral, os valores<br />
da VHS ao final do tratamento diminuem pelo menos<br />
50%. A queda progressiva <strong>de</strong>sses valores ocorre nas 16<br />
semanas após o início do tratamento.<br />
É nosso propósito avaliar se a VHS em doentes<br />
submetidos a discectomias assépticas sofre influência<br />
<strong>de</strong> fatores como: segmento vertebral e número <strong>de</strong> espaços<br />
discais comprometidos, presença <strong>de</strong> fragmento expulso<br />
no canal e elevação pré-operatória <strong>de</strong> seus valores.<br />
Casuística e método<br />
Foram estudados, prospectivamente, 25 pacientes<br />
operados <strong>de</strong> hérnia <strong>de</strong> disco (cervical e lombar),<br />
todos operados pelo autor, com o objetivo <strong>de</strong> analisar<br />
os valores da VHS no período pré e pós-operatório. A<br />
ida<strong>de</strong> dos pacientes variou entre 15 e 64 anos (média<br />
<strong>de</strong> 42,4 anos); 20 eram do sexo masculino.<br />
O segmento abordado foi o cervical em 9 pacientes<br />
(36%) e o lombar em 16 (64%). Sete doentes (28%)<br />
tinham fragmento discal expulso no canal vertebral.<br />
Quanto ao número <strong>de</strong> espaços abordados, 13 pacientes<br />
(52%) foram operados em apenas um espaço, 9 (36%)<br />
em dois espaços e 3 (12%) em três espaços. Artro<strong>de</strong>se<br />
intersomática foi realizada em todas as discectomias<br />
cervicais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do número <strong>de</strong> espaços<br />
abordados. Uma discectomia lombar foi associada à<br />
artro<strong>de</strong>se intertransversa. Três doentes (12%) foram<br />
operados sem apresentar dor no quadro clínico, em<br />
virtu<strong>de</strong> do déficit sensitivo-motor.<br />
A casuística foi dividida em dois grupos:<br />
• Grupo A – constituído por <strong>19</strong> pacientes (76%)<br />
com VHS pré-operatória inferior a 15 mm/h.<br />
• Grupo B – com 6 pacientes (24%) nos quais a<br />
VHS pré-operatória era igual ou maior que<br />
16 mm/h.<br />
Os valores da VHS pré e pós-operatória foram analisados<br />
com o objetivo <strong>de</strong> se avaliar eventuais influências<br />
<strong>de</strong> fatores como: segmento vertebral e número <strong>de</strong> espaços<br />
discais comprometidos que necessitaram a operação,<br />
presença <strong>de</strong> fragmento <strong>de</strong> disco expulso no canal<br />
vertebral, necessida<strong>de</strong> ou não <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se intersomática<br />
e elevação pré-operatória da VHS.<br />
166
Os valores da VHS foram obtidos antes da cirurgia<br />
e semanalmente após a mesma, até que se obtivessem<br />
valores próximos do normal. Nenhum paciente<br />
<strong>de</strong>senvolveu qualquer forma <strong>de</strong> infecção ou processo<br />
inflamatório antes ou após a cirurgia.<br />
Foram utilizados os testes do qui-quadrado e o t <strong>de</strong><br />
Stu<strong>de</strong>nt, sendo consi<strong>de</strong>rados estatisticamente significantes<br />
quando p < 0,05. Os dados foram compilados e<br />
analisados por meio do programa Epi Info 6, versão 6.01.<br />
Resultados<br />
Todos os <strong>19</strong> doentes do grupo A tiveram normalização<br />
da VHS até a quinta semana após a cirurgia; em<br />
78,9% dos pacientes <strong>de</strong>sse grupo a normalização<br />
ocorreu até a terceira semana e, em 94,7%, até a quarta.<br />
A normalização do valor da VHS ocorreu com maior<br />
freqüência até a segunda semana após a cirurgia<br />
(47,4%) e o tempo médio observado para a normalização<br />
nesse grupo foi <strong>de</strong> 2,5 semanas (Tabela 1).<br />
No grupo B, a VHS pós-operatória <strong>de</strong>morou até<br />
oito semanas para normalizar-se e em apenas 66,7%<br />
dos casos o retorno ao normal ocorreu até a quarta<br />
semana (Tabela 1).<br />
Após a terceira semana <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cirurgia, a média<br />
dos valores da VHS foi <strong>de</strong> 14,5 mm/h no grupo A e <strong>de</strong> 34<br />
mm/h no grupo B.<br />
Os valores da VHS pré-operatória não sofriam<br />
influência do segmento abordado (cervical ou lombar),<br />
do número <strong>de</strong> discos operados, da presença <strong>de</strong> fragmento<br />
expulso no canal vertebral, ou da presença <strong>de</strong> fragmento<br />
discal expulso no canal vertebral (Tabelas 2, 3 e 4).<br />
Tabela 1<br />
Distribuição dos 25 pacientes <strong>de</strong> acordo com o tempo<br />
necessário para a normalização da VHS pós-operatória<br />
Tempo para normalizar a<br />
VHS (semanas)<br />
1 2 3 4 5 6 7 8<br />
Grupo A (n = <strong>19</strong>) 3 9 3 3 1 0 0 0<br />
Grupo B (n = 6)<br />
n = número <strong>de</strong> pacientes<br />
0 1 1 2 0 0 1 1<br />
Tabela 2<br />
Distribuição dos 25 pacientes <strong>de</strong> acordo com o segmento<br />
operado e a VHS pré-operatória<br />
Segmento afetado Grupo A (n = <strong>19</strong>) Grupo B (n = 6)<br />
Cervical 8 1<br />
Lombar<br />
n = número <strong>de</strong> pacientes<br />
*p > 0,05 (p = 0,267)<br />
11 5<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />
Leal FSCB e cols.<br />
Discussão<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />
Tabela 3<br />
Distribuição dos pacientes quanto ao número <strong>de</strong> discos<br />
comprometidos e à VHS pré-operatória<br />
Níveis comprometidos Grupo A (n=<strong>19</strong>) Grupo B (n=6)<br />
1 11 2<br />
2 5 4<br />
3 3 0<br />
Total<br />
n = número <strong>de</strong> pacientes<br />
* p > 0,05 (p = 0,170)<br />
1 9 6<br />
Tabela 4<br />
Distribuição dos pacientes quanto à presença <strong>de</strong> fragmento<br />
<strong>de</strong> disco extruso no canal e à VHS pré-operatória<br />
Fragmento expulso Grupo A (n=<strong>19</strong>) Grupo B (n=6)<br />
Sim 5 2<br />
Não 14 4<br />
Total 1 9 6<br />
n = número <strong>de</strong> pacientes operados<br />
p > 0,05 (p = 0,556)<br />
A VHS no grupo A levou até cinco semanas para<br />
normalizar-se após a cirurgia, enquanto no grupo B<br />
levou até oito semanas, e neste grupo a média <strong>de</strong><br />
valores pós-operatórios da VHS foi mais elevada em<br />
relação ao primeiro grupo.<br />
Schulitz e Assheuer 25 acompanharam 31 pacientes<br />
operados <strong>de</strong> discectomia lombar em apenas um nível<br />
e verificaram que a VHS aumenta normalmente em<br />
torno do quinto dia pós-operatório e, em seguida,<br />
diminui progressivamente. Esses dados não foram por<br />
nós observados, conforme <strong>de</strong>monstrado na tabela 1.<br />
Kornberg 15 observou que os valores da VHS após<br />
discectomias <strong>de</strong>vem retornar aos níveis próximos do<br />
normal em até quatro semanas, enfatizando a necessida<strong>de</strong><br />
do conhecimento dos valores pré-operatórios<br />
para a interpretação correta dos mesmos após a<br />
cirurgia. O mesmo autor estudou dois grupos <strong>de</strong><br />
doentes submetidos à discectomia – um grupo com<br />
VHS pré-operatória inferior a 20 mm/h e um segundo<br />
grupo com VHS superior a 20 mm/h – e verificou que<br />
os valores obtidos duas semanas após a cirurgia<br />
<strong>de</strong>vem ser inferiores aos valores obtidos entre o<br />
terceiro e o quinto dia pós-operatório, normalizandose<br />
ao final <strong>de</strong> quatro semanas. Tais resultados diferem<br />
dos nossos em que houve casos com VHS elevada<br />
até a oitava semana <strong>de</strong> cirurgia.<br />
Jönsson e cols. 12 realizaram estudo semelhante<br />
com 110 pacientes operados da coluna lombar e<br />
avaliaram a VHS pré e pós-operatória. Observaram<br />
que a VHS normaliza-se geralmente até a segunda<br />
167
semana <strong>de</strong> cirurgia e <strong>de</strong>screveram um aumento rápido<br />
<strong>de</strong>sta no quarto dia pós-operatório, sendo mais<br />
pronunciado nos casos submetidos à artro<strong>de</strong>se<br />
póstero-lateral (média <strong>de</strong> 102 mm/h) do que naqueles<br />
submetidos apenas à discectomia (média <strong>de</strong> 75 mm/h).<br />
Tais achados não foram reproduzidos em nosso<br />
estudo, contudo, <strong>de</strong>vemos ressaltar que o número<br />
<strong>de</strong> pacientes por nós estudado foi menor e 36% dos<br />
casos foram operados da coluna cervical, o que foi<br />
responsável por 90% das artro<strong>de</strong>ses realizadas pela<br />
técnica <strong>de</strong> Smith e Robinson.<br />
A localização do segmento comprometido (cervical<br />
ou lombar), o número <strong>de</strong> discos comprometidos – com<br />
indicação para discectomia – por doente, a necessida<strong>de</strong><br />
ou não <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se, ou a presença <strong>de</strong> fragmento<br />
expulso no canal não mostraram qualquer<br />
influência sobre os valores da VHS pré-operatória em<br />
nosso estudo.<br />
Grollmusn e cols. 7 <strong>de</strong>monstraram que a VHS em<br />
pacientes submetidos a discectomias lombares po<strong>de</strong><br />
atingir valores <strong>de</strong> até 118 mm/h após a primeira semana<br />
<strong>de</strong> cirurgia, com retorno gradual aos níveis préoperatórios<br />
até a sexta semana, e consi<strong>de</strong>raram que a<br />
<strong>de</strong>terminação seriada da VHS é mais importante no<br />
diagnóstico precoce da infecção.<br />
Bircher e cols. 1 chamaram a atenção para o fato <strong>de</strong><br />
todos os pacientes com discite em sua série possuírem<br />
VHS superior a 50 mm/h após duas semanas <strong>de</strong> cirurgia<br />
e consi<strong>de</strong>raram sugestivo <strong>de</strong> discite séptica qualquer<br />
paciente com dor lombar crescente e VHS acima <strong>de</strong><br />
52 mm/h após esse período.<br />
Kapp e Sybers 14 acompanharam 16 pacientes<br />
operados <strong>de</strong> hérnia <strong>de</strong> disco lombar com VHS préoperatória<br />
normal e concluíram que, nestes, os valores<br />
pós-operatórios não ultrapassavam 25 mm/h após a<br />
primeira semana da cirurgia; por outro lado, aqueles<br />
com valores pré-operatórios elevados mostravam<br />
aumentos maiores, embora, ao final <strong>de</strong> três semanas,<br />
esses valores fossem inferiores aos valores iniciais.<br />
Em nosso estudo, os pacientes com VHS pré-operatória<br />
normal tiveram valores pós-operatórios <strong>de</strong> até<br />
75 mm/h e levaram até cinco semanas para normalização.<br />
Entre os pacientes que possuíam valores préoperatórios<br />
elevados, ao final <strong>de</strong> três semanas, apenas<br />
50% mostraram valores inferiores aos do pré-operatório<br />
e levaram até oito semanas para normalizar.<br />
Observamos que em ambos os grupos estudados,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do tempo transcorrido para a<br />
normalização da VHS, ocorreu sempre uma diminuição<br />
gradual <strong>de</strong> seus valores. Isto nos permitiu supor que,<br />
em pacientes submetidos a discectomias, a queda progressiva<br />
da VHS é um dado significativo e que a<br />
persistência <strong>de</strong> valores elevados, ou um novo aumento<br />
da mesma, <strong>de</strong>ve levar à suspeita <strong>de</strong> infecção.<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />
Leal FSCB e cols.<br />
Conclusão<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />
A análise dos dados nos permitiu concluir que os<br />
valores pré-operatórios da VHS em cirurgias <strong>de</strong> hérnia<br />
discal não parecem sofrer qualquer influência da<br />
localização do segmento comprometido (cervical ou<br />
lombar), do número <strong>de</strong> discos comprometidos com<br />
indicação para discectomia ou da presença <strong>de</strong><br />
fragmento expulso no canal vertebral.<br />
Em pacientes com VHS pré-operatória normal, os<br />
valores pós-operatórios normalizaram mais precocemente<br />
(até cinco semanas) quando comparados àqueles<br />
cujos valores estão aumentados (até oito semanas),<br />
ocorrendo sempre uma queda progressiva <strong>de</strong>sses<br />
valores. Na nossa experiência, o comportamento da VHS<br />
no pós-operatório parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r apenas do valor<br />
do VHS no pré-operatório. Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das peculiarida<strong>de</strong>s,<br />
acima <strong>de</strong>scritas, referentes à doença discal e à<br />
discectomia propriamente dita. A persistência <strong>de</strong> VHS<br />
elevada não <strong>de</strong>ve ser imputada a essas particularida<strong>de</strong>s.<br />
Portanto, achamos importante conhecer a VHS préoperatória<br />
e interpretar os valores pós-operatórios<br />
juntamente com o quadro clínico e as alterações <strong>de</strong><br />
neuroimagem.<br />
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Bone Joint Surg 51A:713-6, <strong>19</strong>69.<br />
21. PIOTROWSKI WP, KROMBHOLTZ MA, MÜHL B:<br />
Spondylodiscitis after lumbar disk surgery. Neurosurg<br />
Rev 17:189-93, <strong>19</strong>94.<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />
Leal FSCB e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />
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101, <strong>19</strong>26.<br />
Original recebido em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Francisco Sérgio C. Barros Leal<br />
Rua Engenheiro Fernando <strong>de</strong> Mattos, 262 – sala 21<br />
CEP 12010-110 – Taubaté, SP<br />
E-mail: fcsergio@uol.com.br<br />
169
Osteoma craniano<br />
Consi<strong>de</strong>rações sobre oito casos<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />
Carlos Umberto Pereira*, João Domingos Barbosa Carneiro Leão**,<br />
Alvino Dutra da Silva**, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa***,<br />
William Giovanni Panfiglio Soares***, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos***<br />
Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe. Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do<br />
Hospital João Alves Filho. Aracaju, SE<br />
RESUMO<br />
O osteoma craniano tem sido bastante relatado na literatura médica. Estima-se uma incidência<br />
<strong>de</strong> 0,1% a 0,43% no crânio. O osteoma po<strong>de</strong> ser esponjoso ou, mais comumente, do tipo sólido<br />
compacto. Sua etiologia é ainda hoje <strong>de</strong>sconhecida e várias hipóteses têm sido consi<strong>de</strong>radas,<br />
como infecções, trauma, radiações ionizantes e até mesmo influência hormonal. Afeta mais o<br />
sexo feminino e a ida<strong>de</strong> adulta. A localização mais freqüente no crânio é no osso frontal. Na<br />
maioria dos casos é achado radiográfico aci<strong>de</strong>ntal ou manifesta-se como exostose.<br />
Os autores apresentam oito casos <strong>de</strong> osteoma craniano. O sexo masculino foi o mais afetado,<br />
representado por seis casos. A ida<strong>de</strong> dos pacientes variou <strong>de</strong> <strong>19</strong> a 79 anos, com uma média <strong>de</strong> 56<br />
anos. A localização dos osteomas foi occipital em três casos, frontal em três e parietal em dois.<br />
As queixas principais foram exostose em oito casos e dor local em sete. Todos os pacientes<br />
foram submetidos à radiografia simples do crânio e ao exame <strong>de</strong> tomografia computadorizada.<br />
Sete pacientes foram submetidos à ressecção cirúrgica, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco<br />
pacientes. Um paciente recusou a cirurgia. Não ocorreu óbito.<br />
A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalho é apresentar nossa experiência em osteoma craniano, chamando a<br />
atenção para sua benignida<strong>de</strong> e para o fato <strong>de</strong> que a ressecção cirúrgica é curativa quando não<br />
houver extensão intracraniana importante, bem como resolve o problema estético.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Osteoma. Tumor craniano.<br />
ABSTRACT<br />
Cranial osteoma. Consi<strong>de</strong>rations about eight cases<br />
Skull osteoma has been quite reported in medical literature. A 0.1% to 0.43% inci<strong>de</strong>nce is estimated<br />
in the skull. Osteoma can be spongy but it is more commonly of the compact solid type. Its etiology<br />
is still unknown, infection, trauma, ionizing radiation and even hormonal influence having been<br />
consi<strong>de</strong>red. It affects more adult females. The most frequent location in the skull is in the frontal<br />
bone. In most of the cases, they are acci<strong>de</strong>ntal radiographic findings or associated with local<br />
swelling.<br />
The authors present eight cases of skull osteoma. In this series there was a male prepon<strong>de</strong>rance<br />
(6:2). The age of the patients varied from <strong>19</strong> to 79 years (average of 56 years). The location of the<br />
osteomas was: occipital in three, frontal in three and parietal in two cases. The main complaints<br />
were local swelling in eight and local pain in seven cases. All patients were submitted to plain skull<br />
radiography and computerized tomography scans. Seven patients were submitted to the surgical<br />
resection, followed by cranioplasty in five. One patient refused surgical treatment. The surgical<br />
treatment was curative with excellent esthetic result in all.<br />
Cranial osteomas are benign lesions and its surgical resection is curative when its intracranial<br />
extension is not important.<br />
KEYWORDS<br />
Osteoma. Skull tumors.<br />
* Professor-Adjunto Doutor do Departamento <strong>de</strong> Medicina da UFS. Neurocirurgião do Hospital João Alves Filho, Aracaju, SE.<br />
** Neurocirurgião do Hospital João Alves Filho, Aracaju, SE.<br />
*** Acadêmico <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Aracaju, SE.<br />
170
Introdução<br />
O osteoma po<strong>de</strong> afetar qualquer osso do esqueleto<br />
humano, mas envolve predominantemente o crânio e a<br />
mandíbula 3,4,9 . No crânio, localiza-se freqüentemente<br />
nos seios frontal e etmoidal e no ápex petroso. É<br />
geralmente assintomático e o tratamento i<strong>de</strong>al é o<br />
cirúrgico, com prognóstico excelente.<br />
O osteoma craniano é um tumor benigno, anatomicamente<br />
circunscrito, composto <strong>de</strong> osso <strong>de</strong>nso, originado<br />
no periósteo dos ossos do crânio 1,3,5,13 . Estima-se<br />
que a incidência <strong>de</strong>sse tumor seja <strong>de</strong> 0,1% a 1% <strong>de</strong><br />
todos os tumores benignos do crânio 14 . Sua etiologia é<br />
ainda hoje <strong>de</strong>sconhecida 11 .<br />
Os autores apresentam oito casos <strong>de</strong> osteoma craniano<br />
e discutem sua localização, diagnóstico, tratamento<br />
e prognóstico.<br />
Casuística<br />
Foram estudados, retrospectivamente, oito casos<br />
<strong>de</strong> osteoma craniano, durante o período <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
<strong>19</strong>92 a agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong>, no Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do<br />
Hospital João Alves Filho (Aracaju, SE). O sexo<br />
masculino foi o mais acometido, com seis casos. As<br />
ida<strong>de</strong>s variaram <strong>de</strong> <strong>19</strong> a 79 anos, com média <strong>de</strong> 56 anos.<br />
A distribuição dos osteomas, segundo a localização,<br />
está apresentada na figura 1: três no osso frontal, três<br />
no occipital e dois no parietal. Um dos osteomas frontais<br />
tinha extensão para cavida<strong>de</strong> intracraniana. As queixas<br />
mais comuns foram dor local e tumefação. Todos os<br />
pacientes foram submetidos a radiografia simples e<br />
tomografia computadorizada craniana. Sete pacientes<br />
Figura 1 – Distribuição da localização anatômica dos<br />
osteomas na casuística.<br />
Osteoma craniano<br />
Pereira CU e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />
foram submetidos à ressecção cirúrgica da lesão,<br />
seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco pacientes. Não<br />
encontramos transformação maligna e não houve<br />
mortalida<strong>de</strong> nesta série.<br />
Discussão<br />
O osteoma é um tumor benigno do osso esponjoso<br />
ou compacto, <strong>de</strong> crescimento lento, doloroso e bem<br />
diferenciado 1 . Sua incidência no crânio varia <strong>de</strong> 0,1% a<br />
1% dos tumores ósseos benignos 14 . Afeta mais<br />
indivíduos entre a quarta e a quinta décadas da vida.<br />
Em nossa casuística, a média das ida<strong>de</strong>s foi <strong>de</strong> 56 anos.<br />
Acomete mais o sexo feminino da segunda à quinta<br />
décadas da vida 7,13 .<br />
No crânio, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se em qualquer parte,<br />
mas localiza-se principalmente nos seios frontal e<br />
etmoidal e no ápex petroso 4,11 . Raramente po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>rse<br />
para a cavida<strong>de</strong> intracraniana 6 .<br />
Haddad e cols. 5 classificaram o osteoma craniano,<br />
baseados na distribuição topográfica, freqüência e<br />
sintomatologia, em quatro categorias: 1) osteoma<br />
intracraniano, a forma mais rara e confundida com<br />
calcificações intracranianas; 2) osteoma dural, observado<br />
principalmente na foice cerebral, geralmente<br />
assintomático e achado aci<strong>de</strong>ntalmente; 3) osteoma da<br />
base do crânio, o tipo mais freqüente, que acomete<br />
mais a região frontoetmoidal e petrosa; 4) osteoma do<br />
calvário, a menos freqüente, que se apresenta sob a<br />
forma exostótica.<br />
Em nossa casuística, a localização foi frontal em<br />
três casos, occipital em três e parietal em dois casos.<br />
Um dos casos tinha extensão intracraniana (Figura 2).<br />
Figura 2 – TC <strong>de</strong>monstrando osteoma frontal direito, com<br />
invasão intracraniana.<br />
171
A etiologia <strong>de</strong>sses tumores é, ainda hoje, controversa.<br />
Tem sido relatada a sua associação com infecção, trauma,<br />
radiações ionizantes e, até mesmo, com influência<br />
hormonal 11 . Quando localizado no crânio ou mandíbula e<br />
associado com pólipos intestinais, fibromatose do tecido<br />
conjuntivo e cisto epi<strong>de</strong>rmal cutâneo constitui a síndrome<br />
<strong>de</strong> Gardner 2,16 . Em nossa casuística, dois pacientes<br />
apresentavam história prévia <strong>de</strong> trauma craniano.<br />
O osteoma craniano cresce lentamente e raramente<br />
causa sintomas clínicos, sendo <strong>de</strong>scoberto aci<strong>de</strong>ntalmente<br />
em radiografias simples do crânio realizadas por<br />
motivos diversos 1,3,9,11,16 . Po<strong>de</strong>, porém, provocar dor e<br />
tumefação, e seu crescimento po<strong>de</strong> causar sintomas <strong>de</strong><br />
caráter compressivo. A sintomatologia do osteoma<br />
localizado na região fronto-orbital é variável e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
da direção do crescimento do mesmo, po<strong>de</strong>m<br />
ocorrer abscesso cerebral, cefaléia, distúrbios da fala,<br />
<strong>de</strong>formida<strong>de</strong> craniana, hipoacusia, diplopia, crises<br />
convulsivas, hemiplegia, pneumoencéfalo, rinoliquoréia,<br />
meningite e mucocele 1,3,4, 7,8,9,10,16 .<br />
São facilmente i<strong>de</strong>ntificados na radiografia simples<br />
<strong>de</strong> crânio como uma área radioluzente com zona central<br />
<strong>de</strong> calcificação 5,7,13 . A tomografia computadorizada é o<br />
melhor meio diagnóstico. Nesse exame, o osteoma<br />
apresenta-se como um tecido ósseo <strong>de</strong> baixa opacida<strong>de</strong><br />
e bem <strong>de</strong>limitado, envolvido por uma área esclerótica<br />
<strong>de</strong> alta opacida<strong>de</strong> 3,9 (Figuras 3 e 4). Na cintilografia<br />
óssea, o tumor apresenta-se com hipercaptação. A<br />
ressonância magnética nuclear é ótima para visibilizar<br />
o tecido inflamatório ao redor da lesão 9,11,15,16 .<br />
Ao exame macroscópico, apresenta uma zona <strong>de</strong><br />
hiperostose homogênea, bem <strong>de</strong>finida, com características<br />
<strong>de</strong> osso lamelar <strong>de</strong>nso crescendo para fora, sem<br />
produzir efeito <strong>de</strong> massa, com infiltração ou alteração<br />
do espaço da medula óssea. Ao exame <strong>de</strong> microscopia<br />
óptica apresenta-se como osso esclerótico, lamelar e<br />
<strong>de</strong>nso, similar à cortical do osso 4,11 .<br />
Osteoma craniano<br />
Pereira CU e cols.<br />
Figura 3 – TC apresentando osteoma frontal.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />
Figura 4 – TC <strong>de</strong>monstrando osteoma occipital esquerdo.<br />
No diagnóstico diferencial, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados<br />
o meningeoma calcificado, o fibroma ossificante, a<br />
displasia fibrosa, o sarcoma osteogênico, a doença <strong>de</strong><br />
Paget e o hemangioma, que são distinguidos, geralmente,<br />
pelos exames <strong>de</strong> imagem associados ao estudo<br />
anatomopatológico 4,7, 9,11,13 .<br />
O tratamento do osteoma craniano é a ressecção<br />
cirúrgica da lesão, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em casos <strong>de</strong><br />
falhas ósseas extensa 4,5,9 . A recidiva é rara e a transformação<br />
maligna não tem sido relatada na literatura médica 9 .<br />
Na nossa série, sete pacientes foram submetidos à<br />
exérese total da lesão, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco<br />
casos. Um paciente, no qual o osteoma foi achado<br />
aci<strong>de</strong>ntal, rejeitou o tratamento cirúrgico e encontra-se<br />
em acompanhamento ambulatorial. Os pacientes<br />
operados tiveram boa evolução curativa e estética.<br />
Concluímos que o osteoma é um tumor benigno, <strong>de</strong><br />
evolução lenta, cuja ressecção cirúrgica cura o doente,<br />
com resultado estético muito bom e prognóstico<br />
excelente quando não é acompanhado <strong>de</strong> complicações<br />
intracranianas.<br />
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Osteoma craniano<br />
Pereira CU e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />
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16. VIALOGO JGG, DIAS VG, PADULA MC, LEITE LVO:<br />
Osteoma nasofronto-orbitário associado com<br />
mucocele e abscesso cerebral: relato <strong>de</strong> caso e<br />
revisão da literatura. J Bras Neurocirurg 10:72-7, <strong>19</strong>99.<br />
Original recebido em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em novembro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Carlos Umberto Pereira<br />
Av. Augusto Maynard, 245/404<br />
CEP 49015-380 – Aracaju, SE<br />
E-mail: umberto@infonet.com.br<br />
173
Introdução<br />
Infarto cerebelar<br />
Consi<strong>de</strong>rações sobre 12 casos<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />
Carlos Umberto Pereira*, Alvino Dutra da Silva**, Diane Guimarães Duarte***,<br />
Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves***, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>***,<br />
Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves***<br />
Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital João Alves Filho. Aracaju, SE<br />
RESUMO<br />
Trata-se <strong>de</strong> estudo retrospectivo sobre 12 casos <strong>de</strong> infarto cerebelar. Sete pacientes eram do<br />
sexo masculino e cinco, do feminino. A ida<strong>de</strong> variou entre 46 e 76 anos, com média <strong>de</strong> 54 anos. As<br />
causas foram hipertensão arterial sistêmica em seis, endocardite bacteriana em três e<br />
<strong>de</strong>sconhecida em outros três. A cefaléia foi sintoma presente em <strong>de</strong>z pacientes, vômitos em oito,<br />
tonteiras em oito, ataxia da marcha em sete e vertigem em quatro. A tomografia do crânio foi útil<br />
no diagnóstico e conduta. Onze pacientes foram submetidos a tratamento conservador. Derivação<br />
ventricular externa e craniectomia suboccipital foram realizadas em um paciente. Houve quatro<br />
óbitos. O prognóstico esteve diretamente relacionado ao nível <strong>de</strong> consciência por ocasião da<br />
admissão, da extensão do infarto e da ida<strong>de</strong> do paciente.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Infarto cerebelar. Cerebelo. Tratamento.<br />
ABSTRACT<br />
Cerebellar infarction. Consi<strong>de</strong>rations about 12 cases<br />
A retrospective study on twelve cases of cerebellar infarction was done. Seven patients were men<br />
and five were women. The age ranged from 46 to 76 years (average 54 years). The causes of the<br />
infarction were systemic arterial hypertension in six, bacterial endocardites in three, and could not<br />
<strong>de</strong>termined in three. Ten patients presented with headaches, eight with vomiting, eight with vertigo,<br />
seven with ataxia and four with dizziness. CT was useful in the diagnosis and management. Only<br />
one patient was submitted to surgical treatment (external ventricular drainage and suboccipital<br />
craniectomy). There were four <strong>de</strong>aths. The prognosis was directly related to the patient’s level of<br />
consciousness at admission, extent of the infarctation and the age of the patient.<br />
KEYWORDS<br />
Cerebellar infarction. Cerebellum. Treatment.<br />
O infarto cerebelar é menos freqüente que o cerebral<br />
e representa apenas 1,5% a 3% <strong>de</strong> todos os infartos<br />
encefálicos 8,26,37,39 . Com o advento da tomografia<br />
computadorizada (TC) e da ressonância nuclear<br />
magnética (RNM), o diagnóstico <strong>de</strong> infarto cerebelar<br />
tem sido mais freqüente. Sua principal causa é a<br />
aterosclerose, seguida <strong>de</strong> êmbolos cardíacos 4,21,39 . O<br />
tratamento ainda hoje é bastante controverso e o<br />
prognóstico está diretamente relacionado com a ida<strong>de</strong><br />
do paciente, extensão do infarto e estado <strong>de</strong> consciência<br />
do paciente por ocasião da admissão.<br />
* Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe.<br />
** Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital João Alves Filho.<br />
*** Acadêmico <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe.<br />
Os autores apresentam 12 casos <strong>de</strong> infarto cerebelar<br />
e discutem o quadro clínico, o diagnóstico, a conduta e<br />
o prognóstico.<br />
Casuística e métodos<br />
O presente trabalho foi baseado em estudo retrospectivo<br />
<strong>de</strong> 12 pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> infarto<br />
cerebelar que estavam internados no Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />
do Hospital João Alves Filho, em Aracaju,<br />
Sergipe, no período <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> <strong>19</strong>98 a março <strong>de</strong> <strong>2000</strong>.<br />
174
Foram analisados, nos doentes, a ida<strong>de</strong>, o sexo, a<br />
etiologia, o meio <strong>de</strong> diagnóstico, a conduta e o prognóstico.<br />
Resultados<br />
Sete pacientes eram do sexo masculino e cinco, do<br />
feminino. A ida<strong>de</strong> variou entre 46 e 76 anos, com média<br />
<strong>de</strong> 54 anos.<br />
As causas do infarto cerebelar foram hipertensão<br />
arterial sistêmica em seis, endocardite bacteriana em<br />
três e <strong>de</strong>sconhecida em outros três.<br />
Os sinais e sintomas mais comuns foram cefaléia em<br />
<strong>de</strong>z, vômitos em oito, tonturas em sete, ataxia da marcha<br />
em sete, nistagmo em quatro e vertigem em quatro.<br />
O escore (Escala <strong>de</strong> Coma <strong>de</strong> Glasgow) apresentado<br />
pelos doentes, no momento da admissão, variou<br />
entre 4 e 14.<br />
A TC foi realizada em todos os pacientes e a RNM,<br />
em dois pacientes. A extensão do infarto atingiu uma<br />
área maior que 3 cm em sete casos e menor que 3 cm em<br />
cinco casos.<br />
O tratamento instituído foi conservador em 11 casos;<br />
<strong>de</strong>rivação ventricular externa e craniectomia suboccipital<br />
foram feitas em um caso. Oito pacientes sobreviveram<br />
(cinco <strong>de</strong>stes com déficit neurológico) e quatro faleceram.<br />
Discussão<br />
Infarto cerebelar é <strong>de</strong>finido como lesão isquêmica do<br />
cerebelo sem envolvimento primário do cérebro ou do<br />
tronco cerebral 13,29,37 . Sua incidência varia <strong>de</strong> 1,5% a 3%<br />
<strong>de</strong> todos os infartos encefálicos 8,26,39,40 . Com o advento<br />
da TC e da RNM, porém, o seu diagnóstico tornou-se<br />
mais freqüente e, além disso, esses exames permitem a<br />
distinção entre o infarto e a hemorragia cerebelar 36 .<br />
O sexo masculino é o mais acometido e na faixa etária<br />
dos 70 aos 80 anos 2,<strong>19</strong>,37,39 . A distribuição dos casos em<br />
relação ao sexo na presente casuística está <strong>de</strong> acordo<br />
com o observado na literatura, mas o grupo etário<br />
acometido foi mais jovem, predominando doentes na<br />
quinta e na sexta décadas da vida.<br />
Os fatores <strong>de</strong> risco dos infartos cerebelares são<br />
similares àqueles dos hemisférios cerebrais 39 . A causa<br />
mais freqüente é a aterosclerose, seguida <strong>de</strong> hipertensão<br />
arterial, diabetes mellitus, cardiopatia isquêmica,<br />
história prévia <strong>de</strong> trauma, dislipi<strong>de</strong>mias e fibrilação<br />
atrial 1,<strong>19</strong>,34 . Outras causas menos freqüentemente<br />
<strong>de</strong>scritas são a ectasia da artéria basilar 10 , dissecção e<br />
Infarto cerebelar<br />
Pereira CU e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />
trombose da artéria vertebral e/ou da artéria basilar 24,35 ,<br />
displasia fibromuscular 30 e enxaqueca 10,38 . Amarenco e<br />
cols. 5 encontraram como causa mais freqüente do<br />
infarto cerebelar os êmbolos originados nas cavida<strong>de</strong>s<br />
cardíacas, após infarto agudo do miocárdio ou<br />
endocardite bacteriana, fato observado, também, por<br />
outros autores 7,<strong>19</strong>,27 . Em nosso trabalho foi possível<br />
<strong>de</strong>tectar hipertensão arterial associada à aterosclerose<br />
como a principal causa, seguida <strong>de</strong> endocardite<br />
bacteriana. Em três casos não foi possível i<strong>de</strong>ntificar a<br />
causa, provavelmente, por não terem sido investigados<br />
a<strong>de</strong>quadamente.<br />
A artéria cerebelar posterior-inferior e a artéria<br />
cerebelar superior são os vasos mais freqüentemente<br />
responsáveis pelos infartos cerebelares, seguidas da<br />
artéria cerebelar anterior-inferior 3,7,21,22,26 . Os infartos<br />
cerebelares são agrupados conforme os territórios<br />
arteriais comprometidos. Em 85% dos casos, eles<br />
ocorrem no território da artéria cerebelar posteriorinferior,<br />
o que correspon<strong>de</strong> à porção medial e inferior<br />
do hemisfério cerebelar homolateral 11,<strong>19</strong> . As artérias<br />
vertebrais estão comprometidas em 50% dos casos,<br />
mas, quando apenas uma <strong>de</strong>ssas artérias estiver<br />
envolvida, o infarto resultante é, geralmente, assintomático<br />
e tem bom prognóstico <strong>19</strong>,39 . Os casos <strong>de</strong> infarto<br />
cerebelar no território da artéria cerebelar superior<br />
apresentam pior prognóstico que os das artérias cerebelares<br />
posterior-inferior e anterior-inferior 3,39 .<br />
Sypert e Alvord 37 classificaram os infartos cerebelares<br />
em “complicados” e “não-complicados”: os primeiros<br />
são caracterizados pelo comprometimento<br />
isquêmico tanto do cerebelo quanto do tronco cerebral<br />
e os do segundo grupo cursam com o mínimo <strong>de</strong> sinais<br />
e sintomas e têm evolução excelente.<br />
Ebeling e cols. 15 distinguiram dois grupos <strong>de</strong><br />
pacientes: o grupo 1 engloba os pacientes com evolução<br />
lenta e progressiva e que <strong>de</strong>senvolvem piora<br />
aguda; o grupo 2, os pacientes que, após o início agudo<br />
do quadro clínico, <strong>de</strong>senvolvem evolução fulminante.<br />
Amarenco 5 classifica os pacientes com infartos<br />
cerebelares em: pacientes com manifestações pseudotumorais;<br />
pacientes em coma profundo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />
do quadro; e pacientes com curso benigno que melhoram<br />
rápida e espontaneamente sem alterações da<br />
consciência.<br />
A sintomatologia benigna é caracterizada por náusea,<br />
vômitos, cefaléia, vertigens e ataxia, enquanto, na sintomatologia<br />
maligna, evi<strong>de</strong>nciam-se sinais <strong>de</strong> compressão do<br />
tronco cerebral, caracterizados por meningismo, distúrbios<br />
da consciência, lesão <strong>de</strong> nervos cranianos, lesão piramidal,<br />
respiração e circulação patológicas e atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scerebração 32 . O curso natural do infarto benigno é<br />
bom na maioria dos casos e em uma minoria po<strong>de</strong> ocorrer<br />
evolução maligna em virtu<strong>de</strong> da compressão do tronco<br />
175
cerebral e da hidrocefalia 16,23,33 . Em nossa casuística, dois<br />
pacientes apresentaram-se apenas com queixa <strong>de</strong><br />
vertigem, fato também observado por outros autores<br />
1,14,18,31 . Os infartos do cerebelo geralmente são únicos,<br />
mas em 20% dos casos são múltiplos e, nesses casos, a<br />
manifestação clínica é a <strong>de</strong> um quadro pseudotumoral ou<br />
coma profundo e quadriplegia 4, 9 .<br />
A TC é útil no diagnóstico do infarto cerebelar 32 ,<br />
exceto nas primeiras 48 horas. A TC revela hipo<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
focal no cerebelo, <strong>de</strong>svio do quarto ventrículo pelo<br />
efeito <strong>de</strong> massa e hidrocefalia supratentorial 5 (Figura 1),<br />
po<strong>de</strong>ndo, em alguns casos, ser normal ou <strong>de</strong> difícil<br />
interpretação em <strong>de</strong>corrência dos artefatos ósseos.<br />
A RNM é o método diagnóstico mais sensível na<br />
fase precoce do infarto e não está sujeita aos efeitos<br />
dos artefatos <strong>de</strong> imagem provocados pelo osso. As<br />
imagens obtidas <strong>de</strong>monstram uma área <strong>de</strong> hipersinal<br />
em T2 36 (Figura 2).<br />
Figura 1 – TC <strong>de</strong>monstrando extenso infarto cerebelar no<br />
hemisfério cerebelar esquerdo, com<br />
compressão do quarto ventrículo.<br />
Figura 2 – RNM <strong>de</strong>monstrando infarto no hemisfério<br />
cerebelar direito.<br />
Infarto cerebelar<br />
Pereira CU e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />
A angiografia cerebral digital é usada para diagnosticar<br />
obstrução arterial.<br />
Em nossos pacientes a TC foi útil no diagnóstico,<br />
tendo em vista que a maioria dos casos foi submetida a<br />
esse exame 72 horas após o ictus.<br />
O tratamento cirúrgico do infarto cerebelar compreen<strong>de</strong><br />
a drenagem ventricular externa, a <strong>de</strong>rivação<br />
ventriculoperitoneal ou a craniectomia suboccipital<br />
12,29,34 . A escolha do melhor método cirúrgico para o<br />
manuseio <strong>de</strong>ssas lesões baseia-se, principalmente, na<br />
existência ou não <strong>de</strong> hidrocefalia e <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> compressão<br />
do tronco cerebral 29 .<br />
A drenagem ventricular externa, quando usada<br />
isoladamente, segundo alguns autores, piora o<br />
prognóstico, pois provoca hérnia transtentorial ascen<strong>de</strong>nte<br />
6,15,20 . Estaria indicada apenas nos casos com<br />
hidrocefalia e ausência <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> compressão do<br />
tronco cerebral 15 .<br />
A craniectomia da fossa posterior, preconizado<br />
inicialmente por Lindgren 25 em <strong>19</strong>56, é o método utilizado<br />
pela gran<strong>de</strong> maioria dos autores naqueles casos em que<br />
há comprometimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um terço <strong>de</strong> um<br />
hemisfério cerebelar 6,<strong>19</strong>,29,34 . O dado clínico mais<br />
importante para indicação cirúrgica, além dos achados<br />
tomográficos, é a piora progressiva da consciência, que<br />
indica compressão do tronco cerebral 5,20,35 .<br />
O tratamento clínico <strong>de</strong>ve ser a opção em todos os<br />
casos <strong>de</strong> infarto que comprometem menos <strong>de</strong> um terço<br />
do hemisfério cerebelar, que não provocam distúrbios<br />
da consciência e nos quais o quadro clínico esteja<br />
estável 6,15,<strong>19</strong>,25,29 . Nesses casos é essencial a vigilância<br />
neurológica intensiva e a realização <strong>de</strong> TC e/ou RNM<br />
seriadas conforme a evolução clínica do paciente.<br />
Greenberg e cols. 17 contra-indicam, formalmente, o<br />
tratamento conservador nos casos em que o infarto é<br />
extenso, em razão dos péssimos resultados obtidos.<br />
Em nossa casuística, o tratamento foi conservador<br />
em 11 casos baseado no nível <strong>de</strong> consciência e extensão<br />
do infarto apresentados pelos doentes na admissão; 1<br />
caso foi submetido ao tratamento cirúrgico em virtu<strong>de</strong><br />
do quadro <strong>de</strong> compressão <strong>de</strong> tronco cerebral e hidrocefalia<br />
supratentorial acentuada e evoluiu para óbito.<br />
O prognóstico do infarto cerebelar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários<br />
fatores, como extensão do infarto, nível <strong>de</strong> consciência<br />
e ida<strong>de</strong> do doente e o período <strong>de</strong> tempo em que o tronco<br />
cerebral ficou comprimido 29 . A extensão do infarto<br />
<strong>de</strong>termina o tipo <strong>de</strong> evolução do quadro clínico. Os casos<br />
<strong>de</strong> infartos pequenos apresentam quadro evolutivo<br />
benigno <strong>de</strong> bom prognóstico 1 , fato observado em cinco<br />
pacientes da nossa casuística. O nível <strong>de</strong> consciência<br />
do paciente tem importância fundamental quanto ao<br />
prognóstico. Quanto mais grave for o distúrbio da<br />
consciência, tanto pior será a evolução do paciente 6,15,<strong>19</strong> .<br />
A ida<strong>de</strong> é um fator <strong>de</strong>terminante no prognóstico: quanto<br />
mais idoso o paciente, pior o prognóstico. Segundo<br />
176
Ebeling 15 , o tempo <strong>de</strong> compressão do tronco cerebral,<br />
até ser realizada a <strong>de</strong>scompressão cirúrgica da fossa<br />
posterior, tem influência <strong>de</strong>cisiva na recuperação do<br />
paciente. A taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> dos pacientes com<br />
infartos cerebelares sintomáticos é estimada em 50%,<br />
mas, quando há sinais <strong>de</strong> compressão do tronco cerebral,<br />
esse valor sobe para 80%.<br />
O diagnóstico <strong>de</strong> infarto cerebelar, apesar <strong>de</strong> raro,<br />
<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado em casos <strong>de</strong> sintomatologia frusta<br />
<strong>de</strong> lesões da fossa posterior, como vertigem, vômitos e<br />
ataxia da marcha. O diagnóstico precoce é possível com<br />
a TC e/ou RM.<br />
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Original recebido em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Carlos Umberto Pereira<br />
Av. Augusto Maynard, 245/404<br />
CEP 49015-380 – Aracaju, SE<br />
E-mail: umberto@infonet.com.br<br />
178
Introdução<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />
Aplicações clínicas da hidrodinâmica na<br />
<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />
Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital Madre Teresa, Belo Horizonte, MG<br />
Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital Luxemburgo, Belo Horizonte, MG<br />
RESUMO<br />
A <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal (DVP) é a aplicação do princípio hidrodinâmico dos vasos<br />
comunicantes. São freqüentes as complicações hidrodinâmicas em pacientes submetidos à DVP.<br />
Revisam-se os fatores hidrodinâmicos da DVP e suas complicações <strong>de</strong>correntes.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Hidrocefalia. Derivação ventrículo-peritoneal.<br />
ABSTRACT<br />
Clinical applications of hydrodinamics in ventriculoperitoneal shunt<br />
The ventriculoperitoneal shunt is an application of the hydrodynamic principle of communicating<br />
vessels. There are frequent hydrodynamic complications in the patients submitted to shunting.<br />
A revision of the hydrodynamic factors involved in the ventriculoperitoneal shunt was ma<strong>de</strong> and<br />
their hydrodynamic complications were analyzed.<br />
KEYWORDS<br />
Hydrocephalus. Ventriculoperitoneal shunt.<br />
A <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal (DVP) é o procedimento<br />
mais usado para tratar a hidrocefalia. Ela é uma<br />
aplicação do princípio hidrodinâmico dos vasos<br />
comunicantes. Tem por objetivo drenar o excesso <strong>de</strong><br />
líquor para reduzir a pressão intracraniana e o tamanho<br />
dos ventrículos.<br />
Em gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos, não se consegue esse<br />
objetivo, persistindo a dilatação ventricular ou ocorrendo<br />
redução exagerada dos ventrículos 1 . O advento da<br />
tomografia computadorizada revelou alta freqüência <strong>de</strong><br />
complicações hidrodinâmicas por ina<strong>de</strong>quação entre o<br />
débito da DVP e a produção <strong>de</strong> líquor.<br />
O objetivo <strong>de</strong>sta revisão é analisar os fatores<br />
hidrodinâmicos da DVP e suas complicações <strong>de</strong>correntes.<br />
Hidrodinâmica aplicada à <strong>de</strong>rivação<br />
ventrículo-peritoneal<br />
No tratamento da hidrocefalia por DVP, estabelece-se<br />
a comunicação entre os ventrículos e a<br />
cavida<strong>de</strong> abdominal, através <strong>de</strong> cateter, com válvula<br />
interposta. O débito do líquor drenado é <strong>de</strong>terminado<br />
pela lei <strong>de</strong> Poiseuille, expressa pela equação:<br />
D = ∆P. r4 / 8 n L,<br />
on<strong>de</strong> D é o débito, ∆P (pressão diferencial) é a<br />
diferença <strong>de</strong> pressão entre as duas extremida<strong>de</strong>s do<br />
sistema <strong>de</strong> drenagem, r é o raio do tubo, n é a viscosida<strong>de</strong><br />
do fluido e L é a distância entre as duas cavida<strong>de</strong>s<br />
(comprimento do cateter <strong>de</strong> drenagem). No caso da DVP,<br />
o comprimento do tubo, o raio <strong>de</strong>ste e a viscosida<strong>de</strong> do<br />
líquor po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como constantes. Esses<br />
três elementos <strong>de</strong>terminam a resistência (R) do sistema à<br />
passagem do líquido. Assim, o débito da drenagem po<strong>de</strong><br />
ser consi<strong>de</strong>rado como diretamente proporcional à<br />
diferença <strong>de</strong> pressão entre as duas extremida<strong>de</strong>s do<br />
sistema, e inversamente proporcional à resistência do<br />
mesmo à passagem <strong>de</strong> líquido, o que é expresso pela<br />
equação:<br />
D = ∆P / R<br />
A válvula interposta na <strong>de</strong>rivação assegura<br />
passagem em sentido único. Ela funciona quando<br />
existe diferença <strong>de</strong> pressão entre a entrada e a saída.<br />
O mecanismo <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> pressão (fenda no<br />
silicone ou mola calibrada) mantém o sistema <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rivação impermeável à passagem <strong>de</strong> líquido até<br />
<strong>de</strong>terminado valor <strong>de</strong> ∆P (pressão <strong>de</strong> fechamento <strong>de</strong><br />
válvula). Quando ∆P exce<strong>de</strong> a pressão <strong>de</strong> fecha-<br />
179
mento, a válvula se abre, permitindo a passagem do<br />
líquido.<br />
A pressão diferencial que age na DVP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das<br />
pressões das cavida<strong>de</strong>s proximal (ventrículos) e distal<br />
(abdome), da altura que as separa e da pressão <strong>de</strong><br />
fechamento da válvula.<br />
Po<strong>de</strong>-se, então, escrever:<br />
D ∆P PIV + L – (PIA + PF),<br />
= =<br />
R R<br />
on<strong>de</strong> PIV é a pressão intraventricular, PIA é a pressão<br />
intra-abdominal, PF é a pressão <strong>de</strong> fechamento da<br />
válvula e L é a altura entre o ventrículo lateral e a<br />
extremida<strong>de</strong> distal do cateter peritoneal.<br />
Os sistemas <strong>de</strong> válvulas para tratamento <strong>de</strong><br />
hidrocefalia possuem mecanismo constante para<br />
controle da resistência. O ∆P sofre alterações inevitáveis<br />
e intensas em condições fisiológicas (como, por<br />
exemplo, mudanças <strong>de</strong> postura), po<strong>de</strong>ndo ocorrer, em<br />
conseqüência, gran<strong>de</strong> variação do débito <strong>de</strong> líquor<br />
drenado. Isso dificulta que se consiga o objetivo<br />
principal do controle da hidrocefalia, ou seja, equilíbrio<br />
relativamente constante entre a produção e a drenagem<br />
do líquor.<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />
liquórica é função <strong>de</strong> sua resistência à passagem <strong>de</strong><br />
líquor e não <strong>de</strong> sua pressão <strong>de</strong> fechamento. Esta é<br />
apenas um dos fatores <strong>de</strong>terminantes do ∆P através<br />
do sistema <strong>de</strong> drenagem (∆P = PIV + L – PIA – PF).<br />
Assim, as especificações das válvulas <strong>de</strong>vem incluir<br />
não somente a pressão <strong>de</strong> fechamento, que não reflete<br />
completamente as características <strong>de</strong> funcionamento do<br />
sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação, mas também a resistência,<br />
<strong>de</strong>finida pelo gráfico pressão/débito do teste hidrodinâmico.<br />
As válvulas existentes po<strong>de</strong>m ser divididas em duas<br />
categorias: <strong>de</strong> baixa e alta resistência.<br />
Pressão diferencial através da<br />
<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Os fatores <strong>de</strong>terminantes da pressão diferencial<br />
através da DVP são: PIV, PIA, pressão hidrostática<br />
(altura do cateter) e resistência da válvula.<br />
A pressão do líquor, em <strong>de</strong>cúbito horizontal, é a<br />
mesma nos ventrículos, na cisterna magna e no fundo<br />
<strong>de</strong> saco lombar; varia <strong>de</strong> 50 mm a 200 mm <strong>de</strong> água 2,3 .<br />
Quando o paciente se encontra ereto ou sentado, a PIV<br />
no forame <strong>de</strong> Monro é, em média, <strong>de</strong> -70 mm <strong>de</strong> água, o<br />
que correspon<strong>de</strong> à distância entre o orifício <strong>de</strong> Monro<br />
e a cisterna magna, on<strong>de</strong> a pressão é próxima <strong>de</strong> zero 4,5 .<br />
A PIV média no lactente é <strong>de</strong> 45 mm <strong>de</strong> água.<br />
Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Gusmão S e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />
O conteúdo abdominal comporta-se como uma<br />
coluna <strong>de</strong> água. Assim, a PIA, como a PIV, é uma<br />
pressão hidrostática, estando o ponto “0”, na posição<br />
ereta, localizado na extremida<strong>de</strong> do apêndice<br />
xifói<strong>de</strong> 6 . Em um paciente com DVP, a PIA que age<br />
sobre o sistema é igual à distância entre o ponto “0”<br />
e a extremida<strong>de</strong> do cateter abdominal. Na posição<br />
ereta ou sentada, a PIA cresce progressivamente da<br />
parte superior (nível “0”) até o fundo do saco <strong>de</strong><br />
Douglas, on<strong>de</strong> atinge 300 mm <strong>de</strong> água (o que equivale<br />
à distância entre o ponto “0” e o fundo <strong>de</strong> saco <strong>de</strong><br />
Douglas). Para o indivíduo adulto em <strong>de</strong>cúbito<br />
horizontal, a PIA é <strong>de</strong> 80 mm <strong>de</strong> água em todos os<br />
pontos da cavida<strong>de</strong> abdominal. No lactente, esse<br />
valor é <strong>de</strong> 40 mm 7 .<br />
A altura do cateter, que provoca gran<strong>de</strong> pressão<br />
hidrostática quando o paciente se encontra na posição<br />
sentada ou ereta, representa o principal fator na<br />
<strong>de</strong>terminação do ∆P através da DVP. Ela varia segundo<br />
a implantação do cateter distal, a altura e a posição do<br />
indivíduo.<br />
Cálculo da pressão diferencial e da<br />
pressão intraventricular no paciente com<br />
<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Conhecendo-se os fatores responsáveis pelo ∆P<br />
na DVP, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar, teoricamente, o ∆P e a<br />
conseqüente modificação da PIV causada pela <strong>de</strong>rivação.<br />
O ∆P em um paciente submetido à DVP é dado<br />
pela equação:<br />
∆P = PIV + L (PIA + PF)<br />
Após a implantação da DVP, as pressões ten<strong>de</strong>m a<br />
equilibrar-se, por meio da drenagem do líquor, <strong>de</strong> tal<br />
sorte que o ∆P ten<strong>de</strong> para valor nulo (∆P = 0) em uma<br />
posição <strong>de</strong>terminada. A mudança <strong>de</strong> posição do paciente<br />
vai acompanhar-se <strong>de</strong> novo equilíbrio. Quando o ∆P<br />
for nulo, a <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> drenar, estando<br />
equilibrada a pressão entre as cavida<strong>de</strong>s ventricular e<br />
abdominal. Nesse momento, a PIV será:<br />
PIV = PIA + PF – L<br />
Conhecendo-se aproximadamente os valores dos<br />
diversos fatores que intervêm no ∆P, po<strong>de</strong>-se calcular<br />
seu valor na DVP a ser implantada e a PIV após o<br />
equilíbrio do sistema <strong>de</strong> drenagem (∆P = 0).<br />
Como exemplo para o cálculo do ∆P e da alteração<br />
da PIV provocada pela drenagem, tomam-se dois casos<br />
teóricos (Quadro 1): lactente com hidrocefalia hipertensiva<br />
e adulto com hidrocefalia <strong>de</strong> pressão normal<br />
submetidos à DVP com válvula <strong>de</strong> 70 mm <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong><br />
fechamento (válvula <strong>de</strong> pressão média).<br />
180
Quadro 1<br />
Valores da pressão diferencial (∆∆∆∆∆P) e da pressão<br />
intraventricular (PIV) no paciente com DVP<br />
(valores em milímetros <strong>de</strong> água)<br />
Lactente<br />
Ereto ou sentado<br />
∆P = 0 + 200 - 70 = 130<br />
PIV = 70 - 200 = - 130<br />
Em <strong>de</strong>cúbito horizontal<br />
∆P = 150 + 0 - (40 + 70) = 40<br />
PIV = 40 + 70 - 0 = 110<br />
Adulto<br />
Ereto ou sentado<br />
∆P = 0 + 400 - 70 = 330<br />
PIV = 70 - 400 = - 330<br />
Em <strong>de</strong>cúbito horizontal<br />
∆P = 150 + 0 - (80 + 70) = 0<br />
PIV = 80 + 70 + 0 = 150 mm<br />
Nesse cálculo, usa-se o valor <strong>de</strong> 150 mm <strong>de</strong> água<br />
para a PIV na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito, que é aproximadamente<br />
a pressão na hidrocefalia <strong>de</strong> pressão normal e<br />
também o valor médio da PIV na hidrocefalia da<br />
criança 8,9 . Na posição ereta ou sentada, a PIV nos<br />
pacientes hidrocefálicos situa-se próximo <strong>de</strong> zero,<br />
po<strong>de</strong>ndo apresentar valores ligeiramente positivos ou<br />
negativos.<br />
A PIA no paciente <strong>de</strong>itado é, aproximadamente,<br />
40 mm <strong>de</strong> água no lactente e 80 mm <strong>de</strong> água no adulto 6 .<br />
Na posição ereta ou sentada, a PIA é anulada pela<br />
pressão hidrostática <strong>de</strong>ntro do cateter, correspon<strong>de</strong>nte<br />
ao comprimento do cateter na cavida<strong>de</strong> abdominal.<br />
Assim, se tomarmos como altura do cateter (L) a<br />
distância entre a borda superior da órbita, que correspon<strong>de</strong><br />
ao orifício <strong>de</strong> Monro, e o apêndice xifói<strong>de</strong>,<br />
não é necessário levar em consi<strong>de</strong>ração a PIA no<br />
paciente em posição ereta. Essa altura correspon<strong>de</strong>,<br />
em média, a 400 mm no adulto e a 200 mm no lactente.<br />
Em <strong>de</strong>cúbito horizontal, o ∆P é pequeno ou nulo<br />
através da <strong>de</strong>rivação e, conseqüentemente, ocorre<br />
pequena ou nenhuma alteração da PIV. Na posição ereta<br />
ou sentada, há gran<strong>de</strong> aumento do ∆P, com significativa<br />
redução da PIV.<br />
O débito através da DVP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, além do ∆P, da<br />
resistência da válvula (D = ∆P /R). Assim, para um<br />
mesmo ∆P, uma válvula <strong>de</strong> alta resistência apresentará<br />
débito inferior ao <strong>de</strong> uma válvula <strong>de</strong> baixa resistência,<br />
reduzindo, em proporção menor, a PIV.<br />
Mac Cullough e cols. 5 e Fox e cols. 10 mediram a<br />
PIV, na posição ereta, em pacientes adultos portadores<br />
<strong>de</strong> DVP, encontrando, respectivamente, os valores <strong>de</strong><br />
-320 mm e -220 mm <strong>de</strong> água. Os valores calculados<br />
para a PIV (-330 mm <strong>de</strong> água) após <strong>de</strong>rivação<br />
ventricular são bastante próximos dos valores medidos<br />
por esses autores.<br />
Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Gusmão S e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />
Complicações hidrodinâmicas<br />
As válvulas corrigem o volume <strong>de</strong> modo nãofisiológico,<br />
pois a produção do líquor é constante<br />
(0,33ml/min) e o débito através da DVP varia segundo<br />
vários fatores.<br />
Na posição ereta, a pressão hidrostática, <strong>de</strong>terminada<br />
pelo comprimento do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />
(efeito sifão), leva a PIV a valores muito negativos,<br />
po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>terminar o aparecimento <strong>de</strong> complicações<br />
hidrodinâmicas por hiperdrenagem liquórica: síndrome<br />
<strong>de</strong> hipotensão liquórica, coleção subdural, alterações<br />
da forma e volume do crânio, <strong>de</strong>sproporção craniencefálica,<br />
colapso ventricular e transformação <strong>de</strong><br />
hidrocefalia comunicante em não-comunicante por<br />
estenose do aqueduto.<br />
A síndrome <strong>de</strong> hipotensão intracraniana é a complicação<br />
mais freqüente da hiperdrenagem liquórica. Po<strong>de</strong><br />
ocorrer acompanhada ou não <strong>de</strong> ventrículos em fenda<br />
(colapso ventricular). Manifesta-se por cefaléia, náusea<br />
e vômitos, diplopia, letargia, paresia do olhar conjugado<br />
para cima e estrabismo. Esses sinais e sintomas são<br />
semelhantes aos da hipertensão intracraniana por<br />
obstrução do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação. A diferença fundamental<br />
é que, quando se trata <strong>de</strong> hipotensão intracraniana,<br />
o quadro clínico manifesta-se quando o paciente<br />
se encontra em posição ereta e melhora quando assume<br />
a posição <strong>de</strong>itada. É fundamental a distinção entre as<br />
duas síndromes, pois o diagnóstico errôneo <strong>de</strong> hipertensão<br />
intracraniana por obstrução do sistema <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>rivação po<strong>de</strong>rá levar à revisão cirúrgica <strong>de</strong>snecessária.<br />
Foltz e Blanks 4 <strong>de</strong>screveram 14 casos <strong>de</strong> hipotensão<br />
intracraniana em pacientes submetidos à DVP. Todos<br />
apresentavam a síndrome <strong>de</strong> hipotensão intracraniana,<br />
que era <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pela posição ereta e melhorada<br />
pelo <strong>de</strong>cúbito. Esses autores mediram a PIV <strong>de</strong>sses<br />
casos, em posição ereta antes e <strong>de</strong>pois da troca do<br />
sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação por outro <strong>de</strong> pressão mais elevada.<br />
A PIV média, no pré-operatório, era <strong>de</strong> -136 mm <strong>de</strong> água<br />
e, no pós-operatório, <strong>de</strong> -17 mm <strong>de</strong> água. Todos os<br />
pacientes apresentaram significativa melhora ou<br />
redução completa dos sinais e sintomas <strong>de</strong> hipotensão<br />
intracraniana após a substituição do sistema <strong>de</strong><br />
drenagem por outro <strong>de</strong> mais eleveada pressão.<br />
O quadro tomográfico <strong>de</strong> colapso ventricular é<br />
freqüentemente observado nos pacientes submetidos<br />
à <strong>de</strong>rivação ventricular e é geralmente assintomático.<br />
Ocorre, com maior freqüência, em pacientes com mais<br />
<strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e nos tratados com válvula <strong>de</strong><br />
baixa resistência 1 . Decorre do maior ∆P em pacientes<br />
com mais <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (posição ereta levando<br />
a alto valor da ∆P) e do maior débito nas válvulas <strong>de</strong><br />
baixa resistência.<br />
181
O débito liquórico e a conseqüente alteração da<br />
PIV na posição ereta po<strong>de</strong>m ser estimados pelo<br />
gráfico pressão/débito da válvula utilizada. Não<br />
existe, entretanto, solução simples para a hiperdrenagem<br />
liquórica, pois a <strong>de</strong>rivação que funcione sob<br />
pressão diferencial que não <strong>de</strong>termine hiperdrenagem<br />
na posição ereta po<strong>de</strong> provocar hipodrenagem na<br />
posição <strong>de</strong>itada.<br />
Válvulas cujas resistências – e, conseqüentemente,<br />
a pressão <strong>de</strong> abertura – possam ser mudadas<br />
por meio <strong>de</strong> controle externo (válvula programável)<br />
foram <strong>de</strong>senvolvidas para a<strong>de</strong>quar melhor o sistema<br />
<strong>de</strong> drenagem às necessida<strong>de</strong>s do paciente, prevenindo,<br />
assim, as complicações hidrodinâmicas 12,13 .<br />
O mecanismo <strong>de</strong>ssas válvulas baseia-se na variação<br />
da resistência exercida por uma mola conjugada a<br />
uma esfera, cujo movimento controla a abertura da<br />
válvula. A mudança <strong>de</strong> pressão é realizada por meio<br />
<strong>de</strong> ímã colocado sobre a válvula. Esse mecanismo<br />
elimina a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a pressão <strong>de</strong><br />
abertura ou a resistência i<strong>de</strong>al do sistema a ser<br />
implantado e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão cirúrgica para<br />
mudar o sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação por outro <strong>de</strong> pressão<br />
ou resistência diferente.<br />
Os casos <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> hipotensão liquórica ou<br />
colapso ventricular, por hiperdrenagem liquórica,<br />
po<strong>de</strong>m ser controlados por meio do simples aumento<br />
da pressão <strong>de</strong> abertura da válvula. Isso correspon<strong>de</strong><br />
realmente ao aumento da resistência do sistema <strong>de</strong><br />
drenagem pelo aumento da pressão sobre a mola que<br />
controla a abertura da válvula.<br />
A complicação hidrodinâmica oposta à hiperdrenagem<br />
é a hipodrenagem liquórica. Trata-se <strong>de</strong> débito<br />
<strong>de</strong> drenagem liquórica inferior ao débito <strong>de</strong> produção<br />
do líquor, em <strong>de</strong>rivação comprovadamente patente.<br />
Nesse caso, não ocorre melhora dos sinais e sintomas<br />
e a tomografia computadorizada evi<strong>de</strong>ncia persistência<br />
da dilatação ventricular. Tal eventualida<strong>de</strong> ocorre<br />
principalmente em lactentes e em pacientes tratados<br />
com válvulas <strong>de</strong> alta resistência 1 . Decorre do baixo<br />
valor do ∆P, por causa do pequeno comprimento do<br />
sistema <strong>de</strong> drenagem e da posição <strong>de</strong>itada do lactente<br />
na maior parte do dia, e do baixo débito nas válvulas<br />
<strong>de</strong> alta resistência.<br />
A persistência da hidrocefalia por hipodrenagem<br />
liquórica é tratada com a substituição da válvula por<br />
outra <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong> abertura menor ou <strong>de</strong> menor<br />
resistência. Quando se usa a válvula <strong>de</strong> pressão<br />
programável, basta alterar a pressão <strong>de</strong> abertura para<br />
valor menor, diminuindo, assim, a resistência da<br />
drenagem.<br />
No pré-operatório po<strong>de</strong>-se avaliar, aproximadamente,<br />
o DP que vai agir na <strong>de</strong>rivação e procurar<br />
indicar a válvula que melhor se adapte às necessida<strong>de</strong>s<br />
do paciente. Assim, indica-se a válvula<br />
Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Gusmão S e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />
<strong>de</strong> alta resistência nos casos <strong>de</strong> alta DP (pacientes<br />
adultos com vida ativa) e a <strong>de</strong> baixa resistência nos<br />
casos <strong>de</strong> baixa DP (lactentes e pacientes acamados<br />
por longo tempo). Quando esses pacientes começarem<br />
a <strong>de</strong>ambular, po<strong>de</strong>rá ser necessário trocar a<br />
válvula <strong>de</strong> baixa por uma <strong>de</strong> alta resistência. A válvula<br />
<strong>de</strong> pressão programável simplifica a a<strong>de</strong>quação da<br />
resistência da drenagem às necessida<strong>de</strong>s do paciente.<br />
A pressão intracraniana é constante fisiológica<br />
fundamental e sua alteração, para mais ou para menos,<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar lesões irreversíveis no sistema nervoso.<br />
A drenagem ventricular com resistência constante,<br />
funcionando por pressão diferencial, é uma forma<br />
grosseira <strong>de</strong> controle da pressão intracraniana. A<br />
válvula <strong>de</strong> resistência programável traz a vantagem <strong>de</strong><br />
se po<strong>de</strong>r controlar a resistência da drenagem,<br />
adaptando-se o débito <strong>de</strong> drenagem liquórica às<br />
necessida<strong>de</strong>s do paciente.<br />
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Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />
Gusmão S e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />
Original recebido em junho <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em setembro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Sebastião Gusmão<br />
Rua Padre Rolim, 921 / 21<br />
CEP 30130-090 – Belo Horizonte, MG<br />
183
Introdução<br />
Aneurisma da artéria carótida interna<br />
supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Relato <strong>de</strong> caso, fisiopatologia e revisão <strong>de</strong> literatura<br />
Marcelo Nery Silva*<br />
Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Municipal <strong>de</strong> São Paulo<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />
RESUMO<br />
Diversas são as causas <strong>de</strong> dor facial. Uma das causas, mesmo que infreqüente, é a presença <strong>de</strong><br />
aneurisma intracraniano. Essa doença está relacionada com índices alarmantes <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong><br />
quando ocorre sua ruptura. Por essa razão, o diagnóstico e o tratamento pré-ruptura<br />
em pacientes selecionados são <strong>de</strong>sejáveis. Para tanto, o conhecimento das diversas apresentações<br />
clínicas é necessário.<br />
Apresenta-se o caso <strong>de</strong> uma paciente com dor facial esquerda que inicialmente foi tratada como<br />
neuralgia trigeminal. Na investigação, diagnosticou-se um aneurisma gigante do segmento<br />
comunicante posterior da artéria carótida interna. Após ter sido tratada cirurgicamente, houve<br />
remissão completa <strong>de</strong> sua sintomatologia dolorosa.<br />
Dor facial do tipo da neuralgia trigeminal é apresentação rara <strong>de</strong> aneurisma intracraniano originário<br />
da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>. Os objetivos <strong>de</strong>ste relato são: apresentar mais um tipo<br />
<strong>de</strong> manifestação, ainda que infreqüente, <strong>de</strong> aneurisma intracraniano antes <strong>de</strong> sua ruptura; discutir<br />
a fisiopatologia da dor facial nesse caso e revisar a experiência da literatura mundial com<br />
pacientes com dor facial causada por aneurismas da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Dor facial. Aneurisma intracraniano.<br />
ABSTRACT<br />
Supraclinoid internal carotid artery aneurysm and facial pain. Case report<br />
Facial pain has several causal factors. Among them, even unusual, intracranial aneurysm is<br />
related as a cause of facial pain. Aneurysm rupture causes high morbidity and mortality. For this<br />
reason, pre-rupture diagnosis and treatment are critical in selected patients. Therefore, knowledge<br />
of various clinical presentations is necessary.<br />
It is presented a patient with left facial pain initially treated as trigeminal neuralgia. The investigation<br />
disclosed a giant left internal carotid artery aneurysm (posterior communicating segment). After<br />
surgical treatment, there was complete remission of the facial pain.<br />
Facial pain as presented by this patient is a rare clinical manifestation of a supraclinoid internal<br />
carotid artery aneurysm. The related pathophysiology of facial pain is discussed.<br />
KEYWORDS<br />
Facial pain. Intracranial aneurysm.<br />
A maior parte dos aneurismas intracranianos é<br />
diagnosticada após episódios únicos ou repetidos <strong>de</strong><br />
hemorragia subaracnói<strong>de</strong>a, situação já bastante<br />
discutida na literatura mundial e reconhecida como uma<br />
condição <strong>de</strong>vastadora do ponto <strong>de</strong> vista anatômico e<br />
funcional, acometendo indivíduos em plena capacida<strong>de</strong><br />
produtiva, com alto índice <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />
Com o advento e a divulgação <strong>de</strong> técnicas<br />
mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> neuroimagem, como a angiografia por<br />
ressonância e a angiotomografia tridimensional, muitos<br />
pacientes têm se beneficiado com o diagnóstico precoce,<br />
antes do rompimento <strong>de</strong>ssas lesões vasculares.<br />
Além disso, elevado grau <strong>de</strong> suspeita clínica é necessário<br />
para o diagnóstico quando a sintomatologia está<br />
relacionada com o episódio franco <strong>de</strong> ruptura, quando<br />
ocorrem as chamadas hemorragias sentinelas e quando<br />
a forma <strong>de</strong> apresentação é, pelo menos, pouco freqüente<br />
ou diferente da habitual.<br />
Em geral, os aneurismas que ainda não se romperam<br />
são diagnosticados esporadicamente em angiografias<br />
* Médico neurocirurgião do Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Municipal <strong>de</strong> São Paulo.<br />
184
ealizadas por outras razões (investigação <strong>de</strong> cefaléias,<br />
epilepsia, tumores, má-formações arteriovenosas), em<br />
achados coinci<strong>de</strong>ntes na investigação <strong>de</strong> aneurismas<br />
que se romperam, ou ainda, quando, por sua dimensão,<br />
manifestam-se como tumores (lesões mecânicas). Nesse<br />
último caso, as manifestações clínicas estão relacionadas<br />
com o tamanho e a localização da lesão (em geral, os<br />
nervos cranianos são os primeiros a ser acometidos).<br />
Um subgrupo <strong>de</strong> pacientes apresenta sintomas e sinais<br />
agudos ou crônicos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da presença <strong>de</strong> inflamação<br />
local, trombose ou expansão do aneurisma 11 .<br />
Apresentamos um caso raro <strong>de</strong> aneurisma <strong>de</strong> artéria<br />
carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a no qual a principal<br />
manifestação clínica foi dor facial. Discutem-se dois<br />
aspectos: a apresentação clínica e a fisiopatologia da<br />
dor facial relacionada ao caso.<br />
Relato do caso<br />
Paciente <strong>de</strong> 49 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sexo feminino, cor negra,<br />
procurou o serviço <strong>de</strong> emergência do Hospital do Servidor<br />
Público Municipal queixando-se <strong>de</strong> dor em peso, <strong>de</strong> forte<br />
intensida<strong>de</strong>, localizada na hemiface esquerda, principalmente<br />
na região maxilar e na região periorbitária, que<br />
piorava com esforço físico e tosse. Referia que essa dor já<br />
a incomodava havia quatro meses antes <strong>de</strong>ssa internação<br />
e que, no início, se apresentava como choques <strong>de</strong> curta<br />
duração (poucos segundos) sem zonas ou manobras <strong>de</strong><br />
gatilho, melhorando com analgésicos comuns. Nesse<br />
período, as características dolorosas mudaram-se gradualmente,<br />
tornando-se <strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong>, melhorando<br />
apenas com a utilização <strong>de</strong> analgésicos opiói<strong>de</strong>s. Relatava<br />
ainda que, havia 20 anos, experimentou episódio súbito<br />
<strong>de</strong> cefaléia holocraniana <strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong> sem perda<br />
<strong>de</strong> consciência ou vômitos. Naquela época, o exame do<br />
líquido cefalorraquiano não mostrou alterações, sendo<br />
tratada como crise <strong>de</strong> enxaqueca. Permaneceu assintomática<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Não foi investigada com angiografia<br />
naquela ocasião.<br />
A paciente tinha hipertensão controlada com dieta<br />
pobre em sal e clortalidona (50 mg/dia); tinha o hábito<br />
<strong>de</strong> fumar (20 cigarros/dia havia 20 anos) e era etilista<br />
social. Negava antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trauma, migrânea ou<br />
doença cerebrovascular.<br />
O exame físico inicial mostrava uma paciente tensa,<br />
fácies hipocrática, sem alterações do equilíbrio ou da<br />
sensibilida<strong>de</strong>. Havia déficit incompleto <strong>de</strong> força<br />
muscular no dimídio direito. Não havia distúrbio dos<br />
reflexos profundos, superficiais ou axiais da face. O<br />
exame dos nervos cranianos não <strong>de</strong>monstrou déficit<br />
da olfação ou da acuida<strong>de</strong> visual; campos visuais pela<br />
confrontação e exame do fundo do olho eram normais.<br />
Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Silva MN<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />
Notou-se suave diminuição da fenda palpebral esquerda<br />
(ptose palpebral parcial) que, segundo a paciente, era<br />
constitucional (presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância). As pupilas<br />
mediam 5 mm, eram simétricas, e os reflexos fotomotor e<br />
córneo-palpebral direto e consensual encontravam-se<br />
preservados. Não havia hipo ou anidrose facial. Demais<br />
nervos cranianos não apresentavam anormalida<strong>de</strong>s.<br />
Exames complementares da esfera bioquímica,<br />
hematológica e radiológica do tórax eram normais.<br />
Para tratamento da dor, introduzimos carbamazepina<br />
600 mg/dia e paracetamol. Progressivamente, ao final<br />
<strong>de</strong> uma semana, houve melhora acentuada e a paciente<br />
passou a suportar os episódios dolorosos.<br />
A dor nos chamou a atenção porque atingia o território<br />
do nervo trigêmeo esquerdo (ramo maxilar e oftálmico,<br />
nessa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>), porém não havia critério<br />
suficiente para <strong>de</strong>fini-la como neuralgia trigeminal clássica<br />
e necessitava-se, portanto, <strong>de</strong> melhor investigação.<br />
A tomografia computadorizada do crânio mostrou,<br />
na fase pré-contraste, uma lesão arredondada <strong>de</strong> 35 mm<br />
em seu maior diâmetro localizada na região paraclinói<strong>de</strong><br />
esquerda, sem lesão óssea adjacente (Figura 1). Na fase<br />
contrastada, houve um realce heterogêneo no interior<br />
<strong>de</strong>ssa lesão, porém com acentuada captação do<br />
contraste em sua periferia, tornando seus limites mais<br />
nítidos em relação às estruturas normais da região<br />
(artéria carótida interna, processo clinói<strong>de</strong>, borda<br />
tentorial e seio cavernoso esquerdos). A ressonância<br />
confirmou a relação anatômica da lesão com estruturas<br />
adjacentes citadas acima, além <strong>de</strong> sinal flow-void<br />
circundado <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> hiper e <strong>de</strong> hipossinal no interior,<br />
sugestivas <strong>de</strong> trombo organizado (Figura 2). A paciente<br />
foi submetida à angiografia cerebral que revelou<br />
múltiplos aneurismas, assim <strong>de</strong>scritos: aneurisma da<br />
artéria carótida interna esquerda em seu segmento<br />
comunicante posterior; aneurismas <strong>de</strong> artéria carótida<br />
interna direita bilobado no segmento comunicante<br />
posterior e no segmento oftálmico, do tipo hipofisária<br />
superior paraclinói<strong>de</strong> (Figura 3).<br />
Suspeitando que o aneurisma localizado à esquerda<br />
era o responsável pela sintomatologia, essa lesão foi<br />
abordada, em primeira instância, ocluindo-a e esvaziando-se<br />
o seu conteúdo. De acordo com a estimativa<br />
cirúrgica, media aproximadamente 40 mm em seu maior<br />
diâmetro, originando-se no segmento comunicante<br />
posterior da artéria carótida interna, com colo medindo<br />
aproximadamente 6 mm e corpo e fundo voltados<br />
póstero-lateralmente sobre o teto do seio cavernoso<br />
(espaço póstero-superior) e a<strong>de</strong>ridos à borda tentorial<br />
paraclinói<strong>de</strong>. Após três meses, os aneurismas restantes<br />
também foram ocluídos sem intercorrências. A paciente<br />
evoluiu bem em ambos os períodos pós-operatórios,<br />
retornando às suas ativida<strong>de</strong> regulares duas semanas<br />
após a segunda cirurgia, sem dor e, portanto, não<br />
necessitando <strong>de</strong> analgésicos.<br />
.<br />
185
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />
Figura 1 – À esquerda, tomografia computadorizada na fase pré-contraste <strong>de</strong>monstrando lesão arredondada ocupando a<br />
cisterna carotí<strong>de</strong>a esquerda; à direita, fase contrastada <strong>de</strong>monstrando captação heterogênea do contraste.<br />
Figura 2 – Ressonância magnética do crânio. Observam-se sinais <strong>de</strong> flow-void,<br />
sugestivas <strong>de</strong> trombo organizado no interior da lesão.<br />
Figura 3 – Angiografia mostrando aneurismas da artéria carótida interna esquerda no segmento comunicante posterior e da<br />
artéria carótida interna direita nos segmentos comunicante posterior e hipofisária superior.<br />
Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Silva MN<br />
186
Discussão<br />
Na prática clínica, a neuralgia trigeminal clássica<br />
(tic douloureux) é uma das causas mais freqüentes<br />
<strong>de</strong> dor facial. Caracteristicamente, a dor é recorrente,<br />
paroxística, intensa e <strong>de</strong> curta duração, com ou sem<br />
zona <strong>de</strong> gatilho. De acordo com Dandy 4 e, mais<br />
recentemente, Jannetta 6 , é causada pela presença <strong>de</strong><br />
alças vasculares que pulsam continuamente sobre o<br />
nervo trigêmeo em sua zona <strong>de</strong> entrada da raiz dorsal<br />
(dorsal root entry zone), região em que ocorre junção<br />
da mielina central com a periférica. Estudos postmortem<br />
<strong>de</strong> pacientes com neuralgia trigeminal<br />
<strong>de</strong>monstram essa alteração. Nas <strong>de</strong>scompressões<br />
neurovasculares para tratamento da neuralgia trigeminal,<br />
a artéria cerebelar superior é a que mais<br />
freqüentemente se encontra pulsando sobre o nervo.<br />
Outros vasos e outras lesões po<strong>de</strong>m estar implicados<br />
como causadores <strong>de</strong> neuralgia trigeminal, como a<br />
artéria cerebelar anterior-inferior, a veia petrosa <strong>de</strong><br />
Dandy e a má-formação arteriovenosa da fossa<br />
posterior 10 . Alterações anatômicas semelhantes são<br />
encontradas em outros grupos neurovasculares da<br />
fossa posterior do crânio provocando o espasmo<br />
hemifacial, a neuralgia do glossofaríngeo e a<br />
hipertensão arterial 7 .<br />
Aneurismas intracranianos po<strong>de</strong>m causar dor facial.<br />
Geralmente essas lesões localizam-se na fossa posterior<br />
do crânio, no seio cavernoso ou em sua adjacência.<br />
Quando essas lesões se localizam no seio cavernoso<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar a síndrome paratrigeminal <strong>de</strong> Rae<strong>de</strong>r.<br />
Nessa rara síndrome, <strong>de</strong>scrita em <strong>19</strong>24, ocorre dor<br />
facial intensa com paralisia do simpático ocular,<br />
ocasionando ptose palpebral e miose ipsilaterais à<br />
lesão, po<strong>de</strong>ndo, também, um ou mais nervos cranianos<br />
estar envolvidos 5,8 . Algumas condições po<strong>de</strong>m ter<br />
relação causal com essa síndrome, como hipertensão<br />
arterial, traumas leves, arteriosclerose e migrânea.<br />
Diversas publicações já trataram da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssa<br />
doença e <strong>de</strong> sua relação com aneurismas da artéria<br />
carótida interna intracavernosa 1,2,5,8 .<br />
A paciente em discussão apresentava dor facial que<br />
acometia os territórios dos ramos maxilar e oftálmico<br />
do nervo trigêmeo e que, do ponto <strong>de</strong> vista clínico, foi<br />
consi<strong>de</strong>rada atípica, principalmente por suas características<br />
com relação ao tipo <strong>de</strong> dor (“em peso”) e à<br />
ausência <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> gatilho, apesar <strong>de</strong> esta última não<br />
estar presente em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> pacientes com<br />
neuralgia trigeminal essencial. Dessa forma, a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sta paciente apresentar neuralgia trigeminal<br />
clássica tornou-se remota. Dor facial constitui uma das<br />
principais características da síndrome paratrigeminal,<br />
porém, apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos consi<strong>de</strong>rar que havia ptose<br />
palpebral em nosso caso, não notamos miose em<br />
Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />
Silva MN<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />
momento algum <strong>de</strong> sua evolução, fato que também<br />
afasta a síndrome <strong>de</strong> Horner. Clinicamente, a oftalmoplegia<br />
dolorosa (síndrome <strong>de</strong> Tolosa-Hunt) e a<br />
enxaqueca oftalmoplégica (enxaqueca associada)<br />
po<strong>de</strong>riam fazer parte do diagnóstico diferencial 12 . A<br />
investigação revelou um aneurisma gigante (> 25 mm)<br />
da artéria carótida interna em seu segmento comunicante<br />
posterior. Tipicamente, aneurismas nessa localização<br />
costumam apresentar-se principalmente com<br />
lesão do nervo oculomotor. Nesse caso, dor facial é<br />
apresentação atípica e rara para a doença <strong>de</strong>scrita nessa<br />
localização.<br />
Em <strong>19</strong>80, Leopold e cols. 9 <strong>de</strong>screveram um caso<br />
<strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> 62 anos que apresentava dor facial<br />
paroxística e recorrente no qual a investigação <strong>de</strong>monstrou<br />
um aneurisma <strong>de</strong> artéria comunicante<br />
posterior. Em <strong>19</strong>82, Broggi e Franzini 3 , estudando os<br />
efeitos da rizotomia por radiofreqüência em pacientes<br />
com dor facial <strong>de</strong> diversas etiologias, encontraram um<br />
paciente com aneurisma <strong>de</strong> artéria comunicante<br />
posterior. Contudo, a patofisiologia da dor facial<br />
nesses casos permanece no âmbito da especulação.<br />
Aneurismas localizados no compartimento anterior do<br />
círculo <strong>de</strong> Willis po<strong>de</strong>m se manifestar com dor facial<br />
retroorbitária, ou simplesmente por cefaléia causada<br />
por trombose, ou por expansão natural do aneurisma,<br />
ou somente por processo inflamatório ao redor da<br />
lesão com irritação meníngea secundária. Em nosso<br />
caso, acreditamos que a transmissão da pulsação<br />
intermitente do aneurisma aos ramos oftálmico e<br />
maxilar do nervo trigêmeo tenha sido a responsável<br />
pelo aparecimento <strong>de</strong> dor facial paroxística. De acordo<br />
com nossa pesquisa, esse é o quarto caso <strong>de</strong>scrito na<br />
literatura e o primeiro em literatura <strong>de</strong> língua portuguesa.<br />
Aspectos clínicos <strong>de</strong>talhados são <strong>de</strong> extrema importância<br />
para o diagnóstico <strong>de</strong> doenças neurológicas,<br />
até mesmo dos aneurismas intracranianos que,<br />
quando apresentam algum sintoma, necessitam <strong>de</strong><br />
diagnóstico e tratamento precoces. Diagnósticos realizados<br />
somente com metodologia <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong>monstram,<br />
em sua maioria, <strong>de</strong>ficiência na etapa semiotécnica.<br />
Portanto, torna-se importante incluir dor facial<br />
paroxística como sintomatologia, ainda que infreqüente,<br />
<strong>de</strong> aneurisma intracraniano localizado na<br />
artéria carótida supraclinói<strong>de</strong>. Nosso caso corrobora<br />
a teoria <strong>de</strong> Dandy e Jannetta <strong>de</strong> que pulsações<br />
vasculares intermitentes sobre o nervo trigêmeo são<br />
responsáveis por dor facial paroxística. Entretanto,<br />
acreditamos que lesões vasculares mais periféricas,<br />
localizadas além da zona <strong>de</strong> entrada da raiz dorsal,<br />
po<strong>de</strong>m-se manifestar com neuralgia trigeminal.<br />
Possivelmente, estudos subseqüentes serão necessários<br />
para estabelecer <strong>de</strong>finitivamente essa<br />
relação.<br />
187
Referências<br />
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37:251-5, <strong>19</strong>93.<br />
Original recebido em janeiro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em maio <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Marcelo Nery Silva<br />
Rua Vergueiro, 3086/cj. 121<br />
CEP 04102-001 – São Paulo, SP<br />
E-mail: marcelo.reiko@originet.com.br<br />
188
Introdução<br />
Hemangioma vertebral sintomático<br />
durante a gravi<strong>de</strong>z<br />
Relato <strong>de</strong> caso e revisão da literatura<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />
Rogério Gomes Damasceno*, Marcelo Luís Mudo**, Mirto Nerso Prandini***<br />
Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo<br />
RESUMO<br />
Os hemangiomas vertebrais são lesões bastante freqüentes, mas raramente tornam-se<br />
sintomáticas. Há poucos casos relatados na literatura <strong>de</strong> hemangiomas vertebrais causando<br />
sintomas <strong>de</strong> compressão medular durante a gravi<strong>de</strong>z. Relatamos um caso nessa situação,<br />
discutindo os aspectos diagnósticos, as manifestações clínicas, a fisiopatologia e o tratamento.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Hemangioma vertebral. Gravi<strong>de</strong>z. Tumor vertebral.<br />
ABSTRACT<br />
Spinal hemangioma and pregnancy. Case report<br />
Despite the high inci<strong>de</strong>nce of vertebral hemangiomas, they rarely become symptomatic. Only a<br />
few cases of vertebral hemangiomas causing spinal cord compression during pregnancy as<br />
occurred in this case presentation were reported. The diagnostic aspects, clinical manifestations,<br />
physiopathology and treatment are discussed.<br />
KEYWORDS<br />
Spinal haemangioma. Pregnancy. Spinal tumor.<br />
Os hemangiomas vertebrais foram <strong>de</strong>scritos pela<br />
primeira vez por Virchow 30 , em 1863, na Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Berlim. . O primeiro relato <strong>de</strong> compressão medular<br />
por hemangioma foi apresentado por Gerhardt 12 , em<br />
1895. A primeira <strong>de</strong>scrição das características radiológicas<br />
<strong>de</strong>ssa lesão foi feita por Perman 24 , em <strong>19</strong>26, que<br />
observou a presença <strong>de</strong> estrias verticais produzidas<br />
pela alternância <strong>de</strong> zonas ósseas com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
reduzida e trabéculas <strong>de</strong> osso mais <strong>de</strong>nso, na radiografia<br />
simples. Em <strong>19</strong>48, Guthkelch 14 relatou, pela primeira vez,<br />
um caso <strong>de</strong> hemangioma vertebral levando à compressão<br />
medular durante a gravi<strong>de</strong>z.<br />
Estudos <strong>de</strong> autópsia têm <strong>de</strong>monstrado que essas<br />
lesões ocorrem em cerca <strong>de</strong> 10% a 12% da popu-<br />
lação 11,15 , e sintomas <strong>de</strong>vidos a elas são raros,<br />
ocorrendo em aproximadamente 0,9% a 1,2% dos<br />
indivíduos com hemangioma 27 . A incidência <strong>de</strong> hemangiomas<br />
sintomáticos predomina em adultos jovens 27 .<br />
Hemangiomas vertebrais são comuns nas regiões<br />
torácica baixa e lombar 13 , porém os hemangiomas sintomáticos<br />
da gravi<strong>de</strong>z inci<strong>de</strong>m mais na coluna torácica<br />
alta (Quadro 1). Tanto os elementos anteriores (corpo<br />
da vértebra) quanto os posteriores (pedículos, lâminas<br />
e processo espinhoso) são atingidos, aproximadamente,<br />
com igual freqüência 13 .<br />
O advento da ressonância magnética possibilitou o<br />
diagnóstico mais acurado e com riscos menores durante<br />
a gravi<strong>de</strong>z, tanto do ponto <strong>de</strong> vista materno quanto fetal.<br />
Existem diversas formas <strong>de</strong> tratamento para o<br />
hemangioma vertebral sintomático durante o período<br />
* Neurocirurgião do Ambulatório <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital São Paulo – UNIFESP.<br />
** Pós-graduando do Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia – UNIFESP.<br />
*** Docente da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo e Chefe da Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da UNIFESP.<br />
189
Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />
Damasceno RG e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />
Quadro1<br />
Hemangiomas vertebrais relacionados à gravi<strong>de</strong>z relatados na literatura<br />
Autor Ida<strong>de</strong> I.G Local Tratamento Evolução<br />
1. Guthkelch 34 3 T5 C óbito<br />
2. Lam 3 6 3 T3 C RC<br />
3. David 30 3 T12 C RC<br />
4. Fields 30 2 T6 C RC<br />
5. Askenasi 20 3 T11 C + RT RC<br />
6. Acquaviva 40 3 T3 C RC<br />
7. Newman 24 3 T2 C RC<br />
8. Newquist <strong>19</strong> 2 C7/T4 C RP<br />
9. Nelson 16 3 T3 C + RT RP<br />
10. Esparza 22 3 T5/T6 C + EMB<br />
2<br />
RP<br />
a C + RT<br />
11. Bouchez 24 2 T2 EMB RP<br />
12. Lavi 25 3 T4 C RC<br />
13. Lavi 21 3 T2 C RC<br />
14. Faria 4 0 3 T3 C + RT RC<br />
15. Liu 2 5 2 T4 C RC<br />
16. Schwartz 30 3 T5 C RP<br />
17. Tekköp 25 3 T4/T7 C RC<br />
18. Re<strong>de</strong>kop 20 3 T12 C RP<br />
<strong>19</strong>. Pougvarin 20 2 T2 C SR<br />
20 Abi-Fa<strong>de</strong>l 28 3 T9 C RC<br />
21. Presente caso 2 0 3 T6 C RC<br />
IG: ida<strong>de</strong> gestacional; C: cirurgia; EMB: embolização; RT: radioterapia; RC: recuperação completa; RP: recuperação parcial; SR: sem recuperação.<br />
gestacional que incluem: interrupção da gestação,<br />
cirurgia, radioterapia e embolização, além dos vários<br />
tipos <strong>de</strong> combinação entre esses métodos 1,2,3,5,6,8,<br />
9,10,14,17,18,<strong>19</strong>,21,22,23,25,26,28,29 .<br />
Neste relato, apresentamos mais um caso <strong>de</strong><br />
hemangioma vertebral relacionado à gravi<strong>de</strong>z e com<br />
comprometimento neurológico, além <strong>de</strong> revisarmos<br />
aspectos clínicos, radiológicos, fisiopatológicos,<br />
anatomopatológicos e os concernentes ao tratamento.<br />
Relato do caso<br />
I<strong>de</strong>ntificação: mulher, 20 anos, cor branca, do lar,<br />
natural e proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> São Paulo, capital.<br />
Antece<strong>de</strong>ntes: secundigesta, primípara, 35 a semana<br />
<strong>de</strong> gestação; sem moléstias crônicas pregressas.<br />
Realizou pré-natal regularmente e sem intercorrências.<br />
História da moléstia atual: a um mês da internação,<br />
a paciente começou a apresentar sensação <strong>de</strong> formigamento<br />
em ambos os membros inferiores, a princípio<br />
<strong>de</strong> pouca intensida<strong>de</strong>, atingindo predominantemente<br />
as regiões mais distais (pés e pernas). Concomitante a<br />
esse quadro, a mesma apresentava episódios freqüentes<br />
<strong>de</strong> queda da própria altura. A uma semana da internação,<br />
a sensação <strong>de</strong> formigamento associou-se à dor<br />
nos membros inferiores. Já nessa época a paciente não<br />
conseguia <strong>de</strong>ambular, permanecendo restrita ao leito.<br />
Como as dores tornavam-se cada vez mais intensas,<br />
ela procurou assistência médica em nosso hospital. No<br />
dia da admissão queixava-se <strong>de</strong> dor na região dorsal<br />
média e não mais conseguia controlar a diurese,<br />
necessitando <strong>de</strong> sondagem vesical.<br />
Exame físico geral: a paciente apresentava-se corada,<br />
com pulso <strong>de</strong> 90 bpm e pressão arterial <strong>de</strong> 100 mmHg x<br />
60 mmHg. Havia dor à palpação <strong>de</strong> região dorsal média.<br />
Exame obstétrico: abdome globoso com útero a 10 cm<br />
acima da cicatriz umbilical. Feto único, tópico, apresentação<br />
cefálica, foco presente e rítmico a 144 bpm.<br />
Exame neurológico: força muscular grau II para<br />
todos os grupos musculares dos membros inferiores<br />
bilateralmente. Havia diminuição acentuada <strong>de</strong> todas<br />
as formas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> abaixo do nível do processo<br />
xifói<strong>de</strong>. Os reflexos patelares e aquileus eram exaltados,<br />
com clônus, e havia sinal <strong>de</strong> Babinski bilateralmente.<br />
A ressonância magnética <strong>de</strong> coluna torácica<br />
(Figura 1) revelou a presença <strong>de</strong> lesão hipointensa em<br />
T6, comprometendo tanto o corpo vertebral quanto os<br />
elementos posteriores, que se realçava intensa e<br />
uniformemente após injeção <strong>de</strong> contraste paramagnético;<br />
em T2, a lesão era francamente hiperintensa e uniforme.<br />
Além disso, havia uma lesão fusiforme epidural<br />
comprimindo o saco dural, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> T5 até T7, com as<br />
mesmas características da lesão do corpo vertebral.<br />
<strong>19</strong>0
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />
Figura 1 – Ressonância magnética pré-operatória. Figura à esquerda, imagem sem contraste. Na figura à direita, nota-se<br />
realce do corpo vertebral <strong>de</strong> T6 bem como dos elementos posteriores após a injeção <strong>de</strong> contraste. Observa-se, também, uma<br />
extensa área <strong>de</strong> realce <strong>de</strong> tecido no espaço epidural que comprime a medula no nível da vértebra comprometida.<br />
No dia seguinte à admissão, a paciente foi submetida<br />
à cesariana, sem intercorrências, com extração <strong>de</strong><br />
feto masculino com boa vitalida<strong>de</strong>. No segundo dia<br />
após a admissão, como a paciente apresentava piora<br />
da força nos membros inferiores (grau I), foi submetida<br />
à cirurgia <strong>de</strong>scompressiva posterior (em que predominava<br />
a compressão). A paciente foi colocada em<br />
<strong>de</strong>cúbito ventral, feita incisão reta mediana sobre os<br />
processos espinhosos <strong>de</strong> T5 a T7. Feita a exposição<br />
<strong>de</strong>stes, notou-se que o processo espinhoso <strong>de</strong> T6<br />
encontrava-se aumentado, além <strong>de</strong> apresentar uma<br />
coloração violácea, observando-se vários pontos <strong>de</strong><br />
sangramento abundante por on<strong>de</strong> penetravam numerosos<br />
vasos sangüíneos. À medida que era realizada<br />
a laminectomia, houve perda profusa <strong>de</strong> sangue pela<br />
vértebra comprometida, <strong>de</strong> difícil controle, fazendo<br />
com que a pressão arterial caísse rapidamente, chegando<br />
a causar instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica. A<br />
paciente, porém, respon<strong>de</strong>u a<strong>de</strong>quadamente às manobras<br />
<strong>de</strong> reversão do quadro, retornando a níveis<br />
pressóricos satisfatórios após breve espaço <strong>de</strong> tempo.<br />
Foi realizada a laminectomia <strong>de</strong> T5 a T7, com a retirada<br />
<strong>de</strong> tecido epidural bastante vascularizado até a visibilização<br />
<strong>de</strong> dura-máter pulsátil. Feita a hemostasia e<br />
fechada ferida por planos.<br />
Foram feitas tomografia computadorizada e ressonância<br />
magnética <strong>de</strong> controle após a cirurgia (Figuras<br />
2 e 3). A paciente recebeu alta após uma semana, com<br />
quadro neurológico inalterado e utilizando colete<br />
bivalvado do tipo Boston.<br />
Um mês e meio após a cirurgia, foi readmitida para<br />
colocação <strong>de</strong> haste <strong>de</strong> Hartshill, em virtu<strong>de</strong> do gran<strong>de</strong><br />
comprometimento do corpo vertebral pelo processo.<br />
Nessa época, a força muscular dos membros inferiores<br />
havia melhorado até grau IV, a hipostesia havia<br />
<strong>de</strong>saparecido e notava-se controle a<strong>de</strong>quado da diurese.<br />
Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />
Damasceno RG e cols.<br />
Figura 2 – Ressonância magnética pós-operatória, com<br />
contraste. Há realce do corpo vertebral <strong>de</strong> T6 após a<br />
injeção <strong>de</strong> contraste. Não há sinais <strong>de</strong> compressão medular.<br />
O leito operatório apresenta realce intenso.<br />
Figura 3 – Tomografia computadorizada pós-operatória,<br />
sem contraste, em janela para partes moles, mostrando a<br />
ampla <strong>de</strong>scompressão. O corpo vertebral apresenta o<br />
aspecto típico em polka-dot.<br />
<strong>19</strong>1
A fixação foi realizada sem intercorrências. Esse<br />
procedimento não foi realizado no mesmo tempo cirúrgico<br />
da <strong>de</strong>scompressão por causa do intenso sangramento.<br />
No controle ambulatorial, nos dois anos seguintes,<br />
constatou-se recuperação total do quadro neurológico.<br />
Discussão<br />
Há apenas 21 casos <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong> hemangioma<br />
vertebral levando à compressão medular durante a<br />
gravi<strong>de</strong>z 1,2,3,5,6,8,9,10,14,17,18,<strong>19</strong>,21,22,23,25,26,28,29 , incluindo o<br />
<strong>de</strong>scrito neste relato (Quadro 1). No trabalho <strong>de</strong> Lavi 18<br />
há relato <strong>de</strong> dois casos . A ida<strong>de</strong> das pacientes variou<br />
entre 16 21 e 40 anos 2 , correspon<strong>de</strong>ndo ao período<br />
reprodutivo feminino. Não houve predominância em<br />
nenhuma década específica.<br />
A ida<strong>de</strong> gestacional mais comumente associada ao<br />
aparecimento dos sintomas neurológicos foi o terceiro<br />
trimestre, com 16 casos relatados, e, em seguida, o<br />
segundo trimestre, com 5 casos. Não houve caso<br />
relatado no primeiro trimestre (Quadro 1).<br />
As vértebras mais acometidas são as da região<br />
torácica alta. Comprometimentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> C7 a T12 são<br />
relatados (Quadro 1).<br />
As manifestações clínicas mais freqüentemente<br />
associadas à presença <strong>de</strong> hemangiomas são:<br />
1 – Dor, principalmente localizada sobre a projeção<br />
da vértebra comprometida 20 . Po<strong>de</strong> existir também a dor<br />
em projeção <strong>de</strong> <strong>de</strong>rmátomo (radicular) <strong>de</strong>corrente da<br />
compressão <strong>de</strong> raízes espinhais 3 ;<br />
2 – Alterações das curvaturas da coluna, levando<br />
tanto à cifose quanto à escoliose 27 ;<br />
3 – Compressão medular 4,20 . . Há diversos mecanismos<br />
<strong>de</strong>scritos para explicar o aparecimento <strong>de</strong> quadro<br />
neurológico <strong>de</strong>vido aos hemangiomas vertebrais.<br />
Citam-se 13 :<br />
• crescimento do tumor para <strong>de</strong>ntro do espaço<br />
epidural e conseqüente compressão da medula<br />
pelo tumor;<br />
• expansão do osso levando a uma estenose do<br />
canal vertebral e conseqüente compressão<br />
medular;<br />
• compressão medular por vasos que alimentam<br />
ou drenam a lesão;<br />
• compressão medular por fratura da vértebra<br />
comprometida;<br />
• hemorragia espontânea produzindo hematoma<br />
epidural espinhal;<br />
• isquemia medular <strong>de</strong>vida a roubo <strong>de</strong> fluxo.<br />
Na gravi<strong>de</strong>z, além dos mecanismos anteriormente<br />
citados, há ainda <strong>de</strong>talhes etiopatogênicos específicos,<br />
entre os quais po<strong>de</strong>mos citar:<br />
Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />
Damasceno RG e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />
1 – Teoria mecânico-hemodinâmica: compressão<br />
do sistema venoso cava inferior pelo útero gravídico,<br />
levando à congestão venosa que se transmite ao<br />
sistema venoso vertebral interno e externo. Há<br />
aumento do volume sangüíneo total na grávida, o<br />
que po<strong>de</strong> levar à congestão venosa. O volume<br />
sangüíneo é 50% maior por volta da 32 a semana <strong>de</strong><br />
gestação 26 .<br />
2 – Teoria químico-hormonal: crescimento do<br />
tumor, induzido por fatores hormonais (estrogênio e<br />
progesterona), apesar <strong>de</strong> não terem sido <strong>de</strong>monstrados<br />
receptores para esses hormônios em hemangiomas<br />
sintomáticos da gravi<strong>de</strong>z. A relaxina, hormônio abundante<br />
durante o terceiro trimestre da gravi<strong>de</strong>z, po<strong>de</strong><br />
ter efeito sobre as pare<strong>de</strong>s vasculares 1 . As teorias<br />
mecânicas explicam o fato <strong>de</strong> que os sintomas costumam<br />
aparecer no terceiro trimestre da gravi<strong>de</strong>z e<br />
melhoram imediatamente após o parto 26 . A teoria<br />
hormonal explica alguns casos <strong>de</strong> piora clínica nessa<br />
enfermida<strong>de</strong> durante o período menstrual 7 , além da<br />
melhora após o parto 18 .<br />
A primeira <strong>de</strong>scrição radiológica dos hemangiomas<br />
vertebrais foi feita por Perman 24 , em <strong>19</strong>26, que <strong>de</strong>screveu<br />
a imagem típica <strong>de</strong> estriações verticais produzidas por<br />
zonas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óssea reduzida entre trabéculas<br />
ósseas mais <strong>de</strong>nsas. Esse aspecto é comumente referido<br />
como “favo <strong>de</strong> mel” e ocorre principalmente no corpo<br />
vertebral 24 . Um terço das colunas afetadas tem mais <strong>de</strong><br />
uma vértebra comprometida 16 .<br />
O aspecto encontrado na tomografia computadorizada<br />
é chamado <strong>de</strong> “polka dot”, correspon<strong>de</strong>ndo à visão<br />
em cortes axiais <strong>de</strong> trabéculas ósseas <strong>de</strong>nsas ao lado<br />
<strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> 13 (Figura 3). Nesse<br />
método, há melhor visibilização tanto das estruturas<br />
vertebrais comprometidas quanto das expansões do<br />
tumor para o espaço epidural.<br />
Atualmente, a ressonância magnética, em virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sua inocuida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudo em<br />
diversos planos, tornou-se o exame <strong>de</strong> escolha para as<br />
afecções compressivas da medula espinhal, em especial<br />
em pacientes grávidas, pois previne-se a exposição do<br />
feto à radiação. A lesão aparece hiperintensa em T2,<br />
hipointensa em T1 e há realce intenso após a injeção<br />
<strong>de</strong> contraste (Figura 1). As lesões que apresentam<br />
hipersinal, tanto em T1 como em T2, possuem um<br />
gran<strong>de</strong> conteúdo <strong>de</strong> gordura, portanto com menor<br />
propensão a tornar-se sintomáticas 13 .<br />
De acordo com as teorias que tentam explicar a<br />
manifestação <strong>de</strong>ssas lesões durante a gravi<strong>de</strong>z, o<br />
próprio término da gestação seria suficiente para<br />
melhorar os sintomas. Esse fato, porém, não aconteceu<br />
em nosso caso. O parto, preferencialmente, <strong>de</strong>veria ser<br />
por via cesariana, pois evita-se o aumento da pressão<br />
venosa no plexo <strong>de</strong> Batson. Além disso, as pacientes<br />
po<strong>de</strong>m estar com dificulda<strong>de</strong> para fazer com que a<br />
<strong>19</strong>2
prensa abdominal seja um mecanismo fisiológico efetivo<br />
no período expulsivo .<br />
As formas <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>scritas na literatura para<br />
essa doença nosológica são, basicamente, cirurgia,<br />
radioterapia e embolização associadas entre si, ou não<br />
(Quadro 1). No estudo <strong>de</strong>sses 21 casos <strong>de</strong>scritos na<br />
literatura até o momento, constatamos que todas essas<br />
formas <strong>de</strong> tratamento foram empregadas durante a<br />
gravi<strong>de</strong>z em diversas combinações. Na maioria das<br />
vezes, o tratamento escolhido foi o cirúrgico (20 casos).<br />
Há apenas um relato <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>scrito por Bouchez 5 em<br />
que foi empregada apenas a embolização, com recuperação<br />
completa do quadro neurológico. Em 5 <strong>de</strong>sses 20<br />
casos cirúrgicos foi empregado tratamento complementar,<br />
seja com radioterapia isolada (4 casos), seja<br />
com radioterapia e embolização (1 caso).<br />
Dos 21 casos <strong>de</strong>scritos, 14 evoluíram com recuperação<br />
neurológica completa (incluindo o presente<br />
caso), 5 com recuperação apenas parcial, 1 sem<br />
recuperação e 1 óbito. O óbito ocorreu apenas no<br />
primeiro caso <strong>de</strong>scrito, em <strong>19</strong>48, por Guthkelch 14 .<br />
Conclusão<br />
O hemangioma vertebral po<strong>de</strong> ser causa <strong>de</strong><br />
compressão medular durante a gravi<strong>de</strong>z. Há apenas 21<br />
casos <strong>de</strong>scritos até agora na literatura (incluindo o<br />
presente caso). A manifestação clínica ocorreu, em todos<br />
os casos, nos dois últimos trimestres da gestação,<br />
sendo muito mais freqüente no terceiro. Há duas teorias<br />
que tentam explicar esse fato: a teoria mecânicohemodinâmica<br />
e a teoria químico-hormonal. O diagnóstico<br />
<strong>de</strong>ve ser realizado, preferencialmente, por estudo<br />
<strong>de</strong> ressonância magnética. O tratamento adotado nos<br />
casos relatados na literatura é, na maioria das vezes,<br />
cirúrgico (<strong>19</strong> casos), po<strong>de</strong>ndo-se usar radioterapia e<br />
embolização como tratamentos adjuvantes (4 casos).<br />
Em <strong>19</strong> casos houve melhora ou estabilização do quadro<br />
neurológico com o tratamento. Há relato <strong>de</strong> apenas um<br />
óbito 14 .<br />
Acreditamos que a resolução da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>va ser<br />
por via cesariana para evitar o aumento da pressão<br />
venosa intra-abdominal e, por conseguinte, do espaço<br />
epidural no período expulsivo. Além disso, a paresia<br />
da musculatura po<strong>de</strong> prejudicar a efetivida<strong>de</strong> da prensa<br />
abdominal durante o trabalho <strong>de</strong> parto.<br />
O diagnóstico precoce e acurado <strong>de</strong>ssa doença é<br />
<strong>de</strong> fundamental importância, tanto para a conduta<br />
perante a gestação como para a programação da terapêutica<br />
neurocirúrgica, haja vista que essa doença<br />
po<strong>de</strong> ser uma causa <strong>de</strong> paraparesia durante a<br />
gravi<strong>de</strong>z.<br />
Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />
Damasceno RG e cols.<br />
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Original recebido em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Rogério G. Damasceno<br />
Rua Borges Lagoa, 836 – ap. 64<br />
CEP 04038-001 – São Paulo, SP<br />
E-mail: rogeriog@uol.com.br<br />
<strong>19</strong>4
Introdução<br />
Meralgia parestésica na infância<br />
Relato <strong>de</strong> caso<br />
Carlos Umberto Pereira, Ednaldo Monteiro Fontes Segundo,<br />
João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />
Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe. Aracaju, SE<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>5-<strong>19</strong>7, <strong>2000</strong><br />
RESUMO<br />
A meralgia parestésica tem sido observada em crianças. Sua etiologia é variada e o tratamento,<br />
na maioria dos casos, é conservador. Os autores discutem suas causas, meios <strong>de</strong> diagnóstico,<br />
tratamento e prognóstico.<br />
PALAVRA-CHAVE<br />
Meralgia parestésica.<br />
ABSTRACT<br />
Meralgia paresthetica in childhood. Case report.<br />
Meralgia paresthetica has been observed in children. It is presented a case of a ten year-old child<br />
which <strong>de</strong>veloped meralgia paresthetica following a fall. The patient showed a good recovery after<br />
conservative treatment.<br />
KEYWORDS<br />
Meralgia paresthetica.<br />
Meralgia parestésica, ou síndrome <strong>de</strong> Bernhardt-<br />
Roth, é uma neuropatia <strong>de</strong> causas traumática e<br />
metabólica que acomete o nervo cutâneo lateral da coxa.<br />
O comprometimento unilateral <strong>de</strong>sse nervo ocorre em<br />
80% dos casos e, em 20%, é bilateral 8,9,15,<strong>19</strong>,20 . A doença<br />
caracteriza-se, principalmente, por parestesia e transtornos<br />
sensitivos (anestesia ou hiperestesia) na região<br />
ântero-lateral da coxa e tem como fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />
mais importante a compressão ou tração <strong>de</strong>sse<br />
nervo 15,16,<strong>19</strong> .<br />
Os autores <strong>de</strong>screvem um caso <strong>de</strong> meralgia parestésica<br />
em uma criança do sexo masculino, com 10 anos<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, vítima <strong>de</strong> queda da própria altura, que <strong>de</strong>senvolveu<br />
parestesia na face anterior da coxa direita. Foi<br />
submetida a tratamento conservador, com recuperação<br />
total. São <strong>de</strong>scritas suas causas, fisiopatologia,<br />
diagnóstico, tratamento e prognóstico.<br />
Relato do caso<br />
D.M.P., sexo masculino, 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Segundo<br />
a genitora, o menor sofreu queda da própria altura,<br />
batendo com a coxa direita em um obstáculo; sentiu dor<br />
na coxa no momento do trauma. Quatro dias após o<br />
trauma, começou a sentir “formigamento” na face anterior<br />
da coxa; fez uso <strong>de</strong> analgésicos simples por 48 horas e<br />
não obteve melhora, sendo encaminhado ao ambulatório<br />
<strong>de</strong> neurocirurgia para avaliação especializada.<br />
Exame neurológico: orientado, força muscular<br />
normal nos membros inferiores; reflexos profundos<br />
(patelar e aquileu) normais; hipoestesia táctil e dolorosa<br />
na face anterior da coxa; ausência <strong>de</strong> alterações<br />
esfincterianas.<br />
Radiografia da coluna lombossacra: bacia e coxa<br />
direita normais.<br />
Impressão diagnóstica: compressão traumática do<br />
nervo cutâneo lateral da coxa direita.<br />
Foi submetido a tratamento com complexo B, antiinflamatórios<br />
não-hormonais e fisioterapia motora. Após<br />
<strong>de</strong>z dias <strong>de</strong> tratamento, retornou ao nosso ambulatório,<br />
sem queixas <strong>de</strong> dormência na face anterior da coxa direita.<br />
Discussão<br />
O nervo cutâneo lateral da coxa tem função exclusivamente<br />
sensitiva, é originário dos segmentos L2 e L3,<br />
<strong>19</strong>5
sendo também relatada a participação <strong>de</strong> L1, do<br />
plexo lombar. No seu trajeto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> emergir da coluna<br />
lombar, passa por baixo da fáscia ilíaca, sai ao nível da<br />
espinha ilíaca ântero-superior, <strong>de</strong>sce na coxa abaixo da<br />
fáscia lata e divi<strong>de</strong>-se em dois ramos: o ramo posterior<br />
tem trajeto oblíquo para trás, através da fáscia lata, e<br />
transmite a sensibilida<strong>de</strong> cutânea da região superior<br />
externa das ná<strong>de</strong>gas. O ramo anterior, que é mais<br />
importante em termos clínicos, atravessa a fáscia lata<br />
em um pequeno canal fibroso, cerca <strong>de</strong> 10 cm abaixo do<br />
ligamento inguinal, e transmite a sensibilida<strong>de</strong> da pele<br />
da superfície externa da coxa 1,6,7,8,9,15,<strong>19</strong> .<br />
As causas mais comuns <strong>de</strong> meralgia parestésica<br />
são <strong>de</strong> origem mecânica, que po<strong>de</strong>m, freqüentemente,<br />
levar à compressão ou tração do nervo cutâneo lateral<br />
da coxa, pois esse nervo é superficial e faz um longo<br />
trajeto intra-abdominal. Sendo assim, o uso <strong>de</strong> calça<br />
jeans e cinto apertados, osteotomia pélvica <strong>de</strong> Chiari,<br />
fratura da pelve, trauma na região inguinal ou da coxa,<br />
obesida<strong>de</strong>, ascite, tração ou lesão durante atos cirúrgicos<br />
na região inguinal e cicatrizes cirúrgicas na região<br />
abdominal po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar essa neuropatia<br />
7,8,11,15,16,20 . Além disso, menos freqüentemente, o nervo<br />
é suscetível, ao longo <strong>de</strong> seu trajeto, a outras enfermida<strong>de</strong>s,<br />
como: compressões discais, tumores<br />
espinhais, espasmos do músculo psoas, processos<br />
inflamatórios ou tumorais na região do ceco, apêndice<br />
vermiforme e cólon sigmói<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m acometer as regiões<br />
pélvicas próximas ao seu trajeto 3,8,15,20 .<br />
Os sintomas mais comumente presentes nos casos<br />
<strong>de</strong> meralgia parestésica variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a hiperestesia à<br />
anestesia total no território inervado pelo nervo<br />
cutâneo lateral da coxa. É comum o relato <strong>de</strong> sensações<br />
<strong>de</strong> queimação local, formigamento, sensação <strong>de</strong> calor<br />
ou frio, <strong>de</strong>scarga elétrica, agulhadas e dormência parcial<br />
ou total 1,6,8,9,12,18,<strong>19</strong>,20 . Todos esses sintomas são exacerbados<br />
por esforços físicos como <strong>de</strong>ambulação, corridas<br />
e movimentos para manobrar veículos e, também, por<br />
contato com as vestes, ou são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados espontaneamente,<br />
melhorando com o repouso e a administração<br />
<strong>de</strong> analgésicos 20 .<br />
Uma anamnese bem dirigida e o exame físico são<br />
importantes para o diagnóstico. O exame físico <strong>de</strong>ve<br />
incluir a estimulação da área sintomática com toques<br />
suaves e pequenas alfinetadas, assim como a estimulação<br />
por palpação forçada ao longo do ligamento<br />
inguinal e cintura pélvica, que po<strong>de</strong>m reproduzir os<br />
sintomas relatados. Não há fraqueza muscular, nem<br />
déficit <strong>de</strong> reflexos, e é possível observar, com freqüência,<br />
perda <strong>de</strong> pêlos na região, por causa do constante ato<br />
do paciente <strong>de</strong> arranhar a cútis 20 . Outros meios <strong>de</strong><br />
diagnóstico mais sofisticados são importantes para<br />
auxiliar no diagnóstico diferencial: tomografia computadorizada<br />
<strong>de</strong> coluna lombossacra, eletroneuromiografia<br />
e ressonância magnética nuclear po<strong>de</strong>m ser utilizados<br />
Meralgia parestésica na infância<br />
Pereira CU e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>5-<strong>19</strong>7, <strong>2000</strong><br />
para diferenciar meralgia parestésica <strong>de</strong> uma hérnia<br />
discal lombar ou <strong>de</strong> uma neuropatia femoral. O<br />
diagnóstico preciso da meralgia parestésica é fundamental<br />
para o tratamento <strong>de</strong>finitivo 15,20 .<br />
O tratamento <strong>de</strong> meralgia parestésica po<strong>de</strong> ser<br />
clínico e /ou cirúrgico. Entretanto, em gran<strong>de</strong> parte, os<br />
sintomas <strong>de</strong>saparecem espontaneamente em algumas<br />
semanas ou após o afastamento do fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante,<br />
adotando-se medidas como parar <strong>de</strong> usar<br />
cintos apertados e evitar a <strong>de</strong>ambulação excessiva 15,20 .<br />
O tratamento clínico é realizado por hipotermia local,<br />
com a aplicação <strong>de</strong> gelo três vezes ao dia, a administração<br />
<strong>de</strong> antiinflamatórios não-esteroidais por 7 a 10<br />
dias, glicocorticói<strong>de</strong>s, analgésicos e infiltração local<br />
<strong>de</strong> xilocaína a 1% 13,20 .<br />
Recentemente, tem sido usada a capsaicina, que é<br />
um produto natural <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> plantas, que promove<br />
<strong>de</strong>ssensibilização da região afetada. Isso é conseguido<br />
com a redução da área <strong>de</strong> queimação produzida pela<br />
histamina e <strong>de</strong>pleção ou prevenção <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong><br />
substância P nos neurônios sensoriais, que se<br />
relacionam com a transmissão <strong>de</strong> dor, promovendo,<br />
assim, alívio ou anulação dos sintomas 4,5,10,14,17 . No<br />
tratamento cirúrgico, po<strong>de</strong>-se intervir por meio <strong>de</strong><br />
transecção total ou <strong>de</strong>scompressão cirúrgica do nervo<br />
cutâneo lateral da coxa na região comprometida. A<br />
neurólise tem sido menos eficiente que a transecção<br />
do nervo no tratamento <strong>de</strong> meralgia parestésica 2,14,18,20 .<br />
Nosso caso, em especial, foi submetido a tratamento<br />
clínico (antiinflamatórios não-hormonais, complexo B<br />
e fisioterapia), com resultado excelente. O prognóstico<br />
<strong>de</strong>ssa afecção tem sido consi<strong>de</strong>rado bom na maioria<br />
dos casos 1,8,9,13,14,18,<strong>19</strong>,20 .<br />
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Original recebido em novembro <strong>de</strong> <strong>19</strong>99<br />
Aceito para publicação em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Carlos Umberto Pereira<br />
Av. Augusto Maynard, 245/404<br />
CEP 49015-330 – Aracaju, SE<br />
E-mail: umberto@infonet.com.br<br />
<strong>19</strong>7
Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma<br />
<strong>de</strong> endométrio<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />
Contribuições fisiopatológicas, diagnósticas e terapêuticas<br />
a propósito <strong>de</strong> um caso<br />
Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo*, Belarmino Fonseca Córdoba**,<br />
Paulo Henrique Aguiar**, José Augusto Buratini**, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.**,<br />
José Marcus Rotta***, Sérgio Rosemberg****<br />
Divisão <strong>de</strong> Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> São Paulo (FMUSP)<br />
RESUMO<br />
As metástases cerebrais <strong>de</strong> carcinoma endometrial (CE) são incomuns – provavelmente em<br />
virtu<strong>de</strong> do baixo tropismo <strong>de</strong> suas células pelo sistema nervoso central (SNC) – e poucos casos<br />
são <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong>talhadamente na literatura. Acredita-se que tumores mais invasivos e<br />
indiferenciados apresentem maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> metastizarem. Embora a presença <strong>de</strong> uma<br />
lesão encefálica em uma paciente com CE seja altamente sugestiva <strong>de</strong> metástase, em razão <strong>de</strong><br />
sua rarida<strong>de</strong>, outros diagnósticos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados. Por outro lado, a hipótese <strong>de</strong> metástase<br />
cerebral <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada em casos em que não se i<strong>de</strong>ntifica o foco primário. É<br />
possível que a expressão <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona, o gene HER-2/Neu e mutações no gene<br />
p53 estejam relacionadas à ocorrência <strong>de</strong> metástases centrais. A propósito <strong>de</strong> um caso, os<br />
autores discutem aspectos diagnósticos e terapêuticos e tentam contribuir para um melhor<br />
entendimento da fisiopatologia da doenca.<br />
PALAVRAS-CHAVE<br />
Carcinoma endometrial. Cirurgia. Gene HER-2/Neu. Metástases cerebrais. Progesterona.<br />
Gene p53.<br />
ABSTRACT<br />
Brain metastasis from endometrial carcinoma – Contributions to pathophysiology,<br />
diagnosis and management. A case reported<br />
Brain metastases from endometrial carcinoma (EC) are uncommon – presumably because EC<br />
belongs to the neurophobic group of cancers – and few cases were <strong>de</strong>cribed. Probably most<br />
invasive and poorly differentiated tumors <strong>de</strong>velop more oftenly brain metastasis. Althought the<br />
diagnosis of a brain lesion in a patient with EC is highly probable, other diagnoses should be<br />
consi<strong>de</strong>red. Otherwise, brain metastasis of EC should be remembered when another primary site<br />
are not found. Mutations of the p53 tumor-supressor gene, overexpression of the HER-2/Neu gene<br />
and expression of progesterone receptors could be correlated with the ocurrence of brain<br />
metastasis. The authors report one case of EC brain metastasis, discuting diagnosis and treatment<br />
aspects and as well as its pathophysiology.<br />
KEYWORDS<br />
Brain metastases. Endometrial carcinoma. Gene HER-2/Neu. Progesterone. Surgery. Gene p53.<br />
* Médico Preceptor da Residência Médica <strong>de</strong> Neurocirurgia do HC-FMUSP.<br />
** Médico Assistente do Grupo <strong>de</strong> Tumores Encefálicos e Metastáticos – Departamento <strong>de</strong> Neurocirurgia HC-FMUSP.<br />
*** Chefe do Grupo <strong>de</strong> Tumores Encefálicos e Metastáticos – Departamento <strong>de</strong> Neurocirurgia do HC-FMUSP.<br />
**** Médico Assistente do Departamento <strong>de</strong> Patologia do HC-FMUSP.<br />
<strong>19</strong>8
Introdução<br />
O carcinoma endometrial (CE) é a neoplasia<br />
invasiva mais comum do aparelho genital feminino 18 ,<br />
com uma prevalência estimada em 34 mil casos nos<br />
Estados Unidos, em <strong>19</strong>96 14 . Dissemina-se localmente<br />
na maior parte das vezes, ocorrendo, porém,<br />
metástases, que mais freqüentemente atingem<br />
pulmões, ossos e fígado 10 . Metástases para sistema<br />
nervoso central (SNC) são extremamente raras e<br />
poucos casos têm sido <strong>de</strong>scritos com <strong>de</strong>talhes na<br />
literatura 7,12,17 . Os fatores predisponentes para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metástases centrais não são<br />
conhecidos e pouco se sabe sobre os mecanismos <strong>de</strong><br />
disseminação e o papel da exérese da lesão cerebral<br />
na sobrevida dos pacientes. Os autores <strong>de</strong>screvem<br />
um caso <strong>de</strong> metástase cerebral <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma<br />
endometrial em uma paciente <strong>de</strong> 63 anos, <strong>de</strong>stacando<br />
aspectos fisiopatológicos e terapêuticos.<br />
Relato do caso<br />
HP, 63 anos, branca, a uma semana da admissão<br />
apresentava queixas <strong>de</strong> cefaléia holocraniana, dificulda<strong>de</strong><br />
para a fala e movimentação diminuída do dimídio<br />
corporal direito. Tinha antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cirurgia<br />
ginecológica (histerectomia, salpingectomia, ooforectomia<br />
e esvaziamento ganglionar ilíaco) para<br />
tratamento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma endometrial com<br />
diferenciação escamosa (grau II), realizada em outro<br />
serviço, havia um ano. Na ocasião não foi evi<strong>de</strong>nciado<br />
acometimento <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias ganglionares ilíacas<br />
internas e externas. Radioterapia pós-operatória foi<br />
realizada.<br />
O exame físico não mostrou a<strong>de</strong>no ou visceromegalias.<br />
Toque retal e vaginal não evi<strong>de</strong>nciaram<br />
invasão tumoral. O exame <strong>de</strong> mamas foi normal. Ao<br />
exame neurológico apresentava afasia <strong>de</strong> compreensão,<br />
hemiparesia direita com força muscular<br />
grau IV e papile<strong>de</strong>ma bilateral. A radiografia simples<br />
<strong>de</strong> tórax não mostrou anormalida<strong>de</strong>s e a ultrasonografia<br />
abdominal evi<strong>de</strong>nciou a<strong>de</strong>nomegalias<br />
paraaórticas.<br />
A tomografia computadorizada (TC) axial <strong>de</strong> crânio<br />
mostrou lesão expansiva temporoccipital esquerda com<br />
captação regular <strong>de</strong> contraste e e<strong>de</strong>ma perilesional,<br />
<strong>de</strong>terminando <strong>de</strong>svio das estruturas da linha mediana<br />
(Figura 1); o exame <strong>de</strong> ressonância magnética revelou<br />
lesão com hipossinal em T1 e hipersinal em T2, realçando<br />
após administração <strong>de</strong> gadolínio. Foi realizada<br />
craniotomia temporoccipital esquerda, obtendo-se<br />
ressecção total da lesão, que se mostrava pouco<br />
Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />
Figueiredo EG e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />
sangrante, apresentava bom plano <strong>de</strong> clivagem e media<br />
cerca <strong>de</strong> 4 cm no maior diâmetro; o exame anatomopatológico<br />
<strong>de</strong> congelação mostrou metástase <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>nocarcinoma, resultado confirmado posteriormente<br />
pelo exame <strong>de</strong> parafina (Figura 2).<br />
Figura 1 – Corte axial <strong>de</strong> tomografia <strong>de</strong> crânio após injeção<br />
<strong>de</strong> contraste iodado mostrando lesão temporoccipital<br />
esquerda, córtico-subcortical, realçando homogeneamente e<br />
<strong>de</strong>terminando e<strong>de</strong>ma e <strong>de</strong>svio das estruturas da linha<br />
mediana.<br />
Figura 2 – Lâmina corada com hematoxilina-eosina<br />
(magnificação original: 20 vezes) mostrando padrões<br />
glandulares bem <strong>de</strong>finidos, revestidos por células epiteliais<br />
cubói<strong>de</strong>s ou colunares, cujo diagnóstico <strong>de</strong>finitivo foi <strong>de</strong><br />
metástase <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma.<br />
<strong>19</strong>9
Quatro meses <strong>de</strong>pois a paciente evoluiu para<br />
óbito <strong>de</strong>corrente do acometimento sistêmico pela<br />
doença.<br />
Discussão<br />
As metástases <strong>de</strong> tumores genitais femininos mais<br />
comuns para o SNC são oriundas <strong>de</strong> coriocarcinomas,<br />
que em algumas séries alcançam até 35% <strong>de</strong> todas as<br />
metástases encefálicas. Embora o CE seja uma das<br />
neoplasias mais comuns do aparelho genital feminino,<br />
as metástases para SNC são extremamente incomuns 3 .<br />
Kottke-Marchant e cols. 12 <strong>de</strong>screveram três casos e<br />
encontraram na literatura 21 outros, a maioria sem<br />
<strong>de</strong>talhes clínicos e patológicos; Wronski e cols. 21<br />
encontraram apenas 12 casos a<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong>scritos.<br />
Até o momento, os autores conseguiram<br />
selecionar 37 casos.<br />
Cormio e cols. 7 apontaram uma incidência <strong>de</strong> 0,9%<br />
<strong>de</strong> metástases centrais em pacientes com CE. Em séries<br />
que estudam primariamente metástases cerebrais, as<br />
metástases <strong>de</strong> CE totalizaram 0,8% dos casos 12,13 . Em<br />
estudos clínicos <strong>de</strong> pacientes com CE, somente 11 <strong>de</strong><br />
3.618 (0,3%) <strong>de</strong>senvolveram lesões secundárias em<br />
SNC 12 . Em séries <strong>de</strong> necrópsia, essa incidência atinge<br />
quase 3,0% 12 , indicando que a maioria <strong>de</strong>stas lesões<br />
são assintomáticas.<br />
É provável que a incidência extremamente baixa <strong>de</strong><br />
metástases centrais <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>va-se ao pouco tropismo<br />
<strong>de</strong> suas células pelo SNC, a exemplo do que ocorre com<br />
outras neoplasias, como câncer <strong>de</strong> próstata, glândulas<br />
endócrinas, sarcomas e várias neoplasias genitais. A<br />
razão para a pouca afinida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses tumores está<br />
possivelmente relacionada à ausência <strong>de</strong> receptores<br />
específicos para as células tumorais no SNC 15 .<br />
O CE se dissemina localmente pela pelve por via<br />
linfática 10 ; menos freqüentemente dissemina-se por via<br />
hematogênica por órgãos distantes. Em estudos <strong>de</strong><br />
necrópsia, metástases a distância ocorreram em 62% dos<br />
casos 10 . Os pulmões constituem o sítio mais comum<br />
(29%), vindo a seguir fígado, rins, baço e ossos 3,21 . Um<br />
padrão pouco habitual <strong>de</strong> disseminação para laringe 16 ,<br />
esôfago 13 e peritônio 12 foi <strong>de</strong>scrito. O acometimento do<br />
SNC po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr da disseminação hematogênica <strong>de</strong><br />
lesões secundárias pulmonares, a exemplo do que ocorre<br />
com outras neoplasias sistêmicas <strong>19</strong> . Na maioria dos casos<br />
a lesão é <strong>de</strong> localização supratentorial, contrariando a<br />
constatação <strong>de</strong> Délatre e cols. 9 <strong>de</strong> que a maioria das<br />
neoplasias pélvicas metastatizam para fossa posterior<br />
através do plexo venoso <strong>de</strong> Batson.<br />
Embora o CE possa metastizar para o SNC em fases<br />
precoces, mesmo em casos <strong>de</strong> tumores bem dife-<br />
Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />
Figueiredo EG e cols.<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />
renciados 7 , os tumores em estádio clínico avançado,<br />
com invasão <strong>de</strong> estruturas vasculares e pobremente<br />
diferenciados, apresentam maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
acometimento secundário do SNC 7 . Cormio e cols. 7<br />
encontraram uma proporção maior <strong>de</strong> doença avançada<br />
em pacientes com metástases cerebrais quando comparados<br />
a pacientes sem metástases (50% contra 16%), o<br />
mesmo ocorrendo em relação ao grau <strong>de</strong> diferenciação<br />
(60% <strong>de</strong> tumores mal diferenciados contra 23% <strong>de</strong><br />
tumores com bom grau <strong>de</strong> diferenciação). As recidivas<br />
apresentaram maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> originar metástases<br />
(6%) que a doença progressiva (3%). Em pacientes<br />
com doença recorrente a distância, essa taxa sobe para<br />
30%.<br />
Tem sido <strong>de</strong>monstrado que altos níveis <strong>de</strong> receptores<br />
<strong>de</strong> progesterona e estrógenos estão relacionados<br />
diretamente com melhor diferenciação, menor invasão<br />
miometrial e menos metástases nodais 8,22 . Assim,<br />
pacientes cujos tumores expressam receptores <strong>de</strong><br />
estrógeno e progesterona po<strong>de</strong>m apresentar menor risco<br />
<strong>de</strong> metástases centrais. Dez por cento dos CEs expressam<br />
o gene HER-2/Neu 1 . Vinte e sete por cento <strong>de</strong> mulheres<br />
com doença disseminada expressam este gene, enquanto<br />
apenas 4% <strong>de</strong> mulheres com doença localizada o<br />
apresentam 1 . Interessantemente, uma relação inversa<br />
entre a expressão <strong>de</strong> HER-2/Neu e receptores <strong>de</strong><br />
progesterona tem sido evi<strong>de</strong>nciada 2 . Por outro lado,<br />
po<strong>de</strong>riam ocorrer modificações celulares estruturais<br />
<strong>de</strong>correntes da expressão do HER-2/Neu que facilitariam<br />
a disseminação do tumor, incluindo o implante <strong>de</strong> células<br />
neoplásicas no SNC.<br />
Mutações no gene supressor <strong>de</strong> tumor p53 têm sido<br />
i<strong>de</strong>ntificadas em CEs e estão associadas a estágio<br />
avançado, indiferenciação, ausência <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong><br />
progesterona e pior prognóstico 15,11 . No entanto, não<br />
existem estudos correlacionando diretamente a<br />
expressão <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona e <strong>de</strong> HER-2/<br />
Neu, assim como mutações em p53, com a ocorrência<br />
<strong>de</strong> lesões cerebrais.<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a lesão cerebral ser oriunda <strong>de</strong><br />
outro foco primário que não o endométrio <strong>de</strong>ve ser<br />
avaliada, consi<strong>de</strong>rando a ocorrência incomum da lesão<br />
e o fato <strong>de</strong> que, em muitos casos, nem o exame<br />
histopatológico nem a imunoistoquímica po<strong>de</strong>m<br />
i<strong>de</strong>ntificar inequivocamente o sítio primário 4 . Por outro<br />
lado, a hipótese <strong>de</strong> metástase <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada<br />
em casos <strong>de</strong> lesão cerebral metastática <strong>de</strong> foco<br />
primário não i<strong>de</strong>ntificado.<br />
A ressecção cirúrgica é o tratamento <strong>de</strong> eleição para<br />
pacientes com lesões acessíveis e doença primária<br />
controlada. Não há evidências <strong>de</strong>finitivas que apontem<br />
um efeito benéfico da irradiação cerebral pósoperatória<br />
6,20 , embora Cormio e cols. 7 afirmem que a<br />
cirurgia seguida por radioterapia possa oferecer efeito<br />
paliativo.<br />
200
A radioterapia é uma opção para pacientes com<br />
lesões múltiplas e/ou inacessíveis cirurgicamente <strong>19</strong> . A<br />
radioterapia estereotáxica, em razão <strong>de</strong> apresentar<br />
menos efeitos colaterais, po<strong>de</strong> representar uma boa<br />
alternativa terapêutica. A quimioterapia não tem efeitos<br />
comprovados e, pelo menos por enquanto, não é<br />
recomendada 7 .<br />
Conclusões<br />
As metástases centrais <strong>de</strong> CE são extremamente<br />
incomuns e alguma controvérsia existe quanto à sua<br />
fisiopatologia e aos seus diagnóstico e tratamento.<br />
Embora não existam estudos sobre o papel da expressão<br />
<strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona e do gene HER-2/Neu,<br />
além <strong>de</strong> mutações no gene p53, na ocorrência <strong>de</strong><br />
metástases cerebrais, é possível que esta correlação<br />
exista.<br />
Os autores recomendam consi<strong>de</strong>rar este diagnóstico<br />
em casos <strong>de</strong> sítios primários não i<strong>de</strong>ntificados na avaliação<br />
inicial, inclusive com a utilização <strong>de</strong> citologia ou<br />
biópsia endometrial, quando necessárias. Contudo,<br />
<strong>de</strong>ve ser lembrada a hipótese <strong>de</strong> outra neoplasia primária<br />
em pacientes com metástase cerebral e doença uterina<br />
i<strong>de</strong>ntificada.<br />
As controvérsias quanto à terapêutica e seu impacto<br />
no prognóstico somente serão esclarecidas<br />
quando mais casos forem somados à literatura.<br />
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Original recebido em janeiro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
Aceito para publicação em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />
Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo<br />
Rua Alves Guimarães, 485 – ap. 141 – Pinheiros<br />
CEP 05410-000 – São Paulo, SP<br />
201
Notícias<br />
III CONGRESSO BRASILEIRO DE DOENÇAS CEREBROVASCULARES<br />
IV CURSO COMPACTO DE ATUALIZAÇÃO EM NEUROLOGIA<br />
Hotel Intercontinental, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ – 8 a 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />
Informações: Multitravel Turismo e Eventos<br />
Rua Vicon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pirajá, 550, cj. 2015<br />
CEP 22410-002 – Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ<br />
Tel.: (0xx21) 540-8206<br />
E-mail: multitravel.dvc@uol.com.br<br />
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 202, <strong>2000</strong><br />
NEURÃO 2001 – IV CONGRESSO DA SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO ESTADO<br />
DE SÃO PAULO (SONESP)<br />
Hospital Santa Catarina, São Paulo, SP – 15 a 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />
Informações: Cerne Consultoria <strong>de</strong> Eventos<br />
Av. Brig. Faria Lima, 1685, cj. 1B<br />
CEP 01452-001 – São Paulo, SP<br />
Telefax: (0xx11) 3813-9353<br />
SIMPÓSIO NEUROPSICOFARMACOLOGIA<br />
San Marino Suite Hotel, Goiânia, GO – 22 a 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />
Informações: Classe Promoções e Eventos<br />
Telefax: (0xx62) 541-8<strong>19</strong>5<br />
E-mail: Classeeventos@ig.com.br<br />
I JORNADA DO CAPÍTULO DO RIO DE JANEIRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE<br />
NEUROCIRURGIA<br />
Centro <strong>de</strong> Estudos do Hospital Copa D’Or, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ – 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />
Inscrições: com Dona Vânia, pelo telefone (0xx21) 2430-9640<br />
XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA<br />
Fortaleza, CE – 3 a 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002<br />
Informações: REUNIR Organização <strong>de</strong> Eventos Ltda<br />
Rua João Carvalho, 800, sala 405<br />
CEP 60140-140 – Fortaleza, CE<br />
Telefax: (0xx85) 268-2025<br />
E-mail: reunir@fortalnet.com.br<br />
Site: www.xxivcbn.com.br<br />
12 TH EUROPEAN CONGRESS OF NEUROSURGERY<br />
Lisboa, Portugal – 7 a 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003<br />
Informações: www.eans2003.com<br />
RESIDÊNCIA MÉDICA NA ÁREA DE NEUROLOGIA<br />
Instituto <strong>de</strong> Neurologia <strong>de</strong> Goiânia<br />
Em processo <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Residência Médica do MEC<br />
Pré-requisito: 1 ou 2 anos <strong>de</strong> Clínica Médica<br />
Informações: com Sra. Adriana Badim<br />
Tel.: (0xx62) 250-3100<br />
202
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 203, <strong>2000</strong><br />
Índice remissivo <strong>de</strong> autores do volume <strong>19</strong>, <strong>2000</strong><br />
Alexan<strong>de</strong>r Sperlescu ................................................ 147<br />
Alexandre Bruno Raul Freitas................ 36, 100, 140<br />
Alexandre <strong>de</strong> Castro do Amaral............................... 14<br />
Aluízio Arantes ........................................................ 179<br />
Álvaro Cebrian Magalhães ....................................... 22<br />
Alvino Dutra da Silva.................................... 170, 174<br />
Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves... 174<br />
Antônio Carlos Vieira Caires ................................. 116<br />
Antonio <strong>de</strong> Pádua Bonatelli..................................... 71<br />
Antônio Pádua Furquim Bonatelli......................... 165<br />
Antônio Roberto Campos Júnior .......................... 116<br />
Arnaldo Ferreira ...................................................... 128<br />
Arquime<strong>de</strong>s C. Cardoso ........................................... 128<br />
Audrey Beatriz Santos Araujo .................................. 44<br />
Belarmino Fonseca Córdoba .................................. <strong>19</strong>8<br />
Carlos Umberto<br />
Pereira........... 32, 83, 103, 144, 153, 170, 174, <strong>19</strong>5<br />
Celestino Esteves Pereira......................................... 14<br />
Cláudio Fernan<strong>de</strong>s Corrêa................................ 64, 131<br />
Custódio Michailowsky........................................... 100<br />
Débora Prado Souza Santos...................................... 32<br />
Diane Guimarães Duarte ......................................... 174<br />
Durvalino Rocha...................................................... 116<br />
Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo .................................... <strong>19</strong>8<br />
Ednaldo Monteiro Fontes Segundo ....................... <strong>19</strong>5<br />
Edson Bor Seng Shu............................ 22, 40, 64, 150<br />
Elaine Marques Tinoco............................................. 88<br />
Eny Sá Araújo............................................................. 32<br />
Fabio Barreto Morais .............................................. 153<br />
Fábio do Nascimento Abud....................................... 83<br />
Fernanda Soglia.......................................................... 36<br />
Fernando Alves Moreira ......................................... 106<br />
Fernando Luíz Rolemberg Dantas ......................... 116<br />
Filadélfio Venco ....................................................... 140<br />
Flávio Freinkel Rodrigues......................................... 88<br />
Flávio Key Miura .......................................... 100, 140<br />
Francisco F. Ramos ................................................. 128<br />
Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal............. 165<br />
Fre<strong>de</strong>rico José Chaves Pereira ............................... 153<br />
Gilberto <strong>de</strong> Almeida Fonseca.................................. 116<br />
Gilberto Nakagawa..................................................... 36<br />
Guilherme Cabral Filho ................................. 136, 179<br />
Hector N. Cabrera ................................................... 100<br />
Hei<strong>de</strong>r Lopes <strong>de</strong> Souza .............................................. 28<br />
Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves ................. 174<br />
Hougelle Simplício Gomes Pereira .......................... 28<br />
Israel Silas Angelo Santos <strong>de</strong> Jesus ........................ 153<br />
Jair Leopoldo Raso........................................... 44, 116<br />
Janaína Martins <strong>de</strong> Lana........................................... 28<br />
Jean Soglia ......................................................... 36, 140<br />
João Domingos Barbosa<br />
Carneiro Leão ................................................ 144, 170<br />
João Ferreira Alves .................................................. <strong>19</strong>5<br />
João Flávio <strong>de</strong> Mattos Araújo ................................ 147<br />
João Flávio Gurjão Madureira.................................. 28<br />
João Rabelo Caldas .................................................... 28<br />
Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr. ................................. <strong>19</strong>8<br />
Jorge Alberto Souza Moura ...................................... 28<br />
José Augusto Buratini .............................................. <strong>19</strong>8<br />
José Carlos Lynch ...................................................... 14<br />
José Cláudio Marinho da Nóbrega ..................64, 131<br />
José Gilberto <strong>de</strong> Souza ............................................... 92<br />
José Jorge Facure ......................................................... 8<br />
José Jorge Machado................................................... 22<br />
José Marcos Rotta ................................................... 100<br />
José Marcus Rotta ................................................... <strong>19</strong>8<br />
José Píndaro P. Plese ................................................ 36<br />
Juliana De Carvalho Machado ........................32, 103<br />
Katleen Cotti Ulrich ................................................. 97<br />
Lauro do Nascimento Abud ...................................... 83<br />
Leonardo Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Vuono..................................... 88<br />
Luciana Pardini Chamié.......................................... 106<br />
Luiz Gonzaga Menguita ............................................ 28<br />
Manoel Baldoino Leal Filho .................................. 128<br />
Manoel Jacobsen Teixeira ...............................64, 131<br />
Marcelo Barreto Barbosa........................................ 103<br />
Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos ........................ 170<br />
Marcelo Luís Mudo ................................................. 189<br />
Marcelo Nery Silva ................................................. 184<br />
Marcos Alcino S. S. Marques.................................. 128<br />
Marcos Vinicius Cardoso Santos ............................ 147<br />
Mário A. Taricco ..................................................... 150<br />
Mario Augusto Taricco ............................................. 40<br />
Massako Okada ........................................................ 131<br />
Mirto Nerso Prandini.............................................. 189<br />
Mônica Duarte Costa .......................................32, 144<br />
Mônica P. Nogueira................................................... 40<br />
Oswaldo Inácio Tella Jr........................................... 165<br />
Oswaldo Inácio <strong>de</strong> Tella Jr...................................... 147<br />
Pasquale Gallo ............................................................ 71<br />
Paulo Henrique Aguiar................... 36, 100, 140, <strong>19</strong>8<br />
Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa .............................. 170<br />
Raimundo N. <strong>de</strong> Sá Filho ........................................ 128<br />
Raul Marino Jr............................................................ 22<br />
Raul Starling <strong>de</strong> Barros.............................................. 97<br />
Reddy Simon Nunes................................................... 14<br />
Ricardo Augusto Delfino........................................... 97<br />
Ricardo J. <strong>de</strong> Almeida Leme................................... 150<br />
Ricardo José <strong>de</strong> Almeida Leme ......................... 22, 40<br />
Roberta Teixeira Leite .............................................. 83<br />
Roberto El Ibrahim ..........................................36, 140<br />
Roberto Leal Silveira .................................... 136, 179<br />
Rogério Gomes Damasceno.................................... 189<br />
Sebastião Gusmão .......................................... 136, 179<br />
Sebastião Silva Gusmão ............................................. 92<br />
Sérgio Agnaldo Monteiro Batista Soares .............. 144<br />
Sérgio Rosemberg .................................................... <strong>19</strong>8<br />
Suzana De Carvalho Machado ........................32, 103<br />
Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> ....................................... 174<br />
Vinícius Teixeira Cimini ........................................... 88<br />
Walney Carvalho dos Santos ................................. <strong>19</strong>5<br />
William Giovanni Panfiglio Soares ...................... 170<br />
203
Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 204, <strong>2000</strong><br />
Índice remissivo <strong>de</strong> assuntos do volume <strong>19</strong>, <strong>2000</strong><br />
Aci<strong>de</strong>nte com bicicleta ............................................ 83<br />
A<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> próstata ................................ 144<br />
A<strong>de</strong>noma hipofisário ............................................... 97<br />
A<strong>de</strong>nomas hipofisários ............................................ 14<br />
A<strong>de</strong>nomas hipofisários gigantes ............................. 14<br />
Aneurisma.................................................................. 71<br />
Aneurisma intracraniano ....................................... 184<br />
Aneurismas intracranianos.................................... 128<br />
Aneurismas paraclinói<strong>de</strong>s ...................................... 128<br />
Angiografia ................................................................ 71<br />
Angiografia cerebral ............................................... 136<br />
Angioma cavernoso ............................................... 147<br />
Canal estreito cervical ............................................. 40<br />
Carcinoma endometrial ......................................... <strong>19</strong>8<br />
Cerebelo ................................................................... 174<br />
Cirurgia..................................................................... <strong>19</strong>8<br />
Cisto <strong>de</strong> inclusão congênita..................................... 32<br />
Cisto <strong>de</strong>rmói<strong>de</strong> .......................................................... 32<br />
Derivação ventrículo-peritoneal .......................... 179<br />
Discectomia percutânea a laser .................................8<br />
Discite ...................................................................... 165<br />
Displasia fibrosa óssea.............................................. 36<br />
Dor facial ................................................. 64, 131, 184<br />
Dor facial atípica...................................................... 64<br />
Estereotaxia ............................................................ 131<br />
Fixação transpedicular ........................................... 116<br />
Fusão lombar ........................................................... 116<br />
Gene HER -2/Neu..................................................... <strong>19</strong>8<br />
Glioblastoma multiforme....................................... 100<br />
Gravi<strong>de</strong>z ................................................................... 189<br />
Hemangioma ............................................................. 44<br />
Hemangioma vertebral .......................................... 189<br />
Hematoma extradural ............................................ 103<br />
Hematoma extradural bilateral ............................. 103<br />
Hemorragia cerebelar ............................................. 153<br />
Hérnia <strong>de</strong> disco.............................................................8<br />
Hérnia <strong>de</strong> disco lombar .......................................... 150<br />
Hérnia discal ............................................................ 165<br />
Hidrocefalia ............................................................. 179<br />
História da medicina ............................................... 136<br />
História da neurocirurgia ......................................... 92<br />
Infarto cerebelar ..................................................... 174<br />
Instabilida<strong>de</strong> vertebral <strong>de</strong>generativa .................... 116<br />
Laser ..............................................................................8<br />
Leucotomia pré-frontal ......................................... 136<br />
Lombalgia ................................................................ 116<br />
Meningeoma .............................................. 28, 44, 140<br />
Meningeossarcoma ................................................. 140<br />
Meningite ................................................................... 97<br />
Meralgia parestésica ............................................... <strong>19</strong>5<br />
Metástase cerebral .................................................. 144<br />
Metástase <strong>de</strong> meningeoma ...................................... 28<br />
Metástases cerebrais ............................................... <strong>19</strong>8<br />
Mielopatia cervical .................................................. 40<br />
Mutismo ................................................................... 153<br />
Neoplasias malignas primárias múltiplas ............ 100<br />
Nervo óptico ........................................................... 147<br />
Nucleotratotomia trigeminal ................................ 131<br />
Ossificação do ligamento longitudinal<br />
posterior .................................................................... 40<br />
Osteoma ................................................................... 170<br />
Pneumoencéfalo espontâneo .................................. 97<br />
Progesterona ........................................................... <strong>19</strong>8<br />
Gene p53 .................................................................. <strong>19</strong>8<br />
Ressonância magnética ............................................ 22<br />
Sarcoma .................................................................... 140<br />
Seio cavernoso .......................................................... 44<br />
Siringomielia .............................................................. 88<br />
Tomografia computadorizada ................................. 71<br />
Tratamento ............................................................. 174<br />
Traumatismo craniencefálico ................................. 83<br />
Tumor cerebral ........................................................ 140<br />
Tumor craniano ...................................................... 170<br />
Tumor ósseo .............................................................. 36<br />
Tumor vertebral ..................................................... 189<br />
Tumores hipofisários ............................................... 22<br />
Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação ....................... 165<br />
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