14.06.2013 Views

Volume 19 - Número 4 - Dezembro, 2000 - Sociedade Brasileira de ...

Volume 19 - Número 4 - Dezembro, 2000 - Sociedade Brasileira de ...

Volume 19 - Número 4 - Dezembro, 2000 - Sociedade Brasileira de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />

NEUROCIRURGIA<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA<br />

ISSN 0103-5355<br />

<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> • <strong>Número</strong> 4 <strong>Dezembro</strong> <strong>2000</strong><br />

Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias<br />

assépticas da coluna vertebral<br />

Osteoma craniano<br />

Infarto cerebelar<br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Aneurisma da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Hemangioma vertebral sintomático durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

Meralgia parestésica na infância<br />

Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio


Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />

NEUROCIRURGIA<br />

Órgão Oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />

(ISSN 0103-5355)<br />

Junta Editorial<br />

Editores<br />

Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />

Milton K. Shibata<br />

Mário Gilberto Siqueira<br />

Editores Associados<br />

Atos Alves <strong>de</strong> Sousa<br />

Carlos Umberto Pereira<br />

Eduardo Vellutini<br />

Fernando Menezes Braga<br />

Francisco Carlos <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Hélio Rubens Machado<br />

João Cândido Araújo<br />

Jorge Luiz Kraemer<br />

José Alberto Gonçalves<br />

José Carlos Lynch Araújo<br />

José Perez Rial<br />

Manoel Jacobsen Teixeira<br />

Marcos Masini<br />

Nelson Pires Ferreira<br />

Sérgio Cavalheiro


Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia,<br />

órgão oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> Neurocirurgia, <strong>de</strong>stina-se a<br />

publicar trabalhos científicos sobre neurocirurgia<br />

e ciências afins, inéditos e exclusivos.<br />

Em princípio, são publicados<br />

trabalhos redigidos em português, com<br />

resumos em inglês. Excepcionalmente,<br />

po<strong>de</strong>rão ser redigidos em inglês, com<br />

resumos em português.<br />

Os artigos submetidos à publicação<br />

<strong>de</strong>verão ser classificados em uma das<br />

categorias abaixo:<br />

• Artigos originais: informações<br />

resultantes <strong>de</strong> pesquisa clínica,<br />

epi<strong>de</strong>miológica ou experimental.<br />

Resumos <strong>de</strong> teses e dissertações.<br />

Preten<strong>de</strong>-se que, pelo menos, a<br />

meta<strong>de</strong> das páginas da revista seja<br />

<strong>de</strong>stinada a essa categoria;<br />

• Artigos <strong>de</strong> revisão: sínteses sobre<br />

temas específicos, com análise<br />

crítica e conclusões. As bases <strong>de</strong><br />

dados e o período <strong>de</strong> tempo abrangidos<br />

na revisão <strong>de</strong>verão ser especificados;<br />

• Artigos <strong>de</strong> atualização: artigos que<br />

se <strong>de</strong>stinam a fornecer atualização<br />

dos assuntos relacionados à neurocirurgia,<br />

com aplicações clínicas<br />

úteis e imediatas, dirigidos principalmente<br />

aos resi<strong>de</strong>ntes;<br />

• Relato <strong>de</strong> caso: apresentação, análise<br />

e discussão <strong>de</strong> casos que apresentam<br />

interesse relevante;<br />

• Notas técnicas: notas sobre técnica<br />

operatória e instrumental cirúrgico;<br />

• Artigos diversos: são incluídos, nesta<br />

categoria, assuntos relacionados à<br />

história da neurocirurgia, ao exercício<br />

profissional, à ética médica e a outros<br />

julgados como pertinentes aos objetivos<br />

da revista;<br />

• Cartas ao editor: críticas e comentários,<br />

apresentados <strong>de</strong> forma resumida,<br />

ética e educativa, sobre matérias<br />

publicadas nesta revista. O direito<br />

à réplica é assegurado aos autores<br />

da matéria em questão. As cartas,<br />

quando consi<strong>de</strong>radas aceitáveis<br />

e pertinentes, serão publicadas com<br />

a réplica dos autores.<br />

Normas gerais para publicação<br />

• Os artigos para publicação <strong>de</strong>verão<br />

ser enviados ao Editor, no en<strong>de</strong>reço<br />

apresentado ao final;<br />

Instruções para para para para para os os os os os autores<br />

aaa<br />

a<br />

• Todos os artigos serão submetidos<br />

à avaliação <strong>de</strong>, pelo menos, dois<br />

membros da Junta Editorial;<br />

• Serão aceitos apenas os artigos<br />

originais, cuja parte essencial não<br />

tenha sido publicada previamente.<br />

Os artigos, ou parte <strong>de</strong>les, submetidos<br />

à publicação em Arquivos<br />

Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia,<br />

não <strong>de</strong>verão ser submetidos, concomitantemente,<br />

a outra publicação<br />

científica. Dessas restrições, estão<br />

excluídas as Sinopses e outras publicações<br />

<strong>de</strong> Congressos e Reuniões<br />

Científicas;<br />

• Não serão aceitos artigos que não<br />

correspon<strong>de</strong>rem totalmente às nor mas<br />

aqui <strong>de</strong>scritas;<br />

• O Editor reserva-se o direito <strong>de</strong> recusar<br />

artigos submetidos à publicação<br />

e <strong>de</strong> sugerir ou adotar modificações<br />

para melhorar a clareza e<br />

a estrutura do texto e manter a uniformida<strong>de</strong><br />

no estilo da revista;<br />

• Os originais dos artigos recusados não<br />

serão <strong>de</strong>volvidos. Os autores serão<br />

comunicados por meio <strong>de</strong> carta;<br />

• A or<strong>de</strong>m preferencial <strong>de</strong> publicação será<br />

a cronológica, respeitando-se a proporcionalida<strong>de</strong><br />

acima referida;<br />

• Os direitos autorais <strong>de</strong> artigos publicados,<br />

nesta revista, pertencerão exclusivamente<br />

a Arquivos Brasileiros<br />

<strong>de</strong> Neurocirurgia. É interditada a<br />

reprodução <strong>de</strong> artigos ou ilustrações<br />

publicadas nesta revista, sem o consentimento<br />

prévio do Editor.<br />

Normas para submeter os<br />

artigos à publicação<br />

Os autores <strong>de</strong>vem enviar, ao Editor,<br />

o seguinte material:<br />

• Um original e uma cópia do texto<br />

impresso e editado em espaço duplo,<br />

utilizando fonte 12, em face única<br />

<strong>de</strong> papel branco <strong>de</strong> tamanho “A4”<br />

ou “carta”, respeitando margem<br />

mínima <strong>de</strong> 3 cm ao redor do texto.<br />

• Disquete digitado e formatado <strong>de</strong><br />

maneira idêntica ao original impresso,<br />

com i<strong>de</strong>ntificação do artigo<br />

e do processador <strong>de</strong> texto utilizado.<br />

• Duas coleções completas das ilustrações.<br />

• Declaração, assinada pelo autor<br />

principal, <strong>de</strong> que o trabalho é inédito<br />

e submetido exclusivamente à publicação<br />

em Arquivos Brasileiros<br />

<strong>de</strong> Neurocirurgia. Se for o caso,<br />

expressar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> arcar com as<br />

<strong>de</strong>spesas relativas à reprodução <strong>de</strong><br />

ilustrações coloridas.<br />

Normas para a estrutura dos<br />

artigos<br />

Sempre que possível, os artigos <strong>de</strong>vem<br />

ser estruturados, contendo todos os<br />

itens relacionados abaixo e paginados<br />

na seqüência apresentada:<br />

1. Página-título<br />

• Título do artigo; nome completo <strong>de</strong><br />

todos os autores; títulos universitários<br />

ou profissionais dos autores<br />

principais (máximo <strong>de</strong> dois títulos<br />

por autor); nomes das instituições<br />

on<strong>de</strong> o trabalho foi realizado; título<br />

abreviado do artigo, para ser utilizado<br />

no rodapé das páginas; nome,<br />

en<strong>de</strong>reço completo, telefone, e-mail<br />

e fax do autor responsável pelas correspondências<br />

com o Editor.<br />

2. Resumo<br />

• De forma estruturada, utilizando cerca<br />

<strong>de</strong> 250 palavras, <strong>de</strong>screvendo o objetivo,<br />

os métodos, o material ou a casuística,<br />

as principais contribuições e conclusões;<br />

indicar, em or<strong>de</strong>m alfabética,<br />

até seis palavras-chave (consultar<br />

In<strong>de</strong>x Medicus).<br />

3. Abstract<br />

• Título do trabalho em inglês; tradução<br />

correta do resumo para o inglês; indicar,<br />

em or<strong>de</strong>m alfabética, Keywords compatíveis<br />

com as palavras-chave.<br />

4. Texto principal<br />

• Introdução; casuística ou material<br />

e métodos; resultados; discussão;<br />

conclusão; agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

5. Referências<br />

• Relacionar, em or<strong>de</strong>m alfabética,<br />

pelo sobrenome do primeiro autor<br />

e, quando necessário, pelo sobrenome<br />

dos autores subseqüentes; se<br />

existir mais <strong>de</strong> um artigo do mesmo<br />

autor, ou do mesmo grupo <strong>de</strong> autores,<br />

utilizar or<strong>de</strong>m cronológica<br />

crescente; os nomes <strong>de</strong> todos os autores<br />

<strong>de</strong>vem constar em cada referência;<br />

evitar a forma et al.; opcionalmente,<br />

em referências com mais<br />

<strong>de</strong> seis autores, utilize et al. após o<br />

nome do sexto autor; as referências<br />

relacionadas <strong>de</strong>vem, obrigatoriamente,<br />

ter os respectivos números<br />

<strong>de</strong> chamada indicados <strong>de</strong> forma


sobrescrita, em local apropriado do<br />

texto principal; dados não-publicados<br />

ou comunicações pessoais <strong>de</strong>vem ser<br />

citados, como tal, entre parênteses, no<br />

texto, e não <strong>de</strong>vem ser relacionados<br />

nas referências; utilizar abreviatura<br />

adotada pelo In<strong>de</strong>x Medicus para os<br />

nomes das revistas; veja abaixo exemplos<br />

<strong>de</strong> formatação das referências<br />

(observar, em cada exemplo, a pontuação,<br />

a seqüência dos dados, o uso <strong>de</strong><br />

maiúsculas e o espaçamento).<br />

Artigo <strong>de</strong> revista<br />

AGNER C, MISRA M, DUJOVNY M,<br />

KHERLI P, ALP MS, AUSMAN JI:<br />

Experiência clínica com oximetria<br />

cerebral transcraniana. Arq Bras<br />

Neurocir 16:77-85, <strong>19</strong>97.<br />

Capítulo <strong>de</strong> livro<br />

PEERLESS SJ, HERNESNIEMI JA,<br />

DRAKE CG: Surgical management of<br />

terminal basilar and posterior cerebral<br />

artery aneurysms. In Schmi<strong>de</strong>ck HH,<br />

Sweet WH (ed): Operative neurosurgical<br />

techniques. Ed 3. Phila<strong>de</strong>lphia,<br />

WB Saun<strong>de</strong>rs, <strong>19</strong>95, vol 1,<br />

cap 84, pp 1071-86.<br />

Livro consi<strong>de</strong>rado como todo (quando<br />

não há colaboradores <strong>de</strong> capítulos)<br />

MELZACK R: The puzzle of pain. N<br />

York, Basic Books Inc Publishers,<br />

<strong>19</strong>73, pp 50-1.<br />

Tese e Dissertação<br />

PIMENTA CAM: Aspectos culturais,<br />

afetivos e terapêuticos relacionados à<br />

dor no câncer. Tese (Doutorado).<br />

Escola <strong>de</strong> Enfermagem da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo. São Paulo, <strong>19</strong>95,<br />

pp 109-11.<br />

Anais e outras publicações <strong>de</strong> congressos<br />

OSTERTAG C: Advances on stereotactic<br />

irradiation of brain tumors. In<br />

Anais do 3 o Simpósio Internacional<br />

<strong>de</strong> Dor, <strong>19</strong>97, São Paulo, pp 77 (abstr).<br />

Artigo disponível em formato eletrônico<br />

INTERNATIONAL COMMITTEE<br />

OF MEDIAL JOURNAL EDITORS:<br />

Uniform requirements for manuscripts<br />

submitted to biomedical journals. Ann<br />

Inter Med 126:36-47, <strong>19</strong>97. Disponível<br />

em URL: http://www.acponline.org/<br />

journals/annals/01jan97/unifreqr.htm.<br />

6. En<strong>de</strong>reço para correspondência<br />

• Colocar, após a última referência,<br />

nome e en<strong>de</strong>reço completos do<br />

autor que <strong>de</strong>verá receber as correspondências<br />

enviadas pelos leitores.<br />

7. Tabelas e quadros<br />

• Devem estar numerados em algarismos<br />

arábicos na seqüência <strong>de</strong><br />

aparecimento no texto; <strong>de</strong>vem estar<br />

editados em espaço duplo,<br />

utilizando folhas separadas para<br />

cada tabela ou quadro; o título <strong>de</strong>ve<br />

ser colocado centrado e acima; notas<br />

explicativas e legendas das<br />

abreviaturas utilizadas <strong>de</strong>vem ser<br />

colocadas abaixo; apresente apenas<br />

tabelas e quadros essenciais; as<br />

tabelas e os quadros editados em<br />

programas <strong>de</strong> computador <strong>de</strong>verão<br />

ser incluídos no disquete, indicando<br />

o nome e a versão do programa<br />

utilizado; caso contrário, <strong>de</strong>verão<br />

ser apresentados impressos em papel<br />

branco, utilizando tinta preta<br />

e com qualida<strong>de</strong> gráfica a<strong>de</strong>quada.<br />

8. Figuras<br />

• Enviar duas coleções completas das<br />

figuras, soltas em dois envelopes<br />

separados; as fotografias <strong>de</strong>vem ter<br />

boa qualida<strong>de</strong>, impressas em papel<br />

brilhante, 9 x 12, sem margens;<br />

letras e setas auto-a<strong>de</strong>sivas po<strong>de</strong>m<br />

ser aplicadas diretamente sobre as<br />

fotografias, quando necessário, e<br />

<strong>de</strong>vem ter tamanho suficiente para<br />

que permaneçam legíveis após<br />

redução; utilizar, obrigatoriamente,<br />

filme “branco-e-preto” para<br />

reproduzir imagens <strong>de</strong> filmes radiográficos;<br />

o nome do autor, o<br />

número e a orientação vertical das<br />

figuras <strong>de</strong>vem ser indicados no<br />

verso <strong>de</strong>stas; os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>vem<br />

ser apresentados em papel branco,<br />

a<strong>de</strong>quado e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, em<br />

dimensões compatíveis com as páginas<br />

da revista e elaborados profissionalmente;<br />

não serão aceitos<br />

fotografias e <strong>de</strong>senhos gerados em<br />

computador ou sob a forma <strong>de</strong> cópias<br />

xerox; gráficos elaborados em<br />

computador <strong>de</strong>vem ser incluídos no<br />

disquete, com indicação do programa<br />

utilizado; os autores <strong>de</strong>verão<br />

arcar com os custos <strong>de</strong> ilustrações<br />

coloridas.<br />

9. Legendas das figuras<br />

• Numerar as figuras, em algarismos arábicos,<br />

na seqüência <strong>de</strong> aparecimento<br />

no texto; editar as legendas, em espaço<br />

duplo, utilizando folha separada;<br />

i<strong>de</strong>ntificar, na legenda, a figura e os<br />

eventuais símbolos (setas, letras etc. )<br />

assinalados nest a; legendas <strong>de</strong> fotomicrografias<br />

<strong>de</strong>vem, obrigatoriamente,<br />

conter dados <strong>de</strong> magnificação e colo -<br />

ração; reprodução <strong>de</strong> ilustração já<br />

publicada <strong>de</strong>ve ser acompanhada da<br />

autorização, por escrito, dos autores<br />

e dos editores da publicação original<br />

e esse fato <strong>de</strong>ve ser assinalado<br />

na legenda.<br />

Outras informações<br />

• Provas da edição serão enviadas aos<br />

autores, em casos especiais ou<br />

quando solicitadas e, nessas circunstâncias,<br />

<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>volvidas, no<br />

máximo, em cinco dias; exceto para<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medida, abreviaturas<br />

<strong>de</strong>vem ser evitadas; abreviatura<br />

utilizada pela primeira vez no texto<br />

principal, e nunca no resumo, <strong>de</strong>ve<br />

ser expressa entre parênteses e precedida<br />

pela forma extensa que irá<br />

representar; evite utilizar nomes<br />

comerciais <strong>de</strong> medicamentos; os<br />

artigos não po<strong>de</strong>rão apresentar<br />

dados ou ilustrações que possam<br />

i<strong>de</strong>ntificar um doente; estudo realizado<br />

em seres humanos <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer<br />

aos padrões éticos, ter o consentimento<br />

dos pacientes e a aprovação<br />

da Comissão <strong>de</strong> Ética da Instituição<br />

on<strong>de</strong> foi realizado; os autores<br />

serão os únicos responsáveis<br />

pelas opiniões e conceitos contidos<br />

nos artigos publicados; os autores<br />

serão os únicos responsáveis pela<br />

exatidão das referências bibliográficas<br />

apresentadas; quando apropriado,<br />

ao final do artigo publicado,<br />

serão acrescentados comentários a<br />

respeito <strong>de</strong>le. Esses comentários<br />

serão redigidos por alguém indicado<br />

pela Junta Editorial.<br />

En<strong>de</strong>reço do Editor:<br />

• Milton K. Shibata<br />

Rua Prof. Arthur Ramos, 96, cj. 12<br />

CEP 01454-010 – São Paulo, SP<br />

Telefax: (0xx11) 287-7241<br />

E-mail: mshibata@uol.com.br<br />

neuroh9j@uol.com.br


Presi<strong>de</strong>nte<br />

Cid Célio Jayme Carvalhaes<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

Mário Augusto Taricco<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Congresso<br />

Flávio Leitão<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte do Congresso<br />

Daniel Figueiredo<br />

Presi<strong>de</strong>nte Eleito da SBN<br />

Marcos Masini<br />

Presi<strong>de</strong>nte Eleito do Congresso<br />

Valter Costa<br />

Tesoureiro<br />

Roberto Colichio Gabarra<br />

Secretário-geral<br />

Benedicto Oscar Colli<br />

Secretaria Geral<br />

Rua Abílio Soares, 233, cj. 113 – CEP 04005-001<br />

Telefax: (0xx11) 3051-2070 – São Paulo, SP<br />

E-mail: neurosbn@zaz.com.br<br />

<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />

Neurocirurgia<br />

Neurocirurgia<br />

Diretoria<br />

(<strong>2000</strong>-2002)<br />

Primeiro Secretário<br />

Jair Leopoldo Raso<br />

Secretário Auxiliar<br />

Aziz Rassi Neto<br />

Conselho Deliberativo<br />

Atos Alves <strong>de</strong> Sousa<br />

Carlos Batista Alves <strong>de</strong> Souza<br />

Carlos Telles<br />

Evandro Pinto da Luz <strong>de</strong> Oliveira<br />

Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />

Jorge Luiz Kraemer<br />

José Carlos Lynch Araújo<br />

Léo Ditzel<br />

Mário Gilberto Siqueira<br />

Nelson Pires Ferreira<br />

Nilton Luiz Latuf<br />

Paulo Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mello<br />

Secretaria Permanente<br />

Rua Leandro Dupret, 204, cj. 52 – CEP 04025-014<br />

Telefax: (0xx11) 5579-1469 – São Paulo, SP<br />

E-mail: neurosbn@originet.com.br<br />

160


Editorial<br />

Prezados colegas<br />

Com este número, estamos iniciando uma nova fase da revista Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />

Neurocirurgia. As principais modificações foram na Junta Editorial e nas normas para análise<br />

<strong>de</strong> artigos submetidos à publicação.<br />

A nova Junta Editorial fica assim constituída:<br />

Editores: Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida, Milton K. Shibata e Mário G. Siqueira<br />

Editores Associados: Atos Alves <strong>de</strong> Sousa, Carlos Umberto Pereira, Eduardo <strong>de</strong> Arnaldo<br />

S. Vellutini, Fernando Menezes Braga, Francisco Carlos <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Hélio Rubens Machado,<br />

João Cândido Araújo, Jorge Luiz Kraemer, José Alberto Gonçalves, José Carlos Lynch Araújo,<br />

José Perez Rial, Manoel Jacobsen Teixeira, Marcos Masini, Nelson Pires Ferreira e Sérgio<br />

Cavalheiro.<br />

Os artigos submetidos para publicação serão analisados <strong>de</strong> acordo com as seguintes<br />

normas:<br />

1. Todos os artigos, <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificados, serão enviados a dois membros da Junta<br />

Editorial <strong>de</strong>sta revista.<br />

2. Após análise crítica do artigo, cada membro da Junta Editorial que o recebeu, sem ter<br />

conhecimento da avaliação feita pelo outro membro, atribuirá grau <strong>de</strong> 1 a 4 e o encaminhará<br />

para os Editores, com sugestões para modificações que julgarem pertinentes.<br />

3. Os artigos que, somados os pontos aferidos pelos dois revisores, alcançarem pontuação<br />

<strong>de</strong> 6 ou mais serão imediatamente aceitos para publicação; aqueles que atingirem<br />

pontuação entre 4 e 6 <strong>de</strong>verão retornar aos autores com sugestões <strong>de</strong> modificações;<br />

os <strong>de</strong>mais não serão aceitos para publicação.<br />

4. Quando apropriado, ao final do artigo aceito para publicação, serão acrescentados<br />

comentários feitos por um neurocirurgião (não necessariamente pertecente à Junta<br />

Editorial), experiente no assunto em questão.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos aos colegas<br />

Rui D. Carvalho, José Luzio, Arnaldo Gama da Rocha,<br />

Djacir G. Figueiredo e Guilherme Cabral Filho<br />

pelos <strong>19</strong> anos <strong>de</strong> serviços prestados à<br />

Junta Editorial <strong>de</strong>sta revista.


Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />

Rua Prof. Artur Ramos, 96 – cj. 12 – São Paulo, SP – CEP 01454-010 – Telefax: (0xx11) 287-7241<br />

Editado por Arquivos Brasileiros <strong>de</strong> Neurocirurgia, socieda<strong>de</strong> sem fins lucrativos, fundada em <strong>19</strong>82,<br />

registrada no CGC sob n o - 48.395.115/0001-59 e no 4 o - Registro <strong>de</strong> Títulos. Este periódico está catalogado no<br />

ISDS sob o n o - ISSN – 0103-5355 e in<strong>de</strong>xado na Base <strong>de</strong> Dados LILACS.<br />

É publicado, trimestralmente, nos meses <strong>de</strong> março, junho, setembro e <strong>de</strong>zembro. São interditadas a<br />

republicação <strong>de</strong> trabalhos e a reprodução <strong>de</strong> ilustrações publicadas em Arquivos Brasileiros <strong>de</strong><br />

Neurocirurgia, a não ser quando autorizadas pelo Editor, <strong>de</strong>vendo, nesses casos, ser acompanhadas da<br />

indicação <strong>de</strong> origem.<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Gilberto Machado <strong>de</strong> Almeida<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte: Dr. José Luzio<br />

Secretário-tesoureiro: Dr. Milton Kazunori Shibata<br />

Pedidos <strong>de</strong> assinaturas ou <strong>de</strong> anúncios <strong>de</strong>vem ser dirigidos à Secretaria Geral da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

Neurocirurgia.<br />

Assinatura para o Exterior – US$ 35,00.<br />

Produzida e impressa na Lemos Editorial & Gráficos Ltda.<br />

Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista – São Paulo – CEP 01326-010<br />

Telefax: (0xx11) 3371-1855<br />

E-mail: lemos@lemos.com.br<br />

Home-page: http\\www.lemos.com.br<br />

Diretor-presi<strong>de</strong>nte: Paulo Lemos<br />

Diretor-superinten<strong>de</strong>nte: José Vicente De Angelo<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Negócios: I<strong>de</strong>lcio D. Patricio<br />

Diretora comercial: Exalta <strong>de</strong> Camargo Dias<br />

Representante no Rio <strong>de</strong> Janeiro: Roberto Amoêdo – Tel.: (0xx21) 262-9817<br />

Produção gráfica: Altamir França<br />

Produção editorial: Sandra Santana<br />

Diagramação: Flávio Santana<br />

Revisão: Lia Márcia Ando e Ricardo Castro


Índice<br />

<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> – <strong>Número</strong> 4 – <strong>Dezembro</strong>, <strong>2000</strong><br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

165 Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias<br />

assépticas da coluna vertebral<br />

Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />

Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />

170 Osteoma craniano<br />

Carlos Umberto Pereira, João Domingos Barbosa Carneiro Leão,<br />

Alvino Dutra da Silva, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa,<br />

William Giovanni Panfiglio Soares, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos<br />

174 Infarto cerebelar<br />

Carlos Umberto Pereira, Alvino Dutra da Silva, Diane Guimarães Duarte,<br />

Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />

Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves<br />

ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO<br />

179 Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />

RELATO DE CASOS<br />

184 Aneurisma da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Marcelo Nery Silva<br />

189 Hemangioma vertebral sintomático durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

Rogério Gomes Damasceno, Marcelo Luís Mudo, Mirto Nerso Prandini<br />

<strong>19</strong>5 Meralgia parestésica na infância<br />

Carlos Umberto Pereira, Ednaldo Monteiro Fontes Segundo,<br />

João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />

<strong>19</strong>8 Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />

Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo, Belarmino Fonseca Córdoba,<br />

Paulo Henrique Aguiar, José Augusto Buratini, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.,<br />

José Marcus Rotta, Sérgio Rosemberg<br />

NOTÍCIAS<br />

202 Congressos e Reuniões Científicas


Contents<br />

<strong>Volume</strong> <strong>19</strong> – Number 4 – December, <strong>2000</strong><br />

165 Erythrocyte sedimentation rate and uncomplicated discectomy<br />

Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />

Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />

170 Cranial osteoma. Consi<strong>de</strong>rations about eight cases<br />

Carlos Umberto Pereira, João Domingos Barbosa Carneiro Leão,<br />

Alvino Dutra da Silva, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa,<br />

William Giovanni Panfiglio Soares, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos<br />

174 Cerebellar infarction. Consi<strong>de</strong>rations about 12 cases<br />

Carlos Umberto Pereira, Alvino Dutra da Silva, Diane Guimarães Duarte,<br />

Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />

Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves<br />

179 Clinical applications of hydrodinamics in ventriculoperitoneal shunt<br />

Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />

184 Supraclinoid internal carotid artery aneurysm and facial pain. Case report<br />

Marcelo Nery Silva<br />

189 Spinal hemangioma and pregnancy. Case report<br />

Rogério Gomes Damasceno, Marcelo Luís Mudo, Mirto Nerso Prandini<br />

<strong>19</strong>5 Meralgia paresthetica in childhood. Case report<br />

Carlos Umberto Pereira, Ednaldo Monteiro Fontes Segundo,<br />

João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />

<strong>19</strong>8 Brain metastasis from endometrial carcinoma – Contributions to pathophysiology,<br />

diagnosis and management. A case reported<br />

Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo, Belarmino Fonseca Córdoba,<br />

Paulo Henrique Aguiar, José Augusto Buratini, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.,<br />

José Marcus Rotta, Sérgio Rosemberg<br />

202 Announcements<br />

164


Introdução<br />

Interpretação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

hemossedimentação nas cirurgias<br />

assépticas da coluna vertebral<br />

Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal, Oswaldo Inácio Tella Jr.,<br />

Antônio Pádua Furquim Bonatelli<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />

Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo<br />

RESUMO<br />

Foram estudados 25 p acientes submetidos à discectomia asséptica, cervical ou lombar, analisandose<br />

os valores da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação (VHS) nos períodos pré e pós-operatório.<br />

Os resultados obtidos foram analisados por meio dos testes do qui-quadrado e o t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt,<br />

sendo consi<strong>de</strong>rados estatisticamente significativos quando p < 0,05. Os dados foram compilados<br />

a analisados por meio do programa Epi Info 6, versão 6.01.<br />

Em pacientes com VHS pré-operatória normal, os valores pós-operatórios normalizaram-se mais<br />

precocemente (até cinco semanas) quando comparados àqueles cujos valores estavam aumentados<br />

(até oito semanas), ocorrendo sempre uma queda progressiva <strong>de</strong>sses valores. Na nossa<br />

experiência, o comportamento da VHS no pós-operatório parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r apenas do valor da<br />

VHS no pré-operatório. E esta não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das peculiarida<strong>de</strong>s referentes à doença e à discectomia<br />

propriamente dita, como segmento comprometido (cervical ou lombar), número <strong>de</strong> discos<br />

comprometidos, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se, ou presença <strong>de</strong> fragmento expulso no canal. A<br />

persistência <strong>de</strong> VHS elevada não <strong>de</strong>ve ser imputada a essas particularida<strong>de</strong>s. Portanto, achamos<br />

importante conhecer a VHS pré-operatória e interpretar os valores pós-operatórios juntamente<br />

com o quadro clínico e as alterações <strong>de</strong> neuroimagem.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação. Discite. Hérnia discal.<br />

ABSTRACT<br />

Erythrocyte sedimentation rate and uncomplicated discectomy<br />

Twenty-five patients submitted to aseptic discectomy by the author (cervical and lumbar) were<br />

studied in or<strong>de</strong>r to analyze the variations in erythrocyte sedimentation rate (ESR) before and after<br />

discectomies. The results were analyzed by Chi-square and t Stu<strong>de</strong>nt tests and consi<strong>de</strong>red<br />

statistically relevant when p < 0,05. Data was collected and analyzed by Epi Info program, version<br />

6.01.<br />

Patients with normal ESR before surgery showed a return toward normal values earlier (up to five<br />

weeks), when compared to those with elevated preoperative values (up to eight weeks), although<br />

these values were always <strong>de</strong>creasing. The behavior of ESR during the postoperative period seems<br />

to be <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt only to the preoperative ESR. The preoperative ESR values were not related the<br />

particularities of the disk disease and the discectomy such as location and number of the disk<br />

indicated for surgery, presence of extru<strong>de</strong>d disc fragment in the spinal canal. The persistence of<br />

elevated postoperative ESR should not be attributed to these particularities. Therefore, it is<br />

important to <strong>de</strong>termine the pre-operative ESR value to analyze persistent postoperative high ESR,<br />

in conjunction with the clinical and neuroimaging observations.<br />

KEYWORDS<br />

Erythrocyte sedimentation rate. Discitis. Discectomy.<br />

A discite séptica representa um <strong>de</strong>safio ao cirurgião<br />

da coluna vertebral no que diz respeito ao diagnóstico<br />

e ao tratamento. Os trabalhos existentes até o momento<br />

limitam-se ao estudo retrospectivo dos casos admitidos<br />

em <strong>de</strong>terminada instituição em um certo período, muitas<br />

vezes incluindo adultos e crianças, e com diferentes<br />

<strong>de</strong>finições da doença.<br />

Des<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> do século XX, houve aumento<br />

progressivo na incidência das discites sépticas (0,2%<br />

na década <strong>de</strong> <strong>19</strong>50, 0,8% na década <strong>de</strong> <strong>19</strong>60 e 1,4% na<br />

165


década <strong>de</strong> <strong>19</strong>70), provavelmente em virtu<strong>de</strong> da melhora<br />

nos recursos diagnósticos 4 .<br />

Acredita-se que a discite pós-operatória seja uma<br />

condição freqüentemente <strong>de</strong>scrita, raramente encontrada<br />

e é, sem dúvida, iatrogênica 6 . A incidência varia<br />

<strong>de</strong> 0,2% a 15% 24,26 . Em casos <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se e <strong>de</strong> instrumentação<br />

cirúrgica, a taxa <strong>de</strong> infecção po<strong>de</strong> chegar até<br />

a 8% 9 , e a 10,3% nas reoperações 21 . O espaço mais<br />

freqüentemente acometido é L4-L5, havendo <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong> discite em discos não manipulados na cirurgia 10 .<br />

O risco <strong>de</strong> infecção pós-operatória é maior em<br />

pacientes idosos, diabéticos, <strong>de</strong>snutridos, em uso<br />

prolongado <strong>de</strong> glicocorticói<strong>de</strong>s, em longas hospitalizações,<br />

que se submeteram à radioterapia, com<br />

antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> neoplasia e naqueles com disrafismos<br />

espinhais 21,26 .<br />

A presença <strong>de</strong> tecido necrótico e hematoma no<br />

espaço discal age como meio <strong>de</strong> cultura favorável às<br />

discites (locus minoris resistentiae) 4 , po<strong>de</strong>ndo,<br />

também, ocorrer uma inflamação asséptica no espaço<br />

discal operado 16,20 . Puranen e cols. 22 acreditam que as<br />

discites primárias possam ser autolimitadas e na<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-imunização pelo trauma cirúrgico.<br />

Não há, na literatura, um consenso sobre a modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tratamento a ser empregada (clínico ou<br />

cirúrgico).<br />

A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação (VHS) é<br />

geralmente utilizada como critério <strong>de</strong> melhora e cura<br />

das discites, contudo, além <strong>de</strong> inespecífica, po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>morar até um ano ou mais para normalizar.<br />

Apesar <strong>de</strong> haver <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> discite com<br />

VHS normal 3,13,<strong>19</strong>,23 , este ainda é o exame mais importante<br />

para o diagnóstico. O método Westergren é <strong>de</strong>scrito<br />

como o mais fi<strong>de</strong>digno e, neste método, os valores<br />

normais da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação, na<br />

primeira hora, estão entre 4 mm e 7 mm, em homens, e<br />

entre 8 mm e 11 mm, em mulheres e crianças, sendo<br />

consi<strong>de</strong>rados estados patológicos os valores <strong>de</strong> VHS<br />

maiores que 15 mm/h 27 .<br />

A VHS não é um exame específico e, portanto, valores<br />

normais da VHS não excluem doença orgânica. A VHS<br />

po<strong>de</strong> estar normal em casos <strong>de</strong> tuberculose e carcinomas<br />

avançados. Valores elevados po<strong>de</strong>m acompanhar as<br />

seguintes situações: aumento da temperatura ambiente,<br />

convalescença <strong>de</strong> processos infecciosos, período pósoperatório,<br />

durante a menstruação e a gravi<strong>de</strong>z normal,<br />

em infecções agudas e crônicas, na presença <strong>de</strong> necrose<br />

e <strong>de</strong>gradação tissular, radioterapia e proteinoterapia,<br />

mieloma múltiplo, colagenoses, anemias e por falhas<br />

técnicas durante a realização do exame. A VHS po<strong>de</strong><br />

apresentar-se reduzida nas policitemias, insuficiência<br />

cardíaca congestiva, cianose, coqueluche, moléstia <strong>de</strong><br />

Niemann-Pick, hipercolesterolemia, terapêutica salicilada,<br />

uso <strong>de</strong> corticosterói<strong>de</strong>s e por falhas técnicas, como<br />

<strong>de</strong>mora na realização do exame, presença <strong>de</strong> bolhas <strong>de</strong> ar<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />

Leal FSCB e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />

ou coágulos no interior do tubo e por excesso <strong>de</strong> anticoagulante<br />

11,27 .<br />

Nos pacientes com discite, a VHS po<strong>de</strong> apresentarse<br />

elevada antes mesmo <strong>de</strong> haver alterações radiológicas<br />

e é o primeiro exame a respon<strong>de</strong>r à antibioticoterapia 8 .<br />

Encontra-se elevada em 47% a 100% dos pacientes com<br />

discite e seus valores variam entre 18 mm/h e 145 mm/<br />

h 2,5,17,18 . Segundo Osenbach e cols. 18 , em apenas 22%<br />

dos pacientes com discite, ao final da antibioticoterapia,<br />

a VHS atinge valores normais; em geral, os valores<br />

da VHS ao final do tratamento diminuem pelo menos<br />

50%. A queda progressiva <strong>de</strong>sses valores ocorre nas 16<br />

semanas após o início do tratamento.<br />

É nosso propósito avaliar se a VHS em doentes<br />

submetidos a discectomias assépticas sofre influência<br />

<strong>de</strong> fatores como: segmento vertebral e número <strong>de</strong> espaços<br />

discais comprometidos, presença <strong>de</strong> fragmento expulso<br />

no canal e elevação pré-operatória <strong>de</strong> seus valores.<br />

Casuística e método<br />

Foram estudados, prospectivamente, 25 pacientes<br />

operados <strong>de</strong> hérnia <strong>de</strong> disco (cervical e lombar),<br />

todos operados pelo autor, com o objetivo <strong>de</strong> analisar<br />

os valores da VHS no período pré e pós-operatório. A<br />

ida<strong>de</strong> dos pacientes variou entre 15 e 64 anos (média<br />

<strong>de</strong> 42,4 anos); 20 eram do sexo masculino.<br />

O segmento abordado foi o cervical em 9 pacientes<br />

(36%) e o lombar em 16 (64%). Sete doentes (28%)<br />

tinham fragmento discal expulso no canal vertebral.<br />

Quanto ao número <strong>de</strong> espaços abordados, 13 pacientes<br />

(52%) foram operados em apenas um espaço, 9 (36%)<br />

em dois espaços e 3 (12%) em três espaços. Artro<strong>de</strong>se<br />

intersomática foi realizada em todas as discectomias<br />

cervicais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do número <strong>de</strong> espaços<br />

abordados. Uma discectomia lombar foi associada à<br />

artro<strong>de</strong>se intertransversa. Três doentes (12%) foram<br />

operados sem apresentar dor no quadro clínico, em<br />

virtu<strong>de</strong> do déficit sensitivo-motor.<br />

A casuística foi dividida em dois grupos:<br />

• Grupo A – constituído por <strong>19</strong> pacientes (76%)<br />

com VHS pré-operatória inferior a 15 mm/h.<br />

• Grupo B – com 6 pacientes (24%) nos quais a<br />

VHS pré-operatória era igual ou maior que<br />

16 mm/h.<br />

Os valores da VHS pré e pós-operatória foram analisados<br />

com o objetivo <strong>de</strong> se avaliar eventuais influências<br />

<strong>de</strong> fatores como: segmento vertebral e número <strong>de</strong> espaços<br />

discais comprometidos que necessitaram a operação,<br />

presença <strong>de</strong> fragmento <strong>de</strong> disco expulso no canal<br />

vertebral, necessida<strong>de</strong> ou não <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se intersomática<br />

e elevação pré-operatória da VHS.<br />

166


Os valores da VHS foram obtidos antes da cirurgia<br />

e semanalmente após a mesma, até que se obtivessem<br />

valores próximos do normal. Nenhum paciente<br />

<strong>de</strong>senvolveu qualquer forma <strong>de</strong> infecção ou processo<br />

inflamatório antes ou após a cirurgia.<br />

Foram utilizados os testes do qui-quadrado e o t <strong>de</strong><br />

Stu<strong>de</strong>nt, sendo consi<strong>de</strong>rados estatisticamente significantes<br />

quando p < 0,05. Os dados foram compilados e<br />

analisados por meio do programa Epi Info 6, versão 6.01.<br />

Resultados<br />

Todos os <strong>19</strong> doentes do grupo A tiveram normalização<br />

da VHS até a quinta semana após a cirurgia; em<br />

78,9% dos pacientes <strong>de</strong>sse grupo a normalização<br />

ocorreu até a terceira semana e, em 94,7%, até a quarta.<br />

A normalização do valor da VHS ocorreu com maior<br />

freqüência até a segunda semana após a cirurgia<br />

(47,4%) e o tempo médio observado para a normalização<br />

nesse grupo foi <strong>de</strong> 2,5 semanas (Tabela 1).<br />

No grupo B, a VHS pós-operatória <strong>de</strong>morou até<br />

oito semanas para normalizar-se e em apenas 66,7%<br />

dos casos o retorno ao normal ocorreu até a quarta<br />

semana (Tabela 1).<br />

Após a terceira semana <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cirurgia, a média<br />

dos valores da VHS foi <strong>de</strong> 14,5 mm/h no grupo A e <strong>de</strong> 34<br />

mm/h no grupo B.<br />

Os valores da VHS pré-operatória não sofriam<br />

influência do segmento abordado (cervical ou lombar),<br />

do número <strong>de</strong> discos operados, da presença <strong>de</strong> fragmento<br />

expulso no canal vertebral, ou da presença <strong>de</strong> fragmento<br />

discal expulso no canal vertebral (Tabelas 2, 3 e 4).<br />

Tabela 1<br />

Distribuição dos 25 pacientes <strong>de</strong> acordo com o tempo<br />

necessário para a normalização da VHS pós-operatória<br />

Tempo para normalizar a<br />

VHS (semanas)<br />

1 2 3 4 5 6 7 8<br />

Grupo A (n = <strong>19</strong>) 3 9 3 3 1 0 0 0<br />

Grupo B (n = 6)<br />

n = número <strong>de</strong> pacientes<br />

0 1 1 2 0 0 1 1<br />

Tabela 2<br />

Distribuição dos 25 pacientes <strong>de</strong> acordo com o segmento<br />

operado e a VHS pré-operatória<br />

Segmento afetado Grupo A (n = <strong>19</strong>) Grupo B (n = 6)<br />

Cervical 8 1<br />

Lombar<br />

n = número <strong>de</strong> pacientes<br />

*p > 0,05 (p = 0,267)<br />

11 5<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />

Leal FSCB e cols.<br />

Discussão<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />

Tabela 3<br />

Distribuição dos pacientes quanto ao número <strong>de</strong> discos<br />

comprometidos e à VHS pré-operatória<br />

Níveis comprometidos Grupo A (n=<strong>19</strong>) Grupo B (n=6)<br />

1 11 2<br />

2 5 4<br />

3 3 0<br />

Total<br />

n = número <strong>de</strong> pacientes<br />

* p > 0,05 (p = 0,170)<br />

1 9 6<br />

Tabela 4<br />

Distribuição dos pacientes quanto à presença <strong>de</strong> fragmento<br />

<strong>de</strong> disco extruso no canal e à VHS pré-operatória<br />

Fragmento expulso Grupo A (n=<strong>19</strong>) Grupo B (n=6)<br />

Sim 5 2<br />

Não 14 4<br />

Total 1 9 6<br />

n = número <strong>de</strong> pacientes operados<br />

p > 0,05 (p = 0,556)<br />

A VHS no grupo A levou até cinco semanas para<br />

normalizar-se após a cirurgia, enquanto no grupo B<br />

levou até oito semanas, e neste grupo a média <strong>de</strong><br />

valores pós-operatórios da VHS foi mais elevada em<br />

relação ao primeiro grupo.<br />

Schulitz e Assheuer 25 acompanharam 31 pacientes<br />

operados <strong>de</strong> discectomia lombar em apenas um nível<br />

e verificaram que a VHS aumenta normalmente em<br />

torno do quinto dia pós-operatório e, em seguida,<br />

diminui progressivamente. Esses dados não foram por<br />

nós observados, conforme <strong>de</strong>monstrado na tabela 1.<br />

Kornberg 15 observou que os valores da VHS após<br />

discectomias <strong>de</strong>vem retornar aos níveis próximos do<br />

normal em até quatro semanas, enfatizando a necessida<strong>de</strong><br />

do conhecimento dos valores pré-operatórios<br />

para a interpretação correta dos mesmos após a<br />

cirurgia. O mesmo autor estudou dois grupos <strong>de</strong><br />

doentes submetidos à discectomia – um grupo com<br />

VHS pré-operatória inferior a 20 mm/h e um segundo<br />

grupo com VHS superior a 20 mm/h – e verificou que<br />

os valores obtidos duas semanas após a cirurgia<br />

<strong>de</strong>vem ser inferiores aos valores obtidos entre o<br />

terceiro e o quinto dia pós-operatório, normalizandose<br />

ao final <strong>de</strong> quatro semanas. Tais resultados diferem<br />

dos nossos em que houve casos com VHS elevada<br />

até a oitava semana <strong>de</strong> cirurgia.<br />

Jönsson e cols. 12 realizaram estudo semelhante<br />

com 110 pacientes operados da coluna lombar e<br />

avaliaram a VHS pré e pós-operatória. Observaram<br />

que a VHS normaliza-se geralmente até a segunda<br />

167


semana <strong>de</strong> cirurgia e <strong>de</strong>screveram um aumento rápido<br />

<strong>de</strong>sta no quarto dia pós-operatório, sendo mais<br />

pronunciado nos casos submetidos à artro<strong>de</strong>se<br />

póstero-lateral (média <strong>de</strong> 102 mm/h) do que naqueles<br />

submetidos apenas à discectomia (média <strong>de</strong> 75 mm/h).<br />

Tais achados não foram reproduzidos em nosso<br />

estudo, contudo, <strong>de</strong>vemos ressaltar que o número<br />

<strong>de</strong> pacientes por nós estudado foi menor e 36% dos<br />

casos foram operados da coluna cervical, o que foi<br />

responsável por 90% das artro<strong>de</strong>ses realizadas pela<br />

técnica <strong>de</strong> Smith e Robinson.<br />

A localização do segmento comprometido (cervical<br />

ou lombar), o número <strong>de</strong> discos comprometidos – com<br />

indicação para discectomia – por doente, a necessida<strong>de</strong><br />

ou não <strong>de</strong> artro<strong>de</strong>se, ou a presença <strong>de</strong> fragmento<br />

expulso no canal não mostraram qualquer<br />

influência sobre os valores da VHS pré-operatória em<br />

nosso estudo.<br />

Grollmusn e cols. 7 <strong>de</strong>monstraram que a VHS em<br />

pacientes submetidos a discectomias lombares po<strong>de</strong><br />

atingir valores <strong>de</strong> até 118 mm/h após a primeira semana<br />

<strong>de</strong> cirurgia, com retorno gradual aos níveis préoperatórios<br />

até a sexta semana, e consi<strong>de</strong>raram que a<br />

<strong>de</strong>terminação seriada da VHS é mais importante no<br />

diagnóstico precoce da infecção.<br />

Bircher e cols. 1 chamaram a atenção para o fato <strong>de</strong><br />

todos os pacientes com discite em sua série possuírem<br />

VHS superior a 50 mm/h após duas semanas <strong>de</strong> cirurgia<br />

e consi<strong>de</strong>raram sugestivo <strong>de</strong> discite séptica qualquer<br />

paciente com dor lombar crescente e VHS acima <strong>de</strong><br />

52 mm/h após esse período.<br />

Kapp e Sybers 14 acompanharam 16 pacientes<br />

operados <strong>de</strong> hérnia <strong>de</strong> disco lombar com VHS préoperatória<br />

normal e concluíram que, nestes, os valores<br />

pós-operatórios não ultrapassavam 25 mm/h após a<br />

primeira semana da cirurgia; por outro lado, aqueles<br />

com valores pré-operatórios elevados mostravam<br />

aumentos maiores, embora, ao final <strong>de</strong> três semanas,<br />

esses valores fossem inferiores aos valores iniciais.<br />

Em nosso estudo, os pacientes com VHS pré-operatória<br />

normal tiveram valores pós-operatórios <strong>de</strong> até<br />

75 mm/h e levaram até cinco semanas para normalização.<br />

Entre os pacientes que possuíam valores préoperatórios<br />

elevados, ao final <strong>de</strong> três semanas, apenas<br />

50% mostraram valores inferiores aos do pré-operatório<br />

e levaram até oito semanas para normalizar.<br />

Observamos que em ambos os grupos estudados,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do tempo transcorrido para a<br />

normalização da VHS, ocorreu sempre uma diminuição<br />

gradual <strong>de</strong> seus valores. Isto nos permitiu supor que,<br />

em pacientes submetidos a discectomias, a queda progressiva<br />

da VHS é um dado significativo e que a<br />

persistência <strong>de</strong> valores elevados, ou um novo aumento<br />

da mesma, <strong>de</strong>ve levar à suspeita <strong>de</strong> infecção.<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />

Leal FSCB e cols.<br />

Conclusão<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />

A análise dos dados nos permitiu concluir que os<br />

valores pré-operatórios da VHS em cirurgias <strong>de</strong> hérnia<br />

discal não parecem sofrer qualquer influência da<br />

localização do segmento comprometido (cervical ou<br />

lombar), do número <strong>de</strong> discos comprometidos com<br />

indicação para discectomia ou da presença <strong>de</strong><br />

fragmento expulso no canal vertebral.<br />

Em pacientes com VHS pré-operatória normal, os<br />

valores pós-operatórios normalizaram mais precocemente<br />

(até cinco semanas) quando comparados àqueles<br />

cujos valores estão aumentados (até oito semanas),<br />

ocorrendo sempre uma queda progressiva <strong>de</strong>sses<br />

valores. Na nossa experiência, o comportamento da VHS<br />

no pós-operatório parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r apenas do valor<br />

do VHS no pré-operatório. Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das peculiarida<strong>de</strong>s,<br />

acima <strong>de</strong>scritas, referentes à doença discal e à<br />

discectomia propriamente dita. A persistência <strong>de</strong> VHS<br />

elevada não <strong>de</strong>ve ser imputada a essas particularida<strong>de</strong>s.<br />

Portanto, achamos importante conhecer a VHS préoperatória<br />

e interpretar os valores pós-operatórios<br />

juntamente com o quadro clínico e as alterações <strong>de</strong><br />

neuroimagem.<br />

Referências<br />

1. BIRCHER MD, TASKER T, CRAWSHAN C, MULHO-<br />

LLAND RC: Discitis following lumbar surgery. Spine<br />

13:98-102, <strong>19</strong>88.<br />

2. BURKE DR, BRANT-ZAWADZKI M: CT of pyogenic<br />

spine infection. Neuroradiology 27:131-7, <strong>19</strong>85.<br />

3. DALL BE, ROUE DE, ODETTE WG, BATTS DH:<br />

Postoperative discitis: diagnosis and management.<br />

Clin Orthop 224:138-46, <strong>19</strong>87.<br />

4. DAUCH WA: Infection of the intervertebral space<br />

following conventional and microsurgical operation<br />

of the herniated lumbar intervertebral disk: a<br />

controlled clinical trial. Acta Neurochir (Wien)<br />

82:43-9, <strong>19</strong>86.<br />

5. DIGBY JM, KERSLEY JB: Pyogenic non-tuberculous<br />

spinal infection: an analysis of thirty cases. J Bone<br />

Joint Surg 61B:47-55, <strong>19</strong>79.<br />

6. FERNAND R, LEE CK: Post laminectomy disc space<br />

infection: A review of the literature and a report of<br />

three cases. Clin Orthop 209:215-8, <strong>19</strong>86.<br />

7. GROLLMUS J, PERKINS RK, RUSSEL W: Erythrocyte<br />

sedimentation rate as a possible indicator of early<br />

disc space infection. Neurochirurgia 17:30-5, <strong>19</strong>74.<br />

8. HITCHON PW, OSENBACH RK, YUH WTC, MENEZES<br />

AH: Spinal infections. Clin Neurosurg 38:373-87, <strong>19</strong>92.<br />

9. HORWITZ NH, CURTI JA: Prophylactic antibiotics and<br />

wound infections following laminectomy for lumbar<br />

disc herniation: a retrospective study. J Neurosurg<br />

43:727-31, <strong>19</strong>85.<br />

10. IVERSEN E, NIELSEN VAH, HANSEN LA: Prognosis<br />

in postoperative discitis: a retrospective study of 111<br />

cases. Acta Orthop Scand 63:305-9, <strong>19</strong>92.<br />

168


11. JANNINI P, JANNINI PF: Interpretação clínica do<br />

hemograma. Ed 9. São Paulo, Sarvier, <strong>19</strong>78, pp<br />

45-9.<br />

12. JÖNSSON B, SÖDERHOLM R, STRÖMQVIST B:<br />

Erythrocyte sedimentation rate after lumbar spine<br />

surgery. Spine 16:<strong>19</strong>49-50, <strong>19</strong>91.<br />

13. JOUGHIN E, McDOUGALL C, PARFITT C, YONG-HING<br />

K, KIRKALDY-WILLIS WH: Causes and clinical<br />

management of vertebral osteomyelitis in Saskatchewan.<br />

Spine 16:261-4, <strong>19</strong>91.<br />

14. KAPP JP, SYBERS WA: Erythrocyte sedimentation<br />

rate following uncomplicated lumbar disc operations.<br />

Surg Neurol 12:329-30, <strong>19</strong>79.<br />

15. KORNBERG M: Erythrocyte sedimentation rate<br />

following lumbar discectomy. Spine 11:766-7,<strong>19</strong>86.<br />

16. LINDHOLM TS, PYLKANEN PP: Discitis following<br />

removal of intervertebral disc. Spine 7:618-22, <strong>19</strong>82.<br />

17. MEYERS SP, WIENER SN: Diagnosis of hemogenous<br />

pyogenic vertebral osteomyelitis by magnetic<br />

resonance imaging. Arch Intern Med 151:683-7, <strong>19</strong>91.<br />

18. OSENBACH RK, KITCHON PW, MENEZES AH:<br />

Diagnosis and management of pyogenic vertebral<br />

osteomyelitis in adults. Surg Neurol 33:266-75, <strong>19</strong>90.<br />

<strong>19</strong>. PATZAKIS MJ, RAO S, WILKINS J, MOORE TM,<br />

HARVEY P: Analysis of 61 cases of vertebral<br />

osteomyelitis. Clin Orthop 264:178-83, <strong>19</strong>91.<br />

20. PILGAARD S, AARHUS N: Discitis (close space<br />

infection) following removal of intervertebral disc. J<br />

Bone Joint Surg 51A:713-6, <strong>19</strong>69.<br />

21. PIOTROWSKI WP, KROMBHOLTZ MA, MÜHL B:<br />

Spondylodiscitis after lumbar disk surgery. Neurosurg<br />

Rev 17:189-93, <strong>19</strong>94.<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação nas cirurgias da coluna vertebral<br />

Leal FSCB e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 165-169, <strong>2000</strong><br />

22. PURANEN J, MÄKELÄ J, LÄHDE S: Postoperative<br />

intervertebral discitis. Acta Orthop Scand 55:461-5,<br />

<strong>19</strong>84.<br />

23. ROSS PM, FLEMING JL: Vertebral osteomyelitis.<br />

Spectrum and natural history. A retrospective analysis<br />

of 37 cases. Clin Orthop 118:<strong>19</strong>0-8, <strong>19</strong>76.<br />

24. SISSIQUI AR, LUBY SP: High rates of discitis following<br />

surgery for prolapsed intervertebral disc at a hospital<br />

in Pakistan. Infect Control Hosp Epi<strong>de</strong>miol <strong>19</strong>:526-9,<br />

<strong>19</strong>98.<br />

25. SCHULITZ KP, ASSHEUER J: Discitis after procedures<br />

on the intervertebral disc. Spine <strong>19</strong>:1172-7, <strong>19</strong>94.<br />

26. TRONNIER V, SCHNEIDER R, KUNZ U, ALBERT F,<br />

OLDENKOTT P: Postoperative spondylodiscitis.<br />

Results of a prospective study about the aetiology of<br />

spondylodiscitis after operation for lumbar disc<br />

herniation. Acta Neurochir 117:149-52, <strong>19</strong>92.<br />

27. WESTERGREN A: The technique of red cell<br />

sedimentation reaction. Am Rev Tuberculosis 14:94-<br />

101, <strong>19</strong>26.<br />

Original recebido em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Francisco Sérgio C. Barros Leal<br />

Rua Engenheiro Fernando <strong>de</strong> Mattos, 262 – sala 21<br />

CEP 12010-110 – Taubaté, SP<br />

E-mail: fcsergio@uol.com.br<br />

169


Osteoma craniano<br />

Consi<strong>de</strong>rações sobre oito casos<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />

Carlos Umberto Pereira*, João Domingos Barbosa Carneiro Leão**,<br />

Alvino Dutra da Silva**, Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa***,<br />

William Giovanni Panfiglio Soares***, Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos***<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe. Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do<br />

Hospital João Alves Filho. Aracaju, SE<br />

RESUMO<br />

O osteoma craniano tem sido bastante relatado na literatura médica. Estima-se uma incidência<br />

<strong>de</strong> 0,1% a 0,43% no crânio. O osteoma po<strong>de</strong> ser esponjoso ou, mais comumente, do tipo sólido<br />

compacto. Sua etiologia é ainda hoje <strong>de</strong>sconhecida e várias hipóteses têm sido consi<strong>de</strong>radas,<br />

como infecções, trauma, radiações ionizantes e até mesmo influência hormonal. Afeta mais o<br />

sexo feminino e a ida<strong>de</strong> adulta. A localização mais freqüente no crânio é no osso frontal. Na<br />

maioria dos casos é achado radiográfico aci<strong>de</strong>ntal ou manifesta-se como exostose.<br />

Os autores apresentam oito casos <strong>de</strong> osteoma craniano. O sexo masculino foi o mais afetado,<br />

representado por seis casos. A ida<strong>de</strong> dos pacientes variou <strong>de</strong> <strong>19</strong> a 79 anos, com uma média <strong>de</strong> 56<br />

anos. A localização dos osteomas foi occipital em três casos, frontal em três e parietal em dois.<br />

As queixas principais foram exostose em oito casos e dor local em sete. Todos os pacientes<br />

foram submetidos à radiografia simples do crânio e ao exame <strong>de</strong> tomografia computadorizada.<br />

Sete pacientes foram submetidos à ressecção cirúrgica, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco<br />

pacientes. Um paciente recusou a cirurgia. Não ocorreu óbito.<br />

A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalho é apresentar nossa experiência em osteoma craniano, chamando a<br />

atenção para sua benignida<strong>de</strong> e para o fato <strong>de</strong> que a ressecção cirúrgica é curativa quando não<br />

houver extensão intracraniana importante, bem como resolve o problema estético.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Osteoma. Tumor craniano.<br />

ABSTRACT<br />

Cranial osteoma. Consi<strong>de</strong>rations about eight cases<br />

Skull osteoma has been quite reported in medical literature. A 0.1% to 0.43% inci<strong>de</strong>nce is estimated<br />

in the skull. Osteoma can be spongy but it is more commonly of the compact solid type. Its etiology<br />

is still unknown, infection, trauma, ionizing radiation and even hormonal influence having been<br />

consi<strong>de</strong>red. It affects more adult females. The most frequent location in the skull is in the frontal<br />

bone. In most of the cases, they are acci<strong>de</strong>ntal radiographic findings or associated with local<br />

swelling.<br />

The authors present eight cases of skull osteoma. In this series there was a male prepon<strong>de</strong>rance<br />

(6:2). The age of the patients varied from <strong>19</strong> to 79 years (average of 56 years). The location of the<br />

osteomas was: occipital in three, frontal in three and parietal in two cases. The main complaints<br />

were local swelling in eight and local pain in seven cases. All patients were submitted to plain skull<br />

radiography and computerized tomography scans. Seven patients were submitted to the surgical<br />

resection, followed by cranioplasty in five. One patient refused surgical treatment. The surgical<br />

treatment was curative with excellent esthetic result in all.<br />

Cranial osteomas are benign lesions and its surgical resection is curative when its intracranial<br />

extension is not important.<br />

KEYWORDS<br />

Osteoma. Skull tumors.<br />

* Professor-Adjunto Doutor do Departamento <strong>de</strong> Medicina da UFS. Neurocirurgião do Hospital João Alves Filho, Aracaju, SE.<br />

** Neurocirurgião do Hospital João Alves Filho, Aracaju, SE.<br />

*** Acadêmico <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, Aracaju, SE.<br />

170


Introdução<br />

O osteoma po<strong>de</strong> afetar qualquer osso do esqueleto<br />

humano, mas envolve predominantemente o crânio e a<br />

mandíbula 3,4,9 . No crânio, localiza-se freqüentemente<br />

nos seios frontal e etmoidal e no ápex petroso. É<br />

geralmente assintomático e o tratamento i<strong>de</strong>al é o<br />

cirúrgico, com prognóstico excelente.<br />

O osteoma craniano é um tumor benigno, anatomicamente<br />

circunscrito, composto <strong>de</strong> osso <strong>de</strong>nso, originado<br />

no periósteo dos ossos do crânio 1,3,5,13 . Estima-se<br />

que a incidência <strong>de</strong>sse tumor seja <strong>de</strong> 0,1% a 1% <strong>de</strong><br />

todos os tumores benignos do crânio 14 . Sua etiologia é<br />

ainda hoje <strong>de</strong>sconhecida 11 .<br />

Os autores apresentam oito casos <strong>de</strong> osteoma craniano<br />

e discutem sua localização, diagnóstico, tratamento<br />

e prognóstico.<br />

Casuística<br />

Foram estudados, retrospectivamente, oito casos<br />

<strong>de</strong> osteoma craniano, durante o período <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

<strong>19</strong>92 a agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong>, no Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do<br />

Hospital João Alves Filho (Aracaju, SE). O sexo<br />

masculino foi o mais acometido, com seis casos. As<br />

ida<strong>de</strong>s variaram <strong>de</strong> <strong>19</strong> a 79 anos, com média <strong>de</strong> 56 anos.<br />

A distribuição dos osteomas, segundo a localização,<br />

está apresentada na figura 1: três no osso frontal, três<br />

no occipital e dois no parietal. Um dos osteomas frontais<br />

tinha extensão para cavida<strong>de</strong> intracraniana. As queixas<br />

mais comuns foram dor local e tumefação. Todos os<br />

pacientes foram submetidos a radiografia simples e<br />

tomografia computadorizada craniana. Sete pacientes<br />

Figura 1 – Distribuição da localização anatômica dos<br />

osteomas na casuística.<br />

Osteoma craniano<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />

foram submetidos à ressecção cirúrgica da lesão,<br />

seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco pacientes. Não<br />

encontramos transformação maligna e não houve<br />

mortalida<strong>de</strong> nesta série.<br />

Discussão<br />

O osteoma é um tumor benigno do osso esponjoso<br />

ou compacto, <strong>de</strong> crescimento lento, doloroso e bem<br />

diferenciado 1 . Sua incidência no crânio varia <strong>de</strong> 0,1% a<br />

1% dos tumores ósseos benignos 14 . Afeta mais<br />

indivíduos entre a quarta e a quinta décadas da vida.<br />

Em nossa casuística, a média das ida<strong>de</strong>s foi <strong>de</strong> 56 anos.<br />

Acomete mais o sexo feminino da segunda à quinta<br />

décadas da vida 7,13 .<br />

No crânio, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se em qualquer parte,<br />

mas localiza-se principalmente nos seios frontal e<br />

etmoidal e no ápex petroso 4,11 . Raramente po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>rse<br />

para a cavida<strong>de</strong> intracraniana 6 .<br />

Haddad e cols. 5 classificaram o osteoma craniano,<br />

baseados na distribuição topográfica, freqüência e<br />

sintomatologia, em quatro categorias: 1) osteoma<br />

intracraniano, a forma mais rara e confundida com<br />

calcificações intracranianas; 2) osteoma dural, observado<br />

principalmente na foice cerebral, geralmente<br />

assintomático e achado aci<strong>de</strong>ntalmente; 3) osteoma da<br />

base do crânio, o tipo mais freqüente, que acomete<br />

mais a região frontoetmoidal e petrosa; 4) osteoma do<br />

calvário, a menos freqüente, que se apresenta sob a<br />

forma exostótica.<br />

Em nossa casuística, a localização foi frontal em<br />

três casos, occipital em três e parietal em dois casos.<br />

Um dos casos tinha extensão intracraniana (Figura 2).<br />

Figura 2 – TC <strong>de</strong>monstrando osteoma frontal direito, com<br />

invasão intracraniana.<br />

171


A etiologia <strong>de</strong>sses tumores é, ainda hoje, controversa.<br />

Tem sido relatada a sua associação com infecção, trauma,<br />

radiações ionizantes e, até mesmo, com influência<br />

hormonal 11 . Quando localizado no crânio ou mandíbula e<br />

associado com pólipos intestinais, fibromatose do tecido<br />

conjuntivo e cisto epi<strong>de</strong>rmal cutâneo constitui a síndrome<br />

<strong>de</strong> Gardner 2,16 . Em nossa casuística, dois pacientes<br />

apresentavam história prévia <strong>de</strong> trauma craniano.<br />

O osteoma craniano cresce lentamente e raramente<br />

causa sintomas clínicos, sendo <strong>de</strong>scoberto aci<strong>de</strong>ntalmente<br />

em radiografias simples do crânio realizadas por<br />

motivos diversos 1,3,9,11,16 . Po<strong>de</strong>, porém, provocar dor e<br />

tumefação, e seu crescimento po<strong>de</strong> causar sintomas <strong>de</strong><br />

caráter compressivo. A sintomatologia do osteoma<br />

localizado na região fronto-orbital é variável e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da direção do crescimento do mesmo, po<strong>de</strong>m<br />

ocorrer abscesso cerebral, cefaléia, distúrbios da fala,<br />

<strong>de</strong>formida<strong>de</strong> craniana, hipoacusia, diplopia, crises<br />

convulsivas, hemiplegia, pneumoencéfalo, rinoliquoréia,<br />

meningite e mucocele 1,3,4, 7,8,9,10,16 .<br />

São facilmente i<strong>de</strong>ntificados na radiografia simples<br />

<strong>de</strong> crânio como uma área radioluzente com zona central<br />

<strong>de</strong> calcificação 5,7,13 . A tomografia computadorizada é o<br />

melhor meio diagnóstico. Nesse exame, o osteoma<br />

apresenta-se como um tecido ósseo <strong>de</strong> baixa opacida<strong>de</strong><br />

e bem <strong>de</strong>limitado, envolvido por uma área esclerótica<br />

<strong>de</strong> alta opacida<strong>de</strong> 3,9 (Figuras 3 e 4). Na cintilografia<br />

óssea, o tumor apresenta-se com hipercaptação. A<br />

ressonância magnética nuclear é ótima para visibilizar<br />

o tecido inflamatório ao redor da lesão 9,11,15,16 .<br />

Ao exame macroscópico, apresenta uma zona <strong>de</strong><br />

hiperostose homogênea, bem <strong>de</strong>finida, com características<br />

<strong>de</strong> osso lamelar <strong>de</strong>nso crescendo para fora, sem<br />

produzir efeito <strong>de</strong> massa, com infiltração ou alteração<br />

do espaço da medula óssea. Ao exame <strong>de</strong> microscopia<br />

óptica apresenta-se como osso esclerótico, lamelar e<br />

<strong>de</strong>nso, similar à cortical do osso 4,11 .<br />

Osteoma craniano<br />

Pereira CU e cols.<br />

Figura 3 – TC apresentando osteoma frontal.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />

Figura 4 – TC <strong>de</strong>monstrando osteoma occipital esquerdo.<br />

No diagnóstico diferencial, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados<br />

o meningeoma calcificado, o fibroma ossificante, a<br />

displasia fibrosa, o sarcoma osteogênico, a doença <strong>de</strong><br />

Paget e o hemangioma, que são distinguidos, geralmente,<br />

pelos exames <strong>de</strong> imagem associados ao estudo<br />

anatomopatológico 4,7, 9,11,13 .<br />

O tratamento do osteoma craniano é a ressecção<br />

cirúrgica da lesão, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em casos <strong>de</strong><br />

falhas ósseas extensa 4,5,9 . A recidiva é rara e a transformação<br />

maligna não tem sido relatada na literatura médica 9 .<br />

Na nossa série, sete pacientes foram submetidos à<br />

exérese total da lesão, seguida <strong>de</strong> cranioplastia em cinco<br />

casos. Um paciente, no qual o osteoma foi achado<br />

aci<strong>de</strong>ntal, rejeitou o tratamento cirúrgico e encontra-se<br />

em acompanhamento ambulatorial. Os pacientes<br />

operados tiveram boa evolução curativa e estética.<br />

Concluímos que o osteoma é um tumor benigno, <strong>de</strong><br />

evolução lenta, cuja ressecção cirúrgica cura o doente,<br />

com resultado estético muito bom e prognóstico<br />

excelente quando não é acompanhado <strong>de</strong> complicações<br />

intracranianas.<br />

Referências<br />

1. ATTANTE F, TANNIER C, VAYR R: Pneumocéphalie<br />

compliquant um osteóme du sinus frontal: 2 cas. Rev<br />

Neurol 152:279-82, <strong>19</strong>96.<br />

2. CHANG CH, PIATT ED, THOMASS KE, WATNE AL:<br />

Bone abnormalities in Gardner’s syndrome. Am J<br />

Roentgenol Radium Ther Nucl Med 103:645-52, <strong>19</strong>68.<br />

3. GEORGE J, MERRY GS, JELLETT LB, BAKER JG:<br />

Frontal sinus osteoma with complicating intracranial<br />

aerocele. Aus N Z J Surg 60:66-8, <strong>19</strong>90.<br />

4. GREENSPAN A: Benign bone-forming lesions:<br />

osteoma, osteoi<strong>de</strong> osteoma, and osteoblastoma.<br />

Skeletal Radiol 22:485-500, <strong>19</strong>93.<br />

5. HADDAD FS, HADDAD GF, ZAATARI G: Cranial<br />

osteoma: their classification and management.<br />

172


Report on a giant osteoma and review of the<br />

literature. Surg Neurol 48:143-7, <strong>19</strong>97.<br />

6. HALLBERG OE, BYLEY Jr JW: Origin and treatment<br />

of osteomas of the paranasal sinuses. Arch Otolaryngol<br />

51:750-60, <strong>19</strong>50.<br />

7. KIEFFER AS, LONG DM, CHOU NS, KING GA,<br />

CACAYORIN ED: Tumors of the skull. In Youmans JR<br />

(ed): Neurological Surgery. Phila<strong>de</strong>lphia, WB<br />

Saun<strong>de</strong>rs, <strong>19</strong>90, pp 3599-601.<br />

8. LUNARD P, MISSORI P, DI LORENZO N, FORTUNA<br />

A: Giant intracranial mucocele to osteoma of the<br />

frontal sinus: report of two cases and review of the<br />

literature. Surg Neurol 39:46-8, <strong>19</strong>93.<br />

9. MAIURI F, IACONETTA G, GIAMUNDO A, STELLA L,<br />

LAMAIDA E: Frontoethmoidal and orbital osteomas<br />

with intracranial extension. Report of two cases. J<br />

Neurosurg 40:65-70, <strong>19</strong>96.<br />

10. MARTINS R, VELLUTINI E, VELASCO O, SIQUEIRA<br />

M: Hemiparesia recorrente como apresentação clínica<br />

<strong>de</strong> osteoma do seio frontal. Arq Bras Neurocir 15:48-<br />

52, <strong>19</strong>96.<br />

11. MEHTA JS, SHARR MM, PENNEY CC: Unusual<br />

radiological appearance of a skull osteoma. Br J<br />

Neurosurg 13:332-4, <strong>19</strong>99.<br />

12. ROBBINS SL, COTRAN RS, KUMAR V: Patologia<br />

Estrutural e Funcional. Ed. 5. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Guanabara<br />

Koogan, <strong>19</strong>96, pp 1112-14.<br />

Osteoma craniano<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 170-173, <strong>2000</strong><br />

13. SARAÇ K, BILICILER B, VATANSEVER M, ALADAG<br />

MA, ÇOLAK A: Unusual frontal osteoma, mimicking<br />

a haemangioma. Neuroradiology 38:458-9, <strong>19</strong>96.<br />

14. SCHWARTZ CW: Cranial osteomas from a roentgenologic<br />

viewpoint. Am J Roentgenol 44:188-96,<br />

<strong>19</strong>40.<br />

15. SHIBATA Y, MATSUMURA A, YOSHII Y, NOSE T:<br />

Osteomas of the skull: comparison of magnetic<br />

resonance imaging and histological findings. Neurol<br />

MedicoChirug 35:13-6, <strong>19</strong>95.<br />

16. VIALOGO JGG, DIAS VG, PADULA MC, LEITE LVO:<br />

Osteoma nasofronto-orbitário associado com<br />

mucocele e abscesso cerebral: relato <strong>de</strong> caso e<br />

revisão da literatura. J Bras Neurocirurg 10:72-7, <strong>19</strong>99.<br />

Original recebido em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em novembro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Carlos Umberto Pereira<br />

Av. Augusto Maynard, 245/404<br />

CEP 49015-380 – Aracaju, SE<br />

E-mail: umberto@infonet.com.br<br />

173


Introdução<br />

Infarto cerebelar<br />

Consi<strong>de</strong>rações sobre 12 casos<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />

Carlos Umberto Pereira*, Alvino Dutra da Silva**, Diane Guimarães Duarte***,<br />

Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves***, Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>***,<br />

Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves***<br />

Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital João Alves Filho. Aracaju, SE<br />

RESUMO<br />

Trata-se <strong>de</strong> estudo retrospectivo sobre 12 casos <strong>de</strong> infarto cerebelar. Sete pacientes eram do<br />

sexo masculino e cinco, do feminino. A ida<strong>de</strong> variou entre 46 e 76 anos, com média <strong>de</strong> 54 anos. As<br />

causas foram hipertensão arterial sistêmica em seis, endocardite bacteriana em três e<br />

<strong>de</strong>sconhecida em outros três. A cefaléia foi sintoma presente em <strong>de</strong>z pacientes, vômitos em oito,<br />

tonteiras em oito, ataxia da marcha em sete e vertigem em quatro. A tomografia do crânio foi útil<br />

no diagnóstico e conduta. Onze pacientes foram submetidos a tratamento conservador. Derivação<br />

ventricular externa e craniectomia suboccipital foram realizadas em um paciente. Houve quatro<br />

óbitos. O prognóstico esteve diretamente relacionado ao nível <strong>de</strong> consciência por ocasião da<br />

admissão, da extensão do infarto e da ida<strong>de</strong> do paciente.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Infarto cerebelar. Cerebelo. Tratamento.<br />

ABSTRACT<br />

Cerebellar infarction. Consi<strong>de</strong>rations about 12 cases<br />

A retrospective study on twelve cases of cerebellar infarction was done. Seven patients were men<br />

and five were women. The age ranged from 46 to 76 years (average 54 years). The causes of the<br />

infarction were systemic arterial hypertension in six, bacterial endocardites in three, and could not<br />

<strong>de</strong>termined in three. Ten patients presented with headaches, eight with vomiting, eight with vertigo,<br />

seven with ataxia and four with dizziness. CT was useful in the diagnosis and management. Only<br />

one patient was submitted to surgical treatment (external ventricular drainage and suboccipital<br />

craniectomy). There were four <strong>de</strong>aths. The prognosis was directly related to the patient’s level of<br />

consciousness at admission, extent of the infarctation and the age of the patient.<br />

KEYWORDS<br />

Cerebellar infarction. Cerebellum. Treatment.<br />

O infarto cerebelar é menos freqüente que o cerebral<br />

e representa apenas 1,5% a 3% <strong>de</strong> todos os infartos<br />

encefálicos 8,26,37,39 . Com o advento da tomografia<br />

computadorizada (TC) e da ressonância nuclear<br />

magnética (RNM), o diagnóstico <strong>de</strong> infarto cerebelar<br />

tem sido mais freqüente. Sua principal causa é a<br />

aterosclerose, seguida <strong>de</strong> êmbolos cardíacos 4,21,39 . O<br />

tratamento ainda hoje é bastante controverso e o<br />

prognóstico está diretamente relacionado com a ida<strong>de</strong><br />

do paciente, extensão do infarto e estado <strong>de</strong> consciência<br />

do paciente por ocasião da admissão.<br />

* Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe.<br />

** Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital João Alves Filho.<br />

*** Acadêmico <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe.<br />

Os autores apresentam 12 casos <strong>de</strong> infarto cerebelar<br />

e discutem o quadro clínico, o diagnóstico, a conduta e<br />

o prognóstico.<br />

Casuística e métodos<br />

O presente trabalho foi baseado em estudo retrospectivo<br />

<strong>de</strong> 12 pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> infarto<br />

cerebelar que estavam internados no Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia<br />

do Hospital João Alves Filho, em Aracaju,<br />

Sergipe, no período <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> <strong>19</strong>98 a março <strong>de</strong> <strong>2000</strong>.<br />

174


Foram analisados, nos doentes, a ida<strong>de</strong>, o sexo, a<br />

etiologia, o meio <strong>de</strong> diagnóstico, a conduta e o prognóstico.<br />

Resultados<br />

Sete pacientes eram do sexo masculino e cinco, do<br />

feminino. A ida<strong>de</strong> variou entre 46 e 76 anos, com média<br />

<strong>de</strong> 54 anos.<br />

As causas do infarto cerebelar foram hipertensão<br />

arterial sistêmica em seis, endocardite bacteriana em<br />

três e <strong>de</strong>sconhecida em outros três.<br />

Os sinais e sintomas mais comuns foram cefaléia em<br />

<strong>de</strong>z, vômitos em oito, tonturas em sete, ataxia da marcha<br />

em sete, nistagmo em quatro e vertigem em quatro.<br />

O escore (Escala <strong>de</strong> Coma <strong>de</strong> Glasgow) apresentado<br />

pelos doentes, no momento da admissão, variou<br />

entre 4 e 14.<br />

A TC foi realizada em todos os pacientes e a RNM,<br />

em dois pacientes. A extensão do infarto atingiu uma<br />

área maior que 3 cm em sete casos e menor que 3 cm em<br />

cinco casos.<br />

O tratamento instituído foi conservador em 11 casos;<br />

<strong>de</strong>rivação ventricular externa e craniectomia suboccipital<br />

foram feitas em um caso. Oito pacientes sobreviveram<br />

(cinco <strong>de</strong>stes com déficit neurológico) e quatro faleceram.<br />

Discussão<br />

Infarto cerebelar é <strong>de</strong>finido como lesão isquêmica do<br />

cerebelo sem envolvimento primário do cérebro ou do<br />

tronco cerebral 13,29,37 . Sua incidência varia <strong>de</strong> 1,5% a 3%<br />

<strong>de</strong> todos os infartos encefálicos 8,26,39,40 . Com o advento<br />

da TC e da RNM, porém, o seu diagnóstico tornou-se<br />

mais freqüente e, além disso, esses exames permitem a<br />

distinção entre o infarto e a hemorragia cerebelar 36 .<br />

O sexo masculino é o mais acometido e na faixa etária<br />

dos 70 aos 80 anos 2,<strong>19</strong>,37,39 . A distribuição dos casos em<br />

relação ao sexo na presente casuística está <strong>de</strong> acordo<br />

com o observado na literatura, mas o grupo etário<br />

acometido foi mais jovem, predominando doentes na<br />

quinta e na sexta décadas da vida.<br />

Os fatores <strong>de</strong> risco dos infartos cerebelares são<br />

similares àqueles dos hemisférios cerebrais 39 . A causa<br />

mais freqüente é a aterosclerose, seguida <strong>de</strong> hipertensão<br />

arterial, diabetes mellitus, cardiopatia isquêmica,<br />

história prévia <strong>de</strong> trauma, dislipi<strong>de</strong>mias e fibrilação<br />

atrial 1,<strong>19</strong>,34 . Outras causas menos freqüentemente<br />

<strong>de</strong>scritas são a ectasia da artéria basilar 10 , dissecção e<br />

Infarto cerebelar<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />

trombose da artéria vertebral e/ou da artéria basilar 24,35 ,<br />

displasia fibromuscular 30 e enxaqueca 10,38 . Amarenco e<br />

cols. 5 encontraram como causa mais freqüente do<br />

infarto cerebelar os êmbolos originados nas cavida<strong>de</strong>s<br />

cardíacas, após infarto agudo do miocárdio ou<br />

endocardite bacteriana, fato observado, também, por<br />

outros autores 7,<strong>19</strong>,27 . Em nosso trabalho foi possível<br />

<strong>de</strong>tectar hipertensão arterial associada à aterosclerose<br />

como a principal causa, seguida <strong>de</strong> endocardite<br />

bacteriana. Em três casos não foi possível i<strong>de</strong>ntificar a<br />

causa, provavelmente, por não terem sido investigados<br />

a<strong>de</strong>quadamente.<br />

A artéria cerebelar posterior-inferior e a artéria<br />

cerebelar superior são os vasos mais freqüentemente<br />

responsáveis pelos infartos cerebelares, seguidas da<br />

artéria cerebelar anterior-inferior 3,7,21,22,26 . Os infartos<br />

cerebelares são agrupados conforme os territórios<br />

arteriais comprometidos. Em 85% dos casos, eles<br />

ocorrem no território da artéria cerebelar posteriorinferior,<br />

o que correspon<strong>de</strong> à porção medial e inferior<br />

do hemisfério cerebelar homolateral 11,<strong>19</strong> . As artérias<br />

vertebrais estão comprometidas em 50% dos casos,<br />

mas, quando apenas uma <strong>de</strong>ssas artérias estiver<br />

envolvida, o infarto resultante é, geralmente, assintomático<br />

e tem bom prognóstico <strong>19</strong>,39 . Os casos <strong>de</strong> infarto<br />

cerebelar no território da artéria cerebelar superior<br />

apresentam pior prognóstico que os das artérias cerebelares<br />

posterior-inferior e anterior-inferior 3,39 .<br />

Sypert e Alvord 37 classificaram os infartos cerebelares<br />

em “complicados” e “não-complicados”: os primeiros<br />

são caracterizados pelo comprometimento<br />

isquêmico tanto do cerebelo quanto do tronco cerebral<br />

e os do segundo grupo cursam com o mínimo <strong>de</strong> sinais<br />

e sintomas e têm evolução excelente.<br />

Ebeling e cols. 15 distinguiram dois grupos <strong>de</strong><br />

pacientes: o grupo 1 engloba os pacientes com evolução<br />

lenta e progressiva e que <strong>de</strong>senvolvem piora<br />

aguda; o grupo 2, os pacientes que, após o início agudo<br />

do quadro clínico, <strong>de</strong>senvolvem evolução fulminante.<br />

Amarenco 5 classifica os pacientes com infartos<br />

cerebelares em: pacientes com manifestações pseudotumorais;<br />

pacientes em coma profundo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />

do quadro; e pacientes com curso benigno que melhoram<br />

rápida e espontaneamente sem alterações da<br />

consciência.<br />

A sintomatologia benigna é caracterizada por náusea,<br />

vômitos, cefaléia, vertigens e ataxia, enquanto, na sintomatologia<br />

maligna, evi<strong>de</strong>nciam-se sinais <strong>de</strong> compressão do<br />

tronco cerebral, caracterizados por meningismo, distúrbios<br />

da consciência, lesão <strong>de</strong> nervos cranianos, lesão piramidal,<br />

respiração e circulação patológicas e atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scerebração 32 . O curso natural do infarto benigno é<br />

bom na maioria dos casos e em uma minoria po<strong>de</strong> ocorrer<br />

evolução maligna em virtu<strong>de</strong> da compressão do tronco<br />

175


cerebral e da hidrocefalia 16,23,33 . Em nossa casuística, dois<br />

pacientes apresentaram-se apenas com queixa <strong>de</strong><br />

vertigem, fato também observado por outros autores<br />

1,14,18,31 . Os infartos do cerebelo geralmente são únicos,<br />

mas em 20% dos casos são múltiplos e, nesses casos, a<br />

manifestação clínica é a <strong>de</strong> um quadro pseudotumoral ou<br />

coma profundo e quadriplegia 4, 9 .<br />

A TC é útil no diagnóstico do infarto cerebelar 32 ,<br />

exceto nas primeiras 48 horas. A TC revela hipo<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

focal no cerebelo, <strong>de</strong>svio do quarto ventrículo pelo<br />

efeito <strong>de</strong> massa e hidrocefalia supratentorial 5 (Figura 1),<br />

po<strong>de</strong>ndo, em alguns casos, ser normal ou <strong>de</strong> difícil<br />

interpretação em <strong>de</strong>corrência dos artefatos ósseos.<br />

A RNM é o método diagnóstico mais sensível na<br />

fase precoce do infarto e não está sujeita aos efeitos<br />

dos artefatos <strong>de</strong> imagem provocados pelo osso. As<br />

imagens obtidas <strong>de</strong>monstram uma área <strong>de</strong> hipersinal<br />

em T2 36 (Figura 2).<br />

Figura 1 – TC <strong>de</strong>monstrando extenso infarto cerebelar no<br />

hemisfério cerebelar esquerdo, com<br />

compressão do quarto ventrículo.<br />

Figura 2 – RNM <strong>de</strong>monstrando infarto no hemisfério<br />

cerebelar direito.<br />

Infarto cerebelar<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />

A angiografia cerebral digital é usada para diagnosticar<br />

obstrução arterial.<br />

Em nossos pacientes a TC foi útil no diagnóstico,<br />

tendo em vista que a maioria dos casos foi submetida a<br />

esse exame 72 horas após o ictus.<br />

O tratamento cirúrgico do infarto cerebelar compreen<strong>de</strong><br />

a drenagem ventricular externa, a <strong>de</strong>rivação<br />

ventriculoperitoneal ou a craniectomia suboccipital<br />

12,29,34 . A escolha do melhor método cirúrgico para o<br />

manuseio <strong>de</strong>ssas lesões baseia-se, principalmente, na<br />

existência ou não <strong>de</strong> hidrocefalia e <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> compressão<br />

do tronco cerebral 29 .<br />

A drenagem ventricular externa, quando usada<br />

isoladamente, segundo alguns autores, piora o<br />

prognóstico, pois provoca hérnia transtentorial ascen<strong>de</strong>nte<br />

6,15,20 . Estaria indicada apenas nos casos com<br />

hidrocefalia e ausência <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> compressão do<br />

tronco cerebral 15 .<br />

A craniectomia da fossa posterior, preconizado<br />

inicialmente por Lindgren 25 em <strong>19</strong>56, é o método utilizado<br />

pela gran<strong>de</strong> maioria dos autores naqueles casos em que<br />

há comprometimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um terço <strong>de</strong> um<br />

hemisfério cerebelar 6,<strong>19</strong>,29,34 . O dado clínico mais<br />

importante para indicação cirúrgica, além dos achados<br />

tomográficos, é a piora progressiva da consciência, que<br />

indica compressão do tronco cerebral 5,20,35 .<br />

O tratamento clínico <strong>de</strong>ve ser a opção em todos os<br />

casos <strong>de</strong> infarto que comprometem menos <strong>de</strong> um terço<br />

do hemisfério cerebelar, que não provocam distúrbios<br />

da consciência e nos quais o quadro clínico esteja<br />

estável 6,15,<strong>19</strong>,25,29 . Nesses casos é essencial a vigilância<br />

neurológica intensiva e a realização <strong>de</strong> TC e/ou RNM<br />

seriadas conforme a evolução clínica do paciente.<br />

Greenberg e cols. 17 contra-indicam, formalmente, o<br />

tratamento conservador nos casos em que o infarto é<br />

extenso, em razão dos péssimos resultados obtidos.<br />

Em nossa casuística, o tratamento foi conservador<br />

em 11 casos baseado no nível <strong>de</strong> consciência e extensão<br />

do infarto apresentados pelos doentes na admissão; 1<br />

caso foi submetido ao tratamento cirúrgico em virtu<strong>de</strong><br />

do quadro <strong>de</strong> compressão <strong>de</strong> tronco cerebral e hidrocefalia<br />

supratentorial acentuada e evoluiu para óbito.<br />

O prognóstico do infarto cerebelar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários<br />

fatores, como extensão do infarto, nível <strong>de</strong> consciência<br />

e ida<strong>de</strong> do doente e o período <strong>de</strong> tempo em que o tronco<br />

cerebral ficou comprimido 29 . A extensão do infarto<br />

<strong>de</strong>termina o tipo <strong>de</strong> evolução do quadro clínico. Os casos<br />

<strong>de</strong> infartos pequenos apresentam quadro evolutivo<br />

benigno <strong>de</strong> bom prognóstico 1 , fato observado em cinco<br />

pacientes da nossa casuística. O nível <strong>de</strong> consciência<br />

do paciente tem importância fundamental quanto ao<br />

prognóstico. Quanto mais grave for o distúrbio da<br />

consciência, tanto pior será a evolução do paciente 6,15,<strong>19</strong> .<br />

A ida<strong>de</strong> é um fator <strong>de</strong>terminante no prognóstico: quanto<br />

mais idoso o paciente, pior o prognóstico. Segundo<br />

176


Ebeling 15 , o tempo <strong>de</strong> compressão do tronco cerebral,<br />

até ser realizada a <strong>de</strong>scompressão cirúrgica da fossa<br />

posterior, tem influência <strong>de</strong>cisiva na recuperação do<br />

paciente. A taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> dos pacientes com<br />

infartos cerebelares sintomáticos é estimada em 50%,<br />

mas, quando há sinais <strong>de</strong> compressão do tronco cerebral,<br />

esse valor sobe para 80%.<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> infarto cerebelar, apesar <strong>de</strong> raro,<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado em casos <strong>de</strong> sintomatologia frusta<br />

<strong>de</strong> lesões da fossa posterior, como vertigem, vômitos e<br />

ataxia da marcha. O diagnóstico precoce é possível com<br />

a TC e/ou RM.<br />

Referências<br />

1. ALBERTINO S, FILHO PFM, ASSUNÇÃO ARM F,<br />

SOUZA JA, JEVOUX CC: Infarto cerebelar e vertigem<br />

aguda. Rev Bras Med-ORL 7:13-6, <strong>2000</strong>.<br />

2. AMARENCO J: The spectrum of cerebellar infarction.<br />

Neurology 41:973-9, <strong>19</strong>91.<br />

3. AMARENCO P, HAUW JJ: Cerebellar infarction in<br />

the territory of the superior cerebellar artery a clinicopathologic<br />

study of 33 cases. Neurology 40:1383-<br />

90, <strong>19</strong>90.<br />

4. AMARENCO P, HAUW JJ: Infarctus cérébelleux edémateux:<br />

etu<strong>de</strong> clinico-pathologique <strong>de</strong> 16 cas.<br />

Neurochirurgie 36: 234-44, <strong>19</strong>90.<br />

5. AMARENCO P, HAUW JJ, GAUTIER JC: Arterial<br />

pathology in cerebellar infarction. Stroke 21:1299-<br />

305, <strong>19</strong>90.<br />

6. AUER LM, AUER T, SAYAMA I; Indications for surgical<br />

treatment of cerebellar haemorrhage and infarction.<br />

Acta Neurochir 79:74-9, <strong>19</strong>86.<br />

7. BARTH A, BOGOUSLAVSKY J, REGLI F: The clinical<br />

and topographic spectrum of cerebellar infarcts:<br />

A clinical - Magnetic resonance imaging correlation<br />

study. Ann Neurol 33:451-56, <strong>19</strong>93.<br />

8. BOGOUSLAVSKY J, Van MELLE G, RÉGLI F: The<br />

Lausanne stroke registry: analysis of consecutive<br />

patients with first stroke. Stroke <strong>19</strong>:1083-92, <strong>19</strong>88.<br />

9. CANAPLE S, BOGOUSLAVSKY J: Multiple large and<br />

small cerebellar infarcts. J Neurol Neurosurg Psychiatry<br />

66:739-45, <strong>19</strong>99.<br />

10. CAPLAN LR: Migraine and vertebrobasilar ischemia.<br />

Neurology 41:55-61, <strong>19</strong>91.<br />

11. CHAVES CJ, CAPLAN LR, CHUNG CS, TAPIA J, AMA-<br />

RENCO P, TEAL P, WITYK R, ESTOL C, TETTEN-<br />

BORN B, ROSENGART A, VEMMOS K, DeWITT LD,<br />

PESSIN MS: Cerebellar infarcts in the New England<br />

Medical Center posterior circulation stroke registry.<br />

Neurology 44:1385-90, <strong>19</strong>94.<br />

12. CHEN HJ, LEE TC, WEI CP: Treatment of cerebellar<br />

infarction by <strong>de</strong>scompressive suboccipital craniectomy.<br />

Stroke 23:957-63, <strong>19</strong>92.<br />

13. CIOFFI FA, BERNINI FP, PUNZO A, D’AVANZO R:<br />

Surgical management of acute cerebellar infarction.<br />

Acta Neurochir 74:105-12, <strong>19</strong>85.<br />

14. DUCLOS JY, DARROUZET V, LOISEAU H, CHAMBRIN<br />

A, BOUSSENS J, BÉBÉAR JP: Vertige aigüi par<br />

ischémie <strong>de</strong> l’artère cérébelleuse postéro-inférieure<br />

ou PICA . A propos <strong>de</strong> 2 cas. Rev Laryngol Otol Rhinol<br />

118:1<strong>19</strong>-24, <strong>19</strong>97.<br />

Infarto cerebelar<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />

15. EBELING U, STRICKER K, REULEN HJ, HASE U:<br />

Akute Raumfor<strong>de</strong>rungen <strong>de</strong>r hintere Schael<strong>de</strong>lgrube:<br />

Klinik, Therapie und Ergebnisse. In Hase U, Reulen<br />

HJ (eds): Die akute Raumfor<strong>de</strong>rung in <strong>de</strong>r hinteren<br />

Schael <strong>de</strong>lgrube. Wien, Ueberreuter, <strong>19</strong>88, pp 137-<br />

52.<br />

16. FISHER CM, KARNES WE, KUBUK CS: Lateral<br />

medullary infarction: the pattern of vascular<br />

occlusion. J Neuropathol Exp Neurol 20: 323-79,<br />

<strong>19</strong>61.<br />

17. GREENBERG J, SKUBICK D, SHENKIN H: Acute<br />

hydrocephalus in cerebellar infarct and hemorrhage.<br />

Neurology 29:4409-13, <strong>19</strong>79.<br />

18. GUIANG RL, ELLINGTON OB: Acute pure vertiginous<br />

dysequilibrium in cerebellar infarction. Eur Neurol<br />

16:11-5, <strong>19</strong>77.<br />

<strong>19</strong>. HEROS RC: Cerebellar hemorrhage and infarction.<br />

Stroke 13:106-9, <strong>19</strong>82.<br />

20. HINSHAW DB Jr, THOMPSON JR, HASSO NA,<br />

CASSELMAN ES: Infarctions of the brainstem and<br />

cerebellum: a correlation of computed tomography<br />

and angiography. Radiology 137:105-12, <strong>19</strong>80.<br />

21. KASE CS, NORRVING B, LEVINE SR, BABIKAN VL,<br />

CHODOSH EH, WOLF PA, WELCH KMA: Cerebellar<br />

infarction: clinical and anatomic observation in 66<br />

cases. Stroke 24:76-83, <strong>19</strong>93.<br />

22. KASE CS, WHITE JL, JOSLYN JN, WILLIAMS JP,<br />

MOHR JP: Cerebellar infarction in the superior<br />

cerebellar artery distribuiton. Neurology 35:705-11,<br />

<strong>19</strong>85.<br />

23. LEHRICH JR, WINKLER GF, OJEMANN RG: Cerebellar<br />

infarction with brain stem compression. Arch<br />

Neurol 22:490-8, <strong>19</strong>70.<br />

24. LEVINE SR, WELCH KMA: Superior cerebellar artery<br />

infarction and vertebral artery dissection. Stroke<br />

<strong>19</strong>:1431-4, <strong>19</strong>88.<br />

25. LINDGREN SO: Infarctions simulating brain tumors<br />

in the posterior fossa. J Neurosurg 13:575-81, <strong>19</strong>56.<br />

26. MacDONELL RAL, KALNINS RM, DONNAN GA:<br />

Cerebellar infarction: natural history, prognosis and<br />

pathology. Stroke 18:849-55, <strong>19</strong>89.<br />

27. MEHLER MF: The rostral basilar artery syndrome:<br />

diagnosis, etiology, prognosis . Neurology 39:9-16,<br />

<strong>19</strong>89.<br />

28. MOMOSE KJ, LEHRICH JR: Acute cerebellar<br />

infarction presenting as a posterior fossa mass.<br />

Radiology 109:343-52, <strong>19</strong>73.<br />

29. NETO OMF, COSTA FAO, LUCAS LD, COSTA FP:<br />

Infarto cerebelar: tratamento cirúrgico. Arq Bras<br />

Neurocir 17:127-9, <strong>19</strong>98<br />

30. PEREZ-HIGUERAS A, ALVAREZ-RUIZ F, MARTINEZ-<br />

BERMEJO A, FRUTOS R, VILLAR O, DIEZ-TEJEDOR<br />

E: Cerebellar infarction from fibromuscular dysplasia<br />

and dissecting aneurysm of the vertebral artery.<br />

Report of a child. Stroke <strong>19</strong>:521-4, <strong>19</strong>88.<br />

31. RUBENSTEIN RL, NORMAN DM, SCHINDLER RA,<br />

KASEFF L: Cerebellar infarction: apresentation of<br />

vertigo. Laryngoscope 90:505-14, <strong>19</strong>80.<br />

32. SAMSON M, MIHOUT B, THIEBOT J, SEGONG G,<br />

WEBER J, PROUST B: Forme bénigne <strong>de</strong>s infarctus<br />

cérébelleux. Rev Neurol (Paris) 137:373-82, <strong>19</strong>81.<br />

33. SCOTTI G, SPINNLER H, STERZI R, VALLAR G:<br />

Cerebellar softening. Ann Neurol 8:133-40, <strong>19</strong>80.<br />

34. SILVA JAG, SILVA EB, BRANCO CA: Infarto agudo<br />

do cerebelo simulando tumor da fossa posterior. Arq<br />

Neuro-Psiquiat 50:116-9, <strong>19</strong>92.<br />

35. SILVA MAA, FUKUJIMA MM: Hematomas e infartos<br />

cerebelares: Diagnóstico e conduta. Rev Neurociências<br />

8:15-8, <strong>2000</strong>.<br />

177


36. SIMMONS ZS, BILLER J, ADAMS HR Jr, DUNN V,<br />

JACOBY CG: Cerebellar infarction: comparison of<br />

computed tomography and magnetic resonance<br />

imaging. Ann Neurol <strong>19</strong>:291-3, <strong>19</strong>86.<br />

37. SYPERT GW, ALVORD EC Jr: Cerebellar infarction:<br />

a clinico-pathological study. Arch Neurol 32:357-63,<br />

<strong>19</strong>75.<br />

38. TITUS F, MONTALBAN J, MOLINS A, GILI J, LOPEZ<br />

M, CODINA A: Migraine-related stroke: brain infarction<br />

in superior cerebellar artery territory <strong>de</strong>monstrated<br />

by nuclear magnetic resonance. Acta Neurol Scand<br />

79:357-60, <strong>19</strong>89.<br />

39. TOHGI H, TAKAHASHI S, CHIBA K, HIRATA Y:<br />

Cerebellar infarction. Clinical and neuroimaging<br />

analysis in 293 patients. Stroke 24:1697-701, <strong>19</strong>93.<br />

Infarto cerebelar<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 174-178, <strong>2000</strong><br />

40. TOMASZEK DE, ROSNER MJ: Cerebellar infarction:<br />

analysis of twenty one cases. Surg Neurol 24:223-6,<br />

<strong>19</strong>85.<br />

Original recebido em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em outubro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Carlos Umberto Pereira<br />

Av. Augusto Maynard, 245/404<br />

CEP 49015-380 – Aracaju, SE<br />

E-mail: umberto@infonet.com.br<br />

178


Introdução<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica na<br />

<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Sebastião Gusmão, Roberto Leal Silveira, Guilherme Cabral Filho, Aluízio Arantes<br />

Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital Madre Teresa, Belo Horizonte, MG<br />

Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital Luxemburgo, Belo Horizonte, MG<br />

RESUMO<br />

A <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal (DVP) é a aplicação do princípio hidrodinâmico dos vasos<br />

comunicantes. São freqüentes as complicações hidrodinâmicas em pacientes submetidos à DVP.<br />

Revisam-se os fatores hidrodinâmicos da DVP e suas complicações <strong>de</strong>correntes.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Hidrocefalia. Derivação ventrículo-peritoneal.<br />

ABSTRACT<br />

Clinical applications of hydrodinamics in ventriculoperitoneal shunt<br />

The ventriculoperitoneal shunt is an application of the hydrodynamic principle of communicating<br />

vessels. There are frequent hydrodynamic complications in the patients submitted to shunting.<br />

A revision of the hydrodynamic factors involved in the ventriculoperitoneal shunt was ma<strong>de</strong> and<br />

their hydrodynamic complications were analyzed.<br />

KEYWORDS<br />

Hydrocephalus. Ventriculoperitoneal shunt.<br />

A <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal (DVP) é o procedimento<br />

mais usado para tratar a hidrocefalia. Ela é uma<br />

aplicação do princípio hidrodinâmico dos vasos<br />

comunicantes. Tem por objetivo drenar o excesso <strong>de</strong><br />

líquor para reduzir a pressão intracraniana e o tamanho<br />

dos ventrículos.<br />

Em gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos, não se consegue esse<br />

objetivo, persistindo a dilatação ventricular ou ocorrendo<br />

redução exagerada dos ventrículos 1 . O advento da<br />

tomografia computadorizada revelou alta freqüência <strong>de</strong><br />

complicações hidrodinâmicas por ina<strong>de</strong>quação entre o<br />

débito da DVP e a produção <strong>de</strong> líquor.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta revisão é analisar os fatores<br />

hidrodinâmicos da DVP e suas complicações <strong>de</strong>correntes.<br />

Hidrodinâmica aplicada à <strong>de</strong>rivação<br />

ventrículo-peritoneal<br />

No tratamento da hidrocefalia por DVP, estabelece-se<br />

a comunicação entre os ventrículos e a<br />

cavida<strong>de</strong> abdominal, através <strong>de</strong> cateter, com válvula<br />

interposta. O débito do líquor drenado é <strong>de</strong>terminado<br />

pela lei <strong>de</strong> Poiseuille, expressa pela equação:<br />

D = ∆P. r4 / 8 n L,<br />

on<strong>de</strong> D é o débito, ∆P (pressão diferencial) é a<br />

diferença <strong>de</strong> pressão entre as duas extremida<strong>de</strong>s do<br />

sistema <strong>de</strong> drenagem, r é o raio do tubo, n é a viscosida<strong>de</strong><br />

do fluido e L é a distância entre as duas cavida<strong>de</strong>s<br />

(comprimento do cateter <strong>de</strong> drenagem). No caso da DVP,<br />

o comprimento do tubo, o raio <strong>de</strong>ste e a viscosida<strong>de</strong> do<br />

líquor po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como constantes. Esses<br />

três elementos <strong>de</strong>terminam a resistência (R) do sistema à<br />

passagem do líquido. Assim, o débito da drenagem po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rado como diretamente proporcional à<br />

diferença <strong>de</strong> pressão entre as duas extremida<strong>de</strong>s do<br />

sistema, e inversamente proporcional à resistência do<br />

mesmo à passagem <strong>de</strong> líquido, o que é expresso pela<br />

equação:<br />

D = ∆P / R<br />

A válvula interposta na <strong>de</strong>rivação assegura<br />

passagem em sentido único. Ela funciona quando<br />

existe diferença <strong>de</strong> pressão entre a entrada e a saída.<br />

O mecanismo <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> pressão (fenda no<br />

silicone ou mola calibrada) mantém o sistema <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rivação impermeável à passagem <strong>de</strong> líquido até<br />

<strong>de</strong>terminado valor <strong>de</strong> ∆P (pressão <strong>de</strong> fechamento <strong>de</strong><br />

válvula). Quando ∆P exce<strong>de</strong> a pressão <strong>de</strong> fecha-<br />

179


mento, a válvula se abre, permitindo a passagem do<br />

líquido.<br />

A pressão diferencial que age na DVP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das<br />

pressões das cavida<strong>de</strong>s proximal (ventrículos) e distal<br />

(abdome), da altura que as separa e da pressão <strong>de</strong><br />

fechamento da válvula.<br />

Po<strong>de</strong>-se, então, escrever:<br />

D ∆P PIV + L – (PIA + PF),<br />

= =<br />

R R<br />

on<strong>de</strong> PIV é a pressão intraventricular, PIA é a pressão<br />

intra-abdominal, PF é a pressão <strong>de</strong> fechamento da<br />

válvula e L é a altura entre o ventrículo lateral e a<br />

extremida<strong>de</strong> distal do cateter peritoneal.<br />

Os sistemas <strong>de</strong> válvulas para tratamento <strong>de</strong><br />

hidrocefalia possuem mecanismo constante para<br />

controle da resistência. O ∆P sofre alterações inevitáveis<br />

e intensas em condições fisiológicas (como, por<br />

exemplo, mudanças <strong>de</strong> postura), po<strong>de</strong>ndo ocorrer, em<br />

conseqüência, gran<strong>de</strong> variação do débito <strong>de</strong> líquor<br />

drenado. Isso dificulta que se consiga o objetivo<br />

principal do controle da hidrocefalia, ou seja, equilíbrio<br />

relativamente constante entre a produção e a drenagem<br />

do líquor.<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />

liquórica é função <strong>de</strong> sua resistência à passagem <strong>de</strong><br />

líquor e não <strong>de</strong> sua pressão <strong>de</strong> fechamento. Esta é<br />

apenas um dos fatores <strong>de</strong>terminantes do ∆P através<br />

do sistema <strong>de</strong> drenagem (∆P = PIV + L – PIA – PF).<br />

Assim, as especificações das válvulas <strong>de</strong>vem incluir<br />

não somente a pressão <strong>de</strong> fechamento, que não reflete<br />

completamente as características <strong>de</strong> funcionamento do<br />

sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação, mas também a resistência,<br />

<strong>de</strong>finida pelo gráfico pressão/débito do teste hidrodinâmico.<br />

As válvulas existentes po<strong>de</strong>m ser divididas em duas<br />

categorias: <strong>de</strong> baixa e alta resistência.<br />

Pressão diferencial através da<br />

<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Os fatores <strong>de</strong>terminantes da pressão diferencial<br />

através da DVP são: PIV, PIA, pressão hidrostática<br />

(altura do cateter) e resistência da válvula.<br />

A pressão do líquor, em <strong>de</strong>cúbito horizontal, é a<br />

mesma nos ventrículos, na cisterna magna e no fundo<br />

<strong>de</strong> saco lombar; varia <strong>de</strong> 50 mm a 200 mm <strong>de</strong> água 2,3 .<br />

Quando o paciente se encontra ereto ou sentado, a PIV<br />

no forame <strong>de</strong> Monro é, em média, <strong>de</strong> -70 mm <strong>de</strong> água, o<br />

que correspon<strong>de</strong> à distância entre o orifício <strong>de</strong> Monro<br />

e a cisterna magna, on<strong>de</strong> a pressão é próxima <strong>de</strong> zero 4,5 .<br />

A PIV média no lactente é <strong>de</strong> 45 mm <strong>de</strong> água.<br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Gusmão S e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />

O conteúdo abdominal comporta-se como uma<br />

coluna <strong>de</strong> água. Assim, a PIA, como a PIV, é uma<br />

pressão hidrostática, estando o ponto “0”, na posição<br />

ereta, localizado na extremida<strong>de</strong> do apêndice<br />

xifói<strong>de</strong> 6 . Em um paciente com DVP, a PIA que age<br />

sobre o sistema é igual à distância entre o ponto “0”<br />

e a extremida<strong>de</strong> do cateter abdominal. Na posição<br />

ereta ou sentada, a PIA cresce progressivamente da<br />

parte superior (nível “0”) até o fundo do saco <strong>de</strong><br />

Douglas, on<strong>de</strong> atinge 300 mm <strong>de</strong> água (o que equivale<br />

à distância entre o ponto “0” e o fundo <strong>de</strong> saco <strong>de</strong><br />

Douglas). Para o indivíduo adulto em <strong>de</strong>cúbito<br />

horizontal, a PIA é <strong>de</strong> 80 mm <strong>de</strong> água em todos os<br />

pontos da cavida<strong>de</strong> abdominal. No lactente, esse<br />

valor é <strong>de</strong> 40 mm 7 .<br />

A altura do cateter, que provoca gran<strong>de</strong> pressão<br />

hidrostática quando o paciente se encontra na posição<br />

sentada ou ereta, representa o principal fator na<br />

<strong>de</strong>terminação do ∆P através da DVP. Ela varia segundo<br />

a implantação do cateter distal, a altura e a posição do<br />

indivíduo.<br />

Cálculo da pressão diferencial e da<br />

pressão intraventricular no paciente com<br />

<strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Conhecendo-se os fatores responsáveis pelo ∆P<br />

na DVP, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar, teoricamente, o ∆P e a<br />

conseqüente modificação da PIV causada pela <strong>de</strong>rivação.<br />

O ∆P em um paciente submetido à DVP é dado<br />

pela equação:<br />

∆P = PIV + L (PIA + PF)<br />

Após a implantação da DVP, as pressões ten<strong>de</strong>m a<br />

equilibrar-se, por meio da drenagem do líquor, <strong>de</strong> tal<br />

sorte que o ∆P ten<strong>de</strong> para valor nulo (∆P = 0) em uma<br />

posição <strong>de</strong>terminada. A mudança <strong>de</strong> posição do paciente<br />

vai acompanhar-se <strong>de</strong> novo equilíbrio. Quando o ∆P<br />

for nulo, a <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> drenar, estando<br />

equilibrada a pressão entre as cavida<strong>de</strong>s ventricular e<br />

abdominal. Nesse momento, a PIV será:<br />

PIV = PIA + PF – L<br />

Conhecendo-se aproximadamente os valores dos<br />

diversos fatores que intervêm no ∆P, po<strong>de</strong>-se calcular<br />

seu valor na DVP a ser implantada e a PIV após o<br />

equilíbrio do sistema <strong>de</strong> drenagem (∆P = 0).<br />

Como exemplo para o cálculo do ∆P e da alteração<br />

da PIV provocada pela drenagem, tomam-se dois casos<br />

teóricos (Quadro 1): lactente com hidrocefalia hipertensiva<br />

e adulto com hidrocefalia <strong>de</strong> pressão normal<br />

submetidos à DVP com válvula <strong>de</strong> 70 mm <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong><br />

fechamento (válvula <strong>de</strong> pressão média).<br />

180


Quadro 1<br />

Valores da pressão diferencial (∆∆∆∆∆P) e da pressão<br />

intraventricular (PIV) no paciente com DVP<br />

(valores em milímetros <strong>de</strong> água)<br />

Lactente<br />

Ereto ou sentado<br />

∆P = 0 + 200 - 70 = 130<br />

PIV = 70 - 200 = - 130<br />

Em <strong>de</strong>cúbito horizontal<br />

∆P = 150 + 0 - (40 + 70) = 40<br />

PIV = 40 + 70 - 0 = 110<br />

Adulto<br />

Ereto ou sentado<br />

∆P = 0 + 400 - 70 = 330<br />

PIV = 70 - 400 = - 330<br />

Em <strong>de</strong>cúbito horizontal<br />

∆P = 150 + 0 - (80 + 70) = 0<br />

PIV = 80 + 70 + 0 = 150 mm<br />

Nesse cálculo, usa-se o valor <strong>de</strong> 150 mm <strong>de</strong> água<br />

para a PIV na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito, que é aproximadamente<br />

a pressão na hidrocefalia <strong>de</strong> pressão normal e<br />

também o valor médio da PIV na hidrocefalia da<br />

criança 8,9 . Na posição ereta ou sentada, a PIV nos<br />

pacientes hidrocefálicos situa-se próximo <strong>de</strong> zero,<br />

po<strong>de</strong>ndo apresentar valores ligeiramente positivos ou<br />

negativos.<br />

A PIA no paciente <strong>de</strong>itado é, aproximadamente,<br />

40 mm <strong>de</strong> água no lactente e 80 mm <strong>de</strong> água no adulto 6 .<br />

Na posição ereta ou sentada, a PIA é anulada pela<br />

pressão hidrostática <strong>de</strong>ntro do cateter, correspon<strong>de</strong>nte<br />

ao comprimento do cateter na cavida<strong>de</strong> abdominal.<br />

Assim, se tomarmos como altura do cateter (L) a<br />

distância entre a borda superior da órbita, que correspon<strong>de</strong><br />

ao orifício <strong>de</strong> Monro, e o apêndice xifói<strong>de</strong>,<br />

não é necessário levar em consi<strong>de</strong>ração a PIA no<br />

paciente em posição ereta. Essa altura correspon<strong>de</strong>,<br />

em média, a 400 mm no adulto e a 200 mm no lactente.<br />

Em <strong>de</strong>cúbito horizontal, o ∆P é pequeno ou nulo<br />

através da <strong>de</strong>rivação e, conseqüentemente, ocorre<br />

pequena ou nenhuma alteração da PIV. Na posição ereta<br />

ou sentada, há gran<strong>de</strong> aumento do ∆P, com significativa<br />

redução da PIV.<br />

O débito através da DVP <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, além do ∆P, da<br />

resistência da válvula (D = ∆P /R). Assim, para um<br />

mesmo ∆P, uma válvula <strong>de</strong> alta resistência apresentará<br />

débito inferior ao <strong>de</strong> uma válvula <strong>de</strong> baixa resistência,<br />

reduzindo, em proporção menor, a PIV.<br />

Mac Cullough e cols. 5 e Fox e cols. 10 mediram a<br />

PIV, na posição ereta, em pacientes adultos portadores<br />

<strong>de</strong> DVP, encontrando, respectivamente, os valores <strong>de</strong><br />

-320 mm e -220 mm <strong>de</strong> água. Os valores calculados<br />

para a PIV (-330 mm <strong>de</strong> água) após <strong>de</strong>rivação<br />

ventricular são bastante próximos dos valores medidos<br />

por esses autores.<br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica na <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Gusmão S e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />

Complicações hidrodinâmicas<br />

As válvulas corrigem o volume <strong>de</strong> modo nãofisiológico,<br />

pois a produção do líquor é constante<br />

(0,33ml/min) e o débito através da DVP varia segundo<br />

vários fatores.<br />

Na posição ereta, a pressão hidrostática, <strong>de</strong>terminada<br />

pelo comprimento do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />

(efeito sifão), leva a PIV a valores muito negativos,<br />

po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>terminar o aparecimento <strong>de</strong> complicações<br />

hidrodinâmicas por hiperdrenagem liquórica: síndrome<br />

<strong>de</strong> hipotensão liquórica, coleção subdural, alterações<br />

da forma e volume do crânio, <strong>de</strong>sproporção craniencefálica,<br />

colapso ventricular e transformação <strong>de</strong><br />

hidrocefalia comunicante em não-comunicante por<br />

estenose do aqueduto.<br />

A síndrome <strong>de</strong> hipotensão intracraniana é a complicação<br />

mais freqüente da hiperdrenagem liquórica. Po<strong>de</strong><br />

ocorrer acompanhada ou não <strong>de</strong> ventrículos em fenda<br />

(colapso ventricular). Manifesta-se por cefaléia, náusea<br />

e vômitos, diplopia, letargia, paresia do olhar conjugado<br />

para cima e estrabismo. Esses sinais e sintomas são<br />

semelhantes aos da hipertensão intracraniana por<br />

obstrução do sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação. A diferença fundamental<br />

é que, quando se trata <strong>de</strong> hipotensão intracraniana,<br />

o quadro clínico manifesta-se quando o paciente<br />

se encontra em posição ereta e melhora quando assume<br />

a posição <strong>de</strong>itada. É fundamental a distinção entre as<br />

duas síndromes, pois o diagnóstico errôneo <strong>de</strong> hipertensão<br />

intracraniana por obstrução do sistema <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rivação po<strong>de</strong>rá levar à revisão cirúrgica <strong>de</strong>snecessária.<br />

Foltz e Blanks 4 <strong>de</strong>screveram 14 casos <strong>de</strong> hipotensão<br />

intracraniana em pacientes submetidos à DVP. Todos<br />

apresentavam a síndrome <strong>de</strong> hipotensão intracraniana,<br />

que era <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pela posição ereta e melhorada<br />

pelo <strong>de</strong>cúbito. Esses autores mediram a PIV <strong>de</strong>sses<br />

casos, em posição ereta antes e <strong>de</strong>pois da troca do<br />

sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação por outro <strong>de</strong> pressão mais elevada.<br />

A PIV média, no pré-operatório, era <strong>de</strong> -136 mm <strong>de</strong> água<br />

e, no pós-operatório, <strong>de</strong> -17 mm <strong>de</strong> água. Todos os<br />

pacientes apresentaram significativa melhora ou<br />

redução completa dos sinais e sintomas <strong>de</strong> hipotensão<br />

intracraniana após a substituição do sistema <strong>de</strong><br />

drenagem por outro <strong>de</strong> mais eleveada pressão.<br />

O quadro tomográfico <strong>de</strong> colapso ventricular é<br />

freqüentemente observado nos pacientes submetidos<br />

à <strong>de</strong>rivação ventricular e é geralmente assintomático.<br />

Ocorre, com maior freqüência, em pacientes com mais<br />

<strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e nos tratados com válvula <strong>de</strong><br />

baixa resistência 1 . Decorre do maior ∆P em pacientes<br />

com mais <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (posição ereta levando<br />

a alto valor da ∆P) e do maior débito nas válvulas <strong>de</strong><br />

baixa resistência.<br />

181


O débito liquórico e a conseqüente alteração da<br />

PIV na posição ereta po<strong>de</strong>m ser estimados pelo<br />

gráfico pressão/débito da válvula utilizada. Não<br />

existe, entretanto, solução simples para a hiperdrenagem<br />

liquórica, pois a <strong>de</strong>rivação que funcione sob<br />

pressão diferencial que não <strong>de</strong>termine hiperdrenagem<br />

na posição ereta po<strong>de</strong> provocar hipodrenagem na<br />

posição <strong>de</strong>itada.<br />

Válvulas cujas resistências – e, conseqüentemente,<br />

a pressão <strong>de</strong> abertura – possam ser mudadas<br />

por meio <strong>de</strong> controle externo (válvula programável)<br />

foram <strong>de</strong>senvolvidas para a<strong>de</strong>quar melhor o sistema<br />

<strong>de</strong> drenagem às necessida<strong>de</strong>s do paciente, prevenindo,<br />

assim, as complicações hidrodinâmicas 12,13 .<br />

O mecanismo <strong>de</strong>ssas válvulas baseia-se na variação<br />

da resistência exercida por uma mola conjugada a<br />

uma esfera, cujo movimento controla a abertura da<br />

válvula. A mudança <strong>de</strong> pressão é realizada por meio<br />

<strong>de</strong> ímã colocado sobre a válvula. Esse mecanismo<br />

elimina a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a pressão <strong>de</strong><br />

abertura ou a resistência i<strong>de</strong>al do sistema a ser<br />

implantado e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão cirúrgica para<br />

mudar o sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação por outro <strong>de</strong> pressão<br />

ou resistência diferente.<br />

Os casos <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> hipotensão liquórica ou<br />

colapso ventricular, por hiperdrenagem liquórica,<br />

po<strong>de</strong>m ser controlados por meio do simples aumento<br />

da pressão <strong>de</strong> abertura da válvula. Isso correspon<strong>de</strong><br />

realmente ao aumento da resistência do sistema <strong>de</strong><br />

drenagem pelo aumento da pressão sobre a mola que<br />

controla a abertura da válvula.<br />

A complicação hidrodinâmica oposta à hiperdrenagem<br />

é a hipodrenagem liquórica. Trata-se <strong>de</strong> débito<br />

<strong>de</strong> drenagem liquórica inferior ao débito <strong>de</strong> produção<br />

do líquor, em <strong>de</strong>rivação comprovadamente patente.<br />

Nesse caso, não ocorre melhora dos sinais e sintomas<br />

e a tomografia computadorizada evi<strong>de</strong>ncia persistência<br />

da dilatação ventricular. Tal eventualida<strong>de</strong> ocorre<br />

principalmente em lactentes e em pacientes tratados<br />

com válvulas <strong>de</strong> alta resistência 1 . Decorre do baixo<br />

valor do ∆P, por causa do pequeno comprimento do<br />

sistema <strong>de</strong> drenagem e da posição <strong>de</strong>itada do lactente<br />

na maior parte do dia, e do baixo débito nas válvulas<br />

<strong>de</strong> alta resistência.<br />

A persistência da hidrocefalia por hipodrenagem<br />

liquórica é tratada com a substituição da válvula por<br />

outra <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong> abertura menor ou <strong>de</strong> menor<br />

resistência. Quando se usa a válvula <strong>de</strong> pressão<br />

programável, basta alterar a pressão <strong>de</strong> abertura para<br />

valor menor, diminuindo, assim, a resistência da<br />

drenagem.<br />

No pré-operatório po<strong>de</strong>-se avaliar, aproximadamente,<br />

o DP que vai agir na <strong>de</strong>rivação e procurar<br />

indicar a válvula que melhor se adapte às necessida<strong>de</strong>s<br />

do paciente. Assim, indica-se a válvula<br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Gusmão S e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />

<strong>de</strong> alta resistência nos casos <strong>de</strong> alta DP (pacientes<br />

adultos com vida ativa) e a <strong>de</strong> baixa resistência nos<br />

casos <strong>de</strong> baixa DP (lactentes e pacientes acamados<br />

por longo tempo). Quando esses pacientes começarem<br />

a <strong>de</strong>ambular, po<strong>de</strong>rá ser necessário trocar a<br />

válvula <strong>de</strong> baixa por uma <strong>de</strong> alta resistência. A válvula<br />

<strong>de</strong> pressão programável simplifica a a<strong>de</strong>quação da<br />

resistência da drenagem às necessida<strong>de</strong>s do paciente.<br />

A pressão intracraniana é constante fisiológica<br />

fundamental e sua alteração, para mais ou para menos,<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar lesões irreversíveis no sistema nervoso.<br />

A drenagem ventricular com resistência constante,<br />

funcionando por pressão diferencial, é uma forma<br />

grosseira <strong>de</strong> controle da pressão intracraniana. A<br />

válvula <strong>de</strong> resistência programável traz a vantagem <strong>de</strong><br />

se po<strong>de</strong>r controlar a resistência da drenagem,<br />

adaptando-se o débito <strong>de</strong> drenagem liquórica às<br />

necessida<strong>de</strong>s do paciente.<br />

Referências<br />

1. AYER JB: Puncture of the cisterna magna. Arch Neurol<br />

Psychiatr 4:529-41, <strong>19</strong>20.<br />

2. DIETRICH U, LUMENTA C, SPRICK C, MAJEWSKI B:<br />

Subdural hematoma in a case of hydrocephalus and<br />

macrocrania. Experience with a pressure-adjustable<br />

valve. Childs Nerv Syst 3:242-4, <strong>19</strong>87.<br />

3. DUORNARCO JY, SOLOVEY G: Concepto <strong>de</strong> pressión<br />

intra-abdominal y estructura física <strong>de</strong>l abdomen.<br />

Medicina 2:155-63,<strong>19</strong>42.<br />

4. FOLTZ EL, BLANKS JP: Symptomatic low intracranial<br />

pressure in shunted hydrocephalus. J Neurosurg<br />

68:401-8,<strong>19</strong>88.<br />

5. FOX JL, Mac CULLOUGH DC, GREERT RC: Cerebrospinal<br />

fluid shunts: an experimental comparison of<br />

flow rates and pressure values in various commercial<br />

systems. J Neurosurg 37:700-5, <strong>19</strong>72.<br />

6. GUSMÃO S: Estudo da hidrodinâmica da drenagem<br />

ventricular e sua importância no tratamento da<br />

hidrocefalia. Tese (Mestrado). UFMG. Minas Gerais,<br />

<strong>19</strong>84.<br />

7. HAKIM CA: The physics and physicopathology of the<br />

hydraulic complex of the central nervous system. Tese<br />

(Doutorado). Massachusetts Institute of Technology.<br />

Boston, <strong>19</strong>85.<br />

8. HAYDEN PW, SHURTLEFF DB, FOLTZ EL: Ventricular<br />

fluid pressure recordings in hydrocephalic patients.<br />

Arch Neurol 23:147-65, <strong>19</strong>70.<br />

9. KONNO K, MEAD J: Static volume pressure characteristic<br />

of the rib cage and abdomen. J Applied Physiol<br />

24:544-8, <strong>19</strong>58.<br />

10. LIGUORI G, CICCHIELLO L, AMBROSIO A, DANIELE<br />

B: Continuous monitoring of intracranial pressure in<br />

non tumoral hydrocephalus of infancy. Acta Neurochir<br />

38:143-51, <strong>19</strong>77.<br />

11. LORNAN J: Components of cerebrospinal fluid<br />

pressure as affected by changes in posture. Arch<br />

Neurol Psychiatry 31:679-81, <strong>19</strong>34.<br />

182


12. Mac CULLOUGH DC, FOX JL, CURL F, GREEN RC:<br />

Effect of CSF shunts on intracranial pressure and<br />

CSF dynamics. In Harbert TJC (ed): Cisternography<br />

and Hydrocephalus. Springfield, Thomas, <strong>19</strong>72, pp<br />

335-42.<br />

13. Mac CULLOUGH DC, FOX JL: Negative intracranial<br />

pressure hydrocephalus in adults with shunts and its<br />

relationship to the production of subdural hematoma.<br />

J Neurosurg 40:372-5, <strong>19</strong>74.<br />

Aplicações clínicas da hidrodinâmica da <strong>de</strong>rivação ventrículo-peritoneal<br />

Gusmão S e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 179-183, <strong>2000</strong><br />

Original recebido em junho <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em setembro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Sebastião Gusmão<br />

Rua Padre Rolim, 921 / 21<br />

CEP 30130-090 – Belo Horizonte, MG<br />

183


Introdução<br />

Aneurisma da artéria carótida interna<br />

supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Relato <strong>de</strong> caso, fisiopatologia e revisão <strong>de</strong> literatura<br />

Marcelo Nery Silva*<br />

Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Municipal <strong>de</strong> São Paulo<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />

RESUMO<br />

Diversas são as causas <strong>de</strong> dor facial. Uma das causas, mesmo que infreqüente, é a presença <strong>de</strong><br />

aneurisma intracraniano. Essa doença está relacionada com índices alarmantes <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong><br />

quando ocorre sua ruptura. Por essa razão, o diagnóstico e o tratamento pré-ruptura<br />

em pacientes selecionados são <strong>de</strong>sejáveis. Para tanto, o conhecimento das diversas apresentações<br />

clínicas é necessário.<br />

Apresenta-se o caso <strong>de</strong> uma paciente com dor facial esquerda que inicialmente foi tratada como<br />

neuralgia trigeminal. Na investigação, diagnosticou-se um aneurisma gigante do segmento<br />

comunicante posterior da artéria carótida interna. Após ter sido tratada cirurgicamente, houve<br />

remissão completa <strong>de</strong> sua sintomatologia dolorosa.<br />

Dor facial do tipo da neuralgia trigeminal é apresentação rara <strong>de</strong> aneurisma intracraniano originário<br />

da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>. Os objetivos <strong>de</strong>ste relato são: apresentar mais um tipo<br />

<strong>de</strong> manifestação, ainda que infreqüente, <strong>de</strong> aneurisma intracraniano antes <strong>de</strong> sua ruptura; discutir<br />

a fisiopatologia da dor facial nesse caso e revisar a experiência da literatura mundial com<br />

pacientes com dor facial causada por aneurismas da artéria carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Dor facial. Aneurisma intracraniano.<br />

ABSTRACT<br />

Supraclinoid internal carotid artery aneurysm and facial pain. Case report<br />

Facial pain has several causal factors. Among them, even unusual, intracranial aneurysm is<br />

related as a cause of facial pain. Aneurysm rupture causes high morbidity and mortality. For this<br />

reason, pre-rupture diagnosis and treatment are critical in selected patients. Therefore, knowledge<br />

of various clinical presentations is necessary.<br />

It is presented a patient with left facial pain initially treated as trigeminal neuralgia. The investigation<br />

disclosed a giant left internal carotid artery aneurysm (posterior communicating segment). After<br />

surgical treatment, there was complete remission of the facial pain.<br />

Facial pain as presented by this patient is a rare clinical manifestation of a supraclinoid internal<br />

carotid artery aneurysm. The related pathophysiology of facial pain is discussed.<br />

KEYWORDS<br />

Facial pain. Intracranial aneurysm.<br />

A maior parte dos aneurismas intracranianos é<br />

diagnosticada após episódios únicos ou repetidos <strong>de</strong><br />

hemorragia subaracnói<strong>de</strong>a, situação já bastante<br />

discutida na literatura mundial e reconhecida como uma<br />

condição <strong>de</strong>vastadora do ponto <strong>de</strong> vista anatômico e<br />

funcional, acometendo indivíduos em plena capacida<strong>de</strong><br />

produtiva, com alto índice <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>.<br />

Com o advento e a divulgação <strong>de</strong> técnicas<br />

mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> neuroimagem, como a angiografia por<br />

ressonância e a angiotomografia tridimensional, muitos<br />

pacientes têm se beneficiado com o diagnóstico precoce,<br />

antes do rompimento <strong>de</strong>ssas lesões vasculares.<br />

Além disso, elevado grau <strong>de</strong> suspeita clínica é necessário<br />

para o diagnóstico quando a sintomatologia está<br />

relacionada com o episódio franco <strong>de</strong> ruptura, quando<br />

ocorrem as chamadas hemorragias sentinelas e quando<br />

a forma <strong>de</strong> apresentação é, pelo menos, pouco freqüente<br />

ou diferente da habitual.<br />

Em geral, os aneurismas que ainda não se romperam<br />

são diagnosticados esporadicamente em angiografias<br />

* Médico neurocirurgião do Serviço <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Municipal <strong>de</strong> São Paulo.<br />

184


ealizadas por outras razões (investigação <strong>de</strong> cefaléias,<br />

epilepsia, tumores, má-formações arteriovenosas), em<br />

achados coinci<strong>de</strong>ntes na investigação <strong>de</strong> aneurismas<br />

que se romperam, ou ainda, quando, por sua dimensão,<br />

manifestam-se como tumores (lesões mecânicas). Nesse<br />

último caso, as manifestações clínicas estão relacionadas<br />

com o tamanho e a localização da lesão (em geral, os<br />

nervos cranianos são os primeiros a ser acometidos).<br />

Um subgrupo <strong>de</strong> pacientes apresenta sintomas e sinais<br />

agudos ou crônicos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da presença <strong>de</strong> inflamação<br />

local, trombose ou expansão do aneurisma 11 .<br />

Apresentamos um caso raro <strong>de</strong> aneurisma <strong>de</strong> artéria<br />

carótida interna supraclinói<strong>de</strong>a no qual a principal<br />

manifestação clínica foi dor facial. Discutem-se dois<br />

aspectos: a apresentação clínica e a fisiopatologia da<br />

dor facial relacionada ao caso.<br />

Relato do caso<br />

Paciente <strong>de</strong> 49 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sexo feminino, cor negra,<br />

procurou o serviço <strong>de</strong> emergência do Hospital do Servidor<br />

Público Municipal queixando-se <strong>de</strong> dor em peso, <strong>de</strong> forte<br />

intensida<strong>de</strong>, localizada na hemiface esquerda, principalmente<br />

na região maxilar e na região periorbitária, que<br />

piorava com esforço físico e tosse. Referia que essa dor já<br />

a incomodava havia quatro meses antes <strong>de</strong>ssa internação<br />

e que, no início, se apresentava como choques <strong>de</strong> curta<br />

duração (poucos segundos) sem zonas ou manobras <strong>de</strong><br />

gatilho, melhorando com analgésicos comuns. Nesse<br />

período, as características dolorosas mudaram-se gradualmente,<br />

tornando-se <strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong>, melhorando<br />

apenas com a utilização <strong>de</strong> analgésicos opiói<strong>de</strong>s. Relatava<br />

ainda que, havia 20 anos, experimentou episódio súbito<br />

<strong>de</strong> cefaléia holocraniana <strong>de</strong> forte intensida<strong>de</strong> sem perda<br />

<strong>de</strong> consciência ou vômitos. Naquela época, o exame do<br />

líquido cefalorraquiano não mostrou alterações, sendo<br />

tratada como crise <strong>de</strong> enxaqueca. Permaneceu assintomática<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Não foi investigada com angiografia<br />

naquela ocasião.<br />

A paciente tinha hipertensão controlada com dieta<br />

pobre em sal e clortalidona (50 mg/dia); tinha o hábito<br />

<strong>de</strong> fumar (20 cigarros/dia havia 20 anos) e era etilista<br />

social. Negava antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trauma, migrânea ou<br />

doença cerebrovascular.<br />

O exame físico inicial mostrava uma paciente tensa,<br />

fácies hipocrática, sem alterações do equilíbrio ou da<br />

sensibilida<strong>de</strong>. Havia déficit incompleto <strong>de</strong> força<br />

muscular no dimídio direito. Não havia distúrbio dos<br />

reflexos profundos, superficiais ou axiais da face. O<br />

exame dos nervos cranianos não <strong>de</strong>monstrou déficit<br />

da olfação ou da acuida<strong>de</strong> visual; campos visuais pela<br />

confrontação e exame do fundo do olho eram normais.<br />

Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Silva MN<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />

Notou-se suave diminuição da fenda palpebral esquerda<br />

(ptose palpebral parcial) que, segundo a paciente, era<br />

constitucional (presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância). As pupilas<br />

mediam 5 mm, eram simétricas, e os reflexos fotomotor e<br />

córneo-palpebral direto e consensual encontravam-se<br />

preservados. Não havia hipo ou anidrose facial. Demais<br />

nervos cranianos não apresentavam anormalida<strong>de</strong>s.<br />

Exames complementares da esfera bioquímica,<br />

hematológica e radiológica do tórax eram normais.<br />

Para tratamento da dor, introduzimos carbamazepina<br />

600 mg/dia e paracetamol. Progressivamente, ao final<br />

<strong>de</strong> uma semana, houve melhora acentuada e a paciente<br />

passou a suportar os episódios dolorosos.<br />

A dor nos chamou a atenção porque atingia o território<br />

do nervo trigêmeo esquerdo (ramo maxilar e oftálmico,<br />

nessa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>), porém não havia critério<br />

suficiente para <strong>de</strong>fini-la como neuralgia trigeminal clássica<br />

e necessitava-se, portanto, <strong>de</strong> melhor investigação.<br />

A tomografia computadorizada do crânio mostrou,<br />

na fase pré-contraste, uma lesão arredondada <strong>de</strong> 35 mm<br />

em seu maior diâmetro localizada na região paraclinói<strong>de</strong><br />

esquerda, sem lesão óssea adjacente (Figura 1). Na fase<br />

contrastada, houve um realce heterogêneo no interior<br />

<strong>de</strong>ssa lesão, porém com acentuada captação do<br />

contraste em sua periferia, tornando seus limites mais<br />

nítidos em relação às estruturas normais da região<br />

(artéria carótida interna, processo clinói<strong>de</strong>, borda<br />

tentorial e seio cavernoso esquerdos). A ressonância<br />

confirmou a relação anatômica da lesão com estruturas<br />

adjacentes citadas acima, além <strong>de</strong> sinal flow-void<br />

circundado <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> hiper e <strong>de</strong> hipossinal no interior,<br />

sugestivas <strong>de</strong> trombo organizado (Figura 2). A paciente<br />

foi submetida à angiografia cerebral que revelou<br />

múltiplos aneurismas, assim <strong>de</strong>scritos: aneurisma da<br />

artéria carótida interna esquerda em seu segmento<br />

comunicante posterior; aneurismas <strong>de</strong> artéria carótida<br />

interna direita bilobado no segmento comunicante<br />

posterior e no segmento oftálmico, do tipo hipofisária<br />

superior paraclinói<strong>de</strong> (Figura 3).<br />

Suspeitando que o aneurisma localizado à esquerda<br />

era o responsável pela sintomatologia, essa lesão foi<br />

abordada, em primeira instância, ocluindo-a e esvaziando-se<br />

o seu conteúdo. De acordo com a estimativa<br />

cirúrgica, media aproximadamente 40 mm em seu maior<br />

diâmetro, originando-se no segmento comunicante<br />

posterior da artéria carótida interna, com colo medindo<br />

aproximadamente 6 mm e corpo e fundo voltados<br />

póstero-lateralmente sobre o teto do seio cavernoso<br />

(espaço póstero-superior) e a<strong>de</strong>ridos à borda tentorial<br />

paraclinói<strong>de</strong>. Após três meses, os aneurismas restantes<br />

também foram ocluídos sem intercorrências. A paciente<br />

evoluiu bem em ambos os períodos pós-operatórios,<br />

retornando às suas ativida<strong>de</strong> regulares duas semanas<br />

após a segunda cirurgia, sem dor e, portanto, não<br />

necessitando <strong>de</strong> analgésicos.<br />

.<br />

185


Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />

Figura 1 – À esquerda, tomografia computadorizada na fase pré-contraste <strong>de</strong>monstrando lesão arredondada ocupando a<br />

cisterna carotí<strong>de</strong>a esquerda; à direita, fase contrastada <strong>de</strong>monstrando captação heterogênea do contraste.<br />

Figura 2 – Ressonância magnética do crânio. Observam-se sinais <strong>de</strong> flow-void,<br />

sugestivas <strong>de</strong> trombo organizado no interior da lesão.<br />

Figura 3 – Angiografia mostrando aneurismas da artéria carótida interna esquerda no segmento comunicante posterior e da<br />

artéria carótida interna direita nos segmentos comunicante posterior e hipofisária superior.<br />

Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Silva MN<br />

186


Discussão<br />

Na prática clínica, a neuralgia trigeminal clássica<br />

(tic douloureux) é uma das causas mais freqüentes<br />

<strong>de</strong> dor facial. Caracteristicamente, a dor é recorrente,<br />

paroxística, intensa e <strong>de</strong> curta duração, com ou sem<br />

zona <strong>de</strong> gatilho. De acordo com Dandy 4 e, mais<br />

recentemente, Jannetta 6 , é causada pela presença <strong>de</strong><br />

alças vasculares que pulsam continuamente sobre o<br />

nervo trigêmeo em sua zona <strong>de</strong> entrada da raiz dorsal<br />

(dorsal root entry zone), região em que ocorre junção<br />

da mielina central com a periférica. Estudos postmortem<br />

<strong>de</strong> pacientes com neuralgia trigeminal<br />

<strong>de</strong>monstram essa alteração. Nas <strong>de</strong>scompressões<br />

neurovasculares para tratamento da neuralgia trigeminal,<br />

a artéria cerebelar superior é a que mais<br />

freqüentemente se encontra pulsando sobre o nervo.<br />

Outros vasos e outras lesões po<strong>de</strong>m estar implicados<br />

como causadores <strong>de</strong> neuralgia trigeminal, como a<br />

artéria cerebelar anterior-inferior, a veia petrosa <strong>de</strong><br />

Dandy e a má-formação arteriovenosa da fossa<br />

posterior 10 . Alterações anatômicas semelhantes são<br />

encontradas em outros grupos neurovasculares da<br />

fossa posterior do crânio provocando o espasmo<br />

hemifacial, a neuralgia do glossofaríngeo e a<br />

hipertensão arterial 7 .<br />

Aneurismas intracranianos po<strong>de</strong>m causar dor facial.<br />

Geralmente essas lesões localizam-se na fossa posterior<br />

do crânio, no seio cavernoso ou em sua adjacência.<br />

Quando essas lesões se localizam no seio cavernoso<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar a síndrome paratrigeminal <strong>de</strong> Rae<strong>de</strong>r.<br />

Nessa rara síndrome, <strong>de</strong>scrita em <strong>19</strong>24, ocorre dor<br />

facial intensa com paralisia do simpático ocular,<br />

ocasionando ptose palpebral e miose ipsilaterais à<br />

lesão, po<strong>de</strong>ndo, também, um ou mais nervos cranianos<br />

estar envolvidos 5,8 . Algumas condições po<strong>de</strong>m ter<br />

relação causal com essa síndrome, como hipertensão<br />

arterial, traumas leves, arteriosclerose e migrânea.<br />

Diversas publicações já trataram da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssa<br />

doença e <strong>de</strong> sua relação com aneurismas da artéria<br />

carótida interna intracavernosa 1,2,5,8 .<br />

A paciente em discussão apresentava dor facial que<br />

acometia os territórios dos ramos maxilar e oftálmico<br />

do nervo trigêmeo e que, do ponto <strong>de</strong> vista clínico, foi<br />

consi<strong>de</strong>rada atípica, principalmente por suas características<br />

com relação ao tipo <strong>de</strong> dor (“em peso”) e à<br />

ausência <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> gatilho, apesar <strong>de</strong> esta última não<br />

estar presente em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> pacientes com<br />

neuralgia trigeminal essencial. Dessa forma, a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sta paciente apresentar neuralgia trigeminal<br />

clássica tornou-se remota. Dor facial constitui uma das<br />

principais características da síndrome paratrigeminal,<br />

porém, apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos consi<strong>de</strong>rar que havia ptose<br />

palpebral em nosso caso, não notamos miose em<br />

Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Silva MN<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />

momento algum <strong>de</strong> sua evolução, fato que também<br />

afasta a síndrome <strong>de</strong> Horner. Clinicamente, a oftalmoplegia<br />

dolorosa (síndrome <strong>de</strong> Tolosa-Hunt) e a<br />

enxaqueca oftalmoplégica (enxaqueca associada)<br />

po<strong>de</strong>riam fazer parte do diagnóstico diferencial 12 . A<br />

investigação revelou um aneurisma gigante (> 25 mm)<br />

da artéria carótida interna em seu segmento comunicante<br />

posterior. Tipicamente, aneurismas nessa localização<br />

costumam apresentar-se principalmente com<br />

lesão do nervo oculomotor. Nesse caso, dor facial é<br />

apresentação atípica e rara para a doença <strong>de</strong>scrita nessa<br />

localização.<br />

Em <strong>19</strong>80, Leopold e cols. 9 <strong>de</strong>screveram um caso<br />

<strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> 62 anos que apresentava dor facial<br />

paroxística e recorrente no qual a investigação <strong>de</strong>monstrou<br />

um aneurisma <strong>de</strong> artéria comunicante<br />

posterior. Em <strong>19</strong>82, Broggi e Franzini 3 , estudando os<br />

efeitos da rizotomia por radiofreqüência em pacientes<br />

com dor facial <strong>de</strong> diversas etiologias, encontraram um<br />

paciente com aneurisma <strong>de</strong> artéria comunicante<br />

posterior. Contudo, a patofisiologia da dor facial<br />

nesses casos permanece no âmbito da especulação.<br />

Aneurismas localizados no compartimento anterior do<br />

círculo <strong>de</strong> Willis po<strong>de</strong>m se manifestar com dor facial<br />

retroorbitária, ou simplesmente por cefaléia causada<br />

por trombose, ou por expansão natural do aneurisma,<br />

ou somente por processo inflamatório ao redor da<br />

lesão com irritação meníngea secundária. Em nosso<br />

caso, acreditamos que a transmissão da pulsação<br />

intermitente do aneurisma aos ramos oftálmico e<br />

maxilar do nervo trigêmeo tenha sido a responsável<br />

pelo aparecimento <strong>de</strong> dor facial paroxística. De acordo<br />

com nossa pesquisa, esse é o quarto caso <strong>de</strong>scrito na<br />

literatura e o primeiro em literatura <strong>de</strong> língua portuguesa.<br />

Aspectos clínicos <strong>de</strong>talhados são <strong>de</strong> extrema importância<br />

para o diagnóstico <strong>de</strong> doenças neurológicas,<br />

até mesmo dos aneurismas intracranianos que,<br />

quando apresentam algum sintoma, necessitam <strong>de</strong><br />

diagnóstico e tratamento precoces. Diagnósticos realizados<br />

somente com metodologia <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong>monstram,<br />

em sua maioria, <strong>de</strong>ficiência na etapa semiotécnica.<br />

Portanto, torna-se importante incluir dor facial<br />

paroxística como sintomatologia, ainda que infreqüente,<br />

<strong>de</strong> aneurisma intracraniano localizado na<br />

artéria carótida supraclinói<strong>de</strong>. Nosso caso corrobora<br />

a teoria <strong>de</strong> Dandy e Jannetta <strong>de</strong> que pulsações<br />

vasculares intermitentes sobre o nervo trigêmeo são<br />

responsáveis por dor facial paroxística. Entretanto,<br />

acreditamos que lesões vasculares mais periféricas,<br />

localizadas além da zona <strong>de</strong> entrada da raiz dorsal,<br />

po<strong>de</strong>m-se manifestar com neuralgia trigeminal.<br />

Possivelmente, estudos subseqüentes serão necessários<br />

para estabelecer <strong>de</strong>finitivamente essa<br />

relação.<br />

187


Referências<br />

1. BODROSSIAN EH: Rae<strong>de</strong>r’s syndrome. Arch Ophthalmol<br />

48:620-3, <strong>19</strong>52.<br />

2. BONIUK M, SCHLEZINGER NS: Rae<strong>de</strong>r’s paratrigeminal<br />

syndrome. Am J Ophthalmol 54:1074-84,<br />

<strong>19</strong>62.<br />

3. BROGGI G, FRANZINI A: Radiofrequency trigeminal<br />

rizotomy in treatment of symptomatic non-neoplastic<br />

facial pain. J Neurosurg 57:483-6, <strong>19</strong>82.<br />

4. DANDY WE: Treatment of trigeminal neuralgia by<br />

the cerebellar route. Ann Surg 7:87-96, <strong>19</strong>32.<br />

5. JAIN DC, AHUJA GK, GOULATIA RK: Intracranial<br />

internal carotid artery aneurysm as a cause of<br />

Rae<strong>de</strong>r’s syndrome. Surg Neurol 16:357-9, <strong>19</strong>81.<br />

6. JANNETTA PJ: Structural mechanisms of trigeminal<br />

neuralgia. Arterial compression of the trigeminal<br />

nerve at the pons in patients with trigeminal<br />

neuralgia. J Neurosurg 26:159-62, <strong>19</strong>67.<br />

7. JANNETTA PJ: Selection criteria for the treatment of<br />

cranial rhizopathies by microvascular <strong>de</strong>compression<br />

(Honored guest lecture). Clin Neurosurg 44:69-78, <strong>19</strong>96.<br />

8. KASHIHARA I, YAMAMOTO H, YAMANO K: Rae<strong>de</strong>r’s<br />

syndrome associated with intracranial internal carotid<br />

artery aneurysm. Neurosurgery 20:49-51, <strong>19</strong>87.<br />

9. LEOPOLD NA, HIRSH LF, RAY T: Paroxismal facial<br />

neuralgia secondary to a posterior communicating<br />

artery aneurysm. Surg Neurol 14:221-3, <strong>19</strong>80.<br />

Aneurisma da carótida supraclinói<strong>de</strong>a e dor facial<br />

Silva MN<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 184-188, <strong>2000</strong><br />

10. MENDELOWITSCH A, RADUE EW, GRATZL O:<br />

Aneurysm, arteriovenous malformation and arteriovenous<br />

fistula in posterior fossa compression<br />

syndrome. Eur Neurol 30:338-42, <strong>19</strong>90.<br />

11. RAPS EC, ROGERS JD, GALETTA SL, SOLOMON<br />

RA, LENNIHAN L, KLEBANOFF LM, FINK ME: The<br />

clinical spectrum of unruptured intracranial aneurysms.<br />

Arch Neurol 50:265-8, <strong>19</strong>93.<br />

12. ZINGALE A, CHIARAMONTE I, MANCUSO P,<br />

CONSOLI V, ALBANESE V: Craniofacial pain and<br />

incomplete oculomotor palsy associated with ipsilateral<br />

primitive trigeminal artery. J Neurol Sci<br />

37:251-5, <strong>19</strong>93.<br />

Original recebido em janeiro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em maio <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Marcelo Nery Silva<br />

Rua Vergueiro, 3086/cj. 121<br />

CEP 04102-001 – São Paulo, SP<br />

E-mail: marcelo.reiko@originet.com.br<br />

188


Introdução<br />

Hemangioma vertebral sintomático<br />

durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

Relato <strong>de</strong> caso e revisão da literatura<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

Rogério Gomes Damasceno*, Marcelo Luís Mudo**, Mirto Nerso Prandini***<br />

Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo<br />

RESUMO<br />

Os hemangiomas vertebrais são lesões bastante freqüentes, mas raramente tornam-se<br />

sintomáticas. Há poucos casos relatados na literatura <strong>de</strong> hemangiomas vertebrais causando<br />

sintomas <strong>de</strong> compressão medular durante a gravi<strong>de</strong>z. Relatamos um caso nessa situação,<br />

discutindo os aspectos diagnósticos, as manifestações clínicas, a fisiopatologia e o tratamento.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Hemangioma vertebral. Gravi<strong>de</strong>z. Tumor vertebral.<br />

ABSTRACT<br />

Spinal hemangioma and pregnancy. Case report<br />

Despite the high inci<strong>de</strong>nce of vertebral hemangiomas, they rarely become symptomatic. Only a<br />

few cases of vertebral hemangiomas causing spinal cord compression during pregnancy as<br />

occurred in this case presentation were reported. The diagnostic aspects, clinical manifestations,<br />

physiopathology and treatment are discussed.<br />

KEYWORDS<br />

Spinal haemangioma. Pregnancy. Spinal tumor.<br />

Os hemangiomas vertebrais foram <strong>de</strong>scritos pela<br />

primeira vez por Virchow 30 , em 1863, na Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Berlim. . O primeiro relato <strong>de</strong> compressão medular<br />

por hemangioma foi apresentado por Gerhardt 12 , em<br />

1895. A primeira <strong>de</strong>scrição das características radiológicas<br />

<strong>de</strong>ssa lesão foi feita por Perman 24 , em <strong>19</strong>26, que<br />

observou a presença <strong>de</strong> estrias verticais produzidas<br />

pela alternância <strong>de</strong> zonas ósseas com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

reduzida e trabéculas <strong>de</strong> osso mais <strong>de</strong>nso, na radiografia<br />

simples. Em <strong>19</strong>48, Guthkelch 14 relatou, pela primeira vez,<br />

um caso <strong>de</strong> hemangioma vertebral levando à compressão<br />

medular durante a gravi<strong>de</strong>z.<br />

Estudos <strong>de</strong> autópsia têm <strong>de</strong>monstrado que essas<br />

lesões ocorrem em cerca <strong>de</strong> 10% a 12% da popu-<br />

lação 11,15 , e sintomas <strong>de</strong>vidos a elas são raros,<br />

ocorrendo em aproximadamente 0,9% a 1,2% dos<br />

indivíduos com hemangioma 27 . A incidência <strong>de</strong> hemangiomas<br />

sintomáticos predomina em adultos jovens 27 .<br />

Hemangiomas vertebrais são comuns nas regiões<br />

torácica baixa e lombar 13 , porém os hemangiomas sintomáticos<br />

da gravi<strong>de</strong>z inci<strong>de</strong>m mais na coluna torácica<br />

alta (Quadro 1). Tanto os elementos anteriores (corpo<br />

da vértebra) quanto os posteriores (pedículos, lâminas<br />

e processo espinhoso) são atingidos, aproximadamente,<br />

com igual freqüência 13 .<br />

O advento da ressonância magnética possibilitou o<br />

diagnóstico mais acurado e com riscos menores durante<br />

a gravi<strong>de</strong>z, tanto do ponto <strong>de</strong> vista materno quanto fetal.<br />

Existem diversas formas <strong>de</strong> tratamento para o<br />

hemangioma vertebral sintomático durante o período<br />

* Neurocirurgião do Ambulatório <strong>de</strong> Neurocirurgia do Hospital São Paulo – UNIFESP.<br />

** Pós-graduando do Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia – UNIFESP.<br />

*** Docente da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo e Chefe da Disciplina <strong>de</strong> Neurocirurgia da UNIFESP.<br />

189


Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />

Damasceno RG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

Quadro1<br />

Hemangiomas vertebrais relacionados à gravi<strong>de</strong>z relatados na literatura<br />

Autor Ida<strong>de</strong> I.G Local Tratamento Evolução<br />

1. Guthkelch 34 3 T5 C óbito<br />

2. Lam 3 6 3 T3 C RC<br />

3. David 30 3 T12 C RC<br />

4. Fields 30 2 T6 C RC<br />

5. Askenasi 20 3 T11 C + RT RC<br />

6. Acquaviva 40 3 T3 C RC<br />

7. Newman 24 3 T2 C RC<br />

8. Newquist <strong>19</strong> 2 C7/T4 C RP<br />

9. Nelson 16 3 T3 C + RT RP<br />

10. Esparza 22 3 T5/T6 C + EMB<br />

2<br />

RP<br />

a C + RT<br />

11. Bouchez 24 2 T2 EMB RP<br />

12. Lavi 25 3 T4 C RC<br />

13. Lavi 21 3 T2 C RC<br />

14. Faria 4 0 3 T3 C + RT RC<br />

15. Liu 2 5 2 T4 C RC<br />

16. Schwartz 30 3 T5 C RP<br />

17. Tekköp 25 3 T4/T7 C RC<br />

18. Re<strong>de</strong>kop 20 3 T12 C RP<br />

<strong>19</strong>. Pougvarin 20 2 T2 C SR<br />

20 Abi-Fa<strong>de</strong>l 28 3 T9 C RC<br />

21. Presente caso 2 0 3 T6 C RC<br />

IG: ida<strong>de</strong> gestacional; C: cirurgia; EMB: embolização; RT: radioterapia; RC: recuperação completa; RP: recuperação parcial; SR: sem recuperação.<br />

gestacional que incluem: interrupção da gestação,<br />

cirurgia, radioterapia e embolização, além dos vários<br />

tipos <strong>de</strong> combinação entre esses métodos 1,2,3,5,6,8,<br />

9,10,14,17,18,<strong>19</strong>,21,22,23,25,26,28,29 .<br />

Neste relato, apresentamos mais um caso <strong>de</strong><br />

hemangioma vertebral relacionado à gravi<strong>de</strong>z e com<br />

comprometimento neurológico, além <strong>de</strong> revisarmos<br />

aspectos clínicos, radiológicos, fisiopatológicos,<br />

anatomopatológicos e os concernentes ao tratamento.<br />

Relato do caso<br />

I<strong>de</strong>ntificação: mulher, 20 anos, cor branca, do lar,<br />

natural e proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> São Paulo, capital.<br />

Antece<strong>de</strong>ntes: secundigesta, primípara, 35 a semana<br />

<strong>de</strong> gestação; sem moléstias crônicas pregressas.<br />

Realizou pré-natal regularmente e sem intercorrências.<br />

História da moléstia atual: a um mês da internação,<br />

a paciente começou a apresentar sensação <strong>de</strong> formigamento<br />

em ambos os membros inferiores, a princípio<br />

<strong>de</strong> pouca intensida<strong>de</strong>, atingindo predominantemente<br />

as regiões mais distais (pés e pernas). Concomitante a<br />

esse quadro, a mesma apresentava episódios freqüentes<br />

<strong>de</strong> queda da própria altura. A uma semana da internação,<br />

a sensação <strong>de</strong> formigamento associou-se à dor<br />

nos membros inferiores. Já nessa época a paciente não<br />

conseguia <strong>de</strong>ambular, permanecendo restrita ao leito.<br />

Como as dores tornavam-se cada vez mais intensas,<br />

ela procurou assistência médica em nosso hospital. No<br />

dia da admissão queixava-se <strong>de</strong> dor na região dorsal<br />

média e não mais conseguia controlar a diurese,<br />

necessitando <strong>de</strong> sondagem vesical.<br />

Exame físico geral: a paciente apresentava-se corada,<br />

com pulso <strong>de</strong> 90 bpm e pressão arterial <strong>de</strong> 100 mmHg x<br />

60 mmHg. Havia dor à palpação <strong>de</strong> região dorsal média.<br />

Exame obstétrico: abdome globoso com útero a 10 cm<br />

acima da cicatriz umbilical. Feto único, tópico, apresentação<br />

cefálica, foco presente e rítmico a 144 bpm.<br />

Exame neurológico: força muscular grau II para<br />

todos os grupos musculares dos membros inferiores<br />

bilateralmente. Havia diminuição acentuada <strong>de</strong> todas<br />

as formas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> abaixo do nível do processo<br />

xifói<strong>de</strong>. Os reflexos patelares e aquileus eram exaltados,<br />

com clônus, e havia sinal <strong>de</strong> Babinski bilateralmente.<br />

A ressonância magnética <strong>de</strong> coluna torácica<br />

(Figura 1) revelou a presença <strong>de</strong> lesão hipointensa em<br />

T6, comprometendo tanto o corpo vertebral quanto os<br />

elementos posteriores, que se realçava intensa e<br />

uniformemente após injeção <strong>de</strong> contraste paramagnético;<br />

em T2, a lesão era francamente hiperintensa e uniforme.<br />

Além disso, havia uma lesão fusiforme epidural<br />

comprimindo o saco dural, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> T5 até T7, com as<br />

mesmas características da lesão do corpo vertebral.<br />

<strong>19</strong>0


Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

Figura 1 – Ressonância magnética pré-operatória. Figura à esquerda, imagem sem contraste. Na figura à direita, nota-se<br />

realce do corpo vertebral <strong>de</strong> T6 bem como dos elementos posteriores após a injeção <strong>de</strong> contraste. Observa-se, também, uma<br />

extensa área <strong>de</strong> realce <strong>de</strong> tecido no espaço epidural que comprime a medula no nível da vértebra comprometida.<br />

No dia seguinte à admissão, a paciente foi submetida<br />

à cesariana, sem intercorrências, com extração <strong>de</strong><br />

feto masculino com boa vitalida<strong>de</strong>. No segundo dia<br />

após a admissão, como a paciente apresentava piora<br />

da força nos membros inferiores (grau I), foi submetida<br />

à cirurgia <strong>de</strong>scompressiva posterior (em que predominava<br />

a compressão). A paciente foi colocada em<br />

<strong>de</strong>cúbito ventral, feita incisão reta mediana sobre os<br />

processos espinhosos <strong>de</strong> T5 a T7. Feita a exposição<br />

<strong>de</strong>stes, notou-se que o processo espinhoso <strong>de</strong> T6<br />

encontrava-se aumentado, além <strong>de</strong> apresentar uma<br />

coloração violácea, observando-se vários pontos <strong>de</strong><br />

sangramento abundante por on<strong>de</strong> penetravam numerosos<br />

vasos sangüíneos. À medida que era realizada<br />

a laminectomia, houve perda profusa <strong>de</strong> sangue pela<br />

vértebra comprometida, <strong>de</strong> difícil controle, fazendo<br />

com que a pressão arterial caísse rapidamente, chegando<br />

a causar instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica. A<br />

paciente, porém, respon<strong>de</strong>u a<strong>de</strong>quadamente às manobras<br />

<strong>de</strong> reversão do quadro, retornando a níveis<br />

pressóricos satisfatórios após breve espaço <strong>de</strong> tempo.<br />

Foi realizada a laminectomia <strong>de</strong> T5 a T7, com a retirada<br />

<strong>de</strong> tecido epidural bastante vascularizado até a visibilização<br />

<strong>de</strong> dura-máter pulsátil. Feita a hemostasia e<br />

fechada ferida por planos.<br />

Foram feitas tomografia computadorizada e ressonância<br />

magnética <strong>de</strong> controle após a cirurgia (Figuras<br />

2 e 3). A paciente recebeu alta após uma semana, com<br />

quadro neurológico inalterado e utilizando colete<br />

bivalvado do tipo Boston.<br />

Um mês e meio após a cirurgia, foi readmitida para<br />

colocação <strong>de</strong> haste <strong>de</strong> Hartshill, em virtu<strong>de</strong> do gran<strong>de</strong><br />

comprometimento do corpo vertebral pelo processo.<br />

Nessa época, a força muscular dos membros inferiores<br />

havia melhorado até grau IV, a hipostesia havia<br />

<strong>de</strong>saparecido e notava-se controle a<strong>de</strong>quado da diurese.<br />

Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />

Damasceno RG e cols.<br />

Figura 2 – Ressonância magnética pós-operatória, com<br />

contraste. Há realce do corpo vertebral <strong>de</strong> T6 após a<br />

injeção <strong>de</strong> contraste. Não há sinais <strong>de</strong> compressão medular.<br />

O leito operatório apresenta realce intenso.<br />

Figura 3 – Tomografia computadorizada pós-operatória,<br />

sem contraste, em janela para partes moles, mostrando a<br />

ampla <strong>de</strong>scompressão. O corpo vertebral apresenta o<br />

aspecto típico em polka-dot.<br />

<strong>19</strong>1


A fixação foi realizada sem intercorrências. Esse<br />

procedimento não foi realizado no mesmo tempo cirúrgico<br />

da <strong>de</strong>scompressão por causa do intenso sangramento.<br />

No controle ambulatorial, nos dois anos seguintes,<br />

constatou-se recuperação total do quadro neurológico.<br />

Discussão<br />

Há apenas 21 casos <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong> hemangioma<br />

vertebral levando à compressão medular durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z 1,2,3,5,6,8,9,10,14,17,18,<strong>19</strong>,21,22,23,25,26,28,29 , incluindo o<br />

<strong>de</strong>scrito neste relato (Quadro 1). No trabalho <strong>de</strong> Lavi 18<br />

há relato <strong>de</strong> dois casos . A ida<strong>de</strong> das pacientes variou<br />

entre 16 21 e 40 anos 2 , correspon<strong>de</strong>ndo ao período<br />

reprodutivo feminino. Não houve predominância em<br />

nenhuma década específica.<br />

A ida<strong>de</strong> gestacional mais comumente associada ao<br />

aparecimento dos sintomas neurológicos foi o terceiro<br />

trimestre, com 16 casos relatados, e, em seguida, o<br />

segundo trimestre, com 5 casos. Não houve caso<br />

relatado no primeiro trimestre (Quadro 1).<br />

As vértebras mais acometidas são as da região<br />

torácica alta. Comprometimentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> C7 a T12 são<br />

relatados (Quadro 1).<br />

As manifestações clínicas mais freqüentemente<br />

associadas à presença <strong>de</strong> hemangiomas são:<br />

1 – Dor, principalmente localizada sobre a projeção<br />

da vértebra comprometida 20 . Po<strong>de</strong> existir também a dor<br />

em projeção <strong>de</strong> <strong>de</strong>rmátomo (radicular) <strong>de</strong>corrente da<br />

compressão <strong>de</strong> raízes espinhais 3 ;<br />

2 – Alterações das curvaturas da coluna, levando<br />

tanto à cifose quanto à escoliose 27 ;<br />

3 – Compressão medular 4,20 . . Há diversos mecanismos<br />

<strong>de</strong>scritos para explicar o aparecimento <strong>de</strong> quadro<br />

neurológico <strong>de</strong>vido aos hemangiomas vertebrais.<br />

Citam-se 13 :<br />

• crescimento do tumor para <strong>de</strong>ntro do espaço<br />

epidural e conseqüente compressão da medula<br />

pelo tumor;<br />

• expansão do osso levando a uma estenose do<br />

canal vertebral e conseqüente compressão<br />

medular;<br />

• compressão medular por vasos que alimentam<br />

ou drenam a lesão;<br />

• compressão medular por fratura da vértebra<br />

comprometida;<br />

• hemorragia espontânea produzindo hematoma<br />

epidural espinhal;<br />

• isquemia medular <strong>de</strong>vida a roubo <strong>de</strong> fluxo.<br />

Na gravi<strong>de</strong>z, além dos mecanismos anteriormente<br />

citados, há ainda <strong>de</strong>talhes etiopatogênicos específicos,<br />

entre os quais po<strong>de</strong>mos citar:<br />

Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />

Damasceno RG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

1 – Teoria mecânico-hemodinâmica: compressão<br />

do sistema venoso cava inferior pelo útero gravídico,<br />

levando à congestão venosa que se transmite ao<br />

sistema venoso vertebral interno e externo. Há<br />

aumento do volume sangüíneo total na grávida, o<br />

que po<strong>de</strong> levar à congestão venosa. O volume<br />

sangüíneo é 50% maior por volta da 32 a semana <strong>de</strong><br />

gestação 26 .<br />

2 – Teoria químico-hormonal: crescimento do<br />

tumor, induzido por fatores hormonais (estrogênio e<br />

progesterona), apesar <strong>de</strong> não terem sido <strong>de</strong>monstrados<br />

receptores para esses hormônios em hemangiomas<br />

sintomáticos da gravi<strong>de</strong>z. A relaxina, hormônio abundante<br />

durante o terceiro trimestre da gravi<strong>de</strong>z, po<strong>de</strong><br />

ter efeito sobre as pare<strong>de</strong>s vasculares 1 . As teorias<br />

mecânicas explicam o fato <strong>de</strong> que os sintomas costumam<br />

aparecer no terceiro trimestre da gravi<strong>de</strong>z e<br />

melhoram imediatamente após o parto 26 . A teoria<br />

hormonal explica alguns casos <strong>de</strong> piora clínica nessa<br />

enfermida<strong>de</strong> durante o período menstrual 7 , além da<br />

melhora após o parto 18 .<br />

A primeira <strong>de</strong>scrição radiológica dos hemangiomas<br />

vertebrais foi feita por Perman 24 , em <strong>19</strong>26, que <strong>de</strong>screveu<br />

a imagem típica <strong>de</strong> estriações verticais produzidas por<br />

zonas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óssea reduzida entre trabéculas<br />

ósseas mais <strong>de</strong>nsas. Esse aspecto é comumente referido<br />

como “favo <strong>de</strong> mel” e ocorre principalmente no corpo<br />

vertebral 24 . Um terço das colunas afetadas tem mais <strong>de</strong><br />

uma vértebra comprometida 16 .<br />

O aspecto encontrado na tomografia computadorizada<br />

é chamado <strong>de</strong> “polka dot”, correspon<strong>de</strong>ndo à visão<br />

em cortes axiais <strong>de</strong> trabéculas ósseas <strong>de</strong>nsas ao lado<br />

<strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> 13 (Figura 3). Nesse<br />

método, há melhor visibilização tanto das estruturas<br />

vertebrais comprometidas quanto das expansões do<br />

tumor para o espaço epidural.<br />

Atualmente, a ressonância magnética, em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua inocuida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudo em<br />

diversos planos, tornou-se o exame <strong>de</strong> escolha para as<br />

afecções compressivas da medula espinhal, em especial<br />

em pacientes grávidas, pois previne-se a exposição do<br />

feto à radiação. A lesão aparece hiperintensa em T2,<br />

hipointensa em T1 e há realce intenso após a injeção<br />

<strong>de</strong> contraste (Figura 1). As lesões que apresentam<br />

hipersinal, tanto em T1 como em T2, possuem um<br />

gran<strong>de</strong> conteúdo <strong>de</strong> gordura, portanto com menor<br />

propensão a tornar-se sintomáticas 13 .<br />

De acordo com as teorias que tentam explicar a<br />

manifestação <strong>de</strong>ssas lesões durante a gravi<strong>de</strong>z, o<br />

próprio término da gestação seria suficiente para<br />

melhorar os sintomas. Esse fato, porém, não aconteceu<br />

em nosso caso. O parto, preferencialmente, <strong>de</strong>veria ser<br />

por via cesariana, pois evita-se o aumento da pressão<br />

venosa no plexo <strong>de</strong> Batson. Além disso, as pacientes<br />

po<strong>de</strong>m estar com dificulda<strong>de</strong> para fazer com que a<br />

<strong>19</strong>2


prensa abdominal seja um mecanismo fisiológico efetivo<br />

no período expulsivo .<br />

As formas <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>scritas na literatura para<br />

essa doença nosológica são, basicamente, cirurgia,<br />

radioterapia e embolização associadas entre si, ou não<br />

(Quadro 1). No estudo <strong>de</strong>sses 21 casos <strong>de</strong>scritos na<br />

literatura até o momento, constatamos que todas essas<br />

formas <strong>de</strong> tratamento foram empregadas durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z em diversas combinações. Na maioria das<br />

vezes, o tratamento escolhido foi o cirúrgico (20 casos).<br />

Há apenas um relato <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>scrito por Bouchez 5 em<br />

que foi empregada apenas a embolização, com recuperação<br />

completa do quadro neurológico. Em 5 <strong>de</strong>sses 20<br />

casos cirúrgicos foi empregado tratamento complementar,<br />

seja com radioterapia isolada (4 casos), seja<br />

com radioterapia e embolização (1 caso).<br />

Dos 21 casos <strong>de</strong>scritos, 14 evoluíram com recuperação<br />

neurológica completa (incluindo o presente<br />

caso), 5 com recuperação apenas parcial, 1 sem<br />

recuperação e 1 óbito. O óbito ocorreu apenas no<br />

primeiro caso <strong>de</strong>scrito, em <strong>19</strong>48, por Guthkelch 14 .<br />

Conclusão<br />

O hemangioma vertebral po<strong>de</strong> ser causa <strong>de</strong><br />

compressão medular durante a gravi<strong>de</strong>z. Há apenas 21<br />

casos <strong>de</strong>scritos até agora na literatura (incluindo o<br />

presente caso). A manifestação clínica ocorreu, em todos<br />

os casos, nos dois últimos trimestres da gestação,<br />

sendo muito mais freqüente no terceiro. Há duas teorias<br />

que tentam explicar esse fato: a teoria mecânicohemodinâmica<br />

e a teoria químico-hormonal. O diagnóstico<br />

<strong>de</strong>ve ser realizado, preferencialmente, por estudo<br />

<strong>de</strong> ressonância magnética. O tratamento adotado nos<br />

casos relatados na literatura é, na maioria das vezes,<br />

cirúrgico (<strong>19</strong> casos), po<strong>de</strong>ndo-se usar radioterapia e<br />

embolização como tratamentos adjuvantes (4 casos).<br />

Em <strong>19</strong> casos houve melhora ou estabilização do quadro<br />

neurológico com o tratamento. Há relato <strong>de</strong> apenas um<br />

óbito 14 .<br />

Acreditamos que a resolução da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>va ser<br />

por via cesariana para evitar o aumento da pressão<br />

venosa intra-abdominal e, por conseguinte, do espaço<br />

epidural no período expulsivo. Além disso, a paresia<br />

da musculatura po<strong>de</strong> prejudicar a efetivida<strong>de</strong> da prensa<br />

abdominal durante o trabalho <strong>de</strong> parto.<br />

O diagnóstico precoce e acurado <strong>de</strong>ssa doença é<br />

<strong>de</strong> fundamental importância, tanto para a conduta<br />

perante a gestação como para a programação da terapêutica<br />

neurocirúrgica, haja vista que essa doença<br />

po<strong>de</strong> ser uma causa <strong>de</strong> paraparesia durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z.<br />

Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />

Damasceno RG e cols.<br />

Referências<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

1. ABI-FADEL W, AFIF N, FARAH S, HADDAD A, RIZK K,<br />

RAAD J: Hémangiome vertébral symptomatic au cours<br />

<strong>de</strong> la grossesse. A propos d’un cas et revue <strong>de</strong> la<br />

littérature. J Gynecol Obstet Biol Reprod 26:90-4,<br />

<strong>19</strong>97.<br />

2. ACQUAVIVA R, LHEVENOT C: Compression medullaire<br />

recidivante par hemangiome vertebral: Role <strong>de</strong>terminant<br />

<strong>de</strong>s grossesses. Maroc Med 389:9424, <strong>19</strong>57.<br />

3. ASKENASY H, BEHMOARAM A: Neurological manifestations<br />

in hemangioma of the vertebra. J Neurol<br />

Neurosurg Psychiatry 20:276-84, <strong>19</strong>57.<br />

4. BAILEY P, BUCY PC: Cavernous hemangioma of the<br />

vertebrae. JAMA 92:1749-51, <strong>19</strong>29.<br />

5. BOUCHEZ B, GOZET G, LECOUTOUR X, KASSIOTIS<br />

P, PUECH F, LEROY JL, ARNOTT G, DELECOUR M:<br />

Compressiom medullaire par angiome vertebral au<br />

cours <strong>de</strong> la grossesse. Un cas triate par embolisation.<br />

J Gynecol Obstet Biol Reprod 13:885-8, <strong>19</strong>84.<br />

6. DAVID M, CONSTANS-LAMARCH JP: Compression<br />

medullaire recidivante par hemangiome extra-dural:<br />

Role <strong>de</strong>terminant <strong>de</strong>s grossesses sur les rechutes. Rev<br />

Neurol 87:638-44, <strong>19</strong>52.<br />

7. EPSTEIN JA, BELLER AJ, COHEN I: Arterial anomalies<br />

of the spinal cord. J Neurosurg 6:45-56, <strong>19</strong>49.<br />

8. ESPARZA J, CASTRO S, PORTILLO JM, ROGER R:<br />

Vertebral hemangiomas. Spinal angiography and<br />

preoperative embolization. Surg Neurol 10:171-3, <strong>19</strong>78.<br />

9. FARIA ASL, SCHLUPP WR, CHIMINAZZE H Jr:<br />

Radiotherapy in the treatment of vertebral hemangiomas.<br />

Int J Radiat Oncol Biol Phys 11:387-90,<strong>19</strong>85.<br />

10. FIELDS SW, JONES JR: Spinal epidural hemangiomas<br />

in pregnancy. Neurology 7:825-8, <strong>19</strong>57.<br />

11. FOX MW, ONOFRIO BM: The natural history and<br />

management of symptomatic and assymptomatic<br />

vertebral hemangiomas. J Neurosurg 78:36-45,<br />

<strong>19</strong>93.<br />

12. GERHARDT D: Über das Verhalten <strong>de</strong>r Reflexe bei<br />

Querdurchtrennung <strong>de</strong>s Rückenmarkers. Deutsch Z<br />

Nervenheilk 6:127, 1895.<br />

13. GREENBERG MS: Handbook of Neurosurgery.<br />

Lakeland Florida, Greenberg, <strong>19</strong>97, pp 346-8.<br />

14. GUTHKELCH AN: Hemangiomas involving the spinal<br />

epidural space. J Neurol Neurosurg Psychiatry 11:<strong>19</strong>9-<br />

210, <strong>19</strong>48.<br />

15. HEALY M, HERZ DA, PEARL L: Spinal hemangiomas.<br />

Neurosurgery 13:689-91, <strong>19</strong>83.<br />

16. JUNGHANNS H: Über die Haufigkeit gutartiger<br />

Geschwulste in <strong>de</strong>n Wirbelkörpen (Angiome,Lipome,<br />

Osteome). Arch Klin Chir 169:204-12, <strong>19</strong>32.<br />

17. LAM RL, ROULHAC GE, ERWIN HJ: Hemangioma of<br />

the spinal canal and pregnancy. J Neurosurg 8:668-71,<br />

<strong>19</strong>51.<br />

18. LAVI E, JAMIELSON D, GRANT M: Epidural<br />

hemangiomas during pregnancy. J Neurol Neurosurg<br />

Psychiatry 49:709-12, <strong>19</strong>86.<br />

<strong>19</strong>. LIU CL, YANG DJ: Paraplegia due to vertebral<br />

hemangioma during pregnancy. A case report. Spine<br />

13:107-8, <strong>19</strong>88.<br />

20. MCALLISTER VA, KENDALL BE, BULL JWD: Symptomatic<br />

vertebral hemangiomas. Brain 98:71-80, <strong>19</strong>75.<br />

21. NELSON DA: Spinal cord compression due to<br />

vertebral angiomas during pregnancy. Arch Neurol<br />

11:408-13, <strong>19</strong>64.<br />

22. NEWMAN MJD: Spinal angiomas with symptoms<br />

in pregnancy. J Neurol Neurosurg Psychiatry 21:38-41,<br />

<strong>19</strong>58.<br />

<strong>19</strong>3


23. NEWQUIST RE, MAYFIELD FH: Spinal angioma<br />

presenting during pregnancy. J Neurosurg 17:541-5,<br />

<strong>19</strong>60.<br />

24. PERMAN E: On haemangiomata in the spinal<br />

column. Acta Chir Scand 61:91-105, <strong>19</strong>26.<br />

25. POUGVARIN N, BHOOPAT W: Symptomatic vertebral<br />

hemangiomas: Report of two cases. J Med Assoc Thai<br />

74:363-8, <strong>19</strong>91.<br />

26. REDEKOP GJ, Del MAESTRO RF: Vertebral hemangioma<br />

causing spinal cord compression during<br />

pregnancy. Surg Neurol 38:210-15, <strong>19</strong>92.<br />

27. SCHMIEDEK HH, SUNDARESAN N: Tumors of the<br />

Spine, Diagnosis and Clinical Management.<br />

Phila<strong>de</strong>lphia, WB Saun<strong>de</strong>rs, <strong>19</strong>90, pp 181-5.<br />

28. SCHWARTZ DA, NAIR S, HERSHEY B, WINKELMAN<br />

AC, FINKELSTEIN SD: Vertebral arch hemangioma<br />

producing spinal cord compression in pregnancydiagnosis<br />

by magnetic resonance imaging. Spine<br />

14:888-90, <strong>19</strong>89.<br />

Hemangioma vertebral e gravi<strong>de</strong>z<br />

Damasceno RG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 189-<strong>19</strong>4, <strong>2000</strong><br />

29. TEKKÖP IH, AÇIGÖZ B, SAGLAM S, ÖNOL B:<br />

Vertebral hemangioma symptomatic during pregnancy:<br />

Report of a case and review of the literature.<br />

Neurosurgery 32:302-6, <strong>19</strong>93.<br />

30. VIRCHOW R: Die Krankhaften Geschwulste. Berlin: A<br />

Hirschwald 3:306-496, 1863.<br />

Original recebido em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em agosto <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Rogério G. Damasceno<br />

Rua Borges Lagoa, 836 – ap. 64<br />

CEP 04038-001 – São Paulo, SP<br />

E-mail: rogeriog@uol.com.br<br />

<strong>19</strong>4


Introdução<br />

Meralgia parestésica na infância<br />

Relato <strong>de</strong> caso<br />

Carlos Umberto Pereira, Ednaldo Monteiro Fontes Segundo,<br />

João Ferreira Alves, Walney Carvalho dos Santos<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe. Aracaju, SE<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>5-<strong>19</strong>7, <strong>2000</strong><br />

RESUMO<br />

A meralgia parestésica tem sido observada em crianças. Sua etiologia é variada e o tratamento,<br />

na maioria dos casos, é conservador. Os autores discutem suas causas, meios <strong>de</strong> diagnóstico,<br />

tratamento e prognóstico.<br />

PALAVRA-CHAVE<br />

Meralgia parestésica.<br />

ABSTRACT<br />

Meralgia paresthetica in childhood. Case report.<br />

Meralgia paresthetica has been observed in children. It is presented a case of a ten year-old child<br />

which <strong>de</strong>veloped meralgia paresthetica following a fall. The patient showed a good recovery after<br />

conservative treatment.<br />

KEYWORDS<br />

Meralgia paresthetica.<br />

Meralgia parestésica, ou síndrome <strong>de</strong> Bernhardt-<br />

Roth, é uma neuropatia <strong>de</strong> causas traumática e<br />

metabólica que acomete o nervo cutâneo lateral da coxa.<br />

O comprometimento unilateral <strong>de</strong>sse nervo ocorre em<br />

80% dos casos e, em 20%, é bilateral 8,9,15,<strong>19</strong>,20 . A doença<br />

caracteriza-se, principalmente, por parestesia e transtornos<br />

sensitivos (anestesia ou hiperestesia) na região<br />

ântero-lateral da coxa e tem como fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />

mais importante a compressão ou tração <strong>de</strong>sse<br />

nervo 15,16,<strong>19</strong> .<br />

Os autores <strong>de</strong>screvem um caso <strong>de</strong> meralgia parestésica<br />

em uma criança do sexo masculino, com 10 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, vítima <strong>de</strong> queda da própria altura, que <strong>de</strong>senvolveu<br />

parestesia na face anterior da coxa direita. Foi<br />

submetida a tratamento conservador, com recuperação<br />

total. São <strong>de</strong>scritas suas causas, fisiopatologia,<br />

diagnóstico, tratamento e prognóstico.<br />

Relato do caso<br />

D.M.P., sexo masculino, 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Segundo<br />

a genitora, o menor sofreu queda da própria altura,<br />

batendo com a coxa direita em um obstáculo; sentiu dor<br />

na coxa no momento do trauma. Quatro dias após o<br />

trauma, começou a sentir “formigamento” na face anterior<br />

da coxa; fez uso <strong>de</strong> analgésicos simples por 48 horas e<br />

não obteve melhora, sendo encaminhado ao ambulatório<br />

<strong>de</strong> neurocirurgia para avaliação especializada.<br />

Exame neurológico: orientado, força muscular<br />

normal nos membros inferiores; reflexos profundos<br />

(patelar e aquileu) normais; hipoestesia táctil e dolorosa<br />

na face anterior da coxa; ausência <strong>de</strong> alterações<br />

esfincterianas.<br />

Radiografia da coluna lombossacra: bacia e coxa<br />

direita normais.<br />

Impressão diagnóstica: compressão traumática do<br />

nervo cutâneo lateral da coxa direita.<br />

Foi submetido a tratamento com complexo B, antiinflamatórios<br />

não-hormonais e fisioterapia motora. Após<br />

<strong>de</strong>z dias <strong>de</strong> tratamento, retornou ao nosso ambulatório,<br />

sem queixas <strong>de</strong> dormência na face anterior da coxa direita.<br />

Discussão<br />

O nervo cutâneo lateral da coxa tem função exclusivamente<br />

sensitiva, é originário dos segmentos L2 e L3,<br />

<strong>19</strong>5


sendo também relatada a participação <strong>de</strong> L1, do<br />

plexo lombar. No seu trajeto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> emergir da coluna<br />

lombar, passa por baixo da fáscia ilíaca, sai ao nível da<br />

espinha ilíaca ântero-superior, <strong>de</strong>sce na coxa abaixo da<br />

fáscia lata e divi<strong>de</strong>-se em dois ramos: o ramo posterior<br />

tem trajeto oblíquo para trás, através da fáscia lata, e<br />

transmite a sensibilida<strong>de</strong> cutânea da região superior<br />

externa das ná<strong>de</strong>gas. O ramo anterior, que é mais<br />

importante em termos clínicos, atravessa a fáscia lata<br />

em um pequeno canal fibroso, cerca <strong>de</strong> 10 cm abaixo do<br />

ligamento inguinal, e transmite a sensibilida<strong>de</strong> da pele<br />

da superfície externa da coxa 1,6,7,8,9,15,<strong>19</strong> .<br />

As causas mais comuns <strong>de</strong> meralgia parestésica<br />

são <strong>de</strong> origem mecânica, que po<strong>de</strong>m, freqüentemente,<br />

levar à compressão ou tração do nervo cutâneo lateral<br />

da coxa, pois esse nervo é superficial e faz um longo<br />

trajeto intra-abdominal. Sendo assim, o uso <strong>de</strong> calça<br />

jeans e cinto apertados, osteotomia pélvica <strong>de</strong> Chiari,<br />

fratura da pelve, trauma na região inguinal ou da coxa,<br />

obesida<strong>de</strong>, ascite, tração ou lesão durante atos cirúrgicos<br />

na região inguinal e cicatrizes cirúrgicas na região<br />

abdominal po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar essa neuropatia<br />

7,8,11,15,16,20 . Além disso, menos freqüentemente, o nervo<br />

é suscetível, ao longo <strong>de</strong> seu trajeto, a outras enfermida<strong>de</strong>s,<br />

como: compressões discais, tumores<br />

espinhais, espasmos do músculo psoas, processos<br />

inflamatórios ou tumorais na região do ceco, apêndice<br />

vermiforme e cólon sigmói<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m acometer as regiões<br />

pélvicas próximas ao seu trajeto 3,8,15,20 .<br />

Os sintomas mais comumente presentes nos casos<br />

<strong>de</strong> meralgia parestésica variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a hiperestesia à<br />

anestesia total no território inervado pelo nervo<br />

cutâneo lateral da coxa. É comum o relato <strong>de</strong> sensações<br />

<strong>de</strong> queimação local, formigamento, sensação <strong>de</strong> calor<br />

ou frio, <strong>de</strong>scarga elétrica, agulhadas e dormência parcial<br />

ou total 1,6,8,9,12,18,<strong>19</strong>,20 . Todos esses sintomas são exacerbados<br />

por esforços físicos como <strong>de</strong>ambulação, corridas<br />

e movimentos para manobrar veículos e, também, por<br />

contato com as vestes, ou são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados espontaneamente,<br />

melhorando com o repouso e a administração<br />

<strong>de</strong> analgésicos 20 .<br />

Uma anamnese bem dirigida e o exame físico são<br />

importantes para o diagnóstico. O exame físico <strong>de</strong>ve<br />

incluir a estimulação da área sintomática com toques<br />

suaves e pequenas alfinetadas, assim como a estimulação<br />

por palpação forçada ao longo do ligamento<br />

inguinal e cintura pélvica, que po<strong>de</strong>m reproduzir os<br />

sintomas relatados. Não há fraqueza muscular, nem<br />

déficit <strong>de</strong> reflexos, e é possível observar, com freqüência,<br />

perda <strong>de</strong> pêlos na região, por causa do constante ato<br />

do paciente <strong>de</strong> arranhar a cútis 20 . Outros meios <strong>de</strong><br />

diagnóstico mais sofisticados são importantes para<br />

auxiliar no diagnóstico diferencial: tomografia computadorizada<br />

<strong>de</strong> coluna lombossacra, eletroneuromiografia<br />

e ressonância magnética nuclear po<strong>de</strong>m ser utilizados<br />

Meralgia parestésica na infância<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>5-<strong>19</strong>7, <strong>2000</strong><br />

para diferenciar meralgia parestésica <strong>de</strong> uma hérnia<br />

discal lombar ou <strong>de</strong> uma neuropatia femoral. O<br />

diagnóstico preciso da meralgia parestésica é fundamental<br />

para o tratamento <strong>de</strong>finitivo 15,20 .<br />

O tratamento <strong>de</strong> meralgia parestésica po<strong>de</strong> ser<br />

clínico e /ou cirúrgico. Entretanto, em gran<strong>de</strong> parte, os<br />

sintomas <strong>de</strong>saparecem espontaneamente em algumas<br />

semanas ou após o afastamento do fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante,<br />

adotando-se medidas como parar <strong>de</strong> usar<br />

cintos apertados e evitar a <strong>de</strong>ambulação excessiva 15,20 .<br />

O tratamento clínico é realizado por hipotermia local,<br />

com a aplicação <strong>de</strong> gelo três vezes ao dia, a administração<br />

<strong>de</strong> antiinflamatórios não-esteroidais por 7 a 10<br />

dias, glicocorticói<strong>de</strong>s, analgésicos e infiltração local<br />

<strong>de</strong> xilocaína a 1% 13,20 .<br />

Recentemente, tem sido usada a capsaicina, que é<br />

um produto natural <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> plantas, que promove<br />

<strong>de</strong>ssensibilização da região afetada. Isso é conseguido<br />

com a redução da área <strong>de</strong> queimação produzida pela<br />

histamina e <strong>de</strong>pleção ou prevenção <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong><br />

substância P nos neurônios sensoriais, que se<br />

relacionam com a transmissão <strong>de</strong> dor, promovendo,<br />

assim, alívio ou anulação dos sintomas 4,5,10,14,17 . No<br />

tratamento cirúrgico, po<strong>de</strong>-se intervir por meio <strong>de</strong><br />

transecção total ou <strong>de</strong>scompressão cirúrgica do nervo<br />

cutâneo lateral da coxa na região comprometida. A<br />

neurólise tem sido menos eficiente que a transecção<br />

do nervo no tratamento <strong>de</strong> meralgia parestésica 2,14,18,20 .<br />

Nosso caso, em especial, foi submetido a tratamento<br />

clínico (antiinflamatórios não-hormonais, complexo B<br />

e fisioterapia), com resultado excelente. O prognóstico<br />

<strong>de</strong>ssa afecção tem sido consi<strong>de</strong>rado bom na maioria<br />

dos casos 1,8,9,13,14,18,<strong>19</strong>,20 .<br />

Referências<br />

1. ADELSON R, STEVENS P: Meralgia paresthetica in<br />

children. J Bone Joint Surg 7:993-8, <strong>19</strong>94.<br />

2. ALDRICH EF, Van Den HEEVER CM: Suprainguinal<br />

ligament approach for surgical treatment of meralgia<br />

paresthetica. J Neurosurg 70:492-4, <strong>19</strong>89.<br />

3. AMOIRIDIS G, WOHRLE J, GRUNWALD I, PRZUNTEK<br />

H: Malignant tumor of the psoas: Another cause of<br />

meralgia paresthetica. Electromyogr Clin Neurophysiol<br />

33:109-12, <strong>19</strong>93.<br />

4. BERNSTEIN JE: Capsaicin and substance P. Clin<br />

Dermatol 9:497-503, <strong>19</strong>91.<br />

5. CAPPUGI P, TSAMPAU D, LOTTI T. Substance P<br />

provokes cutaneous erythema and e<strong>de</strong>ma through a<br />

histamine-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt pathway. Int J Dermatol<br />

31:206-9, <strong>19</strong>92.<br />

6. CHHUTTANI PN, CHANLA LS, SHARMA TD: Meralgia<br />

paresthetica. Acta Neurol Scand 42:483-90, <strong>19</strong>66.<br />

7. DONELL ST, BARRETT DS: Entrapment neuropathies.<br />

2. Lower limb. Br J Hosp Med 46:99-101,<br />

<strong>19</strong>91.<br />

<strong>19</strong>6


8. EDELSON JG, NATHAN H: Meralgia paresthetica. An<br />

anatomical interpretation. Clin Orthop Relat Res<br />

122:255-61, <strong>19</strong>77.<br />

9. KEEGAN JJ, HOLYOKE EA: Meralgia paresthetica. An<br />

anatomical and surgical study. J Neurosurg <strong>19</strong>:341-5,<br />

<strong>19</strong>62.<br />

10. LYNN B: Capsaicin: Action on C fibre afferents that<br />

may be involved in itch. Skin Pharmacol 5:9-13,<br />

<strong>19</strong>92.<br />

11. MACNICOL MF, THOMPSON WJ: Idiopathic meralgia<br />

paresthetica. Clin Orthop 254:270-4, <strong>19</strong>90.<br />

12. MASSEY EW, PELLOCK JM: Meralgia paresthetica<br />

in a child. J Pediat. 93:325-6, <strong>19</strong>78.<br />

13. PRABHAKAR Y, BAHADUR RA, MOHANTY PR,<br />

SHARMA S: Meralgia paraesthetica. J Indian Med<br />

Assoc 87:140-1, <strong>19</strong>87.<br />

14. PUIG L, ALEGRE M, De MORAGAS JM: Treatment<br />

of meralgia paresthetica with topical capsaicin.<br />

Dermatology <strong>19</strong>1:73-4, <strong>19</strong>95.<br />

15. RINKEL GJE, WOKKE JHJ: Meralgia paraesthetica<br />

as the first symptom of a metastatic tumor in the<br />

lumbar spine. Clin Neurol Neurosurg 4:365-7, <strong>19</strong>90.<br />

16. RYDEVIK B, NORDBORG C: Changes in nerve<br />

function and nerve fibre structure induced by acute,<br />

gra<strong>de</strong>d compression. J Neurol Neurosurg Psychiatry<br />

43:1070-82, <strong>19</strong>80.<br />

Meralgia parestésica na infância<br />

Pereira CU e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>5-<strong>19</strong>7, <strong>2000</strong><br />

17. SIMONE DA, OCHOA J: Early and late effects of<br />

prolonged topical capsaicin on cutaneous sensibility<br />

and neurogenic vasodilation in humans. Pain 47:285-<br />

94, <strong>19</strong>91.<br />

18. Van EERTEN P, POLDER TW, BROERE CAJ:<br />

Operative treatment of meralgia paresthetica:<br />

Transection versus neurolysis. Neurosurgery 37:63-5,<br />

<strong>19</strong>95.<br />

<strong>19</strong>. WEIKEL AM, HABAL MB: Meralgia paresthetica: A<br />

complication of iliac bone procurement. Plast<br />

Reconstrut Surg 60:572-4, <strong>19</strong>77.<br />

20. WILLIAMS PH, TRIZIL KP: Management of meralgia<br />

paresthetica. J Neurosurg 74:76-8, <strong>19</strong>91.<br />

Original recebido em novembro <strong>de</strong> <strong>19</strong>99<br />

Aceito para publicação em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Carlos Umberto Pereira<br />

Av. Augusto Maynard, 245/404<br />

CEP 49015-330 – Aracaju, SE<br />

E-mail: umberto@infonet.com.br<br />

<strong>19</strong>7


Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma<br />

<strong>de</strong> endométrio<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />

Contribuições fisiopatológicas, diagnósticas e terapêuticas<br />

a propósito <strong>de</strong> um caso<br />

Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo*, Belarmino Fonseca Córdoba**,<br />

Paulo Henrique Aguiar**, José Augusto Buratini**, Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr.**,<br />

José Marcus Rotta***, Sérgio Rosemberg****<br />

Divisão <strong>de</strong> Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo (FMUSP)<br />

RESUMO<br />

As metástases cerebrais <strong>de</strong> carcinoma endometrial (CE) são incomuns – provavelmente em<br />

virtu<strong>de</strong> do baixo tropismo <strong>de</strong> suas células pelo sistema nervoso central (SNC) – e poucos casos<br />

são <strong>de</strong>scritos <strong>de</strong>talhadamente na literatura. Acredita-se que tumores mais invasivos e<br />

indiferenciados apresentem maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> metastizarem. Embora a presença <strong>de</strong> uma<br />

lesão encefálica em uma paciente com CE seja altamente sugestiva <strong>de</strong> metástase, em razão <strong>de</strong><br />

sua rarida<strong>de</strong>, outros diagnósticos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados. Por outro lado, a hipótese <strong>de</strong> metástase<br />

cerebral <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada em casos em que não se i<strong>de</strong>ntifica o foco primário. É<br />

possível que a expressão <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona, o gene HER-2/Neu e mutações no gene<br />

p53 estejam relacionadas à ocorrência <strong>de</strong> metástases centrais. A propósito <strong>de</strong> um caso, os<br />

autores discutem aspectos diagnósticos e terapêuticos e tentam contribuir para um melhor<br />

entendimento da fisiopatologia da doenca.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

Carcinoma endometrial. Cirurgia. Gene HER-2/Neu. Metástases cerebrais. Progesterona.<br />

Gene p53.<br />

ABSTRACT<br />

Brain metastasis from endometrial carcinoma – Contributions to pathophysiology,<br />

diagnosis and management. A case reported<br />

Brain metastases from endometrial carcinoma (EC) are uncommon – presumably because EC<br />

belongs to the neurophobic group of cancers – and few cases were <strong>de</strong>cribed. Probably most<br />

invasive and poorly differentiated tumors <strong>de</strong>velop more oftenly brain metastasis. Althought the<br />

diagnosis of a brain lesion in a patient with EC is highly probable, other diagnoses should be<br />

consi<strong>de</strong>red. Otherwise, brain metastasis of EC should be remembered when another primary site<br />

are not found. Mutations of the p53 tumor-supressor gene, overexpression of the HER-2/Neu gene<br />

and expression of progesterone receptors could be correlated with the ocurrence of brain<br />

metastasis. The authors report one case of EC brain metastasis, discuting diagnosis and treatment<br />

aspects and as well as its pathophysiology.<br />

KEYWORDS<br />

Brain metastases. Endometrial carcinoma. Gene HER-2/Neu. Progesterone. Surgery. Gene p53.<br />

* Médico Preceptor da Residência Médica <strong>de</strong> Neurocirurgia do HC-FMUSP.<br />

** Médico Assistente do Grupo <strong>de</strong> Tumores Encefálicos e Metastáticos – Departamento <strong>de</strong> Neurocirurgia HC-FMUSP.<br />

*** Chefe do Grupo <strong>de</strong> Tumores Encefálicos e Metastáticos – Departamento <strong>de</strong> Neurocirurgia do HC-FMUSP.<br />

**** Médico Assistente do Departamento <strong>de</strong> Patologia do HC-FMUSP.<br />

<strong>19</strong>8


Introdução<br />

O carcinoma endometrial (CE) é a neoplasia<br />

invasiva mais comum do aparelho genital feminino 18 ,<br />

com uma prevalência estimada em 34 mil casos nos<br />

Estados Unidos, em <strong>19</strong>96 14 . Dissemina-se localmente<br />

na maior parte das vezes, ocorrendo, porém,<br />

metástases, que mais freqüentemente atingem<br />

pulmões, ossos e fígado 10 . Metástases para sistema<br />

nervoso central (SNC) são extremamente raras e<br />

poucos casos têm sido <strong>de</strong>scritos com <strong>de</strong>talhes na<br />

literatura 7,12,17 . Os fatores predisponentes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metástases centrais não são<br />

conhecidos e pouco se sabe sobre os mecanismos <strong>de</strong><br />

disseminação e o papel da exérese da lesão cerebral<br />

na sobrevida dos pacientes. Os autores <strong>de</strong>screvem<br />

um caso <strong>de</strong> metástase cerebral <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma<br />

endometrial em uma paciente <strong>de</strong> 63 anos, <strong>de</strong>stacando<br />

aspectos fisiopatológicos e terapêuticos.<br />

Relato do caso<br />

HP, 63 anos, branca, a uma semana da admissão<br />

apresentava queixas <strong>de</strong> cefaléia holocraniana, dificulda<strong>de</strong><br />

para a fala e movimentação diminuída do dimídio<br />

corporal direito. Tinha antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cirurgia<br />

ginecológica (histerectomia, salpingectomia, ooforectomia<br />

e esvaziamento ganglionar ilíaco) para<br />

tratamento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma endometrial com<br />

diferenciação escamosa (grau II), realizada em outro<br />

serviço, havia um ano. Na ocasião não foi evi<strong>de</strong>nciado<br />

acometimento <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias ganglionares ilíacas<br />

internas e externas. Radioterapia pós-operatória foi<br />

realizada.<br />

O exame físico não mostrou a<strong>de</strong>no ou visceromegalias.<br />

Toque retal e vaginal não evi<strong>de</strong>nciaram<br />

invasão tumoral. O exame <strong>de</strong> mamas foi normal. Ao<br />

exame neurológico apresentava afasia <strong>de</strong> compreensão,<br />

hemiparesia direita com força muscular<br />

grau IV e papile<strong>de</strong>ma bilateral. A radiografia simples<br />

<strong>de</strong> tórax não mostrou anormalida<strong>de</strong>s e a ultrasonografia<br />

abdominal evi<strong>de</strong>nciou a<strong>de</strong>nomegalias<br />

paraaórticas.<br />

A tomografia computadorizada (TC) axial <strong>de</strong> crânio<br />

mostrou lesão expansiva temporoccipital esquerda com<br />

captação regular <strong>de</strong> contraste e e<strong>de</strong>ma perilesional,<br />

<strong>de</strong>terminando <strong>de</strong>svio das estruturas da linha mediana<br />

(Figura 1); o exame <strong>de</strong> ressonância magnética revelou<br />

lesão com hipossinal em T1 e hipersinal em T2, realçando<br />

após administração <strong>de</strong> gadolínio. Foi realizada<br />

craniotomia temporoccipital esquerda, obtendo-se<br />

ressecção total da lesão, que se mostrava pouco<br />

Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />

Figueiredo EG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />

sangrante, apresentava bom plano <strong>de</strong> clivagem e media<br />

cerca <strong>de</strong> 4 cm no maior diâmetro; o exame anatomopatológico<br />

<strong>de</strong> congelação mostrou metástase <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>nocarcinoma, resultado confirmado posteriormente<br />

pelo exame <strong>de</strong> parafina (Figura 2).<br />

Figura 1 – Corte axial <strong>de</strong> tomografia <strong>de</strong> crânio após injeção<br />

<strong>de</strong> contraste iodado mostrando lesão temporoccipital<br />

esquerda, córtico-subcortical, realçando homogeneamente e<br />

<strong>de</strong>terminando e<strong>de</strong>ma e <strong>de</strong>svio das estruturas da linha<br />

mediana.<br />

Figura 2 – Lâmina corada com hematoxilina-eosina<br />

(magnificação original: 20 vezes) mostrando padrões<br />

glandulares bem <strong>de</strong>finidos, revestidos por células epiteliais<br />

cubói<strong>de</strong>s ou colunares, cujo diagnóstico <strong>de</strong>finitivo foi <strong>de</strong><br />

metástase <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinoma.<br />

<strong>19</strong>9


Quatro meses <strong>de</strong>pois a paciente evoluiu para<br />

óbito <strong>de</strong>corrente do acometimento sistêmico pela<br />

doença.<br />

Discussão<br />

As metástases <strong>de</strong> tumores genitais femininos mais<br />

comuns para o SNC são oriundas <strong>de</strong> coriocarcinomas,<br />

que em algumas séries alcançam até 35% <strong>de</strong> todas as<br />

metástases encefálicas. Embora o CE seja uma das<br />

neoplasias mais comuns do aparelho genital feminino,<br />

as metástases para SNC são extremamente incomuns 3 .<br />

Kottke-Marchant e cols. 12 <strong>de</strong>screveram três casos e<br />

encontraram na literatura 21 outros, a maioria sem<br />

<strong>de</strong>talhes clínicos e patológicos; Wronski e cols. 21<br />

encontraram apenas 12 casos a<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong>scritos.<br />

Até o momento, os autores conseguiram<br />

selecionar 37 casos.<br />

Cormio e cols. 7 apontaram uma incidência <strong>de</strong> 0,9%<br />

<strong>de</strong> metástases centrais em pacientes com CE. Em séries<br />

que estudam primariamente metástases cerebrais, as<br />

metástases <strong>de</strong> CE totalizaram 0,8% dos casos 12,13 . Em<br />

estudos clínicos <strong>de</strong> pacientes com CE, somente 11 <strong>de</strong><br />

3.618 (0,3%) <strong>de</strong>senvolveram lesões secundárias em<br />

SNC 12 . Em séries <strong>de</strong> necrópsia, essa incidência atinge<br />

quase 3,0% 12 , indicando que a maioria <strong>de</strong>stas lesões<br />

são assintomáticas.<br />

É provável que a incidência extremamente baixa <strong>de</strong><br />

metástases centrais <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>va-se ao pouco tropismo<br />

<strong>de</strong> suas células pelo SNC, a exemplo do que ocorre com<br />

outras neoplasias, como câncer <strong>de</strong> próstata, glândulas<br />

endócrinas, sarcomas e várias neoplasias genitais. A<br />

razão para a pouca afinida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses tumores está<br />

possivelmente relacionada à ausência <strong>de</strong> receptores<br />

específicos para as células tumorais no SNC 15 .<br />

O CE se dissemina localmente pela pelve por via<br />

linfática 10 ; menos freqüentemente dissemina-se por via<br />

hematogênica por órgãos distantes. Em estudos <strong>de</strong><br />

necrópsia, metástases a distância ocorreram em 62% dos<br />

casos 10 . Os pulmões constituem o sítio mais comum<br />

(29%), vindo a seguir fígado, rins, baço e ossos 3,21 . Um<br />

padrão pouco habitual <strong>de</strong> disseminação para laringe 16 ,<br />

esôfago 13 e peritônio 12 foi <strong>de</strong>scrito. O acometimento do<br />

SNC po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr da disseminação hematogênica <strong>de</strong><br />

lesões secundárias pulmonares, a exemplo do que ocorre<br />

com outras neoplasias sistêmicas <strong>19</strong> . Na maioria dos casos<br />

a lesão é <strong>de</strong> localização supratentorial, contrariando a<br />

constatação <strong>de</strong> Délatre e cols. 9 <strong>de</strong> que a maioria das<br />

neoplasias pélvicas metastatizam para fossa posterior<br />

através do plexo venoso <strong>de</strong> Batson.<br />

Embora o CE possa metastizar para o SNC em fases<br />

precoces, mesmo em casos <strong>de</strong> tumores bem dife-<br />

Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />

Figueiredo EG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />

renciados 7 , os tumores em estádio clínico avançado,<br />

com invasão <strong>de</strong> estruturas vasculares e pobremente<br />

diferenciados, apresentam maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acometimento secundário do SNC 7 . Cormio e cols. 7<br />

encontraram uma proporção maior <strong>de</strong> doença avançada<br />

em pacientes com metástases cerebrais quando comparados<br />

a pacientes sem metástases (50% contra 16%), o<br />

mesmo ocorrendo em relação ao grau <strong>de</strong> diferenciação<br />

(60% <strong>de</strong> tumores mal diferenciados contra 23% <strong>de</strong><br />

tumores com bom grau <strong>de</strong> diferenciação). As recidivas<br />

apresentaram maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> originar metástases<br />

(6%) que a doença progressiva (3%). Em pacientes<br />

com doença recorrente a distância, essa taxa sobe para<br />

30%.<br />

Tem sido <strong>de</strong>monstrado que altos níveis <strong>de</strong> receptores<br />

<strong>de</strong> progesterona e estrógenos estão relacionados<br />

diretamente com melhor diferenciação, menor invasão<br />

miometrial e menos metástases nodais 8,22 . Assim,<br />

pacientes cujos tumores expressam receptores <strong>de</strong><br />

estrógeno e progesterona po<strong>de</strong>m apresentar menor risco<br />

<strong>de</strong> metástases centrais. Dez por cento dos CEs expressam<br />

o gene HER-2/Neu 1 . Vinte e sete por cento <strong>de</strong> mulheres<br />

com doença disseminada expressam este gene, enquanto<br />

apenas 4% <strong>de</strong> mulheres com doença localizada o<br />

apresentam 1 . Interessantemente, uma relação inversa<br />

entre a expressão <strong>de</strong> HER-2/Neu e receptores <strong>de</strong><br />

progesterona tem sido evi<strong>de</strong>nciada 2 . Por outro lado,<br />

po<strong>de</strong>riam ocorrer modificações celulares estruturais<br />

<strong>de</strong>correntes da expressão do HER-2/Neu que facilitariam<br />

a disseminação do tumor, incluindo o implante <strong>de</strong> células<br />

neoplásicas no SNC.<br />

Mutações no gene supressor <strong>de</strong> tumor p53 têm sido<br />

i<strong>de</strong>ntificadas em CEs e estão associadas a estágio<br />

avançado, indiferenciação, ausência <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong><br />

progesterona e pior prognóstico 15,11 . No entanto, não<br />

existem estudos correlacionando diretamente a<br />

expressão <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona e <strong>de</strong> HER-2/<br />

Neu, assim como mutações em p53, com a ocorrência<br />

<strong>de</strong> lesões cerebrais.<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a lesão cerebral ser oriunda <strong>de</strong><br />

outro foco primário que não o endométrio <strong>de</strong>ve ser<br />

avaliada, consi<strong>de</strong>rando a ocorrência incomum da lesão<br />

e o fato <strong>de</strong> que, em muitos casos, nem o exame<br />

histopatológico nem a imunoistoquímica po<strong>de</strong>m<br />

i<strong>de</strong>ntificar inequivocamente o sítio primário 4 . Por outro<br />

lado, a hipótese <strong>de</strong> metástase <strong>de</strong> CE <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada<br />

em casos <strong>de</strong> lesão cerebral metastática <strong>de</strong> foco<br />

primário não i<strong>de</strong>ntificado.<br />

A ressecção cirúrgica é o tratamento <strong>de</strong> eleição para<br />

pacientes com lesões acessíveis e doença primária<br />

controlada. Não há evidências <strong>de</strong>finitivas que apontem<br />

um efeito benéfico da irradiação cerebral pósoperatória<br />

6,20 , embora Cormio e cols. 7 afirmem que a<br />

cirurgia seguida por radioterapia possa oferecer efeito<br />

paliativo.<br />

200


A radioterapia é uma opção para pacientes com<br />

lesões múltiplas e/ou inacessíveis cirurgicamente <strong>19</strong> . A<br />

radioterapia estereotáxica, em razão <strong>de</strong> apresentar<br />

menos efeitos colaterais, po<strong>de</strong> representar uma boa<br />

alternativa terapêutica. A quimioterapia não tem efeitos<br />

comprovados e, pelo menos por enquanto, não é<br />

recomendada 7 .<br />

Conclusões<br />

As metástases centrais <strong>de</strong> CE são extremamente<br />

incomuns e alguma controvérsia existe quanto à sua<br />

fisiopatologia e aos seus diagnóstico e tratamento.<br />

Embora não existam estudos sobre o papel da expressão<br />

<strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> progesterona e do gene HER-2/Neu,<br />

além <strong>de</strong> mutações no gene p53, na ocorrência <strong>de</strong><br />

metástases cerebrais, é possível que esta correlação<br />

exista.<br />

Os autores recomendam consi<strong>de</strong>rar este diagnóstico<br />

em casos <strong>de</strong> sítios primários não i<strong>de</strong>ntificados na avaliação<br />

inicial, inclusive com a utilização <strong>de</strong> citologia ou<br />

biópsia endometrial, quando necessárias. Contudo,<br />

<strong>de</strong>ve ser lembrada a hipótese <strong>de</strong> outra neoplasia primária<br />

em pacientes com metástase cerebral e doença uterina<br />

i<strong>de</strong>ntificada.<br />

As controvérsias quanto à terapêutica e seu impacto<br />

no prognóstico somente serão esclarecidas<br />

quando mais casos forem somados à literatura.<br />

Referências<br />

1. BERCHUCK A, RODRIGUEZ G, KINNEY RB: Overexpression<br />

of HER-2/Neu in endometrial cancer is<br />

associated with advanced stage disease. Am J Obstet<br />

Gynecol 164:15-21, <strong>19</strong>91.<br />

2. BIGSBY RM, LI AX, BOMALASKI F, STEHMAN FB,<br />

LOOK KY, Sutton GP: Immunohistochemical study<br />

of HER-2/Neu, epi<strong>de</strong>rmal growth factor receptor, and<br />

steroid receptor expression in normal and malignant<br />

endometrium. Obstet Gynecol 79:95-100, <strong>19</strong>92.<br />

3. BORING CC, SQUIRES TS, TONG T: Cancer statistics.<br />

CA 42:<strong>19</strong>-40, <strong>19</strong>92.<br />

4. BREZINKA CH, FEND F, HUTER O, PLATTNER A:<br />

Cerebral metastasis of endometrial carcinoma.<br />

Gynecol Oncol 38:278-81, <strong>19</strong>90.<br />

5. BUR ME, PERLMAN C, EDELMAN L, FEY E, ROSE<br />

PG: p53 Expression in neoplasms of the uterine<br />

corpus. Am J Clin Pathol 98:81-7, <strong>19</strong>92.<br />

6. BURT M, WRONSKI M, ARBIT E, GALICICH Jh:<br />

Resection of brain metastases from non-small-cell<br />

lung carcinoma. Results of therapy. J Thorac<br />

Cardiovasc Surg 103:399-411, <strong>19</strong>92.<br />

Metástase cerebral <strong>de</strong> carcinoma <strong>de</strong> endométrio<br />

Figueiredo EG e cols.<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): <strong>19</strong>8-201, <strong>2000</strong><br />

7. CORMIO G, LISSONI A, LOSA G, ZANETTA G,<br />

PELLEGRINO A, MANGIONI C: Brain metastases from<br />

endometrial carcinoma. Gynecol Oncol 61:40-3,<br />

<strong>19</strong>96.<br />

8. CREASMAN WT: Prognostic significance of hormone<br />

receptors in endometrial cancer. Cancer 71: Suppl:<br />

1467-70, <strong>19</strong>93.<br />

9 . DÉLATRE JY, KROL G, THALER HT, POSNER JB:<br />

Distribution of brain metastases. Arch Neurol<br />

168:100-1, <strong>19</strong>88.<br />

10. HENRIKSEN E: The lymphatic dissemination in<br />

endometrial carcinoma. A study of 188 necropsies.<br />

Am J Obstet Gynecol 123:570-6, <strong>19</strong>75.<br />

11. KOHLER MF, BERCHUCK A, DAVIDOFF AM: Overexpression<br />

and mutation of p53 in endometrial<br />

carcinoma. Cancer Res 52:1622-7, <strong>19</strong>92.<br />

12. KOTTKE-MARCHANT K, ESTES Ml, NUNEZ C: Early<br />

brain metasatases in endometrial carcinoma. Gynecol<br />

Oncol 41:67-73, <strong>19</strong>91.<br />

13. NAKANO KK, SCHOENE WC: Endometrial carcinoma<br />

with predominantly clear cell pattern with metastases<br />

to the adrenal, posterior mediastinum and brain. Am<br />

J Obstet Gynecol 122:529-30, <strong>19</strong>75.<br />

14. PARKER SL, TONG T, BOLDEN S, WINGO PA: Cancer<br />

statistics <strong>19</strong>96. CA Cancer J Clin 46:5-27, <strong>19</strong>96.<br />

15. PAULI BU, AUGUSTIN-VOSS HS, EL-SABBAN M,<br />

JOHNSON RC, Hammer DA: Organ preferences of<br />

metastasis. The role of endotelial cell adhesion<br />

molecules. Cancer Metastasis Ver 9:175-90, <strong>19</strong>90.<br />

16. RITCHIE WW, MESSMER JM, WHITLEY DP,<br />

GOPELRUND DR: Uterine carcinoma metastatic to the<br />

larynx. Laryngoscope 95:97-8, <strong>19</strong>85.<br />

17. SALIBI BS, BELTAOS E: Endometrial a<strong>de</strong>nocarcinoma<br />

with cerebral metastasis and subdural<br />

ossification. Wis Med J 71:255-8, <strong>19</strong>73.<br />

18. SILVERBERG E, BORING CC, SQUIRES TS: Cancer<br />

Stat 40:9-23, <strong>19</strong>90.<br />

<strong>19</strong>. WRIGHT DC, DELANEY TF, BUCKNER JC: Treatment<br />

of metastatic cancer to the brain, In De VITA VT Jr,<br />

HELLMAN S, Rosemberg SA (eds). Cancer: Principles<br />

and practice of Oncology Ed 4. Phila<strong>de</strong>lphia,<br />

Lippincott,<strong>19</strong>93, pp. 2170-86.<br />

20. WRONSKI M. The outcome of surgical treatment of<br />

brain metastases from lung cancer. Memorial Sloan-<br />

Kettering Cancer Center experience <strong>19</strong>74-<strong>19</strong>89. Tese<br />

(Doutorado). Medical Research Centre of Polish<br />

Aca<strong>de</strong>my of Science, Warsaw, Polônia, <strong>19</strong>92.<br />

21. WRONSKI M, ZAKOWSKI M, ARBIT E, HOSKINS WJ,<br />

GALICICH JH: Endometrial cancer metastasis to brain:<br />

report of two cases and a review of the literature.<br />

Surg Neurol 39:355-9, <strong>19</strong>93.<br />

22. ZAINO RJ, SATYASWAROOP PG, MORTEL R: The<br />

relationship of histologic and histochemical parameters<br />

to progesterone receptor status in endometrial<br />

a<strong>de</strong>nocarcinoma. Gynecol Oncol 16:<strong>19</strong>6-<br />

208, <strong>19</strong>83.<br />

Original recebido em janeiro <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

Aceito para publicação em março <strong>de</strong> <strong>2000</strong><br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência:<br />

Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo<br />

Rua Alves Guimarães, 485 – ap. 141 – Pinheiros<br />

CEP 05410-000 – São Paulo, SP<br />

201


Notícias<br />

III CONGRESSO BRASILEIRO DE DOENÇAS CEREBROVASCULARES<br />

IV CURSO COMPACTO DE ATUALIZAÇÃO EM NEUROLOGIA<br />

Hotel Intercontinental, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ – 8 a 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />

Informações: Multitravel Turismo e Eventos<br />

Rua Vicon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pirajá, 550, cj. 2015<br />

CEP 22410-002 – Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ<br />

Tel.: (0xx21) 540-8206<br />

E-mail: multitravel.dvc@uol.com.br<br />

Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 202, <strong>2000</strong><br />

NEURÃO 2001 – IV CONGRESSO DA SOCIEDADE DE NEUROCIRURGIA DO ESTADO<br />

DE SÃO PAULO (SONESP)<br />

Hospital Santa Catarina, São Paulo, SP – 15 a 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />

Informações: Cerne Consultoria <strong>de</strong> Eventos<br />

Av. Brig. Faria Lima, 1685, cj. 1B<br />

CEP 01452-001 – São Paulo, SP<br />

Telefax: (0xx11) 3813-9353<br />

SIMPÓSIO NEUROPSICOFARMACOLOGIA<br />

San Marino Suite Hotel, Goiânia, GO – 22 a 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />

Informações: Classe Promoções e Eventos<br />

Telefax: (0xx62) 541-8<strong>19</strong>5<br />

E-mail: Classeeventos@ig.com.br<br />

I JORNADA DO CAPÍTULO DO RIO DE JANEIRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE<br />

NEUROCIRURGIA<br />

Centro <strong>de</strong> Estudos do Hospital Copa D’Or, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ – 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />

Inscrições: com Dona Vânia, pelo telefone (0xx21) 2430-9640<br />

XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA<br />

Fortaleza, CE – 3 a 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002<br />

Informações: REUNIR Organização <strong>de</strong> Eventos Ltda<br />

Rua João Carvalho, 800, sala 405<br />

CEP 60140-140 – Fortaleza, CE<br />

Telefax: (0xx85) 268-2025<br />

E-mail: reunir@fortalnet.com.br<br />

Site: www.xxivcbn.com.br<br />

12 TH EUROPEAN CONGRESS OF NEUROSURGERY<br />

Lisboa, Portugal – 7 a 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003<br />

Informações: www.eans2003.com<br />

RESIDÊNCIA MÉDICA NA ÁREA DE NEUROLOGIA<br />

Instituto <strong>de</strong> Neurologia <strong>de</strong> Goiânia<br />

Em processo <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Residência Médica do MEC<br />

Pré-requisito: 1 ou 2 anos <strong>de</strong> Clínica Médica<br />

Informações: com Sra. Adriana Badim<br />

Tel.: (0xx62) 250-3100<br />

202


Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 203, <strong>2000</strong><br />

Índice remissivo <strong>de</strong> autores do volume <strong>19</strong>, <strong>2000</strong><br />

Alexan<strong>de</strong>r Sperlescu ................................................ 147<br />

Alexandre Bruno Raul Freitas................ 36, 100, 140<br />

Alexandre <strong>de</strong> Castro do Amaral............................... 14<br />

Aluízio Arantes ........................................................ 179<br />

Álvaro Cebrian Magalhães ....................................... 22<br />

Alvino Dutra da Silva.................................... 170, 174<br />

Ana Claudia Borges do Nascimento Gonçalves... 174<br />

Antônio Carlos Vieira Caires ................................. 116<br />

Antonio <strong>de</strong> Pádua Bonatelli..................................... 71<br />

Antônio Pádua Furquim Bonatelli......................... 165<br />

Antônio Roberto Campos Júnior .......................... 116<br />

Arnaldo Ferreira ...................................................... 128<br />

Arquime<strong>de</strong>s C. Cardoso ........................................... 128<br />

Audrey Beatriz Santos Araujo .................................. 44<br />

Belarmino Fonseca Córdoba .................................. <strong>19</strong>8<br />

Carlos Umberto<br />

Pereira........... 32, 83, 103, 144, 153, 170, 174, <strong>19</strong>5<br />

Celestino Esteves Pereira......................................... 14<br />

Cláudio Fernan<strong>de</strong>s Corrêa................................ 64, 131<br />

Custódio Michailowsky........................................... 100<br />

Débora Prado Souza Santos...................................... 32<br />

Diane Guimarães Duarte ......................................... 174<br />

Durvalino Rocha...................................................... 116<br />

Eberval Ga<strong>de</strong>lha Figueiredo .................................... <strong>19</strong>8<br />

Ednaldo Monteiro Fontes Segundo ....................... <strong>19</strong>5<br />

Edson Bor Seng Shu............................ 22, 40, 64, 150<br />

Elaine Marques Tinoco............................................. 88<br />

Eny Sá Araújo............................................................. 32<br />

Fabio Barreto Morais .............................................. 153<br />

Fábio do Nascimento Abud....................................... 83<br />

Fernanda Soglia.......................................................... 36<br />

Fernando Alves Moreira ......................................... 106<br />

Fernando Luíz Rolemberg Dantas ......................... 116<br />

Filadélfio Venco ....................................................... 140<br />

Flávio Freinkel Rodrigues......................................... 88<br />

Flávio Key Miura .......................................... 100, 140<br />

Francisco F. Ramos ................................................. 128<br />

Francisco Sérgio Cavalcante Barros Leal............. 165<br />

Fre<strong>de</strong>rico José Chaves Pereira ............................... 153<br />

Gilberto <strong>de</strong> Almeida Fonseca.................................. 116<br />

Gilberto Nakagawa..................................................... 36<br />

Guilherme Cabral Filho ................................. 136, 179<br />

Hector N. Cabrera ................................................... 100<br />

Hei<strong>de</strong>r Lopes <strong>de</strong> Souza .............................................. 28<br />

Helton José Ribeiro <strong>de</strong> Menezes Alves ................. 174<br />

Hougelle Simplício Gomes Pereira .......................... 28<br />

Israel Silas Angelo Santos <strong>de</strong> Jesus ........................ 153<br />

Jair Leopoldo Raso........................................... 44, 116<br />

Janaína Martins <strong>de</strong> Lana........................................... 28<br />

Jean Soglia ......................................................... 36, 140<br />

João Domingos Barbosa<br />

Carneiro Leão ................................................ 144, 170<br />

João Ferreira Alves .................................................. <strong>19</strong>5<br />

João Flávio <strong>de</strong> Mattos Araújo ................................ 147<br />

João Flávio Gurjão Madureira.................................. 28<br />

João Rabelo Caldas .................................................... 28<br />

Joaquim Vieira <strong>de</strong> Oliveira Jr. ................................. <strong>19</strong>8<br />

Jorge Alberto Souza Moura ...................................... 28<br />

José Augusto Buratini .............................................. <strong>19</strong>8<br />

José Carlos Lynch ...................................................... 14<br />

José Cláudio Marinho da Nóbrega ..................64, 131<br />

José Gilberto <strong>de</strong> Souza ............................................... 92<br />

José Jorge Facure ......................................................... 8<br />

José Jorge Machado................................................... 22<br />

José Marcos Rotta ................................................... 100<br />

José Marcus Rotta ................................................... <strong>19</strong>8<br />

José Píndaro P. Plese ................................................ 36<br />

Juliana De Carvalho Machado ........................32, 103<br />

Katleen Cotti Ulrich ................................................. 97<br />

Lauro do Nascimento Abud ...................................... 83<br />

Leonardo Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Vuono..................................... 88<br />

Luciana Pardini Chamié.......................................... 106<br />

Luiz Gonzaga Menguita ............................................ 28<br />

Manoel Baldoino Leal Filho .................................. 128<br />

Manoel Jacobsen Teixeira ...............................64, 131<br />

Marcelo Barreto Barbosa........................................ 103<br />

Marcelo Bravo <strong>de</strong> Oliveira Santos ........................ 170<br />

Marcelo Luís Mudo ................................................. 189<br />

Marcelo Nery Silva ................................................. 184<br />

Marcos Alcino S. S. Marques.................................. 128<br />

Marcos Vinicius Cardoso Santos ............................ 147<br />

Mário A. Taricco ..................................................... 150<br />

Mario Augusto Taricco ............................................. 40<br />

Massako Okada ........................................................ 131<br />

Mirto Nerso Prandini.............................................. 189<br />

Mônica Duarte Costa .......................................32, 144<br />

Mônica P. Nogueira................................................... 40<br />

Oswaldo Inácio Tella Jr........................................... 165<br />

Oswaldo Inácio <strong>de</strong> Tella Jr...................................... 147<br />

Pasquale Gallo ............................................................ 71<br />

Paulo Henrique Aguiar................... 36, 100, 140, <strong>19</strong>8<br />

Paulo Roberto Moura <strong>de</strong> Sousa .............................. 170<br />

Raimundo N. <strong>de</strong> Sá Filho ........................................ 128<br />

Raul Marino Jr............................................................ 22<br />

Raul Starling <strong>de</strong> Barros.............................................. 97<br />

Reddy Simon Nunes................................................... 14<br />

Ricardo Augusto Delfino........................................... 97<br />

Ricardo J. <strong>de</strong> Almeida Leme................................... 150<br />

Ricardo José <strong>de</strong> Almeida Leme ......................... 22, 40<br />

Roberta Teixeira Leite .............................................. 83<br />

Roberto El Ibrahim ..........................................36, 140<br />

Roberto Leal Silveira .................................... 136, 179<br />

Rogério Gomes Damasceno.................................... 189<br />

Sebastião Gusmão .......................................... 136, 179<br />

Sebastião Silva Gusmão ............................................. 92<br />

Sérgio Agnaldo Monteiro Batista Soares .............. 144<br />

Sérgio Rosemberg .................................................... <strong>19</strong>8<br />

Suzana De Carvalho Machado ........................32, 103<br />

Tatiana Alves <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> ....................................... 174<br />

Vinícius Teixeira Cimini ........................................... 88<br />

Walney Carvalho dos Santos ................................. <strong>19</strong>5<br />

William Giovanni Panfiglio Soares ...................... 170<br />

203


Arq Bras Neurocir <strong>19</strong>(4): 204, <strong>2000</strong><br />

Índice remissivo <strong>de</strong> assuntos do volume <strong>19</strong>, <strong>2000</strong><br />

Aci<strong>de</strong>nte com bicicleta ............................................ 83<br />

A<strong>de</strong>nocarcinoma <strong>de</strong> próstata ................................ 144<br />

A<strong>de</strong>noma hipofisário ............................................... 97<br />

A<strong>de</strong>nomas hipofisários ............................................ 14<br />

A<strong>de</strong>nomas hipofisários gigantes ............................. 14<br />

Aneurisma.................................................................. 71<br />

Aneurisma intracraniano ....................................... 184<br />

Aneurismas intracranianos.................................... 128<br />

Aneurismas paraclinói<strong>de</strong>s ...................................... 128<br />

Angiografia ................................................................ 71<br />

Angiografia cerebral ............................................... 136<br />

Angioma cavernoso ............................................... 147<br />

Canal estreito cervical ............................................. 40<br />

Carcinoma endometrial ......................................... <strong>19</strong>8<br />

Cerebelo ................................................................... 174<br />

Cirurgia..................................................................... <strong>19</strong>8<br />

Cisto <strong>de</strong> inclusão congênita..................................... 32<br />

Cisto <strong>de</strong>rmói<strong>de</strong> .......................................................... 32<br />

Derivação ventrículo-peritoneal .......................... 179<br />

Discectomia percutânea a laser .................................8<br />

Discite ...................................................................... 165<br />

Displasia fibrosa óssea.............................................. 36<br />

Dor facial ................................................. 64, 131, 184<br />

Dor facial atípica...................................................... 64<br />

Estereotaxia ............................................................ 131<br />

Fixação transpedicular ........................................... 116<br />

Fusão lombar ........................................................... 116<br />

Gene HER -2/Neu..................................................... <strong>19</strong>8<br />

Glioblastoma multiforme....................................... 100<br />

Gravi<strong>de</strong>z ................................................................... 189<br />

Hemangioma ............................................................. 44<br />

Hemangioma vertebral .......................................... 189<br />

Hematoma extradural ............................................ 103<br />

Hematoma extradural bilateral ............................. 103<br />

Hemorragia cerebelar ............................................. 153<br />

Hérnia <strong>de</strong> disco.............................................................8<br />

Hérnia <strong>de</strong> disco lombar .......................................... 150<br />

Hérnia discal ............................................................ 165<br />

Hidrocefalia ............................................................. 179<br />

História da medicina ............................................... 136<br />

História da neurocirurgia ......................................... 92<br />

Infarto cerebelar ..................................................... 174<br />

Instabilida<strong>de</strong> vertebral <strong>de</strong>generativa .................... 116<br />

Laser ..............................................................................8<br />

Leucotomia pré-frontal ......................................... 136<br />

Lombalgia ................................................................ 116<br />

Meningeoma .............................................. 28, 44, 140<br />

Meningeossarcoma ................................................. 140<br />

Meningite ................................................................... 97<br />

Meralgia parestésica ............................................... <strong>19</strong>5<br />

Metástase cerebral .................................................. 144<br />

Metástase <strong>de</strong> meningeoma ...................................... 28<br />

Metástases cerebrais ............................................... <strong>19</strong>8<br />

Mielopatia cervical .................................................. 40<br />

Mutismo ................................................................... 153<br />

Neoplasias malignas primárias múltiplas ............ 100<br />

Nervo óptico ........................................................... 147<br />

Nucleotratotomia trigeminal ................................ 131<br />

Ossificação do ligamento longitudinal<br />

posterior .................................................................... 40<br />

Osteoma ................................................................... 170<br />

Pneumoencéfalo espontâneo .................................. 97<br />

Progesterona ........................................................... <strong>19</strong>8<br />

Gene p53 .................................................................. <strong>19</strong>8<br />

Ressonância magnética ............................................ 22<br />

Sarcoma .................................................................... 140<br />

Seio cavernoso .......................................................... 44<br />

Siringomielia .............................................................. 88<br />

Tomografia computadorizada ................................. 71<br />

Tratamento ............................................................. 174<br />

Traumatismo craniencefálico ................................. 83<br />

Tumor cerebral ........................................................ 140<br />

Tumor craniano ...................................................... 170<br />

Tumor ósseo .............................................................. 36<br />

Tumor vertebral ..................................................... 189<br />

Tumores hipofisários ............................................... 22<br />

Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimentação ....................... 165<br />

204

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!