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Destaque bio-bibliográfico - Câmara Municipal da Póvoa de Varzim

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Recriação <strong>de</strong> um antigo estilo <strong>de</strong> letra<br />

Catálogo elaborado pela Biblioteca <strong>Municipal</strong> Rocha Peixoto no âmbito do 80º aniversário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> Manuel Silva, 5 <strong>de</strong> Junho 2010.<br />

Os conteúdos estão disponíveis em http://ww.cm-pvarzim.pt/biblioteca.<br />

Ficha Técnica | Coor<strong>de</strong>nação editorial: Manuel Costa | Pesquisa documental: Lur<strong>de</strong>s Adriano, Ana Maria Costa | Grafismo: Rogério Nogueira | Data: Junho 2010 | Tiragem: 100 exemplares.<br />

MANUEL RODRIGUES PEREIRA DA SILVA<br />

[5 <strong>de</strong> Junho 1930 - 16 <strong>de</strong> Maio 2008]<br />

Em 16 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008 faleceu, em Lisboa, Manuel Pereira <strong>da</strong><br />

Silva, um dos mais cre<strong>de</strong>nciados especialistas portugueses no<br />

estudo dos caracteres e <strong>da</strong> arte tipográfica em geral e, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong><br />

letra em si e <strong>da</strong> caligrafia. Tinha nascido em 5 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1930<br />

na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>. Aos 25 anos, após curta experiência como<br />

tipógrafo, rumou para Lisboa, procurando encontrar um emprego<br />

estável. No ano seguinte […] frequentou “um curso <strong>de</strong> história<br />

e <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> letra, dirigido pelo calígrafo Alberto Cardoso<br />

e supervisionado por Eduardo Calvet <strong>de</strong> Magalhães”.<br />

Em 1964 já Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva trabalhava na Agência <strong>de</strong><br />

Publici<strong>da</strong><strong>de</strong> “Êxito”, então dirigi<strong>da</strong> pelos escritores Alberto<br />

Ferreira e Alves Redol. No ano seguinte fundou a oficina<br />

Prograf, “pioneira na produção <strong>de</strong> provas <strong>de</strong> tipos e títulos foto<br />

compostos como activi<strong>da</strong><strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”. […]<br />

Em 1977 encontrava-se ligado à empresa Trama e, uma <strong>de</strong>zena<br />

<strong>de</strong> anos <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>dicava-se já a exposições individuais relaciona<strong>da</strong>s<br />

com a tipografia, os caracteres e a escrita. Este técnico<br />

e investigador foi, sem dúvi<strong>da</strong>, repetimos, um dos mais profundos<br />

estudiosos <strong>da</strong> problemática do carácter e <strong>da</strong> letra em<br />

Portugal, tendo sido responsável pela criação <strong>de</strong> várias fontes<br />

tipográficas (Rotun<strong>da</strong>, Andra<strong>de</strong>, JVentura, Fontanela ou Tialira,<br />

entre outras), tendo <strong>da</strong>do vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> igual modo, a várias famílias<br />

<strong>de</strong> fontes digitais. […]<br />

Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva, como investigador <strong>da</strong> arte tipográfica<br />

<strong>de</strong>ixou, entre outras publicações (para além <strong>da</strong>s suas históricas<br />

folhas volantes que distribuía entre os amigos bibliógrafos), as<br />

edições Faces Romanas. Cem espécies <strong>de</strong> tipos com duzentas<br />

e cinco varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s representa<strong>da</strong>s em página própria… Projectado<br />

e composto por Manuel Silva - Editado por Liouher (Lisboa,<br />

1996); o catálogo Rotun<strong>da</strong>, um semigótico redondo. Recriação<br />

<strong>de</strong> um antigo estilo <strong>de</strong> letra (<strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, 1997); e, há <strong>de</strong><br />

uma déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois, no período que antece<strong>de</strong>u o seu <strong>de</strong>saparecimento,<br />

A memória e o carácter - 500 anos <strong>de</strong> Tipografia<br />

IN MEMORIAM<br />

Manuel Silva na juventu<strong>de</strong><br />

e Caligrafia (Lisboa, 2008, uma vez mais em edição própria<br />

e com circulação reduzi<strong>da</strong>).<br />

Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>le afirmar-se, em suma parafraseando uma frase que,<br />

um dia, Ruben <strong>de</strong> Carvalho ouviu <strong>de</strong> um velho tipógrafo,<br />

o Sr. Bastos (pai precisamente do jornalista e escritor Baptista-<br />

Bastos), nas oficinas do jornal O Século que lhe “corria chumbo<br />

nas veias”.<br />

MATOS, Manuel Ca<strong>da</strong>faz <strong>de</strong> – Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva (1930-2008).<br />

In Revista Portuguesa <strong>de</strong> História do Livro, n.º 23 (Junho, 2009), p. 618-621.


Evocação <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong><br />

[…]<br />

Entre as tais coisas que para mim são extremamente importantes, está o Comércio <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong>. Foi nas suas oficinas que contactei<br />

pela primeira vez tinha 5 anos quando a minha incipiente memória registou o facto com os chamados tipos. Meu pai era,<br />

à <strong>da</strong>ta (1935), encarregado <strong>da</strong> tipografia do Comércio o contacto ajudou-me a apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever, <strong>de</strong> tal modo que, aos<br />

6 anos, quando fui frequentar umas aulas que o prof. Leopoldino Loureiro <strong>da</strong>va em sua casa, já eu navegava por entre os<br />

“sinaizinhos mágicos”; aos 7 anos fui para a 1.ª classe <strong>da</strong> Escola Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ferreira, no Largo <strong>da</strong>s Dores, on<strong>de</strong> o Prof. Loureiro<br />

me aturava (ou eu o aturava a ele…) e já lia bem a minha língua; aos 8/9 anos (1939) seguia atentamente a chama<strong>da</strong> 2.ª Guerra<br />

Mundial, pelos mapas que o Primeiro <strong>de</strong> Janeiro publicava e que o meu “tio” Armando (sapateiro na esquina <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Hortas,<br />

na intersecção com a Aveni<strong>da</strong>, casado com uma <strong>da</strong>s primas directas <strong>da</strong> minha mãe), me emprestava, pois nós não dispúnhamos<br />

<strong>da</strong> c’roa para compra do jornal.<br />

Cheguei a ver o meu saudoso mestre (que não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> vez em quando, um tanto bruto), <strong>de</strong> componedor na mão,<br />

a “escrever” alguns dos seus artigos para o jornal. O meu pai punha-me, eventualmente, quando o jornal saía (parece-me que<br />

à sexta-feira), atrás <strong>da</strong> malfa<strong>da</strong><strong>da</strong> Marinoni, <strong>de</strong> volante movimentado pela minha avó ou por uma sobrinha, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras escravas<br />

do século vinte, a “aparar” as folhas do jornal, para isso pondo-me um caixote por baixo, para que eu a elas pu<strong>de</strong>sse chegar.<br />

Pela primeira vez na minha ain<strong>da</strong> curta vi<strong>da</strong> senti que através <strong>da</strong>s folhas do jornal por mim mesmo manuseado havia laços fortes<br />

entre os seres, naquele caso entre mim, o meu pai, o Agonia Frasco, o prof. Loureiro, os “colaboradores”, os tipógrafos, os<br />

assinantes e por aí fora, inseridos todos em alguma coisa maior do que o meu beco (o Beco <strong>da</strong>s Hortas), uma coisa <strong>de</strong>finível<br />

como Vila <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>. […]<br />

Carta <strong>de</strong> Manuel Silva a Manuel Lopes em 17 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2004<br />

Manuel Silva na sua terra natal<br />

1983<br />

Assessoria técnica, <strong>de</strong> propagan<strong>da</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> tecnologia <strong>de</strong> sistemas avançados <strong>de</strong> fotocomposição, a firmas<br />

representa<strong>da</strong>s na FILGRÁFICA <strong>de</strong> Lisboa<br />

1984<br />

Estágio na IMPRINTA, Dusseldorf, Alemanha visando estudo do equipamento SCANTEX, tecnologia <strong>de</strong> ponta para tratamento<br />

<strong>de</strong> texto<br />

1988<br />

Escreve o livro “A Propósito <strong>da</strong> Revisão Tipográfica…”, obra não edita<strong>da</strong><br />

1990<br />

Dá uma lição intitula<strong>da</strong> “Uma História <strong>da</strong> Letra”, na Escola Superior <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

1991<br />

Cria um catálogo para a TRAMA Artes Gráficas, exemplar consi<strong>de</strong>rado significativo na história <strong>da</strong> tipografia portuguesa<br />

1991-1993<br />

Publica, até esta altura, 2 traduções e 8 originais <strong>de</strong> uma colecção <strong>de</strong> folhetos - catálogos sobre artes gráficas, tipografia<br />

e história <strong>da</strong> letra<br />

Estes documentos e o catálogo acima referido estão representados em bibliotecas internacionais<br />

1994-Maio<br />

Edita o 1º número <strong>da</strong> 2ª Série <strong>de</strong> Folhetos Espécime <strong>de</strong> Tipos intitulado “Joaquim Ibarra, Impressor”<br />

1994-Agosto<br />

Atribuição <strong>de</strong> subsídio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian para estudo <strong>da</strong>s questões relativas aos caracteres antigos, ten<strong>de</strong>ntes<br />

à sua digitalização para serem utilizados como fontes digitais<br />

1994-1997<br />

Trabalha para Richard Ramer, livreiro <strong>de</strong> Nova Iorque, como responsável gráfico na impressão dos seus catálogos<br />

<strong>bibliográfico</strong>s exportados para os E.U.A.<br />

1995<br />

Inicia a recriação <strong>de</strong> fontes digitais a partir <strong>de</strong> tipos antigos tais como as fontes Andra<strong>de</strong>, estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s sobre a obra <strong>de</strong><br />

Manuel Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Figueiredo calígrafo português do séc. XVIII<br />

1995-1996<br />

Finaliza a recriação <strong>da</strong> fonte “Rotun<strong>da</strong>: um semigótico redondo” e respectivos estudos teóricos sobre o tema<br />

1997<br />

Prepara e realiza os trabalhos gráficos inerentes à Exposição intitula<strong>da</strong> “A memória e o carácter I – “Rotun<strong>da</strong>: um semigótico<br />

redondo”, realiza<strong>da</strong> na Biblioteca <strong>Municipal</strong> Rocha Peixoto, <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, entre Outubro e Dezembro<br />

Neste âmbito organiza e apresenta conferências sobre o tema e sobre outros aspectos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> letra e <strong>da</strong> tipografia<br />

1997-Agosto e Setembro<br />

Colabora com a revista GRAFpress que publica os seus artigos: “Gutenberg/prototipógrafo”; “Aloísio Senefel<strong>de</strong>r<br />

e a litografia”; “João Baskerville <strong>de</strong> Birmingham”; “Christophori Plantini/ Labore et Constantia”<br />

1998-Abril-27<br />

Participa na “Comemoração do Dia Internacional do Livro – Conferências Ibéricas”, apresentando uma comunicação<br />

intitula<strong>da</strong> “A Tipografia em Portugal”, na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Belas Artes, Porto<br />

1999<br />

É professor em cursos <strong>de</strong> formação profissional <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong> História <strong>da</strong> Tipografia, na “Alquimia <strong>da</strong> Cor”, Porto<br />

2000-2002<br />

Cria 6 fontes digitais J. Ventura<br />

2003<br />

Cria a fonte Fontanela e 3 fontes Tialira<br />

2003-Abril<br />

Prepara e realiza os trabalhos gráficos inerentes à Exposição: “A memória e o carácter – II: Exposição <strong>de</strong> Caracteres<br />

Romanos criados no início do século XVIII pelo calígrafo português M. Andra<strong>de</strong> Figueiredo”, que <strong>de</strong>corre na Casa <strong>da</strong><br />

Cultura <strong>da</strong> Terceira, Açores. Sobre o tema realiza uma conferência<br />

2004<br />

Cria 6 fontes digitais MBarata e 8 fontes JVilleneuve<br />

2005<br />

Cria 4 fontes digitais Elzevir<br />

2006<br />

Cria 4 fontes digitais Lusía<strong>da</strong>s<br />

2007-2008<br />

Trabalha no livro “A memória e o carácter - 500 anos <strong>de</strong> tipografia e caligrafia” sua última obra (ain<strong>da</strong> inédita)<br />

2008-Maio-16<br />

Falecimento em Lisboa


Cronologia<br />

1930-Junho-05<br />

Nasce na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>. Filho <strong>de</strong> Joaquim Pereira <strong>da</strong> Silva e <strong>de</strong> Deolin<strong>da</strong> Rodrigues <strong>da</strong> Silva<br />

1937-1941<br />

Frequenta a Escola Primária n.º 1, na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong><br />

1941-1944<br />

Frequenta o Curso <strong>de</strong> Comércio na Escola Comercial Rocha Peixoto, <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong><br />

1936-1944<br />

Apren<strong>de</strong> com o pai o ofício <strong>de</strong> tipógrafo na oficina gráfica do Jornal “O Comércio <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>” e na Tipografia<br />

do Patronato <strong>de</strong> S. José, locais chefiados pelo pai<br />

1945<br />

Inicia a profissão <strong>de</strong> tipógrafo a tempo inteiro na Tipografia e livraria <strong>de</strong> A. C. Calafate na categoria <strong>de</strong> aprendiz <strong>de</strong> 3º<br />

ano<br />

1948<br />

Na mesma firma é promovido a meio-oficial tipógrafo compositor; responsável pela composição, paginação e impressão<br />

<strong>de</strong> um jornal semanal local<br />

1951-Junho-13<br />

O pai Joaquim Pereira <strong>da</strong> Silva emigra para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil<br />

1952<br />

Faz parte do “Teatro Experimental do Sporting Clube <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>”<br />

1953<br />

Contratado como encarregado geral <strong>da</strong>s oficinas tipográficas <strong>da</strong> Livraria Vasconcelos na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong><br />

1955-Maio-30<br />

Preso pela primeira vez pela PIDE. Segue-se Dezembro <strong>de</strong> 1961 e posteriormente Julho <strong>de</strong> 1963<br />

1955-1956<br />

Frequenta no Centro Técnico Profissional, em Lisboa, um Curso <strong>de</strong> História e Desenho <strong>da</strong> Letra, dirigido pelo calígrafo<br />

Alberto Cardoso e Supervisionado por Eduardo Calvet <strong>de</strong> Magalhães<br />

1956-1965<br />

Inicia a activi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cineclubista no Cineclube Imagem<br />

1963-Novembro-30<br />

Casamento Civil com Maria Manuela dos Reis Baptista Cruz<br />

1964-Abril-22<br />

Julgado no Tribunal Plenário <strong>da</strong> Boa Hora e <strong>de</strong>fendido pelo Dr. Salgado Zenha<br />

1964-Outubro-31<br />

Libertado <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia do Forte <strong>de</strong> Peniche<br />

Trabalha na agência <strong>de</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong> “Êxito”, com Alberto Ferreira e Alves Redol<br />

1966<br />

Industrial gráfico. Cria a PROGRAF. Pequena oficina <strong>de</strong> tipografia vocaciona<strong>da</strong> exclusivamente para provas <strong>de</strong> texto para<br />

publici<strong>da</strong><strong>de</strong>, litografia, offset, serigrafia; a 1ª em Portugal com estas características<br />

1966-1967<br />

Assistente numa exposição bibliográfica na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Gulbenkian, Paris<br />

1968<br />

Adquire a fotocompositora tituleira “Starlet – Graph”, a 1ª a funcionar em Portugal<br />

1970<br />

Vai à Casa Berthold, em Berlim, comprar a “Diatronic” - a 1ª fotocompositora automática com teclado e computador<br />

integrado que veio para Portugal<br />

1970-Abril<br />

Fun<strong>da</strong> com os irmãos a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> por quotas PROGRAFE, L<strong>da</strong>, 1ª empresa em Portugal a ven<strong>de</strong>r só fotocomposição<br />

para o mercado <strong>de</strong> arte e indústria gráfica<br />

1971<br />

Fun<strong>da</strong> com o sócio gerente <strong>da</strong> Trama Artes Gráficas, a empresa <strong>de</strong> fotocomposição FOTOTEXTO, L<strong>da</strong>. Especializa<strong>da</strong> em<br />

livro e revista, equipa<strong>da</strong> com o 1º computador para composição <strong>de</strong> textos “ao quilómetro” que veio para Portugal; uma<br />

“VIP” <strong>da</strong> “LINOTYPE”<br />

1974<br />

Fun<strong>da</strong> com a mulher, irmãos e população <strong>da</strong> zona o Infantário Popular Ribeiro Santos<br />

1976<br />

Trabalha como profissional liberal na produção <strong>de</strong> objectos gráficos e também na re<strong>da</strong>cção <strong>de</strong> textos para os mesmos<br />

1977-Setembro<br />

Ensina e <strong>de</strong>monstra o uso pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> imprensa escolar Freinet<br />

1980<br />

Direcção técnica <strong>da</strong> secção <strong>de</strong> fotocomposição <strong>da</strong> TRAMA Artes Gráficas<br />

Da paixão à imprimissão ao amor à letra<br />

Des<strong>de</strong> o nosso relacionamento <strong>de</strong>scobrimos muitas coisas comuns: na pia baptismal foi-nos <strong>da</strong>dos o mesmo nome – Manuel; ambos<br />

éramos profun<strong>da</strong>mente anti-fascistas; os dois gostavam <strong>da</strong> mesma indústria – a tipografia. E aqui tem lugar um esclarecimento:<br />

enquanto eu gostava <strong>da</strong> tipografia como uma forma estética <strong>de</strong> trabalho realizado com o material existente, pois era filho do dono <strong>de</strong><br />

uma pequena oficina, Manuel R. Silva não limitava a sua actuação profissional a <strong>de</strong>clarar loas à “menina dos seus olhos”, procurando<br />

mo<strong>de</strong>rnizar o seu funcionamento e consi<strong>de</strong>rando úteis as acções ten<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>senvolver, melhorando, todos os “ensinamentos”<br />

positivos recebidos, com o fim <strong>de</strong> atingir os objectivos projectados.<br />

Estas <strong>de</strong>clara<strong>da</strong>s afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s (outras, sem interesse, po<strong>de</strong>riam ser referi<strong>da</strong>s) trouxeram à memória um episódio que seria ridículo se<br />

não fosse pungente para os nossos “ver<strong>de</strong>s anos” (ver<strong>de</strong>s mas não irresponsáveis). Contemos; a PIDE, a maléfica e <strong>de</strong>sumana polícia<br />

que sustentava a ditadura, procurava <strong>de</strong>smantelar o MUD juvenil, aprisionando os elementos <strong>de</strong>nunciados à custa <strong>de</strong> sevícias e outros<br />

tratamentos cruéis. Buscava na <strong>Póvoa</strong> um Manuel Tipógrafo e, na sua arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong> (abuso <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>spotismo, prepotência),<br />

enclausurou o Manuel Silva, tipógrafo <strong>de</strong> profissão mas, que na altura, não era membro <strong>de</strong> qualquer oposição organiza<strong>da</strong>, não<br />

“<strong>de</strong>sconfiando” (?) que na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong> havia outro Manuel também anti-fascista, também “tipógrafo”. Ou algo <strong>de</strong> semelhante.<br />

Prossigamos. O incansável <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Manuel Silva para aprofun<strong>da</strong>r e diversificar o seu já gran<strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> tipografia e do que<br />

a ela dissesse respeito e fosse importante levou-o a estu<strong>da</strong>r as diferentes e sábias <strong>de</strong>scobertas experimenta<strong>da</strong>s e divulga<strong>da</strong>s ao longo<br />

dos séculos, tanto na impressão como na composição – e na enca<strong>de</strong>rnação – mas, principalmente, no <strong>de</strong>senho <strong>da</strong> letra. Terá nascido<br />

<strong>de</strong>sse laborioso estudo a colecção dos seus <strong>de</strong>sdobráveis/pe<strong>da</strong>gógicos que se iniciou com a publicação do artigo intitulado<br />

“Tipografia Disciplina do Espírito” a que se seguiu um outro sobre a “Origem do sinal <strong>de</strong> parágrafo”, sinal gráfico que chegou até nós<br />

vindo do distante século XV, sem <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar, contudo, do <strong>de</strong>senho e do emprego que lhe era <strong>da</strong>do pelos copistas – antes <strong>da</strong> invenção<br />

e boa aplicação <strong>da</strong> tipografia; estes artigos didácticos e <strong>de</strong> divulgação, prosseguiram com outros versando sempre a tipografia e suscitando<br />

por vezes, o seu pertinente comentário como este sobre as letras: Nos tempos mo<strong>de</strong>rnos, os caracteres ”grotescos” conheceram<br />

uma gran<strong>de</strong> voga, revolucionando profun<strong>da</strong>mente o aspecto do livro e do impresso.<br />

Manuel Silva orientou a sua atenção para o percurso previamente “<strong>de</strong>senhado” e on<strong>de</strong> se situam os artistas que maior impacto tiveram<br />

quer no florescimento quer na renovação <strong>da</strong> tipografia ou, mesmo, no <strong>de</strong>senho <strong>da</strong> letra: “O impressor João Baskerville”, “João<br />

Baptista Bodoni, tipógrafo”, “Aloísio Senefel<strong>de</strong>r e a litografia”, “Christophori Dlanti-Labore et Constantia”, Didot, Nicolau Jenson,<br />

“Joaquim Ibarra, Impressor”, e outros que graças à sua inventiva e trabalho (compositores, impressores, <strong>de</strong>senhadores…) souberam<br />

abrir uma frutuosa “janela” no edifício <strong>da</strong> arte negra e que são, nos dias <strong>de</strong> hoje ain<strong>da</strong>, reconhecidos orientadores <strong>de</strong> trabalhos<br />

gráficos: livros, folhetos, impressos vários, jornais, publici<strong>da</strong><strong>de</strong> inclusive.<br />

A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer disciplinar o estudo <strong>da</strong> tipografia e <strong>da</strong> letra levou-o a participar na sua divulgação pe<strong>da</strong>gógica, pugnando pela<br />

importância cultural <strong>de</strong>sta profissão, direccionando a sua intervenção para os estudiosos, divulgando, na medi<strong>da</strong> do possível, os seus<br />

conhecimentos. O que, presumimos, o terá levado a organizar, a primeira (e única, pensamos) exposição realiza<strong>da</strong> na <strong>Póvoa</strong>, recriando<br />

um “antigo estilo <strong>de</strong> letra”, iniciativa que teve por “palco” o átrio <strong>da</strong> Biblioteca <strong>Municipal</strong> Rocha Peixoto e <strong>de</strong>ixou como lembrança<br />

um “texto <strong>de</strong> apoio à exposição “Rotun<strong>da</strong> – um semigótico redondo”. […]<br />

Contudo, a especial atenção por si <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à tipografia e a to<strong>da</strong>s as coisas que a ro<strong>de</strong>iam levaram Manuel R. Pereira <strong>da</strong> Silva<br />

a elaborar um pequeno e não exclusivo Glossário que ocupa as três páginas finais <strong>de</strong> um trabalho sobre “as técnicas e os materiais<br />

<strong>da</strong> imprensa escolar”. Essencialmente <strong>de</strong>stinado a preservar algumas <strong>de</strong>signações utiliza<strong>da</strong>s profissionalmente nos dias <strong>de</strong> hoje – será<br />

difícil, sobretudo neste tempo <strong>de</strong> manifesta “invasão tecnológica encontrar-se quem saiba o que é um compenedor, ou o que<br />

é o original, ou então, um quadrilongo, etc. – é, ao mesmo tempo, um sereno aviso para quem tem responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> salvaguar<strong>da</strong>r<br />

os termos utilizados pelos nossos avoengos, termos caídos em <strong>de</strong>suso, muitos foram esquecidos, mas que, a nosso ver, continuam<br />

a pertencer ao nosso património. […]<br />

Terminamos este apontamento relembrando que no dia 20 do passado mês <strong>de</strong> Abril, em Castelo Branco, durante a realização do<br />

I Congresso Internacional <strong>de</strong> Investigadores <strong>de</strong> História e Artes Visuais, um grupo <strong>de</strong> amigos <strong>de</strong> Manuel Rodrigues Pereira <strong>da</strong> Silva<br />

homenageou postumamente o “mestre” gráfico poveiro, estando a cargo do Prof. Doutor J. Antero M. Ferreira, seu excelente amigo,<br />

a apresentação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> obra do nosso conterrâneo.<br />

E perguntamos: “Manuel Silva não merecerá que na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong> lhe seja presta<strong>da</strong> idêntica homenagem?”.<br />

FRASCO, Manuel – Da paixão à imprimissão ao amor à letra.<br />

In O Comércio <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, ano 105, n.º22, (4 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2009), p. 6.


. Aspecto do gabinete e <strong>da</strong> Biblioteca particular <strong>de</strong> Manuel Silva<br />

Um tipógrafo completo<br />

Conheci o Manuel numa sexta-feira chuvosa (seria água benta?!) na <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, em 1997, por ocasião <strong>da</strong> sua exposição<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong>sign digital <strong>de</strong> caracteres antigos. Depois <strong>de</strong> ouvir atentamente as suas palavras vigorosas e genuínas, dirigi-me a ele<br />

e disse: Acabou <strong>de</strong> me sair o Totoloto! Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, naquele momento tinha acabado <strong>de</strong> conhecer o português que mais me iria<br />

marcar no doutoramento que tinha iniciado na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona (em finais <strong>de</strong> 1955) sob a orientação do professor<br />

Enric Tormo, um “guru” <strong>da</strong> tipografia mundial. Des<strong>de</strong> esse encontro até ao dia em que “partiu”, nunca mais <strong>de</strong>ixámos <strong>de</strong> nos<br />

falar, aju<strong>da</strong>r, confi<strong>de</strong>nciar, apoiar mutuamente; numa relação <strong>de</strong> mestre-discípulo e amiza<strong>de</strong> profun<strong>da</strong>.<br />

Apesar do enorme respeito que tínhamos um pelo outro, eu sempre consi<strong>de</strong>rei, e consi<strong>de</strong>ro, o Manel a pessoa que mais sabia<br />

sobre a arte e paixão que nos unia: a letra, a escrita, a caligrafia e a tipografia. Em Portugal, tudo o que aprendi <strong>de</strong> mais significativo<br />

nestas áreas foi por seu intermédio. Foram inúmeros os encontros (Lisboa, Porto, <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>), os telefonemas<br />

(pela noite <strong>de</strong>ntro…), a correspondência troca<strong>da</strong>, os quais acabaram por me valer uma “segun<strong>da</strong>” licenciatura aquela que<br />

nunca tive, porque os meus professores, com o <strong>de</strong>vido respeito, sabiam <strong>de</strong> tudo menos <strong>de</strong> tipografia como o Manel sabia. Isto<br />

não tem preço, nem propinas! Tratava-se <strong>de</strong> uma relação única, <strong>de</strong> <strong>da</strong>r e receber constante em que eu me aperceberia mais<br />

tar<strong>de</strong>, e como ele me alertava constante e paternalmente que teria <strong>de</strong> “pagar” com uma exemplar tese <strong>de</strong> doutoramento;<br />

igualmente, sentia que o meu eu (nesta investigação) era uma espécie <strong>de</strong> prolongamento do seu pensamento e labor. Graças ao<br />

persistente apoio e às rigorosas revisões ortotipográficas que penhora<strong>da</strong>mente recebi do Manel, em Junho <strong>de</strong> 2003, finalmente<br />

<strong>de</strong>fendi publicamente a “nossa” tese (Antero/Tormo/Manel), contando mais uma vez, com a sua presença, assim como com<br />

a <strong>da</strong> sua maravilhosa esposa, Manela. […]<br />

O Manel partiu (16 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008), mas a sua presença mantém-se viva na minha memória. “Falo” com ele quando penso,<br />

comunico, trabalho, investigo; continuo a sentir a sua herança, presença e sábias opiniões. As letras que recriou e <strong>de</strong>senhou, os<br />

escritos, os livros que produziu (edição do autor) e coleccionou são um legado único para a história <strong>da</strong> tipografia portuguesa;<br />

os livros ímpares que criteriosamente juntou ao longo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> representam um valor incalculável, no sentido em que foram<br />

apadrinhados estrategicamente com um único objectivo indivisível e humanista: servi-lo, a ele e a quem os procurar! Por outro<br />

lado, a sua biblioteca inclui não só os maiores paradigmas <strong>da</strong> tipografia nacional e mundial, como servirá <strong>de</strong> exemplo a todos os<br />

bibliófilos, pois todos os livros estão irrepreensivelmente cui<strong>da</strong>dos, restaurados e conservados, muitos <strong>de</strong>les pelas suas<br />

próprias mãos.<br />

Termino com uma <strong>da</strong>s opiniões (minha interpretação) mais lapi<strong>da</strong>res do Manel e que retrata a sua personali<strong>da</strong><strong>de</strong> convicta<br />

e inamovível. Num texto, um único erro ortográfico é uma vergonha, é inaceitável torna o texto, o livro e o trabalho do tipógrafo<br />

e do <strong>de</strong>signer em absolutamente na<strong>da</strong>! […]<br />

Obrigado, Manel!<br />

FERREIRA, Antero – Um tipógrafo completo.<br />

In O Comércio <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, ano 105, n.º 17 (30 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009), p. 6-7.<br />

Manuel Silva junto à exposição “Rotun<strong>da</strong> - um semigótico redondo”, <strong>da</strong> sua autoria<br />

(Biblioteca <strong>Municipal</strong> <strong>da</strong> <strong>Póvoa</strong> <strong>de</strong> <strong>Varzim</strong>, 1997)

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