As palavras e seus diversos reflexos: Guimarães Rosa e suas ...

formas linguísticas. Quando confirmada essa hipótese, o item até então considerado
neologismo era excluído de nossos dados.
Após a identificação dos neologismos, iniciamos as análises dos processos de
formação das novas palavras à luz da teoria da morfologia lexical, com viés estilístico, para a
confirmação da criação neológica e sua força inventiva no conto roseano em análise.
Por fim, ao término das análises concordamos com Barbosa (2001) de que é necessário
levar em consideração algumas questões, como quem criou a nova palavra, em que universo
de discurso foi produzida, em que tempo, em que lugar geográfico e semântico, para quem foi
criada e como foi criada, de forma que ao final desses procedimentos os neologismos possam
ser inseridos no inventário junto às outras novas palavras.
Dos processos de formação neológica, identificamos no conto em análise 18 novas
palavras, sendo 10 por derivação prefixal, 5 por composição e 3 formadas por derivação
sufixal, Por ora, daremos início às análises de alguns neologismos criados por Guimarães
Rosa no conto O Espelho e cumpre também dizer que todos os trechos transcritos do mesmo
foram conservados de acordo com a escrita do autor.
Ainda-nem-rosto (ROSA, 1995, p. 72) é neologismo formado por composição
subordinativa por justaposição, em que o advérbio de tempo ainda, a conjunção aditiva nem e
o substantivo rosto¸ foram justapostos com o acréscimo do hífen, e não ocorreram alterações
em sua estrutura. Considerando o contexto em que se encontra inserida, ainda-nem-rosto é
um substantivo exercendo a função de sujeito e pode significar quase um rosto; rosto em
formação.
Des-almado é uma construção neológica formada por derivação prefixal, em que des-
é um prefixo de negação. Dessa forma, ao unir-se à palavra-base almado, pode significar sem
alma ou sem espírito, pois a personagem do conto, ao se surpreender com a ausência de seu
reflexo no espelho inicia uma série de indagações, em que em uma delas usa o neologismo em
análise, como se pode observar no trecho do texto em que a referida palavra encontra-se
contextualizada: “Seria eu um... des-almado” (ROSA, 1995, p. 48).
Neste caso, esta nova palavra pode ser considerada também um neologismo
semântico, pois apesar de ser sido encontrada dicionarizada, mas sem a presença do hífen,
foge totalmente aos conceitos atribuídos no dicionário e daí a motivação do autor ao colocar o
prefixo separado por hífen da palavra base, de modo que seja feita esta diferenciação entre
des-almado e desalmado.
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