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Estrela Novais - Viva Porto

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protagonista<br />

6<br />

A senhora<br />

dos palcos<br />

estrela novais<br />

<strong>Estrela</strong> <strong>Novais</strong> é a uma das mais conhecidas e reconhecidas actrizes a<br />

nível nacional. Actualmente podemos vê-la em diversas séries e<br />

telenovelas nacionais, tendo sido co-fundadora da companhia de<br />

teatro «Seiva Trupe» e uma das suas actrizes residentes. Altiva e com<br />

uma voz inconfundível, <strong>Estrela</strong> <strong>Novais</strong> permanece como uma das<br />

grandes senhoras da representação e traz o <strong>Porto</strong> no coração.<br />

Texto: Marta Almeida Carvalho<br />

Fotos: Ricardo Nogueira/Jorge Calçada<br />

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8<br />

protagonista<br />

A «mãe» da «Seiva Trupe», nasceu no <strong>Porto</strong> há<br />

57 anos. Por motivos pessoais foi residir para<br />

Lisboa, onde acabou por ter mais oportunidades<br />

na área da representação. “Os convites eram constantes,<br />

a partida seria inevitável”. Mas a alma é<br />

portuense. “O <strong>Porto</strong> é uma cidade genuína, com<br />

carácter, autêntica e única, embora ainda um pouco<br />

conservadora” salienta a actriz, destacando os<br />

locais que mais aprecia: as marginais do Douro e<br />

a Foz. Símbolos como o Palácio de Cristal, Ponte<br />

D. Maria, Castelo do Queijo, estátua da Menina<br />

Nua, nos Aliados, os azulejos da Estação de S.<br />

Bento, Igreja dos Grilos e o Palácio da Bolsa são<br />

enumerados pela actriz para caracterizar o espírito<br />

do <strong>Porto</strong>, que não esquece. “Sinto saudades da<br />

pronúncia, da Ribeira, da Foz, dos amigos, de passear<br />

no Mercado do Bolhão, de ser jovem”. Quando<br />

vem ao <strong>Porto</strong> há rituais que não dispensa. “Vou<br />

sempre dar um passeio pela Ribeira e, em dias de<br />

sol, sento-me numa esplanada para comer uma<br />

patanisca de bacalhau com um copo de vinho”. A<br />

tradicional francesinha da «Regaleira» e os filetes<br />

de pescada do «Aleixo» são, para a actriz,<br />

petiscos imperdíveis. “Adoro tripas e francesinhas<br />

mas só no <strong>Porto</strong>”, garante.<br />

As visitas são, agora, mais escassas mas sempre<br />

que o trabalho lhe permite ou se encontra perto,<br />

dá cá “um salto”. A visão que tem do <strong>Porto</strong> à<br />

distância assemelha-se a um “quadro”, muito familiar<br />

e que lhe traz saudade.<br />

De acordo com <strong>Estrela</strong> <strong>Novais</strong>, o inconformismo<br />

e a frontalidade são características dos portuenses<br />

que ainda se mantêm. “São as pessoas que<br />

fazem a cidade”. As principais diferenças que aponta<br />

entre o <strong>Porto</strong> do passado e o de hoje prendem-se<br />

com aspectos físicos e culturais. “A cidade está<br />

mais limpa e bonita, europeia”, garante, salientando<br />

que se emocionou quando assistiu, pela televisão,<br />

à cerimónia que deu início às comemorações<br />

do <strong>Porto</strong>, Capital da Cultura. “Pensei que,<br />

humildemente, também fiz parte de um processo<br />

que aí culminava e que valera a pena. Senti muito<br />

orgulho e chorei”. Para a actriz, o <strong>Porto</strong> também<br />

cresceu a nível cultural. “Hoje temos o Teatro<br />

Nacional de S. João, várias companhias e escolas<br />

de teatro, de música, Serralves, a Casa da Música,<br />

uma série de locais culturalmente dinâmicos”.<br />

O <strong>Porto</strong> do passado<br />

A actriz tem recordações marcantes da Invicta. A<br />

mais forte que guarda da infância prende-se com a<br />

memória das luzes e das montras de Natal. “Ainda<br />

tenho uma foto que tiraram ao meu pai na Rua de Santo<br />

António (hoje 31 de Janeiro) com as iluminações de<br />

Natal”, conta. A primeira viagem num «trólei» desde<br />

Gaia (onde residiu durante muitos anos) até ao <strong>Porto</strong><br />

está também muito viva no cantinho das recordações.<br />

“Foi uma novidade nos transportes”, recorda. Dos tempos<br />

da adolescência destaca as farturas nas Fontaínhas,<br />

o fogo de artifício nas festas de S. João, jogar<br />

matraquilhos e andar de carrossel com os amigos,<br />

visitar os museus ao domingo, pedir fotos dos cantores<br />

que estavam na moda na Vadeca. “Os professores não<br />

gostavam que eu as colasse nas capas dos meus cadernos”,<br />

diz. São vários os momentos que nunca esquecerá:<br />

o primeiro emprego na livraria Argus, aos 14<br />

anos, os amigos e colegas do Instituto Superior de<br />

Contabilidade, os cafés Novo Mundo, Aviz, <strong>Estrela</strong> e<br />

Magestic, onde estudavam à noite, a estreia como<br />

actriz no Teatro Experimental do <strong>Porto</strong>, aos 17 anos, o<br />

baile de finalistas no Instituto Comercial e de “sonhar,<br />

sonhar!”. No Teatro de S. João, assistiu a um dos<br />

filmes da sua vida - “Isadora Duncan”. “Foi um dos<br />

que mais me marcou até hoje, quer pela biografia, quer<br />

pela magnífica interpretação de Vanessa Redgrave”.<br />

E assim nasceu uma «estrela»<br />

O gosto pela representação surgiu muito cedo, por<br />

volta dos quatro anos. “Tinha aparecido a televisão e<br />

eu delirava com as imagens e as vozes dos actores.<br />

estrela novais<br />

Quando regressava a casa isolava-me no meu quartinho<br />

e imitava o que ouvira mas numa linguagem inventada,<br />

já que não sabia uma palavra de inglês. Exprimia<br />

qualquer coisa de “americano”, recorda com humor.<br />

Aos sete anos, quando foi baptizada, tomou consciência<br />

que adorava projectar a voz quando recitou o<br />

Credo. “O gosto manteve-se e passei à descoberta da<br />

poesia na escola primária, seguindo-se no ensino secundário<br />

uma febril procura de textos para representar<br />

com os meus colegas. Fazia tudo: escrevia, dirigia,<br />

inventava os figurinos, escolhia as músicas e representava.<br />

Recordo que fiz um grande sucesso como<br />

Diabo no «Auto da Alma» de Gil Vicente”.<br />

Do que é que a actriz abdicou e do que necessitou<br />

para triunfar? “Na área artística, o triunfo é permanecer<br />

na profissão, no meu caso já são 40 anos de<br />

carreira. Não se abdica de nada quando escolhemos<br />

o nosso caminho mas, à época, foi um desgosto<br />

para a família”, recorda. É difícil resistir como actor<br />

no Norte, o que não impede de conciliar com<br />

trabalho em Lisboa. “O ser conhecido passa, hoje,<br />

até por fazer publicidade a um detergente. Uma coisa<br />

é ser-se conhecido, outra é ser-se reconhecido, o<br />

que demora muitos anos e, por vezes injustamente,<br />

não acontece”.<br />

Entrou no teatro profissional aos 17 anos, sem<br />

formação, só com o prazer de representar e a intuição.<br />

Passados dez anos, sentiu necessidade de começar<br />

do zero e partiu para Roma com uma bolsa da<br />

Gulbenkian para frequentar a Accademia Silvio<br />

D’Amico, onde fez o curso de encenação. Permaneceu<br />

como bolseira em Itália por três anos, tendo<br />

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protagonista<br />

estudado com grandes nomes da cena italiana, nomeadamente<br />

Vittorio Gassman, Eduardo de Fillipo,<br />

Andreia Camilleri e Dario Fo.<br />

Foi co-fundadora da Companhia Seiva Trupe no <strong>Porto</strong><br />

onde participou, entre 1974 e 1987, em diversas peças<br />

de encenadores como João Guedes, Júlio Cardoso,<br />

Pere Panella, Norberto Barroca, Júlio Castronuovo, António<br />

Montez, Mário Barradas, e Fernando R. Umaña.<br />

Em 1980 integrou o elenco de «Saudades para Dona<br />

Genciana» e «A Culpa» de António Victorino D’Almeida.<br />

Em 2004 participou em «Esquece tudo o Que te Disse»<br />

de António Ferreira e «A Noite da Iguana», de Tennessee<br />

Williams, em cena no Teatro do Bolhão, em 2007.<br />

Desde a década de 90 que se dedica quase exclusivamente<br />

à televisão, onde tem participado em diversas<br />

séries, nomeadamente «A Viúva do Enforcado»,<br />

«Felizmente Há Luar», «Na Paz dos Anjos», «Vidas de<br />

Sal», «Polícias», «A Grande Aposta», «Olhos de Água»,<br />

«O Último Beijo», «Amanhecer», «A Ferreirinha», «Deite<br />

quase Tudo», «Doce Fugitiva», «Feitiço de Amor»,<br />

«Deixa que te leve».<br />

A mulher<br />

Mantém o gosto pela representação e vai continuar.<br />

“O meu trabalho é a minha paixão e a representação<br />

a minha vida. Sem trabalhar entro em depressão.<br />

Falta-me o público, a procura da personagem,<br />

a inquietação, a dúvida, a busca do quase<br />

absoluto”, diz. E por isso, quase nunca tem férias.<br />

“Um actor está permanentemente a observar, a decorar<br />

sons, cores e cheiros. É a nossa escola, uma<br />

profunda deformação profissional. Quase um detective<br />

espiando o ser humano, para depois mostrar,<br />

representar”, assegura. O cinema é a sua área<br />

de eleição. “É a possibilidade de mostrar com um<br />

simples olhar e sem palavras os mais diversos<br />

sentimentos”. São várias as personagens que lhe<br />

deu prazer interpretar. “Todos os papéis que me<br />

assustaram, que me desafiaram, e ainda bem que<br />

foram muitos”. Lida bem com o reconhecimento do<br />

público, embora por vezes fique atrapalhada com<br />

algumas reacções. “Sinto que tenho outra família.<br />

Gosto do carinho, dos beijinhos, das palavras ternurentas,<br />

de saberem o meu nome, de identificarem<br />

personagens que representei e fico particularmente<br />

sensibilizada quando dizem: «gosto muito de a ver<br />

trabalhar»”. Recebe muitas cartas, beijos, pedidos<br />

de autógrafos e flores. Para fugir ao stress vai ver o<br />

mar, gosta de cozinhar e isola-se a ver filmes. “Compro,<br />

alugo e fico triste, triste, quando surge o FIM”.<br />

A actriz, que diz ter na tolerância a sua maior<br />

virtude, é professora no ensino secundário e lecciona<br />

a disciplina de Interpretação integrada no Curso<br />

Profissional Artes do Espectáculo/ Interpretação. <br />

Discurso directo<br />

Filme: O Piano, de Jane Campion<br />

Livro: A Dor, de Marguerite Duras<br />

Flor: Rosa chá<br />

Viagem de sonho: China<br />

Um odor: o cheiro de um homem a fazer a barba;<br />

Alecrim<br />

Pensamento: Saúde<br />

Cor: Vermelho<br />

Lugar: Piazza Navona, Roma<br />

Clube do coração: Vilanovense e Futebol Clube<br />

do <strong>Porto</strong><br />

Projecto inadiável: Viver<br />

Figura da cidade: Manoel de Oliveira e Júlio<br />

Resende<br />

<strong>Porto</strong>: Saudade; Vulcão<br />

estrela novais<br />

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