Sempre em frente
João Serrenho - Viva Porto
João Serrenho - Viva Porto
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
protagonista<br />
joão serrenho<br />
não é fácil. “Há alturas <strong>em</strong> que há muito trabalho,<br />
ando s<strong>em</strong>pre a correr, são muitas viagens e sobra<br />
pouco t<strong>em</strong>po. Mas faço os possíveis e os impossíveis<br />
para conseguir”, assegura.<br />
Os livros são uma das grandes paixões do <strong>em</strong>presário,<br />
mas admite que, de há uns t<strong>em</strong>pos para cá, t<strong>em</strong><br />
sido difícil manter vivo o hábito da leitura de lazer.<br />
“Como tenho s<strong>em</strong>pre uma lista enorme de coisas<br />
para fazer, quando tenho algum t<strong>em</strong>po livre, tento<br />
recuperar as atrasadas. De maneira que agora ando<br />
com o mesmo livro há mais de quatro anos!”, frisa.<br />
A criação de uma multinacional<br />
alguma capacidade de juntar uma série de aspectos<br />
diversos e com eles fazer um todo coerente e contínuo”,<br />
assinala. Revela-se também um preguiçoso<br />
“saudável”. “Sou preguiçoso, no sentido <strong>em</strong> que trabalho<br />
hoje para amanhã não ter que repetir. Gosto de<br />
pensar b<strong>em</strong> nas coisas, executar, entregar e não tocar<br />
mais naquilo. Quando as coisas são mal feitas e mal<br />
pensadas, há a tendência de o resultado ser desagradável”,<br />
garante.<br />
Apesar de ser um caso de sucesso incontornável,<br />
não esconde que ainda hoje sente receio quando t<strong>em</strong><br />
que fazer uma operação mais arriscada. “Há factores<br />
que não controlamos, factores externos e mesmo internos.<br />
A maior parte das vezes corre b<strong>em</strong>, mas há s<strong>em</strong>pre<br />
aspectos que não pod<strong>em</strong>os prever. Por isso é que é<br />
fundamental calcular o risco e equilibrar tudo”, refere.<br />
Numa carreira recheada de êxitos, confessa que ser<br />
eleito presidente da Confederação Europeia da Indústria<br />
de Tintas (CEP) teve um significado especial. “É<br />
o orgulho de ser um português o presidente”, refere,<br />
salientando que “é também o reconhecimento das<br />
nossas capacidades enquanto portugueses e do percurso<br />
da <strong>em</strong>presa”.<br />
8<br />
T<strong>em</strong>po para ser pai<br />
Apesar de ter uma vida profissional extr<strong>em</strong>amente<br />
exigente, João Serrenho faz questão de reservar t<strong>em</strong>po<br />
para os filhos, <strong>em</strong>bora assuma que, por vezes, a tarefa<br />
Criada <strong>em</strong> 1926 na versão actual (as raízes vêm<br />
de 1917), a CIN destaca-se como líder do mercado<br />
ibérico de tintas e é hoje uma verdadeira multinacional,<br />
marcando presença, para além de Portugal, <strong>em</strong><br />
Espanha, França, Al<strong>em</strong>anha, Holanda e ainda noutros<br />
continentes, com fábricas <strong>em</strong> Angola, Moçambique<br />
e na China. O <strong>em</strong>presário recorda, no entanto,<br />
o papel fundamental do pai, António Serrenho, no<br />
percurso de sucesso da <strong>em</strong>presa. “A marca do meu<br />
pai é inconfundível. Foi o primeiro químico que pôs<br />
os pés dentro desta casa e quando entrei para cá,<br />
nos anos 70, a CIN já era reconhecida como líder<br />
dos acabamentos industriais”, l<strong>em</strong>bra, acrescentando<br />
que, até há b<strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po, o pai manteve o<br />
hábito de visitar a fábrica todos os dias.<br />
João Serrenho aponta o fim dos anos setenta como<br />
uma época de grande importância na história da <strong>em</strong>presa.<br />
“Com o fim do condicionamento industrial,<br />
entrámos numa altura de grande crescimento, altura<br />
<strong>em</strong> que propus que, <strong>em</strong> vez de se comprar<strong>em</strong> novas<br />
máquinas, se fizesse uma linha completamente<br />
nova”, assinala, referindo que, desde então, a <strong>em</strong>presa<br />
cresceu de uma maneira “perfeitamente diabólica”.<br />
Igualmente importante foi a aquisição da<br />
Valentine, <strong>em</strong> Espanha (Barcelona), <strong>em</strong> 1995. “Deunos<br />
um grande alento para continuarmos a fazer aquisições”,<br />
assegura.<br />
Internacionalização e inovação<br />
A internacionalização é justamente uma das grandes<br />
apostas da CIN, uma tendência que, diz João<br />
Serrenho, acaba por ser natural. “Portugal é um mer-<br />
9
protagonista<br />
joão serrenho<br />
Orgulho portuense<br />
cado muito pequeno, muito estreito. Se nos dedicáss<strong>em</strong>os<br />
só ao mercado nacional, isso limitaria as nossas<br />
possibilidades de crescimento”, explica. O mercado<br />
externo é, na óptica do <strong>em</strong>presário, fundamental para o<br />
negócio. “Procuro s<strong>em</strong>pre que os nossos quadros principais<br />
visit<strong>em</strong> muitas feiras, da Europa, à Ásia e aos<br />
Estados Unidos, para poder<strong>em</strong> pegar naquilo que de<br />
bom se faz nas várias partes do mundo e tentar juntar<br />
aqui as melhores práticas que encontrarmos”.<br />
A principal filosofia da CIN é “estar s<strong>em</strong>pre na<br />
vanguarda”. “Acreditamos que t<strong>em</strong>os que inovar permanent<strong>em</strong>ente.<br />
Inovar não é só inventar coisas fantásticas.<br />
É pegar naquilo que está feito e melhorar,<br />
porque uma das coisas <strong>em</strong> que acredito é que é s<strong>em</strong>pre<br />
possível «construir uma ratoeira melhor»”, salienta.<br />
Por isso, a <strong>em</strong>presa dedica uma parte importante<br />
do capital aos centros de Investigação & Desenvolvimento.<br />
Ao todo, há 140 técnicos a trabalhar nos laboratórios<br />
da <strong>em</strong>presa, distribuídos pelo Porto, Barcelona,<br />
França e China.<br />
João Serrenho não esconde que a actual conjuntura<br />
económica t<strong>em</strong> dificultado o progresso da CIN, mas,<br />
ainda assim, revela objectivos ambiciosos. “Daqui a<br />
dez anos, vamos tentar apontar para uma facturação<br />
de 700 milhões de euros“, explica, <strong>em</strong>bora tenha consciência<br />
que não será tarefa fácil. “Tenho uma ideia de<br />
como é que se poderá fazer isso, mas não depende só<br />
de nós”, afirma.<br />
10<br />
Filho de pais alentejanos mas nascido e criado no<br />
Porto, João Serrenho confessa-se um admirador da<br />
cidade e da gastronomia portuense. “Adoro o Porto, é<br />
uma cidade fantástica, com uma história fascinante…<br />
e tenho um especial carinho pela gastronomia<br />
portuense”, salienta. Apreciador, entre muitas outras<br />
coisas, de tripas e francesinhas, elege a Foz e a Baixa<br />
da cidade como locais favoritos e recorda, com saudade,<br />
os “bailaricos” de São João nas Fontainhas, os<br />
banhos no mar e os t<strong>em</strong>pos de estudante no Liceu D.<br />
Manuel.<br />
Considera o Porto uma cidade “tradicionalmente<br />
<strong>em</strong>preendedora” e, <strong>em</strong>bora admita que t<strong>em</strong> vindo a<br />
perder algum protagonismo, acredita que é possível<br />
inverter esta tendência. “O Porto às vezes preocupase<br />
de mais com a perda de protagonismo, quando<br />
devia esforçar-se para protagonizar. O que é preciso é<br />
fazer o que algumas <strong>em</strong>presas fizeram: crescer<strong>em</strong>,<br />
continuar<strong>em</strong> aqui e ser<strong>em</strong> importantes”, aponta.<br />
Adepto do FC Porto, elogia a importância do clube<br />
para a cidade e para o país, mas, questionado quanto<br />
às cores que daria à Invicta, foge do “cliché” do azul<br />
e branco. “Acho que as cores do Porto são as cores<br />
clássicas que, hoje <strong>em</strong> dia, se vê<strong>em</strong> muito outra vez,<br />
principalmente na zona da Ribeira. Falo daquelas cores<br />
tipicamente inglesas: os ocres, os rosas velhos,<br />
os verdes secos…”, refere. <strong>S<strong>em</strong>pre</strong> fiel à cidade que<br />
o viu nascer, diz-se, orgulhosamente, um verdadeiro<br />
“hom<strong>em</strong> do norte”. <br />
11