aqui - O outro lado do muro
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O OUTRO LADO DO MURO<br />
Um garotinho de uns quatro anos estava vidra<strong>do</strong> na dança,<br />
de cima de um escorrega<strong>do</strong>r. A maturidade daquelas crianças<br />
me impressionou.<br />
Jamal pediu ao filho Khaled, de 16 anos, que nos acompanhas-<br />
se pelo campo. Com um excelente inglês, Khaled disse que nos<br />
levaria à casa de alguns shahids – os mártires que morreram em<br />
consequência ou não de sua atuação militante. Não gosto da ideia<br />
de que a palavra martírio seja usada para designar a ação kamikaze<br />
de homens-bomba que se explodem levan<strong>do</strong> consigo pessoas ino-<br />
centes. Mas, como tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>, a relação entre a vítima e o carrasco é<br />
intrincada numa só palavra: shahid também é usada para designar<br />
alguém que morreu, por exemplo, esmaga<strong>do</strong> por um tanque que<br />
demoliu sua casa enquanto <strong>do</strong>rmia, ou para os jovens mortos a ca-<br />
minho da escola – inocentes, também.<br />
No caminho, reparei na cena pintada em um <strong>muro</strong>: um ve-<br />
lho e uma criança apontavam uma grande chave para a paisagem<br />
de Jerusalém.<br />
Paramos em frente a um <strong>outro</strong> <strong>muro</strong> – o de uma casa – onde<br />
fora pintada a imagem de um homem, ao <strong>la<strong>do</strong></strong> de algumas palavras<br />
escritas em árabe, que Khaled traduziu: libertem Hussein Khader!<br />
Era a casa de Da’ad, irmã de Khader, um parlamentar <strong>do</strong> Fatah<br />
que fora preso três anos antes. Também viviam ali sua cunhada, a<br />
esposa dele, e a sobrinha.<br />
Depois de servir o chá, Da’ad explicou a história <strong>do</strong> irmão.<br />
“Ele já foi preso 23 vezes e na primeira Intifada teve que dei-<br />
xar o país definitivamente. Voltou em 1994, depois <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s de<br />
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