Produção AnimAl - CRMV-SP
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IX CONPAVET<br />
Osteodistrofia fibrosa de origem renal em dois cães<br />
idosos – Relato de caso<br />
Alves, M.A.M.K.; Crivelenti, L.Z.; Vasconcellos, A.L.; Galvão, A.L.B.;<br />
Ferreira, G.S.; Carvalho, M.B.<br />
Introdução: A osteodistrofia renal ou osteodistrofia fibrosa é uma complicação<br />
decorrente do hiperparatireoidismo secundário à DRC em estágio<br />
avançado. A condição caracteriza-se por distúrbio osteopênico com proliferação<br />
do tecido conjuntivo fibroso, mais evidentes em mandíbula e maxila,<br />
que acomete mais comumente animais jovens (DOIGE e WIESBRODE, 1998).<br />
A doença renal crônica (DRC) é afecção renal mais comum dos cães e gatos<br />
caracterizada pela incapacidade dos rins de funcionarem adequadamente<br />
(ELLIOT, 2000). O início dos sinais clínicos é insidioso e inclui comumente<br />
poliúria, polidipsia, letargia, hiporexia, perda de peso e vômitos (DE MORAIS<br />
et al., 1996). A redução da taxa de filtração glomerular (TFG) pode ocasionar<br />
aumento das concentrações plamáticas de resíduos (catabólitos) nitrogenados<br />
não proteicos que são excretados amplamente por via renal (POLZIN, 2011).<br />
Durante o processo de evolução do quadro de IRC pode ocorrer diminuição da<br />
atividade endócrina do orgão que é fonte dos hormônios renina, eritropoetina<br />
e 1,25 di-hidroxicolecalciferol, prostaglandinas, cininas, bem como, alterações<br />
nos sitios de ação para os hormônios aldosterona e antidiurético (POLZIN e<br />
OSBORNE, 1995) A redução da TFG também promove retenção de fosfatos,<br />
consequentemente ocorre um aumento da atividade da glândula paratireoide,<br />
para que esta elimine PTH (Paratormônio) a qual induz reabsorção óssea e<br />
elevação do cálcio sérico quadro denominado de hiperparatireoidismo secundário<br />
renal (POLZIN e OSBORN, 1995). Pode-se, assim, desenvolver o quadro<br />
de osteodistrofia fibrosa de origem renal. Relato de caso: Cão, macho,<br />
sem raça definida (SRD), com 10 anos de idade, apresentando quadro de inapetência,<br />
apatia, vômitos esporádicos, regurgitação frequente, perda de peso,<br />
poliúria e fezes diarreicas escuras e um Labrador, macho de 11 anos de idade,<br />
com histórico de vômitos recorrentes, diminuição do apetite, perda de peso e<br />
poliúria; ambos com pouco mais de um mês de evolução ( Fig 1). Ao exame<br />
físico verificou-se que os animais apresentavam desidratação moderada, aumento<br />
bilateral de maxilar e mucosas hipocoradas. As radiografias do crânio<br />
evidenciaram osteopenia da mandíbula e maxila com aparência sugestiva de<br />
perda da sustentação óssea dos dentes (Fig 1).<br />
Figura 1. Cão SRD, macho de 10 anos de idade e Labrador, macho de 11 anos de<br />
idade, respectivamente, apresentando hiperparatireoidismo secundário renal.<br />
A,B – Notar regia maxilar aumentada em decorrência de osteodistrofia fibrosa.<br />
C,D – Imagem radiográfica craniana exibindo osteopenia da mandíbula e maxila<br />
com aparência sugestiva de perda da sustentação óssea dos dentes (setas).<br />
Unesp - Jaboticabal, 2010.<br />
64 mv&z crmvsp.gov.br<br />
Os cães SRD e Labrador apresentaram hipertensão artérial de 180<br />
mmHg e 190mmHg (80-150) respectivamente, anemia normocítica normocrômica,<br />
azotemia severa, hiperfosfatemia e hipoalbuminemia (Tabela<br />
1). À urinálise observaram-se densidade urinária baixa e proteinúria. Foi<br />
diagnosticado DRC em estágio 4, com desenvolvimento de osteodistrofia<br />
fibrosa de origem renal.<br />
CãO A B<br />
ureia 360,66 mg/dl 231mg/dl 15 – 75<br />
creatinina 11,86 mg/dl 6,1mg/dl 0,5 – 1,5<br />
fósforo 17,03 mg/dl 12,0 mg/dl 2,2 – 5,5<br />
albumina 2.0 g/dl 1,94 g/dl 2,6 – 4,0<br />
densidade<br />
urinária (DEU)<br />
1,014<br />
(1,035 – 1,045)<br />
1,010 1,035 – 1,045<br />
Razão proteína/<br />
creatinina da<br />
urina (U-P/C)<br />
3,2 1,16 até 0,5<br />
Tabela 1. Valores alterados nos resultados dos exames laboratoriais (bioquímica<br />
sérica, urinálise) dos cães relatados com osteodistrofia fibrosa. Jaboticabal,<br />
2010.<br />
Discussão: Os sinais clínicos inicialmente observados pelos proprietários,<br />
poliúria e polidipsia (PU/PD), surgem no inicio da IRC, após<br />
o agravamento da DRC existente (NICHOLS, 2001). A redução da taxa de<br />
filtração glomerular ocasionou aumento das concentrações plamáticas de<br />
resíduos (catabólitos) nitrogenados não proteicos (POLZIN, 2011). Os animais<br />
revelaram quadro de hipoalbuminemia, e sugere-se, que o fato pode<br />
estar relacionado à nefropatia proteinúrica considerada comum nos cães, e/<br />
ou pela hiporexia (PRESSLER e VADEN, 2003). O quadro proteinúrico e de<br />
glomeruloesclerose podem desenvolver-se com o aumento da atividade de<br />
filtração dos néfrons remanescentes (WARE, 2006). Outras manifestações<br />
clínicas como êmese, diminuição do apetite e modificação na consistência e<br />
coloração das fezes, refletem o comprometimento do sistema digestório. A<br />
elevação das toxinas urêmicas é uma das principais causas de êmese atuando<br />
diretamente no centro do vômito (KRAWIEC, 1996). O aumento sérico do<br />
hormônio gastrina, responsável pela estimulação da produção de acido clorídrico<br />
pelo estômago, apresenta depuração reduzida nos DRC. Portanto, gastrite,<br />
ulcerações gástricas e diminuição do apetite são frequentes nos casos<br />
mais avançados de IRC (POLZIN, 2000; POLZIN, 2011). Os animais também<br />
apresentavam anemia e melena. O desenvolvimento do quadro está intimamente<br />
associado ao aumento da mortalidade e morbidade dos pacientes com<br />
DRC (SANCHES, 2005). Na maioria dos casos, estes se encontram no estágio<br />
3 e 4 da DRC, e a gênese do quadro anêmico ocorre devido à inabilidade dos<br />
rins em produzir de forma suficiente o hormônio eritropoietina em conjunto<br />
à elevação sérica das toxinas urêmicas e do PTH (POLZIN, 2011). O quadro<br />
agrava-se pelo surgimento de inúmeras lesões hemorrágicas gastroentéricas<br />
causadas pela uremia, favorecendo assim, perdas crônicas e espontâneas de<br />
sangue por hematêmese, melena e hematoquesia (POLZIN e OSBORNE,<br />
1995). Nem todo paciente com DRC é hipertenso. Apesar disso, ambos os<br />
animais relatados apresentaram quadro hipertensivo. A fisiopatogenia pode<br />
relacionar-se aos seguintes pontos, o paciente DRC hipertenso pode ter<br />
sua doença originada da evolução de uma glomerulopatia, que na maioria<br />
dos casos, leva ativação das células justaglomerulares e do sistema renina-<br />
-angiotensina-aldosterona (OTS et al., 2000). Sugere-se que a evolução da