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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão ... - UFG

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<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13276 - 13282<br />

Escrituras, metaescrituras e reescrituras histórico-ficcionais no romance<br />

brasileiro contemporâneo: décadas <strong>de</strong> 1980, 1990 e 2000<br />

Palavras-chave: literatura e história; romance brasileiro; contemporaneida<strong>de</strong><br />

Introdução<br />

Paulo Alberto da Silva SALES 1<br />

Zênia <strong>de</strong> FARIA 2<br />

A partir <strong>do</strong>s anos 1980 <strong>do</strong> século XX, houve um crescimento imenso <strong>de</strong><br />

narrativas que têm como principal traço em comum a reavaliação <strong>de</strong> estilos, <strong>de</strong><br />

obras e até mesmo <strong>do</strong>s próprios autores literários, personalida<strong>de</strong>s históricas e<br />

políticas, através da revisão <strong>do</strong>s fatos históricos e <strong>do</strong> cânone. Tal processo é feito a<br />

partir das novas escritas e das interpretações <strong>do</strong>s gestos da história (BURKE, 2011),<br />

agora encarada como discurso (FOUCAULT, 1996) e vista como uma narrativa<br />

(WHITE, 2008). No que tange à literatura, tal processo se realiza pela metaficção<br />

historiográfica (HUTCHEON, 1997). Há, também, a forte presença das narrativas<br />

metaficcionais (HUTCHEON, 1984; WAUGH, 1984) cujo teor autorreflexivo é<br />

sustenta<strong>do</strong> pela digressão (PAES, 1998; STERNE, 1998), ironia (FRYE, 1973;<br />

HUTCHEON, 1994; BRAIT, 2008) riso e escárnio (ALBERTI, 1999; MINOIS, 2003;<br />

ROUANET, 2007), cômico (ECO, 1984; 2007) sátira (BAKHTIN, 2010; FRYE, 1973;<br />

RABELAIS, 2006), paródia (HUTCHEON, 2000; ROSE, 1993) e principalmente pelo<br />

pastiche (HOESTEREY, 2001).<br />

Trataremos em nossa investigação a análise <strong>de</strong> parte da obra romanesca <strong>de</strong><br />

três nomes da narrativa contemporânea no Brasil. Dentre eles, o escritor paraense<br />

Harol<strong>do</strong> Maranhão, a cearense Ana Miranda e o mineiro Silviano Santiago. Em<br />

relação a Maranhão, as obras são Memorial <strong>do</strong> fim – a morte <strong>de</strong> Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis<br />

(1991), Tetraneto Del-Rei (1982) e A morte <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Maranhão (1981). Da<br />

romancista nor<strong>de</strong>stina, analisaremos Boca <strong>do</strong> inferno (1987), Clarice (1996) e A<br />

última quimera (1995). Já em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Silviano Santiago, trabalharemos com<br />

Em liberda<strong>de</strong> (1981), Viagem ao México (1993) e O falso mentiroso (2004). Vale<br />

1<br />

Doutoran<strong>do</strong> em Letras e Linguística – Estu<strong>do</strong>s Literários – da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

Contato: pasticheculture@gmail.com<br />

2<br />

Orienta<strong>do</strong>ra da pesquisa e Professora Doutora <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras e<br />

Linguística da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. Contato: zefirff@gmail.com<br />

Capa Índice 13276


lembrar que outras narrativas <strong>do</strong>s três escritores serão convocadas ao longo <strong>de</strong><br />

nosso estu<strong>do</strong>, e também <strong>de</strong> outros autores, caso se faça necessário.<br />

Defen<strong>de</strong>mos como princípio nortea<strong>do</strong>r <strong>de</strong> nossa pesquisa o aparecimento<br />

numeroso <strong>de</strong> fenômenos metaficcionais e meta-historiográficos em narrativas que<br />

revisam a história e a literatura nas três últimas décadas. Na nossa investigação,<br />

isso aparece melhor textualiza<strong>do</strong> nas narrativas <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Maranhão, Silviano<br />

Santiago e Ana Miranda, que são moldadas por metaficções historiográficas e,<br />

quan<strong>do</strong> não há diálogos com a História, ocorrem em romances metaficcionais,<br />

juntamente aos aspectos cômicos, irônicos e satíricos. Encontramos, também,<br />

nessas narrativas, procedimentos hipertextuais que contestam a figura <strong>do</strong> autor e<br />

suas produções artísticas através <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> bricolagem, <strong>do</strong> jogo, da<br />

autorreferência e da valorização da escrita que po<strong>de</strong> ser revista e reescrita<br />

infinitamente pelo pastiche.<br />

Com base na noção <strong>de</strong>rridiana <strong>de</strong> écriture, cuja construção <strong>de</strong> “diferenças da<br />

diferença” (DERRIDA, 2000; 2005; 2008) ten<strong>de</strong> ao esvaziamento <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />

primeiros, ao aproveitar-se <strong>de</strong> hipóteses reais e fictícias, os romances seleciona<strong>do</strong>s<br />

se autorrecriam e retomam imagens com as quais engendram uma série <strong>de</strong> outras<br />

imagens. Com isso, constataremos que não haverá a presença <strong>de</strong> uma voz narrativa<br />

ou <strong>de</strong> um narra<strong>do</strong>r e, sim, <strong>de</strong> vozes narran<strong>do</strong> alternativamente, o que dá às<br />

narrativas <strong>do</strong>s três escritores maior liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão.<br />

Para enten<strong>de</strong>r esse processo, analisaremos um corpus literário seleciona<strong>do</strong>,<br />

mas não obrigatoriamente fecha<strong>do</strong>, <strong>do</strong> qual constam obras ficcionais publicadas a<br />

partir da década <strong>de</strong> 80, cujo teor metaficcional po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sua relação<br />

com o hipotexto (GENETTE, 2005) que o originou e/ou pela inserção <strong>do</strong>s próprios<br />

autores no universo diegético.<br />

Na contemporaneida<strong>de</strong>, mais especificamente a partir <strong>do</strong>s anos 1960 <strong>do</strong><br />

século XX, Jean François-Lyotard (2008) nos ensinou que estamos na era pósmo<strong>de</strong>rna,<br />

e renegar tal condição é um equívoco. Sen<strong>do</strong> tal pensa<strong>do</strong>r o arauto da<br />

constatação <strong>do</strong> fenômeno pós-mo<strong>de</strong>rno, embora vários outros nomes sigam na<br />

esteira <strong>de</strong> Lyotard, ele foi categórico ao afirmar que não há mais senti<strong>do</strong> em<br />

acreditarmos nos relatos totalizantes e nas centralida<strong>de</strong>s das verda<strong>de</strong>s universais<br />

criadas pelas ciências humanas. Embora a literatura não seja uma ciência, mas uma<br />

arte, a ciência Histórica, reven<strong>do</strong> suas fontes, começou a se interessar por outras<br />

manifestações humanas que, até então, eram renegadas. A partir <strong>de</strong>ssa mudança<br />

Capa Índice 13277


paradigmática com os problemas relativos às fontes para o historia<strong>do</strong>r, agora vistas<br />

<strong>de</strong> forma interpretativa, os diálogos com a arte literária se tornaram mais intensos<br />

nos anos 80 <strong>do</strong> século XX.<br />

O historia<strong>do</strong>r Hy<strong>de</strong>n White (2008), por exemplo, articula a noção <strong>de</strong><br />

narrativida<strong>de</strong> da história, vista como um enre<strong>do</strong> agrega<strong>do</strong> a mecanismos<br />

romanescos. Daí a gran<strong>de</strong> contribuição das novas abordagens das escritas da<br />

história e, principalmente, das chamadas “escritas <strong>de</strong> si” (FOUCAULT, 2004) para a<br />

compreensão das produções romanescas contemporâneas <strong>do</strong>s autores <strong>de</strong> nosso<br />

corpus. Tais escrituras – cartas, diários, memoriais, biografias, autobiografias – são<br />

acopladas à composição das narrativas com o propósito <strong>de</strong> reinterpretar o fato<br />

histórico aos mecanismos <strong>de</strong> construção da metaficção historiográfica.<br />

De acor<strong>do</strong> com Hutcheon (1991), em relação à metaficção historiográfica, há a<br />

reafirmação da realida<strong>de</strong> como discurso, uma vez que a literatura não é mais a<br />

representação <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> externa, mas sim, sua própria<br />

autorreferencialida<strong>de</strong>. Essa criação não existe fora <strong>do</strong>s recursos linguísticos e/ou<br />

discursivos. Assim, o que Hutcheon promove é uma arte antiaristotélica, ou seja,<br />

uma teoria que contesta a mimesis aristotélica, já que no pós-mo<strong>de</strong>rnismo não há<br />

verda<strong>de</strong> a ser representada, mas sim, simulacros (BAUDRILLARD, 1991).<br />

No que diz respeito à narrativa metaficcional, veremos que Maranhão,<br />

Miranda e Santiago apresentam vários problemas relaciona<strong>do</strong>s ao que a teórica e<br />

crítica cana<strong>de</strong>nse <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “narrativa narcisista” (HUTCHEON, 1984).<br />

Detectamos no âmago da produção <strong>de</strong> tais escritores forte presença da<br />

autorreflexivida<strong>de</strong> que torna a narrativa uma “ficção sobre uma ficção” (HUTCHEON,<br />

1984). Tal atitu<strong>de</strong> não é tipicamente contemporânea, haja vista que a metaficção se<br />

pauta em várias estratégias narrativas que já se encontravam em Dom Quixote. E<br />

seus her<strong>de</strong>iros estão ai em obras esparsas pelo século XVIII, tais como o aclama<strong>do</strong><br />

romance Vida e opiniões <strong>do</strong> cavaleiro Tristran Shandy, <strong>de</strong> Laurence Sterne e a<br />

narrativa feita por Denis Di<strong>de</strong>rot, Jacques, o fatalista e seu amo. Outros autores se<br />

situam na esteira das estratégias narrativas criadas por Cervantes, tais como Xavier<br />

<strong>de</strong> Maistre e, no caso específico <strong>do</strong> Brasil, Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis.<br />

Mas é, sobretu<strong>do</strong>, na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX em diante que as<br />

metaescrituras se fortificam na prosa brasileira, culminan<strong>do</strong> nos experimentos<br />

narrativos <strong>de</strong> Graciliano Ramos (São Bernar<strong>do</strong>), Rubem Fonseca (Bufo e<br />

Spallanzani), Osman Lins (A rainha <strong>do</strong>s cárceres da Grécia) e, principalmente na<br />

Capa Índice 13278


nossa investigação, Memorial <strong>do</strong> fim, Em liberda<strong>de</strong> e Boca <strong>do</strong> inferno, <strong>de</strong> Maranhão,<br />

Santiago e Miranda, respectivamente.<br />

Os três romancistas <strong>de</strong> nosso corpus fazem apelo às escritas <strong>de</strong> si<br />

(FOUCAULT, 2004), como maneiras <strong>de</strong> revisar o passa<strong>do</strong> histórico, literário e, ao<br />

mesmo tempo, <strong>de</strong> problematizar a natureza ficcional <strong>de</strong> suas produções. Por isso, o<br />

passa<strong>do</strong> revisto e reinterpreta<strong>do</strong> pelos romancistas é reescrito a partir das<br />

manifestações intimistas <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s históricas e literárias que são<br />

convocadas a fazerem parte <strong>do</strong>s memoriais, cartas, diários e outras formas <strong>de</strong><br />

representar as histórias <strong>de</strong> vidas <strong>de</strong>sses indivíduos.<br />

Resulta<strong>do</strong>s parciais<br />

Nos <strong>do</strong>is anos iniciais <strong>do</strong> <strong>do</strong>utoramento, já cumprimos to<strong>do</strong>s os créditos<br />

exigi<strong>do</strong>s pelo programa, sempre ten<strong>do</strong> em vista disciplinas que contribuíssem com<br />

os problemas da tese. Aprofundamos as discussões sobre a metaficção na disciplina<br />

Estratégias da narrativa oferecida pela Profa. Dra. Zênia <strong>de</strong> Faria no segun<strong>do</strong><br />

semestre <strong>de</strong> 2010. Em relação à paródia e ao pastiche, o aprofundamento foi feito<br />

mediante as reflexões sobre a poesia lírica contemporânea, na disciplina<br />

Configurações da lírica contemporânea: diálogos entre Brasil e Portugal, também<br />

ofertada em 2010 pela Profa. Dra. Goiandira Ortiz Camargo. No primeiro semestre<br />

<strong>de</strong> 2011, <strong>de</strong>dicamo-nos aos fichamentos e às resenhas teóricas no intuito <strong>de</strong><br />

construir o que se tornaria o primeiro capítulo <strong>de</strong> nossa tese.<br />

Em relação ao corpo <strong>de</strong> nossa pesquisa, o mesmo está organiza<strong>do</strong> em quatro<br />

momentos. O primeiro capítulo, no caso da História, discutirá as teorias da chamada<br />

nova história a<strong>de</strong>ntran<strong>do</strong> no rol <strong>de</strong> nomes muito estuda<strong>do</strong>s nos últimos vinte anos na<br />

historiografia, tais como Dominick LaCapra (1998), Hy<strong>de</strong>n White (2008) e Peter<br />

Burke (2011), <strong>de</strong>ntre outros teóricos que se ocuparam <strong>de</strong> questões subjacentes às<br />

escritas da história. Em relação à literatura, discutiremos Lukács (2011) no que<br />

tange à narrativa histórica e suas modificações frente ao romance metahistoriográfico.<br />

Ainda no mesmo capítulo, cuja natureza é estritamente teórica,<br />

discutiremos os meandros da metaficção e seus agentes problematiza<strong>do</strong>res das<br />

escritas <strong>de</strong> si, como a ironia, a sátira, o cômico, a digressão, a paródia e pelo<br />

pastiche.<br />

Capa Índice 13279


Nos capítulos que se seguem, partin<strong>do</strong> das questões teóricas apresentadas,<br />

analisaremos das narrativas a<strong>do</strong>tadas no nosso corpus. Assim, o segun<strong>do</strong> capítulo<br />

trata da análise <strong>do</strong>s romances <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Maranhão. O terceiro é uma leitura<br />

questiona<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s romances <strong>de</strong> Silviano Santiago e o quarto e último, examina as<br />

narrativas <strong>de</strong> Ana Miranda.<br />

Referências<br />

ALBERTI, V. O riso e o risível na história <strong>do</strong> pensamento. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Zahar/FGV, 1999.<br />

ALVES, S. Fios da memória, jogo textual e ficcional <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Maranhão. Belo<br />

Horizonte: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, 2006.<br />

(Tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>)<br />

BAKHTIN, M. A cultura popular na ida<strong>de</strong> média e no renascimento: o contexto <strong>de</strong><br />

François Rabelais. Tradução Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.<br />

_____. Problemas da poética <strong>de</strong> Dostoievski. Tradução Paulo Bezerra. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Forense Universitária, 2005.<br />

BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulação. Tradução Maria João da Costa Pereira.<br />

Lisboa: Relógio d’Água, 1991.<br />

BRAIT, B. Ironia em perspectiva polifônica.Campinas; São Paulo: Editora da<br />

UNICAMP, 1996.<br />

BURKE, P. Abertura: a nova história, seu passa<strong>do</strong> e seu futuro. In.: BURKE, Peter.<br />

(org.). A escrita da história: novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. São Paulo:<br />

Ed. UNESP, 1992, p. 7 – 38.<br />

DÄLLENBAH, L. Le récit spéculaire. Essai sur la mise en abyme. Paris: Seuil, 1977.<br />

DELEUZE, G; GUATTARI, F. O anti-épi<strong>do</strong>: capitalismo e esquizofrenia. Tradução <strong>de</strong><br />

Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2010.<br />

DERRIDA, J. A escritura e a diferença. Tradução Pérola <strong>de</strong> Carvalho, Maria Beatriz<br />

Marques e outros. São Paulo: Perspectiva, 2000.<br />

_____. A farmácia <strong>de</strong> Platão.Tradução Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras,<br />

2005.<br />

_____. Gramatologia. Tradução Miriam Schnai<strong>de</strong>rman e Renato J. Ribeiro. São<br />

Paulo: Perspectiva, 1973.<br />

DIDEROT, D. Jacques, o fatalista e seu amo. Tradução Eduar<strong>do</strong> Almeida Ornick.<br />

São Paulo: Nova Alexandria, 2001.<br />

ECO, U. (Org.) História da feiúra. Tradução <strong>de</strong> Eliana Aguiar. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Record, 2007.<br />

_____. O cômico e a regra. In: Viagem na irrealida<strong>de</strong> cotidiana. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Nova Fronteira, 1984.<br />

_____. Obra aberta: forma e in<strong>de</strong>terminação nas poéticas contemporâneas.<br />

Tradução Giovanni Cutolo. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.<br />

ESTEVES, A. O novo romance histórico brasileiro. In.: ANTUNES, Letizia. (org.).<br />

Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> literatura e lingüística. São Paulo: Editora Arte e Ciência/Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências e Letras <strong>de</strong> Assis – UNESP, 1998, p. 123 – 158.<br />

_____. O romance histórico brasileiro contemporâneo. São Paulo: Editora Unesp,<br />

2010.<br />

Capa Índice 13280


FARIA, Z. A rainha <strong>do</strong>s cárceres da Grécia: metaficção e mise in abyme. In.: FARIA,<br />

Z; FERREIRA, H. (Orgs.). Osman Lins: 85 anos. A harmonia <strong>de</strong> impon<strong>de</strong>ráveis.<br />

Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009, p. 257 – 274.<br />

_____.Nas fronteiras da ficção: a metaficção em André Gi<strong>de</strong>. In: SANTOS, Paulo<br />

Sérgio Nolasco. Divergências e Convergências em Literatura Comparada. Campo<br />

Gran<strong>de</strong>: Ed. UFMS: 2004, p. 69-84.<br />

FOUCAULT, M. A escrita <strong>de</strong> si. In.: Ética, sexualida<strong>de</strong>, política. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Forense Universitária, 2010, 144 – 162.<br />

_____. A or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> discurso. São Paulo: Loyola, 1996.<br />

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Cultrix , 1973.<br />

GENETTE, G. Palimpsesto: a literatura <strong>de</strong> segun<strong>do</strong> grau. Belo Horizonte:<br />

FALE/UFMG, 2006.<br />

HOESTEREY, I. Pastiche: cultural memory in art, film and literature. New York:<br />

Indiana University Press, 2001.<br />

HUTCHEON, L. A theory of parody: the teachings of twentieth-century art forms.<br />

New York: Illinois University Press, 2000.<br />

_____. Irony’s edge. New York: Routledge, 1994.<br />

_____. Narcissistic narrative: the metaficcional para<strong>do</strong>x. New York: Lon<strong>do</strong>n,<br />

Methuen, 1984.<br />

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Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago Ed., 1991.<br />

JAMESON, F. Pós-mo<strong>de</strong>rnismo: a lógica cultural <strong>do</strong> capitalismo tardio. São Paulo:<br />

Ática, 1997.<br />

JENNY, L. A estratégia da forma. In: Poétique: Intertextualida<strong>de</strong>s. Coimbra:<br />

Almedina, 1979, p. 5-49..<br />

KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. Tradução Lúcia Helena França Ferraz. São<br />

Paulo: Perspectiva, 2005.<br />

LACAPRA, D. Repensar la historia intelectual y leer textos. In: PAUTI, E. Giro<br />

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1998, p. 237 – 293.<br />

LEPALUDIER, L. Métatextualité et métafiction. Théorie et analyses. Rennes:<br />

Presses Universitaires <strong>de</strong> Rennes, 2002, p. 9-13.<br />

LYOTARD, J. A condição pós-mo<strong>de</strong>rna. Tradução Ricar<strong>do</strong> Corrêa Barbosa. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: José Olympio, 2008.<br />

LUKÁCS, G. O romance histórico. Tradução Rubens En<strong>de</strong>rle. São Paulo: Boitempo,<br />

2011 MARANHÃO, H. A morte <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Maranhão. São Paulo: Paz e terra, 1981.<br />

_____. Memorial <strong>do</strong> fim: a morte <strong>de</strong> Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis. São Paulo: Marco Zero,<br />

1991.<br />

_____. Tetraneto Del-Rei. São Paulo: Marco Zero, 1983.<br />

MARCARI, M. Memorial <strong>do</strong> fim: a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> Machadiana na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Harol<strong>do</strong> Maranhão. Assis: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras <strong>de</strong> Assis/Universida<strong>de</strong><br />

Estadual Paulista, 2003. (Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>)<br />

MINOIS, G. História <strong>do</strong> riso e <strong>do</strong> escárnio. São Paulo: Editora Unesp, 2003.<br />

MIRANDA, A. A última quimera. São Paulo: Companhia das letras, 1995.<br />

_____. Boca <strong>do</strong> inferno. São Paulo: Companhia das letras, 1987.<br />

_____. Clarice. São Paulo: Companhia das letras, 1996.<br />

MIRANDA, W. Corpos escritos. São Paulo: Editora da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;<br />

Belo Horizonte; Editora da UFMG, 1992.<br />

Capa Índice 13281


ROSE, M. Parody: ancient, mo<strong>de</strong>rn, and post-mo<strong>de</strong>rn. New York: Cambridge<br />

University Press, 1993.<br />

ROUANET, S. Riso e melancolia. São Paulo: Companhia das letras, 2007.<br />

SAAVEDRA, M. O engenhoso fidal<strong>do</strong> D. Quixote <strong>de</strong> La Mancha. Primeiro livro.<br />

Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2002.<br />

_____. O engenhoso cavaleiro D. Quixote <strong>de</strong> La Mancha. Segun<strong>do</strong> livro. Tradução<br />

Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2002.<br />

SANTIAGO, S. Nas malhas da letra: ensaios. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2002<br />

_____. Em liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1981.<br />

_____. O falso mentiroso. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2004.<br />

_____. Viagem ao México. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1993.<br />

STERNE, L. Vida e opiniões <strong>do</strong> cavaleiro Tristran Shandy. Tradução José Paulo<br />

Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.<br />

WAUGH, P. Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction. Lon<strong>do</strong>n:<br />

Methuen, 1984.<br />

WHITE, H. Meta-história. São Paulo: Editora da Unicamp, 2008.<br />

Capa Índice 13282


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13283 - 13288<br />

A POESIA ERÓTICA DE YÊDA SCHMALTZ<br />

Dn<strong>do</strong>. Paulo Antônio VIEIRA JÚNIOR – FL 1<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Solange Fiuza Car<strong>do</strong>so YOKOZAWA – FL 2<br />

A pesquisa ora em <strong>de</strong>senvolvimento investiga a poesia da escritora<br />

goiana Yêda Schmaltz, autora que publicou 16 obras literárias, sen<strong>do</strong> 14<br />

<strong>de</strong>las <strong>de</strong> poesia e <strong>do</strong>is livros <strong>de</strong> contos. Gran<strong>de</strong> parte da escrita <strong>de</strong> Yêda<br />

Schmaltz revive os mitos da tradição greco-romana <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a atualizá-los.<br />

Assim a voz lírica que emerge <strong>de</strong> seus versos coinci<strong>de</strong> com personagens<br />

como Penélope, Safo, Cibele, Eco ou as Mêna<strong>de</strong>s. Nessa reinvenção <strong>de</strong><br />

mitos, realizada pela poeta, as personagens mitológicas recuperadas estão<br />

eroticamente ligadas a outro, como Penélope a Ulisses, Cibele a Áthis, Eco a<br />

Narciso.<br />

Integra o corpus <strong>de</strong> nossas investigações basicamente três obras em<br />

verso da escritora, a saber: A alquimia <strong>do</strong>s nós (1979), Baco e Anas<br />

Brasileiras (1985) e A ti Áthis (1988). Tais obras se <strong>de</strong>stacam <strong>de</strong>ntre as<br />

produções <strong>de</strong> Yêda Schmaltz porque nelas se manifesta a voz mais singular<br />

da poeta, alcançada através da reinvenção mitológica, <strong>do</strong> ludismo no uso da<br />

linguagem e <strong>do</strong> erotismo.<br />

A alquimia <strong>do</strong>s nós é a primeira obra <strong>de</strong> Yêda Schmaltz em que surge<br />

o intertexto mitológico. A primeira parte da obra, com o título “FIOS (O livro <strong>de</strong><br />

Penélope)”, é composta <strong>de</strong> 19 poemas (alguns com subdivisões numeradas),<br />

cuja voz central é a heroína homérica que comunica seu <strong>de</strong>sejo pelo esposo<br />

Ulisses, <strong>de</strong> quem está espacialmente separada. Uma das modificações entre<br />

a Penélope <strong>de</strong> Homero e a <strong>de</strong> Yêda resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> esta comunicar<br />

abertamente a atração erótica que o homem ama<strong>do</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia em seu<br />

íntimo, enquanto a Penélope clássica encontrava-se, muita vez, silenciada.<br />

A intertextualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta obra é notável e se dá por meio <strong>de</strong> diálogos<br />

diretos (epígrafes) e indiretos (citações, alusões), além <strong>de</strong> diálogos com<br />

1<br />

Doutoran<strong>do</strong> em Estu<strong>do</strong>s Literários pelo Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Letras e Linguística da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. Email: pauloantvie@hotmail.com. Bolsista Reuni.<br />

2<br />

Profa. Dra. <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Letras e Linguística da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

Email: solyokozawa@bol.com.br<br />

Capa Índice 13283


textos não verbais e não literários, a exemplo da psicanálise <strong>de</strong> C. G. Jung e<br />

<strong>de</strong> imagens por ele analisadas. Isso <strong>de</strong>monstra que, para Yêda, a<br />

intertextualida<strong>de</strong> é uma estratégia recorrente <strong>de</strong> pensar a poesia, a<br />

individualida<strong>de</strong> (feminina) e sua relação com o outro. Para a poeta, a escrita<br />

se faz com (várias) leituras, o que a escritora her<strong>do</strong>u <strong>de</strong> seu engajamento no<br />

GEN (Grupo <strong>de</strong> Escritores Novos) nos anos 1960. Esse grupo <strong>de</strong>fendia que a<br />

obra literária <strong>de</strong>ve ser fruto <strong>de</strong> apura<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, e que a criação artística não<br />

se encontra isenta <strong>do</strong> intelecto.<br />

Em A ti Áthis há uma profusão <strong>de</strong> vozes mitológicas que louvam a<br />

figura amada, igualmente imprecisa. A autora aproveita-se da coincidência <strong>do</strong><br />

nome da a<strong>do</strong>lescente Áthis, amada pela preceptora Safo, com o jovem efebo<br />

Áthis, ama<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>usa Cibele e pela ninfa Sagarítis. Nos versos <strong>de</strong>ssa<br />

obra, o eu lírico assume, ainda, dicção típica da Sulamita <strong>do</strong>s Cânticos <strong>de</strong><br />

Salomão, o que é comprova<strong>do</strong> pela incorporação <strong>de</strong> versos <strong>do</strong> poema bíblico<br />

aos <strong>de</strong> A ti Áthis. Como em A alquimia <strong>do</strong>s nós, o erotismo aqui surge como<br />

uma busca <strong>do</strong> amor i<strong>de</strong>al, sen<strong>do</strong> a volta ao passa<strong>do</strong> mítico uma das formas<br />

<strong>de</strong> alcançá-lo.<br />

Em Baco e Anas brasileiras o erotismo aparece <strong>de</strong> forma mais<br />

ostensiva, o que se dá justamente em <strong>de</strong>corrência da recuperação mitológica<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>us <strong>do</strong> vinho Baco (Dioniso) e suas segui<strong>do</strong>ras, Mêna<strong>de</strong>s (Bacantes). O<br />

tratamento com o tema <strong>do</strong> erotismo nessa obra é bem diverso das obras<br />

supramencionadas porque o <strong>de</strong>sejo sexual e sua realização se materializam<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> evi<strong>de</strong>nte aos olhos <strong>do</strong> leitor. Em gran<strong>de</strong> parte da obra, o<br />

envolvimento sexual é comunica<strong>do</strong> através da referência a comidas, temperos<br />

e elementos da natureza, o que remete a uma longa tradição <strong>de</strong> erotização da<br />

natureza e <strong>de</strong> comidas, na literatura universal. A própria recuperação <strong>do</strong> mito<br />

<strong>de</strong> Dioniso já integra essa tradição que relaciona alimentos à sexualida<strong>de</strong>.<br />

Nas obras <strong>de</strong> Yêda Schmaltz em estu<strong>do</strong>, o discurso da tradição é algo<br />

bastante recorrente, ocorre aí verda<strong>de</strong>ira restauração <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, no qual<br />

este é retoma<strong>do</strong> para assim sofrer uma espécie <strong>de</strong> correção. As heroínas<br />

recuperadas viveram relacionamentos amorosos bastante singulares, mas<br />

aos olhos da autora tais envolvimentos carecem <strong>de</strong> correções. É o que se<br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong> em relação à Penélope, por exemplo. Em A alquimia <strong>do</strong>s nós, a<br />

heroína não se encontra no papel secundário como ocorre na Odisseia.<br />

Capa Índice 13284


Penélope torna-se personagem central, enquanto Ulisses figura como herói<br />

secundário. Isso po<strong>de</strong> ser li<strong>do</strong> como uma edificação da mulher a outros<br />

patamares, além <strong>de</strong> outra valorização <strong>do</strong> sentimento amoroso, uma vez que<br />

na obra homérica são as façanhas heróicas <strong>do</strong> personagem grandioso que<br />

encontram prepon<strong>de</strong>rância.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, percebe-se que a recuperação mitológica na poesia <strong>de</strong><br />

Yêda Schmaltz se faz criticamente, pois a escritora traz a situação mitológica<br />

até a sua realida<strong>de</strong> para assim corrigir imperfeições e edificar um mo<strong>de</strong>lo<br />

i<strong>de</strong>al que é o fim <strong>de</strong> sua poesia. Na obra <strong>de</strong> Yêda concretiza-se a percepção<br />

<strong>de</strong> Hans Magnus Enzensberger: “Da imitação à falsificação é apenas um<br />

pequeno passo” (2003, P. 23). A retomada <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> (mítico) não se faz<br />

simplesmente leitura, mas releitura nessa poética<br />

As investigações nesta pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utoramento sobre a obra em<br />

verso <strong>de</strong> Yêda Schmaltz parte, portanto, da tematização <strong>do</strong> erotismo, que a<br />

autora realiza através <strong>de</strong> figuras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> mitológico, para assim perceber<br />

os traços <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> poética em sua obra. A relação com os temas <strong>do</strong><br />

erotismo e com o passa<strong>do</strong> encontrou formas singulares <strong>de</strong> manifestação entre<br />

os artistas mo<strong>de</strong>rnos. Algumas <strong>de</strong>ssas particularida<strong>de</strong>s apresentam-se <strong>de</strong><br />

forma bastante evi<strong>de</strong>nte na obra yediana. Uma <strong>de</strong>las é a recorrência ao<br />

erotismo como uma forma <strong>de</strong> intensificação da subjetivida<strong>de</strong>. Muitos são os<br />

críticos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que perceberam a capacida<strong>de</strong> da lírica mo<strong>de</strong>rna<br />

fazer da subjetivida<strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> resistência, a exemplo <strong>do</strong> que comprova<br />

estu<strong>do</strong> basilar <strong>de</strong> Theo<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>rno, que enten<strong>de</strong> a intensificação da<br />

subjetivida<strong>de</strong> em artistas simbolistas como uma resistência indireta, uma<br />

espécie <strong>de</strong> engajamento por meio da postura <strong>de</strong>sengajada. Na crítica<br />

a<strong>do</strong>rniana consi<strong>de</strong>ra-se que quanto mais pura é a lírica mais se oferece a<br />

exprimir a “fratura” entre o eu lírico e o universo social:<br />

Mesmo aquelas composições líricas nas quais<br />

não se imiscui nenhum resíduo da existência<br />

convencional e objetiva, nenhuma materialida<strong>de</strong> crua,<br />

as mais altas composições conhecidas por nossa<br />

língua, <strong>de</strong>vem sua dignida<strong>de</strong> justamente à força com<br />

que nelas o eu <strong>de</strong>sperta a aparência da natureza,<br />

escapan<strong>do</strong> à alienação. A pura subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas<br />

composições, aquilo que nelas parece harmônico e não<br />

fratura<strong>do</strong>, testemunha o contrário, o sofrimento com a<br />

existência alheia ao sujeito, bem como o amor a essa<br />

existência – aliás, sua harmonia não é propriamente<br />

Capa Índice 13285


nada mais que a consonância recíproca <strong>de</strong>sse<br />

sofrimento e <strong>de</strong>sse amor (ADORNO, 2003, p. 70-71).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a subjetivida<strong>de</strong> lírica como uma forma <strong>de</strong> resistência, a<br />

lírica que toma o erotismo como tema está situada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo da<br />

resistência simbólica. Octavio Paz (2001) assevera o caráter subversivo <strong>do</strong><br />

erotismo na literatura, ao chamar a atenção para o fato <strong>de</strong> que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

medievo, quan<strong>do</strong> o homem (trova<strong>do</strong>r) se colocava em situação <strong>de</strong><br />

vassalagem amorosa em relação à mulher, o sentimento amoroso adquiriu<br />

esse caráter subversivo. Esse caráter teria si<strong>do</strong> intensifica<strong>do</strong> entre os artistas<br />

mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Essa nova configuração <strong>do</strong> erotismo na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é vislumbrada na<br />

recuperação mitológica <strong>de</strong> personagens eroticamente tratadas na poesia <strong>de</strong><br />

Yêda Schmaltz. Para tanto, a pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> ora em andamento toma<br />

como arcabouço teórico obras que tratam <strong>do</strong> erotismo em geral e <strong>do</strong> erotismo<br />

em literatura para subsidiar tais reflexões, notadamente obras como O<br />

erotismo <strong>de</strong> Georges Bataille (1987), A dupla chama: amor e erotismo <strong>de</strong><br />

Octavio Paz (2001), <strong>de</strong>ntre outras.<br />

Os teóricos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que norteiam tais investigações são<br />

Theo<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>rno, por asseverar a dimensão social <strong>de</strong> obras visceralmente<br />

individuais, no ensaio “Palestra sobre lírica e socieda<strong>de</strong>”; e novamente<br />

Octavio Paz, <strong>de</strong> Os filhos <strong>do</strong> barro (1984), por teorizar sobre a analogia, a<br />

volta ao passa<strong>do</strong>, como uma resistência indireta aos padrões mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Servem <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo a esta pesquisa, ainda, os estu<strong>do</strong>s sobre poesia <strong>de</strong> Davi<br />

Arrigucci Jr, mo<strong>de</strong>los exemplar <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> poesia.<br />

Referências<br />

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Capa Índice 13286


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BERARDINELLI, Alfonso. Da poesia à prosa. Tradução <strong>de</strong> Maurício Santana Dias.<br />

São Paulo: Cosac Naify, 2007.<br />

BOSI, Alfre<strong>do</strong>. O ser e o tempo da poesia. 6 ed. São Paulo: Companhia das Letras,<br />

2000.<br />

BRANDÃO, Junito <strong>de</strong> Souza. Dicionário mítico-etimológico da mitologia e da religião<br />

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______. Signos em rotação. Tradução <strong>de</strong> Sebastião Uchoa Leite. 3 ed. São Paulo:<br />

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______. A ti Áthis. Goiânia: Secretaria <strong>de</strong> Cultura, 1988.<br />

______. Baco e Anas brasileiras. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Achiamé, 1985.<br />

STENDHAL. Do amor. Tradução <strong>de</strong> Herculano Villas-Boas. Porto Alegre: L&PM,<br />

2007.<br />

Capa Índice 13288


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13289 - 13293<br />

EXPANSÃO DE FRONTEIRAS<br />

ESTRADA DE FERRO DE GOIÁS - 1913 A 1940<br />

Paulo Borges CAMPOS JÚNIOR 1 ; Fausto MIZIARA<br />

Programa <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> em Ciências Ambientais/CIAMB<br />

paulobcampos@yahoo.com.br; faustomiziara@uol.com.br<br />

Palavras-chave: Ferrovias; Frente Pioneira; Desenvolvimento Sustentável; Meio<br />

Ambiente; Economia.<br />

Introdução<br />

Um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios da economia goiana durante to<strong>do</strong> o seu processo <strong>de</strong><br />

formação, aconteci<strong>do</strong> a partir da primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII, foi o <strong>de</strong> romper os<br />

limites <strong>do</strong> seu isolamento geográfico, colaboran<strong>do</strong> com a ampliação <strong>de</strong> seus<br />

merca<strong>do</strong>s econômicos e <strong>de</strong> suas relações políticas e sociais. Prevalecia à época<br />

uma economia minera<strong>do</strong>ra, on<strong>de</strong> o ouro era o principal produto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

sistema no qual se fazia presente nesta região uma relação metrópole-colônia.<br />

Nos primeiros anos <strong>do</strong> século XX, realiza-se uma integração da fronteira econômica<br />

goiana com o centro dinâmico <strong>de</strong> São Paulo, facilitada e condicionada fortemente<br />

pelos trilhos da estrada <strong>de</strong> ferro, quan<strong>do</strong> os mesmos começam a serpentear o<br />

território <strong>de</strong> Goiás, a partir <strong>de</strong> 1913, resultan<strong>do</strong> em profundas mudanças na<br />

economia, na socieda<strong>de</strong> e na política <strong>de</strong>sta região central, segun<strong>do</strong> Estevam (1998)<br />

Foram marcantes as transformações que os trilhos da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás-<br />

EFG provocaram neste território, expandin<strong>do</strong>-se a economia, notadamente <strong>do</strong> cultivo<br />

<strong>de</strong> arroz e da criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> <strong>de</strong> corte; aumentan<strong>do</strong> os números <strong>de</strong> empresas:<br />

atacadistas, charqueadas, curtumes, frigoríficos, <strong>de</strong>ntre outras; alteran<strong>do</strong> a<br />

urbanização das cida<strong>de</strong>s e com reflexos na elevação das populações. É razoável<br />

supor que tais alterações nos indica<strong>do</strong>res econômicos <strong>de</strong> Goiás à época resultaram<br />

em impactos também no meio ambiente local. Segun<strong>do</strong> Chaul (1997), “com a<br />

pecuária, a agricultura po<strong>de</strong>ria dar seus sinais <strong>de</strong> vida, elevar o máximo o tão<br />

1 Doutoran<strong>do</strong> em Ciências Ambientais/<strong>UFG</strong>. Bolsista da CAPES.<br />

Capa Índice 13289<br />

1


<strong>de</strong>canta<strong>do</strong> potencial agropecuário <strong>de</strong> Goiás. Enfim, o sonha<strong>do</strong> Goiás seria<br />

viabiliza<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>spertar <strong>do</strong>s <strong>do</strong>rmentes”<br />

As mudanças ocorridas no meio ambiente goiano da época, com a chegada <strong>do</strong>s<br />

trilhos da “Goiás”, pouco foram consi<strong>de</strong>radas pelos autores que estudaram o sistema<br />

ferroviário neste Esta<strong>do</strong>. Este trabalho busca trazer uma nova visão e uma nova<br />

leitura das transformações ocorridas aqui, enquanto frente pioneira, com esse novo<br />

tipo <strong>de</strong> transporte, com a presença da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás, rompen<strong>do</strong>-se<br />

então com as interpretações tradicionais, divorciadas <strong>de</strong> preocupações ambientais.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que entre 1913 e 1922, os trilhos da “Goiás” serpentearam apenas<br />

<strong>do</strong>is municípios goianos, Catalão e Ipameri, entre os pouco mais <strong>de</strong> 50 existentes.<br />

Assim, o presente trabalho concentrou a maior parte <strong>de</strong> suas pesquisas nessas duas<br />

localida<strong>de</strong>s, com uma extensão total <strong>de</strong> trilhos, à época, <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> 233<br />

quilômetros, representan<strong>do</strong> a chamada 1ª fase da implantação <strong>de</strong>ssa ferrovia no<br />

solo <strong>de</strong>ste Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Borges (1990).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, com o escopo <strong>de</strong> ampliação da pesquisa, o perío<strong>do</strong> total trata<strong>do</strong><br />

neste trabalho foi <strong>de</strong> 1913 a 1940, abrangen<strong>do</strong> os impactos da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong><br />

Goiás em 7 municípios goianos: Catalão, Goiandira, Ipameri, Pires <strong>do</strong> Rio, Campo<br />

Formoso (Orizona), Bonfim (Silvânia) e Anápolis.<br />

O objetivo geral <strong>de</strong>sta pesquisa é o <strong>de</strong> analisar as diversas transformações<br />

ambientais, econômicas e sociais no território goiano promovidas, direta e<br />

indiretamente, pela presença local da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás, entre os anos <strong>de</strong><br />

1913 e <strong>de</strong> 1940.<br />

Enquanto objetivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho, como impactos diretos da ferrovia<br />

no meio ambiente <strong>de</strong> Goiás, são analisadas as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> lenhas para a<br />

geração <strong>de</strong> tração das locomotivas e as ma<strong>de</strong>iras usadas na instalação e<br />

conservação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>rmentes nos trilhos da estrada em toda a área <strong>do</strong>s 7 municípios<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> servi<strong>do</strong>s pela EFG, entre os anos <strong>de</strong> 1913 e 1940. Ou seja, os impactos<br />

diretos <strong>do</strong>s trilhos em Goiás não foram analisa<strong>do</strong>s apenas em Catalão, ou em<br />

Capa Índice 13290<br />

2


Ipameri ou em Goiandira, mas em toda a área goiana servida pela Estrada <strong>de</strong> Ferro<br />

Goiás à época.<br />

Ainda enquanto objetivos específicos, trata<strong>do</strong>s como sen<strong>do</strong> os impactos indiretos<br />

da Estrada <strong>de</strong> Ferro em Goiás no meio ambiente <strong>de</strong>ste Esta<strong>do</strong>, são analisa<strong>do</strong>s o<br />

comportamento, nos municípios goianos <strong>de</strong> Catalão, <strong>de</strong> Ipameri e <strong>de</strong> Goiandira, <strong>de</strong><br />

suas produções econômicas, tais como: produção agrícola e bovina, instalação <strong>de</strong><br />

curtumes e charqueadas, preços das terras; além <strong>do</strong>s impactos urbanos locais,<br />

principalmente <strong>de</strong> natureza populacional, e <strong>de</strong> suas contas públicas, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> em questão.<br />

Quais as transformações promovidas pela Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás, entre os anos<br />

<strong>de</strong> 1913 e 1940, no meio ambiente, na economia e na socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> território goiano<br />

servi<strong>do</strong> pela mesma, particularmente nos municípios <strong>de</strong> Catalão, <strong>de</strong> Ipameri e <strong>de</strong><br />

Goiandira é o problema central a ser respondi<strong>do</strong> por este trabalho <strong>de</strong> pesquisa.<br />

A hipótese proposta é <strong>de</strong> que a Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás, entre os anos <strong>de</strong> 1913 a<br />

1940, como frente pioneira neste Esta<strong>do</strong>, foi um instrumento, direto e indireto, das<br />

transformações ambientais, econômicas e sociais ocorridas, particularmente, nas<br />

regiões goianas <strong>de</strong> Catalão, <strong>de</strong> Ipameri e <strong>de</strong> Goiandira.<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

A meto<strong>do</strong>logia a ser empregada neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s três<br />

capítulos da mesma, consiste na articulação <strong>de</strong> diferentes méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa,<br />

on<strong>de</strong> os da<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s nas formas <strong>de</strong> tabelas, <strong>de</strong> quadros e <strong>de</strong> gráficos,<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma extensa pesquisa realizada tanto em fontes primárias como em<br />

fontes secundárias.<br />

Como fontes primárias, são pesquisa<strong>do</strong>s relatórios <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s pela<br />

Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Goiás, relatórios <strong>do</strong> governo Pedro Lu<strong>do</strong>vico, recenseamentos e<br />

censos, jornais da época. Toda <strong>do</strong>cumentação <strong>de</strong>ste trabalho é acessada no<br />

Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Artístico Nacional <strong>de</strong> Minas Gerais, Instituto Histórico e<br />

Geográfico <strong>de</strong> Goiás, Arquivo Histórico <strong>de</strong> Goiás, arquivos pessoais. Entrevistas<br />

Capa Índice 13291<br />

3


com ex-ferroviários da EFG se fazem presentes, reforçan<strong>do</strong> a relevância da história<br />

oral neste trabalho. Uma robusta bibliografia sobre o assunto, como fontes<br />

secundárias, é também usada nesta pesquisa.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Ciência econômica é uma ciência social que para Vasconcelos (2001) estuda como<br />

o indivíduo e a socieda<strong>de</strong> utilizam recursos produtivos que são finitos <strong>de</strong> maneira a<br />

melhor distribuí-los ás pessoas que tem necessida<strong>de</strong>s ilimitadas. Ao mesmo tempo,<br />

Men<strong>de</strong>s (1989) afirma que os fatores <strong>de</strong> produção formam a base <strong>de</strong> qualquer<br />

economia, satisfazen<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s humanas, sen<strong>do</strong> a terra, enquanto recurso<br />

natural, entendida como fator <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> bens e <strong>de</strong> serviços. Portanto, po<strong>de</strong>-se<br />

enten<strong>de</strong>r que num primeiro momento a terra <strong>de</strong>ve cumprir a sua função econômica,<br />

divorciada <strong>de</strong> outras preocupações, tais como as ambientais.<br />

As alterações com a construção da ferrovias em Goiás, no início <strong>do</strong> século XX,<br />

compreendidas como “Expansão <strong>de</strong> Fronteiras”, on<strong>de</strong> segun<strong>do</strong> Martins (1997),<br />

ocorre em <strong>do</strong>is momentos, sen<strong>do</strong> que a frente pioneira se <strong>de</strong>fine pela presença <strong>do</strong><br />

capital na produção e a frente <strong>de</strong> expansão que percebe a ocupação <strong>do</strong> espaço sem<br />

mediação <strong>do</strong> capital. Portanto, os trilhos em solo goiano, instrumento local <strong>do</strong><br />

sistema capitalista <strong>de</strong> produção, se justificam como frente pioneira. Elaboran<strong>do</strong> um<br />

novo mo<strong>de</strong>lo teórico para explicar o processo <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> fronteira, além das<br />

visões tradicionais, Miziara e Ferreira (2008) incorporam as ações <strong>do</strong>s indivíduos ao<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fronteiras, no qual os fatores estruturais, para <strong>de</strong>terminação da mesma,<br />

passam pela presença <strong>de</strong> um novo padrão tecnológico.<br />

Para Sachys (2002), no <strong>de</strong>senvolvimento sustentável a ativida<strong>de</strong> econômica não<br />

precisa provocar efeitos nocivos ao meio ambiente. Contu<strong>do</strong>, a expansão que os<br />

trilhos <strong>de</strong>finiam à época em Goiás pressupunha a visão da existência <strong>de</strong> recursos<br />

ambientais inesgotáveis, representa<strong>do</strong>s pre<strong>do</strong>minantemente pelo cerra<strong>do</strong> goiano, o<br />

que não justificativa então a necessária preocupação preservacionista, tanto pelos<br />

dirigentes da Estrada como pelos <strong>de</strong>mais agentes econômicos <strong>de</strong> Goiás. Vale dizer<br />

que no perío<strong>do</strong> aludi<strong>do</strong>, tanto no Brasil como em Goiás, a legislação e os órgãos <strong>de</strong><br />

fiscalização ambiental eram algo em formação, com pouca ou nenhuma expressão.<br />

Capa Índice 13292<br />

4


Conclusões<br />

Como parte das conclusões parciais <strong>de</strong>ste trabalho, po<strong>de</strong>-se afirmar que o<br />

nascimento da Estrada <strong>de</strong> Ferro Goiás serviu aos interesses capitalistas em Goiás,<br />

enquanto frente pioneira <strong>de</strong> expansão. Essa ferrovia se apresentou como um <strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

crescimento da economia goiana, crian<strong>do</strong> as condições necessárias à mo<strong>de</strong>rnização<br />

da pecuária e da agricultura local. Portanto, os trilhos colaboraram para o aumento<br />

significativo da produção econômica da região, expandin<strong>do</strong> suas relações<br />

comerciais, sen<strong>do</strong> instrumento direto e indireto das transformações ambientais,<br />

econômicas e sociais em Goiás, no perío<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1913 a 1940.<br />

Com o apito da locomotiva se anunciou aos quatro cantos a chegada <strong>do</strong> novo, <strong>do</strong><br />

mo<strong>de</strong>rno, <strong>do</strong> progresso e da riqueza neste Esta<strong>do</strong>. O seu barulho serviu para dar<br />

conhecimento a to<strong>do</strong>s das alterações regionais da frente <strong>de</strong> expansão em Goiás<br />

para a frente pioneira, providas esta <strong>de</strong> relações capitalistas <strong>de</strong> produção on<strong>de</strong> o<br />

trem <strong>de</strong> ferro foi o gran<strong>de</strong> instrumento das transformações ocorridas em Goiás à<br />

época.<br />

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8. VASCONCELLOS, Marco Antonio S. <strong>de</strong>. Economia. Micro e Macro. 2. ed.<br />

São Paulo: Atlas, 2001.<br />

Capa Índice 13293<br />

5


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13294 - 13298<br />

Anatomia <strong>do</strong>s músculos bíceps e tríceps braquial no tamanduá ban<strong>de</strong>ira<br />

(Myrmecophaga tridactyla, Linnaeus, 1758)<br />

Paulo Roberto <strong>de</strong> SOUZA I ; Eugênio Gonçalves <strong>de</strong> ARAÚJO II ; Júlio Roquete<br />

CARDOSO I ; Paulo Cesar MOREIRA I ; Viviane Souza CRUZ I ; Marcelo Seixo <strong>de</strong><br />

Brito e SILVA I ; Alberto Correa MENDONÇA I<br />

I. Departamento <strong>de</strong> Morfologia- ICB- <strong>UFG</strong>. paulobto@hotmail.com,<br />

juliorcar<strong>do</strong>so@gmail.com, paulocesar.8888@gmail.com,<br />

souzacruzviviane@gmail.com, marceloseixo@hotmail.com,<br />

albertoanatomia@hotmail.com<br />

II. Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária, EVZ- <strong>UFG</strong>. earaujo@vet.ufg.br<br />

Palavras-chave: músculos <strong>do</strong> braço, Myrmecophagidae, Xenarthra<br />

Introdução<br />

O tamanduá ban<strong>de</strong>ira (Myrmecophaga tridactyla) pertence ao ramo <strong>do</strong>s<br />

mamíferos placentários, super or<strong>de</strong>m Xenarthra (caracteriza<strong>do</strong> pelo processo<br />

xenártrico em suas vértebras), or<strong>de</strong>m Pilosa, subor<strong>de</strong>m Vermilingua e família<br />

Myrmecophagidae. A distribuição <strong>de</strong>sta espécie se esten<strong>de</strong> <strong>do</strong> sul da<br />

Guatemala até o norte da Argentina, incluin<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o território brasileiro.<br />

(GREGORINI et al., 2007). A International Union for Conservation of Nature<br />

2010 (IUCN) consi<strong>de</strong>ra o tamanduá ban<strong>de</strong>ira como uma espécie quase<br />

ameaçada. O meio científico enten<strong>de</strong> que ações antrópicas aceleram a<br />

extinção das espécies (REZENDE et al., 2010), como modificação <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formigas e cupins (que compreen<strong>de</strong>m sua principal fonte <strong>de</strong><br />

alimento) e caça (MEDRI & MOURÃO, 2005).<br />

Os músculos bíceps e tríceps braquial constituem importantes massas<br />

musculares antagonistas para as articulações escápulo-umeral e úmero-<br />

radioulnar (GETTY, 1986; EVANS & LAHUNTA, 2001) e, no tamanduá, estes<br />

músculos integram um grupo <strong>de</strong> especializações anatômicas <strong>do</strong> membro<br />

torácico, que estão diretamente envolvidas com o comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e<br />

obtenção <strong>de</strong> alimento (TAYLOR, 1978). Portanto, o objetivo <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> foi<br />

<strong>de</strong>screver a anatomia <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is músculos no que se refere à topografia,<br />

Capa Índice 13294


fixações, relações topográficas, inervação e, a partir <strong>de</strong>stas informações, inferir<br />

a ação <strong>do</strong>s mesmos na biomecânica <strong>do</strong> membro.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> cinco exemplares <strong>de</strong> tamanduá<br />

ban<strong>de</strong>ira, adultos, cedi<strong>do</strong>s pelo Centro <strong>de</strong> Triagem <strong>de</strong> Animais Silvestres<br />

(CETAS) – IBAMA-GO (licença 99/2011). O projeto foi aprova<strong>do</strong> pela comissão<br />

<strong>de</strong> ética no uso <strong>de</strong> animais (Processo CEUA-<strong>UFG</strong> no. 015/11). O preparo,<br />

alojamento e dissecação <strong>do</strong>s cadáveres ocorreu no Laboratório <strong>de</strong> Anatomia<br />

Animal <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas (ICB), da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás (<strong>UFG</strong>). O <strong>de</strong>scongelamento se <strong>de</strong>u à temperatura ambiente por um<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 48 h e em seguida foram higieniza<strong>do</strong>s em água corrente e fixa<strong>do</strong>s,<br />

por meio <strong>de</strong> injeção intra-arterial <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> formol a 10%. Na dissecação,<br />

foi removida a pele e, em segun<strong>do</strong> plano, a fáscia superficial. Em sequência,<br />

foram removidas as lâminas musculares superficiais, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> os<br />

músculos <strong>do</strong> braço bem como vasos e nervos da região. Os resulta<strong>do</strong>s foram<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> fotografias, obtidas com uma câmera digital (Canon<br />

EOS 50D).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

O músculo bíceps braquial <strong>do</strong> M. tridactyla apresenta duas cabeças,<br />

assim como <strong>de</strong>scrito em humanos (MOORE & DALLEY, 2001), em pandas<br />

vermelhos (FISHER et al., 2009) e em primatas (CRIBILLERO, 2009). A<br />

cabeça curta origina-se na face craniomedial <strong>do</strong> colo da escápula em um<br />

tendão comum com o músculo coracobraquial. A cabeça longa origina-se na<br />

tuberosida<strong>de</strong> da escápula. Os acha<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> diferem <strong>do</strong>s relata<strong>do</strong>s em<br />

animais <strong>do</strong>mésticos (EVANS & LAHUNTA, 2001; KÖNIG & LIEBICH, 2006) e<br />

em quatis (SANTOS et al., 2010b), on<strong>de</strong> o bíceps braquial apresenta apenas<br />

uma porção e, logo, um único ponto <strong>de</strong> origem.<br />

A cabeça longa cruza a face cranial da articulação <strong>do</strong> ombro e seque em<br />

senti<strong>do</strong> distal em contato com o úmero e insere-se na tuberosida<strong>de</strong> radial,<br />

localizada na face medial da cabeça <strong>do</strong> rádio, junto à cabeça curta e na<br />

Capa Índice 13295


tuberosida<strong>de</strong> ulnar, localizada na face cranial da extremida<strong>de</strong> proximal da ulna,<br />

medialmente à inserção <strong>do</strong> músculo braquial.<br />

A cabeça curta atravessa a face medial da articulação <strong>do</strong> ombro em<br />

tendão comum com o músculo coracobraquial. Em seguida, separa-se <strong>de</strong>sse<br />

músculo e cruza o úmero obliquamente no senti<strong>do</strong> distal e cranial, em contato<br />

com o nervo musculocutâneo e termina inserin<strong>do</strong>-se no rádio em tendão<br />

comum com o da inserção da cabeça longa. A inervação é realizada pelo nervo<br />

musculocutâneo, coincidin<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>scrita em outras espécies (MOORE &<br />

DALLEY, 2000; EVANS & LAHUNTA, 2001; KÖNIG & LIEBICH, 2006).<br />

A ação <strong>do</strong> músculo bíceps braquial no M. tridactyla, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às suas<br />

características anatômicas, assemelha-se à <strong>de</strong>scrita em humanos (MOORE &<br />

DALLEY, 2001) e outros primatas (CRIBILLERO, 2009). A cabeça longa, assim<br />

como nos mamíferos, promove extensão da articulação <strong>do</strong> ombro e flexão da<br />

articulação <strong>do</strong> cotovelo e pronação <strong>do</strong> antebraço. A cabeça curta promove<br />

adução <strong>do</strong> braço, flexão da articulação <strong>do</strong> cotovelo e pronação <strong>do</strong> antebraço.<br />

O músculo tríceps braquial ocupa o espaço caudal à articulação <strong>do</strong><br />

ombro, entre a escápula e o úmero. As fibras musculares <strong>de</strong> todas as cabeças<br />

seguem no senti<strong>do</strong> distal para inserir na tuberosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> olécrano, como<br />

<strong>de</strong>scrito em mamíferos (GETTY, 1986; KÖNIG & LIEBICH, 2006). Ele<br />

apresenta três cabeças, como nos primatas (CRIBILLERO, 2009), puma<br />

(CONCHA et al., 2004), hipopótamo pigmeu (FISHER et al., 2007), equino e<br />

suíno (KÖNIG & LIEBICH, 2006). Bovinos, ovinos, caprinos e carnívoros<br />

apresentam quatro cabeças (GETTY, 1986) e os cetáceos apenas duas<br />

(COOPER et al., 2007).<br />

A cabeça longa é a mais <strong>de</strong>senvolvida e está em contato, em sua face<br />

profunda, com a cabeça lateral e com o músculo <strong>de</strong>ltói<strong>de</strong> escapular e a face<br />

caudal está em contato com os músculos re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> maior e tensor da fáscia <strong>do</strong><br />

antebraço. Tem uma ampla origem, que inclui a espinha da escápula, face<br />

lateral da escápula entre as inserções <strong>do</strong>s músculos <strong>de</strong>ltói<strong>de</strong> e re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> maior e<br />

borda caudal da escápula próximo à articulação <strong>do</strong> ombro.<br />

A cabeça medial, <strong>de</strong>scrita no tamanduá mirim como músculo<br />

anconeoepitroclear por TAYLOR (1978), origina-se na crista epicondilar medial<br />

<strong>do</strong> úmero. Relaciona-se na sua face profunda com o nervo ulnar e com a<br />

cabeça radial <strong>do</strong> músculo flexor digital profun<strong>do</strong>.<br />

Capa Índice 13296


A cabeça lateral é espessa e relaciona-se com a face profunda da<br />

cabeça longa e com a borda caudal <strong>do</strong> músculo <strong>de</strong>ltói<strong>de</strong>. Origina-se na face<br />

lateral e caudal no terço proximal <strong>do</strong> úmero e insere-se tanto no olecrano,<br />

quanto na fáscia <strong>do</strong> antebraço, auxilian<strong>do</strong> na tensão da mesma.<br />

A inervação <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o músculo é realizada pelo nervo radial, coincidin<strong>do</strong><br />

com a <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais mamíferos (MOORE & DALLEY, 2000; EVANS &<br />

LAHUNTA, 2001; KÖNIG & LIEBICH, 2006, CRIBILLERO, 2009). O tríceps<br />

comporta-se como um potente extensor da articulação <strong>do</strong> cotovelo. Em adição,<br />

a cabeça longa flexiona o ombro e a cabeça medial promove adução da ulna<br />

durante a supinação, equivalen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> forma geral à ação <strong>de</strong>ste músculo em<br />

outros mamíferos (GETTY, 1986; MOORE & DALLEY, 2000; EVANS &<br />

LAHUNTA, 2001).<br />

Conclusões<br />

Os músculos bíceps e tríceps braquial <strong>do</strong> M. tridactyla, apesar <strong>de</strong><br />

compartilharem <strong>de</strong> características em comum com os <strong>de</strong> outros mamíferos,<br />

apresentam algumas peculiarida<strong>de</strong>s, como a presença <strong>de</strong> duas cabeças<br />

compon<strong>do</strong> o bíceps braquial, com origem e inserção distintas e a ausência da<br />

cabeça acessória no músculo tríceps braquial.<br />

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Capa Índice 13297


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Capa Índice 13298


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13299 - 13303<br />

Níveis <strong>de</strong> substituição <strong>do</strong> grão <strong>de</strong> milho tritura<strong>do</strong> por casca <strong>do</strong> grão <strong>de</strong> soja em<br />

dietas <strong>de</strong> alta inclusão <strong>de</strong> concentra<strong>do</strong> para fêmeas bovinas confinadas 1<br />

Pedro Leonar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paula REZENDE 2 ; João RESTLE 3 ; Juliano José <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong><br />

FERNANDES 3 ; Rayane Galdino MENEZES 2 ; Sergio Fernan<strong>de</strong>s FERREIRA 2 ;<br />

Alexandre Arantes MISZURA 4 ; Denis Rodrigues SILVA 4<br />

1Parte da tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiro autor.<br />

2Pós-graduan<strong>do</strong> no PPG em Ciência Animal – EVZ/<strong>UFG</strong>; e-mail: pedrozootec@hotmail.com<br />

3Professor <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Produção Animal – EVZ/<strong>UFG</strong>.<br />

4Graduan<strong>do</strong> em Medicina Veterinária – EVZ/<strong>UFG</strong><br />

PALAVRAS-CHAVE: Co-Produtos, confinamento, energia, ganho em peso.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Com objetivo <strong>de</strong> reduzir a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abate <strong>do</strong>s animais e manter a oferta <strong>de</strong><br />

carne constante durante o ano, a terminação <strong>de</strong> bovinos em regime <strong>de</strong> confinamento<br />

vem aumentan<strong>do</strong> no Brasil. Segun<strong>do</strong> ANUALPEC (2011), estima-se que em 2012<br />

sejam termina<strong>do</strong>s 3,2 milhões <strong>de</strong> cabeças em confinamento. No entanto, é um<br />

processo oneroso, no qual a alimentação (volumoso mais concentra<strong>do</strong>) representa,<br />

segun<strong>do</strong> Pacheco et al. (2006), acima <strong>de</strong> 73,90% <strong>do</strong> custo da terminação e os<br />

alimentos concentra<strong>do</strong>s representam 56,65% <strong>do</strong> custo com alimentação. Segun<strong>do</strong><br />

Restle & Vaz (1999), os alimentos representam cerca <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong> custo total <strong>do</strong><br />

confinamento e a fração concentrada correspon<strong>de</strong> à aproximadamente <strong>do</strong>is terços<br />

<strong>de</strong>ste valor.<br />

O grão <strong>de</strong> milho tritura<strong>do</strong> é a principal fonte energética nas dietas <strong>de</strong> bovinos<br />

em confinamento, constituin<strong>do</strong> o ingrediente que mais onera os custos <strong>do</strong><br />

concentra<strong>do</strong> e da dieta total. Diante disso a avaliação <strong>de</strong> fontes energéticas<br />

alternativas ao milho tem por objetivo reduzir os custos com alimentação, por meio<br />

<strong>de</strong> sua substituição total ou parcial, por ingredientes com características econômicas<br />

e nutricionais <strong>de</strong>sejáveis.<br />

O aumento da <strong>de</strong>manda mundial por alimentos tem resulta<strong>do</strong> em elevação na<br />

produção e processamento industrial <strong>de</strong> grãos, elevan<strong>do</strong> significativamente o<br />

Capa Índice 13299


quantitativo <strong>de</strong> subprodutos, co-produtos e resíduos agroindustriais provenientes<br />

<strong>de</strong>ste processo. Os co-produtos têm recebi<strong>do</strong> especial atenção <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua utilização em formulação <strong>de</strong> dietas para bovinos em<br />

confinamento. A utilização <strong>do</strong>s co-produtos na alimentação animal é importante, haja<br />

vista a gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> em merca<strong>do</strong>s estrutura<strong>do</strong>s para sua comercialização<br />

com custos reduzi<strong>do</strong>s (MENDES et al., 2005).<br />

Com o crescimento na produção e processamento <strong>de</strong> grãos, tornaram-se<br />

disponíveis co-produtos agroindustriais que possuem características nutricionais<br />

a<strong>de</strong>quadas para a introdução na dieta <strong>de</strong> bovinos em confinamento, <strong>de</strong>ntre os quais,<br />

<strong>de</strong>staca-se a casca <strong>do</strong> grão <strong>de</strong> soja, que possui proprieda<strong>de</strong>s nutricionais <strong>de</strong> fonte<br />

energética potencialmente substitutiva ao grão <strong>de</strong> milho em dietas para bovinos<br />

confina<strong>do</strong>s.<br />

A soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três<br />

décadas e correspon<strong>de</strong> a 49% da área plantada em grãos <strong>do</strong> país (BRASIL, 2011).<br />

Estes da<strong>do</strong>s consolidaram o Brasil como o maior exporta<strong>do</strong>r e o segun<strong>do</strong> maior<br />

produtor <strong>do</strong> complexo soja <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (BRASIL, 2011). Na safra 2010/2011, produziu<br />

o recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 75,32 milhões <strong>de</strong> toneladas (CONAB, 2011). A indústria<br />

nacional transforma, por ano, cerca <strong>de</strong> 30,7 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> soja para<br />

extração <strong>de</strong> óleo (BRASIL, 2011). Para cada tonelada <strong>de</strong> soja processada, obtêm-se<br />

aproximadamente 180 kg <strong>de</strong> óleo, 710 kg <strong>de</strong> farelo e cerca <strong>de</strong> 60 kg (5 a 8%) <strong>de</strong><br />

cascas (BLASI et al., 2000). Esses da<strong>do</strong>s apontam para crescente disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

casca <strong>de</strong> soja para alimentação animal em função <strong>do</strong>s altos níveis <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

e aumento da área plantada com soja constatada nos últimos anos no Brasil.<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos o processamento anual <strong>de</strong> 30 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> soja<br />

e um rendimento médio <strong>de</strong> 8 kg <strong>de</strong> casca <strong>de</strong> soja para cada 100 kg <strong>de</strong> soja<br />

esmagada, a produção brasileira anual <strong>de</strong> casca <strong>de</strong> soja po<strong>de</strong> ser estimada em 2,44<br />

milhões <strong>de</strong> toneladas, o que representa 84,0% da <strong>de</strong>manda brasileira anual <strong>de</strong> milho<br />

para bovinocultura. Diante disso, objetivou-se com este estu<strong>do</strong> avaliar a substituição<br />

<strong>do</strong> grão <strong>de</strong> milho tritura<strong>do</strong> pela casca <strong>do</strong> grão <strong>de</strong> soja na terminação <strong>de</strong> fêmeas<br />

bovinas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte em confinamento, submetidas a dietas com alta inclusão <strong>de</strong><br />

concentra<strong>do</strong>.<br />

2 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Capa Índice 13300


O experimento foi conduzi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2010 à 22 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 2011, no confinamento experimental <strong>do</strong> Setor <strong>de</strong> Pecuária <strong>do</strong> Centro<br />

Tecnológico da Cooperativa Agroindustrial <strong>do</strong>s Produtores Rurais <strong>do</strong> Su<strong>do</strong>este<br />

Goiano (COMIGO) no município <strong>de</strong> Rio Ver<strong>de</strong> - Goiás, com elevação <strong>de</strong> 846m,<br />

latitu<strong>de</strong> 17º46’13.50’’ Sul e longitu<strong>de</strong> 51º02”08.23’’Oeste.<br />

Foram utilizadas 140 novilhas Nelore <strong>de</strong> 24 a 30 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

provenientes <strong>do</strong> mesmo rebanho, com peso vivo médio <strong>de</strong> 263,40 + 13,90kg no início<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> experimental. Os animais foram termina<strong>do</strong>s em instalações <strong>de</strong><br />

confinamento constituídas por 16 baias coletivas <strong>de</strong> 10,00 x 7,70m, equipadas com<br />

come<strong>do</strong>uros coletivos <strong>de</strong> 1,15m lineares/animal e bebe<strong>do</strong>uros <strong>de</strong> enchimento<br />

automático. Os animais foram pesa<strong>do</strong>s e distribuí<strong>do</strong>s em número <strong>de</strong> 9 animais por<br />

baia, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à 8,50m 2 /animal. No início <strong>do</strong> confinamento os animais foram<br />

previamente adapta<strong>do</strong>s as dietas e instalações durante 15 dias, antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> experimental que durou 97 dias, totalizan<strong>do</strong> 112 dias até a obtenção <strong>do</strong><br />

peso vivo <strong>de</strong> abate (PVA) pretendi<strong>do</strong> <strong>de</strong> 360,0 kg na média <strong>do</strong> lote.<br />

Ao início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> experimental os animais foram trata<strong>do</strong>s contra ecto e<br />

en<strong>do</strong>parasitas e realizadas as medidas profiláticas, conforme calendário oficial da<br />

região. Os animais foram alimenta<strong>do</strong>s com dietas isonitrogenadas, formuladas<br />

conforme exigências sugeridas pelo NRC (1996) que permitiria ganho em peso<br />

diário estima<strong>do</strong> em 1,2 kg/dia. A ração foi fornecida ad libitum, <strong>de</strong> forma a permitir<br />

10% <strong>de</strong> sobras, distribuída em vagão forrageiro duas vezes ao dia, pela manha e à<br />

tar<strong>de</strong>, ás 08:00 e 17:00 horas, respectivamente. As dietas eram compostas por 10%<br />

<strong>de</strong> silagem <strong>de</strong> milho e 90% <strong>de</strong> concentra<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> milho moí<strong>do</strong> e/ou casca<br />

<strong>de</strong> soja farelada, farelo <strong>de</strong> soja e mistura mineral conforme proporções <strong>de</strong>scritas na<br />

tabela 1. Avaliou-se a substituição <strong>do</strong> grão <strong>de</strong> milho tritura<strong>do</strong> pela casca <strong>do</strong> grão <strong>de</strong><br />

soja (Glycine max) farelada, na porção concentrada da dieta, por meio <strong>do</strong>s seguintes<br />

níveis: T1 (100% milho), T2 (33,33% CS + 66,66% milho), T3 (66,66 CS + 33,33%<br />

milho) e T4 (100% CS).<br />

Por ocasião das pesagens, a cada 21 dias foram avalia<strong>do</strong>s os parâmetros <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho com base nos da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> peso inicial (PI); peso final (PF); ganho em<br />

peso médio diário (GMD) - obti<strong>do</strong> por meio da subtração <strong>do</strong> PF-PI/nº <strong>de</strong> dias e<br />

ganho em peso total (GPT) - obti<strong>do</strong> por meio da subtração <strong>do</strong> PF-PI.<br />

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Capa Índice 13301


Constatou-se efeito linear <strong>de</strong>crescente significativo (p


ANUALPEC - Anuário da Pecuária Brasileira. 1 ed. São Paulo. INSTITUTO FNP.<br />

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PACHECO, P.S.; RESTLE, J.; VAZ, F.N. et al. Avaliação econômica da terminação<br />

em confinamento <strong>de</strong> novilhos jovens e superjovens <strong>de</strong> diferentes grupos genéticos.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Zootecnia, v.35, n.1, p.309-320, 2006.<br />

RESTLE, J.; VAZ, F.N. Confinamento <strong>de</strong> bovinos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s e cruza<strong>do</strong>s. In: LOBATO,<br />

J.F.P.; BARCELLOS, J.O.J.; KESSLER, A.M. (Eds.) Produção <strong>de</strong> bovinos <strong>de</strong> corte.<br />

Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. p.141-198.<br />

Capa Índice 13303


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13304 - 13308<br />

Tiossemicarbazida R-(+)-limoneno: avaliação da citotoxicida<strong>de</strong> basal.<br />

1 Polyana Lopes Benfica MIRANDA; 1 Marize Campos Valadares BOZINIS; 1 Bruna<br />

<strong>do</strong>s Santos RODRIGUES; 2 Cecília Maria Alves <strong>de</strong> OLIVEIRA. 1 Laboratório <strong>de</strong><br />

Farmacologia e Toxicologia Celular- FARMATEC, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia, <strong>UFG</strong>,<br />

Goiânia-GO. 2 Laboratório <strong>de</strong> Bioativida<strong>de</strong> Molecular- Instituto <strong>de</strong> Química, <strong>UFG</strong>,<br />

Goiânia-GO.<br />

polybenfica@gmail.com<br />

Palavras-chave: tiossemicarbazida R-(+)-limoneno; antitumoral; citotoxicida<strong>de</strong> basal.<br />

1- INTRODUÇÃO<br />

Nas últimas décadas o câncer vem se <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> como um gran<strong>de</strong> problema<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>do</strong>s países <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e em <strong>de</strong>senvolvimento. Segun<strong>do</strong> a<br />

Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> 7,6 milhões <strong>de</strong> pessoas morreram <strong>de</strong> câncer em<br />

2008, e estimativas projetam um aumento para 12 milhões em 2030 (OMS, 2009).<br />

Atualmente, os agentes quimioterápicos emprega<strong>do</strong>s no controle <strong>do</strong> câncer<br />

apresentam resulta<strong>do</strong>s limitantes, assim a pesquisa e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas<br />

drogas são bastante <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s. Nesta perpesctiva, o avanço das pesquisas <strong>de</strong><br />

novos agentes antitumorais a partir <strong>do</strong>s produtos naturais e seus <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s vem<br />

apresentan<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s apreciáveis.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> obter compostos com ativida<strong>de</strong> biológica e efeitos tóxicos<br />

reduzi<strong>do</strong>s, Vandresen, 2011, sintetizou compostos (tiossemicarbazonas e 1,3,4-<br />

tiadizóis) que possuem como substrato sintético o limoneno, este se <strong>de</strong>staca com<br />

um espectro amplo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> biológica. Neste trabalho, o composto<br />

tiossemicarbazona <strong>do</strong> R-(+)-limoneno se <strong>de</strong>stacou por apresentar uma ativida<strong>de</strong><br />

antitumoral e seletiva para células tumorais <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama.<br />

Este composto apresenta várias características que o elegem como uma<br />

molécula promissora a fármaco antitumoral. A pesquisa da segurança e eficácia na<br />

fase pré-clinica <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o avanço da investigação.<br />

As técnicas in vitro <strong>de</strong> avaliação da citotoxicida<strong>de</strong> utilizan<strong>do</strong> culturas <strong>de</strong> células são<br />

ferramentas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância e utilida<strong>de</strong> prática, uma vez que fornecem<br />

conhecimentos sobre os efeitos tóxicos causa<strong>do</strong>s por agentes químicos e estimam<br />

Capa Índice 13304


estes efeitos em humanos. Além disso, são alternativas aos testes in vivo, ten<strong>do</strong> em<br />

vista a minimização <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> experimentação (SORAGGI, 2006).<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi avaliar a segurança da molécula<br />

tiossemicarbazona <strong>do</strong> R-(+)-limoneno utilizan<strong>do</strong> testes in vitro <strong>de</strong> citotoxicida<strong>de</strong> em<br />

células basais.<br />

2- MATERIAL E MÉTODO<br />

A molécula tiossemicarbazida R-(+)-limoneno (TSClim) foi forneci<strong>do</strong> pelo<br />

laboratório <strong>de</strong> Química da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Química, <strong>UFG</strong>, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Professora<br />

Drª Cecília Maria Alves <strong>de</strong> Oliveira, para objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. O TSClim (P.M: 227), foi<br />

solubiliza<strong>do</strong> em DMSO na concentração 1mg/mL.<br />

Utilizamos a linhagem basal 3T3 proveniente <strong>do</strong> “America Type Culture<br />

Collection”, Rockville, Maryland, USA. As células são mantidas em cultura em meio<br />

DMEM (Sigma, St. Louis, MO) suplementa<strong>do</strong> com 10% <strong>de</strong> soro bovino fetal<br />

(Gibco) e 1% <strong>de</strong> L-glutamina, eritromicina e estreptomicina (Sigma) em estufa<br />

com 5% <strong>de</strong> CO2 a uma temperatura constante <strong>de</strong> 37ºC.<br />

Na avaliação da citotoxicida<strong>de</strong> basal, as células 3T3 (1x10 5 células/mL) foram<br />

cultivadas em placa <strong>de</strong> 96 poços e, após 24 horas, exposta ao TSClim (0,44 - 0,003<br />

µM). A placa foi incubada por 24 h em estufa a 37ºC em presença <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> CO2.<br />

Após a exposição, adicionou-se solução <strong>de</strong> vermelho neutro e incubou-se a placa<br />

novamente por 4 horas.Posteriormente, a placa foi lavada com PBS. Acrescentou-se<br />

solução revela<strong>do</strong>ra e após solubilização fez-se a leitura no espectrofotômetro<br />

(Thermo Multiskan Spectrum Rea<strong>de</strong>r) com comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 560 nm. A<br />

absorbância obtida das células-controle foi consi<strong>de</strong>rada como 100% <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong><br />

celular. Foram realiza<strong>do</strong>s três experimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Para avaliar o potencial hemolítico o sangue <strong>de</strong> camun<strong>do</strong>ngo foi lava<strong>do</strong> três<br />

vezes com PBS. Preparou-se uma solução <strong>de</strong> eritrócitos a 2% (v/v), o branco (PBS),<br />

o controle negativo (10% <strong>de</strong> DMSO), o controle positivo (Triton X-100) e a amostra<br />

teste nas concentrações (0,44 - 0,001 µM). Em seguida, a solução <strong>de</strong> eritrócitos a<br />

2% foi adicionada. A placa foi incubada sob agitação constante a temperatura<br />

ambiente. Centrifugada a 1500 rpm, 10 minutos. O sobrenadante foi retira<strong>do</strong> e<br />

Capa Índice 13305


transferi<strong>do</strong> para outra placa. Realizou-se a leitura da absorbância em comprimento<br />

<strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 415 nm.<br />

Na avaliação <strong>do</strong> potencial mielotóxico os camun<strong>do</strong>ngos foram eutanasia<strong>do</strong>s<br />

com 1 mL <strong>de</strong> uma mistura (1:1) <strong>de</strong> ketamina/xilazina para extração <strong>do</strong>s fêmures. As<br />

células da medula óssea <strong>de</strong> cada fêmur foram retiradas com auxílio <strong>de</strong> agulha e<br />

seringa e transferidas para um tubo conten<strong>do</strong> 10 mL meio RPMI-1640. As células<br />

foram lavadas 2x a 1500 rpm por 10 minutos, o botão celular foi ressuspendi<strong>do</strong> e o<br />

número <strong>de</strong> células foi conta<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong> a câmara <strong>de</strong> Neubauer. Posteriormente,<br />

preparou-se uma suspensão celular com 1x10 5 células/mL composta por meio<br />

DMEM 2x concentra<strong>do</strong>, ágar (Bacto-ágar Difico) e suplementa<strong>do</strong> com SFB.<br />

Cultivaram-se as células em placa <strong>de</strong> Petri <strong>de</strong> 35x10 mm estéril, sob estimulo <strong>de</strong><br />

GM-CSF (Granulocyte Macrophage Colony Stimulating Factor- Sigma TM ) e exposta<br />

ao TSClim (0,44 - 0,003 µM). As placas foram incubadas por 7 dias em estufa a<br />

37ºC e na presença <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> CO2. Após esse perío<strong>do</strong>, a contagem das colônias<br />

clonais foi feita sob com auxílio <strong>de</strong> uma lupa Leica MZ6 e foram comparadas ao<br />

controle, que foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> com 100% <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>. Foram realiza<strong>do</strong>s três<br />

experimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Para análise estatística os resulta<strong>do</strong>s das avaliações da citotoxicida<strong>de</strong> foram<br />

expressos em média e <strong>de</strong>svio padrão. Foram transforma<strong>do</strong>s em porcentagem <strong>do</strong><br />

controle, e a IC50 (concentração inibitória 50%) foi obtida por regressão não-linear e<br />

graficamente representada pela curva <strong>do</strong>se-resposta. A diferença entre controle e<br />

células tratadas com TSClim foi avaliada usan<strong>do</strong> teste t não parea<strong>do</strong>, a diferença<br />

entre grupos por análise <strong>de</strong> variância (ANOVA) e o teste <strong>de</strong> Tukey para múltiplas<br />

comparações. A significância estatística foi consi<strong>de</strong>rada quan<strong>do</strong> p < 0.05. As<br />

análises estatísticas foram realizadas usan<strong>do</strong> o software GraphPad Prism (versão<br />

5.0).<br />

3- RESULTADO E DISCUSSÃO<br />

Atualmente, os testes <strong>de</strong> citotoxicida<strong>de</strong> em células basais são uma importante<br />

ferramenta na avaliação da segurança <strong>de</strong> novos compostos terapêuticos. Em nosso<br />

estu<strong>do</strong>, para avaliar a citotoxicida<strong>de</strong> basal <strong>do</strong> composto TSClim foi realiza<strong>do</strong> o teste<br />

<strong>de</strong> incorporação <strong>do</strong> vermelho neutro em células basais 3T3. Como mostra a figura 1,<br />

a molécula apresentou citotoxicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>se-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte com IC50 0,02 µM, a partir<br />

Capa Índice 13306


<strong>de</strong>ste da<strong>do</strong> po<strong>de</strong>mos estimar a DL50 segun<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> classes da OECD423<br />

(VIEIRA et al, 2011).<br />

Figura 1: Viabilida<strong>de</strong> da linhagem basal 3T3 após 24 horas <strong>de</strong> exposição a TSClim (0,44 – 0,003<br />

µM), incubadas a 37ºC, 5% <strong>de</strong> CO2, <strong>de</strong>terminada pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> inclusão <strong>do</strong> vermelho<br />

neutro. Cada ponto representa a média e ± <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> três experimentos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. ANOVA, Teste Tukey.<br />

Para avaliar uma possível correlação entre a citotoxicida<strong>de</strong> apresentada pelo<br />

TSClim e os danos inespecíficos na membrana plasmática celular, realizamos o<br />

ensaio <strong>de</strong> hemólise em eritrócitos <strong>de</strong> camun<strong>do</strong>ngo. A presença <strong>de</strong> hemólise sugere<br />

toxicida<strong>de</strong> ampla e inespecífica, on<strong>de</strong> o composto não po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> diretamente<br />

como antitumoral( SANTOS et al, 2010). Como mostra a figura 2 esta molécula não<br />

apresentou ativida<strong>de</strong> hemolítica, CE50 0,0013 µM, com percentual <strong>de</strong> hemólise<br />

menor que 5%, sugerin<strong>do</strong> citotoxicida<strong>de</strong> específica e seletiva.<br />

Figura 2: Potencial hemolítico <strong>do</strong> TSClim (0,44 – 0,003 µM). Cada ponto representa a média e ±<br />

<strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> três experimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. ANOVA, Teste Tukey<br />

A investigação <strong>do</strong> potencial mielotóxico foi realizada pelo ensaio clonogênico<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s forma<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> colônia granulócitos-macrófagos (CFU-GM). A figura 3<br />

mostra <strong>de</strong> forma <strong>do</strong>se-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a toxicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> TSClim em células normais <strong>de</strong><br />

medula óssea IC50 0,08 µM, parâmetro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância na investigação da<br />

segurança <strong>de</strong>ste composto.<br />

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Figura 2: Unida<strong>de</strong>s forma<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> colônias <strong>de</strong> granulócitos-macrófagos incubadas com<br />

diferentes concentrações <strong>do</strong> TSClim (0,44 – 0,003 µM). Cada ponto representa a média e ±<br />

<strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong> três experimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. ANOVA, Teste Tukey<br />

CONCLUSÃO<br />

A molécula TSClim apresentou citotoxicida<strong>de</strong> às células 3T3 e aos<br />

precursores <strong>de</strong> granulócitos-macrófagos; baixo potencial hemolítico, não<br />

ultrapassan<strong>do</strong> 5% <strong>de</strong> hemólise. Mesmo <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> citotoxicida<strong>de</strong> basal este<br />

composto ainda apresenta várias características que o elegem como uma molécula<br />

promissora a fármaco antitumoral.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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http://www.who.int/cancer/en/ acessa<strong>do</strong> em 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012.<br />

SORAGGI, C. L. Ativida<strong>de</strong> biológica e citotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matriz polimérica com<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>r <strong>de</strong> óxi<strong>do</strong> nítrico. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Biologia Funcional e Molecular) –<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, 2006.<br />

VANDRESEN, F. Síntese e ativida<strong>de</strong>s antileishmania e antitumoral <strong>de</strong><br />

tiossemicarbazonas e 1,3,4-tiadiazóis <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> R-(+)-limoneno. Tese (Doutora<strong>do</strong><br />

em Química). Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá, 2011.<br />

VIEIRA, M. S.; <strong>de</strong> OLIVEIRA, V.; LIMA, E. M.; KATO, M. J.; VALADARES, M. C. In<br />

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SANTOS, H. M.; OLIVEIRA, D. F.; CARVALHO, D. A.; PINTO, J. M. A.; CAMPOS, V.<br />

A. C.; MOURÃO, A. R. B.; PESSOA, C.; MORAES, M. O.; COSTA-LOTUFO, L. V.<br />

Evaluation of native and exotic Brazilian plants for anticancer activity. J Nat Med, 64,<br />

231–238, 2010.<br />

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<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13309 - 13313<br />

Priorida<strong>de</strong>s para a conservação <strong>do</strong>s anfíbios da Mata Atlântica diante das<br />

mudanças climáticas globais<br />

Priscila LEMES* & Rafael Dias LOYOLA<br />

Pós- graduação em Ecologia e Evolução, * Bolsista <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>do</strong> CNPq<br />

priscila.lemes.azeve<strong>do</strong>@gmail.com<br />

Palavras-chave: mudanças climáticas, previsão consensual, mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong><br />

distribuição das espécies, priorização espacial.<br />

Introdução<br />

A Terra está em perigo. Os efeitos das mudanças climáticas na biodiversida<strong>de</strong><br />

usualmente são inferi<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> distribuição das espécies em<br />

macro-escala (aqui, MDE’s). No entanto, há uma ampla variação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

que associam a ocorrência das espécies às projeções no clima futuro (Franklin<br />

2009), mas inúmeras fontes <strong>de</strong> incerteza dificultam a comparação entre <strong>do</strong>is ou<br />

mais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>finitiva. Por não haver um consenso sobre o<br />

melhor méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> validação e <strong>de</strong> como incluir a incerteza associada aos<br />

mesmos (Diniz-Filho et al. 2009), uma abordagem alternativa e conserva<strong>do</strong>ra<br />

tem si<strong>do</strong> frequentemente utilizada para estabelecer a direção das mudanças na<br />

distribuição das espécies sob mudanças climáticas (Araújo & New 2007). Esta<br />

abordagem combina projeções geradas a partir <strong>de</strong> diferentes méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lagem, com o intuito <strong>de</strong> encontrar regiões consensuais para as quais<br />

to<strong>do</strong>s os méto<strong>do</strong>s projetam presenças ou ausências (Araújo & New 2007).<br />

Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> espécies po<strong>de</strong>m ser úteis para <strong>de</strong>senvolver planos<br />

<strong>de</strong> conservação, especialmente em regiões on<strong>de</strong> a informação completa sobre<br />

a distribuição das espécies não está disponível como em países megadiversos.<br />

Alguns estu<strong>do</strong>s utilizam os MDE’s para o planejamento da conservação, mas<br />

raramente incorporam as incertezas em tais exercícios (Wilson et al. 2010).<br />

Incluir as incertezas no planejamento representa um priorizar as áreas com<br />

baixa incerteza <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los quanto à ocorrência das espécies. Aqui nós<br />

geramos projeções <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los consensuais e, a partir disso, fizemos um<br />

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planejamento para a conservação que minimizasse as mudanças na<br />

distribuição das espécies. Além disso, nós incluímos na priorização espacial a<br />

incerteza associada aos MDE’s e as áreas já protegidas.<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

Nós compilamos da<strong>do</strong>s sobre a distribuição geográfica <strong>de</strong> 431 espécies <strong>de</strong><br />

anfíbios da Mata Atlântica em uma gra<strong>de</strong> 0.1⁰ x 0.1⁰ (11.461 células). Também,<br />

reunimos da<strong>do</strong>s climáticos atuais (http://www.worldclim.org/current), e para<br />

futuros cenários climáticos. Para cada espécie, nós mo<strong>de</strong>lamos a sua<br />

distribuição em função <strong>de</strong> quatro variáveis climáticas, no clima atual e em três<br />

diferentes mo<strong>de</strong>los futuros <strong>de</strong> circulação geral atmosférico-oceânico (AOGCMs,<br />

http://www.ccafs-climate.org/).<br />

Nós usamos seis méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem para produzir MDE’s: GLM, GAM,<br />

MARS, Ran<strong>do</strong>m Forest, MaxEnt e Garp (mais <strong>de</strong>talhes em Franklin 2009).<br />

Usamos a True Skill Statistics (TSS) como nossa medida <strong>de</strong> ajuste <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

estatístico. Nós combinamos to<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, geran<strong>do</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> frequência baseada em distribuição <strong>de</strong> espécies, tanto para o clima<br />

atual quanto o futuro (ver Diniz-Filho et al. 2009). Para mapear as incertezas<br />

associadas aos MDE’s, fizemos uma análise <strong>de</strong> variância <strong>de</strong> <strong>do</strong>is fatores<br />

(ANOVA), quantifican<strong>do</strong> a variação associada a cada fonte, usan<strong>do</strong> a riqueza<br />

<strong>de</strong> espécies como a variável resposta e méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem e AOGCMs<br />

como fatores (Diniz-Filho et al. 2009).<br />

Para resolver o problema <strong>de</strong> priorização <strong>de</strong> "maximização da utilida<strong>de</strong>",<br />

i<strong>de</strong>ntificamos áreas prioritárias usan<strong>do</strong> o algoritmo e software Zonation 2.0<br />

(Moilanen & Kujala 2008). O algoritmo i<strong>de</strong>ntifica locais importantes para a<br />

retenção <strong>de</strong> habitats <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> e conecta<strong>do</strong>s para vários recursos (por<br />

exemplo, espécies) e estabelece uma hierarquização <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

conservação para todas as células, minimizan<strong>do</strong> a perda <strong>do</strong> valor <strong>de</strong><br />

conservação (Moilanen & Kujala 2008). Nós usamos a função benefício aditivo<br />

que promove a representação <strong>de</strong> todas as espécies, favorecen<strong>do</strong> locais com<br />

alta riqueza <strong>de</strong> espécies, enquanto consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a distribuição proporcional<br />

das espécies em uma <strong>de</strong>terminada célula da gra<strong>de</strong> (Moilanen & Kujala 2008).<br />

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Nós estabelecemos pesos para espécies <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Lista Vermelha da<br />

IUCN (http://www.iucnredlist.org/). Além <strong>de</strong>sses da<strong>do</strong>s, incluímos também as<br />

áreas protegidas já estabelecidas na Mata Atlântica (http://www.wdpa.org/; num<br />

total <strong>de</strong> 820 <strong>de</strong> 11.461 células <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>). Além disso, foram utilizadas<br />

informações sobre a cobertura <strong>de</strong> vegetação natural para cada célula da gra<strong>de</strong>.<br />

Também, usamos as incertezas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>correntes tanto <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lagem quanto <strong>de</strong> AOGCM’s como uma restrição em nossas análises.<br />

Finalmente, nós incluímos a distância que uma espécie <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>slocar para<br />

as mesmas condições climáticas no futuro (Rayfield et al. 2009) como uma<br />

medida <strong>de</strong> dispersão entre o clima atual e futuro (Moilanen & Kujala 2008).<br />

Logo, o valor <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> entre os pontos vizinhos é diretamente<br />

proporcional ao nível <strong>de</strong> ocupação das espécies.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Nós usamos uma abordagem <strong>de</strong> biogeografia da conservação para avaliar se<br />

as mudanças na distribuição geográfica das espécies varia em função <strong>do</strong><br />

aquecimento global, além <strong>de</strong> otimizar as priorida<strong>de</strong>s locais para a conservação<br />

sob tal ameaça (Whittaker et al. 2005). Nossos MDE’s diferiram <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem e AOGCM’s utiliza<strong>do</strong>s para prever a distribuição<br />

das espécies. Em geral, to<strong>do</strong>s os méto<strong>do</strong>s indicaram alta riqueza <strong>de</strong> espécies<br />

na parte leste da Mata Atlântica, com baixa riqueza <strong>de</strong> espécies nas porções<br />

sul e oeste <strong>do</strong> bioma. A maioria das espécies teve uma contração da<br />

distribuição das espécies (até 72%, média ± <strong>de</strong>svio padrão= 38 ± 2,38%) e<br />

12% das espécies é espera<strong>do</strong> extinguir-se regionalmente. Note que os 72% da<br />

variação em torno <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo consensual é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às diferentes técnicas para<br />

MDE’s. Além disso, nós incluímos a incerteza <strong>de</strong> maneira objetiva, utilizan<strong>do</strong>-a<br />

para gerar um esquema <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração na priorização espacial para a<br />

conservação.<br />

Para fins práticos, nosso enfoque foi somente em 17% da Mata Atlântica. A<br />

meta <strong>de</strong> 17% é uma recomendação recente da Convenção da Diversida<strong>de</strong><br />

Biológica, sen<strong>do</strong> uma meta global para ser alcançada até 2020 (Mittermeier et<br />

al. 2010). Na nossa análise essa meta abrangeu diferentes proporções da<br />

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distribuição espécies nos três diferentes priorizações: clima atual, futuro e com<br />

a inclusão da dispersão. Dentro da meta <strong>de</strong> conservação (17%), a análise com<br />

base apenas na distribuição geográfica futura é aparentemente melhor, em<br />

termos <strong>de</strong> representação das espécies isso porque as distribuições são<br />

menores. No entanto, vale ressaltar que nosso mo<strong>de</strong>lo prevê que 52 espécies<br />

serão extintas e, portanto, excluídas da análise. Além disso, investir em planos<br />

<strong>de</strong> conservação com base apenas nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> distribuição futura é<br />

problemático, uma vez que não há garantia <strong>de</strong> que as espécies <strong>de</strong> fato<br />

mudarão sua distribuição geográfica para a distribuição prevista (Thuiller 2004).<br />

Nosso melhor esquema <strong>de</strong> priorização são para todas as 431 espécies,<br />

pon<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a distribuição das espécies no presente e no futuro e incluin<strong>do</strong> tal<br />

medida <strong>de</strong> dispersão.<br />

O planejamento para a conservação da biodiversida<strong>de</strong> será mais eficiente se<br />

os efeitos das mudanças climáticas forem conheci<strong>do</strong>s (Hannah et al. 2007).<br />

Porém, vale ressaltar que várias fontes <strong>de</strong> incerteza po<strong>de</strong>m surgir no processo<br />

<strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> conservação (McCarthy et al. 2011). Por exemplo, há uma<br />

problemática geral no uso <strong>de</strong> MDE’s que é a falta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> ainda mais<br />

crítica em regiões megadiversas. Além disso, diferentes técnicas <strong>de</strong> MDE’s<br />

preveem diferentes distribuições para as espécies (Diniz-Filho et al. 2009), e<br />

para um bom planejamento, é <strong>de</strong>sejável atingir um compromisso entre baixa<br />

incerteza <strong>do</strong>s MDE’s e o alto valor <strong>de</strong> conservação em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> local<br />

(Wilson et al. 2010). Outros aspectos da incerteza também po<strong>de</strong>m ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s ao propor a criação <strong>de</strong> novas áreas protegidas (Hole et al. 2011),<br />

como a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras para aquisição imediata (Meir et al. 2004).<br />

Aqui <strong>de</strong>senvolvemos um mo<strong>de</strong>lo mais conceitual geral para o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma análise <strong>de</strong> priorização dinâmica espacial conservação incluin<strong>do</strong> a<br />

incerteza <strong>do</strong>s MDE’s e mo<strong>de</strong>los climáticos.<br />

Conclusões<br />

Nós acreditamos que nossos resulta<strong>do</strong>s transmitem recomendações<br />

importantes para a gestão ambiental e política. Embora tenhamos escolhi<strong>do</strong> os<br />

anfíbios e 17% da Mata Atlântica, acreditamos que a nossa abordagem é um<br />

avanço meto<strong>do</strong>lógico para ações efetivas <strong>de</strong> conservação sob mudanças<br />

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climáticas e po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser aplicada em diferentes escalas espaciais, regiões<br />

geográficas e grupos taxonômicos.<br />

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<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13314 - 13318<br />

COMBINAÇÕES ANTIGÊNICAS PARA O DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE<br />

PAUCIBACILAR<br />

Regiane Morillas OLIVEIRA 1 ; Emerith Mayra Hungria PINTO 1 ; Aline Araújo<br />

FREITAS 1 ; Ana Lúcia Osório MAROCLO 1 ; Maurício Barcelos COSTA 1 ; STEFANI,<br />

Mariane Martins <strong>de</strong> Araújo 1 .<br />

1<br />

Instituto <strong>de</strong> Patologia Tropical e Saú<strong>de</strong> Pública, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás,<br />

Goiânia-GO, Brasil.<br />

e-mail: remorillas@gmail.com<br />

Palavras-chave: hanseníase, Mycobacterium leprae, proteínas recombinantes<br />

Introdução: A hanseníase é uma <strong>do</strong>ença infecciosa crônica, causada pelo<br />

Mycobacterium leprae (M. leprae), um bastonete reto, intracelular obrigatório com<br />

tropismo para macrófagos <strong>de</strong> pele e células <strong>de</strong> Schwann (Scollard et al. 2006). A<br />

infecção dfas células <strong>de</strong> Schwann <strong>do</strong>s nervos periféricos e a resposta imuneinflamatória<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada po<strong>de</strong>m provocar incapacida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s físicas<br />

que representam uma das principais características da <strong>do</strong>ença (Ridley e Jopling<br />

1966).<br />

A hanseníase é uma <strong>do</strong>ença espectral na qual existe uma correlação entre o<br />

tipo <strong>de</strong> resposta imune <strong>de</strong>senvolvida pelo paciente e as diferentes formas clínicas<br />

(Ridley & Jopling 1966). Em um <strong>do</strong>s pólos da hanseníase estão os pacientes com as<br />

formas tuberculói<strong>de</strong> (TT) e bor<strong>de</strong>rline tuberculói<strong>de</strong> (BT), os quais se caracterizam<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma resposta imune celular (RIC) <strong>do</strong> tipo Th1 com forte<br />

produção <strong>de</strong> IFN-γ e fraca produção <strong>de</strong> anticorpos. Estes pacientes apresentam<br />

poucas lesões <strong>de</strong> pele com raros bacilos sen<strong>do</strong> classifica<strong>do</strong>s como paucibacilares<br />

(PB) (Modlin et al. 1986). No outro pólo encontram-se os pacientes com as formas<br />

bo<strong>de</strong>rline-bor<strong>de</strong>rline (BB), bor<strong>de</strong>rline-lepromatosa (BL) e lepromatosa (LL), os quais<br />

apresentam resposta imune <strong>do</strong> tipo Th2 caracterizada por forte produção <strong>de</strong><br />

anticorpos e RIC fraca ou ausente. Estes pacientes apresentam <strong>do</strong>ença<br />

disseminada com alta carga bacilar e são classifica<strong>do</strong>s como multibacilares (MB)<br />

(Ridley & Jopling 1955; Stefani et al. 2003; OMS 1991)<br />

Em nível global a hanseníase é consi<strong>de</strong>rada eliminada com taxa <strong>de</strong><br />

prevalência no ano <strong>de</strong> 2010 <strong>de</strong> 228.474 casos (0.39/10.000 habitantes). Entretanto,<br />

Capa Índice 13314


em alguns países como Brasil, Moçambique, Madagascar, Nepal, República<br />

Democrática <strong>do</strong> Congo e Tanzânia ainda não atingiram a meta <strong>de</strong> eliminação da<br />

<strong>do</strong>ença proposta pela OMS (


Material e Méto<strong>do</strong>s: Os grupos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> incluíram: pacientes virgens <strong>de</strong><br />

tratamento com hanseníase PB e hanseníase MB (20/grupo), pacientes com<br />

tuberculose pulmonar (TB;n=15), indivíduos saudáveis <strong>de</strong> área endêmica (CE;<br />

n=20) e contactantes <strong>de</strong> pacientes MB (CD; n=20). Proteínas recombinantes <strong>do</strong> M.<br />

leprae imunogênicas e indutoras <strong>de</strong> resposta imune especifica (ML2055, ML46f,<br />

LID-1, ML0276, ML1632 e ML2044) foram avaliadas individualmente e em cinco<br />

combinações antigênicas: Mix#1 (46f+LID-1), Mix#2 (ML2055+ML1632+ML2044),<br />

Mix#3 (ML0276+46f), Mix#4 (ML2055+LID-1) e Mix#5 (ML0276+LID-1) quanto a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estimular a produção <strong>de</strong> IFN-γ por células T efetoras/memória<br />

O ensaio <strong>de</strong> sangue total utilizou 450μl <strong>de</strong> sangue total hepariniza<strong>do</strong> e 10<br />

μg/ml <strong>de</strong> cada proteína recombinante <strong>do</strong> M. leprae individual ou das combinações<br />

antigênicas em concentrações equimolares. A cultura foi estimula<strong>do</strong> por 24 horas a<br />

37 o C em estufa com atmosfera úmida e concentração <strong>de</strong> CO2 a 5% quan<strong>do</strong> foram<br />

coleta<strong>do</strong>s aproximadamente 200 µl <strong>de</strong> plasma para quantificação <strong>de</strong> IFN-γ (ELISA,<br />

QuantiFERON CMI, Cellestis, Sidney, Austrália) a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se o limiar <strong>de</strong><br />

reativida<strong>de</strong>= 50 pg/mL.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão: A imunoreativida<strong>de</strong> celular para proteínas<br />

recombinantes <strong>do</strong> M. leprae ML2055, ML0276, ML1632, ML 2044 e a proteína <strong>de</strong><br />

fusão 46f foi <strong>de</strong>scrita previamente por nosso grupo <strong>de</strong> pesquisa. Estas proteínas<br />

foram classificadas como imunogênicas e indutoras <strong>de</strong> resposta específica em<br />

pacientes PB e contactantes <strong>de</strong> MB (Duthie et al 2008; Sampaio et al 2011). Em<br />

vista <strong>de</strong>stes resulta<strong>do</strong>s, associações antigênicas foram <strong>de</strong>senvolvidas visan<strong>do</strong><br />

investigar o efeito sinergístico <strong>de</strong>stas na produção <strong>de</strong> IFN-γ pelas células T<br />

efetoras/memória <strong>de</strong> pacientes PB. Nestes estu<strong>do</strong>s a estimulação com quatro das<br />

cinco combinações antigênicas gerou aumento significativo na produção <strong>de</strong> IFN-γ<br />

em pacientes PB quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com as proteínas recombinantes <strong>do</strong> M. leprae<br />

isoladas.<br />

No grupo PB o Mix#1 (46f+LID-1) estimulou a maior produção <strong>de</strong> IFN-γ<br />

(mediana=105pg/mL) compara<strong>do</strong> às proteínas isoladas (LID-1=53pg/mL e<br />

46f=61pg/mL) (p


Mix#1 e Mi# 5. Os Mix#2 e Mix#3 estimularam maior produção <strong>de</strong> IFN-γ em<br />

pacientes PB <strong>do</strong> que as proteínas individuais, entretanto, não apresentaram<br />

diferença estatística significativa na produção <strong>de</strong> IFN-γ no grupo CD.<br />

O Mix#4 foi a única associação antigênica que não promoveu aumento<br />

estatisticamente significativo versus estimulo com proteínas isoladas. Esse fato<br />

po<strong>de</strong> ter ocorri<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a possível competição <strong>do</strong>s epítopos das proteínas por<br />

sítios <strong>de</strong> ligação antigênica nas células T.<br />

As associações antigênicas e as proteínas recombinantes <strong>do</strong> M. leprae<br />

isoladas não estimularam a produção <strong>de</strong> IFN-γ nos grupos controle CE e TB<br />

<strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> uma potencialização da resposta nos pacientes PB e no grupo CD<br />

sem comprometer a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa resposta.<br />

Conclusão: Nos pacientes PB e no grupo CD as combinações antigênicas<br />

46f+LID-1, ML2055+ML1632+ML2044, ML0276+46f e ML0276+LID-1 apresentaram<br />

efeito sinergístico na produção <strong>de</strong> IFN-γ sem diminuir a especificida<strong>de</strong> da resposta<br />

em pacientes com tuberculose e indivíduos saudáveis <strong>de</strong> área endêmica. Estes<br />

resulta<strong>do</strong>s indicam que combinações antigênicas po<strong>de</strong>m contribuir para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> teste diagnóstico ou vacina para hanseníase.<br />

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Garnier T, Churcher C, Harris D, Mungall K, Basham D, Brown D, Chillingworth T,<br />

Capa Índice 13317


Connor R, Davies RM, Devlin K, Duthoy S, Feltwell T, Fraser A, Hamlin N, Holroyd<br />

S, Hornsby T, Jagels K, Lacroix C, Maclean J, Moule S, Murphy L, Oliver K, Quail<br />

MA, Rajandream MA, Rutherford KM, Rutter S, Seeger K, Simon S, Simmonds M,<br />

Skelton J, Squares R, Squares S, Stevens K, Taylor K, Whitehead S, Woodward JR,<br />

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Capa Índice 13318


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13319 - 13323<br />

Um méto<strong>do</strong> para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Leptolegnia chapmanii em larvas <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s aegypti<br />

Renan Nunes LELES 1 , Cláudia López LASTRA 2 , Juan GARCIA 2 , Éverton Kort Kamp<br />

FERNANDES 1 , Christian LUZ 1<br />

1 Instituto <strong>de</strong> Patologia Tropical e Saú<strong>de</strong> Pública IPTSP/<strong>UFG</strong> – jillo1985@gmail.com<br />

2 Universidad Nacional <strong>de</strong> La Plata – La Plata/Argentina<br />

Palavras Chaves: Stramenopila; controle biológico; mosquitos.<br />

1 Introdução<br />

Leptolegnia chapmanii é um oomyceto que infecta especificamente larvas <strong>de</strong><br />

mosquitos. Durante muito tempo foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um fungo, porém, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a diferenças<br />

estruturais e genômicas atualmente pertencete ao reino Stramenopila (Dick 2001). Foi<br />

inicialmente isolada nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s no ano <strong>de</strong> 1971 em uma larva <strong>de</strong> Ochlerotatus<br />

triseriatus. Até o momento são poucos os isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scritos, somente nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e um isola<strong>do</strong> na Argentina (Seymour 1984; Fukuda et al. 1997; López Lastra et<br />

al. 1999). A alta virulência <strong>de</strong> L. chapmanii faz <strong>de</strong>ste patógeno um candidato atrativo<br />

para controle biológico <strong>de</strong> importantes mosquitos vetores (Pelliza et al. 2008).<br />

A forma infectante é o zoósporo, produto <strong>de</strong> reprodução assexuada, que penetra<br />

ativamente no inseto e, após a morte da larva, <strong>de</strong>senvolve micélio sobre o cadáver. A<br />

<strong>de</strong>tecção é feita pela presença <strong>de</strong> L. chapmanii sobre o corpo da larva e o isolamento<br />

pelo repique <strong>do</strong> patógeno em meio <strong>de</strong> cultivo (Pelliza et al. 2011). Não há <strong>de</strong>scrito<br />

nenhum meio seletivo ou méto<strong>do</strong> que facilite a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Leptolegnia spp. em larvas<br />

<strong>de</strong> mosquitos infecta<strong>do</strong>s. Durante a infecção e após a morte <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro os<br />

entomopatógenos <strong>de</strong>vem superar dificulda<strong>de</strong>s impostas por outros microrganismos<br />

saprobiontes, como fungos, bactérias e, eventualmente ácaros, presentes na superfície<br />

ou <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro, que po<strong>de</strong>m reduzir ou até mesmo inibir a esporulação,<br />

competir com o entomopatógeno e, assim impedir a <strong>de</strong>tecção e o isolamento (Tsao<br />

1970). Diversos meios <strong>de</strong> cultura semi-seletivos foram <strong>de</strong>scritos e são bem conheci<strong>do</strong>s<br />

para o isolamento <strong>de</strong> fungos entomopatogênicos ou grupo <strong>de</strong> fungos específicos,<br />

utilizam antibióticos como cloranfenicol (Chase et al. 1986; Fernan<strong>de</strong>s et al. 2010),<br />

fungicidas como o tiabendazol (Rocha & Luz 2009) para a redução <strong>do</strong>s microrganismos<br />

Capa Índice 13319


contaminantes e cristal violeta, que facilita a visualização <strong>de</strong> fungos sobre o meio<br />

(Chase et al. 1986).<br />

Estu<strong>do</strong>s em andamento em nosso laboratório têm foca<strong>do</strong> em técnicas para a<br />

<strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> fungos entomopatogênicos diretamente em larvas <strong>de</strong> culicí<strong>de</strong>os, utilizan<strong>do</strong><br />

larvas supostamente infectadas como substrato específico (Leles & Luz, da<strong>do</strong>s não<br />

publica<strong>do</strong>s) para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fungos. O objetivo <strong>de</strong>sse estu<strong>do</strong> foi avaliar este<br />

méto<strong>do</strong> para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> L. chapmanii.<br />

2 Materiais e méto<strong>do</strong>s<br />

2.1 Preparação <strong>do</strong> meio ágar-água: Ágar-água (AA) (1%) foi prepara<strong>do</strong> sem a adição<br />

<strong>de</strong> outros aditivos ou com a adição <strong>de</strong> cloranfenicol (AA + C) nas concentrações <strong>de</strong> 50,<br />

100, 300, 500 ou 1000 mg/l; (AA + T) tiabendazol a 8 mg/l; cristal violeta (AA + CV) a 10<br />

mg/l; <strong>de</strong>ltametrina (AA + D) a 50 mg/l ou combinan<strong>do</strong> tiabendazol (8 mg/l) e<br />

cloranfenicol (AA + C + T) (500 mg/l). Para o preparo <strong>de</strong> AA, AA + CV ou AA + D, os<br />

aditivos foram acrescenta<strong>do</strong>s diretamente em água <strong>de</strong>stilada. Tiabendazol e<br />

cloranfenicol foram prepara<strong>do</strong>s em solução etanólica, sen<strong>do</strong> em seguida acresci<strong>do</strong> a<br />

água. O pH <strong>do</strong> meio foi ajusta<strong>do</strong> em 7 e, em seguida, o meio foi autoclava<strong>do</strong> e<br />

distribuí<strong>do</strong> em placas <strong>de</strong> Petri (35 x 15 mm).<br />

2.2 Origem e cultura <strong>do</strong> oomyceto e produção <strong>de</strong> larvas infectadas: Leptolegnia<br />

chapmanii ARSEF 5499 foi isola<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> uma larva <strong>de</strong> quarto estádio <strong>de</strong> A.<br />

albofasciatus (L4) no ano <strong>de</strong> 1996 (López Lastra et al. 1999). Quinze L4 <strong>de</strong> Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti mortas por infecção <strong>de</strong> L. chapmanii ARSEF 5499 foram transferidas para um<br />

copo plástico (260 cm 3 ) com 100 ml <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada (1,5 x 10 4 zoósporos/ml) (Pelliza<br />

et al. 2008). Em seguida, 50 L4 sadias <strong>de</strong> A. aegypti, criadas em laboratório, foram<br />

coloca<strong>do</strong>s no mesmo copo e expostos a infecção pelos zoósporos durante 6 h.<br />

2.3 Avaliação <strong>do</strong> efeito <strong>de</strong> aditivos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> L. chapmanii nas<br />

larvas: Quatro L4 vivas <strong>de</strong> A. aegypti, infectadas com L. chapamanii, foram<br />

cuida<strong>do</strong>samente colocadas sobre a superfície <strong>do</strong> AA, com e sem adjuvantes, e<br />

mantidas por 48 h (T= 25± 1°C; UR> 98%). O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> L. chapmanii sobre<br />

larvas foi avalia<strong>do</strong> em microscopia <strong>de</strong> contraste <strong>de</strong> fase. As larvas foram transferidas<br />

individualmente para poços <strong>de</strong> placa <strong>de</strong> cultivo celular com 2 ml <strong>de</strong> água <strong>de</strong>stilada em<br />

cada poço e mantidas por 48 h em temperatura ambiente para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13320


estruturas assexuada e sexuadas. Para avaliar a viabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s zoósporos, as larvas<br />

foram retiradas <strong>do</strong>s poços e novas L4 saudáveis expostas à água. A infecção e a<br />

mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas novas larvas com L. chapmanii foram verificadas, por microscopia,<br />

após 48 h <strong>de</strong> incubação. Grupo controle foi feito utilizan<strong>do</strong> larvas L4 saudáveis<br />

mantidas em AA com ou sem aditivos e utilizan<strong>do</strong>-se a mesma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong>scrita.<br />

2.4 Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s: Os testes foram realiza<strong>do</strong>s em quatro repetições<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Percentuais <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> foram analisa<strong>do</strong>s por ANOVA seguida <strong>de</strong><br />

teste <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt-Newman-Keuls (p < 0,05).<br />

3 Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Larvas vivas expostas a zoósporos <strong>de</strong> L. chapmanii e colocadas na superfície <strong>de</strong><br />

AA, com ou sem aditivos, começaram a morrer, ainda sobre a superfície <strong>do</strong> meio, em<br />

até 24 h após o tratamento, com exceção <strong>do</strong> AA acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ltametrina (AA + D).<br />

Sobre AA + D, as larvas morreram entre 3 a 5 minutos, sen<strong>do</strong> tratadas ou não com<br />

zoósporos. Gran<strong>de</strong> parte das larvas <strong>do</strong> grupo controle continuava viva após 48 h sobre<br />

a superfície <strong>de</strong> AA (100%), AA + CV (100%), AA + T (100%), AA + C + T (93,8 ± 6,2%)<br />

e em AA + C (87,5 ± 12,5%). As larvas expostas por 48 h à superfície <strong>de</strong> AA + C (500 e<br />

1000 mg/l), estavam mais esbranquiçadas <strong>do</strong> que as <strong>de</strong>mais, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> expostas a L.<br />

chapmanii ou não.<br />

Larvas que foram mantidas em AA, AA + C, AA + T e AA + C + T, micélio,<br />

zoosporângios e, eventualmente, oogônios foram forma<strong>do</strong>s após transferência das<br />

larvas mortas para água <strong>de</strong>stilada em poços <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> cultivo celular. Em AA + C,<br />

houve a emergência <strong>de</strong> zoosporângios, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da concentração <strong>do</strong><br />

cloranfenicol (50 – 1000 mg/l). A porcentagem <strong>de</strong> larvas em que foram observa<strong>do</strong>s<br />

oogônios aumentou proporcionalmente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a concentração <strong>do</strong> antibiótico;<br />

em 100% das larvas na concentração <strong>de</strong> 1000 mg/l e, sem formação nas<br />

concentrações abaixo <strong>de</strong> 100 mg/l. Todas as larvas mantidas em AA + T + C<br />

produziram zoosporângios e 50% tinham oogônios. Micélio, zoosporângios ou oogônio<br />

não foram produzi<strong>do</strong>s em larvas mantidas em AA + CV ou AA + D.<br />

Novas larvas L4 expostas a água <strong>de</strong>stilada supostamente com zoósporos, após a<br />

retirada das larvas infectadas, tiveram mortalida<strong>de</strong> elevada (≥ 66,7%), com exceção das<br />

larvas que foram colocadas nos poços on<strong>de</strong> estavam as larvas previamente mantidas<br />

Capa Índice 13321


sobre AA + CV, on<strong>de</strong> a mortalida<strong>de</strong> das novas L4 foi <strong>de</strong> 16,6%. Todas as larvas <strong>do</strong><br />

grupo controle continuaram vivas após 48 h, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> aditivo ou<br />

combinação, com exceção ao AA + D, on<strong>de</strong> todas morreram entre 3 e 5 minutos.<br />

Os aditivos testa<strong>do</strong>s, com exceção da <strong>de</strong>ltametrina, não se mostraram tóxicos para<br />

as larvas, já que larvas <strong>do</strong> grupo controle tiveram sobrevida <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 48 h sobre o<br />

meio. Contu<strong>do</strong>, cristal violeta, bem como <strong>de</strong>ltametrina, claramente inibiram o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> L. chapamanii em larvas e inviabiilizaram a <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong><br />

entomopatógeno. Tiabendazol e cloranfenicol são, fungicida e antibiótico,<br />

respectivamente, já utiliza<strong>do</strong>s em meio semi-seletivos para a redução <strong>de</strong> contaminantes<br />

em isolamento <strong>de</strong> fungos entomopatogênicos (Chase et al. 1986; Rocha & Luz 2009;<br />

Fernan<strong>de</strong>s et al. 2010) e po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>do</strong>s em ágar-água também para o isolamento<br />

<strong>de</strong> L. chapmanii.<br />

Ágar-água (1%) em placas <strong>de</strong> Petri <strong>de</strong> plástico é recomenda<strong>do</strong> para a acomodação<br />

e imobilização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> mosquitos coletadas em campo. As<br />

larvas, mesmo estressadas, permanecem vivas no filme <strong>de</strong> água forma<strong>do</strong> sobre o meio,<br />

o que favorece a ação <strong>de</strong> L. chapmanii. Larvas que continuem vivas após 24 – 48 h<br />

sobre o filme <strong>de</strong> água na superfície <strong>de</strong> AA, provavelmente não estariam infectadas por<br />

L. chapmanii e po<strong>de</strong>riam ser excluídas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais procedimentos. Indivíduos mortos,<br />

po<strong>de</strong>m ser facilmente transferi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> meio para água até a formação das estruturas<br />

reprodutivas possibilitan<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ntificação e o repique em meio a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>.<br />

5 Financiamento<br />

Este trabalho contou com financiamento da CAPES por meio <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong><br />

Doutora<strong>do</strong> Sanduíche PPCP Mercosul e da Fundação <strong>de</strong> Amparo a <strong>Pesquisa</strong> <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />

6 Referências Biliográficas<br />

Chase AR, Osborne LS, Ferguson VM 1986. Selective isolation of the<br />

entomopathogenic fungi Beauveria bassiana and Metarhizium anisopliae from an<br />

artificial potting medium. Fla Entomol 69: 285–292.<br />

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Capa Índice 13322


Fernan<strong>de</strong>s EKK, Keyser CA, Rangel DEN, Foster RN, Roberts DW 2010. CTC medium:<br />

A novel <strong>do</strong>dine-free selective medium for isolating entomopathogenic fungi,<br />

especially Metarhizium acridum, from soil. Biol Control 54: 197-205.<br />

Fukuda T, Willis OR, Bernard DR 1997. Parasites of the Asian tiger mosquito and other<br />

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mosquitos (Diptera: Culicidae). Rev Iberoam Micol 16:143-145.<br />

Pelizza SA, López Lastra CC, Becnel JJ, Humber RA, García JJ 2008. Further research<br />

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Seymour (Oomycota: Peronosporomycetes). J Invertebr Pathol 98:314-319.<br />

Pelizza SA, Scorsetti AC, López Lastra CC, García JJ 2010. Production of oogonia and<br />

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at different temperatures. Mycopathologia 169:71-74.<br />

Pelizza SA, Cabello MN, Tranchida MC, Scorsetti AC, Bisaro V 2011. Screening for a<br />

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Rocha LF, Luz C 2009. Utility of six fungici<strong>de</strong>s for selective isolation of Evlachovaea sp.<br />

and Tolypocladium cylindrosporum. Mycopathologia 167: 341-350.<br />

Seymour RL 1984. Leptolegnia chapmanii, an oomycete pathogen of mosquito larvae.<br />

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Tsao PH 1970. Selective media for isolation of pathogenic fungi. Ann Rev Phytopathol<br />

8: 157–186.<br />

Capa Índice 13323


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13324 - 13328<br />

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<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13329 - 13333<br />

ESTUDO DO MECANISMO DE AÇÃO, TOXICIDADE E AVALIAÇÃO DO<br />

PRODUTO NATURAL ARGENTILACTONA NO TRATAMENTO DA<br />

PARACOCCIDIOIDOMICOSE<br />

PRADO, Renata Silva 1 ; ALVES, Ricar<strong>do</strong> Justino 2 ; OLIVEIRA, Cecília Maria 2 ; SOARES, Célia<br />

Maria <strong>de</strong> Almeida 1 ; PEREIRA, Maristela 2 .<br />

1- Laboratório <strong>de</strong> Biologia Molecular, Departamento <strong>de</strong> Bioquímica e Biologia Molecular, Instituto <strong>de</strong> Ciências<br />

Biológicas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

2- Laboratório <strong>de</strong> Produtos Naturais, Instituto <strong>de</strong> Química, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

Palavras-chave: P. brasiliensis, Argentilactona, Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ação, Toxicida<strong>de</strong>,<br />

Infecção.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O fungo dimórfico Paracoccidioi<strong>de</strong>s brasiliensis é o agente causa<strong>do</strong>r<br />

da paracoccidioi<strong>do</strong>micose (PCM), uma micose sistêmica granulomatosa,<br />

inicialmente <strong>de</strong>nominada hifoblastomicose pseu<strong>do</strong>coccidióica (LUTZ, 1908). No<br />

perío<strong>do</strong> entre 1980 e 1995 no Brasil, 3.181 pessoas morreram (COUTINHO,<br />

1999) sen<strong>do</strong> que o aumento na incidência po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong> pelo aumento <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>smatamento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas áreas, bem como o número <strong>de</strong><br />

pacientes imuno<strong>de</strong>primi<strong>do</strong>s (WANKE; LONDERO, 1999) e ao aparecimento <strong>de</strong><br />

isola<strong>do</strong>s multi-resistentes (HAHN et. al., 2003).<br />

Devi<strong>do</strong> à toxicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s antifúngicos existentes para o tratamento <strong>de</strong><br />

micoses sistêmicas, como a PCM, tornam-se cada vez mais necessários<br />

estu<strong>do</strong>s em busca <strong>de</strong> novas terapias (HAHN et. al., 2003). Plantas com<br />

proprieda<strong>de</strong>s antimicrobianas representam uma fonte em potencial para a<br />

obtenção <strong>de</strong> compostos antifúngicos (KUHNT et al., 1995). Em adição,<br />

moléculas-alvo presentes em fungos e ausentes em humanos têm se torna<strong>do</strong><br />

prioritárias para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> antifúngicos.<br />

Ensaios bio-guia<strong>do</strong>s em microrganismos patogênicos humanos<br />

como Trypanosoma cruzi, Plasmodium falciparum, Leishmania amazonensis e<br />

Leishmania panamensis, levaram a in<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> composto Argentilactona,<br />

isola<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> óleo essencial <strong>de</strong> H. ovalifolia (OLIVEIRA et. al, 2004),<br />

encontrada em abundância no cerra<strong>do</strong> brasileiro.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, torna-se importante estudar e elucidar o<br />

mecanismo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ste composto. Utilizan<strong>do</strong> análises proteômicas se torna<br />

possível conhecer proteínas reguladas em P. brasiliensis na presença <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13329


argentilactona. Esses da<strong>do</strong>s, alia<strong>do</strong>s a resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> experimentos <strong>de</strong><br />

toxicida<strong>de</strong> e à resposta ao tratamento pelo composto em mo<strong>de</strong>lo animal<br />

auxiliarão no esforço da busca a novos candidatos a antifúngicos.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

1- MATERIAL E MÉTODOS<br />

1.1- Análises Proteômicas<br />

O isola<strong>do</strong> Pb01 (ATCCMYA-826) <strong>de</strong> Paracoccidioi<strong>de</strong>s, foi cultiva<strong>do</strong> na fase<br />

leveduriforme in vitro à 36 °C, em meio Fava-Netto. Nos pontos <strong>de</strong> 2, 4, 6, 8,<br />

10, 12 e 24 h foi analisada a morte celular em presença <strong>de</strong> argentilactona. O<br />

tempo escolhi<strong>do</strong> para análise foi <strong>de</strong> 10 h basea<strong>do</strong> nessa curva <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong><br />

em da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qRT-PCR. A amostras <strong>de</strong> proteínas obtidas foram submetidas à<br />

focalização isoelétrica em sistema IPGphor. A segunda dimensão foi realizada<br />

em gel <strong>de</strong> poliacrilamida, cora<strong>do</strong>s por azul <strong>de</strong> Coomassie. Por meio da<br />

utilização <strong>do</strong> software Imagemaster Platinum (GE Healthcare) foram realizadas<br />

a <strong>de</strong>tecção, a quantificação volumétrica, a edição <strong>de</strong> massas moleculares e<br />

pontos isoelétricos das proteínas i<strong>de</strong>ntificadas nos géis. As proteínas foram<br />

i<strong>de</strong>ntificadas através <strong>de</strong> MALDI-MS/MS utilizan<strong>do</strong> o aparelho SYNAPT Q-TOF<br />

(Waters®). A busca em bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi realizada utilizan<strong>do</strong> o software<br />

MASCOT (http://www.matrixscience.com) e seqüenciamento <strong>de</strong> novo.<br />

1.2- Infecção<br />

1.2.1-Animais<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s camun<strong>do</strong>ngos machos da linhagem BALB/c, com a<br />

média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre 6 a 8 semanas. Os animais foram manti<strong>do</strong>s em condições<br />

<strong>de</strong> SPF (condições livres <strong>de</strong> patógenos) no biotério <strong>de</strong> experimentação animal<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Microbiologia <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Ciências Biomédicas da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> foram submeti<strong>do</strong>s à infecção intratraqueal<br />

por P. brasiliensis, e posteriormente trata<strong>do</strong>s com diferentes concentrações <strong>de</strong><br />

Argentilactona e sacrifica<strong>do</strong>s por <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> cervical para que se<br />

seguisse com os ensaios propostos (<strong>do</strong>sagem <strong>de</strong> IL, contagem <strong>de</strong> UFCs, e<br />

análise histológica).<br />

Capa Índice 13330


1.2.2- Dosagem <strong>de</strong> citocinas<br />

A <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> citocinas como IFN-γ, IL-10, IL-4 e TNF foi realizada<br />

quantitativamente através <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> ELISA <strong>de</strong> captura (BD OpTeia, San<br />

Diego, CA), utilizan<strong>do</strong>-se como amostra o sobrenadante <strong>de</strong> uma fração <strong>do</strong>s<br />

pulmões <strong>do</strong>s camun<strong>do</strong>ngos macerada em solução conten<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

proteases. As placas <strong>de</strong> 96 poços foram sensibilizadas com 100 µl <strong>do</strong>s<br />

anticorpos <strong>de</strong> captura e mantidas “overnight” a 4 ºC. As placas foram lavadas<br />

com solução PBS-0,05% Tween 20 e bloqueadas, a temperatura ambiente,<br />

com 200 µl <strong>de</strong> PBS-10% SFB por poço. Após 1 hora <strong>de</strong> bloqueio, as placas<br />

foram submetidas a nova lavagem e 100 µl <strong>do</strong>s padrões (citocinas<br />

recombinantes <strong>de</strong> camun<strong>do</strong>ngos) ou das amostras foram adiciona<strong>do</strong>s aos<br />

poços, com suas respectivas diluições. As placas foram incubadas por duas<br />

horas a temperatura ambiente e novamente lavadas. Adicionou-se em to<strong>do</strong>s os<br />

poços 100 µl <strong>do</strong> conjuga<strong>do</strong> composto pelos anticorpos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção e pela<br />

enzima (Avidina-HRP) e as placas foram novamente incubadas por uma hora,<br />

a temperatura ambiente. Após a última lavagem das placas, o substrato da<br />

enzima (TMB – BD Pharmingen) foi adiciona<strong>do</strong> em cada poço. As placas foram<br />

incubadas no escuro, a temperatura ambiente por trinta minutos e o bloqueio<br />

da reação foi feito com 50 µl/poço <strong>de</strong> HSO2N. A leitura das absorbâncias foi<br />

realizada em leitor <strong>de</strong> ELISA no comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 450 nm. Os limites <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tecção das citocinas foram: 7,8 pg/ml (IL-4), 31,3 pg/ml (IFN-γ e IL-10) e 62,5<br />

pg/ml (IL-12).<br />

1.4- Avaliação da citoxicida<strong>de</strong> pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> MTT<br />

Para avaliar a viabilida<strong>de</strong> celular após tratamento com argentilactona foi<br />

utiliza<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> colorimétrico <strong>do</strong> MTT. O princípio <strong>de</strong>ste méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrito por<br />

Mosman (1983) consiste em medir a viabilida<strong>de</strong> celular pela ativida<strong>de</strong><br />

enzimática mitocondrial das células vivas. Para o teste <strong>do</strong> MTT, 1 x 10 4 <strong>de</strong><br />

células foram semeadas em microplacas <strong>de</strong> 96 poços na ausência ou<br />

presença <strong>de</strong> argentilactona e incubadas em estufa a 37 o C com atmosfera<br />

conten<strong>do</strong> 5% <strong>de</strong> CO2. Ao final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> incubação, foi adiciona<strong>do</strong> aos<br />

poços <strong>de</strong> cultivo celular 10 μL <strong>de</strong> MTT na concentração <strong>de</strong> 5 mg.mL -1 , e após 4<br />

h <strong>de</strong> incubação com o MTT, foram acrescenta<strong>do</strong>s 50 μL SDS a 10% diluí<strong>do</strong> em<br />

Capa Índice 13331


HCL/0,01N. A quantificação da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óptica (DO) foi medida em<br />

espectrofotômetro.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os da<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s nos testes <strong>de</strong> citotoxicida<strong>de</strong> mostram uma<br />

relação <strong>do</strong>se-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte entre argentilactona e o número <strong>de</strong> células humanas<br />

normais mortas. Foi encontrada também uma porcentagem <strong>de</strong> citotoxicida<strong>de</strong><br />

no valor <strong>de</strong> 30,37% para a <strong>do</strong>sagem <strong>de</strong> 18 µg/mL, sen<strong>do</strong> este o valor <strong>do</strong> IC50<br />

calcula<strong>do</strong> para células leveduriformes <strong>de</strong> P. brasiliensis. Assim o IC50 para as<br />

células humanas normais é maior <strong>do</strong> que o IC50 encontra<strong>do</strong> para as células<br />

leveduriformes <strong>de</strong> P. brasiliensis.<br />

Nos ensaios <strong>de</strong> infecção, foi possível observar que a <strong>do</strong>sagem das<br />

citocinas apontou diminuição <strong>de</strong> IL-4 nos camun<strong>do</strong>ngos trata<strong>do</strong>s com<br />

argentilactona e na associação argentilactona/sulfa/itraconazol. Assim, fica<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> a diminuição das interleucinas que po<strong>de</strong>riam agravar o quadro da<br />

infecção na presença <strong>de</strong> argentilactona, além <strong>de</strong> comprovar sinergismo positivo<br />

na presença <strong>de</strong> sulfa e itraconazol.<br />

Durantes as análises proteômicas foram revela<strong>do</strong>s 63 spots <strong>de</strong> proteínas<br />

diferencialmente expressos entre as condições testadas, sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>stes 28<br />

foram regula<strong>do</strong>s positivamente e 22 negativamente. Até agora, após<br />

seqüenciamento <strong>de</strong> novo foram encontradas proteínas envolvidas diretamente<br />

com resistência à antimicrobianos, metabolismo <strong>de</strong> carboidratos e <strong>de</strong> lipídios.<br />

CONCLUSÃO<br />

Nesse estu<strong>do</strong>, foram utilizadas análises proteômicas para elucidar os<br />

eventos moleculares associa<strong>do</strong>s à presença <strong>de</strong> argentilactona.De posse <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>-se observar que o composto atua em diferentes vias<br />

metabolicas, que são <strong>de</strong> fundamental importância para o estabelecimento e<br />

manutenção da infecção. Esses da<strong>do</strong>s, associa<strong>do</strong>s à citotoxicida<strong>de</strong> e<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> experimentos <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong>monstram que a argentilactona é um<br />

futuro candidato a mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> antifúngico.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Capa Índice 13332


COUTINHO, Z.F., LAZERA, M. S., PETRI, V., SABROZA, P.C., KAWA, H.,<br />

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PARACOCCIDIOIDOMICOSE. 1999, Campos <strong>do</strong> Jordão – São Paulo. p12 .<br />

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KUHNT, M.; PROBSTLE, A.; RIMPLER, H.; BAUER, R.; HEINRICH, M.;<br />

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v. 6, p. 227. 1995.<br />

LUTZ, A.; Uma micose pseu<strong>do</strong>-coccídica localizada na boca e observada no<br />

Brasil: contribuição ao conhecimento das hipho-blastomicoses americanas.<br />

Brasil Med,v. 22, p.121-124, 1908.<br />

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2nd ed. M27-A2. Wayne, PA: National Committee for Clinical Laboratory<br />

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RESTREPO A.; JIMENÉZ B. Growth of Paracoccidioi<strong>de</strong>s brasiliensis yeast<br />

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Capa Índice 13333


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13334 - 13338<br />

PREVALÊNCIA DE QUEDAS E PERCEPÇÃO DE FRAGILIDADE DE IDOSOS<br />

RESIDENTES NO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA GOIÁS<br />

Renato Alves SANDOVAL 1 ; Ana Cláudia Antônio Maranhão SÁ 2 ; Ruth Losada <strong>de</strong><br />

MENEZES 3 ; Adélia Yaeko Kyosen NAKATANI 4 ; Maria Márcia BACHION 5<br />

1. Fisioterapeuta, Educa<strong>do</strong>r Físico, Doutoran<strong>do</strong> em Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás (<strong>UFG</strong>), Bolsista da Fundação <strong>de</strong> Amparo à <strong>Pesquisa</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás (FAPEG), Diretor<br />

<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica<br />

(PUC)-Goiás. e-mail: rasterapia@ig.com.br<br />

2. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Saú<strong>de</strong>, Docente convidada da PUC-Goiás.<br />

3. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Saú<strong>de</strong>, Profa. Adjunta da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

4. Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Profa. Associada da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermagem da <strong>UFG</strong>.<br />

5. Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Profa. Titular da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermagem da <strong>UFG</strong>.<br />

* Órgão financia<strong>do</strong>r: Fundação <strong>de</strong> Amparo a <strong>Pesquisa</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás (FAPEG).<br />

Palavras-chave: prevalência; aci<strong>de</strong>nte por quedas; fragilida<strong>de</strong>; i<strong>do</strong>so.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A população i<strong>do</strong>sa é o grupo etário que mais cresce mundialmente, são<br />

aproximadamente 440 milhões <strong>de</strong> pessoas acima <strong>de</strong> 65 anos em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

representan<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> 7% da população mundial, números estes concordantes<br />

com os encontra<strong>do</strong>s na população brasileira 1,2 .<br />

Com o aumento <strong>de</strong>sta população, as <strong>do</strong>enças crônicas <strong>de</strong>generativas, a<br />

fragilida<strong>de</strong> e as comorbida<strong>de</strong>s como as quedas vem sofren<strong>do</strong> um acréscimo<br />

significativo <strong>de</strong> ocorrência, tornan<strong>do</strong>-se problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública 3,4 .<br />

Estu<strong>do</strong>s recentes mostram que a prevalência <strong>de</strong> quedas <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos é <strong>de</strong><br />

aproximadamente 30% in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> residirem em instituições <strong>de</strong> longa<br />

permanência ou na comunida<strong>de</strong> 5,6 .<br />

As quedas estão relacionadas a vários fatores que po<strong>de</strong>m ser dividi<strong>do</strong>s em<br />

intrínsecos e extrínsecos, os intrínsecos levam a diferentes níveis <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong><br />

funcional e os extrínsecos estão relaciona<strong>do</strong>s a situações <strong>de</strong> risco. Tais fatores<br />

po<strong>de</strong>m contribuir para a gravida<strong>de</strong> das consequências das quedas, 50% <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos<br />

que caíram terão novos episódios <strong>de</strong> quedas, <strong>de</strong> 7 a 10% sofrerão fraturas e a<br />

maioria restringe suas ativida<strong>de</strong>s por me<strong>do</strong> <strong>de</strong> cair novamente 7,8 .<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> foi <strong>de</strong> verificar a prevalência <strong>de</strong> quedas e a percepção<br />

<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> da população i<strong>do</strong>sa no contexto da comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

Goiânia Goiás.<br />

Capa Índice 13334


MATERIAL E MÉTODOS<br />

Estu<strong>do</strong> epi<strong>de</strong>miológico, transversal <strong>de</strong> base populacional, com i<strong>do</strong>sos<br />

resi<strong>de</strong>ntes na área urbana <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Goiânia Goiás.<br />

Este trabalho faz parte <strong>do</strong> projeto da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> I<strong>do</strong>so<br />

(REVISI), junto à pesquisa intitulada: “Situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população i<strong>do</strong>sa <strong>do</strong><br />

município <strong>de</strong> Goiânia/GO”, financia<strong>do</strong> pelo edital 001/2007 pela Fundação Apoio à<br />

<strong>Pesquisa</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás (FAPEG).<br />

A amostra probabilística foi constituída por 934 i<strong>do</strong>sos, sen<strong>do</strong> 354 <strong>do</strong> sexo<br />

masculino (37,9%) e 580 <strong>do</strong> sexo feminino (62,1%) com ida<strong>de</strong> varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 60 a 98<br />

(X=71,47±8,33) anos, foi consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> um nível <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95% e erro<br />

aceitável <strong>de</strong> 10%.<br />

Sortearam-se 56 Setores Censitários (SC) <strong>do</strong>s 1068 existentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Goiânia. Em cada SC foram entrevista<strong>do</strong>s 25 i<strong>do</strong>sos, respeitan<strong>do</strong>-se o efeito<br />

conglomera<strong>do</strong> e vizinhança.<br />

Consi<strong>de</strong>rou-se elegível para o estu<strong>do</strong> o indivíduo que aten<strong>de</strong>u aos seguintes<br />

critérios: ida<strong>de</strong> igual ou superior a 60 anos; ser mora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio; <strong>do</strong>rmir mais <strong>de</strong><br />

quatro dias por semana na residência da entrevista.<br />

Foram excluí<strong>do</strong>s aqueles que não estavam no <strong>do</strong>micílio após três tentativas<br />

<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>r e estivessem no <strong>do</strong>micílio sortea<strong>do</strong>, mas não residiam nele.<br />

A coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi realizada no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009 a abril <strong>de</strong><br />

2010, por 10 entrevista<strong>do</strong>res treina<strong>do</strong>s. Os entrevista<strong>do</strong>res foram seleciona<strong>do</strong>s<br />

criteriosamente para aplicação <strong>do</strong> questionário, aferição <strong>de</strong> pressão arterial,<br />

aplicação <strong>de</strong> escalas e procedimentos amostrais.<br />

Os i<strong>do</strong>sos foram aborda<strong>do</strong>s em seus <strong>do</strong>micílios e convida<strong>do</strong>s a participarem<br />

da pesquisa. Foram informa<strong>do</strong>s que participariam como voluntários e sem qualquer<br />

ônus ou remuneração. Em caso <strong>de</strong> aceite, foram convida<strong>do</strong>s a assinar ou i<strong>de</strong>ntificar<br />

com a marca digital o termo <strong>de</strong> consentimento livre esclareci<strong>do</strong> (TCLE).<br />

Para este estu<strong>do</strong>, foram selecionadas as variáveis: quedas e fragilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong><br />

foram verificadas suas ocorrências.<br />

O projeto Situação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da População I<strong>do</strong>sa <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><br />

Goiânia/GO foi aprova<strong>do</strong> pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em <strong>Pesquisa</strong> da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás protocolo número 050/2009.<br />

Capa Índice 13335


RESULTADOS<br />

A prevalência <strong>de</strong> quedas encontrada na população i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong> Goiânia foi <strong>de</strong><br />

34,15% com um total <strong>de</strong> 319 i<strong>do</strong>sos (Tabela I).<br />

Tabela I – Prevalência <strong>de</strong> quedas na população estudada.<br />

Sofreu Alguma Queda no Último Ano<br />

Sim Não Sem Resposta Total<br />

Freq 319 595 20 934<br />

% 34,15 63,70 2,15 100<br />

Em relação à frequência das quedas a maioria 172 i<strong>do</strong>sos (53,92%) relatou<br />

ter sofri<strong>do</strong> um episódio <strong>de</strong> queda, já 68 (21,32%) <strong>do</strong>is episódios e 66 (20,69%) três<br />

ou mais quedas no último ano.<br />

Já a causa mais comum <strong>de</strong> quedas na população i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong> Goiânia é a<br />

extrínseca com 258 relatos representan<strong>do</strong> 80,88% contra 53 relatos <strong>de</strong> causa<br />

intrínseca representan<strong>do</strong> 16,61% (Tabela II).<br />

Tabela II – Causa das quedas sofridas no último ano.<br />

Causa das Quedas<br />

Extrínseco Intrínseco Sem Resposta Total<br />

Freq 258 53 8 319<br />

% 80,88 16,61 2,51 100<br />

Quan<strong>do</strong> analisadas as conseqüências físicas <strong>de</strong>correntes da última queda<br />

sofrida pelos i<strong>do</strong>sos, verificou-se que a contusão ou ferida foi a mais prevalente com<br />

165 relatos (51,72%), segui<strong>do</strong> pelo relato <strong>de</strong> nenhuma conseqüência com 94<br />

(29,47%) e a fratura com 44 (13,79%).<br />

No último ano 555 (59,42%) <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos não per<strong>de</strong>ram peso sem fazer dieta,<br />

já 299 (32,01) tiveram perda <strong>de</strong> peso com uma média <strong>de</strong> 5,29 Kg.<br />

A força muscular foi percebida como menor no último ano por 477 (51,07%)<br />

<strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos.<br />

Em relação a percepção <strong>de</strong> ter que realizar maior esforço nas tarefas<br />

habituais na última semana 663 (70,99%) <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos relataram que não e 174<br />

(18,63%) que sim.<br />

Capa Índice 13336


Na realização das tarefas habituais 721 (77,19%) <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos relataram que na<br />

última semana não encontraram dificulda<strong>de</strong>.<br />

DISCUSSÃO<br />

A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> correspon<strong>de</strong> com outros estu<strong>do</strong>s populacionais<br />

no Brasil, sen<strong>do</strong> que em to<strong>do</strong>s esses estu<strong>do</strong>s a população feminina é maior que a<br />

população masculina, representan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> sessenta por cento <strong>de</strong>ssa população,<br />

neste estu<strong>do</strong> especificamente foi <strong>de</strong> 62,1% feminino contra 37,9% masculino 9,10,11 .<br />

Em relação a prevalência <strong>de</strong> quedas encontrada que foi <strong>de</strong> 34,15%, verificouse<br />

concordância com a maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s como os apresenta<strong>do</strong>s por Siqueira et<br />

al. (2007) 12 , Mônaco et al. (2009) 13 , Motta et al. (2010) 14 e Ulus et al. (2011) 15 , que<br />

apresentaram prevalências <strong>de</strong> quedas <strong>de</strong> 34,8%, 30,52%, 30,3% e 32,9%<br />

respectivamente. Em contra partida a prevalência <strong>de</strong> quedas ainda apresenta uma<br />

gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>, isso foi <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> na revisão realizada por San<strong>do</strong>val et al.<br />

(2012) 16 , on<strong>de</strong> nos estu<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s foram encontradas prevalências <strong>de</strong> quedas<br />

varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 18 a 56%, essa variação <strong>de</strong>veu-se principalmente pelos <strong>de</strong>lineamentos<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s e pelo tempo <strong>de</strong> exposição as quedas relata<strong>do</strong> pelos i<strong>do</strong>sos.<br />

Os fatores extrínsecos foram os mais prevalentes causa<strong>do</strong>res <strong>de</strong> quedas<br />

neste estu<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> que concorda com os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Bekibele; Gureje (2010) 3 e<br />

Aberg; Frykberg; Halvorsen (2010) 7 , discordan<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ferreira; Yoshitome<br />

(2010) 5 que foi realiza<strong>do</strong> em uma instituição <strong>de</strong> longa permanência.<br />

Em relação a fragilida<strong>de</strong> os da<strong>do</strong>s são contraditórios, apesar <strong>de</strong> relatarem<br />

diminuição <strong>de</strong> força e maior esforço para realizar as tarefas, a maioria relata não ter<br />

dificulda<strong>de</strong> em realizar as tarefas habituais, isso se <strong>de</strong>ve a adaptação a condição<br />

física que ocorre <strong>de</strong> forma lenta e gradativa como apresenta<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

Pa<strong>do</strong>in (2010) 6 e Alencar; Vale; Dantas (2011) 11 .<br />

CONCLUSÃO<br />

A prevalência <strong>de</strong> quedas na população i<strong>do</strong>sa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiânia Goiás foi<br />

<strong>de</strong> 34,15%, sen<strong>do</strong> que 53,92% relatam somente um episódio <strong>de</strong> queda no último<br />

ano. A gran<strong>de</strong> maioria 80,88% relatou ter sofri<strong>do</strong> quedas por causas extrínsecas e<br />

apresentan<strong>do</strong> contusões ou feridas como consequência das mesmas 51,72%.<br />

Capa Índice 13337


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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11. Alencar NA, Vale RGS, Dantas EHM. Relação entre a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física<br />

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332.<br />

12. Siqueira FV, et al. Prevalência <strong>de</strong> quedas em i<strong>do</strong>sos e fatores associa<strong>do</strong>s. Rev<br />

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16. San<strong>do</strong>val RA, et al. Ocorrência <strong>de</strong> quedas <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos não institucionaliza<strong>do</strong>s:<br />

revisão sistemática da literatura. [tese] Doutora<strong>do</strong> em Ciências da Saú<strong>de</strong>,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. Goiânia, Goiás, 2012.<br />

Capa Índice 13338


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13339 - 13344<br />

Direitos humanos LGBT: políticas públicas <strong>de</strong> segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro na<br />

primeira década <strong>do</strong> século XXI<br />

AVELAR, Rezen<strong>de</strong> Bruno <strong>de</strong>. Bolsista Capes no Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em<br />

Sociologia, FCS/<strong>UFG</strong>. revelas@gmail.com<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Luiz Mello<br />

Palavras-chave: Direitos Humanos, Políticas Publicas, Segurança Pública, LGBT.<br />

Políticas públicas na área <strong>de</strong> segurança para lésbicas, gays, bissexuais,<br />

travestis e transexuais é o objeto <strong>de</strong> uma pesquisa em andamento, privilegian<strong>do</strong> na<br />

análise os três primeiros mandatos <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral brasileiro <strong>do</strong> século XXI, que<br />

compreen<strong>de</strong>m os <strong>do</strong>is manda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e<br />

2007-2010) e da Presi<strong>de</strong>nta Dilma Rousseff (2011-2014). O objetivo da pesquisa é<br />

compreen<strong>de</strong>r as dinâmicas, contradições e processos relativos a ações, programas,<br />

estruturas e políticas públicas <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral para esta população na área<br />

específica da segurança pública, bem como a participação da socieda<strong>de</strong> civil neste<br />

<strong>de</strong>bate. Para alcançar esse objetivo, propomos 1 o enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> três<br />

procedimentos:(1) Mapear as estruturas, ações, programas e políticas públicas <strong>do</strong><br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral que respon<strong>de</strong>m às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> movimento LGBT para a área <strong>de</strong><br />

segurança pública, formalizadas no Programa Nacional <strong>de</strong> Direitos Humano II (PNDH<br />

II), no Programa Nacional <strong>de</strong> Direitos Humano III (PNDH III). No Programa Brasil Sem<br />

Homofobia, no Plano Nacional <strong>de</strong> Promoção da Cidadania e Direitos Humanos <strong>de</strong><br />

LGBT, e na forma <strong>de</strong> propostas aprovadas pelo Conselho Nacional LGBT;(2) I<strong>de</strong>ntificar<br />

as propostas da área <strong>de</strong> segurança pública para a população LGBT registradas em<br />

espaços privilegia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> manifestação da socieda<strong>de</strong> civil, como, por exemplo, nos<br />

anais <strong>do</strong>s encontros e congressos da Associação Brasileira <strong>de</strong> Gays, Lésbicas,<br />

Travestis e Transexuais (ABGLT), da Liga Brasileira <strong>de</strong> Lésbicas (LBL), da Articulação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Lésbicas (ABL) e da Articulação Nacional <strong>de</strong> Travestis, Transexuais e<br />

Transgêneros (ANTRA), bem como <strong>de</strong> espaços que expressam posicionamento tanto<br />

da socieda<strong>de</strong> civil quanto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como as Conferências Nacionais LGBT (2008 e<br />

1 Embora não seja uma escolha <strong>de</strong>finitiva, no momento me sinto mais confortável utilizan<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> necessário, a<br />

flexão <strong>do</strong>s verbos na primeira pessoa <strong>do</strong> plural, entre outras razões por que reconheço nesse trabalho as<br />

contribuições das muitas pessoas ouvidas em aulas e eventos acadêmicos, no cotidiano <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e pesquisa <strong>do</strong><br />

Ser – Tão e da linha <strong>de</strong> pesquisa “Diferença, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e cidadania” (<strong>UFG</strong>) e <strong>do</strong>s minuciosos processos <strong>de</strong><br />

orientação e revisão.<br />

Capa Índice 13339


2<br />

2011), <strong>de</strong> Direitos Humanos (2009), <strong>de</strong> Segurança Pública (2009) e <strong>de</strong> Educação<br />

(2010); (3) Averiguar efetivida<strong>de</strong>, tensões, avanços, retrocessos e processos <strong>de</strong>cisórios<br />

das propostas formalizadas nos planos e programas <strong>do</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral para a<br />

segurança <strong>de</strong> pessoas LGBT.<br />

A proposta <strong>de</strong> investigar este tema, com os objetivos acima explicita<strong>do</strong>s,<br />

fundamenta-se, em primeiro lugar, na constatação da existência <strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>srespeito, intolerância, impunida<strong>de</strong> e violência às quais, lésbicas, gays, bissexuais,<br />

travestis e transexuais estão expostas/os 2 cotidianamente. Essa situação <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se, em gran<strong>de</strong> medida, à ausência ou ao alcance limita<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />

legislação que garanta os direitos <strong>de</strong>ssa população e que possibilite o exercício pleno<br />

da cidadania, que estão entre os vários grupos na cena social brasileira que mais<br />

sofrem violações <strong>de</strong> direitos humanos. Os da<strong>do</strong>s da violência homofóbica indicam a<br />

existência <strong>de</strong> um problema mais amplo no campo da segurança pública que é o<br />

agravamento da vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos sociais, como as/os pobres, as/os<br />

negras/os, as mulheres e as/os jovens, cuja discriminação é intensificada quan<strong>do</strong> a<br />

essa condição somam-se orientação sexual e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero estigmatizadas.<br />

Enten<strong>de</strong>mos este tema como importante e urgente, em face da realida<strong>de</strong> que<br />

vivemos e que, a nosso ver, constitui um campo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> com potencial <strong>de</strong> aprofundar<br />

o conhecimento disponível que, muitas vezes, reduz-se à constatação da violência, das<br />

informações da mídia e das propostas e intenções nunca materializadas <strong>do</strong>s agentes<br />

<strong>de</strong> segurança e estruturas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. O estu<strong>do</strong> da segurança para a população LGBT<br />

como política pública é um tema que, paralelo à atuação <strong>do</strong> movimento social, po<strong>de</strong><br />

incidir na construção <strong>de</strong> processos políticos e novas culturas.<br />

A investigação <strong>de</strong> políticas públicas, a<strong>de</strong>mais, é relevante e oportuna, entre<br />

outras razões, porque está em sintonia com o movimento social quanto à cobrança <strong>de</strong><br />

que legisla<strong>do</strong>res/as criem normas específicas <strong>de</strong> combate à homofobia e que os/as<br />

gestores/as públicos implementem políticas <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, e não apenas ações <strong>de</strong><br />

governo, com vistas à garantia <strong>de</strong> seus direitos e ao atendimento <strong>de</strong> suas<br />

reivindicações, construídas nos espaços participativos <strong>de</strong> consulta nacional.<br />

2 Entre as muitas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso da linguagem inclusiva, imprescindível em trabalhos que questionam a<br />

masculinida<strong>de</strong> hegemônica estruturada até mesmo nos padrões gramaticais ditos “cultos”, optamos pelo uso da<br />

barra por nos parecer suficiente para marcar a recusa às generalizações masculinizantes e mais leve <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong><br />

vista da fluência <strong>do</strong> texto. Outro cuida<strong>do</strong> que tomamos <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> linguagem inclusiva foi a<br />

apresentação <strong>do</strong>s nomes completos <strong>do</strong>s/as autoras/es, quan<strong>do</strong> cita<strong>do</strong>s/as pela primeira vez no corpo <strong>do</strong> texto,<br />

como um mecanismo para neutralizar a tendência <strong>de</strong> ler como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> homens as referências marcadas apenas<br />

pelo sobrenome.<br />

Capa Índice 13340


3<br />

Percebemos que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1990, o movimento LGBT brasileiro<br />

tem ganha<strong>do</strong> maior visibilida<strong>de</strong> e avançou na politização <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas e <strong>do</strong>s<br />

mecanismos <strong>de</strong> pressão sobre o Governo Fe<strong>de</strong>ral. Um <strong>do</strong>s efeitos in<strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa<br />

maior visibilida<strong>de</strong> é o aumento da violência homofóbica, contrabalanceada, em alguma<br />

medida, pela ampliação da vigilância social: a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> violência dirigida a essas<br />

populações está cada vez mais sob o foco e o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> ativistas da socieda<strong>de</strong> civil,<br />

<strong>de</strong> organismos internacionais, das próprias vítimas e algumas vezes <strong>do</strong> próprio<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral. Este comportamento <strong>de</strong>ve-se, em gran<strong>de</strong> medida, ao fortalecimento<br />

da <strong>de</strong>mocracia e à ampliação da consciência <strong>de</strong> direitos e da organização da<br />

população LGBT, bem como, por outro la<strong>do</strong>, pela incapacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Brasileiro <strong>de</strong><br />

alterar substancialmente a dramática história <strong>de</strong> violência contra esse segmento.<br />

Uma vez que preten<strong>de</strong> tratar com maior profundida<strong>de</strong> da interação entre governo<br />

e socieda<strong>de</strong> civil em torno das iniciativas, <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong>mandas por políticas públicas <strong>de</strong><br />

segurança para LGBT, esta pesquisa está sen<strong>do</strong> conduzida <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma abordagem<br />

qualitativa. Para a coleta e interpretação <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, preten<strong>de</strong>-se utilizar as técnicas <strong>de</strong><br />

análise <strong>do</strong>cumental e entrevistas em profundida<strong>de</strong>.<br />

A primeira técnica será empregada, após o exame <strong>de</strong> qualificação, para<br />

i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> movimento LGBT no campo da segurança pública,<br />

analisan<strong>do</strong> anais <strong>de</strong> encontros e congressos da Associação Brasileira <strong>de</strong> Gays,<br />

Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ABGLT, e outras re<strong>de</strong>s nacionais além<br />

<strong>de</strong> relatórios da conferência nacional LGBT, planos <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> governos, os relatórios<br />

<strong>do</strong> I e II Seminário Nacional <strong>de</strong> Segurança Pública e Combate à Homofobia, entre<br />

outros.<br />

Com esta mesma técnica também serão analisa<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong> governo<br />

fe<strong>de</strong>ral que formalizem propostas <strong>de</strong> segurança pública para LGBT. No <strong>de</strong>correr da<br />

pesquisa, preten<strong>de</strong>mos observar se as ações e políticas públicas <strong>de</strong> segurança<br />

surgiram <strong>de</strong> processos sociais <strong>de</strong>mocráticos e participativos, que tenham envolvi<strong>do</strong><br />

diferentes seguimentos <strong>de</strong> LGBT e que tenham si<strong>do</strong> efetivadas, monitoradas e<br />

avaliadas pelos grupos e pessoas assistidas por essas ações e políticas. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, também queremos atentar para a verificação da coerência ou incoerência entre<br />

as propostas <strong>do</strong> governo e as <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> movimento social.<br />

Com a intenção <strong>de</strong> conhecer e mapear as ações governamentais nos níveis<br />

fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal no campo das políticas públicas <strong>de</strong>stinadas para a<br />

população LGBT, foi concluída e divulgada no mês <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2010 a pesquisa<br />

Capa Índice 13341


4<br />

“Políticas Públicas para população LGBT no Brasil: um mapeamento crítico preliminar”,<br />

realizada pelo Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e <strong>Pesquisa</strong> em Gênero e Sexualida<strong>de</strong> da <strong>UFG</strong>, com<br />

financiamento da Secretaria <strong>de</strong> Direitos Humano da Presidência da República. A<br />

pesquisa ouviu gestores e ativistas LGBT <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> 9 Unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração e <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, a respeito das políticas públicas para este segmento nas áreas <strong>de</strong><br />

segurida<strong>de</strong> social (saú<strong>de</strong>, assistência e previdência), educação, trabalho, emprego e<br />

renda, bem como segurança pública.<br />

Nessa investigação os pesquisa<strong>do</strong>res Avelar, Brito e Mello (2010), na leitura e<br />

interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, problematizam alguns limites percebi<strong>do</strong>s no campo das<br />

políticas públicas <strong>de</strong> segurança e que <strong>de</strong>verão ser enfrenta<strong>do</strong>s por quem estiver à<br />

frente da implantação e execução das mesmas: as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação entre os<br />

diversos níveis e instâncias <strong>de</strong> governo e <strong>de</strong>ste com a socieda<strong>de</strong> civil; a falta <strong>de</strong> uma<br />

política pública <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e a homofobia institucional compõem a tría<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas<br />

e <strong>de</strong>safios da segurança pública para a população LGBT i<strong>de</strong>ntificada nesta pesquisa.<br />

É com base na compreensão <strong>de</strong>ste vasto campo <strong>de</strong> violências, ausências <strong>de</strong><br />

marcos legais, fragilida<strong>de</strong>s institucionais no campo da segurança pública que este<br />

projeto <strong>de</strong> pesquisa propõe o estu<strong>do</strong> das ações e políticas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro nesta<br />

área, dirigida à população LGBT, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a segurança como um direito <strong>de</strong><br />

cidadania e a livre expressão sexual como um direito humano.<br />

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Capa Índice 13344


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13345 - 13349<br />

ANÁLISE DO TRANCRIPTOMA DE FEIJOEIRO COMUM (Phaseolus vulgaris)<br />

EM CONDIÇÃO DE DÉFICIT HÍDRICO VIA RNA-SEQ<br />

Ricar<strong>do</strong> Diógenes Dias SILVEIRA 1,2 , Claudio BRONDANI 1 , Phillip E. McCLEAN 3 ,<br />

Rosana Pereira VIANELLO-BRONDANI 1<br />

1 Laboratório <strong>de</strong> Biotecnologia, EMBRAPA Arroz e Feijão, Santo Antônio <strong>de</strong> Goiás, GO;<br />

2 Estudante <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> em Biologia, ICB, <strong>UFG</strong>, Goiânia, GO;<br />

3 Professor-pesquisa<strong>do</strong>r da North Dakota State University, Fargo, Dakota <strong>do</strong> Norte (Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s)<br />

E-mail: ricar<strong>do</strong>_biologia@hotmail.com<br />

Palavras-chave: Leguminosas, Tolerância à seca, Expressão diferencial, Nextgeneration<br />

sequencing.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris) é o mais importante legume <strong>de</strong> grão<br />

para o consumo humano em to<strong>do</strong>s os continentes, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se como uma cultura<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor nutricional agrega<strong>do</strong> e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> consumo das<br />

diversas classes sociais (BROUGHTON et al., 2003). Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os últimos cinco<br />

anos, a produtivida<strong>de</strong> média global foi estimada em 21 milhões <strong>de</strong> toneladas, sen<strong>do</strong><br />

que a América Latina contribuiu com 6,7 milhões <strong>de</strong> toneladas e o Brasil, segun<strong>do</strong><br />

maior produtor mundial, com 3,5 milhões <strong>de</strong>sse total (FAO, 2012).<br />

O cultivo <strong>do</strong> feijão no Brasil ocorre principalmente em pequenas proprieda<strong>de</strong>s<br />

que utilizam baixo nível tecnológico no processo produtivo. Dentre os fatores<br />

climáticos, a seca e as altas temperaturas são alguns <strong>do</strong>s principais problemas para<br />

o cultivo <strong>do</strong> feijoeiro comum e chegam a comprometer a produção em mais <strong>de</strong> 1,5<br />

milhões <strong>de</strong> hectares <strong>do</strong> cultivo no mun<strong>do</strong> (TERAN AND SINGH, 2002). A <strong>de</strong>ficiência<br />

hídrica ocorre geralmente, em maior ou menor intensida<strong>de</strong>, na maioria das regiões<br />

produtoras <strong>do</strong> feijão no Brasil, ocasionan<strong>do</strong> constantes frustrações <strong>de</strong> safra, sen<strong>do</strong> a<br />

floração a fase mais vulnerável, seguida pelo perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> enchimento <strong>de</strong> grãos. A<br />

cultura conduzida durante a época da seca (fevereiro-maio) está mais sujeita ao<br />

estresse hídrico.<br />

Desta forma, este trabalho objetivou i<strong>de</strong>ntificar e caracterizar em larga escala<br />

genes diferencialmente expressos em feijoeiro comum sob condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência<br />

Capa Índice 13345


hídrica utilizan<strong>do</strong> a tecnologia <strong>de</strong> sequenciamento <strong>de</strong> segunda geração (RNA-seq),<br />

segui<strong>do</strong> pela anotação da função <strong>de</strong>sses genes e estabelecimento <strong>de</strong> correlação<br />

como genoma expresso <strong>de</strong> soja.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Material vegetal<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is genótipos <strong>de</strong> feijoeiro comum previamente<br />

caracteriza<strong>do</strong>s como contratantes para a tolerância a seca com base em<br />

experimentos <strong>de</strong> campo e casa <strong>de</strong> vegetação. A varieda<strong>de</strong> BAT477 <strong>de</strong>senvolvida<br />

pelo CIAT – Colômbia (WHITE et al., 1994) e caracterizada como tolerante em<br />

condições <strong>de</strong> seca; e a cultivar Pérola <strong>de</strong>senvolvida pela Embrapa Arroz e Feijão<br />

(Brasil) que possui suscepitibilida<strong>de</strong> a seca.<br />

Tratamento hídrico<br />

Um sistema <strong>de</strong> hidroponia foi utiliza<strong>do</strong> para o crescimento das plantas (Hewitt,<br />

1963). Após a germinação em câmara <strong>de</strong> germinação as plântulas foram<br />

transferidas para uma ban<strong>de</strong>ija <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, no qual as raízes ficaram<br />

completamente imersas em solução nutritiva, sob condições controladas <strong>de</strong><br />

temperatura e umida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> permaneceram por quinze dias após a germinação. O<br />

tratamento controle (T0) correspon<strong>de</strong>u a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiênica hídrica. A indução<br />

<strong>de</strong> estresse hídrico foi feita através da remoção das plantas da solução nutritiva,<br />

mantidas em escuro por 75 minutos (tratamento T75) e 150 minutos (tratamento<br />

T150). Após os respectivos tempos <strong>de</strong> tratamento as raízes e folhas foram<br />

imediatamente congeladas em nitrogênio líqui<strong>do</strong> para posterior extração <strong>do</strong> RNA<br />

total.<br />

Extração <strong>de</strong> RNA total e sequenciamento<br />

O RNA total foi obti<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong> o kit <strong>de</strong> extração comercial PureLink® RNA<br />

Mini Kit (Life Techonologies) <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong> fabricante. O RNA<br />

isola<strong>do</strong> foi quantifica<strong>do</strong> no espectrofotômetro NanoDrop2000 (Thermo Scientific) e<br />

avalia<strong>do</strong> quanto a qualida<strong>de</strong> em gel <strong>de</strong>snaturante <strong>de</strong> agarose 1%. A partir <strong>do</strong>s<br />

diferentes genótipos, tratamentos e teci<strong>do</strong>s vegetais foram <strong>de</strong>senvolvidas 12<br />

Capa Índice 13346


ibliotecas <strong>de</strong> cDNA para fins <strong>de</strong> sequenciamento individual. O sequenciamento<br />

RNA-Seq foi realiza<strong>do</strong> na empresa <strong>de</strong> Biotecnologia FASTERIS S.A. (Geneva,<br />

Suiça) utilizan<strong>do</strong> tecnologia Illumina – Hiseq 2000. A estratégia empregada foi a <strong>de</strong><br />

sequenciamento a partir <strong>de</strong> ambas as extremida<strong>de</strong>s (paired-end) com fragmentos <strong>de</strong><br />

2x100 pb.<br />

Análises das sequências <strong>de</strong> RNA-Seq<br />

As análise <strong>de</strong> bioinformática foram conduzidas no Laboratório <strong>de</strong><br />

Bioinformática <strong>do</strong> Dr. Phillip E. McClean em North Dakota State University, Fargo –<br />

Dakota <strong>do</strong> Norte (Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s) em ambiente UNIX utilizan<strong>do</strong> várias linhas <strong>de</strong><br />

coman<strong>do</strong>s. As análises <strong>do</strong>s genes diferencialmente expressos foram realizadas<br />

pelos softwares <strong>do</strong> pacote Cufflinks. Em seguida foi realiza<strong>do</strong> o BLAST contra o<br />

genoma <strong>de</strong> soja (Glycine max) para busca <strong>de</strong> sequências homólogas entre os<br />

genomas. A partir <strong>de</strong>stas informações foi possível realizar a anotação <strong>do</strong>s genes<br />

pelo termos <strong>do</strong> Gene Ontology (GO terms) utilizan<strong>do</strong> a base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s agriGO<br />

(http://bioinfo.cau.edu.cn/agriGO). A caracterização <strong>do</strong>s genes diferencialmente<br />

expressos entre os tratamentos, bem como a avaliação <strong>de</strong> seus níveis <strong>de</strong> expressão,<br />

foram feitas a partir <strong>do</strong> cálculo <strong>do</strong> FPKM (Fragment Per Kilobase of transcript per<br />

Million) com FDR 1.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Para o feijoeiro comum, das 12 bibliotecas representativas <strong>do</strong>s genótipos<br />

contratantes, teci<strong>do</strong>s foliar e radicular e diferentes condições <strong>de</strong> estresse <strong>de</strong> seca,<br />

foram gera<strong>do</strong>s 32Mpb <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> sequências <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong><br />

RNA expresso. Esse volume <strong>de</strong> informação é o equivalente a uma cobertura <strong>de</strong> 7%<br />

<strong>do</strong> genoma <strong>do</strong> feijoeiro comum ( 450Mpb). Desse conjunto, 16Mb são referentes ao<br />

genoma da cultivar suscetível à seca Pérola (suscetível) e 16Mb da varieda<strong>de</strong><br />

tolerante (BAT477). A cobertura media por biblioteca foi <strong>de</strong> aproximadamente 5<br />

vezes o tamanho <strong>do</strong> genoma <strong>do</strong> feijão e a cobertura nas regiões codantes (CDS) foi<br />

<strong>de</strong> 28 vezes.<br />

A análise <strong>do</strong> BLASTn i<strong>de</strong>ntificou 47.418 transcritos que tiveram hits<br />

significantes e, <strong>de</strong>stes, 22.958 tiveram similarida<strong>de</strong>s com genes previamente<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s na soja, das quais 21.081 foram comparadas utilizan<strong>do</strong> a base <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13347


da<strong>do</strong>s Swiss-Prot. A partir da análise <strong>de</strong> GO 18.117 genes foram categoriza<strong>do</strong>s em<br />

36 grupos funcionais. Para as categorias Processos Biológicos, Função Molecular e<br />

Componente Celular foram forma<strong>do</strong>s 20, 8 e 8 grupos funcionais, respectivamente.<br />

Desse conjunto <strong>de</strong> genes anota<strong>do</strong>s, 4.673 foram mapea<strong>do</strong>s em diferentes<br />

vias metabólicas da leguminosa soja. As vias metabólicas nas quais a maior parte<br />

<strong>do</strong>s genes foram aloca<strong>do</strong>s correspon<strong>de</strong>m a via <strong>do</strong> RNA transporta<strong>do</strong>r (53 genes),<br />

biossíntese <strong>do</strong> Áci<strong>do</strong> Jasmônico (49 genes) e Fosforilação e Defosforilação <strong>de</strong><br />

NAD/NADH (41 genes).<br />

Para a varieda<strong>de</strong> BAT477, o transcriptoma <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> das amostras <strong>de</strong> teci<strong>do</strong><br />

foliar e condição <strong>de</strong> tratamento T75, foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s 1.973 genes <strong>do</strong>wn<br />

regulated, ou seja, que tiveram sua expressão reduzida e 968 genes up regulated<br />

que correspon<strong>de</strong>u a um aumento da expressão gênica (Figura 1A). Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a<br />

expressão no teci<strong>do</strong> radicular com o mesmo tratamento (T75), um conjunto <strong>de</strong> 1.771<br />

foram <strong>do</strong>wn regulated e 3.708 genes foram up regulated, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a um<br />

aumento bastante expressivo (~4 vezes mais) quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com o teci<strong>do</strong> foliar<br />

(Figura 1B).<br />

Dentre os genes up regulated na raiz <strong>do</strong> genótipo BAT477, 44 foram anota<strong>do</strong>s<br />

e classifica<strong>do</strong>s como envolvi<strong>do</strong>s na resposta à <strong>de</strong>ficiência hídrica, .81 genes<br />

anota<strong>do</strong>s como responsivos ao estresse oxidativo e genes associa<strong>do</strong>s a síntese das<br />

peroxidases relacionadas aos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>toxificação da células durante<br />

estresse oxidativo.<br />

A B<br />

Figura 1. Histogramas indican<strong>do</strong> a proporção <strong>de</strong> genes up e <strong>do</strong>wn regulated<br />

contratantes entre os genótipos BAT477 e Pérola consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os três tipos <strong>de</strong><br />

tratamento (T0, T75 e T150) para os teci<strong>do</strong>s foliar (A) e radicular (B).<br />

Capa Índice 13348


CONCLUSÕES<br />

Através <strong>do</strong> sequenciamento <strong>do</strong> transcriptoma <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> feijoeiro comum<br />

submetidas às condições <strong>de</strong> déficit hídrico esse estu<strong>do</strong> está possibilitan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

e caracterizar genes diferencialmente expressos em genótipos contrastantes quanto<br />

à tolerância a seca. O gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> genes i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s são alvos potenciais<br />

para serem <strong>de</strong>talhadamente explora<strong>do</strong>s e valida<strong>do</strong>s quanto ao envolvimento na<br />

resposta da planta em condições <strong>de</strong> cultivo com restrição <strong>de</strong> água. O<br />

estabelecimento <strong>de</strong> correlação entre as regiões gênicas <strong>do</strong> feijoeiro comum e a soja<br />

está possibilitan<strong>do</strong> ampliar o conhecimento sobre a relação entre os genomas<br />

<strong>de</strong>ssas espécies filogeneticamente relacionadas com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> uso em<br />

estu<strong>do</strong>s futuros <strong>de</strong> manipulação gênica.<br />

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Capa Índice 13349


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13350 - 13354<br />

A tendência renova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> PCB: atuação e programa político. Ricar<strong>do</strong><br />

Rodrigues Alves <strong>de</strong> LIMA. ricar<strong>do</strong>-ral@ig.com.br<br />

Palavras-chave: intelectuais, renova<strong>do</strong>res, PCB<br />

Apresentação<br />

O presente trabalho está vincula<strong>do</strong> à pesquisa <strong>de</strong>senvolvida no <strong>do</strong>utora<strong>do</strong><br />

sobre a tendência renova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> PCB, sua atuação política e o programa <strong>de</strong><br />

mudança que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u para o país entre os anos <strong>de</strong> 1970 e 1992.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

A atuação e a concepção político-i<strong>de</strong>ológica <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res tem si<strong>do</strong><br />

pesquisada por meio <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos históricos <strong>do</strong> PCB, livros que produziram,<br />

entrevistas com alguns <strong>de</strong> seus principais representantes, além <strong>de</strong> jornais e revistas<br />

<strong>de</strong> que participaram ativamente, com <strong>de</strong>staque para os jornais Voz Operária (1976-<br />

1979), Voz da Unida<strong>de</strong> (1980-1982) e A Esquerda (1984-1986) as revistas Temas<br />

<strong>de</strong> Ciências Humanas (1977-1981) e Presença (1983-1992). Esta produção político-<br />

cultural materializada em jornais, livros e revistas é consi<strong>de</strong>rada um instrumento<br />

privilegia<strong>do</strong>, embora não o único, para rastrear historicamente a trajetória <strong>de</strong>ste<br />

grupo <strong>de</strong> intelectuais que fez da renovação <strong>de</strong>mocrática <strong>do</strong> PCB, da esquerda e da<br />

política brasileira o eixo <strong>de</strong> seu programa político.<br />

A história <strong>do</strong>s intelectuais pesquisa<strong>do</strong>s neste trabalho é reconstituída em suas<br />

intenções e ações a partir <strong>de</strong>sses critérios: a produção <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos e textos<br />

teóricos e políticos em geral <strong>de</strong>ve ser analisada em suas características intrínsecas,<br />

mas comparada com a ação <strong>de</strong>stes intelectuais para levaram adiante o projeto <strong>de</strong><br />

renovação no interior das instituições em que atuaram, especialmente o PCB. A<br />

partir <strong>de</strong>sse ponto, po<strong>de</strong> ser feita a comparação entre o projeto – a intenção <strong>do</strong> ator<br />

político– <strong>do</strong> PCB <strong>de</strong> iniciar a transição ao socialismo por meio <strong>de</strong> uma revolução<br />

burguesa <strong>de</strong> caráter nacional e <strong>de</strong>mocrático e como buscou realizá-la no perío<strong>do</strong><br />

abarca<strong>do</strong> por nossa pesquisa diante das adversida<strong>de</strong>s encontradas no confronto<br />

com a realida<strong>de</strong>. Complementan<strong>do</strong>, o mesmo critério vale para a interpretação <strong>do</strong>s<br />

intelectuais pesquisa<strong>do</strong>s, ou seja, a historicida<strong>de</strong> da prática <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res será<br />

buscada na análise <strong>do</strong>s caminhos que assumiram no interior <strong>do</strong> PCB e diante da<br />

disputa política no Brasil para levar à frente o projeto <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> socialismo<br />

pela <strong>de</strong>mocracia. Mas ten<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>cumentos, jornais e revistas publica<strong>do</strong>s, um<br />

Capa Índice 13350


primeiro elemento que permita rastrear as trajetórias <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res, ainda que<br />

não se restringin<strong>do</strong> a esses da<strong>do</strong>s.<br />

Diante <strong>do</strong> que foi exposto, os <strong>do</strong>cumentos políticos, artigos e textos em geral<br />

produzi<strong>do</strong>s pelo PCB e pelos renova<strong>do</strong>res serviram até o momento como ponto <strong>de</strong><br />

apoio para a análise das intenções/projetos <strong>de</strong> seus autores e a leitura que fizeram<br />

<strong>do</strong> contexto em que atuavam. Por outro la<strong>do</strong>, o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalhos realiza<strong>do</strong>s por<br />

pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> tema, a análise das biografias escritas por aqueles que militaram<br />

no PCB, entrevistas feitas com aqueles que integraram a corrente renova<strong>do</strong>ra ou<br />

foram seus opositores constituiu a técnica <strong>de</strong> pesquisa empregada para avançar na<br />

interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pela análise <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos políticos e teóricos<br />

e comparar como o parti<strong>do</strong> e seus intelectuais buscaram viabilizar seus projetos.<br />

Esse foi o recurso técnico utiliza<strong>do</strong> para comparar a intenção <strong>do</strong> sujeito – parti<strong>do</strong>,<br />

intelectual, classe social – com o curso histórico assumi<strong>do</strong> por sua ação.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão<br />

Os resulta<strong>do</strong>s expostos a seguir foram or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s a partir da periodização<br />

proposta, a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da pesquisa, para o objeto <strong>de</strong> pesquisa. A periodização<br />

histórica a<strong>do</strong>tada no estu<strong>do</strong> da corrente renova<strong>do</strong>ra situa-se entre os anos <strong>de</strong> 1970<br />

e 1992 e tem como parâmetro geral o <strong>de</strong>senvolvimento histórico <strong>do</strong> PCB. No livro<br />

Contribuição à história <strong>do</strong> PCB (1984), Nelson Werneck Sodré percebeu quatro<br />

fases distintas no perío<strong>do</strong> por ele intitula<strong>do</strong> “A gran<strong>de</strong> crise (1964-1984)” <strong>do</strong> PCB: “a<br />

<strong>de</strong>rrota e suas causas (1964-1968)”, “o exílio e a luta armada (1968-1972)”, “a cisão<br />

na direção (1972-1982)” e “um novo Parti<strong>do</strong>” (1982-1984)”. Ten<strong>do</strong> em vista o<br />

conhecimento <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong> que se dispõe atualmente sobre a história <strong>do</strong> PCB, po<strong>de</strong>se<br />

consi<strong>de</strong>rar que a gran<strong>de</strong> crise, ou crise orgânica, correspon<strong>de</strong> ao perío<strong>do</strong> que vai<br />

<strong>de</strong> 1964 a 1992, ano em que o parti<strong>do</strong> divi<strong>de</strong>-se entre aqueles que irão fundar o PPS<br />

(Parti<strong>do</strong> Popular Socialista) e os que refundaram o PCB.<br />

No entanto, para o estu<strong>do</strong> da trajetória <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res essa periodização<br />

geral é particularizada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a dinâmica assumida por essa corrente no<br />

interior <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>. O início <strong>de</strong>sta pesquisa situa-se entre a segunda e terceira fases<br />

da “gran<strong>de</strong> crise” <strong>do</strong> PCB. Levan<strong>do</strong>-se em consi<strong>de</strong>ração a trajetória <strong>do</strong>s<br />

renova<strong>do</strong>res, o marco inicial aqui consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> é a publicação em março <strong>de</strong> 1970 da<br />

Resolução Política <strong>do</strong> Comitê Estadual da Guanabara, redigida por Armênio<br />

Gue<strong>de</strong>s, texto que sintetizou a concepção política e a estratégia <strong>de</strong> enfrentamento<br />

Capa Índice 13351


da ditadura militar a<strong>do</strong>tada em suas linhas gerais pelos renova<strong>do</strong>res. Os resulta<strong>do</strong>s<br />

da pesquisa até o momento indicam que a fase iniciada em 1970 tem um primeiro<br />

corte em 1983, ano que correspon<strong>de</strong> à saída <strong>de</strong> Armênio Gue<strong>de</strong>s e <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> São Paulo, li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por David Capistrano Filho, e à fundação da revista<br />

Presença, a qual agregou uma série <strong>de</strong> intelectuais liga<strong>do</strong>s a essa corrente – muitos<br />

<strong>do</strong>s quais saíram <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> entre 1981 e 1983. Assim, o primeiro gran<strong>de</strong> perío<strong>do</strong><br />

aqui analisa<strong>do</strong> é praticamente idêntico à fase caracterizada por Sodré como “cisão<br />

na direção”. No entanto, ao invés <strong>de</strong> 1972-1982, a referência para a análise <strong>do</strong>s<br />

renova<strong>do</strong>res seria 1970-1983.<br />

O perío<strong>do</strong> situa<strong>do</strong> entre 1970 e 1983 comporta uma subdivisão no ano <strong>de</strong><br />

1976. Em 1971 o Comitê Central <strong>do</strong> PCB <strong>de</strong>cidiu enviar um terço <strong>de</strong> seus<br />

integrantes ao exílio e especialmente entre 1974 e 1976 o governo militar<br />

empreen<strong>de</strong>u uma ação repressiva contra o parti<strong>do</strong> que culminou com a prisão e<br />

assassinato <strong>de</strong> vários <strong>de</strong> seus militantes e dirigentes. Nesse perío<strong>do</strong> também os<br />

aparelhos <strong>de</strong> repressão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> conseguiram <strong>de</strong>sarticular as iniciativas <strong>de</strong><br />

reinserção <strong>do</strong> PCB nas empresas, especialmente na gran<strong>de</strong> São Paulo. Mas os<br />

da<strong>do</strong>s da pesquisa indicam que a partir <strong>de</strong> 1976 houve um processo <strong>de</strong><br />

reorganização <strong>do</strong> PCB com participação <strong>de</strong>cisiva <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res, expressa nos<br />

seguintes fatos: formação da Comissão Estadual <strong>de</strong> Reorganização <strong>do</strong> PCB em São<br />

Paulo, sob a direção <strong>de</strong> David Capistrano Filho; a reorganização, sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong><br />

Armênio Gue<strong>de</strong>s, <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res que estavam no exílio e a importante<br />

participação que tiveram na Voz Operária entre 1976 e 1979; a organização da<br />

revista Temas <strong>de</strong> Ciências Humanas, em 1977, por Gil<strong>do</strong> Marçal Brandão, José<br />

Chasin, Marco Aurélio Nogueira e Nelson Werneck Sodré; e a fundação da Voz da<br />

Unida<strong>de</strong>, em 1980, dirigida pelos renova<strong>do</strong>res pelo menos até mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1981.<br />

Essa reorganização encaminhou-se para uma disputa <strong>de</strong> hegemonia no interior <strong>do</strong><br />

PCB, culminan<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>rrota <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res.<br />

De 1983 a 1992 a corrente renova<strong>do</strong>ra não teria mais o PCB como ponto <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong>, difundin<strong>do</strong>-se em várias frentes <strong>de</strong> atuação, inclusive o PT. Para este<br />

último perío<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> jornal Voz da Unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>staque para a revista Presença<br />

(1983-1992) e o jornal A Esquerda (1984-1986) como expressão teórica e política da<br />

ação e <strong>do</strong> programa <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res para a última fase da transição entre a<br />

ditadura militar e o Esta<strong>do</strong> liberal-<strong>de</strong>mocrático. Para este segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> abarca<strong>do</strong><br />

pela pesquisa e toman<strong>do</strong>-se como referência os renova<strong>do</strong>res que permaneceram no<br />

Capa Índice 13352


PCB, enten<strong>de</strong>-se que ele subdivi<strong>de</strong>-se basicamente em duas fases, 1983-1987 e<br />

1987-1992, separadas pelo VIII <strong>Congresso</strong>, realiza<strong>do</strong> em junho <strong>de</strong> 1987.<br />

Portanto, pelos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pela pesquisa até o momento, a<br />

periodização histórica para o objeto estuda<strong>do</strong> ficou estabelecida <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

1º perío<strong>do</strong> (1970-1983), intitula<strong>do</strong> “Formulação <strong>do</strong> programa e disputa pela<br />

direção”, o qual, na perspectiva <strong>do</strong>s renova<strong>do</strong>res, foi marca<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>finição da<br />

estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota da ditadura, reorganização, atuação e divulgação <strong>de</strong> suas<br />

propostas por meio <strong>de</strong> jornais e revistas (Voz Operária, Temas <strong>de</strong> Ciências<br />

Humanas e Voz da Unida<strong>de</strong>) e disputa pela direção <strong>do</strong> PCB. Este primeiro perío<strong>do</strong><br />

dividiu-se em duas fases: <strong>de</strong> 1970 a1976, “Formulação da estratégia”, e <strong>de</strong> 1976 a<br />

1983, “Programa para a transição e disputa pela direção”.<br />

2º perío<strong>do</strong> (1983-1992) – intitula<strong>do</strong> “A <strong>de</strong>rrota na transição”, o qual se<br />

caracterizou pela saída <strong>de</strong> vários <strong>do</strong>s integrantes da corrente renova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> PCB,<br />

que passaram a lutar pela realização <strong>de</strong> seu programa em outros parti<strong>do</strong>s (PMDB e<br />

PT como exemplos), instituições, jornais e revistas (Presença e A Esquerda como<br />

exemplos), pela legalização <strong>do</strong> PCB e constante <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong>ste parti<strong>do</strong> como direção<br />

<strong>de</strong> esquerda até a fundação <strong>do</strong> PPS. A análise <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> feita até o momento<br />

sugere uma divisão <strong>de</strong>sse último perío<strong>do</strong> também entre duas fases: <strong>de</strong> 1983 a 1987<br />

e 1987 a 1992.<br />

Conclusão<br />

Os da<strong>do</strong>s da pesquisa apontam para o seguinte da<strong>do</strong>: a <strong>de</strong>rrota <strong>do</strong>s<br />

intelectuais renova<strong>do</strong>res tem como eixo explicativo o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svinculação<br />

<strong>de</strong>stes e <strong>do</strong> próprio PCB com a classe operária que ascen<strong>de</strong>u no cenário político <strong>do</strong><br />

final <strong>do</strong>s anos 1970. Outros fatores <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, mas este foi <strong>de</strong>cisivo<br />

diante das circunstâncias da época.<br />

Apesar <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> que o projeto <strong>de</strong> hegemonia formula<strong>do</strong> pelos intelectuais<br />

renova<strong>do</strong>res para o PCB entre os anos <strong>de</strong> 1970 e 1983 buscar a incorporação <strong>do</strong><br />

movimento sindical ao parti<strong>do</strong> político, com esta instituição projetan<strong>do</strong>-se como o<br />

principal articula<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> frente as <strong>de</strong>mais classes e o<br />

Esta<strong>do</strong>, tornou-se cada vez mais difícil a realização <strong>de</strong> tal intento.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a fundação <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (PT) em 1980<br />

evi<strong>de</strong>nciou a <strong>de</strong>rrota <strong>do</strong> PCB nesta disputa pela direção da classe operária,<br />

Capa Índice 13353


especialmente aquela oriunda <strong>do</strong> ABC paulista, para os próprios dirigentes sindicais<br />

que li<strong>de</strong>ram o movimento operário durante as greves <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> 1978-1980.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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SANTOS, Raimun<strong>do</strong>. O Pecebismo Inconcluso: escritos sobre i<strong>de</strong>ias políticas. 2<br />

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SODRÉ, Nelson.W. Brasil: a luta i<strong>de</strong>ológica. Temas <strong>de</strong> Ciências Humanas. São<br />

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TEMAS DE CIÊNCIAS HUMANAS. São Paulo: Grijalbo, 1977. Ciências Humanas,<br />

1978-1981.<br />

Capa Índice 13354


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13355 - 13359<br />

ESTRESSE OXIDATIVO EM BOVINOS ALIMENTADOS COM FENO DE<br />

BRACHIARIA SP SUBMETIDOS A TRATAMENTOS COM DIFERENTES<br />

ANTIOXIDANTES<br />

Roberta Dias da SILVA 1 , Maria Clorinda Soares FIORAVANTI 2, Gustavo Lage<br />

COSTA 1 , Juliana Job SERODIO 3 , Thiago <strong>de</strong> Jesus DO CARMO 3 , Daniela<br />

CARDOSO 4 , Neryssa Alencar <strong>de</strong> OLIVEIRA 4 , Augusto José CEMBRANEL 4 , Ulisses<br />

Reis Correia PINTO 5<br />

1 Doutoranda(o) PPGCA/EVZ/<strong>UFG</strong>. diasroberta5@gmail.com<br />

2 Professora Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária, EVZ/<strong>UFG</strong>. clorinda@vet.ufg.br<br />

3 Mestranda(o) PPGCA/EVZ/<strong>UFG</strong><br />

4 Alunos <strong>de</strong> graduação em Medicina Veterinária/<strong>UFG</strong><br />

5 Aluno <strong>de</strong> Tecnologia em Irrigação e Drenagem/IFG<br />

Palavras-chave: bovino <strong>de</strong> corte, radicais livres, selênio, vitamina E, zinco<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

As espécies <strong>de</strong> Brachiaria sp são importantes forrageiras <strong>de</strong> regiões<br />

tropicais, e adaptou-se bem ao Brasil, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada a “salvação da pecuária<br />

nacional”. Entretanto, algumas espécies como B. brizantha, B. humidicola e,<br />

especialmente, B. <strong>de</strong>cumbens têm si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scritas como causa<strong>do</strong>ras <strong>de</strong><br />

fotossensibilização hepatógena em ruminantes (MEAGHER et al., 1996; LEMOS &<br />

PURISCO, 2002).<br />

Em bovinos fotossensibiliza<strong>do</strong>s, a lesão hepática po<strong>de</strong> ser observada por<br />

alterações séricas nas enzimas hepáticas (alanina aspartato transaminase - AST e<br />

gama glutamil transferase - GGT), presença <strong>de</strong> macrófagos espumosos nos<br />

hepatócitos e a ocorrência <strong>de</strong> danos celulares por radicais livres produzi<strong>do</strong>s via ação<br />

catalítica enzimática. A produção contínua <strong>de</strong> radicais livres durante os processos<br />

metabólicos leva ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> muitos mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa antioxidante<br />

para limitar os seus níveis intracelulares e impedir a indução <strong>de</strong> danos (SIES, 1993).<br />

O <strong>de</strong>sequilíbrio entre moléculas oxidantes e antioxidantes tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> com<br />

estresse oxidativo. A condição celular ou fisiológica <strong>de</strong> elevada concentração <strong>de</strong><br />

espécies reativas <strong>de</strong> oxigênio (EROs) causa danos moleculares às estruturas<br />

Capa Índice 13355


celulares, com consequente alteração funcional e prejuízo das funções vitais<br />

(DRÖGE, 2002).<br />

No metabolismo celular normal existe a produção constante <strong>de</strong> espécies<br />

reativas <strong>de</strong> oxigênio – EROs (ânion superóxi<strong>do</strong> (O2-), peróxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> hidrogênio (H2O2)<br />

e radical hidroxila (HO), sen<strong>do</strong> que em condições com alta produção <strong>de</strong> EROs<br />

acarreta em ações <strong>de</strong>letérias em to<strong>do</strong>s os componentes celulares. Porém, a<br />

membrana celular é uma das estruturas mais atingidas pela peroxidação lipídica<br />

(ALESSIO, 1993), o que acarreta alterações na sua estrutura e permeabilida<strong>de</strong>.<br />

Consequentemente, há perda da seletivida<strong>de</strong> na troca iônica e liberação <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> organelas, como as enzimas hidrolíticas <strong>do</strong>s lisossomas, e formação <strong>de</strong><br />

produtos citotóxicos, assim como aumento na carbonilação <strong>de</strong> proteínas e até<br />

mesmo danos ao DNA intracelular, o que em última instância altera e prejudica o<br />

metabolismo intracelular, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> inclusive ocasionar morte celular (HALLIWELL &<br />

GUTTERIDGE, 1989).<br />

Diante <strong>de</strong>stas afirmações são necessários a realização <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s com o<br />

objetivo <strong>de</strong> esclarecer a participação <strong>do</strong>s radicais livres no processo <strong>de</strong> estresse<br />

oxidativo no fíga<strong>do</strong> <strong>de</strong> bovinos aparentemente saudáveis alimenta<strong>do</strong>s por Brachiaria<br />

sp. Nesse contexto, a presente pesquisa tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar se substâncias<br />

antioxidantes introduzidas na dieta irão reduzir a ocorrência <strong>de</strong> estresse oxidativo<br />

em células hepáticas <strong>de</strong> bovinos alimenta<strong>do</strong>s com braquiária.<br />

2 MATERIAL E MÉTODOS<br />

O estu<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> na Fazenda Tomé Pinto <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da<br />

Escola <strong>de</strong> Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás,<br />

localizada no Município <strong>de</strong> São Francisco <strong>de</strong> Goiás. Foram utiliza<strong>do</strong>s 40 bovinos <strong>de</strong><br />

peso aproxima<strong>do</strong> <strong>de</strong> 360 kg e ida<strong>de</strong> entre 24 a 36 meses, cria<strong>do</strong>s em pastos <strong>de</strong><br />

Brachiaria sp. O <strong>de</strong>lineamento experimental foi inteiramente casualiza<strong>do</strong>, com cinco<br />

tratamentos e oito repetições, em que cada repetição foi representada por um<br />

animal. Os tratamentos foram representa<strong>do</strong>s pelos diferentes antioxidantes e pelo<br />

grupo controle. Após um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> 14 dias nas instalações e com a<br />

alimentação, os animais foram dividi<strong>do</strong>s em cinco grupos, que receberam os<br />

tratamentos seguintes:<br />

Grupo 1 - controle (sem suplementação)<br />

Capa Índice 13356


Grupo 2 - suplementação com 1000 UI <strong>de</strong> vitamina E e 10 mg <strong>de</strong> selênio (2 g na<br />

forma <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> α-tocoferol à 50% e 10 g na forma <strong>de</strong> selênio metionina)<br />

Grupo 3 - suplementação <strong>de</strong> 600 mg <strong>de</strong> zinco/animal/dia (6 g na forma <strong>de</strong> zinco<br />

metionina)<br />

Grupo 4 - suplementação com selênio 10 mg <strong>de</strong> selênio/animal/dia (10 g na forma<br />

<strong>de</strong> selênio metionina)<br />

Grupo 5 - suplementação com 1000 UI <strong>de</strong> vitamina E/animal/dia (2 g na forma <strong>de</strong><br />

acetato <strong>de</strong> α-tocoferol a 50%)<br />

Durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> experimentação, os animais permaneceram<br />

aloja<strong>do</strong>s em baias <strong>de</strong> confinamento e foram alimenta<strong>do</strong>s com volumoso (feno <strong>de</strong><br />

braquiária) e concentra<strong>do</strong> (ração), na proporção 70:30. O feno <strong>de</strong> B. brizantha foi<br />

produzi<strong>do</strong> e armazena<strong>do</strong> na própria Fazenda da EVZ. Os animais foram alimenta<strong>do</strong>s<br />

duas vezes ao dia, às 8:00 e às 15:00 horas.<br />

Foi colhi<strong>do</strong> sangue por venopunção jugular a cada perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 28 dias em<br />

tubos conten<strong>do</strong> anticoagulantes EDTA (áci<strong>do</strong> etilediaminotetracético, sal dissódico)<br />

para a realização <strong>do</strong> hemograma (eritrócitos, hemoglobina, volume globular,<br />

plaquetas e leucócitos totais), em analisa<strong>do</strong>r automático BC 2800 Vet; e em tubos<br />

com heparina para as avaliações <strong>de</strong> estresse oxidativo. As amostras após as<br />

colheitas foram refrigeradas e encaminhadas ao Laboratório Multiusuário da Pós-<br />

Graduação em Ciência Animal/EVZ <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um prazo máximo <strong>de</strong> duas horas a<br />

contar <strong>do</strong> momento da colheita para o processamento.<br />

A partir das amostras heparinizadas foi realiza<strong>do</strong> teste <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong><br />

osmótica e um pré-processamento das amostras, seguidas por congelamento a -<br />

80ºC <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com protocolo estabeleci<strong>do</strong> pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Agrárias e<br />

Veterinária da Unesp/Botucatu para as avaliações <strong>de</strong> estresse oxidativo (TBARS,<br />

glutationa total, glutationa reduzida, catalase e grupamento tióis).<br />

Para as variáveis quantitativas que apresentaram distribuição normal<br />

foram aplicadas ANOVA e teste <strong>de</strong> Tukey para se realizar a comparação entre os<br />

grupos.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O perfil eritrocitário <strong>do</strong>s animais durante to<strong>do</strong> o experimento manteve-se<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> referência proposto por FAGLIARI (1998). Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

cada grupo, por tratamento estão <strong>de</strong>scritos na tabela 1.<br />

Capa Índice 13357


TABELA 1 - Valores médios e <strong>de</strong>svio padrão <strong>do</strong>s testes hematológicos usa<strong>do</strong>s para<br />

avaliar o esta<strong>do</strong> oxidativo <strong>de</strong> eritrócitos em bovinos da raça Nelore<br />

alimenta<strong>do</strong>s com feno Brachiaria sp. e submeti<strong>do</strong>s a tratamento com<br />

diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012<br />

Eritrócitos (x 10 6<br />

cels /µL)<br />

Grupo<br />

Controle<br />

Grupo Se +<br />

Vit. E<br />

Hemograma<br />

Grupo Zn Grupo Se Grupo Vit. E<br />

7,80 + 0,40 7,34 + 0,16 7,84 + 0,41 7,37 + 0,09 7,92 + 0,25<br />

Hemoglobina (g/dL) 11, 37 + 0,69 11,04 + 0,52 11,43 + 0,72 10,67 + 0,65 11,41 + 0,68<br />

Volume globular (%) 37,67 + 1,58 36,66 + 1,19 38,52 + 2,03 35,42 + 0,90 37,46 + 1,27<br />

Leucócitos totais<br />

(cels/µL)<br />

Plaquetas (x 10 3<br />

cels /µL)<br />

Hemólise em 100<br />

mmol/L NaCl (%)<br />

9.921 +<br />

1.016,95<br />

9.343 +<br />

987,13<br />

9.293 +<br />

998,35<br />

9.075 +<br />

487,12<br />

9.343 +<br />

319,26<br />

179 + 16,14 175 + 22,87 191 + 19,03 176 + 10,64 181 + 12,25<br />

Teste <strong>de</strong> Fragilida<strong>de</strong> Osmótica<br />

8 + 1,36 6 + 1,09 10 + 2,28 9 + 3,03 8 + 2,21<br />

Para todas as variáveis avaliadas durante o estu<strong>do</strong> não foi encontrada<br />

diferença estatística entre os tratamentos. Resulta<strong>do</strong>s semelhantes foram<br />

observa<strong>do</strong>s por BONDAN et al. (2005) e CHIHUAILAF VIVANCO et al. (2006)<br />

trabalhan<strong>do</strong> com os mesmos antioxidantes.<br />

De acor<strong>do</strong> com BRZEZINSKA (2001), a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s eritrócitos ao<br />

choque osmótico está relacionada com as características da membrana celular, por<br />

isso, é razoável supor que o aumento da fragilida<strong>de</strong> osmótica esteja liga<strong>do</strong> ao<br />

aumento <strong>de</strong> radicais livres. Porém, no presente estu<strong>do</strong> não foi possível <strong>de</strong>terminar<br />

por meio <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> lipoperoxidação (TBARS, glutationa total, glutationa reduzida e<br />

grupamento tióis) as características <strong>de</strong> membrana, uma vez que estes ainda não<br />

foram concluí<strong>do</strong>s.<br />

CONCLUSÃO<br />

A administração <strong>de</strong> antioxidantes na alimentação <strong>de</strong> bovinos da raça<br />

Nelore alimenta<strong>do</strong>s com feno Brachiaria sp. não promoveu alterações <strong>de</strong> estresse<br />

oxidativo em avaliações por teste <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> osmótica.<br />

Capa Índice 13358


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Capa Índice 13359


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13360 - 13364<br />

Efeitos da Miltefosina em Membranas Mo<strong>de</strong>lo e <strong>de</strong> Eritrócitos Estuda<strong>do</strong>s por<br />

Ressonância Paramagnética Eletrônica<br />

Rodrigo Alves MOREIRA; Antonio ALONSO; Sebastião Antonio MENDANHA<br />

Instituto <strong>de</strong> Física, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>), Goiânia/GO, Brasil.<br />

E-mail: ralves33@hotmail.com; alonso@if.ufg.br; mendanhaneto.sa@gmail.com<br />

Palavras Chave: Membranas <strong>de</strong> eritrócitos; Miltefosina; Marca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> spin; RPE.<br />

Introdução<br />

A miltefosina (MT) é um medicamento sintético originalmente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> como<br />

antineoplásico, mas que também apresenta uma potente ativida<strong>de</strong> leishmanicida<br />

(Paris et al., 2004; Verna e Dey, 2004). Entretanto, os mecanismos moleculares que<br />

contribuem para a ativida<strong>de</strong> leishmanicida da MT ainda não são bem conheci<strong>do</strong>s.<br />

Este trabalho tem como objetivo, obter informações que aju<strong>de</strong>m a elucidar os<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação da MT nas membranas <strong>do</strong>s parasitos através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

seus efeitos em plataformas lipídicas <strong>de</strong> membranas mo<strong>de</strong>lo (PLs), em membranas<br />

<strong>de</strong> eritrócitos livres <strong>de</strong> hemoglobina (MEs) e em membranas <strong>de</strong> eritrócitos<br />

resistentes a extração por <strong>de</strong>tergente (MRDs) por meio da espectroscopia <strong>de</strong><br />

ressonância paramagnética eletrônica (RPE) <strong>de</strong> marca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> spin.<br />

Materiais e Méto<strong>do</strong>s<br />

Preparação e Marcação das Membranas Mo<strong>de</strong>lo<br />

Filmes lipídicos conten<strong>do</strong> a mistura <strong>de</strong>sejada <strong>de</strong> 1-palmitoil-2-oleoil-sn-glicero-3fosfocolina<br />

(POPC), esfingomielina (SM), colesterol (Col) e miltefosina (MT)<br />

dissolvi<strong>do</strong>s em clorofórmio e o marca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> spin 5-<strong>do</strong>xil estearato (5-DSA)<br />

dissolvi<strong>do</strong> em etanol obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a proporção <strong>de</strong> marca<strong>do</strong>r:lípi<strong>do</strong> (1:100) foram<br />

forma<strong>do</strong>s em tubos <strong>de</strong> vidro por evaporação <strong>do</strong> solvente usan<strong>do</strong> um fluxo <strong>de</strong><br />

nitrogênio gasoso. Em seguida, os filmes <strong>de</strong> lípi<strong>do</strong>s foram hidrata<strong>do</strong>s com um<br />

volume a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> tampão fosfato salino (fosfato 5 mM, NaCl 150 mM pH 7,4)<br />

Capa Índice 13360


conten<strong>do</strong> 0,5 mM <strong>de</strong> áci<strong>do</strong> etilenodiaminotetraacético (EDTA) para formar uma<br />

suspensão <strong>de</strong> vesículas multilamelares <strong>de</strong> plataformas lipídicas. Vesículas<br />

unilamelares foram preparadas utilizan<strong>do</strong> um mini-extrusor adquiri<strong>do</strong> da empresa<br />

Avanti Polar Lipids Inc. (Alabaster, EUA), equipa<strong>do</strong> com filtros <strong>de</strong> policarbonato com<br />

poros <strong>de</strong> 0,1 m <strong>de</strong> diâmetro. Posteriormente, as suspensões <strong>de</strong> vesículas<br />

unilamelares foram transferidas para tubos capilares para realização <strong>do</strong>s<br />

experimentos <strong>de</strong> RPE.<br />

Preparação e Marcação das MEs e das MRDs<br />

O sangue foi cedi<strong>do</strong> pelo Instituto Goiano <strong>de</strong> Oncologia e Hematologia (INGOH) e<br />

coleta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res humanos normais. Amostras <strong>de</strong> sangue total diluídas em<br />

solução tamponante fosfato salina (5 mM <strong>de</strong> fosfato, 150 mM NaCl, 0,2 mM EDTA,<br />

pH 7,4) foram centrifugadas três vezes a 150 xg durante 10 min a 4 °C ten<strong>do</strong> o<br />

plasma e células brancas cuida<strong>do</strong>samente removidas em cada lavagem. Os<br />

eritrócitos foram então ressuspendi<strong>do</strong>s a uma concentração <strong>de</strong> hematócrito 10% em<br />

tampão fosfato (5 mM <strong>de</strong> fosfato, pH 8,0) e incuba<strong>do</strong>s por 12 h a 4 °C. Após o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> incubação as soluções <strong>de</strong> eritrócito foram centrifugadas a 25000 xg<br />

durante 10 min a 4 °C ten<strong>do</strong> o sobrenadante cuida<strong>do</strong>samente removi<strong>do</strong>. Este<br />

procedimento foi repeti<strong>do</strong> até que o sobrenadante estivesse livre <strong>de</strong> hemoglobina<br />

residual. Para preparar as MRDs, uma alíquota da suspensão <strong>de</strong> membranas <strong>de</strong><br />

eritrócito foi misturada com tampão Tris (25 mM Tris/HCl, 150 mM NaCl, 1 mM<br />

EDTA, pH 7,4) (TNE) conten<strong>do</strong> Triton X-100 (TX-100), retira<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma solução<br />

estoque aquosa a 10%. O TX-100 foi adiciona<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a estabelecer uma<br />

concentração final <strong>de</strong> <strong>de</strong>tergente <strong>de</strong> 1% e a solução foi cuida<strong>do</strong>samente<br />

homogeneizada por sucessivas pipetagens. Após 30 min <strong>de</strong> incubação, a solução foi<br />

diluída com um volume igual <strong>de</strong> sacarose 80% (p/v) diluída em TNE.<br />

Subsequentemente, a amostra foi transferida para tubos <strong>de</strong> ultracentrífuga e uma<br />

solução <strong>de</strong> sacarose 30% (p/v) em TNE foi cuida<strong>do</strong>samente adicionada em cada<br />

tubo seguida por outra camada <strong>de</strong> sacarose 5% (p/v) em TNE. As amostras foram<br />

então centrifugadas a 225000 xg durante 4 h a 4 °C e as MRDs foram coleta<strong>do</strong>s por<br />

aspiração da segunda fração i<strong>de</strong>ntificada nos tubos. A quantificação das proteínas<br />

das MEs e das MRDs foi realizada utilizan<strong>do</strong> um conjunto basea<strong>do</strong> na reação <strong>do</strong><br />

áci<strong>do</strong> bicinconínico (BCA) (Walker, 2002) adquiri<strong>do</strong> da empresa Sigma Chem. Co.<br />

Capa Índice 13361


(St Louis, MO). Para incorporar o marca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> spin e a MT (Fig. 1) nas MEs e nas<br />

MRDs as amostras foram adicionadas a filmes <strong>do</strong> marca<strong>do</strong>r 5-DSA (diluí<strong>do</strong> em<br />

etanol na concentração <strong>de</strong> 5 mg/mL) previamente forma<strong>do</strong>s em tubos <strong>de</strong> vidro e em<br />

seguida a filmes conten<strong>do</strong> as concentrações <strong>de</strong>sejadas <strong>de</strong> MT. Finalmente, as<br />

amostras foram transferidas para tubos capilares para realização <strong>do</strong>s experimentos<br />

<strong>de</strong> RPE.<br />

C<br />

H3<br />

N<br />

H3C<br />

+<br />

HO<br />

CH3<br />

O<br />

O<br />

P<br />

O<br />

Espectroscopia <strong>de</strong> RPE<br />

O<br />

O -<br />

Os experimentos <strong>de</strong> RPE foram realiza<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong> um espectrômetro Bruker<br />

ESP300 equipa<strong>do</strong> com uma cavida<strong>de</strong> ressonante ER4102 ST operan<strong>do</strong> em banda-X<br />

(aproximadamente 9,4 GHz). Todas as medidas foram realizadas em temperatura<br />

ambiente (24-26 °C) com os seguintes parâmetros: potência <strong>de</strong> micro-ondas, 20<br />

mW; frequência <strong>de</strong> modulação, 100 kHz; amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> modulação, 1,024 G;<br />

varredura <strong>de</strong> campo magnético, 100 G; tempo <strong>de</strong> varredura, 168 s e constante <strong>de</strong><br />

tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção, 41 ms.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

O N<br />

5-DSA<br />

Os espectros <strong>de</strong> EPR <strong>do</strong> marca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> spin 5-DSA incorpora<strong>do</strong> em vesículas com<br />

diferentes misturas <strong>de</strong> SM:POPC:Col (composição amplamente utilizada para<br />

representar as Pls) e SM:POPC:Col:MT bem como o parâmetro espectral 2A|| são<br />

mostra<strong>do</strong>s na Fig. 2. Este parâmetro é medi<strong>do</strong> diretamente no espectro <strong>de</strong> RPE<br />

através da separação das linhas hiperfinas externas e po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> para<br />

O<br />

Miltefosina<br />

Figura 1 - Marca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> spin 5-DSA e molécula <strong>de</strong> miltefosina.<br />

Capa Índice 13362


Figura 2 - Espectros <strong>de</strong> RPE <strong>do</strong> marca<strong>do</strong>r 5-DSA incorpora<strong>do</strong> em membranas mo<strong>de</strong>lo com<br />

diferentes proporções <strong>de</strong> SM:POPC:Col (linha preta) e SM:POPC:Col:MT (linha vermelha) bem<br />

como os valores <strong>do</strong> parâmetro 2A||.<br />

2A ||<br />

60<br />

58<br />

56<br />

54<br />

52<br />

50<br />

48<br />

46<br />

44<br />

A<br />

2A||<br />

0,00 0,05 0,10 0,15<br />

[mg MT/mg proteína]<br />

B<br />

2A||<br />

0,00 0,05 0,10 0,15<br />

[mg MT/mg proteína]<br />

Figura 3 - Parâmetro espectral 2A|| como função da concentração <strong>de</strong> miltefosina e <strong>de</strong> proteína<br />

das amostas <strong>de</strong> MEs (Painel A) e <strong>de</strong> MRDs (Painel B). Em cada painel está representa<strong>do</strong> como o<br />

parâmetro 2A|| é medi<strong>do</strong> diretamente <strong>do</strong>s espectros <strong>de</strong> RPE.<br />

Capa Índice 13363


monitorar as alterações na dinâmica ou na estrutura <strong>de</strong> bicamadas lipídicas. Note<br />

que, a substituição <strong>de</strong> SM por moléculas <strong>de</strong> miltefosina não provoca variações<br />

significativas <strong>do</strong>s valores encontra<strong>do</strong>s para o parâmetro 2A||. Isto <strong>de</strong>monstra que a<br />

miltefosina <strong>de</strong>sempenha uma função equivalente à SM nas bicamadas e não<br />

provoca alterações estruturais ou dinâmicas nas vesículas.<br />

A Fig. 3 mostra o comportamento <strong>do</strong> parâmetro 2A|| para as MEs (Painel A) e para<br />

as MRDs (Painel B) tratadas com diferentes concentrações <strong>de</strong> MT. Ao contrário <strong>do</strong><br />

caso das PLs, quan<strong>do</strong> adicionada na concentração <strong>de</strong> 0,125 mg MT/mg <strong>de</strong> proteína,<br />

a miltefosina dimunui o valor <strong>do</strong> parâmetro 2A|| em aproximadamente 10 e 14 G para<br />

as MEs e MRDs respectivamente. Esta diminuição <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> parâmetro 2A||<br />

mostra que a MT é capaz <strong>de</strong> alterar drasticamente a dinâmica e a flui<strong>de</strong>z das MEs e<br />

MRDs.<br />

Conclusões<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste trabalho indicam que o mecanismo <strong>de</strong> ação da miltefosina nas<br />

membranas celulares está liga<strong>do</strong> às proteínas inseridas nas bicamadas lipídicas. A<br />

miltefosina parece atuar na interface lipídio-proteína, o que explica o aumento da<br />

dinâmica verifica<strong>do</strong> para as MEs e MRDs e a ausência <strong>de</strong> efeito nas membranas<br />

mo<strong>de</strong>lo. Este po<strong>de</strong> ser um <strong>do</strong>s mecanismos pelos quais a miltefosina mata o<br />

parasito que provoca a leishmaniose.<br />

Suporte Financeiro: Capes e CNPq.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Paris, C., Loiseau, P.M., Bories, C., Bréard, J., 2004. Miltefosine induces apoptosislike<br />

<strong>de</strong>ath in Leishmania <strong>do</strong>novani promastigotes. Antimicrob. Agents<br />

Chemother. 48, 852-859.<br />

Verma, N.K., Dey, C.S., 2004. Possible mechanism of miltefosine-mediated <strong>de</strong>ath of<br />

Leishmania <strong>do</strong>novani. Antimicrob. Agents Chemother. 48, 3010-3015.<br />

Walker, J.M., editor. The Protein Protocols Handbook. Humana Press, New Jersey,<br />

2002.<br />

Capa Índice 13364


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13365 - 13369<br />

DIVERSIDADE FUNCIONAL DE PEIXES EM SISTEMAS AQUÁTICOS TROPICAIS<br />

CONTINENTAIS<br />

Rodrigo Assis <strong>de</strong> CARVALHO 1 & Francisco Leonar<strong>do</strong> TEJERINA-GARRO 2<br />

1<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ecologia e Evolução, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás, Departamento <strong>de</strong> Ecologia. rodrigoassiscarvalho@gmail.com; ²Centro <strong>de</strong><br />

Biologia Aquática, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás. garro@pucgoias.edu.br<br />

Palavras-Chave: Araguaia-Tocantins, bacias, Goiás, atributos funcionais.<br />

Introdução<br />

A elevada riqueza <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> peixes reflete-se em uma alta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

morfologias, fisiologias e atributos ecológicos, principalmente em ecossistemas<br />

tropicais (Lowe-McConnel, 1987). Esta diversida<strong>de</strong> cria uma relação estreita entre os<br />

peixes e importantes processos da comunida<strong>de</strong> e/ou <strong>do</strong> ecossistema, tais como:<br />

regulação das re<strong>de</strong>s tróficas, da resiliência <strong>do</strong> ecossistema e <strong>do</strong> fluxo <strong>de</strong> carbono<br />

água-atmosfera; reciclagem <strong>de</strong> nutrientes; redistribuição <strong>de</strong> substratos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong><br />

(Holmlund & Hammer, 1999). A compreensão das relações funcionais das espécies<br />

com o ambiente é um <strong>de</strong>safio importante para os ecólogos uma vez que as<br />

características funcionais po<strong>de</strong>m ser importantes preditoras da distribuição e da<br />

abundância das espécies (Poff, 1997). No caso <strong>do</strong>s peixes, a estrutura funcional <strong>de</strong><br />

suas assembleias po<strong>de</strong> ainda respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma diferente às influências históricas<br />

e ambientais em relação ao que é espera<strong>do</strong> e estuda<strong>do</strong> para a riqueza <strong>de</strong> espécies<br />

(Marsh-Matthews & Matthews, 2000).<br />

Para as assembleias <strong>de</strong> peixes esta abordagem funcional tem si<strong>do</strong> utilizada na<br />

tentativa <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r como a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atributos ecológicos, a diversida<strong>de</strong><br />

funcional, po<strong>de</strong> estar relacionada com os gradientes ambientais (Pease et al., 2012)<br />

e os processos ecológicos (Villéger et al., 2010). Entretanto, até on<strong>de</strong> se sabe, a<br />

estruturação da diversida<strong>de</strong> funcional em áreas que sofrem influência das planícies<br />

<strong>de</strong> inundação ainda é um tópico pouco conheci<strong>do</strong>.<br />

As planícies <strong>de</strong> inundação são áreas com flutuação sazonal na precipitação e<br />

inundação lateral resultante <strong>do</strong> pulso <strong>de</strong> inundação, e os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste processo<br />

sobre a ictiofauna parecem ser alterações na estrutura da comunida<strong>de</strong> e nas<br />

adaptações <strong>do</strong>s peixes (Junk et al., 1989). Melo (2011) e Araújo (2012)<br />

<strong>de</strong>monstraram que os efeitos po<strong>de</strong>m se esten<strong>de</strong>r a um aumento da riqueza <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13365


espécies e da biomassa <strong>de</strong> peixes, além <strong>de</strong> mudanças na composição <strong>de</strong> espécies.<br />

Se as planícies <strong>de</strong> inundação são capazes <strong>de</strong> aumentar a riqueza <strong>de</strong> espécies e<br />

influenciar as adaptações das espécies, po<strong>de</strong>-se questionar se os riachos<br />

influencia<strong>do</strong>s pelos efeitos da planície <strong>de</strong> inundação apresentam mais espécies com<br />

diferentes atributos funcionais <strong>do</strong> que aqueles não afeta<strong>do</strong>s pela inundação.<br />

Os rios Araguaia e Tocantins são os principais tributários da bacia conhecida<br />

como Tocantins-Araguaia, os quais são separa<strong>do</strong>s geograficamente, no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Goiás, pelas Serras <strong>do</strong> Caiapó e <strong>do</strong>s Pirineus (Tejerina-Garro, 2008). O Rio<br />

Araguaia é ti<strong>do</strong> como um rio <strong>de</strong> inundação que permanece conecta<strong>do</strong> aos seus<br />

principais afluentes durante a estação chuvosa (Ribeiro et al., 1995), portanto, os<br />

riachos associa<strong>do</strong>s ao Araguaia estão sob o espectro <strong>de</strong> influência da planície <strong>de</strong><br />

inundação. Neste estu<strong>do</strong>, testamos se a diversida<strong>de</strong> funcional das assembleias <strong>de</strong><br />

peixes nos riachos da bacia <strong>do</strong> Araguaia é maior <strong>do</strong> que aquela observada em<br />

assembleias nos riachos da bacia <strong>do</strong> Rio Tocantins (sem influencia da inundação).<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Este estu<strong>do</strong> foi conduzi<strong>do</strong> com riachos das bacias <strong>do</strong>s rios Araguaia (área =<br />

86.109 km2) e Tocantins (área = 102.120.6 km2) que drenam o território <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Goiás (Tejerina-Garro, 2008). Estas bacias possuem as estações seca (Maio a<br />

Outubro) e chuvosa (Novembro a Abril) bem <strong>de</strong>finidas (Quesada et al., 2004).<br />

Nas análises, foram utiliza<strong>do</strong>s 11 riachos na bacia <strong>do</strong> rio Araguaia e 10 riachos<br />

na bacia <strong>do</strong> rio Tocantins, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m. A amostragem<br />

nos 21 riachos foi realizada durante os meses <strong>de</strong> Maio e Setembro <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2008 e<br />

o tamanho <strong>de</strong> cada trecho foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em 50m seguin<strong>do</strong> sugestões <strong>de</strong> Imhof et al.<br />

(1996). A amostragem da ictiofauna foi realizada com o uso <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrasto (4m x<br />

1,5m x 1cm <strong>de</strong> malha entre nós opostos) e com o esforço amostral <strong>de</strong> 2<br />

pessoas/50m/10 passadas.<br />

Os espécimes coleta<strong>do</strong>s foram armazena<strong>do</strong>s em sacos plásticos i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s e<br />

acomoda<strong>do</strong>s em tambores plásticos com formal<strong>de</strong>í<strong>do</strong> a 10%. Os espécimes foram<br />

separa<strong>do</strong>s e i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong> chaves taxonômicas e então armazena<strong>do</strong>s em<br />

álcool 70% no Centro <strong>de</strong> Biologia Aquática da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong><br />

Goiás e no Laboratório <strong>de</strong> Ictiologia <strong>do</strong> Museu da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong><br />

Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntificação prévia foi confirmada.<br />

Capa Índice 13366


Duas matrizes foram elaboradas para as análises. A primeira foi baseada na<br />

amostragem <strong>do</strong>s peixes nos 21 riachos, sen<strong>do</strong> uma matriz <strong>de</strong> presença-ausência<br />

(espécies vs. riacho). A segunda constituía-se em uma matriz <strong>de</strong> atributos funcionais<br />

com da<strong>do</strong>s para: massa corporal média da espécie, guilda trófica, posição na coluna<br />

d’água, cuida<strong>do</strong> parental, local <strong>de</strong> forrageio, preferência por substrato, méto<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

forrageio e migração. Os atributos funcionais foram seleciona<strong>do</strong>s com base em<br />

literatura especializada que indicava uma ligação <strong>de</strong>les com processos da<br />

comunida<strong>de</strong> e/ou <strong>do</strong> ecossistema.<br />

Para cada riacho foi calculada a diversida<strong>de</strong> funcional associada com a<br />

composição <strong>de</strong> espécies utilizan<strong>do</strong> uma medida conhecida como distância média<br />

par-a-par (MPD; Webb, 2000). Seguidamente, foi aplica<strong>do</strong> um teste <strong>de</strong> t para<br />

verificar se a diversida<strong>de</strong> funcional nas assembleias <strong>de</strong> peixes <strong>do</strong>s riachos da bacia<br />

<strong>do</strong> rio Araguaia é maior <strong>do</strong> que seria espera<strong>do</strong> em relação às da bacia <strong>do</strong> rio<br />

Tocantins.<br />

Resulta<strong>do</strong>s<br />

Nos 21 riachos amostra<strong>do</strong>s foram encontradas 57 espécies <strong>de</strong> peixes com 31<br />

sen<strong>do</strong> encontradas somente na bacia <strong>do</strong> rio Araguaia, 10 na bacia <strong>do</strong> Tocantins e 17<br />

em ambas.<br />

As análises <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> funcional indicaram que o riacho Seu Pedro<br />

localiza<strong>do</strong> na bacia <strong>do</strong> rio Tocantins apresentou o maior valor <strong>de</strong> MPD enquanto o<br />

menor valor foi encontra<strong>do</strong> no riacho Corgão da bacia <strong>do</strong> rio Araguaia. Não foi<br />

possível calcular o índice <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> funcional para o riacho Fazenda <strong>do</strong><br />

Eucalipto, pois ele só apresentava uma única espécie. Apesar <strong>do</strong>s riachos da bacia<br />

<strong>do</strong> rio Araguaia possuir uma maior riqueza <strong>de</strong> espécies (t com variâncias separadas<br />

= 2.6; p < 0.05), não encontramos diferença significativa entre os valores <strong>de</strong><br />

diversida<strong>de</strong> funcional <strong>do</strong>s riachos das duas bacias (t = 0.739; GL = 18; p > 0.05). A<br />

diversida<strong>de</strong> funcional <strong>do</strong>s riachos entre as duas bacias não é diferente <strong>do</strong> que se<br />

po<strong>de</strong>ria esperar simplesmente ao acaso.<br />

Discussão<br />

Um <strong>do</strong>s principais efeitos da planície <strong>de</strong> inundação é a adição sazonal <strong>de</strong><br />

ambientes terrestres aos corpos d’água o que po<strong>de</strong> afetar a estrutura e o<br />

Capa Índice 13367


funcionamento das comunida<strong>de</strong>s (Agostinho et al., 2001). O aumento na riqueza <strong>de</strong><br />

espécies parece ser um <strong>do</strong>s principais efeitos <strong>de</strong>ste fenômeno (Araújo, 2012).<br />

Neste estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstramos que, embora os riachos inseri<strong>do</strong>s sob o espectro<br />

<strong>de</strong> influência das planícies <strong>de</strong> inundação apresentem maior riqueza <strong>de</strong> espécies, o<br />

mesmo padrão não é observa<strong>do</strong> para a diversida<strong>de</strong> funcional. Isso quer dizer que o<br />

aumento <strong>de</strong> recursos advin<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenômeno da inundação possibilita um aumento no<br />

número <strong>de</strong> espécies, mas, não um aumento no número <strong>de</strong> diferentes atributos<br />

funcionais nas assembleias. Lolis & Adrian (1996) apontam que em ecossistemas<br />

tropicais, especialmente em áreas <strong>de</strong> inundação, os peixes ten<strong>de</strong>m a apresentar<br />

plasticida<strong>de</strong> alimentar (onivoria), ou seja, redundância no aproveitamento <strong>de</strong><br />

recursos. Outra explicação po<strong>de</strong>ria ser o <strong>de</strong>créscimo na variabilida<strong>de</strong> das variáveis<br />

limnológicas entre habitats e no turnover <strong>de</strong> espécies, processo conheci<strong>do</strong> como<br />

homogeneização da inundação, que leva a assembleias mais similares durante a<br />

inundação (Thomaz et al., 2007).<br />

Referências<br />

Agostinho A.A., Gomes L.C., Zalewski M. (2001) The importance of floodplains for<br />

the dynamics of fish communities of the upper river Paraná. Ecohydrol Hydrobiol,<br />

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Tocantins-Araguaia, Brasil. PhD Thesis, UFSCar, São Carlos.<br />

Holmlund C.M. & Hammer M. (1999) Ecosystem services generated by fish<br />

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Imhof J.G., Fitzgibbon J. & Annable W.K. (1996) A hierarquical evaluation system for<br />

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Junk W.J., Bayley P.B. & Sparks R.E (1989) The flood pulse concept in riverfloodplain<br />

systems. In: D. P. Dodge (Ed.). Proceedings of the International Large<br />

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Lolis A.A. & Andrian I.F. (1996) Alimentação <strong>de</strong> Pimelodus maculatus Lácèpe<strong>de</strong>,<br />

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Capa Índice 13368


Lowe-McConnel R.H. (1987) Ecological studies in tropical fish communities.<br />

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Marsh-Matthews E. & Matthews W.J. (2000) Geographic, terrestrial and aquatic<br />

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Melo T.L. (2011) Avaliação Espacial das Variáveis Ambientais e da Estrutura Trófica<br />

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Thesis, UFSCar, São Carlos.<br />

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Capa Índice 13369


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13370 - 13374<br />

Relações evolutivas entre espécies <strong>do</strong> Bioma Cerra<strong>do</strong><br />

Rodrigo Carvalho <strong>de</strong> AZEVEDO; Alexandre Siqueira Gue<strong>de</strong>s COELHO<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia<br />

rodrigocaz@gmail.com<br />

Palavras-chave: Cerra<strong>do</strong>, evolução, filogenia molecular<br />

Introdução<br />

Já está bem estabeleci<strong>do</strong> que a diversida<strong>de</strong> e composição <strong>de</strong> espécies<br />

encontram-se em um gradiente latitudinal com <strong>de</strong>staque para regiões tropicais<br />

(GASTON, 2000). Mas os processos que estão por trás da formação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

bem <strong>de</strong>finidas, no tempo evolutivo, ainda não são bem conheci<strong>do</strong>s (PENNINGTON;<br />

CRONK; RICHARDSON, 2004). Estabilida<strong>de</strong> paleoclimática e variáveis como<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia adicionada ao sistema e disponibilida<strong>de</strong> hídrica estão<br />

correlacionadas com a riqueza <strong>de</strong> espécies e po<strong>de</strong>m ser preditores <strong>de</strong> centros <strong>de</strong><br />

formação e <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong> espécies no tempo evolutivo. Estas variáveis, porém,<br />

geram pouca informação sobre os processos históricos <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>s gradientes <strong>de</strong><br />

diversida<strong>de</strong>, especialmente nos centros tropicais <strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong> espécies<br />

(LINDER, 2005).<br />

Avanços recentes em méto<strong>do</strong>s filogenéticos comparativos e datação <strong>de</strong><br />

filogenias têm possibilita<strong>do</strong> a geração <strong>de</strong> informações sobre o processo histórico <strong>de</strong><br />

formação <strong>do</strong>s centros <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>. A datação filogenética po<strong>de</strong> sugerir maior ou<br />

menor relevância <strong>de</strong> eventos como dispersão a longa distância e vicariância como<br />

forças prepon<strong>de</strong>rantes na formação <strong>de</strong> assembléias (SIMON et al., 2009). Tais<br />

informações são cruciais para enten<strong>de</strong>r os processos e impactos das mudanças<br />

climáticas sobre biomas e construir um planejamento futuro <strong>de</strong> conservação ambiental<br />

<strong>de</strong> longo prazo.<br />

A Teoria da Conservação <strong>de</strong> Nicho tem si<strong>do</strong> cada vez mais utilizada para<br />

explicar a formação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e assembléias <strong>de</strong> espécies (SIMON et<br />

al., 2009). Sua predição central propõe que espécies <strong>de</strong>rivadas ten<strong>de</strong>m a reter a<br />

ecologia das espécies ancestrais, porém ainda não é possível saber a extensão <strong>de</strong> sua<br />

Capa Índice 13370


aplicação. Novos e numerosos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e calibração <strong>de</strong> hipóteses<br />

filogenéticas são necessários para a compreensão <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> diversificação em<br />

comparação com eventos geológicos e climáticos passa<strong>do</strong>s.<br />

Este trabalho tem por objetivo testar hipóteses sobre a origem e diversificação<br />

<strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> Angiospermas presentes no bioma Cerra<strong>do</strong>. Para isto serão construídas<br />

hipóteses filogenéticas calibradas. As principais famílias <strong>de</strong> plantas <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> contêm<br />

gêneros que se distribuem pelos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga, mas há<br />

pouca informação disponível sobre suas origens, episódios <strong>de</strong> diversificação e<br />

a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> ao paleoclima e clima futuro.<br />

Pela Teoria da Conservação <strong>de</strong> Nicho po<strong>de</strong>mos esperar que cla<strong>do</strong>s mais<br />

diversos presentes no Bioma Cerra<strong>do</strong> contenham espécies melhor adaptadas às<br />

condições <strong>de</strong> clima e solo, como perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> seca intensa e solos distróficos. Porém, a<br />

existência <strong>de</strong> gêneros com espécies endêmicas ao Cerra<strong>do</strong>, Amazônia e Caatinga<br />

po<strong>de</strong>m sugerir a extensão <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> das predições <strong>de</strong>ssa teoria, e ser utilizada<br />

como surrogate para o teste <strong>de</strong> hipótese sobre a origem <strong>de</strong> várias famílias presentes<br />

nesses biomas.<br />

Para os testes <strong>de</strong> hipótese é necessário adicionar às filogenias a morfologia<br />

associada com as adaptações atribuídas aos diversos biomas em estu<strong>do</strong>. É espera<strong>do</strong><br />

por parcimônia que cada cla<strong>do</strong> tenha sua própria adaptação morfológica, ao invés <strong>de</strong><br />

episódios in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> surgimento <strong>do</strong> mesmo conjunto <strong>de</strong> morfologias<br />

semelhantes.<br />

As filogenias reconstruídas com da<strong>do</strong>s moleculares, acrescidas com da<strong>do</strong>s<br />

morfológicos, serão datadas a partir <strong>do</strong> registro fóssil disponível para Angiospermas <strong>do</strong><br />

Cerra<strong>do</strong>. O objetivo central <strong>de</strong>sse processo é inferir se os cla<strong>do</strong>s pertencentes a esse<br />

bioma são mais antigos ou mais recentes <strong>do</strong> que cla<strong>do</strong>s presentes em outros biomas e<br />

se a diversificação está relacionada com eventos geológicos e climáticos. Essa<br />

inferência po<strong>de</strong> sugerir qual foi o bioma fonte <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong> gêneros<br />

(ou famílias), ou seja, a partir <strong>de</strong> qual bioma as espécies se diversificaram e migraram<br />

para outras áreas, forman<strong>do</strong> novos biomas e se há correlação climática entre eles.<br />

Capa Índice 13371


Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Inicialmente selecionamos famílias <strong>de</strong> Angiospermas que contêm ao menos um<br />

gênero em área <strong>de</strong> Cerra<strong>do</strong> sensu strictu e outros gêneros que ocorram nos biomas<br />

Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga. Para estas famílias realizamos uma busca por<br />

sequências já <strong>de</strong>positadas em bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s públicos das regiões ITS (internal<br />

transcribed spacer), rbcl (gene para a sub-unida<strong>de</strong> maior da Ribulose 1-5 Bisfosfato<br />

Carboxilase), trnL (RNA transporta<strong>do</strong>r para Leucina) e matK. Estabelecemos o<br />

cloroplasto como foco principal <strong>de</strong> busca por regiões representativas <strong>de</strong> eventos<br />

evolutivos, por apresentar regiões mais conservadas, on<strong>de</strong> a ocorrência <strong>de</strong><br />

recombinação é rara e com sequências mais frequentemente <strong>de</strong>positadas, <strong>do</strong> que<br />

regiões extremamente conservadas da mitocôndria ou mesmo <strong>do</strong> DNA nuclear.<br />

A partir das famílias e gêneros seleciona<strong>do</strong>s construímos um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

com sequências nucleotídicas <strong>de</strong> DNA <strong>de</strong> cloroplasto das regiões citadas. As<br />

sequências foram baixadas e submetidas ao alinhamento múltiplo para encontrar as<br />

regiões semelhantes e que possam ser comparadas entre si.<br />

Cada arquivo obti<strong>do</strong> com o alinhamento múltiplo foi submeti<strong>do</strong> à inspeção visual.<br />

Cada alinhamento foi então avalia<strong>do</strong> com 26 mo<strong>de</strong>los evolutivos utilizan<strong>do</strong>-se o<br />

software MrMo<strong>de</strong>lTest. Os escores <strong>de</strong> cada mo<strong>de</strong>lo foram avalia<strong>do</strong>s e o melhor mo<strong>de</strong>lo<br />

foi utiliza<strong>do</strong> para Análise Bayesiana, que aqui a<strong>do</strong>tamos.<br />

O arquivo gera<strong>do</strong> foi então submeti<strong>do</strong> à análise bayesiana para a reconstrução<br />

filogenética utilizan<strong>do</strong>-se o software MrBayes ver. 3.1.2. Para visualização da<br />

reconstrução filogenética foi utiliza<strong>do</strong> o programa Archaeopterix.<br />

De posse das reconstruções filogenéticas a partir <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s moleculares, serão<br />

analisadas as características morfológicas <strong>de</strong> cada espécie que possam ser<br />

diagnósticas <strong>de</strong> adaptação ao ambiente que ocupam. A análise conjunta das<br />

características <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s moleculares e morfológicos será utilizada para aumentar a<br />

acurácia das inferências sobre a natureza <strong>do</strong>s biomas <strong>de</strong> origem <strong>do</strong>s gêneros e das<br />

espécies.<br />

Ten<strong>do</strong> completa<strong>do</strong> a fase <strong>de</strong> reconstrução filogenética, serão feitas as datações<br />

cronológicas das árvores. Esse processo correspon<strong>de</strong> à calibração a partir da<br />

introdução da ida<strong>de</strong> publicada <strong>do</strong>s fósseis disponíveis para os gêneros analisa<strong>do</strong>s.<br />

Capa Índice 13372


Cabe ressaltar que a escolha <strong>do</strong>s fósseis será feita pelo critério <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fósseis com a maior integrida<strong>de</strong> e em maior número possível para uma melhor acurácia<br />

da média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> efetivamente utilizada.<br />

Paralelamente ao trabalho <strong>de</strong> reconstrução e datação das filogenias este<br />

trabalho também buscará contribuir para o banco público <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s moleculares. Para<br />

isso, serão escolhidas as espécies <strong>de</strong> claro interesse para as filogenias que ainda não<br />

tenham ti<strong>do</strong> regiões sequenciadas. O sequenciamento será feito a partir <strong>de</strong> primers <strong>do</strong>s<br />

genes específicos <strong>de</strong> cloroplasto rbcl, trnL, ITS e matK. Os materiais serão coleta<strong>do</strong>s<br />

em campo ou busca<strong>do</strong>s em herbários, e trabalha<strong>do</strong>s no Departamento <strong>de</strong><br />

Melhoramento Vegetal da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agronomia da <strong>UFG</strong>.<br />

Resulta<strong>do</strong>s<br />

Na análise preliminar <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s já obti<strong>do</strong>s não encontramos resulta<strong>do</strong>s que<br />

estejam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Teoria da Conservação <strong>de</strong> Nicho. Em todas as famílias<br />

analisadas, as espécies endêmicas ao Cerra<strong>do</strong> não ocuparam sistematicamente<br />

posições basais ou <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> espécies que também ocorrem em outros biomas<br />

brasileiros. Em outras palavras, não encontramos linhagens evolutivas que forneçam<br />

evidência <strong>de</strong> que grupos que contenham espécies restritas ao Cerra<strong>do</strong> tenham se<br />

origina<strong>do</strong> ou da<strong>do</strong> origem a grupos que ocorram em áreas <strong>de</strong> clima semelhante ou<br />

diferente.<br />

Discussão<br />

Entre as espécies analisadas não encontramos resulta<strong>do</strong>s que apoiem as<br />

predições da Teoria da Conservação <strong>de</strong> Nicho. As posições ora basais ora <strong>de</strong>rivadas<br />

<strong>de</strong> espécies com distribuição restrita ao Cerra<strong>do</strong> sugerem que a ocupação <strong>do</strong> bioma<br />

possa ter ocorri<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por grupos, o que po<strong>de</strong> ser testa<strong>do</strong> pela<br />

datação filogenética. Ainda que a datação para o surgimento <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> sugira uma<br />

ocupação recente (Simon et al., 2009), ainda são necessárias amplas datações<br />

filogenéticas para os diversos grupos e para diferentes formas <strong>de</strong> vida.<br />

Capa Índice 13373


Conclusões<br />

Apesar <strong>de</strong> ainda preliminares, esses resulta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m sugerir que a história <strong>de</strong><br />

ocupação <strong>do</strong> Bioma se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por cla<strong>do</strong>s distintos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada<br />

família analisada.<br />

Referências<br />

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<strong>de</strong>z. 2009.<br />

Capa Índice 13374


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13375 - 13379<br />

Aspectos filogeográficos <strong>de</strong> Tropidurus oreadicus (Rodrigues, 1987), um lagarto <strong>de</strong><br />

áreas abertas <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> e <strong>de</strong> enclaves savânicos da Amazônia<br />

Rodrigo <strong>de</strong> MELLO 1* ; Rosane Garcia COLLEVATTI 1 ; Guarino Rinaldi COLLI 2 .<br />

1 Laboratório <strong>de</strong> Genética & Biodiversida<strong>de</strong>, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. 2 Laboratório<br />

<strong>de</strong> Herpetologia, Instituto <strong>de</strong> Biologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

* Autor para correspondência: rodrigomellobr@yahoo.com.br<br />

Palavras-chave: Tropidurus, mudanças climáticas, filogeografia.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Acredita-se que as oscilações climáticas <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s Terciário e Quaternário<br />

afetaram a distribuição <strong>de</strong> espécies, levan<strong>do</strong> à extinção <strong>de</strong> populações locais e<br />

estimulan<strong>do</strong> a evolução e especiação <strong>de</strong> outros grupos (COMES & KADEREIT, 1998).<br />

Em sua essência, a teoria <strong>do</strong>s refúgios e <strong>do</strong>s redutos cuida das repercussões das<br />

mudanças climáticas quaternárias sobre o quadro distributivo <strong>de</strong> floras e faunas, em<br />

tempos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s, ao longo <strong>de</strong> espaços fisiográficos, paisagísticos e ecologicamente<br />

mutantes (HAFFER, 1969; AB’SÁBER, 2006). No entanto, o impacto <strong>do</strong>s ciclos<br />

climáticos <strong>do</strong> Quaternário (que compreen<strong>de</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong>s últimos 2 milhões <strong>de</strong> anos)<br />

na diversificação da biota sul-americana tem si<strong>do</strong> superestima<strong>do</strong> (LYNCH, 1998).<br />

Embora o Cerra<strong>do</strong> atualmente se encontre majoritariamente sobre o Planalto<br />

Central, em locais com 500 a 1.200m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, sob solos quase sempre mais<br />

lixivia<strong>do</strong>s, áci<strong>do</strong>s e pobres (GOTTSBERGER & SILBERBAUER-GOTTSBERGER,<br />

2006), supõe-se que os cerra<strong>do</strong>s cobriam áreas maiores <strong>do</strong> que as que ocupam hoje e<br />

que os limites <strong>do</strong> ecótono floresta-savana foram bem dinâmicos durante o Holoceno<br />

Médio, cerca <strong>de</strong> 6 mil atrás (MAYLE & BEERLING, 2004). Na Amazônia, os cerra<strong>do</strong>s<br />

existentes, apesar das enormes distâncias que os separam, guardam uma intrigante<br />

similarida<strong>de</strong> florística, o que por si só argumentaria em favor da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tais cerra<strong>do</strong>s<br />

representarem relictos botânicos <strong>de</strong> distribuições mais amplas no passa<strong>do</strong> (SASTRE,<br />

1976). Habitats abertos, incluin<strong>do</strong> savanas, <strong>de</strong>sertos e regiões semiáridas, são<br />

reconhecidas pelas suas ricas faunas <strong>de</strong> lagartos, já que favorecem estes animais que são<br />

ectotérmicos e que reduzem a ativida<strong>de</strong> e custos metabólicos durante perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

estresse em ambientes imprevisíveis ou com alta sazonalida<strong>de</strong> (PIANKA, 1986).<br />

Embora o atual e gran<strong>de</strong> impacto da genética molecular na sistemática e genética <strong>de</strong><br />

populações forneça à Biogeografia Histórica uma enorme infusão, há uma escassez <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong>s integrativos que abordam os aspectos biogeográficos das áreas abertas da<br />

Capa Índice 13375


América <strong>do</strong> Sul, especialmente daqueles que usam abordagens filogeográficas<br />

(WERNECK, 2011). Como os padrões <strong>de</strong> variação genética neutra entre indivíduos<br />

carregam a assinatura <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> uma espécie, forças biogeográficas<br />

históricas tem um importante papel moldan<strong>do</strong> a arquitetura genética <strong>de</strong> biotas regionais<br />

particulares (AVISE, 2009). Da<strong>do</strong> o padrão <strong>de</strong> distribuição e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às condições<br />

ecológicas e históricas que po<strong>de</strong>m ter influencia<strong>do</strong> a evolução <strong>do</strong>s Tropidurus no<br />

Cerra<strong>do</strong> e em enclaves na Amazônia (RODRIGUES, 1987), a espécie T. oreadicus é um<br />

mo<strong>de</strong>lo relevante para estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Filogeografia, uma vez que o maior objetivo <strong>de</strong>sta<br />

disciplina é enten<strong>de</strong>r como eventos históricos relativamente recentes (no tempo<br />

geológico) influenciaram a atual disposição geográfica <strong>de</strong> genes, populações e espécies<br />

(AVISE et al., 1987).<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Nestas análises prévias foram sequencia<strong>do</strong>s 170 e 173 indivíduos para as regiões<br />

<strong>do</strong> DNA mitocondrial (mtDNA) 12S e 16S, respectivamente, <strong>de</strong> Tropidurus oreadicus<br />

originários <strong>de</strong> 23 localida<strong>de</strong>s, provenientes <strong>de</strong> regiões <strong>de</strong> vegetação aberta no Cerra<strong>do</strong> e<br />

na Amazônia (Tabela 1). O software SeqScape v2.1 (Applied Biosystems, CA) foi utiliza<strong>do</strong><br />

para análise <strong>do</strong>s cromatogramas, edição das sequências e obtenção da fita<br />

consenso utilizada nas análises.<br />

Tabela 1. Número <strong>de</strong> indivíduos por localida<strong>de</strong> para cada região mitocondrial sequenciada.<br />

Diversida<strong>de</strong> nucleotídica (π) e haplotípica (h), composição nucleotídica e <strong>de</strong>mais<br />

índices moleculares foram estimadas utilizan<strong>do</strong> os softwares Arlequin ver. 3.1<br />

(EXCOFFIER et al., 2005) e DNAsp v.5 (LIBRADO & ROZAS, 2009). O teste <strong>de</strong><br />

Mantel foi feito entre os pares <strong>de</strong> populações (pairwise FST) e os pares das matrizes <strong>de</strong><br />

distâncias geográficas para se testar a hipótese <strong>de</strong> isolamento por distância, no programa<br />

Capa Índice 13376


Arlequin, on<strong>de</strong> também foi realizada uma análise <strong>de</strong> variância molecular (AMOVA)<br />

(EXCOFFIER et al., 1992) para testar a diferenciação entre populações e caracterizar a<br />

estrutura genética das mesmas. Para verificar se as populações estavam sob neutralida<strong>de</strong><br />

seletiva, em equilíbrio mutação-<strong>de</strong>riva foram feitos testes <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tajima<br />

(TAJIMA, 1989) e <strong>de</strong> Fu (FU, 1997) que são basea<strong>do</strong>s no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> infinitos sítios sem<br />

recombinação. Por fim, para enten<strong>de</strong>r a relação evolutiva entre os haplótipos foi<br />

realizada uma analise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sequenciamento pelo méto<strong>do</strong> median-joining<br />

network (BANDELT et al., 1999) implementa<strong>do</strong> no programa Network v. 4.5.1.0<br />

(Fluxus Technology Ltd).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Ao final <strong>do</strong> alinhamento, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> editadas as sequências nucleotídicas, obteve-se<br />

fragmentos <strong>de</strong> 405 pares <strong>de</strong> base (pb) para a região 12S e 724pb para 16S. A análise <strong>de</strong><br />

ambos os fragmentos revelaram baixos valores globais <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> nucleotídicas<br />

(12S, π = 0,0175 +/- 0,030; 16S: π = 0,0224 +/- 0,093) e diversida<strong>de</strong>s haplotípica<br />

elevadas (12S, h = 0,954 +/- 0,006; 16S, h = 0,868 +/- 0,018). Esse padrão <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />

sugere um efeito gargalo segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> rápida expansão populacional com acúmulo <strong>de</strong><br />

mutações (GRANT & BOWEN, 1998). O nível <strong>de</strong> diferenciação entre as populações<br />

foi relativamente alto (FST12S = 0,69203; p


Vanzolini (1986), discutin<strong>do</strong> o papel das flutuações climáticas na Amazônia, já dizia<br />

que os Tropidurus <strong>de</strong> Rondônia ilustram bem a lógica <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> especiação<br />

geográfica, ressaltan<strong>do</strong> que os espécimes <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Brasil Central e da Amazônia<br />

diferem principalmente em caracteres <strong>de</strong> colori<strong>do</strong> bem evi<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> pequena variação<br />

intrapopulacional, mas afirma claramente que são formas estreitamente aparentadas,<br />

<strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> um ancestral comum. O mo<strong>de</strong>lo sugeri<strong>do</strong> para explicar essa diferenciação<br />

é um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> refúgios, com faunas <strong>de</strong> lagartos que teriam fica<strong>do</strong> confinadas em<br />

enclaves, sofren<strong>do</strong> extinções estocásticas que produziram diferenças na riqueza <strong>de</strong><br />

espécies entre localida<strong>de</strong>s. Além <strong>de</strong> tropidurí<strong>de</strong>os, o lagarto Cnemi<strong>do</strong>phorus parecis e o<br />

anuro Ameerega flavopictga parecem ter evoluí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma (GAINSBURY &<br />

COLLI, 2003; PINHEIRO et al., 2012).<br />

Do Último Glacial Máximo (~21 mil anos atrás) até o Holoceno Médio (~6 mil<br />

anos atrás) o Cerra<strong>do</strong> se expandiu seguin<strong>do</strong> o aumento da umida<strong>de</strong>, e então<br />

experienciou apenas mudanças diminutas até atingir sua distribuição atual. Este cenário<br />

está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com estu<strong>do</strong>s que geralmente <strong>de</strong>screvem o Holoceno Médio como um<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> alta sedimentação <strong>de</strong> pólens <strong>de</strong> táxons vegetacionais <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> (LEDRU,<br />

2002). Isto po<strong>de</strong> parcialmente explicar as diferenças genéticas encontradas nas<br />

populações <strong>de</strong> enclaves <strong>de</strong> Cerra<strong>do</strong> na Amazônia, uma vez que se presume que tais<br />

enclaves estejam isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Holoceno, proporcionan<strong>do</strong> uma história <strong>de</strong><br />

prolonga<strong>do</strong> isolamento (GAINSBURY & COLLI, 2003).<br />

CONCLUSÕES<br />

À luz <strong>de</strong>stes resulta<strong>do</strong>s, a variação genética <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Tropidurus oreadicus parece<br />

refletir-se em espécies crípticas potencialmente alopátricas ou unida<strong>de</strong>s evolutivamente<br />

significativas, e seu padrão <strong>de</strong> distribuição atual po<strong>de</strong> estar liga<strong>do</strong> às mudanças<br />

climáticas <strong>do</strong> Quaternário. A maioria das evidências biológicas <strong>de</strong>monstra que durante<br />

estas flutuações <strong>de</strong> climas pretéritos espécies <strong>de</strong> habitats floresta<strong>do</strong>s ficaram isoladas em<br />

manchas mais úmidas circundadas por áreas mais secas, tais como Caatinga ou Cerra<strong>do</strong>.<br />

Os Tropidurus <strong>de</strong> formações abertas nos enclaves amazônicos representariam o inverso:<br />

espécies <strong>de</strong> formações abertas isoladas em ilhas secas - formadas provavelmente no<br />

Holoceno - ro<strong>de</strong>adas por florestas.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Capa Índice 13378


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SASTRE, C. Quelques aspects <strong>de</strong> phytogéographie <strong>de</strong>s milieux ouverts guyanais. In: Biogéographie et<br />

évolution en Amérique tropicale. [S.l.] Ed. H.Descimon, Labo. ZooI. École Norm. Sup. Paris,,<br />

1976. p. 9:67-74.<br />

TAJIMA, F. Statistical method for testing the neutral mutation hypothesis by DNA polymorphism.<br />

Genetics, v. 123, n. 3, p. 585-595, 1989.<br />

VANZOLINI, P. E. Levantamento herpetológico da área <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Rondônia sob a influência da<br />

ro<strong>do</strong>via BR 364. [S.l: s.n.].<br />

WERNECK, F. P. The diversification of eastern South American open vegetation biomes: Historical<br />

biogeography and perspectives. Quaternary Science Reviews, v. 30, n. 13-14, p. 1630-1648, jun.<br />

2011.<br />

Apoio financeiro: FAPDF / CNPq (Pronex), CAPES.<br />

Capa Índice 13379


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13380 - 13384<br />

Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Técnicas para Geração <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Teste<br />

Basean<strong>do</strong>-se em GUI<br />

Rodrigo Funabashi JORGE (INF/<strong>UFG</strong>) rodrigo.funabashi@ufms.br<br />

Auri Marcelo Rizzo VINCENZI (INF/<strong>UFG</strong>) auri@inf.ufg.br<br />

Palavras-chave: teste <strong>de</strong> software, geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste e testes basea<strong>do</strong>s em GUI.<br />

1. Introdução<br />

A crescente complexida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> computação <strong>de</strong> hoje,<br />

somada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> no seu <strong>de</strong>senvolvimento, fazem<br />

com que méto<strong>do</strong>s, ferramentas e procedimentos especializa<strong>do</strong>s sejam requeri<strong>do</strong>s.<br />

Porém, por mais que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software envolva uma série<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s empregadas, erros no produto ainda po<strong>de</strong>m ocorrer (MALDONADO et<br />

al., 2004).<br />

Segun<strong>do</strong> Myers (1979), a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> software é o processo <strong>de</strong><br />

executar um programa com a intenção <strong>de</strong> encontrar um erro; um bom caso <strong>de</strong> teste<br />

é aquele que tem alta probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelar erros e um teste bem sucedi<strong>do</strong> é<br />

aquele que <strong>de</strong>tecta a existência <strong>de</strong> um erro ainda não <strong>de</strong>scoberto. Com isso, a<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> teste é <strong>de</strong> fundamental importância para a i<strong>de</strong>ntificação e eliminação <strong>de</strong><br />

erros que persistem, representan<strong>do</strong> a última revisão da especificação, projeto e<br />

codificação (PRESSMAN, 2005).<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, uma escolha criteriosa <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> teste <strong>de</strong>ve ser<br />

realizada a fim <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar quais casos <strong>de</strong> teste têm alta probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

encontrar possíveis <strong>de</strong>feitos existentes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> prazo estabeleci<strong>do</strong> para a entrega<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s em um projeto, por exemplo. Sen<strong>do</strong> assim, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong><br />

critério <strong>de</strong> teste emprega<strong>do</strong>, a geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste correspon<strong>de</strong> a uma<br />

importante ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da fase <strong>de</strong> teste.<br />

Uma possível estratégia que atraiu e atrai gran<strong>de</strong> interesse na automação da<br />

geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste é a aplicação e adaptação <strong>de</strong> algoritmos <strong>de</strong> busca e<br />

otimização (OSMAN & KELLY, 1996). A principal razão para tal interesse é que os<br />

problemas <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> casos muitas vezes po<strong>de</strong>m ser representa<strong>do</strong>s<br />

como problemas <strong>de</strong> otimização, uma vez que, em geral, a geração <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

teste é um problema in<strong>de</strong>cidível, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à complexida<strong>de</strong> e o tamanho <strong>de</strong> programas.<br />

Em sistemas <strong>de</strong> software atuais, Interfaces Gráficas (GUIs - Graphical User<br />

Interfaces) são prevalentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sistemas operacionais e aplicativos <strong>de</strong>sktop até<br />

sistemas web. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas interfaces está diretamente ligada a<br />

Capa Índice 13380


confiabilida<strong>de</strong> e a usabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses sistemas <strong>de</strong> software. Uma interface com<br />

<strong>de</strong>feitos po<strong>de</strong> comprometer a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um produto <strong>de</strong> software, reduzin<strong>do</strong> assim<br />

a satisfação <strong>do</strong> usuário e confirman<strong>do</strong> a importância da garantia da qualida<strong>de</strong> das<br />

interfaces. Neste contexto, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> teste tem si<strong>do</strong> amplamente utilizada para<br />

garantir essa qualida<strong>de</strong> (MEMON ET AL, 2009; GUITAR, 2011; ABBOT, 2011).<br />

Outro fator importante é que as falhas <strong>de</strong>scobertas a partir <strong>de</strong>ssas interfaces estão,<br />

muitas vezes, relacionadas a lógica <strong>de</strong> negócios da aplicação (BROOKS, 2009).<br />

Porém, a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se testar essas interfaces é gran<strong>de</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Fu et. al. (2009), testes <strong>de</strong> interface são inerentemente caixa-preta,<br />

já que as operações são realizadas em objetos GUI. Nestes objetos po<strong>de</strong>m ser<br />

aplica<strong>do</strong>s diversos eventos, que geralmente são utiliza<strong>do</strong>s para se aplicar os testes<br />

nas GUIs (HUANG SI, 2010). Algumas pesquisas mostram que quanto mais longas<br />

as sequências <strong>de</strong> eventos mais provável em se <strong>de</strong>scobrir falhas nas GUIs (YUAN<br />

ET. Al., 2010; MEMON & XIE, 2005). Porém, isso nos leva a <strong>do</strong>is problemas<br />

(HUANG SI, 2010). O primeiro é que se tem um o espaço <strong>de</strong> teste exponencial,<br />

afinal, po<strong>de</strong>ríamos aplicar “n” eventos para se atingir um objetivo, mesmo<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> possíveis restrições sobre as combinações, o número ainda po<strong>de</strong> ser<br />

gran<strong>de</strong>. O segun<strong>do</strong> problema é restrições nas interações <strong>do</strong>s eventos. Os eventos<br />

<strong>de</strong> uma GUI precisam seguir certas regras para a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> execução. Por exemplo,<br />

um botão po<strong>de</strong> ser aciona<strong>do</strong> apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter aberto a janela ao qual ele<br />

pertence. Caso assuma que esse botão foi aciona<strong>do</strong>, mesmo com a janela fechada,<br />

<strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que não houve nenhuma resposta da interface. Isto implica que<br />

a execução <strong>do</strong>s eventos precisa seguir fluxos <strong>de</strong> caminhos específicos, caso<br />

contrário, alguns eventos po<strong>de</strong>m não serem executa<strong>do</strong>s com sucesso.<br />

No <strong>de</strong>correr da execução <strong>de</strong>sses eventos o esta<strong>do</strong> inicial da interface po<strong>de</strong><br />

ser altera<strong>do</strong> e produzirem um esta<strong>do</strong> diferente <strong>do</strong> inicial. Por conter centenas e<br />

muitas vezes milhares <strong>de</strong>sses objetos a aplicação manual <strong>do</strong>s testes se torna<br />

exaustiva e inviável (FU ET. AL., 2009).<br />

Este trabalho se encontro <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto e irá estudar e adaptar<br />

metaheurísticas e técnicas para geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste basean<strong>do</strong>-se em GUIs<br />

procuran<strong>do</strong>:<br />

Aplicar uma revisão sistemática proporcionan<strong>do</strong> um levantamento <strong>do</strong>s<br />

trabalhos relaciona<strong>do</strong> à geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste a partir <strong>de</strong> interfaces<br />

gráficas;<br />

Capa Índice 13381


Elaborar um comparativo entre as metaheurísticas existentes <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

contexto <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> teste se basean<strong>do</strong> em interfaces gráficas;<br />

Propor estratégias para aplicação das metaheurísticas existentes nos testes<br />

basean<strong>do</strong>-se em interfaces gráficas;<br />

Propor alternativas para aplicação <strong>de</strong>ssas metaheurísticas junto com outras<br />

técnicas utilizadas na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> software;<br />

Analisar empiricamente as estratégias estabelecidas para aplicação das<br />

metaheurísticas já existentes comparan<strong>do</strong> com as metaheurísticas propostas<br />

para avaliar a eficácia e a eficiência das mesmas.<br />

2. Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Verificar a literatura po<strong>de</strong> ser um trabalho complica<strong>do</strong> e trabalhoso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influências que po<strong>de</strong>m interferir, como linhas <strong>de</strong> pensamento, autores<br />

preferi<strong>do</strong>s, grupos <strong>de</strong> pesquisa entre outros fatores. Procuran<strong>do</strong> eliminar ou<br />

amenizar estas questões, é necessário seguir um méto<strong>do</strong> bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> busca e<br />

análise da literatura. Para isso, foi aplicada uma revisão sistemática no contexto <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste utilizan<strong>do</strong>-se, para isso, Interface Gráficas <strong>de</strong> Usuário<br />

(GUI).<br />

Diferentemente <strong>de</strong> revisões tradicionais, uma revisão sistemática é conduzida<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um planejamento (ou protocolo) previamente <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

(KITCHENHAM, 2004; BIOLCHINI et al., 2005). Este planejamento é o ponto <strong>de</strong><br />

partida para a revisão, cujos pontos principais são a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma ou mais<br />

questões <strong>de</strong> pesquisa e <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s que serão emprega<strong>do</strong>s para conduzir a<br />

revisão, incluin<strong>do</strong> seleção <strong>de</strong> fontes para buscas e estratégias <strong>de</strong> busca.<br />

As bases escolhidas para as buscas foram: ACM<br />

(http://portal.acm.org/dl.cfm), IEEE (http://ieeexplore.ieee.org/Xplore/dynhome.jsp),<br />

Science Direct (http://www.sciencedirect.com/) e Scopus (http://www.scopus.com/).<br />

Foram aplicadas seis strings <strong>de</strong> busca, duas para a ACM e IEEE e uma para<br />

a SCIENCE e SCOPUS string padrão <strong>de</strong> busca foi construída usan<strong>do</strong>-se os<br />

conectores booleanos AND/OR foi:<br />

(“graphical user interface” OR “GUI” OR “web application” OR “web applications”) AND (“test<br />

case generation” OR “test-case generation” OR “generating test cases” OR “generate test cases” OR<br />

“automated testing” OR “automation testing” OR “automation test”)<br />

Os Critérios <strong>de</strong> Inclusão (CI) foram escolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma a permitir que<br />

estu<strong>do</strong>s primários relevantes sejam incluí<strong>do</strong>s na pesquisa, e os Critérios <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13382


Exclusão (CE), elenca<strong>do</strong>s para que possamos <strong>de</strong>scartar os estu<strong>do</strong>s primários<br />

irrelevantes no contexto <strong>de</strong>sta revisão. Os critérios <strong>de</strong> inclusão são:<br />

CI1: O estu<strong>do</strong> apresenta um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso ou experiência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

técnicas para geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste a partir <strong>de</strong> GUI;<br />

CI2: O estu<strong>do</strong> apresenta uma investigação <strong>de</strong> características das técnicas<br />

para geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste a partir <strong>de</strong> GUI;<br />

CI3: O estu<strong>do</strong> propõe méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> técnicas para geração <strong>de</strong><br />

casos <strong>de</strong> teste a partir <strong>de</strong> GUI;<br />

CI4: O estu<strong>do</strong> apresenta ferramentas que utilizam técnicas para geração <strong>de</strong><br />

casos <strong>de</strong> teste a partir <strong>de</strong> GUI.<br />

Os critérios <strong>de</strong> exclusão são:<br />

CE1: O trabalho não está relaciona<strong>do</strong> a nenhuma das questões <strong>de</strong> pesquisa;<br />

CE2: O trabalho foi seleciona<strong>do</strong> por outra string <strong>de</strong> busca aplicada a mesma<br />

base;<br />

CE3: Falta <strong>de</strong> informação a respeito <strong>do</strong> trabalho;<br />

CE4: O trabalho já foi seleciona<strong>do</strong> por meio <strong>de</strong> outra fonte.<br />

Para aplicar a seleção <strong>do</strong>s trabalhos optou-se por aplicar três etapas: leitura<br />

<strong>do</strong> título, das palavras-chave e <strong>do</strong> resumo (abstract); leitura da introdução e<br />

conclusão; e leitura integral <strong>do</strong>s artigos restantes.<br />

3. Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Após a aplicação das duas primeiras etapas citadas anteriormente, chegamos<br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 59 trabalhos seleciona<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s 598 localiza<strong>do</strong>s primeiramente pelas<br />

buscas, como mostra a Tabela 2.<br />

Tabela 2 - Resulta<strong>do</strong> Parcial da Análise <strong>do</strong>s Trabalhos.<br />

Aplican<strong>do</strong> a leitura na integra <strong>do</strong>s artigos (terceira etapa), o número <strong>de</strong><br />

trabalhos seleciona<strong>do</strong>s caiu para 39.<br />

Perante a aplicação da revisão sistemática, po<strong>de</strong>-se concluir que poucos<br />

trabalhos foram realiza<strong>do</strong>s focan<strong>do</strong> geração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste levan<strong>do</strong> em<br />

consi<strong>de</strong>ração os possíveis eventos das interfaces gráficas. Outro ponto observa<strong>do</strong> é<br />

Capa Índice 13383


que a maioria <strong>do</strong>s trabalhos é <strong>do</strong>s mesmos autores e são auto indicativos, ou seja,<br />

um referencia o outro, indicativo <strong>de</strong> que existe muito a ser pesquisa<strong>do</strong>.<br />

4. Conclusões<br />

A perspectiva é i<strong>de</strong>ntificar metaheurísticas e técnicas que possam, se<br />

basean<strong>do</strong> em interfaces gráficas, gerar um conjunto <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste com alto<br />

índice <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> código e com um número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> teste.<br />

5. Referências Bibliográficas<br />

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03/01/2012.<br />

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Brazil, 2005.<br />

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of industrial graphical user interface systems. In International Conference on<br />

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10, 2009.<br />

GUITAR - a GUI Testing frAmewoRk. http://guitar.sourceforge.net/. Disponível em:<br />

03/01/2012<br />

HUANG SI, A Framework for Automatically Repairing GUI Test Suites, Master Thesis<br />

- University of Nebraska, 2010.<br />

YUAN XUN, COHEN MYRA B., AND MEMON ATIF M.. GUI interaction testing:<br />

Incorporating event context. IEEE Transactions on Software Engineering,<br />

99(PrePrints):to appear, 2010.<br />

KITCHENHAM, B. Procedures for Performing Systematic Reviews. Keele, Staffs,<br />

ST5 5BG, UK, July 2004.<br />

MALDONADO, J. C. et al. Introdução ao Teste <strong>de</strong> Software. [S.l.], 2004.<br />

MEMON ATIF M., POLLACK MARTHA E., and SOFFA MARY LOU. Using a goaldriven<br />

approach to generate test cases for GUIs. In ICSE '99: Proceedings of the<br />

21nd International Conference on Software Engineering, pages 257-266, 1999.<br />

MEMON ATIF M. and XIE QING. Studying the fault-<strong>de</strong>tection e effectiveness of GUI<br />

test cases for rapidly evolving software. IEEE Transactions on Software Engineering,<br />

31:884-896, 2005.<br />

MYERS, G. J. The Art of Software Testing. [S.l.]: Wiley, New York, 1979.<br />

OSMAN, H.; KELLY, J. Metaheuristics: Theory and Applications. 1. ed. [S.l.]: Kluwer<br />

Aca<strong>de</strong>mic Publishers, 1996.<br />

PRESSMAN, R. S. Software Engineering - A Practitioner’s Approach. 6. ed. [S.l.]:<br />

McGraw-Hill, 2005.<br />

Capa Índice 13384


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13385 - 13386<br />

Investigação das Causas Genéticas e Genômicas <strong>do</strong> Retar<strong>do</strong> Mental Autossômico<br />

Pereira, R.R. 1,2,3 , Silva, C.C. 1,2 , Silva, D.M. 3 , Cruz, A.D. 1,2<br />

1-Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás: Núcleo <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s Replicon.<br />

2-Laboratório <strong>de</strong> Citogenética e Genética Molecular Humana (LaGene), Secretaria da Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Goiás.<br />

3-Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás: Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Pós-Graduação em Biologia.<br />

roncato.r@gmail.com<br />

Palavras-chave: Exames <strong>de</strong> Cariótipos, Citogenética Humana, FISH, CGH-array,<br />

MLPA, Diagnóstico, Síndromes Genéticas, Retar<strong>do</strong> Mental.<br />

Condições geneticamente <strong>de</strong>terminadas acometem milhões <strong>de</strong> famílias em to<strong>do</strong> o<br />

mun<strong>do</strong>. Mais <strong>de</strong> 40% <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> retar<strong>do</strong> mental grave são causa<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>enças<br />

monogênicas ou anomalias cromossômicas. As causas <strong>de</strong> retar<strong>do</strong> mental são<br />

extremamente distintas, envolven<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fatores ambientais, como a <strong>de</strong>snutrição<br />

materna, a neurotoxicida<strong>de</strong> ambiental, a prematurida<strong>de</strong>, a isquemia cerebral, a síndrome<br />

<strong>do</strong> álcool fetal, infecções pré e pós-natais a causas genéticas, como as alterações<br />

cromossômicas, numéricas (aneuploidias) ou estruturais, as alterações monogênicas e<br />

multifatoriais. Atualmente, sabe-se que o cariótipo <strong>de</strong>ve ser realiza<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o<br />

paciente com retar<strong>do</strong> mental sem outras causas óbvias, sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> que se tenha<br />

um nível <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> no mínimo 550 bandas. O Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás<br />

através da Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> da Saú<strong>de</strong>/SES-GO em parceria com o Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

criou no ano <strong>de</strong> 2000, o Laboratório <strong>de</strong> Citogenética e Genética Molecular Humana<br />

(LaGene), o qual sob os preceitos <strong>do</strong> Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS), realiza exames <strong>de</strong><br />

cariótipos aplica<strong>do</strong>s a diagnósticos <strong>de</strong> síndromes genéticas e aten<strong>de</strong> a população da<br />

capital Goiânia e municípios vizinhos. Este estu<strong>do</strong> tem como objetivos avaliar as causas<br />

genéticas e genômicas <strong>do</strong> retar<strong>do</strong> mental autossômico, pela i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> marca<strong>do</strong>res<br />

genéticos para o retar<strong>do</strong> mental; contribuir para o conhecimento <strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res<br />

genéticos e <strong>de</strong> susceptibilida<strong>de</strong> associa<strong>do</strong>s ao retar<strong>do</strong> mental autossômico; investigar as<br />

diversas causas genéticas <strong>do</strong> retar<strong>do</strong> mental autossômico; i<strong>de</strong>ntificar diferenças<br />

genéticas entre os casos que possam potencialmente influenciar a variabilida<strong>de</strong> entre os<br />

pacientes e i<strong>de</strong>ntificar polimorfismos genéticos e a associação <strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

susceptibilida<strong>de</strong> ao retar<strong>do</strong> mental autossômico. A presente proposta trata-se <strong>de</strong> um<br />

estu<strong>do</strong> genético-molecular, multicêntrico, conduzi<strong>do</strong> no LaGene–SES/GO, em parceria<br />

com a UNB e a UCB. Serão analisa<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 200 casos, <strong>de</strong> ambos os sexos, com<br />

indicação clínica <strong>de</strong> retar<strong>do</strong> mental autossômico, conforme encaminhamento médico<br />

<strong>do</strong>s pacientes, por médicos cre<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s nas re<strong>de</strong>s municipal e estadual <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Goiás. Para a realização <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s citogenéticos, amostras <strong>de</strong> sangue periférico<br />

hepariniza<strong>do</strong> serão submetidas à cultura <strong>de</strong> linfócitos T a curto prazo, conforme<br />

protocolos convencionais para a obtenção das metáfases que serão capturadas e<br />

analisadas com o auxílio <strong>do</strong> software IKaros (Metasystems Corporation, Alemanha). A<br />

técnica <strong>de</strong> FISH (Fluorescente in situ Hybridization) será realizada como ferramenta<br />

auxiliar <strong>do</strong> diagnóstico citogenético molecular. Sondas <strong>de</strong> DNA que hibridam os<br />

cromossomos inteiros ou sondas <strong>de</strong> DNA para sequências únicas, marcadas com<br />

fluorescência ver<strong>de</strong>, vermelha ou azul serão utilizadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com cada caso. Para a<br />

análise genômica comparativa em cromossomos será utilizada a técnica <strong>de</strong> CGH-array.<br />

E para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> alterações na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cópias <strong>de</strong> DNA será utilizada a<br />

Capa Índice 13385


estratégia MLPA. Após a realização das meto<strong>do</strong>logias aqui <strong>de</strong>scritas, caso a causa <strong>do</strong><br />

retar<strong>do</strong> mental ainda não seja elucidada, as amostras <strong>do</strong>s pacientes serão encaminhadas<br />

para a UNB e UCB, visan<strong>do</strong> a realização <strong>do</strong> sequenciamento global <strong>de</strong> exomas. O<br />

presente estu<strong>do</strong> visa, principalmente, contribuir para uma melhor compreensão da<br />

genética <strong>do</strong> retar<strong>do</strong> mental, possibilitan<strong>do</strong> a capacitação <strong>de</strong> profissionais envolvi<strong>do</strong>s<br />

com a genética no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás. Desta forma, ferramentas moleculares disponíveis<br />

gradativamente irão adquirir reforços, visan<strong>do</strong> à padronização e validação, para serem<br />

incluídas na rotina clínica. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stas estratégias <strong>de</strong> diagnóstico serão<br />

importantes para promover um melhor gerenciamento <strong>do</strong>s casos pelos médicos<br />

assistentes. Além disso, os resulta<strong>do</strong>s permitirão inferir sobre os possíveis mecanismos<br />

moleculares associa<strong>do</strong>s ao retar<strong>do</strong> mental autossômico, além <strong>de</strong> contribuir para uma<br />

melhor elucidação da fisiopatologia <strong>de</strong>ssa alteração genética, tão heterogênea.<br />

Apoio Financeiro: CNPq.<br />

Capa Índice 13386


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13387 - 13391<br />

Apreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o fenômeno da exploração sexual comercial infanto-<br />

juvenil a partir <strong>de</strong> diferentes narrativas<br />

SILVA, Rogério Araújo da 1 .<br />

NASCIMENTO, Tema Ferreira 2 .<br />

Resumo: O material que ora apresento refere-se à pesquisa até o momento<br />

realizada com a exploração sexual comercial infanto-juvenil na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiânia e<br />

região metropolitana. A pertinência <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> justifica-se pela ausência <strong>de</strong><br />

pesquisas até então realizadas sobre o tema em âmbito regional, visto que os<br />

poucos estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s até então tiveram como fonte <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s apenas a<br />

pesquisa <strong>do</strong>cumental. A partir daí vem-se uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa que caracterize a exploração sexual comercial infanto-juvenil em maior<br />

profundida<strong>de</strong> e em suas novas dinâmicas e configurações. Para isso tenho como<br />

forma <strong>de</strong> apreensão <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ntre outras fontes, as diversas narrativas <strong>do</strong>s<br />

sujeitos pesquisa<strong>do</strong>s.<br />

Palavras chave: exploração sexual comercial; infanto-juvenil; violação <strong>de</strong> direitos.<br />

No que se refere à questão da abordagem <strong>do</strong> problema, o fenômeno da<br />

exploração sexual comercial infanto-juvenil é, atualmente, visto como uma das<br />

priorida<strong>de</strong>s das agendas <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> muitos governos e setores da<br />

socieda<strong>de</strong> civil, além <strong>de</strong> constituir-se em objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s em diferentes áreas <strong>de</strong><br />

conhecimento. No Brasil, o fenômeno começou a ter uma maior visibilida<strong>de</strong> a partir<br />

da CPI (Comissão Parlamentar <strong>de</strong> Inquérito) realizada no início da década <strong>de</strong> 1990,<br />

que se <strong>de</strong>teve na investigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> prostituição infanto-juvenil<br />

(LIBÓRIO, 2004; SOUSA 2004).<br />

Para Mello e Francischini (2010), o fenômeno da Exploração Sexual<br />

Comercial <strong>de</strong> Crianças e A<strong>do</strong>lescentes – ESCCA - <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então vem sofren<strong>do</strong> várias<br />

transformações conceituais, pois sua <strong>de</strong>finição é fruto <strong>de</strong> percursos históricos que<br />

envolvem, <strong>de</strong>ntre outras questões, o paradigma da proteção integral, inaugura<strong>do</strong> no<br />

país pelo Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (ECA). A ESCCA, em sua <strong>de</strong>finição,<br />

1<br />

Aluno <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Sociologia (<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás. Bolsista da Caps. Rogerioaraujo77@yahoo.com.br<br />

2<br />

Orienta<strong>do</strong>ra da pesquisa e Professora na Graduação e Pós-Graduação em Sociologia e no<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Política da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

Telmamujer1@gmail.com<br />

Capa Índice 13387<br />

1


<strong>de</strong>manda a apresentação <strong>de</strong> concepções que abarquem suas especificida<strong>de</strong>s em<br />

relação a outras formas <strong>de</strong> violência sexual (FALEIROS, 2000; LIBÓRIO, 2004;<br />

SANTOS, 2007).<br />

Para compreensão da exploração sexual comercial infanto-juvenil faz-se<br />

necessário realizar uma discussão sobre o fenômeno buscan<strong>do</strong> evi<strong>de</strong>nciar como ele<br />

vem sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> por diversas entida<strong>de</strong>s e instituições da socieda<strong>de</strong> civil e pelos<br />

órgãos governamentais. Para isso, consi<strong>de</strong>ro pertinente realizar um exame acerca<br />

das terminologias que envolvem o fenômeno, visto que há uma imprecisão<br />

conceitual ao se abordar a questão.<br />

Percebe-se que nas das últimas décadas, esse mesmo fenômeno foi<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> ora como violência sexual, abuso sexual, exploração sexual,<br />

exploração sexual comercial, prostituição <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes, prostituição<br />

infanto-juvenil, trabalho sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes, trabalho sexual infantojuvenil<br />

etc. O que acaba <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a própria condição em que se encontram os<br />

sujeitos no processo, seja, eles consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s: meninos e meninas explora<strong>do</strong>s<br />

sexualmente, meninas prostitutas, meninas prostituídas, crianças e a<strong>do</strong>lescentes<br />

trabalha<strong>do</strong>res sexuais.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, a compreensão <strong>do</strong> que seja a violência sexual contra crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes, torna-se a mola propulsora para a formulação <strong>do</strong>s conceitos sobre o<br />

abuso e a exploração sexual, fenômenos que por mais que sejam parte <strong>de</strong> um<br />

mesmo problema, o da violência sexual, possuem singularida<strong>de</strong>s em sua<br />

caracterização e, consequentemente, exigem conceitos distintos.<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Mello e Francischini (2010), há uma forte discussão acerca da<br />

conceituação <strong>do</strong> fenômeno, não existin<strong>do</strong> apenas uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-lo. A falta <strong>de</strong><br />

precisão conceitual <strong>de</strong>nota não somente uma mera divergência semântica, mas<br />

remete a uma discussão <strong>de</strong> cunho epistemológico.<br />

Para outros autores, a exemplo <strong>de</strong> Faleiros (2000) e Santos (2007), essa<br />

imprecisão conceitual reflete a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão das várias categorias <strong>de</strong><br />

violência que, embora aparentem formar uma unida<strong>de</strong>, são, em verda<strong>de</strong>, um<br />

conjunto <strong>de</strong> fenômenos com características e manifestações bastante peculiares e<br />

específicas (como exemplo, a negligência, o abuso sexual, a prostituição, a<br />

exploração sexual, etc.). Essa confusão conceitual também dificulta a construção <strong>de</strong><br />

estratégias <strong>de</strong> intervenção a<strong>de</strong>quadas a cada tipo <strong>de</strong> violência, atentan<strong>do</strong> para suas<br />

Capa Índice 13388<br />

2


especificida<strong>de</strong>s e contextos. De mo<strong>do</strong> geral e a título <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação conceitual para<br />

o presente trabalho, po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r que:<br />

A exploração sexual comercial <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida<br />

como “uma relação <strong>de</strong> mercantilização (exploração/<strong>do</strong>minação) e abuso<br />

(po<strong>de</strong>r) <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes (oferta) por explora<strong>do</strong>res<br />

sexuais (merca<strong>do</strong>res), organiza<strong>do</strong>s em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comercialização local e<br />

global (merca<strong>do</strong>), ou por pais ou responsáveis, e por consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

serviços sexuais pagos (<strong>de</strong>manda)”. (LEAL E LEAL, 2002)<br />

Parte da coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong>senvolvida teve como campo <strong>de</strong><br />

observação algumas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelo Projeto Inverten<strong>do</strong> a Rota 3 . A<br />

caracterização da exploração sexual comercial infanto-juvenil em Goiânia e região<br />

metropolitana se efetuou mediante o registro das informações coletadas pelo<br />

Projeto, o qual <strong>de</strong>senvolve um trabalho <strong>de</strong> abordagem, também <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

busca ativa, com a<strong>do</strong>lescentes em situação <strong>de</strong> exploração sexual comercial em<br />

diferentes espaços localiza<strong>do</strong>s em Goiânia e região metropolitana.<br />

Por meio da pesquisa realizada constata-se que a visibilida<strong>de</strong> da exploração<br />

sexual comercial infanto-juvenil em Goiânia não é perceptível, pois os/as<br />

a<strong>do</strong>lescentes em situação <strong>de</strong> exploração sexual comercial não foram encontra<strong>do</strong>s<br />

nos espaços nos quais até então se verificava a presença <strong>do</strong>s mesmos, a exemplo<br />

<strong>de</strong> algumas ruas e avenidas, bares e postos <strong>de</strong> combustível utiliza<strong>do</strong>s para a prática<br />

da prostituição. A questão colocada é: se não está sen<strong>do</strong> possível encontrá-los em<br />

espaços que antes eram encontra<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> estariam então? Pois não cogitei a idéia<br />

que a exploração sexual comercial infanto-juvenil em Goiânia e região metropolitana<br />

tenha si<strong>do</strong> erradicada, mas sim que sua dinâmica tenha assumi<strong>do</strong> uma nova<br />

configuração, particularmente no que se refere à sua visibilida<strong>de</strong>. Uma estratégia<br />

empregada foi realizar um levantamento em instituições governamentais e nãogovernamentais,<br />

ou seja, buscar os casos <strong>de</strong> exploração sexual nas unida<strong>de</strong>s que<br />

po<strong>de</strong>riam ser a porta <strong>de</strong> entrada para esses/essas a<strong>do</strong>lescentes nos casos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>núncia e encaminhamentos, a exemplo <strong>do</strong>s Centros <strong>de</strong> Referências<br />

Especializa<strong>do</strong>s em Assistência Social (CREAS), Conselhos Tutelares, Delegacia <strong>de</strong><br />

Proteção a Criança e ao A<strong>do</strong>lescente, Juiza<strong>do</strong> da Infância e Juventu<strong>de</strong>, SOS<br />

criança, <strong>de</strong>ntre outras.<br />

3 O Projeto Inverten<strong>do</strong> a Rota constitui-se em um projeto <strong>de</strong> pesquisa-ação <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004,<br />

pelo Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>, <strong>Pesquisa</strong> e <strong>Extensão</strong> Al<strong>de</strong>ia Juvenil-CEPAJ, da Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>de</strong> Goiás-PUC Goiás, vincula<strong>do</strong> à Pró-Reitoria <strong>de</strong> <strong>Extensão</strong> e Apoio Estudantil - PROEX.<br />

Capa Índice 13389<br />

3


Contu<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong>sse levantamento verifica-se que os casos que<br />

envolvem crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação <strong>de</strong> exploração sexual também não<br />

estão chegan<strong>do</strong> ou chegam em número reduzi<strong>do</strong> às instituições que seriam a porta<br />

<strong>de</strong> entrada. Além disso, além <strong>do</strong> levantamento <strong>do</strong>s casos, objetivou-se também<br />

realizar entrevistas com as pessoas que atuam nessas instituições, a fim <strong>de</strong><br />

levantar, por meio <strong>de</strong> diferentes narrativas, qual a percepção que essas pessoas têm<br />

em relação ao fenômeno em Goiânia. Entretanto alguns casos foram encontra<strong>do</strong>s<br />

nas <strong>de</strong>legacias <strong>de</strong> Proteção a criança e ao a<strong>do</strong>lescente e por meio <strong>de</strong>les pô<strong>de</strong>-se<br />

chegar a algumas a<strong>do</strong>lescentes que estão em situação <strong>de</strong> exploração sexual<br />

comercial e com as quais realizei algumas entrevistas que nos dão algumas pistas<br />

<strong>de</strong> como se configura atualmente a exploração sexual comercial infanto-juvenil em<br />

Goiânia e região metropolitana.<br />

Por meio <strong>de</strong>ssas entrevistas po<strong>de</strong>-se verificar que a exploração sexual<br />

comercial infanto-juvenil apresenta-se <strong>de</strong> forma menos visível e mais velada. A<br />

riqueza das informações coletadas em relação ao fenômeno está na diversida<strong>de</strong> das<br />

narrativas coletadas, pois se têm a apreensão tanto das pessoas que operam com a<br />

questão, a exemplo <strong>do</strong>s conselheiros tutelares e as <strong>de</strong>legadas que atuam nas<br />

<strong>de</strong>legacias especializas <strong>de</strong> proteção, que nos apresentam as dificulda<strong>de</strong>s<br />

enfrentadas para a apuração <strong>do</strong>s casos, o que esbarra muitas vezes na<br />

inconsistência das <strong>de</strong>núncias realizadas às implicações da aplicabilida<strong>de</strong> da<br />

legislação. Mas a gran<strong>de</strong> riqueza está nas narrativas das próprias a<strong>do</strong>lescentes que<br />

nos oferecem uma visão <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> fenômeno.<br />

O que se observa é que a exploração sexual comercial infanto-juvenil<br />

<strong>de</strong>senvolve-se em parte em locais fecha<strong>do</strong>s, a exemplo <strong>de</strong> boates e casas <strong>de</strong> show<br />

<strong>de</strong> strip tease, o que envolve um forte aparato <strong>de</strong> acobertamento, como a<br />

falsificação <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos das a<strong>do</strong>lescentes. E se antes era visível em alguns<br />

espaços a prática da prostituição infanto-juvenil como em ruas e avenidas da cida<strong>de</strong>,<br />

nos quais dividiam o mesmo ponto com profissionais <strong>do</strong> sexo adultas. Hoje essas<br />

a<strong>do</strong>lescentes não necessariamente necessitam <strong>de</strong>slocarem-se para esses espaços<br />

para se prostituir, pois utilizam outros meios para o contato com os possíveis<br />

clientes, a exemplo <strong>do</strong> telefone celular, o que interfere significativamente na forma<br />

que se configura o fenômeno. Além disso, a idéia propagada <strong>de</strong> que na exploração<br />

sexual há sempre a figura <strong>de</strong> alguém, normalmente um adulto, que explora os/as<br />

a<strong>do</strong>lescentes comercialmente. Mesmo que ainda exista essa figura, a ativida<strong>de</strong><br />

Capa Índice 13390<br />

4


também é exercida por outras a<strong>do</strong>lescentes, o que implica uma re<strong>de</strong> invisível <strong>de</strong><br />

aliciamento <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes por outras a<strong>do</strong>lescentes nos próprios bairros em que<br />

resi<strong>de</strong>m. Diante <strong>de</strong>sse novo contexto, compreen<strong>do</strong> que o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da<br />

pesquisa está em <strong>de</strong>svendar os mecanismos que camuflam a exploração sexual<br />

comercial infanto-juvenil.<br />

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Goiás, 2004.<br />

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LEAL, Maria Lúcia Pinto; LEAL, Maria <strong>de</strong> Fátima Pinto (Orgs.). <strong>Pesquisa</strong> sobre tráfico <strong>de</strong><br />

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PESTRAF. Brasília: CECRIA, 2002.<br />

LIBÓRIO, R. M. C. A exploração Sexual Comercial Infanto-juvenil: categorias explicativas e<br />

políticas <strong>de</strong> enfrentamento. In: LIBÓRIO, R. M. C. & SOUSA, S. M. G. (Orgs.). A<br />

exploração sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes no Brasil: reflexões teóricas, relatos <strong>de</strong><br />

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Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás, 2004.<br />

SANTOS, Benedito Rodrigues <strong>do</strong>s. O enfrentamento da exploração sexual infantojuvenil:<br />

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SANTOS, Joseleno Vieira <strong>do</strong>s. A exploração sexual comercial <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes na Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Goiânia: um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos da CEI. Goiânia, 2002. Dissertação<br />

(Mestra<strong>do</strong>) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, 2002.<br />

SOUSA, Sônia Margarida Gomes. Prostituição infantil e juvenil: uma análise psicossocial<br />

<strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>poentes da CPI. São Paulo, 2002. Tese (Doutora<strong>do</strong>) – Pontifícia<br />

Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, 2001.<br />

SOUSA, Sônia Margarida Gomes; LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra (Orgs.). A exploração<br />

sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes no Brasil: reflexões teóricas, relatos <strong>de</strong> pesquisa e<br />

intervenções psicossociais. São Paulo: Caso <strong>do</strong> Psicólogo; Goiânia: Editora da UCG, 2004.<br />

Capa Índice 13391<br />

5


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13392 - 13396<br />

A INFLUÊNCIA DA GUERRILHA NA VIDA DOS CAMPONESES DO<br />

ARAGUAIA - AS TRANSFORMAÇÕES DE UMA REGIÃO DE CONFLITOS (1975-<br />

2012)<br />

DOUTORANDO: Romual<strong>do</strong> Pessoa CAMPOS FILHO<br />

ORIENTADORA: Profª. Drª. Celene Cunha M. A. BARREIRA<br />

INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIOAMBIENTAIS – <strong>UFG</strong><br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA<br />

romupessoa@gmail.com<br />

INTRODUÇÃO:<br />

O objetivo geral <strong>de</strong>ssa pesquisa é i<strong>de</strong>ntificar as principais transformações que<br />

aconteceram na região on<strong>de</strong> ocorreu a Guerrilha <strong>do</strong> Araguaia, nos aspectos<br />

econômicos, políticos e sociais, entre os anos <strong>de</strong> 1975 e 2012. Visa <strong>de</strong>monstrar que<br />

a vida <strong>do</strong>s camponeses foi duramente afetada pelo movimento guerrilheiro, pela<br />

permanente presença <strong>de</strong> agentes <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> inteligência vincula<strong>do</strong>s às forças<br />

armadas e ao serviço <strong>de</strong> informação e o temor que inspirava a presença <strong>do</strong> Major<br />

Curió na região. Po<strong>de</strong>r e violência <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> a territorialida<strong>de</strong> em contraste com o<br />

sentimento <strong>de</strong> pertencimento e apego ao lugar.<br />

METODOLOGIA:<br />

Na meto<strong>do</strong>logia a ser aplicada procuraremos estabelecer uma relação,<br />

praticamente inquebrantável, entre tempo e espaço. O suporte para o olhar criterioso<br />

e os parâmetros que <strong>de</strong>verão ser trabalha<strong>do</strong>s terá no méto<strong>do</strong> dialético o elemento<br />

principal a nos dar indicações das contradições que cercam uma região marcada<br />

historicamente por enormes conflitos.<br />

Um trabalho essencial para que o objetivo seja alcança<strong>do</strong>, será através da<br />

cartografia, <strong>de</strong>limitan<strong>do</strong> uma região que margeia o rio Araguaia por cerca <strong>de</strong> cem<br />

quilômetros e se dirige em direção à Marabá (PA) e Curionópolis (PA). Será<br />

importante a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> pontos cruciais para reforçar nossos estu<strong>do</strong>s, como a<br />

Serra das An<strong>do</strong>rinhas, a ro<strong>do</strong>via transamazônica e o trecho da BR-153 que corta o<br />

que antes era mata na direção entre Marabá e São Geral<strong>do</strong> <strong>do</strong> Araguaia, a Reserva<br />

Indígena <strong>do</strong>s Suruís-Aikewara, e, naturalmente, a extensão <strong>do</strong> rio Araguaia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Conceição <strong>do</strong> Araguaia a Araguatins e <strong>de</strong> lá até a junção com o rio Tocantins em<br />

São João <strong>do</strong> Araguaia, prosseguin<strong>do</strong> daí até receber as águas <strong>do</strong> rio Itacaiúnas na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marabá.<br />

Capa Índice 13392


As categorias geográficas nos darão o suporte para conduzir nosso trabalho<br />

meto<strong>do</strong>logicamente. Em nosso estu<strong>do</strong> específico, Região, Lugar e Território,<br />

adquirem cada uma <strong>de</strong>las a importância no contexto da pesquisa, no momento em<br />

que se julgar necessário aplicá-la ao entendimento <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong><br />

realiza<strong>do</strong>. Pela abrangência da área num espaço <strong>de</strong> características assemelhadas, a<br />

região consegue nos situar no ambiente que <strong>de</strong>sejamos circunscrever, tanto pelo<br />

aspecto da natureza, quanto pelas características socioeconômicas. Ao lugar, nos<br />

remeteremos na abordagem da especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res, citadinos<br />

e camponeses, e ao apego na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seu pequeno roça<strong>do</strong> ou <strong>de</strong> sua casa, por<br />

mais humil<strong>de</strong> que seja, pois ali se conta suas histórias. E o território nos dará a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as dimensões <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r exerci<strong>do</strong> pelo aparato<br />

repressivo comanda<strong>do</strong> pelo “major” Curió e uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> espionagem, soman<strong>do</strong>-se<br />

agentes, pistoleiros e antigos guias <strong>do</strong> tempo da guerrilha, sua extensão, a<br />

dimensão política e a violência que submetia toda uma população.<br />

No âmbito das pesquisas <strong>de</strong> caráter histórico, ou geo-histórico, como neste<br />

caso, em que temos como um <strong>do</strong>s elementos a ser investiga<strong>do</strong> um conflito<br />

guerrilheiro com enorme impacto nas transformações na região objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>,<br />

será utiliza<strong>do</strong> também como meto<strong>do</strong>logia a história oral. As entrevistas com<br />

mora<strong>do</strong>res da região serão fundamentais para comprovação das hipóteses<br />

trabalhadas, na medida em que estaremos colhen<strong>do</strong> <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> personagens<br />

que são, além <strong>de</strong> testemunhas, participantes efetivos em todas as circunstâncias<br />

gera<strong>do</strong>ras das mudanças que estamos pesquisan<strong>do</strong>.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O que se preten<strong>de</strong> fazer com o presente projeto <strong>de</strong> pesquisa é procurar<br />

i<strong>de</strong>ntificar a violência que se abateu sobre os mora<strong>do</strong>res da região <strong>do</strong> conflito.<br />

Analisar o impacto que isso criou na maneira <strong>de</strong> viver <strong>de</strong>ssas pessoas e o prejuízo<br />

que elas tiveram com a perda <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s, pequenos roça<strong>do</strong>s duramente<br />

construí<strong>do</strong>s e ainda em fase <strong>de</strong> consolidação, e as dificulda<strong>de</strong>s em retomar suas<br />

vidas, em condições muito piores e ainda sen<strong>do</strong> permanentemente vigia<strong>do</strong>s por<br />

Capa Índice 13393


ate-paus” e antigos guias, que se tornaram informantes e membros <strong>de</strong> uma<br />

po<strong>de</strong>rosa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> espionagem controle e comandada pelo então Major “Curió” 1 .<br />

Já se sabe da existência <strong>de</strong>sse po<strong>de</strong>r paralelo que permaneceu por muito<br />

tempo, e ainda mantém alguns resquícios na área estudada. Isso foi confirma<strong>do</strong> por<br />

membros <strong>do</strong> Ministério Público, quan<strong>do</strong> em 2001 estiveram na região para conhecer<br />

a realida<strong>de</strong> local e po<strong>de</strong>r ouvir <strong>do</strong>s próprios camponeses as condições em que<br />

viviam, quase trinta anos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> final da guerrilha.<br />

O que surpreen<strong>de</strong>u os procura<strong>do</strong>res foi algo que já sabíamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quan<strong>do</strong><br />

estivemos na região para as primeiras pesquisas e que procuramos relatar ao longo<br />

<strong>de</strong>ste livro. Até aquela data ainda era constante a presença <strong>de</strong> agentes liga<strong>do</strong>s ao<br />

Centro <strong>de</strong> Informação <strong>do</strong> Exército. No contato com Veloso – um ex-guia que havia<br />

si<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> por duas vezes em que estivemos ali, em 1994 e 1996 – foram<br />

confirmadas por ele as “visitas” feitas por essas pessoas. Essa informação consta na<br />

Ação Civil Pública encaminhada ao juiz fe<strong>de</strong>ral da Subseção Judiciária <strong>de</strong> Marabá<br />

(PA), em 8 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2001. (CAMPOS FILHO, 2012:269)<br />

Está também nos objetivos o estu<strong>do</strong> das transformações socioeconômicas,<br />

que tipo <strong>de</strong> política foi a<strong>do</strong>tada pelos sucessivos governos para um pedaço <strong>de</strong> nosso<br />

país duramente marca<strong>do</strong> por uma guerra interna. Os problemas físicos, também<br />

<strong>de</strong>vem ser aborda<strong>do</strong>s, já que muitas transformações vistas em toda a paisagem da<br />

região dão a clara compreensão da <strong>de</strong>struição da mata.<br />

O tipo <strong>de</strong> economia que suportou esses <strong>de</strong>smatamentos é hoje visível,<br />

baseia-se principalmente na criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>. Mas é preciso compreen<strong>de</strong>r como as<br />

políticas foram alteradas, modifican<strong>do</strong> substancialmente os objetivos propostos<br />

inicialmente pelo regime militar, quan<strong>do</strong> criou naquela região uma frente <strong>de</strong><br />

expansão (CAMPOS FILHO, 2012:102), evitan<strong>do</strong> o aumento <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong> em direção<br />

ao su<strong>de</strong>ste e ao mesmo tempo tentan<strong>do</strong> consolidar uma política <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong><br />

uma área <strong>de</strong> enorme vazio <strong>de</strong>mográfico. 2<br />

CONCLUSÕES<br />

1 Sebastião <strong>de</strong> Moura, o Curió, na época major <strong>do</strong> Exército, atuou sob diversos codinomes, <strong>de</strong>ntre eles Dr.<br />

Luchini. Com esse nome ele coman<strong>do</strong>u o grupo <strong>de</strong> espionagem <strong>do</strong> SNI E CIEx e a repressão mais violenta da<br />

guerrilha na terceira campanha, fazen<strong>do</strong>-se passar por representante <strong>do</strong> INCRA. CAMPOS FILHO (2012:172)<br />

2 Para essa caracterização nos apoiamos no trabalho, Frente <strong>de</strong> Expansão e Estrutura Agrária, VELHO, 2012.<br />

Capa Índice 13394


Os estu<strong>do</strong>s e pesquisas que estamos realizan<strong>do</strong> através <strong>de</strong>sse projeto,<br />

preten<strong>de</strong>m apontar que houve uma permanente condição <strong>de</strong> monitoramente,<br />

pressão e repressão sobre os mora<strong>do</strong>res da região <strong>do</strong> Araguaia, <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> pelo<br />

espaço territorializa<strong>do</strong> como <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> então Major Curió.<br />

O receio <strong>de</strong> que um novo conflito pu<strong>de</strong>sse envolver camponeses e mora<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s municípios situa<strong>do</strong>s nesses limites levaram os órgãos <strong>de</strong> segurança a monitorar<br />

to<strong>do</strong>s os movimentos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s suspeitos, principalmente as ações das<br />

li<strong>de</strong>ranças camponesas envolvidas na luta pela posse da terra, e religiosos, em sua<br />

maioria vincula<strong>do</strong>s à Comissão Pastoral da Terra.<br />

Preten<strong>de</strong>mos comprovar isso a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> alguns conflitos que<br />

levaram a intervenção <strong>de</strong> forças militares <strong>do</strong> exército, como a chamada “guerra <strong>do</strong>s<br />

Perdi<strong>do</strong>s”, que envolveu camponeses e funcionários <strong>do</strong> Incra e que levou a uma<br />

intervenção no GETAT (Grupo Executivo <strong>de</strong> Terras Araguaia-Tocantins) 3 , cria<strong>do</strong><br />

para conter os conflitos pela posse da terra, mas que cumpriu um papel oposto, <strong>de</strong><br />

reforçar o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s proprietários e grileiros <strong>de</strong> terras.<br />

Os temores gera<strong>do</strong>s pela guerrilha não se limitaram ao monitoramento e<br />

repressão. Elas foram <strong>de</strong>terminantes para <strong>de</strong>finir uma linha <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong>s<br />

governos para toda a região. As políticas a<strong>do</strong>tadas foram responsáveis por uma<br />

intensificação nos <strong>de</strong>smatamentos, feitos para beneficiar gran<strong>de</strong>s proprietários e à<br />

revelia <strong>de</strong> qualquer fiscalização.<br />

Assim como funcionaram como uma espécie <strong>de</strong> salvo-condutos para a<br />

pistolagem, geran<strong>do</strong> um efeito perverso a serviço <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s grileiros, mas,<br />

provavelmente, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> também aos objetivos <strong>de</strong> silenciar vozes que ameaçavam<br />

“uma nova guerra”. Parlamentares, padres, missionários e li<strong>de</strong>ranças sindicais,<br />

foram perseguidas, ameaçadas e assassinadas com frequência, fazen<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

região uma espécie <strong>de</strong> terra-sem-lei, com esses crimes permanecen<strong>do</strong> impunes, a<br />

não ser os que tiveram repercussões políticas internacionais.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

CAMPOS FILHO, Romual<strong>do</strong> Pessoa. Guerrilha <strong>do</strong> Araguaia, a esquerda em armas.<br />

São Paulo: Editora Anita Garibaldi/Fundação Maurício Grabois, 2012.<br />

3 Esse conflito ocorreu em 1976, numa região <strong>de</strong> posseiros <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> Piçarra. Nessa área se concentraram<br />

as ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Destacamento C, da Guerrilha <strong>do</strong> Araguaia.<br />

Capa Índice 13395


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Capa Índice 13396


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13397 - 13401<br />

O CERRADO EDITADO: INFLUÊNCIA DOS DISCURSOS JORNALÍSTICOS NA<br />

SIGNIFICAÇÃO DO TERRITÓRIO CERRADEIRO<br />

Palavras-Chave: Cerra<strong>do</strong>, Território, Discurso Jornalístico.<br />

Doutoranda: Rosana Maria Ribeiro Borges *<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Eguimar Felício Chaveiro<br />

Uma das características mais marcantes da socieda<strong>de</strong> contemporânea é a<br />

re<strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s papéis <strong>de</strong> antigas instituições, como o Esta<strong>do</strong> e a Igreja, e o<br />

surgimento outras, como as midiáticas, que remo<strong>de</strong>laram as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação,<br />

transforman<strong>do</strong>-se nas novas bases <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r simbólico. Segun<strong>do</strong> Thompson (1998),<br />

ao selecionar, editar e publicizar conteú<strong>do</strong>s, a partir <strong>do</strong> século XV, as mídias<br />

rapidamente adquiriram capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar a visibilida<strong>de</strong> e interferir na<br />

formação das representações sociais, constituin<strong>do</strong>-se em importantes instituições<br />

media<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> leituras <strong>do</strong>s lugares e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Imagens, representações, signos,<br />

símbolos e territorialização são alguns <strong>do</strong>s elementos cujos senti<strong>do</strong>s, na atualida<strong>de</strong>,<br />

perpassam também pelos conteú<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s e reproduzi<strong>do</strong>s pelos veículos <strong>de</strong><br />

comunicação, envoltos em re<strong>de</strong>s e estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que se localizam no território.<br />

Ao produzir, ven<strong>de</strong>r e/ou fazer circular bens simbólicos, as instituições<br />

midiáticas e informacionais, mediam a vida e compõem re<strong>de</strong>s comunicacionais que<br />

possibilitam a distribuição <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s, ao mesmo tempo em que também mediam<br />

as merca<strong>do</strong>rias e lhes atribui o valor <strong>de</strong> uso necessário ao movimento promovi<strong>do</strong><br />

pelo capital. Neste movimento, tais instituições mediam também os significa<strong>do</strong>s, as<br />

representações, as impressões e os conceitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas parcelas da<br />

população, incluin<strong>do</strong> a apropriação territorial e os elementos da própria<br />

espacialida<strong>de</strong>.<br />

O presente estu<strong>do</strong> tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar e analisar a influência <strong>do</strong>s<br />

discursos jornalísticos nos processos <strong>de</strong> significação e territorialização <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>.<br />

Na condição <strong>de</strong> um território em disputa material e simbólica, o Cerra<strong>do</strong> está envolto<br />

em problemáticas que transpõem a <strong>de</strong>generação <strong>do</strong> bioma e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida,<br />

interligan<strong>do</strong>-se ao que <strong>de</strong>le é significa<strong>do</strong> por meio <strong>de</strong> diversas re<strong>de</strong>s.<br />

*<br />

Doutoranda em Geografia no Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> e Pós-Graduação em Geografia (IESA/<strong>UFG</strong>). E-mail:<br />

rosanaborges@facomb.ufg.br.<br />

Capa Índice 13397


Em qualquer espaço, a territorialização é um processo que está intimamente<br />

relacionada ao significa<strong>do</strong> que é atribuí<strong>do</strong> ao território. No mun<strong>do</strong> contemporâneo, a<br />

territorialização – e sua significação – relacionam-se também ao que é noticia<strong>do</strong><br />

pelos veículos <strong>de</strong> comunicação que selecionam, editam e difun<strong>de</strong>m notícias. Tais<br />

veículos não estão soltos no mun<strong>do</strong>. Compõem re<strong>de</strong>s que fazem parte da disputa,<br />

sen<strong>do</strong> que a maioria <strong>de</strong>las acompanha o movimento <strong>do</strong> capital.<br />

Os processos <strong>de</strong> territorialização no Cerra<strong>do</strong> perpassam por seus significa<strong>do</strong>s<br />

e senti<strong>do</strong>s, produzi<strong>do</strong>s e dissemina<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> discursos e imagens nada<br />

neutros, que integram diversas re<strong>de</strong>s, tais como as econômicas, i<strong>de</strong>ológicas,<br />

políticas, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, comunicacionais e midiáticas. Ao apropriarem o Cerra<strong>do</strong> e o<br />

significarem, os veículos <strong>de</strong> comunicação interferem na sua territorialização.<br />

O estu<strong>do</strong> teve o Jornal “O Popular” como principal recorte, mas também<br />

analisou os discursos sobre o Cerra<strong>do</strong> presentes na Revista “A Informação Goyana<br />

(1917-1935) e no Jornal “O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo”. O materialismo histórico e<br />

dialético foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> como guia <strong>de</strong> análise e tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. A pesquisa, <strong>de</strong><br />

abordagem qualitativa, contou com diversos méto<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> eles a pesquisa<br />

bibliográfica e <strong>do</strong>cumental, a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> e <strong>de</strong> discurso e a pesquisa <strong>de</strong><br />

opinião. A pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s foi estabelecida a partir <strong>do</strong> próprio objeto e <strong>de</strong><br />

suas problematizações, uma vez que se pretendia não somente i<strong>de</strong>ntificar os<br />

discursos jornalísticos sobre o Cerra<strong>do</strong>, mas, sobretu<strong>do</strong>, perceber como eles eram<br />

significa<strong>do</strong>s.<br />

Acredita-se que a tese po<strong>de</strong> revelar que tais conteú<strong>do</strong>s seguem a mesma<br />

dinâmica <strong>do</strong> capital na ocupação <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> ainda envoltos num processo<br />

contraditório, pois ao mesmo tempo em que reverberam e enaltecem um discurso<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista e economicista, <strong>de</strong>nunciam a <strong>de</strong>vastação. Tem-se como<br />

hipótese da tese que as intituições midiáticas <strong>de</strong> Goiás interferem – e também são<br />

historicamente responsáveis – pelos processos <strong>de</strong> produção e ocupação <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong><br />

e pela construção e apropriação <strong>do</strong> seu território.<br />

Des<strong>de</strong> a criação <strong>do</strong> primeiro veículo <strong>de</strong> comunicação goiano em 1830, o<br />

território cerra<strong>de</strong>iro vem sen<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> distintas maneiras e por diferentes<br />

abordagens. Contraditoriamente, os principais periódicos impressos <strong>de</strong> Goiás tanto<br />

<strong>de</strong>nunciaram o mo<strong>do</strong> como o Cerra<strong>do</strong> vinha sen<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong>, quanto fomentaram<br />

sua mo<strong>de</strong>rna ocupação por meio <strong>de</strong> discursos <strong>de</strong>senvolvimentistas que se<br />

alicerçaram na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover o progresso econômico da região central<br />

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<strong>do</strong> Brasil, a fim <strong>de</strong> colocá-la em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> competição com os pólos mais<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> país (BORGES, CHAVEIRO, 2010).<br />

As revistas A Informação Goyana (1917-1935) e o Jornal O Popular (1938 até<br />

os dias atuais) são exemplos <strong>de</strong>sta contradição: apesar <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s com<br />

objetivos distintos, e <strong>de</strong> terem circula<strong>do</strong> em tempos históricos diferentes, repetidas<br />

vezes esses veículos assumiram que as soluções para a problemática econômica e<br />

social <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Brasil encontravam-se na expansão da fronteira agrícola para o<br />

Planalto Central, o que fortalece o viés economicista que promoveu – e ainda<br />

promove – a ocupação <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> pelo capital, agravan<strong>do</strong> as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e os<br />

danos ambientais.<br />

Pelo exposto, po<strong>de</strong>-se afirmar que a análise sobre a apropriação <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong><br />

por veículos <strong>de</strong> comunicação goianos perpassa também pelo reconhecimento da<br />

sua dinâmica em re<strong>de</strong>s, fluxos e mobilida<strong>de</strong>s, bem como da sua construção<br />

multifacetada pelas conexões e flui<strong>de</strong>z, em processos contraditórios <strong>de</strong> apropriação<br />

e reapropriação. Isso porque a captura <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> pelo capital é gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> uma<br />

disputa que ultrapassa o caráter econômico, envolven<strong>do</strong> também i<strong>de</strong>ologias,<br />

símbolos, representações e imagens. Como afirmam Castilho e Chaveiro (2010),<br />

"[...] o Cerra<strong>do</strong> é um território integra<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>, mas <strong>de</strong>sigual e cindi<strong>do</strong> em sua<br />

particularida<strong>de</strong>", constituin<strong>do</strong>-se, fundamentalmente, num território conecta<strong>do</strong> e em<br />

constante disputa material e simbólica.<br />

De fato o capital utiliza-se das conexões para garantir a mobilida<strong>de</strong> da<br />

produção material e simbólica. Para Raffestin (1993), tal mobilida<strong>de</strong> encontra sua<br />

materialização nos meios <strong>de</strong> circulação e comunicação – pelos quais escoam o fluxo<br />

material – e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação, responsáveis pelos fluxos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e<br />

informações. As re<strong>de</strong>s são, portanto, condições essenciais ao <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

espacialização e da territorialização. Castells (1999) pontua que o reconhecimento<br />

da socieda<strong>de</strong> como re<strong>de</strong> é uma perspectiva que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezada na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>, já que o espaço, converti<strong>do</strong> em informacional, tem nos fluxos<br />

sua principal característica. Neste contexto, os veículos <strong>de</strong> comunicação cumprem<br />

importante papel, pois compõem as re<strong>de</strong>s comunicacionais, contribuin<strong>do</strong> no fluxo <strong>de</strong><br />

conteú<strong>do</strong>s simbólicos e nos processos <strong>de</strong> significação e apropriação territorial.<br />

Como principais problematizações, <strong>de</strong>tacam-se os discursos que o Jornal O<br />

Popular constrói sobre o Cerra<strong>do</strong>, bem como seus referenciais argumentativos,<br />

imagéticos, representativos e simbólicos; os atores e grupos políticos que este<br />

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periódico dialoga; em que medida a produção <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> por este Jornal contribuiu<br />

para o processo <strong>de</strong> ocupação, apropriação e captura <strong>do</strong> território cerra<strong>de</strong>iro, tanto<br />

pelo capital, quanto pelos diferentes mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida aqui presentes; qual é o<br />

tratamento que este impresso tem da<strong>do</strong> à apropriação <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> por grupos<br />

estrangeiros e pelo setor sulcroalcooleiro; como tem <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> a <strong>de</strong>vastação <strong>do</strong><br />

bioma Cerra<strong>do</strong> e, finalmente, como po<strong>de</strong> ser percebida a contradição entre o<br />

discurso que enaltece o viés <strong>de</strong>senvolvimentista <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s que compõem o<br />

Domínio <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> com aquele que <strong>de</strong>nuncia a sua <strong>de</strong>gradação, não só enquanto<br />

bioma, mas também como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

A principal categoria <strong>de</strong> análise da temática proposta é o território, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

por Santos (1999, p. 7) como "[...] o lugar em que <strong>de</strong>sembocam todas as ações,<br />

todas as paixões, to<strong>do</strong>s os po<strong>de</strong>res, todas as forças, todas as fraquezas, isto é,<br />

on<strong>de</strong> a história <strong>do</strong> homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua<br />

existência". O território provém, portanto, <strong>do</strong> espaço que é social e historicamente<br />

produzi<strong>do</strong>. Tal compreensão indica uma segunda categoria analítica, que é o<br />

espaço, "...conjunto indissociável <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> objetos naturais ou fabrica<strong>do</strong>s e <strong>de</strong><br />

sistemas <strong>de</strong> ações, <strong>de</strong>liberadas ou não" (SANTOS, 1996, p. 23). A indissociabilida<strong>de</strong><br />

entre espaço e território também está presente em Haesbaert (2009, p. 625) já que,<br />

para o autor, um não existe sem o outro: "o território se <strong>de</strong>fine mais estritamente a<br />

partir <strong>de</strong> uma abordagem sobre o espaço que prioriza ou que coloca seu foco no<br />

interior <strong>de</strong>ssa dimensão espacial, na 'dimensão', ou melhor, nas problemáticas <strong>de</strong><br />

caráter político ou que envolvem a manifestação/realização das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

em suas múltiplas esferas" (2009, p. 625. Grifos <strong>do</strong> autor).<br />

As conclusões apontam uma nova dimensão <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong> –<br />

envolto em disputas, tramas e dramas; imerso em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação<br />

possui<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> e sistema <strong>de</strong> signos que, quan<strong>do</strong> dissemina<strong>do</strong>s, geram<br />

pensamento disperso: ao mesmo tempo em que promovem um elogio ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimentismo e ao economicismo, <strong>de</strong>nunciam sua <strong>de</strong>gradação. Tal<br />

contradição, que sequer é tratada pelos veículos <strong>de</strong> comunicação, confun<strong>de</strong> os<br />

significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> e não apresenta contribuições à síntese necessária para a<br />

constituição <strong>de</strong> movimentos menos agressivos <strong>de</strong> apropriação e captura <strong>do</strong> território<br />

cerra<strong>de</strong>iro. O ineditismo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> proposto po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>snudar a<br />

materialida<strong>de</strong> e as relações intrínsecas a este processo, que não se dão a conhecer<br />

pelo olhar <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong> <strong>do</strong> cotidiano.<br />

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Capa Índice 13401


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13402 - 13406<br />

A VOZ DE CAPITU NA CRÍTICA-FICÇÃO: relações entre Dom Casmurro e<br />

Capitu – memórias póstumas<br />

Rosângela Aparecida CARDOSO (Doutoranda <strong>UFG</strong>; Bolsista CAPES)<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras: http://www.letras.ufg.br/pos<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Prof. Dr. Jorge Alves SANTANA<br />

Palavras-chave: crítica-ficção; Dom Casmurro; Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis; Capitu –<br />

memórias póstumas; Domício Proença Filho<br />

INTRODUÇÃO<br />

O foco <strong>de</strong> interesse da presente pesquisa inci<strong>de</strong> sobre a maneira como se<br />

interpenetram a problemática da metaficção e <strong>de</strong> outras questões afins, tais como a<br />

da autoria, a <strong>do</strong> leitor, a da leitura e a da paródia, nos romances: Dom Casmurro, <strong>de</strong><br />

Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis, e Capitu – memórias póstumas, <strong>de</strong> Domício Proença Filho. No<br />

âmbito <strong>de</strong>ssa questão, assume relevância a reflexão teórica acerca da forma híbrida<br />

<strong>do</strong> romance <strong>de</strong> Proença, em que ficção e crítica passam a conviver, questionan<strong>do</strong> a<br />

própria natureza <strong>do</strong> romance como gênero reconhecível. Nesse caso, confrontar a<br />

mudança <strong>de</strong> foco narrativo <strong>do</strong> personagem-escritor em Dom Casmurro para a<br />

personagem-escritora em Capitu – memórias póstumas significa i<strong>de</strong>ntificar as<br />

significações reiteradas e/ou as ressignificações engendradas em relação à<br />

personagem Capitu.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A meto<strong>do</strong>logia utilizada é a <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Literatura Comparada, visto que<br />

esta implica o espaço inter-relacional por excelência, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para investigar-se a<br />

proposta <strong>do</strong> crítico-ficcionista Proença <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r voz a Capitu, para que ela narre,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morta, com seu ponto <strong>de</strong> vista, como foi sua vida ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bentinho, à<br />

luz <strong>do</strong> próprio texto <strong>de</strong> seu ex-mari<strong>do</strong>, posto que o Dr. Santiago admitiu por escrito<br />

que, ao buscar encontrar-se na memória, acabou faltan<strong>do</strong>-se a si mesmo.<br />

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RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Em Capitu – memórias póstumas, assim como em Dom Casmurro, os<br />

mecanismos pelos quais a narrativa se constitui e se constrói são explicita<strong>do</strong>s ao<br />

leitor, mostran<strong>do</strong>-se como ficção e exigin<strong>do</strong> <strong>do</strong> leitor sua coparticipação no processo<br />

<strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s da narrativa, pois, conforme Hutcheon (1984, p. 39), a<br />

narrativa metaficcional <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como uma “mimesis <strong>do</strong> processo”. A<br />

personagem-autora Capitu, a exemplo <strong>do</strong> personagem-autor Santiago, interroga-se<br />

sobre a valida<strong>de</strong> das formas que emprega no processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> romance,<br />

<strong>de</strong>mandan<strong>do</strong> que o leitor o reconheça como ficção e se engaje em sua “co-criação”.<br />

CONCLUSÕES<br />

A década <strong>de</strong> noventa é um momento em que criar passa pela metaficção e<br />

pela ativida<strong>de</strong> da paródia, da volta crítica a textos literários consagra<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

reconhecimento <strong>de</strong> que a originalida<strong>de</strong> ou a unida<strong>de</strong> autoral é um mito, e pelo<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> refletir criticamente acerca da própria história literária. Ainda que as duas<br />

obras em estu<strong>do</strong> apresentem divergências relevantes quanto a questões estéticas e<br />

i<strong>de</strong>ológicas, Capitu – memórias póstumas instaura uma convergência significativa<br />

em relação a Dom Casmurro, posto que, rompen<strong>do</strong> a fronteira discursiva e a<br />

fronteira textual, redimensiona a construção da personagem Capitu, sem, contu<strong>do</strong>,<br />

retirar a aura <strong>de</strong> dubieda<strong>de</strong> que a consagrou, alcançan<strong>do</strong>, assim, a verda<strong>de</strong>ira<br />

intertextualida<strong>de</strong>.<br />

Indubitavelmente, o número <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s sobre Capitu é expressivo. No entanto,<br />

a abordagem aqui proposta, seguramente, ainda não foi efetuada pela Crítica<br />

Literária. Assim, acredita-se que a realização <strong>de</strong>sta pesquisa representará uma<br />

contribuição significativa para a área <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Literários no Brasil, pois permitirá<br />

um maior entendimento e reconhecimento da literatura <strong>de</strong> Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis, a<br />

partir da releitura <strong>de</strong> Capitu engendrada pela crítica-ficção machadiana, integrada<br />

pelo romance <strong>de</strong> Domício Proença Filho.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Capa Índice 13403


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narrator. University of Oklahoma Press, 1981.<br />

SANTIAGO, Silviano. Retórica da verossimilhança. In: ______ . Uma literatura nos<br />

trópicos: ensaios sobre <strong>de</strong>pendência cultural. São Paulo: Perspectiva, 1978.<br />

SHAKESPEARE, William. Otelo, o mouro <strong>de</strong> Veneza. Tradução Barbara Helio<strong>do</strong>ra.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2011.<br />

SOUZA, Luciana Fi<strong>de</strong>lis <strong>de</strong>. Leituras <strong>de</strong> Capitu: novas narrativas, outros olhares.<br />

Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Literatura Brasileira) – Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />

Literatura, UFSC, Florianópolis, 2005.<br />

STANZEL, Franz. Narrative situations in the novel. Tom Jones, Moby-Dick, The<br />

Ambassa<strong>do</strong>rs, Ulysses. Bloomington/Lon<strong>do</strong>n: Indiana University Press, 1971.<br />

VARA, Teresa Pires. Dom Casmurro como ópera. Revista <strong>de</strong> Letras da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Assis, v. 6, p. 127-142, 1965.<br />

VILAR, Bluma W. “Um caloteiro <strong>de</strong>voto: a contabilida<strong>de</strong> moral em Dom Casmurro”, in<br />

ROCHA, João Cezar <strong>de</strong> Castro. À roda <strong>de</strong> Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assis: ficção, crônica e<br />

crítica. Chapecó (SC): Argos, 2006. p.179-229.<br />

WAUGH, Patricia. Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction.<br />

Lon<strong>do</strong>n: Methuen, 1984.<br />

WEINHARDT, MARILENE. Retornos <strong>de</strong> Capitu. Revista Letras, Curitiba, n. 61, p.<br />

315-323, 2003.<br />

Capa Índice 13406


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13407 - 13412<br />

DA PARATEXTUALIDADE AO TEXTO POÉTICO: UMA LEITURA DE RECEÇÃO EM MANOEL DE<br />

BARROS<br />

Rosi<strong>de</strong>lma Pereira FRAGA – D/<strong>UFG</strong>/CNPq<br />

rosi<strong>de</strong>lmapoeta@yahoo.com.br<br />

Goiandira <strong>de</strong> F. Ortiz <strong>de</strong> CAMARGO – Orienta<strong>do</strong>ra/<strong>UFG</strong>/CNPq<br />

g.ortiz@uol.com.br<br />

Palavras-chave: Manoel <strong>de</strong> Barros; recepção <strong>de</strong> poesia; <strong>de</strong>senho; ilustração; paratextualida<strong>de</strong>.<br />

I Introdução<br />

Esta pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utoramento propõe-se a examinar na obra <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros<br />

(1937-2011), os paratextos (orelhas, prefácios e epígrafes), os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros, as<br />

ilustrações e as aquarelas, à luz da estética da recepção e semiótica. A investigação ancora-se na<br />

teoria <strong>do</strong> vazio e da recepção, proposta por Wolfgang Iser (1979) e Hans Robert Jauss (1979),<br />

soman<strong>do</strong>-se às discussões sobre o leitor provocadas por Umberto Eco (1990-2005), bem como na<br />

teoria da ilustração encontradas nas obras <strong>de</strong> Sophie Van <strong>de</strong>r Lin<strong>de</strong>n (2011), Rui <strong>de</strong> Oliveira (2008) e<br />

na semiótica <strong>de</strong> Charles San<strong>de</strong>r Pierce (1839-1914).<br />

O problema na elaboração <strong>de</strong> nosso objeto <strong>de</strong> pesquisa parte <strong>do</strong> exame sobre as relações<br />

<strong>de</strong> senti<strong>do</strong> a serem construídas pelo leitor na leitura e recepção da obra <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros tanto<br />

para a poesia quanto para outros códigos <strong>de</strong> linguagens: ilustração, <strong>de</strong>senho, epígrafes e prefácios. De<br />

mo<strong>do</strong> semelhante, o problema recai sobre a averiguação <strong>de</strong> como o leitor Manoel <strong>de</strong> Barros recebe sua<br />

obra e a obra <strong>de</strong> outros escritores, ao escolher, por exemplo, as epígrafes e eleger alguns pintores<br />

como Paul Klee e Joan Miró na tessitura <strong>de</strong> sua poesia lírica. Com tais reflexões, preten<strong>de</strong>-se averiguar<br />

a intenção <strong>do</strong> autor (intentio auctoris), a intenção <strong>do</strong> leitor (intentio lectoris) e a intenção <strong>do</strong> texto<br />

(intentio operis) para a interpretação das obras <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros, com o intuito <strong>de</strong> propor senti<strong>do</strong>s<br />

aos vazios <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao leitor <strong>de</strong> sua poesia, <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos e da ilustração realiza<strong>do</strong>s por um leitor.<br />

Enten<strong>de</strong>r a natureza <strong>do</strong> leitor constitui-se uma das tarefas <strong>de</strong>ssa investigação da obra <strong>de</strong><br />

Manoel <strong>de</strong> Barros tanto na recepção <strong>do</strong> texto lírico quanto <strong>do</strong>s paratextos (orelhas, prefácios e<br />

epígrafes) e da ilustração. Para tal busca <strong>de</strong> entendimento, consi<strong>de</strong>rou-se a experiência estética como<br />

ativida<strong>de</strong> produtora, receptiva e comunicativa teorizada por Hans Robert Jauss no capítulo “A estética<br />

da recepção”, <strong>de</strong> A literatura e o leitor (1979). Jauss verificou que a fruição estética passa por três<br />

funções básicas: poiesis, aisthesis e katharsis, ten<strong>do</strong> em vista uma tradição poetológica. Para a<br />

Capa Índice 13407


compreensão <strong>do</strong> texto literário, o intérprete <strong>de</strong>ve partir da diferença fenomenológica entre<br />

compreensão e discernimento, entre a experiência primária e o ato <strong>de</strong> reflexão com que a consciência<br />

<strong>do</strong> leitor se volta para a significação e para a construção <strong>de</strong> sua experiência com o texto e seu efeito<br />

estético. A leitura <strong>de</strong> poesia e a criação poética implicam em fruição estética, admiração, prazer,<br />

<strong>de</strong>leite, encantamento, labor artístico e, em muitos casos, inspiração. Em Trata<strong>do</strong> geral da semiótica,<br />

Umberto Eco (2002, p.232) aponta a experiência estética <strong>do</strong> texto como “prazer, gozo, fulfilment,<br />

sentimento <strong>de</strong> cosmicida<strong>de</strong>, intuição <strong>do</strong> inefável e plenitu<strong>de</strong>”, a qual <strong>de</strong>ve partir da interação entre o<br />

autor, a obra e o leitor. Assim, a criação poética e o percurso <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> um poema exigem o trabalho<br />

<strong>de</strong> incorporação e sensibilida<strong>de</strong>. No poema XV, Manoel <strong>de</strong> Barros apontou <strong>do</strong>is caminhos sobre tal<br />

processo <strong>de</strong> recepção, encontra<strong>do</strong>s na obra Arranjos para assobio (2002):<br />

― Difícil <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, me dizem, é sua poesia;<br />

o senhor concorda?<br />

― Para enten<strong>de</strong>r nós temos <strong>do</strong>is caminhos: o da<br />

sensibilida<strong>de</strong> que é o entendimento <strong>do</strong> corpo; e<br />

o da inteligência que é o entendimento <strong>do</strong><br />

espírito.<br />

Eu escrevo com o corpo<br />

Poesia não é para compreen<strong>de</strong>r, mas para<br />

Incorporar<br />

Enten<strong>de</strong>r é pare<strong>de</strong>; procure ser uma árvore.<br />

(BARROS, 2002, p.37).<br />

Percebe-se, a rigor, um questionamento sobre a leitura poética <strong>do</strong> sujeito empírico que<br />

tece diálogo com um leitor instituí<strong>do</strong> na linguagem da poesia. Em tal intercâmbio <strong>de</strong> vozes, <strong>de</strong>scobre-se<br />

um provável leitor nomea<strong>do</strong> por Manoel <strong>de</strong> Barros, aquele que <strong>de</strong>ve se vestir <strong>do</strong>s mesmos a<strong>de</strong>reços: a<br />

sensibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> corpo e o entendimento <strong>do</strong> espírito. Nesse senti<strong>do</strong>, o leitor torna-se um ser<br />

indispensável à criação <strong>do</strong> poeta, pois lembran<strong>do</strong> Umberto Eco (2001, p.7), em Seis passeios pelos<br />

bosques da ficção, “o leitor é um ingrediente fundamental não só <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> contar uma história,<br />

como também da própria história”.<br />

II Material e méto<strong>do</strong>s<br />

Esta pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em andamento <strong>de</strong>senvolve-se por meio da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong><br />

análise <strong>de</strong> recepção e intersemiótica, ten<strong>do</strong> em vista que, nela, busca-se aproximar a convergência <strong>de</strong><br />

senti<strong>do</strong>s entre as iluminuras, a ilustração, o <strong>de</strong>senho e a poesia. Ten<strong>do</strong> como foco teórico aponta<strong>do</strong><br />

alhures, a tese foi dividida em três capítulos. O primeiro intitula-se LINGUAGENS: RECEPÇÃO E<br />

SEMIÓTICA e teve como subsídio a discussão teórica e analítica sobre recepção <strong>do</strong> leitor, a criação<br />

Capa Índice 13408


poética, cuja base foi Hans Robert Jauss, os pontos <strong>do</strong> vazio e da in<strong>de</strong>terminação a serem preenchi<strong>do</strong>s<br />

pelo leitor, conforme <strong>de</strong>bate Wolfgang Iser, acrescentan<strong>do</strong> às discussões sobre a interpretação<br />

instaurada por Umberto Eco e, secundariamente, a semiótica <strong>do</strong>s signos <strong>de</strong> Charles San<strong>de</strong>r Pierce e a<br />

teoria da ilustração. Ainda no primeiro capítulo, a finalida<strong>de</strong> profícua foi explicitar como a crítica<br />

acadêmica recepciona a obra <strong>do</strong> poeta, engloban<strong>do</strong> Dissertações, Teses e obras que constituem a<br />

fortuna crítica <strong>do</strong> autor.<br />

No segun<strong>do</strong> capítulo intitula<strong>do</strong> MANOEL DE BARROS: UMA LEITURA DE RECEPÇÃO, o<br />

trabalho focaliza-se na recepção <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros no posfácio “Manoel por Manoel”, na recepção<br />

<strong>do</strong> leitor para a obra <strong>de</strong> estreia, comparan<strong>do</strong> o título Poemas concebi<strong>do</strong> sem peca<strong>do</strong> (1937) e o poema<br />

“Informações sobre a musa”. No mesmo foco analítico-teórico, investiga-se a recepção <strong>do</strong> poeta<br />

Manoel <strong>de</strong> Barros das epígrafes das obras Livro <strong>de</strong> pré-coisas (1985), Ensaios fotográficos (2000),<br />

Trata<strong>do</strong> geral das gran<strong>de</strong>zas <strong>do</strong> ínfimo (2001), Poemas rupestres (1994), Retrato <strong>do</strong> artista quan<strong>do</strong><br />

coisa (1988).<br />

Observa-se o leitor-receptor Manoel <strong>de</strong> Barros das artes plásticas na fotografia <strong>do</strong> silêncio,<br />

isto é, como Manoel <strong>de</strong> Barros recebe a algumas pinturas <strong>de</strong> Paul Klee e Joan Miró na obra Ensaios<br />

fotográficos (2000). Para finalizar o segun<strong>do</strong> capítulo, a proposta consiste na recepção <strong>do</strong> “Apêndice”<br />

que o poeta escreve para Retrato <strong>do</strong> artista quan<strong>do</strong> coisa e o paratexto “Entrada” para a obra Poesia<br />

completa (2010), com os quais se funda uma leitura intratextual com diversas obras <strong>do</strong> poeta, <strong>de</strong> 1937-<br />

2011, averiguan<strong>do</strong> que a construção poética se serve <strong>do</strong> discurso enxerta<strong>do</strong>. Este, para o teórico da<br />

<strong>de</strong>sconstrução, Jacques Derrida (1988), tem a ver com a mescla <strong>de</strong> um texto literário em outro, dada a<br />

possibilida<strong>de</strong> que o autor vê no texto o entrecruzamento <strong>do</strong>s discursos. Nesse entrelaçar, o segun<strong>do</strong><br />

texto passa a ser duplo, não só pelo diálogo que os discursos exercem, mas pela possibilida<strong>de</strong> da<br />

própria palavra enxertada e explorada.<br />

No terceiro capítulo, concentra-se na recepção <strong>de</strong> poesia pelos ilustra<strong>do</strong>res da obra <strong>de</strong><br />

Manoel <strong>de</strong> Barros, a partir <strong>do</strong> título INTERSEMIOSES E RECEPÇÃO: POESIA, ILUSTRAÇÃO E<br />

DESENHO. Primeiramente, o trabalho enfoca as relações homológicas entre poesia e <strong>de</strong>senho, além<br />

<strong>de</strong> oferecer um diálogo <strong>de</strong> poiesis, a partir <strong>de</strong> O guarda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> águas (1989) e Escritos em verbal <strong>de</strong><br />

ave (2011). Com tal proposta, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se a interpretação sobre a transfiguração <strong>do</strong> personagem<br />

Bernar<strong>do</strong> da Mata e a representação da infância nos <strong>de</strong>senhos. A tese versa acerca <strong>do</strong> papel <strong>do</strong><br />

ilustra<strong>do</strong>r na recepção <strong>do</strong> texto literário e <strong>de</strong>bruça-se na investigação sobre o tema da memória e na<br />

representação da infância nas memórias inventadas por Manoel e iluminada por Martha Barros.<br />

Subsidia-se uma leitura da linguagem da criança na poesia e borda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Exercícios <strong>de</strong> ser criança,<br />

bem como uma exegese da linguagem primitiva perpassada nos signos poéticos e nos signos da<br />

ilustração, incluin<strong>do</strong> os paratextos “Explicação” e “Desexplicação”, <strong>de</strong> Ana Raquel e Manoel <strong>de</strong> Barros<br />

Capa Índice 13409


para a obra Poeminhas pesca<strong>do</strong>s numa fala <strong>de</strong> João (2008). Examinam-se as convergências entre a<br />

palavra e a pintura ilustrativa das obras Cantigas por um passarinho à toa (2003) e Poeminha em<br />

língua <strong>de</strong> brincar (2007). E na última seção da tese, a leitura inci<strong>de</strong> no discurso da invenção e na<br />

criação poética como um encontro semiótico e intertextual realiza<strong>do</strong>s, homologicamente, por Manoel <strong>de</strong><br />

Barros e Ziral<strong>do</strong> Alves Pinto na obra O faze<strong>do</strong>r <strong>de</strong> amanhecer (2001).<br />

III Resulta<strong>do</strong>s, discussão e conclusão<br />

Embora a tese ainda esteja em fase <strong>de</strong> escrita e não se efetivou a conclusão, têm-se<br />

alguns resulta<strong>do</strong>s e inferências. Acredita-se, na recepção <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> O guarda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> águas<br />

(1989) e Escritos em verbal <strong>de</strong> ave (2011), que em matéria <strong>de</strong> encurtamento <strong>de</strong> suas experiências e<br />

vivências com o rio, Bernar<strong>do</strong> era um guarda<strong>do</strong>r <strong>de</strong> águas. Nos verbais <strong>de</strong> sua morte, a voz é verbo, é<br />

força cria<strong>do</strong>ra, uma vez que ela professa a comunicação entre o ser e a natureza, forman<strong>do</strong> uma<br />

comunhão sagrada entre o homem e a poesia: “Acho uma coisa/cândida/conversar com as águas”<br />

(BARROS, 2011). E na comunhão espiritual da poesia, Bernar<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>mentário, o visionário <strong>de</strong><br />

palavras e escritor <strong>de</strong> absur<strong>de</strong>z, transfigura-se como a imagem <strong>de</strong> Narciso no espelho, pois Bernar<strong>do</strong>,<br />

agora sem sobrenome, conversa com as águas e nela é refleti<strong>do</strong>, tanto na poetização <strong>do</strong> discurso<br />

verbal <strong>de</strong> ave quanto na memória eterna <strong>do</strong> leitor.<br />

Depreen<strong>de</strong>-se que a poesia <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros e a ilustração, bem como os <strong>de</strong>senhos<br />

convergem-se, sen<strong>do</strong> a segunda uma leitura <strong>do</strong> texto literário e não necessariamente uma cópia ou<br />

reprodução <strong>do</strong> fazer poético. Adianta-se um provável resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> que Martha Barros, ainda que suas<br />

aquarelas não sejam uma proposta <strong>de</strong> ilustração, consegue dialogar imensamente com a poesia <strong>de</strong><br />

Manoel <strong>de</strong> Barros no que se refere à transgressão das imagens físicas e na tradução <strong>de</strong> memórias<br />

inventadas e reinventadas pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ressignificação da metáfora. A arte <strong>de</strong> Ziral<strong>do</strong> soma-se às<br />

invenções e fantasias abraçadas ao texto lírico manoelino e faz amanhecer por meio da imagem<br />

pintada como se fosse a própria palavra. O ilustra<strong>do</strong>r exprime a loucura das palavras1 na poesia <strong>de</strong><br />

Barros. Ana Raquel propõe uma leitura coerente <strong>do</strong>s poemas pesca<strong>do</strong>s na fala <strong>de</strong> João e vai muito<br />

além da exploração da imagem da palavra, utilizan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> um único código <strong>de</strong> linguagem para<br />

traduzir o poético: pintura, colagem e fotografias. Infere-se que todas as obras corroboram para aflorar<br />

a fantasia, <strong>de</strong> maneira que o leitor tenha as duas linguagens como função <strong>de</strong> comunicar além <strong>do</strong><br />

exposto na folha. Na ilustração e na poesia perpassam um sincretismo entre o não-verbal e o verbal<br />

<strong>do</strong>s sistemas semiótico- plásticos. A ilustração procura contar o que ocorre na imagem da palavra por<br />

meio <strong>de</strong> uma relação que, na obra Semiótica visual: os percursos <strong>do</strong> olhar (2010), Antônio Vicente<br />

1 Termo empresta<strong>do</strong> <strong>de</strong> José Fernan<strong>de</strong>s (1987), da obra A loucura das palavras.<br />

Capa Índice 13410


Pietroforte (2010) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u como “sistema semi-simbólico” capaz <strong>de</strong> carregar uma semântica<br />

específica por ser a arte que dispõe <strong>de</strong> estratégias <strong>do</strong> ver e <strong>do</strong> sentir, aproximan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> outras artes.<br />

Com o propósito <strong>de</strong> colher tais resulta<strong>do</strong>s e assim resolver algumas problemáticas <strong>de</strong><br />

recepção <strong>de</strong> análise literária, Wolfgang Iser e Jauss têm subsidia<strong>do</strong> reflexões <strong>de</strong> que muitas barreiras<br />

<strong>de</strong> exegese po<strong>de</strong>m ser amenizadas se o investiga<strong>do</strong>r tomar como ponto <strong>de</strong> partida as estruturas<br />

centrais <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação. Em outros termos, essas “instâncias <strong>de</strong> controle” (ISER, 1979 p. 106), têm<br />

auxilia<strong>do</strong> na pesquisa e análise das ilustrações e da poesia que ditam o vazio como estratégia para que<br />

o leitor se torne um participante na construção <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> da criação poética.<br />

IV Referências bibliográficas<br />

BARROS, Manoel. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.<br />

_____. Memórias inventadas: as infâncias <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros. São Paulo: Planeta <strong>do</strong> Brasil, 2010.<br />

_____. Escritos em verbal <strong>de</strong> ave. São Paulo: Leya, 2011.<br />

_____. Cantigas por um passarinho à toa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2003.<br />

_____. O faze<strong>do</strong>r <strong>de</strong> amanhecer. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2001.<br />

Poeminhas pesca<strong>do</strong>s numa fala <strong>de</strong> João. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2001.<br />

BARROS, Manoel <strong>de</strong>. Borda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Antônia Zulma Diniz, Ângela, Marilu, Martha e Sávia Dumont sobre<br />

<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Demóstenes. Exercícios <strong>de</strong> ser criança. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1999.<br />

ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2005.<br />

_____. Os limites da interpretação. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1990.<br />

_____. Trata<strong>do</strong> geral da semiótica. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.<br />

_____. Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 2002.<br />

_____. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Perspectiva, 2001.<br />

HORÁCIO. Arte poética. Trad. R. M. Rosa<strong>do</strong> Fernan<strong>de</strong>s. Lisboa: Inquérito, 1984.<br />

ISER, Wolfgang. A interação <strong>do</strong> texto com o leitor. In: _____ COSTA LIMA, Luiz (Org.). A Literatura e o leitor:<br />

textos <strong>de</strong> estética da recepção. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 83-101.<br />

_____. O ato da leitura: uma teoria <strong>do</strong> efeito estético. Vol. 01. São Paulo: Ed. 34, 1996.<br />

JAUSS, Hans Robert. A estética da recepção. In: _____ COSTA LIMA, Luiz (Org.). A Literatura e o leitor: textos<br />

<strong>de</strong> estética da recepção. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.43-62.<br />

_____ O prazer estético e as experiências fundamentais da Poiesis, Aisthesis e Katharsis. In: ______ COSTA<br />

LIMA, Luiz (Org.). A Literatura e o leitor: textos <strong>de</strong> estética da recepção. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979.p.63-<br />

82.<br />

Capa Índice 13411


LINDEN, Sophie Van <strong>de</strong>r Lin<strong>de</strong>n. Para ler o livro ilustra<strong>do</strong>. Trad. Dorothée <strong>de</strong> Bruchard. São Paulo: Cosac Naify,<br />

2011.<br />

NÖTH, Winfried; SANTAELLA, Lúcia. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2010.<br />

OLIVERIA, Rui <strong>de</strong>. Pelos jardins <strong>de</strong> Boboli: a arte <strong>de</strong> ilustrar livros para crianças e jovens. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 2008.<br />

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Crítica e intertextualida<strong>de</strong>: texto, crítica e escritura. São Paulo: Ática, 1993.<br />

PIERCE, Charles San<strong>de</strong>r. Semiótica. Trad. José Teixeira Coelho Neto. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.<br />

PIETROFORTE, Antonio Vicente. Semiótica visual: os percursos <strong>do</strong> olhar. São Paulo: Contexto, 2010.<br />

SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e pensamento. São Paulo: Iluminuras, 2001.<br />

_____ . A teoria geral <strong>do</strong>s signos: Como as linguagens significam as coisas. 2 . ed. São Paulo: Pioneira, 2000.<br />

_____. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2008.<br />

Capa Índice 13412


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13413 - 13417<br />

EFEITO DA ADUBAÇÃO MINERAL NA CULTURA DA MAMONEIRA EM<br />

DIFERENTES LOCAIS NO CERRADO GOIANO<br />

Samuel <strong>de</strong> Deus da SILVA 1 ; Wilson Mozena LEANDRO 2 ; Paulo Alcanfor XIMENES 2 ;<br />

Natália Klahold LIPPI 3<br />

1 Doutoran<strong>do</strong> em Agronomia – Solo e Água pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás<br />

(<strong>UFG</strong>). E-mail: agrosamuel@gmail.com<br />

2 Prof. Dr. em Agronomia <strong>UFG</strong>. E-mails: wilsonufg@gmail.com, pauloalcanfor@gmail.com<br />

3 Aluna <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Agronomia na <strong>UFG</strong>. E-mail: nklahold@hotmail.com<br />

Palavras-chave: Ricinus; biodiesel; oleaginosa.<br />

Introdução<br />

Nas últimas décadas, a busca por formas <strong>de</strong> substituição <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />

combustíveis fósseis vem crescen<strong>do</strong> globalmente. A diminuição da <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong><br />

petróleo e <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s, em razão <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s preços internacionais e da<br />

preocupação com o meio ambiente, motivam esse processo. Além disso, existe<br />

gran<strong>de</strong> expectativa quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vantagens econômicas obtidas pela<br />

valorização <strong>de</strong> produtos relaciona<strong>do</strong>s à agroenergia, por ser fonte <strong>de</strong> energia<br />

renovável, ou pela negociação <strong>de</strong> créditos <strong>de</strong> carbono consegui<strong>do</strong>s através <strong>do</strong><br />

mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento limpo (MDL), previsto no Protocolo <strong>de</strong> Quioto<br />

(KRAXNER et al., 2003).<br />

O Cerra<strong>do</strong> brasileiro é uma região com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

matéria-prima para produção <strong>de</strong> biodiesel, como a mamona (Ricinnus communis L.).<br />

A mamoneira é uma oleaginosa <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacada importância no Brasil e no mun<strong>do</strong>.<br />

Seu óleo é uma matéria prima <strong>de</strong> aplicações únicas na indústria química <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

características peculiares <strong>de</strong> sua molécula que lhe fazem o único óleo vegetal<br />

naturalmente hidroxila<strong>do</strong>, além <strong>de</strong> uma composição com pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> um único<br />

áci<strong>do</strong> graxo, ricinoléico, o qual lhe confere as proprieda<strong>de</strong>s químicas atípicas<br />

(EMBRAPA, 2010). Apresenta gran<strong>de</strong> potencial como matéria-prima para produção<br />

<strong>de</strong> biodiesel, on<strong>de</strong> se faz necessário mais estu<strong>do</strong>s que venham a contribuir para<br />

<strong>do</strong>mesticação, e maior conhecimento sobre a cultura, por consequência obter maior<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s frutos e rendimento <strong>de</strong> óleo. É uma cultura que vem sen<strong>do</strong><br />

cultivada em alguns locais <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> com intuito <strong>de</strong> produzir biodiesel. Todavia,<br />

Capa Índice 13413


seus estu<strong>do</strong>s foram mais intensifica<strong>do</strong>s no nor<strong>de</strong>ste brasileiro e região su<strong>de</strong>ste nos<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Minas Gerais e São Paulo.<br />

A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ses agronômicas mais eficientes <strong>de</strong> N, P e K se faz<br />

necessário por se tratar <strong>de</strong> elementos com aporte via fertilizantes, que oneram o<br />

custo <strong>de</strong> produção. Em quantida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas a planta terá maior aproveitamento<br />

e menos perdas no solo. Doses excessivas <strong>de</strong> fertilizantes, além <strong>de</strong> onerar a<br />

produção po<strong>de</strong>m promover a toxi<strong>de</strong>z das plantas, e, o excesso <strong>de</strong> elementos no solo<br />

que po<strong>de</strong>rão contaminar o lençol freático. Portanto, é necessária uma avaliação <strong>do</strong>s<br />

nutrientes aplica<strong>do</strong>s via fertilizantes no Cerra<strong>do</strong>, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> <strong>do</strong>ses mais a<strong>de</strong>quadas<br />

para o cultivo da mamoneira. Diante disso, o estu<strong>do</strong> teve como objetivo avaliar<br />

diferentes <strong>do</strong>ses <strong>de</strong> fertilizantes minerais a base <strong>de</strong> NPK em <strong>do</strong>is locais <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong><br />

goiano.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Os experimentos foram realiza<strong>do</strong>s nos municípios <strong>de</strong> Goiânia e Goiatuba,<br />

localiza<strong>do</strong>s no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás. Em Goiânia foi implanta<strong>do</strong> na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>), e, em Goiatuba na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas<br />

(Fafich).<br />

O solo em Goiânia foi classifica<strong>do</strong> como Latossolo Vermelho distroférrico, e em<br />

Goiatuba como Latossolo Vermelho distrófico (SBCS, 2006).<br />

A cultivar plantada foi AL Guarani <strong>de</strong> porte médio varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1,6 a 2,4 m, tem<br />

ciclo <strong>de</strong> 180 dias e produtivida<strong>de</strong> varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1.500 a 2.500 kg ha -1 (EMBRAPA, 2010).<br />

Foram semeadas três sementes por ponto no sulco e mantida apenas uma após o<br />

<strong>de</strong>sbaste. O espaçamento utiliza<strong>do</strong> foi <strong>de</strong> 1m x 1m.<br />

O clima em Goiânia conforme Köppen classifica-se como Aw, tropical<br />

chuvoso, com temperaturas máximas médias entre 34°C e 36°C e mínimas entre<br />

0°C e 4°C. Ainda, apresenta precipitação média entre 1.500 a 2.000 mm anuais.<br />

Goiatuba apresenta o clima tropical, com estação seca e chuvosa bem <strong>de</strong>finidas,<br />

classifica-se segun<strong>do</strong> Köppen-Geiger como Aw. O mês mais quente é outubro, com<br />

média <strong>de</strong> 30°C e o mais frio em junho, com média <strong>de</strong> 20°C. As máximas absolutas<br />

dificilmente ultrapassam 37°C. Os meses <strong>de</strong> novembro a março são responsáveis<br />

por 85% da precipitação anual neste local, sen<strong>do</strong> a precipitação média anual cerca<br />

<strong>de</strong> 1.500 mm.<br />

Capa Índice 13414


Os experimentos foram monta<strong>do</strong>s a campo em 21/12/2010 e 22/12/2010 em<br />

Goiatuba e Goiânia respectivamente. Os da<strong>do</strong>s foram coleta<strong>do</strong>s aos 175 e 177 (dias<br />

após o plantio – DAP). Testou-se três nutrientes, NPK (N:P2O5:K2O), nas <strong>do</strong>ses<br />

(0, 40, 80 e 160 kg ha -1 ), sen<strong>do</strong> a mamoneira cultivada em <strong>do</strong>is locais. Desta forma,<br />

constituiu-se em arranjo fatorial (3x4x2). As parcelas tiveram dimensões <strong>de</strong> 4m x<br />

4m, ou seja, 16 m 2 . Entretanto, foram avaliadas apenas as 4 plantas centrais <strong>de</strong><br />

cada parcela. O <strong>de</strong>lineamento foi o <strong>de</strong> blocos casualiza<strong>do</strong>s com quatro repetições.<br />

Os 12 tratamentos foram: T1 = testemunha; T2 = 40-80-80; T3 = 80-80-80;<br />

T4 = 160-80-80; T5 = 80-80-80; T6 = 60-40-80; T7 = 60-80-80; T8 = 60-160-80;<br />

T9 = 160-160-160; T10 = 60-80-40; T11 = 60-80-80; T12 = 60-80-160 kg ha -1 <strong>de</strong> N,<br />

P2O5 e K2O respectivamente. As fontes minerais <strong>de</strong> NPK utilizadas foram a uréia<br />

(45% N), o superfosfato triplo (46% P2O5) e o cloreto <strong>de</strong> potássio (60% K2O). Com<br />

exceção <strong>do</strong> P que foi aplica<strong>do</strong> 100% no plantio, o N e K 50% da <strong>do</strong>se no plantio e<br />

50% em cobertura distribuí<strong>do</strong>s uniformemente ao longo <strong>do</strong> sulco (plantio), e na<br />

superfície próximo as plantas no caso da cobertura.<br />

Na condução foram realizadas capinas manual, e a necessida<strong>de</strong> hídrica das<br />

plantas foi suprida apenas pela chuva no perío<strong>do</strong>. Também, foram distribuídas iscas<br />

granuladas no controle <strong>de</strong> formigas corta<strong>de</strong>iras.<br />

Aos 175 e 176 DAP foram avaliadas a massa seca da parte aérea (seca em<br />

estufa a 65 o C até peso constante), altura das plantas (fita métrica, <strong>do</strong> solo a parte<br />

mais alta e central da planta). Além <strong>de</strong>stas variáveis citadas outras também foram<br />

avaliadas, porém, não serão discutidas no presente trabalho.<br />

Depois da coleta proce<strong>de</strong>u a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, com aplicação <strong>do</strong> teste F<br />

(Anova) e regressão a 5% <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>. Nesta etapa, foi utiliza<strong>do</strong> o programa<br />

estatístico SISVAR ® v. 5.1 (FERREIRA, 2000).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão<br />

Observa-se uma tendência no aumento da massa seca da parte aérea da<br />

mamoneira em função da adubação nitrogenada (Figura 1A). O cultivo das plantas<br />

nas condições edafoclimáticas <strong>de</strong> Goiânia evi<strong>de</strong>nciam uma tendência <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong> em relação ao cultivo realiza<strong>do</strong> Goiatuba para esta variável. O<br />

nitrogênio (N) é o mais importante <strong>do</strong>s macronutrientes, tanto em termos <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

fertilizantes em nível mundial como em conteú<strong>do</strong> nas culturas e nas colheitas (RAIJ,<br />

Capa Índice 13415


(A)<br />

2011). Outro aspecto <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> por Santos et al. (2004), é que a mamoneira tem<br />

forte <strong>de</strong>manda por N, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> apresentar sintomas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência no início <strong>do</strong><br />

crescimento se o suprimento <strong>de</strong>ste elemento não for a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>.<br />

Tendência similar à adubação nitrogenada foi observada na adubação com<br />

fósforo (P) (Figura 1B) e potássio (K) (Figura 2B). As maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes<br />

nutrientes promoveram incremento na massa seca das plantas <strong>de</strong> mamona. Mais<br />

uma vez, as plantas cultivadas em Goiânia apresentaram-se superiores a plantas<br />

cultivadas em Goiatuba. Severino et al. (2006), <strong>de</strong>staca que níveis insatisfatórios <strong>de</strong><br />

P, da mesma forma que o <strong>de</strong> K, retardam o crescimento inicial da planta e provocam<br />

redução consi<strong>de</strong>rável na produtivida<strong>de</strong>. Estes mesmos autores verificaram maior<br />

resposta a adubação nitrogenada, seguida pela fosfatada e potássica.<br />

Em relação à altura da parte aérea das plantas, com exceção <strong>do</strong> P,<br />

observa-se crescimento superior <strong>de</strong>stas cultivadas em Goiânia em relação às <strong>de</strong><br />

Goiatuba (Figura 1D, 1E e 1F).<br />

(B)<br />

(D) (E)<br />

(F)<br />

Figura 1. Massa seca da parte aérea (MSPA) <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> mamona cultivadas sob <strong>do</strong>ses<br />

crescentes <strong>de</strong> NPK cultivadas em Goiânia e Goiatuba, GO. ** , * e ns = significativo a 1%, 5%<br />

<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> e não significativo pelo teste F.<br />

A maior <strong>do</strong>se <strong>de</strong> P testada (160 kg ha -1 P2O5) indicou maior resposta em altura<br />

das plantas <strong>de</strong> mamona cultivadas em Goiatuba. Ribeiro et al. (2009), verificaram<br />

Capa Índice 13416<br />

(C)


esposta crescente na altura das plantas <strong>de</strong> mamona na <strong>do</strong>se máxima testada por<br />

eles (120 kg ha -1 P2O5). De maneira geral, o P em Solos <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong> apresenta baixa<br />

eficiência em <strong>de</strong>corrência principalmente da fixação <strong>de</strong>ste elemento com a fração<br />

argila.<br />

Conclusão<br />

As plantas <strong>de</strong> mamona cultivadas em Goiânia apresentam melhor resposta no<br />

ganho <strong>de</strong> massa seca e altura em função da adubação e das condições<br />

edafoclimáticas.<br />

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Capa Índice 13417


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Base muscular <strong>do</strong> “filé <strong>de</strong> cauda” em jacaré-<strong>do</strong>-Pantanal Caiman yacare,<br />

Daudin 1802<br />

Sandra Izilda Souza <strong>de</strong> FIGUEIREDO I ; Eugênio Gonçalves ARAÚJO II ; Luciana Batalha <strong>de</strong><br />

Miranda ARAÚJO II ; Rosa Helena <strong>do</strong>s Santos FERRAZ I .<br />

I. Departamento <strong>de</strong> Ciências Básicas e Produção Animal – DCBPA - UFMT.<br />

sandrafigueire<strong>do</strong>@ufmt.br, rhsferraz@ufmt.br. II. Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária,<br />

EVZ- <strong>UFG</strong>. earaujo@vet.ufg.br, lbmzoovet@gmail.com<br />

Apoio financeiro: CAPES<br />

Palavras-chave: musculatura da cauda, cortes comerciais, crocodilianos<br />

Introdução<br />

O Caiman yacare (jacaré-<strong>do</strong>-Pantanal) é uma das espécies <strong>de</strong><br />

crocodilianos que compõe a fauna brasileira, cuja população concentra-se nos<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Mato Grosso e Mato Grosso <strong>do</strong> Sul (UETZ, GOLL e HALLERMANN,<br />

2011). A espécie, além <strong>de</strong> contribuir com a manutenção da estrutura e<br />

funcionamento <strong>do</strong> ecossistema aquático (PINA et al., 2004; DA SILVA et al., 2006),<br />

em cativeiro, é criada para a comercialização <strong>de</strong> seus produtos e subprodutos<br />

(VICENTE NETO et al., 2007), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a regulamentação ocorrida em 1990 (BRASIL,<br />

1990). Inicialmente o uso comercial <strong>de</strong>ssa espécie limitava à utilização <strong>do</strong> couro,<br />

contu<strong>do</strong>, por conta <strong>do</strong> interesse crescente na utilização <strong>de</strong> espécies não<br />

convencionais como fonte <strong>de</strong> proteína no mun<strong>do</strong> (SARKIS, 2002; HOFFMANN,<br />

2008), a exploração da carne ganhou importância econômica e boa aceitação<br />

(TABOGA et al, 2003). Atualmente em Mato Grosso, constitui-se ca<strong>de</strong>ia produtiva<br />

com criatórios e indústrias que objetivam o aproveitamento integral da espécie.<br />

Além <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas relacionadas às proprieda<strong>de</strong>s<br />

tecnológicas, físico-químicas e <strong>do</strong> processamento da carne <strong>de</strong> jacaré-<strong>do</strong>-Pantanal<br />

(ROMANELLI et al., 2002; TABOGA et al., 2003; TELIS et al., 2003; ARAÚJO et al.,<br />

2004; RODRIGUES et al., 2007; VICENTE NETO et al., 2010; VIEIRA et al., 2012),<br />

estu<strong>do</strong>s foram conduzi<strong>do</strong>s no Caiman latirostris e C. yacare para se caracterizar as<br />

proporções <strong>do</strong>s músculos em relação as regiões <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> animas e para<br />

correlacioná-los aos cortes <strong>de</strong> maior valor comercial (COSSU et al., 2007). Os<br />

autores constataram que a musculatura da cauda representa 21,9% (175 ± 47 g) da<br />

carne total da carcaça (495 ± 123 g), sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada a região <strong>de</strong> maior<br />

Capa Índice 13418


proporção <strong>de</strong> carne. No entanto, há uma lacuna <strong>de</strong> conhecimento referente à<br />

i<strong>de</strong>ntificação e caracterização da base óssea e muscular <strong>de</strong>ssa espécie,<br />

especialmente daquele relaciona<strong>do</strong> aos cortes comerciais utiliza<strong>do</strong>s pela indústria,<br />

que ainda carecem <strong>de</strong> referenciais morfológicos que auxiliem a padronização e<br />

melhor aproveitamento <strong>do</strong>s mesmos.<br />

Nessa esteira, o objetivo <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>screver a anatomia <strong>do</strong>s<br />

músculos que compõe o corte comercial <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> jacaré-<strong>do</strong>-Pantanal <strong>de</strong>signa<strong>do</strong><br />

“filé <strong>de</strong> cauda”.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s 24 exemplares <strong>de</strong> C.yacare, machos e juvenis, obti<strong>do</strong>s<br />

em frigorífico com o Serviço <strong>de</strong> Inspeção Fe<strong>de</strong>ral (SIF) localiza<strong>do</strong> no município <strong>de</strong><br />

Cáceres (MT). Os animais após abate e esfola cuida<strong>do</strong>sa, foram embala<strong>do</strong>s em<br />

sacos plásticos, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s, lacra<strong>do</strong>s e transporta<strong>do</strong>s em caixas térmicas até o<br />

Laboratório <strong>de</strong> Vida Silvestre (LAVIS) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso<br />

(UFMT). As amostras foram mantidas em freezer e <strong>de</strong>scongeladas para a<br />

dissecação <strong>do</strong>s músculos, em ambos os antímeros. Os músculos i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s foram<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao corte comercial <strong>de</strong> carne <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> “filé <strong>de</strong> cauda”. O projeto foi<br />

aprova<strong>do</strong> pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em <strong>Pesquisa</strong> Animal - UFMT e está cadastra<strong>do</strong> no<br />

Sistema <strong>de</strong> Autorização e Informação em Biodiversida<strong>de</strong> – SISBIO com autorização<br />

n o 23717-1 emitida em 07/06/2010.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

A base óssea da musculatura da cauda <strong>do</strong> C.yacare é composta por 33<br />

vértebras caudais ou coccígeas (VCO), com corpo, arco vertebral e processos<br />

(espinhoso, articulares e transversos). Há redução <strong>de</strong> tamanho e perda <strong>de</strong><br />

elementos, em senti<strong>do</strong> caudal, a semelhança <strong>do</strong> que ocorre nos mamíferos (GETTY,<br />

1986). Porém, o corpo possui a fossa vertebral (cranialmente) e a cabeça da<br />

vértebra (caudalmente), além disso, na sua superfície ventral, da 3ª a 28ª vértebra,<br />

há articulação paramediana com o processo hemal, o qual é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um<br />

elemento da vértebra embrionária que permanece na região caudal (NOMINA<br />

ANATOMICA AVIUM, 1993).<br />

A musculatura da cauda <strong>do</strong> C. yacare é distribuída em <strong>do</strong>is grupos, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com sua localização em relação aos processos transversos das VCO. O<br />

Capa Índice 13419


grupo epaxial é forma<strong>do</strong> pelos músculos interespinhal, multífi<strong>do</strong>s, espinhal, semi-<br />

espinhal, longuíssimo e intertransversais caudais, enquanto o grupo hipaxial é<br />

constituí<strong>do</strong> pelos músculos ilio-isquiocaudal, cau<strong>do</strong>femoral curto e cau<strong>do</strong>femoral<br />

longo. Neste trabalho abordamos aqueles músculos que constituem o “filé <strong>de</strong><br />

cauda”.<br />

O músculo semi-espinhal (M. semispinalis) é contínuo com o da região <strong>do</strong><br />

tronco, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se até a 14ª ou 15ª VCO. Está localiza<strong>do</strong> entre o músculo<br />

espinhal (medialmente) e o músculo longuíssimo (lateralmente) e nesta região não<br />

apresenta a divisão observada na sua porção <strong>do</strong> tronco (articulo-espinhal e tendino-<br />

articular) tal como <strong>de</strong>scrito em crocodilianos por SCHWARZ-WINGS (2009).<br />

O músculo longuíssimo (M. longissimus) presente na cauda faz parte <strong>do</strong><br />

sistema longuíssimo, com o qual é contínuo cranialmente. Ocupa o quadrante entre<br />

o músculo semi-espinhal (medial), a face <strong>do</strong>rsal <strong>do</strong>s processos transversos das VCO<br />

(ventral) e o músculo ílio-ísquiocaudal (lateral). Ele possui maior diâmetro na base<br />

da cauda, semelhante à <strong>de</strong>scrição em Alligator mississippiensis, Osteolaemus<br />

tetraspis, Paleosuchus trigonatus, Caiman crocodylus, Crocodylus acutus e<br />

Tomistoma schlegelii (FREY et al., 1989) e à medida que, se distancia caudalmente,<br />

apresenta um achatamento latero-lateral. Os feixes musculares são constituí<strong>do</strong>s por<br />

fibras curtas, dispostas longitudinalmente e separa<strong>do</strong>s uns <strong>do</strong>s outros por septos <strong>de</strong><br />

teci<strong>do</strong> conjuntivo, forman<strong>do</strong> uma unida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> cones <strong>de</strong><br />

miosseptos semelhantes à letra V. Nesta região, esses cones ocupam <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a três<br />

segmentos vertebrais, manten<strong>do</strong> o padrão observa<strong>do</strong> na região lombar e sacral,<br />

diferentemente <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s por FREY et al. (1989).<br />

O músculo Ílio-isquiocaudal (M. ilio-ischiocaudalis) é um músculo plano e<br />

superficial da região latero-ventral da cauda, o que difere <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ZIPPEL<br />

et al. (1999) em lagarto (Furcifer pardalis), on<strong>de</strong> essa área é ocupada pelos<br />

músculos ílio-caudal (<strong>do</strong>rsalmente) e ínfero-caudal (ventralmente). Localiza-se<br />

ventralmente ao músculo longuíssimo, revestin<strong>do</strong> o músculo cau<strong>do</strong>femoral longo. É<br />

constituí<strong>do</strong> por unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> miossepto que lhe confere o aspecto da letra W.<br />

O músculo cau<strong>do</strong>femoral longo (M. cau<strong>do</strong>femoralis longus) está revesti<strong>do</strong><br />

lateral e ventralmente pelo músculo Ilio-ísquiocaudal, exceto em sua porção cranial,<br />

sen<strong>do</strong> separa<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo por teci<strong>do</strong> conjuntivo e adiposo. É um músculo bem<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o maior músculo relaciona<strong>do</strong> ao membro pélvico<br />

nos atuais crocodilianos e lepi<strong>do</strong>sauros (CARRANO & HUTCHINSON, 2002), assim<br />

Capa Índice 13420


como no Tyrannosaurus (NELSON & JAINE, 2001). Possui aspecto fusiforme em<br />

sua porção cranial e achata<strong>do</strong> latero-lateralmente em sua porção caudal e ocupa o<br />

quadrante entre a superfície ventral <strong>do</strong>s processos transversos e a superfície lateral<br />

<strong>do</strong>s 15 primeiros processos hemais.<br />

Conclusões<br />

O corte “filé <strong>de</strong> cauda” em C.yacare é constituí<strong>do</strong> pelos músculos semi-<br />

espinhal, longuíssimo, ílio-isquiocaudal e cau<strong>do</strong>femoral longo, os quais são<br />

utiliza<strong>do</strong>s em sua totalida<strong>de</strong> no referi<strong>do</strong> corte.<br />

Os músculos interespinhal, multífi<strong>do</strong>s, espinhal, intertransversais caudais<br />

e cau<strong>do</strong>femoral curto, embora pertençam à cauda não participam da formação <strong>do</strong><br />

“filé <strong>de</strong> cauda” em C.yacare.<br />

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Capa Índice 13422


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13423 - 13427<br />

ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE Lippia lupulina Cham. (VERBENACEAE)<br />

Sandra Ribeiro <strong>de</strong> MORAIS; José Realino <strong>de</strong> PAULA; Thiago Levi Silva OLIVEIRA;<br />

Nathália Pedroso BARBOSA; Maria Helena REZENDE; Maria Tereza Freitas BARA;<br />

E<strong>de</strong>milson Car<strong>do</strong>so CONCEIÇÃO.<br />

Unida<strong>de</strong> Acadêmica: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Instituto <strong>de</strong> Ciências<br />

Biológicas, Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Biologia.<br />

En<strong>de</strong>reço eletrônico: sandrarmorais@hotmail.com<br />

Palavras-chave: Lippia lupulina, antimicrobiano, óleo essencial, extrato etanólico.<br />

Introdução<br />

Recentemente, tem cresci<strong>do</strong> o interesse sobre as plantas medicinais como<br />

alternativa em relação às drogas sintéticas, especialmente contra microrganismos,<br />

seja pelo aumento da resistência <strong>do</strong>s microrganismos aos medicamentos ou pelos<br />

efeitos colaterais in<strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s que po<strong>de</strong>m ocorrer durante o tratamento.<br />

A presença <strong>de</strong> óleos essenciais e substâncias químicas com ativida<strong>de</strong><br />

antimicrobiana é comum na família Verbenaceae. Diversos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>screvem<br />

proprieda<strong>de</strong>s medicinais para espécies <strong>de</strong>sta família, especialmente as pertencentes<br />

ao gênero Lippia (NOAMESI 1977, COMPADRE et al. 1986, VALENTIN et al. 1995,<br />

PASCUAL et al. 2001, AGUIAR; COSTA 2005, OLIVEIRA et al. 2006, AGUIAR et al.<br />

2008, FROELICH et al. 2008, GORZALCZANY et al. 2008, MESA-ARANGO et al.<br />

2009). Segun<strong>do</strong> Salimena (2002), os óleos essenciais extraí<strong>do</strong>s das folhas <strong>de</strong> muitas<br />

espécies <strong>de</strong>sta família apresentam proprieda<strong>de</strong>s medicinais.<br />

Dentre as espécies da família Verbenaceae, Lippia lupulina Cham.,<br />

encontrada no cerra<strong>do</strong>, apresenta-se como uma bem adaptada a ambientes<br />

rupestres. A composição química <strong>do</strong> óleo essencial <strong>de</strong>sta espécie foi <strong>de</strong>scrita por<br />

Morais et al. (2012) e o e-cariofileno, óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> cariofileno e o dauca-5,8-dieno foram<br />

os constituintes majoritários i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s.<br />

Assim, este trabalho teve por <strong>de</strong>terminar a possível ativida<strong>de</strong> antimicrobiana<br />

<strong>do</strong> óleo essencial e <strong>do</strong>s constituintes químicos presentes no extrato etanólico bruto e<br />

frações obtidas <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> Lippia lupulina.<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

Os ramos <strong>de</strong> Lippia lupulina com folhas e flores foram coleta<strong>do</strong>s em<br />

Capa Índice 13423


fevereiro/2011 na Reserva Biológica da Serra Dourada, Município <strong>de</strong> Mossâme<strong>de</strong>s,<br />

Goiás, Brasil (altitu<strong>de</strong> 1010 m, 15° 47' 44'' Sul, 48°49' 57" Oeste). A exsicata<br />

encontra-se <strong>de</strong>positada sob o n. <strong>UFG</strong>47321 no Herbário da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás.<br />

Para os testes antimicrobianos, o óleo essencial foi extraí<strong>do</strong> por<br />

hidro<strong>de</strong>stilação em aparelho <strong>de</strong> Clevenger modifica<strong>do</strong> por duas horas, a partir <strong>do</strong><br />

material vegetal seco e pulveriza<strong>do</strong>. O extrato etanólico bruto foi obti<strong>do</strong> por<br />

maceração à temperatura ambiente <strong>do</strong> material pulveriza<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada quimiotipo em<br />

etanol 95% P.A. (V/V), na proporção 1:5 (p/V), seguida <strong>de</strong> filtração e concentração<br />

em evapora<strong>do</strong>r rotativo em temperatura inferior a 40ºC.<br />

Para a avaliação da ativida<strong>de</strong> antimicrobiana <strong>do</strong> óleo essencial e <strong>do</strong> extrato<br />

etanólico <strong>de</strong> L. lupulina foi utilizada a técnica <strong>de</strong> microdiluição em cal<strong>do</strong>, conforme<br />

<strong>de</strong>scrito pelo NCCLS (2002), atualmente <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> <strong>de</strong> CLSI (Clinical and Laboratory<br />

Standart Institute). Para tanto, testou-se o extrato etanólico após completa<br />

eliminação <strong>do</strong> solvente através <strong>de</strong> evaporação, frente a cepas padrão <strong>de</strong> bactérias e<br />

fungos American Culture Collecttion (ATCC) e isola<strong>do</strong>s clínicos, pertencentes à<br />

biblioteca <strong>do</strong> Laboratório <strong>de</strong> Bacteriologia Médica e <strong>do</strong> Laboratório <strong>de</strong> Micologia, <strong>do</strong><br />

Instituto <strong>de</strong> Patologia Tropical e Saú<strong>de</strong> Pública – <strong>UFG</strong>. Para classificar a ativida<strong>de</strong><br />

antimicrobiana <strong>do</strong>s extratos utilizaram-se os seguintes critérios: ativida<strong>de</strong> em<br />

concentrações ≤100 μg/mL foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como bom potencial inibitório, <strong>de</strong> 100-<br />

500 μg/mL como ativida<strong>de</strong> inibitória mo<strong>de</strong>rada, <strong>de</strong> 500-1000 μg/mL como ativida<strong>de</strong><br />

fraca e, maior que 1000 μg/mL foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como inativo (AYRES; BRANDÃO,<br />

2008).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão<br />

Conforme observa<strong>do</strong> na Tabela 1, o óleo essencial <strong>de</strong> L. lupulina apresentou<br />

as menores CIM em comparação ao extrato etanólico para as bactérias Gram(+)<br />

utilizadas, com exceção <strong>de</strong> S. epi<strong>de</strong>rmidis ATCC 12229, bactéria sobre a qual tanto<br />

o óleo essencial quanto o extrato etanólico foram inativos (CIM >1000).<br />

O óleo essencial mostrou ativida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada para a maioria das bactérias<br />

Gram(+) estudadas, sen<strong>do</strong> mais sensíveis os resulta<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s em B. subtilis<br />

ATCC 6633, M. roseus 1740, M. luteus ATCC 9341 e S. aureus 6538 (CIM = 250<br />

μg/mL).<br />

Para as bactérias Gram(-) E. cloacae AMA FTA502, E. coli ATCC 8739, E.<br />

Capa Índice 13424


coli ATCC 11229 e S. marcenscens ATCC 14756 tanto o óleo essencial quanto o<br />

extrato etanólico foram intativos, e ativida<strong>de</strong> fraca <strong>do</strong>s mesmos foi constatada em P.<br />

aeruginosa ATCC 9027, P. aeruginosa SPMC e Salmonella spp. 19430.<br />

A maior suceptibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bactérias Gram(+) em relação às<br />

Gram(-) aos agentes antimicrobianos observada neste estu<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser justificada<br />

pela relativa impermeabilida<strong>de</strong> da membrana externa das bactérias Gram(-) a<br />

compostos lipofílicos. A literatura indica ainda que, no espaço periplasmático, as<br />

bactérias Gram(-) possuem enzimas que quebram moléculas estranhas e são,<br />

muitas vezes, <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> efluxo que reduzem o nível celular <strong>de</strong><br />

antibióticos (KOHLER; PECHÈRE; PLÉSIAT, 1999, MAGINA et al., 2009).<br />

Em relação aos testes antifúngicos, tanto o óleo essencial quanto o extrato<br />

etanólico mostraram-se inativos sobre as três cepas <strong>de</strong> Cândida utilizadas neste<br />

estu<strong>do</strong>. Ativida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada <strong>do</strong> óleo essencial foi registrada sobre Cryptococcus sp<br />

ATCC (CIM = 125), bem como <strong>do</strong> extrato etanólico sobre Cryptococcus gatti L48.<br />

Tabela 1. Ativida<strong>de</strong> antimicrobiana Lippia lupulina (Verbenaceae)<br />

Microrganismos Óleo essencial Extrato etanólico<br />

Bactérias Gram(+) CIM*<br />

Bacillus cereus ATCC 14579 500 1000<br />

Bacillus subtilis ATCC 6633 250 M 1000<br />

Micrococcus roseus 1740 250 500<br />

Micrococcus luteus ATCC 9341 250 500<br />

Staphylococcus epi<strong>de</strong>rmidis ATCC 12229 >1000 >1000<br />

Staphylococcus aureus 6538 250 M 500<br />

Staphylococcus aureus ATCC 25923 500 1000<br />

Bactérias Gram(-)<br />

Enterobacter aerogenes ATCC 13048 >1000 1000<br />

Enterobacter cloacae AMA FTA502 >1000 >1000<br />

Escherichia coli ATCC 8739 >1000 >1000<br />

Escherichia coli ATCC 11229 >1000 >1000<br />

Pseu<strong>do</strong>monas aeruginosa ATCC 9027 1000 1000<br />

Pseu<strong>do</strong>monas aeruginosa SPMC 1000 1000<br />

Salmonella spp. 19430 1000 1000<br />

Serratia marcenscens ATCC 14756 >1000 >1000<br />

Fungos<br />

Candida parapsilosis ATCC 22019 >1000 >1000<br />

Candida albicans 63U >1000 >1000<br />

Candida parapsilosis 86U >1000 >1000<br />

Cryptococcus sp ATCC D 125 >1000<br />

Cryptococcus gatti L48 >1000 500<br />

Cryptococcus neoformans L3 1000 1000<br />

* Concentração Inibitória Mínima (μg/mL)<br />

Capa Índice 13425


Conclusão<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste trabalho indicam que Lippia lupulina possui potencial<br />

para a pesquisa <strong>de</strong> substâncias ativas que po<strong>de</strong>rão ser empregadas no tratamento<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>enças fúngicas e bacterianas em humanos.<br />

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NCCLS. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Referência para Testes <strong>de</strong> Diluição em Cal<strong>do</strong> para<br />

Determinação da Sensibilida<strong>de</strong> a Terapia Antifúngica <strong>de</strong> Fungos Filamentosos;<br />

Capa Índice 13426


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Capa Índice 13427


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13428 - 13432<br />

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1<br />

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Variáveis<br />

Messoregião Centro Goiano<br />

Média Máximo Mínimo Desvio Padrão Média<br />

Messoregião Sul Goiano<br />

Máximo Mínimo Desvio Padrão<br />

Temperatura ambiente 25,29 28,51 21,58 1,63 27,84 29,10 26,30 0,76<br />

Cor aparente 107,34 256,73 3,65 61,95 63,23 347,50 2,67 85,19<br />

Alcalinida<strong>de</strong> HCO3 46,05 88,50 4,90 20,55 41,19 231,06 4,55 56,17<br />

Dureza 43,60 80,17 5,06 16,01 42,63 200,40 3,29 50,36<br />

Contagem bacteriana 9.978,90 99.920,00 54,31 18.461,73 800,38 1.634,92 111,00 441,23<br />

Temperatura água 23,16 25,13 20,36 0,88 23,63 25,14 22,13 0,68<br />

pH 7,33 7,74 6,12 0,31 6,85 7,67 5,88 0,67<br />

Oxigenio consumi<strong>do</strong> 2,80 5,76 0,43 1,42 2,25 4,85 0,74 1,08<br />

Coliforme total 21.526,68 217.791,94 394,82 33.511,78 2.129,08 6.065,33 403,53 1.639,96<br />

Turbi<strong>de</strong>z 50,86 249,02 1,13 44,87 19,58 56,25 0,61 18,00<br />

Ferro total 1,12 2,51 0,08 0,53 0,47 2,57 0,00 0,65<br />

Cloretos 2,46 6,20 0,41 1,59 7,38 12,78 3,92 3,22<br />

Coliforme fecal 5.037,49 57.510,73 310,00 8.203,79 564,30 1.390,03 45,80 396,47<br />

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Centro Goiano<br />

Norte Goiano<br />

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<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13433 - 13437<br />

Efeitos <strong>do</strong> Neroli<strong>do</strong>l em Membranas Mo<strong>de</strong>lo e <strong>de</strong> Estrato Córneo Estuda<strong>do</strong>s<br />

pela Anisotropia da Fluorescência <strong>de</strong> Sondas Lipofílicas<br />

Sebastião Antonio MENDANHA; Antonio ALONSO; Cássia Alessandra MARQUEZIN<br />

Instituto <strong>de</strong> Física, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>), Goiânia/GO, Brasil.<br />

E-mail: mendanhaneto.sa@gmail.com; alonso@if.ufg.br; cassia.m@if.ufg.br<br />

Palavras Chave: Estrato córneo; Neroli<strong>do</strong>l; Sondas fluorescentes; Anisotropia da<br />

fluorescência.<br />

Introdução<br />

Neroli<strong>do</strong>l é um sesquiterpeno presente em óleos essenciais <strong>de</strong> diversas plantas e<br />

um agente promissor para aumentar a penetração <strong>de</strong> fármacos usa<strong>do</strong>s em sistemas<br />

transdérmicos <strong>de</strong> entrega controlada <strong>de</strong> droga (Joshi e Barhate, 2011; Yamane et al.,<br />

1995) além <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> recentemente aponta<strong>do</strong> como um composto leishmanicida<br />

(Arruda et al., 2005). Este estu<strong>do</strong> avalia os efeitos <strong>do</strong> neroli<strong>do</strong>l sobre membranas<br />

artificiais <strong>de</strong> 1,2-dipalmitoil-sn-glicero-3-fosfocolina (DPPC) e sobre a camada mais<br />

externa da pele, o Estrato Córneo (EC) através da espectroscopia <strong>de</strong> fluorescência<br />

<strong>de</strong> sondas lipofílicas.<br />

Materiais e Méto<strong>do</strong>s<br />

Preparação e Tratamento das vesículas <strong>de</strong> DPPC<br />

Filmes lipídicos <strong>de</strong> DPPC dissolvi<strong>do</strong>s em clorofórmio conten<strong>do</strong> as sondas<br />

fluorescentes (Figura 1) 2-amino-N-hexadcil benzmida (Ahba), 1-palmitoil-2-{6-[(7nitro-2-1,3-benzoxadiazol-4-il)amino]hexanoil}-sn-glicero-3-fosfocolina<br />

(6-NBD-PC)<br />

ou 1,6-difenil-1,3,5-hexatrieno (DPH) dissolvidas em etanol e obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a<br />

proporção <strong>de</strong> sonda:lípi<strong>do</strong> (1:100) foram forma<strong>do</strong>s em tubos <strong>de</strong> vidro por evaporação<br />

<strong>do</strong> solvente usan<strong>do</strong> um fluxo <strong>de</strong> nitrogênio gasoso. Para remover o solvente<br />

orgânico residual, os filmes foram manti<strong>do</strong>s sob vácuo durante 24 h. Em seguida, os<br />

filmes <strong>de</strong> lípi<strong>do</strong>s foram hidrata<strong>do</strong>s com um volume a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> tampão fosfato<br />

Capa Índice 13433


salino (fosfato 5 mM, NaCl 150 mM) pH 7,4 para formar uma suspensão multilamelar<br />

<strong>de</strong> DPPC. As vesículas unilamelares foram preparadas utilizan<strong>do</strong> um mini-extrusor<br />

adquiri<strong>do</strong> da empresa Avanti Polar Lipids Inc. (Alabaster, EUA), equipa<strong>do</strong> com filtros<br />

<strong>de</strong> policarbonato com poros <strong>de</strong> 0,1 m <strong>de</strong> diâmetro. Subsequentemente, as<br />

vesículas <strong>de</strong> DPPC foram resfriadas e então concentradas por centrifugação. A esta<br />

suspensão, foram adicionadas as alíquotas <strong>de</strong>sejadas <strong>de</strong> uma solução conten<strong>do</strong><br />

neroli<strong>do</strong>l:etanol na proporção (1:2). Para evitar os efeitos <strong>de</strong> espalhamento <strong>de</strong> luz, a<br />

concentração final <strong>de</strong> DPPC foi fixada em 0,2 mM.<br />

Figura 1 - Representação <strong>do</strong> arranjo das sondas fluorescentes e <strong>do</strong> terpeno nas<br />

membranas <strong>de</strong> DPPC. 1: Ahba; 2: 6-NBD-PC; 3: DPH e 4: neroli<strong>do</strong>l.<br />

Preparação e Tratamento das Membranas <strong>de</strong> EC<br />

As membranas <strong>de</strong> EC foram obtidas a partir <strong>de</strong> ratos da raça Wistar com ida<strong>de</strong><br />

inferior a 24 h e preparadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o protocolo <strong>de</strong>scrito por Alonso e<br />

coautores (Alonso et al., 1995). As amostras <strong>de</strong> EC intacto (~2 mg) foram incubadas<br />

durante 30 min à temperatura ambiente em solução salina tamponada com acetato<br />

(acetato 10 mM, NaCl 150 mM, pH 5,1). Em seguida, foram realizadas repetidas<br />

passagens das membranas <strong>de</strong> EC já hidratadas, em placas <strong>de</strong> vidro on<strong>de</strong> uma<br />

Capa Índice 13434


alíquota das sondas fluorescentes Ahba, 6-NBD-PC ou DPH dissolvidas em etanol<br />

na razão 1,5 mg/mL foram previamente <strong>de</strong>positadas. Após este procedimento, as<br />

membranas <strong>de</strong> EC foram incubadas durante 90 min à temperatura ambiente em<br />

soluções neroli<strong>do</strong>l-etanol/tampão (0,25-1% v/v). Finalmente, as amostras <strong>de</strong> EC<br />

foram colocadas entre placas <strong>de</strong> quartzo e introduzidas em cubetas <strong>de</strong> quartzo<br />

conten<strong>do</strong> tampão. Sob estas condições, o EC po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> no seu esta<strong>do</strong><br />

completamente hidrata<strong>do</strong> durante todas as medições.<br />

Medidas <strong>de</strong> Anisotropia da Fluorescência<br />

As medidas <strong>de</strong> anisotropia da fluorescência foram realizadas usan<strong>do</strong> um<br />

espectrofluorímetro Fluorolog®-3 equipa<strong>do</strong> com um sistema <strong>de</strong> medida <strong>de</strong><br />

anisotropia em formato-L adquiri<strong>do</strong> da empresa Horiba Instruments Brasil Ltda (São<br />

Paulo, Brasil). Os comprimentos <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> excitação/emissão <strong>de</strong> cada sonda foram<br />

<strong>de</strong> 330/400 nm para o Ahba, 460/527 nm para o 6-NBD-PC e 360/427 nm para o<br />

DPH. A anisotropia da fluorescência foi calculada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a equação<br />

(Shinitzky et al., 1971)<br />

na qual r representa a anisotropia da fluorescência no esta<strong>do</strong> estacionário e I|| e I┴<br />

são as intensida<strong>de</strong>s da fluorescência paralela e perpendicular, respectivamente, ao<br />

plano <strong>de</strong> polarização da luz <strong>de</strong> excitação em cada comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong><br />

excitação da sonda.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

I|| - I <br />

r <br />

I 2I<br />

||<br />

As Figuras 2 e 3 mostram a diminuição da anisotropia da fluorescência das sondas<br />

incorporadas nas membranas <strong>de</strong> EC e DPPC indican<strong>do</strong> um aumento da flui<strong>de</strong>z das<br />

bicamdas para as concentrações <strong>de</strong> 1% (v/v) <strong>de</strong> neroli<strong>do</strong>l e 0,8:1 (neroli<strong>do</strong>l:lipídio)<br />

respectivamente. Po<strong>de</strong>-se obeservar também (para as três sondas utilizadas), que a<br />

adição <strong>do</strong> neroli<strong>do</strong>l reduz em aproxidamente 6°C a temperatura <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> fase<br />

das bicamadas <strong>de</strong> DPPC. Além disso, como <strong>de</strong>mostra<strong>do</strong> anteriormente por Anjos e<br />

Alonso (Anjos e Alonso, 2008) para diversos monoterpenos, po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong><br />

Capa Índice 13435


pelo comportamento das sondas Ahba e DPH, que a presença <strong>do</strong> neroli<strong>do</strong>l suprime<br />

a transição <strong>de</strong> fase das membranas <strong>de</strong> EC que acontece por volta <strong>de</strong> 50 °C.<br />

Anisotropia da Fluorescência<br />

0,35<br />

0,30<br />

0,25<br />

0,20<br />

0,15<br />

0,10<br />

0,05<br />

0,00<br />

controle<br />

0,8:1<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Temperatura (°C)<br />

A<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Temperatura (°C)<br />

B<br />

C<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Temperatura (°C)<br />

Figura 2 - Anisotropia da fluorescência das sondas Ahba (Painel A), 6-NBD-PC (Painel B)<br />

e DPH (Painel C) incorporadas nas membranas <strong>de</strong> DPPC como função da temperatura<br />

para a proporção 0,8:1 (neroli<strong>do</strong>l:lipídio).<br />

Anisotropia da Fluorescência<br />

0,20<br />

0,15<br />

0,10<br />

0,05<br />

0,00<br />

controle<br />

0,25%<br />

0,5%<br />

1%<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Temperatura (°C)<br />

A<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Temperatura (°C)<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

Figura 3 - Anisotropia da fluorescência das sondas Ahba (Painel A), 6-NBD-PC (Painel B)<br />

e DPH (Painel C) incorporadas nas membranas <strong>de</strong> EC como função da temperatura para<br />

diferentes concentrações <strong>do</strong> sesquiterpeno neroli<strong>do</strong>l.<br />

B<br />

Temperatura (°C)<br />

Capa Índice 13436<br />

C


Conclusões<br />

Nossos resulta<strong>do</strong>s mostraram que, em concentrações <strong>de</strong> 1% (v/v para o EC) e na<br />

proporção 0,8:1 (terpeno:lípi<strong>do</strong> para DPPC) o sesquiterpeno neroli<strong>do</strong>l provoca<br />

alterações drásticas na dinâmica molecular, aumentan<strong>do</strong> a flui<strong>de</strong>z das membranas e<br />

modifican<strong>do</strong> suas transições <strong>de</strong> fase. Isto sugere que o efeito leishmanicida <strong>do</strong><br />

neroli<strong>do</strong>l <strong>de</strong>ve estar diretamente relaciona<strong>do</strong> com sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar a<br />

dinâmica das membranas. Desta forma, este sesquiterpeno além <strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong><br />

diretamente no tratamento da leishmaniose, po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> para aumentar a<br />

permeação através da pele <strong>de</strong> fármacos específicos <strong>de</strong> maneira eficaz para se obter<br />

um efeito combina<strong>do</strong>.<br />

Suporte Financeiro: Capes e CNPq<br />

Referências Bibliográficas<br />

Alonso, A., Meirelles, N.C., Tabak, M., 1995. Effect of hydration upon the fluidity of<br />

intercellular membranes of stratum corneum: an EPR study. Biochim. Biophys.<br />

Acta 1237, 6-15.<br />

Anjos, J.L.V., Alonso, A., 2008. Terpenes increase the partitioning and molecular<br />

dynamics of an amphipathic spin label in stratum corneum membranes. Int. J.<br />

Pharm. 350, 103-112.<br />

Arruda, D.C., D'Alexandri, F.L., Katzin, A.M., Uliana, S.R.B., 2005. Antileishmanial<br />

Activity of the Terpene Neroli<strong>do</strong>l Antimicrob. Agents Chemother. 49, 1679-1687.<br />

Joshi, S.S., Barhate, S.D., 2011. Trans<strong>de</strong>rmal Delivery of Acyclovir with Respect with<br />

Effect of Terpene. Int. J. Pharm. Res. Dev. 3, 170-175.<br />

Shinitzky, M., Dianoux, A.-C., Gitler, C., Weber, G., 1971. Microviscosity and Or<strong>de</strong>r in<br />

the Hydrocarbon Region of Micelles and Membranes Determined with<br />

Fluorescent Probes. I. Synthetic Micelles. Biochemistry 10, 2106-2113.<br />

Yamane, M.A., Williams, A.C., Barry, B.W., 1995. Terpene penetration enhancers in<br />

propylene glycol/water co-solvent systems: effectiveness and mechanism of<br />

action. J. Pharm. Pharmacol. 47, 978-989.<br />

Capa Índice 13437


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13438 - 13442<br />

A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS QUANTO AO PROGRAMA UM<br />

COMPUTADOR POR ALUNO – PROUCA<br />

Sebastião Pereira <strong>do</strong>s SANTOS (PPGE/FE/<strong>UFG</strong>)<br />

sp.santos2001@gmail.com<br />

Mirza Seabra TOSCHI (PPGE/FE/<strong>UFG</strong> – orient.)<br />

mirzas@brturbo.com.br<br />

Palavras-chave: Inclusão digital pedagógica; Programa Um Computa<strong>do</strong>r por Aluno;<br />

PROUCA em Goiás.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O PROUCA – Programa Um Computa<strong>do</strong>r por Aluno, foi instituí<strong>do</strong> pela Lei nº<br />

12.249, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2010, sen<strong>do</strong> uma iniciativa da Presidência da República<br />

em conjunto com o MEC – Ministério da Educação e tem por objetivo promover a<br />

inclusão digital pedagógica e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> ensinoaprendizagem<br />

<strong>de</strong> alunos e professores das escolas públicas brasileiras, mediante a<br />

utilização <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>res portáteis <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s laptops educacionais.<br />

Este estu<strong>do</strong> investiga a implantação <strong>do</strong> Programa “Um Computa<strong>do</strong>r por<br />

Aluno” – PROUCA em nove escolas <strong>de</strong> oito cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Goiás. Objetiva conhecer as<br />

percepções e usos que os alunos das cida<strong>de</strong>s goianas contempladas têm feito <strong>do</strong>s<br />

equipamentos nas escolas ou fora <strong>de</strong>las. Nosso objetivo, ao abordar esta temática é<br />

compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>nsamente como os alunos – jovens e adultos das escolas<br />

contempladas pelo PROUCA em Goiás, se comportam no uso <strong>do</strong>s recursos<br />

disponíveis com o programa. Buscaremos, portanto, apreen<strong>de</strong>r o objeto nas<br />

contradições, mediações e <strong>de</strong>terminações que o constituem, toman<strong>do</strong>-o como<br />

inseparável <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> mais ampla, que é a das políticas públicas <strong>de</strong> inclusão<br />

digital efetivadas nos últimos anos, especialmente nas escolas públicas <strong>do</strong> país.<br />

Ao tratar esta temática, temos por proposta problematizar as políticas <strong>de</strong><br />

inclusão digital que estão sen<strong>do</strong> implementadas pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral no que tange<br />

à oferta <strong>de</strong> equipamentos digitais, tais como computa<strong>do</strong>res, netbooks, rotea<strong>do</strong>res e<br />

dispositivos <strong>de</strong> conexão com a Internet por meio <strong>de</strong> programas para as escolas<br />

públicas, procuran<strong>do</strong> articula-la às transformações políticas e econômicas em curso<br />

no atual contexto histórico brasileiro, bem como i<strong>de</strong>ntificar e analisar como os jovens<br />

interpretam essas políticas, a partir das características que constituem a juventu<strong>de</strong><br />

atual, dita digital.<br />

Capa Índice 13438


As questões nortea<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> nosso estu<strong>do</strong> passam pelos limites que os<br />

programas governamentais possuem ante a dimensão macro exigida pelas políticas<br />

públicas e com elas esperamos escutar os sujeitos da pesquisa – no caso alunos<br />

(jovens e adultos) e <strong>de</strong>mais profissionais da escola, para compreen<strong>de</strong>r como se<br />

relaciona esta dimensão aos aspectos da dimensão micro, que é a escola pública.<br />

Então, ao indagarmos como se dá a percepção e usos <strong>do</strong> PROUCA por jovens e<br />

adultos <strong>de</strong> escolas públicas contempladas pelo programa no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás,<br />

esperamos encontrar respostas que vão além <strong>do</strong> aparente, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas propostas <strong>de</strong> inclusão digital. Para Belloni (2009,<br />

p. 104), “as tecnologias não são boas (ou más) em si, po<strong>de</strong>m trazer gran<strong>de</strong>s<br />

contribuições para a educação, se forem usadas a<strong>de</strong>quadamente, ou apenas<br />

fornecer um revestimento mo<strong>de</strong>rno a um ensino antigo e ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>”.<br />

Compreen<strong>de</strong>mos as tecnologias como objetos construí<strong>do</strong>s pela cultura<br />

humana e, portanto, o que faz a diferença são os usos que se fazem <strong>de</strong>la. Isto não<br />

indica que são neutras, pelo contrário, trazem a marca <strong>de</strong> seu tempo e<br />

correspon<strong>de</strong>m a uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong> sócio-histórica.<br />

Assim, ao iniciar a investigação <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> (já fizemos estu<strong>do</strong>s<br />

exploratórios em quatro <strong>de</strong>las, em três cida<strong>de</strong>s) encontramos indícios <strong>de</strong> que a<br />

inserção das tecnologias digitais nas escolas públicas reveste-se <strong>de</strong> uma<br />

mo<strong>de</strong>rnização conserva<strong>do</strong>ra (CYSNEIROS, 2001), na qual os impactos sociais e<br />

pedagógicos que se esperava alcançar estão aquém <strong>do</strong> previsto.<br />

METODOLOGIA UTILIZADA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA<br />

Partin<strong>do</strong> da afirmação <strong>de</strong> Lévy (1999, p. 11) <strong>de</strong> que “estamos viven<strong>do</strong> a<br />

abertura <strong>de</strong> um novo espaço <strong>de</strong> comunicação, e cabe apenas a nós explorar as<br />

potencialida<strong>de</strong>s mais positivas <strong>de</strong>ste espaço nos planos econômico, político, cultural<br />

e humano” e compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong>s que as tecnologias digitais po<strong>de</strong>m<br />

trazer ao processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, esta investigação procura verificar se<br />

os objetivos <strong>do</strong> PROUCA, que inclui a inclusão digital das cida<strong>de</strong>s, por intermédio<br />

das escolas, realmente está ocorren<strong>do</strong> e <strong>de</strong> como os jovens têm compreendi<strong>do</strong> este<br />

processo <strong>de</strong> busca da fluência digital em escolas <strong>de</strong> baixo IDEB e em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

baixo IDH, que é a proposta <strong>do</strong> Programa em estu<strong>do</strong> (BRASIL, 2010).<br />

Ao longo <strong>do</strong> nosso processo <strong>de</strong> análise, estu<strong>do</strong>s e reflexões elaboramos<br />

nosso plano <strong>de</strong> pesquisa, o qual não se constitui em etapas isoladas ou seqüenciais,<br />

fracionadas, mas num to<strong>do</strong> articula<strong>do</strong>, no qual as etapas se interpenetram manten<strong>do</strong><br />

Capa Índice 13439


umas com as outras relações e interconexões, <strong>de</strong> forma a alcançarmos a plenitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nosso objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. Assim, a <strong>de</strong>scrição sobre os procedimentos da pesquisa,<br />

didaticamente expostos, <strong>de</strong>marca as etapas, porém, como já afirma<strong>do</strong><br />

anteriormente, elas se interpenetram e vão aos poucos <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> novos rumos,<br />

suscitan<strong>do</strong> novas questões e reflexões. São os seguintes os passos da investigação:<br />

1) levantamento da literatura existente, em especial, <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> pesquisas já<br />

efetiva<strong>do</strong>s nos diferentes programas <strong>de</strong> pós-graduação <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s brasileiras;<br />

2) levantamento e análise das leis e <strong>do</strong>s projetos e programas governamentais <strong>de</strong><br />

inserção das tecnologias da informação e da comunicação nas escolas públicas; 3)<br />

visitas às escolas contempladas pelo programa no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás; 4) entrevistas<br />

com os sujeitos das escolas pesquisadas, em especial os alunos; 5) ví<strong>de</strong>ogravação<br />

das entrevistas e <strong>de</strong> uso <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res pelos alunos; 5) tabulação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e<br />

análise das entrevistas.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa pesquisa, que é <strong>de</strong> análise complexa, é<br />

preciso percorrer um “caminho intelectual” que nos permita <strong>de</strong>finir uma postura<br />

teórica e meto<strong>do</strong>lógica capaz <strong>de</strong> promover a apreensão <strong>de</strong>sse objeto em sua<br />

natureza complexa e contraditória.<br />

Quanto à <strong>de</strong>finição da problemática que envolve a pesquisa, Gatti (2002)<br />

afirma que é <strong>de</strong> suma importância a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> problema e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

captar questões <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> ela, o problema é que encaminha a pesquisa. E,<br />

<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> pesquisa, Gatti afirma se tratar da criação <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> conhecimentos<br />

com características específicas. Para esta autora, a pesquisa não <strong>de</strong>ve almejar<br />

qualquer conhecimento, mas, um conhecimento que ultrapasse nosso entendimento<br />

imediato na explicação ou na compreensão da realida<strong>de</strong> que observamos.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, partimos da revisão <strong>de</strong> literatura, verifican<strong>do</strong> as produções a<br />

respeito da temática nos programas <strong>de</strong> pós-graduação brasileiros, verifican<strong>do</strong> como<br />

foram elaboradas as problemáticas e quais as preocupações que nortearam estas<br />

pesquisas. Com isso, conseguimos melhor <strong>de</strong>finir a problemática <strong>de</strong> nossa pesquisa,<br />

procuran<strong>do</strong>, então, <strong>de</strong>finir as questões nortea<strong>do</strong>ras capazes <strong>de</strong> nos auxiliar a<br />

enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> investigada.<br />

Para Demo (1981), tanto a pesquisa quanto o pesquisa<strong>do</strong>r têm um caráter<br />

social visto que estão imersos numa <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong> e contexto, com suas<br />

competições, interesses e ambições, ao la<strong>do</strong> da busca <strong>do</strong> conhecimento científico.<br />

Lüdke e André (1986) concluem que esse conhecimento vem marca<strong>do</strong> pelos sinais<br />

Capa Índice 13440


<strong>de</strong> seu tempo, comprometi<strong>do</strong>, portanto, com sua realida<strong>de</strong> histórica e não pairan<strong>do</strong><br />

acima <strong>de</strong>la como verda<strong>de</strong> absoluta. A construção da ciência é um fenômeno social<br />

por excelência (p.2).<br />

Desta forma, procuramos olhar os da<strong>do</strong>s numa perspectiva dialética em<br />

contínua comunicação com os mesmos, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> e suas<br />

nuances, analisan<strong>do</strong>-os em suas dimensões macro, meso e micro, no que diz<br />

respeito às políticas públicas <strong>de</strong> inclusão digital, nos programas elabora<strong>do</strong>s e<br />

executa<strong>do</strong>s para a concretização <strong>de</strong>ssas políticas e em seus efeitos no universo<br />

escolar, em especial quanto aos sujeitos que preten<strong>de</strong>m atingir. É um universo com<br />

suas peculiarida<strong>de</strong>s e com suas contradições, que requer um olhar atento para não<br />

esbarrar em <strong>do</strong>gmas e verda<strong>de</strong>s reveladas e absolutas, conforme <strong>de</strong>staca Gatti<br />

(2002).<br />

RESULTADOS<br />

A pesquisa encontra-se em processo e, portanto, os resulta<strong>do</strong>s são parciais,<br />

uma vez que o universo a que se preten<strong>de</strong> investigar e analisar não foi, ainda,<br />

conheci<strong>do</strong>. Das nove escolas que possuem o programa, visitamos apenas quatro<br />

<strong>de</strong>las: duas em Goiânia, uma em Trinda<strong>de</strong> e outra em Ouro Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />

Nas escolas pesquisadas é possível <strong>de</strong>stacar os problemas estruturais<br />

relativos, principalmente, à lentidão <strong>do</strong>s sistemas instala<strong>do</strong>s nos laptops e à conexão<br />

com a Internet (muito lenta para aten<strong>de</strong>r a to<strong>do</strong>s os alunos ou inexistente em alguns<br />

casos).<br />

Os problemas relativos à utilização didático-pedagógica se dão em gran<strong>de</strong><br />

parte, segun<strong>do</strong> os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> professores e gestores das escolas, aos<br />

problemas estruturais <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s acima. Os sujeitos (alunos, professores e<br />

gestores) nas escolas, <strong>de</strong>stacam a importância da inserção <strong>de</strong>sses recursos no<br />

processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Um aspecto negativo, segun<strong>do</strong> os alunos, é o fato <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rem levar o<br />

equipamento para casa e as constantes falhas na conexão com a Internet.<br />

Com relação à formação <strong>do</strong>s professores para o uso <strong>do</strong>s laptops com os<br />

alunos, incorporan<strong>do</strong>-os às li<strong>de</strong>s cotidianas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, o que se constata nas<br />

falas <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s é o sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spreparo para lidar com o equipamento<br />

junto aos alunos.<br />

Esta formação, <strong>de</strong> forma geral, está a cargo da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás, por meio <strong>do</strong> LABTIME – Laboratório <strong>de</strong> Tecnologia da Informação e Mídias<br />

Capa Índice 13441


Educacionais e <strong>do</strong>s NTE – Núcleos <strong>de</strong> Tecnologia Educacional <strong>do</strong>s municípios que<br />

aten<strong>de</strong>m às escolas contempladas.<br />

CONCLUSÕES<br />

Segun<strong>do</strong> Andra<strong>de</strong> (2009), o PROUCA visa ampliar o processo <strong>de</strong> inclusão<br />

digital escolar e promover o uso pedagógico das tecnologias da informação e da<br />

comunicação o que, até on<strong>de</strong> os da<strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s permitem afirmar, não é possível<br />

perceber. Embora os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa sejam parciais, é possível verificar que<br />

alguns <strong>do</strong>s objetivos espera<strong>do</strong>s <strong>do</strong> programa não estão sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong>s, entre os<br />

quais <strong>de</strong>staca-se o da inclusão, indica<strong>do</strong> no início.<br />

Nas escolas pesquisadas é possível <strong>de</strong>stacar que, on<strong>de</strong> se encontra um<br />

“melhor” uso ou um uso mais constante por parte <strong>de</strong> alunos e professores, houve um<br />

gran<strong>de</strong> envolvimento <strong>do</strong>s gestores e da própria comunida<strong>de</strong> escolar para resolver<br />

problemas que, muitas vezes, estavam sob responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras instâncias.<br />

Continuamos nossa investigação, pesquisan<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mais escolas, no intuito<br />

<strong>de</strong> coletar e analisar os da<strong>do</strong>s que possam indicar a pertinência <strong>do</strong>s investimentos<br />

públicos em processos <strong>de</strong> inserção das tecnologias digitais nas escolas, como a<br />

<strong>de</strong>sse programa.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ANDRADE, P.F.(coord.) Projeto um computa<strong>do</strong>r por aluno – UCA. Formação Brasil –<br />

Projeto, Planejamento das Ações/Cursos. SEED/MEC. 2009.<br />

ANDRÉ, Marli E. D. A. e LUDKE, Menga. <strong>Pesquisa</strong> em educação: abordagens<br />

qualitativas. São Paulo : EPU, 1986.<br />

BELLONI, M. L. Educação a Distância. 5ª Ed. Campinas, SP : Autores Associa<strong>do</strong>s,<br />

2009<br />

BRASIL, MEC. Programa Um Computa<strong>do</strong>r por Aluno. Brasília, 2010. Disponivel em<br />

. Acessa<strong>do</strong> em 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

2012.<br />

CYSNEIROS, P. G. Novas tecnologias no cotidiano da escola. Mimeo. Caxambu –<br />

MG, 2000.<br />

_______________. Programa Nacional <strong>de</strong> Informática na Educação: novas<br />

tecnologias, velhas estruturas. Mimeo. Recife – PE, 2001.<br />

DEMO. P. Meto<strong>do</strong>logia científica em ciências sociais. São Paulo : Atlas, 1981.<br />

GATTI, B. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasília : Plano Editora,<br />

2002.<br />

LEVY, P. Cibercultura. São Paulo : Editora 34, 1999.<br />

Capa Índice 13442


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13443 - 13448<br />

CAOS, LEIS DA NATUREZA E A VARIABILIDADE PALEOCLIMÁTICA<br />

Autor: Sérgio Almeida LOIOLA 1<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Sandra <strong>de</strong> Fátima Oliveira<br />

Co-Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Maria Nazaré Stevaux<br />

<strong>UFG</strong> – IESA –Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia<br />

sergioaloiola@gmail.com<br />

Bolsa da Capes<br />

Palavras chaves: Variabilida<strong>de</strong> climática, Leis da natureza, Caos, Adaptação.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Este artigo apresenta resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>de</strong>stinada<br />

a investigar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas complexos adaptativos elabora<strong>do</strong>s por<br />

diversas socieda<strong>de</strong>s para solucionar problemas associa<strong>do</strong>s às variações climáticas<br />

e alterações ambientais <strong>de</strong>correntes, <strong>do</strong> Holoceno aos dias atuais. Aborda a relação<br />

entre socieda<strong>de</strong> e paleoclima sob uma perspectiva cognitiva e evolutiva. Com ele<br />

busca-se dar continuida<strong>de</strong> a construção <strong>de</strong> uma perspectiva teórica complexa na<br />

geografia, que aproxime espaço-tempo, ambiente e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o passa<strong>do</strong><br />

distante aos dias atuais (LOIOLA, 2011; 2010a; 2007b).<br />

REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E FONTES<br />

As propostas fundamentam-se na tese <strong>de</strong> que a previsão climática é<br />

impon<strong>de</strong>rável no curto, médio e longo prazo, a partir da Teoria <strong>do</strong> Erro e da Teoria<br />

<strong>do</strong> Caos. A Teoria <strong>do</strong> Erro na física expõe que a margem <strong>de</strong> erro em qualquer<br />

mensuração po<strong>de</strong> ser para mais ou para menos. Se as magnitu<strong>de</strong>s das variáveis<br />

são menores que o erro <strong>do</strong>s instrumentos, pouco po<strong>de</strong> ser afirma<strong>do</strong>. As novas<br />

teorias da física <strong>do</strong> não-equilíbrio <strong>do</strong>s sistemas abertos <strong>de</strong>monstram que a flecha <strong>do</strong><br />

tempo existe, é irreversível, direcional, no movimento caótico pre<strong>do</strong>minante nas leis<br />

naturais. Não geramos a flecha <strong>do</strong>m tempo. Somos seus filhos. Não haveria vida na<br />

Terra sem a coerência <strong>do</strong>s processos irreversíveis <strong>de</strong> não-equilíbrio (PRIGOGINI,<br />

1996, p. 11-12). Ao contrário <strong>do</strong>s postula<strong>do</strong>s <strong>de</strong>terministas, nas leis da natureza<br />

pre<strong>do</strong>minam o caos: “não mais se assenta em certezas, como as leis <strong>de</strong>terministas,<br />

mas avança sobre possibilida<strong>de</strong>s” (PRIGOGINI, 1996, p. 30-31). Desta forma, não<br />

se po<strong>de</strong> sustentar que cenários climáticos possíveis ocorram.<br />

Alterações climáticas são caracterizadas por eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> variáveis e<br />

combinações possíveis <strong>de</strong> sistemas abertos, seja nos sistemas <strong>de</strong> superfície,<br />

1 Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong>. IESA, <strong>UFG</strong>, Brasil. sergioaloiola@gmail.com<br />

Capa Índice 13443


geotérmicos ou astronômicos. Muitas socieda<strong>de</strong>s souberam atravessar as variações<br />

climáticas, e <strong>de</strong>senvolveram sistemas complexos adaptativos, estruturas cognitivas<br />

que evoluem. Respostas mentais intencionais, estruturadas num conjunto <strong>de</strong><br />

argumentação coerente, com objetivos, méto<strong>do</strong>, formas <strong>de</strong> perceber, i<strong>de</strong>ntificar e<br />

representar, codificar, compreen<strong>de</strong>r, criar mo<strong>de</strong>los mentais, normas, esquemas e<br />

técnicas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dar soluções, escapar e/ou sobreviver diante das<br />

adversida<strong>de</strong>s (GELL-MANN, 1996, p. 302-316).<br />

Para Gell-Mann (1996), o sistema imunológico, os sistemas econômicos, as<br />

ciências, os sistemas <strong>de</strong> crenças, os sistemas econômicos são exemplos <strong>de</strong><br />

sistemas complexos adaptativos. É preciso verificar os recursos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s em<br />

respostas às alterações climáticas no movimento histórico <strong>do</strong> espaço-tempo<br />

ambiental (LOIOLA, 2010a, 2011). Para tanto, na pesquisa utiliza-se o méto<strong>do</strong><br />

comparativo, em uso na biologia comparada, para resgatar os sistemas cognitivos<br />

em diferentes socieda<strong>de</strong>s e épocas, em respostas as variações climáticas, tais<br />

como: Sistemas agrários, Estruturas sociopolíticas, Saberes <strong>do</strong> clima, Astronomia<br />

etc; fundamentada em fontes bibliográficas multivariada: astrononomia, história<br />

ambiental, arqueologia, paleoclima, geologia, paleoecologia etc.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Dentre os fenômenos climáticos cíclicos no clima global e regional estão: o El<br />

Niño-Oscilação Sul (ENOS), a Oscilação Decadal <strong>do</strong> Pacífico (ODP), NAO –<br />

Oscilação Atlântico Norte, os ciclos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s solares e os ciclos longos na<br />

variação da geometria orbital da Terra, ou ciclos <strong>de</strong> Milankovitch (QUADRO 1).<br />

PERIODICIDADE FENÔMENO PRINCIPAIS ORIGENS<br />

6 a 18 meses ENOS – El Niño – La Niña Interações oceano-atmosfera<br />

10 anos NAO – Oscilação Atlântico Norte Interações oceano-atmosfera<br />

20 a 30 anos ODP – Oscil. Decadal Pacífico Interações oceano-atmosfera<br />

11, 22, 44 e 70 anos e séculos Manchas solares Astronômica – Ativida<strong>de</strong> solar<br />

18,6 Anos Nutação Astronômica – Oscilação Terra-Lua<br />

Mil a três mil anos Ciclos Dansgaard-Oeschger Interações criosfera-oceano-atmosfera<br />

Sete mil a treze mil anos Eventos Heinrich Interações criosfera-oceano-atmosfera<br />

11 mil e 22 mil anos Precessão <strong>do</strong>s equinócios - Terra Astronômica – Variação orbital - Terra<br />

42 mil anos Obliqüida<strong>de</strong> da eclíptica - Terra Astronômica – Variação orbital - Terra<br />

96 mil anos Excentricida<strong>de</strong> orbital - Terra Astronômica – Variação orbital - Terra<br />

Fontes: ADAMS et al., 1999; LOWE & WALKER, 1997; MARKGRAF, 2001; FERREIRA, 2002.<br />

Adaptação: LOIOLA, S. A., 2011.<br />

Quadro 1 – Periodicida<strong>de</strong>, fenômenos e origens <strong>de</strong> variações climáticas.<br />

Os ciclos <strong>de</strong> El Niño-Oscilação Sul resultam <strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> fatores<br />

oceânicos e atmosféricos. Os ENOS possuem duas fases, uma fria e outra quente,<br />

que ocorrem em intervalos <strong>de</strong> 6 a 18 meses, mas entre um evento e outro po<strong>de</strong>m<br />

transcorrer <strong>de</strong> 1 a 10 anos (OLIVEIRA, 1999). Paralelo aos fenômenos ENOS ocorre<br />

Capa Índice 13444<br />

2


a Oscilação Decadal <strong>do</strong> Pacífico (ODP), a cada duas ou três décadas há uma<br />

inversão entre fases frias e quentes na temperatura superficiais <strong>do</strong> mar (TSM) entre<br />

o Oceano Pacífico tropical e extratropical, completan<strong>do</strong> o ciclo em 50 a 60 anos<br />

(DEWES, 2007, p.21). Entre 1947-1976 ocorreu uma fase fria da ODP, acarretan<strong>do</strong><br />

frio intenso e fortes nevascas na Europa. Duas fases quentes da ODP aconteceram<br />

<strong>de</strong> 1925 a 1946, e <strong>de</strong> 1976 a 1998, que trouxeram secas aos EUA, chuvas intensas<br />

e calor à Europa (FIGURA 1).<br />

Fonte: JISAO, 2012.<br />

Figura 1: Evolução mensal da ODP, <strong>de</strong> 1900 a agosto <strong>de</strong> 2012.<br />

Nas fases frias da ODP pre<strong>do</strong>mina a ocorrência <strong>de</strong> La Niña e na fase quente<br />

pre<strong>do</strong>minam os El Niños. Há indícios <strong>de</strong> a ODP entrar na fase fria em duas décadas,<br />

o que traria aumento da frequência <strong>de</strong> La Niñas e redução <strong>de</strong> El Niños (JISAO,<br />

2012). Aspectos astronômicos também interferem <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> cíclico e aleatório na<br />

dinâmica climática. Entre elas <strong>de</strong>stacam-se os ciclos solares, raios cósmicos, campo<br />

magnético terrestre, e as oscilações na geometria orbital da Terra, em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> anos, os ciclo <strong>de</strong> Milankovitch (SALGADO LABOURIAU, 1994). Ciclos<br />

solares são acompanha<strong>do</strong>s nas emissões <strong>de</strong> manchas solares, com perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 11,<br />

22, 44, 77, 100 anos, séculos e até semanas (ALMEIDA, 2001, p.5-15). Povos<br />

antigos estabeleceram calendários com as observações, como os Maia e Inca.<br />

Há correlação <strong>de</strong> ciclos solares com o El ñino e a Oscilação Decadal <strong>do</strong><br />

Pacífico - ODP (MOLION, 2006. p. 4; STOTT, 2003, p. 4079). Houve uma<br />

interrupção <strong>de</strong>sse ciclo <strong>de</strong> onze anos, o Mínimo <strong>de</strong> Maun<strong>de</strong>r, entre 1645 a 1715,<br />

intervalo <strong>de</strong> 70 anos (FIGURA 2). Coincidiu com a Pequena Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Gelo. Invernos<br />

rigorosos e anos sem verão na Europa, temperaturas baixas, o Rio Tamisa congelou<br />

em Londres, e canais <strong>de</strong> Veneza com ocorrências <strong>de</strong> congelamento. Os Maia, Inca,<br />

Asteca, os romanos e os egípcios lidaram com alterações climáticas, intensas e<br />

prolongadas ondas <strong>de</strong> calor e <strong>de</strong> frio. Há muitos relatos acerca <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13445<br />

3


Aquecimento Medieval, entre 800 e 1350 d.C., com maior umida<strong>de</strong> e calor à Europa<br />

e secas ao Mediterrâneo (SANT’ANNA NETO & NERY, 2005, p. 33; FIGURA 3).<br />

Fonte: STOTT et al (2003).<br />

Figura 2: Quatrocentos anos <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s Solares.<br />

Nem toda mudança climática é periódica, tampouco os eventos cíclicos<br />

seguem intervalos previsíveis (FERREIRA, 2002, p.8-15). São conhecidas 26<br />

mudanças climáticas abruptas ocorridas no Pleistoceno Superior, entre 80 mil e 10<br />

mil anos atrás, durante o perío<strong>do</strong> glacial Würm (FIGURAS 4).<br />

Fonte: MOBERG et al, 2005.<br />

Figura 3: Variação da temperatura média global entre 200 e 2005 dC.<br />

Vinte variações <strong>de</strong>nominadas ciclos Dansgaard-Oeschger (D-O), intervaladas<br />

<strong>de</strong> mil a três mil anos; e seis ciclos Heinrich (H), <strong>de</strong> sete mil a treze mil anos,<br />

medição O 18 e <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> carbonato (GROOTES et al., 1993; BOND, G. C. &<br />

LOTTI, 1995; FIGURA 4). 2 Sob as mudanças repentinas <strong>do</strong> clima <strong>do</strong> glacial Würm o<br />

cultivo agrícola seria improvável (FLANERY, 2007, p. 87). O ritmo climático global<br />

nos último 500 mi <strong>de</strong> anos não seguiu um padrão. Cenários projeta<strong>do</strong>s por mo<strong>de</strong>los<br />

po<strong>de</strong>m induzir a equívocos irreparáveis. Assim, a dinâmica paleoclimática sugere a<br />

impon<strong>de</strong>rabilida<strong>de</strong>: mudanças abruptas e aleatórias severas não po<strong>de</strong>m ser<br />

previstas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> uma glaciação ou Inter-glaciação ocorrer em poucas décadas.<br />

Entre as medidas po<strong>de</strong>mos adiantar: 1 - Implantação Centros Avança<strong>do</strong>s<br />

Transdisciplinares para pensar pró-ativamente a adaptação a cenários imprevistos.<br />

2 Sondagem DSDP 609 (Deep Sea Drilling Project Site) realizada no leito oceânico <strong>do</strong> Atlântico Norte,<br />

com medições da <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> carbonato. Sondagem GISP2 - Greenland Ice Sheet Project,<br />

realizada em núcleos <strong>de</strong> gelo na Groelândia com medição <strong>de</strong> isótopos <strong>de</strong> Oxigênio.<br />

Capa Índice 13446<br />

4


Fonte: GROOTES et al., (1993); BOND, G. C. & LOTTI (1995).<br />

Figura 4: Eventos abruptos D-O e H registra<strong>do</strong>s em isótopos <strong>de</strong> O 18 e carbonato no gelo<br />

da Groelândia, Hemisfério Norte, Oceano Atlântico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 80 mil anos AP.<br />

2 - Enfatizar a pesquisa e o ensino das mudanças climático-ecológicas<br />

ocorridas no passa<strong>do</strong> e as respostas sociais. 3 - Estabelecer entida<strong>de</strong> supranacional<br />

entre ONGs, Institutos <strong>de</strong> pesquisas, Socieda<strong>de</strong>s, empresas para gerir um Painel da<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> Adaptativa (LOIOLA, 2011)<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da interferência ou não da ação humana, a instabilida<strong>de</strong>, não<br />

linearida<strong>de</strong> e as mudanças bruscas são uma característica <strong>do</strong>s sistemas climáticos<br />

terrestres. A certeza das mudanças climáticas no futuro enseja apren<strong>de</strong>r com os<br />

erros es acertos no passa<strong>do</strong> e ser pró-ativo a qualquer cenário.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Capa Índice 13447<br />

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Capa Índice 13448<br />

6


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13449 - 13453<br />

Análise proteômica <strong>do</strong> fungo Paracoccidioi<strong>de</strong>s durante o processo infeccioso<br />

em macrófagos<br />

BONFIM, Sheyla Maria Ron<strong>do</strong>n Caixeta 1; BAILÃO Alexandre Melo 1 ; TABORDA,<br />

Carlos Pelleschi 2 ; BORGES, Clayton Luiz 1 ; PARENTE, Ana Flávia Alves 1 ;<br />

PARENTE, Juliana Alves 1 ; SOARES, Célia Maria <strong>de</strong> Almeida 1<br />

1 Laboratório <strong>de</strong> Biologia Molecular, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Goiânia,Goiás, Brazil.<br />

2 Laboratório <strong>de</strong> Fungos Dimórficos Patogênicos, Departamento <strong>de</strong> Microbiologia-<br />

ICB, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, Brazil<br />

e-mail: sheylabonfim@gmail.com<br />

Palavras-chave: Paracoccidioi<strong>de</strong>s, paracoccidioi<strong>do</strong>micose experimental, expressão<br />

<strong>de</strong> proteínas, proteoma, macrófagos<br />

Introdução: O fungo dimórfico Paracoccidioi<strong>de</strong>s é o agente etiológico da micose<br />

sistêmica paracoccidioi<strong>do</strong>micose (PCM), uma <strong>do</strong>ença caracterizada pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> lesões granulomatosas com freqüente evolução crônica<br />

envolven<strong>do</strong> órgãos e teci<strong>do</strong>s (FRANCO,M. 1987). A infecção ocorre através da<br />

inalação <strong>de</strong> propágulos <strong>do</strong> fungo pelo hospe<strong>de</strong>iro (RESTREPO et al., 2008). Os<br />

polimorfonucleares e macrófagos estão presentes nas lesões após alguns dias <strong>de</strong><br />

infecção e po<strong>de</strong>m sofrer ativação por linfocinas ou interferon-gamma (IFN-γ),<br />

media<strong>do</strong>res biológicos responsáveis pela comunicação das células <strong>do</strong> sistema<br />

imune (BRUMMER et al., 1991). A resposta imune celular representa um<br />

mecanismo eficaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e os macrófagos tem papel importante na imunida<strong>de</strong><br />

inata, na ativação <strong>de</strong> outras células importantes no processo (LINEHAN et al., 2000)<br />

e na resistência <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro ao fungo Paracoccidioi<strong>de</strong>s (NASCIMENTO et al.,<br />

2002).. Paracoccidioi<strong>de</strong>s é um parasita intracelular facultativo e a interação entre as<br />

moléculas presentes na superfície <strong>do</strong> parasito e receptores homólogos na<br />

membrana celular <strong>de</strong> macrófagos modula a fagocitose e as proprieda<strong>de</strong>s<br />

microbicidas e fagocíticas (SINGER-VERMES et al., 1994). A análise <strong>de</strong> moléculas<br />

<strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> Paracoccidioi<strong>de</strong>s que se ligam a receptores celulares <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro<br />

Capa Índice 13449


durante a a<strong>de</strong>são e invasão po<strong>de</strong>m representar interessantes alvos para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vacinas e terapias anti-fúngicas e o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> interações entre<br />

o fungo e o hospe<strong>de</strong>iro constitui uma importante estratégia na avaliação da<br />

patogênese <strong>de</strong> Paracoccidioi<strong>de</strong>s. No intuito <strong>de</strong> estudar o processo <strong>de</strong> infecção,<br />

realizamos a análise <strong>do</strong>s perfis proteômicos <strong>de</strong> células leveduriformes <strong>de</strong><br />

Paracoccidioi<strong>de</strong>s recuperadas da infecção em macrófagos BMDM e J774 A1. Para<br />

análise proteômica, os extratos protéicos foram separa<strong>do</strong>s por focalização isoelétrica<br />

e os spots seleciona<strong>do</strong>s foram analisa<strong>do</strong>s por espectrometria <strong>de</strong> massas. A<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> proteínas expressas por Paracoccidioi<strong>de</strong>s durante a infecção em<br />

macrófagos mostrou um total <strong>de</strong> 32 proteínas, que incluem enzimas envolvidas em<br />

diversos processos celulares como a energia, metabolismo celular, transporte,<br />

sinalização <strong>de</strong>ntre outros. A análise i<strong>de</strong>ntificou 21 proteínas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> infecção<br />

em macrófagos BMDM e 11 proteínas em macrófagos J 774 A1. Proteínas<br />

diferencialmente expressas foram encontradas e estão sob a i<strong>de</strong>ntificação. Análises<br />

<strong>de</strong> imagem visan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> expressão diferencial <strong>de</strong> proteínas revelou um<br />

total <strong>de</strong> 383 spots em células leveduriformes após infecção com macrófagos BMDM<br />

e 348 proteínas recuperadas após infecção com células J 774 A1. A análise<br />

comparativa <strong>do</strong>s géis 2-D pelo teste <strong>de</strong> ANOVA one-way revelou que 58 e 306<br />

proteínas foram diferencialmente expressas após infecção em BMDM e J774 A1,<br />

respectivamente. Foi possível <strong>de</strong>tectar 27 e 236 proteínas com indução da<br />

expressão (preferencialmente expressas) e 31 e 70 proteínas respectivamente que<br />

apresentam expressão diminuída durante a infecção em macrófagos BMDM e<br />

células J774 A1. Para melhor compreen<strong>de</strong>r o processo infeccioso nos macrófagos, a<br />

análise comparativa <strong>do</strong>s proteomas <strong>de</strong> membros <strong>do</strong> complexo Paracoccidioi<strong>de</strong>s<br />

(Pb01 e Pb18) está sen<strong>do</strong> realizada e os resulta<strong>do</strong>s serão úteis na avaliação da<br />

patogenicida<strong>de</strong> e virulência. Meto<strong>do</strong>logia: Neste estu<strong>do</strong> foram infecta<strong>do</strong>s<br />

macrófagos BMDM e linhagem celular <strong>de</strong> macrófagos J774 A1 com células<br />

leveduriformes <strong>de</strong> Pb01 e Pb 18. Os macrófagos BMDM foram obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong><br />

medula óssea <strong>de</strong> camun<strong>do</strong>ngos BALB C na presença <strong>de</strong> GM-CSF 10 ng / ml e a<br />

linhagem J774 A1 obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> sarcoma reticular. Para os ensaios <strong>de</strong> infecção,<br />

2,5 x10 6 células leveduriformes <strong>de</strong> Paracoccidioi<strong>de</strong>s foram utilizadas e após 12 h <strong>de</strong><br />

co-cultura as células não fagocitadas foram <strong>de</strong>scartadas e os macrófagos infecta<strong>do</strong>s<br />

foram submeti<strong>do</strong>s à lise celular. Para análise proteômica, os extratos celulares<br />

protéicos foram fraciona<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> eletroforese bidimensional (2D-PAGE) e<br />

Capa Índice 13450


coloração com corante <strong>de</strong> prata. A aquisição <strong>de</strong> imagens, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> proteínas<br />

e pesquisas <strong>de</strong> banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foram realizadas. As proteínas <strong>de</strong> interesse foram<br />

selecionadas e os genes correspon<strong>de</strong>ntes serão analisa<strong>do</strong>s pelo conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

transcritos por RT-PCR em tempo real. Resulta<strong>do</strong>s e Discussão: Neste estu<strong>do</strong><br />

utilizamos uma estratégia proteômica para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> proteínas expressas em<br />

condições <strong>de</strong> infecção a partir <strong>de</strong> extratos protéicos obti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> células<br />

leveduriformes <strong>de</strong> Paracoccidioi<strong>de</strong>s recuperadas da infecção com macrófagos<br />

BMDM extraí<strong>do</strong>s da medula óssea e também da linhagem J774 A1. A análise<br />

i<strong>de</strong>ntificou 32 proteínas sen<strong>do</strong> vinte e uma proteínas consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a infecção em<br />

macrófagos BMDM e onze proteínas em condições <strong>de</strong> infecção com macrófagos<br />

J774 A1. As proteínas i<strong>de</strong>ntificadas e classificadas em categorias funcionais são as<br />

seguintes: 1-metabolismo <strong>de</strong> carboidratos (Gliceral<strong>de</strong>í<strong>do</strong>-3-fosfato-<strong>de</strong>sidrogenase,<br />

Frutose-1,6-bifosfato al<strong>do</strong>lase, Fosfoglicerato cinase, Enolase); 2-metabolismo <strong>de</strong><br />

lipí<strong>de</strong>os (2-metilcitrato <strong>de</strong>sidratase); 3-metabolismo <strong>de</strong> proteínas (Ketol áci<strong>do</strong><br />

reductoisomerase); 4-citoesqueleto (Actina e Cofilina); 5--replicação <strong>do</strong> DNA (ATP<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> RNA helicase elF4A); 6-energia (Succinil CoA ligase subunida<strong>de</strong><br />

beta, Succinil CoA ligase subunida<strong>de</strong> alfa, ATP sintase ca<strong>de</strong>ia gama, Malato<br />

<strong>de</strong>sidrogenase, ATPase subunida<strong>de</strong> alfa); 7-tráfico intracelular, secreção e<br />

transporte (Subunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> receptor mitocondrial <strong>de</strong> importação tom-40); 8processamento<br />

<strong>de</strong> proteínas (Proteína mitocondrial <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> proteínas,<br />

Proteína <strong>de</strong> choque térmico 70, Proteína <strong>de</strong> choque térmico, Peptidyl-prolyl cis-trans<br />

isomerase A2 , peptidyl-prolyl cis-trans isomerase), 9-tradução (Proteína P0 liase<br />

áci<strong>do</strong> ribossomal 60 S, proteína S12 40S ribossomal ); 10-transdução <strong>de</strong> sinais<br />

(Proteína rack). As proteínas <strong>do</strong> fungo Paracoccidioi<strong>de</strong>s obtidas em condições que<br />

mimetizam a infecção em macrófagos foram extraídas e separadas por eletroforese<br />

bidimensional utilizan<strong>do</strong> uma ampla faixa <strong>de</strong> pH <strong>de</strong> 3-11 na primeira dimensão e a<br />

coloração pela prata <strong>de</strong> géis com concentração <strong>de</strong> 150 ug. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os níveis<br />

<strong>de</strong> expressão das proteínas <strong>do</strong> fungo, a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coloração <strong>do</strong>s spots no<br />

controle e na condição <strong>de</strong> infecção em macrófagos BMDM e J774 A1 foi comparada<br />

através <strong>do</strong> software Image Master Platinum 6.0 (GE Healthcare) e uma lista <strong>do</strong>s<br />

spots conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s como volume, volume normaliza<strong>do</strong> (% <strong>de</strong> cada spot) e valores<br />

experimentais <strong>de</strong> massas moleculares e pI <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os spots foi gerada. Análises <strong>de</strong><br />

imagens visan<strong>do</strong> à <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> expressão diferencial <strong>de</strong> proteínas revelou um total<br />

<strong>de</strong> 383 spots em células leveduriformes após infecção com macrófagos BMDM e<br />

Capa Índice 13451


348 proteínas spots recuperadas após infecção com células J 774 A1. A análise<br />

comparativa <strong>do</strong>s géis revelou que 58 e 306 proteínas foram diferencialmente<br />

expressas após infecção em BMDM e J774 A1, respectivamente. Foi possível<br />

<strong>de</strong>tectar 27 e 236 proteínas com indução da expressão (preferencialmente<br />

expressas) e a expressão diminuída foi observada em 31 e 70 proteínas em BMDM<br />

e J774 A1, respectivamente. Em condições <strong>de</strong> infecção avaliamos o mecanismo <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são celular importante na disseminação <strong>do</strong> patógeno pela utilização <strong>de</strong><br />

moléculas <strong>de</strong> superfície na ligação à componentes da matriz extracelular para<br />

estabelecer a infecção. Proteínas como Gliceral<strong>de</strong>í<strong>do</strong>-3-fosfato <strong>de</strong>sidrogenase<br />

GAPDH - Pb 01 (BARBOSA et al., 2007) e enolase (NOGUEIRA et al., 2010) foram<br />

i<strong>de</strong>ntificadas e referem-se à moléculas presentes no fungo e relatadas com<br />

envolvimento na patogênese, sugerin<strong>do</strong> papel <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>do</strong> microrganismo aos<br />

teci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ligar à fibronectina, laminina, bem<br />

como para a disseminação da infecção. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a infecção em macrófagos<br />

BMDM, a análise proteômica <strong>do</strong> fungo Pb 01 durante a infecção revelou proteínas<br />

que apresentam expressão diferencial. A proteína 2-metilcitrato <strong>de</strong>sidratase Pb 01<br />

(B 10) foi i<strong>de</strong>ntificada como super-regulada e provavelmente uma isoforma <strong>de</strong> 2metilcitrato<br />

<strong>de</strong>sidratase Pb 01 (B 287) também i<strong>de</strong>ntificada mas que apresenta<br />

diminuição na expressão revelan<strong>do</strong> prováveis alterações nos níveis <strong>de</strong> expressão<br />

durante o processo infeccioso em função <strong>do</strong> metabolismo. Outra proteína<br />

i<strong>de</strong>ntificada como sen<strong>do</strong> diferencialmente expressa é a proteína <strong>de</strong> choque térmico<br />

Pb 01 (B 710) que apresentou níveis <strong>de</strong> expressão reduzi<strong>do</strong>s. Conclusão: A<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> proteínas expressas por Paracoccidioi<strong>de</strong>s durante a infecção em<br />

macrófagos revelou o envolvimento <strong>de</strong> proteínas em diversos processos metabólicos<br />

essenciais à sobrevivência e adaptação <strong>do</strong> fungo ao meio ambiente <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro.<br />

Espera-se que novas i<strong>de</strong>ntificações <strong>de</strong> proteínas regulatórias possam ser feitas para<br />

que possamos enten<strong>de</strong>r o perfil <strong>de</strong> infecção com Pb 01 e Pb 18 e condições <strong>de</strong><br />

virulência.<br />

Capa Índice 13452


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Apoio financeiro: Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível<br />

Superior/CAPES, Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico/CNPq, Financia<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Projetos/FINEP e Fundação <strong>de</strong><br />

Amparo à <strong>Pesquisa</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás/FAPEG.<br />

Capa Índice 13453


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13454 - 13458<br />

FATORES PREDITORES DE COMPLICAÇÕES POR DENGUE EM MENORES DE<br />

15 ANOS NO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA<br />

Solomar Martins MARQUES, Paulo Sérgio Sucasas da COSTA, Adriana Helena <strong>de</strong><br />

Matos ABE<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina (<strong>UFG</strong>) – Departamento <strong>de</strong> Pediatria<br />

solomar14@hotmail.com<br />

Palavras chave: <strong>de</strong>ngue, infância, febre hemorrágica <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue, Goiânia<br />

Introdução<br />

A partir <strong>de</strong> 2007, o Brasil passa a ser responsável por mais <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ngue nas Américas e tem vivi<strong>do</strong> uma mudança não esperada na incidência da<br />

<strong>do</strong>ença em pessoas menores <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e incremento <strong>de</strong> formas graves.<br />

O padrão inicial <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue clássica passa a ter um aumento das formas<br />

graves, em especial durante o perío<strong>do</strong> entre 2007 e 2009, quan<strong>do</strong> foi observada<br />

uma migração <strong>do</strong>s casos graves para crianças 1,2,3 . A orientação <strong>do</strong> Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong> é que exames específicos sejam realiza<strong>do</strong>s para a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s casos<br />

suspeitos em perío<strong>do</strong> não epidêmico. No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia, os casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue<br />

com complicação, febre hemorrágica <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue e grupos especiais (incluin<strong>do</strong><br />

menores <strong>de</strong> 15 anos, mesmo sem sinais <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>) <strong>de</strong>vem ter exames<br />

específicos e inespecíficos <strong>de</strong> rotina 4 . Este fato mostra o esta<strong>do</strong> da arte para<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue em menores <strong>de</strong> quinze anos, tanto nas formas mais graves,<br />

quanto nas formas clássicas 5 .<br />

Nos últimos <strong>de</strong>z anos, Goiânia apresentou epi<strong>de</strong>mias sucessivas. Entre 2001 e 2007<br />

alternaram anos <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias expressivas seguidas <strong>de</strong> anos com <strong>de</strong>créscimo <strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> casos. A partir <strong>de</strong> 2008 foram observa<strong>do</strong>s três anos consecutivos <strong>de</strong><br />

epi<strong>de</strong>mias crescentes. Goiânia tem confirmada i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s quatro sorotipos e<br />

se encontra entre os municípios e localida<strong>de</strong>s com maior concentração <strong>de</strong> casos<br />

notifica<strong>do</strong>s. No ano <strong>de</strong> 2011, Goiânia apresentou 16.492 casos notifica<strong>do</strong>s com taxa<br />

<strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> 1.266/100.000 habitantes 6 .<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

O estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> no município <strong>de</strong> Goiânia, capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás, uma<br />

cida<strong>de</strong> com população <strong>de</strong> 1.256.514 habitantes 7 .<br />

Delineamento <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>: estu<strong>do</strong> retrospectivo caso-controle em


confirma<strong>do</strong>s laboratorialmente para <strong>de</strong>ngue no município <strong>de</strong> Goiânia, <strong>de</strong> 2001-2011.<br />

População <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>: pacientes


Figura 1. Fluxograma <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> casos e controles. Ida<strong>de</strong>


Tabela 3: Análise <strong>de</strong> regressão logística <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco encontra<strong>do</strong>s com<br />

significância estatística na analise univariada.<br />

Variável X 2 p<br />

Dor ab<strong>do</strong>minal 34,07


Possibilita avaliar o avanço da <strong>do</strong>ença na população pediátrica e a sua gravida<strong>de</strong> a<br />

cada ano. É possível ainda inferir a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e <strong>do</strong><br />

preenchimento <strong>do</strong>s instrumentos – fichas <strong>de</strong> notificação para <strong>de</strong>ngue MS.<br />

Referências bibliográficas:<br />

1. Teixeira M. G., Costa M. C., Coelho G., Barreto M. L. Recent shift in age pattern of<br />

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2. Rocha LA & Tauil PL 2009. Dengue em criança: aspectos clínicos e<br />

epi<strong>de</strong>miológicos, Manaus, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2006 e 2007.<br />

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3. Teixeira MG; Barreto ML. Diagnosis and management of <strong>de</strong>ngue. BMJ;339:b4338,<br />

2009.<br />

4. MS BRASIL. Saú<strong>de</strong> Brasil: uma análise da situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e da agenda<br />

nacional e internacional <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. Brasília, Brasil: SVS,<br />

Departamento <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Situação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Ministério da Saú<strong>de</strong>. 2009.<br />

5. Cavalcanti L. P., Vilar D., Souza-Santos R., Teixeira M. G. Change in age pattern<br />

of persons with <strong>de</strong>ngue, northeastern Brazil. Emerg Infect Dis. 2011; 17 (1): 132-4.<br />

6.http://www.sau<strong>de</strong>.goiania.go.gov.br/<strong>do</strong>cs/divulgacao/informe_<strong>de</strong>ngue_15-05-12.pdf<br />

(SINAN/DVE/DVS/SMS- Goiânia). acessa<strong>do</strong> em julho <strong>de</strong> 2012.<br />

7. http://www.ibge.gov.br/censo2010/da<strong>do</strong>s_divulga<strong>do</strong>s/in<strong>de</strong>x.php?uf=52 acessa<strong>do</strong><br />

em maio <strong>de</strong> 2012.<br />

8. Phuong CXT, Nhan NT, Wills B et al. Evaluation of the WHO standard tourniquet<br />

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Tropical Medicine & International Health. 2002; 7, 125–132.<br />

9. Norlijah O, Khamisah AN, Kamarul A & Mangalam S. Repeated tourniquet testing<br />

as a diagnostic tool in <strong>de</strong>ngue infection. Medical Journal of Malaysia. 2006; 61, 22–27.<br />

10. Brasil. MS. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>. DVE. Dengue: diagnóstico e<br />

manejo clínico: criança/Ministério da Saú<strong>de</strong>, Brasília : Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2011. 52<br />

p. : il. (Série A. Normas e Manuais Técnicos)<br />

Capa Índice 13458


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13459 - 13464<br />

OTIMIZAÇÃO DA BIODISPONIBILIDADE DE ALENDRONATO DE SÓDIO<br />

ATRAVÉS DE ENCAPSULAÇÃO EM NANOESFERAS DE QUITOSANA<br />

Stela Ramirez <strong>de</strong> OLIVEIRA 1 ; Marco Júnio PERES-FILHO 1 ; Leonar<strong>do</strong> Gomes<br />

SOUZA 1 ; Eliana Martins LIMA 1 *<br />

1 Laboratório <strong>de</strong> Nanotecnologia Farmacêutica e Sistemas <strong>de</strong> Liberação Controlada<br />

<strong>de</strong> Fármacos (FarmaTec) - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia - <strong>UFG</strong>, Goiânia-GO, Brasil.<br />

*emlima@farmacia.ufg.br<br />

Palavras-chave: Nanopartícula. Quitosana. Alendronato <strong>de</strong> sódio. Nanoesfera.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O alendronato <strong>de</strong> sódio é um fármaco da classe <strong>do</strong>s bifosfonatos muito<br />

utiliza<strong>do</strong> no tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns relacionadas ao teci<strong>do</strong> ósseo, como a<br />

osteoporose. Ele possui gran<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> pela matriz óssea humana e capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inibir sua reabsorção (LIBERMAN et al., 1995; RIBEIRO; VOLPATO, 2005; LIU et<br />

al, 2009).<br />

Após a administração oral o alendronato <strong>de</strong> sódio é pouco absorvi<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong><br />

administra<strong>do</strong> em jejum sua biodisponibilida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> aproximadamente 0,7%. A<br />

absorção <strong>do</strong> fármaco po<strong>de</strong> diminuir 40% quan<strong>do</strong> administra<strong>do</strong> com alimentos,<br />

alteran<strong>do</strong> ainda mais a quantida<strong>de</strong> disponível no sangue (GERTZ et al., 1993).<br />

O alendronato <strong>de</strong> sódio po<strong>de</strong> causar efeitos adversos no trato gastrointestinal<br />

superior, como esofagite e erosão esofágica (HERRERA, SARABIA, GONZALEZ,<br />

1999; LIU et al., 2009). Por isso, é recomenda<strong>do</strong> ao paciente ingerir o medicamento<br />

em jejum com uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> água, permanecer na posição<br />

ortostática durante 30 minutos sem ingestão <strong>de</strong> alimentos (GERTZ et al., 1993, LIU<br />

et al., 2009). Antes <strong>de</strong> o paciente <strong>de</strong>itar-se é indicada a ingestão <strong>de</strong> uma refeição<br />

(LIU et al., 2009).<br />

Diante <strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s uma alternativa é utilizar nanopartículas para<br />

otimizar a terapia <strong>do</strong> alendronato <strong>de</strong> sódio. As nanopartículas <strong>de</strong> quitosana<br />

possibilitam o aumento da biodisponibilida<strong>de</strong> e redução <strong>de</strong> efeitos adversos <strong>do</strong><br />

fármaco (AGNIHOTRI; MALLIKARJUNA; AMINABHAVI, 2004; YOKSAN;<br />

JIRAWUTTHIWONGCHAI; ARPO, 2010). A quitosana é um copolímero <strong>de</strong><br />

glicosamina e N-acetilglicosamina. Ela é um polissacarí<strong>de</strong>o obti<strong>do</strong> da <strong>de</strong>sacetilação<br />

da quitina e por ser bio<strong>de</strong>gradável e biocompatível tem si<strong>do</strong> muito utilizada no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas formas farmacêuticas (HEJAZI; AMIJI, 2003; GAN;<br />

WANG, 2007; AMIDI et al., 2010). É mucoa<strong>de</strong>siva e interage com células epiteliais,<br />

Capa Índice 13459<br />

1


abrin<strong>do</strong> junções celulares e aumentan<strong>do</strong> a permeabilida<strong>de</strong> paracelular (ZHENG et<br />

al., 2007; GAN; WANG, 2007; AMIDI et al., 2010). Por suas várias características<br />

vantajosas a quitosana tem si<strong>do</strong> muito utilizada no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formas<br />

farmacêuticas e sistemas <strong>de</strong> liberação controlada <strong>de</strong> fármacos.<br />

A técnica <strong>de</strong> geleificação ionotrópica é um méto<strong>do</strong> atrativo para o preparo <strong>de</strong><br />

nanopartículas <strong>de</strong> quitosana por ser um processo que não é tóxico, é isento <strong>de</strong><br />

solventes orgânicos, prático, controlável e simples (AGNIHOTRI; MALLIKARJUNA;<br />

AMINABHAVI, 2004; FAN et al., 2012).<br />

2 MATERIAL E MÉTODOS<br />

As nanoesferas <strong>de</strong> quitosana foram obtidas pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> geleificação<br />

ionotrópica com tripolifosfato <strong>de</strong> sódio (TPP). A quitosana foi dissolvida em solução<br />

aquosa ácida e colocada sob agitação constante, a solução <strong>de</strong> TPP foi gotejada na<br />

solução aquosa conten<strong>do</strong> quitosana. As nanopartículas <strong>de</strong> quitosana foram<br />

formadas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à complexação entre os compostos <strong>de</strong> carga oposta, positiva da<br />

quitosana e negativa <strong>do</strong> TPP, a quitosana sofre geleificação ionotrópica e precipita,<br />

forman<strong>do</strong> nanopartículas esféricas (GAN; WANG, 2007; AMIDI et al., 2010).<br />

Foram testadas diferentes condições no preparo das nanopartículas <strong>de</strong><br />

quitosana, conforme quadro 1.<br />

Quadro 1. Condições testadas no preparo das nanopartículas <strong>de</strong> quitosana<br />

Formulações<br />

Concentração <strong>de</strong><br />

quitosana na<br />

solução<br />

Gotejamento<br />

Volume da solução <strong>de</strong><br />

TPP 0,1%<br />

Velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> agitação<br />

1 0,25% Agulha 23 G 20 mL 1.000 rpm<br />

2 0,25% Agulha 23 G 30 mL 1.000 rpm<br />

3 0,20% Agulha 23 G 20 mL 1.000 rpm<br />

4 0,15 % Agulha 23 G 20 mL 1.000 rpm<br />

5 0,20% Agulha 22 G 20 mL 1.000 rpm<br />

6 0,20% Agulha 24 G 20 mL 1.000 rpm<br />

7 0,20% Agulha 23 G 10 mL 1.000 rpm<br />

8 0,20% Agulha 23 G 10 mL 500 rpm<br />

9 0,20% Agulha 23 G 10 mL 750 rpm<br />

Capa Índice 13460<br />

2


A <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> diâmetro médio das nanopartículas foi realizada pela<br />

técnica <strong>de</strong> espalhamento dinâmico <strong>de</strong> luz (light scattering), em equipamento Zeta<br />

Sizer Nano ® .<br />

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O diâmetro médio das formulações obtidas variou muito, como <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong><br />

na tabela 1. As formulações 3 e 5 foram as que apresentaram menores índices <strong>de</strong><br />

polidispersão. O índice <strong>de</strong> polidispersão (PDI) é um fator que representa a<br />

homogeneida<strong>de</strong> da dispersão. Para nanopartículas <strong>de</strong> quitosana para administração<br />

oral valores menores que 0,5 são indicativos <strong>de</strong> relativa homogeneida<strong>de</strong> (AVADI et<br />

al., 2010). Portanto os valores <strong>de</strong> 0,300 e 0,314 das formulações 3 e 5,<br />

respectivamente indicam boa homogeneida<strong>de</strong> da dispersão para administração oral.<br />

Os diâmetros médios das partículas <strong>de</strong>ssas duas formulações também foram<br />

próximos, 125,90 nm e 124,70 nm, mostran<strong>do</strong> a formação <strong>de</strong> partículas pequenas.<br />

Tabela 1. Caracterização das formulações<br />

Formulações Diâmetro médio PDI<br />

1 93,43 nm 0,516<br />

2 2,42 x 10 4 nm 1,000<br />

3 125,90 nm 0,300<br />

4 4203,00 nm 1,000<br />

5 124,70 nm 0,314<br />

6 84,12 nm 0,422<br />

7 90,66 nm 0,420<br />

8 121,90 nm 0,529<br />

9 143,30 nm 0,494<br />

A variação <strong>do</strong> diâmetro da agulha usada no procedimento <strong>de</strong> gotejamento da<br />

solução <strong>de</strong> quitosana, agulha 23 G (0,60 x 25 mm) na formulação 3 e agulha 22 G<br />

(0,70 x 25 mm) na formulação 5, não provocou gran<strong>de</strong> variação nos resulta<strong>do</strong>s. Na<br />

formulação 6 foi utilizada uma agulha mais fina, 24 G (0,55 x 20 mm), e obteve-se<br />

uma partícula com um diâmetro médio menor, 84,12 nm, porém o índice <strong>de</strong><br />

polidispersão foi maior, 0,422.<br />

Capa Índice 13461<br />

3


Durante o <strong>de</strong>senvolvimento, observou-se que o volume i<strong>de</strong>al da solução<br />

conten<strong>do</strong> o cross-linker TPP foi <strong>de</strong> 20 mL. Quan<strong>do</strong> o volume da solução <strong>de</strong> TPP<br />

gotejada na solução <strong>de</strong> quitosana foi aumenta<strong>do</strong> para 30 mL (formulação 2) não<br />

foram formadas nanopartículas. A redução <strong>do</strong> volume <strong>de</strong>ssa solução para 10 mL<br />

também não melhorou a homogeneida<strong>de</strong> da dispersão. A literatura reporta que há<br />

uma proporção i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> cross-linker e quitosana para a formação das nanopartículas<br />

e para a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fármaco encapsula<strong>do</strong> (GAN; WANG, 2007).<br />

A variação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotação mostrou que a agitação <strong>de</strong> 1.000 rpm<br />

resultou em formulações com melhor índice <strong>de</strong> polidispersão em comparação com<br />

nanopartículas obtidas sob agitação <strong>de</strong> 500 rpm e 750 rpm.<br />

A formulação 3 mostrou ser promissora para a encapsulação <strong>de</strong> alendronato<br />

<strong>de</strong> sódio por apresentar um diâmetro médio 125,9 nm e índice <strong>de</strong> polidispersão<br />

0,300, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para administração oral. Um trabalho realiza<strong>do</strong> por Derakhshan<strong>de</strong><br />

e Fathi (2012) <strong>de</strong>monstrou boa encapsulação <strong>de</strong> fármaco hidrofílico em<br />

nanopartículas <strong>de</strong> quitosana obtidas pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> geleificação ionotrópica, e<br />

aumento da biodisponibilida<strong>de</strong> em estu<strong>do</strong> in vitro.<br />

4 CONCLUSÕES<br />

As nanoesferas <strong>de</strong> quitosana brancas <strong>de</strong>senvolvidas se mostraram<br />

promissoras para a encapsulação <strong>de</strong> alendronato <strong>de</strong> sódio. Posteriormente serão<br />

realiza<strong>do</strong>s testes para verificar essa encapsulação e ensaios in vitro para avaliar a<br />

liberação <strong>do</strong> fármaco a partir <strong>de</strong>ssas partículas para administração oral.<br />

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Nanomedicine: Nanotechnology, Biology, and Medicine, v. 6, p. 58–63, 2010.<br />

Capa Índice 13462<br />

4


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GAN, Q.; WANG, T. Chitosan nanoparticle as protein <strong>de</strong>livery carrier—Systematic<br />

examination of fabrication conditions for efficient loading and release. Colloids and<br />

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HERRERA, J. A.; SARABIA, M. 0.; GONZALEZ, M. M. Effects of Treatment with<br />

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LIBERMAN, U. A.; WEISS, S. R.; BRÖLL, J.; MINNE, H. W.; QUAN, H.; BELL, N. H.;<br />

RODRIGUEZ-PORTALES, J.; DOWNS JR., R. W.; DEQUEKER,J.; FAVUS, M.;<br />

SEEMAN, E.; RECKER,R. R. ; CAPIZZI,T.; SANTORA, A. C.; LOMBARDI, A.;<br />

SHAH,R. V.; HIRSCH, L. J.; KARPF, D. B. Effect of oral alendronate on bone mineral<br />

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LIU, A. S.; WEISSMANN, A.; ARMSTRONG, E. J.; TASHJUA JR., A. H.<br />

Farmacologia da homeostasia <strong>do</strong> mineral ósseo. In: GOLAN, D. E.; TASHJUA JR.,<br />

A. H.; ARMSTRONG, E. J.; ARMSTRONG, A. W. Princípios <strong>de</strong> farmacologia: A<br />

base fisiopatológica da farmacoterapia. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan,<br />

2009. Cap. 30.<br />

RIBEIRO, A. F.; VOLPATO, N. M. Alendronato <strong>de</strong> sódio: meto<strong>do</strong>logias para análise<br />

quantitativa. Química Nova, v. 28, n. 5, p. 852-858, 2005.<br />

YOKSAN, R.; JIRAWUTTHIWONGCHAI, J.; ARPO, K. Encapsulation of ascorbyl<br />

palmitate in chitosan nanoparticles by oil-in-water emulsion and ionic gelation<br />

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Capa Índice 13463<br />

5


ZHENG, F.; SHI, X.-W.; YANG, G.-F.;GONG, L.-L.; YUAN, H.-Y.; CUI, Y.-J.; WANG,<br />

Y.; DU, Y.-M.; LI, Y. Chitosan nanoparticle as gene therapy vector via gastrointestinal<br />

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Capa Índice 13464<br />

6


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13465 - 13469<br />

ULTRASSONOGRAFIA QUANTITATIVA DO FÍGADO DE OVELHAS DAS RAÇAS<br />

DORPER E SANTA INÊS NO PERÍODO GESTACIONAL E PUERPÉRIO<br />

Suzana Akemi TSURUTA 1 ; Naida Cristina BORGES 2 , Maria Clorinda Soares<br />

FIORAVANTI 3 ; Patrícia Magalhães <strong>de</strong> OLIVEIRA 4 ; João Paulo Elsen SAUT 5 ;<br />

1- Doutoranda em Ciência Animal, EVZ-<strong>UFG</strong>, suzanaakemi@yahoo.com.br<br />

2- Professora Doutora, Departamento <strong>de</strong> Diagnóstico por Imagem, EVZ-<strong>UFG</strong><br />

3- Professora Doutora, Departamento <strong>de</strong> Clínica Veterinária, EVZ-<strong>UFG</strong><br />

4- Mestranda em Ciência Animal, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina Veterinaria- UFU<br />

5- Professor Doutor, Departamento <strong>de</strong> Clínica Veterinária, UFU<br />

Palavras chave: fíga<strong>do</strong> gorduroso, ecogenicida<strong>de</strong>, parto gemelar<br />

INTRODUÇÃO<br />

O balanço energético negativo no animal altera os mecanismos <strong>de</strong><br />

mobilização <strong>de</strong> energia e contribui para um quadro metabólico que predispõe o<br />

animal a graves problemas nutricionais, como a hipocalcemia, hipomagnesemia,<br />

retenção <strong>de</strong> placenta e toxemia da gestação, além <strong>de</strong> prejudicar o <strong>de</strong>sempenho<br />

produtivo e reprodutivo (ABDUL-AZIZ; AL-MUJALLI, 2008).<br />

Estas alterações metabólicas em ruminantes po<strong>de</strong>m ser diagnosticadas e<br />

monitoradas pelo perfil metabólico, que é um méto<strong>do</strong> rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong> avaliar o equilíbrio<br />

nutricional <strong>de</strong> ovinos em perío<strong>do</strong>s críticos utilizan<strong>do</strong> as variáveis bioquímicas<br />

(RUSSEL, 1991; KRAJNICAKOVA et al., 1995; GONZÁLEZ, 2000).<br />

Quan<strong>do</strong> se instala o balanço energético negativo há mobilização <strong>de</strong> gordura<br />

corporal com aumento <strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s graxos não esterifica<strong>do</strong>s (AGNE) e glicerol no<br />

fíga<strong>do</strong>. E os AGNE po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>do</strong>s no ciclo <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> cítrico produzin<strong>do</strong> energia,<br />

e contribuin<strong>do</strong> para o acúmulo <strong>de</strong> triglicerí<strong>de</strong>o no fíga<strong>do</strong> e consequente esteatose<br />

hepática (NAVARRE; PUGH, 2002).<br />

Segun<strong>do</strong> HENDRIX (2005), as principais enzimas hepáticas associadas a<br />

danos hepatocelulares nas diferentes espécies são: alanina aminotransferase (ALT),<br />

aspartato aminotransferase (AST), sorbitol <strong>de</strong>sidrogenase (SD) e glutamato<br />

<strong>de</strong>sidrogenase (GDH). As enzimas associadas à colestase (obstrução <strong>de</strong> duto biliar)<br />

e <strong>de</strong>feito metabólico em hepatócitos são: gama glutamil transferase (GGT), fosfatase<br />

alcalina (FA).<br />

Outra forma <strong>de</strong> avaliação é a ultrassonografia (US), que permite examinar <strong>de</strong><br />

forma não invasiva a arquitetura <strong>do</strong> parênquima hepático, o sistema biliar e as veias<br />

hepáticas e portais (BRAUN, 2009). Em função <strong>de</strong>stas características a US po<strong>de</strong> ser<br />

Capa Índice 13465


utilizada na investigação <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s hepáticas (NYLAND;<br />

MATTON, 1983), com utilida<strong>de</strong> particular naquelas hepatopatias que cursam com<br />

sinais clínicos inespecíficos e com resulta<strong>do</strong>s não conclusivos <strong>de</strong> patologia clínica<br />

(BRAUN, 2009).<br />

A avaliação hepática nos casos <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong> gorduroso associa<strong>do</strong> com toxemia<br />

<strong>de</strong> prenhez em ovinos e congestão venosa crônica po<strong>de</strong> ser avalia<strong>do</strong> por US, porém<br />

<strong>de</strong> forma subjetiva (SCOTT, 2008), porém apresentam baixa especificida<strong>de</strong><br />

constituin<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>svantagem <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> a impressão visual insuficiente<br />

para <strong>de</strong>terminar a ecogenicida<strong>de</strong> exata <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong><br />

biópsias para confirmação <strong>do</strong> diagnóstico. (PARTINGTON; BILLER, 1995).<br />

E ultrapassar a barreira da subjetivida<strong>de</strong> é o objetivo da técnica quantitativa<br />

<strong>do</strong> histograma (MAMPRIM, 2004), que permite a comparação da mesma região em<br />

pacientes diferentes, oferecen<strong>do</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar um estu<strong>do</strong> minucioso da<br />

área a ser examinada (SANTOS FILHO et al., 2009).<br />

E por meio <strong>de</strong>stes méto<strong>do</strong>s esta pesquisa tem por objetivo a avaliação<br />

quantitativa <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> <strong>de</strong> ovelhas durante a gestação e o puerpério, pois a<br />

ovinocultura <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> novos méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> avaliação metabólico- nutricional em<br />

virtu<strong>de</strong> da maior casuística <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças metabólicas (GONZÁLEZ et al., 2000).<br />

MATERIAL E MÉTODO<br />

O projeto utilizará 40 ovelhas, 20 da raça Dorper e 20 da raça Santa Inês<br />

seleciona<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma aleatória em um plantel <strong>de</strong> 300 animais da fazenda Sena,<br />

localizadas no município <strong>de</strong> Uberlândia, região <strong>do</strong> Alto Paranaíba, extremo oeste <strong>de</strong><br />

Minas Gerais.<br />

Os animais serão avalia<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> exames clínicos, ultrassonográficos e<br />

laboratoriais em nove momentos. Os exames serão realiza<strong>do</strong>s antes da cobertura<br />

(momento zero = M0), no trigésimo dia para confirmação da gestação (M30) e a<br />

partir <strong>de</strong>ste momento, aos 60, 90, 105, 120 e 135 dias <strong>de</strong> gestação. Após a<br />

realização <strong>de</strong>ste último momento, os exames serão realiza<strong>do</strong>s em mais <strong>do</strong>is<br />

momentos, no dia <strong>do</strong> parto (M-parto) e 15 dias após o parto (M-final).<br />

Os ovinos serão examina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> FEITOSA<br />

(2008) e os parâmetros a serem avalia<strong>do</strong>s serão coloração e aspecto das mucosas<br />

ocular e vaginal; temperatura e escore corporal; freqüências cardíaca, respiratória e<br />

ruminal.<br />

Capa Índice 13466


O exame ultrassonografico utililizará um aparelho da empresa DPS, São<br />

Paulo- SP, Mindray, portátil, mo<strong>de</strong>lo 2200, DPS, São Paulo- SP, com transdutor<br />

linear transretal, multifrequencial <strong>de</strong> 5,0 a 7,5 MHz. E para <strong>de</strong>tecção da gestação<br />

será realizada a ultrassonografia transretal aos 30 dias após cobertura para verificar<br />

a presença <strong>de</strong> vesícula gestacional.<br />

Para visibilização hepática será selecionada a freqüência <strong>de</strong> 5 MHz para o<br />

transdutor e o aparelho com ganho 79. Após tricotomia da meta<strong>de</strong> caudal <strong>do</strong> gradil<br />

costal direito e com o animal em posição quadrupedal, as imagens serão obtidas a<br />

partir <strong>de</strong> varreduras no senti<strong>do</strong> cau<strong>do</strong>-cranial e <strong>do</strong>rso- ventral <strong>do</strong> gradil costal,<br />

inician<strong>do</strong>-se no 8º espaço intercostal até imediatamente caudal a última costela,<br />

como <strong>de</strong>scrito por SCOTT (2010).<br />

A <strong>de</strong>scrição qualitativa da imagem ecográfica <strong>do</strong> figa<strong>do</strong>, quanto a<br />

ecogenicida<strong>de</strong> e ecotextura, será realizada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os padrões <strong>de</strong>scritos por<br />

NYLAND, (2004).<br />

A avaliação quantitativa será realizada durante a captação das imagens<br />

ultrassonográficas, a partir da ativação <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> para inserção <strong>do</strong> histograma<br />

para análise da escala <strong>de</strong> cinza na região <strong>de</strong> interesse (ROI). E a mensuração <strong>do</strong><br />

ROI será obtida a partir da seleção <strong>de</strong> uma região quadrangular com área <strong>de</strong> 25<br />

mm 2 , cranialmente ao rim direito, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os exames realiza<strong>do</strong>s por um único<br />

observa<strong>do</strong>r. Os valores <strong>de</strong>scritos referem-se às medidas quantitativas <strong>de</strong> LMEA,<br />

referente à ecogenicida<strong>de</strong>, NMOST/NALL a ecotextura e o SD <strong>de</strong>svio padrão da<br />

amplitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> eco.<br />

As mensurações terão como referência o 8 EIC e caudalmente e cranialmente<br />

serão tomadas três medidas <strong>de</strong> cada espaço. As imagens terão como referência o<br />

músculo longíssimo <strong>do</strong>rsi.<br />

Será coleta<strong>do</strong> também 10 ml <strong>de</strong> sangue por venopunção da jugular externa,<br />

em tubos silicona<strong>do</strong>s a vácuo com anticoagulante (EDTA) para realização <strong>de</strong><br />

hemograma, outro conten<strong>do</strong> fluoreto <strong>de</strong> sódio para <strong>de</strong>terminação da glicemia e outro<br />

sem anticoagulante para o aproveitamento <strong>do</strong> soro para <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> GGT, FA,<br />

AST, bilirrubina total, uréia, triglicerí<strong>de</strong>os, colesterol, NEFA, beta hidroxibutirato,<br />

frutosamina, creatina quinase, proteína total, albumina, cálcio, magnésio e fósforo.<br />

As análises serão realizadas em analisa<strong>do</strong>r automático multicanal ChemWell,<br />

previamente calibra<strong>do</strong> (Calibra H) e aferi<strong>do</strong> com soro controle (Qualitrol 1) utilizan<strong>do</strong><br />

kits comerciais Labtest Diagnóstica ® .<br />

Capa Índice 13467


A urina será coletada por estímulo tapan<strong>do</strong> as narinas por 20 segun<strong>do</strong>s e<br />

parte <strong>do</strong> exame <strong>de</strong> urina será processa<strong>do</strong> no local <strong>de</strong> coleta com fita reagente<br />

comercial <strong>de</strong> urina para <strong>de</strong>terminação qualitativa <strong>do</strong>s corpos cetônicos, pH,<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, cetonas, uribilinogênio, bilirrubina, glicose, leucócitos, sangue, proteínas,<br />

nitrito e <strong>de</strong>terminação qualitativa <strong>de</strong> corpos cetônicos por meio <strong>de</strong> mudança da cor<br />

da tira reagente.<br />

A análise estatística será realizada com o auxílio <strong>do</strong>s programas estatísticos<br />

Minitab 15 e GraphPad Instat software 3. A análise estatística <strong>de</strong>scritiva será<br />

apresentada por meio da média, mediana e <strong>de</strong>svio padrão. Para avaliação das<br />

características <strong>do</strong>s parâmetros ultrassonográficos e bioquímicos séricos as amostras<br />

serão submetidas ao teste <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Pearson com teste T para da<strong>do</strong>s<br />

parea<strong>do</strong>s. E os <strong>do</strong>is grupos serão compara<strong>do</strong>s pela análise <strong>de</strong> variância (ANOVA).<br />

Para a realização <strong>do</strong> experimento será solicita<strong>do</strong> um termo <strong>de</strong> consentimento<br />

aos proprietários <strong>do</strong>s animais e, além disso, o projeto esta sob avaliação <strong>do</strong> Comitê<br />

<strong>de</strong> Ética com o protocolo 078 12.<br />

RESULTADO, DISCUSSÃO E CONCLUSÃO<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que as coletas <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s ainda não foram realizadas e<br />

estan<strong>do</strong> em início <strong>de</strong> execução não serão apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s referentes à<br />

pesquisa.<br />

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

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Capa Índice 13468


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Capa Índice 13469


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13470 - 13474<br />

CEPAS DE Escherichia coli ISOLADAS DE FRANGO DE CORTE EM<br />

ABATEDOUROS<br />

Tatiane Martins ROCHA 1 ; Maria Auxilia<strong>do</strong>ra ANDRADE 2 ; Andre Ribeiro FAYAD; ;<br />

Thiago Dias MATIAS; Thaynara Tatielly OLIVEIRA.<br />

1 EVZ/<strong>UFG</strong>. tatvet2@gmail.com; 2 EVZ/<strong>UFG</strong> maa@vet.ufg.br<br />

Palavras-chaves: abate, aves, colibacilose, con<strong>de</strong>nação.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Escherichia coli é um bastonete Gram negativo, não esporula<strong>do</strong>, oxidase negativa,<br />

imóvel ou móvel por flagelos peritríquios (MOREIRA, 2007). Esta bactéria está<br />

presente no trato gastrintestinal <strong>do</strong>s animais, constituin<strong>do</strong> parte da microbiota normal<br />

<strong>do</strong> trato intestinal <strong>de</strong> humanos e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> animais (KASNOWSKI,<br />

2004).Infecções causadas por E. coli são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> colibacilose e<br />

transformaram-se em ameaça econômica à produção <strong>de</strong> aves no mun<strong>do</strong> (ANTÃO et<br />

al., 2008), pelo fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>arem níveis significativos <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e<br />

morbilida<strong>de</strong> na indústria avícola (SKYBERG et al., 2003). Na espécie avícola, as<br />

amostras <strong>de</strong> APEC, são responsáveis por uma <strong>do</strong>ença sistemática que começa com<br />

infecção <strong>do</strong> trato respiratório e evolui para septicemia, com colonização <strong>de</strong> órgãos<br />

sistêmicos, como coração, fíga<strong>do</strong>, baço (MOULIN-SCHOULEUR et al., 2007).<br />

Este fato é agrava<strong>do</strong> pela circunstância <strong>de</strong> que a E. coli po<strong>de</strong>r tornar-se resistente a<br />

antimicrobianos utiliza<strong>do</strong>s na terapêutica <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças e esta resistência po<strong>de</strong> ser<br />

transferida para outros membros da família Enterobacteriaceae dificultan<strong>do</strong> o<br />

tratamento das enfermida<strong>de</strong>s causadas por estas bactérias, tanto no homem como<br />

nos animais (COSTA, 2007).Diante <strong>do</strong> exposto, o presente trabalho objetivou<br />

abordar a frequência <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> E. coli em amostras <strong>de</strong> abate<strong>do</strong>uros.<br />

2. MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Os experimentos foram conduzi<strong>do</strong>s, com coletas em abate<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Goiás durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2010 e 2011. As análises foram realizadas nos<br />

Laboratório <strong>de</strong> Bacteriologia <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária da Escola <strong>de</strong><br />

Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>). Em<br />

abate<strong>do</strong>uro, foram coletadas amostras com lesões <strong>de</strong> perihepatite, pericardite,<br />

celulite, aerosaculite, e traqueíte, e <strong>do</strong> mesmo lote foram também coletadas<br />

amostras <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong>, coração, pele, sacos aéreos e traquéia <strong>de</strong> aves sem lesões.<br />

Capa Índice 13470


Realizou-se a coleta em 32 lotes (SAMPAIO, 2002), totalizan<strong>do</strong>-se em média 40<br />

amostras coletadas/lote. Após a colheita asséptica, as amostras foram transportadas<br />

ao Laboratório <strong>de</strong> Doenças <strong>de</strong> Aves da EVZ da <strong>UFG</strong>, sob refrigeração para<br />

confirmação <strong>de</strong> diagnóstico. Os suabes e fragmentos <strong>de</strong> órgãos foram repica<strong>do</strong>s em<br />

ágar MacConkey e em cal<strong>do</strong> BHI e imediatamente incuba<strong>do</strong>s a 37ºC por 24h. Após<br />

esse tempo, se não fosse observa<strong>do</strong> crescimento nos meios semea<strong>do</strong>s, novo<br />

repique era realiza<strong>do</strong> em ágar MacConkey a partir <strong>do</strong> Cal<strong>do</strong> BHI e então incuba<strong>do</strong>s<br />

a 37ºC por 24h. Cada tipo <strong>de</strong> colônia típica para a bactéria foi repicada em ágar<br />

tríplice açúcar ferro (TSI) e cal<strong>do</strong> Casoy. Os tubos <strong>de</strong> TSI com crescimento<br />

característico <strong>de</strong> E. coli, foram submeti<strong>do</strong>s a uma série <strong>de</strong> provas bioquímicas para<br />

i<strong>de</strong>ntificar a bactéria <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com OLIVEIRA (1995). Para os resulta<strong>do</strong>s, as<br />

frequências obtidas foram comparadas.<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O Gráfico 1 mostra as frequências encontradas nos tratamentos durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> coletas em abate<strong>do</strong>uros. Analisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s, verificou-se que a E. coli<br />

esteve presente em maior frequência em to<strong>do</strong>s os órgãos com lesões quan<strong>do</strong><br />

comparada aos sem lesão, por isso, sugerin<strong>do</strong> a ação <strong>de</strong>sta bactéria em casos <strong>de</strong><br />

colibacilose e celulite. No Gráfico 1, observa-se os da<strong>do</strong>s para isolamento <strong>de</strong> E. coli<br />

nos sacos aéreos: 53,08% (69/130) e 77,95% (99/127) respectivamente para órgãos<br />

sem lesões e com aerossaculite. Para isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong> traquéia foram verifica<strong>do</strong>s os<br />

valores: 38,46% (50/130) e 66,38% (77/116) para órgãos sem lesão e com lesão,<br />

respectivamente. Neste contexto, sabe-se que a E. coli é apontada como um <strong>do</strong>s<br />

80,00%<br />

60,00%<br />

40,00%<br />

20,00%<br />

0,00%<br />

SEM LESÃO COM LESÃO<br />

SACOS AÉREOS 53,08% 77,69%<br />

TRAQUÉIA 38,46% 66,92%<br />

CORAÇAO 39,23% 73,84%<br />

FÍGADO 47,69% 76,92%<br />

PELE/CELULITE 43,08% 76,92%<br />

GRÁFICO 1- Frequência <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> E. coli em amostras <strong>de</strong> abate<strong>do</strong>uros.<br />

Capa Índice 13471


principais agentes bacterianos da aerossaculite (MINHARRO et al., 2001), sen<strong>do</strong><br />

consi<strong>de</strong>rada pela característica <strong>de</strong> causar infecções respiratórias, um patógeno<br />

relevante, pois contribui para o agravamento <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças (TIVENDALE et al., 2004).<br />

Ressalta-se que na maior parte <strong>do</strong>s casos, os problemas respiratórios<br />

diagnostica<strong>do</strong>s em frangos <strong>de</strong> corte não envolvem apenas um agente. Diversos<br />

patógenos po<strong>de</strong>m estar implica<strong>do</strong>s com as enfermida<strong>de</strong>s respiratórias em frangos,<br />

porém a E. coli participa com frequência <strong>de</strong> tais enfermida<strong>de</strong>s. Os vírus respiratórios,<br />

os imunossupressores, os fungos e as bactérias se relacionam <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> complexo o<br />

que facilita a invasão no trato respiratório pela E. coli (NASCIMENTO, 2000).<br />

Observa-se também no Gráfico 1, os seguintes da<strong>do</strong>s para isola<strong>do</strong>s no coração:<br />

39,23% (51/130) e 73,88% (99/134) respectivamente para órgãos sem lesão e com<br />

pericardite. Para isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong> foram verifica<strong>do</strong>s os seguintes valores: 47,69%<br />

(62/130) e 76,92% (80/104) para órgãos sem lesão e com perihepatite,<br />

respectivamente. Sabe-se que na espécie avícola, as amostras <strong>de</strong> APEC, após a<br />

colonização <strong>do</strong> trato respiratório, entram na circulação sanguínea e <strong>de</strong>terminam uma<br />

síndrome complexa, <strong>de</strong>nominada colibacilose, caracterizada por lesões em múltiplos<br />

órgãos com quadros <strong>de</strong> septicemia, aerossaculite, perihepatite, pericardite,<br />

salpingite, onfalite, celulite, síndrome da cabeça inchada, panoftalmite, artrite,<br />

problemas respiratórios severos e até morte (LAMARCHE et al., 2005).<br />

Acha<strong>do</strong>s patológicos oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stas lesões, representam perdas consi<strong>de</strong>ráveis em<br />

abate<strong>do</strong>uros, principalmente quan<strong>do</strong> a lesão é extensa, já que ocorre a con<strong>de</strong>nação<br />

<strong>de</strong> vísceras e carcaças (BRASIL, 1998b). Alia<strong>do</strong> a isso, aves com colibacilose<br />

po<strong>de</strong>m apresentar menor conformação <strong>de</strong> carcaça, ocasionar uma série <strong>de</strong> falhas<br />

tecnológicas durante o abate, como cortes no trato digestivo, pois os equipamentos<br />

na linha <strong>de</strong> abate não se ajustam ao menor tamanho das carcaças. Este erro<br />

tecnológico leva a um aumento no percentual <strong>de</strong> contaminação fecal das carcaças e,<br />

portanto maior risco <strong>de</strong> contaminação das mesmas por bactérias patogênicas<br />

(RUSSEL, 2003).<br />

Continuan<strong>do</strong> a análise <strong>do</strong> Gráfico 1, observa-se os seguintes da<strong>do</strong>s para isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

pele: 43,08% (56/130) e 76,33% (100/131) respectivamente para amostras sem<br />

lesões e com lesões sugestivas <strong>de</strong> celulite. Nas aves, a celulite po<strong>de</strong> ser provocada<br />

por infecção bacteriana que ocorre através <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> existente na<br />

pele (NORTON, 1997). O frequente isolamento <strong>de</strong> E. coli das lesões <strong>de</strong> celulite<br />

(PEIGHAMBARI et al., 1995) e a posterior reprodução experimental <strong>de</strong>sta patologia<br />

Capa Índice 13472


a partir da inoculação <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> E. coli, comprovam que este microrganismo é<br />

o principal responsável por este tipo <strong>de</strong> lesão (NORTON, 1997; GOMIS et al., 1997).<br />

Estas lesões aparecem em horas ou dias e po<strong>de</strong>m permanecer por semanas até<br />

serem totalmente reabsorvidas (HESS, 2000). Sabe-se também que a presença <strong>de</strong><br />

E. coli nas lesões <strong>de</strong> celulite favorece a contaminação cruzada nas linhas <strong>de</strong><br />

processamento <strong>de</strong> frangos quan<strong>do</strong> estas são expostas (GOMIS et al, 2002).<br />

No Brasil, o primeiro relato <strong>do</strong> envolvimento da E. coli como agente etiológico da<br />

celulite em frangos <strong>de</strong> corte foi realiza<strong>do</strong> por BRITO et al. (2011). Também estu<strong>do</strong>s<br />

subsequentes comprovam a presença <strong>de</strong> E. coli em lesões <strong>de</strong> celulite. VIEIRA et al.<br />

(2006), objetivaram-se verificar a associação <strong>de</strong> celulite com presença <strong>de</strong> E. coli.<br />

Foram colhidas amostras <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> 10 carcaças com suspeita <strong>de</strong> celulite e 10 sem<br />

alterações macroscópicas e na análise bacteriológica foi isolada E. coli em 100%<br />

das lesões <strong>de</strong> celulite.<br />

4.CONCLUSÃO<br />

E. coli esteve presente em maior frequência em to<strong>do</strong>s os órgãos com lesões quan<strong>do</strong><br />

comparada aos sem lesão em amostras coletadas em abate<strong>do</strong>uros, sugerin<strong>do</strong> sua<br />

participação em quadros <strong>de</strong> colibacilose e celulite.<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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11. MOREIRA, H. O. M. Isolamento <strong>de</strong> E. coli áci<strong>do</strong>-resistentes em fezes <strong>de</strong><br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. 60p., 2007.<br />

12. MOULIN-SCHOULEUR, M.; REPERANT, M.; LAURENT, S.; BREE, A.;<br />

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Escherichia coli. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ciência Veterinária. v. 13, n. 3, p.<br />

174-177, 2006.<br />

Capa Índice 13474


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13475 - 13479<br />

Estu<strong>do</strong> da Diversida<strong>de</strong> Haplotípica <strong>de</strong> Marca<strong>do</strong>res STR <strong>do</strong> Cromossomo Y na<br />

População <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás: Implicações no Âmbito Forense e em Testes <strong>de</strong><br />

Paternida<strong>de</strong>.<br />

Thaís Cidália VIEIRA 1,2,3,4 ; Apareci<strong>do</strong> Divino DA CRUZ 1,2,3 ; Marc Alexandre Duarte<br />

GIGONZAC 4 ; Daniela <strong>de</strong> Melo e SILVA 1 ;<br />

1<br />

Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Departamento <strong>de</strong> Biologia Geral, Programa <strong>de</strong> Pós<br />

Graduação em Biologia - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás - <strong>UFG</strong><br />

2<br />

Laboratório <strong>de</strong> Citogenética Humana e Genética Molecular – LaGene/Lacen/SES-GO<br />

3<br />

Núcleo <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s Replicon – Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás - PUC-GO<br />

4 Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Goiás – UEG<br />

thaiscidalia@gmail.com<br />

Palavras-Chave: Cromossomo Y, Haplótipos, Polimorfismo genético.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O estu<strong>do</strong> da composição genética das diferentes populações humanas ocupa<br />

um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na ciência. Neste senti<strong>do</strong>, diversos marca<strong>do</strong>res polimórficos<br />

<strong>de</strong> DNA <strong>de</strong>ram uma nova dimensão aos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> genética a nível<br />

molecular, sen<strong>do</strong> amplamente utiliza<strong>do</strong> em diferentes propósitos, incluin<strong>do</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação individual, mapeamento <strong>de</strong> genes e estu<strong>do</strong>s populacionais.<br />

Recentemente a Commission of the Internacional Society of Forencic Genetics<br />

(ISFG), publicou diversas recomendações a cerca da utilização <strong>de</strong> polimorfismo <strong>de</strong><br />

STRs <strong>do</strong> cromossomo Y (Y-STRs) em i<strong>de</strong>ntificação humana e investigações<br />

criminais. Algumas particularida<strong>de</strong>s apresentadas pelo cromossomo Y, como o fato<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>le não sofrer recombinação e apresentar herança haplotípica,<br />

torna a análise <strong>de</strong> regiões <strong>do</strong> cromossomo Y útil em estu<strong>do</strong> evolutivos, na<br />

i<strong>de</strong>ntificação humana, principalmente em casos <strong>de</strong> violência sexual e exames <strong>de</strong><br />

vínculo genético quan<strong>do</strong> o suposto pai é faleci<strong>do</strong> ou não é encontra<strong>do</strong> (Carvalho et<br />

al., 2008). Devi<strong>do</strong> a estas características peculiares, <strong>de</strong> herança exclusiva paterna e<br />

ausência <strong>de</strong> recombinação, os microssatélites <strong>do</strong> cromossomo Y são analisa<strong>do</strong>s a<br />

partir <strong>de</strong> haplótipos, permitin<strong>do</strong> boas discriminações individuais e populacionais<br />

(Mizuno et al., 2008). De acor<strong>do</strong> com Gratttapaglia, et al., (2005) e Ayaid et al.,<br />

(2007), os STRs <strong>do</strong> cromossomo Y seriam os mais apropria<strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res<br />

Capa Índice 13475


moleculares para estu<strong>do</strong>s evolven<strong>do</strong> a história <strong>de</strong>mográfica e estrutura populacional<br />

humana recente. No Brasil, diversas publicações trataram <strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong><br />

bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s haplotípicas a partir <strong>de</strong> Y-STRs para diversas regiões <strong>do</strong> país, para<br />

fins forenses e <strong>de</strong> genética <strong>de</strong> populções ( Grattapaglia et al., 2005; Góes et al.,<br />

2005; Palha et al., 2006; Pereira et al., 2006). Desta forma, com a caracterização<br />

genética da população goiana é possível observar diretamente os efeitos da<br />

miscigenação entre índios, brancos e negros, na constituição genômica <strong>de</strong>ste<br />

Esta<strong>do</strong> e correlacionar os acha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fluxo gênico envolven<strong>do</strong> estes grupos em<br />

Goiás, com da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s nacionais. Por outro la<strong>do</strong>, os bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

moleculares têm permiti<strong>do</strong> avaliar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vínculo genético entre<br />

indivíduos, necessida<strong>de</strong> na área forense, visto que os parâmetros envolvi<strong>do</strong>s neste<br />

tipo <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das frequências genotípicas observadas em uma<br />

<strong>de</strong>terminada população ou etnia. Desta forma, a utilização das frequências<br />

genotípicas <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outras regiões po<strong>de</strong>ria não ser representativa<br />

para a população goiana, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s os diferentes processos <strong>de</strong> formação<br />

populacional, alteran<strong>do</strong> assim, o grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. O objetivo<br />

<strong>de</strong>sse estu<strong>do</strong> foi caracterizar, em uma amostra populacional <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás, os<br />

diferentes haplótipos <strong>de</strong> 12 microssatélites <strong>do</strong> cromossomo Y, construin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta<br />

forma um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s genético-molecular, ten<strong>do</strong> em vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s referentes a estes marca<strong>do</strong>res no nosso Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua crescente<br />

aplicação em diferentes áreas, entre elas a forense na qual a utilização <strong>de</strong>stes<br />

microssatélites torna-se muitas vezes a única ferramenta disponível para resolução<br />

<strong>de</strong> casos.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Foram selecionadas 243 amostras <strong>de</strong> indivíduos <strong>do</strong> sexo masculino <strong>de</strong> casos<br />

<strong>de</strong> paternida<strong>de</strong> encaminha<strong>do</strong>s pelo Ministério Público <strong>de</strong> Goiás ao LaGene no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2011 a 2012, que não apresentavam grau <strong>de</strong> parentesco, provenientes<br />

das cinco mesorregiões em que foi dividi<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás (Centro Goiano,<br />

Leste Goiano, Norte Goiano, Noroeste Goiano e Sul Goiano). O DNA foi extraí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

amostras <strong>de</strong> sangue utilizan<strong>do</strong> protocolos <strong>de</strong> kits comerciais, seguida da<br />

amplificação <strong>do</strong>s 12 loci <strong>do</strong> cromossomo Y sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>z tetranucleotí<strong>de</strong>os- DYS19,<br />

DYS385a, DYS385b, DYS389I, DYS389II, DYS390, DYS391, DYS393, DYS437,<br />

DYS439, um trinucleotí<strong>de</strong>o- DYS392, e um pentanucleotí<strong>de</strong>o- DYS438, através <strong>do</strong><br />

Capa Índice 13476


PowerPlex® Y System (Applied Biosystems) <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com instruções <strong>do</strong><br />

fabricante. Os produtos da amplificação foram submeti<strong>do</strong>s a análise em<br />

sequencia<strong>do</strong>r automático ABI377 (Applied Biosystems) para obtenção <strong>do</strong>s perfis<br />

alélicos que foram analisa<strong>do</strong>s com a utilização <strong>do</strong> software GeneScan ver. 2.1<br />

(Applied Biosystems). As freqüências alélicas, a diversida<strong>de</strong> gênica <strong>de</strong> cada loco,<br />

assim como da diversida<strong>de</strong> haplotípica e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discriminação para cada<br />

grupo e para a amostra total foram obti<strong>do</strong>s com auxílio <strong>do</strong> programa Arlequin 3.01<br />

(Schnei<strong>de</strong>r, et al., 2000).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s são consistentes com a história <strong>de</strong> miscigenação da<br />

população da região central <strong>do</strong> Brasil, sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s 156 haplótipos distintos. A<br />

distribuição das freqüências alélicas e diversida<strong>de</strong> genética<br />

para cada locus são lista<strong>do</strong>s na Tabela 1. Frequências e diversida<strong>de</strong><br />

alélica/haplotípica foram <strong>de</strong>terminadas, sen<strong>do</strong> que os loci DYS389 II e DYS385I/II<br />

foram os mais informativos com diversida<strong>de</strong> gênica (D) maior que 70% e 80%,<br />

respectivamente, enquanto os loci DYS389I e DYS437 mostraram-se menos<br />

informativos, com (D) inferior a 60%. As baixas frequências haplotípicas encontradas<br />

reforçam a idéia <strong>de</strong> os microssatélites estuda<strong>do</strong>s são importantes ferramentas para<br />

esclarecer tanto questões forenses como <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> parentesco, pois esta<br />

condição maximiza a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is haplótipos toma<strong>do</strong>s ao acaso serem<br />

diferentes. <strong>Pesquisa</strong>s recentes com haplótipos <strong>do</strong> cromossomo Y em diferentes<br />

amostras populacionais <strong>do</strong> Brasil concordam que a população brasileira é resultante<br />

<strong>do</strong> cruzamentos entre diferentes etnias, principalmente <strong>do</strong>s europeus, africanos e<br />

ameríndios (Pereira et al., 2006). Entretanto, nesta mistura racial, genes presentes<br />

no cromossomo Y são quase que exclusivamente <strong>de</strong> origem européia (Regiões<br />

Ibérica, Mediterrâneo e Centro Europeu) enquanto que a análise da variabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

DNA mitocondrial em amostras brasileiras revelaram que cerca <strong>de</strong> 60% da linhagem<br />

maternal são <strong>de</strong> ameríndios e africanos (Carvalho-Silva et al., 2006). Sen<strong>do</strong> assim, o<br />

banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s com frequências alélicas/ haplotípicas permite a caracterização<br />

genética da população <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás e a validação <strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> paternida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> indivíduos na população <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Capa Índice 13477


Tabela 1. Freqüências alélicas e diversida<strong>de</strong> gênica para os 12 loci Y-STR estima<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> uma<br />

amostra <strong>de</strong> 243 goianos.<br />

DYS DYS DYS DYS DYS DYS DYS DYS DYS DYS DYS<br />

Alelos 19 389I 389II 390 391 392 393 437 438 439 385 I/II<br />

7 . . . . 0,0042 . . . . . .<br />

8 . . . . 0,0083 . . . . . .<br />

9 . . 0,0041 . 0,0750 . . . 0,1116 0,0083 0,0042<br />

10 0,0041 . 0,0041 . 0,4333 0,0123 0,0043 . 0,2318 0,0917 0,0105<br />

11 0,0041 . 0,0041 0,0084 0,4375 0,3416 0,1319 . 0,1760 0,3167 0,2416<br />

11.2 . . . . . . . . . . .<br />

12 0,0207 0,1612 . . 0,0208 0,0741 0,5547 0,0082 0,4506 0,4125 0,0861<br />

13 0,1529 0,6240 . 0,0042 0,0042 0,4815 0,2426 0,0288 0,0258 0,1542 0,1050<br />

14 0,5124 0,2066 . . . 0,0700 0,0681 0,3169 0,0043 0,0042 0,3004<br />

15 0,1983 0,0041 . 0,0042 . 0,0165 0,0085 0,5432 . 0,0042 0,1113<br />

16 0,0620 0,0041 . . 0,0042 0,0041 . 0,0988 . . 0,0756<br />

17 0,0372 . . . . . . 0,0041 . 0,0042 0,0336<br />

17.2 . . . . . . . . . 0,0042 .<br />

18 0,0041 . . . . . . . . . 0,0189<br />

19 . . . . . . . . . . 0,0105<br />

20 . . 0,0041 . . . . . . . 0,0021<br />

21 . . . 0,0464 . . . . . . .<br />

22 . . . 0,0675 . . . . . . .<br />

23 . . . 0,2616 . . . . . . .<br />

24 0,0041 . . 0,4895 . . . . . . .<br />

25 . . . 0,1097 . . . . . . .<br />

26 . . 0,0041 . . . . . . . .<br />

27 . . 0,0124 . . . . . . . .<br />

28 . . 0,1203 0,0084 . . . . . . .<br />

29 . . 0,3942 . . . . . . . .<br />

30 . . 0,2946 . 0,0042 . . . . . .<br />

31 . . 0,1120 . 0,0042 . . . . . .<br />

32 . . 0,0373 . 0,0042 . . . . . .<br />

33 . . 0,0041 . . . . . . . .<br />

34 . . 0,0041 . . . . . . . .<br />

D 0,6716 0,5467 0,7293 0,6745 0,6178 0,6446 0,6242 0,5950 0,7044 0,7000 0,8140<br />

*D = Diversida<strong>de</strong> Gênica<br />

CONCLUSÃO<br />

O polimorfismo <strong>do</strong>s microssatélites <strong>do</strong> cromossomo Y representa uma<br />

ferramenta importante para caracterização <strong>de</strong> populações <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista histórico<br />

e evolutivo. Além disso, este amplo conjunto <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s permite a busca <strong>de</strong> haplótipos<br />

encontra<strong>do</strong>s na casuística forense <strong>do</strong> nosso Esta<strong>do</strong> servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> referência na<br />

Capa Índice 13478


elucidação <strong>de</strong> casos criminais, testes <strong>de</strong> paternida<strong>de</strong>, bem como, estu<strong>do</strong>s<br />

populacionais.<br />

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PEREIRA, R. et al. Haplotype diversity of 17 Y-chromosome STRs in Brazilians.<br />

Forensic Sci Int, v.149, n1, p.99-107, 2006.<br />

SCHNEIDER, S. et.al. Arlequin ver. 2.000: A software for population genetics data<br />

analysis. Genetics and Biometry Laboratory, University of Geneva, Switzerland,<br />

2000<br />

Capa Índice 13479


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13480 - 13484<br />

Caracterização morfofisiológica da próstata <strong>de</strong> fêmeas (Nasua nasua,<br />

LINNAEUS 1766)<br />

Thelma Michella SADDI 1 ; Wilia Marta Elsner Die<strong>de</strong>richsen DE BRITO 2 ; Fernanda<br />

Cristina Alcantara DOS SANTOS 3 ; Eugênio Gonçalves DE ARAÚJO 1 ; Flávio <strong>de</strong><br />

Rezen<strong>de</strong> GUIMARÃES 4 , Sebastião Roberto TABOGA 5 ; Manoel Francisco<br />

BIANCARDI 6 , Júlio Roquete CARDOSO 3 .<br />

1<br />

PPG em Ciência Animal, Escola <strong>de</strong> Veterinária e Zootecnia, <strong>UFG</strong><br />

2<br />

Departamento <strong>de</strong> Microbiologia, IPTSP/ <strong>UFG</strong><br />

3<br />

Departamento <strong>de</strong> Morfologia – <strong>UFG</strong><br />

4<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agronomia e Medicina Veterinária, UFMT<br />

5<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia – UNESP, São José <strong>do</strong> Rio Preto/SP<br />

6<br />

Instituto <strong>de</strong> Biologia – UNICAMP, Campinas/SP<br />

En<strong>de</strong>reço eletrônico: thelma.saddi@gmail.com<br />

Palavras-chave: Animais silvestres, Procyonidae, sistema reprodutor, próstata<br />

feminina, morfologia.<br />

Introdução<br />

Os quatis (Nasua nasua, Linnaeus 1766 ) pertencem à família<br />

Procyonidae , à or<strong>de</strong>m Carnivora, à classe Mammalia e ao filo Chordata<br />

(FRANCIOLLI et al, 2007). Onívoros generalistas (SILVEIRA, 1999), possuem<br />

elevada taxa <strong>de</strong> frugivoria e são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s potenciais dispersores <strong>de</strong> sementes<br />

(ALVES-COSTA et al, 2004).<br />

Os quatis ocupam essencialmente habitats florestais (BEISIEGEL, 2001) e<br />

são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os carnívoros sul-americanos mais encontra<strong>do</strong>s nas florestas<br />

<strong>de</strong>ste continente (ALVES-COSTA et al, 2004). No Brasil, o N. nasua ocorre em to<strong>do</strong>s<br />

os biomas (BARROS & FRENEDOZO, 2009).<br />

Apesar da sua importância para a biodiversida<strong>de</strong>, o N. nasua não tem si<strong>do</strong><br />

alvo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s na mesma dimensão. Exemplo disso é a escassez <strong>de</strong> artigos<br />

científicos relaciona<strong>do</strong>s às características morfofisiológicas, inclusive no que diz<br />

respeito ao sistema reprodutor. Essa situação se acentua, quan<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ramos um<br />

Capa Índice 13480<br />

1


estu<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>de</strong> estruturas como a próstata. FRANCIOLLI et al. (2007)<br />

<strong>de</strong>screvem a morfologia <strong>do</strong> sistema genital masculino <strong>do</strong> quati, no entanto, no que<br />

se refere à próstata, ela é <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> forma rápida e superficial, abrin<strong>do</strong> lacunas<br />

para que um estu<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> seja <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>. Com relação ao sistema<br />

urogenital feminino, não há <strong>de</strong>scrição alguma na literatura <strong>do</strong> mesmo, muito menos<br />

com relação à próstata feminina na espécie citada.<br />

A próstata é uma glândula exclusiva <strong>de</strong> mamíferos (SANTOS & TABOGA,<br />

2006) cuja principal função é produzir uma secreção essencial para a maturação <strong>do</strong>s<br />

espermatozói<strong>de</strong>s, contribuin<strong>do</strong> para a manutenção <strong>do</strong> sucesso reprodutivo (PARTIN<br />

& RODRIGUEZ, 2002).<br />

Diversos estu<strong>do</strong>s têm mostra<strong>do</strong> que a próstata não é uma glândula<br />

exclusiva <strong>do</strong> sistema reprodutor masculino, sen<strong>do</strong> também encontrada em fêmeas<br />

<strong>de</strong> diversas espécies, incluin<strong>do</strong> humanos (ZAVIAČIČ, 1999) e roe<strong>do</strong>res (BRAMBELL<br />

& DAVIS, 1940; SANTOS et al., 2006).<br />

O principal foco <strong>de</strong> interesse sobre a próstata feminina resi<strong>de</strong> na sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver lesões severas durante a senescência. Diversos estu<strong>do</strong>s<br />

relatam a ocorrência <strong>de</strong> cânceres <strong>de</strong> uretra, origina<strong>do</strong>s na próstata feminina<br />

(McCLUGGAGE et al., 2006) além <strong>de</strong> outras <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, tais como prostatites e<br />

hiperplasia benigna prostática acometen<strong>do</strong> a próstata feminina com o mesmo grau<br />

<strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong> observa<strong>do</strong> na próstata masculina (ZAVIAČIČ, 1999).<br />

Em estu<strong>do</strong> preliminar recente, realiza<strong>do</strong> por este grupo <strong>de</strong> pesquisa,<br />

comprovou-se a existência <strong>de</strong>ste órgão em fêmeas <strong>de</strong> quatis, a partir <strong>de</strong> fragmentos<br />

colhi<strong>do</strong>s e cortes histológicos realiza<strong>do</strong>s na região proximal e mediana da uretra<br />

feminina.<br />

Dessa forma, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s morfofisiológicos sobre a<br />

maioria <strong>do</strong>s sistemas que compõem o organismo <strong>do</strong> N. nasua bem como a<br />

importância da próstata para ambos os gêneros, objetivou-se com este estu<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>screver as características morfológicas e histofisiológicas da glândula prostática<br />

<strong>de</strong> fêmeas <strong>de</strong> quatis adultos.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s duas fêmeas <strong>de</strong> quatis (Nasua nasua) adultos, cedi<strong>do</strong>s<br />

pelo Instituto Brasileiro <strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renováveis –<br />

Capa Índice 13481<br />

2


IBAMA (nº licença 98/2011), através <strong>do</strong> seu Centro <strong>de</strong> Triagem <strong>de</strong> Animais Silvestres<br />

(CETAS) <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Goiânia. Os animais foram libera<strong>do</strong>s para fins científicos<br />

pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em <strong>Pesquisa</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (protocolo<br />

235/2011).<br />

Após a eutanásia <strong>do</strong>s animais, por meio <strong>de</strong> uma “over<strong>do</strong>se” <strong>de</strong> anestésico<br />

geral injetável, realizada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Resolução nº 714, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2002, <strong>do</strong> Conselho Regional <strong>de</strong> Medicina Veterinária, os animais receberam via<br />

perfusão formalina a 10% para a fixação <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s. Os órgãos foram coleta<strong>do</strong>s,<br />

lava<strong>do</strong>s em água, <strong>de</strong>sidrata<strong>do</strong>s em concentrações crescentes <strong>de</strong> etanol, clarifica<strong>do</strong>s<br />

em xilol e incluí<strong>do</strong>s em Paraplast (Histosec, Merck). Os órgãos foram secciona<strong>do</strong>s a<br />

5m em micrótomo rotativo manual e cora<strong>do</strong>s pelas técnicas histoquímicas<br />

hematoxilina-eosina, para estu<strong>do</strong>s morfológicos gerais da próstata; reticulina <strong>de</strong><br />

Gömöri, para estu<strong>do</strong> das fibras reticulares <strong>do</strong> estroma prostático e pelo áci<strong>do</strong><br />

periódico <strong>de</strong> Schiff (Periodic Acid & Schiff – P.A.S.), para a localização precisa <strong>de</strong><br />

glicoproteínas (BEHMER et al., 1976).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Observou-se que os segmentos proximal e distal da uretra estão conecta<strong>do</strong>s<br />

à vagina, uma vez que estas duas estruturas compartilham a mesma túnica<br />

submucosa e muscular. Na mucosa uretral foram observa<strong>do</strong>s ductos e alvéolos<br />

prostáticos (glândulas parauretrais <strong>de</strong> Skene), bem como gran<strong>de</strong>s canais<br />

vasculares, similares aos corpos esponjosos da uretra masculina. Os ductos<br />

prostáticos se abrem no lúmen uretral e são revesti<strong>do</strong>s por um epitélio<br />

pseu<strong>do</strong>estratifica<strong>do</strong> que secreta um líqui<strong>do</strong> PSA-positivo. O compartimento estromal<br />

é rico em fibras <strong>de</strong> colágeno <strong>do</strong> tipo I e III. A presença incomum <strong>de</strong> corpo esponjoso<br />

na uretra feminina já foi <strong>de</strong>scrita em hienas pintadas (Crocuta crocuta erxleben) e<br />

está relacionada à masculinização <strong>do</strong> trato reprodutivo na fêmea da espécie<br />

(CUNHA et al., 2003). A ocorrência <strong>de</strong> próstata em fêmeas é comum em roe<strong>do</strong>res<br />

(SANTOS et al., 2006) e também em mulheres (ZAVIAČIČ, 1999), mas ainda não<br />

havia si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrita em fêmeas <strong>de</strong> quatis. Várias características morfológicas, tais<br />

como um epitélio pseu<strong>do</strong>estratifica<strong>do</strong> com uma camada contínua <strong>de</strong> células basais e<br />

ramificação ductal limitada às camadas mucosa e submucosa, <strong>de</strong>monstram elevada<br />

similarida<strong>de</strong> com as glândulas da próstata feminina humana.<br />

Capa Índice 13482<br />

3


Conclusões<br />

Este estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>screve pela primeira vez a estrutura histológica da uretra e<br />

vagina <strong>de</strong> fêmeas adultas <strong>do</strong> quati. A presença <strong>de</strong> ductos e alvéolos prostáticos,<br />

homólogos a próstata feminina humana, na mucosa uretral das fêmeas <strong>de</strong> quati<br />

po<strong>de</strong> representar um passo importante para uma maior compreensão <strong>do</strong> papel<br />

evolutivo <strong>de</strong>sta glândula para o processo reprodutivo <strong>de</strong>ssa espécie.<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. ALVES-COSTA, C.P.; FONSECA, G.A.B.; CHRISTOFARO, C. Variation in the diet<br />

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Mammalogy, v.85, n.3, p. 478-482, 2004.<br />

2. BARROS, D.; FRENEDOZO, R. C. Uso <strong>do</strong> habitat, estrutura social e aspectos<br />

básicos da etologia <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> quatis (Nasua nasua, Linnaeus, 1766)<br />

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<strong>do</strong> Brasil. 2009, p. 1-4.<br />

3. BEISIEGEL, B.M. Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an<br />

Atlantic Forest area. Brazilian Journal of Biology, v. 61, n. 4, p.689-692, 2001.<br />

4. BEHMER, O.A.; TOLOSA, E.M.C; NETO, A.G.F. Manual <strong>de</strong> práticas para<br />

histologia normal e patológica. 1976. EDART-EDUSP, SP. 329p.<br />

5. BRAMBELL, F.W.R.; DAVIS, D.H.S. The normal occurrence structure and<br />

homology of prostate glands in adult female Mastomys erythroleucus temm. Journal<br />

of Anatomy, v.75, p.64-75, 1940.<br />

6. CUNHA, G.R.; WANG, Y; PLACE, N.J.; LIU, W; BASKIN, L.; GLICKMAN, S.E.<br />

Urogenital System of the Spotted Hyena (Crocuta crocuta Erxleben): A Functional<br />

Histological Study. Journal of Morphology, 256: 205–218, 2003.<br />

7. FRANCIOLLI, A.L.R.; COSTA, G.M.; MANÇANARES, C.A.F.; MARTINS, D.S.;<br />

AMBRÓSIO,C.E.; MIGLINO,M.A.; CARVALHO, A.F. Morfologia <strong>do</strong>s órgãos genitais<br />

masculinos <strong>de</strong> quati (Nasua nasua, Linnaeus 1766). Biotemas, v. 20, n.1, p. 27-36,<br />

2007.<br />

8. MCCLUGGAGE, W.G.; GANESAN, R.; HIRSCHOWITZ, L.; MILLER, K.;<br />

ROLLASON, T.P. Ectopic prostatic tissue in the uterine cervix and vagina: report of a<br />

Capa Índice 13483<br />

4


series with a <strong>de</strong>tailed immunohistochemical analysis. American Journal Surgenery<br />

Pathology, v.30, n.2, p.209-215, 2006.<br />

9. PARTIN, A.W.; RODRIGUEZ, R. The molecular biology, en<strong>do</strong>crinology, and<br />

physiology of the prostate and seminal vesicles. In WALSH, P.C.; RETIK, A.B.; WEIN,<br />

A.W.; VAUGH, E. (eds.) Campbell’s urology. 2002, p. 1238-40.<br />

10. SANTOS, F.C.A.; LEITE, R.P.; CUSTÓDIO, A.M.G.; CARVALHO, K.P.;<br />

MONTEIRO-LEAL, L.H.; SANTOS, A.B.; GÓES, R.M.; CARVALHO, H.F.; TABOGA,<br />

S.R. Testosterone stimulates growth and secretory activity of the adult female<br />

prostate of the gerbil (Meriones unguiculatus). Biology of Reproduction, v.75,<br />

p.370-379, 2006.<br />

11. SANTOS, F.C.A.; TABOGA, S.R. Female prostate: a review about the<br />

biological repercussions of this gland in humans and ro<strong>de</strong>nts. Animal Reproduction,<br />

v.3, n.1, p.3-18, 2006.<br />

12. SILVEIRA, L. Ecologia e conservação <strong>do</strong>s mamíferos carnívoros <strong>do</strong><br />

Parque Nacional das Emas, Goiás. 1999. 125 f. Dissertação (mestra<strong>do</strong> em<br />

Ciências Biológicas) - Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás, Goiânia.<br />

13. ZAVIAČIČ, M. The Female Prostate: From vestigial Skene’s parauretral<br />

glands and ducts to woman’s functional prostate. 1.ed. Bratislava, Slovakia:<br />

Slovack Aca<strong>de</strong>mic Press, 1999. 171p.<br />

Financiamento: CNPq (processo 473626/2010-1).<br />

Capa Índice 13484<br />

5


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13485 - 13489<br />

Título: Max Weber e a teoria <strong>do</strong> conhecimento histórico.<br />

Autor: Ulisses DO VALLE; Luiz Sérgio Duarte DA SILVA<br />

Unida<strong>de</strong> Acadêmica: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> História – <strong>UFG</strong> (www.historia.ufg.br)<br />

Palavras-Chave: Max Weber, Alfred Schutz, Talcott Parsons, Habermas,<br />

Cultura, História, Linguagem, Mudança histórica, Conceito, Tipo-i<strong>de</strong>al,<br />

Causalida<strong>de</strong> histórica, Explicação Causal Histórica, Imputação Causal<br />

Histórica.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Este trabalho se <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a graduação e toma como objeto <strong>de</strong><br />

análise hermenêutica da obra <strong>de</strong> Max Weber (1964 – 1920), bem como da<br />

tradição intelectual que se segue a ela. Por isso, também são toma<strong>do</strong>s como<br />

objeto <strong>de</strong> análise o mo<strong>do</strong> como as idéias <strong>de</strong> Weber foram recebidas em alguns<br />

círculos intelectuais liga<strong>do</strong>s à teoria das ciências humanas. Neste caso, os<br />

principais autores analisa<strong>do</strong>s são Alfred Schutz (1899 – 1959), Talcott Parsons<br />

(1902 – 1979) e Jürgen Habermas (1929 - ). Estes últimos não são<br />

analisa<strong>do</strong>s em sua integralida<strong>de</strong>, mas apenas quanto aos elementos que os<br />

vinculam à linhagem clássica das ciências humanas inaugurada por Max<br />

Weber.<br />

Este trabalho interpretativo tem como finalida<strong>de</strong> a sistematização das<br />

idéias <strong>de</strong> Max Weber à luz <strong>de</strong> sua relevância para uma teoria <strong>do</strong> conhecimento<br />

histórico. Exatamente por isso, empreen<strong>de</strong>-se uma leitura <strong>de</strong> sua obra que a<br />

situa fora das referências ostensivas <strong>do</strong> texto weberiano à época <strong>de</strong> sua<br />

produção, para situá-la no contexto <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> atual da teoria da história: isso é<br />

feito a partir <strong>do</strong> contraponto da obra <strong>de</strong> Weber a quatro problemas gerais que<br />

atingem a teoria <strong>do</strong> conhecimento histórico nos dias atuais. São eles: a) o<br />

Capa Índice 13485


problema da estase <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> cultura, b) o problema <strong>do</strong> sujeito da<br />

mudança histórica, c) o problema da formação <strong>de</strong> conceitos em história e d) o<br />

problema da causalida<strong>de</strong> histórica e da explicação causal em história.<br />

a) O problema coloca<strong>do</strong> pelo conceito <strong>de</strong> cultura consiste numa das<br />

pressuposições mais gerais que dizem respeito a uma disciplina com<br />

pretensões científicas: a fundamentação <strong>de</strong> um campo específico <strong>de</strong><br />

objetos. Neste caso, problematiza-se a cultura como um conceito<br />

categorial das ciências humanas que, como tal, <strong>de</strong>lineia to<strong>do</strong> o<br />

campo objetivo ao qual se dirige as proposições e os juízos causais<br />

constituí<strong>do</strong> no âmbito disciplinar das ciências humanas, e por isso,<br />

também da história.<br />

b) O segun<strong>do</strong> problema diz respeito à questão da mudança histórica.<br />

Qual a maneira e os critérios <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s pelo historia<strong>do</strong>r<br />

para conferir um significa<strong>do</strong> causal a <strong>de</strong>terminadas partes da<br />

realida<strong>de</strong> empírica no que refere à mudança <strong>de</strong> outras partes? Em<br />

que senti<strong>do</strong> po<strong>de</strong>-se dizer, em história, que <strong>de</strong>terminadas partes da<br />

realida<strong>de</strong> empírica está influencian<strong>do</strong> causalmente a ocorrência<br />

particular <strong>de</strong> outras partes? Qual o papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pela ação<br />

humana neste processo? Seria ela o ponto original <strong>de</strong> toda mudança<br />

histórica e, por isso, perpetra<strong>do</strong>ra e participante ativa <strong>do</strong>s processos<br />

<strong>de</strong> mudança cultura? Ou, ao contrário, a ação humana sofreria<br />

passivamente essas mudanças e <strong>de</strong>las não participaria <strong>de</strong> maneira<br />

criativa?<br />

c) O problema da formação <strong>de</strong> conceitos em história é, antes <strong>de</strong> mais<br />

nada, um problema relativo à teoria <strong>do</strong> conhecimento. Uma vez que a<br />

disciplina da história toma como objeto os contextos particulares <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>, como constituir um conceito a respeito <strong>de</strong><br />

objetos <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m, ten<strong>do</strong> em vista que um conceito expressa<br />

relações gerais entre as coisas particulares?<br />

d) O problema da causalida<strong>de</strong> histórica e da explicação causal em<br />

história <strong>de</strong>riva <strong>do</strong>s problemas prece<strong>de</strong>ntes. Como assegurar à<br />

disciplina da história um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> explicação causal ten<strong>do</strong> em vista<br />

Capa Índice 13486


que ela versa sobre a reconstrução <strong>de</strong> contextos singulares <strong>de</strong><br />

senti<strong>do</strong> que, como tais, são individuais e irrepetíveis?<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Os materiais utiliza<strong>do</strong>s para a realização <strong>de</strong>ste trabalho são <strong>de</strong> natureza<br />

exclusivamente bibliográfica. O méto<strong>do</strong>, por conseguinte, caracteriza-se por<br />

técnicas <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> artefatos literários, sumarizadas como<br />

hermenêutica.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Como resulta<strong>do</strong>s, essa pesquisa já produziu uma monografia <strong>de</strong><br />

conclusão <strong>de</strong> curso, uma dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>, alguns artigos publica<strong>do</strong>s<br />

em periódicos especializa<strong>do</strong>s, e uma tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em andamento e em<br />

vias finais <strong>de</strong> produção. Dentre estes trabalhos, <strong>de</strong>staca-se a dissertação<br />

intitulada “Senti<strong>do</strong> e Causalida<strong>de</strong>: preâmbulos <strong>de</strong> uma teoria da história<br />

weberiana”, <strong>de</strong>fendida em 2010 no programa <strong>de</strong> pós-graduação em história da<br />

<strong>UFG</strong>, e o artigo intitula<strong>do</strong> “Diagnóstico <strong>de</strong> um mal-estar historiográfico: os<br />

problemas <strong>do</strong> conhecimento analítico-discursivo”, publica<strong>do</strong> em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

2011 pela revista Crítica Histórica, vinculada ao <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> história da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas (www.revista.ufal.br/criticahistorica). Além<br />

disso, po<strong>de</strong>ria-se citar, ainda, outros trabalhos que foram apresenta<strong>do</strong>s em<br />

congressos científicos especializa<strong>do</strong>s.<br />

C0NCLUSÕES<br />

A maior parte <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> investigação e interpretação já foi realizada,<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o trabalho se encontra agora em fase <strong>de</strong> sistematização da<br />

Capa Índice 13487


exposição escrita. O texto final, que contará com cinco capítulos, já conta com<br />

quatro escritos, sen<strong>do</strong> que o quinto e último <strong>de</strong>sses capítulos se encontra ainda<br />

em processo <strong>de</strong> redação. A expectativa é que as quatro teses sustentadas no<br />

trabalho contribuam para a teoria <strong>do</strong> conhecimento histórico, sobretu<strong>do</strong> no que<br />

diz respeito à reunião sistemática das idéias presentes na tradição weberiana<br />

<strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> sua relação com o tema da História. O trabalho já conta<br />

com mais <strong>de</strong> 350 páginas escritas, e a<strong>do</strong>tará, ao final, a forma <strong>de</strong> um livro<br />

especializa<strong>do</strong> no tema <strong>de</strong> teoria da história.<br />

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS<br />

BENDIX, Reinhard. Max Weber: an intellectual portrait. Gar<strong>de</strong>n City: Anchor<br />

Books, 1962.<br />

HABERMAS, Jürgen. Teoria <strong>de</strong> la Acción Comunicativa I. Madrid: Taurus,<br />

1997.<br />

HABERMAS, Jürgen. Teoría <strong>de</strong> la Acción Comunicativa: complementos y<br />

estudios previos. Madrid: Cátedra, 1984.<br />

HONIGSHEIM, Paul. The Unknown Max Weber. Londres: Transacion<br />

Publishers, 2003.<br />

KOSHUL, Basit Bilal. The Postmo<strong>de</strong>rn Significance of Max Weber’s Legacy.<br />

New York: Palgrave Macmillan, 2005.<br />

LÖWITH, Karl. Max Weber y Karl Marx. Gedisa Editorial: Barcelona, 2007.<br />

PARSONS, Talcott. La estructura <strong>de</strong> la accion social. Vol. 1 y 2. Madrid:<br />

Ediciones Guadarrama, 1968.<br />

RINGER, Fritz. A Meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> Max Weber: a Unificação das Ciências<br />

Culturais e Sociais. Sãp Paulo: Edusp, 2004.<br />

SCHUTZ, Alfred. El problema <strong>de</strong> la realidad social. Buenos Aires: Amorrortu<br />

editores, 1962.<br />

Capa Índice 13488


SCHUTZ, Alfred. Fenomenología <strong>de</strong>l Mun<strong>do</strong> Social: Introducción a la sociología<br />

comprensiva. Buenos Aires: Editorial Pai<strong>do</strong>s, 1966.<br />

SCHUTZ, Alfred. Fenomenologia e relações sociais. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar<br />

Editores, 1979.<br />

WEBER, Max. Economia e Socieda<strong>de</strong>, vol. I e II. Brasília: UnB, 2004.<br />

WEBER, Max. Meto<strong>do</strong>logia das Ciências Sociais, vol. I e II. São Paulo:<br />

Unicamp, 2001.<br />

WEBER, Max. Rejeições Religiosas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> e suas direções. In.: Max<br />

Weber, Os Pensa<strong>do</strong>res. São Paulo: Abril Cultural, 1985.<br />

Capa Índice 13489


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13490 - 13494<br />

Análise da prevalência <strong>de</strong> sarcopenia em i<strong>do</strong>sos segun<strong>do</strong> parâmetros <strong>de</strong><br />

massa e força muscular.<br />

PAGOTTO; SILVEIRA, .<br />

Unida<strong>de</strong> acadêmica: <br />

<br />

En<strong>de</strong>reço eletrônico:<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

INTRODUÇÃO<br />

<br />

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<br />

<br />

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Capa Índice 13490


METODOLOGIA<br />

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<br />

Capa Índice 13491


Cód. Medida<br />

Ponto <strong>de</strong> corte<br />

Homens Mulheres<br />

Referencia<br />

A <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

B <br />

C<br />

<br />

D<br />

<br />

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<br />

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<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

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<br />

<br />

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<br />

<br />

<br />

<br />

Capa Índice 13492


Prevalência <strong>de</strong> sarcopenia<br />

Méto<strong>do</strong>s Amostra<br />

Homens Mulheres <br />

% (IC95%)<br />

% (IC95%)<br />

% (IC95%)<br />

<br />

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<br />

Tabela 2. Prevalência e Razão <strong>de</strong> Prevalência da sarcopenia conforme faixa etária por parâmetros <strong>de</strong><br />

massa e massa+forca muscular em i<strong>do</strong>sos da comunida<strong>de</strong> Goiânia,Goiás, 2009 (n=133).<br />

Prevalência <strong>de</strong> sarcopenia<br />

Méto<strong>do</strong>s 60-69 anos % 70-79 anos ≥ 80 anos% <br />

(IC95%)<br />

% (IC95%)<br />

(IC95%)<br />

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<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

CONCLUSÕES<br />

Capa Índice 13493


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

American Physiological Society<br />

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Capa Índice 13494


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13495 - 13499<br />

O CONCEITO DE ARQUITETURA PERFORMÁTICA A PARTIR DA PERSPECTIVA<br />

DA ARTE, TECNOLOGIA E DO UNHEIMLICH.<br />

Palavras-chave: História, arquitetura, performance.<br />

Valquíria Guimarães DUARTE<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em História<br />

valgd44@hotmail.com<br />

Esse texto tem como objetivo apresentar a idéia <strong>de</strong> Arquitetura Performáticas, como<br />

base <strong>de</strong> análise e compreensão das gran<strong>de</strong>s arquiteturas contemporâneas. O conceito será<br />

analisa<strong>do</strong> à luz <strong>de</strong> três aspectos principais: o primeiro busca o conceito <strong>de</strong> estranhamente<br />

familiar <strong>de</strong> Freud (Unheimlich), o segun<strong>do</strong> a partir da relação entre o edifício e a tecnologia e<br />

o terceiro analisa a arquitetura enquanto arte.<br />

A Arquitetura Performática se <strong>de</strong>fine por possuir uma excepcionalida<strong>de</strong> em<br />

oposição à arquitetura seriada, é performática porque guarda a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

suscitar uma relação marcante com o indivíduo e com a cida<strong>de</strong>; e seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

comunicação termina por transformá-la em símbolo <strong>do</strong> lugar. A presença cada vez<br />

mais frequente <strong>de</strong> edifícios performáticos nas cida<strong>de</strong>s contemporâneas confirma o<br />

interesse <strong>do</strong> sujeito em vivenciar espaços fora <strong>do</strong> comum. A arquitetura performática<br />

se <strong>de</strong>fine em relação à realida<strong>de</strong> e à fantasia, nela o real e o irreal se imbricam e<br />

<strong>de</strong>ixam transparecer um índice <strong>de</strong> algo inadmissível, a territorialização <strong>do</strong><br />

Unheimlich (o estranhamente familiar). Há uma singularida<strong>de</strong> em sua aparência, na<br />

qual o misterioso salta à vista e ativa nossos sistemas referenciais sobre o mun<strong>do</strong>,<br />

suscitan<strong>do</strong> a incerteza e o estranhamento. Fuão (1999) comenta a natureza<br />

particular da arquitetura fantástica, uma das características constituinte da<br />

arquitetura performática:<br />

“É a singularida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>staca sobre a base <strong>de</strong> “normalida<strong>de</strong>” ou <strong>do</strong><br />

padrão que assinala a presença da distinção. Para que o fantástico se<br />

manifeste, é necessário, essa base <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>, que é dada pela<br />

repetição, pela imitação e pela inviolabilida<strong>de</strong> formal (Fuão, 1999, p.3)<br />

O conceito <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, em oposição à fantasia, pressupõe a existência da<br />

continuida<strong>de</strong>, da linearida<strong>de</strong>. A fantasia não significa rejeitar essa realida<strong>de</strong>, mas<br />

Capa Índice 13495


eafirmá-la através <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da inversão, da hesitação entre o sonho imagina<strong>do</strong> e<br />

o sonho construí<strong>do</strong>. Freud comenta:<br />

“[...] Fantasia é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar novas imagens, <strong>de</strong> apresentar o nãovisto,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigurá-las, <strong>de</strong> transformá-las, <strong>de</strong> fabricar imagens. Fantasiar<br />

não é só convocar imagens quan<strong>do</strong> os objetos não estão diante <strong>do</strong>s olhos,<br />

mas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar e <strong>de</strong> compor essas imagens a fim <strong>de</strong> imaginálas<br />

maiores, mais estranhas, ou mais belas <strong>do</strong> que os olhos ou <strong>do</strong> que o seu<br />

corpo po<strong>de</strong>m ver ou sentir. Os edifícios, ao encarnarem os <strong>de</strong>sejos e os<br />

sonhos, funcionavam como realida<strong>de</strong>s, como novos objetos” (Freud apud<br />

Fuão, 1999, p. 8).<br />

O passa<strong>do</strong>, o presente e o futuro se imbricam na Arquitetura Performática, e<br />

são governa<strong>do</strong>s pela economia <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo. Como afirma Fuão, “o <strong>de</strong>sejo, para<br />

realizar suas fantasias, se aproveita <strong>de</strong> uma ocasião <strong>do</strong> presente para construir,<br />

segun<strong>do</strong> mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, um quadro <strong>do</strong> futuro” (Fuão, 1999, p.8). Nos edifícios<br />

incomuns a fantasia tem como objetivo corrigir uma realida<strong>de</strong> insatisfatória, visto que<br />

indicam vetores <strong>de</strong> realização. Por isso as arquiteturas prospectivas e visionárias<br />

(utópicas) - aquelas que nunca foram construídas, ou que estão construídas e<br />

trazem em si um índice <strong>de</strong> pré-visão -, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas performáticas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> importa lembrar as fantasias <strong>de</strong> Gaudi, Bruno Taut e Hans Luckhardt,<br />

que, se não foram realizadas por algum motivo no início <strong>do</strong> século XX, são<br />

atualizadas e realizadas através <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> outros arquitetos <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século<br />

XX, em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da tecnologia. São obras performáticas<br />

porque apresentam um coeficiente <strong>de</strong> futuro. Po<strong>de</strong>-se também exemplificar<br />

arquitetura performática, mais recentemente, com as i<strong>de</strong>ias das arquiteturas<br />

oblíquas <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong> Parent e Paul Virílio, que são concretizadas nos pavilhões <strong>de</strong><br />

Kas Oosterhuis e Lars Spuybroek, em Neettje Jans e no Museu Judaico <strong>de</strong> Berlim,<br />

<strong>de</strong> David Libeskind. Por outro la<strong>do</strong>, uma arquitetura performática po<strong>de</strong> acumular<br />

acontecimentos históricos sem, no entanto, sugerir o novo. Os fantasmas surgem<br />

para <strong>de</strong>monstrar que o novo po<strong>de</strong> ser povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong> antigo (e <strong>do</strong> arcaico), como<br />

sugere a Staatsgalerie <strong>de</strong> Sttutgart (1977-84), <strong>de</strong> James Stirling, um edifício pósmo<strong>de</strong>rno<br />

<strong>de</strong> abordagem colagística.<br />

Problematizar a Arquitetura Performática contemporânea exige um conceito<br />

específico <strong>de</strong> contemporâneo, que se dá a partir <strong>de</strong> uma relação intempestiva <strong>do</strong><br />

objeto com o tempo. Para Agamben (2010) ser contemporâneo é olhar a<br />

contemporaneida<strong>de</strong> dissociada <strong>do</strong> tempo presente: "Pertence verda<strong>de</strong>iramente ao<br />

Capa Índice 13496


seu tempo, é verda<strong>de</strong>iramente contemporâneo àquele que não coinci<strong>de</strong><br />

perfeitamente com este, nem está a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> às suas pretensões" (AGAMBEN,<br />

2010, p. 58). Os edifícios que coinci<strong>de</strong>m plenamente com sua época, os que a<br />

a<strong>de</strong>rem perfeitamente, não são contemporâneos porque não conseguem manter fixo<br />

o olhar sobre ela. Estar na moda, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, não é ser contemporâneo (muito<br />

menos performático) porque o kairós da moda é inapreensível, é fugaz. A condição<br />

para ser contemporâneo é estar numa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconexão com o seu tempo e<br />

perceber o próprio tempo histórico através <strong>de</strong> um <strong>de</strong>slocamento, “neutralizan<strong>do</strong> as<br />

luzes que provém da época para <strong>de</strong>scobrir as suas trevas, o seu escuro especial,<br />

que não é, no entanto, separável daquelas luzes” (Agamben, 2010, p.63) 1 .<br />

O segun<strong>do</strong> aspecto da Arquitetura Performática é sua ligação com a<br />

tecnologia. Como visto anteriormente na Techno Performance, os dispositivos<br />

(Agamben) estão cada vez mais presentes nos edifícios contemporâneos. Nos<br />

edifícios performáticos, as tecnologias antecipam tendências, além <strong>de</strong> apontarem um<br />

futuro para a arquitetura seriada. As experiências com novos materiais, técnicas<br />

construtivas e equipamentos eletro-eletrônicos são aspectos constituintes da<br />

arquitetura performática. A tecnologia contribui para a criação <strong>de</strong> espaços cada vez<br />

mais planeja<strong>do</strong>s como evento, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que há uma disposição à arquitetura<br />

performativa, aquela que possibilita a interação. As arquiteturas performáticas são<br />

cada produzidas como experimentos que possibilitam experiências e subjetivações.<br />

Os equipamentos eletrônicos têm contribuí<strong>do</strong> para situações <strong>de</strong> interação com o<br />

especta<strong>do</strong>r, como no caso <strong>do</strong> pavilhão <strong>de</strong> Neettje Jans e no Centro <strong>de</strong> Arte e<br />

1 Para Agamben (2010) contemporâneo – ou intempestivo – é um conceito resultante da relação <strong>do</strong> “autor com<br />

seu tempo” e <strong>do</strong> “edifício com seu tempo”. Mas qual seria a medida razoável para se investigar essa<br />

contemporaneida<strong>de</strong>? É na percepção, “no mais mo<strong>de</strong>rno e recente, <strong>do</strong>s índices e assinaturas <strong>do</strong> arcaico”<br />

(AGAMBEN, 2010). Isto é possível porque o arcaico é o que está mais próximo da arké, isto é, da origem, e essa<br />

origem é contemporânea ao <strong>de</strong>vir histórico porque não cessa <strong>de</strong> operar neste (AGAMBEN, 2010, p. 69). O tempo<br />

da obra, para ser contemporânea, <strong>de</strong>ve se i<strong>de</strong>ntificar com um tempo primordial, e este só po<strong>de</strong> ser vivi<strong>do</strong> no<br />

presente pelo escuro <strong>do</strong> tempo, que lança sua luz sobre o passa<strong>do</strong>. É necessário buscar a arché <strong>do</strong>s tempos<br />

para produzir, assim, uma contemporaneida<strong>de</strong>. Deste mo<strong>do</strong> se estabelece uma relação fundamental entre o<br />

presente e o passa<strong>do</strong>: a relação em termos <strong>de</strong> origem, já que essa origem em nenhum ponto pulsa com mais<br />

força <strong>do</strong> que no tempo presente.O mun<strong>do</strong> antigo sempre se volta ao presente para se reencontrar: “Os<br />

historia<strong>do</strong>res da literatura e da arte sabem que entre o arcaico e o mo<strong>de</strong>rno há um compromisso secreto, e não<br />

tanto porque as formas mais arcaicas parecem exercer sobre o presente um fascínio particular quanto porque a<br />

chave <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno está contida no imemorial e no pré-histórico”. (AGAMBEN, 2010, p. 70). É nesse senti<strong>do</strong> que<br />

Agamben assinala que a arte mo<strong>de</strong>rna não po<strong>de</strong> ser compreendida como uma novida<strong>de</strong> absoluta, nem como um<br />

retorno às fontes (ao arcaico). As obras tem sua própria historicida<strong>de</strong>, que não se relaciona com a história vista<br />

como progresso, em contraste com a arte <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. A forma <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r o contemporâneo se dá por<br />

meio <strong>de</strong> uma arqueologia que não volta a um passa<strong>do</strong> remoto, mas a “tu<strong>do</strong> que no presente não po<strong>de</strong>mos em<br />

nenhum caso viver e, restan<strong>do</strong> não vivi<strong>do</strong>, é incessantemente relança<strong>do</strong> para a origem, sem jamais po<strong>de</strong>r<br />

alcançá-la” (Agamben, 2010, p.70). Ou seja, ao arcaico.<br />

Capa Índice 13497


Tecnologia <strong>de</strong> Karlruhe, <strong>de</strong> Rem Koollhas. O que é lança<strong>do</strong> como expografia<br />

interativa é uma previsão <strong>do</strong> que será estendi<strong>do</strong> ao habitat seria<strong>do</strong> <strong>do</strong> futuro. A<br />

<strong>de</strong>signação espaço-evento <strong>de</strong> Sperling (2006) chama atenção para um fenômeno<br />

resultante da relação da tecnologia com a arquitetura (esse assunto também<br />

interessa à síntese da artes – arte midial x arquitetura). O autor se posiciona<br />

criticamente frente à mudança <strong>do</strong>s espaços arquitetônicos em contraposição à<br />

fixi<strong>de</strong>z que historicamente caracteriza o espaço expositivo e o habitat. Da ampliação<br />

<strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> produção para os recursos digitais, que tem marca<strong>do</strong> a arte e a própria<br />

arquitetura, emerge o homem-interactor, aquele que substitui a relação humana pela<br />

relação com a máquina, estabelecen<strong>do</strong> uma relação <strong>de</strong> intransitivida<strong>de</strong>, que se<br />

revela como um fim em si mesmo e controla os meios <strong>de</strong> subjetivação. Esse<br />

fenômeno significa uma crise teleológica das relações transitivas no mun<strong>do</strong><br />

contemporâneo, e a arquitetura <strong>de</strong>ve ser palco <strong>de</strong> eventos-ruptura, e não eventos-<br />

performance, nos quais há uma programação <strong>de</strong> ação e reação, ou seja, uma ação<br />

passiva. O evento como “choque”,<br />

“promove a excitação da epi<strong>de</strong>rme, <strong>de</strong>svian<strong>do</strong> estrategicamente da<br />

consciência, atinge em cheio o imaginário e converte-se em mero<br />

entretenimento. I<strong>de</strong>ntificamos o segun<strong>do</strong> com o que não po<strong>de</strong> ser<br />

programa<strong>do</strong>, apenas induzi<strong>do</strong>; com o totalmente imprevisto, o<br />

in<strong>de</strong>cidível, a ação ativa (ação com ação) na qual está implicada não<br />

apenas a crítica interna às linguagens da arte e da arquitetura, mas a<br />

ação política, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> política a partir <strong>de</strong> Badiou, como a prática<br />

<strong>do</strong> possível, como movimento não previsto e não regula<strong>do</strong> pelo po<strong>de</strong>r<br />

<strong>do</strong>minante e que rompe com a repetição coletiva e social. Segun<strong>do</strong><br />

Badiou, um evento é intrinsecamente político, pois que<br />

necessariamente cria um espaço e um tempo distinto <strong>do</strong>s <strong>do</strong>minantes<br />

(Sperling, 2006, p.459).<br />

Os dispositivos <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s “interativos” <strong>de</strong>vem ser pensa<strong>do</strong>s não em sua<br />

previsibilida<strong>de</strong> ou em sua (im)previsibilida<strong>de</strong> regulada, e sim para uma emulação da<br />

(im)previsibilidae. Deste mo<strong>do</strong> funda-se uma arquitetura crítica e política.<br />

Dentro <strong>do</strong> tema da tecnologia, se encontram os aspectos construtivos e novos<br />

materiais: as experiências realizadas nos edifícios performáticos (poética e<br />

construtiva) são exemplares para a popularização e extensão à arquitetura comum,<br />

como por exemplo, sistemas <strong>de</strong> manutenção predial que visam à economia <strong>de</strong><br />

energia.<br />

Capa Índice 13498


Finalmente, o aspecto relativo à arte: as Arquiteturas Performáticas<br />

concretizam plenamente uma Gesamtkunstwerk contemporânea. Essas “não-<br />

exatamente-arquiteturas”, em sua linguagem contaminada, revelam uma<br />

transmutação conceitual que se direciona à síntese. Muitas vezes, a hibridização da<br />

linguagem <strong>do</strong> edifício <strong>de</strong>monstra que a arquitetura é um exemplo para a arte que<br />

reivindica a cida<strong>de</strong>. É na análise da poética, da localização e <strong>do</strong>s dispositivos<br />

espaciais e tecnológicos que se observa o diálogo da arquitetura com as<br />

categorias artísticas <strong>do</strong> Site Specific, Land Art, Arte Multimídia, Performance, além<br />

da Escultura Mo<strong>de</strong>rna. A presença da escultura mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>monstra uma<br />

continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pressupostos conceituais propugna<strong>do</strong>s no mo<strong>de</strong>rnismo. São os<br />

chama<strong>do</strong>s edifícios esculturais.<br />

O conceito <strong>de</strong> Arquitetura Performática tem como objetivo enriquecer a<br />

análise das arquiteturas excepcionais e analisar até que ponto elas po<strong>de</strong>m ser<br />

consi<strong>de</strong>radas “Arquiteturas Arte”.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

FUÃO, Fernan<strong>do</strong> Freitas. O Fantástico na arquitetura. Porto Alegre: Editora da<br />

UFRGS/Ritter <strong>do</strong>s Reis, 1999.<br />

SPERLING, David. Event: Architecture and Art in the Era of Mediatized Experience. 2006.<br />

Disponível em: http://cuminca<strong>de</strong>s.scix.net/data/works/att/sigradi2006_p008e.content.pdf.<br />

Acesso: 08.05.2010.<br />

DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el Tiempo. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2000.<br />

____________________________. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34,<br />

1998.<br />

DUARTE, Valquíria G.; NORONHA, Márcio Pizarro. Performance e arquitetura: uma<br />

transmutação conceitual a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> edifício da Fundação Iberê Camargo, <strong>de</strong><br />

Álvaro Siza. In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> II <strong>Congresso</strong> Internacional <strong>de</strong> História da <strong>UFG</strong> <strong>de</strong> Jataí. Jataí,<br />

2011.<br />

DUARTE, Valquíria Guimarães. A relação entre Arquitetura e a História e Teoria<br />

Interartes. Mimeo.<br />

Capa Índice 13499


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13500 - 13504<br />

O mal-estar e bem-estar <strong>do</strong>cente e suas implicações com os senti<strong>do</strong>s<br />

subjetivos <strong>de</strong> professores aposenta<strong>do</strong>s no contexto da educação superior 1<br />

Van<strong>de</strong>rleida Rosa <strong>de</strong> Freitas e QUEIROZ (PPGE/FE/<strong>UFG</strong>)<br />

van<strong>de</strong>rleida@gmail.com<br />

Ruth Catarina Cerqueira Ribeiro <strong>de</strong> SOUZA (PPGE/FE/<strong>UFG</strong>) - orienta<strong>do</strong>ra<br />

ruthcatarina@gmail.com<br />

Palavras-chave: mal-estar e bem-estar <strong>do</strong>cente; professor aposenta<strong>do</strong>; senti<strong>do</strong>s<br />

Subjetivos<br />

Estamos conceben<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> nosso objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> na trama <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

temas implica<strong>do</strong>s: o mal-estar e bem-estar <strong>do</strong>cente e os senti<strong>do</strong>s subjetivos <strong>do</strong><br />

professor universitário aposenta<strong>do</strong>.<br />

O mal-estar <strong>do</strong>cente é um fenômeno social cuja expressão “emprega-se para<br />

<strong>de</strong>screver os efeitos permanentes <strong>de</strong> caráter negativo, que afetam a personalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> professor como resulta<strong>do</strong> das condições psicológicas e sociais em que exerce a<br />

<strong>do</strong>cência, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à mudança social acelerada” (ESTEVE, 1999, p. 98) 2 . O fenômeno<br />

constitui interesse para a área <strong>de</strong> educação, uma vez que este tem si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>,<br />

em estu<strong>do</strong>s que vêm tratan<strong>do</strong> o tema, como fator <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ecimento <strong>de</strong> professores e,<br />

entre outras coisas, <strong>de</strong> obstáculo para o ingresso <strong>de</strong> novas gerações na profissão<br />

<strong>do</strong>cente e permanência <strong>do</strong>s que já se encontram nela.<br />

Mais recentemente, o interesse tem-se volta<strong>do</strong> para o bem-estar <strong>do</strong>cente,<br />

fenômeno que também se manifesta na <strong>do</strong>cência em que se consi<strong>de</strong>ram os<br />

aspectos positivos <strong>do</strong> ser e estar <strong>do</strong>cente e que, muitas vezes, <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser<br />

percebi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ênfase que se tem da<strong>do</strong> ao mal-estar <strong>do</strong>cente (JESUS, 2007). O<br />

tratamento <strong>do</strong> tema em conjunto se faz pela compreensão, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva dialética, <strong>de</strong> que toda proprieda<strong>de</strong> tem a potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

transformar em seu contrário (TRIVIÑOS, 2009, p. 53). Dessa maneira, mal-estar e<br />

bem-estar <strong>do</strong>cente constituem uma unida<strong>de</strong> complexa e contraditória pela própria<br />

natureza social <strong>do</strong> fenômeno.<br />

Isto posto, propomos esta pesquisa, com o objetivo <strong>de</strong> produzir, a partir <strong>do</strong>s<br />

senti<strong>do</strong>s subjetivos construí<strong>do</strong>s por professores universitários aposenta<strong>do</strong>s, novas<br />

1 O presente projeto se vincula à linha <strong>de</strong> pesquisa “Formação, Profissionalização <strong>do</strong>cente e Práticas<br />

educativas” <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da <strong>UFG</strong>.<br />

2 Esteve (1999), autor espanhol <strong>de</strong> referência para as pesquisas sobre o tema produzidas em Portugal e no<br />

Brasil, i<strong>de</strong>ntifica os fatores <strong>de</strong> mudança que têm impacta<strong>do</strong> o sistema escolar espanhol e que po<strong>de</strong>m ser<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s também no Brasil: aumento das exigências em relação ao professor; inibição educativa <strong>de</strong> outros<br />

agentes <strong>de</strong> socialização; <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informação alternativas à escola; ruptura <strong>do</strong> consenso<br />

social sobre a educação; aumento das contradições no exercício da <strong>do</strong>cência; mudança <strong>de</strong> expectativas em<br />

relação ao sistema educativo; modificação <strong>do</strong> apoio da socieda<strong>de</strong> ao sistema educativo, menos valorização<br />

social <strong>do</strong> professor; mudança <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares; escassez <strong>de</strong> recursos materiais e <strong>de</strong>ficientes<br />

condições <strong>de</strong> trabalho; mudanças nas relações professor-aluno; fragmentação <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> professor.<br />

Capa Índice 13500


inteligibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mal-estar e bem-estar <strong>do</strong>cente e da própria <strong>do</strong>cência e construir<br />

hipóteses para o enfrentamento da realida<strong>de</strong> em que se produzem tais senti<strong>do</strong>s e a<br />

prática <strong>do</strong>cente.<br />

Partimos <strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> que algumas condições relacionadas aos<br />

múltiplos aspectos <strong>do</strong> trabalho na <strong>do</strong>cência (tais como a profissionalização e as<br />

práticas sociais envolvidas) 3 , propiciam a constituição não só <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s subjetivos<br />

como da própria <strong>do</strong>cência tal como se configura em <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong>. O malestar<br />

e o bem-estar <strong>do</strong>cente se apresentam aí tanto como experiências constituintes<br />

<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s como constituídas por estas. Assim é que os senti<strong>do</strong>s subjetivos,<br />

sen<strong>do</strong> produtos e produtores da subjetivida<strong>de</strong> social, não somente refletem<br />

<strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong>, mas também, trazem consigo a potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transformá-la. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> assim: que condições são estas que produzem o malestar<br />

e o bem-estar <strong>do</strong>cente, com que estão implica<strong>do</strong>s os professores, e que<br />

senti<strong>do</strong>s subjetivos propiciam construir? Como os senti<strong>do</strong>s subjetivos po<strong>de</strong>m intervir<br />

na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a construir novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ser e estar na <strong>do</strong>cência?<br />

O problema formula<strong>do</strong> exige a explicitação <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> subjetivo, a<br />

fim <strong>de</strong> situá-lo no campo epistemológico a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> e <strong>de</strong> justificar a escolha <strong>do</strong>s<br />

professores universitários aposenta<strong>do</strong>s como fonte privilegiada <strong>de</strong> construção da<br />

informação. Estamos compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> subjetivo a partir das<br />

formulações <strong>de</strong> González Rey (2012) para referir-se a uma concepção históricosocial<br />

<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>. Em suas palavras, o senti<strong>do</strong> subjetivo é “[...] a unida<strong>de</strong><br />

inseparável <strong>do</strong>s processos simbólicos e as emoções em um mesmo sistema, na qual<br />

a presença <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sses elementos evoca o outro, sem que seja absorvi<strong>do</strong> pelo<br />

outro” (p. 20). Complementa, ainda, que esta categoria (senti<strong>do</strong> subjetivo) explica o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da emocionalida<strong>de</strong> como resulta<strong>do</strong> da convergência e<br />

confrontação <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> senti<strong>do</strong><br />

constituí<strong>do</strong>s na subjetivida<strong>de</strong> individual como expressão da história<br />

<strong>do</strong> sujeito e <strong>de</strong> outros aspectos que aparecem por meio <strong>de</strong> suas<br />

ações concretas no processo <strong>de</strong> suas distintas ativida<strong>de</strong>s. Assim, o<br />

conceito <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> subjetivo fundamenta uma concepção históricosocial<br />

<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, a qual rompe com qualquer reminiscência <strong>de</strong><br />

mentalismo ou subjetivismo (p. 21).<br />

Tal subjetivida<strong>de</strong> é compreendida como “um sistema complexo capaz <strong>de</strong><br />

expressar através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s subjetivos a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos objetivos da<br />

vida social que concorrem em sua formação” (GONZÁLEZ REY, 2012, p. 19). Para<br />

este autor, ainda:<br />

3 A profissionalização compreen<strong>de</strong> aspectos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ação coletiva e<br />

sindicalização como elementos constitutivos da profissão <strong>do</strong>cente. As práticas sociais referidas à profissão<br />

<strong>do</strong>cente envolvem o trabalho <strong>do</strong> professor, as condições objetivas institucionais e legais que põem em ação<br />

diversos mecanismos <strong>de</strong> regulação com interferências diretas no trabalho <strong>do</strong>cente.<br />

Capa Índice 13501


A inclusão <strong>do</strong> tema da subjetivida<strong>de</strong> cria, <strong>de</strong> fato, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estudar, <strong>de</strong> forma inseparável, a socieda<strong>de</strong> e os indivíduos que a<br />

compõem, em quem aparecem os senti<strong>do</strong>s subjetivos que nos levam<br />

a aspectos <strong>do</strong> funcionamento social que se manteriam ocultos às<br />

variáveis padronizadas que frequentemente são usadas no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

social. As implicações subjetivas <strong>do</strong> funcionamento social e as<br />

formas <strong>de</strong> organização da subjetivida<strong>de</strong> social requerem estudar o<br />

sujeito individual como necessida<strong>de</strong> meto<strong>do</strong>lógica (2012, p. 27).<br />

Com esta citação, explicitamos a opção por estudar o fenômeno <strong>do</strong> mal-estar<br />

e bem-estar <strong>do</strong>cente a partir <strong>do</strong> sujeito individual, o professor universitário<br />

aposenta<strong>do</strong> 4 . Constitui necessida<strong>de</strong> meto<strong>do</strong>lógica na perspectiva aqui assumida,<br />

pois compreen<strong>de</strong>mos que “O estu<strong>do</strong> da subjetivida<strong>de</strong>, sempre e em cada um <strong>do</strong>s<br />

cenários em que é produzida, estará nos informan<strong>do</strong>, simultaneamente, sobre os<br />

sujeitos e sobre a subjetivida<strong>de</strong> social 5 em seus mais diversos espaços”<br />

(GONZÁLEZ REY, 2012, p. 28).<br />

Empreen<strong>de</strong>mos esta pesquisa, fundamentan<strong>do</strong>-a nos pressupostos teóricometo<strong>do</strong>lógicos<br />

da Epistemologia Qualitativa proposta por González Rey, segun<strong>do</strong> a<br />

qual,<br />

O conhecimento é um processo <strong>de</strong> construção que encontra sua<br />

legitimida<strong>de</strong> na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir, permanentemente, novas<br />

construções no curso da confrontação <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong><br />

pesquisa<strong>do</strong>r com a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventos empíricos coexistentes<br />

no processo investigativo (GONZÁLEZ REY, 2012, p. 7).<br />

Compreen<strong>de</strong>r o conhecimento <strong>de</strong>sta perspectiva é assumi-lo,<br />

fundamentalmente, como <strong>de</strong> caráter subjetivo. É assumi-lo, também, como parcial e<br />

sempre limita<strong>do</strong> por nossas próprias práticas, no caso, <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Para<strong>do</strong>xalmente, são essas práticas que nos permitem novas construções e avançar<br />

no que González Rey (2012) <strong>de</strong>nomina “novas zonas <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>” 6 . Logo, o<br />

4 O fato <strong>de</strong> se escolher o professor aposenta<strong>do</strong> tem a ver com nosso próprio senti<strong>do</strong> subjetivo sobre este<br />

professor, que se vê obriga<strong>do</strong> ao silêncio com a aposenta<strong>do</strong>ria, em muitos casos, no momento mais lúci<strong>do</strong> e<br />

maduro <strong>de</strong> sua atuação. Pensamos o professor aposenta<strong>do</strong> como aquele que construiu ao longo <strong>de</strong> sua<br />

trajetória <strong>de</strong> vida saberes que não per<strong>de</strong>m a valida<strong>de</strong> e que constituem um patrimônio social relevante para a<br />

construção <strong>de</strong> novos saberes. Não somente estes saberes têm si<strong>do</strong> <strong>de</strong>sperdiça<strong>do</strong>s como ele próprio tem assim<br />

si<strong>do</strong>, por conta das representações que, via <strong>de</strong> regra, pesam sobre ele, relegan<strong>do</strong>-o à condição <strong>de</strong> resíduo<br />

in<strong>de</strong>sejável nas folhas <strong>de</strong> pagamento das instituições. Boaventura Santos (2000), com sua Sociologia das<br />

Ausências, é quem nos inspira a trazer para a cena o professor aposenta<strong>do</strong>.<br />

5 “A subjetivida<strong>de</strong> está constituída tanto no sujeito individual, como nos diferentes espaços sociais em que<br />

este vive, sen<strong>do</strong> ambos constituintes da subjetivida<strong>de</strong>. O caráter relacional e institucional da vida humana implica<br />

a configuração subjetiva não apenas <strong>do</strong> sujeito e <strong>de</strong> seus diversos momentos interativos, mas também <strong>do</strong>s<br />

espaços sociais em que essas relações são produzidas. Os diferentes espaços <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> concreta<br />

estão estreitamente relaciona<strong>do</strong>s entre si e em suas implicações subjetivas. É esse nível <strong>de</strong> organização da<br />

subjetivida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>nominamos subjetivida<strong>de</strong> social” (GONZÁLEZ REY, 2012, p.24).<br />

6 Estes são <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s por González Rey como “aqueles espaços <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> que se produzem na<br />

pesquisa científica e não esgotam a questão que significam, senão que pelo contrário, abrem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

seguir aprofundan<strong>do</strong> um campo <strong>de</strong> construção teórica” (2012, p. 6).<br />

Capa Índice 13502


conhecimento da realida<strong>de</strong> implica o pesquisa<strong>do</strong>r (sua subjetivida<strong>de</strong>) e os meios que<br />

utiliza para construir a informação e o conhecimento.<br />

A realida<strong>de</strong> é concebida, nesta perspectiva, não como algo da<strong>do</strong>, <strong>de</strong><br />

contornos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s e limita<strong>do</strong>s, que se po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r e ser explicada <strong>de</strong> forma<br />

completa e <strong>de</strong>finitiva por uma concepção exclusiva <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Também ela não é<br />

algo que se opõe ao sujeito, senão que é sua produção e sua produtora, mediada e<br />

media<strong>do</strong>ra. Sua apreensão implica, pois, o sujeito, e esta será sempre limitada,<br />

incompleta. Ela é “algo a interpretar, [...] feita daquilo que se po<strong>de</strong> chamar<br />

‘interpretan<strong>do</strong>’” (ATLAN apud GONZÁLEZ REY, 2012, p. 6). Conforme explicita<br />

González Rey (2012, p. 9), a realida<strong>de</strong> é complexa, sen<strong>do</strong>, por isso e por meio <strong>de</strong><br />

nossas práticas científicas, suscetível “[...] <strong>de</strong> multiplicar-se em várias formas <strong>de</strong><br />

inteligibilida<strong>de</strong> as quais, embora nos permitam visualizar a realida<strong>de</strong>, o fazem <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> limita<strong>do</strong> por causa <strong>do</strong>s próprios meios que usamos”.<br />

Isto nos remete aos princípios gerais <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>s pela Epistemologia<br />

Qualitativa, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o caráter construtivo interpretativo <strong>do</strong> conhecimento (o que<br />

implica reconhecer que o conhecimento será sempre uma elaboração <strong>do</strong> sujeito que<br />

pesquisa, como uma interpretação da realida<strong>de</strong>), a legitimação <strong>do</strong> singular como<br />

instância <strong>de</strong> produção <strong>do</strong> conhecimento científico (daí porque consi<strong>de</strong>rarmos os<br />

sujeitos <strong>de</strong>sta pesquisa como necessida<strong>de</strong> meto<strong>do</strong>lógica) e a compreensão <strong>de</strong><br />

pesquisa como um processo <strong>de</strong> comunicação, um processo dialógico.<br />

Este último princípio nos aponta os caminhos da pesquisa em termos <strong>do</strong>s<br />

meios <strong>de</strong> construção da informação e <strong>do</strong>s informantes. Quanto a estes, optamos por<br />

selecionar professores aposenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> educação superior com<br />

experiência em diferentes áreas <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong>cente. Assim, serão professores que<br />

ensinaram em cursos diferentes, porque supomos que a realida<strong>de</strong> vivida por tais<br />

<strong>do</strong>centes diferencia-se em aspectos como os <strong>de</strong> contexto <strong>de</strong> trabalho, os da<br />

profissionalização e práticas sociais vinculadas. Isto influenciaria a construção <strong>de</strong><br />

senti<strong>do</strong>s subjetivos diferentes e esclarece<strong>do</strong>res <strong>do</strong> fenômeno mal-estar e bem-estar<br />

<strong>do</strong>cente na complexida<strong>de</strong> em que ele se manifesta.<br />

A construção da informação dar-se-á por meio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is instrumentos,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o caráter dialógico da pesquisa na perspectiva aqui assumida: 1) o<br />

memorial <strong>do</strong> professor, produzi<strong>do</strong> para alguma finalida<strong>de</strong> em sua carreira, com sua<br />

autorização <strong>de</strong> uso nesta pesquisa; 2) a “conversação”, compreendida como uma<br />

dinâmica que “toma diversas formas e que é responsável pela produção <strong>de</strong> um<br />

teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> informação o qual implique, com naturalida<strong>de</strong> e autenticida<strong>de</strong>, os<br />

participantes” (GONZÁLEZ REY, 2012, p. 45, itálico no original).<br />

Capa Índice 13503


Não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> falar <strong>do</strong>s informantes <strong>do</strong> “tipo teórico”, os autores 7<br />

que mediarão nossa compreensão e abordagem <strong>do</strong>/ao problema, com vistas à<br />

elaboração da análise. Esta consistirá no trabalho <strong>de</strong> interpretação que <strong>de</strong>verá<br />

oferecer uma resposta teórica ao problema formula<strong>do</strong>, não se separan<strong>do</strong> aqui o<br />

momento <strong>do</strong> teórico e <strong>do</strong> empírico, nem na investigação nem na exposição. E, neste<br />

senti<strong>do</strong>, já estamos transitan<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>is campos. Coerente com a opção<br />

meto<strong>do</strong>lógica a<strong>do</strong>tada, “o empírico é inseparável <strong>do</strong> teórico, é um momento <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e organização; inclusive, a informação da realida<strong>de</strong> que entra em<br />

contradição com o teórico e que permite sua extensão e crescimento é, por sua vez,<br />

sensível ao registro teórico, pois a teoria o permite” (i<strong>de</strong>m, p. 31). Ainda, porque,<br />

conforme assinala González Rey (2012, p. 32), o senti<strong>do</strong> das respostas das pessoas<br />

aparece “disperso na produção total da pessoa”, necessitan<strong>do</strong><br />

da interpretação e <strong>de</strong> nossas construções para produzir<br />

inteligibilida<strong>de</strong> sobre ele. É precisamente por intermédio <strong>de</strong>ssa<br />

característica que o meto<strong>do</strong>lógico se torna necessariamente teórico,<br />

pois nenhuma manifestação parcial <strong>do</strong> sujeito reflete <strong>de</strong> forma direta<br />

e linear o senti<strong>do</strong> subjetivo, o qual é sempre construí<strong>do</strong>.<br />

A aproximação quanto ao méto<strong>do</strong> que a Epistemologia Qualitativa nos<br />

permite realizar leva-nos, ainda que não exclusivamente, à ancoragem nos<br />

pressupostos <strong>do</strong> materialismo histórico dialético. Assinalamos a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

categorias como totalida<strong>de</strong>, contradição e mediação como concepções fundamentais<br />

na abordagem ao objeto, o que nos exige consi<strong>de</strong>rar seu caráter histórico e<br />

“práxico”. E, como tal, prenhe <strong>de</strong> elementos transforma<strong>do</strong>res. O objeto que a<br />

pesquisa <strong>de</strong>svelará haverá <strong>de</strong>, em consi<strong>de</strong>ração a estas categorias, ser pensa<strong>do</strong><br />

como síntese <strong>de</strong> suas múltiplas <strong>de</strong>terminações concretas.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ESTEVE, JOSÉ M. Mudanças Sociais e Função Docente. In: NÓVOA, António.<br />

(org.). Profissão Professor. 2ª Ed. Porto-Portugal: Porto Editora, 1999.<br />

SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. A crítica da razão in<strong>do</strong>lente: contra o <strong>de</strong>sperdício<br />

da experiência. Porto: Afrontamento, 2000.<br />

GONZÁLEZ REY, Fernan<strong>do</strong>. <strong>Pesquisa</strong> Qualitativa e Subjetivida<strong>de</strong>: os processos<br />

<strong>de</strong> construção da informação. São Paulo: Cengage Learning, 2012.<br />

JESUS, Saul Neves. Professor sem stress: realização profissional e bem-estar<br />

<strong>do</strong>cente. Porto Alegre: Mediação, 2007.<br />

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa<br />

qualitativa em educação. 18ª reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009.<br />

7 Pela exiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço, <strong>de</strong>ixaremos <strong>de</strong> mencioná-los. Mas informamos que temos busca<strong>do</strong> autores que<br />

se têm <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenômeno <strong>do</strong> mal-estar e bem-estar <strong>do</strong>cente na perspectiva <strong>de</strong> uma teoria crítica.<br />

Capa Índice 13504


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13505 - 13509<br />

Título: Conhecimento matemático, mo<strong>de</strong>rnização agrícola no médio norte<br />

goiano e a feira como estratégia <strong>de</strong> sobrevivência <strong>do</strong> pequeno produtor rural.<br />

Autores: Vânia L. MACHADO<br />

Dr. Jadir <strong>de</strong> Morais PESSOA<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Educação<br />

Vanimac1@gmail.com<br />

Palavras chave: educação, pequeno produtor rural, feira <strong>do</strong> produtor,<br />

conhecimento matemático.<br />

RESUMO EXPANDIDO<br />

Estamos viven<strong>do</strong> um momento na educação e na socieda<strong>de</strong> em<br />

que os meios <strong>de</strong> captar informação encontram nas comunicações e na<br />

tecnologia instrumentos <strong>de</strong> alcance nunca antes imagináveis. Estes mesmos<br />

meios proporcionam a interação entre as pessoas, possibilitan<strong>do</strong> a<br />

comunicação entre culturas distintas, entre o campo e os centros urbanos. O<br />

campo é industrializa<strong>do</strong> e urbaniza<strong>do</strong>. A tecnificação e maquinização no campo<br />

obrigam a migração <strong>de</strong> famílias e grupos rurais para os centros urbanos. Essas<br />

mudanças no mun<strong>do</strong> rural expressam o industrialismo e o urbanismo, vistos<br />

como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, padrões e valores socioculturais, provocan<strong>do</strong>, assim, a<br />

re<strong>de</strong>finição ou até a dissolução <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> agrário.<br />

Segun<strong>do</strong> Graziano (1996, p. 43), para enten<strong>de</strong>r o que se passa<br />

atualmente na agricultura brasileira, é preciso consi<strong>de</strong>rar que “Séculos <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong> agrária-tradicional <strong>de</strong>smoronaram num curto espaço <strong>de</strong> tempo,<br />

enquanto a mo<strong>de</strong>rnização tecnológica revolucionava a forma <strong>de</strong> produção no<br />

campo”.<br />

Assim, reduziu-se, ou parece reduzir a contradição cida<strong>de</strong>-campo,<br />

o que caracteriza a vitória <strong>de</strong>finitiva da cida<strong>de</strong> sobre o campo, ou ainda, que o<br />

mun<strong>do</strong> agrário <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser o que era até meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX: um motor<br />

<strong>de</strong>cisivo da história <strong>de</strong>ste país.<br />

Em um mun<strong>do</strong> no qual a economia é globalizada, há um gran<strong>de</strong><br />

processo <strong>de</strong> reestruturação da produção e uma difusão da agricultura científica<br />

e <strong>do</strong> agronegócio que ocorre <strong>de</strong> forma extremamente exclu<strong>de</strong>nte, acentuan<strong>do</strong><br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e territoriais. O latifúndio per<strong>de</strong>u o controle na<br />

dinâmica da agricultura e agora a vez é da empresa rural, atrelada a um forte<br />

Capa Índice 13505


agrobusiness. A pequena produção tradicional ficou subjugada a essa lógica<br />

produtiva, sobreviven<strong>do</strong> à sua margem.<br />

Com a expansão <strong>do</strong> agronegócio, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> produção agropecuária na versão globalizada, as relações <strong>de</strong> trabalho vêm<br />

sen<strong>do</strong> transformadas. Desse mo<strong>do</strong>, a mudança <strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> produção é<br />

acompanhada por mudanças <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> trabalho agrícola adapta<strong>do</strong> em<br />

mol<strong>de</strong>s capitalistas. A presença <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r assalaria<strong>do</strong> temporário ou não é<br />

cada vez mais uma realida<strong>de</strong>. A proletarização <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r rural é talvez um<br />

<strong>do</strong>s fatos mais marcantes da intensificação <strong>do</strong> capitalismo no campo.<br />

Tu<strong>do</strong> isso representa também mudanças nas diversas formas <strong>de</strong><br />

se pensar e se relacionar com o cotidiano, com seu objeto <strong>de</strong> trabalho, com as<br />

formas <strong>de</strong> gerar renda e se colocar no universo rural. É esta nova or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização <strong>do</strong> campo e da economia que serve <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> da<br />

pesquisa aqui projetada.<br />

A situação vivida pelos pequenos agricultores no Vale <strong>do</strong> São<br />

Patrício reflete bem as condições que vivem a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> campo.Coexistem <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res rurais. O<br />

assalaria<strong>do</strong> rural, que trabalha, principalmente, nas usinas <strong>de</strong> alcool e açucar e<br />

mora na periferia das cida<strong>de</strong>s e o Pequeno Produtor Rural, que resistiu à<br />

pressão exercida pelo processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização agrícola, e permaneceu na<br />

terra. Estes agricultores quase sempre se encontram <strong>de</strong>sprepara<strong>do</strong>s<br />

tecnicamente para competir no merca<strong>do</strong> agrícola. Entretanto muitos <strong>de</strong>les<br />

conseguem superar estes limites e se <strong>de</strong>stacam como pequenos produtores.<br />

Aproximar <strong>de</strong>sse sujeito <strong>do</strong> campo, que <strong>de</strong> produtor <strong>de</strong><br />

subsistência se vê obriga<strong>do</strong> a se tornar um “empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r”, enxergar as<br />

práticas que por eles são a<strong>do</strong>tadas para dar conta <strong>do</strong> seu próprio negócio,<br />

produzir além <strong>do</strong> seu consumo, acumular capital ou simplesmente conseguir<br />

inserir-se no merca<strong>do</strong> atual é ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer novas aplicações<br />

<strong>do</strong> conhecimento, neste caso especifico, da Matemática.<br />

Aprofundar nosso conhecimento nessa realida<strong>de</strong> justifica este<br />

trabalho, uma vez que seus fazeres po<strong>de</strong>m traduzir mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r e<br />

ensinar, vivências e saberes produzi<strong>do</strong>s nas relações com a comunida<strong>de</strong>,<br />

Capa Índice 13506


cultura e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecidas até por muitos daqueles que se sentem<br />

comprometi<strong>do</strong>s com a educação.<br />

Material e Méto<strong>do</strong><br />

A<strong>do</strong>taremos neste trabalho o conceito <strong>de</strong> campo segun<strong>do</strong><br />

Bourdieu. Enten<strong>de</strong>mos a mo<strong>de</strong>rnização agrícola como um campo especifico.É<br />

um espaço com estrutura própria, on<strong>de</strong> ocorrem as relações entre os<br />

indivíduos, grupos e estruturas sociais. Possui princípios e leis, que regulam a<br />

relação entre os agentes sociais <strong>do</strong> campo, anima<strong>do</strong>s sempre pelas disputas<br />

ocorridas no seu interior. Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção alterou as relações,<br />

familiares, comunitárias e religiosas. O campo da mo<strong>de</strong>rnização agrícola impõe<br />

novos habitus.<br />

Ao buscar estudar trabalha<strong>do</strong>res rurais, quan<strong>do</strong> lidam com<br />

questões pertinentes ao conhecimento Matemático, sobretu<strong>do</strong> no que se refere<br />

à compra e venda, atribuin<strong>do</strong> valores aos produtos gera<strong>do</strong>s naquela<br />

comunida<strong>de</strong>, no miú<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia a dia, confere-se a esse estu<strong>do</strong> um caráter<br />

etnográfico. A pesquisa empírica, prevista para este estu<strong>do</strong>, a<strong>do</strong>tará<br />

procedimentos e méto<strong>do</strong>s compatíveis com as técnicas da etnografia, tais<br />

como observação direta, diário <strong>de</strong> campo, histórias <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>poimentos<br />

pessoais. A pesquisa etnográfica é utilizada na educação para <strong>de</strong>svendar o<br />

que está por trás da rotina <strong>do</strong>s ambientes, que, por compor o cotidiano, é<br />

imperceptível para os sujeitos que <strong>de</strong>le participam.<br />

Dentro <strong>do</strong> universo <strong>do</strong> Pequeno produtor Rural, optou-se por<br />

avaliar as práticas <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> comercialização, <strong>do</strong>s<br />

produtores que participam da Feira <strong>do</strong> Produtor em Ceres. Algumas questões<br />

foram levantadas, tais como: a feira alterou o histórico <strong>de</strong> projetos mal<br />

sucedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> agricultor familiar? Instituições como a EMATER, órgão estadual<br />

volta<strong>do</strong> á assistência técnica e o SENAR, volta<strong>do</strong> á capacitações no campo,<br />

colocam-se como parceiros para ajudar no processo tanto <strong>de</strong> produção, quanto<br />

<strong>de</strong> comercialização. Na região, o Instituto Fe<strong>de</strong>ral Goiano procura formar<br />

profissionais na área agrícola e oferece cursos aos pequenos produtores.<br />

Como resulta<strong>do</strong> da atuação <strong>de</strong>stes agentes forma<strong>do</strong>res, qual é a gran<strong>de</strong><br />

função social da educação?<br />

Capa Índice 13507


Com o intuito <strong>de</strong> conhecermos melhor o Pequeno Produtor Rural,<br />

com o qual trabalhamos, suas qualida<strong>de</strong>s e limitações no contexto da<br />

mo<strong>de</strong>rnização agrícola, buscamos em Max Weber, a base teórica e<br />

meto<strong>do</strong>lógica <strong>do</strong> “tipo i<strong>de</strong>al”.<br />

O tipo i<strong>de</strong>al, nada tem <strong>de</strong> exemplar, nem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver ser, muito menos é<br />

uma hipótese, embora possa apontar caminhos para a sua formulação. Ele não<br />

interessa como fim em si mesmo, mas como um mo<strong>de</strong>lo, como um meio <strong>de</strong><br />

conhecimento em relação ao qual se analisa a realida<strong>de</strong>. Isto é, o pesquisa<strong>do</strong>r<br />

cria um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> interpretação (o tipo i<strong>de</strong>al), para que ele sirva <strong>de</strong> fio<br />

condutor para observar o real. “Ele proce<strong>de</strong>rá, a partir daí, a uma comparação<br />

entre o seu mo<strong>de</strong>lo e a dinâmica da realida<strong>de</strong> empírica que examina.”<br />

(BARBOSA, QUINTANEIRO, 2011, p. 113)<br />

Resulta<strong>do</strong> e discussão<br />

A pesquisa <strong>de</strong> campo foi encerrada no final <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2012. Uma análise parcial <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s já sinaliza mudanças<br />

importantes no campo da mo<strong>de</strong>rnização agrícola. A influência <strong>do</strong> urbano<br />

cresceu ainda mais. O estereótipo <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o que vem da cida<strong>de</strong> é melhor,<br />

ganha-se mais e trabalha-se menos está presente em diversas falas.A feira<br />

cumpre um papel importantíssimo na vida <strong>do</strong> pequeno produtor rural<br />

pesquisa<strong>do</strong>. De um la<strong>do</strong> aten<strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong> econômica e por outro<br />

cumpre uma função social <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Dia <strong>de</strong> feira é também dia <strong>de</strong> festa, dia<br />

<strong>de</strong> alegria, <strong>de</strong> rever amigos, fazer novos amigos, ir a cida<strong>de</strong>, fazer compras,<br />

realcionar-se com o universo urbano. A mo<strong>de</strong>rnização agrícola ocorre<br />

vinculada à várias transformações tanto da economia quanto das relações<br />

sociais. Modifica as intervenções na terra com novas técnicas e insumos, mas,<br />

sobretu<strong>do</strong> modifica posturas diante da permanência na terra. É frequente a<br />

postura <strong>do</strong>s pais, apoian<strong>do</strong> a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong>s filhos <strong>de</strong> não permanecerem no<br />

campo. Consi<strong>de</strong>ram uma <strong>de</strong>cisão sabia, pois acreditam que os centros urbanos<br />

oferecem uma vida melhor.<br />

Conclusão<br />

O que po<strong>de</strong>mos enxergar se invertermos a or<strong>de</strong>m. Em lugar <strong>de</strong><br />

olhar as práticas populares a partir da matemática, olhar a matemática a partir<br />

Capa Índice 13508


das práticas populares? O presente trabalho preten<strong>de</strong> percorrer este caminho,<br />

proposto pela etnomatemática. Aproximar <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais e<br />

compreen<strong>de</strong>r como lidam com a matemática no seu fazer diário é abrir a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir posturas, crença e verda<strong>de</strong>s já consagradas nessa<br />

área <strong>do</strong> conhecimento. Contribuirá na reflexão político pedagógica da<br />

educação no campo, partin<strong>do</strong> das experiências, práticas e <strong>do</strong> conhecimento<br />

matemático utiliza<strong>do</strong> pelos agricultores. Esta pesquisa apenas por registrar e<br />

mostrar formas matemáticas <strong>de</strong> lidar com a vida, será uma contribuição para<br />

educa<strong>do</strong>res que consi<strong>de</strong>ram a educação no campo como especificida<strong>de</strong>s a<br />

serem consi<strong>de</strong>radas.<br />

No campo da mo<strong>de</strong>rnização agrícola será possível pensar os<br />

agentes <strong>de</strong> formação, que se relacionam com objetivos semelhantes em<br />

relação aos atores sociais. Talvez o interesse imediato, que mais aproxima<br />

estas agências seja o interesse <strong>de</strong> consolidar práticas que caracterizam o<br />

processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização agrícola no médio norte goiano.<br />

Referências bibliográficas<br />

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva,<br />

2009.<br />

_____. Sociologia. In: ORTIZ Renato. São Paulo: Olho D’água, 2003.<br />

GRAZIANO, Francisco. Qual Reforma Agrária? Terra, Pobreza e Cidadania.<br />

São Paulo: Geração editorial, 1996.<br />

KNIJNIK, Gelsa. Exclusão e resistência: Educação Matemática e legitimida<strong>de</strong><br />

cultural. Porto Alegre: Arte Médicas, 1996.<br />

ORTIZ Renato (org.). A sociologia <strong>de</strong> Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho d’Água,<br />

2003.<br />

PESSOA, Jadir <strong>de</strong> Morais. A Revanche Camponesa, Goiânia-GO: Editora da<br />

<strong>UFG</strong>, 1999.<br />

QUITANEIRO, Tania, BARBOSA, Maria Ligia <strong>de</strong>, OLIVEIRA, Márcia Gardênia<br />

Monteiro <strong>de</strong>. Um toque <strong>de</strong> clássicos. Marx/ Durkheim /Weber. Belo Horizonte,<br />

editora UFMG, 2009<br />

Capa Índice 13509


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13510 - 13514<br />

ATIVIDADE IMUNOMODULADORA DO SUPLEMENTO ALIMENTAR Promun<br />

Dog® NA RESPOSTA DA PROTEINA C REATIVA EM CADELAS COM<br />

NEOPLASIA MAMÁRIA MALIGNA SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIA<br />

Resulta<strong>do</strong>s Parciais<br />

Vilma Ferreira <strong>de</strong> OLIVEIRA 1 ; Maria Clorinda Soares FIORAVANTTI 2 ; Saulo<br />

Humberto <strong>de</strong> Ávila FILHO 3 ; Vivian da Costa MARCON 3 ; Helton FREIRES 4 ; Ana<br />

Carolline <strong>do</strong>s Santos BERTÃO 4 ; Luis Eliam PEREIRA 4 ; Weslley da Silva Moura<br />

Gomes 4 ; Nayara Kelly Estevos PEREIRA 5 ; Adriana Rodrigues da Silva 6 ; Naida<br />

Cristina BORGES 2 .<br />

1-Doutoranda em Ciência Animal, EVZ-<strong>UFG</strong>, Shire@terra.com.br<br />

2-Professoras <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária, EVZ-<strong>UFG</strong><br />

3-Alunos <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Residência Medico-Veterinária, EVZ-<strong>UFG</strong><br />

4-Alunos <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Graduação em Medicina Veterinária, EVZ-<strong>UFG</strong><br />

5–Aluna <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Graduação em Medicina Veterinária, Faculda<strong>de</strong>s Objetivo – IUESO.<br />

6-Auxiliar <strong>de</strong> Veterinária EVZ-<strong>UFG</strong><br />

INTRODUÇÃO<br />

Existe uma relação dinâmica entre <strong>do</strong>ença, nutrição e imunida<strong>de</strong>. A<br />

associação <strong>de</strong>stes fatores culmina com um acelera<strong>do</strong> consumo e perda das<br />

reservas nutricionais <strong>do</strong> organismo, resultan<strong>do</strong> em <strong>de</strong>snutrição e supressão<br />

imunológica (BAINES & SHENKIN, 2002). Para o animal porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> neoplasia<br />

maligna três fatores estão presentes favorecen<strong>do</strong> o estabelecimento da <strong>de</strong>snutrição:<br />

a) aumento <strong>do</strong> catabolismo, b) aumento <strong>do</strong> anabolismo; c) menor digestão e<br />

assimilação associada a perdas adicionais, tais como diarreias, hemorragias e<br />

transudações (THOMPSON, 1995).<br />

Os alimentos que promovem benefícios à saú<strong>de</strong>, além da função nutritiva,<br />

e que apresentam papel na prevenção ao risco <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s<br />

alimentos funcionais. Além <strong>do</strong>s termos, alimentos funcionais e nutracêuticos, várias<br />

outras <strong>de</strong>nominações têm si<strong>do</strong> usadas para <strong>de</strong>signar alimentos que oferecem<br />

proteção especial à saú<strong>de</strong>, tais como alimentos planeja<strong>do</strong>s, alimentos saudáveis,<br />

alimentos protetores, alimentos farmacêuticos, entre outros (HASLER, 1998).<br />

Probióticos são microrganismos vivos que po<strong>de</strong>m ser agrega<strong>do</strong>s como<br />

suplementos adiciona<strong>do</strong>s à ração, afetan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma benéfica o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

flora microbiana no intestino. Prebióticos são oligossacarí<strong>de</strong>os não digeríveis, porém<br />

fermentáveis cuja função é mudar a ativida<strong>de</strong> e a composição da microbiota<br />

intestinal com a perspectiva <strong>de</strong> promover a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro (REIG & ANESTO,<br />

2002). Os oligossacarí<strong>de</strong>os <strong>de</strong> interesse na nutrição <strong>de</strong> cães e gatos são os<br />

Capa Índice 13510


mananoligossacarí<strong>de</strong>os (MOS), <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s das pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leveduras (extrato seco<br />

<strong>de</strong> fermentação <strong>de</strong> Saccharomyces cerevisiae) (ROBERFROID, 2002).<br />

Um <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que mantém a resistência <strong>de</strong> um<br />

organismo contra a invasão <strong>de</strong> micro-organismos, trauma, <strong>do</strong>enças imunológicas e<br />

câncer é a resposta <strong>de</strong> fase aguda (KOC, et al., 2003; MCMILLAN et al., 2003;<br />

ZHANG et al.,2005). As proteínas <strong>de</strong> fase aguda são produzidas no fíga<strong>do</strong> frente a<br />

processos inflamatórios extensos, com significativa lesão tecidual, bem como os<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> cânceres, especialmente, quan<strong>do</strong> eles são extensos e<br />

metastáticos (KALLIO et al., 2001).<br />

Assim, este projeto propõe avaliar a ação imunomodula<strong>do</strong>ra inespecífica<br />

<strong>de</strong> suplemento alimentar Promun<strong>do</strong>g® (Saccharomyces cerevisae) por meio da<br />

avaliação da ativida<strong>de</strong> da proteína C reativa, na resposta inflamatória <strong>de</strong> fase aguda<br />

em ca<strong>de</strong>las diagnosticadas para neoplasia mamária maligna e submetidas a uma<br />

protocolo <strong>de</strong> quimioterapia antineoplásica.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O estu<strong>do</strong> em andamento, no setor <strong>de</strong> Oncologia <strong>do</strong> Hospital Veterinário da<br />

Escola <strong>de</strong> Veterinária e Zootecnia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (EVZ/<strong>UFG</strong>),<br />

Campus Samambaia, Goiânia, Goiás, foi submeti<strong>do</strong> e aprova<strong>do</strong> pela Comissão <strong>de</strong><br />

Ética no Uso <strong>de</strong> Animais da <strong>UFG</strong>, protocola<strong>do</strong> nesse comitê sob o número 211/11.<br />

Delineamento experimental<br />

Até o momento, para este estu<strong>do</strong> foram selecionadas 16 ca<strong>de</strong>las, sem<br />

predileção por raça, porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> neoplasia mamária maligna, não ulcerada, cujos<br />

proprietários assinaram o termo <strong>de</strong> aquiescência, previamente à execução <strong>do</strong><br />

tratamento. O monitoramento <strong>do</strong>s tratamentos está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em oito ciclos<br />

consecutivos com intervalos <strong>de</strong> 21 dias, que comporão os momentos <strong>de</strong> M1 a M8<br />

Inicialmente os animais porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> tumores mamários foram encaminha<strong>do</strong>s para<br />

a realização <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> exames que compôs o momento basal (M0),<br />

constituída por: avaliação clinica nutricional (peso, escore corporal e consumo<br />

alimentar diário), exames laboratoriais: hemograma, provas bioquímicas séricas,<br />

proteína C reativa (PCR), e proteinograma sérico, radiografias, ultrassonografia e<br />

histopatologia para i<strong>de</strong>ntificação da neoplasia.<br />

Capa Índice 13511


Posteriormente, as ca<strong>de</strong>las foram distribuídas em <strong>do</strong>is grupos por meio <strong>de</strong><br />

sorteio. O grupo GI encontra-se composto por oito pacientes submetidas à<br />

quimioterapia, manten<strong>do</strong> a mesma dieta alimentar fornecida pelo proprietário. No<br />

grupo GII as ca<strong>de</strong>las submetidas à quimioterapia recebem, além da dieta fornecida<br />

pelo proprietário, Promun Dog®, na <strong>do</strong>se <strong>de</strong> <strong>do</strong>is tabletes para cada 10 kg <strong>de</strong> peso<br />

vivo, em intervalos <strong>de</strong> 24 h e pela via oral. O protocolo quimioterápico escolhi<strong>do</strong> AP-<br />

1, sugeri<strong>do</strong> por LANORE, (2004), que compreen<strong>de</strong> o uso <strong>de</strong> carboplatina, 300 mg/m²<br />

diluída em 100 mL <strong>de</strong> solução salina 0,9%, e diurese induzida com furosemida na<br />

<strong>do</strong>se <strong>de</strong> 2 mg/kg, por via SC, <strong>do</strong>xorrubicina na <strong>do</strong>se <strong>de</strong> 30 mg/m² e diluída em 100<br />

ml <strong>de</strong> solução salina 0,9%, to<strong>do</strong>s em perfusão lenta na veia cefálica com auxílio <strong>de</strong><br />

cateter 24. Em seguida administra-se mais 100 ml solução salina 0,9%, com intuito<br />

<strong>de</strong> eliminar resquícios <strong>do</strong> quimioterápico no vaso punciona<strong>do</strong>, evitan<strong>do</strong> lesão<br />

vascular. As ca<strong>de</strong>las selecionadas são pesadas sempre antes <strong>de</strong> cada sessão <strong>de</strong><br />

quimioterapia. O escore corporal está sen<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

LAFLAMME (1997).<br />

As avaliações laboratoriais estão sen<strong>do</strong> realizadas no Laboratório <strong>de</strong><br />

Patologia Clínica <strong>do</strong> HV/EV/<strong>UFG</strong>. As colheitas <strong>de</strong> sangue são realizadas após jejum<br />

alimentar <strong>de</strong> 12 horas, imediatamente antes <strong>de</strong> cada sessão, por meio <strong>de</strong> punção da<br />

veia cefálica, envasa<strong>do</strong>s em recipientes a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s conten<strong>do</strong> áci<strong>do</strong> etileno<br />

diaminotetracético dissódico (EDTA) na proporção <strong>de</strong> 1mg/ml <strong>de</strong> sangue e<br />

processadas imediatamente. As amostras sem anticoagulante são mantidas a<br />

temperatura ambiente e em aproximadamente <strong>de</strong>z minutos da coleta serão<br />

centrifugadas, por seis minutos a 3.000 rpm, para obtenção <strong>do</strong> soro.<br />

Os parâmetros eritrocitários, leucocitários e plaquetários, são avalia<strong>do</strong>s<br />

imediatamente antes <strong>de</strong> cada sessão para <strong>de</strong>scartar os possíveis episódios <strong>de</strong><br />

supressão medular resultantes da ação <strong>de</strong> drogas citostáticas utilizadas no presente<br />

projeto <strong>de</strong> pesquisa. Para a avaliação <strong>do</strong>s parâmetros hematológicos utiliza-se o<br />

conta<strong>do</strong>r automático <strong>de</strong> células acopla<strong>do</strong> a um hemoglobinômetro. A contagem<br />

diferencial <strong>do</strong>s leucócitos será observada em esfregaços sanguíneos (JAIN, 1993).<br />

As plaquetas estão sen<strong>do</strong> avaliadas por contagem em câmara <strong>de</strong> Neubauer. Serão<br />

<strong>de</strong>terminadas ainda, as concentrações séricas <strong>de</strong> uréia (méto<strong>do</strong> da urease),<br />

creatinina (reação com picrato alcalino), albumina, proteína total, colesterol total e<br />

frações, bilirrubina total, direta e indireta, bem como as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ALP e ALT,<br />

utilizan<strong>do</strong> reagentes comerciais, com leitura em espectrofotômetro semi-automático<br />

Capa Índice 13512


(Analisa<strong>do</strong>r Bioquímico Bio 2000 ® - Bioplus produtos para laboratório Ltda. – Barueri<br />

- SP), em comprimento <strong>de</strong> onda específicos.<br />

Para a quantificação da PCR e proteinograma sérico serão utiliza<strong>do</strong>s<br />

tubos sem anticoagulante para a obtenção <strong>do</strong> soro. As amostras sem anticoagulante<br />

serão mantidas a temperatura ambiente e em aproximadamente <strong>de</strong>z minutos da<br />

coleta serão centrifugadas, por seis minutos a 3.000 rpm, para obtenção <strong>do</strong> soro.<br />

Posteriormente, este será aliquota<strong>do</strong> e armazena<strong>do</strong> e submetidas a congelamento (-<br />

20 o C), até a realização das análises da PCR. O proteinograma sérico será obti<strong>do</strong><br />

pela técnica <strong>de</strong> eletroforese em gel <strong>de</strong> poliacrilamida conten<strong>do</strong> <strong>do</strong><strong>de</strong>cil sulfato <strong>de</strong><br />

sódio (SDS-PAGE), conforme técnica <strong>de</strong>scrita por LAEMMLI (1970).<br />

Para realização da radiografia simples ab<strong>do</strong>minal, o animal está sen<strong>do</strong><br />

posiciona<strong>do</strong> em <strong>de</strong>cúbito lateral direito utilizan<strong>do</strong>-se o aparelho <strong>de</strong> Raios X TUR,<br />

mo<strong>de</strong>lo T350, com capacida<strong>de</strong> para 600mA, com gra<strong>de</strong> antidifusora, potter bucky,<br />

empregan<strong>do</strong>-se filme Kodak, monta<strong>do</strong> em chassi equipa<strong>do</strong> com par <strong>de</strong> ecrans<br />

intensifica<strong>do</strong>res.<br />

Após a tricotomia da região ab<strong>do</strong>minal caudal e inguinal, o animal é<br />

submeti<strong>do</strong> ao exame ultrassonográfico transab<strong>do</strong>minal utilizan<strong>do</strong> o equipamento <strong>de</strong><br />

ultrassonografia <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo MYLAB VET 30®, da marca PieMedical Esaote, com um<br />

transdutor multifrequencial <strong>de</strong> 5,0 a 7,5 MHz, <strong>do</strong> tipo micro-convexo com mo<strong>do</strong><br />

bidimensional. Para o exame é utiliza<strong>do</strong> gel acústico sobre a pele, para evitar<br />

aparecimento <strong>de</strong> artefatos, e o transdutor microconvexo é regula<strong>do</strong> para a<br />

frequência <strong>de</strong> 7,5 MHz. Também tem o, transdutor linear com 7,5- 10 e 12 Mhz.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que vários exames laboratoriais ainda não foram realiza<strong>do</strong>s<br />

(alíquotas congelas), serão apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s referentes aos acha<strong>do</strong>s<br />

clínicos nas pacientes durante a aplicação <strong>do</strong> protocolo quimioterápico.<br />

As ca<strong>de</strong>las que compõem o grupo suplementa<strong>do</strong> não manifestaram<br />

alterações dignas <strong>de</strong> nota quanto ao ganho ou perda <strong>de</strong> peso. Já aquelas que se<br />

encontram no grupo não trata<strong>do</strong> estão apresentan<strong>do</strong> variações no peso, tanto<br />

aumento quanto diminuição. Os sinais clínicos <strong>de</strong> citotóxicida<strong>de</strong> sanguínea<br />

(leucopenia, anemia, trombocitopenia) estiveram presentes na maioria das ca<strong>de</strong>las<br />

pertencentes ao grupo não trata<strong>do</strong>. Toxicida<strong>de</strong> gastrintestinal (diarreia e vômito)<br />

também foi observada em cinco das oito ca<strong>de</strong>las que compuseram o referi<strong>do</strong> grupo,<br />

Capa Índice 13513


principalmente após a administração <strong>de</strong> <strong>do</strong>xorrubicina. Quanto às ca<strong>de</strong>las <strong>do</strong> grupo<br />

suplementa<strong>do</strong>, somente uma apresentou toxicida<strong>de</strong> sanguínea caracterizada por<br />

anemia, leucopenia e trombocitopenia leve. Uma ca<strong>de</strong>la apresentou a toxicida<strong>de</strong><br />

gastrintestinal. Duas ca<strong>de</strong>las <strong>do</strong> grupo trata<strong>do</strong> e três <strong>do</strong> grupo não trata<strong>do</strong><br />

apresentaram alopecia transitória.<br />

CONCLUSÕES<br />

Até o momento os resulta<strong>do</strong>s parciais obti<strong>do</strong>s nesse estu<strong>do</strong> sugerem<br />

efeito benéfico da suplementação com Promun<strong>do</strong>g®.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. BAINES, M.; SHENKIN, A. Lack of effective ness of short-term Intravenous<br />

micronutrient nutrition in restoring plasma antioxidant status after surgery. Clinical<br />

Nutrition, v. 21, n. 2, p. 145-150, 2002.<br />

2. HASLER, C. M. Functional foods: their role in disease in: <strong>de</strong>veloping new food<br />

products for a changing prevention and health promotion. Food Technology, v. 52,<br />

p. 57-62, 1998.<br />

3. JAIN, N. C. Essentials of veterinary hematology. Comparative hematology of<br />

common <strong>do</strong>mestic animals. Phila<strong>de</strong>lphia. p.19-70, 1993.<br />

4. KALLIO, R, BLOIGU, A. SURCEL, H. M.; SYRJALA, H. Proteína C-reativa e<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedimentação no diagnóstico diferencial entre infecções e febre<br />

neoplásicas em pacientes com tumores sóli<strong>do</strong>s e linfomas Supporte Care Cancer,<br />

v. 9, p. 124-128, 2001.<br />

5. KOC, M.; TAYSI, S.; SEZEN, O.; BAKAN, N. Levels of some acute-phase proteins<br />

in the serum of patients with cancer during radiotherapy. Biological and<br />

Pharmaceutical Bulletin, v. 26, p.1494-1497, 2003.<br />

6. LAEMMLI, U. K. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of<br />

bacteriofhage T4. Nature, v. 227, p. 680-685, 1970.<br />

7. LAFLAMME, D. P. Development and validation of a body condition score system<br />

for <strong>do</strong>gs: a clinical tool. Canine Practice, v. 22, n. 3, p. 10-15, 1997.<br />

8. LANORE, D. Quimioterapia anticancerígena. São Paulo, 191p, 2004.<br />

9. MCMILLAN, D.C.; CANNA, K.; MCARDLE, C. Systemic inflammatory response<br />

predicts survival following curative resection of colorectal cancer. British Journal of<br />

Surgery, v. 90 p. 215-219, 2003<br />

10. REIG, A. L. C.; ANESTO, J. B. Prebióticos y probióticos, una relación<br />

beneficiosa. instituto <strong>de</strong> nutrición e hiene <strong>de</strong> los alimentos. Revista Cubana <strong>de</strong><br />

Alimentação e Nutrição, v. 16, n. 1, p. 63-68, 2002.<br />

11. ROBERFROID, M. Functional food concept and its application to prebiotics.<br />

Digestive and Liver Disease. v. 34, Sup. 2, p. 105-110, 2002.<br />

12. ZHANG, S.; BURING, J.; LEE, I.; COOK, N.; RIDKER, P. C-reactive protein<br />

levels are not associated with increased risk colorectal cancer in women. Annals of<br />

Internal Medicine, v. 142, p. 425-33, 2005.<br />

Fonte <strong>de</strong> financiamento: Organnact Saú<strong>de</strong> Animal<br />

Capa Índice 13514


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13515 - 13519<br />

Origem e distribuição <strong>do</strong> nervo femoral no tamanduá ban<strong>de</strong>ira (Myrmecophaga<br />

tridactyla, Linnaeus, 1758)<br />

Viviane Souza CRUZ I , Eugênio Gonçalves <strong>de</strong> ARAÚJO II , Júlio Roquete CARDOSO I ,<br />

Luciana Batalha <strong>de</strong> Miranda ARAÚJO II , Paulo Roberto <strong>de</strong> SOUZA I , Marcelo Seixo <strong>de</strong><br />

Brito e SILVA I<br />

I. Departamento <strong>de</strong> Morfologia- ICB- <strong>UFG</strong>. souzacruzviviane@gmail.com;<br />

juliorcar<strong>do</strong>so@gmail.com, paulobto@hotmail.com, marceloseixo@hotmail.com<br />

II. Departamento <strong>de</strong> Medicina Veterinária, EVZ-<strong>UFG</strong>. earaujo@vet.ufg.br,<br />

lbmzoovet@gmail.com<br />

Palavras-chave: sistema nervoso periférico; inervação <strong>do</strong> membro pélvico,<br />

Xenarthra.<br />

Introdução<br />

O tamanduá ban<strong>de</strong>ira (Myrmecophaga tridactyla) é um mamífero<br />

pertencente à Superor<strong>de</strong>m Xenarthra. É encontra<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sul <strong>de</strong> Belize e<br />

Guatemala, oeste <strong>do</strong>s An<strong>de</strong>s a noroeste <strong>do</strong> equa<strong>do</strong>r, Colômbia, sul da Venezuela,<br />

su<strong>de</strong>ste da Bolívia, oeste <strong>do</strong> Paraguai, noroeste da Argentina, Brasil e leste <strong>do</strong><br />

Uruguai (MOURÃO & MEDRI, 2007).<br />

As lesões mais frequentes <strong>do</strong> nervo femoral estão associadas a fraturas<br />

pélvicas e femorais e a trações <strong>do</strong>s membros pélvicos <strong>de</strong> bezerros em partos,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> acarretar a atrofia da musculatura cranial da coxa e déficit sensitivo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

à perda da inervação cutânea <strong>do</strong> nervo femoral e safeno (DYCE et al., 2010).<br />

O atendimento clínico e/ou cirúrgico das neuropatias requer um conhecimento<br />

da neuroanatomia. Com isso, objetivou-se, neste trabalho, <strong>de</strong>screver, no M.<br />

tridactyla, particularida<strong>de</strong>s sobre a formação <strong>do</strong> nervo femoral e sua distribuição,<br />

fornecen<strong>do</strong> assim da<strong>do</strong>s morfológicos para anatomia comparada, bem como para a<br />

clínica médica e cirúrgica <strong>de</strong> animais silvestres.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s<br />

Capa Índice 13515


Foram utiliza<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> seis exemplares <strong>de</strong> tamanduá ban<strong>de</strong>ira,<br />

adultos, cedi<strong>do</strong>s pelo Centro <strong>de</strong> Triagem <strong>de</strong> Animais Silvestres (CETAS) – IBAMA-<br />

GO (licença 99/2011), e aprova<strong>do</strong> pela comissão <strong>de</strong> ética no uso <strong>de</strong> animais<br />

(Processo CEUA-<strong>UFG</strong> no. 015/11). Os procedimentos <strong>de</strong> preparo, alojamento e<br />

dissecação <strong>do</strong>s exemplares foram realiza<strong>do</strong>s no Laboratório <strong>de</strong> Anatomia Animal <strong>do</strong><br />

Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas (ICB), da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>).<br />

Ao dar entrada no Laboratório, os animais foram <strong>de</strong>scongela<strong>do</strong>s a<br />

temperatura ambiente por um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 48 h, higieniza<strong>do</strong>s em água corrente e<br />

submeti<strong>do</strong>s à fixação por meio <strong>de</strong> injeções com solução <strong>de</strong> formol a 10%<br />

(LABSYNTH – Produtos para Laboratórios, Ltda), num volume correspon<strong>de</strong>nte a<br />

10% <strong>do</strong> peso corporal e posteriormente imersos em tanques com solução<br />

conserva<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> formol a 4%. Dissecou-se o nervo femoral e suas ramificações até<br />

a extremida<strong>de</strong> distal <strong>do</strong> membro e os resulta<strong>do</strong>s foram <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong><br />

esquemas e fotografias, obtidas com uma câmera digital (Sony DSC-H50, Brasil).<br />

Para atribuição da terminologia das estruturas anatômicas foi a<strong>do</strong>tada a Nômina<br />

Anatômica Veterinária (International Commite on Veterinary Gross Anatomical<br />

Nomenclature, 2005).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Os exemplares <strong>de</strong> M. tridactyla utiliza<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> apresentaram 15<br />

(66,6%) ou 16 (33,3%) vértebras torácicas; e duas (50%) ou três (50%) vértebras<br />

lombares, coincidin<strong>do</strong> com os relatos <strong>de</strong> Flower, (1885). Esta variação <strong>do</strong> número <strong>de</strong><br />

vértebras gerou, consequentemente, variação na composição <strong>do</strong> nervo femoral.<br />

O nervo femoral recebeu contribuição <strong>de</strong> T16, L1, L2 em quatro antímeros<br />

(33,3%), T15, L1, L2 em três antímeros (25%), T15, L1-L3 em <strong>do</strong>is antímeros<br />

(16,6%), L1-L3 em <strong>do</strong>is antímeros (16,6%) e L1, L2 em um antímero (8,3%). A<br />

participação <strong>de</strong> ramos torácicos na composição <strong>do</strong> nervo femoral é rara, mas esteve<br />

presente em 75% <strong>do</strong>s antímeros <strong>do</strong>s exemplares <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> T15 ou T16<br />

os ramos envolvi<strong>do</strong>s. O porco espinho (AYDIN, 2009) compartilha <strong>de</strong>sta mesma<br />

característica. A explicação para este fato po<strong>de</strong> ser atribuída ao pequeno número <strong>de</strong><br />

vértebras lombares nessas duas espécies, o que <strong>de</strong>manda o complemento <strong>de</strong><br />

nervos torácicos para complementar a formação <strong>do</strong> nervo femoral.<br />

Capa Índice 13516


O nervo femoral emerge entre os músculos psoas menor e maior, para os<br />

quais emite os primeiros ramos musculares. Em seguida, envia um ou <strong>do</strong>is ramos.<br />

Um <strong>de</strong>les inerva o músculo sartório e se une ao nervo genitofemoral, seguin<strong>do</strong> para<br />

a região cutânea medial da coxa. O segun<strong>do</strong> ramo, quan<strong>do</strong> presente, acompanha o<br />

ramo anterior. Em 25% <strong>do</strong>s antímeros, a inervação <strong>do</strong> músculo sartório surgiu <strong>de</strong><br />

outro ramo oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> nervo femoral em seu trajeto no trígono femoral.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da posição <strong>do</strong> ramo muscular, este músculo também é inerva<strong>do</strong> pelo<br />

nervo femoral em mocós (Oliveira et al., 2011) e em chinchilas (Martinez-Pereira &<br />

Rickes, 2011), como observa<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong>.<br />

O nervo femoral atravessa o canal femoral e segue no trígono femoral,<br />

emitin<strong>do</strong> ramos para o músculo iliopsoas, como em cães (Köning & Liebich, 2004),<br />

bovinos e equinos (Getty (1986) e para o músculo pectíneo, como em mocós<br />

(Oliveira et al., 2011) e em chinchilas (Martinez-Pereira & Rickes, 2011). Logo após,<br />

emite o nervo safeno e segue profundamente aos vasos femorais penetran<strong>do</strong> entre<br />

o músculo reto femoral e vasto medial. Termina emitin<strong>do</strong> ramos para as todas as<br />

porções <strong>do</strong> músculo quadríceps femoral (músculos vasto lateral, vasto medial, reto<br />

femoral e vasto intermédio), como suce<strong>de</strong> nas <strong>de</strong>mais espécies (Getty, 1986; Köning<br />

& Liebich, 2004; Martinez-Pereira & Rickes, 2011; Oliveira et al., 2011).<br />

O músculo grácil da chinchila (Martinez-Pereira & Rickes, 2011) e o adutor <strong>do</strong><br />

bovino (Getty, 1986) também são inerva<strong>do</strong>s pelo nervo femoral, diferin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<br />

O nervo safeno segue até o terço distal da coxa. Neste trajeto, emite um ramo<br />

para a inervação cutânea medial da coxa e joelho. Em alguns antímeros, este ramo<br />

é mais espesso se prolongan<strong>do</strong> até a região cutânea medial da perna. Na<br />

extremida<strong>de</strong> distal da coxa, ele cruza a articulação <strong>do</strong> joelho, próximo à inserção <strong>do</strong><br />

músculo vasto medial atingin<strong>do</strong> a face medial da perna, on<strong>de</strong> emite ramos cutâneos<br />

craniais e mediais para a inervação das superfícies cranial e medial da perna,<br />

respectivamente, coincidin<strong>do</strong> com os relatos <strong>de</strong> GETTY (1986) e KÖNING &<br />

LIEBICH (2004) em animais <strong>do</strong>mésticos. Até on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> constatar, não há<br />

<strong>de</strong>scrições, <strong>de</strong>ste segmento <strong>do</strong> nervo safeno em espécies não <strong>do</strong>mesticadas.<br />

No terço distal da perna, o nervo safeno emite ramos para a inervação<br />

cutânea da face medial <strong>do</strong> tarso e metatarso. Distalmente ao tarso, o nervo safeno<br />

se divi<strong>de</strong> em <strong>do</strong>is ramos, um medial e outro lateral. O ramo medial emite o nervo<br />

digital <strong>do</strong>rsal I, o nervo digital <strong>do</strong>rsal comum I e um ramo para o nervo digital <strong>do</strong>rsal<br />

Capa Índice 13517


comum II. O ramo lateral forma em 100% <strong>do</strong>s casos uma estrutura plexiforme no<br />

<strong>do</strong>rso <strong>do</strong> pé ao se unir ao ramo medial <strong>do</strong> nervo fibular superficial. Por meio <strong>de</strong>ste<br />

plexo, o ramo lateral <strong>do</strong> safeno envia ramos que reforçam o nervo digital <strong>do</strong>rsal<br />

comum I e II, em to<strong>do</strong>s os antímeros. No entanto em seis antímeros (50%) envia um<br />

ramo para o nervo digital <strong>do</strong>rsal comum III (ramo <strong>do</strong> nervo fibular superficial) e em<br />

três antímeros (25%) para o nervo digital <strong>do</strong>rsal comum IV.<br />

A formação <strong>de</strong>sta estrutura plexiforme com o nervo fibular superficial<br />

corrobora os relatos <strong>de</strong> Getty (1986) em cães e gatos, no entanto o autor não<br />

especifica para quais dígitos os ramos se prolongam. Já em suínos, o mesmo autor<br />

relata que o nervo safeno divi<strong>de</strong>-se em ramos lateral e medial no terço distal da<br />

perna, on<strong>de</strong> o ramo lateral une-se ao ramo medial <strong>do</strong> nervo fibular superficial para<br />

constituir o nervo digital <strong>do</strong>rsal comum II, enquanto seu ramo medial <strong>de</strong>sce como o<br />

nervo digital medial <strong>do</strong>rsal II. No entanto, a participação <strong>do</strong> nervo safeno na<br />

formação <strong>do</strong> nervo digital <strong>do</strong>rsal comum III e IV, observa<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong>, não fora<br />

relata<strong>do</strong> na literatura para outras espécies.<br />

Conclusões<br />

Conclui-se que houve uma maior variação na formação <strong>do</strong> nervo femoral<br />

no M. tridactyla em relação à <strong>de</strong> outras espécies, que po<strong>de</strong> ser atribuída à variação<br />

<strong>do</strong> número <strong>de</strong> vértebras da coluna vertebral torácica e lombar, e ainda, a<br />

participação <strong>do</strong> último segmento torácico na sua composição, possivelmente em<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> vértebras lombares nesta espécie. De forma<br />

geral, o território <strong>de</strong> inervação <strong>do</strong> nervo femoral corrobora as <strong>de</strong>scrições em animais<br />

<strong>do</strong>mésticos, no entanto, há a formação <strong>de</strong> um maior número <strong>de</strong> ramos, em especial<br />

<strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> nervo safeno, principalmente aqueles <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à região <strong>do</strong>rsal <strong>do</strong> pé.<br />

Referências<br />

AYDIN, A. The dissemination of the pelvic limb nerves originating from the<br />

lumbosacral plexus in the porcupine (Hystrix cristata). Veterinární Medicína, Praha,<br />

v. 54, n. 7, p. 333-339, 2009.<br />

Capa Índice 13518


DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> anatomia veterinária,<br />

4.ed., Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Elsevier, 2010, 834p.<br />

FLOWER, W. H. An introduction to the osteology of the mammalian. 3. ed.<br />

Lon<strong>do</strong>n: Macmillan and Co., 1885, 382 p.<br />

GETTY, R. SISSON/GROSSMAN - Anatomia <strong>do</strong>s animais <strong>do</strong>mésticos. 5 ed. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 2000p. v. 1 e 2.<br />

INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL<br />

NOMENCLATURE. Nomina anatomica veterinaria. 5. ed. Ithaca: Cornell<br />

University, 2005. 190 p.<br />

KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. J. Anatomia <strong>do</strong>s animais <strong>do</strong>mésticos.1. ed. Porto<br />

Alegre: Artmed, 2004. 399 p. v. 2.<br />

MARTINEZ-PEREIRA, M. A.; RICKES, E. M. The spinal nerves that constitute the<br />

lumbosacral plexus and their distribution in the chinchilla. Journal of the South<br />

African Veterinary Association, Pretoria, v. 82, n. 3, p. 150-154, 2011.<br />

MOURÃO, G.; MEDRI, M. Activity of a specialized insectivorous mammal<br />

(Myrmecophaga tridactyla) in the Pantanal of Brazil. Journal of Zoology, p.271:<br />

187-192, 2007.<br />

OLIVEIRA, G. B.; ALBUQUERQUE, J. F. G.; RODRIGUES, M. N.; PAIVA, A. L. C.;<br />

MOURA, C. E. B.; MIGLINO, M. A.; OLIVEIRA, M. F. Origem e distribuição <strong>do</strong> nervo<br />

femoral em mocó, Kero<strong>do</strong>n rupestris (Cavidae). <strong>Pesquisa</strong> Veterinária Brasileira,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 31, n. 1, p. 84-88, 2011.<br />

Capa Índice 13519


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13520 - 13524<br />

Abordagens Paralelas Baseadas em GPUs para os Problemas <strong>de</strong> Alocação <strong>de</strong><br />

Tráfego <strong>de</strong> Veículos e <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s em Malhas Viárias<br />

Walid Abdala Rfaei JRADI, Hugo Alexandre Dantas <strong>do</strong> NASCIMENTO<br />

Instituto <strong>de</strong> Informática<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás<br />

Goiânia, Brasil<br />

{walid.jradi,hadnas}@gmail.com<br />

Palavras Chave: Tráfego Urbano, Sistemas <strong>de</strong> Apoio à Decisão, Computação<br />

Paralela, Computação em GPUs<br />

I. Introdução<br />

Entre os anos <strong>de</strong> 2006 e 2008, o Instituto <strong>de</strong> Informática da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (<strong>UFG</strong>) <strong>de</strong>senvolveu um simula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tráfego urbano chama<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

PET-Gyn [4], usan<strong>do</strong> uma abordagem matemática macroscópica para estimar os<br />

fluxos <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong>slocan<strong>do</strong>-se pela malha viária e os possíveis efeitos <strong>de</strong><br />

modificações na estrutura da re<strong>de</strong> urbana <strong>de</strong> transporte. Tal sistema foi submeti<strong>do</strong> à<br />

avaliação <strong>de</strong> especialistas, que elogiaram a iniciativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver tecnologias<br />

para esta área, bastante carente em nosso país.<br />

Entretanto, face às restrições <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> computacional <strong>do</strong>s<br />

equipamentos normalmente à disposição das agências <strong>de</strong> trânsito, não é atualmente<br />

factível realizar análises <strong>de</strong> reestruturação em re<strong>de</strong>s viárias muito extensas, ou seja,<br />

compostas por avenidas, veículos, unida<strong>de</strong>s semafóricas, etc, <strong>de</strong> uma região<br />

metropolitana inteira. Este fenômeno é particularmente claro quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra o<br />

uso <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los micro ou mesoscópicos, computacionalmente muito onerosos.<br />

Uma das alternativas para se contornar tal problema é o uso da computação<br />

paralela, pois esta técnica permite o aumento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cálculo <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res<br />

comercialmente disponíveis. Tal incremento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r computacional possibilita a<br />

ampliação tanto <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong> problema em foco quanto <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes a<br />

serem analisa<strong>do</strong>s.<br />

Capa Índice 13520


A computação paralela tem si<strong>do</strong> usada com sucesso em diversas áreas <strong>de</strong><br />

pesquisa, entre elas a análise <strong>do</strong> trânsito urbano [1, 5, 6]. No entanto, tais estu<strong>do</strong>s<br />

focam majoritariamente o uso <strong>de</strong>sta técnica em simulações micro e mesoscópicas,<br />

<strong>de</strong>sprezan<strong>do</strong> os ganhos que ela tem a oferecer às simulações macroscópicas,<br />

especialmente quanto ao benefício que este tipo <strong>de</strong> simulação po<strong>de</strong> trazer ao<br />

problema <strong>do</strong> NDP, ambos <strong>de</strong>scritos a seguir.<br />

O presente trabalho busca suprir esta lacuna, fazen<strong>do</strong> uso <strong>de</strong> abordagens<br />

computacionais paralelas baseadas no emprego <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Processamento<br />

Gráfico (ou, em inglês, Graphic Processing Units – GPUs) para análise e melhoria<br />

<strong>do</strong> tráfego urbano. Especificamente, ele foca em <strong>do</strong>is conheci<strong>do</strong>s problemas:<br />

• O Problema da Alocação <strong>de</strong> Tráfego (em inglês, Traffic Assignment<br />

Problem – TAP) que, sinteticamente, refere-se à alocação <strong>de</strong> veículos<br />

na malha viária a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições estruturais <strong>de</strong>sta, bem como <strong>de</strong><br />

informações sobre os volumes <strong>de</strong> tráfego.<br />

• O Problema <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s (ou, em inglês, Network Design<br />

Problem – NDP), cujo objetivo é <strong>de</strong>terminar, <strong>de</strong>ntre um conjunto <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alteração da malha viária, previamente i<strong>de</strong>ntificadas<br />

qual(is) propiciará(ão) melhor(es) resulta<strong>do</strong>(s) <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um orçamento<br />

disponível para implantação.<br />

Para o TAP, a partir <strong>do</strong>s algoritmos sequenciais consagra<strong>do</strong>s pela literatura<br />

especializada, serão concebi<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s equivalentes paralelos para uso em GPUs<br />

com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as melhores estruturas – <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />

fluxo – que melhorem o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> processamento em relação a uma<br />

abordagem sequencial. A métrica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho empregada é a <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> execução, indiferente da análise da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço utiliza<strong>do</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> em vista que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> memória disponível nas atuais GPUs 1 não<br />

representa uma limitação para a solução <strong>do</strong>s problemas em estu<strong>do</strong>.<br />

1 As GPUs comerciais disponibilizam memórias especializadas que, em alguns casos, atingem o<br />

patamar <strong>de</strong> vários gigabytes. São comuns mo<strong>de</strong>los com 1GB, 2GB e 4GB, atingin<strong>do</strong> 8GB nos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> placa consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong> da arte. Além disso, existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />

várias placas em conjunto, o que eleva a memória total disponível à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

gigabytes.<br />

Capa Índice 13521


No que diz respeito ao NDP, benefician<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s ganhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

obti<strong>do</strong>s pela solução paralela <strong>do</strong> TAP, será concebi<strong>do</strong> um méto<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar possíveis melhorias no projeto das re<strong>de</strong>s viárias urbanas abrangen<strong>do</strong><br />

áreas maiores que aquelas possíveis pelo uso <strong>de</strong> computação sequencial 2 .<br />

A busca por algoritmos paralelos para os problemas cita<strong>do</strong>s justifica-se pois:<br />

• O TAP macroscópico é, ainda hoje, trata<strong>do</strong> majoritariamente por abordagens<br />

que empregam programação sequencial, o que inviabiliza seu uso em<br />

<strong>de</strong>terminadas aplicações em que haja forte restrição <strong>de</strong> tempo para obtenção<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s (aplicações <strong>de</strong> missão crítica) ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong><br />

(ou elevadíssimo) número <strong>de</strong> execuções, como é o caso <strong>do</strong> NDP.<br />

• O NDP pertence à classe <strong>de</strong> problemas NP-Completos [3]. Isto torna<br />

impraticável a busca pela solução ótima, mesmo para problemas <strong>de</strong> tamanho<br />

reduzi<strong>do</strong>. Portanto, o uso <strong>de</strong> alguma heurística por este estu<strong>do</strong> não está<br />

<strong>de</strong>scartada e, como estas exigem a avaliação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

soluções, casam-se perfeitamente com a proposta da computação paralela.<br />

II. Materiais e Méto<strong>do</strong>s<br />

A fim <strong>de</strong> atingir os objetivos propostos pelo estu<strong>do</strong>, as seguintes etapas foram<br />

especificadas:<br />

• Realizar uma revisão bibliográfica sistemática sobre computação<br />

paralela, tecnologia das GPUs e <strong>de</strong>mais temas pertinentes ao assunto;<br />

• Realizar uma revisão bibliográfica sistemática sobre a engenharia <strong>de</strong><br />

tráfego, abordagens paralelas e distribuídas para esta área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s;<br />

• Conceber, projetar e implementar um méto<strong>do</strong> paralelo para o TAP<br />

basea<strong>do</strong> em GPU a partir <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los sequenciais consagra<strong>do</strong>s pela<br />

literatura da área;<br />

• Testar e revisar o méto<strong>do</strong> paralelo implementa<strong>do</strong>;<br />

2 Atualmente a computação sequencial apenas viabiliza o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> NDP em tempo real em<br />

pequenas áreas urbanas – tipicamente, algumas poucas quadras – quan<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s vários<br />

aspectos <strong>de</strong> projeto da re<strong>de</strong> viária. Na hipótese da necessida<strong>de</strong> da análise <strong>de</strong> área mais<br />

extensas, <strong>de</strong>ve-se reduzir o número <strong>do</strong>s aspectos foca<strong>do</strong>s no projeto [2].<br />

Capa Índice 13522


• Estudar o Problema <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s, bem como os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

solução disponíveis na literatura;<br />

• Conceber, projetar e implementar méto<strong>do</strong>s paralelos para solução <strong>de</strong><br />

um subproblema específico <strong>do</strong> NDP;<br />

• Testar e revisar os méto<strong>do</strong>s implementa<strong>do</strong>s para o NDP;<br />

III. Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Até o presente momento, uma extensa revisão bibliográfica sobre méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

simulação <strong>de</strong> tráfego urbano, computação paralela e computação <strong>de</strong> propósito geral<br />

em GPUs foi realizada. Vários trabalhos que propõem o uso <strong>de</strong> computação paralela<br />

ou distribuída para a simulação <strong>do</strong> tráfego foram encontra<strong>do</strong>s [1, 5, 6, 7]. No entanto,<br />

tais trabalhos <strong>de</strong>sprezam os benefícios que ela tem a oferecer às simulações<br />

macroscópicas, especialmente quan<strong>do</strong> este tipo <strong>de</strong> simulação é usa<strong>do</strong> em conjunto<br />

com o NDP, lacuna esta que o presente trabalho busca preencher.<br />

Concomitantemente a estes estu<strong>do</strong>s, foi elaborada uma versão preliminar <strong>de</strong><br />

código em GPU que implementa um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> simulação macroscópica e que será<br />

submeti<strong>do</strong> a testes ostensivos e adaptações se necessário.<br />

O código implementa<strong>do</strong> permite que o TAP seja executa<strong>do</strong> em uma GPU com<br />

uma única thread. Obviamente, não há benefícios <strong>de</strong> paralelismo, uma vez que as<br />

modificações necessárias ao pleno uso <strong>do</strong> paralelismo no méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> alocação ainda<br />

não foram implementadas. Seu <strong>de</strong>senvolvimento teve como objetivo testar a<br />

viabilida<strong>de</strong> da programação <strong>de</strong> um méto<strong>do</strong> TAP para GPU, da<strong>do</strong> que o código usa<strong>do</strong><br />

no PET-Gyn (em Java) no qual ele é basea<strong>do</strong> já encontra-se exaustivamente testa<strong>do</strong><br />

e <strong>de</strong> correção comprovada em numerosos trabalhos publica<strong>do</strong>s.<br />

IV. Conclusões<br />

O presente trabalho inova ao estudar o uso <strong>de</strong> abordagens computacionais<br />

paralelas baseadas no emprego <strong>de</strong> GPUs para análise e melhoria <strong>do</strong> tráfego urbano,<br />

atacan<strong>do</strong> os problemas <strong>do</strong> TAP macroscópico e o NDP.<br />

Como fruto da pesquisa, já encontram-se disponíveis uma extensa revisão<br />

bibliográfica sobre os temas pertinentes ao estu<strong>do</strong>, bem como uma versão preliminar<br />

<strong>do</strong> código <strong>de</strong> simulação em GPU.<br />

Capa Índice 13523


As próximas ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> projeto envolvem concluir a implementação<br />

paralela <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> TAP, realizar testes e fazer ajustes se necessários.<br />

V. Referências Bibliográficas<br />

[1] DAI, W; ZHANG, J; ZHANG, D. Parallel Simulation of Large-Scale Microscopic<br />

Traffic Networks. In: Advanced Computer Control (ICACC), 2010 2nd International<br />

Conference on, volume 3, p. 22–28, march 2010.<br />

[2] DUARTE, D. C. S. LIPSTUD – Um Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Otimização <strong>de</strong> Fluxo <strong>de</strong> Tráfego<br />

Urbano Basea<strong>do</strong> em Proibição e Permissão <strong>de</strong> Conversões. Master’s thesis,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Mar. 2012.<br />

[3] JOHNSON, D. S; LENSTRA, J. K; KAN, A. H. G. R. The Complexity of the<br />

Network Design Problem. Networks, 8(4):279–285, 1978.<br />

[4] JRADI, W. A. R. Uma Arquitetura <strong>de</strong> Software Interativo para Apoio à Decisão<br />

na Mo<strong>de</strong>lagem e Análise <strong>do</strong> Tráfego Urbano. Master’s thesis, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Oct. 2008.<br />

[5] PERUMALLA, K. S; AABY, B. G; YOGINATH, S. B; SEAL, S. K. GPU-based<br />

Real-Time Execution of Vehicular Mobility Mo<strong>de</strong>ls in Large-Scale Road Network<br />

Scenarios. In: Proceedings of the 2009 ACM/IEEE/SCS 23rd Workshop on<br />

Principles of Advanced and Distributed Simulation, PADS ’09, p. 95–103,<br />

Washington, DC, USA, 2009. IEEE Computer Society.<br />

[6] SHEN, Z; WANG, K; ZHU, F. Agent-Based Traffic Simulation and Traffic<br />

Signal Timing Optimization with GPU. In: Intelligent Transportation Systems<br />

(ITSC), 2011 14th International IEEE Conference on, p. 145–150, oct. 2011.<br />

[7] WEI, D; CHEN, F; SUN, X. An Improved Road Network Partition Algorithm for<br />

Parallel Microscopic Traffic Simulation. In: Mechanic Automation and Control<br />

Engineering (MACE), 2010 International Conference on, p. 2777–2782, june 2010.<br />

Capa Índice 13524


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13525 - 13529<br />

A CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO DE HORIESTE GOMES PARA O<br />

MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA<br />

We<strong>de</strong>r David <strong>de</strong> FREITAS – IESA/<strong>UFG</strong> we<strong>de</strong>rfreitas@hotmail.com<br />

Eguimar Felício CHAVEIRO – IESA/<strong>UFG</strong> eguimar@hotmail.com<br />

Palavras Chaves: Horieste Gomes; Geografia Crítica; História <strong>do</strong> Pensamento<br />

Geográfico.<br />

Introdução<br />

O presente projeto <strong>de</strong> tese tem como objetivo realizar uma trajetória <strong>do</strong><br />

pensamento <strong>do</strong> geógrafo goiano 1 Horieste Gomes pautan<strong>do</strong>-se principalmente nas<br />

suas contribuições para o Movimento <strong>de</strong> Renovação da Geografia. A questão a ser<br />

consi<strong>de</strong>rada é: quais i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>sse autor foram influentes para a consolidação da<br />

Corrente Crítica/Marxista 2 <strong>de</strong>ntro da Geografia brasileira? Para Moreira (2010)<br />

Horieste Gomes se junta a outros intelectuais que buscaram realizar uma teoria<br />

geral da Geografia, <strong>de</strong>ntre eles: Josué <strong>de</strong> Castro com A Geografia da fome; Aziz<br />

Ab´Sáber com Os <strong>do</strong>mínios <strong>de</strong> natureza no Brasil; Carlos Augusto <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong><br />

Monteiro e A Teoria e o clima urbano; Bertha Becker e A Geopolítica da Amazônia;<br />

Milton Santos com A Natureza <strong>do</strong> Espaço; Arman<strong>do</strong> Correa da Silva com A<br />

Geografia e o lugar social e; Horieste Gomes com Reflexões sobre teoria e crítica<br />

em Geografia.<br />

Somente por figurar no rol <strong>de</strong> renoma<strong>do</strong>s intelectuais da ciência no Brasil já<br />

seria uma justificativa para a realização <strong>de</strong> tal projeto. No entanto, o que nos move<br />

vai além <strong>de</strong>ssa perspectiva: é o reconhecimento <strong>de</strong> que o pensamento <strong>de</strong> Horieste<br />

Gomes se junta a uma série <strong>de</strong> outros argumentos para a consolidação <strong>do</strong> pensar<br />

Crítico/Marxista na ciência geográfica. Ele é um <strong>do</strong>s pensa<strong>do</strong>res que conseguiram<br />

realizar uma difícil tarefa <strong>de</strong>ntro da Geografia: casar a teoria marxista, especialmente<br />

os conceitos, com a ciência geográfica.<br />

1 Apesar <strong>de</strong> ter nasci<strong>do</strong> no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo no ano <strong>de</strong> 1933, mu<strong>do</strong>u-se para Goiânia já em 1939,<br />

por isso consi<strong>de</strong>rá-lo goiano como ele próprio se consi<strong>de</strong>ra.<br />

2 Chamamos aqui <strong>de</strong> Geografia Critica/Marxista para distingui-la das correntes <strong>do</strong> pensamento<br />

geográfico que também fizeram parte <strong>do</strong> Movimento <strong>de</strong> Renovação da Geografia, enten<strong>do</strong> que essa<br />

corrente foi quase que homogênea nesse movimento, no entanto, não foi única.<br />

Capa Índice 13525


Partimos aqui <strong>de</strong> <strong>do</strong>is temas que se aglutinam em um mesmo assunto.<br />

Primeiro é enten<strong>de</strong>r o Movimento <strong>de</strong> Renovação da Geografia nas suas diferentes<br />

escalas. A segunda é compreen<strong>de</strong>r como a obra <strong>do</strong> autor se insere no contexto<br />

histórico para alimentar os argumentos <strong>de</strong> uma ruptura <strong>do</strong> pensamento clássico e<br />

teorético <strong>do</strong> momento.<br />

Não é intenção realizar uma bibliografia <strong>de</strong> Horieste Gomes. O trabalho se<br />

foca na contribuição <strong>do</strong> seu pensamento para uma <strong>de</strong>terminada corrente <strong>do</strong><br />

pensamento geográfico: a Geografia Crítica. Por isso, os rumos da investigação<br />

perpassam pelo histórico <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> autor: sua formação enquanto militante político;<br />

a sua formação enquanto acadêmico e; as suas publicações. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o<br />

contexto social e histórico <strong>de</strong> vivência.<br />

Materiais e Méto<strong>do</strong>s<br />

Para subsidiar tal pretensão iremos apoiarmo-nos no méto<strong>do</strong> da abordagem<br />

contextual 3 <strong>de</strong> Ber<strong>do</strong>ulay ([1981] 2003) que consiste em cinco pressupostos: 1 - os<br />

sistemas <strong>de</strong> pensamentos po<strong>de</strong>m manter ou mudar durante um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong>; 2 - não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar nenhuma tendência da Geografia, mesmos<br />

aquelas que já <strong>de</strong>sapareceram; 3 - aprofundar nas principais questões que envolva<br />

uma socieda<strong>de</strong>; 4 - não a<strong>do</strong>tar nenhum conceito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> cientifica, pois é<br />

muito estreito; 5 - verificar mais as razões <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> que a própria i<strong>de</strong>ia.<br />

Nessa perspectiva é necessário reconhecer contextos <strong>de</strong> vivência <strong>do</strong> sujeito<br />

pesquisa<strong>do</strong>, indica<strong>do</strong> que cada contexto po<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma forma influenciar no<br />

sistema <strong>de</strong> pensamento. Para isso é necessário i<strong>de</strong>ntificar os espaços on<strong>de</strong> viveu,<br />

os lugares on<strong>de</strong> lecionou, as instituições políticas que participou como associações<br />

e parti<strong>do</strong>s, etc.<br />

Resulta<strong>do</strong> e Discussões<br />

Está tese é uma pesquisa que está relacionada à história <strong>do</strong> pensamento<br />

geográfico. Iremos pautar-nos na obra <strong>do</strong> geógrafo Horieste Gomes para subsidiar<br />

tal pesquisa. O recorte temático é o Movimento <strong>de</strong> Renovação da Geografia, <strong>de</strong>ste<br />

mo<strong>do</strong>, o recorte temporal iniciará na década <strong>de</strong> 1970 e se esten<strong>de</strong>rá até a década<br />

3 O méto<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> está próximo da Análise <strong>do</strong> Discurso. No entanto, se dará mais atenção aos<br />

aspectos <strong>do</strong> contexto <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> <strong>do</strong> momento histórico que aos aspectos linguísticos. Isso não implica<br />

em aban<strong>do</strong>nar as ferramentas da Análise <strong>do</strong> Discurso, como a realização <strong>de</strong> entrevistas. A<br />

construção <strong>de</strong> uma pesquisa baseada nesse méto<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser observada em GRIMM, (2011)<br />

Capa Índice 13526


<strong>de</strong> 1990. O perío<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> nos possibilitará enten<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> surgimento <strong>do</strong><br />

Movimento bem como <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> sua consolidação. Sen<strong>do</strong> fundamental para<br />

nós, compreen<strong>de</strong>r o papel no autor escolhi<strong>do</strong> nesse processo. De igual importância<br />

é realizar uma análise <strong>do</strong> momento histórico <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong> suas<br />

concepções, sejam elas ligadas ou não ao Movimento <strong>de</strong> Renovação.<br />

Horieste é, sem dúvida, o geógrafo <strong>de</strong> Goiás que possui o maior número <strong>de</strong><br />

publicações em um gran<strong>de</strong> perío<strong>do</strong> nos mais diferentes temas. Barbosa (2008) já o<br />

inseriu na lista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s intelectuais brasileiros, a saber: Josué <strong>de</strong> Castro, Paulo<br />

Freire, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Anísio Teixeira e Aziz Ab’Saber. Mas, o que<br />

coloca Horieste junto a estes pensa<strong>do</strong>res não é somente o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

publicações, é segun<strong>do</strong> Barbosa (2008) o que caracteriza os <strong>de</strong>mais, enten<strong>de</strong>r o<br />

global sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> vislumbrar o local.<br />

Assim também é o professor Horieste Gomes, que utilizan<strong>do</strong> conceitos da<br />

globalização, sem <strong>de</strong>sprezar o regional, contribuiu enormemente para a<br />

compreensão da formação histórica e geográfica <strong>do</strong> Brasil e <strong>de</strong> Goiás e<br />

propor mudanças fundamentais no que concerne um <strong>do</strong>s mais graves<br />

problemas <strong>de</strong> nosso tempo: a questão ambiental.<br />

Ele se insere a uma lista <strong>de</strong> outros autores <strong>de</strong> tendências marxistas. No<br />

entanto, os autores <strong>de</strong> referências <strong>do</strong>s geógrafos brasileiros liga<strong>do</strong>s ao Movimento<br />

<strong>de</strong> Renovação da Geografia é bem plural em suas concepções. Destacamos a<br />

presença <strong>de</strong> Rosa Luxemburgo, Trotsky, Lenin, Gramsci, Althusser, Harnecker,<br />

Mao-Tsé-Tung, Kautsky, Lukács, <strong>de</strong>ntre outros. Essas referências marxistas<br />

possuem concepções diversificadas, até mesmo antagônicas com relação a alguns<br />

temas. Ou seja, existia uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens, com relação ao<br />

marxismo, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> próprio Movimento <strong>de</strong> Renovação. Então, o que levaria autores<br />

brasileiros com referências distintas a se reunirem para formalizarem críticas as<br />

<strong>de</strong>mais correntes geográficas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>? A resposta possa estar nessa passagem<br />

Vesentini expõe que,<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que os pressupostos básicos <strong>de</strong>ssa "revolução" ou<br />

reconstrução <strong>do</strong> saber geográfico eram a criticida<strong>de</strong> e o engajamento. Por<br />

criticida<strong>de</strong> se entendia uma leitura <strong>do</strong> real -- isto é, <strong>do</strong> espaço geográfico --<br />

que não omitisse as suas tensões e contradições, que ajudasse enfim a<br />

esclarecer a espacialida<strong>de</strong> das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação. E por<br />

engajamento se pensava numa geografia não mais "neutra" e sim<br />

comprometida com a justiça social, com a correção das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

socioeconômicas e das disparida<strong>de</strong>s regionais. A produção geográfica até<br />

então, dizia-se -- embora admitin<strong>do</strong> exceções: Réclus, Kropotkin e outros --,<br />

sempre tivera uma pretensão à neutralida<strong>de</strong> e costumava <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> os<br />

problemas sociais (e até mesmo os ambientais na medida em que, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, eles são sociais), alegan<strong>do</strong> que "não eram geográficos".<br />

Capa Índice 13527


Parece que essa criticida<strong>de</strong> se dava pelo contexto social <strong>do</strong> momento, no<br />

mun<strong>do</strong>, como os resquícios <strong>do</strong> Maio <strong>de</strong> 68 e no Brasil, com a ditadura militar. Ou<br />

seja, os autores críticos/marxista tinham ligações diretas com a militância política <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> aqui nominada por Vesentini <strong>de</strong> engajamento. Era necessário, portanto,<br />

fazer uma Geografia pautada nas reivindicações sociais, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> as<br />

próprias divergências que existiam com relação ao marxismo.<br />

Para tanto é necessário que haja um espírito <strong>de</strong> transformação na<br />

constituição <strong>do</strong>s indivíduos que propunham as mudanças da socieda<strong>de</strong>. A formação<br />

<strong>de</strong>sse espírito revolucionário está pautada na trajetória <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada pessoa.<br />

Assim como os <strong>de</strong>mais geógrafos participes <strong>do</strong> Movimento <strong>de</strong> Renovação, Horieste<br />

Gomes teve fomenta<strong>do</strong> uma postura <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si. Isso po<strong>de</strong> ser<br />

percebi<strong>do</strong> em entrevistas concedidas por ele, bem como em <strong>do</strong>is livros que<br />

resumem um pouco <strong>de</strong> sua auto bibliografia. São eles: Caminhos para a<br />

(re)construção <strong>do</strong> homem: vivências e reflexões <strong>de</strong> vida e; Cela 14: militância prisão<br />

e liberda<strong>de</strong>. A passagem a seguir <strong>do</strong> primeiro livro cita<strong>do</strong> po<strong>de</strong> dar o tom <strong>de</strong> sua<br />

formação militante.<br />

Minha caminhada para o socialismo vem <strong>de</strong> berço, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong><br />

comecei a apren<strong>de</strong>r com o comportamento ético e moral <strong>do</strong>s meus pais, a<br />

me pautra pelo respeito à pessoa humana. No <strong>de</strong>correr da minha formação<br />

genética, ética e cultural; na labuta e disciplina no trabalho e no estu<strong>do</strong>; nos<br />

procedimentos <strong>de</strong> vivência social e, por presenciar, sentir e experimentar na<br />

própria carne as arbitrarieda<strong>de</strong>s e violências <strong>do</strong>s prepotentes foi crescen<strong>do</strong><br />

na essência <strong>do</strong> meu ser o humanismo para com os meus semelhantes.<br />

Outro momento importante é a sua análise da Geografia e a<br />

internacionalização <strong>de</strong> conceitos marxistas a essa ciência<br />

A partir <strong>do</strong> momento em que passamos a trabalhar com a concepção <strong>de</strong><br />

uma única natureza edificada a partir da base econômica <strong>do</strong> processo<br />

produtivo (forças produtivas e relações <strong>de</strong> produção) estamos resgatan<strong>do</strong>:<br />

a) a compreensão científica (natural e social) <strong>do</strong> nosso objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>:<br />

o espaço geográfico. Pois a unida<strong>de</strong> advinda da totalida<strong>de</strong> e viceversa,<br />

permite-nos recompor a geografia como ciência social, uma vez<br />

que estaremos eliminan<strong>do</strong> a dicotomia físico x humano e vice-versa, e<br />

construin<strong>do</strong> a unida<strong>de</strong> <strong>do</strong> saber geográfico;<br />

b) a totalida<strong>de</strong> dialética <strong>do</strong> universo da natureza e da socieda<strong>de</strong> como<br />

realida<strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que são. Até agora elas foram vistas como<br />

“ajuntamento <strong>de</strong> cacos” no dizer <strong>de</strong> Ruy Moreira. (GOMES, 1990, p.<br />

17)<br />

Processo produtivo, forças <strong>de</strong> produção, relações <strong>de</strong> produção, totalida<strong>de</strong><br />

dialética, entre outros. Como se <strong>de</strong>u essa interiorização é ponto essencial para se<br />

findar tal tese.<br />

Capa Índice 13528


Conclusões<br />

A pesquisa está sen<strong>do</strong> realizada através <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> levantamento<br />

bibliográfico, além <strong>de</strong> entrevistas. Através <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> da abordagem contextual<br />

estamos analisan<strong>do</strong>, além das publicações, os aspectos históricos que influenciaram<br />

tal perspectiva.<br />

Já po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar três aspectos importantes da formação militante e<br />

consequentemente intelectual <strong>do</strong> autor. Primeiro a formação humanística. Segun<strong>do</strong><br />

a participação em instituições importantes, seja para trabalho – <strong>UFG</strong> e UCG – ou<br />

práticas políticas – PCB e AGB.<br />

Além <strong>de</strong> investigarmos to<strong>do</strong>s esses aspectos da formação <strong>de</strong> Horieste Gomes<br />

é necessário revermos alguns pontos <strong>do</strong> Movimento <strong>de</strong> Renovação, tais como: a<br />

pluralida<strong>de</strong> temática; as diferentes visões <strong>do</strong> marxismo; o momento político das<br />

diferentes escalas etc. Pensamos que a abordagem contextual nos dá subsídio para<br />

realizar tal empreitada.<br />

Referências Bibliográficas<br />

MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes brasileiras. São<br />

Paulo: Contexto, 2010.<br />

BERDOULAY, Vincent [1981]. A abordagem contextual. Espaço e Cultura, n. 16,<br />

Rio <strong>de</strong> janeiro, jul/<strong>de</strong>z, 2003, p. 47-56.<br />

GRIMM, Flávia Christina Andra<strong>de</strong>. Trajetória Epistemológica <strong>de</strong> Milton Santos:<br />

uma leitura a partir da centralida<strong>de</strong> da técnica, <strong>do</strong>s diálogos com a economia política<br />

e a cidadania como práxis. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosófia, Letras e Ciências Humanas,<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Tese (<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>), 2011.<br />

BARBOSA, Altair Sales. O humil<strong>de</strong> pensa<strong>do</strong>r. Goiânia,17 jun. 2008. Disponível em:<br />

<br />

VESENTINI. José William. O que é Geografia Crítica. Disponível<br />

<br />

GOMES, Horieste. Caminhos para a (re)construção <strong>do</strong> homem: vivências e<br />

reflexões <strong>de</strong> vida. 2. ed. Goiânia: Editora PUC Goiás, 2011.<br />

GOMES, Horieste. Cela 14: militância prisão e liberda<strong>de</strong>. Goiânia: Editora <strong>do</strong> autor,<br />

2011.<br />

GOMES, Horieste. A produção <strong>do</strong> espaço geográfico no capitalismo. São Paulo:<br />

Contexto, 1990.<br />

Capa Índice 13529


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13530 - 13534<br />

TEORES DE MASSA SECA, FIBRAS E COMPONENTES DA PAREDE CELULAR<br />

DE CULTIVARES DE MILHETO SUBMETIDOS À DOSES DE NITROGÊNIO<br />

Wilian Henrique Diniz BUSO 1 , Aldi Fernan<strong>de</strong>s Souza FRANÇA 2 , Eliane Sayuri<br />

MIYA GI 3 , Emmanuel ARNHOLD 4<br />

1<br />

Engenheiro Agrônomo, Doutoran<strong>do</strong> em Ciência Animal na Escola <strong>de</strong> Veterinária da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. wilian.buso@ifgoiano.edu.br<br />

2<br />

Doutor - Departamento <strong>de</strong> Produção Animal da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás. aldi@vet.ufg.br<br />

3<br />

Doutora - Departamento <strong>de</strong> Produção Animal da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

elianesayuri@vet.ufg.br<br />

4<br />

Doutor - Departamento <strong>de</strong> Produção Animal da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />

emmanuelarnhold@yahoo.com.br<br />

Palavras-chave: fibras, forragem, matéria seca, Pennisetum glaucum, uréia<br />

INTRODUÇÃO<br />

O milheto (Pennisetum glaucum (L.) Leeke), é uma forrageira anual, <strong>de</strong><br />

alto valor nutritivo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong> para produção <strong>de</strong> grãos, cobertura morta e<br />

como forrageira para pastejo e produção <strong>de</strong> silagem. Em função <strong>de</strong> suas<br />

características fisiológicas, esta forrageira apresenta alta resistência ao estresse<br />

hídrico, além <strong>de</strong> se adaptar aos solos áci<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> baixa fertilida<strong>de</strong>, fatores limitantes<br />

para cultivo <strong>do</strong> milho e <strong>do</strong> sorgo (PIRES et al., 2007).<br />

O milheto po<strong>de</strong> vir a ser uma alternativa para pastejo no verão, quan<strong>do</strong><br />

compara<strong>do</strong> com pastagens nativas chega a produzir cinco vezes mais forragem que<br />

os campos nativos, assim permite incrementos a taxa <strong>de</strong> lotação e o ganho <strong>de</strong> peso<br />

vivo por área. Quan<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para pastejo o valor bromatológico varia no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>do</strong> seu ciclo (SANTOS et al., 2005).<br />

Com o presente trabalho <strong>de</strong> pesquisa objetivou avaliar os teores <strong>de</strong> MS,<br />

FDN, FDA, CEL, HEM e LIG <strong>de</strong> cultivares <strong>de</strong> milheto, sob adubação nitrogenada, em<br />

duas épocas <strong>de</strong> semeadura no município <strong>de</strong> Ceres, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O experimento foi conduzi<strong>do</strong> nas <strong>de</strong>pendências da Fazenda Experimental<br />

<strong>do</strong> IFGoiano Campus Ceres, localiza<strong>do</strong> no município <strong>de</strong> Ceres, Goiás. O solo da<br />

área experimental é classifica<strong>do</strong> com Latossolo Vermelho distrófico e para fins <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13530


sua caracterização química foram coletadas amostras na profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0 a 20<br />

cm. Os resulta<strong>do</strong>s foram Ca:2,4; Mg:1,3; CTC:7,67; Al:0; H:3.7 (cmolc dm -3 ),<br />

P(Melich):5,0; K:101 (mg dm -3 ), pH(CaCl2):5,6, V:51,8; Matéria Orgânica:1,5;<br />

Areia:39; Argila:50 (%).<br />

Os tratamentos foram constituí<strong>do</strong>s por três cultivares <strong>de</strong> milheto (ADR-<br />

7010, ADR-500 e BRS 1501), quatro <strong>do</strong>ses <strong>de</strong> N (0; 50; 100 e 200 kg N ha -1 ) e duas<br />

épocas <strong>de</strong> semeadura (<strong>de</strong>zembro/2010 e fevereiro/2011). Foi utiliza<strong>do</strong> <strong>de</strong>lineamento<br />

<strong>de</strong> blocos completos casualiza<strong>do</strong>s em esquema fatorial 3x4x2, com três repetições,<br />

totalizan<strong>do</strong> 72 unida<strong>de</strong>s experimentais.<br />

A semeadura foi realizada manualmente, em duas épocas, no dia 01 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010 e 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2011. Cada unida<strong>de</strong> experimental foi<br />

constituída por quatro fileiras <strong>de</strong> cinco metros lineares e espaçamento <strong>de</strong> 0,30 m<br />

entre linhas, totalizan<strong>do</strong> 4,5 m 2 . A adubação fosfatada <strong>de</strong> formação foi <strong>de</strong> 45 kg ha -1<br />

<strong>de</strong> P2O5 (Super fosfato simples), aplica<strong>do</strong> no sulco <strong>de</strong> semeadura. O potássio foi<br />

distribuí<strong>do</strong> em cobertura aos <strong>de</strong>z dias após a germinação na <strong>do</strong>sagem <strong>de</strong> 30 kg ha -1<br />

K20 (KCl). A adubação nitrogenada foi parcelada em duas aplicações, sen<strong>do</strong> 60%,<br />

aplica<strong>do</strong> aos <strong>de</strong>z dias após a emergência, enquanto os 40%, restante foi aplica<strong>do</strong> no<br />

dia seguinte após o primeiro corte <strong>de</strong> avaliação. Foi consi<strong>de</strong>rada como parcela útil<br />

as duas fileiras centrais, eliminan<strong>do</strong>-se 0,50 m <strong>de</strong> cada extremida<strong>de</strong>.<br />

Foram retiradas amostras <strong>de</strong> aproximadamente 500 g, para as análises<br />

laboratoriais. As amostras foram secas a temperatura <strong>de</strong> 60 0 C, durante 72 horas em<br />

estufa <strong>de</strong> ventilação forçada, para <strong>de</strong>terminação da matéria pré-seca.<br />

Posteriormente foram moídas em moinho tipo willey com peneira <strong>de</strong> um mm.<br />

As análises para <strong>de</strong>terminação da composição bromatológica, matéria<br />

seca (MS), fibra em <strong>de</strong>tergente neutro (FDN), fibra em <strong>de</strong>tergente áci<strong>do</strong> (FDA),<br />

celulose (CEL), hemicelulose (HEM) e lignina (LIG). Os teores <strong>de</strong> MS foram<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s conforme a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong>scrita por SILVA & QUEIROZ (2002). A<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>do</strong>s teores <strong>de</strong> FDN, FDA, CEL, HEM e LIG seguiram a meto<strong>do</strong>logia<br />

proposta por VAN SOEST (1994).<br />

Os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> MS, FDN, FDA, CEL, HEM e LIG foram submeti<strong>do</strong>s à<br />

análise <strong>de</strong> variância, incluin<strong>do</strong> as duas épocas e as médias foram comparadas pelo<br />

teste <strong>de</strong> Tukey ao nível <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> significância. As análises foram realizadas com<br />

auxílio <strong>do</strong> software R (R Core Team, 2010).<br />

Capa Índice 13531


RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Foram observadas diferenças significativas (P0,05), conforme apresenta<strong>do</strong> na Tabela 1.<br />

Ocorreu diferença significativa para os teores <strong>de</strong> MS entre as épocas <strong>de</strong><br />

semeadura (P0,05) FDN e FDA. A cultivar ADR-500 apresentou o maior teor FDN<br />

(58,11%), as cultivares ADR-7010 e BRS-1501, apresentaram teores <strong>de</strong> 57,74 e<br />

57,75%, respectivamente. Para a FDA a cultivar ADR-500 apresentou maior teor<br />

Capa Índice 13532


com 31,08%, e as cultivares ADR-7010 e BRS-1501 apresentaram valores <strong>de</strong><br />

31,03% e 30,80%, respectivamente.<br />

Estes resulta<strong>do</strong>s corroboram com os relata<strong>do</strong>s por SILVA (2010) quan<strong>do</strong><br />

avaliaram as mesma cultivares e também não encontraram diferença significativa<br />

para a FDN e FDA.<br />

Para FDA, verificou-se que o tratamento controle apresentou a maior<br />

concentração (32,00%), diferin<strong>do</strong> apenas <strong>do</strong> tratamento com a aplicação da <strong>do</strong>se <strong>de</strong><br />

50 kg ha -1 <strong>de</strong> N (30,23%), que se equivaleu às <strong>do</strong>ses <strong>de</strong> 100 e 200 kg ha -1 <strong>de</strong> N,<br />

com valores médios <strong>de</strong> 31,03 e 30,60%, respectivamente (Tabela 1).<br />

TABELA 1. Teores médios <strong>de</strong> massa seca (MS), fibra em <strong>de</strong>tergente neutro (FDN),<br />

Dose <strong>de</strong> N<br />

(kg ha -1 )<br />

fibra em <strong>de</strong>tergente áci<strong>do</strong> (FDA), celulose (CEL), hemicelulose (HEM) e<br />

lignina (LIG) <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s nas cultivares <strong>de</strong> milheto submeti<strong>do</strong>s a<br />

<strong>do</strong>ses <strong>de</strong> nitrogênio.<br />

MS<br />

(%)<br />

FDN<br />

(%)<br />

FDA<br />

(%)<br />

CEL<br />

(%)<br />

HEM<br />

0 8,90 c 60,11 a 32,00 a 21,78 25,27 5,18<br />

50 10,54 b 56,33 b 30,23 b 22,22 26,10 4,53<br />

100 11,14 a 57,13 b 31,03 ab 22,98 26,09 4,37<br />

200 10,50 b 57,90 b 30,60 ab 22,31 27,30 4,86<br />

CV (%) 5,64 3,08 6,15 9,02 9,62 28,21<br />

Médias seguidas <strong>de</strong> mesmas letras nas colunas são estatisticamente iguais pelo teste <strong>de</strong> tukey ao<br />

nível <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>.<br />

Os teores <strong>de</strong> HEM encontra<strong>do</strong>s no presente trabalho para as cultivares<br />

avaliadas foram superiores aos relata<strong>do</strong>s por SILVA (2010) que encontrou teores<br />

médios em três cortes para as cultivares ADR-7010, ADR-500 e BRS-1501, com<br />

valores médios <strong>de</strong> 24,76; 25,22 e 26,27%; respectivamente.<br />

Teores <strong>de</strong> HEM superiores aos encontra<strong>do</strong>s nesta pesquisa foram<br />

relata<strong>do</strong>s por GUIMARÃES JÚNIOR et al. (2005), com teores <strong>de</strong> 27,36%, para a<br />

cultivar BRS-1501 e 28,00%, para BN-2, já a cultivar CSM-1 apresentou teor <strong>de</strong><br />

26,17%, que se equivale ao encontra<strong>do</strong> nesta pesquisa. Os mesmo autores<br />

encontraram teores <strong>de</strong> CEL para as cultivares CMS-1, BRS-1501 e BN-2 <strong>de</strong> 29,77;<br />

27,98 e 30,00%, respectivamente, corta<strong>do</strong> aos 82 dias após a semeadura. O corte<br />

Capa Índice 13533<br />

(%)<br />

LIG<br />

(%)


efetua<strong>do</strong> no estádio <strong>de</strong> grãos leitosos verificaram maiores acúmulo <strong>de</strong> CEL. Para<br />

LIG, os autores relatam teores médios <strong>de</strong>: 4,39; 4,16 e 4,44%, respectivamente, os<br />

quais se equivalem aos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s no presente trabalho, conforme Tabela 1.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os teores <strong>de</strong> MS, FDN, FDA, CEL, HEM E LIG apresentada pelas cultivares<br />

avaliadas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da <strong>do</strong>se <strong>de</strong> N aplicada, aten<strong>de</strong> satisfatoriamente as<br />

exigências <strong>de</strong> ruminantes em regime <strong>de</strong> pasto.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Viçosa, MG: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, 2002. 340p.<br />

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminat. 2. Ed. New York: Cornell<br />

University Press, 1994. 476p.<br />

Capa Índice 13534


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13535 - 13539<br />

DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA PARA MONITORAMENTO<br />

PLASMÁTICO DE IMATINIBE POR HPLC-PDA EM PACIENTES COM LEUCEMIA<br />

MIELÓIDE CRÔNICA<br />

Wilsione José CARNEIRO * ; Luiz Carlos da CUNHA; Luciana Vieira <strong>de</strong> Queiroz<br />

LABRE; Tereza Cristina <strong>de</strong> Deus HONORIO; Cristiane EFFTING; Ramias Vieira<br />

Calixto FREIRE; Adriana <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> BARBOSA; Renato Tavares SAMPAIO; Maria<br />

Augusta Alves SILVA; Marcelo Rodrigues MARTINS.<br />

Palavras-chaves: Mesilato Imatinibe, HPLC, Leucemia mielói<strong>de</strong> crônica.<br />

Introdução:<br />

A leucemia mielói<strong>de</strong> crônica (LMC) é uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m hematológica clonal<br />

mieloproliferativa, consequência <strong>de</strong> uma multiplicação excessiva das células<br />

pluripotentes da medula óssea, caracterizada pela presença <strong>do</strong> cromossomo<br />

philadélfia (Ph). Este cromossomo reconheci<strong>do</strong> como marca<strong>do</strong>r da LMC é uma<br />

anormalida<strong>de</strong> citogenética da translocação recíproca entre os braços longos <strong>do</strong>s<br />

cromossomos 9 e 22, forman<strong>do</strong> um gene <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> BCR-ABL e sua <strong>de</strong>tecção é<br />

importante para o diagnóstico, prognóstico e terapêutica da <strong>do</strong>ença (figura 01)<br />

(FRANCIA et al., 2009). Em células normais a tirosinoquinase participa da<br />

transdução <strong>de</strong> sinal regulatório <strong>de</strong> diversos processos celulares, como metabolismo,<br />

crescimento, a<strong>de</strong>são, diferenciação e apoptose (ROBINSON et al., 2000; SAVAGE<br />

et al., 2002). A ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> gene BCR/ABL induz a <strong>do</strong>ença maligna pela ativação<br />

citoplasmática múltipla e pela transdução <strong>do</strong> sinal nuclear, influencian<strong>do</strong> o<br />

crescimento e mecanismo apoptótico das células hematopoiéticas normais,<br />

caracterizan<strong>do</strong> com isso uma proliferação <strong>de</strong> células leucêmicas conten<strong>do</strong> o<br />

cromossomo phila<strong>de</strong>lfia (FRANCIA et al., 2009).<br />

A introdução <strong>de</strong> inibi<strong>do</strong>res da tirosino-quinase para o tratamento da LMC mu<strong>do</strong>u<br />

a abordagem terapêutica. O mesilato <strong>de</strong> imatinibe revolucionou o tratamento em<br />

todas as fases da <strong>do</strong>ença e foi o primeiro inibi<strong>do</strong>r da tirosinoquinase introduzi<strong>do</strong> na<br />

clínica médica (VOLPE et al., 2008). Este fármaco foi concebi<strong>do</strong> racionalmente para<br />

inibir a tirosinoquinase BCR-ABL (AWIDI et al., 2010). O composto inibe a<br />

*Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> Tóxico-Farmacológicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Farmácia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Goiás (NEPET-<strong>UFG</strong>) – Goiânia-GO.<br />

Capa Índice 13535


proliferação e induz apoptose em linhagens <strong>de</strong> células BCR/ABL positivas. A <strong>do</strong>se<br />

diária utilizada é <strong>de</strong> 400mg, via oral (CAMPIGLIA et al., 2009).<br />

O mesilato <strong>de</strong> imatinibe (Glivec, Novartis Pharmaceuticals Corporation East<br />

Hanover, NJ) quimicamente <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> (4-[(4-metil-1-piperazinil)metil]-N-[4-metil-3-<br />

[[4-(3-piridinil)-2-pirimidinil]amino]-fenil benzami<strong>do</strong> metassulfonato (figura 01) possui<br />

fórmula molecular C 29 H 31 N 7 OCH 4 SO 3 e massa molecular <strong>de</strong> 589,72. É um pó<br />

cristalino branco-amarela<strong>do</strong> e a solubilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sal é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> pH sen<strong>do</strong><br />

melhor em pH 5.8 (VELPANDIAN et al., 2004).<br />

Figura 1: Estrutura química <strong>do</strong> mesilato <strong>de</strong> imatinibe (VELPANDIAN et al., 2004)<br />

Deve-se ressaltar a importância <strong>de</strong>ste trabalho, porque o controle da<br />

concentração plasmática <strong>do</strong> anti-leucêmico na <strong>do</strong>sagem <strong>de</strong> 400 e<br />

600mg/comprimi<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser útil para avaliar a a<strong>de</strong>são <strong>do</strong> paciente à terapia oral<br />

diária, as interações medicamentosas, a eficácia <strong>do</strong> tratamento e <strong>de</strong>terminar as<br />

graves reações adversas <strong>do</strong> fármaco (FRANCIA et al. 2009). Também é feita para<br />

avaliar se a concentração plasmática <strong>do</strong> fármaco encontra-se <strong>de</strong>ntro da faixa<br />

terapêutica. O nível plasmático <strong>de</strong> mesilato <strong>de</strong> imatinibe próximo a 1000 ng/mL po<strong>de</strong><br />

contribuir para melhorar os benefícios terapêuticos em pacientes com LMC<br />

(LARSON et al. 2008).<br />

A validação <strong>de</strong>ve garantir, por meio <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s experimentais, que o méto<strong>do</strong><br />

atenda às exigências das aplicações analíticas, asseguran<strong>do</strong> a confiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s. Para tanto, <strong>de</strong>ve apresentar especificida<strong>de</strong>, linearida<strong>de</strong>, intervalo,<br />

precisão, sensibilida<strong>de</strong>, limite <strong>de</strong> quantificação, exatidão, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s as análises em<br />

flui<strong>do</strong>s biológicos (ANVISA, 2003).<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>senvolver e validar uma técnica bioanalítica em<br />

HPLC-PDA para avaliar a concentração plasmática <strong>do</strong> fármaco mesilato <strong>de</strong> imatinibe<br />

em voluntários humanos diagnostica<strong>do</strong>s com sintomas <strong>de</strong> LMC.<br />

Capa Índice 13536


Materiais e méto<strong>do</strong>s:<br />

As análises quantitativas <strong>de</strong> MI em plasma humano foram realizadas por meio<br />

<strong>de</strong> cromatógrafo líqui<strong>do</strong> Shimadzu LC-20AT, equipa<strong>do</strong> com <strong>de</strong>tector <strong>de</strong> ultravioleta,<br />

acopla<strong>do</strong> a um amostra<strong>do</strong>r automático SIL-20A (Prominence Auto Sampler) e forno<br />

<strong>de</strong> coluna CTO-20A (Prominence column oven), controla<strong>do</strong>s por módulo <strong>de</strong><br />

comunicação CBM-20A.<br />

As análises foram realizadas com coluna Shimadzu 5 C18 (250x4,6mm),<br />

tamanho da partícula 5µm. A fase móvel utilizada foi metanol : água básica com<br />

trietilamina a 1 % pH: 10,5 (6:4), foi <strong>de</strong>sgaseificada com o auxílio <strong>de</strong> banho <strong>de</strong><br />

ultrassom antes <strong>de</strong> ser colocada no sistema, sob fluxo <strong>de</strong> 1 mL/min, padrão interno:<br />

propranolol, com <strong>de</strong>tecção em <strong>de</strong>tector PDA sob λ = 265 nm.<br />

A extração foi líqui<strong>do</strong>-líqui<strong>do</strong>, e utilizou-se preciptação com metanol e<br />

extração com acetato <strong>de</strong> etila.<br />

As corridas analíticas foram monitoradas em registra<strong>do</strong>r e integra<strong>do</strong>r<br />

Shimadzu ® acopla<strong>do</strong>s a microcomputa<strong>do</strong>r com software LC Solution ® para registro,<br />

integração, gerenciamento e tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s analíticos.<br />

Foi avalia<strong>do</strong> a linearida<strong>de</strong> no intervalo <strong>de</strong> 0,3 a 20 µg/mL para MI através <strong>do</strong><br />

cálculo <strong>do</strong> coeficiente <strong>de</strong> correlação linear da curva <strong>de</strong> calibração e também foram<br />

avalia<strong>do</strong>s os seguintes parâmetros cromatográficos preconiza<strong>do</strong>s pela Conferência<br />

Harmônica Internacional (ICH): número <strong>de</strong> pratos teóricos (N>2000), fator <strong>de</strong><br />

simetria (S≤2.0), fator <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> (K’>2.0), resolução (R>2) e precisão nas<br />

injeções (D.P.R. < 1%, n ≥ 5) (ICH, 2005). Avaliou-se os parâmetros <strong>de</strong> exatidão e<br />

precisão intra e inter ensaios nas concentrações <strong>de</strong> 0,8; 8,0 e 16 µg/mL.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão:<br />

O méto<strong>do</strong> mostrou ser seletivo e específico. O tempo <strong>de</strong> corrida foi <strong>de</strong> 17<br />

minutos. Os tempos <strong>de</strong> retenção para o IM e PROP foram respectivamente <strong>de</strong> 10,5<br />

e 12,9 minutos (figura 2). Os parâmetros cromatográficos estão <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

valores preconiza<strong>do</strong>s pelo ICH. O valor <strong>do</strong> coeficiente <strong>de</strong> correlação linear obti<strong>do</strong> foi<br />

<strong>de</strong> 0,9981. Os valores <strong>de</strong> N: 6386, S: 1,4, K’: 4,2, R: 4,6 e a precisão entre as<br />

injeções apresentou um D.P.R. <strong>de</strong> 0,23%. Os valores encontra<strong>do</strong>s para os ensaios<br />

intra e inter dias da precisão e exatidão estão <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>s na Tabela 1.<br />

Capa Índice 13537


Figura 2: Cromatograma <strong>do</strong> MI (T.R.: 11 min.) e Propranolol (T.R.: 13,5 min.) obti<strong>do</strong>s por CLAE-UV a<br />

265nm.<br />

Tabela 1- Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> exatidão e precisão intra e inter ensaio<br />

Concentração <strong>de</strong> MI<br />

(µg/mL)<br />

Mesilato <strong>de</strong> Imatinibe<br />

Precisão (%) Exatidão (%)<br />

Intra Inter Intra Inter<br />

0,81 101,42<br />

0,8 0,85 0,85 105,69 106,04<br />

0,89 111,02<br />

7,93 99,18<br />

8,0<br />

7,31 7,50 91,35 93,73<br />

7,25 90,67<br />

16,35 102,18<br />

16,0<br />

15,95 15,98 99,69 99,87<br />

15,64 97,73<br />

Os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> precisão e exatidão intra e interensaios resultaram em valores<br />

<strong>de</strong> coeficiente <strong>de</strong> variação abaixo <strong>de</strong> 15 %, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> satisfatório para méto<strong>do</strong>s<br />

bioanalíticos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a RE nº 899, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003 da ANVISA.<br />

Conclusão:<br />

mAU<br />

265nm,4nm (1.00)<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

0.0 5.0 10.0 15.0 min<br />

A análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> system suitability a partir <strong>do</strong> méto<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> fornece da<strong>do</strong>s que estão <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o preconiza<strong>do</strong> pelo ICH. Os<br />

ensaios <strong>de</strong> exatidão e precisão preconiza<strong>do</strong>s pela Resolução RE nº 899, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 2003 que dispõe sobre o guia para validação <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s bioanalíticos<br />

estão <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os parâmetros <strong>de</strong> aceitação.<br />

Capa Índice 13538<br />

IMT/10.714/477843<br />

PRO/13.302/656576


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Capa Índice 13539


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13540 - 13545<br />

A CONSTITUIÇÃO LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DO DISPOSITIVO DE<br />

EVANGELIZAÇÃO<br />

Wilton Divino da SILVA JÚNIOR – PG/D/FL/<strong>UFG</strong><br />

wiltonufg@gmail.com<br />

Kátia Menezes <strong>de</strong> Sousa – orienta<strong>do</strong>ra<br />

Km-sousa@uol.com.br<br />

PALAVRAS-CHAVE: Análise <strong>do</strong> Discurso; Foucault; Dispositivo; Religião.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Pensan<strong>do</strong> em uma história <strong>do</strong> presente, na medida em que preocupamo-<br />

nos em compreen<strong>de</strong>r uma série <strong>de</strong> acontecimentos contemporâneos, por que meios<br />

se processa a evangelização na socieda<strong>de</strong> atual <strong>de</strong>finida por alguns como pósmo<strong>de</strong>rna,<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tardia, ou ainda socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consumo, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que cada uma <strong>de</strong>stas concepções contempla <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

aspectos da socieda<strong>de</strong> atual para produzir suas análises? Ten<strong>do</strong> em vista uma<br />

perspectiva discursiva que questiona tanto uma soberania <strong>do</strong> sujeito assim como<br />

uma concepção linear-evolutiva da história, como é possível <strong>de</strong>screver o<br />

funcionamento da crença religiosa cristã-católica? Em que medida, constituir<br />

teoricamente, um dispositivo <strong>de</strong> evangelização permite compreen<strong>de</strong>r o<br />

funcionamento e organização da instituição eclesiástica? Como se <strong>de</strong>lineia a re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

elementos heterogêneos que constituem o dispositivo <strong>de</strong> evangelização? Ten<strong>do</strong> em<br />

vista os <strong>do</strong>gmas católicos (um <strong>do</strong>s elementos constituintes da re<strong>de</strong> <strong>do</strong> dispositivo),<br />

como <strong>de</strong>screver uma economia <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> (FOUCAULT, 2006c, 2006d,<br />

2006e, 2007c) da Igreja? Quais as práticas <strong>de</strong> subjetivação observadas em um<br />

discurso cristão-católico <strong>de</strong> evangelização? Que subjetivida<strong>de</strong>s (FOUCAULT, 1995;<br />

FONSECA, 2003) são produzidas pelo dispositivo <strong>de</strong> evangelização? Como o<br />

discurso <strong>de</strong> evangelização se configurou nas diferentes socieda<strong>de</strong>s conforme<br />

apresenta Foucault (1987, 1999, 2006a, 2007a), Deleuze (1992a, 1992b) e Debord<br />

(respectivamente socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Soberania, Disciplinar, <strong>de</strong> Controle e <strong>do</strong><br />

Espetáculo)? Quais as implicações <strong>de</strong> um dispositivo da evangelização na<br />

construção <strong>de</strong> um discurso <strong>do</strong> politicamente correto?<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa problematização constituímos uma primeira hipótese a<br />

respeito da noção <strong>de</strong> crença religiosa. Compreen<strong>de</strong>mos a crença religiosa não sob<br />

um ponto <strong>de</strong> vista psicologizante ou antropológico, mas sim discursivo, ou seja,<br />

necessariamente marca<strong>do</strong> por uma dada historicida<strong>de</strong> (não-positivista), portanto<br />

Capa Índice 13540


acreditamos que alguns aspectos se entrelaçam na produção da crença religiosa:<br />

instituição eclesiástica, subjetivida<strong>de</strong>s, um regime <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, um saber religioso e<br />

um po<strong>de</strong>r pastoral.<br />

Uma segunda hipótese configura-se a partir da seguinte elaboração: a<br />

instituição eclesiástica se organizaria no interior <strong>de</strong> um dispositivo evangeliza<strong>do</strong>r.<br />

Da<strong>do</strong> o momento histórico marca<strong>do</strong> por uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Controle em que a mídia<br />

exerce papel primordial na construção da visibilida<strong>de</strong> institucional e na sobrevivência<br />

das mesmas, acreditamos haver um processo <strong>de</strong> espetacularização da instituição<br />

eclesiástica. Enfim, parece existir um investimento midiático, espetaculariza<strong>do</strong>r, que<br />

atravessa o discurso evangeliza<strong>do</strong>r na contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Diante da hipótese anterior nos encaminhamos para uma terceira<br />

afirmativa <strong>de</strong> nossa investigação que aponta para a compreensão <strong>de</strong> um movimento<br />

<strong>do</strong> discurso evangeliza<strong>do</strong>r diante <strong>do</strong>s diferentes tipos <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, o que produziu<br />

diferentes sujeitos evangeliza<strong>do</strong>s. Acreditamos ser possível afirmar a existência <strong>de</strong><br />

um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> subjetivação pre<strong>do</strong>minante na contemporaneida<strong>de</strong> para a produção <strong>de</strong><br />

um “novo” sujeito evangeliza<strong>do</strong> 1 . A discussão foucaultiana a respeito da constituição<br />

<strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> governamentalida<strong>de</strong> (FOUCAULT, 1999, 2006b), em que o filósofo<br />

compreen<strong>de</strong> que a noção <strong>de</strong> governo em vigor na atualida<strong>de</strong> pauta-se, em gran<strong>de</strong><br />

medida, na noção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pastoral, ou seja, na compreensão <strong>de</strong> uma relação entre<br />

governantes e governa<strong>do</strong>s construída, inicialmente, a partir da relação judaico-cristã<br />

<strong>do</strong> pastor e suas ovelhas, nos permite afirmar que da Soberania ao Controle (tais<br />

conceitos não marcam, necessariamente momentos históricos, visto que po<strong>de</strong>m<br />

imbricar-se ao pensarmos a contemporaneida<strong>de</strong>) o discurso evangeliza<strong>do</strong>r constituiu<br />

diferentes sujeitos e que, atualmente, não caracterizariam-se por uma submissão<br />

total (como prevê a noção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pastoral), entretanto por uma interconexão entre<br />

submissão (pastoral) e auto-vigilância (biopo<strong>de</strong>r).<br />

Como quarta hipótese <strong>de</strong> nossa pesquisa, parece-nos possível pensar em<br />

uma relação <strong>de</strong> atravessamento discursivo em que <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s elementos<br />

constitutivos <strong>do</strong> discurso religioso, reaclimata<strong>do</strong>s, constituíriam o discurso <strong>do</strong><br />

politicamente correto, muito próprio <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Controle, por exemplo, a<br />

reconfiguração da noção <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> em Responsabilida<strong>de</strong> Social, bem como uma<br />

1 Segun<strong>do</strong> Pereira (2008) existem categorizações para os sujeitos (maníaco-eufórico, <strong>de</strong>pressivoangustia<strong>do</strong>-<strong>de</strong>siludi<strong>do</strong>,<br />

profético-místico-esquizo) produzi<strong>do</strong>s pelo processo <strong>de</strong> evangelização.<br />

Capa Índice 13541


emo<strong>de</strong>lação institucional das ações assistenciais da Igreja na constituição das<br />

organizações não-governamentais.<br />

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Pensan<strong>do</strong> nas implicações <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r pastoral, percebemos a pertinência<br />

em <strong>de</strong>finir um dispositivo da evangelização em uma investigação futura<br />

materializada neste projeto. Foucault se propõe, ao longo <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua obra a<br />

<strong>de</strong>screver dispositivos. Especificamente em História da sexualida<strong>de</strong> I: a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

saber (2006a), Foucault <strong>de</strong>screve o dispositivo da sexualida<strong>de</strong> como uma re<strong>de</strong><br />

mecanismos para uma analítica interpretativa <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r a partir <strong>do</strong>s recortes<br />

contemporâneos por ele analisa<strong>do</strong>s. Foucault (2007b) <strong>de</strong>fine dispositivo como uma<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza instável, pois se organiza como em um jogo em que ocorrem<br />

mudanças <strong>de</strong> posição e modificações <strong>de</strong> funções; um jogo em que se po<strong>de</strong><br />

estabelecer entre uma série <strong>de</strong> elementos heterogêneos como discursos,<br />

instituições, leis, medidas administrativas, organizações arquitetônicas, proposições<br />

filosóficas e morais, etc. Foucault (2007b, p.244-5) afirma ainda que o dispositivo<br />

possui “uma função estratégica <strong>do</strong>minante”, ou seja, um objetivo pontual, a partir <strong>do</strong><br />

qual o dispositivo, para continuar como tal, (a) “engloba um duplo processo”, (a.1) o<br />

<strong>de</strong> “sobre<strong>de</strong>terminação funcional” em que qualquer efeito produzi<strong>do</strong>, <strong>de</strong> caráter<br />

negativo ou positivo, estabelece relações <strong>de</strong> ressonância ou <strong>de</strong> contradição com<br />

outros efeitos e (a.2) “exige uma rearticulação, um reajustamento <strong>do</strong>s elementos<br />

heterogêneos que surgem dispersamente”, além <strong>do</strong> (b) “processo <strong>de</strong> perpétuo<br />

preenchimento estratégico” em que é preciso que se reutilize os efeitos produzi<strong>do</strong>s<br />

em favor <strong>de</strong> um novo objetivo estratégico.<br />

Deleuze, em seu texto “O que é um dispositivo”, apresenta a noção<br />

foucaultiana <strong>de</strong> dispositivo como “uma meada, um conjunto multilinear, composto<br />

por linhas <strong>de</strong> natureza diferente” (DELEUZE, 1990), linhas estas (<strong>de</strong> subjetivação,<br />

<strong>de</strong> força, <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>, etc.) que se atravessam <strong>de</strong> múltiplos mo<strong>do</strong>s e produzem o<br />

fenômeno constitutivo e interdiscursivo <strong>do</strong> discurso. As linhas configuram uma trama<br />

que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sfeita pela análise, entretanto, cuja análise possibilita a<br />

<strong>de</strong>preensão <strong>de</strong> um dispositivo <strong>de</strong> compreensão <strong>do</strong> processo discursivo. Este<br />

dispositivo tanto se constitui, como é atravessa<strong>do</strong> por linhas <strong>de</strong> incontáveis<br />

formações discursivas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aquelas sofrer variações <strong>de</strong> direção e <strong>de</strong>rivação –<br />

por exemplo, bifurcarem-se dada a existência <strong>de</strong> elementos tensores (objetos<br />

visíveis, enuncia<strong>do</strong>s formuláveis, forças em exercício, sujeitos em <strong>de</strong>terminada<br />

Capa Índice 13542


posição) constitutivos das mais diversas Formações Discursivas. Portanto, as linhas<br />

<strong>de</strong> um dispositivo não estabelecem uma <strong>de</strong>limitação homogênea <strong>do</strong> campo<br />

discursivo, mas traçam processos em contínuo <strong>de</strong>sequilíbrio, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong><br />

momentos <strong>de</strong> aproximações, bem como <strong>de</strong> fissuras (DELEUZE, 1990).<br />

Assim, como Foucault <strong>de</strong>lineia o funcionamento <strong>do</strong>s dispositivos <strong>de</strong><br />

aprisionamento e da sexualida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> funcionamento das relações<br />

entre saber e po<strong>de</strong>r, nos propomos a investigar, agora, a constituição <strong>de</strong> um<br />

dispositivo da evangelização. Torna-se possível pensar em uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um<br />

dispositivo como este a partir das proposições foucaultianas em torno da noção <strong>de</strong><br />

cristianismo (apud CASTRO, 2009), que consi<strong>de</strong>ram-no como uma religião<br />

confessional que impõe obrigações estritas com a verda<strong>de</strong>, com o <strong>do</strong>gma e com o<br />

cânon e que, portanto, forjam subjetivida<strong>de</strong>s assim como mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> exercício <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r, que se esten<strong>de</strong>m para além da instituição eclesiástica, ou seja, o po<strong>de</strong>r<br />

pastoral, através das disciplinas cristãs, forma individualida<strong>de</strong>s e subjetivida<strong>de</strong>s e<br />

para tanto existem técnicas e mecanismos discursivos os quais procuraremos<br />

apontar e <strong>de</strong>screver durante a pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> a fim <strong>de</strong> constituir um<br />

dispositivo evangeliza<strong>do</strong>r.<br />

A Congregação Nacional <strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil (CNBB), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995,<br />

estabelece diretrizes para as ações <strong>de</strong> evangelização nacional, através <strong>de</strong> projetos<br />

temáticos que vigoram por quatro anos. Institucionalmente, tais diretrizes nos<br />

apresentam elementos fundamentais para pensarmos um dispositivo <strong>de</strong><br />

evangelização, na medida em que os enuncia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tais projetos se inscrevem<br />

historicamente, convocam to<strong>do</strong>s os a<strong>de</strong>ptos a assumirem a posição <strong>de</strong> missionários<br />

evangeliza<strong>do</strong>res e produzem uma trama discursiva que resulta em efeitos <strong>de</strong><br />

convergência ou contradição no funcionamento <strong>do</strong> dispositivo. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma elaboração institucional em torno da evangelização católica, parece tornar essa<br />

tarefa primordial para a Igreja.<br />

Diante da exposição acima em torno <strong>do</strong>s procedimentos teóricometo<strong>do</strong>lógicos<br />

que norteiam nossa investigação, ainda é preciso esclarecer a noção<br />

<strong>de</strong> arquivo para Foucault, posto que a partir <strong>de</strong>sse conceito é possível pensar nos<br />

elementos que constituem nosso corpus. Foucault (2007d, p. 147), compreen<strong>de</strong> o<br />

arquivo não como um conjunto <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos acumula<strong>do</strong>s por uma cultura e que<br />

guardam um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, mas como “um sistema que rege o<br />

aparecimento <strong>do</strong>s enuncia<strong>do</strong>s como acontecimentos singulares”, isto é, um sistema<br />

Capa Índice 13543


das condições históricas que controlam a formação e a transformação <strong>do</strong>s<br />

enuncia<strong>do</strong>s. Portanto, ten<strong>do</strong> em vista que procuramos compreen<strong>de</strong>r a constituição e<br />

o funcionamento <strong>do</strong> dispositivo <strong>de</strong> evangelização, enten<strong>de</strong>mos que para formular<br />

nosso arquivo é preciso observar: (a) a Bíblia Sagrada – consi<strong>de</strong>rada a obra-base da<br />

religião cristã-católica, “receptáculo sagra<strong>do</strong> da palavra <strong>de</strong> Deus”; (b) o Missal<br />

Romano – livro conten<strong>do</strong> os elementos e a estrutura da celebração eucarística<br />

católica; (c) “O Domingo” – Periódico litúrgico-catequético da Congregação Nacional<br />

<strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil (CNBB), que serve às comunida<strong>de</strong>s eclesiais na preparação e<br />

realização da celebração litúrgica católica; Catecismo da Igreja Católica – obra que<br />

contem to<strong>do</strong>s os elementos essenciais da fé católica; (d) o aparelho midiático<br />

católico-cristão: “Missa em seu Lar” – programa televisivo que completou, em 2001,<br />

33 anos <strong>de</strong> veiculação; canções produzidas pelos padres cantores (Padre Fábio <strong>de</strong><br />

Melo, Padre Zezinho e Padre Marcelo Rossi); (e) <strong>do</strong>cumentos da CNBB referentes<br />

aos Projetos e Diretrizes Nacionais <strong>de</strong> Evangelização (1995-1998, 1999-2002, 2000,<br />

2004-2007, 2005, 2008). Estes elementos tanto representam uma voz institucional<br />

da Igreja, assim como uma interface entre religião e mídia, no que se refere ao<br />

processo <strong>de</strong> evangelização.<br />

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

CASTRO, Edgar<strong>do</strong>. Vocabulário <strong>de</strong> Foucault: um percurso pelos seus temas,<br />

conceitos e autores. (Trad. Ingrid Muller Xavier). Belo Horizonte: Autêntica editora,<br />

2009.<br />

CNBB (Congregação Nacional <strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil). Projeto Nacional <strong>de</strong><br />

Evangelização: O Brasil na missão continental (Documento 88). São Paulo: Ed.<br />

Paulinas, 2008. Disponível em: www.cnbb.org.br<br />

DELEUZE, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: Michel Foucault: filósofo. Barcelona:<br />

Gedisa, 1990, pp. 155-161. Tradução <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>rson Flor <strong>do</strong> Nascimento.<br />

______________. Controle e <strong>de</strong>vir. In: ___________. Conversações. (Trad. Peter<br />

Pál Pelbart). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora 34, 1992a.<br />

______________. Post-scriptum sobre as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle. In: ___________.<br />

Conversações. (Trad. Peter Pál Pelbart). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora 34, 1992b.<br />

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. (Trad. Raquel Ramalhete).<br />

Petrópolis: Vozes, 1987.<br />

____________. O Sujeito e Po<strong>de</strong>r. Por que estudar o po<strong>de</strong>r: a questão <strong>do</strong> sujeito. In:<br />

Capa Índice 13544


____________. Em <strong>de</strong>fesa da socieda<strong>de</strong>. (Trad. Maria Ermantina Galvão). São<br />

Paulo: Martins Fontes, 1999.<br />

____________. História da sexualida<strong>de</strong>: a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber. (Trad. Maria Thereza<br />

da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque). 17.ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições<br />

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Org. e seleção <strong>de</strong> textos: Manoel Barros da Motta. (Trad. <strong>de</strong> Vera Lúcia Avellar<br />

Ribeiro). 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2006b. pp. 281-305.<br />

____________. O cuida<strong>do</strong> com a Verda<strong>de</strong>. In: _________. Ética e Sexualida<strong>de</strong>.<br />

2.ed. Org. e seleção <strong>de</strong> textos: Manoel Barros da Motta. (Trad. <strong>de</strong> Vera Lúcia Avellar<br />

Ribeiro). 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2006c. pp.<br />

____________. O Retorno da Moral. In: _________. Ética e Sexualida<strong>de</strong>. 2.ed. Org.<br />

e seleção <strong>de</strong> textos: Manoel Barros da Motta. (Trad. <strong>de</strong> Vera Lúcia Avellar Ribeiro).<br />

2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2006d. pp.<br />

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2.ed. Org. e seleção <strong>de</strong> textos: Manoel Barros da Motta. (Trad. <strong>de</strong> Vera Lúcia Avellar<br />

Ribeiro). 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2006e. pp.<br />

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(Trad. Roberto Macha<strong>do</strong>). 23.ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições Graal, 2007a. pp.179-191.<br />

____________. Sobre a História da Sexualida<strong>de</strong>. In: ___________. Microfísica <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r. (Trad. Roberto Macha<strong>do</strong>). 23.ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições Graal, 2007b. pp.<br />

243-276.<br />

____________. Verda<strong>de</strong> e Po<strong>de</strong>r. In: ___________. Microfísica <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. (Trad.<br />

Roberto Macha<strong>do</strong>). 23.ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições Graal, 2007c. pp. 1-14.<br />

____________. A arqueologia <strong>do</strong> saber. Tradução <strong>de</strong> Luiz Felipe Baeta Neves. 7.ed.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2007d.<br />

MACHADO, Roberto. Foucault, a ciência e o saber. 3.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar ed., 2006.<br />

PEREIRA, William César Castilho. Evangelização e Pessoa: os <strong>de</strong>safios da<br />

subjetivida<strong>de</strong>. 2008.<br />

Capa Índice 13545


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13546 - 13550<br />

RESISTÊNCIA TRANSMITIDA E EFEITO DA PROFILAXIA PARA TRANSMISSÃO<br />

VERTICAL DO HIV-1 NA SELEÇÃO DE MUTAÇÕES DE RESISTÊNCIA AOS<br />

ANTIRRETROVIRAIS EM GESTANTES VIRGENS DE TRATAMENTO<br />

Yanna Andressa Ramos <strong>de</strong> LIMA 1 ; Mônica Nogueira da Guarda REIS 1 ; Mariane<br />

Martins <strong>de</strong> Araújo STEFANI 1<br />

1- Instituto <strong>de</strong> Patologia Tropical e Saú<strong>de</strong> Pública/<strong>UFG</strong><br />

E-mail: yanna.and@gmail.com<br />

Palavras-chave: HIV-1; Transmissão vertical; Mutações <strong>de</strong> resistência<br />

Introdução: No Brasil a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV-1/Aids vem apresentan<strong>do</strong> uma tendência<br />

contínua <strong>de</strong> interiorização, pauperização e feminização. Des<strong>de</strong> o início da epi<strong>de</strong>mia<br />

no país a relação homem:mulher infecta<strong>do</strong>s passou <strong>de</strong> 25:1 na década <strong>de</strong> 80, para<br />

2,3:1 em 1997, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002 mantém-se estabilizada em 1,5:1. Estes da<strong>do</strong>s<br />

comprovam o significativo aumento da incidência da infecção em mulheres. Até<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2009, haviam si<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>s 188.396 casos <strong>de</strong> aids em indivíduos <strong>do</strong><br />

sexo feminino, sen<strong>do</strong> 71% em mulheres na faixa etária <strong>de</strong> 25 a 49 anos (Brasil,<br />

2010a). Nesse contexto, a feminização da epi<strong>de</strong>mia particularmente em mulheres<br />

em ida<strong>de</strong> fértil representa um importante problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, uma vez que<br />

mulheres infectadas po<strong>de</strong>m transmitir o vírus para seus parceiros sexuais e/ou para<br />

seus filhos (transmissão vertical - TV).<br />

A TV <strong>do</strong> HIV-1 é multifatorial, entretanto a carga viral materna é consi<strong>de</strong>rada o<br />

principal fator <strong>de</strong> risco. Em gestantes assintomáticas infectadas pelo HIV-1, a<br />

prevenção da TV inclui o uso <strong>de</strong> profilaxia antirretroviral (ARV) a partir da 14ª<br />

semana <strong>de</strong> gestação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da carga viral e da contagem <strong>de</strong> CD4 até o<br />

parto, quan<strong>do</strong> é interrompida (Mnyani e McIntyre, 2009; Brasil, 2010b). Sabe-se que<br />

a exposição temporária aos ARV po<strong>de</strong> favorecer a seleção <strong>de</strong> vírus com mutações<br />

<strong>de</strong> resistência e comprometer futuras opções terapêuticas e/ou profiláticas (Naver et<br />

al., 2008).<br />

O HIV-1 subtipo C é mais prevalente no sul <strong>do</strong> país e foi primeiramente<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> em Goiás no ano <strong>de</strong> 2000 em uma gestante com vínculo epi<strong>de</strong>miológico<br />

com a região sul (Stefani et al., 2000). Estu<strong>do</strong>s recentes da epi<strong>de</strong>miologia molecular<br />

Capa Índice 13546


<strong>do</strong> HIV-1 em gestantes <strong>de</strong> Goiás mostraram um aumento na prevalência <strong>do</strong> subtipo<br />

C (Stefani et al., 2000; Car<strong>do</strong>so et al., 2010; Alcantara et al., 2012). O<br />

monitoramento da diversida<strong>de</strong> genética <strong>do</strong> HIV-1 é importante no contexto <strong>de</strong><br />

interiorização da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> aids <strong>do</strong> país principalmente na população<br />

heterossexual.<br />

Este estu<strong>do</strong> avaliou o perfil <strong>de</strong> resistência aos ARV em gestantes virgens <strong>de</strong><br />

tratamento, durante a gestação e após a exposição temporária à profilaxia ARV para<br />

transmissão vertical. Além disso, este estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>screve a diversida<strong>de</strong> genética no<br />

gene pol nos isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong> HIV-1.<br />

Material e Méto<strong>do</strong>s: Foram incluídas no estu<strong>do</strong> gestantes virgens <strong>de</strong> tratamento,<br />

triadas pelo Programa <strong>de</strong> Proteção à Gestante <strong>de</strong> Goiás e recrutadas em<br />

Goiânia/GO (IDP/APAE e HAA/HDT). As amostras <strong>de</strong> plasma foram submetidas à<br />

extração <strong>de</strong> RNA viral empregan<strong>do</strong>-se o kit QIAamp Viral RNA Mini Kit (Qiagen,<br />

GmbH, Hil<strong>de</strong>n, Germany). O RNA assim obti<strong>do</strong> foi retrotranscrito em cDNA<br />

(Invitrogen). Em seguida foi realizada reação <strong>de</strong> nested-PCR para amplificação <strong>do</strong><br />

gene pol <strong>do</strong> HIV-1 (região completa da protease-PR, HXB2 2253-2549 e um<br />

fragmento <strong>de</strong> 750 pb da transcriptase reversa-TR, HXB2 2550-3299). Os produtos<br />

amplifica<strong>do</strong>s foram então submeti<strong>do</strong>s ao sequenciamento automático utilizan<strong>do</strong>-se o<br />

kit BigDye Terminator Cycle Sequencing (Applied Biosystems, CA, USA). Após a<br />

precipitação e <strong>de</strong>snaturação <strong>do</strong> DNA, as amostras foram analisadas em<br />

sequencia<strong>do</strong>r automático (ABI PRISM 3130 Genetic Analyzer, Applied<br />

Biosystems). Para análise <strong>do</strong>s cromatogramas e edição manual das sequências foi<br />

utiliza<strong>do</strong> o software Sta<strong>de</strong>n Package 1.6. A avaliação <strong>de</strong> mutações associadas com<br />

resistência aos antirretrovirais foi feita <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s Stanford<br />

HIV Drug Resistance Database e da Socieda<strong>de</strong> Internacional <strong>de</strong> Aids <strong>do</strong>s EUA –<br />

IAS-USA. A prevalência <strong>de</strong> resistência transmitida em pacientes virgens <strong>de</strong><br />

tratamento foi estimada com a ferramenta <strong>de</strong> calibração da população (CRP,<br />

Stanford HIV Database). A <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong>s subtipos genéticos <strong>do</strong> vírus foi<br />

realizada com o software REGA HIV-1 2.0 e por inferência filogenética, baseada na<br />

comparação com sequências <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> subtipos puros e recombinantes <strong>do</strong><br />

Los Alamos HIV Database. Os subtipos virais recombinantes foram confirma<strong>do</strong>s com<br />

o software Simplot como anteriormente <strong>de</strong>scrito por Car<strong>do</strong>so et al. (2009).<br />

Capa Índice 13547


Resulta<strong>do</strong>s e Discussão: Entre Julho/2010 a Agosto/2012 foram recrutadas 55<br />

gestantes virgens <strong>de</strong> tratamento. A mediana <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi 25,2 anos (15 a 38 anos).<br />

As medianas da carga viral e <strong>de</strong> CD4 foram 28.141 cópias/mL (181 a 219.750<br />

cópias/mL) e 658 células/µL (348 a 1.302 células/µL), respectivamente. A via sexual<br />

foi a única forma <strong>de</strong> exposição relatada. O gene pol foi sequencia<strong>do</strong> em 51<br />

pacientes. Nível mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> resistência transmitida foi observa<strong>do</strong> nessa população<br />

(7,8%, 4/51): 3/4 apresentaram mutações <strong>de</strong> resistência principais à classe <strong>do</strong>s<br />

inibi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> protease-IP (M46I e L90M) e 3/4 apresentaram mutações <strong>de</strong><br />

resistência à classe <strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res nucleosídicos da transcriptase reversa-INTR<br />

(T215S/D e M41L). Em 2/4 das pacientes foram observadas mutações <strong>de</strong> resistência<br />

às 2 classes <strong>de</strong> ARV. Para 24/51 pacientes foi feita nova genotipagem (2-7 meses<br />

após o parto). Neste momento, 17/24 haviam interrompi<strong>do</strong> a profilaxia e 7 tiveram<br />

indicação para manutenção da terapia por terem sintomas. Não foi observada<br />

nenhuma mutação <strong>de</strong> resistência secundária nas 24 gestantes expostas à profilaxia<br />

para TV. A exposição temporária aos ARV é consi<strong>de</strong>rada um fator <strong>de</strong> risco para a<br />

seleção <strong>de</strong> vírus com mutações <strong>de</strong> resistência (Paintsil e Andiman, 2009). Neste<br />

estu<strong>do</strong> todas as gestantes receberam terapia ARV <strong>de</strong> alta potência (1IP+2INTR)<br />

como prevenção da TV, que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o esquema i<strong>de</strong>al para diminuir a seleção<br />

<strong>de</strong> cepas resistentes (Tanuri et al., 2002). Além disso, o uso <strong>de</strong> IP associa<strong>do</strong> com<br />

reforço <strong>de</strong> ritonavir aumenta a barreira genética evitan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

resistência. Em estu<strong>do</strong> semelhante realiza<strong>do</strong> com gestantes em uso <strong>de</strong> regime<br />

profilático basea<strong>do</strong> em IP e ritonavir, não foi observa<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

resistência secundária após a exposição temporária às drogas (Gingelmaier et al.,<br />

2010). Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scartar a presença <strong>de</strong> mutações <strong>de</strong> resistência em<br />

populações virais minoritárias visto que o HIV-1 é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> uma quasiespécie<br />

viral e o sequenciamento convencional <strong>de</strong>tecta vírus que representem pelo menos<br />

20% da população viral. A pequena amostragem <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> também representa<br />

uma limitação. Com relação à diversida<strong>de</strong> genética <strong>do</strong> HIV-1, os seguintes subtipos<br />

virais foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s: B PR /B TR (74,5%, 38/51), B PR /F1 TR e F1 PR /B TR (13,7%,<br />

7/51), C PR /C TR (7,8%, 4/51) e F1 PR /F1 TR (4,0%, 2/51).<br />

Conclusões: Este estu<strong>do</strong> mostra um nível mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> resistência transmitida em<br />

gestantes virgens <strong>de</strong> tratamento ARV. Além disso, a exposição temporária à<br />

profilaxia para TV não selecionou novas mutações <strong>de</strong> resistência indican<strong>do</strong> que<br />

Capa Índice 13548


nestas pacientes, as futuras opções terapêuticas e profiláticas estão preservadas. O<br />

nível mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> resistência transmitida <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong> em gestantes recém-<br />

diagnosticadas e seu potencial impacto na prevenção da TV corroboram a<br />

importância da realização <strong>de</strong> genotipagem para resistência para garantir o sucesso<br />

da profilaxia para TV <strong>do</strong> HIV-1.<br />

Referências bibliográficas:<br />

1. Brasil: Boletim Epi<strong>de</strong>miológico 2010. Ano VII nº1. In: Ministério da Saú<strong>de</strong> (Ed.),<br />

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Capa Índice 13549


10. Tanuri A, Cari<strong>de</strong>a E, Dantas MC, Morga<strong>do</strong> MG, Mello DL, Borges S, Tavares M,<br />

Ferreira SB, Santoro-Lopes G, Martins CR, Esteves AL, Diaz RS, Andreo SM,<br />

Ferreira LA, Rodrigues R, Reuter T, Cavalcanti AM, <strong>de</strong> Oliveira SM, <strong>de</strong><br />

Barbosa HB, Teixeira PR, Chequer PN: Prevalence of mutations related to<br />

HIV-1 antiretroviral resistance in Brazilian patients failing HAART. J Clin<br />

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11. Gingelmaier A, Eberle J, Kost BP, Bogner JR, Hofmann J, Weissenbacher T,<br />

Kastner R, Friese K, Weizsaecker K: Protease inhibitor-based antiretroviral<br />

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Clin Infect Dis 2010, 50: 890-4.<br />

Apoio financeiro: CAPES e DECIT/MS/CNPq.<br />

Capa Índice 13550


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, <strong>Ensino</strong> e <strong>Extensão</strong>- CONPEEX (2012) 13551 - 13555<br />

CRESCIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE CRISTAIS DE Bi2TeO5 POR UM MÉTODO<br />

DE CZOCHRALKI MODIFICADO<br />

Zanine Vargas FABRIS e Jesiel Freitas CARVALHO.<br />

Instituto <strong>de</strong> Física, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, Caixa Postal 131,<br />

Campus II, Samambaia, Goiânia, Goiás.<br />

dante.z@ig.com.br; carvalho@if.ufg.br .<br />

Palavras-chave: Telurato <strong>de</strong> bismuto; crescimento <strong>de</strong> cristais; fotorrefrativos.<br />

1. Introdução<br />

Cristais <strong>de</strong> Bi2TeO5 (BTeO) são fotorrefrativos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para gravação<br />

holográfica permanente, sen<strong>do</strong> capazes <strong>de</strong> reter um holograma por vários anos, se no<br />

escuro. Além disso o BTeO é fotocrômico, ferroelétrico [1], piezoelétrico [2] e birrefringente<br />

[3]. O BTeO cristaliza no sistema ortorrômbico com grupo espacial Abm2, parâmetros <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong> a = 11,602 Å, b = 16,461 Å e c = 5,523 Å, possuin<strong>do</strong> 8 fórmulas por célula.<br />

O BTeO fun<strong>de</strong> congruentemente em 900±5 o C [3], po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser cresci<strong>do</strong> a partir da<br />

fase fundida pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Czochralski. Seu crescimento apresenta duas dificulda<strong>de</strong>s<br />

principais: a alta pressão <strong>de</strong> vapor <strong>do</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio na temperatura <strong>de</strong> crescimento e<br />

uma clivagem acentuada no plano (1 0 0). Estas dificulda<strong>de</strong>s, possivelmente, são a razão<br />

para que a investigação <strong>de</strong>ste material tenha fica<strong>do</strong> restrita a poucos grupos <strong>de</strong> pesquisa<br />

no mun<strong>do</strong>.<br />

A caracterização das proprieda<strong>de</strong>s físico-químicas <strong>do</strong> BTeO apresenta ainda muitas<br />

lacunas. Poucos grupos <strong>de</strong> pesquisa têm se <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste cristal e<br />

relativamente poucos estu<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> publica<strong>do</strong>s sobre a estrutura <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos, o efeito<br />

<strong>de</strong> impurezas intencionais, suas relações com as proprieda<strong>de</strong>s ópticas, elétricas,<br />

fotoelétricas e fotorrefrativas, bem como as condições <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> cristal [2-5]. Por<br />

exemplo, o tensor eletro-óptico não foi ainda calcula<strong>do</strong>, a eficiência <strong>de</strong> difração apresenta<br />

divergência entre publicações, com valores varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 20 a 44% [3, 6], a caracterização<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos foto-ativos é ainda incipiente.<br />

Em trabalho recente [7] realizamos um estu<strong>do</strong> sistemático <strong>do</strong> crescimento <strong>de</strong><br />

cristais <strong>de</strong> telurato <strong>de</strong> bismuto pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Czochralski em condições <strong>de</strong> baixo<br />

gradiente térmico (~35 o C/cm), o que nos permitiu <strong>do</strong>minar a técnica <strong>de</strong> crescimento<br />

<strong>de</strong>ste material pelo méto<strong>do</strong> convencional. Neste trabalho apresentamos resulta<strong>do</strong>s<br />

Capa Índice 13551


obti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> crescimento <strong>de</strong> monocristais <strong>de</strong> BTeO por um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Czochralski<br />

modifica<strong>do</strong> pelo uso <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> cadinho duplo, visan<strong>do</strong> controlar o teor <strong>de</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

telúrio na fase líquida. A caracterização estrutural <strong>do</strong>s cristais e da líquida <strong>de</strong> partida foi<br />

realizada por difração <strong>de</strong> raios X e microscopia eletrônica <strong>de</strong> varredura (MEV); medidas<br />

<strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> e fotocondutivida<strong>de</strong> na região visível foram também realizadas.<br />

2. Meto<strong>do</strong>logia<br />

Para o crescimento <strong>do</strong>s cristais <strong>de</strong> BTeO foram utiliza<strong>do</strong>s como precursores o<br />

óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> bismuto (III), Sigma-Aldrich 99,999%, e o dióxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio (IV), Sigma-Aldrich<br />

99,9%. Como primeira etapa <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> crescimento, foi realizada a síntese por<br />

reação no esta<strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> <strong>do</strong> composto BTeO, visan<strong>do</strong> minimizar a perda por evaporação<br />

<strong>do</strong> TeO2, que fun<strong>de</strong> a uma temperatura mais baixa que o BTeO; um tratamento térmico<br />

com etapas em 650 o C e 750 o C, ambos por 24 h, foi utiliza<strong>do</strong>. O sistema <strong>de</strong> cadinho<br />

duplo que foi utiliza<strong>do</strong> é mostra<strong>do</strong> esquematicamente na figura 1. Uma mistura rica em<br />

óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio (3Bi2O3 : 7TeO2) preenche a região externa (região 2), esta composição<br />

fun<strong>de</strong> a uma temperatura menor que a <strong>do</strong> BTeO e a evaporação preferencial <strong>do</strong> TeO2<br />

contribui para a formação <strong>de</strong> uma atmosfera saturada <strong>de</strong>sse óxi<strong>do</strong> próximo à interface <strong>de</strong><br />

crescimento, minimizan<strong>do</strong> sua perda pelo líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> crescimento (região 1). A composição<br />

<strong>de</strong> partida usada na solução <strong>de</strong> crescimento (região 1) foi 1Bi2O3 : 1,1TeO2 (2,38% em<br />

excesso <strong>de</strong> TeO2).<br />

O crescimento <strong>do</strong>s cristais foi realiza<strong>do</strong><br />

em um sistema <strong>de</strong> crescimento com controle<br />

microprocessa<strong>do</strong> <strong>de</strong> temperatura, baixo<br />

gradiente térmico e controle preciso das<br />

velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> puxamento e <strong>de</strong> rotação <strong>do</strong>s Figura 1 - Ilustração <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> cadinho<br />

duplo utiliza<strong>do</strong> para se criar uma atmosfera<br />

cristais. Valores para a taxa <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> 15<br />

<strong>de</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio próxima a interface <strong>de</strong><br />

rpm e velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> puxamento <strong>de</strong> 0,3 mm/h crescimento <strong>do</strong>s cristais.<br />

foram utiliza<strong>do</strong>s.<br />

O crescimento <strong>do</strong>s cristais foi realiza<strong>do</strong> em um sistema <strong>de</strong> crescimento com<br />

controle microprocessa<strong>do</strong> <strong>de</strong> temperatura, baixo gradiente térmico e controle preciso das<br />

velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> puxamento e <strong>de</strong> rotação <strong>do</strong>s cristais. Valores para a taxa <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> 15<br />

rpm e velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> puxamento <strong>de</strong> 0,3 mm/h foram utiliza<strong>do</strong>s.<br />

Medidas <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> e fotocondutivida<strong>de</strong> foram realizadas em um sistema <strong>de</strong><br />

medidas consistin<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma lâmpada halógena com monocroma<strong>do</strong>r acopla<strong>do</strong> a um motor<br />

Capa Índice 13552


<strong>de</strong> passo, uma fonte <strong>de</strong> tensão estabilizada Oxford Tennelec TC-527, um porta amostras<br />

que permite a realização das medidas em baixo vácuo, um eletrômetro Keithley 602, um<br />

microcomputa<strong>do</strong>r com programa <strong>de</strong> controle e aquisição.<br />

Medidas <strong>de</strong> MEV/EDS foram realizadas num microscópio Jeol, JSM–6610 <strong>do</strong><br />

laboratório multiusuário <strong>de</strong> microscopia <strong>de</strong> alta resolução (LabMic) da <strong>UFG</strong>.<br />

3. Resulta<strong>do</strong>s e Discussão<br />

Cristais cresci<strong>do</strong>s com o sistema <strong>de</strong> cadinho duplo apresentam excelente<br />

qualida<strong>de</strong> óptica e estrutural, a<br />

exemplo <strong>do</strong> BTeO_032, apresenta<strong>do</strong><br />

na figura 1(a). Destes cristais foram<br />

obtidas amostras, como mostra<strong>do</strong> na<br />

figura 1(b), utilizadas em medidas <strong>de</strong> Figura 2 - (a) Cristal BTeO_032 cresci<strong>do</strong> pelo<br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Czochraski modifica<strong>do</strong>; (b) amostra <strong>de</strong><br />

condutivida<strong>de</strong> e fotocondutivida<strong>de</strong>. BTeO cortada nas direções cristalográficas ,<br />

e .<br />

Em trabalho anterior mostramos que a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotação é um parâmetro<br />

crítico no processo <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> cristais <strong>de</strong> BTeO [7]. Cristais <strong>de</strong> BTeO cresci<strong>do</strong>s<br />

com velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotação menores<br />

que 5 rpm são envolvi<strong>do</strong>s por uma<br />

camada policristalina opaca, como po<strong>de</strong><br />

ser visto na figura 3(a). Isto ocorre pela<br />

cristalização <strong>de</strong> uma camada líquida<br />

mais pobre em TeO2 que se forma na<br />

(a)<br />

(b)<br />

parte superior <strong>do</strong> cadinho e mantém-se<br />

Figura 3 - (a) micrografia <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a camada<br />

estagnada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à combinação da externa opaca que envolven<strong>do</strong> o cristal cresci<strong>do</strong><br />

com velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotação menores que 5 rpm;<br />

evaporação preferencial <strong>do</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> (b) representação esquemática da formação da<br />

telúrio e um processo convectivo camada mais pobre em óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio que<br />

cristaliza em torno <strong>do</strong> cristal em puxamento.<br />

pobre,figura 3(b). Isto foi confirma<strong>do</strong><br />

através <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> MEV/EDS que mostraram que esta camada apresenta uma<br />

microestrutura típica <strong>de</strong> cerâmicas, com composição <strong>de</strong>ficiente em cerca <strong>de</strong> 26% <strong>de</strong><br />

TeO2, em comparação ao monocristal <strong>de</strong> BTeO.<br />

Medidas <strong>de</strong> MEV/EDS também foram utilizadas para analisar o resíduo das fases<br />

líquidas utilizadas durante o processo <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong>s cristais, visan<strong>do</strong> avaliar a<br />

eficiência <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> cadinho duplo. Constatou-se um aumento percentual em átomos<br />

Capa Índice 13553


<strong>de</strong> telúrio <strong>de</strong> 34 para 41% no material remanescente <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> puxamento (região<br />

1). Isto ocorreu porque o excesso <strong>de</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio evapora<strong>do</strong> <strong>do</strong> cadinho externo<br />

(região 2), ao formar uma atmosfera muito supersaturada em TeO2 na interface <strong>de</strong><br />

crescimento, foi parcialmente dissolvi<strong>do</strong> na fase líquida <strong>do</strong> cadinho interno (região 1). Este<br />

aumento representa um excesso em TeO2 <strong>de</strong> 7,63%, manten<strong>do</strong> a composição da fase<br />

líquida numa região <strong>do</strong> diagrama <strong>de</strong> fases on<strong>de</strong> apenas o Bi2TeO5 é a fase <strong>de</strong> equilíbrio<br />

[8], o que permitiu o crescimento <strong>do</strong>s cristais com boa qualida<strong>de</strong> cristalina. Medidas<br />

realizadas no resíduo pós-crescimento da região entre cadinhos mostraram que sua<br />

composição caiu <strong>de</strong> 54 para 51% em átomos <strong>de</strong> telúrio.<br />

Para as medidas elétricas foi utilizada uma amostra orientada cristalograficamente<br />

pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Laue, com dimensões nas direções , e iguais a 1,10,<br />

3,35 e 6,80 mm, respectivamente. As condutivida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> material foram medidas com<br />

campos aplica<strong>do</strong>s nas direções e , encontran<strong>do</strong>-se os valores<br />

σ yy = 2,2 pS / m e σ zz = 44 pS / m , respectivamente. O arranjo estrutural <strong>do</strong> Bi2TeO5<br />

apresenta canais abertos orienta<strong>do</strong>s ao longo da direção , o que explica por que<br />

σ zz é cerca <strong>de</strong> 20 vezes maior <strong>do</strong> que σ yy . Estes valores são consistentes com aqueles<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s por Hartmann [9], medi<strong>do</strong>s sob atmosfera <strong>de</strong> argônio.<br />

Medidas <strong>de</strong> fotocondutivida<strong>de</strong><br />

foram realizadas com campo elétrico<br />

nas direções e e luz<br />

inci<strong>de</strong>nte na direção com<br />

energias entre 1,8 e 3,2 eV. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s coeficientes <strong>de</strong><br />

fotocondução são mostra<strong>do</strong>s na figura<br />

4, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos observar que os<br />

valores medi<strong>do</strong>s na direção são<br />

Figura 4 - Coeficientes <strong>de</strong> fotocondução <strong>do</strong> BTeO<br />

maiores <strong>do</strong> aqueles medi<strong>do</strong>s na para as direções (triângulos) e <br />

(quadra<strong>do</strong>s) e espectro <strong>de</strong> absorção óptica <strong>do</strong><br />

direção em to<strong>do</strong> o intervalo <strong>de</strong><br />

material (linha contínua).<br />

energias estuda<strong>do</strong>. A<br />

fotocondutivida<strong>de</strong> não apresenta um crescimento monótono em função da energia <strong>do</strong><br />

fóton inci<strong>de</strong>nte, mas apresenta inflexões, sugerin<strong>do</strong> que centros fotoativos diferentes<br />

tomam parte no processo fotocondutivo em distintas regiões <strong>de</strong> energia da luz <strong>de</strong><br />

excitação. A origem <strong>do</strong>s <strong>de</strong>feitos associa<strong>do</strong>s a esses centros fotoativos ainda é objeto <strong>de</strong><br />

Capa Índice 13554


investigação. O espectro <strong>de</strong> absorção óptica é também mostra<strong>do</strong> na figura 4, indican<strong>do</strong><br />

que o crescimento rápi<strong>do</strong> da fotocondutivida<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> E g = 3,1eV [7] está associa<strong>do</strong> a<br />

transições inter-bandas.<br />

4. Conclusões<br />

Testes bem sucedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> cristais <strong>de</strong> BTeO usan<strong>do</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

cadinho duplo para minimizar a perda <strong>de</strong> TeO2 durante a cristalização foram realiza<strong>do</strong>s.<br />

Medidas <strong>de</strong> MEV/EDS mostraram o efeito <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> cadinho duplo para controlar o<br />

teor <strong>de</strong> óxi<strong>do</strong> <strong>de</strong> telúrio na fase líquida. Boas amostras <strong>do</strong> material foram utilizadas para<br />

estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> e fotocondutivida<strong>de</strong>. Os valores obti<strong>do</strong>s da condutivida<strong>de</strong> estão<br />

em bom acor<strong>do</strong> com os encontra<strong>do</strong>s na literatura. As medidas <strong>de</strong> fotocondutivida<strong>de</strong><br />

sugerem a contribuição <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos na região inter-bandas, cujas<br />

origens estruturais requerem estu<strong>do</strong>s adicionais.<br />

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[9] – HARTMANN, E. Crystal Research and Technology, vol. 36, pg. 911–916, 2001.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

Este trabalho foi parcialmente financia<strong>do</strong> pelas agências: CNPq, CAPES, FAPEG e<br />

FUNAPE. Agra<strong>de</strong>cemos ao LabMic pelas medidas <strong>de</strong> MEV/EDS.<br />

Capa Índice 13555

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