Autotransplante Esplênico - Drorlandotorres.com.br
Autotransplante Esplênico - Drorlandotorres.com.br
Autotransplante Esplênico - Drorlandotorres.com.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Autotransplante</strong> <strong>Esplênico</strong><<strong>br</strong> />
Técnica Cirúrgica<<strong>br</strong> />
______________________________________________________________________<<strong>br</strong> />
ORLANDO JORGE MARTINS TORRES<<strong>br</strong> />
Professor Assistente de Clínica Cirúrgica da Universidade<<strong>br</strong> />
Federal do Maranhão. Mestre em Cirurgia do Aparelho<<strong>br</strong> />
Digestivo – UFPR.<<strong>br</strong> />
ROSEMARIE MORAIS SALAZAR<<strong>br</strong> />
Acadêmica interna de Medicina do Hospital Evangélico de<<strong>br</strong> />
Curitiba.<<strong>br</strong> />
OSVALDO MALAFAIA<<strong>br</strong> />
Professor titular e coordenador do Curso de Pós-Graduação<<strong>br</strong> />
em Clínica Cirúrgica da Universidade Federal do Paraná.<<strong>br</strong> />
Resumo<<strong>br</strong> />
Os autores apresentam a técnica de<<strong>br</strong> />
autotransplante de tecido esplênico em uma bolsa<<strong>br</strong> />
de omento para preservação funcional do baço. É<<strong>br</strong> />
técnica simples, eficaz e sem <strong>com</strong>plicações.<<strong>br</strong> />
Unitermos: Trauma esplênico; autotransplante<<strong>br</strong> />
esplênico; técnica cirúrgica.<<strong>br</strong> />
__________<<strong>br</strong> />
Trabalho realizado no Curso de Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica da<<strong>br</strong> />
Universidade Federal do Paraná.<<strong>br</strong> />
176<<strong>br</strong> />
Introdução<<strong>br</strong> />
O baço é um dos principais órgãos envolvidos na<<strong>br</strong> />
resposta imune por ser produtor de anticorpos,<<strong>br</strong> />
imunoglobulinas da classe IgM e macrófagos<<strong>br</strong> />
especializados. É também responsável pela produção de<<strong>br</strong> />
tuftsina, um tetrapeptídeo que apresenta efeito<<strong>br</strong> />
estimulador de células fagocíticas (5).<<strong>br</strong> />
A infecção em pacientes esplenectomizados por<<strong>br</strong> />
trauma é 58 vezes maior do que na população geral,<<strong>br</strong> />
apresentando mortalidade de 50% a 75% nos primeiros<<strong>br</strong> />
dois anos após a esplenectomia. Os principais<<strong>br</strong> />
microrganismos responsáveis pela síndrome de infecção<<strong>br</strong> />
fulminante pós-esplenectomia são Streptococcus<<strong>br</strong> />
pneumoniae, Neisseria meningitidis, Haemophilus<<strong>br</strong> />
influenzae e Escherichia coli (1,3).<<strong>br</strong> />
Uma vez conhecido o papel do baço no sistema<<strong>br</strong> />
imune, as condutas em pacientes submetidos a<<strong>br</strong> />
traumatismos esplênicos voltaram-se para uma orientação<<strong>br</strong> />
mais conservadora. Diferentes métodos de preservação<<strong>br</strong> />
esplênica têm sido utilizados, tais <strong>com</strong>o esplenorrafia,<<strong>br</strong> />
esplenectomias parciais, uso de agentes hemostáticos e<<strong>br</strong> />
ligadura da artéria esplênica mantendo o baço no local de<<strong>br</strong> />
origem (4,9). Entretanto, em aproximadamente 15% dos<<strong>br</strong> />
casos a esplenectomia total é inevitável e, nestas<<strong>br</strong> />
situações, o autotransplante de fatias de tecido esplênico<<strong>br</strong> />
tem oferecido uma alternativa simples e segura (9).<<strong>br</strong> />
Descrevemos a técnica de autotransplante esplênico,<<strong>br</strong> />
utilizada para preservação funcional do baço.<<strong>br</strong> />
Técnica cirúrgica<<strong>br</strong> />
SETEMBRO, 1994 JBM VOL. 67•Nº 3<<strong>br</strong> />
Após a esplenectomia total, o baço, ou parte<<strong>br</strong> />
dele, é depositado em um recipiente contendo solução<<strong>br</strong> />
salina e preparado para o autotransplante. Remove-se<<strong>br</strong> />
todos os fragmentos esplênicos da cavidade peritoneal<<strong>br</strong> />
para evitar esplenoses.
<strong>Autotransplante</strong> <strong>Esplênico</strong><<strong>br</strong> />
Técnica Cirúrgica<<strong>br</strong> />
Realiza-se a secção transversal de duas a<<strong>br</strong> />
três fatias de tecido esplênico, retirados da porção<<strong>br</strong> />
média do baço <strong>com</strong> espessura de 3 a 5mm e <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
peso total aproximado de 30g (Fig. 1).<<strong>br</strong> />
Com a exposição do omento gastrocólico<<strong>br</strong> />
na parede abdominal anterior, os fragmentos<<strong>br</strong> />
esplênicos em fatias são depositados so<strong>br</strong>e este<<strong>br</strong> />
omento que é do<strong>br</strong>ado so<strong>br</strong>e si mesmo,<<strong>br</strong> />
envolvendo o tecido esplênico, e suturado <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
pontos absorvíveis ao longo das bordas, formando<<strong>br</strong> />
uma verdadeira bolsa (Figs. 2 e 3). O omento,<<strong>br</strong> />
juntamente <strong>com</strong> o tecido esplênico<<strong>br</strong> />
autotransplantado, é reconduzido à sua posição<<strong>br</strong> />
original (Fig. 4).<<strong>br</strong> />
Figura 1 – Secção transversal do baço produzindo dois<<strong>br</strong> />
pedaços em sua porção média.<<strong>br</strong> />
Figura 2 – Dois pedaços de tecido esplênico são<<strong>br</strong> />
depositados so<strong>br</strong>e o omento gastrocólico que é do<strong>br</strong>ado<<strong>br</strong> />
para a confecção da bolsa.<<strong>br</strong> />
Figura 3 – Bolsa confeccionada a partir do omento<<strong>br</strong> />
gastrocólico, contendo tecido esplênico em seu interior.<<strong>br</strong> />
Figura 4 – Aspecto final da bolsa de omento <strong>com</strong> tecido<<strong>br</strong> />
esplênico em seu interior (visão lateral).<<strong>br</strong> />
Discussão<<strong>br</strong> />
SETEMBRO, 1994 JBM VOL. 67•Nº 3<<strong>br</strong> />
As tentativas de preservação da função<<strong>br</strong> />
esplênica, <strong>com</strong> a finalidade de impedir o aparecimento<<strong>br</strong> />
de infecções sistêmicas por microrganismos<<strong>br</strong> />
encapsulados através do autotransplante esplênico,<<strong>br</strong> />
parece ser uma alternativa lógica.<<strong>br</strong> />
A confecção de uma bolsa a partir do omento<<strong>br</strong> />
gastrocólico, <strong>com</strong>o local de autotransplante, se deve ao<<strong>br</strong> />
fato de o omento ser dotado de rico suprimento<<strong>br</strong> />
vascular, permitir fácil reintegração do tecido, impedir a<<strong>br</strong> />
migração do autotransplante e manter o baço dentro da<<strong>br</strong> />
circulação portal, onde normalmente está situado. A<<strong>br</strong> />
capacidade funcional esplênica é superior e apresenta<<strong>br</strong> />
altos títulos de anticorpos, quando <strong>com</strong>parado <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
outros locais de autotransplante (2,6).<<strong>br</strong> />
A utilização de fatias da porção média do baço,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> espessura de 3 a 5mm, permite manter maior<<strong>br</strong> />
contato <strong>com</strong> os vasos omentais e preservar a estrutura<<strong>br</strong> />
sinusoidal do baço, fator importante na manutenção da<<strong>br</strong> />
função de filtração de bactérias da circulação<<strong>br</strong> />
sanguínea, visto que o autotransplante sofre necrose<<strong>br</strong> />
parcial precoce e se regenera<<strong>br</strong> />
177
<strong>Autotransplante</strong> <strong>Esplênico</strong><<strong>br</strong> />
Técnica Cirúrgica<<strong>br</strong> />
a partir de uma camada periférica de células<<strong>br</strong> />
remanescentes (6,7,8). Em autotransplantes <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
tecido esplênico mais espesso, a necrose progride<<strong>br</strong> />
e a área central do tecido fica totalmente<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>prometida antes que o processo regenerativo<<strong>br</strong> />
possa alcançá-la, demonstrando ser, a espessura<<strong>br</strong> />
do fragmento de tecido esplênico<<strong>br</strong> />
autotransplantado, fator fundamental na<<strong>br</strong> />
preservação da viabilidade tecidual (2).<<strong>br</strong> />
Tecnicamente, o autotransplante esplênico<<strong>br</strong> />
não apresenta dificuldades, o tempo operatório<<strong>br</strong> />
não aumenta de maneira significativa e é<<strong>br</strong> />
praticamente isento de <strong>com</strong>plicações. A realização<<strong>br</strong> />
de outros procedimentos, tais <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
esplenectomias parciais, exigem habilidade,<<strong>br</strong> />
consomem mais tempo e aumentam a morbimortalidade<<strong>br</strong> />
(4). Consideramos, portanto, ser o<<strong>br</strong> />
autotransplante de tecido esplênico, mano<strong>br</strong>a útil<<strong>br</strong> />
sempre que a esplenectomia total estiver indicada.<<strong>br</strong> />
Summary<<strong>br</strong> />
The authors presented an omental pouch<<strong>br</strong> />
technique for autotransplantation of splenic tissue<<strong>br</strong> />
to preserve splenic function. This technique is<<strong>br</strong> />
simple, effective and without <strong>com</strong>plications.<<strong>br</strong> />
178<<strong>br</strong> />
Key words: Splenic trauma; splenic autotransplantation;<<strong>br</strong> />
surgical technique.<<strong>br</strong> />
Referências<<strong>br</strong> />
SETEMBRO, 1994 JBM VOL. 67•Nº 3<<strong>br</strong> />
1. BALFANZ, J. R.;NESBIT, M.E. et al. – Overwhelming sepsis<<strong>br</strong> />
folowing splenectomy for trauma. J. Pediatr., 88: 458-460-1976.<<strong>br</strong> />
2. IINUMA, H.; OKINAGA, K. et al. – Optimal site and amount of<<strong>br</strong> />
splenic tissue for autotransplantation. J. Srug. Res., 53:109-116,1992.<<strong>br</strong> />
3. KRIVIT, W.; GIEBINK, G.S.& LEONARD, A. – Overwhelming<<strong>br</strong> />
postsplenectomy infection. Surg. Clin. North. Am., 59: 223-233,1979.<<strong>br</strong> />
4. MILLIKAN, J.S.; MOORE, E.E. et al. – Alternatives to splenectomy<<strong>br</strong> />
in adults after trauma: repair, partial resection and reimplantation of<<strong>br</strong> />
splenic tissue. Am. J. Surg. 144: 711-716, 1982.<<strong>br</strong> />
5. MORRIS, D.H. & BULLOCK, F.D. – The importance of the spleen in<<strong>br</strong> />
resistence to infection. Ann. Surg., 70: 513-521,1919.<<strong>br</strong> />
6. PEARSON, H.; JOHNSTON, D. et al. – The born-again spleen:<<strong>br</strong> />
return of splenic function after splenectomy for trauma. N. Engl. J.<<strong>br</strong> />
Med., 298: 1389-1392,1978.<<strong>br</strong> />
7. TAVASSOLI, M. RATZAN, R.J. & CROSBY, W.H. – Studies on<<strong>br</strong> />
regeneration of heterotopic splenic autotransplants. Blood, 41: 701-<<strong>br</strong> />
709, 1973.<<strong>br</strong> />
8. TORRES, O.J.M.; DIETZ, U.A. et al. – Histological evaluation of the<<strong>br</strong> />
regeneration of splenic autotransplants. (In press.).<<strong>br</strong> />
9. WHITTE, C.L.; ESSER, M.J. & RAPPAPORT, W.D. – Updating the<<strong>br</strong> />
management of salvageable splenic injury. Ann. Surg., 215: 261-265,<<strong>br</strong> />
1992.<<strong>br</strong> />
Endereço para correspondência<<strong>br</strong> />
PROF. ORLANDO JORGE MARTINS TORRES<<strong>br</strong> />
Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná<<strong>br</strong> />
Rua General Carneiro, 181/736 – CAD<<strong>br</strong> />
80069-900 – Curitiba-PR