28.06.2013 Views

Tratamento cirúrgico da ascaridíase biliar - Drorlandotorres.com.br

Tratamento cirúrgico da ascaridíase biliar - Drorlandotorres.com.br

Tratamento cirúrgico da ascaridíase biliar - Drorlandotorres.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Artigo Original<<strong>br</strong> />

<strong>Tratamento</strong> <strong>cirúrgico</strong> <strong>da</strong> <strong>ascaridíase</strong><<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong>: uma terapêutica alternativa<<strong>br</strong> />

Surgical management of <strong>biliar</strong>y<<strong>br</strong> />

ascariasis: an alternative of treatment<<strong>br</strong> />

ORLANDO JORGE MARTINS TORRES, ELIANE LOPES MACEDO, JEANNIE VALÉRIA GONÇALVES COSTA,<<strong>br</strong> />

PAULO MÁRCIO SOUSA NUNES, TEREZA CRISTINA MONTEIRO DE MELO e WASTON GONÇALVES RIBEIRO<<strong>br</strong> />

Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário Presidente Dutra, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Maranhão (UFMA)<<strong>br</strong> />

Unitermos - Ascaridíase <strong>biliar</strong><<strong>br</strong> />

Cirurgia <strong>biliar</strong><<strong>br</strong> />

Key words - Biliary ascariasis<<strong>br</strong> />

Biliary surgery<<strong>br</strong> />

INTRODUÇÃO<<strong>br</strong> />

O Ascaris lum<strong>br</strong>icoides é o parasita intestinal mais prevalente<<strong>br</strong> />

no mundo, a<strong>com</strong>etendo principalmente a população de<<strong>br</strong> />

países subdesenvolvidos e <strong>com</strong> condições sanitárias precárias.<<strong>br</strong> />

Normalmente, são habitantes do intestino delgado, onde<<strong>br</strong> />

as fêmeas férteis eliminam aproxima<strong>da</strong>mente 200.000 ovos<<strong>br</strong> />

por dia <strong>com</strong> as fezes humanas (23)<<strong>br</strong> />

. Esses ovos são capazes de<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>eviver em condições ambientais adversas e, quando maduros,<<strong>br</strong> />

em solo úmido, podem infestar humanos pela ingestão<<strong>br</strong> />

de água e alimentos contaminados. Além do intestino<<strong>br</strong> />

delgado, os vermes adultos podem ser encontrados em locais<<strong>br</strong> />

ectópicos, <strong>com</strong>o a árvore <strong>biliar</strong>, câmaras cardíacas, trompa<<strong>br</strong> />

de Falópio, dueto de Eustáquio, dueto lacrimal e árvore respiratória<<strong>br</strong> />

(7,18,20)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

A presença do Ascaris lum<strong>br</strong>icoides na árvore <strong>biliar</strong> não é<<strong>br</strong> />

condição in<strong>com</strong>um; a suspeita deve ser eleva<strong>da</strong> em doença<<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong> e pancreática em área endêmica (10,l9,26)<<strong>br</strong> />

. Tem sido também<<strong>br</strong> />

observa<strong>da</strong> a relação de <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong> <strong>com</strong> colelitíase,<<strong>br</strong> />

colecistite acalculosa, colangiocarcinoma e carcinoma<<strong>br</strong> />

periampular (3,4,6,ll), inclusive promovendo colangite recorrente<<strong>br</strong> />

(7)<<strong>br</strong> />

. As <strong>com</strong>plicações verifica<strong>da</strong>s são colangite ascendente,<<strong>br</strong> />

pancreatite agu<strong>da</strong>, icterícia obstrutiva e litíase intra-hepáti-<<strong>br</strong> />

(12,16).<<strong>br</strong> />

infestação maciça por Ascaris lum<strong>br</strong>icoides na árvore<<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong> tem sido encontra<strong>da</strong> (3)<<strong>br</strong> />

ca<<strong>br</strong> />

. O tratamento clínico ou endoscópico<<strong>br</strong> />

tem sido a primeira conduta na maioria dos casos;<<strong>br</strong> />

entretanto, não é possível em to<strong>da</strong>s as situações e a cirurgia<<strong>br</strong> />

tem sido indica<strong>da</strong> no controle desses pacientes* 2<<strong>br</strong> />

' 5<<strong>br</strong> />

- 26<<strong>br</strong> />

». Pretendemos<<strong>br</strong> />

neste estudo avaliar pacientes portadores de <strong>ascaridíase</strong><<strong>br</strong> />

na via <strong>biliar</strong> principal submetidos a tratamento <strong>cirúrgico</strong>.<<strong>br</strong> />

CASUÍSTICA E MÉTODO<<strong>br</strong> />

No período de agosto de 1996 a julho de 1997. foram submetidos<<strong>br</strong> />

a tratamento <strong>cirúrgico</strong> no Serviço de Clínica Cirúrgica<<strong>br</strong> />

do Hospital Universitário Presidente Dutra, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

Federal do Maranhão, nove pacientes portadores de<<strong>br</strong> />

Ascaris lum<strong>br</strong>icoides na via <strong>biliar</strong>. Havia sete pacientes do<<strong>br</strong> />

sexo feminino (77,8%) e a i<strong>da</strong>de variou de 19 a 66 anos (média<<strong>br</strong> />

de 48,6 anos). Todos os pacientes apresentam baixas condições<<strong>br</strong> />

socioeconómicas e apenas dois (22,2%) tinham segundo<<strong>br</strong> />

grau <strong>com</strong>pleto. No mesmo período foram realiza<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />

473 intervenções cirúrgicas so<strong>br</strong>e a vesícula e via <strong>biliar</strong> principal,<<strong>br</strong> />

a <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong> representando, portanto, 1,9% dos<<strong>br</strong> />

casos.<<strong>br</strong> />

Clinicamente, todos os pacientes apresentavam dor no abdome<<strong>br</strong> />

superior e seis destes (66,7%), cólica <strong>biliar</strong> clássica.<<strong>br</strong> />

Apenas um paciente (11,1%) tinha fe<strong>br</strong>e <strong>com</strong> dor à palpação<<strong>br</strong> />

no hipocôndrio direito, sugerindo colecistite agu<strong>da</strong>. A icterícia<<strong>br</strong> />

esteve presente em dois pacientes (22,2%). Outros dois<<strong>br</strong> />

(22,2%) apresentavam história anterior de cirurgia <strong>biliar</strong> (colecistectomia).<<strong>br</strong> />

O tratamento clínico anterior <strong>da</strong> parasitose<<strong>br</strong> />

foi observado em quatro pacientes (33,3%).<<strong>br</strong> />

A ultra-sonografia do abdome superior foi realiza<strong>da</strong> em<<strong>br</strong> />

todos os pacientes e estabeleceu o diagnóstico de <strong>ascaridíase</strong><<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong> em oito (88,9%) e coledocolitíase em um (11,1%) (fi-<<strong>br</strong> />

Endereço para correspondência - Orlando Torres, Rua Ipanema, 1 - Ed. Luggano, BI. I / 204 - 65076-060 - São Luís, MA. E-mail: otorres@<<strong>br</strong> />

elo.<strong>com</strong>.<strong>br</strong><<strong>br</strong> />

0<<strong>br</strong> />

GED - Vol. 17, N 4 - Jul/Ago, 1998 117


Fig. 1 - Ultra-sonografia de abdome superior demonstrando Ascaris<<strong>br</strong> />

lum<strong>br</strong>icoides na árvore <strong>biliar</strong><<strong>br</strong> />

TABELA 1<<strong>br</strong> />

Conduta cirúrgica na <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong><<strong>br</strong> />

Colecistectomia 2 22,2<<strong>br</strong> />

Colecistectomia + coledocotomia 5 55,6<<strong>br</strong> />

Coledocotomia 2 22,2<<strong>br</strong> />

gura 1). A tomografia <strong>com</strong>putadoriza<strong>da</strong> foi realiza<strong>da</strong> em um<<strong>br</strong> />

paciente e confirmou o diagnóstico de <strong>ascaridíase</strong>.<<strong>br</strong> />

RESULTADOS<<strong>br</strong> />

O tratamento clínico inicial, utilizando son<strong>da</strong> nasogástrica,<<strong>br</strong> />

antiespasmódicos, reposição hídrica e analgésicos nas situações<<strong>br</strong> />

de cólica <strong>biliar</strong>, foi realizado em quatro pacientes<<strong>br</strong> />

(44,4%) em que a ultra-sonografia demonstrou o verme vivo,<<strong>br</strong> />

porém sem sucesso. Conseqüentemente, todos os pacientes<<strong>br</strong> />

foram submetidos ao tratamento <strong>cirúrgico</strong> eletivo. A conduta<<strong>br</strong> />

cirúrgica realiza<strong>da</strong> está representa<strong>da</strong> na tabela 1.<<strong>br</strong> />

A retira<strong>da</strong> do verme foi possível em sete pacientes (77,8%),<<strong>br</strong> />

em dois deles, através do dueto cístico após colecistectomia.<<strong>br</strong> />

A colangiografia transoperatória foi realiza<strong>da</strong> em cinco pacientes<<strong>br</strong> />

(55,6%). O verme não foi encontrado em dois pacientes<<strong>br</strong> />

e nestes foi utilizado o dreno em T (Kehr). Não foram<<strong>br</strong> />

observados cálculos na vesícula ou na via <strong>biliar</strong> dos pacientes.<<strong>br</strong> />

Todos utilizaram antibióticos, sendo a cefalotina em<<strong>br</strong> />

seis pacientes (66,7%) e a associação de metroni<strong>da</strong>zol e amicacina<<strong>br</strong> />

em três (33,3%). O tempo médio de internação foi de<<strong>br</strong> />

5,3 dias (variação - 3 a 8 dias). Não ocorreram óbitos e a<<strong>br</strong> />

infecção <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> operatória foi observa<strong>da</strong> em apenas um<<strong>br</strong> />

paciente (11,1%).<<strong>br</strong> />

n s<<strong>br</strong> />

Ascaridíase <strong>biliar</strong>:<<strong>br</strong> />

terapêutica<<strong>br</strong> />

alternativa<<strong>br</strong> />

%<<strong>br</strong> />

A colangiografia pós-operatória foi realiza<strong>da</strong> através do<<strong>br</strong> />

dreno de Kehr no 8 e<<strong>br</strong> />

dia do período pós-operatório e estava<<strong>br</strong> />

normal nos dois pacientes. Na alta hospitalar, todos foram<<strong>br</strong> />

tratados regularmente <strong>com</strong> anti-helmíntico via oral (meben<strong>da</strong>zol,<<strong>br</strong> />

lOOmg duas vezes por dia, durante três dias). Entretanto,<<strong>br</strong> />

permaneceram residindo no mesmo ambiente <strong>da</strong> infestação<<strong>br</strong> />

pelo Ascaris lum<strong>br</strong>icoides.<<strong>br</strong> />

DISCUSSÃO<<strong>br</strong> />

A infestação por Ascaris lum<strong>br</strong>icoides é endêmica em regiões<<strong>br</strong> />

tropicais de países em desenvolvimento. Na índia, existem<<strong>br</strong> />

regiões onde mais de 50% <strong>da</strong> população total apresentam<<strong>br</strong> />

ovos de Ascaris nas fezes (10)<<strong>br</strong> />

. Em crianças de seis a 15<<strong>br</strong> />

anos esse índice alcança 80% (5)<<strong>br</strong> />

. No Brasil, os maiores índices<<strong>br</strong> />

são observados na região Norte-Nordeste (10,23)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

A avaliação <strong>da</strong>s condições socioeconómicas de nossos pacientes<<strong>br</strong> />

confirma que o parasitismo é uma condição endêmica<<strong>br</strong> />

prevalente em regiões que exibem profundo <strong>com</strong>prometimento<<strong>br</strong> />

econômico e social, onde setores <strong>da</strong> população permanecem<<strong>br</strong> />

privados de serviços básicos de educação, habitação<<strong>br</strong> />

e lazer (8)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

O verme adulto, que normalmente habita a luz intestinal<<strong>br</strong> />

sem sintomas significantes, pode, em determina<strong>da</strong>s situações,<<strong>br</strong> />

(17, 23)<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>r origem a obstrução, volvos e perfurações . A invasão<<strong>br</strong> />

do parasita para a via <strong>biliar</strong> pode levar à estase <strong>da</strong> bile e<<strong>br</strong> />

dilatação do dueto. Acredita-se que somente a morte do verme<<strong>br</strong> />

possa aliviar o espasmo. Esse verme morto residual pode<<strong>br</strong> />

destruir o epitélio <strong>biliar</strong>, resultando em fi<strong>br</strong>ose, ou <strong>da</strong>r origem<<strong>br</strong> />

à formação de cálculos. Casos isolados de coledocolitíase<<strong>br</strong> />

devem ser investigados em áreas endêmicas <strong>com</strong>o de<<strong>br</strong> />

etiologia relaciona<strong>da</strong> à <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong>. No presente estudo<<strong>br</strong> />

não observamos cálculos <strong>biliar</strong>es nos pacientes operados.<<strong>br</strong> />

Crianças e adultos jovens geralmente se queixam de dor<<strong>br</strong> />

no abdome superior, cólica <strong>biliar</strong> ou se apresentam <strong>com</strong> colecistite<<strong>br</strong> />

agu<strong>da</strong>. Colecistite acalculosa tem sido registra<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o devi<strong>da</strong> à presença do verme na vesícula (2,5)<<strong>br</strong> />

. Alguns casos<<strong>br</strong> />

de icterícia obstrutiva, pancreatite e peritonite <strong>biliar</strong> são cau­<<strong>br</strong> />

(19, 20)<<strong>br</strong> />

sados por vermes nos duetos . A infestação maciça <strong>da</strong> via<<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong> principal por Ascaris lum<strong>br</strong>icoides é uma condição de<<strong>br</strong> />

emergência e, se não trata<strong>da</strong> de forma adequa<strong>da</strong>, pode evo­<<strong>br</strong> />

(2, 13, 15)<<strong>br</strong> />

luir para colangite supurativa agu<strong>da</strong> . A colecistectomia<<strong>br</strong> />

prévia <strong>com</strong> exploração <strong>da</strong> via <strong>biliar</strong> ou papilotomia endoscópica<<strong>br</strong> />

tem sido implica<strong>da</strong> <strong>com</strong>o responsável pela migração do<<strong>br</strong> />

parasita para a via <strong>biliar</strong> principal (22)<<strong>br</strong> />

. Observamos no presente<<strong>br</strong> />

estudo que seis pacientes apresentavam cólica <strong>biliar</strong><<strong>br</strong> />

clássica e um, sinais de colecistite agu<strong>da</strong>, sugerindo, em princípio,<<strong>br</strong> />

litíase <strong>biliar</strong>.<<strong>br</strong> />

O diagnóstico de <strong>ascaridíase</strong> pode ser realizado pelo exame<<strong>br</strong> />

parasitológico de fezes, que demonstra os ovos do verme<<strong>br</strong> />

ou remanescentes do parasita morto. Através do hemograma,<<strong>br</strong> />

leucocitose acima de 12.000/mm 3<<strong>br</strong> />

usualmente está asso-<<strong>br</strong> />

118 GED - Vol. 17, N s<<strong>br</strong> />

4- Jul/Ago, 1998


cia<strong>da</strong> <strong>com</strong> <strong>com</strong>plicações supurativas <strong>biliar</strong>es ou hepáticas. A<<strong>br</strong> />

contagem de eosinófilos raramente está eleva<strong>da</strong> acima de<<strong>br</strong> />

5%. Elevações transitórias <strong>da</strong> bilirrubina sérica podem ocor­<<strong>br</strong> />

rer em casos não <strong>com</strong>plicados. Níveis de bilirrubinemia su­<<strong>br</strong> />

periores a 3,5mg/dl são in<strong>com</strong>uns e ocorrem em associação<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> colangite. A amilase sérica está normal ou ligeiramente<<strong>br</strong> />

eleva<strong>da</strong>, podendo sugerir pancreatite agu<strong>da</strong> se estiver muito<<strong>br</strong> />

alta<<strong>br</strong> />

2 ,6,10)<<strong>br</strong> />

A radiografia abdominal pode confirmar a presença do<<strong>br</strong> />

verme intestinal em até 90% <strong>da</strong>s crianças. Ocasionalmente,<<strong>br</strong> />

pode ser visto ar na via <strong>biliar</strong> ou abscessos hepático ou subfrê-<<strong>br</strong> />

nico 6)<<strong>br</strong> />

. A base para o diagnóstico <strong>da</strong> <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong> é a<<strong>br</strong> />

ultra-sonografia do fígado e via <strong>biliar</strong>. Apresenta acurácia<<strong>br</strong> />

eleva<strong>da</strong> em demonstrar duetos <strong>biliar</strong>es dilatados contendo<<strong>br</strong> />

imagens lineares ou circulares que aumentam a ecogenici<strong>da</strong>-<<strong>br</strong> />

de. Pode também revelar os movimentos ativos do verme<<strong>br</strong> />

dentro do sistema <strong>biliar</strong>, na vesícula <strong>biliar</strong> ou intra-hepáti-<<strong>br</strong> />

co 1,9,14,21)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

.Em nosso estudo a ultra-sonografia foi o principal<<strong>br</strong> />

exame realizado <strong>com</strong> finali<strong>da</strong>de diagnostica e a especifici­<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong>de foi de 88,9%. Entretanto, a confirmação ultra-sonográ-<<strong>br</strong> />

fica do verme vivo só foi observa<strong>da</strong> em quatro pacientes 8-10)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

A tomografia <strong>com</strong>putadoriza<strong>da</strong> não oferece nenhuma van­<<strong>br</strong> />

tagem significante so<strong>br</strong>e a ultra-sonografia e foi realiza<strong>da</strong><<strong>br</strong> />

em apenas um paciente de nosso estudo. Outros exames, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

a colangiopancreatografia endoscópica retrógra<strong>da</strong>, colangio-<<strong>br</strong> />

grafia percutânea trans-hepática e colangiografia através do<<strong>br</strong> />

dreno de Kehr, são de grande utili<strong>da</strong>de diagnostica, porém<<strong>br</strong> />

invasivos e não estão isentos de <strong>com</strong>plicações 2,4)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

O tratamento <strong>da</strong> <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong> é em princípio nâo-ope-<<strong>br</strong> />

ratório. Em geral, antiespasmódicos endovenosos, drogas re­<<strong>br</strong> />

laxantes do esfíncter de Oddi, reposição hí<strong>br</strong>ica. analgésicos<<strong>br</strong> />

para aliviar a cólica <strong>biliar</strong> e des<strong>com</strong>pressão nasogástrica são<<strong>br</strong> />

re<strong>com</strong>en<strong>da</strong>dos na fase agu<strong>da</strong>. Os anti-helmínticos são reco­<<strong>br</strong> />

men<strong>da</strong>dos apenas após a fase agu<strong>da</strong>, para evitar que o verme<<strong>br</strong> />

morto permaneça na via <strong>biliar</strong>, levando à formação de cálcu­<<strong>br</strong> />

los e suas conseqüências. Outra forma de tratamento descri­<<strong>br</strong> />

ta tem sido a administração intraductal de anti-helmíntico,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> resultados satisfatórios 25)<<strong>br</strong> />

. Entretanto, essas medi<strong>da</strong>s só<<strong>br</strong> />

se aplicam ao Ascaris lum<strong>br</strong>icoides vivo e o índice de suces­<<strong>br</strong> />

so é de aproxima<strong>da</strong>mente 90%. Nos 10% restantes, na litíase<<strong>br</strong> />

associa<strong>da</strong> e no caso do verme morto, outras condutas devem<<strong>br</strong> />

ser adota<strong>da</strong>s. A retira<strong>da</strong> endoscópica utilizando cesta de Dor­<<strong>br</strong> />

mia tem sido realiza<strong>da</strong> em alguns pacientes por endoscopis-<<strong>br</strong> />

tas experientes, <strong>com</strong> resultados ain<strong>da</strong> não bem definidos 2,15,<<strong>br</strong> />

As razões para o fracasso <strong>da</strong> remoção endoscópica do parasi­<<strong>br</strong> />

ta <strong>da</strong> via <strong>biliar</strong> principal devem-se à inabili<strong>da</strong>de do verme<<strong>br</strong> />

vivo. fragmentação do verme morto, localização na vesícu­<<strong>br</strong> />

la, no dueto <strong>biliar</strong> alto ou espasmo do esfíncter de Oddi<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

Ascaridíase <strong>biliar</strong>:<<strong>br</strong> />

terapêutica<<strong>br</strong> />

alternativa<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

24)<<strong>br</strong> />

10,26)<<strong>br</strong> />

Acrescenta-se que alguns serviços não têm aparelho para<<strong>br</strong> />

acesso à via <strong>biliar</strong> principal. Essas situações constituem in­<<strong>br</strong> />

dicação para o tratamento <strong>cirúrgico</strong>. A indicação cirúrgica<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

)<<strong>br</strong> />

.<<strong>br</strong> />

aplica<strong>da</strong> aos pacientes do presente estudo deve-se ao fracas­<<strong>br</strong> />

so do tratamento clínico e por não se dispor do tratamento<<strong>br</strong> />

endoscópico.<<strong>br</strong> />

Na cirurgia, o verme pode ser retirado através do dueto<<strong>br</strong> />

cístico após a colecistectomia ou por coledocotomia longi­<<strong>br</strong> />

tudinal. A colangiografia transoperatória, realiza<strong>da</strong> em 55,6%<<strong>br</strong> />

de nossos pacientes, contribuiu para definir a localização do<<strong>br</strong> />

verme e avaliar a extensão <strong>da</strong> infestação. Após a retira<strong>da</strong> do<<strong>br</strong> />

Ascaris lum<strong>br</strong>icoides, a via <strong>biliar</strong> deve ser irriga<strong>da</strong> <strong>com</strong> solu­<<strong>br</strong> />

ção salina e realiza<strong>da</strong> sutura primária do colédoco. O dreno<<strong>br</strong> />

de Kehr pode ser utilizado para controle pós-operatório' 26<<strong>br</strong> />

'.<<strong>br</strong> />

A remoção de todos os vermes do intestino através de en-<<strong>br</strong> />

terotomia tem sido destaca<strong>da</strong> <strong>com</strong>o parte integrante <strong>da</strong> ope­<<strong>br</strong> />

ração por alguns autores, porém não foi realiza<strong>da</strong> em nosso<<strong>br</strong> />

estudo. Todos os pacientes devem ser tratados sistematica­<<strong>br</strong> />

mente <strong>com</strong> anti-helmíntico na alta hospitalar<<strong>br</strong> />

5, 8, 26)<<strong>br</strong> />

. Sempre<<strong>br</strong> />

que possível, deve haver modificação <strong>da</strong>s condições sanitá­<<strong>br</strong> />

rias locais relaciona<strong>da</strong>s <strong>com</strong> a doença. Em nosso estudo, to­<<strong>br</strong> />

dos os pacientes retornaram ao mesmo ambiente onde ocor­<<strong>br</strong> />

reu a infestação pelo verme.<<strong>br</strong> />

Podemos concluir que a <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong>, por ser condi­<<strong>br</strong> />

ção <strong>com</strong>um em nosso meio, deve ser incluí<strong>da</strong> no diagnóstico<<strong>br</strong> />

diferencial de cólica <strong>biliar</strong> e, após exame ultra-sonográfico,<<strong>br</strong> />

o tratamento <strong>cirúrgico</strong> pode ser realizado <strong>com</strong> sucesso e <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

baixa morbi<strong>da</strong>de nas situações em que o tratamento clínico<<strong>br</strong> />

fracassa e não se dispõe do tratamento endoscópico.<<strong>br</strong> />

RESUMO<<strong>br</strong> />

Os autores apresentam estudo retrospectivo de nove pa­<<strong>br</strong> />

cientes submetidos a tratamento <strong>cirúrgico</strong> por <strong>ascaridíase</strong><<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong>. A ultra-sonografia foi o método diagnóstico de maior<<strong>br</strong> />

utili<strong>da</strong>de. Na cirurgia, os vermes foram removidos através<<strong>br</strong> />

do dueto cístico ou por coledocotomia longitudinal. Colan­<<strong>br</strong> />

giografia intra-operatória através do dreno de Kehr foi reali­<<strong>br</strong> />

za<strong>da</strong> em cinco pacientes. Os autores concluem que o trata­<<strong>br</strong> />

mento <strong>cirúrgico</strong> <strong>da</strong> <strong>ascaridíase</strong> <strong>biliar</strong> é um procedimento de<<strong>br</strong> />

baixa morbi<strong>da</strong>de e deve ser realizado nos casos de fracasso<<strong>br</strong> />

do tratamento conservador ou quando a intervenção endos­<<strong>br</strong> />

cópica falha ou não está disponível.<<strong>br</strong> />

SUMMARY<<strong>br</strong> />

The authors present a retrospective review of 9 patients<<strong>br</strong> />

who were submitted to surgery due to <strong>biliar</strong>y ascariasis. Ul­<<strong>br</strong> />

trasonography was the most useful means of diagnosis. At<<strong>br</strong> />

surgery, the worms were removed through the cystic duct or<<strong>br</strong> />

longitudinal choledochotomy. Intra-operative cholangiogra­<<strong>br</strong> />

phy through the T tube was done in 5 patients. The authors<<strong>br</strong> />

concluded that surgical treatment of <strong>biliar</strong>y ascariasis is a<<strong>br</strong> />

low morbidity procedure and must be done in cases of failure<<strong>br</strong> />

of response to conservative treatment or if endoscopic inter­<<strong>br</strong> />

vention has either failed or is not available.<<strong>br</strong> />

GED- Vol. 17, N° 4 - Jul/Ago, 1998 119<<strong>br</strong> />

)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<<strong>br</strong> />

1. ALI, M. & KLAN, A.N. - Sonography of hepato<strong>biliar</strong>y ascariasis../ Clin<<strong>br</strong> />

Ultrasound 24: 235-241, 1996,<<strong>br</strong> />

2. ANDRADE JUNIOR, D.R., KARAM, J.A.. WARTH, M.P., MARCA,<<strong>br</strong> />

A.F., JUKEMURA. J„ MACHADO. M.C. & ROCHA, A.D. - Massive<<strong>br</strong> />

infestation by Ascaris lum<strong>br</strong>icoides of the <strong>biliar</strong>y tract: report a successfully<<strong>br</strong> />

treated case. Rev ln.it Med Trap São Paulo 34: 71-75. 1992.<<strong>br</strong> />

3. BAZ, R., TESTOR1. H.. ROMAN. H. & FONTAN.A.N. - Biliary ascariasis<<strong>br</strong> />

and cholelithiasis. Endoscopy 29: 556-559. 1997.<<strong>br</strong> />

4. CHOWDHURY, T.K. & DUHEY. S.K. - Periampullary carcinoma following<<strong>br</strong> />

<strong>biliar</strong>y ascariasis: a case report. Indian .1 Cancer 34: 136-138,<<strong>br</strong> />

1997.<<strong>br</strong> />

5. DAVIES, M.R.Q. & RODE. H. - Biliary ascariasis in children. Prog<<strong>br</strong> />

PediatrSurg 15: 55-74, 1982.<<strong>br</strong> />

6. D1NC, H. & ARSLAN, M.K. - Biliary ascariasis associated with cholangiocarcinoma:<<strong>br</strong> />

ultrasonographic findings. Eur Radiol 8: 788-790,<<strong>br</strong> />

1998.<<strong>br</strong> />

7. KHAN. T.F., ZAHAR1. SHERAZI, Z.A. & VISVANATHAN, R. - Ascarid<<strong>br</strong> />

worms causing recurrent cholangitis in a patient with an obstructing<<strong>br</strong> />

ampullary tumors. Singapore Med .1 34: 462-463, 1993.<<strong>br</strong> />

8. KHUROO, M.S. & ZARGAR. S.A. - Biliary ascariasis: a <strong>com</strong>mon cause<<strong>br</strong> />

of <strong>biliar</strong>y and pancreatic disease in an endemic area. Gastroenterology<<strong>br</strong> />

88: 418-423, 1985.<<strong>br</strong> />

9. KHUROO, M.S., ZARGAR. S.A., MAHA.1 AN. R., BHAT. R.L. & JA-<<strong>br</strong> />

VID. G. - Sonographic appearances in <strong>biliar</strong>y ascariasis. Gastroenterology<<strong>br</strong> />

93: 267-272. 1987.<<strong>br</strong> />

10. KHUROO, M.S.. ZARGAR. S.A. & MAHAJ AN. R. - Hepato<strong>biliar</strong>y and<<strong>br</strong> />

pancreatic ascariasis in India. Lancet 335: 1503-1506, 1990.<<strong>br</strong> />

11. KUZU, M.A.. OZTURK, Y.. OZBEK, H. & SORAN, A. - Acalculous<<strong>br</strong> />

cholecystitis; ascariasis as an unusual cause. ./ Gastroenterol 31: 747-<<strong>br</strong> />

749. 1996.<<strong>br</strong> />

12. LEUNG. J.W. & YU. A.S. - Hepatolithiasis and <strong>biliar</strong>y parasites. Baillieres<<strong>br</strong> />

Clin Gastroenterol 11: 681-706, 1997.<<strong>br</strong> />

13. LLOYD, D.A. - Massive hepato<strong>biliar</strong>y and pancreatic ascariasis in childhood.<<strong>br</strong> />

Br J Surg 68: 468-473. 1981.<<strong>br</strong> />

Ascaridíase <strong>biliar</strong>:<<strong>br</strong> />

terapêutica<<strong>br</strong> />

alternativa<<strong>br</strong> />

14. MANI, S„ MERCHANT. H„ SACHDEV, R„ RANANAVARE, R. &<<strong>br</strong> />

CUNHA. N. - Sonographic evaluation of <strong>biliar</strong>y ascariasis. Australas<<strong>br</strong> />

Radiol 41: 204-206. 1997.<<strong>br</strong> />

15. MISRA, S.P. & DWIVEDI, M. - Endoscopy-assistcd emergency treatment<<strong>br</strong> />

of gastroduodcnal and pancrcato<strong>biliar</strong>y ascariasis. Endoscopy 28:<<strong>br</strong> />

629-632. 1996.<<strong>br</strong> />

16. NYUGEN, H. & HALL. J.C. - Biliary ascariasis: a worm in the bag.<<strong>br</strong> />

AustNZJ Surgdl: 574-575. 1997.<<strong>br</strong> />

17. OCHOA, B. - Surgical <strong>com</strong>plications of ascariasis. World J Surg 15:<<strong>br</strong> />

222-227, 1991.<<strong>br</strong> />

18. REEDER. M.M. - The radiological and ultrasound evaluation of ascariasis<<strong>br</strong> />

of the gastrointestinal, <strong>biliar</strong>y, and respiratory tracts. Semin Radiol<<strong>br</strong> />

33: 57-78. 1998.<<strong>br</strong> />

19. REZAUE KAR1M, M. - Biliary ascariasis. IntSurglè: 27-29. 1991.<<strong>br</strong> />

20. SANDOUK. F., HAFFAR. S., ZADRA, M.M.. GRAHAM, D.Y. &<<strong>br</strong> />

ANAND. B.S. - Pancreatic-<strong>biliar</strong>y ascariasis: experience of 300 cases.<<strong>br</strong> />

Am J Gastroenterol 92: 2264-2267, 1997.<<strong>br</strong> />

21. SHULMAN, A. - Ultrasound appearances of intra- and extrahepatic <strong>biliar</strong>y<<strong>br</strong> />

ascariasis. Abdom Imaging 23: 60-66, 1998.<<strong>br</strong> />

22. SM1TS. A.B.. HOGEZAND, R.A., HU1SMAN.A.B. & HOOGENDAM,<<strong>br</strong> />

I.J. - Biliary ascariasis as <strong>com</strong>plication after cholecystectomy for cholelithiasis.<<strong>br</strong> />

Ned Tijdscltr Geneeskd 134: 1369-1371, 1990.<<strong>br</strong> />

2.3. TORRES, O.J.M., VALADÃO, J.A., SILVA, A.J.R., GONÇALVES FI­<<strong>br</strong> />

LHO, A., COSTA. M.M. & CINTRA, J.CA. - Obstrução intestinal por<<strong>br</strong> />

Ascaris lum<strong>br</strong>icoides. J Bras Med 70: 133-135. 1996.<<strong>br</strong> />

24. VALGAREN, G., DUYSBURG. I., FIERENS. H„ De BACKER, A..<<strong>br</strong> />

KAMPER, A.M. & PELCKMANS, P. - Endoscopic treatment of <strong>biliar</strong>y<<strong>br</strong> />

ascariasis: report of a case. Acta Clin Belg 51: 97-100, 1996.<<strong>br</strong> />

25. VAN DEN BOGAERDE. J.B. & JORDAAN. M. - Intraductal administration<<strong>br</strong> />

of alben<strong>da</strong>zole for <strong>biliar</strong>y ascariasis. Am J Gastroenterol 92: 1531-<<strong>br</strong> />

1533. 1997.<<strong>br</strong> />

26. WANI, N.A. & CHRUNGOO, R.K. - Biliary ascariasis: surgical aspects.<<strong>br</strong> />

World.I Surg 16: 976-979, 1992.<<strong>br</strong> />

120 G ED-Vol. 17, N s 4- Jul/Ago, 1998

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!