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LÍNGUA PORTUGUESA<br />
<strong>CPV</strong> fgv081dnovdir<br />
<strong>CPV</strong> O cursinho que mais aprova na GV<br />
Recomendação Geral: Leia todos os subitens de cada Questão antes de respondê-las.<br />
50% das vagas da GV Direito ficaram para os alunos do <strong>CPV</strong><br />
FGV – DIR – 1/novembro/2009<br />
O fragmento abaixo, extraído do conto “Conversão de um Avaro”, de Machado de Assis, é a base para a Questão A de Língua<br />
Portuguesa.<br />
“Quando ele apareceu à porta, José Borges esfregou os olhos como para certificar-se que não era sonho, e que efetivamente<br />
o colchoeiro ali lhe entrava pela sala. Pois quê! Onde, quando, de que modo, em que circunstâncias Gil Gomes calçara nunca<br />
luvas? Trazia um par de luvas, — é verdade que de lã grossa, — mas enfim luvas, que na opinião dele eram inutilidades. Foi a<br />
única despesa séria que fez; mas fê-la.”<br />
Questão A<br />
ASSIS, Machado de. “Contos fluminenses II”. In Obras completas de Machado de Assis. W. M. Jackson Inc.<br />
A.a) Classifique morfologicamente o termo destacado em negrito na passagem “que na opinião dele eram inutilidades.”<br />
e aponte a quem ele se refere. Justifique sua resposta. (1)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
O termo destacado em negrito na passagem “que na opinião dele eram inutilidades” é locução adjetiva, com sentido de posse, e<br />
se refere ao termo antecedente “Gil Gomes”. No trecho em que se insere, a frase em destaque no enunciado da questão faz parte da<br />
surpresa de José Borges em relação às ações de Gil Gomes, que lhe entra pela sala; segue-se a essa primeira atitude, fragmento de<br />
discurso indireto livre — “Pois o quê! Onde, quando, de que modo, em que circunstâncias Gil Gomes calçara nunca luvas?” — e<br />
as afirmações seguintes referem-se ao mesmo Gil Gomes, que “trazia um par de luvas (...), mas enfim luvas, que na opinião dele<br />
eram inutilidades”, organização textual que sugere que a locução adjetiva destacada no enunciado se refere a Gil Gomes.<br />
Embora a equipe de professores de Língua Portuguesa defenda as afirmações feitas no parágrafo acima, é preciso ressaltar que elas<br />
são apenas a melhor hipótese a defender, levando-se em consideração o parágrafo que foi disponibilizado aos candidatos.<br />
Uma outra hipótese — embora menos defensível devido à organização do texto — também é possível: a de que o termo dele se<br />
refere a José Borges, isto é, assume-se, desta vez, que essa personagem julga que as luvas são inutilidades; nesse caso, a estupefação<br />
de José Borges referir-se-ia não só ao fato de Gil Gomes utilizar luvas, mas também ao de Borges julgá-las inúteis. A estrutura do<br />
texto, entretanto, parece apontar para a hipótese anterior.<br />
A.b) Classifique sintaticamente a oração “— é verdade que de lã grossa, —” e explique seu efeito de sentido no contexto. (2)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
A sequência “é verdade que de lã grossa” é na realidade um período composto por subordinação; traz duas orações: uma oração<br />
principal e uma oração subordinada substantiva subjetiva com verbo elíptico:<br />
Oração principal: “ É verdade”<br />
Oração subordinada substantiva subjetiva (com elipse do verbo): “que de lã grossa”<br />
O período composto por subordinação cria uma espécie de ressalva em relação ao que foi dito anteriormente; isto é, o narrador chama<br />
a atenção para o fato de que as luvas eram feitas de lã grossa.<br />
A.c) Tendo em vista o termo em negrito do trecho “Quando ele apareceu à porta, José Borges esfregou os olhos como para<br />
certificar-se que não era sonho, e que efetivamente o colchoeiro ali lhe entrava pela sala.”, explique seu uso e seu efeito<br />
de sentido. (3)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
O pronome pessoal oblíquo “lhe”, na oração “o colchoeiro ali lhe entrava pela sala”, assume o valor semântico de posse. Semanticamente,<br />
portanto, pode-se reescrever o trecho da seguinte maneira: “o colchoeiro ali entrava pela sala dele”. Note que o pronome oblíquo<br />
analisado, e a locução dele, proposta na frase reformulada, referem-se ao termo “José Borges”, sujeito da forma verbal “esfregou”,<br />
e não do termo “o colcheiro”.<br />
1
2<br />
FGV - 01/11/2009 <strong>CPV</strong> o cursinho que mais aprova na FGV<br />
O fragmento a seguir, extraído do romance “O Amanuense<br />
Belmiro”, de Cyro dos Anjos, é a base para as Questões B e C.<br />
“Eu ia, atento e presente, em busca de um bonde e de Jandira.<br />
Foi só ouvir uma sanfona, perdi o bonde, perdi o rumo, e<br />
perdi Jandira. Fiquei rente do cego da sanfona, não sei se<br />
ouvindo as suas valsas ou se ouvindo outras valsas que elas<br />
foram acordar na minha escassa memória musical.<br />
Depois, o cego mudou de esquina, e continuei a pé o<br />
caminho, mas bem percebi que os passos me levavam, não<br />
para o cotidiano, mas para tempos mortos.”<br />
Questão B<br />
<strong>CPV</strong> fgv091dnovdir<br />
Cyro dos Anjos. O amanuense Belmiro.<br />
José Olympio Editora.<br />
B.a) Aproximando-se as duas passagens destacadas em<br />
negrito do trecho “Eu ia, atento e presente, em<br />
busca de um bonde e de Jandira. Foi só ouvir uma<br />
sanfona, perdi o bonde, perdi o rumo, e perdi<br />
Jandira.”, pode-se divisar uma figura de linguagem,<br />
mais especificamente, uma figura de pensamento.<br />
Nomeie-a e explique como ela se dá no texto. (4)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
A figura de pensamento no trecho é a gradação que se dá<br />
por uma sequência de expressões com sentidos que vão do<br />
denotativo para o conotativo, do menos importante para<br />
o que é mais importante.<br />
B.b) Classifique morfologicamente o termo “elas” e aponte<br />
a que termo se refere. Justifique sua resposta. (5)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
A classificação morfológica do termo “elas” é pronome<br />
pessoal do caso reto, e se refere a “as suas valsas”, na<br />
terceira linha do fragmento. A justificativa é o fato de<br />
que as valsas do cego da sanfona é que despertam outras<br />
valsas na memória da personagem que passa pelo cego, o<br />
que impede que se afirme que são todas as valsas (as do<br />
cego e as da memória da outra personagem).<br />
Questão C<br />
C.a) No fragmento todo, há uma sequência de fatos que dizem<br />
respeito ao tempo presente da personagem; no entanto,<br />
há uma frase que explicita a desconstrução desse tempo.<br />
Qual é essa frase? Justifique sua escolha. (6)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
No fragmento do romance O amanuense Belmiro, de<br />
Cyro dos Anjos, os fatos que dizem respeito ao presente do<br />
narrador-personagem estão explícitos, por exemplo,<br />
nas formas verbais “ia”, “perdi” (repetida três vezes),<br />
“fiquei” e outras. No final do primeiro parágrafo, contudo,<br />
a oração “elas foram acordar na minha escassa memória<br />
musical” aponta para a desconstrução do presente, isto é,<br />
as valsas tocadas pelo cego fizeram surgir na memória do<br />
narrador outras, ligadas ao seu passado.<br />
No final do segundo parágrafo, a expressão “para tempos<br />
mortos” alcança o mesmo efeito de sentido: as ações<br />
expressas pelos verbos “mudou” e “continuei” referemse<br />
ao tempo presente da personagem; o rumo que toma,<br />
entretanto, não o leva “para o cotidiano” — evidentemente<br />
ligado ao presente — mas “para tempos mortos” —<br />
obviamente associados ao passado.<br />
C.b) A partir de elementos do texto, explique que sentimento<br />
o protagonista nutre em relação ao passado. (7)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
As valsas tocadas pelo cego despertaram no narradorpersonagem<br />
a memória de outros tempos, os “tempos<br />
mortos”. A valsa possui uma conotação romântica,<br />
assim o passado deve ser compreendido como igualmente<br />
romântico; como a personagem perde o rumo, deduz-se<br />
que esse passado foi relevante, a ponto de a personagem<br />
perder-se.<br />
C.c) Aponte uma semelhança relevante entre o tocador de<br />
sanfona e o protagonista; caracterize-a; e comente<br />
seu efeito de sentido. (8)<br />
Resolução do <strong>CPV</strong>:<br />
Nessa narrativa, a cegueira do tocador de sanfona é, de<br />
modo metafórico, comum ao protagonista, que, ao ouvir a<br />
música da sanfona, passa a viver uma situação em que parece<br />
incapaz de nortear-se por si próprio. O efeito de sentido<br />
criado ao se relacionar este protagonista, desorientado, ao<br />
sanfoneiro cego, privado de uma faculdade fundamental<br />
para sua orientação, reforça a perda de rumo que se<br />
manifesta no fato de o personagem, "atento" (quanto a sua<br />
direção) e "presente" no começo do fragmento narrativo,<br />
ser, no seu final, alguém que não controla seus passos,<br />
sendo, pelo contrário, levado por eles.