SOCIEDADE BROTERIANA - Biblioteca Digital de Botânica ...
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humana n'estes últimos annos, é certo que os vestigios peninsulares, que<br />
existem, são ainda poucos para sanccionar qualquer conclusão positiva a<br />
respeito das raças prehistoricas <strong>de</strong> Portugal e Hespanha.<br />
Gomo tinhamos <strong>de</strong> seguir viagem no dia seguinte <strong>de</strong> manhã, aproveitámos<br />
o serão do dia da chegada para visitar a gruta Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> todas a<br />
mais curiosa.<br />
Estava uma bella noite ; as nuvens tinham-se dissipado <strong>de</strong> todo, <strong>de</strong>ixando<br />
a atmosphera d'uma limpi<strong>de</strong>z cerúlea muito notável, esclarecida pela lua<br />
que áquella hora (9 da noite) se elevava quasi a meio do seu curso. As<br />
cristas dos montes <strong>de</strong> Abelheira e <strong>de</strong> Ferreiros, que limitavam o horizonte<br />
por aquelle lado, as ravinas e valleiros que elles formavam, convergindo<br />
para o valle da ribeira, contrastavam, pela sua côr <strong>de</strong>negrida, com a<br />
transparência atmospherica. O silencio da noite era apenas interrompido<br />
pelo som longinquo da agua cahindo dos açu<strong>de</strong>s da fabrica <strong>de</strong> serragem.<br />
Dirigimo-nos para a gruta com gran<strong>de</strong>s precauções porque o terreno,<br />
apesar <strong>de</strong> esclarecido pelo luar, a cada momento nos embargava a passagem,<br />
obstruido por enormes pedras e moitas <strong>de</strong> arbustos. Descobrindo<br />
a entrada da gruta, baixa e muito tosca, verda<strong>de</strong>iro buraco que só muito<br />
perto pu<strong>de</strong>mos enxergar, o selvático da paizagem, aquella hora da noite,<br />
o religioso silencio que reinava, tudo me fez acudir á memoria a famosa<br />
inscripção que Dante, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vaguear pela mysteriosa floresta, imaginou<br />
esculpida á entrada do Inferno e que começa pelo verso :<br />
Per me si va nella cittá dolente...<br />
Percorremos primeiro uma galeria horizontal, espécie <strong>de</strong> vestibulo que<br />
antece<strong>de</strong> a gruta propriamente dita e que foi necessário abrir para lhe dar<br />
accesso, cortando gran<strong>de</strong>s massas <strong>de</strong> alabastro. Na extremida<strong>de</strong> d'esta<br />
galeria apresentou-se subitamente a nossos olhos um espectáculo imprevisto<br />
e original.<br />
Graças ά bem disposta illuminação que previamente fora distribuida por<br />
toda a gruta, vimos a nossos pés, prolongando-se em enorme extensão,<br />
um espaço <strong>de</strong>marcado por duas superficies quasi planas, dispostas parallelamente<br />
com a inclinação <strong>de</strong> 40" a 45° que formavam o tecto e o assento<br />
da gruta, mas perfeitamente livres e <strong>de</strong>sacompanhadas <strong>de</strong> supporte algum,<br />
lobrigando-se apenas ao sul da cavida<strong>de</strong> algumas pilastras stalactiticas<br />
atravez das quaes ella se subdividia em différentes compartimentos.<br />
Uma escada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> oitenta e tantos <strong>de</strong>graus permitte percorrer<br />
a gruta <strong>de</strong> alto a baixo; e ao passo que iamos <strong>de</strong>scendo viamos aqui e<br />
acolá gran<strong>de</strong>s fendas e asperezas crystallinas no tecto, e n'um ou n'outro<br />
ponto erguiam-se do solo stalagmites em forma <strong>de</strong> meios fustes <strong>de</strong> columnas,<br />
com um fino relevo on<strong>de</strong>ado, resultantes <strong>de</strong> pequenas infiltrações