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DONA IVONE LARA - MultiRio

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instrumentação básica, enquanto no jongo, originalmente, só eram permitidos tambores<br />

como a angoma puíta, o tambu, o caxambu e o candongueiro. O jongo tinha uma<br />

dimensão religiosa que muitas vezes não fazia parte das rodas de samba.<br />

Em depoimento dado em 2004, Dona Ivone fala sobre a relação (ou a falta de relação)<br />

entre jongo e samba: “Nada a ver uma coisa com a outra. Jongo era jongo, samba era<br />

samba. O jongo que havia por lá era o de Seu Manoel, na Congonha. Na Serrinha não<br />

tinha jongo. E as pessoas que eram de jongo iam lá, como minha tia Teresa, a Maria<br />

Joana Rezadeira... Depois, com o Darcy, que conhecia os fundamentos aprendidos com<br />

a mãe, é que as crianças entraram no jongo. Mas aí já é um jongo estilizado, que tem<br />

até cavaquinho! Jongo verdadeiro não era assim. Minha tia saía do Rio para dançar<br />

jongo em Valença, de pé no chão. Era uma coisa muito séria, que tinha uma afinidade<br />

enorme com o espiritismo. Era sagrado. Criança não podia se meter. Além do mais,<br />

meu caso era samba. Jongo era coisa de velho (rindo)”.<br />

Semelhanças e divergências à parte, o fato é que a menina Yvonne nunca pôde<br />

frequentar ambientes de jongo. Mesmo assim, se lembrava com clareza de que sua<br />

tia Teresa, irmã de D. Emerentina e exímia jongueira, praticou a dança do jongo até<br />

morrer, aos 119 anos de idade. No mesmo depoimento, Dona Ivone se lembra da tia<br />

fazendo angu para a família toda (“Era o que pobre podia comer!”), com a mesma<br />

colher de pau com que disciplinava a criançada, sempre que necessário. Das histórias<br />

contadas por tia Teresa, muitas tinham como protagonista o Marechal Deodoro da<br />

Fonseca, líder da Proclamação da República e primeiro presidente do Brasil, para quem<br />

trabalhou como empregada doméstica.<br />

Foi tia Teresa a primeira da família de Yvonne a se mudar (do Andaraí) para as imediações<br />

de Madureira, com os filhos. Segundo Rachel e Suetônio Valença, no livro Serra,<br />

Serrinha, Serrano, a chegada da família na Serrinha se deu em 1926. Naquela época,<br />

o carnaval na Serrinha, comunidade localizada na grande Madureira – mas que na<br />

verdade fica no bairro de Vaz Lobo –, era festejado em blocos como o Primeiro Nós,<br />

o Bloco da Lua, o Dois Jacarés, o Três Jacarés e o Cabelo de Mana. Todos os blocos<br />

citados eram “de família”, diferentes dos blocos de arruaça, formados somente por homens<br />

que, embriagados, não poupavam nada que vissem pela frente, como nos velhos<br />

tempos do entrudo.<br />

Dona Ivone conta que, quando se mudou do Largo da Segunda-Feira para Madureira,<br />

já encontrou os primos fazendo parte de uma escola de samba chamada Rainha<br />

das Pretas, pois a Prazer da Serrinha só viria depois, como uma continuação do bloco<br />

Cabelo de Mana. Segundo o livro de Sérgio Cabral (As Escolas de Samba do Rio de<br />

Janeiro), o carnaval de 1935 foi o primeiro em que o desfile das escolas de samba, na<br />

Praça Onze, contou com a participação da Prazer da Serrinha. Seu fundador e presidente,<br />

o mineiro Alfredo Costa, mulato forte que usava um bigodinho, era um dos<br />

grandes festeiros da Serrinha. Guarda-freios da Central do Brasil, mestre-sala, jongueiro<br />

e pai de santo respeitado, ganhou ainda mais projeção em 1939, quando foi eleito<br />

Cidadão Samba do Rio de Janeiro (eleito em votação popular promovida pelo jornal A<br />

Rua). Repetiu o feito de sua esposa, Dona Aracy, também jongueira, eleita Rainha do<br />

Samba em 1937 (em votação realizada pelo mesmo jornal).<br />

Assistente de Nise da Silveira<br />

Paralelamente ao ambiente de samba que encontrava em Madureira, nas visitas quinzenais<br />

que fazia à tia Maria, Yvonne seguiu estudando no Colégio Orsina da Fonseca<br />

até a maioridade. Ao deixar o internato (1939), foi morar com o tio Dionísio Bento<br />

da Silva, grande músico de choro, que também seria decisivo para o caminho musical<br />

Pequenos Notáveis - Dona Ivone Lara<br />

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