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Catálogo - Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

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non_para morrer o mundo (guerra mundial), 2009<br />

aguarela sobre papel, livro, talões e vara <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

40cm x 40cm x 40cm<br />

Conflitos i<strong>de</strong>ntitários<br />

David Santos<br />

THE<br />

RETURN<br />

OF<br />

THE REAL<br />

MANUEL<br />

SANTOS<br />

MAIA<br />

non_extremo do mundo<br />

No final da última década, o filósofo José Gil i<strong>de</strong>ntificou<br />

em Portugal um “medo <strong>de</strong> existir” letárgico que nos<br />

pren<strong>de</strong> ainda ao vazio e à normalização social.<br />

Os problemas com a memória e o passado político, bem<br />

como com o sentido <strong>de</strong> pertença a um colectivo ligam<br />

os portugueses a uma conflituosa indiferença perante a<br />

imagem do seu próprio país 1 .<br />

Ao partir <strong>de</strong> uma reflexão sobre estes valores e<br />

características, Manuel Santos Maia apresenta no<br />

Museu do Neo-Realismo uma nova etapa do seu mais<br />

recente projecto artístico, agora intitulado “non_extremo<br />

do mundo”. Elaborando uma íntima relação com alguns<br />

dos elementos que forjam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do nosso país,<br />

Santos Maia recorre a uma estratégia <strong>de</strong> fragmentação<br />

disciplinar, ao acentuar <strong>de</strong> novo uma das suas principais<br />

características processuais: a biografia museificada.<br />

Na realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o projecto “alheava” (1999) que o<br />

artista cruza a noção <strong>de</strong> documento com a experiência<br />

individual e familiar, para alcançar finalmente uma<br />

espécie <strong>de</strong> “memorabilia” colectiva, enquanto espelho<br />

antropológico que nos liga a todos pelo filtro <strong>de</strong> uma<br />

“intimida<strong>de</strong> documentada”. Fotografias, filmes, álbuns<br />

familiares, gravuras intervencionadas e outros<br />

inesperados objectos readyma<strong>de</strong> são alguns dos<br />

materiais utilizados por Manuel Santos Maia nesta<br />

instalação, através da qual reflecte em torno <strong>de</strong> questões<br />

como a guerra, a <strong>de</strong>scolonização e a imagética popular<br />

ou a estética portuguesa entendida como expressão <strong>de</strong><br />

uma “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional” ambígua, marcada, cada vez<br />

mais, por uma precária estabilida<strong>de</strong>, resultado dos<br />

efeitos <strong>de</strong> influência cultural alimentados pelos fluxos da<br />

emigração portuguesa recente e a reciprocida<strong>de</strong><br />

paralela, mas <strong>de</strong>terminante na sua influência crescente,<br />

trazida pela imigração global que se fixa em território<br />

português.<br />

É neste sentido que, actualmente, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

“portugalida<strong>de</strong>” ou “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional” vive dias <strong>de</strong><br />

uma inevitável re<strong>de</strong>finição, por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reenquadramento <strong>de</strong> uma complexa plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

experiências sociais, voluntárias ou forçadas pelas<br />

circunstâncias <strong>de</strong> uma intensa transitorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens e<br />

pessoas, impondo-se assim uma nova espécie <strong>de</strong><br />

comunhão migratória sobre as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> contacto e<br />

interculturalida<strong>de</strong> que marcam invariavelmente as<br />

hipóteses <strong>de</strong> uma “portugalida<strong>de</strong>” contemporânea.<br />

Nessa releitura <strong>de</strong>vemos acentuar os termos <strong>de</strong> uma<br />

comparação entre momentos históricos distantes, mas<br />

com pontos em comum. Não po<strong>de</strong>mos esquecer que a<br />

“expansão marítima portuguesa” resultou <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência económica,<br />

i<strong>de</strong>ntitária e territorial, marcadas sobretudo pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

conquista <strong>de</strong> uma vida melhor, on<strong>de</strong> a viagem,<br />

a aventura pelo <strong>de</strong>sconhecido e o contacto com o<br />

mundo se transformaram progressivamente em<br />

conceitos que inspiraram os portugueses do final da<br />

Ida<strong>de</strong> Média na promoção da primeira gran<strong>de</strong> etapa da<br />

globalização, bem como quase todas as gerações<br />

seguintes que, imbuídas nesse espírito, mas motivadas<br />

no essencial pelo mesmo tipo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s,<br />

cunharam aos poucos uma das aparentemente mais<br />

exactas marcas i<strong>de</strong>ntitárias da nossa “portugalida<strong>de</strong>”:<br />

a miscigenação no contacto com o “outro”. Basta<br />

reconhecer, para isso, a tendência para a fusão <strong>de</strong> raças<br />

que a socieda<strong>de</strong> brasileira representou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo por<br />

comparação com outros países do continente<br />

americano, ou o cruzamento cultural que <strong>de</strong>termina<br />

ainda hoje a diferenciação dos países africanos <strong>de</strong> língua<br />

oficial portuguesa.<br />

Mas se, nos primórdios do mundo mo<strong>de</strong>rno, Portugal<br />

esteve na vanguarda <strong>de</strong> um processo que aproximou<br />

limites geográficos, unindo oceanos e continentes a<br />

partir <strong>de</strong> rotas marítimas nunca antes traçadas, parece<br />

hoje navegar sem bússola, ou à <strong>de</strong>riva, perante o seu<br />

<strong>de</strong>stino colectivo, perdido na sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e objectivos<br />

após a resignação perante a perda <strong>de</strong> influência no mapa<br />

político internacional, <strong>de</strong> que o doloroso processo da<br />

guerra colonial e consequente <strong>de</strong>scolonização terão sido<br />

os <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iros e mais sangrentos episódios, espécie <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spedida do famoso “Mundo Português” e real<br />

<strong>de</strong>svanecimento sobre a ilusão <strong>de</strong> pertença à elite das<br />

nações que dominam o planeta. Só nos anos 70<br />

Portugal percebeu, por inércia e isolamento<br />

internacional, que o seu lugar no mundo não era já o da<br />

herança expansionista, mas o <strong>de</strong> um país atrasado,<br />

analfabeto e pretensioso, que <strong>de</strong>scurara um verda<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da vida mo<strong>de</strong>rna e estava agora diante<br />

da sua <strong>de</strong>sestruturação geográfica e,<br />

consequentemente, da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> política e social.<br />

Saltando do local para o global, e vice-versa, Portugal<br />

vagueou sempre entre o passado <strong>de</strong> um nome<br />

mistificado por aventuras marítimas e o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> um<br />

“Non”, sem “direito nem avesso”, fomentado pela<br />

<strong>de</strong>sorientação dos que li<strong>de</strong>raram primeiro o reino e,<br />

<strong>de</strong>pois, a nação. No primeiro volume dos Sermões<br />

(1679), o Padre António Vieira fixava uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “não”<br />

como “non” latino que significaria, daí em diante, muito<br />

mais do que a simples negação: “Terrível palavra é um<br />

Non. “Non” não tem direito nem avesso: por qualquer<br />

lado que o tomeis, sempre soa e diz o mesmo. Le<strong>de</strong>-o<br />

do princípio para o fim ou do fim para o princípio,<br />

sempre non, quem fez "não" tão breve, não quis que se<br />

dilatasse. O non mata a esperança, que é o último<br />

remédio que <strong>de</strong>ixou a natureza a todos os males” 2 .<br />

A <strong>de</strong>sesperança arrastada por este “non” curto e incisivo<br />

repercutiu-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, tal como previra António<br />

Vieira, pelas in<strong>de</strong>cisões da política nacional, ritmadas<br />

entre a ambição do “Quinto Império” e a pequenez logo<br />

revelada, conduzindo Portugal a uma titubeante<br />

sobrevivência, entre a paradoxalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma expressão<br />

colectiva que vê nos seus mais <strong>de</strong> oito séculos <strong>de</strong><br />

existência uma estabilida<strong>de</strong> inalienável e, ao mesmo<br />

tempo, a matriz <strong>de</strong> um espírito <strong>de</strong> in<strong>de</strong>cisão ou “medo<br />

<strong>de</strong> existir”, como nos lembra José Gil, que con<strong>de</strong>na todo<br />

um país à inacção, ou mesmo à esquizofrenia. O mesmo<br />

sentido <strong>de</strong> magoada reflexão i<strong>de</strong>ntitária é referido no<br />

título e na narrativa visual do filme “Non ou a vã glória <strong>de</strong><br />

mandar”, a magnífica leitura do cineasta Manoel <strong>de</strong><br />

Oliveira sobre Portugal, que muito influenciou Manuel<br />

Santos Maia a <strong>de</strong>senvolver a sua própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “non”.<br />

Ao “non” que sempre nos guiou, mesmo sem o<br />

sabermos, juntou-se ao longo dos tempos a hesitação<br />

constante <strong>de</strong> uma existência comum, que <strong>de</strong>veria ser<br />

pensada, segundo a tradição, enquanto nação e<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> colectiva. Estes dois sentidos seculares e que<br />

nos têm enleado <strong>de</strong> um modo particularmente gravoso<br />

são responsáveis, afinal, por uma profunda limitação ao<br />

nível das convicções necessárias para agirmos sobre o<br />

nosso presente e <strong>de</strong>senharmos um futuro mais<br />

consentâneo com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> um mundo muito<br />

diferente daquele que levou Portugal a “agir” pela última<br />

vez. Entre o século XV e o século XXI, o mundo<br />

extremou o seu processo <strong>de</strong> globalização, atraído<br />

primeiro pela expansão capitalista e industrial, e mais<br />

recentemente por uma telemática sistémica e quotidiana<br />

que alterou radicalmente os códigos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

política, social e cultural das várias faces do planeta, e<br />

on<strong>de</strong>, por essa mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> razões, a<br />

miscigenação e a interculturalida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>m a<br />

reconfigurar sistematicamente a imagem que temos da<br />

nossa própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, reconhecendo assim que esta<br />

é hoje marcada, no essencial, e <strong>de</strong> um modo<br />

estruturante, pelos ritmos da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação e<br />

do espectáculo global, bem como pelas subterrâneas<br />

mas persistentes influências das culturas trazidas pelos<br />

imigrantes e pelo novo surto da emigração nativa. Isto é,<br />

a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> será cada vez mais uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

global, marcada pelo sistemático reenvio <strong>de</strong> fontes e<br />

raízes ligadas às pessoas que elaboram vidas longe da<br />

sua terra e misturam, naturalmente, valores e<br />

significados. Essas pessoas transformam assim a sua<br />

relação com o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> origem, alterando ainda, <strong>de</strong> um<br />

modo profundo, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos lugares <strong>de</strong> chegada,<br />

as suas experiências sociais e culturais, num processo<br />

natural <strong>de</strong> conflito e aceitação que, lentamente, nos<br />

transforma a todos em cidadãos globais, cada vez<br />

menos ligados a uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong>finida com<br />

base num passado mítico e distante. Esta distância que<br />

urge reconhecer para consolidar o efeito da sua<br />

<strong>de</strong>smistificação não se refere apenas ao tempo, como<br />

sobretudo à alteração da noção <strong>de</strong> espaço geográfico<br />

(hoje global e, em certa medida, sem fronteiras), assim<br />

como às práticas e experiências <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que<br />

distinguem hoje, mais do que nunca, o passado a que já<br />

pertencemos (do qual guardaremos por certo ainda<br />

non_viagem a tracejado até ao extremo litoral do mundo, 2008-2010<br />

ví<strong>de</strong>o. 40’<br />

non_da história e da fixação, 2009<br />

placa <strong>de</strong> metal pintada, dois postais a cores, cartão com texto, livro e papel<br />

(dimensões variáveis)<br />

non_náufragos, ergue-se novamente a cruz com o ruir da vela, 2006-2010<br />

gravura do Porto, p/menor<br />

(dimensões variáveis)<br />

non_espaço conversável, 2010<br />

ca<strong>de</strong>rno manuscrito, tinta da china sobre papel, p/menor<br />

(dimensões variáveis)<br />

alguns traços) e o presente do qual, <strong>de</strong> facto, fazemos<br />

parte, por muito que isso inviabilize uma qualquer i<strong>de</strong>ia<br />

estável <strong>de</strong> “portugalida<strong>de</strong>” ou “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional”.<br />

Ora, é uma nova e <strong>de</strong>scomplexada leitura sobre a<br />

<strong>de</strong>sorientação i<strong>de</strong>ntitária portuguesa que o projecto “non”<br />

<strong>de</strong> Manuel Santos Maia tem vindo a intensificar ao longo<br />

das suas várias fases. Neste projecto expositivo<br />

marcadamente pós-minimalista, on<strong>de</strong> convergem vários<br />

sentidos e um aparato interdisciplinar <strong>de</strong> instalação,<br />

Portugal não é um país sem futuro, mas um país com<br />

“medo <strong>de</strong> existir”, revelando problemas com a sua imagem<br />

mais inconveniente. De um modo <strong>de</strong>liberado, o artista<br />

recorre, por isso, a uma varieda<strong>de</strong> díspar <strong>de</strong> imagens, sons<br />

e objectos que reclamam todavia, como grito silencioso,<br />

uma ligação conflituosa com o nosso passado mais<br />

recente, mas já olvidado. De “caixas métricas” e quadros<br />

<strong>de</strong> ardósia, que evocam antigas salas <strong>de</strong> aula e métodos <strong>de</strong><br />

ensino entretanto abandonados, a caixas <strong>de</strong> arquivo morto<br />

e cavaletes <strong>de</strong> pintura obsoletos, passando por uma<br />

imensa moldura barroca que <strong>de</strong>smesuradamente enquadra<br />

resquícios esquecidos da nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outrora,<br />

po<strong>de</strong>mos encontrar na instalação “non_extremo do mundo”<br />

um conjunto <strong>de</strong> elementos verbais, figurativos,<br />

iconográficos e objectuais que configuram uma crítica<br />

máquina do tempo, que nos transporta não apenas para o<br />

passado, mas para a nossa actual i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> passado, sua<br />

fragmentação e instabilida<strong>de</strong> significacional. É <strong>de</strong>ste<br />

propósito revisionista, apelando sempre a uma<br />

reinterpretação sistemática da nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que o<br />

trabalho <strong>de</strong> Manuel Santos Maia evolui para uma situação<br />

<strong>de</strong> comentário sociológico, on<strong>de</strong> os valores sobre o nosso<br />

passado colectivo são questionados com um sentido quase<br />

perturbador, lembrando ainda os universos criativos nesse<br />

sentido <strong>de</strong>senvolvidos por figuras como o realizador José<br />

Álvaro Morais ou o poeta quase esquecido (mas lembrado<br />

por Santos Maia nesta exposição com um filme a ele<br />

<strong>de</strong>dicado) Francisco Palma Dias, e on<strong>de</strong> Portugal sofre um<br />

rombo cirúrgico nas suas pretensões <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> cultural e<br />

antropológica. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um país antigo e velho, que<br />

aguarda ainda renovação, é aqui significativamente abalada<br />

por processos <strong>de</strong> justaposição simbólica que remetem para<br />

uma acentuada re<strong>de</strong>finição do quadro conceptual que<br />

enforma uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> existência comum. O que resta<br />

<strong>de</strong> Portugal como nação talvez se reduza hoje, como<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra Fernando Pessoa no século passado, ao<br />

exercício global da língua portuguesa e ao<br />

reconhecimento i<strong>de</strong>ntitário que daí advém. Talvez por<br />

isso, Santos Maia insista num círculo restrito <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> vultos da cultura portuguesa: Camões, Padre<br />

António Vieira, Herculano, Garrett, Eça <strong>de</strong> Queiroz,<br />

Pessoa, Agostinho da Silva, Eduardo Lourenço ou<br />

Manoel <strong>de</strong> Oliveira ocupam ainda hoje um importante<br />

lugar no caleidoscópio <strong>de</strong> referências críticas, mas<br />

constituintes <strong>de</strong> uma certa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “portugalida<strong>de</strong>”,<br />

que alimenta o projecto reflexivo proposto por<br />

“non_extremo do mundo”. Sobre as ruínas do museu e<br />

da cultura mo<strong>de</strong>rna 3 , entre a ficção e a realida<strong>de</strong>, os<br />

fragmentos <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> perdida e a sua<br />

reconfiguração possível perante o quadro da<br />

globalização, Manuel Santos Maia propõe-nos um<br />

caminho <strong>de</strong> assumida instabilida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntitária, on<strong>de</strong> o<br />

conflito <strong>de</strong> valores se repercute enquanto alternativa às<br />

imagens pré-concebidas do nosso quotidiano e ao<br />

vazio acrítico que ten<strong>de</strong> hoje a diminuir o exercício da<br />

cidadania a uma mera expressão eleitoral.<br />

1 Cf. José Gil, Portugal, Hoje - O Medo <strong>de</strong> Existir, Lisboa,<br />

Relógio d’Água Editores, 2004.<br />

2 Cf. António Vieira, Sermões do Padre António Vieira, ed. lit.<br />

<strong>de</strong> Margarida Vieira Men<strong>de</strong>s. 4ª edição, Lisboa: Editorial<br />

Comunicação, 1992.<br />

3 Cf. Douglas Crimp, On the Museum’s Ruins, Massachusetts,<br />

MIT Press, 1993.

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