Autora: Lucélia Aparecida Pereira
Autora: Lucélia Aparecida Pereira
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A discriminação permanece e a sua introdução no mercado de trabalho<br />
não significou igualdade nas relações entre homens e mulheres e nem<br />
inversão na estrutura de poder, o homem continua no domínio. Suas<br />
vidas resume-se ao trabalho: no emprego, em casa... dormem pouco,<br />
dedicam muito tempo (ou quase todo ele) ao trabalho e à família. Em<br />
muitos casos, a violência doméstica é outro problema a ser enfrentado.<br />
No trabalho do colonato, embora realizassem as mais diferentes<br />
tarefas, eram sempre acompanhadas dos homens. Porém, a partir da<br />
década de 1960 a individualização do trabalho leva estas mulheres a<br />
andarem sós, a trabalharem só, a “pegarem caminhão”, e isto era<br />
considerado ato de “mulher a toa”, porque “mulher direita” andava<br />
sempre acompanhada.<br />
As dificuldades eram grandes enquanto mulher, pior ficava no<br />
acréscimo à condição de pobre e negra. A escritora Maria <strong>Aparecida</strong><br />
Moraes Silva relata um fato interessante:<br />
“Após várias horas de trabalho, sentindo vontade de fumar, a trabalhadora<br />
procurou um colega para fornece-lhe um cigarro, suspendendo, por<br />
alguns instantes, sua tarefa. Nesse momento, surge o feitor e lhe diz: “<br />
Neguinha do João-de-barro, volte para seu lugar” – João-de-barro é um<br />
bairro dos bóias-frias em Guariba, estado de São Paulo. É assim chamado,<br />
porque os trabalhadores construíram casas de barro face à<br />
impossibilidade financeira de arcar com os custos de aluguéis ou da<br />
compra de tijolos. A frase, contendo referência à raça, gênero e classe, foi<br />
o bastante para que a trabalhadora lhe lançasse a enxada, a fim de matálo”.<br />
Nos anos de 1950, a moral sexual ainda discriminava as<br />
mulheres acreditando que a vocação de toda mulher era a maternidade e<br />
a vida doméstica. Que ela deveria ser pura, resignada, doce. A sociedade<br />
separava as jovens moças de família e as moças levianas.<br />
As revistas femininas dos anos de 1950 procuravam reforçar a idéia<br />
de que o casamento, a maternidade e os afazeres domésticos era o<br />
destino natural das mulheres e não o trabalho fora de casa, e que a moça<br />
deveria ter regras a serem seguidas:<br />
“Depende muito da moça a maneira como é tratada pelos rapazes. Se dá<br />
preferência a modas e modos provocantes, perde o direito de queixar-se<br />
se o rapaz quiser avançar o sinal. O estímulo quem deu foi ela (...) chamar<br />
a atenção dos rapazes (com gestos estudados e sensuais) é depreciativo<br />
para a moça”. (BASSANEZI, 2002: 612)<br />
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