4 DEZEMBRO <strong>2010</strong>
DEZEMBRO <strong>2010</strong> 5 QUADRO DE HONRA Saudação do Director Em nome da Administração, do competente corpo docente e dos demais funcionários do <strong>Colégio</strong> <strong>Manuel</strong> <strong>Bernardes</strong>, saúdo todos os presentes e particularmente os alunos, razão de ser desta cerimónia do Quadro de Honra. Hoje celebramos o (vosso) sucesso dos nossos alunos. Celebramos o trabalho realizado durante o ano lectivo passado, para que fique na nossa memória o reconhecimento do esforço, do trabalho que vos levou a alcançar metas a que se propuseram. Mas, que de que trabalho se trata quando mencionamos o percurso realizado pelos alunos? Referimos a memorização de conteúdos, os puros resultados académicos, mobilizados pelo saber científico, avaliados apenas em alguns momentos ao longo do ano, ou estamos a caracterizar algo mais abrangente, uma concepção universal ou universalizante do labor dos nossos alunos? Fala-se, pois, do “ Bom Trabalho”. Esta designação tem três significados passíveis de traduzir o termo “ Bom”: - Poderá signifcar a excelência em qualidade, um trabalho altamente disciplinado. - Poderá significar a responsibilidade – já que se traduz em cumprimento dos compromissos assumidos e considerar as suas implicações para a comunidade mais ampla no meio em que se encontra. - Poderá, finalmente, significar que é cativante – que é algo que nos dá satisfação e que, mesmo que difícil ou que obrigue a um esforço considerável. Neste sentido, a missão dos educadores é preparar os jovens para uma vida marcada pelo “ bom trabalho”, de forma a que se possam sentir estimulados e manter essa qualidade num mundo laboral, em prol da sociedade. Encontramo-nos, assim, numa acepção que valoriza o desempenho excelente, cativante e, em última análise, ético. É, talvez, este último, que merece a nossa atenção, pelas suas implicações no modo como se encara e interpreta o universo educativo, com particular atenção aos nossos alunos. Esta “ mente ética”, como H Gardner designou, é essencial na formação de alunos comprometidos com o seu projecto de vida, do qual resultará o papel enquanto cidadão. A estrutura desta orientação ética inicia-se no seio familiar. As crianças observam atentamente os seus pais quando estes tomam decisões sobre aspectos do diaa-dia. Observam se os pais têm orgulho no seu trabalho, como falam dos seus superiores ou colegas, se o trabalho é apenas um meio desagradável de obter rendimento ou se possui um significado intrínseco. Os valores religiosos, incorporados e defendidos abertamente, também são estímulos importantes. Observam o divertimento dos seus pais, se respeitam as regras de um jogo, se o seu objectivo é apenas a vitória ou se tem um valor próprio para si mesmos, independentemente de quem ganha ou perde. Analisam o comportamento dos seus pais enquanto cidadãos: falam e discutem sobre comunidade: Pretendem melhorar a sociedade, participam voluntariamente ou a motivação (deles) é individual e o seu envolvimento destina-se apenas à concretização de objectivos particulares? Os adultos fora de casa também exercem influência e são escrutinados da mesma forma. Quando os jovens projectam sobre o seu futuro profissional, prestam atenção particular aos adultos que exercem um trabalho que está no seu horizonte de pretensões. Quer estejam ou não conscientes disso, estes adultos são modelos realistas, ou seja, transmitem as crenças, aspirações, comportamentos de quem ocupa tais profissões. Por outro lado, os pares, os colegas. Desde cedo, as crianças convivem com outras que partilham aproximadamente a mesma idade. São fortemente influenciadas pelos comportamentos e crenças dos colegas, particularmente os que são vistos como os que têm mais prestígio, e/ou que têm mais poder. Como tal, todos os alunos que se encontram aqui hoje são modelos de referência para os demais colegas. Esta escolha de pares é particularmente importante na adolescência. È nesta altura que os jovens testam as diferentes opções de vida. É importante que estes grupos tenham uma consciência comunitária, que se dediquem aos estudos, ao serviço comunitário, cujas actividades tenham consequência na construção de uma sociedade melhor. Os pares são fundamentais , já que o seu sentido ético e os próprios modelos de comportamento podem ser afectados por comportamentos dúbios. Mesmo com estes factores, reunidos no sentido positivo – todas as influências atrás descritas se exercerem na direcção do comportamento ético bem alinhado- é possível o desvio deste percurso. A vivência e a experiência de práticas impróprias que são toleradas por quem nos serve de modelo levam ao perigoso desvio de um comportamento ético e totalmente indesejável para o aluno trabalhador. É necessário estarmos atentos ao percurso das comunidades. Todas as sociedades modernas incorporam as virtudes da verdade, da integridade, da lealdade, da justiça; nenhuma apoia explicitamente a falsidade, desonestidade e a injustiça flagrante. O conhecimento não tem uso meramente académico; é indispensável para um olhar crítico ao nosso redor, para enriquecer o olhar sobre a realidade e possibilitar a recusa à imoralidade, ao laxismo, à indiferença. Mas tal conhecimento sem uma visão dos que estão à nossa volta, se perseguirmos apenas os nossos interesses pessoais, perde-se a orientação axiológica que sustenta verdadeiramente uma comunidade; J. Sacks, diz-nos que “ quanto tudo o que é importante pode ser comprado e vendido, quando os compromissos podem ser quebrados só porque já não nos são vantajosos(...), quando o nosso valor é medido em virtude de quanto ganhamos e gastamos, então (...) está-se a destruir as mesmas virtudes das quais todos dependemos a longo prazo.” Assim, o bom trabalhador ou estudante está dependente da sua disposição em realizar um bom trabalho e a continuar a tentar alcançar esse objectivo perante uma situação difícil. Devemos enunciar (e fazer delas nossas também), então, as quatro directrizes de Gardner para alcançar este bom desempenho: 1. Missão – Na escola, fora da escola, no trabalho, deve-se conseguir caracterizar, com clareza, o objectivo a alcançar nas suas actividades; sem esse conhecimento explícito dos seus propósitos, o mais certo é permanecer sem rumo ou caminhar em direcção ao incerto. 2. Modelos – As referências, os exemplos são indispensáveis. Preferencialmente por via directa ou então através de textos , é necessário que os jovens tenham como fontes de influência comportamentais indivíduos que personificam o bom trabalho. Na ausência de tais referências, perdem-se os modos correctos de agir. 3. O espelho individual – O bom trabalhador olha atentamente para o espelho e interroga-se sobre os métodos que utiliza para alcançar os resultados desejados. E já que estamos todos sujeitos à auto-ilusão, é importante que estejamos ladeados por quem, pela sua experiência, sabedoria e conhecimento, nos possam ajudar a olhar com verdade e realidade, através da franqueza e sinceridade. 4. O espelho enquanto responsabilidade – Mesmo que os nossos alunos estejam a realizar um excelente trabalho individualmente, é importante estabelecer o compromisso com os colegas, monitorizando o nosso trabalho e o deles, aceitando a crítica e criticando, responsável e honestamente. Como afirmou o dramaturgo Molière “ somos responsáveis não só pelo que fazemos, mas também pelo que não fazemos”. O trabalho da Escola é adquirir um domínio do currículo, sejam as literacias básicas, as disciplinas mais importantes ou impulsionar o pensamento sintetizador e criativo. Na maioria das escolas, hoje em dia, a ênfase recai quase exclusivamente na obtenção da excelência nas actividades académicas. Mas, mais do que isso, a escola e os educadores podem ajudar a encontrar o caminho da mente ética; os alunos têm que compreender o porquê de estarem a aprender o que aprendem e como este conhecimento pode ser usado para fins construtivos. Enquanto discentes disciplinados, é o seu dever compreender o mundo. Mas o real alcance de tais aprendizagens é utilizar essa compreensão para melhorar a qualidade de vida e de subsistência e intervir quando essa compreensão ( ou não compreensão) tem um uso destrutivo. Daí, caros alunos, que se deva dizer que a construção de uma comunidade melhor irá depender do vosso esforço. Talvez, paradoxalmente, se o esforço que vos impulsiona a obter bons resultados for visto como um conhecimento que deve ser usado para fins construtivos e, desse empenho, obterem um prazer adicional ao trabalho escolar, considerando-o importante em si mesmo, então irão alcançar a verdadeira faceta do Bom Trabalho. .. Mto Obrigado. Hugo Quinta Director Pedagógico