os quilombos contemporâneos maranhenses e a luta pela terra
os quilombos contemporâneos maranhenses e a luta pela terra
os quilombos contemporâneos maranhenses e a luta pela terra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ESTUDIOS HISTORICOS – CDHRP- Ag<strong>os</strong>to 2009 - Nº 2 – ISSN: 1688 –5317<br />
Em 23 de maio de 1986, Mundinha Araújo publicou no Jornal O Imparcial<br />
extensa matéria sobre a escravidão no Maranhão e a grilagem na <strong>terra</strong> d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>.<br />
Segundo a militante do movimento negro, no Maranhão, está aumentando a “incidência<br />
[...] de conflit<strong>os</strong> envolvendo lavradores negr<strong>os</strong> e <strong>os</strong> grandes fazendeir<strong>os</strong> ou empresári<strong>os</strong><br />
rurais que não reconhecem nesses descendentes de escrav<strong>os</strong> <strong>os</strong> legítim<strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong><br />
das <strong>terra</strong>s”. Os lavradores negr<strong>os</strong> são <strong>os</strong> moradores das comunidades negras. Conforme<br />
Araújo, essas comunidades conseguiram manterem-se coesas até mead<strong>os</strong> da década de<br />
1950, devido “à necessidade de sobrevivência d<strong>os</strong> grup<strong>os</strong>” e à “própria estrutura agrária<br />
maranhense baseada na pequena propriedade e abundante em <strong>terra</strong>s devo<strong>luta</strong>s”.<br />
Atualmente, passam por um “processo de desagregação, gerado, sobretudo <strong>pela</strong><br />
mudança dessa estrutura rural, onde <strong>os</strong> grandes fazendeir<strong>os</strong>, empresári<strong>os</strong> rurais e<br />
grileir<strong>os</strong> invadem e expulsam <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> das suas <strong>terra</strong>s.” 30<br />
I Encontro de Comunidades Negras Rurais do Maranhão<br />
Em 18 e 19 de outubro de 1986, efetivou-se em São Luís, o “I Encontro da<br />
Comunidade Negra Maranhense”. A promoção do encontro ficou a cargo do Centro de<br />
Cultura Negra do Maranhão, que escolheu para o evento o tema “O Negro e a<br />
Constituição Brasileira”. 31 Participaram do evento comunidades negras rurais,<br />
sindicat<strong>os</strong> de trabalhadores do campo, representantes do movimento negro de São Luís<br />
e entidades ligadas a<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> sociais. 32 Os organizadores objetivavam debater<br />
questões relativas ao negro a fim de inseri-las nas discussões sobre a Constituinte.<br />
Entendiam que “sem a presença do negro, nenhuma Constituinte [seria]<br />
verdadeiramente democrática”. A cidadania somente alcançaria a plenitude quando<br />
resolvida a questão agrária. Também, outr<strong>os</strong> temas como o “negro e o mercado de<br />
trabalho”, o “negro e a educação”, a “cultura negra como instrumento de libertação” e a<br />
“questão da saúde” foram analisad<strong>os</strong> no evento. 33<br />
Na justificativa do encontro, <strong>os</strong> organizadores definiram a Constituinte como um<br />
“jogo de cartas marcadas”, mas buscavam fortalecer o movimento das comunidades<br />
negras e canalizar esforç<strong>os</strong> para a vitória sonhada, ou seja, uma sociedade livre e<br />
30<br />
ARAUJO, Mundinha. “Grilagem nas <strong>terra</strong>s d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>”. In: O Imparcial. São Luís – MA. 23 de maio<br />
de 1986.<br />
31<br />
Informações obtidas junto ao Centro de Cultura Negra do Maranhão. In: . Acesso em: 01-04-2007.<br />
32<br />
Cf. Equipe do PVN/CCN. “1986 a 2006: 20 an<strong>os</strong> de <strong>luta</strong>s e conquistas em defesa d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />
territóri<strong>os</strong> quilombolas”. In: ZUMBIDO. Informativo do Centro de Cultura Negra do Maranhão, São<br />
Luis, 12. ed. set. 2006. p. 3.<br />
33<br />
Cf. I Encontro da Comunidade Negra Maranhense. [Folder]. São Luís – MA, 1986.