24.09.2013 Views

Boas Práticas no Controlo Municipal do Ruído - Provedor de Justiça

Boas Práticas no Controlo Municipal do Ruído - Provedor de Justiça

Boas Práticas no Controlo Municipal do Ruído - Provedor de Justiça

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PROVEDOR DE JUSTIÇA<br />

BOAS PRÁTICAS NO CONTROLO MUNICIPAL DO RUÍDO<br />

CONCLUSÕES DO INQUÉRITO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA<br />

AOS MUNICÍPIOS<br />

2012


Í N D I C E<br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

SUGESTÕES DE BOAS PRÁTICAS NO CONTROLO<br />

MUNICIPAL 3<br />

Preliminares 3<br />

I - Consi<strong>de</strong>rações gerais 5<br />

II - Afetação <strong>de</strong> recursos 8<br />

III - Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias1 4<br />

IV - Ativida<strong>de</strong>s permanentes 20<br />

A) <strong>Controlo</strong> da utilização das edificações, suas frações<br />

e outros locais 20<br />

B) Concentração <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> diversão em<br />

áreas com infraestruturas vetustas ou insuficientes 22<br />

C) Espaços culturais e recreativos <strong>de</strong> usos múltiplos 27<br />

V - Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas sazonais 28<br />

VI - Ruí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vizinhança 30<br />

VII - Si<strong>no</strong>s e amplifica<strong>do</strong>res so<strong>no</strong>ros 32<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

1


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

SUGESTÕES AO GOVERNO DE NATUREZA<br />

ADMINISTRATIVA E LEGISLATIVA A RESPEITO DO<br />

CONTROLO MUNICIPAL DO RUÍDO 35<br />

1. Equipamentos e pessoal especializa<strong>do</strong> na fiscalização <strong>do</strong>s níveis<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 37<br />

2. Encargos com ensaios e serviço público 38<br />

3. Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 40<br />

4. Fiscalização 41<br />

5. Regulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas 42<br />

6. Medidas <strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> 44<br />

7. Instrumentos <strong>de</strong> gestão territorial, mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e pla<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong> ação 47<br />

INQUÉRITO AOS MUNICÍPIOS SOBRE PREVENÇÃO E<br />

CONTROLO DO RUÍDO 48<br />

SECÇÃO 1: Justificação e consi<strong>de</strong>rações preliminares 48<br />

SECÇÃO 2: Recursos huma<strong>no</strong>s e equipamentos 56<br />

SECÇÃO 3: Queixas às autorida<strong>de</strong>s municipais por incomodida<strong>de</strong><br />

So<strong>no</strong>ra 62<br />

SECÇÃO 4: Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 72<br />

SECÇÃO 5: Fiscalização 96<br />

SECÇÃO 6: Regulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes 105<br />

SECÇÃO 7: Medidas <strong>de</strong> polícia administrativa 126<br />

SECÇÃO 8: Planeamento municipal e ruí<strong>do</strong> 136<br />

SECÇÃO 9: Ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança 153<br />

SECÇÃO 10: Avaliação e linhas <strong>de</strong> aperfeiçoamento<br />

administrativo e legislativo 161<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

2


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

SUGESTÕES DE BOAS PRÁTICAS NO<br />

CONTROLO MUNICIPAL DO RUÍDO<br />

CONCLUSÕES DO INQUÉRITO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA AOS<br />

MUNICÍPIOS<br />

Preliminares<br />

Analisa<strong>do</strong>s os contributos apresenta<strong>do</strong>s na consulta pública da versão<br />

preliminar <strong>do</strong> Relatório sobre o Inquérito ao <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> 1 , que<br />

teve lugar entre 27/11 e 15/12/2012, e consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o propósito <strong>de</strong>terminante<br />

<strong>de</strong>sta iniciativa, que contou com a participação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 250 municípios,<br />

estamos em condições <strong>de</strong> apresentar um conjunto <strong>de</strong> boas práticas<br />

administrativas, algumas observadas na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas câmaras<br />

municipais, outras sugeridas por este órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a respeito <strong>de</strong> situações<br />

concretas que constituem objeto <strong>de</strong> queixa.<br />

A Lei n.º 9/91, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> abril, recentemente revista pela Lei n.º 17/2013, <strong>de</strong> 18<br />

<strong>de</strong> fevereiro, incumbe o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> <strong>no</strong> exercício <strong>de</strong> uma inestimável<br />

1 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/?idc=83&idi=15075<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

3


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

tarefa <strong>de</strong> «procurar, em colaboração com os órgãos e serviços competentes, as<br />

soluções mais a<strong>de</strong>quadas à tutela <strong>do</strong>s interesses legítimos <strong>do</strong>s cidadãos e ao<br />

aperfeiçoamento da ação administrativa» (artigo 21.º, n.º 1, alínea c)).<br />

O reconhecimento da poluição so<strong>no</strong>ra, não apenas como fator <strong>de</strong> perturbação<br />

da or<strong>de</strong>m pública, mas também como agressão a direitos, liberda<strong>de</strong>s e<br />

garantias pessoais, justifica uma intervenção pública preventiva e reativa cujo<br />

grau <strong>de</strong> eficácia é, nessa justa medida, um indica<strong>do</strong>r da priorida<strong>de</strong> atribuída à<br />

<strong>de</strong>fesa e promoção <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> homem nas políticas públicas.<br />

A <strong>de</strong>scentralização administrativa <strong>no</strong>s municípios satisfaz a objetivos<br />

constitucionais <strong>de</strong> pluralismo <strong>de</strong>mocrático, subsidiarieda<strong>de</strong> e eficiência. A<br />

posição institucional <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, como órgão nacional, permite-lhe<br />

um olhar privilegia<strong>do</strong> sobre a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os municípios, <strong>de</strong> <strong>no</strong>rte a sul,<br />

<strong>do</strong> interior ao litoral, <strong>do</strong> continente aos arquipélagos, e que se julga <strong>de</strong>ver ser<br />

um elemento <strong>de</strong> crítica construtiva.<br />

As sugestões <strong>de</strong> boas práticas expostas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> algum retiram interesse às<br />

conclusões sobre muitos outros aspetos enunciadas <strong>no</strong> Relatório <strong>do</strong> Inquérito.<br />

É o caso <strong>do</strong>s mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e sua articulação com os instrumentos <strong>de</strong> gestão<br />

territorial. Ali se encontram, por outro la<strong>do</strong>, da<strong>do</strong>s estatísticos relevantes, cuja<br />

consulta se sugere.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

4


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

I<br />

Consi<strong>de</strong>rações gerais<br />

1) Apesar <strong>de</strong> a or<strong>de</strong>m jurídica não po<strong>de</strong>r garantir um direito ao silêncio, a<br />

preservação <strong>do</strong> so<strong>no</strong> e <strong>de</strong> um mínimo <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong> <strong>no</strong> interior das<br />

habitações integra o conteú<strong>do</strong> essencial <strong>do</strong> direito fundamental a um ambiente<br />

sadio e ecologicamente equilibra<strong>do</strong> (artigo 66.º, n.º 1, da Constituição).<br />

2) A exposição a níveis excessivos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> não é uma questão puramente<br />

privada e compromete, não só direitos económicos, sociais e culturais, como<br />

também alguns direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias, <strong>de</strong>signadamente a integrida<strong>de</strong><br />

moral e física das pessoas (artigo 25.º, n.º 1) e reserva da intimida<strong>de</strong> da vida<br />

privada e familiar (artigo 26.º, n.º 1). A lesão continuada por ruí<strong>do</strong> excessivo<br />

po<strong>de</strong> revelar-se um trato <strong>de</strong>suma<strong>no</strong> contra a integrida<strong>de</strong> e a saú<strong>de</strong> física e<br />

mental, cuja proibição (artigo 25.º, n.º 2) não <strong>de</strong>ve simplesmente opor-se ao<br />

emprego da força pública, antes cumprin<strong>do</strong> alargar a respetiva força jurídica às<br />

entida<strong>de</strong>s privadas (artigo 18.º, n.º 1).<br />

3) Assim se justifica a criminalização por da<strong>no</strong>s substanciais imputa<strong>do</strong>s à poluição<br />

so<strong>no</strong>ra (artigo 279.º, n.º 1, <strong>do</strong> Código Penal).<br />

4) O ruí<strong>do</strong> é hoje comumente reconheci<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s fatores <strong>do</strong>minantes na<br />

<strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> ambiente urba<strong>no</strong>. A lesão reiterada ou prolongada <strong>do</strong> so<strong>no</strong> e<br />

tranquilida<strong>de</strong> tem consequências sérias e gravosas <strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

profissional, <strong>no</strong> rendimento escolar e na saú<strong>de</strong> psíquica e física. O repouso <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res é, aliás, objeto <strong>de</strong> um direito fundamental (artigo 59.º, n.º 1,<br />

alínea d), da Constituição).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

5


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

5) Insiste-se, pois, em que a proteção contra o ruí<strong>do</strong> excessivo <strong>de</strong>ve ser tratada<br />

como uma questão <strong>de</strong> interesse público e não, simplesmente, como<br />

circunscrita a conflitos entre particulares. Algo que, avisadamente, a Lei <strong>de</strong><br />

Bases <strong>do</strong> Ambiente (Lei n.º 11/87, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril) gravou <strong>no</strong> artigo 22.º, n.º 1,<br />

usan<strong>do</strong> a expressão «luta contra ao ruí<strong>do</strong>» para obrigar a uma política pública<br />

ambiental específica que salvaguar<strong>de</strong> a saú<strong>de</strong> e o bem-estar das populações,<br />

seja por correções na fonte rui<strong>do</strong>sa, seja através <strong>de</strong> um pru<strong>de</strong>nte or<strong>de</strong>namento<br />

da localização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s presumidamente rui<strong>do</strong>sas.<br />

6) Isto, sem prejuízo <strong>de</strong> a aplicação <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas civis pelos tribunais e julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

paz, quer para <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> (artigo 70.º <strong>do</strong> Código<br />

Civil), como também <strong>no</strong> quadro das relações jurídicas entre proprietários<br />

(artigos 1346.º e seguinte <strong>do</strong> Código Civil), <strong>de</strong>ver ser explicada e encorajada,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a especial a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>stes meios a ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas <strong>de</strong><br />

natureza <strong>do</strong>méstica.<br />

7) Algumas medidas legislativas <strong>de</strong> simplificação administrativa, <strong>de</strong>signadamente<br />

o <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> Licenciamento Zero (Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril) têm<br />

por efeito reduzir a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>do</strong> controlo preventivo <strong>de</strong> operações<br />

urbanísticas, instalação <strong>de</strong> estabelecimentos ou início <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, mas estas<br />

alterações não <strong>de</strong>vem redundar em prejuízo <strong>do</strong> interesse público na contenção<br />

<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>. Perante estes regimes jurídicos, o Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

(aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro) apresenta-se como lei<br />

especial, por conseguinte não revoga<strong>do</strong> nem <strong>de</strong>rroga<strong>do</strong> senão on<strong>de</strong><br />

expressamente se <strong>de</strong>termine (artigo 7.º, n.º 3, <strong>do</strong> Código Civil).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

6


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

8) Níveis me<strong>no</strong>s empenha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> combate e prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> em alguns<br />

municípios não po<strong>de</strong>m mais ser justifica<strong>do</strong>s pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar meios<br />

a <strong>no</strong>vas incumbências. As atribuições municipais na prevenção e combate à<br />

poluição so<strong>no</strong>ra remontam, pelos <strong>de</strong> forma sistematizada, ao Decreto-Lei n.º<br />

251/87, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho. Ao cabo <strong>de</strong> 25 a<strong>no</strong>s, o exercício efetivo <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, os meios técnicos e a formação <strong>de</strong> pessoal<br />

<strong>de</strong>vem ser avalia<strong>do</strong>s em cada organização municipal.<br />

9) Mostra-se essencial prestar informação oportuna, clara e completa sobre os<br />

procedimentos a a<strong>do</strong>tar perante uma situação <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa. Os<br />

lesa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> fácil acesso às câmaras municipais e às autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais sem receio <strong>de</strong> cuidarem <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong> some<strong>no</strong>s importância. Os<br />

prazos <strong>de</strong> resposta, as operações preparatórias <strong>de</strong> eventual procedimento <strong>de</strong><br />

caraterização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> perturba<strong>do</strong>r, <strong>de</strong>vem ser divulga<strong>do</strong>s e, bem assim,<br />

quaisquer <strong>de</strong>senvolvimentos significativos na investigação. Devem ainda ser<br />

adverti<strong>do</strong>s das limitações da atuação administrativa e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

prestarem a colaboração necessária à correta caraterização da incomodida<strong>de</strong>.<br />

10) Julga-se <strong>de</strong> incentivar, sempre que possível, o diálogo entre o queixoso e o<br />

responsável pela propagação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, privilegian<strong>do</strong>-se, numa primeira fase, a<br />

tentativa <strong>de</strong> resolução amigável <strong>do</strong> conflito, por contenção das emissões<br />

so<strong>no</strong>ras. Os sistemas públicos <strong>de</strong> mediação, recentemente firma<strong>do</strong>s na Lei n.º<br />

29/2013, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril, po<strong>de</strong>m vir a revelar-se um instrumento muito idóneo<br />

(artigos 30.º e seguintes), a este propósito.<br />

11) As autorida<strong>de</strong>s municipais não <strong>de</strong>vem porém alhear-se e relegar para essa<br />

esfera o que lhes compete <strong>de</strong>terminar <strong>no</strong> exercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público. Para o<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

7


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

efeito <strong>de</strong>ve ser fixa<strong>do</strong> um prazo ajusta<strong>do</strong> às circunstâncias concretas. Expira<strong>do</strong><br />

este prazo sem que se obtenham <strong>de</strong>senvolvimentos significativos na perspetiva<br />

da <strong>de</strong>belação da incomodida<strong>de</strong>, a Administração Pública <strong>de</strong>ve atuar com<br />

firmeza e prontidão.<br />

12) Sempre que possível, é <strong>de</strong> proteger a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

queixosos e <strong>do</strong>s reclama<strong>do</strong>s.<br />

13) No <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> planeamento territorial, <strong>de</strong>vem os municípios suprir o atual<br />

défice na classificação <strong>de</strong> zonas sensíveis e mistas, na elaboração <strong>de</strong><br />

pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, na apresentação <strong>de</strong> relatório sobre ambiente<br />

acústico.<br />

14) Impõe-se, ainda, <strong>no</strong> que respeita à elaboração <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

e <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação relativos a gran<strong>de</strong>s aglomerações, dar cumprimento às<br />

obrigações previstas <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho.<br />

II<br />

Afetação <strong>de</strong> recursos<br />

15) Em cada organização municipal, <strong>de</strong>ve ser reforçada a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> meios e,<br />

sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> informação, entre os <strong>de</strong>partamentos urbanísticos e os<br />

<strong>de</strong>partamentos ambientais e, por seu tur<strong>no</strong>, entre estes e as polícias<br />

municipais, quan<strong>do</strong> tenham si<strong>do</strong> instituídas <strong>no</strong> concelho. Frequentes<br />

disfunções observadas neste <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong>vem começar por ser supridas ao nível<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

8


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

das autorizações <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> edifícios ou suas frações autó<strong>no</strong>mas,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> se trate <strong>de</strong> autorizações requeridas para alterar a<br />

anterior utilização (artigo 62.º <strong>do</strong> Regime Jurídico da Urbanização e da<br />

Edificação, aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 555/99, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na<br />

redação republicada com o Decreto-Lei n.º 26/2010, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março).<br />

16) Merece ser pon<strong>de</strong>rada a conveniência em atribuir à Polícia <strong>de</strong> Segurança<br />

Pública, à Guarda Nacional Republicana e às polícias municipais, on<strong>de</strong><br />

existam, meios que lhes permitam uma simples constatação/registo da<br />

intensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> propaga<strong>do</strong> pelo evento, para melhor permitir aferir da<br />

procedência <strong>de</strong> queixas. Na verda<strong>de</strong>, é impraticável, na maioria das<br />

perturbações imputadas a ativida<strong>de</strong>s temporárias, proce<strong>de</strong>r à verificação <strong>do</strong><br />

critério da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, que obriga a ensaios vários, em diferentes<br />

ocasiões. Não se encontran<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s temporárias sujeitas a limites<br />

acústicos (exceto quan<strong>do</strong> assumam duração superior a um mês), não se<br />

cuidaria <strong>de</strong> medir, <strong>de</strong> forma exata e <strong>no</strong>rmalizada, o ruí<strong>do</strong>. Tratar-se-ia apenas<br />

<strong>de</strong> registar, <strong>de</strong> imediato, a maior ou me<strong>no</strong>r intensida<strong>de</strong> das emissões so<strong>no</strong>ras,<br />

a fim <strong>de</strong> que os serviços municipais que <strong>de</strong>ferem as licenças possam estimar o<br />

impacto da ativida<strong>de</strong> e pon<strong>de</strong>rar a suficiência e a a<strong>de</strong>quação das medidas<br />

impostas. Cuidar-se-ia <strong>de</strong> conferir formação especializada a pessoal da polícia<br />

municipal e/ou, eventualmente, aos agentes da Guarda Nacional Republicana,<br />

em especial, aqueles que incorporam o Serviço <strong>de</strong> Proteção da Natureza e<br />

Ambiente, em termos que lhe permitam avaliar sumariamente a gravida<strong>de</strong>. A<br />

ser observa<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> especialmente perturba<strong>do</strong>r, não se vê porque não<br />

possa a autorida<strong>de</strong> policial <strong>de</strong>terminar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, a suspensão da ativida<strong>de</strong>,<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

9


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

algo que faz com <strong>de</strong>masiada parcimónia, apesar <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> artigo 18.º e <strong>no</strong><br />

artigo 24.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

17) Em face da precarieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recursos disponíveis, <strong>de</strong>vem ser estabelecidas<br />

priorida<strong>de</strong>s na atuação municipal, mas sem privar a necessida<strong>de</strong> coletiva <strong>de</strong><br />

polícia <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus mínimos essenciais. A vida em socieda<strong>de</strong> comporta<br />

uma margem tolerável <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> e, sobretu<strong>do</strong>, em aglomera<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>nsamente povoa<strong>do</strong>s é expectável algum ruí<strong>do</strong>. Todavia, sempre que é<br />

<strong>de</strong>snecessário, excessivo em volume ou duração ou ocorre em perío<strong>do</strong>s mais<br />

sensíveis, não <strong>de</strong>ve ser tolera<strong>do</strong>, privilegian<strong>do</strong>-se o exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong> pública.<br />

18) Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a maioria das perturbações da tranquilida<strong>de</strong> ocorre ao<br />

entar<strong>de</strong>cer e <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, julga-se necessário assegurar a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um serviço <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, por concertação entre a autorida<strong>de</strong><br />

municipal e as forças <strong>de</strong> segurança (agentes policiais e municipais e,<br />

eventualmente, técnicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>), sem o que se mostra comprometida a<br />

celerida<strong>de</strong>, a eficácia e a objetivida<strong>de</strong> na resposta às lesões.<br />

19) No âmbito da fiscalização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, cabe às câmaras municipais assegurar a<br />

recriação das condições típicas <strong>do</strong> exercício da ativida<strong>de</strong> incómoda, com<br />

incidência <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior incomodida<strong>de</strong>, pelo que se torna necessário<br />

obter informação prévia e esclarece<strong>do</strong>ra da parte <strong>do</strong>s queixosos.<br />

20) Se estes objetam que a medição <strong>do</strong> som não é credível por não terem si<strong>do</strong><br />

recriadas as usuais condições <strong>de</strong> funcionamento, <strong>de</strong>ve procurar aferir-se da<br />

razoabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal objeção. Na dúvida, <strong>de</strong>vem procurar-se evidências junto <strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

10


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

terceiros (v.g. GNR e PSP), garantin<strong>do</strong> a imparcialida<strong>de</strong> <strong>no</strong> procedimento.<br />

Cumpre aos serviços municipais provi<strong>de</strong>nciar por que o autor da incomodida<strong>de</strong><br />

não tenha conhecimento prévio das datas em que as medições acústicas têm<br />

lugar, a fim <strong>de</strong> prevenir que sejam adulteradas as condições habitualmente<br />

observadas, ten<strong>do</strong> em vista obter emissões so<strong>no</strong>ras <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r intensida<strong>de</strong>.<br />

21) Quan<strong>do</strong> as medições acústicas sejam realizadas por presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços<br />

adjudica<strong>do</strong>s pelos municípios, é aconselhável o acompanhamento por técnicos<br />

municipais, para aferir da credibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> procedimento. A medição <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

efetivo pressupõe que todas as fontes so<strong>no</strong>ras objeto da queixa estejam em<br />

funcionamento. Com base nas <strong>de</strong>clarações <strong>do</strong> queixoso e na natureza da<br />

ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verão ser reconstituí<strong>do</strong>s os fatores típicos da incomodida<strong>de</strong> (v.g.<br />

divulgação <strong>de</strong> música, exploração <strong>de</strong> pista <strong>de</strong> dança, equipamento rui<strong>do</strong>so,<br />

clientela e lotação <strong>do</strong> estabelecimento).<br />

22) Atenta a exiguida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s equipamentos disponíveis e <strong>do</strong> pessoal com formação,<br />

o exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> fiscalização e controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve privilegiar as<br />

situações <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> grave, o ruí<strong>do</strong> recorrente e intenso. Afigura-se<br />

legítimo que, na falta <strong>de</strong> indícios <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> significativo, por observação <strong>no</strong> local<br />

e em face da natureza <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s, as câmaras municipais se<br />

abstenham <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r ensaios acústicos.<br />

23) O <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> uma caução (cuja <strong>no</strong>rma <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> –<br />

artigo 25.º - continua por regulamentar pelo Gover<strong>no</strong>) ou o pagamento <strong>de</strong> uma<br />

taxa ou <strong>de</strong> um preço por parte <strong>do</strong> munícipe que reclama <strong>do</strong> exercício <strong>de</strong> uma<br />

ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa po<strong>de</strong> constituir um impedimento à caraterização da<br />

incomodida<strong>de</strong>, melhor se compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que tais medições constituam um<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

11


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ónus <strong>de</strong> quem aufere o proveito económico da exploração supostamente<br />

rui<strong>do</strong>sa. Há que rever as taxas fixadas em alguns municípios, seja por<br />

representarem um encargo <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> oneroso para os queixosos, seja por<br />

porem em crise o caráter bilateral da taxa, por não se traduzirem numa<br />

contrapartida pela prestação <strong>de</strong> um serviço (artigo 4.º, n.º 2, da Lei Geral<br />

Tributária – aprovada pelo Decreto-Lei n.º 398/98, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro).<br />

24) Recor<strong>de</strong>-se que a Portaria n.º 326/95 (2.ª série), <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro, que<br />

habilitava, sem mais, a estipulação <strong>de</strong> encargos sobre os reclamantes ou<br />

queixosos, encontra-se expressamente revogada, sob recomendação <strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> (Recomendação n.º 18/B/99, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junho 2 ), citada, <strong>de</strong><br />

resto, <strong>no</strong> seu preâmbulo, pelo Decreto-Lei n.º 292/2000, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro.<br />

25) Importa consi<strong>de</strong>rar que o ruí<strong>do</strong> é, não raro, um efeito próprio ou colateral <strong>de</strong><br />

uma ativida<strong>de</strong> lucrativa, mas cujos custos são suporta<strong>do</strong>s por terceiros, alheios<br />

às receitas.<br />

26) A Polícia <strong>de</strong> Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />

exercerem com maior eficácia os po<strong>de</strong>res <strong>do</strong>s seus agentes na prevenção e<br />

repressão da poluição so<strong>no</strong>ra, beneficiam certamente com iniciativas<br />

municipais <strong>de</strong> formação sobre o ruí<strong>do</strong> e <strong>de</strong> sensibilização para a gravida<strong>de</strong> das<br />

perturbações resultantes da exposição ao ruí<strong>do</strong> excessivo. O conhecimento<br />

recíproco entre os agentes das forças <strong>de</strong> segurança e os agentes municipais,<br />

propicia<strong>do</strong> por este tipo <strong>de</strong> ações, contribui <strong>de</strong>certo para uma melhor<br />

coor<strong>de</strong>nação.<br />

2 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/?idc=67&idi=2206<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

12


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

27) A eliminação ten<strong>de</strong>ncial <strong>do</strong>s procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio das ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas permanentes, a benefício da simplificação administrativa, como o já<br />

cita<strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril, po<strong>de</strong> frustrar, em larga medida, o<br />

cumprimento <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong>s artigos 12.º e 13.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong><br />

Ruí<strong>do</strong>. Impõe-se incrementar o exercício <strong>do</strong> controlo sucessivo, conferin<strong>do</strong> às<br />

autorida<strong>de</strong>s municipais/policiais meios que agilizem a caraterização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

perturba<strong>do</strong>r, em caso <strong>de</strong> reclamação por lesão <strong>do</strong> <strong>de</strong>scanso.<br />

28) Afigura-se vantajosa a concertação <strong>de</strong> vários municípios na fiscalização <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Encontraram-se casos <strong>de</strong><br />

associações <strong>de</strong> municípios que partilham entre si um conjunto <strong>de</strong> meios<br />

técnicos e huma<strong>no</strong>s necessários à prossecução <strong>do</strong>s ensaios <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>,<br />

com vantagem assinalável para a contenção <strong>de</strong> custos.<br />

29) Importa ainda estabelecer mecanismos que confiram credibilida<strong>de</strong> aos exames<br />

<strong>de</strong> medição acústica realiza<strong>do</strong>s a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> promotor da ativida<strong>de</strong> incómoda,<br />

por imposição administrativa, <strong>de</strong>signadamente, mediante o acompanhamento<br />

<strong>do</strong>s serviços municipais, o que permite, em alguns casos, <strong>de</strong>sonerar as<br />

câmaras municipais, <strong>do</strong>s encargos, nada <strong>de</strong>spicien<strong>do</strong>s, com as medições.<br />

30) Em particular, justifica-se assegurar a medição <strong>do</strong>s níveis habituais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, o<br />

que supõe que os mesmos não sejam distorci<strong>do</strong>s por ocasião da sua<br />

quantificação, por exame acústico, <strong>de</strong> forma a obter registos <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r<br />

intensida<strong>de</strong>. A recriação das condições usuais ou <strong>do</strong> exercício típico <strong>do</strong> uso<br />

incómo<strong>do</strong> postula a obtenção <strong>de</strong> informação prévia e clara da parte <strong>do</strong><br />

queixoso. Importa conhecer o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> especial incomodida<strong>de</strong> e os fatores<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

13


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

que são aponta<strong>do</strong>s na sua origem, algo que o reclamante ou queixoso <strong>de</strong>ve<br />

especificar, por escrito.<br />

III<br />

Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias<br />

31) A licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>) não<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como a alienação municipal da tranquilida<strong>de</strong> pública,<br />

mediante a liquidação <strong>de</strong> uma taxa. O facto <strong>de</strong> a licença conferir licitu<strong>de</strong> a uma<br />

ativida<strong>de</strong> que, <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>, representaria uma infração contraor<strong>de</strong>nacional,<br />

não permite per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o seu caráter excecional.<br />

32) De outro mo<strong>do</strong>, corre-se o risco <strong>de</strong> a taxa a liquidar por conta da licença<br />

especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> estimular o seu <strong>de</strong>ferimento multiplica<strong>do</strong>, a fim <strong>de</strong> angariar<br />

receitas públicas, mas sem contrapartidas para os lesa<strong>do</strong>s.<br />

33) O <strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, ainda que em estrita<br />

conformida<strong>de</strong> com a lei, não isenta os municípios da eventual responsabilida<strong>de</strong><br />

civil por prejuízos imputa<strong>do</strong>s a sacrifícios especial e a<strong>no</strong>rmalmente impostos.<br />

Logo que um tribunal con<strong>de</strong>ne um município com fundamento <strong>no</strong> artigo 16.º da<br />

Lei n.º 67/2007, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, seguir-se-á, provavelmente, um aumento<br />

exponencial <strong>de</strong> ações administrativas comuns propostas com pedi<strong>do</strong> e causa<br />

<strong>de</strong> pedir semelhantes.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

14


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

34) As licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que se abstenham <strong>de</strong> estipular condições<br />

individuais e concretas mostram-se inválidas, pois constituem uma forma <strong>de</strong><br />

renúncia ao exercício <strong>de</strong> uma competência: a aplicação <strong>de</strong> <strong>no</strong>rma geral e<br />

abstrata por meio <strong>de</strong> ato administrativo (artigo 29.º, n.º 2, <strong>do</strong> Código <strong>do</strong><br />

Procedimento Administrativo). O ato é tão mais lesivo <strong>do</strong>s direitos e interesses<br />

legalmente protegi<strong>do</strong>s quanto <strong>de</strong>ixe por circunscrever os termos e condições<br />

da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa excecionalmente permitida.<br />

35) Hão <strong>de</strong> fixar-se condições concretas e a<strong>de</strong>quadas à <strong>de</strong>belação da<br />

incomodida<strong>de</strong>. Para tanto, impõe-se que seja <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> o<br />

evento, as ativida<strong>de</strong>s que o mesmo comporta e pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o seu impacto<br />

so<strong>no</strong>ro.<br />

36) Estimam-se como ina<strong>de</strong>quadas condições observadas <strong>no</strong> Inquérito e que<br />

estipulam «observância <strong>do</strong>s limites previstos <strong>no</strong> RGR», «<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> a<strong>do</strong>tar<br />

medidas <strong>de</strong> prevenção ou <strong>de</strong>belação». As ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias não<br />

conhecem uma limitação quantitativa específica (art.15.º, n.º 5, a contrario<br />

sensu), nem há condições para proce<strong>de</strong>r a medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ele se<br />

circunscreve a um perío<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong>. Por conseguinte, nessa medida, a<br />

remissão mostra-se vazia <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> útil. As condições a prescrever, <strong>no</strong>s<br />

termos <strong>do</strong> artigo 25.º, n.º 2, <strong>de</strong>vem ser concretas e especificadas, evitan<strong>do</strong><br />

fórmulas genéricas rotineiras.<br />

37) Entre as condições expressas e tidas por a<strong>de</strong>quadas ao objetivo <strong>de</strong><br />

preservação da tranquilida<strong>de</strong> contam-se a partir <strong>do</strong> Inquérito: «divulgação da<br />

música em senti<strong>do</strong> contrário ao aglomera<strong>do</strong>, a limitação das fontes so<strong>no</strong>ras,<br />

localização e orientação das saídas <strong>de</strong> som, utilizar apenas colunas <strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

15


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

pequena potência, espalhadas pela zona, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a que o evento audível por<br />

to<strong>do</strong>s os que se encontram <strong>no</strong> local».<br />

38) Entre as licenças <strong>de</strong> obras, regista-se como positivo o «cumprimento <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> minimização e pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>no</strong>torização previstos na DIA,<br />

informação aos mora<strong>do</strong>res, proibição <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> certos equipamentos, limitação<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s mais rui<strong>do</strong>sas ao perío<strong>do</strong> diur<strong>no</strong>, orientação <strong>de</strong> fontes so<strong>no</strong>ras,<br />

limitações <strong>de</strong> campo so<strong>no</strong>ro».<br />

39) Assinalam-se algumas outras práticas que parecem positivas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> servir<br />

<strong>de</strong> paradigma ao contribuir para o melhor controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

temporárias:<br />

a. Algumas licenças preveem a obrigação <strong>de</strong> o promotor dar<br />

conhecimento da própria emissão <strong>de</strong> licença às autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais.<br />

b. Outras preveem o procedimento a a<strong>do</strong>tar em caso <strong>de</strong> reclamação,<br />

tal como, diminuir imediatamente o volume <strong>do</strong> som ou cessação<br />

<strong>do</strong> uso 3 .<br />

c. Uma <strong>de</strong>terminada licença da Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Marvão dá<br />

conta das objeções coletivas: «a população manifesta o seu<br />

<strong>de</strong>sagra<strong>do</strong> com o excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Deverá V. Exa controlar o<br />

3 A C.M. <strong>de</strong> Caldas da Rainha estipula que a licença po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada sem efeito <strong>no</strong> caso<br />

<strong>de</strong> receção <strong>de</strong> reclamação por excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>no</strong> interior e <strong>no</strong> exterior da instalação. A C.M.<br />

<strong>de</strong> Nelas dispõe na licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que «caso alguém da vizinhança reclame <strong>do</strong><br />

ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>verá a<strong>do</strong>tar as medidas a<strong>de</strong>quadas para reduzir na fonte <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> e se as<br />

autorida<strong>de</strong>s policiais o enten<strong>de</strong>rem, <strong>de</strong>verá cessar a festa <strong>de</strong> imediato».<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

16


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

excesso a partir das 3.00 h, ou limitar, <strong>no</strong> futuro, a licença <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

até às 2 horas».<br />

d. A Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Odivelas afirma estipular a redução da<br />

emissão so<strong>no</strong>ra ou a cessação da ativida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> seja<br />

reclamada, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a publicitação <strong>do</strong> alvará <strong>no</strong> exterior,<br />

divulgan<strong>do</strong> os condicionantes e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suspensão a<br />

pedi<strong>do</strong>.<br />

e. A Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Portimão afirma a<strong>do</strong>tar uma posição que<br />

se mostra bastante a<strong>de</strong>quada à excecionalida<strong>de</strong> das licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>: em caso <strong>de</strong> reclamações, em regra não emite<br />

outra licença para a mesma ativida<strong>de</strong> <strong>no</strong> mesmo local.<br />

f. Por seu tur<strong>no</strong>, a Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> São Brás <strong>de</strong> Alportel exibe<br />

um aditamento a uma licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> conta <strong>de</strong><br />

que, por motivo <strong>de</strong> reclamações apresentadas na primeira <strong>no</strong>ite <strong>do</strong><br />

evento, por incumprimento <strong>do</strong> horário autoriza<strong>do</strong>, veio a ser<br />

reduzi<strong>do</strong> o horário autoriza<strong>do</strong> nas duas <strong>no</strong>ites subsequentes.<br />

g. A Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> São João da Ma<strong>de</strong>ira faz saber <strong>no</strong> alvará<br />

que <strong>de</strong>ve ser assegura<strong>do</strong> o contacto permanente com os<br />

responsáveis pelo evento para que, em caso <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>,<br />

seja <strong>de</strong> imediato tomada conta da ocorrência e restabeleci<strong>do</strong> o<br />

bem-estar da população. É i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> na licença especial <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> o responsável e o seu telefone móvel.<br />

40) É certo que as festas tradicionais justificam algumas perturbações e ninguém<br />

po<strong>de</strong> invocar um direito ao absoluto silêncio alheio, mas não é me<strong>no</strong>s verda<strong>de</strong><br />

que os mora<strong>do</strong>res não ficam <strong>de</strong>sincumbi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> cumprir os seus <strong>de</strong>veres<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

17


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

laborais ou escolares, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> não terem <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> na véspera <strong>de</strong><br />

dias úteis. É <strong>de</strong>sejável que à generalida<strong>de</strong> das festas tradicionais, sobretu<strong>do</strong><br />

àquelas que se prolongam por vários dias e <strong>no</strong>ites, sejam fixadas localizações<br />

rotativas em cada a<strong>no</strong> para os recintos improvisa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a distribuir <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> mais diversifica<strong>do</strong> o sacrifício com a incomodida<strong>de</strong> imputada ao ruí<strong>do</strong>.<br />

Sempre que a localização exata seja absolutamente necessária ao<br />

cumprimento da tradição religiosa ou secular, popular ou erudita, académica ou<br />

corporativa, a contenção <strong>de</strong>ve ser estipulada com maior rigor.<br />

41) Por outro la<strong>do</strong>, as gran<strong>de</strong>s concentrações <strong>de</strong>vidas a espetáculos com música<br />

ao vivo, principalmente quan<strong>do</strong> a produção seja <strong>de</strong> natureza comercial, <strong>de</strong>vem<br />

garantir aos mora<strong>do</strong>res nas imediações <strong>do</strong>s recintos o alojamento <strong>do</strong>s seus<br />

agrega<strong>do</strong>s familiares em local afasta<strong>do</strong> e em instalações dignas e apropriadas.<br />

42) As licenças para espetáculos <strong>de</strong>vem especificar rigorosamente o local ou os<br />

percursos, caracterizar o recinto, os grupos musicais e a potência <strong>do</strong>s<br />

equipamentos <strong>de</strong> amplificação. Nunca é <strong>de</strong>mais ter em conta o especial <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> vigilância contra os mais varia<strong>do</strong>s riscos e que recai sobre as autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais ao licenciarem um recinto, pois se presume terem vistoria<strong>do</strong> as suas<br />

condições (Decreto-Lei n.º 309/2002, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na redação <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei n.º 202/2012, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> agosto).<br />

43) Seria <strong>de</strong>sejável fixar um contingente para a atribuição <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>, estabelecen<strong>do</strong>-se um limite por eventual referência à localização <strong>do</strong><br />

evento e sua natureza e ao seu promotor. Isto, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a não sacrificar<br />

sistematicamente os mora<strong>do</strong>res vizinhos <strong>de</strong> locais privilegia<strong>do</strong>s para gran<strong>de</strong>s<br />

concentrações rui<strong>do</strong>sas. Neste âmbito pon<strong>de</strong>rar-se-ia a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

18


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

e os índices <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> da zona e a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem executadas medidas<br />

mitiga<strong>do</strong>ras da incomodida<strong>de</strong>.<br />

44) No <strong>do</strong>mínio da fiscalização das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias, é <strong>de</strong> incentivar<br />

a iniciativa <strong>do</strong>s serviços municipais em requerer a colaboração das autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais, facultan<strong>do</strong>-lhes conhecimento <strong>do</strong> teor <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os alvarás <strong>de</strong> licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> concedidas 4 .<br />

45) Essa <strong>no</strong>tificação, porém, não po<strong>de</strong> eximir totalmente os serviços municipais<br />

<strong>do</strong>s <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> fiscalização, em melhor posição <strong>de</strong> ajuizar <strong>do</strong> respeito por<br />

condições técnicas fixadas e <strong>do</strong> impacto ambiental <strong>do</strong> evento. Cabe-lhes<br />

exercer maior vigilância perante ativida<strong>de</strong>s suscetíveis <strong>de</strong> causar maior<br />

incomodida<strong>de</strong>, em função da potência <strong>do</strong> equipamento, das especiais<br />

condições <strong>de</strong> propagação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> - quanto a eventos na via pública e <strong>de</strong>mais<br />

lugares públicos ou em espaços abertos – <strong>do</strong> historial <strong>de</strong> reclamações e outras<br />

circunstâncias <strong>de</strong> que tenham conhecimento.<br />

46) Devem as autorida<strong>de</strong>s municipais acautelar o cumprimento <strong>do</strong>s valores limite<br />

constantes <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> artigo 15.º, n.º 5, <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> da realização <strong>de</strong> um evento <strong>de</strong> iniciativa municipal, caben<strong>do</strong>-lhes<br />

a<strong>do</strong>tar os meios e procedimentos técnicos para o efeito ajusta<strong>do</strong>s.<br />

4 A prática <strong>de</strong> transmissão sistemática <strong>do</strong> teor das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> à autorida<strong>de</strong><br />

policial melhor alertará os agentes para a ocorrência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ilícita, por falta <strong>de</strong> ler ou<br />

<strong>de</strong>srespeito <strong>do</strong>s seus condicionantes.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

19


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

47) Os municípios não po<strong>de</strong>m dispensar-se <strong>de</strong> executar ensaios acústicos para<br />

aferir <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias, em<br />

especial quan<strong>do</strong> os índices <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> assumam particular expressão.<br />

48) Cuidar-se-ia ainda <strong>de</strong> fiscalizar o exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias<br />

e <strong>de</strong> incentivar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r o uso, conferi<strong>do</strong> às autorida<strong>de</strong>s policiais,<br />

nas situações em que não seja exibida licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ou não se<br />

mostrem observadas as suas condicionantes.<br />

IV<br />

Ativida<strong>de</strong>s permanentes<br />

A) <strong>Controlo</strong> da utilização das edificações, suas frações e outros locais<br />

49) A <strong>de</strong>signação genérica <strong>de</strong> comércio <strong>no</strong> conteú<strong>do</strong> das autorizações <strong>de</strong> utilização<br />

(e sobretu<strong>do</strong>, em antigas licenças) não <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar-se como suficiente<br />

para instalar estabelecimentos ou praticar ativida<strong>de</strong>s que se encontrem<br />

subordinadas a <strong>no</strong>rmas específicas, como é o caso da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

restauração. O conceito urbanístico <strong>de</strong> comércio não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> a<br />

partir das <strong>no</strong>rmas privadas <strong>de</strong> direito comercial, <strong>de</strong>signadamente por apelo à<br />

<strong>no</strong>ção jurídica <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> comércio (artigo 2.º <strong>do</strong> Código Comercial), antes <strong>de</strong>ve<br />

circunscrever-se a ativida<strong>de</strong>s económicas limitadas à compra e venda <strong>de</strong> bens<br />

já produzi<strong>do</strong>s ou confeciona<strong>do</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

20


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

50) É indispensável não confundir a verificação <strong>do</strong>s requisitos acústicos <strong>do</strong>s<br />

edifícios, prevista <strong>no</strong> artigo 12.º, n.º 5, <strong>do</strong> RGR, e cujo objeto é a construção<br />

e suas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> isolamento, com a verificação <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

imputa<strong>do</strong>s a uma <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong>.<br />

51) Decerto que uma boa parte <strong>do</strong>s problemas causa<strong>do</strong>s pela exploração <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, em particular quan<strong>do</strong> se registam<br />

elevadas aglomerações (v.g. Santos-O-Velho, Bairro Alto e Cais <strong>do</strong> Sodré,<br />

em Lisboa, Quarteira, em Loulé, Praia da Rocha, em Portimão), não se<br />

colocaria se a autorida<strong>de</strong> municipal atuasse <strong>de</strong> forma preventiva, impedin<strong>do</strong><br />

a abertura <strong>de</strong> portas ao público sem licença nem autorização <strong>de</strong> espécie<br />

alguma.<br />

52) Uma pronta atuação perante obras ilegais ou o início <strong>do</strong> funcionamento em<br />

condições irregulares, consolidada numa prática reiterada, produziria efeitos<br />

na dissuasão <strong>de</strong> comportamentos análogos. O facto <strong>de</strong> o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> licença<br />

ou <strong>de</strong> legalização se encontrar em apreciação <strong>de</strong>ve fazer presumir que a<br />

ativida<strong>de</strong> não satisfaz aos requisitos <strong>de</strong> segurança e salubrida<strong>de</strong>. Se as<br />

autorizações, licenças e comunicações prévias não servirem para inverter<br />

esta presunção, é <strong>de</strong> questionar para que servem.<br />

53) Nas atuais circunstâncias assiste-se por vezes a uma prática baseada num<br />

sentimento difuso <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>: a exploração inicia-se, relegan<strong>do</strong>-se a<br />

legalização para um momento posterior ou protelan<strong>do</strong>-se in<strong>de</strong>finidamente<br />

<strong>no</strong> tempo a regularização. Criou-se a convicção <strong>de</strong> que, uma vez abertas as<br />

portas <strong>do</strong> estabelecimento, este se mantém em funcionamento. A inércia ou<br />

a morosida<strong>de</strong> na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia reveste-se <strong>de</strong> particular<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

21


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

gravida<strong>de</strong> perante as reclamações <strong>de</strong> numerosos mora<strong>do</strong>res. Ao omitir as<br />

providências necessárias à reposição da or<strong>de</strong>m pública, os po<strong>de</strong>res<br />

públicos são cúmplices na perturbação <strong>do</strong> bem-estar <strong>do</strong>s munícipes, o que<br />

fundamenta eventual pretensão <strong>de</strong> ressarcimento <strong>do</strong>s prejuízos causa<strong>do</strong>s a<br />

terceiros. Nestas circunstâncias, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> atuar <strong>de</strong>corre da constatação<br />

da ilegalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> funcionamento e, bem assim, da obrigação <strong>de</strong> prestar uma<br />

resposta às queixas <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Nestes casos, as limitações que<br />

obstam à pronta realização <strong>de</strong> medições, parecem aconselhar o vigoroso<br />

exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> polícia administrativa.<br />

54) E é equívoco consi<strong>de</strong>rar que a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> cessação <strong>de</strong> utilização e mesmo o<br />

<strong>de</strong>spejo administrativo transitem para o município a responsabilida<strong>de</strong> civil pela<br />

guarda <strong>do</strong>s bens encontra<strong>do</strong>s <strong>no</strong> interior <strong>do</strong>s estabelecimentos, algo que é<br />

invoca<strong>do</strong>, por vezes, como razão para não a<strong>do</strong>tar essas medidas. A ilicitu<strong>de</strong> da<br />

ativida<strong>de</strong> inverte o risco, além <strong>de</strong> que as autorida<strong>de</strong>s municipais não são<br />

investidas como <strong>de</strong>positárias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>no</strong>tifica<strong>do</strong>s os possui<strong>do</strong>res para, em<br />

tempo, removerem os seus equipamentos.<br />

B) Concentração <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> diversão em áreas com<br />

infraestruturas vetustas ou insuficientes<br />

55) Os po<strong>de</strong>res públicos dispõem <strong>de</strong> competências para, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>, introduzir<br />

maior justiça na distribuição <strong>do</strong>s encargos e benefícios com a concentração <strong>de</strong><br />

bares <strong>no</strong>s centros históricos, cada vez mais procura<strong>do</strong>s por este ramo da<br />

ativida<strong>de</strong> económica.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

22


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

56) Neste senti<strong>do</strong>, o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sugerir o exercício<br />

<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r regulamentar na fixação <strong>do</strong>s horários (artigo 3.º, alínea a), <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei n.º 48/96, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> maio). Posta em causa a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res, dispõe a lei que a redução <strong>do</strong>s horários se converte num <strong>de</strong>ver,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algumas consultas que, apesar <strong>de</strong> obrigatórias, não vinculam as<br />

câmaras municipais.<br />

57) Opor-se-á que antecipar o encerramento <strong>do</strong>s bares não impe<strong>de</strong> que os<br />

consumi<strong>do</strong>res continuem na via pública a causar distúrbios e ruí<strong>do</strong>. Todavia,<br />

encerra<strong>do</strong>s mais ce<strong>do</strong>, mais ce<strong>do</strong> também <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> dispensar bebidas e<br />

música, o que, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>, contribui para que a dispersão seja<br />

antecipada.<br />

58) Por outro la<strong>do</strong>, o ruí<strong>do</strong> na via pública será mais justificadamente controla<strong>do</strong><br />

pela Polícia <strong>de</strong> Segurança Pública, após o encerramento <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos.<br />

59) E importa não esquecer o funcionamento rui<strong>do</strong>so com portas e janelas<br />

abertas para o exterior, fazen<strong>do</strong> da via pública plateia <strong>de</strong> espetáculos ao<br />

vivo com música em som eleva<strong>do</strong>. Esta continuida<strong>de</strong> entre o interior e a via<br />

pública permite subverter as regras sobre a lotação, pois muitos não se<br />

abstêm <strong>de</strong> continuar a ven<strong>de</strong>r bebidas, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> excedida a taxa<br />

<strong>de</strong> ocupação. Alguns disponibilizam copos em plástico, o que é benéfico <strong>do</strong><br />

ponto <strong>de</strong> vista da segurança, mas fomenta o consumo <strong>no</strong> exterior. A<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> estabelecimento <strong>no</strong>s copos usa<strong>do</strong>s po<strong>de</strong> contribuir para<br />

uma maior responsabilização <strong>do</strong>s agentes económicos.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

23


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

60) Não po<strong>de</strong>m as câmaras municipais ficar-se pela limitação <strong>do</strong> horário <strong>de</strong><br />

estabelecimentos que mantêm funcionamento irregular sob pena <strong>de</strong><br />

ig<strong>no</strong>rarem o perigo que o funcionamento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> <strong>de</strong>stes<br />

estabelecimentos comporta para a urbanização, a estética, a salubrida<strong>de</strong>, a<br />

segurança e a tranquilida<strong>de</strong> públicas. Vale a pena insistir em que na falta <strong>de</strong><br />

licenciamento municipal, há <strong>de</strong> presumir-se o incumprimento <strong>do</strong>s requisitos<br />

fixa<strong>do</strong>s à instalação e ao funcionamento <strong>de</strong>stes espaços <strong>de</strong> diversão.<br />

61) Não <strong>de</strong>vem as câmaras municipais abster-se <strong>de</strong> cessar a utilização <strong>de</strong><br />

edifícios ou suas frações por estabelecimentos urbanística e<br />

ambientalmente clan<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s, sob pena <strong>de</strong> favorecer os seus proprietários<br />

em face <strong>do</strong>s agentes económicos que prestam os mesmos serviços em<br />

cumprimento <strong>do</strong>s requisitos legais e regulamentares com os encargos que<br />

isso representa. Limitar o horário <strong>de</strong> estabelecimentos irregulares é legitimar<br />

o seu funcionamento, admitir a sua existência ao arrepio da or<strong>de</strong>m jurídica.<br />

62) Um esforço <strong>de</strong> maior coor<strong>de</strong>nação entre os serviços municipais – <strong>de</strong><br />

urbanismo, ambiente, turismo e ativida<strong>de</strong>s económicas – é algo que, muito<br />

provavelmente, aproveitará a to<strong>do</strong>s, garantin<strong>do</strong> o direito ao <strong>de</strong>scanso e à<br />

segurança <strong>do</strong>s cidadãos que resi<strong>de</strong>m ou circulam nessas áreas. Reuniões<br />

entre os técnicos e dirigentes <strong>de</strong>sses serviços, como <strong>do</strong>s <strong>de</strong>partamentos<br />

jurídicos e das polícias municipais po<strong>de</strong>m certamente contribuir para uma<br />

ação mais eficiente.<br />

63) A restrição <strong>do</strong> horário é uma medida apta a estimular a dispersão <strong>de</strong> tais<br />

concentrações com maior antecedência. Todavia, po<strong>de</strong>rá per<strong>de</strong>r a sua<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

24


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

eficácia se aplicada apenas a um ou outro estabelecimento mais<br />

problemático, em lugar <strong>de</strong> revestir um alcance genérico, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se ao<br />

conjunto <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong> diversão situa<strong>do</strong>s numa dada área<br />

geográfica. É que, encerra<strong>do</strong> apenas um ou <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s espaços, os seus<br />

clientes ten<strong>de</strong>rão a per<strong>no</strong>itar em outro concorrente que, situan<strong>do</strong>-se na<br />

mesma artéria ou na artéria contígua, pratica um horário mais dilata<strong>do</strong>. Não<br />

seria <strong>de</strong> excluir porventura, a pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> um regulamento municipal<br />

aplicável a áreas geográficas com elevada concentração <strong>de</strong><br />

estabelecimentos <strong>de</strong> diversão, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> uma rotação <strong>do</strong>s horários <strong>de</strong><br />

encerramento e com a estipulação <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> solidária<br />

<strong>do</strong>s proprietários pelo ruí<strong>do</strong> causa<strong>do</strong> na via pública.<br />

64) Na verda<strong>de</strong>, a concentração <strong>de</strong> um eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas <strong>no</strong> mesmo espaço geográfico – <strong>de</strong>signadamente, em<br />

zonas habitacionais - parece não se compa<strong>de</strong>cer com a aplicação <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> polícia, por natureza pontuais e provisórias, por parte da<br />

autorida<strong>de</strong> policial. Em zonas habitacionais com elevada concentração <strong>de</strong><br />

estabelecimentos, a medida <strong>de</strong> limitação <strong>do</strong> horário <strong>de</strong>ve ser equacionada,<br />

por referência a estabelecimentos <strong>de</strong> bebidas, e, quan<strong>do</strong> assim se justifique,<br />

a estabelecimentos <strong>de</strong> venda a retalho com funcionamento <strong>no</strong> perío<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. Esta medida concorrerá para <strong>de</strong>belar os inconvenientes inerentes à<br />

indústria <strong>de</strong> diversão e à venda <strong>de</strong> bebidas alcoólicas para consumo fora <strong>de</strong><br />

portas.<br />

65) A preferência por antigas zonas industriais po<strong>de</strong> ser fomentada pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s municipais para localizar a concentração <strong>de</strong> estabelecimentos<br />

<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

25


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

66) Consi<strong>de</strong>ra-se oportuna a aprovação <strong>de</strong> regulamentação municipal que<br />

interdite o consumo <strong>de</strong> bebidas alcoólicas na via pública, fora <strong>de</strong> esplanadas<br />

e outros recintos autoriza<strong>do</strong>s. O consumo avulso <strong>de</strong> bebidas alcoólicas na<br />

via pública suscita especiais preocupações, <strong>no</strong> que concerne aos aspetos<br />

<strong>de</strong> segurança, salubrida<strong>de</strong> e or<strong>de</strong>m pública. De par com os <strong>de</strong>sacatos e<br />

distúrbios frequentemente leva<strong>do</strong>s a cabo pelos jovens na via pública,<br />

acarreta lesão intolerável para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, o aban<strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>de</strong> resíduos<br />

pela clientela que, pela <strong>no</strong>ite <strong>de</strong>ntro, se vão acumulan<strong>do</strong> <strong>no</strong> espaço pe<strong>do</strong>nal,<br />

em <strong>de</strong>trimento da higiene e salubrida<strong>de</strong>. Pon<strong>de</strong>ra-se, ainda, que <strong>de</strong>va<br />

impor-se aos estabelecimentos manterem as portas fechadas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />

obstar que, uma vez perfeita a lotação, a prestação <strong>de</strong> serviços se<br />

prolongue para o exterior <strong>do</strong> estabelecimento: a via pública. A administração<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio público municipal encontra-se confiada ao órgão executivo <strong>do</strong><br />

município (artigo 64.º, n.º 7, alínea b), da Lei n. º 169/99, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

setembro) e não <strong>de</strong>ve haver receio em exercer a autorida<strong>de</strong> fundada na<br />

legalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sem autoritarismo. A ocupação da via<br />

pública, com carácter regular, para o exercício <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s<br />

não está nem po<strong>de</strong> estar isenta <strong>de</strong> restrições. Há uma ação persuasiva a<br />

levar a cabo <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a criar a consciência <strong>de</strong> que a via pública não é ‘terra<br />

<strong>de</strong> ninguém’, antes constituin<strong>do</strong> um espaço <strong>de</strong> socialização para to<strong>do</strong>s.<br />

67) A prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> restauração ou bebidas em espaço <strong>de</strong>marca<strong>do</strong><br />

na via pública, adjacente ao estabelecimento, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> prévio<br />

licenciamento municipal. A via pública <strong>de</strong>stina-se, por natureza, à circulação<br />

<strong>do</strong>s transeuntes pelo que <strong>de</strong>verão ser <strong>de</strong>vidamente avalia<strong>do</strong>s os<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

26


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

inconvenientes que, para a liberda<strong>de</strong> e a segurança da circulação<br />

advenham, da ocupação <strong>de</strong> uma parcela da rua para consumo <strong>de</strong> bebidas<br />

alcoólicas.<br />

68) Será <strong>de</strong> equacionar a estipulação <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> solidária<br />

<strong>do</strong>s proprietários <strong>do</strong>s estabelecimentos cuja exploração propicie o consumo<br />

na via pública. Neste âmbito <strong>de</strong>vem ser reforça<strong>do</strong>s os mecanismos <strong>de</strong><br />

cooperação entre as autorida<strong>de</strong>s municipais e a as forças <strong>de</strong> segurança.<br />

C) Espaços culturais e recreativos <strong>de</strong> usos múltiplos<br />

69) Um <strong>no</strong>vo fenóme<strong>no</strong> que importa fomentar, mas também enquadrar é o da<br />

utilização para múltiplas ativida<strong>de</strong>s culturais e recreativas <strong>de</strong> amplas<br />

edificações ou conjuntos <strong>de</strong> edificações outrora usadas como armazéns ou<br />

para ativida<strong>de</strong>s industriais. As cida<strong>de</strong>s ganham com a reabilitação <strong>de</strong>stes<br />

espaços e promove-se a criação artística e literária. Estas qualida<strong>de</strong>s,<br />

porém, não servem <strong>de</strong> título para dispensa ou isenção ao cumprimento das<br />

<strong>no</strong>rmas sobre poluição so<strong>no</strong>ra. Nesta linha, Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> sugeriu à<br />

Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Lisboa que pon<strong>de</strong>rasse a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicar um<br />

regulamento específico para a instalação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> usos varia<strong>do</strong>s em<br />

que recintos <strong>de</strong> espetáculos, espaços comerciais e estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas se concentram em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> áreas comuns, como é o<br />

caso <strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> LX FACTORY. Concluiu-se, <strong>no</strong> termo das<br />

averiguações levadas a cabo sobre uma queixa contra o ruí<strong>do</strong> causa<strong>do</strong> pela<br />

movimentação <strong>de</strong> pessoas e automóveis <strong>no</strong> acesso e saída <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />

conjunto, em Alcântara, Lisboa, que as ativida<strong>de</strong>s ali estabelecidas ou<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

27


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

eventualmente realizadas, embora não cumpram integralmente as<br />

prescrições legais e regulamentares <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ambiental e urbanística,<br />

justificam um enquadramento regulamentar próprio.<br />

70) Como se adiantou, a importância <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> complexos, o significa<strong>do</strong><br />

que possuem para as indústrias culturais e para a vida recreativa da cida<strong>de</strong>,<br />

com a vantagem <strong>de</strong> requalificar espaços antigos e obsoletos, não <strong>de</strong>ve ser<br />

ig<strong>no</strong>rada, justifican<strong>do</strong> que da parte <strong>do</strong> direito urbanístico se encontrem<br />

soluções próprias como a aprovação <strong>de</strong> um regulamento ou postura, que<br />

permita disciplinar a sua instalação e garantir a satisfação <strong>de</strong> requisitos <strong>de</strong><br />

segurança, salubrida<strong>de</strong> e proteção ambiental.<br />

V<br />

Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas sazonais<br />

71) As autorida<strong>de</strong>s municipais não <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>scurar a vigilância das ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas sazonais, em especial quan<strong>do</strong> tenha si<strong>do</strong> comprovada a procedência<br />

<strong>do</strong> prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong> pública, por mais conveniente que a atração<br />

turística possa parecer para o <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

72) É certo que as conclusões <strong>de</strong> medições acústicas relativas a estabelecimentos<br />

<strong>de</strong> abertura estival, entretanto encerra<strong>do</strong>s, têm por objeto as suas particulares<br />

condições <strong>de</strong> funcionamento, pelo que não po<strong>de</strong>m ser opostas a um terceiro<br />

que pretenda explorar o mesmo espaço <strong>de</strong> diversão <strong>no</strong>turna.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

28


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

73) Contu<strong>do</strong>, encontram-se os órgãos municipais incumbi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> verificar o<br />

cumprimento <strong>do</strong>s requisitos fixa<strong>do</strong>s ao exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas. A<br />

eventual autorização da prestação <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> bebidas, com ou sem pistas<br />

<strong>de</strong> dança, não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ferida sem uma prévia avaliação <strong>do</strong> impacto so<strong>no</strong>ro<br />

da abertura <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo estabelecimento.<br />

74) Em face da precedência <strong>de</strong> queixas <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res por fundamenta<strong>do</strong> prejuízo<br />

para a tranquilida<strong>de</strong> pública, que sazonalmente se re<strong>no</strong>vam num mesmo<br />

edifício ou local, impõe-se, em <strong>no</strong>me <strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> boa administração, que<br />

seja fiscaliza<strong>do</strong> o local, na época estival ou <strong>de</strong> retoma da ativida<strong>de</strong> (v.g.<br />

entru<strong>do</strong>, fim-<strong>de</strong>-a<strong>no</strong>), a fim <strong>de</strong> apurar, em tempo oportu<strong>no</strong>, da eventual<br />

prestação, ilicitamente, <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> bebidas ou outras ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas.<br />

Bem assim, justificar-se-á porventura um rigor especial na confirmação <strong>do</strong>s<br />

índices <strong>de</strong> isolamento, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> vir a ser comunicada ou <strong>de</strong>clarada a<br />

abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo estabelecimento <strong>de</strong> diversão <strong>no</strong> mesmo local.<br />

75) Na verda<strong>de</strong>, não parece justo que os mesmos mora<strong>do</strong>res ou hóspe<strong>de</strong>s sejam<br />

incomoda<strong>do</strong>s, a<strong>no</strong> após a<strong>no</strong>, pelo exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas <strong>no</strong>s edifícios<br />

on<strong>de</strong> habitam ou que usam para vilegiatura. Ce<strong>do</strong> ou tar<strong>de</strong>, a procura <strong>do</strong>s<br />

empreendimentos turísticos <strong>de</strong>crescerá <strong>no</strong> local, por efeito <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> verifica<strong>do</strong><br />

em épocas balneares anteriores.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

29


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

VI<br />

Ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança<br />

76) São limita<strong>do</strong>s os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> intervenção da autorida<strong>de</strong> policial e administrativa<br />

em conflitos origina<strong>do</strong>s por ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico. O controlo policial <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />

incomodida<strong>de</strong> é por natureza inci<strong>de</strong>ntal e contingente. A autorida<strong>de</strong> policial<br />

exerce os po<strong>de</strong>res que, em matéria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança e <strong>de</strong> preservação<br />

da or<strong>de</strong>m pública, a lei lhe confere: constata a produção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> incomodativo<br />

e, em caso afirmativo, intima o responsável a cessar a ativida<strong>de</strong>.<br />

77) Depara-se com limitações muito relevantes que se pren<strong>de</strong>m com a dificulda<strong>de</strong><br />

em quantificar o ruí<strong>do</strong> e com a garantia constitucional <strong>de</strong> inviolabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>micílio (artigo 34.º, n.º 2, da Constituição), na falta <strong>de</strong> manda<strong>do</strong> judicial.<br />

78) Nos termos <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> (artigo 24.º), a<br />

<strong>de</strong>sobediência a uma intimação policial apenas po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a instauração<br />

<strong>de</strong> um procedimento sancionatório, o que pressupõe que o procedimento seja<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong> pelos serviços municipais, mediante um auto <strong>de</strong> ocorrência da<br />

autorida<strong>de</strong> policial.<br />

79) No mais, a questão tem <strong>de</strong> ser resolvida judicialmente ou por recurso aos<br />

julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz, entre o lesa<strong>do</strong> e o autor da lesão. Apenas estas instâncias<br />

po<strong>de</strong>m pon<strong>de</strong>rar a incomodida<strong>de</strong> em termos subjetivos e promover soluções <strong>de</strong><br />

conciliação entre direitos em conflito (artigo 335.º <strong>do</strong> Código Civil).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

30


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

80) Sugere-se que as câmaras municipais encaminhem os que se dizem lesa<strong>do</strong>s<br />

por ruí<strong>do</strong> proveniente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>mésticas levadas a cabo por vizinhos, ou<br />

por ruí<strong>do</strong> com origem em animal ou coisa à guarda <strong>do</strong>s vizinhos, para os<br />

julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz, privilegian<strong>do</strong>-se nestas situações o exercício da mediação.<br />

81) Seria, ainda <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar o acompanhamento das situações mais problemáticas<br />

pelos serviços sociais, em particular quan<strong>do</strong> na origem da produção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

estejam perturbações <strong>do</strong> foro psicológico ou psiquiátrico, distúrbios e<br />

comportamentos antissociais.<br />

82) Julga-se profícuo conhecer o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> gabinete <strong>de</strong> mediação <strong>de</strong><br />

conflitos entre vizinhos, cria<strong>do</strong> pela Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Matosinhos, na<br />

perspetiva da sua eventual extensão a outros municípios. Os comportamentos<br />

antissociais perturbam o bem-estar e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da vizinhança e<br />

po<strong>de</strong>rão ser melhor geri<strong>do</strong>s a uma escala local, com uma estratégia baseada<br />

na natureza <strong>do</strong> problema, ten<strong>do</strong> em conta o local e os envolvi<strong>do</strong>s. O contacto<br />

com membros da comunida<strong>de</strong> local propicia a tomada <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong><br />

problema e das suas particularida<strong>de</strong>s. Estes gabinetes funcionariam como<br />

instâncias <strong>de</strong> prevenção, esclarecimento e mediação, integran<strong>do</strong> uma equipe<br />

<strong>de</strong> voluntários representativos da comunida<strong>de</strong> local e privilegian<strong>do</strong> a resolução<br />

<strong>de</strong> situações problemáticas por uma via informal. Este serviço po<strong>de</strong>ria ainda<br />

concorrer para discernir da razoabilida<strong>de</strong> das queixas por ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong>spistan<strong>do</strong><br />

queixas infundadas, e <strong>de</strong>sempenhar um papel <strong>de</strong>cisivo <strong>no</strong> esclarecimento e<br />

acompanhamento <strong>do</strong>s lesa<strong>do</strong>s.<br />

83) Como se assinalou, a Lei n.º 29/2013, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril, abre as portas a um<br />

incremento da mediação <strong>de</strong> conflitos. O <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança, que<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

31


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

melhor seria <strong>de</strong> qualificar na lei como ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico, porque justamente na<br />

charneira entre a esfera pública e a esfera privada, constitui um campo<br />

privilegia<strong>do</strong> para os serviços públicos <strong>de</strong> mediação, cuja ativida<strong>de</strong>, em caso<br />

algum, po<strong>de</strong> impedir o recurso aos tribunais.<br />

VII<br />

Si<strong>no</strong>s e amplifica<strong>do</strong>res so<strong>no</strong>ros<br />

84) Se bem que assumin<strong>do</strong> uma expressão pouco significativa <strong>no</strong> universo das<br />

queixas por ruí<strong>do</strong>, não <strong>de</strong>vem ser me<strong>no</strong>sprezadas as reclamações por<br />

incomodida<strong>de</strong> imputada ao toque <strong>de</strong> si<strong>no</strong>s em igrejas ou torres próprias, com<br />

efeitos sensíveis em zonas habitacionais. As queixas apresentadas têm por<br />

objeto, quase sempre, o perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong> e estão associadas à instalação <strong>de</strong><br />

emissores e amplifica<strong>do</strong>res so<strong>no</strong>ros nas torres sineiras.<br />

85) Não se po<strong>de</strong> ig<strong>no</strong>rar a importância que a balada <strong>do</strong>s si<strong>no</strong>s assume para a<br />

comunida<strong>de</strong> local (religiosa ou simplesmente civil), ao transmitir uma<br />

mensagem que se faz representar por meio <strong>de</strong> algum som ou toque especial.<br />

Os si<strong>no</strong>s assinalam o passar das horas, convocam à oração, invocam<br />

momentos festivos ou fúnebres e são uma expressão <strong>do</strong> exercício da liberda<strong>de</strong><br />

religiosa (artigo 41.º da Constituição).<br />

86) A intervenção <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> tem procura<strong>do</strong> fomentar o diálogo <strong>do</strong>s<br />

lesa<strong>do</strong>s com as autorida<strong>de</strong>s eclesiásticas. Embora alheias à jurisdição <strong>de</strong>ste<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

32


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, têm si<strong>do</strong> sensíveis à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar hábitos e<br />

tradições seculares com a preservação <strong>do</strong> <strong>de</strong>scanso.<br />

87) Salvaguardan<strong>do</strong> o direito e o <strong>de</strong>ver que assiste às igrejas e <strong>de</strong>mais<br />

comunida<strong>de</strong>s religiosas na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à sua missão, on<strong>de</strong> o uso <strong>do</strong>s si<strong>no</strong>s<br />

assume um cariz especial <strong>de</strong> convocação e anúncio pastoral, não me<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ve<br />

ser salvaguarda<strong>do</strong> o respeito pela qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente e vida das<br />

populações.<br />

88) Dentro <strong>de</strong>stes pressupostos, este órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> tem procura<strong>do</strong> advertir as<br />

autorida<strong>de</strong>s públicas – e indiretamente as autorida<strong>de</strong>s eclesiásticas – para a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>rem o toque <strong>de</strong> si<strong>no</strong>s <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, e,<br />

sobretu<strong>do</strong>, porem termo a emissões excessivas, <strong>de</strong> especial intensida<strong>de</strong>,<br />

mesmo durante o dia, por recurso a amplifica<strong>do</strong>res. Na verda<strong>de</strong>, o ruí<strong>do</strong><br />

produzi<strong>do</strong> por uma instalação so<strong>no</strong>ra associada aos si<strong>no</strong>s <strong>de</strong> uma Igreja tem<br />

<strong>de</strong> respeitar os limites <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pelo Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, quer <strong>no</strong> que<br />

respeita ao nível so<strong>no</strong>ro, quer <strong>no</strong> que toca à suspensão durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>.<br />

89) Por seu tur<strong>no</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o artigo 30.º, <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong> 18<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na redação <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro, os<br />

emissores, amplifica<strong>do</strong>res e outros aparelhos so<strong>no</strong>ros que projetem sons para<br />

as vias e outros lugares públicos, sem excluir os locais <strong>de</strong> culto, <strong>de</strong>vem<br />

confinar-se ao perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre as 9h00 e as 22h00.<br />

90) Se o toque <strong>do</strong>s si<strong>no</strong>s não se verifica <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> continua<strong>do</strong>, pelo que não se<br />

subsume <strong>no</strong> regime das ativida<strong>de</strong>s permanentes, também não consubstanciará<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

33


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

um evento temporário, o que suscita dúvidas sobre o regime aplicável.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se, em to<strong>do</strong> o caso, que os equipamentos so<strong>no</strong>ros que projetem<br />

sons para a via pública <strong>de</strong>vem observar os limites <strong>de</strong> volume so<strong>no</strong>ro previstos<br />

<strong>no</strong> artigo 15.º, n.º 5, <strong>do</strong> Regulamento Geral sobre o Ruí<strong>do</strong>, ex vi <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong><br />

artigo 30.º, alínea b), <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na<br />

redação introduzida pelo artigo 2.º <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

34


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

SUGESTÕES AO GOVERNO DE NATUREZA<br />

ADMINISTRATIVA E LEGISLATIVA A RESPEITO<br />

DO CONTROLO MUNICIPAL DO RUÍDO<br />

No termo da análise ao Inquérito sobre o <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, relevam<br />

consi<strong>de</strong>rações várias que se julgou oportu<strong>no</strong> transmitir ao Gover<strong>no</strong>. Muito<br />

embora se observe <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio da polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> uma ampla<br />

<strong>de</strong>scentralização em favor <strong>do</strong>s municípios, há aspetos a ter em conta ao nível<br />

da Administração Central, <strong>de</strong>signadamente da Agência Portuguesa <strong>de</strong><br />

Ambiente, IP, e das comissões <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong>senvolvimento regional,<br />

assim como das forças <strong>de</strong> segurança, e outros que po<strong>de</strong>m com vantagem, ser<br />

objeto <strong>de</strong> aperfeiçoamentos legislativos e regulamentares.<br />

A conclusão que mais ressalta da análise levada a cabo é a <strong>de</strong> que o exercício<br />

das atribuições públicas em matéria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa muito a <strong>de</strong>sejar, mostran<strong>do</strong>-<br />

se pouco expressiva, na prática administrativa <strong>de</strong> numerosos municípios, a<br />

prevenção e o controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas. Muito se fez na «luta contra o<br />

ruí<strong>do</strong>», a que se refere o artigo 22.º da Lei n.º 11/87, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril (Lei <strong>de</strong><br />

Bases <strong>do</strong> Ambiente), mas persiste uma convicção generalizada <strong>de</strong> que a<br />

poluição so<strong>no</strong>ra se encontra numa segunda linha das tarefas públicas<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

35


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ambientais e que, em muitos casos, é simplesmente expressão <strong>de</strong> conflitos<br />

priva<strong>do</strong>s, a dirimir pelos tribunais comuns.<br />

Uma boa parte <strong>do</strong>s 244 municípios que respon<strong>de</strong>ram ao inquérito abstém-se<br />

<strong>de</strong> aplicar as disposições constantes <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

(aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro), furtan<strong>do</strong>-se ao<br />

cumprimento das incumbências que o legisla<strong>do</strong>r lhes atribui. Assinalam-se<br />

<strong>de</strong>ficiências <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio da fiscalização, <strong>no</strong> da prevenção e, sobretu<strong>do</strong>, <strong>no</strong><br />

controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas, quer se trate <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> natureza<br />

temporária quer <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s continuadas ou permanentes, seja <strong>no</strong> <strong>do</strong><br />

planeamento territorial. As limitações <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e técnicos, a par<br />

das restrições orçamentais, prejudicam a regular fiscalização <strong>do</strong>s parâmetros<br />

fixa<strong>do</strong>s na lei, a qual, pressupõe a realização <strong>de</strong> medições acústicas,<br />

executadas por recurso a sonómetros e a técnicos <strong>de</strong>vidamente qualifica<strong>do</strong>s.<br />

Alguns instrumentos legislativos contribuem para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração daqueles<br />

preceitos regulamentares: o legisla<strong>do</strong>r <strong>de</strong>scarateriza os procedimentos <strong>de</strong><br />

licenciamento e autorização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, institui regimes <strong>de</strong> mera <strong>de</strong>claração<br />

ou comunicação prévia, abolin<strong>do</strong>, progressivamente, as exigências em se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

controlo prévio. Os propósitos muito louváveis <strong>de</strong> simplificação administrativa<br />

não <strong>de</strong>vem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que a prevenção ambiental é, em larga medida,<br />

conseguida através das licenças e autorizações administrativas, não só pela<br />

verificação <strong>do</strong>s pressupostos e requisitos legais e regulamentares, como<br />

também na estipulação <strong>de</strong> condições acessórias.<br />

É certo que se preten<strong>de</strong> incrementar o controlo sucessivo: a uma maior<br />

confiança <strong>de</strong>positada <strong>no</strong>s agentes económicos <strong>no</strong> momento em que se propõe<br />

iniciar uma ativida<strong>de</strong> ou prestar um serviço há <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r uma maior<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

36


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

responsabilização a posteriori. Então, porém, importa incentivar a aplicação <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, como sejam as reduções <strong>de</strong> horário<br />

<strong>de</strong> laboração ou abertura ao público, a suspensão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

ilícitas, a intimação para obras <strong>de</strong> contenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ou <strong>de</strong> isolamento <strong>no</strong>s<br />

recetores. O ilícito contraor<strong>de</strong>nacional e a aplicação <strong>de</strong> coimas, por seu tur<strong>no</strong>,<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel importante, mas é muito importante ter presente que,<br />

por si, não permitem restabelecer níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> inferiores.<br />

1. Equipamentos e pessoal especializa<strong>do</strong> na fiscalização <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong><br />

A larga maioria <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong>clarou não dispor <strong>do</strong>s meios necessários<br />

para realização <strong>de</strong> medições e ensaios acústicos (recursos huma<strong>no</strong>s e/ou<br />

meios técnicos).<br />

A formação <strong>de</strong> pessoal e a aquisição <strong>de</strong> um sonómetro <strong>de</strong>vem constituir uma<br />

priorida<strong>de</strong> absoluta na regular prossecução das atribuições municipais <strong>no</strong><br />

<strong>do</strong>mínio da fiscalização e <strong>do</strong> controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas. De outro mo<strong>do</strong>,<br />

ocorre a verda<strong>de</strong>ira renúncia a uma atribuição pública, à satisfação <strong>de</strong> uma<br />

necessida<strong>de</strong> coletiva, visto que muitas das providências a a<strong>do</strong>tar com<br />

fundamento na lei pressupõem a aferição <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> superiores aos<br />

limites máximos fixa<strong>do</strong>s e segun<strong>do</strong> um procedimento técnico moroso e<br />

complexo.<br />

Seria <strong>de</strong>sejável, por conseguinte, que a Administração Central pu<strong>de</strong>sse<br />

encorajar ações <strong>de</strong> formação e, bem assim, a facultar meios que propiciem a<br />

<strong>do</strong>tação <strong>do</strong>s necessários recursos, eventualmente por conjuntos <strong>de</strong> municípios,<br />

já associa<strong>do</strong>s ou apenas para esse efeito.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

37


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

2. Encargos com ensaios e serviço público<br />

É urgente refletir sobre a conveniência em fazer recair sobre o agente<br />

económico que mantém uma ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa os encargos com os ensaios<br />

acústicos, em termos que propiciem a sua realização pelos serviços<br />

municipais.<br />

O que reconheceremos to<strong>do</strong>s como injusto é que seja aquele se queixa <strong>do</strong><br />

ruí<strong>do</strong> ilícito ter <strong>de</strong> ser ele a suportar os custos com a medição ou, pelo me<strong>no</strong>s,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>positar uma caução apenas restituída na hipótese <strong>de</strong> confirmação <strong>do</strong>s<br />

indícios. Muitos cidadãos não se encontram em condições patrimoniais <strong>de</strong> o<br />

fazer e, em to<strong>do</strong> o caso, a verda<strong>de</strong> é que <strong>no</strong>s encontramos perante uma<br />

necessida<strong>de</strong> coletiva, apesar <strong>de</strong> o lesa<strong>do</strong> ou os lesa<strong>do</strong>s diretamente serem em<br />

número diminuto.<br />

É certo, por outro la<strong>do</strong>, que há quem abuse <strong>do</strong> direto <strong>de</strong> reclamação ou <strong>de</strong><br />

queixa, insistin<strong>do</strong> por medições sucessivas que confirmam sistematicamente a<br />

i<strong>no</strong>cuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>. Estes casos po<strong>de</strong>riam ser objeto da atenção <strong>do</strong><br />

legisla<strong>do</strong>r, instituin<strong>do</strong> um mecanismo aproxima<strong>do</strong> ao da litigância <strong>de</strong> má-fé,<br />

consagrada <strong>no</strong> direito processual.<br />

A verda<strong>de</strong> é que permanece por regulamentar o disposto <strong>no</strong> artigo 25.º <strong>do</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, na parte em que a sua aplicação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>spacho conjunto <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong>.<br />

Como se assinalou, a simplificação <strong>do</strong>s procedimentos administrativos <strong>de</strong><br />

controlo prévio pressupõe o reforço da fiscalização sucessiva e da<br />

responsabilização <strong>do</strong>s agentes económicos. A atual conjuntura económica e a<br />

manifesta incapacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s municípios para enfrentarem os eleva<strong>do</strong>s encargos<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

38


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

com ensaios e medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> po<strong>de</strong>m aconselhar a exigência <strong>de</strong> uma<br />

caução aos agentes que tiram proveito patrimonial da ativida<strong>de</strong><br />

presumidamente rui<strong>do</strong>sa. Em alternativa, po<strong>de</strong>r-se-ia obrigar o responsável<br />

pela ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa a suportar a primeira medição subsequente ao início da<br />

ativida<strong>de</strong>, logo que apresentada a primeira reclamação ou queixa (ubi<br />

commoda, ibi incomoda). Tais medidas encontram fundamento <strong>no</strong> princípio <strong>do</strong><br />

polui<strong>do</strong>r paga<strong>do</strong>r e beneficiariam a justiça na redistribuição <strong>do</strong>s custos<br />

<strong>de</strong>correntes das medidas públicas <strong>de</strong> luta contra a <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> ambiente.<br />

No <strong>do</strong>mínio da acreditação <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> medição são<br />

conhecidas as dificulda<strong>de</strong>s que os municípios enfrentam, tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um<br />

procedimento complexo, moroso e oneroso.<br />

Justifica-se simplificar o procedimento <strong>de</strong> acreditação <strong>do</strong>s próprios serviços<br />

municipais ou intermunicipais, promoven<strong>do</strong>, se necessário, ações <strong>de</strong> formação<br />

<strong>de</strong> núcleos associa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> municípios, sob a coor<strong>de</strong>nação da APA. Julga-se<br />

haver muito por on<strong>de</strong> dispensar formalida<strong>de</strong>s não essenciais, reduzir prazos e<br />

rever custos.<br />

Ainda para os municípios que ainda não disponham <strong>de</strong> meios e recursos<br />

huma<strong>no</strong>s e técnicos seria <strong>de</strong> instituir ações <strong>de</strong> formação conjunta, na<br />

perspetiva <strong>do</strong> alargamento <strong>do</strong>s beneficiários, da sua eventual associação na<br />

aquisição e partilha <strong>de</strong> recursos e da redução <strong>do</strong>s encargos. Com efeito, a<br />

exiguida<strong>de</strong> territorial e populacional <strong>de</strong> muitos municípios po<strong>de</strong> aconselhar a<br />

partilha <strong>de</strong> meios, num <strong>do</strong>mínio on<strong>de</strong> a auto<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> cada município tem<br />

pouca expressão, pois trata-se <strong>de</strong> operações materiais <strong>de</strong> medição<br />

criteriosamente disciplinadas por <strong>no</strong>rmas técnicas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

39


3. Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Pô<strong>de</strong> verificar-se como é pouco significativo o número <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais que condicionam a licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> à ocorrência <strong>de</strong><br />

circunstâncias excecionais, e muito reduzi<strong>do</strong> o volume das que cumprem o<br />

disposto na lei, justifican<strong>do</strong> os motivos <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> licenciamento.<br />

Em face da prática administrativa observada, questiona-se a conveniência <strong>de</strong><br />

condicionar o <strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> à natureza excecional<br />

<strong>do</strong> evento. Compreen<strong>de</strong>-se que aquilo que é excecional num município possa<br />

ser comum <strong>no</strong>utro. Admite-se que <strong>no</strong>s concelhos me<strong>no</strong>s populosos e com<br />

me<strong>no</strong>s infraestruturas <strong>de</strong> diversão (salas <strong>de</strong> cinema, teatro, equipamento<br />

<strong>de</strong>sportivo e cultural) as iniciativas que envolvem animação rui<strong>do</strong>sa possam ser<br />

parcas por confronto com concelhos mais povoa<strong>do</strong>s, o que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o<br />

maior empenho na sua promoção. Sempre caberá aos municípios apreciar o<br />

maior ou me<strong>no</strong>r interesse <strong>do</strong> evento para a população local e para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local.<br />

Todavia, o teor <strong>do</strong> artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> conce<strong>de</strong> uma<br />

margem <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> que ultrapassa o comum. Com efeito, permite-se<br />

ao órgão individualizar os próprios fins, o que reduz significativamente a<br />

margem <strong>de</strong> controlo <strong>do</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Há registo <strong>no</strong> direito compara<strong>do</strong> (v.g. direito municipal holandês) <strong>de</strong> as<br />

autorida<strong>de</strong>s municipais disporem <strong>de</strong> quotas anuais para conce<strong>de</strong>r licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e em diferentes locais <strong>do</strong> seu território. Importaria refletir<br />

sobre a pertinência em estabelecer uma solução <strong>de</strong>ste tipo, em lugar <strong>de</strong> fazer<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o licenciamento <strong>de</strong> circunstâncias justificadas e excecionais, conceito<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

40


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

que envolve uma excessiva margem <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> na sua aplicação<br />

pelos 308 municípios.<br />

4. Fiscalização<br />

Seria <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a atribuição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res às polícias municipais municipal e,<br />

eventualmente, à Policia <strong>de</strong> Segurança Pública e à Guarda Nacional<br />

Republicana, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>s os seus agentes, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>rem<br />

or<strong>de</strong>nar a imediata diminuição ou a cessação da incomodida<strong>de</strong>, em especial <strong>no</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, à semelhança <strong>do</strong> que suce<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

vizinhança (artigo 24.º). Não só o ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> pelas ativida<strong>de</strong>s temporárias<br />

assume maior expressão e <strong>no</strong>torieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> que o habitual ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança,<br />

pelo que será mais facilmente i<strong>de</strong>ntificável, como é mais amplo o leque <strong>do</strong>s<br />

potenciais afeta<strong>do</strong>s (em especial quan<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas se<br />

<strong>de</strong>senvolvam pela <strong>no</strong>ite fora e em espaços abertos, ao ar livre).<br />

Seria, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong> fomentar a aplicação da medida <strong>de</strong> suspensão da<br />

ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa pela autorida<strong>de</strong> policial, quan<strong>do</strong> se verificasse que a ativida<strong>de</strong><br />

temporária não fora licenciada ou estivesse a ser praticada em <strong>de</strong>srespeito aos<br />

condicionalismos estabeleci<strong>do</strong>s na licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (artigo 18.º).<br />

A prática <strong>de</strong> transmissão sistemática <strong>do</strong> teor das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

emitidas à autorida<strong>de</strong> policial alertaria os agentes para a ocorrência <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s não licenciadas ou à revelia <strong>de</strong> um eventual licenciamento,<br />

dispensan<strong>do</strong> a realização <strong>de</strong> averiguações para aferir da existência <strong>de</strong> licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e <strong>do</strong> seu teor, que a natureza pouco dura<strong>do</strong>ura <strong>do</strong> evento<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> comprometer.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

41


5. Regulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Deve ainda ser objeto <strong>de</strong> reflexão a regulação autó<strong>no</strong>ma das diversões e<br />

funcionamento <strong>de</strong> equipamentos so<strong>no</strong>ros nas vias e lugares públicos, ten<strong>do</strong> em<br />

conta que a existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is regimes - que sempre terão que ser articula<strong>do</strong>s<br />

na sua aplicação - suscita dificulda<strong>de</strong>s e não parece concorrer para a<br />

segurança e a certeza jurídica.<br />

Trata-se, por um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong>s arts.14.º e 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong><br />

Ruí<strong>do</strong>, ao proibir ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> edifícios<br />

<strong>de</strong> habitação, aos sába<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s e <strong>no</strong>s dias úteis, entre as<br />

20h00 e as 8h00, <strong>de</strong> escolas, durante o seu horário <strong>de</strong> funcionamento e <strong>de</strong><br />

hospitais e estabelecimentos similares, salvo licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> em<br />

casos excecionais, <strong>de</strong>vidamente justifica<strong>do</strong>s.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o regime <strong>do</strong>s espetáculos e divertimentos nas vias e lugares<br />

públicos, estabelece que as bandas <strong>de</strong> música, grupos filarmónicos, tunas e<br />

outros agrupamentos musicais não po<strong>de</strong>m atuar nas vias e <strong>de</strong>mais lugares<br />

públicos <strong>do</strong>s aglomera<strong>do</strong>s urba<strong>no</strong>s entre as 0h00 e as 9h00. O funcionamento<br />

<strong>de</strong> aparelhos so<strong>no</strong>ros que projetem sons para a via pública, só po<strong>de</strong> ocorrer<br />

entre as 9h00 e as 22h00, por ocasião <strong>de</strong> festas tradicionais, espetáculos ao ar<br />

livre ou em outros casos <strong>de</strong>vidamente justifica<strong>do</strong>s, mediante licença especial<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na redação <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei n.º 204/2012, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> agosto). Este regime jurídico respeitava, em<br />

parte aos governa<strong>do</strong>res civis, atualmente, extintos na lei.<br />

Perguntamo-<strong>no</strong>s se não seria vantajoso que o licenciamento das ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas temporárias fosse regula<strong>do</strong> num único ato legislativo, uniformizan<strong>do</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

42


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

se limites horários, circunstâncias <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> consentimento da ativida<strong>de</strong><br />

e aspetos <strong>de</strong> procedimento.<br />

A ten<strong>de</strong>ncial eliminação <strong>de</strong> licenças e autorizações das operações urbanísticas,<br />

ativida<strong>de</strong>s económicas e da abertura <strong>de</strong> estabelecimentos, aliada à<br />

precarieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recursos huma<strong>no</strong>s e materiais <strong>do</strong>s municípios, em época <strong>de</strong><br />

maior rigor orçamental, po<strong>de</strong> implicar, na prática, a liberalização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas, por se revelar a Administração Pública incapaz <strong>de</strong> reprimir ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvidas à revelia <strong>do</strong>s requisitos legais e regulamentares.<br />

Tem-se assisti<strong>do</strong> a um aumento das queixas por ruí<strong>do</strong> excessivo, ten<strong>do</strong> em<br />

conta que os inconvenientes imputa<strong>do</strong>s à prestação <strong>de</strong> serviços e exploração<br />

<strong>de</strong> estabelecimentos são <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong>s <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>s<br />

procedimentos <strong>de</strong> licenciamento ou <strong>de</strong> autorização, que contemplam a<br />

imposição <strong>de</strong> condicionalismos, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a mi<strong>no</strong>rar ou a <strong>de</strong>belar os efeitos<br />

in<strong>de</strong>sejáveis para terceiros.<br />

Ao fomentar a instalação simplificada <strong>de</strong> estabelecimentos e ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas (Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril), o legisla<strong>do</strong>r abre portas à<br />

dispensa <strong>do</strong>s requisitos previstos <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Este aspeto<br />

suscita particular apreensão, pon<strong>do</strong> em causa a proteção <strong>do</strong>s terceiros lesa<strong>do</strong>s<br />

por uma concreta exploração rui<strong>do</strong>sa, cujo responsável beneficie da dispensa<br />

da aplicação <strong>do</strong>s requisitos acústicos. Nestes casos, resultará excluída a<br />

a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> providências administrativas para controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, apenas<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os lesa<strong>do</strong>s recorrer aos meios judiciais <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> direitos<br />

priva<strong>do</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

43


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

6. Medidas <strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

Um problema recorrente <strong>no</strong> tratamento das queixas apresentadas ao Prove<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> pren<strong>de</strong>-se com a circunstância <strong>de</strong> os munícipes promotores <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa, quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s com <strong>no</strong>tificação para apresentação <strong>de</strong><br />

relatório <strong>de</strong>monstrativo <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> critério da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, se<br />

absterem, frequentemente, <strong>de</strong> dar cumprimento ao <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>no</strong> prazo<br />

fixa<strong>do</strong>, benefician<strong>do</strong> da indulgência traduzida em sucessivas dilações. Ora,<br />

nestas situações, persistin<strong>do</strong> a exploração reclamada, sem que se mostre<br />

<strong>de</strong>vidamente fundamenta<strong>do</strong>, mediante a realização <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com os procedimentos e a <strong>no</strong>rmalização aprovada, o prejuízo para o<br />

interesse público, é frequente encontrar as câmaras municipais a postergarem,<br />

adiarem ou relegarem providências restritivas. Não se dispon<strong>do</strong> o promotor da<br />

ativida<strong>de</strong> (que é fonte <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> para terceiros) a avaliar os níveis <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s termos fixa<strong>do</strong>s pela autorida<strong>de</strong> com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> superintendência<br />

técnica, e sem que se verifique circunstância justificativa <strong>de</strong>ssa omissão, é<br />

muito frequente subsistir, por um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong> ou por tempo<br />

in<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, o prejuízo para os mora<strong>do</strong>res que reclamem a reposição <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>scanso <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>.<br />

Por seu tur<strong>no</strong>, a certificação, por entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vidamente acreditada, <strong>do</strong>s<br />

requisitos acústicos <strong>do</strong>s edifícios e, bem assim, <strong>do</strong>s limites acústicos aplicáveis<br />

por força <strong>do</strong>s artigos 11.º e 13.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> (limites <strong>de</strong><br />

exposição e critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>), não têm lugar <strong>no</strong> seu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> âmbito – o<br />

procedimento administrativo <strong>de</strong> licença, autorização ou admissão <strong>de</strong><br />

comunicação prévia, seja porque as câmaras municipal simplesmente não<br />

verificam o cumprimento daqueles parâmetros, seja porque a lei parece bastar-<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

44


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

se com a emissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> termos <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>. Ficou já <strong>de</strong>monstrada a escassez <strong>do</strong>s meios huma<strong>no</strong>s e<br />

técnicos afetos à fiscalização da legislação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, não se encontran<strong>do</strong> a<br />

larga maioria <strong>do</strong>s municípios provi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> recursos idóneos ao exercício <strong>de</strong> uma<br />

pronta fiscalização.<br />

Em face <strong>do</strong> exposto, sugere-se que seja pon<strong>de</strong>rada uma solução legal que<br />

estabeleça que, em caso <strong>de</strong> queixa por incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa, o responsável<br />

pelo equipamento, ativida<strong>de</strong> ou estabelecimento reclama<strong>do</strong> seja onera<strong>do</strong> com<br />

o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> fazer prova bastante <strong>do</strong>s requisitos previstos <strong>no</strong> regulamento geral<br />

<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, num prazo razoável.<br />

Expira<strong>do</strong> o prazo, sem que a prova fosse apresentada, ficaria o órgão<br />

municipal vincula<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>tar uma medida cautelar que poria termo à<br />

incomodida<strong>de</strong> e cujos efeitos perdurariam até que fosse <strong>de</strong>monstrada a<br />

improcedência <strong>do</strong> prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong>. A <strong>no</strong>tificação da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser feita a pertinente prova, em prazo <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, conteria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a<br />

advertência <strong>de</strong> que o incumprimento implicaria a suspensão <strong>do</strong> funcionamento<br />

<strong>do</strong> equipamento, da ativida<strong>de</strong> ou <strong>do</strong> estabelecimento. De outro mo<strong>do</strong>, a inércia<br />

<strong>do</strong> promotor <strong>do</strong> incómo<strong>do</strong>, secundada pela inércia municipal, beneficiará os<br />

interesses daquele, em manifesto <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> que se <strong>de</strong>clara lesa<strong>do</strong>.<br />

O conceito <strong>de</strong> da<strong>no</strong> grave para a saú<strong>de</strong> humana e para o bem-estar das<br />

populações, enuncia<strong>do</strong> <strong>no</strong> artigo 27.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, como<br />

pressuposto <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> medidas cautelares a ativida<strong>de</strong>s que violem as<br />

suas disposições, comporta uma margem <strong>de</strong> extrema discricionarieda<strong>de</strong> – e<br />

não <strong>de</strong> simples discricionarieda<strong>de</strong> técnica – contribuin<strong>do</strong> a sua me<strong>no</strong>r<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

45


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> conceptual para a não operacionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r cometi<strong>do</strong> às<br />

entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras.<br />

Note-se que um conceito semelhante (da<strong>no</strong> substancial) é usa<strong>do</strong> <strong>no</strong> Código<br />

Penal, o que fala por si. Parece exigir-se uma lesão ou perigo <strong>de</strong> lesão <strong>de</strong> nível<br />

criminal para justificar medidas correntes <strong>de</strong> polícia administrativa.<br />

Talvez contribuísse para o incremento da eficácia na aplicação <strong>do</strong> regime a<br />

expressa consignação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a suspensão da ativida<strong>de</strong>, nas<br />

situações em que a ativida<strong>de</strong> permanente não se conforme com os pertinentes<br />

requisitos acústicos. Isto, abstrain<strong>do</strong> da pon<strong>de</strong>ração da gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> da<strong>no</strong> para<br />

a saú<strong>de</strong> humana e o bem-estar da população. Deveria bastar o prejuízo para a<br />

tranquilida<strong>de</strong> pública, sustenta<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>srespeito <strong>do</strong>s parâmetros estabeleci<strong>do</strong>s<br />

na lei. À Administração Pública seria concedi<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o<br />

encerramento <strong>do</strong> estabelecimento, a interdição da ativida<strong>de</strong> ou a restrição <strong>do</strong><br />

horário.<br />

Crê-se, por fim, ser pon<strong>de</strong>rar o aditamento <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>rma que fizesse<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o reinício da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autorização expressa da entida<strong>de</strong> com<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> superintendência técnica, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> esta ser concedida<br />

enquanto não fosse feita prova bastante da conformida<strong>de</strong> com o Regulamento<br />

Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Esta solução compagina-se com o carater provisório das<br />

medidas <strong>de</strong> polícia e com o princípio da correção na fonte <strong>do</strong>s da<strong>no</strong>s ao<br />

ambiente, que impõe o <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> polui<strong>do</strong>r, enquanto fonte subjetiva ou causa<strong>do</strong>r<br />

da poluição, modificar a sua conduta, expurgan<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> ações lesivas <strong>do</strong><br />

ambiente ou retifican<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a reduzir ao mínimo a agressão ambiental.<br />

Do mesmo passo, importaria <strong>de</strong>finir pressupostos <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> medidas<br />

suspensivas das ativida<strong>de</strong>s gera<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ilícito, sem precedência <strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

46


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ensaios <strong>de</strong> medição acústica, quanto a ruí<strong>do</strong>s comumente reconheci<strong>do</strong>s como<br />

lesivos <strong>do</strong> ambiente.<br />

7. Instrumentos <strong>de</strong> gestão territorial, mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação<br />

Parece mostrar-se algo inconsequente o incumprimento das obrigações<br />

cometidas aos municípios em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong><br />

planeamento territorial. Deixam muito a <strong>de</strong>sejar a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> zonas<br />

sensíveis e mistas por ocasião da alteração ou revisão <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais,<br />

a elaboração <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, o cumprimento da obrigação <strong>de</strong><br />

apresentar relatórios sobre o ambiente acústico e a elaboração <strong>de</strong> mapas<br />

estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação relativos a gran<strong>de</strong>s aglomerações.<br />

Importaria que a Administração Central estabelecesse mecanismos <strong>de</strong><br />

colaboração com os municípios, provi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> ações <strong>de</strong> formação e outros<br />

incentivos ao planeamento toman<strong>do</strong> em <strong>de</strong>vida conta as preocupações <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente so<strong>no</strong>ro, na <strong>de</strong>finição das regras <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> solo e<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

47


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

INQUÉRITO AOS MUNICÍPIOS SOBRE<br />

PREVENÇÃO E CONTROLO DO RUÍDO<br />

SECÇÃO 1: Justificação e consi<strong>de</strong>rações preliminares<br />

Na última década, a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> ambiente e a proteção <strong>do</strong>s recursos<br />

naturais assumiram uma expressão crescente <strong>no</strong> volume das queixas<br />

apresentadas por cidadãos, individual ou coletivamente, ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>Justiça</strong>. As ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas e um insuficiente exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res<br />

públicos <strong>de</strong> fiscalização encontram-se <strong>no</strong> topo <strong>de</strong>ste setor fortemente<br />

<strong>de</strong>scentraliza<strong>do</strong> <strong>no</strong>s municípios. De entre as queixas contra a<br />

Administração Pública em matéria ambiental, o ruí<strong>do</strong> ultrapassa, quase<br />

sempre, 50%, muito acima das questões relativas à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ar e da<br />

água, à <strong>de</strong>fesa da floresta ou <strong>de</strong> outros recursos naturais.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

48


250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

144<br />

64<br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Queixas ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> sobre ruí<strong>do</strong><br />

2001-2011<br />

155<br />

84<br />

176 176<br />

104<br />

Ao apreciar queixas relativas às 308 câmaras municipais <strong>do</strong> território<br />

nacional, o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> dispõe <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> observação<br />

privilegia<strong>do</strong>. Este permite-lhe encontrar situações completamente<br />

diferentes na polícia <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> medição<br />

à falta <strong>de</strong> pessoal qualifica<strong>do</strong> para usar o sonómetro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> práticas<br />

permissivas na prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> da instalação <strong>de</strong><br />

estabelecimentos até à consi<strong>de</strong>ração das questões <strong>de</strong> perturbação<br />

rui<strong>do</strong>sa como alheias às atribuições municipais. Das múltiplas<br />

recomendações e <strong>do</strong>s relatórios anuais apresenta<strong>do</strong>s à Assembleia da<br />

República pelo Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> fica claro que o ruí<strong>do</strong> não é leva<strong>do</strong> a<br />

sério por muitos órgãos e serviços públicos que, não raro, contemporizam<br />

com o interesse económico das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas, ou simplesmente<br />

consi<strong>de</strong>ram que, na or<strong>de</strong>m pública ambiental, a incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa<br />

tem um lugar muito mo<strong>de</strong>sto.<br />

185<br />

193<br />

95 92 89<br />

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />

176<br />

71<br />

156<br />

74<br />

189<br />

102<br />

136<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

73<br />

143<br />

80<br />

49


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

A posição <strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, <strong>de</strong> par<br />

com a sua missão <strong>de</strong> contribuir para o aperfeiçoamento da ativida<strong>de</strong><br />

administrativa, obriga-o a refletir, <strong>de</strong> forma sistemática e<br />

continuadamente, sobre a aplicação <strong>do</strong> direito público, nas situações que<br />

lhe são expostas pelos administra<strong>do</strong>s. Ao mesmo tempo, situa-o numa<br />

posição ímpar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sistema institucional para formular<br />

recomendações, sugestões, observações e chamadas <strong>de</strong> atenção com<br />

vista a aperfeiçoar e a <strong>do</strong>tar <strong>de</strong> maior eficácia a atuação administrativa.<br />

Os cidadãos, individual ou coletivamente, po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem contar com a<br />

instituição <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, individual ou coletivamente, para fazer<br />

valer o seu direito a um ambiente <strong>de</strong> vida humana sadio e ecologicamente<br />

equilibra<strong>do</strong>. O Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> não tem apenas uma função corretiva<br />

<strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>s e injustiças. Tem também uma importante função<br />

preventiva, na tutela <strong>do</strong>s direitos fundamentais <strong>do</strong>s cidadãos e na<br />

prevenção da lesão da sua esfera jurídica. Este escopo preventivo<br />

assume particular expressão <strong>no</strong> que concerne ao direito fundamental a<br />

um ambiente tranquilo, on<strong>de</strong>, dada a natureza <strong>do</strong>s bens protegi<strong>do</strong>s, o<br />

da<strong>no</strong> é difícil <strong>de</strong> quantificar e o prejuízo para os cidadãos dificilmente<br />

reversível. Os custos sociais e económicos da passivida<strong>de</strong> e<br />

permissivida<strong>de</strong> da Administração perante o exercício das ativida<strong>de</strong>s<br />

poluente são imensos. Basta representar o prejuízo para a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

ar, para a tranquilida<strong>de</strong> pública, a contaminação <strong>do</strong>s solos ou <strong>do</strong>s<br />

recursos hídricos, a <strong>de</strong>sflorestação, e as suas repercussões <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

50


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

da saú<strong>de</strong> da população, absorven<strong>do</strong> uma quota não <strong>de</strong>spicienda <strong>do</strong>s<br />

recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros <strong>do</strong> sistema nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A título ilustrativo, assinala-se que <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2011 foram recebidas 80<br />

queixas por ruí<strong>do</strong> ambiental que se distribuem entre restaurantes, bares e<br />

discotecas (38) - por vezes instala<strong>do</strong>s em edifícios multifamiliares sem<br />

isolamento- tráfego (10), sobretu<strong>do</strong> ro<strong>do</strong>viário, ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança<br />

<strong>do</strong>méstica (10), comércio e serviços (9), <strong>de</strong>signadamente cabeleireiros,<br />

ginásios e oficinas <strong>de</strong> automóveis, espetáculos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s na via pública<br />

(6), ativida<strong>de</strong>s industriais (4) e outros (3), como equipamentos para<br />

espantar aves ou alarmes so<strong>no</strong>ros <strong>de</strong> passagens <strong>de</strong> níveis.<br />

Volvi<strong>do</strong>s 25 a<strong>no</strong>s sobre a publicação <strong>do</strong> primeiro Regulamento Geral <strong>do</strong><br />

Ruí<strong>do</strong> (aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 251/87, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho), <strong>de</strong>termi<strong>no</strong>u<br />

Sua Excelência o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> a organização <strong>de</strong> um processo, <strong>de</strong><br />

iniciativa oficiosa, com base em indícios observa<strong>do</strong>s, com <strong>de</strong>masiada<br />

frequência, nas averiguações sobre queixas por ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong> as autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais se furtarem ao exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> polícia administrativa<br />

<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, apesar da incumbência legal que lhes assiste e <strong>do</strong>s meios<br />

técnicos e financeiros que a Administração Central e a Comissão<br />

Europeia investiram para o efeito.<br />

A acrescer à indisponibilida<strong>de</strong> assumida <strong>de</strong> alguns municípios, para<br />

levarem a cabo ensaios <strong>de</strong> medição acústica, remeten<strong>do</strong> os particulares<br />

para o merca<strong>do</strong> das empresas especializadas, junta-se a impossibilida<strong>de</strong>,<br />

confessada, das comissões <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong>senvolvimento regional<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

51


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

para <strong>de</strong>sempenhar esta incumbência, em termos que permitam suprir a<br />

inércia municipal.<br />

Compreen<strong>de</strong>-se que muitos serviços municipais procurem <strong>de</strong>sagravar<br />

as suas <strong>de</strong>spesas na execução <strong>de</strong> medições fúteis ou por repetidamente<br />

solicitadas ou por obterem resulta<strong>do</strong>s absolutamente improce<strong>de</strong>ntes.<br />

Contu<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> uma caução que <strong>de</strong>sincentive as medições<br />

parece constituir um sério impedimento a muitos munícipes (os <strong>de</strong><br />

me<strong>no</strong>res recursos) e, por esse motivo, este órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> recomen<strong>do</strong>u,<br />

em tempo, a supressão <strong>de</strong>ste meio <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração e veio a ser<br />

expressamente revogada a Portaria n.º 326/95, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro.<br />

Em 2000 surgiu a licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> como medida <strong>de</strong> polícia que<br />

se pretendia vir a trazer algum compromisso na pon<strong>de</strong>ração entre a<br />

liberalização completa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ou as interdições absolutas. Ce<strong>do</strong> se<br />

revelou, contu<strong>do</strong>, um expediente <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> exposto a um exercício<br />

<strong>de</strong>ficitário: primeiro, a falta <strong>de</strong> contingentes para o <strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> licenças<br />

em zonas permanentemente fustigadas por espetáculos rui<strong>do</strong>sos,<br />

festivida<strong>de</strong>s, competições <strong>de</strong>sportivas; segun<strong>do</strong>, a recorrente falta <strong>de</strong><br />

condições impostas com a licença, como se este ato se revelasse uma<br />

espécie <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>ncial para suspen<strong>de</strong>r a lei e os direitos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />

que reflexamente protege; terceiro, o interesse não <strong>de</strong>spicien<strong>do</strong> nas<br />

receitas arrecadadas pelas taxas a liquidar pelo <strong>de</strong>ferimento (mas não<br />

pela recusa), um pouco como se o silêncio fosse um bem jurídico<br />

aliena<strong>do</strong> parcelarmente.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

52


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Do mesmo passo, cui<strong>do</strong>u-se <strong>de</strong> tratar a questão <strong>do</strong>s limites das licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. O seu <strong>de</strong>ferimento, sem condicionantes vincula<strong>do</strong>s<br />

nem fiscalização <strong>do</strong> cumprimento, acaba por mostrar-se um expediente<br />

perverso <strong>de</strong> facultar a produção <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> licitamente, apesar <strong>de</strong> muito<br />

superior aos níveis <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s na lei. Por outro la<strong>do</strong>, nada impe<strong>de</strong> que a<br />

licença especial seja usada como um instrumento comum, sacrifican<strong>do</strong><br />

reiteradamente os mesmos mora<strong>do</strong>res com o ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> espetáculos, festas<br />

civis e religiosas, académicas ou <strong>de</strong>sportivas.<br />

Por último, justificou-se uma análise específica <strong>do</strong> conjunto das <strong>no</strong>rmas<br />

tratadas na lei como ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança, <strong>de</strong>limitan<strong>do</strong> com maior precisão,<br />

o ruí<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> cujos conflitos só po<strong>de</strong>m ser dirimi<strong>do</strong>s judicialmente,<br />

limitan<strong>do</strong> a intervenção das autorida<strong>de</strong>s policiais – para que esta seja<br />

eficaz – aos casos <strong>de</strong> perturbação da or<strong>de</strong>m pública, ainda que <strong>no</strong> interior<br />

das edificações.<br />

Preten<strong>de</strong>-se refletir sobre as questões conexas com a aplicação <strong>do</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, na perspetiva <strong>de</strong> propor medidas que<br />

contribuam para o suprimento das <strong>de</strong>ficiências que obstam ao regular<br />

exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> fiscalização e controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, quer a título<br />

preventivo - <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong> licenciamento, autorização ou<br />

permissão <strong>de</strong> operações urbanísticas ou <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong><br />

estabelecimentos e exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s – quer a título sucessivo, na<br />

sequência das queixas <strong>do</strong>s munícipes. Do mesmo passo, cui<strong>do</strong>u-se <strong>de</strong><br />

inquirir os municípios sobre o exercício das suas atribuições <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>do</strong> planeamento.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

53


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Para esse efeito, e com vista ao cabal recenseamento da prática<br />

administrativa <strong>do</strong>s municípios <strong>no</strong> exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> polícia<br />

ambiental <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, foi elabora<strong>do</strong> um questionário, o qual foi submeti<strong>do</strong><br />

aos 308 municípios <strong>de</strong> Portugal. Apesar <strong>de</strong> o inquérito ter si<strong>do</strong> dirigi<strong>do</strong> à<br />

totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s municípios - <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer critérios <strong>de</strong><br />

uma amostragem suficientemente representativa - o estu<strong>do</strong> baseia-se <strong>no</strong>s<br />

elementos faculta<strong>do</strong>s pelos 244 municípios que <strong>no</strong>s prestaram resposta<br />

até 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011 5 .<br />

Divulga<strong>do</strong> o relatório preliminar <strong>no</strong> sítio eletrónico <strong>de</strong>ste órgão <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, permaneceu aberto para consulta pública entre 27/11 e<br />

15/12/2012, refletin<strong>do</strong> o relatório final o teor das escassas contribuições<br />

prestadas.<br />

Não tomaram parte neste inquérito, ou por não se terem pronuncia<strong>do</strong> ou<br />

por não o terem feito atempadamente, 64 municípios. São eles: Abrantes,<br />

Albufeira, Alcácer <strong>do</strong> Sal, Alijó, Aljustrel, Ama<strong>do</strong>ra, Ansião, Avis,<br />

Azambuja, Barcelos, Barrancos, Beja, Cabeceiras <strong>de</strong> Baixo, Cadaval,<br />

Calheta Açores, Caminha, Castro Marim, Celorico <strong>de</strong> Bastos, Coimbra,<br />

Crato, Entroncamento, Espinho, Évora, Lagoa (Açores), Lajes das Flores,<br />

Lages <strong>do</strong> Pico, Leiria, Mangual<strong>de</strong>, Meda, Miranda <strong>do</strong> Douro, Monforte,<br />

Montijo, Nazaré, O<strong>de</strong>mira, Ovar, Paços <strong>de</strong> Ferreira, Palmela, Pare<strong>de</strong>s,<br />

Penamacor, Peso da Régua, Pombal, Porto Santo, Ribeira <strong>de</strong> Pena,<br />

Santa Cruz, Santa Cruz das Flores, São Vicente, Sertã, Sobral <strong>de</strong> Monte<br />

Agraço, Tábua, Ton<strong>de</strong>la, Trancoso, Trofa, Vagos, Vale <strong>de</strong> Cambra,<br />

5 Ten<strong>do</strong> o inquérito si<strong>do</strong> envia<strong>do</strong> por ofício <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011, estimou-se<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> o prazo <strong>de</strong> seis meses para a pronúncia solicitada.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

54


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Valença, Velas, Vendas Novas, Viana <strong>do</strong> Alentejo, Vila <strong>do</strong> Bispo, Vila<br />

Franca <strong>de</strong> Xira, Vila Real <strong>de</strong> Santo António, Vila Ver<strong>de</strong>, Vila Viçosa,<br />

Viseu.<br />

De entre estes, respon<strong>de</strong>ram após 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, os municípios <strong>de</strong><br />

Abrantes, Barcelos, Cabeceiras <strong>de</strong> Basto, Caminha, Entroncamento,<br />

Lagoa (Açores), Pombal e Tábua.<br />

Insolitamente, a Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Caminha retorquiu-<strong>no</strong>s não dispor<br />

<strong>de</strong> «Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>», absten<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> facultar quaisquer<br />

outros elementos ou da<strong>do</strong>s, o que indicia ig<strong>no</strong>rar simplesmente as<br />

atribuições municipais neste <strong>do</strong>mínio.<br />

Ao invés, é <strong>de</strong> louvar a colaboração facultada ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong><br />

pelos <strong>de</strong>mais municípios que, em número expressivo (cerca <strong>de</strong> 75% <strong>do</strong><br />

total <strong>do</strong>s 308 municípios) a<strong>de</strong>riram à tarefa que lhes foi proposta,<br />

recensean<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s solicita<strong>do</strong>s e provi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> pela sua remessa em<br />

tempo útil. Sem o seu empenho não seria possível a elaboração <strong>de</strong>ste<br />

estu<strong>do</strong> que culmina na formulação <strong>de</strong> conclusões sustentadas na prática<br />

quase generalizada <strong>do</strong>s órgãos executivos representativos <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r local,<br />

nas boas e más práticas recenseadas.<br />

Do anexo I consta o mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> questionário submeti<strong>do</strong> às autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais e, <strong>do</strong> anexo II, a indicação <strong>do</strong>s 244 municípios que constituem<br />

o universo da análise efetuada.<br />

Passamos a analisar as questões tratadas <strong>no</strong> inquérito, apresentan<strong>do</strong> e<br />

sistematizan<strong>do</strong> as informações e os da<strong>do</strong>s coligi<strong>do</strong>s e enuncian<strong>do</strong><br />

conclusões, por observação das respostas prestadas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

55


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Secção 2: Recursos huma<strong>no</strong>s e Equipamentos<br />

1. Enquadramento<br />

A Lei n.º 159/99, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> setembro – que estabeleceu o <strong>no</strong>vo quadro <strong>de</strong><br />

transferência <strong>de</strong> atribuições e competências para as autarquias locais -<br />

previa, em matéria <strong>de</strong> ambiente, a competência <strong>do</strong>s órgãos municipais para<br />

participar na fiscalização <strong>do</strong> RGR [artigo 26.º, n.º 2, alínea a)].<br />

Um <strong>do</strong>s princípios orienta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> diploma é o princípio da<br />

56<br />

subsidiarieda<strong>de</strong>, ao abrigo <strong>do</strong> qual as atribuições e competências <strong>de</strong>verão ser<br />

exercidas pelo nível mais bem coloca<strong>do</strong> para as prosseguir com<br />

racionalida<strong>de</strong>, eficácia e proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cidadãos (artigo 2.º, n.º 2 da Lei n.º<br />

159/99, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> setembro).<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma opção <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r que muito provavelmente se apresenta<br />

como uma exigência <strong>do</strong>s princípios constitucionais da subsidiarieda<strong>de</strong> e da<br />

<strong>de</strong>scentralização administrativa <strong>de</strong> tarefas públicas. Se a razão <strong>de</strong> ser <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r local encontra a raiz na proximida<strong>de</strong> territorial e populacional <strong>do</strong>s<br />

centros <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, o controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> não <strong>de</strong>verá ficar fora <strong>do</strong> núcleo<br />

essencial das atribuições municipais.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

O RGR atribui especial protagonismo aos municípios que são incumbi<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> tomarem todas as medidas a<strong>de</strong>quadas para o controlo e minimização <strong>do</strong>s<br />

incómo<strong>do</strong>s causa<strong>do</strong>s pelo ruí<strong>do</strong> resultante <strong>de</strong> quaisquer ativida<strong>de</strong>s (artigo 4.º,<br />

n.º 3 <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> janeiro).<br />

A fiscalização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> consta das atribuições municipais (artigo 26.º,<br />

alíneas b) e d), <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro), o que implica<br />

necessariamente a promoção da realização <strong>do</strong>s ensaios técnicos necessários<br />

a apurar <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong>s parâmetros ali fixa<strong>do</strong>s.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, mesmo <strong>no</strong>s casos em que o cumprimento <strong>do</strong> RGR tenha<br />

si<strong>do</strong> aprecia<strong>do</strong> <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> licenciamento, tal facto não<br />

dispensa a fiscalização camarária posterior, em caso <strong>de</strong> queixa.<br />

O Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> procurou inteirar-se acerca <strong>do</strong>s meios técnicos<br />

(essencialmente sonómetros) e recursos huma<strong>no</strong>s <strong>de</strong> que os municípios<br />

dispõem para a realização <strong>de</strong> medições e ensaios acústicos, bem como sobre<br />

os apoios obti<strong>do</strong>s junto da Administração Central. Até porque, <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso da<br />

apreciação <strong>de</strong> queixas apresentadas ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> é recorrente a<br />

alusão <strong>do</strong>s municípios à falta <strong>de</strong> meios. E não raro, queixam-se os munícipes<br />

da não promoção <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> caraterização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> perturba<strong>do</strong>r, da<br />

<strong>de</strong>mora na sua efetivação ou da exigência <strong>de</strong> uma caução ou taxa como<br />

condição prévia à sua realização, seja pelos serviços municipais, seja, a rogo<br />

<strong>de</strong>stes serviços, por terceiros.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

57


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

A acreditação <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> Sistema Nacional <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> para a<br />

realização <strong>de</strong> ensaios acústicos é obrigatória (vd. artigo 34.º <strong>do</strong> RGR), não só<br />

para as entida<strong>de</strong>s privadas, como também para as entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras<br />

que realizem ensaios e medições acústicos necessários à verificação <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>do</strong> RGR.<br />

Antecipan<strong>do</strong> as dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas por algumas câmaras municipais<br />

<strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> acreditação, <strong>de</strong>signadamente por falta <strong>de</strong> recursos<br />

financeiros e técnicos, foram inquiri<strong>do</strong>s os municípios sobre o recurso<br />

alternativo a entida<strong>de</strong>s acreditadas para a realização <strong>de</strong> medições e ensaios<br />

acústicos.<br />

No contexto das queixas por incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, questionámos as<br />

58<br />

câmaras municipais sobre a exigência às «entida<strong>de</strong>s explora<strong>do</strong>ras» <strong>de</strong> um<br />

relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos elabora<strong>do</strong> por entida<strong>de</strong> acreditada e, ainda,<br />

quanto ao tempo <strong>de</strong> espera médio entre a receção <strong>de</strong> uma queixa por ruí<strong>do</strong> e<br />

a realização <strong>do</strong>s ensaios.<br />

Procurámos apurar, ainda, a medida em que o queixoso suporta os custos<br />

das medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, seja através <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong> uma taxa, o <strong>de</strong>pósito<br />

<strong>de</strong> caução ou, pior, por lhe ser exigi<strong>do</strong> o pagamento <strong>do</strong>s ho<strong>no</strong>rários,<br />

suportan<strong>do</strong> integralmente os custos da medição acústica.<br />

Finalmente, ten<strong>do</strong> a taxa por base uma relação jurídica tributária (artigo<br />

1.º/2 <strong>do</strong> Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais, aprova<strong>do</strong> pela Lei<br />

n.º 53-E/2006, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro) e na medida em que resulta diretamente<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong> uma <strong>no</strong>rma legal e/ou regulamentar, pareceu-<strong>no</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o interesse<br />

questionar os municípios que afirmaram aplicar uma taxa às medições <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> realizadas, acerca da sua fundamentação jurídica.<br />

2. Formação <strong>de</strong> pessoal e equipamentos<br />

O Guia prático para medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente - <strong>no</strong> contexto <strong>do</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em conta a NP ISO 1996, da Agência<br />

Portuguesa <strong>do</strong> Ambiente, I.P., <strong>de</strong> outubro 2011 6 prevê que, para medições <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> ambiente, <strong>de</strong>ve ser utiliza<strong>do</strong> um sonómetro <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo homologa<strong>do</strong> pelo<br />

Instituto Português da Qualida<strong>de</strong>.<br />

Foram comparticipa<strong>do</strong>s pelo ex-Instituto <strong>do</strong> Ambiente os custos suporta<strong>do</strong>s 59<br />

pelos Municípios e Associações <strong>de</strong> Municípios (<strong>no</strong> total, 188 municípios) na<br />

aquisição <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> medição <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, apoio este concedi<strong>do</strong>, após<br />

avaliação, às entida<strong>de</strong>s que se candidataram até junho <strong>de</strong> 2004.<br />

A APA, I.P. realizou ainda diversas ações <strong>de</strong> formação em matéria <strong>de</strong><br />

«medições para avaliação <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente» <strong>de</strong>stinadas maioritariamente a<br />

técnicos municipais (ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as informações<br />

prestadas, cento e quarenta técnicos) 7 .<br />

6 Este guia tem por objetivo principal contribuir para harmonizar os procedimentos <strong>de</strong> edição e <strong>de</strong><br />

tratamento <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> em vista a boa aplicação da NP ISSO 1996 na verificação <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>do</strong>s requisitos acústicos estabeleci<strong>do</strong>s <strong>no</strong> RGR.<br />

7 A lista <strong>do</strong>s municípios com os quais foram formaliza<strong>do</strong>s protocolos <strong>de</strong> cofinanciamento po<strong>de</strong> ser<br />

consultada <strong>no</strong> sítio eletrónico da APA<br />

(http://www.apambiente.pt/_zdata/DAR/Rui<strong>do</strong>/SituacaoNacional/MapasApoioFinanceiro.pdf).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Ainda assim, as respostas mostram que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s municípios<br />

(86,5 %) carecem <strong>de</strong> meios huma<strong>no</strong>s e técnicos para medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Inquiri<strong>do</strong>s sobre se receberam apoios da Administração Central para a<br />

formação <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e/ou para a aquisição <strong>de</strong> meios técnicos<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à avaliação da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, só 52 municípios<br />

respon<strong>de</strong>ram afirmativamente, número consi<strong>de</strong>ravelmente inferior àquele que<br />

seria <strong>de</strong> esperar, ten<strong>do</strong> em conta aqueles que receberam apoio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

(188, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s da APA, I.P.).<br />

É <strong>de</strong> assinalar ainda que, embora ten<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoios, alguns<br />

municípios 8 afirmam continuar a não dispor <strong>do</strong>s meios necessários para<br />

realização <strong>de</strong> medições e ensaios acústicos.<br />

Inabilita<strong>do</strong>s para exercerem diretamente as avaliações acústicas, os<br />

municípios recorrem, em alternativa, aos serviços <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s acreditadas,<br />

conforme foi reconheci<strong>do</strong> por 169 municípios. Neste universo, incluem-se<br />

municípios que afirmaram dispor <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e meios técnicos<br />

próprios para o efeito (Alter <strong>do</strong> Chão, Cantanhe<strong>de</strong>, Elvas, Gon<strong>do</strong>mar e<br />

Setúbal), admitin<strong>do</strong>-se que a justificação resida <strong>no</strong> facto <strong>de</strong> não estar<br />

concluí<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> acreditação <strong>do</strong>s serviços municipais competentes.<br />

8 São eles: Amarante, Arouca, Batalha, Campo Maior, Castelo <strong>de</strong> Vi<strong>de</strong>; Gavião; Esposen<strong>de</strong>; Lagos;<br />

Loulé; Mafra; Maia; Matosinhos; Moita; Murça; Oliveira <strong>do</strong> hospital; Ourem; Penacova; Peniche;<br />

Portalegre; Póvoa <strong>do</strong> Varzim; Reguengos <strong>de</strong> Monsaraz; Ribeira Gran<strong>de</strong>; Sabugal, São Brás <strong>de</strong> Alportel;<br />

São João da Pesqueira; Sever <strong>do</strong> Vouga; Soure; Torres Novas; Valongo; Vila <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>; Vale <strong>do</strong> Porto.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

60


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Note-se que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com informação facultada pelo Instituto Português<br />

<strong>de</strong> Acreditação (IPAC) 9 em 2012, apenas os serviços das câmaras<br />

municipais <strong>do</strong> Porto e <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia se encontrariam acredita<strong>do</strong>s<br />

para a realização <strong>de</strong> ensaios e medições acústicas necessárias à<br />

verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> RGR.<br />

Por fim, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> realçar o número ainda consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong><br />

municípios (40) que, não dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> meios próprios para a realização <strong>de</strong><br />

avaliações e ensaios acústicos, <strong>de</strong>clarou não recorrer sequer aos serviços <strong>de</strong><br />

entida<strong>de</strong>s acreditadas 10 .<br />

1%<br />

13%<br />

Municípios/Equipamento e Pessoal Apto a<br />

Executar Medições <strong>de</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

86%<br />

17%<br />

9<br />

Organismo nacional <strong>de</strong> acreditação <strong>no</strong>s termos previstos <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 23/2011, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong><br />

fevereiro.<br />

10<br />

São eles: Alcanena; Alcochete; Alenquer, Alfan<strong>de</strong>ga da Fé; Alvaiázere, Arraiolos, Arruda <strong>do</strong>s Vinhos,<br />

Calheta, Cinfães; Funchal, Fundão, Grân<strong>do</strong>la, Guarda, Idanha-a-Nova, Lagos, Madalena, Mafra,<br />

Manteigas, Melgaço, Moimenta da Beira, Monção, Mondim <strong>de</strong> Basto, Mourão, Nor<strong>de</strong>ste, Oliveira <strong>do</strong><br />

Bairro, Oliveira <strong>do</strong> Hospital, Pampilhosa da Serra, Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura; Penalva <strong>do</strong> Castelo, Penela, Ponte<br />

da Barca, Povoação, Praia da Vitória, Proença-a-Nova, Ribeira Gran<strong>de</strong>, Santana; Sernancelhe, Vila <strong>do</strong><br />

Porto; Vila Nova <strong>de</strong> Paiva; Vila Velha <strong>de</strong> Ródão.<br />

69%<br />

Dispõem<br />

Não respon<strong>de</strong><br />

Não Dispõem<br />

Porém, adjudicam a entida<strong>de</strong>s<br />

exteriores<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

61


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Uma vez que 52 câmaras municipais <strong>de</strong>claram ter beneficia<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoios da<br />

Administração Central ou Regional para a aquisição <strong>de</strong> sonómetros e/ou para<br />

formação <strong>de</strong> pessoal apto a executar ensaios <strong>de</strong> medição acústica, é legítimo<br />

formular duas perguntas. Por que motivo só um número tão reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

municípios (21,3% <strong>do</strong>s 244 que respon<strong>de</strong>ram ao inquérito) beneficiou <strong>de</strong><br />

apoios da Administração Central e Regional, alguns com suporte em fun<strong>do</strong>s<br />

europeus? Por que motivo alguns municípios (20), apesar <strong>de</strong> terem<br />

beneficia<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoios públicos, não dispõem atualmente <strong>de</strong> sonómetro nem<br />

<strong>de</strong> técnicos qualifica<strong>do</strong>s?<br />

Secção 3: Queixas às autorida<strong>de</strong>s municipais por<br />

incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra<br />

1. Encargos<br />

Os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s apresentam variáveis significativas <strong>no</strong> tratamento das<br />

queixas relativas a incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, <strong>de</strong> município para município.<br />

Des<strong>de</strong> logo, as <strong>de</strong>spesas com as medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> po<strong>de</strong>m ser suportadas<br />

pelos municípios ou pelos administra<strong>do</strong>s (reclamante ou reclama<strong>do</strong>). Com<br />

efeito, se nalguns municípios é exigi<strong>do</strong> à entida<strong>de</strong> reclamada que apresente<br />

um relatório <strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> (57%), <strong>no</strong>utros <strong>de</strong>verá ser o queixoso a<br />

recorrer diretamente aos serviços <strong>de</strong> uma empresa presta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> serviço e a<br />

suportar as <strong>de</strong>spesas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

62


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Além <strong>do</strong> mais, alguns municípios articulam o pagamento da taxa com a (im)<br />

procedência da queixa, imputan<strong>do</strong> os custos ao autor <strong>de</strong> reclamação que vier<br />

a revelar-se infundada. Trata-se <strong>de</strong> uma medida que o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong><br />

reprovou na Recomendação n.º 18/B/1999, e que foi acatada pelo legisla<strong>do</strong>r<br />

com a revogação da Portaria n.º 326/95, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro.<br />

A experiência <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> <strong>de</strong>monstra que, não raramente, os<br />

queixosos afirmam que as <strong>no</strong>rmais condições <strong>de</strong> funcionamento da ativida<strong>de</strong><br />

incómoda foram <strong>de</strong>svirtuadas, <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>,<br />

promovi<strong>do</strong>s pelo responsável pela ativida<strong>de</strong>, a pedi<strong>do</strong> das câmaras<br />

municipais. Alegam os interessa<strong>do</strong>s, invariavelmente, serem intencionalmente<br />

diminuí<strong>do</strong>s os níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> habitualmente emiti<strong>do</strong>s, suspeitan<strong>do</strong> da isenção<br />

<strong>do</strong> procedimento.<br />

A <strong>de</strong>sconfiança <strong>do</strong>s queixosos na realização <strong>de</strong> medições nestas<br />

circunstâncias <strong>de</strong>termina por vezes a recusa <strong>de</strong> acesso à sua habitação, para<br />

execução das ações <strong>de</strong> fiscalização. Ora, a fiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s é<br />

essencial para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões municipais. 11<br />

11 A C.M. da Póvoa <strong>do</strong> Varzim, ao pronunciar-se sobre o teor <strong>do</strong> relatório divulga<strong>do</strong> <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong><br />

procedimento <strong>de</strong> consulta pública, informou que um ensaio realiza<strong>do</strong> pela autarquia, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

reclamante, po<strong>de</strong>rá ser entendi<strong>do</strong>, pelo reclama<strong>do</strong>, como parcial, tal como a situação inversa,<br />

parecen<strong>do</strong>, como tal, mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> que o ensaio seja realiza<strong>do</strong> por uma entida<strong>de</strong> externa, que<br />

mereça a confiança <strong>de</strong> ambas as partes, <strong>de</strong>sempenhan<strong>do</strong> a autarquia um papel <strong>de</strong> mediação e<br />

promoção da avaliação. Assinala ainda que a realização <strong>de</strong> medições acústicas por laboratório<br />

acredita<strong>do</strong> importa encargos enleva<strong>do</strong>s, com a instalação e a manutenção e a formação contínua <strong>de</strong><br />

pessoal qualifica<strong>do</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

63


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Quanto aos custos, a larga maioria <strong>do</strong>s municípios (86.8%) afirma não exigir<br />

ao queixoso o pagamento <strong>de</strong> nenhuma taxa nem caução pelas medições <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong>, tais da<strong>do</strong>s não permitem concluir, por si só, que o queixoso ficará<br />

isento <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>rá ser-lhe exigi<strong>do</strong><br />

que apresente ele próprio um relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos comprovan<strong>do</strong> o<br />

prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong> pública ou po<strong>de</strong>r-lhe-á ser apresentada, para<br />

cobrança, a própria <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ho<strong>no</strong>rários da entida<strong>de</strong> que prestou o serviço ao<br />

município.<br />

Dos municípios que afirmam exigir ao queixoso o pagamento <strong>de</strong> uma taxa<br />

ou caução (32) apenas quatro respon<strong>de</strong>ram dispor <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e<br />

meios técnicos para as medições. São eles: Ponta Delgada (€ 88,10), Torres 64<br />

Vedras (entre €75,00 a € 100,00), Câmara <strong>de</strong> Lobos (€ 100,00), Oeiras (€<br />

200,00).<br />

Em S. João da Ma<strong>de</strong>ira e Valongo, a medição acústica é condicionada ao<br />

pagamento pelo queixoso <strong>de</strong> uma caução, <strong>de</strong> € 500,00 e <strong>de</strong> € 50,00<br />

respetivamente, conforme se encontre previsto na regulamentação municipal<br />

aplicável 12 .<br />

A C.M. <strong>de</strong> Valongo informou cobrar € 50,00 pela reclamação a título <strong>de</strong><br />

caução, sujeita a <strong>de</strong>volução em caso <strong>de</strong> procedência, a que acrescem os<br />

12 Artigo 48.º <strong>do</strong> Regulamento <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Edificação e Urbanização <strong>de</strong> S. João da Ma<strong>de</strong>ira e quadro<br />

XVIII <strong>do</strong> Regulamento <strong>de</strong> Liquidação e Cobrança das Taxas e Outras Receitas Municipais e Tabela<br />

Anexa <strong>de</strong> Valongo.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

custos com a medição, a <strong>de</strong>slocação e a remuneração <strong>do</strong>s peritos e outras<br />

<strong>de</strong>spesas com materiais, equipamentos e <strong>de</strong>spesas administrativas. A<br />

Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Miranda <strong>do</strong> Corvo <strong>de</strong>clara cobrar € 30,00 e ainda as<br />

<strong>de</strong>spesas com a empresa que presta o serviço. Em alguns casos, a taxa<br />

engloba uma componente fixa e uma componente variável.<br />

O Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> já tomou posição sobre a exigência <strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

uma caução nestas situações, na Recomendação n.º 13/A/2010, dirigida à<br />

Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> São João da Ma<strong>de</strong>ira, argumentan<strong>do</strong> não po<strong>de</strong>rem os<br />

municípios restaurar por regulamento uma condição abolida por regulamento<br />

<strong>de</strong> nível superior (artigo 241.º da Constituição) e, por maioria <strong>de</strong> razão,<br />

através <strong>de</strong> ato legislativo.<br />

65<br />

Enten<strong>de</strong> o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> que não é <strong>de</strong> admitir que um município<br />

pretenda transferir para os particulares queixosos os custos <strong>de</strong> uma tarefa<br />

pública que lhe compete. A questão é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública e não apenas<br />

privada.<br />

Além <strong>do</strong> mais, fazer recair sobre os interessa<strong>do</strong>s o ónus da prova <strong>do</strong> ilícito,<br />

seria introduzir um fator <strong>de</strong> injustiça social extremamente pe<strong>no</strong>so. Com efeito,<br />

só os reclamantes que dispusessem <strong>de</strong> recursos financeiros para custear as<br />

<strong>de</strong>spesas com o ensaio acústico po<strong>de</strong>riam ver atendidas as suas<br />

interpelações aos municípios. Ao invés, os mais <strong>de</strong>sfavoreci<strong>do</strong>s seriam<br />

priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um direito que a to<strong>do</strong>s assiste por igual.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, confiar à entida<strong>de</strong> explora<strong>do</strong>ra a realização <strong>de</strong> medições<br />

oferece me<strong>no</strong>res garantias <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong>, abre portas a que venha o<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

reclama<strong>do</strong> a alterar as condições <strong>de</strong> funcionamento na data <strong>do</strong>s ensaios, a<br />

fim <strong>de</strong> ser regista<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> inferior ao habitualmente produzi<strong>do</strong>.<br />

Importa ver que, em tempos, o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> caução chegou a ser objeto <strong>de</strong><br />

regulamento nacional: a Portaria n.º 326/95, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro (2.ª série),<br />

contu<strong>do</strong>, o Decreto-Lei n.º 292/2000, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, expressa e<br />

inequivocamente revogou <strong>do</strong>s seus preceitos esta condição para levar a cabo<br />

medições.<br />

De resto, <strong>no</strong> preâmbulo <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> <strong>de</strong>creto, o legisla<strong>do</strong>r refere-se<br />

expressamente à recomendação <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> a<br />

prestação <strong>de</strong> caução <strong>de</strong>ver caber aos agentes económicos que <strong>de</strong>senvolvam<br />

ativida<strong>de</strong>s potencialmente rui<strong>do</strong>sas, a <strong>de</strong>volver na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não<br />

66<br />

surgirem queixas ou <strong>de</strong> estas se mostrarem improce<strong>de</strong>ntes. No artigo 25.º <strong>do</strong><br />

RGR (aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro) mantém-se<br />

idêntica estatuição.<br />

Aquela revogação significa, sem dúvida, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

caução constitui uma condição ilegal para to<strong>do</strong>s os aplica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> RGR,<br />

ainda que possa vir a admitir-se a estipulação <strong>de</strong> sanções para <strong>de</strong>núncias<br />

abusivas, caluniosas ou, por qualquer outro mo<strong>do</strong>, contrárias ao princípio da<br />

boa-fé, ten<strong>do</strong> presente que este vincula também os administra<strong>do</strong>s nas suas<br />

relações jurídicas administrativas (artigo 6.º <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Procedimento<br />

Administrativo).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Outros municípios condicionam a realização da medição acústica ao<br />

pagamento <strong>de</strong> uma taxa, prevista em regulamentos municipais divulga<strong>do</strong>s <strong>no</strong><br />

sítio eletrónico <strong>do</strong> município e, por vezes, publica<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Diário da República,<br />

conforme foi verifica<strong>do</strong>.<br />

O valor das taxas respeitantes às medições acústicas varia <strong>de</strong> município<br />

para município. Nalguns casos, chega a ser superior a € 500,00 (Almeirim,<br />

Arcos <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, Bragança; Estarreja; Montemor-o-Velho; Póvoa <strong>do</strong> Varzim<br />

e Con<strong>de</strong>ixa-a-Nova) <strong>no</strong>utros, inferior a €100,00 (Mértola, Mourão; Vila <strong>do</strong><br />

Porto; Vila Franca <strong>do</strong> Campo; Santa Maria da Feira).<br />

Variáveis são também os critérios utiliza<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> valor da<br />

taxa, ainda que seja recorrente o agravamento <strong>do</strong> valor quan<strong>do</strong> o serviço é<br />

presta<strong>do</strong> <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, fins <strong>de</strong> semana ou feria<strong>do</strong>s. Dos 32 municípios 67<br />

que respon<strong>de</strong>ram exigir ao queixoso o pagamento <strong>de</strong> uma «taxa ou caução»<br />

quan<strong>do</strong> há medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, apenas quatro não indicaram a fundamentação<br />

jurídica. Em tais casos (Lourinhã, Moura, Murça e Viana <strong>do</strong> castelo) não<br />

existirá uma relação jurídico-tributária, mas sim o pagamento <strong>de</strong> um serviço<br />

(priva<strong>do</strong>) à empresa que realiza as medições, com a transferência <strong>do</strong>s<br />

respetivos custos para o queixoso. Fica em causa o caráter bilateral da taxa<br />

que supõe a prestação <strong>de</strong> um serviço.<br />

É frequente que a taxa tenha uma componente fixa e outra variável (a última<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> custo <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong> pela entida<strong>de</strong> que faz a medição) e,<br />

ainda que o sujeito passivo (<strong>de</strong>nunciante ou <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>) seja <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

em função <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, isto é, se houve ou não incumprimento <strong>do</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

Exigência <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> taxa/<strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> caução<br />

199<br />

11<br />

2. Tempo <strong>de</strong> reação a queixas<br />

32<br />

Questiona<strong>do</strong>s sobre o tempo médio entre a receção <strong>de</strong> uma queixa por<br />

ruí<strong>do</strong> e a realização <strong>do</strong>s ensaios <strong>de</strong> caracterização da incomodida<strong>de</strong>, cerca<br />

<strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s municípios não respon<strong>de</strong>u a esta questão, o que indicia falta<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> na pronta resposta <strong>do</strong>s serviços, quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s com<br />

queixas por incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa.<br />

Câmaras Municipais que<br />

exigem<br />

Câmaras Municipais que não<br />

exigem<br />

Não respon<strong>de</strong>m<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

68


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

O intervalo <strong>de</strong> tempo entre a receção <strong>de</strong> uma queixa por ruí<strong>do</strong> e a<br />

realização <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> caracterização da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra situa-se, em<br />

53 municípios, entre os 30 e os 60 dias. Para 10 <strong>do</strong>s municípios inquiri<strong>do</strong>s o<br />

tempo é igual ou superior a 90 dias 13 . Apenas 29 municípios indicaram que<br />

este mesmo perío<strong>do</strong> é inferior a 15 dias 14 .<br />

Refira-se que o intervalo entre a receção <strong>de</strong> uma queixa por ruí<strong>do</strong> e a<br />

realização <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> é, na maioria <strong>do</strong>s<br />

casos, longo, situan<strong>do</strong>-se entre os 30 e os 60 dias. À partida, não é possível<br />

estabelecer uma relação entre o tempo <strong>de</strong> espera e a origem <strong>do</strong>s meios, já<br />

que tanto <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r tempo <strong>de</strong> resposta, como nas situações<br />

inversas, a maioria <strong>do</strong>s municípios recorre a entida<strong>de</strong>s acreditadas.<br />

13 São eles: Águeda (90); Amares (90); Celorico da Beira (150); Lousã (120); Miran<strong>de</strong>la (180); Nisa (150);<br />

Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura (180); Santa Maria da Feira (90); São Brás <strong>de</strong> Alportel (90); Seixal (180 a 365).<br />

14 São eles: Aljezur (10); Almada (5 a 15); Alpiarça (10); Alter <strong>do</strong> Chão (10); Benavente (7); Câmara <strong>de</strong><br />

Lobos (5); Campo Maior (15); Cantanhe<strong>de</strong> (15); Carrazeda <strong>de</strong> Ansiães (10); Castro D’Aire (15); Castro<br />

Ver<strong>de</strong> (10); Cinfães (10); Elvas (15); Fafe (15); Faro (2 a 10); Freixo <strong>de</strong> Espada à Cinta (15); Gon<strong>do</strong>mar (7<br />

a 15); Maia (15); Marvão (15); Odivelas (10); Oliveira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s (5); Oliveira <strong>do</strong> Hospital (15); Porto<br />

Moniz (3); Santa Comba Dão (15); Setúbal (10); Valongo (1); Viana <strong>do</strong> Castelo (1); Vieira <strong>do</strong> Minho (15);<br />

Vila Franca <strong>do</strong> Campo (5).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

69


51%<br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Tempo médio <strong>de</strong> reação<br />

Vejamos seguidamente como se compagina a disponibilida<strong>de</strong> entre os<br />

meios necessários e o tempo médio <strong>de</strong> reação às queixas ou <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong><br />

infração aos limites máximos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> legalmente admiti<strong>do</strong>s.<br />


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Cinfães - -<br />

Coruche + -<br />

Elvas + +<br />

Estremoz + -<br />

Fafe + -<br />

Faro - +<br />

Figueira <strong>de</strong> Castelo Rodrigo + -<br />

Freixo <strong>de</strong> Espada à Cinta + -<br />

Golegã - -<br />

Gon<strong>do</strong>mar + +<br />

Maia + -<br />

Marvão - +<br />

Moita + -<br />

Odivelas - +<br />

Oliveira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s + -<br />

Oliveira <strong>do</strong> Hospital - -<br />

Peniche + -<br />

Porto Moniz + -<br />

Reguengos <strong>de</strong><br />

+ -<br />

Monsaraz<br />

Santa Comba Dão + -<br />

Santa Marta <strong>de</strong> Penaguião + -<br />

Setúbal + -<br />

Valongo + -<br />

Viana <strong>do</strong> Castelo - +<br />

Vieira <strong>do</strong> Minho + -<br />

Vila Franca <strong>do</strong> Campo + -<br />

Vizela + -<br />

> 60 dias ADJUDICAÇÃO DAS<br />

MEDIÇÕES A TERCEIROS<br />

EXECUÇÃO POR MEIOS<br />

PRÓPRIOS<br />

Águeda (90 dias) + -<br />

Amares (90 dias) + -<br />

Celorico da Beira (150 dias) + -<br />

Lousã (120 dias) + -<br />

Miran<strong>de</strong>la (180 dias) - -<br />

Nisa (150 dias) + -<br />

Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura (180 dias) + -<br />

Santa Maria da Feira (90 dias) + -<br />

São Brás <strong>de</strong> Alportel (90 dias) + -<br />

Seixal (entre seis meses a um a<strong>no</strong>) + -<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

71


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Secção 4: Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

1. Consi<strong>de</strong>rações gerais<br />

No §2 <strong>do</strong> questionário, foram as câmaras municipais inquiridas acerca<br />

das práticas a<strong>do</strong>tadas <strong>no</strong> exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> fiscalização e controlo<br />

das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias, cuja promoção o legisla<strong>do</strong>r sujeita<br />

ao prévio licenciamento municipal, ou, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> iniciativa municipal, a<br />

um controlo por parte <strong>do</strong> executivo municipal.<br />

Com este <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato foram os municípios questiona<strong>do</strong>s sobre o número<br />

<strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> emitidas <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>, as<br />

circunstâncias <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>ferimento (excecionais/ocorrência<br />

<strong>de</strong>vidamente justificada), a fixação <strong>de</strong> condições para prevenção e<br />

redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, o número <strong>de</strong> licenças cujas condições foram<br />

fiscalizadas, a realização <strong>de</strong> ensaios acústicos e o exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> controlo das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> iniciativa municipal.<br />

Como melhor se explicitará, nem sempre os elementos coligi<strong>do</strong>s são<br />

suscetíveis <strong>de</strong> rigorosa quantificação. Na verda<strong>de</strong>, as respostas pecam<br />

não raro pela falta <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> e completu<strong>de</strong>. Constata-se que os<br />

serviços camarários referem amiú<strong>de</strong> que as licenças <strong>de</strong>feridas se limitam<br />

a circunstâncias excecionais e justificadas, sem que, porém, a análise <strong>do</strong><br />

teor das cópias das licenças que <strong>no</strong>s enviam, permita suportar tal<br />

afirmação. O mesmo se diga quanto à suficiência e a a<strong>de</strong>quação das<br />

medidas fixadas na licença. É frequente que o item 3.3. seja respondi<strong>do</strong><br />

pela positiva, verifican<strong>do</strong>-se, todavia, que as cópias <strong>do</strong>s alvarás<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

72


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

respetivos <strong>de</strong>monstram, sem margem para equívoco ou dúvida, a<br />

ina<strong>de</strong>quação ou insuficiência das medidas fixadas para a prevenção e<br />

redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Tais medidas reconduzem-se, amiú<strong>de</strong>, a advertências <strong>de</strong>ixadas ao<br />

responsável contra as emissões rui<strong>do</strong>sas <strong>de</strong>sproporcionadas ou lesivas<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Usam-se fórmulas genéricas,<br />

reiteradamente reproduzidas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da natureza e duração<br />

<strong>do</strong> evento. Falta a especificação <strong>de</strong> condições concretas, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> precaver ou controlar a incomodida<strong>de</strong> imputada à ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa,<br />

pon<strong>de</strong>radas as suas caraterísticas e as circunstâncias em que ocorre.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>no</strong>s surpreen<strong>de</strong>r, pela negativa, o registo <strong>de</strong> numerosas<br />

licenças que não especificam suficientemente a própria ativida<strong>de</strong> ou<br />

evento rui<strong>do</strong>so. Observou-se, ainda, um número restrito <strong>de</strong> câmaras<br />

municipais que afirmam ter <strong>de</strong>feri<strong>do</strong> licenças especiais, pese embora <strong>no</strong>s<br />

enviem cópias <strong>de</strong> alvarás <strong>de</strong> licença <strong>de</strong> recinto, ou meras guias<br />

contabilísticas ou outros <strong>do</strong>cumentos que não reproduzem nem a licença<br />

nem o alvará <strong>de</strong> licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (ex. <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferimento<br />

exara<strong>do</strong> sobre o próprio requerimento da licença).<br />

O número <strong>de</strong> câmaras municipais que <strong>de</strong>clara ter promovi<strong>do</strong> ações <strong>de</strong><br />

fiscalização <strong>do</strong> cumprimento das condições licenciadas é muito reduzi<strong>do</strong>.<br />

Note-se que, algumas <strong>de</strong> entre estas, tão-pouco fixam verda<strong>de</strong>iras<br />

medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> da<br />

apreciação <strong>do</strong>s alvarás cujas cópias exibem. Na apreciação <strong>de</strong>ste item<br />

(ponto 2.4.), estimou-se a totalida<strong>de</strong> das câmaras municipais que afirma<br />

ter leva<strong>do</strong> a cabo ações <strong>de</strong> fiscalização, abstrain<strong>do</strong>-se da natureza das<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

73


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

condições fixadas <strong>no</strong>s alvarás. Admite-se que po<strong>de</strong>m ser objeto <strong>de</strong><br />

fiscalização o cumprimento <strong>do</strong> horário autoriza<strong>do</strong> (que, isoladamente, não<br />

equivale a uma medida <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> mas po<strong>de</strong><br />

concorrer para a preservação da tranquilida<strong>de</strong>) e outros aspetos tais<br />

como a natureza das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversão levadas a cabo (que po<strong>de</strong>rão<br />

extrapolar as ativida<strong>de</strong>s ou eventos autoriza<strong>do</strong>s) e o mo<strong>do</strong> como se<br />

<strong>de</strong>senrolam.<br />

Os §2.5, 2.6 e 2.7 envolveram uma apreciação mais linear. Cui<strong>do</strong>u-se,<br />

apenas, <strong>de</strong> registar o senti<strong>do</strong> das <strong>de</strong>clarações <strong>do</strong>s serviços camarários, já<br />

que não foram solicita<strong>do</strong>s outros elementos complementares que possam<br />

influir na análise.<br />

Apesar das imprecisões e incongruências registadas nas respostas a<br />

algumas das questões suscitadas, a partir <strong>do</strong> confronto <strong>do</strong> questionário<br />

preenchi<strong>do</strong> com os elementos complementares presta<strong>do</strong>s (cfr.<br />

observações tecidas e cópias <strong>de</strong> alvarás <strong>de</strong> licença anexos), é possível<br />

efetuar uma análise quantitativa da informação prestada pelos 244<br />

municípios, como melhor se ilustra <strong>no</strong> gráfico seguinte (licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>feridas entre 01/12/2009 e 01/12/2010).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

74


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> por município /<br />

a<strong>no</strong><br />

54<br />

11 6 4<br />

2. Volume <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s permite concluir que 22 municípios <strong>de</strong> entre os 244<br />

que colaboraram na resposta ao inquérito não emitiram uma única licença<br />

especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, adiante <strong>de</strong>signada por licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>,<br />

entre 01/12/2009 e 01/12/2010. Estão nestas condições as Câmaras<br />

Municipais <strong>de</strong> Aljezur, Castro Ver<strong>de</strong>, Campo Maior, Carrazeda <strong>de</strong><br />

Ansiães, Chamusca, Figueira <strong>de</strong> Castelo Rodrigo, For<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Algodres,<br />

Fronteira, Lagos, Mértola, Pedrógão Gran<strong>de</strong>, Ponta Delgada, Proença-A-<br />

Nova, Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, São Roque <strong>do</strong> Pico, Sabugal, Satão, Vieira <strong>do</strong> Minho,<br />

Vila <strong>de</strong> Rei, Vila Nova <strong>de</strong> Paiva, Vimioso e Vinhais.<br />

A C. M. <strong>de</strong> Setúbal não respon<strong>de</strong>u a este ponto.<br />

22<br />

109<br />

23<br />

15<br />

0<br />

Entre 1 e 10<br />

Entre 11 e 20<br />

Entre 21 e 100<br />

Entre 101 e 200<br />

Entre 200 e 400<br />

Acima <strong>de</strong> 400<br />

Sem da<strong>do</strong>s disponíveis<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

75


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Belmonte, Corvo, Ferreira <strong>do</strong> Alentejo, Mação, Mesão Frio e Penacova<br />

afirmam ter emiti<strong>do</strong> uma única licença <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>.<br />

As câmaras municipais <strong>de</strong> Arouca e <strong>de</strong> Mourão <strong>de</strong>claram a emissão <strong>de</strong><br />

duas.<br />

As <strong>de</strong> Alvito, Castelo Branco e Torre <strong>de</strong> Moncorvo assinalam a emissão<br />

<strong>de</strong> três licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. A estas acresce Torres <strong>de</strong> Bouro que,<br />

não ten<strong>do</strong> precisa<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> licenças emitidas, viria a informar<br />

verbalmente, em contacto posterior, ter concedi<strong>do</strong> três licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Pinhel <strong>de</strong>clara quatro licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Grân<strong>do</strong>la e<br />

Sousel <strong>de</strong>claram cinco licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Alpiarça, Barreiro,<br />

Póvoa <strong>de</strong> Lanhoso e Sever <strong>do</strong> Vouga assinalam seis licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Constância, Sines e Monchique emitiram oito licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. As câmaras municipais <strong>de</strong> Olhão e <strong>de</strong> S. João da Ma<strong>de</strong>ira<br />

assinalam <strong>de</strong>z licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Declaram ter concedi<strong>do</strong> um número <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

compreendi<strong>do</strong> entre 11 e 20, as câmaras municipais <strong>de</strong> Alter <strong>do</strong> Chão,<br />

Armamar, Arronches, Freixo <strong>de</strong> Espada à Cinta, Manteigas, Mondim <strong>de</strong><br />

Bastos, Montalegre, Montemor-o-Novo, Mora, Porto Moniz, Santa Marta<br />

<strong>de</strong> Penaguião, São Brás <strong>de</strong> Alportel, Tabuaço, Tarouca, Vila Flor.<br />

De entre as câmaras municipais que <strong>de</strong>claram ter emiti<strong>do</strong> uma ou mais<br />

licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, 49% afirmam ter <strong>de</strong>feri<strong>do</strong> entre 20 a 100, ao<br />

passo que 24,3% afirmam ter <strong>de</strong>feri<strong>do</strong> entre 100 e 200.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

76


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Entre as câmaras municipais que licenciaram um maior número <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias contam-se as que conce<strong>de</strong>ram entre 200<br />

a 400 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (5% -Águeda, Braga, Caldas da Rainha,<br />

Covilhã, Madalena, Ponta Delgada, Ponte <strong>de</strong> Lima, Santa Cruz da<br />

Graciosa, Santiago <strong>de</strong> Cacém, Sintra, Vila <strong>do</strong> Con<strong>de</strong>) e as que<br />

conce<strong>de</strong>ram entre 400 a 733 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (2,7%-<br />

Guimarães – 406 /Vila Nova <strong>de</strong> Gaia- 449/Loulé – 497 /Porto – 570<br />

/Tavira – 643 /Lisboa – 733).<br />

Merece acentuada preocupação a emissão <strong>de</strong> nenhuma licença<br />

especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> por parte <strong>de</strong> 22 das câmaras inquiridas. O mesmo se<br />

diga quanto ao reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> licenças <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> por algumas, que<br />

parece indiciar um escasso número <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias<br />

sujeitas a controlo prévio. Isto, <strong>no</strong> pressuposto <strong>de</strong> que <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />

a<strong>no</strong>, em qualquer município, <strong>de</strong>correm necessariamente algumas<br />

festivida<strong>de</strong>s e outros eventos rui<strong>do</strong>sos <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong> ou em<br />

sába<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s, sujeitos ao âmbito <strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong> artigo<br />

15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Parece indicia<strong>do</strong> o não exercício <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> licenciamento das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias, em termos<br />

que justificariam uma <strong>no</strong>va interpelação das câmaras municipais em<br />

questão. A eventual ausência <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s não bastará para justificar a<br />

inação municipal, caben<strong>do</strong> aos serviços camarários sancionar as<br />

infrações e advertir para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter o prévio licenciamento<br />

<strong>do</strong>s eventos suscetíveis <strong>de</strong> gerar incomodida<strong>de</strong>.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Paiva esclarece não existirem queixas <strong>de</strong><br />

eventos rui<strong>do</strong>sos, assinalan<strong>do</strong> que os protestos esmorecem perante a<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

77


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

natureza pouco dura<strong>do</strong>ura da ativida<strong>de</strong>. Sem prejuízo <strong>de</strong> um reduzi<strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> queixas ser um bom indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como são exerci<strong>do</strong>s<br />

os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas, certo é que o<br />

procedimento <strong>de</strong> licenciamento se <strong>de</strong>stina a precaver a incomodida<strong>de</strong> e<br />

que ao não licenciar um único evento a câmara municipal po<strong>de</strong> estar a<br />

fazer letra morta da lei, renuncian<strong>do</strong> ao exercício <strong>de</strong> uma competência<br />

legal.<br />

É <strong>de</strong> assinalar ainda que algumas câmaras <strong>de</strong>claram ter emiti<strong>do</strong> alguns<br />

exemplares <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, envian<strong>do</strong>-<strong>no</strong>s, contu<strong>do</strong>, cópia<br />

<strong>de</strong> alvarás <strong>de</strong> outras licenças ou <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos que não<br />

consubstanciam nenhum alvará <strong>de</strong> licença ou autorização.<br />

Assim, a C.M. <strong>de</strong> São João da Pesqueira <strong>de</strong>clara ter emiti<strong>do</strong> 44 licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> mas faculta, tão só, cópia <strong>de</strong> alvarás <strong>de</strong> «licença <strong>de</strong><br />

recinto improvisa<strong>do</strong>», <strong>no</strong>s termos constantes <strong>do</strong> próprio alvará, sem<br />

fixação <strong>de</strong> quaisquer medidas <strong>de</strong> prevenção ou redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>. A C.M.<br />

<strong>de</strong> Ponta Delgada <strong>de</strong>clara 208 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e contu<strong>do</strong><br />

exibe, a título ilustrativo, guias e <strong>do</strong>cumentos com lançamentos<br />

contabilísticos. Do mesmo mo<strong>do</strong>, a C.M. <strong>de</strong> Vieira <strong>do</strong> Minho apenas<br />

apresenta <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m contabilística, ainda que reporta<strong>do</strong>s ao<br />

funcionamento <strong>de</strong> aparelhos so<strong>no</strong>ros. As câmaras municipais <strong>de</strong><br />

Carrazeda <strong>de</strong> Ansiães e <strong>de</strong> Campo Maior <strong>de</strong>claram uma licença especial<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. A <strong>de</strong> Campo Maior envia cópia <strong>do</strong> texto <strong>do</strong> próprio requerimento<br />

com <strong>de</strong>spacho exara<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferimento (sem aposição <strong>de</strong> condições). A<br />

C.M. <strong>de</strong> Carrazeda <strong>de</strong> Ansiães não enviou <strong>do</strong>cumento ilustrativo,<br />

esclarecen<strong>do</strong> posteriormente os serviços camarários, <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> um<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

78


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

contacto informal, que a licença não foi emitida mas tão só <strong>de</strong>ferida. Estes<br />

elementos revelam um equívoco preocupante em termos <strong>de</strong> compreensão<br />

da lei e sua aplicação.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Chamusca <strong>de</strong>clara a emissão <strong>de</strong> 10 licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> por preenchimento <strong>do</strong> ponto 2.1. <strong>do</strong> quadro <strong>do</strong> questionário.<br />

Todavia, <strong>no</strong> campo das observações afirma não ter emiti<strong>do</strong> alvarás <strong>de</strong><br />

licença já que não existe regulamento municipal <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e o regulamento<br />

das taxas encontra-se suspenso. Não obstante, afirma ter viabiliza<strong>do</strong> 10<br />

eventos festivos num mesmo local, impon<strong>do</strong> a diminuição <strong>do</strong> volume após<br />

as 0h00.<br />

Ao invés, um número <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> licenças po<strong>de</strong> indiciar uma<br />

prática <strong>de</strong> permissão generalizada <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias,<br />

face ao caráter excecional e <strong>de</strong>vidamente justifica<strong>do</strong> das circunstâncias<br />

<strong>de</strong> que a lei faz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>ferimento.<br />

No entanto, os números po<strong>de</strong>m equivocar-<strong>no</strong>s, se abstrairmos da<br />

pon<strong>de</strong>ração da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, <strong>do</strong> número <strong>de</strong> freguesias <strong>do</strong><br />

município e <strong>de</strong> outros fatores (v.g. consi<strong>de</strong>ração das festivida<strong>de</strong>s que por<br />

tradição têm lugar, anualmente, na circunscrição concelhia e <strong>de</strong> obras <strong>de</strong><br />

fomento ou requalificação que por razões imperiosas se prolongaram <strong>no</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>).<br />

Mais revela<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que o número <strong>de</strong> licenças concedidas (50, 100 ou<br />

250) parece ser a natureza <strong>do</strong>s eventos autoriza<strong>do</strong>s e os<br />

condicionalismos, em concreto, fixa<strong>do</strong>s para precaver a incomodida<strong>de</strong><br />

para terceiros. Estes indica<strong>do</strong>res melhor permitirão aferir <strong>do</strong> regular<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

79


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio das ativida<strong>de</strong>s<br />

temporárias.<br />

Também há que consi<strong>de</strong>rar o número <strong>de</strong> eventos autoriza<strong>do</strong>s por local.<br />

A quase generalida<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s municipais <strong>de</strong>sconcentra a<br />

realização <strong>de</strong> eventos temporários, sen<strong>do</strong> assaz diversificada a sua<br />

localização e o beneficiário/requerente da licença.<br />

Assim, a C.M. <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>clara autorizar eventos em cerca <strong>de</strong> 500<br />

locais diferentes, alguns com várias licenças por a<strong>no</strong>, não exce<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

porém o número <strong>de</strong> cinco eventos.<br />

Vemos, contu<strong>do</strong>, com apreensão os indica<strong>do</strong>res transmiti<strong>do</strong>s pelas<br />

seguintes câmaras municipais: <strong>de</strong> Alpiarça (6 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>),<br />

autorizan<strong>do</strong> 12 eventos festivos <strong>no</strong> Largo da Feira; <strong>de</strong> Góis por conce<strong>de</strong>r<br />

várias licenças reportadas «a festa anual com arraial e bailes», <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>curso <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> agosto, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> três licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> a<br />

uma mesma pessoa; a <strong>de</strong> Caldas da Rainha autoriza <strong>no</strong> espaço <strong>de</strong> um<br />

mês 10 eventos numa pastelaria e oito num restaurante; quanto à <strong>de</strong><br />

Ílhavo, a localização <strong>de</strong> diversos eventos promovi<strong>do</strong>s por comissões <strong>de</strong><br />

festas não é i<strong>de</strong>ntificada <strong>no</strong> texto das respetivas licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>; a <strong>de</strong> Moita autoriza 71 eventos requeri<strong>do</strong>s pela Associação <strong>de</strong><br />

Mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Carvalhinho, 102, a pedi<strong>do</strong> da Associação Naval<br />

Sarilhense, 58 promovi<strong>do</strong>s pela Comissão <strong>de</strong> Festas da população <strong>de</strong><br />

Baixa da Banheira e outros 37 pelo Grupo Desportivo e Recreativo <strong>de</strong><br />

Portugal; a <strong>de</strong> Oliveira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s outorga 195 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>,<br />

conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> 95 a um único estabelecimento <strong>de</strong> bebidas; a <strong>de</strong> Vila Nova<br />

da Barquinha autorizou 120 eventos <strong>no</strong> espaço <strong>de</strong> um único<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

80


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

estabelecimento <strong>de</strong> bebidas e <strong>de</strong>clara ter regista<strong>do</strong> 70 outros eventos na<br />

Esplanada Rio Clube, 51 eventos numa pastelaria e 42 eventos num<br />

restaurante.<br />

Já a C.M. <strong>do</strong> Porto emitiu 570 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, autorizan<strong>do</strong>,<br />

na mesma rua ou local, ora 10, ora 14 ora 17 eventos (em três<br />

localizações distintas).<br />

A elevada concentração <strong>de</strong> eventos num mesmo local propicia o<br />

agravamento da incomodida<strong>de</strong> para os mora<strong>do</strong>res que frequentemente se<br />

dirigem ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> reclaman<strong>do</strong> a <strong>de</strong>slocalização da ativida<strong>de</strong><br />

incómoda.<br />

3. Circunstâncias excecionais <strong>de</strong>vidamente justificadas<br />

No artigo 14.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> proíbem-se ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas temporárias nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> edifícios <strong>de</strong> habitação, aos<br />

sába<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s e <strong>no</strong>s dias úteis entre as 20h00 e as 8h00,<br />

<strong>de</strong> escolas, durante o seu horário <strong>de</strong> funcionamento, e <strong>de</strong> hospitais e<br />

estabelecimentos similares.<br />

No artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> condicionam-se as<br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias a autorização, em casos excecionais e<br />

<strong>de</strong>vidamente justifica<strong>do</strong>s, mediante emissão <strong>de</strong> licença especial <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> (licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>). No requerimento da licença <strong>de</strong>ve o<br />

interessa<strong>do</strong> indicar a localização exata ou o percurso <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para o<br />

exercício da ativida<strong>de</strong>, as datas <strong>de</strong> início e termo da ativida<strong>de</strong>, o horário,<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

81


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

as razões que justificam a realização da ativida<strong>de</strong> naquele local e hora, as<br />

medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> aplicável, e outras<br />

informações consi<strong>de</strong>radas relevantes.<br />

Os espetáculos e divertimentos nas vias e lugares públicos regem-se<br />

pelo Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, na redação <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei n.º 204/2012, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> agosto, em articulação com o disposto<br />

<strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

O artigo 30.º <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, dispõe<br />

que as bandas <strong>de</strong> música, grupos filarmónicos, tunas e outros<br />

agrupamentos musicais não po<strong>de</strong>m atuar nas vias e <strong>de</strong>mais lugares<br />

públicos <strong>do</strong>s aglomera<strong>do</strong>s urba<strong>no</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as 0h00 às 9h00. O<br />

funcionamento <strong>de</strong> emissores, amplifica<strong>do</strong>res e outros aparelhos so<strong>no</strong>ros<br />

que projetem sons para as vias e <strong>de</strong>mais lugares públicos, incluin<strong>do</strong><br />

sinais horários, só po<strong>de</strong>rá ocorrer entre as 9h00 e as 22h00, por ocasião<br />

<strong>de</strong> festas tradicionais, espetáculos ao ar livre ou em outros casos<br />

<strong>de</strong>vidamente justifica<strong>do</strong>s, mediante licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Estranha-se a não coincidência <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> horário autoriza<strong>do</strong> para<br />

agrupamentos musicais (9h00-0h00) e equipamentos so<strong>no</strong>ros (9h00-<br />

22h00).<br />

A ocorrência <strong>de</strong> festivida<strong>de</strong>s, divertimentos públicos e espetáculos<br />

rui<strong>do</strong>sos nas vias públicas e <strong>de</strong>mais lugares públicos nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

edifícios <strong>de</strong> habitação, escolares durante o horário <strong>de</strong> funcionamento,<br />

hospitalares ou similares, bem como estabelecimentos hoteleiros e meios<br />

complementares <strong>de</strong> alojamento é permitida quan<strong>do</strong> circunstâncias<br />

excecionais o justifiquem contanto seja emitida pelo presi<strong>de</strong>nte da<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

82


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

câmara municipal, licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Por ocasião <strong>do</strong>s festejos<br />

tradicionais das localida<strong>de</strong>s, admite-se o funcionamento ou exercício<br />

contínuo <strong>de</strong> espetáculos, festivida<strong>de</strong>s e divertimentos rui<strong>do</strong>sos na via<br />

pública, salvo nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> edifícios hospitalares ou similares<br />

(artigo 33.º).<br />

É extremamente reduzi<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> câmaras municipais que<br />

<strong>de</strong>monstra ter emiti<strong>do</strong> licenças em circunstâncias excecionais,<br />

<strong>de</strong>vidamente justificadas (5,9% <strong>do</strong> universo das 222 que <strong>de</strong>claram ter<br />

emiti<strong>do</strong> licenças). Foram poucas as que <strong>no</strong>s enviaram elementos que<br />

revelem ter analisa<strong>do</strong> a natureza <strong>do</strong> evento temporário a licenciar e<br />

condiciona<strong>do</strong> o licenciamento ao seu carater excecional. Na verda<strong>de</strong>,<br />

apenas em situações residuais, o texto das licenças que <strong>no</strong>s foi<br />

faculta<strong>do</strong> contém uma justificação para o seu <strong>de</strong>ferimento.<br />

Assim, <strong>do</strong> teor das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> exibidas pela C.M. <strong>de</strong><br />

Castelo <strong>de</strong> Paiva, consta um item «Justificação», on<strong>de</strong> se estipula tratar-<br />

se <strong>de</strong> «uma ativida<strong>de</strong> recreativa, pontual que contribui para a dinamização<br />

<strong>do</strong> concelho» ou «trata-se <strong>de</strong> uma festa tradicional, realizada há já longa<br />

data». Numa das licenças, além da justificação expressa por alusão a<br />

ativida<strong>de</strong> recreativa, diz-se que «a autorização <strong>de</strong> funcionamento até às<br />

4,00 h enquadra-se <strong>no</strong> prolongamento excecional concedi<strong>do</strong> para a época<br />

<strong>de</strong> Natal e passagem <strong>do</strong> a<strong>no</strong>, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 30.11.2010 <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> Câmara <strong>no</strong>s dias e nas condições nele previstas».<br />

A C.M. <strong>de</strong> Ferreira <strong>do</strong> Zêzere conce<strong>de</strong>u licenças reportadas a festas<br />

tradicionais e à passagem <strong>de</strong> a<strong>no</strong>, <strong>de</strong> cujo teor consta «ten<strong>do</strong> em atenção<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

83


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

o carácter temporário da ativida<strong>de</strong>, o seu simbolismo e tradição para a<br />

localida<strong>de</strong> emite-se a licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>».<br />

Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que o legisla<strong>do</strong>r expressamente se reporta às festas<br />

tradicionais e à realização <strong>de</strong> obras como motivos <strong>de</strong>terminantes da<br />

concessão <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, têm-se necessariamente por<br />

justifica<strong>do</strong>s os licenciamentos <strong>de</strong> obras, em especial quan<strong>do</strong> se trate <strong>de</strong><br />

obras <strong>de</strong> reconheci<strong>do</strong> interesse público. Já quanto às festas tradicionais,<br />

são numerosas as licenças concedidas reportan<strong>do</strong>-se a festivida<strong>de</strong>s<br />

locais, sem se discernir quais as práticas tradicionais implicadas. Sob a<br />

invocação <strong>de</strong> festa religiosa ou popular, cobrem-se numerosas ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> entretenimento (v.g. música ao vivo, baile, Karaoke, espetáculo, fogo<br />

<strong>de</strong> artifício, funcionamento <strong>de</strong> emissores e equipamento so<strong>no</strong>ro).<br />

Um número avulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> câmaras municipais sustenta ter emiti<strong>do</strong><br />

licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> justificadas pela natureza <strong>do</strong> evento. Verifica-<br />

se, contu<strong>do</strong>, que os eventos licencia<strong>do</strong>s se reconduzem a ativida<strong>de</strong>s<br />

díspares: bailes, festas, espetáculos, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> iniciativa <strong>de</strong><br />

associações <strong>de</strong> natureza cultural, recreativa, <strong>de</strong>sportiva, académica, sem<br />

que se mostre justifica<strong>do</strong> ou tão pouco indicia<strong>do</strong> o carater excecional <strong>do</strong><br />

evento. Entre as licenças cujo teor <strong>no</strong>s foi remeti<strong>do</strong>, contam-se também,<br />

ainda que em número bastante inferior, licenças <strong>de</strong> obras (em especial<br />

incidin<strong>do</strong> em estradas), as quais temos por justificadas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a<br />

expressa previsão legal (artigo 15.º, n.º 8 e 9 <strong>do</strong> RGR). Na interpretação<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>rou-se não justificada a prática municipal <strong>de</strong> emissão<br />

das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> nas circunstâncias em que a câmara<br />

municipal <strong>no</strong>s faculta, a par <strong>de</strong> um escasso número <strong>de</strong> licenças especiais<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

84


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> incidin<strong>do</strong> sobre obras <strong>de</strong> interesse coletivo, um número mais<br />

significativo <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> reportadas a outros eventos,<br />

<strong>de</strong> diversão.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Ponta <strong>do</strong> Sol faculta-<strong>no</strong>s seis licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

autorizan<strong>do</strong> «missa <strong>de</strong> parto» e natal em sucessivos dias, com expressa<br />

justificação <strong>de</strong> que a licença está autorizada, uma vez que se trata <strong>de</strong> um<br />

evento pontual, realizada num curto espaço <strong>de</strong> tempo, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada<br />

uma tradição ancestral enraizada na cultura ma<strong>de</strong>irense e da população<br />

da Ponta <strong>do</strong> Sol, em particular.<br />

A C.M. <strong>do</strong> Porto estabeleceu critérios vários para <strong>de</strong>ferir. A proximida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s hospitalares e escolares influencia negativamente. A licença<br />

diz-se justificada com base <strong>no</strong> valor cultural ou histórico <strong>do</strong> evento ou <strong>no</strong><br />

seu interesse para a cida<strong>de</strong>.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Lisboa consi<strong>de</strong>ra justificadas obras construção civil bem<br />

como festas tradicionais, culturais e académicas, sempre que sejam<br />

consi<strong>de</strong>radas pelo município <strong>de</strong> interesse para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Faro informa-<strong>no</strong>s <strong>de</strong> que as licenças são emitidas por se<br />

enten<strong>de</strong>r benéfica a animação <strong>no</strong>turna por meio das festas tradicionais e<br />

espetáculos musicais, não só para o turismo e população local, como<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento económico e cultural <strong>do</strong> concelho<br />

A C.M. <strong>de</strong> Viana <strong>do</strong> Castelo emitiu 163 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>, 76 para eventos e 87 para arraiais, sufragan<strong>do</strong> que o<br />

requisito da justificação se basta com a invocação das razões que<br />

justificam a realização da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa naquele local e hora.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

85


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

A C.M. <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Barquinha conce<strong>de</strong>u 146 licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>, invocan<strong>do</strong> como circunstâncias especiais e justificadas a realização<br />

<strong>de</strong> espetáculos com música ao vivo e ‘karaoke’, que se encontra na base<br />

<strong>de</strong> todas as autorizações concedidas.<br />

Já a C.M. <strong>de</strong> Mourão consi<strong>de</strong>ra circunstâncias excecionais<br />

simplesmente as festas <strong>de</strong> casamento.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Madalena explicita como justificação circunstâncias e motivos<br />

vários – dinamização da localida<strong>de</strong>, «Dia <strong>de</strong> Amigas», festa <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora das Can<strong>de</strong>ias, aniversário <strong>do</strong> estabelecimento, época tradicional<br />

<strong>do</strong> Carnaval, comemoração <strong>do</strong> Dia <strong>do</strong> Pai, inauguração <strong>de</strong> esplanada,<br />

época tradicional, Páscoa, angariação <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, festas <strong>do</strong> Espírito<br />

Santo, <strong>de</strong>sfile. Por vezes a justificação da emissão da licença especial <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> basta-se com a invocação <strong>do</strong> evento autoriza<strong>do</strong>.<br />

A C.M. da Lousã estipula <strong>no</strong> articula<strong>do</strong> <strong>do</strong> alvará «razões que justificam<br />

a realização da ativida<strong>de</strong> naquele local e hora», o qual, porém, se<br />

apresenta em branco nas cópias que <strong>no</strong>s envia.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Portimão informa-<strong>no</strong>s <strong>de</strong> que faz prece<strong>de</strong>r a emissão da ler<br />

da análise <strong>do</strong>s objetivos pretendi<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> impacte negativo da ativida<strong>de</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> em conta a sua localização e o horário. Sustenta o executivo<br />

municipal que o cumprimento rigoroso da exigência <strong>de</strong> fundamentação<br />

conduziria ao in<strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> quase to<strong>do</strong>s os pedi<strong>do</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

86


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

4. Condições <strong>de</strong> contenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> nas licenças especiais<br />

Nos termos <strong>do</strong> artigo 15.º <strong>do</strong> RGR ao emitir a licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

(licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>), o município fixa as condições <strong>de</strong> exercício<br />

da ativida<strong>de</strong> relativamente à sua localização, data e horário, razões<br />

<strong>de</strong>terminantes, medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>. A fixação <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> é um instrumento crucial para<br />

o bom <strong>de</strong>sempenho das atribuições municipais <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> controlo <strong>do</strong><br />

ruí<strong>do</strong>. A prática <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que não<br />

envolve a discriminação <strong>de</strong> condicionalismos para preservação da<br />

tranquilida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong>svirtua o fim <strong>do</strong> licenciamento.<br />

Os números já apresenta<strong>do</strong>s ilustram a afirmação <strong>de</strong> que também neste<br />

ponto é insatisfatória a prática reiterada <strong>do</strong>s municípios.<br />

Na verda<strong>de</strong>, apenas cerca <strong>de</strong> 10,8% das câmaras municipais que<br />

afirmam ter emiti<strong>do</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> estabelecem <strong>no</strong> teor<br />

<strong>do</strong> alvará medidas a<strong>de</strong>quadas a precaver ou a <strong>de</strong>belar a<br />

incomodida<strong>de</strong> para terceiros.<br />

Verifica-se que as câmaras municipais ou se abstêm pura e<br />

simplesmente <strong>de</strong> fixar condições ou apenas advertem para a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> não emitir emissões <strong>de</strong>sproporcionadas, ou <strong>de</strong> respeitar os limites<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

87


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

acústicos previstos <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, reproduzin<strong>do</strong> <strong>no</strong> teor<br />

<strong>do</strong>s alvarás o preceitua<strong>do</strong> na lei 15 .<br />

Acresce que, não raro, as câmaras municipais <strong>de</strong>ferem licenças para<br />

eventos sem especificarem <strong>de</strong>vidamente a natureza da ativida<strong>de</strong> e a<br />

sua exata localização. As condições fixadas, na larga maioria <strong>do</strong>s casos,<br />

não refletem a apreciação das características da ativida<strong>de</strong>, circunstâncias<br />

em que se <strong>de</strong>senrola, nem sequer <strong>do</strong> potencial grau <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong><br />

para terceiros.<br />

Observa-se a inserção sistemática <strong>de</strong> idênticas condições nas licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> concedidas, ainda que para eventos diferencia<strong>do</strong>s<br />

quanto à sua natureza e localização. As licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

pecam por <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> sucintas, nem sempre permitin<strong>do</strong> aferir das<br />

ativida<strong>de</strong>s que o evento autoriza<strong>do</strong> integra e, muito me<strong>no</strong>s, <strong>do</strong> seu<br />

impacto so<strong>no</strong>ro.<br />

Assim, por exemplo, todas as licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que a C.M. <strong>de</strong><br />

Gouveia apresenta contêm a epígrafe «realização <strong>de</strong> espetáculos<br />

<strong>de</strong>sportivos e divertimentos públicos nas vias, jardins e <strong>de</strong>mais lugares<br />

públicos ao ar livre», e não especificam a ativida<strong>de</strong> autorizada. O local tão<br />

pouco é i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>, constan<strong>do</strong> da licença a mera indicação <strong>do</strong><br />

requerente (seja associação ou comissão <strong>de</strong> festas, seja um particular),<br />

15 Na sua anterior redação dispunha o artigo 30.º n.º 3, alínea b) <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 310/2002, <strong>de</strong><br />

18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro: «são proibidas as emissões <strong>de</strong>sproporcionalmente rui<strong>do</strong>sas que não cumpram<br />

os limites estabeleci<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>». Na redação introduzida pelo Decreto-<br />

-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro, o funcionamento <strong>de</strong> aparelhos so<strong>no</strong>ros que projetem sons para<br />

a via e outros lugares públicos é condiciona<strong>do</strong> ao cumprimento <strong>do</strong>s limites estabeleci<strong>do</strong>s <strong>no</strong> n.º 5<br />

<strong>do</strong> artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a licença for concedida por perío<strong>do</strong><br />

superior a um mês.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

88


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>do</strong> dia e da hora e da obrigação da organização a<strong>do</strong>tar «medidas e<br />

precauções necessárias ao cumprimento das <strong>no</strong>rmas que respeitem a<br />

preservação da natureza, o ambiente e a segurança <strong>do</strong>s intervenientes e<br />

<strong>do</strong> público». São fixa<strong>do</strong>s limites horários que alternam entre as 2h00 , as<br />

4h00, as 7h00 e as 7h30 da manhã. Idênticas práticas são a<strong>do</strong>tadas pela<br />

C.M. <strong>de</strong> Manteigas que <strong>de</strong>fere licenças para divertimentos públicos sem<br />

i<strong>de</strong>ntificar o evento, com horários <strong>de</strong> encerramento que oscilam entre as<br />

24h00 e as 8h00 - às 24h00, 2h00, 3h00, 4h00, 5h00, 6h00 ou 8h00 16 .<br />

A C.M. da Guarda transmite o teor <strong>de</strong> uma licença emitida em <strong>no</strong>me <strong>de</strong><br />

Associação Académica da Guarda, autorizan<strong>do</strong> a «realização da Semana<br />

Académica da Guarda», sem especificar o perío<strong>do</strong> autoriza<strong>do</strong> (nem datas<br />

nem horas). Apenas se menciona que a utilização <strong>de</strong> fogo artifício terá<br />

lugar em dia e hora <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s, sem especificação <strong>de</strong> outras<br />

ativida<strong>de</strong>s. Uma outra autoriza a realização da III Feira Social <strong>de</strong> São<br />

Miguel da Guarda, em dias e horas estabeleci<strong>do</strong>s, sem conter referência<br />

a qualquer ativida<strong>de</strong> concreta.<br />

Estão nestas condições numerosas licenças emitidas por outras<br />

câmaras municipais que, ao mencionarem o evento autoriza<strong>do</strong>, referem<br />

apenas «Feira da Solidarieda<strong>de</strong>», «música ao vivo», «baile <strong>de</strong><br />

16 Vem a C.M. <strong>de</strong> Manteigas, <strong>no</strong> âmbito da divulgação <strong>do</strong> relatório preliminar, apresentar cópia <strong>de</strong> um<br />

alvará <strong>de</strong> uma ler data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 25.10.2012, alegan<strong>do</strong> que o mesmo indica «a localização, hora <strong>de</strong> início e<br />

termo da ativida<strong>de</strong>, bem como a ativida<strong>de</strong> a realizar». Preten<strong>de</strong> não correspon<strong>de</strong>r à verda<strong>de</strong> que o<br />

executivo municipal <strong>de</strong>fira licenças <strong>de</strong> divertimentos públicos, sem i<strong>de</strong>ntificar os eventos. Analisa<strong>do</strong> o<br />

teor <strong>do</strong> alvará cuja reprodução <strong>no</strong>s é facultada em suporte <strong>de</strong>sta pretensão, constata-se que ali se<br />

dispõe ser o Grupo Popular Cultural e Recreativo da Praça da Louça autoriza<strong>do</strong> a realizar a 8.ª Festa da<br />

Castanha, que <strong>de</strong>correrá entre as 16h00 e as 22h00 <strong>de</strong> 28.10.2012, na Rua <strong>do</strong> Triunfo, Praça da Louça.<br />

Contu<strong>do</strong>, nada é referi<strong>do</strong> quanto às ativida<strong>de</strong>s em concreto promovidas <strong>no</strong> âmbito da iniciativa «8.ª<br />

Festa da Castanha – 2012», e ao seu impacto so<strong>no</strong>ro, parecen<strong>do</strong> excessiva a margem <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

concedida ao promotor.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

89


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

estudantes», «bandas», «arraial <strong>de</strong> Cristo Rei», «fogo-<strong>de</strong>-artifício» ou<br />

«exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa».<br />

São numerosas as licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> sem imposição <strong>de</strong><br />

nenhuma medida <strong>de</strong> prevenção ou redução. Por vezes, consta <strong>do</strong> próprio<br />

alvará o item medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> a observar, mas<br />

o campo fica por preencher. Em idênticas condições está uma licença<br />

concedida à Parque Escolar, EPE, por um a<strong>no</strong>, pela C.M. da Figueira da<br />

Foz, apenas condicionada ao cumprimento <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong><br />

17 <strong>de</strong> janeiro.<br />

A C.M. da Horta insere <strong>no</strong> teor da licença que autoriza a realização <strong>de</strong><br />

festa ou baile, a seguinte menção- «Âmbito: to<strong>do</strong>s os acontecimentos<br />

relaciona<strong>do</strong>s com o evento <strong>de</strong>scrito».<br />

A C.M. <strong>de</strong> Loures emitiu 195 licenças, para ativida<strong>de</strong>s muito<br />

diversificadas (v.g. comboio infantil, pista automóveis adulto, homenagem,<br />

oração, prova <strong>de</strong> atletismo, cicloturismo, 24 horas futebol 7, festival <strong>de</strong><br />

folclore, baile, karaoke, garraiada <strong>no</strong>turna, festas, arraial, romaria e bailes,<br />

<strong>de</strong>sfile infantil <strong>de</strong> Carnaval, convívio motard, <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> música portuguesa,<br />

4.º encontro <strong>de</strong> tradições, Festa da Flor, Feira <strong>de</strong> Sabores, passeio <strong>de</strong><br />

BTT, Santos Populares, recriação histórica, concerto, 22.ª semana <strong>do</strong><br />

Alentejo, magusto, gravação Morangos com Açúcar, partida <strong>de</strong> ténis <strong>de</strong><br />

mesa, festas anuais, circo, exposição, Volta ao Mun<strong>do</strong> em 63 minutos),<br />

absten<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> melhor i<strong>de</strong>ntificar e caraterizar o evento autoriza<strong>do</strong>. Além<br />

<strong>de</strong> não se encontrar nenhuma justificação, as condições impostas são<br />

genéricas e manifestamente insuficientes (referência aos limites <strong>do</strong> RGR;<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

90


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

quan<strong>do</strong> existam, as colunas <strong>de</strong> som altifalantes não <strong>de</strong>vem estar voltadas<br />

para as habitações).<br />

Contu<strong>do</strong>, os alvarás cujas cópias <strong>no</strong>s são dadas a conhecer por esta<br />

Câmara <strong>Municipal</strong>, ilustram a concessão <strong>de</strong> um número me<strong>no</strong>r <strong>de</strong><br />

licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que se afiguram justificadas e com condições<br />

bastantes, reportan<strong>do</strong>-se a trabalhos <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> Hospital <strong>de</strong> Loures<br />

e acessos e outras obras (<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> afixar a licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

estaleiro da obra, aferição da eficácia das medidas <strong>de</strong> proteção acústica<br />

implementadas e introdução caso se justifique, <strong>de</strong> medidas<br />

complementares, justificadas com base <strong>no</strong> programa <strong>de</strong> monitorização).<br />

A C.M. <strong>de</strong> Olhão emitiu uma licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> para «música ao<br />

vivo» por <strong>no</strong>ve dias, entre as 22h00 e as 4h00, sem fixar qualquer medida<br />

<strong>de</strong> prevenção ou redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

A C.M. <strong>do</strong> Porto enviou-<strong>no</strong>s várias licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> com<br />

condições insuficientes ou inexistentes. Verifica-se que <strong>no</strong> item medidas<br />

prevenção/redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, consta apenas «<strong>no</strong> caso <strong>de</strong> reclamações<br />

<strong>de</strong>ve reduzir-se o volume <strong>de</strong> som sempre que solicita<strong>do</strong> pelos<br />

mora<strong>do</strong>res». No item outras medidas a a<strong>do</strong>tar consta «informar a<br />

população resi<strong>de</strong>nte na área envolvente da realização <strong>do</strong> evento e <strong>do</strong> seu<br />

horário». Das licenças <strong>de</strong> obras consta apenas a obrigação <strong>de</strong> os<br />

equipamentos cumprirem o disposto <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 221/2006, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vembro e <strong>de</strong> informação da população resi<strong>de</strong>nte na área envolvente.<br />

Por vezes, a informação técnica respetiva diz não ser possível impor<br />

medidas <strong>de</strong> prevenção eficazes. De to<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong>, os condicionalismos<br />

impostos parecem parcos.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

91


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Em regra, as câmaras municipais não se abstêm <strong>de</strong> fixar limites<br />

horários. Todavia, nem sempre os mesmos permitem precaver a<br />

incomodida<strong>de</strong> para terceiros, seja por permitirem o funcionamento<br />

<strong>de</strong>masia<strong>do</strong> alarga<strong>do</strong>, seja porque sempre se imporia a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

medidas complementares. Saúda-se, <strong>no</strong> entanto, a imposição <strong>de</strong> limites<br />

mais restritos, como suce<strong>de</strong> com a C.M. <strong>de</strong> Loures que <strong>no</strong>s informa <strong>de</strong><br />

que, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> o evento se realizar ao <strong>do</strong>mingo ou vésperas <strong>de</strong> dias<br />

<strong>no</strong>rmais <strong>de</strong> trabalho, a licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> não autorizará a ativida<strong>de</strong><br />

rui<strong>do</strong>sa para além das 23h00. Algumas câmaras impõem horários<br />

conti<strong>do</strong>s, não exce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, em regra, as 24 horas (por ex. C.M. <strong>de</strong><br />

Melgaço), o que naturalmente restringe o perío<strong>do</strong> da incomodida<strong>de</strong>,<br />

salvaguardan<strong>do</strong> a tranquilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. A C.M. <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Cavaleiros afirma que as condições impostas mais frequentemente se<br />

reportam à fixação <strong>de</strong> um horário máximo, não autorizan<strong>do</strong> o<br />

prolongamento além da 1 hora da madrugada. Outras câmaras municipais<br />

condicionam a autorização <strong>de</strong> eventos à redução <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ou<br />

<strong>do</strong> volume <strong>de</strong> som ou à anulação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> certa hora.<br />

Refira-se que, <strong>no</strong> entanto, foram encontradas situações em que se<br />

licenciam vários eventos musicais com funcionamento contínuo <strong>no</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, prolongan<strong>do</strong>-se pelo diur<strong>no</strong>, ou sem imposição <strong>de</strong><br />

qualquer horário, algumas prolongan<strong>do</strong>-se por alguns dias, sem que<br />

sejam estabelecidas medidas preventivas e <strong>de</strong> contenção (v.g. Anadia,<br />

Monchique, Mondim <strong>de</strong> Basto).<br />

Entre as condições manifestamente ina<strong>de</strong>quadas, contam-se,<br />

<strong>de</strong>signadamente, a estipulação, numa licença <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> foguetes,<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

92


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong> que «serão lança<strong>do</strong>s apenas os foguetes necessários à realização <strong>do</strong><br />

evento» (Angra <strong>do</strong> Heroísmo), «a requerente compromete-se a atenuar os<br />

efeitos provoca<strong>do</strong>s pelo ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>corrente da realização <strong>do</strong> evento»,<br />

«manter a ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa afastada <strong>de</strong> edifícios hospitalares e<br />

escolares», «observância <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> artigo 4.º <strong>do</strong> RGR», «<strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

a<strong>do</strong>tar medidas <strong>de</strong> prevenção». Outra condicionante que se encontra <strong>no</strong><br />

texto <strong>de</strong> algumas é a <strong>de</strong> que «<strong>de</strong>vem ser respeita<strong>do</strong>s os limites e<br />

requisitos acústicos fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> art.15.º <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17<br />

<strong>de</strong> janeiro». Esta cláusula não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>spropositada se<br />

aten<strong>de</strong>rmos a que a <strong>no</strong>rma em questão apenas estabelece limites à<br />

realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias por perío<strong>do</strong> superior a um<br />

mês e a que as ativida<strong>de</strong>s autorizadas são <strong>de</strong> curta duração (algumas<br />

horas, envolven<strong>do</strong> um ou <strong>do</strong>is dias).<br />

Já se estimam condições a<strong>de</strong>quadas por prosseguirem o objetivo da<br />

prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, «divulgação <strong>de</strong> música em senti<strong>do</strong> contrário ao<br />

aglomera<strong>do</strong>, a limitação da potência das fontes so<strong>no</strong>ras, localização e<br />

orientação das saídas <strong>de</strong> som, utilizar apenas colunas <strong>de</strong> pequena<br />

potência, espalhadas pela zona, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a que o evento audível por<br />

to<strong>do</strong>s os que se encontram <strong>no</strong> local». As licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

obras contêm, em <strong>no</strong>rma, condições concretas, v.g. cumprimento <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> minimização e pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> monitorização previstos na DIA,<br />

informação aos mora<strong>do</strong>res, proibição <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> certos equipamentos,<br />

limitação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s mais rui<strong>do</strong>sas ao perío<strong>do</strong> diur<strong>no</strong>.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Lisboa impõe frequentemente como condições as restrições<br />

<strong>de</strong> horário, «limitações <strong>de</strong> campo so<strong>no</strong>ro, orientação <strong>de</strong> fontes so<strong>no</strong>ras,<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

93


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

restrição à utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> equipamento e maquinaria,<br />

informação da população, sensibilização, condicionamento nas obras a<br />

efectuar». Exibe licenças <strong>de</strong> obras incidin<strong>do</strong> <strong>no</strong> IC17/CRIL, obra <strong>no</strong> Metro,<br />

espetáculo, dança, Passagem <strong>de</strong> A<strong>no</strong>, montagem <strong>de</strong> lona com recurso a<br />

grua, estipulan<strong>do</strong> horários diversos - 14h00, 20h00, 24h00,3h30m, 4h00.<br />

A maior parte das licenças facultadas estipulam condições a<strong>de</strong>quadas,<br />

encontran<strong>do</strong>-se todavia quatro licenças sem condições bastantes<br />

(campanha fotográfica El Corte Inglês, comemoração Passagem <strong>de</strong> A<strong>no</strong>,<br />

montagem <strong>de</strong> lona com recurso a grua <strong>no</strong> estabelecimento El Corte<br />

Inglês, construção <strong>de</strong> um hotel.) 17<br />

5. <strong>Boas</strong> práticas administrativas em matéria <strong>de</strong> licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

Assinalam-se algumas práticas que <strong>no</strong>s parecem positivas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

servir <strong>de</strong> paradigma ao contribuir para o melhor controlo das ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas temporárias.<br />

Algumas licenças preveem a obrigação <strong>de</strong> o promotor dar conhecimento<br />

da própria emissão <strong>de</strong> licença às autorida<strong>de</strong>s policiais.<br />

17 Assim, <strong>no</strong> item «outras condições da licença» <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> lona autoriza-se o<br />

funcionamento <strong>de</strong> equipamentos mecânicos e elétricos e a montagem <strong>de</strong> lona com recurso a<br />

grua, sem imposição <strong>de</strong> condições. O mesmo se aplica a licença emitida a favor <strong>de</strong> Alutel-<br />

Exploração <strong>de</strong> Hotéis e Restauração, Lda., que autoriza a construção <strong>de</strong> um hotel na Avenida da<br />

República, entre 17.12.2010 e 30.06.2011, entre as 20h00 e as 22h00, aos dias úteis e entre as 8<br />

h00 e as 18h00, aos sába<strong>do</strong>s. É expressamente permiti<strong>do</strong> o funcionamento <strong>de</strong> equipamentos<br />

mecânicos e elétricos e a utilização <strong>de</strong> grua e equipamento motoriza<strong>do</strong>, sem afixação <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

94


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Outras preveem o procedimento a a<strong>do</strong>tar em caso <strong>de</strong> reclamação, tal<br />

como, diminuir imediatamente o volume <strong>do</strong> som. A C.M. <strong>de</strong> Caldas da<br />

Rainha estipula que a licença po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada sem efeito <strong>no</strong> caso <strong>de</strong><br />

receção <strong>de</strong> reclamação por excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>no</strong> interior e <strong>no</strong> exterior da<br />

instalação. A C.M. <strong>de</strong> Nelas dispõe na licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que<br />

«caso alguém da vizinhança reclame <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>, <strong>de</strong>verá a<strong>do</strong>tar<br />

as medidas a<strong>de</strong>quadas para reduzir na fonte <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> e se as autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais o enten<strong>de</strong>rem, <strong>de</strong>verá cessar a festa <strong>de</strong> imediato».<br />

Consta numa licença concedida pela C.M. <strong>de</strong> Marvão: «a população<br />

manifesta o seu <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong> com o excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Deverá V. Exa<br />

controlar o excesso a partir das 3.00 h, ou limitar, <strong>no</strong> futuro, a licença <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> até às 2 horas». A C.M. <strong>de</strong> Odivelas estipula a redução da emissão<br />

so<strong>no</strong>ra ou a cessação da ativida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> seja reclamada, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong><br />

a publicitação <strong>do</strong> alvará <strong>no</strong> exterior, divulgan<strong>do</strong> os condicionantes e a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suspensão a pedi<strong>do</strong>.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Portimão esclarece que em caso <strong>de</strong> reclamações, em regra<br />

não emite outra licença para a mesma ativida<strong>de</strong> <strong>no</strong> mesmo local.<br />

A C.M. <strong>de</strong> São Brás <strong>de</strong> Alportel exibe um aditamento a uma licença<br />

especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> conta <strong>de</strong> que, por motivo <strong>de</strong> reclamações<br />

apresentadas na primeira <strong>no</strong>ite <strong>do</strong> evento, por incumprimento <strong>do</strong> horário<br />

autoriza<strong>do</strong>, veio a ser reduzi<strong>do</strong> o horário autoriza<strong>do</strong> nas duas <strong>no</strong>ites<br />

subsequentes.<br />

A C.M. <strong>de</strong> São João da Ma<strong>de</strong>ira faz saber <strong>no</strong> alvará que <strong>de</strong>ve ser<br />

assegura<strong>do</strong> o contacto permanente com os responsáveis pelo evento<br />

para que, em caso <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>, seja <strong>de</strong> imediato tomada conta da<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

95


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ocorrência e restabeleci<strong>do</strong> o bem-estar da população. É i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> na<br />

licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> o responsável e o seu telefone móvel.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Gon<strong>do</strong>mar exibe licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> das quais consta<br />

o seguinte: «se a ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa provocar ruí<strong>do</strong> na vizinhança, <strong>de</strong>verão<br />

as autorida<strong>de</strong>s policiais, caso sejam chamadas, or<strong>de</strong>nar a redução <strong>do</strong><br />

volume <strong>de</strong> som <strong>do</strong> sistema so<strong>no</strong>ro por forma a cessar <strong>de</strong> imediato a<br />

incomodida<strong>de</strong> e comunicar à autarquia».<br />

A C.M. <strong>de</strong> Estarreja dispõe que as reclamações são tratadas com<br />

atendimento rápi<strong>do</strong>, mediante o contacto pessoal <strong>do</strong> responsável.<br />

Do teor <strong>de</strong> outras licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que a C.M.<br />

<strong>de</strong> Faro se reserva o direito <strong>de</strong> revogar a licença por reclamações<br />

fundamentadas por incomodida<strong>de</strong>. Em locais com anteriores<br />

reclamações, po<strong>de</strong>m ser impostas condições mais rígidas ou ser<br />

in<strong>de</strong>feri<strong>do</strong> um <strong>no</strong>vo requerimento.<br />

Secção 5: Fiscalização<br />

1. Fiscalização <strong>do</strong>s eventos rui<strong>do</strong>sos<br />

Importa, em to<strong>do</strong> o caso, consi<strong>de</strong>rar que o <strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> licenças<br />

especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, com fixação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> prevenção e redução da<br />

incomodida<strong>de</strong> não basta, para assegurar o regular controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

imputa<strong>do</strong> a estas ativida<strong>de</strong>s. Na verda<strong>de</strong>, basta que sejam<br />

<strong>de</strong>srespeita<strong>do</strong>s os condicionalismos horários ou outras condições<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

96


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

estabelecidas para <strong>de</strong>belação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, ou que as emissões so<strong>no</strong>ras se<br />

propaguem em volume a<strong>no</strong>rmal eleva<strong>do</strong>, para que o evento possa causar<br />

incomodida<strong>de</strong> significativa, afetan<strong>do</strong> o bem-estar e a tranquilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

que resi<strong>de</strong>m nas imediações. A fiscalização urge, em particular, quan<strong>do</strong><br />

seja apresentada queixa por ruí<strong>do</strong> excessivo. Nem sempre é fácil<br />

provi<strong>de</strong>nciar pelo exercício <strong>de</strong> fiscalização em concomitância com o<br />

<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s temporárias. Não raro os eventos assumem uma<br />

expressão pontual, não se prolongan<strong>do</strong> para além <strong>de</strong> algumas horas. A<br />

escassez <strong>de</strong> meios e o horário <strong>no</strong>tur<strong>no</strong> em que <strong>de</strong>correm as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

diversão colocam dificulda<strong>de</strong>s acrescidas às câmaras municipais que se<br />

vêm impedidas <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar por uma pronta fiscalização.<br />

Por este motivo, é <strong>de</strong> incentivar a iniciativa <strong>de</strong> requerer a colaboração<br />

das autorida<strong>de</strong>s policiais, facultan<strong>do</strong>-lhes conhecimento <strong>do</strong> teor <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os alvarás <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> concedidas.<br />

O legisla<strong>do</strong>r atribui expressamente à autorida<strong>de</strong> policial a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminar a suspensão das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias não<br />

licenciadas, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> lavrar auto <strong>de</strong> ocorrência a remeter ao presi<strong>de</strong>nte da<br />

câmara municipal para instauração <strong>de</strong> procedimento contraor<strong>de</strong>nacional<br />

(cfr. artigo 18.º).<br />

A fiscalização <strong>do</strong> cumprimento das <strong>no</strong>rmas relativas a ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas temporárias é cometida às autorida<strong>de</strong>s policiais e à polícia<br />

municipal, <strong>no</strong> âmbito das respetivas atribuições e competências (artigo<br />

26.º, alínea e), <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>).<br />

A intervenção <strong>do</strong>s agentes policiais permitirá controlar a titularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

licença e o cumprimento <strong>de</strong> alguns condicionalismos fixa<strong>do</strong>s. Mas não<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

97


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

dispensa o acompanhamento pelos serviços municipais, em melhor<br />

posição <strong>de</strong> ajuizar <strong>do</strong> respeito por condições técnicas porventura fixadas<br />

e <strong>do</strong> impacto ambiental <strong>do</strong> evento.<br />

Compreen<strong>de</strong>-se que os serviços não possam exercer uma fiscalização<br />

sistemática <strong>no</strong> terre<strong>no</strong>. Todavia é forçoso que não renunciem aos po<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> fiscalização, caben<strong>do</strong>-lhes exercer maior vigilância perante ativida<strong>de</strong>s<br />

suscetíveis <strong>de</strong> causar maior incomodida<strong>de</strong>, em função da potência <strong>do</strong><br />

equipamento, das especiais condições <strong>de</strong> propagação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> (quanto a<br />

eventos na via pública e <strong>de</strong>mais lugares públicos ou em espaços abertos),<br />

<strong>do</strong> historial <strong>de</strong> reclamações e <strong>de</strong> outras circunstâncias <strong>de</strong> que tenham<br />

conhecimento <strong>no</strong> exercício das suas funções. Para o efeito, contam com a<br />

disponibilida<strong>de</strong> das polícias municipais e <strong>do</strong>s agentes da Polícia <strong>de</strong><br />

Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana.<br />

Assim, parece-<strong>no</strong>s manifestamente escasso o número <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais que, <strong>de</strong> entre as inquiridas, <strong>de</strong>claram ter leva<strong>do</strong> a cabo ações<br />

<strong>de</strong> fiscalização das ativida<strong>de</strong>s licenciadas (28 entre as 222, i.e., perfazen<strong>do</strong><br />

12,7%).<br />

Assinala-se que cerca <strong>de</strong> 84% (187 em 222) não fiscalizaram, tanto<br />

quanto <strong>no</strong>s é da<strong>do</strong> constatar, a observância <strong>de</strong> uma única licença <strong>de</strong><br />

entre as emitidas <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>. Sete não prestaram resposta a<br />

este item (3,2%). O controlo parece esgotar-se na própria atribuição da<br />

licença.<br />

Entre as 28 câmaras municipais que <strong>de</strong>claram ter promovi<strong>do</strong> uma ou<br />

mais fiscalizações, 10 <strong>de</strong>claram ter feito um ou mais ensaios acústicos (o<br />

que equivale a 35,7% <strong>do</strong> universo que <strong>de</strong>clara ter fiscaliza<strong>do</strong>). A escassez<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

98


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong> meios técnicos e huma<strong>no</strong>s que viabilizem a realização <strong>de</strong> ensaios<br />

acústicos permite explicar o número extremamente reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> medições<br />

técnicas. 18<br />

Lisboa parece ser a câmara municipal que mais ações <strong>de</strong> fiscalização<br />

levou a cabo, <strong>de</strong>claran<strong>do</strong> ter emiti<strong>do</strong> 733 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, cujo<br />

cumprimento das condições fiscalizou cerca <strong>de</strong> 40%, e realizou ensaios<br />

em 20% <strong>do</strong>s casos. Já a C.M. <strong>do</strong> Porto <strong>de</strong>clara ter fiscaliza<strong>do</strong>, sem<br />

promoção <strong>de</strong> ensaios, 12 em 570 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Algumas câmaras municipais afirmam exercer uma fiscalização<br />

sistemática. Assim, a C.M. <strong>de</strong> Chaves e a C.M. <strong>do</strong> Barreiro <strong>de</strong>claram<br />

fiscalização sistemática, sem ensaios e, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> Chaves, por<br />

colaboração da PSP.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Oliveira <strong>de</strong> Azeméis <strong>de</strong>clara que apenas a PSP fiscaliza. A<br />

C.M. <strong>de</strong> Constância, por seu tur<strong>no</strong>, não <strong>no</strong>s dá conhecimento <strong>de</strong> uma<br />

única ação <strong>de</strong> fiscalização mas informa que sempre que emite uma<br />

licença, dá conhecimento à GNR.<br />

A C.M. <strong>de</strong> Torres Vedras consi<strong>de</strong>ra:<br />

18 As respostas prestadas apontam, <strong>no</strong>meadamente, para: 7 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

fiscalizadas entre 497 ler, com promoção <strong>de</strong> 7 ensaios, 7 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas<br />

em 123 emitidas, sem ensaios, 53 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas em 60, com promoção<br />

<strong>de</strong> um único ensaio, 40% das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas, com promoção <strong>de</strong> ensaios<br />

em 20% <strong>do</strong>s casos, 5% licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas sem ensaios, 10 licenças especiais<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas em 74, uma licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizada em 279, sem promoção <strong>de</strong><br />

ensaios, 10 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas sem ensaios, 5 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

fiscalizadas sem ensaios, 2 licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas em 82, sem ensaios, 30<br />

licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> fiscalizadas em 61 concedidas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

99


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

«inexplicável que os agentes <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, PSP e ou GNR não estejam<br />

muni<strong>do</strong>s <strong>de</strong> aparelhos que possam fazer a medição imposta <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

existente. Se estas forças fazem a medição <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> alcoolémia,<br />

também <strong>de</strong>veriam fazer a medição <strong>do</strong> volume <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. A ausência <strong>de</strong>ste<br />

elemento probatório, leva a que todas as queixas efetuadas por<br />

particulares estejam con<strong>de</strong>nadas ao arquivo, pois não há prova da violação<br />

<strong>do</strong>s limites por lei.»<br />

Julgamos tratar-se <strong>de</strong> uma observação bastante pertinente.<br />

A C.M. da Guarda afirma que o acompanhamento <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong><br />

fiscalização é efetua<strong>do</strong> com alguma regularida<strong>de</strong>, para verificação <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>do</strong> horário e <strong>de</strong> todas as situações que possam ser<br />

contrárias, sob pena <strong>de</strong> suspensão da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa.<br />

Merece ser pon<strong>de</strong>rada a conveniência em atribuir à Polícia <strong>de</strong><br />

Segurança Pública, à Guarda Nacional Republicana e às polícias<br />

municipais, on<strong>de</strong> existam, meios que lhes permitissem uma simples<br />

constatação/registo da intensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> propaga<strong>do</strong> pelo evento, para<br />

melhor permitir aferir da procedência <strong>de</strong> queixas. Na verda<strong>de</strong>, revela-se<br />

impraticável, na maioria das situações, proce<strong>de</strong>r à verificação <strong>do</strong> critério<br />

da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, que obriga a ensaios vários, em diferentes<br />

ocasiões. Não se encontran<strong>do</strong> estas ativida<strong>de</strong>s temporárias sujeitas a<br />

limites acústicos (exceto quan<strong>do</strong> assumam duração superior a um mês),<br />

não se cuidaria <strong>de</strong> medir, <strong>de</strong> forma exata e <strong>no</strong>rmalizada, o ruí<strong>do</strong>. Tratar-<br />

se-ia apenas <strong>de</strong> registar, <strong>de</strong> imediato, a maior ou me<strong>no</strong>r intensida<strong>de</strong> das<br />

emissões so<strong>no</strong>ras, a fim <strong>de</strong> que os serviços camarários que emitem as<br />

licenças pu<strong>de</strong>ssem estimar o impacto da ativida<strong>de</strong> e pon<strong>de</strong>rar a<br />

suficiência e a a<strong>de</strong>quação das medidas impostas. Cuidar-se-ia <strong>de</strong> conferir<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

100


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

formação especializada a pessoal da polícia municipal e/ou,<br />

eventualmente, aos agentes da Guarda Nacional Republicana que<br />

integrem o Serviço <strong>de</strong> Proteção da Natureza e Ambiente, em termos que<br />

lhe permitisse avaliar sumariamente a eventual incomodida<strong>de</strong>. A ser<br />

observa<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> especialmente perturba<strong>do</strong>r, não se vê porque não<br />

possa a autorida<strong>de</strong> policial <strong>de</strong>terminar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, a suspensão <strong>do</strong> uso.<br />

2. <strong>Controlo</strong> das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> iniciativa municipal<br />

As ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias promovidas pelos municípios<br />

encontram-se isentas <strong>de</strong> licenciamento fican<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, sujeitas aos<br />

limiares previstos <strong>no</strong> n.º 5 (respeito <strong>no</strong>s recetores sensíveis <strong>do</strong> valor limite<br />

<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r LAeq <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente exterior <strong>de</strong> 60 dB (A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

entar<strong>de</strong>cer e <strong>de</strong> 55 dB (A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>).<br />

Este condicionalismo pressupõe naturalmente uma postura ativa <strong>do</strong><br />

município <strong>no</strong> controlo da incomodida<strong>de</strong> imputada a eventos rui<strong>do</strong>sos da<br />

sua iniciativa. Ao município incumbe fiscalizar as ativida<strong>de</strong>s que promove,<br />

com o mesmo rigor e isenção com que fiscaliza as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terceiros.<br />

De entre os 244 municípios que colaboram na resposta ao inquérito, só<br />

36 afirmam exercer o controlo das iniciativas municipais rui<strong>do</strong>sas, o que<br />

equivale a 14,8%. Destes, quase nenhuns (32) promovem ensaios<br />

acústicos para verificação da observância daqueles limiares. Apenas<br />

afirmam realizar estes ensaios, as autorida<strong>de</strong>s municipais <strong>de</strong> Borba,<br />

Felgueiras, Lisboa e Ponte Lima.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

101


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Nos remanescentes 208 municípios <strong>de</strong>clara-se não ser exerci<strong>do</strong><br />

controlo nenhum sob as ativida<strong>de</strong>s municipais ou não é sequer prestada<br />

resposta a esta questão.<br />

3. Conclusões<br />

A larga maioria das câmaras municipais que respon<strong>de</strong>ram ao inquérito<br />

vêm exercen<strong>do</strong> um <strong>de</strong>ficiente controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

temporárias, o que não permite precaver, eficazmente, a potencial<br />

incomodida<strong>de</strong> para terceiros. A fiscalização é, também, incipiente, o que<br />

compromete a <strong>de</strong>belação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> na sequência <strong>de</strong> queixa <strong>do</strong>s lesa<strong>do</strong>s.<br />

Verifica-se que é muito avulta<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> câmaras municipais que:<br />

a) Não justificam convenientemente a emissão <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong>, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> licenças <strong>de</strong> forma indiscriminada, abstrain<strong>do</strong> da<br />

natureza, da duração e da localização <strong>do</strong> evento;<br />

b) Não fixam medidas a<strong>de</strong>quadas à prevenção e redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ou<br />

limitam-se a estabelecer condições <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> genéricas, que não<br />

refletem as caraterísticas da ativida<strong>de</strong>, a sua localização e o potencial<br />

impacto;<br />

c) Se abstêm sistematicamente <strong>de</strong> fiscalizar as ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

licenciadas e <strong>de</strong> controlar os eventos rui<strong>do</strong>sos <strong>de</strong> iniciativa municipal.<br />

A realização <strong>de</strong> ensaios acústicos para aferir <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong><br />

incomodida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias é, salvo raras<br />

exceções, <strong>de</strong>scurada pelos municípios.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

102


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

É certo que não se encontram as ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias a<br />

<strong>de</strong>senvolver por perío<strong>do</strong> inferior a um mês, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da observância<br />

<strong>de</strong> quaisquer limites <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (como se infere, a contrario sensu, <strong>do</strong><br />

disposto <strong>no</strong> artigo 15.º, n.º 5 <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, aprova<strong>do</strong><br />

pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro). Esta circunstância não<br />

po<strong>de</strong> isentar uma câmara municipal <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> fixar condicionalismos<br />

concretos na licença <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, em observância <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> artigo 15.º,<br />

n.º.2 <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> Regulamento, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a precaver, eficazmente, o<br />

eventual prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong> pública.<br />

Tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas <strong>de</strong>stinadas a proteger o direito ao ambiente e<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das populações eventualmente afetadas pelo ruí<strong>do</strong><br />

produzi<strong>do</strong> ao abrigo <strong>de</strong> licença administrativa especial, o não<br />

cumprimento <strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s coman<strong>do</strong>s legais, <strong>no</strong> que tange às medidas <strong>de</strong><br />

prevenção e <strong>de</strong> contenção, para prover à preservação da tranquilida<strong>de</strong><br />

das populações, especialmente, durante o perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, é suscetível<br />

<strong>de</strong> originar responsabilida<strong>de</strong> civil extracontratual <strong>do</strong> município pelos<br />

prejuízos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sse ato <strong>de</strong> gestão pública, com os inerentes<br />

encargos para a autarquia (artigo 8.º, n. ºs 1 e 2, da Lei n.º 67/2007, <strong>de</strong> 31<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro).<br />

Parece esqueci<strong>do</strong> que o exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias<br />

promovidas pelos municípios se encontra sujeito aos valores limite fixa<strong>do</strong>s<br />

<strong>no</strong> n.º 5, <strong>do</strong> artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> n.º<br />

7, alínea a), <strong>do</strong> mesmo preceito legal.<br />

Devem, assim, os municípios acautelar o cumprimento <strong>do</strong>s valores<br />

limite constantes <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> n.º 5, <strong>do</strong> artigo 15.º <strong>do</strong> Regulamento<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

103


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> aquan<strong>do</strong> da realização <strong>do</strong> evento <strong>de</strong> iniciativa municipal,<br />

caben<strong>do</strong>-lhes a<strong>do</strong>tar os meios e procedimentos técnicos para o efeito<br />

ajusta<strong>do</strong>s.<br />

Não raro, as câmaras municipais condicionam festas e divertimentos<br />

promovi<strong>do</strong>s por particulares ao «rigoroso cumprimento <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 9/2007» Mais se dispõe «em caso <strong>de</strong><br />

reclamação fundada <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong> imediato cessada a activida<strong>de</strong>». E<br />

bem se compreen<strong>de</strong> esta imposição, na ausência <strong>de</strong> outros<br />

condicionalismos que acautelem o sossego e o <strong>de</strong>scanso <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res.<br />

Na verda<strong>de</strong>, a enten<strong>de</strong>r-se que o evento apenas é condiciona<strong>do</strong> em<br />

termos <strong>de</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> duração, <strong>de</strong>ve inferir-se, ao me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s casos em<br />

que é autoriza<strong>do</strong> um limite horário dilata<strong>do</strong>, que o licenciamento não<br />

prossegue a<strong>de</strong>quadamente o objetivo <strong>de</strong> preservação da tranquilida<strong>de</strong>,<br />

constituin<strong>do</strong> uma permissão para produção <strong>de</strong> to<strong>do</strong> e qualquer ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. A licença configurará um cheque em branco, frustran<strong>do</strong>,<br />

inteiramente, as finalida<strong>de</strong>s e razão <strong>de</strong> ser <strong>do</strong> próprio procedimento.<br />

Nesta perspetiva, po<strong>de</strong>rá arguir-se que o ato <strong>de</strong> concessão da licença<br />

esteja feri<strong>do</strong> <strong>de</strong> vício <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r por aten<strong>de</strong>r a interesses<br />

particulares <strong>do</strong> requerente, que a Administração Pública sobrepôs aos<br />

interesses <strong>do</strong>s terceiros potencialmente afeta<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s seus direitos <strong>de</strong><br />

personalida<strong>de</strong> pelo exercício da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

104


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Secção 6: Regulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes<br />

1. Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes<br />

O reconhecimento <strong>de</strong> que a poluição so<strong>no</strong>ra constitui, <strong>no</strong>s <strong>no</strong>ssos dias,<br />

um <strong>do</strong>s principais fatores <strong>de</strong> lesão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e das principais<br />

causas <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong> ambiental, tem leva<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s, em especial,<br />

da União Europeia, a criarem mecanismos reforça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> controlo<br />

preventivo das ativida<strong>de</strong>s tipicamente rui<strong>do</strong>sas. Nesta linha se insere a<br />

regra <strong>de</strong> a instalação e o exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes<br />

ser condicionada pelo cumprimento <strong>do</strong>s valores limite <strong>de</strong> exposição,<br />

admitin<strong>do</strong>-se a fiscalização preventiva e sucessiva, em mol<strong>de</strong>s que<br />

garantam a salvaguarda <strong>de</strong> um ambiente urba<strong>no</strong> sadio e equilibra<strong>do</strong>.<br />

Com tal <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato, <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> ponto 3 <strong>do</strong> questionário, foram as<br />

câmaras municipais inquiridas a respeito <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

fiscalização e controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes, cuja<br />

promoção o legisla<strong>do</strong>r sujeitou ao seu controlo. Foram, assim, instadas a<br />

respon<strong>de</strong>r, quer singelamente quanto à verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong>s<br />

critérios <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra (<strong>no</strong> âmbito da previsão contida na<br />

<strong>no</strong>rma <strong>do</strong> artigo 13.º, n.º 1, alínea b) e n.º 8, <strong>do</strong> RGR) – bastan<strong>do</strong>-<strong>no</strong>s,<br />

para este efeito respostas «sim» e «não» – quer, especificadamente,<br />

quanto ao número <strong>de</strong> procedimentos em curso e efetiva confirmação <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>do</strong>s parâmetros/limite, quer em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> projeto acústico,<br />

quer em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> aferição <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

105


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Da análise das respostas que <strong>no</strong>s foram prestadas por 244 municípios,<br />

não é possível asseverar, que os da<strong>do</strong>s que vêm refleti<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s quadros<br />

que se seguem, sejam a imagem rigorosa da realida<strong>de</strong> existente. Não<br />

raro, em resposta a melhor especificação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s, os<br />

valores apresentam-se incongruentes ou pouco exatos. Embora, não<br />

tenha, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>, constituí<strong>do</strong> a regra, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar aqui<br />

apontamento da existência <strong>de</strong> respostas <strong>do</strong> tipo: «aproximadamente», ou,<br />

«não é possível quantificar», ou, «não é possível <strong>de</strong>sagregar<br />

informaticamente a informação solicitada», ou, «o <strong>no</strong>sso sistema<br />

informático <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> obras não elabora relatórios discriminativos<br />

sobre as questões solicitadas, pelo que a resposta às mesmas obrigaria à<br />

verificação <strong>do</strong>s processos um a um, o que não é viável <strong>de</strong> momento», ou,<br />

«sem da<strong>do</strong>s», ou, «não se encontra monitoriza<strong>do</strong> o respetivo número»,<br />

ou, «não <strong>no</strong>s foi possível aferir em tempo útil os da<strong>do</strong>s necessários para<br />

dar resposta à questão, da<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s processos em tramitação<br />

<strong>no</strong> perío<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> são anteriores à implementação <strong>do</strong> programa <strong>de</strong><br />

gestão <strong>do</strong>cumental que atualmente acompanha to<strong>do</strong>s os processos, o<br />

que implicaria a consulta física <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os processos», ou, «não foi<br />

possível o apuramento em tempo útil», ou, «não foi possível <strong>de</strong>terminar»,<br />

ou, «não dispomos <strong>de</strong> elementos».<br />

Feita esta ressalva, e porque a maioria das respostas recebidas o foram<br />

em mol<strong>de</strong>s que enten<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s permitem realizar a análise a que <strong>no</strong>s<br />

havíamos proposto, iremos expor os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>no</strong> que respeita<br />

ao questionário apresenta<strong>do</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

106


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

2. Cumprimento <strong>do</strong>s requisitos a que <strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer as<br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes<br />

Foram os municípios insta<strong>do</strong>s a informar, se os serviços responsáveis<br />

pelo licenciamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes verificam, ou não,<br />

o cumprimento <strong>do</strong> critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, <strong>no</strong>s termos que são<br />

previstos nas <strong>no</strong>rmas <strong>do</strong> artigo 13.º, n.º 1, alínea b), e n.º 8, <strong>do</strong> RGR.<br />

Recor<strong>de</strong>-se, a propósito que sob a epígrafe «Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes», dispõe o artigo 13.º n.º 1, alínea b), <strong>do</strong> RGR, que a<br />

instalação e o exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes em zonas<br />

mistas, nas envolventes das zonas sensíveis ou mistas ou na proximida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s recetores sensíveis isola<strong>do</strong>s estão sujeitos, entre outros, ao<br />

cumprimento <strong>do</strong> critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como a diferença<br />

entre o valor <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r L (índice Aeq) <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

durante a ocorrência <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> particular da ativida<strong>de</strong> ou ativida<strong>de</strong>s em<br />

avaliação e o valor <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r L(índice Aeq) <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> residual, diferença<br />

que não po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r 5 dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> diur<strong>no</strong>, 4 dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

entar<strong>de</strong>cer e 3 dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> anexo I ao cita<strong>do</strong><br />

Regulamento, <strong>do</strong> qual faz parte. E prevê, <strong>no</strong> seu n.º 8, que quan<strong>do</strong> a<br />

ativida<strong>de</strong> não estiver sujeita a avaliação <strong>de</strong> impacte ambiental, a<br />

verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> n.º 1 é da competência da<br />

entida<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> licenciamento e efetuada <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong><br />

respetivo procedimento <strong>de</strong> licenciamento, autorização <strong>de</strong> instalação ou <strong>de</strong><br />

alteração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

107


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Viríamos, a este propósito, a obter os da<strong>do</strong>s elenca<strong>do</strong>s <strong>no</strong> gráfico que<br />

se segue:<br />

É-<strong>no</strong>s da<strong>do</strong> concluir, que em apenas 38% <strong>do</strong>s municípios que<br />

respon<strong>de</strong>ram ao inquérito, na globalida<strong>de</strong>, é cumprida a <strong>de</strong>terminação<br />

inscrita nas <strong>no</strong>rmas sob escrutínio, neles se incluin<strong>do</strong> os <strong>de</strong> Lisboa e<br />

Porto.<br />

50%<br />

Ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes<br />

12%<br />

38%<br />

Autorida<strong>de</strong>s municipais<br />

que fiscalizam ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ferida licença<br />

Autorida<strong>de</strong>s municipais<br />

que não fiscalizam ruí<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferida licença<br />

Não respon<strong>de</strong>m<br />

3. Operações urbanísticas: obras <strong>de</strong> urbanização, <strong>de</strong> edificação e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>molição<br />

A verificação da conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma obra com as disposições <strong>do</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

108


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Regulamento <strong>do</strong>s Requisitos Acústicos das Edificações <strong>de</strong>ve ser efetuada<br />

com base em ensaios acústicos (artigo 3.º, n.º 6), <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> disposto<br />

<strong>no</strong> RGR (artigo 12.º, n.º 5, e artigos 33.º e 34.º), <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />

critérios <strong>de</strong> amostragem a <strong>de</strong>finir pelo Laboratório Nacional <strong>de</strong> Engenharia<br />

Civil (artigo 3.º, n.º 6 e n.º 7, <strong>do</strong> Regulamento <strong>do</strong>s Requisitos Acústicos<br />

das Edificações 19 ) e em relação aos requisitos acústicos próprios <strong>de</strong> cada<br />

categoria <strong>de</strong> utilização – habitação, comércio ou outros (artigos 5.º e<br />

segs.).<br />

Precisamente sob a epígrafe «controlo prévio das operações<br />

urbanísticas» o artigo 12.º, n.º 5, <strong>do</strong> RGR, <strong>de</strong>termina que a utilização ou<br />

alteração da utilização <strong>de</strong> edifícios e suas frações está sujeita à<br />

verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico a efetuar pela câmara<br />

municipal, <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> respetivo procedimento <strong>de</strong> licença ou autorização<br />

<strong>de</strong> utilização, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a câmara municipal, para o efeito, exigir a<br />

realização <strong>de</strong> ensaios acústicos. Do teor <strong>do</strong> disposto na <strong>no</strong>rma citada, não<br />

restariam dúvidas quanto à ilegalida<strong>de</strong> das licenças ou autorizações <strong>de</strong><br />

utilização <strong>do</strong>s edifícios ou suas frações sem estar verifica<strong>do</strong> o<br />

cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico:<br />

- Mediante um juízo <strong>de</strong> apreciação <strong>do</strong> projeto acústico, e,<br />

eventualmente, a realização <strong>de</strong> ensaios acústicos <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong><br />

procedimento da autorização <strong>de</strong> utilização, a executar pelas autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais ou por serviços acredita<strong>do</strong>s ou a apresentar pelo requerente<br />

da autorização, se as autorida<strong>de</strong>s municipais o <strong>de</strong>terminarem;<br />

19 Aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 129/2002, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio. Altera<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º<br />

96/2008, <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> junho.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

109


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

- De acor<strong>do</strong> com instrumentos técnicos sujeitos a controlo metrológico,<br />

segun<strong>do</strong> os critérios <strong>de</strong> amostragem <strong>do</strong> Laboratório Nacional <strong>de</strong><br />

Engenharia Civil e <strong>de</strong> forma diferenciada, segun<strong>do</strong> as categorias <strong>de</strong><br />

utilização <strong>do</strong> edifício.<br />

Os ensaios permitem verificar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> isolamento ao ruí<strong>do</strong>,<br />

haven<strong>do</strong> <strong>de</strong> testar os pavimentos, as fachadas e as pare<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s vários<br />

compartimentos.<br />

Não basta apresentar o projeto acústico. A lei não dispensou o<br />

controlo <strong>do</strong> seu cumprimento por serviços oficialmente acredita<strong>do</strong>s. É<br />

certo que nem sempre fora assim, na <strong>no</strong>ssa or<strong>de</strong>m jurídica, mas o<br />

sistema pretérito, ao presumir a conformida<strong>de</strong> das obras com o projeto<br />

acústico, não provara obstar às múltiplas situações <strong>de</strong> incumprimento, <strong>de</strong><br />

facto consuma<strong>do</strong>, à revelia da prevenção, que beneficia da preferência <strong>do</strong><br />

direito ambiental e urbanístico por a reparação se mostrar sempre<br />

especialmente onerosa. O regime jurídico instituí<strong>do</strong> em 2007 (Decreto-Lei<br />

n.º 9/2007) optou pelo controlo a priori, em <strong>no</strong>me <strong>de</strong> razões <strong>de</strong> eficiência e<br />

justiça. Eficiência por prevenir e conter custos agrava<strong>do</strong>s <strong>de</strong> correção a<br />

posteriori, como já se assinalou. É justo fazer recair <strong>no</strong> promotor da<br />

operação os encargos com os ensaios: ubi commoda ibi incommoda.<br />

Exigir das autorida<strong>de</strong>s municipais que façam cumprir estes requisitos<br />

não é simplesmente uma formalida<strong>de</strong> a satisfazer sem um interesse<br />

público imediatamente à vista. É antes um sinal <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong>, cuja<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

110


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

importância ressalta quan<strong>do</strong> somos confronta<strong>do</strong>s com questões <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong>s centros históricos ou em edificações urbanas sem qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

isolamento.<br />

Mas se, por um la<strong>do</strong>, como se viu, <strong>no</strong> artigo 12.º, n.º 5, <strong>do</strong> RGR, dispõe-<br />

se que a utilização ou alteração <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> edifícios e suas frações<br />

está sujeita à verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico a efetuar<br />

pela câmara municipal, <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> respetivo procedimento <strong>de</strong> licença<br />

ou autorização da utilização, por outro la<strong>do</strong>, o mesmo refere <strong>de</strong> seguida<br />

«po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a câmara para o efeito, exigir a realização <strong>de</strong> ensaios<br />

acústicos». O facto <strong>de</strong> o diploma referir «po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>», parece não tornar<br />

obrigatória a realização <strong>de</strong> ensaios acústicos, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong>, <strong>no</strong> entanto, a<br />

câmara municipal verificar o cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico. Se não<br />

exigir a realização <strong>de</strong> ensaios acústicos ou executar esses ensaios,<br />

<strong>de</strong>verá a câmara provi<strong>de</strong>nciar uma fiscalização in loco, para verificação da<br />

execução <strong>do</strong> projeta<strong>do</strong>.<br />

Uma coisa é certa, o cumprimento <strong>do</strong> Regulamento <strong>do</strong>s Requisitos<br />

Acústicos <strong>do</strong>s Edifícios é obrigatório por parte <strong>de</strong> quem é promotor <strong>de</strong><br />

operações urbanísticas materiais, exigin<strong>do</strong> a câmara municipal ou não a<br />

sua verificação.<br />

Quan<strong>do</strong> perguntadas pela articulação entre o controlo urbanístico <strong>de</strong><br />

autorização da utilização e o controlo <strong>do</strong> isolamento acústico,<br />

respon<strong>de</strong>ram 206 câmaras municipais, o que leva a presumir que as<br />

<strong>de</strong>mais 38 que colaboraram <strong>no</strong> inquérito ig<strong>no</strong>ram esta articulação.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

111


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Destas 206 câmaras municipais resultou apura<strong>do</strong> um total <strong>de</strong> 29 737<br />

autorizações municipais <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>feridas num a<strong>no</strong> compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

controlo <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico. Contu<strong>do</strong>, apenas 191<br />

respon<strong>de</strong>ram à pergunta sobre se, cumulativamente exigem a<br />

apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos, o que leva a presumir que<br />

as <strong>de</strong>mais 15 ig<strong>no</strong>ram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste expediente. Em 15 495<br />

autorizações <strong>de</strong> utilização fora exigida a apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong><br />

ensaios acústicos (52%). Vejamos, pois, como foi a questão respondida<br />

pelos municípios insta<strong>do</strong>s:<br />

Autorização <strong>de</strong> utilização - projeto acústico -<br />

relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos<br />

Não controlam<br />

cumprimento <strong>do</strong><br />

projeto acústico<br />

31%<br />

Sim<br />

69%<br />

E controlam<br />

relatórios<br />

posteriores<br />

55%<br />

E não controlam<br />

relatórios<br />

posteriores<br />

14%<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

112


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Passemos à proporção entre o volume <strong>de</strong> autorizações <strong>de</strong> utilização<br />

<strong>de</strong>feridas e a exigência <strong>de</strong> apresentar relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos:<br />

Ratio - autorizações <strong>de</strong> utilização/relatório <strong>de</strong> ensaio<br />

acústico <strong>no</strong>s 134 municípios on<strong>de</strong> se controla o projeto<br />

acústico<br />

48<br />

32<br />

A C.M. <strong>do</strong> Porto habilitou-<strong>no</strong>s com 851 pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> licença ou <strong>de</strong><br />

autorização <strong>de</strong> utilização (incluin<strong>do</strong> simples alterações <strong>de</strong> uso) aprecia<strong>do</strong>s<br />

entre 01.12.2009 e 01.12.2010, ten<strong>do</strong>, em 95% <strong>do</strong>s casos exigi<strong>do</strong> a<br />

apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos. Respon<strong>de</strong>u-<strong>no</strong>s, por seu<br />

tur<strong>no</strong>, o município <strong>de</strong> Lisboa, que quanto aos 38 pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> licença ou <strong>de</strong><br />

autorização <strong>de</strong> utilização (incluin<strong>do</strong> alterações <strong>de</strong> uso) aprecia<strong>do</strong>s entre<br />

01.12.2009 e 01.12.2010, em to<strong>do</strong>s foi exigida a apresentação <strong>de</strong> relatório<br />

<strong>de</strong> ensaios acústicos. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> assinalar o número<br />

insolitamente reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s que <strong>no</strong>s foi faculta<strong>do</strong> pelo município <strong>de</strong><br />

Lisboa, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com outros municípios com me<strong>no</strong>r <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

populacional/expressão edificatória – vg.: Braga com 987 processos,<br />

32<br />

22<br />

Até 20%<br />

21% a 50%<br />

51% a 80%<br />

> 80%<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

113


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ten<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s eles exigi<strong>do</strong> a apresentação <strong>de</strong> relatórios <strong>de</strong> ensaios<br />

acústicos; Cascais, com 1119 processos, ten<strong>do</strong> exigi<strong>do</strong> a apresentação<br />

<strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> medição acústica em 97% <strong>de</strong>les; Guimarães, com 1027<br />

processos, ten<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s eles exigi<strong>do</strong> a apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong><br />

ensaios acústicos; Sintra, com 884 processos, ten<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s eles<br />

exigi<strong>do</strong> a apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos; Vila Nova <strong>de</strong><br />

Famalicão com 877 processos, ten<strong>do</strong> em 20% <strong>de</strong>les exigi<strong>do</strong> a<br />

apresentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos; Vila Nova <strong>de</strong> Gaia com<br />

947 processos, ten<strong>do</strong> em 51% <strong>de</strong>les exigi<strong>do</strong> a apresentação <strong>de</strong> relatório<br />

<strong>de</strong> ensaios acústicos.<br />

É igualmente <strong>de</strong> assinalar o facto <strong>de</strong> 23 municípios terem <strong>de</strong>clara<strong>do</strong><br />

zero procedimentos <strong>de</strong> licenciamento/autorização <strong>de</strong> utilização <strong>no</strong> âmbito<br />

<strong>do</strong>s quais a câmara municipal verificou o cumprimento <strong>do</strong> projeto<br />

acústico.<br />

A estes juntam-se os 34 municípios que não exigem a apresentação<br />

<strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos, por referência ao total <strong>de</strong><br />

procedimentos <strong>de</strong> licenças/autorizações <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>.<br />

Não esquecen<strong>do</strong>, ainda, os 38 municípios, que insta<strong>do</strong>s sobre a<br />

questão relativa ao número <strong>de</strong> procedimento <strong>de</strong> utilização/alteração <strong>de</strong><br />

utilização, nada sabe, ou nada respon<strong>de</strong>.<br />

Parece-<strong>no</strong>s, que <strong>do</strong> quadro que antece<strong>de</strong>, legítimo é concluir, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com os parâmetros expostos, que tão-só 39 municípios cumprem, com<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

114


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

rigor, o que a este propósito é <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>no</strong> RGR, ao exigir a<br />

presentação <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> ensaios acústicos, entre 91% a 100% <strong>do</strong>s<br />

procedimentos em que foi verifica<strong>do</strong> o cumprimento <strong>do</strong> projeto acústico.<br />

4. Avaliação acústica específica para ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes em zonas <strong>de</strong>terminadas<br />

Recor<strong>de</strong>-se que é permitida, pelo disposto <strong>no</strong> artigo 13.º, n.º 1, alínea<br />

b), <strong>do</strong> RGR, a instalação e o exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes em zonas mistas, nas envolventes das zonas sensíveis ou<br />

mistas ou na proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recetores sensíveis isola<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que,<br />

entre outros (artigo 13.º, n.º 1, alínea a) <strong>do</strong> RGR), se revele cumpri<strong>do</strong> o<br />

critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como a diferença entre o valor <strong>do</strong><br />

indica<strong>do</strong>r L (índice Aeq) <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> durante a<br />

ocorrência <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> particular da ativida<strong>de</strong> ou ativida<strong>de</strong>s em avaliação e o<br />

valor <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r L(índice Aeq) <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> residual, diferença que não po<strong>de</strong><br />

exce<strong>de</strong>r 5 dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> diur<strong>no</strong>, 4 dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> entar<strong>de</strong>cer e 3<br />

dB(A) <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> anexo I <strong>do</strong> mesmo<br />

Regulamento, <strong>do</strong> qual faz parte integrante. Quan<strong>do</strong> a ativida<strong>de</strong> não esteja<br />

sujeita à avaliação <strong>de</strong> impacte ambiental, compete às câmaras municipais<br />

– sempre que órgãos coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res <strong>do</strong> licenciamento – verificar o<br />

cumprimento <strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s parâmetros (artigo 13.º n.º 8, <strong>do</strong> RGR). Para<br />

este efeito, <strong>de</strong>verá o interessa<strong>do</strong>, apresentar à entida<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

licenciamento uma avaliação acústica (artigo 13.º, n.º 9, <strong>do</strong> RGR) sem o<br />

que não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>feri<strong>do</strong> o licenciamento ou a autorização da utilização<br />

<strong>de</strong> edifícios ou suas frações para ativida<strong>de</strong>s que se presume serem<br />

permanentemente rui<strong>do</strong>sas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

115


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

O propósito <strong>de</strong>ste controlo é o <strong>de</strong> quantificar os índices <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> que<br />

serão <strong>de</strong> imputar à ativida<strong>de</strong>, cuja instalação se preten<strong>de</strong> venha a ter<br />

lugar em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> edifício ou fração autó<strong>no</strong>ma. Logo, o modus<br />

operandi é diferente daquele que é usa<strong>do</strong> para controlar os requisitos<br />

acústicos <strong>do</strong>s edifícios (artigo 12.º, n.º 5). Efetivamente, se neste se afere<br />

a qualida<strong>de</strong> construtiva, o âmbito <strong>de</strong> aplicação da <strong>no</strong>rma <strong>do</strong> artigo 13.º,<br />

nas diversas prescrições a que ora <strong>no</strong>s atemos, será a <strong>do</strong> juízo <strong>de</strong><br />

prog<strong>no</strong>se acerca da incomodida<strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> a instalar virá a<br />

produzir sobre terceiros. Com esta avaliação, ainda é possível,<br />

preventivamente, introduzir ajustamentos, introduzir condições na licença<br />

e <strong>de</strong>sta sorte obstar a um mal maior: o <strong>de</strong> posteriormente serem causa<strong>do</strong>s<br />

da<strong>no</strong>s a terceiros e <strong>de</strong> se mostrar inevitável o encerramento da ativida<strong>de</strong><br />

estabelecida. Os mora<strong>do</strong>res vizinhos serão, neste contexto, a parte mais<br />

vulnerável. As ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas são, por regra, lucrativas. O lucro é em<br />

boa parte obti<strong>do</strong> pelo sacrifício não ressarci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> terceiros.<br />

Expostas estas consi<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong>brucemo-<strong>no</strong>s, agora, sobre os da<strong>do</strong>s<br />

que <strong>no</strong>s foram faculta<strong>do</strong>s pelos municípios, quan<strong>do</strong> insta<strong>do</strong>s a este<br />

propósito.<br />

Comecemos por observar que a larga maioria das câmaras municipais<br />

que respon<strong>de</strong>ram não controlam previamente as ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes, mas, em caso <strong>de</strong> resposta afirmativa, são em maior número<br />

as que exigem a avaliação específica que a lei <strong>de</strong>termina para as zonas<br />

mistas, para as envolventes das zonas sensíveis ou mistas ou ainda na<br />

proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recetores sensíveis isola<strong>do</strong>s (artigo 13.º, n.º 9, <strong>do</strong> RGR):<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

116


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Em seguida, po<strong>de</strong>mos observar o volume <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong><br />

controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste, o<br />

que se afirma ter cumpri<strong>do</strong> as específicas exigências <strong>do</strong> artigo 13.º, n.º<br />

9, <strong>do</strong> RGR:<br />

<strong>Controlo</strong> prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

permanentes<br />

Não controlam<br />

43%<br />

Outro<br />

22%<br />

Controlam<br />

20%<br />

Não respon<strong>de</strong>m<br />

35%<br />

Procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio<br />

Não exigida<br />

avaliação<br />

acústica<br />

29%<br />

Exigida<br />

avaliação<br />

acústica<br />

71%<br />

Controlam mas<br />

não avaliam<br />

2%<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

117


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Contu<strong>do</strong>, a frequência <strong>no</strong> cumprimento <strong>de</strong>sta exigência não é absoluta,<br />

como se po<strong>de</strong> verificar:<br />

Frequência da avaliação acústica <strong>no</strong>s 49<br />

municípios que a exigem<br />

41<br />

A C.M. <strong>do</strong> Porto habilitou-<strong>no</strong>s com número total <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong><br />

controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes entre 01/12/2009 e<br />

1/12/2010, <strong>de</strong> 308, não <strong>no</strong>s habilitan<strong>do</strong>, porém, com o número <strong>de</strong> casos<br />

em que exigiu a apresentação <strong>de</strong> avaliação acústica.<br />

Esclareceu, a tal propósito, o seguinte:<br />

2<br />

6<br />

Raramente (10% e 80%)<br />

«Os serviços da Direção <strong>de</strong> Ambiente <strong>de</strong>finiram os requisitos e conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

relatórios que <strong>de</strong>vem atestar a conformida<strong>de</strong> com o RGR – ver Anexo 2.<br />

Todavia, mais recentemente a instrução <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> licença <strong>de</strong> obras <strong>de</strong><br />

edificação/operações <strong>de</strong> loteamento/obras <strong>de</strong> urbanização, <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

118


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

autorização <strong>de</strong> utilização/alteração <strong>de</strong> utilização, é feito maioritariamente com<br />

base nas <strong>de</strong>clarações prestadas pelos técnicos autores <strong>do</strong>s projetos, em<br />

termo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, procedimento que encontra suporte <strong>no</strong> artigo 13.º<br />

<strong>do</strong> RJUE, n.º s 8 e 9, e ainda com base <strong>no</strong>s relatórios <strong>de</strong> ensaios acústicos<br />

(elabora<strong>do</strong>s por entida<strong>de</strong>s cre<strong>de</strong>nciadas) que são apresenta<strong>do</strong>s pelos<br />

munícipes requerentes.»<br />

A C.M. <strong>de</strong> Lisboa respon<strong>de</strong>u-<strong>no</strong>s, por seu tur<strong>no</strong>, que apresenta<strong>do</strong>s 475<br />

procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes<br />

entre 1/12/2009 e 1/12/2010, em 90% <strong>do</strong>s casos exigiu a apresentação <strong>de</strong><br />

avaliação acústica.<br />

Declararam zero procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas permanentes em zonas mistas, nas envolventes das zonas<br />

sensíveis ou mista ou na proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recetores sensíveis isola<strong>do</strong>s:<br />

104 câmaras municipais.<br />

Haverá que atentar, também nas 6 câmaras municipais que não exigem<br />

a apresentação <strong>de</strong> avaliação acústica.<br />

Não esquecen<strong>do</strong>, ainda, as 70 câmaras municipais que, instadas sobre<br />

o número total <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

rui<strong>do</strong>sas permanentes, nada sabem ou nada respon<strong>de</strong>m.<br />

Este valor sobe para 85 câmaras municipais que nada sabe ou nada<br />

respon<strong>de</strong> quanto à questão relativa ao número <strong>de</strong> procedimentos em que<br />

exigiu a apresentação <strong>de</strong> avaliação acústica.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

119


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Parece-<strong>no</strong>s, que <strong>do</strong> quadro que antece<strong>de</strong>, é legítimo concluir, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com os parâmetros expostos, que apenas 37 municípios cumprem,<br />

com rigor, o que a este propósito é <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>no</strong> RGR, ao exigirem<br />

a apresentação <strong>de</strong> avaliação acústica em 91% a 100% <strong>do</strong>s<br />

procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sas permanentes.<br />

As alterações legislativas ten<strong>de</strong>ntes à simplificação e agilização<br />

<strong>do</strong>s procedimentos <strong>de</strong> licenciamento e <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> operações<br />

urbanísticas e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s económicas vêm dispensar os serviços<br />

municipais <strong>de</strong>, <strong>no</strong> âmbito daqueles procedimentos administrativos,<br />

proce<strong>de</strong>rem a uma rigorosa verificação <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> projeto<br />

acústico e, bem assim, <strong>do</strong> critério da incomodida<strong>de</strong>, o que sempre<br />

obrigaria à realização <strong>de</strong> ensaios e medições técnicas.<br />

Nesta medida, representam um recuo assinalável <strong>no</strong> exercício <strong>do</strong>s<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> controlo prévio <strong>do</strong>s requisitos acústicos aplicáveis a<br />

edificações e, bem assim, a ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes. Estão em<br />

causa, <strong>de</strong>signadamente, as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º<br />

26/2010 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março, pelo Decreto-Lei n.º 234/2007, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> junho,<br />

pelo Decreto-Lei n.º 209/2008, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> outubro e sobretu<strong>do</strong> pelo<br />

Licenciamento Zero (Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril) diplomas<br />

que prosseguem o escopo da simplificação e da <strong>de</strong>sburocratização.<br />

O regime <strong>de</strong> instalação e funcionamento <strong>do</strong>s estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas, aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 234/2007, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong><br />

junho, entrou em vigor em 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007. Visan<strong>do</strong> a simplificação e<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

120


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong>sburocratização da abertura e funcionamento <strong>do</strong>s estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas - através <strong>de</strong> medidas que permitem obter mais<br />

rapidamente licenças e autorizações e cumprir outras formalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

que necessitam para exercer a sua ativida<strong>de</strong> - este regime caracteriza-se,<br />

essencialmente, pelo facto daqueles estabelecimentos terem passa<strong>do</strong> a<br />

ficar dispensa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> licença para o exercício da ativida<strong>de</strong>, a qual foi<br />

substituída por uma <strong>de</strong>claração prévia obrigatória. 20<br />

O regime <strong>de</strong> exercício da ativida<strong>de</strong> industrial (REAI), aprova<strong>do</strong> pelo<br />

Decreto-Lei n.º 209/2008, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> outubro, iniciou vigência em 27 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 2009. Este diploma revogou o Decreto-Lei n.º 69/2003, <strong>de</strong> 10<br />

<strong>de</strong> abril, introduzin<strong>do</strong> algumas i<strong>no</strong>vações <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> simplificar o<br />

processo <strong>de</strong> licenciamento industrial, reduzin<strong>do</strong> o tempo para obtenção da<br />

licença. A tipologia <strong>de</strong> estabelecimentos industriais foi reduzida <strong>de</strong> quatro<br />

para três. Aos estabelecimentos <strong>do</strong> tipo 1, que envolvem um risco mais<br />

eleva<strong>do</strong>, aplica -se um regime <strong>de</strong> autorização prévia que culmina na<br />

atribuição <strong>de</strong> uma licença <strong>de</strong> exploração. Os estabelecimentos <strong>do</strong> tipo 2,<br />

<strong>de</strong> me<strong>no</strong>r grau <strong>de</strong> risco ambiental e média dimensão passam a ficar<br />

20 Decorri<strong>do</strong>s os prazos <strong>de</strong> 30 dias para concessão da licença ou <strong>de</strong> 20 dias para autorização <strong>de</strong><br />

utilização, previstos respetivamente na alínea d) <strong>do</strong> n.º 1 <strong>do</strong> artigo 23.º ou na alínea b) <strong>do</strong> n.º 1<br />

<strong>do</strong> artigo 30.º <strong>do</strong> RJUE, sem que tenha si<strong>do</strong> concedida, o interessa<strong>do</strong> po<strong>de</strong> comunicar à Câmara<br />

<strong>Municipal</strong> a sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> abrir ao público, remeten<strong>do</strong>-lhe a <strong>de</strong>claração prévia instruída com<br />

termos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> diretor técnico da obra, <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> segurança contra<br />

incêndios e pelos autores <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>. Caso disponha <strong>de</strong> licença <strong>de</strong> utilização<br />

ou autorização <strong>de</strong> utilização para estabelecimento <strong>de</strong> restauração ou <strong>de</strong> bebidas, <strong>de</strong>ve o<br />

proprietário, antes <strong>do</strong> início da ativida<strong>de</strong>, apresentar uma <strong>de</strong>claração na qual se responsabiliza<br />

por que o estabelecimento cumpra os requisitos aplicáveis ao exercício da ativida<strong>de</strong>. Ao mesmo<br />

tempo que se eliminam controlos e constrangimentos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>snecessários ou<br />

<strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>senvolve-se o princípio da confiança e da responsabilização <strong>do</strong>s<br />

opera<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estabelecimentos. Esta <strong>de</strong>claração, além <strong>de</strong> constituir título váli<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

instalação, modificação e encerramento, também serve <strong>de</strong> base para o registo <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> restauração e bebidas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

121


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

sujeitos apenas a um regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração prévia. Aos<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> tipo 3, <strong>no</strong> qual se incluem as empresas com 15 ou<br />

me<strong>no</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e limitada potência térmica e potência elétrica<br />

contratada, passou a aplicar -se um regime <strong>de</strong> simples registo. 21<br />

Analisemos agora as alterações que o Decreto-Lei n.º 26/2010, <strong>de</strong> 30<br />

<strong>de</strong> março, veio introduzir <strong>no</strong> Regime Jurídico da Urbanização e<br />

Edificação, com reflexos na aplicação <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong>s artigos 12.º e 13.º<br />

<strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

Resulta hoje <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> artigo 13.º, n.º 8 <strong>do</strong> RJUE, a dispensa <strong>de</strong><br />

apresentação, <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> procedimento <strong>de</strong> controlo preventivo <strong>de</strong><br />

licenciamento ou <strong>de</strong> comunicação prévia da obra, das consultas ou<br />

das certificações <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s, sempre que seja<br />

exibi<strong>do</strong> termo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> técnico autor <strong>do</strong> projeto que<br />

ateste a sua conformida<strong>de</strong> com as <strong>no</strong>rmas aplicáveis. Estipula o artigo<br />

13.º, n.º 9, que o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> autorização da utilização tem que ser<br />

instruí<strong>do</strong> com termo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> emiti<strong>do</strong> pelo diretor da obra<br />

ou pelo diretor <strong>de</strong> fiscalização da obra, atestan<strong>do</strong> a conformida<strong>de</strong> da<br />

obra executada com o projeto <strong>de</strong> arquitetura e <strong>de</strong> arranjos exteriores<br />

aprova<strong>do</strong>. 22<br />

21 Os estabelecimentos <strong>do</strong>s tipos 2 e 3 <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ficar sujeitos a vistoria prévia. Os<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> Tipo 3 estão obriga<strong>do</strong>s a registo, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o responsável apresentar à<br />

entida<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra termo <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong>, <strong>no</strong> qual <strong>de</strong>clara ter conhecimento e cumprir<br />

as exigências legais aplicáveis à sua ativida<strong>de</strong>, em matéria <strong>de</strong> segurança e saú<strong>de</strong> <strong>no</strong> trabalho e<br />

ambiente (artigo 40.º).<br />

22 Isto porque a autorização da utilização se <strong>de</strong>stina a verificar a conformida<strong>de</strong> da obra com o<br />

projeto <strong>de</strong> arquitetura e arranjos exteriores (artigo 62.º <strong>do</strong> RJUE). Nos casos em que o<br />

requerimento seja instruí<strong>do</strong> com termo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnico para o efeito habilita<strong>do</strong><br />

que ateste a conformida<strong>de</strong> da execução <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong> com os aprova<strong>do</strong>s ou<br />

apresenta<strong>do</strong>s, o legisla<strong>do</strong>r prescin<strong>de</strong> da exigência <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> certificações, aprovações<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

122


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

O Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril, veio estabelecer um regime<br />

simplifica<strong>do</strong> para a instalação e a modificação <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas, <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> bens, <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços ou<br />

<strong>de</strong> armazenagem. É o <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> licenciamento zero. A permissão<br />

administrativa – licença ou autorização <strong>de</strong> utilização - dá lugar a uma<br />

mera comunicação prévia, num balcão único eletrónico, da<br />

informação que indicia o cumprimento <strong>do</strong>s requisitos legais<br />

aplicáveis. A <strong>de</strong>claração prévia que habilita a imediata exploração<br />

sujeita apenas ao pagamento das taxas <strong>de</strong>vidas, é instruída com<br />

<strong>de</strong>claração <strong>do</strong> titular da exploração <strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong> que<br />

tomou conhecimento das obrigações legais e <strong>de</strong> que as respeita<br />

integralmente (artigo 4.º).<br />

O horário <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>ixa, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> autorização ou <strong>de</strong> qualquer ato permissivo, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o titular da<br />

exploração proce<strong>de</strong>r à comunicação prévia <strong>no</strong> balcão <strong>do</strong><br />

empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r.<br />

De referir ainda a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser requerida a dispensa prévia <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>de</strong> alguns requisitos legais ou regulamentares aplicáveis às<br />

instalações, aos equipamentos e ao funcionamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

económicas (contanto não se reportem à segurança contra incêndios, à<br />

saú<strong>de</strong> pública ou a operações <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> resíduos, nem <strong>de</strong> requisitos<br />

ou pareceres. A não apresentação, para efeitos <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> utilização, da certificação da<br />

execução <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s e <strong>do</strong> termo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> há <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a<br />

rejeição <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>. Este regime viria, contu<strong>do</strong>, a ser revoga<strong>do</strong> quanto aos projetos das<br />

especialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gás e eletricida<strong>de</strong>, manten<strong>do</strong>-se quanto aos <strong>de</strong>mais (Lei n.º28/2010, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong><br />

setembro).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

123


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>de</strong> higiene <strong>do</strong>s géneros alimentícios previstos em regulamentação<br />

comunitária). 23 Os fundamentos para dispensar o cumprimento <strong>de</strong><br />

requisitos comportam uma larga margem <strong>de</strong> aplicação, bastan<strong>do</strong> que se<br />

invoque, <strong>no</strong>meadamente, o contributo para a requalificação ou<br />

revitalização da área circundante <strong>do</strong> edifício ou fração autó<strong>no</strong>ma on<strong>de</strong> se<br />

instala o estabelecimento (?), o mero contributo para a conservação <strong>do</strong><br />

edifício ou fração autó<strong>no</strong>ma, ou a iniciativa <strong>de</strong> elaboração, revisão,<br />

alteração, retificação ou suspensão <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> gestão territorial,<br />

entre outros.<br />

À partida, não se vê que fique excluída a dispensa <strong>do</strong>s requisitos<br />

previstos <strong>no</strong> RGR.<br />

Ainda que o Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril, estabeleça que a<br />

mera comunicação prévia integrará a <strong>de</strong>claração <strong>do</strong> titular da exploração<br />

<strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong> que tomou conhecimento das obrigações<br />

<strong>de</strong>correntes da legislação i<strong>de</strong>ntificada <strong>no</strong> anexo III – on<strong>de</strong> se inclui o<br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> – e as respeita integralmente, o <strong>no</strong>vo<br />

regime implica a <strong>de</strong>rrogação <strong>de</strong>ste regulamento <strong>no</strong> que toca às<br />

exigências que ali se estabelecem em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlo prévio das<br />

operações urbanísticas (em especial artigos 12.º e 13.º). Estas exigências<br />

encontram fundamento <strong>no</strong> princípio da prevenção, por força <strong>do</strong> qual,<br />

23 A não pronúncia <strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> 20 dias conta<strong>do</strong> <strong>do</strong> pagamento das taxas <strong>de</strong>vidas permite a<br />

abertura <strong>do</strong> estabelecimento ou a exploração da ativida<strong>de</strong>, à revelia <strong>do</strong>s requisitos em questão. A<br />

consulta <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> procedimento <strong>de</strong> comunicação prévia po<strong>de</strong> ser<br />

promovida pelo presi<strong>de</strong>nte da câmara e não suspen<strong>de</strong> o prazo <strong>de</strong> pronúncia <strong>de</strong> 20 dias (cfr.<br />

artigo 5.º, n.º 4).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

124


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

todas as ações com um efeito lesivo <strong>no</strong> ambiente <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> forma antecipada.<br />

A ausência <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong> controlo prévio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

poluentes, <strong>de</strong>signadamente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas, é suscetível <strong>de</strong><br />

comprometer o princípio da prevenção consagra<strong>do</strong> <strong>no</strong> artigo 3.º da Lei <strong>de</strong><br />

Bases <strong>do</strong> Ambiente on<strong>de</strong> se estipula que<br />

«as atuações com efeitos imediatos ou a prazo <strong>no</strong> ambiente <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> forma antecipativa, reduzin<strong>do</strong> ou eliminan<strong>do</strong> as causas,<br />

prioritariamente à correção <strong>do</strong>s efeitos <strong>de</strong>ssas ações ou ativida<strong>de</strong>s suscetíveis<br />

<strong>de</strong> alterarem a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente, sen<strong>do</strong> o polui<strong>do</strong>r obriga<strong>do</strong> a corrigir ou<br />

recuperar o ambiente, suportan<strong>do</strong> os encargos daí resultantes, não lhe sen<strong>do</strong><br />

permiti<strong>do</strong> continuar a ação poluente.»<br />

A aplicação <strong>do</strong> regime <strong>do</strong> Licenciamento Zero suscita especiais<br />

objeções, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a escassez <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s que impe<strong>de</strong> os<br />

serviços municipais, na maioria, <strong>de</strong> reforçar o exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

fiscalização sobre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços. Ora, o défice<br />

<strong>no</strong> exercício da fiscalização compromete a reintegração da legalida<strong>de</strong> e a<br />

responsabilização <strong>do</strong>s infratores.<br />

Outra das objeções pren<strong>de</strong>-se com as restrições orçamentais <strong>do</strong>s<br />

municípios que não se compa<strong>de</strong>cem com investimentos avulta<strong>do</strong>s, em<br />

face da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>tar cada um <strong>do</strong>s fiscais com o acesso, <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>curso da fiscalização, à informação disponibilizada <strong>no</strong> balcão<br />

eletrónico. Por outro la<strong>do</strong>, questiona-se se a criação <strong>do</strong> balcão eletrónico<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

125


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

implicará o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma aplicação informática compatível<br />

com os programas a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelas câmaras municipais.<br />

Há ainda a referir questões operacionais que po<strong>de</strong>m frustrar a boa<br />

aplicação <strong>do</strong> regime <strong>de</strong> licenciamento <strong>do</strong> RGR, à semelhança <strong>do</strong> que se<br />

tem observa<strong>do</strong> na aplicação da legislação que disciplina o exercício da<br />

ativida<strong>de</strong> industrial, a qual sujeita a <strong>de</strong>claração, prévia ao exercício da<br />

ativida<strong>de</strong>, os estabelecimentos industriais <strong>do</strong> tipo 2 (formulário eletrónico<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>claração prévia) e a registo os estabelecimentos industriais <strong>de</strong> tipo<br />

3. Por maioria <strong>de</strong> razão, fica comprometida a execução <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

Secção 7: Medidas <strong>de</strong> polícia administrativa<br />

1. Consi<strong>de</strong>rações preliminares<br />

No §4 <strong>do</strong> questionário foram as câmaras municipais inquiridas quanto<br />

às medidas administrativas aplicadas, ou seja, as previstas <strong>no</strong>s artigos<br />

18.º, 27.º e 29.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> - a suspensão da<br />

ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa, o encerramento preventivo <strong>do</strong> estabelecimento, a<br />

apreensão <strong>do</strong> equipamento por <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo,<br />

apreensões cautelares e sanções acessórias aplicadas em se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

procedimento contraor<strong>de</strong>nacional.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

126


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Por força <strong>do</strong> princípio da proporcionalida<strong>de</strong>, as <strong>de</strong>cisões administrativas<br />

que colidam com direitos ou interesses legalmente protegi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

particulares, não po<strong>de</strong>m traduzir-se na imposição <strong>de</strong> um encargo<br />

<strong>de</strong>sproporciona<strong>do</strong> e ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em conta os objetivos que<br />

presi<strong>de</strong>m à atuação administrativa. Tais <strong>de</strong>cisões hão <strong>de</strong> revelar-se<br />

a<strong>de</strong>quadas e necessárias à prossecução <strong>do</strong> interesse público visa<strong>do</strong><br />

(artigo 5.º, n.º 2, <strong>do</strong> Código <strong>do</strong> Procedimento Administrativo).<br />

Quanto ao âmbito <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> cada uma daquelas disposições, dir-<br />

se-á que a aplicação das medidas previstas <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> artigo 29.º -<br />

apreensões cautelares e sanções acessórias - está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

instauração e pendência <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong> contraor<strong>de</strong>nação, razão<br />

pela qual este po<strong>de</strong>r é exerci<strong>do</strong> pela entida<strong>de</strong> competente para aplicação<br />

da coima.<br />

É <strong>de</strong> <strong>no</strong>tar, que sanções e medidas <strong>de</strong> polícia administrativa (ou <strong>de</strong><br />

tutela da legalida<strong>de</strong>) não se confun<strong>de</strong>m nem se substituem (Acórdãos<br />

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO, Acórdão da 2.ª Sub., <strong>de</strong> 03/6/2003,<br />

proc. 865/03; Acórdão da 3.ª Sub., <strong>de</strong> 18/2/2004, proc. 1804/03; Acórdão<br />

da 2.ª Sub., <strong>de</strong> 29/11/2005, proc. 1413/04; Acórdão da 1.ª Sub., <strong>de</strong><br />

8/11/2007, proc. 160/07; Acórdão da 2.ª Sub., <strong>de</strong> 21/6/2011, proc.<br />

339/09).<br />

Por isso, a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> encerramento <strong>do</strong> estabelecimento, por exemplo,<br />

como sanção acessória, não foi pensada para estabelecimentos ou<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> laboração não autorizada ou licenciada mas para aqueles<br />

que, apesar <strong>de</strong> muni<strong>do</strong>s <strong>de</strong> licença ou autorização, vieram a infringir<br />

prescrições próprias da laboração. Bem se compreen<strong>de</strong>, pois que a<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

127


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

sanção acessória <strong>de</strong> encerramento tenha a duração máxima <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s<br />

(artigo 21.º, n.º 2, <strong>do</strong> Regime Geral das Contraor<strong>de</strong>nações). De outro<br />

mo<strong>do</strong>, estar-se-ia a admitir a reabertura <strong>do</strong> estabelecimento ilegal – por<br />

absur<strong>do</strong> que seja – nas mesmas exatas condições, ao cabo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s.<br />

Ao invés, uma medida <strong>de</strong> polícia administrativa – como será o caso da<br />

suspensão da ativida<strong>de</strong>, o encerramento preventivo <strong>do</strong> estabelecimento, a<br />

apreensão <strong>de</strong> equipamento por <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo ou a<br />

redução <strong>do</strong> horário <strong>de</strong> laboração – tem por função fazer prevalecer a lei,<br />

os direitos e interesses que esta protege. E, na medida em que visa<br />

remover os riscos imputa<strong>do</strong>s ao exercício <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong>, cessam os<br />

pressupostos se e quan<strong>do</strong> o responsável pela ativida<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar pela<br />

eliminação <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> risco.<br />

Neste caso, a competência foi atribuída às entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras e a<br />

sua aplicação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, conforme parece <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r-se da redação <strong>do</strong><br />

artigo 27.º <strong>de</strong> duas condições cumulativas:<br />

a) Ocorrência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que violem o disposto <strong>no</strong> presente<br />

Regulamento;<br />

b) Produção <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s graves para a saú<strong>de</strong> humana e para o bem-estar<br />

das populações.<br />

Já o disposto <strong>no</strong> artigo 18.º, ou seja, a suspensão da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa,<br />

aplica-se apenas quan<strong>do</strong> estão em causa ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias<br />

e obras <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> edifícios, sen<strong>do</strong> da competência das autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais que remeterá o auto <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícia para o presi<strong>de</strong>nte da câmara<br />

municipal para instauração <strong>do</strong> respetivo procedimento <strong>de</strong><br />

contraor<strong>de</strong>nação.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

128


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Apesar da fulcral importância da aplicação <strong>de</strong>stas medidas veremos que<br />

a sua aplicação é muito reduzida, como melhor se ilustra <strong>no</strong> quadro e<br />

gráficos infra.<br />

A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que <strong>no</strong>s foram faculta<strong>do</strong>s permite, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo,<br />

concluir que 162 municípios <strong>de</strong> entre os 244 que colaboraram na resposta<br />

ao inquérito, ou seja 66,3%, informaram que não foram a<strong>do</strong>tadas<br />

quaisquer medidas administrativas.<br />

78%<br />

Aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong><br />

ruí<strong>do</strong><br />

16%<br />

6%<br />

2. Suspensão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

De entre os 33,7% municípios que afirmaram terem si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas<br />

medidas, apenas 27,7% <strong>de</strong>clara ter recebi<strong>do</strong> autos <strong>de</strong> suspensão da<br />

5%<br />

1%<br />

não aplicaram medidas<br />

aplicaram entre 1 a 10<br />

aplicaram entre 11 a 30<br />

aplicaram entre 68 a 80<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

129


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa lavra<strong>do</strong>s pela autorida<strong>de</strong> policial, ao abrigo <strong>do</strong> artigo<br />

18.º, <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> 24 . Ou seja, <strong>de</strong> entre aqueles<br />

municípios, 72,3% <strong>de</strong>clararam não terem conhecimento da aplicação <strong>de</strong><br />

qualquer suspensão pela autorida<strong>de</strong> policial. Se, ao invés <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rarmos o número <strong>de</strong> municípios em que foi a<strong>do</strong>tada alguma das<br />

medidas analisadas neste capítulo, consi<strong>de</strong>rarmos o número <strong>de</strong><br />

municípios que colaborou <strong>no</strong> inquérito, a percentagem diminui para<br />

18,4%.<br />

Apenas em <strong>do</strong>is municípios, o da Figueira da Foz e <strong>de</strong> Lisboa, se<br />

<strong>de</strong>clara terem si<strong>do</strong> comunicadas, pelos elementos policiais, mais <strong>de</strong> 65<br />

or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> suspensão, ou seja, uns escassos 1,2% relativamente ao<br />

número <strong>de</strong> municípios que <strong>de</strong>clararam ter a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> alguma das medidas<br />

analisadas neste capítulo.<br />

Cerca <strong>de</strong> 13,2% <strong>do</strong>s municípios dão <strong>no</strong>tícia <strong>de</strong> 1 a 10 suspensões da<br />

ativida<strong>de</strong> por or<strong>de</strong>m policial- como seja Anadia, Chaves, Elvas,<br />

Gon<strong>do</strong>mar, Ílhavo, Loulé, Mealhada, Mira, Moga<strong>do</strong>uro, Peniche, Portimão,<br />

Santarém, São Roque <strong>do</strong> Pico, Seia, Seixal, Sesimbra, Vila Pouca <strong>de</strong><br />

Aguiar - sen<strong>do</strong> 4,5% o número <strong>de</strong> municípios que informaram terem si<strong>do</strong><br />

emitidas entre 11 a 30 or<strong>de</strong>ns, como seja Cascais, Faro, Lagos, Oeiras,<br />

Porto, Póvoa <strong>do</strong> Varzim, Silves, Vila Nova <strong>de</strong> Gaia.<br />

24 «As ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias e obras <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> edifícios realizadas em violação <strong>do</strong><br />

disposto <strong>no</strong>s artigos 14.º a 16.º <strong>do</strong> presente Regulamento são suspensas por or<strong>de</strong>m das<br />

autorida<strong>de</strong>s policiais, oficiosamente ou a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> interessa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser lavra<strong>do</strong> auto da<br />

ocorrência a remeter ao presi<strong>de</strong>nte da câmara municipal para instauração <strong>do</strong> respetivo<br />

procedimento <strong>de</strong> contraor<strong>de</strong>nação.»<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

130


3. Medidas cautelares<br />

P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Quanto à aplicação das medidas cautelares, prevê o artigo 27.º <strong>do</strong><br />

RGR 25 , que as entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras po<strong>de</strong>m or<strong>de</strong>nar a a<strong>do</strong>ção das<br />

medidas imprescindíveis para evitar a produção <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s graves para a<br />

saú<strong>de</strong> humana e para o bem-estar das populações, em resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que violem o disposto <strong>no</strong> Regulamento. Como referimos, a<br />

aplicação <strong>de</strong>sta disposição está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, não só da verificação <strong>do</strong><br />

incumprimento <strong>do</strong> RGR, como também da realização <strong>de</strong> um juízo <strong>de</strong><br />

valor, <strong>de</strong> tal forma subjetivo, que po<strong>de</strong> dificultar ou levar à hesitação na<br />

sua aplicação por parte das entida<strong>de</strong>s competentes.<br />

84%<br />

Medidas cautelares<br />

14%<br />

2%<br />

25 «1—As entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras po<strong>de</strong>m or<strong>de</strong>nar a a<strong>do</strong>ção das medidas imprescindíveis para<br />

evitar a produção <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s graves para a saú<strong>de</strong> humana e para o bem-estar das populações em<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que violem o disposto <strong>no</strong> presente Regulamento.<br />

2—As medidas referidas <strong>no</strong> número anterior po<strong>de</strong>m consistir na suspensão da ativida<strong>de</strong>, <strong>no</strong><br />

encerramento preventivo <strong>do</strong> estabelecimento ou na apreensão <strong>de</strong> equipamento por<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo.<br />

3—As medidas cautelares presumem-se <strong>de</strong>cisões urgentes, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a entida<strong>de</strong> competente,<br />

sempre que possível, proce<strong>de</strong>r à audiência <strong>do</strong> interessa<strong>do</strong> conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-lhe prazo não inferior a<br />

três dias para se pronunciar.»<br />

1%<br />

1%<br />

não aplicaram medidas<br />

aplicaram entre 1 a 10<br />

aplicaram entre 22 a 30<br />

aplicou 70<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

131


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

As medidas referidas <strong>no</strong> número anterior po<strong>de</strong>m consistir (i) na<br />

suspensão da ativida<strong>de</strong>, (ii) <strong>no</strong> encerramento preventivo <strong>do</strong><br />

estabelecimento ou (iii) na apreensão <strong>de</strong> equipamento por<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo. As medidas cautelares, naturalmente<br />

provisórias, presumem-se <strong>de</strong>cisões urgentes, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a entida<strong>de</strong><br />

competente, sempre que possível, proce<strong>de</strong>r à audiência <strong>do</strong> interessa<strong>do</strong><br />

conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-lhe prazo não inferior a três dias para se pronunciar.<br />

Uma vez mais se regista que o número <strong>de</strong> câmaras municipais que<br />

aplicou esta medida é muito baixo (12,3%). Se, ao invés, <strong>de</strong> tomarmos<br />

como base o número <strong>de</strong> municípios que respon<strong>de</strong>u, consi<strong>de</strong>rarmos o<br />

número <strong>de</strong> municípios que <strong>de</strong>clarou ter a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> qualquer medida em<br />

apreço <strong>no</strong> presente capítulo, a percentagem sobe ligeiramente (18,5%).<br />

Apenas <strong>no</strong>ve municípios <strong>de</strong>claram ter a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> entre 4 a 10 medidas<br />

cautelares. É o caso <strong>de</strong> Aveiro, Faro, Ferreira <strong>do</strong> Zêzere, Ílhavo, Loulé,<br />

Odivelas, Portalegre, Portimão e Santarém.<br />

Cascais foi o município que mais aplicou medidas cautelares (70),<br />

segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lisboa (30) e <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong> (22).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

132


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

4. Apreensão cautelar e sanções acessórias<br />

161<br />

Sanções contraor<strong>de</strong>nacionais acessórias às<br />

coimas<br />

27<br />

Por fim, <strong>no</strong> artigo 29.º <strong>do</strong> RGR 26 , prevê-se que a autorida<strong>de</strong><br />

competente para aplicação da coima po<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a apreensões<br />

cautelares e aplicar as sanções acessórias que se mostrem<br />

a<strong>de</strong>quadas, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> disposto na Lei n.º 50/2006, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> agosto<br />

(contraor<strong>de</strong>nações ambientais).<br />

3<br />

Como se vê, a aplicação <strong>de</strong> sanções acessórias ou <strong>de</strong> apreensões<br />

cautelares é muito pouco expressiva, ou seja, apenas 12,7% <strong>do</strong>s<br />

municípios as aplicaram, ou seja o município <strong>de</strong> Aveiro (3), Cartaxo (1),<br />

Cascais, Lisboa (8), Loulé (3), Matosinhos (3), Portimão (1).<br />

26 «A entida<strong>de</strong> competente para aplicação da coima po<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a apreensões cautelares e<br />

aplicar as sanções acessórias que se mostrem a<strong>de</strong>quadas, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> disposto na Lei n.º<br />

50/2006, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto.»<br />

2<br />

1<br />

não aplicaram<br />

aplicaram entre 1 a 10<br />

aplicaram entre 22 a 30<br />

aplicou 70<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

133


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

5. Observações sobre a aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia<br />

administrativa e sanções acessórias<br />

É preocupante, parece-<strong>no</strong>s, a escassa a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong><br />

polícia administrativa consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que se trata <strong>do</strong> principal instrumento<br />

para fazer repor a legalida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Supõe-se que estes números estejam relaciona<strong>do</strong>s com a falta <strong>de</strong><br />

ações <strong>de</strong> fiscalização ou com a falta <strong>de</strong> meios para comprovar as<br />

infrações.<br />

Têm-se ainda verifica<strong>do</strong> alguns casos <strong>de</strong> resistência à aplicação,<br />

mesmo quan<strong>do</strong> comprova<strong>do</strong> o incumprimento <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong><br />

Ruí<strong>do</strong>.<br />

A inércia na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia administrativa e sanções<br />

acessórias é, aliás, transversal a vários setores da ativida<strong>de</strong><br />

administrativa ambiental e urbanística, como tem vin<strong>do</strong> a ser da<strong>do</strong> conta<br />

<strong>no</strong>s relatórios <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>.<br />

O Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, <strong>no</strong> âmbito das queixas apresentadas, tem vin<strong>do</strong><br />

a insistir, junto das entida<strong>de</strong>s visadas, pela importância <strong>de</strong> aplicação<br />

<strong>de</strong>stas medidas fazen<strong>do</strong> <strong>no</strong>tar que a omissão das medidas necessárias<br />

potencia, naturalmente, a perpetuação da infração, crian<strong>do</strong> um pernicioso<br />

sentimento <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong> que favorece a reincidência <strong>de</strong>stes<br />

comportamentos, à revelia <strong>do</strong> legalmente prescrito.<br />

E a sua aplicação é tanto mais importante em matéria <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong><br />

so<strong>no</strong>ra quanto está em causa o princípio da prevenção <strong>do</strong> da<strong>no</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

134


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ambiental, ten<strong>do</strong> presente que muitos <strong>de</strong>ste da<strong>no</strong>s provoca<strong>do</strong>s são<br />

irreversíveis.<br />

A simplificação <strong>do</strong>s procedimentos <strong>de</strong> controlo prévio das ativida<strong>de</strong>s<br />

económicas postula a maior confiança <strong>no</strong>s agentes económicas, e, por<br />

maioria <strong>de</strong> razão, a sua maior responsabilização. Ao me<strong>no</strong>r rigor <strong>no</strong><br />

controlo preventivo há <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r o incremento da fiscalização<br />

sucessiva e a maior eficácia na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia ambiental.<br />

27 Julga-se conveniente incrementar o exercício <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> polícia<br />

administrativa, para a<strong>de</strong>quada preservação da tranquilida<strong>de</strong> pública. 28<br />

27 Cabe-<strong>no</strong>s aqui referir o entendimento expresso por DULCE LOPES, in Direito Regional e Local, n.º 17,<br />

janeiro-março 2012, CEJUR, Repercussões <strong>do</strong> licenciamento zero na gestão (urbanística) municipal, <strong>de</strong><br />

que a eliminação <strong>de</strong> qualquer atuação permissiva da Administração relativamente ao horário <strong>de</strong><br />

funcionamento <strong>do</strong>s estabelecimentos (mercê <strong>do</strong> aditamento <strong>do</strong> artigo 4.ºA ao Decreto-Lei n.º 48/96, <strong>de</strong><br />

15 <strong>de</strong> maio, introduzi<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 48/2011, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> abril), exclui a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução <strong>do</strong><br />

horário <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabelecimento, com base em queixas por incomodida<strong>de</strong>. Preten<strong>de</strong> a<br />

autora que «os municípios <strong>de</strong>vem, como já antes <strong>de</strong>viam, passar a gerir problemas relaciona<strong>do</strong>s, por<br />

exemplo, com o ruí<strong>do</strong>, com os mecanismos dispostos <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> usar<br />

– aqueles municípios que antes o faziam – a redução <strong>do</strong> horário como forma ad hoc <strong>de</strong> sancionar<br />

ativida<strong>de</strong>s que eram <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> forma rui<strong>do</strong>sa (ou alegadamente rui<strong>do</strong>sa) por priva<strong>do</strong>s»<br />

(cfr.pp.24 e 25).<br />

28 Passamos a transcrever parte das observações tecidas pela Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Guimarães, ao<br />

pronunciar-se sobre a versão <strong>do</strong> relatório preliminar, oportunamente divulga<strong>do</strong> <strong>no</strong> sítio eletrónico <strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> :<br />

«No que se refere às fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> resultantes sobretu<strong>do</strong> da exploração <strong>de</strong> estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração e bebidas, seria <strong>de</strong> to<strong>do</strong> conveniente, <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> funcionamento fora <strong>do</strong> horário<br />

estipula<strong>do</strong>, atribuir às forças <strong>de</strong> segurança ou polícias municipais a competência para, não só<br />

elaborar auto por verificação da infração mas também a <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar o imediato encerramento <strong>do</strong><br />

estabelecimento sob cominação <strong>de</strong> incorrer o infrator em crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência. Julga-se que,<br />

sobretu<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong> reiterada violação <strong>do</strong> horário, tal regime legal surtiria mais efeito <strong>do</strong> que a<br />

simples abertura <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> contraor<strong>de</strong>nação. Aliás, <strong>de</strong>veria prever-se a cominação <strong>do</strong> crime<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência para o incumprimento das <strong>de</strong>cisões administrativas que nesta área impõem<br />

restrições <strong>de</strong> funcionamento, <strong>de</strong>signadamente <strong>de</strong> horário. Julga-se, até, e paralelamente, que <strong>no</strong>s<br />

casos mais graves <strong>de</strong> reitera<strong>do</strong> incumprimento, <strong>de</strong>veria a administração municipal po<strong>de</strong>r lançar mão<br />

<strong>de</strong> recursos mais capazes <strong>de</strong> assegurar o cumprimento da <strong>de</strong>cisão proferida, <strong>de</strong>signadamente a<br />

solicitação às entida<strong>de</strong>s competentes para cortes <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> água, gaz ou energia elétrica.<br />

Julgamos que o regime da imputação <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong>veria a<strong>do</strong>tar-se, também, para os<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

135


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Secção 8: Planeamento municipal e ruí<strong>do</strong><br />

1. A gestão territorial e o ruí<strong>do</strong><br />

O Capítulo 5 <strong>do</strong> questionário <strong>de</strong>stina-se a verificar o cumprimento das<br />

obrigações <strong>de</strong> avaliação e gestão <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente <strong>do</strong>s municípios em<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> planeamento territorial.<br />

O enquadramento jurídico <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente é da<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei<br />

n.º 146/2006, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho (Decreto-Lei n.º 146/2006) que proce<strong>de</strong>u à<br />

transposição da Diretiva 2002/49/CE <strong>do</strong> Parlamento Europeu e <strong>do</strong><br />

Conselho, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho, e pelo Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>, aprova<strong>do</strong><br />

pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro (RGR).<br />

O regime aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 146/2006 introduziu a<br />

necessária elaboração <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, que <strong>de</strong>terminam a<br />

exposição ao ruí<strong>do</strong> ambiente exterior, e a aprovação <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação,<br />

que estabelecem estratégias <strong>de</strong> diminuição a longo prazo. Cabe aos<br />

municípios dispor <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação<br />

relativos às gran<strong>de</strong>s aglomerações urbanas. A elaboração <strong>do</strong>s mapas<br />

casos em que o volume das aparelhagens so<strong>no</strong>ras causa ruí<strong>do</strong> fortemente perturba<strong>do</strong>r com queixas<br />

que <strong>de</strong>terminam a <strong>de</strong>slocação das Polícias aos estabelecimentos. Nos casos em que é possível<br />

atribuir com segurança a fonte <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> a um estabelecimento <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, o incumprimento da<br />

or<strong>de</strong>m para baixar o volume so<strong>no</strong>ro <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> por forças <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong>veria constituir crime<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência. O que supõe que as forças <strong>de</strong> segurança e polícias municipais possam estar<br />

munidas <strong>de</strong> aparelhos que, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>, garantam uma medição capaz em tempo real<br />

inequivocamente traduzam elementos que objetivamente corporizem a infração, único mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

validamente sustentar uma acusação, qualquer que seja o <strong>de</strong>senho jurídico que se a<strong>do</strong>te.»<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

136


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação das gran<strong>de</strong>s infraestruturas <strong>de</strong><br />

transporte ro<strong>do</strong>viário, ferroviário e aéreo é confiada às entida<strong>de</strong>s gestoras<br />

ou concessionárias <strong>de</strong>stas infraestruturas (REDE FERROVIÁRIA NACIONAL -<br />

REFER, E.P.E, ANA, AEROPORTOS DE PORTUGAL, S.A., ESTRADAS DE PORTUGAL,<br />

S.A.)<br />

Por seu tur<strong>no</strong>, o RGR harmonizou a legislação nacional com os <strong>no</strong>vos<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente, estabeleci<strong>do</strong>s na Diretiva 2002/49/CE,<br />

transposta pelo Decreto-Lei n.º 146/2006. Refere-se, a título<br />

exemplificativo, a alteração <strong>de</strong> <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> referência<br />

(diur<strong>no</strong>/<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>) para três (diur<strong>no</strong>/entar<strong>de</strong>cer/<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>), a fixação <strong>de</strong><br />

valores-limite <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente exterior referencia<strong>do</strong>s aos <strong>no</strong>vos<br />

indica<strong>do</strong>res e a adaptação técnica <strong>do</strong> critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> traduzida<br />

na fixação <strong>de</strong> valores-limite para cada um <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> referência.<br />

O RGR mantém a lógica da atuação preventiva <strong>do</strong>s municípios a<br />

respeito <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente, na linha <strong>do</strong> anterior regime legal sobre<br />

poluição so<strong>no</strong>ra 29 e intensifica a sua ligação com o planeamento<br />

municipal. Neste senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>termina que as câmaras municipais elaborem<br />

mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, os quais <strong>de</strong>vem ser instrumentos <strong>de</strong> apoio ao<br />

planeamento e à i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> zonas críticas que se preten<strong>de</strong> sejam<br />

objeto <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, e proce<strong>de</strong>m à<br />

classificação <strong>de</strong> zonas sensíveis e mistas, <strong>de</strong>limitan<strong>do</strong>-as <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s<br />

municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento (artigos 6.º, 7.º, 8.º, 9.º e 10.º <strong>do</strong> RGR).<br />

29 Aprova<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei n.º 292/2000, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, que o RGR revogou.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

137


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

No entanto, com a entrada em vigor <strong>do</strong> atual RGR, os mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

elabora<strong>do</strong>s ao abrigo <strong>do</strong> anterior regime legal sobre poluição so<strong>no</strong>ra<br />

tiveram <strong>de</strong> sofrer adaptações às <strong>no</strong>vas regras em matéria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

ambiente, dan<strong>do</strong> origem à segunda geração <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> rui<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com a informação contida em <strong>do</strong>cumento elabora<strong>do</strong> pelo ex-<br />

Instituto <strong>do</strong> Ambiente, em abril <strong>de</strong> 2007 30 , cerca <strong>de</strong> 200 municípios <strong>do</strong><br />

continente possuíam mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> da primeira geração.<br />

Junto da Agência Portuguesa <strong>do</strong> Ambiente, IP (APA) que suce<strong>de</strong>u ao<br />

Instituto <strong>do</strong> Ambiente na gestão das políticas <strong>de</strong> ambiente e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, apurou-se que 180 municípios beneficiaram<br />

<strong>de</strong> apoio financeiro na preparação <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> da 1.ª geração, num<br />

total <strong>de</strong> € 1 580 000,00. Também foi concedi<strong>do</strong> apoio financeiro a 188<br />

municípios <strong>do</strong> continente na aquisição <strong>de</strong> sonómetros, custean<strong>do</strong>-se um<br />

terço <strong>do</strong> seu valor.<br />

Contu<strong>do</strong>, apenas 67 municípios remeteram à APA mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> da<br />

2.ª geração, elabora<strong>do</strong>s em conformida<strong>de</strong> com os atuais requisitos <strong>do</strong><br />

RGR.<br />

Mostra-se fundamental, assim, conhecer a forma como a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

planeamento municipal tem refleti<strong>do</strong> o exercício das competências <strong>do</strong>s<br />

órgãos das autarquias em matéria <strong>de</strong> avaliação e <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

ambiente.<br />

30 Disponível em<br />

http://www.apambiente.pt/_zdata/DAR/Rui<strong>do</strong>/ApresentacaoNovoQuadroLegal.pdf<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

138


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

2. Esta<strong>do</strong> das medidas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre planeamento e<br />

prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

Os mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 31 e 32 , <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o disposto <strong>no</strong> artigo 7.º <strong>do</strong><br />

RGR, têm como objetivo apoiar a elaboração, alteração e revisão <strong>do</strong>s<br />

pla<strong>no</strong>s diretores municipais e <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> urbanização.<br />

31 «Mapa <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>» o <strong>de</strong>scritor <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente exterior, expresso pelos indica<strong>do</strong>res L<strong>de</strong>n e Ln,<br />

traça<strong>do</strong> em <strong>do</strong>cumento on<strong>de</strong> se representam as isófonas e as áreas por elas <strong>de</strong>limitadas às quais<br />

correspon<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada classe <strong>de</strong> valores expressos em dB(A) - artigo 3.º, alínea o), <strong>do</strong><br />

RGR.<br />

32 Artigo 7.º (Mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>)<br />

1 - As câmaras municipais elaboram mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> para apoiar a elaboração, alteração e revisão<br />

<strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s diretores municipais e <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> urbanização.<br />

2 - As câmaras municipais elaboram relatórios sobre recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s acústicos para apoiar a<br />

elaboração, alteração e revisão <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> porme<strong>no</strong>r, sem prejuízo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem elaborar<br />

mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> sempre que tal se justifique.<br />

3 - Excetuam-se <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong>s números anteriores os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> urbanização e os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

porme<strong>no</strong>r referentes a zonas exclusivamente industriais.<br />

4 - A elaboração <strong>do</strong>s mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> tem em conta a informação acústica a<strong>de</strong>quada,<br />

<strong>no</strong>meadamente a obtida por técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação apropriadas ou por recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

acústicos realizada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com técnicas <strong>de</strong> medição <strong>no</strong>rmalizadas.<br />

5 - Os mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> são elabora<strong>do</strong>s para os indica<strong>do</strong>res L<strong>de</strong>n e Ln reporta<strong>do</strong>s a uma altura <strong>de</strong> 4<br />

m acima <strong>do</strong> solo.<br />

(...)<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

139


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Estes instrumentos indicam a localização das fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (tráfego,<br />

eixos ro<strong>do</strong>viários, aéreos, ferroviários e fontes fixas, tais como unida<strong>de</strong>s<br />

industriais) e apresentam uma classificação das áreas <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com os níveis <strong>de</strong> exposição ao ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong> exterior.<br />

Graficamente, os mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> traduzem-se na representação da<br />

distribuição geográfica <strong>de</strong> um indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os níveis<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiental <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> os indica<strong>do</strong>res legais, expressos<br />

em dB(A) 33 .<br />

Municípios que dispõem <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

27%<br />

0,1%<br />

73%<br />

As técnicas <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> um mapa <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>m a<br />

recolha <strong>de</strong> amostras, mediante a realização <strong>de</strong> medições acústicas em<br />

33 A Agência Portuguesa <strong>do</strong> Ambiente elaborou o <strong>do</strong>cumento «Directrizes para Elaboração <strong>de</strong><br />

Mapas <strong>de</strong> Ruí<strong>do</strong>», cuja terceira versão atualizada foi disponibilizada em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011<br />

(www.apambiente.pt/politicasambiente/Rui<strong>do</strong>/NotasTecnicaseEstu<strong>do</strong>sRefer%C3%AAncia/Docu<br />

ments)<br />

Sim<br />

Não<br />

Não respon<strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

140


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

pontos estratégicos, ou a simulação, baseada em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> cálculo.<br />

Neste último caso, recorre-se posteriormente a campanhas <strong>de</strong> medição<br />

<strong>no</strong> exterior, por forma a validar os valores simula<strong>do</strong>s.<br />

A sua análise permite i<strong>de</strong>ntificar as principais fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiental<br />

e as zonas críticas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, nas quais<br />

se mostram necessárias intervenções ten<strong>de</strong>ntes à sua diminuição.<br />

Dos 244 municípios que, até 31/12/2011, respon<strong>de</strong>ram ao inquérito, 178<br />

(72,9%) afirmaram possuir mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Apenas um município omitiu a<br />

resposta a este ponto, respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os restantes 65 (26,6%) não<br />

disporem <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

O eleva<strong>do</strong> peso das respostas fica a <strong>de</strong>ver-se, provavelmente, ao facto<br />

<strong>de</strong> muitos municípios terem revisto recentemente os seus pla<strong>no</strong>s diretores<br />

municipais, ou estarem a proce<strong>de</strong>r à sua revisão/alteração 34 .<br />

34 A Lei <strong>de</strong> Bases <strong>do</strong> Or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> Território (Lei n.º 48/98, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> agosto) e o Regime<br />

Jurídico <strong>do</strong>s Instrumentos <strong>de</strong> Planeamento Territorial (Decreto-Lei n.º 380/99, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong><br />

setembro) estão na origem da <strong>de</strong><strong>no</strong>minada «segunda geração» <strong>de</strong> PDM.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

141


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Antes <strong>de</strong> mais, <strong>no</strong>te-se que algumas das câmaras municipais que<br />

respon<strong>de</strong>ram positivamente à pergunta anterior também prestam resposta<br />

afirmativa à presente questão. Tal indicia estarem em curso<br />

procedimentos <strong>de</strong> adaptação <strong>do</strong>s mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> da 1.ª geração, <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> a conformá-los com os requisitos <strong>do</strong> RGR.<br />

Também não é estranho a este resulta<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> em alguns<br />

municípios estarem em revisão os PDM ou estarem a ser prepara<strong>do</strong>s<br />

pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> urbanização, os quais são precedi<strong>do</strong>s da realização <strong>de</strong> mapas<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Passan<strong>do</strong> à análise quantitativa registam-se 96 (39,3%) respostas<br />

afirmativas, escusan<strong>do</strong>-se 7 (2,9%) autarquias a prestar esclarecimento<br />

sobre este aspeto.<br />

Municípios com mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> em<br />

preparação/revisão<br />

141<br />

7<br />

As 141 respostas negativas representam uma percentagem <strong>de</strong> 57,7%,<br />

que <strong>de</strong>verá ser tomada em conta a par da circunstância <strong>de</strong> que cerca <strong>de</strong><br />

96<br />

Sim<br />

Não<br />

Não sabe<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

142


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

72,9% das câmaras municipais afirmarem já possuir este instrumento,<br />

conforme resulta da análise anterior.<br />

Vejamos, seguidamente, o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> articulação entre as políticas <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> e o pla<strong>no</strong> diretor municipal. 35<br />

O artigo 6.º <strong>do</strong> RGR obriga a que os pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento<br />

<strong>do</strong> território assegurem a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente so<strong>no</strong>ro através da<br />

distribuição a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong>s usos em face das fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> existentes e<br />

previstas.<br />

Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>Municipal</strong> em conformida<strong>de</strong> com<br />

exigências <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

81%<br />

2%<br />

17%<br />

35 Artigo 6.º (Pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território)<br />

1 - Os pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território asseguram a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente<br />

so<strong>no</strong>ro, promoven<strong>do</strong> a distribuição a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong>s usos <strong>do</strong> território, ten<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração as<br />

fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> existentes e previstas.<br />

2 - Compete aos municípios estabelecer <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território a<br />

classificação, a <strong>de</strong>limitação e a disciplina das zonas sensíveis e das zonas mistas.<br />

3 - A classificação <strong>de</strong> zonas sensíveis e <strong>de</strong> zonas mistas é realizada na elaboração <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos pla<strong>no</strong>s<br />

e implica a revisão ou alteração <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território em vigor.<br />

4 - Os municípios <strong>de</strong>vem acautelar, <strong>no</strong> âmbito das suas atribuições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território,<br />

a ocupação <strong>do</strong>s solos com usos suscetíveis <strong>de</strong> vir a <strong>de</strong>terminar a classificação da área como zona<br />

sensível, verificada a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infraestruturas <strong>de</strong> transporte existentes ou programadas.<br />

Sim<br />

Não<br />

Não sabe<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

143


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Mais se <strong>de</strong>termina a classificação e a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> zonas sensíveis.<br />

Estas são áreas <strong>de</strong>finidas em pla<strong>no</strong> municipal <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong><br />

território como vocacionadas para uso habitacional, ou para escolas,<br />

hospitais ou similares, ou espaços <strong>de</strong> lazer, existentes ou previstos,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> conter pequenas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>stinadas<br />

a servir a população local, tais como cafés e outros estabelecimentos <strong>de</strong><br />

restauração, papelarias e outros estabelecimentos <strong>de</strong> comércio<br />

tradicional, sem funcionamento <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. Os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong>vem, por<br />

outro la<strong>do</strong>, representar zonas mistas (a áreas <strong>de</strong>finidas em pla<strong>no</strong><br />

municipal <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território, cuja ocupação seja afeta a outros<br />

usos, existentes ou previstos, para além <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

zona sensível).<br />

Questiona<strong>do</strong>s sobre a circunstância <strong>de</strong> o PDM refletir as exigências<br />

estabelecidas <strong>no</strong> cita<strong>do</strong> artigo 6.º, 198 municípios (81,1%) pronunciaram-<br />

se negativamente e 4 (1,6%) não se manifestaram sobre o assunto.<br />

Analisa<strong>do</strong>s os Regulamentos <strong>do</strong>s Pla<strong>no</strong>s Diretores Municipais em vigor<br />

<strong>no</strong>s 42 (17,2%) concelhos que respon<strong>de</strong>ram afirmativamente a esta<br />

questão, verifica-se que apenas estabelecem a divisão entre zonas<br />

sensíveis e zonas mistas os instrumentos <strong>de</strong> gestão territorial <strong>de</strong> 11<br />

(onze) - Arcos <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez, Lisboa, Mesão Frio, Maia, Ponte <strong>de</strong> Lima,<br />

Porto, Resen<strong>de</strong>, Santa Marta <strong>de</strong> Penaguião, Santo Tirso, Valpaços e Vila<br />

Nova <strong>de</strong> Gaia. Nos PDM <strong>do</strong>s restantes municípios não se observam as<br />

prescrições <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> artigo 6.º <strong>do</strong> RGR, apesar da resposta transmitida<br />

indicar o contrário<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

144


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Vale a pena referir que, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo PDM <strong>de</strong> Lisboa, toda a<br />

área <strong>do</strong> território municipal passa a ser classificada como zona<br />

mista, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> existir zonas sensíveis, especialmente vocacionadas<br />

para uso habitacional, ou para escolas, hospitais ou similares, ou espaços<br />

<strong>de</strong> lazer, existentes ou previstos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> conter pequenas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

comércio e <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>stinadas a servir a população local, sem<br />

funcionamento <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong> (cfr. artigo 3.º, alínea x), <strong>do</strong> RGR). Esta<br />

classificação <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o concelho como zona mista po<strong>de</strong> suscitar reservas<br />

quanto à sua legalida<strong>de</strong>, já que não parece que o RGR <strong>de</strong>ixe aos<br />

municípios a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> não estabelecer zonas sensíveis <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>namento.<br />

Conclui-se, assim, serem muito <strong>de</strong>ficientes a distribuição e o zonamento<br />

que o artigo 6.º <strong>do</strong> RGR estabelece <strong>de</strong>verem constar <strong>do</strong>s PDM, apesar <strong>de</strong><br />

esta incumbência remontar ao anterior regulamento geral <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

(Decreto-Lei n.º 292/2000, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro).<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

145


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Municípios que dispõem <strong>de</strong> pla<strong>no</strong> municipal <strong>de</strong><br />

redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

97%<br />

1%<br />

Não se mostram anima<strong>do</strong>res os da<strong>do</strong>s apura<strong>do</strong>s sobre pla<strong>no</strong>s<br />

municipais <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> 36<br />

2%<br />

36 Artigo 8.º (Pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>)<br />

1 - As zonas sensíveis ou mistas com ocupação expostas a ruí<strong>do</strong> ambiente exterior que exceda os<br />

valores limite fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> artigo 11.º <strong>de</strong>vem ser objeto <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>,<br />

cuja elaboração é da responsabilida<strong>de</strong> das câmaras municipais.<br />

2 - Os pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong>vem ser executa<strong>do</strong>s num prazo máximo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

a<strong>no</strong>s conta<strong>do</strong>s a partir da data <strong>de</strong> entrada em vigor <strong>do</strong> presente Regulamento, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

contemplar o faseamento <strong>de</strong> medidas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> prioritárias as referentes a zonas sensíveis<br />

ou mistas expostas a ruí<strong>do</strong> ambiente exterior que exceda em mais <strong>de</strong> 5 dB(A) os valores limite<br />

fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> artigo 11.º.<br />

3 - Os pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> vinculam as entida<strong>de</strong>s públicas e os particulares,<br />

sen<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong>s pela assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal.<br />

4 - A gestão <strong>do</strong>s problemas e efeitos <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> a redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, em municípios que<br />

constituam aglomerações com uma população resi<strong>de</strong>nte superior a 100 000 habitantes e uma<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional superior a 2500 habitantes/km2 é assegurada através <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação,<br />

<strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho.<br />

5 - Na elaboração <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, são consultadas as entida<strong>de</strong>s<br />

públicas e privadas que possam vir a ser indicadas como responsáveis pela execução <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s<br />

municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

Artigo 9.º (Conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>)<br />

Dos pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> constam, necessariamente, os seguintes elementos:<br />

a) I<strong>de</strong>ntificação das áreas on<strong>de</strong> é necessário reduzir o ruí<strong>do</strong> ambiente exterior;<br />

Sim<br />

Não<br />

Não sabe<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

146


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

No artigo 8.º, n.º 1, <strong>do</strong> RGR estabelece-se que os municípios têm a<br />

obrigação <strong>de</strong> corrigir as situações em que se verifiquem que são<br />

ultrapassa<strong>do</strong>s os níveis so<strong>no</strong>ros máximos permiti<strong>do</strong>s relativamente a<br />

ruí<strong>do</strong> ambiente, através <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. O<br />

prazo <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> para o estabelecimento <strong>de</strong> medidas ten<strong>de</strong>ntes a<br />

alcançar este objetivo foi <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a entrada em vigor <strong>do</strong> RGR.<br />

No entanto, as informações coligidas permitem concluir pelo insuficiente<br />

cumprimento <strong>de</strong>sta obrigação legal.<br />

Os limites máximos <strong>de</strong> exposição ao ruí<strong>do</strong> ambiente exterior, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com a classificação da zona, são os seguintes:<br />

- Zonas mistas não <strong>de</strong>vem ficar expostas a ruí<strong>do</strong> ambiente exterior<br />

superior a 65 dB(A), expresso pelo indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> diur<strong>no</strong>-entar<strong>de</strong>cer-<br />

<strong>no</strong>tur<strong>no</strong> (L<strong>de</strong>n) e superior a 55 dB(A), expresso pelo indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

<strong>no</strong>tur<strong>no</strong> (Ln);<br />

- Zonas sensíveis não <strong>de</strong>vem ficar expostas a ruí<strong>do</strong> ambiente exterior<br />

superior a 55 dB(A), expresso pelo indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (L<strong>de</strong>n), e superior a<br />

45 dB(A), expresso pelo indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> Ln; quan<strong>do</strong> exista, nas<br />

proximida<strong>de</strong>s, a exploração <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> infraestrutura <strong>de</strong> transporte<br />

não <strong>de</strong>vem ficar expostas a ruí<strong>do</strong> ambiente exterior superior a 65 dB(A),<br />

b) Quantificação, para as zonas referidas <strong>no</strong> n.º 1 <strong>do</strong> artigo anterior, da redução global <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

ambiente exterior relativa aos indica<strong>do</strong>res L<strong>de</strong>n e Ln;<br />

c) Quantificação, para cada fonte <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, da redução necessária relativa aos indica<strong>do</strong>res L<strong>de</strong>n e<br />

Ln e i<strong>de</strong>ntificação das entida<strong>de</strong>s responsáveis pela execução <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>;<br />

d) Indicação das medidas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e respetiva eficácia quan<strong>do</strong> a entida<strong>de</strong> responsável<br />

pela sua execução é o município.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

147


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

expresso pelo indica<strong>do</strong>r L<strong>de</strong>n, e superior a 55 dB(A), expresso pelo<br />

indica<strong>do</strong>r Ln.<br />

Os pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, em articulação com os<br />

mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e com as cartas <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> zonas, possibilitam o<br />

reconhecimento das áreas em que os níveis so<strong>no</strong>ros exce<strong>de</strong>m os valores<br />

legalmente, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> redução, e apresentam as<br />

medidas <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> impacto so<strong>no</strong>ro. Estes pla<strong>no</strong>s vinculam as<br />

entida<strong>de</strong>s públicas e os particulares, sen<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong>s pela assembleia<br />

municipal, sob proposta da câmara municipal.<br />

Têm por objetivo o estabelecimento e a concretização <strong>de</strong> uma<br />

estratégia <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente nas situações i<strong>de</strong>ntificadas como<br />

problemáticas, servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoio à estratégia <strong>de</strong> correção <strong>do</strong> nível so<strong>no</strong>ro<br />

<strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente exterior e <strong>de</strong> prevenção da poluição so<strong>no</strong>ra. O pla<strong>no</strong><br />

municipal <strong>de</strong> redução ruí<strong>do</strong> é, assim, o instrumento que serve <strong>de</strong> apoio à<br />

estratégia <strong>de</strong> correção <strong>do</strong> nível so<strong>no</strong>ro <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente exterior e <strong>de</strong><br />

prevenção da poluição so<strong>no</strong>ra 37 .<br />

É <strong>de</strong> ter em conta que os municípios que constituam aglomerações<br />

com uma população resi<strong>de</strong>nte superior a 100 000 habitantes e uma<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional superior a 2500 habitantes/km2, para além da<br />

elaboração <strong>do</strong>s pla<strong>no</strong>s municipais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, estão ainda<br />

37 A Agência Portuguesa <strong>do</strong> Ambiente editou o Manual Técnico para a Elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong>s<br />

Municipais <strong>de</strong> Redução <strong>de</strong> Ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong> A. P. Oliveira e Cecília Rocha, com a participação da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto e o apoio <strong>do</strong> Programa Operacional<br />

Ambiente, <strong>do</strong> FEDER, disponível gratuitamente online em<br />

http://www.apambiente.pt/_zdata/DAR/Rui<strong>do</strong>/NotasTecnicas_Estu<strong>do</strong>sReferencia/PMRR.pdf<br />

.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

148


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

sujeitos à elaboração <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação, disciplina<strong>do</strong>s pelo Decreto-Lei<br />

n.º 146/2006.<br />

Os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação são instrumentos mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os<br />

pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, já que se propõem <strong>de</strong>finir medidas <strong>de</strong><br />

carácter preventivo para a preservação da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente<br />

acústico e estão integra<strong>do</strong>s numa estratégia a longo prazo <strong>de</strong> redução<br />

global <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente, pressupon<strong>do</strong> a participação <strong>do</strong> público através<br />

da realização <strong>de</strong> consulta pública 38 . Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que <strong>de</strong>vem estar<br />

concluí<strong>do</strong>s até 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2013 (artigo 10.º, n.º 6) o presente<br />

questionário não contemplou a sua elaboração.<br />

Apenas os municípios <strong>de</strong> Castro Daire, Porto, Sernancelhe, Tavira,<br />

Viana <strong>do</strong> Castelo e Vila Nova <strong>de</strong> Foz Côa, e (2,5%) afirmaram possuir<br />

pla<strong>no</strong> municipal <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 39 . Contabilizam-se 232 respostas<br />

negativas (95%), sem que as restantes 6 (2,5%) autarquia esclarecessem<br />

a questão. Neste ponto, realça-se a resposta negativa da Câmara<br />

<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Do disposto <strong>no</strong> artigo 10.º <strong>do</strong> RGR 40 resulta a incumbência municipal <strong>de</strong><br />

apresentar relatórios sobre o ambiente acústico:<br />

38<br />

Cfr. Manual Técnico para a Elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong>s Municipais <strong>de</strong> Redução <strong>de</strong> Ruí<strong>do</strong> da APA.41 e<br />

42.<br />

39<br />

Viana <strong>do</strong> Castelo especificou que o pla<strong>no</strong> municipal <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> se encontrava em<br />

elaboração.<br />

40<br />

Artigo 10.º (Relatório sobre o ambiente acústico)<br />

As câmaras municipais apresentam à assembleia municipal, <strong>de</strong> <strong>do</strong>is em <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s, um relatório<br />

sobre o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente acústico municipal, exceto quan<strong>do</strong> esta matéria integre o relatório<br />

sobre o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente municipal.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

149


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Uma das providências a a<strong>do</strong>tar pelas câmaras municipais em se<strong>de</strong> da<br />

prevenção e <strong>do</strong> controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiental é a apresentação à<br />

assembleia municipal <strong>de</strong> um relatório bienal sobre o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente<br />

acústico <strong>no</strong> município.<br />

Municípios que apresentam<br />

relatório sobre ambiente acústico<br />

4%<br />

86%<br />

Tal <strong>de</strong>corre da Diretiva 2002/49/CE <strong>do</strong> Parlamento Europeu e <strong>do</strong><br />

Conselho, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2002, relativa à avaliação e gestão <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

ambiente - transposta pelo Decreto-Lei n.º 146/2006 - e <strong>do</strong> RGR.<br />

A este quesito, 210 (86%) autarquias respon<strong>de</strong>ram negativamente, 25<br />

(10,3 %) afirmativamente e 9 (3,7%) não prestaram esclarecimento.<br />

10%<br />

Sim<br />

Nem um<br />

Não sabe<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

150


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Em resumo, na esmaga<strong>do</strong>ra maioria <strong>do</strong>s municípios portugueses não é<br />

cumprida esta obrigação.<br />

Importa fazer a distinção entre mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> (artigo 7.º, n.º 1, <strong>do</strong><br />

RGR) e mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> 41 (artigo 1.º, 2.º e 6.º <strong>do</strong> Decreto-<br />

-Lei n.º 146/2006, e artigo 7.º, n.º 6, <strong>do</strong> RGR). Os mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

constituem instrumentos fundamentais para informação <strong>do</strong> ambiente<br />

so<strong>no</strong>ro existente, ou previsto, com o principal objetivo <strong>de</strong> contextualizar a<br />

preparação <strong>do</strong>s instrumentos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> território. Já os mapas<br />

estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, previstos <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006,<br />

consubstanciam a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recolha e <strong>de</strong> disponibilização <strong>de</strong><br />

informação ao público relativa aos níveis so<strong>no</strong>ros <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente, <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> avaliação harmoniza<strong>do</strong>s ao nível da União<br />

Europeia, e fundamentam os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação.<br />

Esta obrigatorieda<strong>de</strong> inci<strong>de</strong> sobre as gran<strong>de</strong>s aglomerações<br />

populacionais e sobre as gran<strong>de</strong>s infraestruturas <strong>de</strong> transporte ro<strong>do</strong>viário,<br />

ferroviário e aéreo, competin<strong>do</strong> aos municípios e às entida<strong>de</strong>s gestoras<br />

ou concessionárias das referidas infraestruturas elaborar e rever os<br />

mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e os pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação aplicáveis.<br />

O mapa estratégico <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> constitui uma cartografia que permite a<br />

avaliação global da exposição ao ruí<strong>do</strong> numa zona sujeita a diferentes<br />

41 Artigo 7.º (Mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>)<br />

(...) 6 - Os municípios que constituam aglomerações com uma população resi<strong>de</strong>nte superior a 100<br />

000 habitantes e uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional superior a 2500 habitantes/ km2 estão sujeitos à<br />

elaboração <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006,<br />

<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

151


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

fontes <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, assim como o estabelecimento <strong>de</strong> previsões gerais para<br />

essa zona. É composto por uma recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre o ruí<strong>do</strong> existente<br />

ou previsto, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> o incumprimento <strong>de</strong> valores limites e o número<br />

<strong>de</strong> pessoas afetadas, e conjuga a caracterização da distribuição espacial<br />

<strong>do</strong>s campos so<strong>no</strong>ros (mapa <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>) com a distribuição espacial da<br />

população.<br />

Cabe aos municípios a realização <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e<br />

<strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação referentes a aglomerações com uma população<br />

resi<strong>de</strong>nte superior a 100 000 habitantes e uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional<br />

superior a 2500 habitantes/km2 (art.igo7.º, n.º 6, <strong>no</strong> RGR). Mais<br />

concretamente «a elaboração <strong>do</strong>s mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s<br />

pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação para as aglomerações compete aos serviços municipais e<br />

as respetivas aprovação e alteração competem à assembleia municipal,<br />

sob proposta da câmara municipal» (artigo 4.º, n.º 2, <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º<br />

146/2006).<br />

O Decreto-Lei n.º 146/2006 estabeleceu uma primeira fase na qual<br />

apenas os municípios com mais <strong>de</strong> 250 000 resi<strong>de</strong>ntes provi<strong>de</strong>nciam pela<br />

elaboração <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação, que<br />

<strong>de</strong>vem ser transmiti<strong>do</strong>s à APA. Por tal motivo, a questão sobre a<br />

elaboração <strong>de</strong> mapa estratégico <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> foi unicamente colocada às<br />

autarquias <strong>de</strong> Lisboa e Porto, ten<strong>do</strong> ambas respondi<strong>do</strong> afirmativamente.<br />

Todavia, informou a APA <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2012 não lhe ter si<strong>do</strong> ainda envia<strong>do</strong> o<br />

mapa estratégico <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong> Porto. 42<br />

42 A não receção <strong>do</strong> mapa foi confirmada, informalmente, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2013.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

152


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Os mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> relativos às restantes as aglomerações<br />

com mais <strong>de</strong> 100 000 habitantes e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional superior a<br />

2500 habitantes/km2 <strong>de</strong>veriam ter si<strong>do</strong> comunica<strong>do</strong>s à APA até 31 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 2012 (artigo 9.º, n.º 4, <strong>do</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006) o que não<br />

suce<strong>de</strong>u. Esta agência esclareceu estar em curso a elaboração <strong>de</strong> mapas<br />

estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>no</strong>s concelhos da Ama<strong>do</strong>ra, Matosinhos, Odivelas e<br />

Oeiras.<br />

Secção 9: Ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança<br />

Ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança’ é expressão que surge <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> algo equívoco <strong>no</strong><br />

Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Equívoco porque a lei distingue também<br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes e ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias. O<br />

ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança apresenta-se como um tertium genus, quan<strong>do</strong>, na<br />

verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser temporário ou prolonga<strong>do</strong> <strong>no</strong> tempo.<br />

É que o conceito <strong>de</strong> vizinhança usa<strong>do</strong> não correspon<strong>de</strong> à aceção<br />

tradicional <strong>do</strong> direito priva<strong>do</strong>, usada, por exemplo, <strong>no</strong> artigo 1346.º <strong>do</strong><br />

Código Civil, quan<strong>do</strong> cuida das emissões <strong>de</strong> fumo, ruí<strong>do</strong> e factos<br />

semelhantes, «provenientes <strong>de</strong> prédio vizinho», não necessariamente<br />

contíguo, mas sito nas imediações.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

153


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Ora, o RGR preten<strong>de</strong> cingir-se a uma categoria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> cuja prevenção<br />

e fiscalização se mostram particularmente fora <strong>do</strong> alcance <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los<br />

tradicionais <strong>de</strong> licenciamento ou autorização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. O que está em<br />

causa é o ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico: «o ruí<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> ao uso habitacional e às<br />

ativida<strong>de</strong>s que lhe são inerentes, produzi<strong>do</strong> diretamente por alguém ou<br />

por intermédio <strong>de</strong> outrem, por coisa à sua guarda ou animal coloca<strong>do</strong> sob<br />

sua responsabilida<strong>de</strong>, que, pela sua duração, repetição e intensida<strong>de</strong>,<br />

seja suscetível <strong>de</strong> afetar a saú<strong>de</strong> pública ou a tranquilida<strong>de</strong> da<br />

vizinhança» (artigo 3.º, alínea r)).<br />

O legisla<strong>do</strong>r quis certamente cuidar <strong>de</strong> múltiplos factos rui<strong>do</strong>sos<br />

incómo<strong>do</strong>s, mas <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> fortuitos e resguarda<strong>do</strong>s pela reserva da<br />

intimida<strong>de</strong> da vida privada e familiar para po<strong>de</strong>rem ser sujeitos a um<br />

regime semelhante ao das ativida<strong>de</strong>s económicas rui<strong>do</strong>sas. Fê-lo porém<br />

numa expressão <strong>de</strong>sastrada, não apenas por <strong>de</strong>ixar escapar ao <strong>no</strong>men<br />

juris o seu âmbito característico: tratar-se <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico. Na<br />

verda<strong>de</strong>, a própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ixa ainda escapar aquilo que, como vimos,<br />

também lhe é próprio: ser fortuito, avulso, imprevisível.<br />

Este ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança perturba, certamente, mas não tanto por ser<br />

dura<strong>do</strong>uro, continua<strong>do</strong> e <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> intenso: o ladrar <strong>de</strong> um cão na<br />

varanda, o convívio familiar, os gritos e vozearias <strong>de</strong> uma altercação<br />

familiar, o funcionamento <strong>de</strong> eletro<strong>do</strong>mésticos, na calada da <strong>no</strong>ite ou o<br />

ensaio musical. A partir daqui, ingressa-se na zona nebulosa <strong>do</strong> que<br />

sejam ativida<strong>de</strong>s inerentes ao uso habitacional: a pequena indústria<br />

caseira, as mudanças <strong>do</strong> recheio, a celebração <strong>de</strong> um aniversário pela<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

154


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>no</strong>ite <strong>de</strong>ntro. As obras interiores, <strong>de</strong>ssas cuida especificamente o artigo<br />

16.º.<br />

Parece <strong>no</strong>tório que a proteção contra estes factos rui<strong>do</strong>sos não se<br />

compa<strong>de</strong>ce com a marcação <strong>de</strong> um ensaio <strong>de</strong> medição, com a chegada<br />

<strong>do</strong> sonómetro e <strong>do</strong>s seus opera<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s.<br />

Por isso, o legisla<strong>do</strong>r confiou às autorida<strong>de</strong>s policiais o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

qualificar certo ruí<strong>do</strong> como «suscetível <strong>de</strong> afetar a saú<strong>de</strong> pública ou a<br />

tranquilida<strong>de</strong> da vizinhança», <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a intimar o responsável para fazer<br />

cessar o ruí<strong>do</strong> entre as 23h00 e as 7h00 (artigo 24.º, n.º 1) ou fixar-lhe um<br />

prazo, além <strong>de</strong>ste arco temporal, para lhe pôr termo.<br />

O agente policial terá <strong>de</strong> usar a sua experiência e prudência para<br />

discernir, sem mais, o ruí<strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iramente perturba<strong>do</strong>r ou o exercício<br />

fútil e abusivo <strong>do</strong> direito ao sossego. O critério <strong>de</strong>ve passar pela<br />

impraticabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> so<strong>no</strong> para o homem comum, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> prestar-se<br />

a especiais sensibilida<strong>de</strong>s acústicas nem à simples incomodida<strong>de</strong>.<br />

A resolução <strong>de</strong>stas questões encontra como meio especialmente idóneo<br />

o direito civil, seja por via das relações <strong>de</strong> vizinhança da proprieda<strong>de</strong><br />

horizontal, seja pela intervenção <strong>do</strong> senhorio junto <strong>do</strong>s inquili<strong>no</strong>s, seja<br />

pela salvaguarda concedida aos direitos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> (artigo 70.º <strong>do</strong><br />

Código Civil). Raramente está em causa a or<strong>de</strong>m pública ambiental,<br />

justifican<strong>do</strong> medidas <strong>de</strong> polícia. No limite, os conflitos emergentes <strong>de</strong>stes<br />

factos rui<strong>do</strong>sos <strong>de</strong>vem ser dirimi<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz ou <strong>no</strong>s tribunais,<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

155


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

mas o lesa<strong>do</strong> resiste tenazmente a este meio, persuadi<strong>do</strong> erroneamente<br />

<strong>de</strong> que os agentes policiais ou os serviços municipais hão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer<br />

mais e melhor, impon<strong>do</strong>, se necessário, a lei <strong>do</strong> silêncio que, em<br />

momento algum, a or<strong>de</strong>m jurídica consagrou.<br />

As queixas apresentadas ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> baseadas por ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

vizinhança têm conheci<strong>do</strong> um incremento expressivo, em termos que<br />

justificam o seu tratamento na presente investigação. É <strong>no</strong>tória a<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>no</strong> controlo eficaz <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> proveniente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>mésticas, associadas ao uso habitacional e à vida privada, por parte<br />

<strong>do</strong>s agentes policiais. E daí, a frustração <strong>do</strong> queixoso que se dirige ao<br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>.<br />

Conferin<strong>do</strong> o legisla<strong>do</strong>r às autorida<strong>de</strong>s policiais os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

intervenção, <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio da fiscalização e controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança,<br />

cingin<strong>do</strong>-se a atuação municipal ao processamento das contraor<strong>de</strong>nações<br />

e à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão (artigo 30.º, n.º 2 <strong>do</strong> RGR), excluímos a<br />

formulação <strong>de</strong> questões relativas à aplicação <strong>do</strong> regime <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

vizinhança <strong>do</strong> âmbito <strong>do</strong> questionário submeti<strong>do</strong> às autorida<strong>de</strong>s<br />

municipais.<br />

Por <strong>no</strong>rma, o queixoso que se dirige ao Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> é adverti<strong>do</strong><br />

contra falsas expetativas: as averiguações <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> limitar-<br />

se-ão a conferir se a autorida<strong>de</strong> policial exerceu os po<strong>de</strong>res que, em<br />

matéria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança e <strong>de</strong> preservação da or<strong>de</strong>m pública, a lei<br />

lhe confere: se constatou a produção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> «suscetível <strong>de</strong> afetar a<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

156


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

saú<strong>de</strong> pública ou a tranquilida<strong>de</strong> da vizinhança» e, em caso afirmativo, se<br />

intimou o responsável a cessar a ativida<strong>de</strong> (artigos 24.º e 26.°, alínea f)).<br />

No mais, e ten<strong>do</strong> em conta que <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> RGR, a <strong>de</strong>sobediência a<br />

uma intimação policial apenas po<strong>de</strong>rá motivar a instauração <strong>de</strong> um<br />

procedimento contraor<strong>de</strong>nacional, a questão terá <strong>de</strong> ser resolvida<br />

judicialmente ou por recurso aos julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz, entre o lesa<strong>do</strong> e o<br />

proprietário. Na verda<strong>de</strong>, apenas estas instâncias po<strong>de</strong>m pon<strong>de</strong>rar a<br />

incomodida<strong>de</strong> em termos subjetivos e promover soluções <strong>de</strong> conciliação<br />

entre direitos em conflito (artigo 335.º <strong>do</strong> Código Civil).<br />

Os controlos policiais <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico são, por natureza, inci<strong>de</strong>ntais<br />

e contingentes, pelo que o recurso aos tribunais ou a julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz se<br />

revela o meio mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s vizinhos. Não<br />

po<strong>de</strong>m as autorida<strong>de</strong>s municipais arbitrar conflitos entre os vizinhos,<br />

ainda que os agentes da Polícia <strong>de</strong> Segurança Pública e da Guarda<br />

Nacional Republicana acabem, muitas vezes, por executar, e bem, esta<br />

tarefa <strong>de</strong> mediação. Não po<strong>de</strong>m contu<strong>do</strong> estipular o horário da máquina<br />

<strong>de</strong> lavar roupa nem condicionar sistematicamente o volume <strong>de</strong> televisores<br />

ou transístores.<br />

Uma das dificulda<strong>de</strong>s que, por vezes, obsta ao eficaz exercício <strong>do</strong>s<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> fiscalização <strong>do</strong>s agentes policiais consiste na recusa da<br />

entrada <strong>do</strong>s agentes policiais <strong>no</strong> <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> responsável pela produção<br />

<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>. Os agentes perturba<strong>do</strong>res, não raro, impe<strong>de</strong>m a sua própria<br />

<strong>no</strong>tificação, opon<strong>do</strong> a garantia constitucional da inviolabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

157


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

<strong>do</strong>micílio sem autorização judicial (artigo 34.º, n.º 2, da Constituição). Em<br />

casos extremos, todavia, o agente <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá procurar obter<br />

manda<strong>do</strong> judicial.<br />

Invocan<strong>do</strong>-se numa das queixas recebidas, que o disposto <strong>no</strong> artigo 9.º<br />

<strong>do</strong> RGR não conce<strong>de</strong>ria proteção a<strong>de</strong>quada - frustran<strong>do</strong>-se a sua<br />

aplicação quan<strong>do</strong> a <strong>no</strong>tificação pessoal <strong>do</strong>s infratores fosse inviabilizada –<br />

procurou-se persuadir a que fossem pon<strong>de</strong>radas outras formas <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>tificar o participa<strong>do</strong>, na origem <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> reclama<strong>do</strong>. Assim, viria a ser-<br />

<strong>no</strong>s transmiti<strong>do</strong> pela PSP <strong>de</strong> Carnaxi<strong>de</strong>, concelho <strong>de</strong> Oeiras, que fora<br />

revisto o procedimento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para aplicação daquela <strong>no</strong>rma<br />

regulamentar. Foram instruí<strong>do</strong>s os agentes para lavrarem auto <strong>de</strong> <strong>no</strong>tícia<br />

e para <strong>no</strong>tificarem por escrito os infratores. Isto, na hipótese <strong>de</strong> o ruí<strong>do</strong><br />

não cessar prontamente.<br />

Uma outra queixa foi dirigida a este órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por um cidadão<br />

por enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>verem ser reforça<strong>do</strong>s os po<strong>de</strong>res que o RGR atribui às<br />

autorida<strong>de</strong>s policiais. Isto <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a que os mesmos pu<strong>de</strong>ssem <strong>de</strong>cretar<br />

a imediata cessação da incomodida<strong>de</strong> durante as 24 horas <strong>do</strong> dia,<br />

(em lugar da atual previsão legal que circunscreve tal faculda<strong>de</strong> ao ruí<strong>do</strong><br />

produzi<strong>do</strong> entre as 23h00 e as 7h00, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o artigo 24.º, n.º 1 <strong>do</strong><br />

RGR). Foi o queixoso informa<strong>do</strong> <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>ria o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>Justiça</strong> acompanhar a queixa, na medida em que os pressupostos que<br />

justificam a intervenção das forças policiais são alheios a meros conflitos<br />

<strong>de</strong> vizinhança sem expressão <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio da or<strong>de</strong>m pública e por isso<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

158


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

mesmo, insuficientes para legitimar o exercício <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r coativo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>.<br />

A alteração legislativa <strong>de</strong>sejada pelo queixoso traduzir-se-ia numa<br />

legitimação <strong>de</strong>sproporcionada da intervenção policial <strong>no</strong> seio da esfera da<br />

reserva da vida privada e, bem assim, na eventual violação da reserva <strong>de</strong><br />

jurisdição <strong>do</strong>s tribunais.<br />

Pelo contrário, a intervenção <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r judicial mostra-se necessária<br />

para garantir a justa composição <strong>do</strong> litígio em presença, na medida em<br />

que, mais <strong>do</strong> que o interesse público que às autorida<strong>de</strong>s administrativas<br />

incumbe exclusivamente prosseguir, o ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança conten<strong>de</strong> com<br />

direitos subjetivos com expressão individual.<br />

Sempre que possível, <strong>de</strong>verá recorrer-se aos serviços <strong>do</strong> julga<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

paz, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a me<strong>no</strong>r onerosida<strong>de</strong> e a maior celerida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

procedimento por confronto com o processo jurisdicional. Os interessa<strong>do</strong>s<br />

têm ao seu dispor o serviço <strong>de</strong> mediação, competente para mediar<br />

quaisquer litígios, ainda que excluí<strong>do</strong>s da competência <strong>do</strong> julga<strong>do</strong> <strong>de</strong> paz,<br />

com exceção <strong>do</strong>s que tenham por objeto direitos indisponíveis. É sabi<strong>do</strong><br />

porém que ainda nem to<strong>do</strong>s os concelhos dispõem <strong>de</strong> julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz<br />

instala<strong>do</strong>s.<br />

A Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Matosinhos anunciou a criação, em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

2011, <strong>de</strong> um Gabinete <strong>de</strong> Mediação <strong>de</strong> Conflitos entre Vizinhos, iniciativa<br />

pioneira em Portugal. A criação <strong>do</strong> <strong>no</strong>vo gabinete visa fazer face ao<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

159


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

aumento <strong>do</strong>s conflitos e à morosida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong><br />

contraor<strong>de</strong>nação, alguns <strong>do</strong>s quais sem dignida<strong>de</strong> para serem leva<strong>do</strong>s a<br />

tribunal. 43<br />

Julgamos que esta solução não conten<strong>de</strong> com a reserva da função<br />

jurisdicional porque o gabinete procura mediar o conflito persuadin<strong>do</strong> a<br />

uma solução, sem contu<strong>do</strong> <strong>de</strong>cretar ou impor medidas. Não <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, nem<br />

con<strong>de</strong>na. Seria profícuo conhecer o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>ste gabinete, na<br />

perspetiva <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a sua eventual extensão a outros municípios ou<br />

associações <strong>de</strong> municípios, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> municípios me<strong>no</strong>s povoa<strong>do</strong>s, com<br />

maiores limitações a nível <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s.<br />

43 População chamada a mediar conflitos entre vizinhos<br />

«A Autarquia <strong>de</strong> Matosinhos criou um gabinete que vai gerir um conjunto <strong>de</strong> voluntários que irão<br />

resolver peque<strong>no</strong>s problemas da comunida<strong>de</strong>, evitan<strong>do</strong>-se o recurso ao sistema judicial. A<br />

autarquia lançou ontem o repto à população <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber muitas queixas, quer <strong>de</strong><br />

particulares quer das forças <strong>de</strong> segurança. Situações que na generalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s casos não têm<br />

enquadramento legal e por isso nem chegam a julgamento. Terá <strong>de</strong> ser a população a encontrar<br />

uma solução para os peque<strong>no</strong>s problemas locais. «Ou é porque o cão está sempre a ladrar, ou<br />

porque a música está <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> alta, muitas vezes qualquer coisa serve para gerar discórdia e<br />

conflitos entre os vizinhos», salienta Guilherme Pinto, presi<strong>de</strong>nte da autarquia: «Situações a que,<br />

na maior parte das vezes, a justiça não é capaz <strong>de</strong> dar resposta.». Guilherme Pinto não tem<br />

dúvidas que «o objetivo será atingi<strong>do</strong> até porque em Matosinhos o exercício <strong>do</strong> voluntaria<strong>do</strong> é<br />

uma prática sedimentada na sua população». Será constituída uma equipa multidisciplinar <strong>de</strong><br />

técnicos com formação em Direito. Psicologia, Sociologia e Serviço Social e Gestão nas casas da<br />

juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> voluntaria<strong>do</strong> e cidadania <strong>de</strong> Santa Cruz, <strong>do</strong> Bispo, <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Infesta e<br />

Matosinhos. Os voluntários que forem surgin<strong>do</strong> terão formação acreditada pelo Ministério da<br />

<strong>Justiça</strong> para serem media<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz. O Gabinete <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Mediação <strong>de</strong><br />

Conflitos entre Vizinhos e Comunida<strong>de</strong> traduz, diz a câmara, mais uma aposta na qualificação e<br />

especialização <strong>do</strong>s serviços numa área pioneira <strong>no</strong> País. Tratan<strong>do</strong>-se Matosinhos <strong>de</strong> um concelho<br />

com alguma dimensão, tem 160 mil habitantes, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> urbana espelha uma socieda<strong>de</strong><br />

por vezes complexa, constituída por uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>s e cidadanias. Aí o conflito<br />

está latente <strong>no</strong> dia-a-dia das pessoas. O presi<strong>de</strong>nte da autarquia garante que a formação será<br />

exigente e só serão aceites candidatos que <strong>de</strong>monstrem gran<strong>de</strong> profissionalismo, caben<strong>do</strong> à<br />

equipa multidisciplinar trabalhar em re<strong>de</strong>, interligan<strong>do</strong> várias áreas <strong>de</strong> intervenção da câmara e<br />

instituições <strong>do</strong> concelho públicas e privadas. O voluntário, uma vez <strong>no</strong> terre<strong>no</strong>, terá <strong>de</strong> ser um<br />

media<strong>do</strong>r neutro e imparcial para encontrar uma solução satisfatória. Com esta iniciativa a<br />

Câmara preten<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s cidadãos em matéria <strong>de</strong> segurança e proteção,<br />

reforçar o teci<strong>do</strong> social na comunida<strong>de</strong> e sensibilizar os cidadãos para um mo<strong>do</strong> alternativo <strong>de</strong><br />

gestão <strong>de</strong> conflitos, evitan<strong>do</strong> o recurso ao sistema judicial.» ALFREDO TEIXEIRA l Diário <strong>de</strong> Notícias |<br />

05.12.2010.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

160


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Secção 10: Avaliação e linhas <strong>de</strong> aperfeiçoamento<br />

administrativo e legislativo<br />

1. Incremento das boas práticas administrativa e da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

direito aplicável à polícia <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

Importa refletir sobre a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificações legislativas que<br />

permitam maior eficácia da atuação administrativa na prevenção e<br />

controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> urba<strong>no</strong> e confiram maiores garantias aos administra<strong>do</strong>s.<br />

O aperfeiçoamento da polícia <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> passa ainda por medidas<br />

administrativas e <strong>de</strong> fomento que atenuem os efeitos da manifesta<br />

escassez <strong>de</strong> recursos.<br />

A Lei <strong>de</strong> Bases <strong>do</strong> Ambiente (Lei n.º 11/87, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril) exige a<br />

consi<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong> forma antecipada, das atuações com efeitos a prazo e<br />

suscetíveis <strong>de</strong> alterar a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente, reduzin<strong>do</strong> ou eliminan<strong>do</strong><br />

as suas causas.<br />

O regime instituí<strong>do</strong> pelo atual Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> (Decreto-Lei<br />

n.º 9/2007, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro) garantiu as vantagens reconhecidas à<br />

fiscalização a priori, <strong>de</strong>signadamente, maior eficácia <strong>do</strong> regime, realização<br />

<strong>do</strong>s ensaios por conta <strong>do</strong> promotor da ativida<strong>de</strong>, prevenção da<br />

incomodida<strong>de</strong> e redução das situações <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra,<br />

correções <strong>no</strong> isolamento <strong>do</strong> recetor, dispensan<strong>do</strong>-se, ainda, a realização<br />

a posteriori <strong>de</strong> muitas diligências <strong>de</strong> fiscalização, cujos custos impendiam,<br />

em larga medida, sobre o particular lesa<strong>do</strong>. Este <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato é, nas atuais<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

161


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

circunstâncias, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelo legisla<strong>do</strong>r, que veio a infletir a sua<br />

política <strong>de</strong> controlo das ativida<strong>de</strong>s económicas e estabelecimentos<br />

potencialmente incómo<strong>do</strong>s, privilegian<strong>do</strong> o controlo sucessivo em<br />

<strong>de</strong>trimento da prevenção alcançada por licenças e autorizações.<br />

A <strong>de</strong>scaraterização <strong>do</strong>s tradicionais procedimentos <strong>de</strong> licenciamento e<br />

autorização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e a ten<strong>de</strong>ncial eliminação das exigências em<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlo prévio implicam a <strong>de</strong>saplicação <strong>de</strong> boa parte <strong>do</strong>s<br />

preceitos <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong> que prosseguem o controlo<br />

preventivo e apelam a um incremento <strong>do</strong> rigor e da eficácia na aplicação<br />

<strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> fiscalização sucessiva e a uma me<strong>no</strong>r<br />

discricionarieda<strong>de</strong> na aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> polícia.<br />

A jusante, o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> e os cidadãos confrontam-se com as<br />

consequências que não se retiram, ao me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> imediato, da verificação<br />

ou confirmação <strong>de</strong> níveis excessivos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Hesita-se. Conce<strong>de</strong>-se<br />

<strong>de</strong>masia<strong>do</strong>. Usa-se <strong>de</strong> excessiva indulgência, permitin<strong>do</strong>-se que<br />

estabelecimentos rui<strong>do</strong>sos prossigam em ostensiva incolumida<strong>de</strong> com o<br />

prejuízo <strong>de</strong> terceiros, sob a condição, <strong>de</strong> execução <strong>de</strong>ferida <strong>no</strong> tempo, <strong>de</strong><br />

incrementarem o isolamento.<br />

Os exemplos estão à vista em múltiplas intervenções <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>Justiça</strong> que adquiriam expressão na comunicação social:<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

162


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

a) «Prove<strong>do</strong>r adverte Câmara <strong>de</strong> Braga sobre excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

durante as festas <strong>do</strong> “Enterro da Gata”» 44 ;<br />

b) «Bairro Alto: Ruí<strong>do</strong>, estabelecimentos comerciais e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da zona» 45 ;<br />

c) «Prove<strong>do</strong>r sugere à Câmara <strong>de</strong> Lisboa que crie regulamento para<br />

complexos como a LX Factory» 46 ;<br />

d) «Prove<strong>do</strong>r fixa prazo à Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Porto para dar resposta<br />

sobre problemas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> na zona <strong>do</strong> “Queimódromo” e <strong>do</strong> “Edifício<br />

Transparente”» 47<br />

e) «Prove<strong>do</strong>r alerta para ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bares <strong>no</strong> centro histórico <strong>de</strong> Vila<br />

Real» 48 ;<br />

f) «Prove<strong>do</strong>r escreve a Rui Rio sobre funcionamento <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Porto» 49 .<br />

Todavia importa não esquecer a ativida<strong>de</strong> que discretamente é<br />

<strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> continua<strong>do</strong>.<br />

O conceito <strong>de</strong> da<strong>no</strong> grave para a saú<strong>de</strong> humana e para o bem-estar das<br />

populações comporta uma larga margem <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> – e não <strong>de</strong><br />

simples discricionarieda<strong>de</strong> técnica – contribuin<strong>do</strong> a sua me<strong>no</strong>r <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

conceptual para a não operacionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r cometi<strong>do</strong> às entida<strong>de</strong>s<br />

fiscaliza<strong>do</strong>ras. Contribuiria para o incremento da eficácia na aplicação <strong>do</strong><br />

regime a expressa consignação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a suspensão da<br />

44 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=693<br />

45 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=559<br />

46 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=472<br />

47 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=429<br />

48 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=321<br />

49 http://www.prove<strong>do</strong>r-jus.pt/Imprensa/<strong>no</strong>ticia<strong>de</strong>talhe.php?ID_<strong>no</strong>ticias=347<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

163


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ativida<strong>de</strong>, nas situações em que a ativida<strong>de</strong> permanente não se conforme<br />

com os pertinentes requisitos acústicos. Isto, abstrain<strong>do</strong> da pon<strong>de</strong>ração<br />

da gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> da<strong>no</strong> para a saú<strong>de</strong> humana e o bem-estar da população.<br />

Deveria bastar o prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong> pública, sustenta<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

<strong>de</strong>srespeito <strong>do</strong>s parâmetros estabeleci<strong>do</strong>s <strong>no</strong> RGR. À Administração<br />

Pública seria concedi<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o encerramento <strong>do</strong><br />

estabelecimento, a interdição da ativida<strong>de</strong> ou a restrição <strong>do</strong> horário.<br />

Mereceria ainda ser estudada a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>rma que<br />

fizesse <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o reinício da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autorização expressa da<br />

entida<strong>de</strong> com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> superintendência técnica, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> esta ser<br />

concedida enquanto não fosse feita prova bastante da conformida<strong>de</strong> com<br />

o RGR. Esta solução compagina-se com o carater provisório das medidas<br />

<strong>de</strong> polícia e com o princípio da correção na fonte <strong>do</strong>s da<strong>no</strong>s ao ambiente,<br />

que impõe o <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> polui<strong>do</strong>r, enquanto fonte subjetiva ou causa<strong>do</strong>r da<br />

poluição, modificar a sua conduta, expurgan<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> ações lesivas <strong>do</strong><br />

ambiente ou retifican<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a reduzir ao mínimo a agressão<br />

ambiental.<br />

Do mesmo passo, importaria <strong>de</strong>finir pressupostos <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong><br />

medidas suspensivas das ativida<strong>de</strong>s gera<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ilícitos, sem<br />

precedência <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> medição acústica, quanto a ruí<strong>do</strong>s comumente<br />

reconheci<strong>do</strong>s como lesivos <strong>do</strong> ambiente.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

164


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

2. Equipamentos e pessoal especializa<strong>do</strong> na fiscalização <strong>do</strong>s<br />

níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

A larga maioria <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong>clarou que não dispõe <strong>do</strong>s meios<br />

necessários para realização <strong>de</strong> medições e ensaios acústicos (recursos<br />

huma<strong>no</strong>s e/ou meios técnicos).<br />

A formação <strong>de</strong> pessoal e a aquisição <strong>de</strong> um sonómetro são da máxima<br />

utilida<strong>de</strong> para a regular prossecução das atribuições municipais <strong>no</strong><br />

<strong>do</strong>mínio da fiscalização e <strong>do</strong> controlo das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas.<br />

Em caso <strong>de</strong> queixa, a promoção <strong>do</strong>s ensaios <strong>de</strong> caraterização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

pelos municípios reforça a credibilida<strong>de</strong> das medições perante os<br />

reclamantes, já que a câmara municipal é uma entida<strong>de</strong> externa ao<br />

conflito.<br />

Dispuseram os municípios, através da Administração Central, da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obterem apoios financeiros e <strong>de</strong> formação para <strong>do</strong>tarem<br />

os seus serviços <strong>de</strong> meios e recursos huma<strong>no</strong>s aptos a proce<strong>de</strong>rem a<br />

medições.<br />

Todavia, só um número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> municípios beneficiou<br />

proveitosamente <strong>de</strong>sses apoios para o exercício das competências que o<br />

RGR confere às autarquias em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> fiscalização <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

165


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

São muitos os municípios que recorrem ao serviço <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />

acreditadas, seja por falta <strong>de</strong> meios, seja por não estarem acredita<strong>do</strong>s <strong>no</strong><br />

âmbito <strong>do</strong> Sistema Nacional <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong>, conforme exigi<strong>do</strong> <strong>no</strong> artigo 34.º<br />

<strong>do</strong> RGR.<br />

Admite-se que a fiscalização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> seja mais difícil em municípios<br />

com me<strong>no</strong>s meios, <strong>no</strong>s quais se encontra disponível um número reduzi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> funcionários e pessoal técnico, ainda que tais circunstâncias não<br />

possam implicar a recusa <strong>do</strong> exercício das competências previstas <strong>no</strong><br />

RGR quanto às ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas.<br />

Terão, pois, que ser encontradas soluções alternativas que passarão<br />

pela cooperação com os municípios vizinhos ou associações municipais.<br />

É uma solução ajustada aos tempos <strong>de</strong> contenção e que evita o recurso<br />

sistemático à aquisição <strong>de</strong> serviços junto das empresas acreditadas <strong>no</strong><br />

sector.<br />

Outra solução passaria por estabelecer mecanismos que confiram<br />

credibilida<strong>de</strong> aos exames <strong>de</strong> medição acústica realiza<strong>do</strong>s a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

promotor da ativida<strong>de</strong> incómoda, <strong>de</strong>signadamente, mediante o<br />

acompanhamento <strong>do</strong>s serviços camarários, o que permitiria <strong>de</strong>sonerar as<br />

câmaras municipais, ao me<strong>no</strong>s em parte, <strong>do</strong>s custos com os encargos<br />

das medições <strong>de</strong>stinadas a aferir da procedência <strong>de</strong> reclamações.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

166


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

3. Encargos com ensaios e serviço público<br />

Uma vez que os municípios, com exceção <strong>do</strong> Porto e Vila Nova <strong>de</strong><br />

Gaia, e, mais recentemente Lisboa e Vila Franca <strong>de</strong> Xira, não se<br />

encontram acredita<strong>do</strong>s para realizar as medições e ensaios acústicos,<br />

necessariamente têm que recorrer a entida<strong>de</strong>s externas. Isto significará,<br />

em muitos casos, que os custos <strong>de</strong> tais serviços sejam imputa<strong>do</strong>s aos<br />

particulares.<br />

É muito discrepante, <strong>de</strong> município, para município, o valor das taxas<br />

respeitantes às avaliações acústicas. O mesmo se diga relativamente aos<br />

casos pontuais em que foi exigi<strong>do</strong> o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> cauções.<br />

É imperativo rever as taxas cobradas pelos municípios, quer por<br />

representarem um encargo <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> onerosos para os queixosos, quer<br />

por porem em crise o carater bilateral da taxa, ao não consubstanciarem a<br />

contrapartida pela prestação <strong>de</strong> um serviço.<br />

Admite-se que, para custear os encargos <strong>do</strong>s municípios, possa ser<br />

cobrada uma taxa <strong>de</strong> valor reduzi<strong>do</strong>, pré fixada em regulamento<br />

municipal, que corresponda à efetiva prestação <strong>de</strong> um serviço. Todavia, é<br />

urgente refletir sobre a conveniência em fazer recair sobre o agente<br />

económico que mantém uma ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa os encargos com os<br />

ensaios acústicos, em termos que propiciem a sua realização pelos<br />

serviços municipais. Permanece por regulamentar o disposto <strong>no</strong> artigo<br />

25.º <strong>do</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. A simplificação <strong>do</strong>s procedimentos<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

167


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

administrativos <strong>de</strong> controlo prévio pressupõe o reforço da fiscalização<br />

sucessiva e da responsabilização <strong>do</strong>s agentes económicos. A atual<br />

conjuntura económica e a manifesta incapacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s municípios<br />

fazerem face aos eleva<strong>do</strong>s encargos com a realização <strong>de</strong> ensaios e<br />

medições <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> sustentam a exigência <strong>de</strong> uma caução aos que se<br />

propõem <strong>de</strong>senvolver uma ativida<strong>de</strong> potencialmente rui<strong>do</strong>sa. De outro<br />

mo<strong>do</strong>, seria <strong>de</strong> obrigar o responsável pela ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa a suportar a<br />

primeira medição subsequente ao início da ativida<strong>de</strong>, logo que<br />

apresentada a primeira reclamação (ubi commoda, ibi incomoda). Tais<br />

medidas encontram fundamento <strong>no</strong> princípio <strong>do</strong> polui<strong>do</strong>r paga<strong>do</strong>r e<br />

beneficiariam a justiça na redistribuição <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong>correntes das<br />

medidas públicas <strong>de</strong> luta contra a <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> ambiente.<br />

Um expediente para obstar a reclamações fúteis passaria por<br />

estabelecer uma sanção pecuniária para os queixosos que<br />

manifestamente abusem <strong>do</strong> direito a requerer a fiscalização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>,<br />

aferi<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s claramente inferiores aos <strong>do</strong>s parâmetros<br />

fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> Regulamento Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>.<br />

No <strong>do</strong>mínio da acreditação são conhecidas as dificulda<strong>de</strong>s que os<br />

municípios enfrentam, tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um procedimento complexo, moroso<br />

e oneroso. 50<br />

50 Passa-se a citar o teor <strong>de</strong> uma exposição que <strong>no</strong>s foi dirigida em 10.12.2010, por verea<strong>do</strong>r da<br />

Câmara <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Lisboa:<br />

«Ao contrário <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s, <strong>no</strong>meadamente as empresas privadas, a ativida<strong>de</strong> da CML<br />

não encerra um carater comercial e eco<strong>no</strong>micista, mas antes procura <strong>de</strong>senvolver todas as<br />

medidas para o controlo e minimização <strong>do</strong>s incómo<strong>do</strong>s causa<strong>do</strong>s pelo ruí<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista a<br />

prossecução <strong>do</strong> bem-estar das populações. O processo <strong>de</strong> acreditação é caro e envolve gastos<br />

<strong>de</strong> manutenção o que torna a sua aplicação às entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras questionável.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

168


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Mereceria a pena promover a agilização <strong>do</strong> procedimento <strong>de</strong><br />

acreditação para os municípios, promoven<strong>do</strong>, porventura, ações <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> núcleos associa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> municípios, sob a coor<strong>de</strong>nação da<br />

APA. O que passaria por instituir trâmites simplifica<strong>do</strong>s que imprimam<br />

maior celerida<strong>de</strong> e eficiência ao processo <strong>de</strong> acreditação, com dispensa<br />

<strong>de</strong> formalida<strong>de</strong>s não essenciais, redução <strong>de</strong> prazos e revisão <strong>do</strong>s custos.<br />

Também para os municípios que ainda não dispõem <strong>de</strong> meios e<br />

recursos huma<strong>no</strong>s e técnicos se afigura proveitosa a promoção, pela<br />

Administração Central, <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> formação conjunta, na perspetiva <strong>do</strong><br />

alargamento <strong>do</strong>s beneficiários, da sua eventual associação na aquisição e<br />

partilha <strong>de</strong> recursos e da redução <strong>do</strong>s encargos. Assim suce<strong>de</strong> com os<br />

municípios agrega<strong>do</strong>s na Comunida<strong>de</strong> Intermunicipal da Lezíria <strong>do</strong> Tejo 51<br />

que dispõe <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> acredita<strong>do</strong>.<br />

Principalmente, numa altura <strong>de</strong> crise económica, que afeta gran<strong>de</strong>mente os orçamentos<br />

municipais, parece pouco sustentável <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista financeiro a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são a um sistema que para as câmaras municipais se consubstancia apenas em gastos<br />

anuais com auditorias internas e externas, em ensaios <strong>de</strong> intercomparação laboratorial, em<br />

formação profissional e, <strong>de</strong> três em três a<strong>no</strong>s, na revalidação da acreditação, sem que ocorra<br />

retor<strong>no</strong> <strong>do</strong> investimento, contrariamente ao que suce<strong>de</strong> com a s empresas privadas. (...). Mais<br />

uma vez se reforça a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, existem, sem dúvida, mais-valias que advêm da<br />

implementação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> gestão que inclua as vertentes <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, técnica e<br />

administrativa <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com uma referência <strong>no</strong>rmativa. Esta tendência contribuirá para uma<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço presta<strong>do</strong> ao munícipe, <strong>no</strong>meadamente ao nível da<br />

competência técnica. Salienta-se também a importância que a harmonização <strong>de</strong><br />

procedimentos intermunicipais assume <strong>no</strong> que se refere à aplicação <strong>de</strong> forma clara, coerente<br />

e justa <strong>do</strong> disposto <strong>no</strong> RGR em to<strong>do</strong> o território nacional. Cabe ao organismo da tutela, a APA,<br />

promover esta harmonização e fomentar a melhoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong>s municípios,<br />

<strong>de</strong>signadamente, através da criação <strong>de</strong> um sistema que assegure os benefícios que o processo<br />

<strong>de</strong> acreditação acarreta sem implicar os eleva<strong>do</strong>s custos envolvi<strong>do</strong>s. Por exemplo, não<br />

po<strong>de</strong>ria a APA promover a realização <strong>do</strong>s ensaios inter-laboratoriais cobran<strong>do</strong> aos municípios<br />

o preço <strong>de</strong> custo?» (OF/292/GVSF/10, <strong>de</strong> 10/11/2010)<br />

51 A Comunida<strong>de</strong> Intermunicipal da Lezíria <strong>do</strong> Tejo é atualmente constituída por Onze Municípios:<br />

Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira <strong>do</strong> Zêzere, Mação, Ourém, Sar<strong>do</strong>al, Tomar,<br />

Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

169


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

O Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> recomen<strong>do</strong>u 52 ao presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong><br />

Regional da Ma<strong>de</strong>ira a tomada das providências necessárias para o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> um laboratório público acredita<strong>do</strong>, suscetível <strong>de</strong><br />

executar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medição <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, ou seja, avaliação da<br />

conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calibração, ensaios, inspeções e certificações. Face ao<br />

pa<strong>no</strong>rama <strong>de</strong> forte contingentação orçamental aplica<strong>do</strong> à região, foi<br />

sugerida a pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> um procedimento conjunto <strong>do</strong>s diversos<br />

municípios da Ma<strong>de</strong>ira, com a consequente repartição equitativa <strong>de</strong><br />

custos associa<strong>do</strong>s ao funcionamento e manutenção <strong>de</strong> um laboratório<br />

acredita<strong>do</strong>. Na sequência <strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong>, foi inicia<strong>do</strong> o procedimento <strong>de</strong><br />

acreditação <strong>do</strong> Laboratório Regional <strong>de</strong> Engenharia Civil, asseguran<strong>do</strong> a<br />

Direção Regional <strong>do</strong> Or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> Território e Ambiente os respetivos<br />

equipamentos e a componente <strong>de</strong> formação. Estima-se que este processo<br />

seja concluí<strong>do</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2013.<br />

4. Licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

Conclui-se que é pouco significativo o número <strong>de</strong> câmaras municipais<br />

que condicionam a emissão <strong>de</strong> licença especial <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> à ocorrência <strong>de</strong><br />

circunstâncias excecionais, e muito reduzi<strong>do</strong> as que cumprem o disposto<br />

na lei, justifican<strong>do</strong> os motivos <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> licenciamento.<br />

Em face da prática administrativa observada, questiona-se a<br />

conveniência <strong>de</strong> condicionar o <strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

à natureza excecional <strong>do</strong> evento. Isto porquanto a aplicação <strong>de</strong>ste<br />

52 Recomendação n.º 7/A/2012, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>2012.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

170


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

conceito comporta larga margem <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-<br />

se que aquilo que é excecional num concelho possa ser comum <strong>no</strong>utro.<br />

Admite-se que <strong>no</strong>s concelhos me<strong>no</strong>s populosos e com me<strong>no</strong>r<br />

infraestruturas <strong>de</strong> diversão (salas <strong>de</strong> cinema, teatro, equipamento<br />

<strong>de</strong>sportivo e cultural) as iniciativas que envolvem entretenimento da<br />

população possam ser parcas por confronto com concelhos mais<br />

povoa<strong>do</strong>s, o que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o maior empenho na sua promoção.<br />

Sempre caberá aos municípios apreciar o maior ou me<strong>no</strong>r interesse <strong>do</strong><br />

evento para a população local e para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> concelho.<br />

Ao abster-se <strong>de</strong> estabelecer medidas mais concretas em or<strong>de</strong>m à<br />

prevenção da incomodida<strong>de</strong> (v.g. limites horários restritivos, condições <strong>de</strong><br />

inso<strong>no</strong>rização <strong>do</strong> equipamento e <strong>do</strong> recinto), a entida<strong>de</strong> licencia<strong>do</strong>ra<br />

estabelece, em termos abstratos, a exigência da observância <strong>do</strong>s valores<br />

limite regulamentares, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> ao critério <strong>do</strong> promotor as condições<br />

técnicas que assegurem o respeito <strong>de</strong> tais parâmetros. A fiscalização <strong>do</strong><br />

cumprimento <strong>de</strong>stes condicionalismos acústicos pressupõe a realização<br />

<strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> monitorização <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

A avaliação <strong>do</strong>s índices <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> permitirá discernir se a incomodida<strong>de</strong><br />

atinge limiares que ponham significativamente em causa o legítimo<br />

<strong>de</strong>scanso <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Sem esta análise, não está a câmara municipal<br />

– quan<strong>do</strong> confrontada com reclamações – em condições <strong>de</strong> apreciar se<br />

as mesmas proce<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />

outros condicionantes, <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> ulterior licença <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> concedida a<br />

pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> promotor <strong>do</strong> evento reclama<strong>do</strong>. Porém, atenta a escassez <strong>de</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

171


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

recursos que viabilizem a execução <strong>de</strong> medições e a curta duração <strong>do</strong>s<br />

eventos <strong>de</strong> diversão, <strong>de</strong>vem os serviços provi<strong>de</strong>nciar a rigorosa avaliação<br />

<strong>do</strong> impacto so<strong>no</strong>ro <strong>do</strong> evento, <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> licenciamento,<br />

sem a qual não po<strong>de</strong> avaliar-se da oportunida<strong>de</strong> das condições a impor.<br />

Urge promover o aperfeiçoamento da ação administrativa, mediante a<br />

correção e aperfeiçoamento das medidas <strong>de</strong> prevenção e redução <strong>do</strong><br />

ruí<strong>do</strong>, consignadas nas licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> emitidas.<br />

A não ser assim, a per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o motivo por que a lei <strong>de</strong>termina a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> licenças e autorizações para certas ativida<strong>de</strong>s, o controlo<br />

exerci<strong>do</strong> pelo licenciamento po<strong>de</strong> converter-se numa mera formalida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> um concreto interesse público, sen<strong>do</strong> a concessão da<br />

licença automaticamente <strong>de</strong>ferida, <strong>no</strong>s termos requeri<strong>do</strong>s.<br />

Há <strong>no</strong>tícia <strong>no</strong> direito compara<strong>do</strong> (v.g. direito municipal holandês) <strong>de</strong><br />

serem distribuídas pelas autorida<strong>de</strong>s municipais quotas anuais para<br />

conce<strong>de</strong>r licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>. Importaria refletir sobre a<br />

pertinência em estabelecer uma solução idêntica, em lugar <strong>de</strong> fazer<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r o licenciamento <strong>de</strong> circunstâncias justificadas e excecionais,<br />

conceito que envolve uma ampla margem <strong>de</strong> discricionarieda<strong>de</strong> na sua<br />

aplicação por 308 municípios.<br />

5. Fiscalização<br />

Apreciadas as dificulda<strong>de</strong>s em provi<strong>de</strong>nciar uma pronta fiscalização das<br />

ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias – v.g. escassez <strong>de</strong> meios versus curta<br />

duração <strong>do</strong> evento – importaria agilizar procedimentos, em particular<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

172


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

fomentar a colaboração das forças policiais. Saúda-se a prática <strong>de</strong> dar a<br />

conhecer à autorida<strong>de</strong> policial o teor <strong>de</strong> todas as licenças especiais <strong>de</strong><br />

ruí<strong>do</strong> emitidas, alertan<strong>do</strong> para a ocorrência <strong>do</strong> evento rui<strong>do</strong>so e as<br />

condições impostas. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> responsável pelo evento e <strong>do</strong> seu<br />

contacto telefónico parece-<strong>no</strong>s, também, benéfica por permitir o melhor<br />

controlo da incomodida<strong>de</strong> em caso <strong>de</strong> reclamação.<br />

Seria <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>rar a atribuição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res à polícia municipal e,<br />

eventualmente, à policia <strong>de</strong> segurança pública, secundada <strong>de</strong> ações <strong>de</strong><br />

formação, em or<strong>de</strong>m a que possam or<strong>de</strong>nar a imediata diminuição ou a<br />

cessação da incomodida<strong>de</strong>, em especial <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, à<br />

semelhança <strong>do</strong> que suce<strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança. Não só o<br />

ruí<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> pelas ativida<strong>de</strong>s temporárias assume maior expressão e<br />

<strong>no</strong>torieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> que o habitual ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança, pelo que será mais<br />

facilmente i<strong>de</strong>ntificável, como é mais amplo o leque <strong>do</strong>s potenciais<br />

afeta<strong>do</strong>s (em especial quan<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas se <strong>de</strong>senvolvam em<br />

espaços abertos, ao ar livre). 53<br />

Seria, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong> fomentar a aplicação da medida <strong>de</strong><br />

suspensão da ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa pela autorida<strong>de</strong> policial, quan<strong>do</strong> se<br />

verifique que a ativida<strong>de</strong> temporária não foi licenciada ou é realizada em<br />

<strong>de</strong>srespeito <strong>do</strong>s condicionalismos estabeleci<strong>do</strong>s na licença especial <strong>de</strong><br />

53 É sobretu<strong>do</strong> nas situações em que os eventos rui<strong>do</strong>sos se <strong>de</strong>senrolam ao ar livre que o prejuízo<br />

para a tranquilida<strong>de</strong> pública assume maior gravida<strong>de</strong>, por ser mais difícil a imposição <strong>de</strong><br />

condicionantes à propagação <strong>do</strong> som, na ausência <strong>de</strong> barreiras acústicas. Assim, a Câmara <strong>de</strong><br />

Arraiolos informa não prever medidas <strong>de</strong> prevenção <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> por a ativida<strong>de</strong> se realizar ao ar<br />

livre.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

173


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ruí<strong>do</strong> (cfr. artigo 18.º <strong>do</strong> RGR). A prática <strong>de</strong> transmissão sistemática <strong>do</strong><br />

teor das licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> emitidas à autorida<strong>de</strong> policial, melhor<br />

alertará os agentes para a ocorrência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s não licenciadas ou à<br />

revelia <strong>de</strong> um eventual licenciamento, dispensan<strong>do</strong> a realização <strong>de</strong><br />

averiguações para aferir da existência <strong>de</strong> licenças especiais <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />

seu teor, que a natureza pouco dura<strong>do</strong>ura <strong>do</strong> evento não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

comprometer. Os da<strong>no</strong>s para o ambiente são, não raro irreversíveis, pelo<br />

que, mais que reparar, importa precaver a sua produção ou, quan<strong>do</strong> tal<br />

não se mostre possível, suster com prontidão e eficácia a causa <strong>do</strong> da<strong>no</strong>,<br />

o que passa pela suspensão da fonte rui<strong>do</strong>sa.<br />

6. Regulação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas<br />

Merece ainda reflexão a regulação autó<strong>no</strong>ma das diversões e<br />

funcionamento <strong>de</strong> equipamentos so<strong>no</strong>ros nas vias e lugares públicos,<br />

ten<strong>do</strong> em conta que a existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is regimes 54 - que sempre terão<br />

que ser articula<strong>do</strong>s na sua aplicação - suscita dificulda<strong>de</strong>s e não parece<br />

concorrer para a segurança e a certeza jurídica. Consi<strong>de</strong>ra-se que seria<br />

vantajoso que o licenciamento das ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas temporárias fosse<br />

regula<strong>do</strong> num único diploma, uniformizan<strong>do</strong>-se limites horários,<br />

circunstâncias <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> consentimento da ativida<strong>de</strong> e aspetos<br />

procedimentais.<br />

54 Cfr. observações tecidas supra, a p. 25.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

174


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

A ten<strong>de</strong>ncial eliminação <strong>de</strong> atos permissivos <strong>de</strong> operações urbanísticas,<br />

ativida<strong>de</strong>s económicas e da abertura <strong>de</strong> estabelecimentos, aliada à<br />

precarieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s recursos huma<strong>no</strong>s e materiais <strong>do</strong>s municípios, em<br />

época <strong>de</strong> maior rigor orçamental, po<strong>de</strong> implicar, na prática, a liberalização<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s económicas, por se revelar a Administração incapaz <strong>de</strong><br />

reprimir ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas à revelia <strong>do</strong>s requisitos legais e<br />

regulamentares.<br />

Estima-se um aumento das queixas por incomodida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> em conta<br />

que os inconvenientes imputa<strong>do</strong>s à prestação <strong>de</strong> serviços e exploração<br />

<strong>de</strong> estabelecimentos são <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> sopesa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>s<br />

procedimentos <strong>de</strong> licenciamento ou <strong>de</strong> autorização, que contemplam a<br />

imposição <strong>de</strong> condicionalismos, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a mi<strong>no</strong>rar ou a <strong>de</strong>belar os<br />

efeitos in<strong>de</strong>sejáveis para terceiros.<br />

Atente-se a que, ao regular a instalação simplificada <strong>de</strong><br />

estabelecimentos e ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas (Decreto-Lei n.º 48/2011), o<br />

legisla<strong>do</strong>r abre portas à dispensa <strong>do</strong>s requisitos previstos <strong>no</strong> Regulamento<br />

Geral <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong>. Este aspeto suscita particular apreensão, pon<strong>do</strong> em<br />

causa a proteção <strong>do</strong>s terceiros lesa<strong>do</strong>s por uma concreta exploração<br />

rui<strong>do</strong>sa, cujo responsável beneficie da dispensa da aplicação <strong>do</strong>s<br />

requisitos acústicos. Nestes casos, resultará excluída a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

providências administrativas para controlo <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, apenas po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os<br />

lesa<strong>do</strong>s recorrer aos meios judiciais <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> direitos priva<strong>do</strong>s.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

175


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

7. Medidas <strong>de</strong> polícia administrativa <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong><br />

É da proteção <strong>do</strong>s direitos mora<strong>do</strong>res que há <strong>de</strong> cuidar o Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>Justiça</strong>, e é pela proteção <strong>do</strong> interesse público na tranquilida<strong>de</strong> e sossego<br />

que o município <strong>de</strong>ve tomar parti<strong>do</strong>, sem embargo <strong>do</strong> interesse<br />

legalmente protegi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s agentes económicos a <strong>de</strong>senvolverem a sua<br />

ativida<strong>de</strong>, <strong>no</strong>s quadros <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pela lei e a bem <strong>do</strong> interesse geral (artigo<br />

61.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa).<br />

Um problema recorrente <strong>no</strong> tratamento das queixas submetidas ao<br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong> pren<strong>de</strong>-se com a circunstância <strong>de</strong> os munícipes<br />

promotores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> uma queixa, quan<strong>do</strong><br />

confronta<strong>do</strong>s com <strong>no</strong>tificação para apresentação <strong>de</strong> relatório<br />

<strong>de</strong>monstrativo <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> critério da incomodida<strong>de</strong> so<strong>no</strong>ra, se<br />

absterem, frequentemente, <strong>de</strong> dar cumprimento ao <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>no</strong> prazo<br />

fixa<strong>do</strong>, benefician<strong>do</strong> <strong>de</strong> sucessivas dilações. Ora, nestas situações,<br />

persistin<strong>do</strong> a exploração reclamada, sem que se mostre <strong>de</strong>vidamente<br />

fundamenta<strong>do</strong>, mediante a realização <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

os procedimentos e a <strong>no</strong>rmalização aprovada, o prejuízo para o interesse<br />

público, vêm as câmaras municipais postergan<strong>do</strong> a tomada <strong>de</strong><br />

providências restritivas. Não se dispon<strong>do</strong> o promotor da ativida<strong>de</strong> que é<br />

fonte <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong> para terceiros a avaliar os níveis <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

produzi<strong>do</strong>s, <strong>no</strong>s termos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s pela entida<strong>de</strong> com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

superintendência técnica, sem que se verifique circunstância justificativa<br />

<strong>de</strong>ssa omissão, po<strong>de</strong>rá subsistir, por um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong><br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

176


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

ou por tempo in<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, o prejuízo para os mora<strong>do</strong>res que reclamem a<br />

reposição <strong>do</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>.<br />

A certificação, por entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vidamente acreditada, <strong>do</strong>s requisitos<br />

acústicos <strong>do</strong>s edifícios e, bem assim, <strong>do</strong>s limites acústicos aplicáveis por<br />

força <strong>do</strong>s artigos 11.º e 13.º <strong>do</strong> RGR (limites <strong>de</strong> exposição e critério <strong>de</strong><br />

incomodida<strong>de</strong>), não têm amiú<strong>de</strong> lugar <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> um procedimento<br />

administrativo <strong>de</strong> controlo prévio, seja porque as câmaras não verificam o<br />

cumprimento daqueles parâmetros 55 , seja porque a lei parece bastar-se<br />

com a emissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> termos <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>. Ficou já <strong>de</strong>monstrada a escassez <strong>do</strong>s meios huma<strong>no</strong>s<br />

e técnicos afetos à fiscalização da legislação <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, não se<br />

encontran<strong>do</strong> a larga maioria <strong>do</strong>s municípios provi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> recursos idóneos<br />

ao exercício <strong>de</strong> uma pronta fiscalização.<br />

Em face <strong>do</strong> exposto, sugere-se que seja pon<strong>de</strong>rada uma solução legal<br />

que estabeleça que, em caso <strong>de</strong> queixa por incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa, o<br />

responsável pelo equipamento, ativida<strong>de</strong> ou estabelecimento reclama<strong>do</strong><br />

seja onera<strong>do</strong> com o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> fazer prova bastante <strong>do</strong>s requisitos<br />

previstos <strong>no</strong> regulamento geral <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, num prazo razoável.<br />

Expira<strong>do</strong> o prazo sem que a prova seja exibida, ficaria a câmara<br />

municipal vinculada a a<strong>do</strong>tar medida provisória que ponha termo à<br />

incomodida<strong>de</strong>, cujos efeitos perdurariam até que fosse <strong>de</strong>monstrada a<br />

improcedência <strong>do</strong> prejuízo para a tranquilida<strong>de</strong>. A <strong>no</strong>tificação da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser feita a pertinente prova, em prazo <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>,<br />

55 e, <strong>no</strong> que concerne ao artigo 11.º, se abstêm <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar, em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> planeamento, zonas<br />

sensíveis e mistas.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

177


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

conteria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a advertência <strong>de</strong> que o incumprimento implicaria a<br />

suspensão <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> equipamento, da ativida<strong>de</strong> ou <strong>do</strong><br />

estabelecimento. De outro mo<strong>do</strong>, a inércia <strong>do</strong> promotor <strong>do</strong> incómo<strong>do</strong>,<br />

secundada pela inércia municipal, beneficiará os interesses daquele, em<br />

manifesto <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> que se <strong>de</strong>clara lesa<strong>do</strong>.<br />

8. Instrumentos <strong>de</strong> gestão territorial, mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> e pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

ação<br />

Em termos gerais, é <strong>de</strong>ficiente o cumprimento das exigências que o<br />

RGR impõe às câmaras municipais em se<strong>de</strong> <strong>do</strong> planeamento territorial,<br />

apenas sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> referir como aspeto positivo o facto <strong>de</strong> pouco me<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

3/4 <strong>do</strong>s municípios disporem <strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>.<br />

No restante, constata-se que os pla<strong>no</strong>s municipais não têm vin<strong>do</strong> a<br />

tomar em <strong>de</strong>vida conta as preocupações <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente<br />

so<strong>no</strong>ro ao <strong>de</strong>finirem as regras <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> solo e <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

Por um la<strong>do</strong>, os pla<strong>no</strong>s abstêm-se <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong><br />

zonas sensíveis, prioritariamente dirigidas para a função habitacional e<br />

nas quais é intensificada a proteção contra o ruí<strong>do</strong> ambiente, chegan<strong>do</strong><br />

até o município <strong>de</strong> Lisboa, <strong>no</strong>vo PDM, a pôr <strong>de</strong> la<strong>do</strong> tal categoria. De<br />

sublinhar que o défice na classificação <strong>de</strong> zonas sensíveis e mistas<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

178


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

compromete o exercício da fiscalização preventiva prevista <strong>no</strong> RGR,<br />

<strong>de</strong>signadamente <strong>no</strong> artigo 12.º, n.º 6, e <strong>no</strong> artigo 13.º. 56<br />

Ora, a experiência na instrução <strong>do</strong>s processos abertos com base em<br />

queixas dirigidas a este órgão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com fundamento em<br />

incomodida<strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sa revela uma incipiente aplicação das disposições<br />

que se contêm <strong>no</strong>s artigos 12.º, n.º 6 e 13.º, n.º 1 <strong>do</strong> RGR, em termos que<br />

<strong>no</strong>s induzem a concluir pela sistemática <strong>de</strong>saplicação <strong>de</strong>stes preceitos,<br />

em <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s fins que os <strong>no</strong>rteiam.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é impressivo verificar (i) que apenas seis municípios<br />

dispõem <strong>de</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>, cujo objetivo é a melhoria das<br />

situações <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente, e (ii) que a apresentação <strong>de</strong><br />

relatório sobre ambiente acústico apenas ocorreu em 25 municípios.<br />

Também <strong>no</strong> que respeita à elaboração <strong>de</strong> mapas estratégicos <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong><br />

e <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação relativos a gran<strong>de</strong>s aglomerações se conclui pelo<br />

não cumprimento, por parte <strong>do</strong>s municípios, das obrigações<br />

calendarizadas <strong>no</strong> Decreto-Lei n.º 146/2006, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho.<br />

56 O RGR interdita o licenciamento, ou a autorização, <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos edifícios <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a habitação,<br />

escolas, hospitais ou similares e a espaços <strong>de</strong> lazer nas situações em que ocorra a violação <strong>do</strong>s<br />

valores limite <strong>de</strong> exposição ao ruí<strong>do</strong> fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> artigo 11.º <strong>do</strong> RGR. Ora, neste artigo 11.º<br />

estabelecem-se diferentes valores em função da classificação <strong>de</strong> uma zona como mista ou<br />

sensível e consoante o perío<strong>do</strong> referência diur<strong>no</strong>/entar<strong>de</strong>cer/<strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. Também a instalação e o<br />

exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rui<strong>do</strong>sas permanentes em zonas mistas, nas envolventes das zonas<br />

sensíveis ou mistas ou na proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recetores sensíveis isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> cumprimento<br />

<strong>do</strong>s valores limite fixa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> artigo 11.º, para além <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong> critério <strong>de</strong> incomodida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

179


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

Deverá pon<strong>de</strong>rar-se recomendação ou sugestões sobre estas questões,<br />

com o propósito <strong>de</strong> que as câmaras municipais, mediante a alteração <strong>do</strong>s<br />

pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento existentes ou a elaboração <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos pla<strong>no</strong>s,<br />

venham a cumprir as obrigações que a legislação nacional e europeia<br />

lhes impõe <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> garantir e <strong>de</strong>senvolver os padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

em matéria <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> ambiente.<br />

9. Ruí<strong>do</strong> <strong>de</strong> vizinhança<br />

Julgamos que, sem prejuízo da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mediação levada a cabo<br />

<strong>no</strong>s julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz, a criação <strong>de</strong> gabinetes municipais <strong>de</strong> mediação<br />

entre vizinhos não conten<strong>de</strong>ria com a reserva da função jurisdicional. O<br />

gabinete procura mediar o conflito persuadin<strong>do</strong> a uma solução, sem<br />

contu<strong>do</strong> <strong>de</strong>cretar ou impor medidas. Não <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, nem con<strong>de</strong>na. Seria<br />

profícuo conhecer o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>ste gabinete, na perspetiva <strong>de</strong><br />

pon<strong>de</strong>rar a sua eventual extensão a outros municípios.<br />

Seria igualmente <strong>de</strong> incrementar o encaminhamento <strong>do</strong>s que se dizem<br />

lesa<strong>do</strong>s por ruí<strong>do</strong> proveniente <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>mésticas levadas a cabo<br />

por vizinhos, ou por ruí<strong>do</strong> com origem em animal ou coisa à guarda <strong>do</strong>s<br />

vizinhos, para os julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paz, privilegian<strong>do</strong>-se nestas situações o<br />

exercício da mediação.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

180


P R O V E D O R D E J U S T I Ç A<br />

10. <strong>Boas</strong> práticas e modificações <strong>no</strong>rmativas<br />

No termo da análise <strong>do</strong>s elementos recolhi<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s<br />

estatisticamente <strong>no</strong> Relatório sobre o Inquérito que vem apresenta<strong>do</strong>,<br />

pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar exemplos <strong>de</strong> boas práticas administrativas<br />

<strong>de</strong>senvolvidas em algumas câmaras municipais. Por outro la<strong>do</strong>, muitas<br />

das anteriores intervenções <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, seja através das<br />

recomendações formuladas, seja por meio <strong>de</strong> sugestões, observações e<br />

chamadas <strong>de</strong> atenção, permitem, sem dúvida, discernir outras tantas<br />

contribuições para o aperfeiçoamento da aplicação das <strong>no</strong>rmas e legais e<br />

regulamentares sobre o ruí<strong>do</strong>. Houve oportunida<strong>de</strong>, bem assim, <strong>de</strong> refletir<br />

criticamente acerca <strong>de</strong> aspetos <strong>de</strong>sse mesmo direito aplicável e que, ao<br />

longo <strong>do</strong> Relatório, foram recensea<strong>do</strong>s. Consi<strong>de</strong>rou-se que, em face das<br />

especiais incumbências <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, quer <strong>no</strong> aperfeiçoamento<br />

da ativida<strong>de</strong> administrativa, quer <strong>no</strong> incremento da qualida<strong>de</strong> das leis e<br />

regulamentos, seria útil apresentar um Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong><br />

Administrativas a enviar a to<strong>do</strong>s os municípios e à Associação Nacional<br />

<strong>de</strong> Municípios Portugueses, <strong>de</strong> par com um conjunto <strong>de</strong> sugestões <strong>de</strong><br />

natureza legislativa a apresentar ao Gover<strong>no</strong>, através da Senhora Ministra<br />

da Agricultura, <strong>do</strong> Mar, <strong>do</strong> Ambiente e <strong>do</strong> Or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> Território e <strong>do</strong><br />

Senhor Ministro da Administração Interna.<br />

<strong>Boas</strong> <strong>Práticas</strong> <strong>no</strong> <strong>Controlo</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>do</strong> Ruí<strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Justiça</strong>, 2013<br />

181

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!