Bem-me-quer, mal-me-quer: O Ensino Religioso Escolar ... - GPER
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A função da religião é humanizar os indivíduos, e isto será possível so<strong>me</strong>nte quando<br />
os indivíduos construírem “pontes” que favorecem a conexão consigo <strong>me</strong>smo, com o outro e<br />
com o transcendente. Daí a importância de entender-se um sujeito com virtudes e defeitos,<br />
limites e potenciais, e a partir desse entendi<strong>me</strong>nto procurar o equilíbrio em direção da<br />
compreensão do Sagrado.<br />
O Sagrado exerce um poder extraordinário junto aos seres humanos. A crescente<br />
religiosidade demonstra tal fascínio e encanta<strong>me</strong>nto. O <strong>Ensino</strong> <strong>Religioso</strong> como área do<br />
conheci<strong>me</strong>nto traz uma contribuição significativa para a compreensão da religiosidade<br />
humana, do fenô<strong>me</strong>no religioso e ainda aponta os desafios que tal conheci<strong>me</strong>nto apresenta<br />
num mundo muitas vezes hostil, ignorante e até individualista.<br />
É importante nesse contexto considerar que o conheci<strong>me</strong>nto religioso não é so<strong>me</strong>nte<br />
cultura, sabedoria ou formas de vida, mas é também patrimônio cultural da humanidade, que<br />
orientou e orienta a vida das pessoas, dando sentido e significado a <strong>me</strong>sma.<br />
Cortella 29 , no artigo “A transcendência se mostra... Educamos nosso olhar?”,<br />
enu<strong>me</strong>ra uma série de situações as quais identifica como experiências religiosas,<br />
carregadas de sentidos e significados. Entre essas ele cita: a 1ª vez que viu a grandeza do<br />
mar aos 5 anos; na infância, as viagens para encontros com os parentes; os mo<strong>me</strong>ntos de<br />
orações com sua mãe ao dormir; as co<strong>me</strong>morações de aniversário; o velório de um<br />
coleguinha na infância; posterior<strong>me</strong>nte o nasci<strong>me</strong>nto do pri<strong>me</strong>iro filho (choro e alegria que<br />
também ocorreram com o nasci<strong>me</strong>nto de outros filhos); as dores da guerra, da fo<strong>me</strong>, das<br />
epidemias e tantos outras desgraças que assolam tais infortúnios; por outro lado, a<br />
participação num culto, que caracteriza doação, reflexão e aprendizagem; o convívio com os<br />
familiares e enfim muitas outras situações que o fizeram perceber o sentido do amor e da<br />
partilha, e viver o mistério da experiência da transcendência.<br />
Segundo Junqueira 30 , os conteúdos desenvolvidos no <strong>Ensino</strong> <strong>Religioso</strong> devem<br />
possibilitar aos educandos uma relação consigo <strong>me</strong>smo, com o outro, com o espaço, com o<br />
Transcendente, procurando despertar para a sensibilidade diante de situações desumanas,<br />
que ferem a dignidade humana. No entanto, deve se reconhecer os <strong>me</strong>canismos geradores<br />
de vida e que, portanto, devem ser valorizados, principal<strong>me</strong>nte aqueles que proporcionam a<br />
dignidade do ser humano.<br />
As muitas sensações, percepções, experiências e outros vividos no cotidiano dos<br />
indivíduos possibilitam reflexões sobre uma vida digna e humana. Considerar o indivíduo<br />
como ser empoderado, cidadão e com direitos, constituem diferenciais que apontam para<br />
essa dignidade.<br />
Assim, o <strong>Ensino</strong> <strong>Religioso</strong> deve estar atento para as diferentes opções e di<strong>me</strong>nsões<br />
da fé; é preciso respeitar o diferente e as diferenças e com eles interagir. Pois, embora os<br />
indivíduos sejam compreendidos como seres únicos, constituem-se <strong>me</strong>mbros de uma<br />
sociedade plural e num contexto religioso como <strong>me</strong>mbro de um grupo que tem por <strong>me</strong>tas<br />
ressignificar as grandes questões que assolam a vida, dentre elas a fraternidade, o amor, o<br />
companheirismo, a justiça, a honestidade, o senso de partilha, a ética e tantos outros. Por<br />
outro lado a violência, a dor, a morte e etc.<br />
Para alcançar a dignidade e a promoção humana se faz necessário compreender<br />
que a vida é mais! Os valores presentes no universo religioso poderão dar indícios do ethos,<br />
que é a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser. Assim, o<br />
ethos forma-se na percepção interior de valores, e são esses valores que irão nortear a vida<br />
dos indivíduos para que esses caminhem e não se sintam sozinhos, pois confor<strong>me</strong><br />
Cortella 31 “ser humano é ser junto”.<br />
29 CORTELLA, Mário Sérgio. A Transcendência se mostra... Educamos nosso olhar? Diálogo – Revista do<br />
<strong>Ensino</strong> <strong>Religioso</strong>. São Paulo, Ano IX, nº 34, maio de 2004, p. 14-17.<br />
30 JUNQUEIRA, Op. Cit. p. 101, nota 25.<br />
31 CORTELLA, Op. Cit. p. 17.<br />
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