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Anexo #2 - GPER

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Curso: Introdução ao Ensino Religioso –<br />

Ênfase aos 1.º e 2.º anos<br />

Apostila 2<br />

Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente<br />

uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.<br />

Martin Luther King<br />

CONTEÚDOS<br />

Religião: o que é?.....................................................................02<br />

Pressupostos pedagógicos do Ensino Religioso............................02<br />

Concepção e objeto de estudo...................................................04<br />

Proposição de conteúdos...........................................................05<br />

Sugestões de planejamento de temas:<br />

Tema 1: A beleza da diversidade................................................06<br />

Tema 2: Eu e a natureza somos expressões da beleza da vida......12<br />

Referências...............................................................................14<br />

ASSINTEC/SME<br />

Curitiba/ 2010


2<br />

RELIGIÃO: O QUE É?<br />

Diná Raquel Daudt da Costa<br />

Religião depende de cada um<br />

É a crença, a fé, o amor<br />

Que as pessoas cultivam<br />

Nas suas casas, nas igrejas<br />

Nos templos, na natureza...<br />

Boa é a religião<br />

Do índio, do branco<br />

Do negro e do amarelo<br />

Que ensina o respeito e o amor<br />

Que liga as pessoas num elo<br />

Somos todos diferentes<br />

Tamanhos, cores, jeitos sem fim<br />

Ninguém é perfeito sabemos<br />

Mas podemos nos entender<br />

Importante é você saber<br />

Com todos conviver<br />

Nas diferenças pessoais, culturais e religiosas<br />

Com seu jeito próprio de ser.<br />

1. PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS DO ENSINO RELIGIOSO<br />

A Pedagogia Libertadora tinha a preocupação em libertar as pessoas de toda opressão,<br />

principalmente da opressão social e política, e acabou também por exercer influência na definição<br />

de conteúdos e metodologia do Ensino Religioso.<br />

Mesmo tendo a ASSINTEC nascida num período em que a Pedagogia Tecnicista era o<br />

ponto central da educação, a Educação Religiosa no Paraná tinha o compromisso de despertar o<br />

ser humano crítico, participativo, fraterno, liberto de preconceitos, ignorância e egoísmo,<br />

elementos estes inspirados pela Pedagogia Libertadora.<br />

Na década de 80, os educadores envolvidos com o Ensino Religioso, assim como os das<br />

demais disciplinas, repensam a educação com base na proposta da Pedagogia Histórico-Crítica.<br />

Sob a influência de Vygotsky (1896 – 1934), que preconiza a importância das interações<br />

sociais no desenvolvimento de processos psicológicos, o enfoque no diálogo e na alteridade tornase<br />

hoje ponto de referência para a pedagogia religiosa.<br />

Vygotsky afirma que dominar o sistema de signos produzidos culturalmente configura a<br />

forma de consciência do indivíduo sobre a realidade; o indivíduo muda, e a sua linguagem se<br />

altera. Durante o estudo de signos e símbolos religiosos se opera na consciência do indivíduo uma<br />

nova possibilidade de compreender o mundo e as diferentes culturas e tradições religiosas,<br />

espirituais e místicas. Para Vygotsky, havendo mais aprendizagens haverá, conseqüentemente,<br />

mais desenvolvimento do indivíduo.<br />

Nesse sentido, não basta que o aluno conheça a sua realidade religiosa apenas, pois ele<br />

vive a realidade sociointeracionista, em que a diferença e a variedade configuram a realidade


3<br />

maior. Portanto, é necessário o uso do conhecimento religioso para compreender a relação com o<br />

outro e como este faz uso do seu próprio conhecimento.<br />

Outra forte influência pedagógica no Ensino Religioso proposta pela ASSINTEC foi, e<br />

ainda de certa forma o é, a Teoria dos Sistemas, a visão da globalidade, em que a teia de interrelações<br />

é o fundamento básico para a manutenção do equilíbrio dos sistemas. Muito se ouve falar<br />

da ecologia humana, sobre o diálogo interespécies, ou ainda o enfoque do novo paradigma: o<br />

cuidado, cujo expoente é o teólogo, escritor e professor Leonardo Boff. A vida cuidando da vida, o<br />

respeito à pluralidade, o enfoque dado ao sagrado enquanto meio de proteção e estabelecimento<br />

de um ethos nas relações do humano para com o humano, do humano com outras formas de vida,<br />

ou seja, abrangendo a relação interespécies.<br />

Assim, o Ensino Religioso num modelo inter-religioso propõe:<br />

• Decodificar os elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, visando à<br />

construção da alteridade e do respeito no convívio social;<br />

• Compreender as relações do humano com o Transcendente/Imanente;<br />

• Abordar o conhecimento religioso focando a multiculturalidade;<br />

• Buscar o saber (informação sobre o fenômeno religioso), o viver (prática de valores<br />

humanizadores), integrando a pessoa em seus aspectos: ter (horizontal) com o ser<br />

(vertical);<br />

• Integrar ciência e consciência, ciência e ética, ciência e arte, ciência e tradição de<br />

sabedoria;<br />

• Proporcionar espaço para a interiorização, sensibilização, observação, reflexão e<br />

informação da realidade social, política, econômica, cultural e religiosa;<br />

• Desenvolver a consciência crítica e a criatividade;<br />

• Utilizar a linguagem formal e científica para aprofundar conhecimentos e a linguagem<br />

simbólica para compreender categorias intuitivas, como os mitos, os símbolos, os ritos e<br />

os arquétipos expressos pelos povos;<br />

• Dar à ciência e à tecnologia uma dimensão ética;<br />

• Educar com arte;<br />

• Educar para a paz, com base no respeito e reverência ao sagrado presente em si e no<br />

outro;<br />

• Construir um referencial de conhecimentos culturais e proposições éticas, preparando o<br />

estudante para o exercício consciente da cidadania ecumênica, democrática, planetária e<br />

humanitária.<br />

O fato de trazer à pauta o ensino comprometido com a totalidade do ser humano, a<br />

inclusão das holopráxis, na preparação da turma para o trabalho com determinada temática, é<br />

resultado do amadurecimento de uma postura ética e pedagógica de profissionais da educação em<br />

face da vida, e não restrita apenas aos espaços escolares.<br />

Como bem apontou Morin (1993), o conhecimento se diferencia da informação e se<br />

distingue desta. A informação comporta o primeiro estágio do conhecimento. Ao serem trabalhadas<br />

as informações estabelecem relações, contextualizam-se, são classificadas, analisadas, passando<br />

desse modo para o estágio denominado conhecimento. O autor sugere ainda um terceiro estágio,<br />

que se relaciona à inteligência, o da consciência ou sabedoria, que envolve reflexão, sugerindo<br />

novas formas de humanização.<br />

No Ensino Religioso, a complexidade dos assuntos abordados para o estudo do fenômeno<br />

religioso requer que cada professor seja um investigador, pois, além da imensa gama de<br />

informações dessa área de conhecimentos, o fenômeno muda constantemente, assume relações<br />

diversas, transformações decorrentes dos processos de avanços e retrocessos sofridos pelos<br />

diferentes grupos sociais.<br />

Outro fato importante é que a postura investigativa, no caso dos professores, não se limita<br />

apenas ao objeto de estudo de sua área de conhecimento, mas também à sua própria ação<br />

docente. Além de atualizações constantes em sua área, para trabalhar de forma adequada os<br />

conhecimentos em sala de aula, o professor precisa acompanhar as teorias de educação,<br />

envolver-se diretamente nas reflexões sobre sua práxis cotidiana, lançando o olhar para os<br />

resultados de seus procedimentos pedagógicos, para as transformações sociais, para a<br />

peculiaridade de cada classe e o desenvolvimento cognitivo/afetivo de seus aprendizes.


4<br />

CONCEPÇÃO E OBJETO DE ESTUDO<br />

O Ensino Religioso sendo área do conhecimento é diferente de “aula de religião”, ou de<br />

catequese, ou de escola bíblica, ou ainda de qualquer modelo de doutrinação. Não pressupõe a<br />

adesão e muito menos o proselitismo ou a propagação de uma determinada crença religiosa.<br />

A especificidade do Ensino Religioso, ou seja, o seu objeto de estudo, são as<br />

manifestações do sagrado, cuja decodificação ou análise permitem aos educandos o<br />

conhecimento e a compreensão do fenômeno religioso como fato cultural e social, bem como uma<br />

visão global de mundo e de pessoa.<br />

Assim, o Ensino Religioso contribui com a formação de cidadãos capazes de conviver de<br />

modo respeitoso, democrático e ecumênico na diversidade cultural, a qual inclui também as<br />

diferentes expressões religiosas, místicas e espirituais.<br />

Aprendendo a conviver com diferentes tradições [...] vivenciando a própria cultura e<br />

respeitando as diversas formas de expressão cultural, o educando está também se<br />

abrindo para o conhecimento. Não se pode entender o que não se conhece. Assim, o<br />

conceito de conhecimento do Ensino Religioso, de acordo com as teorias<br />

contemporâneas, aproxima-se cada vez mais da idéia de que conhecer é construir<br />

significados (PCNs – Ensino Religioso, 1997, p. 39.).<br />

O objeto de estudo do Ensino Religioso abarca as diferentes manifestações do sagrado. O<br />

fenômeno religioso inclui todas as manifestações religiosas, em outras palavras, reúne uma gama<br />

imensa de expressões que acontecem no contexto das mais diversas culturas.<br />

Essas manifestações ou expressões podem ser tanto de ordem material como espiritual, e<br />

envolvem os seres humanos em sua busca e relação com o Transcendente/Imanente. Essa busca<br />

e relação pode ter um caráter individual ou comunitário.<br />

Esse fenômeno acontece no universo de uma cultura, é influenciado por ela e, por sua<br />

vez, também a influencia; é inerente ao ser humano e tem como pressuposto a experiência do<br />

sagrado, a qual está na essência da expressão cultural dos povos.<br />

Portanto, o fenômeno religioso é tudo o que pertence ao universo religioso e que mobiliza e<br />

determina certo comportamento dos cidadãos ou de grupos sociais, cujo objetivo é a experiência<br />

do sagrado.<br />

O conhecimento do fenômeno religioso como fato social e cultural contribui na ampliação<br />

da visão de mundo, bem como na compreensão de que o ser humano é essencialmente um ser<br />

religioso.<br />

A antropologia e a história constataram que não existe nenhum povo, por mais primitivo<br />

que seja, sem alguma forma de expressão de cunho religioso.<br />

Assim, a universalidade do fenômeno religioso é uma realidade<br />

presente entre todos os grupos humanos, desde os tempos mais<br />

remotos.<br />

Nas antigas civilizações teocráticas, como a egípcia,<br />

romana, grega, inca, maia, entre tantas outras, constata-se que a<br />

religião esteve profundamente radicada na estrutura social,<br />

cultural, política e até na índole psicológica dos povos dessas<br />

civilizações.<br />

A religião, a ciência, a arte e a filosofia constituem os<br />

quatro pilares sobre os quais as diversas civilizações são<br />

construídas.<br />

Promover o conhecimento do fenômeno religioso no<br />

contexto da escola pública é favorecer a compreensão da<br />

realidade cultural religiosa tanto no âmbito local como global, é<br />

formar cidadãos do mundo.<br />

Dom Hélder Câmara (1909 - 1999 ), um importante líder<br />

da Igreja Católica no Brasil, assim se expressou sobre essa<br />

questão: “Se eu pudesse, daria um globo terrestre a cada criança... Se possível, até um globo<br />

luminoso, na esperança de alargar ao máximo a visão infantil e de ir despertando interesse e amor<br />

por todos os povos, todas as raças, todas as línguas, todas as religiões!”


5<br />

PROPOSIÇÃO DE CONTEÚDOS PARA 1.º E 2.º ANOS<br />

O fenômeno religioso abrange as diferentes manifestações do sagrado, portanto, a<br />

organização e a seleção dos conteúdos do Ensino Religioso têm como eixo o sagrado nas<br />

tradições religiosas. Esse eixo integra um amplo conjunto de conteúdos, dentre os quais alguns<br />

serão explicitados:<br />

ETHOS – Alteridade – Palavra de origem grega que significa caráter. É parte da filosofia<br />

que trata do comportamento humano. “É a forma interior da moral humana em que se realiza o<br />

próprio sentido do ser.” (PCNs – Ensino Religioso, 1997, p. 37). São os costumes e maneiras de<br />

viver e conviver das pessoas.<br />

A ética religiosa se relaciona ao sagrado e constitui um conjunto de princípios, padrões de<br />

conduta, prescrições, mandamentos e máximas, que os fiéis ou adeptos devem assimilar e<br />

cumprir.<br />

Alguns desses preceitos se repetem em quase todas as religiões do mundo, como, por<br />

exemplo: não matar, não roubar, não praticar imoralidades, socorrer os necessitados, amparar os<br />

aflitos, amar o semelhante, promover a paz, entre outros.<br />

Cabe ao Ensino Religioso favorecer aos alunos a percepção de que, mesmo nas<br />

diferenças, é possível uma convivência harmoniosa. É importante ressaltar os pontos comuns das<br />

tradições religiosas e místico-filosóficas, mostrando ao aluno que, apesar das diferenças, em sua<br />

maioria, elas buscam organizar e estabelecer regras para a vida em sociedade, fundamentadas<br />

em valores comuns.<br />

A alteridade é um dos conceitos importantes a serem enfocados nesse processo de<br />

reflexão sobre a diversidade não só religiosa, mas também pessoal, étnica e cultural.<br />

Alteridade é o estado ou qualidade daquilo que é “outro” ou diferente. Alteridade significa<br />

reconhecer o “outro”. De acordo com o Dicionário de Filosofia (1970), “alteridade é o ser outro, o<br />

colocar-se ou constituir-se como outro. A alteridade é um conceito mais restrito do que diversidade<br />

e mais extenso do que diferença.”<br />

Vivenciar a alteridade requer valorização e aceitação das pessoas em relação às suas<br />

singularidades. Conviver numa sociedade multiculturalista pressupõe o reconhecimento do direito à<br />

diferença, a aceitação do outro com naturalidade e respeito.<br />

É possível conviver de modo harmonioso com pessoas de diferentes culturas, religiões,<br />

filosofias de vida e mentalidades quando se compreende o sentido dos valores básicos que devem<br />

existir nas relações humanas, como a alteridade, o respeito e a abertura ao diálogo.<br />

Cada ser humano precisa compreender-se como um ser em relação com o todo sistêmico,<br />

com todos os seres da natureza, e entender que a riqueza dos seres humanos e demais seres da<br />

natureza consiste nas diferenças. Sendo assim, é importante aprender a ver o outro como ele é, e<br />

deixar de querer transformá-lo ou convertê-lo naquilo que achamos ser o único padrão correto.<br />

A consciência de pertença no coletivo se constrói com base no respeito às diferenças,<br />

numa atitude de acolhida a diversidade. O respeito ao outro é valor básico para a construção da<br />

paz, do diálogo e do entendimento.<br />

HISTÓRIA E ESTRUTURA DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS – Esse conteúdo aborda as<br />

diferentes tradições, analisando o seu papel, sua origem histórica, mudanças evolutivas no<br />

decorrer dos tempos, estrutura hierárquica, questões de gênero, ação social, modo de ser, pensar<br />

e agir das pessoas, bem como a possibilidade de diálogo inter-religioso. Aborda também o que é<br />

cultura religiosa, como se estabelecem as relações na convivência entre pessoas de diferentes<br />

crenças, permitindo assim a compreensão do fenômeno religioso.<br />

As religiões influenciam as diferentes formas de compreender e representar a natureza e o<br />

destino dos seres humanos. São fontes inspiradoras da arquitetura, da música, da dança, do<br />

teatro, da pintura, da poesia, entre outras. “Todas as religiões mudaram com o tempo, algumas<br />

mais relutantemente do que outras. A religião não vai desaparecer. Somos basicamente religiosos;<br />

somos preparados para a religião desde o berço, como somos preparados para inúmeros outros<br />

comportamentos básicos.” (BOWKER, 1997, p.10).


6<br />

Rudolf Otto define religião como sendo “[...] o encontro do homem com o sagrado” (apud<br />

BIRCK, 1993, p. 19), sendo o sentimento numinoso 3 uma característica exclusiva da dimensão<br />

religiosa.<br />

“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita<br />

ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança,<br />

medo), conceitos (crenças) e ações (culto e ética).” (C. P. Tiele In HELLERN, NOTAKER e<br />

GAARDER, 2000, p.17).<br />

A religião, portanto, é a forma concreta, visível e social de relacionamento pessoal e<br />

comunitário do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o sagrado. Ou, ainda, religião é um<br />

fenômeno que as sociedades humanas têm produzido em diferentes contextos geográficos,<br />

históricos e culturais para dar respostas às questões fundamentais da vida.<br />

As tradições religiosas ou religiões como sistemas organizados a partir de uma estrutura<br />

hierárquica, conjunto de doutrinas, textos sagrados, ritos, símbolos e normas éticas, podem ser<br />

dogmáticas, mas também podem ser abertas e flexíveis. Sua função básica, pelo menos no plano<br />

ideal, é contribuir para com o processo civilizador da humanidade, orientar as pessoas em sua<br />

busca e relação com o sagrado, dar respostas às questões existenciais e sustentação à existência<br />

da comunidade por meio de seus preceitos éticos. Exemplos de algumas tradições religiosas:<br />

Religiões Indígenas, Religiões Afro-Brasileiras, Hinduísmo, Jainismo, Sikhismo, Taoísmo,<br />

Confucionismo, Xintoísmo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Fé Bahá’í...<br />

Partindo das experiências dos alunos, da descoberta de si mesmos como seres religiosos<br />

que participam ou não de uma determinada religião ou filosofia de vida, neste conteúdo, busca-se<br />

analisar e compreender as diferentes tradições presentes na realidade local e global.<br />

2. SUGESTÕES DE PLANEJAMENTO DE TEMAS PARA O<br />

ENSINO RELIGIOSO<br />

TEMA 1: A BELEZA NA DIVERSIDADE<br />

Objetivo: Compreender que as diferentes religiões do mundo são expressões da espiritualidade<br />

dos seres humanos e que cada uma possui sua própria beleza, seu encanto.<br />

Atividade de sensibilização: Professor(a), ensine os alunos cantarem a canção sugerida. Depois<br />

oriente uma vivência conforme sugere a letra da canção.<br />

AS DIFERENÇAS<br />

O PATINHO FEIO<br />

NÃO É FEIO NÃO<br />

ELE É UM BELO CISNE<br />

E É NOSSO AMIGÃO<br />

Serrob<br />

LÁ LÁ LÁ<br />

LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ<br />

TANTAS DIFERENÇAS<br />

VAMOS RESPEITAR<br />

JUNTOS DE MÃOS DADAS<br />

FELIZES CIRANDAR<br />

3 “Sentimento numinoso, conforme Birck (1993, p. 31), é um estado afetivo não derivado de outros elementos<br />

emocionais, mas produzido pela presença do objeto numinoso.” O objeto numinoso se relaciona ao sagrado.


7<br />

Procedimento: Professor(a), inicie contando a história do Patinho Feio.<br />

O PATINHO FEIO<br />

Autor Hans Christian Andersen, recontada por Clarissa Pinkola-Estés<br />

Já estava quase na época da colheita. As<br />

velhas faziam bonecas verdes com a palha do milho. Os<br />

velhos remendavam cobertores. As moças bordavam<br />

flores de um vermelho vivo nos seus vestidos brancos.<br />

Os rapazes cantavam enquanto empilhavam o feno<br />

dourado. As mulheres tricotavam blusões ásperos para o<br />

inverno que viria. Os homens ajudavam a colher,<br />

arrancar, cortar e ceifar os frutos que os campos haviam<br />

produzido. O vento apenas começava a soltar as<br />

folhas,um pouco mais, e mais um pouco a cada dia que<br />

passava. E lá para os lados do rio, uma pata chocava<br />

uma ninhada de ovos.<br />

Tudo estava indo como deveria para essa mãe<br />

pata e, afinal, um a um, os ovos começaram a tremer e<br />

sacudir até que as cascas racharam e deles saíram<br />

cambaleantes seus novos filhotes. Restava, porém, um<br />

ovo, um ovo muito grande. Ele estava ali parado como<br />

uma pedra. Uma velha pata veio visitar, e a mãe pata<br />

exibiu seus filhotes.<br />

- Eles não são lindos? - gabou-se ela. Mas o<br />

ovo ainda sem rachar chamou a atenção da velha pata, e esta tentou dissuadir a mãe de<br />

continuar a chocar aquele ovo.<br />

- É um ovo de peru - exclamou a velha pata. - Absolutamente não serve como<br />

ovo. Não se pode levar um peru para dentro d'água, você sabia? - Ela sabia, porque já<br />

havia tentado.<br />

A mãe pata, no entanto, achou que estava chocando há tanto tempo que mais<br />

um pouquinho não ia fazer mal.<br />

- Não estou preocupada com isso - disse ela. - Mas você sabia que o safado do<br />

pai desses patinhos ainda não veio me visitar uma vez sequer?<br />

Afinal, o ovo grande começou a estremecer e a rolar. Acabou quebrando, e dele<br />

saiu uma criatura grande e desajeitada. Sua pele era marcada por veias sinuosas azuis e<br />

vermelhas. Seus pés eram de um roxo claro. Seus olhos, de um rosa transparente. A mãe<br />

pata inclinou a cabeça, esticou o pescoço e o contemplou. Não pôde se conter: ele era<br />

feio mesmo. “Talvez seja mesmo um peru", preocupou-se ela. Contudo, quando o patinho<br />

feio entrou na água acompanhando os outros filhotes, a mãe pata viu que ele nadava<br />

muito bem. "É, ele é dos meus, apesar de ter essa aparência tão estranha. No fundo,<br />

porém, do ângulo certo... ele é quase bonito."<br />

E assim ela o apresentou às outras criaturas do quintal da fazenda, mas, antes<br />

que percebesse, outro pato atravessou o quintal a toda e bicou o patinho feio bem no<br />

pescoço.<br />

- Pare com isso! - gritou a mãe pata.<br />

- Ora, ele é tão feio e esquisito. Ele precisa que o maltratem - retrucou o<br />

valentão.


- Oh, mais uma ninhada! Como se já não tivéssemos bocas demais a alimentar! -<br />

exclamou a pata rainha com o trapo vermelho na perna. - E aquele lá, aquele grandão e<br />

feio: Bem, aquilo sem dúvida é um engano.<br />

- Ele não é um engano - disse a mãe pata. - Ele vai ser muito forte. Foi só que ele<br />

ficou tempo demais dentro do ovo e ainda está meio deformado. Mas ele vai se recuperar.<br />

Vocês vão ver. - Ela limpou com o bico as penas do patinho feio e lambeu seu topete. .<br />

Os outros, no entanto, faziam tudo o que podiam para importunar o patinho feio.<br />

Voavam para atacá-lo, bicavam-no e gritavam com ele. E, à medida que o tempo<br />

passava, eles o atormentavam cada vez mais. Ele se escondia, se desviava, saía em<br />

ziguezague, mas não conseguia escapar. O patinho era a mais infeliz das criaturas. A<br />

princípio, sua mãe o defendia, mas com o tempo até ela se cansou daquilo tudo.<br />

- Como eu queria que você fosse embora - exclamou exasperada. E foi assim<br />

que o patinho feio fugiu. Com a maior parte das suas penas arrancada e todo enlameado,<br />

ele correu e correu até chegar a um pântano. Ali ele se deitou à beira d'água com o<br />

pescoço esticado e sorvia um pouco d'água de vez em quando. Dos juncos dois gansos o<br />

observavam. Eram jovens e cheios de si.<br />

- Ei, você aí, criatura horrorosa - disseram, rindo à socapa. - Quer vir conosco até<br />

o próximo condado? Há um bando de gansas solteiras por lá, prontas para serem<br />

escolhidas.<br />

De repente, ecoaram tiros. Os gansos caíram com um baque e a água do<br />

pântano ficou vermelha com seu sangue. O patinho feio mergulhou para se abrigar, e por<br />

toda a parte só havia tiros, fumaça e cães latindo. Afinal, o pântano ficou tranquilo, e o<br />

patinho saiu correndo e voando a maior distância possível. Perto do anoitecer, ele chegou<br />

a um pobre casebre. A porta estava pendurada de um barbante, e havia mais fendas do<br />

que paredes. Ali vivia uma velha esfarrapada com seu gato desgrenhado e sua galinha<br />

vesga. O gato fazia jus a morar com a velha por apanhar camundongos. A galinha, por<br />

botar ovos.<br />

A velha achou que estava com sorte por ter encontrado um pato. Talvez fosse<br />

uma pata e também botasse ovos e, se não fosse, podemos matá-lo para comer. E assim<br />

o pato ficou, mas ele era perseguido pelo gato e pela galinha.<br />

- Para que você serve se não bota ovos e não sabe apanhar camundongos? -<br />

perguntavam-lhe os dois.<br />

- O que mais gosto de fazer - disse o patinho com um suspiro - é ficar "debaixo",<br />

quer seja debaixo da amplidão azul do céu, quer debaixo do frescor azul da água. - O<br />

gato não via nenhum sentido em querer ficar debaixo d'água e criticou o patinho pelos<br />

seus sonhos idiotas. A galinha não conseguia ver a graça de ficar com as penas<br />

molhadas e também debochou do patinho. No final das contas, ficou claro que aqui<br />

também não haveria paz para o patinho, e por isso ele partiu para ver se as coisas<br />

podiam ser melhores mais adiante. Ele encontrou por acaso um laguinho e, enquanto<br />

estava nadando, foi ficando cada vez mais frio. Um bando de aves passou voando lá em<br />

cima, as mais lindas que ele já havia visto. Elas gritaram para cumprimentá-lo, e ouvir<br />

suas vozes fez com que o coração do patinho saltasse e se apertasse ao mesmo tempo.<br />

Ele gritou de volta com uma voz que nunca havia emitido antes. Ele nunca havia visto<br />

criaturas mais lindas, e nunca havia se sentido mais desolado.<br />

Ele girou e girou na água para observá-las enquanto desapareciam nos céus e<br />

depois mergulhou até o fundo do lago e ali se aninhou, trêmulo. Estava fora de si por<br />

sentir um amor desesperançado por aqueles enormes pássaros brancos, um amor que<br />

ele não conseguia entender. Um vento mais frio começou a soprar e foi ficando cada vez<br />

mais forte com o passar dos dias. E a neve caiu sobre o gelo. Os velhos quebravam o<br />

gelo nos baldes de leite, e as velhas fiavam até tarde da noite. As mães alimentavam três<br />

bocas de cada vez à luz de velas, e os homens saíam à procura de ovelhas sob o céu<br />

8


anco da meia-noite. Os jovens entravam na neve até a cintura para ir ordenhar, e as<br />

moças imaginavam ver o rosto de rapazes bonitos nas chamas do fogão enquanto<br />

cozinhavam. E no lago ali por perto, o patinho precisava nadar cada vez mais rápido em<br />

círculos para manter um lugar aberto no gelo.<br />

Um dia de manhã, o patinho se descobriu preso no gelo e foi aí que ele sentiu<br />

que ia morrer. Dois patos selvagens vieram voando e chegaram escorregando no gelo.<br />

Eles observaram o patinho.<br />

- Como você é feio - grasnaram. - Que pena. É uma tristeza. Não se pode fazer<br />

nada por alguém como você. - E saíram voando.<br />

Felizmente, um lavrador passou por ali e libertou o patinho quebrando o gelo<br />

com seu cajado. Ele levantou o patinho, abrigou-o no casaco e voltou para casa. Na casa<br />

do lavrador, as crianças quiseram pegar o patinho, mas ele teve medo. Voou até os<br />

caibros do telhado, fazendo com que toda a poeira caísse na manteiga. De lá de cima, ele<br />

mergulhou direto para dentro do balde de leite e, quando ia saindo todo molhado e<br />

grudento, caiu no barril de farinha de trigo. A mulher do lavrador saiu atrás dele com uma<br />

vassoura enquanto as crianças riam a mais não poder. O patinho saiu agitado pela porta<br />

do gato e, lá fora afinal, caiu quase morto na neve. Dali, ele se forçou a prosseguir até<br />

chegar a mais um lago, a mais uma casa, a outro lago, a outra casa, e o inverno inteiro<br />

transcorreu dessa forma, alternando entre a vida e a morte.<br />

Mesmo assim, a brisa suave da primavera voltou. As velhas vieram arejar os<br />

acolchoados, e os velhos guardaram suas ceroulas compridas. Novos bebês chegavam<br />

no meio da noite, enquanto seus pais andavam de um lado para o outro no quintal,<br />

debaixo do céu estrelado. Durante o dia, as moças enfiavam narcisos nos cabelos, e os<br />

rapazes examinavam os tornozelos femininos. E num lago por ali, a água ficou mais<br />

agradável e o patinho feio que nela boiava abriu as asas. Como eram grandes e fortes as<br />

suas asas. Elas o levaram bem para o alto acima da terra. Dos céus, ele via os pomares<br />

com seus mantos brancos, os lavradores arando, os jovens de toda a natureza saindo da<br />

casca, tropeçando, zumbindo e nadando. Também brincando na água do lago havia três<br />

cisnes, as mesmas criaturas maravilhosas que ele havia visto no outono; aquelas que lhe<br />

haviam causado um aperto tão forte no coração. Ele sentiu um impulso de se unir a elas.<br />

E se fingirem que gostam de mim, e depois, assim que eu me aproximar, saírem voando<br />

às risadas? Pensou o patinho. Ele desceu planando e pousou no lago, com o coração<br />

batendo forte. Assim que o viram, os cisnes começaram a nadar na sua direção. Sem<br />

dúvida, estou a ponto de encontrar meu fim, pensou o patinho, mas, se tenho de ser<br />

morto, melhor que seja por essas lindas criaturas do que pela mão de caçadores, donasde-casa<br />

ou longos invernos. E abaixou a cabeça para aguardar os golpes.<br />

Que surpresa! Na imagem na água ele viu um cisne em traje a rigor: plumagem<br />

branca como a neve, olhos escuros e tudo o mais. O patinho feio a princípio não se<br />

reconheceu porque era exatamente igual aos belos estranhos, igual àqueles que ele havia<br />

admirado de longe. E acabou se revelando que ele era um deles no final das contas. Seu<br />

ovo por acaso havia rolado para um ninho de patos. Ele era um cisne, um cisne<br />

magnífico. E pela primeira vez sua própria família se aproximava dele, tocando-o com<br />

cuidado e carinho com as pontas das asas. Eles lhe limparam as penas com seus bicos e<br />

nadaram muito ao seu redor para cumprimentá-lo.<br />

- Ei! Tem mais um cisne! - gritaram as crianças que vinham trazer migalhas de<br />

pão para os cisnes. Como costumam fazer as crianças de qualquer lugar, elas correram<br />

para contar a todos. As velhas vieram até a beira d'água, destrançando seus longos<br />

cabelos prateados. Os rapazes juntavam nas mãos em taça um pouco da água limpa e a<br />

atiravam na direção das moças, que enrubesciam como pétalas. Os homens tiraram uma<br />

folga da ordenha só para tomar um pouco daquele ar. As mulheres pararam um pouco de<br />

remendar só para rir com seus parceiros. E os velhos começaram a contar histórias sobre<br />

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10<br />

como a guerra é longa e a vida é curta. E um a um, fosse pela vida, pela paixão, fosse<br />

porque o tempo estava passando, todos se afastaram dançando. Os rapazes, as moças,<br />

todos foram embora dançando. Os mais velhos, os maridos, as esposas, todos foram<br />

embora dançando.<br />

As crianças e os cisnes também se afastaram dançando... deixando ali só nós...<br />

a primavera... e mais uma mãe pata chocando seus ovos junto ao rio.”<br />

1. O que é o belo para você?<br />

QUESTÕES PARA REFLEXÃO<br />

2. Em uma folha de papel, faça um desenho com uma cor que você ache muito bonita.<br />

Como ficou? Agora complete seu desenho utilizando outras cores, até mesmo as que você não<br />

gosta muito. Como ficou?<br />

3. O que você acha bonito em você? O que você acha bonito em sua religião?<br />

4. Fernando Pessoa, um poeta português, escreveu: “um dia de chuva é tão belo como um dia de<br />

sol. Ambos existem, cada um como é.” Você concorda ou discorda dele?<br />

5. Que tal agora fazer uma composição plástica usando traços do contorno de várias partes de seu<br />

corpo? Exemplo: uma mão, um pedaço do braço, uma curva de joelho, etc. Veja o que você pode<br />

fazer a partir desses traços e, após ter colorido, apresente a composição para um colega seu e<br />

veja se ele consegue descobrir quais partes de seu corpo estão ali representadas.<br />

Vamos observar a diversidade de traços que nosso corpo proporcionou!<br />

6. O que é diversidade? Você tem amiguinhos que são de outra religião, diferente da sua? Isso é<br />

diversidade religiosa. Pergunte para eles o nome de sua religião ou igreja e se eles gostam de ir ao<br />

culto, à missa ou a outro tipo de reunião religiosa.<br />

1.º passo: Agrupar os alunos três a três.<br />

SUGESTÕES DE ATIVIDADES<br />

2.º passo: Sugerir que os elementos do trio se aproximem e comparem a altura corporal, a<br />

dimensão das mãos e suas linhas, as formas das unhas, as orelhas, o pescoço, o tamanho dos<br />

pés, a cor e o desenho do interior da íris (geralmente percebemos a cor dos olhos das pessoas, e<br />

não os desenhos que se formam na íris).<br />

3.º passo: Colocar folhas grandes de papel bobina no chão para que, nelas, os alunos façam o<br />

contorno uns dos outros.<br />

4.º passo: Dentro do desenho, cada um deverá escrever seu nome e a religião a que pertence. Se<br />

não possuir uma religião, poderá escrever um valor ético que seja vivido pela sua família, por<br />

exemplo: amor, honestidade, respeito, caridade, amizade, etc.<br />

5.º passo: Após os contornos prontos, passa-se para o momento de refletir sobre a beleza das<br />

diferenças e sobre como podemos viver bem juntos, harmonizando-nos e auxiliando-nos a fim de<br />

que todos se sintam aceitos em seu direito de ser quem são.<br />

6.º passo: Oriente os alunos a escreverem frases sobre as gravuras relacionadas à história do<br />

Patinho Feio.


7.º passo: Professor(a), oriente a produção de um texto coletivo a partir do título A BELEZA DAS<br />

DIFERENÇAS. Depois da escrita do texto, conduza leituras coletivas do material produzido e<br />

proponha que os alunos o copiem em seus cadernos e ilustrem com desenhos.<br />

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12<br />

TEMA 2: EU E A NATUREZA SOMOS EXPRESSÕES DA BELEZA DA VIDA<br />

Objetivo: Reconhecer que a vida em suas variadas formas é sagrada na concepção das diferentes<br />

religiões do mundo.<br />

Procedimentos:<br />

1.º passo: Ler para os estudantes o texto intitulado “A sementinha”.<br />

Obs.: As crianças poderão estar deitadas no chão ou apenas inclinadas sobre a carteira. Se puder<br />

colocar uma música suave de fundo, com barulho de natureza, será bom. O(a) professor(a) com<br />

voz pausada e tranquila conduzirá este momento da forma que segue:<br />

A SEMENTINHA<br />

Pessoas, animais, plantas, pedras, ar, flores, estrelas, lua, sol, mar, rios,<br />

montanhas e muitas outras coisas mais fazem parte daquilo que chamamos de<br />

natureza.<br />

A natureza sempre nos encanta com as suas formas, sabores, cheiros...<br />

Muitas religiões do mundo ensinam que devemos respeitar a natureza,<br />

pois ela é sagrada, ensinam também que dela dependem a nossa e todas as<br />

outras formas de vida.<br />

Eu e você fazemos parte da natureza! Somos expressões da vida, assim<br />

como são também expressões da vida a terra, a água, o ar, o fogo.<br />

Vamos conhecer agora estes quatro elementos que fazem parte da<br />

natureza: fogo, ar, água e terra, por meio de uma viagem imaginária.<br />

Vamos imaginar que somos uma sementinha colocada na terra, esta<br />

grande mãe que acolhe a todos os seres.<br />

É noite... estamos dormindo. Devagarzinho o sol começa a despontar<br />

com seu calor, na cor do fogo que nos aquece. (pausa)<br />

Vem a chuva que molha nossa casquinha. Chuva é água que nutre, que<br />

limpa e refresca.<br />

De novo brilha o sol lá na superfície da terra, e nós aqui em baixo<br />

estamos quentinhos. Passa o tempo e nossa casquinha se rompe, vamos<br />

crescendo, crescendo, rumo à luz e ao ar do mundo da superfície.<br />

Viva! Já estamos vendo o mundo em sua diversidade, sentindo o vento<br />

em nosso caule e folhas, e vendo o sol. Como tudo é lindo aqui! A força que<br />

nos fez brotar existe também fora de nós, pois vemos pássaros, outras<br />

plantas, pedras... Há tanta vida, tanta força dentro e fora de mim!<br />

Agora compreendo o que as religiões dizem sobre a vida ser sagrada.<br />

2.º passo: Fazer com os alunos uma pequena dança circular, comentando que também as danças<br />

da paz são sagradas e que pessoas do mundo todo estão se reunindo para dançá-las a fim de<br />

compreender que todos são importantes e podem ser respeitados nas suas diferenças. Sugerimos<br />

a dança circular conduzida pela música “Havia um Pastorzinho”.


13<br />

Havia um pastorzinho que vivia a pastorar<br />

Saiu de sua casa e pôs-se a cantar<br />

dó ré mi fá fá fá,<br />

dó ré do ré ré ré<br />

dó sol fá mi mi mi<br />

dó ré mi fá fá fá<br />

Chegando ao paraíso uma fada lhe falou<br />

Gostei da melodia seu canto me encantou<br />

dó ré mi fá fá fá,<br />

dó ré dó ré ré ré<br />

dó sol fá mi mi mi<br />

dó ré mi fá fá fá<br />

3.º passo: Conduza, professor(a), um momento de reflexão, fazendo perguntas aos alunos: Você<br />

sabe qual é o elemento religioso que aparece na música? Sim, paraíso. O que é paraíso? Sua<br />

religião ensina algo sobre isto? Você já ouviu falar na terra sem males dos povos indígenas? Sabia<br />

que a terra sem males é o próprio paraíso? Sabia que outras religiões do mundo também<br />

descrevem o paraíso?<br />

4.º passo: Para concluir vamos ouvir uma história que nos fala sobre o Paraíso.<br />

A HISTÓRIA DA ÁRVORE DO PARAÍSO<br />

No início do mundo, o Grande Criador<br />

plantou um jardim.<br />

Inúmeras plantas formosas cresciam em<br />

cada um dos seus diferentes campos.<br />

Havia jardins de florestas,<br />

completamente cobertos de musgo verde e<br />

campainhas ondulantes, que acenavam<br />

timidamente ao vento. Pequenos seres<br />

povoavam estes jardins, farejando e sussurrando<br />

a toda a hora.<br />

Havia jardins de pradarias cheios de<br />

ervas oscilantes, que os animais percorriam com<br />

passadas graciosas.<br />

Havia também jardins subaquáticos, para os seres do mar profundo. Tinham folhas<br />

roçagantes, arrastadas pelas correntes, e misteriosas flores de pétalas trêmulas.<br />

Os mais belos de todos eram os jardins de árvores. Eram tão altas que tocavam o<br />

céu. Nessas árvores, os pássaros todos faziam os seus ninhos. Os ramos, cheios de folhas,<br />

enchiam-se de trilos e chilreios, de gorjeios e assobios, de melodias trinadas, que caíam em<br />

sonora cascata para deleite do mundo.<br />

O Grande Criador pediu aos homens que tomassem conta do mundo e construíssem<br />

para si próprios casas simples e seguras, num dos jardins de que gostassem.<br />

Mas o tempo foi passando e as pessoas tornaram-se cada vez mais ambiciosas…


14<br />

— Vamos construir CASAS MAIORES! — disseram.<br />

— Há materiais de construção em abundância para usarmos como quisermos.<br />

Em breve começaram a construir palácios.<br />

Cada novo edifício era mais alto do que o anterior e os palácios eram feitos cada vez<br />

com mais magnificência.<br />

As suas salas às centenas estavam cheias de todo o tipo de luxos… mas a ambição<br />

das pessoas não conhecia limites.<br />

Os jardins do mundo foram caindo em ruínas, cada um deles imagem da mais<br />

desoladora devastação.<br />

Todas as árvores tinham sido abatidas.<br />

Os pássaros agitavam-se tristemente no chão frio, tentando, em desespero, construir<br />

novos ninhos.<br />

As suas canções foram silenciadas.<br />

Então, do alto do seu palácio, uma criança olhou para o mundo devastado e chorou.<br />

— Desce à terra — sussurrou-lhe, por entre o vento, a voz do Criador. — Lá<br />

encontrarás uma semente, que deves semear num local onde possa crescer em segurança.<br />

A correr, a criança desceu as escadas em caracol da torre do palácio.<br />

Pousada na terra, estava uma semente castanha, enrugada, feia.<br />

A criança pegou na semente com delicadeza.<br />

— Onde poderei semeá-la em segurança? — perguntou-se.<br />

Foi caminhando, caminhando, até que chegou a uma vala na qual uma lama escura<br />

corria lentamente e alguns juncos baloiçavam no vento frio.<br />

— Coloca-a aqui, onde nunca ninguém vem! — parecia sussurrar o vento.<br />

E foi ali que a menina enterrou a semente.<br />

Devagar, em silêncio e completamente invisível, a semente começou a germinar.<br />

Cresceu e fez-se uma árvore forte. Sob os seus ramos, outros jardins começaram a<br />

florescer. Em breve, as criaturas reuniram-se à sua volta.<br />

A árvore cresceu mais alto do que todos os palácios. Os pássaros voavam por entre<br />

os seus ramos e aí construíam os ninhos.<br />

Cresceu tanto, que chegou ao Paraíso. E quem assim o desejasse, poderia subir<br />

pelos seus ramos até ao Jardim do Paraíso do Grande Criador.<br />

JOSLIN, M. The tale of the heaven tree. Tradução e adaptação. Oxford, Lion Publishing, 2001.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BIRCK, B. O. O sagrado em Rudolf Otto. Porto Alegre: Edipucrs, 1993. (Coleção Filosofia 7).<br />

BOWKER, J. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997.<br />

ESTÉS, C. P. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher<br />

selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.<br />

FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros curriculares<br />

nacionais do ensino religioso. 2.ed. São Paulo: Ave Maria, 1997.<br />

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

______. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. São Paulo: Bertrand<br />

Brasil, 2001.<br />

SCHLÖGL, E. Expansão criativa: por uma pedagogia de autodescoberta. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.<br />

Elaboração: Emerli Schlögl, Borres Guilouski e Diná Raquel Daudt da Costa

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