A Igreja universal do reino de Deus, um empreendimento ... - GPER
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364 Leonil<strong>do</strong> Silveira CAMPOS<br />
O discurso <strong>de</strong> seus agentes é composto <strong>de</strong> palavras emocionalmente<br />
escolhidas, o que <strong>um</strong>a simples observação <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong> seus<br />
agentes po<strong>de</strong> confirmar. Contu<strong>do</strong>, o discurso oral às vezes se confun<strong>de</strong> com<br />
o sermo corporis da religião teatralizada. A essa etapa suce<strong>de</strong> a memória,<br />
função na qual o ora<strong>do</strong>r se recorre às lembranças, e repete slogans, provérbios,<br />
palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, aloja<strong>do</strong>s na lembrança <strong>de</strong> seus ouvintes. As<br />
relações entre a memória <strong>do</strong> ato fundante são fundamentais em qualquer<br />
fenômeno religioso, pois conforme Hervieu-Léger, « toda religião implica<br />
<strong>um</strong>a mobilização específica da memória coletiva » 35 .<br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong> concebe o mun<strong>do</strong> como <strong>um</strong> campo <strong>de</strong> batalha. Isso<br />
é perceptível em sua retórica militarista, que emprega como armas <strong>de</strong> guerra<br />
slogans, palavras, logotipos e logomarcas 36 . Às <strong>de</strong>núncias a IURD respon<strong>de</strong><br />
com arg<strong>um</strong>ent<strong>um</strong> ad hominem, em que não se refuta o que se diz mas procurase<br />
<strong>de</strong>negrir quem diz. Emprega-se também, até o cansaço, a imagem <strong>de</strong> perseguição,<br />
isto é, a IURD é perseguida pelos adversários, o que comprovaria<br />
a sua ligação com Jesus, também persegui<strong>do</strong> em sua época.<br />
A IURD, ao contrário <strong>do</strong> que alguns pensam, possui <strong>um</strong>a teologia e tem<br />
mecanismos apropria<strong>do</strong>s para inculcar essa teologia nas novas gerações <strong>de</strong><br />
fiéis e pastores. Porém não se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong>a teologia sistematizada, tal como<br />
aquelas elaboradas por grupos religiosos já secularmente institucionaliza<strong>do</strong>s.<br />
Por outro la<strong>do</strong> ela possui, como toda a reflexão pentecostal, <strong>um</strong><br />
ranço anti-intelectualista muito forte. Mace<strong>do</strong> propõe <strong>um</strong>a teologia antiteológica<br />
e afirma : « todas as formas e to<strong>do</strong>s os ramos <strong>de</strong> teologia são<br />
fúteis » 37 . A teologia da IURD se articula ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong> quatro pontos fundamentais<br />
: centralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> corpo, pois ela prega a recuperação <strong>do</strong> corpo e não<br />
o seu <strong>de</strong>sprezo platônico ; exorcismo <strong>de</strong> maus espíritos e libertação <strong>de</strong> suas<br />
influências negativas ; cura como sinônimo <strong>de</strong> salvação e prosperida<strong>de</strong> na<br />
vida ; e sucesso material como comprovação da presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na vida<br />
<strong>do</strong> crente.<br />
A « teologia da prosperida<strong>de</strong> » é <strong>um</strong>a sistematização <strong>de</strong> crenças próprias<br />
das camadas médias da população, originária nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, na esteira<br />
da gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão <strong>do</strong>s anos 1930, embora as suas raízes estejam nos<br />
movimentos e práticas terapêuticas surgidas no final <strong>do</strong> século XIX, naquele<br />
país e na Europa. Essa teologia ensina ser a pobreza <strong>de</strong>moníaca e que <strong>Deus</strong>,<br />
por ser <strong>um</strong> pai amoroso e rico, quer ver seus filhos sadios, prósperos e ricos.<br />
Quem « vive fora <strong>de</strong>ssa dimensão está fora <strong>do</strong> propósito divino e necessita<br />
<strong>de</strong>scobri-lo urgentemente » 38 .<br />
Obviamente é <strong>um</strong>a teologia muito apropriada para excluí<strong>do</strong>s e inseguros,<br />
pois mobiliza pessoas, as quais se sentem <strong>de</strong>senganadas e estão revoltadas<br />
com a vida, mas ainda com vagas esperanças. Há <strong>um</strong>a concepção<br />
milenarista aqui e agora que permeia tal teologia. Por isso consi<strong>de</strong>ramos a<br />
teologia da prosperida<strong>de</strong> <strong>um</strong>a acomodação da mensagem pentecostal a <strong>um</strong><br />
novo estágio sócio-econômico da socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal e que gera, não mais<br />
35. D. HERVIEU-LEGER, La religion pour mémoire, Paris, Cerf, 1993 : 160 sq.<br />
36. Sobre emprego <strong>de</strong> slogans nos processos <strong>de</strong> comunicação veja O. REBOUL, Slogan, São<br />
Paulo, Cultrix, 1980 ; P. RICŒUR, Interpretação e i<strong>de</strong>ologia, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Francisco Alves,<br />
1983 : 69. Em sua arg<strong>um</strong>entação a IURD emprega slogans como estes : « <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong>,<br />
on<strong>de</strong> <strong>um</strong> milagre espera por você », « anote o en<strong>de</strong>reço da benção », « eis o en<strong>de</strong>reço da<br />
felicida<strong>de</strong> », « pare <strong>de</strong> sofrer », « tenha fé e tu<strong>do</strong> vai mudar », « a <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong> não<br />
promete, ela faz », « <strong>um</strong>a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s », etc.<br />
37. E. MACEDO, A libertação da teologia, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Gráfica Universal, s.d. : 21, 63, 67, 104.<br />
38. E. MACEDO, Vida com abundância, 12 a ed., Rio <strong>de</strong> Janeiro, Gráfica Universal, 1993 : 56.