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A Igreja universal do reino de Deus, um empreendimento ... - GPER

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362 Leonil<strong>do</strong> Silveira CAMPOS<br />

Mas, em pesquisas <strong>de</strong> campo, observamos haver, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a enorme<br />

« clientela » flutuante, a formação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a membresia, cujas pessoas estão a<br />

procura da satisfação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a necessida<strong>de</strong>, da realização <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>sejo<br />

particular, mas também <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>. Assim seria, apesar <strong>do</strong><br />

risco <strong>de</strong> se transformar o campo religioso em « merca<strong>do</strong> religioso », principalmente<br />

quan<strong>do</strong> o utilitarismo toma conta das relações das pessoas com<br />

o templo, entre elas mesmas e o sagra<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>speito disso é temerário concluir<br />

que a IURD é apenas <strong>um</strong> « balcão <strong>de</strong> milagres ». Daí a nossa proposta<br />

<strong>de</strong> substituição da perspectiva <strong>de</strong> « mercantilização <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> » pela noção<br />

<strong>de</strong> « marketing <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> ».<br />

A mo<strong>de</strong>rna teoria <strong>de</strong> marketing, a nosso ver, possui <strong>um</strong> excelente potencial<br />

analítico para explicar as relações entre a IURD e o merca<strong>do</strong> 27 , relações<br />

que se expressam n<strong>um</strong> contexto <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por <strong>um</strong>a mentalida<strong>de</strong> calculista e<br />

pluralista, resultante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a « situação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> », que substitui a antiga<br />

« situação <strong>de</strong> monopólio » 28 . A <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong> possui <strong>um</strong>a refinada perspectiva<br />

<strong>de</strong> marketing, pois procura conhecer o seu público, padronizar os<br />

« produtos », transformar as pessoas em participantes <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />

« produção », segmentar a audiência, oferecen<strong>do</strong>-lhes exatamente o que se<br />

pensa precisar e <strong>de</strong>sejar naquele momento. Isto é, ela não se contenta em<br />

oferecer <strong>um</strong> « produto genérico », que é o principal benefício espera<strong>do</strong> pelo<br />

cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r. Muito pelo contrário, ela oferece <strong>um</strong> « produto amplia<strong>do</strong> »,<br />

o qual é <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra<strong>do</strong> em outros produtos como cura, prosperida<strong>de</strong>, comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> apoio e outros mais.<br />

Nos templos da IURD os cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>res religiosos escolhem aqueles produtos<br />

que mais se relacionam com suas necessida<strong>de</strong>s e arquiteturaram em<br />

sua própria cabeça o produto <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>, conforme as suas aspirações. Isto é, a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong> oferece <strong>um</strong> kit conten<strong>do</strong> os ingredientes <strong>de</strong> <strong>um</strong> produto<br />

retrabalha<strong>do</strong> no imaginário <strong>do</strong> « cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r ». O preço a ser pago para a<br />

satisfação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejos na IURD é monetariza<strong>do</strong>. Daí a importância em sua<br />

pregação <strong>de</strong> temas como « sacrifício <strong>do</strong> dinheiro », « ofertas <strong>de</strong> amor », pois<br />

« dar o dízimo é candidatar-se a receber bênçãos sem medida », repete o seu<br />

funda<strong>do</strong>r.<br />

O crescimento e expansão da <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong><br />

Uns <strong>do</strong>s elementos mais importantes no impressionante crescimento da<br />

IURD são sem dúvida as suas estratégias <strong>de</strong> comunicação social e as suas<br />

técnicas <strong>de</strong> propaganda, que visam mudar idéias, comportamentos, atitu<strong>de</strong>s<br />

e sentimentos 29 .<br />

Na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> massas é impossível <strong>um</strong> grupo subsistir sem construir<br />

seus próprios mecanismos <strong>de</strong> divulgação. A propaganda é, em seu senti<strong>do</strong><br />

mais amplo, « a técnica <strong>de</strong> influenciar a ação h<strong>um</strong>ana através da manipu-<br />

27. P. KOTLER, Marketing para organizações não lucrativas, São Paulo, Atlas, 1988 ; G. Nuno VAZ,<br />

Marketing institucional. O merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> idéias e imagens, São Paulo, Pioneira, 1995. As idéias <strong>de</strong><br />

Kotler foram <strong>de</strong>senvolvidas por ele e <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> auxiliares no texto : P. KOTLER et al.,<br />

Marketing for Congregations. Choosing to Serve People more Effectively, Nashville, Abing<strong>do</strong>n<br />

Press, 1992.<br />

28. Essas categorias são <strong>de</strong> P. BERGER, O <strong>do</strong>ssel sagra<strong>do</strong>. Elementos para <strong>um</strong>a teoria sociológica da<br />

religião, São Paulo, Paulinas, 1985.<br />

29. J. CAZENEUVE & D. VICTOROFF, Dicionário <strong>de</strong> sociologia, Lisboa, Verbo, 1982 : 498 ;<br />

J.-M. DOMENACH, A propaganda política, São Paulo, DIFEL, 1963 ; J.A.C. BROWN, Técnicas<br />

<strong>de</strong> persuasão. Da propaganda à lavagem cerebral, 3 a ed., Zahar, 1976.

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