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A Igreja universal do reino de Deus, um empreendimento ... - GPER

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360 Leonil<strong>do</strong> Silveira CAMPOS<br />

costais, à semelhança <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, preferiram a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o e<br />

as tentações <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, optan<strong>do</strong> pela religiosida<strong>de</strong> mágica, utilitária e<br />

sincretista, até como arma <strong>de</strong> ascensão social, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> crescente<br />

quadro <strong>de</strong> estagnação econômica e <strong>de</strong> exclusão social 18 .<br />

Há também <strong>um</strong>a tendência atual <strong>de</strong> se explicar o neopentecostalismo a<br />

partir <strong>de</strong> <strong>um</strong> quadro <strong>de</strong> nostalgia <strong>do</strong> mágico, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a retomada sincrética <strong>do</strong><br />

religioso, até como forma <strong>de</strong> convivência com a pobreza e miséria, como tem<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> Mariz 19 . Assim, a proximida<strong>de</strong> entre a incerteza <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

urbano e a magia é percebida em várias práticas rituais da IURD tais como<br />

na apresentação <strong>de</strong> objetos impregna<strong>do</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r : « areia abençoada »,<br />

« mesa branca energizada », « óleo ora<strong>do</strong> », « rosa ungida » e tantos outros.<br />

Finalmente há <strong>um</strong>a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se analisar o neopentecostalismo<br />

iurdiano a partir da teoria da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, situação cultural na qual os<br />

indivíduos se apresentam <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>, volta<strong>do</strong>s para si<br />

mesmos, atomiza<strong>do</strong>s, he<strong>do</strong>nistas e individualistas. Eles buscam <strong>um</strong>a espiritualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmos e não mais através da mediação das<br />

instituições religiosas tradicionais. Esse clima cultural teria facilita<strong>do</strong> o<br />

aparecimento <strong>de</strong> <strong>um</strong>a religiosida<strong>de</strong> centrada nas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

massas segmentadas, situação pluralista na qual torna-se plausível o emprego<br />

<strong>do</strong> marketing religioso, o que abordamos em outro escrito nosso 20 .<br />

Para dar conta <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo sugerimos <strong>de</strong>screver a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da IURD<br />

por meio <strong>de</strong> três metáforas.<br />

– A <strong>Igreja</strong> <strong>universal</strong> é <strong>um</strong> teatro, on<strong>de</strong> atores (prega<strong>do</strong>res e fiéis)<br />

participam dramaticamente <strong>de</strong> <strong>um</strong> espetáculo <strong>de</strong> fé. Em seu palco <strong>um</strong><br />

pastor-ator tangibiliza as forças sagradas diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a multidão que, como<br />

em <strong>um</strong> teatro <strong>de</strong> arena, também participa da encenação, com gestos, no<br />

manejo <strong>de</strong> objetos corriqueiros transforma<strong>do</strong>s em cúlticos, na movimentação<br />

das pessoas pelo espaço, no balancear <strong>do</strong>s corpos, nas palmas ritmadas, nas<br />

cenas <strong>de</strong> exorcismo e nas dramatizações <strong>de</strong> episódios bíblicos. Com isso<br />

reconstrói-se, no interior <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cultura secularizada, novas ilhas carregadas<br />

daquela dinâmica que emerge <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, integran<strong>do</strong> ao mesmo<br />

tempo as forças que vêm <strong>do</strong> inconsciente coletivo e se manifestam em <strong>um</strong>a<br />

vida cotidiana tão carente <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> 21 . A transformação <strong>do</strong><br />

culto religioso n<strong>um</strong> espetáculo <strong>de</strong> fé revitaliza o serviço religioso <strong>do</strong> protestantismo<br />

tradicional, quase sempre calca<strong>do</strong> em práticas racionalizantes.<br />

Dessa forma substitui-se nesse espetáculo o pastor-<strong>do</strong>utor ou professor pelo<br />

18. O neopentecostalismo brasileiro não se a<strong>de</strong>quou ao mo<strong>de</strong>lo « seita » e « <strong>Igreja</strong> », pelo<br />

menos na forma proposta por Troeltsch que previa o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e a recusa da<br />

socieda<strong>de</strong>. A inserção neopentecostal na política e na lógica da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o nos<br />

mostra o quanto os conceitos « <strong>Igreja</strong> » e « seita » se aproximam. Veja E. TROELTSCH, The<br />

Social Teaching of the Christian Churches, Londres, 2 vols, 1931 ; J. SÉGUY, Christianisme et<br />

société. Introduction à la sociologie <strong>de</strong> Ernest Troeltsch, Paris, Cerf, 1980 ; B. WILSON, Sociologia<br />

<strong>de</strong> las sectas religiosas, Madrid, Guadarrama, 1970 ; J. <strong>de</strong> SANTA ANA, « <strong>Igreja</strong> e Seita -<br />

reflexões sobre este antigo <strong>de</strong>bate », <strong>Igreja</strong> e Seita - Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Religião, VI (8), outubro 1992 :<br />

11-34.<br />

19. L. MALDONADO, Religiosida<strong>de</strong> popular : nostalgia <strong>de</strong> lo mágico, Madrid, Cristiandad, 1975 ;<br />

C.L. MARIZ, « Religião e pobreza : <strong>um</strong>a comparação entre CEBs e <strong>Igreja</strong>s pentecostais »,<br />

Comunicações <strong>do</strong> ISER, 30, 1988 ; Religion and Coping with Poverty in Brasil, Phila<strong>de</strong>lphia<br />

University Press, 1994.<br />

20. L. S. CAMPOS, Teatro, templo e merca<strong>do</strong>. Organização e marketing <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>empreendimento</strong><br />

neopentecostal, Petrópolis, Vozes/ São Paulo, Simpósio/ São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo, UMESP,<br />

1997.<br />

21. M. ELIADE, O sagra<strong>do</strong> e o profano, Lisboa, Livros <strong>do</strong> Brasil, s.d. ; R. CAILLOIS, O homem e o<br />

sagra<strong>do</strong>, Lisboa, Edições 70, 1988.

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