Bambu: uma alternativa em biocombustível - Isomax - Terrasol
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Domingo, 03 de Junho de2012<br />
09/01/2012<br />
ENGENHARIA FLORESTAL<br />
<strong>Bambu</strong>: <strong>uma</strong> <strong>alternativa</strong> <strong>em</strong> <strong>biocombustível</strong><br />
Pesquisadores acreditam que a planta t<strong>em</strong> vantagens ambientais sobre o eucalipto na<br />
produção de carvão vegetal<br />
Francisco Brasileiro<br />
Da Secretaria de Comunicação da UnB<br />
No Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro, a poucos metros da Universidade<br />
de Brasília, o pesquisador Alessandro de Oliveira investiga o uso de <strong>uma</strong> nova matéria prima para<br />
produzir carvão vegetal. A aposta é <strong>uma</strong> das plantas que t<strong>em</strong> o crescimento mais acelerado do mundo: o<br />
bambu. Ele quer saber se a planta é capaz de produzir mais energia quando transformada <strong>em</strong> carvão do<br />
que o eucalipto – que já é usado para esse fim na indústria. O estudo é parte da dissertação de mestrado<br />
de Alessandro e é orientado pelo professor Ailton Vale, do Departamento de Engenharia Florestal da<br />
UnB.<br />
Além de presença garantida nos churrascos da maioria dos brasileiros, o carvão vegetal também é um<br />
recurso imprescindível para movimentar a indústria siderúrgica – tanto nos processos de fabricação do<br />
aço quanto para gerar a energia elétrica usada nas fábricas. O combustível substitui o carvão mineral,<br />
muito mais poluente, e é produzido majoritariamente a partir de plantações de eucalipto mantidas pelas<br />
próprias <strong>em</strong>presas. Além disso, Alessandro conta que o carvão é melhor nesses casos do que se a<br />
matéria prima original fosse usada na queima porque ele concentra mais energia <strong>em</strong> um espaço menor.<br />
“No fim das contas ele ocupa menos espaço para estocar”, afirma.<br />
O principal benefício do bambu <strong>em</strong> relação ao eucalipto para produção do carvão, caso ele seja aplicado<br />
na indústria, é a velocidade de crescimento. O bambu alcança o momento ideal para o corte com apenas<br />
quatro anos de idade. “O eucalipto com a mesma idade ainda é <strong>uma</strong> criança”, explica Alessandro. Essa<br />
também é a idade dos ex<strong>em</strong>plares avaliados na pesquisa. “São cinco indivíduos de cada espécie – do<br />
bambu gigante e do eucalipto – vamos testar um pedaço da base, do meio e do topo”, conta Alessandro.<br />
RECICLAGEM – Segundo ele, o bambu gigante (Dendrocalamus giganteus) é bastante usado na<br />
construção civil. “Estamos usando para o experimento resíduos do bambu descartados por esse setor da<br />
indústria”, explica. “Assim, o estudo pode também apontar <strong>uma</strong> forma de reaproveitar esse produto de<br />
descarte”. Outro benefício ambiental do uso da planta <strong>em</strong> relação ao eucalipto e o fato de ele sequestrar<br />
carbono da atmosfera muito mais rápido. “Isso acontece justamente pela maior velocidade de<br />
crescimento”.<br />
Para saber qual o potencial da planta como fonte de energia os pesquisadores vão usar <strong>uma</strong> máquina<br />
chamada de reator de carbonização – responsável por transformar as amostras <strong>em</strong> carvão. “Em seguida<br />
vamos fazer <strong>uma</strong> avaliação energética de cada espécie”, conta Alessandro. Esse tipo de analise serve<br />
para determinar <strong>em</strong> laboratório o potencial calorífico do material, ou seja, quanta energia ele é capaz de<br />
liberar com a queima. Alessandro explica que a análise vai ser repetida três vezes para a base, o meio e<br />
o topo de cada indivíduo<br />
Mariana Costa/UnB Ciência
Pesquisador Alessandro analisa amostras de carvão vegetal<br />
O pesquisador está à frente de outro estudo com bambus. Ele vai testar <strong>uma</strong> nova técnica para mensurar<br />
a idade dos bambus e o poder calorífico da espécie <strong>Bambu</strong>sa vulgaris. A técnica lança mão de um<br />
aparelho que mede a velocidade com que <strong>uma</strong> onda de impacto atravessa um material – o Stress Wave.<br />
“Essa velocidade é diferente de acordo com o tipo de material”, explica Alessandro. “Acreditamos que<br />
poder<strong>em</strong>os saber as características do bambu a partir das leituras do aparelho”.<br />
Segundo Alessandro a técnica pode otimizar processos industriais e o uso de variedades selvagens da<br />
espécie. “Ainda não existe <strong>uma</strong> forma precisa de mensurar a idade dos ex<strong>em</strong>plares”, conta. Caso a<br />
metodologia seja validada será possível conhecer essa idade mesmo que a data de plantio do bambu<br />
seja desconhecida. Nesse caso, o uso destinado à planta não seria o carvão, mas a geração de energia<br />
e calor a partir da queima da planta. “Um ex<strong>em</strong>plo é a fábrica de papel de onde colh<strong>em</strong>os as amostras de<br />
bambu, no interior da Bahia”, l<strong>em</strong>bra Alessandro. “A <strong>em</strong>presa está usando a planta para gerar o calor<br />
necessário <strong>em</strong> seus próprios processos”.<br />
Alessandro parte de <strong>uma</strong> amostra de oito indivíduos de três idades diferentes: um, dois e três anos –<br />
também divididos <strong>em</strong> meio, base e topo – totalizando 72. Todos elas vão passar pelo Stress Wave. Para<br />
fazer a análise o pesquisador bate com <strong>uma</strong> das pontas do aparelho <strong>em</strong> um dos lados do bambu –<br />
criando a onda de impacto. Do outro lado um sensor capta a onda medindo o t<strong>em</strong>po que ela levou para<br />
atravessar a parte sólida do bambu. “Para calcular a velocidade levamos <strong>em</strong> conta a distância que a<br />
onda percorre na metade da circunferência da planta”, explica Alessandro. “Como o bambu é oco usar o<br />
diâmetro não seria o mais adequado para essa medição”.<br />
Os resultados obtidos nessa análise serão comparados também a <strong>uma</strong> análise química do material.<br />
“Nessa outra etapa serão usado três das oito amostras de cada idade”, conta Alessandro. Essa análise<br />
vai determinar o poder calorífico das amostras. “A literatura que tomamos como base aponta que quanto<br />
mais velho o indivíduo maior o poder calorífico”, explica. “As análises vão permitir confirmar se isso é<br />
válido para nossa amostra também”. No final, os dois conjuntos de dados serão comparados. “Com isso<br />
poder<strong>em</strong>os saber se é possível correlacionar as medições do Stress Wave com a idade e com poder<br />
calorífico”.<br />
Leia aqui a matéria de abertura da série sobre biocombustíveis<br />
http://www.unbciencia.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=374:bambu-<strong>uma</strong>nova-forma-de-fabricar-carvao-vegetal&catid=41:florestal