A presença da Euritmia na Pedagogia Waldorf - JPeregrino
A presença da Euritmia na Pedagogia Waldorf - JPeregrino
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Vere<strong>da</strong>s<br />
www.jperegrino.com.br<br />
Suplemento <strong>da</strong> Escola<br />
<strong>Waldorf</strong><br />
João Guimarães Rosa<br />
Ribeirão Preto - SP - Ano III - Nº 8 - Junho/2004<br />
Antroposofia & Educação<br />
A <strong>presença</strong> <strong>da</strong> <strong>Euritmia</strong> <strong>na</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>Waldorf</strong><br />
currículo <strong>da</strong> Escola <strong>Waldorf</strong> dá grande<br />
importância às matérias artísticas e<br />
artesa<strong>na</strong>is, tanto do universo plástico – pintura e<br />
desenho (diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des), escultura (em<br />
madeira, argila, metal, pedra), marce<strong>na</strong>ria,<br />
ourivesaria, tricô, crochê, macramé, costura,<br />
tecelagem – como do mundo poético/musical/<br />
canto, música instrumental, recitação, teatro, que<br />
participam do desenvolvimento do jardim ao<br />
colegial. Trata-se, até aqui, de artes que vêm<br />
acompanhando a humani<strong>da</strong>de no desenrolar <strong>da</strong><br />
História há muitos séculos ou, até, há milênios.<br />
Dentro do universo <strong>da</strong>s artes musicais, Rudolf<br />
Steiner – fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>Waldorf</strong> e <strong>da</strong><br />
<strong>Euritmia</strong> – inclui a arte eurítmica como matéria<br />
imprescindível no currículo <strong>Waldorf</strong>, desde a<br />
fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> primeira escola, em 1919.<br />
Num século tão conturbado e acelerado como<br />
o nosso, o homem vem sendo crescentemente<br />
conduzido por forças extrínsecas à sua<br />
perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de. Sua ação é determi<strong>na</strong><strong>da</strong> pela mídia,<br />
suas idéias criativas sufoca<strong>da</strong>s pelo processo de<br />
massificação que, incrementado pela mais refi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />
tecnologia, acomete o ser humano – tanto no<br />
mundo lá fora como <strong>na</strong> intimi<strong>da</strong>de do seu lar –<br />
impondo-se à sua vi<strong>da</strong> exter<strong>na</strong> e anímica com<br />
poder contundente. No âmbito mais amplo, os<br />
problemas físicos, ecológicos, econômicos,<br />
psicológicos, sociais, políticos e, não por último,<br />
éticos crescem assustadoramente. A humani<strong>da</strong>de<br />
assiste aterroriza<strong>da</strong> à iminência de grandes<br />
catástrofes, nos mais diversos setores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Urge que possamos vislumbrar formas novas<br />
– tanto para as grandes instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
como para a vi<strong>da</strong> do indivíduo - , inspira<strong>da</strong>s numa<br />
visão imagi<strong>na</strong>tiva de um futuro mais saudável,<br />
formas <strong>na</strong>s quais o homem possa viver com<br />
digni<strong>da</strong>de e atuar segundo sua tarefa mais nobre<br />
de construtor <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Evidencia-se também<br />
a necessi<strong>da</strong>de de forças adequa<strong>da</strong>s para<br />
engendrar processos que levem do “status quo”<br />
a essa imagem do futuro.<br />
Onde vivificar-nos com a seiva de novas idéias?<br />
Como realizá-las?<br />
Qual a fonte capaz de cinzelar os instrumentos<br />
adequados a transpor o abismo entre idéia e<br />
ação?<br />
Ora, entre os três grandes âmbitos do<br />
desenrolar a vi<strong>da</strong> huma<strong>na</strong> – Ciência, Religião e<br />
Arte – o homem quase sempre crê residir no<br />
primeiro a chave para esses mistérios. Se recorre<br />
à Religião, é por mera tradição, ou pela fé no poder<br />
divino sa<strong>na</strong>dor, supostamente incompreensível à<br />
consciência huma<strong>na</strong>. E se recorre à Arte, em geral<br />
o faz <strong>na</strong> busca de um passatempo higiênico para<br />
suas tensões ou até <strong>da</strong> expressão desvaira<strong>da</strong> de<br />
emoções subjetivas.<br />
A atuação extensa de Rudolf Steiner em<br />
relação às artes desvendou à consciência<br />
moder<strong>na</strong> a função essencial do criar artístico. Nele<br />
o homem desenvolveu uma consciência processual,<br />
aprende a viver no fluir <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aprende a<br />
pôr o vigor de sua ação a serviço <strong>da</strong> corrente<br />
criadora do mundo, insere-se no atuar de leis<br />
universais. No ver<strong>da</strong>deiro criar artístico, o homem<br />
experimenta um poder abrangente, que<br />
transcende sua subjetivi<strong>da</strong>de, seu egoísmo; o<br />
homem conhece o processo que une matéria ao<br />
mundo ideal. E uma vez inserido no fluir dos<br />
processos, ele aprende a auscultar o desenvolvimento<br />
necessário, a “ouvir” o futuro!<br />
Por essa razão as artes ocupam uma posição<br />
tão central <strong>na</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>Waldorf</strong>, já que esta se<br />
dedica à informação e, ain<strong>da</strong> mais, à formação do<br />
ser humano em crescimento. E por considerar o<br />
homem como dotado de corpo, alma e espírito,<br />
todos os esforços devem ser empreendidos para<br />
tor<strong>na</strong>r saudável o desenvolvimento físico e<br />
fisiológico <strong>da</strong> criança, para ampliar a sensibili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> alma e para permitir a expressão criativa,<br />
individual <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de que se consoli<strong>da</strong>. As<br />
artes têm aí um papel central e insubstituível!<br />
Qual é, então, a particulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte eurítmica<br />
no contexto pe<strong>da</strong>gógico?<br />
Em primeiro lugar a <strong>Euritmia</strong> precisa “afi<strong>na</strong>r o<br />
seu instrumento” para poder vir a ser como arte.<br />
Seu instrumento é o ser humano pleno.<br />
Consideremos como se dá essa “afi<strong>na</strong>ção’, no<br />
tocante ao trabalho com o corpo: <strong>na</strong>s aulas de<br />
<strong>Euritmia</strong> a criança “<strong>da</strong>nça” poesias, histórias,<br />
músicas, pondo seu corpo, dessa forma, a serviço<br />
<strong>da</strong>s idéias de grandes gênios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Ao<br />
fazê-lo, ela está evidentemente se inserindo <strong>na</strong>s<br />
mais severas leis de ritmos, de contração e<br />
expansão, que fun<strong>da</strong>mentam sua saúde. Ao<br />
mesmo tempo, está aperfeiçoando sua relação com<br />
as dimensões do espaço, já que coreografar uma<br />
poesia implica em ocupar conscientemente o<br />
espaço segundo as leis <strong>da</strong> geometria. Os muitos<br />
exercícios de destreza e multiplici<strong>da</strong>de dos<br />
conteúdos abor<strong>da</strong>dos, tanto poéticos como<br />
musicais, tor<strong>na</strong>m o corpo <strong>da</strong> criança ágil, gracioso,<br />
expressivo e versátil. A complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tarefas<br />
se apóia <strong>na</strong>s habili<strong>da</strong>des pertinentes a ca<strong>da</strong> faixa<br />
etária, sendo ca<strong>da</strong> exercício uma conquista, um<br />
aprofun<strong>da</strong>mento.<br />
A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>Waldorf</strong> acompanha o desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> alma infantil, trazendo-lhe grandes<br />
conteúdos advindos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />
Em ca<strong>da</strong> ano escolar, a criança recebe alimento<br />
anímico de acordo com o tipo de consciência que<br />
ela está desenvolvendo. As aulas de euritmia<br />
acompanham o currículo central <strong>da</strong>do pelo<br />
professor de classe. Daí sua importância crucial<br />
dentro <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia antroposófica. Se, ao educar,<br />
estamos formando homens do futuro, temos que<br />
lhes <strong>da</strong>r as condições amplas que harmonizem e<br />
enobreçam o seu corpo, que sensibilizem sua alma<br />
às nuances do mundo, que permitam ao seu Eu<br />
estar presente e produtivo, segundo sua própria<br />
deliberação. Pois a socie<strong>da</strong>de vindoura só será<br />
dig<strong>na</strong> se nela puder atuar o homem individual<br />
pleno, e se ele souber pôr o seu atuar, de modo<br />
altruísta, a serviço do desenvolvimento social.<br />
Uma a<strong>da</strong>ptação do texto editado <strong>na</strong> revista<br />
Chão Gente, n° 12, de Marília Barreto Nogueira,<br />
euristmista, participante do Grupo de <strong>Euritmia</strong><br />
Nascente de São Paulo, e desde 1988 professora<br />
<strong>da</strong> Escola Rudolf Steiner de São Paulo
2<br />
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Universo Paralelo<br />
Vere<strong>da</strong>sV<br />
Receita para lavar palavra suja<br />
Mergulhar a palavra suja<br />
em água sanitária, e depois<br />
de dois dias de molho quarar<br />
ao sol do meio dia.<br />
Algumas palavras,<br />
quando são alveja<strong>da</strong>s ao<br />
sol, adquirem consistência<br />
de certeza, como, por<br />
exemplo, a palavra vi<strong>da</strong>.<br />
Existem outras, e a palavra<br />
amor é uma delas, que são<br />
muito encardi<strong>da</strong>s e desgasta<strong>da</strong>s<br />
pelo uso, o que<br />
recomen<strong>da</strong> esfregar e bater<br />
insistentemente <strong>na</strong> pedra e<br />
depois enxaguar em água<br />
corrente. São Poucas as<br />
palavras que resistem a<br />
esses cui<strong>da</strong>dos, mas sempre<br />
existem aquelas.<br />
Dizem que limão e sal<br />
tiram sujeiras difíceis, mas<br />
to<strong>da</strong> tentativa de lavar a<br />
pie<strong>da</strong>de foi sempre em vão.<br />
Eu nunca vi palavra tão suja<br />
quanto per<strong>da</strong>; per<strong>da</strong> e<br />
morte, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que são<br />
alveja<strong>da</strong>s, soltam um líquido<br />
corrosivo que atende pelo<br />
Preparo <strong>da</strong> Massa<br />
nome de amargura, que é<br />
capaz de esvaziar o vigor <strong>da</strong><br />
língua. O conselho nesse<br />
caso é mantê-las de molho<br />
num amaciante de boa<br />
quali<strong>da</strong>de.<br />
Mas se o que você quer<br />
é só aliviar as palavras do<br />
uso diário pode usar sabão<br />
em pó e máqui<strong>na</strong> de lavar. O<br />
perigo é misturar palavras<br />
que mancham no contato<br />
umas com as outras. Culpa,<br />
por exemplo, mancha tudo<br />
que encontra, e deve sempre<br />
ser alveja<strong>da</strong> sozinha. Outra<br />
mistura pouco aconselha<strong>da</strong><br />
é amizade e desejo. Desejo é<br />
uma palavra intensa e pode,<br />
o que não é evitável, esgarçar<br />
a força delica<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
palavra amizade.<br />
É importante não lavar<br />
demais as palavras sob o<br />
risco de perderem o sentido.<br />
Aquela sujeirinha cotidia<strong>na</strong>,<br />
quando não é excessiva,<br />
produz uma oleosi<strong>da</strong>de que<br />
dá vigor aos sons.<br />
Receitas &<br />
Remédios Caseiros<br />
Torta de Nozes<br />
250 gramas de farinha<br />
1 ovo<br />
1 gema<br />
100 gramas de manteiga em temperatura<br />
ambiente<br />
½ xícara de óleo<br />
2 colheres (sopa) de açúcar<br />
Essência de baunilha<br />
Recheio<br />
1 ½ xícara de nozes pica<strong>da</strong>s<br />
1 lata de leite condensado<br />
Muito importante <strong>na</strong> arte<br />
de lavar palavras é saber<br />
reconhecer um palavra<br />
limpa. Conviva com as<br />
palavras durante alguns<br />
dias, deixe que se misturem<br />
em seus gestos e que<br />
passeiem pela expressão de<br />
seus sentidos. À noite,<br />
permita que se deitem não<br />
ao seu lado, mas sobre o seu<br />
corpo. Enquanto você<br />
dorme a palavra planta<strong>da</strong> em<br />
sua carne prolifera em to<strong>da</strong><br />
a sua possibili<strong>da</strong>de.<br />
Se você puder suportar<br />
essa convivência até não<br />
mais perceber a <strong>presença</strong><br />
dela, aí você tem uma<br />
palavra limpa.<br />
Uma palavra limpa é uma<br />
palavra possível.<br />
Viviane Mose, filósofa,<br />
psica<strong>na</strong>lista, <strong>na</strong>sci<strong>da</strong> em<br />
Espírito Santo. Vive e<br />
trabalha em São Paulo<br />
Modo de fazer<br />
Numa assadeira de 20 centímetros de diâmetro,<br />
misture todos os ingredientes, menos a<br />
farinha, até obter um creme claro e uniforme.<br />
Acrescente a farinha aos poucos até obter<br />
uma massa podre. Com os dedos esten<strong>da</strong> a<br />
massa <strong>na</strong> assadeira (não precisa untar). Cubra<br />
com as nozes pica<strong>da</strong>s e regue com o leite<br />
condensado. Leve ao forno quente por 20<br />
minutos.<br />
Ribeirão Preto - SP - Junho/2004<br />
Aconteceu <strong>na</strong><br />
<strong>Waldorf</strong>...<br />
No último dia 15/5 aconteceu a Festa Semestral<br />
de nossa escola, com apresentações artísticas de<br />
to<strong>da</strong>s as salas e saborea<strong>da</strong> com deliciosa feijoa<strong>da</strong><br />
prepara<strong>da</strong> com to<strong>da</strong> dedicação por pais e<br />
professores. Foi uma delícia!<br />
O último bimestre foi repleto de ativi<strong>da</strong>des<br />
exter<strong>na</strong>s e viagens, para deleite de nossos alunos.<br />
Os 4º e 5º anos foram visitar uma tribo indíge<strong>na</strong><br />
vin<strong>da</strong> do Mato Grosso; os 7º e 8º anos foram a São<br />
Paulo apreciar uma exposição sobre povos<br />
africanos; o 10º ano foi conhecer o funcio<strong>na</strong>mento<br />
<strong>da</strong> construção de um carro <strong>na</strong> montadora <strong>da</strong><br />
Hon<strong>da</strong>, em Sumaré, além de ter ido visitar os<br />
museus de história, arqueologia e paleontologia<br />
de Monte Alto.<br />
Aconteceu no dia 14/5 <strong>na</strong> escola um workshop de<br />
<strong>Euritmia</strong> aberto ao público, promovido pelo<br />
esforçadíssimo grupo de <strong>Euritmia</strong>, formado pela<br />
Nádia, Marly e Tânia, e que foi ministrado pela prof.<br />
Virgínia, de Botucatu.<br />
NOTA ESPECIAL: Informamos que a partir desta<br />
edição o suplemento Vere<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> Escola <strong>Waldorf</strong>,<br />
passou a ser elaborado pelos alunos do Grêmio<br />
Estu<strong>da</strong>ntil recém criado. Fazem parte <strong>da</strong> comissão<br />
de divulgação do Grêmio o Rui, a Aline e a Fer<strong>na</strong>n<strong>da</strong><br />
(9º ano) e a A<strong>na</strong> Elidia (10º ano), que com seus<br />
esforços fizeram esta edição tão especial.<br />
SEJA BEM-VINDA A FORÇA JOVEM DO<br />
GRÊMIO!
Ribeirão Preto - SP - Junho/2004<br />
Jehan Ibrahim Shaaban, 43 anos, é egípcia<br />
<strong>na</strong>turaliza<strong>da</strong> brasileira. Forma<strong>da</strong> em economia<br />
pela FEA/ USP - SP, atua como a<strong>na</strong>lista de<br />
sistemas, consultora <strong>na</strong> área de informática e<br />
<strong>na</strong> equipe de desenvolvimento de sistemas <strong>da</strong><br />
Sagra Distribuidora., e mesmo com tanta<br />
ativi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> acha tempo para se dedicar à<br />
sua função de membro <strong>da</strong> diretoria <strong>da</strong> APJ<br />
(associação pe<strong>da</strong>gógica Jatobá, mantenedora<br />
<strong>da</strong> escola). Por ter vivido uma infância<br />
entremea<strong>da</strong> por brincadeiras e conflitos de<br />
guerra, traz uma bagagem de experiências que<br />
transmite nesta simpática entrevista.<br />
Vere<strong>da</strong>s - Como foi sua infância <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />
Alexandria?<br />
Jehan - Foi muito lin<strong>da</strong>. Eu era muito moleca e<br />
brincava bastante. Trago comigo muitas imagens,<br />
cheiros, o cheiro do mar, <strong>da</strong> flor de laranjeira e<br />
muitas lembranças. Eu brincava muito com meus<br />
irmãos, e jogávamos futebol com uma bola que<br />
nós fazíamos com bexiga, meia e barbante. Nas<br />
férias eu vivia <strong>na</strong> praia, pois morávamos a dois<br />
quarteirões do mar. Tudo isso foi muito bom.<br />
Estudei até os 13 anos e meio em um colégio<br />
francês tradicio<strong>na</strong>l, e tinha aulas em francês de<br />
ciências, matemática, gramática e literatura, e em<br />
árabe de geografia, história e religião.<br />
...”jogávamos futebol com bola (de) bexiga,<br />
meia e barbante.”<br />
Vere<strong>da</strong>s - Qual foi o motivo de sua vin<strong>da</strong> ao<br />
Brasil?<br />
Jehan - Parte <strong>da</strong> família <strong>da</strong> minha mãe já residia<br />
no Brasil desde 1960 e a ca<strong>da</strong> guerra que<br />
estourava meus tios chamavam meus pais para<br />
vir para cá. Meu pai resistia porque éramos<br />
pequenos e ele achava que se viéssemos<br />
perderíamos nossas raízes e cultura. Em 1973<br />
estourou a guerra de Iom Kippur e meu irmão mais<br />
velho alcançara os 16 anos, i<strong>da</strong>de de ir para o<br />
exército e participar <strong>da</strong> guerra. Acho que foi neste<br />
momento que meu pai decidiu que era hora de<br />
sair do país. Para mim foi o maior exemplo de<br />
coragem e força de vontade, pois creio ser preciso<br />
muita fibra para mu<strong>da</strong>r de país aos 70 anos,<br />
aprender uma língua nova, arrumar emprego,<br />
deixar a família para trás. E ele fez isso para não<br />
deixar minha mãe, uma mulher judia, e os filhos<br />
desamparados a mercê <strong>da</strong> guerra..<br />
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3<br />
Vere<strong>da</strong>s<br />
Entrevista do Bimestre<br />
...”foi o maior exemplo de coragem e força de<br />
vontade”...<br />
Vere<strong>da</strong>s - Fale sobre suas vivencias e lembranças<br />
de um país em guerra<br />
Jehan - Eu passei pela Guerra dos Seis Dias, 1967,<br />
quando o Egito perdeu para Israel o Si<strong>na</strong>i e a Faixa<br />
de Gaza, e pela Guerra de Iom Kippur, em 1973,<br />
quando tentou recuperar estes territórios. Me<br />
lembro dos toques de recolher, <strong>da</strong>s sirenes de<br />
ataques, em que tínhamos que apagar as luzes<br />
para não atrair a atenção dos aviões inimigos.<br />
Minha mãe nos levava para a sala no centro <strong>da</strong><br />
casa, um lugar mais protegido que os quartos, até<br />
soar a sirene indicando o fim do ataque. Éramos<br />
orientados a não falar com estranhos, jamais<br />
aceitar presentes ou pegar coisa no chão, evitando<br />
ameaças de bomba. Quando eu tinha 7 anos um<br />
espião judeu foi preso com o mesmo sobrenome<br />
<strong>da</strong> minha mãe e ela foi leva<strong>da</strong> para interrogatório<br />
<strong>na</strong> polícia. Mesmo não entendendo muito bem o<br />
que acontecia ficava <strong>na</strong> cama chorando e achando<br />
que minha mãe não ia mais voltar.<br />
Vere<strong>da</strong>s - Sabemos que seu pai era mulçumano e<br />
sua mãe judia. Como era a convivência entre a<br />
diferença religiosa em sua casa.<br />
Jehan - Na religião muçulma<strong>na</strong> quem define a<br />
religião dos filhos é o homem, e portanto é <strong>na</strong>tural<br />
se casar com mulheres de outras religiões não<br />
considera<strong>da</strong>s pagãs (o budismo é considerado<br />
uma religião pagã). Na religião ju<strong>da</strong>ica é a mulher<br />
quem define a religião dos filhos, e minha mãe<br />
Poesia<br />
nos educou como muçulmanos por considerar<br />
isso importante para o meu pai. Isso não a impedia<br />
de seguir sua religião, jejuar e ir à si<strong>na</strong>goga, ao<br />
mesmo tempo em que preparava os rituais<br />
mulçumanos <strong>da</strong> nossa casa, como por exemplo, o<br />
mês de Ramadã, quando jejuávamos todos os dias<br />
durante um mês. É uma <strong>da</strong>s maiores lembranças<br />
<strong>da</strong> minha infância, porque passeávamos to<strong>da</strong>s as<br />
noites com lanter<strong>na</strong>s colori<strong>da</strong>s. Era lindo.<br />
Vere<strong>da</strong>s - Quais aspectos se diferenciam entre<br />
as culturas egípcia e brasileira?<br />
Jehan - A cultura egípcia é oriental, e, portanto,<br />
mais recata<strong>da</strong> e bastante fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> <strong>na</strong> religião<br />
muçulma<strong>na</strong>. Não imagino uma mulher árabe de fio<br />
dental <strong>na</strong>s praias do Egito. A brasileira é mais solta<br />
e libera<strong>da</strong>. Quando cheguei ao Brasil senti esta<br />
diferença <strong>na</strong> forma do meu comportamento em<br />
relação aos meus colegas <strong>na</strong> escola. Com o tempo<br />
eu fui me a<strong>da</strong>ptando.<br />
...”não imagino uma mulher árabe de fio<br />
dental”...<br />
Vere<strong>da</strong>s - Como vê a atual situação do Oriente<br />
Médio, a Questão palesti<strong>na</strong> e a Era Bush.<br />
Jehan - Considero a situação do Oriente muito<br />
triste e hoje muito pior do que aquela em que vivi<br />
<strong>na</strong> infância. Vemos pela televisão uma população<br />
ca<strong>da</strong> vez mais jovem segurando em armas e<br />
lutando para ter um pe<strong>da</strong>ço de terra que possa<br />
chamar de seu país. Os jovens brasileiros vivem<br />
num paraíso se comparados à reali<strong>da</strong>de dos de lá.<br />
A Palesti<strong>na</strong>, antes de ser declara<strong>da</strong> estado judeu,<br />
era ocupa<strong>da</strong> por uma maioria árabe, a qual acredita<br />
que se o povo judeu tem direito à sua terra sagra<strong>da</strong><br />
eles também tem o direito de sentir que tem uma<br />
casa, um chão seu. O problema é que anos<br />
seguidos de conflito fizeram os homens perderem<br />
a razão provocando tantas mortes e retaliações<br />
simplesmente desuma<strong>na</strong>s.<br />
O presidente Bush usou ape<strong>na</strong>s o argumento de<br />
derrubar Sad<strong>da</strong>m Hussein para massacrar um país<br />
e sua população, tendo grandes interesses<br />
econômicos, uma vez que a 2ª maior reserva de<br />
petróleo do planeta se encontra no subsolo do<br />
Iraque. Eu o considero um homem cruel que só<br />
busca interesses fi<strong>na</strong>nceiros, e que o mundo deve<br />
acor<strong>da</strong>r para este fato.<br />
...” (o povo palestino) tem o direito de sentir que<br />
tem uma casa, um chão seu.”
V<br />
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4<br />
Vere<strong>da</strong>s<br />
Agen<strong>da</strong> Cultural <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de<br />
Junho / 2004<br />
Ribeirão Preto - SP - Junho/2004<br />
Informativo <strong>Waldorf</strong><br />
Espetáculo Teatral EU, ELA E ADÉLIA<br />
Cia. Única de Teatro e Dança de Ribeirão<br />
Preto - SP<br />
Texto e Direção Carlos Henrique Branco<br />
Com Sandra Corradini<br />
Data/ Horário: 4 (sex) e 5 (sáb), à 0h<br />
Projeto Série Concertos no Parque<br />
ORQUESTRA SINFÔNICA DE<br />
RIBEIRÃO PRETO<br />
Regência: Maestro Mateus Araújo<br />
Local: Teatro de Are<strong>na</strong><br />
Data/ Horário: 16h<br />
Entra<strong>da</strong> Franca<br />
Espetáculo de magia e Ilusionismo<br />
ORIENTAL MAGIC SHOW<br />
Data/ Horário: 16 (qua) e 17 (qui),<br />
20h30<br />
Local: Teatro Municipal<br />
Projeto A Escola Vai ao Teatro - 4ª<br />
Feira Nacio<strong>na</strong>l do Livro<br />
Espetáculo teatral para crianças<br />
MUITAS LUAS<br />
Cia. Aessencial Escola de Teatro de<br />
Ribeirão Preto - SP<br />
Data/ Horário: 21 (seg), às 9h, 15h e<br />
20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Espetáculo teatral MEMÓRIAS<br />
PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS<br />
WZ Brasil Produções de São Paulo -SP<br />
Data/ Horário: 22 (ter), às 9h e 20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Espetáculo teatral O CORTIÇO<br />
Núcleo Vaniarte <strong>da</strong> Cooperativa Paulista<br />
de Teatro de São Paulo-SP<br />
Data/ Horário: 23 (qua), às 9h e 20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Espetáculo teatral MORENINHA<br />
Com Núcleo Vaniarte <strong>da</strong> Cooperativa<br />
Paulista de Teatro de São Paulo-SP.<br />
Data/ Horário: 24 (qui), às 9h, 15h e<br />
20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Espetáculo Teatral MEMÓRIAS DE<br />
UM SARGENTO DE MILÍCIAS.<br />
Cia. Fábrica de Sonhos de São José do<br />
Rio Preto - SP.<br />
Data/ Horário: 25 (qui), às 9h e 20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Espetáculo teatral comédia romântica<br />
SHAKESPEARE APAIXONADO<br />
CONTA ROMEU E JULIETA<br />
Grupo TPC - Teatro Popular de<br />
Comédia de Ribeirão Preto - SP.<br />
Data/ Horário: 26 (sáb), 20h<br />
Local: Teatro Auxiliadora<br />
Concertos EPTV<br />
Participações especiais do pianista grego<br />
Janis Vakarelis e do violinista Claudio<br />
Cruz<br />
Data/ Horário: 1 (ter), 20h30<br />
Ingresso: Um agasalho revertido para<br />
o Fundo Social de Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
Concertos Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is ORQUES-<br />
TRA SINFÔNICA DE RIBEIRÃO<br />
PRETO e LEO GANDELMAN<br />
(saxofone)<br />
Data/ Horário: 5 (sáb), 21h<br />
Juventude tem Concerto ORQUES-<br />
TRA SINFÔNICA DE RIBEIRÃO<br />
PRETO<br />
Aberto a to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, o concerto é<br />
executado e comentado pelo maestro<br />
Mateus Araujo, que aproxima com<br />
informações o público <strong>da</strong> obra musical<br />
Data/ Horário: 6 (dom), 10h30<br />
Ingresso: Gratuito<br />
Concerto do Madrigal, Ensemble e<br />
Solistas do DEPARTAMENTO DE<br />
MÚSICA DA ECA - RP<br />
Regência: Rubens Ricciardi<br />
Solistas: Yuka de Almei<strong>da</strong> Prado<br />
(soprano), Carlos Sulpício (trompete),<br />
Fer<strong>na</strong>ndo Corvisier e Fátima Corvisier<br />
(piano)<br />
Data/ Horário: 9 (qua), 21h<br />
Espetáculo Teatral O AUTO DA<br />
COMPADECIDA<br />
Texto: Ariano Suassu<strong>na</strong><br />
Grupo TPC<br />
Data/ Horário: 16 (qua), 20h30<br />
Ren<strong>da</strong> reverti<strong>da</strong> para a biblioteca<br />
Padre Euclides<br />
4ª Feira Nacio<strong>na</strong>l do Livro<br />
Data/ Horário: 18 a 27 de junho<br />
Local: Espla<strong>na</strong><strong>da</strong> do Teatro Pedro II<br />
Concerto de Aniversário ORQUESTRA<br />
SINFÔNICA DE RIBEIRÃO PRETO<br />
Regência: Maestro Mateus Araújo<br />
Data/ Horário: 19 (sáb), 21h<br />
Ingresso: Gratuito<br />
Espetáculo Teatral INTIMIDADE<br />
INDECENTE<br />
De Leilah Assumpção. Direção Regi<strong>na</strong><br />
Galdino<br />
Com Irene Ravache e Marcos Caruso<br />
Data/ Horário: 24, 25 e 26, às 21h<br />
Espetáculo Musical com YAMANDU<br />
COSTA E LUIS CARLOS BORGES<br />
Data/ Horário: 27 (dom)<br />
EURITMIA<br />
O Grupo de <strong>Euritmia</strong> <strong>da</strong> nossa escola, formado pela Nádia, Marly e Tânia,<br />
foi para Botucatu iniciar o curso de formação de profissio<strong>na</strong>is em <strong>Euritmia</strong>, de<br />
15/4 a 24/4. Por não contar neste momento com nenhum apoio fi<strong>na</strong>nceiro, este<br />
grupo merece todos os cumprimentos por sua perseverança e entusiasmo em<br />
buscar trazer algo tão fun<strong>da</strong>mental para nossa escola por seus próprios limites.<br />
PARABÉNS MENINAS!<br />
PADEW<br />
Dos dias 6 a 8/5 aconteceu no Centro Paulus o encontro dos blocos PADEW 1<br />
e 2, promovido pela Federação <strong>da</strong>s Escolas <strong>Waldorf</strong>. Compareceram<br />
representando a nossa escola o Jorge e a Tatia<strong>na</strong>.<br />
E como representantes do novo grupo representante <strong>da</strong> nossa escola, o Ayres<br />
e a Mônica Sato marcaram <strong>presença</strong> no novo PADEW, realizado entre os dias<br />
20 e 23/5.<br />
BAMBU<br />
O prof. Mamoru participou do curso “Usos do bambu”, <strong>na</strong> Fazen<strong>da</strong> São<br />
Luiz, em São Joaquim <strong>da</strong> Barra, trazendo um novo conhecimento para ser<br />
aplicado em suas aulas de tecnologia. Os alunos e a escola agradecem!<br />
GRÊMIO ESTUDANTIL<br />
Foi criado neste bimestre o Grêmio Estu<strong>da</strong>ntil <strong>da</strong> nossa escola, formado por<br />
alunos do 8º, 9º e 10º anos <strong>da</strong> escola.<br />
Os alunos elegeram sua própria diretoria, além de 4 comissões: cultural, sociais<br />
e ecológica, esportiva e divulgação.<br />
Esta é uma atitude que merece o apoio de todos os setores <strong>da</strong> escola.<br />
PARABÉNS ALUNOS!<br />
Ciclo de Palestras sobre Medici<strong>na</strong> e Terapias Antroposóficas<br />
3/6 – Terapia Artística e Musico - City <strong>na</strong> Visão Antroposófica<br />
Palestrante: Annelvira Gabarra e Elisabeth Tesheiner<br />
17/6 – Os Cui<strong>da</strong>dos com a Febre <strong>na</strong> Infância<br />
Palestrante: Beatriz Ligório<br />
24/6 – Buscando uma Socie<strong>da</strong>de mais Saudável<br />
Palestrante: Todos os palestrantes do ciclo<br />
Curso para Gestantes NOVE LUAS<br />
Coorde<strong>na</strong>ção: Eleonora de Moraes<br />
Informações: 16 9705.8922 (eleonoramoraes@hotmail.com)<br />
Grupo de Estudos do Ensino Médio<br />
To<strong>da</strong>s as 3ª feiras, às 20h<br />
Grupo de Vôlei e Capoeira<br />
Aberto à comuni<strong>da</strong>de escolar e bairro<br />
To<strong>da</strong>s as 3ª, 4ª, 5ª e 6ª feiras, 17h30<br />
Local: Escola <strong>Waldorf</strong> João Guimarães Rosa<br />
R. Virgínia de Francesco Santillo, 90 – City Ribeirão – (16) 3916 4158<br />
A programação está sujeita a alterações consulte<br />
sempre nosso site:<br />
www.ribeiraopreto.sp.gov.br (eventos teatro)<br />
ou Telefone: (16) 625 6841 OU<br />
e-mail: teatros.cultura@ribeiraopreto.sp.gov.br<br />
IMPORTANTE: Em todos os espetáculos, com exceção<br />
<strong>da</strong>queles com valor simbólico ou promocio<strong>na</strong>l,<br />
estu<strong>da</strong>ntes, menores de 18 anos, professores <strong>da</strong> rede<br />
pública e idosos acima de 60 anos, devi<strong>da</strong>mente documentados<br />
<strong>na</strong> compra do ingresso e no dia do espetáculo,<br />
têm 50 % de desconto.