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A subversao social na trilogia de Joao Cesar Monteiro: uma análise ...

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Lilia<strong>na</strong> Navarra<br />

Seria óptimo para se viver n<strong>uma</strong> a<strong>na</strong>rquia?<br />

Seria bom para todos. A a<strong>na</strong>rquia é <strong>uma</strong> coisa muito or<strong>de</strong><strong>na</strong>da.<br />

Qual é o seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>?<br />

Sou por <strong>uma</strong> transformação radical da socieda<strong>de</strong>, por meios violentos. Se<br />

pu<strong>de</strong>ssem ser pacíficos tanto melhor, mas já se sabe que assim não se vai lá.<br />

Vai haver <strong>uma</strong> nova revolução, mas não nos mesmos mol<strong>de</strong>s das fracassadas<br />

revoluções. 1<br />

<strong>Monteiro</strong> foi um dos maiores realizadores cinematográficos da vanguarda portuguesa<br />

dos anos 60, conhecida por “Novo Cinema”. Controverso, este enfant terrible do<br />

panorama cultural português foi sempre consi<strong>de</strong>rado pelos media e pelo público <strong>uma</strong><br />

figura provocadora, <strong>uma</strong> porta aberta ao escândalo. Mas além <strong>de</strong> cineasta, João César<br />

<strong>Monteiro</strong> foi também um gran<strong>de</strong> escritor, um alquimista <strong>de</strong> palavras, conseguindo<br />

misturar magistralmente a linguagem erudita aos ditados populares.<br />

O cinema era o meio através do qual conseguia ca<strong>na</strong>lizar a sua infinita cultura, a sua<br />

<strong>na</strong>rrativa vinha <strong>de</strong> textos continuamente remexidos, e incluídos em contextos<br />

plurívocos e diferentes da fonte textual originária, <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong>ira operação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scontextualização. Este processo permitia-lhe criar novas cosmogonias linguísticas<br />

no seu universo pluridiscursivo, oferecendo olhares diferenciados e várias<br />

interpretações verbais sobre o mundo que o ro<strong>de</strong>ava.<br />

O que se quer aqui apresentar são três exemplos <strong>de</strong> filmes-sociais (Recordações da<br />

Casa Amarela, A Comédia <strong>de</strong> Deus e As Bodas <strong>de</strong> Deus) on<strong>de</strong> o realizador nos quer<br />

propor <strong>uma</strong> reflexão sobre o seu mundo urbano, sob a efígie do excesso e do<br />

voyeurismo, através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> perso<strong>na</strong>gem que consegue ao longo da <strong>trilogia</strong><br />

representar vários papeis sociais, <strong>na</strong> representação dos quais, há um profundo<br />

conhecimento da socieda<strong>de</strong> e das suas várias facetas. Os filmes <strong>de</strong> João César<br />

<strong>Monteiro</strong> po<strong>de</strong>m ser vistos portanto como verda<strong>de</strong>iras análises sociológicas da<br />

realida<strong>de</strong> lisboeta daquela época.<br />

Antes <strong>de</strong> começar a nossa análise é necessário esclarecer alguns pontos básicos. Em<br />

primeiro lugar, é necessário dar um <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ‘i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>’, ou seja, um constructo<br />

que, ao longo da vida consta <strong>de</strong> sucessivas mudanças <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, às vezes, até<br />

radicais e contraditórias, mas que mantêm <strong>uma</strong> certa organização e coerência.<br />

A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>ntemente um elemento chave da realida<strong>de</strong> subjectiva, e tal como<br />

toda realida<strong>de</strong> subjectiva, acha-se em relação dialéctica com a socieda<strong>de</strong>. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é<br />

formada por processos sociais. Uma vez cristalizada, é mantida, modificada ou mesmo<br />

remo<strong>de</strong>lada pelas acções sociais. Os processos sociais implicados <strong>na</strong> formação e<br />

1<br />

RIBEIRO, A<strong>na</strong>bela Mota, “Entrevista com João César <strong>Monteiro</strong> », Suplemento DNa, Diário <strong>de</strong><br />

Noticias, Lisboa, 26 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1997.<br />

Revista Comunicación, Nº10, Vol.1, año 2012, PP.558-571. ISSN 1989-600X 559

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