o passo a passo da terapia antitabÃ¡gica na ... - Revista Sobrape

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Braz J Periodontol - March 2012 - volume 22 - issue 01 - 22(1):10-15 INTRODUÇÃO Desde a década de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o tabagismo uma epidemia; e desde então tenta combatê-lo. Para tanto foi assinado um tratado internacional, que inclui o Brasil, chamado de Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT). Apesar dos esforços, estima-se que o tabagismo mate mais de 5 milhões de pessoas por ano e seja responsável por 1 em cada 10 mortes de adultos no mundo. Segundo a OMS, o fumo é o mais importante fator de risco para doenças como o câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias. O fumo também é um importante fator de risco para doenças periodontais. Fumantes apresentam maior prevalência, extensão e gravidade das doenças periodontais do que não fumantes (Albandar, 2002; Luzzi et al., 2007). Em comparação aos não fumantes, os pacientes fumantes em geral apresentam (Luzzi et al., 2007; Wan et al., 2009). • Maior profundidade clínica de sondagem; • Maior perda clínica de inserção; • Maior perda óssea alveolar; • Mais perda dentária; • 2 a 7 vezes mais chance de desenvolver periodontite; • Pior resposta ao tratamento periodontal, cirúrgico ou não-cirúrgico. No entanto, ex-fumantes têm menor chance de desenvolver doença periodontal e possuem melhores condições periodontais que fumantes (Albandar, 2002; Bergstrom et al., 2000). Estudos prospectivos nos quais a cessação do tabagismo foi utilizada como terapia coadjuvante ao tratamento periodontal demonstraram que parar de fumar traz benefício para a resposta ao tratamento periodontal (Preshaw et al., 2005; Rosa et al., 2011). Mas abandonar o tabagismo é uma tarefa difícil, principalmente devido ao alto potencial de dependência causado pela nicotina. Por isso é importante encorajar cirurgiões-dentistas a auxiliar seus pacientes a abandonarem o hábito de fumar. O objetivo deste artigo é relatar, passo a passo, as técnicas e instrumentos que podem ser usados por dentistas neste processo. COMO AJUDAR O PACIENTE ODONTOLÓGICO A PARAR DE FUMAR Inicialmente deve-se ressaltar que tal abordagem deve ser aplicada exclusivamente aos pacientes que realmente desejam parar de fumar. Pressionar pacientes que não pretendem abandonar o hábito pode influenciar negativamente o tratamento e a relação paciente/profissional. O primeiro passo é identificar o grau de dependência An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 do paciente fumante, para isto alguns questionários foram criados. Entre eles está o Questionário de Tolerância de Fagerstöm (FTQ), revisado em 1991 passando a ser chamado de teste de dependência à nicotina (FNTD) (Heatherton et al., 1991). Este provê de maneira rápida o grau de dependência à nicotina e pode facilmente ser utilizado pelo clínico na rotina do consultório (quadro A da Figura 1). O segundo passo é, independentemente da classificação, orientar e aconselhar de maneira sistematizada o paciente. Para isso pode-se usar a “técnica dos 5 As” (Glynn & Manley, 1989) que está descrita no QUADRO B da Figura 1. O terceiro passo se aplica para pacientes com graus de dependência acima do médio, ou com graus inferiores, mas que não conseguiram parar de fumar em tentativas anteriores. Neste momento é necessário o emprego de terapia de reposição de nicotina (TRN). A TRN consiste na utilização de produtos à base de nicotina, como adesivos transdérmicos, pastilhas, goma e spray nasal. No Brasil, apenas a forma de spray nasal não está disponível; as demais estão disponíveis e não necessitam de prescrição para serem compradas. No entanto, é importante para o paciente ser orientado e se sentir seguro quanto à utilização (quadro C). O quarto passo pode ser aplicado diretamente para pacientes com graus elevado ou muito elevado de dependência e/ou para pacientes com graus inferiores, mas que não conseguiram abandonar o tabagismo somente com TRN e o aconselhamento. Consiste em orientar estes pacientes a procurar médicos e/ou centros antitabágicos, onde além do aconselhamento e TRN receberão tratamento multidisciplinar (com médicos, enfermeiros, psicólogos, etc.) e poderão receber a prescrição de medicação sistêmica, como a bupropiona (Zyban®) e a vareniclina (Champix®), de acordo com a avaliação médica. É muito importante que o profissional saiba identificar a necessidade de dar este passo, e realizá-lo no momento certo – antes que o paciente se desmotive e abandone a terapia (Quadro D). Quadro D – Encaminhamento do paciente. O grau de dependência deste paciente é elevado ou suas experiências anteriores em cessação do tabagismo foram frustradas e isso exige que ele seja tratado por um médico ou preferencialmente por uma equipe multidisciplinar em um ambulatório antitabágico. Existem muitos ambulatórios no Brasil mantidos pelo SUS (veja no site do Ministério da Saúde). 11
Braz J Periodontol - March 2012 - volume 22 - issue 01 - 22(1):10-15 Figura 1- Roteiro para a cessação do tabagismo Nome Idade 01 Você fuma atualmente? Sim ( ) Não ( ) Se sim para 1 continue com o questionário 02 Você quer parar de fumar? Sim ( ) Não ( ) Se sim para 2, siga para o questionário do Quadro A. Se não para 2, explique para o paciente todos os malefícios do tabagismo para que ele se torne consciente do problema, e se ainda persistir em não querer parar de fumar, respeite-o e não insista. Quadro A - Questionário FNTD 03 Quanto tempo após acordar você fuma seu primeiro cigarro? Dentro de 5 min. ( ) 3 Entre 6 e 30 min. ( ) 2 Entre 31 e 60 min. ( ) 1 Após 60 min. ( ) 0 04 Quantos cigarros você fuma por dia? 05 Você acha difícil não fumar em locais proibidos? 06 Qual o cigarro do dia que te traz mais satisfação? 07 Você fuma mais freqüentemente pela manhã? Menos de 10 cigarros ( )0 Entre 11 e 20 cigarros ( )1 De 21 a 30 cigarros ( ) 2 Mais de 30 cigarros ( ) 3 Sim ( ) 1 Não ( ) 2 O primeiro da manhã ( ) 1 Outros ( ) 0 Sim ( ) 1 Não ( ) 0 08 Você fuma mesmo doente quando precisa ficar acamado a maior parte do tempo? Sim ( ) 1 Não ( ) 0 As perguntas 3-8 referem-se ao grau de dependência (FNTD). Some os números que estão na frente dos parênteses assinalados, e se a soma resultar em: 0-2 – leve dependente Siga para a questão: 09 e quadro B 2-4 – moderado dependente Siga para a questão: 09 e quadro B e C 4-10 – forte dependente Siga para o quadro D 09 Já tentou parar de fumar antes? Sim ( ) Não ( ) Se sim para 09 pule para o quadro D. Se não para 09 vá para o quadro indicado pelo grau de dependência. 12 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393
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