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Braz J Periodontol - March 2012 - volume 22 - issue 01<br />
EFEITO DA PEDRA UMES NO PROCESSO DE<br />
CICATRIZAÇÃO TECIDUAL. ESTUDO HISTOLÓGICO EM<br />
DORSO DE RATOS<br />
Effect of postassium alumina on wound healing. Histological study in rats<br />
Larissa Castro e Cavalcante 1 , Mônica Castro Moreira 1 , Olívia Morais de Lima Mota 2 , Eveline Turatti 2 , Fernando André Campos<br />
Viana 2 , Sérgio Luís da Silva Pereira 2<br />
1<br />
Alunas do curso de graduação em Odontologia, Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil<br />
2<br />
Professores do curso de Odontologia, Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil<br />
Recebimento: 25/08/11 - Correção: 07/10/11 - Aceite: 22/12/11<br />
RESUMO<br />
O uso de cristais de alúmen de potássio, conhecidos popularmente como pedra umes, é bastante difundido entre a<br />
população que frequenta postos públicos de atendimento odontológico, após pequenas cirurgias, como irrigante local<br />
e agente hemostático. O objetivo deste trabalho foi avaliar histologicamente o efeito do uso da pedra umes no reparo<br />
tecidual de feridas produzidas no dorso de ratos. Quinze ratos da raça Wistar foram divididos aleatoriamente em três<br />
grupos de cinco animais cada, de acordo com o tempo do período experimental: Grupo 1 (n = 5) sacrificados no 1º dia;<br />
Grupo 2 (n = 5) sacrificados no 7º dia e grupo 3 (n = 5) sacrificados no 14º dia. Quatro feridas foram realizadas com<br />
um bisturi tipo punch no dorso dos animais, sendo irrigadas uma vez ao dia, com uma das quatro substâncias: soro,<br />
clorexidina, pedra umes segundo diluição do fabricante, pedra umes segundo diluição de uso popular. Os resultados<br />
após 24 horas da aplicação da pedra umes sugerem um atraso na cicatrização, provavelmente devido ao seu potencial<br />
hemostático, porém nos demais períodos experimentais nenhuma diferença foi constatada entre os grupos. A pedra<br />
umes parece ser prejudicial no período inicial do processo de cicatrização, porém não apresenta nenhuma influência<br />
em seus eventos subsequentes<br />
UNITERMOS: cicatrização, pedra umes, ratos. R <strong>Periodontia</strong> 2012; 22:69-73.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A maioria da população brasileira não tem acesso<br />
aos medicamentos básicos, portanto o uso de produtos<br />
alternativos para o tratamento e prevenção de doenças tem<br />
aumentado a cada dia, sobretudo no nordeste brasileiro,<br />
onde as dificuldades sócioeconômicas associam-se a uma<br />
forte influência da cultura popular (Matos,1998; Consendey<br />
et al., 2000; Silva et al., 2006; Castilho et al., 2007). Muitos<br />
são os produtos utilizados pela população e antes de<br />
condená-los dever-se-ia avaliá-los cientificamente, para<br />
que uma vez descobertas suas propriedades terapêuticas e<br />
ausência de toxicidade, seu uso fosse permitido e até mesmo<br />
estimulado (Castilho et al., 2007).<br />
Entre os vários produtos utilizados pela população,<br />
existe o alúmen de potássio, que é um mineral sulfato que<br />
ocorre naturalmente como incrustações em rochas em áreas<br />
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de meteorização, bem como a partir da reação dos sais<br />
de alumínio e potássio, sendo conhecido também como<br />
pedra umes. Apresentam-se como cristais transparentes<br />
ou pós-brancos cristalinos, inodoros, de sabor adocicado,<br />
adstringentes, levemente eflorescente ao ar, solúveis em<br />
água e insolúveis no álcool (Casquímica, 2008).<br />
A pedra umes é indicada por seus fabricantes como<br />
agente hemostático tópico e adstringente, sendo utilizada<br />
em casos de hemorragia pós-cirúrgica, aftas e gengivites,<br />
além de relatos de seu uso para alívio da dor (Costa et al.,<br />
2009). O uso terapêutico da pedra umes pela população<br />
foi avaliado em um trabalho recente no qual se constatou<br />
que de 100 pessoas entrevistadas 64 já tinham utilizado<br />
o produto, em sua maioria por indicação de familiares<br />
como agente hemostático pós exodontia (Lima et al.,<br />
2009). Também neste mesmo estudo o relato de efeitos<br />
adversos como não cicatrização e exacerbação da ferida,<br />
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além de ardência e edema chamam a atenção para uma<br />
possível interferência deste produto na seqüência de eventos<br />
biológicos que culminam com a cicatrização da ferida cirúrgica.<br />
A cicatrização é um processo biológico, químico e físico<br />
que se inicia após uma lesão tecidual e que tem como objetivo<br />
reconstruir o tecido em sua forma original (Brito et al., 1998;<br />
Paiva et al., 2002; Cavalcanti Neto et al., 2005). A reparação<br />
tecidual possui três fases básicas que são inflamação,<br />
formação de tecido de granulação e estruturação da matriz<br />
e remodelação (Clark, 1985). Durante todo esse processo<br />
são frequentes os episódios de exacerbação do quadro<br />
inflamatório, levando ao aparecimento de dor e desconforto<br />
(Bosco et al., 1996).<br />
O processo de cicatrização tem como finalidade<br />
restabelecer a homeostasia tecidual. Nos processos cicatriciais,<br />
a formação do tecido de granulação e a epitelização sempre<br />
motivaram estudos com a finalidade de esclarecer aspectos<br />
da neoformação tecidual, como também para verificar os<br />
efeitos de medicação sistêmica ou tópica na evolução deste<br />
processo, sendo este fundamental, pois sem ele a lesão seria<br />
um caminho para os microrganismos e para a perda de sangue<br />
(Abbas et al., 2010).<br />
A utilização de agentes que possam atuar diretamente<br />
no reparo ou indiretamente reduzindo o processo inflamatório<br />
torna-se um artifício benéfico ao paciente no período<br />
pós-cirúrgico (Bosco et al.,1996). Em contrapartida, o uso<br />
inescrupuloso de fármacos durante este período, mesmo<br />
os que possuem reconhecido potencial terapêutico pode<br />
acarretar prejuízos (Castilho et al., 2007).<br />
Efeitos indesejáveis do uso pós-cirúrgico da pedra umes<br />
foram relatados por Lima et al. (2009), no entanto, há<br />
necessidade de outras pesquisas sobre a influência do uso<br />
deste produto no processo de reparação tecidual. Desta<br />
forma, o presente trabalho objetivou avaliar histologicamente<br />
o uso de diferentes diluições da pedra umes na irrigação de<br />
feridas cutâneas em ratos.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
O experimento realizado seguiu os Princípios Éticos de<br />
Experimentação Animal adotado pelo Colégio Brasileiro de<br />
Experimentação Animal (COBEA) e foi submetido à Comissão<br />
de Ética no Uso de Animais (CEUA) constituída pela portaria<br />
01/2009 de 13 de janeiro de 2009.<br />
Foram utilizados quinze ratos saudáveis adultos machos,<br />
albinos (rattus novergicus albinus), da raça Wistar, pesando<br />
entre 300g e 400g, provenientes do biotério central da<br />
Universidade de Fortaleza/CE. Os animais foram distribuídos<br />
de forma aleatória em três grupos de cinco ratos, de acordo<br />
com o período de aplicação das substâncias (1, 7 e 14 dias)<br />
(Cavalcanti Neto et al., 2005). Cada animal recebeu uma<br />
identificação individual por meio de demarcações coloridas<br />
na cauda para evitar trocas entre os grupos. Durante todo o<br />
período experimental, os animais permaneceram em gaiolas<br />
individuais devidamente identificadas, sob temperatura<br />
ambiente, recebendo água e ração à vontade.<br />
Os ratos foram anestesiados com cloridrato de quetamina<br />
a 10%, via intramuscular, na dosagem de 0,1mL/100g de peso<br />
corporal. Procedeu-se a tricotomia dorsal, na região entre as<br />
patas traseiras, por meio de tesouras serrilhadas e lâminas<br />
de bisturi n° 10. Quatro feridas cutâneas, duas em cada lado<br />
foram feitas utilizando-se bisturi circular (punch) de 4mm de<br />
diâmetro e profundidade padrão de 1mm, deixando uma<br />
distância de 1,5cm entre cada um dos cortes (Cavalcanti Neto<br />
et al., 2005). Após a execução das perfurações seguiu-se a<br />
aplicação através da irrigação de 0,1ml das substâncias por<br />
um tempo de 10 segundos.<br />
Para relação ferida/substância estabeleceu-se o seguinte<br />
protocolo: grupo A (perfuração superior, lado esquerdo) -<br />
soro fisiológico a 0,9%; grupo B (perfuração inferior, lado<br />
esquerdo) - solução aquosa de digluconato de clorexidina a<br />
0,12%; grupo C (perfuração superior, lado direito) - solução<br />
de uma colher rasa de café de pedra umes para 200ml de<br />
água, de acordo com receita popular (Lima et al., 2009); grupo<br />
D (perfuração inferior, lado direito) – solução de 1g de pedra<br />
umes para 100ml de água, de acordo com fabricante.<br />
As substâncias foram aplicadas uma vez ao dia,<br />
respeitando-se o intervalo de 24 horas entre elas. Foram<br />
utilizadas, diariamente, quatro seringas, identificadas com<br />
o nome das substâncias e quatro agulhas descartáveis para<br />
que não houvesse nenhum tipo de contaminação entre as<br />
substâncias ou feridas.<br />
Ao final dos períodos experimentais preestabelecidos<br />
de 1, 7 e 14 dias, os animais foram sacrificados por meio<br />
de deslocamento cervical. Os fragmentos de tecido foram<br />
removidos por meio de incisões retangulares, aprofundadas<br />
até a fáscia muscular envolvendo toda a ferida, com margem de<br />
segurança de 1 mm nas bordas das mesmas. Imediatamente<br />
após a remoção os fragmentos foram colocados em frascos<br />
com formol a 10%, permanecendo nesta solução por, no<br />
mínimo, 24 horas, para uma adequada fixação. As peças<br />
foram seccionadas ao meio no sentido longitudinal, e os dois<br />
fragmentos incluídos em parafina. Após os procedimentos<br />
laboratoriais de rotina foram realizados os cortes em<br />
micrótomo, com 5µm de espessura e posteriormente corados<br />
pela coloração de rotina de hematoxilina & eosina.<br />
Um único examinador, que não sabia a qual grupo<br />
pertencia cada lâmina, realizou a análise histológica em<br />
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microscopia óptica comum, com aumentos de 40x, 100x, e<br />
400x, efetuando uma descrição qualitativa dos eventos do<br />
processo inflamatório e cicatricial.<br />
RESULTADOS<br />
Dia 1<br />
Os dados histológicos evidenciaram a presença de<br />
achados compatíveis com úlcera cutânea. Foram observadas<br />
áreas de solução de continuidade tecidual, apresentando<br />
tecido conjuntivo exposto, focos recobertos por crosta<br />
formada por fibrina e exsudato e processo inflamatório agudo,<br />
bem delimitado na derme subjacente com predominância<br />
de neutrófilos, de forma semelhante nos grupos A e B.<br />
Nos grupos C e D, grupos em que se utilizou a pedra<br />
umes, este processo inflamatório agudo mostrou-se mais<br />
exacerbado com maior extensão de infiltrado inflamatório<br />
do tipo polimorfonuclear e edema. Em dois espécimes do<br />
grupo D foi observada uma área de necrose liquefativa e<br />
degeneração gordurosa na derme, sinalizando um discreto<br />
atraso no processo de cicatrização. Houve exceções, como<br />
o desenvolvimento de um processo inflamatório discreto<br />
subjacente à região da ferida em um caso analisado no grupo<br />
B e colonização de bactérias na crosta no grupo A.<br />
Dia 7<br />
Analisando os cortes histológicos, verificaram-se<br />
diferenças quanto ao processo de cicatrização em curso.<br />
No grupo A quatro cortes histológicos mostravam a ferida<br />
recoberta parcialmente por epitélio e tecido de granulação<br />
subjacente, enquanto que em um corte ainda havia a<br />
permanência da crosta e um processo inflamatório agudo<br />
intenso no tecido conjuntivo subjacente à região da ferida.<br />
No grupo B os cortes histológicos demonstraram áreas<br />
recobertas completamente por um epitélio pavimentoso<br />
estratificado ortoceratinizado atrófico com tecido de<br />
granulação abaixo, processo inflamatório crônico intenso;<br />
áreas com recobrimento epitelial parcial apresentando tecido<br />
de granulação maduro abaixo, e somente em um corte foi<br />
visualizada a ferida sem indícios de epitélio e com tecido de<br />
granulação subjacente. No grupo C a maioria dos cortes<br />
histológicos exibiu a região da ferida recoberta por um epitélio<br />
pavimentoso estratificado ortoceratinizado com tecido de<br />
granulação subjacente, enquanto que em outro corte a ferida<br />
estava parcialmente recoberta com tecido de granulação logo<br />
abaixo e houve casos nos quais não se verificaram indícios<br />
de epitélio recobrindo a ferida, tendo na superfície processo<br />
inflamatório crônico e agudo com tecido de granulação. No<br />
grupo D todos os cortes demonstraram a superfície recoberta<br />
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por epitélio pavimentoso estratificado ortoceratinizado ora<br />
sem presença de tecido de granulação, ora com escassa<br />
quantidade e aspecto bem maduro.<br />
Dia 14<br />
No grupo A os cortes histológicos demonstraram que<br />
somente um não foi recoberto por epitélio, exibindo áreas de<br />
necrose e tecido de granulação, enquanto que nos demais<br />
a região da ferida estava totalmente recoberta, porém havia<br />
diferenças quanto à ausência ou não de tecido de granulação,<br />
presente em um corte e não nos demais, além do processo<br />
inflamatório crônico, presente em dois cortes.<br />
No grupo B todos os cortes estavam recobertos por<br />
epitélio pavimentoso estratificado ortoceratinizado, sendo<br />
que em dois havia tecido de granulação na derme subjacente,<br />
em um havia tecido conjuntivo denso, porém sem anexos<br />
cutâneos e nos outros a derme estava dentro dos padrões<br />
de normalidade.<br />
No grupo C a ferida estava totalmente recoberta por<br />
epitélio, tendo na derme um processo inflamatório crônico<br />
que variava de discreto a moderado, tendo um corte ainda<br />
com tecido de granulação na derme enquanto nos outros o<br />
tecido já estava formado por fibras colágenas maduras e com<br />
anexos cutâneos.<br />
No grupo D três cortes histológicos apresentaram<br />
área da ferida totalmente reparada, dentro dos padrões de<br />
normalidade. Nos dois cortes restantes, apesar de ambos<br />
estarem recobertos por epitélio, em um havia um discreto<br />
processo inflamatório crônico subjacente, enquanto que no<br />
outro ainda havia tecido de granulação.<br />
DISCUSSÃO<br />
O uso indiscriminado de qualquer substância com<br />
finalidades terapêuticas deveria ser objeto de investigação,<br />
visto que isto pode acarretar sérios danos à saúde da<br />
população. O uso da pedra umes durante o pós-operatório<br />
odontológico cirúrgico foi apresentado em estudo anterior,<br />
onde foi relatado que em um terço das pessoas entrevistadas<br />
houve aparecimento de efeitos colaterais indesejados,<br />
acarretando principalmente um atraso na cicatrização (Lima<br />
et al., 2009).<br />
A literatura não possui relatos dos efeitos dessa<br />
substância, apesar de sua variedade de indicações e facilidade<br />
de obtenção. Entre as muitas indicações encontradas em<br />
rótulos de fabricantes estão: gengivites, cortes e úlceras<br />
nos lábios (Casquímica, 2009). Outras informações variam<br />
de fabricante para fabricante, mas em nenhuma delas foi<br />
encontrada uma orientação precisa de quando, como, e<br />
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por quanto tempo utilizar o produto. A clorexidina e o soro<br />
foram usados como controle, visto que ambos são descritos<br />
na literatura como substâncias de uso pós-cirúrgico. (Sanchez<br />
et al., 1988; Shahan et al., 1993; Villa et al., 2003).<br />
As fases de cicatrização tecidual foram avaliadas neste<br />
trabalho através de biópsias realizadas nos dias 1, 7 e 14<br />
(Cavalcanti Neto et al., 2005). Nas primeiras 24 horas, houve<br />
um predomínio de processo inflamatório agudo em todos os<br />
grupos; em alguns espécimes do grupo B este processo variou<br />
de moderado a intenso. Magro Filho et al. (1998) observaram<br />
que a clorexidina foi um pouco mais irritante que o soro<br />
fisiológico, fator decorrente do álcool na sua composição.<br />
No presente estudo esse efeito irritante da clorexidina não foi<br />
observado, provavelmente devido ao veículo aquoso utilizado,<br />
concordando com os relatos de Cavalcanti Neto et al. (2005).<br />
Villa et al. (2003) avaliaram histologicamente o processo<br />
de cicatrização de feridas em ratos submetidos à ação de<br />
vários medicamentos, entre eles dois vasoconstrictores:<br />
adrenalina e felipressina, comumente utilizados na fase póscirúrgica<br />
como medicamento tópico para coibir hemorragias.<br />
Os autores concluíram que estes anestésicos deveriam ser<br />
utilizados somente com finalidades anestésicas, e que seu uso<br />
como hemostático deve ser visto com reservas, por provocar<br />
atraso no processo de cicatrização de feridas cutâneas.<br />
Nos demais períodos não foi possível observar nenhuma<br />
diferença entre os grupos. No 7º. dia o epitélio recobria<br />
parcialmente, ou em alguns espécimes, totalmente a ferida,<br />
tendo na área subjacente um processo inflamatório crônico.<br />
Alguns estudos demonstraram que a clorexidina proporcionou<br />
uma cicatrização mais adiantada aos sete dias (Tramontina<br />
et al., 1997; Cavalcanti Neto et al., 2005), fato este não<br />
observado no presente estudo.<br />
Estudos in vitro demonstraram que a clorexidina interfere<br />
na proliferação dos fibroblastos (Pucher & Daniel, 1992;<br />
Mariotti & Rumpf, 1999). Entretanto, estudos laboratoriais<br />
mais recentes demonstraram que isto ocorre quando utilizada<br />
em altas concentrações (Flemingson Emmadi P et al., 2008;<br />
Thomas et al., 2009). Pesquisas in vivo comprovaram que a<br />
redução da contaminação microbiana proporcionada pela<br />
clorexidina acelerou o processo de cicatrização tecidual<br />
(Sanchez et al., 1988; Shahan et al., 1993; Hammad et al.,<br />
2011).<br />
Neste estudo foi demonstrado que todas as feridas<br />
cutâneas em dorso de ratos estavam cicatrizadas após 14<br />
dias, independente do produto utilizado, concordando com<br />
os relatos de outros autores (Veiga Jr, 2001; Villa et al., 2003;<br />
Cavalcanti et al., 2005). Entretanto em outros achados (Brito<br />
et al., 1998; Paiva et al., 2002) foi observado um fechamento<br />
incompleto nesse período, provavelmente em virtude da<br />
utilização de feridas de diâmetros maiores.<br />
CONCLUSÃO<br />
Os resultados sugerem ser a pedra umes prejudicial<br />
no período inicial do processo de cicatrização, porém<br />
aparenta não apresentar nenhuma influência em seus<br />
eventos subsequentes. Seria conveniente a realização<br />
de outros estudos, com outras diluições, além de análise<br />
histomorfométrica e clínica, de forma a possibilitar o uso da<br />
pedra umes como auxiliar no processo de reparação tecidual.<br />
ABSTRACT<br />
The use of potassium alumina is widely spread among<br />
the population. They frequently use it after minor surgical<br />
procedures, as a local irrigating solution, for bleeding control.<br />
The goal of the present work was to evaluate histologically<br />
the effects of two different dilutions of pedra umes at the<br />
healing response on experimental wounds in rats and to<br />
compare them with two other agents commonly used after<br />
surgical procedures: chlorhexidine and saline solution. Fifteen<br />
rats (Wistar rats) were divided into 3 groups accordingly to<br />
the day they were sacrificed: Group 1 (n=5), sacrificed at 1 º<br />
day; Group 2 (n=5) sacrificed at the 7 º day and e group 3<br />
(n=5) sacrificed at the 14 º day. Four wounds were made at<br />
their dorsum and irrigated once a day with one of the four<br />
substances: saline solution, chlorhexidine, potassium alumina<br />
diluted accordingly to the manufacturer recommendation and<br />
potassium alumina diluted in a popular used manner. The<br />
results suggested that wound healing may be delayed by the<br />
use of the potassium alumina at 1 st day, however no difference<br />
was found between test (potassium alumina in two different<br />
dilutions) and control groups (saline and chlorhexidine) at the<br />
other experimental times.<br />
UNITERMS: wound healing, potassium alumina, rats.<br />
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Endereço para correspondência:<br />
Sérgio Luís da Silva Pereira<br />
Av. Engo. Leal Lima Verde, 2086 - Alagadiço Novo<br />
CEP: 60833-520 – Fortaleza – CE<br />
Tel.: 85 3477-3200<br />
E-mail: luiss@unifor.br<br />
An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393<br />
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