Revista Periodontia MAR 2012.indd - Revista Sobrape
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Braz J Periodontol - March 2012 - volume 22 - issue 01 - 22(1):69-73<br />
além de ardência e edema chamam a atenção para uma<br />
possível interferência deste produto na seqüência de eventos<br />
biológicos que culminam com a cicatrização da ferida cirúrgica.<br />
A cicatrização é um processo biológico, químico e físico<br />
que se inicia após uma lesão tecidual e que tem como objetivo<br />
reconstruir o tecido em sua forma original (Brito et al., 1998;<br />
Paiva et al., 2002; Cavalcanti Neto et al., 2005). A reparação<br />
tecidual possui três fases básicas que são inflamação,<br />
formação de tecido de granulação e estruturação da matriz<br />
e remodelação (Clark, 1985). Durante todo esse processo<br />
são frequentes os episódios de exacerbação do quadro<br />
inflamatório, levando ao aparecimento de dor e desconforto<br />
(Bosco et al., 1996).<br />
O processo de cicatrização tem como finalidade<br />
restabelecer a homeostasia tecidual. Nos processos cicatriciais,<br />
a formação do tecido de granulação e a epitelização sempre<br />
motivaram estudos com a finalidade de esclarecer aspectos<br />
da neoformação tecidual, como também para verificar os<br />
efeitos de medicação sistêmica ou tópica na evolução deste<br />
processo, sendo este fundamental, pois sem ele a lesão seria<br />
um caminho para os microrganismos e para a perda de sangue<br />
(Abbas et al., 2010).<br />
A utilização de agentes que possam atuar diretamente<br />
no reparo ou indiretamente reduzindo o processo inflamatório<br />
torna-se um artifício benéfico ao paciente no período<br />
pós-cirúrgico (Bosco et al.,1996). Em contrapartida, o uso<br />
inescrupuloso de fármacos durante este período, mesmo<br />
os que possuem reconhecido potencial terapêutico pode<br />
acarretar prejuízos (Castilho et al., 2007).<br />
Efeitos indesejáveis do uso pós-cirúrgico da pedra umes<br />
foram relatados por Lima et al. (2009), no entanto, há<br />
necessidade de outras pesquisas sobre a influência do uso<br />
deste produto no processo de reparação tecidual. Desta<br />
forma, o presente trabalho objetivou avaliar histologicamente<br />
o uso de diferentes diluições da pedra umes na irrigação de<br />
feridas cutâneas em ratos.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
O experimento realizado seguiu os Princípios Éticos de<br />
Experimentação Animal adotado pelo Colégio Brasileiro de<br />
Experimentação Animal (COBEA) e foi submetido à Comissão<br />
de Ética no Uso de Animais (CEUA) constituída pela portaria<br />
01/2009 de 13 de janeiro de 2009.<br />
Foram utilizados quinze ratos saudáveis adultos machos,<br />
albinos (rattus novergicus albinus), da raça Wistar, pesando<br />
entre 300g e 400g, provenientes do biotério central da<br />
Universidade de Fortaleza/CE. Os animais foram distribuídos<br />
de forma aleatória em três grupos de cinco ratos, de acordo<br />
com o período de aplicação das substâncias (1, 7 e 14 dias)<br />
(Cavalcanti Neto et al., 2005). Cada animal recebeu uma<br />
identificação individual por meio de demarcações coloridas<br />
na cauda para evitar trocas entre os grupos. Durante todo o<br />
período experimental, os animais permaneceram em gaiolas<br />
individuais devidamente identificadas, sob temperatura<br />
ambiente, recebendo água e ração à vontade.<br />
Os ratos foram anestesiados com cloridrato de quetamina<br />
a 10%, via intramuscular, na dosagem de 0,1mL/100g de peso<br />
corporal. Procedeu-se a tricotomia dorsal, na região entre as<br />
patas traseiras, por meio de tesouras serrilhadas e lâminas<br />
de bisturi n° 10. Quatro feridas cutâneas, duas em cada lado<br />
foram feitas utilizando-se bisturi circular (punch) de 4mm de<br />
diâmetro e profundidade padrão de 1mm, deixando uma<br />
distância de 1,5cm entre cada um dos cortes (Cavalcanti Neto<br />
et al., 2005). Após a execução das perfurações seguiu-se a<br />
aplicação através da irrigação de 0,1ml das substâncias por<br />
um tempo de 10 segundos.<br />
Para relação ferida/substância estabeleceu-se o seguinte<br />
protocolo: grupo A (perfuração superior, lado esquerdo) -<br />
soro fisiológico a 0,9%; grupo B (perfuração inferior, lado<br />
esquerdo) - solução aquosa de digluconato de clorexidina a<br />
0,12%; grupo C (perfuração superior, lado direito) - solução<br />
de uma colher rasa de café de pedra umes para 200ml de<br />
água, de acordo com receita popular (Lima et al., 2009); grupo<br />
D (perfuração inferior, lado direito) – solução de 1g de pedra<br />
umes para 100ml de água, de acordo com fabricante.<br />
As substâncias foram aplicadas uma vez ao dia,<br />
respeitando-se o intervalo de 24 horas entre elas. Foram<br />
utilizadas, diariamente, quatro seringas, identificadas com<br />
o nome das substâncias e quatro agulhas descartáveis para<br />
que não houvesse nenhum tipo de contaminação entre as<br />
substâncias ou feridas.<br />
Ao final dos períodos experimentais preestabelecidos<br />
de 1, 7 e 14 dias, os animais foram sacrificados por meio<br />
de deslocamento cervical. Os fragmentos de tecido foram<br />
removidos por meio de incisões retangulares, aprofundadas<br />
até a fáscia muscular envolvendo toda a ferida, com margem de<br />
segurança de 1 mm nas bordas das mesmas. Imediatamente<br />
após a remoção os fragmentos foram colocados em frascos<br />
com formol a 10%, permanecendo nesta solução por, no<br />
mínimo, 24 horas, para uma adequada fixação. As peças<br />
foram seccionadas ao meio no sentido longitudinal, e os dois<br />
fragmentos incluídos em parafina. Após os procedimentos<br />
laboratoriais de rotina foram realizados os cortes em<br />
micrótomo, com 5µm de espessura e posteriormente corados<br />
pela coloração de rotina de hematoxilina & eosina.<br />
Um único examinador, que não sabia a qual grupo<br />
pertencia cada lâmina, realizou a análise histológica em<br />
70 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393