Ano 2 nº 1 Fevereiro/2007
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ENTREVISTA EXCLUSIVA<br />
NOEDIR ANTÔNIO G. STOLF<br />
“O INCOR NUNCA QUEBRARÁ”<br />
O dr. Noedir Antônio G. Stolf, professor titular<br />
e diretor da Divisão de Cirurgia Torácica<br />
e Cardiovascular do Instituto do Coração,<br />
vice-presidente do Conselho Diretor do<br />
InCor e do Conselho Curador da Fundação<br />
Zerbini, fala sobre a crise do InCor e da<br />
Fundação Zerbini.<br />
É possível definir hoje quando e como<br />
começou a crise do InCor?<br />
Na verdade a crise é na Fundação Zerbini,<br />
uma fundação, sem fins lucrativos, de apoio<br />
ao Instituto do Coração, o InCor. A principal<br />
causa do endividamento foi a construção do<br />
Bloco 2. Começou com o investimento de<br />
recursos da Fundação, com R$ 60 milhões<br />
na ocasião, para começar a construção e<br />
equipar o edifício. Foi contraído ainda um<br />
empréstimo junto ao BNDES. Em 2004, para<br />
iniciar a operação, contrataram-se, apenas<br />
pela Fundação Zerbini, 1500 funcionários.<br />
Em suma a construção e a estrutura funcional<br />
são os grandes fatores de absorção<br />
dos recursos da Fundação Zerbini, que, após<br />
recorrer ao BNDES, fez com que a Diretoria<br />
de então ainda tivesse de captar recursos em<br />
bancos privados.<br />
Com isso chegou-se à dívida atual?<br />
Atualmente a dívida da Fundação Zerbini<br />
vem das pendências com o BNDES, com<br />
bancos privados e fornecedores de materiais<br />
de várias naturezas: são aproximados 240<br />
milhões de reais. Outros complicadores, não<br />
os principais, foram projetos diversos de apoio<br />
à saúde em São Paulo, em Osasco. Embora não<br />
deficitários, a gestão dos mesmos teve peso em<br />
custos de operacionalização. Houve mais um<br />
projeto, esse, sim, maior, do InCor Brasília, que<br />
implicou em reformas do Hospital das Forças<br />
Armadas, construção de área adicional na mesma<br />
instituição e equipamentos. Tudo foi custeado<br />
com recursos da Câmara e do Senado. Porém, a<br />
operacionalização exigiu a contratação de funcionários<br />
- médicos, não-médicos e outros. O InCor<br />
Brasília, durante os três primeiros anos, acumulou<br />
déficits; atendia inclusive grande número da<br />
clientela do SUS e o contrato demorou a sair.<br />
Além disso, tinha teto para atendimento muito<br />
baixo. Então, a operacionalização foi deficitária,<br />
mês-a-mês, a ponto de acumular um endividamento<br />
de aproximados 40 milhões de reais.<br />
Uma versão pública diz que a construção<br />
do Bloco 2 só foi feita porque o governo<br />
do Estado, à época, se comprometera a<br />
devolver as verbas investidas. E que depois<br />
teria voltado atrás, é verdade?<br />
O processo estendeu-se por várias gestões do<br />
InCor e da Fundação Zerbini. Muitos dos atores<br />
dizem que o governador Covas teria garantido<br />
assumir. Outros dizem que não foi exatamente<br />
assim. É uma questão realmente em aberto.<br />
Não existe nenhum documento?<br />
Nenhum. São versões diferentes para uma questão<br />
um pouco nebulosa. Acho que dificilmente<br />
iremos esclarecê-la.<br />
O ex-governador Geraldo Alckmin se<br />
posicionou sobre o tema?<br />
O governador Alckmin e, posteriormente, o<br />
governador Lembo, disseram que não sabiam do<br />
compromisso, portanto, não teriam condição de<br />
assumir essa suposta dívida.<br />
Como uma crise na Fundação Zerbini se<br />
reflete tão fortemente no InCor? De que<br />
forma essas estruturas se relacionam?<br />
São instituições absolutamente separadas<br />
- tecnicamente. O InCor é um dos institutos<br />
do Hospital das Clínicas. Serve também como<br />
hospital da Faculdade de Medicina da USP.<br />
Nessa estrutura, há uma dotação do Governo<br />
do Estado: tem recurso alocado pelo<br />
Estado e distribuído pela Superintendência e<br />
o Conselho Deliberativo do HC. A Fundação<br />
Zerbini é privada, sem fi ns lucrativos, e apóia<br />
o InCor. É um modelo de gestão que caracteriza<br />
o binômio Fundação-InCor, no qual<br />
o grande benefício é o fato de a Fundação<br />
ter agilidade administrativa. Não só capta<br />
recursos que o InCor não poderia captar,<br />
como possui fl exibilidade para contratação,<br />
compras, suplementação de salário. Se não<br />
houvesse a possibilidade de suplementação,<br />
teríamos dificuldade de contratar alguns<br />
profi ssionais com a qualifi cação necessária.<br />
Então, são instituições absolutamente diferentes.<br />
Consideramos que ainda é o melhor<br />
modelo de gestão para desenvolver um<br />
projeto de vanguarda, de excelência, como<br />
é o do Instituto do Coração.<br />
Os caixas são praticamente comuns?<br />
O princípio é verdadeiro. Hoje achamos que a<br />
Fundação deve focar os esforços no InCor São<br />
Paulo, não em outros projetos, mesmo que<br />
não sejam deficitários. Atualmente, o núcleo<br />
de funcionários é mínimo, com as mudanças<br />
que empreendemos. Estamos, com os recursos<br />
humanos do InCor, assumindo a atividade<br />
administrativa da Fundação. Na prática, embora<br />
tecnicamente separadas, a ação para salvar a<br />
Fundação Zerbini é vista como prioridade pela<br />
gestão do InCor.<br />
Isso quer dizer que a Fundação Zerbini<br />
pode quebrar, mas o InCor não?<br />
É esse ponto que quero enfatizar, quando digo<br />
que o binônimo Fundação Zerbini-InCor é o modelo<br />
de gestão que consideramos ideal. O InCor<br />
nunca quebrará, pois tem recursos alocados pela<br />
Secretaria de Saúde, por intermédio da Superintendência<br />
do HC. O custeio está totalmente<br />
garantido. Num hipotético caso de insolvência da<br />
Fundação, o InCor continua normalmente. Mas<br />
precisamos repensar o modelo de gestão.<br />
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