06.07.2014 Views

Vol 13 - Nº 1

Vol 13 - Nº 1

Vol 13 - Nº 1

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 7-9.<br />

Berwanger O, et al. Medicina Baseada em Evidências na Cardiologia Intervencionista. O Que Valorizar em uma Especialidade<br />

Técnica? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 7-9.<br />

Medicina Baseada em Evidências na Cardiologia<br />

Intervencionista. O Que Valorizar em uma<br />

Especialidade Técnica?<br />

Editorial<br />

Otávio Berwanger 1 , Hélio Penna Guimarães 1 , Álvaro Avezum 2<br />

Medicina baseada em evidências (MBE) – termo<br />

cunhado e primeiramente utilizado na Escola<br />

de Medicina da Universidade McMaster pelo<br />

Professor Gordon Guyatt, Canadá, na década de 80,<br />

para denominar uma estratégia de aprendizado clínico<br />

– é a utilização conscienciosa, explícita e judiciosa da<br />

melhor evidência, visando a tomada de decisão para<br />

o tratamento individual dos pacientes 1 . Podemos considerá-la,<br />

também, o processo sistemático de selecionar,<br />

analisar e aplicar resultados válidos de publicações<br />

científicas como base das decisões clínicas. Essas decisões<br />

incluem quantificação de risco, seleção de métodos<br />

diagnósticos, estabelecimento de prognóstico e<br />

escolha da melhor abordagem terapêutica. O termo<br />

Cardiologia Baseada em Evidências (CBE), originalmente<br />

introduzido no Brasil por Avezum 2 , envolve estas mesmas<br />

etapas aplicadas à cardiologia. A prática da CBE<br />

significa a integração da experiência clínica individual<br />

à melhor evidência externa disponível 3 . Com o exposto<br />

acima, depreende-se que bons cardiologistas, incluindo<br />

obviamente aqueles dedicados à realização de procedimentos<br />

coronários percutâneos, utilizam experiência<br />

clínica individual e a melhor evidência científica disponível<br />

na prática cardiológica diária. A evidência clínica<br />

não deve tiranizar a experiência clínica, entretanto,<br />

sem evidências clínicas sólidas e robustas a prática<br />

clínica torna-se desatualizada em detrimento do paciente.<br />

O questionamento fundamental é: qual a mellhor<br />

maneira de fazer as coisas corretamente? Atualmente,<br />

dentro deste paradigma da CBE, para que uma intervenção<br />

terapêutica ou preventiva seja utilizada na prática<br />

clínica, ela deve, idealmente, ter benefício comprovado<br />

por revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados<br />

com metodologia e poder estatístico adequados.<br />

Sob essa perspectiva, avaliar criticamente a literatura<br />

médica e aplicar os resultados da pesquisa clínica<br />

no manejo de pacientes deve ser prioridade. Assim<br />

sendo, a fim de definir a eficácia e/ou efetividade de<br />

uma intervenção terapêutica em cardiologia intervencionista<br />

alguns parâmetros devem ser respeitados.<br />

1) É necessário que estudos clínicos com enfoque<br />

terapêutico respeitem critérios metodológicos. O não<br />

respeito a estes critérios metodológicos (quebra do<br />

sigilo da lista de randomização, ausência de cegamento,<br />

perdas no seguimento, ausência de análise por intenção<br />

de tratar e grupos de forma não uniforme) podem<br />

alterar de forma significativa os resultados de um ensaio<br />

clínico randomizado. Nesse sentido, estão disponíveis<br />

evidências empíricas na literatura demonstrando que,<br />

independente de qualquer efeito biológico, a presença<br />

de qualquer uma dessas limitações metodológicas,<br />

na maior parte das vezes, tende a levar a uma superestimativa<br />

do efeito de uma intervenção, contudo, a<br />

direção dos efeitos é imprevisível, podendo, em algumas<br />

ocasiões, ocorrer exatamente o oposto, ou seja,<br />

subestimativa de efeito. Por exemplo, um estudo que<br />

não implemente a randomização adequadamente (quebra<br />

do sigilo da lista de randomização) pode levar a<br />

uma superestimativa de efeito de até 30% na maioria<br />

dos casos 4 . Desta forma, o cardiologista intervencionista<br />

pode lançar mão de fichas de leitura crítica de artigos,<br />

a exemplo daquelas propostas pelos User’s Guides to<br />

the Medical Literature 5 , disponíveis no website<br />

www.cche.net/usersguides/main.asp.<br />

2) É necessário demonstrar que a intervenção<br />

reduza os chamados desfechos clinicamente relevantes.<br />

Desfechos clínicos (outcomes ou end-points) são eventos<br />

considerados importantes e objeto da hipótese do estudo.<br />

Eles são pré-definidos no protocolo, coletados e<br />

verificados no transcorrer do estudo, ou ao seu término.<br />

Desfechos clinicamente relevantes são aqueles de<br />

real interesse para o paciente e para a sociedade.<br />

Exemplos são a mortalidade total, mortalidade cardiovas-<br />

1<br />

Médico da Divisão de Pesquisa – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

2<br />

Diretor da Divisão de Pesquisa – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Dr Álvaro Avezum. Diretoria da Divisão de Pesquisa – Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese 500,<br />

<strong>13</strong>º Andar. São Paulo, SP - CEP 04012-909 • e-mail: avezum@yahoo.com<br />

Recebido em: 21/02/2006 • Aceito em: 21/02/2006<br />

7<br />

Editorial Otavio.p65 7<br />

24/2/2006, 10:56


Berwanger O, et al. Medicina Baseada em Evidências na Cardiologia Intervencionista. O Que Valorizar em uma Especialidade<br />

Técnica? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 7-9.<br />

cular, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral<br />

e sangramento maior. Estes são os desfechos de maior<br />

relevância para o cardiologista envolvido na realização<br />

de procedimentos coronários percutâneos. Desfechos<br />

substitutos, por sua vez, são aqueles representados<br />

por melhora em parâmetros laboratoriais (redução do<br />

colesterol, da glicemia, melhora da função ventricular,<br />

melhora da função endotelial, avaliações angiográficas<br />

de progressão da aterosclerose, supressão de arritmias<br />

ventriculares, controle de níveis pressóricos, etc). Esperase<br />

que as mudanças que ocorrem nos desfechos intermediários<br />

reflitam mudanças nos desfechos clinicamente<br />

relevantes. Na prática, porém, nem sempre os desfechos<br />

intermediários substituem aqueles que realmente<br />

interessam ao paciente, por isso é recomendável que<br />

os ensaios clínicos, que usam variáveis laboratoriais e<br />

fisiológicas como desfecho, sejam vistos com reserva,<br />

e que seus resultados não sejam transpostos para a<br />

prática antes da realização de ensaios clínicos, que<br />

usem desfechos clinicamente relevantes. No caso da<br />

cardiologia intervencionista, redução da reestenose,<br />

fluxo TIMI, redução da progressão da aterosclerose<br />

são importantes, sem dúvida alguma, mas devem ser<br />

considerados como desfechos substitutos, visto que<br />

para a mudança de prática clínica é a redução de<br />

eventos cardiovasculares que deve ser considerada a<br />

confirmação do benefício de uma intervenção terapêutica.<br />

Adicionalmente, o benefício líquido que incorpora<br />

a confirmação de eficácia e de segurança, necessariamente,<br />

envolve número substancial de pacientes em<br />

estudos clínicos. Portanto, a utilização de desfechos<br />

substitutos pode não ser suficiente para nos assegurar<br />

a segurança da intervenção em avaliação.<br />

3) É necessário que o estudo inclua um adequado<br />

número de pacientes e de eventos. A maioria das<br />

intervenções terapêuticas em cardiologia promove reduções<br />

moderadas e plausíveis de mortalidade, ou<br />

seja, a verdadeira redução de risco encontra-se provavelmente<br />

entre 10% e 25%, em vez de 40% a 60%<br />

- “Princípio da Moderação” 6 . Assim, os resultados dos<br />

estudos clínicos disponíveis envolvendo um número<br />

adequado de pacientes demonstram que, em sua maioria,<br />

tratamentos promovem reduções moderadas, porém<br />

plausíveis de eventos cardiovasculares maiores e de<br />

mortalidade. Devido às altas prevalência e incidência<br />

da doença cardiovascular, estas reduções de magnitude<br />

moderada podem evitar ou prorrogar dezenas de<br />

milhares de eventos anualmente, o que é altamente<br />

desejável do ponto de vista de saúde coletiva. A fim<br />

de detectar essas reduções moderadas com poder estatístico<br />

adequado, é necessário um tamanho de amostra<br />

e, principalmente, um número de eventos adequados.<br />

Por exemplo, um estudo que almeje detectar uma<br />

redução de risco relativo de 25%, com poder estatístico<br />

de 90%, considerando uma taxa de eventos de 10%<br />

no grupo controle, necessita incluir pelo menos 6000<br />

pacientes e/ou observar no mínimo 350 a 650 eventos.<br />

4) Além de possuir eficácia comprovada, a intervenção<br />

deve estar disponível e ser factível de acordo<br />

com a realidade local. Não basta que ensaios clínicos<br />

randomizados com metodologia e poder estatístico<br />

adequados ou uma revisão sistemática dos mesmos,<br />

demonstrando que determinada intervenção ou estratégia<br />

de tratamento reduz desfechos clinicamente relevantes,<br />

estejam disponíveis se a mesma não esteja disponível<br />

e/ou não seja factível de acordo com a realidade local.<br />

Por exemplo, apesar de ensaios clínicos sugerirem<br />

benefício de transferência para angioplastia primária<br />

ao invés de realizar fibrinólise imediata, talvez, a aplicabilidade<br />

desta informação, em nosso meio, pode ser<br />

questionada, dada uma série de dificuldades logísticas,<br />

custo, etc.<br />

Neste número da Revista Brasileira de Cardiologia<br />

Invasiva, é discutida uma série de temas relevantes na<br />

área de cardiologia intervencionista. Em relação à revascularização<br />

miocárdica percutânea para insuficiência<br />

coronária crônica, sem dúvida, ocorreram avanços<br />

inequívocos nas áreas de intervenção (principalmente<br />

stents farmacológicos) e do tratamento farmacológico<br />

(estatinas, inibidores da ECA, novos antiplaquetários)<br />

inexistindo, neste momento, à luz destes avanços, um<br />

ensaio clínico randomizado de larga escala, demonstrando<br />

qual das duas estratégias (invasiva ou conservadora)<br />

é superior em termos de redução de eventos<br />

cardiovasculares maiores. Já em pacientes com síndromes<br />

coronária agudas sem supradesnivelamento<br />

de ST ainda persiste o debate sobre qual a melhor<br />

estratégia: intervenção imediata ou tratamento conservador<br />

inicial? A totalidade da evidência sugere que<br />

não há benefício em termos de mortalidade total, havendo,<br />

entretanto, uma provável redução de infarto<br />

do miocárdio em pacientes considerados de risco mais<br />

elevado (por exemplo, aqueles com alteração de troponinas<br />

ou alterações no eletrocardiograma como supra<br />

ou infradesnivelamento de segmento ST ou inversão<br />

de onda T). Grandes registros sugerem que, em pacientes<br />

não selecionados da prática clínica diária, esta redução<br />

de eventos cardiovasculares possa ser questionável 7 .<br />

Em relação à realização de fibrinólise imediata ou<br />

transferência para angioplastia primária, persiste ainda<br />

incerteza quanto à aplicabilidade das evidências disponíveis<br />

em nosso meio. Esta incerteza deveria idealmente<br />

ser resolvida não por opiniões pessoais, mas sim por<br />

um estudo clínico randomizado pragmático e de larga<br />

escala, testando se, para nossa realidade, a transferência<br />

realmente representa a melhor opção em termos<br />

de redução de eventos cardiovasculares maiores. Outro<br />

tema abordado diz respeito à aplicação dos stents<br />

farmacológicos. Dados de ensaios clínicos randomizados<br />

demonstram redução nas taxas de reestenose em comparação<br />

aos stents tradicionais, desfecho este considerado<br />

a principal limitação dos stents convencionais.<br />

Aqui é fundamental o reparo de que ainda não estão<br />

disponíveis ensaios clínicos randomizados demonstrando<br />

vantagem desta intervenção em relação a desfe-<br />

8<br />

Editorial Otavio.p65 8<br />

24/2/2006, 10:56


Berwanger O, et al. Medicina Baseada em Evidências na Cardiologia Intervencionista. O Que Valorizar em uma Especialidade<br />

Técnica? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 7-9.<br />

chos clinicamente relevantes e os mesmos se fazem<br />

necessários, da mesma forma que necessitamos de<br />

análises econômicas (estudos de custo-efetividade e<br />

de custo-utilidade) adaptadas à nossa realidade, a fim<br />

de ampararmos a decisão de alocação de recursos do<br />

ponto de vista institucional e governamental. Neste<br />

número, também são abordados temas de extrema<br />

relevância no cuidado do paciente submetido à cardiologia<br />

intervencionista, a exemplo dos dados do<br />

registro RIPE, acerca da remoção do introdutor arterial<br />

pós-intervenção coronária percutânea. Finalmente, são,<br />

por meio de revisões narrativas, apresentadas atualizações<br />

sobre dados recentes em relação ao uso de tomografia<br />

computadorizada de múltiplos detectores e<br />

reestenose intra-stent e sobre tratamento clínico inicial<br />

em síndromes coronárias agudas sem supradesnivelamento<br />

de ST.<br />

Como a ciência progride continuamente, e em<br />

face das novas evidências científicas que surgem, nossos<br />

paradigmas vão sendo modificados e a prática clínica<br />

constantemente aprimorada em favor dos pacientes<br />

com doença cardiovascular. Ressaltamos, ainda, que<br />

tão importante quanto a disponibilidade da evidência<br />

científica, ou eventualmente, de maior impacto, é a<br />

incorporação das mesmas na prática clínica diária,<br />

constituindo o que denominamos de Medicina Baseada<br />

na Prática da Evidência. Finalizamos considerando<br />

que a evidência científica não pode ser implementada<br />

sem a prática clínica (a prática auxiliando a evidência)<br />

e que a prática clínica deve ser norteada pela evidência<br />

científica (a evidência fundamentando a prática)<br />

para assegurar que o correto esteja sendo corretamente<br />

implementado.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson<br />

WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t.<br />

BMJ 1996;312:71-2.<br />

2. Avezum A. Evidence based cardiology. I. Principles, rationale<br />

and applications of a new cardiology practice and critical<br />

analysis of the literature. Arq Bras Cardiol 1998;71:5-<strong>13</strong>.<br />

3. Berwanger O, Avezum A, Cavalcante AB. Evidence based<br />

cardiology. Some necessary clarifications. Arq Bras Cardiol<br />

2004;83:357-9.<br />

4. Juni P, Altman DG, Egger M. Systematic reviews in health<br />

care: assessing the quality of controlled clinical trials. BMJ<br />

2001;323:42-6.<br />

5. Oxman AD, Sackett DL, Guyatt GH. Users’ guides to the<br />

medical literature. I. How to get started. The Evidence-<br />

Based Medicine Working Group. JAMA 1993;270:2093-5.<br />

6. Yusuf S, Collins R, Peto R. Why do we need some large,<br />

simple randomized trials? Stat Med 1984;3:409-22.<br />

7. Van de Werf F, Gore JM, Avezum A, Gulba DC, Goodman<br />

SG, Budaj A et al. Access to catheterisation facilities in<br />

patients admitted with acute coronary syndrome: multinational<br />

registry study. BMJ 2005;330:441.<br />

9<br />

Editorial Otavio.p65 9<br />

24/2/2006, 10:56


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 10-11.<br />

Rochitte CE. Angiotomografia Multislice no Diagnóstico de Reestenose de Stent. Já Podemos Indicar? Rev Bras Cardiol Invas 2005;<br />

<strong>13</strong>(1): 10-11.<br />

Angiotomografia Multislice no Diagnóstico de<br />

Reestenose de Stent. Já Podemos Indicar?<br />

Editorial<br />

Ver artigo relacionado<br />

na página 55<br />

Carlos Eduardo Rochitte 1<br />

Énotório o papel revolucionário que o stent coronário<br />

teve na cardiologia invasiva. A demonstração de<br />

seus efeitos na diminuição de complicações agudas<br />

e melhora do prognóstico dos pacientes submetidos à<br />

intervenção coronária tem sido um contínuo na literatura.<br />

Em função do grande número de estudos randomizados<br />

mostrando benefícios na utilização do stent e incessante<br />

melhora no design e na atividade terapêutica dos stents,<br />

como a dos stent farmacológicos, hoje mais de 80%<br />

dos procedimentos terapêuticos coronários utilizam<br />

estes dispositivos. No entanto, o uso amplo do stent<br />

levou ao aparecimento de um novo problema, a reestenose<br />

intra-stent, cuja incidência varia de 10 a 50%<br />

e depende de vários fatores de risco. Uma revisão<br />

brilhante da reestenose coronária está disponível no<br />

número anterior da Revista Brasileira de Cardiologia<br />

Invasiva, cuja leitura recomendo.<br />

O diagnóstico da reestenose coronária inclui os<br />

mesmos métodos funcionais utilizados para a detecção<br />

de estenose coronária inicial (teste ergométrico, cintilografia,<br />

ecocardiografia de estresse e ressonância magnética),<br />

além da própria coronariografia invasiva. No<br />

quadro da reestenose, os métodos funcionais passam<br />

a ter um papel ainda mais importante, uma vez que já<br />

se demonstrou o potencial malefício do chamado “reflexo<br />

óculo-estenótico”, ou seja, a realização de intervenção<br />

baseada exclusivamente no achado angiográfico, sem<br />

levar em conta os resultados das provas funcionais,<br />

em especial nas lesões intermediárias.<br />

Um novo método diagnóstico não invasivo para<br />

a estenose coronária tornou-se disponível recentemente,<br />

a tomografia computadorizada de múltiplas colunas<br />

de detectores ou mais simplesmente de múltiplos cortes<br />

ou, ainda, como tem sido utilizado do inglês, multislice.<br />

Diferentemente dos outros métodos não invasivos funcionais,<br />

este é capaz de visualizar não invasivamente<br />

as artérias coronárias, portanto um método não invasivo<br />

anatômico, à semelhança da angiografia coronária invasiva.<br />

No atual estágio de desenvolvimento tecnológico,<br />

a angiografia coronária por tomografia multislice é a<br />

única que mostra potencial para aplicação clínica imediata.<br />

Os outros métodos não invasivos que permitem<br />

a abordagem anatômica da artéria coronária, a ressonância<br />

magnética e a ecocardiografia, não demonstram<br />

aplicabilidade clínica no momento.<br />

A angiotomografia multislice tem mostrado excelente<br />

acurácia no diagnóstico da estenose coronária,<br />

com destaque para o seu valor preditivo negativo,<br />

permitindo, assim, descartar a presença de estenose<br />

significativa com grande segurança, em pacientes com<br />

suspeita de doença arterial coronária. Muito embora<br />

faltem ainda os resultados de estudos multicêntricos<br />

internacionais, em andamento no momento, é unânime<br />

a opinião de que este método terá lugar garantido e<br />

de destaque na avaliação da doença coronária em<br />

futuro recente.<br />

Por que, então, a pergunta dirigida a mim pelo<br />

editor da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva? Ocorre<br />

que na situação clínica específica da reestenose intrastent<br />

é necessário visualizar a artéria coronária em trecho<br />

que contém a malha metálica do dispositivo. Esta<br />

malha metálica pode provocar um artefato na imagem,<br />

que impede a visualização da luz no interior do stent<br />

(blooming artifact). Este artefato depende de vários fatores<br />

como o design, o material e o diâmetro do stent,<br />

a orientação do vaso em relação ao feixe de raios-X e<br />

a técnica de reconstrução de imagem da tomografia,<br />

em especial o kernel de convolução, que controla o<br />

balanço entre a definição e o ruído da imagem.<br />

Estes aspectos são bem discutidos no artigo de<br />

Pinto et al. 1 , deste número da Revista Brasileira de<br />

Cardiologia Invasiva, que ilustra caso bem sucedido<br />

de identificação da proliferação neo-intimal, base da<br />

reestenose intra-stent. O Dr. Ibrahim Pinto, um dos<br />

pioneiros da utilização desta tecnologia no nosso país,<br />

também demonstrou o potencial do uso da tomografia<br />

1<br />

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Carlos Eduardo Rochitte. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - São Paulo - SP - CEP 05403-000. e.mail: carlos.rochitte@incor.usp.br<br />

Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 16/02/2006<br />

10<br />

Editorial Rochitte.p65 10<br />

24/2/2006, 11:36


Rochitte CE. Angiotomografia Multislice no Diagnóstico de Reestenose de Stent. Já Podemos Indicar? Rev Bras Cardiol Invas 2005;<br />

<strong>13</strong>(1): 10-11.<br />

no diagnóstico da estenose intra-stent em trabalho<br />

científico apresentado como tese de doutorado na<br />

Universidade de São Paulo 2 .<br />

Nas primeiras tomografias capazes de visualizar<br />

as artérias coronárias, como as com 4, 8 e 16 colunas<br />

de detectores, ficou clara a limitação da visualização<br />

intra-stent na maioria dos casos. No entanto, a tecnologia<br />

da tomografia multislice não pára de progredir rapidamente.<br />

No momento que escrevo este editorial, a melhor<br />

tecnologia disponível comercialmente são as tomografias<br />

capazes de adquirir 64 cortes por rotação (com 32 ou<br />

64 colunas de detectores). Neste instante tecnológico<br />

e baseado nas informações disponíveis científicas, sugere-se<br />

que, utilizando a melhor resolução espacial<br />

fornecida por estes novos equipamentos e kernel de<br />

convolução mais duros e otimizados para a visualização<br />

intra-stent, obtém-se a visualização de mais de 50%<br />

da luz da maioria dos stents comerciais disponíveis.<br />

A resposta à nossa pergunta chave depende não<br />

só do aspecto tecnológico, mas do potencial benefício<br />

clínico do uso rotineiro desta nova tecnologia. Esta<br />

segunda parte da equação não está ainda resolvida e<br />

poucos dados ainda estão disponíveis quanto ao benefício<br />

clínico de se usar esta tecnologia na reestenose<br />

intra-stent. Os trabalhos clínicos publicados ainda apontam<br />

para as duas direções. Alguns relatam que a tomografia<br />

não está pronta para uso clínico e outros, que<br />

já haveria indicação para o seu uso, com predomínio<br />

desta última posição, e sendo esta presente nas publicações<br />

de maior impacto científico. Devemos ainda lembrar<br />

que na dúvida clínica ou dos métodos não invasivos<br />

funcionais, este é o único método não invasivo<br />

anatômico disponível para a visualização coronária<br />

na rotina clínica no momento. Portanto, a outra alternativa<br />

para beneficiar nosso paciente nesta situação é<br />

a angiografia coronária invasiva e seus instrumentos<br />

auxiliares (por exemplo, o ultra-som intracoronário).<br />

Assim, tendo em mente uma equação com um<br />

termo em constante evolução (o tecnológico) e um<br />

termo ainda pouco resolvido (o clínico), sou obrigado<br />

a adicionar um termo baseado na minha experiência<br />

clínica e opinião de experts da área no momento para<br />

responder à pergunta “Já podemos indicar?”. A minha<br />

resposta de forma genérica é sim, podemos indicar. A<br />

tecnologia é simples, disponível, extremamente segura<br />

para o paciente e tem demonstrado, em inúmeras situações,<br />

diagnósticos precisos e benefícios clínicos para<br />

pacientes individuais. Porém, se encararmos a pergunta<br />

chave como “Podemos indicar rotineiramente ou<br />

para todos os pacientes?” ou ainda “Podemos indicar<br />

tendo em mente os critérios da medicina baseada em<br />

evidência ou da presença desta indicação nas diretrizes<br />

das sociedades de cardiologia?” a resposta seria<br />

claramente não. Soma-se aqui a falta de dados referentes<br />

à relação custo-efetividade, necessários para o uso<br />

rotineiro no sistema de saúde público ou suplementar,<br />

e que são ainda praticamente inexistentes para esta<br />

tecnologia.<br />

Fazendo um exercício de probabilística e pensando<br />

apenas no paciente no consultório do cardiologista,<br />

eu diria que utilizando equipamentos de tomografia<br />

de 64 cortes por rotação ou superiores (em desenvolvimento)<br />

e tendo selecionado adequadamente o paciente<br />

com suspeita de reestenose intra-stent, a probabilidade<br />

de benefício para o paciente é hoje muito superior ao<br />

risco envolvido.<br />

Por fim, vou fazer um outro exercício, o de futurística,<br />

no qual não sou muito bom. Em função da<br />

importância e presença crescente do stent nos pacientes<br />

cardiológicos e, por conseqüência, da necessidade<br />

absoluta de método não invasivo preciso para o diagnóstico<br />

de reestenose intra-stent, e considerando o<br />

fantástico potencial que a tecnologia da tomografia<br />

multislice já demonstrou, podemos prever que os desenvolvimentos<br />

em andamento tornarão esta tecnologia<br />

em método de escolha para o diagnóstico da reestenose<br />

intra-stent em futuro próximo. Ainda em tempo, acho<br />

que neste item que discutimos deveríamos seguir o<br />

exemplo de Albert Einstein, que costumava dizer: “I<br />

never think of the future. It comes soon enough.” (“Eu<br />

nunca penso no futuro. Ele já chega tão rápido”).<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Pinto IMF, Ishikawa W, Mattos LA, Sousa JEMR, Sousa A.<br />

Tomografia computadorizada de múltiplos detectores e reestenose<br />

intra-stent. Rev Bras Cardiol Invas 2005;<strong>13</strong>(1):55-56.<br />

2. Pinto IMF. Comparação da tomografia computadorizada<br />

por múltiplos detectores com angiografia quantitativa e<br />

ultra-som intra-coronário na avaliação tardia das endopróteses<br />

coronárias com sirolimus.[Tese de doutorado]. São Paulo:<br />

Universidade de São Paulo,2002. 107p.<br />

11<br />

Editorial Rochitte.p65 11<br />

24/2/2006, 11:36


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 12-15.<br />

Malaquias S, et al. Remoção de Introdutor Arterial Pós-Intervenção Coronária Percutânea pelo Enfermeiro (Registro RIPE). Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 12-15.<br />

Artigo Original<br />

Remoção de Introdutor Arterial Pós-Intervenção<br />

Coronária Percutânea pelo Enfermeiro (Registro RIPE)<br />

Solange Malaquias 1 , George Meireles 1 , Luciano Abreu 1 , Antônio Forte 1 , Marcos Sumita 1 ,<br />

Jorge Hayashi 1 , José Solano 1<br />

RESUMO<br />

Objetivo: Avaliar a relação entre a retirada de introdutor<br />

pelo enfermeiro e as suas complicações em pacientes submetidos<br />

à intervenção coronária percutânea (ICP). Método:<br />

Cento e quatro pacientes foram submetidos a ICP, no período<br />

de novembro de 2003 a fevereiro de 2004. Os introdutores<br />

foram retirados pelo enfermeiro, após 4 horas da aplicação<br />

da heparina, seguida por compressão manual por período<br />

mínimo de 15 min. Hematoma pequeno foi definido como<br />

inchaço palpável no local da punção, medindo 2 a 6 cm<br />

de diâmetro e hematoma grande, maior que 6 cm. Resultados:<br />

A idade média dos pacientes foi 61,2±10,8 anos,<br />

com predomínio do sexo masculino (70,4%). Os introdutores<br />

foram 7F (7,7%) e 8F (92,3%) e foram retirados após um<br />

período médio de 163±56 min. O tempo médio de compressão<br />

manual foi 16,3±5,8 min. Ocorreram 5 (4,8%)<br />

hematomas, sendo 4 pequenos e 1 grande. Os hematomas<br />

foram tratados clinicamente, sem complicações. Conclusão:<br />

A retirada de introdutor arterial pelo enfermeiro mostrouse<br />

um procedimento seguro, sem complicações maiores.<br />

DESCRITORES: Remoção de dispositivo. Angioplastia coronária<br />

transluminal percutânea. Papel do profissional de<br />

enfermagem. Técnicas hemostáticas, instrumentação, enfermagem.<br />

Angiografia coronária, enfermagem. Autonomia<br />

profissional.<br />

SUMMARY<br />

Arterial Sheath Removal After Coronary Intervention<br />

by Nurse (RIPE Registry)<br />

Objective: To assess the relation between sheath removal<br />

by the nurse and its complications in patients submitted to<br />

percutaneous coronary intervention (PCI). Method: One<br />

hundred and four patients were submitted to percutaneous<br />

coronary interventions from November, 2003 to February,<br />

2004. The sheaths were removed by the nurse 4 hours after<br />

heparin application, followed by manual compression for at<br />

least 15 min. A small hematoma (2 to 6 cm diameter) was<br />

defined as a palpable swelling at the access site; and big<br />

hematoma, over 6-cm diameter. Results: Patients’ mean<br />

age was 61.2±10.8 years; more most were males (70.4%).<br />

Sheaths used were 7F (7.7%) and 8F (92.3%). The sheaths<br />

were removed after a mean time of 163±56 min. Manual<br />

compression mean time was 16.3±5.8 min. Five (4.8%)<br />

hematomas - 4 small and 1 big - were reported. The<br />

hematomas were clinically treated, without complications.<br />

Conclusion: Arterial sheath removal by the nurse showed to<br />

be safe, without majors complications.<br />

DESCRITORS: Device removal. Percutaneous transluminal<br />

coronary angioplasty. Nurse’s role. Hemostatic techniques,<br />

instrumentation, nursing. Coronary angiography, nursing.<br />

Professional autonomy.<br />

Omanuseio do local da punção e a retirada do<br />

introdutor arterial após as intervenções coronárias<br />

percutâneas têm um aspecto importante,<br />

pois estão relacionados às complicações hemorrágicas<br />

e vasculares, ocasionando aumento da morbidade e<br />

dos custos hospitalares.<br />

Com a utilização do corrente regime antiplaquetário<br />

de ácido acetilsalicílico associado à ticlopidina ou ao<br />

1<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital<br />

Stella Maris, Guarulhos, SP.<br />

Correspondência: Solange Malaquias. Rua Maria Cândida Pereira, 770,<br />

Itabegica. Guarulhos, SP – CEP 07041-020. Tel.: (11) 6421-2833.Fax:<br />

(11) 6424-3218 • e-mail: george@tre-sp.gov.br<br />

Recebido em: 17/11/2005 • Aceito em: 08/12/2005<br />

clopidogrel, pós-implante de stent, podem ocorrer complicações<br />

hemorrágicas locais maiores em, aproximadamente,<br />

2,5% dos pacientes 1 . Foi estimado que as complicações<br />

maiores do local de acesso arterial aumentam<br />

a duração da internação hospitalar por aproximadamente<br />

2 dias, adicionando 2 mil dólares ao custo total<br />

do procedimento 2 .<br />

É prática comum no nosso país a retirada de introdutores<br />

arteriais e venosos pelos médicos residentes e,<br />

em algumas instituições, pelo enfermeiro, mas ainda<br />

não foram realizados levantamentos das instituições<br />

que os realizam e nem estudos sobre os resultados<br />

destes procedimentos.<br />

Para investigar a segurança da retirada de introdutor<br />

arterial após intervenções coronárias percutâneas, na<br />

12<br />

Solange.p65 12<br />

24/2/2006, 11:01


Malaquias S, et al. Remoção de Introdutor Arterial Pós-Intervenção Coronária Percutânea pelo Enfermeiro (Registro RIPE). Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 12-15.<br />

prática diária do Serviço de Cardiologia Intervencionista<br />

do Hospital Stella Maris, foi elaborado o Registro RIPE<br />

(Remoção de Introdutor Arterial Pós-intervenções Coronárias<br />

Percutâneas pelo Enfermeiro).<br />

MÉTODO<br />

Trata-se de registro prospectivo, da retirada do<br />

introdutor arterial pelo enfermeiro, em pacientes submetidos<br />

a intervenções coronárias percutâneas, no Serviço<br />

de Cardiologia Intervencionista do Hospital Stella<br />

Maris, no período de novembro de 2003 a fevereiro<br />

de 2004.<br />

Os critérios de inclusão foram: ser elegível para<br />

revascularização miocárdica percutânea ou cirúrgica<br />

e pacientes com diagnóstico de angina estável ou<br />

instável e infarto agudo do miocárdio. Os critérios de<br />

exclusão foram: complicações vasculares decorrentes<br />

da intervenção coronária percutânea; presença de hematoma<br />

após a punção da artéria femoral; doença vascular<br />

arterial periférica; moléstias hemorrágicas (púrpuras,<br />

coagulopatias, etc.); uso contínuo de anticoagulantes;<br />

terapia com fibrinolítico nas últimas 48 horas; obesidade<br />

mórbida (Índice de Massa Corpórea maior que 40).<br />

Sangramento maior foi definido como sangramento<br />

intracraniano ou diminuição na concentração de hemoglobina<br />

maior ou igual a 5g/dl ou diminuição do hematócrito<br />

maior ou igual a 15% e sangramento menor,<br />

como diminuição na concentração de hemoglobina<br />

maior que 3g/dl e menor que 5g/dl ou diminuição do<br />

hematócrito maior que 10% e menor que 15% 3 .<br />

Complicação vascular periférica foi definida como<br />

isquemia do membro inferior relacionada à punção<br />

arterial, pseudo-aneurisma, fístula arteriovenosa ou cirurgia<br />

para reparo de lesão vascular 3,4 . Hematoma pequeno<br />

foi definido como inchaço palpável no local da<br />

punção, medindo 2 a 6 cm de diâmetro e hematoma<br />

grande, maior que 6 cm de diâmetro 5 .<br />

Foram utilizados o introdutor 7 ou 8 French e o<br />

cateter-guia de diâmetro igual a 7 French pela via<br />

femoral.<br />

Os pacientes foram medicados com ácido acetilsalicílico<br />

200 mg ao dia e clopidogrel 300 mg, no dia<br />

anterior ao procedimento. A medicação foi iniciada<br />

no dia anterior ao implante. A heparina na dose de<br />

7.500 UI, por via endovenosa, foi aplicada antes do<br />

implante. Após a alta hospitalar, o clopidogrel 75 mg<br />

foi administrado por 30 dias e o ácido acetilsalicílico<br />

indefinidamente.<br />

Os introdutores foram retirados pelo enfermeiro,<br />

duas a quatro horas após a infusão venosa da heparina,<br />

seguida por compressão manual por período mínimo<br />

de 15 minutos. Após este período, foi avaliada a presença<br />

de sangramento local e, se necessário, foi prolongada<br />

a compressão, com avaliações a cada 5 minutos, até<br />

a completa hemostasia.<br />

Após a retirada do introdutor do acesso arterial,<br />

foi verificada, por um médico do Serviço, a presença<br />

de hematoma e/ou sangramento local e avaliados os<br />

pulsos do membro inferior no qual foi retirado o introdutor,<br />

assim como a perfusão e diferenças na temperatura.<br />

Os pacientes permaneceram deitados no leito<br />

por um período mínimo de 6 horas.<br />

Foi realizado um hemograma antes do implante<br />

de stent e outro após a retirada do introdutor.<br />

Na ausência de complicações, programou-se a alta<br />

hospitalar para 24 a 48 horas, após o implante de stent.<br />

As variáveis quantitativas foram apresentadas como<br />

médias e desvios padrão. Foram calculadas as freqüências<br />

absolutas e relativas às variáveis qualitativas.<br />

Os dados foram colhidos em formulário individual<br />

para cada paciente, com as informações sobre os dados<br />

demográficos, os fatores de risco e os relacionados ao<br />

procedimento.<br />

O presente estudo foi avaliado e aprovado pelo<br />

Comitê de Pesquisa e Ética da nossa instituição.<br />

RESULTADOS<br />

Foram incluídos 104 pacientes no estudo, com<br />

idade média de 61,2±10,8 anos e predomínio do sexo<br />

masculino (70,4%). A maioria dos pacientes era portadora<br />

de síndrome coronária crônica (50,2%). O fator<br />

de risco para doença coronária mais freqüente foi a<br />

hipertensão arterial sistêmica (Tabela 1). Em 15 (15,4%)<br />

pacientes havia relato de intervenção coronária percutânea<br />

prévia e punção femoral prévia em 37 (35,5%)<br />

doentes. Todos os pacientes fizeram uso de 200 mg<br />

de ácido acetilsalicílico e 300 mg clopidogrel, no dia<br />

anterior ao procedimento e 6 (5,8%) dos pacientes, de<br />

tirofiban, durante a intervenção. As vias de acesso<br />

foram as artérias femorais direita (78,8%) e esquerda<br />

(21,2%). Os introdutores foram 7F (7,7%) e 8F (92,3%).<br />

O implante de stent e angioplastia coronária foram<br />

realizados, respectivamente, em 100 (96,2%) e 4 (3,8%)<br />

TABELA 1<br />

Fatores de risco para doença coronária<br />

Fator de risco Prevalência (%)<br />

Sexo (masculino/feminino) 70,4/29,6<br />

Tabagismo atual 35,6<br />

Antecedentes familiares 29,8<br />

Hipertensão arterial sistêmica 71,2<br />

(≥ 140/90 mmHg)<br />

Diabetes mellitus (≥ 126 mg/dl) 20,8<br />

Hipercolesterolemia (≥ 200 mg/dl) 37,5<br />

Infarto do miocárdio prévio 22,1<br />

Intervenção coronária percutânea prévia 15,4<br />

<strong>13</strong><br />

Solange.p65 <strong>13</strong><br />

24/2/2006, 11:01


Malaquias S, et al. Remoção de Introdutor Arterial Pós-Intervenção Coronária Percutânea pelo Enfermeiro (Registro RIPE). Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 12-15.<br />

dos pacientes, ocorrendo sucesso em 95,4% das intervenções.<br />

Os introdutores foram retirados em média<br />

após 163,7±56 minutos e o tempo médio de compressão<br />

manual foi 16,3±5,8 minutos. Ocorreram 5 (4,8%)<br />

hematomas após a compressão manual pelo enfermeiro,<br />

sendo 4 pequenos e 1 grande. Os hematomas foram<br />

tratados clinicamente, evoluindo sem complicações.<br />

DISCUSSÃO<br />

A retirada do introdutor arterial após procedimentos<br />

coronários percutâneos diagnósticos e terapêuticos<br />

pode ser realizada por profissional enfermeiro, de acordo<br />

com Parecer Técnico COREN-DF n.º 014/2001, desde<br />

que o mesmo tenha se submetido a um curso de<br />

Especialização em Enfermagem em Terapia Intensiva<br />

ou Enfermagem em Unidade de Hemodinâmica, pois<br />

o procedimento é complexo e pode acarretar sérios<br />

riscos ao paciente 6 .<br />

É crescente a prática da retirada de introdutores<br />

arteriais e venosos pelo enfermeiro, após intervenções<br />

coronárias percutâneas, no Canadá, Estados Unidos e<br />

Inglaterra 7-9 . No Canadá, essa participação ocorre em<br />

aproximadamente um quarto das instituições 8 e a satisfação<br />

dos enfermeiros com esta mudança na prática<br />

foi obtida em 46% dos entrevistados 10 .<br />

Este é o primeiro estudo no Brasil sobre a segurança<br />

da retirada de introdutor arterial pelo enfermeiro, após<br />

intervenções coronárias percutâneas na prática diária<br />

de um Serviço de Cardiologia Intervencionista.<br />

Juran et al. 7 , em estudo prospectivo multicêntrico<br />

com quatro mil pacientes submetidos a intervenções<br />

coronárias percutâneas, mostraram significante correlação<br />

entre as intervenções pelo enfermeiro e a ocorrência<br />

de sangramento de moderado a intenso no local<br />

do acesso arterial, sem maiores repercussões. Os fatores<br />

mais significantes na diminuição de complicação no<br />

local do acesso arterial foram o menor tempo decorrido<br />

para a remoção do introdutor arterial, o tipo de<br />

mecanismo usado para a obtenção da hemostasia,<br />

alocação profissional e o método utilizado na remoção.<br />

Várias são as técnicas utilizadas para se obter a<br />

hemostasia após a retirada dos introdutores vasculares,<br />

tais como a compressão manual ou mecânica ou,<br />

ainda, o uso de dispositivos de fechamento do orifício<br />

arterial tais como: VasoSeal (colágeno) 11 , Angio-Seal<br />

(colágeno) 12 , Duett (trombina) <strong>13</strong> e Perclose (sutura arterial<br />

percutânea) 14 . Devido aos altos custos desses últimos<br />

e à menor complexidade técnica, a mais utilizada no<br />

nosso meio é a compressiva.<br />

Quando comparadas as técnicas de compressão<br />

manual e mecânica para a retirada do introdutor arterial<br />

femoral, realizadas pelo enfermeiro, não se observa<br />

diferença em relação a sangramento, contudo há<br />

aumento de hematomas no grupo com compressão<br />

manual 15 .<br />

No registro do Massachusetts General Hospital da<br />

retirada do introdutor femoral pelo enfermeiro, em 106<br />

pacientes pós-intervenções percutâneas, observou-se a<br />

formação de hematomas em 8,5% dos pacientes, porcentual<br />

acima do obtido no registro RIPE (4,8%). A possível<br />

explicação para o maior número de hematomas foi o<br />

elevado uso de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (82%<br />

vs. 5,8%), além da retirada mais precoce do introdutor<br />

(89±63 vs. 163,7±56 minutos) naquele estudo 16 .<br />

Em conclusão, a retirada de introdutor arterial pelo<br />

enfermeiro mostrou-se um procedimento seguro, sem<br />

complicações maiores.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Leon MB, Baim DS, Popma JJ, Gordon PC, Cutlip DE, Ho<br />

KK et al. A clinical trial comparing three antithromboticdrug<br />

regimens after coronary artery stenting. Stent Anticoagulation<br />

Restenosis Study Investigators. N Engl J Med 1998;339:<br />

1665-71.<br />

2. Krause PB, Klein LW. Utility of a percutaneous collagen<br />

hemostasis device: to plug or not to plug? J Am Coll<br />

Cardiol 1993;22:1280-2.<br />

3. Cote AV, Berger PB, Holmes Jr. DR, Scott CG, Bell MR.<br />

Hemorrhagic and vascular complications after percutaneous<br />

coronary intervention with adjunctive abciximab. Mayo<br />

Clin Proc 2001;76:890-6.<br />

4. Smith Jr. SC, Dove JT, Jacobs AK, Kennedy JW, Kereiakes<br />

D, Kern MJ et al. ACC/AHA guidelines for percutaneous<br />

coronary intervention (revision of the 1993 PTCA guidelines)-executive<br />

summary: a report of the American College<br />

of Cardiology/American Heart Association task force on<br />

practice guidelines (Committee to revise the 1993 guidelines<br />

for percutaneous transluminal coronary angioplasty)<br />

endorsed by the Society for Cardiac Angiography and Interventions.<br />

Circulation 2001;103:3019-41.<br />

5. Schickel SI, Adkisson P, Miracle V, Cronin SN. Achieving<br />

femoral artery hemostasis after cardiac catheterization: a<br />

comparison of methods. Am J Crit Care 1999;8:406-9.<br />

6. Parecer Técnico do Conselho Regional de Enfermagem (Coren)<br />

do Distrito Federal nº014/2001 – Competência legal do<br />

profissional enfermeiro na retirada de cateter introdutor<br />

após procedimentos de natureza hemodinâmica. Disponível<br />

em: www.coren-df.org.br<br />

7. Juran NB, Rouse CL, Smith DD, O’Brien MA, DeLuca SA,<br />

Sigmon K. Nursing interventions to decrease bleeding at the<br />

femoral access site after percutaneous coronary intervention.<br />

SANDBAG Nursing Coordinators. Standards of angioplasty<br />

nursing techniques to diminish bleeding around the groin.<br />

Am J Crit Care 2000;8:303-<strong>13</strong>.<br />

8. Peet GI, McGrath MA, Brunt JH, Hilton JD. Femoral arterial<br />

sheath removal after PTCA: a cross-Canada survey. Can J<br />

Cardiovasc Nurs 1995;6:<strong>13</strong>-9.<br />

9. Smith TT, Labrilola R. Developing best practice in arterial<br />

sheath removal for registered nurses. J Nurs Care Qual<br />

2001;16:61-7.<br />

10. Rubins S, Wiens L, Fingler I, Sawyer T, Garcia-Vargas P, Stovicek<br />

Z. Evaluating a change in practice: femoral sheath removal<br />

by registered nurses. Can J Cardiovasc Nurs 1996;7:19-27.<br />

11. Silber S. Rapid hemostasis of arterial puncture sites with<br />

collagen in patients undergoing diagnostic and interventional<br />

cardiac catheterization. Clin Cardiol 1997;20:981-92.<br />

14<br />

Solange.p65 14<br />

24/2/2006, 11:01


Malaquias S, et al. Remoção de Introdutor Arterial Pós-Intervenção Coronária Percutânea pelo Enfermeiro (Registro RIPE). Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 12-15.<br />

12. Kussmaul WG, Buchbinder M, Whitlow PL, Aker UT, Heuser<br />

RR, King SB et al. Rapid arterial hemostasis and decreased<br />

access site complications after cardiac catheterization and<br />

angioplasty: results of a randomized trial of a novel hemostatic<br />

device. J Am Coll Cardiol 1995;25:1685-92.<br />

<strong>13</strong>. Gershony G, Brock JM, Powell JS. Novel vascular sealing<br />

device for closure of percutaneous vascular access sites.<br />

Cathet Cardiovasc Diagn 1998;45:82-91.<br />

14. Vetter J, Ribeiro E, Hinohara T, Carrozza Jr. J, Simpson J.<br />

Suture mediated percutaneous closure of femoral artery<br />

access sites in fully anticoaguled patients following coronary<br />

interventions. Circulation 1994;90:I-621.<br />

15. Jones T, McCutcheon H. A randomised controlled trial<br />

comparing the use of manual versus mechanical compression<br />

to obtain haemostasis following coronary angiography. Intensive<br />

Crit Care Nurs 2003;19:11-20.<br />

16. Haldeman S, Silva J, Gonzalez C, Carroll DL. Registered<br />

Nurse Sheath Removal Team: A quality Improvement Initiative.<br />

http://pcs.mgh.harvard.edu/CCPD/Nursing_Research/<br />

Research_Abstracts_2002.asp.24/03/2004.<br />

15<br />

Solange.p65 15<br />

24/2/2006, 11:01


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

Saad JA, et al. Revascularização Miocárdica Percutânea na Insuficiência Coronária Crônica: para Todos? Rev Bras Cardiol Invas<br />

2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

Artigo de Revisão<br />

Revascularização Miocárdica Percutânea na<br />

Insuficiência Coronária Crônica: para Todos?<br />

Jamil Abdalla Saad 1,2,3 , Cirilo Pereira da Fonseca Neto 2,3 , Leonardo Pereira de Mendonça 2 ,<br />

Eduardo Kei Marquesini 1<br />

RESUMO<br />

A melhor abordagem da coronariopatia não-aguda tem<br />

sido objeto de discussão e destaque através de estudos<br />

comparativos, especialmente entre o tratamento conservador<br />

e o invasivo percutâneo e entre este e a abordagem cirúrgica.<br />

Diferentemente da coronariopatia aguda, na qual o benefício<br />

do tratamento intervencionista com o emprego dos stents<br />

convencionais está bem estabelecido, na coronariopatia<br />

crônica, os estudos comparativos realizados em épocas<br />

passadas, tecnologicamente defasados, não demonstram claramente<br />

este benefício. Some-se a isto o menor risco da<br />

população-alvo no que concerne à ocorrência de eventos<br />

cardíacos adversos, o que faz com que para uma conclusão<br />

definitiva, a respeito da superioridade de uma abordagem<br />

sobre outra, sejam necessários períodos mais longos de evolução<br />

dos pacientes do que os habitualmente previstos em muitos<br />

estudos. Em decorrência das limitações dos estudos individuais,<br />

as metanálises também não resolvem adequadamente esta<br />

questão. Esta revisão tem por objetivo avaliar os estudos<br />

comparativos entre tratamento conservador X tratamento<br />

percutâneo, neste cenário, buscando atualizá-los às condições<br />

tecnológicas atuais e à prática contemporânea da Cardiologia<br />

Intervencionista, onde destaca-se o emprego dos stents farmacológicos<br />

como principal arma no combate à reestenose, referida<br />

como “calcanhar de Aquiles” das angioplastias, controlando-a<br />

e, em alguns casos, eliminando-a.<br />

DESCRITORES: Angina pectoris, terapia. Angioplastia transluminal<br />

percutânea coronária. Revascularização miocárdica.<br />

Infarto do miocárdio. Arteriosclerose coronária. Coronariopatia.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Myocardial Revascularization for<br />

Chronic Coronary Failure: Is it for Everyone?<br />

The best approach for non-acute coronariopathy has been<br />

highlighted and the focus for discussion in comparative<br />

studies, especially between conservative treatment and percutaneous<br />

invasive treament, and between the latter and the<br />

surgical approach. Differently from acute coronariopathy,<br />

where the benefit of interventional treatment with conventional<br />

stents is well established, comparative studies carried out<br />

in the past have not clearly shown the same benefit for<br />

chronic coronariopathy. A lower risk of the target population<br />

in regard to the occurrence of cardiac adverse events<br />

should be added. A definite conclusion on the superiority<br />

of one approach over the other will require longer periods<br />

of patients’ course as compared to what has been shown<br />

in current studies. Due to individual studies limitations,<br />

meta-analyses do not properly address the issue. Against<br />

such scenario, the present review aims at assessing studies<br />

comparing conservative versus percutaneous treatment while<br />

trying to update them to the current technological conditions<br />

and to the contemporary practice of Interventional Cardiology,<br />

where the use of drug eluting stents has been considered<br />

the key device to fight restenosis – referred to as the heel<br />

of Acchilles of angioplasties – to control it, and in some<br />

cases, to eliminate it.<br />

DESCRIPTORS: Angina pectoris, therapy. Percutaneous transluminal<br />

coronary angioplasty. Myocardial revascularization.<br />

Myocardial infarction. Coronary arteriosclerosis. Coronariopathy.<br />

1<br />

Serviço de Hemodinâmica - Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte,<br />

MG.<br />

2<br />

Serviço de Hemodinâmica - Hospital Socor, Belo Horizonte, MG.<br />

3<br />

Instituto de Hemodinâmica de Betim, MG.<br />

Correspondência: Jamil Abdalla Saad. Rua Nunes Vieira, 267 - 801<br />

- Santo Antônio - Belo Horizonte, MG - CEP 30350-120<br />

e-mail: saadja@uol.com.br<br />

Recebido em: 11/11/2005 • Aceito em: 30/11/2005<br />

16<br />

JamilSaad.p65 16<br />

24/2/2006, 11:04


Saad JA, et al. Revascularização Miocárdica Percutânea na Insuficiência Coronária Crônica: para Todos? Rev Bras Cardiol Invas<br />

2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

“The feasibility of a procedure is<br />

not the best indication to do it”<br />

Dr. David R. Holmes Jr.<br />

(Cardiologista Intervencionista - Mayo Clinic)<br />

Após a introdução da angioplastia coronária na<br />

prática cardiológica e seguindo-se seu extraordinário<br />

desenvolvimento tecnológico, assistimos a<br />

uma progressiva ampliação das indicações das intervenções<br />

coronárias percutâneas nas diversas formas de<br />

apresentação clínica das coronariopatias.<br />

Se para as síndromes coronárias agudas o benefício<br />

da abordagem invasiva sobre o tratamento conservador<br />

tornou-se evidente a partir do emprego dos stents<br />

associados à farmacoterapia adjunta (antiplaquetários<br />

e antitrombóticos) 1,2 , muita controvérsia ainda persiste<br />

em relação ao papel do tratamento invasivo na coronariopatia<br />

não-aguda.<br />

Contribui para esta indefinição a menor ocorrência<br />

de eventos adversos maiores (óbito e IAM) neste contexto,<br />

o que pode tornar necessário, quando se pretende<br />

uma análise comparativa, o seguimento dos pacientes<br />

em longo prazo, a fim de se obter uma conclusão<br />

definitiva acerca da superioridade de uma estratégia<br />

sobre a outra. Além disto, os estudos comparativos<br />

realizados nos últimos 15 anos, que servem de referência<br />

para a decisão clínica e inclusive para a formulação<br />

de diretrizes, disponibilizaram em sua maioria exclusivamente<br />

a angioplastia com balão, no braço invasivo<br />

da análise, o que representa uma sensível limitação<br />

desta forma de tratamento.<br />

Assim, parece-nos oportuna a análise dos dados<br />

comparativos disponíveis sobre o desempenho da intervenção<br />

percutânea no tratamento da insuficiência coronária<br />

crônica, referentes a um período tecnológico,<br />

buscando interpretá-los e adequá-los à época atual,<br />

em que os stents são a rotina da cardiologia intervencionista<br />

e mais ainda, os stents farmacológicos seu<br />

mais notável avanço.<br />

ESTUDOS COMPARATIVOS ANGIOPLASTIA X<br />

TRATAMENTO CLÍNICO<br />

Anos 90 (era pré-stent)<br />

Uma considerável quantidade de estudos comparativos<br />

entre angioplastia e tratamento conservador da<br />

coronariopatia crônica foi publicada nos anos 90, em<br />

cenários diversos, testando alternativas variadas e, muitas<br />

vezes, com critérios nem sempre objetivos de sucesso,<br />

especialmente no braço intervencionista da análise. A<br />

conclusão de parte destes estudos (ACME e ACIP) 3,4 é<br />

que a angioplastia é freqüentemente mais adequada<br />

para o controle de sintomas ou para uma melhor<br />

tolerância ao esforço que o tratamento clínico, podendo,<br />

em pacientes de maior gravidade, reduzir a mortalidade.<br />

Dois outros estudos, AVERT 5 e RITA 2 6 , mostraram<br />

resultados diversos. O estudo AVERT 5 , envolvendo<br />

pacientes de menor risco, comparou a angioplastia<br />

contra tratamento hipolipemiante agressivo (80 mgdia),<br />

cujo resultado foi a redução de eventos isquêmicos<br />

(sem significância estatística) ao final de 18 meses, no<br />

grupo tratado de maneira conservadora (21% X <strong>13</strong>%).<br />

Destaca-se o fato do estudo AVERT 5 comparar a revascularização<br />

miocárdica com a prevenção secundária<br />

de eventos cardiovasculares, valendo-se para tal de<br />

posologia pouco usual na prática clínica (80 mg diárias<br />

de atorvastatina). Ainda que cerca de 70% dos pacientes<br />

do braço intervencionista tenha recebido tratamento<br />

hipolipemiante (bem menos agressivo), estas opções<br />

devem ser vistas como complementares e não mutuamente<br />

exclusivas, na medida em que o implante de<br />

stents (utilizados em apenas 30% dos pacientes, do<br />

braço invasivo, no estudo AVERT) com o uso concomitante<br />

de hipolipemiantes é conduta obrigatória na<br />

boa prática clínica, testada inclusive em ensaios clínicos.<br />

O estudo RITA-2 6 , com acompanhamento de 2,7<br />

anos, concluiu por redução de mortalidade e IAM no<br />

grupo conservador (6,3% X 3,3%), havendo, por outro<br />

lado, benefício do tratamento invasivo na redução de<br />

sintomas dos pacientes com angina mais intensa. No<br />

grupo intervencionista, utilizou-se stents em apenas 7,6%<br />

dos pacientes, não havendo menção ao emprego de<br />

tienopiridínicos ou inibidores da glicoproteína IIb-IIIa.<br />

A evolução tardia (7 anos) do estudo RITA-2 7 revela<br />

a importância da análise em longo prazo desta questão,<br />

já que 35% dos pacientes do grupo clínico necessitaram<br />

de alguma forma de revascularização, sendo 15%<br />

já no primeiro ano, o que certamente contribuiu para<br />

sua evolução oligossintomática, na medida em que utilizou-se<br />

a análise “intenção de tratar”.<br />

A apresentação e publicação do estudo MASS I 8<br />

(Cirurgia X Balão X Tratamento clínico), cujo objetivo<br />

primário era a avaliação combinada de óbito, IAM e<br />

angina refratária necessitando de revascularização, suscitou<br />

dúvidas inclusive sobre o benefício da revascularização<br />

percutânea da artéria descendente anterior,<br />

pois o grupo submetido a tratamento percutâneo apresentou<br />

pior evolução nesta comparação(3% X 17% X<br />

24%). Contestação formal a estes achados é a análise<br />

do banco de dados da DUKE University (Registro) 9 ,<br />

compreendendo aproximadamente 10.000 pacientes<br />

acompanhados por um período médio de 5 anos, em<br />

que o emprego da angioplastia por balão acarretou<br />

benefício em termos de redução de mortalidade comparado<br />

ao tratamento clínico em alguns subgrupos e,<br />

especialmente, nas lesões proximais da artéria descendente<br />

anterior.<br />

Uma grande dificuldade na aceitação dos resultados<br />

destes estudos comparativos é que o critério de<br />

sucesso do grupo submetido à angioplastia com balão<br />

nunca foi objetivamente mencionado, numa era em<br />

17<br />

JamilSaad.p65 17<br />

24/2/2006, 11:04


Saad JA, et al. Revascularização Miocárdica Percutânea na Insuficiência Coronária Crônica: para Todos? Rev Bras Cardiol Invas<br />

2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

que o receio das complicações agudas da técnica<br />

levavam-nos a aceitar resultados freqüentemente subótimos<br />

como adequados, o que tem impacto nos índices<br />

futuros de reestenose.<br />

Uma metanálise 10 , envolvendo a maioria destes<br />

estudos (6 estudos comparativos compreendendo 953<br />

pacientes), mostrou o benefício da angioplastia na redução<br />

de sintomas às custas de maior necessidade<br />

subseqüente de revascularização.<br />

Estudos da era stent<br />

Comparações entre tratamento conservador versus<br />

invasivo com emprego de stent foram realizadas em<br />

grupos de pacientes de baixo e alto risco.<br />

O estudo de Hambrecht et al. 11 , realizado na Alemanha<br />

(Universidade de Leipzig), com 101 pacientes<br />

de baixo risco (foram excluídos pacientes com SCA,<br />

IAM < 2 meses, lesão de tronco CE > 25%, lesão<br />

proximal de DA, FE < 40%, tabagistas e diabetes mellitus<br />

insulino-dependente, entre outros), mostrou a importância<br />

da mudança de hábitos, como a realização de<br />

exercício físico monitorado no tratamento da coronariopatia.<br />

Ao final de 1 ano, os resultados, neste pequeno<br />

grupo de pacientes, mostraram que a sobrevida<br />

livre de eventos do grupo randomizado para exercício<br />

(51 pacientes) superou à do grupo invasivo (88% X<br />

70%), especialmente pela necessidade de mais revascularizações<br />

adicionais no grupo invasivo. Deve-se<br />

notar que este intervalo de tempo (1 ano) é suficiente<br />

para avaliar a história natural da reestenose no grupo<br />

invasivo, porém não o é para o tratamento conservador<br />

que necessita de mais tempo para mostrar suas<br />

deficiências (aderência e entusiasmo dos pacientes aos<br />

exercícios propostos, além de revascularizações adicionais<br />

freqüentemente necessárias neste grupo).<br />

O estudo TIME 12 avaliou o benefício da conduta<br />

invasiva em pacientes acima de 75 anos e concluiu<br />

pela vantagem desta estratégia na prevenção de eventos<br />

não-fatais, quando comparada ao tratamento conservador<br />

(39% X 20%). A sobrevida também foi maior quando<br />

a revascularização foi realizada no primeiro ano de<br />

randomização. Some-se a isto o fato de 46% dos<br />

pacientes no grupo conservador necessitarem de revascularização<br />

no primeiro ano de evolução.<br />

Outro interessante estudo realizado com pacientes<br />

estáveis e assintomáticos e com IAM prévio <strong>13</strong> mostra<br />

o benefício em longo prazo (acompanhamento médio<br />

de 56 meses) da intervenção percutânea na artéria<br />

relacionada ao infarto (ainda que com o emprego de<br />

stents em apenas 17% dos casos), favorecendo fortemente<br />

a tese da artéria aberta em pacientes estáveis e<br />

uniarteriais pós-IAM (Tabela 1).<br />

Embora tenha-se discutido o fato dos stents serem<br />

capazes de reduzir a mortalidade nas intervenções<br />

percutâneas, uma metanálise recente dos estudos comparativos<br />

balão X stent destaca esta capacidade dos<br />

stents convencionais 14 , bem como parece indiscutível<br />

a indicação desta terapêutica em vasos de fino calibre 15 ,<br />

o que comprova que a adoção desta prática representa<br />

grande vantagem para a cardiologia intervencionista 16 .<br />

Uma nova metanálise 17 , incluindo estes estudos<br />

comparativos de tratamento conservador versus intervenção<br />

percutânea com e sem stents, compreendendo<br />

2.950 pacientes tratados em 11 ensaios clínicos randomizados,<br />

não confere à conduta invasiva a capacidade<br />

de reduzir óbito, IAM ou necessidade de revascularizações<br />

subseqüentes.<br />

BENEFÍCIO DOS STENTS FARMACOLÓGICOS<br />

A introdução dos stents farmacológicos na prática<br />

da cardiologia intervencionista representou benefício<br />

significativo na redução da reestenose e, conseqüentemente,<br />

da necessidade de revascularização da lesão<br />

tratada 18 . Estes índices são, de maneira uniforme, menores<br />

que 10% e próximos a 5% em casos de menor<br />

complexidade. Cumpre lembrar que 50 a 60% dos<br />

pacientes incluídos nestes estudos apresentavam-se<br />

em quadro clínico de angina estável (RAVEL=52%,<br />

SIRIUS=59%, TAXUS IV=60%) 19-21 , o que nos permite<br />

dizer que seus resultados são perfeitamente aplicáveis<br />

a esta condição clínica.<br />

A sobrevida livre de eventos de pacientes que<br />

receberam esta tecnologia supera os 90% aos 12 meses,<br />

resultados que têm se mostrado duradouros em acompanhamento<br />

de mais longo prazo, como mostram as<br />

curvas de sobrevida livre de eventos do estudo RAVEL<br />

ao final de 3 anos 22 (Figura 1). Se simulássemos a<br />

comparação dos resultados dos estudos com stents<br />

farmacológicos com os do estudo de Hambrecht et<br />

al. 11 (angioplastia X exercício físico controlado), obtería-<br />

TABELA 1<br />

Tratamento Invasivo X Conservador em pacientes com IAM prévio recente<br />

Desfecho Invasivo Conservador p<br />

Mortalidade 04% 11,2% 0,02<br />

Livre IAM + Revascularização 80% 066% 0,05<br />

Revascularização 17% 024%<br />

Livre de sintomas 77% 061%<br />

18<br />

JamilSaad.p65 18<br />

24/2/2006, 11:04


Saad JA, et al. Revascularização Miocárdica Percutânea na Insuficiência Coronária Crônica: para Todos? Rev Bras Cardiol Invas<br />

2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

crônica que possam se beneficiar de uma terapêutica<br />

anti-isquêmica, eficaz e duradoura como temos condições<br />

de oferecer na atualidade, complementada evidentemente<br />

pela prevenção secundária medicamentosa<br />

de eventos e pela apropriação dos hábitos de vida à<br />

sua nova condição de saúde. Incluem-se nesta condição<br />

os pacientes que tenham apresentado infarto prévio<br />

recente, as lesões da artéria descendente anterior, os<br />

com área isquêmica de extensão pelo menos moderada<br />

em risco, e os de menor risco em que o tratamento<br />

clínico, que deve evidentemente ser adotado para todos,<br />

mostrar-se insuficiente para o controle dos sintomas.<br />

Figura 1 - Estudo RAVEL evolução de 3 anos. RLA= Revascularização<br />

da Lesão-Alvo.<br />

mos, como pode ser observado na Figura 2, a superioridade<br />

da intervenção percutânea ao final de 12 meses.<br />

Por outro lado, a expansão das indicações dos<br />

stents farmacológicos, a partir dos ótimos resultados<br />

de estudos que avaliaram seu desempenho em situações<br />

clínicas e anatômicas adversas (lesões longas, vasos<br />

de fino calibre, diabéticos, oclusões crônicas, bifurcações)<br />

23-27 permite-nos recomendá-los com grande entusiasmo,<br />

a despeito da complexidade envolvida, quando<br />

houver indicação clínica para tal.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Como os dados disponíveis para esclarecermos a<br />

questão originam-se de estudos comparativos em que<br />

a intervenção percutânea refere-se mais ao que se<br />

realizava no passado do que o que se faz no presente,<br />

além do fato de o tratamento conservador utilizado na<br />

comparação não ter sido o que se emprega habitualmente<br />

na prática clínica (dose no estudo AVERT e<br />

exercício físico aplicável a poucos pacientes), sentimonos<br />

confortáveis para, no âmbito da prática diária da<br />

cardiologia, recomendar o tratamento percutâneo para<br />

TODOS OS PACIENTES com insuficiência coronária<br />

Figura 2 - Sobrevida livre de eventos ao final de 1 ano. Pacientes<br />

tratados com stents farmacológicos. EXERC= Evolução do grupo<br />

clínico no estudo de Hambrecht et al. 11 .<br />

Se os médicos são algumas vezes acusados de<br />

guiarem-se pelo reflexo “óculo-estenótico”(obstrução<br />

vista=dilatação), são também os pacientes atormentados<br />

pelo reflexo “auditivo-estenótico” quando informados<br />

da presença de obstruções coronárias, querendo<br />

a todo custo a desobstrução de sua circulação coronária,<br />

como única alternativa a solucionar seu problema.<br />

Ambas as atitudes precisam ser controladas, pois podem<br />

contribuir para intervenções desnecessárias e inefetivas 28 .<br />

A boa nova trazida pela incorporação dos stents<br />

farmacológicos na Cardiologia Intervencionista é a possibilidade<br />

de se oferecer a intervenção percutânea PARA<br />

quase TODOS os pacientes coronariopatas crônicos,<br />

uni ou multivasculares, independente de sua complexidade<br />

anatômica (lesões longas, vasos de fino calibre,<br />

oclusão crônica, bifurcação), diabéticos ou não, com<br />

ótimos resultados imediatos e tardios, porém sempre<br />

guiados por critérios clínicos de indicação para a intervenção,<br />

fazendo valer a frase do cardiologista intervencionista<br />

que serve de epígrafe a esta revisão.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Wallentin L, Husted S, Kontny F, Swahn E. Long-term lowmolecular-weight<br />

heparin (Fragmin) and/or early revascularization<br />

during instability in coronary artery disease (theFRISC<br />

II Study). Am J Cardiol 1997;80:61e-63e.<br />

2. Cannon CP, Weintraub WS, Demopoulos LA, Vicari R, Frey<br />

MJ, Lakkis N et al. Comparison of early invasive and<br />

conservative strategies in patients with unstable coronary<br />

syndromes treated with glycoprotein IIb/IIIa inhibitor Tirofiban-<br />

TACTICS (Treat Angina with Aggrastat and Determine Cost<br />

of Therapy with an Invasive or Conservative Strategy) -<br />

Thrombolysis in Myocardial Infarction 18 Investigators. N<br />

Engl J Med 2001;344:1879-87.<br />

3. Follan ED, Hartigan PM, Parisi AF. Percutaneous transluminal<br />

coronary angioplasty versus medical therapy for stable angina<br />

pectoris: outcomes for patients with double-vessel versus<br />

single-vessel coronary artery disease in a Veterans Affairs<br />

Cooperative Randomized Trial. Veterans Affairs ACME Investigators.<br />

J Am Coll Cardiol 1997;29:1505-11.<br />

4. Pepine CJ, Geller NL, Knatterud GL, Bourassa MG, Chaitman<br />

BR, Davies RF et al. The Asymptomatic Cardiac Ischemia<br />

Pilot (ACIP) study: design of a randomized clinical trial,<br />

baseline data and implications for a long-term outcome<br />

trial. J Am Coll Cardiol 1994;24:1-10.<br />

5. Pitt B, Waters D, Brown WV, van Boven AJ, Schwartz L,<br />

Title LM et al. Aggressive lipid-lowering therapy compared<br />

with angioplasty in stable coronary artery disease. Atorvastatin<br />

19<br />

JamilSaad.p65 19<br />

24/2/2006, 11:04


Saad JA, et al. Revascularização Miocárdica Percutânea na Insuficiência Coronária Crônica: para Todos? Rev Bras Cardiol Invas<br />

2005; <strong>13</strong>(1): 16-20.<br />

versus Revascularization Treatment Investigators. N Engl J<br />

Med 1999;341:70-6.<br />

6. RITA-2 trial participants. Coronary angioplasty versus medical<br />

therapy for angina: the second Randomize Intervention Treatment<br />

of Angina (RITA-2) trial. Lancet 1997;350:461-8.<br />

7. Henderson RA, Pocock SJ, Clayton TC, Knight R, Fox KA,<br />

Julian DG et al. Seven-year outcome in the RITA-2 trial:<br />

coronary angioplasty versus medical therapy. J Am Coll<br />

Cardiol 2003;42:1161-70.<br />

8. Hueb WA, Bellotti G, Oliveira SA, Arie S, Albuquerque CP,<br />

Jatene AD et al. The Medicine, Angioplasty or Surgery<br />

Study (MASS): a prospective randomized trial of medical<br />

therapy, balloon angioplasty or bypass surgery for single<br />

proximal left anterior descending artery stenoses. J Am Coll<br />

Cardiol 1995;26:1600-5.<br />

9. Jones RH, Kesler K, Phillips HR 3rd, Mark DB, Smith PK,<br />

Nelson CL et al. Long-term survival benefits of coronary<br />

artery bypass grafting and percutaneous transluminal angioplasty<br />

in patients with coronary artery disease. J Thorac Cardiovasc<br />

Surg 1996;111:10<strong>13</strong>-25.<br />

10. Bucher HC, Hengstler P, Schindler C, Guyaytt GH. Percutaneous<br />

transluminal coronary angioplasty versus medical<br />

treatment for non-acute coronary heart disease: meta-analysis<br />

of randomized controlled trials. BMJ 2000;321:73-7.<br />

11. Hambrecht R, Walther C, Möbius-Winkler S, Gielen S,<br />

Linke A, Conradi K et al. Percutaneous coronary angioplasty<br />

compared with exercise training in patients with stable<br />

coronary artery disease: a randomized trial. Circulation 2004;<br />

109:<strong>13</strong>71-8.<br />

12. Pfisterer M. Long-term outcome in elderly patients with<br />

chronic angina managed invasively versus by optimized<br />

medial therapy in elderly patients-TIME. Circulation 2004;<br />

110:1212-8.<br />

<strong>13</strong>. Zeymer U, Uebis R, Vogt A, Glunz HG, Vohringer HF, Harmianz<br />

D et al. Randomized comparison of percutaneous transluminal<br />

coronary angioplasty and medical therapy in stable<br />

survivors of acute myocardial infarction with single vessel disease:<br />

a study of the Arbeitsgemeinschaft Leitende Kardiologische<br />

Krankenhausarzte. Circulation 2003;108:<strong>13</strong>24-8.<br />

14. Al Suwaidi J, Holmes Jr DR, Salam AM, Lennon R, Berger<br />

PB. Impact of coronary artery stents on mortality and nonfatal<br />

myocardial infarction: meta-analysis of randomized trials<br />

comparing a strategy of routine stenting with that of balloon<br />

angioplasty. Am Heart J 2004;147:815-22.<br />

15. Moreno R, Fernandez C, Alfonso F, Hernandez R, Perez-<br />

Vizcayno MJ, Escaned J et al. Coronary stenting versus<br />

balloon angioplasty in small vessel: a meta-analysis from 11<br />

randomized studies. J Am Coll Cardiol 2004;43:1964-72.<br />

16. Silber S, Albertsson P, Avilés FF, Camici PG, Colombo A,<br />

Hamn C et al. Guidelines for percutaneous coronary intervention.<br />

The Task Force for Percutaneous Coronary Interventions<br />

of the European Society of Cardiology. Eur Heart J<br />

2005;26:804-47.<br />

17. Katritsis DG, Ioannidis JP. Percutaneous coronary intervention<br />

versus conservative therapy in nonacute coronary artery<br />

disease: a meta-analysis. Circulation 2005;111:2906-12.<br />

18. Sousa JE, Costa MA, Abizaid A, Abizaid AS, Feres F, Pinto<br />

IM et al. Lack of neointimal proliferation after implantation<br />

of sirolimus coated stents in human coronary arteries: a<br />

quantitative coronary angiography and three-dimensional intravascular<br />

ultrasound study. Circulation 2001;103:192-5.<br />

19. Morice MC, Serruys PW, Sousa JE, Fajadet J, Ban Hayashi<br />

E, Perin M et al. A randomized comparison of a sirolimuseluting<br />

stent with a standard stent for coronary revascularization.<br />

RAVEL Study Group. Randomized Study with the<br />

Sirolimus-Coated Bx Velocity Balloon-Expandable Stent in<br />

the Treatment of Patients with de Novo Native Coronary<br />

Artery Lesions. N Engl J Med 2002;346:1773-80.<br />

20. Moses JW, Leon MB, Popma JJ, Fietzgerald PJ, Holmes DR,<br />

O‘Shaughnessy C et al. Sirolimus-eluting stents versus standard<br />

stents in patients with stenosis in a native coronary artery-<br />

SIRIUS study. N Engl J Med 2003;349:<strong>13</strong>15-23.<br />

21. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O‘Shaughnessy<br />

C, Mann JT et al. A polymer-based, paclitaxel-eluting stent<br />

in patients with coronary artery disease. TAXUS IV. N Eng<br />

J Med 2004;350:221-31.<br />

22. Fajadet J, Morice MC, Bode C, Barragan P, Serruys PW,<br />

Wijns W et al. Maintenance of long-term clinical benefit<br />

with sirolimus-eluting coronary stents: three-year results of<br />

the RAVEL trial. Circulation 2005;111:1040-4.<br />

23. Stone GW, Ellis SG, Cannon L, Mann JT, Greenberg JD,<br />

Spriggs D et al. Comparison of a polymer–based paclitaxeleluting<br />

stent with a bare metal stent in patients with complex<br />

coronary artery disease: a randomized controlled trial.<br />

TAXUS V. JAMA 2005;294:1215-23.<br />

24. Schampaert E, Cohen EA, Schluter M, Reeves F, Traboulsi<br />

M, Title LM et al. The Canadian study of the sirolimuseluting<br />

stent in the treatment of patients with long de novo<br />

lesions in small native coronary arteries (C-SIRIUS). J Am<br />

Coll Cardiol 2004;43:1110-5.<br />

25. Schofer J, Schluter M, Gershlick AH, Wijns W, Garcia E,<br />

Schampaert E et al. Sirolimus-eluting stents for treatment of<br />

patients with long atherosclerotic lesions in small coronary<br />

arteries: double-blind, randomised controlled trial (E-SIRIUS).<br />

Lancet 2003;362:1093-9.<br />

26. Dibra A, Kastrati A, Mehilli J, Pache J, Schuhlen H, von<br />

Beckerath N et al. Paclitaxel-eluting or sirolimus-eluting stents<br />

to prevent restenosis in diabetic patients. ISAR –DIABETES<br />

Study Investigators. N Engl J Med 2005;353:663-70.<br />

27. Colombo A, Moses JW, Morice MC, Ludwig J, Holmes Jr<br />

DR, Spanos V et al. Randomized study to evaluate sirolimuseluting<br />

stents implanted at coronary bifurcation lesions.<br />

Circulation 2004;109:1244-9.<br />

28. King SB 3rd. Dilate or defer? View of a skeptic. J Am Coll<br />

Cardiol 2003;42:1171-2.<br />

20<br />

JamilSaad.p65 20<br />

24/2/2006, 11:04


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

Artigo de Revisão<br />

Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em<br />

Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST?<br />

Márcio L. Balbinotti 1 , André L. L. Manica 1 , Alexandre Quadros 1 , Rogério Sarmento Leite 1<br />

RESUMO<br />

As síndromes coronarianas agudas sem supradesnível do<br />

segmento ST (SCASSST) são um dos maiores determinantes<br />

da alta morbi-mortalidade das doenças cardiovasculares<br />

nos dias de hoje. O tratamento preconizado para estes<br />

pacientes inclui uma abordagem agressiva com anticoagulantes,<br />

antiagregantes plaquetários, beta-bloqueadores, nitratos,<br />

inibidores da enzima conversora e estatinas, além de um<br />

rigoroso controle dos fatores de risco para a doença arterial<br />

coronariana. Têm sido muito discutidos a necessidade e o<br />

melhor momento para indicação de um procedimento invasivo<br />

nos pacientes com SCASSST. Apesar dos avanços no tratamento<br />

clínico e nos procedimentos percutâneos de revascularização<br />

do miocárdio, ainda não existe uma definição clara<br />

da estratégia a ser adotada nesses pacientes. Recentemente<br />

surgiram novas publicações comparando ambas estratégias,<br />

motivando uma nova revisão acerca deste tema de suma<br />

relevância.<br />

DESCRITORES: Coronariopatia, terapia. Angina instável.<br />

Infarto do miocárdio. Angioplastia transluminal percutânea<br />

coronária. Revascularização miocárdica. Fibrinolíticos.<br />

SUMMARY<br />

Early Intervention or Conservative Treatment for<br />

Patients with Acute Coronary Syndrome Without<br />

ST Segment Elevation?<br />

Acute coronary syndromes without ST segment elevation<br />

are a major determinant for morbimortality in cardiovascular<br />

diseases in our days. Aggressive treatment with anticoagulants,<br />

platelet antiaggregators, betablockers, nitrates, converting<br />

enzyme inhibitors, and statins, in addition to strict control<br />

of risk factors for coronary artery disease are the indications<br />

for those patients. The need and the best point in time for<br />

the indication of an invasive procedure in patients with<br />

acute coronary syndromes without ST segment elevation<br />

have been discussed extensively. Despite advances in clinical<br />

treatment and in myocardial percutaneous revascularization<br />

procedures, no clear definition has been established yet on<br />

the strategy to be adopted for those patients. New publications<br />

have been made available recently comparing both strategies<br />

and encouraging a new review on such relevant topic.<br />

DESCRIPTORS: Coronary disease, therapy. Angina, unstable.<br />

Myocardial infarction. Angioplasty, transluminal, percutaneous,<br />

coronary. Myocardial revascularization. Fibrinolytic agents.<br />

As doenças do sistema cardiovascular representam<br />

a principal causa de morbi-mortalidade no<br />

Brasil, concorrendo por 31,5% do total dos óbitos,<br />

conforme os dados do DATASUS de 2002 1 . Compreendidas<br />

neste espectro, as síndromes coronarianas agudas<br />

sem supradesnível do segmento ST (SCASSST) são um<br />

dos maiores determinantes desta alta morbi-mortalidade,<br />

sendo responsáveis por 20% do gasto total do Sistema<br />

Único de Saúde (SUS) com internações hospitalares,<br />

1<br />

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária<br />

de Cardiologia - Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista<br />

Correspondência: Márcio L. Balbinotti. Av. Princesa Isabel, 395 -<br />

CEP 90620-001 - Porto Alegre, RS - Brasil.<br />

e-mail: sarmentoleite@cardiologia.org.br<br />

Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em 30/01/2006<br />

principalmente aquelas relacionadas aos procedimentos<br />

de revascularização miocárdica 2 . O tratamento preconizado<br />

para estes pacientes inclui uma abordagem agressiva<br />

com anticoagulantes, antiagregantes plaquetários<br />

(ácido acetilsalicílico, tienopiridínicos e inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa), beta-bloqueadores, nitratos, inibidores<br />

da enzima conversora e estatinas, além de um<br />

rigoroso controle dos fatores de risco para a doença<br />

arterial coronariana 3 . Inclui-se também, conforme as<br />

recomendações recentes da American College of Cardiology<br />

(ACC)/American Heart Association (AHA) 4 e Sociedade<br />

Brasileira de Cardiologia (SBC), a realização de<br />

investigação complementar com a cineangiocoronariografia,<br />

que define a presença, gravidade e extensão<br />

de estenoses nas artérias coronárias, permitindo a avaliação<br />

da necessidade de um tratamento invasivo, seja<br />

percutâneo ou cirúrgico.<br />

21<br />

Sarmento.p65 21<br />

24/2/2006, 11:06


Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

No entanto, quando analisamos o que ocorre na<br />

prática clínica diária, os dados do registro mundial<br />

OASIS 5 de 1998 demonstram uma taxa variável de<br />

indicação da cineangiocoronariografia e de procedimentos<br />

de revascularização entre os diversos países avaliados.<br />

Um dos principais fatores responsáveis por estas<br />

discrepâncias foi a diferença na proporção de hospitais<br />

que contavam com laboratório de hemodinâmica,<br />

que variou desde 25% dos hospitais na Hungria até<br />

aproximadamente 90% dos hospitais no Brasil e nos<br />

EUA. Coincidentemente, o porcentual de indicação de<br />

cineangiocoronariografias em pacientes com SCASSST<br />

foi de 2 a 15%, na Hungria e de 60%, no Brasil e nos<br />

EUA. No entanto, mesmo com essas diferenças nas<br />

taxas de indicações de procedimentos invasivos, não<br />

houve grande diferença na incidência de infarto agudo<br />

do miocárdio (IAM) e morte cardiovascular, avaliados<br />

precocemente (7 dias) e em 6 meses, variando de<br />

4,7% a 11%, respectivamente.<br />

Com base nestas e em outras observações, têm<br />

sido muito discutidos a necessidade e o melhor momento<br />

para indicação de um procedimento invasivo nos pacientes<br />

com SCASSST. Apesar dos avanços no tratamento<br />

clínico e nos procedimentos percutâneos de revascularização<br />

do miocárdio, ainda não existe uma definição<br />

clara da estratégia a ser adotada no tratamento desses<br />

pacientes, sendo que as duas alternativas sugeridas são<br />

a estratégia conservadora e a invasiva precoce. A estratégia<br />

conservadora reserva a cineangiocoronariografia para<br />

os pacientes que apresentem isquemia recorrente (angina<br />

de repouso ou aos mínimos esforços e com alterações<br />

dinâmicas do eletrocardiograma) ou teste funcional<br />

francamente positivo, apesar da terapêutica clínica<br />

otimizada. Já a estratégia invasiva precoce emprega a<br />

cineangiocoronariografia rotineiramente, seguida de revascularização,<br />

conforme os achados da anatomia coronariana.<br />

Com base nestes argumentos, a estratégia conservadora<br />

pouparia recursos e diminuiria os riscos<br />

associados com os procedimentos invasivos. Por outro<br />

lado, a estratégia invasiva estratificaria mais rapidamente<br />

os pacientes sem doença significativa (até 20% dos<br />

casos) e aqueles com doença multiarterial e com disfunção<br />

ventricular, que são os que mais se beneficiam<br />

dos procedimentos de revascularização 6 .<br />

Nos últimos anos, vários estudos randomizados<br />

compararam estas duas estratégias para definir qual a<br />

melhor conduta na investigação e tratamento dos pacientes<br />

com SCASSST. Para os pacientes que são identificados<br />

como sendo de alto risco, conforme TIMI risk<br />

score 7 (Tabela 1), existe consenso na indicação de<br />

cineangiocoronariografia, seguida de revascularização,<br />

quando indicada 8 . Em nosso meio, o escore TIMI foi<br />

recentemente validado em uma coorte prospectiva de<br />

400 pacientes com SCASSST, tratados no Instituto de<br />

Cardiologia de Porto Alegre 9 , demonstrando-se sua<br />

eficácia e reprodutibilidade na predição dos eventos.<br />

Manenti 10 construiu um escore a partir da classificação<br />

de Braunwald, que mostrou forte associação com achados<br />

angiográficos e desfechos combinados (IAM, morte,<br />

necessidade de revascularização). Paradoxalmente<br />

porém, o estudo CRUSADE 11 analisando 17.926 pacientes<br />

com SCASSST em todo o mundo, verificou que a<br />

estratégia invasiva não era utilizada na maioria dos<br />

pacientes de alto risco, sendo reservada para um perfil<br />

de doentes sem comorbidades importantes e com menor<br />

risco cardiovascular.<br />

CARDIOLOGIA INVASIVA BASEADA EM<br />

EVIDÊNCIAS<br />

O TIMI IIIB 12 foi o primeiro grande ensaio clínico<br />

randomizado que comparou as estratégias conservadora<br />

e invasiva precoce, analisando 1.473 pacientes<br />

com SCASSST e dor precordial há menos de 24 horas.<br />

Não foram observadas diferenças no desfecho combinado<br />

de morte e IAM não-fatal em 42 dias (16,2% vs<br />

18,1%; p=0,33). Ao final de um ano, também não<br />

houve diferença de morte e reinfarto entre os grupos<br />

(10,8% vs 12,2%; p=0,42), mas os pacientes na estratégia<br />

invasiva tiveram menos angina e menos hospitalizações<br />

por isquemia (26% vs 33%; p 50%) 1 0/1 03 05<br />

Uso de AAS nos últimos 7 dias 1 2 03 08<br />

Angina grave recente (≤24 h) 1 3 05 <strong>13</strong><br />

Elevação de marcadores cardíacos 1 4 07 20<br />

Infra de ST > 0,5 mm 1 5 12 26<br />

TOTAL (ESCORE) 7 6/7 19 41<br />

DAC= doença arterial coronária; AAS= ácido acetilsalicílico.<br />

22<br />

Sarmento.p65 22<br />

24/2/2006, 11:06


Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

menos medicações para o controle dos sintomas <strong>13</strong> . Os<br />

preditores clínicos mais significativos de insucesso e<br />

eventos cardiovasculares com a opção da estratégia<br />

conservadora foram a depressão do segmento ST na<br />

admissão, história familiar precoce de doença arterial<br />

coronária (DAC), história prévia de angina, uso de<br />

ácido acetilsalicílico e idade avançada 14 .<br />

O estudo MATE 15 randomizou 201 pacientes, incluindo<br />

alguns com elevação de ST e sem indicação<br />

para trombólise, realizando coronariografia em até 24<br />

horas de admissão no braço invasivo. No período hospitalar,<br />

o desfecho combinado de morte e isquemia<br />

recorrente foi maior no grupo conservador (34% vs<br />

14%; p=0,0002), às custas basicamente dos episódios<br />

isquêmicos, uma vez que a mortalidade foi semelhante<br />

(1% vs 3%; p=0,3). O seguimento total foi de 21 meses,<br />

não havendo diferenças no desfecho combinado de<br />

morte e reinfartos nesse período (14% vs 12%; p=0,6).<br />

No estudo VANQWISH 16 , foram analisados 920<br />

pacientes com SCASSST, sendo 98% pacientes do sexo<br />

masculino e de alto risco (todos com elevação enzimática).<br />

No braço invasivo, o tempo médio para a<br />

realização da coronariografia foi de 48 horas. O desfecho<br />

primário de morte ou IAM não-fatal foi maior no<br />

grupo invasivo precoce na fase intra-hospitalar (7,8%<br />

vs 3,3%; p=0,004), em 30 dias (p=0,012), mas sem<br />

diferenças ao final do seguimento de 23 meses (32,9%<br />

vs 30,3%; p=0,35). Importante considerarmos a elevada<br />

mortalidade dos pacientes submetidos à cirurgia de<br />

revascularização no período hospitalar (12%), já que<br />

esta foi realizada mais freqüentemente nos pacientes<br />

do grupo invasivo precoce (44 vs 33%), podendo ter<br />

contribuído para o pior desfecho inicial desse grupo.<br />

Em 30 dias após o procedimento percutâneo, a mortalidade<br />

foi semelhante à do grupo conservador (1,3 vs<br />

1,0%), mesmo sem o uso de stents e inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa.<br />

Dentre os estudos mais recentes que compararam<br />

as estratégias de conduta nos pacientes com SCASSST,<br />

destaca-se inicialmente o estudo FRISC II 17 . O estudo<br />

avaliou 2.457 pacientes por um período de 12 meses,<br />

sendo que a revascularização dentro dos primeiros 30<br />

dias foi realizada em 71% dos pacientes do grupo<br />

invasivo (stents usados em 61% dos pacientes) e em<br />

apenas 9% dos pacientes do grupo conservador. O<br />

desfecho primário combinado de morte e IAM em 12<br />

meses demonstrou claramente a diminuição de eventos<br />

clínicos maiores no grupo invasivo (10,4% vs 14,1%;<br />

p=0,001), com significativa diminuição de mortalidade<br />

absoluta (2,2% vs 3,9%; p=0,016) e da ocorrência<br />

de IAM (8,6% vs 11,6%; p=0,015). Também foi significativamente<br />

menor o número de reintervenções (7,5% vs<br />

31%; p


Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

precoce versus conservadora guiada por isquemia ou<br />

sintomas recorrentes. Os pacientes no grupo invasivo<br />

realizavam coronariografia em 72 horas do episódio<br />

de dor torácica, desses 38% realizaram angioplastia e<br />

26% cirurgia de revascularização. Não houve diferenças<br />

na incidência de morte ou infarto em 1 ano (3,5%<br />

vs 2,3%; p>0,05), embora após a alta hospitalar (30<br />

dias até 1 ano) o grupo invasivo tenha apresentado<br />

significativamente menos eventos de morte e IAM (7,4%<br />

vs 10,9%; p


Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

modinâmica) 26,27 . A estratégia invasiva precoce como<br />

rotina vem demonstrando superioridade em reduzir<br />

eventos cardiovasculares maiores, principalmente angina<br />

recorrente, rehospitalização, necessidade de<br />

revascularização urgente e sobrevida livre de infarto.<br />

Com a modernização das técnicas de intervenção e<br />

no avanço das medicações adjuntas, o risco inicial de<br />

uma terapia mais agressiva propicia um benefício clínico<br />

expressivo a longo prazo, principalmente se avaliações<br />

forem feitas além de 1 ano de seguimento e se<br />

o julgamento clínico individualizado, embasado nas<br />

evidências atuais, forem aplicados.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. DATASUS.<br />

Sistema de informação sobre mortalidade 1979-2002: dados<br />

de declaração de óbito. Brasília;2002.<br />

2. Coelho OR, Ueti OM. Angina instável: o que é consagrado<br />

e o que há de novo. In: Manual de Cardiologia da Sociedade<br />

de Cardiologia do Estado de São Paulo. São Paulo: Atheneu;<br />

2001. p.141-6.<br />

3. Lima VC. Síndromes isquêmicas agudas. Arq Bras Cardiol<br />

1999;72:109-37.<br />

4. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin<br />

MD, Hochman JS et al. ACC/AHA guidelines for the management<br />

of patients with unstable angina and non-ST segment<br />

elevation myocardial infarction. A report of the ACC/AHA<br />

Task Force on Practice Guidelines (Committee on the management<br />

of Patients with Unstable Angina). J Am Coll Cardiol<br />

2000;36:970-1062.<br />

5. Yusuf S, Flather M, Pogue J, Hunt D, Varigos J, Piegas L<br />

et al. Variations between countries in invasive cardiac<br />

procedures and outcomes in patients with suspected unstable<br />

angina or myocardial infarction without initial ST elevation.<br />

OASIS (Organisation to Assess Strategies for Ischaemic Syndromes)<br />

Registry Investigators. Lancet 1998;352:507-14.<br />

6. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin<br />

MD, Hochman JS et al. ACC/AHA guideline update for the<br />

management of patients with unstable angina and non–STsegment<br />

elevation myocardial infarction—2002: Summary<br />

article: a report of the American College of Cardiology/<br />

American Heart Association Task Force on Practice Guidelines<br />

(Committee on the Management of Patients With<br />

Unstable Angina) Circulation 2002;106:1893-900.<br />

7. Antman EM, Cohen M, Bernink PJ, McCabe CH, Horacek<br />

T, Papuchis G et al. The TIMI risk score for unstable<br />

angina/non-ST elevation MI: a method for prognostication<br />

and therapeutic decision making. JAMA 2000;284:835-42.<br />

8. Braunwald E, Jones RH, Mark DB, Brown J, Brown L,<br />

Cheitlin MD et al. Diagnosing and managing unstable<br />

angina. Agency for Health Care Policy and Research. Circulation<br />

1994;90:6<strong>13</strong>-22.<br />

9. Maestri R, Leite REG S, Souza EN, Albarran CB, Quadros<br />

AS. TIMI risk score: seus índices prognósticos devem ser<br />

revisados? Arq Bras Cardiol 2005;85(supl. IV):87.<br />

10. Manenti ERF. Estratificação de risco na angina instável:<br />

avaliação prospectiva da classificação de Braunwald [Dissertação<br />

de Mestrado]. Porto Alegre: Instituto de Cardiologia<br />

do RS/Fundação Universitária de Cardiologia,1998. 147p.<br />

11. Bhatt DL, Roe MT, Peterson ED, Li Y, Chen AY, Harrington<br />

RA et al. Utilization of early invasive management strategies<br />

for high-risk patients with non-ST-segment elevation acute<br />

coronary syndromes: results from the CRUSADE Quality<br />

Improvement Initiative. JAMA 2004;292:2096-104.<br />

12. Effects of tissue plasminogen activator and a comparison of<br />

early invasive and conservative strategies in unstable angina<br />

and non-Q-wave myocardial infarction: results of the TIMI<br />

III-B trial. Thrombolysis in Myocardial Ischemia. Circulation<br />

1994;89:1545-56.<br />

<strong>13</strong>. Anderson HV, Cannon CP, Stone PH, Williams DO, McCabe<br />

CH, Knatterud GL et al. One-year results of the Thrombolysis<br />

in Myocardial Infarction (TIMI) IIIB clinical trial. A<br />

randomized comparison of tissue-type plasminogen activator<br />

versus placebo and early invasive versus early conservative<br />

strategies in unstable angina and non-Q-wave myocardial<br />

infarction. J Am Coll Cardiol 1995;26:1643-50.<br />

14. Stone PH, Thompson B, Zaret BL, Chaitman B, Gibson RS,<br />

Schweiger MJ et al. Factors associated with failure of medical<br />

therapy in patients with unstable angina and non-Q<br />

wave myocardial infarction. A TIMI IIIB database study. Eur<br />

Heart J 1999;20:1084-93.<br />

15. McCullough PA, O’Neil WW, Graham M, Stomel RJ, Rogers<br />

F, David S et al. A prospective randomized trial of triage<br />

angiography in acute coronary syndromes ineligible for<br />

thrombolytic therapy: results of the Medicine versus Angiography<br />

in Thrombolytic Exclusion (MATE) Trial. J Am Coll<br />

Cardiol 1998;32:596-605.<br />

16. Boden WE, O’Rourke RA, Crawford MH, Blaustein AS,<br />

Deedwania PC, Zoble RG et al. Outcomes in patients with<br />

acute non-Q-wave myocardial infarction randomly assigned<br />

to an invasive as compared with a conservative management<br />

strategy. Veterans Affairs Non-Q-Wave Infarction Strategies<br />

in Hospital (VANQWISH) Trial Investigators. N Engl J Med<br />

1998;338:1785-92.<br />

17. Fragmin and Fast Revascularization during Instability in<br />

Coronary Artery Disease Investigators. Invasive compared<br />

with non-invasive treatment in unstable coronary-artery disease:<br />

FRISC II prospective randomised multicentre study. Lancet<br />

1999;354:708-15.<br />

18. Wallentin L, Lagerqvist B, Husted S, Kontny F, Stahle E,<br />

Swahn E. Outcome at one year after an invasive compared<br />

with a non-invasive strategy in unstable coronary artery<br />

disease: the FRISC II invasive randomised trial. FRISC II<br />

Investigators. Fast Revascularisation during Instability in<br />

Coronary artery disease. Lancet 2000;356:9-16.<br />

19. Cannon CP, Weintraub WS, Demopoulos LA, Vicari R, Frey<br />

MJ, Lakkis N et al. Comparison of early invasive or conservative<br />

strategies in patients with unstable coronary syndromes<br />

treated with the glycoprotein IIb/IIIa inhibitor tirofiban.<br />

N Engl J Med 2001;344:1879-87.<br />

20. Spacek R, Widimsky P, Straka Z, Jiresova E, Dvorak J,<br />

Polasek R et al. Value of first day angiography/angioplasty<br />

in evolving non-ST segment elevation myocardial infarction:<br />

an open multicenter randomized trial. The VINO Study. Eur<br />

Heart J 2002;23:230-8.<br />

21. Fox KA, Poole-Wilson PA, Henderson RA, Clayton TC,<br />

Chamberlain DA, Shaw TR et al. Interventional versus conservative<br />

treatment for patients with unstable angina or non-<br />

ST-elevation myocardial infarction: the British Heart Foundation<br />

RITA 3 randomised trial. Lancet 2002;360:743-51.<br />

22. Fox KA, Poole-Wilson P, Clayton TC, Henderson RA, Shaw<br />

TR, Wheatley DJ et al. 5-year outcome of an interventional<br />

strategy in non-ST-elevation acute myocardial syndrome:<br />

the British Heart Foundation RITA 3 randomised trial. Lancet<br />

2005;366:914-20.<br />

23. Souza EN, Sarmento-Leite R, Maestri R, Abarran C, Quadros<br />

AS. Perfil clínico de pacientes admitidos com síndrome<br />

coronariana aguda em um hospital de referência em cardiologia.<br />

Arq Bras Cardiol 2005;85(supl. IV):166.<br />

25<br />

Sarmento.p65 25<br />

24/2/2006, 11:06


Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem<br />

Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 21-26.<br />

24. Mehta SR, Cannon CP, Fox KA, Wallentin L, Boden WE,<br />

Spacek R et al. Routine vs selective invasive strategies in<br />

patients with acute coronary syndromes: a collaborative metaanalysis<br />

of randomized trials. JAMA 2005;293:2908-17.<br />

25. Winter RJ, Windhausen F, Cornel JH, Dunselman PH, Janus<br />

CL, Bendermacher PE et al. Early invasive versus selectively<br />

invasive management for acute coronary syndromes. N Engl<br />

J Med 2005;353:1095-104.<br />

26. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin<br />

MD, Hochman JS et al. ACC/AHA 2002 guideline update<br />

for the management of patients with unstable angina and<br />

non-ST-segment elevation myocardial infarction — summary<br />

article: a report of the American College of Cardiology/<br />

American Heart Association Task Force on Practice Guidelines<br />

(Committee on the Management of Patients with Unstable<br />

Angina). J Am Coll Cardiol 2002;40:<strong>13</strong>66-74.<br />

27. Bertrand ME, Simoons ML, Fox KA, Wallentin LC, Hamm<br />

CW, McFadden E et al. Management of acute coronary<br />

syndromes in patients presenting without persistent STsegment<br />

elevation. Eur Heart J 2002;23:1809-40.<br />

26<br />

Sarmento.p65 26<br />

24/2/2006, 11:06


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

Greque GV, et al. Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento do<br />

ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico Inicial é Necessário. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

Artigo de Revisão<br />

Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na<br />

Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento<br />

do ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico<br />

Inicial é Necessário<br />

Gilmar Valdir Greque 1 , Ralf Karbstein 2 , Marcus Vinicius Burato Gaz 2 , Carlos Vicente Serrano Jr. 3<br />

RESUMO<br />

Por síndrome coronária aguda sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST compreende-se a dupla de estados isquêmicos<br />

que incluem a angina instável (AI) e infarto agudo do<br />

miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST<br />

(IAMSSST). Essas duas situações clínicas são usualmente<br />

causadas por doença aterosclerótica das artérias coronárias,<br />

associada ao aumento do risco de infarto agudo do miocárdio<br />

com supradesnivelamento do segmento ST e/ou morte súbita.<br />

AI e IAMSSST têm apresentações clínicas semelhantes,<br />

às vezes, indistinguíveis. Diferenciam-se pela intensidade<br />

da isquemia que produzem. A estratificação de risco pela<br />

avaliação clínica e eletrocardiográfica tem papel fundamental<br />

no tratamento inicial da AI/IAMSSST. O sucesso do tratamento<br />

será alcançado pela associação da estratificação de risco<br />

e a correta seleção da terapêutica.<br />

DESCRITORES: Angioplastia transluminal percutânea coronária.<br />

Angina instável, terapia. Infarto do miocárdio, terapia.<br />

Terapia trombolítica. Medição de risco.<br />

SUMMARY<br />

Indication of Percutaneous Coronary Intervention in<br />

Acute Coronary Syndrome With Non-ST-Segment<br />

Elevation: Risk Stratification and Initial Clinical<br />

Treatment are Required<br />

Acute coronary syndromes with non-ST-segment elevation<br />

are understood to be two ischemic conditions including<br />

unstable angina (UA) and acute myocardial infarction (AMI)<br />

with non-ST-segment elevation. Those two clinical conditions<br />

usually result from coronary artery atherosclerotic disease<br />

associated to increased risk of acute myocardial infarction<br />

with ST-segment elevation and/or sudden death. Unstable<br />

angina and AMI with non-ST-segment elevation have similar<br />

clinical presentation, at times indistinctive. Differences are<br />

based on resulting ischemia. Risk stratification based on<br />

clinical and electrocardiographic assessment is key for initial<br />

treatment of UA/AMI with non-ST-segment elevation of<br />

the ST segment. Treatment success will be reached by the<br />

association of risk stratification and proper therapeutic choices.<br />

DESCRIPTORS: Percutaneous transluminal coronary angioplasty.<br />

Angina, unstable, therapy. Myocardial infarction,<br />

therapy. Thrombolytic therapy. Risk assessment.<br />

Asíndrome coronária aguda sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST é uma das principais<br />

causas de internações nas unidades de cardiologia.<br />

Compreende a angina instável e o infarto agudo do<br />

miocárdio sem supradesnivelamento de ST 1 . A fisiopatologia<br />

deste processo consiste na trombose oclusiva ou<br />

1<br />

Instituto de Moléstias Cardiovasculares de São José do Rio Preto, SP.<br />

2<br />

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.<br />

3<br />

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de<br />

Medicina da Universidade de São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Dr. Carlos Vicente Serrano Jr. Unidade Clínica de<br />

Coronariopatia Aguda. Instituto do Coração. Av. Dr. Enéas de Carvalho<br />

Aguiar, 44. Cerqueira César. São Paulo, SP. CEP 05403-900<br />

e-mail: carlos.serrano@incor.usp.br<br />

Recebido em: 02/02/2006 • Aceito em: 07/02/2006<br />

suboclusiva sobre uma placa aterosclerótica instável que<br />

sofreu ruptura, em uma artéria coronária. Tal placa é<br />

constituída por uma capa fibrosa e por um núcleo lipídico,<br />

este constituído por material altamente trombogênico<br />

que, após ruptura ou erosão da capa fibrosa, em<br />

contato com a corrente sangüínea, estimula a adesão e<br />

a agregação plaquetária, formação de trombina e fibrina,<br />

culminando na formação do trombo sobre a placa 2 .<br />

A ruptura da placa parece relacionar-se com as<br />

suas características morfológicas e bioquímicas, e não<br />

com o grau de estenose 3 . A estabilidade da placa aterosclerótica<br />

é determinada por fatores extrínsecos, como pressão<br />

arterial sistêmica, pressão diastólica intracoronária e<br />

freqüência cardíaca, e por fatores intrínsecos, como<br />

espessura da capa fibrótica e tamanho e consistência<br />

27<br />

CarlosVicente.p65 27<br />

14/3/2006, 17:00


Greque GV, et al. Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento do<br />

ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico Inicial é Necessário. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

do núcleo lipídico. Assim, quanto mais espessa a capa<br />

fibrótica e menor e com menos células inflamatórias o<br />

núcleo lipídico for, mais estável será a placa.<br />

O tratamento desta síndrome tem evoluído nos últimos<br />

anos, com a introdução de novos fármacos, como<br />

os antiagregadores plaquetários, clopidogrel e inibidor<br />

da glicoproteína IIb/IIIa, e os antitrombóticos, a heparina<br />

de baixo peso molecular e os pentassacarídeos. Porém,<br />

a associação destes fármacos ainda gera dúvidas e controvérsias.<br />

A análise de vários estudos demonstrou que<br />

os pacientes de alto risco para morte, reinfarto e angina<br />

recorrente foram os que mais se beneficiaram de uma<br />

conduta agressiva mais precoce, tanto intervencionista<br />

quanto medicamentosa, sendo necessário estratificar os<br />

pacientes de alto, médio ou baixo risco, pois já foi demonstrado<br />

que o benefício de um tratamento invasivo é<br />

proporcional ao risco inicial do paciente.<br />

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO NAS SÍNDROMES<br />

CORONÁRIAS SEM SUPRADESNIVELAMENTO<br />

DO SEGMENTO ST<br />

A população de pacientes com síndrome coronária<br />

aguda é muito heterogênea, incluindo desde pacientes<br />

de baixo risco até pacientes com alto risco para complicações<br />

cardiovasculares 4 , como reinfarto, isquemia<br />

refratária ou necessidade de revascularização urgente.<br />

Tais complicações ocorrem geralmente até o quinto<br />

dia de internação. A utilização de modelos de estratificação<br />

ou escores ajuda na condução do tratamento,<br />

porém eles não são infalíveis. Existem modelos de<br />

estratificação de risco que são extensamente utilizados,<br />

como a classificação de Braunwald e das diretrizes<br />

americanas e a estratificação de risco do grupo TIMI 5 .<br />

Os pacientes são classificados em baixo, moderado<br />

e alto risco, baseando-se na história clínica, no<br />

exame físico, no eletrocardiograma e nos marcadores<br />

séricos de dano miocárdico, sendo fundamental sua<br />

definição no primeiro atendimento, para que a conduta<br />

seja a mais adequada. Pacientes de alto risco devem<br />

ser tratados em unidades coronárias, onde há disponibilidade<br />

do uso de recursos tecnológicos de alta complexidade,<br />

além de se beneficiarem do emprego de drogas<br />

de alto custo, que têm seu uso justificado por<br />

estudos de custo-efetividade 6 para estes pacientes. Já<br />

os pacientes de baixo risco podem ser tratados em<br />

enfermarias ou receber alta após tratamento em unidades<br />

de emergência.<br />

Na anamnese da avaliação inicial, é possível identificar<br />

variáveis que sugerem um quadro de alto risco<br />

cardiovascular, como as características dos sintomas e<br />

o exame físico. Nos pacientes com síndrome coronária<br />

aguda sem supradesnivelamento de ST, há indicativos<br />

de gravidade, como:<br />

1. Um quadro isquêmico agudo pode apresentarse<br />

como de repouso, de recente começo ou<br />

angina em crescendo. Angina após infarto agudo<br />

do miocárdio, de repouso, com mais de 20<br />

minutos de duração, sem fatores extracardíacos<br />

e os que ocorrem em vigência de tratamento<br />

são considerados mais graves 7 ;<br />

2. Idade maior que 65 anos, sexo masculino e<br />

presença de fatores de risco, como diabetes,<br />

hipertensão arterial sistêmica e doença arterial<br />

coronária ou doença vascular periférica prévia.<br />

Pacientes mais idosos tendem a apresentar infarto<br />

mais extenso e grave, e disfunção ventricular<br />

esquerda mais importante 3 ;<br />

3. No exame físico, devem-se procurar sinais de<br />

disfunção ventricular esquerda, como terceira<br />

bulha, congestão pulmonar, hipotensão, taquicardia,<br />

bradicardia, novo sopro ou piora de um<br />

sopro de insuficiência mitral já existente.<br />

O eletrocardiograma (ECG) na sala de emergência<br />

tem tanto valor diagnóstico, quanto prognóstico 7 . Podese<br />

classificar o paciente com dor torácica em um dos<br />

três grupos:<br />

1. IAM com supradesnivelamento de ST quando<br />

da presença deste ou na presença de bloqueio<br />

completo de ramo esquerdo;<br />

2. Angina instável ou IAM sem supradesnivelamento<br />

de ST, presença de infradesnivelamento de ST,<br />

inversão da onda T maior que 0,2mV e onda Q<br />

patológica. A presença de desvio transitório do<br />

segmento ST maior que 0,1mV é sinal de gravidade;<br />

3. Dor torácica indiferenciada quando o ECG está<br />

normal ou apresenta alterações inespecíficas.<br />

O ECG inicial geralmente não é diagnóstico, necessitando<br />

de ECGs seriados para tal. Cinco por cento<br />

dos pacientes liberados da emergência com ECG normal<br />

apresentam síndrome coronária aguda 8 . Dados da literatura<br />

apontam o ECG como preditor de risco, independente<br />

dos marcadores de necrose miocárdica e de variáveis<br />

clínicas.<br />

Os três testes mais utilizados para identificação de<br />

marcadores de necrose miocárdica são os para troponina<br />

T e I, creatina quinase (CK) e sua isoforma (CK-MB) e<br />

mioglobina, sendo que a limitação destes testes é a<br />

baixa sensibilidade nas primeiras 4-6 horas após o<br />

início dos sintomas.<br />

Decidir quais pacientes devem receber um tratamento<br />

invasivo precoce, bem como em qual momento tal<br />

tratamento deve ser aplicado, ainda é motivo de controvérsia.<br />

Por isso, alguns estudos analisaram estas variáveis,<br />

e demonstraram que a seleção de pacientes para<br />

o tratamento invasivo é importante 1 , enquanto outros<br />

avaliaram o tratamento invasivo precoce como rotina 9 .<br />

Outros estudos avaliaram se o tratamento invasivo<br />

precoce deve ser iniciado com ou sem uma preparação<br />

medicamentosa do paciente. No estudo ISAR-COOL 10 ,<br />

onde se randomisou pacientes para tratamento medi-<br />

28<br />

CarlosVicente.p65 28<br />

14/3/2006, 17:00


Greque GV, et al. Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento do<br />

ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico Inicial é Necessário. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

camentoso intensivo por três a cinco dias antes da<br />

prática intervencionista, obteve-se um resultado desfavorável<br />

neste grupo, por eventos ocorridos durante o<br />

período de tratamento medicamentoso. Outros estudos<br />

obtiveram sucesso com tal terapia medicamentosa<br />

antes do cateterismo, melhorando os resultados do<br />

tratamento e o prognóstico do paciente, como nos<br />

estudos FRISC-II 11 e PRISM-PLUS 12 . Observou-se, também,<br />

que a presença de trombo intracoronário é uma<br />

das características mais importantes preditoras de complicações,<br />

tanto durante, quanto após a angioplastia 12,<strong>13</strong> .<br />

A escolha dos pacientes para a realização de tratamento<br />

invasivo é indicada pela ACC/AHA, cujas recomendações<br />

para tal tratamento são 1 :<br />

• Angina recorrente ou isquemia ao repouso ou<br />

aos mínimos esforços que não respondem a<br />

tratamento antisquêmico intensivo;<br />

• Troponina T ou I elevadas;<br />

• Supradesnivelamento do segmento ST novo;<br />

• Angina ou isquemia recorrentes com sinais de<br />

insuficiência cardíaca, edema pulmonar, galope<br />

protodiastólico, congestão pulmonar em evolução<br />

e regurgitação mitral nova ou em piora;<br />

• Presença de alto risco em teste de esforço não<br />

invasivo;<br />

• Função sistólica de ventrículo esquerdo diminuída;<br />

• Instabilidade hemodinâmica;<br />

• Taquicardia ventricular não sustentada;<br />

• Intervenção coronária percutânea nos últimos<br />

6 meses;<br />

• Cirurgia de revascularização miocárdica anterior.<br />

Ainda para a estratificação de risco dos pacientes<br />

que apresentam angina instável ou infarto do miocárdio<br />

sem supradesnivelamento de ST, há as recomendações<br />

do escore de risco do grupo TIMI 14 :<br />

• Idade maior que 65 anos;<br />

• Mais de 3 fatores de risco coronário (hipertensão<br />

arterial sistêmica, história familiar, dislipidemia,<br />

diabetes e fumo);<br />

• Doença arterial coronária conhecida (≥ 50%);<br />

• Desvio do segmento ST (≥ 0,5 mm);<br />

• Angina recente (< 24h);<br />

• Aspirina nos últimos sete dias;<br />

• Elevação de marcadores cardíacos.<br />

O risco de desenvolvimento de morte, reinfarto<br />

ou isquemia grave recorrente varia de 5%, nos pacientes<br />

com escore entre 0 a 1, a 41%, naqueles com<br />

escore entre 6 e 7.<br />

TERAPIA ADJUVANTE<br />

A terapia antiplaquetária na síndrome coronária<br />

sem supradesnivelamento de ST tem um importante<br />

papel no manejo dos pacientes e deveria ser iniciada<br />

o mais precoce possível e antes do início da manipulação<br />

coronária 15 . Tal terapia inclui o ácido acetilsalicílico<br />

(AAS), as tienopiridinas e os inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa. O AAS deve ser administrado o quanto antes<br />

e mantido indefinidamente, com dose inicial de 162<br />

a 325 mg e manutenção de 75 a 160 mg/dia.<br />

O clopidogrel é a tienopiridina de primeira escolha<br />

por ser superior à ticlopidina, tanto no tempo de início<br />

de ação, quanto na melhor segurança de seu uso. O<br />

estudo CURE 16 demonstrou que o clopidogrel diminuiu<br />

o número de infarto miocárdico, acidente vascular cerebral<br />

e mortes por causas cardiovasculares, em pacientes<br />

com angina instável ou infarto do miocárdio sem<br />

supradesnivelamento de ST, quando comparado com o<br />

grupo de pacientes que recebeu placebo. Além disso,<br />

um subestudo (PCI-CURE 17 ) demonstrou que pacientes<br />

que utilizaram clopidogrel antes e após o cateterismo<br />

tiveram menos infarto do miocárdio, necessidade de revascularização<br />

ou morte por causa cardiovascular, mesmo<br />

quando se computam os eventos antes e após a intervenção.<br />

O clopidogrel deve ser administrado o mais precocemente<br />

possível, antes mesmo da angioplastia, sendo<br />

que a dose de ataque pode variar de 300 a 600 mg, com<br />

dose de manutenção de 75 mg/dia.<br />

Os antagonistas da glicoproteína IIb/IIIa são importantes<br />

em pacientes que sofrem intervenção coronária<br />

percutânea por diminuir o número de eventos isquêmicos<br />

associados à agregação plaquetária durante os procedimentos<br />

do cateterismo. O estudo ESPRIT 18 demonstrou<br />

que os pacientes que receberam esta droga tiveram<br />

menos eventos (morte, necessidade de revascularização,<br />

infarto do miocárdio), apesar de terem maior número<br />

de sangramentos que o grupo que recebeu placebo<br />

(sendo que a maioria não necessitou de transfusão<br />

sangüínea). Outro estudo (TARGET 19 ) demonstrou que,<br />

em pacientes que receberam abciximab ou tirofiban<br />

antes de angioplastia com stent, houve superioridade<br />

do grupo que recebeu abciximab em relação aos que<br />

fizeram uso de tirofiban. Assim, o abciximab demonstrouse<br />

mais adequado para uso na sala de hemodinâmica<br />

e o tirofiban e eptifibatid, para tratamento clínico. A<br />

administração do abciximab em pacientes de alto risco<br />

deve ser iniciada antes do paciente ser encaminhado à<br />

angioplastia, e sempre associada à heparina.<br />

A heparina não fracionada e a de baixo peso<br />

molecular são utilizadas na terapia anticoagulante, nos<br />

pacientes com angina instável ou infarto do miocárdio<br />

sem supradesnivelamento de ST. Estudos recentes 20,21<br />

demonstraram que a utilização da heparina de baixo<br />

peso molecular é segura nos pacientes que receberam<br />

intervenção coronária percutânea, com taxas de sangramento<br />

semelhantes às observadas com heparina não<br />

29<br />

CarlosVicente.p65 29<br />

14/3/2006, 17:00


Greque GV, et al. Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento do<br />

ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico Inicial é Necessário. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

fracionada. Mesmo assim, a heparina não fracionada<br />

é preferida para os pacientes que serão submetidos à<br />

cirurgia de revascularização do miocárdio em 24 horas,<br />

pois seu efeito é revertido rapidamente. Alguns estudos<br />

vêm demonstrando o risco aumentado de eventos<br />

quando se usa mais de um tipo de heparina no mesmo<br />

paciente. Portanto, se um paciente na emergência recebe<br />

um tipo de heparina, o mesmo deve ser mantido até<br />

o fim da heparinização (cross over) 22 .<br />

Outros estudos 23,24 apontaram, ainda, que o uso<br />

da heparina de baixo peso molecular associado aos<br />

antagonistas da glicoproteína IIb/IIIa é seguro, com<br />

taxas de sangramento semelhantes às apresentadas<br />

com uso de heparina não fracionada em pacientes<br />

que realizaram angioplastia.<br />

A terapia anticoagulante com heparina de baixo peso<br />

molecular administrada por via subcutânea (1 mg/kg CS<br />

12/12 horas) ou heparina não fracionada por via intravenosa<br />

[bolus 60-70 U/kg IV (máximo 5000U/h), manutenção<br />

12-15U/kg/h (máximo 1000 U/h)] deve ser administrada<br />

em conjunto com a terapia antiplaquetária (aspirina<br />

ou clopidogrel). Nos casos de insuficiência renal e<br />

cirurgia de revascularização planejada dentro de 24<br />

horas, a preferência deve ser dada à heparina não<br />

fracionada (Classe IIa)<br />

CONCLUSÃO<br />

Figura 1 - Esquema para o manejo de pacientes de alto risco com síndrome<br />

coronária aguda sem supradesnivelamento do segmento de ST.<br />

Discute-se muito na literatura qual seria o melhor<br />

esquema de tratamento adjuvante para pacientes com<br />

síndrome coronária aguda sem supradesnivelamento<br />

de ST encaminhados à sala de hemodinâmica. Contribui<br />

para a celeuma o número crescente de agentes<br />

medicamentosos disponíveis. Propõe-se 15 para pacientes<br />

de alto risco, antes da angioplastia, um esquema que<br />

inclui aspirina, heparina (não fracionada ou de baixo<br />

peso molecular), agentes antiisquêmicos, inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa e cineangiografia coronária em<br />

24-48 horas (Figura 1). Tal estudo acabou por evidenciar<br />

que a terapêutica medicamentosa antes da intervenção<br />

é benéfica, mostrando que a revascularização coronária<br />

pela angioplastia nos pacientes de alto risco<br />

melhora o prognóstico, alivia os sintomas e previne<br />

complicações isquêmicas.<br />

No que diz respeito ao uso de stents, esses pesquisadores<br />

demonstraram redução da oclusão aguda e<br />

da reestenose tardia, melhorando ainda mais os resultados<br />

deste método.<br />

Finalmente, devemos considerar que a agregação<br />

plaquetária tem importante papel no desenvolvimento<br />

de complicações isquêmicas que podem ocorrer durante<br />

a angioplastia. Assim, outro importante avanço no tratamento<br />

dos pacientes com angina instável ou infarto<br />

sem supradesnivelamento de ST tem sido a introdução<br />

dos antiagregantes plaquetários como o clopidogrel, o<br />

inibidor da glicoproteína IIb/IIIa em conjunto com o<br />

AAS e da heparina antes da angioplastia, o que tem<br />

reduzido eventos a curto e a longo prazo.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin<br />

MD, Hochman JS et al. ACC/AHA 2002 guideline update<br />

for the management of patients with unstable angina and<br />

non-ST-segment elevation myocardial infarction - summary<br />

article: a report of the American College of Cardiology/<br />

American Heart Association task force on practice guidelines<br />

(Committee on the Management of Patients with Unstable<br />

Angina). J Am Coll Cardiol 2002;40:<strong>13</strong>66-74.<br />

2. Fuster V. The vulnerable atherosclerotic plaque: understand,<br />

identification and modification. American Heart Association<br />

[Monograph series];1999.<br />

3. Plutzky J. Atherosclerotic plaque rupture: emerging insights<br />

and opportunities. Am J Cardiol 1999;84:15J-20J.<br />

4. Fragmin during Instability in Coronary Artery Disease (FRISC)<br />

study group. Low-molecular-weight heparin during instability<br />

in coronary artery disease. Lancet 1996;347:561-8.<br />

5. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, Califf RM, Cheitlin<br />

MD, Hochman JS et al. ACC/AHA guidelines for the management<br />

of patients with unstable angina and non-STsegment<br />

elevation myocardial infarction. A report of the<br />

American College of Cardiology/American Heart Association<br />

Task Force on Practice Guidelines (Committee on the<br />

Management of Patients with Unstable Angina). J Am Coll<br />

Cardiol 2000;36:970-1062.<br />

6. Kent DM, Langa KM, Selker HP. The potential use of ECGbased<br />

prognostic instruments in clinical trials and costeffectiveness<br />

analyses of new therapies in acute cardiac<br />

ischemia. J Electrocardiol 2000;33(suppl):263-8.<br />

7. Langer A, Krucoff MW, Klootwijk P, Simoons ML, Granger<br />

CB, Barr A et al. Prognostic significance of ST segment shift<br />

early after resolution of ST elevation in patients with myocardial<br />

infarction treated with thrombolytic therapy: the GUSTO-I<br />

ST Segment Monitoring Substudy. J Am Coll Cardiol 1998;<br />

31:783-9.<br />

8. Lemos PA, Silva ERE, Martinez EE. Intervenções coronárias<br />

percutâneas na doença arterial coronária aguda. In: Nobre<br />

F, Serrano Jr CV, eds. Tratado de Cardiologia SOCESP. São<br />

Paulo:Manole; 2005. p.702-18.<br />

9. Fox KA, Poole-Wilson PA, Henderson RA, Clayton TC,<br />

Chamberlain DA, Shaw TR et al. Interventional versus conser-<br />

30<br />

CarlosVicente.p65 30<br />

14/3/2006, 17:00


Greque GV, et al. Indicação da Intervenção Coronária Percutânea na Síndrome Coronária Aguda Sem Supradesnivelamento do<br />

ST: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico Inicial é Necessário. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 27-31.<br />

vative treatment for patients with unstable angina or non-<br />

ST-elevation myocardial infarction: the British Heart Foundation<br />

RITA 3 randomised trial. Randomized Intervention Trial of<br />

unstable Angina. Lancet 2002;360:743-51.<br />

10. Neumann FJ, Kastrati A, Pogatsa-Murray G, Mehilli J, Bollwein<br />

H, Bestehorn HP et al. Evaluation of prolonged antithrombotic<br />

pretreatment (“cooling-off” strategy) before intervention in<br />

patients with unstable coronary syndromes: a randomized<br />

controlled trial. JAMA 2003;290:1593-9.<br />

11. Invasive compared with non-invasive treatment in unstable<br />

coronary-artery disease: FRISC II prospective randomised<br />

multicentre study. FRagmin and Fast Revascularisation during<br />

InStability in Coronary artery disease Investigators. Lancet<br />

1999;354:708-15.<br />

12. Wallentin L, Lagerqvist B, Husted S, Kontny F, Stahle E,<br />

Swahn E. Outcome at 1 year after an invasive compared<br />

with a non-invasive strategy in unstable coronary-artery<br />

disease: the FRISC II invasive randomised trial. FRISC II<br />

Investigators. Fast Revascularisation during Instability in<br />

Coronary artery disease. Lancet 2000;356:9-16.<br />

<strong>13</strong>. Zaacks SM, Allen JE, Calvin JE, Schaer GL, Palvas BW,<br />

Parrillo JE et al. Value of the American College of Cardiology/American<br />

Heart Association stenosis morphology classification<br />

for coronary interventions in the late 1990s. Am J<br />

Cardiol 1998;82:43-9.<br />

14. Antman EM, McCabe CH, Gurfinkel EP, Turpie AG, Bernink<br />

PJ, Salein D et al. Enoxaparin prevents death and cardiac<br />

ischemic events in unstable angina/non-Q-wave myocardial<br />

infarction: results of the thrombolysis in myocardial infarction<br />

(TIMI) 11B trial. Circulation 1999;100:1593-601.<br />

15. Rebeiz AG, Roe MT, Alexander JH, Mahaffey KW, Granger<br />

CB, Peterson ED et al. Integrating antithrombin and antiplatelet<br />

therapies with early invasive management for non-ST-segment<br />

elevation acute coronary syndromes. Am J Med 2004;<br />

116:119-29.<br />

16. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni G, Fox<br />

KK. Effects of clopidogrel in addition to aspirin in patients<br />

with acute coronary syndromes without ST-segment elevation.<br />

Clopidogrel in Unstable Angina to Prevent Recurrent Events<br />

Trial Investigators. N Engl J Med 2001;345:494-502.<br />

17. Mehta SR, Yusuf S, Peters RJ, Bertrand ME, Lewis BS,<br />

Natarajan MK et al. Effects of pretreatment with clopidogrel<br />

and aspirin followed by long-term therapy in patients undergoing<br />

percutaneous coronary intervention: the PCI-CURE<br />

study. Clopidogrel in Unstable angina to prevent Recurrent<br />

Events trial (CURE) Investigators. Lancet 2001;358:527-33.<br />

18. ESPRIT Investigators. Enhanced Suppression of the Platelet<br />

IIb/IIIa Receptor with Integrilin Therapy. Novel dosing regimen<br />

of eptifibatide in planned coronary stent implantation<br />

(ESPRIT): a randomised, placebo-controlled trial. Lancet<br />

2000;356:2037-44.<br />

19. Topol EJ, Moliterno DJ, Herrmann HC, Powers ER, Grines<br />

CL, Cohen DJ et al. Do Tirofiban and ReoPro Give Similar<br />

Efficacy Trial. Comparison of two platelet glycoprotein IIb/<br />

IIIa inhibitors, tirofiban and abciximab, for the prevention<br />

of ischemic events with percutaneous coronary revascularization.<br />

N Engl J Med 2001;344:1888-94.<br />

20. Hochman JS, Sleeper LA, Webb JG, Sanborn TA, White HD,<br />

Talley JD et al. Early revascularization in acute myocardial<br />

infarction complicated by cardiogenic shock. SHOCK Investigators.<br />

Should we emergently revascularize occluded coronaries<br />

for cardiogenic shock. N Engl J Med 1999;341:625-34.<br />

21. Kereiakes DJ, Grines C, Fry E, Esente P, Hoppensteadt D,<br />

Midei M et al. Enoxaparin and abciximab adjunctive pharmacotherapy<br />

during percutaneous coronary intervention. J Invasive<br />

Cardiol 2001;<strong>13</strong>:272-8.<br />

22. Mahaffey KW, Cohen M, Garg J, Antman E, Kleiman NS,<br />

Goodman SG et al. High-risk patients with acute coronary<br />

syndromes treated with low-molecular-weight or unfractionated<br />

heparin: outcomes at 6 months and 1 year in the SYNERGY<br />

trial. JAMA 2005;294:2594-600.<br />

23. Young JJ, Kereiakes DJ, Grines CL. Low-molecular-weight<br />

heparin therapy in percutaneous coronary intervention: the<br />

NICE 1 and NICE 4 trials. National Investigators Collaborating<br />

on Enoxaparin Investigators. J Invasive Cardiol 2000;<br />

12(suppl E):E14-8;discussion E25-8.<br />

24. Cohen M, Theroux P, White HD. Anti-thrombotic combination<br />

using tirofiban and exoxaparin: the ACUTE II study.<br />

Circulation 2000;102:826.<br />

31<br />

CarlosVicente.p65 31<br />

14/3/2006, 17:00


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

Carneiro JKR, et al. Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST? Quando e Como Transferir? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

Artigo de Revisão<br />

Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia<br />

Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST?<br />

Quando e Como Transferir?<br />

José Klauber Roger Carneiro 1 , Luiz Heitor Demolinari Júnior 1 , André Luis de Araújo Chaves 1 ,<br />

Margleicia Maria Vasconcelos Coutinho 1 , Manoel Dimas Rocha de Oliveira 1 ,<br />

Alexandre Augusto Bastos Moura 1 , Angélico Antonio Carniel 1 , Antonio Guarany Mont’Alverne Pierre 1 ,<br />

Ronald Campos Teles da Silva 1 , Dário Santos Costa 1 , Fabiene Lima Parente 1 ,<br />

José Gerardo Mont’Alverne Parente 1<br />

RESUMO<br />

A superioridade da intervenção coronária percutânea (ICP)<br />

sobre a fibrinólise tem sido claramente demonstrada no<br />

infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do<br />

segmento ST (IAM). Um dos desafios contemporâneos do<br />

tratamento do IAM é ampliar o número de pacientes tratados<br />

pela angioplastia primária. A transferência de pacientes<br />

de hospitais comunitários com possibilidade de administrar<br />

trombolíticos para centros de angioplastia primária tem<br />

sido um dos grandes debates da Cardiologia Intervencionista,<br />

nos últimos anos. Vários estudos randomizados, sobretudo<br />

europeus, têm analisado estas estratégias e identificado<br />

subgrupos de pacientes com maiores benefícios em alguma<br />

das abordagens. A combinação da ICP com agentes farmacológicos<br />

que facilitem a reperfusão pode desempenhar papel<br />

relevante na melhoria dos resultados.<br />

DESCRITORES: Angioplastia transluminal percutânea coronária.<br />

Hospitais comunitários. Infarto do miocárdio, terapia.<br />

Transferência de pacientes. Terapia trombolítica.<br />

SUMMARY<br />

Immediate Fibrinolysis or Patient Transfer for Primary<br />

Angioplasty in Acute Myocardial Infarction with ST<br />

Segment Elevation? When and How to Transfer?<br />

The superiority of percutaneous coronary intervention (PCI)<br />

over fibrinolysis has been clearly demonstrated for acute<br />

myocardial infarction (AMI) with ST segment elevation.<br />

One of the contemporary challenges facing AMI treatment<br />

is to increase the number of patients treated through primary<br />

angioplasty. The transfer of patients from community hospitals<br />

to primary angioplasty centers for the possibility of thrombolytic<br />

agents administration has been a major debate in Interventional<br />

Cardiology in recent years. A number of randomized studies<br />

- especially from Europe - have analyzed those strategies<br />

and identified subgroups of patients with greater benefits in<br />

one of the approaches. The combination of PCI and pharmacological<br />

agents that may favor reperfusion may play a relevant<br />

role in the improvement of results.<br />

DESCRIPTORS: Percutaneous transluminal coronary angioplasty.<br />

Community hospitals. Myocardial infarction, therapy.<br />

Patient transfer. Thrombolytic therapy.<br />

Os benefícios da intervenção coronária percutânea<br />

(ICP) sobre a fibrinólise têm sido, inequivocamente,<br />

demonstrados no infarto agudo do miocárdio<br />

com supradesnivelamento do segmento ST (IAM).<br />

Quando realizada por operadores e instituições experientes,<br />

a angioplastia primária diminui de forma significativa<br />

as taxas de mortalidade, reinfarto, acidente<br />

1<br />

Hospital do Coração de Sobral, Ceará.<br />

Correspondência: José Klauber Roger Carneiro. Av. Geraldo Rangel, 715.<br />

CEP 62041040 - Sobral, Ceará • e-mail: hemodina@stacasa.com.br<br />

Recebido em 06/01/2006 • Aceito em 25/01/2006<br />

vascular cerebral (AVC) e complicações hemorrágicas,<br />

quando comparada a doses plenas de trombolíticos 1 .<br />

Em recente revisão sistemática de 11 estudos de fibrinólise<br />

versus angioplastia primária, os pacientes pertencentes<br />

ao braço da reperfusão mecânica tiveram menores<br />

taxas de mortalidade, reinfarto e AVC do que os que<br />

fizeram uso da fibrinólise 2 . Em outra metanálise comparando<br />

23 estudos de fibrinólise versus angioplastia<br />

primária, os achados foram similares 3 . Embora estas<br />

metanálises superestimem os benefícios da angioplastia<br />

primária na prática do mundo real, elas também providenciam<br />

fortes evidências de que a reperfusão mecânica<br />

32<br />

JoseKlauber.p65 32<br />

24/2/2006, 11:09


Carneiro JKR, et al. Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST? Quando e Como Transferir? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

é a abordagem terapêutica de escolha no IAM. A superioridade<br />

da angioplastia primária é particularmente<br />

verdadeira em pacientes com alto risco de morte (idade<br />

superior a 70 anos, infarto em parede anterior,<br />

choque cardiogênico e Killip classe III), em pacientes<br />

com apresentação tardia (além de 3 horas) e naqueles<br />

com infarto prévio ou diabete melito 4 . No entanto,<br />

para assegurar os bons resultados dos estudos clínicos,<br />

algumas contrapartidas são imprescindíveis: um tempo<br />

porta-balão inferior a 90 minutos, centros de angioplastia<br />

com volume de intervenção superior a 200 procedimentos<br />

por ano e volume de intervenção primária superior<br />

a 36 procedimentos por ano e com operadores que<br />

realizem mais de 75 ICP ao ano 5 . Estender os benefícios<br />

da angioplastia primária ao maior número possível<br />

de pacientes é um dos grandes desafios do tratamento<br />

moderno do IAM, mesmo quando um terço dos pacientes<br />

elegíveis ainda não são submetidos a nenhuma<br />

terapia de reperfusão.<br />

No mundo real, mesmo em países desenvolvidos,<br />

a grande maioria dos pacientes com IAM se apresenta<br />

inicialmente em hospitais que não dispõem de laboratórios<br />

de hemodinâmica. Nesta situação, a transferência<br />

desses pacientes para hospitais terciários com programa<br />

de angioplastia primária, funcionando 24 horas<br />

por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano, é<br />

uma das possibilidades de ampliação do universo de<br />

pacientes submetidos à reperfusão mecânica. Desde<br />

1999, cinco estudos randomizados têm comparado as<br />

duas estratégias de tratamento: transferir da sala de<br />

emergência de um hospital comunitário para outro<br />

com capacidade de realizar angioplastia primária versus<br />

administração imediata de um trombolítico. O primeiro<br />

dos estudos, Maastricht 6 , randomizou 224 pacientes<br />

com IAM e “delta T” inferior a 6 horas de duração para<br />

o tratamento com alteplase, alteplase e transferência<br />

para angioplastia primária ou somente a transferência<br />

imediata para angioplastia primária. Este estudo pioneiro<br />

demonstrou que a decisão da transferência imediata<br />

para a angioplastia primária era segura e resultou numa<br />

tendência de diminuição das taxas de mortalidade e<br />

reinfarto, quando comparadas às duas outras abordagens.<br />

O estudo PRAGUE 7 (Primary Angioplasty in patients<br />

transferred from General comunity hospitals to specialized<br />

PTCA Units with ou without Emergency thrombolysis),<br />

publicado em 2000 e realizado na República<br />

Tcheca, randomizou 300 pacientes com IAM e “delta<br />

T” inferior a 6 horas de duração para três possibilidades<br />

de tratamento: pacientes do grupo A recebiam estreptoquinase<br />

e eram imediatamente transferidos para outro<br />

hospital, onde eram submetidos à angioplastia primária;<br />

os do grupo B eram imediatamente tratados apenas<br />

com estreptoquinase; os do grupo C eram transferidos<br />

para angioplastia primária, sem uso prévio de trombolítico.<br />

A transferência para angioplastia primária foi<br />

segura e associada, de modo significativo, a menores<br />

taxas do desfecho primário de morte, reinfarto e AVC<br />

aos 30 dias, quando comparada aos outros grupos de<br />

tratamento. Esta diferença mostrou-se primariamente<br />

pela incidência muito baixa de reinfarto no braço da<br />

angioplastia primária.<br />

O único estudo americano, AIR-PAMI 8 (Air Primary<br />

Angioplasty in Myocardial Infarction), randomizou <strong>13</strong>8<br />

pacientes com IAM de alto risco e “delta T” inferior a<br />

12 horas para alteplase ou transferência para angioplastia<br />

primária. Este estudo foi interrompido prematuramente<br />

pela dificuldade de recrutamento de pacientes. O braço<br />

da angioplastia primária teve uma redução de 38% no<br />

desfecho primário de morte, reinfarto e AVC aos 30<br />

dias em relação à fibrinólise imediata, sem obter, porém,<br />

significância estatística.<br />

O PRAGUE-2 9 foi um estudo multicêntrico que<br />

randomizou 850 pacientes com IAM e “delta T” inferior<br />

a 12 horas de duração para o uso de estreptoquinase<br />

no hospital comunitário ou imediato transporte para<br />

angioplastia primária. O desfecho primário de mortalidade<br />

aos 30 dias ocorreu em 6,8% no grupo da ICP,<br />

quando comparado aos 10% no grupo da estreptoquinase<br />

(p=0,12). No entanto, entre os 299 pacientes<br />

que foram randomizados com mais de 3 horas do<br />

início dos sintomas, a taxa de mortalidade na angioplastia<br />

primária foi de 6% versus 15,3% na fibrinólise, desta<br />

feita, com significância estatística (p


Carneiro JKR, et al. Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST? Quando e Como Transferir? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

volveram bloqueios atrioventriculares de segundo ou<br />

terceiro graus.<br />

Os dados desses estudos têm sido recentemente<br />

analisados conjuntamente em duas metanálises: Keeley<br />

et al. 3 analisaram os resultados de 2.909 pacientes e<br />

mostraram que, apesar do retardo em receber a terapia<br />

de reperfusão (média de 39 minutos), a angioplastia<br />

primária foi associada a significantes reduções nas<br />

taxas de reinfarto não-fatal, AVC e da ocorrência de<br />

morte, reinfarto e AVC aos 30 dias. A transferência<br />

para ICP primária, comparada com a fibrinólise, foi<br />

associada a uma redução não significativa da mortalidade.<br />

Dalby et al. 10 avaliaram os dados de seis estudos<br />

randomizados com 3.750 pacientes e evidenciaram<br />

que o desfecho primário de morte, reinfarto e AVC foi<br />

significativamente reduzido em 42% no grupo da transferência<br />

para ICP primária, quando comparado com o<br />

grupo que recebeu trombolítico no hospital de origem.<br />

Analisando-se os desfechos clínicos em separado, as<br />

taxas de reinfarto e AVC foram significativamente reduzidas<br />

em 68% e 56%, respectivamente. Houve uma<br />

redução, com tendência estatística, da mortalidade por<br />

qualquer causa de 19% aos 30 dias (p=0,08).<br />

Pelo que dispomos como evidência e sem desconsiderarmos<br />

as muitas imperfeições dos estudos aqui<br />

analisados, podemos afirmar que a transferência para<br />

angioplastia primária é superior à administração imediata<br />

de trombolíticos em hospitais sem laboratório de<br />

hemodinâmica, e isso se atribui à substancial redução<br />

de reinfartos e, em menor extensão, à redução da<br />

mortalidade e do AVC aos 30 dias. No entanto, não<br />

há evidências de que esta conclusão se estenda a<br />

todos os pacientes, o que nos obriga a elaborar protocolos<br />

que identifiquem aqueles que verdadeiramente<br />

se beneficiem da angioplastia primária, mesmo com<br />

retardo no tratamento. Algumas variáveis guiarão a<br />

nossa conduta:<br />

1) O tempo de apresentação do IAM: os estudos<br />

PRAGUE-2 9 e CAPTIM 11 (Comparison of Angioplasty<br />

and Prehospital Thrombolysis in Acute Myocardial<br />

Infarction) consolidaram o conceito de que, dentro<br />

das três primeiras horas do início dos sintomas, o<br />

desempenho da fibrinólise é semelhante ou até melhor<br />

do que o da angioplastia primária após transferência.<br />

Da mesma forma, pacientes com “delta T” superior a<br />

três horas deveriam ser transferidos para a reperfusão<br />

mecânica por causa dos benefícios já discutidos. Assim,<br />

em pacientes com apresentação precoce (menos de<br />

três horas), a estratégia de transferência para angioplastia<br />

primária, em detrimento do uso imediato de trombolítico,<br />

estará indicada somente nos casos de contra-indicação,<br />

impossibilidade para o uso ou insucesso da fibrinólise.<br />

2) Avaliação do risco de morte do paciente derivada<br />

do exame clínico e do eletrocardiograma (ECG):<br />

pacientes considerados de alto risco de morte, como<br />

idade superior a 70 anos, Killip classe II ou III e sinais<br />

de instabilidade hemodinâmica (FC maior que 100<br />

batimentos por minuto ou pressão sistólica menor que<br />

100 mmHg), deverão ser imediatamente transferidos<br />

para centros de angioplastia primária. O estudo AIR-<br />

PAMI 8 avaliou especificamente este subgrupo de pacientes<br />

e revelou que a transferência para angioplastia<br />

primária resultou em menores taxas de reinfarto, AVC<br />

ou morte aos 30 dias (8,4% vs <strong>13</strong>,6%, p=0,33), quando<br />

comparadas ao uso local do trombolítico. Pacientes<br />

com IAM complicado por choque cardiogênico têm<br />

uma taxa de mortalidade hospitalar variando de 60%<br />

a 70%. O estudo SHOCK 12 , publicado em 1999, mostrou<br />

de forma inequívoca que a revascularização invasiva<br />

e precoce reduziu a mortalidade aos 6 meses<br />

em 51%. Assim, estes pacientes, por terem na angioplastia<br />

primária chance maior de sobrevivência, deverão<br />

ser transferidos de imediato para os centros com capacidade<br />

intervencionista. O eletrocardiograma também<br />

é norteador na decisão da melhor estratégia. Pacientes<br />

com ECG duvidoso perante um quadro clínico típico<br />

de IAM, grandes supradesnivelamentos do segmento<br />

ST (maior que 4 mm) ou infartos em parede anterior<br />

deverão também ser transferidos para a reperfusão<br />

mecânica <strong>13</strong> . A transferência, mesmo nestes pacientes<br />

de alto risco, mostrou-se segura em todos os estudos.<br />

Em sua metanálise, Keeley et al. 3 reportaram que a<br />

transferência foi associada a um risco de morte de<br />

0,5% (reportado somente no estudo PRAGUE-2 9 ), de<br />

arritmias ventriculares de 0,7% a 1,4% e de bloqueios<br />

atrioventriculares de segundo e terceiro graus de 2%.<br />

3) Risco para uso de trombolítico: pacientes com<br />

contra-indicações formais para trombólise, sobretudo<br />

risco aumentado de sangramentos ou AVC hemorrágico,<br />

deverão ser transferidos para angioplastia primária.<br />

4) Tempo necessário para transportar para centro<br />

de intervenção: os estudos indicam que quanto mais<br />

precoce a administração dos fibrinolíticos após o início<br />

dos sintomas, maiores serão o salvamento miocárdico,<br />

a preservação da função ventricular esquerda e, por<br />

conseqüência, a sobrevida 14 . Esta mesma relação de<br />

tempo para o tratamento não tem sido provada com<br />

a angioplastia primária. Zijlstra et al. 15 encontraram que<br />

a taxa combinada de morte, reinfarto e AVC permaneceu<br />

relativamente estável com o aumento do tempo de<br />

reperfusão em 1.302 pacientes tratados com angioplastia<br />

primária (5,8% para menos de 2 horas, 8,6% para<br />

2-4 horas e 7,7% para mais de 4 horas). No entanto,<br />

uma relação similar com o tempo porta-balão tem<br />

sido amplamente demonstrada em vários estudos. Quanto<br />

maior o tempo porta-balão, piores os resultados<br />

quanto ao tamanho do infarto e da mortalidade. Em<br />

recente avaliação de 1.791 pacientes com IAM tratados<br />

com angioplastia primária, De Luca et al. 16 demonstraram<br />

que cada retardo de 30 minutos na reperfusão<br />

foi associado a um risco relativo de morte em 1 ano<br />

de 1,075 desses pacientes. Em uma análise retrospectiva<br />

de estudos randomizados que compararam fibrinólise<br />

com ICP primária, o benefício na mortalidade<br />

34<br />

JoseKlauber.p65 34<br />

24/2/2006, 11:09


Carneiro JKR, et al. Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST? Quando e Como Transferir? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

associado à reperfusão mecânica foi perdido quando<br />

o tempo porta-balão excedeu em 1 hora o que seria<br />

o tempo porta-agulha 17 . Então, a decisão de transferir<br />

deverá obedecer a duas ordens de tempo:<br />

1) o tempo total da operação não excederá duas<br />

horas, e recomendamos que seja assim distribuído:<br />

tempo entre a realização do ECG e o acesso à ambulância<br />

inferior ou igual a 30 minutos, tempo de transporte<br />

entre os hospitais inferior ou igual a 60 minutos, e<br />

tempo entre a chegada ao centro de intervenção e a<br />

primeira insuflação do balão inferior ou igual a 30<br />

minutos, perfazendo um total de duas horas.<br />

2) A diferença entre o tempo porta-balão e o<br />

presumível tempo porta-agulha não poderá ultrapassar<br />

1 hora.<br />

Outra questão relevante é como os pacientes deverão<br />

ser transferidos. No estudo DANAMI-2 4 , 4% dos<br />

pacientes randomizados para a transferência foram<br />

julgados incapazes de fazê-la por questões de segurança.<br />

Estes pacientes tinham choque cardiogênico ou insuficiência<br />

cardíaca importante com grave hipotensão (pressão<br />

sistólica menor que 65 mmHg), persistência de<br />

arritmias complexas com risco de vida ou necessitavam<br />

de ventilação mecânica. Episódios de fibrilação<br />

ventricular tratados com sucesso não representaram<br />

contra-indicação para o transporte. Os pacientes deverão<br />

ser transferidos em ambulâncias com capacitação de<br />

unidades de tratamento intensivo, dispondo de eletrocardiograma,<br />

monitorização cardíaca contínua, desfibriladores<br />

e, sobretudo, médicos e enfermeiros com<br />

experiência em reanimação cardíaca. Durante o transporte,<br />

a farmacoterapia adjunta poderá ser administrada<br />

(ácido acetilsalicílico, clopidogrel, heparina não-fracionada<br />

e beta-bloqueadores), inclusive agentes facilitadores<br />

para a recanalização mecânica (inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa). A comunicação e a sintonia entre<br />

o serviço de transporte ou o hospital comunitário com<br />

o centro de angioplastia são críticas na redução do<br />

tempo porta-balão. O tempo dispensado para o transporte<br />

deverá ser utilizado no centro de angioplastia para<br />

o preparo do laboratório de hemodinâmica e recrutamento<br />

de todo o pessoal implicado no procedimento.<br />

Na chegada ao centro de intervenção, o paciente deverá<br />

ser imediatamente transferido ao laboratório de hemodinâmica,<br />

evitando estações de retardo, como o prontoatendimento<br />

e a unidade coronariana.<br />

Definir a abordagem ótima para o IAM pode não<br />

estar na escolha entre trombólise e angioplastia primária,<br />

mas talvez na combinação da reperfusão farmacológica<br />

e mecânica. Estudos prévios combinando fibrinólise<br />

e ICP tiveram resultados desapontadores (Topol,<br />

TIMI IIa, Simoons) 18 , e os estudos Maastricht 6 e PRAGUE<br />

–1 7 não favoreceram a combinação de tratamento trombolítico<br />

e transferência para angioplastia primária. No<br />

entanto, a moderna ICP com o uso dos stents pode ter<br />

mudado este cenário, e novos estudos estão testando<br />

a possibilidade de combinar fibrinólise com ICP, o<br />

que atenuaria o impacto do retardo na transferência.<br />

O estudo PACT (Plasminogen-activator Angioplasty<br />

Compatibility Trial) 19 mostrou uma maior preservação<br />

da função miocárdica com alteplase precedendo a<br />

ICP, e este conceito foi testado no estudo ASSENT- 4 20<br />

(Assessment of the Safety and Efficacy of a New Treatment<br />

Strategy for Acute Myocardial Infarction), planejado<br />

para randomizar 4.000 pacientes com grande infarto<br />

e que seriam aguardados no laboratório de hemodinâmica<br />

para angioplastia primária entre 60 minutos e<br />

3 horas após o início dos sintomas e randomizados<br />

para tenecteplase ou nenhum tratamento trombolítico.<br />

Todos os pacientes receberam ácido acetilsalicílico e<br />

heparina não-fracionada, e o uso do clopidogrel foi<br />

permitido ao implantar-se o stent. Inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa foram administrados somente nos pacientes<br />

submetidos à angioplastia primária, sem uso<br />

prévio de tenecteplase. O estudo foi prematuramente<br />

interrompido com 1.667 pacientes randomizados com<br />

uma diferença de 18 mortes entre os grupos, 50 (6%)<br />

versus 32 (3,8%), p=0,04, em detrimento da facilitação<br />

com a tenecteplase.<br />

A combinação de reduzida dose de trombolítico<br />

e inibidor da glicoproteína IIb/IIIa para facilitar a ICP<br />

está sendo testada no estudo FINESSE (Facilitated Intervention<br />

with Enhanced reperfusion Speed to Stop Events).<br />

No já publicado estudo BRAVE (Bavarian Reperfusion<br />

Alternatives Evaluation) 21 , 252 pacientes foram randomizados<br />

para metade da dose de reteplase e abciximab<br />

ou abciximab somente antes da ICP primária. O desfecho<br />

primário do estudo foi o tamanho final do infarto e<br />

não demonstrou diferenças significativas entre os grupos.<br />

Em conclusão, pacientes com IAM com supradesnivelamento<br />

do segmento ST e “delta T” inferior a 12<br />

horas podem ser transferidos para centros terciários<br />

para uma reperfusão de melhor qualidade. Validar esta<br />

proposta no mundo real é o atual desafio. É possível<br />

que a combinação da ICP com os novos agentes farmacológicos<br />

possa sinergisticamente viabilizar este conceito<br />

e fazer com que um maior número de pacientes<br />

com IAM possa se beneficiar da angioplastia primária.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Weaver WD, Simes RJ, Betriu A, Grines CL, Zijlstra F,<br />

Garcia E et al. Comparison of primary coronary angioplasty<br />

and intravenous thrombolytic therapy for acute myocardial<br />

infarction: a quantitative review. JAMA 1997;278:2093-8.<br />

2. Grines C, Patel A, Zijlstra F, Weaver WD, Granger C, Simes<br />

RJ. Primary coronary angioplasty compared with intravenous<br />

thrombolytic therapy for acute myocardial infarction:<br />

six-month follow up and analysis of individual patient data<br />

from randomized trials. Am Heart J 2003;145:47-57.<br />

3. Keeley EC, Boura JA, Grines CL. Primary angioplasty versus<br />

intravenous thrombolytic therapy for acute myocardial infarction:<br />

a quantitative review of 23 randomised trials. Lancet<br />

2003;361:<strong>13</strong>-20.<br />

4. Andersen HR, Nielsen TT, Rasmussen K, Thuesen L, Kelbaek<br />

H, Thayssen P et al. A comparison of coronary angioplasty<br />

with fibrinolytic therapy in acute myocardial infarction. N<br />

Engl J Med 2003;349:733-42.<br />

35<br />

JoseKlauber.p65 35<br />

24/2/2006, 11:09


Carneiro JKR, et al. Fibrinólise Imediata ou Transferência para Angioplastia Primária no Infarto Agudo do Miocárdio com<br />

Supradesnivelamento do Segmento ST? Quando e Como Transferir? Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 32-36.<br />

5. Antman EM, Anbe DT, Armstrong PW, Bates ER, Green LA,<br />

Hand M et al. ACC/AHA guidelines for the management of<br />

the patients with ST-elevation myocardial infarction – executive<br />

summary. A report of the American College of Cardiology/American<br />

Heart Association Task Force on Practice<br />

Guidelines. J Am Coll Cardiol 2004;44:671-719.<br />

6. Vermeer F, Oude Ophuis AJ, vd Berg EJ, Brunninkhuis LG,<br />

Werter CJ, Boehmer AG et al. Prospective randomised comparison<br />

between thrombolysis, rescue PTCA, and primary<br />

PTCA in patients with extensive myocardial infarction admitted<br />

to a hospital without PTCA facilities: A safety and feasibility<br />

study. Heart 1999;82:426-31.<br />

7. Widimsky P, Groch L, Zelizko M, Aschermann M, Bednar F,<br />

Suryapranata H. Multicentre randomized trial comparing transport<br />

to primary angioplasty vs immediate thrombolysis vs combined<br />

strategy for patients with acute myocardial infarction<br />

presenting to a community hospital without a catheterization<br />

laboratory. The PRAGUE study. Eur Heart J 2000;21:823-31.<br />

8. Grines CL, Westerhausen DR Jr, Grines LL, Hanlon JT,<br />

Logemann TL, Niemela M et al. A randomized trial of<br />

transfer for primary angioplasty versus on-site thrombolysis<br />

in patients with high-risk myocardial infarction: the Air<br />

Primary Angioplasty in Myocardial Infarction study. J Am<br />

Coll Cardiol 2002;39:17<strong>13</strong>-9.<br />

9. Widimsky P, Budesinsky T, Vorac D, Groch L, Zelizko M,<br />

Aschermann M et al. Long distance transport for primary<br />

angioplasty vs. immediate thrombolysis in acute myocardial<br />

infarction. Final results of the randomized national multicentre<br />

trial—PRAGUE-2. Eur Heart J 2003;24:94-104.<br />

10. Dalby M, Bouzamondo A, Lechat P, Montalescot G. Transfer<br />

for primary angioplasty versus immediate thrombolysis in<br />

acute myocardial infarction: a meta-analysis. Circulation<br />

2003;108:1809-14.<br />

11. Bonnefoy E, Lapostolle F, Leizorovicz A, Steg G, McFadden<br />

EP, Dubien PY et al. Primary angioplasty versus prehospital<br />

fibrinolysis in acute myocardial infarction: a randomised<br />

study. Lancet 2002;360:825-9.<br />

12. Hochman JS, Sleeper LA, Webb JG, Sanborn TA, White HD,<br />

Talley JD et al. Early revascularization in acute myocardial<br />

infarction complicated by cardiogenic shock. SHOCK investigators:<br />

should we emergently revascularize occluded coronaries<br />

for cardiogenic shock. N Engl J Med 1999;341:625-34.<br />

<strong>13</strong>. Waters RE 2nd, Singh KP, Roe MT, Lotfi M, Sketch MH Jr,<br />

Mahaffey KW et al. Rationale and strategies for implementing<br />

community-based transfer protocols for primary percutaneous<br />

coronary intervention for acute ST-segment elevation myocardial<br />

infarction. J Am Coll Cardiol 2004;43:2153-9.<br />

14. Cannon CP, Gibson CM, Lambrew CT, Shoultz DA, Levy<br />

D, French WJ et al. Relationship of symptom-onset-toballoon<br />

time and door-to-balloon time with mortality in<br />

patients undergoing angioplasty for acute myocardial infarction.<br />

JAMA 2000;283:2941-7.<br />

15. Zijlstra F, Patel A, Jones M, Grines CL, Ellis S, Garcia E et<br />

al. Clinical characteristics and outcome of patients with<br />

early (< 2 h), intermediate (2-4 h) and late (> 4 h) presentation<br />

treated by primary coronary angioplasty or thrombolytic<br />

therapy for acute myocardial infarction. Eur Heart J<br />

2002;23:550-7.<br />

16. De Luca G, Suryapranata H, Ottervanger JP, Antman EM.<br />

Time delay to treatment and mortality in primary angioplasty<br />

for acute myocardial infarction: every minute of delay counts.<br />

Circulation 2004;109:1223-5.<br />

17. Nallamothu BK, Bates ER. Percutaneous coronary intervention<br />

versus fibrinolytic therapy in acute myocardial infarction: is<br />

timing (almost) everything? Am J Cardiol 2003;92:824-6.<br />

18. Topol EJ, Neumann FJ, Montalescot G. A preferred reperfusion<br />

strategy for acute myocardial infarction. J Am Coll Cardiol<br />

2003;42:1886-9.<br />

19. Ross AM, Coyne KS, Reiner JS, Greenhouse SW, Fink C,<br />

Frey A et al. A randomized trial comparing primary angioplasty<br />

with a strategy of short-acting thrombolysis and immediate<br />

planned rescue angioplasty in acute myocardial infarction:<br />

the PACT trial. PACT investigators. Plasminogen-activator<br />

Angioplasty Compatibility Trial. J Am Coll Cardiol 1999;34:<br />

1954-62.<br />

20. ASSENT-4 data shed some light on reasons for higher<br />

mortality in TNK arm. Disponível em: www.theheart.org/<br />

viewArticle.do?primarykey=556945.<br />

21. Kastrati A, Mehilli J, Schlotterbeck K, Dotzer F, Dirschinger<br />

J, Schmitt C et al. Early administration of reteplase plus<br />

abciximab vs abciximab alone in patients with acute myocardial<br />

infarction referred for percutaneous coronary intervention:<br />

a randomized controlled trial. JAMA 2004;291:947-54.<br />

36<br />

JoseKlauber.p65 36<br />

24/2/2006, 11:09


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

Artigo de Revisão<br />

Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em<br />

Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos<br />

Pedro A. Lemos 1 , Marco Aurélio Magalhães 1<br />

RESUMO<br />

É intenso o debate sobre se stents farmacológicos devem<br />

ser utilizados em todos os pacientes ou somente em casos<br />

selecionados. Argumentos a favor ou contra a utilização<br />

ampla destes dispositivos têm sido levantados por diversos<br />

autores. Os stents farmacológicos reduzem drasticamente a<br />

incidência de reestenose, com impacto positivo sobre o<br />

controle anginoso, sobre a necessidade de novas intervenções<br />

e hospitalizações e sobre a qualidade de vida dos pacientes.<br />

No momento, é ainda necessário ampliar a documentação<br />

do benefício para alguns subgrupos, assim como melhor<br />

avaliar a segurança dos stents farmacológicos a muito longo<br />

prazo. Apesar disto, as evidências disponíveis atualmente<br />

indicam que o uso de stents farmacológicos provavelmente<br />

se estenderá, se não para todos, para a grande maioria de<br />

pacientes tratados por intervenção coronária percutânea.<br />

DESCRITORES: Angioplastia transluminal percutânea coronária.<br />

Contenedores. Reestenose coronária.<br />

SUMMARY<br />

Evidence-Based Drug Eluting Stents Application:<br />

Yes, Whenever Possible, for Everyone<br />

There is a strong debate on whether drug eluting stents<br />

(DES) should be used in all patients or only in specific<br />

cases. Arguments in favor and against the wide use of the<br />

device have been raised by different authors. The DES<br />

drastically reduce restenosis rate, and have a positive impact<br />

on symptom control, on the need for new interventions and<br />

new hospital admissions, as well as on patients’ quality of<br />

life. At this point in time, the benefits for some subgroups<br />

still require further documentation. DES long-term safety is<br />

also to be better assessed. In spite of that, evidence currently<br />

available shows that the use of DES will most likely be<br />

expanded – if not for everyone, for most patients undergoing<br />

percutaneous intervention.<br />

DESCRIPTORS: Angioplasty, transluminal percutaneous coronary.<br />

Stents. Coronary restenosis.<br />

Recentemente, os stents recobertos com agentes<br />

farmacológicos demonstraram-se eficazes em reduzir<br />

a ocorrência de reestenose 1-8 , considerada a<br />

principal limitação dos stents convencionais. Progressivamente,<br />

resultados favoráveis com os novos dispositivos<br />

têm sido relatados em diversos grupos de pacientes,<br />

inclusive em indivíduos de alto risco 7,9-20 , como aqueles<br />

freqüentemente encontrados no chamado “mundo<br />

real”. Apesar do perfil favorável observado em diversos<br />

estudos clínicos, os stents farmacológicos foram introduzidos<br />

no cenário clínico somente há alguns anos,<br />

havendo ainda um número de questões a serem esclarecidas<br />

quanto à sua eficácia e segurança. Além disso,<br />

os novos stents têm sido disponibilizados a custos<br />

maiores que os stents não recobertos, o que eleva<br />

expressivamente os gastos relacionados ao procedimen-<br />

1<br />

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de<br />

Medicina da Universidade de São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Pedro A. Lemos. Av. Dr. Enéas de Carvalho<br />

Aguiar, 44 - Bloco I - 3º andar - São Paulo, SP - CEP 05403-000<br />

e-mail: pedro.lemos@incor.usp.br<br />

Recebido em: 29/01/2006 • Aceito em: 01/02/2006<br />

to 21 . É neste contexto que está estabelecido o debate<br />

nos meios acadêmicos e no dia-a-dia da cardiologia<br />

intervencionista - deve a utilização de stents farmacológicos<br />

se estender a todos os pacientes ou somente<br />

a casos selecionados? A Tabela 1 apresenta um quadro<br />

que descreve argumentos a favor ou contra a utilização<br />

generalizada de stents farmacológicos, os quais<br />

serão discutidos nos parágrafos abaixo.<br />

A reestenose não se associa a um aumento de<br />

mortalidade cardiovascular ou à maior incidência de<br />

infarto do miocárdio 22,23 e poderia, então, ser entendida<br />

por alguns como uma complicação “benigna”, uma<br />

vez que não está associada a eventos adversos fatais.<br />

A reestenose, no entanto, implica em falha terapêutica,<br />

com forte impacto negativo sobre a evolução clínica,<br />

exigindo novas intervenções, consumo de recursos e,<br />

sobretudo, enorme frustração médico-paciente. Ao reduzir<br />

o risco de reestenose, a utilização dos stents<br />

farmacológicos otimiza os resultados do tratamento<br />

percutâneo, com impacto positivo sobre o controle<br />

anginoso, sobre a necessidade de novas intervenções<br />

e hospitalizações e sobre a qualidade de vida dos<br />

pacientes.<br />

37<br />

PedroLemos.p65 37<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

TABELA 1<br />

Argumentos a favor ou contra o uso generalizado de stents farmacológicos<br />

A favor Contra<br />

• A escolha de pacientes para uso seletivo de stents farmacológicos<br />

é difícil: reestenose é fundamentalmente um evento<br />

de baixa previsibilidade para um paciente em particular.<br />

• Stents farmacológicos se mostraram seguros e eficazes<br />

mesmo para pacientes de baixo risco.<br />

• Os stents farmacológicos têm se demonstrado benéficos para<br />

todos os grupos testados em estudos publicados até então.<br />

• Não há estudos dedicados a grupos de muito baixa<br />

probabilidade de reestenose. Ainda faltam evidências<br />

sobre a superioridade dos stents não farmacológicos<br />

para estes indivíduos.<br />

• Boa parte dos estudos com grupos específicos são<br />

subanálises de ensaios maiores. Faltam estudos<br />

especificamente planejados para avaliar stents farmacológicos<br />

em subgrupos de risco.<br />

• Os stents farmacológicos foram desenvolvidos recen-<br />

te mente. Há poucas informações sobre a segurança e<br />

eficácia muito tardia (p.e. após 2-3 anos).<br />

• Estudos observacionais têm sugerido a ocorrência de<br />

episódios infreqüentes, porém graves, de trombose<br />

tardia do stent.<br />

• Os esquemas antiplaquetários propostos implicam na<br />

necessidade de uso mais prolongado de clopidogrel<br />

ou ticlopidina com stents farmacológicos.<br />

• Custo elevado dos stents farmacológicos.<br />

• Nos estudos randomizados, até o momento, não se verificou<br />

aumento do índice de complicações graves (óbito e infarto)<br />

com os stents farmacológicos.<br />

• Stent farmacológico não adiciona complexidade ao<br />

procedimento.<br />

• Stent farmacológico prescinde de modificações no<br />

laboratório de hemodinâmica.<br />

• Os stents farmacológicos não reduzem mortalidade<br />

ou o índice de infarto.<br />

Fatores clínicos e angiográficos têm sido descritos<br />

com o intuito de estimar o risco de reestenose após a<br />

intervenção percutânea 24-28 . A utilização destes parâmetros<br />

tem sido advogada para nortear o uso seletivo<br />

de stents farmacológicos somente em indivíduos (ou<br />

lesões) mais propensos à reestenose tardia, com utilização<br />

de stents convencionais em pacientes de baixo<br />

risco 28 . É interessante notar que boa parte dos estudos<br />

clínicos que demonstraram o efeito benéfico dos stents<br />

farmacológicos, e que serviram como base para a sua<br />

aprovação por agências regulatórias governamentais,<br />

incluiu pacientes tradicionalmente considerados como<br />

de baixo risco 1,2,6 . Neste contexto, pode-se considerar<br />

que a não utilização de stents farmacológicos para<br />

pacientes de “baixo risco” contradiz as evidências<br />

científicas, que demonstram claramente a eficácia destes<br />

dispositivos para estes indivíduos 1,2,6 . Uma minoria de<br />

pacientes, no entanto, apresenta teoricamente um risco<br />

muito baixo, para os quais ainda faltam estudos que<br />

comprovem o benefício de stents farmacológicos. Os<br />

diversos fatores de risco oferecem informações para<br />

diferenciar grupos populacionais com maior ou menor<br />

chance de reestenose. No entanto, os modelos estatísticos<br />

existentes apresentam acurácia somente moderada<br />

para estimar o risco para um paciente em particular 26,27 ,<br />

o que limita sua aplicação como ferramenta de individualização<br />

da decisão terapêutica. Além disto, muitos<br />

destes fatores tratam de características identificáveis<br />

somente após o término da intervenção (por exemplo,<br />

estenose residual pós-procedimento) 27 e, obviamente,<br />

não podem ser aplicados no processo de escolha do<br />

tipo de stent (farmacológico vs. não farmacológico) a<br />

ser utilizado. Portanto, a seleção de candidatos ao uso<br />

de stents farmacológicos com base em suas características<br />

anatômicas e clínicas é dificultada pelo grau de<br />

imprevisibilidade da ocorrência de reestenose.<br />

Como detalhado acima, os estudos iniciais com<br />

stents farmacológicos incluíram pacientes considerados<br />

de baixa complexidade. Mesmo nestes estudos,<br />

subanálises específicas mostraram que o benefício dos<br />

stents farmacológicos se verificava de maneira uniforme<br />

em todos os subgrupos avaliados 2 . Mais recentemente,<br />

estudos randomizados e observacionais especificamente<br />

conduzidos para avaliar o desempenho dos<br />

stents farmacológicos, em indivíduos de mais alto risco,<br />

têm progressivamente documentado seu benefício também<br />

para estes pacientes. A Tabela 2 sumariza as<br />

evidências disponíveis para subgrupos específicos de<br />

pacientes. No entanto, apesar da disponibilidade crescente<br />

de estudos direcionados para subgrupos de interesse,<br />

ainda é pequena a experiência científica formal<br />

com diversas categorias de pacientes.<br />

Os stents farmacológicos representam a estratégia<br />

“anti-reestenose” mais eficaz já desenvolvida até o<br />

momento. Sua utilização não adiciona complexidade<br />

ao procedimento, fato comumente observado quando<br />

da introdução de novas técnicas em cardiologia inter-<br />

38<br />

PedroLemos.p65 38<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

TABELA 2<br />

Estudos comparativos sobre o desempenho de stents farmacológicos em subgrupos de alto risco<br />

Subgrupo Pelo menos um estudo Resultados<br />

randomizado específico<br />

já finalizado*<br />

Infarto agudo do miocárdio 12,14,29,30 Sim Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Vasos de pequeno calibre 10,19 Sim Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Lesões de longa extensão 7,31 Sim Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Diabéticos 32 Sim Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Doença coronária Não Stents farmacológicos com resultados favoráveis. Taxa de<br />

multiarterial 33-35<br />

eventos combinados após 1 ano semelhantes à de pacientes<br />

tratados com cirurgia de revascularização miocárdica<br />

Ponte de veia safena 17 Não Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Insuficiência renal 9 Não Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Reestenose de stent convencional 20,36-38 Sim Stents farmacológicos com resultados favoráveis. Evolução<br />

clínica aparentemente semelhante à braquiterapia vascular<br />

Reestenose após braquiterapia 39 Não Resultados subótimos com stents farmacológicos<br />

Tronco da coronária esquerda 15,40-46 Não Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Bifurcação 47-50 Não Stents farmacológicos com resultados favoráveis<br />

Oclusão total crônica 18,51-54<br />

Não<br />

*comparação randomizada entre stent farmacológico e outra modalidade terapêutica (por exemplo, stent convencional ou cirurgia<br />

de revascularização miocárdica).<br />

vencionista. Os stents farmacológicos podem ser prontamente<br />

incorporados à prática clínica, sem a necessidade<br />

de modificações logísticas ou de pessoal e sem<br />

a necessidade de treinamento específico ou “curva de<br />

aprendizado” por parte de operadores já familiarizados<br />

com a técnica da angioplastia com stents convencionais.<br />

Estas características indicam que, de modo geral,<br />

os stents farmacológicos podem ser adotados por virtualmente<br />

todos os serviços aparelhados para o implante<br />

de stents convencionais.<br />

Os primeiros estudos randomizados com stents<br />

farmacológicos foram concluídos há somente 2-4 anos<br />

atrás. Portanto, hoje, a experiência clínica com possíveis<br />

eventos adversos muito tardios é restrita a um pequeno<br />

número de pacientes 55 . Alguns estudos observacionais<br />

têm sugerido que os stents farmacológicos podem se<br />

associar à ocorrência de trombose da endoprótese<br />

meses após o procedimento inicial, principalmente<br />

em pacientes que necessitaram suspender o tratamento<br />

antiplaquetário crônico 56-58 . A baixa incidência deste<br />

evento adverso (< 1% dos casos) demanda um número<br />

alto de pacientes para documentar de maneira mais<br />

conclusiva a existência ou não de maior predisposição<br />

dos stents farmacológicos à trombose tardia, assim<br />

como para estudar os fatores relacionados à sua incidência.<br />

Apesar desta indefinição, em decorrência do risco<br />

de trombose, tem-se considerado a necessidade antecipada<br />

de suspensão precoce dos antiplaquetários (por<br />

exemplo, pacientes com risco de cirurgia não cardíaca<br />

nos meses subseqüentes à angioplastia) como uma<br />

contra-indicação relativa para o uso de stents farmacológicos.<br />

De qualquer modo, é importante notar que<br />

o benefício global dos stents farmacológicos é mantido<br />

em longo prazo em todas as séries publicadas, mesmo<br />

ao se considerar o (baixo) risco de trombose tardia.<br />

Os stents farmacológicos atualmente disponíveis<br />

no Brasil e em outros países são comercializados com<br />

custos significativamente maiores do que o de stents<br />

convencionais, o que claramente impede seu uso mais<br />

amplo no dia-a-dia. Apesar dos stents farmacológicos<br />

serem utilizados em mais de 80% dos procedimentos<br />

percutâneos nos Estados Unidos da América, sua taxa<br />

de utilização é muito inferior em alguns países da<br />

Europa e na América Latina (< 30%), limitada pelo<br />

custo elevado da técnica. A redução de eventos adversos<br />

nos meses após o procedimento com stents farmacológicos<br />

(por exemplo, novas intervenções coronárias<br />

para o tratamento de reestenose) obviamente se associa<br />

à diminuição dos custos globais durante o seguimento<br />

clínico. Desta forma, o alto custo inicial poderia ser<br />

contrabalançado pela redução do consumo de recursos<br />

a médio e longo prazo 21 . De fato, análises derivadas<br />

de estudos randomizados demonstram que os stents<br />

farmacológicos podem potencialmente apresentar uma<br />

relação custo-efetividade favorável 59,60 . No entanto, estu-<br />

39<br />

PedroLemos.p65 39<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

dos realizados no chamado “mundo real” da cardiologia<br />

intervencionista sugerem que os custos atuais dos stents<br />

farmacológicos não apresentam um perfil econômico<br />

que possibilite o uso amplo dos dispositivos em um<br />

cenário com restrições orçamentárias (RESEARCH study;<br />

dados não publicados 61,62 ).<br />

Em conclusão, ao reduzir drasticamente o risco<br />

de reestenose, os stents farmacológicos representam o<br />

principal avanço da cardiologia intervencionista nos<br />

últimos anos. Apesar de ainda serem necessários estudos<br />

confirmatórios para alguns subgrupos, seu uso<br />

amplo para a maioria dos pacientes parece justificado<br />

do ponto de vista clínico. Entretanto, restrições econômicas<br />

relacionadas ao custo dos novos stents ainda impedem<br />

seu uso mais indiscriminado no dia-a-dia.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Morice MC, Serruys PW, Sousa JE, Fajadet J, Ban Hayashi<br />

E, Perin M et al. A randomized comparison of a sirolimuseluting<br />

stent with a standard stent for coronary revascularization.<br />

N Engl J Med 2002;346:1773-80.<br />

2. Moses JW, Leon MB, Popma JJ, Fitzgerald PJ, Holmes DR,<br />

O’Shaughnessy C et al. Sirolimus-eluting stents versus standard<br />

stents in patients with stenosis in a native coronary artery.<br />

N Engl J Med 2003;349:<strong>13</strong>15-23.<br />

3. Schofer J, Schluter M, Gershlick AH, Wijns W, Garcia E,<br />

Schampaert E et al. Sirolimus-eluting stents for treatment of<br />

patients with long atherosclerotic lesions in small coronary<br />

arteries: double-blind, randomised controlled trial (E-SIRIUS).<br />

Lancet 2003;362:1093-9.<br />

4. Schampaert E, Cohen EA, Schluter M, Reeves F, Traboulsi<br />

M, Title LM et al. The Canadian study of the sirolimuseluting<br />

stent in the treatment of patients with long de novo<br />

lesions in small native coronary arteries (C-SIRIUS). J Am<br />

Coll Cardiol 2004;43:1110-5.<br />

5. Colombo A, Drzewiecki J, Banning A, Grube E, Hauptmann<br />

K, Silber S et al. Randomized study to assess the effectiveness<br />

of slow- and moderate-release polymer-based paclitaxeleluting<br />

stents for coronary artery lesions. Circulation<br />

2003;108:788-94.<br />

6. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O’Shaughnessy<br />

C, Mann JT et al. One-year clinical results with the slowrelease,<br />

polymer-based, paclitaxel-eluting TAXUS stent: the<br />

TAXUS-IV trial. Circulation 2004;109:1942-7.<br />

7. Stone GW, Ellis SG, Cannon L, Mann JT, Greenberg JD,<br />

Spriggs D et al. Comparison of a polymer-based paclitaxeleluting<br />

stent with a bare metal stent in patients with complex<br />

coronary artery disease: a randomized controlled trial.<br />

JAMA 2005;294:1215-23.<br />

8. Pache J, Dibra A, Mehilli J, Dirschinger J, Schomig A,<br />

Kastrati A. Drug-eluting stents compared with thin-strut bare<br />

stents for the reduction of restenosis: a prospective, randomized<br />

trial. Eur Heart J 2005;26:1262-8.<br />

9. Lemos PA, Arampatzis CA, Hoye A, Daemen J, Ong AT, Saia<br />

F et al. Impact of baseline renal function on mortality after<br />

percutaneous coronary intervention with sirolimus-eluting<br />

stents or bare metal stents. Am J Cardiol 2005;95:167-72.<br />

10. Lemos PA, Arampatzis CA, Saia F, Hoye A, Degertekin M,<br />

Tanabe K et al. Treatment of very small vessels with 2.25-<br />

mm diameter sirolimus-eluting stents (from the RESEARCH<br />

registry). Am J Cardiol 2004;93:633-6.<br />

11. Lemos PA, Hoye A, Goedhart D, Arampatzis CA, Saia F,<br />

van der Giessen WJ et al. Clinical, angiographic, and<br />

procedural predictors of angiographic restenosis after sirolimuseluting<br />

stent implantation in complex patients: an evaluation<br />

from the Rapamycin-Eluting Stent Evaluated At Rotterdam<br />

Cardiology Hospital (RESEARCH) study. Circulation<br />

2004;109:<strong>13</strong>66-70.<br />

12. Lemos PA, Saia F, Hofma SH, Daemen J, Ong AT, Arampatzis<br />

CA et al. Short- and long-term clinical benefit of sirolimuseluting<br />

stents compared to conventional bare stents for<br />

patients with acute myocardial infarction. J Am Coll Cardiol<br />

2004;43:704-8.<br />

<strong>13</strong>. Lemos PA, Serruys PW, van Domburg RT, Saia F, Arampatzis<br />

CA, Hoye A et al. Unrestricted utilization of sirolimuseluting<br />

stents compared with conventional bare stent implantation<br />

in the “real world”: the Rapamycin-Eluting Stent<br />

Evaluated At Rotterdam Cardiology Hospital (RESEARCH)<br />

registry. Circulation 2004;109:190-5.<br />

14. Saia F, Lemos PA, Lee CH, Arampatzis CA, Hoye A, Degertekin<br />

M et al. Sirolimus-eluting stent implantation in ST-elevation<br />

acute myocardial infarction: a clinical and angiographic<br />

study. Circulation 2003;108:1927-9.<br />

15. Valgimigli M, van Mieghem CA, Ong AT, Aoki J, Granillo<br />

GA, McFadden EP et al. Short- and long-term clinical<br />

outcome after drug-eluting stent implantation for the percutaneous<br />

treatment of left main coronary artery disease:<br />

insights from the Rapamycin-Eluting and Taxus Stent Evaluated<br />

At Rotterdam Cardiology Hospital registries (RESEARCH and<br />

T-SEARCH). Circulation 2005;111:<strong>13</strong>83-9.<br />

16. Hoye A, Lemos PA, Arampatzis CA, Saia F, Tanabe K,<br />

Degertekin M et al. Effectiveness of the sirolimus-eluting<br />

stent in the treatment of patients with a prior history of<br />

coronary artery bypass graft surgery. Coron Artery Dis 2004;<br />

15:171-5.<br />

17. Hoye A, Lemos PA, Arampatzis CA, Saia F, Tanabe K,<br />

Degertekin M et al. Effectiveness of the sirolimus-eluting<br />

stent in the treatment of saphenous vein graft disease. J<br />

Invasive Cardiol 2004;16:230-3.<br />

18. Hoye A, Tanabe K, Lemos PA, Aoki J, Saia F, Arampatzis<br />

C et al. Significant reduction in restenosis after the use of<br />

sirolimus-eluting stents in the treatment of chronic total<br />

occlusions. J Am Coll Cardiol 2004;43:1954-8.<br />

19. Ardissino D, Cavallini C, Bramucci E, Indolfi C, Marzocchi<br />

A, Manari A et al. Sirolimus-eluting vs uncoated stents for<br />

prevention of restenosis in small coronary arteries: a randomized<br />

trial. JAMA 2004;292:2727-34.<br />

20. Kastrati A, Mehilli J, von Beckerath N, Dibra A, Hausleiter<br />

J, Pache J et al. Sirolimus-eluting stent or paclitaxel-eluting<br />

stent vs balloon angioplasty for prevention of recurrences<br />

in patients with coronary in-stent restenosis: a randomized<br />

controlled trial. JAMA 2005;293:165-71.<br />

21. Lemos PA, Serruys PW, Sousa JE. Drug-eluting stents: cost<br />

versus clinical benefit. Circulation 2003;107:3003-7.<br />

22. Mercado N, Wijns W, Serruys PW, Sigwart U, Flather MD,<br />

Stables RH et al. One-year outcomes of coronary artery<br />

bypass graft surgery versus percutaneous coronary intervention<br />

with multiple stenting for multisystem disease: a metaanalysis<br />

of individual patient data from randomized clinical<br />

trials. J Thorac Cardiovasc Surg 2005;<strong>13</strong>0:512-9.<br />

23. Doucet S, Malekianpour M, Theroux P, Bilodeau L, Cote<br />

G, de Guise P et al. Randomized trial comparing intravenous<br />

nitroglycerin and heparin for treatment of unstable<br />

angina secondary to restenosis after coronary artery angioplasty.<br />

Circulation 2000;101:955-61.<br />

24. Feyter PJ, Kay P, Disco C, Serruys PW. Reference chart<br />

derived from post-stent-implantation intravascular ultrasound<br />

40<br />

PedroLemos.p65 40<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

predictors of 6-month expected restenosis on quantitative<br />

coronary angiography. Circulation 1999;100:1777-83.<br />

25. Serruys PW, Kay IP, Disco C, Deshpande NV, Feyter PJ.<br />

Periprocedural quantitative coronary angiography after Palmaz-<br />

Schatz stent implantation predicts the restenosis rate at six<br />

months: results of a meta-analysis of the BElgian NEtherlands<br />

Stent study (BENESTENT) I, BENESTENT II Pilot, BENESTENT<br />

II and MUSIC trials. Multicenter Ultrasound Stent In Coronaries.<br />

J Am Coll Cardiol 1999;34:1067-74.<br />

26. Singh M, Gersh BJ, McClelland RL, Ho KK, Willerson JT,<br />

Penny WF et al. Clinical and angiographic predictors of<br />

restenosis after percutaneous coronary intervention: insights<br />

from the Prevention of Restenosis With Tranilast and Its<br />

Outcomes (PRESTO) trial. Circulation 2004;109:2727-31.<br />

27. Mercado N, Boersma E, Wijns W, Gersh BJ, Morillo CA, de<br />

Valk V et al. Clinical and quantitative coronary angiographic<br />

predictors of coronary restenosis: a comparative analysis from<br />

the balloon-to-stent era. J Am Coll Cardiol 2001;38:645-52.<br />

28. Ellis SG, Bajzer CT, Bhatt DL, Brener SJ, Whitlow PL, Lincoff<br />

AM et al. Real-world bare metal stenting: identification of<br />

patients at low or very low risk of 9-month coronary revascularization.<br />

Catheter Cardiovasc Interv 2004;63:<strong>13</strong>5-40.<br />

29. Cheneau E, Rha SW, Kuchulakanti PK, Stabile E, Kinnaird<br />

T, Torguson R et al. Impact of sirolimus-eluting stents on<br />

outcomes of patients treated for acute myocardial infarction<br />

by primary angioplasty. Catheter Cardiovasc Interv 2005;65:<br />

469-72.<br />

30. Valgimigli M, Percoco G, Malagutti P, Campo G, Ferrari F,<br />

Barbieri D et al. Tirofiban and sirolimus-eluting stent vs<br />

abciximab and bare-metal stent for acute myocardial infarction:<br />

a randomized trial. JAMA 2005;293:2109-17.<br />

31. Degertekin M, Arampatzis CA, Lemos PA, Saia F, Hoye A,<br />

Daemen J et al. Very long sirolimus-eluting stent implantation<br />

for de novo coronary lesions. Am J Cardiol 2004;93:826-9.<br />

32. Sabate M, Jiménez-Quevedo P, Angiolillo DJ. DIABETes<br />

and sirolimus Eluting Stent trial: The DIABETES trial. Presented<br />

at the Transvascular Catheter Therapeutics;2004.<br />

33. Serruys P. ARTS II trial. Presented at the American College<br />

of Cardiology 50th Annual Scientific Session;2005.<br />

34. Serruys PW, Lemos PA, van Hout BA. Sirolimus eluting<br />

stent implantation for patients with multivessel disease:<br />

rationale for the Arterial Revascularisation Therapies Study<br />

part II (ARTS II). Heart 2004;90:995-8.<br />

35. Arampatzis CA, Hoye A, Lemos PA, Saia F, Tanabe K,<br />

Degertekin M et al. Elective sirolimus-eluting stent implantation<br />

for multivessel disease involving significant LAD<br />

stenosis: one-year clinical outcomes of 99 consecutive patients:<br />

the Rotterdam experience. Catheter Cardiovasc Interv 2004;<br />

63:57-60.<br />

36. Saia F, Lemos PA, Arampatzis CA, Hoye A, Degertekin M,<br />

Tanabe K et al. Routine sirolimus eluting stent implantation<br />

for unselected in-stent restenosis: insights from the rapamycin<br />

eluting stent evaluated at Rotterdam Cardiology Hospital<br />

(RESEARCH) registry. Heart 2004;90:1183-8.<br />

37. Saia F, Lemos PA, Hoye A, Sianos G, Arampatzis CA, Feyter<br />

PJ et al. Clinical outcomes for sirolimus-eluting stent implantation<br />

and vascular brachytherapy for the treatment of instent<br />

restenosis. Catheter Cardiovasc Interv 2004;62:283-8.<br />

38. Tanabe K, Serruys PW, Grube E, Smits PC, Selbach G, van<br />

der Giessen WJ et al. TAXUS III Trial: in-stent restenosis<br />

treated with stent-based delivery of paclitaxel incorporated<br />

in a slow-release polymer formulation. Circulation 2003;107:<br />

559-64.<br />

39. Saia F, Lemos PA, Sianos G, Degertekin M, Lee CH, Arampatzis<br />

CA et al. Effectiveness of sirolimus-eluting stent implantation<br />

for recurrent in-stent restenosis after brachytherapy. Am<br />

J Cardiol 2003;92:200-3.<br />

40. Arampatzis CA, Lemos PA, Tanabe K, Hoye A, Degertekin<br />

M, Saia F et al. Effectiveness of sirolimus-eluting stent for<br />

treatment of left main coronary artery disease. Am J Cardiol<br />

2003;92:327-9.<br />

41. Arampatzis CA, Lemos PA, Hoye A, Saia F, Tanabe K, van<br />

der Giessen WJ et al. Elective sirolimus-eluting stent implantation<br />

for left main coronary artery disease: six-month angiographic<br />

follow-up and 1-year clinical outcome. Catheter<br />

Cardiovasc Interv 2004;62:292-7.<br />

42. Agostoni P, Valgimigli M, Van Mieghem CA, Rodriguez-<br />

Granillo GA, Aoki J, Ong AT et al. Comparison of early<br />

outcome of percutaneous coronary intervention for unprotected<br />

left main coronary artery disease in the drug-eluting stent<br />

era with versus without intravascular ultrasonic guidance.<br />

Am J Cardiol 2005;95:644-7.<br />

43. Tanigawa J, Sutaria N, Goktekin O, Di Mario C. Treatment<br />

of unprotected left main coronary artery stenosis in the<br />

drug-eluting stent era. J Interv Cardiol 2005;18:455-65.<br />

44. Park SJ, Kim YH, Lee BK, Lee SW, Lee CW, Hong MK et<br />

al. Sirolimus-eluting stent implantation for unprotected left<br />

main coronary artery stenosis: comparison with bare metal<br />

stent implantation. J Am Coll Cardiol 2005;45:351-6.<br />

45. Curzen N. Percutaneous coronary intervention in unprotected<br />

left main stem disease: the state of play. Heart 2005;91<br />

(Suppl 3):iii39-41.<br />

46. Chieffo A, Stankovic G, Bonizzoni E, Tsagalou E, Iakovou<br />

I, Montorfano M et al. Early and mid-term results of drugeluting<br />

stent implantation in unprotected left main. Circulation<br />

2005;111:791-5.<br />

47. Ge L, Airoldi F, Iakovou I, Cosgrave J, Michev I, Sangiorgi<br />

GM et al. Clinical and angiographic outcome after implantation<br />

of drug-eluting stents in bifurcation lesions with the<br />

crush stent technique: importance of final kissing balloon<br />

post-dilation. J Am Coll Cardiol 2005;46:6<strong>13</strong>-20.<br />

48. Pan M, Lezo JS, Medina A, Romero M, Segura J, Pavlovic<br />

D et al. Rapamycin-eluting stents for the treatment of bifurcated<br />

coronary lesions: a randomized comparison of a simple<br />

versus complex strategy. Am Heart J 2004;148:857-64.<br />

49. Colombo A, Moses JW, Morice MC, Ludwig J, Holmes DR<br />

Jr, Spanos V et al. Randomized study to evaluate sirolimuseluting<br />

stents implanted at coronary bifurcation lesions.<br />

Circulation 2004;109:1244-9.<br />

50. Tanabe K, Hoye A, Lemos PA, Aoki J, Arampatzis CA, Saia<br />

F et al. Restenosis rates following bifurcation stenting with<br />

sirolimus-eluting stents for de novo narrowings. Am J Cardiol<br />

2004;94:115-8.<br />

51. Werner GS, Schwarz G, Prochnau D, Fritzenwanger M,<br />

Krack A, Betge S et al. Paclitaxel-eluting stents for the<br />

treatment of chronic total coronary occlusions: a strategy of<br />

extensive lesion coverage with drug-eluting stents. Catheter<br />

Cardiovasc Interv 2006;67:1-9.<br />

52. Ge L, Iakovou I, Cosgrave J, Chieffo A, Montorfano M,<br />

Michev I et al. Immediate and mid-term outcomes of sirolimuseluting<br />

stent implantation for chronic total occlusions. Eur<br />

Heart J 2005;26:1056-62.<br />

53. Nakamura S, Muthusamy TS, Bae JH, Cahyadi YH, Udayachalerm<br />

W, Tresukosol D. Impact of sirolimus-eluting stent<br />

on the outcome of patients with chronic total occlusions.<br />

Am J Cardiol 2005;95:161-6.<br />

54. Werner GS, Krack A, Schwarz G, Prochnau D, Betge S,<br />

Figulla HR. Prevention of lesion recurrence in chronic total<br />

coronary occlusions by paclitaxel-eluting stents. J Am Coll<br />

Cardiol 2004;44:2301-6.<br />

41<br />

PedroLemos.p65 41<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Lemos PA, Magalhães MA. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: Sim, Quando Possível, Para Todos. Rev<br />

Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 37-42.<br />

55. Sousa JE, Costa MA, Abizaid A, Feres F, Seixas AC, Tanajura<br />

LF et al. Four-year angiographic and intravascular ultrasound<br />

follow-up of patients treated with sirolimus-eluting<br />

stents. Circulation 2005;111:2326-9.<br />

56. McFadden EP, Stabile E, Regar E, Cheneau E, Ong AT,<br />

Kinnaird T et al. Late thrombosis in drug-eluting coronary<br />

stents after discontinuation of antiplatelet therapy. Lancet<br />

2004;364:1519-21.<br />

57. Iakovou I, Schmidt T, Bonizzoni E, Ge L, Sangiorgi GM,<br />

Stankovic G et al. Incidence, predictors, and outcome of<br />

thrombosis after successful implantation of drug-eluting stents.<br />

JAMA 2005;293:2126-30.<br />

58. Ong AT, McFadden EP, Regar E, de Jaegere PP, van Domburg<br />

RT, Serruys PW. Late angiographic stent thrombosis (LAST) events<br />

with drug-eluting stents. J Am Coll Cardiol 2005;45: 2088-92.<br />

59. van Hout BA, Serruys PW, Lemos PA, van den Brand MJ, van<br />

Es GA, Lindeboom WK et al. One year cost effectiveness of<br />

sirolimus eluting stents compared with bare metal stents in<br />

the treatment of single native de novo coronary lesions: an<br />

analysis from the RAVEL trial. Heart 2005;91:507-12.<br />

60. Cohen DJ, Bakhai A, Shi C, Githiora L, Lavelle T, Berezin<br />

RH et al. Cost-effectiveness of sirolimus-eluting stents for<br />

treatment of complex coronary stenoses: results from the<br />

Sirolimus-Eluting Balloon Expandable Stent in the Treatment<br />

of Patients With De Novo Native Coronary Artery Lesions<br />

(SIRIUS) trial. Circulation 2004;110:508-14.<br />

61. Kaiser C, Brunner-La Rocca HP, Buser PT, Bonetti PO,<br />

Osswald S, Linka A et al. Incremental cost-effectiveness of<br />

drug-eluting stents compared with a third-generation baremetal<br />

stent in a real-world setting: randomised Basel Stent<br />

Kosten Effektivitats Trial (BASKET). Lancet 2005;366:921-9.<br />

62. Bagust A, Grayson AD, Palmer ND, Perry RA, Walley T.<br />

Cost effectiveness of drug eluting coronary artery stenting<br />

in a UK setting: cost-utility study. Heart 2006;92:68-74.<br />

42<br />

PedroLemos.p65 42<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:17


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

Artigo de Revisão<br />

Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em<br />

Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva"<br />

José Ary Boechat 1,2 , Júlio Andréa 1,2 , Leandro Cortes 1,2 , Filipe Goldberg 1,2 , Lílian Carestiato 1 ,<br />

Felipe Camillis 1 , Hélio Figueira 1,2<br />

RESUMO<br />

Os recentes avanços da cardiologia intervencionista são<br />

inquestionáveis. O maior deles, sem dúvida, foi o desenvolvimento<br />

dos stents eluídos em fármacos (drug eluting-stents),<br />

que reduziram dramaticamente a reestenose, o chamado<br />

“calcanhar de Aquiles” da cardiologia intervencionista.<br />

Apesar das dúvidas ainda existentes, na prática diária, os<br />

stents farmacológicos têm sido empregados em todas as<br />

situações clínicas e tipos de lesões. No entanto, a superioridade<br />

dos stents farmacológicos é verificada principalmente na<br />

redução da incidência da reestenose, não tendo impacto<br />

na redução da ocorrência de infarto e óbito à médio prazo,<br />

quando comparados com os stents convencionais. Em tempos<br />

de medicina baseada em evidências, precisamos determinar<br />

quais as situações onde os stents farmacológicos não apresentam<br />

resultados superiores aos stents convencionais, podendo<br />

estes últimos terem eficácia clínica semelhante, com redução<br />

dos custos médicos.<br />

DESCRITORES: Coronariopatia. Angioplastia transluminal<br />

percutânea coronária. Contenedores. Reestenose coronária.<br />

SUMMARY<br />

Evidence-Based Application of Drug Eluting Stents:<br />

No, Indication is Selective<br />

Recent advances in interventional cardiology are unquestionable.<br />

Top of the list is undoubtedly the development of the<br />

drug eluting stents (DES), which dramatically reduced restenosis<br />

- the so-called “heel of Achilles” in interventional cardiology.<br />

Despite pending doubts, DES have been used in daily<br />

practice at all clinical scenarios and for all types of lesions.<br />

However, the benefits of DES have been shown specially<br />

in restenosis rate reduction, rather than in impacting midterm<br />

infarction and death rate when compared to bare<br />

metal conventional stents. In a time of evidence-based<br />

medicine we must determine at which situations the DES<br />

do not result in better outcomes as compared to conventional<br />

stents - when bare metal stents may show similar clinical<br />

effectiveness, with cost reduction.<br />

DESCRIPTORS: Coronary disease. Angioplasty, transluminal,<br />

percutaneous coronary. Stents. Coronary restenosis.<br />

Para melhor compreensão, devemos avaliar o impacto<br />

dos stents farmacológicos com relação à<br />

sua segurança, eficácia e custos.<br />

SEGURANÇA<br />

O retardo da reendotelização, com inibição da<br />

proliferação e posterior migração celular, que pode<br />

demorar até 2 anos, pode aumentar a incidência de<br />

trombose dos stents farmacológicos. No entanto, metanálise<br />

de 10 estudos randomizados 1 demonstrou reduzida<br />

incidência de trombose dos stents farmacológicos<br />

no período de 12 meses, sendo comparável aos stents<br />

1<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Clínica<br />

São Vicente da Gávea. Rio de Janeiro, RJ.<br />

2<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Hospital<br />

CardioTrauma Ipanema. Rio de Janeiro, RJ.<br />

Correspondência: Dr. José Ary Boechat. Av. Lúcio Costa, 17500 -<br />

Apto 301 - CEP 22795-006 - Rio de Janeiro, RJ<br />

Fone/Fax: (021) 2529-4522 • E-mail: jose.ary@terra.com.br<br />

Recebido em: 02/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />

convencionais (0,58 vs 0,54%; p=1). Importante ressaltar<br />

nessa série de pacientes o uso de terapia antiplaquetária<br />

regular, com ácido acetilsalicílico e clopidogrel, durante<br />

3 (stent Cypher ® ) e 6 meses (Taxus ® ). A ocorrência de<br />

trombose tardia (além de 1 ano) descrita em algumas<br />

publicações isoladas 2 , no entanto, trouxe um alerta<br />

quanto ao risco desta temida complicação, associada<br />

a mortalidade de até 45% 3 . Análise de registros tem<br />

demonstrado que temos alguns grupos de maior risco<br />

para trombose de stent, como os diabéticos, lesões de<br />

bifurcação, disfunção ventricular, tratamento de reestenose<br />

de braquiterapia, insuficiência renal e, principalmente,<br />

a descontinuação precoce da terapia antiplaquetária<br />

3,4 . O tempo ideal para tratamento com clopidogrel,<br />

além do ácido acetilsalicílico, ainda não está<br />

estabelecido. A necessidade de tratamento antiplaquetário<br />

duplo por períodos que variam de no mínimo 3<br />

a 6 meses torna o implante de stents farmacológicos<br />

não recomendável naqueles em pré-operatório 5 , com<br />

baixa capacidade de compreensão ou incapacidade<br />

de aquisição dos tienopiridínicos.<br />

43<br />

JoseAry.p65 43<br />

24/2/2006, 11:<strong>13</strong>


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

EFICÁCIA<br />

Numerosos estudos randomizados e registros comprovam<br />

a eficácia dos stents farmacológicos que serão<br />

detalhados a seguir.<br />

• Lesões “de novo” em vasos nativos: as análises<br />

comparativas iniciais dos stents farmacológicos com<br />

stents convencionais procuraram avaliar o seu desempenho<br />

no tratamento de lesões STRESS/BENESTENTlike<br />

6,7 , evoluindo posteriormente para intervenção em<br />

lesões mais complexas. Resumidamente, verificou-se<br />

que os stents farmacológicos implantados em lesões<br />

“de novo” em vasos nativos entre 2,25mm-4mm, para<br />

tratamento de lesões ≤ 46 mm, apresentam menor<br />

reestenose clínica e angiográfica, quando comparados<br />

aos stents convencionais 8,9 . Apesar da elevada reestenose<br />

dos stents convencionais nesses trials randomizados,<br />

muito superior à série histórica da era pré-stents farmacológicos,<br />

os dados dos stents farmacológicos são<br />

excepcionais, especialmente, a sua reduzida perda<br />

tardia. No entanto, como demonstrado em trabalhos<br />

da era pré-stents farmacológicos 10,11 , a espessura das<br />

hastes dos stents tem papel fundamental no grau de<br />

inflamação desencadeada após o implante da prótese,<br />

com redução da reestenose com implante de stents de<br />

hastes finas. Estudo recente 12 randomizou pacientes<br />

para implante de stents revestidos com rapamicina ou<br />

convencionais de hastes finas (Bestent ® ). O SES (Sirolimus-eluting<br />

stent) reduziu dramaticamente a reestenose<br />

angiográfica (8,3 vs 25,5%; p


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

acima de 64 mm, com o chamado “full metal jacket”,<br />

como demonstrado na análise de 122 pacientes tratados<br />

com SES (81) e PES (41), com redução da necessidade<br />

de revascularização do vaso-alvo (7,5%) e da<br />

ocorrência de MACE (Eventos cardíacos adversos maiores<br />

- 18%), independente do tipo de stent utilizado 21 .<br />

Em estudos preliminares, o implante de stent farmacológico<br />

no tratamento de lesões longas parece ter custobenefício<br />

19 . Entretanto, o comprimento dos stents está<br />

relacionado a maior risco de trombose 3 e reestenose,<br />

mesmo com stents farmacológicos, além do overlapping<br />

de stents poder estar associado à formação tardia de<br />

aneurisma coronário (alta concentração local da droga)<br />

22,23 e risco de fechamento de ramos laterais com<br />

elevação enzimática pós-procedimento 18 . A presença<br />

de lesões longas também foi detectada como fator<br />

preditor independente de necessidade de revascularização<br />

no estudo ARTS II, mesmo com uso do<br />

sirolimus 24 .<br />

• Reestenose intra-stent: o tratamento com stents<br />

farmacológicos parece ser o tratamento ideal, no momento,<br />

da reestenose intra-stent, pela sua maior eficácia<br />

(stents farmacológicos >stents convencionais >balão)<br />

e praticidade (stents farmacológicos >braquiterapia).<br />

Comparação do sirolimus com braquiterapia no estudo<br />

SIRS demonstrou superioridade dos stents farmacológicos,<br />

com redução da falência do tratamento do<br />

vaso-alvo (12,4 vs 21,6%; p=0,02) e redução da reestenose<br />

(19,8 vs 29,5%), apesar da ausência de significado<br />

estatístico (p=0,06) 25 . Estudo randomizado ISAR-<br />

DESIRE 26 demonstrou a superioridade dos stents farmacológicos<br />

no tratamento da reestenose de stent,<br />

quando comparados com angioplastia de balão (reestenose<br />

balão 44,6%, stent com rapamicina 14,3% e<br />

com paclitaxel 21,7%), com redução do risco de reestenose<br />

de 68% com SES e 51% com PES, e redução<br />

da necessidade de revascularização de 76% e 42%,<br />

respectivamente. No entanto, o implante de stents farmacológicos<br />

nas lesões de reestenose ainda está associado<br />

a maior taxa de reestenose (SES 14,3% e PES 21,7%)<br />

e perda tardia (SES 0,32 mm e PES 0,55 mm), quando<br />

comparado com o tratamento das lesões de novo (SES<br />

reestenose 8,9% com perda tardia de 0,24 mm 8 e PES<br />

7,9% e perda tardia 0,39 mm 27 ), podendo indicar a<br />

necessidade de ajuste da dose das drogas antiproliferativas<br />

e/ou mudança na plataforma dos stents farmacológicos<br />

no tratamento das lesões de reestenose.<br />

• Bifurcação: stents coronários no tratamento de<br />

lesões de bifurcação ainda estão associados a menor<br />

sucesso do procedimento e maiores taxas de reestenose,<br />

quando comparados com tratamento de lesões não<br />

bifurcadas. Representam um desafio à intervenção, pois<br />

necessitamos aliviar o estreitamento arterial, ultrapassar<br />

balões e stents, evitar a oclusão arterial e manter o<br />

resultado inicial alcançado. Resumidamente, as lesões<br />

de bifurcação podem ser tratadas com duas estratégias,<br />

simples ou complexa. Na estratégia simples, o stent é<br />

implantado no ramo principal com balão no ramo<br />

lateral, se necessário, enquanto na complexa ocorre<br />

implante de stents em ambos os ramos. Série recente<br />

publicada demonstra que a técnica utilizada pode influenciar<br />

o resultado do implante de stents convencionais<br />

em lesões de bifurcação, com evolução favorável,<br />

com uso da estratégia simples, estando associada à<br />

revascularização do vaso-alvo de <strong>13</strong>,2% em 7 meses.<br />

No mesmo estudo, foi associado a maior risco de<br />

MACE, o tratamento de lesões de bifurcação em angina<br />

instável, lesões tipo 4a, tamanho do vaso principal<br />

< 2,7 mm, não uso de stent provisional e implante de<br />

stent no ramo lateral 28 . Porém, se a técnica complexa<br />

necessita ser utilizada, o uso dos stents convencionais<br />

eleva a taxa de reestenose a níveis praticamente proibitivos<br />

(62%) em outro estudo 29 . Os stents farmacológicos<br />

aumentaram significativamente a sobrevida livre de<br />

reintervenção (95,7% com SES e 86,8% com PES) no<br />

tratamento das lesões de bifurcação 30 . Apesar da redução<br />

dramática da reestenose com implante dos stents<br />

farmacológicos, a estratégia complexa está associada<br />

a maior chance de trombose (2,9%) 3 e reestenose com<br />

stents farmacológicos, principalmente no ramo lateral,<br />

sendo maior naqueles sem kissing-balloon ao término<br />

do procedimento (11,1 vs 37,9%; p


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

• Multivasos: dados de registros com implante de<br />

múltiplos stents farmacológicos demonstram que existe<br />

aumento da necessidade de reintervenção por causa<br />

do efeito acumulativo da revascularização da lesãoalvo<br />

de múltiplas lesões 36 . Estudo TAXUS V demonstrou<br />

redução da reestenose com uso de múltiplos stents<br />

revestidos com paclitaxel (27,2 vs 57,8%; p


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

reestenose angiográfica com stents farmacológicos (9<br />

vs 36%; p=0,002) e necessidade de revascularização<br />

do vaso-alvo (7 vs 20%; p=0,01), sem diferença na<br />

ocorrência de morte/reinfarto/AVE. Nenhum caso de<br />

trombose de stent no grupo dos stents farmacológicos,<br />

com incidência de morte/reinfarto em 30 dias de 5%,<br />

semelhante aos trials históricos com stents convencionais<br />

no infarto. Entretanto, a taxa de revascularização<br />

do vaso-alvo com stents convencionais foi de 20%,<br />

significativamente maior que os achados nos trials da<br />

era pré-stents farmacológicos, situados entre 7-8%<br />

(PAMI-STENT 48 e CADILLAC 49 ). A razão dessa discrepância<br />

não é aparente, com necessidade de mais trials<br />

randomizados, muitos dos quais já em andamento.<br />

CUSTOS<br />

Os stents farmacológicos não demonstraram, até<br />

o momento, redução da mortalidade e infarto, quando<br />

comparados ao stent convencional 50 , logo o seu benefício<br />

depende principalmente da redução da reestenose.<br />

Certamente, a maior limitação para o emprego disseminado<br />

dos stents farmacológicos é o custo. Enquanto<br />

for elevado, certos subgrupos de alto risco devem ser<br />

definidos para receber stents farmacológicos. No mundo<br />

real, o uso dos stents farmacológicos em todos os<br />

pacientes é menos custo-efetivo do que estudos em<br />

pacientes selecionados. Esse é o principal achado do<br />

estudo BASKET 19 , avaliando, no mundo real, o implante<br />

de stents farmacológicos e comparando-os com stents<br />

convencionais de terceira geração (Multilink Vision ® ),<br />

no tratamento de lesões de novo em vasos < 4 mm.<br />

Os stents farmacológicos reduziram em 44% a ocorrência<br />

de eventos maiores, com MACE de 7,2 vs 12,1%<br />

(p=0,02). No entanto, custo-benefício do implante de<br />

stents farmacológicos foi verificado somente naqueles<br />

com doença de 3 vasos, idade acima de 65 anos, mais<br />

de um segmento tratado, vasos de fino calibre e lesões<br />

acima de 20 mm. Achado semelhante na análise do<br />

estudo SIRIUS, onde os custos com uso de sirolimus<br />

foram menores, com melhor evolução clínica naqueles<br />

com vasos de referência < 2,5 mm, em lesões maiores<br />

que 20 mm e naqueles com possibilidade de revascularização<br />

da lesão-alvo entre 25-30% 51 . Análise retrospectiva<br />

realizada no Reino Unido com 2884 pacientes<br />

não verificou custo-efetividade no implante de stent<br />

com sirolimus, quando comparado com stent convencional,<br />

exceto em 4% da população descrita como de<br />

alto risco (calcificação, reestenose, angulação > 45<br />

graus e doença de 3 vasos em pacientes eletivos) 52 .<br />

No entanto, todos os estudos de custo-efetividade são<br />

publicados por instituições na Europa, onde a relação<br />

do custo do stent farmacológico/convencional é de<br />

cerca de 1,7:1 17 e, nos Estados Unidos, 3,2:1 51 , muito<br />

distante dos valores comercializados no nosso país,<br />

onde a relação chega a ser de 4:1 a 5:1, tornando-se<br />

economicamente inviável nos valores atuais. Além disso,<br />

devemos contabilizar os gastos com uso prolongado<br />

do clopidogrel, visto não haver ainda um consenso<br />

quanto ao tempo ideal de utilização da droga, sendo<br />

estendido nos pacientes com lesões complexas no<br />

mínimo por um ano. Estudos futuros com possibilidade<br />

de redução da necessidade de reintervenção com<br />

stents convencionais de hastes finas para cerca de<br />

12% 19 , possivelmente, resultará em relação custo-benefício<br />

menos favorável com stents farmacológicos, a<br />

menos que os seus valores venham a ser reduzidos.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Moreno R, Fernandez C, Hernandez R, Alfonso F, Angiolillo<br />

D, Sabate M et al. Drug-eluting stent thrombosis: results<br />

from a pooled analysis including 10 randomized studies.<br />

J Am Coll Cardiol 2005;45:954-9.<br />

2. McFadden EP, Stabile E, Regar E, Cheneau E, Ong AT,<br />

Kinnaird T et al. Late thrombosis in drug-eluting coronary<br />

stents after discontinuation of antiplatelet therapy. Lancet<br />

2004;364:1519-21.<br />

3. Iakovou I, Schmidt T, Bonizzoni E, Ge L, Sangiorgi GM,<br />

Stankovic G et al. Incidence, predictors, and outcome of<br />

thrombosis after successful implantation of drug-eluting stents.<br />

JAMA 2005;293:2126-30.<br />

4. Jeremias A, Sylvia B, Bridges J, Kirtane AJ, Bigelow B, Pinto<br />

DS et al. Stent thrombosis after successful sirolimus-eluting<br />

stent implantation. Circulation 2004;109:1930-2.<br />

5. Kaluza GL, Joseph J, Lee JR, Raizner ME, Raizner AE.<br />

Catastrophic outcomes of noncardiac surgery soon after<br />

coronary stenting. J Am Coll Cardiol 2000;35:1288-94.<br />

6. Fischman DL, Leon MB, Baim DS, Schatz RA, Savage MP,<br />

Penn I et al. A randomized comparison of coronary stent<br />

placement and balloon angioplasty in the treatment of<br />

coronary artery disease. Stent Restenosis Study Investigators.<br />

N Engl J Med 1994;331:496-501.<br />

7. Serruys PW, Jaegere P, Kiemeneij F, Macaya C, Rutsch W,<br />

Heyndrickx G et al. A comparison of balloon-expandablestent<br />

implantation with balloon angioplasty in patients<br />

with coronary artery disease. Benestent Study Group. N<br />

Engl J Med 1994:331:489-95.<br />

8. Moses JW, Leon MB, Popma JJ, Fitzgerald PJ, Holmes DR,<br />

O’Shaughnessy C et al. Sirolimus-eluting stents versus standard<br />

stents in patients with stenosis in a native coronary artery.<br />

N Engl J Med 2003;349:<strong>13</strong>15-23.<br />

9. Colombo A, Drzewiecki J, Banning A, Grube E, Hauptmann<br />

K, Silber S et al. Randomized study to assess the effectiveness<br />

of slow and moderate-release polymer-based paclitaxeleluting<br />

stents for coronary artery lesions. Circulation 2003;<br />

108:788-94.<br />

10. Kastrati A, Mehilli J, Dirschinger, Dotzer F, Schuhlen H,<br />

Neumann FJ et al. Intracoronary stenting and angiographic<br />

results: strut thickness effect on restenosis outcome (ISAR-<br />

STEREO) trial. Circulation 2001;103:2816-21.<br />

11. Pache J, Kastrati A, Mehilli J, Schuhlen H, Dotzer F, Hausleiter<br />

J et al. Intracoronary stenting and angiographic results: strut<br />

thickness effect on restenosis outcome (ISAR-STEREO 2)<br />

trial. J Am Coll Cardiol 2003;41:1283-8.<br />

12. Pache J, Dibra A, Mehilli J, Dirschinger J, Schomig A,<br />

Kastrati A. Drug-eluting stents compared with thin-strut bare<br />

stents for the reduction of restenosis: a prospective, randomized<br />

trial. Eur Heart J 2005;26:1262-8.<br />

<strong>13</strong>. Corpus RA, George PB, House JA, Dixon SR, Ajluni SC,<br />

Devlin WH et al. Optimal glycemic control is associated<br />

with a lower rate of target vessel revascularization in treated<br />

type II diabetic patients undergoing elective percutaneous<br />

coronary intervention. J Am Coll Cardiol 2004;43:8-14.<br />

47<br />

JoseAry.p65 47<br />

24/2/2006, 11:<strong>13</strong>


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

14. Moussa I, Leon MB, Baim DS, O’Neill WW, Popma JJ,<br />

Buchbinder M et al. Impact of sirolimus-eluting stents on<br />

outcome in diabetic patients. a SIRIUS (SIRolImUS-coated<br />

Bx Velocity balloon-expandable stent in the treatment of<br />

patients with de novo coronary artery lesions) substudy.<br />

Circulation 2004;109:2273-8.<br />

15. Sabate M, Jimenez-Quevedo P, Angiolillo DJ, Gomez-Hospital<br />

JA, Hernandez-Alfonso F, Antolin RH et al. Randomized<br />

comparison of sirolimus-eluting stent versus standard stent<br />

for percutaneous coronary revascularization in diabetic patients:<br />

the diabetes and sirolimus-eluting stent (DIABETES) trial.<br />

Circulation 2005;112:2175-83.<br />

16. Finn AV, Palacios IF, Kastrati A, Gold HK. Drug-eluting<br />

stents for diabetes mellitus: a rush to judgment? J Am Coll<br />

Cardiol 2005;45:479-83.<br />

17. Ardissino D, Cavallini C, Bramucci E, Indolfi C, Marzocchi<br />

A, Manari A et al. Sirolimus-eluting vs uncoated stents for<br />

prevention of restenosis in small coronary arteries: a randomized<br />

trial. JAMA 2004;292:2727-34.<br />

18. Stone GW, Ellis SG, Cannon L, Mann JT, Greenberg JD,<br />

Spriggs D et al. Comparison of a polymer-based paclitaxeleluting<br />

stent with a bare metal stent in patients with complex<br />

coronary artery disease: a randomized controlled trial.<br />

JAMA 2005;294:1215-23.<br />

19. Kaiser C, Brunner-La Rocca HP, Buser PT, Bonetti PO,<br />

Osswald S, Linka A et al. Incremental cost-effectiveness of<br />

drug-eluting stents compared with a third-generation baremetal<br />

stent in a real-world setting: randomised Basel Stent<br />

Kosten Effektivitats Trial (BASKET). Lancet 2005;366:921-9.<br />

20. Leon M. Synthesizing the evidence-based medicine DES<br />

clinical data: what every practicing interventionalist should<br />

know. In: TCT 2005; October 16-21, Washington, DC.<br />

Disponível em: www.tctmd.com<br />

21. Aoki J, Ong AT, Rodriguez-Granillo GA, McFadden EP,<br />

Mieghem CA, Valgimigli M et al. “Full metal jacket” (stented<br />

length ≥ 64 mm) using drug-eluting stents for de novo<br />

coronary artery lesions. Am Heart J 2005;150:994-9.<br />

22. Degertekin M, Serruys PW, Tanabe K, Lee CH, Sousa JE,<br />

Colombo A et al. Long-term follow-up of incomplete stent<br />

apposition in patients who received sirolimus-eluting stent<br />

for de novo coronary lesions: a intravascular ultrasound<br />

analysis. Circulation 2003;108:2747-50.<br />

23. Virmani R, Liistro F, Stankovic G, Di Mario C, Montorfano<br />

M, Farb A et al. Mechanism of late in-stent restenosis after<br />

implantation of a paclitaxel derivate-eluting polymer stent<br />

system in humans. Circulation 2002;106:2649-51.<br />

24. Serruys P, Ong A, Morice MC Bernard DB, Colombo A,<br />

Macaya C et al. Arterial revascularisation therapies study<br />

part II – sirolimus-eluting stents for the treatment of patients<br />

with multivessel de novo coronary artery lesions. Eurointerv<br />

2005;1:147-56.<br />

25. Holmes D, Popma J, Kuntz R, Fitzgerald P, Teirstein P,<br />

Satlet L et al. The SIRS trial: a multicenter, randomized,<br />

study of the sirolimus-eluting Bx velocity stent vs intravascular<br />

brachytherapy in the treatment of patients with instent<br />

restenotic coronary artery lesions. In: TCT 2005; October<br />

16-21, Washington, DC. Disponível em: www.tctmd.com<br />

26. Kastrati A, Mehilli J, von Beckerath N, Dibra A, Hausleiter<br />

J, Pache J et al. Sirolimus-eluting stent or paclitaxel-eluting<br />

stent vs balloon angioplasty for prevention of recurrences<br />

in patients with coronary in-stent restenosis: a randomized<br />

controlled trial. JAMA 2005;293:165-71.<br />

27. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O’Shaughnessy<br />

C, Mann JT et al. A polymer-based paclitaxel-eluting stent<br />

in patients with coronary artery disease. N Engl J Med<br />

2004;350:221-31.<br />

28. Lefevre T, Morice MC, Sengottuvel G, Kokis A, Mehran M,<br />

Dumas P et al. Influence of technical strategies on the<br />

outcome of coronary bifurcation stenting. Eurointerv 2005;<br />

1:31-7.<br />

29. Yamashita T, Nishida T, Adamian MG, Briguori C, Vaghetti<br />

M, Corvaja N et al. Bifurcation lesions: two stents versus<br />

one stent-immediate and follow-up results. J Am Coll Cardiol<br />

2000;35:1145-51.<br />

30. Hoye A, Mieghem C, Ong A, Aoki J, Granillo GAR, Valgimigli<br />

M et al. Treatment of de novo bifurcation lesions: comparison<br />

of sirolimus and paclitaxel eluting stents. Eurointerv<br />

2005;1:24-30.<br />

31. Ge L, Airoldi F, Iakovou I, Cosgrave J, Michev I, Sangiorgi<br />

G et al. Clinical and angiographic outcome after implantation<br />

of drug-eluting stents in bifurcation lesions with the<br />

crush stent technique: importance of final kissing balloon<br />

post-dilation. J Am Coll Cardiol 2005;46:6<strong>13</strong>-20.<br />

32. Park SJ, Kim YH, Lee BK, Lee SW, Lee CW, Hong MK et<br />

al. Sirolimus-eluting stent implantation for unprotected left<br />

main coronary artery stenosis: comparison with bare metal<br />

stent implantation. J Am Coll Cardiol 2005; 45:351-6.<br />

33. Lezo JS, Medina A, Pan M, Delgado A, Segura J, Pavlovic D<br />

et al. Rapamycin-eluting stents for the treatment of unprotected<br />

left main coronary disease. Am Heart J 2004;148:481-5.<br />

34. Buszman P. LEMANS. A prospective, randomized trial of<br />

stent implantation vs bypass graft surgery in patients with<br />

left main coronary artery disease. In: TCT 2005; October<br />

16-21, Washington, DC. Disponível em: www.tctmd.com<br />

35. Cutlip DE, Chauhan MS, Baim DS, Ho KK, Popma JJ,<br />

Carrozza JP et al. Clinical restenosis after coronary stenting:<br />

perspectives from multicenter clinical trials. J Am Coll Cardiol<br />

2002;40:2082-9.<br />

36. Orlic D, Bonizzoni E, Stankovic G, Airoldi F, Chieffo A,<br />

Corvaja N et al. Treatment of multivessel coronary artery<br />

disease with sirolimus-eluting stent implantation: immediate<br />

and mid-term results. J Am Coll Cardiol 2004;43:1154-60.<br />

37. Savage MP, Douglas Jr. JS, Fischman DL, Pepine CJ, King<br />

SB, Werner JA et al. Stent placement compared with balloon<br />

angioplasty for obstructed coronary bypass grafts.<br />

Saphenous Vein De Novo Trial Investigators. N Engl J Med<br />

1997;337:740-7.<br />

38. Frimerman A, Rechavia E, Eigler N, Payton MR, Makkar R,<br />

Litvack F. Long-term follow-up of a high risk cohort after<br />

stent implantation in saphenous vein grafts. J Am Coll<br />

Cardiol 1997;30:1277-83.<br />

39. Ge L, Iakovou I, Sangiorgi GM, Chieffo A, Melzi G, Cosgrave<br />

J et al. Treatment of saphenous vein graft lesions with drugeluting<br />

stents: immediate and midterm outcome. J Am Coll<br />

Cardiol 2005;45:989-94.<br />

40. Balakrishnan B, Tzafriri AR, Seifert P, Groothuis A, Rogers<br />

C, Edelman ER. Strut position, blood flow, and drug deposition.<br />

Implications for single and overlapping drug-eluting<br />

stents. Circulation 2005;111:2958-65.<br />

41. Suero JA, Marso SP, Jones PG, Laster SB, Huber KC, Giorgi<br />

LV et al. Procedural outcomes and long-term survival among<br />

patients undergoing percutaneous coronary intervention of<br />

a chronic total occlusion in native coronary arteries: a 20-<br />

year experience. J Am Coll Cardiol 2001;38:409-14.<br />

42. Ge L, Iakovou I, Cosgrave J, Chieffo A, Montorfano M,<br />

Michev I et al. Immediate and mid-term outcomes of sirolimuseluting<br />

stent implantation for chronic total occlusions. Eur<br />

Heart J 2005;26:1056-62.<br />

43. Werner GS, Krack A, Scharwarz G, Prochnau D, Betge S,<br />

Figulla HR. Prevention of lesion recurrence in chronic total<br />

coronary occlusions by paclitaxel-eluting stents. J Am Coll<br />

Cardiol 2004;44:2301-6.<br />

48<br />

JoseAry.p65 48<br />

24/2/2006, 11:<strong>13</strong>


Boechat JA, et al. Aplicação dos Stents Farmacológicos Baseada em Evidências: "Não, a Indicação é Seletiva". Rev Bras Cardiol<br />

Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 43-49.<br />

44. Suttorp M. PRISON II. A prospective randomized trial of<br />

sirolimus-eluting and bare metal stents in patients with<br />

chronic total occlusions. In: TCT 2005; October 16-21,<br />

Washington, DC. Disponível em: www.tctmd.com<br />

45. Hwang CW, Levin AD, Jonas M, Li PH, Edelman ER.<br />

Thrombosis modulates arterial drug distribution for drugeluting<br />

stents. Circulation 2005;111:1619-26.<br />

46. Lemos PA, Saia F, Hofma SH, Daemen J, Ong AT, Arampatzis<br />

CA et al. Short and long-term clinical benefit of sirolimuseluting<br />

stents compared to conventional bare stents for<br />

patients with acute myocardial infarction. J Am Coll Cardiol<br />

2004;43:704-8.<br />

47. Valgimigli M, Percoco G, Malagutti P, Campo G, Ferrari F,<br />

Barbieri D et al. Tirofiban and sirolimus-eluting stent vs<br />

abciximab and bare-metal stent for acute myocardial infarction:<br />

a randomized trial. JAMA 2005;293:2109-17.<br />

48. Grines CL, Cox DA, Stone GW, Garcia E, Mattos LA,<br />

Giambartolomei A et al. Coronary angioplasty with or without<br />

stent implantation for acute myocardial infarction. Stent<br />

Primary Angioplasty in Myocardial Infarction Study Group.<br />

N Engl J Med 1999;341:1949-56.<br />

49. Stone GW, Grines CL, Cox DA, Garcia E, Tcheng JE, Griffin<br />

JJ et al. Comparison of angioplasty with stenting, with or<br />

without abciximab, in acute myocardial infarction. N Engl<br />

J Med 2002;346:957-66.<br />

50. Babapulle M, Joseph L, Belisle P, Brophy JM, Eisenberg MJ.<br />

A hierarchical Bayesian meta-analysis of randomised clinical<br />

trials of drug-eluting stents. Lancet 2004;364:583-91.<br />

51. Cohen D, Backhai A, Shi C, Githiora L, Lavelle T, Berezin<br />

R et al. Cost-effectiveness of sirolimus-eluting stents for<br />

treatment of complex coronary stenoses: results from the<br />

Sirolimus-Eluting Balloon Expandable Stent in the Treatment<br />

of Patients With De Novo Native Coronary Artery<br />

Lesions (SIRIUS) trial. Circulation 2004;110:508-14.<br />

52. Bagust A, Grayson AD, Palmer ND, Perry RA, Walley T.<br />

Cost-effectiveness of drug eluting coronary artery stenting in<br />

a UK setting: cost-utility study. Heart 2006;92:68-74.<br />

49<br />

JoseAry.p65 49<br />

24/2/2006, 11:<strong>13</strong>


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

Sacre SO, et al. Experiência Inicial com Implante de Endoprótese Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta, no Estado do<br />

Tocantins: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

Relato de Caso<br />

Experiência Inicial com Implante de Endoprótese<br />

Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta,<br />

no Estado do Tocantins: Relato de Caso<br />

Sandro Oliveira Sacre 1 , Karen de Nardi Chagas 2 , Juan Fernando Terrones Caceres 3 , Rodrigo Calligaris Cagi 3 ,<br />

Rodrigo Ferreira Lins 4 , Caio Augusto Ferreira do Amaral 4 , Foade Suleiman Magalhães 4 ,<br />

Hueverson Junqueira Neves 4 , Henrique Barssanulfo Furtado 3 , Moacir Fernandes de Godoy 5<br />

RESUMO<br />

O artigo relata o caso do primeiro implante de endoprótese<br />

vascular em aorta para tratamento de aneurisma torácico<br />

pós-traumático, no estado do Tocantins. O tratamento endovascular<br />

foi realizado em paciente jovem, com sucesso primário<br />

e sem complicações, podendo representar uma alternativa<br />

segura de tratamento para os pacientes da região norte do<br />

país.<br />

DESCRITORES: Aneurisma aórtico, terapia. Aneurisma dissecante.<br />

Contenedores. Prótese vascular.<br />

SUMMARY<br />

First Experience with Stent-Graft Endoprosthesis Implantation<br />

in the Aorta Tocantins State: a Case Report<br />

The article describes the first vascular endoprosthesis implantation<br />

in the aorta to treat post-trauma thoracic aneurysm at<br />

Tocantins state. The endovascular treatment was carried<br />

out in a young patient, and reported primary success, and<br />

no complications. The experience may prove to be a safe<br />

alternative for patients in Northern Brazil.<br />

DESCRIPTORS: Aortic aneurysm, therapy. Aneurysm dissecting.<br />

Stents. Blood vessel prosthesis.<br />

Os alargamentos da aorta podem ser aneurismas,<br />

pseudo-aneurismas ou dissecções e, em alguns<br />

casos, de origem traumática. Estes podem ser<br />

corrigidos com a colocação de próteses endovasculares,<br />

“Stents”, por via percutânea, especialmente em pacientes<br />

em que o tratamento cirúrgico é de alto risco. No<br />

segmento torácico, são indicados para tratamento das<br />

lesões da aorta descendente, desde que a lesão se<br />

inicie após a emergência da artéria subclávia esquerda 1 .<br />

A técnica para tratamento endovascular das doenças<br />

da aorta torácica com stents, na sala de hemodinâmica,<br />

1<br />

Médico Hemodinamicista do Hospital Dom Orione - Araguaína - TO.<br />

2<br />

Acadêmica do 6º ano da Faculdade de Medicina do Instituto Tocantinense<br />

Presidente Antônio Carlos - Araguaína - TO.<br />

3<br />

Médico Cirurgião Cardiovascular do Hospital Dom Orione - Araguaína<br />

- TO.<br />

4<br />

Médico Cardiologista do Hospital Dom Orione - Araguaína - TO.<br />

5<br />

Professor, Doutor em Medicina e Médico Hemodinamicista do Hospital<br />

de Base e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP<br />

(FUNFARME/FAMERP).<br />

Correspondência: Sandro Oliveira Sacre. Hospital e Maternidade<br />

Dom Orione. Rua Dom Orione, 100 - Centro - Araguaína - Tocantins<br />

CEP 77803-010 • Tel.: (63) 3411-8787 • e-mail: sandrosacre@cardiol.br<br />

Recebido em: 28/07/2005 • Aceito em: 07/10/2005<br />

é relativamente recente e vem sofrendo contínua evolução<br />

e aperfeiçoamento.<br />

O aneurisma de aorta torácica das mais diversas<br />

etiologias tem uma evolução que, muitas vezes, pode<br />

ser catastrófica e a intervenção em tempo hábil é fundamental.<br />

Além disso, a escolha do tratamento também<br />

é importante.<br />

Desde 1992, com Michael D. Dake, o tratamento<br />

percutâneo com implante de endoprótese vascular passou<br />

de perspectiva para um tratamento de eleição em<br />

muitos casos, com alto índice de sucesso e baixo risco<br />

de complicações 2 .<br />

No caso do aneurisma de aorta secundário ao<br />

trauma, esta opção é sempre bem aceita, principalmente<br />

por se tratar de pacientes jovens em que as contraindicações<br />

são mínimas, o aneurisma é bem definido,<br />

localizado e de anatomia favorável. E, em muitos casos,<br />

sem doença arterial crônica ou outros fatores de risco<br />

que possam complicar o pós-operatório.<br />

Muitas vezes, o paciente não é favorecido por um<br />

método como este por estar distante de um grande<br />

centro médico, onde uma infra-estrutura ampla e adequada<br />

garante o sucesso do procedimento. Neste caso,<br />

50<br />

SandroSacre.p65 50<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:20


Sacre SO, et al. Experiência Inicial com Implante de Endoprótese Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta, no Estado do<br />

Tocantins: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

tivemos a oportunidade de oferecer um método seguro<br />

de tratamento para uma doença grave, estando longe<br />

dos grandes centros.<br />

RELATO DO CASO<br />

V.A.C., 33 anos, casado, pardo, comerciante, apresentando<br />

como queixa principal “dificuldade para engolir<br />

e tosse”.<br />

Paciente relata que, há quatro meses, foi vítima de<br />

acidente automobilístico no qual teve fratura exposta<br />

em perna esquerda, fratura em braço esquerdo, fratura<br />

de arcos costais em hemitórax esquerdo, ferimento<br />

corto-contuso em região temporal esquerda e levou<br />

um golpe intenso do volante no tórax, o qual ficou<br />

bastante edemaciado.<br />

No mesmo dia do acidente, foi realizada cirurgia<br />

para colocação de fixador externo em perna esquerda,<br />

sem nenhuma intercorrência e, 3 dias depois, foi realizada<br />

operação para a colocação de platina no rádio<br />

e na ulna.<br />

Refere que, cerca de 3 dias após o acidente, começou<br />

com um quadro de disfagia para alimentos sólidos,<br />

a qual melhorava quando associava a ingesta de<br />

água. Cerca de 20 dias depois do acidente, começou<br />

a apresentar tosse constante e intensa do tipo seca,<br />

sem fatores desencadeantes, agravantes ou atenuantes,<br />

sem hemoptóicos e que desencadeava episódios de<br />

vômito. Chegou a procurar o pneumologista, mas este<br />

não detectou nenhuma alteração nos exames físico e<br />

radiológico (sic). Como não houve melhora deste quadro,<br />

procurou o cardiologista, quando fez novos exames.<br />

HPP: Refere que sua pressão sempre foi em torno de<br />

100/70 mmHg, mas que no ano anterior apresentou<br />

picos hipertensivos (com PA máxima de <strong>13</strong>0/90 mmHg),<br />

durante aproximadamente 1 semana, o que lhe foi atribuído<br />

ao sedentarismo, sendo sugerida a realização de caminhada<br />

diária. Ele seguiu a recomendação e melhorou (sic).<br />

Nega diabetes, síncope, enxaqueca, edema de<br />

membros inferiores e problemas intestinais.<br />

HPF: Nega presença de problemas cardiovasculares<br />

e de diabetes na família.<br />

HS: Nega tabagismo, ex-etilista social desde o acidente.<br />

Exame físico: PA: 120/80 mmHg; FC: 92 bpm;<br />

Pulso: 88 ppm; FR: 19 irpm.<br />

Paciente lúcido, auto, alo e cronologicamente orientado,<br />

acianótico, anictérico, afebril, com mucosas normocoradas<br />

e hidratadas, fâneros com implantação, distribuição<br />

e características dentro dos padrões da normalidade,<br />

ausência de edemas, pulsos presentes e simétricos.<br />

Tórax: ausência de depressões e/ou abaulamentos,<br />

com expansibilidade e elasticidade preservadas.<br />

AR: à percussão, som claro pulmonar, à palpação,<br />

FTV dentro dos padrões da normalidade, à ausculta,<br />

murmúrio vesicular presente universalmente em ambos<br />

os pulmões, sem ruídos adventícios.<br />

Precórdio: ausência de depressão e/ou abaulamentos,<br />

à ausculta, RCR em 2T com BNF e ausência de<br />

sopros e/ou estalidos.<br />

Abdome: plano, flácido, com ausência de massas<br />

e/ou nódulos e pontos dolorosos, tanto à palpação<br />

superficial, quanto profunda, com ruídos hidroaéreos<br />

presentes. Sem visceromegalias.<br />

Exames Complementares<br />

Eletrocardiograma: ritmo sinusal e dentro dos limites<br />

da normalidade.<br />

Radiografia de tórax: detalhes podem ser observados<br />

na Figura 1.<br />

Tomografia: pode ser observada na Figura 2.<br />

Aortografia: Presença de aneurisma (pseudo-aneurisma)<br />

tipo I, justadistal à artéria subclávia esquerda,<br />

Figura 1 - Radiografia de tórax prévia ao procedimento.<br />

Figura 2 - Tomografia de tórax prévia ao procedimento.<br />

51<br />

SandroSacre.p65 51<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:20


Sacre SO, et al. Experiência Inicial com Implante de Endoprótese Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta, no Estado do<br />

Tocantins: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

com orifício de entrada limitado e localizado após o<br />

arco aórtico (Figura 3).<br />

Procedimento<br />

Procedimento realizado no laboratório de Hemodinâmica<br />

do Hospital Dom Orione de Araguaína - TO,<br />

onde contamos com equipe multidisciplinar composta<br />

por cirurgião cardiovascular, hemodinamicista, ecocardiografista<br />

e anestesiologista.<br />

Paciente sob anestesia geral e com hipotensão<br />

controlada, submetido a implante de stent recoberto<br />

com Dacron auto-expansível de 30x90 mm “Free Flow”,<br />

onde a primeira gaiola não é recoberta com Dacron<br />

numa extensão de 20 mm (Braile Biomédica), através<br />

de acesso arterial femural por dissecção e anastomose<br />

de tubo de Dacron término-lateral na artéria para introdução<br />

do conjunto, com auxílio de fio guia metálico<br />

Amplatz SuperStiff 0,035"x260 cm (Boston Scientific).<br />

Posicionado um cateter “pig-tail” 6F, passado por via<br />

braquial esquerda, no arco aórtico, para orientar a<br />

liberação da prótese e realizar aortografia de controle<br />

em aorta ascendente. Uma vez posicionada a primeira<br />

gaiola, junto à emergência da artéria subclávia esquerda,<br />

foi liberado o stent (Figura 4) com perfeita expansão<br />

das gaiolas, sem necessidade de dilatação adicional<br />

com balão. Conferimos o posicionamento da prótese<br />

e oclusão total do defeito através de aortografia de<br />

controle (Figura 5).<br />

O paciente evoluiu bem no pós-operatório imediato,<br />

permanecendo 24 horas internado em UTI. Após a<br />

alta para enfermaria, foi realizado controle com ecocardiograma<br />

transesofágico, que mostrou boa expansão<br />

das hastes do stent, com completa oclusão do aneurisma.<br />

Foi realizado novo controle ecocardiográfico (Figura<br />

6) em seguimento de 2 meses, que revelou manutenção<br />

do resultado. Atualmente, o paciente permanece assintomático,<br />

em acompanhamento ambulatorial.<br />

é um método acessível ou possível para todos os<br />

pacientes. Ainda existem algumas limitações ao procedimento<br />

e, na experiência do nosso estado, a dificuldade<br />

do paciente é ter acesso ao centro de referência,<br />

Figura 4 - Aortografia, onde observa-se a liberação do stent.<br />

DISCUSSÃO<br />

A técnica para implante de stents na aorta torácica<br />

vem sofrendo rápida evolução. Entretanto, ainda não<br />

Figura 3 - Aortografia, onde observa-se presença de aneurisma aórtico.<br />

Figura 5 - Controle angiográfico e completa oclusão do aneurisma.<br />

52<br />

SandroSacre.p65 52<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:20


Sacre SO, et al. Experiência Inicial com Implante de Endoprótese Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta, no Estado do<br />

Tocantins: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

Figura 6 - Ecocardiograma transesofágico de controle.<br />

muitas vezes, por limitação geográfica, distância e falta<br />

de profissionais para realizar o atendimento inicial e<br />

diagnóstico.<br />

Em nosso serviço, foram realizados 1700 procedimentos<br />

diagnósticos, no período de junho/2002 a julho/<br />

2004; destes, 31 (1,8%) pacientes tinham diagnóstico<br />

de doença arterial aórtica. Vinte e dois (70%) pacientes<br />

eram do sexo masculino, com média de idade 59,5<br />

anos. Oitenta por cento eram hipertensos, sendo que<br />

21 doentes apresentavam dissecção de aorta (9 dissecções<br />

tipo A e 12 do tipo B).<br />

Em 57% dos casos, os pacientes foram encaminhados<br />

para cirurgia de correção com cardioplegia, hipotermia<br />

profunda, circulação extracorpórea e parada<br />

circulatória total. Outros 6 doentes tinham diagnóstico<br />

de aneurisma de aorta, sem menção de dissecção e 5<br />

pacientes, de coarctação. Dois casos de coarctação<br />

foram submetidos a aortoplastia com sucesso.<br />

Em sua série, Grabenwoger et al. 3 relatam experiência<br />

com 66 pacientes submetidos a implante de prótese<br />

endovascular e somente dois (3%) apresentavam aneurisma<br />

de etiologia relacionada ao trauma. Já Riyad et al. 6 relatam<br />

47 casos de ruptura traumática da aorta, num período<br />

de quatro anos, dos quais somente 11 foram tratados<br />

com endopróteses 4 . Em nosso seguimento, somente um<br />

(3,2%) dos casos de doença aórtica foi de aneurisma<br />

traumático, o qual foi selecionado para tratamento com<br />

implante de endoprótese, por apresentar menor complexidade,<br />

ideal para uma curva de aprendizado.<br />

No que concerne especificamente ao tratamento<br />

da dissecção e ou ruptura aórtica, o implante de endoprótese<br />

é particularmente interessante nos pacientes<br />

com orifício único e localizado 5 . Foram estes aspectos<br />

de orifício localizado, natureza da lesão e idade do<br />

paciente, peculiares a este caso, que fizeram do método<br />

minimamente invasivo um procedimento de eleição<br />

com baixa morbidade e mortalidade, possivelmente,<br />

reduzindo a chance de ruptura.<br />

Embora este método tenha todas estas vantagens,<br />

não devemos fechar os olhos para as prováveis complicações<br />

que têm sido relatadas, nos diferentes estudos<br />

com relação à técnica; a maior parte delas decorrente<br />

da própria doença, já que o risco de ruptura iminente<br />

vai depender das condições do paciente, diagnóstico,<br />

tratamento e lesões associadas (fraturas, traumatismos<br />

cranioencefálicos fechados, pulmonares, etc).<br />

Inicialmente, o procedimento pode-se complicar<br />

já no intra-operatório se houver uma nova dissecção<br />

por manipulação dentro do lúmen aórtico, geralmente<br />

associado a casos de aneurismas de outra natureza<br />

que não traumática. Deve ser considerado, também, o<br />

deslocamento da endoprótese depois de ter sido liberada,<br />

evento que acontece geralmente no pós-operatório.<br />

O local de implante da endoprótese pode influir<br />

no resultado final. Muitas vezes, há necessidade de<br />

ultrapassar o limite da emergência da artéria subclávia<br />

esquerda para dar um melhor suporte à prótese, sacrificando<br />

em alguns casos o fluxo pela artéria, mas que<br />

53<br />

SandroSacre.p65 53<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:20


Sacre SO, et al. Experiência Inicial com Implante de Endoprótese Vascular Recoberta - “Stent Graft” - em Aorta, no Estado do<br />

Tocantins: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 50-54.<br />

em poucos casos tem afetado a circulação do membro 4 .<br />

Neste mesmo caso, pode haver invasão da curvatura<br />

do arco aórtico, provocando um mau posicionamento<br />

da prótese, deixando pequenos endovazamentos que<br />

podem ou não ser tratados como nova intervenção<br />

intravascular ou com cirurgia convencional 4 , dependendo<br />

da gravidade dos mesmos ou da sua pronta detecção.<br />

Existem relatos de alterações da temperatura corporal<br />

no pós-operatório, possivelmente devidos à reação<br />

inflamatória da prótese apoiada na parede endotelial<br />

da aorta. Porém, não se pode considerar uma complicação<br />

grave e sim um alerta.<br />

O método apresenta-se como alternativa segura à<br />

cirurgia, com importante redução da morbidade e mortalidade.<br />

A técnica utilizada, em pacientes selecionados,<br />

veio permitir internações mais curtas, menor utilização<br />

de derivados do sangue e semelhantes e melhores<br />

taxas de sucesso em comparação com a operação<br />

tradicional, inclusive em relação às síndromes paraplégicas<br />

6 , que podem ser consideradas praticamente<br />

nulas com este metodo 4 , permitindo importante redução<br />

de custos hospitalares. Entretanto, em pacientes<br />

relativamente jovens com aneurisma traumático, tornam-se<br />

necessários estudos de longo prazo para melhor<br />

avaliação dos resultados 7 .<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Kambara AM, Martin SM, Izukawa NM. Terapia intervencionista<br />

da doença arterial periférica. Rev Soc Cardiol Estado de São<br />

Paulo 2002;12:347-59.<br />

2. Braile D, Camin A, Fonseca JHP, Buffolo E. Endovascular<br />

prosthesis: history, types, applications and development in<br />

Brazil. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2001;11:1128-37.<br />

3. Grabenwoger M, Fleck T, Czerny M, Hutschala D, Ehrlich<br />

M, Schoder M et al. Endovascular stent graft placement in<br />

patients with acute thoracic aortic syndromes. Eur J Cardiothoracic<br />

Surg 2003;23:788-93.<br />

4. Karmy-Jones R, Hoffer E, Meissner MH, Nicholls S, Mattos<br />

M. Endovascular stent grafts and aortic rupture: a case<br />

series. J Trauma Injury 2003;55:805-10.<br />

5. Alves CMR. Endopróteses para tratamento da dissecção<br />

aórtica: técnica do implante na sala de hemodinâmica. Rev<br />

Soc Cardiol Estado de São Paulo 2001;11:1144-52.<br />

6. Cardarelli MG, McLaughlin JS, Downing SW, Brown JM,<br />

Attar S, Griffith BP. Management of traumatic aortic rupture:<br />

a 30-year experience. Ann Surg 2002;236:465-70.<br />

7. Lamme B, Jonge IC, Reekers JA, Mol BA, Balm R. Endovascular<br />

treatment of thoracic aortic pathology: feasibility and midterm<br />

results. Eur J Vasc Endovasc Surg 2003;25:532-9.<br />

54<br />

SandroSacre.p65 54<br />

2/3/2006, <strong>13</strong>:20


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(1): 55-56.<br />

Pinto IMF, et al. Tomografia Computadorizada de Múltiplos Detectores e Reestenose Intra-Stent. Rev Bras Interv Cardiov 2005; <strong>13</strong>(1):<br />

55-56.<br />

Imagem & Intervenção Cardiovascular<br />

Tomografia Computadorizada de Múltiplos<br />

Detectores e Reestenose Intra-Stent<br />

Ibraim M. F. Pinto 1 , Walther Ishikawa 1 , Luiz Alberto Mattos 2 , J. Eduardo M. R. Sousa 2 , Amanda Sousa 2<br />

Atomografia computadorizada de múltiplos detectores<br />

é uma forma útil de avaliação não-invasiva<br />

da doença arterial coronária. O exame ainda<br />

não substitui a realização da cinecoronariografia, mas<br />

tem mostrado contribuições importantes no rastreamento<br />

de pacientes em risco de apresentar insuficiência coronária<br />

e no esclarecimento das causas de dor torácica.<br />

Além disto, esta forma de investigação tem mostrado<br />

valor em pacientes que apresentam resultados conflitantes<br />

de outras formas incruentas de investigação da<br />

doença coronária e, em especial, no acompanhamento<br />

de pacientes já submetidos à revascularização cirúrgica<br />

do miocárdio.<br />

Uma aplicação controversa deste exame, porém,<br />

é a análise dos resultados tardios das endopróteses<br />

coronárias. Desde os ensaios iniciais, diversos autores<br />

têm procurado utilizar com êxito este exame para esta<br />

finalidade. Foram realizadas tentativas de determinar a<br />

condição da luz da endoprótese e também do fluxo<br />

ao longo do stent e na porção distal a ele.<br />

Trabalho realizado em nosso meio demonstrou<br />

que a tomografia computadorizada de múltiplos detectores<br />

pode revelar o diâmetro da luz do vaso e, também,<br />

a condição normal do fluxo do vaso. Por outro lado,<br />

diante de proliferação mio-intimal que reduza em pelo<br />

menos 40% a luz disponível para a passagem de<br />

sangue, podem existir imprecisões na quantificação<br />

do diâmetro arterial, que podem, por sua vez, implicar<br />

em erros diagnósticos. Mais recentemente, porém, ficou<br />

claro que, quando a luz arterial é de, pelo menos,<br />

3,2 mm, são obtidos bons resultados. Em endopróteses<br />

de diâmetro menor do que 3,0 mm, o desempenho da<br />

tomografia de múltiplos detectores é limitado e não se<br />

pode recomendar o uso rotineiro da tomografia para<br />

avaliar os resultados desta intervenção. É possível que<br />

estes resultados possam ser beneficiados pela introdução<br />

da nova tecnologia de 64 ou mais detectores, mas<br />

ainda não existem evidências de que estes avanços<br />

1<br />

Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP.<br />

2<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Ibraim M. F. Pinto. Hospital do Coração. Rua<br />

Desembargador Eliseu Guilherme, 147 - Paraíso - São Paulo - SP<br />

CEP 04004-030 • E-mail: ibraimp@uol.com.br<br />

modifiquem substancialmente o desempenho da angiotomografia<br />

para avaliar os resultados das endopróteses.<br />

Para ilustrar esta situação, apresentamos o caso de<br />

um paciente do sexo masculino de 67 anos, submetido<br />

à cirurgia de revascularização do miocárdio em 1996,<br />

quando foram realizados o implante de ponte de veia<br />

safena para a artéria descendente anterior, ponte de<br />

veia safena para a artéria coronária direita e ponte de<br />

veia safena retro-aórtica para a artéria circunflexa (para<br />

o primeiro ramo marginal com derivação em “Y” para<br />

segundo ramo marginal). O paciente permaneceu assintomático<br />

por 9 anos, mas voltou a apresentar dor precordial<br />

aos esforços, em julho de 2005. Foi submetido à<br />

cinecoronariografia que mostrou obstrução discreta na<br />

porção proximal da ponte de safena para a artéria<br />

coronária direita e obstrução grave na porção proximal<br />

da ponte de safena para a artéria circunflexa, tratada<br />

com o implante de um stent de 4,0 mm de diâmetro por<br />

15 mm de extensão, não farmacológico. <strong>Vol</strong>tou a apresentar<br />

sintomas em outubro de 2005, caracterizado por<br />

dor torácica em repouso, não relacionada aos esforços<br />

e não característica de angina.<br />

Uma vez que os sintomas não reproduziam as<br />

características descritas nas situações anteriores, optouse<br />

por submeter o paciente à angiotomografia por múltiplos<br />

detectores. Esta foi feita em equipamento de 16<br />

fileiras de detectores, que possibilita a aquisição de 40<br />

imagens por segundo (Biograph Sensation 16, Siemens<br />

Eletromedical), com protocolo de colimação de 16 x<br />

0,75 m, tempo de rotação de tubo = 330 ms, tubo de<br />

420 ms e voltagem de 120 kV. Foi utilizada injeção de<br />

80 ml de contraste iodado (iobitridol 65,81g). Para esta<br />

finalidade, puncionou-se veia da face anterior do antebraço,<br />

e a injeção foi feita a 4 ml/s. As imagens foram<br />

reconstruídas com 0,75 mm e a resolução temporal<br />

efetiva foi 125 ms. Ao término das aquisições, que<br />

foram acopladas ao eletrocardiograma, as imagens foram<br />

transferidas para uma estação de trabalho computadorizada,<br />

dedicada à análise destes casos. Nesta, procedeu-se<br />

à reconstrução tridimensional (Figura 1), que<br />

mostrou que a ponte de safena para a artéria coronária<br />

direita encontrava-se pérvia, mas com obstrução moderada<br />

proximal (Figura 1A). Também revelou que a ponte<br />

de safena para a artéria descendente anterior encontrava-se<br />

isenta de processos obstrutivos (Figura 1A) e que<br />

55<br />

Imagem.p65 55<br />

24/2/2006, 11:18


Pinto IMF, et al. Tomografia Computadorizada de Múltiplos Detectores e Reestenose Intra-Stent. Rev Bras Interv Cardiov 2005; <strong>13</strong>(1):<br />

55-56.<br />

a ponte de safena para a artéria circunflexa encontravase<br />

também pérvia (Figura 1B). Contudo, a realização de<br />

reconstruções longitudinais (Figura 1C) revelou a presença<br />

de grave obstrução intra-stent.<br />

Além disto, as reconstruções que mostraram a<br />

secção transversal daquela ponte (Figura 2) permitiram<br />

visibilizar, de modo seguro, que a intensidade da atenuação<br />

no interior do vaso era distinta no segmento<br />

proximal à endoprótese (Figura 2A), na porção do<br />

stent na qual havia a proliferação mio-intimal (Figura<br />

2B) e na porção distal da endoprótese, onde não havia<br />

proliferação tecidual.<br />

É importante ressaltar o fato de que tais resultados<br />

são obtidos apenas quando o diâmetro interno do<br />

stent é superior a 3,5 mm, mas deve-se ter em mente<br />

que futuros avanços tecnológicos podem transformar<br />

este exame numa forma eficaz de análise dos resultados<br />

tardios das endopróteses.<br />

A B C<br />

Figura 1 - Tomografia computadorizada de múltiplos detectores, exibindo ponte de safena para artéria coronária direita (A), para artéria<br />

descendente anterior (A) e ponte para primeiro ramo marginal com derivação em “Y” para o segundo ramo marginal (B). A reformatação<br />

longitudinal do enxerto para a artéria circunflexa mostra área com hipoatenuação (sinal escuro – seta), que revela a presença de processo<br />

proliferativo intraprotético, que reduz de forma acentuada a luz do vaso, caracterizando reestenose.<br />

A B C<br />

Figura 2 - Reconstruções da secção transversal da ponte de safena para a artéria circunflexa, que revela imagem normal da veia (A) e a<br />

presença de material de hipoatenuação junto à reduzida área de intensidade normal (setas, B), que caracterizam a reestenose. A porção mais<br />

distal da endoprótese (C) mostrava luz preservada e tem, portanto, intensidade de atenuação normal.<br />

56<br />

Imagem.p65 56<br />

24/2/2006, 11:18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!