FILOSOFIA – 2ª SÉRIE - Curso e Colégio Acesso
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Capítulo 11 <strong>–</strong> Podemos falar de progresso na ciência?<br />
Introdução<br />
É comum, atualmente, ouvirmos falar em avanço, ou progresso da ciência. Esse fato está relacionado com algumas<br />
descobertas e inovações tecnológicas que sugerem ao inconsciente do senso comum que a ciência está evoluindo. Por<br />
outro lado, a despeito de situações como a poluição, efeito estufa, bomba de hidrogênio e o acesso aos remédios e às<br />
inovações tecnológicas, também é comum notarmos a desilusão das pessoas com a ciência.<br />
São múltiplos os aspectos a ser relacionados para se entender a dimensão do processo de produção e<br />
desenvolvimento do conhecimento científico. Entre outros, podemos citar o financiamento da pesquisa científica; parte<br />
definida pelas políticas públicas, parte pela iniciativa privada, olvidando o lucro e a produção de produtos para consumo;<br />
a formação da comunidade científica; a coleta empírica de dados e suas possíveis interpretações, juntamente com a<br />
elaboração de teorias.<br />
Contudo, muitos dos epstemólogos e filósofos da ciência concordam quanto ao processo de produção do<br />
conhecimento científico não ser linear, ou seja, não há uma continuidade na linha ascensional, cumulativa, obtida<br />
por meio de um método científico. Nesse viés, antiempirista, os filósofos da ciência Thomas Kuhn, Karl Popper, Imre<br />
Lakatos, Pul Feyrabend e Gaston Bachelard negam que a primordialidade do objeto do conhecimento tal qual ele é<br />
entendido pelo empirismo e também a supremacia do sujeito cognoscente sobre o objeto como quer o idealismo.<br />
Eles concordam que o processo de produção do conhecimento científico é forjado pela interação não neutra<br />
entre sujeito e objeto. Esses autores inauguram uma concepção de conhecimento em que ele é entendido como<br />
uma pseudoverdade histórica, circunstanciada e não como uma verdade em correspondência com os fatos. O que<br />
desmistifica o conceito de ciência pronta, acabada, ou imutável.<br />
Dessa forma, a filosofia da ciência vem desmentindo a ideia de progresso ou evolução científica com base nos<br />
estudos sobre as transformações científicas, na sobreposição de paradigmas, nas rupturas epistemológicas e na<br />
descontinuidade dos processos de produção do conhecimento e da tecnologia. Portanto, quando um novo fato aparece<br />
no cenário científico, provocando inovações e transformações teóricas e práticas, o intuito principal não é a lapidação e<br />
o melhoramento de uma teoria, mas sim sua substituição por outra mais adaptada aos interesses vigentes.<br />
Além disso, quando falamos em progresso científico, esse conceito está impregnado com o espírito positivista que<br />
acreditava no avanço da ciência para a melhoria da vida humana e das condições de existência no planeta. A influência<br />
desse pensamento pode ser notada na bandeira brasileira (ordem e progresso).<br />
Contudo, é possível se falar em progresso científico? Estamos melhores que os antigos, com sua ciência<br />
clássica? Levando em consideração a poluição produzida pelas grandes indústrias, as patentes sobre a produção de<br />
medicamentos além de outros fatores, a ciência tem cumprido seu papel na melhoria da vida humana?<br />
1. O Progresso da Ciência<br />
Pensar no progresso da ciência, nos conduz, necessariamente, a pensar em evolução. Dessa forma, para explicar<br />
as ideias científicas, pode-se, por analogia, examinar os princípios que prescindiram a evolução dos seres organizados,<br />
a saber, multiplicação, manutenção e variação.<br />
Mas para pensarmos na evolução da ciência, faz-se de extrema importância atentar especificamente para<br />
o dispositivo de seleção, ou seja, no caso das ideias, consiste em escolhas, em assentimentos ou rejeições que<br />
comprometem o futuro e permanência delas no conhecimento humano.<br />
Se uma pessoa possui uma ideia genial, mas não consegue transmiti-la, não existirá progresso, pois ela morrerá<br />
com seu criador. É justamente nessa possibilidade de passagem que se encontra a grandiosidade das ideias científicas<br />
que perduram além da simples materialidade.<br />
A luz da evolução das ideias científicas, dos limites e dos valores explanados, apreende-se que o progresso da<br />
ciência está intimamente ligado a evolução espiritual do homem, sendo esta sustentáculo para aquele. Consoante, a<br />
humanidade evolui quando o homem volta-se para si mesmo e pensa em descobrir, criar, construir não apenas para<br />
a sua condição enquanto indivíduo, mas para a condição humana enquanto espécie, que respeita a singularidade de<br />
cada ser, no presente e futuro.<br />
2. As Consequências Sociais e Políticas de uma Nova Ciência<br />
Durante o período histórico chamado de Idade Média (século V ao XIII), a influência do catolicismo era dominante.<br />
A escolha de quem pensa! 7