livro completo - CiFEFiL
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Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos<br />
As estratégias de constituição do discurso dessa composição<br />
obedecem praticamente aos mesmos processos da poesia anterior :<br />
rimas pobres (lições/corações; primeiro/verdadeiro, etc.); aliterações<br />
(primário/primeiro) e os versos finais atuando como estribilho. Tudo<br />
nos leva às composições do passado, como se não tivesse havido<br />
modernismo, nem discussão sobre novas formas de fazer poesia.<br />
Contudo não se quer apenas explicitar as características da composição<br />
como obra literária. Estamos diante de enunciados que se conformam<br />
a um determinado gênero de discurso, no caso um discurso<br />
que se aproxima da forma romântica, em que podem ser detectados<br />
rastros de Casimiro de Abreu, no que diz respeito à infância, a um<br />
espaço-tempo irrecuperável. Evidente que nenhum autor escreve pela<br />
primeira vez sobre qualquer tema. Seu objeto de discurso já foi apresentado<br />
e discutido por outros. Então o discurso é o lugar onde vozes<br />
diferentes se encontram e se distanciam.<br />
O locutor não é um Adão, e por isso o objeto de seu discurso se torna,<br />
inevitavelmente, o ponto onde se encontram as opiniões de interlocutores<br />
imediatos (numa conversa ou numa discussão acerca de qualquer<br />
acontecimento da vida cotidiana) ou então as visões do mundo, as tendências,<br />
as teorias, etc. (na esfera da comunicação cultural). A visão do<br />
mundo, a tendência, o ponto de vista, a opinião têm sempre sua expressão<br />
verbal (Bakhtin, 19992, p. 319-320).<br />
Na dialogicidade, o poeta exibe, portanto, um texto cujo objeto<br />
é o reflexo subjetivo (o que o poeta pensa e sente) de um aspecto<br />
objetivo do real (aspectos de Três Corações). Três Corações é, para<br />
Victor Cunha, o ponto de partida de suas composições; a cidade é o<br />
signo desencadeador das formas concretas de seu discurso, cujas relações<br />
de sentido são de natureza factual (a Velha Guarda, a Balalaika,<br />
a escola estadual Brandão Bueno, etc.). Há uma vontade de registrar<br />
esses elementos, poupá-los da ação do tempo, para que os próximos<br />
tomem conhecimento do que existiu. No fundo dessas atitudes,<br />
está o medo do esquecimento, que é na verdade o medo da morte.<br />
A evolução de um sistema no tempo não é uma sucessão de transições<br />
entre elementos estáticos, mas sim ataques de níveis sucessivos de<br />
complexidade ou, ao contrário, de desorganização.<br />
Até agora, as ações empreendidas permaneciam causalistas: agia-se<br />
sobre um parâmetro e mediam-se os resultados. Na sistêmica moderna<br />
age-se sobre vários parâmetros ao mesmo tempo (Morin, 2002, p.496).<br />
RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2009 127