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Novas Linguagens, Novas Tecnologias ::<br />
uma grande, uma belíssima espada, e ele fez propaganda: É um cara <strong>aqui</strong><br />
de São <strong>Paulo</strong> que produz o próprio aço. As facas são geniais. Pego o Enzo<br />
Mari -- que tinha acabado de fazer um giro no Masp, encantado, feliz da<br />
vida de ver que a América Latina tinha um museu como esse -- e o levo<br />
<strong>para</strong> a Vila Mariana. O nome do fabricante das facas é Zacarov. Quando<br />
chegamos, morri de vergonha, não sabia o que fazer: as facas eram todas<br />
kitsch, o kitsch do kitsch. Os dourados, umas empunhaduras tentando<br />
reproduzir modelos históricos de maneira muito malfeita. O aço das facas<br />
tem uma excelente qualidade técnica, mas é só.<br />
Nós enfrentamos pouco a questão do gosto. É engraçado porque, no<br />
Brasil, temos experiências boas. A empresa Hevea de utensílios plásticos<br />
teve um grupo de designers que fez produtos muito bem desenhados, de<br />
um apuro formal muito grande, vendidos em supermercado com grande<br />
sucesso. São exemplos que decolam. Entretanto, não podemos esquecer a<br />
questão do gosto. Como é que você educa o gosto? E, especialmente num<br />
país como o Brasil, como é que você educa as pessoas?<br />
Fui visitar a exposição do Portinari e fiquei vendo as crianças de cinco<br />
anos de idade de uma escola. Sinceramente, preferia não levá-las <strong>para</strong> ver<br />
o Portinari porque elas acharam uma chatura. Os professores, o tipo de<br />
pergunta... Seria melhor fazerem outra coisa. Elas não têm maturidade,<br />
inclusive intelectual, <strong>para</strong> entender o que é um Portinari.<br />
Como é que você educa o gosto? O que significa? Significa você<br />
conhecer a história da arte do mundo ocidental. Nós temos um campo<br />
de ruído de kitsch. Vivemos hoje o problema da superabundância de<br />
informação. Não se sabe mais o que é o quê, é muito difícil. A exposição<br />
da Tate tem coisas que eu olhei e disse: Não, eu preciso pesquisar muito<br />
sobre tal artista. Algumas coisas eram fáceis de reconhecer como de alta<br />
qualidade. Outras, olho e digo: Não sei reconhecer, não sei ver isso <strong>aqui</strong>.<br />
As exposições de arte contemporânea são muito difíceis de se verem. É<br />
preciso entrar no fio narrativo de cada artista.<br />
Quando William Morris defendeu a forma, o nível alto da arte na<br />
produção industrial, defendeu também um socialismo utópico. A idéia<br />
dele é que a arte expressa valores coletivos. Em toda a nossa história<br />
ocidental, até o romantismo, a arte expressava valores coletivos. Hoje,<br />
não, o artista não expressa tais valores, nem o design. Então, é muito<br />
difícil nos reconhecermos em certos objetos, é muito difícil ter essa<br />
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