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Anais 2010 - Universidade Estadual de Londrina

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I CONGRESSO DE PSICOLOGIA<br />

DA UNIVERSIDADE ESTADUAL<br />

DE LONDRINA<br />

“A PSICOLOGIA EM FOCO:<br />

DIVERSIDADE E DESAFIOS”<br />

23 A 27 DE AGOSTO DE <strong>2010</strong>


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA<br />

Reitora - Profa. Drª Nádina Aparecida Moreno<br />

Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas – Profa. Dra. Rosa Elisa C. Linhares<br />

Colegiado do Curso <strong>de</strong> Psicologia – Prof. Dr. Ari Bassi do Nascimento<br />

Depto Psicologia Social e Institucional – Prof. Dr. Joao Batista Martins<br />

Depto Psicologia e Psicanálise – Prof. Ms. Ricardo Flores<br />

Depto Psicologia e Análise do Comportamento – Profa. Ms. Josiane Cecília Luzia<br />

___________________________________________________________<br />

I Congresso <strong>de</strong> Psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – A Psicologia<br />

em Foco – Diversida<strong>de</strong> e Desafios. São Carlos, RiMa Editora, 2011.<br />

202 p.<br />

ISBN 978-85-7656-212-2 – Versão CD ROM.<br />

___________________________________________________________


Coor<strong>de</strong>nador do Colegiado do Curso <strong>de</strong> Psicologia<br />

Prof. Dr. Ari Bassi do Nascimento<br />

Comissão Organizadora / Comissão Científica<br />

Profa. Dra. Carla Maria Lima Braga<br />

Prof. Dr. Célio Estanislau<br />

Prof. Dr. João Batista Martins<br />

Profa. Dra. Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto<br />

Psicóloga Denise Matoso<br />

Gabriel <strong>de</strong> Freitas Gimenes (C.A. Psicologia/UEL)<br />

Comissão <strong>de</strong> Apoio<br />

Ana Carolina Guarnieri<br />

Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto<br />

Camila Daliane Lopes<br />

Carina Guerra<br />

Carla Jordão Suarez<br />

Carolyne Tomáz <strong>de</strong> Aquino<br />

Cibely Francine Pacífico<br />

Cíntia Lopes<br />

Elizângela <strong>de</strong> Freitas Silva<br />

Éverton V. Ventura<br />

Fabiane Moraes<br />

Francislaine Flâmia Inácio<br />

Jéssica <strong>de</strong> O. Cabrera<br />

José Vicente Mercadante Limper<br />

Juliana Melo<br />

Larissa <strong>de</strong> Freitas<br />

Manuela Campos Pérgola<br />

Marco Correa Leite<br />

Melvim Kazuo <strong>de</strong> Paiva Eto<br />

Nayara Tiemi Naves<br />

Priscila Bernardo<br />

Ruth Tainá Aparecida Piveta<br />

Stefânia Brentegani<br />

Tamiris Sasaki <strong>de</strong> Oliveira<br />

Valquiria Maria Gonçalves<br />

Vanessa Santiago Ximenes<br />

Vivian Nagami


PROGRAMAÇÃO<br />

23/8/<strong>2010</strong> - Segunda-Feira<br />

08:30 - 09:00 – Inscrições<br />

09:00 - 09:30 – Conferência <strong>de</strong> abertura<br />

Ari Bassi do Nascimento - (Coord. Colegiado <strong>de</strong> Psicologia - UEL)<br />

09:30 - 10:00 – Coffe-Break<br />

10:00 - 11:30 – Conferência Abertura –<br />

História da Psicologia no Brasil: tendências e perspectivas – Prof. Dr. Jefferson <strong>de</strong><br />

Sousa Bernar<strong>de</strong>s (UFAL)<br />

11:30 – 12:00 – Discussão<br />

14:00 – 17:00 – Minicursos<br />

- Gilles Deleuze e Felix Guattari: A invenção da esquizoanálise - Sônia Regina Vargas<br />

Mansano (PSI)<br />

- Introdução ao pensamento <strong>de</strong> Winnicott - Carla Maria Lima Braga (PPSIC)<br />

- Um aspecto do viver em socieda<strong>de</strong>: seguir regras e obe<strong>de</strong>cer - Verônica Ben<strong>de</strong>r<br />

Haydu (PGAC)<br />

- O psicólogo na atenção básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - Jefferson <strong>de</strong> Sousa Bernar<strong>de</strong>s (UFAL)<br />

14:00 – 17:00 – Mostra <strong>de</strong> Filmes – “Ahoramágica”<br />

17:00 – 18:00 – Mostra <strong>de</strong> Pôsteres<br />

24/08/<strong>2010</strong> - Terça-Feira<br />

08:30 - 09:30 – Conferência:<br />

Consi<strong>de</strong>rações sobre os caminhos da psicologia em <strong>Londrina</strong> - Anízio Henrique <strong>de</strong><br />

Faria Jr. (CRP)<br />

09:30 - 09:45 – Coffee Break<br />

09:45– 11:30 – Mesa Redonda: A história do Curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL: diversida<strong>de</strong> e<br />

superação<br />

Mo<strong>de</strong>rador: Gabriel <strong>de</strong> Freitas Gimenes (C. A. <strong>de</strong> Psicologia)<br />

- Eliza Dieko Oshiro Tanaka<br />

- Maura Alves Nunes Gongora<br />

- Ricardo Justino Flores<br />

11:30 – 12:00 – Discussão<br />

14:00 – 17:00 – Minicursos<br />

- Depressivida<strong>de</strong>: anestésicos oficiais e clan<strong>de</strong>stinos - Anízio Henrique <strong>de</strong> Faria<br />

(CRP)<br />

- Educação sexual - Mary Nei<strong>de</strong> Damico Figueiró (PSI)<br />

- Psicologia do Esporte - Silvia Regina Souza Arrabal Gil (PGAC)<br />

- Questões recentes no Movimento Estudantil <strong>de</strong> Psicologia da Região Sul - pré-<br />

EREP – Centro Acadêmico <strong>de</strong> Psicologia/UEL<br />

14:00 – 17:00 – Mostra <strong>de</strong> Filmes – “Ahoramágica”<br />

17:00 – 18:00 – Mostra <strong>de</strong> Pôsteres<br />

25/08/ <strong>2010</strong> - Quarta-feira<br />

08:30 - 09:30 – Conferência:<br />

Psicologia e interdisciplinarida<strong>de</strong> na ciência contemporânea – Prof. Dr. José Sterza<br />

Justo (UNESP – Assis)<br />

09:30 - 09:45 – Coffee Break<br />

09:45– 11:30 – Mesa Redonda: Interdisciplinarida<strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>rador: José Sterza Justo (UNESP – Assis)


- Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto (PPSIC)<br />

- João Batista Martins (PSI)<br />

- Célio Roberto Estanislau (PGAC)<br />

11:30 – 12:00 – Discussão<br />

14:00 – 17:00 – Minicursos<br />

- Políticas públicas no Sistema Único <strong>de</strong> Assistência Social (SUAS) - Maria<br />

Cezenei<strong>de</strong> Cavalcante Melo (CRP)<br />

- Psicologia Forense – Ari Bassi Nascimento (PGA)<br />

- Psicologia e Multirreferencialida<strong>de</strong> – João Batista Martins (PSI)<br />

- Psicologia Hospitalar (Denise Regina D. Carlesso e Valéria <strong>de</strong> Araújo Elias - HU)<br />

14:00 – 17:00 – Mostra <strong>de</strong> Filmes – “Ahoramágica”<br />

17:00 – 18:00 – Mostra <strong>de</strong> Pôsteres<br />

Quinta-Feira – 26/08<br />

08:30 - 09:30 – Conferência:<br />

A formação e a inserção do psicólogo no campo <strong>de</strong> trabalho - Rosemary Parras<br />

Menegatti (CRP)<br />

09:30 - 09:45 – Coffee Break<br />

09:45 - 11:30 – Mesa Redonda: Psicólogo e a inserção profissional<br />

Mo<strong>de</strong>radora - Rosemary Parras Menegatti (CRP)<br />

- Solange Maria B. Mezzaroba (PSI)<br />

- Carla Maria Lima Braga (PPSIC)<br />

- Denise Matoso (CRP)<br />

11:30 – 12:00 – Discussão<br />

14:00 – 17:00 – Minicursos<br />

- Inserção do Profissional Psicólogo no Mercado <strong>de</strong> Trabalho – Liziane Vasconcelos<br />

<strong>de</strong> A. Steagal-Condé (CRP)<br />

- Fobia Social - Josiane Cecília Luzia (PGAC)<br />

- Psicologia Corporal Neo-Reichiana – Thais Thomé Seni <strong>de</strong> O. Pereira (PPSIC)<br />

- Trabalhando com a Economia Solidária – Rosely Jung Pisicchio (PSI)<br />

14:00 – 17:00 – Mostra <strong>de</strong> Filmes – “Ahoramágica”<br />

17:00 – 18:00 – Mostra <strong>de</strong> Pôsteres<br />

27/08/<strong>2010</strong> - Sexta-Feira<br />

08:30 - 09:30 – Conferência:<br />

O Psicólogo do Séc. XXI: <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s (CFP)<br />

09:30 - 09:45 – Coffee Break<br />

09:45 - 11:30 – Mesa Redonda: O Psicólogo na atualida<strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>rador - Maria Cristina Barros Maciel Pellini<br />

- Alejandra Astrid Ce<strong>de</strong>ño (PSI)<br />

- Silvia Fornazari (PGAC)<br />

- Katya Luciane <strong>de</strong> Oliveira (PPSIC)<br />

11:30 – 12:00 – Discussão<br />

14:00 – 17:00 – Oficinas<br />

- Dança <strong>de</strong> Salão - Maria Helena Curotto Martins (CRP)<br />

- Oficina do grupo <strong>de</strong> percussão – Grupo L.A.T.A.<br />

- Psicodança – Alejandra Astrid Ce<strong>de</strong>ño ( PSI)<br />

- Psicoarte Itinerante (Centro Acadêmico <strong>de</strong> Psicologia da UEL)<br />

17:00 – 18:00 – Confraternização do Dia do Psicólogo


Sumário<br />

PALESTRAS<br />

CONFERÊNCIA DE ABERTURA DO I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL ....................... 3<br />

Prof. Dr. Ari Bassi do Nascimento<br />

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS............................ 9<br />

Prof. Dr. Jefferson <strong>de</strong> Souza Bernar<strong>de</strong>s<br />

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CAMINHOS DA PSICOLOGIA EM LONDRINA .................... 36<br />

Anízio Henrique <strong>de</strong> Faria Junior<br />

A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO ............. 44<br />

Profa. Dra. Eliza Dieko Oshiro Tanaka<br />

A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO ............. 51<br />

Profa. Dra. Maura Alves Nunes Gongora<br />

A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO ............. 57<br />

Prof. Ms. Ricardo Justino Flores<br />

INTERDISCIPLINARIDADE ........................................................................................... 62<br />

Prof. Dr. José Sterza Justo<br />

PSICOLOGIA E INTERDISCIPLINARIDADE NA CIÊNCIA CONTEMPORÂNEA ..................... 78<br />

Profa. Dra. Meyre Eiras Barros Pinto<br />

TECENDO UMA PSICOLOGIA MESTIÇA... ASSEGURANDO A COMPLEXIDADE DO<br />

CONHECIMENTO PSI ............................................................................................ 82<br />

Prof. Dr. João Batista Martins<br />

INTERDISCIPLINARIDADE ........................................................................................... 90<br />

Prof. Dr. Célio Roberto Estanislau<br />

A INSERÇÃO PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO NO PROCESSO EDUCATIVO .................... 93<br />

Profa. Dra. Solange Maria B. Mezzaroba<br />

A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO MERCADO DE TRABALHO ........................................ 98<br />

Denise Matoso<br />

A PSICOLOGIA CLÍNICA PSICANALÍTICA E A INSERÇÃO PROFISSIONAL:<br />

REFLEXÕES E DESAFIOS ...................................................................................... 102<br />

Profa. Dra. Carla Maria Lima Braga<br />

O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI: DESAFIOS E OPORTUNIDADES .................................. 108<br />

Prof. Dra. Maria Cristina Barros Maciel Pellini


O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI: DESAFIOS E OPORTUNIDADES .................................. 124<br />

Profa. Dra. Alejandra Astrid Ce<strong>de</strong>ño<br />

PSICOLOGIA E TECNOLOGIA .................................................................................... 128<br />

Profa. Dra. Silvia Aparecida Fornazari<br />

O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI: DESAFIOS E OPORTUNIDADES .................................. 140<br />

Kátya Luciane <strong>de</strong> Oliveira<br />

RESUMOS – PÔSTERES ............................................................................................. 147<br />

ÍNDICE DE AUTORES ................................................................................................ 201


PALESTRAS


CONFERÊNCIA DE ABERTURA DO<br />

I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL<br />

Prof. Dr. Ari Bassi do Nascimento<br />

Coor<strong>de</strong>nador do Colegiado<br />

Curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL<br />

Bom-dia!<br />

Em nome da Profª Drª Berenice Quinzani Jordão, vice-reitora <strong>de</strong>sta<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, cumprimento as <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s, as senhoras e senhores,<br />

os professores e estudantes, presentes ao I Congresso <strong>de</strong> Psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>:<br />

A todos, boas-vindas!<br />

Em março <strong>de</strong>ste ano, um dos meus primeiros atos, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coor<strong>de</strong>nador do Colegiado <strong>de</strong> Psicologia, foi o <strong>de</strong> oficiar os três chefes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>partamento do curso <strong>de</strong> Psicologia, o Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia e o<br />

Centro Acadêmico <strong>de</strong> psicologia para que encaminhassem o nome <strong>de</strong> um<br />

representante a fim <strong>de</strong> compor a Comissão <strong>de</strong>ste Congresso. Já em abril, a<br />

Comissão se reuniu pela primeira vez sob a presidência da Professora Meire,<br />

vice-coor<strong>de</strong>nadora do colegiado.<br />

Naquela reunião apresentei aos membros da comissão algumas diretrizes<br />

sobre seu funcionamento e sugeri que a temática do Congresso privilegiasse<br />

a diversida<strong>de</strong> presente no curso <strong>de</strong> Psicologia, <strong>de</strong>sta <strong>Universida<strong>de</strong></strong>. Além<br />

<strong>de</strong>ssa sugestão, recomen<strong>de</strong>i aos membros da Comissão que tratassem o tema<br />

da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma perspectiva positiva.<br />

Obviamente, a Comissão nasceu autônoma. E, por conta <strong>de</strong> sua natureza<br />

constitutiva, nenhuma <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões precisava se vincular à sugestão<br />

ou recomendação que fiz. Mas, reconhecendo a importância e a complexida<strong>de</strong><br />

do tema, a Comissão caminhou em uma direção aparente. Espero que,<br />

durante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste Congresso, os participantes sejam contem-


4 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

plados com o universo que constitui o curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL.<br />

E, antes <strong>de</strong> continuar esta apresentação curta, quero fazer um agra<strong>de</strong>cimento<br />

especial aos Professores Meire <strong>de</strong> Barros Pinto, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representante<br />

do Colegiado e presi<strong>de</strong>nta da Comissão; Carla Maria Lima Braga,<br />

representando o Departamento <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise; Célio Roberto<br />

Estanislau, representando o Departamento <strong>de</strong> Psicologia Geral e Análise do<br />

Comportamento; João Batista Martins, representando o Departamento <strong>de</strong><br />

Psicologia Social e Institucional; à psicóloga Denise Matoso, representando<br />

o Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia da 8ª Região; e ao estudante Gabriel <strong>de</strong><br />

Freitas Gimenes, representando o Centro Acadêmico <strong>de</strong> Psicologia: estas<br />

pessoas, somadas aos estudantes da Comissão <strong>de</strong> Apoio, são as responsáveis<br />

principais por tornar uma proposta <strong>de</strong> Congresso <strong>de</strong> Psicologia possível. A<br />

elas, meus agra<strong>de</strong>cimentos sinceros.<br />

Esta é a primeira vez que um Congresso <strong>de</strong> Psicologia se constitui como<br />

uma ativida<strong>de</strong> regularmente vinculada ao Projeto Pedagógico do Curso. Todavia,<br />

antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver os prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sta proposta, uma curta história<br />

sobre o curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL e seus projetos pedagógicos anteriores.<br />

O curso <strong>de</strong> Psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> foi criado<br />

em 26.10.1971, por força da Resolução 53/71. Des<strong>de</strong> sua criação, o curso se<br />

consolidou sobre as plataformas <strong>de</strong> quatro projetos pedagógicos e, particularmente,<br />

em <strong>2010</strong> inicia a implantação <strong>de</strong> seu quinto currículo.<br />

O primeiro currículo vigeu <strong>de</strong> 1972 até 1980 e revelou influências fortes<br />

dos projetos <strong>de</strong> Psicologia da UnB e da USP. Embora a proposta daquele<br />

currículo visasse formar profissionais para atuar nas três áreas profissionais<br />

da psicologia, havia ênfase forte <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> Psicologia como ciência<br />

natural.<br />

A partir <strong>de</strong> 1978, antecipando <strong>de</strong>manda prenunciada em proposta <strong>de</strong><br />

resolução do MEC, o curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL pôs em marcha um projeto<br />

<strong>de</strong> reformulação curricular. Os pontos principais da reformulação eram a<br />

<strong>de</strong>finição do perfil profissional do psicólogo e o estabelecimento dos objetivos<br />

do curso, com vistas a dar respostas a uma questão que ainda carece ser<br />

respondida. Afinal, quais práticas faziam da Psicologia uma profissão relevante<br />

para a população geral e não somente para as elites?<br />

Por conta <strong>de</strong> atos autoritários e ditatoriais da Administração <strong>de</strong>sta <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

o projeto do segundo currículo foi interrompido. Em seu lugar,


PALESTRAS 5<br />

um currículo sem modificações que vigeu até 1984. Nesse mesmo ano começou<br />

a ser implantado o terceiro currículo do curso. Em seu mérito, o novo<br />

projeto propôs um equilíbrio <strong>de</strong> cargas horárias entre as três áreas <strong>de</strong> formação,<br />

a saber: escolar, organizacional e clínica. Mas radicalizou na hierarquização<br />

vertical, ao assumir que todas as disciplinas ministradas até o oitavo período<br />

(o sistema era <strong>de</strong> créditos) constituíam pré-requisitos para os estágios dos 9 o<br />

e 10 o períodos. Menos <strong>de</strong> 40% das turmas chegavam ao final do curso no<br />

tempo regulamentar.<br />

Em 1994, o regime acadêmico da UEL <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser o <strong>de</strong> crédito e<br />

passou ao <strong>de</strong> seriado. O novo projeto pedagógico tentou eliminar o número<br />

excessivo <strong>de</strong> disciplinas, <strong>de</strong> pré-requisitos e <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> conteúdos. O<br />

currículo do seriado resistiu até 2009 e, apesar <strong>de</strong> ter sido implantado <strong>de</strong>z<br />

anos antes da última reforma curricular prevista nas diretrizes básicas do<br />

MEC, seu sucedâneo não trouxe modificações substanciais na composição<br />

das disciplinas. Entretanto, o novo projeto pedagógico do curso, que começou<br />

a ser implantado em <strong>2010</strong>, trouxe duas inovações importantes em outras<br />

áreas.<br />

A primeira <strong>de</strong>las se refere à presença <strong>de</strong> uma disciplina chamada “Seminários<br />

Integrados”. A disciplina <strong>de</strong> Seminários consiste em reunir docentes<br />

e estudantes <strong>de</strong> uma dada série para, num total <strong>de</strong> 16 horas/ano, discutir,<br />

criticar e apontar sugestões pertinentes à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração dos<br />

conteúdos das disciplinas daquela série.<br />

É uma proposta nova e em muito transcen<strong>de</strong> o alcance das reuniões<br />

pedagógicas que se dão no âmbito dos <strong>de</strong>partamentos. A proposta implica<br />

que todos os docentes da série apresentem suas disciplinas. As apresentações<br />

serão feitas agrupando-se as disciplinas por afinida<strong>de</strong>s epistemológicas.<br />

Em seguida os estudantes farão a outra parte da apresentação. Dispostos<br />

em grupo, eles apresentarão uma visão tão ampla quanto clara do que<br />

viram como integração dos conteúdos das disciplinas. Logo em seguida dirão<br />

sobre os pontos em que não conseguiram perceber integração possível.<br />

Após essa apresentação, os docentes terão oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reafirmar os pontos<br />

positivos e <strong>de</strong> contradizer aspectos críticos levantados durante a apresentação<br />

dos estudantes.<br />

Na terceira fase, docentes, estudantes e o professor responsável pela<br />

disciplina <strong>de</strong> Seminários proporão sugestões que po<strong>de</strong>rão ir da rea<strong>de</strong>quação


6 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

<strong>de</strong> conteúdos até a mudança <strong>de</strong> seriação das disciplinas. As sugestões serão<br />

encaminhadas ao colegiado <strong>de</strong> curso cujo papel será o <strong>de</strong> analisar as propostas,<br />

processá-las e remetê-las à Prograd <strong>de</strong>ntro das limitações daquilo que<br />

possa ser entendido sob o rótulo <strong>de</strong> “rea<strong>de</strong>quação curricular”.<br />

Um mecanismo <strong>de</strong> correção dos rumos do curso <strong>de</strong>ntro do projeto pedagógico<br />

é sim uma inovação. Tanto é uma novida<strong>de</strong> que o projeto político<br />

pedagógico institucional, ainda em fase <strong>de</strong> votação na Câmara <strong>de</strong> Graduação<br />

da UEL, aprovou recentemente – entre suas políticas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> graduação<br />

– uma que promoverá avaliação geral e contínua dos projetos pedagógicos<br />

dos cursos com ampla participação da comunida<strong>de</strong> interna e externa. O projeto<br />

institucional ainda não está pronto, mas dá uma indicação po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> que<br />

a mudança proposta no atual currículo <strong>de</strong> Psicologia está no rumo certo<br />

perante o futuro dos projetos pedagógicos <strong>de</strong> curso <strong>de</strong>sta Instituição.<br />

A segunda mudança proposta no atual projeto do curso é a que traz<br />

todos aqui nesta manhã: o Congresso <strong>de</strong> Psicologia. São duas as diferenças<br />

<strong>de</strong>ste com relação aos <strong>de</strong>mais eventos do curso: primeira, os eventos que<br />

ocorrem são voluntários, no sentido <strong>de</strong> que um grupo <strong>de</strong> professores, aten<strong>de</strong>ndo<br />

a interesses próprios, propõe e garante a realização do evento; segunda,<br />

geralmente eventos <strong>de</strong>sta natureza se vinculam a um <strong>de</strong>partamento ou a<br />

um grupo <strong>de</strong> professores daquele <strong>de</strong>partamento.<br />

Mas o Congresso <strong>de</strong> Psicologia é um evento do curso, vinculado ao seu<br />

projeto pedagógico, sob a responsabilida<strong>de</strong> do colegiado <strong>de</strong> curso, que <strong>de</strong>ve<br />

aten<strong>de</strong>r aos interesses do curso, integrando a participação dos três <strong>de</strong>partamentos,<br />

além do CRP e Centro Acadêmico cuja participação não é vinculada.<br />

E como o evento é do curso e vinculado ao seu projeto, não caberá neste<br />

caso voluntarieda<strong>de</strong>s ou discricionarida<strong>de</strong>s: como ativida<strong>de</strong> regular, o evento<br />

será ofertado todos os anos.<br />

Porém, mais que <strong>de</strong>screver o evento como um ato vinculado, importa<br />

que seja <strong>de</strong>scrito como uma oportunida<strong>de</strong> excepcional para discutir i<strong>de</strong>ias,<br />

para reunir pessoas, para garantir uma ocasião em que as ativida<strong>de</strong>s didáticas<br />

<strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula sejam substituídas por tantas outras que constituem o universo<br />

<strong>de</strong> um congresso científico.<br />

Enquanto as duas mudanças propostas no projeto pedagógico atual do<br />

curso <strong>de</strong> Psicologia são novida<strong>de</strong>s, elas também são difíceis <strong>de</strong> ser executadas.<br />

Esbarram em falta <strong>de</strong> financiamento, em interesses tão distintos e em os


PALESTRAS 7<br />

proponentes terem outras ativida<strong>de</strong>s competitivas. Esbarram nos <strong>de</strong>sdéns <strong>de</strong><br />

alguns, nas resistências <strong>de</strong> outros, enfim é possível gastar tempo enumerando<br />

obstáculos.<br />

Mas quando vi vários estudantes trabalhando para que o evento fosse<br />

possível, os membros da comissão cortando arestas em benefício <strong>de</strong> um bem<br />

comum e o fato <strong>de</strong> as vagas dos minicursos serem preenchidas rapidamente,<br />

fiz um <strong>de</strong>tour e, em vez <strong>de</strong> seguir a estrada dos obstáculos, preferi uma outra<br />

cuja sinalização indica que estamos na direção certa.<br />

Mas aí, para que as mudanças propostas no projeto do curso se efetivem,<br />

sejam executadas, <strong>de</strong>vemos tratá-las no contexto do curso <strong>de</strong> Psicologia,<br />

um domínio que ultrapassa em muito os limites <strong>de</strong> nossas salas <strong>de</strong> permanência,<br />

das nossas disciplinas e <strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>partamentos, sejamos professores<br />

ou estudantes. E no domínio do curso <strong>de</strong> Psicologia, a responsabilida<strong>de</strong><br />

pela execução <strong>de</strong>ssas mudanças está vinculada à intersubjetivida<strong>de</strong>.<br />

Nesse ponto, uma preocupação. Nos termos <strong>de</strong> Karl-Otto Appel, a ética<br />

que orienta a conduta das pessoas em direção à garantia <strong>de</strong> um ambiente<br />

saudável só seria possível se fosse “intersubjetivamente vinculada”. É razoável<br />

perceber que qualquer pessoa expressa, ordinariamente, sua voluntarieda<strong>de</strong><br />

em direção a um ambiente saudável.<br />

Mas o custo <strong>de</strong> se envolver em ações intersubjetivamente vinculadas,<br />

cujos benefícios se distanciam das próprias ações e do tempo em que as ações<br />

são executadas e, mais grave ainda, atingirão pessoas que talvez nunca vão se<br />

envolver com aquelas ações, torna-se <strong>de</strong>masiadamente alto. O resultado facilmente<br />

visível não é muito diferente daquele previsto por Appel: a lógica<br />

<strong>de</strong>screve essa como a ética da impossibilida<strong>de</strong>.<br />

Aparentemente, “preferimos” as inércias da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>strutiva e<br />

da inativida<strong>de</strong> a fazer algo cujas consequências beneficiarão outras pessoas<br />

que, em outros tempos, jamais iremos conhecer, dado o intervalo muito<br />

curto <strong>de</strong> nossas vidas. O outro lado <strong>de</strong>sse argumento é igualmente perverso:<br />

o direito àquelas inércias refletirá em supressão <strong>de</strong> direitos daquelas outras<br />

pessoas, <strong>de</strong> outros tempos, que não iremos conhecer. Elas não po<strong>de</strong>rão gozar<br />

da prerrogativa que nos permite optar por manter ou mudar o paradigma <strong>de</strong><br />

exploração <strong>de</strong> recursos finitos: elas terão o direito <strong>de</strong> viver prejudicadas.<br />

Por fim, uma última palavra sobre o tema <strong>de</strong>ste Congresso: a diversida<strong>de</strong>.<br />

A palavra “diversida<strong>de</strong>” parece mais tenra que a palavra diferença, mas


8 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

sem esta não se teria diversida<strong>de</strong>. A diversida<strong>de</strong> constitui um caldo, e o po<strong>de</strong>r<br />

não se sente confortável nesse meio por conta <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />

homogeneida<strong>de</strong>. E a retaliação vem sob a forma do preconceito.<br />

E o preconceito é indutivo. É uma operação que agrupa casos particulares<br />

numa categoria, <strong>de</strong> forma que generalizar as características <strong>de</strong> um grupo<br />

para situações similares é só o próximo passo. Talvez não seja um gran<strong>de</strong><br />

problema se expressar via preconceitos, exceto se não se souber rever os termos<br />

quando uma situação sugere. Entretanto, o preconceito é uma maneira<br />

<strong>de</strong> pensar. Logo, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sligar seu mecanismo só porque se está insatisfeito<br />

com ele.<br />

Além do mais, o preconceito é a base do racismo, mas também do pensamento<br />

científico. E vem daí uma série <strong>de</strong> ferramentas, como as atribuições<br />

morais, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> justiça ou <strong>de</strong> razão, que po<strong>de</strong>m corrigir os resultados <strong>de</strong>sse<br />

mecanismo.<br />

Quando sugeri à Comissão o tema do evento e pedi que “diversida<strong>de</strong>”<br />

fosse posta <strong>de</strong> uma perspectiva positiva para representar o contexto da Psicologia<br />

local, imaginei a diversida<strong>de</strong> vista como uma vantagem, como um conjunto<br />

<strong>de</strong> elementos e <strong>de</strong> forças pelos quais os atores do processo <strong>de</strong> construção<br />

do curso <strong>de</strong> Psicologia <strong>de</strong>sta <strong>Universida<strong>de</strong></strong> fizeram uma Psicologia mais<br />

preparada para a diversida<strong>de</strong> do próprio mundo.<br />

Por estas razões, meus apelos para que esses mesmos atores, professores<br />

e estudantes, abandonem o armistício das críticas cortantes que afetam e<br />

mutilam – moral e afetivamente – aquele que professa uma abordagem diferente<br />

da sua, aquele que expressa uma filosofia diferente da sua, aquele que<br />

mora num andar diferente do seu, mas que mora na mesma torre que a sua,<br />

a <strong>de</strong> Babel, a torre da Psicologia.<br />

Declaro aberto o I Congresso <strong>de</strong> Psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

À DIVERSIDADE!


HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL:<br />

TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS<br />

Prof. Dr. Jefferson <strong>de</strong> Souza Bernar<strong>de</strong>s<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas<br />

Gente, bom-dia. É um prazer enorme estar aqui com vocês hoje.<br />

Quero já, <strong>de</strong> cara, agra<strong>de</strong>cer o convite. Quero agra<strong>de</strong>cer o convite que<br />

o João me fez, a Meyre, o Ari e todos os professores e coor<strong>de</strong>nadores dos<br />

outros <strong>de</strong>partamentos. É uma alegria muito gran<strong>de</strong> estar aqui e uma alegria<br />

maior ainda estar pela segunda vez. Quando estive aqui em 2007, em visita à<br />

Marilicia, Alexandre e mais outros professores, foi um momento muito rico<br />

e muito bom. Vocês estavam, se não me engano, começando a fazer a discussão<br />

do currículo, e a gente pô<strong>de</strong> conversar um pouco sobre as diretrizes<br />

curriculares, coisas nesse sentido. O convite foi feito novamente, então é<br />

sinal <strong>de</strong> que a conversa valeu, e eu fico muito feliz por isso. Obviamente,<br />

muito feliz, mas também com uma responsabilida<strong>de</strong> mais que dobrada, e<br />

esse papo <strong>de</strong> referência aí, po<strong>de</strong> parar, não me coloque nisso, pelo amor <strong>de</strong><br />

Deus. Mas, enfim, para mim a alegria é muito gran<strong>de</strong>. Antes <strong>de</strong> começar,<br />

vou fazer uma coisa aqui; eu trouxe três livrinhos que vou <strong>de</strong>ixar para vocês,<br />

para a biblioteca <strong>de</strong> vocês, e eu vou, rapidamente, só citar esses três livros<br />

porque acho que eles têm a ver com esse momento.<br />

O primeiro <strong>de</strong>les é este livro que foi a compilação do V Congresso<br />

Norte-Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Psicologia, que foi feito em Maceió em 2007. E o livro se<br />

chama A Produção na Diversida<strong>de</strong>, então acho que tem tudo a ver com o tema<br />

<strong>de</strong> vocês. Essa palavrinha ‘diversida<strong>de</strong>’, que o Ari trouxe bastante na fala<br />

<strong>de</strong>le, como compromisso do curso <strong>de</strong> vocês, em relação aos processos <strong>de</strong><br />

reforma curricular, principalmente. É uma palavrinha que, no meu modo <strong>de</strong><br />

ver, é muito cara para a gente. É uma palavrinha que é muito importante, e<br />

eu acho interessante porque uma boa parte <strong>de</strong> nós, psicólogos, fica muito<br />

ávido por uma teoria única. Eu não tenho nenhuma pretensão em ter, na<br />

psicologia, um dia, uma teoria única. Para mim, a diversida<strong>de</strong> é o que nos<br />

sustenta, diversida<strong>de</strong> é o que nos caracteriza, e ela, antes <strong>de</strong> ser uma fragilida<strong>de</strong><br />

da psicologia, é nossa maior força. A gente sobrevive exatamente por cau-


10 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

sa <strong>de</strong>ssa diversida<strong>de</strong>. Então, esse livrinho... são as principais conferências do<br />

Quinto Encontro Norte-Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Psicologia, que virou quase o Congresso<br />

Nacional <strong>de</strong> Psicologia, esse nós tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer em Maceió<br />

em 2007.<br />

O segundo livrinho que eu vou <strong>de</strong>ixar fala, também, <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>, só<br />

que, bom, e aí? Somos diversos, mais quais são as fronteiras, o que nos diferencia,<br />

o que nos aproxima, o que nos afasta? E é um livrinho do último<br />

Encontro Nacional da ABRAPSO (Associação Brasileira <strong>de</strong> Psicologia Social),<br />

que também ocorreu em Maceió no ano passado. Eu estava na coor<strong>de</strong>nação<br />

<strong>de</strong>sse evento com a presidência da ABRAPSO. Então, este livrinho, Psicologia<br />

Social e Políticas <strong>de</strong> Existência: fronteiras e conflitos, também <strong>de</strong>ixo para<br />

vocês, porque ele vai discutir exatamente essas questões relacionadas... Tá,<br />

somos diversos, e aí? O que a gente faz com isso? E por aí vai...<br />

E o terceiro livrinho que eu vou <strong>de</strong>ixar fala do curso <strong>de</strong> hoje à tar<strong>de</strong>,<br />

que é a pesquisa que a gente fez: A Psicologia em Diálogo com o SUS. Mas este<br />

livrinho, eu vou <strong>de</strong>ixar para falar <strong>de</strong>le hoje à tar<strong>de</strong>, vou <strong>de</strong>ixar aí para vocês<br />

um pequeno regalo para biblioteca <strong>de</strong> vocês, com relação a essas andanças da<br />

gente aí, pela psicologia brasileira.<br />

O João perguntou da on<strong>de</strong> eu tinha tirado essa lâmina toda pipocada<br />

<strong>de</strong> cores diferentes. A internet hoje é o maior barato, você tira tudo. Antes<br />

<strong>de</strong> montar essas lâminas, eu fiquei assim “Mas com que lâmina eu po<strong>de</strong>ria<br />

representar a diversida<strong>de</strong>, que é o mote, <strong>de</strong> vocês?”. E aí eu achei essa, em<br />

função do pipocar <strong>de</strong> cores. Obviamente, que não dá para ler muito, as próximas<br />

lâminas não serão assim. Bom, a fala <strong>de</strong> hoje, a i<strong>de</strong>ia é a gente trabalhar<br />

um pouco a história da psicologia no Brasil, perspectivas e <strong>de</strong>safios.<br />

Obviamente, que eu fiquei assim: “Eu tenho um texto <strong>de</strong> história da psicologia<br />

social, minha tese <strong>de</strong> doutorado, que termina em 2004, fala, <strong>de</strong> uma<br />

certa forma, <strong>de</strong> história”. Mas eu jamais me consi<strong>de</strong>rei um historiador, na<br />

verda<strong>de</strong> esse texto foi quase um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> percurso, e a tese, eu falo muito<br />

mais da discussão da formação; a questão histórica, ela vem por tabela. Então,<br />

esse é um primeiro ponto: que eu não sou e não me consi<strong>de</strong>ro um historiador.<br />

Consi<strong>de</strong>ro-me um psicólogo, um psicólogo social que dialoga com a<br />

história e que acha que a história é fundamental para a nossa vida. A gente<br />

ler para trás é fundamental para tentar compreen<strong>de</strong>r o hoje. Não só ler para


PALESTRAS 11<br />

trás, mas ressignificar o que se passa, ou o que se passou. Então, também não<br />

tenho nenhuma perspectiva <strong>de</strong> história no sentido linear do tempo. A história,<br />

para mim, ela é modificada a cada momento, a cada novo acontecimento,<br />

a cada nova questão, a cada novo diálogo, a gente ressignifica esse passado.<br />

Eu não tenho nenhuma pretensão <strong>de</strong> trabalhar em uma linha histórica<br />

positivista, <strong>de</strong> ‘o passado <strong>de</strong>termina o presente, que <strong>de</strong>termina o futuro’.<br />

Então, para mim, a questão da história entra como um diálogo, uma perspectiva<br />

bastante interessante para a gente compreen<strong>de</strong>r o que está se passando<br />

hoje. E a i<strong>de</strong>ia é conversar um pouco com vocês, hoje, sobre a psicologia<br />

no Brasil por meio do <strong>de</strong>bate sobre a formação da psicologia. Então, não vou<br />

pegar a história da psicologia, até porque eu não tenho nenhuma pretensão<br />

em falar da história da psicologia, mas falar da formação do psicólogo, e aí,<br />

sim, a gente lançar alguns elementos históricos orientados por uma preocupação<br />

central, analisando permanências, rupturas e cooptações das políticas<br />

educacionais brasileiras. E com esse diálogo sendo feito por meio <strong>de</strong> documentos<br />

<strong>de</strong> domínio público, que foram frutos da minha tese <strong>de</strong> doutorado,<br />

que <strong>de</strong>fendi em 2004, na PUC <strong>de</strong> São Paulo, sob a orientação da Prof. Dr.<br />

Mary Jane Paris Spink... Então, a i<strong>de</strong>ia é pegar esses documentos e, aí, como<br />

é que esses documentos sobre formação do psicólogo no Brasil... Qual foi o<br />

primeiro documento? O que aconteceu <strong>de</strong>pois? O que esses documentos<br />

falavam? O que surgia <strong>de</strong> novo? O que continuava? E a gente tentando, por<br />

meio do diálogo <strong>de</strong>sses documentos, compreen<strong>de</strong>r um pouco os nossos processos<br />

históricos. Então a i<strong>de</strong>ia é um pouco essa. E, a partir daí, po<strong>de</strong>mos<br />

pensar em algumas tendências perceptíveis no que diz respeito à formação<br />

na psicologia e aí, esse acho que seria o nosso diálogo, a nossa conversa <strong>de</strong><br />

hoje.<br />

Duas questões centrais nortearam esse trabalho <strong>de</strong> pesquisa. Primeiro,<br />

por que tardaram a ocorrer mudanças na formação da psicologia no Brasil?<br />

Primeira resolução pro país inteiro com relação à formação do psicólogo<br />

surge com a Lei 4119, em 1962, e o segundo currículo nacional do país só vai<br />

surgir com as diretrizes curriculares em 2004, quer dizer, foram 42 anos sem<br />

reforma curricular no país. Vocês, aqui, em menos <strong>de</strong> 40 anos, fizeram cinco.<br />

Percebem a diferença? Então, uma das questões que mais me instigavam<br />

era isso: mas o que aconteceu que a gente não fazia uma reforma nacional? O<br />

que aconteceu? Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto: que continuida<strong>de</strong>s,<br />

rupturas e cooptações surgiram ao longo <strong>de</strong>sse tempo na formação em<br />

psicologia? Então, essas duas questões foram as que nortearam essa pesquisa,


12 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

esse trabalho. Aqui (sli<strong>de</strong> 1) mostra a fundamentação teórica, eu não vou<br />

entrar nisso.<br />

Só para situar rapidamente <strong>de</strong> que lugar eu falo, quais são minhas posições...<br />

Dialogo muito mais com filosofia da linguagem; um americano chamado<br />

Alexandre Rorty, que vai trazer um rompimento com mo<strong>de</strong>los<br />

representacionistas, essencialistas e transcen<strong>de</strong>ntalistas na construção do<br />

conhecimento e a perspectiva do “Giro Linguístico”, ou seja, conhecimento<br />

e realida<strong>de</strong> somente possuem sentido <strong>de</strong> serem consi<strong>de</strong>rados quando analisada<br />

a forma como se fala <strong>de</strong>les. Nesta perspectiva, não existiria a realida<strong>de</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da maneira como falamos <strong>de</strong>la. Então, não existe o ‘lá fora’ e<br />

o ‘aqui’, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>la. O ‘lá fora’ existe à medida que eu falo <strong>de</strong>le,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma como eu falo <strong>de</strong>le. Por isso, a importância da história,<br />

por isso não se teve uma única versão da história. Também me apoio na<br />

prágmática, <strong>de</strong> Levinson, que foca linguagem em uso. São as maneiras a<br />

partir das quais as pessoas produzem sentidos e posicionam-se nas relações<br />

sociais cotidianas, por isso os documentos são posições, são diálogos, etc.


PALESTRAS 13<br />

Na etnometodologia, a produção do conhecimento científico é uma<br />

prática social como qualquer outra, então, em absoluto, a gente coloca a<br />

ciência acima <strong>de</strong> qualquer outro conhecimento, até em condições <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />

na condição <strong>de</strong> saber como qualquer outro conhecimento, sujeita a<br />

avaliações e questionamentos sociais (éticos e políticos), não está acima <strong>de</strong><br />

nós. A ciência não é neutra. Questionamento da retórica da verda<strong>de</strong> e da<br />

retórica da autorida<strong>de</strong>. E, por ultimo, práticas discursivas e produção <strong>de</strong><br />

sentidos, o conceito remete aos momentos <strong>de</strong> ressignificações, <strong>de</strong> rupturas,<br />

<strong>de</strong> produções <strong>de</strong> sentidos, ou seja, correspon<strong>de</strong> aos momentos ativos do uso<br />

da linguagem, nos quais convivem tanto a or<strong>de</strong>m como a diversida<strong>de</strong>. Então,<br />

esses quatro evi<strong>de</strong>nciais são os básicos pelos quais eu vou passar, bem rapidinho.<br />

Se vocês quiserem, <strong>de</strong>pois a gente retoma na discussão.<br />

Eu vou direto para o nosso papo hoje; falar da pesquisa, falar dos documentos,<br />

que nos ajudaram a tentar compreen<strong>de</strong>r um pouquinho, tentar dialogar<br />

um pouquinho sobre a questão da formação e esse processo histórico<br />

da formação do psicólogo no Brasil.


14 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Num primeiro momento, o trabalho foi <strong>de</strong> formiguinha, que documentos<br />

<strong>de</strong> domínio público existem no Brasil sobre formação do psicólogo?<br />

Então, foi um trabalho literalmente <strong>de</strong> formiguinha, começava: “Tem a Lei<br />

4119, que tem o currículo mínimo”, aí vamos lá pegar a lei e lia a lei; “A lei<br />

referência ao parecer 42 ou 62”, não me lembro o número agora, aí pegava o<br />

parecer; “Esse parecer cita o documento ‘tal’”, aí ia atrás do documento ‘tal’;<br />

“Tem o artigo do fulano <strong>de</strong> 1964”, aí lia o artigo, pegava todas as citações<br />

<strong>de</strong>le, e ia montando essa re<strong>de</strong>. Então, o primeiro trabalho foi a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong>sses documentos; eu encontrei, no primeiro momento, 138 documentos.<br />

Esses 138 documentos eu reduzi para 62, porque <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sses 138 tava<br />

assim: “A reforma educacional <strong>de</strong> 68”. A reforma educacional, é claro que<br />

ela teve um impacto, uma importância enorme para a psicologia, mas também<br />

para todos os outros cursos, e eu queria focar na discussão da formação.<br />

Então, a reforma <strong>de</strong> 68 entra nos 138 documentos, mas não entra nos 62,<br />

<strong>de</strong>pois diretamente relacionados à formação do psicólogo <strong>de</strong> diversas naturezas,<br />

leis, <strong>de</strong>cretos, pareceres, resoluções, etc., documentos <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, documentos<br />

dos mais diversos que vocês imaginarem. E sua organização como<br />

elemento <strong>de</strong> uma matriz, aí eu organizei esse documentos, tentava conseguir<br />

o máximo <strong>de</strong>sses documentos. Não consegui todos os 62, tiveram documentos<br />

<strong>de</strong> que eu consegui fragmentos, eles se per<strong>de</strong>ram ao longo da historia.<br />

Dos 62, teve dois documentos que eu não encontrei <strong>de</strong> jeito nenhum, e a<br />

gente vai enten<strong>de</strong>r por que eu não encontrei, é bem interessante essa história.<br />

E organizei esses documentos no que a gente chama <strong>de</strong> uma matriz, com<br />

relação aos fatos históricos, aos processos históricos, etc.


PALESTRAS 15<br />

O segundo momento, <strong>de</strong>pois da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses documentos, foi a<br />

análise da produção: Como é que eles se movimentam? Como é que eles se<br />

<strong>de</strong>stituem? Do que eles falam? Então, a análise <strong>de</strong>ssa produção e sua relação<br />

com o contexto sociopolítico, econômico e cultural do país foram os períodos<br />

em que eu vou entrar agora. E, por ultimo, a análise das práticas<br />

discursivas, focando quatro categorias. Essas quatro categorias vão me servir<br />

para ilustrar o momento anterior, da análise da movimentação dos documentos.<br />

Essas quatro categorias são: dêiticos <strong>de</strong> discurso, repertórios<br />

linguísticos, retórica utilizada e implicaturas conversacionais. Eu vou, daqui<br />

a pouco, rapidamente explicar cada um <strong>de</strong>les e ilustrar o máximo possível,<br />

para a gente tentar compreen<strong>de</strong>r como esses processos vieram ocorrendo.<br />

Então, num primeiro momento, é essa a tabela, não sei se conseguem<br />

enxergar, eu imagino que não. Aí atrás, conseguem? Não, né. Deixa eu levantar,<br />

porque aí eu falo da tabela. É o seguinte: essa é a tabela com 138 documentos.<br />

São documentos <strong>de</strong> naturezas distintas: <strong>de</strong>cretos; leis/projetos <strong>de</strong><br />

leis; portarias ministeriais; pareceres do OTIL ao Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação,<br />

o atual Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação; indicações do conselho fe<strong>de</strong>ral<br />

e do conselho nacional, editais do ministério; documentos <strong>de</strong> entida<strong>de</strong><br />

em psicologia; documentos da comissão do especialista do MEC; resoluções<br />

do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia. E, aí, separei por uma questão meramente<br />

didática, para conseguir visualizar o mais fácil possível, por décadas: antes<br />

<strong>de</strong> 1950; 1959-1960; décadas <strong>de</strong> 60, 70, 80, 90, 2000 a 2004. O ano <strong>de</strong> 2004<br />

encerra essa busca, que foi o ano que encerra com o documento-chave das


16 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

diretrizes curriculares da psicologia, que sustentam nossas reformas<br />

curriculares hoje.<br />

Então, em cada década, tem um número <strong>de</strong> documentos. Por exemplo,<br />

antes da década <strong>de</strong> 50, oito documentos; década <strong>de</strong> 50, 13; 60, 17; 12; 10; 36;<br />

42: 138 documentos. Desses 138, reduzindo pros 62, visualiza-se mais facilmente.<br />

Então, só para situar, eu aglutinei: antes da década <strong>de</strong> 50 e década <strong>de</strong><br />

60, um primeiro período, tem dois projetos <strong>de</strong> lei e uma lei, pareceres do<br />

governo fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> educação, indicações, documento da entida<strong>de</strong> em psicologia.<br />

Tem 15 documentos antes da década <strong>de</strong> 50 e década <strong>de</strong> 60. Décadas <strong>de</strong><br />

60 e 70, 14 documentos. E, aí, a gente vê a movimentação. Aqui (antes <strong>de</strong> 50<br />

e década <strong>de</strong> 60), tem poucos documentos do governo e muitos documentos<br />

das entida<strong>de</strong>s. Depois <strong>de</strong>sloca: muitos documentos do governo, poucos documentos<br />

<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s. Então, a gente vai vendo como o discurso, o diálogo<br />

vai se estabelecendo. Depois, entra o conselho fe<strong>de</strong>ral e, <strong>de</strong> novo, volta a<br />

discussão das entida<strong>de</strong>s, década <strong>de</strong> 90 até 2004, volta a documentação das<br />

entida<strong>de</strong>s e poucas do governo. Década <strong>de</strong> 80 é a área, em termos <strong>de</strong> documentação.<br />

O Ari falou da década <strong>de</strong> 80, da reforma que foi amordaçada: para<br />

mim, isso não é à toa. E o mais engraçado não é isso; esses dois documentos<br />

da década <strong>de</strong> 80 são dois documentos do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia,<br />

foram os únicos dois documentos que eu não consegui encontrar, <strong>de</strong>sses 62.<br />

Nem o conselho fe<strong>de</strong>ral tem, mas, enfim, aí, então, 62 documentos. Então,<br />

a minha primeira preocupação foi a seguinte: como se dá a movimentação<br />

<strong>de</strong>sses documentos?<br />

Como se <strong>de</strong>u essa produção e o que esse movimento me fala? Por que a<br />

gente tem uma gran<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s aqui (antes <strong>de</strong> 50 e década <strong>de</strong><br />

60)? Por que a gente tem uma gran<strong>de</strong> produção do governo aqui (década <strong>de</strong><br />

90 até 2004)? Por que a gente tem pouquíssima produção aqui (década <strong>de</strong><br />

80)? O que acontece na década <strong>de</strong> 90? Então, separei em quatro períodos. E,<br />

agora, a gente vai falar <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses períodos, com base nisso.


PALESTRAS 17<br />

O primeiro chamei <strong>de</strong> “Em busca da regulamentação da profissão e da<br />

formação em Psicologia (ate 1959)”; o segundo “A regulamentação da profissão<br />

e a ditadura militar – amordaçamentos, lutas, silêncios, cumplicida<strong>de</strong>s<br />

(1960-1979)”; terceiro período: “Tempos melhores virão...(?) – mobilizações<br />

e reconfigurações” (1980-1989); e o quarto “É tempo <strong>de</strong> mudanças (?) – formação<br />

e neoliberalismo (1990-Atual)”. Então, em cima <strong>de</strong>sses quatro períodos,<br />

a gente vai avançar.


18 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O primeiro <strong>de</strong>les, “Em busca da regulamentação da profissão e da formação<br />

em Psicologia”, ele é marcado por um período no país <strong>de</strong> processo <strong>de</strong><br />

industrialização crescente, há uma mudança da matriz trabalhista na Brasil,<br />

<strong>de</strong> uma matriz agrária para uma matriz industrial. É um período em que<br />

começa o Estado Novo, com Getúlio Vargas, e aí vem toda a criação do<br />

Estado brasileiro; criação do Ministério do Trabalho, Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />

Ministério da Educação. Então, temos um crescimento do Estado brasileiro<br />

imenso, e a mudança <strong>de</strong>ssa matriz econômica, um primeiro movimento da<br />

mudança <strong>de</strong>ssa matriz econômica. Ora, para nós, da psicologia, isso é fundamental.<br />

A psicologia ainda é uma produção eminentemente urbana. Os primeiros<br />

trabalhos <strong>de</strong> psicotécnica começam a ocorrer (nessa época) principalmente<br />

vinculados ao campo educacional e do trabalho. Imagine uma matriz<br />

econômica sendo modificada, o Estado brasileiro sendo constituído, precisávamos<br />

<strong>de</strong> pessoas para selecionar trabalhadores para esses novos campos<br />

<strong>de</strong> atuação, novos campos profissionais.<br />

Caracterizado pela busca da regulamentação da profissão e da formação<br />

em psicologia, nós temos vários movimentos <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s em psicologia<br />

que vão produzir, vão forçar essa regulamentação da profissão. E forte diálogo<br />

entre o Estado e entida<strong>de</strong>s em psicologia, principalmente com as entida<strong>de</strong>s<br />

em psicologia: a Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicologia, a Socieda<strong>de</strong> Paulista<br />

<strong>de</strong> Psicologia, Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Psicologia do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

tem varias associações que começam a surgir. E é aqui que tem o primei-


PALESTRAS 19<br />

ro documento sobre formação em psicologia, é um documento <strong>de</strong> 1932, do<br />

Waclaw Ra<strong>de</strong>cki, um polonês que veio ao Brasil e se erradica no Rio e, ali,<br />

funda o primeiro curso <strong>de</strong> psicologia do país, que era nas <strong>de</strong>pendências da<br />

Colônia <strong>de</strong> Psicopatas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, atual <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Esse curso durou sete meses e era um belo curso; o documento que eu<br />

tenho do Waclaw Ra<strong>de</strong>cki é fantástico, é muito bom, muito competente para<br />

a época. E esse curso só durou sete meses, porque ele sofreu forte resistência<br />

<strong>de</strong> dois movimentos: primeiro, médicos, que impediram a criação do curso.<br />

Imagine psicólogos querendo ocupar o lugar <strong>de</strong> médicos. O segundo, da<br />

Igreja católica, que também impediu a criação do curso. Foi um curso rápido,<br />

breve, durou sete meses, foi cancelado, e Waclaw Ra<strong>de</strong>cki se mudou do<br />

país, foi pro Uruguai. E, lá, fundou toda uma fundação psicológica muito<br />

forte.<br />

Um outro exemplo <strong>de</strong>sse primeiro período foi a criação do ISOP, Instituto<br />

<strong>de</strong> Seleção e Orientação Profissional. O ISOP foi a criação do Estado<br />

brasileiro para po<strong>de</strong>r selecionar o funcionalismo publico, principalmente,<br />

para a constituição <strong>de</strong>sse Estado. E, para presidir o ISOP, Emilio Mira y<br />

López, um gran<strong>de</strong> psicólogo catalão que vem pro Brasil e coor<strong>de</strong>na todo esse<br />

trabalho <strong>de</strong> seleção e orientação profissional junto ao ISOP. O ISOP foi uma<br />

entida<strong>de</strong>, um instituto que teve influência muito gran<strong>de</strong> na formação da<br />

psicologia do Brasil e ainda continua tendo. Não o ISOP, mas suas i<strong>de</strong>ias,<br />

seus i<strong>de</strong>ais, suas formas <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o que vem a ser a psicologia. A<br />

gente vai entrar nisso daqui a pouquinho.<br />

Emilio López era consi<strong>de</strong>rado um técnico, e, aí, é muito interessante<br />

isso, um prático. Emilio López nunca foi convidado, embora tenha muitos<br />

livros, para dar uma palestra na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que<br />

na época era <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do Brasil. E o Waclaw Ra<strong>de</strong>cki era o oposto disso,<br />

o Waclaw era um acadêmico. E em cima <strong>de</strong>ssa polarida<strong>de</strong>, entre a aca<strong>de</strong>mia<br />

e a prática, é que vai se constituindo lentamente o que a gente vivencia hoje<br />

como ciência e profissão.<br />

Tem um texto da Deise Mancebo e da Ana Jacó Vilela que fala sobre<br />

essa relação entre Waclaw Ra<strong>de</strong>cki e Emilio López, que <strong>de</strong>pois se reverbera<br />

com os discípulos do Waclaw, o principal <strong>de</strong>les, Newton Campos, que chegou<br />

a ser o primeiro chefe do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>


20 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Fe<strong>de</strong>ral do Rio. E aí os conflitos entre Newton Campos e Emilio López,<br />

como essa relação foi se dando ao longo da história. Então, nós temos, na<br />

realida<strong>de</strong>, uma complementarida<strong>de</strong> funcional, esse é o termo que elas vão<br />

usar para esses projetos. Na verda<strong>de</strong>, um não sobrevive sem o outro. Embora<br />

antagônicos, um não sobrevive sem o outro, um se alimenta do outro. É<br />

aquela velha e clássica imagem estereotipada do acadêmico que é um teórico<br />

e do prático que não reflete, então você tem um reducionismo sem sentido.<br />

Mas é uma psicologia, nesse período, muito caracterizada como “psicologia<br />

aplicada”, e essa foi uma das maiores marcas pro nosso contexto curricular,<br />

para as nossas formações. Essa é uma herança <strong>de</strong>sse tempo. Psicologia aplicada<br />

à indústria, psicologia aplicada à escola, psicologia aplicada à clinica, é aí<br />

que começam todas as discussões que a gente vai ter em relação à nossa formação,<br />

principalmente em relação a três áreas práticas da psicologia: clínica, escolar<br />

e trabalho, que vão se modificando ao longo da história, mas essa lógica<br />

permanece. É aqui que a gente tem várias constituições e imagens daquela<br />

questão, por exemplo, do curriculum minimum, que a gente teve em 62, logo<br />

<strong>de</strong>pois, na segunda etapa, é um curriculum que nos apresenta fortemente essa<br />

divisão, que é a teoria e prática, que é aquele mo<strong>de</strong>lo que você tem quatro anos<br />

<strong>de</strong> teoria e, no último ano, prática; os estágios do último ano.


PALESTRAS 21<br />

É o período da reforma educacional <strong>de</strong> 68, e a reforma foi muito danosa<br />

para a universida<strong>de</strong> pública brasileira e para as nossas universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais.<br />

Não só em termos <strong>de</strong> arquitetura <strong>de</strong> nossos campi, em termos <strong>de</strong><br />

territorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos campi, mas na forma <strong>de</strong> pensar. Uma das maiores<br />

heranças <strong>de</strong>ssa reforma é a lógica <strong>de</strong>partamental, e ela nos afasta sobremaneira.<br />

Ela não nos distingue, não se diferencia, nos afasta. E princípios da<br />

racionalida<strong>de</strong>, eficiência e produtivida<strong>de</strong>, que vão junto com essa reforma. O<br />

principal <strong>de</strong>les foi o gran<strong>de</strong> princípio dos militares com relação a um<br />

pragmatismo do ensino superior brasileiro. Daí o “BIN” das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino<br />

superior privadas no inicio dos anos 70. Para vocês terem uma idéia, o<br />

curso <strong>de</strong> psicologia em 68, 69 não passava <strong>de</strong> uma dúzia no país, e em 74 já<br />

passava <strong>de</strong> 80, então a diferença é brutal. E, principalmente, o curso em universida<strong>de</strong>s<br />

privadas. Também surgiram cursos em universida<strong>de</strong>s públicas, o<br />

daqui, em 71. Mas o gran<strong>de</strong> “BUM” foram os das universida<strong>de</strong>s privadas. São<br />

os anos do milagre econômico, oitava economia mundial. Brasil crescendo,<br />

país do futuro. E é o período da Lei 4.119 <strong>de</strong> 1962, que nos caracteriza como<br />

psicólogos, que regulamenta nossa profissão. É uma lei bastante interessante,<br />

o Brasil foi o primeiro país do mundo que regulamentou a profissão <strong>de</strong> psicólogo.<br />

Já havia algumas tentativas em outros países. Alguns estados nos Estados<br />

Unidos tinham essa lei, regulamentando essa profissão no seu estado. Mas, em<br />

termos nacionais, foi o primeiro país no mundo que regulamentou a profissão<br />

<strong>de</strong> psicólogo. E foi uma lei muito interessante porque ela regulamentou a profissão<br />

<strong>de</strong> psicólogo e, amarrada à regulamentação, a primeira proposta curricular.<br />

Então, profissão e ciência no mesmo pacote. São os anos marcados pela cultura<br />

‘psi’. Eu me lembro claramente <strong>de</strong>sse movimento.<br />

A cultura ‘psi’ foi aquele período em que psicologisávamos absolutamente<br />

todos os fenômenos do mundo. Uma vez eu estava escutando a Cecília<br />

Coimbra e ela me mostrou uma pesquisa <strong>de</strong> 72 ou 73 que saiu no Jornal<br />

do Brasil na época, uma pesquisa encomendada pelo Exército brasileiro sobre<br />

o perfil do terrorista brasileiro. Eles queriam enten<strong>de</strong>r qual era o perfil dos<br />

terroristas brasileiros. Vem a ser terrorista brasileiro principalmente o movimento<br />

estudantil contrário à ditadura. E aí o perfil do terrorista brasileiro<br />

reduzia-se à seguinte questão, são: estudantes, jovens, solteiros, pais separados<br />

ou, em última instância, rebel<strong>de</strong>s sem causa, que não tinham o que fazer<br />

e ficavam enchendo o saco da gente. Qual é a culpa do terrorista brasileiro?<br />

A família <strong>de</strong>sestruturada. Essa pesquisa feita pelo Exército brasileiro foi feita<br />

por um coronel, que eu não me lembro o nome, que era psicólogo, que fez e


22 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

publicou no Jornal do Brasil, e nessa conferencia que escutei da Cecília, ela<br />

trouxe essa reportagem. Então, é um pouco, nesse sentido, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

psicologisar tudo o que havia na face da terra. Então, qualquer fenômeno<br />

social, político e econômico era <strong>de</strong> fundamentação psicológica. Depositava<br />

no indivíduo ou na família a responsabilida<strong>de</strong> por aquele processo.<br />

Ausência <strong>de</strong> documentos <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s em psicologia ou não encontrados<br />

no processo <strong>de</strong> busca. É uma coisa interessante <strong>de</strong>sse processo, também,<br />

poucas entida<strong>de</strong>s em psicologia produziram documentos. Talvez pelo fato:<br />

“bom, agora já está regulamentado, lançamos os cursos. Agora vamos fazer”.<br />

E marcado por um saber tecnicista e fortalecimento da perspectiva da psicologia<br />

aplicada, o curriculum minimun reforça isso. Fortalecimento da postura<br />

<strong>de</strong> importação <strong>de</strong> teorias, isso ficou muito forte nesse período, em <strong>de</strong>trimento<br />

<strong>de</strong> profissões autóctones, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> profissões locais, hegemonia<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atuação individualizante e finaliza com a produção <strong>de</strong> dois<br />

documentos governamentais ao final da década <strong>de</strong> 70. Mais precisamente<br />

um em 78 e o outro em 79, que foram os documentos que <strong>de</strong>fendiam o<br />

chamado curriculum plenum.<br />

Em 62, havia sido aprovado o curriculum minimum. O que é o curriculum<br />

minimum? São <strong>de</strong>z matérias que todos os cursos têm que ter no país. Essas<br />

matérias po<strong>de</strong>m ser dobradas em disciplinas, quantas forem necessárias <strong>de</strong><br />

acordo com o contexto <strong>de</strong> cada curso. Mas no mínimo são <strong>de</strong>z matérias, sete<br />

fixas e três semiescolhidas numa lista <strong>de</strong> cinco, esse era o curriculum minimum.<br />

O curriculum plenum pega essas <strong>de</strong>z matérias e as <strong>de</strong>sdobra em matérias disciplinas,<br />

ficam quase 60 disciplinas, e é isso o bloco da psicologia. Então, o<br />

curriculum plenun amplia, enrijece e fixa o curriculum minimum. Eu venho <strong>de</strong><br />

um curso, Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas, em que até 2006 existia o curriculum plenum. O<br />

pessoal, quando criou o curso, criou com base não no curriculum minimum,<br />

mas no curriculum plenum. Era um ‘entupimento’ <strong>de</strong> disciplinas que vocês<br />

não imaginam. O que a gente mais ouvia era... quando chegava em sala <strong>de</strong><br />

aula e perguntava se os alunos haviam lido o texto e apenas um ou dois<br />

haviam lido, pela falta <strong>de</strong> tempo por causa das aulas. Então, era um ‘entupimento’<br />

<strong>de</strong> disciplinas, com aquela lógica <strong>de</strong> que conhecimento se produz só<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Então, finaliza com esses dois documentos, e o mais interessante:<br />

<strong>de</strong>sses dois documentos, um <strong>de</strong>les era do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação,<br />

um documento que havia sido encomendado pelo governo fe<strong>de</strong>ral, não<br />

vingou, não foi aprovado, mas ele <strong>de</strong>ixou uma marca muito forte. E o segundo<br />

documento foi uma produção do Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia, na


PALESTRAS 23<br />

época pior do que o documento do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação e muito<br />

mais autoritário. Também foi um documento que não vingou. Ocorreram vários<br />

movimentos na Psicologia contrários aos dois documentos, e conseguiram<br />

barrá-los. Aí, manteve-se tudo como estava, então volta ao curriculum minimum.<br />

E, aí, entramos no terceiro período, que é o período da década <strong>de</strong> 80:<br />

“Tempos melhores virão... (?) – mobilizações e reconfigurações”. Então, é<br />

um período que entra com a importação <strong>de</strong> teorias, documentos querendo<br />

fixar e enrijecer mais ainda a formação do psicólogo, é um período marcado<br />

por crises e recessões, é a década perdida, que a gente chama na política<br />

econômica do país; o país entrou em recessão severa, inflação galopante. É o<br />

período marcado pela abertura política, pelas “Diretas Já”, pela, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

muitos anos, eleição direta para presi<strong>de</strong>nte no final da década, é um momento<br />

em que a gente começa uma série <strong>de</strong> discussões em favor da <strong>de</strong>mocracia,<br />

da luta pela <strong>de</strong>mocracia. Crescente mobilização política da categoria profissional,<br />

esse é um outro movimento, e aí há uma <strong>de</strong>silusão com o projeto psicológico,<br />

que é incapaz <strong>de</strong> promover mudanças sociais e cada vez mais associadas<br />

a agentes <strong>de</strong> controle do Estado, quer dizer, a psicologia se afundava<br />

como sendo um braço do Estado, seja no campo educacional, seja no campo<br />

do trabalho, seja no campo da esfera, das relações entre as pessoas. E, aí,<br />

início <strong>de</strong> uma profunda discussão sobre o papel social da psicologia no Brasil,<br />

que é o que a gente chama <strong>de</strong> ‘a volta <strong>de</strong> si mesma’ da psicologia, ou ‘a<br />

crise’ da psicologia.


24 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Então, a década <strong>de</strong> 80 foi marcada por muitas experiências, por muitos<br />

movimentos que surgiram na psicologia brasileira, mas movimentos silenciosos,<br />

boa parte <strong>de</strong>les, ou muito locais. Rica em experiências, concepções<br />

alternativas, é um período em que surgem várias entida<strong>de</strong>s, é o período em<br />

que surge a psicologia comunitária, por exemplo, que é fundamental para<br />

nós, hoje. É o período em que surge a ABRAPSO, Associação Brasileira <strong>de</strong><br />

Psicologia Social, fundada em 1980, para fazer frente a essa história da psicologia,<br />

para ser uma ruptura da psicologia distante das nossas necessida<strong>de</strong>s,<br />

distante das nossas questões. E mudança <strong>de</strong> postura <strong>de</strong> outros, principalmente<br />

do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia. Assume, a partir da década <strong>de</strong> 80,<br />

um grupo no Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia, que provoca uma ruptura com<br />

todo o posicionamento do Conselho até então. E ausência <strong>de</strong> diálogos documentados<br />

entre diversos interruptores na formação da psicologia; são poucos<br />

documentos i<strong>de</strong>ntificados encontrados durante a busca nesse período.<br />

Na tabela, tinham três. Dos três, dois eu não encontrei: um era o primeiro<br />

seminário do sistema conselho sobre a formação do psicólogo, foi feito em<br />

81, e o outro documento era o segundo seminário, feito em 82. Não há<br />

qualquer registro a não ser citação em artigos. Eu fui atrás <strong>de</strong> todos os chamados<br />

históricos do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia e do próprio conselho<br />

institucionalmente; ninguém tem esse documento.


PALESTRAS 25<br />

E, aí, o quarto período: “É tempo <strong>de</strong> mudanças (?) – formação e<br />

neoliberalismo (1990-Atualida<strong>de</strong>)”. Consolidação do Estado Democrático<br />

<strong>de</strong> Direito. Então, temos aí uma década <strong>de</strong> conquistas importantes pro país.<br />

Perspectiva neoliberal hegemônica: ‘Estado mínimo’ e forte. A gente entra<br />

na década <strong>de</strong> 90 com uma perspectiva neoliberal muito forte; o governo<br />

Collor, o governo Itamar Franco, dois governos do Fernando Henrique Cardoso,<br />

levaram a uma rota para um país neoliberal muito intensa, as universida<strong>de</strong>s<br />

públicas brasileiras são um exemplo disso. Nós ficamos durante doze<br />

anos, se eu não me engano, sem contratação <strong>de</strong> professores; durante nove ou<br />

<strong>de</strong>z anos sem aumento salarial; e um estrangulamento, um enxugamento<br />

enorme das universida<strong>de</strong>s públicas brasileiras. O ‘Estado mínimo’ e forte,<br />

então o Estado atuando minimamente na economia, terceirização dos serviços,<br />

e por aí vai.<br />

Nova rodada na regulamentação e na organização da formação da psicologia<br />

no Brasil; e começa <strong>de</strong> novo a discussão, que começa com um movimento<br />

muito importante para psicologia brasileira: produz-se a carta <strong>de</strong> Serra<br />

Negra, que, criada em torno <strong>de</strong> tal movimento, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Serra Negra,<br />

em 92, é um documento, marco para a discussão da formação do psicólogo<br />

no Brasil. Em 92, existiam no país 103 cursos <strong>de</strong> psicologia; <strong>de</strong>stes, 101 estavam<br />

presentes, então é um documento bastante representativo <strong>de</strong>ssa discussão,<br />

bastante importante. E, aí, <strong>de</strong>pois vêm condições <strong>de</strong> especialistas. Na<br />

década <strong>de</strong> 90, surge a ABEP (Associação Brasileira <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Psicologia),<br />

então, é uma década muito marcada pela discussão fervorosa dos rumos<br />

da formação do psicólogo do país, aproveitando todas as experiências exitosas<br />

da década <strong>de</strong> 80, e foram muitas. O <strong>de</strong>bate atual sobre formação <strong>de</strong> psicologia,<br />

as diretrizes curriculares homologadas pelo ministro em 2004. Todo esse<br />

<strong>de</strong>bate que eu faço com vocês termina então em 2004, nas diretrizes<br />

curriculares. É nelas que a gente se baseia hoje para fazer as reformas nos<br />

nossos cursos.<br />

Bom, até este momento, eu não entrei em nenhum documento, só no<br />

movimento <strong>de</strong>les, em seu contexto, etc. Agora, vamos entrar e fazer uma<br />

análise <strong>de</strong>ssas práticas discursivas <strong>de</strong>sses documentos. Eu tentei trazer aqui,<br />

para não ficar muito cansativa, questões pontuais muito rápidas. A gente<br />

po<strong>de</strong> aprofundá-las <strong>de</strong>pois na nossa conversa. Categorias <strong>de</strong> análise das práticas<br />

discursivas; eu peguei quatro categorias básicas, para fazer essa análise,<br />

e obviamente que eu não conseguiria fazer essa análise com 62 documentos,<br />

então, reduzi para 13. Esses 13 foram caracterizados pelo que a gente chama


26 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

<strong>de</strong> ‘inci<strong>de</strong>ntes críticos’. Então, não é que sejam mais representativos, não; ali<br />

ocorreram coisas, <strong>de</strong> uma certa forma, esses 13 documentos trazem um pouco<br />

da reunião <strong>de</strong> alguns outros <strong>de</strong>bates. E nessa análise <strong>de</strong>sses 13 documentos,<br />

procurando ver qual é a retórica utilizada por eles, quais os dícticos <strong>de</strong><br />

discurso, vou explicar já o que é isso, repertórios linguísticos e implicaturas<br />

conversacionais.<br />

Vamos ver primeiro a retórica. Então, a retórica utilizada nos documentos<br />

é caracterizada por verda<strong>de</strong>/autorida<strong>de</strong> (concepção evolucionista e positivista<br />

da ciência), isso fica bastante forte; dicotomia entre ciência e profissão também<br />

fica muito forte; hegemonia da psicologia aplicada (consolidando uma<br />

perspectiva tecnicista, com especialização precoce e fragmentação da formação),<br />

essa também é uma discussão bastante cara para nós, quer dizer, essa<br />

influência da psicologia aplicada forjou uma especialização já na graduação,<br />

muito intensa pros nossos cursos <strong>de</strong> psicologia. Não é à toa que a gente bate<br />

até hoje em uma discussão para rever e refletir sobre a formação generalista. A<br />

lógica disciplinar, ela quase <strong>de</strong>semboca por si só em uma fragmentação intensa<br />

da nossa formação. Centrada em uma perspectiva individualizante <strong>de</strong> atuação<br />

psicológica (oriunda da concepção disciplinar) e narrativa histórica baseada no<br />

agenciamento <strong>de</strong> nomes e fatos (<strong>de</strong>marcando fronteiras para narrar tentativas<br />

<strong>de</strong> rupturas com épocas passadas). Então, por vários motivos, essa retórica<br />

ficou muito evi<strong>de</strong>nciada em boa parte <strong>de</strong>sses documentos.


PALESTRAS 27<br />

A segunda categoria, a gente chama <strong>de</strong> ‘Repertórios Linguísticos’, são<br />

consi<strong>de</strong>rados os elementos fundamentais que os falantes utilizam para construir<br />

versões das ações, dos processos cognitivos e, também, da construção<br />

<strong>de</strong> documentos: termos ou conjunto <strong>de</strong> termos, vocábulos, expressões, <strong>de</strong>scrições,<br />

figuras <strong>de</strong> linguagem, etc. São as unida<strong>de</strong>s analíticas básicas do discurso.<br />

Então, fui tentando i<strong>de</strong>ntificar nesses documentos quais eram os conjuntos<br />

<strong>de</strong> repertório que marcavam esses quatro períodos. Então, que palavras,<br />

que expressões, que figuras <strong>de</strong> linguagem, se usavam ao longo <strong>de</strong>sses<br />

quatro períodos. E aí, o que se modificou? O que se rompeu? O que surgiu<br />

<strong>de</strong> novo? O que foi abandonado? Então, que repertórios surgem ao longo<br />

<strong>de</strong>sses tempos.<br />

Os repertórios linguísticos utilizados nos dois primeiros períodos (até a<br />

década <strong>de</strong> 50 e década <strong>de</strong> 60) e os utilizados no quarto período são completamente<br />

diferentes. Em termos <strong>de</strong> repertórios e <strong>de</strong> expressões, muda-se radicalmente<br />

o palavreado. A partir da década <strong>de</strong> 90, surgem novos termos que,<br />

a princípio, nada têm a ver com os anteriores. Então, “Habilitações” são<br />

substituídas por “Perfis <strong>de</strong> formação”, então, por exemplo, na década <strong>de</strong> 90,<br />

a gente já não tem mais os discursos das “Habilitações”, como tinha na década<br />

<strong>de</strong> 60, ou seja, não tem mais sentido a gente construir as três habilitações<br />

básicas da psicologia: bacharelado, licenciatura, formação do psicólogo.<br />

Hoje nós temos uma pelas diretrizes, que criou um gran<strong>de</strong> problema,<br />

que foi resolvido só agora. Essa única é “curso <strong>de</strong> psicologia”. Então, nós


28 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

fazemos um curso <strong>de</strong> psicologia. Só que há dois, três anos, o Ministério da<br />

Educação criou uma resolução <strong>de</strong> que todos os cursos <strong>de</strong> graduação do país<br />

ou vão ser bacharéis, ou vão ser licenciados. Eu sou coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> curso lá<br />

na UFAL, aí estava a pró-reitora <strong>de</strong> graduação na minha cola, assim: “O que<br />

a gente coloca no diploma? Bacharel ou licenciado, porque é isso que o ministério<br />

está dizendo que tem que colocar: ou um, ou outro”. E eu respondia:<br />

“Não, você tem que colocar ‘curso <strong>de</strong> psicologia’”, e eles me contradiziam.<br />

Aí eu ia pro conselho fe<strong>de</strong>ral e perguntava se, se eu colocasse “bacharel<br />

ou licenciado” no diploma, eles aceitariam, e eles respondiam que não, porque<br />

bacharel não é psicólogo, pelo mo<strong>de</strong>lo anterior. Aí, agora, o Ministério<br />

da Educação e Conselho Fe<strong>de</strong>ral acertaram-se e concordaram que vai ser<br />

“bacharel da psicologia – formação <strong>de</strong> psicólogo”, contrariando as diretrizes.<br />

Mas o termo “Habilitações” <strong>de</strong>saparece dos documentos e é substituído por<br />

“Perfis <strong>de</strong> formação”. “Currículo Mínimo” é substituído por “Diretrizes<br />

Curriculares”; “Campos <strong>de</strong> Aplicação”, por “Ênfases Curriculares”, esse é<br />

um outro gran<strong>de</strong> problema que nós temos; “Disciplinas”, por “Habilida<strong>de</strong>s”;<br />

“Matérias”, por “Competências”.<br />

Então, não se fala mais em disciplinas, nos documentos novos, não se<br />

fala mais em matérias, como no curriculum minimum, mas se fala em competências<br />

e habilida<strong>de</strong>s. Aliás, competências e habilida<strong>de</strong>s, além do perfil<br />

formativo, são os dois únicos termos que são ditados pelo Ministério da<br />

Educação em um documento <strong>de</strong> 1997, resolução número 4, assinado pelo<br />

ministro Paulo Renato <strong>de</strong> Souza, sobre as reformas curriculares gerais no<br />

país inteiro. A única diretriz que o governo fe<strong>de</strong>ral ce<strong>de</strong>u nas reformas<br />

curriculares foi a principal, que amarrou absolutamente todo o processo<br />

formativo, foi nesse documento <strong>de</strong> 1997. E o documento colocava o seguinte:<br />

“todos os cursos <strong>de</strong> graduação do país têm que fazer suas reformas com<br />

base em perfil formativo, competências e habilida<strong>de</strong>s”. Essa é uma discussão<br />

fundamentada numa concepção <strong>de</strong> psicologia convectiva do Perrenoud, um<br />

francês. Ou seja, a psicologia é o que marca as reformas curriculares em todo<br />

o país. “Tronco comum” é substituído por “Núcleo comum”, além <strong>de</strong> constantes<br />

erros novos; por exemplo, “Capacitação” começa a existir. “Eixos<br />

estruturantes” é um termo que não existia e começa a existir na década <strong>de</strong><br />

90, “Fenômenos e processos psicológicos”, etc.<br />

Então, há uma mudança gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> termos, <strong>de</strong> repertório, mas o que<br />

me interessava saber era o que significam esses repertórios. Há, a partir da


PALESTRAS 29<br />

década <strong>de</strong> 90, tentativa <strong>de</strong> rupturas, que utilizam repertórios inexistentes na<br />

documentação anterior e que também <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> existir logo <strong>de</strong>pois, no documento<br />

das diretrizes. Então, na década <strong>de</strong> 90, surgem repertórios que nascem<br />

e morrem. Então, o principal <strong>de</strong>les, no meu modo <strong>de</strong> ver, é<br />

“Indissociabilida<strong>de</strong> entre ensino, pesquisa e extensão”, isso era o chavão da<br />

moda, na década <strong>de</strong> 90, e, da mesma forma que ele aparece, no final da<br />

década <strong>de</strong> 90, ele <strong>de</strong>saparece dos documentos. Para mim, é uma expressão<br />

muito custosa porque ela fundamenta o sentido <strong>de</strong> ‘universida<strong>de</strong>’, ela é muito<br />

importante para nós, e <strong>de</strong>saparece completamente dos nossos documentos.<br />

“Interrupção” <strong>de</strong>saparece, “Articulação” <strong>de</strong>saparece, “Complexida<strong>de</strong>”, e por<br />

aí vai. Então, vários termos que começam a surgir nos documentos na década<br />

<strong>de</strong> 90, <strong>de</strong>pois, são abandonados.<br />

Apesar da mudança nos repertórios, há aqui um processo <strong>de</strong> permanências<br />

e não <strong>de</strong> rupturas, aí eu comecei a analisar o que quer dizer ‘ênfase<br />

curricular’. O que a ênfase nos diferencia das psicologias aplicadas? O que o<br />

perfil formativo nos diferencia das habilitações? O que as matérias nos diferenciam<br />

das competências? O que as disciplinas nos diferenciam das habilida<strong>de</strong>s?<br />

Então, a hipótese em que eu trabalho é que há muito mais processos<br />

<strong>de</strong> permanências do que <strong>de</strong> rupturas nessa história. Isso me lembra muito o<br />

romance <strong>de</strong> Tomaso di Lampedusa, que é um romance escrito na década <strong>de</strong><br />

50, chamado O Leopardo, <strong>de</strong> um italiano.<br />

Esse romance fala sobre o século 19, sobre o surgimento da República<br />

na Itália e tem a fala <strong>de</strong> um sobrinho do Dom Fabrizio, Tancredi, o arruinado<br />

e simpático oportunista príncipe <strong>de</strong> Falconeri, incitando seu tio cético e<br />

conservador a abandonar sua lealda<strong>de</strong> aos Bourbons das “Duas Sicílias” e<br />

aliar-se à dinastia <strong>de</strong> Savóia, e a resposta do tio é a seguinte: “A não ser que<br />

nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República.<br />

Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mu<strong>de</strong>”. Então, a<br />

sensação que me passa um pouco na análise <strong>de</strong>sses documentos é que muda<br />

tudo, para permanecer tudo como estava e, olhando um pouco mais <strong>de</strong> perto<br />

as práticas que vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas na formação do psicólogo, essa é<br />

a sensação que nos passa.


30 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O terceiro elemento <strong>de</strong> análise é mais periférico pra gente aqui, mas eu<br />

o acho muito interessante <strong>de</strong> dícticos <strong>de</strong> discurso, que são indicadores, elementos<br />

no texto, no caso, no documento, que me indicam relação com alguém<br />

ou com algo. Então, montei uma re<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong>sses dícticos muito<br />

simples: que documentos citam que documentos? Uma espécie <strong>de</strong> sociograma,<br />

para tentar i<strong>de</strong>ntificar que projetos nós temos nesse <strong>de</strong>bate. E aí ficou muito<br />

interessante os processos <strong>de</strong> filiações e re<strong>de</strong>s que a gente encontra. Por exemplo,<br />

o Código <strong>de</strong> Ética dos Psicólogos é um documento central para gente;<br />

tem autor que vai afirmar que só se regulamenta verda<strong>de</strong>iramente a profissão<br />

quando se tem um código <strong>de</strong> ética. E o nosso código <strong>de</strong> ética vai surgir<br />

muito <strong>de</strong>pois da regulamentação <strong>de</strong> 62, ele surge em 74, se eu não me engano.<br />

Mas o código <strong>de</strong> ética só é citado em três documentos ao longo <strong>de</strong> todo<br />

esse processo. Então, dos 62 documentos, só três citam. O primeiro <strong>de</strong>les é<br />

“A Carta <strong>de</strong> Serra Negra”, <strong>de</strong> 92; o segundo, “O Documento da Comissão<br />

<strong>de</strong> Especialistas do MEC”, que foi uma comissão montada em 95, da qual<br />

faziam parte a Marisa Borges, diretora do Instituto <strong>de</strong> Psicologia da UNB,<br />

Antonio Virgilio, professor da Fe<strong>de</strong>ral da Bahia, e Ivone Culi, <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Essa foi a primeira comissão <strong>de</strong> especialistas a ser indicada pelas entida<strong>de</strong>s<br />

em psicologia, e eles produziram um documento que, para mim, é o melhor<br />

documento da formação do psicólogo até hoje. Esse <strong>de</strong> 95, chamado “Formação<br />

em Psicologia: contribuições para reestruturação curricular e avaliação<br />

dos cursos”, é um documento fantástico, muito bem escrito, uma concepção<br />

muito aberta <strong>de</strong> formação, baseado na “Carta <strong>de</strong> Serra Negra”.


PALESTRAS 31<br />

Então, a gente percebe uma filiação histórica entre “Serra Negra”, a<br />

primeira comissão <strong>de</strong> especialistas e o documento do fórum nacional <strong>de</strong><br />

entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> psicologia brasileira <strong>de</strong> 2002, que ajuda a construir as diretrizes<br />

curriculares. Então, a gente percebe aqui, claramente, uma filiação <strong>de</strong> documentos,<br />

que são documentos mais abertos, no meu modo <strong>de</strong> ver, mais interessantes<br />

e que tem uma carga <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> da categoria muito gran<strong>de</strong>,<br />

uma carga <strong>de</strong> diálogo muito intenso. A própria “Carta <strong>de</strong> Serra Negra”,<br />

que é fundamental para nós, só é citada por um documento, que é o documento<br />

da comissão dos especialistas. Nenhum outro documento dos 62 cita<br />

a “Carta <strong>de</strong> Serra Negra”, e olha que na década <strong>de</strong> 90 nós tivemos uma<br />

produção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 45 documentos. O documento da comissão dos especialistas<br />

<strong>de</strong> 95 só é citado nos trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Psicologia, e os documentos das comissões <strong>de</strong> especialistas posteriores são<br />

citados em trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicologia.<br />

A gente vê nitidamente o movimento que existe a partir do final da década<br />

<strong>de</strong> 90, entre, por um lado, o Fórum Nacional <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s da Psicologia<br />

Brasileira e, por outro, a Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicologia. Há ali uma ruptura<br />

entre as instituições, tanto que a constituição das diretrizes curriculares<br />

da psicologia vai ser reproduzida com essas duas entida<strong>de</strong>s: o Fórum e a<br />

Socieda<strong>de</strong>, dois representantes <strong>de</strong> cada, para finalizar o documento das diretrizes<br />

que a gente conhece hoje.


32 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A última categoria <strong>de</strong> análise, para gente já ir finalizando, é o que a<br />

gente chama <strong>de</strong> ‘implicaturas conversacionais’: explora a possibilida<strong>de</strong> da<br />

construção <strong>de</strong> inferências nos textos, a partir do próprio texto e <strong>de</strong> suas regras<br />

<strong>de</strong> construção. Então, implicaturas é quando alguns padrões são rompidos<br />

no texto. Assim, a análise das implicaturas conversacionais está na transgressão<br />

das máximas conversacionais. É pelas máximas (ou por sua transgressão)<br />

que a informação é transmitida <strong>de</strong> forma indireta. Então, por exemplo,<br />

máxima <strong>de</strong> modo: <strong>de</strong>finições do “psicologista”. O primeiro documento que<br />

a gente teve para regulamentar a profissão do psicólogo foi a regulamentação,<br />

que foi um documento que <strong>de</strong>u entrada no Congresso Nacional em<br />

1958, que regulamentava a profissão <strong>de</strong> psicologista, era uma profissão eminentemente<br />

técnica, e foi um documento preparado pelo ISOP (Instituto <strong>de</strong><br />

Seleção e Orientação Profissional).<br />

As habilitações: bacharel, licenciado e psicólogo, no primeiro momento,<br />

eram três cursos distintos, mas há um documento <strong>de</strong> 1978, do Conselho<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação da época, da professora Nair Abumeri, em que um<br />

coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> curso indaga ao Conselho Fe<strong>de</strong>ral se são três cursos ou três<br />

habilitações. Isso faz uma diferença enorme. A professora Nair Abumeri emite<br />

um parecer dizendo que são três cursos. Os representantes dos cursos privados<br />

entram com uma nova indagação dizendo que não po<strong>de</strong>m ser três cursos,<br />

mas sim três habilitações. No ano seguinte, o parecer foi revisto, e o<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral atesta que são três habilitações porque, economicamente, é<br />

mais barato você ter três habilitações do que três cursos. Você concentra<br />

toda a parte gerencial. Você transforma todas as disciplinas comuns e compartilha<br />

com as mesmas pessoas. Você tem um curso mais barato, o que só<br />

reforça a questão neoliberal <strong>de</strong> que a gente falou agora há pouco. Então,<br />

houve uma transgressão <strong>de</strong>ssas habilitações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do <strong>de</strong>bate.<br />

E, analisando os documentos, a máxima <strong>de</strong> modo não explicita o porquê<br />

da inclusão das disciplinas instrumentais, como, por exemplo, Fisiologia<br />

e Estatística. Então, a gente pega um documento do curriculum minimum,<br />

que tem as <strong>de</strong>z matérias mínimas, tem uma parte do documento que fala o<br />

seguinte: “A fisiologia explica-se como estudo básico para compreensão do<br />

comportamento humano e animal que, além disto, proporciona um treinamento<br />

metodológico válido em si mesmo”. Então, essa é a justificativa <strong>de</strong><br />

todo um bloco <strong>de</strong> disciplinas, não é preciso explicar; ela vale por si mesma.<br />

Então, aí, uma transgressão <strong>de</strong> uma regra. Aí a transgressão <strong>de</strong> uma máxima,<br />

<strong>de</strong> uma implicatura <strong>de</strong> moda. Justificar porque vale por si mesma, estranho,


PALESTRAS 33<br />

não é? Ou, então, no que se refere às matérias <strong>de</strong> metais... tem sua inclusão<br />

garantida no documento <strong>de</strong> 78. Também não se explica isso. Obviamente,<br />

toda a parte da fisiologia e da biologia do campo <strong>de</strong> interface com a matemática<br />

é fundamental. Mas as discussões não passavam por aí. Ou no mesmo<br />

documento <strong>de</strong> 78 havia: “Comte, por exemplo, já sustentava a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se vincular o estudo da psicologia ao que ele chamava <strong>de</strong> zoologia e a<br />

sociologia que acabara <strong>de</strong> fundar. Na formação clássica caberia à sociologia<br />

inspirar a psicologia e à zoologia controlá-la. A visão peculiar a Comte permanece<br />

válida com a substituição óbvia da zoologia pela biologia. Com isso,<br />

ganha-se em abrangência”. Quer dizer, é injustificável esse nosso currículo.<br />

Bom, algumas consi<strong>de</strong>rações para a gente fechar <strong>de</strong> vez aqui. Em seu<br />

início, o <strong>de</strong>bate sobre a formação em psicologia no Brasil foi aliado a uma<br />

lógica liberal e, posteriormente, aliado a uma lógica neoliberal, isso ficou<br />

bastante evi<strong>de</strong>nte. Alguns aspectos das diretrizes curriculares atuais marcam<br />

isso. Então, há mais permanências no diálogo sobre a formação em psicologia<br />

no Brasil do que rupturas. Há mais continuida<strong>de</strong>s nessa discussão do que<br />

rupturas. Que continuida<strong>de</strong>s seriam essas que eu rapidamente <strong>de</strong>stacaria<br />

aqui? A noção <strong>de</strong> perfis profissionais: modificações nas noções <strong>de</strong> bacharéis<br />

e licenciados do primeiro para o quarto período. A noção <strong>de</strong> competências e<br />

habilida<strong>de</strong>s como her<strong>de</strong>ira das noções <strong>de</strong> matérias e disciplinas. A noção <strong>de</strong><br />

ênfases curriculares como her<strong>de</strong>ira da psicologia aplicada. Culmina na clássica<br />

discussão entre formação <strong>de</strong> generalistas ou <strong>de</strong> especialistas.


34 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A gente sempre teve uma formação <strong>de</strong> especialistas. É uma falácia dizermos<br />

que formamos sempre profissionais generalistas. Sempre a formação<br />

<strong>de</strong> um psicólogo no Brasil foi uma formação <strong>de</strong> uma especialização precoce.<br />

A gente percebe isso muito claramente nas estruturas curriculares. A<br />

gente tem aquela lógica dos três estágios clássicos ou, em alguns cursos, os<br />

três estágios clássicos se <strong>de</strong>sdobram em mais outros e o aluno opta por um.<br />

Eu não sei como é que para vocês isso funciona, imagino que vocês tenham<br />

<strong>de</strong> passar pelos três, eu também passei pelos três na minha formação. Mas,<br />

por exemplo, na Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas, quando eu cheguei, em 2006, no currículo<br />

havia nove estágios e o aluno optava por um. E essa era a tônica em boa<br />

parte do país. E é a tônica das ênfases curriculares. Então, as ênfases, em boa<br />

parte dos cursos <strong>de</strong> psicologia, simplesmente replicaram o que já havia. Se<br />

nós tínhamos estágios <strong>de</strong> psicologia clinica, estágios <strong>de</strong> psicologia escolar,<br />

estágios <strong>de</strong> psicologia <strong>de</strong> trabalho, esses estágios se transformam geralmente<br />

em duas ênfases. Porque são raros os cursos que tem três ou quatro ênfases.<br />

Quatro ênfases, eu não vi nenhum; três ênfases geralmente é quando não<br />

consegue dialogar, juntar dois <strong>de</strong>partamentos. Duas ênfases, quando consegue<br />

algum diálogo. Mas geralmente as ênfases replicam o que já existia. Então,<br />

psicologia clínica vira processos clínicos, psicologia organizacional do<br />

trabalho, processos e relações <strong>de</strong> trabalho. Mudam-se os repertórios, mas a<br />

lógica permanece muito próxima. E o que é pior: com um empobrecimento<br />

da experiência do aluno. Na minha época, ou na época <strong>de</strong> vocês, o aluno<br />

pelo menos passa por três campos. Na Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Alagoas, quando <strong>de</strong>sdobra<br />

em nove estágios, agora eu vou falar os nove estágios: Psicologia clínica – não<br />

é a clínica pura, o aluno po<strong>de</strong> optar por clínica infantil, clínica <strong>de</strong> adolescente,<br />

clínica <strong>de</strong> adulto – escolar, trabalho, comunitária, social, hospitalar, jurídica.<br />

O aluno opta por um <strong>de</strong>les. Quando eu cheguei e vi esse negócio,<br />

pensei: “Gente, mas isso é uma coisa <strong>de</strong> doido. Porque isso é assumir <strong>de</strong> vez<br />

a nossa condição <strong>de</strong> especialização precoce”.<br />

Sobra o quê, <strong>de</strong>pois, num curso <strong>de</strong> graduação que era <strong>de</strong> seis anos?<br />

Então, quer dizer, a gente percebe isso muito claramente. Então, o que se<br />

muda nisso? Acho que muito pouco. A análise <strong>de</strong> documentos me <strong>de</strong>ixou<br />

muito pessimista, reconheço isso. Mas, agora, acho que há muitas saídas<br />

para isso, tem muitas coisas legais que a gente po<strong>de</strong> transgredir, a partir <strong>de</strong>ssa<br />

historia, eu não tenho dúvida disso. E era sobre essas tendências e perspectivas<br />

<strong>de</strong> que transgressões po<strong>de</strong>mos fazer... Quando eu falo em transgressão,<br />

não estou querendo em absoluto ser um <strong>de</strong>linquente, mas no sentido <strong>de</strong> ir


PALESTRAS 35<br />

além dos conceitos, e, aí, acho que o principal elemento para isso é a nossa<br />

história, a história <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós, o local. Então, <strong>de</strong>ixo para nossa conversa<br />

as nossas tendências e perspectivas em relação a essa historia.<br />

Obrigado pela atenção <strong>de</strong> vocês!


36 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CAMINHOS<br />

DA PSICOLOGIA EM LONDRINA<br />

Anízio Henrique <strong>de</strong> Faria Junior<br />

Psicólogo – <strong>Londrina</strong><br />

Bom-dia a vocês, eu fiquei muito satisfeito com o convite que me foi<br />

feito. O tema que me foi pedido é “Consi<strong>de</strong>rações sobre os caminhos da<br />

Psicologia em <strong>Londrina</strong>”.<br />

Vou começar falando um pouquinho da minha passagem por <strong>Londrina</strong>,<br />

porque talvez a minha passagem pessoal tenha um pouco a ver com o que<br />

vai acontecer em <strong>Londrina</strong>. Eu chego a <strong>Londrina</strong>, 1975, on<strong>de</strong> existiam dois<br />

cursos <strong>de</strong> Psicologia: o da UEL e o do Cesulon. Eu chego em julho <strong>de</strong> 1975<br />

e inicio minha clínica exatamente em agosto, quer dizer, agora, neste mês <strong>de</strong><br />

agosto, está fazendo 35 anos que eu atendo em clínica. Em 1976, a universida<strong>de</strong><br />

formava no quarto ano, e havia a supervisão do estágio, que seria do<br />

quinto ano. Eu chego e início o trabalho no Cesulon, no segundo semestre<br />

<strong>de</strong> 75, e, em 76, na época eu tinha cre<strong>de</strong>ncial para ser supervisor do estágio,<br />

e, por causa <strong>de</strong>ssa cre<strong>de</strong>ncial, entro na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e começo<br />

a trabalhar somente com supervisão <strong>de</strong> estágio, que é o quinto ano. Fico na<br />

universida<strong>de</strong> em 76 e 77, então, <strong>de</strong>ixo a universida<strong>de</strong>, e o Cesulon, que teve<br />

um problema porque os cursos não estavam reconhecidos, ou coisa assim,<br />

eu saí em 80.<br />

Des<strong>de</strong> então, eu fico só na minha própria clínica, mas, durante esse período<br />

todo, eu não consegui abrir mão <strong>de</strong> dar curso, <strong>de</strong> fazer seminário, <strong>de</strong><br />

compartilhar conhecimento, com grupos <strong>de</strong>ntro da minha clínica. Eu fui chamado<br />

para fazer a instalação do Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia do Paraná,<br />

que era em Curitiba, fiquei lá acho que uns oito anos. Na época, eu gostava<br />

muito da i<strong>de</strong>ia, porque eu mantive <strong>Londrina</strong>, durante os oito anos, na vicepresidência<br />

do Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia. Eu achava que <strong>Londrina</strong><br />

merecia esse lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Depois disso, a revista Psicologia, Ciência e Profissão<br />

me chamou para ser do conselho editorial <strong>de</strong> fundação, e <strong>de</strong>pois eu fui pro<br />

Conselho Fe<strong>de</strong>ral, por volta <strong>de</strong> 1990, e fiquei lá durante quatro anos. Então, a<br />

minha passagem como alguém representando os psicólogos é essa.


PALESTRAS 37<br />

Agora, começamos a palestra, e eu gostaria <strong>de</strong> voltar um pouco para<br />

ver quais foram os caminhos da Psicologia em <strong>Londrina</strong>. Como toda ciência<br />

nova, ela tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fortificar com uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que ela é objetiva,<br />

<strong>de</strong> que ela tem valida<strong>de</strong> completa, ela precisa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong>mente o<br />

que ela faz. Eu diria que sou do início da aplicação da Psicologia, não só em<br />

<strong>Londrina</strong>, como em outros lugares; eu venho da USP <strong>de</strong> Ribeirão Preto,<br />

uma formação que era extremamente rígida e não se pensava em aplicação<br />

da Psicologia, que <strong>de</strong>veria ser campo <strong>de</strong> pesquisa. Então, acho que sou <strong>de</strong><br />

uma geração que começa a ter <strong>de</strong> fazer a aplicação da Psicologia, e não só a<br />

pesquisa.<br />

Quando eu cheguei a <strong>Londrina</strong>, encontrei um ambiente muito <strong>de</strong>sejoso<br />

<strong>de</strong> se fazer pouca ciência, <strong>de</strong> ser muito objetivo. Eu vinha, na época,<br />

com uma formação já terapêutica extremamente esquisita, que era a formação<br />

da psicodinâmica, o que dá um ‘baque’ danado, porque duas coisas<br />

confrontavam-se: uma que seria a ciência <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma objetivida<strong>de</strong> muito<br />

gran<strong>de</strong> e outra da psicanálise como algo não verificável, algo abstrato,<br />

que não po<strong>de</strong>ria ser uma ativida<strong>de</strong> chamada científica. Então, há alguns<br />

dos caminhos a princípio em <strong>Londrina</strong>, que são os caminhos <strong>de</strong>ssa natureza.<br />

Todos nós extremamente jovens, e eu sempre sugiro que o jovem precisa<br />

ter um bom grau <strong>de</strong> onipotência, onipresença, onisciência. Então, eu<br />

venho pra <strong>Londrina</strong>, pois a tendência da universida<strong>de</strong> nessa época era como<br />

a minha, <strong>de</strong> origem mais experimentalista, mas objetiva, e é interessante,<br />

porque, quando eu chego a <strong>Londrina</strong>, eu ganho um apelido, eu era chamado<br />

<strong>de</strong> ‘outras abordagens’.<br />

Pergunta da plateia: Como foi o início na clínica que você abriu?<br />

Anízio: Fabulosamente bom. Durante algum tempo, e até hoje, eu sou<br />

chamado <strong>de</strong> mercenário, ladrão, sem-vergonha, uma série <strong>de</strong> coisas, porque<br />

o preço da minha consulta era o preço da consulta médica. Eu inicio o meu<br />

trabalho quando não existia plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, então eu tive um preço da consulta<br />

particular. Os remédios da época <strong>de</strong>ixavam as pessoas gordas e feias,<br />

então, os psiquiatras estavam em baixa, porque as pessoas ficavam gordas e<br />

feias, então surgiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que todo mundo <strong>de</strong>via fazer psicoterapia sem<br />

tomar remédio. E você sabe que nós estamos na fase <strong>de</strong> remédios que não<br />

engordam mais, a cara não fica macilenta, e isso fez com que os consultórios<br />

se esvaziassem. Então, eu levei a gran<strong>de</strong> sorte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r sustentar minha famí-


38 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

lia justamente na época em que ser psicólogo clínico era tudo, porque, simplesmente,<br />

eu podia cobrar o preço das consultas particulares e todo mundo,<br />

para não ter <strong>de</strong> tomar os remédios, fazia psicoterapia. Então, <strong>de</strong> 1975 a<br />

1985, os psicólogos ficaram provocando a indústria farmacêutica; a psiquiatria<br />

teve uma baixa nesse sentido, e a gente começou a nadar <strong>de</strong> braçadas. A<br />

psicologia clínica nadou <strong>de</strong> braçadas nessa época, não no sentido material<br />

do termo, eu usei esse termo para se encaixar no problema que existia com<br />

relação ao plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Quando surgiram todos esses planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, eu lembro que conversei<br />

com alguns médicos e amigos, perguntando como eles conseguiam cobrar<br />

20, 30 reais a consulta, e eles respondiam que para eles estava ótimo, porque<br />

a socieda<strong>de</strong> ficou com hipocondria. Resultado: o médico não teve interesse<br />

na clínica particular, porque o volume <strong>de</strong> pessoas que estão com alguma<br />

doença e vão ao medico só porque tem plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aumentou. Estou<br />

fazendo essa observação porque eu acho estranho; a socieda<strong>de</strong> ficou com<br />

hipocondria e, com isso, é obvio que a indústria farmacêutica ficou muito<br />

satisfeita. Então, entrando nessa situação, eu pergunto a vocês: qual é o plano<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que existe no Brasil e no mundo que cre<strong>de</strong>ncia psicólogo? Vocês<br />

conhecem algum? Não tem, porque todos os planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> gostam <strong>de</strong> fazer<br />

tratamento por episodia; “o fulano dá uma ferrada”, faz e acabou, enquanto<br />

o nosso trabalho é trabalho continuado.<br />

Primeiro resultado: clínica particular; segundo: os médicos encantados<br />

com os planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Os planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos puseram para fora. Eu sou<br />

cre<strong>de</strong>nciado da Links. Vocês sabem o que é Links? Bom, a Links me ligou me<br />

perguntando se eu po<strong>de</strong>ria emprestar o meu nome para eles, e a gente faz<br />

alguma coisa assim: se um cliente diz que é da Links, a gente dá um <strong>de</strong>sconto<br />

para ele. Então, nossa situação mudou com o avanço da medicina ‘socializada’,<br />

e hoje uma das áreas <strong>de</strong> trabalho do psicólogo acabou sendo o <strong>de</strong> psicólogo<br />

da saú<strong>de</strong> pública, o que dificultou o trabalho para o clínico.<br />

Foi um começo superbacana, a indústria farmacêutica só engordando<br />

pessoas, e a re<strong>de</strong> Globo ajudou bastante, os artistas ajudaram bastante. Caetano<br />

Veloso, Gilberto Gil, falavam na televisão que estavam fazendo análise,<br />

e o povo foi atrás. A clínica teve um tempo muito bom, muito rico, no sentido<br />

<strong>de</strong> experiência. Acho muito importante o psicólogo clínico aten<strong>de</strong>r o<br />

povo, com dinheiro, sem dinheiro, intelectual ou não, e tem uma regra da<br />

Psicologia pela qual tenho certa antipatia: você tem <strong>de</strong> fazer análise, você


PALESTRAS 39<br />

tem <strong>de</strong> fazer terapia. Eu sempre tive antipatia por isso e guardo no meu<br />

currículo ter atendido poucos psicólogos. Era muito difícil você <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a experiência clínica, em si mesma, é um gran<strong>de</strong> aprendizado.<br />

Por exemplo, i<strong>de</strong>alisticamente falando, pra mim um curso <strong>de</strong> Psicologia<br />

teria <strong>de</strong> começar, no primeiro dia <strong>de</strong> aula, com uma pessoa falando na sua<br />

frente, para ver como você se vira, até o quinto ano, porque acho que a<br />

experiência clínica gera aprendizado. Então, quando fica aquela terapia ‘mais<br />

para só se conhecer’, fica meio ‘assim’, porque a Psicologia fica mais campo<br />

<strong>de</strong> aplicação, <strong>de</strong> teoria, do que faz a própria teoria <strong>de</strong>ntro do trabalho <strong>de</strong>la,<br />

mesmo através da experiência. Então, nesse ponto, eu sugiro: não vamos nos<br />

conformar a ter vários pacientes psicólogos e poucos que realmente precisam<br />

<strong>de</strong> atendimento. Conforme a psicologia clínica foi tendo essas dificulda<strong>de</strong>s,<br />

acho que começou a ficar em alta a psicologia organizacional, embora eu<br />

discor<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa divisão em psicologia clínica, organizacional, etc., porque o<br />

objeto final e inicial da psicologia é o ser humano, e todos nós precisamos<br />

ter, como psicólogos, certa concepção sobre o ser humano. Não acho úteis<br />

essas divisões; acho que um bom clínico po<strong>de</strong> ser um bom organizacional,<br />

um bom organizacional po<strong>de</strong> ser um bom clínico, e fim <strong>de</strong> papo. Acho que<br />

po<strong>de</strong> haver esse trânsito. Para quem está estudando, não acho que é necessário<br />

fazer nenhuma opção, mas eu nunca tive ‘nojo’ <strong>de</strong> uma teoria que não<br />

fosse a minha, porque não faz sentido nenhum você ven<strong>de</strong>r o seu peixe falando<br />

mal do peixe alheio. A psicanálise <strong>de</strong> vez em quando é tratada como peixe<br />

podre, mas isso o tempo vai se encarregar <strong>de</strong> resolver.<br />

Pergunta da plateia: Fala mais sobre a psicologia, a psicanálise na comunida<strong>de</strong>,<br />

porque você também falou sobre toda a questão <strong>de</strong> cobrar. Eu quero<br />

saber se a comunida<strong>de</strong> é paga, ou não.<br />

Anízio: Não, ela ficou com antipatia, porque ela leva selinho, e a gente<br />

não gosta <strong>de</strong> selinho, e sim <strong>de</strong> cédula. Somos mercenários, somos vagabundos.<br />

Na época, como meu preço era um caso <strong>de</strong> distorção violenta,<br />

ligavam para minha clínica e pediam o preço da minha consulta, e eu não<br />

era colega psicólogo para fazer preço barato, então, durante um tempo, eu<br />

era o ladrão oficial, embora houvessem uns ladrões piores que eu. Na verda<strong>de</strong>,<br />

não me consi<strong>de</strong>rava tão mercenário, porque, por exemplo, enquanto<br />

eu cobrava 100, o outro cobrava 70. Então, ninguém mais me telefonou,<br />

porque ligavam para o que cobrava 70, então houve um achatamen-


40 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

to. Por isso, o preço da consulta foi diminuindo muito, e a comunida<strong>de</strong> foi<br />

ficando irritada com isso. Então, a comunida<strong>de</strong> também teve certa dificulda<strong>de</strong>,<br />

ela não investe mais nisso.<br />

Em uma época, eu tive uma competição muito <strong>de</strong>sagradável, que foi<br />

quando o povo comprava apartamento, um por andar, sem acabamento. O<br />

povo saía das casas e não tinha acabamento, foi a época em que surgiram na<br />

<strong>de</strong>coração mármore e granito, e aquilo custava muito caro. Perdi muito paciente<br />

para as construtoras <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, porque o povo não podia fazer terapia<br />

para botar granito no apartamento. Então, vocês <strong>de</strong>vem estar pensando<br />

que estou aqui falando como se terapia fosse uma frescura, e é, mas é uma<br />

excelente frescura. Se não, fica dando aquele ar <strong>de</strong> que só posso aten<strong>de</strong>r<br />

pessoas <strong>de</strong>finitivamente já fora do esquadro. Então, a gente viveu isso, que<br />

está relacionado com os famosos que fazem terapia. Nós não po<strong>de</strong>mos, enquanto<br />

uma comunida<strong>de</strong>, funcionar assim, pelos seus ídolos, etc. É óbvio<br />

que já apareceram na clínica as pessoas que foram visitar, para fazer social, e<br />

fizeram análise.<br />

Pergunta da plateia: Você é um terapeuta extremamente conceituado hoje<br />

no município <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. E no consultório individual, como é que você<br />

está vendo esse movimento da inserção da psicologia clínica, também <strong>de</strong><br />

base psicanalítica ou qualquer outra base teórica, em outros contextos<br />

institucionais, como, por exemplo, hospitais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública? Enfim, como<br />

você viu ou vê essa abertura na inserção? Porque, naquela época, só existia o<br />

consultório particular, então, eu queria que você nos <strong>de</strong>sse um pouco esse<br />

parâmetro.<br />

Anízio: Eu acho muito legal. Por exemplo, quando falei que eu acho que<br />

na formação do psicólogo po<strong>de</strong> ficar meio separada uma coisa da outra e que<br />

o início e o fim da historia são o ser humano, é porque vejo que, on<strong>de</strong> tem<br />

ser humano, <strong>de</strong>veria ter psicólogo.<br />

Então, esse foi um ganho que a Psicologia teve. O Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Psicologia foi uma experiência muito importante pra mim, porque eu era o<br />

único clínico. Na década <strong>de</strong> 90, já não existiam mais clínicos, e sim toda essa<br />

i<strong>de</strong>ia da aplicação da Psicologia. A princípio, quis <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r minha posição,<br />

mas <strong>de</strong>pois senti que não, que existe outra forma <strong>de</strong> pensar. Como clínico,<br />

acho que dou conta <strong>de</strong> ir ao hospital, etc., e aquele psicólogo que está lá,<br />

acho que ele tem <strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong> ser um psicólogo clínico também. Quero


PALESTRAS 41<br />

dizer, o psicólogo não <strong>de</strong>veria estar preso, pensando ‘eu sou isto, eu sou aquilo’;<br />

isso amarra. O psicólogo <strong>de</strong>veria ser mais aberto para trabalhar além da<br />

sua área. Então, você, como professor, po<strong>de</strong>ria pensar que você está mais<br />

<strong>de</strong>senvolvido em uma área, mas acho que um operário <strong>de</strong> uma indústria, um<br />

aluno <strong>de</strong> uma escola, um favelado e um paciente que está fazendo análise são<br />

gente. Acho que o que falta é todos nós pararmos para pensar e ver se a gente<br />

combina com a concepção que nós temos <strong>de</strong> ser humano.<br />

Qual é a nossa concepção <strong>de</strong> ser humano? Qual é a nossa concepção<br />

sobre o humano e a contemporaneida<strong>de</strong>? Já há alguns anos, comecei a me<br />

ocupar do seguinte: se foi feita uma observação sobre essa questão<br />

introspectiva da clínica, saber o indivíduo, se foi uma crítica que é só olhar<br />

por <strong>de</strong>ntro, o tal do inconsciente. Eu me preocupei um pouco com isso, não<br />

que eu estivesse insatisfeito com o meu trabalho, mas comecei a <strong>de</strong>sejar enten<strong>de</strong>r<br />

melhor o entorno (quer dizer, tem uma concepção <strong>de</strong> homem, que<br />

me é suficiente, embora vá sendo alterada com a experiência), eu precisava<br />

enten<strong>de</strong>r principalmente o entorno e o entorno da contemporaneida<strong>de</strong>. Aí,<br />

comecei estudando o Mal estar da civilização, <strong>de</strong> Freud, que eu acho que é um<br />

texto imperdível, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>i uma caminhada pela sociologia, pela antropologia<br />

e pela filosofia, porque a nossa raiz é não-oci<strong>de</strong>ntal, está na Grécia.<br />

Então, vale muito a pena vocês enten<strong>de</strong>rem os gregos, o pensamento grego<br />

do século 5 a.C.<br />

Em meus últimos trabalhos <strong>de</strong> pesquisa pessoal busco ver se eu consigo<br />

ter uma visão mais clara do contemporâneo, para on<strong>de</strong> o mundo está indo,<br />

on<strong>de</strong> ele está, e ver a inserção do ser humano e o que está acontecendo com<br />

ele. É claro, sempre com a presunção <strong>de</strong> achar que eu vou dar conta <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r essa relação com o contemporâneo. Então, mesmo sendo um psicólogo<br />

clínico, acho que, se ele não tiver toda essa visão do entorno, do<br />

contemporâneo, se ficar só naquela introspecção, procurando o tal do inconsciente,<br />

que não sei on<strong>de</strong> está, não está legal. Então, também tem <strong>de</strong> ser<br />

aberto.<br />

Pergunta da plateia: Nessa ultima edição da revista Ciência e Profissão,<br />

saiu uma matéria sobre a importância do trabalho do psicólogo no CRAS. O<br />

trabalho do psicólogo está muito inserido agora. Então, nessa área, como o<br />

psicólogo clínico po<strong>de</strong> fazer essa ponte do trabalho na assistência social junto<br />

com as assistências sociais.


42 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Anízio: Eu tenho certa dificulda<strong>de</strong> com funcionário público. Há quatro<br />

anos, eu recebi um telefonema do CAM (Conselho <strong>de</strong> Assistência à Mulher)<br />

dizendo: “Anízio, você po<strong>de</strong>ria fazer um trabalho pra gente? É emergência, o<br />

negócio está muito ruim”. Era caso <strong>de</strong> extrema emergência. Demorou dois<br />

anos para vir o papel <strong>de</strong> Brasília para eu po<strong>de</strong>r aten<strong>de</strong>r a essa emergência. E<br />

acontecia o seguinte: ia papel, voltava papel, assinava papel, mandava papel.<br />

Se esse negócio que você falou tiver a ver com po<strong>de</strong>r público, vai ter papel.<br />

Isso sempre me dificultou; eu trabalhei em duas faculda<strong>de</strong>s, mas eu não<br />

tenho currículo, eu o<strong>de</strong>io currículo, eu não gosto <strong>de</strong> papel, eu tenho raiva <strong>de</strong><br />

burocracia. Então, por enquanto, não me faça acreditar em serviço <strong>de</strong> psicólogo<br />

ligado a po<strong>de</strong>r público.<br />

Po<strong>de</strong> ser que na próxima vez em que vier eu fique encantado com o<br />

po<strong>de</strong>r público, mas agora, pra mim, emergência <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois anos não tem<br />

cabimento. Então, fico com muito medo <strong>de</strong> a psicologia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> cumprir<br />

alguma função e se justificar através do papel que não chegou. Eu ainda<br />

gostaria que essas coisas também pu<strong>de</strong>ssem passar um pouco pela iniciativa<br />

privada, tanto que eu acho que, por exemplo, pessoas que trabalham em<br />

alguma organização privada provavelmente têm mais trânsito, mais mobilida<strong>de</strong>.<br />

Meu gran<strong>de</strong> medo é com a psicologia social comunitária, com a psicologia<br />

inserida, é que ela se confunda com a burocracia da papelada, com a<br />

burocracia política.<br />

Professora Carla: Só voltando um pouco ao que você estava falando, às<br />

vezes, o psicólogo clínico está sendo chamado para aten<strong>de</strong>r à equipe, então,<br />

muitas vezes, tem a equipe <strong>de</strong> psicólogos, multiprofissionais lá aten<strong>de</strong>ndo, e<br />

o trabalho é tão intenso que vai chamar o psicólogo clínico para fazer essa<br />

integração com a equipe. Então, acho que esse também é um trabalho que<br />

está sendo bem importante, porque há bastante psicólogo nessa condição.<br />

Anízio: É, tudo o que for abertura é legal, eu só sugiro a mim mesmo e,<br />

portanto, a quem está do meu lado: não se perca por justificativa que não<br />

explica absolutamente nada; vá à produção. Tanto que vocês <strong>de</strong>vem estar<br />

pensando que eu estou tentando evitar que vocês abram consultórios, mas<br />

isso não é verda<strong>de</strong>, vocês po<strong>de</strong>m abrir, sim. Po<strong>de</strong>m abrir, po<strong>de</strong>m ir para a<br />

empresa, po<strong>de</strong>m ir para a escola. É só que a clínica é uma área complexa e<br />

tem um problema sério, no Brasil, os introdutores da psicologia aplicada são<br />

os pedagogos. Tanto que os primeiros professores <strong>de</strong> psicologia do Brasil são


PALESTRAS 43<br />

pedagogos. Eu tive uma sorte muito gran<strong>de</strong> na vida que foi <strong>de</strong> conhecer os<br />

dois primeiros psicólogos do Brasil: O<strong>de</strong>tte Van Kolck e Théo Van Kolck.<br />

Então, a psicologia aplicada no Brasil surge com a psicologia aplicada. Foi<br />

muito agradável ter estado aqui com vocês, espero ter contribuído. Se não,<br />

eu sempre costumo dizer o seguinte: “disfarça e fica com a pose, que também<br />

dá certo”. Muito obrigado!


44 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA<br />

UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO<br />

Profa. Dra. Eliza Dieko Oshiro Tanaka<br />

Depto. Psicologia Social e Institucional<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer imensamente à comissão organizadora pela indicação<br />

do meu nome para participar <strong>de</strong>sta mesa abordando um pouco sobre<br />

a história do nosso curso <strong>de</strong> Psicologia: diversida<strong>de</strong> e superação.<br />

De certa forma me consi<strong>de</strong>ro protagonista <strong>de</strong>sta história, pois, além <strong>de</strong><br />

ser docente nesta <strong>Universida<strong>de</strong></strong> há 33 anos, também fui aluna da primeira<br />

turma <strong>de</strong> Psicologia da UEL.<br />

Contudo, penso que falar sobre a história da Psicologia na UEL não é<br />

uma tarefa tão simples assim. Existem fatos específicos e significativos que<br />

marcaram a trajetória do nosso curso. Porém, com o passar dos anos esses<br />

fatos acabam se per<strong>de</strong>ndo da nossa memória e para resgatá-los precisamos da<br />

ajuda <strong>de</strong> documentos escritos.<br />

Os poucos registros existentes sobre fatos específicos do curso foram<br />

resgatados pela Profª Heloísa Santana, em 1996, quando o curso <strong>de</strong> Psicologia<br />

da UEL completou 25 anos e, também, pela Profª Marilicia Palmiéri, na<br />

sua dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong>fendida em 1996. Assim, pautado nesses registros<br />

tentarei rememorar alguns dos fatos significativos da história do nosso<br />

curso.<br />

COMO SE INICIOU O CURSO DE PSICOLOGIA NA UEL?<br />

A <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> foi criada em janeiro <strong>de</strong> 1971,<br />

através da junção das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia, Direito, Odontologia, Medicina<br />

e Ciências Econômicas. Em outubro do mesmo ano foi criado o curso <strong>de</strong><br />

Psicologia da UEL, através da resolução 53/71.<br />

Por que o curso <strong>de</strong> Psicologia foi criado na época? Segundo os registros<br />

<strong>de</strong> Sant‘Anna (1996):


PALESTRAS 45<br />

a) Muitos cursos novos estavam sendo implantados na UEL, e um curso<br />

<strong>de</strong> Psicologia po<strong>de</strong>ria fortalecer a <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, pois seus conceitos<br />

básicos seriam úteis para esses cursos e, portanto, teria uma aplicação<br />

imediata na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> como um todo.<br />

b) A criação <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong>pendia da existência <strong>de</strong> alguma infraestrutura<br />

que viabilizasse o seu funcionamento, e a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação já<br />

possuía um setor <strong>de</strong> Psicologia Educacional (professores que<br />

trabalhavam com Psicologia Educacional).<br />

c) Existia um mercado bastante profícuo para a região.<br />

d) Por possuir áreas <strong>de</strong> profissionalização, havia possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captação<br />

<strong>de</strong> recursos auxiliares imediatos para a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> através da<br />

prestação <strong>de</strong> serviços. Pelo convênio com o DETRAM, a <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

se comprometia com a aplicação <strong>de</strong> Exames Psicotécnicos para<br />

motoristas, uma ativida<strong>de</strong> não dissociada do ensino.<br />

Tendo em vista esses fatores, <strong>de</strong>u-se o passo inicial para a implementação<br />

do curso.<br />

Os docentes do setor <strong>de</strong> Psicologia Educacional da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia<br />

Ciências e Letras foram convidados a se incorporarem à UEL e, também,<br />

trabalharem no psicotécnico. Depois disso, o próximo passo foi a criação<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>partamento próprio para o curso <strong>de</strong> Psicologia. O <strong>de</strong>partamento<br />

foi chamado <strong>de</strong> “Ciências do Comportamento”, e o primeiro chefe foi o<br />

Prof. Dr. Aloyseo Bzuneck.<br />

Nessa época houve uma gran<strong>de</strong> discussão sobre a linha a ser <strong>de</strong>finida<br />

para o curso, se <strong>de</strong>veria estar mais voltada para a área da humanida<strong>de</strong> ou das<br />

ciências biológicas. Enfim, a i<strong>de</strong>ia que prevaleceu foi das ciências biológicas.<br />

Aí, foi nessa época que se <strong>de</strong>cidiu que o curso <strong>de</strong>veria ficar no CCB.<br />

Para compor o quadro docente inicial do curso foram convidados cinco<br />

professores da PUC <strong>de</strong> Campinas: Francisco Luiz Garcia, José Baus, José<br />

Carlos Fontes, José Gonçalves Me<strong>de</strong>iros e Luiz Leite Monteiro <strong>de</strong> Oliveira,<br />

que possuíam formação na linha da Psicologia Experimental. Esses docentes<br />

tiveram também a missão <strong>de</strong> ajudar a implementar o curso <strong>de</strong> Psicologia, a<br />

montar o laboratório <strong>de</strong> Exames Psicotécnicos, <strong>de</strong>finir a primeira gra<strong>de</strong><br />

curricular, listar os livros e periódicos que comporiam o acervo <strong>de</strong> sua biblioteca,<br />

planejar a montagem dos laboratórios <strong>de</strong> Análise Experimental do<br />

Comportamento e <strong>de</strong> Etologia e o seu biotério.


46 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O primeiro currículo proposto tinha a sua base voltada para a formação<br />

do aluno na linha comportamental. Os professores i<strong>de</strong>alizadores <strong>de</strong>sse<br />

currículo entendiam a Psicologia como uma ciência rigorosa e consistente<br />

cujo objetivo primordial seria tentar estabelecer relações funcionais entre<br />

um dado padrão comportamental e as variáveis ambientais e/ou orgânicas,<br />

para prever e controlar a sua ocorrência. Nessa concepção não era aceito<br />

qualquer fator que não fosse efetivamente localizável e observável.<br />

A PRIMEIRA TURMA DO CURSO DE PSICOLOGIA<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1972 aconteceu o primeiro vestibular para o curso <strong>de</strong><br />

Psicologia da UEL, se não me engano, com a oferta <strong>de</strong> 40 vagas no total. Foi<br />

a partir <strong>de</strong>sse momento que começa a minha história <strong>de</strong>ntro do curso, pois<br />

fui uma das vestibulandas aprovadas para ingressar no curso. No mês <strong>de</strong><br />

fevereiro iniciaram-se as aulas da primeira turma do curso, <strong>de</strong>ntro do regime<br />

seriado, com as disciplinas da área biológica.<br />

A partir da segunda turma, o curso passou para o regime <strong>de</strong> crédito,<br />

pois esse foi o regime que passou a vigorar para todos os cursos da UEL.<br />

Muitas foram as dificulda<strong>de</strong>s que enfrentamos por fazer parte da primeira<br />

turma. Os laboratórios ainda estavam sendo implantados, a biblioteca<br />

não possuía um acervo amplo <strong>de</strong> livros e periódicos e ainda existia carência<br />

<strong>de</strong> professores. Além disso, o acesso ao campus da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, on<strong>de</strong> funcionava<br />

apenas o Centro <strong>de</strong> Ciências Biológicas, era muito difícil e precário,<br />

pois as estradas não eram pavimentadas e os ônibus circulavam apenas quatro<br />

vezes ao dia. Em épocas <strong>de</strong> chuva, o acesso era muito difícil e, muitas<br />

vezes, as aulas precisavam ser suspensas. Por outro lado, em épocas <strong>de</strong> sol<br />

lindo íamos respirando as poeiras que formavam uma fumaça marrom e<br />

quase não enxergávamos dois palmos à frente.<br />

No segundo ou terceiro ano <strong>de</strong> funcionamento do curso, outros professores<br />

foram pouco a pouco sendo contratados para ministrar as disciplinas<br />

contempladas no curriculo: Dione <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, Heloisa Helena Nunes<br />

Sant’Anna, Rodolpho Carbonari Sant’Anna, Vivaldo <strong>de</strong> Oliveira, Erika<br />

Wröbel Abib, José Antonio Damásio Abib, graduados na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

Brasília, e Takechi Sato, da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Em 1976, quando iniciamos os estágios supervisionados, os locais on<strong>de</strong><br />

os mesmos <strong>de</strong>veriam acontecer não estavam estruturados. Assim, os alunos


PALESTRAS 47<br />

tinham a tarefa <strong>de</strong> buscar o local para a sua realização, seja uma escola,<br />

clínica ou empresa. Embora nessa época prevalecesse a orientação teórica na<br />

abordagem comportamental, professores com outra orientação teórica começaram<br />

a ser incorporados no quadro docente, e estes também começaram<br />

a assumir a supervisão <strong>de</strong> estagiários na parte clínica. Antes disso havia<br />

apenas dois professores com orientação teórica na Psicanálise para ministrar<br />

disciplinas TEAP.<br />

A MUDANÇA NO NOME DO DEPARTAMENTO<br />

Com o processo <strong>de</strong> reconhecimento do curso pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Educação, em 1973 ou 1974, iniciou-se uma discussão bastante exaustiva<br />

sobre o <strong>de</strong>stino do Departamento <strong>de</strong> Ciências do Comportamento, pois os<br />

representantes do MEC entendiam que o mesmo <strong>de</strong>veria ser transferido para<br />

um Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas. Contudo, mediante ofício redigido pelo<br />

grupo <strong>de</strong> professores, que <strong>de</strong>fendia a permanência do curso no Centro <strong>de</strong><br />

Ciências Biológicas, o MEC e a administração da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> acabaram<br />

acatando os argumentos. Nessa época também houve a divisão do Departamento<br />

<strong>de</strong> Ciências do Comportamento em dois (talvez para facilitar o reconhecimento),<br />

que passaram a se chamar Departamento <strong>de</strong> Educação e Departamento<br />

<strong>de</strong> Psicologia Geral e Experimental. O Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

foi transferido para o curso <strong>de</strong> Pedagogia, e o Departamento <strong>de</strong> Psicologia<br />

Geral e Experimental ficou com o curso <strong>de</strong> Psicologia.<br />

O reconhecimento do curso <strong>de</strong> Psicologia ocorreu em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1978, um ano e meio após a formatura da primeira turma.<br />

OS CURRÍCULOS DO CURSO DE PSICOLOGIA<br />

Em relação aos currículos do curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL, conforme<br />

relatou o Profº Ari na sua conferência <strong>de</strong> ontem, já estamos no quinto currículo.<br />

Embora o currículo I tivesse como objetivo final em sua proposta a<br />

formação do profissional do psicólogo para atuar na clínica, na escola ou na<br />

organização, revelava uma forte preocupação com a formação <strong>de</strong> pesquisadores,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> Psicologia como Ciência Natural.<br />

Esse currículo tinha uma forte carga <strong>de</strong> Psicologia Experimental (<strong>de</strong> I<br />

até VI) cuja base era a Análise Experimental do Comportamento. As outras


48 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

disciplinas, como Desenvolvimento, Psicopatologia, Teorias e Técnicas<br />

Psicoterápicas, também trabalhavam com os mesmos fundamentos.<br />

O currículo II foi implantado em 1980, com pouca diferença em relação<br />

ao currículo I. As mudanças mais evi<strong>de</strong>ntes foram: as disciplinas da área<br />

biológica tiveram o percentual <strong>de</strong> sua carga horária aumentado <strong>de</strong> 20% para<br />

22%, as das humanida<strong>de</strong>s sofreram uma diminuição <strong>de</strong> 10% para 3%; as<br />

disciplinas específicas da Psicologia aumentaram seu percentual <strong>de</strong> 65% para<br />

71%. As disciplinas relacionadas à formação do psicólogo aumentaram seu<br />

percentual <strong>de</strong> 25% para 36%.<br />

Para realizar a estruturação do currículo III foram feitas pesquisas, através<br />

<strong>de</strong> questionários e reuniões, com alunos e professores, a fim <strong>de</strong> corrigir<br />

as distorções do segundo currículo. Os resultados <strong>de</strong>ssa pesquisa serviram<br />

para nortear a filosofia a ser adotada na implantação do novo currículo:<br />

“t <strong>de</strong>ve haver equilíbrio <strong>de</strong> carga horária entre as três áreas <strong>de</strong> formação<br />

da psicologia: Escolar, Organizacional e Clínica;<br />

t todas as disciplinas, até o 8º período, <strong>de</strong>vem ser pré-requisitos para o<br />

estágio, portanto, o 9º e o 10º períodos <strong>de</strong>vem ser integralizados apenas<br />

com estágios;<br />

t <strong>de</strong>ve-se equilibrar a carga horária das matérias <strong>de</strong> natureza biológica<br />

com as <strong>de</strong> outras matérias afins;<br />

t os estágios <strong>de</strong>verão ser igualmente obrigatórios nas três áreas, e com<br />

a mesma carga horária;<br />

t as ementas das disciplinas oferecidas ao curso <strong>de</strong> Psicologia por outros<br />

<strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong>vem ser específicas para os objetivos do curso <strong>de</strong><br />

Psicologia;<br />

t <strong>de</strong>ve-se incluir no novo currículo uma disciplina específica para ensinar<br />

metodologia <strong>de</strong> pesquisa em Psicologia;<br />

t algumas disciplinas da área básica e/ou disciplinas da área clínica<br />

<strong>de</strong>vem explicitar abordagem nas ementas;<br />

t disciplinas <strong>de</strong> uma mesma abordagem <strong>de</strong>vem manter sequência<br />

vertical.”<br />

É a partir <strong>de</strong>sse currículo que a formação do aluno para atuar na clínica<br />

oferece duas opções: estágio em clínica na abordagem comportamental ou<br />

estágio em clínica na abordagem psicanalítica. O currículo com vistas à clíni-


PALESTRAS 49<br />

ca, aten<strong>de</strong>ndo às recomendações acima, oferece disciplinas que se bifurcam<br />

nos dois troncos.<br />

O currículo IV surgiu em 1994 para cumprir o requisito <strong>de</strong> mudança<br />

do Regime Acadêmico <strong>de</strong> crédito para seriado, que foi implantado em 1992.<br />

Esse currículo também foi baseado em levantamentos feitos junto a<br />

alunos e professores, que apontaram como problemas: o número excessivo<br />

<strong>de</strong> disciplinas com conteúdos repetitivos, número excessivo <strong>de</strong> pré-requisitos<br />

e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior integração e continuida<strong>de</strong> entre as disciplinas, entre<br />

teoria e prática <strong>de</strong> uma mesma disciplina.<br />

A comissão encarregada da tarefa observou que os aspectos <strong>de</strong>ficitários<br />

apontados não eram propriamente relacionados à sua estrutura, mas às<br />

estratégias relacionadas à sua implantação e acompanhamento.<br />

De acordo com o Processo nº 252886, que dispõe sobre a proposta <strong>de</strong><br />

estruturação do quarto currículo, os princípios norteadores do Projeto Pedagógico<br />

do Curso se constituiriam da seguinte forma:<br />

t fornecer uma visão geral <strong>de</strong> todas as abordagens da Psicologia;<br />

t promover uma formação teórico-prática nas abordagens<br />

comportamental e psicanalítica;<br />

t possibilitar condições para a realização <strong>de</strong> pesquisas em Psicologia,<br />

garantindo a produção <strong>de</strong> novos conhecimentos;<br />

t ampliar a visão do trabalho em Psicologia para uma perspectiva<br />

multidisciplinar;<br />

t <strong>de</strong>senvolver uma consciência crítica, através da dimensão política a<br />

ser alcançada pelas disciplinas constantes do currículo;<br />

t <strong>de</strong>senvolver a formação voltada para a reflexão das questões políticas<br />

e sociais relacionadas ao trabalho em Psicologia;<br />

t ampliar a atuação do psicólogo como um profissional capaz <strong>de</strong><br />

promover transformações sociais na comunida<strong>de</strong> em que se inserir;<br />

t priorizar a atuação do psicólogo em contextos <strong>de</strong> maior necessida<strong>de</strong><br />

da população.<br />

A implantação do currículo V ocorreu recentemente, a partir <strong>de</strong> exaustivas<br />

discussões que aconteceram durante longo tempo.


50 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A DIVISÃO DO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E<br />

EXPERIMENTAL EM TRÊS DEPARTAMENTOS<br />

No momento da estruturação e implantação do currículo III, o Departamento<br />

<strong>de</strong> Psicologia Geral e Experimental já possuía mais <strong>de</strong> 50 docentes<br />

no seu quadro. Esses docentes tinham a tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o Ensino, a<br />

Pesquisa, Extensão e Administração. O número excessivo <strong>de</strong> docentes e a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sob sua responsabilida<strong>de</strong> tornavam a tarefa <strong>de</strong><br />

gerenciamento cada vez mais difícil. Com isso, surgiu a proposta da divisão<br />

em três <strong>de</strong>partamentos: Psicologia Geral e Análise do Comportamento, Fundamentos<br />

<strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise e Psicologia Social e Institucional.<br />

A divisão, feita por afinida<strong>de</strong>s, inspirou-se na própria estrutura do currículo<br />

<strong>de</strong> graduação. Essa divisão trouxe algumas facilida<strong>de</strong>s em termos administrativos,<br />

como, por exemplo, a criação <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> pós-graduação lato<br />

sensu (cursos <strong>de</strong> especialização), a <strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong><br />

capacitação, <strong>de</strong>ntre outras. Por outro lado, penso que alguns prejuízos também<br />

ocorreram, pois essa fragmentação, a meu ver, acabou gerando três cursos<br />

<strong>de</strong> Psicologia.<br />

As diversida<strong>de</strong>s existentes no curso <strong>de</strong>vem ser vistas como algo positivo<br />

e não motivo para discórdia ou críticas, que em vez <strong>de</strong> levar ao avanço acabam<br />

ocasionando retrocessos ao curso. Penso que as diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser<br />

superadas a partir da compreensão e valorização dos diferentes pensamentos<br />

existentes <strong>de</strong>ntro da Psicologia e isso, quiça, será possível se houver discussões<br />

pedagógicas constantes entre os três <strong>de</strong>partamentos para articular melhor<br />

o ensino <strong>de</strong>ntro das nossas disciplinas.<br />

Quem sabe, este congresso que foi organizado a partir dos esforços dos<br />

três <strong>de</strong>partamentos seja a semente para a germinação <strong>de</strong> outros eventos que<br />

visem à evolução do nosso curso.<br />

Muito obrigada!


A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA<br />

UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO<br />

Profa. Dra. Maura Alves Nunes Gongora<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia Geral e Análise do Comportamento<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Bom-dia a todos, eu também agra<strong>de</strong>ço muito esse convite. Fico muito<br />

feliz <strong>de</strong> ver esse evento e já assino embaixo da última fala da Elisa, que eu<br />

acho que é o começo <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> integração do curso. Agora, fiquei<br />

em uma saia justa, porque <strong>de</strong>pois do tanto que a Elisa se preparou, minha<br />

apresentação fica muito fraquinha. Enfim, aprendi bastante com a apresentação<br />

<strong>de</strong>la, muitas coisas que a Elisa falou eu não sabia; algumas coisas da<br />

origem, do <strong>de</strong>partamento, a união com o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> educação, os<br />

objetivos da criação do curso. Eu não estava aqui nessa época, então aprendi<br />

bastante.<br />

Enfim, eu fui convidada para trazer as minhas impressões, como professora<br />

antiga aqui da UEL e por ter trabalhado em um dos currículos. Então,<br />

me perdoem, mas, na verda<strong>de</strong>, eu não pesquisei muitos documentos como a<br />

Elisa fez; gostei <strong>de</strong>mais da apresentação <strong>de</strong>la, quero ver mais coisas que ela<br />

tem aí, mas eu trouxe impressões.<br />

Quando eu fui preparar, me perguntei o que interessaria aos alunos<br />

que estão em <strong>2010</strong> na UEL, aí eu selecionei algumas coisas que po<strong>de</strong>riam<br />

interessar a vocês, e achei que eu po<strong>de</strong>ria lembrar algumas coisas da psicologia<br />

no Brasil e da universida<strong>de</strong>. Então, tive dificulda<strong>de</strong> em contar uma historia<br />

bem específica do curso, até porque eu não tenho todo o testemunho que a<br />

Elisa tem. Eu entrei aqui na UEL em 1976, quando o curso já estava ali pelo<br />

segundo, terceiro ano, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professora. Eu tinha acabado <strong>de</strong> chegar,<br />

e eu estava meio perdida, então <strong>de</strong>morei uns três, quatro anos para enten<strong>de</strong>r<br />

o que é a universida<strong>de</strong>, os bastidores, como tudo funcionava.<br />

Então, foi mais ou menos nessa época do reconhecimento do curso e<br />

na época <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> formar os alunos do quinto ano, que eu fui acompanhando<br />

mais <strong>de</strong> perto essas lutas que a Elisa colocou. Mas então, voltando um


52I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

pouco a como acontecia a psicologia no Brasil, eu achei que seria importante<br />

lembrar que o curso <strong>de</strong> psicologia foi regulamentado no Brasil em 1962.<br />

Então, quando nós começamos o curso aqui em <strong>Londrina</strong>, a gente tinha<br />

praticamente <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> profissão regulamentada. O curso <strong>de</strong> psicologia no<br />

Brasil teve raízes na filosofia e na educação, praticamente, em linhas gerais, e<br />

a gente não tinha muito bem <strong>de</strong>finido qual era o nosso perfil profissional.<br />

Eu fiz graduação na Unesp <strong>de</strong> Assis, e eu me lembro <strong>de</strong> que, quando eu<br />

tomava ônibus para ir para lá e sentava alguém perto <strong>de</strong> mim, eu rezava para<br />

a pessoa não perguntar que curso eu fazia, porque eu falava que estudava<br />

psicologia e ela queria que eu explicasse o que era psicologia, e eu não sabia<br />

explicar. O perfil era muito pouco <strong>de</strong>finido, nós não tínhamos Conselho no<br />

Paraná, a gente se submetia a um Conselho que tinha se<strong>de</strong> no Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul.<br />

Quando eu fiz estágio, no quinto ano, também não tinha infraestrutura<br />

nenhuma, e, basicamente, o nosso estágio era em uma sala <strong>de</strong> aula, observar<br />

um pouco do que o professor fazia, e o nosso gran<strong>de</strong> instrumental <strong>de</strong> trabalho<br />

era aplicar teste; na área da educação, teste vocacional, para orientar os<br />

alunos, e na área clinica eram testes que faziam o diagnóstico clínico, e trabalhava-se<br />

muito junto ao psiquiatra. Então, havia uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência da<br />

psiquiatria. Nos cursos <strong>de</strong> psicologia, havia uma disciplina muito forte, a<br />

psicopatologia, que era sempre ministrada por psiquiatras. Nesse contexto<br />

<strong>de</strong> início da psicologia no Brasil, nós éramos um pouco pedagogos, um pouco<br />

aplicadores <strong>de</strong> testes e fazedores <strong>de</strong> diagnósticos, e muito submetidos à<br />

medicina e ao psiquiatra. Essas são as minhas impressões <strong>de</strong> como nós começamos<br />

como profissionais.<br />

Outra questão é a <strong>de</strong> que a gente tinha as tais linhas teóricas: a linha<br />

psicanalítica, a linha comportamental, <strong>de</strong> fenomenologia, a psicoterapia, e<br />

assim por diante. E havia uma gran<strong>de</strong> discussão: “se o melhor era ser eclético<br />

ou se o melhor era ser bom em uma linha só?”. Então, em Assis, a gente vivia<br />

esse drama; éramos um pouco ecléticos, mas éramos muito questionados<br />

por isso. Quando cheguei a <strong>Londrina</strong> para dar aula, recém-formada, tínhamos<br />

um curso <strong>de</strong>finido em análise do comportamento. Logo pelo terceiro,<br />

quarto ano, foram chegando professores <strong>de</strong> outros enfoques teóricos, e eu<br />

acho que a gente teve aqui no curso um reflexo do que acontecia no Brasil:<br />

havia uma gran<strong>de</strong> disputa entre algumas linhas teóricas, disputas muito<br />

dogmáticas. Às vezes me lembrava um pouco o que a gente vê nos <strong>de</strong>bates


dos presi<strong>de</strong>ntes hoje; a gente tem uma disputa em que, no final da mesa,<br />

fica-se perguntando quem ganhou o <strong>de</strong>bate, ou seja, os membros da mesa<br />

tinham a obrigação <strong>de</strong> provar qual linha era melhor.<br />

Bom, essas são as primeiras impressões que eu tenho <strong>de</strong>ssa época, quando<br />

comecei a trabalhar em <strong>Londrina</strong> e aqui no Brasil. No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sse<br />

tempo todo, nós tivemos, em função <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bates, um momento no nosso<br />

curso, aqui em <strong>Londrina</strong>, em que a gente tinha professores lutando na disputa<br />

por carga horária. Na hora <strong>de</strong> distribuir quem ia dar qual aula, havia uma<br />

briga enorme pelas disciplinas com carga horária maior, disciplinas com aulas<br />

práticas, para po<strong>de</strong>r trabalhar melhor a abordagem <strong>de</strong>les. As ementas das<br />

disciplinas eram muito gerais; elas não especificavam o que o professor ia<br />

dar, ele tinha muita liberda<strong>de</strong>. Aí a gente tinha uma dificulda<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>,<br />

porque às vezes, em algumas turmas, a gente tinha pouca <strong>de</strong>finição no que<br />

elas se formavam. Então, vamos supor, podia acontecer <strong>de</strong> uma turma, no<br />

primeiro ano, ganhar mais professor <strong>de</strong> uma abordagem; aí, no segundo<br />

ano, ela podia pegar mais professores da mesma abordagem, pegando muito<br />

uma abordagem só. E outra turma pegava outra abordagem. Nós tínhamos<br />

pouca administração e pouca visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> como distribuir os diferentes<br />

enfoques que estavam sendo dados no curso, nas diferentes disciplinas, <strong>de</strong><br />

maneira que houvesse um equilíbrio na formação do aluno.<br />

Isso foi por volta dos anos 80, já tínhamos dois currículos na UEL, e eu<br />

fui eleita a coor<strong>de</strong>nadora do colegiado <strong>de</strong> curso, com a missão <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar<br />

uma comissão que fosse estudar a implantação do currículo III, cujo gran<strong>de</strong><br />

objetivo era estudar o que fazer com as diferentes linhas teóricas, para melhorar<br />

a convivência das pessoas que trabalhavam com as diferentes linhas<br />

teóricas, mas, principalmente, para escolher com quais ficar, porque começava<br />

a aparecer tudo quanto é linha teórica com tudo quanto é nome. Então,<br />

nós íamos pesquisar quais as linhas teóricas mais bem estabelecidas no Brasil,<br />

em quais nós tínhamos corpo docente trabalhando aqui em <strong>Londrina</strong> e<br />

com quais ficaríamos. Então, o currículo III foi o fruto <strong>de</strong> uma pesquisa, dos<br />

professores e dos alunos da UEL, sobre com quais linhas teóricas ficaríamos<br />

e como dividiríamos isso. A gente tem relatórios sobre isso, foi muito difícil<br />

trabalhar com isso, pois os alunos querem muitas abordagens, a gente tinha<br />

<strong>de</strong> trabalhar com os professores que já estavam aqui, não po<strong>de</strong>ria mandar<br />

embora todo mundo que estava aqui e trazer linhas novas, mas no final a<br />

gente tinha aqui representantes das principais linhas; dava para fazer um<br />

bom trabalho.


54 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Acabamos chegando ao que a gente chamou <strong>de</strong> troncos por abordagem.<br />

Algumas disciplinas das áreas mais gerais da formação teórica, que eram<br />

psicologia do <strong>de</strong>senvolvimento, psicologia da personalida<strong>de</strong>, etc., foram divididas,<br />

e a gente acabou dividindo, basicamente, algumas <strong>de</strong>ssas disciplinas,<br />

que a gente chamou <strong>de</strong> um tronco, em duas abordagens, e o estágio e a<br />

formação em clinica. A gente achou que <strong>de</strong>veria manter, fora <strong>de</strong>sse tronco,<br />

disciplinas que <strong>de</strong>ssem outros enfoques e que tivesse um cunho mais geral.<br />

Então, o que eu quero <strong>de</strong>ixar claro aqui é que o currículo III organizou um<br />

pouco como se distribuíam no curso, principalmente, a abordagem<br />

comportamental e a psicanalítica, que era on<strong>de</strong> havia a maior disputa, a<br />

maior dificulda<strong>de</strong>, para distribuir as aulas, porque você tinha mais <strong>de</strong>finido<br />

o mesmo conteúdo que po<strong>de</strong>ria ser dado em dois enfoques. Por exemplo, a<br />

psicopatologia, teorias da personalida<strong>de</strong>, teorias do <strong>de</strong>senvolvimento e teorias<br />

em técnicas psicoterápicas. Essas quatro disciplinas tinham uma <strong>de</strong>finição<br />

bastante clara nessas duas abordagens, e foi possível dividir. Muitas outras<br />

disciplinas foram difíceis <strong>de</strong> dividir; a própria psicologia social não quis dividir,<br />

o estágio organizacional e do trabalho e o estágio escolar não quiseram<br />

dividir. Então, não houve <strong>de</strong>finição por enfoque teórico <strong>de</strong>sses estágios e<br />

<strong>de</strong>ssas disciplinas.<br />

Acho que isso, em certo sentido, foi bom, porque as diferentes linhas<br />

pu<strong>de</strong>ram ser aprofundadas, professores foram fazer mestrado em uma ou<br />

outra linha, e o aluno sabia, quando ele ia em uma disciplina, qual era o<br />

enfoque que seria dado naquela disciplina. Criou também algumas dificulda<strong>de</strong>s;<br />

a gente começou a ter problemas <strong>de</strong> alunos fazendo a opção muito<br />

cedo e rejeitando a outra disciplina. Havia, ainda, na época, resquícios <strong>de</strong><br />

uma historia <strong>de</strong> muita disputa, on<strong>de</strong> a gente achava que uma disciplina tinha<br />

<strong>de</strong> ganhar; então, acho que foi um período difícil para a gente, on<strong>de</strong> a<br />

gente per<strong>de</strong>u muito fazendo um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> diferenças e uma disputa on<strong>de</strong><br />

cada um queria ganhar. Bom, esse foi o currículo III, alguns resquícios <strong>de</strong>le<br />

ainda estão aí. Há quem ache que essa divisão foi ruim; ela facilitou, na<br />

verda<strong>de</strong>, a divisão <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamentos, e eu vejo professores <strong>de</strong> outras universida<strong>de</strong>s<br />

dizendo que temos sorte por termos isso explícito aqui em <strong>Londrina</strong>.<br />

Eu queria falar um pouco <strong>de</strong> mudanças importantes que eu acho que<br />

ocorreram no Brasil; acho que nós conseguimos, nesses anos todos, in<strong>de</strong>pendência<br />

da psiquiatria (eu acho que hoje nós po<strong>de</strong>mos trabalhar no mesmo<br />

nível em equipe com psiquiatra), a análise do comportamento, que che-


gou aqui como análise experimental, e foi muito i<strong>de</strong>ntificada só com trabalho<br />

<strong>de</strong> laboratório, pesquisas com rato, esse tipo <strong>de</strong> coisa. No Brasil todo,<br />

ocorria muito isso.<br />

E a parte mais gostosa, que eu queria falar agora, a dos avanços. O tema<br />

pedia pra gente falar <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios e avanços, então, costumo dizer que os anos<br />

todos em que eu vivi com a psicologia me <strong>de</strong>ram bastante tranquilida<strong>de</strong>,<br />

porque alguns problemas que eu achava que a gente não iria resolver nunca,<br />

a gente teve avanços. Por exemplo, hoje nós trabalhamos com outros recursos,<br />

em vez <strong>de</strong> apenas aplicar os testes padronizados; aqui não vai nenhuma<br />

recusa a testes, acho que os testes foram aperfeiçoados, estão ótimos, mas<br />

estão sendo trabalhados juntos com outros mo<strong>de</strong>los diagnósticos. Temos<br />

ricos mo<strong>de</strong>los diagnósticos nas diferentes abordagens. Eu não vejo mais as<br />

disputas teóricas hoje, principalmente para as gerações mais jovens, que se<br />

libertaram dos dogmatismos, e ninguém acha que a psicologia vai ganhar se<br />

ela conseguir acabar com todas as abordagens e ficar com uma só; isso hoje é<br />

impensado.<br />

Eu acho que os gran<strong>de</strong>s pensadores da psicologia hoje <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma<br />

filosofia, que alguns até dão o nome <strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, que é a convivência<br />

com a diversida<strong>de</strong>. Hoje eu não tenho mais medo <strong>de</strong> fazer mesa com<br />

colegas <strong>de</strong> outros enfoques porque as mesas são bastante respeitosas, e cada<br />

um coloca os seus fundamentos filosóficos, as suas opções, e <strong>de</strong>ixa um espaço<br />

para as outras opções. A análise do comportamento avançou em relação à<br />

psicologia experimental, nós temos outros instrumentais, que trabalham com<br />

diferentes formas <strong>de</strong> fazer avaliação, trabalhamos no campo aplicado, no<br />

qual discutimos todos os problemas humanos complexos que as outras abordagens<br />

também discutem. Não precisamos mais passar problemas complexos<br />

para quem trabalha com outras abordagens.<br />

Mas nós temos um problema, ainda hoje, no Brasil. Houve uma<br />

profissionalização do curso <strong>de</strong> psicologia e, com isso, espera-se muito que o<br />

profissional saia tecnicamente preparado, então o psicólogo é visto muito<br />

como técnico. Eu <strong>de</strong>fendo uma tradição que há no curso <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, que<br />

é, além <strong>de</strong> a gente dar arsenal tecnológico para o aluno, a gente tenta dar um<br />

bom preparo teórico e filosófico, e eu acho que esse é um <strong>de</strong>safio da universida<strong>de</strong><br />

hoje, principalmente da universida<strong>de</strong> pública. Eu queria dizer aos alunos,<br />

hoje, que nós tivemos, então, um avanço na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong><br />

psicologia no Brasil. Eu queria falar do tempo integral, que nós conquistamos


56 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

por ser uma universida<strong>de</strong>. Nós conseguimos uma carga horária bastante alta,<br />

com bastante aula prática, funções bastante privilegiadas para um bom curso.<br />

A psicologia está para ser construída, ainda tem muito a construir, então<br />

boas pesquisas teóricas, reflexão filosófica no campo da etimologia, no<br />

campo da ética, elas estão muito além <strong>de</strong> um discurso, em que a gente já se<br />

per<strong>de</strong>u muito em termos <strong>de</strong> enfoque. Hoje, sairemos daqui formados como<br />

psicólogos, não interessa o enfoque. Qual é a nossa posição filosófica, política,<br />

ética, perante as gran<strong>de</strong>s questões brasileiras? Eu acho que no curso integral,<br />

em uma universida<strong>de</strong> pública, nós temos a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />

certos <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong> não querer sair daqui apenas técnicos <strong>de</strong> psicologia, para<br />

arranjar um emprego rápido, para ser um profissional, apenas, da psicologia.<br />

Nada contra os profissionais, mas a universida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> conduzir <strong>de</strong>bates<br />

mais amplos do que ser só um técnico, e eu acho que isso, com todas as<br />

dificulda<strong>de</strong>s que a gente tem, é o que os professores em geral, dos vários<br />

<strong>de</strong>partamentos, lutam para manter aqui em <strong>Londrina</strong>, junto com uma tradição<br />

que as universida<strong>de</strong>s públicas, em geral, vêm lutando no Brasil para conseguir.<br />

Obrigada!


A HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DA<br />

UEL: DIVERSIDADE E SUPERAÇÃO<br />

Prof. Ms. Ricardo Justino Flores<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Bom, muito bom-dia. Há algum tempo, eu estava pensando em uma<br />

situação que seria a seguinte: eu morri e, em algum momento, não sei se no<br />

céu ou no inferno, alguém me perguntaria o que eu estava trazendo <strong>de</strong>sta<br />

vida. Isso é porque eu trabalhava em algumas situações específicas que levavam<br />

a pensar sobre isso, mas eu acor<strong>de</strong>i, percebi que vi e vivi tanta coisa. Era<br />

um mundo maravilhoso, sem disputas, a ética era fantástica, não se comia<br />

criancinha nem se estupravam criancinhas; anos dourados. Então, alguns<br />

pensadores chegaram, com um novo jeito <strong>de</strong> pensar, e aí nós somos obrigados<br />

a ver que os anos não eram tão dourados assim, que havia uma política<br />

nesse momento, que havia um interesse muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer todo mundo<br />

se encantar com algumas coisas, enquanto uma boiada enorme passava pelo<br />

submundo.<br />

Esse é um pensamento histórico-crítico arqueológico, um jeito <strong>de</strong> pensar<br />

típico <strong>de</strong> Michel Foucault. Quando nós temos uma história presente,<br />

<strong>de</strong>vemos correr atrás das histórias, principalmente das histórias que acabam<br />

mostrando toda uma dinâmica do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, ou<br />

<strong>de</strong> um grupo. Nos anos 70, muitas coisas estavam acontecendo. De 1972<br />

para cá, uma quantida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores argentinos veio para<br />

cá, e nós ganhamos muito com isso. Não há a menor dúvida <strong>de</strong> que esse<br />

pensamento, essa área, a psicanálise, cresce mais ainda aqui no Brasil com a<br />

chegada <strong>de</strong> Maurício Knobel, Eduardo Calina e muitos outros que vieram<br />

para cá. A Argentina não representava mais essa gran<strong>de</strong> psicanálise, e talvez<br />

o Brasil fosse representá-la.<br />

Depois, se passaram os anos, o governo convida todos esses argentinos<br />

que estavam aqui a retornarem para a Argentina. Até um processo muito<br />

bonito; alguém reconhecer as mazelas, dar o braço a torcer e convidar os


58 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

perseguidos a retornarem para construir um novo momento. Não sei se eles<br />

conseguiram reconstruir uma nova Argentina. Bom, alguma coisa estava acontecendo<br />

por aqui; o professor relata a história e chega mais perto <strong>de</strong> alguma<br />

coisa que estava acontecendo. De outro lado, quando há um momento <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, seja no individuo ou organicamente falando, num grupo social, óbvio<br />

que não se chegou a essa saú<strong>de</strong> num processo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Toda a saú<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sequilíbrio muito gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma reação, mas é uma<br />

reação em que até se pensa se o universo é assim; na realida<strong>de</strong>, o caos está<br />

diretamente relacionado com a harmonia do universo. Então, não é o caos,<br />

ou a compreensão <strong>de</strong> caos é diferente.<br />

1977, chego aqui e, como sapo <strong>de</strong> fora, comecei a escutar algumas histórias.<br />

Sim, aqui estava acontecendo essas gran<strong>de</strong>s discussões, essas <strong>de</strong>fesas xiitas<br />

<strong>de</strong> um território teórico. Eu me lembro <strong>de</strong> que, em algum momento <strong>de</strong> 77, eu<br />

cheguei aqui e a pessoa que me recebeu foi muito simpática, e <strong>de</strong>pois um chefe<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento me disse o seguinte: “Olha, professor, o seu currículo, a sua<br />

formação, não teve espaço aqui, porque isto aqui é uma faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificação<br />

<strong>de</strong> comportamento”. Ok, tudo bem, né? Ele foi sincero; <strong>de</strong>pois tomamos<br />

um cafezinho, ele fumava bastante, eu fumei também, e saí. Segui o meu rumo,<br />

fui a uma outra instituição que, por ser particular, possuía uma abertura para<br />

<strong>de</strong>senvolver mais rapidamente uma das linhas teóricas.<br />

Passou um tempo, um diretor <strong>de</strong> centro <strong>de</strong> outra faculda<strong>de</strong> particular<br />

me chamou para perguntar se eu tinha formação em análise transacional. Eu<br />

respondi que não, então ele fez mais uma ou duas perguntas e disse: “Que<br />

pena, porque, se o senhor tivesse, eu gostaria muito que o senhor entrasse<br />

aqui”. Então, ele me contou uma história, uma coisa sobre Santa Inquisição,<br />

Santo Ofício, acho que <strong>de</strong>ssas disputas, mas isso faz parte das reações <strong>de</strong> um<br />

organismo, mas que leva esse organismo a uma saú<strong>de</strong>. Então, é uma espécie<br />

<strong>de</strong> caça às bruxas, mas acho que isso tinha a ver com áreas que estavam<br />

crescendo aqui em <strong>Londrina</strong>, mas não só aqui, como no Brasil todo. Pessoas<br />

que aqui, eu sabia, representavam pensamentos diferentes e que levavam a<br />

essa gran<strong>de</strong> discussão, um novo <strong>de</strong>grau no amadurecimento do curso, mas<br />

que essa <strong>de</strong>cisão, então, foi <strong>de</strong> três <strong>de</strong>partamentos.<br />

Enfim, esses pioneiros, que estavam aqui em 1977. O professor Anízio,<br />

que semana que vem vai ser convidado a fazer uma palestra no museu Carlos<br />

Weis, a respeito da história <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Havia também a professora Aparecida<br />

Clima, que ficou mais tempo, a professora Esperanza Garcia, mas, no fim,


PALESTRAS 59<br />

todos saíram. Bom, não entrei em 77, mas, mesmo nessa época, eu estava<br />

em outro <strong>de</strong>partamento aqui do lado, mas que não vem ao caso, e <strong>de</strong>pois,<br />

em 1986, entro aqui. Houve um concurso público, alguns docentes vieram<br />

conversar comigo, dizendo que era um momento diferente, que se estavam<br />

criando esses novos espaços, e aquelas mesmas informações. Em 77, convidavam<br />

alguém a não vir aqui, nada <strong>de</strong> pejorativo, é que havia, sim, algo muito<br />

bem <strong>de</strong>finido. Como vocês vêem, na historia há uma construção muito coerente,<br />

muito concreta, então, realmente, algumas coisas podiam <strong>de</strong>stoar,<br />

penso eu hoje, nesse processo <strong>de</strong> construção.<br />

Bom, eu fiz o concurso, e havia uma primeira semidivisão. Não eram<br />

ainda <strong>de</strong>partamentos, mas os precursores dos <strong>de</strong>partamentos, chamavam-se<br />

‘áreas’ <strong>de</strong> psicologia dinâmica, e que começam uma história completamente<br />

paralela. A área da psicologia dinâmica, então, logo após 87, transformou-se<br />

em <strong>de</strong>partamento. Essa história da psicanálise está ao lado <strong>de</strong>ssa historia<br />

toda que nós estamos colocando, que enfrenta o seu lado paralelamente à<br />

história <strong>de</strong> outras mazelas, cujas discussões vêm até hoje.<br />

Fazia pouco tempo que Durval Marcon<strong>de</strong>s, um dos pioneiros <strong>de</strong>ssa área,<br />

tinha sido ameaçado <strong>de</strong> expulsão da faculda<strong>de</strong>, caso ele continuasse com a<br />

pouca vergonha <strong>de</strong>, na formação, fechar, sozinho, o macete feminino. Contou<br />

o falecido Durval Marcon<strong>de</strong>s que, naquele mesmo ano, em uma aula,<br />

esse tal professor ainda fez uma gran<strong>de</strong> experiência, em que mandou enfermeiros<br />

pegarem vários pacientes, levar para um prostíbulo e observar por<br />

uma semana <strong>de</strong>pois a babaquice <strong>de</strong>ssa teoria toda, baseada na sexualida<strong>de</strong>.<br />

Isso aconteceu no final dos anos 60, é obvio que naquela época essa psicanálise<br />

estava engatinhando aqui no Brasil, com gran<strong>de</strong>s, porém poucos, pioneiros.<br />

A coisa estava engatinhando, acho que continua engatinhando, aí entram<br />

as questões políticas.<br />

Eu fico pensando, acho que um problema que nós enfrentamos, e que<br />

interfere nessa produção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nossa, é que nós tivemos uma transformação<br />

<strong>de</strong> costumes, <strong>de</strong> valores, mas que hoje foi muito bem retratada. Havia<br />

época em que as pessoas se apresentavam por um nome, hoje, para facilitar,<br />

tem código <strong>de</strong> barra, uma coisa realmente <strong>de</strong> papel, <strong>de</strong> um saber que se<br />

<strong>de</strong>monstra pelo papel, mas o nosso problema, que eu sempre vi aqui, chamase<br />

práxis, prática. Uma profissão que se relaciona diretamente com o ser<br />

humano, com todos os seus problemas. Lógico, estamos falando <strong>de</strong> uma<br />

faculda<strong>de</strong>, cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> maior é a prática, é a formação.


60 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Bom, acho que ainda estamos engatinhando. Vejam, uma visão histórica<br />

crítica, um pensamento arqueológico, uma epistemologia histórica crítica,<br />

não uma crítica. Então, é importante que, se hoje vocês entrarem no site<br />

da UEL, procurem on<strong>de</strong> está a clínica psicológica; não está. Existe, porém<br />

ainda não aparece. Depois <strong>de</strong> 38 anos, pensamos ‘puxa vida, então ainda<br />

somos pré-adolescentes, acho que não somos adultos’. Depois <strong>de</strong> anos e anos,<br />

e décadas e décadas, e batalhas <strong>de</strong> bastidores, foi construída uma clínica, era<br />

um projeto <strong>de</strong> 600 e poucos metros quadrados, com a ajuda <strong>de</strong> uma das<br />

pessoas que colaborou muito na elaboração <strong>de</strong>sse projeto: a aposentada Fátima<br />

Conte. Muito bem, politicamente saiu o projeto, cortado a menos da<br />

meta<strong>de</strong>, uma construção <strong>de</strong> 250 metros quadrados para um curso que não<br />

tinha mais 40 vagas; já tinha sido dobrado a 80 vagas. Todo mundo sabe, é<br />

tão pequenininho que não dá conta <strong>de</strong> tudo.<br />

Que coisa interessante! As gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trinta e oito anos<br />

<strong>de</strong>pois fomos resumir no que estamos conversando aqui, quando estamos<br />

mostrando a extrema importância <strong>de</strong>ssa práxis, que, ao meu ver, ainda é um<br />

problema que precisa ser elaborado para sairmos da pré- adolescência. É como<br />

se estivéssemos aqui na historia do curso na pré- adolescência. Veja, já temos<br />

nosso referencial próprio; ninguém aqui é enfermeirinho <strong>de</strong> psiquiatra, e a<br />

raiz disso foi sim uma política muito gran<strong>de</strong>. Quando eu digo ‘<strong>de</strong> bastidores’,<br />

por exemplo, vasculhem o youtube e coloquem ali ‘psiquiatria, uma<br />

indústria da morte’. Vocês vão ver inúmeras reportagens muito bem feitas<br />

por instituições <strong>de</strong> Portugal, ou mesmo instituições americanas, mostrando<br />

o que aconteceu nos bastidores dos anos 50 para cá, e como surge, na realida<strong>de</strong>,<br />

aquilo que se tornou um dos alvos maiores do movimento chamado<br />

<strong>de</strong> ‘antipsiquiatria’. Nos livramos <strong>de</strong> tudo isso, temos a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

própria, mas, ao meu ver, a práxis é algo que precisa ser profunda e carinhosamente<br />

repensada, afinal <strong>de</strong> contas, eu concordo em gênero e número: em<br />

se tratando <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> pública, on<strong>de</strong> nós não temos <strong>de</strong> ficar presos<br />

às mesmas questões que as particulares, eu acho que não só temos espaço,<br />

como temos obrigação <strong>de</strong> expandir-nos, em todos os sentidos. Aliás, até<br />

alguns cursos saíram <strong>de</strong> quatro para cinco anos, vários cursos nos últimos<br />

anos se expandiram, e vocês são a geração que já está causando problemas<br />

antecipadamente aos cofres públicos, porque vocês vão viver além dos 90<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.


PALESTRAS 61<br />

Aliás, vocês são os adolescentes que até os 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> não vão sair<br />

<strong>de</strong> perto, perturbando papai e mamãe. Mas é porque a vida se expandiu e,<br />

lógico, a geração que está atrás <strong>de</strong> vocês é, com certeza, a geração que vai<br />

ultrapassar os 100 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Tem aquela pergunta: por que tem <strong>de</strong> entrar<br />

na universida<strong>de</strong> aos 17 anos? Com essa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber, como é<br />

possível apenas 5 mil horas, por que não vamos lá para frente? Vocês têm<br />

muito mais tempo para viver e, portanto, muito mais tranquilida<strong>de</strong> para ir<br />

para o mercado <strong>de</strong> trabalho bem instrumentalizados, o que nós não tínhamos<br />

na nossa geração, que morria logo. As gerações dos nossos pais morriam<br />

logo aos 60, nós vamos morrer aos 70 e poucos, mas vocês, com mais <strong>de</strong> 90.<br />

Momento crucial essa historia, e ela é carregadíssima <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes, que parecem<br />

baixarias, mas são muito emocionantes, e é bonito ver esse processo <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. Que coisa gostosa ter um luxo, sentado aqui conversando, discutindo,<br />

num momento em que se propõe realmente essa expansão. Então, resumidamente,<br />

nós temos tempo, a vida se prolongou, vocês vão se cansar muito<br />

<strong>de</strong> viver toda essa longa vida. Acho que esse é o momento <strong>de</strong> pensarmos<br />

nesse espaço que você colocou muito bem. Bom, eu paro por aqui.


62 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

INTERDISCIPLINARIDADE<br />

Prof. Dr. José Sterza Justo<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia do Desenvolvimento<br />

Curso <strong>de</strong> Psicologia – UNESP – Assis<br />

Contextualizar essa discussão no nosso mundo atual, ou seja, do funcionamento<br />

do nosso mundo hoje, é sempre muito necessário para que a gente<br />

possa estar enten<strong>de</strong>ndo mais profundamente o sentido do nosso trabalho, o<br />

sentido da nossa produção, o sentido das nossas filiações teóricas, e tudo o<br />

mais; e sobretudo porque nós viemos <strong>de</strong> um tempo muito complexo, como<br />

sabemos.<br />

O mundo atual, não só por ele ser o presente, e o presente é sempre<br />

muito mais difícil, mas, além disso, não só por ser um presente que avassala<br />

a nossa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão, o que nos traz <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s,<br />

por conta disso mesmo, o mundo que vivemos hoje é um mundo muito<br />

diferente do que foi, com ligações muito fortes, a própria história, por exemplo,<br />

mas muito diferente do que foram outros mundos, até não tão distantes,<br />

mas que tinham um funcionamento um pouco mais simplificado. A<br />

nossa realida<strong>de</strong> hoje é muito diferenciada, nós tivemos uma realida<strong>de</strong> muito<br />

diversa, e não só diversa, como também um mundo muito veloz, e por essas<br />

duas características, <strong>de</strong> um tempo acelerado e <strong>de</strong> uma diversificação <strong>de</strong> espaço,<br />

já traz esse gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para po<strong>de</strong>rmos compreen<strong>de</strong>r esse mundo no<br />

qual vivemos, e consequentemente po<strong>de</strong>rmos localizar e enten<strong>de</strong>r o que nós<br />

fazemos <strong>de</strong>ntro da lógica que presi<strong>de</strong> o funcionamento da atualida<strong>de</strong>.<br />

Aí coloco a vocês a questão da interdisciplinarida<strong>de</strong>. Começaria <strong>de</strong>finindo,<br />

tentando mapear o sentido da interdisciplinarida<strong>de</strong>, das chamadas<br />

práticas interdisciplinares, como um movimento <strong>de</strong> ruptura, com tricotomias,<br />

que foram estabelecidas na cultura <strong>de</strong> maneira geral. As tricotomias estiveram<br />

não só na organização do saber, das ciências, das práticas profissionais,<br />

mas tricotomias que foram instaladas na vida como um todo, no mundo<br />

como um todo, que estiveram também no plano da política, no plano da<br />

economia, no plano da conduta, dos comportamentos, nos planos da subjetivida<strong>de</strong>,<br />

em todos os planos da vida que possamos imaginar.


PALESTRAS 63<br />

Já para colocar para vocês um outro aspecto da discussão que acho importante,<br />

a interdisciplinarida<strong>de</strong> diz muito mais do que tão-somente uma<br />

maneira <strong>de</strong> lidarmos com as nossas práticas profissionais, diz muito mais do<br />

que a maneira como lidamos com o conhecimento, portanto, as ações<br />

interdisciplinares têm uma repercussão em algo muito maior do que somente<br />

esse espaço específico da produção científica, da ciência, da própria psicologia,<br />

ou, então, do exercício profissional.<br />

Usaria uma outra imagem para pensarmos a interdisciplinarida<strong>de</strong>, como<br />

uma ruptura com as tricotomias, com a produção <strong>de</strong> tricotomias na cultura,<br />

que é a imagem <strong>de</strong> um conhecido nó borremeano. Essa figura do nó<br />

borremeano é muito hostilizada na psicanálise, sobretudo por Lacan. Ela diz<br />

<strong>de</strong> uma interseção <strong>de</strong> coisas específicas que se cruzam e que criam nesse<br />

cruzamento um espaço comum. Na psicanálise lacaniana, Lacan utilizou esse<br />

nó borromeano para dizer pontos <strong>de</strong> interseção entre o real e o simbólico,<br />

imaginário, dizia ele. São registros diferentes, formas <strong>de</strong> registro extremamente<br />

diferentes, mas que divi<strong>de</strong>m um espaço comum. Esse espaço da interseção.<br />

Eu coloco aqui essa imagem do nó borromeano como o início da<br />

nossa reflexão, do nosso entendimento, <strong>de</strong> uma primeira imagem que po<strong>de</strong>mos<br />

criar sobre a interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Então, a interdisciplinarida<strong>de</strong>, fundamentalmente, faz esse movimento<br />

<strong>de</strong> conexão, coisas distintas no nosso campo, esse movimento <strong>de</strong> colocar em<br />

conexão, saberes, conhecimentos e também as práticas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sses<br />

saberes e conhecimentos. A tentativa <strong>de</strong> criar um nó borromenano, entre as<br />

teorias, entre as ciências, entre as diferentes profissões.<br />

Uma outra característica do nó borromeano é que ele se constitui enquanto<br />

nó, um tipo <strong>de</strong> nó utilizado há bastante tempo, o ser humano foi<br />

também criativo na criação dos nós, um ser especializado na criação <strong>de</strong> nós,<br />

no sentido figurado, metafórico, outro no sentido literal, que é o que eu<br />

estou usando agora. O nó borromeano faz um entrelaçamento, <strong>de</strong> tal maneira<br />

que ele produz a conexão <strong>de</strong> três laços, é uma arte, com a característica na<br />

qual a ruptura <strong>de</strong> um dos laços produz a ruptura dos outros laços também,<br />

<strong>de</strong>sfaz o nó inteiro, dada essa interconexão, que é realizada nesse tipo <strong>de</strong><br />

produção do nó. Então, po<strong>de</strong>mos já começar a imaginar a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> como essa conjunção <strong>de</strong> saberes.


64 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Vou abrir parênteses agora, porque mencionei aqui, com os companheiros<br />

da mesa, o meu vínculo com a UEL, o vínculo que se produziu por<br />

tantas pessoas que estiveram lá, estiveram cá, e o João Batista é um <strong>de</strong>sses,<br />

po<strong>de</strong> chegar, um companheiro <strong>de</strong> longa data, que também tem participado<br />

das nossas bancas, com quem a gente tem uma relação muito forte.<br />

Mas, voltando, radicalizando um pouco essa i<strong>de</strong>ia, esse conceito <strong>de</strong><br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos começar a pensar <strong>de</strong>ssa maneira, essa<br />

interligação <strong>de</strong> disciplinas até então separadas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, a interligação<br />

<strong>de</strong> ciências, a interligação até mesmo <strong>de</strong> teorias, po<strong>de</strong>mos pensar a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da psicologia, a interligação <strong>de</strong> práticas profissionais<br />

até então exercidas <strong>de</strong> maneira completamente separadas, mas uma<br />

interligação que na sua forma mais perfeita pu<strong>de</strong>sse ser exercida <strong>de</strong>ssa maneira:<br />

uma interligação tal que constitui um espaço comum, um núcleo comum,<br />

mas <strong>de</strong> tal maneira que a retirada <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>smancha toda a<br />

construção.<br />

Claro, já <strong>de</strong> saída eu digo para vocês, mas tentar pensar aqui a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>, as diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la, estou aqui propondo<br />

o que seria uma forma mais radical da interdisciplinarida<strong>de</strong>, enfim, as práticas<br />

vão <strong>de</strong>monstrar que ir até um ponto, dificilmente atingir um estado como<br />

esse, <strong>de</strong> uma interligação, que torne impossível a retirada <strong>de</strong> qualquer uma<br />

ou um dos elementos que compõem essa ligação. Mas vamos partir <strong>de</strong> qualquer<br />

maneira, que a interdisciplinarida<strong>de</strong> é um exercício, uma tentativa <strong>de</strong><br />

ligação <strong>de</strong> coisas separadas, até então dicotomizadas, e uma interligação <strong>de</strong><br />

tal forma que aquela constituiu um espaço comum que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> um<br />

tipo sem que esteja conectado, o que compõe o espaço comum, ou seja, a<br />

saída <strong>de</strong> qualquer elemento <strong>de</strong>sfaria esse núcleo comum da<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Retomando essa noção, essa imagem do nó borromeano, po<strong>de</strong>mos também<br />

imaginar, po<strong>de</strong>ria ter trazido uma imagem <strong>de</strong> círculos interligados, mas<br />

vamos imaginar, imaginem três círculos, po<strong>de</strong>riam ser mais, mas imaginem<br />

três, que estão conectados <strong>de</strong> tal maneira que se tangenciam em uma parte,<br />

os três, e <strong>de</strong>ntro dos três ao mesmo tempo se constitui um espaço comum.<br />

Estou evocando essa imagem da interconexão <strong>de</strong> círculos porque ela expressa<br />

também uma outra característica da interdisciplinarida<strong>de</strong>, que é essa, existe<br />

um espaço comum constituído por esse nó borromeano, um espaço que é<br />

comum às varias disciplinas, às varias práticas, no entanto, esse espaço co-


PALESTRAS 65<br />

mum não é o todo do que está interconectado, existem partes que participam<br />

<strong>de</strong>sse núcleo comum. É o que dá, portanto, uma in<strong>de</strong>pendência relativa<br />

do que está interconectado, ou seja, não há uma sobreposição das teorias<br />

e das práticas e tal, mas elas se mantêm no seu todo com uma área livre <strong>de</strong>ssa<br />

interconexão, que permite, inclusive, o que seria um <strong>de</strong>senvolvimento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma teoria, ou práticas.<br />

É uma ligação em partes, o que se faz na conjunção não inteira dos<br />

saberes, das práticas, mas <strong>de</strong> uma conjunção <strong>de</strong> uma parte <strong>de</strong>las. Estou <strong>de</strong>stacando<br />

isso porque a minha proposta era <strong>de</strong> estar aqui discutindo com vocês<br />

a interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma que nos permita pensá-la <strong>de</strong> vários<br />

aspectos, várias dimensões, não num sentido retilíneo, linear, mas num sentido<br />

em que nós possamos tentar enten<strong>de</strong>r os vários fazeres, as várias aplicações,<br />

os vários sentidos da interdisciplinarida<strong>de</strong>, para que possamos ver aspectos<br />

positivos, aspectos negativos, limitações, vantagens <strong>de</strong>sse exercício da<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Essa primeira imagem, <strong>de</strong>ssa interlocução, <strong>de</strong>ssa aproximação, da criação<br />

<strong>de</strong>sse espaço comum entre disciplinas, ela representa um avanço enorme,<br />

e quero <strong>de</strong>ixar bem claro, não é só um avanço na ciência, nas práticas do<br />

conhecimento, nas práticas profissionais, é um avanço do mundo, um avanço<br />

da cultura, um avanço da política, um avanço da socieda<strong>de</strong>, é um avanço<br />

da mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um tempo. Vou tornar isso um pouco mais claro para<br />

vocês, estou falando <strong>de</strong> uma transição paradigmática, do mundo, que passa<br />

pela cultura, pela política, pela subjetivida<strong>de</strong>, pela constituição do sujeito, e<br />

tudo o mais que vocês queiram imaginar, uma transição paradigmática, ela é<br />

importantíssima. E alguns autores vão chamar <strong>de</strong> transição do mo<strong>de</strong>rno para<br />

o pós-mo<strong>de</strong>rno, outros vão chamar <strong>de</strong> transição da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> sólida para<br />

a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida, outros vão chamar <strong>de</strong> transição do capitalismo acumulador<br />

para o capitalismo dispersivo, outros ainda vão se referir a essa transição<br />

paradigmática como mudança da socieda<strong>de</strong> industrial para socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> serviços, e vai por aí afora. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> para mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tardia,<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> para supermo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, enfim, nós sabemos que há uma polêmica,<br />

uma discussão muito complexa em torno <strong>de</strong>ssa questão, ou seja, da<br />

questão da mudança no paradigma da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Existem autores que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato se modificou<br />

substancialmente, que nós po<strong>de</strong>mos falar numa nova época da história,<br />

existem aqueles que estão na posição contrária, para quem a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>


66 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

ainda continua em curso, os fundamentos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ainda não se<br />

modificaram, outros que enten<strong>de</strong>m que essa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> já foi ultrapassada<br />

por um novo paradigma, <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> economia, <strong>de</strong><br />

tudo o mais, o que justifica chamar o nosso tempo <strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rno. Talvez<br />

pudéssemos, para não entrarmos nessas querelas, chamarmos simplesmente<br />

<strong>de</strong> contemporâneo, mas seja como for, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa discussão toda uma coisa<br />

é certa, todos reconhecem que o mundo... aí há uma divergência entre os<br />

autores, há uma discussão acerca do momento em que essa transição aconteceu,<br />

se configurou com mais sensibilida<strong>de</strong>. Seja como for, todos concordam<br />

com uma coisa: o mundo atual não é mais aquele mundo constituído do que<br />

foi chamado <strong>de</strong> mundo mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>spontou,<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, portanto, que se <strong>de</strong>sponta da história da nossa civilização a<br />

partir do século XVI, vai receber uma configuração já bem <strong>de</strong>lineada no<br />

século XIX, e que se prolonga até chegarmos a esta situação.<br />

Estamos ainda vivendo nos paradigmas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Mas o que é<br />

consenso entre esses autores é que, ainda que a gente entenda que a<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> está em curso, ou seja, que a gente ainda vive em um mundo<br />

que está fundamentado nesse paradigma, <strong>de</strong> ciência, cultura, idioma, etc.,<br />

que foi criado ainda no século XVI, o consenso é que: o mundo não é mais<br />

o mesmo. Po<strong>de</strong>mos dizer que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> prossegue, mas ela prossegue<br />

<strong>de</strong> uma maneira diferente <strong>de</strong> como ela se estabeleceu no século XIX. E é,<br />

portanto, nessa transição paradigmática que eu quero citar a vocês a questão<br />

da interdisciplinarida<strong>de</strong>. E, já adianto, adotar uma política interdisciplinar,<br />

multidisciplinar, transdisciplinar, monodisciplinar, seja qual for, isso eu queria<br />

<strong>de</strong>ixar muito claro para vocês, não é somente uma escolha técnica, e,<br />

olha, longe <strong>de</strong> fazer essas escolhas sobre esses critérios, “é mais eficiente, é<br />

mais produtivo”, porque normalmente se pensa assim. Por que fazer uma<br />

intervenção interdisciplinar e não monodisciplinar, por quê? A resposta já é:<br />

“porque ela é mais efetiva, é melhor ter vários saberes e instruir da nossa<br />

prática, melhor ter vários profissionais compondo conosco”.<br />

A pouco nós estávamos tomando conhecimento do trabalho da Meyre<br />

e tal, do Artur e <strong>de</strong> outros, vários estagiários que estão participando <strong>de</strong>sse<br />

projeto, numa intervenção da terceira ida<strong>de</strong>, por exemplo. Então, está tudo<br />

ok, eu tenho um psicólogo, um médico, um enfermeiro, um fisioterapeuta,<br />

fonoaudiólogo, aliás, a terceira ida<strong>de</strong> é aquele lugar que chama muito a intervenção<br />

interdisciplinar (risos), multidisciplinar, enfim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>vemos


PALESTRAS 67<br />

pensar na diferença entre multi, trans e interdisciplinar, chama muito, e<br />

po<strong>de</strong>mos ser levados por essa justificativa. Por que uma prática interdisciplinar<br />

na terceira ida<strong>de</strong>? Porque se trata <strong>de</strong> uma população que precisa <strong>de</strong> um atendimento<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> enfermagem, portanto, essa é uma intervenção mais<br />

eficiente, vai gerar mais resultados. Sem dúvida que assim é, mas penso que<br />

não <strong>de</strong>ve ser esse o principal motivo pelo qual nós vamos adotar uma ou<br />

outra postura, a inter ou não. Estou aqui tentando colocar para vocês que a<br />

<strong>de</strong>cisão não é uma <strong>de</strong>cisão mais política do que técnica, ou, então, na <strong>de</strong>cisão<br />

técnica temos uma <strong>de</strong>cisão política que às vezes nós nem percebemos, e<br />

que ela vai gerar efeitos, muito maiores que aqueles imediatos que nós estamos<br />

pensando quando imaginamos nossa <strong>de</strong>cisão só como uma <strong>de</strong>cisão técnica.<br />

Se eu opto por uma estratégia interdisciplinar num trabalho com a terceira<br />

ida<strong>de</strong>, eu preciso saber que estou me filiando a uma lógica que ultrapassa<br />

esse campo específico e que diz respeito ao mundo como um todo; minha<br />

visão é política nesse sentido. A partir daí minha prática vai favorecer, ela vai<br />

se opor, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do que está prevalecendo como paradigma <strong>de</strong> um tempo,<br />

mas ela vai estar conectada, a favor ou contra, a algo muito maior, que diz<br />

respeito à constituição mesma do mundo, em todos os seus planos, em todas<br />

as suas áreas, essa é a inter-relação que eu colocaria como extremamente<br />

necessária quando nós realizamos nossas opções.<br />

Estou aqui mencionando a questão da interdisciplinarida<strong>de</strong> porque é o<br />

nosso assunto, mas em qualquer outra <strong>de</strong>cisão, em qualquer outro campo da<br />

vida. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fazer psicologia mesmo, “é porque eu gosto”, evi<strong>de</strong>nte,<br />

mas o que é a psicologia hoje? O que significa a psicologia hoje? Está aí uma<br />

boa questão. Aliás, eu preciso me segurar aqui senão eu vou falar <strong>de</strong> um<br />

monte <strong>de</strong> coisas (risos), a gente vai falando do principal. Mas veja que gran<strong>de</strong><br />

questão temos pela frente: o que significa a psicologia hoje? A reposta mais<br />

comum e elementar diria: “a psicologia é importante porque ela dá conta <strong>de</strong><br />

algumas questões <strong>de</strong> sofrimento psíquico”. A propósito, a mudança <strong>de</strong> linguagem,<br />

a mudança <strong>de</strong> certas nomenclaturas, eu pensei agora na palavra<br />

<strong>de</strong>senvolvimento psíquico e me lembrei disso, essa é uma <strong>de</strong>nominação que<br />

está hoje se tornando muito comum, antes já foi patologia, transtorno, isso<br />

nós vamos encontrar mais no campo da psiquiatra... Veja que não é à toa<br />

que a linguagem muda, e muda porque o mundo está mudando, aí, veja, se<br />

eu uso uma <strong>de</strong>nominação ou outra, ela também é um posicionamento meu,<br />

político, frente ao mundo como um todo, frente a um paradigma que está na


68 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

base do nosso mundo, paradigma esse que se infiltra sobretudo no contemporâneo,<br />

que temos uma situação <strong>de</strong> capilarida<strong>de</strong> imensa, as coisas vão se<br />

<strong>de</strong>sdobrando e atingem praticamente todos os espaços micropolíticos.<br />

Voltando à questão da psicologia, o que é a psicologia hoje? Não é uma<br />

coisa curiosa? Só pra dar uma indicação <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar a<br />

psicologia hoje: o homem já foi em outras épocas concebido como espelhado<br />

em Deus, filho <strong>de</strong> Deus, Ida<strong>de</strong> Média, Antiguida<strong>de</strong>, etc., o homem já foi um<br />

animal político, esse aí da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, especialmente esse momento da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que eu estava <strong>de</strong>stacando para vocês, o século XIX, é isso, o<br />

homem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o iluminado <strong>de</strong> Deus, o servo <strong>de</strong> Deus, para ser o dono,<br />

até mesmo <strong>de</strong> si, do seu mundo, até do próprio Deus. Há uma revolta, num<br />

certo sentido, da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, na qual o homem toma em suas mãos a<br />

condição do mundo, a condição <strong>de</strong> si mesmo, ele se torna sujeito, até brinquei,<br />

o animal se tornou um animal político.<br />

No contemporâneo, esse animal político vai fazer uma longa história,<br />

ele vai para o século XIX, século XX, década <strong>de</strong> 60, um momento forte da<br />

presença <strong>de</strong>sse animal político-social e, mais recentemente, não seria absurdo<br />

dizermos que nós temos o homem como um animal psicológico, ele não<br />

é mais propriamente um animal político, não é mais propriamente um animal<br />

social, ele é um animal psicológico, é um sujeito psicológico. E não é à<br />

toa que a psicologia ganha importância, ganha uma dimensão na atualida<strong>de</strong>.<br />

Vamos voltar à nossa interdisciplinarida<strong>de</strong> como uma oposição às<br />

dicotomias, mas, da mesma forma, tentando situar, então, o sentido <strong>de</strong>ssa<br />

figura da interdisciplinarida<strong>de</strong> na transição paradigmática do mo<strong>de</strong>rno clássico.<br />

Como é que a interdisciplinarida<strong>de</strong> se relacionava com o paradigma<br />

clássico <strong>de</strong>ssa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>? Não se relacionava, até porque ela não existia.<br />

O que é que surge como elemento ou quais são os elementos; eu só vou<br />

apontar alguns, evi<strong>de</strong>ntemente, mas alguns elementos constituintes do que<br />

eu estou chamando aqui <strong>de</strong> paradigma mo<strong>de</strong>rno. Então, o paradigma mo<strong>de</strong>rno<br />

é esse que se estabelece como hegemônico no mundo oci<strong>de</strong>ntal, e que<br />

<strong>de</strong>pois vai dominar o mundo inteiro, a partir do século XVI, e que vai ter<br />

então essa configuração melhor <strong>de</strong>lineada no século XIX. O paradigma da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> traz, aliás, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> se constrói através <strong>de</strong> uma polarida<strong>de</strong><br />

interessante, por um lado, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> traz uma experiência <strong>de</strong> mudança<br />

muito intensa.


PALESTRAS 69<br />

Quando olhamos para acontecimentos do fim do século XVIII, XIX,<br />

facilmente vemos essa experiência <strong>de</strong> mundo em mudança, <strong>de</strong> mundo em<br />

transformação e, mais do que isso, <strong>de</strong> um mundo colocado <strong>de</strong> pernas para o<br />

ar. Aliás, não foi à toa que Marx, e <strong>de</strong>pois outros autores, se referiu a esse<br />

momento da história, <strong>de</strong> efervescência da história da humanida<strong>de</strong>, como <strong>de</strong><br />

um mundo em <strong>de</strong>smanche, <strong>de</strong> um mundo em <strong>de</strong>sconstrução. O Berman<br />

tem um livro que traz como título exatamente essa imagem: Tudo Que É<br />

Sólido Desmancha no Ar. Essa foi uma experiência importante do homem na<br />

humanida<strong>de</strong>, na vida <strong>de</strong>sse homem em processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> si como<br />

um sujeito, como aquele capaz <strong>de</strong> agir, fazer e construir a si e o seu mundo.<br />

Essa vivência, portanto, <strong>de</strong> um mundo em mudança extremamente intensa,<br />

mudanças que, tanto a essa nova concepção <strong>de</strong> homem, porque, veja, isso<br />

não foi pouco, aliás é aí que a psicologia começa a ter algum espaço, pois<br />

num mundo sem sujeito não cabe a psicologia, um mundo sem subjetivida<strong>de</strong>,<br />

um sujeito com essa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação, através do que ele po<strong>de</strong><br />

existir como uma força <strong>de</strong> mudança no mundo. E isso não foi pouco, talvez<br />

essa tenha sido a principal construção da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, talvez seja esse o<br />

principal elemento do paradigma mo<strong>de</strong>rno, a partir daí o homem não é<br />

mais servo <strong>de</strong> Deus, não é mais aquele subordinado à natureza, o homem<br />

não é mais tal, mas o homem é esse ator forte, social, que se re<strong>de</strong>scobre<br />

com essa possibilida<strong>de</strong>. E homem que se <strong>de</strong>scobre com essa possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se ver num mundo, nesse momento, em total ebulição, essa i<strong>de</strong>ia do<br />

mundo como um cal<strong>de</strong>irão efervescente, em processos <strong>de</strong> mudanças radicais.<br />

Muda tudo.<br />

A cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna aparece aí, a experiência da cida<strong>de</strong> que, aliás, vai ser<br />

outra coisa fundamental para a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Com a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o homem<br />

é retirado do campo e é colocado na cida<strong>de</strong>, passa a ser o lócus <strong>de</strong><br />

existência do ser humano, e é aí que ele vai se constituir, que ele vai se construir<br />

no seu mundo, esse também é um tema importantíssimo da psicologia,<br />

necessida<strong>de</strong>, subjetivida<strong>de</strong>, enfim, é um tema fundamental, o homem está se<br />

construindo aí, no espaço urbano. Portanto, que espaço é esse que tem produzido<br />

tantas coisas, também essas inflexões, no subjetivo, no psíquico ou<br />

no comportamento, tal como a gente queira chamar aí ou tratar o objeto da<br />

psicologia?<br />

Vejam que a organização da cida<strong>de</strong> tem um impacto profundo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong> como ela se constitui, como foi exatamente a experiência <strong>de</strong> habi-


70 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

tar a cida<strong>de</strong> do homem mo<strong>de</strong>rno. E, vamos lá, como é que surge a cida<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna? Paris é o exemplo mais clássico <strong>de</strong>ssa transição paradigmática, do<br />

medieval para o mo<strong>de</strong>rno. O que acontece na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris: ela é praticamente<br />

inteirinha arrebentada, bairros inteiros são implodidos para a construção<br />

do que seria a nova cida<strong>de</strong>, do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> que a<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> entendia, ou que ela tinha como a cida<strong>de</strong> necessária e mo<strong>de</strong>rna:<br />

as gran<strong>de</strong>s avenidas, avenidas retas, com o propósito, claro, <strong>de</strong> facilitar a<br />

circulação, e a construção <strong>de</strong> edifícios bem funcionais e <strong>de</strong> edifícios que<br />

seguiam um padrão arquitetônico, edifícios mo<strong>de</strong>rnos, que são caixotes, na<br />

verda<strong>de</strong>. Essa figura arquitetônica aí diz o seguinte: que essa efervescência da<br />

humanida<strong>de</strong> vai dar lugar, logo na sequência, a um profundo sentimento <strong>de</strong><br />

preocupação com a organização. A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vai trazer também essa i<strong>de</strong>ia,<br />

essa noção, esse valor fundamental, e isso vai estar posto, vai ser produzido<br />

nas várias dimensões da vida: estará na cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, uma cida<strong>de</strong> que<br />

busca organização e simetria, outro valor que vai se estabelecer na sequência<br />

<strong>de</strong>sse turbilhão mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong> transformação, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r até mesmo<br />

como uma medida da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> para organizar o caos que ela mesma<br />

produziu.<br />

Porém, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> esteve nessa questão, ela precisava <strong>de</strong>struir o<br />

mundo antigo em todos os seus aspectos, para estabelecer as novas estruturas,<br />

as estruturas mo<strong>de</strong>rnas. Se tudo o que é sólido vai se <strong>de</strong>smanchar no ar,<br />

logo mais a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> se vê construída em outros sólidos, talvez mais<br />

sólidos que aqueles que ela <strong>de</strong>smanchou. É daí que vem, então, uma profunda<br />

i<strong>de</strong>ia e ação <strong>de</strong> organização, a organização mo<strong>de</strong>rna vai operar fortemente<br />

em duas dimensões importantíssimas da experiência humana no tempo e no<br />

espaço. Eu vou <strong>de</strong>stacar só a organização do espaço, que acho que é aqui que<br />

está mais diretamente relacionada com a constituição das disciplinas.<br />

A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vai especializar tudo, ela vai colocar as coisas em seus<br />

<strong>de</strong>vidos lugares, as instituições mo<strong>de</strong>rnas vão surgir com essa função. Para<br />

adiantar um pouco po<strong>de</strong>mos tomar as análises do Foucault sobre a socieda<strong>de</strong><br />

disciplinar. A grosso modo, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vai criar a figura da disciplina;<br />

a disciplina é como a organização do espaço, vai ser também do tempo, só<br />

para não <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado, o tempo vai ser uma ferramenta fundamental da<br />

humanida<strong>de</strong> para a criação das disciplinas. Estou falando da disciplina no<br />

sentido geral, não só disciplinas científicas, tudo: a disciplina do corpo, das<br />

ações sociais, do pensamento, dos afetos, da sexualida<strong>de</strong>, da política, econo-


PALESTRAS 71<br />

mia, produção, enfim, tudo. É isso, aliás, que eu chamo <strong>de</strong> paradigma, <strong>de</strong><br />

elementos que constituem um paradigma. Veja como a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> disciplina<br />

que vai <strong>de</strong>pois evi<strong>de</strong>ntemente se tornar muito forte na ciência e nas profissões,<br />

mas ela está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma lógica mais abrangente: <strong>de</strong> organização do<br />

mundo e da socieda<strong>de</strong>.<br />

Pois bem, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> vai disciplinar tudo, vai disciplinar o mundo<br />

através das instituições, então, o princípio <strong>de</strong>ssa disciplinarização vai ser colocar<br />

cada coisa no seu lugar, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que cada coisa tem o seu lugar, tem<br />

um lugar <strong>de</strong>finido. Mas com um <strong>de</strong>talhe, isso não é problema, colocar as<br />

coisas nos lugares não é problema, as coisas vão ter que habitar um lugar no<br />

espaço, isso não é problema, o problema é quando esses espaços são tratados<br />

e criados como espaços blindados, espaços fechados, espaços que não se<br />

conectam com outros espaços. Usando um exemplo meio ridículo, mas é<br />

mais ou menos isso: homem é homem e mulher é mulher. Se nesse espaço<br />

está um homem, no mesmo espaço não po<strong>de</strong> estar uma mulher, não se po<strong>de</strong><br />

ocupar dois espaços ao mesmo tempo. A física até criou lei para isso, ou seja,<br />

se é psicanalista, é psicanalista, se é analista geral do comportamento, é analista<br />

geral do comportamento, um não po<strong>de</strong> ser o outro, o outro não po<strong>de</strong><br />

ser o um, essas coisas estão separadas. Se é psicólogo, é psicólogo, se é sociólogo,<br />

é sociólogo, portanto, se é psicólogo não po<strong>de</strong> ser sociólogo, se é sociólogo<br />

não po<strong>de</strong> ser psicólogo, e vai por aí afora. Essa específica organização da<br />

socieda<strong>de</strong> traz consigo a i<strong>de</strong>ia da dicotomizaçao, dicotomiza a socieda<strong>de</strong>, separa<br />

a realida<strong>de</strong>, separa os espaços, não haveria problemas <strong>de</strong> espaço se esses<br />

espaços não fossem espaços dicotômicos, espaços cindidos.<br />

Pois bem, assim nós usamos também a imagem das gavetas para falar<br />

<strong>de</strong>ssa disciplinarização mo<strong>de</strong>rna que coloca as coisas do mundo em compartimentos<br />

distantes e fechados, as gavetas, essa é uma figura bastante utilizada.<br />

É assim que a ciência mo<strong>de</strong>rna vai se constituir, e vai fazer uma longa<br />

história, ela vai cada vez mais nessa prática da disciplina, disciplinarização,<br />

ela vai cada vez mais criando compartimentos cada vez menores, e cada vez<br />

mais fechados. Surge, portanto, com ela a construção das especializações.<br />

Peguemos então a própria psicologia, primeiro a psicologia como um todo,<br />

separada das outras ciências, e bem separada, naquele sentido que a gente<br />

estava colocando para vocês, a psicologia não é outra coisa, tanto que se<br />

<strong>de</strong>finia a ciência mo<strong>de</strong>rna assim: “É um campo <strong>de</strong> conhecimento que tem<br />

um objeto e um método <strong>de</strong>finido”. Bem, a psicologia é a psicologia, e aí vão


72 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

se <strong>de</strong>sdobrando as especialida<strong>de</strong>s: <strong>de</strong>senvolvimento da psicologia, psicologia<br />

da personalida<strong>de</strong>, e por aí vai, psicologia social, psicologia <strong>de</strong> não sei o quê,<br />

e tendo ainda, nessas gavetas, as subgavetas, vão tendo outros compartimentos<br />

até que a gente vai chegar a uma especialida<strong>de</strong> da psicologia que se ocupa<br />

em como o sujeito <strong>de</strong>ve se vestir.<br />

Isso vai acontecendo em todas as ciências e, mais do que isso, vai acontecendo<br />

em todas as dimensões da vida, essa compartimentalização, trabalho,<br />

divisão do trabalho, então o sujeito vai se especializando, sua especialização vai<br />

sendo criada, enfim. E aí vai acontecendo um processo até paradoxal, talvez a<br />

principal consequência <strong>de</strong>ssa prática da disciplinarização da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, é<br />

que ela vai tornando o indivíduo mais competente em uma pequena parte<br />

daquilo que ele se ocupa, e vai emburrecendo em tudo o mais que faz parte da<br />

vida, acho que é essa situação que temos no contemporâneo, fazendo um saldo<br />

do que nós temos do contemporâneo nesse aspecto, da especialização, da<br />

disciplinarização. Veja só, nós temos uma outra especialização no contemporâneo,<br />

a especialização na qual o sujeito profissional acumula um<br />

superconhecimento, mas o que diz respeito à vida ele não conhece nada! Então,<br />

diríamos que ele mais se <strong>de</strong>squalificou; se ele se qualificou para uma ativida<strong>de</strong><br />

profissional, ele se <strong>de</strong>squalificou para a vida, vamos chamar assim.<br />

Faço o sepultamento para vocês, on<strong>de</strong> ficou o ser humano mo<strong>de</strong>rno?<br />

On<strong>de</strong> é que foi parar aquele sujeito, aquele homem que apareceu como o<br />

homem superpo<strong>de</strong>roso, capaz <strong>de</strong> criar o mundo? Aquele homem parece que,<br />

hoje, ele está mais para um homem incapaz <strong>de</strong> gerir o seu próprio mundo do<br />

que mais habilitado, como <strong>de</strong>veria ser, para fazê-lo. Talvez, até por aí, o homem<br />

diante das dificulda<strong>de</strong>s, ao invés <strong>de</strong> tentar melhorar o mundo, ele vai<br />

procurar a psicologia para lidar com as dores, como o sofrimento da alma.<br />

Até as coisas mais elementares da vida, como eram vistas essas coisas, bem,<br />

como eu vou me alimentar, como eu vou me vestir, como é que eu vou lidar<br />

com meus problemas pessoais e tal, essas coisas mais elementares, para isso<br />

hoje existem os profissionais.<br />

Veja como, hoje, a psicologia <strong>de</strong>squalifica, na verda<strong>de</strong>, o sujeito naquilo<br />

que é essencial a ele. Claro, estou fazendo aqui uma provocação, a<br />

psicologia é uma força <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> potência do homem, nós vamos<br />

empo<strong>de</strong>rar, aliás, essa palavra muito comum hoje, o empo<strong>de</strong>ramento, todo<br />

mundo quer empo<strong>de</strong>rar todo mundo. A psicologia vai empo<strong>de</strong>rar o sujeito,<br />

suas vivências, o seu comportamento, o seu cotidiano, vai dar a ele a


PALESTRAS 73<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se constituir como sujeito, isso numa autonomia <strong>de</strong> comportamento,<br />

uma autonomia <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, afetiva. Mas isso é só uma<br />

provocação <strong>de</strong> passagem.<br />

Mas vamos lá então... Nesse estado <strong>de</strong> extremo engavetamento da realida<strong>de</strong><br />

no mundo, a interdisciplinarida<strong>de</strong> vai surgir, vai ser como um<br />

questionamento, uma proposta. Acho que vai ser mais por volta da década<br />

<strong>de</strong> 70, essa preocupação com a interdisciplinarida<strong>de</strong> se coloca, ela assume<br />

maior visibilida<strong>de</strong>, vai se colocar como um <strong>de</strong>safio para as diferenças<br />

disciplinocientíficas. A questão da interdisciplinarida<strong>de</strong> vai ser exatamente<br />

essa: uma crítica à disciplina, a essa disciplinarização que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> criou<br />

no mundo, e vai acontecer <strong>de</strong> várias maneiras, a realida<strong>de</strong> não é separada, ela<br />

funciona como um todo, portanto, se você separar e abordar em disciplinas<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e separadas é uma maneira <strong>de</strong> não conseguir apreen<strong>de</strong>r o todo,<br />

as questões principais, então ela surge com essa crítica, essa proposta, que diz<br />

que precisamos aproximar, colocar em conexão esses saberes extremamente<br />

indisciplinalizados, exercidos como saberes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, saberes separados.<br />

Mas vamos lá. E por que vai aparecer isso? Isso é perigoso porque parece que<br />

há apenas um porquê, no entanto são vários porquês: em que contexto a<br />

preocupação com a interdisciplinarida<strong>de</strong> aparece? Aparece no contexto <strong>de</strong><br />

transição paradigmática do mo<strong>de</strong>rno clássico para o mo<strong>de</strong>rno atual, ou então<br />

do mo<strong>de</strong>rno para o pós-mo<strong>de</strong>rno. O que começa a aparecer no mundo e<br />

também em todos os planos da vida, a partir da década <strong>de</strong> 60, 70, e que vai<br />

se acentuando até chegarmos a hoje, a uma visualização melhor disso.<br />

Começa a acontecer exatamente um questionamento das fronteiras, ou<br />

seja, essa compartimentalização do mundo começa a ser posta em questão<br />

em todos os planos da vida. Na economia com a globalização, na política<br />

com o questionamento <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> gestão, no campo da subjetivida<strong>de</strong> ou<br />

da conduta do comportamento, também está posto aí. Aliás, já se começa a<br />

questionar o próprio conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, veja como o conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

ficou consumido na psicologia, tanto no paradigma mo<strong>de</strong>rno, como<br />

também no pós-mo<strong>de</strong>rno ao contemporâneo, o sujeito não é único no mundo,<br />

ele tem várias partes, várias dimensões, elas estão interconectadas.<br />

O conceito é marcado pela diferença, começam essas reflexões nesse<br />

período, mas que tem a ver exatamente com isso, com um mundo que está<br />

pondo em questão as fronteiras: geografias, sociais, subjetivas, todo o tipo <strong>de</strong><br />

fronteira, inclusive as fronteiras <strong>de</strong> tempo. Essa fronteira <strong>de</strong> tempo, que a


74 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

psicologia, aliás, ajudou bastante a criar, ou seja, o mais velho também po<strong>de</strong><br />

ser adolescente, o adolescente também po<strong>de</strong> ser mais velho, “adultiza” a criança,<br />

infatiliza o adulto, já mexeu nessas fronteiras temporais, antes tão bem<br />

<strong>de</strong>marcadas. E as geografias, é um tal <strong>de</strong> vai para lá, vem para cá, não que elas<br />

não existam mais, evi<strong>de</strong>ntemente, mas a gente vê esses movimentos <strong>de</strong> ir e<br />

vir constantemente, ora os países abrem mais para imigração, ora fecham a<br />

fronteira, <strong>de</strong> qualquer maneira, não se vive mais a noção <strong>de</strong> fronteira como<br />

se vivia antes.<br />

Veja como a subjetivida<strong>de</strong> mudou também nesse aspecto, também está<br />

ultrapassando as fronteiras, surge hoje a figura do “bor<strong>de</strong>rlne”, essa personalida<strong>de</strong><br />

fronteiriça, a experiência da fronteira, ou <strong>de</strong> transitar fronteiras, a<br />

questão do bor<strong>de</strong>rline é <strong>de</strong> todos nós. Essas fronteiras, que são as fronteiras<br />

sexuais, afetivas, as fronteiras disso, daquilo, enfim, aquelas que estavam tão<br />

bem construídas antes, embutidas naquilo que nós chamamos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>,<br />

hoje também se diluem, o sujeito hoje po<strong>de</strong> experimentar cenas, situações,<br />

afetos bem diversos, então, o sujeito hoje é um sujeito <strong>de</strong> fronteiras,<br />

esse sujeito da migração, da mobilida<strong>de</strong>.<br />

É, portanto, nesse cenário da transformação paradigmática que vai surgir<br />

a interdisciplinarida<strong>de</strong>, é importante a gente ter essa reflexão, ou seja,<br />

não foi uma invenção da ciência, não foi uma invenção disso ou daquilo,<br />

não foi uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar uma resposta mais efetiva a problemas que se<br />

colocava para a psicologia, medicina, é o tempo que mudou, o paradigma do<br />

tempo que mudou. Portanto, as fronteiras científicas começam a ser questionadas,<br />

as fronteiras teóricas começam a ser questionadas, e é, portanto, no<br />

questionamento <strong>de</strong>ssas fronteiras que vai surgir a figura da interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Temos aí posto o exercício da interdisciplinarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa transformação<br />

paradigmática. Quando estamos propondo uma interdisciplinarida<strong>de</strong>,<br />

nós estamos questionando fronteiras, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse<br />

questionamento geral <strong>de</strong> fronteiras estamos agindo contra esse paradigma<br />

da disciplinarização, provocando nele alguma abertura. Nesse sentido, a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> se opõe àquilo que era comum, que eram as práticas<br />

disciplinares, que era chamada <strong>de</strong> multidisciplinarida<strong>de</strong>, aquele objeto que<br />

era abordado por saberes diferenciados, até em ações múltiplas, porque o<br />

exercício da multidisciplinarida<strong>de</strong> tem bastante história, ou seja, vários profissionais<br />

lidando com o mesmo aspecto da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro da própria


PALESTRAS 75<br />

saú<strong>de</strong>, da educação. Aliás, educação e saú<strong>de</strong> são áreas que a gente sempre<br />

tangencia na psicologia, <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra, a gente po<strong>de</strong> observar<br />

bem a interdisciplinarida<strong>de</strong>, multidisciplinarida<strong>de</strong>, tal, etc., até bastante tempo<br />

a educação trazia consigo uma prática interdisciplinar. Ensinava-se geografia,<br />

matemática, e tal, <strong>de</strong> forma separada, mas <strong>de</strong>ntro do mesmo lugar, do<br />

mesmo processo, da mesma proposta, do mesmo objetivo, que era o objetivo<br />

educacional.<br />

Mais recentemente surge a i<strong>de</strong>ia da transversalida<strong>de</strong> na educação, nos<br />

parâmetros curriculares, que já é outra coisa, uma tentativa <strong>de</strong> colocar a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> na educação. E é <strong>de</strong>ssa maneira também que a<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong> vai cair na psicologia, essa tentativa <strong>de</strong> se conectar, <strong>de</strong><br />

se interligar com outras profissões, outros saberes, mas é uma interligação<br />

não mais em separado, mas sim uma interligação que procura algum diálogo,<br />

que procura <strong>de</strong> fato constituir um espaço comum.<br />

Agora nós sabemos o quanto isso é difícil, mesmo quando a gente tem<br />

uma equipe, a i<strong>de</strong>ia da equipe não resolve nada nesse sentido, a equipe está<br />

posta aí no centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, nos CAPs, não sei mais on<strong>de</strong>,<br />

ela por si não resolve, porque o que vai <strong>de</strong>finir se a prática se configura como<br />

uma prática interdisciplinar, multidisciplinar ou monodisciplinar, etc, é a<br />

maneira como ela exercita, efetivamente a maneira como ela acontece. Isso<br />

não acontece necessariamente em todos os momentos da experiência, em<br />

alguns momentos ela até se realiza, em outros não, vivemos em um mundo<br />

em processo. O mundo hoje é um mundo em processo. É tudo movimento,<br />

o mundo está em movimento, o homem está em movimento. Até porque<br />

nesse mundo não acaba nada, não é mais um mundo <strong>de</strong> projetos, vivemos<br />

uma experiência <strong>de</strong> tempo contínuo e não <strong>de</strong> tempo segmentado.<br />

A interdisciplinarida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> acontecer em alguns momentos <strong>de</strong>sse processo,<br />

e ela vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r muito mais daquilo que se efetiva na prática e que,<br />

por sua vez, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só da maneira como o serviço está organizado, mas<br />

vai também dos protagonistas, <strong>de</strong> quem opera o serviço e dá disposição <strong>de</strong> se<br />

lançar <strong>de</strong> fato a uma prática interdisciplinar, o que não é fácil para ninguém.<br />

É muito mais cômodo, nossa tendência é sempre <strong>de</strong> agir a partir do nosso<br />

campo específico, a partir da nossa disciplina. Essa disposição, essa disponibilida<strong>de</strong>,<br />

ou essa tolerância para conviver com o outro, a prática<br />

interdisciplinar é um exercício forte, profundo <strong>de</strong> convivência com o outro,<br />

e sabemos também que nosso mundo, a contemporaneida<strong>de</strong>, ela não privile-


76 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

gia a convivência com o outro, vivemos uma condição <strong>de</strong> agir sozinho, separado<br />

do amontoado que constitui nosso cotidiano.<br />

O exercício interdiscilplinar nos solicita isso, ele traz o outro diante<br />

<strong>de</strong> nós, no caso da psicologia traz o assistente social, traz o cidadão, traz o<br />

enfermeiro, o médico, psiquiatra, que é uma <strong>de</strong>sgraça, e tantos outros<br />

interlocutores que na maior parte das vezes nos vemos num monólogo <strong>de</strong><br />

cada um, mas com uma dificulda<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> construir efetivamente um<br />

diálogo. Mas, enfim, a interdisciplinarida<strong>de</strong> está posta, como um caminho,<br />

e é um caminho que nós precisamos pensar amplamente nele, precisamos<br />

fazê-lo se realizar.<br />

Mas isso ainda não esgota as possibilida<strong>de</strong>s, porque, além da<br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>, surge agora também a noção <strong>de</strong> transdisciplinarida<strong>de</strong>,<br />

aliás, diria para vocês, nos <strong>de</strong>bates mais avançados, a interdisciplinarida<strong>de</strong> já<br />

está sendo colocada em cheque também, porque, à medida que se vai interrogando<br />

as fronteiras, a radicalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa crítica propõe o seguinte: vamos<br />

acabar com as fronteiras.<br />

A i<strong>de</strong>ia da transdiciplinarida<strong>de</strong> é uma radicalização da noção <strong>de</strong><br />

interdisciplinarida<strong>de</strong>, porque vamos voltar ao nó borremeano, e dos ciclos<br />

concêntricos qual a i<strong>de</strong>ia, eu fiz questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar essa imagem para vocês<br />

antes, então, na interdisciplinarida<strong>de</strong> tem um espaço comum nas disciplinas<br />

que conjugam uma <strong>de</strong>terminada prática, mas temos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada uma<br />

<strong>de</strong>las outro espaço que não está nesse espaço comum, que é o espaço da sua<br />

especificida<strong>de</strong>, que se mantém <strong>de</strong>ntro da prática interdisciplinar. Então, alguma<br />

fronteira ainda existe entre essas disciplinas, mesmo <strong>de</strong>ntro da prática<br />

interdisciplinar.<br />

A proposta transdisciplinar é essa: vamos acabar com tudo, vamos construir<br />

um conhecimento, práticas que efetivamente ultrapassem todas as fronteiras,<br />

práticas <strong>de</strong> conhecimento que sejam capazes <strong>de</strong> se fazer por uma<br />

integração radical do conhecimento, <strong>de</strong> maneira que se acabe efetivamente<br />

com as especialida<strong>de</strong>s, ou com as fronteiras. Especialida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquelas<br />

mais refinadas até aquelas mais gerais, especialida<strong>de</strong>s das disciplinas como<br />

um todo; a prática dos conhecimentos específicos é construída em relação a<br />

um <strong>de</strong>terminado objeto, um <strong>de</strong>terminado lugar. A i<strong>de</strong>ia da transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

é ligada com essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> interligação total da realida<strong>de</strong> do<br />

mundo, ela vem muito por conta <strong>de</strong> reflexões que nós vamos encontrar em<br />

Edgar Morin.


PALESTRAS 77<br />

A transdisciplinarida<strong>de</strong> tem tudo a ver com a noção <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do<br />

Edgar Morin, e é uma pena que a gente não possa avançar, porque nossa<br />

proposta é discutir a interdisciplinarida<strong>de</strong>, não a transdisciplinarida<strong>de</strong>. Mas<br />

ela se vincula, nós temos um novo paradigma, esse paradigma do contemporâneo<br />

e do pós-mo<strong>de</strong>rno, que tenta <strong>de</strong>sfazer as fronteiras criadas, do tempo e<br />

espaço, criadas pela humanida<strong>de</strong>, e criar um cenário <strong>de</strong> total integração, que<br />

tem muito a ver com o pensamento ecológico. Não é à toa que a ecologia<br />

surge no contemporâneo; a ecologia é um dos exemplos do que talvez fosse a<br />

proposta transdisciplinar, é isso, ela constrói um saber e práticas que unem<br />

todas as disciplinas como um todo, e não apenas uma parte <strong>de</strong>la.<br />

Olha, como meu tempo acabou, o que eu queria colocar pra vocês era<br />

exatamente isso, que po<strong>de</strong>mos pensar a inter e a transdisciplinarida<strong>de</strong> em<br />

relação a esses paradigmas, <strong>de</strong> modo <strong>de</strong> vida, que foram construídos ao<br />

longo da história, ou que estão se <strong>de</strong>spontando no contemporâneo. Gente,<br />

obrigado!


78 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

PSICOLOGIA E INTERDISCIPLINARIDADE<br />

NA CIÊNCIA CONTEMPORÂNEA<br />

Profa. Dra. Meyre Eiras Barros Pinto<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Obrigada, bom-dia a todos. Fiz um recorte pra gente discutir essa questão<br />

da interdisciplinarida<strong>de</strong>, muito pautada na minha experiência profissional<br />

<strong>de</strong> trinta anos, quando iniciei como psicóloga na saú<strong>de</strong> mental. Acho<br />

que a saú<strong>de</strong> mental, historicamente, como disse Justo, todo esse movimento<br />

na interdisciplinarida<strong>de</strong>, começa lá na década <strong>de</strong> 70, quer dizer, eu vivo a<br />

prática primeiro, eu vivi a prática da multidisciplinarida<strong>de</strong>, porque a gente<br />

não trabalhava muito com esse conceito da interdisciplinarida<strong>de</strong>, e aí, ao<br />

longo do tempo, a gente vai se especializando e enten<strong>de</strong>ndo essa necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ligação entre as áreas do conhecimento na prática profissional, então, a<br />

área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental se constitui por si só em um campo interdisciplinar.<br />

Além disso, eu já tive também vasta experiência na psicologia clínica, trabalhando<br />

individualmente, mas sempre fui muito apaixonada pelo trabalho<br />

em equipe no campo da psicologia clínica. Portanto, vou trazer aqui um<br />

pouco <strong>de</strong>ssa experiência e reflexão pessoal que tenho e também uma reflexão<br />

com base num projeto interdisciplinar com o qual já me envolvo aqui<br />

em <strong>Londrina</strong>, há três anos, mas venho <strong>de</strong>ssa perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver trabalhos<br />

interdisciplinares no campo da saú<strong>de</strong> também em outra instituição<br />

na qual trabalhei. Portanto, são reflexões do que vivo, do que penso, e trazer<br />

um pouco mais a inserção da práxis, que foi uma coisa que ontem a gente<br />

discutiu bastante. Professor Justo já passou os conceitos históricos,<br />

superimportantes, atuais, então, faço essa opção pelo recorte da minha fala<br />

hoje, sobre a interdisciplinarida<strong>de</strong> no contexto da saú<strong>de</strong>, uma abordagem<br />

interprofissional.<br />

Este texto trata da interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionais na área da saú<strong>de</strong>,<br />

incluindo a importância da presença do psicólogo nesse contexto. Gostaria<br />

<strong>de</strong> iniciar dizendo que a introdução das ciências humanas no campo da<br />

saú<strong>de</strong> coloca em questão o discurso biológico, através da crítica à hegemonia


PALESTRAS 79<br />

do saber médico e à exclusão <strong>de</strong> outros saberes na discussão sobre saú<strong>de</strong>.<br />

Também, como proposta crítica em relação ao mo<strong>de</strong>lo médico, trabalhei<br />

vinte anos com a disciplina <strong>de</strong> psicologia médica, e a psicologia médica se<br />

apropria e utiliza muito dos conceitos da psicanálise, como transferência e<br />

contratransferência, em que se ressalta a importância nesse contexto da relação<br />

médico–paciente com o intuito <strong>de</strong> “ensinar o médico a perceber o sentido<br />

latente dos sintomas do paciente e as influências da relação que se estabelece<br />

entre o médico e o paciente no processo terapêutico”.<br />

No plano teórico, que trabalha bastante nesse contexto da psicologia<br />

da saú<strong>de</strong>, ao resgatar as origens gregas da palavra saú<strong>de</strong>, ele a resgata como<br />

inteiro, intacto, integrida<strong>de</strong>, e afirma que esta não permite uma fragmentação<br />

na saú<strong>de</strong> física, mental e social, <strong>de</strong>vendo-se partir, então, <strong>de</strong> uma visão<br />

biopsicossocial que supõe compreendê-la na interface <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong><br />

das disciplinas.<br />

Na interdisciplinarida<strong>de</strong>, busca-se a superação das fronteiras disciplinares.<br />

Po<strong>de</strong>-se construí-la através da <strong>de</strong>finição do que as disciplinas científicas<br />

têm em comum, em níveis <strong>de</strong> integração mais profundos, por meio da unificação<br />

ou síntese <strong>de</strong> conhecimentos científicos, ou pelo estabelecimento <strong>de</strong><br />

uma linguagem interdisciplinar construída entre os cientistas. Observa-se<br />

uma troca profunda entre disciplinas, em que os instrumentos, métodos e<br />

esquemas conceituais po<strong>de</strong>m vir a ser interligados.<br />

A psicologia no contexto da saú<strong>de</strong> tenta firmar-se como uma nova especialida<strong>de</strong><br />

da psicologia, que não é inovadora, não, eu já estou nela há trinta<br />

anos, mas já acumulou uma quantida<strong>de</strong> suficiente <strong>de</strong> pressupostos, ou seja,<br />

um corpo <strong>de</strong> conhecimentos que justifica a sua consi<strong>de</strong>ração com uma subárea<br />

ou como uma estratégia da psicologia. A psicologia da saú<strong>de</strong> vem sendo solicitada<br />

a dar sua parcela <strong>de</strong> contribuição, pois se constitui no mais recente<br />

conhecimento do <strong>de</strong>senvolvimento no processo <strong>de</strong> inserção da ciência psicológica<br />

na compreensão da saú<strong>de</strong>.<br />

Sua fundamentação agrega o conhecimento acadêmico, científico e<br />

profissional da área da psicologia para utilizá-lo na promoção, na manutenção<br />

da saú<strong>de</strong>, na prevenção, no tratamento da doença, na i<strong>de</strong>ntificação da<br />

etiologia e no diagnóstico relacionado à saú<strong>de</strong>, à doença e às disfunções,<br />

bem como no aperfeiçoamento do sistema <strong>de</strong> política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nessa jornada,<br />

visando consolidar-se como uma especialida<strong>de</strong>, a psicologia, no contexto


80 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

da saú<strong>de</strong>, necessitou <strong>de</strong>finir novas perspectivas teóricas que redimensionassem<br />

esse saber emergente. Para isso lançaram-se buscas <strong>de</strong> saberes “emprestados”<br />

utilizando-se recursos e métodos da própria psicologia e <strong>de</strong> outros afins, como<br />

medicina, biologia, filosofia, etc. O prospecto que contribuiu é o fato <strong>de</strong> que<br />

o padrão <strong>de</strong> doença foi mudando, pois os principais problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não<br />

são mais relacionados a doenças infecciosas, mas, sim, a doenças crônicas.<br />

A contribuição exclusiva do mo<strong>de</strong>lo biomédico passou a ser questionada,<br />

sendo necessário o surgimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo que consi<strong>de</strong>re os aspectos<br />

psicológicos e sociais, que são relacionados atualmente às doenças crônicas,<br />

e a ponte, também, para a relação <strong>de</strong>sses aspectos, como a saú<strong>de</strong> e as doenças,<br />

tratando-se agora <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo biopsicossocial. Essa é a linguagem da<br />

construção <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo pelo qual hoje a gente tem batalhado muito no<br />

contexto da psicologia, que é essa construção biopsicossocial. Dessa forma,<br />

na ciência do século XXI, a troca <strong>de</strong> conhecimentos é essencial entre as várias<br />

disciplinas, pois a troca <strong>de</strong> informações entre as áreas (médica,<br />

neuropsicológica e pedagógica) é fundamental para promover a interdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

Esta correspon<strong>de</strong>ria à união <strong>de</strong> disciplinas, distintas, articuladas<br />

ao redor <strong>de</strong> uma mesma temática, com diferentes níveis <strong>de</strong> integração,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma cooperação <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>, sem articulações acionadas,<br />

até a prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> uma disciplina sobre as <strong>de</strong>mais.<br />

Portanto, nesse contexto, um único profissional não é o bastante para<br />

analisar, discutir todas as questões relacionadas aos pacientes em vários aspectos<br />

no contexto da saú<strong>de</strong>. O trabalho em equipe distingue-se então pela<br />

homogeneida<strong>de</strong> dos objetivos a serem atingidos. Assim, o trabalho realizado<br />

em conjunto, pela equipe, diria respeito ao trabalho em equipe interdisciplinar,<br />

que é <strong>de</strong>scrita por um grupo <strong>de</strong> profissionais, <strong>de</strong> diversas formações,<br />

os quais atuam <strong>de</strong> maneira inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, inter-relacionando-se num<br />

mesmo ambiente <strong>de</strong> trabalho por intermédio <strong>de</strong> comunicações formais e<br />

informais.<br />

Acrescenta-se ainda que o trabalho em equipe ganha importância especial<br />

a partir do momento em que os mo<strong>de</strong>los explicativos atuais no processo<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e doença apontam para a multicausalida<strong>de</strong> das enfermida<strong>de</strong>s. Na<br />

psicologia tivemos <strong>de</strong> ver isso: muitos quadros patológicos, que eram discutidos<br />

nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80, hoje mudaram a configuração etiológica, ou seja,<br />

eles <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter um caráter apenas da etiologia dos aspectos funcionais da<br />

personalida<strong>de</strong> e passam a ser discutidos como doenças orgânicas. Além dis-


PALESTRAS 81<br />

so, pesquisas apontam que o trabalho em equipe interdisciplinar reduz o<br />

tempo <strong>de</strong> hospitalização e os custos, aumenta a satisfação dos pacientes e a<br />

a<strong>de</strong>são ao tratamento, melhorando o bem-estar dos pacientes, além <strong>de</strong> aumentar<br />

a satisfação dos profissionais com o trabalho. Deste modo, os resultados<br />

da avaliação <strong>de</strong> cada profissional <strong>de</strong>verão ser analisados, discutidos<br />

por todos, especificando as integrida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s observadas.<br />

Sobre isso eu vejo uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> no campo da psicologia. O<br />

psicólogo tem dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar: “Eu trabalho <strong>de</strong>ssa maneira”. Pelo menos<br />

na área clínica, nas outras áreas eu não tenho dados para falar sobre isso. “Eu<br />

trabalho assim, a metodologia que eu uso é essa, a fundamentação teórica é<br />

essa, o foco que quero trabalhar é esse...”. E, na equipe interdisciplinar, a<br />

gente tem <strong>de</strong> colocar a metodologia para que o outro profissional possa também<br />

comungar, ver se sua metodologia vai ter alguma integração com o trabalho<br />

que estou realizando. Portanto, não basta a gente compreen<strong>de</strong>r o conceito<br />

do que seja a interdisciplinarida<strong>de</strong>, é preciso adotá-la como postura. Ao<br />

fazer isso, o profissional abre espaço para a experimentação <strong>de</strong> novas<br />

metodologias e busca que não somente ele, mas a equipe <strong>de</strong> trabalho como<br />

um todo, <strong>de</strong>senvolva o que eu chamo <strong>de</strong> abordagem interprofissional, na<br />

busca <strong>de</strong> uma tática colaborativa.<br />

Para concluir, <strong>de</strong>ixo uma mensagem que me inspirou muito a fazer uma<br />

mudança no trabalho do método clínico, no meu consultório particular,<br />

para o contexto das instituições, sejam elas hospitalares, ambulatoriais ou <strong>de</strong><br />

atenção básica. Foi muito em cima da mensagem <strong>de</strong> Fernando Pessoa, que<br />

me <strong>de</strong>u essa inspiração, que eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar para vocês, para que vocês<br />

também refletissem. Então, finalizo dizendo, segundo Fernando Pessoa: “Há<br />

um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma<br />

do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levem sempre aos<br />

mesmos lugares. É tempo <strong>de</strong> travessia, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado<br />

para sempre à margem <strong>de</strong> nós mesmos”.<br />

Eu faço esse convite, aos nossos alunos, aos nossos professores, para<br />

que a gente tenha, institucionalmente, uma prática interdisciplinar, seja ela<br />

no campo da psicologia ou na interseção com outras áreas científicas. O meu<br />

muito obrigada pela atenção!


82 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

TECENDO UMA PSICOLOGIA MESTIÇA...<br />

ASSEGURANDO A COMPLEXIDADE DO<br />

CONHECIMENTO PSI<br />

Prof. Dr. João Batista Martins<br />

Depto. Psicologia Social e Institucional<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Pusemo-nos a <strong>de</strong>strinchar o processo da vida com nossas tesouras<br />

<strong>de</strong> pesquisa. Fomos do organismo para o órgão, do órgão ao tecido,<br />

do tecido à célula, até chegarmos à molécula <strong>de</strong> DNA em seu<br />

ambiente celular. Continuamos a picotar. Decompusemos o DNA.<br />

Decompusemos o ambiente. Com surpresa, <strong>de</strong>scobrimos que a vida<br />

<strong>de</strong>sapareceu. Para on<strong>de</strong> ela foi?<br />

Schwartz<br />

Como a maioria <strong>de</strong> vocês sabe, eu tenho estudado nos últimos anos as<br />

obras <strong>de</strong> um autor russo chamado Vigotski. As leituras que temos feito ultimamente<br />

<strong>de</strong> suas obras têm nos remetido para pensar a questão que agora nos<br />

afeta: a psicologia na sua interdisciplinarida<strong>de</strong> e a ciência contemporânea.<br />

Resgatar Vigotski neste momento tem por objetivo assinalar que o problema<br />

da relação da psicologia com outras ciências não é novo e este já era<br />

pensado por esse autor nos idos <strong>de</strong> 1920. Entretanto, as preocupações <strong>de</strong><br />

Vigotski eram diferentes das que aqui nos ocupamos, uma vez que o momento<br />

histórico em que viveu colocava – para ele e para os psicólogos da época –<br />

problemas bastante diferentes, tendo em vista o processo revolucionário em<br />

curso na Rússia.<br />

No que tange à psicologia, esse autor e seu grupo tinham por preocupação<br />

criar uma psicologia que se enraizasse nos pressupostos do materialismo<br />

dialético e do materialismo histórico, ou seja, tinham por perspectiva criar<br />

uma nova psicologia, diferente das correntes que disputavam o status <strong>de</strong><br />

psicologia científica.


PALESTRAS 83<br />

O enfrentamento histórico entre a psicologia introspectiva da consciência<br />

e os novos enfoques objetivos teve na URSS um significado peculiar<br />

ao entrelaçar-se com os acontecimentos revolucionários e com a condição<br />

global <strong>de</strong> mudança cultural em que vivia aquela socieda<strong>de</strong>. O que em outros<br />

países era uma problemática mais estimulada pela história da psicologia,<br />

na URSS se converteu em busca <strong>de</strong> uma alternativa materialista que<br />

fosse, ao mesmo tempo, consistente com a filosofia socialmente dominante:<br />

o marxismo.<br />

Vigotski “mostrou que a divisão <strong>de</strong> trabalho entre os psicólogos da ciência<br />

natural e os psicólogos fenomenológicos havia produzido um acordo implícito,<br />

segundo o qual as funções psicológicas complexas, aquelas que distinguiam<br />

os seres humanos dos animais, não podiam se estudadas cientificamente.<br />

Os naturalistas e os mentalistas haviam artificialmente <strong>de</strong>smembrado a psicologia.<br />

Era sua meta, e nossa tarefa, criar um novo sistema que sintetizasse essas<br />

maneiras conflitantes <strong>de</strong> estudo” (Luria, 1988, p. 24).<br />

Vigotski, dialogando com as teorias <strong>de</strong> seu tempo (psicanálise, gestalt,<br />

reflexologia, behaviorismo americano), assinala, em 1925, a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> adotar um sistema que contemplasse tanto os aspectos biológicos como<br />

os aspectos sociais e culturais na compreensão dos fenômenos psicológicos<br />

humanos.<br />

Assim, ele afirma que:<br />

“Esse sistema não foi criado. Cabe afirmar com certeza que não surgirá<br />

nem das ruínas da psicologia empírica nem nos laboratórios dos<br />

reflexólogos. Chegará como a ampla síntese biossocial da doutrina do<br />

comportamento do animal e do homem social. Essa nova psicologia<br />

será um ramo da biologia geral e, ao mesmo tempo, a base <strong>de</strong> todas as<br />

ciências sociológicas. Constituirá o núcleo em que estarão unificadas<br />

as ciências da natureza e as do homem” (Vigotski, 1925/2004a, p. 52).<br />

Aqui encontramos – em 1925 – uma primeira proposta <strong>de</strong> construção<br />

<strong>de</strong> uma psicologia com características interdisciplinares.<br />

Entretanto, esse autor vai um pouco mais longe: não se tratava <strong>de</strong><br />

criar uma nova síntese entre as correntes psicológicas na época, mas, sim,<br />

criar um novo sistema cujo enraizamento circunscrevesse o materialismo<br />

histórico e dialético. Será em 1926, com o texto O significado histórico da


84 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

crise da psicologia: uma investigação metodológica, que Vigotski vai lançar os<br />

principais pressupostos da abordagem histórico-cultural em psicologia.<br />

Ele <strong>de</strong>senvolveu a tese <strong>de</strong> que a crise da psicologia se organizava em<br />

torno <strong>de</strong> duas psicologias – que não po<strong>de</strong>riam se reconciliar:<br />

“A tese <strong>de</strong> que existem duas psicologias (a científico natural, materialista, e<br />

a espiritualista) expressa com mais precisão o significado da crise do<br />

que a tese da existência <strong>de</strong> muitas psicologias. Psicologias, sendo exato,<br />

existem duas: dois tipos distintos, inconciliáveis, <strong>de</strong> ciência; duas construções<br />

do sistema <strong>de</strong> saber radicalmente diferentes. O restante são só<br />

diferenças nas perspectivas, escolas, hipóteses; combinações parciais,<br />

tão completas, tão confusas e entremeadas, cegas e caóticas, que com<br />

freqüência é muito difícil se orientar. Mas, na verda<strong>de</strong>, a luta só se dá<br />

entre duas tendências que subjazem e atuam em todas as correntes em<br />

litígio” (Vigotski, 1926/2004, p. 335).<br />

A questão para a construção <strong>de</strong> uma nova psicologia se localizava, para<br />

o autor, enquanto uma questão metodológica, uma vez que ele consi<strong>de</strong>rava<br />

que: “Nenhuma ciência apresenta tanta diversida<strong>de</strong> e amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas<br />

metodológicos, tão sérias dificulda<strong>de</strong>s, tão insolúveis contradições como<br />

a nossa. Por isso, não se po<strong>de</strong> dar nela nenhum passo sem realizar milhares<br />

<strong>de</strong> cálculos prévios nem adotar as <strong>de</strong>vidas precauções” (Vigotski, 1926/2004,<br />

p. 390).<br />

Para consolidar sua proposta, ele vai propor a criação <strong>de</strong> uma psicologia<br />

geral, tendo por perspectiva o olhar dialético sobre a realida<strong>de</strong> científica da<br />

época:<br />

“Proponho, pois, esta tese: a análise da crise e da estrutura da psicologia<br />

testemunha indiscutivelmente que nenhum sistema filosófico po<strong>de</strong><br />

dominar diretamente a psicologia como ciência sem a ajuda da<br />

metodologia, ou seja, sem criar uma ciência geral; que a única aplicação<br />

legítima do marxismo em psicologia seria a criação <strong>de</strong> uma psicologia<br />

geral cujos conceitos se formulem em <strong>de</strong>pendência direta da dialética<br />

geral, porque essa psicologia nada seria além da dialética da psicologia;<br />

toda aplicação do marxismo à psicologia por outras vias, ou a partir <strong>de</strong><br />

outros pressupostos, fora <strong>de</strong>ssa formulação, conduzirá inevitavelmente<br />

a construções escolásticas ou verbalistas e a dissolver a dialética em pes-


PALESTRAS 85<br />

quisas e testes; a raciocinar sobre as coisas baseando-se em seus traços<br />

externos, casuais e secundários; à perda total <strong>de</strong> todo critério objetivo e<br />

a tentar negar todas as tendências históricas no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

psicologia; a uma revolução simplesmente terminológica. Em resumo,<br />

a uma tosca <strong>de</strong>formação do marxismo e da psicologia” (Vigotski, 2004,<br />

p. 392 – <strong>de</strong>staques nossos).<br />

Ainda com a perspectiva <strong>de</strong> se criar uma psicologia que tome o ser<br />

humano na sua integralida<strong>de</strong>, Vigotski avança em suas consi<strong>de</strong>rações, propondo<br />

um olhar sistêmico sobre os fenômenos psicológicos. Aqui, no princípio<br />

dos anos 30, i<strong>de</strong>ntificamos uma mudança significativa na interpretação<br />

<strong>de</strong> Vigotski com relação ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das funções psicológicas<br />

superiores. Tal mudança ocorre em sua abordagem ao estudar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e a evolução do pensamento e da linguagem na ida<strong>de</strong> infantil.<br />

A partir <strong>de</strong> suas pesquisas ele diz que:<br />

“É precisamente a isto que esta minha comunicação se <strong>de</strong>dica. A idéia<br />

principal (extraordinariamente simples) consiste em que durante o processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do comportamento, especialmente no processo<br />

<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento histórico, o que muda não são tanto as<br />

funções, tal como tínhamos consi<strong>de</strong>rado anteriormente (era esse nosso<br />

erro), nem sua estrutura, nem sua parte <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, mas o que<br />

muda e se modifica são precisamente as relações, ou seja, o nexo das<br />

funções entre si <strong>de</strong> maneira que surgem novos agrupamentos <strong>de</strong>sconhecidos<br />

no nível anterior. É por isso que, quando se passa <strong>de</strong> um nível a<br />

outro, com freqüência a diferença essencial não <strong>de</strong>corre da mudança<br />

intrafuncional, mas das mudanças interfuncionais, as mudanças nos<br />

nexos interfuncionais, da estrutura interfuncional” (Vigotski, 1930/<br />

2004, p. 105),<br />

Com essa perspectiva, Vigotski se aproxima <strong>de</strong> uma perspectiva holística<br />

acerca dos fenômenos psicológicos. Em sua concepção, as mudanças que<br />

ocorrem ao longo do processo têm enraizamentos nas estruturas sociais, na<br />

or<strong>de</strong>m da cultura, no <strong>de</strong>senvolvimento biológico, nas relações que se estabelecem<br />

entre as funções psicológicas superiores, aspectos que contribuem para<br />

circunscrever o objeto da psicologia: a consciência, que po<strong>de</strong> ser “acessada” a<br />

partir <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise (significado da palavra, a vivência,<br />

vivência emocional, etc.).


86 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Ao retomarmos as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Vigotski hoje, uma pergunta emerge <strong>de</strong><br />

imediato: a crise da psicologia por ele i<strong>de</strong>ntificada ainda persiste? E, se persiste,<br />

suas i<strong>de</strong>ias nos apontam para alguma direção? Se sim, qual? Qual é a<br />

ressonância <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias na construção <strong>de</strong> uma psicologia que supere tal<br />

crise? Respon<strong>de</strong>r a essas perguntas não é uma tarefa fácil, e o exercício aqui<br />

não tem por perspectiva esgotá-las, mas fazer algumas aproximações para tentar<br />

caracterizar o que <strong>de</strong>nominaremos aqui <strong>de</strong> “psicologia mestiça”.<br />

Segundo Radzlkhovskii (1995), um psicólogo russo que se inscreve numa<br />

discussão sobre as proposições vigotskianas nos fala que o Oci<strong>de</strong>nte não<br />

superou a crise da psicologia – e não há um <strong>de</strong>sejo para tanto –, uma vez que<br />

há espaço para todos... Para esse autor, a crise da psicologia no Oci<strong>de</strong>nte foi<br />

superada em três sentidos:<br />

“Primeiro, a psicologia está sendo <strong>de</strong>senvolvida vigorosamente, e está<br />

produzindo resultados aplicados extremamente importantes, sobre os<br />

quais não ousamos sequer sonhar. Por outro lado, novas i<strong>de</strong>ias científicas,<br />

tão grandiosas como no início do século, estão nascendo e se<br />

<strong>de</strong>senvolvendo. Em terceiro lugar, a situação <strong>de</strong> pluralismo<br />

metodológico – um diálogo <strong>de</strong> teorias sobre a escala <strong>de</strong> toda a ciência<br />

e ecletismo nas teorias especial – não incomoda mais ninguém hoje.<br />

O que antes era consi<strong>de</strong>rado como uma crise é agora consi<strong>de</strong>rado a<br />

norma. A mudança ocorreu na visão <strong>de</strong> mundo da comunida<strong>de</strong> científica,<br />

e os psicólogos já não se sentem oprimidos por não, ao contrário<br />

dos físicos, terem um sistema unificado <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista. Ninguém<br />

mais fala <strong>de</strong> uma ‘crise’” (Radzlkhovskii, 1995, p. 84-85).<br />

Mas do que falamos, então? Enten<strong>de</strong>mos que o fato <strong>de</strong> o Oci<strong>de</strong>nte não<br />

vivenciar mais a crise da psicologia não significa que a crise a que nos referimos<br />

tenha sido superada...<br />

Em primeiro lugar, enten<strong>de</strong>mos que a crise discutida por Vigotski em<br />

1926 ainda é uma realida<strong>de</strong> no campo da psicologia. De certa forma, temos<br />

visto que o terreno da psicologia é um terreno muito “fértil” para as novas<br />

abordagens, novas tendências, o que, por sua vez, nos remete para novas<br />

metodologias, novos objetos, novos conceitos. E tal situação tem contribuído<br />

sobremaneira para uma fragmentação ainda maior <strong>de</strong> nosso objeto <strong>de</strong><br />

estudo – o homem. Quando pensamos na solução indicada por Vigotski – a<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma psicologia geral –, temos por perspectiva que ainda


PALESTRAS 87<br />

<strong>de</strong>mandamos <strong>de</strong> uma psicologia que abor<strong>de</strong> seu objeto – o homem – em sua<br />

integrida<strong>de</strong>: ainda estamos por construir nosso objeto que – sob uma perspectiva<br />

dialética – represente certa totalida<strong>de</strong>, o que com certeza não se esgotará<br />

nas gestalts, no comportamento, no inconsciente, nas subjetivida<strong>de</strong>s...<br />

temos um objeto em <strong>de</strong>vir constante e <strong>de</strong>vemos criar os instrumentos, os<br />

métodos, os conceitos que nos permitam compreen<strong>de</strong>r tal situação.<br />

Isto posto, nos vemos diante <strong>de</strong> outra situação bastante angustiante,<br />

pois a psicologia, por si só, não nos oferece as condições que nos permitam<br />

uma aproximação mais complexa ao nosso objeto <strong>de</strong> estudo. Ainda reproduzimos<br />

uma situação histórica do início do século XX, na qual cada disciplina<br />

construiu seus domínios <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando seus “vizinhos”: foi assim<br />

com o “fato social” <strong>de</strong> Durkheim; com o “primitivo” <strong>de</strong> Malinowski; com o<br />

“comportamento” <strong>de</strong> Watson; com o “reflexo” <strong>de</strong> Pavlov... No intuito <strong>de</strong><br />

estabelecermos as distinções entre os campos disciplinares, estabelecemos<br />

as fronteiras, limites, territorialida<strong>de</strong>s... (e os processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificações<br />

daí <strong>de</strong>correntes).<br />

Cabe registrar que, a essa forma <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento, outras<br />

foram se estruturando, em que i<strong>de</strong>ntificamos a teoria da relativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Albert<br />

Einstein (formulada em 1905); o princípio da incerteza <strong>de</strong> Heisenberg (formulado<br />

em 1927); a teoria da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Morin, em 1960; a articulação<br />

que Capra promoveu (também na década <strong>de</strong> 1960) entre o pensamento<br />

oci<strong>de</strong>ntal e o pensamento oriental, subsidiando a teoria sistêmica...<br />

Acompanhando essa discussão epistemológica temos uma socieda<strong>de</strong> em<br />

ebulição que traz para nosso campo <strong>de</strong> conhecimento e para os campos afins<br />

–psicologia, sociologia, antropologia, etc. – <strong>de</strong>mandas que nos impactam,<br />

<strong>de</strong>mandas que nos forçam, <strong>de</strong> certa maneira, a buscar a superação dos limites<br />

disciplinares, situações que nos levam a escapar dos aprisionamentos disciplinares,<br />

a buscar interpretações que se subsidiam nos interstícios, nas<br />

liminarida<strong>de</strong>s – o que nos remete para o fim da pureza, para uma certa psicologia<br />

(sociologia, antropologia, etc.) mestiça...<br />

A psicologia social tem se aproximado <strong>de</strong>sta discussão através da noção<br />

da “multi<strong>de</strong>termninação do ser humano”. Tal abordagem – enten<strong>de</strong>ndo tanto<br />

o ser humano como a socieda<strong>de</strong> em que ele está envolvido, enquanto<br />

fenômenos históricos – leva-nos a construir um campo teórico, metodológico


88 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

e epistemológico que se quer mestiço, uma vez que se abre para o diálogo<br />

com tantas outras disciplinas; que não se quer estático, uma vez que se abre<br />

para a criação <strong>de</strong> novos conceitos, <strong>de</strong> novas perspectivas interpretativas.<br />

Essas i<strong>de</strong>ias têm nos aproximado <strong>de</strong> uma perspectiva que vem se <strong>de</strong>senhando<br />

no cenário das ciências da educação, o que po<strong>de</strong> nos auxiliar a pensar<br />

o campo da psicologia em suas interfaces, que nos permite repensar o<br />

processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento que assegure a complexida<strong>de</strong> dos<br />

fenômenos humanos. Trata-se da abordagem multirreferencial, <strong>de</strong>senvolvida<br />

por Jacques Ardoino, educador/filósofo francês, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong><br />

1960, vem <strong>de</strong>senvolvendo essa perspectiva (ver uma primeira aproximação a<br />

esta temática em Palmieri e Martins, 2008).<br />

A abordagem multirreferencial se propõe a interpretar os fenômenos<br />

humanos estabelecendo um novo “olhar”, mais plural, a partir da conjugação<br />

<strong>de</strong> várias perspectivas teóricas, o que se <strong>de</strong>sdobra em nova perspectiva<br />

epistemológica na construção do conhecimento sobre os fenômenos sociais.<br />

Isto significa evi<strong>de</strong>nciar – no processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento –<br />

diferentes ângulos, sistemas <strong>de</strong> referências distintos, <strong>de</strong> tal forma que eles<br />

não se reduzam uns aos outros (Ardoino, 1998).<br />

Este talvez seja o caminho... um caminho <strong>de</strong> reconstrução da psicologia<br />

que, reconhecendo as respectivas correntes que circunscrevem nosso campo<br />

disciplinar, se intercambia à medida que se encontra com outros campos<br />

disciplinares e que, apesar <strong>de</strong> suas contradições (inter e intradisciplinares),<br />

quando “bricoladas” (cfe Lapassa<strong>de</strong>, 1998), criam novas perspectivas para se<br />

pensar o humano... não se trata aqui <strong>de</strong> elaborar novas sínteses... mas <strong>de</strong><br />

abrir um campo no qual o processo <strong>de</strong> criação científica se amplie e se veja<br />

em <strong>de</strong>vir... enquanto possibilida<strong>de</strong>.<br />

É <strong>de</strong>sta forma que enten<strong>de</strong>mos a teoria <strong>de</strong> Vigotsk, em <strong>de</strong>vir, em movimento,<br />

e é com ele que apren<strong>de</strong>mos a ver a psicologia – em <strong>de</strong>vir, em construção.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que sua teoria se tornou mais uma corrente teórica,<br />

mais uma alternativa para a compreensão dos fenômenos psicológicos. Entretanto,<br />

o <strong>de</strong>safio colocado pelas suas inquietações ainda permanecem e<br />

estão presentes em nosso cotidiano, no nosso quefazer – seja no campo da<br />

aca<strong>de</strong>mia, seja no campo profissional.


PALESTRAS 89<br />

REFERÊNCIAS<br />

Ardoino, J. Abordagem multirreferencial (plural) das situações educativas e formativas.<br />

In: Barbosa J. G. (coord.). Multirreferencialida<strong>de</strong> nas ciências e na educação.<br />

São Carlos: Editora da UFSCar, 1998. p. 24-41.<br />

Lapassa<strong>de</strong>, G. Da multirreferencialida<strong>de</strong> como “bricolagem”. In: Barbosa, J. G.<br />

(coord.). Multirreferencialida<strong>de</strong> nas ciências e na educação. São Carlos: Editora da<br />

UFSCar, 1998. p. 65-87.<br />

Luria, A. R.; Vigotskii. In: Vigotskii, L. S. et al. Linguagem, <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem.<br />

2. ed. São Paulo: Ícone, 1988. p. 59-83.<br />

Palmieri, M. W. A. R.; Martins, J. B. Possibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios da produção científica<br />

no campo da psicologia: algumas reflexões. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n.<br />

4, p. 743-752, 2008.<br />

Radzlkhovskii, L. A. The Historical Meaning of the Crisis in Psychology. Soviet<br />

Psychology, v. 9, n. 4, p. 73-96, 1995.<br />

Vigotski, L. S. O significado histórico da crise da psicologia: uma investigação<br />

metodológica. In: Teoria e método em psicologia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,<br />

2004b. p. 203-417.<br />

Vigotski, L. S. Psicologia geral e experimental (Prólogo ao livro <strong>de</strong> A. F. Lazurski).<br />

In: Teoria e método em psicologia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 33-53.<br />

Vigotski, L. S. Sobre os sistemas psicológicos. In: Teoria e método em psicologia. 3 ed.<br />

São Paulo: Martins Fontes, 2004c. p. 103-135.


90 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

INTERDISCIPLINARIDADE<br />

Prof. Dr. Célio Roberto Estanislau<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia Geral e Análise do Comportamento<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Gostei bastante <strong>de</strong> ouvir as falas anteriores, tanto a do Justo quanto a<br />

da Meire e a do João. Eu tinha a expectativa <strong>de</strong> chegar a essa mesa e ter cada<br />

um apontando (a palavra interdisciplinarida<strong>de</strong> é uma palavra vaga), cada um<br />

po<strong>de</strong>ria apontar uma direção diferente, usando essa mesma palavra. Para<br />

minha felicida<strong>de</strong> isso não aconteceu. Acho que as três falas anteriores, num<br />

nível um tanto abstrato, <strong>de</strong>ixando algumas arestas à parte, apontam na mesma<br />

direção. Então, isso facilita o nosso <strong>de</strong>bate, o trabalho do mo<strong>de</strong>rador e<br />

tudo o mais. A minha fala, creio eu, será apontando nessa mesma direção,<br />

sem dúvida nenhuma vocês po<strong>de</strong>rão fazer o julgamento <strong>de</strong> vocês, terão direito<br />

a trinta segundos <strong>de</strong> réplica caso não concor<strong>de</strong>m, eu terei direito a <strong>de</strong>z<br />

minutos <strong>de</strong> tréplica, mas eu tenho o entendimento <strong>de</strong> que a gente vai apontar<br />

na mesma direção. Como exemplo <strong>de</strong>ssa proximida<strong>de</strong>, teve a Meire falando<br />

<strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo biopsicossocial e <strong>de</strong>pois o João falando <strong>de</strong> uma aproximação<br />

das ciências naturais e das ciências humanas. Ele não quis falar os nomes<br />

em alemão, a pronúncia saiu um pouco truncada, e essas duas coisas que<br />

foram mencionadas se aproximam do que eu vou falar aqui. Importante dizer<br />

que, na montagem <strong>de</strong>ssa mesa, eu faço parte da comissão, aliás, nós três<br />

aqui, o Justo é o convidado, nós três fazemos parte da comissão, e a gente<br />

pensou: “Ah, vamos trazer um representante <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>partamento”. Tudo<br />

bem, eu estou aqui como representante da Psicologia Geral e Análise do<br />

Comportamento, mas <strong>de</strong> forma alguma eu sou o porta-voz do pensamento<br />

do <strong>de</strong>partamento, eu vou falar coisas aqui com as quais talvez eles concor<strong>de</strong>m,<br />

talvez não concor<strong>de</strong>m, eu só vou saber quando eles falarem. São pontos<br />

<strong>de</strong> vista bem particulares os meus (Comentário para o Justo: “Nossa! Você<br />

já anotou tudo isso e eu nem comecei a falar!”). Então, são pontos <strong>de</strong> vista<br />

bem particulares os meus.<br />

Vou começar minha fala a partir <strong>de</strong> uma observação intrigante, acho<br />

que têm muitos pensadores importantes que começaram a partir <strong>de</strong> uma<br />

observação intrigante, que os perseguiu pelo resto da vida. Não tenho a


PALESTRAS 91<br />

mínima pretensão <strong>de</strong> me tornar um pensador importante, mas eu tive meu<br />

problema intrigante que me direcionou, me serviu <strong>de</strong> caminho, como pergunta,<br />

e eu persegui e persigo respostas. É a observação <strong>de</strong> que na emoção<br />

você tem ao mesmo tempo uma apreciação um tanto racional, pon<strong>de</strong>rada,<br />

da circunstância, mas sobressai um aspecto corporal, muito orgânico, quando<br />

você está passando por uma experiência emocional. Isso você po<strong>de</strong> no começo<br />

olhar como uma forma restrita para situações <strong>de</strong> medo, ansieda<strong>de</strong>. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> a melhor maneira <strong>de</strong> sair daquela situação seja pensando calmamente,<br />

pon<strong>de</strong>rando as circunstâncias, os valores e daí apresentando uma<br />

resposta, mas antes <strong>de</strong> tudo você experiencia uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças<br />

corporais, a boca seca, você está tremendo, nó no estomago, enfim, tem uma<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças corporais que acontecem aí. A partir <strong>de</strong>ssa observação<br />

eu percebi que não é possível ignorar o aspecto <strong>de</strong> que nós somos seres<br />

vivos, quando falamos do ser humano. Sempre que você quer percorrer um<br />

caminho, você tem um objetivo, um alvo, e você precisa <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> referência<br />

para não se per<strong>de</strong>r nesse caminho. Você precisa <strong>de</strong> uma bússola que<br />

aponte o norte. A bússola que eu tenho adotado, que eu <strong>de</strong>fendo nas minhas<br />

aulas, é essa bússola <strong>de</strong> que nós somos seres vivos. Não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista<br />

isso, que nós somos organismos que estão funcionando. Esse ponto <strong>de</strong> referência<br />

acaba subordinando um tanto a nossa maneira, não a nossa maneira,<br />

mas todo o nosso fazer e o nosso olhar. A perspectiva sobre o que as pessoas<br />

fazem acaba dando um corte que subordina a uma visão biológica.<br />

É o primeiro ponto <strong>de</strong> questionamento: “mas você <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a gente<br />

se subordine a uma outra ciência!”. De certa forma é isso que eu <strong>de</strong>fendo,<br />

mas não acho que isso faça o curso <strong>de</strong> Psicologia mudar e virar uma sub <strong>de</strong><br />

algumas disciplinas do curso biológico, acho que não é isso, não acho que a<br />

gente per<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> inserção, <strong>de</strong> voz mesmo, por fazer isso. Eu entendo<br />

que a Psicologia faça parte da Biologia, subárea da Biologia, no mesmo<br />

sentido que a Medicina, e a Medicina não é menos po<strong>de</strong>rosa por ser subárea<br />

da Biologia na minha perspectiva. Acho que, puxando um pouco do que a<br />

Meire falou, o mo<strong>de</strong>lo biomédico e o biopsicossocial, os dois, ainda têm o<br />

“bio” aí, então não se trata <strong>de</strong> uma ruptura, mas <strong>de</strong> uma constatação <strong>de</strong> que<br />

os fenômenos são mais complexos do que primeiramente foi imaginado, foi<br />

contemplado, o que fosse. Um ponto importante também quanto a isso é<br />

um rompimento, uma rejeição do dualismo cartesiano, então a gente vai<br />

necessariamente fazer essa prática psicológica a partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong><br />

uma existência material apenas, não <strong>de</strong> uma ocorrência <strong>de</strong> fenômenos para-


92 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

lelos, um universo paralelo que seria o mental. Importante falar, também,<br />

que essa minha fala só se insere nessa mesa sobre interdisciplinarida<strong>de</strong> porque<br />

existem fronteiras artificiais entre as áreas do conhecimento, e minha<br />

fala é bastante fechada na visão biológica. Aí você tem uma fronteira entre<br />

Psicologia e Biologia, aí ela (a fala) se torna interdisciplinar. Mas eu, e as<br />

pessoas que pensam como eu, somos aquela figura do “bor<strong>de</strong>rline”. Imagine<br />

alguém que, se a aca<strong>de</strong>mia prestigiasse, promovesse um biólogo que se <strong>de</strong>dique<br />

às questões sobre o comportamento, funcionamento dos indivíduos,<br />

interação com o ambiente, com outros indivíduos, ele falaria as mesmas coisas<br />

que eu falo. Então essa visão, pra gente fazer um corte mais específico,<br />

acaba sendo uma perspectiva em que nós enquanto organismos somos ilhas<br />

<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>, essas ilhas <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>, o universo, foram mencionadas<br />

algumas vezes aqui...


A INSERÇÃO PROFISSIONAL DO<br />

PSICÓLOGO NO PROCESSO EDUCATIVO<br />

Profa. Dra. Solange Maria B. Mezzaroba<br />

Depto. Psicologia Social e Institucional<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Falarmos <strong>de</strong> inserção profissional do psicólogo no processo educativo<br />

requer uma reflexão que aborda sua história no universo PSI; as questões<br />

<strong>de</strong> formação e as políticas públicas que visam à inclusão oficial <strong>de</strong>sse profissional.<br />

As profissões regulamentadas por Lei Fe<strong>de</strong>ral são aquelas que só po<strong>de</strong>m<br />

ser exercidas por pessoas que possuem habilitação para tal. Essa habilitação,<br />

hoje, geralmente é adquirida por intermédio <strong>de</strong> um curso superior. É<br />

o caso da Psicologia. Para atuar como psicólogo em qualquer especialida<strong>de</strong>,<br />

o profissional <strong>de</strong>ve passar por um curso superior <strong>de</strong> Psicologia e ser registrado<br />

no seu conselho <strong>de</strong> classe: CRP.<br />

Ao visitar a história da psicologia aplicada, isto é, enquanto uma categoria<br />

profissional, é interessante apontar que ela nasce EDUCACIONAL.<br />

Sua aplicação primeira, agora não mais só pesquisa, surge como atuação no<br />

campo da educação. A psicologia escolar surge no laboratório <strong>de</strong> Psicometria<br />

<strong>de</strong> Galton, aproximadamente em 1890. A preocupação na época era <strong>de</strong>terminar<br />

e <strong>de</strong>tectar as diferenças individuais, o <strong>de</strong>senvolvimento da inteligência<br />

e da personalida<strong>de</strong>. No mesmo período, na França, Binet e Simon concluem<br />

a elaboração <strong>de</strong> seu teste <strong>de</strong> inteligência visando i<strong>de</strong>ntificar, na população<br />

escolar, as crianças que <strong>de</strong>veriam receber atendimento diferenciado,<br />

pois não conseguiam acompanhar as ativida<strong>de</strong>s propostas pela instituição,<br />

fato que impedia a escola pública <strong>de</strong> atingir seu objetivo: fazer com que as<br />

crianças “apren<strong>de</strong>ssem”, sendo que aquelas que não conseguiam isto podiam<br />

comprometer o projeto da escola.<br />

A psicologia aplicada ao contexto escolar nasceu, assim, pari passu com<br />

a psicometria, sendo esta a filosofia que permeou, durante muito tempo, as<br />

ativida<strong>de</strong>s do psicólogo no interior da escola. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar <strong>de</strong>ntre as


94 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas: a avaliação <strong>de</strong> prontidão para aprendizagem; organização<br />

<strong>de</strong> classes, <strong>de</strong> acordo com os dados da avaliação, em fraca, média e<br />

forte; diagnóstico e encaminhamento das crianças problemas, além do atendimento<br />

<strong>de</strong>ssas crianças. Uma prática que privilegiava apenas uma perspectiva<br />

<strong>de</strong> análise e <strong>de</strong> intervenção estritamente individual. Uma perspectiva que<br />

evi<strong>de</strong>ncia a dicotomia “normal/patológico”, constituindo-se numa prática<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação e ajustamento do indivíduo ao contexto.<br />

No Brasil, a regulamentação da profissão <strong>de</strong> psicólogo ocorre com a<br />

promulgação da Lei n o 4119. O artigo 4 o do Decreto-Lei n o 53.464, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1964, previa como funções do psicólogo, <strong>de</strong>ntre outras, a utilização<br />

<strong>de</strong> métodos e técnicas psicológicas com o objetivo <strong>de</strong> diagnóstico, orientação e<br />

seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> ajustamento<br />

(Cruces, 2009).<br />

O item orientação psicopedagógica do Decreto <strong>de</strong>scortina como possibilida<strong>de</strong><br />

a aplicação dos conhecimentos psicológicos à educação. Segundo<br />

Cruces (2009), “o currículo proposto continha recursos limitados para o<br />

preparo <strong>de</strong> profissionais para a área, seja em termos <strong>de</strong> disciplinas ou outras<br />

ativida<strong>de</strong>s curriculares”, tais como estágios e/ou outras ativida<strong>de</strong>s práticas.<br />

Predominavam, no currículo, disciplinas e ativida<strong>de</strong>s voltadas para o diagnóstico<br />

e tratamento <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> ajustamento, havendo replicação na<br />

escola dos procedimentos clínicos.<br />

Passado mais <strong>de</strong> um século, po<strong>de</strong>mos constatar, não sem gran<strong>de</strong> insatisfação,<br />

que, grosso modo, ainda é essa perspectiva que predomina na prática<br />

PSI, nas instituições escolares.<br />

Pesquisas sobre a formação e atuação <strong>de</strong> psicólogos apontam para problemas<br />

na profissão. Problemas estes <strong>de</strong> duas naturezas:<br />

1. Dificulda<strong>de</strong> que os profissionais têm <strong>de</strong> se inserirem no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, haja vista, especificamente no estado do Paraná, não ter no<br />

quadro próprio do magistério o cargo <strong>de</strong> psicólogo. Nos concursos<br />

para preenchimento dos cargos na Educação, não consta esse<br />

profissional, sendo que os que exercem a função <strong>de</strong> psicólogo nas<br />

divisões estaduais são professores que já figuravam no quadro e<br />

realizaram sua capacitação em psicologia, passando assim a ser<br />

aproveitados como tal. Na esfera municipal vemos a abertura <strong>de</strong><br />

concursos públicos para esse profissional, mas muitos não estão ligados


PALESTRAS 95<br />

exclusivamente à área da educação, contudo, <strong>de</strong>ntre outras ativida<strong>de</strong>s<br />

que <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>sempenhar, também são colocadas as questões<br />

educacionais. No município, a política <strong>de</strong> contratação do psicólogo<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da compreensão <strong>de</strong> cada governante. Portanto, é mais comum<br />

vermos esse profissional contratado em escolas particulares que têm<br />

autonomia para tal, mas que também po<strong>de</strong>m ter interesse <strong>de</strong> manter<br />

uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajustamento e soluções <strong>de</strong> problemas individuais<br />

do aluno.<br />

2. A segunda dificulda<strong>de</strong> que levantamos seria dos psicólogos escolares<br />

que, apesar dos obstáculos burocráticos ou em contextos que<br />

oficializam sua atuação, conseguem se inserir como profissionais e<br />

percebem que o preparo recebido na sua formação muitas vezes é<br />

ina<strong>de</strong>quado para aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas do contexto real das escolas.<br />

Quando não sabemos o que fazer, fazemos aquilo que sabemos. Isto é,<br />

diante das <strong>de</strong>mandas concretas no meio educacional, não tendo preparo<br />

para lidar com elas, passa-se a <strong>de</strong>sempenhar aquilo para o qual se sente mais<br />

preparado.<br />

Se fizermos um levantamento das queixas que chegam até nossas clínicas-escolas,<br />

po<strong>de</strong>remos constatar que a maioria das crianças encaminhadas<br />

apresenta queixas escolares, ou seja, os problemas vividos por essas<br />

crianças estão relacionados ao processo escolar. Do mesmo modo, o psicólogo<br />

ou estagiários <strong>de</strong> psicologia que vão até a escola são sempre muito<br />

bem recebidos e, junto com os agra<strong>de</strong>cimentos, uma lista <strong>de</strong> alunos-problemas<br />

é apresentada, ficando a direção à espera do diagnóstico e encaminhamento<br />

<strong>de</strong>ssas crianças, se possível para bem longe daquela instituição.<br />

Muitas vezes, a escola já possui suas avaliações e até mesmo um pré-diagnóstico,<br />

com termos extraídos do jargão psicológico, tais como: hiperativo,<br />

disléxico, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Explicações individualistas, sem levar em consi<strong>de</strong>ração o ambiente on<strong>de</strong><br />

os problemas ocorrem, no caso a escola, são a tônica. As explicações para o<br />

que ocorre no interior da escola são sempre psicológicas. O que acontece na<br />

relação ensino-aprendizagem, no contexto <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, é relegado a segundo<br />

plano ou não é visto como elemento <strong>de</strong> influência no comportamento<br />

apresentado pela criança. O único responsável pelo problema é a criança,<br />

sendo que algumas vezes essa responsabilida<strong>de</strong> é dividida com a família, que


96 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

também é vista como problemática. Análises <strong>de</strong>sse tipo não levam em consi<strong>de</strong>ração<br />

o que se passa no interior da escola, os fatores presentes no processo<br />

ensino-aprendizagem, a metodologia utilizada. As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

sentidas pelas crianças são vistas com sendo <strong>de</strong> caráter estritamente psicológico,<br />

assim <strong>de</strong>vendo ser tratadas. Po<strong>de</strong>mos observar que na maioria das<br />

vezes os procedimentos utilizados para explicar e aten<strong>de</strong>r às queixas escolares<br />

são os mesmos empregados para queixas <strong>de</strong> outra natureza.<br />

Essas solicitações estão atreladas ao já ultrapassado artigo 4 o do Decreto-Lei<br />

53.464, no item solução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> ajustamento. Apegamo-nos<br />

tão ferrenhamente a esse item que nos <strong>de</strong>sligarmos <strong>de</strong>le parece ser tarefa<br />

árdua.<br />

Segundo Kupfer, no entanto, ao entrar na escola, o psicólogo podia<br />

finalmente ater-se às vozes <strong>de</strong>sta, conhecer e sentir o peso dos <strong>de</strong>terminantes<br />

sociais sobre os problemas <strong>de</strong> aprendizagem (Kupfer, 1997, p. 52), e partilhando<br />

<strong>de</strong>ssas vozes não po<strong>de</strong>ria continuar com a mesma visão acerca dos problemas<br />

<strong>de</strong> aprendizagem e da sua prática. A escola, porém, continuou com a expectativa<br />

criada pela própria psicologia: o profissional <strong>de</strong> psicologia educacional<br />

<strong>de</strong>ve trabalhar com o aluno problema, com o aluno <strong>de</strong>sviante, para que este<br />

se adapte às normas, à aprendizagem, enfim, à escola como um todo.<br />

Se quisermos mudar tal situação e, consequentemente, conseguirmos<br />

nos fazer necessários no mundo educacional, temos <strong>de</strong> rever nossas práticas,<br />

ampliá-las, olhar o fenômeno ensino/aprendizagem por várias óticas, pois<br />

trata-se <strong>de</strong> um fenômeno multifacetado, e assim é que <strong>de</strong>ve ser visto.<br />

O psicólogo escolar que se baseia no novo paradigma já não po<strong>de</strong> mais<br />

eleger um único mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> explicação para as situações colocadas no universo<br />

ensino/aprendizagem. Para diferenciar-se, portanto, o psicólogo escolar<br />

que a<strong>de</strong>ntra num contexto educativo, consciente do momento histórico <strong>de</strong><br />

sua especialida<strong>de</strong>, precisa <strong>de</strong> início mostrar outra postura. Precisa criar um<br />

espaço para escutar as <strong>de</strong>mandas da escola e pensar maneiras <strong>de</strong> lidar com<br />

situações que são cotidianas. Precisa criar formas <strong>de</strong> reflexão <strong>de</strong>ntro da escola,<br />

com todos os sujeitos (alunos, professores e especialistas), para que se<br />

possa trabalhar com suas relações e paradigmas (Edla Grisard Cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

Andrada, 2005).<br />

Acreditamos que, hoje, a atuação do psicólogo escolar não se resume<br />

apenas a escolas, mas a todos os contextos em que o processo ensino/apren-


PALESTRAS 97<br />

dizagem se apresenta. E são vários e múltiplos. Des<strong>de</strong> a situação acadêmica<br />

típica até aprendizagens que estão acontecendo na escola informalmente,<br />

tais como: aquisição <strong>de</strong> valores, cidadania, educação sexual, meio ambiente,<br />

álcool e drogas, violência, <strong>de</strong>ntre tantas outras.<br />

Para enfrentar os <strong>de</strong>safios que a aprendizagem nos coloca, vemo-nos<br />

diante da obrigação <strong>de</strong> uma avaliação crítica dos cursos <strong>de</strong> formação, e novos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> atuação precisam ser construídos se quisermos que nossos egressos<br />

do curso <strong>de</strong> psicologia tenham um exercício profissional eficiente e com<br />

compromisso social. De posse <strong>de</strong> uma bagagem teórica e prática consistente,<br />

com certeza, saberemos abrir espaços para uma atuação comprometida com<br />

as questões que o século nos impõe, integrar a teia <strong>de</strong> relações que caracteriza<br />

o processo educativo.


98 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO<br />

MERCADO DE TRABALHO<br />

Denise Matoso<br />

Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia – CRP 08<br />

Vou ler um trecho que acho interessante, já que vou falar dos problemas<br />

que o conselho tem enfrentado em relação às ações dos psicólogos no<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho. Como não sou muito acadêmica, preferi pegar uma<br />

base segura. A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos<br />

mentais dos indivíduos, e a gente po<strong>de</strong> dizer que ela é regida pelas<br />

mesmas leis do método científico, as quais regem as outras ciências: ela busca<br />

um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto<br />

<strong>de</strong> estudo, a psicologia <strong>de</strong>sempenha o papel <strong>de</strong> elo entre as ciências sociais,<br />

como a sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e áreas<br />

científicas mais recentes, como as ciências cognitivas e as ciências da saú<strong>de</strong>.<br />

Comportamento é a ativida<strong>de</strong> observável (<strong>de</strong> forma interna ou externa) dos organismos<br />

na sua busca <strong>de</strong> adaptação ao meio em que vivem. O indivíduo é a unida<strong>de</strong><br />

básica <strong>de</strong> estudo da psicologia. Significa dizer que, mesmo ao estudar<br />

grupos, o indivíduo permanece como o centro <strong>de</strong> atenção – ao contrário, por<br />

exemplo, da sociologia, que estuda a socieda<strong>de</strong> como um conjunto. Os processos<br />

mentais são a maneira como a mente humana funciona – pensar, planejar,<br />

tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não po<strong>de</strong><br />

ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que<br />

eles são a sua base. Paralela à psicologia científica, aqui existe também uma<br />

psicologia do senso comum ou cotidiana, que é o sistema <strong>de</strong> convicções transmitido<br />

culturalmente que cada indivíduo possui a respeito <strong>de</strong> como as pessoas<br />

funcionam, se comportam, sentem e pensam. A psicologia usa em parte o<br />

mesmo vocabulário, que adquire assim significados diversos <strong>de</strong> acordo com<br />

o contexto em que é usado. Assim, termos como “personalida<strong>de</strong>” ou “<strong>de</strong>pressão”<br />

têm significados diferentes na linguagem psicológica e na linguagem<br />

cotidiana. A própria palavra “psicologia” é muitas vezes usada na linguagem<br />

comum como sinônimo <strong>de</strong> psicoterapia e, como esta, é normalmente<br />

confundida com a psicanálise, ou mesmo com a análise do comportamento.


PALESTRAS 99<br />

Então, o que se tem visto muito é que uma das primeiras ativida<strong>de</strong>s que<br />

o aluno apren<strong>de</strong> é “observação”, e gostaríamos que vocês, do primeiro ano,<br />

não se esquecessem, pois parece que é a primeira coisa que jogamos no lixo<br />

quando saímos da faculda<strong>de</strong>. Quando começamos a trabalhar, esquecemos<br />

que, chegando a um local novo, <strong>de</strong>veríamos observar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do local<br />

on<strong>de</strong> você esteja trabalhando. Não importa se eu vou para uma escola, se eu<br />

vou para um hospital (geral ou psiquiátrico), se eu vou prestar atendimento<br />

clínico, se na unida<strong>de</strong> básica, se o atendimento prestado é para carente ou se<br />

é para rico. Devo ter o olhar para o espaço on<strong>de</strong> vou trabalhar, e o profissional<br />

psicólogo não tem feito isso. A gente não tem uma coisa chamada ‘i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> psicólogo’; nós não somos psicólogos. Somos profissionais que<br />

trabalham com as áreas da psicologia. Aquela parte da formação que o aluno<br />

tem por base, não importando em que linha <strong>de</strong> abordagem iremos trabalhar.<br />

Nós trabalhamos com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no sentido da qualificação.<br />

Porque o processo mental nos traz qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, e é o que temos <strong>de</strong>ixado<br />

<strong>de</strong> valorizar. O profissional acaba se <strong>de</strong>parando com uma situação muito<br />

ruim, que é: como nós não temos essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, o psicólogo<br />

fora da situação clínica e em trabalho multidisciplinar acaba sendo assistente<br />

<strong>de</strong> alguém. Na saú<strong>de</strong>, estamos sendo assistentes do médico e da enfermeira;<br />

na assistência social, do assistente social; na jurídica, do juiz; na escola, do<br />

pedagogo. Então, estamos carregando um estigma horroroso e não temos<br />

uma opção clara em relação ao trabalho que se faz. Os resultados do trabalho<br />

do psicólogo têm pouca visibilida<strong>de</strong> em relação ao que os outros profissionais<br />

prestam. Por exemplo, o assistente pessoal possui um trabalho<br />

assistencialista, ele viabiliza bolsa, ele dá dinheiro, etc., e o trabalho <strong>de</strong>le<br />

aparece, enquanto o do psicólogo, não. Porque não temos esse olhar do<br />

individuo no contexto.<br />

Trabalhar pela promoção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida não é só na clínica, não<br />

é só o atendimento individual, não é cuidar somente das patologias. Temos<br />

visto que, se um profissional trabalha em uma linha <strong>de</strong> abordagem, quando<br />

o paciente chega e começa a falar, então ele o classifica na hipótese diagnóstica<br />

e esquece <strong>de</strong> ver em que contexto isso foi <strong>de</strong>senvolvido, o que é muito importante.<br />

Um exemplo muito claro, que eu acho muito interessante: eu trabalho<br />

em um ambulatório que faz atendimento pelo SUS (comunida<strong>de</strong>s carentes,<br />

etc.). Eu recebi uma senhora, vinda <strong>de</strong> outra cida<strong>de</strong>, com encaminhamento<br />

<strong>de</strong> um psiquiatra, <strong>de</strong> um psicólogo, já fazendo uso <strong>de</strong> psicotrópico e tal. Ela


100 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

tinha angústia, dor precordial e outras reclamações. Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir que<br />

a “velha” era dois anos mais nova que eu, fiquei chocada. Então, com essa<br />

visão <strong>de</strong> que ela tinha a minha ida<strong>de</strong>, comecei a olhar algumas coisas que ela<br />

estava falando e percebi que estava passando pelas mesmas coisas, po<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong>scobrir qual era o problema e recomendar a solução. Isso é uma escuta <strong>de</strong><br />

quem está preocupado com o contexto e não com a queixa, porque nem<br />

sempre a queixa é a base do que está acontecendo.<br />

Temos visto isso em quase todos os trabalhos e, principalmente, no<br />

trabalho em equipe multidisciplinar. As dificulda<strong>de</strong>s são muitas, as pessoas,<br />

os psicólogos, não têm conseguido enten<strong>de</strong>r que precisam buscar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

si o que apren<strong>de</strong>ram nos cinco anos <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong>m enten<strong>de</strong>r a<br />

que vieram enquanto profissionais e qual é o seu papel <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa situação.<br />

Como fazer com que o aprendido dê certo em algumas situações em que<br />

parece que não vai dar. Porque, senão, você acaba se per<strong>de</strong>ndo, principalmente<br />

se você trabalha em situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, em que você aten<strong>de</strong><br />

pessoas que nem têm muito entendimento do que você po<strong>de</strong> oferecer. Então,<br />

vários alunos meus já contaram histórias em que fizeram um carente,<br />

um <strong>de</strong>ficiente mental se sentir bem pelo simples ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que ele almoçasse<br />

antes <strong>de</strong>les mesmos. Ao simplesmente organizar a comida do jeito que<br />

a pessoa quer, você está dando a individualida<strong>de</strong> que <strong>de</strong> ela precisa, mostrando<br />

que ela não faz parte <strong>de</strong> um pacote <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficientes mentais, mas que é um<br />

ser humano distinto, que tem quereres, que tem saberes. Isso vai fazendo<br />

com que ela <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser aquela pessoa que não sente nada pra ser um ser<br />

com cidadania, com direito, e que volta a trabalhar, a ter família, a se sentir<br />

dono <strong>de</strong> alguma coisa. Então, se conseguirmos ter esse entendimento, se<br />

conseguirmos alcançar a abrangência do conhecimento <strong>de</strong> psicologia que eu<br />

enquanto profissional posso ter, faremos um trabalho benfeito.<br />

Mas não temos conseguido adquirir esse entendimento durante a formação,<br />

nos <strong>de</strong>ixando quebrado, fazendo-nos achar que somos um profissional<br />

<strong>de</strong> uma área específica e, até hoje, as pessoas têm interesse em perguntar<br />

em que linha se trabalha. Eu sei qual é minha linha <strong>de</strong> formação, mas<br />

nem sei mais se consigo trabalhar na minha linha <strong>de</strong> formação, porque<br />

estou trabalhando com institucional há muitos anos, que não tem uma<br />

linha <strong>de</strong> formação. Então, que vocês aproveitem, já que estão no primeiro<br />

ano, todas as matérias, porque todas elas são importantes, e só apren<strong>de</strong>mos<br />

isso no final.


PALESTRAS 101<br />

Eu sempre <strong>de</strong>fendi que <strong>de</strong>veríamos ter ética no primeiro ano, que <strong>de</strong>veríamos<br />

ter uma matéria sobre política no curso, porque o psicólogo é completamente<br />

<strong>de</strong>sligado <strong>de</strong> todas as lutas que a profissão tem. Recebo ligações<br />

<strong>de</strong> psicólogos perguntando o que o conselho anda fazendo. O conselho são<br />

todos os psicólogos, não apenas um grupo que trabalha separadamente.<br />

Ocupem tudo o que vocês pu<strong>de</strong>rem da faculda<strong>de</strong>, porque nenhuma matéria<br />

vai ser <strong>de</strong>sperdiçada na hora do trabalho. A gente acha que tem umas que<br />

não prestam, mas todas serão importantes. Obrigada!


102 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

A PSICOLOGIA CLÍNICA PSICANALÍTICA E A<br />

INSERÇÃO PROFISSIONAL:<br />

REFLEXÕES E DESAFIOS<br />

Profa. Dra. Carla Maria Lima Braga<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Estamos aqui reunidos para uma discussão importante a respeito do<br />

psicólogo e a sua inserção profissional na atualida<strong>de</strong>. Venho propor que voltemos<br />

o nosso olhar para a psicologia clínica, especificamente, a clínica psicanalítica<br />

(que é <strong>de</strong> on<strong>de</strong> posso falar). O que po<strong>de</strong>mos então esperar <strong>de</strong>sse<br />

profissional no mercado <strong>de</strong> trabalho? O que temos, nós da aca<strong>de</strong>mia, a oferecer<br />

para a formação dos psicólogos clínicos nos dias <strong>de</strong> hoje? Será que os<br />

alunos que optarem por trabalhar com a clínica psicanalítica estarão apenas<br />

voltados para o trabalho em consultório particular?<br />

A partir disso faremos uma reflexão acerca das patologias atuais e das<br />

novas formas <strong>de</strong> atendimento do sofrimento humano no mundo contemporâneo;<br />

assim como da função social do psicólogo clínico em consi<strong>de</strong>rar que<br />

qualquer indivíduo sempre estará envolto em uma <strong>de</strong>terminada época, suas<br />

tradições, culturas ou classe social, e não só com suas questões intrapsíquicas.<br />

Cito Vaisberg (2001), psicanalista e pesquisadora da USP e PUC-Campinas,<br />

quando, em uma conferência em São Paulo, em 2001, apresenta quem<br />

são os indivíduos ou grupos que necessitam receber nossa atenção e nosso<br />

trabalho. Afirma a pesquisadora:<br />

“Em termos <strong>de</strong> Brasil, temos, <strong>de</strong> um lado, a classe média <strong>de</strong>primida, drogada<br />

e em pânico, cada vez com menos condições financeiras para bancar<br />

um tratamento individual privado <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e sem perspectiva,<br />

dadas as condições dos convênios e seguradoras <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Paradoxalmente,<br />

essa mesma classe média, que assiste às novelas da televisão, está, em<br />

termos <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>, muito mais aberta, do que há poucas décadas, a<br />

realizar a psicoterapia. Por outro lado, temos um largo contingente


PALESTRAS 103<br />

populacional que vive condições miseráveis e subumanas, do ponto <strong>de</strong><br />

vista material e moral, que expressa o sofrimento <strong>de</strong> vida como queixa<br />

orgânica para buscar o médico, recebendo encaminhamento para o psicólogo<br />

do serviço público, enfrentando filas intermináveis... Existem também<br />

aqueles, comumente provenientes das camadas mais <strong>de</strong>sfavorecidas<br />

da população, que cometem <strong>de</strong>litos e vão para as prisões ou manicômios<br />

judiciários e que, aos olhos do psicólogo clínico, com toda a justeza, são<br />

merecedores <strong>de</strong> atenção psicológica” (p. 97).<br />

Essa situação apresentada exige do psicólogo clínico uma mudança a<br />

partir da compreensão psicanalítica e da experiência emocional humana que<br />

po<strong>de</strong>mos oferecer. Repensar as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento passíveis <strong>de</strong> ser<br />

oferecidas à população tendo em vista a noção <strong>de</strong> que a clínica é encontro, e<br />

encontro se dá neste mundo em que vivemos.<br />

Tal mudança <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimentos exigirá leituras, estudos,<br />

supervisões e criativida<strong>de</strong> para adaptar velhos conceitos aprendidos na <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

que muitas vezes preparam o aluno para o atendimento padrão<br />

freudiano (chamaremos assim). Ontem, no curso do psicólogo Anízio, ouvimos<br />

que o prazer do psicólogo clínico é criar. Se for assim, e eu concordo, a<br />

criativida<strong>de</strong> do terapeuta vem a partir da possibilida<strong>de</strong> das condições psíquicas<br />

e reais, assim como da <strong>de</strong>manda daqueles que nos procuram. Então, se<br />

po<strong>de</strong>mos criar nos atendimentos, por que estudar o velho conhecido Sigmund<br />

Freud?<br />

A resposta parece óbvia, mas nem sempre é aceita. Vejamos o porquê. A<br />

meu ver, precisamos <strong>de</strong> uma base sólida nos estudos da psicanálise, em termos<br />

teóricos e práticos, para po<strong>de</strong>rmos, a partir daí, efetuar verda<strong>de</strong>iras<br />

mudanças sem per<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> psicanalítica. A formação psicanalítica<br />

baseia-se em três aspectos, a saber: formação teórica, supervisão clínica e<br />

análise pessoal. Necessita, portanto, <strong>de</strong> investimento interno muito gran<strong>de</strong><br />

e, mesmo assim, a experiência e a aprendizagem se darão sempre <strong>de</strong> maneira<br />

subjetiva. Como não está ao alcance do professor/supervisor pensar a análise<br />

pessoal <strong>de</strong> cada aluno (aliás, esta só po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo e<br />

<strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong>), resta-nos investir nos aspectos teóricos e na prática<br />

clínica, supondo uma atitu<strong>de</strong> clínica e uma escuta.<br />

A formação do clínico, em qualquer forma <strong>de</strong> atendimento, pressupõe<br />

a atitu<strong>de</strong> clínica, que é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar-se no papel profissional


104 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado enquadramento e em empatia com o outro humano,<br />

é uma relação <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> encontro, assim como a questão ética. Além<br />

disso, o clínico <strong>de</strong>ve cuidar <strong>de</strong> seu principal instrumento <strong>de</strong> trabalho, que é<br />

ele próprio. Desta forma, as supervisões dos atendimentos clínicos visam<br />

principalmente à preparação do aluno para essa atitu<strong>de</strong> e escuta clínica. A<br />

supervisão leva o aluno a compreen<strong>de</strong>r e utilizar o enquadramento que é<br />

indispensável à sua prática, que são: o tempo <strong>de</strong> sessão, objetivo, contrato <strong>de</strong><br />

trabalho, horário. Mas tais conhecimentos não acontecem apenas em leituras<br />

teóricas ou aprendizagem <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> intervenção; acontece também<br />

na compreensão <strong>de</strong> suas emoções e ansieda<strong>de</strong>s perante os primeiros atendimentos,<br />

<strong>de</strong>sta forma, a supervisão dá um suporte capaz <strong>de</strong> conter tais angústias<br />

dos estagiários diante dos seus pacientes.<br />

A tarefa <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r não é fácil, principalmente na graduação. Defrontase<br />

com o papel novo <strong>de</strong> ser responsável pelo paciente diante dos colegas, do<br />

supervisor e da Instituição. Devem-se superar expectativas, fantasias, e temos<br />

<strong>de</strong> internalizar o papel que até então era <strong>de</strong> estudante ou <strong>de</strong> estagiário para o<br />

<strong>de</strong> psicólogo. As dificulda<strong>de</strong>s são imensas no cotidiano do clínico (vejam se<br />

vocês, alunos do quinto ano, já não passaram por isso?): são pacientes que chegam<br />

atrasados ou não vêm à consulta (nos abandonando?); pacientes que falam<br />

<strong>de</strong> assuntos que aparentemente nada nos dizem a respeito do sintoma (e<br />

agora, o que fazer?); pacientes que tratam o psicólogo como sábios professores<br />

e esperam respostas nas suas “aulas” (tenho, então, algo a comunicar?);<br />

pacientes com certas posturas que comunicam alguma dificulda<strong>de</strong>, fantasia,<br />

ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scrença ou não confiabilida<strong>de</strong> em relação ao atendimento (ou<br />

seria em nós?). Todas essas questões <strong>de</strong>verão ser trabalhadas na supervisão<br />

como suporte <strong>de</strong> tais conteúdos emocionais do terapeuta, e trabalhar seus<br />

medos e angústias para facilitar a aprendizagem e permitir que o terapeuta<br />

possa ficar <strong>de</strong> certa forma confortável no atendimento para, agora sim, apren<strong>de</strong>r<br />

a escutar o outro sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> escutar a si mesmo. Digo agora porque é<br />

uma tarefa dupla – ouvir ambos –, mas que no início ouvimos mais a nós<br />

mesmos.<br />

Desta forma, penso que a tarefa do atendimento clínico supera questões<br />

teóricas como exame e avaliação <strong>de</strong> um objeto inerte por um sujeito<br />

pensante ou <strong>de</strong> imaginarmos que lidamos com psique ou aparelhos psíquicos.<br />

Clínica é encontro, lidamos, <strong>de</strong>sta forma, com indivíduos.


PALESTRAS 105<br />

A questão que se coloca é on<strong>de</strong> iremos exerce essa ativida<strong>de</strong>? Qual é o<br />

nosso campo <strong>de</strong> trabalho? E a resposta é: on<strong>de</strong> tem gente. Na época <strong>de</strong> Freud,<br />

as pessoas só buscavam atendimento nas clínicas particulares, pois não havia<br />

outro lugar. A respeito disso, Freud afirmou, em pronunciamento no V<br />

Congresso Psicanalítico Internacional, realizado em Budapeste em setembro<br />

<strong>de</strong> 1918, e publicado em seu artigo Linhas <strong>de</strong> Progresso na Terapia Psicanalítica,<br />

o seguinte:<br />

“As nossas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência limitam o nosso trabalho às<br />

classes abastadas, que estão acostumadas a escolher seus próprios médicos<br />

e cuja escolha se <strong>de</strong>svia da psicanálise por toda espécie <strong>de</strong> preconceitos.<br />

Vamos presumir que, por meio <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> organização, consigamos<br />

aumentar nossos números em medida suficiente para tratar<br />

uma consi<strong>de</strong>rável massa da população. Por outro lado, é possível prever<br />

que, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, a consciência da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertará, e<br />

lembrar-se-á <strong>de</strong> que o pobre tem exatamente tanto direito a uma assistência<br />

a sua mente quanto o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia,<br />

e que as neuroses ameaçam a saú<strong>de</strong> pública não menos que a tuberculose.<br />

(...) Defrontar-nos-emos, então, com a tarefa <strong>de</strong> adaptar a nossa técnica<br />

às novas condições” (p. 210).<br />

Diante do exposto, não temos dúvida <strong>de</strong> que a psicologia, ou mesmo a<br />

psicanálise, avançou e nos permite estar em lugares antes não imaginados.<br />

Nós, clínicos, estamos inseridos em programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, em comunida<strong>de</strong>s<br />

penitenciárias, em asilos, nos centros <strong>de</strong> atendimento, em hospitais,<br />

em assistência aos familiares, juntamente com os outros profissionais. Estamos<br />

também nos CAPS em ativida<strong>de</strong>s terapêuticas, em atendimentos individuais,<br />

em grupo, com as famílias, em oficinas em comunida<strong>de</strong>, em orientação e<br />

em psicoterapia. Longe <strong>de</strong> aqui afirmar que estamos bem (pois a população<br />

também sofre quando se trata <strong>de</strong> doenças físicas), mas, se pensarmos em<br />

como éramos vistos, estamos ótimos.<br />

Quanto a esses diversos lugares e às diferentes <strong>de</strong>mandas, muitos escritos<br />

abordam a relação entre novas formas <strong>de</strong> sofrimento do indivíduo e suas<br />

condições <strong>de</strong> vida na socieda<strong>de</strong> contemporânea, bem como a relação com as<br />

novas formas <strong>de</strong> atendimento. Fábio Herrman (1979) nos traz uma proposta<br />

<strong>de</strong> solução: o uso do método psicanalítico!


106 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Desta forma, também apoio-me em Zimermam (1999) quando afirma<br />

que a psicanálise contemporânea prossegue conservando os i<strong>de</strong>ais e os princípios<br />

básicos concebidos por Freud (noção do inconsciente, pulsões, transferência,<br />

contratransferência, etc.), embora apresente as transformações necessárias<br />

na concepção <strong>de</strong> sua técnica.<br />

Assim, finalizo minha fala hoje trazendo duas frases, <strong>de</strong> que gosto muito,<br />

<strong>de</strong> Winnicott, autor o qual eu não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar, pois<br />

tenho estado com ele nos últimos anos da minha trajetória teórica. Uma <strong>de</strong><br />

suas frases a que me refiro se encontra em seu escrito <strong>de</strong> 1962. Afirma o<br />

autor: “Diante <strong>de</strong> um caso que requer nossa ajuda, temos duas alternativas: fazer a<br />

psicanálise individual, especificamente concebida por Freud para o atendimento do<br />

paciente neurótico, ou ser um psicanalista fazendo outra coisa”. Acredito que essa<br />

frase cabe bem aqui neste contexto e é no que venho me <strong>de</strong>bruçando em<br />

atendimentos diferenciados (especificamente em um projeto <strong>de</strong> pesquisa em<br />

que atendíamos adolescentes em situação <strong>de</strong> risco e que, evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

não colocávamos ninguém em divã), bem antes da minha saída para o Doutorado,<br />

em 2007. A outra frase <strong>de</strong> Winnicott a que me referi diz o seguinte:<br />

“Ninguém po<strong>de</strong> ser original senão baseado na tradição”. Com essa afirmativa volto<br />

a pensar que o psicólogo clínico no mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá criar<br />

novas formas <strong>de</strong> atendimento, como outros olhares em sua técnica, quando<br />

assim necessitar; mas para criar o psicólogo clínico precisará da velha forma<br />

da escuta clínica.<br />

Agora, terminando <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, gostaria <strong>de</strong> mencionar a frase com que<br />

a Prof. Meyre concluiu sua fala ontem (esta é a vantagem <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>pois), em<br />

que ela remetia a um poema <strong>de</strong> Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é<br />

preciso abandonar as roupas usadas”. Eu diria, até para te provocar (Meyre) e a<br />

vocês estudantes, que eu iria e vou com as mesmas roupas... Às vezes coloco<br />

uns acessórios, passo perfume ou mesmo lavo-as, mas sempre vou com as<br />

mesmas, senão não sou eu.<br />

Obrigada!<br />

REFERÊNCIAS<br />

Aiello Vaisberg, Tânia M. J. A função social da psicologia clínica na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>. Conferência realizada na <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Presbiteriana<br />

Mackenzie, São Paulo-SP, 2001.


PALESTRAS 107<br />

Freud, S. Linhas <strong>de</strong> progresso na terapia psicanalítica. In: Obras completas. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Imago, 1999.<br />

Herrmann, Fábio. Andaimes do real. São Paulo: Brasiliense, 1979.<br />

Winnicott, D. Os objetivos do tratamento psicanalítico. In: O ambiente e os processos<br />

<strong>de</strong> maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.<br />

Zimerman, David. A psicanálise contemporânea. In: Fundamentos psicanalíticos:<br />

teoria, técnica e clínica. Artmed, 1999.


108 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI: DESAFIOS E<br />

OPORTUNIDADES<br />

Prof. Dra. Maria Cristina Barros Maciel Pellini<br />

Representante do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia<br />

Muito obrigada pelas palavras da Meyre, da Ruth. Queria agra<strong>de</strong>cer<br />

muito ao convite para estar aqui. É a segunda vez que venho pra <strong>Londrina</strong>,<br />

mas em outro momento foi em um evento <strong>de</strong> família, e fiquei muito contente<br />

<strong>de</strong> estar recebendo essa indicação do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia, e fiz<br />

<strong>de</strong> tudo, numa agenda louca que eu tenho, para po<strong>de</strong>r estar aqui hoje. Eu ia<br />

falar, embora a Ruth já tenha dito, parabéns a todos nós, hoje é o Dia do<br />

Psicólogo.<br />

Hoje nós temos eleições, hoje é dia <strong>de</strong> eleições, porque nós temos eleições<br />

nos Conselhos a cada três anos e, justamente hoje, em <strong>2010</strong>, mudam-se<br />

todas as gestões dos Conselhos Regionais e Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia para os<br />

próximos três anos. O Conselho daqui é o 08, que é o CRP do Paraná, que<br />

<strong>de</strong>ve estar em fase <strong>de</strong> votação na sua se<strong>de</strong>, como nós temos em São Paulo<br />

também. Enfim, todos os psicólogos do Brasil estão hoje votando, e logo<br />

vocês estarão também nessa tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que é muito importante,<br />

porque são os grupos que entram que vão dando direções à nossa prática<br />

profissional, e é uma votação em pessoas que a gente quer que direcione e<br />

impulsione nossa prática profissional. Então, só queria pontuar isso como<br />

uma responsabilida<strong>de</strong>, hoje, dos psicólogos do Brasil, que a gente está na<br />

casa <strong>de</strong> 150 mil, aproximadamente, psicólogos em relação a toda a fe<strong>de</strong>ração,<br />

e temos hoje 19 Conselhos Regionais. Até o ano passado nós éramos 17<br />

Conselhos Regionais, e alguns estados foram se <strong>de</strong>smembrando. Por quê?<br />

Porque cursos <strong>de</strong> psicologia estão sendo <strong>de</strong>senvolvidos e começa, então, a ter<br />

mais psicólogos se formando em várias regiões, e isso vai se <strong>de</strong>smembrando.<br />

Então, a gente começou essa profissão em 62, e em 71 os conselhos começam<br />

a se organizar por conta <strong>de</strong> uma exigência do Brasil <strong>de</strong> todas as profissões<br />

regulamentadas terem o conselho <strong>de</strong> classe como um órgão fiscalizador,<br />

orientador, disciplinador e, também, que é uma parte que para mim é <strong>de</strong><br />

extrema importância, o <strong>de</strong> zelar, o <strong>de</strong> cuidar da ética profissional.


PALESTRAS 109<br />

Em 71, quando os conselhos foram se organizando, nos éramos sete<br />

regionais, e em <strong>2010</strong> nós somos 19 regionais. Então, a psicologia foi abrangendo<br />

o Brasil todo, nos cursos, enfim, aparecendo, e estamos aí com muitas<br />

novida<strong>de</strong>s, inclusive aquelas que a prática tem nos solicitado.<br />

Na minha fala, “Psicólogo do Século XXI, Desafios e Oportunida<strong>de</strong>s”,<br />

eu procurei pouco pontuar o que a gente tem nos tempos da prática, dos<br />

lugares <strong>de</strong> isenção do psicólogo, muitas <strong>de</strong>mandas que a gente está tendo <strong>de</strong><br />

reconhecimento, inclusive. Então, vem um compromisso muito gran<strong>de</strong> e<br />

importante, para que a gente possa estar <strong>de</strong>senvolvendo um trabalho <strong>de</strong><br />

melhor qualida<strong>de</strong>, tanto que a gente está sendo bastante solicitado, vocês<br />

vão acompanhando a mídia, por exemplo, em várias situações têm que ter<br />

um psicólogo, dando entrevista, falando sobre um assunto, sobre vários assuntos,<br />

aliás, está até <strong>de</strong>mais. A gente lá em São Paulo, que em relação ao<br />

Brasil é a maior regional, a gente tem, portanto, mais questões, mais <strong>de</strong>mandas,<br />

quantitativamente, em função do número <strong>de</strong> psicólogos que nós temos<br />

lá, que, <strong>de</strong> inscritos, está na casa <strong>de</strong> 63 mil aproximadamente, porque, <strong>de</strong><br />

inscrição mesmo, já estamos na casa <strong>de</strong> 100 mil psicólogos no Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, mas atuantes e inscritos no órgão são 63 mil aproximadamente, que<br />

hoje estarão votando, inclusive. Então, a gente tem lá bastante <strong>de</strong>manda. E<br />

eu queria, ao iniciar minha fala, parabenizar vocês pela realização <strong>de</strong>ste primeiro<br />

congresso <strong>de</strong> psicologia, que acho bastante importante, é um caminho<br />

que vai para a frente com alunos <strong>de</strong> primeiro ano, que tem uma tarefa árdua<br />

<strong>de</strong> estar se comprometendo na apresentação, no envolvimento dos <strong>de</strong>mais<br />

que virão, com certeza.<br />

O foco <strong>de</strong>ste Congresso achei bastante pertinente, por isso minha fala<br />

vai nessa linha, “psicologia em foco: diversida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>safios”, que é o tema do<br />

Congresso. Então, nesse sentido, entendo que é um tema muito pertinente<br />

para a profissão, porque os <strong>de</strong>safios que a psicologia tem enfrentado e tem<br />

<strong>de</strong> enfrentar são muitos. Aliás, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a psicologia, profissão<br />

e ciência, está em permanente construção, se adaptando à mente da nossa<br />

própria socieda<strong>de</strong>, e, em 27 <strong>de</strong> agosto, que é o dia <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong> 1962, muitos<br />

<strong>de</strong> vocês, acho que a maioria, não estavam aqui ainda (é que eu sou da<br />

década <strong>de</strong> 50, então, já é uma coisa mais pra mim), foi quando a psicologia<br />

foi reconhecida e regulamentada no Brasil e <strong>de</strong>finitivamente institucionalizada<br />

pela Lei 4119, que é a lei que direciona nossa prática. Então, o importante<br />

não é que a gente conheça o texto da lei, mas que a gente saiba que lá tem


110 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

alguns artigos, em especial o artigo 13, que vão <strong>de</strong>limitar nosso espaço profissional,<br />

aquilo que nos difere das <strong>de</strong>mais profissões, inclusive a profissão<br />

privativa do psicólogo está ali legalizada, é ali que nós nos mantemos como<br />

profissionais e profissão regulamentada, então, a Lei 4119 regulamenta a<br />

profissão em nosso país.<br />

Nos anos que se seguiram, cursos <strong>de</strong> psicologia proliferaram no país,<br />

associações profissionais e cientificas, campos <strong>de</strong> trabalho foram surgindo,<br />

enfim, a psicologia se <strong>de</strong>senvolveu com vigor. No final da década <strong>de</strong> 70, com<br />

as gran<strong>de</strong>s áreas, a classe também se organizaou em torno das entida<strong>de</strong>s.<br />

Então, a gente foi se <strong>de</strong>senvolvendo, criando associações, grupos <strong>de</strong> psicólogos<br />

que vão se organizando com propostas distintas, e é assim que a nossa<br />

profissão funciona, é assim que nós somos, somos diferentes, cada um <strong>de</strong><br />

nós possui posições diferentes, mas tem momentos em que a gente tem que<br />

ter <strong>de</strong>terminados caminhos. As associações, as entida<strong>de</strong>s, vão se organizando<br />

com esse objetivo, que é muito comum no espaço da psicologia.<br />

Então, na década <strong>de</strong> 70, precisamente 79, os psicólogos, inicialmente<br />

em São Paulo, mas seguidos pelos do Rio, Minas Gerais, Pernambuco, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul e logo <strong>de</strong>pois Brasília, Ceará e Paraná, ocuparam ou criaram<br />

seus sindicatos. Os conselhos foram, <strong>de</strong>pois, ocupados por grupos progressistas,<br />

que queriam a entida<strong>de</strong> trabalhando para que a psicologia se tornasse<br />

um instrumento a ser visto pela população brasileira.<br />

A década <strong>de</strong> 80 trouxe novos <strong>de</strong>safios para os psicólogos. Nessa década<br />

tivemos uma significativa abertura do mercado no serviço público na área<br />

da saú<strong>de</strong>, o que colocou aos psicólogos e às entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios muito gran<strong>de</strong>s.<br />

Era preciso reinventar a psicologia, <strong>de</strong> tal forma que permitisse contribuir<br />

e respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s daquela população com a qual nós não<br />

estávamos habituados a trabalhar. Esse fato contribuiu para fortalecer nossas<br />

entida<strong>de</strong>s, então, na década <strong>de</strong> 80, a psicologia teve um avanço muito gran<strong>de</strong>,<br />

inclusive, em 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 87, a psicologia fez 25 anos <strong>de</strong> profissão.<br />

Nesse momento, nós tivemos, por exemplo, uma atualização do código <strong>de</strong><br />

ética, porque as <strong>de</strong>mandas daquele momento eram diferentes e a atuação do<br />

psicólogo vai mudando. Ele começa a trabalhar não mais naquele mo<strong>de</strong>lo da<br />

clínica tradicional, que ainda existe quantitativamente, estatisticamente. A<br />

gente faz pesquisas <strong>de</strong> âmbito fe<strong>de</strong>ral e a gente vê que praticamente 40% dos<br />

psicólogos do Brasil se colocam na área clínica, mas em 80 a gente teve um<br />

avanço da psicologia nas instituições, e isso trouxe uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atua-


PALESTRAS 111<br />

lização do Código <strong>de</strong> Ética, e, pelo fato <strong>de</strong> a psicologia estar fazendo naquele<br />

momento 25 anos <strong>de</strong> existência enquanto profissão regulamentada, o código<br />

daquela época, que perdurou até 2005, era bastante abrangente e contemplava<br />

o psicólogo nesses diversos lugares. Foi um momento em que se precisava<br />

direcionar algumas ações da psicologia e até dar diretrizes, e o código <strong>de</strong><br />

ética vai pontuando essas referências para a gente.<br />

A década <strong>de</strong> 80 foi, assim, fervilhante para os psicólogos. Os sindicatos<br />

se uniram e criaram naquele momento a Fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Psicólogos,<br />

que é a FENAPS. Se vocês ouvirem falar na FENAPS, foi uma entida<strong>de</strong><br />

construída, constituída, em 80. Os conselhos também se fortaleceram, produzindo<br />

um material escrito sobre a profissão e organizando congressos, como,<br />

por exemplo, o CONPSI, que aconteceu em São Paulo e que hoje acontece<br />

no país a cada 2 ou 3 anos, se eu não estou enganada. Os psicólogos se<br />

interessaram e fortaleceram o movimento da saú<strong>de</strong>, chegando a colocar na<br />

direção <strong>de</strong>sse movimento uma psicóloga, a Monica Valente, além da participação<br />

ativa no movimento da luta antimanicomial.<br />

Foi dada, então, a largada para um período em que os psicólogos iriam<br />

se peguntar e refletir sobre a relação <strong>de</strong> seu trabalho e do próprio fenômeno<br />

psicológico com a realida<strong>de</strong> social. Essa realida<strong>de</strong> social entrava, então, na<br />

psicologia para remexer tudo o que durante tantos anos ficou naturalizado e<br />

cristalizado. A gente começa a ter essa solicitação que hoje está aqui, uma<br />

consequência disso, a gente está sendo o tempo todo solicitado, <strong>de</strong>sdobramento<br />

<strong>de</strong> uma luta que foi sendo <strong>de</strong>senvolvida no <strong>de</strong>correr, em especial, da<br />

década <strong>de</strong> 80, que trouxe para a gente esse reconhecimento. Essas questões,<br />

então, vão tomando formas diferentes <strong>de</strong>ntro da psicologia, até chegarmos<br />

ao momento atual, no qual estamos colocando a questão do compromisso<br />

social <strong>de</strong> nossa profissão e <strong>de</strong> nossa ciência. Discutir o compromisso social<br />

da psicologia significa, portanto, sermos capazes <strong>de</strong> avaliar sua inserção como<br />

ciência e profissão na socieda<strong>de</strong> e apontarmos em que direção a psicologia<br />

está encaminhada. Hoje, a psicologia atua em diferentes contextos e está<br />

sendo chamada a opinar e participar <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates sobre problemas sociais complexos.<br />

Isso exige cada vez mais do profissional: espera-se que um profissional,<br />

após concluir a graduação, permaneça no estado <strong>de</strong> vigília em relação ao<br />

que está acontecendo. Então, o tempo todo a gente tem que estar atento a<br />

isso para não cair em situações muitas vezes <strong>de</strong>licadas, eu digo, do ponto <strong>de</strong><br />

vista ético, que nos <strong>de</strong>ixam bem expostos, vamos dizer assim.


112 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O psicólogo do século XXI está “con<strong>de</strong>nado” à educação continuada.<br />

Não tem como a gente falar: ”acabei a faculda<strong>de</strong>, graças a Deus, resolvi meu<br />

problema, agora sou psicóloga. Não vou mais estudar...”. Muito pelo contrário,<br />

é nesse momento que a gente vai correr atrás. O curso traz para a gente<br />

a visão <strong>de</strong> uma proposta, até então, mais generalista, para po<strong>de</strong>rmos inserir<br />

nos diversos lugares e saberes da psicologia, mas é a partir <strong>de</strong>sse momento, o<br />

término da formação, aquele dia que a gente espera, o da formatura, do<br />

juramento e tudo o mais, é a partir daí que a gente <strong>de</strong> fato vai po<strong>de</strong>r buscar<br />

que psicólogo é esse que eu estou buscando <strong>de</strong>senvolver. Então, a gente tem<br />

que estudar, não tem jeito, fazer pesquisas, estar sempre se atualizando, participar<br />

<strong>de</strong> grupos para po<strong>de</strong>r caminhar. O que eu acho um estímulo muito<br />

gran<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong> ser um profissional, ele jamais po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser um<br />

estudante, precisará ficar atento às mudanças sociais e às novas contribuições<br />

da ciência psicológica e também acompanhar a normatização profissional.<br />

Concluí a minha graduação em 85. Durante esse período, por exemplo,<br />

não se usava computador, fazíamos nossos trabalhos em máquinas <strong>de</strong> escrever,<br />

por isso eu disse que sou antiga (risos). Semana que vem é meu aniversario<br />

e eu fico um pouco <strong>de</strong>prê (risos). Deixa eu explicar aqui, você não po<strong>de</strong><br />

ficar analisando, a Cristina, como se diz, lá vai mais um ano e mais uma boa<br />

i<strong>de</strong>ia que vai surgir na minha vida, então, pesa muito pra mim e eu preciso<br />

dividir com alguém essa angústia (risos). Então, naquela época, o foco da<br />

formação era basicamente a clínica, a escolar e a seleção profissional; o campo<br />

profissional era dividido em tres gran<strong>de</strong>s áreas: clínica, escolar, posteriormente<br />

chamada <strong>de</strong> educacional, e a profissional, ou do trabalho.<br />

Só que hoje a psicologia está em outro lugar, muito diferente do <strong>de</strong> 62,<br />

e ontem à noite, conversando com a Meyre, acrescentei algumas coisas na<br />

fala. Nós hoje, na era da informação, <strong>de</strong>vemos abordar as aflições dos nossos<br />

indivíduos, que muitas vezes se veem fragmentados diante da realida<strong>de</strong> e da<br />

gama <strong>de</strong> opções que o acesso às novas tecnologias nos apresenta e como<br />

po<strong>de</strong>mos dialogar com as novas relações interpessoais e interculturais, criadas<br />

a partir <strong>de</strong> um pensamento, que se chama mo<strong>de</strong>rno líquido. Não sei se<br />

vocês já tiveram ou estão tendo acesso aos livros do Bauman, e ele tem toda<br />

uma coleção do lado líquido, o humor líquido, a vida líquida, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

líquida, e aí eu entendo assim: a tecnologia vem dialogando com a gente<br />

nessas novas relações, passando pelo que Bauman vai apontar como “o mo<strong>de</strong>rno<br />

líquido que sabe <strong>de</strong> tudo, mas ao mesmo tempo não conhece nada”.<br />

Então, a gente tem muita informação, mas, <strong>de</strong> fato, o que eu sei? E como


PALESTRAS 113<br />

ficam as relações do sujeito excluído e incluído nessa era digital? Assim, discutir<br />

a psicologia do século XXI é discutir a criação e a existência <strong>de</strong> um novo<br />

sujeito: híbrido e sem gravida<strong>de</strong>, que esta era está formando.<br />

A questão aqui é abordar o acesso e o conhecimento do profissional<br />

perante as novas áreas e campos <strong>de</strong> pesquisa e, hoje, então, tudo mudou. Já<br />

encontramos no currículo dos cursos <strong>de</strong> psicologia: a psicologia jurídica, a<br />

psicologia da saú<strong>de</strong>, a psicologia institucional e tantas outras. Naquela época,<br />

voltando à minha formação, tínhamos como referência o Código <strong>de</strong> Ética<br />

do psicólogo <strong>de</strong> 1979. A partir <strong>de</strong> 1995, atento às <strong>de</strong>mandas da categoria,<br />

o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia começou a editar resoluções; ele vai<br />

normatizando, ele cria normas. Por exemplo, o Código <strong>de</strong> Ética regulamenta<br />

a criação <strong>de</strong> resoluções; uma resolução nos possibilita, na medida da necessida<strong>de</strong>,<br />

fazer mudanças, então, se revoga uma, entra outra. Se vocês entrarem<br />

no site do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia, vão encontrar cerca <strong>de</strong> 220<br />

resoluçoes sobre os mais variados temas publicadas apenas nos últimos 16<br />

anos. Observem, então, como as coisas mudam em um período <strong>de</strong> tempo<br />

tão curto, tão rápido, os nossos 16 anos.<br />

Mas voltemos aos temas que no <strong>de</strong>correr dos últimos anos têm sido os<br />

nossos <strong>de</strong>safios, abrindo campos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para a prática profissional<br />

do psicólogo. Então, aqui eu vou apontando alguns campos <strong>de</strong>ntro do que a<br />

gente tem discutido nestes últimos anos na prática, por exemplo, no campo<br />

da ética. Um tema atual são questões da bioética: homecare; aborto, incluindo<br />

aborto encefálico; células-tronco; pesquisas com seres humanos<br />

transgênicos; tratamento em pacientes terminais, como a eutanásia, a renúncia<br />

a tratamento, a ortanasia, que é não introduzir cuidados extraordinários<br />

ao paciente quando da concordância <strong>de</strong>le e da família; a intimida<strong>de</strong> genética,<br />

direito <strong>de</strong> sigilo quanto à formação genética. Então, a gente tem essas<br />

garantias <strong>de</strong> direitos, e, neste ano <strong>de</strong> <strong>2010</strong>, o Conselho <strong>de</strong> Medicina inclusive<br />

publicou o Código <strong>de</strong> Ética, e uma das novida<strong>de</strong>s foi a introdução <strong>de</strong><br />

temas relacionados à bioética, então, penso que a psicologia terá <strong>de</strong> se <strong>de</strong>bruçar<br />

mais sobre esses assuntos, que são assuntos recentes, que estão começando<br />

a entrar em um discurso maior, inclusive <strong>de</strong>ntro dos Conselhos, criandose<br />

a comissão <strong>de</strong> bioética, para a gente entrar nessas áreas, nessas questões<br />

que eu apontei a pouco.<br />

Na área jurídica, da psicologia jurídica, temos em pauta assuntos com o<br />

psicólogo em mediação e conciliação e justiça restaurativa. Nosso sistema


114 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

jurídico está lotado <strong>de</strong> processos, e, sabemos, muitos processos terminam,<br />

mas o conflito permanece. Então, a proposta da mediação e conciliação são<br />

novas práticas que a área jurídica tem trazido para agilizar. Você, numa disputa<br />

<strong>de</strong> guarda, regulamentação <strong>de</strong> visita, fatalmente vai brigar por isso e vai<br />

levar isso para o judiciário, na vara <strong>de</strong> família, num conflito ou outro, em<br />

que você possa negociar, instaurar um processo. Em uma separação judicial,<br />

às vezes você consegue negociar, mediar a relação do casal que está em conflito,<br />

não quer mais se relacionar, então a justiça criou a mediação, conflito a<br />

conciliar, tentar ver com as partes envolvidas o que po<strong>de</strong> ser feito, se é possivel<br />

a não instauração <strong>de</strong> um processo e, assim, eles conseguem entrar em um<br />

acordo antes. O judiciário foi abrindo muitos processos <strong>de</strong> várias áreas, e<br />

muitas vezes, no <strong>de</strong>correr do processo, que movimenta juízes, pessoal <strong>de</strong><br />

fora, os profissionais, a gente, inclusive, e quando chega ao meio do processo,<br />

eu até falo aos meus alunos, o casal estava brigando, mas quando eles<br />

foram sentar e conversar, porque eles estavam irritados e queriam abrir um<br />

processo, aí movimentou o judiciário, tem mais um na fila para po<strong>de</strong>r dar<br />

razão, vamos dizer assim, <strong>de</strong> repente o problema é que ele <strong>de</strong>ixa a toalha em<br />

cima da cama, ela pendura a calcinha na torneira do banheiro, daí eles sentam<br />

e “eu fico irritado com isso, porque ela faz isso, porque ele faz isso...”.<br />

No fundo consegue-se negociar antes, eles entram em um acordo e não precisam<br />

ir lá abrir o processo. Então, a justiça acabou entrando com esse método<br />

da conciliação e mediação para tentar ver se é possível negociar antes da<br />

instauração do processo, e isso tem dado muito resultado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006. Eu até<br />

participei, via Conselho Fe<strong>de</strong>ral e Regional <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong> toda essa discussão<br />

com o Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça; nós fomos psicólogos convidados<br />

pelo Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça para discutir isso e contribuir nesse<br />

sentido. Do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo e qualitativo, realmente houve uma<br />

diminuição muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses processos instaurados no judiciário, porque<br />

as pessoas conseguiram negociar antes. Então, agiliza muito as coisas,<br />

inclusive o sofrimento das pessoas diminui nesse sentido.<br />

Então, essa mediação da justiça e a justiça restaurativa têm sido apresentadas<br />

como formas alternativas, como falei, <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> conflitos e que elas,<br />

essas partes, são chamadas para conversar e entram em acordo. Alguns psicólogos<br />

já estão atuando em conciliação e outros na formação <strong>de</strong> conciliadores,<br />

que é o que eles queriam e querem da gente, a gente dá subsídios para esses<br />

conciliadores, se não nós mesmos fazemos. É um momento então <strong>de</strong> trabalho,<br />

<strong>de</strong> mostrar na produção cotidiana como po<strong>de</strong> ser nossa contribuição.


PALESTRAS 115<br />

Outra área na qual estamos nos inserindo é relacionada aos concursos<br />

públicos e magistratura e traz a novida<strong>de</strong> da inclusão da matéria psicologia<br />

judiciária na prova, e também o exame psicotécnico <strong>de</strong> caráter eliminatório.<br />

Os juízes não gostam nada disso, mas a gente está lá agora também. Eles não<br />

gostam das avaliações, porque, para eles mudarem <strong>de</strong> posto, eles passam inclusive<br />

por avaliação psicológica; é uma das questões em que eles estão muito<br />

bravos com a gente, porque o laudo vai direcionar se ele tem <strong>de</strong> fato condições<br />

<strong>de</strong> estar nesse lugar, ele tem <strong>de</strong> ter o perfil, ele tem <strong>de</strong> ser justo. Então,<br />

os juízes agora terão <strong>de</strong> ter noções básicas <strong>de</strong> psicologia jurídica; eles tinham<br />

lá opções <strong>de</strong> algumas áreas para po<strong>de</strong>r inserir, e a psicologia jurídica é uma<br />

disciplina hoje também apresentada no curso <strong>de</strong> direto; por sinal, eu, no<br />

caso da UNIP, dou aula nesse curso. Um outro projeto que a gente tem na<br />

área jurídica é o que discute a alienação parental. Não sei se vocês já sabem o<br />

que é, esse projeto é <strong>de</strong>finido como a prática <strong>de</strong> atos por um ou os dois pais<br />

da criança <strong>de</strong> forma induzida a repudiar o outro genitor, o que po<strong>de</strong> acontecer<br />

em caso <strong>de</strong> separação conjugal ou disputa <strong>de</strong> guarda.<br />

O projeto da alienação parental, que o pessoal tem chamado <strong>de</strong> SAP<br />

(síndrome <strong>de</strong> alienação parental), fixa parâmetros para sua caracterização e<br />

medidas para que ele vire prática, porém questionando, digo, enquanto órgão<br />

<strong>de</strong> classe, se ele não constrói uma nova síndrome psicológica e acirra<br />

ainda mais a disputa ao invés <strong>de</strong> dar conta do conflito, outro assunto sobre<br />

o qual <strong>de</strong>vemos nos <strong>de</strong>bruçar. Então, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> posição do órgão,<br />

muitas vezes contra ou não, é importante cuidar melhor, porque no projeto<br />

<strong>de</strong> lei está previsto que o psicólogo é quem vai estar fazendo essa avaliação do<br />

diagnóstico da SAP. Feito o diagnóstico, o juiz, a partir daí, tomará <strong>de</strong>cisões,<br />

até <strong>de</strong> rever a guarda, condições sobre guarda compartilhada, <strong>de</strong> mudar estratégias<br />

para que essa criança, para que esse jovem, <strong>de</strong>ssa família, não sofra<br />

mais. Então, o princípio é muito interessante, e tem todo um contexto, até<br />

porque é um assunto que eu domino bastante e é um dos assuntos das minhas<br />

aulas, mas tem algumas questões que a gente tem <strong>de</strong> tomar cuidado, e<br />

algo que tem acontecido é que nesses projetos <strong>de</strong> lei estão <strong>de</strong>mandando muito<br />

da gente, e isso é ótimo, mas, por outro lado, querem que a gente fique em<br />

uma posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir por eles, que se acontecer algum problema o juiz vai<br />

dizer: “eu fiz a partir do que a avaliação psicológica apontou”, ou seja, nós<br />

acabamos sendo os únicos responsáveis por isso, existe todo um contexto<br />

maior. A essa discussão é que a gente tem <strong>de</strong> estar atento, na realida<strong>de</strong>.


116 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Nos últimos anos, então, muitas normas <strong>de</strong> caráter social foram criadas,<br />

como: a Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e Adolescente, Lei<br />

Nacional <strong>de</strong> Adoção, Estatuto do Idoso, Mulheres Vítimas <strong>de</strong> Violência, a<br />

guarda compartilhada, entre outras, ou seja, todas preveem a atuação em<br />

equipes multidisciplinares, nas quais o psicólogo está inserido. O trabalho<br />

dos psicólogos no sistema prisional também vem sofrendo transformações,<br />

ele foi <strong>de</strong>limitado com a criação da Lei <strong>de</strong> Execuções Penais, que é chamada<br />

<strong>de</strong> LEP, em 1984.<br />

Foi instituída na LEP a Comissão Técnica <strong>de</strong> Classificação, a CTC,<br />

composta <strong>de</strong> um psicólogo, um assistente social, um psiquiatra, dois chefes<br />

<strong>de</strong> serviço e pelo diretor da unida<strong>de</strong> prisional. Então, essa comissão vai avaliar<br />

aquele preso, isso já existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 84. Basicamente, o psicólogo fazia o<br />

exame criminológico para fins <strong>de</strong> progressão <strong>de</strong> pena, ou seja, a pessoa cometeu<br />

um crime, ela tem 15 anos para pagar <strong>de</strong> pena, e a proposta da LEP <strong>de</strong><br />

84, que foi aquele ano em que tudo aconteceu, a proposta é <strong>de</strong> que o psicólogo<br />

faça uma avaliação <strong>de</strong> quem é essa pessoa, essa pessoa que cometeu um<br />

<strong>de</strong>lito, que tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito, para que possa melhor a<strong>de</strong>quar a aplicação <strong>de</strong>ssa<br />

pena, acompanhar esse <strong>de</strong>tento no período e, num terceiro momento, uma<br />

nova avaliação, se <strong>de</strong> fato houve a ressocialização, como então naquele momento<br />

se colocava. A gente até hoje fala em reintegração social, porque já é<br />

social, não tem como você ressocializar uma pessoa, mas isso é uma outra<br />

discussão.<br />

Isso é o que está na lei. Com o tempo, esse trabalho passou a ser<br />

questionado e, com a alteração da LEP em 2003, houve uma mudança<br />

nessa legislação, que retira a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer esse exame<br />

criminológico, tanto que naquele momento, em 2003, não faz muito tempo,<br />

os psicólogos da área prisional ficaram se questionando: “o que fazemos?”,<br />

porque a prática <strong>de</strong>les era fazer essas avaliações, e que <strong>de</strong> fato elas<br />

não aconteciam, porque a gente tem um sistema muito falido do ponto <strong>de</strong><br />

vista do sistema prisional, e aí foi retirada a obrigatorieda<strong>de</strong>, e as pessoas<br />

começaram a sair em liberda<strong>de</strong> condicional.<br />

O diretor do presídio, o agente prisional, liam os relatórios <strong>de</strong> conduta<br />

<strong>de</strong> comportamento e diziam se a pessoa tinha a<strong>de</strong>quação ou não pra sair,<br />

com uma liberda<strong>de</strong> condicional ou não. Muitas <strong>de</strong>ssas pessoas reincidiram,<br />

e os juízes que estavam liberando falaram: “espera aí, eu estou sendo responsável<br />

por um momento <strong>de</strong> violência”, e acabaram voltando atrás, fizeram


PALESTRAS 117<br />

outra legislação, porque isso é uma manobra do judiciário, se o juiz estiver<br />

na dúvida, ele tem como pedir o exame. Só que nesse momento em que veio<br />

essa nova reestruturação, que foi em 2006, esse novo pedido <strong>de</strong> exame é para<br />

você dizer, em sua avaliação, que eles estão chamando <strong>de</strong> criminológica, é<br />

para dizer se a pessoa tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reincidir ou não. Só que o prazo<br />

que o psicólogo tem, com a <strong>de</strong>manda muito gran<strong>de</strong>... às vezes, ele per<strong>de</strong> meia<br />

hora, cinco minutos, <strong>de</strong>z minutos, para você avaliar, sem recursos, porque às<br />

vezes a gente não tem nem folha, se eu quiser fazer a avaliação eu não tenho<br />

nem sulfite e um lápis preto, que seria o correto, para aplicação <strong>de</strong> testes nos<br />

presídios, se eu precisar eu tenho <strong>de</strong> levar da minha casa. Aí os psicólogos<br />

falaram assim: “por que nós da psicologia temos que dizer?”. Porque aí, até<br />

pouco tempo eu citei aqui, é um tema dos últimos meses que está em pauta<br />

na mídia, uma resolução do Conselho Fe<strong>de</strong>ral, a 09 <strong>de</strong> <strong>2010</strong>, proibindo o<br />

psicólogo que atua no estabelecimento prisional, que é exatamente esse que<br />

está no dia a dia, ali com o <strong>de</strong>tento, que eticamente não po<strong>de</strong>...<br />

A gente tem um artigo do Código <strong>de</strong> Ética, artigo 2 o , que diz que é<br />

vedado ao psicólogo ser perito avaliador em condições em que a gente tenha<br />

vínculo com essa pessoa, pessoal ou profissional, anterior ou não, então, eu<br />

não posso fazer uma avaliação numa pessoa que é um cliente, para dizer se<br />

ela é ou não uma boa pessoa, porque o discurso que ela vai me trazer é<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um lugar, no sigilo e tudo o mais. Imagina que eu estou aten<strong>de</strong>ndo<br />

uma pessoa, estou acompanhando um preso no presídio, e ele diz: “Doutora,<br />

eu tenho muita raiva da minha família, da socieda<strong>de</strong>, se eu sair daqui eu<br />

vou voltar a matar”. O psicólogo tem essa informação e vai procurar, <strong>de</strong><br />

repente, fazer um trabalho com essa pessoa, e como é que esse mesmo psicólogo<br />

vai fazer no final uma avaliação, para saber se essa pessoa tem condições<br />

<strong>de</strong> reincidir, sendo que ele tem essa informação, em <strong>de</strong>terminado momento<br />

a pessoa, no <strong>de</strong>sespero, diz: “Eu não consigo ficar, eu tô com raiva e vou<br />

continuar a matar”. Então, ele fica numa posição muito difícil e não tem<br />

como avaliar.<br />

Essa é a discussão que está acontecendo atualmente nessa legislação. O<br />

Conselho Fe<strong>de</strong>ral e os psicólogos do Brasil inteiro aprovaram essa resolução,<br />

foi significativo, tinha 60 conselheiros, 19 regionais, e 57 dos conselheiros<br />

aprovaram essa resolução do jeito que está. A gente até tinha, mesmo <strong>de</strong> São<br />

Paulo, uma proposta <strong>de</strong> texto <strong>de</strong> redação, mas os conselheiros, representando<br />

seus respectivos regionais, vamos dizer 90 e poucos por cento, votaram a


118 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

favor <strong>de</strong> não fazer, e agora está dando toda essa confusão na mídia. Alguns<br />

juízes permaneceram solicitando esse exame e, em <strong>2010</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cinco<br />

anos <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>bates, concluiu-se que não cabe ao psicólogo a realização<br />

<strong>de</strong>sse exame, a participar <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>cisões que envolvam um caráter punitivo<br />

e disciplinar, o foco do trabalho do psicólogo será concentrado na análise da<br />

situação vivencial enfrentada pelo sujeito e nos projetos terapêuticos, que é<br />

<strong>de</strong> fato o nosso objetivo, durante a execução da pena.<br />

Esse assunto está bastante em pauta e, como eu falei a pouco, você já<br />

<strong>de</strong>ve ter ouvido alguma coisa no Jornal Nacional, saiu em alguns lugares. No<br />

caso da, mudando um pouco <strong>de</strong> assunto, psicologia organizacional e do trabalho,<br />

hoje temos o reconhecimento da atuação do psicólogo em recursos<br />

humanos. Na década <strong>de</strong> 80, havia psicólogos atuando em recursos humanos<br />

em uma ou outra empresa, e hoje estamos presentes em muitas <strong>de</strong>las, <strong>de</strong><br />

pequeno a gran<strong>de</strong> porte. A área <strong>de</strong> RH foi reconhecida pelo Ministério do<br />

Trabalho como uma área interdisciplinar. Além das tradicionais ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> recrutamento, seleção, treinamento e avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, os psicólogos<br />

têm sido chamados em questões como: conflitos organizacionais, saú<strong>de</strong><br />

mental do trabalhador, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, capacitação através do<br />

aconselhamento. Tem também os aspectos motivacionais, assédio moral, isenção<br />

social e apoio em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego. Nós temos uma revista, que<br />

sai normalmente, a revista Diálogos, produzida pelo CFP, e, em uma edição<br />

<strong>de</strong> 2, 3 anos atrás, que foi sobre psicologia organizacional do trabalho, os<br />

psicólogos Sigmar Malvezzi e Van<strong>de</strong>rley Codo <strong>de</strong>bateram os fundamentos da<br />

psicologia organizacional e do trabalho no Brasil. Segundo eles, a psicologia<br />

do século XXI constata certo <strong>de</strong>staque na questão <strong>de</strong> competências, estabilida<strong>de</strong><br />

dos vínculos <strong>de</strong> emprego e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s, e há uma crise,<br />

eles dizem na revista, na socieda<strong>de</strong> causada pelo individualismo, competição<br />

e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, e a psicologia organizacional do trabalho dispõe <strong>de</strong> recursos<br />

para explicar e agir sobre essa crise, precisamos construir trabalhadores como<br />

sujeitos e diminuir essas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

O trabalho do psicólogo vem ocupando espaço também em situações<br />

<strong>de</strong> emergências e <strong>de</strong>sastres. Não sei se vocês já ouviram falar <strong>de</strong>ssa nova área<br />

na qual a gente também está se inserindo. Tivemos psicólogos trabalhando<br />

em apoio a vítimas dos aci<strong>de</strong>ntes aéreos, como o da TAM e da Airfrance; os<br />

psicólogos apoiaram os sobreviventes após o terremoto do Haiti também;<br />

estamos vivendo um momento <strong>de</strong> emergência também no Estado <strong>de</strong>


PALESTRAS 119<br />

Pernambuco, em <strong>de</strong>corrência das enchentes, e temos psicólogos trabalhando<br />

na supervisão dos voluntários, apoio aos abrigos e cadastramento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sabrigados no Estado.<br />

Também está sendo discutida a ampliação da participação pela construção<br />

<strong>de</strong> novos modos <strong>de</strong> vida, gerando opção <strong>de</strong> trabalho e reconstituição <strong>de</strong><br />

laços sociais em relação à vizinhaça e convívio, então, o psicólogo está entrando<br />

nesse lugar também. O psicólogo clínico também está se <strong>de</strong>parando<br />

com novas questões. No ano passado nós tivemos, no Sistema <strong>de</strong> Conselho,<br />

o ano temático da psicoterapia. Psicólogos <strong>de</strong> todo o país <strong>de</strong>bateram a exclusivida<strong>de</strong><br />

da psicoterapia ou interdisciplinarida<strong>de</strong>, parâmetros mínimos <strong>de</strong><br />

formação para você ser esse clínico, mapeando esse lugar, e divulgação <strong>de</strong><br />

práticas reconhecidas, porque tem uma discussão <strong>de</strong> várias práticas que vêm<br />

<strong>de</strong> todo lugar, o que nós chamamos <strong>de</strong> prática alternativa, e que se fala muito<br />

no lugar da psicologia, e o questionamento é a cientificida<strong>de</strong> disso. Esse<br />

processo está em construção e resultará em avanço na formação clínica; foi<br />

muito difícil, eu não participei porque não é uma área à qual sou próxima,<br />

mas no ano da psicoterapia houve muitas discussões, muitos <strong>de</strong>sentendimentos,<br />

coisas que se afinam. É uma área que a gente acha até estranha,<br />

porque aqui nós temos mais representação, mas, por sua vez, ela está numa<br />

crise, por todos os plenários. No nosso caso, o <strong>de</strong> São Paulo, que eu fui lá<br />

acompanhando, sobre esse ano temático da psicoterapia, não conseguiu se<br />

fechar muitas coisas.<br />

Continua também tramitando no Senado Fe<strong>de</strong>ral o projeto <strong>de</strong> lei conhecido<br />

como “Ato Médico”; vocês aqui já <strong>de</strong>vem ter ouvido falar. Esperamos<br />

que o projeto não seja aprovado, para garantir a nossa autonomia profissional<br />

e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuarmos exercendo livremente nossa prática.<br />

A psicologia também tem recente presença nos planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> muita luta conseguimos garantir ao consumidor o direito <strong>de</strong> aumentar <strong>de</strong><br />

12 sessões <strong>de</strong> psicoterapia por ano para 40 sessões <strong>de</strong> psicologia, no plano <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, então, a gente consegue esse avanço na área da saú<strong>de</strong> e também da<br />

terapia ocupacional. Uma outra coisa que também queremos que o po<strong>de</strong>r<br />

público amplie para tantas sessões quantas forem necessárias... Eram sessões<br />

uma vez por mês a que você tinha direito, olha que absurdo, uma pessoa só<br />

ter direito a uma sessão por mês, quer dizer, se ela tiver com alguma questão<br />

maior, ela vai ter <strong>de</strong> esperar pelo mês seguinte, então, se amplia para quarenta<br />

sessões. Só que tem alguns problemas, vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do encaminhamento


120 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

para essa terapia, que é essa discussão que têm os planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o diagnóstico,<br />

ou seja, a que CID (Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças) está se<br />

reportando, então, essas 40 sessões vão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da CID, algumas pessoas<br />

dizem código, e a partir <strong>de</strong>sse diagnostico vai se <strong>de</strong>cidir se vai ou não fazer<br />

essas sessões. Quando o Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> diz que está ampliando para a<br />

psicologia 40 sessões anuais, a gente tem <strong>de</strong> tomar cuidado para não pensar<br />

que vai ser mesmo assim, ainda vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da CID, vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa<br />

autorização, tem <strong>de</strong> tomar cuidado, ganhamos, eles <strong>de</strong>ram isso pra gente,<br />

mas tem coisas por <strong>de</strong>trás.<br />

Na saú<strong>de</strong> mental há um histórico <strong>de</strong> luta pela <strong>de</strong>sinstitucionalização. O<br />

movimento antimanicomial tem contribuído muito, mas a gente precisa diminuir<br />

mais ainda o número <strong>de</strong> leitos psiquiátricos, então, existe essa possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inclusão e humanização do atendimento, mas ainda não se têm<br />

leitos quando necessário para você garantir esse atendimento.<br />

Na área da avaliaçao psicológica tivemos a construção do sistema <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> testes psicológicos, nestes últimos anos, pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Hoje, o psicólogo po<strong>de</strong> usar somente teste com parecer favorável do CFP, a<br />

partir <strong>de</strong> uma avaliação que não é o plenário dos conselheiros do CFP que<br />

faz, mas a comissão construtiva, a comissão que foi <strong>de</strong>signada, <strong>de</strong> profissionais<br />

<strong>de</strong> notório saber na área <strong>de</strong> avaliação, que fazem avaliação <strong>de</strong>sses instrumentos<br />

e dizem, do ponto <strong>de</strong> vista científico, para o Conselho Fe<strong>de</strong>ral, se<br />

esse é um teste que contempla os critérios <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>, precisão, etc. Segundo<br />

o que expôs uma conselheira do Conselho Fe<strong>de</strong>ral na revista Diálogos<br />

(também tivemos uma revista sobre o tema da avaliação psicológica), precisaremos<br />

aprofundar questões como: o que é um teste que po<strong>de</strong> ser usado somente<br />

pelo psicólogo e aquele que po<strong>de</strong> ser usado por outras pessoas que<br />

não psicólogos. Nessa mesma revista, temos um artigo que nos assinala que<br />

temos menos <strong>de</strong> 120 testes com parecer favorável do CFP, o que é um numero<br />

muito pequeno perto das <strong>de</strong>mandas sociais, ou seja, precisamos estimular<br />

pesquisas com os instrumentos, construir novos instrumentos, qualificar<br />

melhor isso.<br />

Estamos também discutindo, na interface psicologia e educação, a psicologia<br />

no ensino médio, a dislexia, a presença do psicólogo nas escolas públicas,<br />

a educação inclusiva, bullyng, testes vocacionais no ensino público. Há<br />

projetos <strong>de</strong> lei que estão querendo que o ensino público passe por uma avaliação<br />

vocacional, para po<strong>de</strong>r ingressar no ensino médio. Na psicopedagogia,


PALESTRAS 121<br />

a discussão é gran<strong>de</strong>; eles querem tornar uma profissão regulamentada, e aí<br />

enten<strong>de</strong>-se que são coisas diferentes, quanto à área <strong>de</strong> especialização, entre<br />

psicologia e psicopedagogia.<br />

Hoje vemos uma outra área, que é a psicologia do trânsito, que muitos<br />

falam que é encrenca, como uma área muito mais ampla do que apenas a<br />

avaliação psicológica para confecção <strong>de</strong> carteira nacional da habilitação.<br />

Estamos nos <strong>de</strong>bates sobre a <strong>de</strong>mocratização do espaço público e sobre a<br />

mobilida<strong>de</strong> humana; esse lugar do psicólogo no trânsito que acabava fazendo,<br />

e faz ainda, a avaliação psicológica para carteira, ele está se ampliando,<br />

com a própria mudança da lei <strong>de</strong> trânsito. A gente está discutindo, sendo<br />

chamado, solicitado a participar <strong>de</strong> cursos, aulas, palestras, da qualificação<br />

<strong>de</strong>sse motorista infrator, aquele que tem acima <strong>de</strong> 20 pontos na carteira, a<br />

contribuir, como trabalhar na questão da mobilida<strong>de</strong> humana. O psicólogo<br />

está ampliando esses espaços, não fica só no lugar <strong>de</strong> fazer aplicações do<br />

PMK, do L2, do SC para ver se a pessoa tem um perfil <strong>de</strong> ser um bom motorista<br />

ou não.<br />

Esclarecemos nos <strong>de</strong>bates das políticas públicas, que é uma outra questão,<br />

o problema <strong>de</strong> álcool e drogas, psicologia e povos indígenas, psicologia<br />

do esporte, perícia psicológica na previdência social, que está sendo bastante<br />

solicitada, pelo menos no meu Estado, a dimensão subjetiva na prevenção e<br />

assistência a doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS, hepatites virais<br />

e a maiorida<strong>de</strong> penal. São políticas que estão sendo discutidas com<br />

posicionamentos; por exemplo, o Conselho tem um posicionamento contrário<br />

à maiorida<strong>de</strong> penal aos 16 anos, essa informação está no nosso site, se<br />

vocês entrarem tem qual a posição, que entendimento o Conselho Fe<strong>de</strong>ral<br />

tem a partir da psicologia sobre a maiorida<strong>de</strong> penal, por exemplo. Tem também<br />

algumas questões que temos discutido e acompanhado na psicologia,<br />

mas existem muitas outras, então, aqui eu fui trazendo algumas coisas que<br />

atualmente estão mais emergentes, coisas que estão neste novo século, que a<br />

gente está conquistando e que também está reavendo, e é até uma injustiça<br />

não pontuar outros temas a serem <strong>de</strong>batidos, mas não tem como falar <strong>de</strong><br />

todos para vocês.<br />

Há muitos <strong>de</strong>safios, e precisamos arregaçar as mangas, diante <strong>de</strong> todos<br />

esses contextos, <strong>de</strong>vemos estar voltados para uma intervenção crítica e<br />

transformadora <strong>de</strong> nossas condições <strong>de</strong> vida, assumir um compromisso social<br />

acreditando que só se fala do ser humano quando se fala das condições <strong>de</strong>


122 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

vida que o <strong>de</strong>terminam. Temos práticas terapêuticas, que <strong>de</strong>vem seguir termos<br />

práticos, capazes <strong>de</strong> alterar a realida<strong>de</strong> social. Essas práticas terapêuticas<br />

<strong>de</strong>vem direcionar para que a gente possa mudar essa realida<strong>de</strong>, e não ficar<br />

naquela psicologia <strong>de</strong> tempos atrás, que a coisa não caminha. Isso até me<br />

arrepia, porque a gente está em outro lugar, a gente muitas vezes, eu particularmente,<br />

quando eu tenho uma questão lá em São Paulo, até no lugar que<br />

eu ocupo hoje, na diretoria do CRP, quando pe<strong>de</strong>m pra gente, a mídia, “vocês<br />

po<strong>de</strong>m dar uma entrevista sobre isso?”, a gente fica pensando <strong>de</strong>z vezes, o<br />

entendimento que tem, ao mesmo tempo a socieda<strong>de</strong> quer respostas, então,<br />

a gente tem <strong>de</strong> ir construindo essas respostas <strong>de</strong>ntro do ponto <strong>de</strong> vista técnico,<br />

científico, ético, e tomar cuidado, e para isso a gente tem <strong>de</strong> avançar, não<br />

dá para ficar naquele mo<strong>de</strong>lo clínico tradicional, que vem da psiquiatria, e<br />

coisa e tal.<br />

Devemos nos comprometer em assumir um compromisso social na nossa<br />

ciência, buscando estranhar o que hoje já é familiar, não aceitar que as coisas<br />

são porque são, mas sempre duvidar e buscar novas respostas. Segundo Ana<br />

Maria Bock, o compromisso social é estranhar, inquietar-se com a realida<strong>de</strong><br />

e não aceitar as coisas como estão, é buscar saídas.<br />

Aproveitando o lugar que ocupo aqui, enquanto representante do Conselho<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia, eu convido vocês a acessar o site www.pol.org.br.<br />

Lá vocês vão encontrar ví<strong>de</strong>os, cartilhas, revistas e notícias sobre os mais<br />

diversos temas produzidos a partir <strong>de</strong> diálogos com a categoria, então, a gente<br />

tem muito ví<strong>de</strong>o, muita conferência <strong>de</strong> vários temas que eu falei aqui, e<br />

outros, que não <strong>de</strong>u para trazer todos, para ir se apropriando. Acho que essa<br />

é a formação continuada, é muito importante a gente estar em sala <strong>de</strong> aula,<br />

fazer pesquisas, trabalhos, provas, aquela coisa toda que seu professor passa,<br />

mas você também não gosta muito, mas tem <strong>de</strong> fazer (risos). A gente tem <strong>de</strong><br />

algum jeito <strong>de</strong> se formar para isso, mas a gente tem <strong>de</strong> estar sempre em<br />

movimento, estar com informação; aquilo que eu aprendi na sala eu vou<br />

questionar, mas eu vou buscar informação para ter uma proprieda<strong>de</strong> nisso,<br />

estar interagindo o tempo todo. Até meus alunos me falam assim: “professora,<br />

você é acelerada <strong>de</strong>mais”, porque eu estou sempre pensando, eu estou<br />

falando uma coisa, já emendo com a outra, eu vou atrás, me questiono com<br />

alguma coisa e eu vou lá saber, eu vou atrás, vou procurar, vou ler, vou<br />

pesquisar. A gente tem o Google hoje, a internet nos proporciona isso, inclusive<br />

em tempo real, a gente sabe <strong>de</strong> tudo e, quando não se cobra, manda um


PALESTRAS 123<br />

e-mail para o conselho, reclama, enfim, em cada tema, muitos caminhos vão<br />

ser possíveis, a gente só tem <strong>de</strong> correr atrás, não dá para esperar que as coisas<br />

venham porque elas não virão.<br />

E, para terminar, <strong>de</strong>ixo uma frase do filósofo grego Heráclito, que me<br />

parece apropriada ao diálogo que estamos tendo hoje: “Tudo flui como um<br />

rio, portanto, não se po<strong>de</strong> entrar duas vezes no mesmo rio, pois o rio já não<br />

será o mesmo, nem você será o mesmo”. Penso que existe uma verda<strong>de</strong> nesta<br />

frase, que há sempre a certeza da mudança e a contínua transformação, mas,<br />

diferente <strong>de</strong> Heráclito, acho que <strong>de</strong>ve haver um “núcleo duro” no que fazemos,<br />

talvez seja a forma <strong>de</strong> trabalhar ou um olhar próprio da psicologia.<br />

E, aí, eu agra<strong>de</strong>ço... Porque, para levantar este material, eu até botei<br />

aqui o que eu achei importante, a gente tem uma assistente técnica em São<br />

Paulo, na organização do CRP, até pelo tamanho da regional, nós temos<br />

compromissados psicólogos, que trabalham na fiscalização e orientação, e<br />

me ajudou um pouco a levantar a pesquisa para trazer para vocês, a Luciana,<br />

que é uma das assistentes técnicas do CRP São Paulo, e eu acho importante<br />

fazer um agra<strong>de</strong>cimento, embora ela não esteja, publicamente, porque pela<br />

minha agenda... Enfim, acho importante trazer as informações, e agra<strong>de</strong>ço<br />

muito estar aqui mais uma vez, espero ter dado um estímulo, embora vocês<br />

sejam superjovens, e estão aí no pique, mas trazer um pouco <strong>de</strong> informação<br />

a mais e situar as questões hoje <strong>de</strong>ssa psicologia e <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios e as muitas<br />

oportunida<strong>de</strong>s. Vocês vejam que nós temos muitas oportunida<strong>de</strong>s, muitas, e<br />

virão mais, a gente tem <strong>de</strong> arregaçar as mangas e trabalhar.<br />

Então, é isso, muito obrigada e parabéns ao I Congresso, que muitos<br />

outros virão com certeza. Espero em outros momentos po<strong>de</strong>r contribuir,<br />

obrigada, bom-dia a todos e parabéns. (Aplausos!)


124 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI: DESAFIOS E<br />

OPORTUNIDADES<br />

Profa. Dra. Alejandra Astrid Ce<strong>de</strong>ño<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia Social e Institucional<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Bom-dia! Obrigada por estarem aqui me escutando e por terem me<br />

convidado.<br />

Estou muito feliz pelos avanços <strong>de</strong>ste encontro. Encontro entre professores<br />

e alunos, encontro entre pessoas, encontro entre trabalhos que talvez<br />

não se conheciam mutuamente. Encontro com a história do nosso curso,<br />

com a nossa história presente, com os <strong>de</strong>safios e perspectivas que temos pela<br />

frente. Temos avançado, então, em enten<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> estamos e para on<strong>de</strong> precisamos<br />

ir, e fico feliz por isso.<br />

Vou começar e acabar minha fala com a mesma frase: o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />

que temos enquanto psicólogos e seres humanos é ajudar a construir um<br />

mundo justo e belo. E, claro, trabalharmos na redução <strong>de</strong> danos do existente.<br />

A Cristina acabou <strong>de</strong> citar a Ana Bock, quando disse que o compromisso<br />

social é estranhar, não aceitar as coisas como estão e buscar saídas. É nesse<br />

sentido que eu também estou falando: não per<strong>de</strong>rmos o intuito <strong>de</strong> transformação.<br />

Esta já é uma questão antiga, da qual não temos cuidado com atenção.<br />

Apesar da ilusão <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>, o século XXI não trouxe assuntos novos<br />

e, sim, acentuou problemas antigos que não foram tratados com serieda<strong>de</strong> –<br />

como, por exemplo, as condições que propiciam a violência urbana e a situação<br />

crítica do meio ambiente.<br />

Trabalharmos na construção <strong>de</strong> um mundo justo e belo implica a<br />

politização constante das nossas ações enquanto psicólogos e enquanto pessoas,<br />

indo das maiores linhas <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong> pesquisa, extensão e ensino, até o<br />

cotidiano micro <strong>de</strong> cada um e cada uma <strong>de</strong> nós. Politizar a clínica, politizar a<br />

vida.


PALESTRAS 125<br />

Nessa linha, há três pontos que, se não os trabalharmos, morremos: a<br />

violência urbana, o meio ambiente e a ampliação e aprofundamento das<br />

nossas conexões. Na violência urbana, precisamos acompanhar e fortalecer<br />

o trabalho da Psicologia em políticas públicas, que po<strong>de</strong> ser um trabalho <strong>de</strong><br />

prevenção e contenção da violência. Já temos milhares <strong>de</strong> psicólogos trabalhando<br />

na assistência social, na saú<strong>de</strong>, na educação e na justiça, e precisamos<br />

apoiá-los. Já foi dito aqui que o psicólogo está tendo diversas dificulda<strong>de</strong>s na<br />

justiça, na educação, na saú<strong>de</strong> e na assistência social, que é uma política<br />

muito nova, ainda não foi instituído o que o psicólogo faz. Não se tem clareza<br />

disso e há muitos embates e angústias, principalmente na proteção social<br />

básica.<br />

Precisamos também trabalhar no meio ambiente, porque o aquecimento<br />

global e os <strong>de</strong>sastres socionaturais estão <strong>de</strong>ixando muitas pessoas sem<br />

nada, haja vista o que aconteceu em Santa Catarina. Então, precisamos trabalhar<br />

no apoio psicológico <strong>de</strong>ssas pessoas, na reconstrução responsável das<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>struídas e na prevenção para frear o que pu<strong>de</strong>rmos e isso<br />

quem sabe um dia não mais acontecer.<br />

Por último, temos <strong>de</strong> ampliar e aprofundar nossas conexões internas,<br />

locais, nacionais e internacionais. E para isso po<strong>de</strong>mos ter o apoio da<br />

tecnologia. Tem gente organizando o que chamam <strong>de</strong> globalização<br />

hegemônica; na Europa, por exemplo, estão querendo fazer um único curso<br />

<strong>de</strong> Psicologia no continente inteiro. Isso <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> lado ou acabaria com as<br />

particularida<strong>de</strong>s e riquezas locais, fora que professor nenhum está recebendo<br />

horas extras pra fazer isso, e obrigatoriamente vai ter <strong>de</strong> acontecer. Mas, ao<br />

mesmo tempo, tem uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos sociais e mídia comunitária<br />

e alternativa que se comunicam e se organizam para dizer não às pequenas<br />

ou gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e construir com as suas ações outro mundo<br />

possível, às vezes entre gente <strong>de</strong> países diferentes. Enfim, se eles estão fazendo<br />

em termos <strong>de</strong> países, vamos começar aqui pela gente, e conversar entre a<br />

gente, que é o que temos aqui todos os dias e que é o primeiro que po<strong>de</strong>mos<br />

fazer.<br />

Para isso vou fechando e citando uma série <strong>de</strong> frases que foram faladas<br />

no congresso e que muito me tocaram. A primeira foi a do professor Ari, que<br />

falou: “A Torre <strong>de</strong> Babel da Psicologia, todos moramos nela, em diferentes<br />

andares; estamos todos na Torre <strong>de</strong> Babel da Psicologia: chega <strong>de</strong> se agredir”.<br />

Acho que não precisa <strong>de</strong> muita explicação, mas já que estamos pensando em


126 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

politizarmos o cotidiano da Psicologia, vai uma sugestão: tome um café com<br />

uma pessoa cuja abordagem é diferente da sua, ou uma cerveja, várias cervejas<br />

(risos). Na mesa sobre a história do curso teve uma expressão mais ou<br />

menos assim: “O problema não é a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfoques teóricos; nossos<br />

problemas têm a ver com conflitos <strong>de</strong> outro tipo, que nós herdamos e precisamos<br />

trabalhar, porque aqui estamos. Precisamos dar ao colegiado um peso<br />

maior do que aos três <strong>de</strong>partamentos, pra gente conseguir caminhar para<br />

um mesmo norte, ou para um mesmo sul, se a gente quiser”.<br />

Teve outra frase, nessa mesma mesa da história, que foi a do professor<br />

Flores, que disse: “A clínica psicológica não está nem no site da UEL; nós<br />

estamos invisíveis nesta universida<strong>de</strong>; a clínica é o trabalho mais visível na<br />

prática <strong>de</strong>ste curso, e o pessoal dos outros cursos não sabe que existe; se<br />

entrar no site, quem entrar, não sabe”. É uma luta pequena, mas a gente<br />

precisa brigar por isso. E acreditem: brigando por isso, virão muitas outras<br />

lutas possíveis. Teve outra fala nessa mesa que me tocou muito: “Precisamos<br />

escutar mais os alunos, porque são os alunos que estão tendo acesso à totalida<strong>de</strong><br />

do curso <strong>de</strong> Psicologia. Eu não assisto a todas as aulas; pra falar a verda<strong>de</strong>,<br />

tem tanto professor que não conhecia até hoje... Eu tenho dois anos <strong>de</strong><br />

UEL, e quem tem muito mais tempo aqui não vai viver isso, mas quem está<br />

chegando fica tão absorvido, cada um no seu cotidiano <strong>de</strong> trabalho, que<br />

tem, sim, uma certa fragmentação, em todos os níveis, a fragmentação somos<br />

nós”.<br />

Outra fala: “Uma experiência transdisciplinar é um <strong>de</strong>safio que está<br />

sendo colocado, e ela, ou uma experiência <strong>de</strong> conexão <strong>de</strong> áreas diversas, dá<br />

certo quando há respeito e relevância naquilo que está sendo feito, quando<br />

as pessoas beneficiadas, clientes, pacientes, estão sendo ouvidas nas<br />

suas necessida<strong>de</strong>s, nos seus <strong>de</strong>sejos, no que elas querem para a vida <strong>de</strong>las,<br />

e que nós queremos para nossa vida, é claro”. Psicologia é a segunda profissão<br />

mais requisitada na assistência social, a primeira é assistente social, e o<br />

psicólogo não sabe o que fazer numa proteção social básica. Já falei isso,<br />

mas repito: temos dificulda<strong>de</strong> na justiça, na saú<strong>de</strong> e na educação, e na<br />

assistência social não sabemos direito o que fazer, então precisamos apren<strong>de</strong>r<br />

e discutir. Eu não tenho soluções prontas para falar sobre isso, mas<br />

precisamos abrir discussões a respeito, para ver para on<strong>de</strong> nós queremos ir<br />

e o que nós vamos fazer.


PALESTRAS 127<br />

E termino com uma fala da Cristina: “Os <strong>de</strong>safios da Psicologia são<br />

muitos, é uma ciência em permanente construção”. Você, Cristina, colocou<br />

diversos <strong>de</strong>safios, não tenho nem tempo <strong>de</strong> repetir, e nem precisa, porque<br />

ela está aqui.<br />

Por último, queria mostrar uma coisa para vocês: eu escrevi os tópicos<br />

da minha fala em um ca<strong>de</strong>rno com <strong>de</strong>senhos infantis. Não por infantilida<strong>de</strong>;<br />

é o ca<strong>de</strong>rno do meu filho <strong>de</strong> 3 anos e meio, e eu escrevi nele pra lembrar a<br />

mim mesma e falar pra vocês que a promessa <strong>de</strong> eu fazer minha parte eu<br />

estou fazendo aqui, <strong>de</strong> fazer, <strong>de</strong> trabalhar, ou pelo menos <strong>de</strong> tentar trabalhar<br />

com beleza. Obrigada!


128 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

PSICOLOGIA E TECNOLOGIA<br />

Profa. Dra. Silvia Aparecida Fornazari<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia Geral e Análise do Comportamento<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Bom-dia! Gostaria muito <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer à comissão organizadora pelo<br />

convite, estou muito feliz por estar aqui. Uma das coisas que eu gostaria <strong>de</strong><br />

compartilhar com a Alejandra é que faz dois anos também que eu estou aqui<br />

na universida<strong>de</strong>. Nossa! Estou conhecendo você hoje; a Cátia eu também<br />

não conhecia; conhecia a Meire, a Eliza, por outras condições, já faz bastante<br />

tempo que conheço. Então, acredito que este momento é extremamente<br />

importante para o curso, enfim, acho muito legal. Quando o Célio, representando<br />

a comissão, me convidou para participar, ele falou que a mesa seria<br />

sobre o psicólogo na atualida<strong>de</strong>, que o tema era esse, eu pensei em falar um<br />

pouquinho sobre o uso que o psicólogo po<strong>de</strong> hoje fazer <strong>de</strong> tecnologias. Tenho<br />

trabalhado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o doutorado com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um software,<br />

para capacitação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> forma geral: professores, pais, entre outros.<br />

Para cada população, foi <strong>de</strong>senvolvido um conteúdo específico, com<br />

suas necessida<strong>de</strong>s específicas, então quero chamar um pouquinho a atenção<br />

<strong>de</strong> vocês para o que a gente tem hoje em termos <strong>de</strong> tecnologia e o que o<br />

psicólogo po<strong>de</strong> estar usando como um instrumento <strong>de</strong> trabalho.<br />

Para começar, quando a gente fala em <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias,<br />

para vocês que são alunos do 1 o ano, parece que isso nasceu com vocês, é<br />

normal, mas não é bem assim. Então, eu trouxe, para sensibilizar um<br />

pouquinho vocês para minha fala, algumas diferenças, são só cem anos.


PALESTRAS 129<br />

Olhem o computador em 1940, legal, não?<br />

Em 1962, era este computador aqui.<br />

Eu já comentei isso com meus alunos do 2º ano e, com certeza, já comentei<br />

com os do 3º ano também. Eu trabalhei no Bra<strong>de</strong>sco um tempão, e<br />

em 1987 o computador do banco era uma sala <strong>de</strong>ste tamanho, do tamanho<br />

<strong>de</strong>ste auditório! E hoje nós temos esse daí, um computadorzinho que você<br />

tem a tela sensível ao toque, inclusive o teclado é na tela. Você não precisa <strong>de</strong><br />

mais nada, isso já é um computador inteirinho, com som, com tudo:


130 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Bom, a internet, em 1969, foi construída por soldados, pelo exército<br />

americano, para uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> computadores conversarem entre si. Hoje em<br />

dia, a internet é utilizada, nossa! Quantos fins a gente tem para a internet<br />

hoje? Ela é utilizada como meio <strong>de</strong> interligação <strong>de</strong> pessoas e conhecimento<br />

pelo mundo todo. A gente publica hoje, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma tese, que é publicada<br />

online na internet, e o mundo inteiro tem acesso. Não é como antigamente,<br />

que levava muito tempo para as pessoas terem acesso à informação.<br />

O computador está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser um equipamento tecnológico específico<br />

para ser <strong>de</strong> uso generalizado. O e-mail, por exemplo, é usado por quase<br />

todo o mundo. Os programas <strong>de</strong> bate-papo, tipo MSN, há senhorinhas usando;<br />

por exemplo, a minha ex-sogra, com 70 e tantos anos, acho que 75 anos,<br />

ela apren<strong>de</strong>u a usar o MSN para po<strong>de</strong>r falar com os filhos, que estão longe.<br />

Assim, ela po<strong>de</strong> conversar com os filhos, eles são <strong>de</strong> Salvador, BA, uma filha<br />

está no Maranhão, o outro está em São Paulo, e ela conversa com eles pelo<br />

MSN. Poxa! Essa é uma tecnologia que parece coisa <strong>de</strong> filme futurista a que<br />

a gente assistia quando era criança, que eu assistia quando era criança, acho<br />

que vocês não eram nem nascidos ainda.<br />

Coloquei uma página do facebook, só para exemplificar para vocês o<br />

que a gente tem <strong>de</strong> contato hoje, muito importante.


PALESTRAS 131<br />

Alguns fatores envolvidos no uso da internet:<br />

Em primeiro lugar, posso falar com alguém sem que ele saiba quem sou<br />

eu. Isso tem pontos positivos e pontos negativos, quando a gente for falar <strong>de</strong><br />

psicologia isso vai ficar bem claro. Em segundo lugar, o fator segurança, aquilo<br />

que estou falando com alguém esta sendo salvo. Minha mãe já dizia que,<br />

quando a gente for falar alguma coisa ruim <strong>de</strong> alguém, a gente tem <strong>de</strong> falar,<br />

não escrever, porque falar passa. Quando a gente escreve, anos e anos <strong>de</strong>pois<br />

ainda esta lá, eu fico imaginando isso no computador hoje, quando a maioria<br />

das relações passa pelo computador, po<strong>de</strong>m ser salvas. Terceiro, facilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uso e acesso cada vez maior. É um suporte social, querendo ou não, é<br />

um suporte social. Satisfação sexual, muitas vezes. A gente po<strong>de</strong> criar uma<br />

personalida<strong>de</strong> virtual. E, também, trata-se <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> reconhecimento<br />

e po<strong>de</strong>r porque cada vez mais você tem acesso a contextos diferentes.<br />

Eu vou ter <strong>de</strong> reduzir bastante a minha fala porque eu tinha preparado<br />

para mais tempo, mas tudo bem, sem problema.<br />

Alguns medos no uso da internet: a conexão é segura? Hoje em dia, a<br />

gente morre <strong>de</strong> medo <strong>de</strong> vírus, porque po<strong>de</strong>m acessar o computador da gente,<br />

cavalo <strong>de</strong> tróia, olha que legal:


132 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

“Sua intimida<strong>de</strong> acaba <strong>de</strong> ser divulgada com sucesso na internet e<br />

sem o seu conhecimento!”<br />

A gente morre <strong>de</strong> medo <strong>de</strong> que entrem no computador da gente. Este é<br />

um outro legal:<br />

Então, ele não está mentindo tanto, mas a gente nunca sabe exatamente<br />

com quem está conversando.<br />

Mais alguns medos: quando o acesso é feito por crianças ou por pessoas<br />

que não têm como discernir da on<strong>de</strong> vem essa informação, se essa informação<br />

é segura ou não, tanto que, quando a gente pe<strong>de</strong> pesquisa para vocês na


PALESTRAS 133<br />

internet, a gente fala: “olha, busquem sites seguros”, aqueles que sejam <strong>de</strong><br />

alguma forma científicos, porque qualquer um po<strong>de</strong> pôr qualquer coisa na<br />

internet. Eu posso inventar uma teoria completamente maluca e colocar na<br />

internet. E aí? Isso é real? Há várias novelas da Re<strong>de</strong> Globo que já trabalharam<br />

o caso <strong>de</strong> pedofilia na internet, acho que tem uma atualmente que está<br />

trabalhando com isso, se eu não estou enganada... Tem? Pois é.<br />

Então, vamos chegar agora ao que interessa para a gente, para tentarmos<br />

enten<strong>de</strong>r um pouquinho sobre qual é o papel do psicólogo no mundo<br />

hoje, nesta realida<strong>de</strong>.<br />

Primeiro tópico: terapia online. É possível fazer terapia online? Será que<br />

o psicólogo po<strong>de</strong> atuar online? Aten<strong>de</strong>r online? O computador está aí, a<br />

tecnologia está aí, e a necessida<strong>de</strong> também, e o que a gente faz? Só que aparecem<br />

coisas assim... Olha o site “Terapeutas Virtuais”, aí a cliente respon<strong>de</strong>ndo:<br />

“Ana... consegui, chega <strong>de</strong> e-mails sem fim... a uma hora <strong>de</strong>ssas você <strong>de</strong>ve<br />

estar em Monleva<strong>de</strong>... e eu aqui sem saber o que fazer da minha vida”.<br />

O primeiro software para terapia foi chamado <strong>de</strong> Eliza, e era baseado,<br />

teoricamente, nas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Rogers. Se vocês quiserem fazer o download da


134 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

internet, é possível, eu não consegui baixar para vocês darem uma olhada,<br />

porque meu computador não tinha o programinha que precisava, mas é fácil<br />

baixar, e ele vai te dando perguntas, e você vai respon<strong>de</strong>ndo, e ele usa suas<br />

próprias palavras para respon<strong>de</strong>r e fazer uma pergunta em cima daquilo.<br />

Acho que foge um tanto daquilo que Rogers dizia, <strong>de</strong> qualquer forma, porque<br />

é uma coisa muito repetitiva e tal, mas é uma primeira tentativa, vale a<br />

pena vocês darem uma pesquisada na internet, acho que vocês vão gostar <strong>de</strong><br />

conhecer. Ele é em inglês.<br />

Orientações psicológicas via e-mail: o e-mail está aí o tempo todo, e o<br />

terapeuta po<strong>de</strong> mandar alguma coisa para o cliente <strong>de</strong>le? Um texto <strong>de</strong> alguém,<br />

alguma coisa que possa ajudá-lo a pensar em alguma coisa, ou mesmo<br />

dizer, dar orientações via e-mail.<br />

O Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia tem algumas regras para isso, acho<br />

que é legal serem pontuadas. Depois a Cristina po<strong>de</strong> ajudar a gente a pensar<br />

um pouco sobre isso, mas o que o conselho <strong>de</strong>termina é que: terapia online<br />

não é permitida. Com exceções para pesquisa. Então, você po<strong>de</strong> fazer um<br />

site, mandar para o conselho, ele tem que te dar um selo <strong>de</strong> que foi aprovado<br />

pelo conselho, para você fazer pesquisas, para ver como a terapia online po<strong>de</strong><br />

ser usada. Existem algumas vantagens; por exemplo, imagina que eu sou<br />

uma brasileira e estou morando no Japão, não consigo falar a língua direito,<br />

não sei, não conheço, como é que eu vou fazer terapia, se eu precisar, com<br />

um terapeuta japonês? Muito difícil! De repente fazer terapia online do Japão,<br />

com um terapeuta que seja aqui do Brasil, seja muito melhor do que eu<br />

falar com um terapeuta que fala uma língua que não é a minha.<br />

Já citei alguns medos, mas e o que eu estou falando com o meu psicólogo?<br />

Está no computador, não está? Está seguro? Vai entrar alguém e acessar<br />

os registros? Porque computador é computador, entra vírus no nosso, po<strong>de</strong><br />

entrar no do terapeuta, e aí? Será que alguém vai ter acesso às nossas conversas?<br />

Como é que o terapeuta cobraria a terapia online? Tudo isso está sendo<br />

discutido, pensado, o conselho está pon<strong>de</strong>rando tudo isso, tentando enten<strong>de</strong>r,<br />

porque é uma necessida<strong>de</strong>, uma necessida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> para a gente<br />

hoje.<br />

A partir daí começo a falar um pouquinho sobre softwares, eu trouxe<br />

pra mostrar pra vocês os softwares que a gente vem trabalhando. Na verda<strong>de</strong>,<br />

eu <strong>de</strong>senvolvi uma primeira versão <strong>de</strong>sse software no meu doutorado. De-


PALESTRAS 135<br />

pois que eu terminei o doutorado, a gente fez uma segunda versão, tentando<br />

melhorá-lo, e agora, com o meu grupo querido <strong>de</strong> alunos aqui na UEL,<br />

estamos, com o apoio da Fundação Araucária, tentando montar a terceira<br />

versão <strong>de</strong>sse software. Ele tem mudado muito.<br />

Eu tinha trazido aqui, passo a passo, para mostrar para vocês, as dificulda<strong>de</strong>s,<br />

mas ia precisar <strong>de</strong> pelo menos mais quinze minutos, então eu não vou<br />

nem entrar nisso, eu só quero comentar um pouco com vocês a importância<br />

da utilização e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> softwares. Esse software, especificamente,<br />

que a gente <strong>de</strong>senvolveu, e está <strong>de</strong>senvolvendo essa terceira versão,<br />

ele tem o objetivo principal <strong>de</strong> ensinar alguns conceitos da Análise do<br />

Comportamento, incluindo dois específicos, que são: a Análise Funcional e<br />

o Procedimento <strong>de</strong> Reforço Diferencial <strong>de</strong> Comportamentos Alternativos.<br />

Por que esses conceitos específicos? Porque, como a gente trabalha em contexto<br />

<strong>de</strong> educação, tanto com os professores quanto com os pais, o DRA é<br />

um procedimento no qual a gente reforça comportamentos alternativos, ou<br />

seja, eu não trabalho com punição, eu trabalho ensinando coisas novas que<br />

serão comportamentos que eu posso reforçar, para que eles aumentem em<br />

frequência, e isso vai fazer com que uma criança, por exemplo, com um déficit<br />

intelectual possa ter um repertório com comportamentos novos e consi<strong>de</strong>rados<br />

socialmente a<strong>de</strong>quados. O DRA permite que a criança possa ser<br />

ensinada, e na educação especial, acredito, pela minha experiência, que esse<br />

seja um procedimento muito efetivo, e isso faz muita diferença, então a gente<br />

está tentando ensinar isso tudo a partir do software.<br />

Por enquanto, o que a gente tem conseguido é que o software seja uma<br />

introdução, usamos o software com o professor, e a partir <strong>de</strong> filmagens que a<br />

gente faz da prática do professor realizamos sessões <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o feedback.<br />

O software tem funcionado como um curso que <strong>de</strong>pois eu vou discutir<br />

com o professor, entre aspas, então a gente vai discutir essa capacitação com<br />

os professores, <strong>de</strong> uma maneira mais pontuada na própria prática <strong>de</strong>le, e isso<br />

tem tido resultados muitos legais. O nosso objetivo com essa terceira versão<br />

do software é tentar torná-lo um pouco mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssas sessões <strong>de</strong><br />

ví<strong>de</strong>o feedback, não sei o quanto nós vamos conseguir, mas o máximo que a<br />

gente conseguir valerá a pena.<br />

Porque, sempre que eu falo do software, as pessoas falam: “manda pra<br />

mim, manda pra mim, eu quero trabalhar com meus professores”. Mas é


136 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

muito difícil, porque o programa <strong>de</strong> capacitação na verda<strong>de</strong> tem uma segunda<br />

parte, e quem faz sou eu, ou seja, o pesquisador, eu faço essa parte do<br />

ví<strong>de</strong>o feedback. O meu objetivo é disponibilizar esse software, online mesmo,<br />

<strong>de</strong>ixar no site da UEL, para que as pessoas possam baixar e usar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a<br />

gente tenha acesso aos resultados disso, mas para isso é preciso realizar muitos<br />

testes ainda. Para que e para quem estamos fazendo isso? Para capacitar<br />

pais e professores, principalmente trabalhadores da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em geral,<br />

fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pedagogos, e, na escola, os professores,<br />

tanto da educação especial quanto da educação regular.<br />

Eu tinha falado um pouquinho das máquinas <strong>de</strong> ensinar, olha como<br />

eram as máquinas <strong>de</strong> ensinar na década <strong>de</strong> 60.


PALESTRAS 137<br />

As pessoas dizem assim: “Credo! Não dá pra apren<strong>de</strong>r com isso”. Mas<br />

vão te ensinar o que o Skinner coloca naquele livro Tecnologia <strong>de</strong> Ensino. A<br />

gente tem ali um comecinho, o computador hoje está muito distante disso,<br />

temos perspectivas muito maiores e complexas para trabalhar. As nossas necessida<strong>de</strong>s<br />

estão aumentando cada vez mais, a gente tem <strong>de</strong> correr atrás disso<br />

e acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias.<br />

Só pra vocês verem a carinha da primeira versão. Essa é a carinha da<br />

primeira versão: tinha a <strong>de</strong>finição do conceito na janela central e os nomes<br />

dos conceitos. A pessoa tinha <strong>de</strong> escolher qual combinava com o quê. Se<br />

acertasse, a carinha sorri<strong>de</strong>nte, se ela errasse, a carinha triste; tinha exemplos<br />

<strong>de</strong> cotidiano, o que é o conceito e tal.<br />

A segunda etapa fala <strong>de</strong> Análise Funcional, e a terceira etapa apresentava<br />

uma situação. Esse software foi <strong>de</strong>senvolvido para o doutorado, os participantes<br />

eram professores <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> educação especial para pessoas com<br />

déficit intelectual severo, com gran<strong>de</strong>s problemas <strong>de</strong> comportamento, que a<br />

literatura americana chama <strong>de</strong> comportamentos aberrantes, e a gente tinha<br />

ali uma situação real que acontecia em sala <strong>de</strong> aula com as professoras. A<br />

gente perguntava para ela o que ela faria, ela respondia e <strong>de</strong>pois apareciam<br />

algumas alternativas do que a professora po<strong>de</strong>ria fazer, e aí ela teria <strong>de</strong> selecionar<br />

qual era a alternativa que utilizava o procedimento <strong>de</strong> DRA para ser<br />

reforçado.


138 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Na segunda versão, por sugestão da banca <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do doutorado, acabamos<br />

incluindo uma fase <strong>de</strong> fading in para que não houvesse erros, essa é a<br />

versão que a gente está usando hoje no projeto <strong>de</strong> extensão em que estamos<br />

trabalhando. É o pessoal do projeto <strong>de</strong> pesquisa que trabalha comigo no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da versão 3. Vamos dar uma olhadinha rápida na “carinha”<br />

da versão 3.<br />

Essa é a versão 3, só um rascunho. Vai aparecer o conceito, a <strong>de</strong>finição<br />

do conceito, <strong>de</strong>pois aparecem a <strong>de</strong>finição e três exemplos, não vai dar tempo<br />

pra eu ler, quem se interessar me procure no <strong>de</strong>partamento, a gente conversa<br />

com calma. E aí aparece uma situação, e a pessoa vai ler essa situação e vai<br />

dizer se é verda<strong>de</strong>ira ou falsa. A gente mudou, porque aquele esquema das<br />

quatro janelas acabava ficando muito repetitivo, e era difícil, enfim, e assim<br />

vai. Não dá para falar muito para vocês, mas é isso.


PALESTRAS 139<br />

A gente tem gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s ao trabalhar com tecnologias. Tem<br />

professor que fala assim: “Computador! Credo! Não quero, não sei mexer!”.<br />

Outros dizem assim: “Computador? Esqueci meus óculos!”, quando nem<br />

usa óculos. A gente tem algumas dificulda<strong>de</strong>s com isso, mas a tecnologia está<br />

aí, ela é um instrumento bastante importante para a gente e, se alguém tiver<br />

alguma dúvida, ou quiser conhecer o software, saber do nosso trabalho, a<br />

gente está à disposição.<br />

Gostaria muito <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer novamente pelo convite e pela presença<br />

<strong>de</strong> vocês e parabenizar a comissão organizadora. Achei a iniciativa fantástica,<br />

parabéns pela idéia, e a todos vocês que trabalharam muito para que isso<br />

funcionasse, professores e alunos, muito obrigada!


140 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O PSICÓLOGO DO SÉCULO XXI:<br />

DESAFIOS E OPORTUNIDADES<br />

Kátya Luciane <strong>de</strong> Oliveira<br />

Depto. <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Quero agra<strong>de</strong>cer à mesa, às colegas, parabéns, hoje é o nosso dia, à<br />

comissão organizadora, e também falar que fiquei muito honrada com o<br />

convite e a indicação do meu <strong>de</strong>partamento, ao qual agra<strong>de</strong>ço.<br />

Quando comecei a montar minha apresentação, foi um <strong>de</strong>safio, porque<br />

eu sou da área <strong>de</strong> avaliação psicológica e fiquei pensando em falar alguma<br />

coisa na atualida<strong>de</strong> da minha área, mas eu também sou do Departamento <strong>de</strong><br />

Psicologia e Psicanálise, estou representando meu <strong>de</strong>partamento, então pensei<br />

em falar da atualida<strong>de</strong> da atuação do psicólogo com esse olhar, que é o psicólogo<br />

psicodinâmico, ou psicanalítico, e aí eu fui pensando <strong>de</strong> um modo mais<br />

abrangente que seria a atuação <strong>de</strong>sse psicólogo na atualida<strong>de</strong>.<br />

Então, vou falar para vocês um pouco sobre algumas práticas emergentes,<br />

até vou editar um pouco minha fala, porque a professora anterior, eu<br />

assisti à apresentação, ela falou muito melhor do que eu falaria, e eu vou<br />

tentar dar esse corte um pouco mais geral.<br />

Então, falando <strong>de</strong> práticas emergentes, pensei na nossa atuação, entrei<br />

no site do Conselho Fe<strong>de</strong>ral, aliás, acho que faz umas duas semanas que eu<br />

estou craque no site do conselho, no qual eu fui buscar as práticas <strong>de</strong> fato<br />

emergentes e discutidas no conselho: psicologia do trânsito e da mobilida<strong>de</strong><br />

humana. Aí eu fiquei pensando: a psicologia do trânsito, sou da área <strong>de</strong><br />

avaliação psicológica, nós temos as resoluções que nos amparam, fazemos a<br />

avaliação para carteira <strong>de</strong> habilitação e tudo o mais, mas o que é mobilida<strong>de</strong><br />

humana? E que tipo <strong>de</strong> atuação é essa, porque, quando a gente pensa em<br />

psicologia do trânsito, a gente pensa em avaliação para carteira profissional, e<br />

aí a professora já bem disse, mas imaginem vocês, alunos da UEL, quantos <strong>de</strong><br />

vocês já pensaram em trabalhar em psicologia do trânsito, não como perito<br />

avaliador, mas trabalhar com a mobilida<strong>de</strong> humana, pensar nessa organização


PALESTRAS 141<br />

social do espaço e nessa mobilida<strong>de</strong>, e isso estava na fala da professora também,<br />

se a gente pensa na questão do trânsito, tudo bem. Eu trouxe uma imagem<br />

do trânsito em São Paulo, muito clara, mas olha, gente, eu estou morando<br />

do outro lado da cida<strong>de</strong>, e eu tenho <strong>de</strong> atravessar e pegar a Goiás, eu <strong>de</strong>moro<br />

40 minutos para chegar em casa, e nós estamos falando <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Sair na hora do almoço, tentar atravessar a cida<strong>de</strong>... então, são espaços<br />

<strong>de</strong> atuação que eu entendo que teríamos. Eu peguei no site do conselho, e<br />

literalmente falam: “Em diversos países, os problemas causados pelo trânsito<br />

configuram-se, na perspectiva do meio ambiente, impacto na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida das pessoas, e não raros são os casos <strong>de</strong> alar<strong>de</strong> na saú<strong>de</strong> publica”. Não<br />

sei quantos <strong>de</strong> vocês têm filhos, mas vai <strong>de</strong>ixar a criança na hora do almoço<br />

e vai atravessar a Goiás, todo dia, o ano todo, pensa no impacto na saú<strong>de</strong> e<br />

na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

E, assim, foi a mobilida<strong>de</strong> humana que foi instigadora <strong>de</strong>sta fala, para<br />

que pudéssemos refletir não somente na atuação na área do trânsito como<br />

perito, mas como otimizador <strong>de</strong> uma melhoria na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das<br />

pessoas.<br />

Uma outra área <strong>de</strong> atuação que me chamou a atenção foi a Psicologia<br />

das Emergências e Desastres, e eu até fiquei refletindo, eu não sei bem<br />

como é isso aqui na nossa cida<strong>de</strong>, na nossa região. Mas, em âmbito nacional,<br />

chama-se a atenção para o seguinte: a maioria das coor<strong>de</strong>nadorias que<br />

po<strong>de</strong>ria auxiliar em momentos <strong>de</strong> crise, quando acontece algum <strong>de</strong>sastre,<br />

só existe no papel e só aparece quando o <strong>de</strong>sastre acontece, e aí eu fiquei<br />

refletindo, eu não me lembro <strong>de</strong> nenhuma ação pública na qual estivesse<br />

presente um psicólogo, prevenindo, falando <strong>de</strong> emergências e <strong>de</strong>sastres.<br />

Alguém aqui lembra? Não existe risco zero, o que po<strong>de</strong>mos é construir<br />

uma convivência com o risco. E do mesmo modo vocês, alunos da UEL,<br />

que forem para essa área, um território vasto na atuação <strong>de</strong> vocês, ainda<br />

mais no Brasil que é um país <strong>de</strong> dimensão continental, quantos <strong>de</strong>sastres<br />

naturais nós temos aqui no nosso país! Então, quantas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

inserção nós temos! Também pensei na atuação junto às questões ligadas à<br />

terra, que isso também vem sendo muito discutido no conselho fe<strong>de</strong>ral, a<br />

nossa atuação nos movimentos sociais, não só na <strong>de</strong>fesa da terra, em prol<br />

dos direitos indígenas, mas também na ocupação <strong>de</strong>ssa terra, e aí a gente<br />

tem os movimentos dos sem terra e tal.


142 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

E qual é a nossa participação nesse movimento? O conselho nos fala<br />

<strong>de</strong>ssa inserção, só que, como eu disse, eu nunca vi nada público da atuação<br />

do psicólogo nessa direção em nossa cida<strong>de</strong>, pelo menos não recentemente.<br />

Eu não sei, mas imagino que seja isso, nós temos formiguinhas fazendo esse<br />

tipo <strong>de</strong> atuação, no passo a passo, mas ainda são territórios a serem explorados,<br />

e aí vocês é que serão os psicólogos da atualida<strong>de</strong>, logo, têm a missão <strong>de</strong><br />

explorar, <strong>de</strong> fazer a área. Evi<strong>de</strong>ntemente, nós já temos áreas consolidadas,<br />

como a professora já falou, a psicologia organizacional, a psicologia clínica, a<br />

psicologia escolar, consolidada e tudo o mais. Mas temos tantas outras áreas<br />

<strong>de</strong> atuação a serem exploradas, que, olha, está na mão <strong>de</strong> vocês. Hoje eu falo<br />

para vocês: “Olha, quem viu uma atuação assim? Quem viu publicamente<br />

uma atuação assim?”. Ninguém levantou a mão. Quiçá, daqui a alguns anos,<br />

neste congresso, eu fale: “quem viu?”, e alguém me responda: “fui aluna da<br />

UEL, estou trabalhando nessa área, temos feito tais ações, com tais iniciativas<br />

e tudo o mais”. Quanto à questão da terra, lá no site do conselho nós<br />

temos o seguinte, essa é uma das questões mais sintomáticas da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira, na qual se expressa muita <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, e sua impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acesso leva ao sofrimento e à miséria.<br />

Depois achei alguma coisa que nem eu conhecia, que é a psicologia da<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, isso realmente eu não sabia, eu aprendi nessas duas semanas<br />

algumas coisas que eu falei: “puxa!”. Porque eu não sabia, e aí essa atuação na<br />

psicologia vai trabalhar com a psicologia, a epistemologia e a ética para um<br />

mundo sustentável. E aí eles chamam a atenção para o seguinte: há <strong>de</strong> haver<br />

uma discussão séria e comprometida acerca da atuação do psicólogo perante as<br />

emergências ambientais, e assim nós estamos falando da questão do meio<br />

ambiente, das calotas polares. Veja que é um tipo <strong>de</strong> atuação diferente, mais<br />

específica, daquela psicologia das emergências e <strong>de</strong>sastres. Eu até fiquei refletindo<br />

que <strong>de</strong>vem ter outras ações emergentes que eu não achei, e que está<br />

acontecendo neste exato momento, o que nos mostra o quanto somos dinâmicos<br />

e criativos na nossa atuação e o quanto <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho vocês terão<br />

pela frente, quanta possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação. E eu fiquei pensando, essas aí são<br />

as práticas que, a meu ver, foram as mais emergentes, talvez as mais atuais que<br />

encontrei no site do conselho fe<strong>de</strong>ral. E eu fiquei pensando na formação <strong>de</strong>sse<br />

psicólogo da atualida<strong>de</strong>, o campo <strong>de</strong> trabalho emergente da prática dinâmica e<br />

criativa, vocês veem que nós temos feito a nossa inserção, como eu disse, formiguinhas,<br />

mas temos essa inserção. Mas como que fica a formação? O que eu<br />

quero na formação <strong>de</strong> um psicólogo na atualida<strong>de</strong>?


PALESTRAS 143<br />

E aí, refletindo isso no nosso curso, o que os nossos <strong>de</strong>partamentos<br />

oferecem para os nossos alunos, para que eles sejam um psicólogo da atualida<strong>de</strong>?<br />

Aí, eu voltei ao site do conselho, como eu disse, faz duas semanas que<br />

eu estou montando e trabalhando esta apresentação, e eu fui vendo o que é<br />

a questão polêmica, como o conselho lida com a questão polêmica? O conselho<br />

tem lidado com flexibilida<strong>de</strong>, com cautela, com ética, com compromisso<br />

social, ora, e são exatamente essas as qualida<strong>de</strong>s que eu espero <strong>de</strong> um psicólogo.<br />

Do meu psicólogo da atualida<strong>de</strong>.<br />

Daqui pra frente, eu vou falar para vocês, não uma coisa nova, mas<br />

coisas que nós temos falado, os três <strong>de</strong>partamentos falam para os alunos,<br />

coisas que vocês já sabem, acerca da ética, do compromisso social, do respeito<br />

e do comprometimento. Voltando ao site do conselho fe<strong>de</strong>ral, nós temos<br />

discutido a diversida<strong>de</strong> sexual, quanta reflexão e quanta sensibilida<strong>de</strong> para<br />

tratar esse tema. O CFP, nos dias 17 e 19 <strong>de</strong> junho, apoiou o primeiro seminário<br />

<strong>de</strong> psicologia e diversida<strong>de</strong> sexual, e fala o seguinte: “Para o CFP, a<br />

psicologia e o sistema <strong>de</strong> conselhos <strong>de</strong>vem resgatar uma dívida histórica com<br />

a luta pela promoção da cidadania <strong>de</strong> lésbicas, gays, bissexuais e travestis”. E<br />

isso me fez refletir sobre a nossa militância, a nossa categoria profissional...<br />

Eu tenho mais 3 minutos?! Nossa! Eu nem comecei a falar! Questões interraciais,<br />

então, novamente a nossa militância, estamos <strong>de</strong> frente com a questão<br />

da raça, a discriminação velada, chega <strong>de</strong> discriminação! Vamos discutir<br />

amplamente essa questão, o que eu espero do meu psicólogo na atualida<strong>de</strong>?<br />

Racismo? Intolerância <strong>de</strong> raça, religiosa, sexual? É óbvio que não.<br />

Aí eu venho para a intolerância religiosa, que o conselho fe<strong>de</strong>ral tem<br />

discutido bastante, a questão da diversida<strong>de</strong> religiosa neste país, nós temos<br />

mesmo uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> religiosa, e isso tem <strong>de</strong> ser discutido amplamente.<br />

O conselho também tem atuado em questões polêmicas, e uma que<br />

eu trouxe aqui, que foi a militância do conselho frente ao Vaticano, que em<br />

linhas gerais propuseram que nós fizéssemos a avaliação <strong>de</strong> pessoas que queriam<br />

se tornar padres. E o conselho fez uma militância e proibiu, então, que<br />

nós fizéssemos a avaliação <strong>de</strong>ssas pessoas, porque nós não enten<strong>de</strong>mos a<br />

sexualida<strong>de</strong>, ou a opção sexual, como algo associado à doença, então nós<br />

vimos novamente a militância acontecendo. Também entendo que o conselho<br />

tenha sido efetivo na punição <strong>de</strong> condutas ina<strong>de</strong>quadas, e aí eu peguei só<br />

um caso para não me alongar, mas são 157 processos proferidos e julgados, e<br />

aqui uma censura pública <strong>de</strong> uma psicóloga que propunha tratamento a


144 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

homossexuais, ela foi exemplarmente punida, sofreu censura pública,<br />

corretíssima a postura do conselho.<br />

Aí nós temos no conselho, também, <strong>de</strong>bates online falando sobre a importância<br />

da informação: baixaria na TV, liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, luta contra<br />

o ato médico, redução da maiorida<strong>de</strong> penal, luta antimanicomial, atuação<br />

no sistema prisional, álcool e outras drogas, realização do exame criminológico.<br />

Com tudo isso, o que eu estou tentando falar para vocês é o seguinte: na<br />

realida<strong>de</strong>, parece crescente a construção i<strong>de</strong>ológica que nos permite maior<br />

flexibilida<strong>de</strong> e compreensão nos assuntos ligados à diversida<strong>de</strong>, é isso que eu<br />

espero do meu psicólogo na atualida<strong>de</strong>: compreensão e flexibilida<strong>de</strong>. Nós<br />

temos um compromisso ético e social, e eu entendo que nós temos muitos<br />

obstáculos a vencer, por isso, a promoção <strong>de</strong> discussões críticas sobre as<br />

gran<strong>de</strong>s implicações que acompanham a formação e a atuação do profissional<br />

em psicologia faz-se necessária como uma ferramenta <strong>de</strong> uma formação<br />

interveniente, problematizadora <strong>de</strong> um exercício ético-político <strong>de</strong>sse<br />

profissional, no contexto da socieda<strong>de</strong> geral. Por isso eu entendo a necessida<strong>de</strong><br />

da manutenção das abordagens clássicas, mas também parece pertinente<br />

a discussão acerca das dimensões atuais na psicologia, e aí eu acho<br />

que a gente tem muito a caminhar, o nosso curso se autocrítica.<br />

O psicólogo na atualida<strong>de</strong>, para mim, ele é ético, comprometido com<br />

as questões da profissão, ele é militante, ele não erra por ignorância, porque,<br />

como a professora falou da tecnologia, nós temos a tecnologia à mão,<br />

para ter acesso à informação, então ele não erra, não <strong>de</strong>veria pelo menos,<br />

por ignorância, porque conhece as leis que protegem os i<strong>de</strong>ais maiores <strong>de</strong><br />

nossa profissão. E, especialmente, o psicólogo da atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o direito<br />

à dignida<strong>de</strong> e à individualida<strong>de</strong> humana, conforme prevê a Declaração<br />

dos Direitos Humanos e também o nosso código <strong>de</strong> conduta ética<br />

profissional. Esse profissional é fiel aos seus i<strong>de</strong>ais filosóficos e<br />

metodológicos, respeitando sua abordagem e área <strong>de</strong> interesse, mas, acima<br />

<strong>de</strong> tudo, esse psicólogo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o ser humano, atuando pelo seu bem-estar.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma pessoa plural que não se atém a rivalida<strong>de</strong>s ligadas à<br />

escolha <strong>de</strong> abordagem <strong>de</strong> atuação.<br />

Assim sendo, para esse profissional da atualida<strong>de</strong>, eu não falo cognitiva,<br />

eu não falo comportamental, eu não falo social ou psicanalítica, eu falo psicologia,<br />

por que nós somos uma única categoria profissional, é isso que eu<br />

espero do psicólogo da atualida<strong>de</strong>, é isso que nós professores dos três <strong>de</strong>par-


PALESTRAS 145<br />

tamentos esperamos dos psicólogos na atualida<strong>de</strong>. E isso só é possível com<br />

ética e compromisso, só isso. Damos um passo em direção à formação do<br />

psicólogo na atualida<strong>de</strong>, neste congresso, porque, afinal <strong>de</strong> contas, durante<br />

esta semana <strong>de</strong>mos uma aula <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> e cooperação, <strong>de</strong>monstrando aos<br />

nossos alunos que é possível a convivência e o diálogo entre os representantes<br />

<strong>de</strong> diferentes perspectivas teóricas na psicologia. Nós não somos uma<br />

igreja, nós somos uma categoria profissional, psicólogo. Por isso agra<strong>de</strong>ço ao<br />

belo trabalho dos três <strong>de</strong>partamentos, que mostraram como formar o psicólogo<br />

na atualida<strong>de</strong>.


RESUMOS – PÔSTERES


A ADOLESCÊNCIA E A QUESTÃO DA ESCOLHA<br />

PROFISSIONAL<br />

Alfredo J. Sallum; Amanda Camilotti Siqueira, Camila Belavenuta<br />

Pinto; Daniele Aline Lacerda <strong>de</strong> Lima; Rosemarie Elizabeth Schimidt<br />

Almeida; Tamires Pereira Carvalho<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A adolescência é um período <strong>de</strong> transição e ajustamento no qual ocorrem<br />

diversas mudanças, pois se refere a um acontecimento que vai além <strong>de</strong><br />

modificações corporais, com isso, faz-se uma leitura <strong>de</strong>sse período como sendo<br />

um fenômeno biopsicossocial, pois envolve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o aparecimento <strong>de</strong><br />

caracteres sexuais, como todas as relações que o adolescente estabelece com<br />

o mundo e consigo mesmo. Esta fase do <strong>de</strong>senvolvimento humano revela-se<br />

como um período da formação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, em que o adolescente se vê<br />

obrigado a “aceitar” essas mudanças que acontecem em sua totalida<strong>de</strong>. De<br />

tal modo, o adolescente está ingressando no mundo adulto e a socieda<strong>de</strong><br />

espera que este comece a traçar seu futuro ao escolher uma profissão. Sendo<br />

assim, o presente estudo teve como objetivo analisar quais as implicações<br />

que essas mudanças têm na escolha <strong>de</strong> uma carreira profissional e como a<br />

orientação vocacional po<strong>de</strong> contribuir nesse sentido, assim como, favorecer<br />

a capacitação acadêmica dos alunos envolvidos no projeto <strong>de</strong> orientação<br />

vocacional da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico no banco <strong>de</strong> dados<br />

Scielo e em autores da Psicanálise, entre os anos <strong>de</strong> 1995 e 2009, utilizando<br />

como palavras-chave: adolescência, orientação vocacional e escolha<br />

profissional. Durante a mesma, po<strong>de</strong>-se notar que não existem muitos artigos<br />

sobre a adolescência e seu <strong>de</strong>senvolvimento relacionados com as escolhas<br />

profissionais. Com relação aos estudos feitos, po<strong>de</strong> ser observado que<br />

há um enfoque sobre sexualida<strong>de</strong>, drogas na adolescência em <strong>de</strong>trimento da<br />

questão da escolha profissional. Outrossim,os que abordam a questão da<br />

escolha profissional voltados para a modalida<strong>de</strong> estatística. Assim, fica evi<strong>de</strong>nte<br />

que a temática da escolha profissional na adolescência carece <strong>de</strong> mais<br />

estudos, uma vez que, a adolescência revelou-se como uma etapa crítica e <strong>de</strong><br />

muitas transformações, das quais po<strong>de</strong>m influenciar diretamente na escolha


150 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

<strong>de</strong> uma carreira. Tais resultados ressaltam a importância da modalida<strong>de</strong> clínica,<br />

que consi<strong>de</strong>ra os múltiplos aspectos do <strong>de</strong>senvolvimento do adolescente,<br />

a questão da escolha vocacional e profissional e sua complexida<strong>de</strong>. Bem<br />

como, a função psicoprofilática do processo <strong>de</strong> orientação vocacional neste<br />

período da vida, como um fator <strong>de</strong> apoio para o bem estar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida dos adolescentes.<br />

Palavras-chave: adolescência; <strong>de</strong>senvolvimento; orientação vocacional.<br />

Referências<br />

ABERASTURY, A; KNOBEL, M. Adolescência Normal. 10ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas,<br />

1981.<br />

ABREU,R.E. Influência da família, da escola e da escolha profissional na <strong>de</strong>terminação<br />

do perfil psicossocial dos adolescentes. Dissertação. <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

1999.<br />

BOHOSLAVSKY, R. O Quadro <strong>de</strong> Referência. In: Orientação Vocacional: a estratégia<br />

clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1993. pg. 72-90.<br />

OTEIRAL, J. Adolescer: estudos revisados sobre a adolescência. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter,<br />

2003.


RESUMOS 151<br />

A ESCUTA DO ADOLESCENTE:<br />

AS DIVERSIDADES DA TRANSIÇÃO<br />

Nathalia Gonçalves, Franciele Tiemi da Silva, Sergio Kazuyoshi Fuji,<br />

Silvia Nogueira Cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A adolescência é consi<strong>de</strong>rada a passagem da infância para a vida adulta;<br />

para a psicanálise as mudanças <strong>de</strong>correntes do processo <strong>de</strong> puberda<strong>de</strong>, que<br />

perturbam a imagem corporal da infância, são acompanhadas da angustia <strong>de</strong><br />

crescer, uma montagem <strong>de</strong>sarrumada do ‘i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> eu’, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> processos<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e estruturação subjetiva. Essa fase que já se apresenta <strong>de</strong><br />

forma crítica com as mudanças inerentes <strong>de</strong>sse processo, po<strong>de</strong> ser marcada<br />

por algo externo, peculiar a vida <strong>de</strong> cada um, afetando <strong>de</strong> forma singular essa<br />

transição. O trabalho preten<strong>de</strong> fazer uma discussão teórico-prática, a partir<br />

da experiência da escuta psicanalítica, buscando compreen<strong>de</strong>r as peculiarida<strong>de</strong>s<br />

que marcam a clínica com um adolescente que vive uma transição <strong>de</strong><br />

vida e cultural. Traremos o exemplo vivenciado no estágio clínico curricular<br />

do 5º ano do curso <strong>de</strong> Psicologia, do atendimento <strong>de</strong> uma adolescente <strong>de</strong> 15<br />

anos, que nasceu e viveu até os 12 anos no Japão, quando sua família brasileira<br />

resolve retornar ao Brasil. Esta mudança acontece então concomitante<br />

com sua entrada na puberda<strong>de</strong>. A questão da ‘adaptação’ a uma cultura diferente<br />

é o que mobiliza a mãe da paciente buscar atendimento psicológico<br />

para sua filha. Os costumes <strong>de</strong> países como o Japão e o Brasil em muitos<br />

pontos são notavelmente diferentes, algo marcado no discurso dos pais da<br />

cliente, pelas palavras ‘esperteza dos brasileiros’ e ‘ingenuida<strong>de</strong>’ da filha. A<br />

filha, assim como os pais, traz a imagem <strong>de</strong> um Japão i<strong>de</strong>alizado, <strong>de</strong>positário<br />

<strong>de</strong> algo que aqui não encontram mais. Essa imagem do Japão, trazida pela<br />

adolescente, po<strong>de</strong> ser associada a algo <strong>de</strong> sua vida que ficou perdido ao qual<br />

não se po<strong>de</strong> mais voltar, algo como a infância; a mudança da infância para<br />

adolescência ficou marcada pela mudança <strong>de</strong> país. Verificamos que a mudança<br />

não trouxe apenas consequências para a filha, a família como um todo<br />

passa por uma reorganização, tanto no que diz respeito aos costumes, quantos<br />

nas condições materiais. As novas condições acabam acentuando questões<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento entre o casal e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar as posições


152 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

dos pais e filhos na dinâmica familiar. Essa estrutura ten<strong>de</strong> ao cerceamento<br />

da filha, colocando-a no lugar da ‘ingênua’, dificultando o processo <strong>de</strong> separação/<br />

individuação necessário nesta fase. A paciente encontra num grupo<br />

<strong>de</strong> música típica do Japão uma saída, na qual po<strong>de</strong> se confrontar com outros<br />

discursos do que é ser brasileiro, japonês, ter ou não ter vergonha e outras<br />

questões suas, ainda que seja um espaço <strong>de</strong>limitado por seus pais, pois é um<br />

dos poucos que ela po<strong>de</strong> freqüentar sozinha. O fato <strong>de</strong> não ser o adolescente<br />

que busca por atendimento e sim seus pais a partir <strong>de</strong> suas próprias <strong>de</strong>mandas,<br />

interfere no andamento do atendimento, notado nesse caso pelas recorrentes<br />

faltas da paciente em razão <strong>de</strong> intercorrentes que afetaram seus pais.<br />

Assim, repensamos o espaço terapêutico, a partir <strong>de</strong> intervenções ocorridas<br />

no cotidiano além das sessões, proporcionando a adolescente um espaço no<br />

qual pu<strong>de</strong>sse se colocar enquanto sujeito <strong>de</strong> seu discurso, rompendo com a<br />

dinâmica vivida em sua casa.<br />

Palavras-chave: adolescência, escuta clínica, singularida<strong>de</strong> cultural.<br />

Referências<br />

CHECCHINATO, Durval. Psicanálise <strong>de</strong> pais: criança, sintoma dos pais. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Companhia <strong>de</strong> Freud, 2007.<br />

DOR, J. Introdução. In: _________ O Pai e sua Função em Psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Jorge Zahar Editor, 1991.<br />

KUSNETSOFF, Juan Carlos. Psicoterapia breve na adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas,<br />

1993.<br />

RASSIAL, Jean Jacques. O adolescente e o psicanalista. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Companhia <strong>de</strong> Freud,<br />

1999.


RESUMOS 153<br />

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:<br />

CONCEITUANDO A TEMÁTICA A PARTIR DE<br />

PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DA<br />

CIDADE DE LONDRINA<br />

Cibely Francine Pacífico, Bruno Aurélio da Silva Finoto, Celina Sayuri<br />

Nakamura, Eliza Dieko Oshiro Tanaka<br />

A visão sobre as pessoas com Altas Habilida<strong>de</strong>s/Superdotação mudou<br />

ao longo da história. No começo, estudiosos do assunto utilizavam termos<br />

como “indivíduo excepcional”, “pessoa brilhante” ou “intelectualmente dotado”,<br />

para <strong>de</strong>signar as pessoas cujo QI estava acima <strong>de</strong> 110 pontos, nos<br />

testes <strong>de</strong> inteligência (Telford e Sawrey, 1978). Algumas pesquisas (Alencar,<br />

2003, 2007; Maia-Pinto & Fleith, 2004; Pérez, 2003) mostram que há falta<br />

<strong>de</strong> informação ou concepções errôneas sobre as pessoas com Altas Habilida<strong>de</strong>s/Superdotação<br />

por parte da população geral, o que dificulta o entendimento<br />

sobre o tema, a i<strong>de</strong>ntificação e o atendimento <strong>de</strong>ssas pessoas, já que<br />

estes são processos em conjunto com os profissionais da área e as pessoas<br />

que convivem com o sujeito com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação. Assim, o<br />

presente trabalho dispõe-se a analisar o conhecimento e informações que<br />

alguns professores das re<strong>de</strong>s estaduais do ensino fundamental da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Londrina</strong> possuem acerca das altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, e as suas ações<br />

frente ao aluno que possui essa condição. A população alvo será formada por<br />

6 professores da quinta série <strong>de</strong> escolas estaduais do ensino fundamental, da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (PR), <strong>de</strong> ambos os sexos e <strong>de</strong> diferentes faixas etárias e<br />

tempo <strong>de</strong> atuação. Como instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados serão utilizadas<br />

entrevistas semi-dirigidas, na qual são abordados aspectos relacionados às<br />

concepções do profissional acerca da pessoa com altas habilida<strong>de</strong>s/<br />

superdotação, bem como o modo <strong>de</strong> agir frente um aluno com alta habilida<strong>de</strong>/superdotação<br />

e as dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos profissionais sobre essa<br />

temática. Na pesquisa serão utilizados MP3 para a gravação das entrevistas,<br />

papel e caneta para anotações. Na etapa 1 será realizado um levantamento<br />

bibliográfico sobre o tema. Na etapa 2 será elaborado um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> entrevista<br />

semi-estruturada, um levantamento das escolas estaduais do ensino fun-


154 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

damental da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> pela internet através do site do Núcleo<br />

Regional <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, posteriormente serão selecionadas por meio<br />

<strong>de</strong> sorteio 9 escolas, e <strong>de</strong>stas 3 para a realização da pesquisa. Na etapa 3 será<br />

feita uma lista dos professores <strong>de</strong> quinta série <strong>de</strong> cada escola selecionada, e<br />

então serão selecionados aleatoriamente 2 professores <strong>de</strong> cada escola os quais<br />

participarão da entrevista, um termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido<br />

será entregue ao entrevistado. A entrevista será gravação e posteriormente<br />

transcrita. Na etapa 4 as entrevistas serão analisadas a partir do referencial<br />

teórico e submetidas a uma análise do conteúdo. A presente pesquisa terminou<br />

a etapa 2 e esta com a entrevista pronta, caminhando para a 3º etapa.<br />

Os resultados serão informados aos participantes e a comunida<strong>de</strong> científica,<br />

e espera-se contribuir para possíveis intervenções com profissionais da educação,<br />

além <strong>de</strong> contribuir também para a ampliação do estudo referente à<br />

temática das Altas Habilida<strong>de</strong>s/Superdotação.<br />

Palavras-chave: altas habilida<strong>de</strong>s, superdotação, concepção.<br />

Referências<br />

ALENCAR, E. M. L. S. (2003). O aluno com altas habilida<strong>de</strong>s no contexto da Educação<br />

Inclusiva. Revista Movimento, 7, 61-68.<br />

ALENCAR, E. M. L. S. (2007). A construção <strong>de</strong> práticas educacionais para alunos com altas<br />

habilida<strong>de</strong>s/superdotação. In: FLEITH, D. S. (Org.). Indivíduos com altas habilida<strong>de</strong>s/<br />

superdotação: clarificando conceitos, <strong>de</strong>sfazendo idéias errôneas. Brasília: Ministério da Educação,<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação Especial.<br />

MAIA-PINTO, R. R.; FLEITH, D. S. (2004). Avaliação das práticas educacionais <strong>de</strong> um<br />

programa <strong>de</strong> atendimento a alunos superdotados e talentosos. Psicologia Escolar e Educacional,<br />

8(1), 55-56.<br />

PÉREZ, S. G. P. B. (2003). Mitos e crenças sobre as pessoas com altas habilida<strong>de</strong>s: alguns<br />

aspectos que dificultam o seu atendimento. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Educação Especial, 22(2), 45-59.<br />

TELFORD, C. W.; SAWREY, J.M. (1978) O Indivíduo Excepcional. 3ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar.


RESUMOS 155<br />

ANÁLISE DO NÍVEL DE ESTRESSE EM ESTUDANTES<br />

DO CURSO DE PEDAGOGIA, DO SEXO FEMININO,<br />

PERÍODO MATUTINO E NOTURNO, DA<br />

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA<br />

Amanda Morais, Angélica Cubas Duarte, Angélica Polvani Trassi,<br />

Ariadne Susuki <strong>de</strong> Lima, Carla Giovanna Belei Martins, Priscilla Araújo<br />

Taccol<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Des<strong>de</strong> as últimas décadas a mulher tem se apresentado mais suscetível a<br />

níveis <strong>de</strong> estresse elevados, <strong>de</strong>vido ao um acúmulo <strong>de</strong> funções. Assim o presente<br />

trabalho teve como objetivo analisar o nível <strong>de</strong> estresse <strong>de</strong> estudantes<br />

do curso <strong>de</strong> pedagogia da segunda e terceira série do sexo feminino, da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, e comparar o nível <strong>de</strong> estresse <strong>de</strong> tais séries.<br />

Foram entrevistados 88 estudantes do sexo feminino <strong>de</strong> ambos os períodos e<br />

séries, entre os meses <strong>de</strong> maio e junho <strong>de</strong> <strong>2010</strong>. Eles respon<strong>de</strong>ram ao Inventário<br />

<strong>de</strong> Sintoma <strong>de</strong> Estresse para Adultos <strong>de</strong> Lipp (ISSL), adicionado <strong>de</strong><br />

carga horária (estágio ou trabalho), se possui filhos ou não e o período <strong>de</strong><br />

estudo (matutino ou noturno). Tal inventário é importante, pois, além <strong>de</strong><br />

avaliar se o indivíduo possui ou não estresse, ainda permite i<strong>de</strong>ntificar em<br />

qual nível <strong>de</strong> estresse o sujeito se encontra: Alerta, Resistência, Quase-Exaustão<br />

e Exaustão. Das 88 entrevistadas, 78% apresentaram estresse, 80% pertencem<br />

ao período matutino, enquanto, 77% pertencem ao período noturno.<br />

As percentagens dos níveis <strong>de</strong> estresse para o período matutino foram: 20%<br />

para Não Estresse, 49% para fase <strong>de</strong> Resistência, 7% para Exaustão e 24%<br />

para Agravamento. Portanto, o período Matutino não apresentou a fase <strong>de</strong><br />

Quase-Exaustão. Já no período noturno 23% não apresentaram estresse, 36%<br />

se encontravam na fase <strong>de</strong> Resistência, 2% na fase <strong>de</strong> Quase-Exaustão, 21%<br />

na Fase <strong>de</strong> Exaustão e 17% na fase <strong>de</strong> Agravamento. Das mulheres que disseram<br />

ser solteiras e não ter filhos, a taxa <strong>de</strong> estresse foi 81% contra 74%<br />

daquelas que respon<strong>de</strong>ram serem casadas ou com filhos. No que diz respeito<br />

a faixa etária, as estudantes que mais apresentaram estresse possuem entre<br />

42 a 50 anos, com porcentagens equivalentes a 100%, contudo, há <strong>de</strong> se


156 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

levar em consi<strong>de</strong>ração que a amostra nessas faixas é pequena. Dentre as<br />

ida<strong>de</strong>s que apresentaram elevada porcentagem <strong>de</strong> estresse, se <strong>de</strong>stacaram<br />

18-22 anos (84%) e 22-26 anos (73%). Em relação a carga horária, seja esta<br />

<strong>de</strong> estudo ou <strong>de</strong> trabalho, as entrevistadas que mais se mostraram estressadas<br />

apresentaram carga horária entre 4 e 7 horas (90%) e 10 e13 horas semanais<br />

(83%) – aqui novamente <strong>de</strong>ve-se levar em conta que o número <strong>de</strong> estudantes<br />

que disseram possuir carga semanal entre 4 e 7 horas é menor que os que<br />

afirmaram ter carga entre 10 e 13 horas. Portanto, po<strong>de</strong>-se concluir que apesar<br />

do número da amostra não ter sido pequeno em alguns casos, a maioria<br />

dos entrevistados apresentou estresse (78%), e a maioria <strong>de</strong>stes encontra-se<br />

na fase <strong>de</strong> Resistência, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do período em que estuda. Para<br />

uma conclusão mais fi<strong>de</strong>digna dos resultados seria necessária uma análise<br />

estatística <strong>de</strong> tais dados, uma vez que muitos resultados não foram os esperados,<br />

como o fato <strong>de</strong> mulheres solteiras e sem filhos serem mais estressadas<br />

que as casadas ou com filhos.<br />

Palavras-chave: Nível <strong>de</strong> estresse, estudantes <strong>de</strong> pedagogia, sexo feminino.<br />

Referências<br />

LIPP, M. E. N.. O mo<strong>de</strong>lo quadrifásico do stress. In: LIPP, M.E.N.(org) Mecanismos<br />

Neuropsicofisiológicos do Stress: Teoria e Aplicações Clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo,<br />

2003. cap. 1, p. 17-22.<br />

TANGANELLI, Maria do Sacramento. O Treino <strong>de</strong> Controle do Stress Aplicado a Mulheres.<br />

In: LIPP, Marilda Emanuel Novaes (org). Mecanismos neuropsicológicos do Stress:<br />

Teoria e Aplicações Clinicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. cap. 34, p. 205-210.


RESUMOS 157<br />

APLICAÇÃO DO INVENTÁRIO DE FOBIA SOCIAL (SPIN)<br />

EM ESTUDANTES DOS CURSOS DE CIÊNCIAS EXATAS,<br />

BIOLÓGICAS E HUMANAS DA UNIVERSIDADE<br />

ESTADUAL DE LONDRINA<br />

Angela Maria Zechim Luziano da Silva, Jamille Mansur Lopes,<br />

Karen Caroline <strong>de</strong> Oliveira Rancura, Larissa <strong>de</strong> Oliveira Palla,<br />

Naiara Luciano Borri<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Sentir-se tímido, ansioso e inseguro em certas situações, ou diante <strong>de</strong><br />

ambientes e pessoas <strong>de</strong>sconhecidas é um fato muito comum atualmente.<br />

Esse grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto varia <strong>de</strong> pessoa para pessoa <strong>de</strong> acordo com a situação.<br />

Embora seja normal ficar pouco à vonta<strong>de</strong> nessas ocasiões, à medida<br />

que se expõe a essas situações a maioria das pessoas constatam que conseguem<br />

lidar com situações semelhantes e passam a se expor mais. Entretanto,<br />

existem indivíduos que tentam se expor a tais situações e tem uma experiência<br />

mal sucedida provavelmente fogem <strong>de</strong>ssas experiências e <strong>de</strong> quaisquer<br />

experiências que possam evocar tais reações e ficam apavorados somente em<br />

pensar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver tais momentos.Chegam ao extremo <strong>de</strong> evitar<br />

qualquer contato social, <strong>de</strong>senvolvendo um comportamento que se reflete<br />

em vários setores e compromete a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Evolutivamente, sempre foi vantajoso respon<strong>de</strong>r com ansieda<strong>de</strong> a certas<br />

situações ameaçadoras. Nestas situações o nosso corpo fica em estado <strong>de</strong><br />

alerta, se preparando para luta ou fuga, bombeando o sangue mais rápido<br />

para os orgãos que serão utilizados, por exemplo, e diminuindo assim o tempo<br />

<strong>de</strong> preparo <strong>de</strong> resposta a estas situações, aumentando a nossa chance <strong>de</strong><br />

escapar ou vencer o perigo (NARDI, 1999).<br />

Para a análise do comportamento a ansieda<strong>de</strong> é um evento privado, um<br />

estado emocional experenciado e não sentido (ou interpretado). Ela é atribuída<br />

a partir <strong>de</strong> práticas culturais e <strong>de</strong>sse modo, não só a ansieda<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>terminados<br />

eventos privados passam a ser nomeados e <strong>de</strong>scritos. (TORRES,<br />

2000).<br />

Segundo BANACO e ZAMIGNANI (2005) a ansieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida<br />

como um fenômeno clínico quando impe<strong>de</strong> que o indivíduo realize


158 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas, implica em gran<strong>de</strong> grau <strong>de</strong> sofrimento para o<br />

próprio indivíduo, fazendo com que as respostas <strong>de</strong> fuga e evitação <strong>de</strong>ste<br />

frente aos estímulos discriminativos ocupem gran<strong>de</strong> parte do seu dia.<br />

Para diminuir ou controlar os sintomas <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social, todos preparam-se<br />

para situações <strong>de</strong> exposição, tanto na aparência, como no comportamento<br />

e no treinamento (ensaiar na frente <strong>de</strong> um espelho, por ex.). Assim,<br />

po<strong>de</strong>-se falar <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social normal contrastando com a ansieda<strong>de</strong> social<br />

anormal ou patológica – a fobia social ou o transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social<br />

(NARDI, 1999).<br />

O padrão comportamental característico dos transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> acordo com gran<strong>de</strong> parte da literatura, é a esquiva fóbica: na presença <strong>de</strong><br />

um evento ameaçador ou incômodo, o indivíduo emite uma resposta que<br />

elimina, ameniza ou adia esse evento (BANACO e ZAMIGNANI, 2005).<br />

Estima-se que <strong>de</strong> 5% a 13% da população geral apresentem sintomas<br />

fóbicos sociais que resultem em diferentes graus <strong>de</strong> incapacitação e limitações<br />

sociais e ocupacionais (NARDI, 1999).<br />

Assim, pessoas com fobia social po<strong>de</strong>m ser acometidas por uma ansieda<strong>de</strong><br />

incapacitante ao <strong>de</strong>parar-se com ativida<strong>de</strong>s rotineiras, como assinar um<br />

documento na frente dos outros, usar o telefone, ou comer num lugar público<br />

(NARDI, 1999). Tais situações são consi<strong>de</strong>radas comuns pela maioria das<br />

pessoas e o medo crônico e persistente pelos indivíduos com fobia social é<br />

percebido como sem causa aparente. A pessoa com fobia social teme agir <strong>de</strong><br />

um modo ou mostrar sintomas <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> que lhe sejam humilhantes e<br />

embaraçosos, e a exposição à situação social temida provoca uma resposta <strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong> intensa, que po<strong>de</strong> chegar a um ataque <strong>de</strong> pânico. A pessoa geralmente<br />

evita estas situações ou as suporta com intenso sofrimento.<br />

Segundo o Manual Diagnóstico Estatístico <strong>de</strong> Doenças Mentais - DSM-<br />

IV-TR elaborado pela Associação Americana <strong>de</strong> Psiquiatria - APA e utilizado<br />

como referência por profissionais da saú<strong>de</strong> (APA, 2002), a fobia social é<br />

apontada como um item da subdivisão dos transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e “caracteriza-se<br />

por ansieda<strong>de</strong> clinicamente significativa provocada pela exposição<br />

a certos tipos <strong>de</strong> situações sociais ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, freqüentemente<br />

levando ao comportamento <strong>de</strong> esquiva”.<br />

A fobia social é incluída como categoria distinta nos dois critérios diagnósticos<br />

mais usados – no Manual Diagnóstico e Estatístico <strong>de</strong> Transtornos Men-


RESUMOS 159<br />

tais, 4 a edição (DSM-IV), a fobia social está incluída nos “Transtornos <strong>de</strong><br />

Ansieda<strong>de</strong>”; na Classificação Estatística Internacional <strong>de</strong> Doenças e Problemas<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 10 a Revisão (CID-10), na classificação <strong>de</strong> transtornos mentais<br />

e comportamentais está agrupada como “Transtornos Fóbicos <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong>”.<br />

O que se po<strong>de</strong> verificar é que apesar da diferenciação há uma estrita<br />

concordância entre as duas classificações no que se refere aos seus sintomas,<br />

já que os que sofrem <strong>de</strong> fobia social têm a expectativa <strong>de</strong> que serão avaliados<br />

negativamente em situações on<strong>de</strong> tenham <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar ações sendo observados.<br />

O medo <strong>de</strong>ssas situações e a ansieda<strong>de</strong> provocada quando têm <strong>de</strong><br />

ser enfrentadas é tão intenso que leva o indivíduo a não <strong>de</strong>sejar e a evitar<br />

ativida<strong>de</strong>s em público e situações on<strong>de</strong> tais possibilida<strong>de</strong>s possam surgir.<br />

Os sintomas físicos mais comuns da fobia social são relatados como<br />

taquicardia, palpitações, sudorese, rubor, diarréia, sensação <strong>de</strong> afundamento<br />

no estômago, problemas gastrointestinais, dor <strong>de</strong> cabeça, urgência urinária,<br />

respiração curta e sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>smaio (D’EL REY E PACINI, 2006).<br />

Verifica-se que é bastante <strong>de</strong>scrito na literatura que fóbicos sociais possuem<br />

menos interações sociais do que a maioria dos indivíduos. Logo, possuem<br />

menos amigos, namoros e relações sexuais, comparados à população<br />

geral ou a pacientes com outros transtornos ansiosos (ALDEN & TAYLOR,<br />

2004; TURNER, BEIDEL, DANCU & KEYS, 1986 apud D’EL REY E<br />

PACINI, 2006). Isto ocorre por causa da história passada aversiva <strong>de</strong>stes indivíduos,<br />

ao se esquivar <strong>de</strong> situações semelhantes às vivenciadas que lhe foram<br />

<strong>de</strong>sagradáveis, se expõem menos e por isso tem menos interações. Segundo<br />

Bryant e Trower (1974 apud BANDEIRA M. e QUAGLIA M, 2005),<br />

a fobia social entre jovens resulta no fracasso nas ativida<strong>de</strong>s acadêmicas e até<br />

na dificulda<strong>de</strong> dos estudantes em completar o curso iniciado, além <strong>de</strong> gerar<br />

outros comportamentos característicos da fobia social como dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

utilizar transportes públicos, andar na rua e ir a restaurantes ou shopping.<br />

A partir disso alguns questionários e inventários sobre fobia social vêm<br />

sendo <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>vido à praticida<strong>de</strong> dos instrumentos <strong>de</strong><br />

autopreenchimento, que reduzem o custo e o tempo das pesquisas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que sejam instrumentos <strong>de</strong> medidas validados e utilizados por outros pesquisadores,<br />

poupam à pesquisa tempo e dinheiro. Para o estudo <strong>de</strong> fobia social<br />

em jovens e universitários po<strong>de</strong>-se utilizar tradução, a adaptação cultural e a<br />

validação do Social Phobia Inventory (SPIN).


160 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Devindo a um déficit <strong>de</strong> estudos em Fobia em universitários torna-se<br />

evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver mais pesquisas nessa área, além da<br />

elaboração <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> medida e avaliações que auxiliem nessas pesquisas.<br />

Pressupõe-se que o fato <strong>de</strong> os estudantes do centro <strong>de</strong> ciências humanas<br />

trabalharem mais freqüente e diretamente com pessoas e terem um número<br />

maior <strong>de</strong> interações sociais, possibilita também um melhor e maior <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s sociais resultando, conseqüentemente, em<br />

um menor grau <strong>de</strong> fobia social. Partindo <strong>de</strong>ste princípio investigaremos se os<br />

alunos do centro <strong>de</strong> ciências biológicas e do centro <strong>de</strong> ciências exatas, que<br />

em seu trabalho possuem um menor contato social, <strong>de</strong>senvolveram menos<br />

habilida<strong>de</strong>s sociais e graus mais altos <strong>de</strong> fobia social.<br />

Palavras-chave: Fobial Social, Habilida<strong>de</strong>s-Sociais, Universitários<br />

Objetivo<br />

t Aplicar o inventário SPIN em universitários dos centros <strong>de</strong> humanas,<br />

exatas e biológicas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

t Comparar os resultados dos inventários verificando se há diferença<br />

do grau <strong>de</strong> fobia dos universitários dos centros <strong>de</strong> humanas, exatas e<br />

biológicas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.<br />

Metodo<br />

O presente estudo foi realizado no calçadão e em salas <strong>de</strong> aulas, com<br />

universitários dos centros <strong>de</strong> ciências exatas, biológicas e humanas, <strong>de</strong> segunda<br />

e terceira séries. O instrumento utilizado foi o Social Phobia Inventory<br />

(SPIN), que possui 17 itens e verificam o medo, os sintomas somáticos e a<br />

evitação das situações. Este inventário vai englobar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />

interação social até o <strong>de</strong>sempenho do participante. As respostas em relação<br />

<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> variam entre De forma alguma a Extremamente, sendo que a<br />

pontuação <strong>de</strong>stas opções variam <strong>de</strong> 0 à 4, totalizando uma pontuação do<br />

inventário <strong>de</strong> 0 à 68. Os escores <strong>de</strong> 19 pontos ou mais indicam a presença <strong>de</strong><br />

sintomas compatíveis com o diagnóstico <strong>de</strong> fobia social.


RESUMOS 161<br />

Síntese dos resultados<br />

Pontuação maior ou igual a 19 Pontuação Inferior a 19<br />

30<br />

25<br />

Pontuação<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

CCH CCB CCE<br />

Centro Acadêmico<br />

Figura 1 Indivíduos com pontuações iguais ou superiores a 19 pontos e indivíduos com<br />

pontuações inferiores a 19 pontos, divididos por centros acadêmicos.<br />

Na Figura 1 verifica-se a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos com pontuações<br />

iguais ou superiores a 19 pontos e os indivíduos com pontuações inferiores a<br />

este número, divididos <strong>de</strong> acordo com seus centros acadêmicos. Observa-se<br />

que em todos os centros o número <strong>de</strong> indivíduos com pontuações inferiores<br />

a 19 pontos é maior do que os com indivíduos com pontuações iguais ou<br />

superiores a 19 pontos. Em cada centro foram entrevistados 30 participantes.<br />

Observa-se que a maior diferença entre os participantes está no centro <strong>de</strong><br />

ciências humanas, seguido pelos participantes do centro <strong>de</strong> ciências exatas, e<br />

por fim pelos participantes do centro <strong>de</strong> ciências biológicas.<br />

De acordo com Del Prette (2006), habilida<strong>de</strong>s sociais é um termo que<br />

se aplica há existência <strong>de</strong> diferentes classes <strong>de</strong> comportamentos sociais no<br />

repertório <strong>de</strong> um indivíduo para lidar com as <strong>de</strong>mandas das situações<br />

interpessoais. Sendo assim por meio dos resultados da aplicação do inventário,<br />

é possível analisar que os alguns alunos do CCB apresentaram pouca<br />

habilida<strong>de</strong> social, ou seja, não possuíam algumas classes <strong>de</strong> comportamentos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos, já nos outros centros, essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alunos com poucas<br />

habilida<strong>de</strong>s ou nenhuma, foi muito baixa, sendo visível no gráfico, por meio<br />

da gran<strong>de</strong> diferença <strong>de</strong> pontuação <strong>de</strong>ntro do mesmo centro.


162 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

120<br />

CCH CCB CCE<br />

100<br />

80<br />

Pontuação<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

Número <strong>de</strong> Participantes<br />

Figura 2. Número <strong>de</strong> Participantes e suas Pontuações dos centros ciências humanas – CCH,<br />

ciências biológicas – CCB e ciências exatas – CCE.<br />

Na figura 2, observa-se a pontuação dos 30 participantes dos centros<br />

<strong>de</strong> ciências humanas (CCH), ciências biológicas (CCB) e ciências exatas<br />

(CCE). Nota-se que apenas 5 alunos entrevistados do CCH obtiveram pontuações<br />

acima <strong>de</strong> 19, ou seja, foi o centro que obteve menos entrevistados<br />

com um quadro <strong>de</strong> fobia. De acordo com estudos <strong>de</strong> Del Prette & Del Prette<br />

(1992) os alunos do CCE possuiriam um repertório <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s sociais<br />

inferior aos alunos do CCB, pois estes teriam menos interações sociais com<br />

outros indivíduos e isso impediria o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> algumas habilida<strong>de</strong>s.<br />

No entanto, com a aplicação do inventário social na presente pesquisa,<br />

observa-se o contrário, pois somente 7 alunos do CCE obtiveram pontuações<br />

acima <strong>de</strong> 19, enquanto 11 alunos entrevistados do CCB obtiveram pontuações<br />

acima <strong>de</strong> 19, o que indica que há mais estudantes com um quadro <strong>de</strong><br />

fobia social no CCB do que no CCE. Entretanto, observa-se também que os<br />

alunos do CCE tiveram pontuações muito mais próximas <strong>de</strong> 19 do que os<br />

alunos dos outros centros, e nesse caso, po<strong>de</strong>-se questionar se esse fato po<strong>de</strong>ria<br />

influenciar na conclusão <strong>de</strong> que os alunos do no CCB encontra-se mais<br />

alunos com quadro <strong>de</strong> fobia social do que no CCE.<br />

Discussão<br />

A hipótese inicial <strong>de</strong>ste projeto consistia na premissa dos estudantes do<br />

centro <strong>de</strong> ciências humanas (CCH) terem um melhor e maior <strong>de</strong>senvolvi-


RESUMOS 163<br />

mento <strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s sociais resultando, conseqüentemente, em um<br />

menor grau <strong>de</strong> fobia social, por trabalharem mais freqüente e diretamente<br />

com pessoas e terem um número maior <strong>de</strong> interações sociais.<br />

Partindo <strong>de</strong>ste princípio foi proposta uma investigação com estes alunos<br />

e também com os alunos do centro <strong>de</strong> ciências biológicas (CCB) e do<br />

centro <strong>de</strong> ciências exatas (CCE), que em seu trabalho possuem um menor<br />

contato social, e <strong>de</strong>senvolveriam assim menos habilida<strong>de</strong>s sociais e graus<br />

mais altos <strong>de</strong> fobia social.<br />

Verificou-se através dos dados obtidos que os alunos do CCH foram os<br />

que menos apresentaram características <strong>de</strong> fobia social, <strong>de</strong> acordo com o<br />

questionário SPIN, seguidos pelos alunos do CCE e por último os alunos do<br />

CCB. Porém os dados obtidos não permitem generalizar esta diferença para<br />

o restante <strong>de</strong>sta população e afirmar que este fato realmente tem ligação<br />

concreta com o curso escolhido por estes participantes, já que as diferenças<br />

entre centros não foram significativas (o número <strong>de</strong> participantes que apresentaram<br />

estas características foi muito próximo em todos os centros).<br />

Algumas dificulda<strong>de</strong>s foram encontradas como literatura escassa nesta<br />

área com este tipo <strong>de</strong> população e o pouco tempo para realização da pesquisa<br />

– por ser uma ativida<strong>de</strong> da graduação - que impossibilitou a investigação <strong>de</strong><br />

uma população maior. Contudo, po<strong>de</strong>-se afirmar que os resultados obtidos<br />

corroboram os resultados encontrados por Del Prette, Del Prette e Correia<br />

(1992) em uma pesquisa cujo objetivo era avaliar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s<br />

sociais ao longo dos cursos, em diferentes séries. Nesta pesquisa os<br />

autores pretendiam e chegaram à conclusão <strong>de</strong> que os cursos não contribuíram<br />

para <strong>de</strong>senvolver as habilida<strong>de</strong>s sociais dos estudantes.<br />

Po<strong>de</strong>-se salientar e inferir alguns problemas durante a pesquisa que po<strong>de</strong>m<br />

ter contribuído para este resultado, como o pequeno número <strong>de</strong> participantes<br />

<strong>de</strong> cada centro, a influência da presença <strong>de</strong> outras pessoas nos mesmos<br />

locais on<strong>de</strong> os participantes respondiam a pesquisa (muitos respondiam<br />

junto com <strong>de</strong>mais colegas e comentavam algumas questões com estes), o<br />

receio dos participantes em exporem suas dificulda<strong>de</strong>s para pessoas <strong>de</strong>sconhecidas<br />

– o que po<strong>de</strong> ser encarado como uma característica <strong>de</strong> fóbicos sociais<br />

(embora os dados não permitissem a i<strong>de</strong>ntificação dos participantes) e<br />

principalmente os prejuízos e a falta <strong>de</strong> informação proporcionada por uma<br />

avaliação psicológica incompleta, baseada somente nas respostas <strong>de</strong> um único<br />

instrumento.


164 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Referências<br />

ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA (APA) em PsiqWeb. DSM IV – Disponível<br />

em: . Acesso maio/<br />

<strong>2010</strong>.<br />

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1. São Paulo, junho. 2005.<br />

BANDEIRA, M. QUAGLIA, M. Habilida<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> estudantes universitários: i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

situações sociais significativas. <strong>Universida<strong>de</strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São João Del Rei. Interação em<br />

Psicologia, 2005, 9(1). p. 45-55.<br />

DEL PRETTE, A. DEL PRETTE, Z. A. P. & CORREIA, M. F. B, Competência social: um<br />

estudo comparativo entre alunos <strong>de</strong> psicologia, serviço social e engenharia mecânica. Psicólogo<br />

Escolar: I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Perspectivas. 1992. p. 382-384.<br />

DEL PRETTE, Z. A. P & DEL PRETTE, A. Psicologia das habilida<strong>de</strong>s sociais: Terapia e Educação,<br />

4 ed. em 2006. Petrópolis: Vozes, 1999.<br />

DEL PRETTE, Z. A. P & DEL PRETTE, A. Psicologia das relações interpessoais e habilida<strong>de</strong>s<br />

sociais: Vivencias para o trabalho em grupo, 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.<br />

DEL PRETTE, Z. A. P & DEL PRETTE, A. Habilida<strong>de</strong>s Sociais na Infância: Teoria e Prática.<br />

2 ed. Petrópolis: Vozes, 2005.<br />

D’ El REY, G. J. F. & PACINI, C. A. Terapia Cognitivo-Comportamental da Fobia Social:Mo<strong>de</strong>los<br />

e técnicas. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n°. 2, mai./ago. 2006. p. 269-275.<br />

FALCONE, E. Ansieda<strong>de</strong> social normal e ansieda<strong>de</strong> fóbica – limites e fundamentos etológicos.<br />

Revista <strong>de</strong> Psiquiatria Clínica. Säo Paulo. nov./<strong>de</strong>z. 2000.<br />

NARDI, A. E. O tratamento farmacológico da fobia social. Revista Brasileira <strong>de</strong> Psiquiatria,<br />

vol.21 n°4. São Paulo. Dez. 1999. Disponível em: Acesso maio/<br />

<strong>2010</strong>.<br />

PERES, J. P. Mo<strong>de</strong>lo Cognitivo da Ansieda<strong>de</strong>. In R. C. Wielenska (Org.), Sobre comportamento<br />

e cognição: Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros<br />

contextos, vol. 6. Santo André, SP: ARBytes. p. 239-249.<br />

TORRES, N. Ansieda<strong>de</strong>: O enfoque do behaviorismo radical respaldando procedimentos<br />

clínicos. In R. C. Wielenska (Org.), Sobre comportamento e cognição: Questionando e ampliando<br />

a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos, vol. 6. Santo André:<br />

ARBytes. p. 228-238.<br />

VILETE, L; FIGUEIRA, I; COUTINHO E. Adaptação transcultural para o português do Social<br />

Phobia Inventory (SPIN) para utilização entre estudantes adolescentes. Revista Psiquiatria.<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. jan./abr. 2006


RESUMOS 165<br />

ATENDIMENTO DO AUTISTA EM UMA<br />

CIDADE DO NORTE DO PARANÁ<br />

Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto, Bruno Haring Marochi,<br />

Camila Belavenuta Pinto, Celina Sayuri Nakamura,<br />

Cibely Francine Pacifico, João Batista Martins<br />

O termo autismo foi usado pela primeira vez por Bleuler em 1912 para<br />

se referir a uma <strong>de</strong>rivação da esquizofrenia, condição na qual o sujeito anula<br />

a percepção <strong>de</strong> tudo o que estiver ao seu redor, com o foco <strong>de</strong> sua atenção<br />

centrado em si (MONTAGNER et all, 2007). Este trabalho propõe-se a conhecer<br />

como se dá o atendimento <strong>de</strong> crianças e adolescentes autistas e sua<br />

família no sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um município do norte do<br />

Paraná. O presente estudo focou-se no Centro <strong>de</strong> Atenção Psicossocial Infantil<br />

(CAPSi). Na 1º etapa da pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico<br />

sobre a temática do autismo, buscou-se conhecer o atendimento aos<br />

doentes mentais, algumas políticas públicas e propostas que já vinham sendo<br />

implantadas ou estavam sendo buscadas no município. Além disso, foi<br />

realizada a observação do local. Na 2º etapa foi feita uma busca às atas das<br />

Conferências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental do Conselho Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>,<br />

a fim <strong>de</strong> resgatar um apanhado histórico que expõe este atendimento, o qual<br />

foi se modificando ao longo dos anos em virtu<strong>de</strong> dos movimentos da reforma<br />

psiquiátrica e das lutas anti-manicomiais. Na 3º etapa os dados coletados<br />

nas etapas anteriores foram submetidas a uma análise <strong>de</strong> conteúdo. Nos valemos<br />

<strong>de</strong> alguns apontamentos <strong>de</strong> Lapassa<strong>de</strong> (2005) e Duarte (2004), os quais<br />

evi<strong>de</strong>nciam a importância <strong>de</strong> uma pesquisa qualitativa, e a posição do observador<br />

participante periférico na pesquisa <strong>de</strong> campo. A coleta <strong>de</strong> dados se<br />

<strong>de</strong>u pela observação e entrevistas semi-estruturadas. A observação se <strong>de</strong>teve<br />

ao espaço físico da instituição, e as relações que lá ocorrem. Assim, foram<br />

realizadas entrevistas semi-estruturadas com a mãe <strong>de</strong> uma adolescente autista<br />

usuária do serviço, com a coor<strong>de</strong>nadora-técnica e a psicóloga, as entrevistas<br />

foram feitas no próprio CAPSi. A análise <strong>de</strong> conteúdo das entrevistas, bem<br />

como as observações feitas nos levaram a ressaltar que o CAPSi aten<strong>de</strong> crianças<br />

com diferentes tipos <strong>de</strong> transtornos mentais, e procura não fechar diagnósticos<br />

não havendo uma rotulação da criança. Além disso, todo o trabalho


166 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

é feito com uma <strong>de</strong> equipe multiprofissional, porém a maioria dos profissionais<br />

que aten<strong>de</strong>m lá não receberam formação a<strong>de</strong>quada a este tipo <strong>de</strong> atendimento.<br />

O CAPSi da referida cida<strong>de</strong>, ocupa um espaço pequeno em relação a<br />

<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> atendimentos que se apresenta, assim as crianças são atendidas<br />

no local apenas 2 vezes por semana. No entanto o atendimento oferecido<br />

estimula o <strong>de</strong>senvolvimento dos usuários em todas as áreas do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, e o tratamento da patologia propriamente com o atendimento<br />

psicológico e psiquiátrico, assim o mo<strong>de</strong>lo psicossocial é uma gran<strong>de</strong><br />

evolução se comparado aos atendimentos clássicos, Ao mesmo tempo se<br />

mostra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância a oferta <strong>de</strong> atendimento também as famílias<br />

dos usuários já que o acompanhamento familiar <strong>de</strong> incentivo e assistência às<br />

crianças e adolescentes são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor para o progresso <strong>de</strong>stas.<br />

Palavras-chave: CAPS i, Autismo, Saú<strong>de</strong> Pública.<br />

Referências<br />

DUARTE, R. Entrevistas em pesquisa qualitativas. Educar em Revista, N° 24 – 2004.<br />

LAPASSADE, G. As Microssociologias. Brasília: Líber livro, 2005.<br />

MONTAGNER, J. SANTIAGO, E. & SOUZA, M. G. G. Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação dos profissionais<br />

com as crianças autistas <strong>de</strong> uma instituição educacional <strong>de</strong> autismo. Departamento <strong>de</strong><br />

Enfermagem Psiquiátrica, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José do Rio Preto – FAMERP,<br />

2007.


RESUMOS 167<br />

AVALIAÇÃO ATRAVÉS DE INSTRUMENTOS, ANÁLISE<br />

FUNCIONAL E INTERVENÇÃO EM CLIENTES COM<br />

TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL<br />

Josiane Cecília Luzia, Edmárcia Manfredin Vila,<br />

Daniela Cristina Oliveira, Carolyne Tomáz <strong>de</strong> Aquino,<br />

Priscilla Gonçalves Teixeira, Débora Letícia Dias Pinto<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Julio César Velásquez Zapata<br />

Universidad <strong>de</strong> Salamanca<br />

Os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram os <strong>de</strong> 1) <strong>de</strong>senvolver repertórios<br />

comportamentais que auxiliassem os clientes a manejar as dificulda<strong>de</strong>s<br />

interpessoais relacionadas com o transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social; 2) intervir<br />

clinicamente com base no fundamentos do Behaviorismo Radical e, 3) aperfeiçoar-se<br />

na utilização <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> intervenção específicas, bem como<br />

testar um instrumento <strong>de</strong> Fobia Social <strong>de</strong>senvolvido para este fim.Participaram<br />

<strong>de</strong>ste trabalho três clientes com diagnóstico <strong>de</strong> Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong><br />

Social (TAS), sendo que um <strong>de</strong>les tinha como comorbida<strong>de</strong> Síndrome do<br />

Pânico. Os Clientes compunham a fila <strong>de</strong> espera da Clínica Psicológica da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (UEL). Os procedimentos adotados incluíram<br />

a avaliação através <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong>senvolvido para o (TAS) e outro<br />

que está disponível para uso em situações <strong>de</strong> pesquisa no Brasil, técnicas<br />

<strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong> grupo, <strong>de</strong> exposição, procedimentos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas<br />

e do Treinamento em Habilida<strong>de</strong>s Sociais (THS), com <strong>de</strong>staque para a<br />

simulação <strong>de</strong> situações naturais, nas quais se optou pelo uso <strong>de</strong> feedback imediato.<br />

É importante enfatizar que a utilização das técnicas foi a<strong>de</strong>quada aos<br />

fundamentos do behaviorismo radical o qual pressupõe a análise funcional<br />

dos comportamentos. Sendo assim, predominaram-se entre os procedimentos<br />

adotados para o <strong>de</strong>senvolvimento dos novos comportamentos aqueles<br />

que permitiram viabilizar sua dimensão funcional e não os que enfatizaram<br />

somente as dimensões topográficas dos comportamentos. Os resultados<br />

mostraram que o construto teórico <strong>de</strong> TAS está <strong>de</strong> acordo com o que o teste<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento preten<strong>de</strong> avaliar, além <strong>de</strong> mostrar índices <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>


168 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

a<strong>de</strong>quados. Foi possível alcançar os objetivos propostos uma vez que, o trabalho<br />

a partir das técnicas possibilitou o arranjo <strong>de</strong> contingências objetivando<br />

mo<strong>de</strong>lar padrão <strong>de</strong> interação social alternativos durante as sessões, através<br />

da relação terapêutica, para que a cliente pu<strong>de</strong>sse generalizar esses comportamentos<br />

fora do contexto clínico. Cabe ressaltar que, as sessões realizadas em<br />

ambiente natural auxiliaram no arranjo <strong>de</strong> contingências fora do consultório<br />

e, possibilitou o aumento da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> generalização e <strong>de</strong> aprendizagem<br />

<strong>de</strong> comportamentos socialmente habilidosos, bem como na execução<br />

<strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> exposição.<br />

Palavras-chave: Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong> Social; instrumentos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong><br />

fobia social; análise funcional.


RESUMOS 169<br />

CLÍNICA PSICANALÍTICA COM BEBÊS:<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIAS<br />

Amanda Camilotti Siqueira, Ana Paula da Silva Pereira, Ana Carolina<br />

Guarnieri, Gabriela Rodrigues, Gesielene Carvalho, Karina Stagliano,<br />

Larissa Beatriz Andreatta, Sílvia Nogueira Cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A psicanálise muito tem contribuído sobre as questões que envolvem a<br />

maternida<strong>de</strong>, os vínculos, o psiquismo fetal e a formação subjetiva do sujeito.<br />

Os estudos da relação mãe-bebê têm relevância teórico-clínica tanto para<br />

a psicanálise, como também para a psicologia da saú<strong>de</strong>. Tais estudos têm<br />

ganhado importância na clínica psicanalítica e no atendimento psicológico<br />

em hospitais e maternida<strong>de</strong>s, ampliando os trabalhos <strong>de</strong> pesquisa nesta área.<br />

Tendo isso em vista foi proposto o Projeto <strong>de</strong> Ensino: A Clínica Psicanalítica<br />

com Bebês, oferecidos aos alunos do curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL.<br />

Objetivo<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste projeto é oferecer subsídios teórico-práticos, por meio<br />

<strong>de</strong> observação da relação mãe-bebê-família, sobre a formação subjetiva do ser<br />

humano a partir <strong>de</strong> conceitos da psicanálise.<br />

Método<br />

Utilizamos o método <strong>de</strong> observação proposto por Esther Bick. Até o<br />

momento foram observadas sete duplas <strong>de</strong> mães e bebês <strong>de</strong> 0-2 meses, em<br />

suas respectivas residências, uma hora por semana, com o consentimento<br />

dos pais.<br />

Análise<br />

Esta prática tem <strong>de</strong>spertado diversos sentimentos nas observadoras no<br />

que diz respeito ao lugar que ocupamos <strong>de</strong>ntro da família, em relação à mãe<br />

e ao próprio bebê. Diante disso, vários impasses surgiram no contato com a<br />

mãe bem como durante as observações. Ao longo <strong>de</strong>stas surgiram alguns<br />

sentimentos como insegurança, <strong>de</strong>spertando questões pessoais das observa-


170 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

doras, indo além da falta <strong>de</strong> experiência; medo <strong>de</strong> em algum momento ser<br />

rejeitada; e também a ansieda<strong>de</strong> diante da possibilida<strong>de</strong> da formação do<br />

vínculo, e da conquista <strong>de</strong> espaço e lugar subjetivos na dinâmica da família.<br />

As reflexões que surgem nas supervisões nos levam a pensar que estes sentimentos<br />

estão associados à i<strong>de</strong>ntificação com o bebê. Isto nos remete ao lugar<br />

do bebê imaginário dos pais, que não comporta a experiência real da chegada<br />

<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ntro da casa, ou seja, o bebê também passa pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter<br />

que se inserir e conquistar seu lugar <strong>de</strong>ntro da dinâmica familiar. Conclusão<br />

A partir <strong>de</strong>sta experiência é possível interrelacionar os conceitos teóricos<br />

psicanalíticos com o que é observado na prática, ajustando as diretrizes<br />

do pensamento sobre a construção do relacionamento primário entre mãe e<br />

bebê. Durante a prática do projeto po<strong>de</strong>mos reconhecer a importância <strong>de</strong>ste<br />

tipo <strong>de</strong> atuação no que diz respeito à intervenção precoce no vínculo mãe e<br />

bebê como possibilida<strong>de</strong> para um <strong>de</strong>senvolvimento psíquico menos<br />

dramático.<br />

Palavras-chave: Vínculo mãe-bebê, Psicanálise, Desenvolvimento psíquico<br />

Referências<br />

BICK, E. Notas sobre a observação <strong>de</strong> bebê no treinamento psicanalítico. Int. J. of psychoanalisis,<br />

vol. 45, 1964.<br />

HARRIS, M. A mãe suficientemente boa: notas sobre a função continente materna. Revista<br />

brasileira <strong>de</strong> Psicanálise, vol. 24, nº 2.<br />

HARRIS, M. Crianças e Bebês à luz <strong>de</strong> Observações Psicanalíticas. Enciclopédia Aberta da<br />

Psique.<br />

KLEIN, M. Algumas conclusões teóricas sobre a vida emocional do bebê. In: KLEIN, M.;<br />

HEIMAN, P.; ISAACS, S.; RIVIERI, J. Os Progressos da Psicanálise, Zahar Editores, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 1982.<br />

KLEIN, M. Sobre a observação do comportamento <strong>de</strong> bebês. In: KLEIN, M.; HEIMAN, P.;<br />

ISAACS, S.; RIVIERI, J. Os progressos da Psicanálise. Zahar Editores, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1982.<br />

MÉLEGA, M. P. (org.) Observação da relação mãe bebê. Método Esther Bick. Tendências. 1º<br />

Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Observação da Relação Mãe - Bebê. Coletânea <strong>de</strong> Artigos,<br />

Unimarco, São Paulo, 1997.<br />

REZENDE, A M. Elaboração da posição esquiso-paranói<strong>de</strong> e elaboração da posição <strong>de</strong>pressiva.<br />

Aulas ministradas pelo autor em curso para psicoterapeutas em Ribeirão Preto, 2000.<br />

SYMINTON, J. Ester Bick,. In. LACROIX, M.B.; MONMAYRANT, M. (org.) A observação<br />

<strong>de</strong> bebês, os laços do encantamento. Artes médicas, 1997.


RESUMOS 171<br />

SYMINTON, J. Observação do Lactente. In. LACROIX, M.B.; MONMAYRANT, M. (org.) A<br />

observação <strong>de</strong> bebês, os laços do encantamento. Artes médicas, 1997.<br />

WINNICOTT, D. W. A preocupação materna primária. In: Textos selecionados: Da pediatria<br />

à Psicanálise. 2ª edição. Editora Francisco Neves, 1982<br />

WINNICOTT, D. W. Recordações do nascimento, trauma do nascimento e ansieda<strong>de</strong>. In:<br />

Textos selecionados: Da pediatria à Psicanálise. 2ª edição. Editora Francisco Neves, 1982


172 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

COMPREENSÃO E PREVENÇÃO DO FENÔMENO<br />

BULLYING, NAS ESCOLAS<br />

Alessandra Elisa Gromowski, Caroline Encinas Audibert, Heloiza Kruleske<br />

da Silva, Letícia Rocha Pontes, Natalia Delatim Ortiz, Rafaela Zago <strong>de</strong><br />

Mello, Solange Maria Beggiato Mezzaroba<br />

De acordo com OLWEUS,1993; FANTE, 2005; MIDDELTON-MOZ,<br />

2007; SILVA, <strong>2010</strong> entre outros pesquisadores, bullying po<strong>de</strong> ser caracterizado<br />

como agressões físicas e/ou psicológicas <strong>de</strong> maneira repetitiva e sem motivo aparente.<br />

Em situações <strong>de</strong> bullying três tipos <strong>de</strong> personagens po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados,<br />

são eles: o agressor, a vítima e o espectador. Embora muitas vezes o comportamento<br />

<strong>de</strong> bullying seja encarado apenas como brinca<strong>de</strong>iras infantis <strong>de</strong> mau<br />

gosto, naturais e que passam, estas brinca<strong>de</strong>iras po<strong>de</strong>m acarretar muitas conseqüências<br />

nefastas para a vítima tais como: isolamento social; dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem; auto-estima rebaixada; angústia; absenteísmo escolar, entre outros.<br />

Além <strong>de</strong> contribuir para o fomento da violência escolar. Levando em consi<strong>de</strong>ração<br />

estes aspectos o projeto <strong>de</strong> extensão da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Assédio Moral: uma proposta preventiva da manutenção do bem-estar<br />

nas relações <strong>de</strong> trabalho tem como sub-tema o Bullying. As ações propostas têm<br />

como objetivo esclarecer e conscientizar estudantes, professores e pais sobre a<br />

serieda<strong>de</strong> e importância do assunto bem como suas conseqüências. Para que este<br />

objetivo seja alcançado são realizadas palestras com pais e professores e oficinas<br />

com estudantes do Ensino Fundamental II e Médio <strong>de</strong> escolas públicas <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

e região. Quando situações concretas são i<strong>de</strong>ntificadas pelos professores<br />

ou mesmo pelas próprias vítimas que sofrem as agressões, atuações pontuais são<br />

realizadas com os envolvidos. Os resultados <strong>de</strong>ste trabalho não po<strong>de</strong>m ser<br />

mensurados quantitativamente, uma vez que seus efeitos não são imediatos. No<br />

entanto, nos encontros po<strong>de</strong>-se perceber que durante as discussões realizadas<br />

agressores e vítimas, bem como professores e pais se sensibilizam com a questão<br />

e passam a discutir possibilida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> tais comportamentos.<br />

Espera-se assim que com este trabalho, a incidência do bullying diminua<br />

<strong>de</strong>vido ao caráter preventivo das palestras e oficinas, e que aqueles que sofrem ou<br />

já sofreram <strong>de</strong>ste fenômeno consigam lidar com tais situações, buscando ajuda e<br />

superando a violência sofrida.<br />

Palavras-chave: Bullying, violência escolar, agressão psicológica.


RESUMOS 173<br />

EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS: PERSPECTIVA DA<br />

DIREÇÃO E DA EQUIPE PEDAGÓGICA QUANDO O AS-<br />

SUNTO É A SEXUALIDADE<br />

Sérgio Kazuyoshi Fuji<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Diversos acontecimentos têm chamado a atenção da socieda<strong>de</strong> quando o<br />

assunto é sexualida<strong>de</strong>. A violência cometida que se percebe pelo aumento da<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crianças e adolescentes <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> informações científicas<br />

sobre sexualida<strong>de</strong>, o preconceito, gravi<strong>de</strong>z precoce, etc. são fatores que<br />

nos levam a pensar sobre a importância <strong>de</strong> se discutir o tema, não sendo mais<br />

possível seu adiamento. Um bom caminho para mudança <strong>de</strong> postura po<strong>de</strong><br />

estar na educação. O trabalho junto aos educando po<strong>de</strong> levá-los a rever tabus,<br />

mitos e preconceitos e a, principalmente, transformá-los critica e responsavelmente<br />

para o aprimoramento das relações afetivo-sexuais, das relações <strong>de</strong> gênero<br />

e também, das relações sociais em geral. O presente trabalho buscou, por<br />

meio <strong>de</strong> entrevistas com diretores/as e pedagogos/as <strong>de</strong> Colégios Estaduais <strong>de</strong><br />

Ensino fundamental e Médio da região <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e Cambé, enten<strong>de</strong>r o que<br />

sabem sobre a implementação da educação sexual em sua escola e se consi<strong>de</strong>ram,<br />

ou não, importante este tema <strong>de</strong> ser trabalhado. Para coleta <strong>de</strong> dados<br />

foram utilizados trabalhos <strong>de</strong> pesquisa realizados por estudantes do quarto<br />

ano <strong>de</strong> Psicologia no ano <strong>de</strong> 2009. Parte <strong>de</strong>stes trabalhos consistia em entrevista<br />

com diretores/as e pedagogos/as. Os resultados foram agrupados em categorias<br />

para posterior análise e discussão. O contexto atual dos colégios pesquisados<br />

reflete, segundo os entrevistados, além da necessida<strong>de</strong> da existência da Educação<br />

Sexual nas escolas, a formação continuada para profissionais da área da<br />

educação, quanto ao tema da sexualida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>monstra que a comunida<strong>de</strong> escolar,<br />

formada por diretores, pedagogos, funcionários administrativos, professores,<br />

pais e estudantes, precisa pautar-se no diálogo, que se torna imprescindível,<br />

e po<strong>de</strong> ter mais êxito quanto mais o grupo partilhar <strong>de</strong> um objetivo comum,<br />

que é a formação integral, o crescimento pessoal das crianças e dos<br />

jovens, atrelado à transformação social, das normas e dos valores sociais, em<br />

especial <strong>de</strong> todos os ligados direta ou indiretamente à vida sexual.<br />

Palavras-chave: Educação Sexual, Sexualida<strong>de</strong>, Diretores/as, Pedagogos/as.


174 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

ENVELHECIMENTO EM FOCO:<br />

UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL<br />

Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto, Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto, Caroline<br />

Garcia dos Santos, Letícia Jacomini, Patrícia Rossetto, Paula Marsolla<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

O envelhecimento populacional é hoje um fato universal. Po<strong>de</strong>-se caracterizar<br />

a velhice como um <strong>de</strong>clínio gradual no funcionamento dos sistemas<br />

do corpo e pelo processo <strong>de</strong> envelhecimento das células. A parte biológica<br />

do envelhecimento é muito estudada e os avanços nessa área são gran<strong>de</strong>s,<br />

no entanto não se po<strong>de</strong> olhar para um idoso e só pensar em como a<br />

ciência garantirá a manutenção do aparelho biológico. É necessário olhar<br />

em que parte da socieda<strong>de</strong> ele se enquadra, em que local ele se sente bem e<br />

útil. Encontrar esse lugar nem sempre é fácil, pois com a ida<strong>de</strong> as pessoas<br />

ficam mais limitadas e em muitos casos não conseguem acompanhar o ritmo<br />

da socieda<strong>de</strong> atual. É imprescindível <strong>de</strong>senvolver trabalhos com crianças e<br />

jovens no contexto escolar que possam auxiliar na valorização do idoso, por<br />

meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que mostrem que ainda os idosos têm muito com o que<br />

colaborar com as gerações futuras. Na socieda<strong>de</strong> atual a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção<br />

tem sido extremamente valorizada, e os idosos, <strong>de</strong>vido as limitações<br />

<strong>de</strong>correntes do processo <strong>de</strong> envelhecimento, nem sempre correspon<strong>de</strong>m as<br />

expectativas esperadas pela sua comunida<strong>de</strong>, e assim passam a estar à margem<br />

<strong>de</strong>stes i<strong>de</strong>ais. Essa falta <strong>de</strong> valorização, além <strong>de</strong> trazer gran<strong>de</strong>s prejuízos<br />

para os idosos, acaba também por interferir na intervenção das equipes <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> que tentam mudar essa realida<strong>de</strong>. Sendo assim, o que se preten<strong>de</strong><br />

através <strong>de</strong>ste trabalho é promover a mudança da visão negativa sobre o idoso,<br />

valorizando-o como pessoa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua produtivida<strong>de</strong> e<br />

classe econômica.Objetivos: a) Refletir com alunos/jovens da 6ª série, do<br />

Colégio Pe Wistremundo Roberto Pires Garcia, na região norte <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>,<br />

sobre o processo <strong>de</strong> envelhecimento e as possíveis formas <strong>de</strong><br />

conscientização sobre o envelhecimento e suas repercussões pessoais, psicológicas<br />

e sociais, sensibilizando os jovens para uma relação intergeracional<br />

positiva; b) Organizar material didático, a partir das histórias elaboradas pelos<br />

alunos, com histórias reais dos idosos. Método: O presente trabalho rea-


RESUMOS 175<br />

lizou ativida<strong>de</strong>s lúdicas com alunos da 6ª série, <strong>de</strong> vivência e simulações <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s físicas e sensoriais vivenciadas pelos idosos, bem como,<br />

estruturação, montagem e apresentação <strong>de</strong> peças teatrais. Além disso, foram<br />

incluídos temas relacionados ao envelhecimento humano no conteúdo das<br />

disciplinas da 6ª série, durante o ano letivo <strong>de</strong> 2009. Finalmente foi produzido<br />

um ví<strong>de</strong>o que contém registro das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas sobre o tema<br />

com os estudantes <strong>de</strong> 6º série do ensino fundamental do Colégio <strong>Estadual</strong><br />

Pe. Wistremundo, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Conclusão: Mudar a concepção<br />

das pessoas sobre o envelhecimento necessário, pois assim, haverá uma visão<br />

menos unilateral do que se preconiza sobre homem e sua potencialida<strong>de</strong>;<br />

assim sendo, vemos como importante, o disseminar <strong>de</strong> informações por meios<br />

que atinjam <strong>de</strong> um modo mais eficaz e compreensivo as pessoas <strong>de</strong> nossa<br />

socieda<strong>de</strong>, em especial, os mais jovens, conscientizando-os do que é o envelhecer.<br />

Palavras-chave: Envelhecimento, Educação <strong>de</strong> Jovens, Idoso e Socieda<strong>de</strong>.<br />

Referências<br />

BERGER, R. S. (2003) O <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa: do nascimento à terceira ida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: LTC.<br />

KALACHE, A.; VERAS R.P.; RAMOS, L.R. O envelhecimento da população mundial. Um<br />

<strong>de</strong>safio novo. Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, São Paulo, v.21, n.3, Jun. 1987. Disponível em:<br />

http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89101987000300005&script=sci_<br />

arttext&tlng=ptpt. Acesso em 10-08-<strong>2010</strong><br />

NICOLA, P. (1986) Geriatria/ Tradução <strong>de</strong> Alda Ribeiro – Porto Alegre: D. C. Luzzatto Ed.


176 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

INFLUÊNCIA DOS COMPORTAMENTOS DE<br />

INSTRUTORES DE CENTROS DE FORMAÇÃO DE<br />

CONDUTORES NOS SINTOMAS DE ANSIEDADE DE JO-<br />

VENS CONDUTORES<br />

Géssica Denora Ribeiro, Geysa Machado Cascardo, Giane Figueiredo,<br />

Hernani Pereira dos Santos, Iulia Sessaki Puls,<br />

Ednéia Aparecida Peres Hayashi<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A psicologia do trânsito po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida “como o estudo científico do<br />

comportamento dos participantes <strong>de</strong> trânsito” Rozestraten (1981, p. 141). O<br />

intuito <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>ssa área <strong>de</strong> pesquisa é o trânsito, <strong>de</strong>finido, então, como<br />

um “conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema regulamentado”<br />

(ROZESTRATEN, 1981, p. 141).<br />

Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar, a importância do processo <strong>de</strong> aprendizagem do<br />

condutor, no qual gran<strong>de</strong> parte do repertório futuro <strong>de</strong> condução <strong>de</strong> veículo<br />

será adquirida ou <strong>de</strong>senvolvida. Para contribuir no entendimento <strong>de</strong> comportamentos<br />

<strong>de</strong>sempenhados na condução viária, as variáveis que interferem<br />

nos comportamentos dos condutores precisam ser levantadas. Assim, o<br />

objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi o <strong>de</strong> fazer um levantamento dos comportamentos<br />

dos instrutores que interferem no estado <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> dos alunos dos Centros<br />

<strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Condutores, segundo a percepção dos últimos. Foram<br />

entrevistados 13 aprendizes <strong>de</strong> condutor com ida<strong>de</strong>s entre 18 e 25, <strong>de</strong> ambos<br />

os sexos, <strong>de</strong> diferentes Centros <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Condutores (CFC) da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Estavam em preparação para o teste <strong>de</strong> motocicleta e/ou<br />

carros e sem experiência prévia <strong>de</strong> direção, por qualquer meio e com qualquer<br />

veículo. A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada por meio <strong>de</strong> um questionário<br />

contendo 2 (dois) itens que se subdivi<strong>de</strong>m em 36 (trinta e seis) subitens <strong>de</strong><br />

caráter misto: com 18 questões (<strong>de</strong>zoito) abertas e 18 (<strong>de</strong>zoito) fechadas. O<br />

questionário para a coleta <strong>de</strong> dados foi embasado no Inventário <strong>de</strong> Beck para<br />

Ansieda<strong>de</strong>, em inglês, Beck Anxiety Inventory, ou, simplesmente, BAI (BECK<br />

et al., 1988). Foi realizada análise quantitativa dos dados, comparando os<br />

comportamentos dos instrutores que aumentam e os que diminuem o esta-


RESUMOS 177<br />

do <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, segundo a percepção dos alunos participantes. Po<strong>de</strong>-se constatar<br />

que 75% dos entrevistados avaliaram os comportamentos dos instrutores<br />

como: falar para acalmar ou encorajar, explicar o procedimento, respon<strong>de</strong>r<br />

às duvidas, pedir para repetir procedimentos dificultosos e <strong>de</strong>monstração<br />

com gestos corporais, como sendo importantes para minimizar o estado<br />

<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> dos alunos, bem como 84,62 % dos entrevistados relataram<br />

não apresentar sintomas <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> nas aulas, indicando que os comportamentos<br />

dos instrutores interferiram na aprendizagem dos alunos, pois quando<br />

o instrutor apresentava comportamentos <strong>de</strong> empatia, os alunos relataram<br />

que o nível <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>les era reduzido, o que favorecia o aprendizado.<br />

Conforme os dados do presente trabalho, evidências sugerem que o<br />

comportamento do instrutor interfere <strong>de</strong> maneira positiva no estado <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong><br />

dos aprendizes <strong>de</strong> condutor. A<strong>de</strong>mais, são sugeridas outras pesquisas<br />

para avaliar variáveis que não constam na presente, principalmente no<br />

que se refere a outros contextos, inclusos os anteriores ao teste.<br />

Palavras-chave: Trânsito; Ansieda<strong>de</strong>, Centros <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Condutores.<br />

Referências<br />

BECK, A. T.; EPSTEIN, N.; BROWN, G.; STEER, R. A. The Beck Anxiety Inventory, J.<br />

Consult. Clin. Psychol., n. 56, p. 893-897, 1988.<br />

ROZESTRATEN, R. J. A. Psicologia do trânsito; o que é e para que serve, Psicologia: ciência<br />

e profissão, v. 1, n.1, p. 141-143, jan. 1981.


178 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA EM UM GRUPO<br />

INTERDISCIPLINAR DE ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO<br />

Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto, Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto, Caroline<br />

Garcia dos Santos, Letícia Jacomini, Patrícia Rossetto, Paula Marsolla<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

O projeto “Atenção Psicológica a idosos e familiares na comunida<strong>de</strong>”<br />

integra o projeto “Atenção Integral e Interdisciplinar a idosos na comunida<strong>de</strong>”,<br />

que aten<strong>de</strong> idosos resi<strong>de</strong>ntes no Conjunto Cabo Frio/ Imagawa, localizado<br />

na região oeste <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e, tem como Objetivo: propor ações na<br />

área da Psicologia em pareceria com os <strong>de</strong>mais cursos do projeto (Medicina,<br />

Enfermagem, Fisioterapia, Serviço Social e Farmácia) que visem à promoção<br />

da saú<strong>de</strong> mental do idoso e do cuidador familiar. O interesse pelo estudo<br />

justifica-se em razão do número <strong>de</strong> pessoas idosas na população, em particular<br />

a brasileira, estar crescendo a cada dia, tanto que, anualmente, 650 mil<br />

idosos incrementam estas estatísticas. Se tratando <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental na velhice,<br />

especificida<strong>de</strong>s se fazem presentes, em função da pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos<br />

individuais e sociais que se entrecruzam e se combinam (Neri, 2007). Neste<br />

contexto, a atenção ao idoso em nosso país constitui um <strong>de</strong>safio a ser vencido,<br />

com objetivos <strong>de</strong> diminuir as co-morbida<strong>de</strong>s e incapacida<strong>de</strong>s e promover<br />

um envelhecimento saudável (Stuart-Hamilton, 2002 e Albuquerque, 2003).<br />

Metodologia: As ativida<strong>de</strong>s estão sendo realizadas em duas etapas: 1-Avaliação<br />

- visitas domiciliares a idosos selecionados, visando avaliar: saú<strong>de</strong> mental<br />

do idoso e seus <strong>de</strong>terminantes; o contexto familiar; as condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

mental do cuidador familiar e suas necessida<strong>de</strong>s na atenção ao idoso; 2-Proposta<br />

<strong>de</strong> Intervenção: propor estratégias ações efetivas para melhoria das<br />

condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental do idoso e dos cuidadores como: trabalhos em<br />

grupos e oficinas. A nossa intervenção se dá em e com grupos em razão <strong>de</strong><br />

que este tipo <strong>de</strong> trabalho possibilita o reforço ou a reestruturação do self; a<br />

elevação da auto-estima e da auto-confiança e uma conscientização maior do<br />

indivíduo sobre si mesmo, contribuindo com o bem estar da pessoa. Resultados:<br />

Por estarmos cerca <strong>de</strong> 5 anos com esta equipe, comprometidos com as<br />

implicações do envelhecimento e <strong>de</strong> nossas práticas, gradativamente conseguimos<br />

conquistar um espaço acadêmico <strong>de</strong> respeito, companheirismo e


RESUMOS 179<br />

credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da equipe, o que se reflete nas nossas ações (enquanto<br />

equipe interdisciplinar) mais eficazes e ‘humanizadas’ em relação ao público<br />

atendido. No contexto da área específica, acreditamos que os acadêmicos da<br />

área da Psicologia obtiveram um maior conhecimento da realida<strong>de</strong> dos idosos<br />

e suas relações familiares, com ênfase nas suas características psicológicas,<br />

sociais, culturais, <strong>de</strong>mográficas e epi<strong>de</strong>miológicas; maior i<strong>de</strong>ntificação<br />

dos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e situações <strong>de</strong> risco mais comuns a que os idosos<br />

estão expostos, e a conseqüente elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> intervenção psicológica<br />

para o enfrentamento <strong>de</strong>stas questões.Conclusão: Po<strong>de</strong>mos concluir<br />

que o trabalho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma equipe interdisciplinar na Saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong> acontecer<br />

mediante o empenho, respeito, companheirismo e comprometimento <strong>de</strong><br />

cada membro <strong>de</strong> um grupo, o qual nunca <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado o compromisso<br />

que se firma com a pessoa atendida.<br />

Palavras-chave: Envelhecimento; Saú<strong>de</strong> Mental; Interdisciplinarieda<strong>de</strong><br />

Referências<br />

ALBUQUERQUE, S. M.L. <strong>de</strong>. Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do idoso: assistência domiciliar: faz diferença?<br />

Casa do Psicólogo: Ce<strong>de</strong>cis, 2003<br />

BERSTEIN, M. Contribuições <strong>de</strong> Pichon-Rivière à psicoterapia <strong>de</strong> grupo. In: OSÓRIO, L.<br />

C. (org). Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.<br />

NERI, A. L. Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas: Editora Alínea,<br />

2007<br />

STUART-HAMILTON, I. Psicologia do envelhecimento: uma introdução. Porto Alegre: Artmed,<br />

2002


180 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

MÍDIA E OPINIÃO PÚBLICA<br />

Natália Regina Pinheiro <strong>de</strong> Freitas, Natália Rosot, Nathália Tavares<br />

Bellato Spagiari, Orlando Amaro <strong>de</strong> Oliveira e Souza Junior, Patrícia<br />

Cristiane <strong>de</strong> Oliveira, Paula Francine Gimenez, Rafael dos Reis Biazin,<br />

Rafaela Ventura Silvério Biz, Taís Robles, Talita Machado Vieira, Sonia<br />

Regina Vargas Mansano<br />

O presente projeto <strong>de</strong> pesquisa tem por objetivo realizar uma discussão<br />

sobre a mídia e a formação da opinião pública. A socieda<strong>de</strong> atual encontra-se<br />

permeada por infinitas formas <strong>de</strong> comunicação. Enquanto sujeitos históricos,<br />

estamos em constante transformação, recebendo informações <strong>de</strong> diversos<br />

tipos e origens, mas também as produzindo o colocando em circulação.<br />

Nesse sentido, a mídia torna-se um importante instrumento <strong>de</strong> formação<br />

dos modos <strong>de</strong> existência presentes na nossa socieda<strong>de</strong>. O termo mídia é<br />

<strong>de</strong>rivado do latim medium, ou “meio”. A mídia resulta <strong>de</strong> uma interação<br />

entre os meios <strong>de</strong> comunicação, seus produtores e receptores. Para que essa<br />

comunicação ocorra, alguns profissionais são indispensáveis, como é o caso<br />

dos radialistas, dos jornalistas, dos programadores e, mais recentemente, dos<br />

profissionais ligados à web.<br />

Hoje, os meios <strong>de</strong> comunicação estão inseridos no dia-a-dia da socieda<strong>de</strong><br />

em diferentes estratos sociais e participam da construção da história <strong>de</strong><br />

um povo. Ganha importância, assim, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a produção<br />

da subjetivida<strong>de</strong> na interface com a mídia. Para Guattari e Rolnik (1986), “...<br />

a subjetivida<strong>de</strong> é essencialmente fabricada e mo<strong>de</strong>lada em registro social”. A<br />

mídia participa <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s, pois também<br />

é uma matéria prima que atua na formação da chamada “opinião pública”.<br />

Esta última compreen<strong>de</strong> o conjunto das crenças, i<strong>de</strong>ias e valores compartilhados<br />

por um grupo social.<br />

A metodologia utilizada para realizar este estudo é a pesquisa qualitativa,<br />

que se ocupa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>screver os fenômenos em seu contexto<br />

social. Neste primeiro momento, está sendo realizada uma investigação sobre<br />

a história da mídia no Brasil, abordado também os avanços tecnológicos.<br />

Em um segundo momento, o conceito <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> será abordado em<br />

sua interface com a produção midiática. Por fim, será realizado um estudo<br />

sobre o papel social e político da mídia na socieda<strong>de</strong> atual. Com base nos


RESUMOS 181<br />

estudos teóricos realizados até o momento, po<strong>de</strong>-se dizer que na<br />

contemporaneida<strong>de</strong> as mídias se multiplicam, avançaram tecnologicamente<br />

e estão cada vez mais presentes no cotidiano da população, contribuindo<br />

para produzir modos diferenciados <strong>de</strong> existência.<br />

Palavras-chave: Subjetivida<strong>de</strong>, Mídia, Contemporaneida<strong>de</strong><br />

Referências<br />

GUATTARI, F. & ROLNIK, S. (1986). Micropolítica: cartografias do <strong>de</strong>sejo. Petrópolis: Vozes.


182 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O GRUPO COMO INSTRUMENTO DE<br />

TRABALHO DO PSICÓLOGO<br />

Thaís Thomé Seni Oliveira Pereira, Ana Carolina Freitas Pinéa, Bruno<br />

Aurélio Finoto, Everton Ventura, Fabiane Costa Moraes, Francislaine<br />

Flâmia Inácio, Julio César <strong>de</strong> Camargo, Leandro Herkert Fazzano, Nayara<br />

Tiemi Naves, Ruth Tainá Aparecida Piveta<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

O trabalho com grupos tem se tornado um valioso instrumento em<br />

contextos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaborar com o tratamento e/ou bem-estar,<br />

bem como promover o <strong>de</strong>senvolvimento dos integrantes. A participação em<br />

grupos permite o <strong>de</strong>senvolvimento do homem no que concerne às suas crenças,<br />

habilida<strong>de</strong>s e à construção <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong>, posto que, ao interagir<br />

com outras pessoas, realiza trocas <strong>de</strong> experiências e aprendizado <strong>de</strong> comportamentos<br />

que o caracteriza como membro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado grupo social. A<br />

partir <strong>de</strong> tal concepção, é possível afirmar que os grupos são fundamentais<br />

na formação <strong>de</strong> seres humanos, e constitui um importante instrumento para<br />

a prática psicológica (ZIMERMAN, 2007).<br />

Inúmeros autores, como Moreno, Kurt Lewin, Bíon, Rogers, Pichon-<br />

Rivière, entre outros, com distintos pressupostos teóricos, trazem sua contribuição<br />

ao estudo e ao trabalho com grupos, em diferentes leituras sobre o<br />

fenômeno grupal. Fornecem compreensão sobre a estrutura e o funcionamento<br />

dos grupos, bem como estratégias <strong>de</strong> intervenção sobre estes<br />

(BAREMBLITT, 1994).<br />

No que se refere à formação do psicólogo como coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> grupos,<br />

algumas reflexões são importantes. Em primeiro lugar, uma técnica tomada<br />

isoladamente e <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scontextualizada leva à banalização e ao<br />

tecnicismo. É fundamental que o coor<strong>de</strong>nador tenha clareza sobre a finalida<strong>de</strong><br />

do grupo, as pessoas que o compõem, a natureza das combinações do<br />

setting, o esquema referencial teórico adotado e o procedimento técnico empregado.<br />

Na área da Psicologia, torna-se imprescindível uma formação que<br />

contemple essa área.


RESUMOS 183<br />

Objetivos: Conhecer a estrutura e o funcionamento <strong>de</strong> grupos coor<strong>de</strong>nados<br />

por psicólogos em diferentes contextos, bem como investigar concepções dos<br />

coor<strong>de</strong>nadores sobre elementos da prática grupal.<br />

Método: Este trabalho constitui uma pesquisa qualitativa. Foram realizadas<br />

entrevistas semi-estruturadas individuais com os psicólogos coor<strong>de</strong>nadores,<br />

a partir <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong> tópicos previamente <strong>de</strong>finido pelos pesquisadores.<br />

Resultados: Os psicólogos coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> grupo trazem como principais<br />

elementos <strong>de</strong> sua prática: a responsabilida<strong>de</strong> no exercício do papel, a importância<br />

da formação voltada para o trabalho com grupos, a importância <strong>de</strong><br />

um bom planejamento, a satisfação com o <strong>de</strong>senvolvimento do grupo e a<br />

reflexão permanente sobre o processo grupal e sobre seu papel <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nador.<br />

Conclusões: Consi<strong>de</strong>rando os contextos <strong>de</strong> atuação da psicologia e as <strong>de</strong>mandas<br />

atuais, os processos grupais, seus fundamentos teóricos e técnicos,<br />

as vertentes teóricas e formas <strong>de</strong> intervenção sobre grupos constituem um<br />

corpo <strong>de</strong> conhecimento imprescindível para a formação do psicólogo, bem<br />

como instrumentos essenciais para sua prática em diversos contextos.<br />

Palavras-chave: Formação do Psicólogo; Processos grupais; prevenção e tratamento<br />

psicológico.<br />

Referências<br />

BAREMBLITT, G. (org) Grupos: Teoria e Técnica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1994.<br />

ZIMERMAN, D.E. A importância dos grupos na saú<strong>de</strong>, cultura e diversida<strong>de</strong>. Vínculo v.4<br />

n.4 São Paulo, <strong>de</strong>z. 2007


184 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O MÉTODO MÃE CANGURU (MMC): UMA<br />

POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO PRECOCE NOS PRO-<br />

CESSOS SOCIAIS<br />

Tamires Pereira Carvalho, Ana Carolina Guarnieri, Danielle Aline Lacerda<br />

<strong>de</strong> Lima, Ana Paula da Silva Pereira, Cristina Coccia dos Santos, Érica<br />

Maria Marciano Soares<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A chegada <strong>de</strong> um filho, mesmo que acompanhada <strong>de</strong> muitas alegrias,<br />

traz consigo inseguranças e temores para os pais, pois o bebê é totalmente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seus cuidados. Também segundo este ponto <strong>de</strong> vista todo<br />

bebê é prematuro psiquicamente, pela necessida<strong>de</strong> afetiva que apresenta ao<br />

nascer. No entanto, quando a prematurida<strong>de</strong> é orgânica, os pais se vêem<br />

dissociados <strong>de</strong> suas fantasias e precisam lidar com a perda do bebê simbólico<br />

com o qual sonharam ao mesmo tempo em que este ser precisa <strong>de</strong> cuidados.<br />

O fato <strong>de</strong> estar em um contexto hospitalar, repleto <strong>de</strong> incubadoras e <strong>de</strong> enfermeiros<br />

o tempo todo presentes, faz com que os pais mantenham certa<br />

distância do seu bebê prematuro. Consequentemente a fase inicial <strong>de</strong> formação<br />

do vínculo afetivo é prejudicada, tanto na situação <strong>de</strong> internação quanto<br />

nos cuidados posteriores. Nestas circunstâncias, o Método Mãe Canguru<br />

(MMC) é uma tentativa humanizada <strong>de</strong> atendimento ao recém-nascido prematuro.<br />

É baseado no acolhimento do bebê pela mãe através do contato pele<br />

a pele proporcionado pela posição canguru, em que o bebê é colocado entre<br />

os seios maternos. O MMC traz muitos benefícios ao recém nascido <strong>de</strong> baixo<br />

peso, <strong>de</strong>ntre eles um ganho <strong>de</strong> peso mais rápido, redução da morbida<strong>de</strong> e<br />

do período <strong>de</strong> internação dos bebês, melhoria na incidência da amamentação<br />

e no senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e confiança dos pais. No MMC, a mãe substitui<br />

a incubadora, progressivamente, mantendo o bebê aquecido por meio<br />

do contato da criança com sua pele. O psicólogo se insere sendo primeiramente<br />

uma fonte <strong>de</strong> escuta para as dores principalmente da mãe, possibilitando<br />

a elaboração do luto do filho i<strong>de</strong>alizado e auxiliando-a no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da maternagem que po<strong>de</strong> estar encoberta pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lidar<br />

com as complicações da prematurida<strong>de</strong> do bebê. Contribui também para a<br />

participação efetiva da família no cuidado <strong>de</strong>sses bebês, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da


RESUMOS 185<br />

vida, favorece a criação e o fortalecimento do vínculo afetivo. Este trabalho<br />

teve como objetivo analisar os principais aspectos do Método Mãe Canguru<br />

como intervenção precoce. Trata-se <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica, realizada a<br />

partir da Scielo, uma biblioteca eletrônica <strong>de</strong> periódicos científicos, visando<br />

estudos qualitativos ou quantitativos que <strong>de</strong>monstrem os procedimentos<br />

adotados e os resultados <strong>de</strong>stes procedimentos para mães e bebês. Palavras<br />

chaves: método mãe canguru, hospitais, bebês. Critérios <strong>de</strong> inclusão: período<br />

2003 a 2009; contendo um ou mais <strong>de</strong>scritores no título. A partir da<br />

análise <strong>de</strong> 3 artigos foi constatado que os resultados do MMC foram<br />

satisfatórios, uma vez que se reduziram o número <strong>de</strong> infecções hospitalares<br />

na ida<strong>de</strong> gestacional, risco <strong>de</strong> insatisfação da mãe com a situação do bebê e<br />

foi possibilitado um <strong>de</strong>senvolvimento diferenciado dos bebês cangurus. Isto<br />

<strong>de</strong>monstra que o MMC traz benefícios diretos não somente para a saú<strong>de</strong><br />

física <strong>de</strong>stes recém-nascidos, mas também para o fortalecimento afetivo do<br />

bebê e seus pais, sendo uma importante possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção do<br />

psicólogo.<br />

Palavras-chave: intervenção precoce; método mãe canguru; vínculo mãe-bebê<br />

Referências<br />

COSTA, R. O Método Mãe-Canguru sob o olhar problematizador <strong>de</strong> uma equipe neonatal.<br />

Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermagem. Vol. 59, nº 4, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/<br />

pdf/reben/v59n4/a21v59n4.pdf>. Acesso em Dezembro, 2009.<br />

LAMY FILHO, F. et al. Avaliação dos resultados neonatais do método canguru no Brasil.<br />

Jornal <strong>de</strong> Pediatria.Vol. 84, nº 5, 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/<br />

scielo.php?pid=S0021-75572008000600009&script=sci_arttext>. Acesso em Dezembro,<br />

2009.<br />

TOMA, T. S. Método Mãe Canguru: o papel dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e das re<strong>de</strong>s familiares no<br />

sucesso do programa. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, Vol. 19, Sup. 2. Disponível em: < http:/<br />

/www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a05v19s2.pdf >. Acesso em Dezembro, 2009.


186 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

OFICINAS TERAPÊUTICAS NA ATENÇÃO À SAÚDE DE<br />

IDOSOS: PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR<br />

Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto, Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto, Caroline<br />

Garcia dos Santos, Letícia Jacomini, Patrícia Rossetto, Paula Marsolla<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A atenção aos idosos em nosso país constitui um <strong>de</strong>safio a ser vencido,<br />

com os objetivos <strong>de</strong> diminuir a co-morbida<strong>de</strong>s e incapacida<strong>de</strong>s e promover<br />

um envelhecimento saudável. Entretanto existe uma consi<strong>de</strong>rável parcela da<br />

população que envelheceu e hoje convive com condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pouco<br />

a<strong>de</strong>quadas, enfrentando co-morbida<strong>de</strong>s e incapacida<strong>de</strong>s. A vulnerabilida<strong>de</strong><br />

que acompanha a doença e a <strong>de</strong>ficiência são aspectos que contribuem para a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidado no âmbito familiar, o que acaba gerando, também,<br />

dificulda<strong>de</strong>s e transtornos para os membros da família. Com esta preocupação,<br />

um grupo <strong>de</strong> docentes e discentes das áreas <strong>de</strong> medicina, fisioterapia,<br />

enfermagem, psicologia, farmácia e serviço social, da UEL, optou por organizar<br />

e <strong>de</strong>senvolver ações interdisciplinares <strong>de</strong> prevenção e promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

aos idosos, resi<strong>de</strong>ntes no Conjunto Cabo Frio/Imagawa, localizado na<br />

região oeste <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Objetivos: realizar uma pesquisa, junto a uma<br />

parcela <strong>de</strong> idosos daquela região, para levantar dados sobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e as possíveis <strong>de</strong>mandas, para posteriormente empreen<strong>de</strong>r ações com o<br />

caráter <strong>de</strong> prevenção e promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que visem aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas e<br />

necessida<strong>de</strong>s dos idosos e familiares.Método: O levantamento <strong>de</strong> dados comportou<br />

a utilização <strong>de</strong> questionários que continham questões abertas e fechadas<br />

sobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o Instrumento Mini-Mental para avaliação<br />

cognitiva. A <strong>de</strong>finição dos itens do questionário foi realizada a partir da literatura<br />

e <strong>de</strong> observação junto a comunida<strong>de</strong>. No momento, estão sendo organizadas<br />

oficinas <strong>de</strong> trabalho, visando propiciar melhores condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

ao idoso. Para análise dos dados e <strong>de</strong>finição das ações, a equipe interdisciplinar<br />

se reúne semanalmente.Resultados: Obtivemos um N <strong>de</strong> 63 idosos, e observamos<br />

como estava o consumo <strong>de</strong> medicamentos, a freqüência dos checkups<br />

médicos, as co-morbida<strong>de</strong>s, ativida<strong>de</strong>s físicas e auto-percepção da saú<strong>de</strong>,<br />

ânimo e humor. Com base nestes dados, as áreas <strong>de</strong> conhecimento envolvidas<br />

no projeto, <strong>de</strong>linearam os procedimentos necessários para se trabalhar


RESUMOS 187<br />

nas oficinas terapêuticas durante o segundo semestre <strong>de</strong> <strong>2010</strong> (com início no<br />

dia 13/08). As oficinas terapêuticas terão como objetivo trabalhar as questões<br />

relacionadas às Quedas e à memória do idoso, bem como, promover<br />

uma interação social para estes indivíduos. Além <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s previstas<br />

como: palestras, dinâmicas <strong>de</strong> grupo, medição da Pressão Arterial e<br />

confraternização.Conclusão: Fazer pesquisa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do público envolvido<br />

requer ação, ética e comprometimento por parte dos pesquisadores,<br />

tal qual Spink(1976) nos aponta, por trabalharmos com o idoso temos que<br />

ter sempre uma atenção redobrada por conta <strong>de</strong> que o envelhecimento é um<br />

processo multi <strong>de</strong>terminado e dimensional, tal como Py(2006) indica e, ter<br />

claro o que nosso foco não é exclusivamente as co-morbida<strong>de</strong>s da velhice,<br />

mas sim, a pessoa que ali se encontra. Neste contexto, os trabalhos<br />

interdisciplinares trazem resultados positivos para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

idosos.<br />

Palavras-chave: Velhice; Trabalho com Grupos; Psicologia.<br />

Referências<br />

JERUSALINSKY, A. N. (1990). Multidisciplina, interdisciplina e transdisiciplina no trabalho clínico<br />

com crianças. In: Escritos da criança. Nº 03, 2ª edição, Centro Lydia Coriat, Porto<br />

Alegre.<br />

PY, L.; CANÇADO, F. A. X.; DOLL, J., FREITAS, E. V. <strong>de</strong>; &, GORZONI, M. L. (2006)<br />

Tratado <strong>de</strong> Geriatria e Gerontologia 2ªed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Kogan.<br />

SPINK, P. (1976) Pesquisa-ação e a análise <strong>de</strong> problemas sociais e organizacionais complexos. Revista<br />

Psicologia, v.5, n1, pp31-44,mar.


188 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

PROFESSORES HOMOSSEXUAIS – SUAS VIVÊNCIAS<br />

FRENTE À COMUNIDADE ESCOLAR<br />

Luana Pagano Peres Molina, Mary Nei<strong>de</strong> Damico Figueiró<br />

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão referente à<br />

problemática da vivência diária do professor/professora homossexual frente<br />

à instituição escolar, cujo pressuposto inicial parte da premissa que estes<br />

professores sofreram e vem sofrendo, algum tipo <strong>de</strong> preconceito <strong>de</strong>vido sua<br />

orientação sexual.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento, partimos para uma abordagem qualitativa e fundamentando-se<br />

na analise <strong>de</strong> discurso, ou seja, conhecendo as experiências<br />

<strong>de</strong> professores e professoras por meio <strong>de</strong> suas narrativas. Para isso foram<br />

entrevistados dois professores gays e uma professora lésbica, todos com ensino<br />

superior, que atuam ou atuaram no Ensino Fundamental II e do Ensino<br />

Médio. Nossa estratégia metodológica acontece em duas situações: A primeira,<br />

por meio <strong>de</strong> um questionário prévio composto <strong>de</strong> <strong>de</strong>z questões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

pessoal no intuito <strong>de</strong> traçar um perfil dos entrevistados. No segundo<br />

momento, entrevistas semi – estruturadas, com perguntas que focaram mais<br />

especificamente a percepção dos professores/professoras sobre a homofobia<br />

na escola.<br />

Nosso resultado é composto por relatos on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar a<br />

escola como um ambiente que reflete o sexismo que perpassa toda a socieda<strong>de</strong>,<br />

reproduzindo com frequência, as estruturas sociais, reforçando os preconceitos<br />

e privilégios <strong>de</strong> um sexo sobre o outro. Desta forma, percebemos<br />

que o heterossexismo está tão arraigado na cultura, que se torna invisível em<br />

muitas <strong>de</strong> suas atitu<strong>de</strong>s quase sutis, como por exemplo, em brinca<strong>de</strong>iras e<br />

piadas. O universo escolar reproduz os preconceitos da socieda<strong>de</strong> e, na tentativa<br />

<strong>de</strong> evitar o convívio dos alunos heterossexuais, com pessoas homossexuais,<br />

faz da homossexualida<strong>de</strong> o maior alvo da discriminação.<br />

Concluímos, portanto, que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre os sexos e a<br />

marginalização dos homossexuais acabam gerando vítimas <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

inacabada, <strong>de</strong> repressão, opressão e <strong>de</strong>sinformação. Por fim, esta socieda<strong>de</strong><br />

esta em constante afirmação dos preconceitos por meio, <strong>de</strong> uma conduta<br />

sócio-cultural discrimanadora.


RESUMOS 189<br />

Acreditamos que a alternativa para eliminar a homofobia seria<br />

problematizar, isto é, estimular a reflexão a todo o momento em que a<br />

assimetria entre os gêneros e as diferentes orientações sexuais (heterossexuais,<br />

homossexuais, bissexuais) se manifestarem no cotidiano. A partir disso,<br />

vemos a importância da Educação Sexual, como oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assumirmos<br />

uma postura <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e respeito entre os seres humanos, uma vez<br />

que, a educação sexual no ambiente escolar, assume uma postura <strong>de</strong> alicerce<br />

para centralizar as discussões sobre diferenças, trocas <strong>de</strong> informações, diálogos,<br />

<strong>de</strong>bates e discussões.<br />

Palavras-chave: Homossexualida<strong>de</strong>; Homofobia; Professores.<br />

Referências<br />

BRITZMAN, Deborah. O que é esta coisa chamada Amor – Uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> homossexual,<br />

educação e currículo. In: Revista Educação e Realida<strong>de</strong>. Vol. 21. pp. 71-96, jan/jun, 1996.<br />

FIGUEIRÓ, Mary Nei<strong>de</strong> Damico. Educação Sexual no dia a dia. <strong>Londrina</strong>: Ed. UEL. 1999.<br />

_________. Educação Sexual: Retomando uma proposta, um <strong>de</strong>safio. <strong>Londrina</strong>: Ed. UEL.<br />

2001.<br />

JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversida<strong>de</strong> Sexual na Educação: Problematizações sobre<br />

Homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação/Secretária <strong>de</strong> Educação Continuada,<br />

Alfabetização e Diversida<strong>de</strong> / UNESCO, 2009.<br />

LIONÇO, Tatiana; DINIZ, Débora (Orgs.). Homofobia e Educação: Um <strong>de</strong>safio ao silêncio.<br />

Brasília: Letras Livres/Ed. Uniban, 2009.


PROPRIEDADE PSICOMÉTRICAS DE UMA ESCALA<br />

PARA A AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE<br />

SOCIAL<br />

Josiane Cecília Luzia, Lucilla Maria Moreira Camargo<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar algumas proprieda<strong>de</strong>s<br />

psicométricas <strong>de</strong> uma escala construída para medir o Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong><br />

Social em adolescentes, utilizou-se um questionário composto <strong>de</strong> 58<br />

itens. Participaram 208 jovens com ida<strong>de</strong>s entre 17 e 19 anos, alfabetizados,<br />

<strong>de</strong> ambos os sexos. Para a medição das respostas foi utilizado o programa<br />

Winsteps v. 3.64.0, que <strong>de</strong>senhou um mapa dos sujeitos e dos itens em um<br />

contínuo <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social. Os resultados mostraram que a maioria dos<br />

sujeitos se localizam abaixo da média dos itens, ficando apenas sete indivíduos<br />

acima <strong>de</strong>ssa média. Um resultado que era <strong>de</strong> se esperar, já que a amostra<br />

provém da população geral. Isso significa que a maior parte dos entrevistados,<br />

por exemplo, ficam nervosos, ansiosos, em maior ou menor intensida<strong>de</strong>,<br />

quando tem que apresentar um discurso, o que é normal. E apenas um<br />

<strong>de</strong>sses sete indivíduos que ficaram acima po<strong>de</strong> se afirmar com certeza que<br />

apresenta o transtorno. O transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> social é caracterizado por<br />

um conjunto <strong>de</strong> respostas fisiológicas, cognitivas e comportamentais, não<br />

por uma reação isolada a um evento.<br />

Palavras-chave: Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong> Social, adolescente, escalas.


QUANDO AS TRAVESTIS ENTRAM EM CENA:<br />

NARRATIVAS DE HISTÓRIA DE VIDA<br />

Ana Paula Maluf, Géssica Denora Ribeiro, Geysa Machado Cascardo,<br />

Giane Figueiredo, Giovanna Marchesi Castillo, Guilherme Dutra Ponce,<br />

Hernani Pereira dos Santos, Iulia Sessaki Puls, Iury Florindo, Marilícia<br />

Witzler Antunes Ribeiro Palmieri<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

Na socieda<strong>de</strong> contemporânea, as relações <strong>de</strong> sexo e <strong>de</strong> gênero aparecem<br />

como hierarquizadas, politizadas e também alvo <strong>de</strong> dicotomias. Enquanto<br />

alguns modos <strong>de</strong> ser no mundo são legitimados, outros não o são; as sexualida<strong>de</strong>s<br />

dissi<strong>de</strong>ntes são, assim, transpostas a um patamar crítico e marginalizado,<br />

o que acaba por <strong>de</strong>cidir o campo <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong>sses sujeitos e silenciar<br />

o seu discurso. No presente estudo, visou-se explorar a trajetória <strong>de</strong> vida e a<br />

maneira <strong>de</strong> viver <strong>de</strong> uma travesti, <strong>de</strong> modo a utilizar o Paradigma da Psicologia<br />

Narrativa (Análise Narrativa) e <strong>de</strong>finir os seus alcances e limites teóricometodológicos.<br />

Junto disso, como importante contribuição política, social e<br />

cultural, este estudo também busca valorizar as construções sócio-históricas<br />

próprias das travestilida<strong>de</strong>s e dar visibilida<strong>de</strong> a esse outro. Foram utilizados,<br />

como referência, trabalhos da Antropologia, da Psicologia Social, da Análise<br />

do Discurso, com Orlandi e outros, e da Análise Narrativa, principalmente<br />

com Brockmeyer. Utilizou-se da noção <strong>de</strong> narrativa como uma forma específica<br />

<strong>de</strong> discurso: este último <strong>de</strong>finido por uma categoria que abarca, <strong>de</strong> forma<br />

geral, as ativida<strong>de</strong>s materiais e simbólicas da comunicação; a narrativa, mais<br />

especificamente, tratando-se <strong>de</strong> uma prática discursiva <strong>de</strong>finida pelo ato <strong>de</strong><br />

contar uma história, incluindo, aqui, a sua dimensão cronológica. Partiu-se,<br />

então, <strong>de</strong> questionamentos acerca do universo das travestis, no âmbito <strong>de</strong><br />

pesquisa da Psicologia Social, enaltecendo como seu objeto a narrativa <strong>de</strong><br />

história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma travesti que residia em <strong>Londrina</strong>, com base teóricometodológica<br />

na Análise do Discurso, ou, mais especificamente, na Análise<br />

Narrativa. A entrevista foi realizada em um local escolhido pela entrevistada,<br />

gravada em áudio, transcrita e, <strong>de</strong>pois, analisada conforme o paradigma<br />

mencionado. Os resultados revelaram uma maneira <strong>de</strong> vida própria da entrevistada,<br />

também funcional, mas que não revela paralelismo em relação à


192 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

vida cotidiana hegemônica e, assim, nenhum sinal <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> inerente<br />

contra a hegemonia: revelou-se apenas a diferença, que parece ser própria <strong>de</strong><br />

todo ser em relação, mas que é reiterada pelo discurso hegemônico como<br />

ameaça como subversão inerente à diferença e ao <strong>de</strong>sconhecido. Além disso,<br />

o Paradigma da Análise Narrativa mostrou-se bastante eficaz para análises <strong>de</strong><br />

narrativas <strong>de</strong> história <strong>de</strong> vida e, conforme discutido, bastante promissor a<br />

pesquisas que se inscrevam na área da Psicologia Social. Este método é caracterizado<br />

por sua inscrição em uma epistemologia sócio-construcionista, alinhando-se<br />

com teorias pós-estruturalistas (negação do formalismo estruturalista)<br />

e pós-positivistas (negação da anulação da subjetivida<strong>de</strong> operada pelo<br />

positivismo); assim, ele oferece ampla possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação do pesquisador<br />

com o pesquisado, abrindo a pesquisa à ação, e, como estrutura aberta<br />

e flexível, a narrativa possibilita a compreensão <strong>de</strong> aspectos da experiência<br />

humana que, geralmente, são negligenciados nas pesquisas científicas.<br />

Palavras-chave: Travesti; Paradigma da Análise Narrativa; Discurso.


RESUMOS 193<br />

REFLEXÃO SOBRE AS EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO<br />

ESTÁGIO EM ATENDIMENTO CLÍNICO NO QUINTO ANO<br />

DO CURSO DE PSICOLOGIA<br />

Diene Garcia Gimenes, Larissa <strong>de</strong> Freitas, Silvia Nogueira Cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

As clínicas-escolas <strong>de</strong> Psicologia têm como finalida<strong>de</strong> possibilitar o treinamento<br />

<strong>de</strong> alunos, mediante a aplicação prática dos conhecimentos teóricos<br />

adquiridos ao longo do curso, contribuindo na formação <strong>de</strong>sses profissionais<br />

habilitados no atendimento psicológico em consonância com as novas<br />

realida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>mandas sociais, políticas e culturais. O último ano do curso é<br />

repleto <strong>de</strong> expectativa para o atendimento clínico. Para alguns será a primeira<br />

experiência <strong>de</strong> contato com o paciente, e ela vem cheia <strong>de</strong> fantasias e<br />

receios. Este trabalho trata-se <strong>de</strong> uma reflexão sobre o estágio em atendimento<br />

clínico, com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as dificulda<strong>de</strong>s vivenciadas pelos<br />

alunos do último ano do curso <strong>de</strong> psicologia. Sabe-se que o fundamento<br />

positivista <strong>de</strong> ciência acaba norteando a formação acadêmica, seguindo esta<br />

perspectiva, o conhecimento vem sendo concebido num processo cumulativo,<br />

on<strong>de</strong> então nos últimos anos, já munidos da teoria, os discentes então<br />

po<strong>de</strong>riam ‘aplicá-la’. Atualmente já é reconhecido o pluralismo teórico e a<br />

limitação <strong>de</strong> uma única abordagem para compreen<strong>de</strong>r a amplitu<strong>de</strong> do ser<br />

humano. Alguns autores da literatura apontam os objetivos que norteiam a<br />

base da clínica-escola: a formação do estagiário e o oferecimento <strong>de</strong> um serviço<br />

digno à comunida<strong>de</strong>. E chamam a atenção para a falta <strong>de</strong> preparo do<br />

discente para uma prática que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início pe<strong>de</strong> por intervenções. Diante<br />

<strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo curricular, on<strong>de</strong> a prática se concentra nos últimos anos, temos<br />

cenário para a inserção da experiência <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> estágio clínico,<br />

on<strong>de</strong> se relata alguns empecilhos para o andamento linear do estágio. Embora<br />

exista tanta expectativa quanto a esse momento, po<strong>de</strong> ser que ele nem<br />

mesmo ocorra. Afinal, há um intervalo <strong>de</strong> espera entre a procura <strong>de</strong> atendimento<br />

e o atendimento em si, possibilitando que o paciente já tenha dado<br />

outros encaminhamentos a sua angústia. Também <strong>de</strong>ve-se levar em conta a<br />

própria inexperiência do estagiário em manejar a sessão e as chances <strong>de</strong> falta<br />

da implicação do paciente com o próprio sintoma, o que po<strong>de</strong> levar até mes-


194 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

mo a um abandono do atendimento e faltas freqüentes. As dificulda<strong>de</strong>s ocorridas<br />

no estágio <strong>de</strong>notam, tal como já apontado na literatura, para a necessida<strong>de</strong><br />

da revisão do currículo acadêmico. Em especial os estágios concentrados<br />

nos últimos anos que <strong>de</strong>monstram um ponto frágil na formação. Faz-se<br />

necessário repensar, a nosso ver, a própria fundamentação da compreensão<br />

do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem; no intuito <strong>de</strong> que a formação se dê no<br />

movimento <strong>de</strong> superar a tendência tecnicista e fragmentada do aprendizado.<br />

É preciso pensar a diversida<strong>de</strong> do conhecimento da teoria e da prática <strong>de</strong><br />

forma mais integrada. O currículo integrador do curso <strong>de</strong> medicina po<strong>de</strong> ser<br />

um mo<strong>de</strong>lo para pensarmos a inserção do estudante em uma educação<br />

problematizadora, na qual teoria e prática se vinculariam a experiências significativas.<br />

Concluindo, o presente trabalho visa suscitar a discussão sobre o<br />

currículo atual dos cursos <strong>de</strong> psicologia e sua a<strong>de</strong>quação ao processo <strong>de</strong> formação<br />

do estudante.<br />

Palavras-chave: psicologia, ensino, estágio em atendimento clínico.<br />

Referências<br />

AGUIRRE, A. M. B.; HERZBERG, E.; PINTO, E. B.; BECKER, E.; CARMO, H. M. E. S.;<br />

SANTIAGO, M. D. E. . A formação da atitu<strong>de</strong> clínica no estagiário <strong>de</strong> psicologia. Psicologia<br />

USP, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 49-62, 2000.<br />

PAULIN, L. F. R.; POCAS, R.Caeli G.. A experiência da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> São Francisco com<br />

o internato médico <strong>de</strong> psiquiatria utilizando a metodologia da aprendizagem baseada em<br />

problemas. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, Porto Alegre, v. 31, n. 1, 2009 . Disponível<br />

em: . Acesso em 12 ago <strong>2010</strong>.<br />

PERES, R. S.; SANTOS, M. A. dos; COELHO, H. M. B.. Atendimento psicológico a estudantes<br />

universitários: consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>de</strong> uma experiência em clínica-escola. Estud.<br />

psicol. (Campinas), Campinas, v. 20, n. 3, Dec. 2003 . Disponível em: . Acesso em 06 ago. <strong>2010</strong>.<br />

YEHIA, G. Y. . Clínica-Escola: Atendimento ao estagiário ou atendimento ao cliente. Coletâneas<br />

da ANPEPP, v. 1, n. 9, p. 109-118, 1996.


RESUMOS 195<br />

TRILHANDO OS CAMINHOS DO AMOR:<br />

UM ESTUDO SOBRE AS RELAÇÕES AMOROSAS<br />

CONTEMPORÂNEAS<br />

Flávia A. Verceze, Franciane <strong>de</strong> O. Nantes, Gabriela K. Higashi, Gabriele<br />

Gris, Geise R. <strong>de</strong> Souza, Guilherme H. da Silva, Gracielly T. <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Hans W. Alves, Sonia R. V. Mansano<br />

A presente pesquisa está sendo realizada por estudantes do 2º ano do<br />

curso <strong>de</strong> Psicologia da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, na disciplina<br />

Psicologia Social I prática. O tema abordado são as relações amorosas que,<br />

segundo o referencial teórico da psicologia social, po<strong>de</strong>m ser entendidas como<br />

construções históricas, invenções sociais que com o passar do tempo ten<strong>de</strong>m<br />

a ser vistas como naturais, o que acaba por gerar uma série <strong>de</strong> pressupostos<br />

cristalizados sobre a noção <strong>de</strong> amor que repercutem nas relações cotidianas.<br />

Assim, este trabalho busca investigar as diferentes concepções <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong><br />

relações amorosas que foram construídas no <strong>de</strong>correr da história e que, em<br />

parte, sobrevivem na contemporaneida<strong>de</strong>. Além disso, a pesquisa busca compreen<strong>de</strong>r<br />

algumas transformações sociais, como a emancipação feminina e o<br />

avanço do saber médico, que estão diretamente ligadas às mudanças nos<br />

papéis sociais <strong>de</strong> homens e mulheres em nossa socieda<strong>de</strong>. Outro ponto investigado<br />

trata dos pressupostos que, por volta do século XVIII, construíram<br />

o que conhecemos ainda hoje como “amor romântico”, tais como a universalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse sentimento, seu caráter espontâneo, natural e incontrolável e<br />

a expectativa <strong>de</strong> que esta relação seja duradoura (Costa, 1999). O estudo<br />

<strong>de</strong>sses pressupostos é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância, uma vez que eles po<strong>de</strong>m ser percebidos<br />

ainda hoje em conversas cotidianas que tratam do amor, nas artes e<br />

nos meios <strong>de</strong> comunicação. Consi<strong>de</strong>rando a literatura pesquisada, o objetivo<br />

<strong>de</strong>ssa investigação consiste em compreen<strong>de</strong>r como se dão as relações amorosas<br />

na socieda<strong>de</strong> contemporânea e enten<strong>de</strong>r as transformações ocorridas<br />

na dinâmica amorosa. Neste momento, a investigação está sendo realizada<br />

por meio <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> abordagem teórica que envolve uma investigação<br />

em diferentes áreas <strong>de</strong> conhecimento como história, sociologia, antropologia<br />

e psicologia. Num segundo momento, buscar-se-á aprimorar este estudo<br />

com uma abordagem qualitativa, que prima pelas percepções, crenças e


196 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

significados que as pessoas constroem sobre o fenômeno estudado, sem que<br />

haja a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> participantes. Com base na<br />

literatura e nas reflexões feitas sobre o tema em sala <strong>de</strong> aula, já é possível<br />

<strong>de</strong>stacar como um dos resultados <strong>de</strong>ste trabalho o quanto as relações amorosas<br />

e o conceito <strong>de</strong> amor são consi<strong>de</strong>rados como algo natural e i<strong>de</strong>alizado.<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se dizer que muitos dos pressupostos que compõe o amor<br />

romântico permanecem presentes nas expressões amorosas contemporâneas.<br />

Palavras-chave: relações amorosas, contemporaneida<strong>de</strong>, psicologia.<br />

Referências<br />

COSTA, Jurandir Freire (1999). Sem frau<strong>de</strong> nem favor: estudos sobre o amor romântico. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Rocco.


RESUMOS 197<br />

UM OLHAR SOBRE A MORTE E OS<br />

PROCESSOS DE LUTO<br />

Ghregory Allan Duarte Gonçalves, Isadora Camargo Cardoso, Larissa<br />

Flausino Banuth Rodrigues, Letícia Jacomini, Letícia Rocha Pontes,<br />

Luana Caroline Furquim, Luciana Maria Filgueiras, Liliani Ferreira da<br />

Silva,<br />

Sonia Regina Vargas Mansano<br />

A presente pesquisa teórica foi realizada na disciplina Psicologia Social<br />

do curso <strong>de</strong> Psicologia da UEL. Seu objetivo consistiu em analisar as diferentes<br />

maneiras como a morte é experenciada e compreendida. Já no início da<br />

investigação teórica, foi possível constatar que existem várias “mortes” em<br />

vida. Embora não envolva a morte concreta do corpo, experiências como<br />

separação, <strong>de</strong>semprego, doenças e até mesmo acontecimentos satisfatórios<br />

provocam algum tipo <strong>de</strong> ruptura em relação aos modos <strong>de</strong> viver já conhecidos.<br />

Des<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong> até os dias atuais, a experiência da morte ganhou<br />

várias configurações. Antigamente consi<strong>de</strong>rada como “familiar e próxima”,<br />

hoje “a morte amedronta a ponto <strong>de</strong> não mais ousarmos dizer seu nome”<br />

(Ariès, 2003). Essa mudança torna-se mais evi<strong>de</strong>nte entre os anos <strong>de</strong> 1930 a<br />

1950, nos quais há o <strong>de</strong>slocamento do lugar on<strong>de</strong> a espera pela morte acontece.<br />

Era comum morrer em casa, na companhia <strong>de</strong> familiares e amigos.<br />

Agora, morre-se sozinho, <strong>de</strong> preferência sob os cuidados <strong>de</strong> uma equipe hospitalar.<br />

A presente pesquisa foi realizada em três fases: uma ampla revisão<br />

bibliográfica; a discussão entre os pesquisadores sobre o material levantado<br />

e, por fim, a análise do material consultado. Destacaremos aqui três resultados<br />

obtidos neste estudo. Primeiramente, uma das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação<br />

do psicólogo consiste em fazer um trabalho analítico junto aos pacientes que<br />

sofrem com a morte e o luto, esteja este na condição <strong>de</strong> paciente com uma<br />

doença terminal, quando recebe a notícia que não terá muito tempo <strong>de</strong> vida<br />

ou quando enfrenta a perda <strong>de</strong> alguma pessoa próxima. Para Kübler-Ross<br />

(1975), quando o paciente terminal recebe a notícia <strong>de</strong> sua doença, ele passa<br />

por cinco etapas <strong>de</strong> luto, a saber: negação, raiva, barganha, <strong>de</strong>pressão e aceitação.<br />

O profissional da psicologia po<strong>de</strong> fazer um trabalho tanto com os<br />

pacientes terminais quanto com sua família, no sentido <strong>de</strong> elaborar o prog-


198 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

nóstico <strong>de</strong>sfavorável. A morte pouco elaborada po<strong>de</strong> levar o paciente e/ou<br />

os familiares a enfrentar situações <strong>de</strong> conflitos como ansieda<strong>de</strong>, tristezas,<br />

surtos psicóticos, que aumentam ainda mais o sofrimento. Um segundo resultado<br />

diz respeito ao fato <strong>de</strong> que o medo da morte é construído já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

infância, na relação com os adultos e mesmo na maneira como a morte é<br />

tratada na mídia. Por fim, foi possível investigar nesta pesquisa como os profissionais<br />

da saú<strong>de</strong>, que atuam diretamente com situações <strong>de</strong> morte, constroem<br />

estratégias <strong>de</strong> sobrevivência, que envolvem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a linguagem técnica<br />

utilizada <strong>de</strong>ntro da instituição hospitalar até a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certo<br />

distanciamento dos pacientes em risco. Como conclusão, po<strong>de</strong>-se verificar<br />

que, apesar <strong>de</strong> inevitável, existe muita dificulda<strong>de</strong> para enfrentar a experiência<br />

<strong>de</strong> morte tanto por parte da população em geral quanto por parte dos<br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam diretamente com os limites da vida.<br />

Palavras-chave: morte, medo, luto.<br />

Referências<br />

ÁRIES, P. História da morte no oci<strong>de</strong>nte. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 2003.<br />

KÜBLER-ROSS, E. Morte – estágio final da evolução. 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 1975.


RESUMOS 199<br />

UMA TRANSMISSÃO POSSÍVEL DA ÉTICA DA<br />

PSICANÁLISE: ELABORANDO A TEORIA<br />

ATRAVÉS DA PRÁTICA<br />

Patricia Silvia <strong>de</strong> Souza, Denise Maria Lopes Dál-Col<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Estadual</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong><br />

A psicanálise parte <strong>de</strong> um pressuposto ético da prática, para assim <strong>de</strong>senvolver<br />

uma teoria. Após alguns anos <strong>de</strong> estudos, textos lidos, duvidas<br />

tiradas, questões postas que ainda não silenciaram, po<strong>de</strong>-se dizer que houve<br />

uma elaboração no que diz respeito a esse saber ético psicanalítico que liga<br />

teoria e prática.<br />

Lacan faz uma releitura da obra <strong>de</strong> Freud, que ocorre após o autor perceber<br />

algumas divergências entre a prática da psicanálise e a teoria proposta<br />

a priori. Trata o setting psicanalítico <strong>de</strong> tal forma a exprimir um conjunto <strong>de</strong><br />

normas éticas, não técnicas, uma forma <strong>de</strong> atuar visando não prejudicar tanto<br />

a teoria psicanalítica, quanto os pacientes que confiaram a esta suas questões.<br />

Lacan divi<strong>de</strong> a análise em três tempos, igualmente ao complexo <strong>de</strong> Édipo,<br />

o primeiro momento é das entrevistas preliminares, o segundo seria a análise<br />

propriamente dita e por último viria o fim da análise.<br />

O projeto <strong>de</strong> ensino e extensão: “Uma transmissão possível da ética na<br />

psicanálise: Um recorte”, coor<strong>de</strong>nado pela docente Denise Maria Lopes Dál-<br />

Col, objetiva trabalhar esse primeiro momento <strong>de</strong> uma análise propriamente<br />

dita, trabalhar a <strong>de</strong>manda, o diagnóstico clínico e a inscrição da transferência.<br />

O que acontece e é proporcionado em termos <strong>de</strong> prática clínica é um<br />

recorte <strong>de</strong>sse primeiro momento, melhor dizendo, se as entrevistas preliminares<br />

é um recorte necessário ao andamento da análise, essa triagem, <strong>de</strong>nominada<br />

assim, seria o primeiro contato, uma entrevista, na qual começaria o<br />

processo <strong>de</strong> incitar o paciente a questionar sobre quais implicações subjetivas<br />

compõem sua <strong>de</strong>manda. O trabalho foi realizado em três momentos, o<br />

primeiro com uma revisão da teoria, um segundo no qual passou a triar os<br />

pacientes que estavam na fila <strong>de</strong> espera e por ultimo o compromisso com o<br />

encaminhamento <strong>de</strong>stes.


200 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

O título do presente trabalho “Uma transmissão possível da ética na<br />

psicanálise: Elaborando a teoria através da prática” é o resultado <strong>de</strong> um trabalho<br />

que foi realizado no <strong>de</strong>correr do ano <strong>de</strong> <strong>2010</strong>. Observou-se que, ao<br />

término <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento, os encaminhamentos propostos<br />

ocorreram <strong>de</strong> acordo com o que se julgava mais ético para cada paciente.<br />

Concluídos os atendimentos e as discussões <strong>de</strong>stes, iniciou-se um processo<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um saber em que condissesse com a prática. A resultante<br />

primordial do trabalho <strong>de</strong>senvolvido no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste ano se pauta na elaboração<br />

da importância <strong>de</strong> se trabalhar a teoria em conjunto com a prática,<br />

saber que tanto uma quanto a outra tem seus subsídios em uma ética, que se<br />

liga tanto a teoria (Psicanálise) quanto as pessoas que oferecem suas questões<br />

a serem trabalhadas.<br />

Palavras-chave: Psicanálise, ética, triagem<br />

Referências<br />

CABAS, A. G. . Curso e Discurso da Obra <strong>de</strong> J. Lacan. 3. ed. São Paulo-SP: Editora Moraes,<br />

1985. v. 1. 292 p.<br />

FREUD, S. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. v.12. 1912.<br />

___. Sobre o início do tratamento: Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I.<br />

v.12. 1913.<br />

MILLER, J. A. Introdução a um discurso do método analítico. Seminário do Campo<br />

Freudiano, Terceira Conferência, Falo, Salvador, n. 2, p. 87-96, jan.jun. 1988.<br />

QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Jorge Zahar (ed). Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1991. 11ª<br />

edição, 13-34.


RESUMOS 201<br />

Índice <strong>de</strong> Autores<br />

A<br />

Alessandra Elisa Gromowski, 172<br />

Alfredo J. Sallum, 149<br />

Amanda Camilotti Siqueira, 149, 169<br />

Amanda Morais, 155<br />

Ana Carolina Freitas Pinéa, 182<br />

Ana Carolina Guarnieri, 169, 184<br />

Ana Paula da Silva Pereira, 169, 184<br />

Ana Paula Maluf, 191<br />

Angela Maria Zechim Luziano<br />

da Silva, 157<br />

Angélica Cubas Duarte, 155<br />

Angélica Polvani Trassi, 155<br />

Ariadne Susuki <strong>de</strong> Lima, 155<br />

Arthur Eugênio Crepaldi Vigatto,<br />

165, 174, 178, 186<br />

B<br />

Bruno Aurélio da Silva Finoto, 153, 182<br />

Bruno Haring Marochi, 165<br />

C<br />

Camila Belavenuta Pinto, 149, 165<br />

Carla Giovanna Belei Martins, 155<br />

Caroline Encinas Audibert, 172<br />

Caroline Garcia dos Santos, 174, 178, 186<br />

Carolyne Tomáz <strong>de</strong> Aquino, 167<br />

Celina Sayuri Nakamura, 153, 165<br />

Cibely Francine Pacífico, 153, 165<br />

Cristina Coccia dos Santos, 184<br />

D<br />

Daniela Cristina Oliveira, 167<br />

Daniele Aline Lacerda <strong>de</strong> Lima, 149, 184<br />

Débora Letícia Dias Pinto, 167<br />

Denise Maria Lopes Dál-Col, 199<br />

Diene Garcia Gimenes, 193<br />

E<br />

Edmárcia Manfredin Vila, 167<br />

Ednéia Aparecida Peres Hayashi, 176<br />

Eliza Dieko Oshiro Tanaka, 153<br />

Érica Maria Marciano Soares, 184<br />

Everton Ventura, 182<br />

F<br />

Fabiane Costa Moraes, 182<br />

Flávia A. Verceze, 195<br />

Franciane <strong>de</strong> O. Nantes, 195<br />

Franciele Tiemi da Silva, 151<br />

Francislaine Flâmia Inácio, 182<br />

G<br />

Gabriela K. Higashi, 195<br />

Gabriela Rodrigues, 169<br />

Gabriele Gris, 195<br />

Geise R. <strong>de</strong> Souza, 195<br />

Gesielene Carvalho, 169<br />

Géssica Denora Ribeiro, 176, 191<br />

Geysa Machado Cascardo, 176, 191<br />

Ghregory Allan Duarte Gonçalves, 197<br />

Giane Figueiredo, 176, 191<br />

Giovanna Marchesi Castillo, 191<br />

Gracielly T. <strong>de</strong> Oliveira, 195<br />

Guilherme Dutra Ponce, 191<br />

Guilherme H. da Silva, 195<br />

H<br />

Hans W. Alves, 195<br />

Heloiza Kruleske da Silva, 172<br />

Hernani Pereira dos Santos, 176, 191<br />

I<br />

Isadora Camargo Cardoso, 197<br />

Iulia Sessaki Puls, 176, 191<br />

Iury Florindo, 191<br />

J<br />

Jamille Mansur Lopes, 157<br />

João Batista Martins, 165<br />

Josiane Cecília Luzia, 167, 190<br />

Julio César <strong>de</strong> Camargo, 182


202 I CONGRESSO DE PSICOLOGIA DA UEL – A PSICOLOGIA EM FOCO: DIVERSIDADE E DESAFIOS<br />

Julio César Velásquez Zapata, 167<br />

K<br />

Karen Caroline <strong>de</strong> Oliveira Rancura, 157<br />

Karina Stagliano, 169<br />

L<br />

Larissa Beatriz Andreatta, 169<br />

Larissa <strong>de</strong> Freitas, 193<br />

Larissa <strong>de</strong> Oliveira Palla, 157<br />

Larissa Flausino Banuth Rodrigues, 197<br />

Leandro Herkert Fazzano, 182<br />

Letícia Jacomini, 174, 178, 186, 197<br />

Letícia Rocha Pontes, 172, 197<br />

Liliani Ferreira da Silva, 197<br />

Luana Caroline Furquim, 197<br />

Luana Pagano Peres Molina, 188<br />

Luciana Maria Filgueiras, 197<br />

Lucilla Maria Moreira Camargo, 190<br />

M<br />

Marilícia Witzler Antunes Ribeiro<br />

Palmieri, 191<br />

Mary Nei<strong>de</strong> Damico Figueiró, 188<br />

Meyre Eiras <strong>de</strong> Barros Pinto,<br />

174, 178, 186<br />

N<br />

Naiara Luciano Borri, 157<br />

Natalia Delatim Ortiz, 172<br />

Natália Regina Pinheiro <strong>de</strong> Freitas, 180<br />

Natália Rosot, 180<br />

Nathalia Gonçalves, 151<br />

Nathália Tavares Bellato Spagiari, 180<br />

Nayara Tiemi Naves, 182<br />

O<br />

Orlando Amaro <strong>de</strong> Oliveira e Souza<br />

Junior, 180<br />

P<br />

Patrícia Cristiane <strong>de</strong> Oliveira, 180<br />

Patrícia Rossetto, 174, 178, 186<br />

Patricia Silvia <strong>de</strong> Souza, 199<br />

Paula Francine Gimenez, 180<br />

Paula Marsolla, 174, 178, 186<br />

Priscilla Araújo Taccol, 155<br />

Priscilla Gonçalves Teixeira, 167<br />

R<br />

Rafael dos Reis Biazin, 180<br />

Rafaela Ventura Silvério Biz, 180<br />

Rafaela Zago <strong>de</strong> Mello, 172<br />

Rosemarie Elizabeth Schimidt<br />

Almeida, 149<br />

Ruth Tainá Aparecida Piveta, 182<br />

S<br />

Sergio Kazuyoshi Fuji, 151, 173<br />

Silvia Nogueira Cor<strong>de</strong>iro, 151, 193<br />

Sílvia Nogueira Cor<strong>de</strong>iro, 169<br />

Solange Maria Beggiato Mezzaroba, 172<br />

Sonia Regina Vargas Mansano,<br />

180, 195,197<br />

T<br />

Taís Robles, 180<br />

Talita Machado Vieira, 180<br />

Tamires Pereira Carvalho, 149, 184<br />

Thaís Thomé Seni Oliveira Pereira, 182

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