Pequenos brinquedos, jogos sem fim – Os sintomas no brincar da cr

Coleção Psicanálise de crianças. Novos sintomas.
Artigo: Pequenos brinquedos, jogos sem fim – Os sintomas no brincar da
criança contemporânea.
Ana Marta Meira
No artigo Pequenos brinquedos, jogos sem fim – Os sintomas no brincar da criança
contemporânea, Ana Marta Meira traz a possibilidade de refletir sobre o brincar, e como as
crianças de hoje praticam esse brincar. Para trazer a reflexão das novas formas do brincar a
autora parte da análise dos primórdios e assim, conseqüentemente, se utiliza do escrito de
Freud, “Além do principio do prazer”, que traz o fort/da, como sendo um jogo que vem
pela via da metaforização, onde a criança simboliza a separação da mãe, repetindo, então,
os fonemas “o-o-o”, enunciando a ausência. A partir disso, se inicia a trajetória do brincar
na psicanálise.
Neste jogo, a criança reproduz a presença e a ausência, que para Lacan seria a cena
reveladora da constituição do eu, que descreve em seu escrito “O estádio do espelho e sua
função como formador do eu”.
Ana Marta Meira nos traz questões cruciais sobre a constituição do brincar, das quais
podemos ressaltar: o processo de metaforização, a repetição, a linguagem e a imagem
especular. Diante disso, a autora nos coloca que atualmente nos jogos infantis podem-se
observar as mais variadas formas de repetição, que trazem consigo marcas do discurso
social e também do discurso familiar.
O discurso que prevalece diz de um cuidado exagerado para com as crianças. A partir
de então o brincar entra em segundo plano, e ganha o olhar do outro, que priva as crianças
de repetirem sem cessar os jogos, que os constituem.

A autora lança a idéia de que nos tempos modernos vemos o narcisismo parental
levado aos extremos, pois suas crianças são levadas a buscar uma perfeição que não há.
Essa perfeição vem através dos jogos de montar, que são perfeitos para realizar o que a
imaginação das crianças pode alcançar, é claro, sem que elas precisem sujar as mãos. Logo
a autora nos convoca a pensar: “que efeitos então produz na subjetividade da criança o
discurso social que apregoa uma vida plena de objetos consumíveis em larga escala,
límpidos e vazios de significação?”.(Meira, p.46).
A idéia do brincar das crianças na sociedade contemporânea está marcada pela angústia
visível no discurso familiar, pois literalmente, o olhar do outro invade a cena do brincar,
assim fazendo com que a criança busque algo em torno dos pais para desviar seu olhar, para
assim instalar o jogo metafórico. Então é em torno da ausência que o brincar se instala.
O presente artigo nos convoca a pensar a respeito dos brinquedos que são oferecidos às
crianças de hoje. Onde se colocam o jogo e as marcas do Outro social? Pois podemos
pensar que desde pequenas as crianças usam de toda a sua imaginação para superar o outro,
aparecendo, assim, traços imaginários como ganhar ou perder, ser forte ou ser fraco, que se
postam no brincar infantil, sintoma da infância. “Sintoma que, representando uma
substituição metafórica, hoje muitas vezes fracassada, em função da fragilidade simbólica
que marca a sociedade contemporânea. Fragilidade que também se instala no campo
imaginário, já que os laços que o fundam encontram-se também marcados pelo vazio das
palavras”. (Meira, p.50).
No final do artigo, Ana Marta projeta um olhar para a clínica, onde crianças chegam
falando de suas angústias, de seus sintomas, pois não encontram no brincar uma
consistência para sustentar e elaborar sua angústia.

A partir, então, de tudo o que foi exposto por Ana Marta Meira a respeito do sintoma
no brincar infantil na psicanálise, entendemos que as crianças atualmente estão produzindo
sintomas, pois muitas vezes não conseguem através do brincar sustentar uma elaboração
simbólica dos conflitos inconscientes.
Sheila Susani Faistel