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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA Revista ... - Unimep

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<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>METODISTA</strong> <strong>DE</strong> <strong>PIRACICABA</strong><br />

<strong>Revista</strong> de Ciência & Tecnologia<br />

Da Tecnologia de Grupo ao Neotectonismo<br />

ISNN 0103-8575 • Piracicaba, SP • Volume 8 • Número 15 • P 1-108 • junho /2000<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 1


<strong>UNIVERSIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>METODISTA</strong> <strong>DE</strong> <strong>PIRACICABA</strong><br />

Reitor<br />

ALMIR <strong>DE</strong> SOUZA MAIA<br />

Vice-reitor Acadêmico<br />

ELY ESER BARRETO CÉSAR<br />

Vice-reitor Administrativo<br />

GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM<br />

EDITORA UNIMEP<br />

CONSELHO <strong>DE</strong> POLÍTICA EDITORIAL<br />

Almir de Souza Maia (presidente)<br />

Antonio Roque Dechen<br />

Casimiro Cabrera Peralta<br />

Cláudia Regina Cavaglieri<br />

Elias Boaventura<br />

Ely Eser Barreto César (vice-presidente)<br />

Francisco Cock Fontanella<br />

Gislene Garcia Franco do Nascimento<br />

Nivaldo Lemos Coppini<br />

NÚMERO 15 – VOLUME 8 – 2000<br />

COMISSÃO EDITORIAL<br />

Nivaldo Lemos Coppini (presidente)<br />

Hélio Dias da Silva<br />

Klaus Schützer<br />

Maria de Fátima Nepomuceno Dédalo<br />

Waldo Luis de Lucca<br />

EDITOR-EXECUTIVO<br />

Heitor Amílcar da Silveira Neto (MTb 13.787)<br />

SECRETÁRIA DA COMISSÃO EDITORIAL<br />

acadêmica Flavia Paduan Bellani<br />

A REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA é uma publicação semestral da Universidade<br />

Metodista de Piracicaba. Os textos são selecionados por processo<br />

anônimo de avaliação por pares (peer review). Veja as normas para publicação<br />

no final da revista. Os originais devem ser encaminhados por e-mail ao<br />

endereço revct@unimep.br ou, pelo Correio, para: Comissão Editorial<br />

da RC&T, a/c prof. Nivaldo Coppini, UNIMEP – Campus Santa Bárbara<br />

d’Oeste – Rod. Santa Bárbara/Iracemápolis, km 01 – 13450-000 – Santa<br />

Bárbara d’Oeste/SP.<br />

As opiniões expressas nos artigos, tanto os encomendados como os enviados<br />

espontaneamente, são de responsabilidade dos seus autores.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA (Science na Technology<br />

Journal) is published twice a year by Universidade<br />

Metodista de Piracicaba (São Paulo – Brazil).<br />

It contains papers on scientific and technological<br />

issues. Manuscripts are selected through a blind<br />

peer review process. Editorial norms for submission<br />

of articles can be requested to the Editor.<br />

A <strong>Revista</strong> Ciência & Tecnologia é indexada por<br />

<strong>Revista</strong> de Ciência & Tecnologia is indexed by<br />

Base de Dados do Centro de Informações Científicas<br />

e Tecnológicas (Comissão Nacional de Energia<br />

Nuclear); Base de Dados do Ibge; Internacional<br />

Abstracts in Operations Research/IOR (University of<br />

Exeter); Periódica – Incide de <strong>Revista</strong>s Latinoamericanas<br />

em Ciencias (Unam); Subis (Sheffield Academic<br />

Press).<br />

EQUIPE TÉCNICA<br />

SECRETÁRIA<br />

Ivonete Savino<br />

ASSISTENTE ADMINISTRATIVO<br />

Altair Alves da Silva<br />

EDIÇÃO <strong>DE</strong> TEXTO<br />

Milena de Castro<br />

REVISÃO<br />

Sabrina R. Bologna<br />

CAPA<br />

Genival Cardoso<br />

Impressão: Personal Grafik Gráfica e Editora<br />

DTP E PRODUÇÃO<br />

Gráfica UNIMEP • Impresso em<br />

Duplicadora Digital Xerox Doutech 135<br />

ASSINATURAS E REDAÇÃO<br />

EDITORA UNIMEP<br />

Rodovia do Açúcar, km 156<br />

13400-911 – Piracicaba – SP<br />

Tel/fax: (19) 430-1620<br />

E-mail: editora@unimep.br<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA<br />

V. 1 • N. 1 • 1981<br />

Piracicaba, Editora UNIMEP<br />

Semestral / Twice a year<br />

1- Tecnologia – periódicos<br />

CDU – 62 (05)<br />

ISNN 0103-8575<br />

2 Junho • 2000


RC&T 15<br />

Editorial<br />

PRESTÍGIO E RESPEITO<br />

Definitivamente, nenhuma pesquisa científica pode ser completa se os resultados das investigações nela<br />

conduzidas não forem amplamente divulgados por meios capazes de apresentá-los à sociedade, de maneira a<br />

contribuir para a formação de recursos humanos, para o avanço da ciência ou mesmo para disponibilizá-los<br />

aos setores produtivos dessa sociedade.<br />

É nesse sentido que muito nos honra apresentar mais este número da REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA &<br />

TECNOLOGIA, que tem demonstrado constituir eficaz espaço editorial no debate e na difusão de inúmeras<br />

informações científicas, cumprindo, assim, o seu papel acadêmico ao longo dos anos.<br />

Tanto que sua importância não está restrita ao meio unimepiano. Sua inserção já é marcante na comunidade<br />

científica, inserção esta revelada pelos numerosos trabalhos de pesquisadores de renome nacional e<br />

internacional nela publicados. Além disso, a qualidade identificada nos seus artigos já é, em si, um visível atestado<br />

de prestígio e de respeito da comunidade científica.<br />

A REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA representa também um espaço privilegiado para os<br />

pesquisadores da UNIMEP na divulgação e documentação pública dos seus trabalhos científicos. Sob esse<br />

enfoque, a RC&T se configura como um alicerce indispensável dos Programas de Fomento do Fundo de<br />

Apoio à Pesquisa (FAP/UNIMEP), significando, por isso, um elemento fundamental para a concretização do<br />

ciclo da pesquisa em nossa instituição.<br />

Assim, resta-nos parabenizar sua comissão editorial, pelo árduo trabalho da elaboração deste periódico,<br />

e os colaboradores da revista, pelo seu voto de confiança que propicia a veiculação através da RC&T do<br />

resultado de suas mais recentes descobertas científicas.<br />

ELY ESER BARRETO CÉSAR<br />

Vice-Reitor Acadêmico<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 3


4 Junho • 2000


Sumário<br />

7AVALIAÇÃO DA MEDIDA <strong>DE</strong> EFICIÊNCIA <strong>DE</strong> FERRAMENTAL <strong>DE</strong> GRUPO<br />

(EFG) VISANDO REDUÇÃO <strong>DE</strong> TEMPOS <strong>DE</strong> PREPARAÇÃO<br />

An Evaluation of the Group Tooling Efficiency Measure<br />

ANTONIO NELSON CORRÊIA FILHO & NELSON CARVALHO MAESTRELLI<br />

13<br />

EMISSÕES <strong>DE</strong> NOX EM TURBINAS A GÁS: MECANISMOS <strong>DE</strong> FORMAÇÃO E<br />

ALGUMAS TECNOLOGIAS <strong>DE</strong> REDUÇÃO<br />

NOX Emissions in Gas Turbines: formation mechanism and reduction<br />

ANTONIO GARRIDO GALLEGO, GILBERTO MARTINS & WALDYR L. R. GALLO<br />

23<br />

PROJETO <strong>DE</strong> CONSTRUÇÃO <strong>DE</strong> APLICATIVO ESTATÍSTICO PARA ANÁLISES<br />

<strong>DE</strong>SCRITIVAS: SISTEMA <strong>DE</strong> ANÁLISES <strong>DE</strong>SCRITIVAS-SIAD (parte II)<br />

Project for Statistical Applicative Construction to Descriptivies Analysis:<br />

Descriptivies Analysis System-SIAD (part II)<br />

ANGELA M. C. JORGE CORRÊA, FRANCISCO BACCARIN, VALÉRIA M. D’AREZZO ZILIO, ARIVALDO MATHIENSEN JR., EVELIN<br />

GIULIANA LIMA & HELOISA HELENA SFERRA<br />

33<br />

ABSORVEDORES <strong>DE</strong> RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA APLICADOS NO<br />

SETOR AERONÁUTICO<br />

Electromagnetic Radiation Absorbers with Aeronautical Applications<br />

JOSIANE <strong>DE</strong> CASTRO DIAS, FÁBIO SANTOS DA SILVA, MIRABEL CERQUEIRA REZEN<strong>DE</strong> & INÁCIO MALMONGE MARTIN<br />

43<br />

UM SISTEMA CORRETO E COMPLETO PARA A LÓGICA PROPOSIONAL<br />

CLÁSSICA<br />

Correctness and Completeness System for Classical Propositional Logic<br />

JOSÉ CARLOS MAGOSSI<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 5


51<br />

A PROBABILIDA<strong>DE</strong> NA ÓPTICA DA GEOMETRIA<br />

The Probability in the Optical of the Geometry<br />

I<strong>DE</strong>MAURO ANTÔNIO RODRIGUES LARA<br />

59<br />

BALANÇO <strong>DE</strong> RADIAÇÃO SOBRE UM SOLO <strong>DE</strong>SCOBERTO PARA QUATRO<br />

PERÍODOS DO ANO<br />

Radiation Balance at the Surface of a Bare Soil for Four Periods of the Year<br />

MÁRIO <strong>DE</strong> MIRANDA VILAS BOAS RAMOS LEITÃO, MAGNA SOELMA BESERRA <strong>DE</strong> MOURA, TRÍCIA REGINA F. C. SALDANHA,<br />

JOSÉ ESPÍNOLA SOBRINHO & GERTRU<strong>DE</strong>S MACARIO <strong>DE</strong> OLIVEIRA<br />

67<br />

AQUISITION AND CHARACTERIZATION OF NEPHELINE GLASS-CERAMIC<br />

Obtenção e Caracterização de Vitrocerâmicos de Nefelina<br />

CRISTINA DONEDA GOMES <strong>DE</strong> BORBA & HUMBERTO RIELLA<br />

75<br />

PROPRIEDA<strong>DE</strong>S TÉRMICAS E BIO<strong>DE</strong>GRADABILIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> PCL E PHB EM<br />

UM POOL <strong>DE</strong> FUNGOS<br />

Thermal Properties and Biodegradability of PCL and PHB Submitted in Fungi Pool<br />

<strong>DE</strong>RVAL DOS SANTOS ROSA, <strong>DE</strong>NISE FRANCO PENTEADO & MARIA REGINA CALIL<br />

81<br />

MÉTODOS EFICIENTES PARA A TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA <strong>DE</strong> PLANTAS<br />

Efficient Methods for Genetic Plants Transformation<br />

ELIANE ROMANATO SANTARÉM<br />

91<br />

O NEOTECTONISMO NA COSTA DO SU<strong>DE</strong>STE E DO NOR<strong>DE</strong>STE BRASILEIRO<br />

Neotectonism of Southeastern and Northeastern Brazilian Coast<br />

CARLOS CÉSAR UCHÔA <strong>DE</strong> LIMA<br />

6 Junho • 2000


Avaliação da Medida de<br />

Eficiência de Ferramental<br />

de Grupo (EFG) Visando<br />

Redução de Tempos de<br />

Preparação<br />

An Evaluation of the Group Tooling Efficiency Measure<br />

ANTONIO NELSON CORRÊIA FILHO<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

ancorrei@unimep.br<br />

NELSON CARVALHO MAESTRELLI<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

nmaestre@unimep.br<br />

RESUMO – Este trabalho aprofunda o estudo da medida de eficiência do ferramental de grupo (EFG), analisando a dispersão<br />

dos valores obtidos a partir da análise de adequação da matriz ferramentas versus peças. Visa a facilitar a escolha<br />

do ferramental, em situações que apresentam várias possibilidades de soluções e envolvam grande número de ferramentas.<br />

São estudadas as situações que podem ocorrer (teoricamente) na escolha da melhor solução e apresentadas propostas<br />

para resolvê-las, objetivando a redução dos tempos de preparação de máquinas. Para melhor visualização desta proposta,<br />

um caso de aplicação é exposto.<br />

Palavras-chave: FERRAMENTAL <strong>DE</strong> GRUPO – REDUÇÃO DO TEMPO <strong>DE</strong> PREPARAÇÃO – PADRONIZAÇÃO <strong>DE</strong> FERRAMENTAS.<br />

ABSTRACT – This paper studies the group tooling efficiency measure, analysing the dispersion that occurs in the results<br />

of tools versus parts adequacy matrix. This study allows to help the decision making about the tool selection problem,<br />

that occurs when the number of parts and tools are too large. The better choice of tool set will carry out the major results<br />

in set up time reduction or even elimination. A study case is also included.<br />

Keywords: GROUP TOOLING – SET UP REDUCTION – TOOLING STANDARDISATION.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 07-12 7


INTRODUÇÃO<br />

Ométodo usado neste trabalho, para determinação<br />

do ferramental de grupo, baseia-se na<br />

proposta apresentada em Kusiak (1990). Esse<br />

método (Corrêia Filho, 1998) utiliza um modelo<br />

baseado em formulação matricial para verificar se<br />

existe um número determinado de ferramentas que<br />

pode processar peças diferentes, sem a necessidade<br />

de trocas e ajustes, ou seja, definir o ferramental de<br />

grupo.<br />

O ferramental de grupo, segundo (Burbidge,<br />

1971), visa a reduzir os tempos de preparação de<br />

máquinas através do desenvolvimento de ferramental<br />

padronizado, a ser utilizado por peças pertencentes às<br />

mesmas famílias, o que é possível em função das similaridades<br />

de projeto e fabricação dessas peças.<br />

Para entender a utilização de formulação<br />

matricial na definição de ferramental de grupo, será<br />

apresentado um exemplo de aplicação.<br />

Considera-se uma máquina que processa as<br />

peças (P1), (P3), (P4), (P7) e (P5), apresentadas na<br />

figura 1. Para esse processamento, são necessárias<br />

oito ferramentas, dadas por T1 a T8. A figura 1<br />

mostra a matriz de incidência ferramentas versus<br />

peças original para tal situação, e a matriz rearranjada<br />

pela aplicação de um algoritmo de agrupamento<br />

(Kusiak, 1990).<br />

Fig. 1. Matriz de incidência (Ferramentas versus Peças).<br />

Peças<br />

Peças<br />

1 3 4 7 5 4 1 3 5 7<br />

T1 1 0 1 0 0 T1 1 1 0 0 0<br />

T2 0 1 0 0 1 T4 1 1 0 0 0<br />

T3 0 1 0 1 0 T6 1 1 0 0 0<br />

T4 1 0 1 0 0 T7 1 0 0 0 0<br />

T5 0 1 0 1 1 T5 0 0 1 1 1<br />

T6 1 0 1 0 0 T8 0 0 1 1 1<br />

T7 0 0 1 0 0 T2 0 0 1 1 0<br />

T8 0 1 0 1 1 T3 0 0 1 0 1<br />

Matriz (1a)<br />

Matriz reordenada (1b)<br />

Analisando-se a matriz da figura 1, é possível<br />

identificar dois conjuntos iniciais, C1 e C2, compostos<br />

da seguinte maneira:<br />

C1: peças (4) e (1)<br />

ferramentas T1, T4, T6 e T7<br />

C2: peças (3), (5) e (7)<br />

ferramentas T5, T8, T2 e T3<br />

A existência destes dois "agrupamentos" ou<br />

"conjuntos iniciais" conduz a duas possíveis soluções<br />

para a identificação do ferramental de grupo, cada<br />

uma delas originadas de um dos conjuntos.<br />

O método propõe que a regra de formação<br />

das matrizes de adequação seja dada por:<br />

b ij = [0.1,1.0] se é possível usar a ferramenta i para<br />

processar a peça j, não é atribuído<br />

valor; se não, há possibilidade.<br />

O valor de b ij definido pelo intervalo [0.1,<br />

1.0] será determinado de acordo com o nível de<br />

adequação da ferramenta à peça. Quanto maior a<br />

adequação entre a ferramenta e a peça, maior o<br />

valor de b ij (Corrêia Filho, 1998).<br />

A figura 2 apresenta as matrizes de adequação<br />

MA1 e MA2, que se originam da matriz reordenada<br />

(fig. 1).<br />

Fig. 2. Matriz de adequação.<br />

Peças<br />

Peças<br />

4 1 3 5 7 4 1 3 5 7<br />

T1 1 1 0,6 0,4 0,4 T5 0,4 0,8 1 1 1<br />

T4 1 1 0,3 0,7 1 T8 1 1 1 1 1<br />

T6 1 1 – 0,5 0 T2 0,3 1 1 1 0<br />

T7 1 0 – 0 – T3 0,6 – 1 0 1<br />

Matriz de Adequação MA1 Matriz de Adequação MA2<br />

Analisando a situação apresentada pelas<br />

matrizes de adequação MA1 e MA2, obtidas a partir<br />

dos conjuntos iniciais C1 e C2, percebe-se que: a<br />

matriz MA1 para uma possível solução deverá ser<br />

acrescida de duas linhas, correspondentes à inclusão<br />

de T2 e T3. Isso é necessário para possibilitar o processamento<br />

de todas as peças do agrupamento, conforme<br />

figura 3.<br />

Fig. 3. Matriz de adequação MA1 ampliada.<br />

Peças<br />

4 1 3 5 7<br />

T1 1 1 0,6 0,4 0,4<br />

T4 1 1 0,3 0,7 1<br />

T6 1 1 – 0,5 0<br />

T7 1 0 – 0 –<br />

T2 0 0 1 1 0<br />

T3 0 0 1 0 1<br />

Para o caso de MA2, é possível processar todo<br />

o conjunto de peças com as mesmas ferramentas,<br />

embora o valor de adequação de T2 para P4 seja<br />

pequeno (b ij = 0,3).<br />

8 Junho • 2000


Uma restrição a ser considerada na análise de<br />

MA1 e MA2 é o número de ferramentas que o<br />

magazine da máquina escolhida pode armazenar.<br />

Desse modo, sendo<br />

Tm: capacidade de ferramentas do magazine<br />

da máquina (é o número máximo de<br />

ferramentas que podem ser montadas<br />

simultaneamente na máquina);<br />

Ts: número de ferramentas proposto pela<br />

solução gerada a partir do uso do<br />

método de adequação;<br />

Tem-se que: Ts ≤ Tm, para que seja possível<br />

montar todas as ferramentas necessárias, sem trocas,<br />

garantindo o processamento de todas as peças da<br />

família definida.<br />

Para comparar diferentes soluções obtidas a<br />

partir da análise das matrizes de adequação, é preciso<br />

utilizar algum parâmetro que avalie a qualidade<br />

de cada solução, além da restrição já citada. Para<br />

isso, foi criada a medida “Eficiência do Ferramental<br />

de Grupo” (EFG).<br />

Esse trabalho analisa tal medida, aprofundando-se<br />

nos casos em que diferentes conjuntos de<br />

dados apresentem resultados próximos para EFG,<br />

dificultando a escolha da melhor solução. No próximo<br />

item, a medida EFG será melhor detalhada.<br />

<strong>DE</strong>FINIÇÃO DA MEDIDA EFG<br />

A medida EFG é determinada pela relação<br />

seguinte:<br />

EFG =<br />

n t<br />

∑ ∑ b ij<br />

j = 1i = 1 -------------------------<br />

( n.t—z)<br />

onde:<br />

b ij = valor da adequação da ferramenta i à<br />

peça j;<br />

n = número de peças da matriz de adequação;<br />

Fig. 4. Matriz adequação com os mesmos valores de EFG.<br />

Pe as<br />

P1 P2 P3<br />

Ferramentas<br />

T1<br />

T2<br />

T3<br />

1 1 1<br />

1 1 1<br />

1 0, 2 1<br />

MA1<br />

EFG = 0,<br />

91<br />

t = número de ferramentas da matriz de adequação;<br />

z = número de vezes em que, na matriz de<br />

adequação, ocorre a situação em que não<br />

é feita a análise para a adequação (não há<br />

necessidade de usar a ferramenta para a<br />

peça em questão), ou seja, é o número de<br />

“zeros” da matriz de adequação.<br />

No exemplo dado no item anterior, se o<br />

magazine da máquina suportar no máximo quatro<br />

ferramentas, não será possível utilizar MA1.<br />

No exemplo estudado, e com base nas matrizes<br />

MA1 e MA2 definidas, tem-se na tabela 1 o<br />

resumo para os conjuntos iniciais:<br />

Tab. 1. Resumo para os conjuntos iniciais.<br />

CONJ. INICIAL FERRAMENTAS EFG TS TM OBS<br />

C1 T1,T4,T6,T7 0,71 6 4 Inviável<br />

C2 T5,T8,T2,T3 0,84 4 4 Viável<br />

Para este exemplo de aplicação (tabela 1), não<br />

é necessário aprofundar a análise sobre EFG, pois a<br />

escolha sobre a melhor solução recai sobre a opção<br />

que utiliza o conjunto C2.<br />

Nos itens seguintes deste trabalho, serão analisados<br />

casos em que não será possível escolher a<br />

melhor solução, baseando-se apenas no valor que<br />

EFG assume para cada situação, principalmente<br />

quando os valores gerados forem muito próximos.<br />

ESTUDO DA MEDIDA EFG<br />

Conforme visto, a medida EFG é utilizada<br />

para comparar as soluções encontradas, de modo a<br />

facilitar o processo de escolha da melhor opção da<br />

matriz de adequação (MA).<br />

As matrizes expressas na figura 4 ilustram<br />

situações distintas, mas que geram valores iguais<br />

para EFG.<br />

Ferramentas<br />

T1<br />

T2<br />

T3<br />

Pe as<br />

P1 P2 P3<br />

1 1 1<br />

1 1 1<br />

05 , 07 , 1<br />

MA2<br />

EFG = 0,<br />

91<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 07-12 9


Fig. 5. Matriz adequação com os valores de EFG próximos.<br />

Pe as<br />

P1 P2 P3<br />

T1 1 1 1<br />

Ferramentas<br />

T2 1 0, 2 1<br />

MA1<br />

EFG = 0,<br />

87<br />

A figura 5 apresenta situação em que os valores<br />

EFG são muito próximos, mas gerados a partir<br />

de conjuntos de valores para b ij com diferentes<br />

níveis de dispersão.<br />

Para adotar a melhor opção de solução<br />

quando são encontrados dados com essas características<br />

(mesmo valor de EFG para conjuntos de dados<br />

distintos, ou valores próximos de EFG, com conjuntos<br />

de dados com diferentes níveis de dispersão),<br />

pode-se utilizar a medida de desvio padrão (Vieira<br />

& Hoffmann, 1986), aplicada sobre os elementos<br />

b ij das matrizes de adequação.<br />

O objetivo é a utilização desse conhecimento,<br />

ou seja, o desvio-padrão para indicar a MA que possui<br />

a menor dispersão dos valores b ij em torno da<br />

EFG para cada MA estudada. O desvio padrão é<br />

calculado pela fórmula:<br />

∑<br />

2 ( b<br />

b ij ) 2<br />

∑ bij – --------------------<br />

n.t—z<br />

S bij<br />

= ---------------------------------------------<br />

( n.t—z) – 1<br />

onde:<br />

S bij – desvio-padrão dos valores b ij em torno<br />

de EFG.<br />

A relação entre o desvio-padrão e a EFG fornece<br />

a dispersão relativa, conhecida como medida de<br />

coeficiente de variação (Vieira & Hoffmann, 1986).<br />

Neste trabalho será utilizada a dispersão relativa<br />

de dispersão em relação a EFG. Para esse cálculo usase<br />

o coeficiente de variação (CV), dado pela fórmula:<br />

CV = Sb ij . 100<br />

EFG<br />

Segundo Corrêia Filho (1998), a melhor solução<br />

é a MA que apresentar o maior EFG, ou seja, a<br />

melhor solução ocorre quando todos os elementos<br />

b ij = 1. De fato, este resultado apresenta maior<br />

EFG, com menor variação dos elementos b ij da<br />

MA, ou seja:<br />

EFG =1, S bij = 0 e CV = 0.<br />

Esta situação configura a solução ideal do problema.<br />

Deve-se, portanto, buscar as soluções em<br />

que são gerados os valores mais altos para EFG,<br />

Ferramentas<br />

T1<br />

T2<br />

Pe as<br />

P1 P2 P3<br />

1 1 1<br />

07 , 05 , 07 ,<br />

MA2<br />

EFG = 0,<br />

82<br />

simultaneamente a valores mais baixos para as<br />

medidas de S bij e CV.<br />

Neste trabalho, propõe-se considerar, como<br />

soluções adequadas, aquelas que apresentem os valores<br />

EFG maiores que 75%, conforme a tabela 2.<br />

Tab. 2. Considerações das soluções conforme o valor de<br />

EFG.<br />

CONDIÇÕES EFG (%)<br />

Melhor solução 100,00<br />

Boa solução 87,50 ≤ EFG < 100,00<br />

Solução suficiente 75,00 ≤ EFG < 87,50<br />

Desconsiderar 0,10 ≤ EFG < 75,00<br />

Voltando-se para a situação hipotética mostrada<br />

na figura 4, pode-se verificar, de acordo com a<br />

tabela 2, que as soluções representadas pelas situações<br />

MA1 e MA2 pertencem à mesma faixa de<br />

valores de EFG, na condição de “Boa Solução”.<br />

Assim, há necessidade de maiores detalhes para a<br />

escolha da melhor solução.<br />

Os resultados dos cálculos dessa situação são<br />

apresentados na tabela 3.<br />

Tab. 3. Resultados dos cálculos, conforme a situação da<br />

figura 4.<br />

SOLUÇÃO EFG S BIJ CV (%)<br />

MA1 0,91 0,27 29,26<br />

MA2 0,91 0,18 20,12<br />

Da análise dos dados obtidos, observa-se que<br />

a solução com menor CV será considerada a<br />

melhor. No caso em questão, será escolhida a situação<br />

representada por MA2.<br />

Para a segunda situação hipotética, apresentada<br />

na figura 5, verifica-se, de acordo com a tabela<br />

2, que as soluções definidas por MA1 e MA2 pertencem<br />

à mesma faixa de valores para EFG, na condição<br />

de “Solução Suficiente”. Deve-se salientar que<br />

as soluções que pertencerem à maior faixa de valores<br />

EFG (tab. 2) serão consideradas as melhores.<br />

10 Junho • 2000


A tabela 4 apresenta os resultados da situação<br />

da figura 5.<br />

Tab. 4. Resultados dos cálculos, conforme a situação da<br />

figura 5.<br />

SOLUÇÃO EFG S BIJ CV (%)<br />

MA1 0,87 0,33 37,68<br />

MA2 0,82 0,21 26,16<br />

Como os valores de EFG se apresentam dentro<br />

da mesma faixa para EFG (tab. 2), deve-se considerar,<br />

para melhor solução, aquela que apresente<br />

menor coeficiente de variação (CV). No caso, será<br />

considerada a solução representada por MA2.<br />

No item seguinte deste trabalho, analisa-se<br />

uma situação real, ocorrida em ambiente industrial,<br />

para aplicação dessa proposta de análise.<br />

APLICAÇÃO DO<br />

MÉTODO PROPOSTO<br />

Neste item considera-se uma aplicação real,<br />

em um ambiente industrial (Corrêia Filho, 1998).<br />

No caso, foram obtidas duas possíveis soluções,<br />

representadas pelas figuras 6 e 7.<br />

Neste primeiro caso, tem-se para EFG:<br />

EFG = (b 11 + b 12 + ... + b 1n ) + (b 21 + ... + b 2n )<br />

+ ... + ( b t1 + b t2 + ... + b tn ) / (n.t-z)<br />

EFG = 29,8 / (8 x 12 – 62) = 0,88<br />

A Eficiência do Ferramental de Grupo (EFG)<br />

é de 88%.<br />

O valor de EFG para esta situação será dado<br />

por:<br />

EFG = (b 11 + b 12 + ... + b 1n ) + (b 21 + ... + b 2n )<br />

+ ... +(b t1 + b t2 + ... + b tn ) / (n.t-z)<br />

EFG = 28,1 / (8 x 11 – 55) = 0,85<br />

E a Eficiência do Ferramental de Grupo é de<br />

85%.<br />

Observa-se que MA4 (fig. 6) e MA3 (fig. 7) não<br />

pertencem à mesma faixa de valores de EFG (tab. 2).<br />

A MA4 pertence à faixa de valores EFG, na condição<br />

de “Boa Solução”, enquanto a faixa de valor a que<br />

pertence EFG para MA3 é considerada condição de<br />

“Solução Suficiente”. Conforme citado anteriormente,<br />

a melhor solução pertence à maior faixa de<br />

valores EFG. Neste caso há uma única solução, não<br />

sendo necessário considerar o cálculo das medidas de<br />

dispersão para melhor comparação das opções.<br />

Fig. 6. Matriz adequação (MA4).<br />

Peças<br />

P1 P2 P3 P7 P4 P6 P8 P5<br />

Tipos de<br />

operações<br />

T1 1 1 1 1 1 1 1 1<br />

Desbaste<br />

externo<br />

T2 1 0 0 1 1 1 1 1 Acabamento<br />

externo<br />

T3 1 0 0 0,5 0,5 0 0 0<br />

Canal<br />

externo<br />

T4 1 0 0 0 0 0 0 0 Broca<br />

Ferramentas<br />

T5 1 0 0 0 0,2 0 0 0<br />

Desbaste<br />

interno<br />

T6 1 1 0 0 0 0 0 0 Rosca interna<br />

T7 0 1 1 1 0,2 0 0 0<br />

Desbaste<br />

interno<br />

T8 0 0 1 0 0 0 0 0 Acabamento<br />

interno<br />

T9 0 0 1 0,2 0,2 0 0 0<br />

Canal<br />

interno<br />

T15 0 0 0 0 0 1 0 0 Broca φ8<br />

T16 0 0 0 0 0 1 0 0<br />

T17 0 0 0 1 0 0 1 0<br />

Fig. 7. Matriz adequação (MA3).<br />

Ferramentas<br />

Rosca<br />

externa<br />

Rosca<br />

externa<br />

Peças<br />

Tipos de<br />

P1 P2 P3 P7 P4 P6 P8 P5<br />

operações<br />

T2 1 0 0 1 1 1 1 1 Acabamento<br />

externo<br />

Canal<br />

T3 1 0 0 0,5 0,5 0 0 0<br />

externo<br />

T4 1 0 0 0 0 0 0 0 Broca<br />

T5 1 0,5 0,5 0,5 0,2 0 0 0<br />

Desbaste<br />

interno<br />

T6 1 1 0 0 0 0 0 0<br />

Rosca<br />

interna<br />

T8 0 0 1 0 0 0 0 0 Acabamento<br />

interno<br />

T9 0 0 1 0,2 0,2 0 0 0<br />

Canal<br />

interno<br />

T1 1 1 1 1 1 1 1 1<br />

Desbaste<br />

externo<br />

T16 0 0 0 0 0 1 0 0<br />

Rosca<br />

externa<br />

T17 0 0 0 1 0 0 1 0<br />

Rosca<br />

externa<br />

T15 0 0 0 0 0 1 0 0 Broca φ8<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 07-12 11


A proposta de definir faixas de valores para<br />

EFG é para garantir, em primeiro lugar, os valores<br />

de EFG, configurando que a melhor escolha de<br />

solução ocorreu.<br />

CONCLUSÕES<br />

De acordo com Corrêia Filho (1998), a<br />

melhor solução para representar o ferramental de<br />

grupo é a que apresentar a maior medida de EFG.<br />

No entanto, para os casos em que são gerados<br />

valores muito próximos de EFG, deve-se considerar<br />

também as medidas de dispersão (desvio padrão e<br />

coeficiente de variação) para auxiliar a tarefa de<br />

escolha da melhor solução.<br />

A utilização de faixas de valores para EFG<br />

garante que sejam considerados, em primeiro<br />

lugar, os valores EFG. Caso sejam muito próximos<br />

(ou pertençam à mesma faixa de valores), deve-se<br />

comparar as demais medidas propostas, para avaliar<br />

a dispersão dos valores da matriz de adequação.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BURBIDGE, L.J. Production Flow Analysis. Production Engineering, (4), pp. 139-152, 1971.<br />

CORRÊIA FILHO, A.N. Proposta de um Método para Identificação do Ferramental de Grupo Baseado em Análise de Agrupamentos.<br />

Santa Bárbara d’Oeste: Centro de Tecnologia, Universidade Metodista de Piracicaba, 1998. [Tese de<br />

mestrado].<br />

KUSIAK, A. Intelligent Manufacturing Systems. Englewood Cliffs, N.J: Prentice-Hall, 1990.<br />

VIEIRA, S. & HOFFMANN, R. Elementos de Estatística. São Paulo: Atlas, 1986.<br />

12 Junho • 2000


Emissões de Nox em<br />

Turbinas a Gás:<br />

Mecanismos de<br />

Formação e Algumas<br />

Tecnologias de Redução<br />

NOX Emissions in Gas Turbines: formation mechanism and reduction<br />

ANTONIO GARRIDO GALLEGO<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

agallego@unimep.br<br />

GILBERTO MARTINS<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

gmartins@unimep.br<br />

WALDYR L. R. GALLO<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

gallo@fem.unicamp.br<br />

RESUMO – Este trabalho apresenta a questão das emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) produzidos por turbinas a gás<br />

de uso industrial. São discutidos os aspectos de regulamentação de emissões (no Brasil e em outros países), os principais<br />

mecanismos de formação dos óxidos nitrosos em câmaras de combustão de turbinas a gás e as principais estratégias para<br />

o controle das emissões, incluindo injeção de água, injeção de vapor, combustão por estágios, combustores “low-NOx” e<br />

redução catalítica. A necessidade de revisão da legislação brasileira é ressaltada.<br />

Palavras-chave: TURBINAS A GÁS INDUSTRIAIS – EMISSÕES <strong>DE</strong> NOX – FORMAÇÃO <strong>DE</strong> NOX.<br />

ABSTRACT – This work studies some aspects related to the NOx emissions from industrial gas turbines. Brazilian and<br />

international emission regulations are discussed. The main oxide formation mechanisms inside the combustion chamber<br />

are presented, and the main strategies for the reduction of NOx emission are explored (including water and steam injection,<br />

staged combustion, low-NOx burners and catalytic reduction). The need for a revision on Brazilian regulations for<br />

NOx is evidenced.<br />

Keywords: GAS TURBINES – NOX EMISSIONS – NOX FORMATION MECHANISM.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 13-22 13


INTRODUÇÃO<br />

No atual cenário energético mundial, no qual a<br />

escassez dos recursos soma-se aos problemas<br />

ambientais oriundos da utilização de energia e<br />

extração de produtos naturais, observa-se uma crescente<br />

preocupação com a busca de maior racionalidade<br />

no uso da energia, além da procura de<br />

processos com menor impacto ambiental. No Brasil,<br />

como em todo o mundo, o setor energético vem<br />

sofrendo profundas transformações motivadas não<br />

apenas por questões de ordem técnica e econômica,<br />

mas também por pressões da sociedade.<br />

A capacidade atual instalada de geração de<br />

energia elétrica no País é de pouco mais de 60 GW.<br />

Desse total, cerca de 94% são de origem hidráulica<br />

e o restante, de origem térmica. Porém, com o<br />

aumento da demanda de energia elétrica e a necessidade<br />

da garantia na qualidade de fornecimento,<br />

existe a necessidade do aumento do parque gerador.<br />

Dificuldades para a exploração do potencial hídrico,<br />

como altos custos de investimento, longos prazos de<br />

instalação e problemas ambientais, foram levados<br />

em conta na elaboração do Plano Decenal de<br />

Expansão do Setor Elétrico para o período 1997-<br />

2006, que estima para 2006 uma composição da<br />

geração de energia elétrica hidroelétrica de 83% e<br />

termoelétrica de 17%.<br />

Com essa perspectiva de mudança do perfil<br />

de geração de energia elétrica, além da possibilidade<br />

de implantação de plantas térmicas e sistemas de cogeração<br />

devido à efetivação do projeto do gasoduto<br />

Brasil-Bolívia, verifica-se a necessidade de se rever<br />

alguns aspectos da legislação ambiental, principalmente<br />

no que concerne às emissões de óxidos de<br />

nitrogênio.<br />

Frente às atuais tecnologias disponíveis para a<br />

geração de energia elétrica, é esperado o uso de<br />

combustíveis de origem fóssil como fonte energética.<br />

A efetivação do gasoduto Brasil-Bolívia certamente<br />

irá contribuir para a viabilização de plantas<br />

termelétricas ou sistemas de co-geração, ao disponibilizar<br />

grandes quantidades de gás natural. Nesse<br />

sentido, deve-se discutir qual a melhor forma de<br />

gerar energia elétrica com o menor impacto ambiental<br />

em plantas térmicas e sistemas de co-geração.<br />

Em todos os processos térmicos existem substâncias<br />

que são liberadas e que podem tornar-se problemáticas<br />

para os seres vivos e estruturas urbanas, dependendo<br />

da concentração, características do local e<br />

situação climática, entre outros fatores.<br />

Os óxidos de nitrogênio (NOX) são gases<br />

nocivos à saúde, causam irritação nos olhos e no sistema<br />

respiratório, sendo ainda parcialmente responsáveis<br />

pelas chuvas ácidas e formação do smog<br />

(processo fotoquímico de oxidação da atmosfera),<br />

juntamente com material particulado, ozônio e<br />

hidrocarbonetos.<br />

Frente às considerações acima, este trabalho<br />

apresenta alguns aspectos relacionados às emissões<br />

de NOX provenientes de turbinas a gás industriais<br />

para geração de eletricidade, enfocando principalmente<br />

seus mecanismos de formação e formas de<br />

prevenção e redução de emissões.<br />

POLUIÇÃO DO AR:<br />

REGULAMENTAÇÕES<br />

E EMISSÕES<br />

A adoção de padrões de qualidade do ar<br />

objetivos e coerentes é um instrumento de gestão<br />

ambiental que procura resguardar a saúde pública,<br />

o bem-estar da população, assim como fauna, flora<br />

e meio ambiente em geral. Para que esse instrumento<br />

seja eficaz, é necessário, porém, que também<br />

se estabeleçam padrões de emissão para cada poluente<br />

atmosférico monitorado pelos padrões de qualidade<br />

do ar, e, mais do que isso, que se estabeleçam<br />

modelos de dispersão de poluentes capazes de correlacionar<br />

as emissões à qualidade do ar na região.<br />

Infelizmente, na regulamentação brasileira<br />

para fontes estacionárias de emissões gasosas,<br />

CONAMA n.º 008/90 (Ventura, 1996), não existe<br />

qualquer referência a emissões de NOX. Esse tipo<br />

de poluente é avaliado apenas quanto à qualidade<br />

do ar, CONAMA n.º 003/90 (Ventura, 1996).<br />

Assim, não existem limites para a emissão de NOX,<br />

seja por turbinas a gás, seja por qualquer outra fonte<br />

estacionária ou móvel senão indiretamente. Na verdade,<br />

a legislação menciona a necessidade de se<br />

empregar “a melhor tecnologia disponível”, quando<br />

não existe limitação explícita para um dado poluente<br />

(Ventura, 1996). Países da Europa, Japão e<br />

Estados Unidos possuem limites de emissões por<br />

fonte geradora, que servem de parâmetro de controle<br />

e acompanhamento.<br />

14 Junho • 2000


Bathie (1996) apresenta padrões de emissões<br />

de NOx aplicados para turbinas a gás industriais utilizados<br />

pelo New Source Performance Standards<br />

(NSPS) dos Estados Unidos. O critério usado para<br />

determinação do limite de emissões de NOX foi<br />

baseado no consumo de combustível e na quantidade<br />

de nitrogênio em sua composição, sendo os<br />

valores corrigidos para 15% de oxigênio em base<br />

seca. Para termelétricas, o limite é fixado em 75<br />

ppmv e, para outros usos, em 150 ppmv. No caso<br />

de aplicações militares, de combate a incêndio e de<br />

emergência, não há limites.<br />

Estudos conduzidos pela CORINAIR (CORe<br />

INventories AIR), da Enviromental European<br />

Agency (EEA, 1998), mostram que os setores que<br />

apresentam maiores níveis de emissões totais de<br />

NOX são os de geração de energia elétrica, em uso<br />

industrial e em transportes, com contribuição de<br />

20,93%, 13,65% e 56,68%, respectivamente.<br />

A Tokio Electric Power Company (TEPCO) é<br />

a segunda maior companhia de geração de energia<br />

elétrica privada do mundo, suprindo a área metropolitana<br />

de Tóquio. Sua preocupação é atender à<br />

demanda de energia elétrica com a menor emissão<br />

de poluentes por kWh instalado. Na figura 1 é apresentada<br />

sua tendência histórica de geração elétrica e<br />

de emissões de NOX entre 1973 e 1995. Durante o<br />

período 1985-1995 houve aumento de 47% na<br />

produção de eletricidade, com redução de emissão<br />

de NOX de 36%. A melhora dos níveis de emissões<br />

de NOx é atribuída ao uso de combustíveis de<br />

melhor qualidade, melhora contínua dos sistemas<br />

de combustão e instalação de sistemas de denitrificação<br />

nas chaminés.<br />

Fig. 1. Emissões médias de NOX dos sistemas de potência<br />

em operação (TEPCO, 1998).<br />

Emiss es de NOx (m dia de sistemas de pot ncia em opera o)<br />

Centena de milh es de KWh / ano<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

<br />

g/kwh<br />

1,6<br />

0<br />

0<br />

1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995<br />

Anos<br />

1,4<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

Uma comparação entre os valores das emissões<br />

médias de Nox de sistemas de potência de países<br />

como Canadá, França, Alemanha, Itália, Inglaterra,<br />

Estados Unidos e do próprio Japão, divulgados pela<br />

TEPCO (1998) é apresentada na tabela 1. Note-se<br />

que a primeira coluna (geração termelétrica) considera<br />

diferentes tecnologias e combustíveis, variando<br />

entre os países. Da mesma forma, a segunda coluna<br />

(geração elétrica total) inclui todos os tipos de tecnologias<br />

de geração elétrica (hidráulica, nuclear, térmicas<br />

convencionais).<br />

O valor médio de emissões da geração de eletricidade<br />

de todos os países é inferior aos valores das<br />

emissões das termelétricas, graças à mistura de sistemas<br />

de geração com diferentes tecnologias que possuem<br />

poluentes ou emissões que não foram levados<br />

em conta (por exemplo, energia nuclear).<br />

Verifica-se na tabela 1 que grande parte dos<br />

países apresenta valores médios de emissões de Nox<br />

em termelétricas superiores a 2 g/kWh, mas existe<br />

potencial e tecnologia para redução desses níveis de<br />

emissões, como o apresentado pela Alemanha, com<br />

níveis de emissões inferiores a 2 g/kWh, e o Japão,<br />

com níveis inferiores a 0,5.<br />

Tab. 1. Níveis de emissões de NOx em geração de eletricidade<br />

de vários países (TEPCO, 1998).<br />

PAÍSES<br />

MÉDIA DAS<br />

TERMELÉTRICAS<br />

g/kWh<br />

MÉDIA DA GERAÇÃO<br />

<strong>DE</strong> ELETRICIDA<strong>DE</strong><br />

g/kWh<br />

Alemanha (1992) 1,50 0,99<br />

Canadá (1991) 2,45 0,55<br />

França (1992) 2,21 0,24<br />

Grã-Bretanha (1993) 2,52 1,77<br />

Itália (1990) 2,28 1,91<br />

Japão (1995) 0,35 0,19<br />

EUA (1993) 2,98 2,09<br />

No Brasil, com a tendência da expansão da<br />

geração elétrica através de termelétricas ou sistemas<br />

de co-geração, os projetos que não estejam enquadrados<br />

em limites de emissões recomendados internacionalmente<br />

devem ser questionados e rejeitados,<br />

porque trarão problemas ambientais futuros ou agravarão<br />

os já existentes. A elaboração de normas brasileiras<br />

rígidas de controle ambiental, com a adoção de<br />

padrões de emissão de NOx e um sistema de moni-<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 13-22 15


toramento que garanta a manutenção dos padrões<br />

de qualidade do ar, é portanto tarefa urgente.<br />

MECANISMOS <strong>DE</strong><br />

FORMAÇÃO <strong>DE</strong> NOX<br />

A Formação de NO<br />

Entre os óxidos formados durante o processo<br />

de combustão, o mais encontrado é o óxido de<br />

nitrogênio (NO). Esse óxido pode ser obtido no<br />

processo de combustão por três caminhos: a reação<br />

do nitrogênio atmosférico com o oxigênio a altas<br />

temperaturas, formando o NO térmico; reação de<br />

radicais hidrocarbônicos livres com a molécula de<br />

nitrogênio, formando o NO prompt (NO rápido); e<br />

pela reação do nitrogênio existente no combustível,<br />

formando o NO combustível. Dependendo das<br />

condições em que ocorre a combustão, existe o predomínio<br />

de um dos tipos de mecanismos mencionados:<br />

a altas temperaturas, predomina NO térmico;<br />

se a quantidade de nitrogênio contido no combustível<br />

é alta e a temperatura é baixa, o NO combustível<br />

e o NO prompt são os predominantes.<br />

O NO térmico é obtido a partir da reação do<br />

nitrogênio do ar atmosférico com o oxigênio dissociado<br />

pelas altas temperaturas impostas no processo<br />

de combustão. As principais reações de formação<br />

do NO térmico são apresentadas abaixo, segundo<br />

modelo proposto por Zeldovich:<br />

N 2 + O ⇔ NO + N (1)<br />

N + O 2 ⇔ NO + O (2)<br />

N + OH = > NO + H (3)<br />

A velocidade de formação do NO térmico é<br />

determinada pela equação (1), importante quando<br />

em condições próximas a estequiométrica e mistura<br />

rica. Nessas condições se produz grande quantidade<br />

e óxido de nitrogênio. A velocidade de formação de<br />

NO é menor do que a velocidade da maioria das<br />

reações de combustão e verifica-se que na região da<br />

chama pouco NO térmico é formado, com grande<br />

parcela sendo gerada na região de pós-chama (Chigier,<br />

1981).<br />

Chigier (1981) apresenta na equação (4) a<br />

taxa de formação de óxido de nitrogênio, indicando<br />

que a quantidade de NO depende exclusivamente<br />

da temperatura e das concentrações de oxigênio e<br />

de nitrogênio. O autor comenta a boa concordância<br />

com valores da equação e os valores de NO medidos<br />

na região de pós-queima, mas quando comparado<br />

a valores medidos na região de combustão,<br />

existe um erro significativo, devido à não possibilidade<br />

de se prever o acréscimo de NO formado,<br />

proveniente do NO combustível e NO prompt.<br />

dNO ( )<br />

---------------- 6x10 10 1⁄<br />

2<br />

1⁄<br />

2<br />

= T<br />

t<br />

eq exp( [–<br />

69090 ⁄ T eq ][ O 2 ] eq [ N 2 ] eq )<br />

(4)<br />

A formação de NO térmico aumenta com a<br />

temperatura e com o tempo de exposição. O<br />

aumento de temperatura contribui com a energia<br />

que acelera a reação de dissociação, exigindo menor<br />

tempo de exposição para que ela ocorra. Isso significa<br />

que, para uma dada mistura, existe uma temperatura<br />

na qual o tempo de exposição não é mais<br />

significativo no aumento de NO térmico, devido ao<br />

fato de o processo de formação de NO ter atingido<br />

o equilíbrio químico.<br />

Deve ser observado que, para uma dada temperatura<br />

de referência, uma nova condição de equilíbrio<br />

para formação do NO térmico pode ser<br />

atingida com o aumento do excesso de ar (mistura<br />

pobre), em função da maior presença de oxigênio e<br />

nitrogênio, que podem se dissociar e reagir. Outro<br />

fator importante é o tempo de residência; todavia<br />

para relações de combustível/ar baixas (por volta de<br />

0,4), o tempo de residência não tem influência no<br />

aumento da formação de NO térmico, dada a diminuição<br />

da temperatura da chama.<br />

Lefebvre (1995) cita que os pontos-chave<br />

relativos à formação de NO térmico podem ser<br />

resumidos da seguinte forma: a) a formação do NO<br />

térmico é controlada pela temperatura de chama; b)<br />

pequena quantidade de NO térmico é formada com<br />

temperaturas abaixo de 1.850 K; c) para relações de<br />

combustão com mistura pobre (relação combustível/ar<br />

< 0,5), NO formado independe do tempo de<br />

residência.<br />

O NO combustível é formado a partir da reação<br />

do oxigênio com o nitrogênio contido no combustível<br />

durante o processo de combustão. Frações<br />

de nitrogênio podem se encontradas nos combustíveis<br />

desde 0,2% em massa, nos destilados leves, até<br />

2% em massa nas frações asfálticas e carvões.<br />

16 Junho • 2000


A oxidação de moléculas de baixo peso molecular<br />

que contêm nitrogênio, presente no combustível<br />

ou formadas durante a combustão (NH 3 , HCN,<br />

CN), é muito rápida, ocorrendo em escala de<br />

tempo similar à das outras reações do processo de<br />

combustão. A formação do NO combustível, além<br />

de ser fortemente influenciada pela quantidade de<br />

nitrogênio presente na composição do combustível,<br />

é influenciada pela relação ar/combustível da reação<br />

de combustão. Altas concentrações de NO combustível<br />

são obtidas em reações pobres (baixas temperaturas<br />

de chama), ou seja, a temperatura tem pouca<br />

influência. Quando a combustão ocorre a baixas<br />

temperaturas, como em reatores de leito fluidizado<br />

(750 a 950ºC), o NO combustível é o mais predominante.<br />

O mecanismo de formação do NO combustível<br />

pode ser encontrado em Chigier (1981).<br />

Conforme Lefebvre (1983), o mecanismo de<br />

formação do NO combustível parece seguir os<br />

seguintes critérios: a) a conversão do nitrogênio pertencente<br />

ao combustível para óxido de nitrogênio<br />

(NO) é praticamente total para condições de<br />

excesso de ar, quando operando com combustível<br />

que possui baixas concentrações de nitrogênio<br />

(menos que 0,5% em massa); b) a conversão<br />

decresce com o acréscimo da concentração de nitrogênio<br />

no combustível, especialmente para condições<br />

de mistura rica; c) a conversão aumenta vagarosamente<br />

com a elevação da temperatura de chama.<br />

O termo prompt NO ou NO rápido foi apresentado<br />

por Fenimore (Chigier, 1981), que o caracterizou<br />

pelo rápido aparecimento de NO na frente<br />

de chama, envolvendo mecanismo cinéticos que não<br />

são completamente compreendidos. Uma explicação<br />

para a obtenção do NO prompt é baseada na<br />

reação do nitrogênio com radicais hidrocarbônicos<br />

(CH, C etc.), existentes na frente de chama. Conforme<br />

Lefebvre (1995), a reação inicial para a formação<br />

do NO prompt é iniciada a partir da<br />

formação do HCN, representada pelas equações 5 e<br />

6, ocorrendo reações intermediárias, que formam<br />

compostos como CN, NCO, HNCO; estes por sua<br />

vez são oxidados, formando o NO.<br />

N 2 + CH ⇔ HCN + N (5)<br />

C + N 2 ⇔ CN + N (6)<br />

Chigier (1981) cita que, ao serem analisados<br />

experimentos realizados com grandes concentrações<br />

de HCN próximo à zona de chama, verificou-se<br />

uma rápida queda da concentração de HCN e uma<br />

rápida formação de NO. Uma das teorias utilizadas<br />

para explicar o ocorrido é a de que na frente de<br />

chama o nitrogênio proveniente do combustível<br />

reage para a formação do NO via HCN. Essa teoria<br />

na realidade junta o mecanismo de formação do NO<br />

combustível com o NO prompt.<br />

Algumas características com relação ao NO<br />

prompt são apresentadas por Chigier (1981): a) a<br />

absoluta dependência da presença de hidrocarbonos<br />

ativos; b) a relativa independência da temperatura,<br />

tipo de combustível ou mistura. Em experiências<br />

realizadas em condições estequiométricas foram<br />

obtidos níveis de NO prompt de 50 a 90 ppm; ao se<br />

alterar a temperatura de 1.900 K para 2.350 K não<br />

houve significativo aumento NO prompt; em compensação,<br />

ao se aumentar relação combustível/ar de<br />

0,9 para 2,0 a 1.900 K foi produzido significativo<br />

aumento na produção de NO prompt; c) quando<br />

em baixas temperaturas de chama, um tempo longo<br />

de residência promove a destruição do NO ativo formado<br />

a partir de reações desse com hidrocarbonos.<br />

A Formação de NO 2<br />

A formação de NO 2 próximo à chama é praticamente<br />

desprezível se comparada com o NO formado,<br />

sendo que parcela do NO 2 formado nessa<br />

região se converte em NO. A conversão de NO em<br />

NO 2 , por sua vez, ocorre nas zonas em que existe<br />

excesso de ar na câmara de combustão, o que caracteriza<br />

uma maior estabilidade do NO 2 a baixas temperaturas,<br />

quando comparado com o NO. A partir<br />

da cinética de reação pode ser prevista a conversão<br />

de NO em NO 2 . Tomando um exemplo: a 700 K e<br />

para um tempo de 0,1 ms, ocorre rapidamente<br />

25% de conversão; por outro lado, ao se aumentar<br />

a temperatura para 900 K, a conversão é menor que<br />

6%. Existem dúvidas se a conversão de NO para<br />

NO 2 ocorre dentro da câmara de combustão ou nas<br />

proximidades da saída da câmara.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 13-22 17


CORRELAÇÕES EMPÍRICAS<br />

PARA PREVISÃO DA<br />

FORMAÇÃO <strong>DE</strong> NOX<br />

A possibilidade de se prever o comportamento<br />

térmico e as emissões geradas por uma turbina<br />

são importantes, principalmente na fase de<br />

projeto e escolha do sistema a ser utilizado. Existem<br />

duas formas para determinar a quantidade de NOx:<br />

a primeira vem da necessidade de se conhecer os<br />

mecanismos de reação, equações de equilíbrio e as<br />

constantes de velocidade de reação e de se resolver<br />

essas equações por métodos computacionais; outra<br />

forma é desenvolver correlações empíricas a partir<br />

de dados coletados em equipamentos existentes. A<br />

elaboração dos modelos está baseada em três parâmetros:<br />

a) tempo de residência na zona de combustão;<br />

b) taxa da reação química; c) taxa de mistura. A<br />

partir desses parâmetros podem ser obtidos termos<br />

que relacionam tamanho da câmara de combustão,<br />

perda de carga, proporções dos fluxos envolvidos,<br />

além das condições de entrada, como pressão, temperatura<br />

e fluxo de massa.<br />

Seguindo essa metodologia, algumas equações<br />

para previsão de formação de NOX em turbinas a<br />

gás são apresentadas por Lefebvre (1995). A equação<br />

(7) foi desenvolvida pelo próprio autor:<br />

NOx = 9 × 10 -8 P -1,25 V c exp (0,001T st ) / m A T pz (7)<br />

onde: Vc é volume da combustão (m3), P é a<br />

pressão da combustão (kPa), T st é a temperatura da<br />

chama (K), T pz é a temperatura média da câmara da<br />

chama (K), e m A é fluxo de massa de ar (kg/s); o<br />

resultado obtido é dado em gramas de NOx por<br />

quilo de combustível (g/kg de combustível). Conforme<br />

o autor, esta equação oferece boa previsão da<br />

determinação de NOx em câmaras de combustão<br />

do tipo “spray”.<br />

Outros autores, como Odgers & Krestchmer,<br />

Lewis & Rokk (In: Lefrevre, 1995), apresentam<br />

também correlações empíricas, apresentadas nas<br />

equações 8, 9 e 10.<br />

NOx = 29 exp – (21.670/T) P 0,66 × [ 1 – exp -(250 t) ] (8)<br />

onde: P é a pressão da câmara de combustão<br />

(Pa), T é a temperatura da chama (K), e t é o tempo<br />

de formação do NOx (ms), sendo atribuído 0,8 ms<br />

para “airblast atomizers”, 1,0 ms para “pressure atomizers”,<br />

1,5 a 2,0 ms para turbinas industriais queimando<br />

combustível líquido; o resultado obtido é<br />

dado em gramas de NOx por quilo de combustível<br />

(g/kg de combustível).<br />

NOx = 3,3192 × 10 -6 exp (0,0079776 Τ) P 0,5 (9)<br />

onde: P é a pressão da câmara de combustão<br />

(atm), T é a temperatura da chama (K), o resultado<br />

obtido é dado partes por milhão em volume<br />

(ppmv). Esta equação se aplica em câmaras de combustão<br />

de turbinas aeroderivativas e não é recomendada<br />

para turbinas industriais.<br />

NOx = 18.1 P 1,42 m A<br />

0,3 q 0,72 (10)<br />

onde: P é a pressão da câmara de combustão<br />

(atm), m A é fluxo de massa de ar (kg/s), e q é a relação<br />

combustível/ar; o resultado obtido é dado em<br />

ppm. Essa correlação tem boa aproximação para<br />

turbinas utilizando gás na faixa de 1,5 a 34MW.<br />

TECNOLOGIAS PARA A<br />

REDUÇÃO <strong>DE</strong> EMISSÕES<br />

<strong>DE</strong> NOx<br />

As soluções para a redução do nível de emissões<br />

de NOx em turbinas a gás podem ser variadas:<br />

injeção de água líquida ou vapor, uso de câmaras de<br />

combustão como baixa emissão de NOx, ou tratamento<br />

dos gases de combustão, dependendo a escolha<br />

final de sua viabilidade técnica e econômica.<br />

Em geral, tecnologias que tendem a diminuir<br />

as emissões de NOx atuam de forma desfavorável<br />

quanto às emissões de monóxido de carbono (CO)<br />

e de hidrocarbonetos não queimados (UHC). A<br />

figura 2 mostra os problemas que podem ocorrer a<br />

partir da escolha de temperaturas muito baixas para<br />

a zona primária de uma câmara de combustão:<br />

abaixo de 1.600 K, embora as emissões de NOx<br />

sejam baixas, ocorre um aumento nas emissões de<br />

monóxido de carbono (CO). De forma inversa,<br />

acima de 1.800 K o nível de CO seria reduzido, mas<br />

os níveis de emissões de NOx seriam altos.<br />

18 Junho • 2000


Fig. 2. Influência da temperatura da zona primária nas<br />

emissões de NOx e CO (Chigier, 1981).<br />

Injeção de Água ou Vapor na<br />

Câmara de Combustão<br />

A injeção de água líquida ou vapor na câmara<br />

de combustão diminui substancialmente a temperatura<br />

de chama na zona primária, conseguindo baixos<br />

níveis de emissões de NOx, além de um<br />

aumento de trabalho máximo fornecido pela turbina<br />

em função do aumento do fluxo de massa. Proporções<br />

usuais de injeção de água líquida estão por<br />

volta de 50% do fluxo de combustível e na faixa de<br />

100 a 200% do fluxo de combustível para a injeção<br />

de vapor.<br />

As desvantagens desse tipo de sistema são: a)<br />

no caso de injeção de água líquida, há necessidade<br />

de se usar água desmineralizada e em quantidade<br />

substancial; b) no caso da injeção de vapor, além da<br />

vazão necessária, o gerador de vapor deve ter pressão<br />

compatível com a pressão da câmara de combustão<br />

da turbina; c) pode ocorrer aumento do<br />

nível de emissões de monóxido de carbono e de<br />

hidrocarbonetos; d) pode haver oscilações da<br />

chama, no caso de injeção de água na fase líquida; e)<br />

há redução no rendimento térmico da turbina sempre<br />

que se usa injeção de água na fase líquida.<br />

Na tabela 2 são apresentados níveis de emissões<br />

alcançados de NOx em função da quantidade<br />

de água líquida ou vapor adicionada na câmara de<br />

combustão, e sua influência no aumento da potência<br />

e da eficiência da turbina.<br />

Câmara de Combustão<br />

de Geometria Variável<br />

Esse tipo de configuração de câmara de combustão<br />

não é nova e possui muitas variantes. Sua utilização<br />

em turbinas aeronáuticas é justificada por ser<br />

um dos meios de reacendimento em vôo. Esse tipo<br />

de câmara não era bem aceito pelos projetistas de<br />

turbinas estacionárias em razão das complexidades<br />

mecânicas envolvidas. Porém, com a necessidade da<br />

redução de emissões, tal tecnologia passou a ser utilizada<br />

também em turbinas industriais.<br />

O sistema de variação da geometria modula a<br />

quantidade de ar necessário de diluição, mantendo a<br />

temperatura da zona primária próxima às condições<br />

de baixa formação de NO. Quando a turbina trabalha<br />

em baixa carga, existe um sistema que desvia<br />

parte do ar para a zona de mistura, mantendo a<br />

chama controlada. A desvantagem desse sistema<br />

reside na complexidade do seu controle, que tende a<br />

aumentar custo e peso, bem como reduzir a confiabilidade<br />

da operação.<br />

Câmara de Combustão em Estágios<br />

Esse tipo de sistema é utilizado por vários fabricantes,<br />

nele encontrando-se valores de emissões de<br />

NOx inferiores a 25 ppmv (base 15% oxigênio) e<br />

sem a injeção de água ou vapor. O conceito da combustão<br />

em estágios é promover uma distribuição uniforme<br />

do fluxo de ar na câmara, alternando o fluxo<br />

de combustível para manter a temperatura de combustão<br />

constante e em valores adequados a baixas<br />

emissões. Um meio de se fazer à injeção de combustível<br />

seletiva pode ser pela combinação de injetores de<br />

combustível em uma coroa circular, conseguindo-se<br />

temperatura da combustão localizada e divida. A desvantagem<br />

desse sistema é o resfriamento de reações<br />

químicas que acontecem nas extremidades das zonas<br />

de combustão, o que pode ocasionar baixa eficiência<br />

e aumento na formação de CO e UHC.<br />

Em uma típica combustão por estágio, uma<br />

relação combustível/ar ao redor de 0.8 no primeiro<br />

estágio é usada para alcançar eficiência de combustão<br />

alta, baixa emissão de CO e UHC. Já em condições<br />

de plena carga, a zona de chama e de mistura<br />

são mantidas com uma relação combustível/ar ao<br />

redor de 0.6 para minimizar as emissões de óxido<br />

nítrico e fumaça.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 13-22 19


Tab. 2. Emissões NOx em função da quantidade de água injetada (Schorr, 1991).<br />

PROPORÇÃO EM MASSA<br />

NÍVEL <strong>DE</strong> NOX (PPMVD) COMBUSTÍVEL<br />

ÁGUA / COMBUSTÍVEL<br />

POTÊNCIA <strong>DE</strong> SAÍDA EFICIÊNCIA<br />

75 Óleo leve 50% (líquida) Aumento de 3 % Aumento de 1,8 %<br />

42 Gás natural 100% (vapor) Aumento de 5 % Aumento de 3,0 %<br />

42 Gás natural 140% (vapor) Aumento de 5 % Aumento de 2,0 %<br />

25 Gás natural 120% (líquida) Aumento de 6 % Aumento de 4,0 %<br />

25 Gás natural 130% (vapor) Aumento de 5.5 % Aumento de 3,0 %<br />

Turbinas a gás aeronáuticas costumam empregar<br />

sistemas radiais ou paralelos de injeção de ar,<br />

quando em câmaras anulares. Para as turbinas<br />

industriais o sistema utilizado pode ser do tipo série<br />

ou axial, em que uma porção do combustível é injetada<br />

em uma zona de combustão primária (piloto) e<br />

a jusante, em uma zona de combustão principal que<br />

opera a baixas relações de combustível/ar, minimizando<br />

a formação de fumaça e NOx. Uma das vantagens<br />

desse tipo de sistema é o fato de o fluxo de<br />

gás quente da zona piloto assegurar alta eficiência de<br />

combustão, até mesmo a baixas relações de combustível/ar,<br />

além do bom perfil de temperatura<br />

radial na saída da câmara. Sua principal desvantagem<br />

é a dificuldade de realização da adaptação em<br />

algumas turbinas, devido principalmente à adaptação<br />

dos injetores de combustível para as duas fases<br />

de combustão.<br />

Câmara de Combustão<br />

Dry Low NOx Combustor<br />

O termo “dry low" é usado para indicar a<br />

câmara de combustão capaz de alcançar baixas<br />

emissões de NOx sem a necessidade da injeção de<br />

água ou vapor, através de uma estratégia centrada<br />

na mistura prévia entre o combustível e o ar (premix).<br />

A rigor, as câmaras de combustão em estágios<br />

descritos anteriormente poderiam ser também<br />

enquadradas como “dry-low-NOx”.<br />

As avaliações realizadas pela Solar Turbines<br />

(Lefebvre, 1995) indicam baixos níveis de NOx, ao<br />

redor de 12 ppm a 6 bar e 20 ppm a 9 bar, com o<br />

CO abaixo de 50 ppm. Tais níveis de concentrações<br />

são atingidos a partir da boa mistura do ar com o<br />

combustível e em condições operacionais restritas.<br />

Para produzir uma câmara de combustão de<br />

baixa emissão em uma versão industrial da turbina<br />

Rolls Royce RB 211, o combustor anular foi substituído<br />

por nove combustores que realizam uma mistura<br />

prévia entre o ar e o combustível. Testes<br />

realizados com pressões de no mínimo 20 atm<br />

demonstraram a habilidade desta câmara para<br />

alcançar simultaneamente baixo NOx e CO em<br />

grande faixa de temperatura sem recorrer a geometria<br />

variável ou extração de ar.<br />

A Asea Brown Boveri desenvolveu um<br />

módulo “Premix Cônical Burner” (queimador<br />

“EV”) que oferece bom potencial para baixas emissões<br />

em uma larga faixa de trabalho. Uma característica<br />

importante desse queimador é a estabilização<br />

de chama no espaço livre perto da sua saída,<br />

podendo utilizar combustíveis gasosos e líquidos em<br />

conjunto. Uma combinação de escoamento do ar e<br />

injeção tangencial de combustível proporciona uma<br />

boa mistura antes da região de chama. Valores de<br />

NOx abaixo de 12 ppmv são obtidos, mantendo<br />

baixa emissão de CO e UHC.<br />

Câmara de Combustão Lean<br />

Premix-Prevaporize Combustion<br />

Esse conceito de câmara é freqüentemente<br />

usado quando se requer níveis muito baixos de emissão<br />

utilizando combustíveis líquidos. O combustível<br />

é injetado de forma atomizada no fluxo de ar em alta<br />

velocidade e direcionado para a zona de combustão.<br />

O objetivo desse tipo de projeto é obter a completa<br />

evaporação e a melhor mistura possível do combustível<br />

e do ar, evitando-se a formação de gotas, além<br />

de se ter uma mistura com excesso de ar que reduz as<br />

emissões de NOx. Os problemas dessa tecnologia<br />

incluem a vaporização incompleta da mistura, risco<br />

de auto-ignição, possibilidade de retrocesso da mistura<br />

e dificuldade de acendimento. Alguns desse problemas<br />

são resolvidos com a inclusão de sistema de<br />

combustão por estágio ou geometria variável. Conforme<br />

Lefebvre (1995), o “lean premix” tem consi-<br />

20 Junho • 2000


derável potencial, obtendo-se valores de emissões de<br />

NOx inferiores a 10 ppm, com temperatura de<br />

chama de 2.000 K, mas os problemas de mistura e<br />

auto-ignição ainda são presentes.<br />

Redução Catalítica Seletiva<br />

A Redução Catalítica Seletiva (RCS) é uma<br />

forma de tratamento dos gases de combustão na<br />

saída da turbina. Trata-se de um processo baseado<br />

na grande afinidade da amônia (NH 3 ) com o NOx:<br />

a amônia é injetada de forma controlada (devido ao<br />

seu poder corrosivo) nos gases de combustão antes<br />

da entrada no conversor catalítico, local onde se<br />

converte seletivamente o NOx em N 2 e água. São<br />

usados como catalisadores o pentóxido de vanádio<br />

(V 2 O 5 ) ou óxido de titânio (TiO 2 ), devendo o processo<br />

ocorrer dentro de uma faixa de temperatura<br />

de 285 a 400ºC, o que limita o seu uso em ciclos<br />

que possuam sistema de recuperação de energia dos<br />

gases de combustão. Outro problema é o controle<br />

da injeção de amônia, que não pode ser arrastada<br />

com os gases de combustão (a emissão de amônia é<br />

ainda pior que a de NOx). Com essa tecnologia é<br />

possível atingir níveis extremamente baixos de emissões<br />

de NOx. Cohen (1996) cita que se consegue<br />

valores inferiores a 10 ppmvd.<br />

A National Aeronautics and Space Administration<br />

(NASA), visando eliminar NOx proveniente<br />

dos propulsores das naves espaciais, desenvolveu<br />

um sistema de conversão de óxidos de nitrogênio<br />

em nitrato de potássio, matéria-prima utilizada na<br />

fabricação de fertilizantes.<br />

O sistema é composto de um reservatório<br />

que possui uma solução “scrubber” (limpadora),<br />

bombeada no topo de uma coluna que absorve dos<br />

gases o NOx presente, convertendo-o em ácido<br />

nítrico e nitroso, e fluindo junto com a solução para<br />

o reservatório. Um sistema controla a adição de<br />

peróxido de hidrogênio, que assegura somente a<br />

existência de ácidos nítrico e nitroso no tanque.<br />

Existe outro sistema que mantém o pH entre 5.0 e<br />

9.0 a partir da adição de hidróxido de potássio, que,<br />

ao reagir com o ácido de nítrico, forma o nitrato de<br />

potássio. Esse nitrato de potássio aquoso pode ser<br />

removido a qualquer momento do reservatório,<br />

enquanto a concentração se aproxima do limite de<br />

solubilidade de 18%. Esse projeto ainda não foi<br />

fabricado em escala industrial, mas pode ser mais<br />

uma tecnologia a ser adotada para a diminuição das<br />

emissões de NOx e ainda com possibilidade de produzir<br />

fertilizante (National Aeronautics Space Administration,<br />

1998).<br />

CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

E CONCLUSÕES<br />

A formação de NOx em turbinas a gás está<br />

ligada ao próprio processo de combustão. Os mecanismos<br />

de formação de NOx indicam a influência<br />

da temperatura na zona primária, da pressão de<br />

operação da câmara, das concentrações de oxigênio<br />

e nitrogênio e da presença de nitrogênio na composição<br />

química do combustível. Assim, as tecnologias<br />

existentes de redução de formação de NOx utilizam-se<br />

desses parâmetros para conseguir obter uma<br />

diminuição das emissões.<br />

Atualmente existem tecnologias que atuam<br />

preventivamente sobre a formação de NOx, especialmente<br />

através de novas concepções de projeto de<br />

câmaras de combustão. A alternativa de redução catalítica<br />

do NOx deve ser evitada sempre que possível,<br />

dado que o emprego de amônia para tal finalidade<br />

aumenta os custos e pode ser inconveniente se mal<br />

controlada (emissão de amônia para o ambiente).<br />

Antes da elaboração de projetos e da instalação<br />

de sistemas de potência ou de co-geração empregando<br />

turbinas a gás, unicamente preocupados com<br />

a maior eficiência, é necessário que se avalie que tipo<br />

de câmara de combustão está sendo fornecido e se<br />

compare os níveis de emissão, para cada condição de<br />

operação, com padrões internacionalmente aceitos.<br />

Do ponto de vista legal, é urgente que sejam<br />

instituídos limites de emissões de NOx na legislação<br />

brasileira, bem como instrumentos que operacionalizem<br />

seu controle. Esse tipo de medida certamente<br />

incentiva a busca de sistemas mais eficientes do<br />

ponto de vista térmico e ambiental.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BATHIE, W. W. Fundamentals of Gas Turbines, 2 th edition. U.S.A.: John Wiley & Songs, Inc., 1996.<br />

CHIGIER, N. Energy, Combustion and Environment. U.S.A.: McGrall-Hill, 1981.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 13-22 21


COHEN, H.; ROGERS, G.F.C. & SARAVANAMUTTOO, H.I.H. Gas Turbine Theory, 4 th edition. Londres: Addison Wesley<br />

Longman, 1996.<br />

ENVIRONMENTAL EUROPEAN AGENCY – EEA CORINAIR (CORe Inventories AIR), 1998. <br />

1998.<br />

LEFEBVRE, A.H. Gas Turbine Combustion. U.S.A.: Hemisphere Publishing Corporation, 1983.<br />

_______. The Role of Fuel Preparation in Low-Emission Combustion, Journal of Engineering for Gas Turbines and Power,<br />

U.S.A., v. 117, pp. 617-654, october 1995.<br />

NATIONAL AERONAUTICS SPACE ADMINISTRATION-NASA Nitrogen Oxides (NOx) waste conversion to fertilizer,<br />

1998. .<br />

SCORR, M.M. NOx Emission Control for Gas Turbines: a 1992 update on regulations and technology, ASME: Cogen & Turbo<br />

Power Conference, IGT, U.S.A., v. 7, pp. 1-12, 1992.<br />

TOKIO ELECTRIC POWER COMPANY (TEPCO), TEPCO International Affairs Department, 1998.<br />

.<br />

VENTURA, V.J. & RAMBELLI, A.M. Legislação Federal sobre o Meio Ambiente. Taubaté: Vana, 1996.<br />

22 Junho • 2000


Projeto de Construção<br />

de Aplicativo Estatístico<br />

para Análises Descritivas:<br />

Sistema de Análises<br />

Descritivas-Siad (parte II)<br />

Project for Statistical Applicative Construction to Descriptivies<br />

Analysis: descriptivies analysis system – SIAD (part II)<br />

ANGELA M. C. JORGE CORRÊA<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

ajcorrea@unimep.br<br />

FRANCISCO BACCARIN<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

baccarin@merconet.com.br<br />

VALÉRIA M. D’AREZZO ZILIO<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

umdizilio@dglnet.com.br<br />

ARIVALDO MATHIENSEN JR.<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

amathiensen@unimedpiracicaba.com.br<br />

EVELIN GIULIANA LIMA<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

evelin_giu@uol.com.br<br />

HELOISA HELENA SFERRA<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

hhsferra@uol.com.br<br />

RESUMO – O presente texto relata uma experiência de pesquisa interdisciplinar de iniciação científica envolvendo alunos<br />

e professores de estatística e análise e desenvolvimento de sistemas, do curso de Análise de Sistemas, da Universidade<br />

Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Nesse contexto, desenvolveu-se um projeto que consistiu em construção, teste e validação<br />

de um aplicativo estatístico para análises descritivas denominado Sistema de Análises Descritivas (SIAD). Trata-se<br />

de aplicativo destinado a auxiliar usuários de diferentes áreas do conhecimento que necessitem de ferramentas computacionais<br />

para o desenvolvimento de metodologias da estatística descritiva. O objetivo central do estudo foi a construção de<br />

um software compacto e de fácil utilização, acompanhado de documentação e recursos necessários ao entendimento e à<br />

operacionalização do aplicativo. Para a realização do projeto aplicou-se uma combinação das metodologias Estruturada e<br />

Orientada a Objetos, visto que a linguagem escolhida para seu desenvolvimento, Borland Delphi 3.0, oferece recursos de<br />

programação orientada a objetos e eventos. O resultado do estudo é o software SIAD, composto de sete módulos:<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 23-32 23


Entrada de Dados (ou módulo básico do sistema), Box-Plot, Correlação e Regressão Linear Simples, Gráficos, Índices ou<br />

Medidas, Tabelas de Freqüências e Teste Qui-Quadrado. Também foi criado um site para socialização do aplicativo.<br />

Palavras-chave: ESTATÍSTICA <strong>DE</strong>SCRITIVA – APLICATIVO ESTATÍSTICO – ANÁLISE <strong>DE</strong> SISTEMAS – ESTATÍSTICA.<br />

Abstract – The present paper reports an experience of scientific initiation multisubject research, involving students and<br />

professors of System and Development Analysis as well as Statistics, from the course of System Analysis in the Methodist<br />

University of Piracicaba (UNIMEP). In this context, a project was developed, consisting of the making, testing and validating<br />

of the statistics software named Descriptive System Analysis (SIAD). This concerns of a software meant to help users<br />

from different areas of knowledge, who need computer tools for the development of metodologies in Descriptive Statistics.<br />

The central object of this study was the making of a compact and user–friendly software, attached with documentation<br />

and the necessary tools to its understanding and use. For the accomplishment of the project, a combination of the<br />

Structured and Object Oriented Methodologies was applied, as the language chosen for its development, Borland Delphi<br />

3.0, offers object and event oriented programming resources. The result of the study is the SIAD software, which consists<br />

of seven modules: data entry (or basic module of system), Box-Plot, Correlation and Simple Linear Regression, Graphs,<br />

Index or Measures, Frequency Tables and Qui-Square Test. A site for the socialization of the software was also created.<br />

Keywords: <strong>DE</strong>SCRIPTIVE STATISTICS – STATISTICAL SOFTWARE – SYSTEM ANALYSIS STATISTICS.<br />

1 Além dos autores do artigo, participou também desse projeto o<br />

aluno bolsista Alex de Almeida Neves.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A<br />

nálises Estatísticas Descritivas são parte da<br />

metodologia científica de pesquisas em diferentes<br />

áreas do conhecimento. Com a integração<br />

dos recursos da informática aos métodos<br />

estatísticos, essas análises tornam-se mais ágeis e<br />

seguras, e podem ser desenvolvidas com apoio de<br />

vários aplicativos estatísticos. Nesse âmbito, considerando<br />

ser de interesse de pesquisadores de diferentes<br />

áreas do conhecimento a utilização de um<br />

aplicativo simples e de fácil operacionalização, destinado<br />

a apoiar análises empíricas de dados, propôsse<br />

a construção do Sistema de Análises Descritivas<br />

(SIAD), através da seqüência de dois projetos de iniciação<br />

científica, com apoio do CNPq e da UNIMEP.<br />

O primeiro deles teve por objetivo projetar o SIAD,<br />

enquanto o segundo, aqui relatado, destinou-se à<br />

construção do software. 1 Tal aplicativo tem por<br />

objetivo atender às etapas do método estatístico descritivo,<br />

desde o planejamento da pesquisa de campo<br />

até a fase de análise, bem como permitir a realização<br />

de testes não-paramétricos, como o teste do Qui-<br />

Quadrado.<br />

A construção do software foi realizada em<br />

conformidade com as normas técnicas da área e<br />

necessitou de conhecimentos integrados de várias<br />

disciplinas do curso de Análise de Sistemas. Complementarmente,<br />

o projeto possibilitou ao aluno<br />

bolsista de iniciação científica maior aprofundamento<br />

nas áreas de estatística e análise e desenvolvimento<br />

de sistemas. O estudo respondeu, ainda, pela<br />

elaboração da documentação (como manual do<br />

usuário, help on-line de como utilizar o sistema e<br />

help on-line de tópicos estatísticos) necessária à utilização<br />

adequada do SIAD, disponibilizando ao<br />

futuro usuário do software os recursos necessários<br />

ao entendimento e utilização do aplicativo. Acrescenta-se<br />

que o presente artigo é evolução de artigo<br />

publicado anteriormente na <strong>Revista</strong> de Ciência &<br />

Tecnologia número 13, vol. 7.<br />

METODOLOGIA<br />

O projeto foi dividido em várias fases de atividades.<br />

Inicialmente foi feito um estudo detalhado<br />

das definições do projeto do SIAD, visando a familiarização<br />

dos alunos bolsistas com o software a ser<br />

desenvolvido. Os conceitos estatísticos necessários<br />

foram pesquisados e definidos com base em autores<br />

como Fonseca & Martins (1993), Toledo & Ovalle<br />

(1982), Vieira & Hoffmann (1991) e Bussab &<br />

Morettin (1991). Após essa fase, passou-se à definição<br />

das técnicas e processos metodológicos necessários<br />

à construção do sistema, definindo-se que a<br />

linguagem a ser utilizada seria a Borland Delphi 3.0<br />

e o banco de dados seria o Paradox, por este ser<br />

nativo do Delphi. Também adotou-se a Metodologia<br />

Estruturada, que, segundo Gane & Sarson<br />

(1983), se constitui de um conjunto de técnicas e<br />

24 Junho • 2000


ferramentas derivadas da programação visual e do<br />

projeto estruturado.<br />

Destaca-se que o enfoque principal desta<br />

metodologia é a construção de um modelo lógico<br />

do sistema, através da utilização de técnicas gráficas<br />

que fornecem uma visão geral dele e de como suas<br />

partes se relacionam, para atender às necessidades<br />

do usuário. Além da Metodologia Estruturada, foi<br />

necessário também a utilização de conceitos relacionados<br />

à Metodologia Orientada a Objetos, cuja<br />

principal característica é a criação de classes (Martin,<br />

1994). Registra-se que na Programação Orientada<br />

a Objetos é possível reutilizar códigos já<br />

prontos, agrupando os dados e os procedimentos/<br />

funções que farão uso desses dados, tratando-os<br />

como um objeto único. Outra característica importante<br />

a destacar é a possibilidade de criar objetos<br />

derivados de outros, ou seja, criar um novo objeto<br />

herdando atributos e ações de outro (Alves, 1997).<br />

Para a programação, também adotou-se a<br />

Programação Orientada a Eventos, na qual os códigos<br />

executáveis encontram-se em subprogramas ou<br />

funções, sendo estes acionados por eventos (como,<br />

por exemplo, um clique do mouse) ou ainda chamados<br />

por outras rotinas acionadas por um evento.<br />

Em seguida, passou-se à codificação do sistema.<br />

Inicialmente, criou-se a base de dados necessária<br />

à sua manutenção, utilizando a ferramenta<br />

Borland Database Desktop7, disponível no Delphi,<br />

conforme indicado por Cantù (1997), que permite<br />

manipulação de tabelas de várias bases de dados,<br />

como dBase, Paradox e Access, entre outras.<br />

Considerando as especificações de interface<br />

do software para ambiente Windows, definiu-se<br />

uma estrutura de menu principal para o SIAD, contendo<br />

uma barra de menu suspenso com os seguintes<br />

itens: Arquivo, Gerar, Consultar e Ajuda.<br />

Também foram definidos vários submenus, com o<br />

objetivo de fornecer melhor visualização ao usuário,<br />

além de várias teclas de atalho para facilitar sua utilização,<br />

caso o usuário faça acesso ao aplicativo através<br />

do teclado.<br />

Após a elaboração e construção dos menus,<br />

passou-se à construção das interfaces de entrada de<br />

dados, necessárias à manutenção de uma pesquisa.<br />

Para isso, foram criados vários formulários, que<br />

fazem a interação do usuário com o sistema,<br />

obtendo-se assim os dados necessários a uma pesquisa,<br />

segundo Osier, Grobman & Batson (1997).<br />

Em todo desenvolvimento do sistema utilizou-se<br />

a abordagem Top-Down que, segundo Page-<br />

Jones (1988), consiste em implementar-se primeiramente<br />

o módulo superior do sistema com seus respectivos<br />

módulos subordinados, até que se atinjam<br />

todos os módulos inferiores e o sistema esteja completo.<br />

Salienta-se que, nessa abordagem, de acordo<br />

com DeMarco (1989), as interfaces críticas são testadas<br />

em primeiro lugar e o sistema, mesmo incompleto,<br />

fornece uma idéia geral de como ele será.<br />

Paralelamente à implementação, foram aplicados<br />

testes com a finalidade de garantir que os programas<br />

se adaptassem aos requisitos do projeto e<br />

funcionassem corretamente. Para isso, adotou-se a<br />

abordagem de Martin & McClure (1991), que consiste<br />

em selecionar um conjunto de dados de<br />

entrada com os quais se executará o programa;<br />

determinar a saída que se espera ser produzida; executar<br />

o programa e analisar os resultados produzidos.<br />

Destaca-se que esse processo é realizado em<br />

quatro principais etapas. Na primeira delas efetua-se<br />

o Teste de Unidade, testando cada função, subrotina<br />

ou módulo como sendo uma unidade, objetivando<br />

verificar se as especificações do projeto estão<br />

corretamente implementadas pelo código; a estrutura<br />

básica do módulo através dos testes mais simples<br />

possíveis; o desempenho do módulo através de<br />

dados de entrada válidos; o desempenho do<br />

módulo através de dados de entrada inválidos bem<br />

como a correção de cada laço, especialmente a correção<br />

dos términos de laço.<br />

Na segunda etapa aplica-se o Teste de Integração:<br />

realizado em nível de subsistema, testa a integração<br />

entre os seus módulos. Quando um módulo<br />

está funcionando adequadamente dentro da estrutura<br />

do programa, acrescenta-se outro módulo e o<br />

teste continua. Repete-se esse processo até que<br />

todos os módulos do sistema tenham sido integrados<br />

e testados. Na terceira etapa desenvolve-se o<br />

Teste de Sistema, que verifica se o sistema inteiro<br />

está funcionando corretamente, a fim de descobrir<br />

implementações incorretas das especificações do<br />

projeto. Nesse teste, os dados de entrada devem testar<br />

as partes mais importantes e as mais freqüentemente<br />

usadas do programa; representar o uso<br />

normal ou esperado do programa; revelar erros<br />

sobre condições de processamento extremas ou críticas.<br />

Finalmente, na quarta etapa, aplica-se o Teste<br />

de Aceitação, que verifica se o sistema atende aos<br />

requisitos do usuário. Neste, o usuário opera o software<br />

com dados reais, não necessitando conhecer a<br />

estrutura interna do sistema.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 23-32 25


Fig. 1. Tela em que o usuário cadastra os dados coletados para cada amostra.<br />

RESULTADOS<br />

O principal resultado da pesquisa foi o desenvolvimento<br />

de um conjunto de atividades relacionadas<br />

à codificação, teste e validação do software SIAD,<br />

que atende todas as fases do método estatístico descritivo,<br />

desde o planejamento da pesquisa de campo e<br />

coleta de amostras aleatórias, sistemáticas ou estratificadas,<br />

até a fase de análise, utilizando metodologias<br />

estatísticas descritivas e permitindo a realização de<br />

testes não-paramétricos, como o Qui-Quadrado.<br />

O módulo básico do sistema oferece ao usuário<br />

opção de cadastrar pesquisas e tipos de amostra, definir<br />

a estrutura do arquivo de dados amostrais, gerar e<br />

listar os números da amostra, cadastrar os dados das<br />

amostras, bem como exportar os dados amostrais<br />

para o Microsoft Excel e Microsoft Word e efetuar<br />

cópia da pesquisa, para utilizá-la em outro computador.<br />

Na figura 1 apresenta-se um exemplo de tela<br />

para cadastro de dados, considerando-se uma amostra<br />

estratificada aleatória (referente à pesquisa realizada<br />

no segundo semestre de 1997 com os alunos do<br />

curso diurno de Análise de Sistemas, da UNIMEP).<br />

Além do módulo básico, o SIAD possui<br />

outros seis módulos: Box-Plot, Correlação e Regressão<br />

Linear Simples, Gráficos, Índices ou Medidas e<br />

Qui-Quadrado. Apresenta-se resumidamente, a<br />

seguir, cada um desses módulos.<br />

O Box-Plot, também chamado de “Gráfico de<br />

Caixa”, é um esquema gráfico para análise exploratória<br />

de dados, muito útil no estudo da forma de<br />

uma distribuição, conforme Bussab & Morettin<br />

(1991). Sua construção é baseada em cinco pontos<br />

(mediana, quartis 1 e 3 e valores extremos). Além de<br />

indicar claramente a forma da distribuição (se simétrica<br />

ou assimétrica), permite detectar a existência<br />

(ou não) de valores discrepantes, a partir do cálculo<br />

dos limites (inferiores e superiores) de discrepância.<br />

O módulo construído no SIAD apresenta<br />

para o usuário o desenho do Box-Plot, selecionada a<br />

variável e o(s) estrato(s) desejado(s). O sistema também<br />

exibe alguns cálculos para auxiliar o usuário na<br />

interpretação do resultado: menor e maior valor da<br />

amostra, mediana, quartis 1 e 3, limite inferior e<br />

superior de discrepância e, quando houver, valores<br />

discrepantes. Na figura 2 apresenta-se o Box-Plot<br />

referente à variável “idade” de uma amostra de 70<br />

estudantes do curso diurno de Análise de Sistemas,<br />

da UNIMEP, no segundo semestre de 1997. Pelo<br />

esquema gráfico, observa-se que a amostra apresenta<br />

assimetria positiva e possui duas idades discrepantes.<br />

26 Junho • 2000


Fig. 2. Tela de exibição do Box-Plot referente à uma amostra da variável “idade”.<br />

Fig. 3. Diagrama de Dispersão gerado a partir de uma amostra de 22 pares (X,Y), em que X consiste em gastos com propaganda<br />

(em u.m.) e Y, quantidade vendida.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 23-32 27


O módulo Correlação e Regressão Linear, através<br />

do cálculo do coeficiente de correlação linear de<br />

Pearson, permite quantificar o relacionamento linear<br />

entre duas variáveis de interesse. A idéia gráfica desse<br />

relacionamento (ou variação conjunta) entre duas<br />

variáveis é normalmente expressa através de um gráfico<br />

simples, chamado Diagrama de Dispersão. Já o<br />

modelo de relacionamento linear entre variáveis de<br />

interesse pode ser obtido através da estimação de<br />

uma reta pelo método de mínimos quadrados, e consiste<br />

na metodologia estatística de regressão linear<br />

simples (ver, entre outros, Iemma, 1992).<br />

O módulo Correlação e Regressão Linear<br />

Simples, do SIAD, apresenta gráficos e índices que<br />

permitem subsidiar estudos que necessitem de análises<br />

de correlação e modelagem linear simples.<br />

Para tanto, apresenta ao usuário cálculos das estimativas<br />

dos coeficientes da reta de mínimos quadrados,<br />

coeficientes de correlação e determinação,<br />

valor das somas dos quadrados de erros totais,<br />

erros explicados pela regressão e resíduos, além da<br />

estatística F, diagrama de dispersão e gráfico de<br />

resíduos. Ao exibir o diagrama de dispersão, o usuário<br />

pode optar pela apresentação da linha de tendência<br />

(equação da reta) e do coeficiente de<br />

determinação do modelo.<br />

Na figura 3, apresenta-se o diagrama de dispersão,<br />

associado à amostra de 22 pares de valores<br />

(X,Y), em que X consiste nos gastos com propaganda,<br />

em unidade monetária (u.m.), e Y, a quantidade<br />

vendida, extraído de Corrêa (1999). Também<br />

se registra a estimativa do modelo linear ajustado, e<br />

o valor do coeficiente de determinação.<br />

Segundo Vieira & Hoffmann (1991), os gráficos<br />

de Barras e Colunas são freqüentemente utilizados<br />

para apresentar séries cronológicas, geográficas<br />

e categóricas, embora possam representar qualquer<br />

série estatística. Os Gráficos de Setores (pizza) são<br />

utilizados para comparar proporções: representam<br />

um fato e todas as partes em que ele se subdivide.<br />

Os Gráficos de Linhas servem para representar<br />

séries cronológicas, sendo o tempo colocado no<br />

eixo das abscissas e os valores observados no eixo<br />

das ordenadas, expressando muito bem a tendência<br />

de crescimento de uma variável no tempo. Por<br />

outro lado, os Histogramas e Polígonos de Freqüências<br />

devem ser utilizados para representar as distribuições<br />

de freqüências de variáveis quantitativas,<br />

indicando a forma da distribuição dos dados.<br />

Fig. 4. Gráfico de Colunas Sobrepostas com uma variável qualitativa e quatro estratos gerado pelo SIAD, ilustrando a distribuição<br />

dos alunos do curso diurno de Análise de Sistemas da UNIMEP, no segundo semestre de 1997, conforme o<br />

sexo e o semestre.<br />

28 Junho • 2000


O módulo “Gráficos”, no SIAD, permite ao<br />

usuário gerar gráficos para variáveis quantitativas e<br />

qualitativas, a partir de dados brutos ou tabelados. As<br />

opções oferecidas são dos seguintes tipos de gráficos:<br />

área, barras, colunas, linhas, pizza e pontos, no caso<br />

de variáveis qualitativas, e histogramas e polígono de<br />

freqüências, para variáveis quantitativas. Ainda possibilita<br />

copiar o gráfico do SIAD para a área de transferência<br />

do Windows, permitindo, então, transferi-lo<br />

para outros aplicativos (como Word, Excel, PowerPoint<br />

etc.). Esse módulo ainda disponibiliza ao usuário a<br />

opção de formatar o gráfico, ou seja, suas paredes,<br />

eixos e fundo, entre outros atributos.<br />

Na figura 4, apresenta-se um gráfico de colunas<br />

sobrepostas, ilustrando a distribuição dos alunos<br />

do curso diurno de Análise de Sistemas da UNIMEP,<br />

segundo o sexo e o semestre, para o segundo semestre<br />

de 1997.<br />

Segundo Toledo & Ovale (1982), a descrição<br />

de um conjunto de dados quantitativos pode ser<br />

feita através de índices ou medidas. Esses índices são<br />

números resumos, que permitem caracterizar a tendência<br />

central (ou posição) dos valores, bem como a<br />

variabilidade, assimetria e curtose. Essa descrição<br />

pode ser complementada através do cálculo de<br />

separatrizes (como quartis, decis e percentis).<br />

O módulo Índices ou Medidas do SIAD calcula<br />

esses índices para a amostra (simples, por estratos<br />

e no total), ou seja, gera medidas de posição (como<br />

média, mediana e moda), de variabilidade (como<br />

variância, desvio padrão e coeficiente de variação),<br />

coeficiente de assimetria (baseado no 3.º momento<br />

em relação à média), coeficiente de curtose (com base<br />

no 4.º momento em relação à média), separatrizes e<br />

outras médias (como ponderada e geométrica).<br />

A figura 5 ilustra parte desses índices, considerando<br />

a variável “Idade”, por estratos e no total da<br />

amostra de alunos do curso diurno de Análise de<br />

Sistemas da UNIMEP, no segundo semestre de 1997.<br />

O módulo Tabelas de Freqüências permite ao<br />

usuário gerar tabelas simples ou de dupla entrada, tanto<br />

para variáveis qualitativas como quantitativas. No caso<br />

de variáveis quantitativas, o usuário pode optar por<br />

gerar a tabela com os dados agrupados (ou não) em<br />

classes. O usuário ainda pode inserir Fonte, Notas de<br />

Rodapé e Chamadas, gerar gráficos, calcular índices e<br />

realizar o teste Qui-Quadrado, a partir das tabelas já<br />

geradas. Os procedimentos estatísticos (normas e orientações)<br />

seguem Vieira & Hoffmann (1991). A figura 6<br />

apresenta a tabela de freqüências relativa à amostra de<br />

70 alunos do curso diurno de Análise de Sistemas da<br />

UNIMEP, conforme o sexo e o semestre cursado pelo<br />

aluno, no segundo semestre de 1997.<br />

Uma tabela do SIAD, quando gerada para<br />

uma variável quantitativa, pode apresentar a freqüência<br />

observada (fj), a freqüência relativa ao total<br />

da coluna (fr Coluna), a freqüência relativa ao total<br />

da linha (fr Linha) e a freqüência relativa ao total<br />

geral (fr Total Geral). No caso de variáveis quantitativas,<br />

pode apresentar a freqüência observada da<br />

classe (fj), a freqüência relativa (fr), o ponto médio<br />

da referida classe (xj), bem como as freqüências acumuladas<br />

diretas (Fj e Frj) e inversas (Fj* e Frj*).<br />

Segundo De Francisco (1994), o Qui-Quadrado<br />

é uma medida de extensão que compara, em<br />

uma relação finita, as freqüências observadas com as<br />

freqüências esperadas. Dependendo do valor obtido<br />

nessa comparação, é possível afirmar, com certo<br />

nível de confiança, se as freqüências observadas são<br />

compatíveis com as freqüências esperadas. Ao<br />

tomar essa decisão, está se efetuando um teste de<br />

Aderência, a partir de uma tabela de freqüências<br />

simples. Além desse teste simples, é possível também<br />

lançar mão do Qui-Quadrado para verificar a independência<br />

entre fatores ou atributos de classificação,<br />

a partir de uma tabela de dupla entrada, chamada<br />

de tabela de contingência.<br />

Esse último módulo do SIAD permite ao<br />

usuário realizar o teste Qui-Quadrado para tabelas<br />

de entrada simples e de contingência. Para sua realização,<br />

o usuário deverá escolher o nível de significância<br />

desejado. Em tabelas de entrada simples<br />

(para os testes de aderência), o usuário deverá fornecer<br />

as freqüências esperadas. Para testes de independência,<br />

a partir de tabelas de contingência, as<br />

freqüências esperadas são automaticamente efetuadas<br />

pelo SIAD. Na figura 7 apresenta-se a tela com<br />

os resultados de um teste Qui-Quadrado sobre a<br />

opinião de donas-de-casa a respeito de um novo<br />

detergente lançado no mercado (De Francisco,<br />

1994).<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 23-32 29


Fig. 5. Índices gerados para a variável idade, obtida através de pesquisa realizada junto aos alunos do curso diurno de Análise<br />

de Sistemas da UNIMEP, no segundo semestre de 1997.<br />

Fig. 6. Tabela gerada pelo SIAD, referente a uma amostra de 70 alunos do curso diurno de Análise de Sistemas da UNIMEP,<br />

durante o segundo semestre de 1997, segundo o sexo e o semestre cursado pelo aluno.<br />

30 Junho • 2000


Fig. 7. Resultado do teste do Qui-Quadrado aplicado à opinião<br />

de donas-de-casa em relação a um novo<br />

detergente lançado no mercado.<br />

pronto e disponível para utilização, oferecendo<br />

todos os recursos necessários para seu entendimento<br />

e operacionalização. Acredita-se que, por ser<br />

um aplicativo para uso exclusivo no apoio a análises<br />

descritivas, poderá ser de grande utilização por<br />

pesquisadores de diferentes áreas do saber, que<br />

necessitem de auxílio estatístico-computacional de<br />

fácil operacionalização.<br />

Fig. 8. Tela com os tópicos referentes à ajuda de utilização<br />

do SIAD.<br />

Finalizando a apresentação dos resultados, registra-se,<br />

adicionalmente, que o sistema conta também<br />

com o Manual do Usuário e help on-line de como utilizar<br />

o sistema (sendo este contextual, ou seja, em qualquer<br />

ponto do programa, o usuário pode teclar F1, e o<br />

sistema apresentará uma ajuda sobre o contexto em<br />

que ele se encontra). A figura 8 ilustra a tela de conteúdo<br />

da ajuda de utilização do SIAD (nela são apresentados<br />

todos os tópicos da ajuda, para que o usuário<br />

escolha o item que deseja visualizar).<br />

O sistema ainda disponibiliza uma ajuda sobre<br />

Tópicos Estatísticos, no qual o usuário irá encontrar<br />

definições e exemplos para cada medida calculada<br />

pelo SIAD. A figura 9 apresenta uma tela de conteúdo<br />

da ajuda de tópicos estatísticos (nela são apresentados<br />

todos os tópicos dessa ajuda, para que o<br />

usuário escolha o assunto desejado).<br />

Fig. 9. Tela com os tópicos da ajuda de estatística.<br />

CONCLUSÃO<br />

O principal resultado do projeto de iniciação<br />

científica aqui relatado foi a elaboração do software<br />

denominado SIAD. Tal aplicativo encontra-se<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 23-32 31


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ALVES, W.P. Delphi 3.0 – Programação Visual para Windows. São Paulo: Érica, 1997.<br />

BUSSAB, W.O. & MORETTIN, P.A. Estatística Básica. 4.ª ed., São Paulo: Atual, 1991.<br />

CANTÙ, M. Dominando o Delphi 3. Trad. Álvaro Antunes & Marcos Jorge, São Paulo: Makron Books do Brasil, 1997.<br />

CORRÊA, A.M.C.J. Roteiros para Análises Descritivas com Auxílio do Excel Versão 7.0. Grupo de Área de Métodos Quantitativos,<br />

Piracicaba: UNIMEP, 1999.<br />

CORRÊA, A.M.C.J. et al. Projeto para Construção de Aplicativo Estatístico para Análises Descritivas: Sistema de Análise Descritivas<br />

(SIAD). <strong>Revista</strong> de Ciência & Tecnologia, Piracicaba: Editora UNIMEP, 7 (13): 111-117, 1999.<br />

DeMARCO, T. Análise Estruturada e Especificações. Rio de Janeiro: Campus, 1989.<br />

<strong>DE</strong> FRANCISCO, W. Estatística: síntese da teoria. Piracicaba: UNIMEP, 1994.<br />

FONSECA, J.S. & MARTINS, G.A. Curso de Estatística. 4.ª ed., São Paulo: Atlas, 1993.<br />

GANE, C. & SARSON, T. Análise Estruturada de Sistemas. Trad. Gerry E. Tompkins. Rio de Janeiro: LCT, 1983.<br />

IEMMA, A.F. Estatística Descritiva. Piracicaba: Publicações, 1992.<br />

MARTIN, J. Princípios de Análise e Projeto Baseados em Objetos. Rio de Janeiro: Campus, 1994.<br />

MARTIN, J. & McCLURE, C. Técnicas Estruturadas e CASE. Trad. Lucia Faria da Silva. São Paulo: Makron Books do Brasil,<br />

1991.<br />

OSIER, D.; GROBMAN, S. & BATSON, S. Aprenda em 21 Dias Delphi 2. Rio de Janeiro: Campus, 1997.<br />

PAGE-JONES, M. Projeto Estruturado de Sistemas. São Paulo: McGraw-Hill, 1998.<br />

TOLEDO, G.M. & OVALLE, I. Estatística Básica. 2.ª ed., São Paulo: Atlas, 1982.<br />

VIEIRA, S. & HOFFMANN, R. Elementos de Estatística. São Paulo: Atual, 1991.<br />

32 Junho • 2000


Absorvedores de<br />

Radiação Eletromagnética<br />

Aplicados no Setor<br />

Aeronáutico<br />

Electromagnetic Radiation Absorbers with Aeronautical Applications<br />

JOSIANE <strong>DE</strong> CASTRO DIAS<br />

Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)<br />

josianecastro@yahoo.com<br />

FÁBIO SANTOS DA SILVA<br />

Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)<br />

fabioss@iconet.com.br<br />

MIRABEL CERQUEIRA REZEN<strong>DE</strong><br />

Centro Técnico Aeroespacial (CTA)/Instituto de Aeronáutica e Espaço<br />

mirabelrezende@hotmail.com<br />

INÁCIO MALMONGE MARTIN<br />

Unicamp-IFGW<br />

martin@ifi.unicamp.br<br />

RESUMO – Os materiais absorvedores de radiação são obtidos com base no processamento adequado de matrizes poliméricas<br />

aditadas com partículas específicas ao uso do absorvedor e pela utilização de estruturas híbridas em materiais compósitos.<br />

Esses materiais são atualmente utilizados nas indústrias aeronáutica, de telecomunicações e de eletroeletrônicos e,<br />

ainda, na área médica. O presente trabalho apresenta conceitos básicos e trabalhos experimentais envolvidos na ciência<br />

dos materiais absorvedores de radiação eletromagnética, juntamente com informações sobre os materiais primários<br />

empregados no seu processamento e as metodologias de caracterização baseadas nas técnicas do Arco NRL (Naval Research<br />

Laboratory) e RCS (Radar Cross Section).<br />

Palavras-chave: MATERIAIS ABSORVEDORES <strong>DE</strong> RADIAÇÃO – BLINDAGEM ELETROMAGNÉTICA – ABSORVEDORES.<br />

ABSTRACT – Radar absorbing materials (RAM) are obtained from polymeric matrices added with specific additives or<br />

using hybrid structures in composite materials. Nowadays, these materials are widely used in various fields, including<br />

space, aircraft, electronics, medical and telecommunications. The purpose of the present work is to show a review of the<br />

basic concepts concerning radar absorbing materials, giving information about raw materials used in its processing and<br />

the characterization methodologies based in NRL (Naval Research Laboratory) arc and RCS (Radar Cross Section) techniques.<br />

Keywords: RADAR ABSORBING MATERIALS – ELECTROMAGNETIC SHIELDING – ABSORBERS.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 33-42 33


INTRODUÇÃO<br />

Materiais Absorvedores de Radiação<br />

De maneira simplificada pode-se dizer que os<br />

materiais absorvedores de radiação (Radar<br />

Absorbing Materials-RAM) promovem a<br />

troca de energia da radiação eletromagnética pela<br />

energia térmica, devido às características intrínsecas<br />

de determinados componentes, podendo-se citar<br />

alguns tipos de materiais carbonosos, polímeros<br />

condutores e ferritas. Esses materiais, quando atingidos<br />

por uma onda eletromagnética, têm a estrutura<br />

molecular excitada e a energia incidente é convertida<br />

em calor (Interavia, 1998). Exemplos de uso<br />

bem sucedido desses materiais podem ser encontrados<br />

na aeronáutica clássica, na blindagem eletromagnética<br />

de instrumentos de aeronaves (Stonier,<br />

1991; e International Encyclopaedia of Composites,<br />

1991), na fabricação de artefatos utilizados na área<br />

de telecomunicações, podendo-se citar a proteção<br />

eletromagnética em edifícios e câmaras anecóicas,<br />

devido à interferência de sinais em geral, em sistemas<br />

de cabeamento de controle de ruídos espúrios e<br />

em programas de vigilância; na indústria de eletroeletrônicos,<br />

na segurança de fornos de microondas; e<br />

no monitoramento inteligente de camuflagem e na<br />

blindagem de equipamentos utilizados na área<br />

médica (Jafellicci Jr., 1997).<br />

Os RAM podem ser divididos em materiais<br />

que absorvem os campos magnético e elétrico e a<br />

combinação de ambos, denominados materiais<br />

absorvedores. Um critério para a seleção de um<br />

material absorvedor é, em especial, a localização da<br />

região natural de ressonância magnética dos aditivos<br />

a ele incorporados, por exemplo, as ferritas (International<br />

Encyclopaedia of Composites, 1991; Ufimtsev,<br />

1996; Hippel, 1954; Sattar, 1996). A<br />

eficiência na absorção do sinal emitido por uma<br />

determinada fonte pode ser avaliada pela atenuação<br />

da reflexão da radiação, promovida pelo material<br />

ou objeto em questão. A medida considera não só a<br />

influência do material, mas também a geometria do<br />

objeto, denominada de RCS (Radar Cross Section),<br />

utilizada para descrever o tamanho virtual do objeto<br />

detectado pelo receptor de sinal na faixa de freqüência<br />

do emissor de ondas (Halliday & Resnick,<br />

1984).<br />

A transparência ou a reflexão de uma estrutura<br />

submetida a uma determinada radiação incidente<br />

são funções não apenas da geometria da peça, mas<br />

também das propriedades do material, particularmente<br />

de suas propriedades dielétricas ε (a permissividade,<br />

também chamada de constante dielétrica) e<br />

de suas propriedades magnéticas µ (a permeabilidade<br />

magnética) (Afsar et al., 1986; Emerson, 1973).<br />

Sendo assim, alguns materiais podem ser usados para<br />

absorver alta porcentagem da radiação incidente ou<br />

para atenuar parte dela ou, ainda, serem transparentes<br />

a essa radiação.<br />

As duas categorias de absorvedores (dielétricos<br />

e magnéticos) podem ser obtidas por:<br />

• absorvedores dielétricos: a partir da adição de<br />

pequenas partículas de carbono, grafite ou partículas<br />

de metal pulverizadas em uma matriz polimérica;<br />

e<br />

• absorvedores magnéticos: pela adição de aditivos<br />

com características magnéticas, por exemplo,<br />

ferritas, conhecendo-se a sua curva de<br />

histerese magnética (Afsar et al., 1986; Verwey<br />

& Helmann, 1947).<br />

Absorvedores Magnéticos<br />

Os absorvedores magnéticos são constituídos<br />

geralmente de polímeros, como: elastômeros à base<br />

de poliisopreno, neopreno, nitrilas, silicones e/ou<br />

polímeros poliuretânicos, fenólicos ou epoxídicos,<br />

os quais são aditados com materiais com características<br />

magnéticas, por exemplo as ferritas. Esses<br />

absorvedores podem ter em sua formulação, além<br />

da ferrita, partículas de carbono e/ou polímeros<br />

condutores. Pelo controle das propriedades magnéticas<br />

e espessura do material, o polímero aditado<br />

pode ser projetado para alcançar altos valores de<br />

permeabilidade. Isso envolve a seleção apropriada<br />

do aditivo, de sua concentração e distribuição na<br />

matriz do RAM, de modo a favorecer um alto fator<br />

de perda (tan δ). Os absorvedores magnéticos são,<br />

normalmente, menos espessos, apresentando em<br />

alguns casos 1/10 da espessura dos absorvedores<br />

dielétricos. No entanto, as suas características de<br />

absorção são equivalentes às dos absorvedores dielétricos<br />

(International Encyclopaedia of Composites,<br />

1991).<br />

34 Junho • 2000


Ferritas<br />

Os materiais cerâmicos incluem uma categoria<br />

ampla de compostos, empregados nas mais diversas<br />

áreas e com finalidades específicas, podendo-se citar<br />

os piezoelétricos, os ferroelétricos, os isolantes e os<br />

supercondutores (Buchanan, 1991).<br />

As ferritas são materiais cerâmicos, contendo<br />

ferro, oxigênio e outro metal, apresentando características<br />

magnéticas, com fórmula química tipo<br />

M 2 +[Fe 2 3+ ]O 4 e condutividade elétrica relativamente<br />

alta. Esses materiais apresentam curva de histerese<br />

quando submetidos a um campo magnético<br />

externo. As ferritas, por absorverem ondas eletromagnéticas,<br />

têm atraído muito a atenção nas últimas<br />

décadas como aditivo no processamento dos RAM<br />

(Afsar et al., 1986; Buchanan, 1991; Sattar, 1996).<br />

O entendimento das propriedades de magnetismo<br />

em um material pode ser resumido na combinação<br />

de três fatores (Marques & Varanda, 1998):<br />

• a origem do magnetismo, ou seja, a existência<br />

dos momentos magnéticos no material;<br />

• a existência de interações entre os momentos<br />

magnéticos e o entendimento dessas interações;<br />

• a mecânica estatística, necessária para o entendimento<br />

das propriedades macroscópicas mensuráveis<br />

em laboratório.<br />

Quando um campo magnético externo é aplicado<br />

em um material com propriedades magnéticas,<br />

algumas de suas regiões alinham os seus momentos<br />

magnéticos atômicos paralelamente em uma única<br />

direção, constituindo, assim, os domínios magnéticos<br />

do material. Esses domínios crescem por influência<br />

de outros vizinhos, podendo sofrer uma rotação no<br />

sentido mais fácil para se alinharem com o campo<br />

magnético aplicado. Dessa forma, as propriedades<br />

magnéticas em referência são resultantes do ordenamento<br />

dos momentos de dipolo magnéticos das espécies<br />

que constituem o material. Então, o momento<br />

magnético dos átomos deve-se ao momento orbital<br />

dos elétrons em torno do núcleo e ao momento de<br />

rotação (spin) do elétron em torno de seu próprio<br />

eixo. A ordenação dos momentos magnéticos fornece<br />

os tipos de magnetismo apresentados na tabela 1<br />

(Marques & Varanda, 1998).<br />

As propriedades magnéticas das ferritas estão<br />

diretamente relacionadas com os elétrons da camada<br />

incompleta dos cátions do metal. Nessas camadas, os<br />

números quânticos orbital e de spin dos elétrons<br />

desemparelhados combinam com os momentos magnéticos<br />

dos demais elétrons (Buchanan, 1991). A soma<br />

desses momentos dá o momento magnético do átomo<br />

(Cho; Kang & Oh, 1996). Nas ferritas ferrimagnéticas<br />

o alinhamento dos momentos magnéticos antiparalelos,<br />

com números desiguais de spins nas duas direções,<br />

é que fornece o momento magnético resultante diferente<br />

de zero. Nos materiais ferromagnéticos, os<br />

momentos magnéticos dos elétrons constituintes estão<br />

espontaneamente alinhados em paralelo (vide tab. 1) e<br />

o momento magnético resultante se torna diferente de<br />

zero (Sattar, 1996). Em alguns casos, os momentos<br />

magnéticos estão dispostos antiparalelamente, levando<br />

a um momento magnético integral nulo. Esses materiais<br />

são chamados antiferromagnéticos, como por<br />

exemplo, o MnO 2 (Verwey & Helmann, 1947).<br />

Tab. 1. Tipos de magnetismo classificados conforme a<br />

orientação dos momentos magnéticos dos<br />

materiais.<br />

ORIENTAÇÃO DOS MOMENTOS<br />

OR<strong>DE</strong>NAMENTO<br />

<strong>DE</strong> DIPOLOS MAGNÉTICOS<br />

Paramagnético<br />

Ferromagnético<br />

↑↑↑↑↑↑<br />

Antiferromagnético ↓↑↓↑↓↑<br />

Ferrimagnético<br />

↑↓↑↓↑↓<br />

Todos os materiais ferro e ferrimagnéticos exibem<br />

o efeito de histerese, entre um campo magnético<br />

aplicado (H) e a indução magnética (B) do<br />

material apresentando, consequentemente, propriedades<br />

associadas a esse efeito, como permeabilidade<br />

magnética, saturação de magnetização e forças coercitivas<br />

(Buchanan, 1991).<br />

Estruturas das Ferritas<br />

As ferritas podem ser classificadas em:<br />

• estrutura tipo granada, com fórmula geral<br />

5Fe2O3:3 Me2O3, onde Me2O3 = óxido<br />

metálico de terras raras;<br />

• estrutura tipo espinélio, com fórmula geral<br />

1Fe2O3:1MeO, onde MeO = óxido de metal<br />

de transição;<br />

• estrutura tipo hexagonal, com fórmula geral<br />

6Fe2O3:1 MeO, onde MeO = óxido de metal<br />

divalente, grupo II A da Tabela Periódica<br />

(Buchanan, 1991).<br />

↑<br />

↑<br />

↑<br />

↑<br />

↑<br />

↑<br />

↑<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 33-42 35


As ferritas com fórmula geral MFe 2 O 4 (onde<br />

M = Co, Ni, Mn etc.) são do tipo espinélio, por analogia<br />

à estrutura do mineral espinélio (MgAl 2 O 4 ).<br />

Esse tipo de estrutura possibilita uma distribuição<br />

dos cátions no retículo cristalino, em sítios tetraédricos<br />

e octaédricos, cujos vértices são ocupados por<br />

átomos de oxigênio formando um arranjo cúbico de<br />

face centrada. Nessa estrutura, os íons metálicos ocupam<br />

os interstícios entre os átomos de oxigênio<br />

(Verwey & Helmann, 1947). Esses sítios podem ser<br />

tetraédricos (sítio A), devido ao cátion metálico estar<br />

localizado no centro de um tetraedro, e octaédrico<br />

(sítio B), quando o cátion metálico localiza-se no<br />

centro de um octaedro. As propriedades físico-químicas<br />

dos espinélios não dependem somente do tipo<br />

de cátion, mas também da distribuição desses nos<br />

sítios disponíveis no retículo cristalino. Essa estrutura<br />

influencia as propriedades magnéticas desses materiais,<br />

permitindo a sua utilização nas indústrias de cabo<br />

telefônico, televisão, transformadores, antenas de<br />

rádio, ímãs permanentes em alto-falantes, filtros de<br />

microondas etc. As ferritas do tipo espinélio contendo<br />

átomos de Zn ou Cd podem apresentar<br />

momento magnético máximo, a uma certa concentração<br />

desses elementos (Cho; Kang & Oh, 1996).<br />

Em função dessas características, as ferritas<br />

tipo espinélio são muito utilizadas como aditivos no<br />

processamento de RAM, sendo usadas em materiais<br />

absorvedores à base de polímeros, como tintas,<br />

mantas e espumas absorvedoras de radiação eletromagnética,<br />

para faixas de freqüências estreitas e largas<br />

(Cho; Kang & Oh, 1996).<br />

Negro de Fumo<br />

Atualmente, o negro de fumo (NF) tornou-se<br />

um dos aditivos mais aceitos comercialmente no processamento<br />

de plásticos condutivos e borrachas. Existem,<br />

basicamente, quatro tipos de negro de fumo,<br />

diferenciados em função do processo de fabricação e<br />

propriedades específicas. Em aplicações industriais os<br />

mais utilizados são os obtidos pela degradação de<br />

compostos orgânicos em forno (Engineered Materials<br />

Handbook, 1998). O NF é um material carbonoso da<br />

classe dos carbonos poliméricos, apresentando estrutura<br />

cristalográfica dos planos basais similar à do grafite<br />

(Nohara, 1998) e, como tal, intrinsecamente<br />

semicondutor (Dias, 1998).<br />

Tab. 2. Propriedades elétricas típicas de matrizes poliméricas (International Encyclopaedia of Composites, 1991).<br />

CONSTANTE DIELÉTRICA, FATOR <strong>DE</strong><br />

MATRIZES POLIMÉRICAS<br />

ε′ / ε 0 PERDA , TAN δ<br />

Utilizadas em Compósitos<br />

Convencionais<br />

Poliéster 2,7-3,2 0,005-0,020<br />

Epóxi 3,0-3,4 0,010-0,030<br />

Cianato de éster 2,7-3,2 0,004-0,010<br />

Utilizadas em Compósitos<br />

Para Uso em Alta Temperatura<br />

Fenólicas 3,1-3,5 0,030-0,037<br />

Polimidas 2,7-3,2 0,005-0,008<br />

Silicone 2,8-2,9 0,002-0,006<br />

Polieteramida (PEI) 3,1 0,004<br />

Utilizadas em Compósitos<br />

Termoplásticos<br />

Policarbonato (LEXAN®) (G.E.) 2,5 0,0006<br />

PPO (NORYL®) (G.E.) 2,6 0,0009<br />

Polisulfona (PS) 3,1 0,003<br />

Polietersulfona (PES) 3,5 0,003<br />

Polisulfeto de Fenileno (PPS) 3,0 0,002<br />

Teflon® (E.I.Dupon) 2,1 0,0004<br />

Dados para freqüências de 10 GHz a 20 o C<br />

36 Junho • 2000


A condutividade elétrica desejada de um<br />

material dopado com NF é função das propriedades<br />

físico-químicas desse aditivo (Cabot Co., 1998). A<br />

seleção apropriada do tipo de NF condutor a ser utilizado<br />

como aditivo no processamento de um RAM<br />

é crítica. Pois isso depende de parâmetros como<br />

incorporação desse aditivo na matriz polimérica,<br />

condutividade, processabilidade, dispersão e custo<br />

(Ruvolo Filho, 1998; Fazenda, 1995a, 1995b).<br />

O fluxo de elétrons em uma mistura de negro<br />

de fumo e matriz polimérica é alcançado quando o<br />

NF forma uma rede condutiva na massa polimérica.<br />

O fluxo de elétrons ocorre quando as partículas de<br />

NF, que se encontram agregadas, permanecem em<br />

contato ou separadas por distâncias muito pequenas.<br />

Esse fenômeno é, em geral, função da área superficial,<br />

da estrutura e dos tipos de partículas (pó ou<br />

grãos). A área superficial caracteriza o tamanho da<br />

partícula e seu grau de microporosidade (Cabot Co.,<br />

1998). Altos valores de área superficial levam a um<br />

maior número de agregados por unidade de peso,<br />

resultando em distâncias interagregados menores,<br />

tornando as amostras mais condutivas eletricamente,<br />

a uma dada carga (Rodriguez, 1989). Desse modo, a<br />

quantidade de negro de fumo necessária para alterar<br />

a condutividade elétrica de materiais é, geralmente,<br />

pequena (Berins, 1991; Johnson, 1992).<br />

Esse tipo de carbono na área de absorvedores<br />

de ondas eletromagnéticas é bastante utilizado por<br />

suas características físicas, como área superficial e<br />

condutividade. Estas características permitem a<br />

absorção da radiação incidente, transformando-a<br />

em calor. Uma outra vantagem da utilização do NF<br />

é o controle do seu grau de pureza química durante<br />

o seu processamento, de modo a ser compatível<br />

com a utilização, ou seja, isento de íons metálicos<br />

que possam promover o aumento da refletividade<br />

do material.<br />

Absorvedores Dielétricos<br />

As superfícies dielétricas normalmente utilizadas<br />

no setor aeronáutico, como estruturas absorvedoras<br />

de radiação, são em plásticos reforçados,<br />

como, por exemplo, laminados de compósitos poliméricos<br />

com fibras de carbono (International<br />

Encyclopaedia of Composites, 1991). A quantidade<br />

de radiação refletida de uma estrutura de plástico<br />

reforçado por fibras é função da constante dielétrica<br />

dos materiais na superfície. As constantes dielétricas<br />

para materiais não metálicos podem ser observadas<br />

na tabela 2. Uma estrutura projetada para absorver<br />

energia eletromagnética na faixa de 2 a 20 GHz<br />

deve apresentar uma constante dielétrica efetiva em<br />

torno do valor unitário. Isso é possível pela incorporação<br />

de aditivos específicos ao uso do absorvedor.<br />

Uma estrutura com espessura adequada pode<br />

ser projetada com características de transmissão<br />

máxima pela seleção das constantes dielétricas desejadas<br />

dos materiais empregados na sua preparação,<br />

para uma determinada banda de freqüência de utilização.<br />

Por exemplo, compósitos poliméricos com<br />

fibras de quartzo têm boas propriedades dielétricas<br />

para uso em artefatos transparentes à radiação (tab.<br />

3) (International Encyclopaedia of Composites,<br />

1991).<br />

Tab. 3. Constantes dielétricas de alguns compósitos com<br />

fibras de quartzo.<br />

COMPÓSITOS<br />

CONSTANTE<br />

DIELÉTRICA<br />

FATOR <strong>DE</strong> PERDA<br />

Quartzo/Epóxi 2,8 – 3,7 0,006 – 0,013<br />

Fibras de Quartzo/<br />

Bismaleimida<br />

4,0 – 4,4 0,006 – 0,012<br />

Fibras de Quartzo/Polimida 3,0 – 3,2 0,004 – 0,008<br />

Fibras de Quartzo/PPS 3,3 0,002<br />

Fibras de Quartzo/<br />

(Astroquartz © -49)<br />

3,8 0,0001 – 0,0002<br />

Eficiência dos Absorvedores<br />

A eficiência de um material absorvedor ou o<br />

quanto um objeto está absorvendo da radiação incidente<br />

é medida pela densidade de fluxo de energia<br />

do campo espalhado pelo objeto na direção do<br />

receptor do radar, comumente chamado de RCS<br />

(Halliday & Resnick, 1984; Johnson, 1992; Brugess<br />

& Berlekamp, 1988).<br />

Um transmissor de radar produz um sinal que<br />

se propaga em um padrão esférico, sendo a potência<br />

do sinal que atinge um objeto proporcional ao<br />

tamanho desse objeto e inversamente proporcional<br />

à área da esfera. Como essa área é proporcional ao<br />

quadrado de seu raio, a potência do sinal do radar<br />

que atinge o objeto é inversamente proporcional ao<br />

quadrado da distância do objeto ao radar (Skolnik,<br />

1970; Knott, Schaeffer & Tuley, 1985).<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 33-42 37


Para que haja a detecção do objeto, as ondas<br />

do radar devem retornar à antena receptora. Com a<br />

finalidade de se obter uma baixa detecção, uma<br />

grande porcentagem da energia dos sinais do radar,<br />

que atinge o objeto, precisa ser absorvida ou espalhada<br />

por sua superfície. A energia que for espalhada<br />

deve ser refletida em direções distintas da<br />

direção do receptor em que o sinal foi gerado<br />

(Johnson, 1992; Brugess & Berlekamp, 1988).<br />

O sinal de radiação refletido pelo objeto também<br />

se propaga esfericamente. A quantidade de<br />

energia que retorna ao radar (o eco do radar)<br />

dependerá do tamanho do objeto e de suas características<br />

de baixa detecção. Se o objeto possui características<br />

de baixa detecção, então o sinal será<br />

menor do que realmente é, ou seja, o seu RCS será<br />

reduzido (International Encyclopaedia of Composites,<br />

1991).<br />

A radiação que atinge a superfície da estrutura<br />

de uma aeronave não é apenas refletida, mas também<br />

gera uma onda secundária que se propaga<br />

paralelamente à superfície. Essa onda se propaga<br />

através da superfície da estrutura até encontrar uma<br />

descontinuidade, como uma falha, uma junta ou<br />

lâmina pontiaguda e nesse ponto será refletida para<br />

fora da estrutura. Ondas que se propagam pela<br />

superfície podem contribuir significativamente para<br />

o aumento do RCS (Skolnik, 1970). No entanto,<br />

quando a onda encontra um absorvedor, parte da<br />

radiação pode ser dissipada e/ou absorvida dependendo<br />

do fator de perda do material.<br />

Tab. 4. Relação entre atenuação do sinal refletido e porcentagem<br />

de energia absorvida (International<br />

Encyclopaedia of Composites, 1991).<br />

ATENUAÇÃO DA REFLEXÃO, dB % DA ENERGIA ABSORVIDA<br />

0 0<br />

-3 50<br />

-10 90<br />

-15 96,9<br />

-20 99<br />

-30 99,9<br />

-40 99,99<br />

A tabela 4 exemplifica a relação entre a atenuação<br />

da reflexão (dB) e a porcentagem de absorção<br />

do sinal de radiação. A 20 dB de redução do<br />

sinal refletido, por exemplo, tem-se o equivalente a<br />

99% de absorção da energia incidente.<br />

Tab. 5. Valores de RCS típicos (International Encyclopaedia<br />

of Composites, 1991).<br />

TIPOS RCS (M 2 )<br />

Jato Jumbo 100<br />

Fortaleza voadora B-17 80<br />

Bombardeiro B-47 40<br />

Bombardeiro B-1 10<br />

Bombardeiro B-1B 1,0<br />

Grandes aviões de caça 5-6<br />

Pequenos aviões de caça 2-3<br />

Pequeno monomotor 1,0<br />

Homem 1,0<br />

Pássaro pequeno 0,01<br />

Inseto 0,00001<br />

Caça F-117A 0,1<br />

Bombardeiro B-2 (Stonier, 1991) 0,01<br />

A tabela 5 mostra o RCS que radares típicos<br />

conseguem captar de algumas aeronaves em comparação<br />

ao RCS do homem, de pequenos pássaros e<br />

insetos (International Encyclopaedia of Composites,<br />

1991).<br />

MEDIDAS EXPERIMENTAIS<br />

<strong>DE</strong> REFLETIVIDA<strong>DE</strong><br />

Técnica do Arco NRL<br />

O arco NRL é um dispositivo concebido no<br />

Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos<br />

da América (Naval Research Laboratory), na década<br />

de 50, como um meio de avaliar painéis absorvedores.<br />

O arco consiste, basicamente, de uma estrutura<br />

em madeira que permite fixar um par de antenas<br />

transmissora e receptora, tipo corneta, em uma variedade<br />

de ângulos. Cada corneta dependendo da freqüência<br />

é colocada em um suporte móvel, em<br />

qualquer lugar desejado ao longo do arco. A amostra<br />

é posicionada sobre um pequeno pedestal no<br />

centro da curvatura do arco (Skolnik, 1970). A<br />

figura 1 mostra esse dispositivo adaptado e montado<br />

junto à câmara anecóica do Centro Técnico<br />

Aeroespacial.<br />

38 Junho • 2000


Fig. 1. Esquema do arco de NRL com os acessórios, mostrando a estrutura ao longo da qual um par de cornetas pode ser<br />

ajustado e a amostra em teste posicionada no centro do arco.<br />

A estrutura do arco é projetada de modo a<br />

manter a antena apontada para o centro da amostra<br />

em teste. As antenas transmissora e receptora<br />

podem ficar próximas, mas a distância mínima deve<br />

equivaler à abertura de uma corneta em uso. Como<br />

material de referência e apoio da amostra em teste<br />

utiliza-se, normalmente, uma placa de metal. No<br />

entanto, os tamanhos das placas de referência e da<br />

amostra devem ser idênticos. O sistema para as<br />

medidas em intervalos de freqüências é constituído<br />

por um gerador de sinal com uma saída em amplitude<br />

modulada, que transmite uma faixa de freqüência.<br />

O sinal refletido é captado pela corneta<br />

receptora, sendo visualizado em um analisador de<br />

espectros (Knott, Schaeffer & Tuley, 1985).<br />

A amostra em teste é posicionada no mesmo<br />

local da placa de referência. O resultado do índice<br />

de refletividade (atenuação do sinal incidente) será a<br />

diferença entre a medida da placa de referência e a<br />

da amostra. Se dados de desempenho são necessários<br />

em outras freqüências, deve-se ajustar o gerador<br />

com as cornetas substituídas adequadamente, conforme<br />

a necessidade. A limitação de uso da técnica<br />

do arco NRL é a dificuldade para se medir a fase<br />

relativa do sinal refletido. Consequentemente, essa<br />

técnica é empregada apenas para caracterizar diretamente<br />

a amplitude da reflexão (Skolnik, 1970;<br />

Knott, Schaeffer & Tuley, 1985).<br />

A figura 2 mostra uma medida de refletividade,<br />

com varredura de 8-12 GHz, em um material<br />

de referência (placa de alumínio), curva superior, e<br />

um absorvedor tipo pintura poliuretânica aditada<br />

com ferrita NiZn e NF (curva inferior), mostrando<br />

uma absorção média da radiação incidente de 4 dB,<br />

correspondendo, segundo a tabela 4, a valores de<br />

absorção superiores a 50%. Esse RAM foi processado<br />

no Centro Técnico Aeroespacial e caracterizado<br />

pelo uso do arco NRL. O teste é realizado<br />

próximo à incidência normal da radiação. O material<br />

em teste foi projetado para ser utilizado na faixa<br />

de 8-12 GHz.<br />

Fig. 2. Medida de refletividade de um absorvedor desenvolvido<br />

no CTA, na região de 8-12 GHz.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 33-42 39


A figura 3 mostra uma medida de refletividade,<br />

com varredura de 8-12 GHz, em um material<br />

de referência e um absorvedor tipo manta, com<br />

espessura de 3 mm aditada com as mesmas ferritas e<br />

negro de fumo, processado no Centro Técnico<br />

Aeroespacial, efetuada no mesmo arco NRL. O<br />

teste é realizado próximo à incidência normal da<br />

radiação.<br />

Fig. 4. Esquema do dispositivo utilizado no método RCS<br />

(Knott, Schaeffer & Tuley, 1985).<br />

Fig. 3. Medida de refletividade de um absorvedor desenvolvido<br />

no CTA, na região de 8-12 GHz.<br />

A desvantagem dessa técnica é que o suporte<br />

não é completamente invisível para a onda eletromagnética,<br />

podendo introduzir reflexões indesejáveis.<br />

O revestimento do suporte com material tipo<br />

espuma com altas perdas é aconselhável para minimizar<br />

essas reflexões.<br />

Técnica RCS<br />

A técnica do arco NRL permite colocar o<br />

material a ser caracterizado na condição de campo<br />

próximo, cujo valor da refletividade pode ser menor<br />

que o medido sob a condição de campo distante.<br />

Uma alternativa para simular medidas em campo<br />

distante é utilizar uma câmara anecóica, empregando<br />

a técnica RCS (Skolnik, 1970).<br />

Para uma avaliação sem interferências de<br />

absorvedores, a técnica RCS deve ser empregada<br />

(Knott, Schaeffer & Tuley, 1985). Esta técnica<br />

requer um painel de dupla face, uma com o material<br />

refletor e outra com o material absorvedor<br />

montado em um suporte giratório, posicionado no<br />

centro entre as cornetas transmissora e receptora.<br />

Essa metodologia apresenta a vantagem de se<br />

obter em um mesmo ensaio, os valores de referência<br />

e de atenuação do material em teste, com a<br />

necessidade, apenas, de um giro de 360º do eixo.<br />

Na figura 4 tem-se um esquema simplificado do<br />

dispositivo utilizado nessa técnica (Knott, Schaeffer<br />

& Tuley).<br />

Corpos-de-prova para os Ensaios<br />

Via Técnicas RCS e Arco NRL<br />

A definição dos tamanhos dos corpos-deprova,<br />

em função da faixa de freqüência a ser utilizada<br />

na caracterização via técnicas RCS ou arco<br />

NRL, é uma etapa importante de modo a garantir a<br />

qualidade das medidas. Para isso, faz-se o uso da<br />

equação 1, que permite calcular as dimensões mínimas<br />

dos corpos-de-prova a serem ensaiados,<br />

λ = c / f (1)<br />

onde, λ = comprimento de onda (m), c = 3 x<br />

10 8 , velocidade da luz no vácuo (m 2 /s) e f o valor da<br />

freqüência (Hz).<br />

As dimensões dos corpos-de-prova devem ser<br />

iguais ou superiores a 3λ, pois as contribuições das<br />

bordas influenciam nas medidas (efeito de difração).<br />

Geralmente, a placa apresenta 3λ ao longo de uma<br />

dimensão e, preferencialmente, 5λ ou mais na<br />

outra. Essa exigência pode ser estendida a tamanhos<br />

maiores se a amostra do material possuir características<br />

de desempenho muito altas, chegando até a 15<br />

λ (Skolnik, 1970).<br />

A figura 5 esquematiza as dimensões das placas<br />

em teste.<br />

40 Junho • 2000


Fig. 5. Dimensões mínimas dos corpos-de-prova para os<br />

ensaios via técnicas RCS e arco NRL.<br />

As dimensões dos corpos-de-prova devem<br />

obedecer o limite de 15λ, sendo que um mesmo<br />

corpo-de-prova, preparado para medidas em freqüências<br />

mais baixas, pode ser utilizado em medidas<br />

em mais altas freqüências (Skolnik, 1970). Por<br />

exemplo, um corpo-de-prova preparado para medidas<br />

a freqüência de 5 GHz (0,30 m X 0,18 m) pode<br />

ser utilizado para testes em 10 e 20 GHz.<br />

Nessa abordagem dos métodos de medição<br />

da absorção de radiação eletromagnética e da variação<br />

das dimensões dos corpos-de-prova, o método<br />

do arco NRL mostra-se simples, oferecendo respostas<br />

rápidas na avaliação de absorvedores.<br />

A tabela 6 traz algumas dimensões de placas<br />

em função de determinadas faixas de freqüências.<br />

Tab. 6. Correlação entre dimensões de corpos-de-prova e<br />

λ, a determinadas freqüências.<br />

FREQÜÊNCIA<br />

F<br />

COMPRIMENTO<br />

<strong>DE</strong> ONDA<br />

λ (M)<br />

LARGURA<br />

5λ<br />

(M)<br />

ALTURA<br />

3λ<br />

(M)<br />

400 MHz 0,75 3,75 2,25<br />

800 MHz 0,38 1,88 1,12<br />

1 GHz 0,30 1,50 0,90<br />

2 GHz 0,15 0,75 0,45<br />

8 GHz 0,038 0,19 0,11<br />

10 GHz 0,030 0,15 0,090<br />

20 GHz 0,015 0,075 0,045<br />

CONCLUSÃO<br />

O domínio da tecnologia de processamento e<br />

caracterização de absorvedores com características<br />

específicas de absorção de determinadas faixas de<br />

freqüência em microondas, para aplicações diversas,<br />

é restrito a poucos países. O processamento gerenciado<br />

desses materiais, visando às aplicações finais,<br />

permite a otimização de uso de sistemas eletroeletrônicos,<br />

utilizados nas áreas de telecomunicações,<br />

aeroespacial e médica, entre outras.<br />

A avaliação de absorvedores, para faixas<br />

estreitas e largas de freqüência, mostra-se adequada<br />

e rápida pelo uso de testes de refletividade, via técnicas<br />

do Arco NRL e RCS.<br />

O presente trabalho mostra de maneira resumida<br />

conceitos e técnicas necessários para a obtenção<br />

e o aprimoramento de materiais absorvedores<br />

de radiação eletromagnética (2-20 GHz), dando<br />

ênfase às ferritas e às suas estruturas. O Centro Técnico<br />

Aeroespacial vem se dedicando a essa área de<br />

processamento de RAM, efetuando medidas da<br />

refletividade de amostras preparadas pelo uso de<br />

polímeros à base de poliuretanos e epóxi, de partículas<br />

de negro de fumo e de ferritas, em diferentes<br />

concentrações e espessuras, desde 1997. Estes<br />

absorvedores têm sido obtidos como tintas, mantas<br />

poliuretânicas, epoxídicas e de silicone e colméias<br />

revestidas com ferritas e negro de fumo, com bons<br />

resultados de atenuação da radiação incidente na<br />

faixa de 2-20 GHz.<br />

Uma outra técnica em pesquisa e desenvolvimento<br />

de RAM no Centro Técnico Aeroespacial<br />

está sendo atualmente pesquisada pelo mesmo<br />

grupo com o uso de polímeros condutores que,<br />

impregnados com outros materiais, constituirão<br />

uma nova e importante fase deste trabalho.<br />

Agradecimentos<br />

À FAPESP (Processos 97/14055-7 e 98/11030-6) e ao<br />

Comando da Aeronáutica, pelo apoio financeiro, e às<br />

empresas Imag Ind. e Com. de Produtos Eletrônicos<br />

Ltda. e Cabot Brasil Ind. e Com. Ltda./Especial Blacks<br />

Division, pela doação de amostras. Agradecemos, também,<br />

ao eng. Marcos Ferraz, pelas informações e sugestões<br />

prestadas aos autores, e ao Sr. Manoel Guilherme<br />

da Silva Mello, do IF/Unicamp, pela correção e editoração<br />

do texto.<br />

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42 Junho • 2000


Um Sistema Correto e<br />

Completo para a Lógica<br />

Proposicional Clássica<br />

Correctness and Completeness<br />

System for Classical Propositional Logic<br />

JOSÉ CARLOS MAGOSSI<br />

Universidade Metodista de Piracicaba e<br />

Faculdade de Tecnologia de Americana – CEETEPS<br />

jcmagoss@unimep.br<br />

RESUMO – Este texto tem por objetivo a exposição de um sistema lógico proposicional correto e completo, no sentido<br />

fraco e no sentido forte. Ele se fundamenta no seu aspecto elucidativo, e não em seu caráter inédito. Um apoio ao estudante<br />

iniciante em questões lógicas é pretendido, mostrando de modo direto os teoremas da correção e completude de<br />

um sistema lógico proposicional clássico, além da exposição dos conceitos semânticos e sintáticos necessários às demonstrações<br />

desses teoremas. O mecanismo formal utilizado neste texto baseia-se nos tableaux analíticos, construídos em<br />

forma de árvores binárias. As técnicas formais utilizadas neste texto podem ser estendidas para estudar outros tipos de<br />

lógicas, inclusive não-clássicas.<br />

Palavras-chave: LÓGICA PROPOSICIONAL CLÁSSICA – TABLEAUX – CORREÇÃO – COMPLETU<strong>DE</strong>.<br />

ABSTRACT – The main purpose of this text is to provide proofs of correctness and completeness theorems including<br />

strong sense for one system of classical propositional logic. This one arises from didactic aspects rather than unpublished<br />

ones. We want to support beginners when dealing with logic showing in a direct way both theorems, correctness and<br />

completeness, for a system in classical propositional logic, besides the exposition of mainly syntactical and semantical<br />

concepts related to their proofs. Their formal proofs are related to the mechanical method based on analytic tableaux,<br />

which are constructed in a form of binary trees. The formal techniques that have been used in this text can be extended<br />

to study other logic and non-classical logic as well.<br />

Keywords: CLASSICAL PROPOSITIONAL LOGIC – TABLEAUX – CORRECTNESS – COMPLETENESS.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 43-50 43


INTRODUÇÃO<br />

E<br />

ste texto tem por objetivo a exposição de um<br />

sistema lógico proposicional correto e completo,<br />

fundamentando-se em seu aspecto elucidativo,<br />

e não unicamente no seu caráter inédito.<br />

Um apoio ao estudante iniciante em questões lógicas<br />

é pretendido, mostrando de modo direto as provas<br />

de correção e completude de um sistema lógico<br />

proposicional.<br />

Ao se estudar lógica, seja num curso inicial, seja<br />

num curso avançado, depara-se com uma infinidade<br />

de definições, propriedades e símbolos que, por sua<br />

vez, chegam a confundir a leitura ou até mesmo<br />

impossibilitar o entendimento correto de conceitos<br />

subjacentes. Evidentemente, essas questões não são<br />

tão relevantes quando abordadas por pesquisadores<br />

com um grau de abstração elevado. No entanto, isso<br />

não se sucede em geral com estudantes de graduação,<br />

os quais estão em fase de desenvolvimento de<br />

suas habilidades abstratas. As provas de correção e<br />

completude geralmente são rodeadas de conceitos<br />

diversos, os quais normalmente dificultam a compreensão<br />

própria de sua essência, qual seja, a coincidência<br />

entre a sintaxe e a semântica do sistema. Desse<br />

modo, neste texto, irá se propor de maneira sucinta<br />

um sistema lógico proposicional correto e completo,<br />

além de mostrar a sintaxe, a semântica e suas propriedades<br />

essenciais e, finalmente, os teoremas que os<br />

relacionam. Estudos mais aprofundados sobre lógica<br />

clássica podem ser encontrados em Bell & Machover<br />

(1977); Church (1956); Fitting (1990); Mendelson<br />

(1987); Robbin (1969); Shoenfield (1967);<br />

Smullyan (1968); e van Dalen (1980).<br />

<strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO<br />

Sintaxe<br />

Para iniciar o desenvolvimento de uma linguagem<br />

é necessário introduzir seu vocabulário, seu alfabeto,<br />

ou seja, quais símbolos que manipulados<br />

apropriadamente produzirão algum sentido na linguagem.<br />

Não basta simplesmente descrevê-los, é preciso<br />

também elaborar algum procedimento que produza<br />

“mais símbolos” a partir de símbolos já discutidos.<br />

Esse procedimento consiste em definir algumas regras<br />

de formação, possibilitando gerar uma infinidade de<br />

símbolos (ou seqüências de símbolos) pertencentes à<br />

linguagem, os quais poderão ser interpretados convenientemente<br />

segundo uma semântica apropriada.<br />

Essa seção é dedicada à sintaxe da linguagem<br />

do cálculo proposicional clássico. Essa linguagem<br />

será denominada linguagem L.<br />

Definição 1.1: O alfabeto da linguagem L consiste de:<br />

a) variáveis proposicionais: p 0 , p 1 , p 2 , ...<br />

b) conectivos: ¬, ∧, ∨, →, ↔.<br />

c) sinais de pontuação: (, ).<br />

Esse símbolos são suficientes para definir a linguagem<br />

L. Variáveis proposicionais são letras minúsculas<br />

acrescidas de índices inferiores pertencentes ao<br />

conjunto dos números naturais. Essas variáveis servirão<br />

como base para a interpretação (parte semântica)<br />

da linguagem L. Os conectivos, como o<br />

próprio nome diz, servirão para conectar as variáveis<br />

proposicionais umas com as outras, as quais<br />

serão delimitadas, quando necessário entre parênteses,<br />

o da esquerda e da direita.<br />

Seqüências finitas de símbolos do alfabeto<br />

acima constituem uma expressão. Por exemplo,<br />

¬¬¬¬ ∧ p 1 é uma expressão de L. Nota-se que a<br />

expressão não requer nenhuma regra especial de formação,<br />

simplesmente uma justaposição de símbolos.<br />

Outros exemplos de expressão são os seguintes:<br />

• (p 1 ∧ p 2 )<br />

• ))(((<br />

• ()¬¬→<br />

No entanto, símbolos que não pertencem à<br />

linguagem não são considerados como expressões,<br />

por exemplo: (p -2 → m), p 1 + q.<br />

Infinitas expressões podem ser formadas.<br />

Visando uma futura interpretação, é conveniente<br />

limitar-se às expressões bem formadas, ou seja, que<br />

sigam uma certa regra de formação.<br />

A tabela 1 apresenta a leitura e os nomes das<br />

expressões empregadas na definição seguinte de fórmula.<br />

Tab. 1. Leitura de expressões.<br />

EXPRESSÃO LEITURA NOME<br />

(¬x) não x negação<br />

(x∧y) x e y conjunção<br />

(x∨y) x ou y disjunção<br />

(x→y) se x então y condicional<br />

(x↔y) x se e somente se y bicondicional<br />

44 Junho • 2000


Definição 1.2: Uma expressão é reconhecida como uma<br />

fórmula se satisfizer ao menos uma das condições abaixo:<br />

a) cada variável proposicional é uma fórmula;<br />

b) se X e Y são fórmulas, então (X ∧ Y), (X ∨ Y),<br />

(X → Y) e (X ↔ Y) também são fórmulas;<br />

c) se X é uma fórmula, então (¬X) também é fórmula;<br />

d) só é fórmula o que advém das condições (a), (b)<br />

e (c) acima.<br />

Nem todas as expressões são fórmulas (ou<br />

expressões bem formadas), mas todas as fórmulas<br />

são expressões. Exemplos de fórmulas são:<br />

• (p 1 ∧p 2 )<br />

• (((¬p 1 )→p 3 )∧(p 3 ∨p 3 ))<br />

• (¬p 3 )<br />

Os seguintes são exemplos de expressões que<br />

não são fórmulas:<br />

• (p 1 ) (pois há parênteses a mais)<br />

• p 1 ∧p 2 (pois faltam parênteses)<br />

Obs.: doravante quando não houver dúvidas<br />

no contexto, as letras minúsculas x, y, z, serão utilizadas<br />

para representar variáveis proporcionais, e as<br />

letras maiúsculas X, Y, Z, ..., com ou sem índices<br />

inferiores, para representar fórmulas.<br />

Semântica<br />

Objetiva-se interpretar os símbolos, mais precisamente<br />

as fórmulas, até então inseridos na linguagem<br />

L da lógica clássica. Por sua vez, essa<br />

interpretação se dará associando-se à linguagem<br />

dois novos símbolos: os símbolos 1 (lê-se: verdadeiro)<br />

e 0 (lê-se: falso). Estes farão parte da semântica<br />

de L, os quais, de modo geral, fornecerão um<br />

sentido às fórmulas de L. Desse modo, a relação<br />

com fórmulas é dada por meio de uma função que<br />

associa a cada fórmula um valor semântico, a saber,<br />

verdadeiro ou falso.<br />

Definição 2.1: Seja F o conjunto de todas as fórmulas de<br />

L. Uma valoração v é uma função que associa a cada fórmula<br />

x ∈ F um elemento v (x) ∈ {1, 0}.<br />

Se v (x) = 1, diz-se que a fórmula x é verdadeira,<br />

e se v(x) = 0, diz-se que é falsa. Uma valoração<br />

atribui um significado a cada fórmula de L, ou<br />

seja, cada fórmula recebe 1 ou recebe 0. Como valorações<br />

são funções, torna-se evidente que para qualquer<br />

fórmula x, ou x é 1 ou x é 0, não existe um<br />

terceiro valor. Além disso, x não pode ser 1 e 0 ao<br />

mesmo tempo.<br />

Exemplo: Seja uma função v 1 de F em {1,0}<br />

definida como segue:<br />

{<br />

1, se x é do tipo p i , para i par;<br />

v 1 (x) v 1 (x) = 0, se x é do tipo p i , para i ímpar;<br />

1, se x não é variável proposicional.<br />

A função v 1 é uma valoração.<br />

A noção de valoração serve a muitos propósitos;<br />

porém, é um tanto livre para servir de parâmetro<br />

em algumas situações, por exemplo, em<br />

circuitos de chaveamento. Nestes, 1 pode relacionar-se<br />

a passagem de corrente elétrica e 0 a não<br />

passagem de corrente elétrica. Na valoração acima,<br />

v 1 (p 2 ) = 1, pois o índice da variável proposicional<br />

p 2 é par, e v 1 (¬p 2 ) = 1, pois ¬p 2 não é variável<br />

proposicional. Se p 2 representar um interruptor<br />

ligado de um circuito de chaveamento, (¬p 2 ) representará<br />

um interruptor desligado; porém, na valoração<br />

acima, nos dois casos passaria corrente elétrica,<br />

tanto ligado como desligado, situação que não interessa<br />

aos propósitos de circuitos de chaveamento 1 e<br />

que, no entanto, é contemplada na definição de<br />

valoração como feita acima. As valorações discutidas<br />

neste texto serão aquelas cujas situações de verdade<br />

se aproximam de situações conhecidas, como<br />

no exemplo anterior, em que se espera que no circuito<br />

v 1 (p 2 ) e v 1 (¬p 2 ) tenham valores opostos. Para<br />

tal, algumas condições devem ser inseridas na definição<br />

de valoração.<br />

Definição 2.2: Uma valoração booleana v é uma valoração<br />

que satisfaz às seguintes condições:<br />

1) v (¬x) = 1-v (x);<br />

2) v (x ∧ y) = min {v (x), v (y)};<br />

3) v (x ∨ y) = max {v (x),v (y)}.<br />

Os outros conectivos são definidos em função<br />

destes:<br />

(x → y) = def ((¬x) ∨ y)<br />

(x ↔ y) = def ((x → y) ∧ (y → x)).<br />

A valoração booleana atribui um “significado”<br />

a todas a fórmulas de L, de tal forma que este se<br />

aproxime das características comuns dos conectivos<br />

¬, ∧, ∨, →, ↔.<br />

1 Não se pretende aqui introduzir um estudo sobre circuitos de chaveamento,<br />

apenas lançar mão deste exemplo para justificar a noção<br />

seguinte de valoração booleana. A intenção é apenas didática.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 43-50 45


Uma tabela verdade é um procedimento efetivo<br />

utilizado para se calcular os valores verdade de<br />

uma fórmula. O seguinte é um resumo das condições<br />

estabelecidas para valoração booleana expostas<br />

via tabela verdade.<br />

Tab. 2. Tabela verdade do conectivo ¬.<br />

X (¬X)<br />

1 0<br />

0 1<br />

Tab. 3. Tabela verdade dos conectivos ∧, ∨, →, ↔.<br />

X Y (X∧Y) (X∨Y) (X→Y) (X↔Y)<br />

1 1 1 1 1 1<br />

1 0 0 1 0 0<br />

0 1 0 1 1 0<br />

0 0 0 0 1 1<br />

Definição 2.3: Diz-se que uma fórmula x de L é uma tautologia<br />

se v (x) = 1 para todas as valorações booleanas.<br />

As seguintes fórmulas são exemplos de tautologias:<br />

• (x → x)<br />

• (((x → y) → x) → x)<br />

• (x → (y → z)) → ((x → y) → (x → z))<br />

Definição 2.4: Uma fórmula x é satisfazível se e somente<br />

se existe uma valoração booleana v tal que v (x) = 1.<br />

Definição 2.5: Um conjunto S de fórmulas é satisfazível se<br />

e somente se existe uma valoração booleana tal que v (x)<br />

= 1 para todo x ∈ S.<br />

Definição 2.6: A fórmula x é logicamente equivalente à fórmula<br />

y (em símbolos, x ≡ y) se e somente se v (x) = v (y)<br />

para todas as valorações booleanas.<br />

Definição 2.7: A fórmula y é conseqüência lógica de um<br />

conjunto S de fórmulas (em símbolos, S|=y) se e somente<br />

se para toda valoração booleana v, se v (x) = 1 para todo<br />

x∈S então v (y) = 1.<br />

Particularmente tem-se que x|=y se e somente<br />

se para toda valoração booleana v, se v (x) = 1<br />

então v (y) = 1. 2<br />

As seguintes são eqüivalências lógicas, para<br />

fórmulas 3 quaisquer x e y:<br />

i) x → y ≡ ¬x ∨ y<br />

2 A notação S|=/ y significa que y não é conseqüência lógica do conjunto<br />

S de fórmulas.<br />

ii) x ∧ y ≡ ¬(¬x ∨ ¬y)<br />

iii) x ∨ y ≡ ¬(¬x ∧ ¬y)<br />

iv) ¬¬x ≡ x<br />

v) ¬(x → y) ≡ x ∧ ¬y<br />

vi) ¬(x ∧ y) ≡ (¬x ∨ ¬y)<br />

vii) ¬(x ∨ y) ≡ (¬x ∧¬y)<br />

Nota-se que as fórmulas da lógica, todas elas,<br />

podem ser expressas como fórmulas equivalentes<br />

escritas como conjunções ou como disjunções. Por<br />

exemplo, x → y pode ser escrita como uma disjunção<br />

(¬x) ∨ y; a fórmula ¬(x → y) pode ser escrita<br />

como uma conjunção x ∧ (¬y).<br />

Definição 2.8: Uma fórmula é dita como do tipo α se<br />

puder ser escrita como uma conjunção cujos componentes<br />

serão denominados por α 1 e α 2 .<br />

A tabela 4 expõe as fórmulas do tipo α e seus<br />

componentes α 1 e α 2 .<br />

Tab. 4. Fórmulas do tipo α.<br />

α α 1 α 2<br />

(X∧Y) X Y<br />

¬(X∨Y) ¬X ¬Y<br />

¬(X→Y) X ¬Y<br />

¬¬X X X<br />

Definição 2.9: Uma fórmula é conhecida como do tipo β<br />

se puder ser escrita como uma disjunção com componentes<br />

denominados por β 1 e β 2 .<br />

A tabela 5 expõe as fórmulas do tipo β e seus<br />

componentes β 1 e β 2 .<br />

Tab. 5. Fórmulas do tipo β.<br />

β β 1 β 2<br />

¬(X∧Y) ¬X ¬Y<br />

(X∨Y) X Y<br />

(X→Y) ¬X Y<br />

Teorema 2.10: Para qualquer valoração booleana v, v (α)<br />

= v (α 1 ) ∧ v (α 2 ) e v (β) = v (β 1 ) ∨ v (β 2 ).<br />

Tableaux Analíticos<br />

Os tableaux analíticos são procedimentos de<br />

prova elaborados em forma de árvores binárias. As<br />

árvores contêm sempre um número finito de ramos.<br />

3 Doravante, algumas convenções serão utilizadas na escrita das fórmulas.<br />

Parênteses externos podem ser omitidos e (¬X) pode ser<br />

escrito como ¬X.<br />

46 Junho • 2000


Cada ramo, por sua vez, constitui-se de um conjunto<br />

de nós, de forma que em cada nó ocorre uma<br />

fórmula da lógica. O objetivo de uma prova tableau<br />

é verificar se uma dada fórmula X da lógica é tautológica<br />

ou não. Inicia-se tentando falsificar a fórmula<br />

X 4 e, na seqüência, aplica-se regras que estendem os<br />

ramos, aumentando a árvore. Ao final, a impossibilidade<br />

de falsificação da fórmula X, que seria identificada<br />

pela ocorrência de contradições em todos os<br />

ramos da árvore, implica a afirmação de que X é<br />

uma tautologia.<br />

A relação (coincidência) entre sintaxe e<br />

semântica será mostrada em seguida. Antes, porém,<br />

algumas definições se fazem necessárias. Estudos<br />

sobre tableaux analíticos podem ser encontrados em<br />

Smullyan (1968) e Fitting (1990).<br />

Definição 3.1: Um tableau analítico para uma fórmula X é<br />

uma árvore ordenada diádica, 5 cujos pontos são fórmulas, e<br />

construído como se segue. Começa-se por colocar ¬X na<br />

origem. Supõe-se que I já é um tableau construído para X<br />

e E é um ponto final. Então pode-se estender I por uma<br />

das seguintes operações:<br />

a) se alguma fórmula do tipo α ocorre no<br />

ramo R E , então pode-se adicionar ou α 1 ou α 2<br />

como único sucessor de E;<br />

b) se alguma fórmula do tipo β ocorre no<br />

ramo R E, então pode-se simultaneamente adicionar<br />

β 1 como sucessor da esquerda de E e β 2 como<br />

sucessor da direita de E.<br />

Os itens (a) e (b) acima dizem respeito a regras<br />

tableaux de extensão de ramos. Estas podem ser<br />

definidas de acordo com os tipos de fórmulas. Para<br />

as fórmulas do tipo a tem-se a regra α e para as fórmulas<br />

do tipo β tem-se a regra β.<br />

Como as fórmulas do tipo α possuem comportamento<br />

conjuntivo, ou seja, podem ser expressas<br />

enquanto fórmulas escritas como conjunção,<br />

então torna-se intuitivo que em um tableau, numa<br />

árvore binária, se uma fórmula do tipo α ocorrer<br />

num nó do tableau é possível estender esse tableau<br />

(aumentar a árvore), acrescentando nos pontos<br />

finais abaixo da ocorrência dessa fórmula os componentes<br />

α 1 e α 2 .<br />

4 Cada fórmula ocorrida em um nó da árvore é considerada verdadeira;<br />

assim, se ¬X ocorre na origem, entende-se que ¬X é verdadeira<br />

e, portanto, que X é falsa.<br />

5 Ver Smullyan, 1968.<br />

Regra α<br />

α<br />

α 1<br />

α 2<br />

α<br />

α 1<br />

α 2<br />

Raciocínio análogo pode ser feito para as fórmulas<br />

do tipo β. Se uma fórmula do tipo β ocorrer<br />

num nó de um tableau, ao se aplicar uma regra<br />

nessa fórmula, é intuitivo que ocorra uma bifurcação,<br />

pois as fórmulas do tipo β comportam-se como<br />

disjunções, e o uso do “ou” sugere uma divisão nos<br />

caminhos do tableau, nos pontos finais abaixo da<br />

fórmula do tipo β.<br />

Regra β<br />

β<br />

β<br />

β 1 _ β 2<br />

β 1 β 2<br />

Definição 3.2: Um ramo θ de um tableau é dito estar<br />

fechado se contém X e ¬X para alguma fórmula X.<br />

Definição 3.3: Um tableau I é entendido como fechado<br />

se todos os seus ramos estão fechados.<br />

Definição 3.4: Uma prova tableau da fórmula X é um<br />

tableau fechado começado por ¬X.<br />

Exemplo: Segue uma prova tableau para a<br />

fórmula (x → y) → ((¬x) ∨ y)):<br />

(1) ¬((x → y)→((¬x) ∨ y)) origem<br />

(2) (x → y) regra α em (1)<br />

(3) ¬((¬x) ∨ y) regra α em (1)<br />

(4) ¬(¬x) regra α em (3)<br />

(5) (¬y) regra α em (3)<br />

(6) x regra α em (4)<br />

(7) ¬x regra β em (2) (8) y regra β em (2)<br />

× ×<br />

A construção desse tableau inicia-se a partir da<br />

fórmula ¬((x → y) → ((¬x) ∨ y)) colocada na origem<br />

e da aplicação da regra α à essa fórmula. Essa<br />

regra produz duas novas fórmulas, colocadas nos<br />

nós (2) e (3) da árvore. O processo continua ao se<br />

aplicar regras α e β às fórmulas que vão surgindo até<br />

que se termine o tableau, ou seja, quando todas as<br />

fórmulas já sofreram aplicação de alguma regra<br />

tableau. A marca × ao final dos ramos é colocada<br />

somente nos ramos fechados, ou seja, que contêm<br />

uma contradição entre suas fórmulas. No exemplo<br />

acima, o ramo da esquerda contém x e ¬x como<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 43-50 47


contradição e o ramo da direita contém y e ¬y<br />

como contradição.<br />

Definição 3.5: Um ramo de um tableau é dito satisfazível<br />

se e somente se o conjunto de fórmulas que ele contém é<br />

satisfazível.<br />

Definição 3.6: Um tableau é satisfazível se e somente se<br />

tem pelo menos um ramo satisfazível .<br />

Definição 3.7: Um ramo θ é dito completo se para cada<br />

fórmula do tipo α que ocorre em θ ambos α 1 e α 2 também<br />

ocorrem em θ e para cada fórmula do tipo β que ocorre em<br />

θ β 1 ocorre em θ ou β 2 ocorre em θ, ou seja, pelo menos<br />

um dos componentes de β ocorre em θ.<br />

Definição 3.8: Um tableau I é terminado se cada ramo de<br />

I está completo ou está fechado.<br />

Teorema 3.9: Suponhamos que I é um tableau satisfazível.<br />

Seja I' um tableau obtido a partir de I pela aplicação<br />

de uma regra de extensão de ramos (regra α ou regra β).<br />

Então I' é satisfazível.<br />

Teorema 3.10 (correção fraca): Se X tem uma prova<br />

tableau, então X é uma tautologia.<br />

Demonstração: Vamos supor por hipótese<br />

que X tem uma prova tableau e que X não é uma<br />

tautologia. Se X tem uma prova tableau, então<br />

nenhum ramo desse tableau é aberto, ou seja, todos<br />

os ramos fecham. Se X não é tautologia, então<br />

existe uma valoração booleana v tal que v (X) = 0.<br />

Um tableau para X começa com ¬X, e se X não é<br />

uma tautologia existe um caso onde v (X) = 0 e,<br />

conseqüentemente, ¬X é verdadeiro. Assim, o conjunto<br />

{¬X} é satisfazível. Seja I o tableau começando<br />

por ¬X. Pelo teorema 3.9, qualquer extensão<br />

I' de I será satisfazível, ou seja, um tableau começando<br />

com ¬X terá ao menos um ramo satisfazível.<br />

Mas isso contradiz a hipótese de que X tem uma<br />

prova tableau, ou seja, todos os ramos do tableau,<br />

começando por ¬X, fecham (não são satisfazíveis).<br />

Portanto, se X tem uma prova tableau, X é uma tautologia.<br />

Mostrou-se então que cada fórmula que tem<br />

uma prova tableau é uma tautologia. Isso assegura a<br />

consistência do sistema lógico, pois não se terá que<br />

uma fórmula X e sua negação ¬X sejam provadas.<br />

Assim, tudo o que o sistema produz por meio de<br />

provas tableau são fórmulas tautológicas.<br />

Dedutibilidade<br />

A noção de dedutibilidade é uma noção sintática<br />

e será definida em termos de provas tableau.<br />

Definição 4.1: Sejam S um conjunto de fórmulas e X uma<br />

fórmula qualquer. Um tableau para X usando S como<br />

um conjunto de afirmações globais significa um<br />

tableau começado por ¬X e de tal forma que a seguinte<br />

condição seja satisfeita:<br />

• qualquer fórmula Z ∈ S pode ser adicionada ao<br />

final de qualquer ramo do tableau.<br />

Definição 4.2: Sejam S um conjunto de fórmulas e X uma<br />

fórmula qualquer. Diz-se que X é dedutível tableaux a<br />

partir de S (em símbolos, S|– X) se e somente se existir<br />

um tableau fechado terminado para X usando S como um<br />

conjunto de afirmações globais.<br />

Em outras palavras, diz-se que S|– X 6 se e<br />

somente se existe um tableau fechado que começa<br />

com ¬X e de tal forma que em qualquer ponto final<br />

de qualquer ramo do tableau seja possível adicionar<br />

qualquer fórmula de S.<br />

Teorema 4.3 (correção forte): Sejam S um conjunto de<br />

fórmulas e X uma fórmula qualquer. Se S|– X, então S|=X.<br />

Mostrou-se que se X é dedutível tableau a<br />

partir de um conjunto S de fórmulas, então X é conseqüência<br />

lógica do mesmo conjunto S de fórmulas<br />

da lógica proposicional clássica.<br />

Completude<br />

Já se mostrou que o sistema é consistente (não<br />

prova fórmulas contraditórias) e que, através de<br />

provas tableau, produz fórmulas tautológicas. No<br />

entanto, resta demonstrar que todas as tautologias<br />

são provadas por meio de tableaux. O objetivo<br />

seguinte é mostrar que, para qualquer fórmula X, se<br />

X é uma tautologia, então X tem uma prova<br />

tableau. Mostra-se ainda um resultado mais forte: se<br />

X é conseqüência lógica de um conjunto S, então X<br />

é dedutível tableaux a partir de S.<br />

Definição 5.1: Um conjunto H de fórmulas proposicionais<br />

é chamado um conjunto de Hintikka, sempre que as seguintes<br />

condições forem satisfeitas:<br />

H1– Nenhuma variável proposicional e sua negação<br />

estão simultaneamente em H:<br />

6 A notação S|–/ X será utilizada para representar que X não é dedutível-tableaux<br />

a partir de S.<br />

48 Junho • 2000


H2– Se α ∈ H então α 1 ∈ H e α 2 ∈ H:<br />

H3– Se β ∈ H então β 1 ∈ H ou β 2 ∈ H:<br />

O lema seguinte estabelece uma conexão<br />

entre fórmulas vistas sob a ótica de provas tableau e<br />

fórmulas vistas sob a ótica de valorações booleanas.<br />

Lema 5.2 (Hintikka): Cada conjunto H de Hintikka é satisfazível.<br />

Seja H um conjunto de Hintikka. Deseja-se<br />

encontrar uma valoração booleana na qual cada elemento<br />

de H seja verdadeiro. Para tal, atribui-se o<br />

seguinte:<br />

1. se uma variável proposicional x ∈ H então v (x)<br />

= 1;<br />

2. se a negação de uma variável proposicional ¬x<br />

∈ H então v (x) = 0;<br />

3. se nem x nem ¬x pertencem a H então v (x) =<br />

1.<br />

Mostra-se facilmente, a partir dessa valoração<br />

booleana, que cada fórmula pertencente a H é verdadeira<br />

sob v. A prova por indução é simples e não<br />

será feita.<br />

Teorema 5.3: Qualquer ramo completo aberto de qualquer<br />

tableau é satisfazível.<br />

Se um ramo é aberto, não contém nenhuma<br />

fórmula e nem sua negação (condição H1). Se o<br />

ramo é completo então, se α pertence ao ramo pela<br />

definição de ramo completo, tem-se que α 1 e α 2<br />

pertencem ao ramo (condição H2) e o mesmo argumento<br />

vale para qualquer fórmula β que pertença<br />

ao ramo, ao menos β 1 ou β 2 pertencem ao ramo<br />

(condição H3). Portanto, um conjunto de fórmulas<br />

pertencente a um ramo aberto completo satisfaz as<br />

condições do conjunto de Hintikka, e pelo lema de<br />

Hintikka é satisfazível.<br />

Teorema 5.4 (completude fraca): Se X é uma tautologia,<br />

então X tem uma prova tableau.<br />

Demonstração: Mostra-se por contraposição.<br />

Supõe-se I um tableau terminado começado por<br />

¬X. Se I não tem uma prova tableau, então existe<br />

pelo menos um ramo aberto e completo, e pelo teorema<br />

5.3 é satisfazível. Logo, a origem ¬X é satisfazível<br />

e, conseqüentemente, X não pode ser<br />

tautologia. Portanto, se X é uma tautologia, existe<br />

uma prova tableau para X.<br />

Teorema 5.5 (completude forte): Sejam S um conjunto<br />

de fórmulas e X uma fórmula qualquer. Se S|=X, então S|– X.<br />

Demonstração: Supondo-se que não existe<br />

um tableau fechado para a fórmula X usando S<br />

como um conjunto de afirmações globais, mostra-se<br />

então que S |=/ X. Para tal, é introduzido um procedimento<br />

sistemático à construção do tableau.<br />

Supõe-se que os membros de S estejam arranjados<br />

da seguinte maneira:<br />

S: x 1 , x 2 , x 3 , ... .<br />

Estágio 0:<br />

Começa-se o tableau por “(1) ¬X”.<br />

Aplicam-se regras de extensão de ramos a<br />

todas as fórmulas que não sejam variáveis proposicionais<br />

até que o tableau esteja terminado.<br />

Considera-se agora que o procedimento se<br />

encontra no estágio n.<br />

Estágio n<br />

Para cada ramo aberto θ do tableau terminado<br />

construído até esse estágio:<br />

Adiciona-se no final de θ para cada i ≤ n as<br />

fórmulas x 1 , x 2 , ..., x n . Procede-se dessa maneira até<br />

que o tableau esteja terminado.<br />

Ao final do procedimento sistemático, feito<br />

para n = 1, 2, 3, ..., o tableau, por hipótese, estará<br />

aberto. Logo, tem-se pelo menos um ramo aberto θ.<br />

Esse ramo aberto é um conjunto de Hintikka, ou<br />

seja, em cada estágio n procedeu-se até que o<br />

tableau ficasse terminado. Se o procedimento sistemático<br />

parar para algum n, então o ramo aberto<br />

obtido será um conjunto de Hintikka (pois o procedimento<br />

foi construído de modo a assegurar isso) e,<br />

portanto, satisfazível (lema de Hintikka). Por outro<br />

lado, se o procedimento sistemático não parar,<br />

então pelo lema de König 7 esse tableau é uma<br />

árvore com finitos sucessores, mas infinitos pontos;<br />

logo, tem um ramo infinito. Esse ramo infinito, por<br />

sua vez, é aberto e, também, um conjunto de Hintikka<br />

(desde que o procedimento tenha sido seguido<br />

corretamente); portanto, é satisfazível. Mas o conjunto<br />

de fórmulas em θ deve conter “(1) ¬X” desde<br />

que este é o início do tableau; além disso, deve conter<br />

Z para cada Z ∈ S. Assim ¬X é satisfazível, o<br />

que implica que X é falsa. Mas como θ é satisfazível,<br />

7 Lema de König: uma árvore infinita, finitamente gerada, deve ter<br />

um ramo infinito.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 43-50 49


existe uma valoração booleana v, tal que para cada<br />

Z ∈ θ, v (Z) = 1 e v (X) = 0. Por conseguinte, existe<br />

uma valoração booleana na qual todas as fórmulas<br />

de S são verdadeiras e a fórmula X é falsa. Portanto,<br />

S|=/ X.<br />

CONCLUSÃO<br />

O sistema lógico proposto é proposicional, ou<br />

seja, não aborda questões relacionadas a quantificadores,<br />

os quais se encaixariam num estudo sobre<br />

lógicas de primeira ordem. Este, por sua vez, é abordado<br />

segundo um método de prova chamado<br />

tableaux analíticos, divulgado por Smullyan (1968).<br />

Outros métodos de prova utilizados para demonstrações<br />

de teoremas da correção e completude,<br />

muito difundidos nos meios acadêmicos, são os<br />

métodos axiomáticos e os de dedução natural. Os<br />

tableaux analíticos, por terem a forma de árvores<br />

binárias, são comumente exportados para investigação<br />

de problemas em ciência da computação e<br />

engenharia. Isso porque carregam o princípio de<br />

subfórmulas segundo o qual, para se provar uma<br />

fórmula, as únicas fórmulas necessárias são suas<br />

subfórmulas, em oposição a sistemas axiomáticos,<br />

os quais exigem introduzir outras fórmulas numa<br />

prova que não unicamente as subfórmulas da fórmula<br />

que está sendo provada.<br />

Provas tableau e valorações booleanas podem<br />

ser desenvolvidas independentemente uma da<br />

outra; o lema de Hintikka faz uma ponte entre sintaxe<br />

(no caso, prova tableau) e semântica (no caso, o<br />

conceito de satisfatibilidade). Os teoremas de correção<br />

e completude mostram que todas as fórmulas<br />

provadas por meio de um tableau são tautológicas e<br />

todas as tautologias são provadas por meio de<br />

tableaux, estabelecendo assim uma relação de coincidência<br />

entre a sintaxe e a semântica de um sistema<br />

lógico proposicional clássico, no senso de que estas<br />

podem ser intercambiáveis. Basicamente, se é necessário<br />

saber se uma fórmula X é tautológica, pode-se<br />

utilizar um tableau e verificar se existe uma prova<br />

tableau para X ou, por outro lado, se for necessário<br />

saber se existe uma prova tableau para uma fórmula<br />

X, pode-se fazer uma tabela verdade e verificar se X<br />

é uma tautologia.<br />

A lógica proposicional clássica é um excelente<br />

exemplo de sistema lógico correto e completo, tornando-se<br />

fácil a verificação da coincidência entre sintaxe<br />

e semântica. Este pode ser utilizado como<br />

auxílio para o conhecimento de outros sistemas,<br />

inclusive os sistemas não-clássicos (Fitting, 1983).<br />

Extensões do sistema proposto neste texto podem ser<br />

encontradas em Smullyan (1968) e Fitting (1983/90).<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BELL, J.L. & MACHOVER, M. A Course in Mathematical Logic. Amsterdã: North Holland Publishing Company, 1977.<br />

CHURCH, A. Introduction to Mathematical Logic. Princeton-New Jersey: Princeton University Press, 1956.<br />

DALEN, D. van. Logic and Structure. 3.ª ed., Nova York: Springer-Verlag, 1980.<br />

FITTING, M. First-Order Logic and Automated Theorem Proving. 2.ª ed., Nova York: Springer-Verlag, 1990.<br />

__________. Proof Methods for Modal and Intuitionistic Logics. Dordrecht: D.Reidel Publishing Company, 1983.<br />

MEN<strong>DE</strong>LSON, E. Introduction to Mathematical Logic. 3.ª ed., Nova York: Chapman & Hall, 1987.<br />

ROBBIN, J.W. Mathematical Logic: a first course. Nova York: W.A. Benjamin, Inc., 1969.<br />

SHOENFIELD, J.R. Mathematical Logic. Reading: Addison-Wesley, 1967.<br />

SMULLYAN, R. First Order Logic. Berlin/Heidelberg: Springer-Verlag, 1968.<br />

50 Junho • 2000


A Probabilidade na<br />

Óptica da Geometria<br />

The Probability in the Optical of the Geometry<br />

I<strong>DE</strong>MAURO ANTÔNIO RODRIGUES LARA<br />

ESALQ-USP<br />

jamoreir@carpa.ciagri.usp.br<br />

RESUMO – A probabilidade constitui-se num dos tópicos presentes em quase todos os cursos iniciais de estatística. Muitas<br />

vezes, professores e alunos podem ter dificuldades na associação de determinados conceitos com outras áreas do saber,<br />

em particular com a geometria. No presente trabalho mostra-se como a geometria pode ser utilizada na apresentação e<br />

compreensão de muitos conceitos da Teoria da Probabilidade. A metodologia está centrada nos conceitos básicos da geometria<br />

vetorial elementar. Verifica-se que, além de servir como um importante recurso didático, a geometria possui uma<br />

linguagem simples e indutiva, permitindo concretizar linhas rigorosas de raciocínio.<br />

Palavras-chave: VETOR – VARIÁVEL ALEATÓRIA – PRODUTO INTERNO – ESPERANÇA MATEMÁTICA – PROJEÇÃO ORTOGO-<br />

NAL.<br />

ABSTRACT – Probability is a key topic in almost all introductory statistical courses. Often, teachers and students can have<br />

difficulties with the association between some concepts and other knowledge areas, particularly geometry. In this work, it<br />

is shown how geometry may be used in the presentation and in helping the comprehension of many concepts in the<br />

probability theory. The methodology is centered in basic concepts of the elementary vectorial geometry. Beyond the<br />

important didactical resource, it is verified that geometry has a simple and inductive language allowing to make real rigorous<br />

lines of reasoning.<br />

Keywords: VECTOR – RANDOM VARIABLE – INTERNAL PRODUCT – MATHEMATICAL EXPECTATION – ORTOGONAL PROJEC-<br />

TION.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 51-58 51


INTRODUÇÃO<br />

A<br />

partir da década de 80 surgiu, no meio estatístico,<br />

uma crescente preocupação com a<br />

valorização da abordagem geométrica como<br />

um importante recurso didático. Para se ter uma<br />

idéia, Margolis (1979) publicou um artigo em que<br />

citou vários exemplos do uso da geometria vetorial<br />

para derivação de resultados elementares, no campo<br />

da estatística descritiva e na análise da regressão.<br />

Herr (1980) estabeleceu um paralelo entre o ponto<br />

de vista algébrico e o geométrico sobre a estimação<br />

de mínimos quadrados, mostrando, assim, as vantagens<br />

da descrição geométrica. Bryant (1984) enfatizou<br />

que “não há fórmulas diferentes em geometria,<br />

probabilidade e estatística, e sim variações sobre um<br />

tema comum”. Esse autor mostrou a equivalência<br />

existente entre muitos fundamentos básicos expressos<br />

em diferentes linguagens.<br />

Schey (1985) relatou uma descrição geométrica<br />

dos contrastes ortogonais na análise da variância<br />

de modelos de classificação simples, justificando<br />

a condição da soma dos coeficientes ser zero nas<br />

combinações lineares das médias dos tratamentos.<br />

Saville & Wood (1986) usaram elementos básicos<br />

da geometria n-dimensional para fazer análise da<br />

variância e da regressão de forma rigorosa, mas elementar.<br />

Iemma et al. (1993) descreveram geometricamente<br />

a análise da variância como uma aplicação<br />

do Teorema de Pitágoras e forneceram um procedimento<br />

simples e imediato para a obtenção do projetor<br />

ortogonal associado a uma dada hipótese. Lara<br />

(1998) reviu artigos com inclinação geométrica e<br />

apresentou a dissertação “Tópicos de Geometria<br />

com Aplicações em Estatística”, mostrando que a<br />

geometria não só é um recurso didático, como também<br />

serve de ferramental básico na solução de problemas<br />

ocasionais no meio estatístico, como por<br />

exemplo a colinearidade e a seleção de variáveis nos<br />

modelos de regressão.<br />

Registra-se que essa preocupação com a abordagem<br />

geométrica já podia ser notada em artigos<br />

muito antigos, entre eles, os de Fisher (1915), Bartlett<br />

(1933/34), Durbin & Kendall (1951) e Scheffé<br />

(1959). Isso se deve, sem dúvida, ao fato de que a<br />

grande maioria dos métodos estatísticos pode ser<br />

desenvolvida por meio de conceitos geométricos.<br />

No entanto, isso não é, em geral, apresentado em<br />

cursos de estatística, pela dificuldade encontrada<br />

por alunos e professores na associação entre os conceitos<br />

estatísticos e geométricos.<br />

Por outro lado, apesar da relevância do tema,<br />

tanto do ponto de vista didático quanto da força<br />

incontestável do relacionamento que associa a estatística<br />

e a geometria, a revisão de literatura revelou<br />

que alguns tópicos, especialmente a probabilidade,<br />

não têm sido usualmente citados em trabalhos com<br />

inclinação geométrica. Nesse contexto, este artigo<br />

tem por objetivo básico mostrar a versão geométrica<br />

de alguns conceitos ligados à probabilidade, procurando<br />

na medida do possível ilustrá-los graficamente<br />

e/ou numericamente.<br />

O MÉTODO<br />

O método proposto está centrado nos conceitos<br />

da geometria elementar, por exemplo, pontos,<br />

segmentos de reta, comprimentos, distâncias, ângulos<br />

e projeções ortogonais. O elo de ligação desses<br />

conceitos com a probabilidade é estabelecido mediante<br />

a abordagem vetorial. Sendo assim, apresentam-se<br />

a seguir, sucintamente, alguns tópicos da<br />

geometria vetorial indispensáveis para a compreensão<br />

desse trabalho.<br />

Vetor<br />

Seja R o conjunto dos números reais e seja n<br />

um número inteiro e positivo, então x’ = [ x 1 , x 2 ,<br />

…, x n ], onde x i ∈ R para todo i = 1, 2, ..., n, é dito<br />

vetor n-dimensional, ou simplesmente vetor n × 1.<br />

Geometricamente, o vetor é um ponto do<br />

espaço cartesiano n-dimensional (R n ) ou um segmento<br />

de reta que une esse ponto à origem do sistema<br />

cartesiano, conforme ilustra a figura 1.<br />

Fig.1. Visão geométrica de um vetor em três dimensões.<br />

52 Junho • 2000


Adição, Subtração e Multiplicação<br />

por Escalar de Vetores<br />

Dados dois vetores quaisquer x e y de R n :<br />

x =<br />

x 1<br />

x 2<br />

...<br />

x n<br />

a adição e subtração entre ambos é definida por:<br />

x±<br />

y =<br />

e<br />

x 1 ± y 1<br />

x 2 ± y 2<br />

...<br />

y =<br />

e, se c é um escalar, define-se cx como o vetor<br />

obtido pela multiplicação de cada componente de x<br />

por c.<br />

Fig. 2. Adição, subtração e multiplicação de vetores por<br />

escalar.<br />

Geometricamente, como ilustrado pela figura<br />

2, a adição e a subtração de vetores podem ser descritas<br />

segundo as diagonais de um paralelogramo.<br />

Produto Interno<br />

Formalmente o produto interno ou produto<br />

escalar entre dois vetores x e y de R n é definido<br />

como uma função que associa a cada par de vetores<br />

x e y um número real, denotado por , satisfazendo<br />

em relação aos vetores x, y e z e ao escalar c<br />

as propriedades:<br />

a) = <br />

(comutativa ou simetria);<br />

b) = + (distributiva ou linearidade);<br />

c) = c (homogeneidade);<br />

d) ≥ 0; = 0 ⇔ x=φ (positividade).<br />

Registra-se, adicionalmente, que pode estar<br />

definido mais do que um produto interno num<br />

x n<br />

± y n<br />

;<br />

y 1<br />

y 2<br />

...<br />

y n<br />

mesmo espaço cartesiano. Entre os possíveis produtos<br />

internos que satisfazem as propriedades da definição,<br />

destaca-se o produto interno usual:<br />

= x i y i,<br />

i = 1<br />

por ser o mais conhecido entre todos.<br />

Norma Euclidiana<br />

Chama-se de norma euclidiana de um vetor x e<br />

denota-se por ⎜⎜x⎜⎜ o número real não negativo, definido<br />

em relação ao produto interno , ou seja:<br />

x<br />

=<br />

satisfazendo os axiomas:<br />

a) ⎜x⎜>0 se x ≠ φ (positividade)<br />

b) ⎜x⎜=0 se x ≠ φ (nulidade)<br />

c) ⎜cx⎜= ⎜c⎜ ⎜x⎜ (homogeneidade)<br />

d) ⎜x+y⎜ ≤ ⎜x⎜ + ⎜y⎜ (desigualdade triangular)<br />

Uma interpretação geométrica simples da<br />

norma euclidiana é que ela mede o comprimento de<br />

um vetor.<br />

Ângulo entre Dois Vetores<br />

Sejam x e y dois vetores não nulos do R n , o<br />

ângulo entre eles é definido por:<br />

Dessa definição decorre também que: <br />

= ⎜x⎜. ⎜y⎜. cos θ<br />

Espaços e Subespaços Vetoriais<br />

Um espaço vetorial real V n é um conjunto de<br />

vetores de n componentes reais, fechado em relação<br />

às operações de adição de vetores e multiplicação de<br />

vetores por escalar. É imediato verificar que o conjunto<br />

R n é um espaço vetorial real. Ademais, se S n é<br />

um subconjunto do R n , fechado em relação às operações<br />

de adição de vetores e multiplicação de vetores<br />

por escalar, então S n é um subespaço vetorial.<br />

Projeções Ortogonais<br />

Se x e y são dois vetores de um espaço vetorial,<br />

com y ≠φ, o vetor -------------- y diz-se a projeção de<br />

<br />

<br />

x sobre y. Genericamente, a projeção de um vetor<br />

n<br />

∑<br />

[ ] 1⁄ 2 ,<br />

<br />

cosθ = ---------------- ; – 1 ≤ cosθ≤ 1 ⇒ θ =<br />

x.y<br />

= arc cos<br />

<br />

---------------- ; 0 0 † θ † 180 0<br />

x.y<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 51-58 53


sobre um subespaço é um caso particular de transformação<br />

linear. Seja V um espaço vetorial e L um<br />

subespaço de V com dimensão finita. Uma função T:<br />

V → L, que preserva a adição de vetores e a multiplicação<br />

por escalar, é dita transformação linear de<br />

V em L, estabelecendo que se x ∈ V então T(x) é a<br />

projeção de x sobre L.<br />

Considere então o seguinte tipo de problema:<br />

dado um elemento x de V, determinar um elemento<br />

de L cuja distância a x seja tão pequena quanto possível.<br />

Se x ∈ L, então é evidente que T(x) = x. Se x<br />

não pertence a L, então o vetor T(x) mais próximo a<br />

x define-se pelo pé da perpendicular tirada de x para<br />

o subespaço L (e é único).<br />

Fig. 3. Projeção ortogonal em duas dimensões: x projetado<br />

em y.<br />

APLICAÇÕES DO MÉTODO:<br />

UMA ABORDAGEM COM<br />

EXEMPLO <strong>DE</strong> VARIÁVEL<br />

ALEATÓRIA DISCRETA<br />

Na análise de experimentos verifica-se freqüentemente<br />

que o fenômeno estudado tem n possibilidades<br />

distintas de se manifestar, descritas no seu<br />

espaço amostral Ω, e a cada possível resultado<br />

(numérico ou não numérico) de Ω associa-se uma<br />

dada probabilidade. Contudo, em muitas experiências<br />

tem-se interesse na mensuração de uma característica<br />

particular e no seu registro como um<br />

número. Sempre que se associa um número real a<br />

cada resultado de Ω, considera-se uma função cujo<br />

domínio é o próprio espaço amostral e o contradomínio<br />

é o conjunto dos números reais em questão.<br />

Tal função X:Ω → R é denominada variável aleatória.<br />

Nesse sentido, informalmente, a variável aleatória<br />

pode ser vista como a caracterização numérica<br />

do resultado do experimento. Interpretando-se as<br />

variáveis aleatórias como vetores, torna-se possível<br />

pensar na Teoria da Probabilidade geometricamente.<br />

A título de ilustração, considere a seguinte<br />

situação:<br />

Duas pessoas A e B fazem a seguinte aposta:<br />

lançam duas vezes uma única moeda. Se der duas<br />

caras, A ganhará 16 unidades monetárias (u.m.) de<br />

B; se der duas coroas, A ganhará 10 u.m. de B; e se<br />

der uma cara e uma coroa, B ganhará 14 u.m. de A.<br />

Então tem-se Ω = {(cara, cara); (coroa, coroa);<br />

(cara, coroa); (coroa, cara)}; a variável aleatória do<br />

ponto de vista de A será X= [16,10,-14]; do ponto<br />

de vista de B será Y= [-16,-10,-14], onde o sinal<br />

negativo indica a perda na aposta e p= [1/4,1/4,1/2]<br />

é o vetor de probabilidades associado às variáveis<br />

aleatórias. Geometricamente as variáveis aleatórias<br />

X e Y representam dois vetores do R 3 .<br />

Fig. 4. Uma visão geométrica das variáveis aleatórias no<br />

espaço tridimensional.<br />

Por outro lado, o valor esperado de uma variável<br />

aleatória X com função de distribuição F (x) é<br />

definido rigorosamente por alguns tratados da estatística<br />

matemática pela integral genérica de Lebesgue-Stieltjes,<br />

aqui denotada integral L.S.:<br />

+∞<br />

EX ( ) = ∫ xdF( x)<br />

(1)<br />

–∞<br />

que existe se, e somente se, essa integral for convergente.<br />

Corrêa (1981) e James (1981) comentam a<br />

vantagem da utilização dessa integral na definição<br />

da esperança matemática, bem como em outros<br />

conceitos. Assim, a integral L.S. evita a necessidade<br />

de se exporem todos os teoremas e definições<br />

duplamente e, desse modo, se F (x) é a função de<br />

distribuição de uma variável aleatória discreta X, a<br />

integral L.S. reduz-se a uma série: se P(X=x i ) =<br />

54 Junho • 2000


p(x i ) ≥ 0 e Σ i<br />

p(x i )=1e, isto é, se p é a função de<br />

probabilidade de X, então p(x i ) é um salto de F (x)<br />

em x i e:<br />

+∞<br />

∫<br />

–∞<br />

xdF( x)<br />

=<br />

∑<br />

i<br />

x i px ( i ).<br />

Sendo F (x) uma função de distribuição de uma<br />

variável aleatória contínua que tem como função<br />

densidade de probabilidade f (x), então f (x) é a derivada<br />

de F (x), isto é d F (x) = f (x) dx e a integral L.S.<br />

torna-se uma integral comum do tipo Riemann:<br />

+∞<br />

∫<br />

–∞<br />

xdF( x)<br />

+∞<br />

b<br />

= ∫ xf( x) dx<br />

= lim ∫ xf( x) dx,<br />

a→-∞<br />

–∞<br />

b→+∞ a<br />

também como um caso particular.<br />

A ligação desse conceito (1) com a geometria<br />

fica estabelecida pelo produto interno:<br />

=p 1 x 1 y 1 +p 2 x 2 y 2 +…+ p n x n y n<br />

e, desse modo, é imediato verificar que em relação<br />

ao produto interno:<br />

E(X) = < X,J>, (2)<br />

onde J = [1,1,…,1]. Logo, para o exemplo das<br />

apostas, pode-se calcular o valor esperado das variáveis<br />

aleatórias X e Y:<br />

EX ( ) = =<br />

EY ( ) = =<br />

1<br />

--. 16.1 + 1 4 4 --10.1<br />

1<br />

--.(-16).1 + 1 4 4<br />

1<br />

+ --.(-14).1=- 1 2 2 --<br />

1<br />

--.(–<br />

10).1<br />

+ --.14.1= 1 2 2 --<br />

Pelos resultados obtidos para os valores esperados<br />

das variáveis aleatórias (v.a.’s) X e Y, verifica-se que<br />

o jogador B tem vantagem na aposta, pois o valor<br />

esperado por B é positivo, ao passo que o valor esperado<br />

por A é negativo. Essa aposta só seria justa se não<br />

houvesse vantagem para nenhum dos apostadores. O<br />

produto interno, nesse caso, apresenta uma aplicação<br />

bastante interessante na verificação de que o jogo é<br />

eqüitativo ou não. Um jogo eqüitativo é aquele em<br />

que o ganho esperado é nulo, ou seja, a longo prazo,<br />

ou em média, não se espera ganhar nem perder. Isso<br />

só ocorre quando o produto interno da variável aleatória<br />

pelo vetor J é zero, o que indica a ortogonalidade<br />

entre o vetor de probabilidades e o vetor de apostas<br />

descrito pela respectiva variável aleatória.<br />

De modo análogo ao caso unidimensional,<br />

pode-se definir a esperança conjunta de v.a.’s de<br />

dimensão mais elevada. Em particular, para o caso<br />

bidimensional, se (X, Y) é um vetor aleatório e Z = g<br />

(X, Y) uma função real de (X, Y) então Z também é<br />

uma variável aleatória (unidimensional) e seu valor<br />

esperado pode ser dado pela integral L.S. (1), já apresentada.<br />

Então, sem perda de generalidade, seja:<br />

+∞<br />

+∞<br />

EX.Y ( ) = ∫ zdF( z)<br />

= ∫ xydF( x,<br />

y)<br />

(3)<br />

–∞<br />

–∞<br />

Esse é um resultado extremamente útil, pois<br />

mostra que para calcular o valor esperado de (X,Y)<br />

não há necessidade de conhecer a distribuição de<br />

probabilidade da variável aleatória Z. Sendo assim,<br />

se (X, Y) é um vetor de v.a.’s discretas e se p(X=x i ,<br />

Y=Y i ) = p(x i ,y i ) ≥ 0, isto é, p(x i ,y i ) é a função de<br />

probabilidade conjunta de (X,Y) então:<br />

E( X.Y) = x i y j px ( i<br />

, y j )<br />

i j<br />

e, se (X,Y) é um vetor de v.a.’s contínuas com função<br />

densidade de probabilidade conjunta f(x,y),<br />

então:<br />

+∞ +∞<br />

E( X.Y) = ∫ ∫ xyf( x,<br />

y) ( dx) dy<br />

–∞ –∞<br />

verificando-se em ambos os casos as mesmas particularidades<br />

da integral L.S.<br />

Assim como a esperança unidimensional, a<br />

esperança conjunta de duas variáveis aleatórias<br />

quaisquer (3) pode também ser interpretada como<br />

um produto interno, embora nesse caso o produto<br />

interno não seja usual. Sobre esse aspecto, Bryant<br />

(1984) mostra que:<br />

EX.Y ( ) = = X Y cosθ<br />

(4)<br />

verificando-se que a equação (4) é válida em relação<br />

ao seguinte produto interno em:<br />

=p 11 x 1 y 1 +p 12 x 1 y 2 +…+ p nn x n y n<br />

e, obviamente, a equação (4) satisfaz as propriedades<br />

básicas do produto interno.<br />

Considere o exemplo ilustrativo dessa seção,<br />

cuja distribuição conjunta das variáveis aleatórias X<br />

e Y é apresentada na tabela 1.<br />

Tab. 1. Distribuição de probabilidade conjunta de X e Y.<br />

Y<br />

∑∑<br />

X -14 10 16 MARGINAL<br />

(Y)<br />

-16 0 0 1/4 1/4<br />

-10 0 1/4 0 1/4<br />

14 1/2 0 0 1/2<br />

Marginal (X) 1/2 1/4 1/4 1<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 51-58 55


Com base nesses dados tem-se:<br />

E (X.Y) = = -187<br />

Uma das vantagens da descrição da esperança<br />

segundo o produto interno é que, por meio de suas<br />

propriedades, torna-se fácil a demonstração de<br />

alguns teoremas envolvendo a esperança matemática,<br />

a saber:<br />

a) E(k) = k, onde k é uma constante real;<br />

A demonstração é imediata pela definição (2),<br />

bastando efetuar o produto interno:<br />

E(k) = = E(kJ) = k.<br />

b) E(kX) = kE(X);<br />

A demonstração decorre da propriedade<br />

homogeneidade do produto interno:<br />

E(kX) = = k = = kE(X).<br />

c) E(kX + q) = kE(X) + q, onde q é uma<br />

constante real.<br />

A demonstração decorre das propriedades a e b.<br />

d) E(X + Y) = E(X) + E(Y);<br />

A demonstração decorre da propriedade distributiva<br />

do produto interno: E(X + Y, J) =<br />

= + = E(X) + E(Y).<br />

A abordagem geométrica da esperança por<br />

meio do produto interno também pode ser utilizada<br />

para mostrar que muitas outras idéias da Teoria da<br />

Probabilidade correspondem a idéias comuns em<br />

geometria, conforme salientou Bryant (1984).<br />

Desse modo, para qualquer variável aleatória X:<br />

= X 2 = EX.X ( ) = EX ( 2 )<br />

ou seja, E(X 2 ) corresponde geometricamente ao<br />

comprimento quadrático do vetor representativo da<br />

v.a. X. Tomando-se uma v.a. centrada, por analogia,<br />

pode-se definir a variância associada a v.a. X. Considere<br />

que E(X) = µ X , então:<br />

2<br />

X – µ X E[ ( X – µ X ) 2 2<br />

= = ] = σ X<br />

Conseqüentemente, o desvio padrão da v.a. X<br />

é dado pela norma euclidiana:<br />

σ X = X – µ X<br />

Aplicando essas idéias ao exemplo do jogo da<br />

moeda, tem-se:<br />

σ 2 X = =<br />

= ( 33/2, 21/2, -27/2) 2 = 186,<br />

75<br />

∴σ X<br />

= ( 33/2, 21/2, -27/2) = 13,<br />

66<br />

e, de modo análogo, para a v.a. Y, tem-se σ 2 y =<br />

186,75 e σ y = 13,66<br />

Vistos sob o prisma de uma projeção ortogonal,<br />

os conceitos de valor esperado e variância apresentam<br />

uma interpretação geométrica simples.<br />

Considere no espaço vetorial R n os vetores que<br />

denotam a v. a. X e o vetor J. Seja P (X) a projeção<br />

ortogonal do vetor X sobre o vetor J, tal que P (X)<br />

= k, onde k é uma constante real. Nessas condições,<br />

a direção da projeção ortogonal é dada pelo vetor X<br />

– P (X), que é ortogonal ao subespaço vetorial determinado<br />

pelo vetor J, e por conseguinte:<br />

=0 ⇒ < X, J >=< P(X), J > ⇒ E (X) =<br />

=E (P (X)) ⇒ µ X =P (X)<br />

Fig. 5. A esperança matemática como uma projeção ortogonal.<br />

A figura 5 mostra que a esperança matemática<br />

de uma variável aleatória X nada mais é do que um<br />

caso particular de projeção ortogonal. Do ponto de<br />

vista geométrico, a direção dessa projeção é a menor<br />

distância entre X e J, cujo comprimento quadrático<br />

é probabilisticamente a variância da v. a. X. De<br />

modo semelhante ao da esperança, é possível verificar<br />

com facilidade alguns teoremas envolvendo a<br />

variância de uma variável aleatória pela aplicação<br />

imediata da definição σ 2 x = ⎜X - µ X ⎜ 2<br />

a) Var (k) = 0, onde k é uma constante real;<br />

Prova: Var (k) = ⎜X - µ X ⎜ 2 = ⎜k - k⎜ 2 = 0.<br />

b) Var (kX) = k 2 Var(X);<br />

Prova: ⎜kX - kE (X)⎜2 = ⎜k (X - E(X))⎜ 2 =<br />

= ⎜k⎜ 2 ⎜X - E(X)⎜ 2 = k 2 Var (X)<br />

56 Junho • 2000


c) Var (kX + q) = k 2 Var (X), onde q é uma<br />

constante real;<br />

Prova: ⎜kX + q – kE (X) + q⎜2 =<br />

= ⎜kX – kE (X)⎜ 2 = k 2 Var (X).<br />

Considerando a idéia de v.a.’s centradas, com<br />

o enfoque geométrico, o ângulo q formado entre os<br />

vetores representativos das v.a.’s X e Y, por exemplo,<br />

fornece uma importante regra que define o<br />

conhecido coeficiente de correlação na população:<br />

ρ XY = cosθ<br />

=<br />

conforme ilustra a figura 6.<br />

〈( X – µ X ),Y ( – µ Y )〉<br />

------------------------------------------------- ; – 1≤ρ X – µ X Y – µ XY ≤1,<br />

Y<br />

Sem perder de vista a idéia de v.a.’s centradas,<br />

considere x e y os vetores que as representam geometricamente,<br />

como no exemplo em questão. Na<br />

Teoria da Probabilidade, é bastante conhecido o<br />

Teorema da Variância de uma soma de v.a.’s:<br />

Var (x+y) = Var (x) + Var (y) + 2Cov (x,y) (5)<br />

Em (5), a covariância é igual à esperança conjunta<br />

de x e y, pois as v.a.’s estão centradas em suas<br />

esperanças e, assim, o teorema clássico (5) pode ser<br />

interpretado geometricamente como uma decorrência<br />

direta da aplicação da Lei dos Cossenos,<br />

válida para triângulos quaisquer:<br />

Fig. 7. Variáveis aleatórias centradas e a Lei dos Cossenos.<br />

Fig. 6. Variáveis aleatórias centradas e o coeficiente de<br />

correlação.<br />

Retomando o exemplo do jogo x=X – µ X e<br />

y=Y – µ Y , considere e os vetores que representam<br />

as variáveis aleatórias centradas:<br />

x=[33/2, 21/2, –27/2] e y=[–33/2, –21/2, 27/2]<br />

e usando σ X = σ Y = 13,66, obtém-se o coeficiente<br />

de correlação:<br />

〈 xy , 〉<br />

ρ xy = cosθ<br />

= -------------- x y<br />

=<br />

<br />

= ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ( 13,<br />

66).(13,66)<br />

=<br />

– 186,<br />

75<br />

= ---------------------<br />

( 13,<br />

66) 2 = – 1<br />

Com base nesse resultado, afirma-se estatisticamente<br />

que as variáveis têm correlação linear negativa<br />

perfeita. Geometricamente, isso significa que os<br />

vetores x e y são colineares, como pode ser observado<br />

na figura 4 e através do ângulo formado entre<br />

eles:<br />

θ = arc cos(–1) = 180º<br />

Aplicando a Lei dos Cossenos ao triângulo<br />

ABC da figura 7:<br />

⎜x+y⎜ 2 = ⎜x⎜ 2 + ⎜y⎜ 2 – 2 ⎜x⎜.⎜y⎜. cos(180º – θ)<br />

mas, como cos(180º – θ) = – cos θ. Assim:<br />

⎜x+y⎜ 2 = ⎜x⎜ 2 + ⎜y⎜ 2 + 2 ⎜x⎜.⎜y⎜. cos θ (6)<br />

A equação (6) é, portanto, a expressão geométrica<br />

do teorema (5) e, assim, se duas variáveis<br />

são não correlacionadas, em termos geométricos<br />

eqüivale a dizer que os dois vetores que as descrevem<br />

são ortogonais. Nesse caso, a equação (6)<br />

reduz-se ao Teorema de Pitágoras:<br />

⎜x+y⎜ 2 = ⎜x⎜ 2 + ⎜y⎜ 2<br />

Note que no exemplo que ilustra esta seção os<br />

vetores são colineares e não é possível formar um<br />

triângulo, e sim uma linha. Nesse caso, a variância<br />

de (x + y) é nula, como se pode comprovar pela<br />

equação (6):<br />

Var (x+y) = ⎜x+y⎜ 2 = 186,75 +186,75 + 2. (–186,75) = 0<br />

CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

O presente artigo ilustra apenas algumas das<br />

muitas situações teórico-práticas em que o procedimento<br />

geométrico simplifica sobremaneira a apresentação,<br />

como também a compreensão dos<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 51-58 57


conceitos elementares da Teoria da Probabilidade.<br />

Convém salientar que o exemplo apresentado do<br />

“jogo da moeda” tem apenas uma conotação didática,<br />

no sentido de ilustrar o procedimento de forma<br />

a facilitar a compreensão do leitor.<br />

Na prática docente e discente precisamos com<br />

freqüência estabelecer conexões entre “diferentes<br />

teorias” e, particularmente, buscar métodos que<br />

possam compilar os resultados. A geometria parece<br />

que se tornou um meio natural para tais propósitos.<br />

Nesse sentido, o método exposto pode servir de<br />

ajuda tanto para estudantes como a professores em<br />

seus estudos e pesquisas.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BARTLETT, M.S. The Vector Representation of a Sample. Proceedings of the Cambridge Philosophical Society, v.30, pp. 327-<br />

340, 1933/34.<br />

BRYANT, P. Geometry, Statistics, Probability: variations on a common theme. The American Statistician, 38(1): pp. 38-48, fev./<br />

84.<br />

CORRÊA, A.M.C.J. Funções Geradoras de Momentos. Piracicaba, p. 190, 1981. [Dissertação de mestrado, ESALQ/USP].<br />

DURBIN, J. & KENDALL, M.G. The Geometry of Estimation. Biometrika, v. 38, pp. 150-158, 1951.<br />

FISHER, R.A. Frequency Distribuition of the Values of the Correlation Coefficient in Samples from an Indefinitely Large Population.<br />

Biometrika, v.10, pp. 507-521, 1915.<br />

HERR, D.G. On the History of the Use of Geometry in the General Linear Model. The American Statistician., 34 (1): 43-47,<br />

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IEMMA, A.F. et al. Sobre a Construção de Projetores Ortogonais. <strong>Revista</strong> Matemática Estatística II, 11: 133-142, 1993.<br />

JAMES, B.R. Probabilidade: um curso em nível intermediário. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada, p. 304,<br />

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LARA, I.A.R. Tópicos de Geometria com Aplicações em Estatística. Piracicaba, p. 115, 1998. [Dissertação de mestrado, ESALQ/<br />

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MARGOLIS, M.S. Perpendicular Projections and Elementary Statistics. The American Statistician, 33 (3): 131-135, ago./79.<br />

MURTEIRA, B.J.F. Probabilidades e Estatística. Lisboa: McGraw-Hill de Portugal, p. 480, 1990. v. 2.<br />

SAVILLE, D.J. & WOOD, G.R. A Method for Teaching Statistics using N-Dimensional Geometry. The American Statistician,<br />

40 (3): 205-214, ago./86.<br />

SCHEFFÉ, H. The analysis of Variance. Nova York: Wiley & Sons, p. 477, 1959.<br />

SCHEY, H.M. A Geometric Description of Ortogonal Contrasts in on Way Analises of Variance. The American Statistician, 39<br />

(2): 104-106, mai./85.<br />

58 Junho • 2000


Balanço de Radiação<br />

Sobre um Solo<br />

Descoberto para quatro<br />

Períodos do Ano<br />

Radiation Balance at the Surface of a<br />

Bare Soil For Four Periods of the Year<br />

MÁRIO <strong>DE</strong> MIRANDA VILAS BOAS RAMOS LEITÃO<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

miranda@dca.ufpb.br<br />

MAGNA SOELMA BESERRA <strong>DE</strong> MOURA<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

magna@dca.ufpb.br<br />

TRÍCIA REGINA F. C. SALDANHA<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

tricia_reg@zipmail.com.br<br />

JOSÉ ESPÍNOLA SOBRINHO<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

ceae@esam.br<br />

GERTRU<strong>DE</strong>S MACARIO <strong>DE</strong> OLIVEIRA<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

gertrude@dca.ufpb.br<br />

RESUMO – Esta pesquisa foi desenvolvida no campo experimental da Escola Superior de Agricultura de Mossoró<br />

(ESAM), em Mossoró, RN, em quatro diferentes épocas do ano: inverno, primavera, verão e outono. O objetivo principal<br />

foi analisar o comportamento do balanço de radiação solar sobre uma superfície de solo descoberto, em períodos<br />

representativos das quatro estações do ano. Os dados aqui utilizados foram coletados de segundo em segundo, por meio<br />

de um sistema automático de coleta de dados “datalogger” 21X, e depois efetuadas médias a cada cinco minutos. Os<br />

resultados evidenciaram uma superioridade de todos os componentes do balanço de radiação solar observados na primavera<br />

em relação às outras estações, com exceção da radiação atmosférica que devido a uma maior nebulosidade foi<br />

máxima no outono. Nos períodos de inverno, verão e outono, a média de radiação global incidente à superfície do solo,<br />

comparada a da primavera, apresentou redução de 14%, 10% e 16%, respectivamente. Analisando o saldo de radiação,<br />

verificou-se que ele se manteve no outono praticamente igual ao da primavera, apenas 0,8% menor, ao passo que no<br />

inverno e no verão sofreu redução de 6% e 33%, respectivamente. Já o albedo médio diário apresentou-se máximo no<br />

verão (21,7%) e mínimo no outono (16,6%).<br />

Palavras-chave: BALANÇO <strong>DE</strong> RADIAÇÃO – ALBEDO – ESTAÇÕES DO ANO.<br />

ABSTRACT – This research was conducted in the experimental area of the Escola Superior de Agricultura de Mossoró<br />

(ESAM), in the city of Mossoró, RN, in the four seasons of the year: winter, spring, summer and autumn. The main<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 59-66 59


objective was to analyze the behaviour of the radiation balance at the surface of a bare soil in different seasons. The data<br />

was collected each second and averaged over 5 minute intervals and stored in a datalogger (an automatic data colleting<br />

system – 21X). The results showed that all the radiation balance components except the atmospheric radiation were high<br />

in spring. The atmospheric radiation was maximum in autumn due to the high cloudiness in this season. Decreases of<br />

14%, 10% and 16% of global radiation, as compared to spring time, were noticed in winter, summer and autumn,<br />

respectively. The corresponding decreases in net radiation were 7%, 33% and 0,8%, respectively. The daily mean albedo<br />

was maximum in the summer (21,7%) and minimum in the autumn (16,6%).<br />

Keywords: SOLAR RADIATION – ALBEDO – SEASON.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A<br />

energia proveniente do Sol é o fator mais<br />

importante para o desenvolvimento dos processos<br />

físicos que influenciam as condições<br />

de tempo e clima. Assim, pode-se afirmar que de<br />

maneira geral todos os fenômenos físicos, químicos,<br />

físico-químicos e biológicos ocorridos no solo estão<br />

direta ou indiretamente relacionados com a quantidade<br />

de radiação solar incidente sobre a sua superfície.<br />

No Nordeste Brasileiro, a agricultura representa<br />

um papel importante na economia regional.<br />

No entanto, as adversidades climáticas aliadas a práticas<br />

agrícolas ultrapassadas tornam essa atividade<br />

primordialmente de subsistência. Considerando que<br />

a agricultura irrigada apresenta-se como uma alternativa<br />

valiosa à região, é necessário que os recursos<br />

hídricos disponíveis sejam empregados de maneira<br />

racional (Silva, 1994). Desse modo, visando otimizar<br />

o uso da água e utilizar melhor os recursos hídricos<br />

existentes, evitando assim prejuízos por falta ou<br />

excesso, é importante determinar o conteúdo de<br />

água perdido para atmosfera, pelo solo e pela<br />

planta, por evapotranspiração, em função da disponibilidade<br />

de água no solo e da energia disponível à<br />

superfície. Os métodos mais precisos para determinação<br />

da evapotranspiração de culturas têm por<br />

parâmetro indispensável o saldo de radiação solar<br />

incidente na superfície.<br />

Em razão da sua importância, diversos pesquisadores<br />

têm realizado estudos objetivando determinar<br />

o balanço de radiação solar, dando ênfase<br />

principalmente ao saldo de radiação em florestas,<br />

pastagens ou cultivos. Ao estudar o balanço de radiação<br />

solar em cultura de soja irrigada, em Mandacaru<br />

(Juazeiro, BA, 9º 24’ S; 40º 26’ W; alt. 375 m),<br />

Leitão (1989) encontrou para todo ciclo de desenvolvimento<br />

da cultura valores médios diários para a<br />

radiação global de 529,3 cal.cm -2 .d -1 e para o saldo<br />

de radiação 329,2 cal.cm -2 .d -1 . Já para o período no<br />

qual o solo encontrava-se descoberto, o saldo de<br />

radiação solar foi de 359,2 cal.cm -2 .d -1 . Valores<br />

semelhantes foram encontrados por Moura et al.<br />

(1999), ao estudar os componentes do balanço de<br />

radiação solar à superfície em um solo descoberto<br />

em Mossoró, RN: valores médios instantâneos diários<br />

para a radiação global de 551,4 W.m -2 (569,3<br />

cal.cm -2 .d -1 ) e para o saldo de radiação, valor de<br />

320,0 W.m -2 (330,0 cal.cm -2 .d -1 ) para o período de<br />

estudo representativo da primavera.<br />

Feitosa (1996), analisando o comportamento<br />

da radiação solar global e do saldo de radiação em<br />

áreas de pastagem e floresta na Amazônia, observou<br />

que na área de floresta o saldo de radiação representou<br />

um percentual de radiação solar global bem<br />

mais significativo do que aquele da área de pastagem,<br />

ou seja, nas estações seca e chuvosa, o saldo de<br />

radiação na floresta foi maior 8% e 11%, respectivamente,<br />

do que na área de pastagem. Estudando os<br />

componentes do balanço de radiação solar sobre<br />

uma cultura de amendoim irrigado em Rodelas, BA,<br />

Oliveira (1998) verificou que a ocorrência de irrigação<br />

produz uma imediata redução no fluxo de radiação<br />

refletida (K↑) e simultaneamente um aumento<br />

no saldo de radiação solar na superfície.<br />

O saldo de radiação sobre um dossel vegetal<br />

representa a quantidade de energia na forma de<br />

ondas eletromagnéticas que este dispõe para repartir<br />

entre os fluxos de energia necessários aos processos<br />

de evapotranspiração, aquecimento do ar, aquecimento<br />

do solo e fotossíntese (Tubelis et al., 1980).<br />

Em outras palavras, a radiação líquida representada<br />

pelo saldo de radiação resulta das trocas de energia<br />

estabelecidas na atmosfera, as quais estão condicio-<br />

60 Junho • 2000


nadas pelo fluxo de radiação emitido pelo sol e<br />

refletido pela superfície, constituído predominantemente<br />

por radiação de ondas curtas e pelas radiações<br />

de ondas longas emitidas pela atmosfera e<br />

superfície terrestre, respectivamente.<br />

Mendez e Assis (1983), partindo dos fluxos<br />

de radiação solar global incidente, radiação solar<br />

refletida e saldo de radiação solar medidos em uma<br />

área cultivada com sorgo, determinaram equações<br />

que permitem estimar para o local estudado o saldo<br />

de radiação, a radiação global, o coeficiente térmico<br />

e o albedo da cultura. Por outro lado, diversos trabalhos<br />

utilizando o balanço de energia para definição<br />

da evapotranspiração de culturas têm sido desenvolvidos.<br />

Cunha e Bergamaschi (1994) quantificaram o<br />

fluxo de calor latente de evaporação mediante o<br />

balanço de energia e estimaram a evapotranspiração<br />

da cultura do milho, em El Dourado do Sul, RS.<br />

Cunha et al. (1996) determinaram os componentes<br />

do balanço de energia em Taquiri, RS, para<br />

alguns dias do ciclo de desenvolvimento do milho,<br />

considerando estágios de desenvolvimento e condições<br />

diferenciadas de demanda atmosférica. Teixeira<br />

et al. (1997), com base em dados de radiação solar<br />

global, saldo de radiação, fluxo de calor no solo,<br />

como também em gradientes de temperatura e pressão<br />

de vapor, avaliaram os componentes do balanço<br />

de energia durante estágios de desenvolvimento de<br />

um cultivo de videira, em Petrolina-PE.<br />

Diante do exposto e considerando a radiação<br />

solar como um parâmetro bastante útil e importante<br />

para a determinação das necessidades hídricas das<br />

culturas, este trabalho teve por objetivo medir e avaliar<br />

o comportamento e as respectivas contribuições<br />

dos componentes do balanço de radiação solar<br />

sobre uma superfície de solo descoberto para períodos<br />

representativos das estações do ano, em Mossoró,<br />

RN.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Localização e<br />

Caracterização Climática<br />

Esta pesquisa foi desenvolvida no campo<br />

experimental da Escola Superior de Agricultura de<br />

Mossoró (ESAM), no município de Mossoró, RN<br />

(5º 11’S; 37º 20’W; altitude 18 m), a 280 quilômetros<br />

de distância de Natal. As normais climatológicas<br />

da região, segundo Chagas (1997), apresentam<br />

temperatura média anual de 27,6ºC, máxima de<br />

33,5ºC e mínima de 22,8ºC, sendo dezembro o<br />

mês mais quente e julho, o mais frio. A média anual<br />

da precipitação é de 772,7 mm, os ventos predominantes<br />

são de nordeste e sudeste, com velocidade<br />

média anual de 3,9 m/s. A pressão atmosférica<br />

média anual é de 757,1 mmHg, atingindo valor<br />

máximo no mês de julho em torno de 758,7 mmHg<br />

e mínimo em dezembro de 756,2 mmHg. A evaporação<br />

média medida segundo o evaporímetro de<br />

Piché e o tanque classe “A” é 174,7 e 231,1 mm/<br />

mês, respectivamente. A umidade relativa, a nebulosidade<br />

e a insolação têm valores médios anuais de<br />

68,1%, 4/10 e 241,7 horas, respectivamente.<br />

A classificação climática, segundo Koeppen,<br />

para o município de Mossoró, RN, é do tipo BSwh’,<br />

significando “clima seco, muito quente, com estação<br />

chuvosa no verão, atrasando-se para o outono”. De<br />

acordo com a classificação de Thornthwaite, o clima<br />

local é do tipo DdA’a’, ou seja, “semi-árido, megatérmico,<br />

com pequeno ou nenhum excesso de água<br />

durante o ano”.<br />

Caracterização do Solo<br />

O solo da área em que esta pesquisa foi desenvolvida<br />

é classificado como Podzólico Vermelho<br />

Amarelo Equivalente Eutrófico, grande grupo<br />

Eutrustalfs do “Soil Taxonomy” (Brasil, 1971). Suas<br />

características físicas e químicas foram determinadas<br />

no Laboratório de Análises de Águas e Fertilidade<br />

de Solo, da Escola Superior de Agricultura de Mossoró<br />

(ESAM). De acordo com Araújo (1997), o solo<br />

apresenta pH em água (1:2,5) de 7,0; alumínio trocável<br />

(Al +++ ) 0,0 cmol/kg; cálcio (Ca) + magnésio<br />

(Mg) 12,8 cmol/kg; fósforo (P) 187,0 mg/kg; potássio<br />

0,34 cmol/kg; areia grossa 61%; areia fina 25%;<br />

silte 10%; argila 4%; além de classe textural de<br />

areia, capacidade de campo 7,05 g/g e ponto de<br />

murcha permanente de 1,92 g/g.<br />

Coleta de Dados<br />

Os dados meteorológicos utilizados neste trabalho<br />

foram obtidos durante quatro fases experimentais:<br />

de 17 a 27/06 de 1998 (inverno), 27/09 a<br />

7/10 de 1998 (primavera); 23/12 de 1998 a 2/01 de<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 59-66 61


1999 (verão) e 22/03 a 1/04 de 1999 (outono). Para<br />

tanto, sensores foram instalados em uma torre<br />

micrometeorológica e ligados a um sistema automático<br />

de coleta de dados, possibilitando medir os<br />

seguintes parâmetros: temperatura do solo, temperatura<br />

de bulbo seco e bulbo úmido, velocidade do<br />

vento, radiação solar global, radiação solar refletida,<br />

saldo de radiação e fluxo de calor no solo. As medidas<br />

foram efetuadas com os seguintes sensores: termopares<br />

a base de fio cobre-constantan para medir<br />

a temperatura do solo a 1 cm de profundidade; psicrômetro<br />

constituído de termopares de bulbo seco e<br />

bulbo úmido para medir temperatura e umidade do<br />

ar; anemômetro de conchas para medir velocidade<br />

do vento a 150 cm de altura da superfície; dois piranômetros<br />

espectrais para medir radiação solar global<br />

e refletida; saldo radiômetro para medir o saldo<br />

de radiação; e um fluxímetro para medir o fluxo de<br />

calor no solo a 1 cm de profundidade da superfície.<br />

Os dados foram coletados em um “micrologger”<br />

21X, sistema automático de aquisição de<br />

dados de alta resolução, alimentado por um painel<br />

solar. Esse equipamento permitiu a aquisição de<br />

dados em intervalos de um segundo e geração de<br />

médias a cada cinco minutos para todos os parâmetros,<br />

as quais, a cada 48 horas, eram armazenadas na<br />

memória do 21X e posteriormente transferidas<br />

para um microcomputador.<br />

Dados Indiretos<br />

Radiação de onda longa emitida pela superfície<br />

(L↑) – A quantidade de radiação na forma de<br />

ondas longas, emitida pela superfície do solo, foi<br />

obtida segundo a equação de Stefan-Boltzman:<br />

L↑= ε. δ. T 4 (1)<br />

onde: ε é a emissividade da superfície;<br />

σ, a constante de Stefan-Boltzman (5,67.10 -8 W/m 2 .k 4 );<br />

e T, a temperatura da superfície em Kelvin.<br />

A radiação de ondas longas emitida pela<br />

superfície foi determinada para cada intervalo de<br />

cinco minutos durante os dias estudados e, partindo-se<br />

desses valores, foram calculadas as médias<br />

diárias e para cada período estudado.<br />

Radiação de onda longa emitida pela atmosfera<br />

(L↓) – O balanço de radiação solar à superfície,<br />

também denominado de radiação líquida, é constituído<br />

pela soma dos balanços de radiação de ondas<br />

curtas e da radiação de ondas longas, sendo considerados<br />

positivos os fluxos verticais que chegam a<br />

superfície e negativos os que saem. Desse modo, o<br />

balanço de radiação solar na superfície pode ser<br />

obtido pela equação:<br />

Rn = ( K↓–K↑) + (L↓ – L↑) (2)<br />

onde:<br />

Rn é a radiação líquida;<br />

K↓, a radiação de onda curta incidente (radiação<br />

global);<br />

K↑, a radiação de onda curta refletida pela superfície;<br />

L↓, a radiação de onda longa incidente, ou seja, emitida<br />

pela atmosfera;<br />

e L↑, a radiação de onda longa emitida pela superfície.<br />

Utilizando os dados do saldo de radiação, da<br />

radiação de ondas curtas incidente e refletida, medidos<br />

como descrito no item anterior, e da radiação<br />

de ondas longas emitida pela superfície do solo, estimada<br />

mediante a equação 1, obteve-se por subtração,<br />

através da equação (3) a radiação de ondas<br />

longas proveniente da atmosfera.<br />

L↓ = Rn – ( K↓–K↑) + L↑ (3)<br />

Albedo<br />

A razão entre a radiação refletida e a radiação<br />

global incidente é designada albedo, ou poder refletor<br />

da superfície. Dessa maneira, determinou-se o<br />

albedo médio para cada cinco minutos ao longo do<br />

dia, tomando a razão entre as médias de 5 em 5<br />

minutos da radiação solar refletida e da radiação<br />

solar incidente, e o albedo médio diário para cada<br />

período, fazendo a razão entre os valores médios<br />

diários da radiação solar refletida e da radiação solar<br />

incidente, usando a equação (4):<br />

r = K↑ x 100 (4)<br />

K↓<br />

onde: r é o albedo (%); K↓, a radiação incidente;<br />

e K↑, a radiação refletida.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Nas figuras de 1 a 4 são apresentados gráficos<br />

representativos do comportamento médio diário<br />

dos componentes do balanço de radiação solar para<br />

os quatro períodos: inverno, primavera, verão e<br />

outono, respectivamente. Verificou-se, a partir das<br />

62 Junho • 2000


curvas de radiação global, que esta apresentou basicamente<br />

comportamento semelhante nos quatro<br />

períodos estudados, com valores máximos próximo<br />

às 11 horas, e em torno de 810; 1.100; 980 e 880<br />

W.m -2 para inverno, primavera, verão e outono, respectivamente.<br />

Pelo comportamento das curvas de<br />

radiação global, observou-se que em todos os períodos<br />

houve ao longo do dia presença de nebulosidade,<br />

tendo em vista que essas curvas apresentaram<br />

ligeiras variações. Em termos de incidência diária de<br />

radiação global, conforme pode ser observado na<br />

tabela 1, a primavera foi o período que apresentou a<br />

maior média (578,3 W.m -2 ), ao passo que o outono<br />

foi o período que registrou a menor média (488,0<br />

W.m -2 ). Os dados da tabela 1 também mostram que<br />

enquanto a máxima média instantânea diária da radiação<br />

global ocorreu na primavera (627,8 W.m -2 ), a<br />

menor foi observada no outono (308,5 W.m -2 ).<br />

Comparando a incidência da radiação global em<br />

todas as estações, percebe-se que os valores médios<br />

desta componente no inverno, verão e outono corresponderam<br />

a 86%, 90% e 84%, respectivamente,<br />

do obtido na primavera.<br />

Verifica-se ainda nas figuras de 1 a 4 que a<br />

radiação refletida pela superfície do solo apresentou<br />

valores máximos também em torno das 11 horas,<br />

atingindo 150; 220; 200 e 140 W.m -2 , para os períodos<br />

de inverno, primavera, verão e outono, respectivamente.<br />

Em termos de média diária, verificou-se<br />

que a radiação refletida instantânea apresentou o<br />

maior valor no período de primavera (124,5 W.m -2 ),<br />

enquanto a menor média foi registrada no outono<br />

(78,6 W.m -2 ). Comparando a radiação refletida pela<br />

superfície do solo na primavera com a radiação refletida<br />

nos demais períodos, verificou-se que, em<br />

média, nos períodos de inverno, verão e outono a<br />

radiação refletida representou respectivamente cerca<br />

de 70%, 90% e 63% daquela observada na primavera.<br />

Já em termos de albedo médio diário, verificou-se<br />

que o maior valor ocorreu no verão (21,7%),<br />

seguido de perto pelo da primavera (21,5%), logo<br />

depois pelo do inverno bem mais distante (17,7%) e,<br />

por último, pelo albedo do outono, o menor de<br />

todos (16,6%).<br />

Percebeu-se ainda que em todos os períodos,<br />

enquanto a radiação emitida pela superfície apresentou<br />

valores máximos médios em torno das 13<br />

horas, a radiação atmosférica atingiu os maiores<br />

valores médios após as 14 horas, o que indica uma<br />

dependência tanto do balanço de radiação de ondas<br />

curtas como do aquecimento da superfície e da<br />

atmosfera, respectivamente. Observando as figuras<br />

de 1 a 4, verifica-se que a radiação atmosférica apresentou<br />

uma variação bem mais pronunciada no<br />

período de verão do que nos demais. A radiação<br />

emitida pela superfície apresentou valores máximos<br />

médios em torno de 580; 670; 590 e 570 W.m -2<br />

nos períodos de inverno, primavera, verão e<br />

outono, respectivamente. Em termos de média para<br />

o período, a radiação emitida pela superfície apresentou<br />

o maior valor no verão (457,8 W.m -2 ) e o<br />

menor valor no inverno (434,0 W.m -2 ).<br />

A radiação líquida apresentou o comportamento<br />

diário sincronizado com a radiação global,<br />

com os máximos também ocorrendo em torno de<br />

11 horas, alcançando valores em torno de 560;<br />

660; 490 e 640 W.m -2 , nas estações de inverno, primavera,<br />

verão e outono, respectivamente. Analisando<br />

ainda os dados da tabela 1, constata-se que<br />

em termos do saldo de radiação médio diário, a primavera<br />

também foi o período que apresentou o<br />

maior valor (331,0 W.m -2 ), ao passo que o verão foi<br />

o período em que o saldo de radiação teve o menor<br />

valor (221,6 W.m -2 ). Os maiores valores do saldo de<br />

radiação registrados na primavera e no outono, em<br />

contraste com valores menores no inverno e no<br />

verão, são explicados por uma maior aproximação<br />

do ângulo de declinação do Sol nestes períodos do<br />

ano, com a latitude local 5º11’ S. Ou seja, em março<br />

e setembro os raios solares incidem mais perpendicularmente<br />

em Mossoró e, conseqüentemente,<br />

maior quantidade de radiação incide sobre a superfície<br />

local. Comparando o saldo médio de radiação<br />

observado no período da primavera com as médias<br />

dos demais períodos, verifica-se que enquanto o<br />

outono apresentou uma média praticamente igual a<br />

primavera (0,8% a menos), nos períodos de inverno<br />

e verão houve redução da energia líquida à superfície<br />

de 6% e 33%, respectivamente.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 59-66 63


Tab. 1. Médias instantâneas diárias, diárias máximas e diárias mínimas dos componentes do balanço de radiação em<br />

Mossoró, RN, para os quatros períodos estudados.<br />

Inverno<br />

PERÍODO<br />

Primavera<br />

Verão<br />

Outono<br />

MÉDIA<br />

PERÍODO<br />

K↓<br />

(W.m -2 )<br />

K↑<br />

(W.m -2 )<br />

L↑<br />

(W.m -2 )<br />

L↓<br />

(W.m- 2 )<br />

RN<br />

(W.m -2 )<br />

Diária 496,9 87,8 434,0 424,4 310,7<br />

Máxima 578,2 116,2 445,7 437,9 362,8<br />

Mínima 345,5 64,1 438,4 406,1 223,5<br />

Diária 578,3 124,5 435,1 429,3 331,0<br />

Máxima 627,8 136,5 444,9 446,0 358,1<br />

Mínima 419,5 88,7 428,2 405,5 241,2<br />

Diária 519,4 112,7 457,8 357,5 221,6<br />

Máxima 580,9 128,4 464,6 383,8 249,4<br />

Mínima 404,0 80,8 448,8 337,2 179,4<br />

Diária 488,0 78,6 456,6 447,5 328,5<br />

Máxima 557,5 95,1 464,4 454,6 398,0<br />

Mínima 308,5 46,7 445,9 437,4 212,0<br />

Fig. 1. Comportamento médio dos componentes do balanço<br />

de radiação solar para o período de inverno.<br />

Fig. 3. Comportamento médio dos componentes do balanço<br />

de radiação solar para o período de verão.<br />

Rn K↓ K↑ L↓ L↑<br />

Rn K↓ K↑ L↓ L↑<br />

Fig. 2. Comportamento médio dos componentes do balanço<br />

de radiação solar para o período de primavera.<br />

Fig. 4. Comportamento médio dos componentes do balanço<br />

de radiação solar para o período de outono.<br />

Rn K↓ K↑ L↓ L↑<br />

Rn K↓ K↑ L↓ L↑<br />

64 Junho • 2000


CONCLUSÕES<br />

Os resultados obtidos indicam que, dos quatros<br />

períodos aqui estudados, a primavera foi o que<br />

apresentou os maiores valores de todos os componentes<br />

do balanço de radiação solar incidente na<br />

superfície, exceto a radiação atmosférica máxima no<br />

período do outono, provavelmente em função de<br />

uma presença maior de nebulosidade durante este<br />

período. Por outro lado, a maior incidência de radiação<br />

global à superfície durante o período de primavera<br />

contribuiu para uma variação mais acentuada<br />

dos demais componentes do balanço de radiação<br />

neste período. Verificou-se ainda que nos períodos<br />

de inverno, verão e outono houve uma redução na<br />

média diária de radiação global incidente na superfície<br />

do solo em relação a primavera de 14%, 10% e<br />

16%, respectivamente. O saldo de radiação médio<br />

do período da primavera, comparado com o dos<br />

demais períodos, evidenciou que, enquanto no<br />

outono este parâmetro foi praticamente igual e no<br />

inverno menor apenas 6%, no verão teve uma redução<br />

bastante acentuada (33%). Finalmente, concluiu-se<br />

que em termos de albedo, concluiu-se que a<br />

primavera e o outono, mesmo sendo os períodos do<br />

ano que mais refletem radiação solar incidente,<br />

foram também os que proporcionam maior disponibilidade<br />

de energia líquida à superfície.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Engenharia Agronômica].<br />

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UFPB, Campina Grande, p. 95, 1996. [Dissertação de mestrado].<br />

LEITÃO, M.M.V.B.R. Balanço de Radiação e Energia numa Cultura de Soja Irrigada. DCA/CCT/UFPB, Campina Grande-PB,<br />

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MOURA, M.S.B. et al. Balanço de Radiação em Mossoró, RN, para Dois Períodos do Ano: equinócio de primavera e solstício<br />

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1999.<br />

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SILVA, B.B. da. Estresse Hídrico em Algodoeiro Herbáceo Irrigado Evidenciado pela Termometria Infravermelha. DCA/CCT/<br />

UFPB, Campina Grande, p. 139, 1994. [Tese de doutorado].<br />

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4 (2): pp. 137-141, 1997.<br />

TUBELIS, A. et al. Estimativa da Radiação Solar Global Diária em Botucatu, SP, a partir da Insolação Solar Diária. Pesquisa Agropecuária<br />

Brasileira, Brasília, v. 26, pp. 53-60, 1980.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 59-66 65


66 Junho • 2000


Aquisition and<br />

Characterization of<br />

Nepheline Glass-ceramic<br />

Obtenção e Caracterização de Vitrocerâmicos de Nefelina<br />

CRISTINA DONEDA GOMES <strong>DE</strong> BORBA<br />

Universidade Federal de Santa Catarina<br />

cris@pg.materiais.ufsc.br<br />

HUMBERTO RIELLA<br />

Universidade Federal de Santa Catarina<br />

riella@enq.ufsc.br<br />

ABSTRACT – Glass and nepheline glass-ceramics were obtained from Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 system using additives and<br />

nucleating agents like TiO 2 , ZrO 2 , SnO 2 e ZnO. Factorial design was used to determine optimal content of nucleating<br />

agents. The melt was performed at 1.600ºC and different contents of nepheline phase were obtained by a crystallization<br />

process. X-ray diffraction, differential thermal analysis and scanning electronic on microscopy on used to characterize<br />

glass and glass ceramics. The results showed that TiO 2 and ZnO, when together, decrease the melting viscosity and treatment<br />

temperatures, producing a refined microstructure.<br />

Keywords: GLASS-CERAMIC – NEPHELINE – NUCLEATING AGENT.<br />

RESUMO – Foram obtidos vidros e vitrocerâmicos de nefelina a partir do sistema Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 , utilizando diferentes<br />

aditivos e agentes nucleantes: TiO 2 , ZrO 2 , SnO 2 e ZnO. A quantidade ótima de agente nucleante em cada composição<br />

foi determinada mediante modelamento fatorial. A fusão foi realizada a 1.600ºC e os tratamentos de nucleação e crescimento<br />

foram realizados de forma a obter amostras com diferentes teores de fase nefelina. As técnicas de caracterização<br />

utilizadas foram: difração de raios-X, análise térmica diferencial e microscopia eletrônica de varredura. Os resultados<br />

mostraram que TiO 2 e ZnO adicionados juntos diminuem a viscosidade de envase. Além disso, diminuem as temperaturas<br />

de tratamento térmico e favorecem a cristalização do vidro, refinando a microestrutura do vitrocerâmico.<br />

Palavras-chave: VITROCERÂMICO – NEFELINA – AGENTE NUCLEANTE.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 67-74 67


INTRODUCTION<br />

Glass-ceramics are defined as polycrystalline<br />

materials, with residual amorphous phase,<br />

obtained from glass melting and controlled<br />

crystallization (Strnad, 1984). These materials are<br />

interesting because of their specific properties and<br />

use in various fields. Its properties originate from<br />

the parent glass composition and the microstructure<br />

control that can be manipulated during crystallization<br />

heat treatment. An important advantage of<br />

glass-ceramics over crystalline materials is the capacity<br />

to produce complex shapes. Another advantage,<br />

when compared to sintered powder materials, is the<br />

absence of pores in the structure. The strength and<br />

toughness of glass-ceramic are usually higher than<br />

those of the parent glass. Both properties of glass<br />

and glass-ceramic can be controlled by adjusting the<br />

composition in order to match the thermal expansion<br />

coefficient.<br />

During the last three decades glass-ceramics<br />

containing nepheline (Na 3 KAl 4 Si 4 O 16 ) as crystalline<br />

phase have been developed for several uses such<br />

as: material for coating spaceships, dental prostheses,<br />

tableware, dinnerware and material resistant to<br />

acids (MacDowell, 1984; Volf, 1984).<br />

Studies on nepheline glass-ceramics (Duke,<br />

1971; MacDowwell, 1982; Megles, 1972) indicated<br />

the optimal range inside the phase diagram<br />

Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 and the efficiency of TiO 2 ,<br />

ZrO 2 , ZnO, SnO 2 and Rb 2 O as additive and nucleating<br />

agents. Additionally, the simultaneous use of<br />

TiO 2 with other nucleating agent presented significant<br />

modifications in the microstructure and in the<br />

properties such as: rupture module, density and<br />

thermal expansion coefficient.<br />

In this work, nepheline glass-ceramic was<br />

obtained from raw mineral materials. Factorial<br />

design methodology was used to study the optimal<br />

amount of the nucleating agents. It was also used to<br />

minimize the number of heat treatment experiments<br />

and to verify the influence of the nucleation<br />

temperature, holding time of crystal growth and<br />

growth temperature (Montgomery, 1984).<br />

EXPERIMENTAL PROCEDURE<br />

The raw materials used in the glass compositions<br />

were: nepheline (a mineral containing the<br />

phases nepheline, microline and albite feldspars),<br />

sodium carbonate, alumina, TiO 2 , ZrO 2 , SnO 2 and<br />

ZnO. Glass compositions were established in<br />

nepheline stoichiometric composition. In figure 1 of<br />

the phase diagram Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 (Levin et al.,<br />

1974), we can see the nepheline composition:<br />

21,82% Na 2 O, 35,89% Al 2 O 3 and 42,29% SiO 2 in<br />

weight. To reach this composition, the sum of 8,1%<br />

of Na 2 O and 8,3% of K 2 O, in weight, originating<br />

from the nepheline, was considered as 16,4% of<br />

Na 2 O. The addition of sodium carbonate was necessary<br />

for the correction of Na 2 O, since the stoichiometric<br />

proportion of Na:K in the nepheline was<br />

3:1. Table 1 shows V1 containing TiO 2 and ZrO 2 ,<br />

V2 containing TiO 2 and SnO 2 and V3 containing<br />

TiO 2 and ZnO. The additive values mentioned in<br />

the literature were used in V1, V2 and V3 (Duke,<br />

1971; Megles, 1972).<br />

The mixtures were melted at 1.600ºC for 2<br />

hours in an alumina crucible, at an electric laboratory<br />

furnace, with a heating rate of 10ºC/min.<br />

The optimal amount of nucleating agents for<br />

each one of the compositions V1, V2 and V3 was<br />

studied through a factorial design 3 2 : 2 variables in<br />

3 levels. The two variables were: TiO 2 and ZrO 2<br />

contents for V1, TiO 2 and SnO 2 contents for V2<br />

and TiO 2 and ZnO contents for V3. Each additive<br />

was tested in 3 levels: low, medium and high,<br />

according to table 2. In this design, composed of 9<br />

experiments for each composition, a block of 3<br />

experiments only, was performed, with the other 2<br />

combinations of the first block. Table 2 shows the<br />

glass compositions in weight.<br />

Transparency, color, homogeneity and viscosity<br />

were the parameters used to choose the best<br />

compositions: V11, V20 and V31 (tab. 1).<br />

Powdered samples of V11, V20 and V31<br />

were characterized through differential thermal<br />

analysis (DTA) to find the vitreous transition range<br />

and the crystallization temperature (T C ) (fig. 2).<br />

Temperature values of vitreous transition (T g ) and<br />

TC were used for heat treatment, performed<br />

through factorial design 3 3 . In the design 3 3 , composed<br />

of 27 different combinations, a block of 9<br />

experiments only was performed. The parameters<br />

studied were: nucleation temperature (T N ), holding<br />

68 Junho • 2000


time of crystal growth (t C ) and growth temperature<br />

(T C ), while the nucleation holding time (t N ) was<br />

maintained constant. Table 3 displays an outline of<br />

the 9 testssals performed for each of the 3 glasses: A,<br />

B, C, D, E, F, G, H and I, and, in table 4, the low,<br />

medium and high values are presented. Monolithic<br />

glass samples were inserted in the oven for the crystallization<br />

process during the holding time.<br />

X-ray diffraction of the glasses and glassceramics<br />

was performed in monolithic samples,<br />

using Philips Xpert equipment (Cu K α radiation).<br />

The X-ray patterns presented in figures 3, 4 and 5<br />

are relative to the glasses and glass-ceramics V11,<br />

V20 and V31, respectively. The samples were<br />

etched with oxalic acid for the microstructure analysis,<br />

performed in a scanning electron microscope<br />

(SEM) (fig. 6 and 7).<br />

RESULTS AND DISCUSSIONS<br />

Table 1 shows the studied glass compositions,<br />

where V2 and V3 compositions are suitable for region<br />

rich in alkali in figure 1, and V1 composition is rich in<br />

former oxide. Glasses from Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 system<br />

have high melting viscosity, which was the criterion<br />

used to define the optimal work range. Other compositions<br />

of this diagram, suggested by Tashiro (1977)<br />

and Duke (1977), were also considered regarding the<br />

same criterion, but did not achieve good results. The<br />

parameters used to compare glass compositions were<br />

molar proportions among the following oxides: formers,<br />

modifiers and intermediates. The proportion of<br />

SiO 2 /(Na 2 O+K 2 O) was 2,17 for V1 and 1,78 for V2<br />

and V3, while the molar proportion of SiO 2 /Al 2 O 3<br />

was 0,79 for V1 and 0,64 for V2 and V3. In other<br />

words, V1 is richer in the forming oxide SiO 2 than V2<br />

and V3.<br />

Fig. 1. Compositions studied on phase diagram Na 2 O-Al 2 O 3 -SiO 2 .<br />

Fases cristalinas:<br />

Quartzo – SiO2<br />

Tridimita – SiO2<br />

Cristobalita – SiO2<br />

Corundum – AI203<br />

Mulita – 3 AI203. 2SiO2<br />

Albita – Na2O. AI203. 6SiO2<br />

Nefelina – Na2O. Ai203. 2SiO2<br />

Carnegieite – Na2O. AI203. 2SiO2<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 67-74 69


As shown in figure 1, Duke (1973) defined<br />

the work range as a hexagon centered in the stoichiometric<br />

composition, while Megles (1972) worked<br />

in richer regions of SiO 2 . Formulations with more<br />

Al 2 O 3 tend to present smaller melt viscosity. It<br />

occurs due to an increase of the proportion<br />

Al 2 O 3 :Na 2 O and the amount of Al ions increases<br />

with coordination 6, until Al 2 O 3 :Na 2 O 1:1 composition,<br />

where only coordination 4 occurs. In other<br />

words, until the same molar proportion, Al 2 O 3 acts<br />

as glass forming, and from this point it acts as a<br />

modifier, reducing the viscosity and increasing the<br />

density of the vitreous system (Volf, 1984). Concentration<br />

of Al 2 O 3 around 30 wt%, resulting in a<br />

glass-ceramics of high dimensional stability, even<br />

when the working temperature reaches 1.200ºC,<br />

although a concentration higher than 38% increases<br />

the liquidus temperature (Duke, 1973). The K +<br />

ion, when present in higher concentrations of 3<br />

wt%, has the role of developing transparent glasses<br />

and glass-ceramics. However when used in the<br />

same Na + ion concentrations does not help crystallization<br />

(Duke, 1973).<br />

It was observed that it is indispensable to<br />

introduce at least one nucleating agent for crystallization<br />

of this glass system. TiO 2 was used in all of<br />

the 3 glasses, since its action as nucleating agent is<br />

known. Formulations containing only TiO 2<br />

reduced the melt viscosity when present in concentrations<br />

above 10%. On the other hand, when TiO 2<br />

acts together with ZnO or SnO 2 , the viscosity<br />

decreases with smaller amounts of the additive.<br />

TiO 2 used together with ZnO or SnO 2 favor the<br />

acquisition of more transparent glasses than those<br />

ones produced with TiO 2 and ZrO 2 .<br />

The results, referring to the additive behavior,<br />

are in accordance with the literature (Duke, 1973).<br />

This demonstrates the efficiency of using two or<br />

more additives to decrease the viscosity, to refine the<br />

microstructure and to increase the crystallinity. The<br />

additive can act in differentiated ways: as nucleating<br />

agents and as a microstructure refining agent; an<br />

overlap of these mechanisms can also acus. TiO 2 is a<br />

nucleating agent used in several systems in wide<br />

concentrations, although its performance is still discussed.<br />

In this system, TiO 2 can be introduced from<br />

5 to 15 wt% (Duke, 1973). The mechanism proposed<br />

by Beall (1982) for the nucleation is based on<br />

the following stages: (i) separation of the amorphous<br />

phase, forming islands rich in Ti, (ii) separation<br />

of anatase nuclei, (iii) nucleation of carnegeite<br />

metastable crystals (NaAlSiO 4 ) and (iv) transformation<br />

of the carnegeite in nepheline. ZrO 2 is usually<br />

used in contents that vary from 0,5 to 5%, with a<br />

solubility of 3,4% in silicate glasses which increase<br />

the viscosity of the vitreous system (Tashiro, 1977;<br />

and McMillan, 1964). SnO 2 can be introduced in<br />

contents from rarying 2 to 8% and ZnO from 1 to<br />

10% (Duke, 1973; Tashiro, 1977).<br />

The determination of the optimal amount of<br />

additive for the studied composition was necessary<br />

since an excessive amount of nucleating agent result<br />

in a coarse microstructure (Duke, 1973), while<br />

insufficient contents disfavor the homogeneity.<br />

Table 2 displays the additive levels introduced in the<br />

3 compositions V11, V20 and V31. All the additives<br />

were tested in 3 levels, except for ZrO 2 which was<br />

tested in only 2, due to the fact of increasing viscosity<br />

which is a process restriction property. The<br />

medium level of TiO 2 was adjusted for 4,5% in V3<br />

composition, because TiO 2 , when combined with<br />

ZnO, strongly reduces the viscosity in an accentuated<br />

way. The optimized compositions were the following:<br />

medium level for V1, low level for V2 and<br />

medium level for V3, orV11, V20 and V31, respectively.<br />

Tab. 1. Composition of the glasses (wt.%).<br />

V1 V11 V2 V20 V3 V31<br />

Na 2 O 8,49 8,79 10,66 11,97 11,84 11,38<br />

K 2 O 6,40 6,63 5,46 6,13 6,07 5,83<br />

CaO 1,18 1,22 1,00 1,13 1,11 1,07<br />

Al 2 O 3 30,33 31,40 32,41 36,41 36,00 34,60<br />

SiO 2 40,83 42,26 34,82 39,12 38,69 37,18<br />

TiO 2 10,22 7,16 10,44 3,15 3,15 5,23<br />

ZrO 2 2,55 2,56 – – – –<br />

SnO 2 – – 5,22 2,10 – –<br />

ZnO – – – – 3,15 4,71<br />

Tab. 2. Levels of nucleating agents contents.<br />

LOW MEDIUM HIGH<br />

TiO 2 3,0 7,0 10,0<br />

ZrO 2 2,0 2,5 2,5<br />

SnO 2 2,0 4,0 5,0<br />

ZnO 3,0 4,5 6,0<br />

70 Junho • 2000


Figure 2 shows the DTA curves of the glasses<br />

for V11, V20 and V31 compositions. The typical<br />

glass behavior is observed by a change of the slope<br />

line, indicating the interval of a vitreous transition,<br />

and the exothermal peak, indicating the crystallization<br />

temperature (T C ). The temperature medium<br />

value between the beginning and the end of the vitreous<br />

transition interval was assumed as Tg. The<br />

DTA glass curves for V11 presents a less intense and<br />

defined crystallization peak than for V20 and V30.<br />

Another observed fact is that the width of T C peak<br />

increases progressively from V20 to V31 and V11.<br />

DTA analysis, performed in monolithic samples,<br />

showed that T C peaks stayed the same temperature<br />

for the three glasses, reducing its height significantly.<br />

This proves that the increase of the superficial area<br />

did not influence the T C value, indicating the bulk<br />

crystallization mechanism. Tg and T C temperatures<br />

are: 705ºC and 871ºC for V11, 734ºC and 975ºC<br />

for V20 and 661ºC and 905ºC for V31, respectively.<br />

Fig. 2. DTA glass curves of V11, V20 and V31.<br />

hinder the microstructure control. In the other<br />

glasses, V20 and V31, the nucleation and crystallization<br />

events happened separately.<br />

Tab. 3. Experiments design for the thermal treatment.<br />

T C LOW T C MEDIUM T C HIGH<br />

t C low t C high t C medium<br />

T N low A<br />

B<br />

C<br />

t C medium t C low t C high<br />

T N medium D<br />

E<br />

F<br />

t C high t C medium t C low<br />

T N high G<br />

H<br />

I<br />

Tab. 4. Thermal treatment parameter values.<br />

LEVELS T N ( O C) t N (MIN) T C ( O C) t C (MIN)<br />

Low 775 30 850 30<br />

V11 Medium 795 30 930 60<br />

High 815 30 1008 120<br />

Low 800 15 925 15<br />

V20 Medium 820 15 975 30<br />

High 840 15 1000 60<br />

Low 730 15 860 15<br />

V30 Medium 750 15 905 60<br />

High 770 15 950 120<br />

DTA ( µ<br />

V)<br />

905 o C<br />

871 o C<br />

975 o C<br />

V31<br />

V22<br />

V11<br />

200 400 600 800 1000 1200<br />

Temperature o ( C)<br />

In order to obtain different contents of crystalline<br />

phase in glass-ceramics, designed experiments<br />

were condeted as described in tables 3 and 4.<br />

The thermal treatments were performed according<br />

to the criterion of nucleating the samples in temperatures<br />

superior than each glass Tg, in settled times.<br />

The crystal growth was done at T C and in temperatures<br />

immediately inferior and superior to T C , in<br />

variable times. Since glass V11 TC peak is broad<br />

and less intense, the values of T N and T C of the<br />

thermal treatment are close. This implicates in overlapping<br />

nucleation and crystallization events, which<br />

The sequences of the X-ray patterns presented<br />

in figures 3, 4 and 5 show the behavior of the glasses<br />

V11, V20 and V31 after heat treatments A, B, C, D,<br />

E, F, G, H and I. It is possible to observe that a crystalline<br />

phase did not occur in all treatments. However<br />

where it happened, the identified phase was<br />

nepheline (Na 3 K)Al 4 Si 4 O 16 (JCPDS 9-338). In this<br />

case, a preferential growth of the peaks relative to<br />

the orientations (002) and (004) was verified. Even<br />

in the initial crystallization stages the preferential<br />

growth in the axis “c” of the nepheline hexagonal<br />

structure occurred. The heat treatments performed<br />

in V11 did not enhance crystallization, except for<br />

V11-F (T N = 795oC; tN = 30 min; T C = 1.008ºC<br />

and t C = 120 min), as shown in the defined peaks<br />

of the X-ray pattern. DTA results (fig.1), where T C<br />

is not well defined, prove that glass V11 is hard to<br />

crystallize. But the sequences of the treatments in<br />

V20 and V31 characterize glass-ceramics with several<br />

crystallization stages, besides reaching high crystallinity,<br />

as in V20-F (T N = 820ºC; t N = 15 min;<br />

T C = 1.000ºC and t C = 60 min) and V20-H (T N<br />

= 840ºC; t N = 15 min; T C = 975ºC and t C = 30<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 67-74 71


min) and V31-I (T N = 770ºC; t N = 15 min; T C =<br />

950ºC and t C = 15 min).<br />

Fig. 3. X-ray patterns of glass V11 after the heat treatments<br />

A, B, C, D, E, F, G, H and I.<br />

Intensity (c.p.s.)<br />

20 25 30 35 40 45<br />

2 θ<br />

Fig. 4. X-ray patterns of glass V20 after the heat treatments<br />

A, B, C, D, E, F, G, H and I.<br />

Intensity (c.p.s.)<br />

20 25 30 35 40 45<br />

2θ<br />

Fig. 5. X-ray patterns of glass V31 after the heat treatments<br />

A, B, C, D, E, F, G, H and I.<br />

F<br />

I<br />

H<br />

G<br />

E<br />

D<br />

C<br />

B<br />

A<br />

H<br />

F<br />

I<br />

G<br />

E<br />

D<br />

C<br />

B<br />

A<br />

The microstructure analysis performed in the<br />

glass-ceramics samples showed the microstructure<br />

refinement. Figures 6 and 7 show glass V20 micrography<br />

after heat treatment F, where it is possible to<br />

verify the uniformity, high crystallinity and high<br />

density. The crystals are fine disks, shaped with 150<br />

nm diameter and thickness around 30 nm.<br />

In other samples with high crystallinity, V11 F<br />

and V31 I, analysis problems were found in SEM<br />

due to high resolution demanded in such refined<br />

microstructures. All the analyzed samples presented<br />

homogeneous bulk crystallization, a crystal formation<br />

front starting from the surface was not having<br />

been observed. These micrographs prove the mechanism<br />

of bulk crystallization and agree with the results<br />

obtained by DTA, where the powdered and monolithic<br />

samples presented the same values of T C .<br />

Another outstanding fact is the optical property<br />

of the material, relative to transparency. The<br />

glass-ceramics obtained from V20 and V31 are translucent,<br />

while those obtained from V11 are opaque.<br />

This fact can be correlated with the nucleating agent<br />

used, therefore ZrO 2 favors the opacity of the glass.<br />

In the present case, contents above 2,5% were<br />

responsible for non homogeneous samples after crystallization,<br />

in spite of literature indication of the ZrO 2<br />

ability in refining the microstructure. SnO 2 , used up<br />

to 3%, is indicated to favor transparent and brilliant<br />

glass-ceramics, while ZnO is indicated for microstructure<br />

refinement (Tashiro, 1977), according to<br />

the obtained results. The fact that the microstructure<br />

has nanoparticles can explain the samples translucence<br />

of the samples, since this property is accentuated<br />

by microstructure refinement.<br />

Fig. 6. Microstructure of glass V20-F, after heat treatment<br />

(T N = 820ºC; t N = 15 min; T C = 1.000ºC and t C = 60 min).<br />

I<br />

H<br />

Intensity (c.p.s.)<br />

G<br />

F<br />

E<br />

D<br />

C<br />

B<br />

A<br />

20 25 30 35 40 45<br />

2θ<br />

72 Junho • 2000


Fig. 7. Microstructure of glass V20-F, showing nepheline<br />

crystals with 150 nm diameter.<br />

CONCLUSIONS<br />

This study concluded that:<br />

• The use of nepheline, as a raw material, is viable<br />

for glass and glass-ceramics production.<br />

• Melting viscosity was the process parameter<br />

which defined the region around the stoichiometric<br />

composition of the nepheline for optimal<br />

working.<br />

• TiO 2 contents above 7% favor the crystallization<br />

during melting, being the optimization of<br />

nucleating agent an important stage of heat treatment<br />

control.<br />

• Among the nucleating agents used, TiO 2 and<br />

ZnO present better efficiency, reducing viscosity,<br />

promoting crystallization and resulting in translucent<br />

glass-ceramics.<br />

• Melting temperature at 1.600ºC can be considered<br />

high, but is compatible with industrial processes,<br />

if the temperature and time of thermal<br />

treatments are optimized.<br />

• Glass V11, with TiO 2 and ZrO 2 , presented<br />

overlapping of the nucleation and crystallization<br />

events, hindering crystalline phase control. The<br />

glasses V20 and V31, with TiO 2 and SnO 2 and<br />

TiO 2 and ZnO, respectively, showed that they<br />

can be obtained with several crystalline phase<br />

contents, depending on the thermal treatment<br />

used.<br />

• Factorial design proved to be a suitable tool to<br />

optimize the experiments, making possible the<br />

simultaneous study of the variables T N , T C and<br />

t C possible. The number of measurements was<br />

reduced from 27 to 9 through a block experimentation<br />

only.<br />

• The fact that glasses crystallize the nepheline<br />

phase only is a positive result which helps in the<br />

microstructure control.<br />

• The fine microstructure showed disk shaped<br />

crystals, with a medium diameter around 120<br />

nm and a thickness of 30 nm.<br />

• This refined microstructure was the result of<br />

several process parameters: (i) optimization of<br />

nucleating agent contents, (ii) use of two nucleating<br />

agents and (iii) simultaneous optimization<br />

of T N , T C and t C .<br />

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VOLF, M.B. Chemical Approach to Glass: Glass Science and Technology. Nova York: Elsevier Science Publishing Company,<br />

1984, v. 7.<br />

74 Junho • 2000


Propriedades Térmicas<br />

e Biodegradabilidade<br />

de PCL e PHB em<br />

um Pool de Fungos<br />

Thermal Properties and Biodegradability of<br />

PCL and PHB Submitted in Fungi Pool<br />

<strong>DE</strong>RVAL DOS SANTOS ROSA<br />

Universidade São Francisco<br />

derval@usf.com.br<br />

<strong>DE</strong>NISE FRANCO PENTEADO<br />

Universidade São Francisco<br />

denisefr@academico.ufs.com.br<br />

MARIA REGINA CALIL<br />

Universidade São Francisco<br />

mrcalil@ufs.com.br<br />

RESUMO – O uso de material polimérico vem crescendo na sociedade. Um grande número de aplicações foi sendo desenvolvido<br />

e fortemente relacionado à morfologia e a características mecânicas e térmicas dos materiais. No entanto, tal<br />

aumento de uso vem provocando sérios problemas ambientais. Este trabalho mostra alguns resultados relativos a mudanças<br />

nas propriedades térmicas – por exemplo, o ponto de fusão (Tm), entalpia de fusão (DHm) e cristalinidade (C) – de<br />

polímeros biodegradáveis, como o polihidroxibutirato (PHB) e a policaprolactona (PCL), quando submetidos à moldagem<br />

por compressão a quente e à biodegradação por um pool de microrganismos. Os resultados evidenciam que o processamento<br />

do material reduz a cristalinidade somente do PHB, ou seja, aumenta sua fase amorfa, fato que torna o<br />

polímero mais suscetível a permeação de água e ataques de microorganismos, conforme foi constatado no ensaio de biodegradabilidade<br />

em fungos. Por outro lado, não foram observadas mudanças nas propriedades térmicas do PCL.<br />

Palavras-chave: POLÍMERO – <strong>DE</strong>GRADAÇÃO – POLÍMERO BIO<strong>DE</strong>GRADÁVEL – PCL E PHB.<br />

ABSTRACT – The use of polymeric material has been growing in our daily life. A great number of applications has been<br />

developed and it is strongly related to the morphology, mechanical and thermal characteristics of the materials. However,<br />

its increase has been promoted serious environment problems. The aim of this work is to show some results concerning<br />

changes on the thermal properties – e.g. melting temperature (Tm), melting enthalpy (DHm) and crystallinity (C) – of<br />

biodegradable polymers, such as polyhydroxybutyrate (PHB) and polycaprolactone (PCL) molded by hot compression<br />

by high temperature and the biodegradation through a pool of microorganisms. The results allow concluding that the<br />

processing reduces the crystallinity of PHB, which it increases its amorphous phase, which makes it more susceptible to<br />

the water permeation and microorganisms attacks as we can see in biodegradation test with a pool of microorganisms.<br />

On the other hand, changes are not observed in the PCL thermal properties.<br />

Keywords: POLYMER – <strong>DE</strong>GRADATION – BIO<strong>DE</strong>GRADABLE POLYMER – PCL AND PHB.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 75-80 75


INTRODUÇÃO<br />

C<br />

onsiderando a extensão do uso de materiais<br />

poliméricos em produtos como canetas,<br />

conectores telefônicos, embalagens e revestimentos<br />

de equipamentos eletrônicos, é difícil imaginar<br />

o mundo hoje em dia sem a presença dos<br />

plásticos. Porém, o plástico convencional apresenta<br />

taxas de degradação extremamente baixas, podendo<br />

gerar problemas sérios à manutenção do equilíbrio<br />

ambiental. Grande quantidade de lixo plástico acumula-se<br />

dia após dia, pondo em risco as relações existentes<br />

em ecossistemas terrestres e aquáticos (Rosa &<br />

Carraro, 1999). Alternativas são procuradas com o<br />

objetivo de substituir o polímero convencional por<br />

materiais mais compatíveis com a filosofia de preservação<br />

ambiental.<br />

Um das soluções encontradas é inserir o polímero<br />

biodegradável no mercado de plásticos.<br />

Alguma pesquisa inicial nesse campo tem sido<br />

incentivada, por suas aplicações potenciais na área<br />

biomédica. Atualmente, a necessidade de reduzir a<br />

quantidade de resíduos plásticos descartada no meio<br />

ambiente tem revelado a área de polímeros biodegradáveis<br />

como de grande interesse entre os investigadores<br />

(Scott & Gilead, 1995). Do ponto de vista<br />

científico, o polímero biodegradável é definido<br />

como plásticos cuja degradação resulta primariamente<br />

da ação de microrganismos de ocorrência<br />

natural, entre eles, bactérias, fungos ou algas. Materiais<br />

como compostos de amido, polivinil álcool,<br />

polilactatos e polihidroxibutirato são exemplos de<br />

polímeros biodegradáveis.<br />

Testes de biodegradabilidade foram desenvolvidos<br />

a fim de quantificar a capacidade de os microorganismos<br />

degradarem esses polímeros. Métodos<br />

padronizados para investigar a biodegradação de<br />

plásticos sob condições de laboratório foram publicados<br />

pela American Society for Testing and Materials<br />

(ASTM). As aplicações concretas desses polímeros<br />

relacionam-se firmemente às características mecânicas<br />

e à morfologia do material. Cabe também aqui<br />

considerar que esses materiais podem ser degradados<br />

em um pequeno período de tempo, dependendo da<br />

condição em que são expostos. Sabe-se que, durante<br />

o processamento, os polímeros são fundidos e moldados<br />

a um formato desejado e, assim, podem sofrer<br />

certa degradação causada pela temperatura e por forças<br />

mecânicas às quais o material é submetido.<br />

A degradação induzida por cisalhamento e a<br />

degradação térmica, provenientes do processamento,<br />

podem causar alterações na morfologia e nas características<br />

mecânicas do material puro (Barak, 1991).<br />

Comparando as propriedades físicas do polímero,<br />

antes e após o processamento, pode-se inferir sobre<br />

suas aplicações e até mesmo construir modelos capazes<br />

de predizer se ele irá sofrer ou não degradação<br />

biológica (Chiellini & Solaro, 1996). A determinação<br />

da relação entre a fração cristalina/amorfa fornece<br />

informações relativas a densidade, dureza e resistência<br />

mecânica e térmica, como também elasticidade,<br />

maciez e flexibilidade do polímero (Mano, 1985). A<br />

cristalinidade, definida como um “arranjo ordenado<br />

e uma repetição regular de estruturas atômicas ou<br />

moleculares no espaço”, pode ser indiretamente<br />

medida por uma análise de DSC (Calorimetria<br />

Exploratória Diferencial). Esse método de análise térmica<br />

consiste em submeter a amostra a uma variação<br />

programada de temperatura e, com base nisso, a<br />

quantia de energia medida será aquela necessária para<br />

manter a amostra, bem como o material inerte de<br />

referência, na mesma temperatura (Raghavan, 1995).<br />

Entre os polímeros biodegradáveis, o polihidroxibutirato<br />

(PHB) é um dos que tem atraído mais<br />

a atenção dos pesquisadores. Essa substância é produzida<br />

pela bactéria Alcaligenes eutrophorus, que a<br />

acumula sob a forma de grânulos intracelulares a<br />

partir de substâncias como a glicose e a sacarose. O<br />

polímero é completamente degradado, gerando<br />

CO 2 e convertido à biomassa por bactérias, fungos<br />

e leveduras. Há muitas aplicações para esse polímero<br />

biodegradável, seja na indústria de embalagens,<br />

na agricultura, seja em áreas médicas,<br />

especialmente na ortopedia. Um segundo polímero<br />

biodegradável que vem sendo bastante estudado é a<br />

policaprolactona (PCL), um poliéster alifático cuja<br />

aplicação está sendo investigada particularmente no<br />

contexto de sistemas de liberação de drogas (Chiellini<br />

& Solaro, 1996). Acredita-se que, no solo, enzimas<br />

extracelulares sejam as responsáveis por<br />

quebrar as extensas cadeias de PCL antes que os<br />

microorganismos tenham a capacidade de assimilar<br />

o polímero.<br />

76 Junho • 2000


Alguns trabalhos têm sido feitos com diferentes<br />

microorganismos visando verificar a biodegradabilidade.<br />

A capacidade de microorganismos que<br />

degradam lignina para atacar plásticos degradáveis<br />

foi investigada em frasco de cultura com agitação<br />

(Lee, 1991). O plástico degradável usado foi produzido<br />

comercialmente por Polylean Archer-Daniel-<br />

Midland, contendo pró-oxidante e 6% de amido.<br />

Nesse experimento foram usadas as bactérias Streptomyces<br />

virisosporus T7A, S. badius 252 e S. setonii<br />

75Vi2 e o fungo Phanerochaete chfysosporium,<br />

conhecidos como degradantes de lignina. A atividade<br />

pró-oxidante foi acelerada colocando-se um<br />

filme polimérico em um forno seco a 70˚C sob<br />

pressão atmosférica por 0, 4, 8, 12, 16 ou 20 dias.<br />

Também foi investigado o efeito da luz ultravioleta<br />

365 nm por 2, 4 e 8 semanas na biodegradabilidade<br />

do plástico.<br />

Para o teste nos frascos de cultura, os plásticos<br />

foram desinfetados quimicamente e incubados com<br />

agitação a 125 rpm a 37˚C em meio de cultura com<br />

0,6% de extrato de levedura (pH = 7,1) para as<br />

espécies de Streptomyces e a 30˚C em meio com<br />

3% de extrato de malte (pH = 4,5) para a linhagem<br />

de fungo durante 4 semanas, juntamente com um<br />

controle sem inóculo para cada tratamento. Os<br />

resultados da perda de massa foram inconclusivos<br />

em razão do acúmulo de massa proveniente do crescimento<br />

dos microorganismos. Os filmes tratados<br />

com irradiação da luz ultravioleta por 2 e 4 semanas<br />

mostraram maior biodegradação para todas as três<br />

bactérias. Para a linhagem de fungo nenhuma degradação<br />

foi visualmente observada.<br />

Leonas & Gorden (1996) estudaram os efeitos<br />

do ataque bacteriano na degradação de filmes<br />

plásticos sob condições simuladas de ambientes aquáticos.<br />

Seis diferentes tipos de plásticos bio e fotodegradáveis<br />

foram colocados em aquário e expostos à<br />

luz UVA. Nesse trabalho, polietileno de baixa-densidade,<br />

copolímeros de polietileno, poliestireno e<br />

polietileno +6% amido de milho foram expostos<br />

em ambientes aquáticos e a populações bacterianas<br />

e a resistência à tração foi acompanhada paralelamente<br />

à degradação dos filmes plásticos. Os polímeros<br />

biodegradáveis, descritos brevemente acima,<br />

possuem um campo de aplicação potencial muito<br />

extenso, dentro das exigências de uso de baixo<br />

tempo de vida, como embalagens em geral, “recipiente”<br />

que envolve as mudas na agricultura, entre<br />

outras utilizações (Scott & Gilead, 1995).<br />

Destaca-se, dessa forma, a relevância dessas<br />

considerações, baseadas no princípio da melhoria da<br />

qualidade de vida como uma necessidade e preocupação<br />

cada vez mais presentes. Nesse estudo foram<br />

selecionados dois tipos de polímeros biodegradáveis:<br />

o polihidroxibutirato (PHB) e a policaprolactona<br />

(PCL), dos quais procurou-se monitorar as propriedades<br />

térmicas dos materiais originais e após o processamento<br />

de moldagem por compressão.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Materiais<br />

As amostras usadas nesse trabalho foram o<br />

PHB, da Copersucar S.A., e o PCL do tipo P-767,<br />

da Union Carbide, com índice de fluidez 1,9 ± 0,3<br />

(ASTM D-1238) e densidade 1,14g/cm 3 , originalmente<br />

obtidas em forma de pó e “pellets”, respectivamente.<br />

Como controle utilizou-se o polietileno de<br />

baixa densidade (PEBD), da Union Carbide.<br />

Análises Térmicas<br />

As análises térmicas foram feitas em triplicata,<br />

usando equipamento da TA Instruments Modelo<br />

DSC 2000. Os polímeros originais e processados (7-<br />

11 mg) foram aquecidos até a fusão em “panelas”<br />

de alumínio padrão. A taxa de aquecimento foi de<br />

10,0ºC/min. e a corrida foi realizada na faixa de<br />

temperatura de 50ºC até 350ºC para PCL, e de<br />

50ºC até 250ºC, para o PHB. O instrumento foi<br />

calibrado com o elemento químico índio (Tm =<br />

156,4ºC, ∆Hm = 28,47 kJ/kg).<br />

As amostras foram processadas pelo método<br />

de moldagem por compressão, usando-se uma temperatura<br />

do molde de 205ºC para o PHB e 95ºC<br />

para o PCL e uma pressão de 5 toneladas por 5<br />

minutos para ambos o polímeros.<br />

Para calcular a cristalinidade dos materiais, o<br />

calor de fusão do polímero 100% cristalino foi<br />

extraído da literatura (∆H 0 PHB = 146,0 J/g and<br />

∆H 0 PCL = 81,6 J/g ) (Chiellini & Solaro, 1996).<br />

Microorganismos<br />

Aspergillus niger (ATCC 9642), Penicillium<br />

pinophillum (ATCC 9644), Chaetomium globosum<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 75-80 77


(ATCC 6205), Aerobasidium pullulans (ATCC<br />

15233) e Gliocadium virens (ATCC 9645). O G.<br />

virens foi obtido do Instituto Adolfo Lutz e os<br />

outros microorganismos, adquiridos da Coleção de<br />

Culturas da Fundação Tropical André Tosello.<br />

Inóculo<br />

As linhagens dos microrganismos acima especificadas<br />

cresceram separadamente em um meio<br />

apropriado a 28ºC, durante duas semanas. As suspensões<br />

de esporos foram obtidas colocando-se 10<br />

ml de uma solução 0,5% (m/v) de Tween 80 numa<br />

Placa de Petri e os esporos foram cuidadosamente<br />

removidos com uma alça de Drigalsky. Os esporos<br />

foram vertidos em um frasco Erlenmeyer de 125<br />

ml, previamente esterilizado, contendo 45 ml de<br />

água esterilizada e de 10 a 15 pérolas de vidro, de 5<br />

mm em diâmetro, e, então, agitado vigorosamente.<br />

As suspensões foram filtradas em lã de vidro e, em<br />

seguida, centrifugadas. O sobrenadante foi descartado<br />

e o resíduo resuspenso em 50 ml de água esterilizada.<br />

Os esporos obtidos a partir de cada um dos<br />

fungos foram lavados dessa maneira por três vezes. A<br />

suspensão final teve o número de esporos contados<br />

microscopicamente com o auxílio de uma câmara de<br />

Newbauer (hematímetro) e, quando necessário, diluídos,<br />

para obter 10 6 ± 10 5 esporos/ml.<br />

Mistura das Suspensões de Esporos dos Fungos<br />

– A operação mencionada acima foi feita para<br />

cada organismo usado no teste e volumes iguais da<br />

suspensão de esporos resultante foram misturados<br />

para se obter a suspensão final de esporos.<br />

profundidade com meio de cultura. Em seguida, a<br />

superfície foi inoculada com a suspensão contendo a<br />

mistura de esporos, de forma que toda a superfície<br />

foi umedecida. As placas foram incubadas em estufas<br />

reguladas a 28ºC de temperatura e 85% de umidade<br />

relativa durante 28, 42 e 63 dias. Foram feitas<br />

três repetições/amostra para cada tempo de incubação<br />

especificado (28, 42 e 63 dias). A quantidade de<br />

meio de cultura não foi aletrada no decorrer do<br />

experimento. Como controle, foi utilizado um polímero<br />

não biodegradável, o polietileno.<br />

RESULTADOS<br />

As curvas típicas obtidas por Calorimetria<br />

Exploratória Diferencial (DSC) para o PCL e PHB<br />

original e após o processamento são mostradas nas<br />

figuras 1 e 2, respectivamente.<br />

Fig. 1. Curva de DSC do PCL original (a) e processado (b).<br />

Meio de cultura<br />

O meio de cultura usado foi preparado com a<br />

seguinte composição (por litro): KH 2 PO 4 , 0,7g;<br />

MgSO 4 .7H2O, 0,7g; NH 4 NO 3 , 1,0g; NaCl,<br />

0,005g; FeSO 4 .7H 2 O, 0,002g; ZnSO 4 .7H 2 O,<br />

0,002g; MnSO 4 .H 2 O, 0,001g; K 2 HPO 4 , 0,7g;<br />

Agar, 15,0g. O pH foi ajustado a 6,5 com adição de<br />

0,001N NaOH, quando necessário.<br />

Inoculação<br />

Os filmes poliméricos de PHB, PCL e PEBD<br />

foram colocados na superfície das placas de Petri<br />

esterilizadas contendo uma camada de 3 a 6 mm de<br />

Na tabela 1 são mostrados os resultados da<br />

Análise Térmica, obtidos por DSC. A porcentagem<br />

de cristalinidade foi calculada a partir dos dados do<br />

calor de fusão.<br />

78 Junho • 2000


Fig. 2. Curva de DSC do PHB original (a) e processado (b).<br />

Tab. 1. Valores médios das propriedades térmicas e morfológicas<br />

do PCL e PHB, puro e processado, e<br />

seus respectivos desvios-padrão, com 95% de<br />

confiança.<br />

AMOSTRA<br />

TEMPERA-<br />

TURA <strong>DE</strong><br />

FUSÃO (º C)<br />

CALOR <strong>DE</strong><br />

FUSÃO (J/G)<br />

CRISTALINI-<br />

DA<strong>DE</strong> TOTAL<br />

(%)<br />

PCL original 68,5 ± 0,7 82,2 ± 1,7 58,9 ± 1,6<br />

PCL processado 65,6 ± 0,6 78,2 ± 5,8 56,0 ± 0,7<br />

PHB original 179,9 ± 1,8 104,9 ± 4,5 71,9 ± 4,5<br />

PHB processado 177,8 ± 0,8 86,2 ± 4,3 59,1 ± 3,6<br />

Na tabela 2 são mostrados os resultados da<br />

perda de massa obtidos com o PHB e PCL quando<br />

submetidos ao pool de fungos.<br />

Tab. 2. Variação da massa (%) dos polímeros durante o<br />

tempo do bioensaio.<br />

POLÍMEROS PERDA <strong>DE</strong> MASSA (%)<br />

28 dias 42 dias 63 dias<br />

PHB 10,29 17,67 40,39<br />

PCL 1,21 1,32 2,12<br />

LDPE (controle) 0,42 0,36 0,21<br />

DISCUSSÃO<br />

Analisando-se as curvas de DSC do PHB original,<br />

como ilustrado na figura 2(a), nota-se a existência<br />

de ombros prévios do pico de fusão, fato que<br />

pode indicar a presença de cadeias poliméricas<br />

menores do que a massa molar média. Esse comportamento<br />

não é observado no mesmo material<br />

depois de seu processamento, ou seja, verifica-se<br />

apenas um pico de fusão a uma temperatura ligeiramente<br />

inferior. Percebe-se que o processamento<br />

gera um valor mais baixo do calor de fusão e da cristalinidade<br />

total do PHB processado quando comparado<br />

com a amostra original. O PCL não apresenta<br />

alterações significativas relativas à cristalinidade,<br />

antes e após ser processado, e o mesmo comportamento<br />

é observado em relação aos valores do calor<br />

de fusão do material (figura 1 e tabela 1). Porém,<br />

houve uma redução de 3,0ºC na temperatura de<br />

fusão média do PCL, o que pode ser atribuído às<br />

condições de processamento do polímero.<br />

Observa-se que, no caso de PHB, as formas de<br />

degradação provenientes do processamento são<br />

capazes de alterar a cristalinidade desse material e<br />

diminuem a fração cristalina, aumentando, por conseqüência,<br />

a fração amorfa. Essas mudanças estruturais<br />

podem trazer um aumento na elasticidade e na<br />

flexibilidade, como também uma diminuição de<br />

densidade, rigidez, resistências mecânica e térmica e<br />

a ataques de solventes. A diminuição da resistência à<br />

dissolução em solventes pode gerar uma capacidade<br />

maior de permeação da água na fração amorfa, facilitando<br />

com isso o ataque dos microorganismos aos<br />

polímeros. 2,5 O PHB mostrou-se mais susceptível<br />

ao ataque por fungos do que o PCL. Por conseguinte,<br />

a perda de massa é maior no PHB, se comparado<br />

ao PCL, como pode ser constatado na tabela<br />

2, que revela 10% de perda de massa em 28 dias e<br />

40% de perda de massa em 63 dias para o PHB.<br />

Com relação ao PCL, os resultados foram: 1,21%<br />

perda de massa em 28 dias e 2,12% em 63 dias.<br />

CONCLUSÕES<br />

A caracterização térmica e das propriedades<br />

morfológicas do PHB e do PCL indica a possibilidade<br />

de estabelecer campos potenciais de aplicações<br />

para os polímeros biodegradáveis estudados, por<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 75-80 79


exemplo em embalagens, em que a flexibilidade é<br />

uma característica desejada.<br />

O processamento do PHB diminuiu a cristalinidade<br />

desse material em 17,8%, evidenciando uma<br />

facilitação ao ataque dos microorganismos sobre o<br />

polímero processado quando comparado com a<br />

amostra original. Uma evidência desse fato é que a<br />

média de perda de massa em 63 dias foi de 40,4%.<br />

Para o PCL, não houve alteração significativa em<br />

relação ao mesmo parâmetro.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Agradecimentos<br />

A José Sebastião de Sá, Edson Teixeira e Paulo C. Porta<br />

Nova, da Union Carbide, e a Roberto Nonato, da<br />

Copersucar S. A., por suas colaborações.<br />

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São<br />

Paulo (FAPESP) pelo incentivo, através do Projeto – Processo<br />

1999 / 10.716-4.<br />

BARAK, P. et al. Organic Chemicals in The Environment – Biodegradability Of Polyhidroxybutyrate (Co-Hydroxyvalerate) And<br />

Starch – Incorporeted Polyethylene Plastic Films In Soil. J. Environ. Qual., v. 20, pp. 173-179, 1991.<br />

CHIELLINI, E. & SOLARO, R. Biodegradable Polymeric Materials. Advanced Materials, 8 (4): 305-313, 1996.<br />

LEE, B. et al. Biodegradation of Degradable Plastic Polyethylene. Phanerochaete and Streptomyces species Applied and Environmental<br />

Microbiology, 57 (3): 678-685, 1991.<br />

LEONAS, K.K & GOR<strong>DE</strong>N, R.W. Bacteria Associated with Desintegrating Plastics Films Under Simulated Aquatic Environments.<br />

Bull Environ. Contam.Toxicol, v. 56, pp. 948-955, 1996.<br />

MANO, E.B. Introdução a Polímeros. São Paulo: Edgard Blücher, p. 111, 1985.<br />

RAGHAVAN, D. Characterization of Biodegradable Plastics. Polym. Plast. Technol. Eng., 34 (1): 41-63, 1995.<br />

ROSA, D.S. & CARRARO, G. Avaliação de Plásticos Biodegradáveis sob Envelhecimento Acelerado em Solo com Diferentes pH.<br />

5.º Congresso Brasileiro de Polímeros, ABPOL, Águas de Lindóia, 1999.<br />

ROSA, D.S. Correlation among Accelerated and Natural Agings of PPi [Thesis of Doctorate. Program of Masters degree of Unicamp,<br />

1996].<br />

SCOTT, G. & GILEAD, D. Degradable Polymers Principles and Application. Londres: Chapman & Hall, 1995.<br />

À fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de<br />

São Paulo (FAPESP) pelo incentivo, através do Projeto<br />

– Processo 1999/10.716-4.<br />

80 Junho • 2000


Métodos Eficientes<br />

para a Transformação<br />

Genética de Plantas<br />

Efficient Methods for Genetic Plants Transformation<br />

ELIANE ROMANATO SANTARÉM<br />

Universidade de Cruz Alta<br />

Santarem@azcomnet.com.br<br />

RESUMO – A tecnologia de transferência de genes tem criado novas alternativas para a produção de plantas mais adaptadas<br />

ao ambiente de cultivo e com maior capacidade de produção. Os métodos utilizados na produção de plantas geneticamente<br />

modificadas podem ser classificados como diretos e indiretos. Os métodos diretos são aqueles que provocam<br />

modificações nas paredes e membranas celulares para introdução de DNA exógeno, através de processos físicos ou químicos.<br />

Entre eles, os mais eficientes são a eletroporação de protoplastos, a transformação mediada por PEG e o bombardeamento<br />

de partículas. O método indireto requer a utilização de um vetor biológico para a introdução do DNA na<br />

planta. Os vetores mais utilizados são a Agrobacterium tumefaciens e rhizogenes, patógenos vegetais com a capacidade de<br />

transferir parte de seu DNA para o genoma da planta. A transferência de genes mediada por agrobacterium tem sido bastante<br />

empregada, em razão de sua conveniência e da alta probabilidade de integração de uma ou poucas cópias do gene<br />

introduzido. Plantas transgênicas têm sido produzidas nas principais espécies cultivadas e levadas ao mercado consumidor,<br />

expressando aumento da qualidade nutricional ou resistência a herbicidas, insetos ou fungos.<br />

Palavras-chave: AGROBACTERIUM – BIOBALÍSTICA – ELETROPORAÇÃO – PLANTAS TRANSGÊNICAS – TRANSFORMAÇÃO GENÉ-<br />

TICA.<br />

ABSTRACT – The available gene transfer systems have been able to generate new plant varieties, better adapted to the<br />

environment and exhibiting improved crop productivity. The production of transgenic plants relies on the use of physical/chemical<br />

or biological means to introduce the transgene into the plant cells. Physical/chemical methods cause modifications<br />

to cell walls and plasma membranes, and foreign DNA is then delivered into the cell. Electroporation, PEGmediated<br />

transformation and particle bombardment are the more efficient and relevant direct techniques of transferring<br />

DNA into plant. Biological method requires the use of plant pathogens for the DNA introduction. Agrobacterium tumefaciens<br />

and a. Rhizogenes are the main pathogens used, which are able to infect and introduce part of their DNA into a<br />

receptive host. Agrobacterium-mediated gene transfer has been the method of choice due to convenience and high probability<br />

of single or low copy number integration. Transgenic plants have been obtained for the major crop species and<br />

introduced to the marked, expressing improved nutricional value, resistance to herbicides, insect or fungal pathogens.<br />

Keywords: AGROBACTERIUM – ELECTROPORATION – GENETIC TRANSFORMATION – PARTICLE BOMBARDMENT – TRANSGENIC<br />

PLANTS.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 81-90 81


INTRODUÇÃO<br />

P<br />

or muitos anos, o único método disponível<br />

para a introdução de características de interesse<br />

em plantas foi o melhoramento clássico,<br />

envolvendo cruzamentos, seguidos pela seleção de<br />

plantas com fenótipo desejável. Porém, esse processo<br />

é lento, necessitando vários anos para produzir e liberar<br />

comercialmente uma nova variedade (Christou,<br />

1992). A engenharia genética de plantas não só acelera<br />

o processo de melhoramento, como permite<br />

transpor as barreiras de incompatibilidade sexual<br />

através da hibridização somática ou da introdução de<br />

genes específicos em células vegetais, utilizando os<br />

métodos de transformação (Moraes & Fernandes,<br />

1987). A transformação genética é o processo de<br />

introdução controlada de ácidos nucléicos exógenos<br />

em um genoma receptor, sem comprometer a viabilidade<br />

das células. Com os avanços da tecnologia de<br />

DNA recombinante, é possível transferir para plantas<br />

genes isolados de outras plantas, ou mesmo de animais<br />

e microrganismos (Perani et al., 1986), permitindo<br />

a criação de novas variedades que podem ser<br />

usadas em programas de melhoramento convencional.<br />

Até o presente, diversos genes foram introduzidos<br />

estavelmente em plantas, conferindo resistência a<br />

herbicidas, fungos, bactérias, vírus e insetos e resistência<br />

a estresses ambientais.<br />

Para que o processo de transformação seja<br />

efetivo, o DNA deve ser introduzido em células ou<br />

tecidos vegetais aptos a regenerar plantas completas.<br />

Um dos fatores limitantes na transformação genética<br />

tem sido a baixa eficiência das técnicas de cultura<br />

de tecidos vegetais in vitro. Aliado a isso, em<br />

muitas situações, a esterilidade total ou parcial das<br />

plantas transgênicas obtidas pode consistir em uma<br />

barreira para a finalização desse processo. Portanto,<br />

para iniciar os trabalhos de transformação, os aspectos<br />

relacionados à regeneração de plantas, através<br />

da cultura de tecidos, devem ser completamente<br />

elucidados.<br />

<strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO<br />

A transferência de genes para espécies vegetais<br />

tem sido possível graças à manipulação genética de<br />

células, utilizando métodos diretos ou indiretos de<br />

transformação. O método indireto é aquele no qual<br />

se utiliza um vetor, como Agrobacterium tumefaciens<br />

(Chilton et al., 1977) ou Agrobacterium rhizogenes<br />

(Chilton et al., 1982), de forma a intermediar a transferência<br />

de genes. Esse método tem sido bastante<br />

usado na obtenção de plantas transgênicas. Entretanto,<br />

algumas dicotiledôneas e a maioria das monocotiledôneas<br />

e gimnospermas não são suscetíveis, ou<br />

apresentam pouca suscetibilidade, à infecção pela<br />

Agrobacterium (Potrikus, 1990). Em alguns casos, a<br />

eficiência do processo de transformação pode ser<br />

aumentada com o uso de cepas supervirulentas de<br />

bactéria (Hansen et al., 1994) ou com a adição de<br />

compostos fenólicos ao meio de cultivo, como indutor<br />

da transferência do DNA bacteriano (Stachel et<br />

al., 1985). Os métodos diretos, também extensivamente<br />

adotados, não requerem a utilização de vetores<br />

biológicos, mas em muitos casos utilizam<br />

protoplastos, o que dificulta a regeneração de plantas.<br />

A eficiência do método de transformação vai depender<br />

da espécie em estudo e do tecido usado como<br />

alvo da transformação e, de maneira geral, os parâmetros<br />

devem ser otimizados para cada técnica.<br />

MÉTODOS DIRETOS<br />

Os métodos de transferência direta de genes<br />

utilizam processos físicos ou químicos que causam<br />

modificações nas paredes e membranas celulares,<br />

facilitando a introdução de DNA exógeno. Diversos<br />

métodos diretos têm sido propostos, variando em<br />

sua eficiência e praticidade. Entre eles, os métodos<br />

que resultaram em maior número de espécies transformadas<br />

foram a eletroporação de protoplastos, a<br />

transformação por polietilenoglicol e a aceleração<br />

de partículas (Fisk & Dandekar, 1993). As demais<br />

técnicas, como micro e macroinjeção, utilização de<br />

raios laser, microfibras de carboneto de silício e<br />

ultra-som, foram testadas para produção de plantas<br />

transgênicas. Porém, apresentaram baixa eficiência<br />

ou não foram reproduzíveis (Southgate et al.,<br />

1998).<br />

Eletroporação de Protoplastos<br />

Protoplastos são definidos como células desprovidas<br />

de paredes celulares (Evans, 1991). Para a<br />

introdução de DNA usando a eletroporação, os protoplastos<br />

são expostos a pulsos curtos de corrente<br />

contínua e alta voltagem, em presença do DNA exógeno<br />

(Fromm et al., 1985). Esse tratamento induz<br />

82 Junho • 2000


uma alteração reversível da permeabilidade da membrana<br />

plasmática e poros temporários são formados,<br />

permitindo a entrada do DNA nas células. A extensão<br />

da formação de poros é determinada pela intensidade<br />

e duração do pulso elétrico e pela concentração<br />

iônica do tampão de eletroporação. Os poros aumentam<br />

em tamanho e número com o aumento da duração<br />

e intensidade dos pulsos (Joersbo & Brunstedt,<br />

1991; Finer et al., 1996). Parâmetros como tipo e<br />

duração dos pulsos elétricos, intensidade do campo<br />

elétrico, concentração e forma do DNA, presença ou<br />

ausência de DNA carreador, composição do tampão<br />

de eletroporação e temperatura de incubação dos<br />

protoplastos devem ser determinados.<br />

A transformação genética de plantas por eletroporação<br />

de protoplastos oferece a vantagem de<br />

não necessitar de um vetor biológico e de não haver<br />

barreira física para a introdução de DNA. É uma<br />

técnica rápida, simples e realizada sem agentes tóxicos<br />

às células, embora os pulsos elétricos possam ter<br />

efeito deletério na sobrevivência dos protoplastos e<br />

subseqüente regeneração de plantas. Algumas plantas<br />

transgênicas foram obtidas utilizando essa técnica<br />

(Shimamoto et al., 1989; Dale et al., 1993). O<br />

maior obstáculo do método está na dificuldade de<br />

regeneração de plantas a partir de protoplastos<br />

transformados. Mesmo quando a regeneração é<br />

obtida, as plantas podem apresentar problemas de<br />

redução de fertilidade (Rhodes et al., 1989), além<br />

de várias espécies ainda serem consideradas recalcitrantes<br />

para essa tecnologia (Birch, 1997).<br />

Uma alternativa para aumentar a eficiência da<br />

eletroporação tem sido a redução do tratamento<br />

enzimático para a retirada da parede celular.<br />

D’Halluin et al. (1992) obtiveram plantas transgênicas<br />

mediante a eletroporação de calos embriogênicos<br />

de Zea mays, com ferimento mecânico do<br />

tecido alvo. Mais recentemente, foi sugerido que a<br />

indução de plasmólise parcial das células, imediatamente<br />

antes da eletroporação, substituiria o tratamento<br />

enzimático (Sabri et al., 1996). A associação<br />

de plasmólise e eletroporação permite a difusão do<br />

DNA em espaços intercelulares ou a penetração<br />

lenta do DNA pelos poros das paredes celulares,<br />

sendo o choque elétrico necessário apenas para permeabilizar<br />

a membrana plasmática (Dekeyser et al.,<br />

1990). Esse método poderia evitar os problemas<br />

relacionados com o uso de protoplastos (Sabri et al.,<br />

1996).<br />

Absorção de DNA Mediada por PEG<br />

Polietilenoglicol (PEG), usado em combinação<br />

com Ca+2, Mg+2 e pH alcalino, promove a<br />

ligação do DNA exógeno à superfície dos protoplastos.<br />

O DNA é absorvido pela célula por endocitose.<br />

O PEG pode atuar, também, na proteção do<br />

DNA contra a atividade das nucleases (Finer et al.,<br />

1996).<br />

A freqüência de transformação, usando PEG,<br />

é de aproximadamente 1% e restrita a algumas<br />

espécies (Raybould & Gray, 1993). O tratamento<br />

com PEG pode danificar grande número de células,<br />

reduzindo a capacidade de regeneração. O peso<br />

molecular e a concentração do PEG são parâmetros<br />

que devem ser estabelecidos. Geralmente, é usado<br />

PEG 6000 em concentrações variando entre 15% e<br />

25% (Finer et al., 1996). Outras variáveis devem,<br />

ainda, ser otimizadas, como pH, forma do DNA e<br />

concentração de Ca+2 ou Mg+2. O pré-tratamento<br />

dos protoplastos por 5 min a 45ºC pode<br />

aumentar a freqüência de transformação por inibir a<br />

atividade das nucleases (Finer et al., 1996).<br />

A desvantagem dessa técnica é a dependência<br />

de um sistema eficiente de regeneração de plantas<br />

completas a partir de protoplastos, atualmente restrito<br />

a poucas espécies. Apesar das limitações da técnica,<br />

algumas espécies, como fumo, arroz e Citrus,<br />

foram transformadas (Fisk & Dandekar, 1993).<br />

Bombardeamento de Partículas<br />

Esse método consiste na aceleração de micropartículas<br />

de metal, que atravessam a parede celular<br />

e a membrana plasmática, carreando DNA para o<br />

interior da célula (Sanford, 1988). O termo bombardeamento<br />

de partículas pode ser substituído por<br />

aceleração de microprojéteis ou método biolístico<br />

(Sanford, 1988). O método baseia-se no uso de um<br />

equipamento que produz uma força propulsora,<br />

usando pólvora, gás ou eletricidade, para acelerar<br />

micropartículas inertes, cobertas com DNA, em<br />

direção às células alvo. Após o bombardeamento,<br />

uma proporção de células atingidas permanece viável;<br />

o DNA é integrado no genoma vegetal e incorporado<br />

aos processos celulares de transcrição e<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 81-90 83


tradução, resultando na expressão estável do gene<br />

introduzido (Finer et al., 1996).<br />

A maioria dos modelos biolísticos atuais<br />

emprega macroprojéteis, usados como veículo para<br />

aceleração dos microprojéteis colocados na sua<br />

superfície. Tipicamente, os macroprojéteis têm a<br />

forma de um cilindro plástico ou disco de metal<br />

(Finer et al., 1996).<br />

Um microprojétil é definido como qualquer<br />

partícula capaz de ser acelerada, de maneira que<br />

penetre nas células (Sanford, 1990). Deve ser<br />

pequeno o suficiente para entrar na célula sem ser<br />

letal, deve ser capaz de carregar DNA na sua superfície<br />

e ser denso a fim de atingir a energia cinética<br />

requerida para penetração das paredes celulares<br />

(Uchimiya et al., 1989). Os microprojéteis são fabricados<br />

usando metais de alta densidade, como tungstênio<br />

e ouro; são mais ou menos esféricos e medem<br />

cerca de 0,4 a 2,0 cm de diâmetro (Sanford, 1990).<br />

Os metais utilizados na produção de partículas<br />

devem ser quimicamente inertes para evitar reações<br />

adversas com o DNA exógeno ou componentes<br />

celulares. As partículas de tungstênio são mais baratas,<br />

porém, mais heterogêneas em tamanho e forma,<br />

quando comparadas com as de ouro (Hunold et al.,<br />

1994).<br />

A desvantagem do tungstênio está na possibilidade<br />

de as partículas sofrerem degradação catalítica<br />

com o passar do tempo, sendo tóxicas para<br />

alguns tipos de células (Russell et al., 1992). São<br />

também sujeitas à oxidação, o que afeta a adesão do<br />

DNA ou degrada o DNA aderido (Russell et al.,<br />

1992). As partículas de ouro são mais uniformes e<br />

inertes biologicamente, não causando danos às células.<br />

No entanto, elas tendem a se aglomerar irreversivelmente<br />

em soluções aquosas, reduzindo a<br />

eficiência do processo de introdução de DNA<br />

(Kikkert, 1993). As partículas de ouro, em razão da<br />

sua mais alta densidade, penetram no tecido até as<br />

camadas celulares mais profundas, ao passo que a<br />

maioria das partículas de tungstênio não penetra<br />

além das camadas superficiais (Hunold et al., 1994).<br />

Sendo assim, a relação entre o tipo de microprojéteis<br />

usado para o bombardeamento e a expressão<br />

temporária ou estável do gene introduzido deve ser<br />

avaliada para cada espécie e tecido estudados.<br />

Existem vários modelos de aceleradores de<br />

partículas. O modelo mais utilizado, o PDS 1000/<br />

He (Sanford et al., 1991), usa uma descarga de gás<br />

hélio em alta pressão (1.000-1.200 psi) para acelerar<br />

microprojéteis. Modificações nesse sistema permitiram<br />

a idealização de um aparelho de aceleração<br />

de partículas mais simplificado, utilizando pressões<br />

muito mais baixas do que a anteriormente descrita,<br />

chegando a 60 psi. Esse modelo, Influxo de Partículas<br />

(Finer et al., 1992) apresenta a vantagem de<br />

reduzir o dano causado aos tecidos. Modelos que<br />

não utilizam gás como força propulsora incluem o<br />

modelo Accell ‘ (McCabe & Christou, 1993) e o<br />

bombardeador a ar (Oard, 1993). O primeiro<br />

emprega a energia gerada pela vaporização de uma<br />

gota d’água através de uma descarga elétrica e o<br />

segundo usa ar comprimido para acelerar os microprojéteis.<br />

O uso do processo biolístico é bastante amplo<br />

e, quando comparado com a maioria dos métodos<br />

diretos de introdução de DNA em plantas, o bombardeamento<br />

de partículas apresenta várias vantagens.<br />

É uma técnica altamente versátil e de fácil<br />

adaptação, podendo ser aplicada a grande variedade<br />

de células e tecidos, incluindo suspensões (Klein et<br />

al., 1989; Fromm et al., 1990), calos (Vasil et al.,<br />

1985), tecidos meristemáticos (McCabe & Martinelli,<br />

1993), embriões imaturos (Southgate et al.,<br />

1998) e embriões somáticos (Finer & McMullen,<br />

1991; Santarém & Ferreira, 1997). Essa técnica tem<br />

permitido a regeneração de plantas transgênicas de<br />

maneira reproduzível e com menos variabilidade<br />

entre experimentos (Luthra et al., 1997). As metodologias<br />

empregadas são simples, eficientes e essencialmente<br />

idênticas, independentemente do tecido<br />

vegetal e do DNA exógeno empregado.<br />

Em adição ao seu uso para obtenção de organismos<br />

geneticamente transformados, o processo de<br />

bombardeamento de microprojéteis tem contribuído<br />

para os estudos dos mecanismos de expressão e<br />

regulação gênica (Birch, 1997).<br />

Algumas adaptações da biobalística têm sido<br />

propostas associando o bombardeamento ao método<br />

da Agrobacterium. Os microferimentos produzidos<br />

pela penetração das partículas nos tecidos bombardeados<br />

ampliam a área de infecção pela bactéria,<br />

aumentando a eficiência de transformação (Bidney et<br />

84 Junho • 2000


al., 1992; Droste, 1998). Outro sistema que combina<br />

as vantagens da transformação por Agrobacterium<br />

com a alta eficiência do sistema biolístico foi descrito<br />

por Hansen & Chilton (1996). Essa técnica, denominada<br />

“agrolística”, permite a transferência do gene de<br />

interesse para o genoma da planta, sem que haja a<br />

integração das seqüências dos vetores. Isso ocorre em<br />

virtude da co-transformação de dois dos genes de<br />

virulência, juntamente com um marcador de seleção<br />

flanqueado pelas seqüências de bordas do T-DNA.<br />

MÉTODO INDIRETO<br />

Agrobacterium<br />

Agrobacterium é uma bactéria de solo, Gram<br />

negativa, aeróbica, pertencente à Família Rhizobiaceae<br />

(Zambrisky, 1988). Sua importância para os<br />

estudos de transformação de plantas reside na capacidade<br />

natural que esses patógenos possuem de<br />

introduzir DNA em plantas hospedeiras. Esse DNA<br />

é integrado e passa a ser expresso como parte do<br />

genoma da planta (Hohn, 1992). Como conseqüência<br />

dessa expressão, o padrão normal de desenvolvimento<br />

é alterado: A. tumefaciens causa a formação<br />

de tumores, ao passo que a infecção por A. rhizogenes<br />

resulta na proliferação de raízes (Lipp-Nissinen,<br />

1993).<br />

As bactérias possuem plasmídeos que recebem<br />

denominações de acordo com a alteração de desenvolvimento<br />

vegetal que provocam: Ti, indutor de<br />

tumores, e Ri, indutor de raízes. Atualmente, a A.<br />

tumefaciens é a mais usada para estudos de transformação.<br />

Durante a infecção por A. tumefaciens, uma<br />

parte do plasmídeo Ti, denominada T-DNA ou<br />

DNA de transferência, é transferida para a célula<br />

vegetal e integrada no genoma (Hohn, 1992). Essa<br />

região contendo o T-DNA é definida por duas<br />

seqüências imperfeitas, conservadas e repetidas de<br />

25 pares de bases, denominadas bordas direita e<br />

esquerda. Os genes do T-DNA são expressos<br />

somente nas células vegetais e são responsáveis pela<br />

produção excessiva de hormônios (auxinas e citocininas)<br />

ou pelo aumento da sensibilidade das células<br />

vegetais a esses compostos, levando à formação de<br />

tumores.<br />

Esses genes também são responsáveis pela<br />

produção de opinas, compostos usados como fonte<br />

de carbono e nitrogênio pela bactéria (Willmitzer et<br />

al., 1980). Em muitos casos, a presença desses genes<br />

em células ou tecidos transformados é indesejável,<br />

pois impede a regeneração de plantas com fenótipo<br />

normal. Esse problema pode ser contornado por<br />

meio da técnica de “desarmamento” da Agrobacterium,<br />

na qual os genes podem ser inativados ou<br />

removidos. Na ausência de genes que regulem as<br />

rotas biossintéticas dos hormônios, as células transformadas<br />

podem ser identificadas pela inclusão de<br />

genes marcadores no T-DNA (uidA- β-glucuronidase)<br />

ou genes de resistência a antibióticos, como,<br />

por exemplo, hpt II (higromicina) ou npt II (canamicina).<br />

A infecção por Agrobacterium requer um ferimento<br />

no tecido vegetal (Sangwan et al., 1992). Primeiramente,<br />

acreditava-se que o ferimento teria a<br />

função de remover a barreira física imposta pela<br />

parede celular. Atualmente, sabe-se que as células<br />

feridas, mas metabolicamente ativas, excretam compostos<br />

fenólicos de baixo peso molecular, especificamente<br />

reconhecidos pela bactéria no momento da<br />

infecção. Essas moléculas foram identificadas como<br />

acetosiringona (AS) ou a-hidroxi-acetosiringona<br />

(OH-AS) (Stachel et al., 1985), chalconas e derivados<br />

do ácido cinâmico (Stachel et al., 1986) e são<br />

responsáveis pela iniciação da transferência do T-<br />

DNA (Zambryski et al., 1989).<br />

Acredita-se que a transferência do T-DNA<br />

para as células vegetais ocorra de maneira semelhante<br />

à conjugação bacteriana (Zupan & Zambrisky,<br />

1995) e os genes responsáveis pela<br />

transferência estejam localizados na região de virulência<br />

(vir) do plasmídeo Ti (Zambryski, 1988;<br />

Zambryski et al., 1989). A região vir é composta de<br />

seis grupos de genes, essenciais para transformação<br />

(virA, virB, virD e virG) ou que aumentam a eficiência<br />

desse processo (virC e virE). Alguns dos genes de<br />

virulência, chvA, chvB, cel, att e pscA, localizam-se<br />

no cromossoma bacteriano, expressam-se constitutivamente<br />

e são responsáveis pelo reconhecimento e<br />

contato das células vegetais com a bactéria durante<br />

o processo de infecção (Zambryski et al., 1989;<br />

Hohn, 1992). Os genes chvA, chvB e pscA são responsáveis<br />

pela síntese de β-1,2-glucano (Douglas et<br />

al., 1985), o cel, pela síntese de fibrilas de celulose e<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 81-90 85


o att regula a síntese das proteínas de membrana<br />

(Matthysse, 1987).<br />

A interação bactéria/parede celular vegetal foi<br />

estudada em Arabidopsis thaliana por Sangwan et al.<br />

(1992). Os autores sugerem que, durante o período<br />

de cultivo, as células estejam em divisão e diferenciação,<br />

e novas paredes celulares sejam sintetizadas.<br />

Nesse mesmo período, a bactéria produz grandes<br />

quantidades de material celulósico e os resultados<br />

sugerem uma interação entre os polissacarídeos da<br />

parede celular vegetal e as fibrilas de celulose produzidas<br />

pela bactéria.<br />

A ativação dos genes da região vir é seguida por<br />

drásticas mudanças no T-DNA, resultando na sua<br />

completa transferência para o núcleo da célula vegetal.<br />

A incorporação do T-DNA no genoma da planta<br />

não está completamente elucidada, mas sugere-se que<br />

ocorra de maneira aleatória. A integração pode ser<br />

explicada como um evento de recombinação ilegítima<br />

ou não homóloga (Mayerhofer et al., 1990).<br />

Gharthi-Chhetri et al. (1990) sugeriram que a integração<br />

do DNA exógeno ocorre entre as duas primeiras<br />

divisões celulares, durante a fase de replicação<br />

do DNA. Freqüentemente, uma a três cópias do T-<br />

DNA estão presentes, algumas vezes em arranjos tandem<br />

(Zambryski et al., 1989).<br />

A A. rhizogenes é outra espécie do gênero<br />

Agrobacterium, que causa a proliferação de raízes a<br />

partir de tecidos feridos e infectados pela bactéria.<br />

Essas raízes podem ser cultivadas in vitro em ausência<br />

de reguladores de crescimento (Lipp-Nissinen,<br />

1993). Assim como a A. tumefaciens, a A. rhizogenes<br />

possui um plasmídeo de alto peso molecular, o Ri,<br />

do qual o T-DNA é transferido para a célula vegetal<br />

(Brasileiro & Dusi, 1999). Culturas de raízes transformadas<br />

por A. rhizogenes podem ser utilizadas<br />

para a produção de metabólitos secundários de interesse<br />

farmacêutico, como produtos naturais biologicamente<br />

ativos.<br />

A técnica de transformação por Agrobacterium<br />

tem sido aprimorada desde 1988, quando<br />

Zambryski e colaboradores relataram o uso de<br />

Agrobacterium tumefaciens modificada geneticamente<br />

para introdução de genes exógenos em plantas.<br />

Na transformação utilizando esse vetor, vários<br />

parâmetros devem ser considerados, entre eles, presença<br />

de substâncias fenólicas para indução da transferência<br />

do T-DNA, pH, temperatura, açúcares,<br />

período de co-cultivo e antibióticos para controle<br />

do crescimento da bactéria (Stachel et al., 1986;<br />

Holford et al., 1992).<br />

Várias espécies de importância comercial têm<br />

sido alvo dessa técnica com resultados positivos<br />

(Fisk & Dandekar, 1993; Brasileiro & Dusi, 1999).<br />

Recentemente, foi proposto o uso de pulsos curtos<br />

de ultra-som para ferir e modificar o tecido alvo da<br />

transformação, visando o aumento da infecção por<br />

Agrobacterium. Essa técnica foi denominada SAAT<br />

(Sonication Assisted Agrobacterium-mediated Transformation;<br />

Trick & Finer, 1997) e permitiu uma<br />

maior eficiência no processo de transformação de<br />

várias espécies, antes recalcitrantes para Agrobacterium.<br />

A aplicação da SAAT em tecidos cotiledonares<br />

de soja resultou no aumento da freqüência de<br />

expressão do gene repórter utilizado (Santarém et<br />

al., 1998) e plantas transgênicas dessa espécie foram<br />

obtidas aplicando-se SAAT em suspensões embriogênicas<br />

(Trick & Finer, 1998).<br />

EXPRESSÃO DOS<br />

TRANSGENES<br />

Apesar da otimização das técnicas de transformação<br />

genética, os sítios de integração do DNA<br />

exógeno e o número de cópias integradas no<br />

genoma da planta são, ainda, imprevisíveis (Vaucheret<br />

et al., 1998). A princípio, as moléculas de DNA<br />

integram-se ao acaso no genoma, embora haja indicações<br />

de que se integrem em regiões com alta atividade<br />

transcricional (Brasileiro & Dusi, 1999).<br />

O número de cópias dos transgenes inseridos<br />

no genoma varia de acordo com a metodologia<br />

empregada na transferência de genes. Com os<br />

métodos diretos, foram detectadas múltiplas cópias,<br />

como também a fragmentação e recombinação do<br />

transgene (Hadi et al., 1996; Siemens & Schieder,<br />

1996). Por sua vez, a transformação por Agrobacterium<br />

é considerada um processo mais preciso, com<br />

integração de uma ou poucas cópias no genoma da<br />

planta (De Block, 1993).<br />

Há uma variação considerável na expressão<br />

dos transgenes em plantas transformadas, que não<br />

decorre necessariamente da diferença no número de<br />

cópias. Assim, a atividade do gene não é exclusivamente<br />

determinada pelos níveis de transcrição.<br />

86 Junho • 2000


Fatores epigenéticos podem influenciar os níveis de<br />

expressão, podendo levar à inativação do gene por<br />

inibição da transcrição ou do acúmulo do RNAm.<br />

Esse fenômeno, denominado silenciamento de<br />

genes, pode ser influenciado pelo local de inserção<br />

do transgene e está associado à metilação do DNA<br />

receptor (Vaucheret et al., 1998).<br />

CONCLUSÃO<br />

As técnicas de transformação genética de<br />

plantas têm permitido acelerar o melhoramento<br />

vegetal, gerando variedades com desempenho superior<br />

e adaptadas ao ambiente de cultivo. Os métodos<br />

de transferência de genes podem variar em<br />

eficiência e aplicabilidade, dependendo da espécie e/<br />

ou do tecido alvos da transformação. Entre os<br />

métodos diretos mais usados, o bombardeamento<br />

de partículas tem resultado no maior número de<br />

espécies transformadas, principalmente nos cereais,<br />

em que a transformação por Agrobacterium é pouco<br />

eficiente. O uso de Agrobacterium como vetor para<br />

a transferência de genes apresenta vantagens sobre<br />

os métodos diretos por ser uma metodologia mais<br />

precisa, resultando na integração de um menor<br />

número de cópias do transgene. A transformação<br />

genética não encerra com a obtenção de plantas<br />

transgênicas que expressam o fenótipo desejado.<br />

São necessárias exaustivas pesquisas para garantir<br />

que essas plantas não apresentem riscos à saúde e ao<br />

ambiente, permitindo que sejam inseridas no sistema<br />

produtivo.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BIDNEY, D. et al. Microprojectile Bombardment of Plant Tissues increases Transformation Frequency by Agrobacterium Tumefaciens.<br />

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REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 81-90 89


90 Junho • 2000


O Neotectonismo na<br />

Costa do Sudeste e do<br />

Nordeste Brasileiro<br />

Neotectonism of Southeastern and Northeastern Brazilian Coast<br />

CARLOS CÉSAR UCHÔA <strong>DE</strong> LIMA<br />

Universidade Federal de Feira de Santana<br />

uchoa@uefs.br<br />

RESUMO – A partir da década de 70, vários pesquisadores ligados à geologia estrutural e à geotectônica começaram a<br />

voltar seus interesses para as atividades tectônicas ocorridas desde o final do terciário até o quaternário (neotectônica) evidenciados<br />

pela morfologia do relevo atual e das estruturas geológicas observadas. Outro fator que começou a chamar a<br />

atenção dos geólogos e geofísicos no Brasil foi o desencadeamento de sismos, ocorridos com maior freqüência na Região<br />

Nordeste, na década de 80. Fenômenos dessa natureza têm sido relatados desde o século passado, mas o pensamento de<br />

que o território brasileiro é tectonicamente estável fez com que a comunidade científica de modo geral não relacionasse<br />

esses sismos à tectônica global. O crescente interesse pela temática fez com que esse pensamento fosse modificado, e, para<br />

aqueles que hoje estudam os processos geológicos ocorridos a partir do terciário superior, fica evidente que o tectonismo<br />

atual é um dos principais mecanismos controladores desses processos, bem como, da morfologia do relevo por eles<br />

modelados.<br />

Palavras-chave: NEOTECTÔNICA – SISMOS – PROCESSOS GEOLÓGICOS.<br />

ABSTRACT – In the 70’, geologists concerned with Structural Geology and Geotectonics began to turn their attention to<br />

Late Cenozoic tectonics events (neotectonics), evidenced by landscape morphology and geological structures. Another<br />

factor that raised interest of many researchers were successive seismic events in Northeastern Brazil, in the 80’. Seismic<br />

activities of this nature are cited since last century, but the idea that Brazilian territory is tectonically stable prevented the<br />

scientific community to relate that seismic events to global tectonics. The rising interest for the subject of Neotectonics led<br />

to the change of this belief and for those who study geological processes younger than Neogene it is evident that today’s<br />

tectonism is one of the main control of these processes, as well as of the relief morphology.<br />

Keywords: NEOTECTONICS – SEISMIC EVENTS – GEOLOGICAL PROCESSES.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 91


INTRODUÇÃO<br />

Otermo neotectônica foi utilizado pela primeira<br />

vez por Obruchev (1948), que o entende<br />

como uma sucessão de movimentos crustais<br />

recentes, desenvolvidos a partir do terciário superior<br />

e durante todo o quaternário (apud Suguio & Martin<br />

1996). Esse conjunto de processos ocorridos a<br />

partir do Neogeno determinaria as principais feições<br />

do relevo atual da Terra. Mais recentemente a International<br />

Union for Quaternary Research (INQUA)<br />

divulgou em sua homepage a definição sugerida por<br />

Pavlides (1989): “Neotectônica é o estudo de eventos<br />

tectônicos jovens, que ocorreram ou ainda estão<br />

ocorrendo em uma região qualquer, após sua orogênese<br />

ou após o seu reajustamento tectônico mais significativo”.<br />

No Brasil, apesar da palavra neotectonismo<br />

ser amplamente divulgada, Hasui (1990) utilizou<br />

o termo tectônica ressurgente para a reativação<br />

de falhamentos pré-cambrianos durante o tércioquaternário,<br />

ocorrida em território brasileiro.<br />

Apesar das pequenas variações terminológicas<br />

e conceituais em relação aos processos tectônicos<br />

mais recentes, para Saadi (1993) existe um consenso<br />

entre os diversos pesquisadores em considerar uma<br />

relação obrigatória entre a neotectônica e a configuração<br />

da morfologia atual, não levando em conta a<br />

idade das feições estudadas, que poderia remontar<br />

em até 10 7 anos. Com base no pensamento de Pavlides<br />

(1989), de que o início do período neotectônico<br />

depende das características individuais de cada<br />

ambiente geológico, Hasui (1990) relaciona a origem<br />

do neotectonismo no Brasil à migração do continente<br />

sul-americano e conseqüente abertura do<br />

Atlântico Sul, iniciada no terciário médio, por considerar<br />

que essas movimentações ocorrem até os dias<br />

atuais. Como marco desses eventos, Hasui (op. cit.)<br />

propõe o início da deposição do Grupo Barreiras e<br />

do último pacote das bacias costeiras, e o término<br />

do magmatismo em território brasileiro, há cerca de<br />

12 M.a. no Nordeste, datando portanto do Mioceno<br />

Médio.<br />

Com relação aos sismos no Brasil, até meados<br />

da década de 70 não se costumava de modo geral<br />

correlacioná-los aos movimentos tectônicos. Reflexos<br />

de sismos longínquos, acomodações de camadas,<br />

colapsos de zonas calcárias e deslizamentos de<br />

terra eram as explicações oferecidas para esses eventos<br />

(Hasui & Ponçano, 1978). Nos anos 80, a relação<br />

entre a sismicidade e os estudos neotectônicos<br />

foi ficando cada vez mais próxima, principalmente<br />

com os eventos sísmicos desencadeados no Nordeste<br />

Brasileiro.<br />

Este trabalho objetiva fazer uma resenha histórica<br />

das ocorrências sísmicas no Brasil, enfatizando<br />

aquelas ocorridas no Nordeste, bem como<br />

fazer uma síntese da evolução do conhecimento<br />

sobre o neotectonismo no Brasil Oriental. Para atingir<br />

tais metas, foi feita uma pesquisa bibliográfica<br />

que se estende desde trabalhos (artigos e/ou livros)<br />

do final do século passado até os dias atuais.<br />

REGISTRO HISTÓRICO<br />

<strong>DE</strong> TERREMOTOS NO BRASIL<br />

Distantes em tempo e espaço das discussões<br />

sobre a terminologia adequada para se referir às<br />

modificações tectônicas mais recentes (do Neogeno<br />

ao Quaternário), alguns pesquisadores no final do<br />

século passado e início deste século já se preocupavam<br />

em registrar os eventos sísmicos que ocorriam<br />

no Brasil e, em particular, no Nordeste Brasileiro.<br />

Capanema (1859) executou o primeiro trabalho<br />

sobre sismos do Brasil (apud Assumpção et al.,<br />

1980), destacando o evento de 1808 ocorrido em<br />

Açu, RN, com magnitude estimada por Ferreira &<br />

Assumpção (1983) em 4,8 mb. O próprio Imperador<br />

do Brasil, D. Pedro II, entrega em 1860 os<br />

“documentos relativos ao tremor de terra havido<br />

em Pernambuco em 1811” ao Instituto Histórico<br />

Geographico e Ethnographico do Brasil.<br />

Com relação aos tremores de terra ocorridos<br />

na Bahia, um relato mais apurado vem por parte de<br />

Theodoro Sampaio em três artigos. Sampaio (1916)<br />

descreve os movimentos sísmicos na Baía de Todos<br />

os Santos, utilizando alguns critérios para evidenciar<br />

tais eventos. O primeiro deles relaciona-se à expressão<br />

topográfica (morfologia do relevo), como conseqüência<br />

de movimentos sísmicos, já que, segundo<br />

ele, a baía encontra-se topograficamente rebaixada e<br />

com o contorno de suas costas profundamente<br />

modificado. Segundo esse autor, as falhas geológicas<br />

ressaltadas pelos paredões ou tombadores se constituem<br />

em evidências dos violentos abalos sísmicos<br />

que atingiram parte da baía em época posterior ao<br />

92 Junho • 2000


Terciário, provocando o abatimento da bacia, permitindo<br />

assim, a invasão do mar.<br />

Outro critério utilizado pelo pesquisador foi<br />

o relato de pessoas que sentiram os abalos sísmicos.<br />

O último abalo até aquela data (1916) teria ocorrido<br />

na tarde do dia seis de novembro de 1915, em<br />

que fora sentido em vários locais nas imediações da<br />

baía (entre elas, Saubara, Vila de São Francisco, Ilha<br />

das Fontes, Sul de Itaparica e Santo Amaro).<br />

Segundo o Frei Pheliberto Gille, do Convento da<br />

Vila de São Francisco, um forte abalo de terra,<br />

acompanhado de um “estrondo subterrâneo” semelhante<br />

ao do trovão, fez as paredes grossas do convento<br />

balançar. Há no mesmo trabalho, vários<br />

outros eventos citados desde o século XVII até o início<br />

do século XX. Uma dessas citações parece falar<br />

de tsunamis. Segundo o autor, em 1666 (dados de<br />

Rocha Pitta) o mar saiu de seus limites naturais por<br />

três dias alternados, cobrindo a praia de “innumeravel<br />

e miudo pescado”.<br />

Em seu trabalho de 1919, Sampaio volta a<br />

falar dos sismos na Baía de Todos os Santos,<br />

expondo uma importante e curiosa afirmação, a de<br />

que muitos ilhéus (pequenas ilhas) àquela época estavam<br />

pouco a pouco sumindo do mapa hidrográfico<br />

em conseqüência da subsidência da baía. Sampaio<br />

(1920) volta a tratar os tremores de terra, dessa vez<br />

destacando os que ocorreram em 1919 no estado da<br />

Bahia. Para maior precisão dos eventos ocorridos, ele<br />

organiza e passa a coordenar uma comissão para inspecionar<br />

pessoalmente as conseqüências do terremoto<br />

de 22/11/1919. Além de atingir algumas cidades<br />

do Recôncavo, esse evento foi sentido também<br />

em Salvador, com relato de moradores do Campo<br />

Grande, Amaralina e dos pacientes do Hospital<br />

Santa Isabel, em Nazaré. A comissão chefiada por<br />

Sampaio observou próximo ao leito do Rio Paramirim<br />

fendas recentes nos muros e paredes das casas.<br />

Na escala de intensidade, esse sismo foi classificado<br />

como um tremor muito forte, provocando inclusive<br />

queda de algumas chaminés.<br />

É interessante observar que em todos os relatos<br />

tomados por Theodoro Sampaio os eventos sísmicos<br />

são sempre precedidos de um barulho surdo<br />

semelhante a um trovão. Outras observações que<br />

chamaram a atenção do pesquisador foram os relatos<br />

de moradores próximo ao mar. Esses quase sempre<br />

falavam de um borbulhamento das águas marinhas<br />

(como se estivessem fervendo) e de um comportamento<br />

anormal dos peixes, que saltavam sem<br />

parar, como se fugissem de algo e do cheiro de<br />

enxofre em alguns locais. Esses e outros relatos fizeram<br />

com que Theodoro Sampaio não interpretasse<br />

os eventos sísmicos como simples acomodação de<br />

camadas, e sim como a ação de agentes internos ao<br />

longo do eixo sinclinal (ele e outros pesquisadores<br />

da época acreditavam que o recôncavo era um<br />

grande sinclínio) ou das linhas de fraturas ali presentes.<br />

E para finalizar a sua interpretação, Sampaio<br />

acreditava que os tremores de terra eram precursores<br />

de atividades vulcânicas e cessariam apenas<br />

quando começasse uma erupção.<br />

Antes de Sampaio, Branner (apud Ferreira &<br />

Assumpção, 1983) publicou em 1912 um artigo<br />

sobre terremotos no Brasil, citando os sismos ocorridos<br />

no sertão baiano em 1904 e 1905 e que atingiram<br />

as cidades de Senhor do Bonfim e Xique–<br />

Xique, respectivamente, dois dos mais expressivos<br />

sismos ocorridos no início do século. Outro registro<br />

importante diz respeito à sucessão de eventos (um<br />

total de cinco) ocorridos em fevereiro de 1903 em<br />

Baturité, região serrana do estado do Ceará. Em<br />

1920, Branner publicou o artigo “Recents Earthquakes<br />

in Brazil”, fazendo um apanhado dos tremores<br />

de terra ocorridos entre 1917 e 1919 no nosso<br />

país. Entre os vários sismos citados por Branner,<br />

destacam-se os acontecidos na Bahia e relatados por<br />

Sampaio (1919), além do de Maranguape, cidade<br />

próxima à Fortaleza. Com os dados fornecidos por<br />

Branner, Ferreira & Assumpção (1983) estimaram a<br />

magnitude, a partir da área afetada, em aproximadamente<br />

4,5 mb para esse último.<br />

PRIMEIRAS REFERÊNCIAS AO<br />

NEOTECTONISMO BRASILEIRO<br />

Apesar do esforço de pesquisadores do início<br />

do século em relatar e tentar mostrar as possíveis<br />

causas da sismicidade no Brasil, só na década de 70,<br />

com a implantação de grandes obras de engenharia<br />

civil (usinas hidrelétricas e termonucleares), é que o<br />

interesse pelo tema neotectonismo ganhou um<br />

campo maior de abordagem na literatura (Haberlehner,<br />

1978). Antes disso, poucos foram os trabalhos<br />

que enfatizaram essa temática.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 93


Um dos trabalhos pioneiros em abordar o tectonismo<br />

moderno no Brasil foi o de Freitas (1951).<br />

Segundo esse autor, a conformação dos planaltos, as<br />

muralhas (horsts), as fossas (grabens) e os vales de<br />

“afundimento” (rift valleys), presentes em território<br />

brasileiro, são evidências de uma tectônica cenozóica<br />

no Brasil. Entre as diversas deformações epirogênicas<br />

do escudo brasileiro, ele cita as “muralhas”<br />

que modelam as serras do Mar e da Mantiqueira<br />

como resultantes de uma ruptura do escudo cristalino,<br />

provocada por arqueamentos epirogenéticos<br />

que originariam uma sucessão de falhas escalonadas,<br />

atingindo o clímax durante o cenozóico. Para Freitas<br />

(op. cit.), as por ele chamadas deformações epirogênicas<br />

modernas do escudo brasileiro estariam<br />

ligadas aos fenômenos orogenéticos dos Andes e,<br />

secundariamente, a mecanismos de compensação<br />

isostática ocorrida pela longa denudação desde o<br />

Pré-cambriano.<br />

Outro trabalho digno de nota da década de 50<br />

é o de King (1956), intitulado “A Geomorfologia do<br />

Brasil Oriental”. Nesse importante artigo para a geomorfologia<br />

e a geologia do Brasil, o autor faz um<br />

relato do desenvolvimento da paisagem atual do leste<br />

brasileiro, relacionando-a a uma série de eventos erosivos<br />

(ciclos de denudação) mesozóicos e cenozóicos.<br />

Os ciclos de denudação cenozóicos são: Sul-americano<br />

(Terciário Inferior/Médio), Velhas (Terciário<br />

Superior) e Paraguassu (Quaternário). Na observação<br />

e descrição destes últimos, várias são as referências<br />

ligadas a um tectonismo plio-pleistocênico.<br />

Ao Ciclo Velhas, King relaciona a deposição<br />

do Grupo Barreiras, denominado por este autor “as<br />

barreiras” e descrito como uma espessa cobertura<br />

de argilas e areias pliocênicas. Essa cobertura sofreria,<br />

no final do Terciário ou no pleistoceno, esforços<br />

tectônicos que a inclinariam para o mar na direção<br />

ESE. O Grupo Barreiras nos estados da Bahia e Sergipe<br />

evidenciaria ainda pequenas dobras e falhas<br />

com um a dois metros de delocamento, frutos desses<br />

eventos tectônicos. Com relação à disposição<br />

dos rios, o autor ressalta o Vale do São Francisco<br />

como resultante de uma ruptura tectônica a partir<br />

da Cadeia do Espinhaço, que representaria o estágio<br />

máximo de elevação do interior continental desde a<br />

zona costeira.<br />

Um outro trabalho importante ligado à geomorfologia,<br />

e com algumas observações estruturais<br />

que implicam um tectonismo ativo durante o terciário<br />

e o quaternário, é o de Tricart e Silva (1968).<br />

Apesar de enfocar principalmente a morfogênese do<br />

relevo atual como conseqüência das variações climáticas<br />

e mudanças do nível do mar, algumas referências<br />

apontam para a influência tectônica na conformação<br />

desse relevo. No livro Estudos de Geomorfologia<br />

da Bahia e Sergipe (p. 57), os autores chamam a<br />

atenção para as deformações observadas na superfície<br />

pós-Barreiras, bem como na base dessa “formação”,<br />

na região litorânea próxima à cidade de Salvador.<br />

Considerando o Grupo Barreiras como de<br />

idade pliocênica, pode-se inferir, a partir dessa observação,<br />

uma ação tectônica desde o final do Terciário.<br />

Ponte (1969) desenvolve um trabalho de interpretação<br />

foto-geomorfológica na Bacia Alagoas-Sergipe,<br />

aplicando a técnica denominada análise morfotectônica<br />

ou morfo-estrutural. Essa técnica consiste<br />

em avaliar o estudo do microrrelevo e da rede hidrográfica,<br />

correlacionando-a com o delineamento estrutural<br />

subjacente. Nas áreas onde afloram os sedimentos<br />

do Grupo Barreiras, Ponte (op. cit.) observou variações<br />

de espessura desse complexo sedimentar<br />

(espessamento nos baixos regionais e adelgaçamento<br />

sobre os altos estruturais), sugerindo que as estruturas<br />

delineadoras desses desníveis topográficos (falhas)<br />

estiveram ativas durante sua deposição, implicando<br />

um tectonismo ativo no Terciário Superior. Várias feições<br />

observadas por esse autor na distribuição da drenagem<br />

pressupõem um controle tectônico dessas feições.<br />

O Rio São Francisco, por exemplo, que possui<br />

próximo à desembocadura uma tendência de seguir<br />

para SE, sofre duas deflexões, uma antes da cidade de<br />

Penedo (AL), para NE, e outra mais perto da costa,<br />

para Sul. Esse caso reflete o controle estrutural com<br />

os falhamentos atingindo possivelmente os sedimentos<br />

quaternários dessa planície.<br />

CAUSAS E EVIDÊNCIAS<br />

DO NEOTECTONISMO<br />

Nesse tópico, tentar-se-á separar os trabalhos<br />

que advogam a causa da neotectônica como um dos<br />

agentes modeladores do relevo, a partir das evidências<br />

bases em que eles se apóiam, sejam elas sismológicas,<br />

morfogenéticas, sejam aquelas ligadas a linhas<br />

94 Junho • 2000


de fraqueza estrutural e eventos tectono-termais.<br />

Muitos trabalhos baseiam suas interpretações em<br />

mais de um tipo de evidência, ressaltando, no<br />

entanto, um principal. Por isso, a divisão feita aqui<br />

representa tão somente uma tentativa de melhorar o<br />

entendimento sobre as várias evidências do tectonismo<br />

cenozóico, procurando enfatizar a dinâmica<br />

causal desses eventos.<br />

Evidências Sismológicas<br />

Uma associação entre o neotectonismo e a sismicidade<br />

natural é feita por Hasui & Ponçano<br />

(1978), que consideram os sismos recentes ocorridos<br />

no Brasil, e divulgados pela imprensa e por<br />

alguns trabalhos científicos, como evidências de um<br />

tectonismo cenozóico brasileiro. Segundo esses<br />

autores, há uma relação direta entre os sismos verificados<br />

no Brasil e os movimentos tectônicos de caráter<br />

global. Eles atribuem às geossuturas proterozóicas<br />

(zonas de descontinuidades que atingem o<br />

manto e permitem a ascensão de materiais máficos e<br />

ultramáficos) o papel de zonas frágeis, nas quais as<br />

forças tectônicas atuam, originando assim os sismos<br />

(fig.1). Haberlehner (1978) identifica diversas regiões<br />

do Brasil onde há concentração de atividade sísmica<br />

e as denomina províncias sismotectônicas.<br />

Para esse autor, existiriam dez dessas províncias,<br />

de norte a sul do país, em zonas de falhas ativas.<br />

Assumpção et al. (1980) fazem um levantamento<br />

dos principais sismos ocorridos no sudeste,<br />

ressaltando a sua magnitude sem, no entanto, apresentarem<br />

qualquer interpretação tectônica. Ferreira<br />

& Assumpção (1983) desenvolvem um trabalho<br />

semelhante, só que bem mais abrangente em tempo<br />

para o Nordeste, e concluem que a relação entre os<br />

epicentros dos sismos e os lineamentos presentes<br />

naquela região não é muito clara. Já em caráter regional,<br />

Hasui et al. (1978a) relacionam a sismicidade<br />

na região das serras da Mantiqueira e do Mar,<br />

englobando o leste de São Paulo e Rio de Janeiro e<br />

sul de Minas Gerais, com a reativação de falhas proterozóicas<br />

de direção NE/SW ali existentes, mostrando<br />

várias localidades afetadas pelos sismos.<br />

Evidências por Falhas e<br />

Eventos Tectono-Termais<br />

Estudando as bacias marginais brasileiras,<br />

Asmus & Ponte (1973) concluíram que o tectonismo<br />

nessas bacias persistiu até o Terciário, principalmente<br />

ao longo de falhas reativadas. Essas reativações<br />

ocorreriam por movimentações epirogenéticas<br />

desde o final do Cretáceo até o Plioceno-Pleistoceno.<br />

Hasui et al. (1978b), em seu estudo sobre as bacias<br />

tafrogênicas continentais do sudeste brasileiro, relacionaram<br />

os depósitos sedimentares daquela região<br />

à tectônica regional desenvolvida desde o Ciclo Brasiliano<br />

(Proterozóico Superior), culminando com a<br />

implantação de bacias continentais no Terciário<br />

Superior e/ou Pleistoceno pela reativação de falhas<br />

antigas.<br />

Fig. 1. Relação entre as geossuturas proterozóicas e os<br />

sismos ocorridos no Brasil. O mapa destaca a concentração<br />

de sismos no Nordeste (zona sismogênica<br />

de Fortaleza e Cráton do São Francisco) e<br />

Sudeste do Brasil (região das Serras do Mar e da<br />

Mantiqueira). (Modificado de Hasui & Ponçano,<br />

1978).<br />

Asmus & Ferrari (1978) falam de um tectonismo<br />

cenozóico que atingiu a Região Sudeste e<br />

parte da Região Sul do Brasil, onde predominou a<br />

reativação de linhas de fraqueza pré-cambrianas<br />

entre o Paleoceno e o Plioceno, com rejeitos de até<br />

3.000 m. Esse tectonismo estaria associado a processos<br />

tectono-térmicos iniciados no Permiano/Triássico,<br />

que teriam ocasionado considerável soerguimento<br />

crustal (estágio pré-rift). A partir do Eocretáceo<br />

haveria uma ruptura da crosta continental como<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 95


conseqüência de uma nova manifestação tectonomagmática<br />

(fase rift). Esses eventos tectono-térmicos<br />

teriam provocado um desequilíbrio isostático entre<br />

as partes elevadas (porção continental) e as regiões<br />

oceânicas. No terciário, esses esforços atingiriam<br />

dimensão suficiente para reativar as linhas de fraquezas<br />

pré-cambrianas (falhamentos), expressas hoje em<br />

dia pelas escarpas da Serra do Mar e da Mantiqueira.<br />

Esse tectonismo cenozóico originaria uma seqüência<br />

de falhas escalonadas com os blocos resultantes desses<br />

falhamentos sendo basculados, configurando<br />

uma disposição de semi-grabens (fig. 2).<br />

Hasui (1990) é o primeiro a colocar de forma<br />

mais clara a relação entre o neotectonismo no Brasil<br />

e a reativação de falhas e outras linhas de fraquezas<br />

(zonas de cisalhamento dúctil, por exemplo), baseando<br />

suas afirmações no fato de que é mais fácil reativar<br />

uma linha de fraqueza preexistente do que<br />

nuclear uma nova. Seguindo essa linha de raciocínio,<br />

Hasui (op. cit.) afirma que os processos geológicos<br />

ocorridos desde o Proterozóico até o Recente<br />

são controlados por linhas de suturas pré-cambrianas,<br />

constituindo zonas de fraquezas, que separam a<br />

crosta em vários blocos. Esses processos seriam<br />

desencadeados pela tectônica global que, agindo<br />

sobre as linhas de suturas que bordejam os blocos<br />

crustais, provocariam o que ele denominou de tectônica<br />

ressurgente. Szatmari (1999) afirma que os<br />

processos tectônicos ocorridos tanto no Cretáceo<br />

como no Cenozóico definem-se pelo arranjo crustal<br />

pré-cambriano.<br />

Evidências a partir de<br />

Tensões Intraplaca<br />

Bezerra (1999) faz um esboço das principais<br />

falhas geradas ou reativadas durante o Benozóico na<br />

Bacia Potiguar. Elas possuem um caráter predominantemente<br />

transcorrente, são comumente segmentadas<br />

e mostram relações sistemáticas de truncamento<br />

(cross cutting), o que evidencia sua contemporaneidade.<br />

As falhas que atravessam as rochas<br />

quaternárias e terciárias controlam a espessura dos<br />

depósitos sedimentares resultantes do movimento<br />

delas, bem como o padrão de drenagem. A falha<br />

mais extensa é a de Carnaubais, estendendo-se pelos<br />

estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A leste<br />

dessa falha, depósitos de intermaré elevados, com a<br />

presença de bivalvos marinhos em posição de crescimento,<br />

mostram que o movimento ocorreu até o<br />

holoceno com um deslocamento vertical de aproximadamente<br />

4 m (Bezerra et al., 1998; Bezerra,<br />

1999). A falha de Jundiaí corta granitos pré-cambrianos<br />

e verticalmente desloca a Base do Grupo Barreiras<br />

em até 260 m.<br />

Fig. 2. Perfil esquemático mostrando os falhamentos escalonados<br />

e basculamento de blocos resultantes do<br />

tectonismo cenozóico que atingiu o Sudeste do<br />

Brasil (modificado de Asmus & Ferrari, 1978).<br />

Bezerra (1999) conclui que a paleosismicidade<br />

no Nordeste do Brasil tem ocorrido desde o<br />

Plioceno em intensidade tectônica maior do que os<br />

dados instrumentais têm revelado. O stress principal<br />

seria de compressão, orientado na direção E-W, o<br />

que originaria as falhas NE e NW observadas<br />

(Bezerra & Amaro, 1998).<br />

Evidências Morfogenéticas<br />

Martin et al. (1986) analisaram as principais<br />

evidências geomórficas e geológicas indicativas de<br />

atividades neotectônicas na Bacia do Recôncavo e<br />

parte do litoral baiano ao sul dessa bacia. Entre as<br />

evidências geomórficas, os autores ratificam as afirmações<br />

de King (1956) e Tricart & Silva (1968)<br />

sobre a rede hidrográfica embrionária em direção à<br />

Baía de Todos os Santos, sugerindo uma origem<br />

recente para essa baía. Essas evidências são mais<br />

marcantes na parte oeste da bacia, limitada pela<br />

falha de Maragogipe. Nesse local, um desnível de<br />

100 m de altura mostra que os rios ainda não tiveram<br />

tempo de escavar seus leitos, aparecendo<br />

pequenas cachoeiras. Além disso, depressões ao pé<br />

da falha, ocupadas por pequenas baías e canais de<br />

96 Junho • 2000


maré, sugerem afundamentos recentes ao longo do<br />

plano de falha de Maragogipe. As evidências geológicas<br />

relacionam-se aos desnivelamentos das linhas<br />

de costa pleistocênicas e holocênicas. Estas últimas<br />

foram associadas à curva de variação do nível relativo<br />

do mar, nos últimos 7.000 anos, na região de<br />

Salvador. A integração dos dados geomórficos e<br />

geológicos permitiu a delimitação da Bacia do<br />

Recôncavo em compartimentos limitados por falhas<br />

mais ou menos paralelas (fig. 3).<br />

Fig. 3. Compartimentação da Bacia do Recôncavo e de<br />

parte do litoral sul da Bahia em função dos dados<br />

fornecidos pela morfologia e pelos desnivelamentos<br />

holocênicos. A história de cada compartimento<br />

diferencia-se pela maior ou menor subsidência<br />

durante o Quaternário. O compartimento n.º 2, por<br />

exemplo, esteve sujeito à subsidência geral mais<br />

importante desse período (fonte: Martin et al.,<br />

1986).<br />

O GRUPO BARREIRAS E O SEU<br />

SIGNIFICADO NEOTECTÔNICO<br />

Muitas evidências de neotectonismo foram<br />

observadas por Silva & Tricart (1980) nos sedimentos<br />

do Grupo Barreiras, no litoral sul da Bahia. A<br />

primeira delas seria o basculamento suave para<br />

sudeste desse grupo, que, segundo esses autores, se<br />

prolongaria por toda a plataforma continental.<br />

Coincidências entre a disposição das falésias e as<br />

falhas cretácicas foram observadas próximo a<br />

Valença, mostrando relação entre alinhamentos<br />

mais antigos e a morfologia atual das escarpas litorâneas.<br />

Além disso, vários alinhamentos de vales e<br />

áreas deprimidas estão direcionados segundo as orientações<br />

de falhamentos do embasamento Pré-cambriano,<br />

o que pode representar uma reativação<br />

recente dessas linhas de fraqueza.<br />

Para a região litorânea entre Porto Seguro e<br />

Santa Cruz de Cabrália, Mendes et al. (1987) e Bittencourt<br />

et al. (1999) mostram, através de imagem<br />

de radar e de fotografia aérea, respectivamente, um<br />

nítido basculamento para NE da superfície pós-Barreiras,<br />

evidenciado pelo alinhamento do padrão de<br />

drenagem do bloco situado a norte do Vale do Buranhém,<br />

onde o rio homônimo bordeja o plano de<br />

falha (fig. 4). Lima & Vilas Boas (1999), estudando<br />

as falésias do Grupo Barreiras no litoral sul baiano,<br />

citam algumas evidências de neotectonismo associadas<br />

a esse complexo sedimentar. O sistema de lineamentos<br />

nessa região, por exemplo, possui um paralelismo<br />

com a linha de costa, indicando provavelmente<br />

um controle estrutural na deposição dos sedimentos<br />

com possível reativação das falhas pertencentes<br />

a esses lineamentos (Lima & Vila Boas,<br />

1999). Além disso, foram observadas zonas de fraturas<br />

bem definidas que, por não perturbarem a<br />

laminação original e cortarem todo o pacote sedimentar,<br />

foram interpretadas como de origem pósdeposicional.<br />

Outras feições importantes observadas<br />

foram a presença de diques areno-granulosos de<br />

espessura decimétrica, imersos em argilitos, e o basculamento<br />

para NE em várias porções da superfície<br />

atual acima do Barreiras.<br />

Bittencourt et al. (1999) e Amaro et al. (1999)<br />

relacionam os lineamentos (falhas) pré-terciários do<br />

litoral baiano e potiguar, respectivamente, com o<br />

delineamento costeiro atual, representado principal-<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 97


mente pelas falésias do Grupo Barreiras. Souza et al.<br />

(1999) fazem um levantamento das deformações<br />

impressas nesse grupo, no litoral cearense, tais como<br />

juntas verticais, falhas e dobras do tipo roll-over,<br />

caracterizando-as como estruturas sin-sedimentares,<br />

resultantes de um tectonismo ativo do Mioceno<br />

ao Pleistoceno. Lima et al. (1990) estabelecem uma<br />

relação entre o neotectonismo, as estruturas geológicas<br />

Pré-terciárias e o padrão de afloramento do<br />

Grupo Barreiras na Bacia Potiguar, mostrando o<br />

condicionamento da morfologia atual dos tabuleiros<br />

pertencentes a esse grupo à estruturação dos<br />

horizontes pré-Barreiras e às forças de compressão e<br />

tração que atingem a área atualmente. Segundo<br />

esses autores, as janelas estratigráficas produzidas<br />

pela erosão ao longo dos rios são, na maioria,<br />

subparalelas ao eixo p (compressão) e subperpendiculares<br />

ao eixo t (tração relativa), o que implica uma<br />

relação direta entre essas forças e a configuração das<br />

falésias pertencentes ao Grupo Barreiras.<br />

251 sismos no Brasil entre 1560 e 1977, sendo que,<br />

destes, pelo menos 138 não coincidem com os citados<br />

por Ferreira & Assumpção (1983) e por<br />

Assumpção et al. (1980). Somando-se a esses dados,<br />

estão os sucessivos eventos sísmicos na região de<br />

João Câmara, RN, entre 1986 e 1989, que,<br />

segundo Bezerra (1999), incluíram mais de 14.000<br />

abalos, com 15 deles possuindo magnitude entre<br />

4,1 e 5,1 na escala Richter.<br />

Fig. 4. Imagem de radar mostrando a deflexão da drenagem<br />

a partir do basculamento para NE de um bloco<br />

situado entre as cidades de Santa Cruz de Cabrália<br />

e Porto Seguro, Bahia. (Mendes et al., 1987).<br />

DISCUSSÃO<br />

Apesar do tema neotectonismo ter sido relegado<br />

ao descrédito, durante muito tempo, pela<br />

comunidade científica brasileira, por acreditar que<br />

um país bordejado por uma margem continental do<br />

tipo Atlântica (passiva) se constitui em uma região<br />

extremamente estável, no decorrer desse século, as<br />

evidências encontradas e destacadas por alguns<br />

expoentes da comunidade geológica fizeram com<br />

que, aos poucos, esse pensamento fosse sendo<br />

modificado.<br />

Os sismos estudados hoje em dia são muito<br />

mais comuns do que a princípio se poderia esperar.<br />

O relato desses sismos poderia ainda ser em quantidade<br />

bem maior, já que durante muito tempo a<br />

população se concentrou nas regiões litorâneas e os<br />

instrumentos fornecedores de dados sismológicos só<br />

há pouco mais de duas décadas foram instalados em<br />

nosso país (Hasui & Ponçano, 1978). É fato que os<br />

eventos sísmicos estão presentes e, segundo o levantamento<br />

de Ferreira & Assumpção (1983), só para<br />

o Nordeste Brasileiro, entre o século XVII e o início<br />

da década de 80 do século XX, foram catalogados<br />

253 sismos. Assumpção et al. (1980) descrevem um<br />

total de 21 sismos na Região Sudeste entre 1861 e<br />

1979, e Haberlehner (1978) cita a ocorrência de<br />

Outros dados sobre a ação neotectônica em<br />

nosso país são os relacionados à estruturação geológica<br />

adquirida ao longo de sua formação e que deixou,<br />

como legado, zonas de suturas pré-cambrianas<br />

que hoje, sob a ação da tectônica global, se constituem<br />

em zonas de fraqueza (Hasui & Ponçano,<br />

1978; Hasui, 1990). Sabe-se hoje em dia que nas<br />

regiões intraplaca a tensão horizontal máxima dispõe-se<br />

paralelamente à direção de movimentação<br />

absoluta das placas litosféricas, o que pressupõe<br />

regimes tectônicos compressionais nessas regiões,<br />

provocando regimes de falhas reversas ou falhas de<br />

rejeito lateral como as observadas, por exemplo, na<br />

Bacia Potiguar (Lima Neto, 1999). A ação das forças<br />

compressivas intraplaca, atuando sobre as fraquezas<br />

estruturais, são as responsáveis pela reativação e,<br />

conseqüentemente, pelos deslocamentos de blocos e<br />

pela ação sísmica por eles provocada. É natural, no<br />

entanto, que existam algumas particularidades regionais<br />

responsáveis por ligeiras alterações no direciona-<br />

98 Junho • 2000


mento dessas tensões e, por conseguinte, das estruturas<br />

criadas.<br />

Para o Nordeste, por exemplo, as observações<br />

de Lima (1999) estão em desacordo com a previsão<br />

do direcionamento da tensão horizontal<br />

máxima e, segundo esse autor, fontes locais como<br />

carga de sedimentos e diferenças de densidade da<br />

litosfera têm sido subestimadas nos modelamentos<br />

efetuados. Áreas onde há o desenvolvimento de<br />

falhas normais na Bacia de Campos indicam localmente<br />

um regime distensivo e, segundo Lima Neto<br />

(1999), esse predomínio relaciona-se a um sistema<br />

ainda em compactação sobre uma camada de sal<br />

(tectônica de sal ou halocinética). Bittencourt et al.<br />

(1999) falam de um controle flexural em toda a<br />

margem brasileira para a configuração da zona costeira.<br />

A carga de sedimentos depositada nas margens<br />

continentais geraria forças extensionais que<br />

reativariam falhas antigas e poderiam nuclear novas<br />

falhas. Esse pensamento pode ser encarado como<br />

uma particularidade para algumas áreas onde a<br />

carga sedimentar é significativa, já que em algumas<br />

porções dessas margens a quantidade de sedimentos<br />

oriundos do continente é muito pequena, gerando<br />

plataformas bastante estreitas.<br />

Além dos sismos e da análise estrutural, as<br />

anomalias morfológicas constituem dados que, há<br />

muito tempo, vêm chamando a atenção dos pesquisadores.<br />

Sampaio (1916) relatou uma topografia<br />

rebaixada para a Baía de Todos os Santos e observava<br />

que os seus paredões eram conseqüência dos<br />

sismos (tectonismo) pós–terciário. Freitas (1951)<br />

destacou como evidência de tectonismo cenozóico<br />

as escarpas que modelam as serras do Mar e da<br />

Mantiqueira e foi mais além ao afirmar a correlação<br />

entre os fenômenos epirogenéticos brasileiros com<br />

o orogenético dos Andes, fato aceito atualmente<br />

pela comunidade científica. Lima (1999), por exemplo,<br />

relaciona a compressão intraplaca à associações<br />

mecânicas existentes entre a convergência Nazca-<br />

América do Sul e a deformação andina.<br />

Todos os dados mostrados sobre a sismicidade<br />

e as evidências morfogenéticas e estruturais, apesar<br />

de esclarecerem o quanto o tectonismo atuou e atua<br />

em território brasileiro, não são suficientes, entretanto,<br />

para comparar a ação tectônica em nosso país<br />

com aquela desencadeada em regiões situadas nos<br />

limites de placas tectônicas. Isso assegura a estabilidade<br />

tectônica relativa do território brasileiro, o que<br />

não implica, no entanto, inatividade tectônica.<br />

CONCLUSÕES<br />

Algumas conclusões podem ser sumarizadas<br />

dentro do estudo executado. A principal delas talvez<br />

seja a concordância quase que geral sobre o comportamento<br />

do esforço intraplaca, interpretado pela<br />

maioria dos pesquisadores como de origem compressiva.<br />

Apesar desse consenso, variações locais,<br />

como carga de sedimento, diferenças de densidade<br />

da litosfera, posicionamento original das falhas précambrianas<br />

e influência de eventos termais, podem<br />

alterar localmente o direcionamento dessas forças.<br />

Outras conclusões importantes de serem relatadas<br />

são:<br />

• As zonas sismogênicas presentes em nosso país<br />

associam-se invariavelmente a regiões onde geossuturas<br />

pré-cambrianas ocorrem. Isso implica uma<br />

relação direta entre a sismicidade e o neotectonismo.<br />

• A movimentação da placa sul americana para<br />

W/NW é o principal fator das ocorrências tectônicas<br />

em nosso país. Vale lembrar que o embasamento<br />

do território brasileiro possui intrincado<br />

sistema de lineamentos (zonas de fraqueza) que,<br />

sob o esforço da tectônica global, pode sofrer<br />

deslocamentos diferenciais. Dessa forma, é possível<br />

haver rebaixamento em algumas regiões e<br />

soerguimento em outras. Toda a deposição do<br />

Grupo Barreiras e o seu modelamento posterior<br />

representam o produto de eventos neotectônicos.<br />

Ao longo do litoral brasileiro, suas falésias<br />

expressam variações locais, a depender da proximidade<br />

ou não de zonas sismogênicas, do sistema<br />

de falhas e fraturas associadas, além da<br />

história da tectônica recente da região.<br />

• Outras feições importantes, resultantes ou influenciadas<br />

pela ação do neotectonismo em nosso<br />

país, são as escarpas que margeiam as Serras do<br />

Mar e da Mantiqueira, o delineamento do Vale<br />

do São Francisco e, em áreas localizadas, o espessamento<br />

de depósitos quaternários costeiros.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 99


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Estruturais da Margem Continental Leste e Sudeste do Brasil. Rio de Janeiro: PETROBRÁS, pp. 75-88, 1978.<br />

ASMUS, H.E. & PONTE, F.C. The Brazilian Marginal Basins. In: NAIRN, A.E.M. & STEHLI, F.G. (orgs.). The Ocean Basins<br />

and Margins. The South Atlantic. Nova York: Plenum Press, pp. 87-133, 1973, v. 1.<br />

ASSUMPÇÃO, M.S. et al. Sismicidade do Sudeste do Brasil. Anais do SBG (Congresso Brasileiro de Geologia), Camboriú, 2: pp.<br />

1075-1092, 1980.<br />

BEZERRA, F.H.R. Intraplate paleoseimicity in Northeastern Brazil. Anais do SBG, Lençóis, 7 (4): pp. 12-16, 1999.<br />

BEZERRA, F.H.R. & AMARO, V.E. Sensoriamento Remoto Aplicado à Neotectônica da Faixa Litorânea Oriental do Estado<br />

do Rio Grande do Norte. Simp. Brasil. de Sens. Rem. 9, Santos, CD-rom, 1998.<br />

BEZERRA, F.H.R. et al. Holocene Coastal Tectonics in NE Brazil. In: STEWART, I.S. & VITA –FINZI, C. (orgs.). Coastal Tectonics.<br />

Londres: Geological Society, Special Publications, pp. 279-293, 1998, v. 146.<br />

BITTENCOURT, A.C.S.P et al. Flexure as a tectonic control on the large scale geomorphic characteristics of the eastern Brazil<br />

coastal zone. Journ of Coast Res. 15 (2): pp. 505-519, 1999.<br />

BRANNER, J.C. Recents Earthquakes in Brazil. Seism. Soc. Am. Bull., 10 (2): pp.90-104, 1920.<br />

FERREIRA, J.M. & ASSUMPÇÃO, M.S. Sismicidade do Nordeste do Brasil. Rev. Bras. Geof., 1: pp. 67-88, 1983.<br />

FREITAS, R.O. Ensaio Sobre o Relevo Tectônico do Brasil. Rev. Bras. de Geograf., 2: pp. 171-221, 1951.<br />

HABERLEHNER, H. Análise Sismotectônica do Brasil: notas explicativas sobre o mapa sismotectônico do Brasil e regiões correlacionadas.<br />

ABGE, Anais do Cong. Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp. 297-329, 1978.<br />

HASUI, Y. Neotectônica e Aspectos Fundamentais da Tectônica Ressurgente no Brasil. SBG/MG. Workshop sobre Neotectônica<br />

e Sedimentação Cenozóica Continental no Sudeste Brasileiro, Belo Horizonte, 1: pp. 1-31, 1990.<br />

HASUI, Y. & PONÇANO, W.L. Geossuturas e Sismicidade no Brasil. ABGE, Anais do Cong. Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp.<br />

331-338, 1978.<br />

HASUI, Y. et al. Os Falhamentos e a Sismicidade Natural da Região das Serras da Mantiqueira e do Mar. ABGE, Anais do Cong.<br />

Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp. 353-357, 1978a.<br />

______. Sobre as Bacias Tafrogênicas Continentais do Sudeste Brasileiro. SBG, Anais do Congresso Brasileiro de Geologia, Recife,<br />

1: pp. 382-392, 1978b.<br />

KING, L.C. A Geomorfologia do Brasil Oriental. Rev. Bras. Geogr., 2: pp. 147-265, 1956.<br />

LIMA, C.C. Inversão Nascente de Bacias: expressões topográficas e estruturais e implicações. SBG. Anais do Simp. Nac. Est.<br />

Tect., Lençóis, 4: pp. 29-30, 1999.<br />

LIMA, C.C. et al. O Grupo Barreiras na Bacia Potiguar: relações entre o padrão de afloramentos, estruturas pré-Barreiras e neotectonismo.<br />

SBG. Anais do Congresso Brasileiro de Geologia, Natal, 2: pp. 607-620, 1990.<br />

LIMA, C.C.U. & VILAS BOAS, G.S. Evidências de Neotectonismo nas Falésias do Grupo Barreiras, litoral sul da Bahia Anais<br />

VII Congresso da ABEQUA, Porto Seguro, Viiabequa_zco999.pdf., 1999.<br />

LIMA NETO, F.F. O Regime Atual de Tensões nas Bacias Sedimentares Brasileiras. SBG, Anais Simp. Nac. Est. Tect., Lençóis, 4:<br />

pp. 25-28, 1999.<br />

MARTIN, L. et al. Neotectonic Movements on a Passive Continental Margin: Salvador region, Brazil. Neotectonics, 1: pp. 87-<br />

103, 1986.<br />

MEN<strong>DE</strong>S, I.A. et al. Geomorfologia. Projeto RADAMBRASIL. Folha SE 24, RIO DOCE. Geologia, Pedologia, Vegetação, Uso<br />

Potencial da Terra. Rio de Janeiro, Levantamento de Recursos Naturais, 34: pp. 173-228, 1987.<br />

PAVLI<strong>DE</strong>S, S.B. Looking for a Definition of Neotectonics. 1989. Citação eletrônica [on line] 1999. Disponível: .<br />

PONTE, F.C. Estudo Morfoestrutural da Bacia Sergipe-Alagoas. Bol. Tec. Petrob., 12: pp. 439-474, 1969.<br />

SAADI, A. Neotectônica da Plataforma Brasileira: esboço e interpretação preliminares. Geonomos, 1 (1): pp. 1-15, 1993.<br />

SAMPAIO, T. Movimentos Sísmicos na Bahia de Todos os Santos. Anais Cong. Bras. de Geog., 5: pp. 357-367, 1916.<br />

___________. Tremores de Terra no Recôncavo da Bahia de Todos os Santos. Rev. do Inst. Geog. Hist. da Bahia, 45: pp. 211-<br />

222, 1919.<br />

___________. Tremores de Terra na Bahia em 1919. Rev. do Inst. Geog. Hist. da Bahia, 46: pp. 183-195, 1920.<br />

SILVA, T.C. & TRICART, J. Problemas do Quaternário do Litoral Sul da Bahia. SBG. Anais Cong. Bras. Geol., Camboriú, 1: pp.<br />

603-606, 1980.<br />

100 Junho • 2000


SOUZA, D. et al. Deformação Sin e Pós-formação Barreiras na Região de Ponta Grossa (Ipacuí, CE), Litoral Ocidental da Bacia<br />

Potiguar. SNET, Lençóis, 4: pp. 90-93, 1999.<br />

SZATMARI, P. Role of Tectonic and Halotectonic Processes in Shaping the Brazilian Continental Margin. Anais Simp. Nac. Est.<br />

Tect., Lençóis, 4: pp. 3-5, 1999.<br />

SUGUIO, K. & MARTIN, L. The Role of Neotectonics in the Evolution of the Brazilian Coast. Geonomos, 4 (2): pp. 45-53,<br />

1996.<br />

TRICART, J. & SILVA, T.C. Estudos de Geomorfologia da Bahia e Sergipe. Salvador: Fundação Desenvolvimento da Ciência na<br />

Bahia, p. 167, 1968.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 101


102 Junho • 2000


<strong>Revista</strong> de Ciência & Tecnologia<br />

CORPO <strong>DE</strong> CONSULTORES<br />

Arquitetura e Urbanismo<br />

João Moreno (<strong>Unimep</strong>)<br />

Renata Faccini de Camargo (UNIMEP)<br />

Ciências Econômicas<br />

Antônio Carlos Sacilotto (UNIMEP)<br />

Computação/Informática<br />

Maria de Fátima Nepomucemo (UNIMEP)<br />

Engenharia Civil<br />

Sueli do Carmo Bettine( Puccamp)<br />

Engenharia de Alimentos<br />

Engenharia de Produção<br />

Alceu Gomes Filho (UFSCar)<br />

Edjar Martins Telles<br />

Felipe Araujo Calarge (UNIMEP)<br />

Gilberto Martins (UNIMEP)<br />

Jefferson Ozone Mortatti (USP)<br />

João Alberto Camarotto (UFScar)<br />

José Antonio Arantes Salles (UNIMEP)<br />

José Arnaldo Barra Montevechi (EFEI)<br />

José Luiz Duarte Ribeiro (UFRGS)<br />

Klaus Schützer (UNIMEP)<br />

Luis Carlos da Cunha Colombo (UNIMEP)<br />

Luiz César Carpinetti<br />

Milton Vieira Júnior (UNIMEP)<br />

Mitsuo Serikawa (UNIMEP)<br />

Nelson Carvalho Maestrelli (UNIMEP)<br />

Nelson Nepomuceno (UNIMEP)<br />

Neócles Alves Pereira (UNIMEP)<br />

Nivaldo Lemos Coppini (UNIMEP)<br />

Paulo C. Miguel (UNIMEP)<br />

Paulo Corrêa Lima (Unicamp)<br />

Paulo Jorge Figueiro (UNIMEP)<br />

Rosângela Maria Vanalle (UNIMEP)<br />

Sílvio Roberto Ignácio Pires (UNIMEP)<br />

Engenharia Elétrica<br />

Afonso de Oliveira Alonso (Unicamp)<br />

Yaro Burian Júnior (Unicamp)<br />

Engenharia Mecânica<br />

Álisson Rocha Machado (UFU)<br />

Álvaro José Abackerli (UNIMEP)<br />

Anselmo Eduardo Diniz (Unicamp)<br />

Antonio Batocchio (Unicamp)<br />

Benedito de Moraes Purquério<br />

Benedito Di Giacomo (USP)<br />

Carlos Alberto Gasparetto (Unicamp)<br />

Eduardo Vila Gonçalves Filho EESUSP<br />

Francisco José de Almeida (UNIMEP)<br />

Marco Stipkovic Filho (EPUSP)<br />

Olivio Novaski (Unicamp)<br />

Reginaldo Texeira Coelho (EESCUSP)<br />

Rosalvo Tiago Ruffino (USP)<br />

Roxana Maria Martinez Orrego (UNIMEP)<br />

Waldir Luiz Ribeiro Gallo (Unicamp)<br />

Física<br />

Ana Elisa Vives Carneiro (UNIMEP)<br />

Antônio Ludovico Beraldo (Unicamp)<br />

Aparecido dos Reis Coutinho (UNIMEP)<br />

Lorival Fante Júnior (UNIMEP)<br />

Maria Guiomar Carneiro Tornazello (UNIMEP)<br />

Milton Grecchi (UNIMEP)<br />

Roseana da Exaltação Trevisan (Unicamp)<br />

Matemática e Estatística<br />

Angela M.C. Jorge Corrêa (UNIMEP)<br />

Armando M. Infante (Unicamp)<br />

Maria Imaculada Monte Bello (UNIMEP)<br />

Waldo Luis de Lucca (UNIMEP)<br />

Maria Cristina Aranda Batocchio (Unicamp)<br />

Química e Engenharia Química<br />

Ana Célia Ruggiero (UNIMEP)<br />

Franklina Maria Bragion de Toledo (FMEP)<br />

Ines Joekes (Unicamp)<br />

Sandra Maria Boscolo Brienza (UNIMEP)<br />

Sônia Maria Malmonge (UNIMEP)<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 103-104 103


<strong>Revista</strong> de Ciência & Tecnologia<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO<br />

PRINCÍPIOS GERAIS<br />

1. A REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA<br />

tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam<br />

para o desenvolvimento científico e tecnológico<br />

nas áreas de Ciências Exatas, Engenharia,<br />

Tecnologia e Arquitetura e Urbanismo.<br />

2. Os temas podem ser apresentados através dos<br />

seguintes tipos de artigos:<br />

• ensaio: artigo teórico sobre determinado<br />

tema;<br />

• relato: artigo sobre pesquisa experimental<br />

concluída ou em andamento;<br />

• revisão de literatura: levantamento do estágio<br />

atual de determinado assunto e compilação<br />

crítica de dados experimentais e propostas<br />

teóricas recentes;<br />

• resenha: comentário crítico de livros e/ou<br />

teses;<br />

• carta: comentário a artigos relevantes publicados<br />

anteriormente.<br />

3. Os artigos devem ser inéditos, sendo vedada sua<br />

publicação em outras revistas brasileiras. A<br />

publicação do mesmo artigo em revistas estrangeiras<br />

deverá contar com a autorização prévia<br />

da Comissão Editorial da RC&T.<br />

4. A aceitação do artigo depende dos seguintes critérios:<br />

• adequação ao escopo da revista;<br />

• qualidade científica ou tecnológica avaliada<br />

pela Comissão Editorial e por processo anônimo<br />

de avaliação por pares (peer review), com<br />

consultores não remunerados, especialmente<br />

convidados, cujos nomes são divulgados anualmente,<br />

como forma de reconhecimento;<br />

• cumprimento da presente Norma. Os autores<br />

serão sempre informados do andamento do<br />

processo de avaliação e seleção dos artigos e<br />

os originais serão devolvidos nos casos de sua<br />

não aceitação.<br />

5. Os artigos devem considerar como unidade<br />

padrão a página A4, com margens 2,5 cm, parágrafo<br />

justificado, fonte Times New Roman,<br />

tamanho 12, digitada em espaço 1,5 e em editor<br />

Word 97 for Windows, sem qualquer formatação<br />

especial.<br />

Os artigos devem ter as seguintes dimensões:<br />

• ensaio e relato: de 12 a 20 páginas-padrão,<br />

nelas incluídas todas as subdivisões dos capítulos,<br />

figuras, tabelas e referências bibliográficas;<br />

• revisão de literatura: de 10 a 15 páginaspadrão,<br />

nelas incluídas todas as subdivisões<br />

dos capítulos, figuras, tabelas e referências<br />

bibliográficas;<br />

• resenha e carta: de 2 a 4 páginas-padrão.<br />

6. Os artigos podem sofrer alterações editoriais<br />

não substanciais (reparagrafações, correções gramaticais<br />

e adequações estilísticas), que não<br />

modifiquem o sentido do texto. O autor será<br />

solicitado a revisar as mudanças eventualmente<br />

introduzidas.<br />

7. Não há remuneração pelos trabalhos. O autor<br />

de cada artigo recebe gratuitamente 3 (três)<br />

exemplares da revista; no caso de artigo assinado<br />

por mais de um autor, são entregues 5<br />

(cinco) exemplares. O(s) autor(es) pode(m)<br />

ainda comprar outros exemplares com desconto<br />

de 30% sobre o preço de capa.<br />

8. Os artigos devem ser encaminhados pelo Correio<br />

para:<br />

Comissão Editorial da RC&T<br />

A/c: prof. Nivaldo Lemos Coppini<br />

<strong>Unimep</strong> – Campus Santa Bárbara d’Oeste<br />

Km 1, Rod. Santa Bárbara d’Oeste/Iracemápolis<br />

CEP:13450-000 – Santa Bárbara d’Oeste<br />

através de ofício, do qual deve constar:<br />

• declaração de cessão dos direitos autorais para<br />

publicação na revista;<br />

• declaração de concordância com as Normas<br />

para Publicação da RC&T.<br />

Opcionalmente, os artigos e as declarações<br />

poderão ser encaminhadas através de arquivos “atachados”<br />

para o e-mail revct@unimep.br.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 105-108 105


ESTRUTURA<br />

9. Cada artigo deve conter os seguintes elementos:<br />

Identificação:<br />

• Nome do(s) autor(es);<br />

• Telefone, e-mail e endereço do(s) autor(es)<br />

para contato;<br />

• Titulação acadêmica; função e origem (instituição<br />

e unidade) do(s) autor(es);<br />

• Título e, se for o caso, subtítulo: precisa(m)<br />

indicar claramente o conteúdo do texto e<br />

ser(em) conciso(s) (título: no máximo 10<br />

palavras; subtítulos: no máximo 15 palavras)<br />

• Subvenção: menção de apoio e financiamento<br />

eventualmente recebidos;<br />

• Agradecimentos, apenas se absolutamente<br />

indispensáveis.<br />

Esses elementos devem ser apresentados em<br />

folha separada, pois contêm dados que não serão<br />

divulgados aos consultores. Após a aceitação do<br />

artigo, os dados serão incluídos para publicação.<br />

O texto deve conter:<br />

• Título e, se for o caso, subtítulo em português<br />

e inglês, qualquer que seja o idioma utilizado<br />

dentre os determinados por estas normas, bem<br />

como os limites de palavras acima definidos;<br />

• Resumo em português e Abstract em inglês,<br />

qualquer que seja o idioma utilizado no texto<br />

dentre os determinados por estas normas. Conterão<br />

entre 150 a 200 palavras com a mesma<br />

formatação da página padrão acima definida;<br />

• Para fins de indexação, o autor deve indicar<br />

no mínimo três e no máximo seis palavraschave<br />

logo após a apresentação do Resumo, e,<br />

posteriormente ao Abstract, sua versão para o<br />

inglês (keywords).<br />

• O texto pode ser escrito em português, inglês<br />

ou espanhol e deve estar subdividido em:<br />

INTRODUÇÃO, <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO,<br />

CONCLUSÃO e REFERÊNCIAS BIBLIO-<br />

GRÁFICAS. Cabe ao autor criar os intertítulos<br />

para o seu trabalho: em letras maiúsculas e sem<br />

numeração. No caso de Relatos, podem ter as<br />

seguintes seções: INTRODUÇÃO, METO-<br />

DOLOGIA (ou MATERIAIS E MÉTODOS),<br />

RESULTADOS, DISCUSSÕES, CONCLU-<br />

SÕES, NOTAS e REFERÊNCIAS BIBLIO-<br />

GRÁFICAS. No caso de Resenhas, o texto deve<br />

conter todas as informações para identificação<br />

do livro comentado (autor; título, tradutor, se<br />

houver; edição, se não for a primeira; local; editora;<br />

ano; total de páginas; e título original, se<br />

houver). No caso de teses/dissertações, segue-se<br />

o mesmo princípio, no que for aplicável, acrescido<br />

de informações sobre a instituição na qual<br />

tiver sido produzida.<br />

DOCUMENTAÇÃO<br />

10. O artigo poderá apresentar notas explicativas. 1<br />

Elas devem ser indicadas por numeração<br />

seqüencial sobrescrita e apresentadas no rodapé<br />

da página, com a mesma formatação da página<br />

padrão. O artigo precisa apresentar as referências<br />

bibliográficas de acordo com a norma NBR<br />

6.023/1989 da ABNT, em sua versão exemplificada<br />

abaixo, que consiste em fazer a citação da<br />

referência ao longo do texto:<br />

Para se ter uma idéia do avanço nesta direção, até novembro<br />

de 1997, inúmeras empresas foram certificadas conforme<br />

uma das normas de série ISO 9000 (Emmanuel,<br />

1997). Entretanto, requisitos da Qualidade, segundo Brederodes<br />

(1996), não estão somente restritos à esfera da<br />

ISO 9000.<br />

As Referências Bibliográficas deverão ser apresentadas<br />

em ordem alfabética pelo sobrenome dos autores.<br />

I– Sobrenome do autor (maiúsculo), nome (minúsculo).<br />

Título da obra (itálico). Tradutor, edição,<br />

cidade em que foi publicado: editora, ano de<br />

publicação. Ex.:<br />

HOBSBAWM, E.J. Era dos Extremos: o breve século XX;<br />

1914-1991. Trad. Marcos Santarrita, São<br />

Paulo: Companhia das Letras, 1995.<br />

Obs.: sendo 1.ª edição, esta não deve ser indicada.<br />

II– Designação de parentes não pode abrir referência<br />

bibliográfica. Ex.:<br />

JUNQUEIRA NETTO, P....<br />

Sobrenome composto:<br />

CASTELLO BRANCO, H. de,...<br />

VILLA-LOBBOS, H.,...<br />

III– Obras escritas por dois autores. Ex.:<br />

ARANHA, M.L. de A. & MARTINS, M.H.P. Filosofando:<br />

introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna,<br />

1986.<br />

IV– Obras escritas por três ou mais autores.<br />

Coloca-se o nome do primeiro autor, seguido da<br />

expressão et al. Ex.:<br />

1 As notas explicativas devem ser apresentadas desta forma.<br />

106 Junho • 2000


PIRES, M.C.S. et al. Como fazer uma Monografia. 4.ª ed.,<br />

São Paulo: Brasiliense, 1991.<br />

Se houver um responsável pela obra (coordenador<br />

ou organizador):<br />

GENTILI, P. (org.). Pedagogia da Exclusão: o neoliberalismo<br />

e a crise da escola pública. Petrópolis: Vozes,<br />

1995.<br />

V– Artigos de revistas e jornal.<br />

<strong>Revista</strong>: sobrenome do autor (maiúsculo), prenome.<br />

Título do artigo, título do jornal (itálico),<br />

local, volume (número/fascículo): páginas incursivas,<br />

ano.<br />

Ex. com autor:<br />

ZAMPRONHA, M.L.S. Música e semiótica. Arte, Unesp,<br />

Rio Claro, 6: 105-128, 1990.<br />

Ex. sem autor:<br />

Máquinas paradas braços cruzados. Atenção, Página Aberta,<br />

ano 2, (7): 10-17, 1996.<br />

Jornal: sobrenome do autor (maiúsculo), prenome,<br />

título do artigo, título do jornal (itálico), local, dia,<br />

mês, ano, número ou título do caderno, seção ou<br />

suplemento, página inicial-final.<br />

Ex. com autor:<br />

FRIAS FILHO, O. Peça de Calderón sintetiza teatro barroco.<br />

Folha de S.Paulo, São Paulo, 23/out./91, Ilustrada,<br />

p. 3.<br />

Ex. sem autor:<br />

Duas economias, duas moedas. Gazeta Mercantil, São Paulo,<br />

31/jan./97, p. 7.<br />

VI– Capítulo de um livro escrito por um único<br />

autor. Substituir o nome do autor depois do “in”<br />

por um travessão de três toques. Ex.:<br />

ECO, U. A procura do material. In: ________. Como se faz<br />

uma tese em ciências humanas, 4.ª ed. Lisboa:<br />

Presença, 1988.<br />

VII– Autor do capítulo diferente do responsável<br />

pelo livro. Sobrenome do autor (maiúsculo) que<br />

realizou o capítulo, prenome. Título do capítulo.<br />

In (sobrenome do organizador do livro em<br />

maiúsculo), nome, título do livro (itálico), edição,<br />

local de publicação, editora, data. Ex.:<br />

COSTA, M. da. A educação em tempos de conservadorismo.<br />

In: GENTILI, P. Pedagogia da Exclusão: crítica<br />

ao neoliberalismo em educação em educação.<br />

Petrópolis: Vozes, 1995.<br />

VII– Enciclopédia e dicionário.<br />

GRAN<strong>DE</strong> ENCICLOPÉDIA <strong>DE</strong>LTA LAROUSSE. Rio de<br />

Janeiro, Delta, 1974, v. 7, p. 2.960.<br />

FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 397.<br />

VIII– Fontes eletrônicas<br />

A documentação de arquivos virtuais deve conter as<br />

seguintes informações, quando disponíveis:<br />

• sobrenome e nome do autor;<br />

• título completo do documento (entre aspas);<br />

• título do trabalho no qual está inserido (em<br />

itálico);<br />

• data (dia, mês e/ou ano) da disponibilização<br />

ou da última atualização;<br />

• endereço eletrônico (URL) completo (entre<br />

parênteses angulares);<br />

• data de acesso (entre parênteses).<br />

Exemplos :<br />

Site genérico<br />

LANCASHIRE, I. Home page. Sept. 13, 1998. (10/dez./98).<br />

Artigo de origem impressa<br />

COSTA, Florência. Há 30 anos, o mergulho nas trevas do<br />

AI-5. O Globo, 6.12.98. (6/dez./98).<br />

Dados/textos retirados de CD-rom<br />

ENCICLOPÉDIA ENCARTA 99. São Paulo: Microsoft,<br />

1999. Verbete “Abolicionistas”. CD-rom.<br />

Artigo de origem eletrônica<br />

CRUZ, Ubirajara Buddin. “The Cranberries: discography”.<br />

The Cranberries: images. Feb./97. (12/jul./97) .<br />

OITICICA FILHO, Francisco. “Fotojornalismo, ilustração e<br />

retórica”. (6/dez./98).<br />

Livro de origem impressa<br />

LOCKE, John. A Letter Concerning Toleration. Translated<br />

by William Popple. 1689. .<br />

Livro de origem eletrônica<br />

GUAY, Tim. A Brief Look at McLuhan's Theories. WEB<br />

Publishing Paradigms. (10/dez./<br />

98).<br />

KRISTOL, Irving. Keeping Up With Ourselves. 30/jun/96.<br />

(7/ago./98).<br />

Verbete<br />

ZIEGER, Herman E. “Aldehyde”. The Software Toolworks<br />

Multimedia Encyclopedia. Vers. 1.5. Software<br />

Toolworks. Boston: Grolier, 1992.<br />

“Fresco”. Britannica Online. Vers. 97.1.1. Mar./97. Encyclopaedia<br />

Britannica. 29/mar./97. http://<br />

www.eb.com:180.<br />

REVISTA <strong>DE</strong> CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 105-108 107


E-mail<br />

BARTSCH, R. “Normas técnicas<br />

ABNT – Internet”. 13/nov./98. Comunicação<br />

pessoal.<br />

Comunicação sincrônica (MOOs, MUDs, IRC etc.)<br />

ARAÚJO, Camila Silveira. Participação em chat no IRC<br />

#Pelotas. (2/<br />

set./97).<br />

lista de discussão<br />

SEABROOK, Richard H. C. “Community<br />

and Progress”. 22/jan./94. <br />

(22/<br />

jan./94).<br />

FTP (File Transfer Protocol)<br />

BRUCKMAN, Amy. “Approaches to Managing Deviant<br />

Behavior in Virtual Communities”. <br />

(4/dez./94).<br />

Telnet<br />

GOMES, Lee. “Xerox's On-Line Neighborhood: A Great<br />

Place to Visit”. Mercury News. 3 May 1992.<br />

telnet lamba.parc.xerox.com 8888, @go<br />

#50827, press 13 (5/dec./94).<br />

Gopher<br />

QUITTNER, Joshua. “Far Out: Welcome to Their World<br />

Built of MUD”. Newsday, 7/nov./93. gopher<br />

University of Koeln/About MUDs, MOOs,<br />

and MUSEs in Education/Selected Papers/<br />

newsday (5/dec./94).<br />

Newsgroup (Usenet)<br />

SLA<strong>DE</strong>, Robert. “UNIX Made<br />

Easy”. 26 Mar.1996. <br />

(31/mar./96).<br />

APRESENTAÇÃO<br />

11. O encaminhamento de artigos passa por várias<br />

ETAPAS:<br />

• Apresentar três (3) cópias paginadas para<br />

apreciação prévia, dispostas pelas normas. Se<br />

aceito preliminarmente pela Comissão Editorial,<br />

o artigo é submetido à apreciação por<br />

processo anônimo de avaliação por pares<br />

(peer review), sendo posteriormente devolvido<br />

ao autor para eventual revisão.<br />

• Após a revisão, deve-se apresentar uma via do<br />

texto impressa e outra em disquete, com<br />

arquivo gravado no formato Word 97 for<br />

Windows. Encaminhar também via do texto<br />

definitivo em papel, destacando as correções<br />

efetuadas com base nas alterações sugeridas<br />

pelos consultores, para facilitar a conferência.<br />

O trecho corrigido deverá ser grifado com<br />

tinta vermelha, ou marcado com cor vermelha<br />

da fonte através do editor de texto, ou<br />

ainda marcado com caneta “hidrocor destaca<br />

texto”. Concluído o processo de editoração, o<br />

autor recebe uma prova final que lhe será submetida<br />

à aprovação.<br />

• Caso o artigo seja vetado pela Comissão Editorial,<br />

é encaminhada justificativa ao(s)<br />

autor(es) juntamente com a devolução do<br />

texto original.<br />

12. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, gráficos, desenhos,<br />

mapas e fotografias) necessárias à compreensão<br />

do texto devem ser numeradas seqüencialmente<br />

com algarismos arábicos e apresentadas, de<br />

modo a garantir uma boa qualidade de impressão.<br />

Precisam ter título conciso, grafado em<br />

minúsculas.<br />

13. TABELAS devem ser editadas em Word 97 for<br />

Windows ou Excel. Sua formatação precisa estar<br />

de acordo com as dimensões da revista. Devem<br />

vir inseridas nos pontos exatos de suas apresentações<br />

ao longo do texto.<br />

14. GRÁFICOS e <strong>DE</strong>SENHOS, além da inclusão<br />

nos locais exatos do texto (cópia impressa e disquete),<br />

precisam ser enviados em seus arquivos<br />

originais em separado (p.ex.: Excel, CorelDraw,<br />

PhotoShop, PaintBrush etc.).<br />

15. As FOTOGRAFIAS devem oferecer bom contraste<br />

e foco nítido e precisam ser fornecidas em<br />

arquivos em formato “tif” ou “gif”.<br />

16. Outras informações poderão ser conseguidas através<br />

da secretaria da Comissão Editorial da RC&T<br />

pelos telefones (19) 430-1767 ou 430-1770 ou<br />

ainda através do e-mail revct@unimep.br.<br />

108 Junho • 2000

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