Conteúdo integral 8.06 MB - Unimep
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INSTITUTO EDUCACIONAL PIRACICABANO – IEP<br />
Presidente do Conselho Diretor LUIZ ALCEU SAPAROLLI<br />
Diretor geral<br />
Conselho de Política Editorial:<br />
Policy Advisory Committee<br />
DAVI FERREIRA BARROS<br />
Universidade Metodista de Piracicaba<br />
D AVI FERREIRA B ARROS (presidente)<br />
R INALVA C ASSIANO SILVA (vice-presidente)<br />
A NTONIO R OQUE D ECHEN<br />
C LÁUDIA R EGINA C AVAGLIERI<br />
C RISTINA B ROGLIA F. DE L ACERDA<br />
K LAUS SCHÜTZER<br />
LUIZ A NTONIO R OLIM<br />
SAÚDE EM REVISTA Health in Review set.-dez. 2006<br />
vol. 8, n. 20, “Saúde e Exercício Físico” / “Health and Exercise”<br />
Comissão Científico-Editorial CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA – editora científica (Curso de Fonoaudiologia)<br />
Scientific-Editorial Board FÁTIMA CRISTIANE L. GOULART FARHAT (Curso de Farmácia)<br />
MARCELO DE CASTRO CÉSAR (Curso de Educação Física)<br />
MÁRCIA REGINA C. C. DA FONSECA (Curso de Enfermagem)<br />
MARIA LUIZA OZORES POLACOW (Grupo de Área de Ciências Biomédicas)<br />
RINALDO GUIRRO (Curso de Fisioterapia)<br />
VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI (Curso de Nutrição)<br />
Comitê Científico ALBERT-JESUS FIGUERAS SUÑE (Fundació Institut Català de Farmacologia /<br />
Advisory Board Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha)<br />
ARTURO SAN FELICIANO (Departamento de Quimica Farmaceutica /<br />
Faculdad de Farmacia / Universidade de Salamanca, Espanha)<br />
ELVIRA MARIA GUERRA SHINOHARA (Faculdade de Ciências<br />
Farmacêuticas / USP-SP)<br />
FRAN HARSTROM (Department of Rehabilitation, Human Resources and<br />
Communication Disorders / University of Arkansas-Fayetteville, USA)<br />
ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO (Curso de Fonoaudiologia /<br />
Universidade Luterana do Brasil-ULBRA / Canoas-RS)<br />
LÉSLIE PICCOLOTTO FERREIRA (Faculdade de Fonoaudiologia / PUC-SP)<br />
LISIAS NOGUEIRA CASTILHO (Hospital das Clínicas da Faculdade de<br />
Medicina / USP-SP)<br />
MARIA CRISTINA FABER BOOG (Departamento de Enfermagem – Faculdade<br />
de Ciências Médicas / Unicamp-SP)<br />
MAURO FISBERG (Departamento de Pediatria e Adolescência – Nutrologia /<br />
Unifesp-SP)<br />
PEDRO LUIZ ROSALEN (Faculdade de Odontologia de Piracicaba /<br />
Unicamp-SP)<br />
RENATA MOTA MAMEDE CARVALHO (Departamento de Fisioterapia,<br />
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional / Faculdade de Medicina da USP-SP)<br />
RUI CURI (Instituto de Ciências Biomédicas / USP-SP)<br />
Equipe Técnica/Technical Team PEDRO LUÍS LOPES BINCOLETTO (bolsista atividade da revista)<br />
DENISE SIQUEIRA (ficha catalográfica)<br />
MILENA DE CASTRO (edição de texto)<br />
NUNO COI<strong>MB</strong>RA MESQUITA (revisão de textos em inglês)<br />
Capa WESLEY LOPES HONÓRIO<br />
Impressa por Gráfica e Editora Rudcolor<br />
SAÚDE EM REVISTA é uma publicação quadrimestral da Editora UNIMEP que traz artigos vinculados ao desenvolvimento científico e<br />
tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde. Os originais devem ser encaminhados à Comissão Editorial da revista, observadas<br />
suas normas para publicação de artigos. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos seus autores. Os textos são<br />
selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (blind peer review). Na última edição de cada ano, é publicada a relação do<br />
seu corpo de referee. Veja as normas para publicação no final da revista (estilo Vancouver: ) ou no site da Editora<br />
UNIMEP ().<br />
SAÚDE EM REVISTA (Health in Review) is published three times a year by UNIMEP Press (São Paulo/Brazil). It contains papers on scientific<br />
and technological issues from biological and health sciences. Editorial norms for submission of articles can be requested to the Editor. Manuscripts<br />
are selected through a blind peer review process. In the last issue of the year, the list of referee body is published. See editorial norms for<br />
submission of articles in the back of this journal (Vancouver stile: ) or in UNIMEP’s site ().<br />
Aceita-se permuta / Exchange is desired.<br />
Saúde em Revista é indexada pelo / Saúde em Revista is indexed by<br />
SPORTDiscus, SIRC Collection; Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientificas de América Latina, el Caribe, España y Portugal<br />
(LATINDEX) base de dados Peri (ESALQ/USP) e Qualis CAPES.<br />
Disponibilizada no sítio / available in site <br />
Assinaturas EDITORA UNIMEP <br />
Rodovia do Açúcar, km 156 – 13400-911 – Piracicaba/SP<br />
Tel./fax: 55 (19) 3124-1620 / 3124-1621<br />
E-mail: editora@unimep.br / Comissão Científico-Editorial: sauderev@unimep.br<br />
SAÚDE EM REVISTA<br />
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA<br />
V. 1 • n. 1 • 1999<br />
Quadrimestral / Three times yearly<br />
ISSN 1516-7356<br />
1. Ciências da Saúde – periódicos<br />
CDU – 613/614
Editorial<br />
SAÚDE E EXERCÍCIO FÍSICO<br />
Atualmente, a prática regular de exercícios físicos é considerada fundamental para a<br />
prevenção e o tratamento de muitas doenças. Entretanto, o sedentarismo está aumentando em<br />
nossa sociedade, pois as atividades profissionais exigem cada vez menos esforços físicos e as<br />
pessoas não acham tempo ou motivação para a prática de exercícios. A universidade consiste em<br />
espaço privilegiado para divulgação dos benefícios dos exercícios físicos na promoção da saúde;<br />
assim, a vigésima edição da Saúde em Revista tem como tema “Exercício Físico e Saúde”.<br />
A prática de atividades motoras deve começar na infância, e este número inicia com<br />
um interessante artigo que relata uma investigação sobre o crescimento físico e desenvolvimento<br />
motor de pré-escolares, ressaltando a necessidade de incrementar as experiências<br />
motoras das crianças para seu maior desenvolvimento. O hábito de exercícios aeróbios e resistidos<br />
é considerado essencial para o aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde,<br />
sendo o tema tratado no segundo artigo, referente a um estudo dos efeitos do treinamento em<br />
homens adultos.<br />
A investigação das adaptações do treinamento em animais de laboratório em muito<br />
contribui para a elaboração de programas de exercícios em humanos. O terceiro artigo justamente<br />
traz um interessante protocolo de treinamento resistido de alta intensidade em ratos. Já<br />
o quarto estudo publicado nesta edição aborda as respostas cardiopulmonares de mulheres<br />
jovens submetidas a testes em esteira, referência a outros estudos que investigam a aptidão<br />
cardiorrespiratória em mulheres.<br />
A revista apresenta artigos originais não diretamente associados ao exercício, mas a<br />
assuntos relevantes à saúde, tais como a investigação do custo da assistência médica de diabéticos,<br />
a contaminação de jalecos por estudantes e a escolha de fumar, não fumar e parar de<br />
fumar. Finalizando a edição, um artigo de revisão sobre os efeitos terapêuticos e no exercício<br />
de fibras dietéticas, que destaca a relevância da utilização das fibras como ferramenta nutricional.<br />
Os autores desses trabalhos contribuíram para consolidar a vocação multidisciplinar da<br />
Saúde em Revista, divulgando importantes informações aos profissionais que atuam nesta área.<br />
COMISSÃO CIENTÍFICO-EDITORIAL
SUMÁRIO<br />
CONTENTS<br />
ORIGINAIS / ORIGINALS<br />
7.<br />
Avaliação Motora e Crescimento Físico de Pré-Escolares<br />
Motor Evaluation and Physical Growth of Preschoolers<br />
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO; RUTE ESTANISLAVA TOLOCKA &<br />
15.<br />
23.<br />
ADEMIR DE MARCO<br />
Efeitos de Práticas Aeróbia e Resistida em Parâmetros de<br />
Saúde de Homens Adultos<br />
Effects of Aerobic and Resisted Practices on Parameters of Health<br />
in Adult Men<br />
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI; FABRICIO CESAR DE PAULO RAVAGNANI;<br />
CHRISTIANNE DE FARIA COELHO & ALEXANDRE HIODEKI OKANO<br />
Relação entre Exercício Físico de Alta Intensidade e o Lactato<br />
Sangüíneo, em ratos<br />
Relationship between High Intensity Exercise and Blood Lactate<br />
in Rats<br />
FERNANDA KLEIN MARCONDES; ANA PAULA TANNO; TATIANA SOUSA<br />
31.<br />
CUNHA & MARIA JOSÉ COSTA SAMPAIO MOURA<br />
Respostas Cardiopulmonares de Mulheres Jovens ao Exercício<br />
Máximo em Esteira<br />
Cardiopulmonary Responses of Young Women to Maximal<br />
Exercise in Treadmill<br />
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI; MILENA A. BORGES PEDROSO;<br />
RICARDO A. SIMÕES; THIAGO M. FROTA DE SOUZA; CACIANE<br />
DALLEMOLE; MARIA IMACULADA DE LIMA MONTEBELO; JOÃO PAULO<br />
BORIN & MARCELO DE CASTRO CESAR
37.<br />
47.<br />
55.<br />
Custo do Atendimento Ambulatorial e Gasto Hospitalar do<br />
Diabetes mellitus tipo 2<br />
Ambulatory and Hospital Care Cost of type 2 Diabetes mellitus<br />
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN; DENISE GIACOMO DA MOTTA;<br />
ANTONIO CARLOS LERARIO & ANTONIO CARLOS COELHO CAMPINO<br />
Contaminação em Jalecos Utilizados por Estudantes de<br />
Odontologia<br />
Contamination in Jackets Used by Odontology Students<br />
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI; RENATO SOBREIRA BITU<br />
FILHO; EVELINE GADÊLHA LIMA; ANA MIRYAM COSTA DE MEDEIROS &<br />
KENIO COSTA LIMA<br />
A Decisão entre Fumar, Não Fumar, Parar de Fumar... Uma<br />
Questão de Escolha<br />
The Decision of Smoking, Not Smoking, Quitting Smoking... A<br />
Question of Choice<br />
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO; DIMAS DOS SANTOS ROCHA JUNIOR;<br />
JOSÉ CLÓVIS ROSA RAPHANELLI; VIRGINIA SBRUGNERA NAZATO;<br />
CARLA DA SILVA SANTANA; MARIA IZALINA FERREIRA ALVES; RENATA<br />
DE LIMA; SARA DE JESUS OLIVEIRA & YOKO OSHIMA-FRANCO<br />
REVISÕES DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEWS<br />
65.<br />
RESENHAS / REVIEWS<br />
73.<br />
75.<br />
83.<br />
Fibras Dietéticas: efeitos terapêuticos e no exercício<br />
Dietary Fibers: therapeutic effects and in exercise<br />
FELIPE FEDRIZZI DONATTO; ADRIANE PALLANCH & CLAUDIA REGINA<br />
CAVAGLIERI<br />
O Papel da Fisioterapia nas Lesões Ortopédicas<br />
The Role of Physical Therapy in Orthopedic Lesions<br />
Membro Superior: abordagem fisioterapêutica das patologias<br />
ortopédicas mais comuns, de Osvandré Lech, Alonso Ranzzi,<br />
Fabricio Bordin, Mateus Faggion, Vinicius Zillmer & Paulo<br />
Puluski<br />
QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO<br />
CORPO DE CONSULTORES
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
Avaliação Motora e Crescimento<br />
Físico de Pré-Escolares<br />
Motor Evaluation and Physical<br />
Growth of Preschoolers<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
VITOR ANTONIO<br />
CERIGNONI COELHO *<br />
Mestrando em educação física<br />
(UNIMEP/SP)<br />
RUTE ESTANISLAVA TOLOCKA<br />
Coordenadora do Núcleo de<br />
Estudos e Pesquisas em<br />
Pedagogia do Movimento –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
ADEMIR DE MARCO<br />
Professor associado do<br />
Departamento de Educação<br />
Motora – Faculdade de<br />
Educação Física (Unicamp/SP)<br />
* Correspondências: R. Dr. Jorge<br />
Pacheco Chaves, 2.607, ap. 21,<br />
13401-200, Piracicaba/SP<br />
viacoelho@unimep.br<br />
RESUMO Mudanças nos hábitos infantis ocorridas nas últimas décadas,<br />
como o ingresso precoce na escola e o aumento da violência e do tráfego<br />
urbano, constituem alguns dos fatores que têm reduzido as possibilidades<br />
de atividades motoras pelas crianças. O presente trabalho<br />
objetivou identificar o perfil de crescimento e de desenvolvimento<br />
motor de pré-escolares. De tipo exploratório, apresenta medidas<br />
antropométricas e níveis de habilidades motoras básicas de crianças.<br />
Observaram-se 42 indivíduos, entre 3 e 5 anos de idade (21 meninos<br />
e 21 meninas), verificando-se na maioria deles os índices esperados<br />
para o crescimento dessa faixa etária, encontrando-se as meninas num<br />
estágio mais avançado que os meninos, mas estes apresentaram melhores<br />
escores em todas as habilidades motoras. Existem indícios de correlação<br />
significativa entre índices antropométricos e nível de habilidade<br />
motora, detectados na avaliação entre dobra cutânea subescapular<br />
e habilidade de correr (Spearman = – 0,437), e entre perímetro<br />
tricipital e habilidade de chutar (Spearman = – 0,539), p < 0,001,<br />
cabendo novas e ampliadas pesquisas para esclarecer melhor tal relação.<br />
Algumas crianças ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento<br />
motor, em todos os segmentos corporais analisados, sugerindo<br />
atraso em seu crescimento para a idade estudada, sendo<br />
necessário o incremento de experiências motoras que o estimulem.<br />
Palavras-chave DESENVOLVIMENTO INFANTIL – CRESCIMENTO – AVALIAÇÃO<br />
– SAÚDE<br />
ABSTRACT Changes in children’s habits in the last decades, like going<br />
to school in early ages and increasing urban violence and traffic, have<br />
decreased infant movement possibilities. The objective of this study<br />
was to identify the growth and development conditions of infants. This<br />
study shows anthropometric data and basic motor skill levels, of kids.<br />
42 individuals, 3 to 5 years old (21 boys and 21 girls), participated.<br />
We observed that the majority of the children are among the expected<br />
values for anthropometric measures in this age. The girls are more<br />
developed than boys, although boys showed a better score in all motor<br />
abilities. There is a possibility of correlation between anthropometric<br />
measures and motor skill, found in the evaluation of subscapular skin<br />
fold and running ability (Spearman = – 0,437) and of tricepital<br />
perimeter and kicking ability (Spearman = – 0,539), p < 0,001, Other<br />
studies should be done in order to clarify such relationship. Some kids<br />
are still in the initial phases of motor development, in all body<br />
segments observed, suggesting a delay in the growth for this age, so<br />
motor experiences are needed to improve such development.<br />
Keywords CHILD DEVELOPMENT – GROWTH – EVALUATION – HEALTH.<br />
Saúde em Revista<br />
Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />
7
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Os estudos sobre crescimento e desenvolvimento<br />
vêm se caracterizando como importante<br />
recurso para diagnosticar, preservar e prevenir<br />
a saúde das crianças. O crescimento<br />
refere-se à divisão celular aliado ao aumento da<br />
massa corporal e revela as transformações<br />
quantitativas do corpo. 1 Por desenvolvimento<br />
entende-se o processo dinâmico e contínuo relativo<br />
às mudanças corporais ao longo do ciclo<br />
da vida, com transformações em classes gerais<br />
do comportamento motor (estabilização, manipulação<br />
e locomoção). 2 O desenvolvimento<br />
motor dá-se, de maneira previsível, em determinadas<br />
faixas etárias, obedecendo a uma<br />
seqüência de quatro fases sobrepostas: fase de<br />
movimentos reflexos (do quarto mês pré-natal<br />
ao primeiro ano de vida); fase de movimentos<br />
rudimentares (até os 2 anos de idade); fase de<br />
movimentos fundamentais (entre 2 e 7 anos);<br />
e a fase de movimentos especializados (após<br />
os 7 anos). 3<br />
Embora esses estágios tenham sido considerados<br />
universais, observa-se que características<br />
do meio ambiente, entre elas, experiências<br />
de movimento vivenciadas e a cultura,<br />
podem interferir nesse desenvolvimento, como<br />
demonstram estudos que discutem as diferenças<br />
encontradas entre os sexos. 4 Assim, os<br />
exames de crescimento e desenvolvimento dos<br />
indivíduos devem acontecer de forma relacionada,<br />
pois recebem influência negativa ou<br />
positiva de fatores como meio ambiente (geografia,<br />
cultura, renda familiar, saneamento<br />
básico, educação, estilo de vida), genética<br />
(hereditariedade e transmissão de genes anormais),<br />
nutrição (consumo de nutrientes), tarefas<br />
(atividades diárias e, principalmente, atividade<br />
física) e aspectos psicossociais<br />
(desenvolvimento cognitivo, personalidade,<br />
relacionamentos). Esses fatores denominam-se<br />
influências intrínsecas e extrínsecas do crescimento<br />
e do desenvolvimento. 5<br />
Estudos propondo a indissociabilidade<br />
entre os processos de crescimento e de desenvolvimento<br />
6, 7 alegam que é necessário entender<br />
o mecanismo por meio do qual as propriedades<br />
da pessoa e do ambiente interagem<br />
para produzir constância e mudanças nas características<br />
dela. Diferenças significativas<br />
foram encontradas entre sexos e classe social,<br />
8, 9 além de serem observadas a correlação<br />
entre crescimento e capacidades físicas 10, 11 e a<br />
influência de fatores de crescimento e<br />
adiposidade corporal na realização de saltos<br />
em distância. 12, 13 Porém, análises sobre a relação<br />
do crescimento físico e o desempenho de<br />
habilidades motoras ainda são raras.<br />
Assim, este trabalho pretende verificar o<br />
crescimento físico, o nível de desenvolvimento<br />
motor e a ligação entre medidas<br />
antropométricas e a execução de habilidades<br />
motoras básicas.<br />
METODOLOGIA<br />
Trata-se de um estudo exploratório, que<br />
abrangeu 42 crianças (21 meninos e 21 meninas)<br />
na faixa etária entre 3 e 5 anos, de<br />
ambos os sexos, pertencentes a uma instituição<br />
infantil no interior do Estado de São<br />
Paulo. Foi aprovado pelo conselho de ética<br />
da UNIMEP, com parecer n.º 76/2003, e realizado<br />
com a autorização da referida instituição<br />
de ensino; todos os pais assinaram o termo<br />
de consentimento livre e esclarecido.<br />
As medidas antropométricas das crianças<br />
foram coletadas com as normas do Centro<br />
Nacional de Estatística em Saúde<br />
(National Center for Health Statistics –<br />
NCHS). 14 Os valores obtidos foram comparados<br />
com os dados fornecidos pelo NCHS,<br />
para peso e estatura, perímetro cefálico e<br />
perímetro tricipital 15 (dobras cutâneas<br />
tricipitais e subescapulares). 16 Calculou-se<br />
também o Índice de Massa Corporal (IMC)<br />
para classificar as crianças com baixo peso,<br />
17, 18<br />
eutrófico, sobrepeso e obesidade.<br />
No que diz respeito ao nível de desenvolvimento<br />
motor, observaram-se as habilidades<br />
básicas de correr, chutar, receber e<br />
8<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
desviar, comparando os movimentos executados<br />
com os previstos nos diferentes graus,<br />
classificando-os nos diversos segmentos:<br />
cabeça, tronco, membros superiores e inferiores.<br />
3, 19 O método indica três níveis de desenvolvimento<br />
motor em cada segmento corporal:<br />
inicial, em que a criança possui<br />
movimentos marcados, seqüências restritas<br />
pelo uso exagerado do corpo e por fluxo rítmico<br />
e coordenação deficiente; elementar, no<br />
qual apresenta uma melhora na coordenação<br />
e no ritmo, mas os movimentos são restritos<br />
ou exagerados; e maduro, em que os movimentos<br />
realizam-se com melhor desempenho,<br />
eficiência e coordenação controlada.<br />
As crianças posicionaram-se numa fila e<br />
receberam instruções verbais seguidas de demonstração.<br />
Cada uma delas realizou três tentativas<br />
alternadas de execução de cada habilidade,<br />
sendo considerado o melhor dos três<br />
resultados. Os dados foram gravados com uma<br />
câmera de vídeo analógica, NTSC, 30 quadro/<br />
segundo, colocada a uma distância de 5 m da<br />
criança, na lateral dela, para as habilidades de<br />
correr e chutar, e à sua frente, para receber e<br />
desviar. Os dados adquiridos foram capturados<br />
por uma placa de vídeo (Pinaclle Movie<br />
Box). A escolha dos quadros, contendo as<br />
imagens indicadas pelo protocolo utilizado,<br />
deu-se manualmente. As imagens escolhidas<br />
foram gravadas em um arquivo digital.<br />
Para fins estatísticos, atribuíram-se pontos<br />
de 1 a 3 a cada segmento observado,<br />
classificado como inicial, elementar ou maduro,<br />
respectivamente, obtendo-se um escore<br />
total para cada habilidade percebida. 20 A correlação<br />
entre as medidas antropométricas e<br />
habilidades motoras levou em conta o escore<br />
total obtido pela criança em cada uma das<br />
variáveis analisadas, aplicando-se o índice de<br />
correlação de Spearman.<br />
RESULTADOS<br />
O perfil antropométrico observado mostrou<br />
que as meninas possuem maior crescimento<br />
físico que os meninos, sendo que, no<br />
peso, a maioria das meninas (10) estava entre<br />
17,5 kg e 20 kg, e a maioria dos meninos<br />
entre 15 kg e 17,5 kg. No entanto, as medianas<br />
do peso feminino e masculino revelaramse<br />
próximas (17,7 kg para as meninas e 17,2<br />
kg para os meninos), dado que a amostra era<br />
pequena e uma menina distanciou-se significativamente<br />
dos valores das outras crianças,<br />
estando abaixo do esperado para sua idade.<br />
Nas medidas de estatura, as meninas<br />
também apresentaram resultados maiores,<br />
sendo que oito delas tinham entre 105 cm e<br />
110 cm e outras seis, entre 100 cm e 105 cm,<br />
ao passo que, entre os meninos, sete tinham<br />
entre 99 cm e 102 cm e seis, entre 105 cm e<br />
108 cm. A estatura mediana feminina foi de<br />
107 cm e a masculina de 105 cm, também<br />
com uma menina com valores distantes das<br />
outras e abaixo do esperado para a idade. A<br />
figura 1 permite observar a distribuição das<br />
medidas antropométricas de ambos os sexos.<br />
Quanto aos valores do IMC, 18 meninos<br />
mostraram-se eutróficos, isto é, dentro<br />
do esperado, dois apresentaram obesidade e<br />
um deles, baixo peso. Sobre o IMC feminino,<br />
foram encontradas 13 crianças eutróficas,<br />
cinco com sobrepeso, duas com<br />
baixo peso e uma obesa.<br />
Comparando os dados obtidos com os<br />
índices propostos pelo NCHS, no grupo masculino<br />
foram encontradas duas crianças acima,<br />
19 dentro e nenhuma abaixo dos valores<br />
para peso esperados para essa faixa etária.<br />
Em relação à estatura, três estavam acima do<br />
esperado, 18 dentro do previsto e nenhuma<br />
abaixo; para perímetro cefálico, três mostraram-se<br />
acima do esperado, 14 dentro e quatro<br />
abaixo; no perímetro tricipital, uma criança<br />
acima do esperado, 20 dentro e nenhuma<br />
abaixo, sendo os mesmos valores encontrados<br />
para as dobras cutâneas subescapulares.<br />
Já nas dobras cutâneas tricipitais, uma criança<br />
estava acima, 19 dentro e apenas uma<br />
abaixo do esperado.<br />
Saúde em Revista<br />
Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />
9
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
Figura 1. Box-Plot – ilustrando a distribuição das medidas de peso e estatura.<br />
No grupo feminino, nos valores para<br />
peso e estatura foram encontradas 19 meninas<br />
dentro, uma acima e uma abaixo do esperado<br />
para essa faixa etária. Em relação ao<br />
perímetro cefálico, 15 crianças estavam dentro<br />
do esperado, seis abaixo e nenhuma acima;<br />
para perímetro tricipital, uma criança<br />
acima, 19 dentro e uma abaixo; sobre a dobra<br />
cutânea tricipital, apenas uma menina<br />
abaixo, nenhuma acima e 20 dentro do esperado;<br />
e quanto à dobra cutânea tricipital, todas<br />
as crianças estavam dentro do esperado.<br />
Apenas na habilidade de correr, elas mostraram<br />
níveis próximos de maturidade, sendo<br />
que a maioria (16), tanto do sexo feminino<br />
quanto do masculino, obteve escore entre 6 e 7.<br />
Nesse quesito, apenas uma menina mostrou<br />
comportamento maduro. Nos outros, as meninas<br />
revelaram-se mais imaturas. A habilidade<br />
de chutar foi aquela em que os meninos tiveram<br />
melhores resultados, com diferença significativa<br />
entre os sexos, sendo que nove mostraram<br />
padrão maduro, enquanto apenas duas<br />
meninas o fizeram; entre elas, a maioria alcançou<br />
o escore 6, encontrando-se outras três ainda<br />
no estágio inicial em todos os segmentos.<br />
As maiores dificuldades entre as meninas<br />
revelaram-se na habilidade de desviar,<br />
em que cinco apresentaram o escore mínimo,<br />
estando no nível inicial em todos os segmentos<br />
analisados; 12 obtiveram o escore 6, com<br />
graus elementares nas três etapas avaliadas;<br />
e nenhuma teve comportamento maduro.<br />
Entre os meninos, também não houve nenhum<br />
no estágio maduro, sendo também o<br />
nível elementar o predominante, em todos os<br />
segmentos, com duas crianças ainda em estágio<br />
inicial. Na habilidade de receber, nenhuma<br />
delas estava no nível maduro, e a maioria,<br />
tanto entre os meninos quanto entre as<br />
meninas, alcançou o escore 6 e nível elementar<br />
em todos os segmentos analisados. A distribuição<br />
dos dados pode ser vista na figura<br />
2; já as tabelas 1 e 2 apresentam os resultados<br />
por segmentos, de cada criança, em cada<br />
habilidade observada.<br />
Encontrou-se, entre os meninos, correlação<br />
negativa estatisticamente significante entre<br />
dobra cutânea subescapular e a habilidade de<br />
correr (Spearman = – 0,437), e entre perímetro<br />
tricipital e a habilidade de chutar<br />
(Spearman = – 0,539) para p < 0,001. As outras<br />
correlações não foram estatisticamente<br />
significantes, com p < 0,005; peso e correr σ<br />
= – 0,069, desviar σ = – 0,067; receber σ =<br />
0,043 e chutar σ = – 0,389; estatura e correr σ<br />
10<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
Figura 2. Box-Plot – ilustrando a distribuição dos escores obtidos nas habilidades motoras básicas.<br />
Tabela 1. Nível de habilidade básica e escore<br />
obtidos no sexo masculino.<br />
Tabela 2. Nível de habilidade básica e escore<br />
obtidos no sexo feminino.<br />
Legenda: MS: membro superior / T: tronco / MI: membro<br />
inferior.<br />
I: inicial / E: elementar / M: maduro / S: escore.<br />
Legenda: MS: membro superior / T: tronco / MI: membro<br />
inferior.<br />
I: inicial / E: elementar / M: maduro / S: escore.<br />
Saúde em Revista<br />
Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />
11
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
= 0,168, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />
0,297, e chutar σ = – 0,179; perímetro tricipital<br />
e correr σ = – 0,111; desviar σ = 0,065;<br />
receber σ = 0,142 e chutar σ = – 0,539; dobra<br />
cutânea tricipital e correr σ = – 0,336, desviar<br />
σ = 0,065, receber σ = 0,142 e chutar σ = –<br />
0,339; dobra cutânea subescapular e correr σ<br />
= – 0,437, desviar σ = 0,026; receber σ =<br />
0,124 e chutar σ = – 0,322.<br />
Entre as meninas, nenhuma correlação<br />
mostrou-se significante. Os valores encontrados,<br />
com p < 0,005 foram: peso e correr σ =<br />
– 0,069, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />
0,043 e chutar σ = – 0,389; estatura e correr<br />
σ = 0,168, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />
0,297 e chutar σ = – 0,179; perímetro tricipital<br />
e correr σ = – 0,111, desviar σ = 0,065,<br />
receber σ = 0,142 e chutar σ = – 0,539; dobra<br />
cutânea tricipital e correr σ = – 0,336,<br />
desviar σ = 0,065, receber σ = 0,142, e chutar<br />
σ = – 0,339, dobra cutânea subescapular<br />
e correr σ = – 0,437, desviar σ = 0,026, receber<br />
σ = 0,124 e chutar σ = – 0,322.<br />
DISCUSSÃO<br />
Os dados apresentados apontam para as<br />
diferenças entre os sexos, já observadas em<br />
outros estudos, nos quais o crescimento físico<br />
é mais acelerado nas meninas que nos<br />
meninos, 21, 22 ao passo que no desenvolvimento<br />
motor ocorre o contrário.<br />
Embora a diferença no crescimento possa<br />
ser explicada, em alguns casos, pela proximidade<br />
com o estirão do crescimento, ocorrido<br />
mais cedo nas meninas, 23 em outras<br />
situações, 24 essa justificativa não se sustenta<br />
quando as crianças estão distantes do estirão<br />
de crescimento. Tal diferença poderia estar<br />
ligada ao sexo, mas também é possível acontecer<br />
por fatores socioculturais, 25 apesar de<br />
eles influenciarem tanto o sexo feminino<br />
quanto o masculino, sendo necessários novos<br />
estudos para esclarecê-la em relação à velocidade<br />
do crescimento infantil.<br />
Verificou-se que o IMC dessas crianças<br />
não está dentro da tendência mundial para a<br />
obesidade, pois foram encontrados poucos<br />
casos de obesidade infantil. No entanto,<br />
deve-se atentar para os casos de sobrepeso<br />
entre as meninas, pois são fatores de tendência<br />
à obesidade, e para os de baixo peso, que<br />
refletem uma preocupação com o estado de<br />
desnutrição infantil, encaminhando-os a serviços<br />
especializados.<br />
A diferença entre os sexos apresentada<br />
no comportamento motor, em que as meninas<br />
mostraram-se mais imaturas, pode estar associada<br />
a questões ligadas ao sexo 26 ou a fatores<br />
socioculturais, 27 que as influenciam a praticar<br />
atividades diversas dos meninos, sendo<br />
a experiência um aspecto relevante ao amadurecimento<br />
das habilidades motoras.<br />
É preocupante o fato de algumas crianças<br />
ainda se encontrarem no estágio inicial,<br />
em todos os segmentos corporais, de determinadas<br />
habilidades, quando deveriam, pelo<br />
2, 4 21<br />
menos, estar em estágios elementares.<br />
Isso indica que elas podem estar sendo privadas<br />
de experiências de movimento e a possibilidade<br />
de terem atrasos significativos no<br />
desenvolvimento. O que pode estar ocorrendo<br />
é que essas crianças ficam o dia todo dentro<br />
de uma instituição de ensino infantil, com<br />
poucas ocupações motoras, boa parte do tempo<br />
sentadas e realizando atividades de motricidade<br />
fina, como pintar ou manipular pequenos<br />
objetos. A maioria dessas instituições<br />
ainda se preocupa, prioritariamente, com aspectos<br />
ligados a higiene e alimentação, explicados<br />
pelo contexto em que surgiram as primeiras<br />
creches no Brasil, 28 com o objetivo de<br />
cuidar das crianças enquanto as mães, carentes,<br />
iam ao mercado de trabalho.<br />
Porém, entendido o direito das crianças<br />
pequenas à educação em instituições oficiais<br />
de ensino infantil, é preciso rever o trabalho<br />
que vem sendo realizado no interior desses<br />
estabelecimentos, passando-se a olhar também<br />
para as necessidades ligadas ao desen-<br />
12<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
volvimento infantil, que transcendem em<br />
muito a simples alimentação e higiene. Devem<br />
ser oferecidas a essas crianças oportunidades<br />
de se movimentar, uma vez que as<br />
mudanças ocorridas nas últimas décadas diminuíram<br />
os espaços em que elas podem brincar,<br />
29 seja por questões de trânsito, violência<br />
ou redução do tamanho das moradias. Ademais,<br />
elas estão indo cada vez mais cedo para<br />
a escola, e lá permanecem cada vez mais tempo<br />
– nas instituições de ensino infantil, podem<br />
ficar mais de nove horas por dia.<br />
Embora poucas correlações significativas<br />
tenham sido identificadas entre medidas<br />
antropométricas e nível de habilidade básica,<br />
as aqui observadas (entre dobra cutânea<br />
subescapular e a habilidade de correr, e entre<br />
perímetro tricipital e a habilidade de chutar)<br />
podem ser consideradas indícios de que tais<br />
medidas são capazes de influir no desempenho<br />
motor. Outras correlações já foram relatadas,<br />
22 sendo necessários mais estudos que<br />
as investiguem, visando a esclarecer a influência<br />
das dimensões corporais na realização<br />
de habilidades motoras.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Os dados aqui observados mostram<br />
maior velocidade do crescimento físico nas<br />
meninas e do desenvolvimento das habilidades<br />
motoras básicas nos meninos. A tendência<br />
à obesidade, descrita como um dos problemas<br />
mundiais de saúde nos últimos anos,<br />
não prevaleceu para os sujeitos estudados.<br />
Algumas crianças ainda encontram-se no<br />
nível inicial de desenvolvimento, em todos os<br />
segmentos corporais observados, o que pode<br />
ser resultado das poucas experiências a que<br />
estão sujeitas, com as mudanças ocorridas em<br />
relação a espaço físico, moradia e ida precoce<br />
à escola. Daí a necessidade de que as instituições<br />
de ensino comecem a se preocupar com<br />
as questões do desenvolvimento infantil, de<br />
modo a propiciar experiências que contribuam<br />
com a saúde das crianças.<br />
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Saúde em Revista<br />
Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />
13
VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />
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Submetido: 14/jun./2006<br />
Aprovado: 24/ago./2006<br />
14<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Efeitos de Práticas Aeróbia e Resistida<br />
em Parâmetros de Saúde de Homens Adultos<br />
Effects of Aerobic and Resisted Practices on<br />
Parameters of Health in Adult Men<br />
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI *<br />
Professor doutor do Mestrado em<br />
Educação Física – Faculdade de<br />
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
FABRICIO CESAR DE PAULO<br />
RAVAGNANI<br />
Mestre em educação física –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
CHRISTIANNE DE FARIA<br />
COELHO<br />
Doutoranda no Programa de Pós-<br />
Graduação Iterunidades em<br />
Nutrição Humana – Departamento<br />
de Alimentos<br />
(FCF/PRONUT/USP)<br />
ALEXANDRE HIODEKI OKANO<br />
Doutorando em educação física<br />
(FEF/Unicamp/SP)<br />
* Correspondências: Rod. do<br />
Açúcar, km 156, FACIS, 13400-<br />
911, Piracicaba/SP<br />
ilpelleg@unimep.br<br />
RESUMO O objetivo deste estudo foi verificar o efeito de programas de<br />
exercícios físicos resistido e aeróbio relacionados à saúde de homens<br />
adultos. Utilizaram-se 46 homens, divididos em três grupos: grupo<br />
exercício resistido (GECR: n = 19; 36,3 ± 5,4 anos), grupo exercício<br />
aeróbio (GEA: n = 13; 53,9 ± 5,7 anos) e grupo controle (GC: n = 14;<br />
47,1 ± 9,1 anos). Os programas tiveram a duração de três meses, com<br />
freqüência mínima de três sessões semanais. Avaliações: medidas de<br />
peso corporal, estatura, Índice de Massa Corporal (IMC), capacidade<br />
cardiorrespiratória, flexibilidade e equilíbrio estático. A análise estatística<br />
empregou Anova two-way (atividade e momentos) e Ancova twoway.<br />
Resultados: não houve modificações no peso corporal e no IMC<br />
dos sujeitos, independentemente do treinamento, observando-se tendência<br />
de redução dos valores nos grupos GECR e GEA. Na flexibilidade,<br />
constatou-se diferença significativa entre os grupos. Diferenciação estatística<br />
não ocorreu para o equilíbrio estático nos três grupos. O GEA<br />
apresentou melhoras significativas na capacidade cardiorrespirratória<br />
(10,1%), após os três meses do programa, e o GECR teve discreta<br />
melhora (5%). Concluiu-se que os treinamentos foram eficientes para o<br />
aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde.<br />
Palavras-chave ESFORÇO FÍSICO – APTIDÃO FÍSICA – COMPOSIÇÃO CORPORAL.<br />
ABSTRACT The objective of the study was to assess the effect of various<br />
programs of resistance and aerobic exercise on health in adult men.<br />
Forty six men were selected for the study and divided into three groups:<br />
resistance exercise group (GECR: n = 19; (36.3 ± 5.4 years), aerobic<br />
exercise group (GEA: n = 13; 53.9 ± 5.7 years) and control group (GC:<br />
n = 14; 47.1 ± 9.1 years). The programs lasted three months, with a<br />
minimum frequency of three weekly sessions. Evaluations: Weight,<br />
stature, Index of Corporal Mass (IMC), aerobic capacity, flexibility and<br />
static equilibrium. For statistical analysis, Anova two-way was used<br />
(activity and moments) and Ancova two-way. Results: No significant<br />
change occurred in corporal weight and IMC of the subjects in any<br />
group evaluated, with a tendency of reduction of the values in the<br />
GECR and GEA groups. Flexibility was significantly altered (p < 0,05)<br />
between the groups but the static equilibrium was not. The aerobic<br />
capacity improved significantly in the GEA group (10,1%) after the<br />
three months of the program while the GECR group had a discrete<br />
improvement (5%). The results showed that the training programs were<br />
efficient for improvement of physical health.<br />
Keywords PHYSICAL EFFORT – PHYSICAL FITNESS – BODY COMPOSITION.<br />
Saúde em Revista<br />
Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />
15
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Dados da Organização Pan-Americana<br />
de Saúde 1 apontam que os idosos (idade > 60<br />
anos) representam cerca de 8% da população<br />
total da América Latina e do Caribe, com previsão<br />
de que até 2025 esse índice atinja 14%<br />
ou mais. No Brasil, a população, no ano 2000,<br />
foi estimada em 171,3 milhões de habitantes e<br />
a dos idosos representa 8,6%, equivalente a<br />
14,5 milhões de pessoas. A estimativa do<br />
IBGE 2 é que a média de idade da população<br />
duplicará, entre 1980 e 2050, passando de<br />
20,2 anos para 40 anos.<br />
O envelhecimento ocasiona alterações<br />
metabólicas, fisiológicas e morfológicas, com<br />
conseqüente aumento da prevalência de doenças<br />
crônicas, além de mudanças funcionais,<br />
com prejuízos na realização das atividades<br />
simples da vida diária (AVDs), ou até as<br />
complexas, como exercitar-se. Aliado à diminuição<br />
da capacidade fisiológica inerente à<br />
idade avançada, o declínio funcional e metabólico<br />
nos idosos pode ser atribuído ao menor<br />
nível de atividade física com o avançar<br />
da idade. 3 Estudos apontam que boa classificação<br />
de atividade física reduz os riscos de<br />
doenças cardiovasculares, hipertensão arterial<br />
e osteoporose, entre outras. 4, 5<br />
Por outro lado, a manutenção da habilidade<br />
física e/ou do equilíbrio metabólico<br />
pode estar associada a alguns atributos físicos,<br />
entre eles, composição corporal, flexibilidade,<br />
força e capacidade cardiorrespiratória<br />
(VO 2<br />
máx), ou seja, aos componentes da aptidão<br />
física. 3 Ressalta-se que a flexibilidade é<br />
considerada importante componente da aptidão<br />
física relacionada à saúde. 6 Particularmente<br />
a articulação do quadril, representada<br />
pela flexibilidade do ísquio-tibiais e<br />
paravertebrais declina de 20% a 30%, entre<br />
20 anos e 80 anos de idade. 7<br />
Lee e Blair 4 associaram o condicionamento<br />
cardiorrespiratório e a mortalidade por<br />
acidente vascular cerebral (AVC) em 16.878<br />
homens sem história de enfarto do<br />
miocárdio, AVC ou câncer, divididos em três<br />
grupos (baixo, médio e alto condicionamento<br />
cardiorrespiratório). Os autores apontaram<br />
que os grupos altamente e moderadamente<br />
condicionados tiveram 65% a 72% menos<br />
risco de morrer por AVC, quando comparados<br />
ao grupo com baixo condicionamento.<br />
No entanto, a melhora na condição de<br />
saúde obtida por meio da prática de atividades<br />
físicas depende de uma prescrição de exercícios<br />
físicos adequada à idade biológica do indivíduo,<br />
com controle de intensidade, freqüência e<br />
duração, embora a literatura não apresente um<br />
programa específico com abrangência mais<br />
eficiente para melhora da aptidão física. 4, 5<br />
Dessa forma, avaliar os efeitos de programas<br />
definidos de exercícios sobre a aptidão<br />
física associada à saúde torna-se relevante.<br />
Nesse contexto, o objetivo deste<br />
estudo foi pesquisar o efeito de dois programas<br />
de exercício físico (predominantemente<br />
aeróbio e resistido) sobre os componentes<br />
da aptidão física relacionada à saúde de<br />
adultos do sexo masculino.<br />
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />
Amostra<br />
A amostra envolveu indivíduos associados<br />
do Clube Associação Atlética Botucatuense,<br />
em Botucatu (SP), os quais deveriam<br />
inscrever-se em um dos programas de exercícios<br />
físicos supervisionados: aeróbio ou resistido.<br />
Foi escolhida de forma intencional,<br />
utilizando os seguintes critérios de inclusão<br />
ou exclusão: todos os participantes precisariam<br />
ter idade mínima de 30 anos e máxima de<br />
60 anos, caracterizados como adultos e não<br />
idosos, 8 do sexo masculino e apresentando<br />
freqüência mínima, ao protocolo de exercícios,<br />
de três sessões semanais. Exclusão dos<br />
indivíduos que faziam uso de medicamentos<br />
que alterassem a freqüência cardíaca, os classificados<br />
como muito ativos pelo questionário<br />
de atividades físicas habituais 9 e os que<br />
responderam “sim” para alguma das sete al-<br />
16<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
ternativas, no questionário (PAR-Q) proposto<br />
pelo American College of Sports Medicine<br />
(ACSM). 10<br />
Selecionaram-se 46 indivíduos, subdivididos<br />
em três grupos: grupo exercício contraresistência<br />
(GECR), composto por 19 homens<br />
(36,3 ± 5,4 anos), grupo exercício aeróbio<br />
(GEA), com 13 homens (53,9 ± 5,7 anos) e<br />
grupo controle (GC), formado por 14 homens<br />
(47,1 ± 9,1 anos). Todos eles receberam informações<br />
sobre a proposta do estudo e assinaram<br />
o termo de consentimento livre e esclarecido.<br />
O trabalho foi aprovado pelo Comitê de<br />
Ética em Pesquisa da UNIMEP, sob o protocolo<br />
n.º 50/05, de acordo com a resolução 196/96,<br />
do Conselho Nacional de Saúde.<br />
Programa de Exercícios Físicos<br />
Os programas foram oferecidos cinco<br />
vezes por semana e tiveram três meses de<br />
duração. O treinamento aeróbio envolveu<br />
exercícios como caminhada ou corrida, com<br />
intensidades entre 65% e 85% da freqüência<br />
cardíaca máxima, adotando a fórmula 220-<br />
idade. Acrescentaram-se, no treinamento<br />
aeróbio, exercícios resistidos para resistência<br />
muscular localizada (RML), empregando<br />
pesos livres e alongamento, totalizando 40%<br />
da sessão, de acordo com as diretrizes do<br />
ACSM. 10 A duração total de cada sessão era<br />
de 85 minutos, contemplando os principais<br />
grupos musculares.<br />
O protocolo de treinamento resistido<br />
consiste em quatro etapas: iniciante I (uma<br />
semana); iniciante II, fase 1 (uma semana);<br />
iniciante II, fase 2 (duas semanas): alteração<br />
de carga e variações dos exercícios; e intermediário<br />
(dois meses): exercícios aplicados<br />
nas fases anteriores para os membros superiores,<br />
inferiores e tronco.<br />
Avaliações<br />
Para a medição do peso corporal, utilizou-se<br />
uma balança digital da marca Filizola ®<br />
e para a da estatura, estadiômetro fixo à parede<br />
com haste móvel. O índice de massa corporal<br />
(IMC) foi calculado por meio do quociente<br />
peso corporal (kg) dividido pela estatura<br />
(m) ao quadrado, de acordo com WHOO. 11<br />
A avaliação da flexibilidade de tronco<br />
utilizou o banco de Wells. 12 Os indivíduos<br />
foram classificados de acordo com a proposta<br />
de Pollock e Wilmore. 12 A verificação do equilíbrio<br />
estático, proposto por Rikli e Jones, 13<br />
envolveu o seguinte teste: ao sinal, o avaliado<br />
tirava um dos pés do chão, flexionando a perna<br />
até a altura do joelho, devendo manter a<br />
posição durante 30 segundos. O resultado era<br />
a média de três tentativas.<br />
O consumo máximo de oxigênio<br />
(VO 2<br />
máx) valeu-se do teste indireto da caminhada<br />
da milha, em uma pista de 400 metros,<br />
para avaliação cardiorrespiratória. O avaliador<br />
marcou o tempo e a freqüência cardíaca<br />
(FC) ao final do teste, por meio de monitor<br />
de FC- Polar®Edge NV.<br />
Para o cálculo do VO 2<br />
máx foi utilizada<br />
a fórmula proposta por Kline et al, 14 observando<br />
a classificação American Heart<br />
Association, citada por Marins e Gianichini. 15<br />
Para a análise estatística empregou-se<br />
Anova two-way (atividade e momentos).<br />
Quando os grupos já eram diferentes no<br />
momento inicial (linha de base), adotou-se<br />
Ancova two-way. O nível de significância era<br />
p < 0,05.<br />
RESULTADOS<br />
Resultados de peso corporal e composição<br />
corporal dos grupos inicial e final fora,<br />
respectivamente, GECR: 78,43 ± 9,54, 77,91<br />
± 9,30; GEA: 83,91 ± 12,30, 83,06 ± 11,97;<br />
Controle: 81,75 ± 11,54, 82,49 ± 11,96; com<br />
os valores GECR: 25,36 ± 2,85, 25,18 ±<br />
2,70; GEA: 28,35 ± 3,35, 28,72 ± 3,71; Controle:<br />
26,08 ± 3,18, 26,89 ± 4,05. Mediante o<br />
emprego da ANCOVA, encontraram-se diferenças<br />
significativas entre os grupos, quanto<br />
ao peso corporal e ao Índice de Massa Cor-<br />
Saúde em Revista<br />
Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />
17
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
poral (IMC) no início, sendo ambos maiores<br />
no GEA que nos demais. Não houve modificações<br />
no peso corporal e no IMC dos sujeitos,<br />
independentemente da atividade realizada<br />
no período de treinamento (dados expressos<br />
na tabela 1).<br />
Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis do desempenho motor: flexibilidade, equilíbrio e<br />
consumo máximo de oxigênio e respectivos resultados do teste estatístico, segundo os grupos de<br />
atividade e momentos (M0 e M1).<br />
Letras diferentes = diferença estatisticamente significante entre os grupos, no momento M0 (p < 0,05);<br />
Ω Diferença estatisticamente significante em relação ao momento M1 (p < 0,05).<br />
No que se refere à flexibilidade, diferenças<br />
significantes entre os grupos, na linha<br />
de base, foram tratadas com Ancova. Após<br />
os três meses, houve aumento significativo<br />
de aproximadamente 2 cm ou 12% nos níveis<br />
de flexibilidade nos grupos GECR e GEA. O<br />
grupo controle apresentou redução dos valores<br />
(aproximadamente 10%), porém, não significativa.<br />
Não foram encontradas diferenças<br />
significativas entre os grupos para o equilíbrio<br />
estático. Os grupos treinados suportaram<br />
os 30 segundos.<br />
O indicador de VO 2<br />
máx apontou diferenças<br />
significantes entre os grupos, na linha de<br />
base, tratadas com Ancova. Embora o grupo<br />
GEA tenha apresentado valores inferiores aos<br />
demais, no início do estudo, obteve melhoras<br />
significativas no VO 2<br />
máx de 10,1%, após os<br />
três meses do programa. Nota-se, também,<br />
melhora discreta nos valores de VO 2<br />
máx no<br />
GECR de 4,9% e decréscimo no GC de 4,75<br />
%, porém, não significativos.<br />
A classificação dos grupos quanto aos<br />
padrões de referência para a composição<br />
corporal, segundo os momentos do estudo,<br />
de acordo com WHOO, 11 Pollock e<br />
Wilmore, 12 ACSM, 10 demonstrou que no início<br />
do estudo (M0) todos os grupos foram<br />
classificados como pré-obesos, ou seja,<br />
apresentaram IMC entre 25 kg/m 2 e 29,9 kg/<br />
m 2 . Após os três meses, todos permaneceram<br />
com a mesma classificação.<br />
A classificação dos grupos em relação<br />
aos padrões de referência para os testes de<br />
flexibilidade não se alterou durante a intervenção.<br />
Os valores médios do VO 2<br />
máx, no<br />
início, indicavam aptidão cardiorrespiratória<br />
regular dos indivíduos dos três grupos e,<br />
18<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
após os três meses, os grupos GECR e GEA<br />
sofreram reclassificação, passando para boa<br />
aptidão, enquanto o grupo controle não apresentou<br />
reclassificação.<br />
DISCUSSÃO<br />
Na literatura, é consenso que a forma<br />
mais aceita de melhorar consideravelmente a<br />
aptidão física são as atividades físicas. No<br />
entanto, existe controvérsia em relação ao<br />
tipo dessa atividade adequado para obter<br />
mais benefícios à saúde. 16<br />
Os programas tomaram por base as recomendações<br />
e os consensos nacionais e internacionais,<br />
10, 17, 18. 19 levando em conta que,<br />
a partir dos 30 anos de idade, observa-se a<br />
maior parte dos declínios fisiológicos. 20 No<br />
presente trabalho, os resultados mostram que<br />
o grupo mais jovem (GECR) apresentou<br />
melhores valores para todas as variáveis<br />
antropométricas. Esse fator torna-se importante<br />
pela presença de trabalhos indicando<br />
que, com o avançar da idade, eleva-se a<br />
adiposidade corpórea central e total, e reduzem-se<br />
a massa corporal magra e a taxa metabólica<br />
de repouso, aumentando a ocorrência<br />
da obesidade. 19<br />
No entanto, embora o grupo mais jovem<br />
tenha apresentado melhores valores das<br />
variáveis no início deste estudo, não foi<br />
considerada a idade como fator capaz de<br />
afetar a relação entre as variáveis independentes<br />
(treinamento aeróbio e resistido) e<br />
dependentes (composição corporal e flexibilidade).<br />
Isso porque pesquisas com idosos<br />
demonstram que eles têm capacidade semelhante<br />
a dos jovens, nas respostas ao treinamento,<br />
nas modificações da composição<br />
corporal 21, 19 21, 22<br />
e do desempenho motor.<br />
Após três meses, não houve melhora no<br />
IMC e no peso corporal, semelhantemente<br />
ao estudo de Ravagnani et al. 23<br />
Cunha, Cunha Jr. 24 avaliaram em idosos<br />
se existia diferença significativa entre os<br />
componentes da aptidão física associada à<br />
saúde (VO 2<br />
máx, força, flexibilidade e composição<br />
corporal), advindos de um programa<br />
de condicionamento físico geral (atividades<br />
aeróbias, musculação e RML e de relaxamento),<br />
durante 10 meses, em 12 mulheres<br />
e oito homens. Os resultados não apresentaram<br />
melhoras significativas, apenas pequeno<br />
decréscimo percentual. Alterações discretas<br />
no IMC também foram encontradas em outros<br />
estudos.<br />
21, 22<br />
Embora o exercício aeróbio seja aceito<br />
como o mais eficiente na modificação das<br />
reservas de gordura corporal, ainda se discute<br />
a eficácia dos exercícios resistidos sobre a<br />
composição corporal. 21, 22, 23 Como eles são os<br />
promotores de ganhos significativos da massa<br />
livre de gordura, pode-se considerar que,<br />
no presente estudo, essa seja a explicação<br />
mais plausível para a discreta redução do<br />
IMC apenas no GECR. Volek et al. 25 apontam<br />
que os ganhos de força muscular produzidos<br />
pelo treinamento contra-resistência<br />
auxiliam os indivíduos no desempenho de<br />
diversas tarefas do dia-a-dia.<br />
A inatividade física aumenta a degeneração<br />
das fibras de colágeno e o encurtamento<br />
da fibra muscular, reduz a viscosidade do<br />
líquido sinovial e atrofia as fibras musculares,<br />
19 reduzindo, dessa forma, a flexibilidade<br />
entre indivíduos sedentários. Essa última é o<br />
único componente motor que atinge seu auge<br />
na infância, piorando em seguida, se não for<br />
devidamente trabalhada. O envelhecimento<br />
provoca diminuição da amplitude de movimento<br />
que pode ser superior a 50%. 19<br />
Embora a flexibilidade dos indivíduos<br />
do GECR, neste trabalho, tenha sido menor<br />
em relação ao grupo com maior idade, contrariando<br />
o descrito anteriormente, nota-se<br />
que os dois grupos envolvidos nos programas<br />
de exercício apresentaram respostas semelhantes<br />
ao treinamento, aumentando cerca de<br />
12% os valores iniciais. Esses dados estão de<br />
acordo com os de Cyrino et al. 26 Considerando<br />
também que a amplitude de movimento<br />
de uma articulação depende do seu nível de<br />
Saúde em Revista<br />
Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />
19
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
utilização (além dos fatores genéticos), sugere-se<br />
que os dois programas de treinamento<br />
aqui adotados ofereceram estímulo suficiente<br />
para aumentar a flexibilidade dos indivíduos,<br />
pois ambos envolviam exercícios de alongamento<br />
como forma de aquecimento.<br />
Assim como ocorre com os outros componentes<br />
da aptidão física relacionada à saúde,<br />
a capacidade de adaptação a mudanças<br />
bruscas do centro de gravidade (equilíbrio)<br />
também reduz com a idade. Segundo Daley e<br />
Spinks, 27 o tempo de equilíbrio mantido por<br />
jovens é de cerca de 22 segundos, contra<br />
apenas 13 segundos nos idosos. Neste trabalho,<br />
o tempo de equilíbrio de aproximadamente<br />
29 segundos foi semelhante entre os<br />
grupos e superiores aos relatados por aqueles<br />
autores. 27 No entanto, observa-se que nenhum<br />
grupo obteve melhoras significativas<br />
dos valores, após os três meses. E apesar de<br />
não significativo, houve aumento de aproximadamente<br />
4% dos valores apenas nos grupos<br />
exercitados, que atingiram o tempo máximo<br />
possível (30 segundos), diferentemente<br />
do grupo controle, que apresentou tendência<br />
de redução no tempo em equilíbrio.<br />
A capacidade cardiorrespiratória expressa<br />
pelo valor de VO 2<br />
máx aumentou significativamente,<br />
após os três meses de programa,<br />
apenas no GEA, mesmo dando-se a avaliação<br />
de forma indireta, corroborando os dados de<br />
Wachins et al. 28 Eles conduziram um estudo<br />
de intervenção comportamental, com o objetivo<br />
de comparar os efeitos do exercício isoladamente<br />
(EX) aos do exercício aliado à<br />
dieta (EX+D) ou controle (C) sobre diversos<br />
fatores de risco cardiovasculares, associados<br />
à síndrome metabólica de homens e mulheres<br />
com idade superior a 29 anos. Após seis<br />
meses de atividade, detectaram aumento significativo<br />
de 20% no VO 2<br />
máx.<br />
Esse aumento percentual pode ser observado<br />
também entre idosos. O estudo de<br />
Volek et al. 25 mostrou acréscimos de 9,99%<br />
no VO 2<br />
máx (avaliado pelo teste da milha) de<br />
homens idosos, após dez meses de programa<br />
de condicionamento físico geral (atividades<br />
aeróbias, musculação e RML e de relaxamento).<br />
Tais valores confirmam os descritos<br />
pelo ACSM 10 e por Marks, 29 que sugerem<br />
aumentos entre 10% e 25% no VO 2<br />
máx tanto<br />
de indivíduos jovens quanto de idosos participantes<br />
de exercícios aeróbios.<br />
No presente estudo, o aumento de 4,9%<br />
no VO 2<br />
máx obtido pelo GECR corresponde<br />
a 50% menos do observado no GEA. Embora<br />
esse aumento não tenha sido significativo,<br />
o GECR, assim como o GEA apresentaram<br />
reclassificação da condição de aptidão,<br />
de regular para boa, tornando esses resultados<br />
relevantes do ponto de vista biológico,<br />
e não apenas numérico. Essa melhora revelou-se<br />
inferior a do trabalho de Antoniazzi<br />
et al., 30 que encontraram aumentos de 16%<br />
nos valores de VO 2<br />
máx de homens idosos e<br />
de meia-idade, submetidos a um programa<br />
tradicional de treinamento com pesos, durante<br />
três meses.<br />
A melhora da capacidade cardiorrespiratória<br />
aqui observada é semelhante à descrita<br />
pelo ACSM, 10 que afirma que o treinamento<br />
resistido pode induzir aumentos<br />
marginais (5% a 10%) no VO 2<br />
máx, quando<br />
há em conjunto percentuais de atividades<br />
aeróbias. Isso se deve ao fato de que o treinamento<br />
resistido contemplava caminhada de<br />
dez a 20 minutos, com intensidade entre 65%<br />
e 85% da freqüência cardíaca máxima, como<br />
atividade de aquecimento. Assim, a condição<br />
física desejável de VO 2<br />
máx, produzida tanto<br />
pelo treinamento aeróbio como pelo resistido,<br />
associa-se aqui à melhora dos sistemas<br />
neuromuscular e cardiovascular.<br />
CONCLUSÃO<br />
Os dois programas aplicados se constituíram<br />
como meio efetivo de minimizar o<br />
declínio fisiológico, morfológico e funcional<br />
do envelhecimento, pois, nos dois grupos,<br />
proporcionaram a reclassificação da aptidão<br />
física de regular para boa.<br />
20<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006
IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
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Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />
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IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />
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Submetido: 30/maio/2006<br />
Aprovado: 15/ago./2006<br />
22<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Relação entre Exercício Físico de Alta<br />
Intensidade e o Lactato Sangüíneo, em ratos<br />
Relationship between High Intensity Exercise<br />
and Blood Lactate in Rats<br />
ANA PAULA TANNO<br />
Farmacêutica e mestre em<br />
odontologia –<br />
Departamento de Ciências<br />
Fisiológicas (FAM/SP)<br />
TATIANA SOUSA CUNHA<br />
Fisioterapeuta e mestre em<br />
odontologia –<br />
Departamento de Ciências Fisiológicas<br />
(FOP/Unicamp/SP)<br />
MARIA JOSÉ COSTA SAMPAIO<br />
MOURA<br />
Biomédica, mestre e doutora em<br />
ciências – Centro de Ciências da<br />
Vida (PUCCamp/SP)<br />
FERNANDA KLEIN MARCONDES *<br />
Bióloga, mestre em ciências<br />
biológicas e doutora em ciências –<br />
Departamento de Ciências<br />
Fisiológicas (FOP/Unicamp/SP)<br />
* Correspondências: Av. Limeira,<br />
901, 13414-903, Dep. de Ciências<br />
Fisiológicas, Piracicaba/SP<br />
fklein@fop.unicamp.br<br />
RESUMO Apesar de existirem muitos estudos sobre as adaptações<br />
desencadeadas pelo treinamento físico aeróbio em animais de laboratório,<br />
pouco se sabe a respeito dos efeitos promovidos pelo treinamento<br />
resistido de alta intensidade (AI). O objetivo deste estudo foi verificar<br />
se o exercício físico resistido de AI promove elevação da concentração<br />
sangüínea de lactato (L) acima do máximo estado estável do metabólito<br />
(5,5 mmol/L). Ratos machos foram submetidos a uma sessão de salto<br />
com peso na água (quatro séries/10 repetições por série/30 segundos de<br />
intervalo entre as séries), com sobrecarga equivalente a 50% do peso<br />
corporal. Amostras sangüíneas foram coletadas antes e durante o exercício,<br />
e a concentração de L foi determinada. Registrou-se o tempo<br />
gasto para realização das repetições durante cada série. No repouso, a<br />
concentração sangüínea de L foi 1,44 ± 0,10 mmol/L. Séries repetidas<br />
do exercício resultaram em aumento significativo (p < 0,01) da concentração<br />
sangüínea de L: após a 1.ª série = 3,00 ± 0,21, 2.ª série = 5,12<br />
± 0,30, 3.ª série = 6,52 ± 0,11 e 4.ª série = 8,64 ± 0,23 (mmol/L). Não<br />
houve diferença significativa do tempo gasto para a realização das repetições.<br />
Esses resultados confirmam o caráter anaeróbio do protocolo<br />
de treinamento resistido de AI, podendo ser um modelo para estudos<br />
experimentais sobre capacidade anaeróbia e contribuindo na compreensão<br />
das adaptações que ocorreriam em humanos.<br />
Palavras-chave ÁCIDO LÁCTICO – EXERCÍCIO – LEVANTAMENTO DE PESO.<br />
ABSTRACT Despite the large amount of studies about the effects obtained<br />
in response to the use of aerobic protocols in lab animals, little is<br />
known about high-resistance training programs. The aim of this study<br />
was to verify if high-resistance protocol promotes rise in blood lactate<br />
(L) concentration higher than the maximal lactate steady state (5.5<br />
mmol/L). Male rats were submitted to one session of weight lifting in<br />
water (4 sets of jumps/10 repetitions/30 seconds rest between each set),<br />
carrying an overload of 50% of body weight. Blood samples were<br />
collected before and during the exercise protocol, and blood L<br />
concentration was determined. The time spent to perform the repetitions<br />
during each set was recorded. In state of rest, blood L concentration<br />
was 1.44 ± 0.10 mmol/L. Repeated sets of exercise resulted in<br />
significant (p < 0.01) enhancement of blood L concentration: after 1st<br />
set = 3.00 ± 0.21, 2nd set = 5.12 ± 0.30, 3rd set = 6.52 ± 0.11 and 4th<br />
set = 8.64 ± 0.23 (mmol/L). There was no statistical difference on the<br />
times spent to perform the repetitions during each set. These data<br />
confirm the anaerobic character of the high-resistance exercise protocol<br />
used. Thus, it could be a helpful model for use in experimental studies<br />
about anaerobic capacity and ways to improve it, as the first step to<br />
understanding the adaptations that might occur in humans.<br />
Keywords LACTIC ACID – EXERCISE – WEIGHT LIFTING.<br />
Saúde em Revista<br />
Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />
23
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
INTRODUCTION<br />
It is becoming increasingly clear that a<br />
person’s health and well-being are improved<br />
by physical activity. In this context, physical<br />
activity should be viewed as providing<br />
stimuli that stress many systems of the body<br />
to various degrees and thus promote very<br />
specific and varied adaptations according to<br />
the type, intensity, and duration of the exercise<br />
performed. 1<br />
Numerous studies have addressed<br />
substrate metabolism during exercise, but the<br />
exact relation between exercise intensity and<br />
substrate mobilization from different endogenous<br />
stores has not been fully elucidated. 2 It<br />
is known that the use of each energetic<br />
substrate is related to the intensity and duration<br />
of the exercise performed. For obvious<br />
reasons, a significant number of these studies<br />
have been conducted on laboratory animals<br />
and almost all of them used exercise<br />
protocols of low and moderate intensity,<br />
which have already been characterized. 3<br />
Despite the large amount of information<br />
about the effects obtained in response to the<br />
use of aerobic protocols in rats, little is<br />
known about high-resistance training programs<br />
that are associated with increased body<br />
weight, lean body mass, muscle cross-sectional<br />
area and glycogen storage capacity. 4, 5<br />
The use of swimming rats as a model of high<br />
intensity exercise presents advantages over<br />
the others, since swimming is a natural ability<br />
of the rat, thus avoiding selection of animals,<br />
which is necessary in experimental protocols<br />
using treadmill running. 6 In this case, incremental<br />
exercise is obtained by adding progressively<br />
heavier loads in relation to body<br />
weight, attached to the animal’s chest or tail.<br />
The major limitation of swimming studies is<br />
the lack of knowing the effort intensity of the<br />
rat’s performance.<br />
A tool, widely used for determining effort<br />
intensity during exercise is the blood lactate<br />
concentration. In human subjects blood<br />
lactate concentration increases exponentially<br />
with exercise intensity. The break point in<br />
the blood lactate vs workload curve during<br />
incremental exercise has been termed the<br />
blood lactate threshold or anaerobic threshold<br />
(AT); 7 although anaerobioses as the sole<br />
cause of accelerated lactate production has<br />
been questioned. 8, 9 In rats this procedure is<br />
limited by the small amount of information<br />
available concerning lactate kinetics during<br />
exercise. Only few studies dealing with lactate<br />
threshold determinations in rats have<br />
been reported in the literature, most of them<br />
10, 11<br />
using treadmill running as an ergometer.<br />
According to Gobatto et al. 12 the maximal<br />
lactate steady state, for sedentary rats<br />
submitted to acute swimming exercise, occurs<br />
at blood lactate concentrations of 5.5<br />
mmol/L. On the other hand, Pilis et al. 11<br />
found an anaerobic threshold at blood lactate<br />
concentration of approximately 4 mmol/L in<br />
rats during a treadmill exercise test. Also in<br />
humans, these differences are probably found<br />
because of the type of exercise used (running<br />
or swimming) to determine the value of<br />
blood lactate at AT.<br />
Thus, this study was designed to verify<br />
if the protocol of jumping up and down into<br />
the water carrying a load (high-resistance exercise<br />
protocol) 4, 5 promotes rise in blood lactate<br />
to upon the maximal lactate steady state<br />
(5.5 mmol/L established by Gobatto et al. 12 ).<br />
Understanding the kinetics of lactate using<br />
the protocol of weigh lifting in the water,<br />
which seems to be less stressful than the others,<br />
and proving its anaerobic characteristic,<br />
it could be used in further studies on the role<br />
of energetic substrates, like glycogen, in this<br />
type of exercise.<br />
METHODS<br />
Animals: the experiments were approved<br />
by the institutional Committee for Ethics in<br />
Animal Research (Unicamp/COBEA – protocol<br />
number 391-1) and were conducted in<br />
24<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 23-29, 2006
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
conformance with the policy statement of the<br />
American College of Sports Medicine on<br />
research with experimental animals. Male<br />
Wistar rats, 60 days old, weighing 250-300g<br />
were used for this study. Animals were<br />
housed in a collective cage (three or four rats<br />
per cage), in a temperature-controlled room<br />
(22°C ± 2°C) with lights on from 6 am to 6<br />
pm. Animals received commercial chow for<br />
rodents and filtered water ad libitum.<br />
Adaptation to the water: all rats were<br />
adapted to the water before the experiment<br />
began. The adaptation consisted of sessions<br />
of weight lifting (once a day for five days) in<br />
water at 30°C ± 2°C 13 , with incremental<br />
number of sets (two to four) and repetitions<br />
(five to ten) and 30 seconds rest between<br />
each set, carrying a load of 50% body weight<br />
strapped to the chest. The sessions were performed<br />
between 1-2 pm and on the last day<br />
of the adaptation period, the animals were<br />
performing four sets of ten repetitions (lifts).<br />
The purpose of the adaptation was to reduce<br />
the stress without, however, promoting<br />
physical adaptation.<br />
Exercise-test protocol: before the exercise-test<br />
protocol started, a blood sample was<br />
collected for determining lactate in the state<br />
of rest. Then the rats, carrying an overload of<br />
50% of body weight strapped to the chest,<br />
were individually submitted to one session of<br />
weight lifting (fig. 1). The session of weight<br />
lifting consisted of four sets of jumps (ten<br />
repetitions per set), with 30 seconds rest between<br />
each set. 4, 5, 14 A jump repetition was<br />
counted only if the rat put its snout out of the<br />
water. Using a stopwatch, the time spent to<br />
perform ten repetitions during each set was<br />
recorded. During the rest period, new blood<br />
samples were taken for lactate measurements.<br />
Blood samples and lactate analysis:<br />
blood samples (25 µL) were collected from a<br />
cut at the tail tip before and during the highresistance<br />
exercise protocol, and deposited in<br />
Eppendorf tubs (1.5 µL capacity) containing<br />
50 µL sodium fluoride (1%). To avoid blood<br />
dilution with residual water on the animal’s<br />
tail, the rats were quickly dried with a towel<br />
immediately before blood collection. The lactate<br />
concentrations were determined using a<br />
lactate analyzer (YSI model 1500 SPORT). 15<br />
Statistical analysis: data are presented<br />
as mean ± S.E.M. Analysis of differences<br />
regarding blood lactate concentration and<br />
the time spent to do ten repetitions during<br />
each set was performed using a repeated<br />
measures analysis of variance (one-way<br />
Anova). When necessary, the Tukey-Kramer<br />
post-hoc comparison test was used. The statistical<br />
significance was set at p < 0.01.<br />
Figure 1. Illustration of the exercise protocol (jumping up and down in water or weigh lifting in water).<br />
The dimensions of the plastic tank used to perform the training are shown in the figure.<br />
Saúde em Revista<br />
Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />
25
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
RESULTS<br />
In figure 2, the data about blood lactate<br />
concentration in state of rest and after each<br />
one of four sets of high-intensity exercise in<br />
water are presented. In the state of rest, the<br />
blood lactate concentration of the sedentary<br />
rats was 1.44 ± 0.10 mmol/L. Repeated sets<br />
of high-intensity exercise resulted in significant<br />
enhancement of blood lactate concentration,<br />
as follows: after first set = 3.00 ± 0.21<br />
mmol/L, second set = 5.12 ± 0.30 mmol/L,<br />
third set = 6.52 ± 0.11 mmol/L and after the<br />
fourth set = 8.64 ± 0.23 mmol/L (p < 0.01).<br />
The data about the time spent to perform<br />
each set of ten jump repetitions are presented<br />
in Table 1. There were no statistical differences<br />
on the times spent during each set.<br />
Figure 2. Blood lactate concentrations (mmol/L)<br />
during high-resistance exercise protocol (weight<br />
lifting in water), carrying an overload of 50% body<br />
weight (n = 7). Results are mean ± S.E.M. Different<br />
letters mean significant differences (p < 0.01).<br />
DISCUSSION<br />
Table 1. Time spent (s) to perform ten jump<br />
repetitions during each one of four sets of the<br />
high-resistance exercise protocol (weight lifting in<br />
water), carrying an overload of 50% body weight.<br />
Sets N Time (s) a<br />
First 7 22 ± 1.32<br />
Second 7 20.83 ± 1.41<br />
Third 7 22.33 ± 1.42<br />
Fourth 7 26.24 ± 3.75<br />
a<br />
Mean ± S.E.M<br />
Many studies have been carried out to<br />
design experimental models for inducing<br />
muscle hypertrophy in laboratory animals<br />
using treadmill, swimming, and other training<br />
4, 5,<br />
apparatus simulating human weigh lifting.<br />
16<br />
However, it is clear that without a systematic<br />
approach to the investigation of the phenomenon,<br />
there is a lack of control and manipulation<br />
of the independent variables,<br />
which makes its difficult to test the validity<br />
of these models. 17 Another problem is the<br />
stress caused by these high intensity exercise<br />
protocols since some of them use electrical<br />
stimuli (foot shock) to force the animals to<br />
perform the exercise.<br />
It has been already demonstrated that the<br />
high-resistance exercise protocol used in this<br />
study 14 is efficient for inducing skeletal muscle<br />
hypertrophy in rats. 18 Resistance training is<br />
a physiological challenge that can promote<br />
hypertrophic responses in both human and<br />
animal models 19 since hypertrophic growth of<br />
skeletal muscle is stimulated by short bursts of<br />
muscle activity against high resistance. Muscle<br />
hypertrophy is induced throughout a process<br />
of satellite cell activation, proliferation,<br />
chemotaxis, and fusion to existing myofibers.<br />
Although there are still a number of questions<br />
with regard to the role of the satellite cell in<br />
muscle remodeling, the primary physiological<br />
consequence of the hypertrophic response is<br />
to produce a muscle with a greater capacity<br />
for peak force generation. 20<br />
In addition to the hypertrophic character<br />
of the protocol used in this work, the data<br />
now confirm its anaerobic nature, based on<br />
the value of the blood lactate concentration<br />
26<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 23-29, 2006
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
after the sets of jumps. The rats did not show<br />
difficulty in performing the protocol and it<br />
produced hyperlactemia. As can be seen, the<br />
blood lactate concentration enhanced as the<br />
sets were performed and after the third set of<br />
jumps, it was higher than that of the anaerobic<br />
threshold established by Gobatto et al. 12<br />
Irrespective of the characteristics of the<br />
exercise performed, energy is required to<br />
produce work (in this case, to produce the<br />
contractile activity). Carbohydrate, fat, and<br />
protein, obtained either directly from daily<br />
meals or from endogenous stores in the body,<br />
provide the substrates that fuel the chemical<br />
reactions that in turn are catalyzed by enzymes<br />
and cofactors. In these reactions, the<br />
chemical energy of substrates is converted to<br />
an energetic compound that cells can harness,<br />
namely adenosine triphosphate (ATP). 21<br />
Then, the ATP hydrolysis to adenosine diphosphate<br />
(ADP) and inorganic phosphate<br />
(Pi) provides the energy required for contractile<br />
activity. ATP can be re-synthesized<br />
anaerobically from phosphocreatine (PCr),<br />
through the creatine kinase reaction, or from<br />
glycolitic process in the sarcoplasma. 22 The<br />
glycolitic process represents the initial stage<br />
of glucose and glycogen metabolism and<br />
leads to pyruvate or lactate production. 23<br />
Moreover, ATP can also be re-synthesized<br />
aerobically, within the mitochondria, by<br />
chemical reactions that consume oxygen<br />
(oxidative phosphorylation). 24<br />
It is known that intense exercises of<br />
short duration, like that used in this work,<br />
are heavily dependent on energy from<br />
anaerobic sources. Many studies have demonstrated<br />
that glycogen in liver and skeletal<br />
muscles is important to maintain physical<br />
performance during exercise, 25 mainly if its<br />
duration is between approximately eight and<br />
thirty five seconds. Thus, this work demonstrated<br />
that the mean period of time spent to<br />
perform each set of ten jumps in water was<br />
not longer than thirty seconds. It also emphasizes<br />
that energy production during this<br />
type of exercise is primarily dependent on<br />
the anaerobic pathway.<br />
During the type of exercise used in this<br />
study, there is a large breakdown of glycogen,<br />
and it may reappear as hexose phosphates or<br />
as lactate (it is important to remember that in<br />
the presence of oxygen it can also be fully<br />
oxidized). The increasing demand for<br />
glycolitic energy production promotes a decrease<br />
in intracellular pH during progressive<br />
work 26 because the lactate production exceeds<br />
the bicarbonate buffering capacity, and part of<br />
lactate produced may be transferred from<br />
muscle to blood. 27 Thus, it explains the elevation<br />
in blood lactate concentration as the sets<br />
of jumps were performed. The extent to which<br />
lactate increases in the blood can be altered by<br />
fitness or with training. 28<br />
It is important to mention that some<br />
authors make reservation about the use of<br />
lactate concentration as a direct index of lactate<br />
production by muscles, because muscles<br />
as well as others tissues and organs are also<br />
consumers of lactate by oxidative metabolism<br />
for their energetic needs. 29 However, it remains<br />
a widely used tool in the exercise<br />
physiology laboratory for understanding the<br />
characteristics of the exercise performed.<br />
A misconception that continues to be<br />
widespread is the idea that lactate is the<br />
major cause of both fatigue during exercise<br />
and post exercise muscle soreness. In fact,<br />
lactate has little direct effect on either, even<br />
during short bouts of exercise of relatively<br />
high intensity. Rather than lactate causing<br />
fatigue per se, it is the accumulation of H +<br />
ions during glycolysis that contributes to fatigue.<br />
High concentrations of H + lower the<br />
blood pH which adversely influences energy<br />
production and muscle contraction. 10 Despite<br />
there being no significant differences in the<br />
time spent to perform the exercise between<br />
the four sets, it can be seen that the time<br />
spent on the last set of jumps was longer<br />
than the others, indicating that the occurrence<br />
of this phenomenon, in response to this pro-<br />
Saúde em Revista<br />
Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />
27
FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />
tocol, might start at this point. Probably if<br />
there were a fifth set of jumps, the time spent<br />
might be longer than the previous one, since<br />
there was only thirty seconds between each<br />
set to re-establish the glycogen stores.<br />
Successful subjects in anaerobic types<br />
of sports may therefore have a larger anaerobic<br />
capacity and be able to release energy at<br />
a higher rate. It has already been shown that<br />
performances in these kinds of sports are<br />
improved by training, suggesting that anaerobic<br />
capacity is trainable. 30 We know that<br />
there are metabolic differences between humans<br />
and rats and that quantitative differences<br />
in some physiological parameters,<br />
would be found. But we must emphasize that<br />
the general principles that regulate some of<br />
them are valid for both species. Therefore,<br />
after the confirmation of the anaerobic character<br />
of this protocol, one believes it could<br />
be a helpful model for use in experimental<br />
studies about anaerobic capacity and ways to<br />
improve it, as the first step to understanding<br />
the adaptations that could occur in humans.<br />
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Submetido: 24/mar./2006<br />
Aprovado: 15/ago./2006<br />
Agradecimentos<br />
As autoras agradecem aos professores doutores<br />
Sérgio Eduardo de Andrade Perez, Cássio<br />
M. Robert-Pires e Vilmar Baldissera pelo<br />
uso do laboratório para as dosagens de<br />
lactato, ao senhor José Carlos Lopes pelo auxílio<br />
técnico, a César Acconci pela elaboração<br />
da ilustração do protocolo de exercício<br />
físico, à Margery Galbraith pela correção do<br />
texto em inglês e à FAPESP, FAEPEX/Unicamp e<br />
CAPES pelo financiamento.<br />
Saúde em Revista<br />
Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />
29
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />
Jovens ao Exercício Máximo em Esteira<br />
Cardiopulmonary Responses of Young Women<br />
to Maximal Exercise in Treadmill<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
PAMELA ROBERTA GOMES<br />
GONELLI *<br />
Professora de educação física e<br />
bolsista de Treinamento Técnico<br />
FAPESP – Faculdade de Ciências da<br />
Saúde (UNIMEP/SP)<br />
MILENA A. BORGES PEDROSO<br />
Graduanda em educação física –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
RICARDO A. SIMÕES<br />
Graduando em educação física e<br />
bolsista PIBIC/CNPq – Faculdade de<br />
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
THIAGO M. FROTA DE SOUZA<br />
Mestrando em educação física e<br />
bolsista CAPES – Faculdade de<br />
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
CACIANE DALLEMOLE<br />
Mestranda em educação física –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
MARIA IMACULADA DE LIMA<br />
MONTEBELO<br />
Professora na Faculdade de<br />
Ciências Exatas e da Natureza<br />
(UNIMEP/SP)<br />
JOÃO PAULO BORIN<br />
Professor no Curso de Mestrado<br />
em Educação Física – Faculdade<br />
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
MARCELO DE CASTRO CESAR<br />
Professor no Curso de Mestrado<br />
em Educação Física – Faculdade<br />
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências: Av. Augusto<br />
Assis Cruz, 444, Jardim Bonanza,<br />
18530-000, Tietê/SP<br />
pamerense@ig.com.br<br />
RESUMO Este estudo teve por objetivo estabelecer valores de referência<br />
para as respostas cardiopulmonares ao exercício máximo em mulheres<br />
jovens, em testes realizados em esteira. Participaram da pesquisa 61<br />
mulheres, saudáveis e não treinadas, de 18 anos a 28 anos de idade. As<br />
voluntárias submeteram-se ao teste cardiopulmonar máximo, em esteira<br />
rolante, cujos valores das respostas cardiopulmonares encontrados foram:<br />
consumo máximo de oxigênio 33,7 ± 4,6 ml/kg/min e 1,95 ± 0,38<br />
l/min, produção máxima de dióxido de carbono 2,19 ± 0,38 l/min, razão<br />
máxima de trocas gasosas 1,14 ± 0,08, freqüência cardíaca máxima<br />
196,2 ± 6,2 bpm, pulso de oxigênio máximo 9,97 ± 1,97 ml/bat, ventilação<br />
pulmonar máxima 75,1 ± 12,1 l/min, equivalentes ventilatórios<br />
máximos para o oxigênio 39,2 ± 7,0 e para o dióxido de carbono 34,7<br />
± 4,5, limiar anaeróbio 17,3 ± 3,7 ml/kg/min e freqüência cardíaca do<br />
limiar anaeróbio 135,2 ± 16,0 bpm. Os resultados aqui encontrados<br />
podem ser utilizados como referência às respostas cardiopulmonares<br />
normais de mulheres jovens saudáveis submetidas a testes em esteira.<br />
Palavras-chave EXERCÍCIO – CONSUMO DE OXIGÊNIO – MULHERES.<br />
ABSTRACT The purpose of this report was to establish reference values<br />
for the cardiopulmonary responses to maximal exercise in young<br />
women, in treadmill exercise tests. Sixty-one healthy and untrained<br />
females, from the ages of 18 to 28, participated. The volunteers were<br />
submitted to maximal cardiopulmonary test, in treadmill. The values for<br />
the cardiopulmonary responses were: maximal oxygen uptake 33.7 ± 4.6<br />
mL/kg/min and 1.95 ± 0.38 L/min, maximal carbon dioxide output 2.19<br />
± 0.38 L/min, maximal gas exchange ratio 1.14 ± 0.08, maximal heart<br />
rate 196.2 ± 6.2 bpm, maximal oxygen pulse 9.97 ± 1.97 mL/beat,<br />
maximal pulmonary ventilation 75.1 ± 12.1 L/min, maximal ventilatory<br />
equivalent for oxygen 39.2 ± 7.0 and carbon dioxide 34.7 ± 4.5,<br />
anaerobic threshold 17.3 ± 3.7 mL/kg/min and heart rate of anaerobic<br />
threshold 135.2 ± 16.0 bpm. The results of this study can be utilized as<br />
reference values for the cardiopulmonary responses to maximal exercise<br />
in young healthy women, in treadmill exercise test.<br />
Keywords EXERCISE – OXYGEN CONSUMPTION – WOMEN.<br />
Saúde em Revista<br />
Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />
31
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A prática regular de exercícios físicos realizados<br />
por mulheres vem aumentando, seja em<br />
nível de qualidade de vida ou competitivo,<br />
com efeitos positivos, tanto físicos quanto<br />
mentais. O treinamento físico acarreta modificações<br />
orgânicas na mulher, incluindo composição<br />
corporal, utilização energética, adaptações<br />
cardiovasculares e efeitos sobre o ciclo<br />
menstrual. 1<br />
Entretanto, se o exercício físico for realizado<br />
de forma inadequada, pode acarretar<br />
prejuízos orgânicos, como a tríade feminina,<br />
em que ocorrem distúrbios alimentares,<br />
amenorréia e osteoporose. Cesar et al., 2 em<br />
estudo com mulheres corredoras de longas<br />
distâncias, demonstraram que o treinamento<br />
físico, respeitando a intensidade do limiar<br />
anaeróbio, proporciona vários benefícios,<br />
como aumento da aptidão cardiorrespiratória,<br />
diminuição da gordura corporal e aumento da<br />
massa magra e da densidade mineral óssea,<br />
sem causar distúrbios funcionais.<br />
A aptidão cardiorrespiratória é quantificada<br />
de maneira precisa por testes cardiopulmonares,<br />
sendo muito importante para a<br />
elaboração de programas de exercício físico<br />
de atletas treinados e até em pacientes com<br />
grande limitação funcional, 3 pois permite a<br />
determinação dos principais índices de limitação<br />
funcional cardiorrespiratória, como o<br />
consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />
máx) e o<br />
limiar anaeróbio (LA).<br />
A esteira rolante e o cicloergômetro são<br />
os instrumentos mais utilizados em testes<br />
cardiopulmonares, embora possa ser adotado<br />
outro ergômetro que possibilite a realização de<br />
testes de carga crescente até o esforço máximo.<br />
3 Entretanto, existem diferenças nos resultados<br />
obtidos, quando os indivíduos submetemse<br />
a testes em diferentes ergômetros.<br />
4, 5, 6, 7<br />
Embora os resultados das variáveis obtidas<br />
no teste cardiopulmonar sejam importantes<br />
na classificação da aptidão cardiorrespiratória<br />
e para elaboração e avaliação dos<br />
efeitos de programas de treinamento físico, 8 e<br />
a esteira rolante constitua um dos ergômetros<br />
mais usados em nosso meio, há uma carência<br />
de avaliações das respostas dessas variáveis<br />
em testes de mulheres. Portanto, este estudo<br />
tem como objetivo estabelecer valores de referência<br />
para as respostas cardiopulmonares<br />
ao exercício máximo de mulheres jovens, em<br />
testes realizados em esteira.<br />
MÉTODOS<br />
Foram estudadas 61 mulheres, com idade<br />
entre 18 anos e 28 anos (média de 20,9 ±<br />
2,7 anos), estatura de 1,65 ± 0,06 m e peso<br />
de 58,4 ± 7,8 kg. As voluntárias não realizavam<br />
treinamento físico, não apresentavam<br />
doenças, não eram tabagistas e nem faziam<br />
uso de medicação durante o estudo. Após a<br />
explicação do trabalho, elas assinaram o termo<br />
de consentimento livre e esclarecido. Este<br />
estudo faz parte de um projeto temático aprovado<br />
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />
Universidade Metodista de Piracicaba (prot.<br />
n. o 83/03).<br />
Todas as voluntárias submeteram-se a<br />
uma avaliação clínica (anamnese, exame físico,<br />
eletrocardiograma em repouso – eletrocardiógrafo<br />
Dixtal EP3) ® , antes do início do<br />
protocolo de testes. Realizaram o teste cardiopulmonar,<br />
em laboratório climatizado, com<br />
temperatura mantida entre 20°C e 24°C, em<br />
esteira ergométrica Inbrasport ATL ® , com<br />
protocolo contínuo, de carga crescente, com<br />
carga inicial de 4 km/h (três minutos), incrementos<br />
de carga de 1 km/h a cada minuto, até<br />
atingir 10 km/h, seguidos de incrementos de<br />
2,5% de inclinação/minuto, até a exaustão. 2<br />
Os testes foram monitorizados continuamente<br />
nas derivações MC 5<br />
, AVF e V2, com<br />
registros eletrocardiográficos ao final de cada<br />
estágio e na recuperação. Calculou-se o consumo<br />
de oxigênio, de gás carbônico e da<br />
ventilação de forma direta, a cada 20 segundos,<br />
por analisador de gases metabólicos<br />
VO2000 – Aerosport Medical Graphics ® .<br />
32<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
Determinou-se o limiar anaeróbio por método<br />
ventilatório, pelos seguintes critérios: 4, 9<br />
hiperventilação pulmonar, aumento sistemático<br />
do equivalente ventilatório para o oxigênio<br />
e aumento abrupto da razão de trocas<br />
gasosas. A freqüência cardíaca durante o teste<br />
em esteira foi avaliada a cada 60 segundos,<br />
por meio da diferença dos intervalos R-<br />
R do registro eletrocardiográfico.<br />
Foram definidos os índices de limitação<br />
funcional cardiorrespiratória no exercício,<br />
consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />
máx) e<br />
limiar anaeróbio ventilatório, expressos em<br />
mililitros por quilograma de peso corporal por<br />
minuto (ml/kg/min), sendo o limiar anaeróbio<br />
também expresso em percentual do consumo<br />
máximo de oxigênio. Determinaram-se também<br />
as seguintes variáveis cardiopulmonares<br />
no exercício máximo: consumo de oxigênio<br />
(VO 2<br />
máx l/min) e produção de dióxido de<br />
carbono (VCO 2<br />
máx l/min), razão de trocas<br />
gasosas (Rmáx), freqüência cardíaca (FCmáx),<br />
pulso de oxigênio (pulsoO 2<br />
máx), ventilação<br />
pulmonar (V E<br />
máx), equivalentes ventilatórios<br />
para o oxigênio (V E<br />
O 2<br />
máx) e para o dióxido<br />
de carbono (V E<br />
CO 2<br />
máx).<br />
A freqüência cardíaca foi estabelecida no<br />
limiar anaeróbio (FCLA), expressa em bpm e<br />
em percentual da FCmáx. Calculou-se a freqüência<br />
cardíaca máxima prevista pela idade<br />
das voluntárias, adotando-se a equação proposta<br />
por Tanaka et al. 10 (FCmáx prevista =<br />
208 – 0,7 x idade em anos), e a FCmáx medida<br />
no teste cardiopulmonar também expressa<br />
em percentual da prevista para a idade.<br />
Os resultados das variáveis cardiopulmonares<br />
foram enunciados em média, desvio-padrão,<br />
valores mínimos e máximos.<br />
RESULTADOS<br />
A avaliação clínica das voluntárias determinou<br />
que todas eram saudáveis e aptas a participar<br />
do estudo. Os índices de limitação funcional<br />
cardiorrespiratória no exercício, o<br />
consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />
máx), a<br />
freqüência cardíaca máxima (FCmáx), o limiar<br />
anaeróbio (LA), a freqüência cardíaca do<br />
limiar anaeróbio (FCLA), a relação entre o limiar<br />
anaeróbio e o consumo máximo de oxigênio<br />
(LA/VO 2<br />
máx) e a relação entre a freqüência<br />
do limiar anaeróbio e a freqüência cardíaca<br />
máxima (FCLA/FCmáx) encontram-se na tabela<br />
1. A freqüência cardíaca máxima dos testes<br />
cardiopulmonares atingiu valores de 101,4% da<br />
Fcmáx, prevista na equação de Tanaka et al. 10<br />
Os resultados das variáveis cardiopulmonares<br />
no exercício máximo – consumo de<br />
oxigênio (VO 2<br />
máx), produção de dióxido de<br />
carbono (VCO 2<br />
máx), razão de trocas gasosas<br />
Tabela 1. Medidas descritivas dos índices de limitação funcional cardiorrespiratória.<br />
VO 2<br />
máx FCmáx LA FC LA LA/VO 2<br />
máx FCLA/FCmáx<br />
(ml/kg/min) (bpm) (ml/kg/min) bpm (%) (%)<br />
Média 33,7 196,2 17,3 135,2 51,5 68,9<br />
Desvio-padrão 4,6 6,2 3,7 16,0 8,7 7,7<br />
Valor mínimo 24,3 177,0 11,8 108,0 36,6 57,0<br />
Valor máximo 45,5 205,0 26,4 175,0 79,8 91,1<br />
Saúde em Revista<br />
Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />
33
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
(Rmáx), pulso de oxigênio (pulsoO 2<br />
máx),<br />
ventilação pulmonar (V E<br />
máx), equivalentes<br />
ventilatórios para o oxigênio e para o dióxido<br />
de carbono (V E<br />
O 2<br />
máx e V E<br />
CO 2<br />
máx) – encontram-se<br />
na tabela 2.<br />
Tabela 2. Medidas descritivas das variáveis cardiopulmonares.<br />
VO 2<br />
máx VCO 2<br />
máx pulsoO 2<br />
máx V E<br />
máx<br />
Rmáx<br />
(l/min) (l/min) (ml/bat) (l/min)<br />
V E<br />
O 2<br />
máx V E<br />
CO 2<br />
máx<br />
Média 1,95 2,19 1,14 9,97 75,1 39,2 34,7<br />
Desvio-padrão 0,38 0,38 0,08 1,97 12,1 7,0 4,5<br />
Valor mínimo 0,86 1,50 0,96 4,48 53,7 30,1 25,4<br />
Valor máximo 2,95 3,13 1,41 15,21 113,3 66,9 51,3<br />
DISCUSSÃO<br />
O consumo máximo de oxigênio e o limiar<br />
anaeróbio são os índices mais importantes<br />
para avaliação da aptidão cardiorrespiratória<br />
Os estudos encontrados na literatura com<br />
mulheres consistem de investigações com pequeno<br />
número de participantes 11 ou indivíduos<br />
12, 13<br />
de diversas faixas etárias.<br />
Uma limitação desta pesquisa foi que 61<br />
mulheres não representam uma referência<br />
populacional; ainda assim ela envolveu um<br />
número de voluntárias muito superior aos<br />
estudos anteriores. Outra limitação foi uma<br />
pequena estratificação em relação à raça e<br />
outras variáveis que influenciam no comportamento<br />
e nos hábitos de vida. Entretanto,<br />
essas variáveis não influenciam diretamente<br />
no VO 2<br />
máx.<br />
Os resultados do consumo máximo de<br />
oxigênio e do limiar anaeróbio encontrados<br />
nesta pesquisa são similares aos achados por<br />
Cesar et al., 11 que submeteram 10 mulheres<br />
sedentárias, com idade média de 28,9 anos, a<br />
testes cardiopulmonares em esteira e encontraram<br />
valores de VO 2<br />
máx 32,6 ml/kg/min e<br />
LA 16,5 ml/kg/min, ou seja, valores muito<br />
próximos. Calculando-se o percentual LA/<br />
VO 2<br />
máx do estudo de Cesar et al., chega-se<br />
ao valor de 50,6%, também muito próximo<br />
ao deste trabalho.<br />
Davis, Storer e Caiozzo 12 avaliaram 20<br />
mulheres com 20 anos a 29 anos de idade e<br />
peso corporal médio de 59,0 kg, por meio de<br />
testes pulmonares em cicloergômetro, encontrando<br />
valores de VO 2<br />
máx 1,94 l/min e LA<br />
1,03 l/min. Calculando-se os valores expressos<br />
em ml/kg/min e percentual do VO 2<br />
máx no<br />
estudo desses autores, 12 chega-se a resultados<br />
de VO 2<br />
máx 32,9 ml/kg/min, LA 17,5 ml/kg/<br />
min e LA/VO 2<br />
máx 53,0%, similares aos percebidos<br />
nesta pesquisa, embora aqueles tenham<br />
realizado testes em cicloergômetro.<br />
Barros et al. 13 estudaram 176 mulheres<br />
com idade média de 39 anos, submetidas a<br />
testes cardiopulmonares em esteira, encontrando<br />
valores médios de VO 2<br />
máx 31,7 ml/kg/<br />
min, FCmáx 177,9 bpm e Rmáx de 1,06, um<br />
pouco inferiores aos desta pesquisa, mas tratase<br />
de uma investigação em mulheres de mais<br />
idade. Em trabalho realizado com indivíduos<br />
saudáveis, Barros Neto et al. 3 demonstraram<br />
que esses dois índices diminuem com o aumento<br />
da idade, tanto em homens quanto em<br />
34<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
mulheres, sedentários ou corredores. Por isso,<br />
considera-se que os valores encontrados devem<br />
ser adotados como referência apenas para<br />
mulheres jovens não treinadas.<br />
A freqüência cardíaca máxima obtida<br />
nesta pesquisa mostrou-se muito próxima à<br />
prevista por Tanaka et al., 10 sugerindo que<br />
essa equação pode ser empregada para a predição<br />
da freqüência cardíaca máxima em<br />
mulheres jovens brasileiras. O percentual da<br />
freqüência cardíaca do limiar anaeróbio em<br />
relação à máxima foi 68,9%, dentro dos limites<br />
preconizados para treinamento aeróbio do<br />
American College of Sports Medicine.<br />
Inbar et al. 14 examinaram as respostas<br />
cardiopulmonares em esteira, em 1.424 homens<br />
saudáveis, com idade entre 20 anos e<br />
70 anos, ativos e inativos. Nos mais jovens<br />
(20 anos a 30 anos de idade), os valores foram<br />
VO 2<br />
máx 2,88 l/min, VCO 2<br />
máx 3,66 l/<br />
min, Rmáx 1,27, FCmáx 185 bpm,<br />
pulsoO 2<br />
máx 20,4 ml/bat, V E<br />
máx 108,7 l/min,<br />
V E<br />
O 2<br />
máx 37,7 e V E<br />
CO 2<br />
máx 29,7. Esses resultados<br />
divergem dos encontrados no presente<br />
estudo, sugerindo que as respostas<br />
cardiopulmonares máximas são diferentes em<br />
mulheres e homens jovens, embora deva-se<br />
destacar que a amostra de Inbar et al. incluiu<br />
homens ativos e, nesta, participaram apenas<br />
mulheres não treinadas.<br />
Cesar et al., 15 em análise de pacientes<br />
com insuficiência cardíaca congestiva (ICC),<br />
investigaram as respostas cardiopulmonares de<br />
testes em esteira, em 54 cardiopatas dos sexos<br />
masculino e feminino, com idade entre 30<br />
anos e 74 anos, agrupados em quatro faixas<br />
etárias. Esses autores não perceberam diferenças<br />
significantes nos valores máximos das<br />
variáveis cardiopulmonares entre as faixas<br />
etárias, concluindo que a ICC compromete a<br />
capacidade cardiorrespiratória de modo semelhante<br />
em todas as faixas etárias. Se forem<br />
calculados os valores médios dos quatro grupos<br />
etários, os resultados do estudo de Cesar<br />
et al. foram de VO 2<br />
máx 1,25 l/min, VCO 2<br />
máx<br />
1,38 l/min, Rmáx 1,27, FCmáx 140,2 bpm,<br />
pulsoO 2<br />
máx 9,0 ml/bat, V E<br />
máx 60,6 l/min,<br />
V E<br />
O 2<br />
máx 46,3 e V E<br />
CO 2<br />
máx 52,3. Esses valores<br />
diferem dos encontrados em mulheres jovens,<br />
o que era esperado, pois tratou-se de<br />
uma investigação em cardiopatas.<br />
Os dados do presente estudo permitem<br />
estabelecer os parâmetros normais das respostas<br />
cardiopulmonares ao exercício máximo<br />
em esteira rolante de mulheres jovens<br />
saudáveis, que podem ser adotados para diferenciar<br />
os testes de mulheres com doenças<br />
cardíacas ou pulmonares.<br />
CONCLUSÃO<br />
Variáveis cardiopulmonares são utilizadas<br />
como referência para atividades aeróbias<br />
e os resultados delas, encontrados neste estudo,<br />
podem ser empregados também como referências<br />
às respostas cardiopulmonares normais<br />
de mulheres jovens, saudáveis, não<br />
treinadas e submetidas ao teste cardiopulmonar<br />
máximo em esteira.<br />
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Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />
35
PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />
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ao exercício em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva de diferentes faixas etárias. Arq Bras Cardiol<br />
2006;86(1):14-8.<br />
Submetido: 8/jun./2006<br />
Aprovado: 23/ago./2006<br />
Agradecimentos<br />
Agradecemos o apoio financeiro da Fundação<br />
de Amparo à Pesquisa do Estado de São<br />
Paulo (FAPESP) e as bolsas de treinamento técnico<br />
da FAPESP, de mestrado da CAPES e de<br />
iniciação científica (PIBIC-CNPq).<br />
36<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Custo do Atendimento Ambulatorial<br />
e Gasto Hospitalar do Diabetes mellitus tipo 2<br />
Ambulatory and Hospital Care Cost of<br />
type 2 Diabetes mellitus<br />
KÁTIA CRISTINA PORTERO<br />
MCLELLAN *<br />
Mestre em nutrição humana<br />
aplicada e doutora em ciências<br />
(USP/SP)<br />
DENISE GIACOMO DA MOTTA<br />
Mestre e doutora em saúde<br />
pública (USP/SP)<br />
ANTONIO CARLOS LERARIO<br />
Doutor em endocrinologia e<br />
professor livre docente (USP/SP)<br />
ANTONIO CARLOS COELHO<br />
CAMPINO<br />
Professor titular da Faculdade de<br />
Economia, Administração e<br />
Contabilidade (USP/SP)<br />
* Correspondências: R. José<br />
Ferraz de Carvalho, 650, ap. 32,<br />
13400-550, Piracicaba/SP<br />
kaportero@yahoo.com.br<br />
RESUMO Com o objetivo de relacionar o gasto hospitalar e o custo da<br />
assistência médica, prestada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a pessoas<br />
com Diabetes mellitus do tipo 2 (DM tipo 2), no município de<br />
Piracicaba, realizou-se um levantamento de dados secundários referentes<br />
aos protocolos de atendimento ambulatorial e seus respectivos custos e<br />
a identificação dos gastos hospitalares de indivíduos internados com diagnóstico<br />
de DM tipo 2. Os resultados evidenciaram uma diferença nos<br />
procedimentos realizados, na avaliação do controle metabólico e, conseqüentemente,<br />
nos respectivos custos dos protocolos da atenção primária<br />
e secundária. O envelhecimento do indivíduo com DM e o motivo<br />
da hospitalização estiveram diretamente relacionados ao aumento no valor<br />
da internação e no tempo de permanência hospitalar. A presença de<br />
complicações crônicas decorrentes do DM é um importante fator gerador<br />
de custos, pois resulta em maior freqüência e complexidade de<br />
internações, que poderiam ser reduzidas, se maior atenção ambulatorial<br />
fosse dispensada. Portanto, há a necessidade de sensibilizar os gestores<br />
e profissionais de saúde sobre a importância da promoção de programas<br />
de prevenção e educação continuada em DM, passo fundamental a prevenção,<br />
complicações e, conseqüentemente, redução dos gastos com a<br />
doença.<br />
Palavras-chave DIABETES MELLITUS TIPO 2 – ECONOMIA DA SAÚDE – SERVI-<br />
ÇOS DE SAÚDE – CUSTOS E ANÁLISE DE CUSTO.<br />
ABSTRACT Our purpose was to identify the medical attendance cost subsidized<br />
by the Brazilian Public Health System to people with type 2<br />
Diabetes Mellitus (DM2) in the primary, secondary and tertiary care. The<br />
routine protocols and the service flows of primary and secondary care to<br />
patients with DM were identified as well as the DM2 hospital patients,<br />
which were characterized as basic or associated cause of hospitalization.<br />
The cost was obtained from the public service’s and hospital’s accountant<br />
center. The results showed differences in the costs of primary and secondary<br />
care due to the different procedures and evaluations of the metabolic<br />
control. The aging patient’s hospitalization was directly related to the<br />
increase costs and length of stay per hospitalization. Chronic complications<br />
are costly for the health care system for demanding more frequency<br />
and complexity of hospitalizations that could be reduced if the health care<br />
system improves the primary attention to people with diabetes. There is<br />
an evident need for health care professionals’ attention towards promoting<br />
the prevention of DM and the continued educational programs for persons<br />
with diabetes.<br />
Keywords DIABETES MELLITUS TYPE 2 – HEALTH ECONOMICS – HEALTH<br />
SERVICES – COSTS AND COSTS ANALYSIS.<br />
Saúde em Revista<br />
Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />
37
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O Diabetes mellitus (DM) representa a<br />
quarta causa de morte no Brasil, com altos<br />
níveis de morbidade e mortalidade 1, 2 e, desse<br />
modo, pode ser considerada uma das mais<br />
importantes doenças endócrino-metabólicas<br />
em nosso meio. 3 Essa enfermidade representa<br />
um considerável encargo econômico para o<br />
indivíduo e para a sociedade, especialmente<br />
quando mal controlada, sendo a maior parte<br />
dos custos diretos de seu tratamento relacionada<br />
às suas complicações, que comprometem a<br />
produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida<br />
dos indivíduos e que, muitas vezes, podem<br />
ser reduzidas, retardadas ou evitadas. 4, 5<br />
Entre as complicações crônicas decorrentes<br />
do mau controle metabólico do DM, destacam-se<br />
a retinopatia, a nefropatia, a<br />
neuropatia e a cardiopatia, as quais comprometem<br />
a qualidade de vida do indivíduo, oneram<br />
o sistema de saúde e resultam em alto<br />
custo social. Como conseqüência dessas complicações,<br />
o custo de atendimento ao paciente<br />
se torna muito elevado, especialmente no que<br />
se refere a procedimentos como laserterapia,<br />
diálises e amputações, além do grande número<br />
e dos custos das hospitalizações. Estima-se<br />
que pacientes com diabetes apresentam custos<br />
de hospitalização duas a quatro vezes maiores<br />
que pacientes não diabéticos. 6<br />
A detecção, a prevenção e o tratamento<br />
precoce das complicações provenientes do<br />
DM são ações de extrema importância. As<br />
intervenções apropriadas, tomadas no momento<br />
certo no curso do DM, poderão ser<br />
benéficas em termos de qualidade de vida do<br />
indivíduo e serão mais eficazes quanto ao<br />
custo da doença 4 , especialmente se prevenirem<br />
admissões hospitalares. 4, 5<br />
Os estudos de custo da doença medem o<br />
impacto econômico dela à sociedade, com<br />
base na estimativa de seus custos diretos,<br />
indiretos e intangíveis. Tais estudos podem<br />
partir da prevalência da doença, medindo o<br />
impacto de todos os casos existentes em determinado<br />
ano, nos quais os custos diretos<br />
são computados pelo rendimento financeiro<br />
anual e os indiretos, pela invalidez ou pelo<br />
óbito do indivíduo. 4<br />
No DM, eles tendem a tomar por base a<br />
prevalência da doença e, dessa forma, não<br />
levam em conta as conseqüências dela a longo<br />
prazo, muito menos a eficácia das estratégias<br />
de intervenção, visto que se sustentam no custo<br />
da doença em determinado ano de estudo.<br />
Uma alternativa seria a abordagem de um<br />
custo único, o qual atribuiria o valor para o<br />
ano no qual seu impacto fosse sentido. Essa<br />
abordagem é idêntica àquela realizada em estudos<br />
de prevalência, exceto pelos custos indiretos<br />
cujos recursos financeiros traduzem-se<br />
em valores reais para todos os indivíduos falecidos<br />
em um dado ano. No método de custo<br />
real, os recursos financeiros perdidos naquele<br />
ano estão associados a todos os indivíduos<br />
falecidos em decorrência da doença. Assim, o<br />
método a ser adotado depende do problema a<br />
ser solucionado: ao empregar fundos para programas<br />
alternativos destinados à redução de<br />
custos referentes aos cuidados de uma doença,<br />
a importância relativa das diferentes condições<br />
é melhor medida pela metodologia de prevalência<br />
da doença.<br />
7, 8, 9<br />
O objetivo deste trabalho foi relacionar<br />
o custo da assistência médica ambulatorial<br />
com os gastos hospitalares prestados pela<br />
rede básica de saúde a pessoas com DM<br />
tipo 2, no município de Piracicaba (SP),<br />
fornecendo, assim, subsídios para intervenções<br />
futuras associadas a educação em saúde,<br />
prevenção e detecção precoce das complicações<br />
do diabetes.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Esta pesquisa dividiu-se em duas etapas:<br />
identificação de dados secundários referentes<br />
ao custo dos protocolos de atendimento ambulatorial<br />
(atenção primária e secundária) de<br />
indivíduos com DM tipo 2, e levantamento<br />
dos gastos hospitalares (atenção terciária) de<br />
38<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
indivíduos internados com DM tipo 2 como<br />
causa básica e/ou associada. As informações<br />
documentados referem-se aos atendimentos<br />
prestados pelo Sistema Único de Saúde<br />
(SUS) à pessoas com DM tipo 2 no município<br />
de Piracicaba (SP).<br />
Custo do Atendimento Ambulatorial<br />
O levantamento dos custos dos protocolos<br />
de atendimento ambulatorial da atenção<br />
primária (Unidades Básicas de Saúde-<br />
UBS) e secundária (Casa do Diabético) foi<br />
identificado por meio do levantamento de<br />
dados secundários previamente documentados<br />
na literatura. 10 O documento pesquisado<br />
relata que a obtenção do custo dos protocolos<br />
de atendimento ambulatorial se deu por<br />
obtenção do fluxo e das etapas de atendimento<br />
à pessoa com DM, no município, e<br />
do relatório de produção anual do próprio<br />
serviço de saúde.<br />
A participação do custo dos procedimentos<br />
realizados nos protocolos de atendimento<br />
do DM, na atenção primária e secundária,<br />
estão expressos em percentagem.<br />
Gastos de Hospitalização<br />
Para a verificação dos gastos de<br />
hospitalização do diabetes, identificaram-se<br />
todas as pessoas que apresentavam diagnóstico<br />
prévio ou atual de DM tipo 2, hospitalizadas<br />
para tratamento clínico ou cirúrgico,<br />
no período de março a junho de 2001, no<br />
Hospital Santa Casa de Misericórdia. Reconhecidas<br />
93 pessoas com DM tipo 2, a elas<br />
aplicou-se uma entrevista, com o objetivo de<br />
obter os seguintes dados: sexo, idade, presença<br />
de complicações e/ou doenças associadas,<br />
tempo de diagnóstico do DM e fluxograma<br />
de utilização dos serviços de saúde. Os pacientes<br />
manifestaram sua concordância em participar<br />
da pesquisa, mediante assinatura do<br />
termo de consentimento livre esclarecido. Na<br />
impossibilidade de a pessoa responder à entrevista,<br />
essa realizou-se com os familiares<br />
ou acompanhantes presentes.<br />
Esse projeto teve aprovação do comitê<br />
de ética em pesquisa da Universidade de<br />
São Paulo e atende à resolução n. 196, de<br />
outubro de 1996, do Conselho Nacional de<br />
Saúde do Ministério da Saúde (CNS). 11<br />
Nele estão garantidos os consentimentos<br />
livres e esclarecidos, a privacidade, a<br />
confidencialidade e o anonimato, com respeito<br />
aos valores socioculturais.<br />
O motivo de internação foi obtido por<br />
meio do diagnóstico médico documentado no<br />
prontuário de cada indivíduo com DM tipo 2,<br />
hospitalizado na instituição e reclassificado segundo<br />
Capítulo CID-10 (Classificação Internacional<br />
de Doenças), de modo a possibilitar<br />
uma comparação dos gastos e do tempo de<br />
internação com as publicações do Datasus. O<br />
Datasus consiste de um banco de dados do<br />
Departamento de Informação e Informática do<br />
SUS, órgão da Secretaria Executiva do Ministério<br />
da Saúde, e que tem a responsabilidade<br />
de coletar, processar e disseminar informações<br />
sobre a área. Os dados utilizados das publicações<br />
do Datasus se referem ao período entre<br />
1. o de novembro de 2000 a 30 de outubro de<br />
2001. Já o tempo de permanência hospitalar<br />
de cada paciente foi verificado na documentação<br />
presente na enfermaria do hospital.<br />
Levantou-se o gasto hospitalar para<br />
cada paciente tomando por base suas respectivas<br />
contas obtidas na central de custos<br />
da própria instituição. O valor médio por<br />
dia de hospitalização foi efetuado a partir<br />
da divisão do valor no período de<br />
internação pelos dias de hospitalização de<br />
cada paciente. Os valores encontrados foram<br />
somados e divididos pela população<br />
do estudo, chegando-se, dessa forma, ao<br />
valor médio de hospitalização/dia dos indivíduos<br />
com DM tipo 2. Realizou-se o mesmo<br />
procedimento para aquisição do valor<br />
médio de hospitalização/dia, de acordo<br />
com o motivo de internação, da população<br />
do estudo segundo capítulo CID-10. Os resultados<br />
estão apresentados em média e<br />
desvio padrão (DP).<br />
Saúde em Revista<br />
Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />
39
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
RESULTADOS<br />
Custo dos Protocolos do Atendimento Ambulatorial<br />
A tabela 1 mostra os valores e a participação percentual do custo dos procedimentos<br />
realizados no atendimento ambulatorial às pessoas com DM tipo 2 que utilizam hipoglicemiantes<br />
orais e insulina.<br />
Tabela 1. Custo e composição dos custos dos protocolos de atendimento de pessoas com DM.<br />
Composição do custo de Atenção primária Atenção secundária<br />
protocolo de atendimento/ano hipoglicemiante Insulina hipoglicemiante Insulina<br />
oral oral<br />
R$ % R$ % R$ % R$ %<br />
Atendimento médico 4,08 7,0 4,08 1,2 8,16 9,2 8,16 2,1<br />
Atendimento não médico 35,70 61,4 35,70 10,2 45,9 51,9 45,9 4,8<br />
Exames laboratoriais 9,06 15,6 9,06 2,6 25,02 28,3 25,02 6,5<br />
Medicamento 9,29 16,0 302,4 86,0 9,29 10,6 302,4 86,6<br />
Custo do protocolo/ano 58,13 100,0 351,24 100,0 88,37 100,0 381,48 100,0<br />
Fonte: Portero et al, 2003 10 .<br />
Identificação e Caracterização da<br />
População Hospitalizada<br />
A caracterização da população hospitalizada<br />
deste estudo pode ser observada na<br />
tabela 2. O levantamento de dados realizado<br />
no Hospital Santa Casa de Misericórdia permitiu<br />
verificar que, dos 93 indivíduos com<br />
DM tipo 2 internados, 52,7% eram do sexo<br />
masculino, com predominância na faixa<br />
etária entre 30 anos e 69 anos (63,4%) em<br />
ambos os sexos.<br />
Segundo o motivo de internação, a maior<br />
parte das hospitalizações dos pacientes<br />
diabéticos se deu em decorrência das doenças<br />
do aparelho circulatório (48%), seguidas pelas<br />
doenças do aparelho geniturinário<br />
(17,0%). Entre as doenças do aparelho circulatório,<br />
estavam problemas relacionados aos<br />
membros inferiores (31,1%), infarto agudo<br />
do miocárdio e insuficiência cardíaca<br />
congestiva (20% e 20%, respectivamente),<br />
acidente vascular-cerebral (13,3%), cirurgia<br />
(6,7%) e outros (8,9%).<br />
Quanto ao tempo de diagnóstico da doença,<br />
26,9% dos indivíduos foram diagnosticados<br />
há menos de 5 anos, 18,3%, de 5 anos<br />
a 10 anos, 31,2%, de 10 anos a 20 anos, e<br />
15%, há mais de 20 anos. Observou-se que<br />
4,3% deles apresentaram seu diagnóstico no<br />
hospital, ou seja, durante a internação. Ao<br />
analisar o tempo de permanência hospitalar,<br />
verificou-se que 36,7% dos pacientes apresentaram<br />
um período de internação entre 5<br />
dias e 10 dias. Vale ressaltar que 30% das<br />
pessoas apresentaram um tempo de permanência<br />
hospitalar superior a 10 dias.<br />
Gastos Hospitalares<br />
Quando se caracteriza a população do<br />
estudo de acordo com o motivo de internação,<br />
segundo Capítulo CID-10 e idade média, média<br />
do tempo de diagnóstico de DM, tempo médio<br />
40<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
de hospitalização e valor médio de<br />
hospitalização/dia (tab. 2), verifica-se que os<br />
indivíduos hospitalizados por doenças do aparelho<br />
respiratório apresentam valores superiores<br />
para a idade (71,8 anos), tempo de diagnóstico<br />
de DM (13,9 anos) e valor de hospitalização/<br />
dia (R$ 246,22). Com relação à permanência<br />
hospitalar, nota-se maior tempo de internação<br />
das pessoas cujo motivo de hospitalização foram<br />
as doenças do aparelho geniturinário (10,7<br />
dias), seguido por doenças endócrinas<br />
nutricionais e metabólicas (9,5 dias) e por doenças<br />
do aparelho circulatório (7,8 dias).<br />
No que se refere ao valor médio de hospitalização<br />
da população do estudo (tab. 3),<br />
percebe-se um maior valor para as pessoas<br />
internadas por doenças do aparelho geniturinário<br />
(R$ 3.665, 82), seguido pelas doenças<br />
do aparelho circulatório (R$ 1.444,78).<br />
Os pacientes com DM como causa básica<br />
de hospitalização apresentaram valores<br />
médios de internação/dia inferiores aos dados<br />
registrados pelo Datasus (R$ 130,93 e R$<br />
267,33, respectivamente) e uma média de<br />
permanência hospitalar superior ao Datasus<br />
(9,6 dias e 6,7 dias, respectivamente).<br />
Com relação ao valor médio por<br />
internação e por dia e média de permanência<br />
hospitalar de acordo com a faixa etária (tab.<br />
4), percebe-se que a faixa etária de 70 anos a<br />
80 anos apresenta um dos maiores valores de<br />
internação por dia (R$ 224,30). Vale ressaltar<br />
que a faixa etária acima de 90 anos apresentou<br />
maiores valores de internação (R$<br />
5.075,28), internação por dia (R$ 422,94) e<br />
tempo de permanência hospitalar (12 dias).<br />
O quadro 1 mostra a estimativa do custo<br />
anual do tratamento do diabetes, referente a<br />
atenção primária, secundária e terciária, para<br />
o município de Piracicaba.<br />
Tabela 2. Caracterização da população do estudo, de acordo com o motivo da internação, segundo<br />
Capítulo CID-10.<br />
Variáveis<br />
Tem po médio de Tempo médio de<br />
Valormédio de<br />
Idade média<br />
diagnóstico de DM perm anência hospitalar hospitalização/dia<br />
(anos)<br />
(anos)<br />
(dias)<br />
(R$)<br />
Capítulo CID-10<br />
N % Valor+ DP N % Valor+ DP N % Valor+ DP N % DP<br />
IV.D oenças endócrinas nutricionais e metabólicas<br />
IX.D oenças do aparelho circulatório<br />
X.D oenças do aparelho respiratório<br />
XI.D oenças do aparelho digestivo<br />
XIV.D oenças do aparelho geniturinário<br />
XVIII.Sintsinais e achad anorm ex clín e laborat<br />
5<br />
45<br />
12<br />
8<br />
16<br />
7<br />
5,4 55,6 + 16,7<br />
48,4 64,4 + 10,9<br />
12,9 71,8 + 12,1<br />
8,6 58,4 + 13,9<br />
17,2 60,4 + 14,3<br />
7,5 54,8 + 14,4<br />
5<br />
43<br />
10<br />
8<br />
16<br />
7<br />
5,4<br />
46,2<br />
10,7<br />
8,6<br />
17,2<br />
7,5<br />
5,8 + 3,6<br />
10,7 + 10,1<br />
13,9 + 12,7<br />
12,3 + 11,4<br />
9,5 + 4,8<br />
6,5 + 6,8<br />
5<br />
45<br />
12<br />
8<br />
16<br />
7<br />
5,4<br />
48,4<br />
12,9<br />
8,6<br />
17,2<br />
7,5<br />
9,6 + 5,0<br />
7,8 + 4,6<br />
6,3 + 6,2<br />
7,1 + 3,1<br />
10,7 + 9,2<br />
5,8 + 3,8<br />
5<br />
44<br />
12<br />
7<br />
14<br />
7<br />
5,4<br />
46,2<br />
10,7<br />
8,6<br />
17,2<br />
7,5<br />
130,94 + 75,90<br />
177,85 + 122,45<br />
246,22 + 173,03<br />
80,28 + 37,90<br />
188,46 + 156,64<br />
117,77 + 122,27<br />
SI<br />
- - - 4 4,4 - - - - 4 4,4<br />
-<br />
TOTAL 93 100,0 62,8 + 13,5 89 100,0 10,4 + 9,6 93 100,0 8,0 + 5,9 89 100,0 172,20 + 137,55<br />
Tabela 3. Gasto hospitalar total (R$) por paciente e composição dos gastos (%) de pessoas com<br />
DM, hospitalizadas segundo o motivo da internação, pelos capítulos do CID-10.<br />
Variáveis<br />
Valormédio de<br />
Medicam entos<br />
Materiais<br />
Diárias e Taxas<br />
Kit’s<br />
SADT<br />
Capítulo CID-10<br />
internação (R$)<br />
(%)<br />
(%)<br />
(%)<br />
(%)<br />
(%)<br />
IV.D oenças endócrinas nutricionais e metabólicas<br />
1407,94<br />
29,4<br />
22,8<br />
2,4<br />
44,6<br />
0,8<br />
IX.D oenças do aparelho circulatório<br />
1444,78<br />
33,9<br />
32,1<br />
11,1<br />
21,9<br />
1,1<br />
X.D oenças do aparelho respiratório<br />
1344,56<br />
32,0<br />
17,1<br />
27,5<br />
22,5<br />
0,8<br />
XI.D oenças do aparelho digestivo<br />
602,12<br />
26,1<br />
25,4<br />
-<br />
47,1<br />
1,4<br />
XIV.D oenças do aparelho geniturinário<br />
3665,82<br />
60,8<br />
15,6<br />
6,7<br />
15,9<br />
1,0<br />
XVIII.Sintsinais e achad anorm ex clín e laborat<br />
847,01<br />
28,5<br />
18,7<br />
6,6<br />
43,7<br />
2,5<br />
Saúde em Revista<br />
Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />
41
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
Tabela 4. Valores médios por internação e permanência hospitalar da população, de acordo com<br />
faixa etária (anos).<br />
Variáveis<br />
Valor médio por internação<br />
Valor médio de<br />
Média de permanência<br />
Faixa etária<br />
Número<br />
(R$)<br />
internação/dia (R$)<br />
hospitalar (dias)<br />
30├ 40<br />
6<br />
1033,02<br />
129,13<br />
8<br />
40├ 50<br />
10<br />
1710,36<br />
222,12<br />
7,7<br />
50├ 60<br />
21<br />
1394,25<br />
185,31<br />
7,5<br />
60├ 70<br />
24<br />
1874,72<br />
219,48<br />
8,5<br />
70├ 80<br />
22<br />
1610,91<br />
224,30<br />
7,2<br />
80├ 90<br />
8<br />
1859,61<br />
206,62<br />
9<br />
≥ 90<br />
1<br />
5075,28<br />
422,94<br />
12<br />
Quadro 1. Estimativa do custo anual do atendimento a pessoa com diabetes em nível ambulatorial<br />
e hospitalar, no município de Piracicaba.<br />
DISCUSSÃO<br />
Os procedimentos realizados para atenção<br />
da pessoa com DM, tanto no nível primário<br />
como no secundário, do município de<br />
Piracicaba, condizem, em parte, com os recomendados<br />
pela literatura, 3, 12, 11, 13 pois parece<br />
que esses atendimentos não se estendem a<br />
todos os indivíduos. 10<br />
Os dados levantados na atenção terciária<br />
mostraram que as doenças do aparelho circulatório,<br />
seguidas pelas do aparelho geniturinário<br />
e do aparelho respiratório foram os<br />
principais motivos pelos quais os indivíduos<br />
com DM tiveram de ser hospitalizados. Identificou-se<br />
o DM como causa básica de<br />
hospitalização em apenas 5,4% da população<br />
do estudo. Entre as principais doenças do aparelho<br />
circulatório apresentadas pela população<br />
pesquisada, estavam problemas relacionados<br />
aos membros inferiores, infarto agudo do<br />
miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva.<br />
Esses dados corroboram inúmeros estudos<br />
feitos internacionalmente, os quais relatam<br />
que os indivíduos com DM estão mais propensos<br />
ao surgimento de traumas nos membros<br />
inferiores, capazes de desencadear úlceras<br />
nos pés, e que aproximadamente metade<br />
das amputações não-traumáticas dos membros<br />
inferiores decorrem do diabetes. 14<br />
42<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
Em outras palavras, o cuidado adequado<br />
com os pés pode contribuir para a redução na<br />
freqüência e no tempo de permanência hospitalar,<br />
bem como na incidência de amputações<br />
dos indivíduos com diabetes em 50%. 4 Esses<br />
estudos apontam ainda evidências de que as<br />
pessoas com diagnóstico de DM são duas a<br />
quatro vezes mais susceptíveis a ir a óbito<br />
por doença cardíaca ou infarto, 14 que a maioria<br />
dos óbitos dos diabéticos é computada<br />
no grupo das doenças do aparelho circulatório<br />
e que, quando o DM é assinalado com<br />
causa associada, a doença arterial coronariana<br />
aparece em primeiro lugar como causa<br />
básica de morte. 15<br />
Os pacientes internados por provável<br />
doença infecciosa (do aparelho geniturinário<br />
e do respiratório) apresentaram custo de<br />
internação elevado, indicando, possivelmente,<br />
o uso de antimicrobianos de alto custo. Todavia,<br />
embora o DM tipo 2 predisponha a processos<br />
infecciosos dos aparelhos geniturinário<br />
e respiratório, essas infecções não se<br />
restringem apenas aos pacientes diabéticos,<br />
particularmente na faixa etária em que incidiram<br />
no presente estudo.<br />
Com relação à permanência hospitalar,<br />
notou-se um maior tempo de internação das<br />
pessoas cujo motivo de hospitalização foram<br />
as doenças do aparelho geniturinário, seguido<br />
por DM e doenças do aparelho circulatório. A<br />
elevada permanência dos indivíduos hospitalizados<br />
por doenças do aparelho geniturinário<br />
se deve ao tratamento prolongado para a obtenção<br />
do controle metabólico desejado. Alguns<br />
dos indivíduos necessitaram dos serviços<br />
de diálise e hemodiálise, por apresentar insuficiência<br />
renal crônica; outros passaram por<br />
processos cirúrgicos e, dessa forma, precisaram<br />
de um tempo de hospitalização maior<br />
para alcançar uma recuperação adequada e<br />
monitorizada.<br />
As pessoas hospitalizadas por doenças<br />
do aparelho circulatório apresentaram permanência<br />
hospitalar prolongada, além de idade,<br />
tempo de diagnóstico de DM e valor de<br />
hospitalização/dia superiores à média da população<br />
estudada. Esses dados corroboram os<br />
achados em outros estudos documentados.<br />
Malerbi e Franco, 16 ao relacionar os fatores<br />
de risco para manifestação de doenças do<br />
aparelho circulatório, afirmaram que idade<br />
representa um fator de risco mais importante<br />
para a manifestação de doenças do aparelho<br />
circulatório que a própria duração do DM, e<br />
que as doenças cardiovasculares são uma das<br />
complicações do DM mais onerosas ao sistema<br />
de saúde. 17<br />
Ao analisar a variação do valor médio<br />
de internação/dia e a média de permanência<br />
hospitalar entre a população do estudo e os<br />
dados nacionais (Datasus), nota-se que os<br />
valores médios de hospitalização/dia para<br />
cada doença revelaram-se inferiores aos dados<br />
consultados no Datasus. Em<br />
contrapartida, a média de permanência hospitalar<br />
mostrou-se superior ao Datasus para<br />
todos os indivíduos hospitalizados, de acordo<br />
com cada doença. Uma hipótese a ser levantada<br />
seria uma mortalidade demasiadamente<br />
precoce por DM nas outras regiões do Brasil,<br />
levando o indivíduo à hospitalização por<br />
complicações já muito avançadas, que exigem<br />
tratamento hospitalar intensivo. Essas<br />
hospitalizações, resultantes de motivos graves<br />
de saúde, podem implicar o óbito do indivíduo,<br />
diminuindo o seu tempo de permanência<br />
hospitalar. Ainda que este trabalho<br />
tenha identificado algumas falhas na atenção<br />
e na educação dos pacientes com DM tipo 2,<br />
nos setores primário e secundário do município<br />
de Piracicaba, esses serviços existem e<br />
podem estar contribuindo positivamente para<br />
uma redução nos gastos de internação.<br />
De acordo com a análise dos dados da<br />
pesquisa, também é possível notar que o envelhecimento<br />
do indivíduo com DM associase<br />
diretamente ao aumento no valor da internação<br />
e no tempo de permanência<br />
hospitalar. Isso se deve ao fato de que uma<br />
pessoa com mais idade possa ter um tempo<br />
de diagnóstico de DM maior e, assim, apre-<br />
Saúde em Revista<br />
Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />
43
KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />
sentar maior probabilidade de apresentar<br />
complicações e/ou patologias associadas à<br />
doença que demandam serviços mais<br />
especializados, onerando a hospitalização.<br />
A educação em saúde é de fundamental<br />
importância no controle do DM e na redução<br />
nos custos para os serviços de saúde, uma<br />
vez que há diminuição nos índices de admissões<br />
hospitalares e taxas médias de glicemia,<br />
o que pode ser reflexo da melhora no nível<br />
de percepção sobre a importância da educação,<br />
bem como no índice de aceitação da<br />
doença por parte dos indivíduos dela portadores.<br />
Outro ponto fundamental a ser levado<br />
em consideração é o custo do tratamento das<br />
complicações crônicas, possíveis de ser<br />
minimizado por meio da educação, uma vez<br />
que o indivíduo conscientizado terá melhor<br />
controle metabólico. 18<br />
No Brasil, estudos sobre o impacto de<br />
programas de prevenção primária do DM<br />
tipo 2 em população saudável ou de alto risco<br />
são escassos, 19, 20 bem como os de prevenção<br />
secundária em pessoas já portadoras de<br />
DM tipo 2. 18, 21, 22, 23 Dessa forma, trabalhos<br />
de prevenção primária do DM tipo 2 devem<br />
ser incentivados em nosso meio, pois podem<br />
contribuir para a melhora da qualidade de<br />
vida das pessoas e, conseqüentemente, redução<br />
dos gastos do sistema de saúde vigente.<br />
CONCLUSÕES<br />
O município de Piracicaba oferece ao<br />
usuário do SUS com DM tipo 2 um protocolo<br />
de atendimento que satisfaz as recomendações<br />
da Sociedade Brasileira de Diabetes<br />
(SBD) e da American Diabetes Association<br />
(ADA) e, embora apresente falhas, pode<br />
estar contribuindo positivamente para o tratamento<br />
do DM, uma vez que o gasto hospitalar<br />
da população internada nessa cidade<br />
revelou-se inferior, quando comparado com<br />
os valores médios nacionais.<br />
O custo de uma hospitalização<br />
corresponde a 28,6 anos de tratamento do<br />
DM com hipoglicemiante oral e 4,7 anos de<br />
tratamento com insulina na atenção primária,<br />
e 18,8 anos de tratamento do DM com<br />
hipoglicemiante oral e 4,3 anos de tratamento<br />
com insulina na atenção secundária. O<br />
controle glicêmico está associado a um<br />
menor número de complicações; assim, o<br />
atendimento ambulatorial adequado poderá<br />
levar a uma redução da freqüência e da<br />
complexidade dos procedimentos e<br />
internações, representando uma diminuição<br />
no custo de tratamento do DM para os serviços<br />
de saúde.<br />
O estilo de vida sedentário e inadequados<br />
hábitos alimentares, associados ao envelhecimento<br />
e aumento na expectativa de vida<br />
dos brasileiros são apontados como os principais<br />
fatores responsáveis pelo aumento da<br />
prevalência do DM tipo 2 observado no País.<br />
Nesse sentido, programas de intervenção que<br />
promovam mudança no estilo de vida devem<br />
ser incentivados, com o intuito de melhorar a<br />
qualidade de vida da população.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso brasileiro de conceitos e condutas para o Diabetes mellitus. São<br />
Paulo: SBD; 1997.<br />
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Saúde em Revista 2001;3(5):7-14.<br />
Submetido: 2/mar./2006<br />
Aprovado: 18/ago./2006<br />
Agradecimentos<br />
Às alunas do Curso de Nutrição da UNIMEP<br />
(campus Taquaral) Adriana Danelon,<br />
Vanessa, Vivian, Milena, Amanda, Juliana<br />
Rios e Camila Pires, pela ajuda e dedicação<br />
na coleta dos dados, e à FAPESP, por acreditar<br />
na contribuição científica deste trabalho e<br />
pelo financiamento prestado (processo 99/<br />
09474-6).<br />
Saúde em Revista<br />
Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />
45
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Contaminação em Jalecos Utilizados por<br />
Estudantes de Odontologia<br />
Contamination in Jackets Used by Odontology Students<br />
MARIA AUXILIADORA<br />
MONTENEGRO NESI<br />
Professora no Curso de<br />
Odontologia (UnP/RN e UFRN/RN)<br />
RENATO SOBREIRA BITU FILHO *<br />
Graduando em odontologia<br />
(UnP/RN)<br />
EVELINE GADÊLHA LIMA<br />
Graduanda em odontologia<br />
(UnP/RN)<br />
ANA MIRYAM COSTA DE<br />
MEDEIROS<br />
Professora no Curso de<br />
Odontologia (UnP/RN e UFRN/RN)<br />
KENIO COSTA LIMA<br />
Professor do Departamento de<br />
Odontologia e dos Programas de<br />
Pós-Graduação em Odontologia e<br />
Ciências da Saúde (UFRN/RN)<br />
* Correspondências: R. Romualdo<br />
Galvão, 3.673, ap. 1.004, bl. F,<br />
Lagoa Nova, 59056-100, Natal/RN<br />
rsbfilho@yahoo.com.br<br />
RESUMO Este trabalho objetivou avaliar os níveis de contaminação de<br />
jalecos usados por alunos de odontologia durante procedimentos clínicos,<br />
em três áreas distintas, correlacionando-os entre si e com o tempo de uso.<br />
Buscou ainda associação entre o tipo de tecido desta indumentária e os<br />
graus de comprometimento contagioso nas três áreas. Para tanto, 30 alunos<br />
do curso de odontologia da UFRN em atividade clínica, aleatoriamente<br />
selecionados, tiveram analisadas gola, bolso e punho dos seus jalecos.<br />
Avaliou-se tais níveis por meio da impressão de carimbo de fórmica estéril<br />
sobre essas áreas e, em seguida, sobre as placas de ágar Columbia,<br />
incubadas a 37 o C por 48h. A análise dos dados foi realizada por meio dos<br />
testes de Kruskal-Wallis e coeficiente de correlação de Spearman. Observou-se<br />
que as três áreas não diferiram significativamente entre si em<br />
relação ao número de microrganismos isolados, nem foi estabelecida<br />
correlação entre elas. Não houve também correlação entre o tempo de uso<br />
com a quantidade de microrganismos nas três áreas. A associação entre<br />
o tipo de tecido dos jalecos e a contaminação nos três locais examinados<br />
não foi significativa. Os resultados obtidos sugerem que as indumentárias<br />
apresentaram baixo risco de contágios nas três áreas analisadas, sem que<br />
houvesse diferença, nem relação entre elas.<br />
Palavras-chave EXPOSIÇÃO A AGENTES BIOLÓGICOS – CONTAMINAÇÃO BIOLÓ-<br />
GICA – ODONTOLOGIA OCUPACIONAL.<br />
ABSTRACT This article had the objective of evaluating the levels of<br />
contamination in jackets used by odontology students during clinical<br />
procedures, in three distinct areas, correlating them between themselves<br />
and with time of use. An association was also attempted between the<br />
type of fabric and the degrees of contagious exposure in the three areas.<br />
Therefore, 30 students of the odontology course of UFRN in clinical<br />
activity, randomly selected, had their jackets’ collars, pockets and cuffs<br />
analyzed. These levels were evaluated by the impression of a sterile<br />
Formica stamp over these areas and, later, over Columbia agar plates,<br />
incubated at 37°C for 48h. The data analysis was made by the Kruskal-<br />
Wallis tests and the Spearman correlation coefficient. It was observed<br />
that the three areas did not differ significantly from each other in the<br />
numbers of isolated microorganisms and no correlation between the was<br />
established. There also wasn’t correlation between the time of use and<br />
the quantity of microorganisms in the three areas. The association<br />
between the type of fabric of the jackets and the contamination in the<br />
three places examined was not significant. The results obtained suggest<br />
that the jackets present a low level of risk contagion in the three areas<br />
analyzed, without any difference or relationship among them.<br />
Keywords EXPOSURE TO BIOLOGICAL AGENTS – BIOLOGICAL CONTAMINATION<br />
– OCCUPATIONAL DENTISTRY.<br />
Saúde em Revista<br />
Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />
47
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Os profissionais da área de saúde estão<br />
expostos às contaminações e/ou transmissões<br />
de doenças em decorrência de contatos manuais<br />
inadequados diretos ou indiretos de aerossóis,<br />
gotículas e perdigotos, os quais são gerados<br />
durante o exercício da profissão. A<br />
carência do zelo na prevenção dos contágios<br />
é uma evidência patente para a maioria dos<br />
profissionais que agem por desconhecimento<br />
ou negligência, com o uso inadequado dos<br />
Equipamentos de Proteção Individual (EPI)<br />
1, 2, 3, 4, 5.<br />
nos seus ambientes de trabalho.<br />
Pelczar, Chan e Krieg 6 relatam que os<br />
aerossóis são veículos de contaminação gerados<br />
por fontes humanas ou ambientais e responsáveis<br />
pela transmissão de doenças devido<br />
a ingestão ou inalação de microrganismos<br />
patogênicos, por aerossóis produzidos por<br />
água contaminada em ambientes climatizados<br />
ou por jato de spray. Ressaltam ainda que é<br />
possível a produção de poeira infecciosa<br />
transmitida por fonte humana, detectada em<br />
superfícies de assoalho, após agitação de roupa<br />
de cama que contaminam o ar circulante.<br />
Há relatos, como os de Bebermeyer, 7<br />
que estimam o tempo de sobrevivência a<br />
25°C de agentes veiculados por tais secreções,<br />
saliva e sangue, como no caso de vírus<br />
respiratórios e do Herpes zoster vírus e<br />
Streptococcus pyogenes, por horas ou dias;<br />
do vírus do Herpes simples tipo I e II, por<br />
segundos ou minutos; do vírus da Hepatite<br />
A e B por semanas; de Staphylococcus<br />
aureus por dias; e do Treponema pallidum<br />
por segundos.<br />
Rutala e Weber 8 recomendam o uso de<br />
aventais como parte do equipamento de proteção<br />
individual (EPI), para minimizar a passagem<br />
de microrganismos para pacientes cirúrgicos,<br />
como também evitar a exposição do<br />
profissional de saúde aos agentes infecciosos,<br />
particularmente os transmitidos pelo sangue,<br />
HIV, HBV e HCV, ressaltando o risco de<br />
aquisição desses agentes mediante contatos<br />
com lesões cutâneas ou membranas mucosas<br />
com fluidos corpóreos contaminados.<br />
Segundo o Centro de Controle de Doenças<br />
(CDC), 9 os aventais são recomendados<br />
na prevenção de contágios de microrganismos<br />
epidemiologicamente importantes em<br />
infecções como a rubéola congênita e difteria<br />
cutânea, assim como nos casos de germes<br />
multi-resistentes em feridas infectadas por<br />
estafilococos e estreptococos. Esse mesmo<br />
órgão refere que o uso de aventais e campos<br />
cirúrgicos estéreis constitui barreira efetiva,<br />
quando secos, uma vez que se apresentam<br />
como materiais resistentes à penetração de<br />
líquidos, devendo os mesmos serem usados<br />
no atendimento clínico quando forem previstos<br />
contatos substanciais das roupas do profissional<br />
com o paciente, superfícies<br />
ambientais ou itens contaminados.<br />
Nesse mesmo sentido, Wong et al. 10 demonstraram<br />
que os jalecos são fontes potenciais<br />
de infecções cruzadas, especialmente os<br />
utilizados em cirurgia e que a lavagem das<br />
mãos deve ser implementada antes e após<br />
atendimento ao paciente, sugerindo também<br />
que o descarte de roupa contaminada deve ser<br />
feito em plásticos e que é imperativa a substituição<br />
das mesmas pelo menos a cada semana.<br />
Seguindo esse mesmo raciocínio, Hambraeus<br />
e Ransjö 11 detectaram contaminação<br />
por estafilococos em batas durante o trabalho<br />
de rotina das enfermeiras de clínica de cirurgia<br />
plástica e que havia uma redução destes<br />
microrganismos de quatro a 10 vezes quando<br />
se utilizava proteção sobre a roupa branca.<br />
No atendimento em pacientes, Lidwell<br />
et al. 4 evidenciaram em centro de recuperação<br />
cirúrgica de queimados de único leito,<br />
que as camas tinham suas colchas contaminadas<br />
por Staphylococcus aureus carreados<br />
pelas batas das enfermeiras.<br />
Buscando demonstrar a contaminação<br />
de aventais utilizados por estudantes de Medicina,<br />
Loh et al. 12 detectaram que áreas de<br />
contatos freqüentes, como bolsos e mangas,<br />
são contaminados principalmente por micror-<br />
48<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
ganismos comensais da pele, como o<br />
Staphylococcus aureus, cuja contaminação<br />
está diretamente relacionada com o grau de<br />
limpeza dessa indumentária, sendo a mesma<br />
uma fonte potencial de infecção cruzada.<br />
Num estudo com 50 pacientes com doenças<br />
periodontais, Carvajal et al. 1 demonstraram<br />
a contaminação por aerossóis das<br />
máscaras, protetores oculares e piso em<br />
100% dos atendimentos, contaminação esta<br />
observada com o uso da reação de benzidina<br />
com a detecção de sangue e glutaraldeído,<br />
quando da utilização do ultra-som.<br />
Dentro dessa lógica, segundo Wall 5 , o<br />
risco de contágio é expressivo diante de portadores<br />
de vírus como o da Hepatite B e que<br />
um dentista que atende a 20 pacientes ao dia<br />
encontrará um portador de HBV a cada sete<br />
dias, e terá contato com dois portadores de<br />
infecção herpética, além de número desconhecido<br />
de pacientes HIV positivos. O autor<br />
menciona ainda que os cuidados para a prevenção<br />
dos contágios para o HBV valem<br />
também para o controle do HIV.<br />
O uso do equipamento de proteção individual<br />
(EPI) é ressaltado por Discacciati et<br />
al. 3 , pelo fato de ter comprovado o alcance<br />
dos respingos provenientes da utilização de<br />
seringa tríplice e turbina de altas rotações em<br />
cinco atendimentos clínicos coletivos simulados,<br />
sendo observada a presença de saliva e<br />
sangue de paciente, utilizando anilina de diversas<br />
cores adicionadas à água do reservatório<br />
de cada um dos cinco equipos. Evidenciaram<br />
também o contato da área e da roupa<br />
do operador e paciente, bem como de bandejas<br />
contendo artigos estéreis, dentro da área<br />
de abrangência dos respingos, detectada a<br />
1,82 m, calculada a partir do ponto correspondente<br />
à boca do paciente. Os autores indicam<br />
a necessidade de barreiras entre os<br />
equipamentos localizados em um mesmo<br />
ambiente e o uso do EPI adequado.<br />
Chinellato e Scheidt 2 demonstraram e<br />
reiteraram a importância do uso do EPI,<br />
mencionando que o uso do avental é imprescindível<br />
em toda a ocasião em que houver a<br />
possibilidade de contatos com sangue, produtos<br />
sangüíneos e/ou secreções que possam<br />
acidentalmente contaminar as vestes do profissional<br />
da saúde.<br />
Portanto, esse trabalho teve o objetivo<br />
de avaliar o nível de contaminação bacteriana<br />
em superfícies de jalecos (gola, bolso e punho)<br />
utilizados por alunos de Odontologia da<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Norte<br />
(UFRN), estabelecendo possíveis correlações<br />
entre os níveis de contaminação das três<br />
áreas, assim como entre os níveis de contaminação<br />
e tempo de uso dos jalecos. Ademais,<br />
buscou-se associação entre o tipo de<br />
tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />
nas três áreas analisadas.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Trinta alunos do curso de Odontologia<br />
da UFRN que estavam em atividade clínica<br />
foram aleatoriamente selecionados e tiveram<br />
analisadas três áreas dos seus jalecos, em<br />
relação aos níveis de contaminação: gola,<br />
bolso e punho. A coleta das informações relativas<br />
ao tempo de uso e tipo de tecido dos<br />
jalecos, se deu a partir da aplicação de um<br />
questionário a todos os alunos selecionados<br />
que tenham assinado o Termo de Consentimento<br />
Livre e Esclarecido, autorizando sua<br />
participação na pesquisa. Para a variável<br />
tempo de uso dos jalecos, questionou-se aos<br />
alunos o tempo que o mesmo esteve sob uso<br />
sem lavagem. Quanto ao tipo de tecido dos<br />
jalecos, comparou-se o tecido dos mesmos<br />
com amostras padronizadas de tecidos utilizados<br />
para confecção de jalecos. Previamente<br />
a realização desse estudo, o projeto foi submetido<br />
ao comitê de ética em pesquisa da<br />
UFRN e aprovado com o número 55/03.<br />
A avaliação da contaminação bacteriana<br />
foi realizada pela amostragem de três sítios<br />
das batas: região cervical inferior vista<br />
dorsalmente; porção radial interna do punho<br />
da mão dominante e bolso inferior correspon-<br />
Saúde em Revista<br />
Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />
49
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
Figura 1. Aspecto lateral e da superfície do carimbo.<br />
Figura 2. Aspecto da placa após o período de<br />
incubação.<br />
dente à mão dominante. A coleta do material<br />
dos jalecos realizou-se com carimbos de madeira<br />
revestidos de fórmica, medindo 6 cm de<br />
comprimento e 3cm de largura, previamente<br />
esterilizados. Estes foram aplicados sob pressão<br />
manual nas regiões selecionadas dos jalecos,<br />
mediante três movimentos de vai e vem.<br />
Após este procedimento, os carimbos<br />
tiveram impressão em placas de Columbia<br />
Agar acrescido de 5% de sangue desfibrinado<br />
de carneiro e incubados em aerobiose por 48<br />
horas a 37°C, conforme demonstrado nas figuras<br />
1 e 2.<br />
A contagem das Unidades Formadoras<br />
de Colônias (UFCs) foi realizada manualmente<br />
tomando como base a área de impressão<br />
do carimbo. Em seguida, analisaram-se<br />
os dados mediante teste de Kruskal-Wallis no<br />
sentido de detectar possíveis diferenças na<br />
contaminação das três áreas pesquisadas. As<br />
prováveis correlações entre as áreas<br />
pesquisadas, assim como entre os seus níveis<br />
de contaminação e o tempo de uso foram<br />
obtidas pelo coeficiente de correlação de<br />
Spearman. Na tentativa de se observar uma<br />
associação entre o tipo de tecido dos jalecos<br />
e os níveis de contaminação das áreas estudadas,<br />
aplicou-se o teste exato de Fisher. O<br />
nível de significância estabelecido para este<br />
estudo foi de 5%.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
As contaminações cruzadas odontológicas<br />
ocorrem pela transmissão de agentes<br />
microbianos veiculados por diversas fontes,<br />
relacionadas com os contatos manuais em<br />
superfícies de fômites e/ou indumentária<br />
durante os procedimentos clínicos da equipe.<br />
1, 2, 6, 7, 13<br />
Ainda não é de conscientização universal<br />
da equipe de saúde, o perigo iminente que o<br />
jaleco representa na disseminação de microrganismos,<br />
principalmente no tocante aos atendimentos<br />
prestados aos pacientes imunocomprometidos,<br />
como os usuários de drogas<br />
quimiotóxicas e irradiados, que inegavelmente<br />
compõem grupos de maior vulnerabilidade.<br />
Neste trabalho observou-se que os jalecos<br />
foram reutilizados nos atendimentos clínicos<br />
entre tempos variados, de uma (53,3%<br />
dos alunos) a 20 (vinte - 3,3% dos alunos)<br />
vezes e que o tecido de confecção de predomínio<br />
(86,7%) foi a microfibra (fibra muito<br />
fina, utilizada na forma de multifilamentos,<br />
impermeável, que permite a saída de suor e<br />
ar), com menor expressão (13,3%) do tecido<br />
não-tecido (TNT – tecido não texturizado,<br />
100% polipropileno, utilizado nos mais variados<br />
segmentos, de descartáveis a duráveis).<br />
Os níveis de contaminação para as três<br />
áreas pesquisadas encontram-se na tabela 1.<br />
50<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
Uma amostra referente ao bolso foi perdida por<br />
ter ocorrido contaminação ambiental no meio<br />
de cultura após impressão com o carimbo.<br />
Os níveis de contaminação obtidos a<br />
partir dos três sítios demonstraram que não<br />
houve diferença entre os mesmos (p =<br />
0,0759). Portanto, apesar da região do punho<br />
ter se apresentado menos contaminada, essa<br />
menor contaminação não foi diferente das<br />
demais áreas, apresentando todas, baixos níveis<br />
de contaminação.<br />
Há que se ressaltar os elevados desvios<br />
padrões e intervalos de confiança para todas<br />
as áreas estudadas, demonstrando dessa forma<br />
o pequeno tamanho da amostra estudada,<br />
cuja variabilidade dos dados permitiu o cálculo<br />
do tamanho real da amostra que<br />
minimizaria tal variabilidade e seria possível<br />
demonstrar possíveis diferenças entre as áreas.<br />
Para uma população finita de alunos de<br />
263, a amostra necessária seria de 166 alunos<br />
(jalecos), o que certamente inviabilizaria o<br />
trabalho laboratorial.<br />
Na tentativa de verificar uma possível<br />
relação entre os níveis de contaminação das<br />
três áreas estudadas, assim como entre estas<br />
e o tempo de uso dos jalecos, determinou-se<br />
o coeficiente de correlação de Spearman que<br />
se encontra expresso na tabela 2.<br />
A partir da análise da correlação, podese<br />
observar que não houve correlação significativa<br />
entre nenhuma das três áreas pesquisadas<br />
e nem entre cada uma delas e o<br />
tempo de uso dos jalecos.<br />
Nessa amostra foi possível observar a<br />
ausência de correlação entre os níveis de<br />
contaminação nas três áreas, ou seja, não<br />
necessariamente um bolso muito contaminado<br />
refletia no respectivo punho e/ou gola<br />
com níveis similares de contaminação. As<br />
três áreas também não se correlacionaram<br />
com o tempo de uso que poderia ser<br />
determinante da intensidade da contaminação,<br />
provavelmente pela maioria dos alunos<br />
(53,3%) estarem usando os jalecos por apenas<br />
um dia.<br />
Tabela 1. Número de sítios avaliados, médias, desvios-padrões, intervalos de confiança, e<br />
significância estatística para a contagem bacteriana (UFC) por cm 2 das áreas correspondentes ao<br />
bolso, gola, punho de jalecos utilizados por alunos de Odontologia durante procedimentos clínicos.<br />
Natal, RN. 2003.<br />
Área n M édia D esvio padrão IC (95% ) P<br />
Gola 30 13,76 29,67 2,687-24,846<br />
Punho 30 6,83 7,64 3,980-9,687 0,0759<br />
Bolso 29 13,2 17 6,740-19,674<br />
Tabela 2. Coeficientes de correlação de Spearman (r), intervalos de confiança (95%) e níveis de<br />
significância entre gola, bolso e punho e entre estas áreas e o tempo de uso e tipo dos tecidos dos<br />
jalecos. Natal, RN. 2003.<br />
C orrelações R IC (95% ) P<br />
Gola x bolso 0,1142 -0,2671/0,4646 0,5478<br />
Gola x punho 0,0967 -0,2902/0,4565 0,6175<br />
Punho x bolso -0,0276 -0,3998/0,3524 0,8870<br />
Gola x tem po de uso -0,0993 -0,4528/0,2810 0,6013<br />
Bolso x tem po de uso 0,0199 -0,3526/0,3871 0,9165<br />
Punho x tem po de uso -0,0969 -0,4566/0,2901 0,6170<br />
Saúde em Revista<br />
Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />
51
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
Para a análise da associação entre o tipo<br />
de tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />
das três áreas estudadas, estes foram<br />
categorizados de acordo com a mediana dos<br />
dados em alto e baixo nível de contaminação.<br />
Sendo assim, para a gola, o nível baixo<br />
correspondeu a 4 (quatro) ou menos UFCs<br />
por cm 2 e o alto, níveis acima desses valores.<br />
Para o bolso, tais valores corresponderam a<br />
3,5 ou menos e acima de 3,5, respectivamente.<br />
Em relação ao punho, os limites considerados<br />
foram 7 (sete) ou menos UFCs (valor<br />
considerado baixo) e maior que 7 (sete)<br />
UFCs (valor considerado alto).<br />
A associação entre o tipo do tecido do<br />
jaleco e os níveis de contaminação bacteriana<br />
das três áreas estudadas categorizados, encontra-se<br />
expresso na tabela 3.<br />
De acordo com a tabela 3 pode se observar<br />
que não houve associação entre o tipo<br />
de tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />
das três áreas estudadas. Com base<br />
nesses dados, torna-se evidente que o tipo do<br />
tecido com o qual os jalecos eram confeccionados<br />
não influenciou nos níveis de contaminação<br />
dos mesmos.<br />
Com estas evidências é possível verificar<br />
a contaminação bacteriana em jalecos e avaliar<br />
o nível da mesma em superfícies de bolso e<br />
punho da mão dominante e região cervical<br />
durante 30 atendimentos realizados em clínicas<br />
por alunos do curso de Odontologia da<br />
UFRN, permitindo contribuir com a escassa<br />
4, 10, 11, 12, 14, 15<br />
literatura a respeito do assunto.<br />
Loh et al. 12 avaliaram jalecos de 100<br />
estudantes de medicina e observaram associação<br />
entre a contagem das colônias e o modo<br />
com os jalecos eram guardados, evidenciando<br />
as mangas como locais de localização mais<br />
propícios para colonização que as costas dos<br />
mesmos com o p valor < 0,0001. Também<br />
foi observado não haver correlação entre a<br />
freqüência das lavagens dos jalecos com a<br />
contaminação bacteriológica, cujos resultados<br />
foram reiterados no presente trabalho. Para<br />
Loh et al., 12 áreas de contatos freqüentes<br />
como bolsos e mangas são contaminadas<br />
principalmente por microrganismos comensais<br />
da pele como é o caso dos<br />
Staphylococcus aureus.<br />
No entanto, Wong et al. 10 num estudo<br />
de avaliação de troca de jalecos de 100 médicos,<br />
observaram maior índice de contaminação<br />
em regiões de punhos e bolsos que em<br />
região cervical dos mesmos (p < 0,005), diferindo<br />
do que fora observado no presente<br />
estudo. Provavelmente tais diferenças estejam<br />
relacionadas ao tamanho da amostra, ao<br />
Tabela 3. Freqüência absoluta e percentual de indivíduos tomando como base o tipo de tecido<br />
dos seus jalecos e o nível de contaminação na gola, bolso e punho. Natal, RN. 2003.<br />
Área estudada<br />
Tipo de tecido dos jalecos<br />
Gola<br />
M icrofibra<br />
n (% )<br />
Tecido não-tecido<br />
n (% )<br />
Baixo nível(≤ 4) 13 (81,3) 3 (18,8)<br />
Alto nível(>4) 13 (92,9) 1 (7,1)<br />
Bolso<br />
Baixo nível(≤ 3,5) 12 (80) 3 (20)<br />
Alto nível(>3,5) 14 (93,3) 1 (6,7)<br />
Punho<br />
Baixo nível(≤ 7)<br />
Alto nível(>7)<br />
13 (81,3) 3 (18,8)<br />
P<br />
0,602<br />
0,598<br />
0,606<br />
52<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
tipo de profissional estudado, assim como<br />
aos tecidos com os quais os jalecos desses<br />
dois estudos foram confeccionados, embora<br />
nesse estudo com alunos de Odontologia o<br />
tipo do tecido de confecção dos jalecos não<br />
esteve associado com os níveis de contaminação<br />
nas três áreas pesquisadas.<br />
Do mesmo modo que os estudos de Loh<br />
et al. 12 e o presente estudo, Wong et al. 10 não<br />
observaram correlação entre os níveis significativos<br />
de contaminação nos diversos atendimentos<br />
e o tempo de uso deste equipamento<br />
de proteção individual. Provavelmente,<br />
talvez mais importante que o tempo de uso e<br />
o tipo de tecido dos jalecos na determinação<br />
dos níveis de contaminação seja o modo<br />
como os mesmos são guardados.<br />
Frente aos trabalhos analisados e aos<br />
resultados obtidos neste estudo, considera-se<br />
imprescindível o uso dos jalecos, realizandose<br />
uma reflexão consciente e responsável por<br />
parte dos estudantes e profissionais da área<br />
de saúde quanto ao modo como fazê-lo. Lavagens<br />
regulares e formas de transporte e<br />
guarda adequadas seguramente minimizam<br />
os níveis de contaminação que tais jalecos<br />
possam vir a alcançar. O zelo da biossegurança<br />
é importante para a prevenção de contágios<br />
e preservação da saúde.<br />
CONCLUSÕES<br />
Os resultados obtidos sugerem que os<br />
jalecos utilizados por alunos do curso de<br />
Odontologia da UFRN apresentaram baixos<br />
níveis de contaminação, independente da área<br />
pesquisada, do tempo de uso dos mesmos e<br />
tipo do tecido destes. Ainda assim, apesar dos<br />
baixos níveis, o fato de algumas áreas, especialmente<br />
o bolso em alguns casos apresentarem-se<br />
altamente contaminadas abre espaço<br />
para uma discussão a respeito do modo com<br />
que estes equipamentos de proteção individual<br />
estão sendo utilizados e, conseqüentemente,<br />
deles servirem como fonte de infecção cruzada<br />
na prática odontológica.<br />
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Saúde em Revista<br />
Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />
53
MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />
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Submetido: 15/jul./2005<br />
Aprovado: 17/ago./2006<br />
54<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006
A Decisão entre Fumar, Não Fumar,<br />
Pararde Fumar... Uma questão de escolha<br />
The Decision of Smoking, Not Smoking,<br />
Quitting Smoking... A Question of choice<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
THIAGO MAGALHÃESCAMARGO<br />
Graduando em farmácia e bolsista<br />
de iniciação cientítifica (UNlso/sp)<br />
DIMAS DOS SANTOS ROCHA<br />
JUNIOR<br />
Graduado em farmácia (uNlso/sp)<br />
JOSÉ CLÓVIS ROSA RAPHANELLI<br />
Graduado em farmácia (UNlso/sp)<br />
VIRGINIA SBRUGNERANAZATO<br />
Graduanda em farmácia e bolsista<br />
de iniciação cientítifica (UNlso/sp)<br />
CARLA DA SILVA SANTANA<br />
Professora no Curso de Terapia<br />
Ocupacional (uNlso/sp)<br />
MARIA<br />
AL VES<br />
IZALINA FERREIRA<br />
Mestre em estatística e experimentação<br />
(usp/sp)<br />
RENATADE LIMA<br />
Professora no Curso de Farmácia<br />
(uNlso/sp)<br />
SARADE JESUS OLIVEIRA<br />
Professora no Curso de Farmácia<br />
(UNlso/sp)<br />
RESUMOO tabagismo é um problema de saúde pública que causa grave<br />
dependência química. Esta pesquisa buscou inscrições sobre os motivos<br />
que levam os indivíduos a determinadas escolhas, ainda que inconscientemente.<br />
Os voluntários (estudantes da área de saúde, docentes e<br />
funcionários da Universidade de Sorocaba) assinaram o termo de consentimento<br />
livre e esclarecido e concederam uma entrevista, gravada e<br />
analisada (nos dizeres que denunciavam pontos em comum, posteriormente<br />
tabulados). Os fumantes (n = 31) iniciaram a exposição durante<br />
a adolescência e por influência de amigos. Os que optaram por não<br />
fumar (n = 115) o fizeram pelo cheiro desagradável e pela influência<br />
negativa de familiares fumantes. As razões para deixar de fumar (n =<br />
20) foram a conscientização dos malefícios causados à saúde, pressão<br />
familiar e questões financeiras. Conclui-se que fumar, não fumar ou<br />
parar de fumar foram meras escolhas dos voluntários. Outros aspectos<br />
dessas opções foram discutidos neste trabalho.<br />
Palavras-chave ADOLEscêNCIA- DEPENDêNCIA - NICOTINA - TABACO.<br />
ABSTRACTTobaccoism is a problem of public health that causes a<br />
serious chemical dependency. This study searched traces of the reasons<br />
that take individuais to certain choices, though unconsciously. The<br />
volunteers (students of the health area, professors and employees of the<br />
University of Sorocaba) signed the Informed Consent term and gave an<br />
interview, which was recorded and analyzed (the speeches showed<br />
points in common, that were tabulated). The smokers (n = 31) began the<br />
exposition during adolescence and by friends' influence. Non-smokers<br />
(n = 115) made their decision mainly due to the reek and to the negative<br />
influence of smokers in the family. The reasons for quitting smoking (n<br />
=20) were the conscientiousness of the damage caused to health, familiar<br />
pressure and financial questions. We can conclude that 'smoking',<br />
'not smoking' or 'quitting smoking' were mere volunteer's choices.<br />
Other aspects of these choices were argued in this work.<br />
Keywords ADOLESCENCE - DEPENDENCY - NICOTINE - TOBACCO.<br />
YOKO OSHIMA-FRANCO *<br />
Professora do Curso de Farmácia<br />
(UNlso/sp)<br />
* Correspondências: R. das<br />
Garças, 80, Nova Piracicaba,<br />
13405-132, Piracicabalsp<br />
yofranco@terra.com.br<br />
Saúde em Revista<br />
o sujeito e suas<br />
escolhas<br />
55
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
o tabagismo é um problema de saúde<br />
pública e muitas são as dificuldades em parar<br />
de fumar: o sofrimento causado pela abstinência,<br />
a sensação de perda e as recaídas constituem<br />
os principais fatores que acabam por<br />
fazer o indivíduo desistir e voltar a fumar.I<br />
Pesquisas apontam que 70% dos fumantes<br />
gostariam de parar de fumar e 92% deles sabem<br />
do risco e da ameaça à saúde causados<br />
pelo tabagismo. Apesar disso, apenas 5% conseguem<br />
fazê-Io sem ajuda profissional.2 Parar<br />
de fumar passa a ser, então, algo inatingível e<br />
essa decisão é sempre adiada.<br />
Múltiplos fatores têm sido atribuídos<br />
para explicar a dependência química. Um deles<br />
refere-se ao próprio agente, no caso a nicotina,<br />
capaz de produzir um complexo efeito<br />
farmacológico sobre o sistema nervoso, tanto<br />
sobre o periférico quanto, e principalmente,<br />
sobre o central, atuando no sistema de recompensa<br />
cerebral.3 O outro diz respeito ao indivíduo<br />
com suas características genéticas4,5 e<br />
de personalidade,6.7e há ainda que se considerar<br />
as influênciasambientais,gentre elas, padrão<br />
cultural, econômico e político, marketing<br />
eficiente etc. O mais grave do tabagismo é<br />
que, diferentemente de outras drogas, seu uso<br />
não declina com a idade, apesar das opções de<br />
tratamentos existentes,9 por exemplo, o farmacológico,<br />
o psicológico e aqueles considerados<br />
alternativos, como a acupuntura.<br />
A hipótese formulada para esta pesquisa<br />
partiu de duas premissas. A primeira versa<br />
sobre a questão de nossas escolhas,1O pois<br />
escolher pressupõe decisão: de fumar ou<br />
continuar fumando (fumantes), de parar de<br />
fumar (ex-fumantes) ou de não iniciar (não<br />
fumantes). A segunda é a do aprendizado<br />
condicionado11 que o ato de fumar representa,<br />
sustentado em princípios cognitivos<br />
comportamentais, como aprender a dirigir,<br />
aprender música, língua estrangeira etc.<br />
O objetivo deste trabalho foi buscar inscrições<br />
(marcas, traços), pela escuta dos mo-<br />
tivos que levaram os indivíduos a aprender a<br />
fumar, a parar de fumar ou a não fumar.<br />
METODOLOGIA<br />
Esta pesquisa consistiu na abordagem<br />
qualitativa, por meio de entrevistas gravadas,<br />
no período de 2004 a 2005. Os entrevistadores<br />
receberam orientações para fazer muitas perguntas<br />
a respeito da relação do voluntário com<br />
o cigarro (você fuma?, já experimentou?,<br />
quando?, sozinho?, quem lhe ofereceu ou<br />
como conseguiu o primeiro cigarro?, sabe o<br />
motivo por que quis experimentar?, que idade<br />
idade tinha?, alguém da sua família ou amigo<br />
fuma?, você acha bonito fumar?, por quê?, o<br />
que não gosta no cigarro?, o que gosta no cigarro?,<br />
ele faz mal à saúde?, gostaria de parar<br />
de fumar?, já tentou alguma vez?, quantas<br />
vezes?, usou algum medicamento ou solicitou<br />
alguma ajuda profissional?, fuma muito?,<br />
quanto?, quando é inevitável fumar?, em quais<br />
condições acende um cigarro? etc.), visando a<br />
extrair o máximo de informações. Todos os<br />
voluntários pertenciam à comunidade acadêmica<br />
da Universidade de Sorocaba (UNISO) e<br />
os critérios para sua inclusão no estudo consistiram<br />
da disponibilidade à entrevista e a assinatura<br />
do termo de consentimento livre e<br />
esclarecido.<br />
Os estudantes fumantes e não-fumantes<br />
pertenciam à área de saúde da UNISO (Farmácia,<br />
Terapia Ocupacional e Nutrição), de<br />
qualquer idade e sexo. Escolheu-se essa área<br />
por se tratar de uma população com mais informações<br />
sobre os efeitos do fumo e a preocupação<br />
com a saúde. Discentes, docentes e<br />
funcionários da UNISO, de qualquer idade e<br />
sexo, representaram os voluntários ex-fumanteso<br />
O estudo foi aprovado pelo Comitê de<br />
Ética em Pesquisa da UNISO, sob o parecer<br />
CEP 003/04. A busca de inscrições só é possível<br />
quando se considera que o ser humano<br />
caminha por mediações simbólicas e está<br />
mergulhado no conjunto de signos que fundam<br />
e orientam o pensamento12- daí a razão<br />
56<br />
SAÚDEREV" Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET ALo<br />
de ouvir os voluntários e gravar seus dizeres.<br />
Os pontos comuns entre as diversas falas foram<br />
analisados, tabulados e sistematizados.<br />
Tamanho da Amostra<br />
Calculou-se a amostra constituída por<br />
fumantes, não fumantes e ex-fumantes para<br />
um erro mínimo de 5%, por amostragem<br />
estratificada por proporção, utilizando correção<br />
para população finita: 13<br />
z<br />
Do = No N _ pjqj<br />
N<br />
o<br />
1+-'<br />
o<br />
-<br />
a<br />
N<br />
t2<br />
onde N é o tamanho da amostra calculao<br />
do para população finita; considerando a. =<br />
0,05; t =2 (aproximação com a distribuição<br />
normal) e Pjqj=variância máxima a ser obtida<br />
(p = 0,5 e q =0,5); n é o tamanho da população<br />
finita (total de pessoas que poderiam participar<br />
da amostra); no é o tamanho da amostra.<br />
Quanto ao gênero, a amostra de voluntários<br />
fumantes consistiu em 17 mulheres e<br />
14 homens e a de não fumantes, em 93 mulheres.<br />
e 22 homens. O cálculo do tamanho<br />
da amostra não foi aplicado para ex-fumantes,<br />
por se tratar de uma condição rara.<br />
ANÁLISE<br />
ESTATÍSTICA<br />
Os resultados foram expressos como<br />
média :t erro padrão e a significância das<br />
diferenças observadas (p < 0,05), pelo teste<br />
não-pareado t-Student.<br />
RESULTADOS<br />
Amostra da População<br />
Trezentos e cinqüenta e cinco estudantes<br />
(matriculados nos cursos da saúde) foram<br />
consultados, no primeiro semestre de 2004,<br />
se gostariam de participar da pesquisa e 230<br />
afirmaram que sim (figura 1). Note-se que a<br />
população feminina predomina sobre a masculina,<br />
nos cursos da saúde dessa universidade,<br />
sendo 280 e 75, respectivamente.<br />
A classificação quanto ao tabagismo (fumante,<br />
não fumante ou ex-fumante, gênero e<br />
idade) dos 230 indivíduos que inicialmente<br />
aceitaram participar da pesquisa é mostrada na<br />
figura 2. Desses 230 indivíduos, 157 estudantes<br />
(115 não fumantes, 31 fumantes e 11 ex-fumantes)<br />
e mais nove funcionários e docentes<br />
(ex-fumantes) participaram efetivamente da<br />
pesquisa, doravante denominados voluntários.<br />
Figura 1. População acadêmica<br />
consultada para participação na pesquisa.<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
Q pessoas<br />
consultadas<br />
. participações<br />
50<br />
o<br />
1<br />
Mulheres<br />
2<br />
Homens<br />
Saúde em Revista<br />
o sujeito e suas escolhas<br />
57
TH/AGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
Figura 2. Classificação quanto ao tabagismo - as 3 categorias foram identificadas na população<br />
acadêmica.<br />
150 -, 140<br />
100 ->--<br />
e........__.______________<br />
50<br />
-- .<br />
~ ~~~:~::ntes I<br />
I. Ex-Fumantes I<br />
o<br />
1<br />
Mulheres<br />
2<br />
Homens<br />
A Motivação para Fumar<br />
Entre os fumantes entrevistados (fig.<br />
3), ou seja, 17 mulheres e 14 homens (n =<br />
31), 58% revelaram que a maior influência<br />
recebida para iniciar-se no tabagismo foram<br />
os amigos; 26% afirmaram ter tido curiosidade<br />
e 16% relataram que achavam bonito, interessante<br />
e charmoso. Todos (homens e<br />
mulheres) iniciaram durante a adolescência,<br />
numa idade média, em anos, de 15,6 :t 0,4.<br />
Não houve diferença quanto à idade média<br />
de início entre homens (15,7 :t 0,8) e mulheres<br />
(15,5 :t 0,2). Apenas um entrevistado<br />
admitiu uma primeira experiência com o cigarro<br />
aos 8 anos de idade, mas só vindo a<br />
fumar mesmo na adolescência.<br />
De acordo com os resultados obtidos, o<br />
ato de fumar decorrre de um aprendizado, da<br />
experiência repetida com os amigos. Nesse<br />
quesito, apenas duas fumantes assumiram ter<br />
aprendido sozinhas, embora os motivos tenham<br />
sido curiosidade e a busca por um efeito<br />
calmante, respectivamente. Todos os entrevistados<br />
afirmaram que gostariam de parar de<br />
fumar (n = 31) e que já tentaram mais' de uma<br />
58<br />
vez (n =27). Apenas o voluntário com a experiência<br />
do cigarro na infância nunca tentou<br />
parar. Por unanimidade, eles afirmaram ter<br />
conhecimento dos malefícios à saúde, mas que<br />
se sentiam sem condições de tomar a decisão<br />
de parar, na data da entrevista. A quantidade<br />
média de cigarros fumados por dia variou<br />
entre os gêneros, sendo que os homens fumavam<br />
praticamente o dobro de cigarros (14 :t<br />
1,7) que as mulheres (7,3 :t 1).<br />
A Motivação para Não Fumar<br />
Da população entrevistada de não fumantes<br />
(fig. 4, n = 115), 13% disseram ter<br />
experimentado o cigarro também na fase da<br />
adolescência, mas não gostaram. Outros 9%<br />
admitiram que não fumar era uma questão<br />
de opção por uma vida saudável. Interessante<br />
é que 37% revelaram incomodar-se com o<br />
cheiro do cigarro, e que esse fato os mantinha<br />
distantes dele. Além do mais, 34% assumiram<br />
ter parentes fumantes e que tal hábito<br />
causava-Ihes transtorno, tendo sido o<br />
cigarro um verdadeiro estímulo negativo<br />
para esse grupo.<br />
SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
Figura 3. As principais influências ou motivos relatados pelos fumantes para aderir ao hábito de<br />
fumar.<br />
A decisão 'fumar'<br />
influência<br />
cultural16%<br />
curiosidade<br />
26%<br />
_<br />
influênciade<br />
amizades<br />
58%<br />
Figura4. As principais influências ou motivos relatados pelos não-fumantes para não aderir ao<br />
hábito de fumar.<br />
A decisão 'não fumar'<br />
nunca tiveram<br />
vontade<br />
opção por 7%<br />
uma vida<br />
saudável """'" /<br />
90/0 ""' , //<br />
~"~j,' \,<br />
experimentou /-/,;<br />
e não gostou / /<br />
13% / .<br />
/<br />
estímulo<br />
/<br />
/<br />
negativo ./<br />
familiar<br />
35%<br />
cheiro da<br />
fumaça<br />
36%<br />
Saúde em Revista<br />
o sujeito e suas escolhas<br />
59
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
Figura 5. Principais influências ou motivos para os ex-fumantes<br />
deixarem de fumar.<br />
A decisão 'deixar de fu mar'<br />
questões<br />
finaceiras -,<br />
15%<br />
mudança de<br />
amizade<br />
\. malefícios<br />
causados à<br />
saúde<br />
40%<br />
20%<br />
\ pressão<br />
"- familiar<br />
25%<br />
A Motivação para Deixar de Fumar<br />
Entre os ex-fumantes entrevistados (fig.<br />
5, n = 20), 40% tomaram tal decisão por<br />
conta da conscientização dos malefícios causados<br />
à saúde, 25%, por pressão<br />
familiar,<br />
20%, por mudança de amizades e 15%, por<br />
questões financeiras (falta de dinheiro ou<br />
economia). A idade média em que o grupo<br />
parou de fumar foi de (em anos) 25 :t 1,6<br />
(mulheres, n = 9) e 24,1 :t 1,5 (homens, n =<br />
11). A quantidade média de cigarros fumados<br />
por dia variou entre 6,4 :t 0,7 (mulheres, n =<br />
9) e 11,2 :t 1,3 (homens, n = 11).<br />
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO<br />
Este trabalho enfocou o tema tabagismo<br />
- abuso do tabaco, ou fumo, proveniente das<br />
folhas dessecadas da erva Nicotiana tabacum.<br />
O processamento pela indústria<br />
tabagista resulta em inúmeras marcas de cigarros,<br />
comercializadas sob um marketing<br />
instigante,14com alcance sobre diferentes tipos<br />
de pessoas, que se "percebem" inteligentes,<br />
esportistas, bonitas, bem-sucedidas, viris,<br />
modernas, empreendedoras, campestres, ru-<br />
rais, urbanas et'c. Ainda que totalmente inconscientes<br />
dessa persuasão.<br />
Trata-se de um tema interessante, pela<br />
forte dependência química, reconhecida como<br />
doença. ou seja. fenômeno biopsicossocial que<br />
compreende um conjunto de alterações fisiológicas,<br />
cognitivas e de comportamento, no qual<br />
o uso compulsivode um ou mais fármacosou<br />
drogas passa a ser o objetivo principal na vida<br />
do usuário,15ocasionando dependência química,<br />
à semelhança de outras drogas de abuso, porém,<br />
é lícito, o que por si já constitui mecanismo<br />
reforçador. A expressão reforço refere-se à<br />
capacidade que as drogas possuem de produzir<br />
efeitos fazendo com que o usuário deseje<br />
experimentá-Ias novamente. 16<br />
Quais as motivações individuais que levam<br />
o adolescente a aprender a fumar? Será<br />
que ele próprio sabe os motivos? A dependência<br />
química é uma doença da escolha? A questão<br />
é genética ou epigenética (influenciada pelo<br />
meio ambiente e pela experiência de cada um)?<br />
O que faz com que uma população opte por<br />
não fumar? O que resta ao ex-fumante?<br />
Como se percebe, são várias as perguntas<br />
e poucas as respostas encontradas na lite-<br />
60<br />
SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006
...<br />
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO. ET AL.<br />
ratura com relação às inscrições (marcas,<br />
traços) presentes no comportamento humano<br />
que determinam a dependência química.<br />
Contudo, o primeiro traço comum entre as<br />
pessoas entrevistadas foi quanto ao início<br />
dessa experiência: a adolescência.<br />
Seixas17 relata que "a adolescência é<br />
uma fase bastante delicada para a saúde e<br />
para o desenvolvimento da personalidade do<br />
indivíduo, na qual ocorre um acúmulo de<br />
novas aquisições e mudanças em todas as<br />
áreas da vida (social, emocional, física,<br />
cognitiva e sexual)". Etimologicamente, o<br />
termo adolescente é de origem latina (adolescens),<br />
particípio presente do verbo<br />
adolesco (adolescere), que significa crescer.<br />
Essa etapa é tida, por alguns autores, como<br />
um dos períodos de crise próprio do ciclo<br />
vital,18.19sem conotação pejorativa, mas em<br />
conformidade com sua origem grega (krisis):<br />
"ato ou faculdade de distinguir, escolher,<br />
decidir e/ou resolver".19 Nesse sentido, a dependência<br />
química (ao tabaco ou a outra droga<br />
de abuso) passa a ser uma escolha, uma<br />
doença da escolha, a decisão é fumar.<br />
Retomando a questão da crise, Caplan20<br />
atribuiu a ela a oportunidade de crescimento<br />
psicológico ou o perigo da instalação de um<br />
distúrbio psíquico permanente. Seu desfecho<br />
estaria relacionado a um complexo interjogo<br />
entre forças endógenas e exógenas: estrutura<br />
de personalidade, experiência biopsicossocial<br />
passada e influências atuais dos meios familiar<br />
e social. Admitindo que, na crise, a pessoa<br />
torna-se mais suscetível, esse autor<br />
enfatiza a forte influência do meio em sua<br />
resolução. Daí inscrições como "meus amigos<br />
fumavam".<br />
Nessa fase o indivíduo está construindo<br />
sua própria identidade e, nessa busca, pode<br />
experimentar uma enorme multiplicidade de<br />
identificações, bastante contraditórias entre<br />
si. Assim, diante do que já se tem acumulado<br />
em conhecimento sobre a adolescência, do<br />
ponto de vista comportamental é compreensível<br />
que novas experiências (como a de<br />
Saúde em Revista<br />
o sujeito e suos escolhas<br />
aprender a fumar) surjam exatamente nesse<br />
período, independentemente do discurso individual<br />
e de suas razões. Talvez exatamente<br />
por isso os voluntários fumantes tenham pouco<br />
conhecimento (aqui referido como ato<br />
inconsciente) sobre os verdadeiros motivos<br />
que os levaram a aprender a fumar, apontando<br />
justificativas vagas, como "meus amigos<br />
fumavam", "tive curiosidade", "achava bonito"<br />
etc.<br />
O mistério da consciência é, em termos<br />
simples, o enigma existente no surgimento<br />
das imagens mentais - em particular as que<br />
formam o pensamento consciente - a partir<br />
dos fenômenos físicos, químicos, biológicos<br />
e neurais ocorridos no cérebro.21 Imaginação<br />
significa, tradicionalmente, a capacidade de<br />
evocar ficções e ilusões sobre a realidade, e<br />
denota as próprias fantasias criadas, em outras<br />
palavras, o imaginário. Esse é visto<br />
como imitação, reprodução ou combinação<br />
de imagens dos sentidos formadas na própria<br />
experiência da pessoa. Dessa maneira, "só é<br />
possível imaginar combinações do que já<br />
vimos ou sentimos de algum modo".22<br />
No âmbito da neurociência, a adolescência<br />
é marcada pela poda neuronal (prunning),<br />
ou seja, o número de sinapses nessa etapa da<br />
vida sofre uma redução de cerca de 40%.23<br />
Uma criança com três anos de idade tem o<br />
dobro de sinapses que um adulto, além de<br />
um cérebro superdenso, que assim permanece<br />
até a adolescência. Então, esse número diminui<br />
de 1.000 trilhões para cerca de 500<br />
trilhões, conservando-se nesse nível até a<br />
fase adulta.24Embora a adolescência seja uma<br />
invenção sociológica, ela guarda estreita relação<br />
com o desenvolvimento do sistema<br />
nervoso central, conforme recentes descobertas<br />
dos últimos anos, denominados década<br />
do cérebro.25As vias neuronais mais utilizadas<br />
são as que continuam na vida adulta, pois<br />
as sinapses seguem a regra do "use-as ou<br />
perca-as".24 Inclui-se aqui a dependência<br />
química, que estimula a via da recompensa<br />
cerebral, a via mesolímbica dopaminérgica,<br />
61
THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
cujos corpos celulares dos neurônios localizados<br />
na área tegmental ventral emitem projeções<br />
ao sistema límbico, na região do núcleo<br />
accumbens.26<br />
Um segundo traço comum entre os entrevistados<br />
foi dizer "aprendi a fumar". Os<br />
entrevistados reconhecem que o ato de fumar<br />
envolveu um processo de aprendizagem. O<br />
ponto-chave que toma a nicotina aditiva é ela<br />
conseguir manter o comportamento compulsivo<br />
demonstrado experimentalmente em<br />
modelos animais cientificamente validados:27<br />
auto-administração (self-administration) e<br />
preferência de lugar (place preference). Ressalte-se<br />
que as propriedades reforçadoras das<br />
drogas podem ser medidas com precisão nos<br />
animais, 11 visto que eles aprendem. Tais<br />
modelos, geralmente em ratos ou macacos,<br />
utilizam catéteres intravenosos ligados a<br />
bombas controladas por alavanca. Os animais<br />
trabalham para obter injeções das drogas,<br />
evidenciando dois procedimentos essenciais<br />
ao comportamento compulsivo (auto-administração<br />
e repetição).<br />
O efeito reforçador da nicotina é complexo<br />
e envolve, possivelmente, estados subjetivos<br />
de euforia, ampliação da cognição,<br />
diminuição do apetite, adaptação alterada ao<br />
estresse e alívio da síndrome de abstinência.28<br />
O mecanismo neural inclui uma ação primária<br />
sobre receptores nicotínicos centrais, associados<br />
com ativação seletiva do sistema<br />
mesolímbico dopaminérgico, que também<br />
mediaria outras fontes de reforço.27<br />
Em um artigo de revisão, Messas5 aponta<br />
que "a mais forte conclusão da análise conjunta<br />
dos estudos epidemiológicos e moleculares<br />
é a presença notável de fatores hereditários na<br />
gênese do abuso ou dependência de drogas".<br />
A literatura conta com excelentes publicações<br />
sobre a questão genética,29.30não investigada<br />
neste estudo. Contudo, ele chama a atenção de<br />
que o exemplo de familiares fumantes não<br />
pesou positivamente sobre uma parcela significativa<br />
de não-fumantes, funcionando, ao<br />
contrário, como influência negativa. É possí-<br />
62<br />
vel dizer que os modelos - genético ou<br />
epigenético -, para explicar o fenômeno da<br />
dependência química, não incluem o desejo do<br />
sujeito, capaz de simplesmente escolher não<br />
fumar, decidir não fumar.<br />
Informações não menos interessantes<br />
foram obtidas no grupo de ex-fumantes. A<br />
primeira questão a ser ressaltada foi a decisão<br />
de parar de fumar. Trata-se de interromper<br />
definitivamente algo que também havia<br />
sido uma escolha. "Do ponto de vista psíquico,<br />
escolher supõe, de saída, uma perda: a<br />
alternativa eleita tem como outra face a que<br />
foi preterida."1OAssim, este estudo não pode<br />
afirmar que o grupo de ex-fumantes tinha um<br />
consumo médio de cigarros/dia menor que o<br />
de fumantes e, por isso, conseguiu parar de<br />
fumar. Os resultados quanto à quantidade<br />
média de cigarros/dia não foram significativamente<br />
diferentes entre os dois grupos.<br />
Contudo, as razões para parar de fumar<br />
migraram do coleti vo ("meus amigos fumam")<br />
para o individual ("preciso cuidar de<br />
minha saúde"). O sujeito, de certa forma,<br />
percebe que essa ação só cabe a si próprio,<br />
ainda que lhe traga muito sofrimento, decorrente<br />
da abstinência à nicotina. Trava-se uma<br />
luta interna do tipo "custo e benefício". A<br />
hipótese de Arantes10 é que, sempre que o<br />
prato da balança oscila para o excesso de<br />
"custo", ocorre um reequilíbrio com novos<br />
investimentos psíquicos. O benefício principal<br />
é o investimento na saúde, reforçado pelo<br />
apoio familiar. Guardando uma coerência<br />
muito grande com os relatos de quem começou<br />
a fumar influenciado por amigos, uma<br />
parcela dos que deixaram de fazê-Io também<br />
se afastou de tal influência, distanciando-se<br />
de certas amizades, como que desfazendo um<br />
caminho ou reinventando outros rumos e investindo<br />
em novos amigos.<br />
O que resta ao ex-fumante é entender-se<br />
como sujeito. Alguém vitorioso contra uma<br />
substância extremamente reforçadora, a nicotina,<br />
que leva à dependência química. E por unanimidade,<br />
não houve arrependidos dessa esco-<br />
SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006
TH1AGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />
lha, embora ex-fumantes tenham conhecido o<br />
lado prazeroso que a nicotina proporciona.<br />
Em face do que foi discutido, é possível<br />
concluir que, neste estudo, fumar, não fumar ou<br />
parar de fumar foram meras escolhas dos voluntários.<br />
E esse fato fornece substrato ao campo<br />
psicanalítico que se contrapõe, em parte, às<br />
teorias biológicas vigentes para explicar o complexo<br />
fenômeno da dependência química.<br />
Finalmente, este trabalho considerou<br />
algumas abordagens possíveis sobre a dependência<br />
química, sem a pretensão de esgotar o<br />
tema ou levar a questão a um reducionismo<br />
meramente biológico. Pelo contrário, teve a<br />
pretensão de iniciar um amplo debate, incluindo<br />
o indivíduo como sujeito responsável<br />
por seus atos e desejos, e, exatamente por<br />
essa razão, capaz de fazer suas próprias escolhas.<br />
Pretendeu-se aqui gerar uma mudança<br />
de paradigma: se começar a fumar implicou<br />
uma escolha, com uma motivação subjetiva<br />
intensa envolvendo aprendizado, parar de<br />
fumar pode-se tornar, também, uma escolha.<br />
A próxima escolha.<br />
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Saúde em Revista<br />
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Submetido: 9/mar./2006<br />
Aprovado: 29/jun./2006<br />
Ag radecimentos<br />
Os autores agradecem as sugestões da psicanalista<br />
Silvia Regina Rodrigues Fontes Franco,<br />
durante a realização da pesquisa, e às<br />
críticas na discussão do trabalho.<br />
64<br />
SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
REVISÃO DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEW<br />
Fibras Dietéticas: efeitos terapêuticos<br />
e no exercício<br />
Dietary Fibers: therapeutic<br />
effects and in exercise<br />
FELIPE FEDRIZZI DONATTO<br />
Nutricionista e mestrando em<br />
educação física – Núcleo de<br />
Perfomance Humana (UNIMEP/SP)<br />
ADRIANE PALLANCH<br />
Bióloga e doutora em fisiologia<br />
(IBC/USP/SP) e docente da Faculdade<br />
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
CLAUDIA REGINA CAVAGLIERI *<br />
Farmacêutica e doutora em<br />
fisiologia (IBC/USP/SP) e docente<br />
no Curso de Mestrado em<br />
Educação Física – Faculdade de<br />
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências: Rod. do<br />
Açúcar, km. 156, Mestrado em<br />
Educação Física – FACIS, 13400-<br />
911, Piracicaba/SP<br />
ccavagli@unimep.br<br />
RESUMO Universalmente, as mais importantes entidades de saúde recomendam<br />
uma dieta rica em fibras dietéticas (FDs) para a prevenção de<br />
doenças e a promoção da saúde. Do ponto de vista epidemiológico, uma<br />
dieta pobre em FDs poderia estar relacionada a doenças nutricionais,<br />
como apendicite, hemorróidas e câncer colorectal. A ingestão adequada<br />
para as fibras é de 38 g para homens adultos e 25 g para mulheres adultas,<br />
com base nos níveis de ingestão que protegem contra doenças<br />
cardiovasculares, separados por sexo e idade. Nas últimas décadas, as<br />
FDs vêm despertando interesse da comunidade científica, pelo número<br />
de efeitos que esse componente nutricional possui sobre as mais variadas<br />
patologias, entre elas, câncer, hipercolesterolemia, diabetes e hipertensão<br />
arterial. As FDs exercem efeitos modulatórios positivos perante algumas<br />
células do sistema imunológico e nos processos metabólicos e<br />
bioquímicos associados ao exercício, influenciando na performance dos<br />
atletas, melhorando seu desempenho e recuperação para a realização de<br />
sessões diárias de treinamentos. Partindo-se de todas essas informações<br />
científicas e dos efeitos comprobatórios na fisiologia humana, o objetivo<br />
dessa revisão é apontar a importância da utilização das FDs como ferramenta<br />
nutricional.<br />
Palavras-chave DIETA – DIETOTERAPIA – IMUNOTERAPIA.<br />
ABSTRACT Universally, the most important health organizations<br />
recommend a rich Dietetic Fiber diet (DFs), for health promotion and<br />
prevention of diseases. From the epidemiologic point of view, a diet<br />
poor in DFs could be related to nutritional problems as appendicitis,<br />
hemorrhoids and colorectal cancer. The adequate fiber intake is 38g for<br />
adult men and 25g for adult women, based on intake levels that protect<br />
against cardiovascular sickness, separated by gender and age. In the last<br />
decades, the DFs have raised a great interest of the scientific community<br />
by the huge number of effects that this nutritional component exerts on<br />
pathologies as cancer, hypercholesterolemia, diabetes and arterial<br />
hypertension. The DFs exert positive modulated effects in some cells of<br />
the immune system and in the metabolic and biochemistry processes<br />
related to exercise, influencing on athletes performance, promoting a<br />
better performance and recuperation in daily training sessions. Coming<br />
from all these scientific information and these effects on human<br />
physiology, the aim of this review is to show the therapeutic use of DFs<br />
as a nutritional tool.<br />
Keywords DIET – DIET THERAPY – IMMUNOTHERAPY.<br />
Saúde em Revista<br />
Fibras Dietéticas<br />
65
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A importância da alimentação para a<br />
boa saúde e o desenvolvimento humano já<br />
era enfatizada na Antiguidade: “Deixe seu<br />
alimento ser o seu remédio e o seu remédio<br />
ser seu alimento”, afirmou Hipócrates<br />
(460a.C-377a.C). Universalmente, as mais<br />
importante entidades de saúde recomendam<br />
uma dieta rica em fibras dietéticas (FDs), de<br />
modo a prevenir doenças e promover a saúde.<br />
Porém, mesmo com todo respaldo científico,<br />
antes da dietary reference intake 1 não<br />
havia uma recomendação estabelecida, somente<br />
propostas de definição para as FDs.<br />
No tratado “The Chemical Composition<br />
of Foods”, McCance & Widdowson definiram<br />
em 1940 dois tipos de carboidratos, os utilizáveis<br />
e os não utilizáveis. Os primeiros eram<br />
absorvíveis e considerados glicogênicos, ao<br />
passo que os segundos provinham das células<br />
estruturais dos vegetais, na forma de<br />
hemicelulose, celulose e lignina. 2 Apoiando-se<br />
nesse conceito, Trowell 3 define fisiologicamente<br />
como fibra dietética os carboidratos não<br />
hidrolisados pela ação das enzimas digestivas.<br />
Do ponto de vista epidemiológico, o<br />
pioneirismo de Burkkit 4 demonstrou que uma<br />
dieta pobre em FDs e rica em produtos refinados<br />
poderiam relacionar-se a um problema<br />
nutricional. Isso ficou claro quando certa<br />
comunidade africana possuidora de uma alimentação<br />
com alta quantidade de FDs apresentou<br />
rara incidência de doenças como<br />
apendicite, hemorróidas e câncer colorectal,<br />
ao contrário da população européia, que possuía<br />
razoável ocorrência dessas patologias.<br />
Uma das mais recentes definições de<br />
FD emergiu das deliberações da Food and<br />
Nutrition Board 1 (FNB), que as divide em<br />
três tipos básicos: 1. fibra dietética –<br />
carboidratos não digeríveis e ligninas intactas<br />
que fazem parte dos vegetais; 2. fibra funcional<br />
– carboidratos não digeríveis isolados,<br />
que beneficiam fisiologicamente os humanos;<br />
e, finalmente, 3. fibras totais – o montante<br />
final da fibra dietética e da fibra funcional<br />
contidas em determinado alimento.<br />
RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS<br />
A partir de 2002, a FNB, por meio das<br />
dietary reference intake (DRI), definiu a<br />
adequate intake (AI) para as fibras de 38 g<br />
para homens adultos e 25 g para mulheres<br />
adultas, 1 como mostra a tabela 1.<br />
Tabela 1. Ingestão adequada de fibras dietéticas separadas por gênero e idade.<br />
IDADE (anos) AI (g/dia) MASCULINO AI (g/dia)<br />
FEMININO<br />
1-3 19 19<br />
4-8 25 25<br />
9-13 31 26<br />
14-18 38 26<br />
19-30 38 25<br />
31-50 38 25<br />
51-70 30 21<br />
> 70 30 21<br />
Grávidas - 28<br />
Lactantes - 29<br />
Adaptado de DRI 1<br />
66<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
EFEITOS FISIOLÓGICOS<br />
Atualmente, os termos fermentabilidade<br />
e viscosidade estão sendo introduzidos para<br />
um melhor entendimento dos tipos de fibras,<br />
segundo Cummings et al., 5 conforme tabela 2.<br />
As FDs atuam sobre o trato digestório<br />
(TD) e, em cada porção dele, é possível encontrar<br />
diferentes efeitos, de acordo com a<br />
figura 1.<br />
Ação prebiótica<br />
As FDs são consideradas alimentos<br />
prebióticos, pois seguem as seguintes classificações:<br />
resistir aos processos de digestão e<br />
absorção, ser fermentadas pelas bactérias<br />
colônicas e estimular o crescimento e a atividade<br />
de bactérias benéficas do trato<br />
gastrointestinal (TGI). Isso corrobora com a<br />
definição de Glenn Gibson: 6 “alimentos não<br />
digeríveis que afetam o hospedeiro, promovendo<br />
o crescimento e atividade de bactérias<br />
benéficas no cólon, conseqüentemente aumentando<br />
saúde”.<br />
Os principais prebióticos em estudo são:<br />
Lactulose, dissacarídeo sintético na forma de<br />
Galactose β1-4 Frutose, utilizado como laxante,<br />
pois não é hidrolisado ou absorvido pelo<br />
Tabela 2. Efeitos das fibras no hábito intestinal, colesterol, fermentação, ação prebiótica, absorção<br />
de cálcio, resposta glicêmica e apetite.<br />
FIBRAS AMIDOS RESISTENTES OLIGOSSACARÍDEOS<br />
Hábito intestinal SIM SIM/NÃO NÃO<br />
Diminuição do colesterol SIM NÃO NÃO<br />
Fermentação SIM SIM SIM<br />
Ação prebiótica NÃO SIM SIM<br />
Absorção de Ca ++ NÃO NÃO SIM<br />
Resposta glicêmica SIM SIM NÃO<br />
Apetite SIM/NÃO ? ?<br />
Adaptado de CUMMINGS et al. 5<br />
Figura 1. Efeitos das FDs na diferentes porções do TD.<br />
Saúde em Revista<br />
Fibras Dietéticas<br />
67
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
intestino; Inulina e frutooligosacarídeo,<br />
polissacarídeos na forma de Glicose α1-2β<br />
Frutose, apontados como alguns dos melhores<br />
prebióticos já documentados, pela grande atividade<br />
bifidogênica; e, entre outros, galactooligossacarídeos,<br />
oligossacarídeos da soja,<br />
lactosucrose, isomalto-oligossacarídeos,<br />
glicooligossacarídeos e xilo-oligossacarídeos. 7<br />
AÇÕES TERAPÊUTICAS<br />
Câncer<br />
A relação entre o câncer e a alimentação<br />
já está bem elucidada e foi apoiada por<br />
estudos em populações que se alimentam<br />
preferencialmente de vegetais, além de não<br />
ingerir nenhum tipo de carne, observando-se<br />
uma menor incidência de tumores, principalmente<br />
câncer de cólon. 8<br />
Com o avanço das técnicas de biologia<br />
molecular, as pesquisas com FDs estão revelando<br />
mecanismos potencialmente capazes de<br />
melhorar processos inflamatórios e prevenir/<br />
diminuir processos carcinogênicos. Para<br />
Shepard, 9 o tipo e a quantidade de FDs influenciam<br />
a produção dos ácidos graxos de cadeia<br />
curta (AGCC), a partir do processo de<br />
fermentação, utilizados como fonte<br />
energética pelos colonócitos, exibindo efeitos<br />
relevantes no tratamento da inflamação e de<br />
neoplasias do cólon, sobretudo o efeito<br />
antiproliferativo do butirato nas células<br />
10, 11<br />
tumorais.<br />
Isoladamente, os AGCC possuem resultados<br />
diferenciados, ao passo que VECCHIA<br />
et al. 12, 13 demontraram que o propionato inibiu<br />
a proliferação de várias linhagens de células<br />
tumorais. Porém, esse efeito antiproliferativo<br />
mostrou-se mais eficiente quando<br />
os três AGCC estavam associados no meio<br />
de cultura. O butirato é preferencialmente<br />
empregado pelos colonócitos e sua oxidação<br />
produz Acetil CoA, envolvida com inúmeros<br />
processos metabólicos intracelulares, entre<br />
eles, a síntese de colesterol, fosfolipídeos e<br />
muco. 14 Além disso, o butirato tem demonstrado<br />
que, experimentalmente, exerce efeitos<br />
imunomodulatórios via a inibição da ativação<br />
15, 16<br />
do fator de transcrição nuclear NFκB.<br />
Esse fator está associado a modulação de<br />
citocinas pró-inflamatórias, inibição da<br />
apoptose e conseqüente aumento da sobrevivência<br />
de células tumorais. 9<br />
Colesterol Plasmático<br />
Dos mecanismos hipocolesterolêmicos<br />
ligados à ingestão de FDs, estão envolvidos<br />
a constituição, a solubilidade, a fermentabilidade<br />
e, em especial, a viscosidade. 17 Essa<br />
característica das FDs interfere na absorção e<br />
produção do colesterol dietético, na absorção<br />
e desconjugação da bile no íleo distal, e, em<br />
resposta a esse efeito, o LDL-c é removido<br />
da corrente sanguínea para ser convertido em<br />
ácidos biliares pelo fígado. 5 É importante<br />
salientar que os efeitos hipocolesterolemicos<br />
das fibras dependem da constituição da dieta<br />
consumida, podendo ser efetivos ou não.<br />
Diabetes<br />
A primeira evidência documentada sobre<br />
a relação entre a ingestão de uma dieta<br />
rica em FDs e o diabetes foi em 1972, quando<br />
Trowell et al. 3 publicaram os efeitos sobre<br />
a resposta glicêmica, mudando os conceitos<br />
sobre as recomendações dietéticas e os tipos<br />
de carboidratos empregados para o tratamento<br />
do diabetes. A maioria dos estudos experimentais<br />
tem focado os efeitos da diminuição<br />
do esvaziamento gástrico, a absorção e o<br />
metabolismo posprandial da glicose e a diminuição<br />
da quantidade de insulina exógena. 18<br />
Os mecanismos que as FDs exercem<br />
sobre a secreção e o metabolismo da insulina<br />
ainda não estão totalmente esclarecidos, mas<br />
sabe-se que em animais o oferecimento de<br />
altas quantidades de FDs aumenta a expressão<br />
do gene proglucagon e a secreção dos<br />
peptídeos derivados do glucagon, incluindo o<br />
Glucagon-like peptide-1 (GLP-1). O GLP-1<br />
tem demonstrado mecanismos capazes de<br />
diminuir as taxas de esvaziamento gástrico,<br />
68<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
inibição da secreção de glucagon e redução<br />
da utilização da glicose hepática, além de<br />
diminuir a quantidade de insulina exógena<br />
para o metabolismo da glicose. 19<br />
Pressão Arterial<br />
Doenças como obesidade, tabagismo,<br />
alto consumo de sódio e álcool, além do estilo<br />
de vida sedentário e estresse estão relacionadas<br />
com o aumento da pressão arterial.<br />
He et al. 20 demonstraram resultados favoráveis<br />
com relação à ingestão de FDs e a diminuição<br />
da pressão arterial, partindo da hipótese<br />
do alto consumo de carboidratos<br />
integrais, frutas e verduras, possuidores de<br />
grandes quantidades de potássio, cálcio,<br />
magnésio e antioxidantes. 21<br />
SISTEMA IMUNOLÓGICO E<br />
RENDIMENTO ESPORTIVO<br />
As FDs com seu efeito bifidogênico e<br />
prebiótico tem íntima relação com a produção<br />
de AGCC, exercendo efeitos diversos<br />
sobre o sistema imunológico, em especial o<br />
polissacarídeo β-glucan (existente no cereal<br />
aveia), com propriedades imunoestimulantes<br />
sinalizadas por receptores específicos em<br />
macrófagos, neutrófilos e células Natural<br />
7, 22, 23, 24<br />
Killers (NK).<br />
Cavaglieri et al. 25 verificaram que ratos<br />
alimentados com fibras solúveis e insolúveis<br />
apresentavam alteração no perfil lipídico de<br />
linfócitos e macrófagos, observando também<br />
neles aumento na concentração dos ácidos<br />
linoleico e palmítico dos lipídios neutros das<br />
membranas celulares de macrófagos e diminuição<br />
das concentrações de ácidos palmitoleico<br />
e aracdônico. Portanto, em células<br />
com alto turnover de ácidos graxos de membrana,<br />
os AGCC podem alterar o perfil lipídico<br />
e a funcionalidade celular.<br />
Cavaglieri et al. 26, 27 estudaram também<br />
o efeito dos AGCC, isolados ou em associação,<br />
sobre a proliferação de linfócitos dos<br />
linfonodos mesentéricos de ratos e a produção<br />
de citocinas. Notaram que o butirato inibiu<br />
a proliferação dos linfócitos e a produção<br />
de interleucina (IL)-2, ao passo que o<br />
acetato e o propionato não alteraram a proliferação,<br />
porém, aumentaram a produção de<br />
interferon (IFN)-g.<br />
Não só a alimentação influencia a atividade<br />
das células imunológicas, pois sabe-se<br />
que o exercício também é capaz de modular<br />
muitas funções do sistema imunológico e,<br />
dependendo de sua intensidade e volume, especialmente<br />
quando feito de forma exaustiva,<br />
pode causar imunossupressão e aumento do<br />
risco de infecções. 28 Vários componentes<br />
nutricionais, entre eles, glutamina, zinco,<br />
antioxidantes e carboidratos, vêem sendo intensamente<br />
investigados quanto aos seus possíveis<br />
mecanismos associados ao sistema<br />
imunológico e à recuperação dos atletas. 29<br />
As fibras, além de acarretar efeitos modulatórios<br />
no sistema imunológico, também<br />
podem modular alguns processos metabólicos<br />
e bioquímicos ligados ao exercício, por exemplo,<br />
o aumento do conteúdo de glicogênio<br />
muscular, um dos fatores capazes de aumentar<br />
a performance de atletas engajados em esportes<br />
de longa duração. Cavaglieri et al. 30 demonstraram<br />
que o tipo de fibra dietética pode<br />
influir no conteúdo de glicogênio muscular<br />
com base na alimentação de ratos sedentários<br />
suplementados com dois tipos de ração, uma<br />
contendo 30% de farelo de trigo, fonte preferencial<br />
de fibras insolúveis, e a outra com<br />
30% de aveia, fonte de fibras solúveis. Foram<br />
encontrados aumentos estatisticamente<br />
significantes no conteúdo de glicogênio do<br />
gastronêmio vermelho e na atividade da<br />
enzima glicose-6-fosfato desidrogenase dos<br />
ratos alimentados com aveia. Em contrapartida,<br />
na dieta rica em farelo de trigo houve<br />
diminuição desses parâmetros, revelando uma<br />
influência negativa das fibras insolúveis nas<br />
reservas glicogênicas. Essa informação é valiosa<br />
para o nutricionista do esporte, pois indica<br />
a melhor fonte de carboidrato a ser prescrita<br />
aos atletas antes das competições.<br />
Saúde em Revista<br />
Fibras Dietéticas<br />
69
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
CONCLUSÕES<br />
Considerando todas essas informações<br />
científicas e os efeitos comprobatórios das<br />
fibras dietéticas na fisiologia humana, é de<br />
grande importância que o nutricionista as<br />
utilize como ferramenta nutricional, visando<br />
a prevenção, o tratamento de doenças<br />
associadas aos hábitos alimentares e o aumento<br />
da qualidade de vida de pacientes,<br />
indivíduos fisicamente ativos e atletas.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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fatty acids, cholesterol, protein and amino acids. Washington, DC: National Academies Press; 2002.<br />
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causation of disease. Lancet 1972;14:8-12.<br />
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effects of dietary fibre. Clin Nutri Suppl 2004;1:51-58.<br />
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of phenotypic markers of differentation in neoplasic and neo-plastic colonic epithelial cells in vitro. J<br />
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antiproliferative effect of butyrate on RBL-2H3 growth. Gen. Pharmac 1997;29:725-8.<br />
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nonstarch polysaccharides. Physiol Rev 2001;81:1.031-64.<br />
15. Meier R, Gassull MA. Consensus recommendations on the effects and benefits of fibre clinical practice. Clin<br />
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18. Rombeau JL. Investigations of short-chain fatty acids in humans. Clin Nutr Suppl 2004;1:19-23.<br />
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increases GLP-1 secretion and improves glucose homeostasis despite increased intestinal glucose transport<br />
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20. He J, Streiffer RH, Munter P, Kroussel-Wood MA, Whelton PK. Effect of dietary fiber intake on blood<br />
pressure: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. J Hypertens 2004;22:73-80.<br />
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reduce ambulatory blood pressure in treated hypertensives. Hypertens 2001;38:821-6.<br />
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immunity and infection after exercise stress. Med Sci Sports Exerc 2004;36:1.321-7.<br />
23. Davis JM, Murphy EA, Brown A, Carmichael M, Ghaffar A., Mayer EP. Effects of moderate exercise and<br />
oat â-glucan on innate immune function and susceptibility to respiratory infection. Am J Physiol Integr Comp<br />
Physiol 2004;286:366-72.<br />
70<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006
FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />
24. Vetivicka V, Thornton BP. Soluble â-glucan polyssaccharide binding to the lectin site of eutrophil or natural<br />
killer cell complement receptor type 3 generates a primed state of the recptor capable of mediating<br />
citotoxicity of target celss. J Clin Invest 1996; 98:50-61.<br />
25. Cavaglieri CR, Calder PC, Vecchia MG, Campos MR, Mancini-Filho J, Newsholme EA et al. Fatty acid<br />
composition of lymphocytes and macrophages from rats fed fiber-rich diets: a comparison between oat bran<br />
and wheat bran enriched diets. Lipids 1997;32:587-91.<br />
26. Cavaglieri CR, Nishiyama A, Fernandes LC, Curi R, Miles EA, Calder PC. Differencial effects of short-chain<br />
fatty acids on proliferation and productions of pro and anti-inflammatory cytokines by cultured lymphocytes.<br />
Life Sciences 2003;73:1.683-90.<br />
27. Cavaglieri CR, Martins EF, Colleone VV, Rodrigues C, Vecchia MG, Curi R. Fiber-rich diets alter rat<br />
intestinal leukocytes metabolism. J Nutr. Biochem 2000a;11:555-61.<br />
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Physiol Rev 2000;80:1.055-81.<br />
29. Glesson M, Nieman D, Pedersen BK. Exercise, nutrition and immune function. Jour Spor Sci 2004;22:115-25.<br />
30. Cavaglieri CR, Vecchia MG, Carpinelli AR. Effects of Fiber-rich diets on the glycogen content in the<br />
muscles of mature and aged rats. Saúde em Revista 2000b;2:7-11.<br />
Submetido: 6/mar./2006<br />
Aprovado: 14/ago./2006<br />
Saúde em Revista<br />
Fibras Dietéticas<br />
71
QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />
RESENHA / REVIEW<br />
O Papel da Fisioterapia nas<br />
Lesões Ortopédicas<br />
The Role of Physical Therapy<br />
in Orthopedic Lesions<br />
Membro Superior: abordagem fisioterapêutica das patologias<br />
ortopédicas mais comuns, de Osvandré Lech, Alonso Ranzzi, Fabricio<br />
Bordin, Mateus Faggion, Vinicius Zillmer & Paulo Puluski<br />
Rio de Janeiro: Revinter, 2004, 311p.<br />
R$ 159,00, ISBN 85-7309-913-5<br />
QUÉLEN MILANI CAIERÃO *<br />
Fisioterapeuta, especialista em<br />
fisioterapia aplicada a ortopedia<br />
e traumatologia e mestranda do<br />
curso de Pós-Graduação em<br />
Fisioterapia (UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências: R. Voluntários<br />
de Piracicaba, 1.170, ap. 44,<br />
Bairro Alto, 13419-280,<br />
Piracicaba/SP<br />
qmcaierao@unimep.br<br />
Membro Superior faz uma revisão das principais patologias<br />
ortopédicas e de intervenções fisioterapêuticas que<br />
ocorrem com freqüência na prática clínica. A obra foi desenvolvida<br />
por professores médicos e fisioterapeutas e alunos do<br />
curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS.<br />
Eles definiram uma linha editorial bastante objetiva, com<br />
textos resumidos, nos quais os aspectos mais importantes de<br />
cada patologia e tratamento foram valorizados. Com isso, o<br />
leitor terá à sua disposição um conjunto muito útil de informações<br />
para consulta imediata no dia-a-dia.<br />
A obra em questão apresenta 311 páginas, ilustradas<br />
com 450 figuras e 15 quadros, além de um atlas em CD-<br />
Rom, que facilita o entendimento do leitor. O livro dividese<br />
didaticamente em três subespecialidades: ombro; cotovelo;<br />
punho e mão. Os doze primeiros capítulos dedicam-se à<br />
articulação do ombro, os sete intermediários, ao cotovelo,<br />
e os doze últimos, ao punho e à mão. Cada um deles inicia<br />
com uma “nota do editor”, objetivando estabelecer vínculo<br />
entre o ortopedista e o reabilitador.<br />
Vale destacar que a fisioterapia se apresenta em diferentes<br />
áreas da medicina, sendo a ortopedia e a<br />
traumatologia aquelas com maior demanda de pacientes.<br />
Nesse sentido, é importante que o fisioterapeuta tenha conhecimento<br />
das patologias e do potencial dos recursos<br />
fisioterapêuticos possíves de ser utilizados. Assim, cada vez<br />
Saúde em Revista<br />
Ortopedia e Reabilitação<br />
73
QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />
mais tornam-se necessários a criação e o desenvolvimento de<br />
novos conhecimentos científicos para uma melhor compreensão<br />
por parte do profissional.<br />
Diante do exposto, a obra contempla tanto profissionais<br />
quanto estudantes da área da saúde, pois faz uma revisão atualizada<br />
e bem ilustrada. A primeira parte – “Ombro” – oferece<br />
uma breve releitura da anatomia, necessária à compreensão do<br />
conteúdo. Ao final, o leitor encontra algumas imagens radiológicas<br />
que demonstram a anatomia detalhada vista por meio<br />
de recursos tecnológicos, por exemplo, a ressonância nuclear<br />
magnética, que auxilia nas hipóteses de diagnósticos clínicos.<br />
Os demais capítulos dessa seção abordam lesões e fraturas<br />
freqüentes nessa articulação, acompanhados por sugestões<br />
de tratamentos fisioterapêuticos. Já o último, intitulado “Fisioterapia<br />
para pacientes com lesões de ombro – sistema<br />
classificatório da Universidade de Pittsburgh”, auxilia o fisioterapeuta<br />
a categorizar pacientes de acordo com os achados<br />
da avaliação e a orientar o uso da intervenção mais adequada.<br />
A articulação do cotovelo é descrita na segunda parte do<br />
livro, que também traz um resumo da sua complexidade e<br />
biomecânica, importante para possibilitar o entendimento da<br />
recuperação funcional. Além disso, discute as fraturas mais<br />
comuns, tanto no aspecto cirúrgico como no fisioterapêutico.<br />
A última subespecialidade discutida é “Punho e Mão”.<br />
Esse segmento possui a anatomia mais complexa de todo o<br />
sistema musculoesquelético, seja pela miniaturização das estruturas<br />
seja pela especificidade de funções. A revisão<br />
anatômica também dá início a essa seção. Os capítulos restantes<br />
abordam as fraturas mais freqüentes e possíveis tratamentos<br />
fisioterapêuticos, além da mais clássica das lesões, a do<br />
tendão flexor, que produz maior perda funcional quando não<br />
tratada adequadamente.<br />
Pelo fato de a área da saúde ser um campo em constante<br />
mudança, essa obra proporciona leitura atualizada, com texto<br />
claro e objetivo, aos profissionais da saúde envolvidos no<br />
diagnóstico e no tratamento das lesões mais freqüentes do<br />
membro superior, as quais se apresentam diariamente em<br />
nossos serviços. O livro guia o leitor, uma vez que utiliza<br />
conhecimentos básicos para compreensão da estrutura e da<br />
função dos membros superiores, bem como para diagnóstico<br />
e tratamento de lesões. Dessa maneira, observa-se a união<br />
entre médicos e fisioterapeutas, com o objetivo único de diagnosticar<br />
e ministrar um tratamento conjunto e coerente.<br />
Submetido: 1.º/ago./06<br />
Aprovado: 29/set./06<br />
74<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 73-74, 2006
SAÚDE EM REVISTA<br />
Normas para Publicação<br />
Princípios Gerais<br />
I. A SAÚDE EM REVISTA tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam para o desenvolvimento<br />
científico e tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde.<br />
II. A revista privilegia a veiculação de temas em ciências biológicas e de saúde (teoria, ética<br />
e história), pesquisa teórica e/ou experimental, política e ensino.<br />
III. Os temas podem ser desenvolvidos por meio das seguintes categorias:<br />
• ARTIGOS ORIGINAIS: resultantes de pesquisa científica, apresentam dados originais de descobertas<br />
com relação a aspectos experimentais ou observacionais de característica médica,<br />
bioquímica e social, incluindo análise descritiva e ou inferências de dados próprios. Sua<br />
estrutura é a convencional, trazendo os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados,<br />
Discussão, Conclusão e Referências Bibliográficas;<br />
• ARTIGOS DE REVISÃO: têm por objeto resumir, analisar ou sintetizar trabalhos de investigação<br />
já publicados em revistas científicas;<br />
• ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: relatam informações geralmente atuais sobre<br />
tema de interesse para determinada especialidade (uma nova técnica, por exemplo), com<br />
características distintas de um artigo de revisão;<br />
• RELATOS DE CASO: representam dados descritos de um ou mais casos, explorando um método<br />
ou problemas por meio de exemplo. Apresentam as características do indivíduo estudado,<br />
com indicação de sexo e idade, podendo ter sido realizado em humano ou animal;<br />
• RESUMOS DE MONOGRAFIA: relativos a trabalho de graduação e de pós-graduação mais relevantes<br />
e originais; *<br />
• RESENHAS: comentários críticos de livros e/ou teses, não confundindo-se com mero resumo<br />
dos trabalhos resenhados. Devem conter todas as informações para a identificação<br />
da obra analisada (autor; título; tradutor e título original, se houver; edição, se não for a<br />
primeira; local; editora; ano; total de páginas; ISBN; e preço).<br />
• CARTAS: comentários a artigos relevantes publicados anteriormente.<br />
Nota: os artigos submetidos à revista devem preferencialmente enquadrar-se na categoria<br />
de relatos originais (científicos).<br />
IV. Com exceção dos Resumos, a submissão dos manuscritos implica que o trabalho não<br />
tenha sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outra revista.<br />
V. A aceitação se dará observando-se os seguintes critérios:<br />
a) adequação ao escopo da revista;<br />
* Resumos de monografias: encaminhar três cópias em papel e uma em disquete, contendo: título em português e inglês;<br />
resumo em português e inglês; palavras-chave em português e inglês (mínimo: três; máximo: seis); nome do autor e<br />
curso; nome do orientador; data da aprovação; total de páginas do texto original e documento do orientador, atestando<br />
sua aprovação.<br />
Saúde em Revista 75
) qualidade científica, atestada pela Comissão Científico-Editorial e por processo anônimo<br />
de avaliação por pares (blind peer review), ** com consultores não remunerados,<br />
especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como forma de reconhecimento;<br />
c) cumprimento das normas da SAÚDE EM REVISTA. O autor será informado do andamento<br />
do processo de seleção e os originais enviados à Editora UNIMEP serão a ele devolvidos;<br />
d) coerência do número de autores com as dimensões do projeto.<br />
VI. Os artigos devem respeitar as seguintes dimensões:<br />
• ARTIGOS ORIGINAIS, DE REVISÃO, DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO e RELATOS DE CASO: 10<br />
a 18 laudas (de 14.000 a 25.200 toques *** );<br />
• REVISÕES DE LITERATURA: 8 a 12 laudas (de 11.200 a 16.800 toques);<br />
• ENSAIOS: 12 a 20 laudas (de 16.800 a 28.000 toques);<br />
• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: 1 lauda (até 1.400 toques);<br />
• RESENHAS: 2 a 4 laudas (de 2.800 a 5.600 toques).<br />
VII. A exatidão e a adequação das referências bibliográficas consultadas e menciondas no<br />
artigo são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).<br />
VIII. Cabe à revista a exclusividade na publicação dos artigos aprovados.<br />
IX. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções<br />
gramaticais e adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O autor<br />
terá acesso às mudanças introduzidas.<br />
X. Não há remuneração pelos trabalhos. Por artigo, cada autor receberá um exemplar da<br />
revista, remetido por intermédio do autor responsável; além disso, serão destinadas ao conjunto<br />
de autor e eventuais co-autores 10 (dez) separatas do trabalho. Ele(s) pode(m) ainda<br />
adquirir exemplares da revista com desconto de 30% sobre o preço de capa, bem como a<br />
quantidade que desejar(em) de separatas, a preço de custo equivalente ao número de páginas<br />
e de cópias solicitadas.<br />
XI. Os artigos devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista por meio<br />
de ofício, no qual devem constar:<br />
• DECLARAÇÃO de cessão dos direitos autorais assinada por pelo menos um dos autores, com<br />
anuência e concordância dos demais, indicando a exclusividade de publicação na SAÚDE<br />
EM REVISTA – caso o artigo venha a ser aceito pela Comissão Científico-Editorial –, bem<br />
como a concordância com estas Normas para Publicação;<br />
• CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS: evitar o uso de iniciais ou números de registros hospitalares<br />
dos pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em fotografias, exceto com<br />
consentimento expressso, por escrito, acompanhando o trabalho original. Estudos realizados<br />
em seres humanos devem estar de acordo com padrões éticos e com o devido consentimento<br />
livre e esclarecido dos pacientes. Deve ser incluída a aprovação do Comitê de<br />
** Para maior detalhamento das etapas, cf. item II de “Apresentação”.<br />
*** Nesse total de toques, considerar também o espaço entre palavras.<br />
76
Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde ou na Universidade<br />
à qual o(s) autor(es) estejam vinculados, ou na instituição mais próxima ao seu<br />
local de trabalho que o possa registrar;<br />
• INDICAÇÃO DA CATEGORIA do manuscrito, conforme item III.<br />
Forma e preparação dos manuscritos<br />
Cada artigo deve conter os seguintes elementos:<br />
I. Identificação<br />
• NOME E SOBRENOME do(s) AUTOR(es) (no caso de mais de um, indicar o responsável para<br />
troca de correspondência);<br />
• Telefone, e-mail e endereço para correspondência DE CADA AUTOR/CO-AUTOR;<br />
• TITULAÇÃO ACADÊMICA, INSTITUIÇÃO a que cada autor/co-autor está afiliado, acompanhado<br />
do respectivo endereço, UNIDADE e FUNÇÃO do(s) autor(es);<br />
• DEPARTAMENTO e INSTITUIÇÃO em que o trabalho foi realizado;<br />
• TÍTULO (e subtítulo, se houver): precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e ser<br />
conciso(s), evitando-se palavras supérfluas [total máximo de 80 toques];<br />
• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos;<br />
• Se tiver por base DISSERTAÇÃO ou TESE, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada;<br />
• Se tiver sido apresentado em REUNIÃO CIENTÍFICA, indicar nome do evento, local e data da<br />
realização<br />
• Agradecimento, apenas se absolutamente indispensável.<br />
Esses elementos devem ser descritos em folha individualizada, antecedendo o texto do<br />
artigo propriamente dito.<br />
II. Texto<br />
• TÍTULO do trabalho em português e inglês (textos em inglês devem apresentar título, resumo<br />
e palavras-chave em português; textos em espanhol, título em inglês, abstract e<br />
keywords).<br />
• RESUMO indicativo e informativo (máximo de 1.400 toques), em português e inglês<br />
(Abstract). Para fins de indexação, o autor deve indicar as palavras-chave ou descritores<br />
(mínimo de três e máximo de seis) do artigo, em português e inglês (keywords), fazendo<br />
necessariamente o uso de decs-Descritores em Ciências da Saúde ().<br />
• TÍTULO ABREVIADO, com até 40 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.<br />
Documentação<br />
As citações devem obedecer à apresentação aqui detalhada.<br />
I. Citações no texto<br />
As citações ao longo do texto, assim como nas tabelas e figuras, devem ser identificadas<br />
por número arábico e numeradas consecutivamente segundo a ordem em que são mencionadas<br />
no artigo. Esse número precisa ser colocado em expoente (sobrescrito). Ao se citar<br />
Saúde em Revista 77
dois autores de obra referenciada, seus sobrenomes devem estar ligados pela conjução “e”;<br />
no caso de três ou mais, cita-se o primeiro autor seguido da expressão “et al.”. Exemplos:<br />
• Terris et al. 8 atualizam a clássica definição de saúde pública.<br />
1, 5, 7<br />
• O fracasso do movimento de saúde comunitária parece evidente.<br />
AS NOTAS EXPLICATIVAS, * quando houver, precisam ser dispostas no rodapé, remetidas por<br />
asterisco (não por número), sobrescrito no corpo do texto. Havendo mais de uma por<br />
página, o seu número corresponderá à quantidade de astericos necessários para indicá-lo, **<br />
processo esse que será reiniciado em eventual nova página.<br />
Toda vez que a citação for literal, ou específica a um trecho da obra, e tiver (a) menos<br />
de quatro linhas, ela deve aparecer entre aspas, e não em itálico; se for (b) igual ou maior<br />
que quatro linhas deve ter recuo de quatro centímetros das margens do texto (sem aspas),<br />
sendo destacada em parágrafo próprio, com corpo reduzido em relação ao restante<br />
do texto, pulando-se uma linha antes e outra depois da transcrição.<br />
(a) ...Fica claro, portanto, que “as exigências nutricionais dos fungos que afetam papéis<br />
são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, potássio, magnésio, fósforo, ferro,<br />
zinco, cobre e manganês”, conforme afirma Kowalik 17 (p. 99-114).<br />
(b) ...Como afirma Malerbi, discutindo o atendimento ao paciente diabético na rede básica<br />
do município de São Paulo:<br />
O atendimento de pacientes diabéticos ainda está dependendo da iniciativa<br />
pessoal dos profissionais que atuam nos postos, os quais, quando têm interesse,<br />
deparam-se com dificuldades relativas a critérios, medicamentos,<br />
materiais, recursos auxiliares etc. As maiores dificuldades residem, porém,<br />
quanto ao treinamento e atualização das equipes, e quanto ao sistema de<br />
referência e contra-referência, o qual é extremamente complicado, burocratizado<br />
e ineficaz. (Malerbi, 8 p. 31)<br />
Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano<br />
de publicação etc.) constarão das Referências Bibliográficas, ao fim de cada artigo, seguindo<br />
o padrão abaixo.<br />
II. Referências Bibliográficas<br />
As Referências Bibliográficas são limitadas a 30, nos textos que se enquadram nas categorias<br />
Artigos Originais, Revisão e Ensaio. Publicações mais de um autor, até o limite de<br />
seis, terão todos citados; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros, seguidos de<br />
“et al.” (cf. exemplos abaixo). As referências ao longo do texto (citações) devem ser<br />
identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente, normatizadas com base<br />
no estilo Vancouver (). Os títulos de periódicos devem ser referidos de<br />
forma abreviada, segundo o Index Medicus ().<br />
* Nota explicativa no rodapé da página.<br />
**<br />
Uma eventual segunda nota na mesma página será indicada por dois asteriscos.<br />
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Artigos em periódicos<br />
1. Exemplo:<br />
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />
for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1/jun/1996;124 (11):980-3.<br />
Se o periódico tem paginação contínua e não apresenta numeração, pode ser omitido o número<br />
da revista:<br />
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />
for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3.<br />
Para mais de seis autores: listar os seis primeiros seguidos por “et al.”<br />
• Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E et al. Childhood<br />
leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1.006-12.<br />
2. Organizados como autores<br />
• The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing.<br />
Safety and performance guidelines. Med J ago/1996;164:282-4.<br />
3. Nenhum autor apresentado<br />
• Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.<br />
4. Volume ou artigo com suplemento<br />
• Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung<br />
cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.<br />
• Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast cancer.<br />
Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):89-97.<br />
5. Artigo sem volume<br />
• Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid<br />
arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.<br />
6. Nenhum título ou volume<br />
• Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of<br />
blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.<br />
7. Paginação em algarismos romanos<br />
• Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction.<br />
Hematol Oncol Clin North Am abr 1995;9(2):xi-xii.<br />
8. Autores citados em outros artigos<br />
• Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [letter]. Lancet<br />
1996;347:1.337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus<br />
nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int 1992;42:1.285.<br />
Livros e monografias<br />
• Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2 ed. Albany<br />
(NY): Delmar Publishers; 1996.<br />
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• Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York:<br />
Churchill Livingstone; 1996.<br />
• Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington:<br />
The Institute; 1992.<br />
• Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors.<br />
Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2 ed. New York: Raven<br />
Press; 1995. p. 465-78.<br />
• Kimura J, Shibasaki H [editors]. Recent advances in clinical neurophysiology.<br />
Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology;<br />
15-19/out/1995; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.<br />
• Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in<br />
medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.<br />
MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 6-10/set/<br />
1992; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1.561-5.<br />
1. Dissertação ou tese<br />
• Ferreira SJ. Caracterização molecular da Xillela fastidiosa [dissertação ou tese].<br />
Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo; 2000.<br />
2. Artigos de jornal<br />
• Lopes RJ. Estudo aponta elo entre ferro e Parkinson. Folha de S.Paulo 16/set/2002; sec.<br />
A:10.<br />
3. Dicionário e referências similares<br />
• Stedman’s medical dictionary. 26 ed. Baltimore: Williams e Wilkins; 1995. Apraxia; p.<br />
119-20.<br />
Material eletrônico<br />
1. Artigos de periódicos em formato eletrônico<br />
• Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial<br />
online] 1995 jan-mar [acesso 5/jun/1996];1(1):[24 telas]. Disponível: .<br />
2. Monografias em formato eletrônico<br />
• CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-rom]. Reeves JRT, Maibach<br />
H. CMEA Multimedia Group, producers. 2 ed. Versão 2.0. San Diego: CMEA; 1995.<br />
3. Arquivos de computador<br />
• Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Versão<br />
2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.<br />
Apresentação<br />
I. Os artigos podem ser submetidos redigidos em português, inglês ou espanhol.<br />
II. ETAPAS de encaminhamento dos artigos: (a) apresentação de três cópias impressas do<br />
artigo, acompanhadas de arquivo eletrônico gravado em disquete (ou enviado por e-mail),<br />
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devidamente padronizado conforme estas Normas para Publicação, para submissão à Comissão<br />
Científico-Editorial da Revista e aos seus consultores, constando de uma delas os<br />
dados completos do(s) autor(es) e, das outras duas, apenas o título da obra (sem identificação);<br />
fornecer também brevíssimo currículo do(s) autor(es); (b) um dos membros da<br />
Comissão e dois nomes externos a ela são designados como pareceristas, estes dois últimos<br />
por processo blind peer review; (c) recebidos de volta tais pareceres, eles são analisados em<br />
outro encontro da Comissão, chegando-se a uma avaliação final: “indicado para publicação”,<br />
“indicado com ressalvas” ou “recusado”; (d) em carta ao(s) autor(es), essas decisões<br />
são fundamentadas e devolvidos os originais com anotações dos pareceristas; (e) se indicado<br />
para publicação “com ressalvas”, o artigo deve ser novamente submetido à Editora: os<br />
trechos alterados precisarão ser realçados por cor ou sublinhados; essa nova versão será entregue<br />
em papel (uma cópia) e em arquivo eletrônico, acompanhada do texto original apreciado<br />
pelos pareceristas; (f) eventuais ilustrações devem ser encaminhadas separadamente,<br />
em seus respectivos arquivos eletrônicos em suas extensões originais; (g) antes da impressão,<br />
o(s) autor(es) recebe(m) versão final do texto para análise.<br />
III. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, fotografias, gráficos, desenhos e mapas) necessárias à compreensão<br />
do texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas<br />
de modo a garantir boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso,<br />
grafados em letras minúsculas. (a) TABELAS: editadas em Word ou Excel, com formatação<br />
necessariamente de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos<br />
exatos de suas apresentações ao longo do texto; não podem ser muito grandes e nem ter<br />
fios verticais para separar colunas; (b) FOTOGRAFIAS: com bom con-traste e foco nítido,<br />
sendo fornecidas em arquivos em extensão “jpg”, “tif” ou “gif”; (c) GRÁFICOS e DESENHOS:<br />
incluídos nos locais exatos do texto. No caso de indicação para publicação, essas ilustrações<br />
precisarão ser enviadas em separado, necessariamente em arquivos de seus programas<br />
originais (p. ex., Excel, CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush etc.); (d) figuras,<br />
gráficos e mapas, caso sejam enviados para DIGITALIZAÇÃO, devem ser preparados em tinta<br />
nanquim preta. As convenções precisam aparecer em sua área interna.<br />
Os manuscritos devem ser encaminhados para:<br />
Editora UNIMEP / Secretaria Executiva da Saúde em Revista<br />
Rodovia do Açúcar, km 156 - 13400-911 – Piracicaba/SP, Brasil<br />
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