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INSTITUTO EDUCACIONAL PIRACICABANO – IEP<br />

Presidente do Conselho Diretor LUIZ ALCEU SAPAROLLI<br />

Diretor geral<br />

Conselho de Política Editorial:<br />

Policy Advisory Committee<br />

DAVI FERREIRA BARROS<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

D AVI FERREIRA B ARROS (presidente)<br />

R INALVA C ASSIANO SILVA (vice-presidente)<br />

A NTONIO R OQUE D ECHEN<br />

C LÁUDIA R EGINA C AVAGLIERI<br />

C RISTINA B ROGLIA F. DE L ACERDA<br />

K LAUS SCHÜTZER<br />

LUIZ A NTONIO R OLIM<br />

SAÚDE EM REVISTA Health in Review set.-dez. 2006<br />

vol. 8, n. 20, “Saúde e Exercício Físico” / “Health and Exercise”<br />

Comissão Científico-Editorial CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA – editora científica (Curso de Fonoaudiologia)<br />

Scientific-Editorial Board FÁTIMA CRISTIANE L. GOULART FARHAT (Curso de Farmácia)<br />

MARCELO DE CASTRO CÉSAR (Curso de Educação Física)<br />

MÁRCIA REGINA C. C. DA FONSECA (Curso de Enfermagem)<br />

MARIA LUIZA OZORES POLACOW (Grupo de Área de Ciências Biomédicas)<br />

RINALDO GUIRRO (Curso de Fisioterapia)<br />

VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI (Curso de Nutrição)<br />

Comitê Científico ALBERT-JESUS FIGUERAS SUÑE (Fundació Institut Català de Farmacologia /<br />

Advisory Board Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha)<br />

ARTURO SAN FELICIANO (Departamento de Quimica Farmaceutica /<br />

Faculdad de Farmacia / Universidade de Salamanca, Espanha)<br />

ELVIRA MARIA GUERRA SHINOHARA (Faculdade de Ciências<br />

Farmacêuticas / USP-SP)<br />

FRAN HARSTROM (Department of Rehabilitation, Human Resources and<br />

Communication Disorders / University of Arkansas-Fayetteville, USA)<br />

ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO (Curso de Fonoaudiologia /<br />

Universidade Luterana do Brasil-ULBRA / Canoas-RS)<br />

LÉSLIE PICCOLOTTO FERREIRA (Faculdade de Fonoaudiologia / PUC-SP)<br />

LISIAS NOGUEIRA CASTILHO (Hospital das Clínicas da Faculdade de<br />

Medicina / USP-SP)<br />

MARIA CRISTINA FABER BOOG (Departamento de Enfermagem – Faculdade<br />

de Ciências Médicas / Unicamp-SP)<br />

MAURO FISBERG (Departamento de Pediatria e Adolescência – Nutrologia /<br />

Unifesp-SP)<br />

PEDRO LUIZ ROSALEN (Faculdade de Odontologia de Piracicaba /<br />

Unicamp-SP)<br />

RENATA MOTA MAMEDE CARVALHO (Departamento de Fisioterapia,<br />

Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional / Faculdade de Medicina da USP-SP)<br />

RUI CURI (Instituto de Ciências Biomédicas / USP-SP)<br />

Equipe Técnica/Technical Team PEDRO LUÍS LOPES BINCOLETTO (bolsista atividade da revista)<br />

DENISE SIQUEIRA (ficha catalográfica)<br />

MILENA DE CASTRO (edição de texto)<br />

NUNO COI<strong>MB</strong>RA MESQUITA (revisão de textos em inglês)<br />

Capa WESLEY LOPES HONÓRIO<br />

Impressa por Gráfica e Editora Rudcolor<br />

SAÚDE EM REVISTA é uma publicação quadrimestral da Editora UNIMEP que traz artigos vinculados ao desenvolvimento científico e<br />

tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde. Os originais devem ser encaminhados à Comissão Editorial da revista, observadas<br />

suas normas para publicação de artigos. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos seus autores. Os textos são<br />

selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (blind peer review). Na última edição de cada ano, é publicada a relação do<br />

seu corpo de referee. Veja as normas para publicação no final da revista (estilo Vancouver: ) ou no site da Editora<br />

UNIMEP ().<br />

SAÚDE EM REVISTA (Health in Review) is published three times a year by UNIMEP Press (São Paulo/Brazil). It contains papers on scientific<br />

and technological issues from biological and health sciences. Editorial norms for submission of articles can be requested to the Editor. Manuscripts<br />

are selected through a blind peer review process. In the last issue of the year, the list of referee body is published. See editorial norms for<br />

submission of articles in the back of this journal (Vancouver stile: ) or in UNIMEP’s site ().<br />

Aceita-se permuta / Exchange is desired.<br />

Saúde em Revista é indexada pelo / Saúde em Revista is indexed by<br />

SPORTDiscus, SIRC Collection; Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientificas de América Latina, el Caribe, España y Portugal<br />

(LATINDEX) base de dados Peri (ESALQ/USP) e Qualis CAPES.<br />

Disponibilizada no sítio / available in site <br />

Assinaturas EDITORA UNIMEP <br />

Rodovia do Açúcar, km 156 – 13400-911 – Piracicaba/SP<br />

Tel./fax: 55 (19) 3124-1620 / 3124-1621<br />

E-mail: editora@unimep.br / Comissão Científico-Editorial: sauderev@unimep.br<br />

SAÚDE EM REVISTA<br />

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA<br />

V. 1 • n. 1 • 1999<br />

Quadrimestral / Three times yearly<br />

ISSN 1516-7356<br />

1. Ciências da Saúde – periódicos<br />

CDU – 613/614


Editorial<br />

SAÚDE E EXERCÍCIO FÍSICO<br />

Atualmente, a prática regular de exercícios físicos é considerada fundamental para a<br />

prevenção e o tratamento de muitas doenças. Entretanto, o sedentarismo está aumentando em<br />

nossa sociedade, pois as atividades profissionais exigem cada vez menos esforços físicos e as<br />

pessoas não acham tempo ou motivação para a prática de exercícios. A universidade consiste em<br />

espaço privilegiado para divulgação dos benefícios dos exercícios físicos na promoção da saúde;<br />

assim, a vigésima edição da Saúde em Revista tem como tema “Exercício Físico e Saúde”.<br />

A prática de atividades motoras deve começar na infância, e este número inicia com<br />

um interessante artigo que relata uma investigação sobre o crescimento físico e desenvolvimento<br />

motor de pré-escolares, ressaltando a necessidade de incrementar as experiências<br />

motoras das crianças para seu maior desenvolvimento. O hábito de exercícios aeróbios e resistidos<br />

é considerado essencial para o aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde,<br />

sendo o tema tratado no segundo artigo, referente a um estudo dos efeitos do treinamento em<br />

homens adultos.<br />

A investigação das adaptações do treinamento em animais de laboratório em muito<br />

contribui para a elaboração de programas de exercícios em humanos. O terceiro artigo justamente<br />

traz um interessante protocolo de treinamento resistido de alta intensidade em ratos. Já<br />

o quarto estudo publicado nesta edição aborda as respostas cardiopulmonares de mulheres<br />

jovens submetidas a testes em esteira, referência a outros estudos que investigam a aptidão<br />

cardiorrespiratória em mulheres.<br />

A revista apresenta artigos originais não diretamente associados ao exercício, mas a<br />

assuntos relevantes à saúde, tais como a investigação do custo da assistência médica de diabéticos,<br />

a contaminação de jalecos por estudantes e a escolha de fumar, não fumar e parar de<br />

fumar. Finalizando a edição, um artigo de revisão sobre os efeitos terapêuticos e no exercício<br />

de fibras dietéticas, que destaca a relevância da utilização das fibras como ferramenta nutricional.<br />

Os autores desses trabalhos contribuíram para consolidar a vocação multidisciplinar da<br />

Saúde em Revista, divulgando importantes informações aos profissionais que atuam nesta área.<br />

COMISSÃO CIENTÍFICO-EDITORIAL


SUMÁRIO<br />

CONTENTS<br />

ORIGINAIS / ORIGINALS<br />

7.<br />

Avaliação Motora e Crescimento Físico de Pré-Escolares<br />

Motor Evaluation and Physical Growth of Preschoolers<br />

VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO; RUTE ESTANISLAVA TOLOCKA &<br />

15.<br />

23.<br />

ADEMIR DE MARCO<br />

Efeitos de Práticas Aeróbia e Resistida em Parâmetros de<br />

Saúde de Homens Adultos<br />

Effects of Aerobic and Resisted Practices on Parameters of Health<br />

in Adult Men<br />

IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI; FABRICIO CESAR DE PAULO RAVAGNANI;<br />

CHRISTIANNE DE FARIA COELHO & ALEXANDRE HIODEKI OKANO<br />

Relação entre Exercício Físico de Alta Intensidade e o Lactato<br />

Sangüíneo, em ratos<br />

Relationship between High Intensity Exercise and Blood Lactate<br />

in Rats<br />

FERNANDA KLEIN MARCONDES; ANA PAULA TANNO; TATIANA SOUSA<br />

31.<br />

CUNHA & MARIA JOSÉ COSTA SAMPAIO MOURA<br />

Respostas Cardiopulmonares de Mulheres Jovens ao Exercício<br />

Máximo em Esteira<br />

Cardiopulmonary Responses of Young Women to Maximal<br />

Exercise in Treadmill<br />

PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI; MILENA A. BORGES PEDROSO;<br />

RICARDO A. SIMÕES; THIAGO M. FROTA DE SOUZA; CACIANE<br />

DALLEMOLE; MARIA IMACULADA DE LIMA MONTEBELO; JOÃO PAULO<br />

BORIN & MARCELO DE CASTRO CESAR


37.<br />

47.<br />

55.<br />

Custo do Atendimento Ambulatorial e Gasto Hospitalar do<br />

Diabetes mellitus tipo 2<br />

Ambulatory and Hospital Care Cost of type 2 Diabetes mellitus<br />

KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN; DENISE GIACOMO DA MOTTA;<br />

ANTONIO CARLOS LERARIO & ANTONIO CARLOS COELHO CAMPINO<br />

Contaminação em Jalecos Utilizados por Estudantes de<br />

Odontologia<br />

Contamination in Jackets Used by Odontology Students<br />

MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI; RENATO SOBREIRA BITU<br />

FILHO; EVELINE GADÊLHA LIMA; ANA MIRYAM COSTA DE MEDEIROS &<br />

KENIO COSTA LIMA<br />

A Decisão entre Fumar, Não Fumar, Parar de Fumar... Uma<br />

Questão de Escolha<br />

The Decision of Smoking, Not Smoking, Quitting Smoking... A<br />

Question of Choice<br />

THIAGO MAGALHÃES CAMARGO; DIMAS DOS SANTOS ROCHA JUNIOR;<br />

JOSÉ CLÓVIS ROSA RAPHANELLI; VIRGINIA SBRUGNERA NAZATO;<br />

CARLA DA SILVA SANTANA; MARIA IZALINA FERREIRA ALVES; RENATA<br />

DE LIMA; SARA DE JESUS OLIVEIRA & YOKO OSHIMA-FRANCO<br />

REVISÕES DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEWS<br />

65.<br />

RESENHAS / REVIEWS<br />

73.<br />

75.<br />

83.<br />

Fibras Dietéticas: efeitos terapêuticos e no exercício<br />

Dietary Fibers: therapeutic effects and in exercise<br />

FELIPE FEDRIZZI DONATTO; ADRIANE PALLANCH & CLAUDIA REGINA<br />

CAVAGLIERI<br />

O Papel da Fisioterapia nas Lesões Ortopédicas<br />

The Role of Physical Therapy in Orthopedic Lesions<br />

Membro Superior: abordagem fisioterapêutica das patologias<br />

ortopédicas mais comuns, de Osvandré Lech, Alonso Ranzzi,<br />

Fabricio Bordin, Mateus Faggion, Vinicius Zillmer & Paulo<br />

Puluski<br />

QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO<br />

CORPO DE CONSULTORES


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

Avaliação Motora e Crescimento<br />

Físico de Pré-Escolares<br />

Motor Evaluation and Physical<br />

Growth of Preschoolers<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

VITOR ANTONIO<br />

CERIGNONI COELHO *<br />

Mestrando em educação física<br />

(UNIMEP/SP)<br />

RUTE ESTANISLAVA TOLOCKA<br />

Coordenadora do Núcleo de<br />

Estudos e Pesquisas em<br />

Pedagogia do Movimento –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

ADEMIR DE MARCO<br />

Professor associado do<br />

Departamento de Educação<br />

Motora – Faculdade de<br />

Educação Física (Unicamp/SP)<br />

* Correspondências: R. Dr. Jorge<br />

Pacheco Chaves, 2.607, ap. 21,<br />

13401-200, Piracicaba/SP<br />

viacoelho@unimep.br<br />

RESUMO Mudanças nos hábitos infantis ocorridas nas últimas décadas,<br />

como o ingresso precoce na escola e o aumento da violência e do tráfego<br />

urbano, constituem alguns dos fatores que têm reduzido as possibilidades<br />

de atividades motoras pelas crianças. O presente trabalho<br />

objetivou identificar o perfil de crescimento e de desenvolvimento<br />

motor de pré-escolares. De tipo exploratório, apresenta medidas<br />

antropométricas e níveis de habilidades motoras básicas de crianças.<br />

Observaram-se 42 indivíduos, entre 3 e 5 anos de idade (21 meninos<br />

e 21 meninas), verificando-se na maioria deles os índices esperados<br />

para o crescimento dessa faixa etária, encontrando-se as meninas num<br />

estágio mais avançado que os meninos, mas estes apresentaram melhores<br />

escores em todas as habilidades motoras. Existem indícios de correlação<br />

significativa entre índices antropométricos e nível de habilidade<br />

motora, detectados na avaliação entre dobra cutânea subescapular<br />

e habilidade de correr (Spearman = – 0,437), e entre perímetro<br />

tricipital e habilidade de chutar (Spearman = – 0,539), p < 0,001,<br />

cabendo novas e ampliadas pesquisas para esclarecer melhor tal relação.<br />

Algumas crianças ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento<br />

motor, em todos os segmentos corporais analisados, sugerindo<br />

atraso em seu crescimento para a idade estudada, sendo<br />

necessário o incremento de experiências motoras que o estimulem.<br />

Palavras-chave DESENVOLVIMENTO INFANTIL – CRESCIMENTO – AVALIAÇÃO<br />

– SAÚDE<br />

ABSTRACT Changes in children’s habits in the last decades, like going<br />

to school in early ages and increasing urban violence and traffic, have<br />

decreased infant movement possibilities. The objective of this study<br />

was to identify the growth and development conditions of infants. This<br />

study shows anthropometric data and basic motor skill levels, of kids.<br />

42 individuals, 3 to 5 years old (21 boys and 21 girls), participated.<br />

We observed that the majority of the children are among the expected<br />

values for anthropometric measures in this age. The girls are more<br />

developed than boys, although boys showed a better score in all motor<br />

abilities. There is a possibility of correlation between anthropometric<br />

measures and motor skill, found in the evaluation of subscapular skin<br />

fold and running ability (Spearman = – 0,437) and of tricepital<br />

perimeter and kicking ability (Spearman = – 0,539), p < 0,001, Other<br />

studies should be done in order to clarify such relationship. Some kids<br />

are still in the initial phases of motor development, in all body<br />

segments observed, suggesting a delay in the growth for this age, so<br />

motor experiences are needed to improve such development.<br />

Keywords CHILD DEVELOPMENT – GROWTH – EVALUATION – HEALTH.<br />

Saúde em Revista<br />

Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />

7


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os estudos sobre crescimento e desenvolvimento<br />

vêm se caracterizando como importante<br />

recurso para diagnosticar, preservar e prevenir<br />

a saúde das crianças. O crescimento<br />

refere-se à divisão celular aliado ao aumento da<br />

massa corporal e revela as transformações<br />

quantitativas do corpo. 1 Por desenvolvimento<br />

entende-se o processo dinâmico e contínuo relativo<br />

às mudanças corporais ao longo do ciclo<br />

da vida, com transformações em classes gerais<br />

do comportamento motor (estabilização, manipulação<br />

e locomoção). 2 O desenvolvimento<br />

motor dá-se, de maneira previsível, em determinadas<br />

faixas etárias, obedecendo a uma<br />

seqüência de quatro fases sobrepostas: fase de<br />

movimentos reflexos (do quarto mês pré-natal<br />

ao primeiro ano de vida); fase de movimentos<br />

rudimentares (até os 2 anos de idade); fase de<br />

movimentos fundamentais (entre 2 e 7 anos);<br />

e a fase de movimentos especializados (após<br />

os 7 anos). 3<br />

Embora esses estágios tenham sido considerados<br />

universais, observa-se que características<br />

do meio ambiente, entre elas, experiências<br />

de movimento vivenciadas e a cultura,<br />

podem interferir nesse desenvolvimento, como<br />

demonstram estudos que discutem as diferenças<br />

encontradas entre os sexos. 4 Assim, os<br />

exames de crescimento e desenvolvimento dos<br />

indivíduos devem acontecer de forma relacionada,<br />

pois recebem influência negativa ou<br />

positiva de fatores como meio ambiente (geografia,<br />

cultura, renda familiar, saneamento<br />

básico, educação, estilo de vida), genética<br />

(hereditariedade e transmissão de genes anormais),<br />

nutrição (consumo de nutrientes), tarefas<br />

(atividades diárias e, principalmente, atividade<br />

física) e aspectos psicossociais<br />

(desenvolvimento cognitivo, personalidade,<br />

relacionamentos). Esses fatores denominam-se<br />

influências intrínsecas e extrínsecas do crescimento<br />

e do desenvolvimento. 5<br />

Estudos propondo a indissociabilidade<br />

entre os processos de crescimento e de desenvolvimento<br />

6, 7 alegam que é necessário entender<br />

o mecanismo por meio do qual as propriedades<br />

da pessoa e do ambiente interagem<br />

para produzir constância e mudanças nas características<br />

dela. Diferenças significativas<br />

foram encontradas entre sexos e classe social,<br />

8, 9 além de serem observadas a correlação<br />

entre crescimento e capacidades físicas 10, 11 e a<br />

influência de fatores de crescimento e<br />

adiposidade corporal na realização de saltos<br />

em distância. 12, 13 Porém, análises sobre a relação<br />

do crescimento físico e o desempenho de<br />

habilidades motoras ainda são raras.<br />

Assim, este trabalho pretende verificar o<br />

crescimento físico, o nível de desenvolvimento<br />

motor e a ligação entre medidas<br />

antropométricas e a execução de habilidades<br />

motoras básicas.<br />

METODOLOGIA<br />

Trata-se de um estudo exploratório, que<br />

abrangeu 42 crianças (21 meninos e 21 meninas)<br />

na faixa etária entre 3 e 5 anos, de<br />

ambos os sexos, pertencentes a uma instituição<br />

infantil no interior do Estado de São<br />

Paulo. Foi aprovado pelo conselho de ética<br />

da UNIMEP, com parecer n.º 76/2003, e realizado<br />

com a autorização da referida instituição<br />

de ensino; todos os pais assinaram o termo<br />

de consentimento livre e esclarecido.<br />

As medidas antropométricas das crianças<br />

foram coletadas com as normas do Centro<br />

Nacional de Estatística em Saúde<br />

(National Center for Health Statistics –<br />

NCHS). 14 Os valores obtidos foram comparados<br />

com os dados fornecidos pelo NCHS,<br />

para peso e estatura, perímetro cefálico e<br />

perímetro tricipital 15 (dobras cutâneas<br />

tricipitais e subescapulares). 16 Calculou-se<br />

também o Índice de Massa Corporal (IMC)<br />

para classificar as crianças com baixo peso,<br />

17, 18<br />

eutrófico, sobrepeso e obesidade.<br />

No que diz respeito ao nível de desenvolvimento<br />

motor, observaram-se as habilidades<br />

básicas de correr, chutar, receber e<br />

8<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

desviar, comparando os movimentos executados<br />

com os previstos nos diferentes graus,<br />

classificando-os nos diversos segmentos:<br />

cabeça, tronco, membros superiores e inferiores.<br />

3, 19 O método indica três níveis de desenvolvimento<br />

motor em cada segmento corporal:<br />

inicial, em que a criança possui<br />

movimentos marcados, seqüências restritas<br />

pelo uso exagerado do corpo e por fluxo rítmico<br />

e coordenação deficiente; elementar, no<br />

qual apresenta uma melhora na coordenação<br />

e no ritmo, mas os movimentos são restritos<br />

ou exagerados; e maduro, em que os movimentos<br />

realizam-se com melhor desempenho,<br />

eficiência e coordenação controlada.<br />

As crianças posicionaram-se numa fila e<br />

receberam instruções verbais seguidas de demonstração.<br />

Cada uma delas realizou três tentativas<br />

alternadas de execução de cada habilidade,<br />

sendo considerado o melhor dos três<br />

resultados. Os dados foram gravados com uma<br />

câmera de vídeo analógica, NTSC, 30 quadro/<br />

segundo, colocada a uma distância de 5 m da<br />

criança, na lateral dela, para as habilidades de<br />

correr e chutar, e à sua frente, para receber e<br />

desviar. Os dados adquiridos foram capturados<br />

por uma placa de vídeo (Pinaclle Movie<br />

Box). A escolha dos quadros, contendo as<br />

imagens indicadas pelo protocolo utilizado,<br />

deu-se manualmente. As imagens escolhidas<br />

foram gravadas em um arquivo digital.<br />

Para fins estatísticos, atribuíram-se pontos<br />

de 1 a 3 a cada segmento observado,<br />

classificado como inicial, elementar ou maduro,<br />

respectivamente, obtendo-se um escore<br />

total para cada habilidade percebida. 20 A correlação<br />

entre as medidas antropométricas e<br />

habilidades motoras levou em conta o escore<br />

total obtido pela criança em cada uma das<br />

variáveis analisadas, aplicando-se o índice de<br />

correlação de Spearman.<br />

RESULTADOS<br />

O perfil antropométrico observado mostrou<br />

que as meninas possuem maior crescimento<br />

físico que os meninos, sendo que, no<br />

peso, a maioria das meninas (10) estava entre<br />

17,5 kg e 20 kg, e a maioria dos meninos<br />

entre 15 kg e 17,5 kg. No entanto, as medianas<br />

do peso feminino e masculino revelaramse<br />

próximas (17,7 kg para as meninas e 17,2<br />

kg para os meninos), dado que a amostra era<br />

pequena e uma menina distanciou-se significativamente<br />

dos valores das outras crianças,<br />

estando abaixo do esperado para sua idade.<br />

Nas medidas de estatura, as meninas<br />

também apresentaram resultados maiores,<br />

sendo que oito delas tinham entre 105 cm e<br />

110 cm e outras seis, entre 100 cm e 105 cm,<br />

ao passo que, entre os meninos, sete tinham<br />

entre 99 cm e 102 cm e seis, entre 105 cm e<br />

108 cm. A estatura mediana feminina foi de<br />

107 cm e a masculina de 105 cm, também<br />

com uma menina com valores distantes das<br />

outras e abaixo do esperado para a idade. A<br />

figura 1 permite observar a distribuição das<br />

medidas antropométricas de ambos os sexos.<br />

Quanto aos valores do IMC, 18 meninos<br />

mostraram-se eutróficos, isto é, dentro<br />

do esperado, dois apresentaram obesidade e<br />

um deles, baixo peso. Sobre o IMC feminino,<br />

foram encontradas 13 crianças eutróficas,<br />

cinco com sobrepeso, duas com<br />

baixo peso e uma obesa.<br />

Comparando os dados obtidos com os<br />

índices propostos pelo NCHS, no grupo masculino<br />

foram encontradas duas crianças acima,<br />

19 dentro e nenhuma abaixo dos valores<br />

para peso esperados para essa faixa etária.<br />

Em relação à estatura, três estavam acima do<br />

esperado, 18 dentro do previsto e nenhuma<br />

abaixo; para perímetro cefálico, três mostraram-se<br />

acima do esperado, 14 dentro e quatro<br />

abaixo; no perímetro tricipital, uma criança<br />

acima do esperado, 20 dentro e nenhuma<br />

abaixo, sendo os mesmos valores encontrados<br />

para as dobras cutâneas subescapulares.<br />

Já nas dobras cutâneas tricipitais, uma criança<br />

estava acima, 19 dentro e apenas uma<br />

abaixo do esperado.<br />

Saúde em Revista<br />

Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />

9


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

Figura 1. Box-Plot – ilustrando a distribuição das medidas de peso e estatura.<br />

No grupo feminino, nos valores para<br />

peso e estatura foram encontradas 19 meninas<br />

dentro, uma acima e uma abaixo do esperado<br />

para essa faixa etária. Em relação ao<br />

perímetro cefálico, 15 crianças estavam dentro<br />

do esperado, seis abaixo e nenhuma acima;<br />

para perímetro tricipital, uma criança<br />

acima, 19 dentro e uma abaixo; sobre a dobra<br />

cutânea tricipital, apenas uma menina<br />

abaixo, nenhuma acima e 20 dentro do esperado;<br />

e quanto à dobra cutânea tricipital, todas<br />

as crianças estavam dentro do esperado.<br />

Apenas na habilidade de correr, elas mostraram<br />

níveis próximos de maturidade, sendo<br />

que a maioria (16), tanto do sexo feminino<br />

quanto do masculino, obteve escore entre 6 e 7.<br />

Nesse quesito, apenas uma menina mostrou<br />

comportamento maduro. Nos outros, as meninas<br />

revelaram-se mais imaturas. A habilidade<br />

de chutar foi aquela em que os meninos tiveram<br />

melhores resultados, com diferença significativa<br />

entre os sexos, sendo que nove mostraram<br />

padrão maduro, enquanto apenas duas<br />

meninas o fizeram; entre elas, a maioria alcançou<br />

o escore 6, encontrando-se outras três ainda<br />

no estágio inicial em todos os segmentos.<br />

As maiores dificuldades entre as meninas<br />

revelaram-se na habilidade de desviar,<br />

em que cinco apresentaram o escore mínimo,<br />

estando no nível inicial em todos os segmentos<br />

analisados; 12 obtiveram o escore 6, com<br />

graus elementares nas três etapas avaliadas;<br />

e nenhuma teve comportamento maduro.<br />

Entre os meninos, também não houve nenhum<br />

no estágio maduro, sendo também o<br />

nível elementar o predominante, em todos os<br />

segmentos, com duas crianças ainda em estágio<br />

inicial. Na habilidade de receber, nenhuma<br />

delas estava no nível maduro, e a maioria,<br />

tanto entre os meninos quanto entre as<br />

meninas, alcançou o escore 6 e nível elementar<br />

em todos os segmentos analisados. A distribuição<br />

dos dados pode ser vista na figura<br />

2; já as tabelas 1 e 2 apresentam os resultados<br />

por segmentos, de cada criança, em cada<br />

habilidade observada.<br />

Encontrou-se, entre os meninos, correlação<br />

negativa estatisticamente significante entre<br />

dobra cutânea subescapular e a habilidade de<br />

correr (Spearman = – 0,437), e entre perímetro<br />

tricipital e a habilidade de chutar<br />

(Spearman = – 0,539) para p < 0,001. As outras<br />

correlações não foram estatisticamente<br />

significantes, com p < 0,005; peso e correr σ<br />

= – 0,069, desviar σ = – 0,067; receber σ =<br />

0,043 e chutar σ = – 0,389; estatura e correr σ<br />

10<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

Figura 2. Box-Plot – ilustrando a distribuição dos escores obtidos nas habilidades motoras básicas.<br />

Tabela 1. Nível de habilidade básica e escore<br />

obtidos no sexo masculino.<br />

Tabela 2. Nível de habilidade básica e escore<br />

obtidos no sexo feminino.<br />

Legenda: MS: membro superior / T: tronco / MI: membro<br />

inferior.<br />

I: inicial / E: elementar / M: maduro / S: escore.<br />

Legenda: MS: membro superior / T: tronco / MI: membro<br />

inferior.<br />

I: inicial / E: elementar / M: maduro / S: escore.<br />

Saúde em Revista<br />

Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />

11


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

= 0,168, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />

0,297, e chutar σ = – 0,179; perímetro tricipital<br />

e correr σ = – 0,111; desviar σ = 0,065;<br />

receber σ = 0,142 e chutar σ = – 0,539; dobra<br />

cutânea tricipital e correr σ = – 0,336, desviar<br />

σ = 0,065, receber σ = 0,142 e chutar σ = –<br />

0,339; dobra cutânea subescapular e correr σ<br />

= – 0,437, desviar σ = 0,026; receber σ =<br />

0,124 e chutar σ = – 0,322.<br />

Entre as meninas, nenhuma correlação<br />

mostrou-se significante. Os valores encontrados,<br />

com p < 0,005 foram: peso e correr σ =<br />

– 0,069, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />

0,043 e chutar σ = – 0,389; estatura e correr<br />

σ = 0,168, desviar σ = – 0,067, receber σ =<br />

0,297 e chutar σ = – 0,179; perímetro tricipital<br />

e correr σ = – 0,111, desviar σ = 0,065,<br />

receber σ = 0,142 e chutar σ = – 0,539; dobra<br />

cutânea tricipital e correr σ = – 0,336,<br />

desviar σ = 0,065, receber σ = 0,142, e chutar<br />

σ = – 0,339, dobra cutânea subescapular<br />

e correr σ = – 0,437, desviar σ = 0,026, receber<br />

σ = 0,124 e chutar σ = – 0,322.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os dados apresentados apontam para as<br />

diferenças entre os sexos, já observadas em<br />

outros estudos, nos quais o crescimento físico<br />

é mais acelerado nas meninas que nos<br />

meninos, 21, 22 ao passo que no desenvolvimento<br />

motor ocorre o contrário.<br />

Embora a diferença no crescimento possa<br />

ser explicada, em alguns casos, pela proximidade<br />

com o estirão do crescimento, ocorrido<br />

mais cedo nas meninas, 23 em outras<br />

situações, 24 essa justificativa não se sustenta<br />

quando as crianças estão distantes do estirão<br />

de crescimento. Tal diferença poderia estar<br />

ligada ao sexo, mas também é possível acontecer<br />

por fatores socioculturais, 25 apesar de<br />

eles influenciarem tanto o sexo feminino<br />

quanto o masculino, sendo necessários novos<br />

estudos para esclarecê-la em relação à velocidade<br />

do crescimento infantil.<br />

Verificou-se que o IMC dessas crianças<br />

não está dentro da tendência mundial para a<br />

obesidade, pois foram encontrados poucos<br />

casos de obesidade infantil. No entanto,<br />

deve-se atentar para os casos de sobrepeso<br />

entre as meninas, pois são fatores de tendência<br />

à obesidade, e para os de baixo peso, que<br />

refletem uma preocupação com o estado de<br />

desnutrição infantil, encaminhando-os a serviços<br />

especializados.<br />

A diferença entre os sexos apresentada<br />

no comportamento motor, em que as meninas<br />

mostraram-se mais imaturas, pode estar associada<br />

a questões ligadas ao sexo 26 ou a fatores<br />

socioculturais, 27 que as influenciam a praticar<br />

atividades diversas dos meninos, sendo<br />

a experiência um aspecto relevante ao amadurecimento<br />

das habilidades motoras.<br />

É preocupante o fato de algumas crianças<br />

ainda se encontrarem no estágio inicial,<br />

em todos os segmentos corporais, de determinadas<br />

habilidades, quando deveriam, pelo<br />

2, 4 21<br />

menos, estar em estágios elementares.<br />

Isso indica que elas podem estar sendo privadas<br />

de experiências de movimento e a possibilidade<br />

de terem atrasos significativos no<br />

desenvolvimento. O que pode estar ocorrendo<br />

é que essas crianças ficam o dia todo dentro<br />

de uma instituição de ensino infantil, com<br />

poucas ocupações motoras, boa parte do tempo<br />

sentadas e realizando atividades de motricidade<br />

fina, como pintar ou manipular pequenos<br />

objetos. A maioria dessas instituições<br />

ainda se preocupa, prioritariamente, com aspectos<br />

ligados a higiene e alimentação, explicados<br />

pelo contexto em que surgiram as primeiras<br />

creches no Brasil, 28 com o objetivo de<br />

cuidar das crianças enquanto as mães, carentes,<br />

iam ao mercado de trabalho.<br />

Porém, entendido o direito das crianças<br />

pequenas à educação em instituições oficiais<br />

de ensino infantil, é preciso rever o trabalho<br />

que vem sendo realizado no interior desses<br />

estabelecimentos, passando-se a olhar também<br />

para as necessidades ligadas ao desen-<br />

12<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006


VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

volvimento infantil, que transcendem em<br />

muito a simples alimentação e higiene. Devem<br />

ser oferecidas a essas crianças oportunidades<br />

de se movimentar, uma vez que as<br />

mudanças ocorridas nas últimas décadas diminuíram<br />

os espaços em que elas podem brincar,<br />

29 seja por questões de trânsito, violência<br />

ou redução do tamanho das moradias. Ademais,<br />

elas estão indo cada vez mais cedo para<br />

a escola, e lá permanecem cada vez mais tempo<br />

– nas instituições de ensino infantil, podem<br />

ficar mais de nove horas por dia.<br />

Embora poucas correlações significativas<br />

tenham sido identificadas entre medidas<br />

antropométricas e nível de habilidade básica,<br />

as aqui observadas (entre dobra cutânea<br />

subescapular e a habilidade de correr, e entre<br />

perímetro tricipital e a habilidade de chutar)<br />

podem ser consideradas indícios de que tais<br />

medidas são capazes de influir no desempenho<br />

motor. Outras correlações já foram relatadas,<br />

22 sendo necessários mais estudos que<br />

as investiguem, visando a esclarecer a influência<br />

das dimensões corporais na realização<br />

de habilidades motoras.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os dados aqui observados mostram<br />

maior velocidade do crescimento físico nas<br />

meninas e do desenvolvimento das habilidades<br />

motoras básicas nos meninos. A tendência<br />

à obesidade, descrita como um dos problemas<br />

mundiais de saúde nos últimos anos,<br />

não prevaleceu para os sujeitos estudados.<br />

Algumas crianças ainda encontram-se no<br />

nível inicial de desenvolvimento, em todos os<br />

segmentos corporais observados, o que pode<br />

ser resultado das poucas experiências a que<br />

estão sujeitas, com as mudanças ocorridas em<br />

relação a espaço físico, moradia e ida precoce<br />

à escola. Daí a necessidade de que as instituições<br />

de ensino comecem a se preocupar com<br />

as questões do desenvolvimento infantil, de<br />

modo a propiciar experiências que contribuam<br />

com a saúde das crianças.<br />

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Saúde em Revista<br />

Desenvolvimento de Pré-Escolares<br />

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VITOR ANTONIO CERIGNONI COELHO, ET AL.<br />

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física, intervenção e conhecimento científico. Piracicaba: Editora <strong>Unimep</strong>; 2004. p. 35-50.<br />

Submetido: 14/jun./2006<br />

Aprovado: 24/ago./2006<br />

14<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 7-14, 2006


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Efeitos de Práticas Aeróbia e Resistida<br />

em Parâmetros de Saúde de Homens Adultos<br />

Effects of Aerobic and Resisted Practices on<br />

Parameters of Health in Adult Men<br />

IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI *<br />

Professor doutor do Mestrado em<br />

Educação Física – Faculdade de<br />

Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

FABRICIO CESAR DE PAULO<br />

RAVAGNANI<br />

Mestre em educação física –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

CHRISTIANNE DE FARIA<br />

COELHO<br />

Doutoranda no Programa de Pós-<br />

Graduação Iterunidades em<br />

Nutrição Humana – Departamento<br />

de Alimentos<br />

(FCF/PRONUT/USP)<br />

ALEXANDRE HIODEKI OKANO<br />

Doutorando em educação física<br />

(FEF/Unicamp/SP)<br />

* Correspondências: Rod. do<br />

Açúcar, km 156, FACIS, 13400-<br />

911, Piracicaba/SP<br />

ilpelleg@unimep.br<br />

RESUMO O objetivo deste estudo foi verificar o efeito de programas de<br />

exercícios físicos resistido e aeróbio relacionados à saúde de homens<br />

adultos. Utilizaram-se 46 homens, divididos em três grupos: grupo<br />

exercício resistido (GECR: n = 19; 36,3 ± 5,4 anos), grupo exercício<br />

aeróbio (GEA: n = 13; 53,9 ± 5,7 anos) e grupo controle (GC: n = 14;<br />

47,1 ± 9,1 anos). Os programas tiveram a duração de três meses, com<br />

freqüência mínima de três sessões semanais. Avaliações: medidas de<br />

peso corporal, estatura, Índice de Massa Corporal (IMC), capacidade<br />

cardiorrespiratória, flexibilidade e equilíbrio estático. A análise estatística<br />

empregou Anova two-way (atividade e momentos) e Ancova twoway.<br />

Resultados: não houve modificações no peso corporal e no IMC<br />

dos sujeitos, independentemente do treinamento, observando-se tendência<br />

de redução dos valores nos grupos GECR e GEA. Na flexibilidade,<br />

constatou-se diferença significativa entre os grupos. Diferenciação estatística<br />

não ocorreu para o equilíbrio estático nos três grupos. O GEA<br />

apresentou melhoras significativas na capacidade cardiorrespirratória<br />

(10,1%), após os três meses do programa, e o GECR teve discreta<br />

melhora (5%). Concluiu-se que os treinamentos foram eficientes para o<br />

aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde.<br />

Palavras-chave ESFORÇO FÍSICO – APTIDÃO FÍSICA – COMPOSIÇÃO CORPORAL.<br />

ABSTRACT The objective of the study was to assess the effect of various<br />

programs of resistance and aerobic exercise on health in adult men.<br />

Forty six men were selected for the study and divided into three groups:<br />

resistance exercise group (GECR: n = 19; (36.3 ± 5.4 years), aerobic<br />

exercise group (GEA: n = 13; 53.9 ± 5.7 years) and control group (GC:<br />

n = 14; 47.1 ± 9.1 years). The programs lasted three months, with a<br />

minimum frequency of three weekly sessions. Evaluations: Weight,<br />

stature, Index of Corporal Mass (IMC), aerobic capacity, flexibility and<br />

static equilibrium. For statistical analysis, Anova two-way was used<br />

(activity and moments) and Ancova two-way. Results: No significant<br />

change occurred in corporal weight and IMC of the subjects in any<br />

group evaluated, with a tendency of reduction of the values in the<br />

GECR and GEA groups. Flexibility was significantly altered (p < 0,05)<br />

between the groups but the static equilibrium was not. The aerobic<br />

capacity improved significantly in the GEA group (10,1%) after the<br />

three months of the program while the GECR group had a discrete<br />

improvement (5%). The results showed that the training programs were<br />

efficient for improvement of physical health.<br />

Keywords PHYSICAL EFFORT – PHYSICAL FITNESS – BODY COMPOSITION.<br />

Saúde em Revista<br />

Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />

15


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Dados da Organização Pan-Americana<br />

de Saúde 1 apontam que os idosos (idade > 60<br />

anos) representam cerca de 8% da população<br />

total da América Latina e do Caribe, com previsão<br />

de que até 2025 esse índice atinja 14%<br />

ou mais. No Brasil, a população, no ano 2000,<br />

foi estimada em 171,3 milhões de habitantes e<br />

a dos idosos representa 8,6%, equivalente a<br />

14,5 milhões de pessoas. A estimativa do<br />

IBGE 2 é que a média de idade da população<br />

duplicará, entre 1980 e 2050, passando de<br />

20,2 anos para 40 anos.<br />

O envelhecimento ocasiona alterações<br />

metabólicas, fisiológicas e morfológicas, com<br />

conseqüente aumento da prevalência de doenças<br />

crônicas, além de mudanças funcionais,<br />

com prejuízos na realização das atividades<br />

simples da vida diária (AVDs), ou até as<br />

complexas, como exercitar-se. Aliado à diminuição<br />

da capacidade fisiológica inerente à<br />

idade avançada, o declínio funcional e metabólico<br />

nos idosos pode ser atribuído ao menor<br />

nível de atividade física com o avançar<br />

da idade. 3 Estudos apontam que boa classificação<br />

de atividade física reduz os riscos de<br />

doenças cardiovasculares, hipertensão arterial<br />

e osteoporose, entre outras. 4, 5<br />

Por outro lado, a manutenção da habilidade<br />

física e/ou do equilíbrio metabólico<br />

pode estar associada a alguns atributos físicos,<br />

entre eles, composição corporal, flexibilidade,<br />

força e capacidade cardiorrespiratória<br />

(VO 2<br />

máx), ou seja, aos componentes da aptidão<br />

física. 3 Ressalta-se que a flexibilidade é<br />

considerada importante componente da aptidão<br />

física relacionada à saúde. 6 Particularmente<br />

a articulação do quadril, representada<br />

pela flexibilidade do ísquio-tibiais e<br />

paravertebrais declina de 20% a 30%, entre<br />

20 anos e 80 anos de idade. 7<br />

Lee e Blair 4 associaram o condicionamento<br />

cardiorrespiratório e a mortalidade por<br />

acidente vascular cerebral (AVC) em 16.878<br />

homens sem história de enfarto do<br />

miocárdio, AVC ou câncer, divididos em três<br />

grupos (baixo, médio e alto condicionamento<br />

cardiorrespiratório). Os autores apontaram<br />

que os grupos altamente e moderadamente<br />

condicionados tiveram 65% a 72% menos<br />

risco de morrer por AVC, quando comparados<br />

ao grupo com baixo condicionamento.<br />

No entanto, a melhora na condição de<br />

saúde obtida por meio da prática de atividades<br />

físicas depende de uma prescrição de exercícios<br />

físicos adequada à idade biológica do indivíduo,<br />

com controle de intensidade, freqüência e<br />

duração, embora a literatura não apresente um<br />

programa específico com abrangência mais<br />

eficiente para melhora da aptidão física. 4, 5<br />

Dessa forma, avaliar os efeitos de programas<br />

definidos de exercícios sobre a aptidão<br />

física associada à saúde torna-se relevante.<br />

Nesse contexto, o objetivo deste<br />

estudo foi pesquisar o efeito de dois programas<br />

de exercício físico (predominantemente<br />

aeróbio e resistido) sobre os componentes<br />

da aptidão física relacionada à saúde de<br />

adultos do sexo masculino.<br />

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

Amostra<br />

A amostra envolveu indivíduos associados<br />

do Clube Associação Atlética Botucatuense,<br />

em Botucatu (SP), os quais deveriam<br />

inscrever-se em um dos programas de exercícios<br />

físicos supervisionados: aeróbio ou resistido.<br />

Foi escolhida de forma intencional,<br />

utilizando os seguintes critérios de inclusão<br />

ou exclusão: todos os participantes precisariam<br />

ter idade mínima de 30 anos e máxima de<br />

60 anos, caracterizados como adultos e não<br />

idosos, 8 do sexo masculino e apresentando<br />

freqüência mínima, ao protocolo de exercícios,<br />

de três sessões semanais. Exclusão dos<br />

indivíduos que faziam uso de medicamentos<br />

que alterassem a freqüência cardíaca, os classificados<br />

como muito ativos pelo questionário<br />

de atividades físicas habituais 9 e os que<br />

responderam “sim” para alguma das sete al-<br />

16<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

ternativas, no questionário (PAR-Q) proposto<br />

pelo American College of Sports Medicine<br />

(ACSM). 10<br />

Selecionaram-se 46 indivíduos, subdivididos<br />

em três grupos: grupo exercício contraresistência<br />

(GECR), composto por 19 homens<br />

(36,3 ± 5,4 anos), grupo exercício aeróbio<br />

(GEA), com 13 homens (53,9 ± 5,7 anos) e<br />

grupo controle (GC), formado por 14 homens<br />

(47,1 ± 9,1 anos). Todos eles receberam informações<br />

sobre a proposta do estudo e assinaram<br />

o termo de consentimento livre e esclarecido.<br />

O trabalho foi aprovado pelo Comitê de<br />

Ética em Pesquisa da UNIMEP, sob o protocolo<br />

n.º 50/05, de acordo com a resolução 196/96,<br />

do Conselho Nacional de Saúde.<br />

Programa de Exercícios Físicos<br />

Os programas foram oferecidos cinco<br />

vezes por semana e tiveram três meses de<br />

duração. O treinamento aeróbio envolveu<br />

exercícios como caminhada ou corrida, com<br />

intensidades entre 65% e 85% da freqüência<br />

cardíaca máxima, adotando a fórmula 220-<br />

idade. Acrescentaram-se, no treinamento<br />

aeróbio, exercícios resistidos para resistência<br />

muscular localizada (RML), empregando<br />

pesos livres e alongamento, totalizando 40%<br />

da sessão, de acordo com as diretrizes do<br />

ACSM. 10 A duração total de cada sessão era<br />

de 85 minutos, contemplando os principais<br />

grupos musculares.<br />

O protocolo de treinamento resistido<br />

consiste em quatro etapas: iniciante I (uma<br />

semana); iniciante II, fase 1 (uma semana);<br />

iniciante II, fase 2 (duas semanas): alteração<br />

de carga e variações dos exercícios; e intermediário<br />

(dois meses): exercícios aplicados<br />

nas fases anteriores para os membros superiores,<br />

inferiores e tronco.<br />

Avaliações<br />

Para a medição do peso corporal, utilizou-se<br />

uma balança digital da marca Filizola ®<br />

e para a da estatura, estadiômetro fixo à parede<br />

com haste móvel. O índice de massa corporal<br />

(IMC) foi calculado por meio do quociente<br />

peso corporal (kg) dividido pela estatura<br />

(m) ao quadrado, de acordo com WHOO. 11<br />

A avaliação da flexibilidade de tronco<br />

utilizou o banco de Wells. 12 Os indivíduos<br />

foram classificados de acordo com a proposta<br />

de Pollock e Wilmore. 12 A verificação do equilíbrio<br />

estático, proposto por Rikli e Jones, 13<br />

envolveu o seguinte teste: ao sinal, o avaliado<br />

tirava um dos pés do chão, flexionando a perna<br />

até a altura do joelho, devendo manter a<br />

posição durante 30 segundos. O resultado era<br />

a média de três tentativas.<br />

O consumo máximo de oxigênio<br />

(VO 2<br />

máx) valeu-se do teste indireto da caminhada<br />

da milha, em uma pista de 400 metros,<br />

para avaliação cardiorrespiratória. O avaliador<br />

marcou o tempo e a freqüência cardíaca<br />

(FC) ao final do teste, por meio de monitor<br />

de FC- Polar®Edge NV.<br />

Para o cálculo do VO 2<br />

máx foi utilizada<br />

a fórmula proposta por Kline et al, 14 observando<br />

a classificação American Heart<br />

Association, citada por Marins e Gianichini. 15<br />

Para a análise estatística empregou-se<br />

Anova two-way (atividade e momentos).<br />

Quando os grupos já eram diferentes no<br />

momento inicial (linha de base), adotou-se<br />

Ancova two-way. O nível de significância era<br />

p < 0,05.<br />

RESULTADOS<br />

Resultados de peso corporal e composição<br />

corporal dos grupos inicial e final fora,<br />

respectivamente, GECR: 78,43 ± 9,54, 77,91<br />

± 9,30; GEA: 83,91 ± 12,30, 83,06 ± 11,97;<br />

Controle: 81,75 ± 11,54, 82,49 ± 11,96; com<br />

os valores GECR: 25,36 ± 2,85, 25,18 ±<br />

2,70; GEA: 28,35 ± 3,35, 28,72 ± 3,71; Controle:<br />

26,08 ± 3,18, 26,89 ± 4,05. Mediante o<br />

emprego da ANCOVA, encontraram-se diferenças<br />

significativas entre os grupos, quanto<br />

ao peso corporal e ao Índice de Massa Cor-<br />

Saúde em Revista<br />

Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />

17


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

poral (IMC) no início, sendo ambos maiores<br />

no GEA que nos demais. Não houve modificações<br />

no peso corporal e no IMC dos sujeitos,<br />

independentemente da atividade realizada<br />

no período de treinamento (dados expressos<br />

na tabela 1).<br />

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis do desempenho motor: flexibilidade, equilíbrio e<br />

consumo máximo de oxigênio e respectivos resultados do teste estatístico, segundo os grupos de<br />

atividade e momentos (M0 e M1).<br />

Letras diferentes = diferença estatisticamente significante entre os grupos, no momento M0 (p < 0,05);<br />

Ω Diferença estatisticamente significante em relação ao momento M1 (p < 0,05).<br />

No que se refere à flexibilidade, diferenças<br />

significantes entre os grupos, na linha<br />

de base, foram tratadas com Ancova. Após<br />

os três meses, houve aumento significativo<br />

de aproximadamente 2 cm ou 12% nos níveis<br />

de flexibilidade nos grupos GECR e GEA. O<br />

grupo controle apresentou redução dos valores<br />

(aproximadamente 10%), porém, não significativa.<br />

Não foram encontradas diferenças<br />

significativas entre os grupos para o equilíbrio<br />

estático. Os grupos treinados suportaram<br />

os 30 segundos.<br />

O indicador de VO 2<br />

máx apontou diferenças<br />

significantes entre os grupos, na linha de<br />

base, tratadas com Ancova. Embora o grupo<br />

GEA tenha apresentado valores inferiores aos<br />

demais, no início do estudo, obteve melhoras<br />

significativas no VO 2<br />

máx de 10,1%, após os<br />

três meses do programa. Nota-se, também,<br />

melhora discreta nos valores de VO 2<br />

máx no<br />

GECR de 4,9% e decréscimo no GC de 4,75<br />

%, porém, não significativos.<br />

A classificação dos grupos quanto aos<br />

padrões de referência para a composição<br />

corporal, segundo os momentos do estudo,<br />

de acordo com WHOO, 11 Pollock e<br />

Wilmore, 12 ACSM, 10 demonstrou que no início<br />

do estudo (M0) todos os grupos foram<br />

classificados como pré-obesos, ou seja,<br />

apresentaram IMC entre 25 kg/m 2 e 29,9 kg/<br />

m 2 . Após os três meses, todos permaneceram<br />

com a mesma classificação.<br />

A classificação dos grupos em relação<br />

aos padrões de referência para os testes de<br />

flexibilidade não se alterou durante a intervenção.<br />

Os valores médios do VO 2<br />

máx, no<br />

início, indicavam aptidão cardiorrespiratória<br />

regular dos indivíduos dos três grupos e,<br />

18<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

após os três meses, os grupos GECR e GEA<br />

sofreram reclassificação, passando para boa<br />

aptidão, enquanto o grupo controle não apresentou<br />

reclassificação.<br />

DISCUSSÃO<br />

Na literatura, é consenso que a forma<br />

mais aceita de melhorar consideravelmente a<br />

aptidão física são as atividades físicas. No<br />

entanto, existe controvérsia em relação ao<br />

tipo dessa atividade adequado para obter<br />

mais benefícios à saúde. 16<br />

Os programas tomaram por base as recomendações<br />

e os consensos nacionais e internacionais,<br />

10, 17, 18. 19 levando em conta que,<br />

a partir dos 30 anos de idade, observa-se a<br />

maior parte dos declínios fisiológicos. 20 No<br />

presente trabalho, os resultados mostram que<br />

o grupo mais jovem (GECR) apresentou<br />

melhores valores para todas as variáveis<br />

antropométricas. Esse fator torna-se importante<br />

pela presença de trabalhos indicando<br />

que, com o avançar da idade, eleva-se a<br />

adiposidade corpórea central e total, e reduzem-se<br />

a massa corporal magra e a taxa metabólica<br />

de repouso, aumentando a ocorrência<br />

da obesidade. 19<br />

No entanto, embora o grupo mais jovem<br />

tenha apresentado melhores valores das<br />

variáveis no início deste estudo, não foi<br />

considerada a idade como fator capaz de<br />

afetar a relação entre as variáveis independentes<br />

(treinamento aeróbio e resistido) e<br />

dependentes (composição corporal e flexibilidade).<br />

Isso porque pesquisas com idosos<br />

demonstram que eles têm capacidade semelhante<br />

a dos jovens, nas respostas ao treinamento,<br />

nas modificações da composição<br />

corporal 21, 19 21, 22<br />

e do desempenho motor.<br />

Após três meses, não houve melhora no<br />

IMC e no peso corporal, semelhantemente<br />

ao estudo de Ravagnani et al. 23<br />

Cunha, Cunha Jr. 24 avaliaram em idosos<br />

se existia diferença significativa entre os<br />

componentes da aptidão física associada à<br />

saúde (VO 2<br />

máx, força, flexibilidade e composição<br />

corporal), advindos de um programa<br />

de condicionamento físico geral (atividades<br />

aeróbias, musculação e RML e de relaxamento),<br />

durante 10 meses, em 12 mulheres<br />

e oito homens. Os resultados não apresentaram<br />

melhoras significativas, apenas pequeno<br />

decréscimo percentual. Alterações discretas<br />

no IMC também foram encontradas em outros<br />

estudos.<br />

21, 22<br />

Embora o exercício aeróbio seja aceito<br />

como o mais eficiente na modificação das<br />

reservas de gordura corporal, ainda se discute<br />

a eficácia dos exercícios resistidos sobre a<br />

composição corporal. 21, 22, 23 Como eles são os<br />

promotores de ganhos significativos da massa<br />

livre de gordura, pode-se considerar que,<br />

no presente estudo, essa seja a explicação<br />

mais plausível para a discreta redução do<br />

IMC apenas no GECR. Volek et al. 25 apontam<br />

que os ganhos de força muscular produzidos<br />

pelo treinamento contra-resistência<br />

auxiliam os indivíduos no desempenho de<br />

diversas tarefas do dia-a-dia.<br />

A inatividade física aumenta a degeneração<br />

das fibras de colágeno e o encurtamento<br />

da fibra muscular, reduz a viscosidade do<br />

líquido sinovial e atrofia as fibras musculares,<br />

19 reduzindo, dessa forma, a flexibilidade<br />

entre indivíduos sedentários. Essa última é o<br />

único componente motor que atinge seu auge<br />

na infância, piorando em seguida, se não for<br />

devidamente trabalhada. O envelhecimento<br />

provoca diminuição da amplitude de movimento<br />

que pode ser superior a 50%. 19<br />

Embora a flexibilidade dos indivíduos<br />

do GECR, neste trabalho, tenha sido menor<br />

em relação ao grupo com maior idade, contrariando<br />

o descrito anteriormente, nota-se<br />

que os dois grupos envolvidos nos programas<br />

de exercício apresentaram respostas semelhantes<br />

ao treinamento, aumentando cerca de<br />

12% os valores iniciais. Esses dados estão de<br />

acordo com os de Cyrino et al. 26 Considerando<br />

também que a amplitude de movimento<br />

de uma articulação depende do seu nível de<br />

Saúde em Revista<br />

Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />

19


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

utilização (além dos fatores genéticos), sugere-se<br />

que os dois programas de treinamento<br />

aqui adotados ofereceram estímulo suficiente<br />

para aumentar a flexibilidade dos indivíduos,<br />

pois ambos envolviam exercícios de alongamento<br />

como forma de aquecimento.<br />

Assim como ocorre com os outros componentes<br />

da aptidão física relacionada à saúde,<br />

a capacidade de adaptação a mudanças<br />

bruscas do centro de gravidade (equilíbrio)<br />

também reduz com a idade. Segundo Daley e<br />

Spinks, 27 o tempo de equilíbrio mantido por<br />

jovens é de cerca de 22 segundos, contra<br />

apenas 13 segundos nos idosos. Neste trabalho,<br />

o tempo de equilíbrio de aproximadamente<br />

29 segundos foi semelhante entre os<br />

grupos e superiores aos relatados por aqueles<br />

autores. 27 No entanto, observa-se que nenhum<br />

grupo obteve melhoras significativas<br />

dos valores, após os três meses. E apesar de<br />

não significativo, houve aumento de aproximadamente<br />

4% dos valores apenas nos grupos<br />

exercitados, que atingiram o tempo máximo<br />

possível (30 segundos), diferentemente<br />

do grupo controle, que apresentou tendência<br />

de redução no tempo em equilíbrio.<br />

A capacidade cardiorrespiratória expressa<br />

pelo valor de VO 2<br />

máx aumentou significativamente,<br />

após os três meses de programa,<br />

apenas no GEA, mesmo dando-se a avaliação<br />

de forma indireta, corroborando os dados de<br />

Wachins et al. 28 Eles conduziram um estudo<br />

de intervenção comportamental, com o objetivo<br />

de comparar os efeitos do exercício isoladamente<br />

(EX) aos do exercício aliado à<br />

dieta (EX+D) ou controle (C) sobre diversos<br />

fatores de risco cardiovasculares, associados<br />

à síndrome metabólica de homens e mulheres<br />

com idade superior a 29 anos. Após seis<br />

meses de atividade, detectaram aumento significativo<br />

de 20% no VO 2<br />

máx.<br />

Esse aumento percentual pode ser observado<br />

também entre idosos. O estudo de<br />

Volek et al. 25 mostrou acréscimos de 9,99%<br />

no VO 2<br />

máx (avaliado pelo teste da milha) de<br />

homens idosos, após dez meses de programa<br />

de condicionamento físico geral (atividades<br />

aeróbias, musculação e RML e de relaxamento).<br />

Tais valores confirmam os descritos<br />

pelo ACSM 10 e por Marks, 29 que sugerem<br />

aumentos entre 10% e 25% no VO 2<br />

máx tanto<br />

de indivíduos jovens quanto de idosos participantes<br />

de exercícios aeróbios.<br />

No presente estudo, o aumento de 4,9%<br />

no VO 2<br />

máx obtido pelo GECR corresponde<br />

a 50% menos do observado no GEA. Embora<br />

esse aumento não tenha sido significativo,<br />

o GECR, assim como o GEA apresentaram<br />

reclassificação da condição de aptidão,<br />

de regular para boa, tornando esses resultados<br />

relevantes do ponto de vista biológico,<br />

e não apenas numérico. Essa melhora revelou-se<br />

inferior a do trabalho de Antoniazzi<br />

et al., 30 que encontraram aumentos de 16%<br />

nos valores de VO 2<br />

máx de homens idosos e<br />

de meia-idade, submetidos a um programa<br />

tradicional de treinamento com pesos, durante<br />

três meses.<br />

A melhora da capacidade cardiorrespiratória<br />

aqui observada é semelhante à descrita<br />

pelo ACSM, 10 que afirma que o treinamento<br />

resistido pode induzir aumentos<br />

marginais (5% a 10%) no VO 2<br />

máx, quando<br />

há em conjunto percentuais de atividades<br />

aeróbias. Isso se deve ao fato de que o treinamento<br />

resistido contemplava caminhada de<br />

dez a 20 minutos, com intensidade entre 65%<br />

e 85% da freqüência cardíaca máxima, como<br />

atividade de aquecimento. Assim, a condição<br />

física desejável de VO 2<br />

máx, produzida tanto<br />

pelo treinamento aeróbio como pelo resistido,<br />

associa-se aqui à melhora dos sistemas<br />

neuromuscular e cardiovascular.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os dois programas aplicados se constituíram<br />

como meio efetivo de minimizar o<br />

declínio fisiológico, morfológico e funcional<br />

do envelhecimento, pois, nos dois grupos,<br />

proporcionaram a reclassificação da aptidão<br />

física de regular para boa.<br />

20<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

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Saúde em Revista<br />

Exercícios Físicos na Saúde de Homens Adultos<br />

21


IDICO LUIZ PELLEGRINOTTI, ET AL.<br />

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Submetido: 30/maio/2006<br />

Aprovado: 15/ago./2006<br />

22<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 15-22, 2006


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Relação entre Exercício Físico de Alta<br />

Intensidade e o Lactato Sangüíneo, em ratos<br />

Relationship between High Intensity Exercise<br />

and Blood Lactate in Rats<br />

ANA PAULA TANNO<br />

Farmacêutica e mestre em<br />

odontologia –<br />

Departamento de Ciências<br />

Fisiológicas (FAM/SP)<br />

TATIANA SOUSA CUNHA<br />

Fisioterapeuta e mestre em<br />

odontologia –<br />

Departamento de Ciências Fisiológicas<br />

(FOP/Unicamp/SP)<br />

MARIA JOSÉ COSTA SAMPAIO<br />

MOURA<br />

Biomédica, mestre e doutora em<br />

ciências – Centro de Ciências da<br />

Vida (PUCCamp/SP)<br />

FERNANDA KLEIN MARCONDES *<br />

Bióloga, mestre em ciências<br />

biológicas e doutora em ciências –<br />

Departamento de Ciências<br />

Fisiológicas (FOP/Unicamp/SP)<br />

* Correspondências: Av. Limeira,<br />

901, 13414-903, Dep. de Ciências<br />

Fisiológicas, Piracicaba/SP<br />

fklein@fop.unicamp.br<br />

RESUMO Apesar de existirem muitos estudos sobre as adaptações<br />

desencadeadas pelo treinamento físico aeróbio em animais de laboratório,<br />

pouco se sabe a respeito dos efeitos promovidos pelo treinamento<br />

resistido de alta intensidade (AI). O objetivo deste estudo foi verificar<br />

se o exercício físico resistido de AI promove elevação da concentração<br />

sangüínea de lactato (L) acima do máximo estado estável do metabólito<br />

(5,5 mmol/L). Ratos machos foram submetidos a uma sessão de salto<br />

com peso na água (quatro séries/10 repetições por série/30 segundos de<br />

intervalo entre as séries), com sobrecarga equivalente a 50% do peso<br />

corporal. Amostras sangüíneas foram coletadas antes e durante o exercício,<br />

e a concentração de L foi determinada. Registrou-se o tempo<br />

gasto para realização das repetições durante cada série. No repouso, a<br />

concentração sangüínea de L foi 1,44 ± 0,10 mmol/L. Séries repetidas<br />

do exercício resultaram em aumento significativo (p < 0,01) da concentração<br />

sangüínea de L: após a 1.ª série = 3,00 ± 0,21, 2.ª série = 5,12<br />

± 0,30, 3.ª série = 6,52 ± 0,11 e 4.ª série = 8,64 ± 0,23 (mmol/L). Não<br />

houve diferença significativa do tempo gasto para a realização das repetições.<br />

Esses resultados confirmam o caráter anaeróbio do protocolo<br />

de treinamento resistido de AI, podendo ser um modelo para estudos<br />

experimentais sobre capacidade anaeróbia e contribuindo na compreensão<br />

das adaptações que ocorreriam em humanos.<br />

Palavras-chave ÁCIDO LÁCTICO – EXERCÍCIO – LEVANTAMENTO DE PESO.<br />

ABSTRACT Despite the large amount of studies about the effects obtained<br />

in response to the use of aerobic protocols in lab animals, little is<br />

known about high-resistance training programs. The aim of this study<br />

was to verify if high-resistance protocol promotes rise in blood lactate<br />

(L) concentration higher than the maximal lactate steady state (5.5<br />

mmol/L). Male rats were submitted to one session of weight lifting in<br />

water (4 sets of jumps/10 repetitions/30 seconds rest between each set),<br />

carrying an overload of 50% of body weight. Blood samples were<br />

collected before and during the exercise protocol, and blood L<br />

concentration was determined. The time spent to perform the repetitions<br />

during each set was recorded. In state of rest, blood L concentration<br />

was 1.44 ± 0.10 mmol/L. Repeated sets of exercise resulted in<br />

significant (p < 0.01) enhancement of blood L concentration: after 1st<br />

set = 3.00 ± 0.21, 2nd set = 5.12 ± 0.30, 3rd set = 6.52 ± 0.11 and 4th<br />

set = 8.64 ± 0.23 (mmol/L). There was no statistical difference on the<br />

times spent to perform the repetitions during each set. These data<br />

confirm the anaerobic character of the high-resistance exercise protocol<br />

used. Thus, it could be a helpful model for use in experimental studies<br />

about anaerobic capacity and ways to improve it, as the first step to<br />

understanding the adaptations that might occur in humans.<br />

Keywords LACTIC ACID – EXERCISE – WEIGHT LIFTING.<br />

Saúde em Revista<br />

Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />

23


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

INTRODUCTION<br />

It is becoming increasingly clear that a<br />

person’s health and well-being are improved<br />

by physical activity. In this context, physical<br />

activity should be viewed as providing<br />

stimuli that stress many systems of the body<br />

to various degrees and thus promote very<br />

specific and varied adaptations according to<br />

the type, intensity, and duration of the exercise<br />

performed. 1<br />

Numerous studies have addressed<br />

substrate metabolism during exercise, but the<br />

exact relation between exercise intensity and<br />

substrate mobilization from different endogenous<br />

stores has not been fully elucidated. 2 It<br />

is known that the use of each energetic<br />

substrate is related to the intensity and duration<br />

of the exercise performed. For obvious<br />

reasons, a significant number of these studies<br />

have been conducted on laboratory animals<br />

and almost all of them used exercise<br />

protocols of low and moderate intensity,<br />

which have already been characterized. 3<br />

Despite the large amount of information<br />

about the effects obtained in response to the<br />

use of aerobic protocols in rats, little is<br />

known about high-resistance training programs<br />

that are associated with increased body<br />

weight, lean body mass, muscle cross-sectional<br />

area and glycogen storage capacity. 4, 5<br />

The use of swimming rats as a model of high<br />

intensity exercise presents advantages over<br />

the others, since swimming is a natural ability<br />

of the rat, thus avoiding selection of animals,<br />

which is necessary in experimental protocols<br />

using treadmill running. 6 In this case, incremental<br />

exercise is obtained by adding progressively<br />

heavier loads in relation to body<br />

weight, attached to the animal’s chest or tail.<br />

The major limitation of swimming studies is<br />

the lack of knowing the effort intensity of the<br />

rat’s performance.<br />

A tool, widely used for determining effort<br />

intensity during exercise is the blood lactate<br />

concentration. In human subjects blood<br />

lactate concentration increases exponentially<br />

with exercise intensity. The break point in<br />

the blood lactate vs workload curve during<br />

incremental exercise has been termed the<br />

blood lactate threshold or anaerobic threshold<br />

(AT); 7 although anaerobioses as the sole<br />

cause of accelerated lactate production has<br />

been questioned. 8, 9 In rats this procedure is<br />

limited by the small amount of information<br />

available concerning lactate kinetics during<br />

exercise. Only few studies dealing with lactate<br />

threshold determinations in rats have<br />

been reported in the literature, most of them<br />

10, 11<br />

using treadmill running as an ergometer.<br />

According to Gobatto et al. 12 the maximal<br />

lactate steady state, for sedentary rats<br />

submitted to acute swimming exercise, occurs<br />

at blood lactate concentrations of 5.5<br />

mmol/L. On the other hand, Pilis et al. 11<br />

found an anaerobic threshold at blood lactate<br />

concentration of approximately 4 mmol/L in<br />

rats during a treadmill exercise test. Also in<br />

humans, these differences are probably found<br />

because of the type of exercise used (running<br />

or swimming) to determine the value of<br />

blood lactate at AT.<br />

Thus, this study was designed to verify<br />

if the protocol of jumping up and down into<br />

the water carrying a load (high-resistance exercise<br />

protocol) 4, 5 promotes rise in blood lactate<br />

to upon the maximal lactate steady state<br />

(5.5 mmol/L established by Gobatto et al. 12 ).<br />

Understanding the kinetics of lactate using<br />

the protocol of weigh lifting in the water,<br />

which seems to be less stressful than the others,<br />

and proving its anaerobic characteristic,<br />

it could be used in further studies on the role<br />

of energetic substrates, like glycogen, in this<br />

type of exercise.<br />

METHODS<br />

Animals: the experiments were approved<br />

by the institutional Committee for Ethics in<br />

Animal Research (Unicamp/COBEA – protocol<br />

number 391-1) and were conducted in<br />

24<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 23-29, 2006


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

conformance with the policy statement of the<br />

American College of Sports Medicine on<br />

research with experimental animals. Male<br />

Wistar rats, 60 days old, weighing 250-300g<br />

were used for this study. Animals were<br />

housed in a collective cage (three or four rats<br />

per cage), in a temperature-controlled room<br />

(22°C ± 2°C) with lights on from 6 am to 6<br />

pm. Animals received commercial chow for<br />

rodents and filtered water ad libitum.<br />

Adaptation to the water: all rats were<br />

adapted to the water before the experiment<br />

began. The adaptation consisted of sessions<br />

of weight lifting (once a day for five days) in<br />

water at 30°C ± 2°C 13 , with incremental<br />

number of sets (two to four) and repetitions<br />

(five to ten) and 30 seconds rest between<br />

each set, carrying a load of 50% body weight<br />

strapped to the chest. The sessions were performed<br />

between 1-2 pm and on the last day<br />

of the adaptation period, the animals were<br />

performing four sets of ten repetitions (lifts).<br />

The purpose of the adaptation was to reduce<br />

the stress without, however, promoting<br />

physical adaptation.<br />

Exercise-test protocol: before the exercise-test<br />

protocol started, a blood sample was<br />

collected for determining lactate in the state<br />

of rest. Then the rats, carrying an overload of<br />

50% of body weight strapped to the chest,<br />

were individually submitted to one session of<br />

weight lifting (fig. 1). The session of weight<br />

lifting consisted of four sets of jumps (ten<br />

repetitions per set), with 30 seconds rest between<br />

each set. 4, 5, 14 A jump repetition was<br />

counted only if the rat put its snout out of the<br />

water. Using a stopwatch, the time spent to<br />

perform ten repetitions during each set was<br />

recorded. During the rest period, new blood<br />

samples were taken for lactate measurements.<br />

Blood samples and lactate analysis:<br />

blood samples (25 µL) were collected from a<br />

cut at the tail tip before and during the highresistance<br />

exercise protocol, and deposited in<br />

Eppendorf tubs (1.5 µL capacity) containing<br />

50 µL sodium fluoride (1%). To avoid blood<br />

dilution with residual water on the animal’s<br />

tail, the rats were quickly dried with a towel<br />

immediately before blood collection. The lactate<br />

concentrations were determined using a<br />

lactate analyzer (YSI model 1500 SPORT). 15<br />

Statistical analysis: data are presented<br />

as mean ± S.E.M. Analysis of differences<br />

regarding blood lactate concentration and<br />

the time spent to do ten repetitions during<br />

each set was performed using a repeated<br />

measures analysis of variance (one-way<br />

Anova). When necessary, the Tukey-Kramer<br />

post-hoc comparison test was used. The statistical<br />

significance was set at p < 0.01.<br />

Figure 1. Illustration of the exercise protocol (jumping up and down in water or weigh lifting in water).<br />

The dimensions of the plastic tank used to perform the training are shown in the figure.<br />

Saúde em Revista<br />

Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />

25


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

RESULTS<br />

In figure 2, the data about blood lactate<br />

concentration in state of rest and after each<br />

one of four sets of high-intensity exercise in<br />

water are presented. In the state of rest, the<br />

blood lactate concentration of the sedentary<br />

rats was 1.44 ± 0.10 mmol/L. Repeated sets<br />

of high-intensity exercise resulted in significant<br />

enhancement of blood lactate concentration,<br />

as follows: after first set = 3.00 ± 0.21<br />

mmol/L, second set = 5.12 ± 0.30 mmol/L,<br />

third set = 6.52 ± 0.11 mmol/L and after the<br />

fourth set = 8.64 ± 0.23 mmol/L (p < 0.01).<br />

The data about the time spent to perform<br />

each set of ten jump repetitions are presented<br />

in Table 1. There were no statistical differences<br />

on the times spent during each set.<br />

Figure 2. Blood lactate concentrations (mmol/L)<br />

during high-resistance exercise protocol (weight<br />

lifting in water), carrying an overload of 50% body<br />

weight (n = 7). Results are mean ± S.E.M. Different<br />

letters mean significant differences (p < 0.01).<br />

DISCUSSION<br />

Table 1. Time spent (s) to perform ten jump<br />

repetitions during each one of four sets of the<br />

high-resistance exercise protocol (weight lifting in<br />

water), carrying an overload of 50% body weight.<br />

Sets N Time (s) a<br />

First 7 22 ± 1.32<br />

Second 7 20.83 ± 1.41<br />

Third 7 22.33 ± 1.42<br />

Fourth 7 26.24 ± 3.75<br />

a<br />

Mean ± S.E.M<br />

Many studies have been carried out to<br />

design experimental models for inducing<br />

muscle hypertrophy in laboratory animals<br />

using treadmill, swimming, and other training<br />

4, 5,<br />

apparatus simulating human weigh lifting.<br />

16<br />

However, it is clear that without a systematic<br />

approach to the investigation of the phenomenon,<br />

there is a lack of control and manipulation<br />

of the independent variables,<br />

which makes its difficult to test the validity<br />

of these models. 17 Another problem is the<br />

stress caused by these high intensity exercise<br />

protocols since some of them use electrical<br />

stimuli (foot shock) to force the animals to<br />

perform the exercise.<br />

It has been already demonstrated that the<br />

high-resistance exercise protocol used in this<br />

study 14 is efficient for inducing skeletal muscle<br />

hypertrophy in rats. 18 Resistance training is<br />

a physiological challenge that can promote<br />

hypertrophic responses in both human and<br />

animal models 19 since hypertrophic growth of<br />

skeletal muscle is stimulated by short bursts of<br />

muscle activity against high resistance. Muscle<br />

hypertrophy is induced throughout a process<br />

of satellite cell activation, proliferation,<br />

chemotaxis, and fusion to existing myofibers.<br />

Although there are still a number of questions<br />

with regard to the role of the satellite cell in<br />

muscle remodeling, the primary physiological<br />

consequence of the hypertrophic response is<br />

to produce a muscle with a greater capacity<br />

for peak force generation. 20<br />

In addition to the hypertrophic character<br />

of the protocol used in this work, the data<br />

now confirm its anaerobic nature, based on<br />

the value of the blood lactate concentration<br />

26<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 23-29, 2006


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

after the sets of jumps. The rats did not show<br />

difficulty in performing the protocol and it<br />

produced hyperlactemia. As can be seen, the<br />

blood lactate concentration enhanced as the<br />

sets were performed and after the third set of<br />

jumps, it was higher than that of the anaerobic<br />

threshold established by Gobatto et al. 12<br />

Irrespective of the characteristics of the<br />

exercise performed, energy is required to<br />

produce work (in this case, to produce the<br />

contractile activity). Carbohydrate, fat, and<br />

protein, obtained either directly from daily<br />

meals or from endogenous stores in the body,<br />

provide the substrates that fuel the chemical<br />

reactions that in turn are catalyzed by enzymes<br />

and cofactors. In these reactions, the<br />

chemical energy of substrates is converted to<br />

an energetic compound that cells can harness,<br />

namely adenosine triphosphate (ATP). 21<br />

Then, the ATP hydrolysis to adenosine diphosphate<br />

(ADP) and inorganic phosphate<br />

(Pi) provides the energy required for contractile<br />

activity. ATP can be re-synthesized<br />

anaerobically from phosphocreatine (PCr),<br />

through the creatine kinase reaction, or from<br />

glycolitic process in the sarcoplasma. 22 The<br />

glycolitic process represents the initial stage<br />

of glucose and glycogen metabolism and<br />

leads to pyruvate or lactate production. 23<br />

Moreover, ATP can also be re-synthesized<br />

aerobically, within the mitochondria, by<br />

chemical reactions that consume oxygen<br />

(oxidative phosphorylation). 24<br />

It is known that intense exercises of<br />

short duration, like that used in this work,<br />

are heavily dependent on energy from<br />

anaerobic sources. Many studies have demonstrated<br />

that glycogen in liver and skeletal<br />

muscles is important to maintain physical<br />

performance during exercise, 25 mainly if its<br />

duration is between approximately eight and<br />

thirty five seconds. Thus, this work demonstrated<br />

that the mean period of time spent to<br />

perform each set of ten jumps in water was<br />

not longer than thirty seconds. It also emphasizes<br />

that energy production during this<br />

type of exercise is primarily dependent on<br />

the anaerobic pathway.<br />

During the type of exercise used in this<br />

study, there is a large breakdown of glycogen,<br />

and it may reappear as hexose phosphates or<br />

as lactate (it is important to remember that in<br />

the presence of oxygen it can also be fully<br />

oxidized). The increasing demand for<br />

glycolitic energy production promotes a decrease<br />

in intracellular pH during progressive<br />

work 26 because the lactate production exceeds<br />

the bicarbonate buffering capacity, and part of<br />

lactate produced may be transferred from<br />

muscle to blood. 27 Thus, it explains the elevation<br />

in blood lactate concentration as the sets<br />

of jumps were performed. The extent to which<br />

lactate increases in the blood can be altered by<br />

fitness or with training. 28<br />

It is important to mention that some<br />

authors make reservation about the use of<br />

lactate concentration as a direct index of lactate<br />

production by muscles, because muscles<br />

as well as others tissues and organs are also<br />

consumers of lactate by oxidative metabolism<br />

for their energetic needs. 29 However, it remains<br />

a widely used tool in the exercise<br />

physiology laboratory for understanding the<br />

characteristics of the exercise performed.<br />

A misconception that continues to be<br />

widespread is the idea that lactate is the<br />

major cause of both fatigue during exercise<br />

and post exercise muscle soreness. In fact,<br />

lactate has little direct effect on either, even<br />

during short bouts of exercise of relatively<br />

high intensity. Rather than lactate causing<br />

fatigue per se, it is the accumulation of H +<br />

ions during glycolysis that contributes to fatigue.<br />

High concentrations of H + lower the<br />

blood pH which adversely influences energy<br />

production and muscle contraction. 10 Despite<br />

there being no significant differences in the<br />

time spent to perform the exercise between<br />

the four sets, it can be seen that the time<br />

spent on the last set of jumps was longer<br />

than the others, indicating that the occurrence<br />

of this phenomenon, in response to this pro-<br />

Saúde em Revista<br />

Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />

27


FERNANDA KLEIN MARCONDES, ET AL.<br />

tocol, might start at this point. Probably if<br />

there were a fifth set of jumps, the time spent<br />

might be longer than the previous one, since<br />

there was only thirty seconds between each<br />

set to re-establish the glycogen stores.<br />

Successful subjects in anaerobic types<br />

of sports may therefore have a larger anaerobic<br />

capacity and be able to release energy at<br />

a higher rate. It has already been shown that<br />

performances in these kinds of sports are<br />

improved by training, suggesting that anaerobic<br />

capacity is trainable. 30 We know that<br />

there are metabolic differences between humans<br />

and rats and that quantitative differences<br />

in some physiological parameters,<br />

would be found. But we must emphasize that<br />

the general principles that regulate some of<br />

them are valid for both species. Therefore,<br />

after the confirmation of the anaerobic character<br />

of this protocol, one believes it could<br />

be a helpful model for use in experimental<br />

studies about anaerobic capacity and ways to<br />

improve it, as the first step to understanding<br />

the adaptations that could occur in humans.<br />

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Submetido: 24/mar./2006<br />

Aprovado: 15/ago./2006<br />

Agradecimentos<br />

As autoras agradecem aos professores doutores<br />

Sérgio Eduardo de Andrade Perez, Cássio<br />

M. Robert-Pires e Vilmar Baldissera pelo<br />

uso do laboratório para as dosagens de<br />

lactato, ao senhor José Carlos Lopes pelo auxílio<br />

técnico, a César Acconci pela elaboração<br />

da ilustração do protocolo de exercício<br />

físico, à Margery Galbraith pela correção do<br />

texto em inglês e à FAPESP, FAEPEX/Unicamp e<br />

CAPES pelo financiamento.<br />

Saúde em Revista<br />

Exercício Físico e Lactato em Ratos<br />

29


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />

Jovens ao Exercício Máximo em Esteira<br />

Cardiopulmonary Responses of Young Women<br />

to Maximal Exercise in Treadmill<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

PAMELA ROBERTA GOMES<br />

GONELLI *<br />

Professora de educação física e<br />

bolsista de Treinamento Técnico<br />

FAPESP – Faculdade de Ciências da<br />

Saúde (UNIMEP/SP)<br />

MILENA A. BORGES PEDROSO<br />

Graduanda em educação física –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

RICARDO A. SIMÕES<br />

Graduando em educação física e<br />

bolsista PIBIC/CNPq – Faculdade de<br />

Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

THIAGO M. FROTA DE SOUZA<br />

Mestrando em educação física e<br />

bolsista CAPES – Faculdade de<br />

Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

CACIANE DALLEMOLE<br />

Mestranda em educação física –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

MARIA IMACULADA DE LIMA<br />

MONTEBELO<br />

Professora na Faculdade de<br />

Ciências Exatas e da Natureza<br />

(UNIMEP/SP)<br />

JOÃO PAULO BORIN<br />

Professor no Curso de Mestrado<br />

em Educação Física – Faculdade<br />

de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

MARCELO DE CASTRO CESAR<br />

Professor no Curso de Mestrado<br />

em Educação Física – Faculdade<br />

de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências: Av. Augusto<br />

Assis Cruz, 444, Jardim Bonanza,<br />

18530-000, Tietê/SP<br />

pamerense@ig.com.br<br />

RESUMO Este estudo teve por objetivo estabelecer valores de referência<br />

para as respostas cardiopulmonares ao exercício máximo em mulheres<br />

jovens, em testes realizados em esteira. Participaram da pesquisa 61<br />

mulheres, saudáveis e não treinadas, de 18 anos a 28 anos de idade. As<br />

voluntárias submeteram-se ao teste cardiopulmonar máximo, em esteira<br />

rolante, cujos valores das respostas cardiopulmonares encontrados foram:<br />

consumo máximo de oxigênio 33,7 ± 4,6 ml/kg/min e 1,95 ± 0,38<br />

l/min, produção máxima de dióxido de carbono 2,19 ± 0,38 l/min, razão<br />

máxima de trocas gasosas 1,14 ± 0,08, freqüência cardíaca máxima<br />

196,2 ± 6,2 bpm, pulso de oxigênio máximo 9,97 ± 1,97 ml/bat, ventilação<br />

pulmonar máxima 75,1 ± 12,1 l/min, equivalentes ventilatórios<br />

máximos para o oxigênio 39,2 ± 7,0 e para o dióxido de carbono 34,7<br />

± 4,5, limiar anaeróbio 17,3 ± 3,7 ml/kg/min e freqüência cardíaca do<br />

limiar anaeróbio 135,2 ± 16,0 bpm. Os resultados aqui encontrados<br />

podem ser utilizados como referência às respostas cardiopulmonares<br />

normais de mulheres jovens saudáveis submetidas a testes em esteira.<br />

Palavras-chave EXERCÍCIO – CONSUMO DE OXIGÊNIO – MULHERES.<br />

ABSTRACT The purpose of this report was to establish reference values<br />

for the cardiopulmonary responses to maximal exercise in young<br />

women, in treadmill exercise tests. Sixty-one healthy and untrained<br />

females, from the ages of 18 to 28, participated. The volunteers were<br />

submitted to maximal cardiopulmonary test, in treadmill. The values for<br />

the cardiopulmonary responses were: maximal oxygen uptake 33.7 ± 4.6<br />

mL/kg/min and 1.95 ± 0.38 L/min, maximal carbon dioxide output 2.19<br />

± 0.38 L/min, maximal gas exchange ratio 1.14 ± 0.08, maximal heart<br />

rate 196.2 ± 6.2 bpm, maximal oxygen pulse 9.97 ± 1.97 mL/beat,<br />

maximal pulmonary ventilation 75.1 ± 12.1 L/min, maximal ventilatory<br />

equivalent for oxygen 39.2 ± 7.0 and carbon dioxide 34.7 ± 4.5,<br />

anaerobic threshold 17.3 ± 3.7 mL/kg/min and heart rate of anaerobic<br />

threshold 135.2 ± 16.0 bpm. The results of this study can be utilized as<br />

reference values for the cardiopulmonary responses to maximal exercise<br />

in young healthy women, in treadmill exercise test.<br />

Keywords EXERCISE – OXYGEN CONSUMPTION – WOMEN.<br />

Saúde em Revista<br />

Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />

31


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A prática regular de exercícios físicos realizados<br />

por mulheres vem aumentando, seja em<br />

nível de qualidade de vida ou competitivo,<br />

com efeitos positivos, tanto físicos quanto<br />

mentais. O treinamento físico acarreta modificações<br />

orgânicas na mulher, incluindo composição<br />

corporal, utilização energética, adaptações<br />

cardiovasculares e efeitos sobre o ciclo<br />

menstrual. 1<br />

Entretanto, se o exercício físico for realizado<br />

de forma inadequada, pode acarretar<br />

prejuízos orgânicos, como a tríade feminina,<br />

em que ocorrem distúrbios alimentares,<br />

amenorréia e osteoporose. Cesar et al., 2 em<br />

estudo com mulheres corredoras de longas<br />

distâncias, demonstraram que o treinamento<br />

físico, respeitando a intensidade do limiar<br />

anaeróbio, proporciona vários benefícios,<br />

como aumento da aptidão cardiorrespiratória,<br />

diminuição da gordura corporal e aumento da<br />

massa magra e da densidade mineral óssea,<br />

sem causar distúrbios funcionais.<br />

A aptidão cardiorrespiratória é quantificada<br />

de maneira precisa por testes cardiopulmonares,<br />

sendo muito importante para a<br />

elaboração de programas de exercício físico<br />

de atletas treinados e até em pacientes com<br />

grande limitação funcional, 3 pois permite a<br />

determinação dos principais índices de limitação<br />

funcional cardiorrespiratória, como o<br />

consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />

máx) e o<br />

limiar anaeróbio (LA).<br />

A esteira rolante e o cicloergômetro são<br />

os instrumentos mais utilizados em testes<br />

cardiopulmonares, embora possa ser adotado<br />

outro ergômetro que possibilite a realização de<br />

testes de carga crescente até o esforço máximo.<br />

3 Entretanto, existem diferenças nos resultados<br />

obtidos, quando os indivíduos submetemse<br />

a testes em diferentes ergômetros.<br />

4, 5, 6, 7<br />

Embora os resultados das variáveis obtidas<br />

no teste cardiopulmonar sejam importantes<br />

na classificação da aptidão cardiorrespiratória<br />

e para elaboração e avaliação dos<br />

efeitos de programas de treinamento físico, 8 e<br />

a esteira rolante constitua um dos ergômetros<br />

mais usados em nosso meio, há uma carência<br />

de avaliações das respostas dessas variáveis<br />

em testes de mulheres. Portanto, este estudo<br />

tem como objetivo estabelecer valores de referência<br />

para as respostas cardiopulmonares<br />

ao exercício máximo de mulheres jovens, em<br />

testes realizados em esteira.<br />

MÉTODOS<br />

Foram estudadas 61 mulheres, com idade<br />

entre 18 anos e 28 anos (média de 20,9 ±<br />

2,7 anos), estatura de 1,65 ± 0,06 m e peso<br />

de 58,4 ± 7,8 kg. As voluntárias não realizavam<br />

treinamento físico, não apresentavam<br />

doenças, não eram tabagistas e nem faziam<br />

uso de medicação durante o estudo. Após a<br />

explicação do trabalho, elas assinaram o termo<br />

de consentimento livre e esclarecido. Este<br />

estudo faz parte de um projeto temático aprovado<br />

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />

Universidade Metodista de Piracicaba (prot.<br />

n. o 83/03).<br />

Todas as voluntárias submeteram-se a<br />

uma avaliação clínica (anamnese, exame físico,<br />

eletrocardiograma em repouso – eletrocardiógrafo<br />

Dixtal EP3) ® , antes do início do<br />

protocolo de testes. Realizaram o teste cardiopulmonar,<br />

em laboratório climatizado, com<br />

temperatura mantida entre 20°C e 24°C, em<br />

esteira ergométrica Inbrasport ATL ® , com<br />

protocolo contínuo, de carga crescente, com<br />

carga inicial de 4 km/h (três minutos), incrementos<br />

de carga de 1 km/h a cada minuto, até<br />

atingir 10 km/h, seguidos de incrementos de<br />

2,5% de inclinação/minuto, até a exaustão. 2<br />

Os testes foram monitorizados continuamente<br />

nas derivações MC 5<br />

, AVF e V2, com<br />

registros eletrocardiográficos ao final de cada<br />

estágio e na recuperação. Calculou-se o consumo<br />

de oxigênio, de gás carbônico e da<br />

ventilação de forma direta, a cada 20 segundos,<br />

por analisador de gases metabólicos<br />

VO2000 – Aerosport Medical Graphics ® .<br />

32<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

Determinou-se o limiar anaeróbio por método<br />

ventilatório, pelos seguintes critérios: 4, 9<br />

hiperventilação pulmonar, aumento sistemático<br />

do equivalente ventilatório para o oxigênio<br />

e aumento abrupto da razão de trocas<br />

gasosas. A freqüência cardíaca durante o teste<br />

em esteira foi avaliada a cada 60 segundos,<br />

por meio da diferença dos intervalos R-<br />

R do registro eletrocardiográfico.<br />

Foram definidos os índices de limitação<br />

funcional cardiorrespiratória no exercício,<br />

consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />

máx) e<br />

limiar anaeróbio ventilatório, expressos em<br />

mililitros por quilograma de peso corporal por<br />

minuto (ml/kg/min), sendo o limiar anaeróbio<br />

também expresso em percentual do consumo<br />

máximo de oxigênio. Determinaram-se também<br />

as seguintes variáveis cardiopulmonares<br />

no exercício máximo: consumo de oxigênio<br />

(VO 2<br />

máx l/min) e produção de dióxido de<br />

carbono (VCO 2<br />

máx l/min), razão de trocas<br />

gasosas (Rmáx), freqüência cardíaca (FCmáx),<br />

pulso de oxigênio (pulsoO 2<br />

máx), ventilação<br />

pulmonar (V E<br />

máx), equivalentes ventilatórios<br />

para o oxigênio (V E<br />

O 2<br />

máx) e para o dióxido<br />

de carbono (V E<br />

CO 2<br />

máx).<br />

A freqüência cardíaca foi estabelecida no<br />

limiar anaeróbio (FCLA), expressa em bpm e<br />

em percentual da FCmáx. Calculou-se a freqüência<br />

cardíaca máxima prevista pela idade<br />

das voluntárias, adotando-se a equação proposta<br />

por Tanaka et al. 10 (FCmáx prevista =<br />

208 – 0,7 x idade em anos), e a FCmáx medida<br />

no teste cardiopulmonar também expressa<br />

em percentual da prevista para a idade.<br />

Os resultados das variáveis cardiopulmonares<br />

foram enunciados em média, desvio-padrão,<br />

valores mínimos e máximos.<br />

RESULTADOS<br />

A avaliação clínica das voluntárias determinou<br />

que todas eram saudáveis e aptas a participar<br />

do estudo. Os índices de limitação funcional<br />

cardiorrespiratória no exercício, o<br />

consumo máximo de oxigênio (VO 2<br />

máx), a<br />

freqüência cardíaca máxima (FCmáx), o limiar<br />

anaeróbio (LA), a freqüência cardíaca do<br />

limiar anaeróbio (FCLA), a relação entre o limiar<br />

anaeróbio e o consumo máximo de oxigênio<br />

(LA/VO 2<br />

máx) e a relação entre a freqüência<br />

do limiar anaeróbio e a freqüência cardíaca<br />

máxima (FCLA/FCmáx) encontram-se na tabela<br />

1. A freqüência cardíaca máxima dos testes<br />

cardiopulmonares atingiu valores de 101,4% da<br />

Fcmáx, prevista na equação de Tanaka et al. 10<br />

Os resultados das variáveis cardiopulmonares<br />

no exercício máximo – consumo de<br />

oxigênio (VO 2<br />

máx), produção de dióxido de<br />

carbono (VCO 2<br />

máx), razão de trocas gasosas<br />

Tabela 1. Medidas descritivas dos índices de limitação funcional cardiorrespiratória.<br />

VO 2<br />

máx FCmáx LA FC LA LA/VO 2<br />

máx FCLA/FCmáx<br />

(ml/kg/min) (bpm) (ml/kg/min) bpm (%) (%)<br />

Média 33,7 196,2 17,3 135,2 51,5 68,9<br />

Desvio-padrão 4,6 6,2 3,7 16,0 8,7 7,7<br />

Valor mínimo 24,3 177,0 11,8 108,0 36,6 57,0<br />

Valor máximo 45,5 205,0 26,4 175,0 79,8 91,1<br />

Saúde em Revista<br />

Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />

33


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

(Rmáx), pulso de oxigênio (pulsoO 2<br />

máx),<br />

ventilação pulmonar (V E<br />

máx), equivalentes<br />

ventilatórios para o oxigênio e para o dióxido<br />

de carbono (V E<br />

O 2<br />

máx e V E<br />

CO 2<br />

máx) – encontram-se<br />

na tabela 2.<br />

Tabela 2. Medidas descritivas das variáveis cardiopulmonares.<br />

VO 2<br />

máx VCO 2<br />

máx pulsoO 2<br />

máx V E<br />

máx<br />

Rmáx<br />

(l/min) (l/min) (ml/bat) (l/min)<br />

V E<br />

O 2<br />

máx V E<br />

CO 2<br />

máx<br />

Média 1,95 2,19 1,14 9,97 75,1 39,2 34,7<br />

Desvio-padrão 0,38 0,38 0,08 1,97 12,1 7,0 4,5<br />

Valor mínimo 0,86 1,50 0,96 4,48 53,7 30,1 25,4<br />

Valor máximo 2,95 3,13 1,41 15,21 113,3 66,9 51,3<br />

DISCUSSÃO<br />

O consumo máximo de oxigênio e o limiar<br />

anaeróbio são os índices mais importantes<br />

para avaliação da aptidão cardiorrespiratória<br />

Os estudos encontrados na literatura com<br />

mulheres consistem de investigações com pequeno<br />

número de participantes 11 ou indivíduos<br />

12, 13<br />

de diversas faixas etárias.<br />

Uma limitação desta pesquisa foi que 61<br />

mulheres não representam uma referência<br />

populacional; ainda assim ela envolveu um<br />

número de voluntárias muito superior aos<br />

estudos anteriores. Outra limitação foi uma<br />

pequena estratificação em relação à raça e<br />

outras variáveis que influenciam no comportamento<br />

e nos hábitos de vida. Entretanto,<br />

essas variáveis não influenciam diretamente<br />

no VO 2<br />

máx.<br />

Os resultados do consumo máximo de<br />

oxigênio e do limiar anaeróbio encontrados<br />

nesta pesquisa são similares aos achados por<br />

Cesar et al., 11 que submeteram 10 mulheres<br />

sedentárias, com idade média de 28,9 anos, a<br />

testes cardiopulmonares em esteira e encontraram<br />

valores de VO 2<br />

máx 32,6 ml/kg/min e<br />

LA 16,5 ml/kg/min, ou seja, valores muito<br />

próximos. Calculando-se o percentual LA/<br />

VO 2<br />

máx do estudo de Cesar et al., chega-se<br />

ao valor de 50,6%, também muito próximo<br />

ao deste trabalho.<br />

Davis, Storer e Caiozzo 12 avaliaram 20<br />

mulheres com 20 anos a 29 anos de idade e<br />

peso corporal médio de 59,0 kg, por meio de<br />

testes pulmonares em cicloergômetro, encontrando<br />

valores de VO 2<br />

máx 1,94 l/min e LA<br />

1,03 l/min. Calculando-se os valores expressos<br />

em ml/kg/min e percentual do VO 2<br />

máx no<br />

estudo desses autores, 12 chega-se a resultados<br />

de VO 2<br />

máx 32,9 ml/kg/min, LA 17,5 ml/kg/<br />

min e LA/VO 2<br />

máx 53,0%, similares aos percebidos<br />

nesta pesquisa, embora aqueles tenham<br />

realizado testes em cicloergômetro.<br />

Barros et al. 13 estudaram 176 mulheres<br />

com idade média de 39 anos, submetidas a<br />

testes cardiopulmonares em esteira, encontrando<br />

valores médios de VO 2<br />

máx 31,7 ml/kg/<br />

min, FCmáx 177,9 bpm e Rmáx de 1,06, um<br />

pouco inferiores aos desta pesquisa, mas tratase<br />

de uma investigação em mulheres de mais<br />

idade. Em trabalho realizado com indivíduos<br />

saudáveis, Barros Neto et al. 3 demonstraram<br />

que esses dois índices diminuem com o aumento<br />

da idade, tanto em homens quanto em<br />

34<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

mulheres, sedentários ou corredores. Por isso,<br />

considera-se que os valores encontrados devem<br />

ser adotados como referência apenas para<br />

mulheres jovens não treinadas.<br />

A freqüência cardíaca máxima obtida<br />

nesta pesquisa mostrou-se muito próxima à<br />

prevista por Tanaka et al., 10 sugerindo que<br />

essa equação pode ser empregada para a predição<br />

da freqüência cardíaca máxima em<br />

mulheres jovens brasileiras. O percentual da<br />

freqüência cardíaca do limiar anaeróbio em<br />

relação à máxima foi 68,9%, dentro dos limites<br />

preconizados para treinamento aeróbio do<br />

American College of Sports Medicine.<br />

Inbar et al. 14 examinaram as respostas<br />

cardiopulmonares em esteira, em 1.424 homens<br />

saudáveis, com idade entre 20 anos e<br />

70 anos, ativos e inativos. Nos mais jovens<br />

(20 anos a 30 anos de idade), os valores foram<br />

VO 2<br />

máx 2,88 l/min, VCO 2<br />

máx 3,66 l/<br />

min, Rmáx 1,27, FCmáx 185 bpm,<br />

pulsoO 2<br />

máx 20,4 ml/bat, V E<br />

máx 108,7 l/min,<br />

V E<br />

O 2<br />

máx 37,7 e V E<br />

CO 2<br />

máx 29,7. Esses resultados<br />

divergem dos encontrados no presente<br />

estudo, sugerindo que as respostas<br />

cardiopulmonares máximas são diferentes em<br />

mulheres e homens jovens, embora deva-se<br />

destacar que a amostra de Inbar et al. incluiu<br />

homens ativos e, nesta, participaram apenas<br />

mulheres não treinadas.<br />

Cesar et al., 15 em análise de pacientes<br />

com insuficiência cardíaca congestiva (ICC),<br />

investigaram as respostas cardiopulmonares de<br />

testes em esteira, em 54 cardiopatas dos sexos<br />

masculino e feminino, com idade entre 30<br />

anos e 74 anos, agrupados em quatro faixas<br />

etárias. Esses autores não perceberam diferenças<br />

significantes nos valores máximos das<br />

variáveis cardiopulmonares entre as faixas<br />

etárias, concluindo que a ICC compromete a<br />

capacidade cardiorrespiratória de modo semelhante<br />

em todas as faixas etárias. Se forem<br />

calculados os valores médios dos quatro grupos<br />

etários, os resultados do estudo de Cesar<br />

et al. foram de VO 2<br />

máx 1,25 l/min, VCO 2<br />

máx<br />

1,38 l/min, Rmáx 1,27, FCmáx 140,2 bpm,<br />

pulsoO 2<br />

máx 9,0 ml/bat, V E<br />

máx 60,6 l/min,<br />

V E<br />

O 2<br />

máx 46,3 e V E<br />

CO 2<br />

máx 52,3. Esses valores<br />

diferem dos encontrados em mulheres jovens,<br />

o que era esperado, pois tratou-se de<br />

uma investigação em cardiopatas.<br />

Os dados do presente estudo permitem<br />

estabelecer os parâmetros normais das respostas<br />

cardiopulmonares ao exercício máximo<br />

em esteira rolante de mulheres jovens<br />

saudáveis, que podem ser adotados para diferenciar<br />

os testes de mulheres com doenças<br />

cardíacas ou pulmonares.<br />

CONCLUSÃO<br />

Variáveis cardiopulmonares são utilizadas<br />

como referência para atividades aeróbias<br />

e os resultados delas, encontrados neste estudo,<br />

podem ser empregados também como referências<br />

às respostas cardiopulmonares normais<br />

de mulheres jovens, saudáveis, não<br />

treinadas e submetidas ao teste cardiopulmonar<br />

máximo em esteira.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Saúde em Revista<br />

Respostas Cardiopulmonares de Mulheres<br />

35


PAMELA ROBERTA GOMES GONELLI, ET AL.<br />

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ao exercício em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva de diferentes faixas etárias. Arq Bras Cardiol<br />

2006;86(1):14-8.<br />

Submetido: 8/jun./2006<br />

Aprovado: 23/ago./2006<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos o apoio financeiro da Fundação<br />

de Amparo à Pesquisa do Estado de São<br />

Paulo (FAPESP) e as bolsas de treinamento técnico<br />

da FAPESP, de mestrado da CAPES e de<br />

iniciação científica (PIBIC-CNPq).<br />

36<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 31-36, 2006


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Custo do Atendimento Ambulatorial<br />

e Gasto Hospitalar do Diabetes mellitus tipo 2<br />

Ambulatory and Hospital Care Cost of<br />

type 2 Diabetes mellitus<br />

KÁTIA CRISTINA PORTERO<br />

MCLELLAN *<br />

Mestre em nutrição humana<br />

aplicada e doutora em ciências<br />

(USP/SP)<br />

DENISE GIACOMO DA MOTTA<br />

Mestre e doutora em saúde<br />

pública (USP/SP)<br />

ANTONIO CARLOS LERARIO<br />

Doutor em endocrinologia e<br />

professor livre docente (USP/SP)<br />

ANTONIO CARLOS COELHO<br />

CAMPINO<br />

Professor titular da Faculdade de<br />

Economia, Administração e<br />

Contabilidade (USP/SP)<br />

* Correspondências: R. José<br />

Ferraz de Carvalho, 650, ap. 32,<br />

13400-550, Piracicaba/SP<br />

kaportero@yahoo.com.br<br />

RESUMO Com o objetivo de relacionar o gasto hospitalar e o custo da<br />

assistência médica, prestada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a pessoas<br />

com Diabetes mellitus do tipo 2 (DM tipo 2), no município de<br />

Piracicaba, realizou-se um levantamento de dados secundários referentes<br />

aos protocolos de atendimento ambulatorial e seus respectivos custos e<br />

a identificação dos gastos hospitalares de indivíduos internados com diagnóstico<br />

de DM tipo 2. Os resultados evidenciaram uma diferença nos<br />

procedimentos realizados, na avaliação do controle metabólico e, conseqüentemente,<br />

nos respectivos custos dos protocolos da atenção primária<br />

e secundária. O envelhecimento do indivíduo com DM e o motivo<br />

da hospitalização estiveram diretamente relacionados ao aumento no valor<br />

da internação e no tempo de permanência hospitalar. A presença de<br />

complicações crônicas decorrentes do DM é um importante fator gerador<br />

de custos, pois resulta em maior freqüência e complexidade de<br />

internações, que poderiam ser reduzidas, se maior atenção ambulatorial<br />

fosse dispensada. Portanto, há a necessidade de sensibilizar os gestores<br />

e profissionais de saúde sobre a importância da promoção de programas<br />

de prevenção e educação continuada em DM, passo fundamental a prevenção,<br />

complicações e, conseqüentemente, redução dos gastos com a<br />

doença.<br />

Palavras-chave DIABETES MELLITUS TIPO 2 – ECONOMIA DA SAÚDE – SERVI-<br />

ÇOS DE SAÚDE – CUSTOS E ANÁLISE DE CUSTO.<br />

ABSTRACT Our purpose was to identify the medical attendance cost subsidized<br />

by the Brazilian Public Health System to people with type 2<br />

Diabetes Mellitus (DM2) in the primary, secondary and tertiary care. The<br />

routine protocols and the service flows of primary and secondary care to<br />

patients with DM were identified as well as the DM2 hospital patients,<br />

which were characterized as basic or associated cause of hospitalization.<br />

The cost was obtained from the public service’s and hospital’s accountant<br />

center. The results showed differences in the costs of primary and secondary<br />

care due to the different procedures and evaluations of the metabolic<br />

control. The aging patient’s hospitalization was directly related to the<br />

increase costs and length of stay per hospitalization. Chronic complications<br />

are costly for the health care system for demanding more frequency<br />

and complexity of hospitalizations that could be reduced if the health care<br />

system improves the primary attention to people with diabetes. There is<br />

an evident need for health care professionals’ attention towards promoting<br />

the prevention of DM and the continued educational programs for persons<br />

with diabetes.<br />

Keywords DIABETES MELLITUS TYPE 2 – HEALTH ECONOMICS – HEALTH<br />

SERVICES – COSTS AND COSTS ANALYSIS.<br />

Saúde em Revista<br />

Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />

37


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O Diabetes mellitus (DM) representa a<br />

quarta causa de morte no Brasil, com altos<br />

níveis de morbidade e mortalidade 1, 2 e, desse<br />

modo, pode ser considerada uma das mais<br />

importantes doenças endócrino-metabólicas<br />

em nosso meio. 3 Essa enfermidade representa<br />

um considerável encargo econômico para o<br />

indivíduo e para a sociedade, especialmente<br />

quando mal controlada, sendo a maior parte<br />

dos custos diretos de seu tratamento relacionada<br />

às suas complicações, que comprometem a<br />

produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida<br />

dos indivíduos e que, muitas vezes, podem<br />

ser reduzidas, retardadas ou evitadas. 4, 5<br />

Entre as complicações crônicas decorrentes<br />

do mau controle metabólico do DM, destacam-se<br />

a retinopatia, a nefropatia, a<br />

neuropatia e a cardiopatia, as quais comprometem<br />

a qualidade de vida do indivíduo, oneram<br />

o sistema de saúde e resultam em alto<br />

custo social. Como conseqüência dessas complicações,<br />

o custo de atendimento ao paciente<br />

se torna muito elevado, especialmente no que<br />

se refere a procedimentos como laserterapia,<br />

diálises e amputações, além do grande número<br />

e dos custos das hospitalizações. Estima-se<br />

que pacientes com diabetes apresentam custos<br />

de hospitalização duas a quatro vezes maiores<br />

que pacientes não diabéticos. 6<br />

A detecção, a prevenção e o tratamento<br />

precoce das complicações provenientes do<br />

DM são ações de extrema importância. As<br />

intervenções apropriadas, tomadas no momento<br />

certo no curso do DM, poderão ser<br />

benéficas em termos de qualidade de vida do<br />

indivíduo e serão mais eficazes quanto ao<br />

custo da doença 4 , especialmente se prevenirem<br />

admissões hospitalares. 4, 5<br />

Os estudos de custo da doença medem o<br />

impacto econômico dela à sociedade, com<br />

base na estimativa de seus custos diretos,<br />

indiretos e intangíveis. Tais estudos podem<br />

partir da prevalência da doença, medindo o<br />

impacto de todos os casos existentes em determinado<br />

ano, nos quais os custos diretos<br />

são computados pelo rendimento financeiro<br />

anual e os indiretos, pela invalidez ou pelo<br />

óbito do indivíduo. 4<br />

No DM, eles tendem a tomar por base a<br />

prevalência da doença e, dessa forma, não<br />

levam em conta as conseqüências dela a longo<br />

prazo, muito menos a eficácia das estratégias<br />

de intervenção, visto que se sustentam no custo<br />

da doença em determinado ano de estudo.<br />

Uma alternativa seria a abordagem de um<br />

custo único, o qual atribuiria o valor para o<br />

ano no qual seu impacto fosse sentido. Essa<br />

abordagem é idêntica àquela realizada em estudos<br />

de prevalência, exceto pelos custos indiretos<br />

cujos recursos financeiros traduzem-se<br />

em valores reais para todos os indivíduos falecidos<br />

em um dado ano. No método de custo<br />

real, os recursos financeiros perdidos naquele<br />

ano estão associados a todos os indivíduos<br />

falecidos em decorrência da doença. Assim, o<br />

método a ser adotado depende do problema a<br />

ser solucionado: ao empregar fundos para programas<br />

alternativos destinados à redução de<br />

custos referentes aos cuidados de uma doença,<br />

a importância relativa das diferentes condições<br />

é melhor medida pela metodologia de prevalência<br />

da doença.<br />

7, 8, 9<br />

O objetivo deste trabalho foi relacionar<br />

o custo da assistência médica ambulatorial<br />

com os gastos hospitalares prestados pela<br />

rede básica de saúde a pessoas com DM<br />

tipo 2, no município de Piracicaba (SP),<br />

fornecendo, assim, subsídios para intervenções<br />

futuras associadas a educação em saúde,<br />

prevenção e detecção precoce das complicações<br />

do diabetes.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Esta pesquisa dividiu-se em duas etapas:<br />

identificação de dados secundários referentes<br />

ao custo dos protocolos de atendimento ambulatorial<br />

(atenção primária e secundária) de<br />

indivíduos com DM tipo 2, e levantamento<br />

dos gastos hospitalares (atenção terciária) de<br />

38<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

indivíduos internados com DM tipo 2 como<br />

causa básica e/ou associada. As informações<br />

documentados referem-se aos atendimentos<br />

prestados pelo Sistema Único de Saúde<br />

(SUS) à pessoas com DM tipo 2 no município<br />

de Piracicaba (SP).<br />

Custo do Atendimento Ambulatorial<br />

O levantamento dos custos dos protocolos<br />

de atendimento ambulatorial da atenção<br />

primária (Unidades Básicas de Saúde-<br />

UBS) e secundária (Casa do Diabético) foi<br />

identificado por meio do levantamento de<br />

dados secundários previamente documentados<br />

na literatura. 10 O documento pesquisado<br />

relata que a obtenção do custo dos protocolos<br />

de atendimento ambulatorial se deu por<br />

obtenção do fluxo e das etapas de atendimento<br />

à pessoa com DM, no município, e<br />

do relatório de produção anual do próprio<br />

serviço de saúde.<br />

A participação do custo dos procedimentos<br />

realizados nos protocolos de atendimento<br />

do DM, na atenção primária e secundária,<br />

estão expressos em percentagem.<br />

Gastos de Hospitalização<br />

Para a verificação dos gastos de<br />

hospitalização do diabetes, identificaram-se<br />

todas as pessoas que apresentavam diagnóstico<br />

prévio ou atual de DM tipo 2, hospitalizadas<br />

para tratamento clínico ou cirúrgico,<br />

no período de março a junho de 2001, no<br />

Hospital Santa Casa de Misericórdia. Reconhecidas<br />

93 pessoas com DM tipo 2, a elas<br />

aplicou-se uma entrevista, com o objetivo de<br />

obter os seguintes dados: sexo, idade, presença<br />

de complicações e/ou doenças associadas,<br />

tempo de diagnóstico do DM e fluxograma<br />

de utilização dos serviços de saúde. Os pacientes<br />

manifestaram sua concordância em participar<br />

da pesquisa, mediante assinatura do<br />

termo de consentimento livre esclarecido. Na<br />

impossibilidade de a pessoa responder à entrevista,<br />

essa realizou-se com os familiares<br />

ou acompanhantes presentes.<br />

Esse projeto teve aprovação do comitê<br />

de ética em pesquisa da Universidade de<br />

São Paulo e atende à resolução n. 196, de<br />

outubro de 1996, do Conselho Nacional de<br />

Saúde do Ministério da Saúde (CNS). 11<br />

Nele estão garantidos os consentimentos<br />

livres e esclarecidos, a privacidade, a<br />

confidencialidade e o anonimato, com respeito<br />

aos valores socioculturais.<br />

O motivo de internação foi obtido por<br />

meio do diagnóstico médico documentado no<br />

prontuário de cada indivíduo com DM tipo 2,<br />

hospitalizado na instituição e reclassificado segundo<br />

Capítulo CID-10 (Classificação Internacional<br />

de Doenças), de modo a possibilitar<br />

uma comparação dos gastos e do tempo de<br />

internação com as publicações do Datasus. O<br />

Datasus consiste de um banco de dados do<br />

Departamento de Informação e Informática do<br />

SUS, órgão da Secretaria Executiva do Ministério<br />

da Saúde, e que tem a responsabilidade<br />

de coletar, processar e disseminar informações<br />

sobre a área. Os dados utilizados das publicações<br />

do Datasus se referem ao período entre<br />

1. o de novembro de 2000 a 30 de outubro de<br />

2001. Já o tempo de permanência hospitalar<br />

de cada paciente foi verificado na documentação<br />

presente na enfermaria do hospital.<br />

Levantou-se o gasto hospitalar para<br />

cada paciente tomando por base suas respectivas<br />

contas obtidas na central de custos<br />

da própria instituição. O valor médio por<br />

dia de hospitalização foi efetuado a partir<br />

da divisão do valor no período de<br />

internação pelos dias de hospitalização de<br />

cada paciente. Os valores encontrados foram<br />

somados e divididos pela população<br />

do estudo, chegando-se, dessa forma, ao<br />

valor médio de hospitalização/dia dos indivíduos<br />

com DM tipo 2. Realizou-se o mesmo<br />

procedimento para aquisição do valor<br />

médio de hospitalização/dia, de acordo<br />

com o motivo de internação, da população<br />

do estudo segundo capítulo CID-10. Os resultados<br />

estão apresentados em média e<br />

desvio padrão (DP).<br />

Saúde em Revista<br />

Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />

39


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

RESULTADOS<br />

Custo dos Protocolos do Atendimento Ambulatorial<br />

A tabela 1 mostra os valores e a participação percentual do custo dos procedimentos<br />

realizados no atendimento ambulatorial às pessoas com DM tipo 2 que utilizam hipoglicemiantes<br />

orais e insulina.<br />

Tabela 1. Custo e composição dos custos dos protocolos de atendimento de pessoas com DM.<br />

Composição do custo de Atenção primária Atenção secundária<br />

protocolo de atendimento/ano hipoglicemiante Insulina hipoglicemiante Insulina<br />

oral oral<br />

R$ % R$ % R$ % R$ %<br />

Atendimento médico 4,08 7,0 4,08 1,2 8,16 9,2 8,16 2,1<br />

Atendimento não médico 35,70 61,4 35,70 10,2 45,9 51,9 45,9 4,8<br />

Exames laboratoriais 9,06 15,6 9,06 2,6 25,02 28,3 25,02 6,5<br />

Medicamento 9,29 16,0 302,4 86,0 9,29 10,6 302,4 86,6<br />

Custo do protocolo/ano 58,13 100,0 351,24 100,0 88,37 100,0 381,48 100,0<br />

Fonte: Portero et al, 2003 10 .<br />

Identificação e Caracterização da<br />

População Hospitalizada<br />

A caracterização da população hospitalizada<br />

deste estudo pode ser observada na<br />

tabela 2. O levantamento de dados realizado<br />

no Hospital Santa Casa de Misericórdia permitiu<br />

verificar que, dos 93 indivíduos com<br />

DM tipo 2 internados, 52,7% eram do sexo<br />

masculino, com predominância na faixa<br />

etária entre 30 anos e 69 anos (63,4%) em<br />

ambos os sexos.<br />

Segundo o motivo de internação, a maior<br />

parte das hospitalizações dos pacientes<br />

diabéticos se deu em decorrência das doenças<br />

do aparelho circulatório (48%), seguidas pelas<br />

doenças do aparelho geniturinário<br />

(17,0%). Entre as doenças do aparelho circulatório,<br />

estavam problemas relacionados aos<br />

membros inferiores (31,1%), infarto agudo<br />

do miocárdio e insuficiência cardíaca<br />

congestiva (20% e 20%, respectivamente),<br />

acidente vascular-cerebral (13,3%), cirurgia<br />

(6,7%) e outros (8,9%).<br />

Quanto ao tempo de diagnóstico da doença,<br />

26,9% dos indivíduos foram diagnosticados<br />

há menos de 5 anos, 18,3%, de 5 anos<br />

a 10 anos, 31,2%, de 10 anos a 20 anos, e<br />

15%, há mais de 20 anos. Observou-se que<br />

4,3% deles apresentaram seu diagnóstico no<br />

hospital, ou seja, durante a internação. Ao<br />

analisar o tempo de permanência hospitalar,<br />

verificou-se que 36,7% dos pacientes apresentaram<br />

um período de internação entre 5<br />

dias e 10 dias. Vale ressaltar que 30% das<br />

pessoas apresentaram um tempo de permanência<br />

hospitalar superior a 10 dias.<br />

Gastos Hospitalares<br />

Quando se caracteriza a população do<br />

estudo de acordo com o motivo de internação,<br />

segundo Capítulo CID-10 e idade média, média<br />

do tempo de diagnóstico de DM, tempo médio<br />

40<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

de hospitalização e valor médio de<br />

hospitalização/dia (tab. 2), verifica-se que os<br />

indivíduos hospitalizados por doenças do aparelho<br />

respiratório apresentam valores superiores<br />

para a idade (71,8 anos), tempo de diagnóstico<br />

de DM (13,9 anos) e valor de hospitalização/<br />

dia (R$ 246,22). Com relação à permanência<br />

hospitalar, nota-se maior tempo de internação<br />

das pessoas cujo motivo de hospitalização foram<br />

as doenças do aparelho geniturinário (10,7<br />

dias), seguido por doenças endócrinas<br />

nutricionais e metabólicas (9,5 dias) e por doenças<br />

do aparelho circulatório (7,8 dias).<br />

No que se refere ao valor médio de hospitalização<br />

da população do estudo (tab. 3),<br />

percebe-se um maior valor para as pessoas<br />

internadas por doenças do aparelho geniturinário<br />

(R$ 3.665, 82), seguido pelas doenças<br />

do aparelho circulatório (R$ 1.444,78).<br />

Os pacientes com DM como causa básica<br />

de hospitalização apresentaram valores<br />

médios de internação/dia inferiores aos dados<br />

registrados pelo Datasus (R$ 130,93 e R$<br />

267,33, respectivamente) e uma média de<br />

permanência hospitalar superior ao Datasus<br />

(9,6 dias e 6,7 dias, respectivamente).<br />

Com relação ao valor médio por<br />

internação e por dia e média de permanência<br />

hospitalar de acordo com a faixa etária (tab.<br />

4), percebe-se que a faixa etária de 70 anos a<br />

80 anos apresenta um dos maiores valores de<br />

internação por dia (R$ 224,30). Vale ressaltar<br />

que a faixa etária acima de 90 anos apresentou<br />

maiores valores de internação (R$<br />

5.075,28), internação por dia (R$ 422,94) e<br />

tempo de permanência hospitalar (12 dias).<br />

O quadro 1 mostra a estimativa do custo<br />

anual do tratamento do diabetes, referente a<br />

atenção primária, secundária e terciária, para<br />

o município de Piracicaba.<br />

Tabela 2. Caracterização da população do estudo, de acordo com o motivo da internação, segundo<br />

Capítulo CID-10.<br />

Variáveis<br />

Tem po médio de Tempo médio de<br />

Valormédio de<br />

Idade média<br />

diagnóstico de DM perm anência hospitalar hospitalização/dia<br />

(anos)<br />

(anos)<br />

(dias)<br />

(R$)<br />

Capítulo CID-10<br />

N % Valor+ DP N % Valor+ DP N % Valor+ DP N % DP<br />

IV.D oenças endócrinas nutricionais e metabólicas<br />

IX.D oenças do aparelho circulatório<br />

X.D oenças do aparelho respiratório<br />

XI.D oenças do aparelho digestivo<br />

XIV.D oenças do aparelho geniturinário<br />

XVIII.Sintsinais e achad anorm ex clín e laborat<br />

5<br />

45<br />

12<br />

8<br />

16<br />

7<br />

5,4 55,6 + 16,7<br />

48,4 64,4 + 10,9<br />

12,9 71,8 + 12,1<br />

8,6 58,4 + 13,9<br />

17,2 60,4 + 14,3<br />

7,5 54,8 + 14,4<br />

5<br />

43<br />

10<br />

8<br />

16<br />

7<br />

5,4<br />

46,2<br />

10,7<br />

8,6<br />

17,2<br />

7,5<br />

5,8 + 3,6<br />

10,7 + 10,1<br />

13,9 + 12,7<br />

12,3 + 11,4<br />

9,5 + 4,8<br />

6,5 + 6,8<br />

5<br />

45<br />

12<br />

8<br />

16<br />

7<br />

5,4<br />

48,4<br />

12,9<br />

8,6<br />

17,2<br />

7,5<br />

9,6 + 5,0<br />

7,8 + 4,6<br />

6,3 + 6,2<br />

7,1 + 3,1<br />

10,7 + 9,2<br />

5,8 + 3,8<br />

5<br />

44<br />

12<br />

7<br />

14<br />

7<br />

5,4<br />

46,2<br />

10,7<br />

8,6<br />

17,2<br />

7,5<br />

130,94 + 75,90<br />

177,85 + 122,45<br />

246,22 + 173,03<br />

80,28 + 37,90<br />

188,46 + 156,64<br />

117,77 + 122,27<br />

SI<br />

- - - 4 4,4 - - - - 4 4,4<br />

-<br />

TOTAL 93 100,0 62,8 + 13,5 89 100,0 10,4 + 9,6 93 100,0 8,0 + 5,9 89 100,0 172,20 + 137,55<br />

Tabela 3. Gasto hospitalar total (R$) por paciente e composição dos gastos (%) de pessoas com<br />

DM, hospitalizadas segundo o motivo da internação, pelos capítulos do CID-10.<br />

Variáveis<br />

Valormédio de<br />

Medicam entos<br />

Materiais<br />

Diárias e Taxas<br />

Kit’s<br />

SADT<br />

Capítulo CID-10<br />

internação (R$)<br />

(%)<br />

(%)<br />

(%)<br />

(%)<br />

(%)<br />

IV.D oenças endócrinas nutricionais e metabólicas<br />

1407,94<br />

29,4<br />

22,8<br />

2,4<br />

44,6<br />

0,8<br />

IX.D oenças do aparelho circulatório<br />

1444,78<br />

33,9<br />

32,1<br />

11,1<br />

21,9<br />

1,1<br />

X.D oenças do aparelho respiratório<br />

1344,56<br />

32,0<br />

17,1<br />

27,5<br />

22,5<br />

0,8<br />

XI.D oenças do aparelho digestivo<br />

602,12<br />

26,1<br />

25,4<br />

-<br />

47,1<br />

1,4<br />

XIV.D oenças do aparelho geniturinário<br />

3665,82<br />

60,8<br />

15,6<br />

6,7<br />

15,9<br />

1,0<br />

XVIII.Sintsinais e achad anorm ex clín e laborat<br />

847,01<br />

28,5<br />

18,7<br />

6,6<br />

43,7<br />

2,5<br />

Saúde em Revista<br />

Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />

41


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

Tabela 4. Valores médios por internação e permanência hospitalar da população, de acordo com<br />

faixa etária (anos).<br />

Variáveis<br />

Valor médio por internação<br />

Valor médio de<br />

Média de permanência<br />

Faixa etária<br />

Número<br />

(R$)<br />

internação/dia (R$)<br />

hospitalar (dias)<br />

30├ 40<br />

6<br />

1033,02<br />

129,13<br />

8<br />

40├ 50<br />

10<br />

1710,36<br />

222,12<br />

7,7<br />

50├ 60<br />

21<br />

1394,25<br />

185,31<br />

7,5<br />

60├ 70<br />

24<br />

1874,72<br />

219,48<br />

8,5<br />

70├ 80<br />

22<br />

1610,91<br />

224,30<br />

7,2<br />

80├ 90<br />

8<br />

1859,61<br />

206,62<br />

9<br />

≥ 90<br />

1<br />

5075,28<br />

422,94<br />

12<br />

Quadro 1. Estimativa do custo anual do atendimento a pessoa com diabetes em nível ambulatorial<br />

e hospitalar, no município de Piracicaba.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os procedimentos realizados para atenção<br />

da pessoa com DM, tanto no nível primário<br />

como no secundário, do município de<br />

Piracicaba, condizem, em parte, com os recomendados<br />

pela literatura, 3, 12, 11, 13 pois parece<br />

que esses atendimentos não se estendem a<br />

todos os indivíduos. 10<br />

Os dados levantados na atenção terciária<br />

mostraram que as doenças do aparelho circulatório,<br />

seguidas pelas do aparelho geniturinário<br />

e do aparelho respiratório foram os<br />

principais motivos pelos quais os indivíduos<br />

com DM tiveram de ser hospitalizados. Identificou-se<br />

o DM como causa básica de<br />

hospitalização em apenas 5,4% da população<br />

do estudo. Entre as principais doenças do aparelho<br />

circulatório apresentadas pela população<br />

pesquisada, estavam problemas relacionados<br />

aos membros inferiores, infarto agudo do<br />

miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva.<br />

Esses dados corroboram inúmeros estudos<br />

feitos internacionalmente, os quais relatam<br />

que os indivíduos com DM estão mais propensos<br />

ao surgimento de traumas nos membros<br />

inferiores, capazes de desencadear úlceras<br />

nos pés, e que aproximadamente metade<br />

das amputações não-traumáticas dos membros<br />

inferiores decorrem do diabetes. 14<br />

42<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 37-45, 2006


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

Em outras palavras, o cuidado adequado<br />

com os pés pode contribuir para a redução na<br />

freqüência e no tempo de permanência hospitalar,<br />

bem como na incidência de amputações<br />

dos indivíduos com diabetes em 50%. 4 Esses<br />

estudos apontam ainda evidências de que as<br />

pessoas com diagnóstico de DM são duas a<br />

quatro vezes mais susceptíveis a ir a óbito<br />

por doença cardíaca ou infarto, 14 que a maioria<br />

dos óbitos dos diabéticos é computada<br />

no grupo das doenças do aparelho circulatório<br />

e que, quando o DM é assinalado com<br />

causa associada, a doença arterial coronariana<br />

aparece em primeiro lugar como causa<br />

básica de morte. 15<br />

Os pacientes internados por provável<br />

doença infecciosa (do aparelho geniturinário<br />

e do respiratório) apresentaram custo de<br />

internação elevado, indicando, possivelmente,<br />

o uso de antimicrobianos de alto custo. Todavia,<br />

embora o DM tipo 2 predisponha a processos<br />

infecciosos dos aparelhos geniturinário<br />

e respiratório, essas infecções não se<br />

restringem apenas aos pacientes diabéticos,<br />

particularmente na faixa etária em que incidiram<br />

no presente estudo.<br />

Com relação à permanência hospitalar,<br />

notou-se um maior tempo de internação das<br />

pessoas cujo motivo de hospitalização foram<br />

as doenças do aparelho geniturinário, seguido<br />

por DM e doenças do aparelho circulatório. A<br />

elevada permanência dos indivíduos hospitalizados<br />

por doenças do aparelho geniturinário<br />

se deve ao tratamento prolongado para a obtenção<br />

do controle metabólico desejado. Alguns<br />

dos indivíduos necessitaram dos serviços<br />

de diálise e hemodiálise, por apresentar insuficiência<br />

renal crônica; outros passaram por<br />

processos cirúrgicos e, dessa forma, precisaram<br />

de um tempo de hospitalização maior<br />

para alcançar uma recuperação adequada e<br />

monitorizada.<br />

As pessoas hospitalizadas por doenças<br />

do aparelho circulatório apresentaram permanência<br />

hospitalar prolongada, além de idade,<br />

tempo de diagnóstico de DM e valor de<br />

hospitalização/dia superiores à média da população<br />

estudada. Esses dados corroboram os<br />

achados em outros estudos documentados.<br />

Malerbi e Franco, 16 ao relacionar os fatores<br />

de risco para manifestação de doenças do<br />

aparelho circulatório, afirmaram que idade<br />

representa um fator de risco mais importante<br />

para a manifestação de doenças do aparelho<br />

circulatório que a própria duração do DM, e<br />

que as doenças cardiovasculares são uma das<br />

complicações do DM mais onerosas ao sistema<br />

de saúde. 17<br />

Ao analisar a variação do valor médio<br />

de internação/dia e a média de permanência<br />

hospitalar entre a população do estudo e os<br />

dados nacionais (Datasus), nota-se que os<br />

valores médios de hospitalização/dia para<br />

cada doença revelaram-se inferiores aos dados<br />

consultados no Datasus. Em<br />

contrapartida, a média de permanência hospitalar<br />

mostrou-se superior ao Datasus para<br />

todos os indivíduos hospitalizados, de acordo<br />

com cada doença. Uma hipótese a ser levantada<br />

seria uma mortalidade demasiadamente<br />

precoce por DM nas outras regiões do Brasil,<br />

levando o indivíduo à hospitalização por<br />

complicações já muito avançadas, que exigem<br />

tratamento hospitalar intensivo. Essas<br />

hospitalizações, resultantes de motivos graves<br />

de saúde, podem implicar o óbito do indivíduo,<br />

diminuindo o seu tempo de permanência<br />

hospitalar. Ainda que este trabalho<br />

tenha identificado algumas falhas na atenção<br />

e na educação dos pacientes com DM tipo 2,<br />

nos setores primário e secundário do município<br />

de Piracicaba, esses serviços existem e<br />

podem estar contribuindo positivamente para<br />

uma redução nos gastos de internação.<br />

De acordo com a análise dos dados da<br />

pesquisa, também é possível notar que o envelhecimento<br />

do indivíduo com DM associase<br />

diretamente ao aumento no valor da internação<br />

e no tempo de permanência<br />

hospitalar. Isso se deve ao fato de que uma<br />

pessoa com mais idade possa ter um tempo<br />

de diagnóstico de DM maior e, assim, apre-<br />

Saúde em Revista<br />

Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />

43


KÁTIA CRISTINA PORTERO MCLELLAN, ET AL.<br />

sentar maior probabilidade de apresentar<br />

complicações e/ou patologias associadas à<br />

doença que demandam serviços mais<br />

especializados, onerando a hospitalização.<br />

A educação em saúde é de fundamental<br />

importância no controle do DM e na redução<br />

nos custos para os serviços de saúde, uma<br />

vez que há diminuição nos índices de admissões<br />

hospitalares e taxas médias de glicemia,<br />

o que pode ser reflexo da melhora no nível<br />

de percepção sobre a importância da educação,<br />

bem como no índice de aceitação da<br />

doença por parte dos indivíduos dela portadores.<br />

Outro ponto fundamental a ser levado<br />

em consideração é o custo do tratamento das<br />

complicações crônicas, possíveis de ser<br />

minimizado por meio da educação, uma vez<br />

que o indivíduo conscientizado terá melhor<br />

controle metabólico. 18<br />

No Brasil, estudos sobre o impacto de<br />

programas de prevenção primária do DM<br />

tipo 2 em população saudável ou de alto risco<br />

são escassos, 19, 20 bem como os de prevenção<br />

secundária em pessoas já portadoras de<br />

DM tipo 2. 18, 21, 22, 23 Dessa forma, trabalhos<br />

de prevenção primária do DM tipo 2 devem<br />

ser incentivados em nosso meio, pois podem<br />

contribuir para a melhora da qualidade de<br />

vida das pessoas e, conseqüentemente, redução<br />

dos gastos do sistema de saúde vigente.<br />

CONCLUSÕES<br />

O município de Piracicaba oferece ao<br />

usuário do SUS com DM tipo 2 um protocolo<br />

de atendimento que satisfaz as recomendações<br />

da Sociedade Brasileira de Diabetes<br />

(SBD) e da American Diabetes Association<br />

(ADA) e, embora apresente falhas, pode<br />

estar contribuindo positivamente para o tratamento<br />

do DM, uma vez que o gasto hospitalar<br />

da população internada nessa cidade<br />

revelou-se inferior, quando comparado com<br />

os valores médios nacionais.<br />

O custo de uma hospitalização<br />

corresponde a 28,6 anos de tratamento do<br />

DM com hipoglicemiante oral e 4,7 anos de<br />

tratamento com insulina na atenção primária,<br />

e 18,8 anos de tratamento do DM com<br />

hipoglicemiante oral e 4,3 anos de tratamento<br />

com insulina na atenção secundária. O<br />

controle glicêmico está associado a um<br />

menor número de complicações; assim, o<br />

atendimento ambulatorial adequado poderá<br />

levar a uma redução da freqüência e da<br />

complexidade dos procedimentos e<br />

internações, representando uma diminuição<br />

no custo de tratamento do DM para os serviços<br />

de saúde.<br />

O estilo de vida sedentário e inadequados<br />

hábitos alimentares, associados ao envelhecimento<br />

e aumento na expectativa de vida<br />

dos brasileiros são apontados como os principais<br />

fatores responsáveis pelo aumento da<br />

prevalência do DM tipo 2 observado no País.<br />

Nesse sentido, programas de intervenção que<br />

promovam mudança no estilo de vida devem<br />

ser incentivados, com o intuito de melhorar a<br />

qualidade de vida da população.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso brasileiro de conceitos e condutas para o Diabetes mellitus. São<br />

Paulo: SBD; 1997.<br />

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Submetido: 2/mar./2006<br />

Aprovado: 18/ago./2006<br />

Agradecimentos<br />

Às alunas do Curso de Nutrição da UNIMEP<br />

(campus Taquaral) Adriana Danelon,<br />

Vanessa, Vivian, Milena, Amanda, Juliana<br />

Rios e Camila Pires, pela ajuda e dedicação<br />

na coleta dos dados, e à FAPESP, por acreditar<br />

na contribuição científica deste trabalho e<br />

pelo financiamento prestado (processo 99/<br />

09474-6).<br />

Saúde em Revista<br />

Atendimento Amb. e Gasto Hospitalar do DM2<br />

45


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Contaminação em Jalecos Utilizados por<br />

Estudantes de Odontologia<br />

Contamination in Jackets Used by Odontology Students<br />

MARIA AUXILIADORA<br />

MONTENEGRO NESI<br />

Professora no Curso de<br />

Odontologia (UnP/RN e UFRN/RN)<br />

RENATO SOBREIRA BITU FILHO *<br />

Graduando em odontologia<br />

(UnP/RN)<br />

EVELINE GADÊLHA LIMA<br />

Graduanda em odontologia<br />

(UnP/RN)<br />

ANA MIRYAM COSTA DE<br />

MEDEIROS<br />

Professora no Curso de<br />

Odontologia (UnP/RN e UFRN/RN)<br />

KENIO COSTA LIMA<br />

Professor do Departamento de<br />

Odontologia e dos Programas de<br />

Pós-Graduação em Odontologia e<br />

Ciências da Saúde (UFRN/RN)<br />

* Correspondências: R. Romualdo<br />

Galvão, 3.673, ap. 1.004, bl. F,<br />

Lagoa Nova, 59056-100, Natal/RN<br />

rsbfilho@yahoo.com.br<br />

RESUMO Este trabalho objetivou avaliar os níveis de contaminação de<br />

jalecos usados por alunos de odontologia durante procedimentos clínicos,<br />

em três áreas distintas, correlacionando-os entre si e com o tempo de uso.<br />

Buscou ainda associação entre o tipo de tecido desta indumentária e os<br />

graus de comprometimento contagioso nas três áreas. Para tanto, 30 alunos<br />

do curso de odontologia da UFRN em atividade clínica, aleatoriamente<br />

selecionados, tiveram analisadas gola, bolso e punho dos seus jalecos.<br />

Avaliou-se tais níveis por meio da impressão de carimbo de fórmica estéril<br />

sobre essas áreas e, em seguida, sobre as placas de ágar Columbia,<br />

incubadas a 37 o C por 48h. A análise dos dados foi realizada por meio dos<br />

testes de Kruskal-Wallis e coeficiente de correlação de Spearman. Observou-se<br />

que as três áreas não diferiram significativamente entre si em<br />

relação ao número de microrganismos isolados, nem foi estabelecida<br />

correlação entre elas. Não houve também correlação entre o tempo de uso<br />

com a quantidade de microrganismos nas três áreas. A associação entre<br />

o tipo de tecido dos jalecos e a contaminação nos três locais examinados<br />

não foi significativa. Os resultados obtidos sugerem que as indumentárias<br />

apresentaram baixo risco de contágios nas três áreas analisadas, sem que<br />

houvesse diferença, nem relação entre elas.<br />

Palavras-chave EXPOSIÇÃO A AGENTES BIOLÓGICOS – CONTAMINAÇÃO BIOLÓ-<br />

GICA – ODONTOLOGIA OCUPACIONAL.<br />

ABSTRACT This article had the objective of evaluating the levels of<br />

contamination in jackets used by odontology students during clinical<br />

procedures, in three distinct areas, correlating them between themselves<br />

and with time of use. An association was also attempted between the<br />

type of fabric and the degrees of contagious exposure in the three areas.<br />

Therefore, 30 students of the odontology course of UFRN in clinical<br />

activity, randomly selected, had their jackets’ collars, pockets and cuffs<br />

analyzed. These levels were evaluated by the impression of a sterile<br />

Formica stamp over these areas and, later, over Columbia agar plates,<br />

incubated at 37°C for 48h. The data analysis was made by the Kruskal-<br />

Wallis tests and the Spearman correlation coefficient. It was observed<br />

that the three areas did not differ significantly from each other in the<br />

numbers of isolated microorganisms and no correlation between the was<br />

established. There also wasn’t correlation between the time of use and<br />

the quantity of microorganisms in the three areas. The association<br />

between the type of fabric of the jackets and the contamination in the<br />

three places examined was not significant. The results obtained suggest<br />

that the jackets present a low level of risk contagion in the three areas<br />

analyzed, without any difference or relationship among them.<br />

Keywords EXPOSURE TO BIOLOGICAL AGENTS – BIOLOGICAL CONTAMINATION<br />

– OCCUPATIONAL DENTISTRY.<br />

Saúde em Revista<br />

Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />

47


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os profissionais da área de saúde estão<br />

expostos às contaminações e/ou transmissões<br />

de doenças em decorrência de contatos manuais<br />

inadequados diretos ou indiretos de aerossóis,<br />

gotículas e perdigotos, os quais são gerados<br />

durante o exercício da profissão. A<br />

carência do zelo na prevenção dos contágios<br />

é uma evidência patente para a maioria dos<br />

profissionais que agem por desconhecimento<br />

ou negligência, com o uso inadequado dos<br />

Equipamentos de Proteção Individual (EPI)<br />

1, 2, 3, 4, 5.<br />

nos seus ambientes de trabalho.<br />

Pelczar, Chan e Krieg 6 relatam que os<br />

aerossóis são veículos de contaminação gerados<br />

por fontes humanas ou ambientais e responsáveis<br />

pela transmissão de doenças devido<br />

a ingestão ou inalação de microrganismos<br />

patogênicos, por aerossóis produzidos por<br />

água contaminada em ambientes climatizados<br />

ou por jato de spray. Ressaltam ainda que é<br />

possível a produção de poeira infecciosa<br />

transmitida por fonte humana, detectada em<br />

superfícies de assoalho, após agitação de roupa<br />

de cama que contaminam o ar circulante.<br />

Há relatos, como os de Bebermeyer, 7<br />

que estimam o tempo de sobrevivência a<br />

25°C de agentes veiculados por tais secreções,<br />

saliva e sangue, como no caso de vírus<br />

respiratórios e do Herpes zoster vírus e<br />

Streptococcus pyogenes, por horas ou dias;<br />

do vírus do Herpes simples tipo I e II, por<br />

segundos ou minutos; do vírus da Hepatite<br />

A e B por semanas; de Staphylococcus<br />

aureus por dias; e do Treponema pallidum<br />

por segundos.<br />

Rutala e Weber 8 recomendam o uso de<br />

aventais como parte do equipamento de proteção<br />

individual (EPI), para minimizar a passagem<br />

de microrganismos para pacientes cirúrgicos,<br />

como também evitar a exposição do<br />

profissional de saúde aos agentes infecciosos,<br />

particularmente os transmitidos pelo sangue,<br />

HIV, HBV e HCV, ressaltando o risco de<br />

aquisição desses agentes mediante contatos<br />

com lesões cutâneas ou membranas mucosas<br />

com fluidos corpóreos contaminados.<br />

Segundo o Centro de Controle de Doenças<br />

(CDC), 9 os aventais são recomendados<br />

na prevenção de contágios de microrganismos<br />

epidemiologicamente importantes em<br />

infecções como a rubéola congênita e difteria<br />

cutânea, assim como nos casos de germes<br />

multi-resistentes em feridas infectadas por<br />

estafilococos e estreptococos. Esse mesmo<br />

órgão refere que o uso de aventais e campos<br />

cirúrgicos estéreis constitui barreira efetiva,<br />

quando secos, uma vez que se apresentam<br />

como materiais resistentes à penetração de<br />

líquidos, devendo os mesmos serem usados<br />

no atendimento clínico quando forem previstos<br />

contatos substanciais das roupas do profissional<br />

com o paciente, superfícies<br />

ambientais ou itens contaminados.<br />

Nesse mesmo sentido, Wong et al. 10 demonstraram<br />

que os jalecos são fontes potenciais<br />

de infecções cruzadas, especialmente os<br />

utilizados em cirurgia e que a lavagem das<br />

mãos deve ser implementada antes e após<br />

atendimento ao paciente, sugerindo também<br />

que o descarte de roupa contaminada deve ser<br />

feito em plásticos e que é imperativa a substituição<br />

das mesmas pelo menos a cada semana.<br />

Seguindo esse mesmo raciocínio, Hambraeus<br />

e Ransjö 11 detectaram contaminação<br />

por estafilococos em batas durante o trabalho<br />

de rotina das enfermeiras de clínica de cirurgia<br />

plástica e que havia uma redução destes<br />

microrganismos de quatro a 10 vezes quando<br />

se utilizava proteção sobre a roupa branca.<br />

No atendimento em pacientes, Lidwell<br />

et al. 4 evidenciaram em centro de recuperação<br />

cirúrgica de queimados de único leito,<br />

que as camas tinham suas colchas contaminadas<br />

por Staphylococcus aureus carreados<br />

pelas batas das enfermeiras.<br />

Buscando demonstrar a contaminação<br />

de aventais utilizados por estudantes de Medicina,<br />

Loh et al. 12 detectaram que áreas de<br />

contatos freqüentes, como bolsos e mangas,<br />

são contaminados principalmente por micror-<br />

48<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

ganismos comensais da pele, como o<br />

Staphylococcus aureus, cuja contaminação<br />

está diretamente relacionada com o grau de<br />

limpeza dessa indumentária, sendo a mesma<br />

uma fonte potencial de infecção cruzada.<br />

Num estudo com 50 pacientes com doenças<br />

periodontais, Carvajal et al. 1 demonstraram<br />

a contaminação por aerossóis das<br />

máscaras, protetores oculares e piso em<br />

100% dos atendimentos, contaminação esta<br />

observada com o uso da reação de benzidina<br />

com a detecção de sangue e glutaraldeído,<br />

quando da utilização do ultra-som.<br />

Dentro dessa lógica, segundo Wall 5 , o<br />

risco de contágio é expressivo diante de portadores<br />

de vírus como o da Hepatite B e que<br />

um dentista que atende a 20 pacientes ao dia<br />

encontrará um portador de HBV a cada sete<br />

dias, e terá contato com dois portadores de<br />

infecção herpética, além de número desconhecido<br />

de pacientes HIV positivos. O autor<br />

menciona ainda que os cuidados para a prevenção<br />

dos contágios para o HBV valem<br />

também para o controle do HIV.<br />

O uso do equipamento de proteção individual<br />

(EPI) é ressaltado por Discacciati et<br />

al. 3 , pelo fato de ter comprovado o alcance<br />

dos respingos provenientes da utilização de<br />

seringa tríplice e turbina de altas rotações em<br />

cinco atendimentos clínicos coletivos simulados,<br />

sendo observada a presença de saliva e<br />

sangue de paciente, utilizando anilina de diversas<br />

cores adicionadas à água do reservatório<br />

de cada um dos cinco equipos. Evidenciaram<br />

também o contato da área e da roupa<br />

do operador e paciente, bem como de bandejas<br />

contendo artigos estéreis, dentro da área<br />

de abrangência dos respingos, detectada a<br />

1,82 m, calculada a partir do ponto correspondente<br />

à boca do paciente. Os autores indicam<br />

a necessidade de barreiras entre os<br />

equipamentos localizados em um mesmo<br />

ambiente e o uso do EPI adequado.<br />

Chinellato e Scheidt 2 demonstraram e<br />

reiteraram a importância do uso do EPI,<br />

mencionando que o uso do avental é imprescindível<br />

em toda a ocasião em que houver a<br />

possibilidade de contatos com sangue, produtos<br />

sangüíneos e/ou secreções que possam<br />

acidentalmente contaminar as vestes do profissional<br />

da saúde.<br />

Portanto, esse trabalho teve o objetivo<br />

de avaliar o nível de contaminação bacteriana<br />

em superfícies de jalecos (gola, bolso e punho)<br />

utilizados por alunos de Odontologia da<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Norte<br />

(UFRN), estabelecendo possíveis correlações<br />

entre os níveis de contaminação das três<br />

áreas, assim como entre os níveis de contaminação<br />

e tempo de uso dos jalecos. Ademais,<br />

buscou-se associação entre o tipo de<br />

tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />

nas três áreas analisadas.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Trinta alunos do curso de Odontologia<br />

da UFRN que estavam em atividade clínica<br />

foram aleatoriamente selecionados e tiveram<br />

analisadas três áreas dos seus jalecos, em<br />

relação aos níveis de contaminação: gola,<br />

bolso e punho. A coleta das informações relativas<br />

ao tempo de uso e tipo de tecido dos<br />

jalecos, se deu a partir da aplicação de um<br />

questionário a todos os alunos selecionados<br />

que tenham assinado o Termo de Consentimento<br />

Livre e Esclarecido, autorizando sua<br />

participação na pesquisa. Para a variável<br />

tempo de uso dos jalecos, questionou-se aos<br />

alunos o tempo que o mesmo esteve sob uso<br />

sem lavagem. Quanto ao tipo de tecido dos<br />

jalecos, comparou-se o tecido dos mesmos<br />

com amostras padronizadas de tecidos utilizados<br />

para confecção de jalecos. Previamente<br />

a realização desse estudo, o projeto foi submetido<br />

ao comitê de ética em pesquisa da<br />

UFRN e aprovado com o número 55/03.<br />

A avaliação da contaminação bacteriana<br />

foi realizada pela amostragem de três sítios<br />

das batas: região cervical inferior vista<br />

dorsalmente; porção radial interna do punho<br />

da mão dominante e bolso inferior correspon-<br />

Saúde em Revista<br />

Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />

49


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

Figura 1. Aspecto lateral e da superfície do carimbo.<br />

Figura 2. Aspecto da placa após o período de<br />

incubação.<br />

dente à mão dominante. A coleta do material<br />

dos jalecos realizou-se com carimbos de madeira<br />

revestidos de fórmica, medindo 6 cm de<br />

comprimento e 3cm de largura, previamente<br />

esterilizados. Estes foram aplicados sob pressão<br />

manual nas regiões selecionadas dos jalecos,<br />

mediante três movimentos de vai e vem.<br />

Após este procedimento, os carimbos<br />

tiveram impressão em placas de Columbia<br />

Agar acrescido de 5% de sangue desfibrinado<br />

de carneiro e incubados em aerobiose por 48<br />

horas a 37°C, conforme demonstrado nas figuras<br />

1 e 2.<br />

A contagem das Unidades Formadoras<br />

de Colônias (UFCs) foi realizada manualmente<br />

tomando como base a área de impressão<br />

do carimbo. Em seguida, analisaram-se<br />

os dados mediante teste de Kruskal-Wallis no<br />

sentido de detectar possíveis diferenças na<br />

contaminação das três áreas pesquisadas. As<br />

prováveis correlações entre as áreas<br />

pesquisadas, assim como entre os seus níveis<br />

de contaminação e o tempo de uso foram<br />

obtidas pelo coeficiente de correlação de<br />

Spearman. Na tentativa de se observar uma<br />

associação entre o tipo de tecido dos jalecos<br />

e os níveis de contaminação das áreas estudadas,<br />

aplicou-se o teste exato de Fisher. O<br />

nível de significância estabelecido para este<br />

estudo foi de 5%.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

As contaminações cruzadas odontológicas<br />

ocorrem pela transmissão de agentes<br />

microbianos veiculados por diversas fontes,<br />

relacionadas com os contatos manuais em<br />

superfícies de fômites e/ou indumentária<br />

durante os procedimentos clínicos da equipe.<br />

1, 2, 6, 7, 13<br />

Ainda não é de conscientização universal<br />

da equipe de saúde, o perigo iminente que o<br />

jaleco representa na disseminação de microrganismos,<br />

principalmente no tocante aos atendimentos<br />

prestados aos pacientes imunocomprometidos,<br />

como os usuários de drogas<br />

quimiotóxicas e irradiados, que inegavelmente<br />

compõem grupos de maior vulnerabilidade.<br />

Neste trabalho observou-se que os jalecos<br />

foram reutilizados nos atendimentos clínicos<br />

entre tempos variados, de uma (53,3%<br />

dos alunos) a 20 (vinte - 3,3% dos alunos)<br />

vezes e que o tecido de confecção de predomínio<br />

(86,7%) foi a microfibra (fibra muito<br />

fina, utilizada na forma de multifilamentos,<br />

impermeável, que permite a saída de suor e<br />

ar), com menor expressão (13,3%) do tecido<br />

não-tecido (TNT – tecido não texturizado,<br />

100% polipropileno, utilizado nos mais variados<br />

segmentos, de descartáveis a duráveis).<br />

Os níveis de contaminação para as três<br />

áreas pesquisadas encontram-se na tabela 1.<br />

50<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

Uma amostra referente ao bolso foi perdida por<br />

ter ocorrido contaminação ambiental no meio<br />

de cultura após impressão com o carimbo.<br />

Os níveis de contaminação obtidos a<br />

partir dos três sítios demonstraram que não<br />

houve diferença entre os mesmos (p =<br />

0,0759). Portanto, apesar da região do punho<br />

ter se apresentado menos contaminada, essa<br />

menor contaminação não foi diferente das<br />

demais áreas, apresentando todas, baixos níveis<br />

de contaminação.<br />

Há que se ressaltar os elevados desvios<br />

padrões e intervalos de confiança para todas<br />

as áreas estudadas, demonstrando dessa forma<br />

o pequeno tamanho da amostra estudada,<br />

cuja variabilidade dos dados permitiu o cálculo<br />

do tamanho real da amostra que<br />

minimizaria tal variabilidade e seria possível<br />

demonstrar possíveis diferenças entre as áreas.<br />

Para uma população finita de alunos de<br />

263, a amostra necessária seria de 166 alunos<br />

(jalecos), o que certamente inviabilizaria o<br />

trabalho laboratorial.<br />

Na tentativa de verificar uma possível<br />

relação entre os níveis de contaminação das<br />

três áreas estudadas, assim como entre estas<br />

e o tempo de uso dos jalecos, determinou-se<br />

o coeficiente de correlação de Spearman que<br />

se encontra expresso na tabela 2.<br />

A partir da análise da correlação, podese<br />

observar que não houve correlação significativa<br />

entre nenhuma das três áreas pesquisadas<br />

e nem entre cada uma delas e o<br />

tempo de uso dos jalecos.<br />

Nessa amostra foi possível observar a<br />

ausência de correlação entre os níveis de<br />

contaminação nas três áreas, ou seja, não<br />

necessariamente um bolso muito contaminado<br />

refletia no respectivo punho e/ou gola<br />

com níveis similares de contaminação. As<br />

três áreas também não se correlacionaram<br />

com o tempo de uso que poderia ser<br />

determinante da intensidade da contaminação,<br />

provavelmente pela maioria dos alunos<br />

(53,3%) estarem usando os jalecos por apenas<br />

um dia.<br />

Tabela 1. Número de sítios avaliados, médias, desvios-padrões, intervalos de confiança, e<br />

significância estatística para a contagem bacteriana (UFC) por cm 2 das áreas correspondentes ao<br />

bolso, gola, punho de jalecos utilizados por alunos de Odontologia durante procedimentos clínicos.<br />

Natal, RN. 2003.<br />

Área n M édia D esvio padrão IC (95% ) P<br />

Gola 30 13,76 29,67 2,687-24,846<br />

Punho 30 6,83 7,64 3,980-9,687 0,0759<br />

Bolso 29 13,2 17 6,740-19,674<br />

Tabela 2. Coeficientes de correlação de Spearman (r), intervalos de confiança (95%) e níveis de<br />

significância entre gola, bolso e punho e entre estas áreas e o tempo de uso e tipo dos tecidos dos<br />

jalecos. Natal, RN. 2003.<br />

C orrelações R IC (95% ) P<br />

Gola x bolso 0,1142 -0,2671/0,4646 0,5478<br />

Gola x punho 0,0967 -0,2902/0,4565 0,6175<br />

Punho x bolso -0,0276 -0,3998/0,3524 0,8870<br />

Gola x tem po de uso -0,0993 -0,4528/0,2810 0,6013<br />

Bolso x tem po de uso 0,0199 -0,3526/0,3871 0,9165<br />

Punho x tem po de uso -0,0969 -0,4566/0,2901 0,6170<br />

Saúde em Revista<br />

Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />

51


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

Para a análise da associação entre o tipo<br />

de tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />

das três áreas estudadas, estes foram<br />

categorizados de acordo com a mediana dos<br />

dados em alto e baixo nível de contaminação.<br />

Sendo assim, para a gola, o nível baixo<br />

correspondeu a 4 (quatro) ou menos UFCs<br />

por cm 2 e o alto, níveis acima desses valores.<br />

Para o bolso, tais valores corresponderam a<br />

3,5 ou menos e acima de 3,5, respectivamente.<br />

Em relação ao punho, os limites considerados<br />

foram 7 (sete) ou menos UFCs (valor<br />

considerado baixo) e maior que 7 (sete)<br />

UFCs (valor considerado alto).<br />

A associação entre o tipo do tecido do<br />

jaleco e os níveis de contaminação bacteriana<br />

das três áreas estudadas categorizados, encontra-se<br />

expresso na tabela 3.<br />

De acordo com a tabela 3 pode se observar<br />

que não houve associação entre o tipo<br />

de tecido dos jalecos e os níveis de contaminação<br />

das três áreas estudadas. Com base<br />

nesses dados, torna-se evidente que o tipo do<br />

tecido com o qual os jalecos eram confeccionados<br />

não influenciou nos níveis de contaminação<br />

dos mesmos.<br />

Com estas evidências é possível verificar<br />

a contaminação bacteriana em jalecos e avaliar<br />

o nível da mesma em superfícies de bolso e<br />

punho da mão dominante e região cervical<br />

durante 30 atendimentos realizados em clínicas<br />

por alunos do curso de Odontologia da<br />

UFRN, permitindo contribuir com a escassa<br />

4, 10, 11, 12, 14, 15<br />

literatura a respeito do assunto.<br />

Loh et al. 12 avaliaram jalecos de 100<br />

estudantes de medicina e observaram associação<br />

entre a contagem das colônias e o modo<br />

com os jalecos eram guardados, evidenciando<br />

as mangas como locais de localização mais<br />

propícios para colonização que as costas dos<br />

mesmos com o p valor < 0,0001. Também<br />

foi observado não haver correlação entre a<br />

freqüência das lavagens dos jalecos com a<br />

contaminação bacteriológica, cujos resultados<br />

foram reiterados no presente trabalho. Para<br />

Loh et al., 12 áreas de contatos freqüentes<br />

como bolsos e mangas são contaminadas<br />

principalmente por microrganismos comensais<br />

da pele como é o caso dos<br />

Staphylococcus aureus.<br />

No entanto, Wong et al. 10 num estudo<br />

de avaliação de troca de jalecos de 100 médicos,<br />

observaram maior índice de contaminação<br />

em regiões de punhos e bolsos que em<br />

região cervical dos mesmos (p < 0,005), diferindo<br />

do que fora observado no presente<br />

estudo. Provavelmente tais diferenças estejam<br />

relacionadas ao tamanho da amostra, ao<br />

Tabela 3. Freqüência absoluta e percentual de indivíduos tomando como base o tipo de tecido<br />

dos seus jalecos e o nível de contaminação na gola, bolso e punho. Natal, RN. 2003.<br />

Área estudada<br />

Tipo de tecido dos jalecos<br />

Gola<br />

M icrofibra<br />

n (% )<br />

Tecido não-tecido<br />

n (% )<br />

Baixo nível(≤ 4) 13 (81,3) 3 (18,8)<br />

Alto nível(>4) 13 (92,9) 1 (7,1)<br />

Bolso<br />

Baixo nível(≤ 3,5) 12 (80) 3 (20)<br />

Alto nível(>3,5) 14 (93,3) 1 (6,7)<br />

Punho<br />

Baixo nível(≤ 7)<br />

Alto nível(>7)<br />

13 (81,3) 3 (18,8)<br />

P<br />

0,602<br />

0,598<br />

0,606<br />

52<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

tipo de profissional estudado, assim como<br />

aos tecidos com os quais os jalecos desses<br />

dois estudos foram confeccionados, embora<br />

nesse estudo com alunos de Odontologia o<br />

tipo do tecido de confecção dos jalecos não<br />

esteve associado com os níveis de contaminação<br />

nas três áreas pesquisadas.<br />

Do mesmo modo que os estudos de Loh<br />

et al. 12 e o presente estudo, Wong et al. 10 não<br />

observaram correlação entre os níveis significativos<br />

de contaminação nos diversos atendimentos<br />

e o tempo de uso deste equipamento<br />

de proteção individual. Provavelmente,<br />

talvez mais importante que o tempo de uso e<br />

o tipo de tecido dos jalecos na determinação<br />

dos níveis de contaminação seja o modo<br />

como os mesmos são guardados.<br />

Frente aos trabalhos analisados e aos<br />

resultados obtidos neste estudo, considera-se<br />

imprescindível o uso dos jalecos, realizandose<br />

uma reflexão consciente e responsável por<br />

parte dos estudantes e profissionais da área<br />

de saúde quanto ao modo como fazê-lo. Lavagens<br />

regulares e formas de transporte e<br />

guarda adequadas seguramente minimizam<br />

os níveis de contaminação que tais jalecos<br />

possam vir a alcançar. O zelo da biossegurança<br />

é importante para a prevenção de contágios<br />

e preservação da saúde.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os resultados obtidos sugerem que os<br />

jalecos utilizados por alunos do curso de<br />

Odontologia da UFRN apresentaram baixos<br />

níveis de contaminação, independente da área<br />

pesquisada, do tempo de uso dos mesmos e<br />

tipo do tecido destes. Ainda assim, apesar dos<br />

baixos níveis, o fato de algumas áreas, especialmente<br />

o bolso em alguns casos apresentarem-se<br />

altamente contaminadas abre espaço<br />

para uma discussão a respeito do modo com<br />

que estes equipamentos de proteção individual<br />

estão sendo utilizados e, conseqüentemente,<br />

deles servirem como fonte de infecção cruzada<br />

na prática odontológica.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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profesional en el ambiente odontológico. Rev Dent Chile 1994;85(2):77-9.<br />

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auxiliares contra doenças infecto-contagiosas no consultório odontológico. Rev FOB 1993;1(4):60-6.<br />

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13. Hambraeus A. Transfer of Staphylococcus aureus via nurses,uniforms. J Hyg Camb 1973;71(4):799-816.<br />

Saúde em Revista<br />

Contaminação Bacteriana em Jalecos<br />

53


MARIA AUXILIADORA MONTENEGRO NESI, ET AL.<br />

14. Agarwal M, Stewart PH, Dixon RA. Contaminated operating room boots: the potential for infection. Am J<br />

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15. Heseltine P. Why don’t doctors and nurses wash their hands? Infect Control Hosp Epdemiol 2001;22(4):199-200.<br />

Submetido: 15/jul./2005<br />

Aprovado: 17/ago./2006<br />

54<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 47-54, 2006


A Decisão entre Fumar, Não Fumar,<br />

Pararde Fumar... Uma questão de escolha<br />

The Decision of Smoking, Not Smoking,<br />

Quitting Smoking... A Question of choice<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

THIAGO MAGALHÃESCAMARGO<br />

Graduando em farmácia e bolsista<br />

de iniciação cientítifica (UNlso/sp)<br />

DIMAS DOS SANTOS ROCHA<br />

JUNIOR<br />

Graduado em farmácia (uNlso/sp)<br />

JOSÉ CLÓVIS ROSA RAPHANELLI<br />

Graduado em farmácia (UNlso/sp)<br />

VIRGINIA SBRUGNERANAZATO<br />

Graduanda em farmácia e bolsista<br />

de iniciação cientítifica (UNlso/sp)<br />

CARLA DA SILVA SANTANA<br />

Professora no Curso de Terapia<br />

Ocupacional (uNlso/sp)<br />

MARIA<br />

AL VES<br />

IZALINA FERREIRA<br />

Mestre em estatística e experimentação<br />

(usp/sp)<br />

RENATADE LIMA<br />

Professora no Curso de Farmácia<br />

(uNlso/sp)<br />

SARADE JESUS OLIVEIRA<br />

Professora no Curso de Farmácia<br />

(UNlso/sp)<br />

RESUMOO tabagismo é um problema de saúde pública que causa grave<br />

dependência química. Esta pesquisa buscou inscrições sobre os motivos<br />

que levam os indivíduos a determinadas escolhas, ainda que inconscientemente.<br />

Os voluntários (estudantes da área de saúde, docentes e<br />

funcionários da Universidade de Sorocaba) assinaram o termo de consentimento<br />

livre e esclarecido e concederam uma entrevista, gravada e<br />

analisada (nos dizeres que denunciavam pontos em comum, posteriormente<br />

tabulados). Os fumantes (n = 31) iniciaram a exposição durante<br />

a adolescência e por influência de amigos. Os que optaram por não<br />

fumar (n = 115) o fizeram pelo cheiro desagradável e pela influência<br />

negativa de familiares fumantes. As razões para deixar de fumar (n =<br />

20) foram a conscientização dos malefícios causados à saúde, pressão<br />

familiar e questões financeiras. Conclui-se que fumar, não fumar ou<br />

parar de fumar foram meras escolhas dos voluntários. Outros aspectos<br />

dessas opções foram discutidos neste trabalho.<br />

Palavras-chave ADOLEscêNCIA- DEPENDêNCIA - NICOTINA - TABACO.<br />

ABSTRACTTobaccoism is a problem of public health that causes a<br />

serious chemical dependency. This study searched traces of the reasons<br />

that take individuais to certain choices, though unconsciously. The<br />

volunteers (students of the health area, professors and employees of the<br />

University of Sorocaba) signed the Informed Consent term and gave an<br />

interview, which was recorded and analyzed (the speeches showed<br />

points in common, that were tabulated). The smokers (n = 31) began the<br />

exposition during adolescence and by friends' influence. Non-smokers<br />

(n = 115) made their decision mainly due to the reek and to the negative<br />

influence of smokers in the family. The reasons for quitting smoking (n<br />

=20) were the conscientiousness of the damage caused to health, familiar<br />

pressure and financial questions. We can conclude that 'smoking',<br />

'not smoking' or 'quitting smoking' were mere volunteer's choices.<br />

Other aspects of these choices were argued in this work.<br />

Keywords ADOLESCENCE - DEPENDENCY - NICOTINE - TOBACCO.<br />

YOKO OSHIMA-FRANCO *<br />

Professora do Curso de Farmácia<br />

(UNlso/sp)<br />

* Correspondências: R. das<br />

Garças, 80, Nova Piracicaba,<br />

13405-132, Piracicabalsp<br />

yofranco@terra.com.br<br />

Saúde em Revista<br />

o sujeito e suas<br />

escolhas<br />

55


THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

o tabagismo é um problema de saúde<br />

pública e muitas são as dificuldades em parar<br />

de fumar: o sofrimento causado pela abstinência,<br />

a sensação de perda e as recaídas constituem<br />

os principais fatores que acabam por<br />

fazer o indivíduo desistir e voltar a fumar.I<br />

Pesquisas apontam que 70% dos fumantes<br />

gostariam de parar de fumar e 92% deles sabem<br />

do risco e da ameaça à saúde causados<br />

pelo tabagismo. Apesar disso, apenas 5% conseguem<br />

fazê-Io sem ajuda profissional.2 Parar<br />

de fumar passa a ser, então, algo inatingível e<br />

essa decisão é sempre adiada.<br />

Múltiplos fatores têm sido atribuídos<br />

para explicar a dependência química. Um deles<br />

refere-se ao próprio agente, no caso a nicotina,<br />

capaz de produzir um complexo efeito<br />

farmacológico sobre o sistema nervoso, tanto<br />

sobre o periférico quanto, e principalmente,<br />

sobre o central, atuando no sistema de recompensa<br />

cerebral.3 O outro diz respeito ao indivíduo<br />

com suas características genéticas4,5 e<br />

de personalidade,6.7e há ainda que se considerar<br />

as influênciasambientais,gentre elas, padrão<br />

cultural, econômico e político, marketing<br />

eficiente etc. O mais grave do tabagismo é<br />

que, diferentemente de outras drogas, seu uso<br />

não declina com a idade, apesar das opções de<br />

tratamentos existentes,9 por exemplo, o farmacológico,<br />

o psicológico e aqueles considerados<br />

alternativos, como a acupuntura.<br />

A hipótese formulada para esta pesquisa<br />

partiu de duas premissas. A primeira versa<br />

sobre a questão de nossas escolhas,1O pois<br />

escolher pressupõe decisão: de fumar ou<br />

continuar fumando (fumantes), de parar de<br />

fumar (ex-fumantes) ou de não iniciar (não<br />

fumantes). A segunda é a do aprendizado<br />

condicionado11 que o ato de fumar representa,<br />

sustentado em princípios cognitivos<br />

comportamentais, como aprender a dirigir,<br />

aprender música, língua estrangeira etc.<br />

O objetivo deste trabalho foi buscar inscrições<br />

(marcas, traços), pela escuta dos mo-<br />

tivos que levaram os indivíduos a aprender a<br />

fumar, a parar de fumar ou a não fumar.<br />

METODOLOGIA<br />

Esta pesquisa consistiu na abordagem<br />

qualitativa, por meio de entrevistas gravadas,<br />

no período de 2004 a 2005. Os entrevistadores<br />

receberam orientações para fazer muitas perguntas<br />

a respeito da relação do voluntário com<br />

o cigarro (você fuma?, já experimentou?,<br />

quando?, sozinho?, quem lhe ofereceu ou<br />

como conseguiu o primeiro cigarro?, sabe o<br />

motivo por que quis experimentar?, que idade<br />

idade tinha?, alguém da sua família ou amigo<br />

fuma?, você acha bonito fumar?, por quê?, o<br />

que não gosta no cigarro?, o que gosta no cigarro?,<br />

ele faz mal à saúde?, gostaria de parar<br />

de fumar?, já tentou alguma vez?, quantas<br />

vezes?, usou algum medicamento ou solicitou<br />

alguma ajuda profissional?, fuma muito?,<br />

quanto?, quando é inevitável fumar?, em quais<br />

condições acende um cigarro? etc.), visando a<br />

extrair o máximo de informações. Todos os<br />

voluntários pertenciam à comunidade acadêmica<br />

da Universidade de Sorocaba (UNISO) e<br />

os critérios para sua inclusão no estudo consistiram<br />

da disponibilidade à entrevista e a assinatura<br />

do termo de consentimento livre e<br />

esclarecido.<br />

Os estudantes fumantes e não-fumantes<br />

pertenciam à área de saúde da UNISO (Farmácia,<br />

Terapia Ocupacional e Nutrição), de<br />

qualquer idade e sexo. Escolheu-se essa área<br />

por se tratar de uma população com mais informações<br />

sobre os efeitos do fumo e a preocupação<br />

com a saúde. Discentes, docentes e<br />

funcionários da UNISO, de qualquer idade e<br />

sexo, representaram os voluntários ex-fumanteso<br />

O estudo foi aprovado pelo Comitê de<br />

Ética em Pesquisa da UNISO, sob o parecer<br />

CEP 003/04. A busca de inscrições só é possível<br />

quando se considera que o ser humano<br />

caminha por mediações simbólicas e está<br />

mergulhado no conjunto de signos que fundam<br />

e orientam o pensamento12- daí a razão<br />

56<br />

SAÚDEREV" Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006


THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET ALo<br />

de ouvir os voluntários e gravar seus dizeres.<br />

Os pontos comuns entre as diversas falas foram<br />

analisados, tabulados e sistematizados.<br />

Tamanho da Amostra<br />

Calculou-se a amostra constituída por<br />

fumantes, não fumantes e ex-fumantes para<br />

um erro mínimo de 5%, por amostragem<br />

estratificada por proporção, utilizando correção<br />

para população finita: 13<br />

z<br />

Do = No N _ pjqj<br />

N<br />

o<br />

1+-'<br />

o<br />

-<br />

a<br />

N<br />

t2<br />

onde N é o tamanho da amostra calculao<br />

do para população finita; considerando a. =<br />

0,05; t =2 (aproximação com a distribuição<br />

normal) e Pjqj=variância máxima a ser obtida<br />

(p = 0,5 e q =0,5); n é o tamanho da população<br />

finita (total de pessoas que poderiam participar<br />

da amostra); no é o tamanho da amostra.<br />

Quanto ao gênero, a amostra de voluntários<br />

fumantes consistiu em 17 mulheres e<br />

14 homens e a de não fumantes, em 93 mulheres.<br />

e 22 homens. O cálculo do tamanho<br />

da amostra não foi aplicado para ex-fumantes,<br />

por se tratar de uma condição rara.<br />

ANÁLISE<br />

ESTATÍSTICA<br />

Os resultados foram expressos como<br />

média :t erro padrão e a significância das<br />

diferenças observadas (p < 0,05), pelo teste<br />

não-pareado t-Student.<br />

RESULTADOS<br />

Amostra da População<br />

Trezentos e cinqüenta e cinco estudantes<br />

(matriculados nos cursos da saúde) foram<br />

consultados, no primeiro semestre de 2004,<br />

se gostariam de participar da pesquisa e 230<br />

afirmaram que sim (figura 1). Note-se que a<br />

população feminina predomina sobre a masculina,<br />

nos cursos da saúde dessa universidade,<br />

sendo 280 e 75, respectivamente.<br />

A classificação quanto ao tabagismo (fumante,<br />

não fumante ou ex-fumante, gênero e<br />

idade) dos 230 indivíduos que inicialmente<br />

aceitaram participar da pesquisa é mostrada na<br />

figura 2. Desses 230 indivíduos, 157 estudantes<br />

(115 não fumantes, 31 fumantes e 11 ex-fumantes)<br />

e mais nove funcionários e docentes<br />

(ex-fumantes) participaram efetivamente da<br />

pesquisa, doravante denominados voluntários.<br />

Figura 1. População acadêmica<br />

consultada para participação na pesquisa.<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

Q pessoas<br />

consultadas<br />

. participações<br />

50<br />

o<br />

1<br />

Mulheres<br />

2<br />

Homens<br />

Saúde em Revista<br />

o sujeito e suas escolhas<br />

57


TH/AGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

Figura 2. Classificação quanto ao tabagismo - as 3 categorias foram identificadas na população<br />

acadêmica.<br />

150 -, 140<br />

100 ->--<br />

e........__.______________<br />

50<br />

-- .<br />

~ ~~~:~::ntes I<br />

I. Ex-Fumantes I<br />

o<br />

1<br />

Mulheres<br />

2<br />

Homens<br />

A Motivação para Fumar<br />

Entre os fumantes entrevistados (fig.<br />

3), ou seja, 17 mulheres e 14 homens (n =<br />

31), 58% revelaram que a maior influência<br />

recebida para iniciar-se no tabagismo foram<br />

os amigos; 26% afirmaram ter tido curiosidade<br />

e 16% relataram que achavam bonito, interessante<br />

e charmoso. Todos (homens e<br />

mulheres) iniciaram durante a adolescência,<br />

numa idade média, em anos, de 15,6 :t 0,4.<br />

Não houve diferença quanto à idade média<br />

de início entre homens (15,7 :t 0,8) e mulheres<br />

(15,5 :t 0,2). Apenas um entrevistado<br />

admitiu uma primeira experiência com o cigarro<br />

aos 8 anos de idade, mas só vindo a<br />

fumar mesmo na adolescência.<br />

De acordo com os resultados obtidos, o<br />

ato de fumar decorrre de um aprendizado, da<br />

experiência repetida com os amigos. Nesse<br />

quesito, apenas duas fumantes assumiram ter<br />

aprendido sozinhas, embora os motivos tenham<br />

sido curiosidade e a busca por um efeito<br />

calmante, respectivamente. Todos os entrevistados<br />

afirmaram que gostariam de parar de<br />

fumar (n = 31) e que já tentaram mais' de uma<br />

58<br />

vez (n =27). Apenas o voluntário com a experiência<br />

do cigarro na infância nunca tentou<br />

parar. Por unanimidade, eles afirmaram ter<br />

conhecimento dos malefícios à saúde, mas que<br />

se sentiam sem condições de tomar a decisão<br />

de parar, na data da entrevista. A quantidade<br />

média de cigarros fumados por dia variou<br />

entre os gêneros, sendo que os homens fumavam<br />

praticamente o dobro de cigarros (14 :t<br />

1,7) que as mulheres (7,3 :t 1).<br />

A Motivação para Não Fumar<br />

Da população entrevistada de não fumantes<br />

(fig. 4, n = 115), 13% disseram ter<br />

experimentado o cigarro também na fase da<br />

adolescência, mas não gostaram. Outros 9%<br />

admitiram que não fumar era uma questão<br />

de opção por uma vida saudável. Interessante<br />

é que 37% revelaram incomodar-se com o<br />

cheiro do cigarro, e que esse fato os mantinha<br />

distantes dele. Além do mais, 34% assumiram<br />

ter parentes fumantes e que tal hábito<br />

causava-Ihes transtorno, tendo sido o<br />

cigarro um verdadeiro estímulo negativo<br />

para esse grupo.<br />

SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006


THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

Figura 3. As principais influências ou motivos relatados pelos fumantes para aderir ao hábito de<br />

fumar.<br />

A decisão 'fumar'<br />

influência<br />

cultural16%<br />

curiosidade<br />

26%<br />

_<br />

influênciade<br />

amizades<br />

58%<br />

Figura4. As principais influências ou motivos relatados pelos não-fumantes para não aderir ao<br />

hábito de fumar.<br />

A decisão 'não fumar'<br />

nunca tiveram<br />

vontade<br />

opção por 7%<br />

uma vida<br />

saudável """'" /<br />

90/0 ""' , //<br />

~"~j,' \,<br />

experimentou /-/,;<br />

e não gostou / /<br />

13% / .<br />

/<br />

estímulo<br />

/<br />

/<br />

negativo ./<br />

familiar<br />

35%<br />

cheiro da<br />

fumaça<br />

36%<br />

Saúde em Revista<br />

o sujeito e suas escolhas<br />

59


THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

Figura 5. Principais influências ou motivos para os ex-fumantes<br />

deixarem de fumar.<br />

A decisão 'deixar de fu mar'<br />

questões<br />

finaceiras -,<br />

15%<br />

mudança de<br />

amizade<br />

\. malefícios<br />

causados à<br />

saúde<br />

40%<br />

20%<br />

\ pressão<br />

"- familiar<br />

25%<br />

A Motivação para Deixar de Fumar<br />

Entre os ex-fumantes entrevistados (fig.<br />

5, n = 20), 40% tomaram tal decisão por<br />

conta da conscientização dos malefícios causados<br />

à saúde, 25%, por pressão<br />

familiar,<br />

20%, por mudança de amizades e 15%, por<br />

questões financeiras (falta de dinheiro ou<br />

economia). A idade média em que o grupo<br />

parou de fumar foi de (em anos) 25 :t 1,6<br />

(mulheres, n = 9) e 24,1 :t 1,5 (homens, n =<br />

11). A quantidade média de cigarros fumados<br />

por dia variou entre 6,4 :t 0,7 (mulheres, n =<br />

9) e 11,2 :t 1,3 (homens, n = 11).<br />

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO<br />

Este trabalho enfocou o tema tabagismo<br />

- abuso do tabaco, ou fumo, proveniente das<br />

folhas dessecadas da erva Nicotiana tabacum.<br />

O processamento pela indústria<br />

tabagista resulta em inúmeras marcas de cigarros,<br />

comercializadas sob um marketing<br />

instigante,14com alcance sobre diferentes tipos<br />

de pessoas, que se "percebem" inteligentes,<br />

esportistas, bonitas, bem-sucedidas, viris,<br />

modernas, empreendedoras, campestres, ru-<br />

rais, urbanas et'c. Ainda que totalmente inconscientes<br />

dessa persuasão.<br />

Trata-se de um tema interessante, pela<br />

forte dependência química, reconhecida como<br />

doença. ou seja. fenômeno biopsicossocial que<br />

compreende um conjunto de alterações fisiológicas,<br />

cognitivas e de comportamento, no qual<br />

o uso compulsivode um ou mais fármacosou<br />

drogas passa a ser o objetivo principal na vida<br />

do usuário,15ocasionando dependência química,<br />

à semelhança de outras drogas de abuso, porém,<br />

é lícito, o que por si já constitui mecanismo<br />

reforçador. A expressão reforço refere-se à<br />

capacidade que as drogas possuem de produzir<br />

efeitos fazendo com que o usuário deseje<br />

experimentá-Ias novamente. 16<br />

Quais as motivações individuais que levam<br />

o adolescente a aprender a fumar? Será<br />

que ele próprio sabe os motivos? A dependência<br />

química é uma doença da escolha? A questão<br />

é genética ou epigenética (influenciada pelo<br />

meio ambiente e pela experiência de cada um)?<br />

O que faz com que uma população opte por<br />

não fumar? O que resta ao ex-fumante?<br />

Como se percebe, são várias as perguntas<br />

e poucas as respostas encontradas na lite-<br />

60<br />

SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006


...<br />

THIAGO MAGALHÃES CAMARGO. ET AL.<br />

ratura com relação às inscrições (marcas,<br />

traços) presentes no comportamento humano<br />

que determinam a dependência química.<br />

Contudo, o primeiro traço comum entre as<br />

pessoas entrevistadas foi quanto ao início<br />

dessa experiência: a adolescência.<br />

Seixas17 relata que "a adolescência é<br />

uma fase bastante delicada para a saúde e<br />

para o desenvolvimento da personalidade do<br />

indivíduo, na qual ocorre um acúmulo de<br />

novas aquisições e mudanças em todas as<br />

áreas da vida (social, emocional, física,<br />

cognitiva e sexual)". Etimologicamente, o<br />

termo adolescente é de origem latina (adolescens),<br />

particípio presente do verbo<br />

adolesco (adolescere), que significa crescer.<br />

Essa etapa é tida, por alguns autores, como<br />

um dos períodos de crise próprio do ciclo<br />

vital,18.19sem conotação pejorativa, mas em<br />

conformidade com sua origem grega (krisis):<br />

"ato ou faculdade de distinguir, escolher,<br />

decidir e/ou resolver".19 Nesse sentido, a dependência<br />

química (ao tabaco ou a outra droga<br />

de abuso) passa a ser uma escolha, uma<br />

doença da escolha, a decisão é fumar.<br />

Retomando a questão da crise, Caplan20<br />

atribuiu a ela a oportunidade de crescimento<br />

psicológico ou o perigo da instalação de um<br />

distúrbio psíquico permanente. Seu desfecho<br />

estaria relacionado a um complexo interjogo<br />

entre forças endógenas e exógenas: estrutura<br />

de personalidade, experiência biopsicossocial<br />

passada e influências atuais dos meios familiar<br />

e social. Admitindo que, na crise, a pessoa<br />

torna-se mais suscetível, esse autor<br />

enfatiza a forte influência do meio em sua<br />

resolução. Daí inscrições como "meus amigos<br />

fumavam".<br />

Nessa fase o indivíduo está construindo<br />

sua própria identidade e, nessa busca, pode<br />

experimentar uma enorme multiplicidade de<br />

identificações, bastante contraditórias entre<br />

si. Assim, diante do que já se tem acumulado<br />

em conhecimento sobre a adolescência, do<br />

ponto de vista comportamental é compreensível<br />

que novas experiências (como a de<br />

Saúde em Revista<br />

o sujeito e suos escolhas<br />

aprender a fumar) surjam exatamente nesse<br />

período, independentemente do discurso individual<br />

e de suas razões. Talvez exatamente<br />

por isso os voluntários fumantes tenham pouco<br />

conhecimento (aqui referido como ato<br />

inconsciente) sobre os verdadeiros motivos<br />

que os levaram a aprender a fumar, apontando<br />

justificativas vagas, como "meus amigos<br />

fumavam", "tive curiosidade", "achava bonito"<br />

etc.<br />

O mistério da consciência é, em termos<br />

simples, o enigma existente no surgimento<br />

das imagens mentais - em particular as que<br />

formam o pensamento consciente - a partir<br />

dos fenômenos físicos, químicos, biológicos<br />

e neurais ocorridos no cérebro.21 Imaginação<br />

significa, tradicionalmente, a capacidade de<br />

evocar ficções e ilusões sobre a realidade, e<br />

denota as próprias fantasias criadas, em outras<br />

palavras, o imaginário. Esse é visto<br />

como imitação, reprodução ou combinação<br />

de imagens dos sentidos formadas na própria<br />

experiência da pessoa. Dessa maneira, "só é<br />

possível imaginar combinações do que já<br />

vimos ou sentimos de algum modo".22<br />

No âmbito da neurociência, a adolescência<br />

é marcada pela poda neuronal (prunning),<br />

ou seja, o número de sinapses nessa etapa da<br />

vida sofre uma redução de cerca de 40%.23<br />

Uma criança com três anos de idade tem o<br />

dobro de sinapses que um adulto, além de<br />

um cérebro superdenso, que assim permanece<br />

até a adolescência. Então, esse número diminui<br />

de 1.000 trilhões para cerca de 500<br />

trilhões, conservando-se nesse nível até a<br />

fase adulta.24Embora a adolescência seja uma<br />

invenção sociológica, ela guarda estreita relação<br />

com o desenvolvimento do sistema<br />

nervoso central, conforme recentes descobertas<br />

dos últimos anos, denominados década<br />

do cérebro.25As vias neuronais mais utilizadas<br />

são as que continuam na vida adulta, pois<br />

as sinapses seguem a regra do "use-as ou<br />

perca-as".24 Inclui-se aqui a dependência<br />

química, que estimula a via da recompensa<br />

cerebral, a via mesolímbica dopaminérgica,<br />

61


THIAGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

cujos corpos celulares dos neurônios localizados<br />

na área tegmental ventral emitem projeções<br />

ao sistema límbico, na região do núcleo<br />

accumbens.26<br />

Um segundo traço comum entre os entrevistados<br />

foi dizer "aprendi a fumar". Os<br />

entrevistados reconhecem que o ato de fumar<br />

envolveu um processo de aprendizagem. O<br />

ponto-chave que toma a nicotina aditiva é ela<br />

conseguir manter o comportamento compulsivo<br />

demonstrado experimentalmente em<br />

modelos animais cientificamente validados:27<br />

auto-administração (self-administration) e<br />

preferência de lugar (place preference). Ressalte-se<br />

que as propriedades reforçadoras das<br />

drogas podem ser medidas com precisão nos<br />

animais, 11 visto que eles aprendem. Tais<br />

modelos, geralmente em ratos ou macacos,<br />

utilizam catéteres intravenosos ligados a<br />

bombas controladas por alavanca. Os animais<br />

trabalham para obter injeções das drogas,<br />

evidenciando dois procedimentos essenciais<br />

ao comportamento compulsivo (auto-administração<br />

e repetição).<br />

O efeito reforçador da nicotina é complexo<br />

e envolve, possivelmente, estados subjetivos<br />

de euforia, ampliação da cognição,<br />

diminuição do apetite, adaptação alterada ao<br />

estresse e alívio da síndrome de abstinência.28<br />

O mecanismo neural inclui uma ação primária<br />

sobre receptores nicotínicos centrais, associados<br />

com ativação seletiva do sistema<br />

mesolímbico dopaminérgico, que também<br />

mediaria outras fontes de reforço.27<br />

Em um artigo de revisão, Messas5 aponta<br />

que "a mais forte conclusão da análise conjunta<br />

dos estudos epidemiológicos e moleculares<br />

é a presença notável de fatores hereditários na<br />

gênese do abuso ou dependência de drogas".<br />

A literatura conta com excelentes publicações<br />

sobre a questão genética,29.30não investigada<br />

neste estudo. Contudo, ele chama a atenção de<br />

que o exemplo de familiares fumantes não<br />

pesou positivamente sobre uma parcela significativa<br />

de não-fumantes, funcionando, ao<br />

contrário, como influência negativa. É possí-<br />

62<br />

vel dizer que os modelos - genético ou<br />

epigenético -, para explicar o fenômeno da<br />

dependência química, não incluem o desejo do<br />

sujeito, capaz de simplesmente escolher não<br />

fumar, decidir não fumar.<br />

Informações não menos interessantes<br />

foram obtidas no grupo de ex-fumantes. A<br />

primeira questão a ser ressaltada foi a decisão<br />

de parar de fumar. Trata-se de interromper<br />

definitivamente algo que também havia<br />

sido uma escolha. "Do ponto de vista psíquico,<br />

escolher supõe, de saída, uma perda: a<br />

alternativa eleita tem como outra face a que<br />

foi preterida."1OAssim, este estudo não pode<br />

afirmar que o grupo de ex-fumantes tinha um<br />

consumo médio de cigarros/dia menor que o<br />

de fumantes e, por isso, conseguiu parar de<br />

fumar. Os resultados quanto à quantidade<br />

média de cigarros/dia não foram significativamente<br />

diferentes entre os dois grupos.<br />

Contudo, as razões para parar de fumar<br />

migraram do coleti vo ("meus amigos fumam")<br />

para o individual ("preciso cuidar de<br />

minha saúde"). O sujeito, de certa forma,<br />

percebe que essa ação só cabe a si próprio,<br />

ainda que lhe traga muito sofrimento, decorrente<br />

da abstinência à nicotina. Trava-se uma<br />

luta interna do tipo "custo e benefício". A<br />

hipótese de Arantes10 é que, sempre que o<br />

prato da balança oscila para o excesso de<br />

"custo", ocorre um reequilíbrio com novos<br />

investimentos psíquicos. O benefício principal<br />

é o investimento na saúde, reforçado pelo<br />

apoio familiar. Guardando uma coerência<br />

muito grande com os relatos de quem começou<br />

a fumar influenciado por amigos, uma<br />

parcela dos que deixaram de fazê-Io também<br />

se afastou de tal influência, distanciando-se<br />

de certas amizades, como que desfazendo um<br />

caminho ou reinventando outros rumos e investindo<br />

em novos amigos.<br />

O que resta ao ex-fumante é entender-se<br />

como sujeito. Alguém vitorioso contra uma<br />

substância extremamente reforçadora, a nicotina,<br />

que leva à dependência química. E por unanimidade,<br />

não houve arrependidos dessa esco-<br />

SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006


TH1AGO MAGALHÃES CAMARGO, ET AL.<br />

lha, embora ex-fumantes tenham conhecido o<br />

lado prazeroso que a nicotina proporciona.<br />

Em face do que foi discutido, é possível<br />

concluir que, neste estudo, fumar, não fumar ou<br />

parar de fumar foram meras escolhas dos voluntários.<br />

E esse fato fornece substrato ao campo<br />

psicanalítico que se contrapõe, em parte, às<br />

teorias biológicas vigentes para explicar o complexo<br />

fenômeno da dependência química.<br />

Finalmente, este trabalho considerou<br />

algumas abordagens possíveis sobre a dependência<br />

química, sem a pretensão de esgotar o<br />

tema ou levar a questão a um reducionismo<br />

meramente biológico. Pelo contrário, teve a<br />

pretensão de iniciar um amplo debate, incluindo<br />

o indivíduo como sujeito responsável<br />

por seus atos e desejos, e, exatamente por<br />

essa razão, capaz de fazer suas próprias escolhas.<br />

Pretendeu-se aqui gerar uma mudança<br />

de paradigma: se começar a fumar implicou<br />

uma escolha, com uma motivação subjetiva<br />

intensa envolvendo aprendizado, parar de<br />

fumar pode-se tornar, também, uma escolha.<br />

A próxima escolha.<br />

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Saúde em Revista<br />

o sujeito e suas escolhas<br />

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Submetido: 9/mar./2006<br />

Aprovado: 29/jun./2006<br />

Ag radecimentos<br />

Os autores agradecem as sugestões da psicanalista<br />

Silvia Regina Rodrigues Fontes Franco,<br />

durante a realização da pesquisa, e às<br />

críticas na discussão do trabalho.<br />

64<br />

SAÚDEREV.,Piracicaba, 8 (20): 55-64, 2006


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

REVISÃO DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEW<br />

Fibras Dietéticas: efeitos terapêuticos<br />

e no exercício<br />

Dietary Fibers: therapeutic<br />

effects and in exercise<br />

FELIPE FEDRIZZI DONATTO<br />

Nutricionista e mestrando em<br />

educação física – Núcleo de<br />

Perfomance Humana (UNIMEP/SP)<br />

ADRIANE PALLANCH<br />

Bióloga e doutora em fisiologia<br />

(IBC/USP/SP) e docente da Faculdade<br />

de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

CLAUDIA REGINA CAVAGLIERI *<br />

Farmacêutica e doutora em<br />

fisiologia (IBC/USP/SP) e docente<br />

no Curso de Mestrado em<br />

Educação Física – Faculdade de<br />

Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências: Rod. do<br />

Açúcar, km. 156, Mestrado em<br />

Educação Física – FACIS, 13400-<br />

911, Piracicaba/SP<br />

ccavagli@unimep.br<br />

RESUMO Universalmente, as mais importantes entidades de saúde recomendam<br />

uma dieta rica em fibras dietéticas (FDs) para a prevenção de<br />

doenças e a promoção da saúde. Do ponto de vista epidemiológico, uma<br />

dieta pobre em FDs poderia estar relacionada a doenças nutricionais,<br />

como apendicite, hemorróidas e câncer colorectal. A ingestão adequada<br />

para as fibras é de 38 g para homens adultos e 25 g para mulheres adultas,<br />

com base nos níveis de ingestão que protegem contra doenças<br />

cardiovasculares, separados por sexo e idade. Nas últimas décadas, as<br />

FDs vêm despertando interesse da comunidade científica, pelo número<br />

de efeitos que esse componente nutricional possui sobre as mais variadas<br />

patologias, entre elas, câncer, hipercolesterolemia, diabetes e hipertensão<br />

arterial. As FDs exercem efeitos modulatórios positivos perante algumas<br />

células do sistema imunológico e nos processos metabólicos e<br />

bioquímicos associados ao exercício, influenciando na performance dos<br />

atletas, melhorando seu desempenho e recuperação para a realização de<br />

sessões diárias de treinamentos. Partindo-se de todas essas informações<br />

científicas e dos efeitos comprobatórios na fisiologia humana, o objetivo<br />

dessa revisão é apontar a importância da utilização das FDs como ferramenta<br />

nutricional.<br />

Palavras-chave DIETA – DIETOTERAPIA – IMUNOTERAPIA.<br />

ABSTRACT Universally, the most important health organizations<br />

recommend a rich Dietetic Fiber diet (DFs), for health promotion and<br />

prevention of diseases. From the epidemiologic point of view, a diet<br />

poor in DFs could be related to nutritional problems as appendicitis,<br />

hemorrhoids and colorectal cancer. The adequate fiber intake is 38g for<br />

adult men and 25g for adult women, based on intake levels that protect<br />

against cardiovascular sickness, separated by gender and age. In the last<br />

decades, the DFs have raised a great interest of the scientific community<br />

by the huge number of effects that this nutritional component exerts on<br />

pathologies as cancer, hypercholesterolemia, diabetes and arterial<br />

hypertension. The DFs exert positive modulated effects in some cells of<br />

the immune system and in the metabolic and biochemistry processes<br />

related to exercise, influencing on athletes performance, promoting a<br />

better performance and recuperation in daily training sessions. Coming<br />

from all these scientific information and these effects on human<br />

physiology, the aim of this review is to show the therapeutic use of DFs<br />

as a nutritional tool.<br />

Keywords DIET – DIET THERAPY – IMMUNOTHERAPY.<br />

Saúde em Revista<br />

Fibras Dietéticas<br />

65


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A importância da alimentação para a<br />

boa saúde e o desenvolvimento humano já<br />

era enfatizada na Antiguidade: “Deixe seu<br />

alimento ser o seu remédio e o seu remédio<br />

ser seu alimento”, afirmou Hipócrates<br />

(460a.C-377a.C). Universalmente, as mais<br />

importante entidades de saúde recomendam<br />

uma dieta rica em fibras dietéticas (FDs), de<br />

modo a prevenir doenças e promover a saúde.<br />

Porém, mesmo com todo respaldo científico,<br />

antes da dietary reference intake 1 não<br />

havia uma recomendação estabelecida, somente<br />

propostas de definição para as FDs.<br />

No tratado “The Chemical Composition<br />

of Foods”, McCance & Widdowson definiram<br />

em 1940 dois tipos de carboidratos, os utilizáveis<br />

e os não utilizáveis. Os primeiros eram<br />

absorvíveis e considerados glicogênicos, ao<br />

passo que os segundos provinham das células<br />

estruturais dos vegetais, na forma de<br />

hemicelulose, celulose e lignina. 2 Apoiando-se<br />

nesse conceito, Trowell 3 define fisiologicamente<br />

como fibra dietética os carboidratos não<br />

hidrolisados pela ação das enzimas digestivas.<br />

Do ponto de vista epidemiológico, o<br />

pioneirismo de Burkkit 4 demonstrou que uma<br />

dieta pobre em FDs e rica em produtos refinados<br />

poderiam relacionar-se a um problema<br />

nutricional. Isso ficou claro quando certa<br />

comunidade africana possuidora de uma alimentação<br />

com alta quantidade de FDs apresentou<br />

rara incidência de doenças como<br />

apendicite, hemorróidas e câncer colorectal,<br />

ao contrário da população européia, que possuía<br />

razoável ocorrência dessas patologias.<br />

Uma das mais recentes definições de<br />

FD emergiu das deliberações da Food and<br />

Nutrition Board 1 (FNB), que as divide em<br />

três tipos básicos: 1. fibra dietética –<br />

carboidratos não digeríveis e ligninas intactas<br />

que fazem parte dos vegetais; 2. fibra funcional<br />

– carboidratos não digeríveis isolados,<br />

que beneficiam fisiologicamente os humanos;<br />

e, finalmente, 3. fibras totais – o montante<br />

final da fibra dietética e da fibra funcional<br />

contidas em determinado alimento.<br />

RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS<br />

A partir de 2002, a FNB, por meio das<br />

dietary reference intake (DRI), definiu a<br />

adequate intake (AI) para as fibras de 38 g<br />

para homens adultos e 25 g para mulheres<br />

adultas, 1 como mostra a tabela 1.<br />

Tabela 1. Ingestão adequada de fibras dietéticas separadas por gênero e idade.<br />

IDADE (anos) AI (g/dia) MASCULINO AI (g/dia)<br />

FEMININO<br />

1-3 19 19<br />

4-8 25 25<br />

9-13 31 26<br />

14-18 38 26<br />

19-30 38 25<br />

31-50 38 25<br />

51-70 30 21<br />

> 70 30 21<br />

Grávidas - 28<br />

Lactantes - 29<br />

Adaptado de DRI 1<br />

66<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

EFEITOS FISIOLÓGICOS<br />

Atualmente, os termos fermentabilidade<br />

e viscosidade estão sendo introduzidos para<br />

um melhor entendimento dos tipos de fibras,<br />

segundo Cummings et al., 5 conforme tabela 2.<br />

As FDs atuam sobre o trato digestório<br />

(TD) e, em cada porção dele, é possível encontrar<br />

diferentes efeitos, de acordo com a<br />

figura 1.<br />

Ação prebiótica<br />

As FDs são consideradas alimentos<br />

prebióticos, pois seguem as seguintes classificações:<br />

resistir aos processos de digestão e<br />

absorção, ser fermentadas pelas bactérias<br />

colônicas e estimular o crescimento e a atividade<br />

de bactérias benéficas do trato<br />

gastrointestinal (TGI). Isso corrobora com a<br />

definição de Glenn Gibson: 6 “alimentos não<br />

digeríveis que afetam o hospedeiro, promovendo<br />

o crescimento e atividade de bactérias<br />

benéficas no cólon, conseqüentemente aumentando<br />

saúde”.<br />

Os principais prebióticos em estudo são:<br />

Lactulose, dissacarídeo sintético na forma de<br />

Galactose β1-4 Frutose, utilizado como laxante,<br />

pois não é hidrolisado ou absorvido pelo<br />

Tabela 2. Efeitos das fibras no hábito intestinal, colesterol, fermentação, ação prebiótica, absorção<br />

de cálcio, resposta glicêmica e apetite.<br />

FIBRAS AMIDOS RESISTENTES OLIGOSSACARÍDEOS<br />

Hábito intestinal SIM SIM/NÃO NÃO<br />

Diminuição do colesterol SIM NÃO NÃO<br />

Fermentação SIM SIM SIM<br />

Ação prebiótica NÃO SIM SIM<br />

Absorção de Ca ++ NÃO NÃO SIM<br />

Resposta glicêmica SIM SIM NÃO<br />

Apetite SIM/NÃO ? ?<br />

Adaptado de CUMMINGS et al. 5<br />

Figura 1. Efeitos das FDs na diferentes porções do TD.<br />

Saúde em Revista<br />

Fibras Dietéticas<br />

67


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

intestino; Inulina e frutooligosacarídeo,<br />

polissacarídeos na forma de Glicose α1-2β<br />

Frutose, apontados como alguns dos melhores<br />

prebióticos já documentados, pela grande atividade<br />

bifidogênica; e, entre outros, galactooligossacarídeos,<br />

oligossacarídeos da soja,<br />

lactosucrose, isomalto-oligossacarídeos,<br />

glicooligossacarídeos e xilo-oligossacarídeos. 7<br />

AÇÕES TERAPÊUTICAS<br />

Câncer<br />

A relação entre o câncer e a alimentação<br />

já está bem elucidada e foi apoiada por<br />

estudos em populações que se alimentam<br />

preferencialmente de vegetais, além de não<br />

ingerir nenhum tipo de carne, observando-se<br />

uma menor incidência de tumores, principalmente<br />

câncer de cólon. 8<br />

Com o avanço das técnicas de biologia<br />

molecular, as pesquisas com FDs estão revelando<br />

mecanismos potencialmente capazes de<br />

melhorar processos inflamatórios e prevenir/<br />

diminuir processos carcinogênicos. Para<br />

Shepard, 9 o tipo e a quantidade de FDs influenciam<br />

a produção dos ácidos graxos de cadeia<br />

curta (AGCC), a partir do processo de<br />

fermentação, utilizados como fonte<br />

energética pelos colonócitos, exibindo efeitos<br />

relevantes no tratamento da inflamação e de<br />

neoplasias do cólon, sobretudo o efeito<br />

antiproliferativo do butirato nas células<br />

10, 11<br />

tumorais.<br />

Isoladamente, os AGCC possuem resultados<br />

diferenciados, ao passo que VECCHIA<br />

et al. 12, 13 demontraram que o propionato inibiu<br />

a proliferação de várias linhagens de células<br />

tumorais. Porém, esse efeito antiproliferativo<br />

mostrou-se mais eficiente quando<br />

os três AGCC estavam associados no meio<br />

de cultura. O butirato é preferencialmente<br />

empregado pelos colonócitos e sua oxidação<br />

produz Acetil CoA, envolvida com inúmeros<br />

processos metabólicos intracelulares, entre<br />

eles, a síntese de colesterol, fosfolipídeos e<br />

muco. 14 Além disso, o butirato tem demonstrado<br />

que, experimentalmente, exerce efeitos<br />

imunomodulatórios via a inibição da ativação<br />

15, 16<br />

do fator de transcrição nuclear NFκB.<br />

Esse fator está associado a modulação de<br />

citocinas pró-inflamatórias, inibição da<br />

apoptose e conseqüente aumento da sobrevivência<br />

de células tumorais. 9<br />

Colesterol Plasmático<br />

Dos mecanismos hipocolesterolêmicos<br />

ligados à ingestão de FDs, estão envolvidos<br />

a constituição, a solubilidade, a fermentabilidade<br />

e, em especial, a viscosidade. 17 Essa<br />

característica das FDs interfere na absorção e<br />

produção do colesterol dietético, na absorção<br />

e desconjugação da bile no íleo distal, e, em<br />

resposta a esse efeito, o LDL-c é removido<br />

da corrente sanguínea para ser convertido em<br />

ácidos biliares pelo fígado. 5 É importante<br />

salientar que os efeitos hipocolesterolemicos<br />

das fibras dependem da constituição da dieta<br />

consumida, podendo ser efetivos ou não.<br />

Diabetes<br />

A primeira evidência documentada sobre<br />

a relação entre a ingestão de uma dieta<br />

rica em FDs e o diabetes foi em 1972, quando<br />

Trowell et al. 3 publicaram os efeitos sobre<br />

a resposta glicêmica, mudando os conceitos<br />

sobre as recomendações dietéticas e os tipos<br />

de carboidratos empregados para o tratamento<br />

do diabetes. A maioria dos estudos experimentais<br />

tem focado os efeitos da diminuição<br />

do esvaziamento gástrico, a absorção e o<br />

metabolismo posprandial da glicose e a diminuição<br />

da quantidade de insulina exógena. 18<br />

Os mecanismos que as FDs exercem<br />

sobre a secreção e o metabolismo da insulina<br />

ainda não estão totalmente esclarecidos, mas<br />

sabe-se que em animais o oferecimento de<br />

altas quantidades de FDs aumenta a expressão<br />

do gene proglucagon e a secreção dos<br />

peptídeos derivados do glucagon, incluindo o<br />

Glucagon-like peptide-1 (GLP-1). O GLP-1<br />

tem demonstrado mecanismos capazes de<br />

diminuir as taxas de esvaziamento gástrico,<br />

68<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

inibição da secreção de glucagon e redução<br />

da utilização da glicose hepática, além de<br />

diminuir a quantidade de insulina exógena<br />

para o metabolismo da glicose. 19<br />

Pressão Arterial<br />

Doenças como obesidade, tabagismo,<br />

alto consumo de sódio e álcool, além do estilo<br />

de vida sedentário e estresse estão relacionadas<br />

com o aumento da pressão arterial.<br />

He et al. 20 demonstraram resultados favoráveis<br />

com relação à ingestão de FDs e a diminuição<br />

da pressão arterial, partindo da hipótese<br />

do alto consumo de carboidratos<br />

integrais, frutas e verduras, possuidores de<br />

grandes quantidades de potássio, cálcio,<br />

magnésio e antioxidantes. 21<br />

SISTEMA IMUNOLÓGICO E<br />

RENDIMENTO ESPORTIVO<br />

As FDs com seu efeito bifidogênico e<br />

prebiótico tem íntima relação com a produção<br />

de AGCC, exercendo efeitos diversos<br />

sobre o sistema imunológico, em especial o<br />

polissacarídeo β-glucan (existente no cereal<br />

aveia), com propriedades imunoestimulantes<br />

sinalizadas por receptores específicos em<br />

macrófagos, neutrófilos e células Natural<br />

7, 22, 23, 24<br />

Killers (NK).<br />

Cavaglieri et al. 25 verificaram que ratos<br />

alimentados com fibras solúveis e insolúveis<br />

apresentavam alteração no perfil lipídico de<br />

linfócitos e macrófagos, observando também<br />

neles aumento na concentração dos ácidos<br />

linoleico e palmítico dos lipídios neutros das<br />

membranas celulares de macrófagos e diminuição<br />

das concentrações de ácidos palmitoleico<br />

e aracdônico. Portanto, em células<br />

com alto turnover de ácidos graxos de membrana,<br />

os AGCC podem alterar o perfil lipídico<br />

e a funcionalidade celular.<br />

Cavaglieri et al. 26, 27 estudaram também<br />

o efeito dos AGCC, isolados ou em associação,<br />

sobre a proliferação de linfócitos dos<br />

linfonodos mesentéricos de ratos e a produção<br />

de citocinas. Notaram que o butirato inibiu<br />

a proliferação dos linfócitos e a produção<br />

de interleucina (IL)-2, ao passo que o<br />

acetato e o propionato não alteraram a proliferação,<br />

porém, aumentaram a produção de<br />

interferon (IFN)-g.<br />

Não só a alimentação influencia a atividade<br />

das células imunológicas, pois sabe-se<br />

que o exercício também é capaz de modular<br />

muitas funções do sistema imunológico e,<br />

dependendo de sua intensidade e volume, especialmente<br />

quando feito de forma exaustiva,<br />

pode causar imunossupressão e aumento do<br />

risco de infecções. 28 Vários componentes<br />

nutricionais, entre eles, glutamina, zinco,<br />

antioxidantes e carboidratos, vêem sendo intensamente<br />

investigados quanto aos seus possíveis<br />

mecanismos associados ao sistema<br />

imunológico e à recuperação dos atletas. 29<br />

As fibras, além de acarretar efeitos modulatórios<br />

no sistema imunológico, também<br />

podem modular alguns processos metabólicos<br />

e bioquímicos ligados ao exercício, por exemplo,<br />

o aumento do conteúdo de glicogênio<br />

muscular, um dos fatores capazes de aumentar<br />

a performance de atletas engajados em esportes<br />

de longa duração. Cavaglieri et al. 30 demonstraram<br />

que o tipo de fibra dietética pode<br />

influir no conteúdo de glicogênio muscular<br />

com base na alimentação de ratos sedentários<br />

suplementados com dois tipos de ração, uma<br />

contendo 30% de farelo de trigo, fonte preferencial<br />

de fibras insolúveis, e a outra com<br />

30% de aveia, fonte de fibras solúveis. Foram<br />

encontrados aumentos estatisticamente<br />

significantes no conteúdo de glicogênio do<br />

gastronêmio vermelho e na atividade da<br />

enzima glicose-6-fosfato desidrogenase dos<br />

ratos alimentados com aveia. Em contrapartida,<br />

na dieta rica em farelo de trigo houve<br />

diminuição desses parâmetros, revelando uma<br />

influência negativa das fibras insolúveis nas<br />

reservas glicogênicas. Essa informação é valiosa<br />

para o nutricionista do esporte, pois indica<br />

a melhor fonte de carboidrato a ser prescrita<br />

aos atletas antes das competições.<br />

Saúde em Revista<br />

Fibras Dietéticas<br />

69


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

CONCLUSÕES<br />

Considerando todas essas informações<br />

científicas e os efeitos comprobatórios das<br />

fibras dietéticas na fisiologia humana, é de<br />

grande importância que o nutricionista as<br />

utilize como ferramenta nutricional, visando<br />

a prevenção, o tratamento de doenças<br />

associadas aos hábitos alimentares e o aumento<br />

da qualidade de vida de pacientes,<br />

indivíduos fisicamente ativos e atletas.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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fatty acids, cholesterol, protein and amino acids. Washington, DC: National Academies Press; 2002.<br />

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3. Trowell HC. Ischemic heart disease and dietary fiber. Am J Clin Nutr 1972;25:926-32.<br />

4. Burkitt DP, Walker RP, Painter NS. Effect of dietary fibre on stools and transit times, and its role in the<br />

causation of disease. Lancet 1972;14:8-12.<br />

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concept? Clin Nutr Suppl 2004;1:5-17.<br />

6. Gibson GR, Robertfroid <strong>MB</strong>. Dietary modulation of the human colonic microbiota: introducing the concept<br />

of prebiotics. J Nutr 1995;12:125.<br />

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8. Burkitt D. Fiber as productive against gastrointestinal diseases. Am J Gastroenterol 1984;79:249-52.<br />

9. Sheppard W, Luers H, Melcher R, Gostner A, Schauber J, Kudlich T et al. Antiinflamatory and carcinogenic<br />

effects of dietary fibre. Clin Nutri Suppl 2004;1:51-58.<br />

10. Mcintery A, Gibson PR, Young GP. Butyrate production from dietary fibber and protection against large<br />

bowl cause in a rat model. Gut 1993;34:386-91.<br />

11. Gibson PR, Moeller I, Kagelari O, Folino M, Young GP. Constrating effects of butyrate on the expression<br />

of phenotypic markers of differentation in neoplasic and neo-plastic colonic epithelial cells in vitro. J<br />

Gastroenterol Hepatol 1992;7:161-5.<br />

12. Vecchia MG, Arizawa S, Curi R, Newsholme EA. Propionate inhibitis cell proliferation in culture. Canc Res<br />

Ther Contr 1992;3:15-21.<br />

13. Vecchia MG, Carnelos Filho M, Fellipe CR, Curi R, Newsholme EA. Acetate and propionate the<br />

antiproliferative effect of butyrate on RBL-2H3 growth. Gen. Pharmac 1997;29:725-8.<br />

14. Topping DL, Clifton PT. Short-Chain fatty acids and human colonic functions: roles of resistance starch and<br />

nonstarch polysaccharides. Physiol Rev 2001;81:1.031-64.<br />

15. Meier R, Gassull MA. Consensus recommendations on the effects and benefits of fibre clinical practice. Clin<br />

Nutr Suppl 2004;1:73-80.<br />

16. Inan MS, Rasoulpour RJ, Yin L. The luminal short-chain fatty acid butirato modulates NFêB activity in a<br />

human colonic epithelial cell line. Gastroenterol 2000;118:724-34.<br />

17. Anderson JW, Smith BM, Gustafson NJ. Health benefits and practical aspects of high-fiber diets. Am J Clin<br />

Nutr 1994;59(Suppl):1.242S-7S.<br />

18. Rombeau JL. Investigations of short-chain fatty acids in humans. Clin Nutr Suppl 2004;1:19-23.<br />

19. Massimino SP, Mcburney MI, Field CJ, Thomson BR, Pospisil L, Keelan M et al. Fermentable fiber<br />

increases GLP-1 secretion and improves glucose homeostasis despite increased intestinal glucose transport<br />

capacity in healthy dogs. J Nutr 1998;128:1.786-93.<br />

20. He J, Streiffer RH, Munter P, Kroussel-Wood MA, Whelton PK. Effect of dietary fiber intake on blood<br />

pressure: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. J Hypertens 2004;22:73-80.<br />

21. Burke V, Hodgson JM, Beilin LJ, Giangiulioi N, Rogers P, Puddey IB Dietary protein and soluble fiber<br />

reduce ambulatory blood pressure in treated hypertensives. Hypertens 2001;38:821-6.<br />

22. Davis JM, Murphy EA, Brown A, Carmichael M, Ghaffar A, Mayer EP. Effects of Oat â-glucan on innate<br />

immunity and infection after exercise stress. Med Sci Sports Exerc 2004;36:1.321-7.<br />

23. Davis JM, Murphy EA, Brown A, Carmichael M, Ghaffar A., Mayer EP. Effects of moderate exercise and<br />

oat â-glucan on innate immune function and susceptibility to respiratory infection. Am J Physiol Integr Comp<br />

Physiol 2004;286:366-72.<br />

70<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 65-71, 2006


FELIPE FEDRIZZI DONATTO, ET AL.<br />

24. Vetivicka V, Thornton BP. Soluble â-glucan polyssaccharide binding to the lectin site of eutrophil or natural<br />

killer cell complement receptor type 3 generates a primed state of the recptor capable of mediating<br />

citotoxicity of target celss. J Clin Invest 1996; 98:50-61.<br />

25. Cavaglieri CR, Calder PC, Vecchia MG, Campos MR, Mancini-Filho J, Newsholme EA et al. Fatty acid<br />

composition of lymphocytes and macrophages from rats fed fiber-rich diets: a comparison between oat bran<br />

and wheat bran enriched diets. Lipids 1997;32:587-91.<br />

26. Cavaglieri CR, Nishiyama A, Fernandes LC, Curi R, Miles EA, Calder PC. Differencial effects of short-chain<br />

fatty acids on proliferation and productions of pro and anti-inflammatory cytokines by cultured lymphocytes.<br />

Life Sciences 2003;73:1.683-90.<br />

27. Cavaglieri CR, Martins EF, Colleone VV, Rodrigues C, Vecchia MG, Curi R. Fiber-rich diets alter rat<br />

intestinal leukocytes metabolism. J Nutr. Biochem 2000a;11:555-61.<br />

28. Pedersen BK, Hoffman-Goetz L. Exercise and the immune system: regulation, integration, and adaptation.<br />

Physiol Rev 2000;80:1.055-81.<br />

29. Glesson M, Nieman D, Pedersen BK. Exercise, nutrition and immune function. Jour Spor Sci 2004;22:115-25.<br />

30. Cavaglieri CR, Vecchia MG, Carpinelli AR. Effects of Fiber-rich diets on the glycogen content in the<br />

muscles of mature and aged rats. Saúde em Revista 2000b;2:7-11.<br />

Submetido: 6/mar./2006<br />

Aprovado: 14/ago./2006<br />

Saúde em Revista<br />

Fibras Dietéticas<br />

71


QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />

RESENHA / REVIEW<br />

O Papel da Fisioterapia nas<br />

Lesões Ortopédicas<br />

The Role of Physical Therapy<br />

in Orthopedic Lesions<br />

Membro Superior: abordagem fisioterapêutica das patologias<br />

ortopédicas mais comuns, de Osvandré Lech, Alonso Ranzzi, Fabricio<br />

Bordin, Mateus Faggion, Vinicius Zillmer & Paulo Puluski<br />

Rio de Janeiro: Revinter, 2004, 311p.<br />

R$ 159,00, ISBN 85-7309-913-5<br />

QUÉLEN MILANI CAIERÃO *<br />

Fisioterapeuta, especialista em<br />

fisioterapia aplicada a ortopedia<br />

e traumatologia e mestranda do<br />

curso de Pós-Graduação em<br />

Fisioterapia (UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências: R. Voluntários<br />

de Piracicaba, 1.170, ap. 44,<br />

Bairro Alto, 13419-280,<br />

Piracicaba/SP<br />

qmcaierao@unimep.br<br />

Membro Superior faz uma revisão das principais patologias<br />

ortopédicas e de intervenções fisioterapêuticas que<br />

ocorrem com freqüência na prática clínica. A obra foi desenvolvida<br />

por professores médicos e fisioterapeutas e alunos do<br />

curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo/RS.<br />

Eles definiram uma linha editorial bastante objetiva, com<br />

textos resumidos, nos quais os aspectos mais importantes de<br />

cada patologia e tratamento foram valorizados. Com isso, o<br />

leitor terá à sua disposição um conjunto muito útil de informações<br />

para consulta imediata no dia-a-dia.<br />

A obra em questão apresenta 311 páginas, ilustradas<br />

com 450 figuras e 15 quadros, além de um atlas em CD-<br />

Rom, que facilita o entendimento do leitor. O livro dividese<br />

didaticamente em três subespecialidades: ombro; cotovelo;<br />

punho e mão. Os doze primeiros capítulos dedicam-se à<br />

articulação do ombro, os sete intermediários, ao cotovelo,<br />

e os doze últimos, ao punho e à mão. Cada um deles inicia<br />

com uma “nota do editor”, objetivando estabelecer vínculo<br />

entre o ortopedista e o reabilitador.<br />

Vale destacar que a fisioterapia se apresenta em diferentes<br />

áreas da medicina, sendo a ortopedia e a<br />

traumatologia aquelas com maior demanda de pacientes.<br />

Nesse sentido, é importante que o fisioterapeuta tenha conhecimento<br />

das patologias e do potencial dos recursos<br />

fisioterapêuticos possíves de ser utilizados. Assim, cada vez<br />

Saúde em Revista<br />

Ortopedia e Reabilitação<br />

73


QUÉLEN MILANI CAIERÃO<br />

mais tornam-se necessários a criação e o desenvolvimento de<br />

novos conhecimentos científicos para uma melhor compreensão<br />

por parte do profissional.<br />

Diante do exposto, a obra contempla tanto profissionais<br />

quanto estudantes da área da saúde, pois faz uma revisão atualizada<br />

e bem ilustrada. A primeira parte – “Ombro” – oferece<br />

uma breve releitura da anatomia, necessária à compreensão do<br />

conteúdo. Ao final, o leitor encontra algumas imagens radiológicas<br />

que demonstram a anatomia detalhada vista por meio<br />

de recursos tecnológicos, por exemplo, a ressonância nuclear<br />

magnética, que auxilia nas hipóteses de diagnósticos clínicos.<br />

Os demais capítulos dessa seção abordam lesões e fraturas<br />

freqüentes nessa articulação, acompanhados por sugestões<br />

de tratamentos fisioterapêuticos. Já o último, intitulado “Fisioterapia<br />

para pacientes com lesões de ombro – sistema<br />

classificatório da Universidade de Pittsburgh”, auxilia o fisioterapeuta<br />

a categorizar pacientes de acordo com os achados<br />

da avaliação e a orientar o uso da intervenção mais adequada.<br />

A articulação do cotovelo é descrita na segunda parte do<br />

livro, que também traz um resumo da sua complexidade e<br />

biomecânica, importante para possibilitar o entendimento da<br />

recuperação funcional. Além disso, discute as fraturas mais<br />

comuns, tanto no aspecto cirúrgico como no fisioterapêutico.<br />

A última subespecialidade discutida é “Punho e Mão”.<br />

Esse segmento possui a anatomia mais complexa de todo o<br />

sistema musculoesquelético, seja pela miniaturização das estruturas<br />

seja pela especificidade de funções. A revisão<br />

anatômica também dá início a essa seção. Os capítulos restantes<br />

abordam as fraturas mais freqüentes e possíveis tratamentos<br />

fisioterapêuticos, além da mais clássica das lesões, a do<br />

tendão flexor, que produz maior perda funcional quando não<br />

tratada adequadamente.<br />

Pelo fato de a área da saúde ser um campo em constante<br />

mudança, essa obra proporciona leitura atualizada, com texto<br />

claro e objetivo, aos profissionais da saúde envolvidos no<br />

diagnóstico e no tratamento das lesões mais freqüentes do<br />

membro superior, as quais se apresentam diariamente em<br />

nossos serviços. O livro guia o leitor, uma vez que utiliza<br />

conhecimentos básicos para compreensão da estrutura e da<br />

função dos membros superiores, bem como para diagnóstico<br />

e tratamento de lesões. Dessa maneira, observa-se a união<br />

entre médicos e fisioterapeutas, com o objetivo único de diagnosticar<br />

e ministrar um tratamento conjunto e coerente.<br />

Submetido: 1.º/ago./06<br />

Aprovado: 29/set./06<br />

74<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 8 (20): 73-74, 2006


SAÚDE EM REVISTA<br />

Normas para Publicação<br />

Princípios Gerais<br />

I. A SAÚDE EM REVISTA tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam para o desenvolvimento<br />

científico e tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde.<br />

II. A revista privilegia a veiculação de temas em ciências biológicas e de saúde (teoria, ética<br />

e história), pesquisa teórica e/ou experimental, política e ensino.<br />

III. Os temas podem ser desenvolvidos por meio das seguintes categorias:<br />

• ARTIGOS ORIGINAIS: resultantes de pesquisa científica, apresentam dados originais de descobertas<br />

com relação a aspectos experimentais ou observacionais de característica médica,<br />

bioquímica e social, incluindo análise descritiva e ou inferências de dados próprios. Sua<br />

estrutura é a convencional, trazendo os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados,<br />

Discussão, Conclusão e Referências Bibliográficas;<br />

• ARTIGOS DE REVISÃO: têm por objeto resumir, analisar ou sintetizar trabalhos de investigação<br />

já publicados em revistas científicas;<br />

• ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: relatam informações geralmente atuais sobre<br />

tema de interesse para determinada especialidade (uma nova técnica, por exemplo), com<br />

características distintas de um artigo de revisão;<br />

• RELATOS DE CASO: representam dados descritos de um ou mais casos, explorando um método<br />

ou problemas por meio de exemplo. Apresentam as características do indivíduo estudado,<br />

com indicação de sexo e idade, podendo ter sido realizado em humano ou animal;<br />

• RESUMOS DE MONOGRAFIA: relativos a trabalho de graduação e de pós-graduação mais relevantes<br />

e originais; *<br />

• RESENHAS: comentários críticos de livros e/ou teses, não confundindo-se com mero resumo<br />

dos trabalhos resenhados. Devem conter todas as informações para a identificação<br />

da obra analisada (autor; título; tradutor e título original, se houver; edição, se não for a<br />

primeira; local; editora; ano; total de páginas; ISBN; e preço).<br />

• CARTAS: comentários a artigos relevantes publicados anteriormente.<br />

Nota: os artigos submetidos à revista devem preferencialmente enquadrar-se na categoria<br />

de relatos originais (científicos).<br />

IV. Com exceção dos Resumos, a submissão dos manuscritos implica que o trabalho não<br />

tenha sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outra revista.<br />

V. A aceitação se dará observando-se os seguintes critérios:<br />

a) adequação ao escopo da revista;<br />

* Resumos de monografias: encaminhar três cópias em papel e uma em disquete, contendo: título em português e inglês;<br />

resumo em português e inglês; palavras-chave em português e inglês (mínimo: três; máximo: seis); nome do autor e<br />

curso; nome do orientador; data da aprovação; total de páginas do texto original e documento do orientador, atestando<br />

sua aprovação.<br />

Saúde em Revista 75


) qualidade científica, atestada pela Comissão Científico-Editorial e por processo anônimo<br />

de avaliação por pares (blind peer review), ** com consultores não remunerados,<br />

especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como forma de reconhecimento;<br />

c) cumprimento das normas da SAÚDE EM REVISTA. O autor será informado do andamento<br />

do processo de seleção e os originais enviados à Editora UNIMEP serão a ele devolvidos;<br />

d) coerência do número de autores com as dimensões do projeto.<br />

VI. Os artigos devem respeitar as seguintes dimensões:<br />

• ARTIGOS ORIGINAIS, DE REVISÃO, DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO e RELATOS DE CASO: 10<br />

a 18 laudas (de 14.000 a 25.200 toques *** );<br />

• REVISÕES DE LITERATURA: 8 a 12 laudas (de 11.200 a 16.800 toques);<br />

• ENSAIOS: 12 a 20 laudas (de 16.800 a 28.000 toques);<br />

• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: 1 lauda (até 1.400 toques);<br />

• RESENHAS: 2 a 4 laudas (de 2.800 a 5.600 toques).<br />

VII. A exatidão e a adequação das referências bibliográficas consultadas e menciondas no<br />

artigo são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).<br />

VIII. Cabe à revista a exclusividade na publicação dos artigos aprovados.<br />

IX. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções<br />

gramaticais e adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O autor<br />

terá acesso às mudanças introduzidas.<br />

X. Não há remuneração pelos trabalhos. Por artigo, cada autor receberá um exemplar da<br />

revista, remetido por intermédio do autor responsável; além disso, serão destinadas ao conjunto<br />

de autor e eventuais co-autores 10 (dez) separatas do trabalho. Ele(s) pode(m) ainda<br />

adquirir exemplares da revista com desconto de 30% sobre o preço de capa, bem como a<br />

quantidade que desejar(em) de separatas, a preço de custo equivalente ao número de páginas<br />

e de cópias solicitadas.<br />

XI. Os artigos devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista por meio<br />

de ofício, no qual devem constar:<br />

• DECLARAÇÃO de cessão dos direitos autorais assinada por pelo menos um dos autores, com<br />

anuência e concordância dos demais, indicando a exclusividade de publicação na SAÚDE<br />

EM REVISTA – caso o artigo venha a ser aceito pela Comissão Científico-Editorial –, bem<br />

como a concordância com estas Normas para Publicação;<br />

• CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS: evitar o uso de iniciais ou números de registros hospitalares<br />

dos pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em fotografias, exceto com<br />

consentimento expressso, por escrito, acompanhando o trabalho original. Estudos realizados<br />

em seres humanos devem estar de acordo com padrões éticos e com o devido consentimento<br />

livre e esclarecido dos pacientes. Deve ser incluída a aprovação do Comitê de<br />

** Para maior detalhamento das etapas, cf. item II de “Apresentação”.<br />

*** Nesse total de toques, considerar também o espaço entre palavras.<br />

76


Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde ou na Universidade<br />

à qual o(s) autor(es) estejam vinculados, ou na instituição mais próxima ao seu<br />

local de trabalho que o possa registrar;<br />

• INDICAÇÃO DA CATEGORIA do manuscrito, conforme item III.<br />

Forma e preparação dos manuscritos<br />

Cada artigo deve conter os seguintes elementos:<br />

I. Identificação<br />

• NOME E SOBRENOME do(s) AUTOR(es) (no caso de mais de um, indicar o responsável para<br />

troca de correspondência);<br />

• Telefone, e-mail e endereço para correspondência DE CADA AUTOR/CO-AUTOR;<br />

• TITULAÇÃO ACADÊMICA, INSTITUIÇÃO a que cada autor/co-autor está afiliado, acompanhado<br />

do respectivo endereço, UNIDADE e FUNÇÃO do(s) autor(es);<br />

• DEPARTAMENTO e INSTITUIÇÃO em que o trabalho foi realizado;<br />

• TÍTULO (e subtítulo, se houver): precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e ser<br />

conciso(s), evitando-se palavras supérfluas [total máximo de 80 toques];<br />

• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos;<br />

• Se tiver por base DISSERTAÇÃO ou TESE, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada;<br />

• Se tiver sido apresentado em REUNIÃO CIENTÍFICA, indicar nome do evento, local e data da<br />

realização<br />

• Agradecimento, apenas se absolutamente indispensável.<br />

Esses elementos devem ser descritos em folha individualizada, antecedendo o texto do<br />

artigo propriamente dito.<br />

II. Texto<br />

• TÍTULO do trabalho em português e inglês (textos em inglês devem apresentar título, resumo<br />

e palavras-chave em português; textos em espanhol, título em inglês, abstract e<br />

keywords).<br />

• RESUMO indicativo e informativo (máximo de 1.400 toques), em português e inglês<br />

(Abstract). Para fins de indexação, o autor deve indicar as palavras-chave ou descritores<br />

(mínimo de três e máximo de seis) do artigo, em português e inglês (keywords), fazendo<br />

necessariamente o uso de decs-Descritores em Ciências da Saúde ().<br />

• TÍTULO ABREVIADO, com até 40 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.<br />

Documentação<br />

As citações devem obedecer à apresentação aqui detalhada.<br />

I. Citações no texto<br />

As citações ao longo do texto, assim como nas tabelas e figuras, devem ser identificadas<br />

por número arábico e numeradas consecutivamente segundo a ordem em que são mencionadas<br />

no artigo. Esse número precisa ser colocado em expoente (sobrescrito). Ao se citar<br />

Saúde em Revista 77


dois autores de obra referenciada, seus sobrenomes devem estar ligados pela conjução “e”;<br />

no caso de três ou mais, cita-se o primeiro autor seguido da expressão “et al.”. Exemplos:<br />

• Terris et al. 8 atualizam a clássica definição de saúde pública.<br />

1, 5, 7<br />

• O fracasso do movimento de saúde comunitária parece evidente.<br />

AS NOTAS EXPLICATIVAS, * quando houver, precisam ser dispostas no rodapé, remetidas por<br />

asterisco (não por número), sobrescrito no corpo do texto. Havendo mais de uma por<br />

página, o seu número corresponderá à quantidade de astericos necessários para indicá-lo, **<br />

processo esse que será reiniciado em eventual nova página.<br />

Toda vez que a citação for literal, ou específica a um trecho da obra, e tiver (a) menos<br />

de quatro linhas, ela deve aparecer entre aspas, e não em itálico; se for (b) igual ou maior<br />

que quatro linhas deve ter recuo de quatro centímetros das margens do texto (sem aspas),<br />

sendo destacada em parágrafo próprio, com corpo reduzido em relação ao restante<br />

do texto, pulando-se uma linha antes e outra depois da transcrição.<br />

(a) ...Fica claro, portanto, que “as exigências nutricionais dos fungos que afetam papéis<br />

são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, potássio, magnésio, fósforo, ferro,<br />

zinco, cobre e manganês”, conforme afirma Kowalik 17 (p. 99-114).<br />

(b) ...Como afirma Malerbi, discutindo o atendimento ao paciente diabético na rede básica<br />

do município de São Paulo:<br />

O atendimento de pacientes diabéticos ainda está dependendo da iniciativa<br />

pessoal dos profissionais que atuam nos postos, os quais, quando têm interesse,<br />

deparam-se com dificuldades relativas a critérios, medicamentos,<br />

materiais, recursos auxiliares etc. As maiores dificuldades residem, porém,<br />

quanto ao treinamento e atualização das equipes, e quanto ao sistema de<br />

referência e contra-referência, o qual é extremamente complicado, burocratizado<br />

e ineficaz. (Malerbi, 8 p. 31)<br />

Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano<br />

de publicação etc.) constarão das Referências Bibliográficas, ao fim de cada artigo, seguindo<br />

o padrão abaixo.<br />

II. Referências Bibliográficas<br />

As Referências Bibliográficas são limitadas a 30, nos textos que se enquadram nas categorias<br />

Artigos Originais, Revisão e Ensaio. Publicações mais de um autor, até o limite de<br />

seis, terão todos citados; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros, seguidos de<br />

“et al.” (cf. exemplos abaixo). As referências ao longo do texto (citações) devem ser<br />

identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente, normatizadas com base<br />

no estilo Vancouver (). Os títulos de periódicos devem ser referidos de<br />

forma abreviada, segundo o Index Medicus ().<br />

* Nota explicativa no rodapé da página.<br />

**<br />

Uma eventual segunda nota na mesma página será indicada por dois asteriscos.<br />

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Artigos em periódicos<br />

1. Exemplo:<br />

• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />

for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1/jun/1996;124 (11):980-3.<br />

Se o periódico tem paginação contínua e não apresenta numeração, pode ser omitido o número<br />

da revista:<br />

• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />

for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3.<br />

Para mais de seis autores: listar os seis primeiros seguidos por “et al.”<br />

• Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E et al. Childhood<br />

leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1.006-12.<br />

2. Organizados como autores<br />

• The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing.<br />

Safety and performance guidelines. Med J ago/1996;164:282-4.<br />

3. Nenhum autor apresentado<br />

• Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.<br />

4. Volume ou artigo com suplemento<br />

• Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung<br />

cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.<br />

• Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast cancer.<br />

Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):89-97.<br />

5. Artigo sem volume<br />

• Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid<br />

arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.<br />

6. Nenhum título ou volume<br />

• Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of<br />

blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.<br />

7. Paginação em algarismos romanos<br />

• Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction.<br />

Hematol Oncol Clin North Am abr 1995;9(2):xi-xii.<br />

8. Autores citados em outros artigos<br />

• Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [letter]. Lancet<br />

1996;347:1.337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus<br />

nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int 1992;42:1.285.<br />

Livros e monografias<br />

• Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2 ed. Albany<br />

(NY): Delmar Publishers; 1996.<br />

Saúde em Revista 79


• Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York:<br />

Churchill Livingstone; 1996.<br />

• Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington:<br />

The Institute; 1992.<br />

• Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors.<br />

Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2 ed. New York: Raven<br />

Press; 1995. p. 465-78.<br />

• Kimura J, Shibasaki H [editors]. Recent advances in clinical neurophysiology.<br />

Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology;<br />

15-19/out/1995; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.<br />

• Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in<br />

medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.<br />

MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 6-10/set/<br />

1992; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1.561-5.<br />

1. Dissertação ou tese<br />

• Ferreira SJ. Caracterização molecular da Xillela fastidiosa [dissertação ou tese].<br />

Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo; 2000.<br />

2. Artigos de jornal<br />

• Lopes RJ. Estudo aponta elo entre ferro e Parkinson. Folha de S.Paulo 16/set/2002; sec.<br />

A:10.<br />

3. Dicionário e referências similares<br />

• Stedman’s medical dictionary. 26 ed. Baltimore: Williams e Wilkins; 1995. Apraxia; p.<br />

119-20.<br />

Material eletrônico<br />

1. Artigos de periódicos em formato eletrônico<br />

• Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial<br />

online] 1995 jan-mar [acesso 5/jun/1996];1(1):[24 telas]. Disponível: .<br />

2. Monografias em formato eletrônico<br />

• CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-rom]. Reeves JRT, Maibach<br />

H. CMEA Multimedia Group, producers. 2 ed. Versão 2.0. San Diego: CMEA; 1995.<br />

3. Arquivos de computador<br />

• Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Versão<br />

2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.<br />

Apresentação<br />

I. Os artigos podem ser submetidos redigidos em português, inglês ou espanhol.<br />

II. ETAPAS de encaminhamento dos artigos: (a) apresentação de três cópias impressas do<br />

artigo, acompanhadas de arquivo eletrônico gravado em disquete (ou enviado por e-mail),<br />

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devidamente padronizado conforme estas Normas para Publicação, para submissão à Comissão<br />

Científico-Editorial da Revista e aos seus consultores, constando de uma delas os<br />

dados completos do(s) autor(es) e, das outras duas, apenas o título da obra (sem identificação);<br />

fornecer também brevíssimo currículo do(s) autor(es); (b) um dos membros da<br />

Comissão e dois nomes externos a ela são designados como pareceristas, estes dois últimos<br />

por processo blind peer review; (c) recebidos de volta tais pareceres, eles são analisados em<br />

outro encontro da Comissão, chegando-se a uma avaliação final: “indicado para publicação”,<br />

“indicado com ressalvas” ou “recusado”; (d) em carta ao(s) autor(es), essas decisões<br />

são fundamentadas e devolvidos os originais com anotações dos pareceristas; (e) se indicado<br />

para publicação “com ressalvas”, o artigo deve ser novamente submetido à Editora: os<br />

trechos alterados precisarão ser realçados por cor ou sublinhados; essa nova versão será entregue<br />

em papel (uma cópia) e em arquivo eletrônico, acompanhada do texto original apreciado<br />

pelos pareceristas; (f) eventuais ilustrações devem ser encaminhadas separadamente,<br />

em seus respectivos arquivos eletrônicos em suas extensões originais; (g) antes da impressão,<br />

o(s) autor(es) recebe(m) versão final do texto para análise.<br />

III. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, fotografias, gráficos, desenhos e mapas) necessárias à compreensão<br />

do texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas<br />

de modo a garantir boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso,<br />

grafados em letras minúsculas. (a) TABELAS: editadas em Word ou Excel, com formatação<br />

necessariamente de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos<br />

exatos de suas apresentações ao longo do texto; não podem ser muito grandes e nem ter<br />

fios verticais para separar colunas; (b) FOTOGRAFIAS: com bom con-traste e foco nítido,<br />

sendo fornecidas em arquivos em extensão “jpg”, “tif” ou “gif”; (c) GRÁFICOS e DESENHOS:<br />

incluídos nos locais exatos do texto. No caso de indicação para publicação, essas ilustrações<br />

precisarão ser enviadas em separado, necessariamente em arquivos de seus programas<br />

originais (p. ex., Excel, CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush etc.); (d) figuras,<br />

gráficos e mapas, caso sejam enviados para DIGITALIZAÇÃO, devem ser preparados em tinta<br />

nanquim preta. As convenções precisam aparecer em sua área interna.<br />

Os manuscritos devem ser encaminhados para:<br />

Editora UNIMEP / Secretaria Executiva da Saúde em Revista<br />

Rodovia do Açúcar, km 156 - 13400-911 – Piracicaba/SP, Brasil<br />

Saúde em Revista 81

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