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Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco

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Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> Pesquisas<br />

com Células-<strong>Tronco</strong><br />

RELATÓRIO FINAL


MESA DIRETORA - 2006<br />

PRESIDENTE:<br />

Dep. FERNANDO ZÁCHIA (PMDB)<br />

1º VICE-PRESIDENTE:<br />

Dep. FABIANO PEREIRA (PT)<br />

2º VICE-PRESIDENTE:<br />

Dep. GERSON BURMANN (PDT)<br />

1º SECRETÁRIO:<br />

Dep. EDEMAR VARGAS (PTB)<br />

2º SECRETÁRIO:<br />

Dep. ADOLFO BRITO (PP)<br />

3º SECRETÁRIO:<br />

Dep. BERFRAN ROSADO (PPS)<br />

4º SECRETÁRIO:<br />

Dep. PAULO BRUM (PSDB)<br />

2


COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO<br />

Presidente: Paulo Brum - PSDB<br />

Vice-Presidente: Luis Fernando Schmidt - PT<br />

Relator: Pedro Westphalen - PP<br />

TITULARES<br />

Jussara Cony - PC DO B<br />

Abílio dos Santos - PTB<br />

Giovani Cherini - PDT<br />

Kalil Sehbe - PDT<br />

Elmar Schneider - PMDB<br />

José Farret - PP<br />

Edson Portilho - PT<br />

SUPLENTES<br />

José Sperotto - PFL<br />

Adilson Troca - PSDB<br />

Sérgio Peres - PTB<br />

Floriza dos Santos - PDT<br />

Osmar Severo - PDT<br />

Edson Brum - PMDB<br />

Márcio Biolchi - PMDB<br />

Jair Soares - PP<br />

João Fischer - PP<br />

Adão Villaverde - PT<br />

Flavio Koutzii – PT<br />

ASSESSORIA TÉCNICA<br />

Antonio Candido<br />

Coordenador<br />

Simone Zuliani<br />

Secretária<br />

3


Índice<br />

Mesa Diretora.........................................................................2<br />

Composição da Comissão........................................................3<br />

Índice......................................................................................4<br />

Apresentação...........................................................................5<br />

Palestras..................................................................................7<br />

Conclusão............................................................................166<br />

Sugestões e Encaminhamentos............................................168<br />

Anexos.................................................................................170<br />

4


Apresentação<br />

Desde 2005, quando o Congresso Nacional votou a Lei da<br />

Biossegurança, informações básicas <strong>sobre</strong> células-tronco e seu potencial<br />

para uso na Medicina entraram em nosso cotidiano. O que estava<br />

praticamente restrito a especialistas e <strong>pesquisa</strong>dores da área de Saúde teve<br />

uma divulgação generalizada.<br />

Houve uma mobilização nacional em favor da lei, reunindo<br />

profissionais, pacientes e seus familiares, políticos e outros setores da<br />

sociedade. Esse esforço foi produtivo, a Lei da Biossegurança foi aprovada,<br />

recursos públicos foram encaminhados para a realização de novos estudos.<br />

E depois? O que aconteceu? Assim como entraram, as células-tronco saíram<br />

dos noticiários e voltaram a ficar restritas ao meio acadêmico.<br />

Foi justamente para reverter essa situação que a nossa Assembléia<br />

Legislativa — a partir de proposição do deputado Paulo Brum — formou a<br />

Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> Pesquisas de Células-<strong>Tronco</strong>. Médicos e outros<br />

cientistas de diferentes instituições do Rio Grande do Sul vieram a esta Casa<br />

para apresentar seus trabalhos, compartilhar conhecimentos, informar<br />

<strong>sobre</strong> as dúvi<strong>das</strong> e os avanços. E quando não puderam vir a nós, a Comissão<br />

foi até eles, como o Centro de Transplantes de Medula Óssea do Hospital da<br />

Universidade Federal de Santa Maria.<br />

5


O resultado desses meses de atividade está representado neste<br />

relatório. Reunimos o conteúdo <strong>das</strong> palestras, as reivindicações dos<br />

<strong>pesquisa</strong>dores e as proposições que o Legislativo possa fazer para que tudo<br />

isso tenha continuidade. É esse esforço conjunto que pode alimentar as<br />

<strong>pesquisa</strong>s e tornar as células-tronco cada vez mais presentes em nosso<br />

cotidiano, através de notícias <strong>sobre</strong> novas descobertas, tratamentos e curas.<br />

É uma esperança de vida que precisa, cada vez mais, tornar-se realidade.<br />

6


Palestras<br />

16/mar/2006<br />

Pesquisa com células-tronco do cordão umbilical<br />

Dra. Patrícia Pranke<br />

Luiz Ávila/AL<br />

Palestrante: Dra. Patrícia Pranke — farmacêutica, <strong>pesquisa</strong>dora e professora<br />

de Hematologia da Faculdade de Farmácia da UFRGS; presidente do<br />

Instituto de Pesquisas com Células-<strong>Tronco</strong>.<br />

7


Convidados: Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da<br />

UFRGS; Dr. José Ângelo Zuanazzi, vice-diretor da Faculdade de Farmácia da<br />

UFRGS; e Dra. Martina Fritsch, integrante do Grupo de Pesquisas em<br />

Células-<strong>Tronco</strong> do Hemocord.<br />

Dra. Patrícia Pranke<br />

Nos últimos anos, recebemos uma avalanche de informações na mídia,<br />

nos meios de comunicação, em relação ao estudo com células-tronco. Na<br />

realidade, em vários jornais e revistas do mundo inteiro, as células-tronco<br />

tornaram-se uma grande atração no meio científico e do meio acadêmico.<br />

Isso tem tomado uma dimensão muito interessante não só no centro de<br />

<strong>pesquisa</strong>. Por ter atravessado as barreiras científicas, a população de modo<br />

geral tem se envolvido muito com o assunto, não só porque a sociedade pode<br />

vir a se beneficiar, como também pela grande esperança de que essas células<br />

possam tratar doenças que até o final do século passado eram considera<strong>das</strong><br />

incuráveis.<br />

Costumamos dizer que estamos cautelosamente otimistas, porque<br />

temos de ter cautela em tudo que se refere à saúde dos pacientes, mas<br />

estamos otimistas porque é de fato uma esperança – isso é ciência, não é<br />

milagre –que, com estudo, com <strong>pesquisa</strong>, com investimentos, podemos<br />

conseguir avanços muito importantes nos próximos anos.<br />

A lei permite obter células-tronco a partir do organismo chamado<br />

blastocisto cumulativamente, desde que esses embriões sejam excedentes.<br />

Por exemplo, um casal foi para uma clínica de reprodução assistida para<br />

fazer uma reprodução in vitro, onde são produzidos oito ou dez embriões. A<br />

lei permite implantar quatro, e os embriões excedentes são congelados.<br />

8


A comunidade científica reuniu-se e solicitou que se desse um destino<br />

– que acreditamos ser mais digno – a esses embriões excedentes, que<br />

estavam congelados e que iriam ser descartados. Portanto, só podem ser<br />

usados embriões que sobraram de procedimento de reprodução assistida e<br />

que estejam congelados há mais de três anos – tempo que nada tem a ver<br />

com a viabilidade do embrião –, pois há embriões que com oito anos de<br />

congelamento geraram um ser humano.<br />

Esse período de três anos é o prazo mínimo exigido por lei para que a<br />

família decida se realmente não quer mais filhos. Mas se ela desejar ficar<br />

com aquele embrião congelado por cinco ou oito anos poderá fazê-lo, porque<br />

é a responsável pelo destino a ser dado ao embrião. Porém, não poderá doálo<br />

antes dos três anos. O uso do embrião depende sempre do consentimento<br />

dos genitores, mediante doação, jamais incentivando-se qualquer prática de<br />

comércio.<br />

Junto com o uso de células-tronco embrionárias, um outro grande<br />

avanço nas <strong>pesquisa</strong>s é a utilização do sangue de cordão umbilical. Com<br />

isso, o Instituto de Pesquisa com Células-<strong>Tronco</strong>, com o apoio da UFRGS e<br />

com a Secretaria de Estado de Saúde, está trabalhando para construir um<br />

banco público de sangue de cordão umbilical.<br />

É bom lembrarmos o quão importante é ter banco público de sangue<br />

de cordão umbilical no Estado, no Brasil. Temos uma necessidade real,<br />

imediata, de pacientes aguardando por transplante, à espera de um doador<br />

de medula. O cordão umbilical vem substituir o doador de medula, passando<br />

a ser um recurso mais fácil, porque bebês nascem todos os dias e, todos os<br />

dias, o sangue daquele cordão umbilical e a placenta são jogados fora.<br />

A disponibilidade é imediata, porque já se encontra armazenado em<br />

um banco público de sangue de cordão. Não é preciso ir atrás de um doador,<br />

9


asta entrar em uma lista, um ca<strong>das</strong>tro que existe para ver a<br />

compatibilidade ou não. Se estiver naquele banco, a liberação do material é<br />

imediata. Provoca menos rejeição e o custo também é mais barato. Falei em<br />

custo, mas salvar uma vida humana não tem preço. Isso é o que mais<br />

importa.<br />

Temos no Brasil cerca de sete mil casos novos de leucemia em adultos<br />

a cada ano, sendo que pelo menos a metade é de casos fatais. Com certeza, a<br />

doença poderia ser enfrentada com bastante sucesso se houvesse doador, se<br />

fosse feito um transplante. Entre crianças e adolescentes, os dados são<br />

ainda mais alarmantes. Temos aproximadamente nove mil casos novos de<br />

crianças no Brasil com leucemia, e mais ou menos 60% delas poderiam se<br />

salvar, se conseguissem o transplante.<br />

A aplasia de medula é uma doença que só o transplante cura.<br />

Leucemia, muitas vezes, a quimioterapia trata; para a aplasia de medula não<br />

existe tratamento, apenas o transplante. Temos aproximadamente mil novos<br />

casos de pacientes em nosso país com aplasia de medula e esses pacientes<br />

estão na fila, à espera de um transplante. Ou seja, o Brasil precisaria fazer<br />

de seis a oito mil transplantes por ano e faz apenas 900 procedimentos. Esse<br />

quadro pode mudar, se tivermos disponibilidade de sangue de cordão<br />

umbilical, doado para os bancos públicos.Com isso, o sangue de cordão vem<br />

como uma nova oferta de células-tronco.<br />

Falei de leucemias, porque são pacientes que hoje já poderiam ser<br />

tratados. Mas com o avanço <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco, estamos<br />

vendo que não só as doenças hematológicas – as doenças do sangue – podem<br />

ser trata<strong>das</strong> com esse material, como várias outras doenças, entre elas, as<br />

de ordem cardíaca e lesão de medula espinhal.<br />

10


O trabalho que faremos na UFRGS pretende exatamente comparar os<br />

três tipos de células-tronco – cordão umbilical, medula e embrionárias –<br />

para tratamento de lesão de medula espinhal em ratos. Faremos o<br />

experimento justamente para ver as vantagens entre elas.<br />

Então, cada vez mais o uso <strong>das</strong> fontes de células-tronco tem sido<br />

ampliado e o cordão umbilical, juntamente com as células embrionárias,<br />

vem como uma fonte muito nova, muito rica e de um futuro bastante<br />

promissor para as <strong>pesquisa</strong>s. Com isso, teríamos como vantagens: oferta<br />

ilimitada, todos os dias bebês nascem e todos os dias esse sangue é<br />

descartado; disponibilidade imediata e uma menor rejeição.<br />

Paralelamente a isso, temos outras vantagens, como o tempo de<br />

espera, que é menor que o de outros procedimentos. Por exemplo, quando se<br />

aguarda um doador de medula óssea, o paciente tem que esperar<br />

aproximadamente seis meses, enquanto o sangue de cordão umbilical está<br />

disponível, o doente pode receber esse sangue em um mês ou 40 dias.<br />

Se não bastassem to<strong>das</strong> essas vantagens, temos outra: o procedimento<br />

tem um custo mais barato para o Sistema Único de Saúde. Hoje, o Ministério<br />

da Saúde gasta 34 mil dólares na busca de uma medula óssea no exterior.<br />

Se não encontrar doador no Brasil, existe uma portaria que autoriza o<br />

Ministério da Saúde a buscar essa medula em outro país. Se for sangue de<br />

cordão umbilical encontrado no exterior, o Ministério da Saúde gasta 23 mil<br />

dólares nessa busca.<br />

Se construirmos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no<br />

Brasil, esse custo cairá para 2 mil dólares por cada unidade. Paralelamente<br />

à grande vantagem para os pacientes, a rapidez do processo, o Sistema<br />

Único de Saúde terá um custo bem menor com a construção desses bancos<br />

no País. A nossa idéia é a de quando o bebê nasce, ao invés de se jogar fora<br />

11


a sua placenta, a utilizarmos, de forma que ele já nascerá sendo um herói,<br />

porque o sangue do seu cordão umbilical e da sua placenta poderá ser<br />

usado para salvar vi<strong>das</strong>.<br />

Coletamos o sangue do cordão e da placenta e o acondicionamos em<br />

uma bolsa. Esse foi o procedimento tomado por mim em Nova Iorque, mas já<br />

estamos fazendo isso aqui para <strong>pesquisa</strong> – o banco ainda não está aberto.<br />

Então, o volume é reduzido, pois concentramos as células-tronco do sangue<br />

do cordão umbilical e o congelamos.<br />

Esse sangue pode permanecer congelado por vários anos, numa<br />

temperatura de -196 graus Celsius, em nitrogênio líquido. É difícil dizer<br />

quanto tempo irão durar essas células. Não sabemos isso ainda, porque é<br />

um procedimento muito recente. As células mais antigas congela<strong>das</strong> no<br />

mundo datam de 13 anos. Até esse prazo sabemos que as células estão<br />

boas. Agora, se irão durar 14 anos ou 60 anos, ninguém sabe. Mas as<br />

células que foram congela<strong>das</strong> estão to<strong>das</strong> muito bem conserva<strong>das</strong>. Por esse<br />

procedimento, entendemos que podem ser guarda<strong>das</strong> por alguns anos.<br />

Além disso, o banco tem esta vantagem: a idéia do banco é estar<br />

sempre coletando e sempre renovando o material. Se por acaso se achar que<br />

10 anos é um prazo suficiente, poderemos sempre ficar coletando um novo<br />

sangue de cordão umbilical, de novos doadores, porque bebês estão<br />

nascendo todos os dias.<br />

O que temos de concreto no Brasil, sendo realizado em matéria de<br />

<strong>pesquisa</strong>s com células-tronco? Quais são as políticas do governo em relação<br />

a essas <strong>pesquisa</strong>s?<br />

Como já falamos, a primeira grande medida histórica, digamos assim,<br />

em relação às células-tronco foi a aprovação da Lei de Biossegurança, com a<br />

permissão do uso dessas células. Depois de quase dois anos de trabalho<br />

12


junto aos deputados federais, ao Senado e aos ministros, em 24 de março do<br />

ano passado, foi aprovada a utilização de células-tronco embrionárias<br />

humanas, que seriam descarta<strong>das</strong>, podendo, então, ser usa<strong>das</strong> para<br />

<strong>pesquisa</strong>.<br />

Em julho de 2005, foi lançado pelo CNPq o primeiro edital para<br />

<strong>pesquisa</strong>s com células-tronco no Brasil. Tivemos 250 projetos apresentados<br />

por <strong>pesquisa</strong>dores de todo o País, e, em setembro do ano passado, então,<br />

desse total, foram aprovados 41 projetos, sendo que o nosso, da UFRGS,<br />

também foi aprovado.<br />

Temos um grupo de <strong>pesquisa</strong>dores, e o coordenador desse projeto é o<br />

professor Carlos Alexandre Neto, que também é o pró-reitor de graduação da<br />

universidade. Luciano Rodrigues, um aluno de doutorado, fará esse projeto<br />

conosco, bem como o professor Oliveira, também da UFRGS.<br />

Ganhamos uma verba no valor de 450 mil reais para esse projeto, pelo<br />

qual faremos um estudo comparativo dos três tipos de células-tronco, tanto<br />

embrionárias como do cordão umbilical e da medula óssea, na lesão de<br />

medula espinhal de ratos. Usaremos um modelo animal; com isso,<br />

obteremos várias respostas, como o tempo ideal para aplicação, a melhor via<br />

de administração, como se comporta essa célula. Quando os resultados<br />

começarem a sair, podemos pensar em como transferir as informações para<br />

um estudo, talvez, em seres humanos, dependendo do resultado <strong>das</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s.<br />

Estamos com esse grupo, contando com o apoio, também, de vários<br />

outros <strong>pesquisa</strong>dores e colaboradores da UFRGS e de fora dela. No ano<br />

passado, em Brasília, foi criado, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério<br />

de Ciência e Tecnologia, o grupo de trabalho relativo à <strong>pesquisa</strong> <strong>sobre</strong><br />

células-tronco no Brasil. Foi baixada essa portaria interministerial de 2005,<br />

13


e tanto o Ministério da Saúde quanto o Ministério da Ciência e Tecnologia<br />

entenderam que, com os avanços <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s e com o lançamento do<br />

edital, era importante que se criasse um grupo que pudesse orientar o<br />

governo no que diz respeito às diretrizes, ao rumo que o Brasil vai tomar<br />

nessa área.<br />

Os dois ministérios criaram esse grupo composto por 14 pessoas,<br />

sendo oito delas <strong>pesquisa</strong>dores e, seis, integrantes dos Ministérios da Saúde<br />

e de Ciência e Tecnologia. Esses <strong>pesquisa</strong>dores estão espalhados por todo o<br />

Brasil. Como professora da UFRGS, integro o grupo e represento a Região<br />

Sul. Já nos reunimos e elaboramos um documento oficial, o qual foi<br />

entregue ao governo. Após, tivemos algumas reuniões de trabalho e saíram<br />

as diretrizes para os estudos com células-tronco no Brasil, que vão<br />

direcionar todo o trabalho. Fizemos algo bem amplo, porque não queremos<br />

limitar a <strong>pesquisa</strong>; pelo contrário, temos de ampliar as <strong>pesquisa</strong>s em<br />

qualquer área da saúde que venha a mostrar que essas células possam ser<br />

importantes.<br />

No final do ano passado, a Secretaria da Saúde do Estado do Rio<br />

Grande do Sul também lançou uma portaria, criando o Banco Público de<br />

Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em parceria com algumas<br />

entidades do Estado. Fui nomeada uma de suas diretoras.<br />

O que temos de avanços no Brasil em relação às <strong>pesquisa</strong>s com<br />

células-tronco? O Ministério da Saúde lançou, no início do ano passado, um<br />

projeto bastante arrojado, um projeto pioneiro no mundo – é o que abrange o<br />

maior número de pacientes –, relativo ao uso de células-tronco em doenças<br />

cardíacas.<br />

O projeto envolverá 1.200 pacientes em todo o Brasil e fará a <strong>pesquisa</strong><br />

com quatro doenças, as quais serão estuda<strong>das</strong> comparando-se o uso de<br />

14


células-tronco com a melhora apresentada ou não pelos enfermos. As células<br />

serão utiliza<strong>das</strong> em pacientes vítimas de infarto do miocárdio, de isquemia<br />

crônica, de miocardiopatia dilatada e de Doença de Chagas. Essa última<br />

enfermidade atinge principalmente cidadãos brasileiros do Nordeste, sendo<br />

transmitida pelo barbeiro.<br />

Essas quatro doenças são o foco do estudo inicial para a <strong>pesquisa</strong> com<br />

células-tronco em cardiopatias. O projeto será desenvolvido ao longo de dois<br />

anos, ao final dos quais vai-se comparar a melhora apresentada – ou não –<br />

pelo paciente que fez uso de células-tronco com a melhora apresentada – ou<br />

não – por pacientes que não as utilizaram.<br />

Todos os pacientes vão continuar recebendo o tratamento<br />

convencional, mas alguns deles, a metade, sem saber receberão célulastronco.<br />

Todos os pacientes sabem que alguns vão receber as células. Isso é o<br />

que chamamos de estudo duplo-cego; ele é adotado porque o paciente ou o<br />

médico podem acabar mudando o tratamento, mesmo sem querer, caso<br />

saibam que estão sendo usa<strong>das</strong> células-tronco.<br />

Trata-se, repito, de um duplo-cego. Os pacientes entram no projeto<br />

sabendo que alguns vão receber células-tronco e outros não; mas todos<br />

recebem o tratamento tradicional. Isso será feito para verificarmos se vai<br />

ocorrer alguma diferença entre aqueles que receberem as células e os que<br />

não as receberem. É assim que se procede em <strong>pesquisa</strong>, essa é a única<br />

forma de se responder às indagações. São as células-tronco que estão agindo<br />

ou não? Ou é o medicamento que está agindo?<br />

Esse é um projeto inédito no mundo. É o maior projeto, pois envolve<br />

um maior número de pacientes. O Ministério da Saúde lançou esse projeto<br />

que será muito importante para a comunidade científica e a sociedade toda.<br />

Junto com isso, já há 41 projetos no Brasil começando a desenvolver<br />

15


<strong>pesquisa</strong>s com células-tronco, envolvendo diversas doenças, entre elas a<br />

lesão da medula espinhal, diabetes, que atinge milhares de pacientes,<br />

esclerose múltipla, esclerose sistêmica, esclerose lateral ameotrófica,<br />

distrofias musculares e várias outras doenças, desde doenças hepáticas,<br />

como cirrose e hepatite, doenças renais, até problema de perda de visão, etc.<br />

É sempre importante lembrarmos que estamos falando de um assunto<br />

delicado, principalmente quando se fala de células-troco embrionárias, então<br />

temos que lembrar de alguns aspectos éticos, legais, abordando o assunto.<br />

Infelizmente, como em to<strong>das</strong> as profissões, sempre há pessoas bemintenciona<strong>das</strong><br />

e mal-intenciona<strong>das</strong>. É muito importante a comunidade toda<br />

estar ciente do que é realmente possível ser feito com as células-tronco.<br />

Sempre falo com os pacientes: procurem os centros grandes,<br />

universitários, os centros de <strong>pesquisa</strong>. Nunca um profissional vai oferecer<br />

esse serviço num consultório a portas fecha<strong>das</strong>. Isso é sempre feito em<br />

equipes. O paciente pode sempre pedir para verificar se aquele grupo, aquela<br />

pessoa que esteja oferecendo aquele serviço, tem autorização da Agência<br />

Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa –, do Ministério da Saúde.<br />

Absolutamente ninguém pode trabalhar com qualquer procedimento<br />

novo em saúde, não são somente células-tronco. Qualquer medicamento que<br />

vá ser utilizado tem que ter a aprovação dos órgãos competentes. Mas como<br />

estamos falando em células-tronco, não poderia ser diferente. Ninguém pode<br />

trabalhar com essas células, principalmente por ser algo novo, sem a<br />

autorização prévia dos órgãos de saúde e de fiscalização.<br />

Como falamos, a comunidade científica está muito otimista, mas com<br />

cautela. Temos que nos manter cautelosamente otimistas. Otimistas, porque<br />

não tem como não ficar frente a essa grande possibilidade que está se<br />

abrindo, que quem sabe, quem sabe – por isso é <strong>pesquisa</strong>, não é certeza –<br />

16


que essas células possam vir a tratar algumas doenças, mas para isso<br />

mesmo é importante fazer <strong>pesquisa</strong>.<br />

Qualquer procedimento novo na medicina, qualquer medicamento<br />

novo que vai ser lançado no mercado, isso significa que os centros de<br />

<strong>pesquisa</strong>s vão ficar, anos a fio, estudando aquele medicamento.<br />

Então, primeiro a <strong>pesquisa</strong>, por isso que estamos começando em<br />

ratos, obviamente. Vamos fazer <strong>pesquisa</strong> em ratos, camundongos. Verificar a<br />

segurança, a eficácia, a real eficácia para saber se é a célula-tronco que está<br />

funcionando ou não é a célula-tronco. Ou, se é a célula-tronco, qual é a<br />

melhor, qual é a melhor forma de administração? O que é seguro para o<br />

paciente? É importante toda a comunidade saber disso. Mais um detalhe,<br />

ninguém no mundo, não só no Brasil, ninguém no mundo utiliza célulastronco<br />

embrionárias em pacientes, ainda. Quando se fala em células-tronco<br />

embrionárias é apenas <strong>pesquisa</strong>. Nenhum caso no mundo foi utilizado em<br />

seres humanos. Qualquer coisa diferente disso não é verdade.<br />

É importante sabermos o que é exagero e o que é realidade. Bem, isso<br />

tem a ver com a exploração antiética do sucesso, porque, realmente, as<br />

células-tronco têm atingido um grande interesse da mídia. A mídia está<br />

sempre interessada em saber do assunto, está sempre procurando os<br />

<strong>pesquisa</strong>dores envolvidos. Infelizmente, paralelamente a isso, como em to<strong>das</strong><br />

as categorias, sempre há pessoas que podem vir a explorar esse sucesso<br />

repentino <strong>das</strong> células-tronco.<br />

O uso <strong>das</strong> células-tronco embrionárias teve a lei aprovada, mas com<br />

cautela, sempre dentro dos princípios éticos e morais. Podemos usar as<br />

células-tronco embrionárias que vão ser descarta<strong>das</strong> por não terem sido<br />

utiliza<strong>das</strong> para a fecundação.<br />

17


Também a questão dos bancos de sangue de cordão umbilical.<br />

Estamos lutando para a construção de bancos públicos. Aí também tem<br />

uma questão, se vale a pena ou não congelar para a própria pessoa, nos<br />

bancos privados de cordão umbilical. Ainda falando de sangue de cordão<br />

umbilical, temos aproximadamente 100 bancos de sangue de cordão<br />

umbilical no mundo, 40% deles na Europa, 30% nos Estados Unidos e<br />

Canadá, 20% na Ásia, 10% na Austrália com mais de 150 mil unidades de<br />

sangue de cordão umbilical congela<strong>das</strong>.<br />

Existe uma rede internacional chamada Netcord. Ela registra todos os<br />

cordões umbilicais que fazem parte desta rede. E nessa rede que<br />

compreende os 16 maiores bancos dos cordões umbilicais credenciados à<br />

rede, têm mais de 100 mil unidades congela<strong>das</strong>, onde quase quatro mil<br />

pacientes já receberam transplantes de células-tronco. Na realidade, já mais<br />

do que seis mil pacientes receberam transplantes de células-tronco, mas<br />

proveniente desta rede foram quatro mil pacientes, na maioria crianças e um<br />

terço deles adultos, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.<br />

Por isso a importância de criarmos os nossos bancos aqui, porque<br />

obviamente vamos achar doador com maior facilidade na nossa sociedade,<br />

porque todos vocês sabem que a questão, o grande problema de achar<br />

doador é a rejeição do órgão. Então, com certeza, vamos encontrar um<br />

doador mais parecido geneticamente conosco na nossa região do que, por<br />

exemplo, na Ásia. Por isso a importância de abrirmos bancos regionais,<br />

locais, no Estado e no Brasil.<br />

Os 75% dos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no mundo<br />

são públicos ou privados sem fins lucrativos, ou seja, para algumas doenças,<br />

elas congelam para aquela família que pode vir a necessitar, mas sem o uso<br />

privado, sem indicação clínica, muito poucos.<br />

18


Por que isso? Saiu um documento, começou a ficar tão polêmica essa<br />

questão, principalmente na Europa, se deveria ou não incentivar banco<br />

privado de sangue de cordão umbilical, que o Comitê de Ética Europeu criou<br />

esse documento, que está em vários sites, inclusive no site do nosso<br />

instituto. O Comitê de Ética Europeu criou esse documento mostrando que<br />

eles não incentivavam o armazenamento privado do sangue de cordão por<br />

vários motivos científicos, técnicos.<br />

Alguns deles são muito fáceis de entendermos. É que a probabilidade<br />

de uma pessoa que não tem nenhuma indicação de doença usar, de fazer<br />

um transplante, por exemplo, para uma leucemia, é um para 20 mil. Se o<br />

banco público existir, podemos encontrar o doador nesse banco público, não<br />

necessitando a pessoa ter guardado o seu próprio.<br />

Na realidade, até 2003 houve apenas cinco casos, no mundo inteiro,<br />

de pessoas que usaram seu próprio sangue de cordão umbilical contra seis<br />

mil casos de pessoas que usaram sangue de cordão umbilical doados para<br />

os bancos públicos. Então é um gasto que provavelmente a pessoa não<br />

precisaria ter, principalmente, já existindo bancos de cordão umbilical no<br />

mundo. Além disso, países como Itália, Bélgica e França proíbem bancos<br />

privados de sangue de cordão umbilical, só permitem se forem públicos.<br />

Outros países permitem, mas com cautela também.<br />

Vou falar um pouquinho do nosso instituto. O site é<br />

www.celulastroncors.org.br . Uns dos documentos que consta lá é esse<br />

documento do Comitê de Ética da Europa, caso alguém queira maiores<br />

informações. Esse instituto é uma ONG, uma Organização Não-<br />

Governamental, criada justamente para trabalhar junto, por exemplo, com<br />

entidades como a UFGRS, como a Secretaria da Saúde para trazer apoio<br />

para a <strong>pesquisa</strong> e na construção do banco público.<br />

19


E quais são nossas próximas atividades? Como grupo de <strong>pesquisa</strong> na<br />

UFRGS, que nós temos, e eu, como <strong>pesquisa</strong>dora, também. Na verdade,<br />

temos, junto com a Faculdade de Farmácia, três projetos aprovados, além<br />

desse de lesão de medula espinhal. Vamos também trabalhar com a célulatronco<br />

num projeto envolvendo o uso de sangue de cordão umbilical, cujo<br />

resultado da <strong>pesquisa</strong> beneficiará diretamente a utilização e o banco público<br />

de sangue de cordão umbilical. Esses projetos contam com o apoio<br />

financeiro do CNPq e FAPERGS.<br />

Isso que gostaria de ter mostrado a vocês: um pouco do que já<br />

estamos começando a fazer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e<br />

no Instituto de Pesquisa com Células-<strong>Tronco</strong>. Portanto, com o apoio da<br />

comunidade e da Secretaria da Saúde do Estado, estamos tentando montar<br />

esse banco público, sempre estabelecendo parcerias e trocando<br />

conhecimento com tantos <strong>pesquisa</strong>dores brilhantes que temos no Brasil.<br />

Esperamos, então, que as células-tronco sejam uma esperança de uma vida<br />

melhor para todos nós, como cidadãos e comunidade.<br />

Muito obrigada.<br />

Dr. Paulo Mayorga<br />

Cumprimento a comissão na pessoa do deputado Paulo Brum.<br />

Parabenizo esta Casa pela abertura de uma comissão tão importante que<br />

vem aqui discutir questões talvez científicas, talvez um tanto quanto<br />

distantes do dia-a-dia de um legislador, mas tão importantes para a nossa<br />

sociedade em termos de perspectivas de futuro, de acesso a novas<br />

terapêuticas, a novas terapias, a novos serviços de saúde, que talvez a nossa<br />

população irá com certeza se beneficiar a médio e longo prazo a partir de<br />

20


tudo que foi colocado aqui em termos de futuro e de uma perspectiva<br />

extremamente promissora.<br />

A Faculdade de Farmácia completou, no ano passado, 110 anos. Foi a<br />

primeira unidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

Muito nos honra poder estar nesta Casa prestigiando a colega Patrícia<br />

Pranke, professora da nossa faculdade, que vem despontando com a sua<br />

coragem, disposição e entusiasmo, em relação a uma área científica, que<br />

envolve uma série de articulações acadêmicas com outras unidades,<br />

faculdades e instituições.<br />

Infelizmente nos atrasamos na chegada a esta reunião por motivo de<br />

comunicado de falecimento do Dr. Rubem Dantas, professor emérito da<br />

nossa universidade, ex-diretor da Faculdade Farmácia, que estava neste ano<br />

completando 90 anos de idade. Foi uma perda lastimável.<br />

Mas no caminho de lá para cá foi inevitável estabelecer alguns<br />

paralelos, já que o professor Rubem Dantas era exatamente da área de<br />

conhecimento da professora Patrícia – enquanto grande área <strong>das</strong> Análises<br />

Clínicas.<br />

Questionava-me como um <strong>pesquisa</strong>dor que há 80, 90 anos iniciou uma<br />

trajetória, começou a consolidar uma área de conhecimento, a ponto de que,<br />

hoje estejamos em outro extremo, após decorri<strong>das</strong> várias déca<strong>das</strong> de avanço<br />

científico, discutindo células-tronco e to<strong>das</strong> as suas potencialidades. Apesar<br />

dessa tristeza pelo fato não posso deixar de prestar uma homenagem ao<br />

Professor Dantas, que, de certa forma, tem sua trajetória coroada hoje por<br />

meio dessa juventude que aqui está defendendo esses novos rumos.<br />

21


Nesse sentido, a Faculdade de Farmácia vem reafirmar o seu compromisso<br />

de apoiar e estimular a realização desses projetos. Manifesto também a<br />

importância de reconhecimento, não só por parte da comunidade científica e<br />

da sociedade civil organizada, mas, principalmente, do poder público, na<br />

valorização e na viabilização de projetos dessa natureza, para que possam,<br />

de fato, ser apresentados ao grande público, não apenas como direito<br />

constitucional, mas como uma conquista social em busca de qualidade de<br />

vida, de acesso a recursos de saúde, dos quais a nossa população é tão<br />

carente e tão necessitada.<br />

Parabenizo a Comissão, mais uma vez, e, junto com a professora<br />

Patrícia, deixo o apelo para que o poder público siga o exemplo desta<br />

Comissão na busca desse crescimento e dessas conquistas. Muito obrigado.<br />

Dra. Martina Fritsch<br />

Apenas desejo agradecer e parabenizar a Dra. Patrícia. Não é a<br />

primeira vez que assisto à palestra dela. É uma pessoa muito entusiasta da<br />

<strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> células-tronco. O caminho é muito interessante, mas muito<br />

longo para nós, <strong>pesquisa</strong>dores. São muitas as fases que precisamos definir.<br />

A <strong>pesquisa</strong> é bastante ampla, porém ainda muito básica nessa área. No<br />

entanto, a Dra. Patrícia nos ajuda a acreditar que realmente teremos êxito e<br />

muito rapidamente.<br />

22


23/mar/2006<br />

Células-tronco: realidade e perspectivas<br />

Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima<br />

Luiz Ávila/AL<br />

Palestrante: Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima — bióloga, mestre e doutora<br />

em Bioquímica, coordenadora do laboratório de embriologia e diferenciação<br />

celular do Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que<br />

vem realizando estudos com ênfase em células-tronco embrionárias.<br />

23


Convidados: Dra. Clarisse Sampaio Alho, vice-diretora da Faculdade de<br />

Biociências da PUCRS, e alunos da Faculdade de Biociências da PUCRS.<br />

Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima<br />

Um dos maiores problemas relacionados com as células-tronco e<br />

sociedade é a informação. Trata-se de um assunto extremamente<br />

controverso, polêmico, que abrange várias questões, várias facetas, várias<br />

interpretações, que passa pelo envolvimento <strong>das</strong> emoções. É fundamental<br />

deixar bem claro alguns conceitos, alguns princípios para que a sociedade<br />

possa realmente tomar partido.<br />

A minha intenção neste encontro é muito mais esclarecer e para<br />

apresentar alguns conceitos, visando a que possamos separar algumas<br />

premissas e evoluir nas discussões, procurando construir uma opinião<br />

formada em cada uma <strong>das</strong> pessoas. A opinião pública deve ser formada pela<br />

consciência e pela certeza de cada uma <strong>das</strong> pessoas, e essa tomada de<br />

consciência tem que ser conseqüência de informações corretas.<br />

Penso que o problema não é o da divulgação de informações<br />

incorretas, mas, na realidade, o da falta da divulgação de informações. Então<br />

gostaria de apresentar alguns esclarecimentos para limpar um pouco essa<br />

confusão que se difundiu.<br />

A minha intenção é mostrar um pouco do que estamos fazendo e de<br />

que maneira o nosso grupo e a ciência, de maneira geral, podem colaborar<br />

com a melhoria da saúde da população e com as novas perspectivas<br />

terapêuticas, isto é, a forma como podemos ajudar, colaborar realisticamente<br />

com essas esperanças.<br />

A primeira coisa que precisamos deixar bem claro é que existem<br />

algumas classificações de células-tronco e estas podem ser subdividi<strong>das</strong><br />

24


quanto à origem, ou seja, de onde são retira<strong>das</strong>, de onde são obti<strong>das</strong>. Há um<br />

grupo de células-tronco chama<strong>das</strong> de células-tronco embrionárias, que são<br />

obti<strong>das</strong> de estágios iniciais de embriões e há células-tronco adultas,<br />

diferentes daquelas embrionárias, que são obti<strong>das</strong> de indivíduos adultos, de<br />

diferentes tecidos de indivíduos adultos, conseqüentemente não envolvendo<br />

a manipulação de embriões. Então aqui a gente já tem um grande divisor de<br />

águas, já que a manipulação de embriões é uma <strong>das</strong> grandes questões<br />

polêmicas envolvi<strong>das</strong> nesse assunto.<br />

É possível separar o grupo que tem um envolvimento direto com a<br />

manipulação de embriões, que são as células-tronco embrionárias, e o grupo<br />

de células-tronco adultas, que são obti<strong>das</strong> de indivíduos adultos.<br />

Conseqüentemente, elas têm características diferentes não somente pelo<br />

local de onde são obti<strong>das</strong>.<br />

Vamos começar caracterizando as células-tronco embrionárias. Estas<br />

são obti<strong>das</strong> de embriões, e uma característica para a ciência extremamente<br />

importante é que essas células-tronco podem se multiplicar in vitro, o que<br />

quer dizer isso, a gente pode colher algumas células dos embriões, levar para<br />

sistemas in vitro, levar para sistemas de cultura de células e multiplicar tais<br />

células, isto é, expandir essas células. Portanto, não é preciso manipular<br />

embriões cada vez que se vai fazer um experimento, cada vez que se vai fazer<br />

uma cultura de células embrionárias. Uma vez que a gente conseguiu<br />

estabelecer uma cultura de células, a partir de um embrião, essas células se<br />

multiplicam, hoje é dito, infinitamente in vitro. Então, a gente tem material<br />

de trabalho para <strong>pesquisa</strong>.<br />

É possível aumentar a massa celular e conseguir realizar vários<br />

estudos e várias <strong>pesquisa</strong>s in vitro com essas células e, conseqüentemente,<br />

conseguir aprender bastante com elas, uma vez que é possível fazer vários<br />

25


experimentos e manipulações para conhecer os diferentes mecanismos de<br />

diferenciação celular. Além disso, essas células-tronco embrionárias têm a<br />

capacidade de gerar todos os tipos celulares que compõem um indivíduo<br />

adulto e, por isso, numa outra classificação são chama<strong>das</strong> de pluripotentes,<br />

porque podem gerar, praticamente, to<strong>das</strong> as células de um indivíduo adulto.<br />

Porém, nunca podem gerar um novo indivíduo completo, que seria a<br />

classificação de células totipotentes.Toti quer dizer que gera um indivíduo<br />

novo, aí é a célula totipotente, que também é uma outra célula obtida de<br />

embriões. A célula pluripotente é obtida de embriões, porém com a<br />

característica de poder gerar todos os tipos celulares, mas nunca um novo<br />

indivíduo.<br />

Na realidade, a obtenção <strong>das</strong> células-tronco embrionárias é<br />

decorrência da fecundação. A partir da fusão do espermatozóide com o<br />

óvulo, temos um embrião de uma única célula. Esta célula, que agora é o<br />

ovo, o primeiro estágio embrionário, passa a se multiplicar, já que é produto<br />

da fusão do núcleo do espermatozóide e do núcleo do gameta feminino.<br />

Esse novo embrião começa a se multiplicar, cada célula se multiplica<br />

gerando duas células e elas vão se multiplicando. Ao se multiplicar, cada<br />

célula divide-se em duas e assim por diante, então vai crescendo e se<br />

multiplicando, tendo diferentes estágios, com nomes diferentes, embrião de<br />

uma célula, de duas, de quatro. Assim vai até chegar a um estágio em que<br />

não se consegue mais contar. É esse envoltório com várias células idênticas<br />

que é chamado de zona pelúcida.<br />

O envoltório, chamado zona pelúcida, chegando ao estágio chamado<br />

de blastocisto, onde temos uma única camada de células oriun<strong>das</strong> dessa<br />

célula, se organizam numa estrutura circular com uma única camada de<br />

célula e numa posição desse blastocisto, como é chamada essa estrutura,<br />

26


temos uma concentração de várias dessas células que ficam concentra<strong>das</strong><br />

numa região chamada de massa celular interna.<br />

A partir dessa massa de células é que podemos colher amostras<br />

dessas células, daqui temos a origem <strong>das</strong> células-tronco embrionárias<br />

pluripotentes. Essas são as que podemos levar para a cultura de células,<br />

expandi-las e realizar diferentes trabalhos.<br />

A gente parte de um embrião, que é de uma célula, e que se multiplica<br />

e gera uma massa de células. Depois gera a estrutura chamada blastocisto,<br />

uma camada externa de células, e no interior uma massa interna celular. As<br />

células dessa massa interna podem ser leva<strong>das</strong> para cultura e, em condições<br />

adequa<strong>das</strong>, podem gerar diferentes tipos celulares típicos de tecidos de<br />

indivíduos adultos, como células hematopoéiticas, células nervosas, células<br />

musculares, conjuntivas, epiteliais e assim por diante.<br />

Hoje, nós sabemos algumas condições para privilegiar a diferenciação<br />

<strong>das</strong> células-tronco embrionárias em alguns desses tipos. Nós sabemos que,<br />

com a adição de ácido retinóico, por exemplo, ou outras substâncias, podese<br />

privilegiar a diferenciação da célula tronco embrionária para músculo<br />

cardíaco ou para célula nervosa. Na realidade, nós precisamos ter muita<br />

cautela, porque nós não temos o domínio absoluto de cada etapa, de cada<br />

processo, para que realmente tenhamos o controle da diferenciação celular.<br />

A grande promessa que acredito que o trabalho com células tronco<br />

pode nos trazer é o aprendizado <strong>sobre</strong> diferenciação celular. Nós, primeiro,<br />

precisamos aprender muito <strong>sobre</strong> diferenciação celular. A partir do momento<br />

em que tivermos conhecimento suficiente para poder controlar alguns<br />

mecanismos de diferenciação celular, aí sim, vamos poder pensar em falar<br />

que vamos ter ferramentas que possam vir a se transformar em novas<br />

terapêuticas e poder prometer alguma nova terapia a médio prazo.<br />

27


Hoje, penso que o trabalho ou a aplicação prática dessa ferramenta do<br />

trabalho com as células-tronco embrionárias como alternativa terapêutica é<br />

uma promessa para longo prazo. Nós temos muito que aprender, é óbvio que<br />

tem muita gente trabalhando, tem muita gente querendo aprender. No<br />

mundo inteiro, <strong>sobre</strong> essas células, tem muita gente trabalhando, mas ainda<br />

pouco se sabe.<br />

Vou listar alguns dos projetos que temos <strong>sobre</strong> células tronco, que<br />

estão acontecendo no laboratório. Gostaria de ressaltar que esse foi o<br />

primeiro projeto que se tem notícia, apoiado pelo governo brasileiro, para<br />

estudar células-tronco embrionárias. É um projeto do nosso laboratório e<br />

um grupo alemão, da Universidade de Munique, onde colaboramos com o<br />

grupo do centro de <strong>pesquisa</strong>s gênicas daquela universidade, através de um<br />

projeto de estabelecimento da rotina e manutenção de células no Brasil.<br />

Fomos para a Alemanha e trouxemos <strong>pesquisa</strong>dores de lá para<br />

trabalhar no nosso laboratório e, a partir desse convênio montamos, pela<br />

primeira vez no Brasil, rotinas de cultura de células-tronco embrionárias.<br />

Esse foi, então, o embrião, digamos assim, <strong>das</strong> nossas atividades com<br />

células-tronco no Brasil, no nosso laboratório. Isto aconteceu em 2000, faz<br />

bem pouco tempo.<br />

Em seguida, depois da rotina estabelecida, começamos a desenvolver<br />

trabalhos de indução de diferenciação celular in vitro para, então, tentar<br />

aprender um pouco <strong>sobre</strong> os mecanismos de diferenciação celular. Quanto a<br />

isto temos alguns trabalhos de tese publicados e conseguimos estabelecer<br />

modelos de diferenciação celular e produção de células nervosas, a produção<br />

de células cardíacas in vitro, a partir de células-tronco embrionárias.<br />

Por fim, hoje, com células tronco-embrionárias, temos um projeto em<br />

andamento, é um modelo para produção de células pancreáticas, produtoras<br />

28


de insulina, com o mesmo grupo alemão. Hoje temos dois alunos de<br />

doutorado trabalhando na Alemanha. Pesquisadores vêm todos os anos e<br />

nós também vamos para lá todos os anos. É um programa custeado pela<br />

CAPES, do Ministério da Educação, e que visa à formação de recursos<br />

humanos. Então, a gente manda alunos de doutorado para a Alemanha,<br />

manda professores e <strong>pesquisa</strong>dores para a Alemanha e recebemos, da<br />

Alemanha, <strong>pesquisa</strong>dores, professores e alunos de doutorado, também. É<br />

bastante interessante este intercâmbio, um nível bastante adiantado de<br />

formação científica, o que é bastante produtivo. Rendem muito essas visitas,<br />

essas trocas, esses intercâmbios trazem muitos bons frutos, têm trazido<br />

muitos bons frutos para o nosso laboratório. Acredito que para eles também,<br />

apesar de eles terem uma autonomia maior do que a nossa.<br />

No momento, então, estamos envolvidos com esse projeto. Célulastronco<br />

estão sendo produzi<strong>das</strong> na Alemanha hoje, com uma aluna nossa de<br />

doutorado que está lá, dando seqüência a um projeto que se iniciou no ano<br />

passado, quando fizemos algumas construções genéticas e transformamos<br />

aquelas células-tronco embrionárias quando elas ainda estavam num<br />

modelo indiferenciado. Introduzimos nestas células-tronco embrionárias<br />

uma seqüência de DNA que vão priorizar, ou modular positivamente a<br />

diferenciação dessas células. À medida que colocamos essas células em um<br />

modelo de diferenciação solar, elas se diferenciam prioritariamente em<br />

células pancreáticas, produtoras de insulina. Então, são com estas<br />

construções gênicas que estamos trabalhando no momento.<br />

Já temos clones de células-tronco embrionárias transformados com<br />

estas seqüências gênicas e, com isto, já temos um sistema funcionando para<br />

diferenciação de células tronco no sistema de diferenciação solar,<br />

priorizando a diferenciação para célula pancreática produtora de insulina.<br />

29


Como disse no início, o trabalho com as células tronco embrionárias<br />

são extremamente importantes no sentido de termos condições de aprender<br />

com um modelo que acho riquíssimo para aprender <strong>sobre</strong> diferenciação<br />

celular. Mas quando poderemos pensar em transferir estas células<br />

produtoras de insulina, filhas daquelas células-tronco embrionárias para um<br />

paciente, fazer um transplante celular para um paciente? Acredito que isso<br />

ainda falta bastante tempo porque não temos ainda um controle absoluto da<br />

diferenciação celular. E o risco de transplantar uma célula-tronco, num<br />

estágio embrionário para um paciente, é bastante grande.<br />

Mesmo em cobaias, ainda não feitas experiências com transferência de<br />

célula. Somente da indução de diferenciação in vitro. A idéia é que, à medida<br />

que dominemos mais o processo de transformação de célula-tronco<br />

embrionária em célula produtora de insulina, à medida que tivermos a<br />

“certeza” – entre aspas – ou um domínio mais eficiente da técnica para poder<br />

ter uma cultura realmente enriquecida e perto de 100% nessas células –<br />

pureza é difícil de falarmos –, a medida em que consigamos purificar ao<br />

máximo essas células produtoras de insulina e eliminar as que não se<br />

diferenciaram, então passaremos para os primeiros experimentos in vivo,<br />

mas ainda com modelos animais.<br />

Não temos perspectiva de quando iniciaremos os experimentos in vivo.<br />

Acredito que precisamos de mais dois ainda com esse experimento, com esse<br />

projeto. Com outros modelos que ainda não dominamos o processo de<br />

diferenciação solar, o tempo é bem maior para podermos chegar a falar em<br />

aplicação prática ou transferência de células mesmas.<br />

Por outro lado, as células-tronco adultas – como mencionei – não<br />

envolvem a manipulação de embriões, podendo ser obti<strong>das</strong> por diferentes<br />

tecidos, os tecidos mais conhecidos ou mais falados, como fonte de células-<br />

30


tronco adultas, são a medula óssea, o sangue de cordão e o sangue<br />

periférico. Ainda existem células-tronco, residentes em alguns tecidos, que<br />

não têm a mesma capacidade de diferenciação.<br />

Como por exemplo, existem células-tronco que moram dentro do<br />

sistema nervoso, dentro do pâncreas e dentro do fígado. Essas têm uma<br />

capacidade de diferenciar-se comprometida com órgão em questão. Elas<br />

dificilmente se transformam em outro tecido, que não seja aquele com o qual<br />

elas estão intimamente em contato. Então, existem vários tipos de célulastronco<br />

adultas, mas essas são as que têm a maior capacidade de se<br />

diferenciar em outros tipos celulares.<br />

Se pensarmos e relembramos dos conceitos que foram falados, a<br />

célula-tronco embrionária é obtida de embrião, tem toda a problemática de<br />

se manipular embriões. As células-tronco adultas tão facilmente acessíveis<br />

porque se olharmos esses tecidos, coletar a medula óssea é fácil, o sangue<br />

de cordão, sangue periférico é fácil e placenta é fácil. Para que vamos mexer<br />

num vespeiro, se temos essas possibilidades disponíveis?<br />

Na realidade, a justificativa para mexer no vespeiro é a plasticidade,<br />

que é a capacidade que as células-tronco tem de se diferenciar em outros<br />

tecidos. Esse é o grande argumento para continuarmos trabalhando com<br />

células-tronco embrionárias, é a capacidade e a potencialidade que essas<br />

células têm. Além <strong>das</strong> questões práticas que mencionei que a célula-tronco<br />

embrionária conseguia multiplicar in vitro. Não conseguimos multiplicar a<br />

célula-tronco in vitro.<br />

Nós dizemos que não essas células não se multiplicam, na realidade,<br />

não é que elas não se multipliquem, somos nós que não conhecemos o<br />

sistema de como fazer com que elas se multipliquem, deve existir um<br />

sistema, mas não conhecemos. Ninguém no mundo sabe pegar uma célula-<br />

31


tronco de um tecido adulto de qualquer uma <strong>das</strong> fontes menciona<strong>das</strong> e fazer<br />

com que elas cresçam e se multipliquem in vitro, não se consegue.<br />

Além disso, elas podem dar um número bem mais reduzido de tipos de<br />

celulares maduros, ou seja, aquela plasticidade mais reduzida. Elas não têm<br />

capacidade de gerar todos os tipos celulares de um indivíduo.<br />

A medula óssea significa a parte central de ossos longos. Os ossos<br />

longos têm as suas extremidades calcifica<strong>das</strong>. Na parte central, tem o que<br />

chamamos de medula óssea, que é uma parte viva, rica, cheia de células. É<br />

dentro desse ambiente que temos células-tronco adultas que se multiplicam,<br />

diferenciam-se e que há alguns anos achávamos que originavam células da<br />

linhagem hematopoiética. De fato, temos visto que as células-tronco<br />

hematopoiéticas não só têm capacidade de dar origem a to<strong>das</strong> as célulastronco<br />

hematopoiéticas adultas, podem ainda dar origem a alguns outros<br />

tipos de tecidos.<br />

Colhemos uma amostra desse conjunto de células que tem dentro da<br />

medula óssea e levamos para um tubo. Na realidade, como não conseguimos<br />

fazer com que essas células se multipliquem in vitro, colhemos a célula e ela<br />

tem que ser transferida diretamente para o paciente, porque pouco se<br />

consegue fazer. Na realidade, o que existe de célula-tronco hematopoiética<br />

dentro da medula óssea é algo em torno de 0,0001%. Pescar essa célula é<br />

muito difícil.<br />

Trabalhar com essa célula in vitro já que não sabemos como mantê-la<br />

viva e se multiplicando in vitro não nos resta outra chance a não ser colher<br />

uma mostra de célula de medula óssea, acreditar que estatisticamente ali<br />

dentro tem célula-tronco adulta e transferir essas células diretamente para o<br />

paciente, para diferentes tecidos, como tem sido feito, por exemplo, com os<br />

pacientes cardíacos.<br />

32


Coletamos e, na realidade, na hora que é transferido não sabemos<br />

exatamente quantas células-tronco tem ali dentro. Mas o que foi<br />

demonstrado é que tem, depois vimos que tem. Na realidade, na hora da<br />

cirurgia, colhemos do paciente ou de um banco de células e transfere-se<br />

para o paciente. E uma alíquota da célula que você transferiu é levada para<br />

análise e a análise vai dizer mais tarde ou no dia seguinte o percentual de<br />

células-tronco que tinha naquela amostra. Mas isso só fica sabendo na<br />

realidade depois que transferiu para o paciente.<br />

Mesmo assim, esses resultados feitos com os pacientes cardíacos<br />

mostraram resultados positivos de que essas células de alguma maneira<br />

colaboravam com a regeneração do músculo cardíaco e ajudava na<br />

recuperação do órgão dos pacientes.<br />

Nesse sentido, temos alguns outros projetos com células-tronco<br />

hematopoiéticas em modelos animais, inicialmente acontecendo no nosso<br />

grupo e o primeiro é a recuperação de músculo cardíaco após enfarto agudo<br />

e crônico. Esse é um modelo que já feito em um ano.<br />

Já foi demonstrado que funciona, mas, o que queremos com esse<br />

trabalho não é mostrar que a célula-tronco regenera ou auxilia na<br />

regeneração, mas, sim, tentar descobrir de que maneira ou quais são os<br />

mecanismos envolvidos na regeneração do músculo cardíaco quando temos<br />

uma situação de lesão e administra as células-tronco adultas. No caso o<br />

modelo animal usado é rato. A idéia é estudar esse mecanismo.<br />

Um outro modelo animal com que trabalhamos é a regeneração<br />

hepática em falência hepática fulminante. Também temos um modelo com<br />

ratos que são tratados e têm uma falência hepática fulminante importante, e<br />

os nossos experimentos de transferência de célula-tronco adulta<br />

33


hematopoiética para esses ratos mostraram uma <strong>sobre</strong>vida e uma<br />

regeneração do fígado desses animais.<br />

Esse é um projeto que traz uma esperança interessante, porque<br />

existem vários pacientes esperando, por exemplo, por um transplante que<br />

seja compatível com o paciente e às vezes o órgão não chega, e o paciente<br />

acaba morrendo vítima de uma falência hepática fulminante, uma situação<br />

aguda e a idéia desse projeto é poder fazer com que esse paciente tenha uma<br />

leve recuperação.<br />

Não conseguimos fazer a restauração do fígado, não conseguimos<br />

regenerar o fígado completamente, mas conseguimos restabelecer a função<br />

hepática num pequeno grau e por um pequeno espaço de tempo. Talvez o<br />

tempo necessário para que esse paciente tenha a chance de receber o<br />

transplante e ter sua função hepática regenerada. Seria uma possível<br />

alternativa, mas lembrando, de novo, que os trabalhos são feitos com<br />

modelos de animais.<br />

No Hospital de Clínicas, estamos realizando trabalhos com modelos de<br />

outros tipos de animais na linha de fígado, inclusive com porcos. Talvez<br />

tenhamos outras novidades.<br />

Além disso, também estamos desenvolvendo um trabalho bastante<br />

interessante na recuperação testicular. Nesse item temos um modelo de<br />

degeneração testicular causada por um fármaco, o mesmo utilizado na<br />

quimioterapia.<br />

Os pacientes que precisam ser submetidos à quimioterapia se tornam,<br />

como conseqüência, inférteis, pois ocorre a degeneração do tecido testicular.<br />

Nesse processo de degeneração a espermatogênese acontece porque o<br />

testículo não promove a diferenciação dos espermatozóides.<br />

34


Nesse sentido o nosso trabalho foi o de induzir à degeneração<br />

testicular, primeiramente com ovinos, mas agora os experimentos são com<br />

ratos. Tanto a degeneração testicular dos ovinos como a dos ratos foram<br />

realiza<strong>das</strong> com o mesmo fármaco utilizado para a quimioterapia.<br />

Os animais são tratados com células-tronco adultas. Restabelecemos<br />

parcialmente a estrutura do testículo a ponto de promover novos ciclos de<br />

espermatogênese, recuperando, então, a capacidade de fazer a maturação<br />

dos espermatozóides, o que torna o indivíduo novamente fértil.<br />

Esse trabalho foi bastante interessante. Após mais ou menos 15 dias<br />

conseguimos ver espermatozóides adultos e o animal recupera a função de<br />

diferenciação de espermatozóides completamente. Esse trabalho nos<br />

possibilita, a curto prazo, a aplicação terapêutica em pacientes que foram<br />

submetidos à quimioterapia ou a tratamentos com drogas que levaram à<br />

degeneração testicular.<br />

Ainda com modelos em animais, temos a recuperação de tendão após<br />

lesão traumática e à recuperação dessa estrutura com células-tronco<br />

adultas. Esses dois projetos, o da regeneração, tanto de tendão como de<br />

músculo, foram iniciados no verão. Recém conseguimos estabelecer um<br />

modelo de lesão tendínea e muscular. Agora estamos trabalhando no<br />

estabelecimento dos modelos. Nos próximos dois meses começaremos os<br />

experimentos em outros, o da regeneração <strong>das</strong> estruturas com célulastronco<br />

adultas. Em humanos, os projetos que desenvolvemos com célulastronco<br />

hematopoiéticas, células-tronco adultas, são para recuperação de<br />

lesão tendínea e de estruturas articulares.<br />

Temos a sorte de contar com um dos maiores cirurgiões ortopédicos e<br />

traumatologista do Brasil, o Dr. João Ellera Gomes, que recentemente<br />

recebeu prêmio por desenvolver uma nova técnica cirúrgica de joelho e de<br />

35


ombro. O Dr. João nos procurou para propor uma associação porque<br />

gostaria de tornar a sua técnica cirúrgica mais eficiente. Ele gostaria de,<br />

junto com a sua técnica cirúrgica, fazer a adição de células-tronco adultas.<br />

O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital de Clínicas,<br />

que já o aprovou, e o Dr. João está começando a selecionar os grupos de<br />

pacientes para começarmos as cirurgias em seguida. O projeto já está<br />

aprovado, mas não temos ainda nenhuma cirurgia realizada. Recém foi<br />

aprovado, há cerca de 10 dias. Então, são dois os projetos já aprovados e<br />

que em termos de aplicação deixaram de ser promessas.<br />

Na realidade começaremos as primeiras cirurgias e daqui a um ano<br />

teremos os primeiros resultados <strong>sobre</strong> e o efeito <strong>das</strong> mesmas. Mas em<br />

termos de aplicação estamos começando os primeiros estudos na utilização<br />

em humanos, de fato. Isso já é uma realidade.<br />

Voltando um pouco para o outro assunto, em termos de perspectiva de<br />

células-tronco embrionárias, na medida em que conseguimos dominar muito<br />

mais do que hoje a diferenciação celular – considerando um paciente que<br />

necessita de transplante de tecido –, poderemos, por exemplo, colher uma<br />

célula de pele. A parte central é o núcleo da célula e dentro do núcleo temos<br />

o material genético ou as diferentes células desse homem, não interessa se é<br />

célula epitelial ou nervosa, músculo ou tecido conjuntivo. Dentro do núcleo<br />

há material genético exatamente idêntico em to<strong>das</strong> as células.<br />

Por isso, em medicina forense, podemos coletar bulbos de pêlo, de<br />

cabelo ou de fragmento, tecido de mucosa, pele ou ossos para fazer a<br />

identificação genética. É como se fosse um cartão de identificação, to<strong>das</strong> as<br />

células de um mesmo indivíduo têm exatamente o mesmo DNA.<br />

Quando transferimos o núcleo, por micromanipulação, retiramos o<br />

núcleo dessa célula e transferimos para outra que foi esvaziada, ou seja, que<br />

36


é um gameta feminino e seu núcleo foi retirado. Pegamos o gameta feminino,<br />

tiramos o núcleo, que é a informação genética dessa mulher e colocamos o<br />

núcleo que contém a informação genética do paciente.<br />

Essa célula, que agora é uma quimera, uma mistura do material<br />

genético do homem com a célula enucleada da mulher, em condições<br />

adequa<strong>das</strong> de cultura, multiplica-se como se fosse um embrião, fazendo<br />

multiplicações duplas até gerar o blastocisto, uma estrutura de camada<br />

única que, numa <strong>das</strong> extremidades ou numa porção, tem a concentração de<br />

células de massa interna, de onde se podem retirar essas células.<br />

Dessa forma, temos uma cultura de célula-tronco embrionária<br />

idêntica, com material genético idêntico ao do homem doador do núcleo.<br />

Uma vez em cultura, podemos fazer com que essa célula-tronco embrionária<br />

se transforme em diferentes tipos celulares ou na que o paciente necessita<br />

para o transplante, e assim se produz in vitro células idênticas sem o risco<br />

de rejeição.<br />

Essa é uma promessa superinteressante e excitante. Ficamos<br />

sonhando com o dia em que teremos nos hospitais salas como a de um<br />

supermercado com potes de órgãos de células pré-produzidos, compatíveis<br />

com diferentes indivíduos. O paciente entra, colhe uma amostra, vai para a<br />

sala ao lado, produz um fígado ou coração novo, volta com o carrinho de<br />

supermercado e entrega para o médico fazer o transplante. Esse é um sonho<br />

delirante, mas plausível, se pensarmos na evolução científica.<br />

O grande complicador pode existir em relação a esse futuro é o<br />

conhecimento ser barrado. Fingir que não sabemos, não é possível; proibir<br />

que se manipule ou se trabalhe em prol da ciência é um grande erro.<br />

Precisamos, sim, discutir muito, conversar para formar opinião e para<br />

37


chegarmos à conclusão de quais devem ser as regras daqui para frente, de<br />

que maneira devemos trabalhar e que tipo de <strong>pesquisa</strong> podemos apoiar.<br />

Proibir só prejudica as pessoas de bem que estão pensando em<br />

trabalhar seriamente em prol da ciência e da sociedade. Quem atua na<br />

contramão do bem público vai continuar atuando. Por isso, proibir significa<br />

dar mais poder para quem é do mal e tirar as condições <strong>das</strong> pessoas que<br />

querem ajudar.<br />

Não dá para voltarmos atrás e fingirmos que isso tudo não existe, mas<br />

dá, sim, para discutirmos bastante, a fim de formarmos opinião e sabermos<br />

de que maneira poderemos evoluir, para onde vamos caminhar, que tipo de<br />

trabalho devemos privilegiar, que tipo de ação queremos no futuro em prol<br />

dos nossos pacientes e do bem-estar da comunidade.<br />

Muito obrigada.<br />

Dra. Clarisse Sampaio Alho<br />

É um prazer estar aqui representando a Faculdade de Ciências da<br />

PUCRS, universidade em que estão sendo desenvolvidos muitos projetos<br />

envolvendo as células-tronco. De fato, é uma alegria saber que, em nosso<br />

Estado, existe uma comissão formada com esse propósito. É sempre bom<br />

assistir a conferência da Dra. Elizabeth e podermos perceber o quão<br />

avançados estamos no Rio Grande do Sul e no País, em relação ao cenário<br />

mundial.<br />

A nossa instituição tem tido uma preocupação com a boa conduta<br />

desses tipos de investigação nos âmbitos legais, morais e éticos. O grupo da<br />

UFRGS, aqui representado pela Dra. Elizabeth, sempre trabalhou com muito<br />

rigor e seriedade científica.<br />

38


Infelizmente, essa área <strong>das</strong> células-tronco mostrou ultimamente um<br />

viés de falta de seriedade muito grande. Acompanhamos escândalos<br />

internacionais envolvendo esse tipo de investigação, isso é uma lástima<br />

porque, além de frear e confundir o avanço dessas tecnologias para o bemestar<br />

social, afeta diretamente os sofrimentos pessoais de cada indivíduo que<br />

precisa de uma terapêutica para se recuperar.<br />

A nossa preocupação, do ponto de vista ético do desenvolvimento e da<br />

aprovação dessas <strong>pesquisa</strong>s, vai desde o âmbito maior, que é a ciência, até<br />

as particularidades de cada paciente que nos telefona contando o seu drama<br />

pessoal, do seu filho ou do seu esposo, precisando de auxílio e confiando,<br />

tendo esperanças na ciência.<br />

Cada vez que uma pessoa tem as suas esperanças frustra<strong>das</strong>, a sua<br />

vida perdida em função da ciência ter travado suas experiências por más<br />

condutas em <strong>pesquisa</strong>s, isso reflete negativamente em todos os aspectos.<br />

Ressalto a importância de uma comissão que tenha clareza de<br />

conhecimento técnico – que não é a área dos parlamentares, mas dos<br />

cientistas –, a conversa entre a comunidade científica e a sociedade em geral<br />

interessa muito, e essas propostas são as que promovem os intercâmbios de<br />

conhecimento e as toma<strong>das</strong> de decisões.<br />

Acompanhamos as toma<strong>das</strong> de decisão, em nosso País, com relação às<br />

legislações que permitem ou impedem determinados tipos de investigação<br />

com células-tronco embrionárias humanas. Essas decisões têm que ser<br />

embasa<strong>das</strong> em conhecimento científico sério e toma<strong>das</strong> por pessoas que, de<br />

fato, trabalhem com isso.<br />

Pelos trabalhos que temos acompanhando no Comitê de Ética e de<br />

Pesquisa da PUC e na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no Brasil –<br />

CONEP –, chegamos à conclusão de que cada projeto é isolado. Por isso,<br />

39


tivemos que vivenciar a aprovação ou não da Lei de Biossegurança, que era<br />

algo generalizado, e sabemos que essa generalização permite os andamentos<br />

do bem e do mal.<br />

Temos observado que cada projeto tem que ser avaliado<br />

independentemente. Esse projeto faz parte de um grupo que tem rigor<br />

científico e seriedade, portanto deve ser aprovado, pois virá para o bem, e<br />

outros não devem ser aprovados porque não estão sustentados<br />

cientificamente ou não têm perspectivas de ter utilização com seriedade.<br />

Uso a palavra para agradecer o convite para participarmos deste<br />

encontro, conhecer a comissão e, uma vez mais, assistir ao relato do grupo<br />

da UFRGS.<br />

Parabenizo a iniciativa, porque certamente isso será um benefício<br />

muito grande para o nosso Estado e para a nossa sociedade em geral. Muito<br />

obrigada.<br />

40


30/mar/2006<br />

Realidade e perspectivas na terapia com células-tronco<br />

Dr. Jefferson Braga Silva<br />

Marco Couto/AL<br />

Palestrante: Dr. Jefferson Braga Silva — médico, livre docente e professor da<br />

faculdade de Medicina da PUCRS.<br />

Convidada: Dra. Karolyn Sassi, diretora-geral do HemoCord<br />

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Dr. Jefferson Braga Silva<br />

Em primeiro lugar, agradeço o convite para comparecer a esta reunião.<br />

Sou médico, realizo cirurgias e faço fundamentalmente <strong>pesquisa</strong> cirúrgica. O<br />

assunto células-tronco nos interessa há bastante tempo, e temos hoje<br />

algumas questões bem estabeleci<strong>das</strong> na utilização dessa terapia, desse<br />

tratamento com células-tronco.<br />

Começamos, como sempre, pela cirurgia experimental, por<br />

procedimentos em animais, e depois evoluímos para a terapia em humanos.<br />

Esse título da palestra, Realidade e Perspectivas na Terapia com Células-<br />

<strong>Tronco</strong>, corresponde exatamente ao que propõe. Na verdade, temos uma<br />

realidade bem estabelecida hoje em algumas doenças e perspectivas<br />

bastante promissoras em outras. Esse trabalho todo foi desenvolvido na<br />

universidade dentro de um laboratório de cirurgia experimental, um prédio<br />

construído ao lado do hospital da PUC onde realizamos to<strong>das</strong> essas<br />

<strong>pesquisa</strong>s.<br />

É importante definir célula. A célula, na verdade, é um espaço vazio. Ela<br />

foi descrita inicialmente por Robert Hooke e possui diversas estruturas, cada<br />

uma com determinada função, e o núcleo rege tudo.<br />

Uma definição típica e clássica de células-tronco é que são células<br />

imaturas que não têm forma nem função, mas têm grande capacidade de se<br />

proliferar e de poder originar diferentes tipos celulares. A célula-tronco,<br />

acrescida de fatores de crescimento, pode – ou não – se diferenciar em tecido<br />

neural, em tecido nervoso e em músculo.<br />

Temos várias possibilidades de obtenção de célula-tronco. Nas próximas<br />

semanas vocês vão ouvir a Dra. Sassi, do HemoCord, falar <strong>sobre</strong> cordão<br />

umbilical. Outras possibilidades são a medula óssea, que é no que temos<br />

maior experiência na universidade, a célula embrionária, que vou explicar<br />

42


para vocês, e hoje apresentaremos outra linha, que é a obtenção de célulastronco<br />

a partir da gordura e de células olfativas.<br />

No cordão umbilical não vou me deter, vou deixar para a próxima<br />

palestra. Na verdade, no sangue existe uma quantidade bastante importante<br />

de células-tronco, que podem ser usa<strong>das</strong> para o tratamento de algumas<br />

doenças.<br />

Vou abordar hoje fundamentalmente a medula óssea, que é o que<br />

usamos. São células não completamente diferencia<strong>das</strong> que vão servir de<br />

fonte celular para todo o organismo. A medula óssea é o que está dentro do<br />

osso e que pode se diferenciar em fígado, tecido gorduroso, tecido cardíaco,<br />

tecido epitelial, neurônio.<br />

No primeiro dia <strong>das</strong> células embrionárias, quando ocorre a fecundação,<br />

chama-se zigoto; no terceiro ou quarto dia, totipotente; e depois, blastocisto.<br />

É aqui que ocorre a separação, ou seja, retiramos a célula pluripotente do<br />

blastocisto, colocamo-la em cultura, e ela vai se diferenciar em outros<br />

tecidos. O grande problema ético da célula embrionária é justamente a<br />

destruição do blastocisto, que não irá mais evoluir até o ser humano.<br />

Há algumas questões relaciona<strong>das</strong> à bioética, fundamentalmente à<br />

célula-tronco, <strong>sobre</strong> se é embrionária. Além disso, sabemos todos da Lei de<br />

Biossegurança, que foi aprovada em março de 2005 pelo governo federal.<br />

Existem algumas críticas – não só nossas –, alguns aspectos culturais e<br />

religiosos têm de ser discutidos, e não há comprovação prévia da eficácia da<br />

terapêutica dessa célula embrionária.<br />

Algumas questões não vou discutir, mas vou deixá-las como incentivo à<br />

reflexão. Quando começa a vida, na fecundação ou no nascimento? A<br />

medicina e a sociedade já estabeleceram quando ocorre a morte: a morte<br />

existe quando temos um silêncio isoelétrico no eletroencefalograma. Aí<br />

43


acontece a morte. A vida, porém, nós não sabemos se começa na fecundação<br />

ou no nascimento. Na verdade, aqui é que se inicia a discussão na bioética.<br />

O que eu quero mostrar para vocês é isto, a realidade e as perspectivas<br />

na terapia com células-tronco, que <strong>pesquisa</strong>s temos com resultado, sem<br />

resultado, e a experimentação clínica. Dentro da experimentação clínica,<br />

temos inicialmente <strong>pesquisa</strong>s em seres humanos <strong>sobre</strong> a utilização na<br />

terapia do quelóide, que é aquela cicatriz hipertrófica, uma cicatriz feia, e<br />

<strong>sobre</strong> a utilização de gordura como fonte de células-tronco. Com resultados,<br />

temos as <strong>pesquisa</strong>s <strong>sobre</strong> o nervo periférico e a calvície.<br />

Na experimentação animal, estão em andamento <strong>pesquisa</strong>s <strong>sobre</strong><br />

insuficiência renal, isquemia, regeneração óssea, cartilagem e músculo.<br />

Temos, com resultados muito interessantes, estudos <strong>sobre</strong> a cirrose, <strong>sobre</strong> a<br />

regeneração da unha e da medula.<br />

Abordando o nervo periférico, ele nada mais é do que uma porção de<br />

cabos, envoltos em uma membrana. Quando vim para Porto Alegre, em<br />

1995, tínhamos o caso de um paciente que sofrera um trauma no antebraço<br />

e que, por um problema burocrático, não recebera assistência imediata, indo<br />

recebê-la dois ou três meses depois, e então sofreu uma perda, pois os<br />

tecidos se retraem. Em casos desse tipo, temos duas opções: ou fazemos um<br />

enxerto para fazer a ligação desse nervo com outro, ou fazemos um<br />

procedimento chamado de tubulização, que se trata de colocar um tubo<br />

entre duas extremidades nervosas: nervo e nervo, e o tubo em volta, para<br />

que o nervo cresça por dentro desse tubo.<br />

Essa foi nossa tese de mestrado em 1997, depois fizemos algumas<br />

publicações. Queríamos que o nervo se regenerasse, mas não sabíamos por<br />

que o nervo se regenerava, se aqui é um regenerado nervoso, e de repente ele<br />

pára. Não sabíamos explicar por que, em alguns pacientes, o nervo<br />

44


simplesmente parava de crescer, e aí veio uma necessidade do dia-a-dia, de<br />

utilizar células-tronco da medula óssea, dentro daquele tubo. Fomos então<br />

contemplados com o edital do CNPq em 2004 e 2005, para completar esse<br />

estudo.<br />

As <strong>pesquisa</strong>s são feitas em ratos de laboratório. Logo após a secção do<br />

nervo ciático o rato não consegue movimentar a pata direita e manca devido<br />

a uma lesão nervosa. Retiramos a célula-tronco da medula óssea, do fêmur<br />

do rato, essas células são marca<strong>das</strong> com GFP que é uma substância que faz<br />

com que eu tenha certeza que o que está se regenerando são as célulastronco.<br />

Fizemos várias análises para comprovar se a célula-tronco regenerava<br />

realmente. No exame macroscópico, observamos uma regeneração, e a única<br />

diferença com um nervo normal é o grau de densidade. Tínhamos algumas<br />

comprovações, sabíamos que esse nervo transmitia estímulos, pois na<br />

verdade o nervo transmite a ordem do cérebro para o músculo. O estímulo<br />

era normal, então tínhamos várias observações: o exame macroscópico; a<br />

microscopia; e a microscopia eletrônica; e precisávamos saber se esse nervo<br />

era realmente eficaz.<br />

Quatro semanas depois, a cobaia já caminhava normalmente, ou seja,<br />

houve uma regeneração nervosa com a célula. A célula-tronco tem aquele<br />

poder de se diferenciar. Solto no chão do laboratório, o animal não só<br />

caminha como corre bastante. Houve uma boa regeneração funcional.<br />

Isso nos estimulou a fazer um protocolo ao Comitê de Ética, ao Conep,<br />

em Brasília, usando no ser humano. Então unimos pacientes do mesmo tipo<br />

que apresentavam o mesmo tipo de lesão, e procuramos fazer da forma mais<br />

estandardizada possível. Como eu tinha a minha tese, eu usava o meu tubo<br />

vazio, na verdade eu estava comparando 1995 com 2005. Foi isso que<br />

45


fizemos, comparamos as duas séries — duas terapias, uma que já era<br />

consagrada no meio da utilização do tubo com a da célula-tronco.<br />

A avaliação dos resultados é importante, para eu poder chegar aqui e<br />

dizer que isso já é uma realidade. Na verdade tenho uma recuperação<br />

motora, sensibilidade de função. E se eu comparar as duas séries, observem<br />

que existe uma nítida superioridade da utilização do nervo mediano com<br />

células-tronco, se eu comparar quando eu não possuía as células-tronco.<br />

Então, houve uma superioridade de resultado, de função, motricidade e<br />

sensibilidade. Esse é um resultado clínico da terapia com células-tronco. O<br />

paciente tem uma recuperação funcional com uma lesão do nervo bastante<br />

interessante, o que nos encoraja a fazer clinicamente isso.<br />

Agora a calvície. A calvície vocês sabem que é um grande problema. Na<br />

verdade, na calvície, temos a perda do folículo, e aí começamos a usar,<br />

também, com fatores de crescimento. A terapia em calvície são folículos de<br />

calvície que colocamos dentro do gel, e isso é colocado na região calva.<br />

Então, fizemos um protocolo clínico sem fator de crescimento e sem<br />

células-tronco e com células-tronco. Então aqui temos um exemplo. A<br />

regeneração com célula e sem, e observamos que houve uma melhora em<br />

torno de 20%. Essas duas terapias, clinicamente, já estão bem estabeleci<strong>das</strong><br />

e estão sendo publica<strong>das</strong> à calvície e ao nervo periférico.<br />

O que gosto mesmo é <strong>das</strong> perspectivas, pois na verdade se abre um<br />

mundo a nossa frente. Como já tivemos muito estímulo a partir desses<br />

resultados, começamos com a insuficiência renal, isquemia, osso. Esses<br />

trabalhos todos estão iniciando, mas estes aqui, fundamentalmente, já<br />

terminamos e estamos enviando para aprovação no Comitê de Ética.<br />

Vejam bem, não sou um apologista do álcool, mas posso dizer que os<br />

fígados com cirrose regeneraram de uma forma bastante impressionante.<br />

46


Houve praticamente uma normalização <strong>das</strong> enzimas produzi<strong>das</strong> e depura<strong>das</strong><br />

no fígado. Tivemos não só uma regeneração hepática macroscópica, mas<br />

também uma regeneração microscópica. O mais importante é que houve<br />

uma recuperação funcional desse fígado.<br />

No último que terminamos, tivemos de criar um modelo experimental<br />

em rato paraplégico. Foi uma coisa muito difícil. Levamos dois anos para<br />

isso. Tínhamos de fazer com que se paralisassem as patas posteriores do<br />

animal, verificar a eficácia e saber se esse trabalho poderia ser reproduzido<br />

por outras pessoas. Também há algo que é quase novo nessa terapia: a<br />

possibilidade de reinjetar célula-tronco no mesmo animal ou na mesma<br />

pessoa.<br />

Para isso, criamos um modelo. Dividimos o animal em três, pois essa<br />

divisão nos proporciona ter um parâmetro de um centímetro distal à secção<br />

da medula. Então se fez uma secção medular aberta, sem traumatizar.<br />

Seccionamos a medula, porque essa era uma forma de verificar se o rato<br />

continuava paralisado. Não queríamos somente traumatizar, porque alguns<br />

poderiam recuperar-se.<br />

Seccionamos a medula com um bisturi e colocamos um cateter – isso<br />

nos permite fazer injeções seqüencia<strong>das</strong>, semana a semana, de célulatronco.<br />

Acreditamos que essa terapia continuada poderia ter melhores<br />

resultados. E foi o que comprovamos. Não precisaria sacrificar o animal:<br />

simplesmente se faria uma injeção.<br />

Levamos dois anos para fazer o modelo de um rato paraplégico. Na<br />

verdade, é uma secção medular. Fazíamos um, dava paralisia pulmonar;<br />

fazíamos outro, dava paralisia intestinal. Até criarmos o nível correto, foi<br />

preciso muito tempo. O que expliquei rapidamente corresponde ao trabalho<br />

de dois anos.<br />

47


Três meses depois de iniciado o tratamento, o rato paraplégico já<br />

começou a movimentar a pata dianteira. Ele não conseguia ainda caminhar,<br />

mas, seis meses depois, passa a andar.<br />

É lógico que esta é uma <strong>pesquisa</strong> experimental, uma <strong>pesquisa</strong> que<br />

estamos tentando transpor para o ser humano. Estamos fazendo um<br />

protocolo de <strong>pesquisa</strong> fundamentalmente para os casos agudos, ou seja,<br />

para aquelas pessoas que sofrem um traumatismo, ou seja, que sofrem esse<br />

tipo de acidente e tem paraplegia. Mas é no momento da operação, da<br />

instrumentação pela ortopedia que deveríamos iniciar a terapia celular – e,<br />

mesmo assim, deveríamos fazer terapia descontinuada, ou seja, fazer com<br />

que ela possa se repetir gradativamente por um tempo que pode levar de três<br />

a seis meses.<br />

Quanto à especulação da perspectiva, penso que é válida, porque, na<br />

verdade, é a partir daí que poderemos progredir para o ser humano.<br />

O papel dos senhores, deputados, hoje é sumamente importante. Isso<br />

não é choro de <strong>pesquisa</strong>dor. Precisamos é de recurso e apoio da<br />

comunidade. Já disse isso várias vezes. No momento em que a sociedade se<br />

mobilizar e pressionar para que tenhamos recursos, o resultado virá ao<br />

encontro de suas deman<strong>das</strong>. Precisamos de recursos para centros que façam<br />

esse tipo de <strong>pesquisa</strong>.<br />

Estive num congresso em Portugal. Estava sentado ao lado de um<br />

americano que tinha ganhado seis milhões de dólares e de um alemão que<br />

tinha ganhado 12, e eles estavam chorando. Eu tinha ganhado 180 mil<br />

reais, e a viagem foi paga com os meus recursos.<br />

Se tivermos algum recurso para esse tipo de <strong>pesquisa</strong>, poderemos<br />

evoluir para uma terapia celular com célula-tronco real, verdadeira e<br />

48


astante consciente, e isso vai voltar para a população, não tenho a menor<br />

dúvida. Precisamos de recursos, só. Muito obrigado.<br />

Dra. Karolyn Sassi<br />

Como estarei aqui brevemente, neste momento vou somente me<br />

apresentar. Na verdade, sou ginecologista e trabalho com reprodução<br />

humana há cinco ou seis anos. Vim porque queria muito conhecer o Dr.<br />

Jefferson, cujos resultados <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s já ouvi falar.<br />

Quero aproveitar para expor o lado de quem trabalha com reprodução<br />

humana e salientar que os recursos têm de ser focados no tipo de célulastronco<br />

que tem dado resultado. Acho que o mais importante são as célulastronco<br />

de medula óssea, de cordão umbilical ou de outras fontes menos<br />

polêmicas.<br />

Quem trabalha com reprodução humana sabe como é difícil o processo.<br />

Para começar, na maioria <strong>das</strong> clínicas, congelam-se os embriões – os quais<br />

se cogita utilizar para <strong>pesquisa</strong> – no terceiro dia de vida, e não na fase de<br />

blastocisto. Toda a célula sofre com esse processo de congelamento e<br />

descongelamento. A qualidade embrionária pós-descongelamento cai em pelo<br />

menos 20%. O sucesso depende também da qualidade do embrião antes de<br />

ser congelado. Se era um embrião bonito – o chamado grau quatro – no<br />

momento do congelamento, ele tem uma chance relativamente boa de<br />

implantação no útero de uma mulher. No descongelamento, quando se<br />

transferem esses embriões para o útero, a chance de gravidez cai em pelo<br />

menos 20%.<br />

Muitas vezes, ao descongelam-se esses embriões, não sobra nada para<br />

ser implantado na mulher, pela perda de qualidade. Portanto, sabemos como<br />

49


é difícil conseguir embriões bons para serem implantados na mulher no póscongelamento,<br />

quanto mais conseguir levar esse embrião em cultura até a<br />

fase de blastocisto.<br />

Na verdade, cogita-se utilizar esses embriões para <strong>pesquisa</strong>s, mas para<br />

conseguir levá-los para blastocisto perdem-se muitos.<br />

Dr. Jefferson Braga Silva<br />

Desculpe-me interrompê-la. Gostaria de acrescentar que foi feita uma<br />

lei no Brasil, mas não conversaram com as pessoas que lidam com os<br />

embriões, não perguntaram a opinião que quem faz esse trabalho.<br />

Dra. Karolyn Sassi<br />

Isso mesmo, não perguntaram se seria viável ou não.<br />

Dr. Jefferson Braga Silva<br />

Não é viável, não existe nada na literatura que demonstre que isso<br />

funcione. Não estou puxando para o lado da medula óssea, muito menos do<br />

cordão umbilical. Isso todo mundo sabia, não somos nós que estamos<br />

dizendo, é só <strong>pesquisa</strong>r na literatura médica, no Medline, e ver o que está<br />

publicado.<br />

Portanto, fizeram um auê maluco, mas dos 51 projetos do CNPq<br />

constantes no último edital, 49 diziam respeito à medula óssea e cordão<br />

umbilical. Esse edital foi lançado depois da lei. Não há nenhum <strong>pesquisa</strong>dor<br />

no Brasil capaz ou em condições de fazer o procedimento a partir de célula<br />

embrionária. Mas publicaram uma lei prevendo célula embrionária.<br />

Li uma crônica na Folha de S. Paulo <strong>sobre</strong> essa matéria e pensei: estão<br />

investindo, apostando as fichas no lugar errado. Deveriam, ao invés disso,<br />

investir no cordão a na medula, áreas que o Brasil tem tecnologia – inclusive<br />

50


está na frente em muitos casos, como em nervo periférico. O nervo periférico<br />

é uma realidade nossa. Em Portugal todo mundo achou lindo, maravilhoso,<br />

mas nos disseram que eles não têm isso lá, porque o paciente corta e é<br />

reparado no outro dia. Portanto, desenvolvemos uma tecnologia para nós.<br />

Deram-nos os parabéns, mas disseram que essa tecnologia vai ficar aqui, do<br />

Equador para baixo. Mas não interessa. Já que criamos, vamos investir<br />

nisso.<br />

Dra. Karolyn Sassi<br />

Uma coisa muito grave, na minha opinião, foi levar a esperança a<br />

pessoas com determina<strong>das</strong> doenças, iludindo-as como se isso fosse resolver<br />

o problema. Se começássemos a <strong>pesquisa</strong> com células embrionárias, não sei<br />

se em 10 anos haveria resultados.<br />

Dr. Jefferson Braga Silva<br />

Foi publicada uma reportagem na Veja <strong>sobre</strong> esse tema. Fui convidado<br />

para dar uma aula na USP e, por acaso, encontrei o paraplégico que<br />

estampava a capa da revista. Na verdade, ele não mexe um milímetro, diz<br />

apenas que tem um pouco mais de sensibilidade. Isso não é resultado!<br />

Portanto, deram à população uma falsa esperança. Eu tenho 292<br />

paraplégicos no meu banco, no consultório. E digo com toda a sinceridade:<br />

não acredito no paraplégico crônico. Honestamente, acho que temos de<br />

apostar as fichas no que se machuca hoje, no trauma agudo, porque é isso<br />

que vai fazer com que tenhamos melhores condições, com que não haja<br />

atrofia. Há várias vantagens. Temos de começar o nosso protocolo – que<br />

espero que o comitê aprove no hospital, para depois mandarmos para a<br />

51


Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – Conep –, com a terapia do agudo,<br />

na semana do trauma ou no máximo 10 dias depois dele.<br />

Se conseguirmos obter algum resultado com esses casos, poderemos<br />

expandir esse protocolo para três meses, seis meses, um ano do trauma. Não<br />

sei até onde chegaremos, mas temos de começar pelo trauma agudo.<br />

Deputado Paulo Brum<br />

No meu caso, doutor, sou paraplégico há 28 anos. Vítima de um<br />

acidente de carro, sofri lesão medular. É claro que, quando surgiu o estudo<br />

<strong>das</strong> células-tronco, me tornei um outro homem. Quem é que não quer ter<br />

uma vida saudável e de qualidade?<br />

Confesso-lhe que sou esperançoso, mesmo com a minha idade<br />

avançada – 47 anos. Só com essa perspectiva, vi-me renascendo. Alenta-me<br />

a idéia de que, talvez, num futuro, seja possível não caminhar, mas ter uma<br />

qualidade de vida melhor para o próprio organismo.<br />

Para o paraplégico, no meu caso, ou para o próprio tetraplégico talvez o<br />

fato de não poder caminhar já esteja superado. Refiro-me ao organismo em<br />

si. Vivemos com metade do corpo. Que bom se as células-tronco pudessem,<br />

de alguma maneira, melhorar essa qualidade do próprio organismo, mesmo<br />

que não venha a caminhar. Bastaria que fossem da<strong>das</strong> condições de<br />

sensibilidade. É nisso que me apego, é com isso que me movo com<br />

esperança. Sei que há milhares de brasileiros como eu.<br />

Dra. Karolyn Sassi<br />

A esperança é saudável, mas temos de ter os pés no chão.<br />

Dr. Jefferson Braga Silva<br />

52


Aí que entra o papel do cientista. Deputado, creio que nós, que fazemos<br />

<strong>pesquisa</strong>, não podemos tirar a esperança <strong>das</strong> pessoas, mas também não<br />

podemos dar-lhes a falsa esperança, pois essa é a pior coisa que existe.<br />

Estou falando de peito aberto, trazendo o que temos de real aqui. O que<br />

o deputado me falou nunca ninguém havia me falado. Na verdade, a<br />

expectativa que muitas vezes temos é de fazer andar, mas não é isso que<br />

muitos querem. Existe, portanto, uma grande diferença.<br />

Pode ser que isso seja mais fácil de ser conseguido. Não estou lhe dando<br />

falsas esperanças, deputado, mas pode ser que seja mais fácil. E aí até no<br />

crônico. Tenho a visão de fazer a pessoa caminhar. Essa é a minha<br />

preocupação e, por isso, foquei o meu esforço para o agudo. Por isso foco<br />

para o agudo. Mas se formos ver essa sua necessidade, o crônico, por que<br />

não?<br />

06/abr/2006<br />

Investigação da distribuição <strong>das</strong> células-tronco mesenquimais in vivo.<br />

53


Mestre Lindolfo da Silva Meirelles<br />

Luiz Avila/AL<br />

Palestrante: Lindolfo da Silva Meirelles — biólogo, mestre em Genética e<br />

Biologia Molecular, pela UFRGS, e doutorando no Programa de Pós-<br />

Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS.<br />

Convidados: Dra. Nance Beyer Nardi, representante do vice-reitor da UFRGS,<br />

Sr. Pedro Fonseca, é colaboradora convidada do Departamento de<br />

Imunogenética da UFRGS e professora do Programa de Pós-Graduação em<br />

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Genética e Biologia Molecular; Dr. César Augusto Zen Vasconcellos, próreitor<br />

de Pesquisa da UFRGS.<br />

Mestre Lindolfo da Silva Meirelles<br />

Nesta palestra <strong>sobre</strong> a Investigação da Distribuição <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong><br />

Mesenquimal in vivo, vou apresentar alguns aspectos da biologia da célulatronco<br />

mesenquimal, que é o que eu procuro investigar enquanto<br />

<strong>pesquisa</strong>dor. Não se assustem com esse título.<br />

O que é uma célula-tronco? É uma célula capaz de auto-renovação e de<br />

geração de outros tipos celulares em estágio mais avançado de diferenciação.<br />

Se a gente for tentar trocar em miúdos, é uma célula que é capaz de<br />

proliferar e diferenciar. Naquilo que a gente quiser? Talvez. Mas na vida dela<br />

o papel dela é proliferar e diferenciar em alguma coisa.<br />

É importante definir que existem diferentes células-tronco, e essas<br />

diferenças podem ser categoriza<strong>das</strong>. Existem as células-tronco embrionárias,<br />

as células-tronco fetais e as células-tronco adultas. No caso, aqui, as fetais<br />

são mais relaciona<strong>das</strong> com as células-tronco adultas.<br />

Não vou abordar em maior profundidade o tema célula-tronco<br />

embrionária porque eu trabalho com células-tronco adultas e acredito que o<br />

potencial <strong>das</strong> células-tronco adultas é muito grande, talvez tão grande<br />

quanto a outras células embrionárias e talvez até maior, se considerarmos<br />

outros aspectos.<br />

Mas, enfim, as células-tronco embrionárias são totipotentes ou<br />

pluripotentes, ou seja, podem dar origem a todos os tecidos de um<br />

organismo vivo, inclusive a placenta, se forem totipotentes; ou podem dar<br />

origem a todos os tecidos de um organismo, e não à placenta, se forem<br />

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pluripotentes. Elas têm vários problemas éticos associados <strong>sobre</strong> os quais<br />

não entrarei em detalhe aqui porque esse é um tema que merece uma<br />

discussão apropriada.<br />

As células-tronco pós-natais ou adultas são em geral multi ou<br />

pluripotentes. E como exemplos cito a célula-tronco hematopoiética, que<br />

está na medula óssea; a célula-tronco neural, que está no cérebro; a<br />

epitelial, que está nos epitélios e nas criptas epiteliais; a mesenquimal, que<br />

está na medula óssea e em outros tecidos – é dessa mesenquimal que falarei<br />

aqui –; e uma outra célula, que trouxe como exemplo também, que se<br />

localiza na medula óssea, nos músculos e cérebro, que foi chamada de célula<br />

progenitora adulta multipotente.<br />

Entrando mais detalhadamente nas fontes de células-tronco temos que<br />

a medula óssea é uma fonte acessível e rica de células-tronco para terapias<br />

ou mesmo para <strong>pesquisa</strong>.<br />

Na medula óssea existem pelo menos dois tipos de células-tronco<br />

diferentes: uma, que já é conhecida há algum tempo, é a tronco<br />

hematopoiética, que vai dar origem a to<strong>das</strong> as células sangüíneas; a outra,<br />

que está sendo mais explorada recentemente, é a célula-tronco<br />

mesenquimal, que pode dar origem a tecidos mesenquimais, como diz seu<br />

nome, que são aqueles como ossos, cartilagens, tecido adiposo, estroma da<br />

medula óssea.<br />

Temos a célula-tronco mesenquimal no topo da hierarquia. Através de<br />

estímulos do ambiente durante sua proliferação, ela irá assumir vias de<br />

diferenciação que vão, em última análise, originar ossos, cartilagem,<br />

músculo, estroma da medula óssea, tendão e ligamento, tecido adiposo e<br />

ainda células dérmicas e outros tipos de células. Nos outros tipos de células<br />

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eside uma característica muito importante dessa célula que abordarei logo<br />

em seguida.<br />

Como trabalhamos com essa célula no laboratório?<br />

O que faço é <strong>pesquisa</strong> básica, porque <strong>pesquisa</strong> básica é o fundamento<br />

para que haja <strong>pesquisa</strong> aplicada. Conhecimento é poder. Só conseguimos<br />

controlar aquilo que queremos controlar se temos conhecimento acerca<br />

daquilo.<br />

Trabalho basicamente com células-tronco mesenquimais da medula<br />

óssea de camundongos em laboratório. Na caracterização da célula-tronco<br />

mesenquimal, há um aspecto muito atraente, especialmente do ponto de<br />

vista do potencial de aplicação clínica dessas células. Elas têm uma<br />

plasticidade muito grande, e aqui estou trazendo dados da literatura que<br />

mostram que essas células podem se diferenciar em células neurais. E fora<br />

isso elas também podem gerar células da glia, que também são células<br />

neurais, mas não são neurônios.<br />

Além disso, elas podem ser induzi<strong>das</strong> e diferencia<strong>das</strong> em células<br />

secretoras de insulina, que são semelhantes às células beta do pâncreas,<br />

formando esses aglomerados que estão secretando insulina. Isso é algo<br />

muito interessante porque neurônio é um tipo de célula hectodérmica e<br />

célula secretora de insulina é um tipo de célula endodérmica, o que quer<br />

dizer que, em última análise, a célula-tronco mesenquimal não é<br />

simplesmente mesenquimal, mas na verdade uma célula pluripotente,<br />

porque pode dar origem às células dos três folhetos embrionários. Quer dizer<br />

que essa nomenclatura aqui provavelmente está inadequada. Eu acredito<br />

que está inadequada.<br />

Sumarizando as características da célula-tronco mesenquimal, ela pode<br />

ser obtida da medula óssea, portanto pode ser obtida por um procedimento<br />

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não muito invasivo; pode ser cultivada em estado indiferenciado com uma<br />

metodologia relativamente simples, apesar de que acredito que essa<br />

característica é mais importante para a <strong>pesquisa</strong>rmos e não para a<br />

aplicarmos.<br />

Não acredito que devamos investir to<strong>das</strong> as nossas fichas na<br />

proliferação, na expansão <strong>das</strong> células in vitro antes da aplicação, porque<br />

existem problemas genéticos que podem ocorrer devido ao cultivo in vitro.<br />

Mas essa característica é muito importante para que possamos estudá-la,<br />

conhecê-la e futuramente isolá-la ao lado da medula óssea ou de qualquer<br />

outro local do organismo onde ela esteja.<br />

Outra característica muito importante dessas células é que se eu<br />

infundi-las, se eu colocá-las na corrente sangüínea de um paciente, elas irão<br />

se distribuir por todo o organismo do paciente e ficarão lá por algum tempo e<br />

contribuirão para os tecidos onde elas forem parar. Isso é algo importante.<br />

Existem outras características que não cito aqui numa tentativa de<br />

simplificar o conteúdo.<br />

A pergunta que fiz a mim mesmo em certo momento da minha <strong>pesquisa</strong><br />

com células-tronco mesenquimais foi a seguinte – e aqui começo a abordar o<br />

tema que trouxe para mostrar: a célula-tronco mesenquimal existe em<br />

outros órgãos que não a medula óssea?<br />

A resposta que encontrei para essa pergunta foi que talvez sim, porque<br />

a literatura trazia evidências de que essas células existem em outros tecidos<br />

em diferentes estágios do desenvolvimento. No estágio pós-natal, após o<br />

nosso nascimento, encontram-se células com características de célulatronco<br />

mesenquimal no tecido adiposo, também no tendão, na membrana<br />

cenovial, e alguns autores afirmam que também no sangue periférico.<br />

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No estágio de vida fetal, intra-uterina, existem células com<br />

característica de tronco mesenquimal no pâncreas, na medula óssea, no<br />

fígado, no sangue e no sangue do cordão umbilical, que já é considerado<br />

uma interface fetal e pós-natal. Vejam, então, que parece existir uma<br />

distribuição bastante grande, mas só teríamos certeza disso para o período<br />

de vida fetal.<br />

A pergunta que passei a fazer em seguida foi: a célula-tronco<br />

mesenquimal existe em outros órgãos, que não a medula óssea, e nos outros<br />

locais já descritos no período pós-natal. Ou seja, em nós, adultos, existe<br />

célula-tronco mesenquimal por todo o corpo?<br />

Entro aqui no trabalho que foi aceito para publicação no Journal of Cell<br />

Science, que são os resultados parciais do meu doutorado. A resposta que<br />

obtive foi de que elas existem virtualmente em todos os órgãos e tecidos pósnatais.<br />

Isso tem várias conseqüências não apenas para aplicação clínica,<br />

mas para outros procedimentos, sejam clínicos ou farmacológicos de<br />

cuidado com a saúde humana.<br />

A primeira pergunta prática que se faz quando se quer iniciar um<br />

trabalho desses é: como vou saber em que locais a célula-tronco<br />

mesenquimal existe?<br />

Existem metodologias que permitem a análise de portes histológicos em<br />

microscópio, mas até hoje não conhecemos nenhum marcador definitivo<br />

para célula-tronco mesenquimal. Então, posso pegar uma lâmina e enxergar<br />

várias células e não ser capaz de identificar qual delas é a tronco<br />

mesenquimal, mesmo conhecendo vários marcadores que estão relacionados<br />

com célula-tronco mesenquimal.<br />

Outra abordagem que se faz quando se estuda célula-tronco<br />

mesenquimal é o isolamento de células candidatas a tronco mesenquimal da<br />

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medula óssea frescas ou, ainda, a utilização de linhagens celulares com<br />

característica de tronco mesenquimal, fazer uma infusão intravenosa em<br />

animais – e aqui está representado num camundongo – e depois analisar<br />

vários órgãos desses animais, porque as células infundi<strong>das</strong> têm algum tipo<br />

de marcação que permite que as enxerguemos posteriormente. Mas essa<br />

abordagem somente demonstra aquela característica que falei<br />

anteriormente, que é a capacidade enxertia dessas células. Em última<br />

análise, essa abordagem só vai mostrar a distribuição de células-tronco<br />

mesenquimais infundi<strong>das</strong>, mas não sua distribuição natural no organismo.<br />

Proponho como metodologia alternativa, uma vez que temos métodos<br />

para estabelecimento e caracterização de células-tronco mesenquimais da<br />

medula óssea de camundongo, o estabelecimento e caracterização de<br />

culturas de células-tronco mesenquimais deriva<strong>das</strong> de diversos órgãos e<br />

tecidos. Essa seria uma abordagem alternativa, e foi isso que eu fiz.<br />

Então, a resposta à minha pergunta inicial é sim. A célula-tronco<br />

mesenquimal existe em outros órgãos e tecidos, que não a medula óssea, no<br />

período pós-natal. Os órgãos que investiguei foram cérebro, pulmão, timo,<br />

baço, músculo esquelético, fígado, pâncreas e rim.<br />

A pergunta que me fiz, então, foi: o que explicaria a presença da célulatronco<br />

mesenquimal em todos os órgãos? Será que é uma célula que está<br />

presente na verdade no sangue circulante e, por isso, a enxergo em todos os<br />

órgãos que extraio e faço a cultura?<br />

A resposta para essa pergunta é não, porque quando aplico um<br />

procedimento que retira todo o sangue do animal, coleto o órgão e faço a<br />

cultura, consigo estabelecer a cultura. Quando coleto o sangue desse animal<br />

de maneira adequada e submeto ao mesmo processo de cultivo dos órgãos,<br />

não consigo estabelecer nenhuma cultura. Então, a presença dessas células<br />

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no sangue pode contradizer alguns dados da literatura. Mas com a minha<br />

metodologia não foi possível encontrá-las no sangue.<br />

Então, fica a pergunta novamente: o que explicaria a presença da<br />

célula-tronco mesenquimal em todos os órgãos? Permaneço com essa<br />

pergunta.<br />

Procurei na literatura e encontrei dados a respeito de uma célula que é<br />

chamada de perecito e situa-se abraçando as células endoteliais dos vasos.<br />

Existem dados na literatura que mostram que o perecito é capaz de<br />

depositar matriz mineralizada in vitro, ou seja, capaz de diferenciação<br />

osteogênica e capaz de diferenciar-se em tecido cartilaginoso e tecido<br />

adiposo. Outras evidências da literatura científica indicam que existe uma<br />

<strong>sobre</strong>posição da identidade da célula-tronco mesenquimal com uma célula<br />

que já era descrita anteriormente, que é o perecito.<br />

A célula-tronco mesenquimal e o perecito são duas faces da mesma<br />

moeda? Provavelmente sim.<br />

Quando fui estabelecer culturas a partir da artéria aorta ou da veia cava<br />

desses animais, obtive culturas semelhantes às demais. E to<strong>das</strong> as culturas<br />

apresentavam marcador, que é de perecito, de células perivasculares.<br />

Em última análise, existe uma unidade anatômica que faz a filtração do<br />

sangue, produzindo a urina. Essa unidade é chamada glomero. Dentro do<br />

glomero há uma rede de capilares, em que o único tipo de célula é endotelial<br />

que compõe vaso, células especializa<strong>das</strong> que ajudam a manter a integridade<br />

física dessas células e outros tipos de células que são chama<strong>das</strong> mesangiais.<br />

Então, se é verdade que a célula-tronco mesenquimal está associada a<br />

vasos, o cultivo dessa porção isolada deve permitir a obtenção de célulastronco<br />

mesenquimais.<br />

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E isso foi possível quando aquela unidade isolada foi colocada em<br />

cultura. Após três ou quatro dias, já há explantes de células com<br />

características morfológicas semelhantes às células-tronco mesenquimais<br />

que conhecíamos.<br />

Com isso, propusemos um modelo, em que a identidade da célulatronco<br />

mesenquimal se <strong>sobre</strong>põe com a do perecito, e, conseqüentemente, as<br />

células-tronco mesenquimais se distribuem por todo o organismo, ocupando<br />

um nicho perivascular. Esses perecitos ou células-tronco mesenquimais –<br />

chamem como queiram – podem atuar como progenitores para os tecidos a<br />

que pertencem, seja em condições fisiológicas ou em situação de lesão<br />

tecidual.<br />

As conseqüências desse modelo são importantes, portanto, para que<br />

tenhamos uma compreensão mais unificada não só de célula-troco<br />

mesenquimal, mas de todo o quadro de células-tronco existentes no<br />

organismo adulto. Será que muitas células-tronco ti<strong>das</strong> como tecidoespecíficas<br />

não seriam na verdade outras faces desse mesmo tipo de células?<br />

Outra conseqüência seria o fato de que, quando administramos<br />

medicamentos por via intravenosa ou por via oral, será que eles não<br />

produzirão algum tipo de alteração nessa parte do nicho <strong>das</strong> células,<br />

resultando em algum problema nos tecidos?<br />

Isso também quer dizer que a nossa saúde vascular, que todos sabemos<br />

ser importante, é mais importante ainda do que se pensava. Quer dizer que<br />

a saúde dos nossos vasos determinará, em última análise, a saúde dos<br />

tecidos e a nossa saúde como um todo.<br />

Antes de encerrar, eu gostaria de agradecer o apoio financeiro obtido<br />

para a realização deste trabalho, que só foi possível porque houve<br />

financiamento da Fapergs e do CNPq. Ressalto aqui a importância <strong>das</strong><br />

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agências de fomento estaduais para o financiamento de <strong>pesquisa</strong> básica e<br />

aplicada, porque – como já disse – não existe <strong>pesquisa</strong> aplicada se não<br />

houver <strong>pesquisa</strong> básica, em especial uma agência financiadora do Estado do<br />

Rio Grande do Sul que possa permitir o estabelecimento de competência<br />

neste Estado, na área de biologia celular, para que possamos ser um centro<br />

de convergências para terapias no futuro.<br />

Também gostaria de ressaltar que sou bolsista de doutorado pelo CNPq,<br />

cujas verbas permitem que eu continue desenvolvendo esta <strong>pesquisa</strong>.<br />

Agradeço a todos os presentes.<br />

Dra. Nance Beyer Nardi<br />

Agradeço pelo convite que foi feito à universidade. A UFRGS tem<br />

atualmente vários grupos trabalhando com células-tronco, os quais foram<br />

beneficiados nesse edital do CNPq. O nosso é talvez o mais antigo.<br />

Pessoalmente, comecei a trabalhar com célula-tronco antes de ela entrar na<br />

moda. Então, foi uma situação muito interessante acompanhar todo esse<br />

desenvolvimento que vem acontecendo, nos últimos cinco ou seis anos, já<br />

estando no campo.<br />

A discussão está sendo muito interessante. Esta comissão está, sem<br />

dúvida alguma, desenvolvendo um papel bastante importante na discussão<br />

desses assuntos. As próprias perguntas de vocês já mostram que apesar de<br />

não serem da área, como dizem, já conhecem o assunto, já sabem do que<br />

estão falando. São muito interessantes as questões aborda<strong>das</strong>.<br />

Gostaria de fazer duas observações gerais com relação à discussão que<br />

se está estabelecendo. A primeira diz respeito à <strong>sobre</strong>vida ou <strong>sobre</strong>vivências<br />

<strong>das</strong> células que derivam <strong>das</strong> células-tronco. Esse é um conceito importante,<br />

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porque achamos que as células-tronco são uma coisa à parte no nosso<br />

organismo, quando na verdade o nosso organismo, para que vivamos<br />

dezenas de anos, depende <strong>das</strong> células-tronco que temos.<br />

Nada do que há hoje em pessoas com mais de 20 anos, por exemplo,<br />

deriva de algo que não seja células-tronco. Talvez uma exceção seja o<br />

sistema nervoso central, pois os neurônios são células que têm vida muito<br />

longa. Antes acreditávamos que nascíamos e morríamos com os mesmos<br />

neurônios, mas hoje sabemos que não, que vários vão morrendo e sendo<br />

repostos ao longo da nossa vida.<br />

Portanto, o nosso organismo todo vai mudando ao longo do tempo.<br />

Entre os tecidos que mudam muito rapidamente estão, por exemplo, as<br />

células do sangue, que se repõem aos milhões a cada hora – todos vamos<br />

sair desta palestra com milhões de novas células sangüíneas, e milhões<br />

evidentemente vão morrer nesse período –, e as células da pele,<br />

principalmente no verão. Aquela pele descascando são células que morreram<br />

e foram repostas.<br />

Assim como a pele e o sangue, todos os nossos outros tecidos são<br />

repostos ao longo da nossa vida. Em média, de uma forma muito grosseira,<br />

dizemos que a cada sete anos somos novas pessoas. Alguns tecidos mudam<br />

mais rapidamente, outros mais lentamente, isso tudo por causa <strong>das</strong> célulastronco.<br />

Quer dizer, elas estão repondo as células que nos compõem.<br />

Quando numa intervenção médica as células-tronco são usa<strong>das</strong> para<br />

regenerar uma lesão, a célula que se origina dela é a mesma que se<br />

originaria em situações normais, só estamos dando uma mãozinha para a<br />

natureza. Então, não há nada de diferente com relação ao produto que vem<br />

da célula-tronco adulta.<br />

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O segundo ponto que quero observar diz respeito à questão<br />

fundamental da aplicação clínica <strong>das</strong> células-tronco. Não é o momento,<br />

claro, de se fazer a comparação – que vocês já acompanharam – entre célulatronco<br />

embrionária e célula-tronco adulta. Gostaria de reforçar, entretanto,<br />

que nenhum dos muitos e muitos ensaios clínicos que estão sendo feitos no<br />

mundo todo hoje usam célula-tronco embrionária. Como o Lindolfo disse, ela<br />

ainda é muito perigosa, nós não a conhecemos suficientemente. Todos,<br />

100% dos ensaios clínicos, usam células-tronco adultas ou, em algumas<br />

exceções, célula-tronco fetal, em um ou outro ensaio. Mas célula-tronco<br />

embrionária, nenhum.<br />

O que temos de real com relação a isso? Muito pouco, porque a imensa<br />

maioria dos estudos usa nove, 10, 20 pacientes, sem um controle adequado.<br />

E todos sabemos que o termo célula-tronco hoje é quase mágico. Se<br />

dissermos para um paciente que ele está sendo tratado com célula-tronco,<br />

apenas isso já causa um impacto psicológico que sabemos ser importante na<br />

cura de uma doença.<br />

Alguns estudos estão começando a ser feitos no mundo. Por iniciativa<br />

do governo, está sendo desenvolvido o Estudo Multicêntrico Randomizado de<br />

Terapia Celular em Cardiopatias – EMRTCC –, coordenado pelo Instituto do<br />

Coração de Laranjeiras, no Rio de janeiro.<br />

Nesse estudo, 1.200 pacientes – vejam, não são apenas nove, 10, 20<br />

pacientes – serão estudados por um grupo de instituições no Brasil. Desses<br />

1.200 pacientes, 600 vão receber célula-tronco, 600, não. O paciente não<br />

sabe que está recebendo, o médico também não, alguém certamente sabe.<br />

Isso é o que chamamos de estudo duplo cego, o chamado efeito placebo não<br />

vai estar atuando nesse caso.<br />

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Esse tipo de estudo é que vai demonstrar se realmente as células-tronco<br />

funcionam ou não. Até hoje temos muita expectativa, verificamos que está<br />

funcionando, mas não existe uma análise criteriosa, cientificamente falando,<br />

para termos certeza disso.<br />

Certamente, algumas áreas serão mais fáceis de serem repara<strong>das</strong> com<br />

células-tronco do que outras, isso é intuitivo. Para refazermos o tecido ósseo<br />

precisamos de só um tipo de célula praticamente, é necessário preencher<br />

uma cavidade. É muito mais fácil do que constituir o tecido cardíaco, que é<br />

formado de células especializa<strong>das</strong>. Também é muito mais fácil, infelizmente,<br />

do que compor o tecido nervoso, onde há vários tipos de neurônios<br />

interagindo de maneira exata.<br />

Na área de reparo de lesão nervosa, certamente será mais difícil de<br />

conseguirmos aplicar as células-tronco, mas a quantidade de estudos<br />

realizados no mundo todo, está fazendo o assunto avançar de uma maneira<br />

bastante rápida.<br />

Essas células, com as quais o doutorando Lindolfo Meirelles trabalha,<br />

também estão sendo aplica<strong>das</strong> em modelos animais para vários tipos de<br />

doença. Em colaboração, formou-se uma rede em Porto Alegre, em São Paulo<br />

e nos outros Estados para os quais mandamos as células também.<br />

Estamos aplicando essas células em camundongos ou ratos para tratar<br />

diabete, doenças cardíacas, reparo de nervo periférico, reparo de lesão óssea<br />

e de doenças do sistema nervoso central, como mal de Parkinson e de<br />

Alzheimer. Acredito que esse tipo de estudo avance muito rapidamente.<br />

Dr. César Augusto Zen Vasconcellos<br />

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Gostaria de cumprimentar o deputado Paulo Brum, presidente da<br />

Comissão; o deputado José Sperotto; a professora Nance Nardi,<br />

<strong>pesquisa</strong>dora da área; o mestre Lindolfo Meirelles, que brevemente concluirá<br />

seu doutorado; e os presentes.<br />

É uma satisfação podermos contar com pessoas tão brilhantes, como a<br />

professora Nanci Nardi, que é uma batalhadora da área, conhecida,<br />

renomada e que tem uma força de vontade, uma liderança e um carisma<br />

extraordinários. Sentimo-nos extremamente recompensados por contarmos<br />

pessoas tão competentes.<br />

Agradecemos, evidentemente, à Comissão por prestigiar a UFRGS. A<br />

universidade pertence a toda a população do Estado e do País.<br />

Com muito contentamento, professora Nanci Nardi, registramos que a<br />

UFRGS, na última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal<br />

de Nível Superior – Capes – a grande avaliação <strong>das</strong> instituições do País – a<br />

UFRGS ficou em primeiro lugar entre as instituições federais de ensino<br />

superior. Ficamos orgulhosos, pois existem 52 universidades no País – mais<br />

as seis que o presidente da República está criando neste momento – e<br />

conseguimos atingir esse status. Disputávamos com Minas Gerais e Rio de<br />

Janeiro e, por pouco, passamos para o primeiro lugar.<br />

Isso atesta a excelência acadêmica da <strong>pesquisa</strong> realizada na UFRGS e<br />

comprova a potencialidade que a universidade tem de influir em processos,<br />

em desenvolvimento cientifico e tecnológico e de participar de um programa<br />

tão importante que visa fundamentalmente ao bem-estar da população, sua<br />

melhor qualidade de vida e somos, evidentemente, parceiros da Assembléia<br />

Legislativa nessas iniciativas, agradecendo, novamente, pela atenção e a<br />

oportunidade de poder usar a palavra.<br />

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24/abr/2006<br />

Células-tronco e transplantes de medula óssea<br />

Dr. Luis Carlos Moreira Antunes (E) ao lado do deputado Paulo Brum<br />

Mauro Schaefer/AL<br />

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Palestrante: Luis Carlos Moreira Antunes — médico oncologista do Centro de<br />

Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, para<br />

tratar de e transplante de medula óssea.<br />

Convidados: Sérgio Nunes Pereira — médico cirurgião, coordenador de<br />

Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital Universitário de Santa Maria, que,<br />

neste ato, está representando a Dra. Elaine Resener, diretora do hospital, e o<br />

Dr. Larry Argenta, diretor clínico do Hospital Universitário de Santa Maria;<br />

Dra. Leris Bonfanti Haeffner, coordenadora do curso de Medicina da<br />

Universidade de Santa Maria; Dr. Ney Luis Pippi, coordenador de pósgraduação<br />

da Medicina Veterinária; Dr. Alceu Gaspar Raiser, professor do<br />

curso de Medicina Veterinária; Dr. Alexandre Mazzanti, professor do curso<br />

de Medicina Veterinária.<br />

Luis Carlos Moreira Antunes<br />

Primeiramente, agradeço, em nome do Serviço de Hemato-oncologia do<br />

Hospital Universitário, à Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-tronco da<br />

Assembléia Legislativa pelo convite para participar deste ciclo de palestras.<br />

No final do ano de 2004 e início de 2005, quando houve repercussão na<br />

imprensa a respeito do uso de células-tronco embrionária, do uso de célulastronco<br />

para trauma raquimedular e a questão da biossegurança, os<br />

pacientes com leucemia, com linfomas, perguntavam se, ao invés da<br />

quimioterapia, poderiam usar célula-tronco.<br />

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Na verdade, a célula-tronco no tratamento de linfoma e leucemia é a<br />

forma mais consolidada de uso terapêutico. O transplante de medula óssea<br />

nada mais é do que o uso terapêutico da célula-tronco. Abordarei essas<br />

questões no início da minha apresentação e, depois, mostrarei alguns dados<br />

<strong>sobre</strong> transplantes, tentando esclarecer dúvi<strong>das</strong>.<br />

Conceito de célula-tronco: é caracterizada pela capacidade prolongada<br />

de auto-renovação e diferenciação em pelo menos um tipo celular maduro.<br />

Elas são classifica<strong>das</strong> de acordo com o tecido de origem, a espécie e o<br />

potencial de diferenciação. As principais fontes de células-tronco são as<br />

embrionárias e as adultas de medula óssea, de sangue periférico, de cordão<br />

e placenta. Essas são as fontes usa<strong>das</strong> para tratamento. Hoje sabe-se que<br />

existem nichos em órgãos adultos de células-tronco, mas a obtenção de<br />

células-tronco nesses locais é muito restrita.<br />

Com o estudo <strong>das</strong> células-tronco, novos conceitos, novas questões<br />

foram levanta<strong>das</strong>. Hoje fala-se em transdiferenciação, que é a diferenciação<br />

de um tipo de célula-tronco em outro. Antes, havia o paradigma de que uma<br />

célula-tronco da medula só iria produzir células hematopoiéticas, mas hoje<br />

se sabe que não é bem assim. Há plasticidade evolutiva, há multiplicidade<br />

<strong>das</strong> opções de diferenciação. Sabe-se que uma célula da medula óssea pode<br />

dar origem a outros tecidos. Isso foi visto em biópsias de estômago, de tecido<br />

cardíaco de pacientes que haviam sido submetidos a transplante de medula<br />

óssea, nos quais foram encontra<strong>das</strong> células do doador.<br />

Portanto, a medula óssea possui um tipo de célula-tronco capaz de<br />

gerar to<strong>das</strong> as linhagens teciduais ou existem múltiplos tipos de célulatronco<br />

na medula e cada uma estaria comprometida com um grupo<br />

específico de tecido? Essa era a pergunta.<br />

70


Na verdade, sabe-se que se classificam, de forma didática, pelo menos<br />

três tipos de células-tronco na medula: as células-tronco hematopoiéticas,<br />

que estão condiciona<strong>das</strong> a produzir células do sangue – leucócitos,<br />

plaquetas, hemácias –; as células estromais, que irão se diferenciar em<br />

ossos, cartilagens; e as células progenitoras adultas multipotentes, que<br />

seriam células mais imaturas, com uma capacidade de diferenciação maior.<br />

As células-tronco embrionárias podem se diferenciar em três linhagens<br />

– endoderme, mesoderme e ectoderme. Da mesoderme, origina-se a célulatronco<br />

progenitora hematopoiética, quanto à qual hoje se sabe que, além de<br />

dar origem às células da medula e do sangue periférico, pode se diferenciar<br />

em células epiteliais do fígado, do pulmão e do trato gastrointestinal, além<br />

de ser precursora de neurônios e células nervosas.<br />

Como explicar essa plasticidade, essa capacidade de se diferenciar em<br />

tecidos totalmente diferentes? Há várias teorias. O que se tinha inicialmente<br />

era uma célula-tronco dando origem a uma célula de determinado tecido e,<br />

nesse caso do tecido hematopoiético, dando origem às células do sangue<br />

periférico. Ou essa célula-tronco daria origem a uma célula de outro tecido.<br />

Novos conceitos surgiram, inclusive uma especulação de que a célulatronco<br />

hematopoiética poderia regredir para uma forma mais imatura, que<br />

daria origem a uma célula-tronco de outro tecido. Ou uma célula-tronco<br />

hematopoiética poderia dar origem a células do tecido hematopoiético – da<br />

medula e do sangue periférico – ou dar origem a células de outros tecidos. E<br />

aqui entra a aplicabilidade da célula-tronco da medula em revascularização<br />

miocárdica, em trauma raquimedular, enfim. A maioria <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s hoje<br />

realiza<strong>das</strong> com célula-tronco para reparação de outros tecidos usa como<br />

fonte a medula óssea.<br />

71


O outro conceito seria o de fusão: a célula-tronco hematopoiética iria<br />

migrar para o órgão lesado, onde se fusionaria com outras células do órgão,<br />

dando origem às células-tronco específicas do tecido, reparando os danos no<br />

fígado, ou na medula espinhal, ou no tecido cardíaco.<br />

Há o conceito de que existiriam vários tipos de célula-tronco, cada um<br />

dando origem a um tipo de tecido específico. Outro conceito é de que uma<br />

mesma célula-tronco poderia dar origem às células-tronco mais específicas<br />

de cada órgão. A transdiferenciação é uma só célula-tronco dando origem a<br />

tecidos diferentes, ou seja, não passa por essa fase de uma célula-tronco<br />

intermediária.<br />

Há, também, a dediferenciação, que é uma regressão a uma forma mais<br />

imatura a partir de células somáticas para uma célula-tronco que poderia<br />

dar origem a mais de um tipo de linhagem celular.<br />

Conceitos antigos que se tinha, de que alguns tecidos, como o cérebro,<br />

não teriam a capacidade de se renovar, caíram por terra. Sabe-se que há<br />

células-tronco inclusive no sistema nervoso central.<br />

Outra descoberta que foi feita é a semelhança que algumas célulastronco<br />

apresentam nos tecidos adultos com as células-tronco embrionárias.<br />

Isso já foi citado, ou seja, a questão de se ocorre uma fusão celular ou<br />

apenas ocorre uma mudança na capacidade da célula-tronco daquele tecido<br />

de se diferenciar em outro tecido.<br />

No transplante cardíaco, células endoteliais origina<strong>das</strong> de células<br />

estromais da medula foram encontra<strong>das</strong> no coração do receptor, ou seja, foi<br />

feito um transplante cardíaco, o órgão foi biopsiado e foram encontra<strong>das</strong><br />

células da medula do receptor, o que significa que células da medula<br />

migraram para o coração para ajudar na sua recuperação.<br />

72


As células-tronco dependem de fatores de crescimento, citocinas, ou<br />

seja, dependem do microambiente para onde migram para se diferenciar<br />

naquele determinado tecido.<br />

O conceito mais recente <strong>das</strong> células-tronco teciduais indica que hoje<br />

existem células-tronco em determinados nichos de vários órgãos. No trato<br />

gastrointestinal, essas células são encontra<strong>das</strong> nas glândulas estomacais,<br />

nas criptas do cólon, na área do bulbo dos folículos pilosos, no limbo da<br />

córnea, no sistema nervoso central – no bulbo olfatório e no giro denteado de<br />

hipocampo.<br />

Essas células ovais são as células-tronco do fígado. Isso não está bem<br />

definido, ou seja, ainda é objeto de debate se, quando ocorre uma injúria,<br />

por exemplo, no transplante de medula óssea, pode ocorrer a doença do<br />

enxerto contra o hospedeiro, o que pode causar uma lesão hepática. Não se<br />

sabe se as células-tronco da medula migram para aquele local para<br />

restaurar essa injúria, ou se isso é feito pelas células-tronco ovais do fígado,<br />

ou se as duas formas de reparação ocorrem simultaneamente.<br />

O mesmo se especula quanto à pele ou quanto ao intestino.<br />

Outros nichos de células-tronco situam-se no fígado e nas vias biliares –<br />

são as células ovais. No músculo esquelético, existem as células-satélite<br />

abaixo da lâmina basal do miócito e, no pulmão, as células claras dando<br />

origem ao epitélio <strong>das</strong> vias aéreas e os pneumócitos tipo II dando origem aos<br />

alvéolos.<br />

Os pneumócitos tipo II são células-tronco mais características do<br />

pulmão, porque, além de se renovarem em novos pneumócitos tipo II, elas se<br />

diferenciam também em pneumócitos tipo I, o que corresponde àquele<br />

conceito de célula-tronco com capacidade de auto-renovação e de<br />

diferenciação.<br />

73


Aplicações clínicas potenciais para célula-tronco hematopoiética. No<br />

infarto agudo do miocárdio, há vários estudos. As principais fontes de<br />

células-tronco nesses estudos foram de medula óssea ou sangue periférico.<br />

A via de administração foi ou endovenosa ou diretamente intracardíaco ou<br />

coronariana.<br />

A resposta, nesses vários estudos, foi uma redução da área de necrose e<br />

mortalidade, melhor hemodinâmica, aumento na fração de injeção e<br />

perfusão miocárdica, estímulo da neovascularização e angiogênese.<br />

Vários estudos questionam também se há ação dessa célula-tronco na<br />

lesão, na isquemia miocárdica, ou se é a presença dessas células que<br />

renovariam o tecido endomiocárdico ou, ainda, a presença delas estimularia<br />

a liberação de ocitocinas – até de fator de estimulação de glanulócitos –, e<br />

isso faria com que migrassem células ou células do tecido se diferenciassem,<br />

remodelando assim o tecido no miocárdio. Não está bem definido.<br />

Nas doenças neurodegenerativas, a principal fonte também foi a medula<br />

óssea. Administração endovenosa ou intraperitonial. A resposta foi a geração<br />

de células com marcadores neuronais e possível formação de células.<br />

Outra aplicação seria na trombose da artéria cerebral média. A fonte<br />

desse estudo foi de cordão umbilical. A via de administração foi endovenosa.<br />

A resposta foi uma melhor recuperação do déficit neurológico.<br />

Na retinopatia isquêmica, a fonte de célula-tronco também foi a medula<br />

óssea, a via de administração foi intravítrea e a resposta foi o aumento da<br />

angiogênese na retina.<br />

Na distrofia muscular, a fonte de célula-tronco também foi a medula<br />

óssea, a via de administração foi endovenosa e houve reparação parcial do<br />

músculo afetado.<br />

74


Na cirrose hepática, a fonte foi medula ou célula-tronco periférica, a via<br />

foi endovenosa e a resposta foi a resolução da fibrose hepática e inibição da<br />

filogênese e apoptose.<br />

A primeira instituição a utilizar célula-tronco da medula para o<br />

tratamento de cirrose foi o Instituto Oswaldo Cruz, de Salvador.<br />

Nos casos de hepatite B ou C, também foram utiliza<strong>das</strong> a mesma fonte e<br />

a mesma via de administração e houve importante redução da viremia.<br />

Quanto a aplicações clínicas, na doença pulmonar com extensivo dano<br />

alveolar, a fonte de célula-tronco é hematopoiética, a via é endovenosa e a<br />

resposta é a geração de pneumócitos tipo II.<br />

Falando mais especificamente de medula óssea, seu transplante utiliza<br />

célula-tronco, e a forma de transplante é autogênica, em que coletamos<br />

células-tronco do sangue periférico e administramos através de um cateter<br />

central. Esse procedimento é realizado no Hospital Universitário. Há também<br />

o alogênico, que advém de um doador que pode ser aparentado – quando o<br />

doador é algum familiar que seja compatível – ou não-aparentado.<br />

O singênico é quando o transplante ocorre entre irmãos gêmeos, e seu<br />

mecanismo é semelhante ao autogênico.<br />

Aqui utilizamos o autogênico e o alogênico aparentado, e foi realizado<br />

um transplante singênico. O não-aparentado ainda não estamos realizando.<br />

E há também o minitransplante, cuja diferença seria o regime de<br />

condicionamento.<br />

Com o transplante de medula, conseguimos fazer uma quimioterapia<br />

que é de seis a 10 vezes mais intensa do que a quimioterapia habitualmente<br />

usada, só que, ao fazer essa quimioterapia, acabamos com a medula óssea<br />

do paciente. Portanto, precisamos de medula óssea para repor. Esse novo<br />

75


conceito de minitransplante seria com um esquema de quimioterapia não<br />

tão destrutivo.<br />

A lista de patologias com indicação para transplante de medula óssea é<br />

enorme.<br />

O uso de célula-tronco para doenças hematológicas não é novo. Já é<br />

utilizado há déca<strong>das</strong>. Até o final da década de 90, realizaram-se no mundo<br />

em torno de 15, 16 mil transplantes alogênicos, que se consolidaram no final<br />

da década de 60, e quase 40 mil transplantes autólogos, que se<br />

consolidaram no final da década de 70.<br />

Em relação à compatibilidade, não há problemas no transplante<br />

autólogo, no qual o paciente recebe células-tronco da própria medula. Já no<br />

transplante alogênico é necessária compatibilidade. Parte desse exame é<br />

realizada aqui no Hospital Universitário, e a outra parte é encaminhada a<br />

Curitiba. Em breve estaremos realizando toda essa avaliação aqui na<br />

universidade.<br />

A chance de compatibilidade entre irmãos é, em média, falando<br />

grosseiramente, uma em quatro.<br />

A célula-tronco que coletamos da medula óssea do paciente vai-se<br />

diferenciar nas células hematopoiéticas.<br />

Outras fontes de célula-tronco bastante comenta<strong>das</strong> atualmente, e que<br />

cada vez vêm tendo mais uso, são o cordão umbilical e a placenta. As<br />

vantagens é que não há risco para a mãe e para o feto, porque esse material<br />

seria descartado. Além disso, pode ser estocado em freezer por vários anos e<br />

há uma menor exigência de compatibilidade entre o sangue do cordão e do<br />

receptor. Esbarra, entretanto, em alguns problemas. A quantidade não é<br />

muito grande, servindo, então, apenas para o tratamento de crianças e de<br />

adultos de tamanho pequeno ou médio.<br />

76


São realizados de cinco a seis mil transplantes de células-tronco de<br />

cordão umbilical e placenta no mundo. Um terço desses transplantes é<br />

realizado em adultos e dois terços, em pacientes com leucemia; e um quarto<br />

em pacientes com doenças genéticas.<br />

Em 2004, foram realizados dois mil transplantes, dos quais 600 nos<br />

Estados Unidos e 800 no Japão.<br />

A questão dos bancos privados é discutível. Há <strong>pesquisa</strong>dores que são<br />

favoráveis e outros contrários. De um banco da Califórnia, com 250 mil<br />

cordões umbilicais estocados, foram utilizados apenas 34. Claro que para as<br />

34 pessoas que utilizaram foi importante, mas existem outras questões em<br />

relação ao banco privado. No tratamento de algumas doenças na infância, o<br />

ideal é usar célula-tronco de doador para haver a doença do enxerto contra o<br />

hospedeiro e a doença do enxerto contra a leucemia, para haver essa forma<br />

de tratamento imunológico. No transplante de cordão, se a criança usar o<br />

cordão que era proveniente dela mesma, vai ser como se fosse um<br />

transplante autólogo, não vai haver essa forma de tratamento e pode ainda<br />

estar contaminado com a doença.<br />

Células-tronco embrionárias, que são as mais polêmicas atualmente,<br />

são células totipotenciais. Elas podem diferenciar-se em qualquer tecido, são<br />

mais eficientes em termos de clonagem e crescem indefinidamente em meio<br />

de cultura. Pode-se utilizar manipulação genética.<br />

A <strong>pesquisa</strong> com células-tronco abriria vários campos de <strong>pesquisa</strong> – para<br />

verificar a toxidade <strong>das</strong> drogas, para entender melhor o mecanismo de<br />

desenvolvimento <strong>das</strong> células e para a reparação de tecidos, por exemplo. O<br />

que se espera é obter células, com a mesma característica da célula<br />

embrionária, de células somáticas adultas.<br />

77


É grande a variedade de células que se podem originar da célula-tronco.<br />

A imagem nos permite ver a plasticidade que tem a célula-tronco para<br />

originar qualquer tipo de célula. Seria usada no desenvolvimento de novas<br />

drogas, para testar toxidade, entender o desenvolvimento e o controle<br />

genético e para reparar órgãos lesados.<br />

No século XIX, foi identificada a medula óssea como fonte de células do<br />

sangue, e, para algumas doenças, tentou-se administração via oral, o que, é<br />

claro, não deu certo. No início do século, identificou-se, denominou-se<br />

aquela que viria a ser chamada de célula-tronco.<br />

Foi com a Segunda Guerra Mundial e com as bombas de Hiroshima e<br />

Nagasaki que se iniciaram as <strong>pesquisa</strong>s para transplante de medula óssea, a<br />

fim de reparar o dano causado pela irradiação na medula daquela<br />

população.<br />

Em 1930, foi realizada a primeira infusão de medula óssea. No final da<br />

década de 60, consolidou-se o transplante alogênico, e, na década de 70, o<br />

autogênico. Em 1988, na França, foi feito o primeiro transplante de sangue<br />

de cordão. Em 1979, aqui no Brasil, foi feito o primeiro transplante de<br />

medula óssea, pelos Drs. Ricardo Paschini e Eurípedes Ferreira.<br />

Em 1990, graças ao pioneirismo dos Drs. Waldir Veiga Pereira e Dalnei<br />

Veiga Pereira, foi realizado o primeiro transplante de medula óssea do Rio<br />

Grande do Sul. Em 1997, houve a inauguração do nosso centro. Em 2004,<br />

foi feito o primeiro transplante com sangue de cordão, com doador brasileiro.<br />

Em abril de 2006, o centro de transplantes do hospital universitário<br />

completou 150 transplantes. A previsão para este ano é de que se chegue a<br />

40 transplantes.<br />

Vejamos alguns dados. A Inglaterra foi o primeiro país da União<br />

Européia a autorizar a utilização <strong>das</strong> células-tronco embrionárias.<br />

78


Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul já realizam <strong>pesquisa</strong>s, mas a legislação<br />

ainda está em discussão.<br />

O governo da China foi pioneiro ao aprovar as primeiras<br />

regulamentações permitindo <strong>pesquisa</strong>s com clonagem de embriões humanos<br />

para retirada de célula-tronco. Uma curiosidade: hoje completa um ano o<br />

primeiro e único cachorro clonado, o Snoopy. Aliás, o cientista está sendo<br />

questionado, não com relação ao caso do cachorro – esse foi clonado mesmo<br />

–, mas quanto a outros experimentos, inclusive com célula-tronco humana –<br />

não conseguiram reproduzir, e há suspeitas de que os dados foram<br />

manipulados.<br />

Nos Estados Unidos, a Califórnia e New Jersey possuem leis permitindo<br />

a utilização de células-tronco embrionárias deriva<strong>das</strong> de reprodução<br />

assistida e que seriam descarta<strong>das</strong>.<br />

Aqui no Brasil, o Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, da Fiocruz,<br />

realizou o primeiro transplante de medula óssea em pacientes com<br />

insuficiência cardíaca devido à doença de Chagas e em pacientes com cirrose<br />

hepática. Essa é uma tecnologia compatível com o Sistema Único de Saúde,<br />

uma vez que é mais barata do que o transplante cardíaco convencional.<br />

O departamento de ortopedia e traumatologia da Faculdade de Medicina<br />

da Universidade de São Paulo conseguiu recriar impulsos elétricos entre a<br />

região lesada e o cérebro com o uso de célula-tronco.<br />

Um novo campo que se abre é o da engenharia biotecidual, que utiliza o<br />

rápido potencial de crescimento apresentado pelas células-tronco para<br />

obtenção de tecidos tais como ossos, pele e cartilagem, que são cultivados e<br />

reimplantados em pacientes que apresentam lesões nesses órgãos.<br />

79


Para o tratamento de cardiopatias, há cada vez mais centros: Hospital<br />

Pró-Cardíaco, do Rio; Incor, de São Paulo; Universidade Federal do Rio de<br />

Janeiro.<br />

Pesquisadores do núcleo de terapia celular molecular do Instituto de<br />

Química da USP obtiveram resultados positivos na diminuição dos efeitos da<br />

diabete através de transplante de ilhotas pancreáticas, ou seja, o uso de<br />

células-tronco do pâncreas.<br />

Transplante autólogo: como é feito?<br />

Numa determinada etapa do tratamento, normalmente quando a doença<br />

é reduzida ao máximo, após estimular com um fator de estimulação de<br />

glanulócitos, é colocado um cateter central, que é o mesmo cateter da<br />

hemodiálise, e se coleta a célula-tronco com a mesma máquina utilizada<br />

para coletar plaquetas ou para doação de sangue. Aquela medula é<br />

armazenada nos freezers de nitrogênio, e, numa segunda etapa, ou já se<br />

programou para fazer uma quimioterapia intensa, ou se aguarda para,<br />

quando recidiva, quando voltar a doença, colocar outro cateter, que receberá<br />

essa célula-tronco endovenosa.<br />

No transplante alogênico, coleta-se célula-tronco da medula de um<br />

doador. Coleta-se da crista ilíaca, do osso da bacia – várias punções –, e<br />

deposita-se na bolsa de coleta de medula. Pelas imagens, pode-se ver a<br />

passagem pelo filtro.<br />

Quando se faz um transplante alogênico, coleta-se lá no bloco a medula,<br />

que é levada para o transplante para ser infundida no receptor. O paciente já<br />

está internado ali há alguns dias, já fez quimioterapia, que é mieloablativa, e<br />

recebe a medula para repovoar a própria medula.<br />

Nós, da hemato-oncologia, estamos acompanhando a evolução do<br />

transplante de medula óssea, mas quem está realizando <strong>pesquisa</strong> com<br />

80


células-tronco no hospital universitário é a pós-graduação da medicina<br />

veterinária, coordenada pelo Dr. Ney Luis Pippi, onde estão desenvolvendo<br />

trabalhos experimentais com células-tronco adultas coleta<strong>das</strong> da medula<br />

óssea.<br />

Como havia dito antes, a principal fonte de célula-tronco para <strong>pesquisa</strong><br />

e tratamento é a medula. Existem várias linhas de <strong>pesquisa</strong>: reparação de<br />

falhas ósseas, sistema nervoso central, cicatrização muscular, atividade<br />

enzimática, regeneração de nervos periféricos, tendões, cartilagens,<br />

hepatócitos e córnea.<br />

Dr. Sérgio Nunes Pereira<br />

Boa-tarde a todos. Vejo que realmente o assunto está chamando a<br />

atenção, pois, para início de tarde, já temos um representativo quórum.<br />

Na verdade, a discussão <strong>sobre</strong> as células-tronco vem crescendo,<br />

ocorrendo, às vezes, até alguns problemas, como a notícia que tivemos de<br />

que, infelizmente, houve exploração comercial do tema e outros<br />

acontecimentos que não contribuem absolutamente em nada para a ciência<br />

e para a medicina.<br />

O crescimento real da <strong>pesquisa</strong> com células-tronco tem sido muito<br />

grande, e o Brasil está numa posição muito interessante quanto a esse<br />

aspecto, pois desenvolveu uma série de pólos de <strong>pesquisa</strong>s no País que já<br />

estão com trabalhos em andamento.<br />

Os comentários que quero fazer dizem respeito mais à minha área<br />

específica, que é a cirurgia cardíaca. Tive a oportunidade de assistir à<br />

primeira apresentação do Instituto do Coração de São Paulo a respeito desse<br />

81


assunto tratando de cirurgia cardíaca. Há outros centros, como no Rio de<br />

Janeiro, que estão desenvolvendo <strong>pesquisa</strong>s muito boas também na área da<br />

cardiologia, mas via cateter.<br />

A área da cardiologia certamente irá se beneficiar muito da palestra do<br />

Dr. Luis. Agora mesmo estava conversando com o Dr. Alceu, do Hospital<br />

Veterinário – com quem tive a oportunidade de trabalhar várias vezes em<br />

<strong>pesquisa</strong>s experimentais e também desenvolver um projeto nessa área –, e<br />

tive a notícia de que as <strong>pesquisa</strong>s estão mais adianta<strong>das</strong> do que eu<br />

imaginava. Fiquei muito feliz de saber, pois isso é muito importante.<br />

Esse trabalho clínico no Instituto do Coração já mostrou um efetivo<br />

benefício para pacientes com caso de cardiopatia isquêmica severa, os quais<br />

eram submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio e,<br />

paralelamente, era feita a coleta, no início da cirurgia, de célula-tronco para<br />

ser implantada nas áreas não-revascularizáveis, cujas artérias estavam<br />

muito ruins e não havia condições de fazer a ponte. Isso acontece,<br />

infelizmente, com uma certa freqüência.<br />

Com os comentários que fiz a respeito desse assunto, obviamente os<br />

senhores estão pensando que são beneficia<strong>das</strong> apenas as áreas de<br />

hematologia e cardiologia. De forma nenhuma, isso abre uma perspectiva<br />

muito grande em outras áreas. O Hospital Universitário certamente terá um<br />

papel importante nisso, até em função do pioneirismo, pois iniciou em 1963,<br />

com Dr. Pereira, e vem liderando esse processo. Depois, houve o implante da<br />

unidade de transplante de medula óssea no próprio Hospital Universitário.<br />

Todos nós sabemos da luta que foi para chegar a essa etapa.<br />

Não há razão para me alongar, a não ser para dizer que na condição de<br />

cirurgião cardiovascular do Hospital Universitário e chefe do serviço de<br />

cirurgia cardíaca – estou concluindo meu período à testa da coordenação de<br />

82


ensino e <strong>pesquisa</strong> do Hospital Universitário –, certamente continuo muito<br />

interessado no tema, e agora mais ainda, pois terei um pouco mais de tempo<br />

para me dedicar a esses projetos.<br />

Dr. Ney Pippi<br />

Gostaria de agradecer a referência que o Dr. Luis Carlos Antunes fez à<br />

nossa equipe.<br />

Aproveito também a oportunidade para agradecer a receptividade que a<br />

equipe do Hospital Universitário da UFSM tem dispensado aos nossos<br />

alunos, mestrandos e doutorandos, que têm participado de alguns<br />

procedimentos, de algumas técnicas. Realmente, isso tem nos facilitado<br />

muito, encurtado muito o caminho. Muito obrigado por isso.<br />

Gostaria de sugerir uma ação um pouco mais intensa com relação à<br />

Fundação de Amparo à Pesquisa, que houvesse uma sugestão da Assembléia<br />

Legislativa de abrir um edital específico contemplando a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong><br />

células-tronco no nosso Estado. Isso seria de grande ajuda, porque, como<br />

todos sabem, esse trabalho envolve tecnologia e equipamentos muito caros, e<br />

esse é o principal óbice a que as <strong>pesquisa</strong>s avancem. Seria essa a colocação,<br />

não tanto uma pergunta.<br />

83


04/mai/2006<br />

Perspectivas do uso de células-tronco em pacientes com derrame<br />

Dr. Maurício Friedrich<br />

Luiz Avila /AL<br />

Palestrante: Dr. Maurício Friedrich — doutor em neurociências pela PUC,<br />

chefe dos programas de doenças neurovasculares do Hospital São Lucas, da<br />

PUCRS, e do Hospital Mãe de Deus.<br />

84


Dr. Maurício Friedrich<br />

Bom-dia a todos. Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que o<br />

acidente vascular cerebral (AVC) é a maior causa de morte no Brasil hoje.<br />

Temos aproximadamente 18 a 20 mil casos de AVC por ano no Rio Grande<br />

do Sul de modo que é uma doença de alto impacto.<br />

Gostaria de lembrar também que a cada 100 pessoas acometi<strong>das</strong> por<br />

AVC, 40 delas jamais voltam a ter uma vida independente e 20 delas ao final<br />

de um ano estão mortas. Ou seja, é uma doença de alto impacto<br />

epidemiológico com uma mortalidade alta e um percentual de incapacidade<br />

significativa.<br />

Iniciamos esse trabalho em março de 2005 e escolhemos o acidente<br />

vascular cerebral isquêmico grave, porque são pacientes que ficam<br />

incapacitados, não têm nenhuma perspectiva de recuperação neurológica e<br />

há a perda total da expectativa de uma qualidade melhor de vida.<br />

Nós nos preocupamos de tratar inicialmente casos de AVCs químicos<br />

severos. Nada pode ser pior, é um quadro catastrófico, a mortalidade pode<br />

chegar a 80% em três meses. Aproximadamente 75% dos pacientes ficam<br />

com graves seqüelas neurológicas.<br />

Quando uma área cerebral que estava recebendo irrigação é<br />

comprometida e não recebe mais o afluxo de oxigênio e nutrientes, gera o<br />

que chamamos de isquemia, uma lesão isquêmica. Isso acontece<br />

repentinamente, a pessoa pode estar muito bem conversando, falando,<br />

movimentando e repentinamente é acometida normalmente pela perda de<br />

função motora, perde a força em um braço, em uma perna ou por vezes no<br />

85


lado inteiro. É uma doença com uma probabilidade de incapacidade severa<br />

muito grande.<br />

Atualmente, desde 2002, no Hospital São Lucas, da PUC, iniciamos um<br />

trabalho de tentar desobstruir essas artérias acometi<strong>das</strong>. Utilizamos um<br />

medicamento que vai deslocar o coágulo, que vai dissolver o trombo,<br />

restabelecer o fluxo sangüíneo cerebral e impedir a isquemia.<br />

Se a isquemia não for impedida, uma área total, uma área grande do<br />

cérebro é acometida, gerando uma perda total de todos os neurônios dessa<br />

região.<br />

Quase todo o hemisfério é acometido nesses casos que estamos<br />

tratando e isso leva a seqüelas muito graves. Se não conseguirmos, em<br />

tempo, desobstruir a artéria, vai acontecer um enorme dano isquêmico a um<br />

dos hemisférios cerebrais, levando conseqüentemente a perda dos<br />

movimentos do lado contralateral. Se for o hemisfério esquerdo, a perda da<br />

linguagem, a perda do campo visual, a uma descoordenação, a uma<br />

dificuldade na fala. Também, em pacientes atingidos no hemisfério direito, a<br />

incontinência urinária, a perda de memória.<br />

É um quadro catastrófico. O uso dessa terapêutica trombolítica que<br />

fazemos no Hospital São Lucas, é bom que se diga, é paga pelo hospital,<br />

porque desde o início dissemos que seria impossível utilizar um<br />

medicamento com tamanho benefício para um paciente com algum convênio<br />

e o paciente do SUS não poder usar, porque não é pago pelo governo.<br />

Temos tratado duzentos pacientes, é a maior experiência da América do<br />

Sul, estamos publicando esses trabalhos científicos feitos com essa droga e é<br />

uma experiência muito grande, talvez uma <strong>das</strong> cinco maiores experiências<br />

individuais do mundo nos dias de hoje.<br />

86


Na nossa cidade, por exemplo, menos de um por cento <strong>das</strong> pessoas que<br />

têm AVC isquêmico podem receber essa medicação, o que acontece é que<br />

esses pacientes vão enfartar, terão uma isquemia extensa e vão ficar<br />

seqüelados.<br />

Até aqui existe um paradigma de que uma vez seqüelado, jamais se<br />

recupera aquela função ou, quem sabe, progressivamente, com fisioterapia,<br />

recupera-se o que não foi lesado no cérebro, o que se pode recuperar por<br />

uma série de modificações no tecido cerebral, é um remodelamento.<br />

Esses casos que estou colocando para vocês, de oclusão da artéria<br />

cerebral média, são casos de isquemia bastante extensa e que não há<br />

nenhuma perspectiva de melhora neles.<br />

Mais ou menos de cinco a dez anos na PUC tem se estudado muito a<br />

questão <strong>das</strong> células-tronco quanto à possibilidade de recuperar vias<br />

neuroniais afeta<strong>das</strong> por uma série de injúrias, dentre elas, injúrias<br />

isquêmicas.<br />

No ano passado iniciamos a utilização de células-tronco da medula<br />

óssea na fase aguda da isquemia, para tentar, nos primeiros sete dias,<br />

restabelecer precocemente e proteger essa área cerebral injuriada pela<br />

isquemia. Daqui a pouco explicarei melhor o processo.<br />

Vamos ver alguma coisa <strong>sobre</strong> o que conseguimos até aqui. As célulastronco<br />

existem no nosso organismo e basicamente existem para reparar,<br />

proteger e restabelecer as vias que foram lesa<strong>das</strong>, no caso do cérebro, devido<br />

a uma isquemia cerebral, que é <strong>sobre</strong> o que estamos falando hoje.<br />

Quanto à questão da escolha <strong>das</strong> células-tronco da medula óssea,<br />

inicialmente é por que acreditamos que as células-tronco origina<strong>das</strong> <strong>das</strong><br />

células mesenquimais da medula óssea são células pluripotenciais, ou seja,<br />

possuem a capacidade de, a partir da sua retirada da medula óssea, gerar<br />

87


qualquer tipo de célula, dependendo de qual necessidade o organismo<br />

apresente.<br />

Durante o período inicial da isquemia, existe uma série de fatores que<br />

chamamos de quimiotaxias, que atraem as células-tronco até a área<br />

isquêmica para tentar repará-la. Isso acontece naturalmente, porém é<br />

insuficiente, de modo que nós retiramos e filtramos uma enorme quantidade<br />

de células-tronco e injetamos no tecido cerebral na tentativa de aumentar a<br />

possibilidade de recuperação <strong>das</strong> vias danifica<strong>das</strong>.<br />

Existem três efeitos pelos quais podemos esperar que as células-tronco<br />

da medula óssea possam restabelecer essas vias. O primeiro, a qual<br />

realmente acreditamos, é a questão da transdiferenciação, que é a<br />

diferenciação de uma célula-tronco em célula nervosa.<br />

O segundo é a questão da fusão celular, ou seja, uma célula-tronco a<br />

partir de uma fusão com uma outra célula que esteja preparada para<br />

morrer, mas que ainda não está morta, fará com que essa célula se<br />

recupere. O terceiro é o efeito parácrino, através de uma série de enzimas<br />

que fazem com que exista uma citoproteção do tecido que foi injuriado e<br />

devido a fatores neurotróficos que se produzam novos neurônios a partir de<br />

neurônios que já existem em áreas como as áreas periventriculares dos<br />

lóbulos temporais. Portanto, existem células-tronco que estão prontas a<br />

serem ativa<strong>das</strong> por enzimas que são ativa<strong>das</strong> por células-tronco da medula<br />

óssea.<br />

Qual é o estudo que estamos desenvolvendo e que em verdade a<br />

primeira parte desse estudo terminou há uns meses e agora estamos em fase<br />

de escrever o artigo científico para mandar à revista New England Journal of<br />

Medicine, que é seguramente a revista mais importante no momento atual<br />

em nosso meio médico-científico internacional.<br />

88


Escolhemos pacientes graves, porque eles não têm a mínima<br />

possibilidade de recuperação. Essa escolha se deu em função de, desde o<br />

início, não admitirmos utilizar uma terapêutica com alguma chance de<br />

recuperação e usar um grupo controle, ou seja, utilizar pacientes em que se<br />

usaria placebo ao invés <strong>das</strong> células-tronco para tentar comparar os efeitos<br />

<strong>das</strong> células-tronco.<br />

A nossa filosofia desde o início era tratar todos os pacientes, e<br />

utilizamos pacientes graves em que, seguramente, não teríamos chances de<br />

recuperação. Portanto, qualquer tipo de recuperação poderia ser um achado<br />

científico importante. É a segurança e a viabilidade do transplante autólogo<br />

de células-tronco em paciente com AVC isquêmico.<br />

Esses são, junto com o mesmo trabalho realizado no Rio de Janeiro, os<br />

dois únicos trabalhos clínicos que estão sendo realizados atualmente com<br />

células-tronco em AVC no mundo. Os outros trabalhos são estudos préclínicos<br />

em ratos.<br />

Esse único estudo clínico está sendo desenvolvido junto com o pessoal<br />

da UFRJ e do Pró-cardíaco do Rio de Janeiro, que têm um trabalho<br />

semelhante ao nosso. Utilizamos as células-tronco entre o terceiro e sétimo<br />

dia, e a artéria cerebral média tem que estar aberta. Normalmente após o<br />

segundo dia a artéria que está fechada abre, mas abre tardiamente, e o<br />

tecido já está isquêmico.<br />

Testamos inicialmente a segurança, porque é muito importante, dentro<br />

do princípio primun non nocere, não causar mais danos a uma pessoa que já<br />

está tão comprometida. Precisaríamos saber se a injeção dessas célulastronco<br />

que extraímos da medula óssea dentro de uma artéria cerebral é<br />

segura, ou se ela poderá trazer mais danos.<br />

89


O segundo objetivo obviamente é testar a eficácia desse método.<br />

Fizemos um acompanhamento clínico radiológico, ou seja, por exames de<br />

imagem, e eletroencefalográfico bastante intensivo. As células-tronco da<br />

medula óssea são células não-embrionárias, ou seja, são células adultas, e<br />

acreditamos que possam ser superiores às células embrionárias pelo simples<br />

fato de que existem no nosso organismo hoje. Elas nasceram para reparar<br />

tecidos.<br />

As células-tronco embrionárias nasceram para criar tecidos, e as<br />

células-tronco adultas da medula óssea nasceram pra reparar tecidos, de<br />

modo que acreditamos muito que esse seja o caminho para a recuperação de<br />

uma série de injurias neurológicas que acometem milhões de pessoas no<br />

mundo.<br />

Como é feito o processo? Ele não é um processo difícil de ser<br />

desenvolvido. O primeiro passo é retirar o sangue da medula óssea por uma<br />

punção na crista ilíaca superior do quadril. Essa punção retira<br />

aproximadamente 50ml de sangue da medula óssea do quadril, da crista<br />

ilíaca, sob anestesia local, e, após a retirada, filtramos para retirar as<br />

partículas ósseas e os resíduos de gordura. Após a filtração, centrifugamos<br />

essas células várias vezes por 25 minutos e separamos a fração de células<br />

mononucleares, porque dentro <strong>das</strong> células da medula óssea a fração<br />

mononuclear é que contempla as células mesenquimais, que são as que<br />

podem gerar qualquer tipo de tecido.<br />

Em média, utilizamos de 200 a 300 milhões de células e sabemos que<br />

1% a 2% delas são células mesenquimais, ou seja, são células que podem<br />

gerar qualquer tipo de tecido. Portanto, se tivermos 200 milhões, teremos<br />

aproximadamente dois milhões de células sendo joga<strong>das</strong> diretamente na<br />

lesão isquêmica, podendo reabilitar, reestruturar, rearquitetar aquela área<br />

90


que foi injuriada. Nós, por meio de um cateter inserido na virilha, chegamos<br />

até a circulação cerebral, através da artéria carótida, e injetamos essas<br />

células diretamente na circulação. Elas vão percorrer toda a área isquêmica<br />

na tentativa de recuperar o dano.<br />

O que obtivemos até aqui? Esses resultados, que estou mostrando,<br />

estão um pouco científicos para uma sessão pública, mas tratamos 20<br />

pacientes e estamos em fase de acompanhamento. Quatorze deles já<br />

completaram três meses. Podemos dizer que 70% desses pacientes, que<br />

jamais se recuperariam, atingiram o que esperávamos de melhora<br />

substancial neurológica e 20% deles, pasmem, tenho vídeos para comprovar<br />

isso, ficaram absolutamente sem seqüelas, e não houve nenhuma<br />

complicação.<br />

Esse trabalho está apenas se iniciando. É extremamente seguro o<br />

transplante autológo de células-tronco da medula óssea e, é, possivelmente,<br />

muito eficaz.<br />

Vou mostrar-lhes dois casos para exemplificar. Esse caso foi veiculado<br />

nos meios de comunicação; foi um caso em que nos surpreendemos muito.<br />

Foi um caso extremamente grave. Houve uma recuperação dramática,<br />

fantástica. Essa foi a segunda paciente que tratamos. A partir dali,<br />

triplicamos o nosso esforço em prol da terapia celular.<br />

É uma paciente de 41 anos, de sexo feminino, branca, do lar. Era hígida<br />

previamente; fumante; usava pílula anticoncepcional e tinha histórico de<br />

enxaquecas. Diríamos que essa história médica: de ser fumante, de estar<br />

usando pílula aos 41 anos de idade e de ter enxaquecas, é basicamente<br />

como colocar um palito de fósforo acesso em um vidro de álcool. Ele vai<br />

explodir. A chance de acontecer um evento isquêmico, mesmo em uma<br />

91


paciente tão jovem, é muito grande quando essa combinação de fatores<br />

existe.<br />

No dia três de maio de 2005, ela estava trabalhando em casa e,<br />

subitamente, perdeu todos os movimentos do lado esquerdo. Ela foi para o<br />

Hospital de Pronto-Socorro, para onde muitas pessoas com algum quadro<br />

mais sério pensam que devem dirigir-se. Ocorre que a droga e o treinamento<br />

para se fazer a recanalização da artéria, a dissolução do trombo, não estão<br />

disponíveis no HPS.<br />

Isso apesar de que já estive lá, em três ocasiões, mostrando a<br />

experiência que temos e do fato de que hoje se sabe que o único tratamento<br />

para a isquemia cerebral, AVC isquêmico nas primeiras horas, é o<br />

trombolítico, como é no caso do coração. Sabe-se disso há vinte anos. No<br />

coração se utiliza o trombolítico, a artéria coronária aberta, e a pessoa pode<br />

ser salva de um enfarto. No cérebro é o mesmo processo. Só que,<br />

infelizmente, ainda não está difundida essa técnica.<br />

A paciente foi para o HPS, e nada foi feito, de modo que aquela lesão,<br />

que era inicialmente pequena, foi-se estendendo, e a paciente ficou bastante<br />

seqüelada.<br />

Essa paciente, com dois dias de evolução, era candidata a um<br />

procedimento cirúrgico que é retirar o epicrânio para possibilitar que a área<br />

isquêmica se expanda para fora, ao invés de comprometer o outro<br />

hemisfério, levando à morte da paciente. Esse era um caso dramático,<br />

gravíssimo e com poucas opções terapêuticas.<br />

Conseguimos estabilizar a paciente. Estabilizar significa evitar a morte.<br />

Conseguimos que ela estabilizasse clinicamente o que chamamos de<br />

parâmetros fisiológicos – pressão arterial, nível de consciência –, mas ela<br />

continuava com a perda de força, era acordada só com estímulo vigoroso.<br />

92


Era uma paciente que estava muito mal e candidata a jamais recuperar a<br />

independência física e o controle dos esfíncteres.<br />

O aprendizado de extração <strong>das</strong> células é crescente. Esse foi o nosso<br />

segundo caso. Nele utilizamos 60 milhões de células mononucleares no<br />

transplante, no quinto dia daquela isquemia.<br />

Transplantamos essa paciente. Chamou-nos muito a atenção, já no<br />

décimo dia após o transplante, o fato de que naquela área enorme isquêmica<br />

algo havia acontecido, porque já se notava que essa área estava em um<br />

processo de restabelecimento, o qual também não entendemos; não existe<br />

nenhum aprendizado prévio disso. Isso é absolutamente <strong>pesquisa</strong>. É novo.<br />

Essa paciente recuperou completamente os movimentos. Ainda<br />

apresenta um pouquinho de perda de força na mão esquerda, ao invés de<br />

uma perda total de movimentos.<br />

Outro caso que gostaria de mostrar-lhes é o de um rapaz de trinta anos<br />

que teve uma perda completa da linguagem subitamente e, uma perda de<br />

força do membro superior direito.<br />

Ele chegou ao hospital fora da janela, ou seja, depois de três horas, que<br />

é o tempo admitido para tentar abrir essa artéria. Utilizamos as célulastronco<br />

no quarto dia de evolução. Era uma isquemia também bastante<br />

extensa, e estava localizada exatamente em cima da área denominada área<br />

de Broca, que é a área da linguagem.<br />

Esse paciente, com 30 anos, perdeu a fala completamente, com grandes<br />

chances de jamais se recuperar. No dia do transplante, o paciente. tem na<br />

mão uma escala com figuras, palavras e frases para tentar ler. Não<br />

conseguia ler nada e, ficou tremendamente ansioso com isso. Ele foi<br />

transplantado no quinto dia da isquemia.<br />

93


Uma semana depois, ele parece um estrangeiro falando, pois ainda não<br />

recuperou completamente a linguagem, mas esse foi o resultado desse<br />

paciente. Hoje, a linguagem dele é como a nossa; absolutamente normal. Ele<br />

se recuperou completamente. E essa é uma frase que gostaria de deixar pra<br />

vocês como conclusão e final de exposição. Obrigado.<br />

94


11/mai/2006<br />

Terapia com célula-tronco em neurologia:<br />

realidade e perspectivas<br />

Dr. Jaderson Costa da Costa<br />

Marco Couto/AL<br />

Palestrante: Dr. Jaderson Costa da Costa — neurologista, diretor do<br />

Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São Lucas, da PUCRS,<br />

professor titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da PUCRS,<br />

professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Medicina da PUCRS<br />

95


e professor adjunto e associado do Departamento de Medicina Interna de<br />

Miami.<br />

Convida<strong>das</strong>: Dra. Zaquer Munhoz Costa, do Instituto de Pesquisas<br />

Biomédicas do Hospital São Lucas, e a Dra. Simone Denise Salamoni, do<br />

Instituto de Pesquisas do Hospital São Lucas.<br />

Dr. Jaderson Costa da Costa<br />

Inicialmente, desejo expressar a minha satisfação de estar aqui. Graças<br />

a esta comissão, o assunto células-tronco tem chegado a nossa população,<br />

que tem sido de alguma maneira informada; e isso tem nos mantido também<br />

aquecidos na área da <strong>pesquisa</strong>.<br />

Tanto a <strong>pesquisa</strong>dora Zaquer Costa como a Simone Salamoni são<br />

pessoas dedica<strong>das</strong> ao trabalho diuturnamente, por isso fiz questão de que<br />

elas comparecessem a esta reunião.<br />

Irei dividir a minha apresentação, até para não ser repetitivo, porque já<br />

estiveram aqui colegas da instituição falando <strong>sobre</strong> o mesmo assunto.<br />

Primeiramente, irei focar alguns aspectos que evoluímos bastante nos<br />

últimos quatro meses, será uma apresentação mais técnica; e, num segundo<br />

momento, levantarei alguns questionamentos em relação a como estou<br />

vendo essa questão no Estado no que tange ao <strong>pesquisa</strong>dor, bem como<br />

falarei um pouco da vivência que tenho fora do Estado, o que penso será de<br />

extrema importância.<br />

O número de e-mails que recebemos diariamente é tremendo, as<br />

pessoas estão desespera<strong>das</strong>, estão morrendo, perdendo qualidade de vida, e<br />

96


às vezes faltam alguns elementos básicos para que o processe se acelere e<br />

tenhamos êxito.<br />

Irei limitar o meu plano de apresentação à explanação <strong>sobre</strong> as célulastronco<br />

do sistema nervoso, a neurogênese do cérebro adulto; as célulastronco<br />

da medula óssea; as perspectivas terapêuticas; e, por último, a parte<br />

neurológica <strong>das</strong> neurociências.<br />

Acredito que isto já tenha sido manifestado aqui, por isso serei breve.<br />

Mas lembro que, ao falarmos em células-tronco adultas, falamos em células<br />

que são responsáveis pela recomposição de qualquer tecido do nosso<br />

organismo. Um indivíduo fantástico chamado Pasko Rakic, homem que hoje<br />

está se aposentando, teve enorme importância no entendimento de como se<br />

formam as cama<strong>das</strong> corticais do cérebro, de como o cérebro se desenvolve.<br />

Pasko Rakic disse uma coisa muito interessante: pelo menos em relação<br />

a sua pele, ele, a cada ano, é um indivíduo mais jovem. A pele, tecido, é<br />

constantemente renovada. E renovada como? Graças às células-tronco que<br />

existem na pele. O nosso sangue também é constantemente renovado. A<br />

grande questão é se o nosso cérebro poderia ser renovado, se a nossa<br />

medula poderia ser renovada, se os nossos nervos poderiam ser renovados.<br />

E isso irei esclarecer aos senhores agora.<br />

Pergunta: Para haver renovação há necessidade da célula-mãe – a<br />

céula-mãe é aquela que tem a capacidade de gerar as células-filhas, que são<br />

as células que vão constituir a nossa pele, o nosso sangue, as nossas células<br />

nervosas, etc? Tratava-se de uma grande dúvida. Por quê? Nós tínhamos um<br />

oráculo, um grande homem chamado Santiago Ramón y Cajal, talvez o<br />

maior <strong>pesquisa</strong>dor em neurociências, espanhol, que nunca publicou em<br />

inglês, nem em alemão, nem em francês, só publicou na sua língua materna.<br />

O mundo científico da época o procurou, porque foi ele quem apresentou os<br />

97


fundamentos para a neurobiologia. Esse homem, que foi um autodidata, que<br />

se dedicou à <strong>pesquisa</strong> básica, não observava regeneração no cérebro do<br />

indivíduo adulto. E cunhou, em 1913, o seguinte: No sistema nervoso tudo<br />

pode morrer, e nada pode regenerar.<br />

Senhores, é triste saber que nós, que estamos envelhecendo, não<br />

teríamos uma segunda chance, como temos com a segunda dentição, de ter<br />

novas células. Apesar de esse homem ter contribuído enormemente para as<br />

neurociências, felizmente ele errou. Ele começou a errar – e este é um dado<br />

importante – quando foi feita uma constatação pelo indivíduo chamando<br />

Fernando Nottebohm, um argentino radicado nos Estados Unidos há muitos<br />

anos, que se dedica ao estudo de uma <strong>das</strong> coisas mais preciosas e mais<br />

gostosas do mundo: pássaros que cantam – pássaros canoros –, canto dos<br />

pássaros.<br />

Os senhores devem estar pensando: convidamos um neurologista que<br />

agora enlouqueceu de vez. Queríamos que falasse <strong>sobre</strong> células-tronco, veio<br />

falar <strong>sobre</strong> canários. Bem, talvez pela minha infância, pelo meu afeto.<br />

Realmente eu tinha muito carinho, gostava muito dos canários belgas,<br />

graças a minha avó, que me ajudava a cuidar deles. Gostava de vê-los, mas<br />

não era muito prestativo no cuidar dos canários.<br />

Fernando Nottebohm estudou os pássaros canoros e verificou que esses<br />

pássaros cantavam por uma série de razões. Talvez a razão mais importante<br />

seja defesa do território, alarme, chamamento para contato, acasalamento,<br />

atrair a companheira. Essa é uma propriedade do pássaro macho, ele faz<br />

isso.<br />

O que tem a ver isso com o que estamos falando hoje? Ele identificou<br />

que existem três centros responsáveis por isso, que fazem parte do circuito<br />

do cérebro do canário para canto.<br />

98


Atentem para uma frase que é fundamental: os pássaros cantam num<br />

período de luz – período fotóptico –, e, quando eles cantam, nesse período,<br />

existem novas células nervosas, novos neurônios. É interessante que a cada<br />

período esses neurônios se renovam; e podemos fazer o canário fêmea cantar<br />

se tratarmos com hormônios.<br />

Qual a importância disso? Esse autor demonstrou, então, que as<br />

células do cérebro de um animal, no caso o canário, eram capazes de, ao<br />

morrer, se constituírem a cada período de canto. Era como se dissesse:<br />

Santiago Ramón y Cajal, você errou pelo menos nos canários, porque eles<br />

fazem neurônios novos.<br />

Depois se mostrou que praticamente todos os mamíferos fazem<br />

neurônios novos. Faltava a última barreira: provar que isso acontecia no<br />

cérebro humano.<br />

Senhores, não pensem que este é um assunto muito antigo. Embora em<br />

1913 tenha sido feita aquela afirmativa, o dogma de Santiago Ramón y Cajal<br />

só caiu em 1998. E caiu em 1998 graças a duas circunstâncias – e é<br />

fundamental que se aprenda, que a nossa população entenda isto: a<br />

determinação de um homem chamado Peter Ericson de acreditar nisto e<br />

porque alguns pacientes se doaram. Esse é o termo. Eram pacientes que<br />

tinham câncer em fase terminal, sabiam que iam morrer, tinham<br />

consciência disso e consentiram em ser injetados com uma substância<br />

radioativa, para estadear o câncer deles. E, se eles morressem, eles doariam<br />

o cérebro ao <strong>pesquisa</strong>dor.<br />

Essa substância radioativa, senhores, é um marcador de células novas,<br />

de células que se multiplicam, de neurônios novos. Os pacientes que<br />

morreram foram à autópsia, e, em 1998, então, cai o dogma de Santiago<br />

99


Ramón y Cajal, mostrando que em alguns locais especiais do cérebro<br />

existem células-tronco. E aí a neurogênese.<br />

Esse é o primeiro passo. Não se pode falar em células-tronco do sistema<br />

nervoso sem conhecer esse fato.<br />

Imaginem, senhores, estamos falando de 1998 a 2006; estamos falando<br />

de oito anos. Estamos hoje reunidos nesta Casa falando de um assunto que<br />

começou há oito anos. Não poderíamos falar em relação ao sistema nervoso<br />

central sem essa descoberta.<br />

Permitam-me informar mais um dado: houve ampla demonstração, mas<br />

existe uma limitação. Eu posso obter essas células-tronco de um indivíduo,<br />

da sua pele, do seu tecido gorduroso, da sua medula óssea, mas eu não<br />

tenho a mesma liberdade de obter essas células da medula ou do cérebro do<br />

indivíduo adulto. Eu não posso extrair essas células de lá. Eu sei que estão<br />

lá, mas eu não posso mexer nessas células.<br />

Então, começa a se estabelecer uma situação difícil: sabemos que estão<br />

lá, precisam ser induzi<strong>das</strong>, precisam ser estimula<strong>das</strong>, precisam ser<br />

mobiliza<strong>das</strong>, mas não podemos mexer nessas células com facilidade. E aí<br />

entramos num segundo capítulo que é o da relação entre a medula óssea,<br />

neurônios, que são as células nervosas, e a glia, nome genérico que<br />

utilizamos para to<strong>das</strong> aquelas células que não são neurônios e que servem<br />

de suporte para as células nervosas. Elas são as companheiras <strong>das</strong> células<br />

nervosas; elas são que alimentam, que fazem a ajuda <strong>das</strong> células nervosas.<br />

Senhores, devemos isso a uma senhora chamada Eva Mezey, que<br />

passou por um verdadeiro calvário. Ela suspeitou que células da medula<br />

óssea poderiam se converter em neurônios ou em células gliais. Seus<br />

primeiros experimentos, que datam de 1997, foram contestados. Essa<br />

senhora tinha uma posição no Instituto Nacional da Saúde; ela perdeu essa<br />

100


condição e perdeu todo auxílio para <strong>pesquisa</strong>. Foi dito que seu trabalho não<br />

passava de uma ilusão, de um erro de interpretação, de um erro de<br />

delineamento.<br />

Felizmente ela teve um orientador húngaro extremamente forte,<br />

chamado Zandar Goday – ela é de origem húngara –, que lhe havia dito:<br />

Quando você acredita numa coisa, não desista. Vá em frente, toque, porque<br />

na ciência é assim: são necessários muitos anos para convencer as pessoas.<br />

Graças a isso ela conseguiu publicar seus primeiros artigos. Hoje,<br />

constata-se que ela tinha toda a razão: a partir da medula óssea podemos<br />

transformar as células-tronco em neurônios e em glia. Esta é a grande<br />

virada: o sangue da medula óssea, as células da medula óssea podem gerar<br />

os nossos neurônios e a nossa glia. Isso é fantástico.<br />

Agora entraremos no terceiro aspecto. Sabendo que podemos obter<br />

essas células, o que podemos fazer? Os senhores vêem uma constelação de<br />

tecidos que podem ser obtidos: fígado, músculo, pele e as nossas células<br />

nervosas que podem ser origina<strong>das</strong> de células-tronco da medula óssea.<br />

O que fizemos na PUC. Em 1999, a revista Science, que é a mais<br />

importante em termos de <strong>pesquisa</strong>, elegeu como maior assunto científico do<br />

ano o potencial <strong>das</strong> células-tronco. Isso foi em dezembro de 1999. Em<br />

janeiro de 2000, começamos a trabalhar com células-tronco no Instituo de<br />

Pesquisas Biomédicas da PUC.<br />

Com to<strong>das</strong> as limitações de legislação que havia na época e com todo o<br />

questionamento que existe de ordem ética e religiosa optamos pelas célulastronco<br />

adultas. Baseados nos trabalhos já reconhecidos internacionalmente<br />

de Eva Mezey de que poderíamos trabalhar com células-tronco de medula<br />

óssea, começamos a trabalhar em laboratório.<br />

101


O que essas células fazem? Essas células têm inúmeras possibilidades.<br />

Elas podem se fundir, por exemplo, com as células do local; elas podem se<br />

transdiferenciar, ou seja, se transformar em outra célula; ou elas podem ter,<br />

talvez o que seja mais importante e que nossas últimas <strong>pesquisa</strong>s têm<br />

demonstrado, efeito parácrino. O que é isso? Elas podem funcionar como<br />

pequenos vagõezinhos que levam os elementos necessários para que aquelas<br />

células-tronco lá do cérebro se movimentem, acordem e façam o trabalho<br />

que deveriam fazer.<br />

Achávamos no inicio que esse efeito não fosse tão importante. Hoje<br />

estamo-nos convencendo de que talvez seja o elemento mais importante.<br />

Faço uma correção: não estamos falando de 1998 para cá; estamos<br />

falando de 2000 para cá. E por que faço esta correção? Porque foi quando<br />

também começamos.<br />

Quero dizer aos senhores que independente de qualquer estímulo<br />

externo, independente de qualquer estímulo político ou de qualquer apelo,<br />

nós já tínhamos nos auto-estimulado em 2000 e entramos na corrida ao<br />

mesmo tempo em que os grandes centros mundiais de <strong>pesquisa</strong>s. Estamos<br />

falando de uma história de seis anos. E somos protagonistas dessa história<br />

porque começamos há seis anos pari passu.<br />

Às vezes há um certo sentimento, muito próprio do gaúcho, que é mais<br />

conservador, de que devemos algumas coisas a outros centros superiores ou<br />

mais desenvolvidos. Sempre nos passa a idéia de que não somos totalmente<br />

capazes ou que não temos to<strong>das</strong> as condições intelectuais ou de recursos<br />

materiais. Isso não é verdade. Temos condições porque começamos ao<br />

mesmo tempo. No final de junho, levarei ao 4º Congresso Internacional de<br />

Células-<strong>Tronco</strong>, em Toronto, os nossos resultados.<br />

102


Perspectivas terapêuticas <strong>das</strong> doenças. Existem várias perspectivas.<br />

Algumas doenças já estão em protocolo clínico, além de protocolos<br />

experimentais como doença de Parkinson; esclerose múltipla; esclerose<br />

lateral ameotrófica, que é uma situação de extrema gravidade – os indivíduos<br />

morrem num período que varia de seis meses a um ano.<br />

O professor Jefferson Braga Silva apresentou a questão da lesão de<br />

nervo periférico. Isso é muito importante: todos esses estudos começam com<br />

experimentos em animais e só depois, se aprovado pelo Comitê de Ética e<br />

pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa, em Brasília, é que são feitos<br />

os protocolos para estudos clínicos.<br />

Outro elemento que gostaria de mostrar refere-se à isquemia cerebral. O<br />

Dr. Maurício Friedrich trouxe alguns resultados interessantes de<br />

recuperação de pacientes. Não vou alongar minha manifestação.<br />

Mostrarei agora estudos experimentais na área da epilepsia. Contamos<br />

com a colaboração <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>doras Zaquer Munhoz Costa e Simone<br />

Denise Salamoni. Um dos problemas que encontramos é que 30% dos<br />

pacientes portadores de epilepsia não respondem aos medicamentos e há<br />

possibilidade de tratamento cirúrgico para a metade desses pacientes. É<br />

uma situação grave que faz com que os pacientes passem por situações<br />

constrangedoras e tenham uma baixa qualidade de vida.<br />

Esse modelo é muito interessante, pois a epilepsia é uma lesão crônica.<br />

Ou seja, se avançarmos no estudo da epilepsia, avançaremos no estudo de<br />

to<strong>das</strong> as lesões crônicas. Até agora mostrei casos de lesões agu<strong>das</strong>, cuja<br />

charada está desvendada: as células têm uma atração pela lesão aguda.<br />

Precisamos desvendar o segredo <strong>das</strong> lesões crônicas – e a epilepsia é uma<br />

lesão crônica.<br />

103


Verão agora o quanto avançamos. Utilizamos um camundongo que tem<br />

a sua genética modificada. Foi colocado um gene de uma alga nas suas<br />

células, fazendo com que as células expressem uma proteína verde. Quando<br />

colocamos as células na luz ultravioleta elas ficam verdes. Por que<br />

utilizamos isso? Para não nos enganarmos. O camundongo doador vai<br />

repassar células para um camundongo que tenha células normais.<br />

To<strong>das</strong> as células que encontrarmos no sistema nervoso, nas lesões, que<br />

forem verdes poderemos dizer, com certeza, que são do doador, e não do<br />

receptor. Isso é extremamente importante para não nos iludirmos. Na<br />

realidade, as células são elas mesmas e são do doador.<br />

Esses animais são estudados de to<strong>das</strong> as maneiras para que seja visto<br />

se as crises são controla<strong>das</strong> e se o tecido é regenerado. Vou passar esse<br />

aspecto técnico.<br />

A estrutura chamada de hipocampo é normalmente lesada nesse tipo de<br />

epilepsia induzida em camundongos, é responsável pela nossa memória.<br />

Quando as células são injeta<strong>das</strong> e ela está lesada, as células vão exatamente<br />

para aquele local. Essa é uma lesão crônica, e não aguda.<br />

Vou fornecer um dado preliminar importante. Os animais são<br />

monitorados por vídeo após as crises. Ocorrem de uma a cinco crises por<br />

hora. Esse modelo é realmente muito grave, pois há muitas crises por hora.<br />

Os animais que receberam as células têm as crises diminuí<strong>das</strong> em torno de<br />

70% com o passar do tempo.<br />

Trago um dado muito importante. A Sra. Zaquer terminou um trabalho<br />

mostrando que se atuarmos precocemente a redução é de 100%. Os<br />

senhores estão recebendo esses resultados em primeira mão. Estamos numa<br />

fase muito importante.<br />

104


Vou resumir da seguinte maneira: as células-tronco migram para essas<br />

lesões, diminuem as crises em 65%, 70% – e já afirmo que há uma mentira<br />

aqui, pois ontem se descobriu que modificando a técnica e o tempo de<br />

injeção se alcança 100% –, e as fatias voltam ao normal.<br />

Existe uma série de perspectivas, por exemplo, para a doença de<br />

Parkinson e, trabalhando com tecido fetal, para a esclerose múltipla, uma<br />

doença em que se vai perdendo a bainha <strong>das</strong> células nervosas. Tudo isso é<br />

secundário no momento em que começamos a desvendar um pouco do<br />

segredo <strong>das</strong> lesões crônicas. É nesse ponto que estamos.<br />

Quero destacar dois aspectos que considero fundamentais. O século<br />

XXI, a meu ver, é o século da esperança no que diz respeito à remodelação<br />

de órgãos e tecidos. Essa esperança depende de uma série de pessoas.<br />

Temos de entender que para isso acontecer há necessidade de amparo.<br />

Essas pessoas são abnega<strong>das</strong>, mas comem e vivem também.<br />

Passarei à última parte, à parte política e de apelo. Organizei o primeiro<br />

congresso brasileiro de células-tronco, realizado em novembro do ano<br />

passado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Na<br />

ocasião, fiz um apelo político que foi pouco escutado.<br />

Não contamos com a presença do governador do nosso Estado, mas do<br />

governador do Paraná na abertura do congresso. Digo isso com um duplo<br />

sentimento de satisfação e vergonha, porque esse homem está apoiando<br />

to<strong>das</strong> essas <strong>pesquisa</strong>s. Tudo o que mostrei aqui foi feito com dinheiro do<br />

Estado do Paraná.<br />

Qual foi o meu comprometimento? Vendi a alma. Qual foi a alma?<br />

Transferir toda a tecnologia para a Universidade Federal do Paraná. Esse foi<br />

o meu compromisso. Como ciência não é propriedade de ninguém, me sinto<br />

105


à vontade para fazer isso. A satisfação foi por ter recebido o apoio que<br />

permitiu chegarmos a esse ponto. A vergonha é saber que não recebi isso do<br />

nosso Estado, nem essa consideração. Se não fosse os senhores me<br />

convidarem para esta Comissão, não teria tido nenhum espaço político.<br />

Precisamos fazer com que o poder público entenda que mais do que<br />

boas palavras são as ações. E as ações vão incentivando aqueles jovens. Eu<br />

já estou com 58 anos, a minha carreira científica já está sólida o suficiente<br />

para não precisar mais dessas coisas. Na verdade, estou correndo atrás de<br />

sonhos. Os jovens <strong>pesquisa</strong>dores, no entanto, vão fazer a mudança, são eles<br />

que vão modificar a situação do País, do nosso Estado e o sofrimento desses<br />

pacientes.<br />

Por favor, precisamos de auxílio. Estou buscando auxílio no governo do<br />

Paraná. Segunda-feira, a convite do governo do Paraná, tomarei um avião da<br />

Gol, à tarde, para estar reunido no outro dia, às 8 horas da manhã, com o<br />

governador e seu secretariado para apresentar esses resultados. Ele quer<br />

saber o que fizemos com o dinheiro, e eu vou mostrar. Ele me prometeu que<br />

se os resultados foram bons, vai fazer mais um acréscimo de valores para<br />

que possamos progredir na <strong>pesquisa</strong>.<br />

Gostaria que isso tivesse ocorrido no meu Estado. Infelizmente, tenho<br />

de fazer esse registro. Essa é a parte política e é uma via de duas mãos. A<br />

nossa via como cientistas é fazer o nosso trabalho bem feito; e o trabalho <strong>das</strong><br />

pessoas desta Casa do Povo é fazer com que o governo seja sensibilizado no<br />

sentido de apoiar essa iniciativa. Muito obrigado pela oportunidade.<br />

Dra. Zaquer Munhoz Costa<br />

106


Gostaria de reforçar o que foi dito pelo Dr. Jaderson. Estamos<br />

trabalhando muito, temos um grupo muito grande, jovem e unido. Estamos<br />

muito contentes com os resultados obtidos e temos a esperança de que tudo<br />

o que estamos fazendo possa ser aplicado em pacientes, no caso de<br />

epilepsia, que estudamos mais. Desejamos que a nossa busca seja útil para<br />

muitas pessoas não só no Rio Grande do Sul, mas no País inteiro e até fora,<br />

se for o caso.<br />

Nós trabalhamos em turnos – há os turnos da manhã, da tarde e da<br />

noite –, porque estamos empenhados na <strong>pesquisa</strong>. Realmente, contamos<br />

com o apoio <strong>das</strong> autoridades para poder seguir adiante e para que<br />

<strong>pesquisa</strong>dores mais jovens, que vêm depois, alunos de iniciação científica,<br />

também possam prosseguir com as <strong>pesquisa</strong>s. Isso é importante para nós,<br />

assim como é importante o convite para virmos aqui mostrar o nosso<br />

trabalho, para que todos o conheçam.<br />

Dra. Simone Denise Salamoni<br />

Quero apenas agradecer pela oportunidade de mostrarmos o nosso<br />

trabalho e pedir para que os senhores façam por nós o que o governo do<br />

Paraná está fazendo. Muito obrigado.<br />

107


18/mai/2006<br />

Imunologia dos transplantes e células-tronco<br />

Deputados José Farret (E) e Paulo Brum com Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Marco Couto/AL<br />

108


Palestrante: Dr. Luiz Fernando Jobim —chefe do serviço de Imunologia do<br />

Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de Medicina Interna da<br />

UFRGS.<br />

Convidado:<br />

UFRGS<br />

Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Hoje, conversaremos a respeito <strong>das</strong> aplicações <strong>das</strong> células-tronco,<br />

especialmente <strong>sobre</strong> a tipagem do sistema Antígenos Leucocitários Humanos<br />

– HLA – entre doador e receptor para os transplantes, projeto que desenvolvo<br />

há muitos anos.<br />

Em 1973, iniciamos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre um<br />

laboratório de imunogenética ou de imunologia de transplantes, o qual<br />

proporcionou um avanço muito grande na área de compatibilização entre<br />

doador e receptor. Naquela época, não existia nenhum laboratório no Rio<br />

Grande do Sul. Fomos o segundo laboratório no Brasil a iniciar a tipagem<br />

HLA, e conseguimos ajudar durante esses anos 3 mil transplantes de rim,<br />

algumas centenas ou milhares de transplantes de medula óssea,<br />

transplantes de coração, etc.<br />

Hoje, a novidade que a comunidade discute são as células-tronco.<br />

As <strong>pesquisa</strong>s com as células-tronco, diferentemente, começaram<br />

dispersas pelo mundo inteiro, especialmente na América do Norte, na<br />

Europa, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal, na França, etc. A explosão<br />

do estudo <strong>das</strong> células-tronco foi muito maior do que a própria agricultura e<br />

a industrialização dos continentes.<br />

109


Este mapa mostra a competição internacional no estudo de célulastronco.<br />

Infelizmente no Brasil não temos nenhum daqueles triângulos que<br />

mostram centros de <strong>pesquisa</strong> com células-tronco, mas já temos alguns que<br />

poderiam estar incluídos neste mapa.<br />

O que são as células-tronco? São células indiferencia<strong>das</strong> que se<br />

renovam por meio da divisão celular. Elas podem ser induzi<strong>das</strong> a se<br />

diferenciarem nos diversos tecidos de nosso corpo, provindo de embriões, de<br />

fetos, de células da medula óssea, do cordão umbilical e de diferentes tecidos<br />

somáticos em adultos.<br />

Esta é a base da medicina regenerativa, da qual se fala hoje em dia:<br />

regenerar algo que está estragado. No futuro será possível produzir nos<br />

tecidos e células especializa<strong>das</strong>, para tratar diversas condições de doença.<br />

Com a melhor compreensão dos processos normais e da proliferação,<br />

será possível corrigir eventuais processos anormais, inclusive o câncer.<br />

Existem as células-tronco embrionárias, que vem dos embriões. Elas<br />

são cultiva<strong>das</strong> in vitro, e podemos ter uma quantidade grande delas; podem<br />

dar origem às células do sangue e diversas outras células.<br />

Essas células-tronco embrionárias, que saem do embrião e são<br />

cultiva<strong>das</strong>, poderão, teoricamente, dar origem às células dos ossos, do<br />

cérebro, dos rins, dos músculos e assim por diante. Essa é uma parte mais<br />

de teoria e <strong>pesquisa</strong>. Estão sendo utiliza<strong>das</strong> até com algumas restrições em<br />

relação aos embriões, à utilização dos embriões, etc.<br />

Mas o que nos interessa aqui são as células embrionárias provenientes<br />

da medula óssea, que, para os leigos, dizemos ser o tutano do osso. Dentro<br />

do osso temos as células primitivas, as stem cells, que são as células-tronco.<br />

110


Elas dão origem a todo o sangue – aos eritrócitos, às células fagocitárias, aos<br />

eosinófilos, às células T, às células B, às células de defesa.<br />

O objetivo da palestra de hoje é mostrar a diferença entre esses tipos de<br />

células-tronco. As embriônicas são totipotenciais, podem dar origem a<br />

qualquer tipo de tecido e são fáceis de propagar in vitro. Já as somáticas são<br />

pluripotentes e raras nos tecidos, ainda não existindo, para elas, técnicas de<br />

propagação perpétua in vitro.<br />

Que outros tecidos as células-tronco somáticas podem formar? As<br />

células hematopoiéticas; os neurônios; as células musculares; as células<br />

mesenquimais; as cerebrais, etc.<br />

Quanto à melhor célula-tronco para desenvolvimento <strong>das</strong> terapias<br />

celulares, podemos dizer que as do mesenque, as medulares, têm várias<br />

vantagens. Elas são fáceis de isolar, pois simplesmente fazemos uma punção<br />

da medula óssea e tiramos essas células-tronco. Podemos expandi-las e<br />

cultivá-las; elas são geneticamente estáveis, de potencial reparo para muitos<br />

tecidos e podem ser retira<strong>das</strong> do próprio paciente – são autotransplantáveis<br />

–, apresentando pouca atividade imunogênica, etc.<br />

Qual a diferença entre os transplantes com células da medula óssea e<br />

os com células de cordão umbilical? Agora falamos pela primeira vez em<br />

células do cordão umbilical. É praticamente a mesma coisa. Elas são<br />

também células-tronco que dão origem às células sangüíneas. Em relação às<br />

células da medula óssea, é mais difícil se conseguir compatibilidade entre<br />

um doador e um receptor, porque entre irmãos só temos 25% de pessoas<br />

idênticas. E as células do cordão umbilical? Podemos congelar centenas ou<br />

milhares dessas células e constituir um banco.<br />

Existem vários tipos de transplantes. Quanto aos alogênicos, a medula<br />

óssea é retirada de um doador vivo, previamente selecionado por testes de<br />

111


histocompatibilidade, que é o que o nosso laboratório executa, chamado de<br />

teste HLA. O doador é identificado entre os familiares, ou se utilizam bancos<br />

de medula óssea.<br />

Existem bancos, que não guardam a medula óssea, mas as informações.<br />

São bancos de dados.<br />

Transplantes autólogos: a medula óssea e as células-tronco periféricas<br />

são retira<strong>das</strong> do próprio paciente, armazena<strong>das</strong> e reinfundi<strong>das</strong> após um<br />

regime de imunossupressão, de destruição <strong>das</strong> células que estavam doentes.<br />

Sendo um autotransplante, não há rejeição.<br />

E há os transplantes singênicos, que ocorrem entre gêmeos<br />

univitelínicos. São transplantes em que também nunca acontecem rejeições.<br />

Nos autólogos e nos singênicos não há esse risco.<br />

No transplante alogênico o doador é da família ou de banco.<br />

Simplesmente se retira do osso ilíaco, com anestesia, o sangue, que é grosso,<br />

contendo as células-tronco. O material é filtrado, para se tirar o excesso de<br />

gordura, espículas ósseas, etc., e depois é feita uma transfusão.<br />

O transplante autólogo: o sangue da medula óssea do próprio paciente é<br />

resfriado ou congelado. Se faz, então, uma imunossupressão, uma<br />

destruição da medula óssea anterior, e se reinfunde a própria medula óssea.<br />

Então, tratamos o paciente e depois lhe damos uma medula óssea<br />

novamente.<br />

Existem alguns casos em que podemos tratar a medula óssea, num<br />

caso de leucemia, usando medicamentos para anticorpos monoclonais a fim<br />

de destruir células leucêmicas in vitro, enquanto essas células estão fora do<br />

organismo.<br />

No transplante autólogo, a coleta <strong>das</strong> células do paciente é feita através<br />

do sangue periférico, às vezes, com máquinas especiais. Tiramos o sangue e<br />

112


separamos as células-tronco para depois serem reinfundi<strong>das</strong> no próprio<br />

doente.<br />

O primeiro transplante que foi um sucesso com sangue do cordão<br />

umbilical ocorreu em 1998 – não há muito tempo. Ele foi usado para tratar<br />

um menino com anemia. A doadora, sua irmã, tinha uma combinação<br />

perfeita no sistema HLA. Este é o nosso trabalho: a combinação.<br />

O cordão umbilical: <strong>pesquisa</strong>dores identificaram no cordão umbilical<br />

um grande número de células-tronco. As células-tronco do sangue do cordão<br />

e placentárias são células com características adultas, porém, mais imaturas<br />

e ainda pouco estimula<strong>das</strong>.<br />

Algo importante: a célula-tronco do cordão umbilical é menos<br />

imunogênica. Temos menos rejeição a ela do que a uma célula-tronco<br />

retirada da medula óssea. Por quê? Porque a célula da criança, ou do feto –<br />

porque é retirada do cordão umbilical –, não é tão agressiva como a célula<br />

retirada da medula óssea de um adulto.<br />

Existe ampla disponibilidade de cordões nas gestantes. Jogamos fora<br />

esses cordões. O aproveitamento de material biológico habitualmente é<br />

descartado, mas há a possibilidade de armazenamento e congelamento em<br />

nitrogênio líquido, um banco de cordão.<br />

Já temos, no Brasil, um banco de cordão no Instituto Nacional do<br />

Câncer, no Rio de Janeiro, e um banco de cordão em São Paulo, que foi<br />

doado pelo Hospital Albert Einstein. E existem dois bancos de cordão<br />

privados.<br />

Tenho minhas dúvi<strong>das</strong> se esses bancos privados irão oferecer o que<br />

pretendem aos seus clientes. Em primeiro lugar, porque não sabemos se a<br />

pessoa que deu placenta para aquele banco irá precisar desse material. Essa<br />

criança, um dia, quando adulta, vai ficar leucêmica e precisar da placenta?<br />

113


Qual é a proporção de utilização desse material? Qual é o custo disso para<br />

as famílias?<br />

Em segundo lugar, será que as células vão ficar disponíveis durante 20<br />

anos? Quando o doador, aquela criança que nasceu e doou a placenta,<br />

quiser usá-las mais tarde, será que essas células estarão vivas?<br />

Essas são as dúvi<strong>das</strong> que expomos em relação aos bancos privados, que<br />

entraram fortemente no Brasil, pois há propaganda até em Caxias do Sul de<br />

banco de cordão umbilical. Só que não dizem o nome do diretor, nem do<br />

médico responsável, apenas dão números de telefones para se entrar em<br />

contato com o banco.<br />

Sei que existem intenções de pessoas, dentro do Brasil, de criarem<br />

bancos paralelos privados no mesmo sistema que queremos seguir, igual ao<br />

do público, para a comercialização. Nesse caso, se alguém precisar de um<br />

transplante de medula óssea, não tendo depositado sua placenta no banco,<br />

ele irá comprar o material.<br />

Isso existe em termos de comércio internacional, e custa 25 mil dólares<br />

para se conseguir fazer uma <strong>pesquisa</strong> a fim de encontrar um doador. Isso é o<br />

que Inca aparentemente paga para o exterior. Existem bancos públicos<br />

enormes, na Inglaterra, nos Estados Unidos, com centenas e milhares de<br />

pessoas já ca<strong>das</strong>tra<strong>das</strong> com o seu código HLA.<br />

Penso que no Brasil devemos investir em bancos públicos, pois já<br />

existem muitos laboratórios prontos para isso.<br />

No ano passado, me telefonaram de São Paulo para saber se poderíamos<br />

tipar o HLA para um banco privado. Mas se não possuem nem laboratório,<br />

como querem ter um banco?<br />

114


Tenho dúvi<strong>das</strong> em relação a isso, ao tempo em que as células ficarão<br />

congela<strong>das</strong>, se elas vão permanecer por muito tempo, se as pessoas irão<br />

precisar desse recurso ou não, <strong>sobre</strong> a freqüência de utilização, tendo em<br />

vista que essas doenças são raras. Elas não são raras na população, mas<br />

são raras para o próprio indivíduo. A possibilidade de uma pessoa contrair<br />

leucemia deve ser mínima.<br />

Mas quanto a isso nada sabemos; o futuro é que poderá dizer se isso<br />

terá valor ou não. Tenho minhas ressalvas.<br />

As desvantagens do cordão umbilical: o volume é pequeno; e sucesso<br />

reduzido em pessoas com mais de 40 quilos. Nos adultos, às vezes temos<br />

que usar dois cordões umbilicais, de duas pessoas. Dessa forma, são<br />

utilizados mais nas crianças, e agora estão aumentando o volume, usando<br />

dois ou três cordões para poder satisfazer um adulto.<br />

Para a doação, as gestantes entre 18 e 36 anos devem fazer to<strong>das</strong> as<br />

consultas pré-natais, idade, não possuir histórico médico de doenças, devem<br />

repetir os exames – as mães – no período de dois a seis meses após o parto.<br />

A Rede Brasil-Cord foi criada, mas não implantada. Nesse ponto, digo<br />

que os nossos deputados têm que ajudar a população, porque foram criados<br />

cinco centros no País, e o Rio Grande do Sul tem um. Toda a parte<br />

administrativa do nosso centro foi resolvida pela Secretaria da Saúde,<br />

Hospital de Clínicas e até com o Instituto de Células <strong>Tronco</strong>, que na<br />

realidade é um Instituto que não tem laboratório, tem somente uma pessoa<br />

trabalhando.<br />

A parte administrativa foi organizada, está pronta. Vai ser no Hospital<br />

de Clínicas, no banco de sangue e o diretor será o professor João Pedro<br />

Marques Pereira.<br />

115


Tudo isso já está decidido, só que não veio o dinheiro federal. Nesse<br />

sentido, vem a parte de vocês. Quanto é que vai custar isso? Um milhão de<br />

reais, um milhão e meio não é muito para começarmos.<br />

O que aconteceu foi um esquecimento, no meu ponto de vista, porque<br />

não ouvi mais falarem <strong>sobre</strong> a questão. No ano passado, nos reunimos<br />

várias vezes e ficou decidida a parte administrativa. E o dinheiro? Onde está<br />

o dinheiro? Esse é o ponto que deve ser levantado pela Assembléia<br />

Legislativa.<br />

Penso que a primeira atitude que vocês podem tomar é a de ter o acesso<br />

com o Secretário da Saúde, que está totalmente a par disso, pois ajudou em<br />

toda a parte administrativa o Sistema Nacional de Transplantes. A parte<br />

administrativa está pronta, tem até diretor, só não tem verba para iniciar. É<br />

uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, um<br />

grupo de estudos, etc.<br />

A próxima questão é <strong>sobre</strong> a aplicação em transplantes; tratamento de<br />

doenças malignas e não malignas; identificação de doadores familiares e não<br />

familiares, que pode ser difícil e demorada para alguns pacientes.<br />

Vocês sabem que, num banco de cordão umbilical, a proporção de se<br />

conseguir identidade para uma pessoa que precisa é de uma em cem mil. O<br />

nosso banco está com 200 mil.<br />

Vocês não imaginam que trabalho foi chegar a 200 mil. Ele foi<br />

constituído pelo Dr. José Roberto Moraes, que faleceu este ano, no Rio de<br />

Janeiro. Foi ele quem batalhou a vida inteira pelo banco, pelo Redome, o<br />

registro de doadores de medula óssea. Nesse caso não é banco, é com<br />

relação à medula óssea.<br />

E de cinco mil, sete mil, oito mil, chegamos hoje a 200 mil, o que é um<br />

orgulho para o Brasil. Mas nós temos que conseguir mais, inclusive de<br />

116


outras origens genéticas, porque esses 200 mil são mais da região sul e<br />

sudeste. Precisamos de genética de populações negras da Bahia, do<br />

Maranhão, etc. Precisamos ter toda essa constelação genética que forma o<br />

povo brasileiro.<br />

Aqui temos o Inca, que, em 2001, inaugurou o banco de sangue de<br />

cordão umbilical, foi o primeiro banco no Brasil. A chance de um brasileiro<br />

localizar um doador em território nacional é trinta vezes maior que a chance<br />

de encontrar o mesmo doador no exterior. Isso ocorrerá, quando tivermos<br />

um bom banco. Por quê? Porque a nossa genética é que está sendo<br />

guardada. O cordão umbilical é <strong>das</strong> nossas pessoas, da nossa origem<br />

genética. Nós não vamos trocar com um escandinavo, que certamente tem<br />

sua genética muito diferente da nossa.<br />

Temos que compatibilizar tanto no Redome, que é o registro de doadores<br />

de medula óssea, como nos bancos de cordão umbilical que serão formados<br />

e, por enquanto, são dois. Temos também que ter uma parcela de cada<br />

genética da população: brancos, pretos, negros, indígenas, etc.<br />

Aqui temos a coleta e armazenamento de cada unidade, que custa em<br />

torno de 3 mil reais. Em cada banco nacional serão congelados 100 cordões<br />

mensais. Isso foi o que se definiu. Se tivermos cinco, vamos ter 500<br />

placentas sendo congela<strong>das</strong> por mês. Esses bancos possuem tanques de<br />

nitrogênio líquido com capacidade de estocar cerca de 3 mil unidades de<br />

cordão.<br />

Estávamos pensando, então, que teríamos 15 mil cordões no Brasil<br />

disponíveis, por primeiro. E aqui está a placenta, que é jogada fora, que está<br />

cheia de células-tronco. A coleta é feita logo após o nascimento, quando<br />

espreme-se o cordão. Aqui temos o volume de sangue, que é um pouco<br />

menor.<br />

117


O transplante acontece após a identificação do cordão umbilical HLA<br />

compatível ou semicompatível. As células são introduzi<strong>das</strong> por via<br />

endovenosa.<br />

Como é que acontece? Nós temos uma pessoa com leucemia que não<br />

tem doador na família. Passamos para o registro de doadores nacional,<br />

Redome, doadores de medula óssea, banco de dados.<br />

Por exemplo, nós estamos agora com quatro doadores que o Redome<br />

quer que estudemos mais profundamente. Não se consegue. Vai-se, então,<br />

para um banco de cordão. No banco de cordão nós não precisamos de tanta<br />

compatibilidade como precisamos com outro.<br />

Neste ano, cuidamos de uma criança que nasceu sem as defesas, um<br />

imunodeficiente primário grave –semelhante àquela criança que ficava na<br />

bolha, nos Estados Unidos. No ano passado, nasceu no Estado do Rio<br />

Grande do Sul e atendemos no Hospital de Clínicas uma criança igual.<br />

Conseguimos um cordão na Alemanha. Esse cordão veio para o Brasil – tem<br />

que pagar esse cordão, não sei quanto custa, em torno de 20 mil dólares,<br />

alguma coisa assim –, a criança foi transplantada e está muito bem.<br />

Nós já tivemos outra dessas crianças da bolha, que nascem sem defesa<br />

nenhuma. Foi o primeiro transplante com cordão, que veio de Nova Iorque. O<br />

transplante foi feito no Hospital de Clínicas. Esse criança evoluiu muito<br />

bem, ela chegou a 20 mil leucócitos e, quando recebeu alta, adquiriu uma<br />

infecção de um primo, que foi fatal. As crianças e os adultos transplantados<br />

têm que ter muito cuidado no pós-transplante.<br />

Existe uma série de doenças, inclusive as imunodeficiências primárias,<br />

que nós trabalhamos no Hospital de Clínicas. Essa é uma questão que até a<br />

Assembléia Legislativa deveria saber. Essas crianças que não têm as defesas<br />

118


não têm os anticorpos, não têm as células T. Elas não têm defesas, têm dez<br />

pneumonias por ano, otites, etc.<br />

Nós temos um ambulatório no Hospital de Clínicas que atende essas<br />

crianças. Eu atendo pessoalmente crianças e adultos com<br />

imunodeficiências, mas o número de crianças e de adultos que foram lá com<br />

imunodeficiências é pequeno. Muita gente está morrendo no interior sem<br />

diagnóstico, porque, nesses pacientes, os médicos não fazem diagnóstico, só<br />

dão antibiótico.<br />

E aí dizem: De novo, a sua filha com infecção. Agora vamos dar<br />

penicilina, vamos dar esse medicamento que vai curá-la, mas eles muitas<br />

vezes não conseguem fazer o diagnóstico porque não têm os meios<br />

laboratoriais que nós temos para chegarmos a definir que situação acontece.<br />

Nós temos uma criança que teve dez meningites meningocócicas. Ela<br />

tem um defeito no sistema do complemento, que é um sistema que ajuda<br />

nas defesas. É raríssimo. O que se faz? Ela toma penicilina para o resto da<br />

vida, é o único jeito. Agora ela está muito bem, mas, se ela não estivesse com<br />

o diagnóstico feito, ela teria morrido de meningococo da outra vez.<br />

Às vezes, nós temos dificuldades num hospital como esse, no sentido de<br />

que a população saiba onde ela pode se socorrer, onde nós temos to<strong>das</strong> as<br />

maneiras, inclusive os transplantes para os pacientes com imunodeficiências<br />

primárias.<br />

Inicialmente, começamos a comparar a nossa população, no início da<br />

década de 1970, as freqüências dos genes HLA com os de outras populações.<br />

Esse indivíduo que aparece nessa transparência parece um irmão meu, mas<br />

sou eu mesmo há déca<strong>das</strong>. Estudamos a genética dos índios tikunas na<br />

fronteira do Brasil com a Colômbia e com o Peru, no Alto Amazonas.<br />

Montamos um laboratório num barco chamado Igara Catuçaua, que quer<br />

119


dizer barco da amizade, na língua. Com um americano da Universidade da<br />

Califórnia, estudamos as características HLA dos índios, o que é muito<br />

interessante. Imaginem uma índia de olhos orientais e cabelos lisos,<br />

parecida com uma japonesa. Eles são orientais, amarelos. Esses índios<br />

afilam os dentes para ficarem com eles iguais aos da piranha. Levamos<br />

dentistas na expedição que chegaram ao recorde de, num dia, fazerem 50<br />

extrações dentárias porque os índios perdem os dentes. Eles não falam<br />

português. Falam somente a língua tikuna. Eles só têm três marcadores do<br />

HLA em cada lócus. Eles não são polimórficos como os brancos e os negros.<br />

Isso demonstra a passagem de poucas populações pelo Estreito de Bering,<br />

no Alasca. Pouca gente fez essa travessia quando o Estreito congelava. Foi o<br />

que veio a fazer com que houvesse essa população indígena na América do<br />

Norte. Se compararmos esses índios com outros índios latino-americanos,<br />

inclusive com os esquimós, eles são praticamente superponíveis.<br />

Sobre herança desse sistema HLA numa família, se temos um pai que<br />

tem esse cromossomo A1B8 em vermelho, na transparência, e 3B7 em azul.<br />

Ele casou com essa senhora que é 2B12 a 9B21. Entre seus filhos, há o de<br />

nº 5 no quadro apresentado, que é igual ao filho nº 1. Um transplante feito<br />

entre esses dois irmãos tem alta chance de sucesso, seja de rim, de medula<br />

óssea, do que for.<br />

Existem vários testes de HLA, os de baixa resolução e os de alta<br />

resolução, que iniciamos desde o ano passado. Os de baixa resolução, ou por<br />

intermédio de anticorpos que adquirimos. Esprememos muitas placentas<br />

para tirar os anticorpos de dentro. É uma coisa complicada. Depois, vieram<br />

testes chamados de PCRSSP. Pioneiramente no País, desenvolvemos um kit<br />

para isso e agora um exame automático chamado luminex.<br />

120


Esses eram os testes que fazíamos com anticorpos. Estudávamos as<br />

células do doador, do receptor, víamos se o sangue do doador podia matar a<br />

célula do receptor. Isso é feito ainda em grande parte do mundo. Depois, veio<br />

a reação em cadeia da polimerase, que é o PCR, que deu um Prêmio Nobel a<br />

quem o identificou, entrou o DNA no meio. Em vez de estudar a superfície<br />

<strong>das</strong> células com anticorpos, estávamos estudando o DNA ou exatamente os<br />

genes que queríamos detectar.<br />

Desenvolvemos um kit HLA para o lócus a, para o lócus b, para o lócus<br />

c, d, r, dq e agora para um genes novos chamado KIF. Todo esse<br />

desenvolvimento foi realizado no Hospital de Clínicas. Enquanto os outros<br />

laboratórios no Brasil compravam, a preço de ouro, os reagentes de<br />

laboratórios industriais e internacionais, nós preparamos as nossas<br />

amostras com um alto controle de qualidade, realizado na Universidade da<br />

Califórnia.<br />

Conseguimos amplificar o DNA e dizer que o indivíduo é A-1, devido a<br />

tal banda, é A-26 devido a três ban<strong>das</strong>. Também é B-62 e apresenta o B-35.<br />

Conseguimos um dinheiro do Ministério da Saúde para<br />

automatizarmos, para fazermos um número de testes maiores, inclusive<br />

poder repassar esses kits para outros laboratórios públicos nacionais.<br />

Realizamos esses testes há dez anos, só que eles são mais lentos, porque são<br />

manuais.<br />

No ano passado, chegou essa nova tecnologia que veio a suplantar a<br />

anterior, ela é automática, com esse aparelho chamado Luminex. Por<br />

intermédio de luzes, de marcadores de DNA, consegue-se fazer um grande<br />

número de amostras a mais do que se fazia anteriormente.<br />

Contamos com duas tecnologias. Uma delas é feita no Hospital de<br />

Clínicas e a outra que é comprada e custa caro.<br />

121


Nessa projeção, vemos um americano que veio nos dar um curso.<br />

Inicialmente, tivemos problemas com os kits e com o ampliador de DNA que<br />

apresentava defeitos. Compramos um novo e estamos realizando os testes<br />

com uma eficiência melhor.<br />

O que significa a alta resolução? Todos esses testes que mencionei até<br />

agora chamam-se de baixa resolução, inclusive esse automático. Exemplo de<br />

alta resolução: uma pessoa poderá ser HLA A-1, mas com a alta resolução<br />

posso saber se ela é A-1-01, A-102, A1-22, A1-27, que são subdivisões do<br />

DNA desse sistema, seqüenciando o HLA.<br />

O seqüenciamento é a leitura <strong>das</strong> bases genéticas de um pedaço do DNA<br />

da pessoa. Fomos o primeiro laboratório do Brasil a fazer o seqüenciamento<br />

automático. Estamos fazendo isso para doadores de Banco. Quando<br />

identificamos do Banco temos de aumentar a sensibilidade e para isso<br />

usamos o seqüenciamento para frente e para trás, conseguindo definir essa<br />

especificidade mais apurada.<br />

Por que fazemos isso? Quando se transplanta a medula óssea, ela entra<br />

no sangue do paciente, pois é uma transfusão, e poderá criar um caso<br />

agudo: ela pode rejeitar o paciente. Vejam bem, a medula óssea rejeita o<br />

paciente! Por quê?<br />

Porque antes de introduzirmos a medula óssea, ou até a célula do<br />

cordão umbilical, matamos toda a medula óssea do paciente por<br />

quimioterapia ou radioterapia. Então, aquela pessoa que tinha uma<br />

leucemia, matamos as células leucêmicas, mas junto matamos to<strong>das</strong> as<br />

células normais imunológicas que defendem o organismo.<br />

A pessoa, com isso, fica à mercê de qualquer vírus. Nesse momento, se<br />

transplanta a medula óssea ou cordão e se reconstitui a pessoa, mas, se<br />

existir um grau de incompatibilidade severo ou maior, podemos ter que a<br />

122


medula transplantada não se identifique e aí rejeita: O que estou fazendo<br />

aqui, sou a medula do João, colocaram-me na Maria, ela é diferente de mim,<br />

vou matar as células dela. E aí infiltra o fígado, a pele, o cérebro e mata o<br />

paciente.<br />

Outro teste que fazemos, que é muito elegante, é o pega. Pegou ou não<br />

pegou o transplante, seja de cordão umbilical, de medula óssea. Isso porque,<br />

durante um tempo, os hematologistas que fizeram o transplante não sabem<br />

se pegou ou não, porque aquele organismo tem poucos leucócitos, poucas<br />

células no sangue, que foi quase todo destruído – só se colocou um pouco do<br />

doador.<br />

Então usamos, do teste do DNA – que não são do HIVA – para analisar o<br />

receptor e o doador. Vejam bem, o par doador-receptor é geneticamente<br />

idêntico no sistema HLA. Como não são gêmeos idênticos, são diferentes em<br />

outros sistemas genéticos. Não é uma obrigação ser igual em tudo.<br />

Se eu contasse isto para meu pai, Homero Jobim, que era médico e que<br />

foi reitor da universidade, ele não iria acreditar. Ele era imunologista.<br />

Existem testes – não os tenho aqui para mostrar aos senhores – em que<br />

um receptor do sexo masculino recebeu a medula de uma doadora. Ele<br />

passa a ter, no sangue, o perfil de mulher, mas continua a ser homem.<br />

Então, altera o sexo só no sangue, porque a medula mudou; o resto, se<br />

analisarmos um fio de cabelo dele, é homem.<br />

Há um caso mais raro – ainda bem – e mais perigoso. Este primeiro<br />

indivíduo recebeu a medula deste outro. Só que, depois de 15 dias, o<br />

paciente ficou com quatro tipos de células, os dois dele e mais os dois do<br />

doador. A esse fenômeno chamamos de quimera. Ficou uma quimera<br />

imunológica, tendo no sangue células dele e do doador. Só que entre as<br />

123


células dele, pode haver algumas leucêmicas e aí é perigoso, porque a<br />

doença pode voltar.<br />

O que fazemos para nos vermos livres dessa quimera? Simplesmente<br />

transfundimos células do doador, que passarão a brigar com as do paciente<br />

até eliminá-las. Por transfusão, corrigimos a quimera. Interessante, não?<br />

Nossa função no Hospital de Clínicas é estudar os doadores e os<br />

receptores para transplantes. Iniciamos estudando a genética da população<br />

brasileira, chegamos a analisar os índios, os negros, os brancos.<br />

Trabalhamos durante muitos anos nisso. Fomos pioneiros nos transplantes<br />

renais. Hoje, existe um segundo laboratório na Santa Casa, mas o Hospital<br />

de Clínicas foi um marco na área de transplantes no Rio Grande do Sul.<br />

Temos uma equipe grande, estamos inaugurando mais um laboratório,<br />

zero quilômetro, recebemos incentivo da administração do hospital para<br />

novas máquinas e estamos fazendo um grande esforço para conseguir tipar o<br />

maior número de doadores e estamos trabalhando 24 horas em plantão. Há<br />

dias em que aparecem 3 doadores cadáveres para transplante de rim. São 6<br />

transplantes de rins, 6 córneas, três corações, assim por diante, é um<br />

laboratório muito ocupado. Modéstia a parte, acho algo muito bem<br />

organizado e que teve todo o suporte da administração do hospital.<br />

Na semana passada fui a Salvador inaugurar o Laboratório de<br />

Imunologia de Transplantes de Salvador, onde todos que lá estão são<br />

gaúchos, então, exportamos um laboratório para Salvador. Foi uma beleza a<br />

inauguração, é numa ONG de crianças com câncer, o Grupo de Apoio à<br />

Criança com Câncer de Salvador. O laboratório de Salvador é um laboratório<br />

público, não fazia plantão, as coisas estavam mal, enquanto temos 200 mil<br />

tipados no Brasil, para o Redome, Salvador entrou com 400 pessoas tipa<strong>das</strong>.<br />

Acho que será uma raiz que saiu do Rio Grande do Sul para ajudar a Bahia.<br />

124


Agradeço a oportunidade.<br />

Dr. Paulo Mayorga<br />

Quero saudar e cumprimentar todos os presentes na pessoa do Sr.<br />

Presidente, também parabenizar o Dr. Jobim pela sua exposição, muito<br />

esclarecedora e bastante interessante. Apenas uma dúvida, Dr. Jobim, o Sr.<br />

afirmou que o protocolo terapêutico, ou a abordagem terapêutica se inicia<br />

pela busca de uma compatibilização de doadores de medula, mas se existe<br />

esta alta rejeição, temos condições, hoje, de pensar em iniciar um protocolo<br />

pela busca de compatibilidade através de células de cordão umbilical, ou<br />

seria uma aplicação distinta?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Talvez eu tenha me expressado mal. A procura é rápida. Hoje temos<br />

uma procura através de um software chamado Rereme, em que os grupos<br />

que fazem o transplante de medula óssea têm acesso ao Redome, por<br />

intermédio do Rereme, então, colocam os dados HLA da pessoa e já faz a<br />

busca e sabem imediatamente se tem ou não tem. Há uns 6 ou 8 meses<br />

atrás isso não existia.<br />

Então, isso agora é uma coisa mais moderna, em pouco tempo, numa<br />

tarde, ficamos sabendo se existe ou não doador no Redome, se não existe,<br />

temos que ir para os bancos.<br />

Os nossos bancos são pequenos, o que vai acontecer? O que o Brasil<br />

quer? Quer que os nossos bancos, tanto o de cordão quanto o Redome,<br />

participem do internacional. Uma pessoa, na Alemanha, pode encontrar um<br />

125


doador no Brasil e o Brasil repassará essa medula óssea para a Alemanha.<br />

Hoje em dia, estamos sempre pedindo, mas chegará um momento em que<br />

estaremos na mesma situação desses outros países.<br />

Dr. Paulo Mayorga<br />

E as pessoas que têm intenção de doar os cordões umbilicais ou sangue<br />

obtido a partir desse material?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

O cordão umbilical ainda não, porque não temos banco.<br />

Dr. Paulo Mayorga<br />

Apenas no Rio?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Sim.<br />

Dr. Paulo Mayorga<br />

E não há interesse ou demanda para isso?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Para cordão, não. Estamos esperando verbas para criar o centro de<br />

cordão umbilical no Hospital de Clínicas, é nisso que vocês, deputados, têm<br />

que nos ajudar, a pressionar Brasília. Afinal e o nosso banco? Ficou na<br />

conversa. Deve haver uma mobilização para que isso aconteça.<br />

126


Dr. Paulo Mayorga<br />

Perfeito, obrigado e parabéns pela explanação.<br />

Deputado Paulo Brum<br />

Na questão da medula óssea, doutor, não existe nenhum processo de<br />

armazenamento do próprio paciente?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Sim, o autotransplante é feito em vários centros, não apenas no<br />

Hospital de Clínicas.<br />

Deputado Paulo Brum<br />

O banco seria de células-tronco só do cordão umbilical?<br />

Dr. Luiz Fernando Jobim<br />

Exato. Quando a pessoa vai doar para ela mesma, ela tira o cordão ou a<br />

medula óssea, que é resfriada ou congelada e o paciente faz a quimioterapia,<br />

aí ele recebe novamente a medula óssea. É a mesma medula dele, pode ter<br />

mais recidiva de doenças anteriores.<br />

Isso é feito no Hospital de Clínicas, na Santa Casa, no Hospital Moinhos<br />

de Vento, talvez em outros, não sei bem, trata-se de algo corriqueiro nos dias<br />

de hoje, porque não há rejeição.<br />

Aqueles que querem doar a medula óssea, tiram um pouco de sangue,<br />

fazemos os testes e os enviamos pela internet para o Instituto Nacional do<br />

Câncer, no Rio de Janeiro, formando o Redome, o registro nacional. Aí não é<br />

congelado nada, só dados.<br />

127


Por exemplo, uma moça que foi estagiária no meu laboratório, doou a<br />

medula, agora ela foi chamada por que existe alguém no Brasil que precisa<br />

da medula dela. Agora estamos fazendo a alta resolução, que é o teste<br />

definitivo, o HIVA DR de alta resolução para ver se, realmente, bate com<br />

aquela pessoa que está precisando, aí o transplante é realizado.<br />

128


25/mai/2006<br />

Banco de sangue de cordão umbilical, a visão do serviço privado<br />

Dra. Karolyn Sassi<br />

Marco Couto/AL<br />

Palestrante: Dra. Karolyn Sassi — diretora-geral do Hemocord,<br />

especialista em reprodução humana e doutoranda em Biologia Molecular<br />

pela Universidade Federal de São Paulo.<br />

129


Dra. Karolyn Sassi<br />

Agradeço o convite, pois esta é uma oportunidade para nós, como<br />

serviço privado, de podermos mostrar a nossa visão, porque hoje em dia<br />

existem evidências de que os serviços público e privado deveriam ser<br />

parceiros nisso e realmente podem ser.<br />

Inicialmente, célula-tronco é uma célula que consegue se multiplicar,<br />

formar células primitivas iguais a ela e também se diferenciar de uma<br />

linhagem determinada de células com uma função específica. O grande<br />

desafio de hoje é como controlar esse processo de diferenciação de ela se<br />

transformar em uma determinada célula ou outra.<br />

Qual é a fórmula mágica de que precisamos, quais os componentes<br />

para fazer com que essa célula se diferencie num tipo de tecido ou num<br />

outro?<br />

Temos basicamente uma divisão: as células adultas, ou somáticas, que<br />

vêm da medula óssea, de tecidos fetais e do sangue do cordão umbilical do<br />

bebê; e as embrionárias, que vêm dos embriões, do blastocisto, na verdade,<br />

que é o embrião de cinco dias.<br />

Em princípio, se diz, na literatura, que as células adultas teriam uma<br />

especialização limitada, conseguem se dividir em vários tecidos, mas em<br />

número limitado e que a célula do embrião conseguiria se transformar em<br />

todos os tecidos do organismo.<br />

Começarei falando pela célula-tronco embrionária, porque é mais a<br />

minha área. A primeira pessoa que conseguiu selecionar e retirar a célulatronco<br />

do embrião foi Dr. James Thomson, da Universidade de Wisconsin em<br />

1998. Ele conseguiu tirar do miolo da parte de cima, tirando a parte que vai<br />

formar o embrião. Essas células seriam retira<strong>das</strong> quando o embrião teria<br />

130


cinco dias de vida e seriam coloca<strong>das</strong> em cultura e, com isso, se destruiria<br />

esse embrião. A partir daí se faz a cultura dessas células com uma mistura<br />

específica de substâncias para tentar fazer com que delas se originem, por<br />

exemplo, só fibras cardíacas, músculo cardíaco ou só neuronais.<br />

Em 1998, foi a primeira vez que se conseguiu isolar essas célulastronco<br />

e mantê-las em cultura. Atualmente, temos mais de 150 linhagens de<br />

células-tronco embrionárias disponíveis no mundo, que já estão<br />

diferencia<strong>das</strong> num tipo de tecido, congela<strong>das</strong> ou em cultura e sendo usa<strong>das</strong><br />

em <strong>pesquisa</strong>s para poder, no futuro, serem utiliza<strong>das</strong>.<br />

Quais os problemas que temos com a célula-tronco embrionária? A<br />

contaminação, pois essas culturas foram feitas com fibroblastos de<br />

camundongos, com algumas células dentro desse líquido que se coloca a<br />

cultura, porque, em princípio, isso era experimental e foi usado soro fetal<br />

bovino, que é também um dos componentes dentro dessa cultura. Muitas<br />

dessas linhagens não poderemos aplicar em seres humanos por causa da<br />

contaminação animal.<br />

A questão dessas células serem totipotentes, ou seja, delas poderem se<br />

transformar em qualquer tecido, é algo que precisamos saber como<br />

controlar, porque pode gerar tumores. Como ela se multiplica<br />

desordenadamente, precisamos saber quais os genes que precisamos<br />

bloquear ou liberar a sua função para que aquelas células se comportem da<br />

mesma maneira que se comportariam se estivessem no organismo humano,<br />

onde recebe sinais.<br />

No organismo, naquele determinado tecido onde ela está, ela recebe<br />

sinais de uma célula ou do meio, que ligam e desligam os genes certos para<br />

que a célula se comporte da forma como deveria. Na verdade, quando ela<br />

131


está em cultura, não temos as mesmas substâncias para conseguir controlála.<br />

Aos poucos, se vem descobrindo quais os genes importantes para fazer<br />

esse controle, e aqui descobriram um gene, que é o OCT-4, que quando a<br />

sua expressão está aumentada, consegue manter as células primitivas<br />

indiferencia<strong>das</strong>. Isso já é um começo se quero multiplicá-las in vitro para<br />

conseguir ter uma quantidade grande antes de diferenciá-la. E uma <strong>das</strong><br />

dificuldades era essa, por exemplo, na célula adulta, a célula somática, a<br />

célula-tronco adulta teria uma capacidade de multiplicação limitada,<br />

morreria dentro de algum tempo, mas se sei dominar isso, posso tentar usar<br />

esse gene, manter a célula adulta indiferenciada sem precisar usar a de<br />

embrião, por exemplo, porque aí há toda a controvérsia quanto ao seu uso.<br />

Em termos de rejeições, se eu criar uma linhagem simplesmente de um<br />

embrião e querer transplantá-la numa terceira pessoa, vai existir a rejeição,<br />

pois, assim como nos transplantes, precisa haver compatibilidade. Esse é<br />

um problema, também, não é simplesmente criar linhagens e a solução está<br />

pronta.<br />

Qual é a solução para essa rejeição? A partir disso é que se começou a<br />

pensar na clonagem terapêutica. Por quê? Porque se pode criar um embrião<br />

da própria pessoa que precisa de determinado tratamento com célula-tronco,<br />

nesse caso não haveria rejeição.<br />

A clonagem terapêutica consiste em pegar uma célula adulta célula da<br />

própria pessoa, retirar esse núcleo, aliás, pegar um óvulo dessa pessoa, tirar<br />

o núcleo e colocar o núcleo de uma célula adulta já como se fosse um<br />

embrião formado. Esse embrião se multiplicaria e se faria em cultura de<br />

uma determinada linhagem específica.<br />

132


Quais são as alternativas apresenta<strong>das</strong> para eliminar o conflito ético em<br />

relação ao uso do embrião? Se se souber como controlar a manipulação<br />

genética da célula adulta, da qual eu tinha falado antes, e fazer com que ela<br />

se comporte da mesma forma e com as vantagens da embrionária, então é<br />

eliminada a necessidade de usar as embrionárias. Um bom começo é este<br />

gene OCT-4, que eles descobriram.<br />

Outra coisa seria a partenogênese, que consiste em pegar um óvulo e<br />

fazer com que ele, com determinado estímulo, se multiplique e se comporte<br />

como um embrião, mas sem que ocorra a fertilização com o espermatozóide.<br />

Alguns animais se reproduzem por partenogênese, esse já é um<br />

processo conhecido. Experimentaram com óvulos de camundongos, de<br />

animais e até no óvulo humano isso funciona, pois, às vezes vemos que,<br />

mesmo sem fertilizar, com um determinado estímulo, ele começa a se<br />

multiplicar e, após alguns dias, parece um embrião.<br />

A outra alternativa seria a clonagem de embriões humanos – e aí entra<br />

todo o medo da clonagem reprodutiva, criação e destruição de embriões para<br />

isso e também teríamos de vencer a reação imunológica.<br />

E de onde se tiraria tantos óvulos, porque para o processo da clonagem,<br />

que os coreanos disseram que tinham iniciado – e na verdade era uma farsa<br />

– mostrou que precisaram de muitos óvulos para conseguir poucas<br />

linhagens.<br />

O primeiro a realizar a clonagem foi o Dr. Ian Wilmut, que criou a Dolly<br />

e foi a partir disso que começou toda a polêmica e a possibilidade de<br />

analisarmos a clonagem terapêutica.<br />

A imagem mostra uma gatinha, que também foi clonada, no Texas, o<br />

nome dela é CC, isso foi em 2001, Copy Cat, foi a primeira gatinha clonada.<br />

133


No caso desta égua, é interessante que ela mesma, a mãe, doou a<br />

célula, o óvulo, de que foi feito o clone do embrião e ela mesma o gerou em<br />

outubro de 2003. O nome da pequeninha é Prometéia e foram usados 841<br />

embriões para apenas uma conseguir nascer.<br />

Já foram feitos experimentos aqui de partenogênese, aquele processo do<br />

óvulo, só ele estimulado, mas fizeram alguma mudança genética nesse óvulo<br />

para fazer ele se comportar de uma maneira como se fosse um embrião. De<br />

460 embriões se conseguiu 10 filhotes e uma foi para a fase adulta, que é<br />

este camundongo fêmea, que, inclusive, até já teve filhotes normais.<br />

É um processo possível que elimina a fertilização do óvulo com o<br />

espermatozóide – e talvez isso diminua um pouco a polêmica, pois não será<br />

usado o embrião verdadeiro. Mas a questão é que aqueles que defendem os<br />

embriões dizem que o processo de clonagem ou partenogênese também gera<br />

seres vivos.<br />

Em princípio, se isso for feito com células humanas, teoricamente se<br />

conseguiria gerar um ser vivo, um ser humano. Então, quem defende mesmo<br />

os embriões, diz que mesmo a clonagem não é uma desculpa, que isso gera<br />

seres vivos. Eles são contra, inclusive, à clonagem de embriões que foram<br />

gerados por clonagem para retirar as células-tronco.<br />

Os coreanos apresentaram um trabalho, em 2004, no qual eles tinham<br />

usado 242 óvulos, geraram 30 embriões e tinham conseguido uma linhagem<br />

de células. Nem isso é verdade. Depois, em 2005 foi publicado que eles já<br />

tinham conseguido 11 linhagens de células tronco. Isso caiu por terra e, na<br />

verdade, foi um balde de água fria nos defensores de células-tronco<br />

embrionárias porque se achou que se havia descoberto a fórmula mágica de<br />

se conseguir essas linhagens. Na verdade, retrocedeu-se um pouco.<br />

134


Entre os obstáculos a serem superados, em termos de células<br />

embrionárias está encontrarmos maneiras mais eficazes de obter células<br />

tronco, porque o processo todo não é eficaz pois perdemos muito,<br />

precisamos de muitas células e de muitos embriões para conseguir<br />

desenvolver muito poucas linhagens. Precisamos de métodos melhores para<br />

identificar as embrionárias e seu potencial de desenvolvimento; formas de<br />

controlar sua diferenciação e crescimento dentro do corpo; saber se o<br />

sistema imunológico ataca células-tronco ou aquelas diferenciada a partir<br />

delas. Esse também é um mistério. Como nunca foi usada em uma célula<br />

tronco embrionária, não se sabe qual será o resultado disso. Só se sabe que<br />

em animais isso gerou tumores em uma grande porcentagem de, em função<br />

do crescimento desordenado dessas células. Também é preciso se<br />

compreender melhor as vantagens comparativas <strong>das</strong> células-tronco<br />

embrionárias em relação às células somáticas em diferentes aplicações,<br />

porque precisamos apostar naquilo que tem dado resultados clínicos e tentar<br />

descobrir como são controla<strong>das</strong> as vantagens <strong>das</strong> embrionárias para ver se<br />

conseguimos reproduzir isso nas adultas, que são as células de medula<br />

óssea ou as de sangue de cordão.<br />

A maioria dos cientistas pensa que pode levar uma ou duas gerações<br />

para se poder aproveitar plenamente os possíveis benefícios <strong>das</strong> células<br />

embrionárias. Essa é a minha opinião.<br />

Com relação às dificuldades associa<strong>das</strong> no Brasil, existe um consenso<br />

da Associação Americana de Medicina Reprodutiva quanto a embriões<br />

congelados no sentido de que, quando usamos e transferimos embriões,<br />

quando fazemos um processo de fertilização in vitro e se coloca os embriões<br />

dentro do útero de uma mulher, temos um resultado no caso dos embriões<br />

que não haviam sido congelados. Quando os colocamos dentro do útero<br />

135


depois de um processo de congelamento e de descongelamento, a taxa de<br />

implantação desses embriões cai em 20%. A qualidade desses embriões é<br />

diferente. Não sabemos se trabalhar com embriões congelados, que é o que<br />

cogita a lei, será o mesmo que trabalhar com embriões a fresco. A lei<br />

também cita o uso de embriões inviáveis. Se esses embriões são enviáveis,<br />

não sabemos se conseguiremos trabalhar com eles. Se eles são enviáveis, em<br />

princípio nem os colocaríamos no útero de uma mulher. Se o consideramos<br />

inviável, ele está morto, em outras palavras. É um embrião inutilizado. Será<br />

que isso vai funcionar em cultura?<br />

A maioria <strong>das</strong> clínicas têm os embriões congelados no terceiro dia. Eles<br />

não viraram blastocistos ainda. Então, quando os descongelarmos,<br />

precisamos deixá-los em cultura para chegar até blastocisto. Muitos<br />

embriões não <strong>sobre</strong>vivem ao processo de descongelamento. Então, muito<br />

poucos embriões conseguiremos levar até o quinto dia em cultura, fazendo<br />

com que ele fique de boa qualidade para conseguirmos tirar a célula-tronco e<br />

fazermos uma cultura da célula-tronco. A proposta da lei é bem difícil, na<br />

prática, de acontecer.<br />

Também precisamos do consentimento dos pais. Os embriões precisam<br />

estar estocados por no mínimo três anos nas clínicas de fertilização. Cada<br />

instituição, mesmo assim, terá sua comissão de ética que aprovará ou não o<br />

uso do embrião, apesar de a lei permitir <strong>pesquisa</strong> com célula-tronco<br />

embrionária. Existe a questão do certo e do errado. Por isso, muitas<br />

instituições não aprovarão isso, principalmente as que envolvem religião,<br />

instituições priva<strong>das</strong> religiosas.<br />

A questão é: será que era hora de aprovar isso, por questões financeiras<br />

e pela evolução <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s na área, principalmente, <strong>das</strong> células-tronco<br />

adultas? Creio que a verba e o empenho deveriam ser muito mais em torno<br />

136


<strong>das</strong> células-tronco somáticas e adultas, porque é o que tem dado resultado.<br />

Além de tudo, tem dado resultado em seres humanos já. Está muito mais<br />

próximo da nossa realidade do que a célula-tronco embrionária, <strong>das</strong> quais<br />

poucos entendem ainda do seu comportamento. Até conseguirmos aplicar<br />

isso em seres humanos serão necessários muitos anos de <strong>pesquisa</strong>.<br />

Na transparência que apresento <strong>sobre</strong> o processo de fertilização in vitro,<br />

essa mostra o embrião do segundo dia. Nós o congelamos nessa fase do<br />

terceiro dia, quando ele tem, no geral, de oito a dez células dentro dele.<br />

Precisamos descongelá-lo e fazer com que ele chegue nessa fase. A massa<br />

interna é o que gerará o embrião todo. Retira-se essa massa e se deixa em<br />

cultura na estufa. O difícil é realmente passar dessa fase.<br />

Os embriões ficam congelados em tanques de nitrogênio líquido nessa<br />

fase de oito a dez células, com a esperança do uso direto <strong>das</strong> células na<br />

terapêutica de doenças. Esperamos um dia conseguir usar essas células<br />

para determina<strong>das</strong> doenças, a criação de modelos de tecidos diferenciados<br />

para estudo da fisiologia <strong>das</strong> doenças, <strong>das</strong> moléculas envolvi<strong>das</strong> e para<br />

testar drogas. Isso sim é uma vantagem, podermos, pelo menos, <strong>pesquisa</strong>r,<br />

mas isso tem que ser divulgado dessa forma. Existe a vantagem de podermos<br />

fazer as <strong>pesquisa</strong>s. Estamos mais na fase de usar isso para tentar descobrir<br />

e responder muitas questões em relação às doenças, para entender melhor<br />

aquela doença do que já usar a célula-tronco como se fosse algo mágico que<br />

já trata diretamente. De muitas doenças não se sabe nem qual é a base, qual<br />

a molécula que causa aquilo. Para isso sim, criar modelos de tecidos com<br />

doenças, estudar como aquilo funciona e por que nos levará à resposta a<br />

respeito do tratamento mais apropriado. Por exemplo, criar células<br />

pulmonares que têm fibrose cística. Esse é um modelo para estudarmos,<br />

entender melhor essa doença e, a partir dali, criarmos opções terapêuticas.<br />

137


Quanto à célula-tronco somática, em 1950, foram feitos os primeiros<br />

experimentos com a célula-tronco hematopoética. Sabia-se, há muito tempo,<br />

que existia uma célula na medula óssea que era a célula-mãe que conseguia<br />

gerar to<strong>das</strong> as outras células do sangue, inclusive as células do aparato da<br />

medula óssea., do tecido ósseo, do tecido subcutâneo, pois há gordura<br />

dentro da medula óssea.<br />

Em 1958, descobriu-se o complexo HLA, que é aquilo que dá<br />

compatibilidade. Descobriu-se que precisava existir uma compatibilidade<br />

entre as células. Em 1973, foi feito o primeiro transplante de medula óssea<br />

com sucesso em seres humanos. Tudo isso baseado no conhecimento de que<br />

existia uma célula que era a que dava origem às outras. Só que a célulatronco<br />

não estava tão em voga. Na verdade, não se sabe ainda qual é a<br />

verdadeira célula-tronco adulta, qual é a primeira, onde ela se origina.<br />

Sabemos que ela existe em todos os tecidos, mas não sabemos se ela começa<br />

em algum lugar, o que ela faz e como faz. Principalmente como ela faz não se<br />

sabe ainda. Os <strong>pesquisa</strong>dores estão correndo atrás para saber como<br />

conseguiram chegar aos resultados que alcançados em seres humanos, na<br />

área cardíaca e tudo o mais, para tratar insuficiência cardíaca, enfarto. Não<br />

se sabe qual a verdadeira célula-tronco, qual seu fenótipo, quais suas<br />

características. Há marcadores na superfície <strong>das</strong> células. Sabemos que a<br />

hematopoética tem essas características. A mesenquimal também está<br />

dentro da medula óssea e que dá origem a outros tecidos, não às células do<br />

sangue, mas sim as do tecido extracelular em volta. Descobriu-se, por meio<br />

dessas publicações, que ela também gera outros tecidos. Então, não há só a<br />

hematopoética adulta, a que origina os glóbulos vermelhos e os brancos,<br />

mas que há outra, a que gera o tecido de sustentação da medula que<br />

também tem a capacidade de se transformar em outros tecidos. Ela tem<br />

138


características diferentes dessa aqui. É uma célula diferente, que tem a<br />

mesma capacidade. Então, quem é a verdadeira célula tronco? Será que há<br />

uma antes dessa, que origina essas duas? Tudo isso está em <strong>pesquisa</strong> ainda.<br />

Não temos muitas respostas. O que sabemos é que mais do que 75% <strong>das</strong><br />

células-tronco hematopoéticas têm essas características. Só que menos de<br />

1% <strong>das</strong> células CD34 positivas, que são as que têm esse marcador, que<br />

armazenamos, que dosamos no sangue do cordão umbilical, têm o resto <strong>das</strong><br />

características. Sabemos que não só a célula-mãe, mas uma ou duas<br />

gerações depois dela também têm a capacidade muito grande de<br />

regeneração.<br />

Existe também o processo de transdiferenciação, que é o interessante<br />

da célula-tronco. Uma cientista, em 2002, descobriu a célula adulta<br />

progenitora multipontente. Foi ela que começou a estudar a<br />

transdiferenciação. Ela sugeriu que existia uma outra célula, que seria a<br />

mezenquimal, que também teria capacidade de gerar outros tecidos. Por<br />

meio da manipulação de genes responsáveis por enviar sinais bloqueadores<br />

à células-tronco, houve o desenvolvimento de nervos ópticos danificados. Os<br />

cientistas viram que, na verdade, o embrião, num determinado momento,<br />

divide-se em três folhetos – o endodermo, o mesodermo e o hectodermo – que<br />

geram, cada um deles, determinados tecidos. Eles pensavam que a célulatronco<br />

hematopoética adulta já estava destinada a se transformar somente<br />

nos tecidos daquele folheto de onde ela havia se originado. Por isso se<br />

acreditava que as células embrionárias tinham muito mais vantagem em<br />

relação à célula adulta, porque a embrionária está antes da divisão desses<br />

folhetos. Então, ela tem como se dividir em todos os tecidos.<br />

Essa cientista viu que, por meio de alguma manipulação de genes,<br />

conseguiu-se fazer com que aquela célula conseguisse se transformar e gerar<br />

139


um tecido que era do outro folheto, que não tinha dado origem a ela. Isso é<br />

chamado de transdiferenciação. É um pouco complicado de explicar. Não sei<br />

se consegui deixar claro.<br />

Outra questão é o envelhecimento <strong>das</strong> células. Pensava-se que a<br />

células-tronco embrionária tinha muita vantagem em relação às adultas,<br />

porque as adultas já haviam sofrido alguns processos de mutações, algumas<br />

lesões de poluição, de fumo, de medicação que a pessoa possa ter tomado<br />

durante a vida. Em relação às de medula óssea, às células do cordão e às do<br />

feto, os <strong>pesquisa</strong>dores pensam que elas, por serem mais jovens,<br />

conseguiriam superar isso.<br />

Descobriu-se a plasticidade <strong>das</strong> células-tronco da medula óssea em<br />

1998. Aí é que se começou a falar muito em células-tronco, de que existia<br />

essa célula que vinha da medula óssea, mas que conseguia gerar tecido<br />

muscular, que foi o que o trabalho publicado nesse ano mostrou. Aí é que<br />

começou toda a divulgação <strong>das</strong> células-tronco, apesar de já se conhecer a<br />

célula- tronco da medula óssea desde a década de 1950.<br />

A partir de então, houve outras publicações, mostrando que a célulatronco<br />

da medula conseguia se desenvolver em tecido hepático, em tecido<br />

neuronal, em outras células de vasos sangüíneos e de cartilagem.<br />

O Brasil tem a liderança, na área cardiológica. Em 2001, um primeiro<br />

paciente recebeu a terapia com células-tronco. Ele está bem hoje. Esse é um<br />

dado importante porque precisamos não só sugerir o tratamento com<br />

células-tronco adultas, mas precisamos fazer esse acompanhamento por um<br />

tempo para constatar se essa lesão não voltará. É importante o segmento.<br />

Desde 2001 esse paciente está bem. Ele está na fila de transplante e<br />

conseguiu sair dessa fila.<br />

140


Trouxe uma matéria que foi publicada na revista IstoÉ. A Dra. Alice<br />

Teixeira é consultora científica do Hemocord e é minha orientadora do<br />

doutorado. Por intermédio do Departamento de Biofísica da Universidade<br />

Federal de São Paulo que começamos a avaliar a possibilidade de abrir o<br />

banco de sangue de cordão umbilical para trabalhar com células-tronco. A<br />

Dra. Alice Teixeira trabalha há mais de 15 anos com a célula de medula<br />

óssea.<br />

Nessa transparência temos to<strong>das</strong> as instituições que trabalham com as<br />

células-tronco. No Incor e no Hospital de Clínicas de São Paulo, estão sendo<br />

feitos trabalhos com cardiopatias. No Hospital Pró-Cardíaco foi feito o<br />

primeiro uso <strong>das</strong> células-tronco em cardiopatias. Agora, os <strong>pesquisa</strong>dores<br />

estão fazendo um estudo com acidente vascular cerebral, que será bem<br />

interessante. A Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalha em conjunto<br />

com o Hospital Pró-Cardíaco na parte de <strong>pesquisa</strong> básica. O Hospital de<br />

Clínicas de Ribeirão Preto trabalha com diabetes juvenil. A Universidade de<br />

São Paulo tem o Projeto Genoma. A Fundação Oswaldo Cruz, em Salvador,<br />

estuda a doença de Chagas. A Unifesp, com a Dra. Alice Teixeira, faz estudos<br />

de <strong>pesquisa</strong> básica de cultura, in vitro, a parte celular mesmo. O INCA e o<br />

Hospital Israelita Albert Eistein também têm um banco público de sangue de<br />

cordão umbilical. Incluí esse dado aqui porque muita gente entra em contato<br />

para saber como doar o sangue do cordão umbilical.<br />

Em 1984, <strong>pesquisa</strong>dores detectaram as células progenitoras no sangue<br />

do cordão umbilical. Eles descobriram que o feto tinha muitas células-tronco<br />

circulantes, que poderiam ser aproveita<strong>das</strong> de alguma forma. O banco de<br />

medula óssea é um banco de registros, de endereços, de nomes. Como é<br />

muito difícil encontrar doadores de medula óssea, vai-se atrás dele para<br />

141


saber se ele mora no mesmo endereço, para ver se ele ainda pode doar ou<br />

não. A sistemática dos bancos de medula óssea é muito difícil.<br />

Descobrir células-tronco no sangue do cordão umbilical foi uma luz.<br />

Depois do nascimento, sai a criança, sai a placenta e essa era desprezada. O<br />

máximo que se fazia com a placenta era pesá-la para ter esse dado e jogá-la<br />

no lixo. Começou-se a cogitar de usar isso como uma alternativa para quem<br />

não encontrava no banco de medula óssea algum doador compatível. Ele era<br />

encontrado num banco de cordão, já que as células eram as mesmas,<br />

inclusive com algumas vantagens.<br />

Depois, houve estudos mais recentes com sangue de cordão umbilical.<br />

São de 2004. Foi quando constataram que as células de cordão têm a<br />

mesma vantagem da de medula óssea, que é sua plasticidade, sua<br />

capacidade de gerar outros tecidos também. Podem se transformar em<br />

músculos esqueléticos, podem regenerar ossos, recuperando a função<br />

cardíaca, atuando em diabetes em paralisia. Os estudos são em animais,<br />

porque muito pouca gente tem o sangue do cordão, porque é uma coisa<br />

recente, e precisou usar sangue do cordão armazenado.<br />

A maioria dos estudos no sangue do cordão é feita em sangue de cordão<br />

de animais ainda, mas tem-se conseguido chegar no mesmo caminho <strong>das</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s de medula óssea. Tem-se descoberto algumas vantagens que<br />

citarei depois.<br />

O primeiro transplante de sangue de cordão umbilical foi feito em 1988,<br />

como uma alternativa. Uma criança tinha anemia de Fanconi. Foi feito na<br />

França por Eliane Gluckmann, que foi quem começou tudo isso. Foi<br />

publicado em 1989. Pablo Rubenstein fez o primeiro banco de sangue de<br />

cordão umbilical em 1993, em Nova Iorque.<br />

142


Em relação aos bancos de sangue de cordão umbilical, deve ser feita<br />

uma opção prévia. É o paciente que tem que decidir antes se quer doar ou se<br />

quer armazenar num banco privado, porque não existe a possibilidade de<br />

doar metade para um e metade para outro. Essa é uma questão bem<br />

freqüente. A diferença é que o banco público é feito para transplante<br />

alogênico. Há uma doação e o sangue é usado em uma terceira pessoa. Ele<br />

visa, principalmente, a aplicação em leucemias ou doenças genéticas para as<br />

quais já existe o tratamento consagrado hoje em dia.<br />

O objetivo dos bancos públicos é o de complementar os bancos de<br />

medula óssea, para conseguir um maior pool de doadores. Se não for<br />

encontrado um doador em medula, talvez se encontre num banco de sangue<br />

de cordão umbilical algum doador para um paciente com leucemia.<br />

No banco privado, o procedimento e a manutenção são pagos. O destino<br />

é o uso pelo próprio doador, um dia, se ele precisar, ou algum familiar. Visa,<br />

principalmente, a doenças hematológicas adquiri<strong>das</strong>, que são diferentes da<br />

leucemia, e alguns tumores sólidos, que são comuns em crianças como<br />

neuroblastoma, retinoblastoma e, no futuro, a medicina regenerativa.<br />

Acredito que as duas coisas são complementares para a sociedade,<br />

porque têm objetivos diferentes. O nosso objetivo é tratar a leucemia um dia,<br />

talvez, de algum familiar, se for compatível; e não o próprio bebê que coletou<br />

o sangue do cordão umbilical. Talvez um dia se possa apostar nessa<br />

medicina regenerativa, que, pelas <strong>pesquisa</strong>s, nos vem mostrando alguns<br />

resultados bem animadores.<br />

Essas são as aplicações atuais do sangue de cordão umbilical no geral,<br />

tanto para transplante para a própria pessoa como para uma terceira pessoa<br />

recebê-lo.<br />

143


Pelo exemplo, podemos ver alguns tipos de câncer – e nem me atreverei<br />

a falar <strong>sobre</strong> cada doença, porque nem são da minha área.<br />

Nesta lista há casos de câncer; de falência de medula óssea; síndromes<br />

de hemoglobinopatia; doenças do sangue também; alguns erros inatos do<br />

metabolismo, que são defeitos genéticos; algumas imunodeficiências e outras<br />

doenças. Há uma lista enorme de casos em cujo tratamento já se usa sangue<br />

de cordão umbilical.<br />

E qual é a lista de doenças em que a pessoa pode receber o seu próprio<br />

sangue? São mais ou menos umas 20 doenças. A maioria são casos de<br />

tumores: linfomas; meloma múltiplo; Sarcoma de Ewing, que é um tumor<br />

ósseo; neuroblastoma; tumor de Wills, que é de rim; tumor neuronal; tumor<br />

de tecido muscular; meduloblastoma; tumores de células germinativas, que<br />

é o câncer de ovário; tumor de retina; etc.<br />

Nos casos em que o paciente precisar realizar quimioterapia, pode-se<br />

usar o sangue do cordão umbilical para regenerar a medula óssea<br />

novamente. E isso já é utilizado.<br />

O banco de cordão umbilical privado é muito criticado, porque dizem<br />

que é muito raro precisar usar. É raro, mas existem as suas indicações<br />

atuais. A maioria <strong>das</strong> pessoas que coletam o sangue de cordão umbilical no<br />

banco privado o faz porque está apostando na medicina regenerativa e não<br />

pela lista de doenças que podem ser trata<strong>das</strong>.<br />

Os senhores podem ver aqui as doenças que estão em <strong>pesquisa</strong>, mas o<br />

detalhe é que as <strong>pesquisa</strong>s são sempre com transplante autólogo.<br />

Se o tratamento para diabetes um dia ficar consagrado e as <strong>pesquisa</strong>s<br />

mostrarem que pode-se usar células-tronco de cordão umbilical para tratar<br />

diabete juvenil e eu recorrer a um banco público, eles irão liberar? É preciso<br />

achar um doador compatível, porque terá de existir a compatibilidade, o<br />

144


anco público vai liberar ou aquilo vai continuar sendo somente para a<br />

leucemia? Não sabemos.<br />

Se um dia esse tratamento ficar consagrado para diabetes e tenho o<br />

meu próprio sangue coletado e armazenado no banco privado, poderei usá-lo<br />

sem ter o problema da rejeição – essa também é uma vantagem. Se eu<br />

recorrer a um terceiro, existe o problema da rejeição.<br />

O avanço maior é nas doenças cardíacas. Se esse tratamento na área<br />

cardiológica também ficar consagrado, e as <strong>pesquisa</strong>s mostrarem que vale a<br />

pena usar isso como uma terapêutica, pois a incidência de cardiopatias é<br />

muito alta.<br />

Hoje em dia, com aquela lista anterior que mostrei, é muito raro<br />

aquelas doenças acontecerem e será muito raro aquela pessoa precisar usar<br />

aquele sangue.<br />

Hoje, vemos que é raro a criança precisar usar o sangue que coletou e<br />

armazenou no banco privado, mas isso pode virar uma alternativa definitiva,<br />

no futuro, pois há uma incidência é muito grande de insuficiência cardíaca,<br />

de hipertensão, de doenças isquêmicas, etc. Isso pode chegar a uma<br />

incidência de um para quatro, um para dois em mulheres após a menopausa<br />

e com mais de 50 anos e em homens é mais freqüente ainda.<br />

Estou apostando nessas <strong>pesquisa</strong>s e acredito que um dia poderemos<br />

usar o sangue do cordão umbilical armazenado e ampliarmos suas<br />

aplicações usando-o para esclerose múltipla; paralisias; enxertos de pele e<br />

de tecido ósseo; lúpus; etc. Na Doença de Parkinson e no Mal de Alzheimer<br />

será mais difícil conseguir usá-lo e precisará de muita <strong>pesquisa</strong>, pois tudo<br />

que envolve o sistema neurológico é mais complicado. É necessário que se<br />

injete as células no local, uma boa quantidade <strong>das</strong> células precisam<br />

145


<strong>sobre</strong>viver depois que as injetamos e elas têm de assumir a função daquelas<br />

que queremos substituir.<br />

Está em estudo e creio que, pelo que tudo indica, alguma coisa irá<br />

avançar nessa área.<br />

Por que coletar, então, o sangue do cordão umbilical? Quais são as<br />

evidências que temos a favor disso? Achava-se que a quantidade de sangue<br />

coletada do cordão umbilical não era suficiente para transplantar um adulto.<br />

Há uma <strong>das</strong> publicações, aqui, uma <strong>das</strong> primeiras que apareceu, que<br />

mostra que é suficiente transplantar um adulto com o sangue do cordão<br />

umbilical. A quantidade varia muito, o ideal é que tenhamos de 70 mililitros<br />

para cima para termos uma boa quantidade de células-tronco nesse sangue.<br />

Às vezes não conseguimos isso, porque a placenta é pequena e não vem todo<br />

o sangue, e muitas vezes vem em torno de 150 mililitros.<br />

Esse foi um estudo interessante que envolveu 682 adultos com<br />

leucemia. Noventa e oito deles forma tratados com sangue de cordão<br />

umbilical, e 584 receberam medula óssea. O estudo foi feito pelo mesmo<br />

grupo que realizou o primeiro transplante de sangue de cordão.<br />

Os que receberam o sangue de cordão eram pacientes um pouco mais<br />

jovens, tinham, em média, 24 anos e meio; e os que receberam medula<br />

óssea, tinham, em média, 32 anos. Mas eram adultos.<br />

O peso era um pouco diferente: a média dos pacientes que receberam<br />

sangue de cordão era de 58 quilos; e os que receberam medula óssea, de 68<br />

quilos.<br />

Dos pacientes que receberam o sangue de cordão, 52% tinham doença<br />

mais avançada, enquanto que o percentual dos que receberam medula era<br />

de 33%.<br />

146


Noventa e quatro por cento dos pacientes que receberam sangue de<br />

cordão não tinham a compatibilidade HLA de 6/6, que é a compatibilidade<br />

completa. Quem recebeu medula óssea precisa de uma compatibilidade de<br />

100%.<br />

Uma <strong>das</strong> vantagens do sangue do cordão é que pode-se procurar um<br />

doador que não seja 100% compatível, tendo uma certa compatibilidade já<br />

funciona.<br />

Outra coisa muito importante é a quantidade de células que os<br />

pacientes receberam por quilo: 0,23x10⁸ células para quem recebeu sangue<br />

de cordão, e quem recebeu medula óssea precisou de 2,9.<br />

Quem recebeu sangue de cordão teve uma menor incidência de doença<br />

enxerto versus hospedeiro, apesar de a maioria, 94%, não ter a<br />

compatibilidade. E quem recebeu sangue de cordão teve uma recuperação<br />

da população de neutrófilos um pouco mais tardia.<br />

A recuperação foi um pouco mais tardia, mas no final de tudo não<br />

houve uma diferença nos dois grupos em relação à incidência de doença<br />

enxerto versus hospedeiro crônica, à mortalidade, ao índice de recidiva da<br />

doença e ao tempo de <strong>sobre</strong>vida livre da doença. Ou seja, o resultado é o<br />

mesmo, no entanto, foi preciso muito menos células de cordão. O sangue do<br />

cordão, mesmo que seja pouco, tem uma quantidade de células suficiente<br />

para transplantar um adulto, porque a capacidade de regeneração da célula<br />

do cordão é maior do que a célula da medula óssea, talvez por ser mais<br />

jovem. Vários estudos têm provado o que estou dizendo.<br />

Esse é um argumento favorável. Algumas pessoas questionavam se o<br />

sangue do cordão seria suficiente para tratar doenças cardíacas, já que elas<br />

ocorrem na fase adulta. Sim, até porque cada doença necessitará de um<br />

número determinado de células. Precisamos de uma quantidade bem grande<br />

147


de células, realmente, depois de uma quimioterapia, pois é necessário<br />

regenerar toda a medula óssea. Para o coração, injeta-se uma quantidade<br />

menor, a concentração é menor.<br />

Temos visto ao longo do tempo que as aplicações do sangue do cordão<br />

estão sendo amplia<strong>das</strong> e são suficientes para transplantar um adulto. Para<br />

algumas doenças degenerativas, como falei anteriormente, o número de<br />

células a serem utiliza<strong>das</strong> é menor, não precisamos, talvez, da mesma<br />

quantidade necessária para regenerar a medula óssea. Se temos coletado<br />

uma quantidade pequena de células, talvez seja suficiente para determinada<br />

doença que vamos querer tratar no futuro.<br />

O tempo de armazenamento é indeterminado. Como fica numa<br />

temperatura de menos 196 graus Celsius, abaixo de menos 130 não existe<br />

metabolismo dentro da célula, não existe um envelhecimento dessa célula.<br />

Não sabemos. Na verdade, é indeterminado. Sabemos que do sangue<br />

armazenado desde 1993, no primeiro banco que apareceu de sangue de<br />

cordão, até hoje as células estão viáveis, estão sendo aplica<strong>das</strong> e têm<br />

funcionado. Então, precisamos de mais tempo, de bancos de cordão para<br />

irmos descongelando e vendo se vai funcionando. Em princípio, 15, 20 anos<br />

já estão garantidos. Sabemos, por embriões ou por sêmen congelados, que<br />

não existe tempo limite, porque realmente em nitrogênio líquido a<br />

temperatura é muito baixa. Então, não temos como determinar.<br />

A célula tronco do cordão dá menos rejeição em relação à de medula<br />

óssea. Não sabemos por quê. Talvez por ser mais imatura tenha uma<br />

capacidade de regeneração maior e provoque menos reação do organismo<br />

onde é transplantada. Isso é uma vantagem em relação à medula óssea.<br />

Permite um menor grau de compatibilidade, o que aumenta a<br />

disponibilidade de potenciais doadores, porque podemos ampliar. Se<br />

148


procuramos um doador num banco público, não precisamos pegar apenas<br />

os que são 100% compatíveis, existe uma maleabilidade maior.<br />

Existe uma maior concentração de células progenitoras mais primitivas<br />

dentro do sangue do cordão, o que é bom. O sangue do cordão está<br />

imediatamente disponível, não precisamos ir atrás do doador. O sangue já<br />

foi coletado e está no nitrogênio, basta testá-lo para compatibilidade,<br />

descongelar e usar. A média para conseguir achar um doador de medula<br />

óssea é em torno de quatro meses, se recorrermos a um banco de medula<br />

óssea, o que pode significar, às vezes, a vida de algum paciente.<br />

Existe uma grande oferta, muito maior. Se formos pensar em quantos<br />

partos acontecem por dia e se coletássemos de todos, para colocar num<br />

banco público, seria ótimo.<br />

A coleta não oferece risco nenhum, nem para mãe, nem para o bebê. A<br />

probabilidade de uso é crescente para tratar doenças degenerativas, por<br />

causas <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s em andamento, então, existe aquela lista de coisas<br />

que se usa hoje, mas acredito que daqui há cinco anos a lista vai estar<br />

maior.<br />

Quem tem história na família de doenças que são tratáveis, deve coletar<br />

porque existe a chance de algum familiar desenvolver.<br />

Quem tem um tipo de HLA raro, também deve coletar o sangue do<br />

cordão, os hematologistas recomendam, porque aí é muito difícil de achar<br />

um doador, então o ideal é que se colete o sangue do cordão para ter na<br />

família.<br />

A <strong>sobre</strong>vida é maior quando o transplante ocorre com sangue de um<br />

doador aparentado, então isso é um grande argumento a favor dos bancos<br />

privados.<br />

149


Se eu preciso de um transplante e eu recorro a um doador, alguém que<br />

não tem parentesco, mas, ao mesmo tempo alguém da família coletou o<br />

sangue do cordão e aquele sangue do cordão é compatível comigo, e o do<br />

banco público também é compatível, se eu receber o do meu parente, o<br />

resultado é melhor. A minha <strong>sobre</strong>vida é maior. Isso, nos trabalhos, não se<br />

sabe porquê ainda, mas o mesmo grupo da Eliane Gluckman provou isso,<br />

que foi quem começou e fez o primeiro transplante do sangue do cordão.<br />

Então, isso é uma vantagem.<br />

Mesmo que aquele bebê que coletou não use o sangue do cordão, se for<br />

compatível com algum familiar, já é uma vantagem para os familiares de<br />

primeiro grau. É uma possibilidade de conseguir, de ter um doador ali.<br />

A probabilidade de eu encontrar um doador compatível num banco<br />

público, de alguém que não tem parentesco é de uma em um milhão. Se eu<br />

tiver entre parentes de primeiro grau, a chance é de um para quatro. Claro<br />

que não é garantido, mas a chance é muito maior.<br />

O Hemocord está muito interessado em fazer <strong>pesquisa</strong> e contribuir.<br />

Temos todo o interesse de ampliar aquela lista de aplicações. Eu acredito<br />

nisso, e foi por isso que o nosso grupo resolveu montar e trabalhar com<br />

células troncos, porque acredita que isso tem futuro, e principalmente as<br />

células de cordão que tem mostrado vantagem <strong>sobre</strong> as de medula.<br />

Estamos envolvidos. O Hemocord vai financiar até a primeira etapa da<br />

coleta do sangue do cordão para fazer essa <strong>pesquisa</strong> em diabetes. Vamos<br />

trabalhar lá Universidade Federal de São Paulo, com os meus professores,<br />

lá, então trabalhar na área de diabetes.<br />

A outra <strong>pesquisa</strong> que nós conseguimos junto, em colaboração com o<br />

CNPq, as duas na área de leucemia linfoblástica aguda, também vai ser feito<br />

lá essa <strong>pesquisa</strong> e o Hemocord vai fazer a coleta. Há pessoas que já<br />

150


coletaram. Veio um baixo volume. Essas pessoas resolveram desistir da<br />

coleta e doaram para a <strong>pesquisa</strong>, e esse sangue vai ser usado na<br />

Universidade Federal de São Paulo para a gente desenvolver isso.<br />

Gostaria de agradecer esta oportunidade. Registro que o serviço privado<br />

não é o bandido, ele também procura contribuir, realizando <strong>pesquisa</strong>s, na<br />

medida do possível, tentando se envolver, porque o nosso interesse maior é<br />

contribuir com esse propósito. Afinal, apostamos na medicina terapêutica,<br />

na medicina regenerativa e tudo o mais. A solução é a união do serviço<br />

privado com o serviço público. Dessa maneira, avançaremos mais<br />

rapidamente. Assim como o Hospital Albert Einstein, que era um banco<br />

privado, agora é um banco público dentro de uma instituição privada. Todos<br />

temos a ganhar. Muito obrigada.<br />

151


01/jun/2006<br />

As células-tronco nas cardiopatias<br />

Dr. Renato Kalil<br />

Luiz Avila/AL<br />

Palestrante: Dr. Renato Kalil — Doutor em medicina pela UFRGS, diretor<br />

científico e cirurgião da equipe de cardiologia do Instituto de Cardiologia da<br />

Fundação Universitária de Cardiologia – IC/FUC.<br />

152


Dr. Renato Kalil<br />

Agradeço o convite para vir aqui palestrar <strong>sobre</strong> esse assunto <strong>das</strong><br />

células-tronco, em meu nome e em nome do Instituto de Cardiologia.<br />

Nas cardiopatias, as células-tronco têm algumas utilidades já<br />

demonstra<strong>das</strong> experimentalmente e ainda em investigação na parte clínica,<br />

em ensaios clínicos.<br />

As células-tronco foram testa<strong>das</strong> em doenças do miocárdio, ou seja, do<br />

músculo do coração, e em doenças <strong>das</strong> coronárias, ou seja, dos vasos do<br />

coração, nas cardiopatias isquêmicas. Em ambas as situações, elas<br />

demonstraram ser úteis em melhorar a função cardiovascular, em promover<br />

a formação de novos vasos no coração e em melhorar a contractilidade do<br />

órgão.<br />

Atualmente, como todos sabem, existem muitos recursos para o<br />

tratamento <strong>das</strong> cardiopatias: a revascularização com pontes de safena ou<br />

com angioplastia por cateter; as válvulas que podem ser implanta<strong>das</strong>,<br />

trocando-se as válvulas do coração; o transplante cardíaco. Existem formas<br />

de fazer o músculo cardíaco melhorar sua contractilidade nas doenças do<br />

miocárdio. Todos esses recursos, no entanto, são limitados.<br />

O recurso final é o transplante cardíaco, quando não há mais nenhuma<br />

possibilidade de tratamento convencional, mas esse recurso também é<br />

bastante limitado. Existem as limitações de doadores e o custo do<br />

transplante, que é muito alto para ser suportado pelo sistema de saúde. As<br />

cardiopatias em fase final também têm tratamentos complexos e de custo<br />

elevado.<br />

153


Como as células-tronco têm demonstrado experimentalmente que<br />

melhoram a função cardíaca em situações terminais, estão sendo testa<strong>das</strong><br />

em humanos nessas situações em que não há mais outros meios de<br />

tratamento.<br />

Há cerca de um ano e meio, o Ministério da Saúde propôs um protocolo<br />

de estudo multicêntrico no Brasil, envolvendo 1.200 pacientes com quatro<br />

doenças principais do coração. São elas: a miocardiopatia dilatada, doença<br />

do músculo do coração que não contrai bem; a doença de chagas, causada<br />

por um parasita que ocasiona a miocardiopatia; a doença isquêmica crônica,<br />

que é originada pela seqüência de múltiplos enfartos, e o próprio enfarto<br />

agudo do miocárdio. Nesses quatro grupos vai ser investigada a utilidade <strong>das</strong><br />

células-tronco.<br />

Esse estudo, que tem como objetivo descobrir um novo método<br />

extremamente barato, de baixo custo, que poderá substituir alguns dos<br />

métodos convencionais com vantagens fisiológicas e de aplicação, está em<br />

andamento no Ministério da Saúde, desde 2004, e deve demorar cerca de<br />

dois anos ainda para ter resultados apresentáveis. Estão sendo estudados<br />

300 casos de cada uma dessas patologias.<br />

Enquanto isso, existem grupos que estão investigando as cardiopatias<br />

em projetos isolados, com cerca de 10, 20 e 30 pacientes, avaliando os<br />

resultados nessas pequenas séries.<br />

Há um trabalho que foi muito divulgado, não só no meio médico mas<br />

também na mídia, realizado no Rio de Janeiro, no Hospital Pró-cardíaco em<br />

colaboração com o Instituto do Coração do Texas. Foram estudados<br />

pacientes com doença isquêmica crônica do coração. Compararam-se 14<br />

pacientes tratados com sete pacientes-controle e foi observada uma melhora<br />

da função cardíaca muito significativa nos 14 pacientes.<br />

154


Outros estudos demonstram que o método é seguro, ou seja, não há<br />

efeitos colaterais, não há dano nenhum nem complicações modera<strong>das</strong> ou<br />

graves do uso. É bastante seguro e de baixo custo, mas se é realmente<br />

efetivo para essas patologias vamos saber mais adiante. Os pequenos grupos<br />

estudados até agora demonstraram vantagens.<br />

A diferença entre os experimentos em animais e em humanos é que<br />

para o paciente queremos um efeito benéfico, efetivo, de longo prazo e que<br />

resolva o problema. Os estudos experimentais são todos de curto prazo. O<br />

experimento é feito, o animal é avaliado e depois sacrificado para que o<br />

coração seja estudado. Todos os estudos em animais deram efeito positivo,<br />

mas não foram feitos a longo prazo.<br />

Os estudos em humanos mostraram efeitos positivos, mas até agora de<br />

forma temporária. Aqueles grupos que acompanhavam os pacientes há mais<br />

tempo, mostram que depois de oito, 10 ou 12 meses o efeito <strong>das</strong> célulastronco<br />

de melhorar a contratividade do coração foi sendo reduzido. Não se<br />

sabe ainda que mecanismo causa essa redução, isso vai ser fruto de novas<br />

<strong>pesquisa</strong>s.<br />

Temos dois protocolos próprios do Instituto de Cardiologia que são<br />

financiados pela FAPERGS e pelo CNPq. Um deles envolve a miocardiopatia<br />

dilatada, ou seja, aquela doença do miocárdio – que não se sabe a causa –,<br />

em que simplesmente o coração não contrai efetivamente. Nessa doença<br />

tivemos uma série inicial de seis pacientes, com financiamento da FAPERGS.<br />

O resultado foi que todos eles melhoraram uniformemente, nos primeiros<br />

dois, quatro, seis meses, ou seja, tiveram melhora funcional importante<br />

nesse período. Todos os pacientes melhoraram dos seus sintomas,<br />

melhoraram na sua qualidade de vida e esses sintomas e a qualidade de vida<br />

melhor persistem até hoje, cerca de um ano após o início do tratamento, mas<br />

155


a função miocárdica avaliada pelo ecocardiograma, pela ressonância<br />

magnética, isto é, por aqueles métodos que vêem a imagem do coração,<br />

mostra que o coração voltou a contrair com deficiência como era no início.<br />

Então, vamos fazer um novo estudo, que já começou, comparando 20<br />

pacientes tratados com 20 pacientes-controle, ou seja, em 20 pacientes<br />

vamos injetar as células-tronco e em outros 20 vamos acompanhar com o<br />

mesmo tratamento, mas sem injeção de células-tronco. Vamos ver se esta<br />

melhora temporária foi por algum efeito placebo, ou se foi porque o paciente<br />

estava sentido-se melhor tratado, ou porque os remédios que ele está<br />

recebendo são melhor controlados, vamos ver se há algum efeito que não<br />

tem a ver com as células-tronco.<br />

O que podemos dizer hoje da miocardioplastia dilatada? Ela tem um<br />

efeito benéfico, e esse efeito benéfico, muito provavelmente, é devido à<br />

injeção <strong>das</strong> células-tronco, e que ele parece que se dissipa com o tempo.<br />

Na doença isquêmica do coração, que pode ser crônica ou aguda, a<br />

aguda é o infarto do miocárdio, temos também alguns estudos. No infarto do<br />

miocárdio está demonstrado que as células-tronco melhoraram a função<br />

cardíaca, se injetada logo no início do infarto.<br />

Na doença isquêmica crônica do coração, este grupo <strong>sobre</strong> o qual me<br />

reportei do Hospital Pró-cardíaco, do Rio de Janeiro, e do Texas Heart<br />

Institute demonstrou melhora, e temos aqui também, no Instituto de<br />

Cardiologia, um grupo tratado com revascularização do miocárdio, isto é,<br />

tratado junto com a cirurgia cardíaca. Na cirurgia cardíaca se faz uma ponte<br />

de safena nas regiões onde podem ser trata<strong>das</strong> com ponte de safena, e se faz<br />

injeções de células- tronco onde existe doença, mas não se pode alcançar a<br />

revascularização com ponte de safena.<br />

156


Nesta situação o que se demonstrou? É que nas zonas de transição<br />

entre a parte doente e a parte sadia ocorreu melhora, mas a melhora não foi<br />

significativa, não se conseguiu demonstrar grandes diferenças entre os<br />

grupos tratados e não-tratados na doença crônica do coração, por meio de<br />

cirurgia cardíaca.<br />

Não temos a terapia cardiovascular mas temos transplantes para tratar<br />

as cardiomiopastias e o coração artificial, temos válvulas para implantar e<br />

para tratar as válvulas cardíacas, temos a revascularização cirúrgica ou<br />

percutânea, ou ainda o transplante cardíaco para tratar doenças<br />

isquêmicas, mas ficamos limitados nos processos ainda hoje disponíveis. A<br />

terapia gênica e a terapia celular podem nos fazer transpor esta fronteira, e<br />

poderemos produzir novo músculo cardíaco, que é a cardiomiogênese, ou<br />

produzir novos vasos no coração, ou fazer novos tecidos por meio de célulastronco<br />

cultiva<strong>das</strong> e, com isso, substituir válvulas cardíacas.<br />

Relativamente ao que mencionei <strong>sobre</strong> o projeto do Ministério da Saúde<br />

– e não sei se alguém já discorreu aqui <strong>sobre</strong> esse assunto da terapia celular<br />

em cardiologia nesse projeto patrocinado pelo Ministério da Saúde –,devo<br />

dizer que é baseado no que comentei <strong>sobre</strong> o custo, hoje, da alta<br />

complexidade em cardiologia, que gasta anualmente, pelo Ministério da<br />

Saúde, cerca de 600 milhões de reais. Poder-se-ia melhor tratar os pacientes<br />

e reduzir bastante esse custo com o emprego de tratamentos mais efetivos e<br />

menos dispendiosos.<br />

Foi realizada uma reunião com o objetivo de discutir esse assunto.<br />

Neste ponto, observamos o valor investido pelo SUS no ano de 2003, que foi<br />

de 774 milhões de reais, gastos com alta complexidade, em pacientes<br />

cardíacos. Foi proposto esse estudo multicêntrico brasileiro, abrangendo<br />

1.200 pacientes, sendo 300 portadores de doença chagásica, ou seja,<br />

157


miocardiopatia chagásica, em que as células serão injeta<strong>das</strong> por via<br />

intracoronariana, ou seja, será colocado um cateter na coronária e ocorrerá<br />

injeção dentro da coronária. Na doença isquêmica crônica do coração,<br />

células serão injeta<strong>das</strong>, via cirúrgica, em 300 pacientes. No infarto agudo do<br />

miocárdio será feita a injeção intracoronária em 300 pacientes e, na<br />

miocardiopatia dilatada também será feita a injeção intracoronariana, que é<br />

o que estamos estudando aqui, em outros 300 pacientes. Resultarão em<br />

respostas daqui a cerca de dois anos.<br />

Quais são os tipos de células que se utilizam em cardiologia? Existem<br />

mioblastos que podem ser empregados. Mioblastos são células retira<strong>das</strong> de<br />

qualquer músculo da perna, ou do braço, cultivados e reinjetados no<br />

coração.<br />

Fibroblastos são células que geram fibras. Foram usa<strong>das</strong><br />

experimentalmente e não são mais emprega<strong>das</strong> na parte clínica.<br />

Podem ser usa<strong>das</strong> células de medula óssea, dessa categoria de<br />

mononucleares, ou também células mesenquimais, que também são obti<strong>das</strong><br />

da medula óssea, e a grande questão é quanto às células-tronco<br />

embrionárias, que podem ser também utiliza<strong>das</strong>, para as quais há to<strong>das</strong> as<br />

restrições éticas que todos conhecemos.<br />

Como se faz isso? As células podem ter origem no sangue, na medula<br />

óssea, no músculo ou no esqueleto. Podem ser retira<strong>das</strong> também de tecido<br />

gorduroso ou adiposo, ou são células embrionárias que poderão ser<br />

injeta<strong>das</strong> no coração. Descobriu-se recentemente que o próprio coração tem<br />

células-tronco que podem ser mobiliza<strong>das</strong>, por meio de substâncias<br />

injeta<strong>das</strong>, as quais podem ajudar no reparo do músculo cardíaco.<br />

As células tipo mioblastos, células que podem ser retira<strong>das</strong> de qualquer<br />

músculo, como por exemplo do da coxa, são cultiva<strong>das</strong> in vitro, em placas no<br />

158


laboratório; depois que há uma quantidade suficiente são injeta<strong>das</strong> no<br />

coração. Com isso se pensa que se pode transformar músculo esquelético em<br />

músculo cardíaco. Isso foi feito durante algum tempo experimentalmente, e<br />

também feito em clínica, na França, assim como em Curitiba pelo grupo da<br />

PUC.<br />

Este é o exemplo de um paciente que faleceu dezessete meses depois. O<br />

coração dele foi examinado e constatou-se que havia músculo originário <strong>das</strong><br />

células do mioblasto que haviam sido injeta<strong>das</strong>. Elas estavam lá vivas e<br />

contraindo ainda.<br />

É uma terapêutica que provê células a longo prazo no coração.<br />

As formas de injeção podem ser intramiocárdica, ou seja, injetando-as<br />

direto no miocárdio; podem ser através da cavidade do coração, por meio de<br />

um cateter colocado dentro da cavidade; podem ser intravenosas, ou seja,<br />

injetando em uma veia e esperar que ela vá se localizar no coração; ou<br />

podem ser por meio de um cateter colocado dentro da coronária.<br />

Não sabemos como age a célula-tronco. Ela pode agir transformando-se<br />

numa célula cardíaca, ou seja, formando a regeneração cardíaca; pode agir<br />

transformando-se em uma célula vascular, ou pode agir através de produção<br />

de fatores paractos, ou seja, produzindo substâncias que melhorarão a<br />

função cardíaca, mas não necessariamente se transformando em outras<br />

células.<br />

Uma propriedade importante – e talvez, a Dra. Nancy tenha falado aqui<br />

– é a mobilização e o homing, ou seja, a forma como essas células são<br />

mobiliza<strong>das</strong> e como irão se localizar na região que desejamos tratar.<br />

As porções onde existem lesão cardíaca tem uma atração pelas células e<br />

elas procuram instalar-se nas zonas da lesão. Podemos mobilizar as células<br />

159


através de substâncias injeta<strong>das</strong> na corrente sangüínea: elas saem da<br />

medula óssea, mobilizam-se e vão-se localizar na região que queremos.<br />

Existem trabalhos na cardiopatia isquêmica e na cardiopatia dilatada.<br />

Qual a vantagem de tratar na cardiopatia isquêmica? É que se trata de uma<br />

doença altamente incidente, prevalente na população em geral. Nenhuma<br />

forma de tratamento, atualmente disponível, é capaz de regenerar os<br />

cardiomiostos, reverter a fibrose. Esse seria o objetivo. O que vimos é que a<br />

reversão da fibrose, hoje em dia, não é demonstrada que pode ser realizada<br />

pelas células-tronco, mas regenerar os cardiomiostos, ou formar novos<br />

cardiomiostos, poderia se fazer.<br />

Esse é um estudo experimental, publicado em 2001, em pacientes com<br />

enfarto do miocárdio, através de injeção direta no miocárdio. Em ratos, ficou<br />

demonstrado que as células injeta<strong>das</strong> se transformavam em miostos, ou<br />

seja, células do músculo cardíaco e estruturas vasculares.<br />

No estudo que foi realizado em colaboração com o Pró-cardíaco, do Rio<br />

de Janeiro e o Texas Heart Institute, que foi publicado em 2003, 14<br />

pacientes foram tratados e sete foram pacientes-controle. Foram utiliza<strong>das</strong><br />

as células da medula óssea, injeta<strong>das</strong> por cateterismo e foram, depois,<br />

avaliados. Não ocorreram efeitos colaterais relacionados. Todos os pacientes<br />

melhoraram assintomaticamente. Ocorreu uma melhora da função<br />

ventricular, ou seja, esse índice de 20% subiu para 29%. E o grupo-controle<br />

teve uma piora. Nesses pacientes o benefício foi mantido após um ano.<br />

Em dez pacientes que não eram passíveis de revascularização completa<br />

com ponte de safena, foi feita, além da revascularização, um implante de<br />

células-tronco, que demonstrou que existe segurança, melhora da função<br />

cardíaca global e melhora da perfusão dos segmentos onde foram tratados.<br />

160


Na nossa experiência no Instituto de Cardiologia – e esse trabalho foi<br />

realizado pelo Dr. Santana – foram injeta<strong>das</strong> células de medula óssea para<br />

tratar áreas de fibrose miocárdica durante a cirurgia cardíaca, a fim de<br />

avaliar a segurança e os efeitos.<br />

Os pacientes foram acompanhados de um a nove meses, um paciente<br />

apresentou um sangramento e foi tratado; um paciente teve pneumonia, com<br />

complicações não-relaciona<strong>das</strong> ao implante, e os demais estão clinicamente<br />

bem e assintomáticos.<br />

Mas o estudo com a cintilografia miocárdica foi negativo, ou seja, não<br />

ocorreu melhora entre o pré-operatório e a extensão do déficit de perfusão,<br />

que era de 30% no pré-operatório e de 29% no pós-operatório.<br />

Não ocorreu melhora significativa, nem nesse índice nem no índice que<br />

chamamos de fração de injeção, que melhorou de 30% para 32%, não sendo<br />

muito significativo. Conclusão, na cardiopatia isquêmica e no uso em<br />

cirurgia cardíaca junto com ponte de safena, concluímos que é factível, não<br />

implicando em risco adicional para o paciente. Os resultados indicam que o<br />

transplante não está associado à regeneração <strong>das</strong> áreas de fibrose, mas que<br />

limita a extensão da fibrose aumentando a área viável, ou seja, não substitui<br />

a fibrose, mas pode limitar a sua extensão.<br />

Um método de implante que nós estamos fazendo, por meio do Dr.<br />

Rogério Sarmento Leite, no Instituto de Cardiologia, é o implante na veia do<br />

coração. Ele entra com um cateter, em vez de injetar na veia coronária, ele<br />

injeta na veia coronária retrogadamente. O Dr. Sarmento Leite demonstrou<br />

que em alguns casos existe uma melhora imediata.<br />

Ainda foi demonstrado que houve uma melhora significativa usando o<br />

método de injeção na veia do coração. Vocês podem observar que a fração de<br />

161


injeção desse paciente aumentou de 45% para 58% , que é uma melhora<br />

significativa.<br />

Por último, falarei no estudo que estamos fazendo em cirurgia numa<br />

situação de cardiomiopatia dilatada e diopática, ou seja, não existe causa<br />

definida e o coração está dilatado e não contrai direito.<br />

Há argumentos contrários para se usar as células-tronco nessa<br />

situação. Isso porque em geral é uma doença genética, ou seja, to<strong>das</strong> as<br />

células do organismo são afeta<strong>das</strong>. Então, se formos transplantar célulastronco<br />

do próprio paciente para o coração, elas também levarão aquele<br />

defeito genético para o coração, e poderá não ter efeito.<br />

Existe um embasamento experimental, que é bastante limitado, mas até<br />

agora não há estudos clínicos com essa patologia. Porém há outros estudos<br />

experimentais bastante significativos, que entusiasmam no sentido de<br />

utilizar nessa situação.<br />

O próximo estudo mostrou que as células mesenquimais de medula<br />

óssea melhoram a função cardíaca com o modelo de rato de miocardiopatia<br />

dilatada. Melhorou a função ventricular, formou novos vasos, formou<br />

músculo, reduziu a fibrose, a cicatrização do coração, produziu fatores que<br />

melhoraram a função cardíaca. Isso se estabelece como uma potencial nova<br />

estratégia terapêutica. Esse trabalho foi publicado numa revista de grande<br />

prestígio no meio médico, em 2005.<br />

Demonstrou que existe a formação de uma grande rede nova de vasos.<br />

Esse é um rato em que não foi feito nada. Aqui, há um rato que foi ao<br />

experimento, mas não foi tratado. Depois, um rato em que foram injeta<strong>das</strong><br />

as células mesenquimais, mostrando todos esses vasos em muito maior<br />

quantidade do que nos outros grupos.<br />

162


A liberação desses fatores que vão melhorar a função cardíaca e<br />

diminuir a perda de células também aumentou bastante nos ratos tratados.<br />

Os índices que medem a contratilidade miocárdica melhoraram nos ratos<br />

tratados.<br />

A histologia de um coração normal, a histologia de um coração com<br />

miocardiopatia – essas partes brancas são fibroses, tecido cicatricial –, e nos<br />

corações que tinham fibrose e foram tratados, aquela fibrose foi bastante<br />

reduzida, quase desapareceu.<br />

Há um fundamento experimental claro e bastante otimista em relação à<br />

miocardiopatia dilatada. Existem poucos estudos clínicos, e na América do<br />

Sul estamos sendo pioneiros nisso. Existem três estudos clínicos em<br />

miocardiopatia dilatada no mundo, e esses três são da América do Sul.<br />

Um deles é de São Paulo, do Dr. Edimar Bocchi, que mostrou que a<br />

mobilização <strong>das</strong> células e a infusão entre a coronária é viável em<br />

insuficiência cardíaca grave, pois ele fez isso em nove pacientes, e ocorreu<br />

melhora. Foi demonstrada melhora com essa mobilização.<br />

Um outro estudo foi apresentado num congresso americano, em 2005.<br />

É um estudo colaborativo entre Pittsburgh, Montevidéu, Rosário – na<br />

Argentina –, e uma universidade em Dallas. Eles trataram 30 pacientes, dos<br />

quais 15 foram para um grupo-controle e 15 foram tratados com injeção de<br />

células-tronco. Todos tinham um déficit de função miocárdica importante.<br />

Não tiveram complicações e foram seguidos por seis meses.<br />

O que se encontrou? Que no grupo tratado com células-tronco, nesses<br />

quinze, houve uma grande melhora funcional, que os pacientes, no teste de<br />

caminhada de seis minutos – é um teste em que se vê por quanto tempo o<br />

paciente, num total de seis minutos, consegue caminhar sem cansar –,<br />

melhoraram bastante, passando de 50 metros para 300 metros.<br />

163


Esse peptídeo natriurético é uma substância que se dosa, para avaliar<br />

insuficiência cardíaca, melhorou bastante. Baixou de 800 para 300, e a<br />

contractilidade miocárdica também aumentou bastante, de 26% para 46%<br />

no grupo tratado, que foi bem diferente do grupo-controle, que não se<br />

constatou melhora.<br />

Conforme vemos aqui na projeção, este é um grupo de Buenos Aires, o<br />

Dr. Trainini e a Dra. Noemi Lago estiveram aqui, em Porto Alegre, na semana<br />

passada, num simpósio que promovemos. Apresentaram no congresso, em<br />

março de 2006 – quando apresentamos os nossos resultados –, a experiência<br />

com oito casos, de diversas etiologias de doença isquêmica dilatada do<br />

coração, verificaram melhora na classe funcional, ou seja, caiu<br />

significativamente o comprometimento funcional do paciente, houve melhora<br />

da fração de injeção e não houve diferença de diâmetro no coração.<br />

Concluiu-se que é uma técnica viável e segura com melhora clínica e<br />

funcional.<br />

Em conclusão, estamos achando, nesse estudo, que os resultados<br />

iniciais são encorajadores, que existe uma melhora objetiva e subjetiva<br />

imediata, que a função ventricular se perde a médio prazo, mas a melhora<br />

clínica subjetiva é mantida – o mecanismo de como isso funciona tem ainda<br />

que ser esclarecido –, e que se precisa mais acompanhamento e mais estudo<br />

para definir melhor as indicações.<br />

No âmbito do que vai ser o estudo e do que se alastrou como futuro,<br />

estamos nesta fase: estamos separando as células, injetando-as diretamente<br />

em algum lugar e vendo como funciona. No futuro, vamos saber ainda qual o<br />

tipo celular melhor, qual o método de liberação, se elas têm reação<br />

imunogênica.<br />

164


Vamos estabelecer as considerações éticas para ver se vamos usar<br />

células embrionárias, que tipo de células embrionárias ou não; qual o<br />

número de células que vamos injetar – por enquanto estamos injetando o<br />

número que obtemos aleatório e não sabemos se isso é muito ou pouco; qual<br />

vai ser a eficácia na realidade na clínica – sabe-se que os efeitos adversos a<br />

curto prazo não existem, mas, a longo prazo, têm de ser ainda avaliados; se<br />

vai haver um efeito positivo <strong>sobre</strong> a mortalidade desses pacientes; qual vai<br />

ser o momento ideal para a aplicação, quando vai ser a indicação da<br />

aplicação; qual vai ser o paciente ideal; em que doenças vai ser mais<br />

benéfico ou em que doenças que vai haver vantagem em relação aos métodos<br />

convencionais. Tudo isso ainda tem que ser esclarecido. Era isso. Muito<br />

obrigado.<br />

165


Conclusão<br />

Encerrar as atividades da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> Pesquisas de<br />

Células-<strong>Tronco</strong> nos traz um misto de satisfação e tristeza. Satisfação por<br />

termos a oportunidade de conhecer os estudos que vêm sendo feitos em<br />

hospitais e universidades do nosso Estado e de possibilitarmos condições de<br />

divulgar esse trabalho. Tristeza por constatarmos que ainda há muito para<br />

ser mostrado, especialmente se considerarmos o que vem sendo feito em<br />

outras regiões do país.<br />

Mas, se alcançamos os objetivos iniciais que nos levaram a defender<br />

que esta Comissão fosse criada, sabemos também que ainda há muito a ser<br />

feito. Nossa proposta visava tomar conhecimento de <strong>pesquisa</strong>s para<br />

podermos informar e divulgar os avanços na área e contribuirmos para o<br />

aperfeiçoamento da legislação. Agora que encerramos a coleta de<br />

informações, podemos trabalhar para aprimorar as leis e reunir esforços na<br />

busca de recursos junto ao Poder Público e à iniciativa privada.<br />

Sabemos que as <strong>pesquisa</strong>s <strong>sobre</strong> células-tronco sustentam a<br />

esperança humana de encontrar tratamento e até mesmo a cura para<br />

doenças que, até pouco tempo, eram considera<strong>das</strong> irremediáveis, como<br />

diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.<br />

Mas, agora, podemos dizer que, embora já haja grandes avanços,<br />

verdadeiros milagres científicos, ainda há muito a ser feito. Um esforço a ser<br />

compartilhado pelos <strong>pesquisa</strong>dores, em seu trabalho incansável, e pela<br />

166


sociedade, através do apoio legislativo e financeiro. É triste vermos<br />

<strong>pesquisa</strong>dores afirmando que governos de outros Estados apóiam <strong>pesquisa</strong>s<br />

feitas aqui, em troca de receberem todo o conhecimento obtido.<br />

167


Sugestões e encaminhamentos<br />

Ao Poder Executivo Estadual:<br />

1. Viabilizar o banco público de sangue de cordão umbilical no Estado. No<br />

final de 2005, a Secretaria Estadual da Saúde lançou uma portaria, criando<br />

o Banco Público de Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em<br />

parceria com algumas entidades do Estado. Sabe-se que é oneroso, é<br />

precisos buscar verbas junto aos empresários.<br />

Temos uma necessidade real, imediata, de pacientes aguardando por<br />

transplante, à espera de um doador de medula. O cordão umbilical vem<br />

substituir o doador de medula, passando a ser um recurso mais fácil,<br />

porque bebês nascem todos os dias e, todos os dias, o sangue daquele<br />

cordão umbilical e a placenta são jogados fora.<br />

2. Abrir um edital específico contemplando a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> células-tronco no<br />

Estado na Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapergs). As verbas poderiam<br />

vir através de uma lei de incentivo fiscal às <strong>pesquisa</strong>s, semelhante à<br />

legislação existente para incentivo à Cultura.<br />

168


Ao Poder Legislativo Estadual<br />

Que nas comissões permanentes que tratem dos assuntos que envolvem as<br />

<strong>pesquisa</strong>s com células-tronco, sejam criados mecanismos que permitam o<br />

acompanhamento <strong>das</strong> ações propostas pela Comissão, bem como se<br />

constitua um canal permanente de comunicação entre as instituições de<br />

<strong>pesquisa</strong>, a Assembléia Legislativa e a população.<br />

Palácio Farroupilha, 1º de junho de 2006.<br />

Deputado Pedro Westphalen,<br />

Relator.<br />

169


Anexos<br />

Agradecimentos<br />

Queremos registrar nossa gratidão a todos os convidados especiais,<br />

pela disponibilidade e qualidade <strong>das</strong> palestras apresenta<strong>das</strong>. Também<br />

agradecemos a todos que participaram <strong>das</strong> audiências, razão do nosso<br />

trabalho, e que contribuíram de maneira efetiva nas discussões e<br />

encaminhamentos.<br />

Agradecemos aos serviços disponibilizados pela Assembléia Legislativa<br />

para realização dos nossos trabalhos, tais como assessoramento, secretaria,<br />

imprensa, informática, editoração eletrônica e reprografia, sonografia, ao<br />

Departamento de Comissões Parlamentares, ao Departamento de Taquigrafia<br />

e ao Gabinete do deputado José Farret, que sempre nos prestigiou.<br />

170


Pronunciamento do deputado Paulo Brum <strong>sobre</strong> a visita ao Instituto de<br />

Ortopedia e Traumatalogia do Hospital de Clínicas de São Paulo<br />

Senhor Presidente, nobres colegas:<br />

Na condição de presidente da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> Células-<br />

<strong>Tronco</strong>, viajei a São Paulo para conhecer o trabalho que vem sendo<br />

realizado no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clínicas<br />

da USP — uma <strong>das</strong> instituições de ponta na <strong>pesquisa</strong> no tratamento de<br />

pessoas com deficiência e de novos equipamentos.<br />

Na visita que fiz, fiquei particularmente impressionado com o trabalho<br />

da Oficina Ortopédica, ligada ao Laboratório de Bioengenharia e Tecnologia<br />

Assistiva. Com o lema “Recuperação, independência, superação,<br />

produtividade e conforto”, a Oficina Ortopédica desenvolve tecnologia em<br />

órteses, próteses, acessórios e cadeiras de ro<strong>das</strong>, para atender aos pacientes<br />

conforme suas necessidades.<br />

Em especial quanto às cadeiras de ro<strong>das</strong>, está sendo montada uma<br />

linha de testes para avaliá-las quanto à sua capacidade de rodagem e<br />

resistência a impacto, semelhante ao que é feito com automóveis. A idéia é<br />

171


definir normas técnicas para a construção desse equipamento, que passará<br />

a ter prazo de validade.<br />

Ao mesmo tempo, está sendo organizada uma parceria com um<br />

fabricante de cadeiras para que elas passem a ser feitas de forma que se<br />

sirvam perfeitamente ao corpo do usuário, com materiais de qualidade, mas<br />

com baixo custo.<br />

Esses materiais também estão sendo <strong>pesquisa</strong>dos pela equipe da<br />

Oficina Ortopédica, que se utiliza de computadores para produzir encostos e<br />

assentos totalmente anatômicos, projetados a partir de moldes feitos com<br />

almofa<strong>das</strong>. Assim, o peso do usuário se distribui uniformemente pela<br />

cadeira, garantindo conforto e saúde.<br />

Dentro de quatro meses, quando as máquinas para fabricação desses<br />

equipamentos estiverem prontas, os pacientes do Instituto de Ortopedia e<br />

Traumatologia sairão de lá com uma cadeira totalmente adequada ao seu<br />

corpo. E paga pelo SUS.<br />

Fiquei muito feliz em tomar conhecimento dessa realidade, pois há<br />

anos eu venho dizendo que a cadeira de ro<strong>das</strong> é uma extensão do corpo <strong>das</strong><br />

pessoas com deficiência e luto para que todos tenham acesso a<br />

equipamentos de qualidade. Com uma cadeirinha feita com latão e lona,<br />

como as que são pagas atualmente pelo SUS, a pessoa fica mal acomodada e<br />

acaba sofrendo com outros problemas provocados pela má postura.<br />

O Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital <strong>das</strong> Clínicas da<br />

Faculdade de Medicina da USP foi inaugurado em 1953, para combater uma<br />

epidemia de Paralisia Infantil que atacava São Paulo.<br />

O Instituto dispunha de toda a tecnologia ortopédica, existente na<br />

época, para o ensino do tratamento da paralisia infantil aguda e suas<br />

seqüelas, bem como de fraturas. Com a erradicação da paralisia infantil, o<br />

172


Instituto pôde ser utilizado para o atendimento, a <strong>pesquisa</strong> e o ensino de<br />

outras importantes patologias ortopédicas.<br />

Pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia passaram alguns dos<br />

maiores professores da ortopedia mundial e quase todos os grandes<br />

ortopedistas brasileiros, além de um número infindável de estudantes e<br />

médicos interessados em conhecer e treinar as técnicas aqui desenvolvi<strong>das</strong><br />

ou aperfeiçoa<strong>das</strong>. É lá que trabalha o Dr. Tarcísio de Barros Filho, pioneiro<br />

em <strong>pesquisa</strong>s para o tratamento de lesões medulares com o uso de célulastronco<br />

medulares.<br />

Atualmente, o Instituto ocupa 25.000 metros quadrados de área<br />

construída com 7 laboratórios de especialidades, e um corpo clínico com<br />

mais de 200 médicos que se dedicam ao tratamento <strong>das</strong> enfermidades do<br />

aparelho locomotor. Por lei, pode admitir pacientes particulares e<br />

conveniados (na proporção máxima de 20%) e para tal, possui um andar<br />

exclusivo com todos os recursos de um hospital privado.<br />

Cientifica e academicamente o Instituto é ligado à Universidade de São<br />

Paulo, através do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade<br />

de Medicina. Dedica-se ao ensino, em nível de graduação, residência e pósgraduação,<br />

formando mestres e doutores, além de oferecer cursos de<br />

especialização aos ortopedistas e profissionais afins.<br />

Hoje, como um dos principais centros de <strong>pesquisa</strong>s do Brasil, está entre<br />

os maiores hospitais de ortopedia e traumatologia da América Latina.<br />

Faço este pronunciamento com grande satisfação, por poder<br />

compartilhar com meus nobres colegas os avanços que vêm sendo<br />

conquistados aqui, com conhecimento e tecnologias desenvolvidos em nosso<br />

país.<br />

173


Debate <strong>sobre</strong> células-tronco deverá mobilizar Parlamento em 2006<br />

Por: Mirella Poyastro / Agência de Notícias<br />

Data: 01/03/2006<br />

A Lei de Biossegurança – aprovada pelo Congresso Nacional e em fase de<br />

regulamentação – representou o primeiro passo de uma longa jornada até as<br />

células-tronco serem utiliza<strong>das</strong> na cura de doenças, como o Mal de<br />

Parkinson e de Alzheimer, do coração, diabetes, tipos de cânceres e<br />

distrofias musculares. O texto autorizou a comunidade científica brasileira a<br />

realizar <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco embrionárias, considera<strong>das</strong> as mais<br />

eficazes para formar qualquer tecido do corpo. No entanto, o embrião deve<br />

ser obtido do processo de fertilização in vitro, congelado há mais de três<br />

anos e ter sua utilização aprovada pelos pais. Já o uso de células-tronco<br />

adultas está fase avançada. No Estado, cirurgias cardíacas, por exemplo,<br />

estão sendo realiza<strong>das</strong> nos hospitais de Clínicas de Porto Alegre, no São<br />

Lucas da PUCRS, no Instituto de Cardiologia e na Santa Casa de<br />

Misericórdia.<br />

Acompanhar a evolução <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s do uso de células-tronco do ponto de<br />

vista científico e bioético. Incentivar a discussão <strong>sobre</strong> o tema ainda<br />

cerceado pela desinformação ou por posições religiosas que vêem nele um<br />

atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá salvar muitas<br />

vi<strong>das</strong>. Unir esforços na busca de recursos nas áreas governamental e<br />

empresarial. Estes são os principais objetivos da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB),<br />

cujas atividades se iniciam a partir do próximo dia 15. Os integrantes do<br />

174


órgão deverão definir o calendário de reuniões e de palestras com<br />

especialistas e profissionais da área.<br />

Paulo Brum é paraplégico e voluntário de um grupo de estudo do Hospital de<br />

Clínicas de São Paulo, composto por 40 pessoas. Eles se preparam para<br />

fazer um transplante de medula com células-tronco adultas. "Sabemos que<br />

essas <strong>pesquisa</strong>s sustentam a esperança humana de encontrar tratamento e,<br />

até mesmo, a cura para doenças que eram considera<strong>das</strong> irremediáveis, como<br />

a diabetes, a esclerose múltipla, o enfarto, a distrofia muscular e as lesões<br />

medulares", declarou Paulo Brum. O parlamentar afirmou que a comissão<br />

pretende ainda contribuir para o aperfeiçoamento da legislação existente.<br />

A vice-presidência da comissão ficou com o deputado Luis Fernando<br />

Schmidt (PT), e a relatoria, com Pedro Westphalen (PP). Também integram o<br />

órgão técnico os parlamentares Marco Lang (PFL); Jussara Cony (PCdoB);<br />

Ciro Simoni e Giovani Cherini, do PDT; Elmar Schneider e Kanan Buz, do<br />

PMDB; José Farret (PP), Edson Portilho (PT) e Abílio dos Santos (PTB).<br />

Células-tronco<br />

Há três tipos de células-tronco: as encontra<strong>das</strong> na medula de pessoas de<br />

qualquer idade – mas com baixo poder de reprodução e especialização; as<br />

existentes no cordão umbilical – mais potentes que as da medula; e o tipo<br />

mais promissor, as dos embriões.<br />

As células-tronco embrionárias têm extraordinário poder de reprodução e<br />

capacidade ilimitada de especialização, podendo se transformar em qualquer<br />

tecido humano. Estas são obti<strong>das</strong> de embriões congelados ou clonados. Os<br />

primeiros são células da mãe que se transformam e se multiplicam para dar<br />

origem a todos os tecidos do organismo, sendo considerado o mais versátil. A<br />

175


idéia é montar bancos como os de sangue, com várias linhagens de células,<br />

para o uso de transplantes. O clonado é igual ao congelado, só que<br />

produzido a partir de uma célula do próprio paciente, eliminando o risco de<br />

rejeição em transplante.<br />

Poderão levar déca<strong>das</strong> ainda para que as células-tronco sejam usa<strong>das</strong> na<br />

cura de doenças. O primeiro passo do processo é a regulamentação da<br />

matéria. Depois vem a fase de <strong>pesquisa</strong> que necessitará de recursos<br />

financeiros para o início dos estudos científicos. Os resultados serão<br />

testados primeiro em animais, para depois começarem experiências com<br />

seres humanos.<br />

<strong>Especial</strong>istas afirmam que é impossível precisar o tempo que levará para<br />

utilização <strong>das</strong> células-tronco se tornarem prática comum na medicina, pois<br />

tudo nesta área é estimado, inclusive, o número de embriões congelados no<br />

País. Os <strong>pesquisa</strong>dores trabalham com a existência de 30 mil embriões<br />

congelados, espalhados nos cerca de 180 centros de reprodução assisti<strong>das</strong><br />

do País.<br />

<strong>Especial</strong>istas em células-tronco serão ouvidos<br />

Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias<br />

Data: 09/03/2006<br />

A Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo<br />

deputado Paulo Brum (PSDB), definiu nesta quinta-feira (9) a metodologia de<br />

trabalho que será adotada nos próximos 120 dias. O parlamentar anunciou<br />

a presença de especialistas e de representantes de laboratórios e institutos<br />

176


de <strong>pesquisa</strong>s nas audiências públicas. Brum comunicou também a<br />

realização de reuniões no interior do Estado e de um seminário <strong>sobre</strong> o tema<br />

no encerramento <strong>das</strong> atividades do órgão técnico. Na próxima quinta-feira<br />

(16), a comissão deverá receber a professora de Hematologia da Faculdade<br />

de Farmácia e de pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de<br />

Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Patrícia Pranke.<br />

Brum afirmou que o principal objetivo da comissão é incentivar a discussão<br />

<strong>sobre</strong> o tema ainda cerceado pela desinformação ou por posições religiosas<br />

que vêem nele um atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá<br />

ajudar na cura de doenças. “Ouviremos especialistas do Rio Grande do Sul e<br />

de outros estados para acompanhar a evolução <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s do uso de<br />

células-tronco e levaremos informações às comunidades”, assegurou.<br />

Segundo o parlamentar, a comissão vai unir esforços na busca de recursos<br />

nas áreas governamental e empresarial e receber sugestões para o<br />

aperfeiçoamento da legislação existente. Brum ressaltou que as <strong>pesquisa</strong>s<br />

representam a esperança de cura para pessoas que sofrem de doenças como<br />

diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.<br />

Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e Luis Fernando<br />

Schmidt (PT) e o diretor-presidente da Fundação de Articulação e<br />

Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de<br />

Deficiência e de Altas Habilidades no RS (Faders), Luiz Augusto Gemelli.<br />

A comissão especial <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, instalada em<br />

dezembro de 2005, tem 120 dias para concluir suas atividades. A entrega do<br />

relatório está prevista para o dia 6 de junho.<br />

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<strong>Especial</strong>ista fala da <strong>pesquisa</strong> e uso de células tronco<br />

Por: Marta Sfreddo / Agência de Notícias<br />

Data: 16/03/2006<br />

A <strong>pesquisa</strong> e o uso de células-tronco no tratamento de várias doenças foi o<br />

tema da palestra da professora doutora Patrícia Pranke, da Faculdade de<br />

Farmácia e do curso de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade<br />

Federal do Rio Grande do Sul. O assunto foi abordado durante reunião da<br />

Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a Pesquisa de Células-tronco, presidida pelo<br />

deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (16). "Nossa expectativa é<br />

de que as terapias com células-tronco sejam uma esperança de vida melhor<br />

para todos nós", assinalou a <strong>pesquisa</strong>dora, que também é presidente do<br />

Instituto de Pesquisa com Células-tronco. Com o lançamento do edital de<br />

<strong>pesquisa</strong>s em 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico (CNPq) aprovou 41 projetos, entre os quais o da Ufrgs. O CNPq<br />

disponibilizou recursos para os <strong>pesquisa</strong>dores brasileiros fazerem estudos<br />

no tratamento de lesão medular em ratos, comparando os resultados entre<br />

os três tipos de células-tronco: medula óssea, sangue de cordão umbilical e<br />

embrionárias humanas.<br />

Hoje, a Lei de Biossegurança (nº 11.105, de 24.03.05) permite, com<br />

restrições, o uso de células-tronco embrionárias humanas. Segundo Patricia,<br />

os <strong>pesquisa</strong>dores estão otimistas diante da possibilidade destas células<br />

serem usa<strong>das</strong> para tratar doenças que até há bem pouco tempo eram<br />

considera<strong>das</strong> incuráveis. No entanto, apesar do otimismo que cerca as<br />

<strong>pesquisa</strong>s, o assunto é tratado com muita cautela pela comunidade<br />

científica. Para a doutora, a população precisa ser esclarecida e deve buscar<br />

informações junto a grandes centros de <strong>pesquisa</strong>, centros universitários e<br />

178


hospitais para evitar situações como as divulga<strong>das</strong> recentemente, quando<br />

médicos estavam comercializando ilegalmente supostas células-tronco em pó<br />

para pacientes portadores de doenças graves, numa exploração anti-ética da<br />

terapia. "Qualquer tratamento com pacientes só pode ser feito se houver a<br />

aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do<br />

Ministério da Saúde", alertou. Ela revelou, porém, que ninguém no mundo<br />

utiliza células-tronco embrionárias em seres humanos. O uso ainda é<br />

limitado ao campo da <strong>pesquisa</strong>.<br />

De acordo com Patricia, são diagnosticados por ano, no Brasil, 7.100 novos<br />

casos de leucemia em adultos, provocando mais de 4.300 mortes. Metade<br />

delas poderia ser evitada por meio do tratamento com células-tronco de<br />

sangue do cordão umbilical. Já entre crianças e adolescentes, surgem 9.200<br />

casos novos de leucemia todo ano no País, enquanto a aplasia de medula<br />

acomete 800 pessoas no mesmo período. Segundo a especilista, o Brasil<br />

necessitaria entre 6.500 e 8.000 transplantes de medula óssea por ano e só<br />

consegue realizar 900, por falta de doadores.<br />

O uso de células-tronco de cordão umbilical mudaria esta realidade. Entre<br />

as vantagens, estão a oferta ilimitada (uma vez que bebês nascem todos os<br />

dias), a disponibilidade imediata e a menor rejeição. Para isso, defendeu a<br />

implantação de bancos públicos de sangue de cordão umbilical. "Estamos<br />

lutando, junto com o Ministério e a Secretaria Estadual da Saúde, para que<br />

em breve possamos abrir este banco no Rio Grande do Sul", afirmou<br />

Patricia. Atualmente, existem apenas dois bancos públicos para<br />

armazenamento deste tipo de material no Brasil: um no Rio de Janeiro e<br />

outro em São Paulo. A <strong>pesquisa</strong>dora estima que outros oito bancos seriam<br />

suficientes para atender à demanda do País, observando que o maior<br />

problema a enfrentar é o custo do investimento.<br />

179


O deputado Paulo Brum ressaltou que o trabalho realizado pela cientista vai<br />

ao encontro dos objetivos da comissão, que pretende ampliar o debate em<br />

torno do tema e desta forma contribuir para trazer avanços à sociedade.<br />

Também participaram da reunião os deputados José Farret (PP), Ciro Simoni<br />

(PDT), Luis Fernando Schmidt (PT) e Reginaldo Pujol (PFL).<br />

Pesquisadora anuncia primeiros transplantes com células-tronco<br />

Por: Rafael Guimaraens / Agência de Notícias<br />

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre vai realizar as primeiras cirurgias do<br />

estado com a utilização de células tronco em seres humanos, para a<br />

recuperação de tendões e estruturas articulares em processos degenerativos.<br />

A informação foi prestada pela coordenadora do Laboratório de Embriologia<br />

e Diferenciação Celular de Centro de Pesquisas da instituição, Elizabeth<br />

Cirne Lima, em palestra nesta quinta-feira (23), na Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong><br />

a Pesquisa <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong> da Assembléia, proposta e presidida pelo<br />

deputado Paulo Brum (PSDB).<br />

A cientista afirmou que a discussão pública em torno da aplicação<br />

terapêutica <strong>das</strong> células-tronco é fundamental para desmitificar conceitos e<br />

preconceitos <strong>sobre</strong> o assunto. "Barrar conhecimento não é possível e proibir<br />

a <strong>pesquisa</strong> é um erro", disse ela. "É preciso estudar, divulgar as informações<br />

corretas, debater e formar uma opinião <strong>sobre</strong> quais as regras que devemos<br />

fixar e quais os caminhos a seguir".<br />

180


Considerada uma <strong>das</strong> maiores especialistas do Estado, Elizabeth Cirne Lima<br />

salientou que é preciso cautela <strong>sobre</strong> a utilização <strong>das</strong> células-tronco na<br />

recuperação de seres humanos, em curto prazo. "Sabemos ainda muito<br />

pouco <strong>sobre</strong> aspectos fundamentais desta matéria", disse ela. Destacou a<br />

diferença entre células-tronco adultas e as embrionárias, alvo <strong>das</strong> polêmicas<br />

éticas que envolvem os cientistas e os religiosos, pois envolvem manipulação<br />

de embriões.<br />

"As células embrionárias, como o nome diz, são obti<strong>das</strong> de embriões<br />

humanos, podem se multiplicar in vitro e têm capacidade de dar origem a<br />

todos os tipos de células, mas nunca a um novo indivíduo completo",<br />

explicou, destacando que os <strong>pesquisa</strong>dores ainda não têm domínio completo<br />

<strong>sobre</strong> cada etapa da diversificação celular. As células-tronco adultas são<br />

obti<strong>das</strong> de diversos tecidos de seres humanos formados, especialmente da<br />

medula óssea, do sangue do cordão umbilical, do sangue periférico e da<br />

placenta.<br />

A curto prazo, a <strong>pesquisa</strong>dora revelou-se mais otimista <strong>sobre</strong> o uso<br />

terapêutico de células adultas. Ainda assim, justificou as <strong>pesquisa</strong>s de<br />

células-tronco embionárias, argumentando que as adultas têm algumas<br />

limitações. "Não conhecemos ainda o sistema de multiplicação <strong>das</strong> células<br />

adultas in vitro, portanto elas têm de ser imediatamente transplanta<strong>das</strong><br />

para o paciente", explicou. "Além disso, elas podem dar origem a um número<br />

ainda bem reduzido de tipos de novas células adultas".<br />

Elizabeth relatou os projetos que sua equipe vem desenvolvendo em animais,<br />

destacando a regeneração do músculo cardíaco após infarto agudo e crônico,<br />

a recuperação do fígado em casos de falência hepática e o desenvolvimento<br />

de células pancreáticas para a produção de insulina. Destacou que to<strong>das</strong><br />

elas são rigorosamente examina<strong>das</strong> pela comissão de ética do Ministério da<br />

181


Saúde. Lembrou que o Hospital de Clínicas realizou a primeira <strong>pesquisa</strong> de<br />

células-tronco financiada pelo governo brasileiro, em convênio com a<br />

Universidade Ludwig Maximillian, de Munique, da Alemanha. Ela tratava do<br />

estabelecimento de rotinas de manutenção de células embrionárias.<br />

Ao final da reunião, o presidente Paulo Brum anunciou para a próxima<br />

quinta-feira a palestra do professor Jefferson Braga da Silva, no Centro de<br />

Biociências da PUC. Revelou ainda que a comissão vai interiorizar suas<br />

atividades com um debate na Faculdade de Medicina da Universidade<br />

Federal de Santa Maria, marcado para o dia 7 de abril. A Comissão <strong>Especial</strong><br />

<strong>sobre</strong> a Pesquisa <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong> foi criada em dezembro do ano passado<br />

e deve encerrar suas atividades em junho, com um grande seminário.<br />

Instituto da PUC pretende iniciar <strong>pesquisa</strong>s com pessoas paraplégicas<br />

Rafael Guimaraens / Agência de Notícias<br />

Data: 30/03/2006<br />

O sucesso <strong>das</strong> experiências de células-tronco na recuperação de ratos<br />

paraplégicos cria uma perspectiva promissora para sua utilização em seres<br />

humanos, afirmou o médico Jefferson Braga da Silva, do Instituto de<br />

Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Ele foi o<br />

palestrante convidado da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a Pesquisa de Células-<br />

<strong>Tronco</strong> da Assembléia Legislativa, presidida pelo deputado Paulo Brum<br />

(PSDB). A <strong>pesquisa</strong> coordenada por ele mostrou que seis meses após a<br />

182


aplicação seqüenciada de células-tronco retira<strong>das</strong> da medula óssea os<br />

animais já conseguiam caminhar.<br />

O médico acredita que este tipo de terapia pode ser eficaz em casos de<br />

pessoas que sofreram trauma agudo, uma semana ou dez dias após o<br />

acidente. "Se conseguirmos bons resultados, poderemos ir paulatinamente<br />

ampliando as experiências para períodos mais longos", afirmou. Jefferson<br />

Silva falou <strong>sobre</strong> a realidade e as perspectivas da terapia com células-tronco.<br />

Inicialmente fez uma diferença entre as células adultas e as embrionárias,<br />

estas últimas alvo de controvérsias éticas por aspectos culturais ou<br />

religiosos, pela ausência de comprovação de sua eficácia e pela falta de<br />

regulamentação na lei.<br />

Ele acredita que os recursos devem ser destinados preferencialmente a<br />

<strong>pesquisa</strong>s que dão resultado, que são as que utilizam células-tronco adultas,<br />

retira<strong>das</strong> principalmente da medula óssea, material que existe no interior<br />

dos ossos. "Desde que foi promulgada a Lei da Biossegurança, no ano<br />

passado, dos 51 projetos aprovados pelo Conselho Nacional de Pesquisa<br />

(CNPq), 49 trabalham com células da medula óssea e do cordão umbilical",<br />

revelou.<br />

Ele relatou os projetos desenvolvidos pelo Instituo de Pesquisas Biomédicas<br />

da PUC. Em seres humanos, a instituição vem obtendo resultados<br />

expressivos na recuperação dos nervos da mão, rompidos em traumatismos,<br />

e nos casos de calvície, nos quais o uso de células-tronco produz resultados<br />

20% mais eficientes que os dos implantes convencionais. Em animais, além<br />

183


da recuperação da medula, em casos de paraplegia, o Instituto consegue<br />

bons resultados na restauração de unhas e do fígado.<br />

Jefferson Silva observou que setores da mídia têm criado ilusões em relação<br />

à utilização terapêutica imediata <strong>das</strong> células-tronco, especialmente em casos<br />

mais graves. "Não podemos tirar a esperança <strong>das</strong> pessoas, mas também não<br />

devemos gerar falsas expectativas", afirmou. "Se tivermos recursos,<br />

poderemos evoluir nos avanços científicos que certamente retornarão à<br />

comunidade na forma de novas terapias", afirmou.<br />

O deputado Paulo Brum destacou a preocupação da comissão que preside,<br />

no sentido de informar a opinião pública e suscitar o debate realista <strong>sobre</strong> o<br />

tema. "Estamos conhecendo experiências importantes no uso <strong>das</strong> célulastronco,<br />

mas temos consciência de que elas devem ser apoia<strong>das</strong> para<br />

conseguirem efetivamente alterar as realidade <strong>das</strong> pessoas que sofrem com<br />

doenças graves", disse ele. No próximo dia 19 de abril, a médica Karolyn<br />

Sassi, diretora do Hemocord, será a palestrante na Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Na semana seguinte, os deputados estarão no<br />

interior, conhecendo o trabalho desenvolvido na Faculdade de Medicina da<br />

Universidade Federal de Santa Maria.<br />

Biólogo relata <strong>pesquisa</strong> com células-tronco adultas<br />

Marta Sfreddo / Agência de Notícias<br />

184


O biólogo Lindolfo da Silva Meirelles, mestre e doutorando em Genética e<br />

Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, palestrou<br />

na reunião da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo<br />

deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (6). O especialista falou <strong>das</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s em torno da distribuição de célula-tronco mesenquimal (MSC) in<br />

vivo. Estas células, que são encontra<strong>das</strong> primariamente na medula óssea,<br />

podem dar origem a ossos, tendão, cartilagem, tecidos adiposo e muscular,<br />

estroma medular e células neurais, o que evidencia a possibilidade de serem<br />

utiliza<strong>das</strong> para procedimentos de terapia celular e gênica. O trabalho de<br />

<strong>pesquisa</strong> de Meirelles é feito a partir de células-tronco mesenquimal de<br />

medula óssea de camundongos.<br />

Bolsista de doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico (CNPq), o <strong>pesquisa</strong>dor explicou que a célula-tronco é uma célula<br />

capaz de auto-renovação e de geração de outros tipos celulares em estágio<br />

mais avançado. Elas podem ser do tipo embrionárias, fetais ou adultas (pósnatais).<br />

Esta última é o foco do trabalho de <strong>pesquisa</strong> de Meirelles.<br />

De acordo com ele, a medula óssea é uma fonte acessível e rica de célulastronco.<br />

A MSC é um dos dois tipos de células-tronco encontra<strong>das</strong> na medula<br />

óssea e passou a ser mais estudada pela comunidade científica. Segundo<br />

Meirelles, depois de isolar e caracterizar as células-tronco mesenquimais<br />

adultas, a <strong>pesquisa</strong> procurou apurar a presença de células similares em<br />

outros órgãos. Hoje, acrescentou, a linha de experiência detectou MSCs em<br />

vários órgãos e tecidos, como timo, baço, rim, fígado, músculos, pulmões,<br />

artéria aorta e veia cava.<br />

Questionado pelo deputado Paulo Brum <strong>sobre</strong> a aplicação clínica <strong>das</strong> MSCs,<br />

Meirelles disse que a utilização destas células de forma purificada ainda não<br />

é corrente, pois os resultados têm sido melhores a partir do uso combinado<br />

185


dos vários tipos celulares. Entretanto, o <strong>pesquisa</strong>dor acredita que o uso de<br />

célula-tronco mesenquimal isolada pode ter, no futuro, um impacto muito<br />

grande nos casos de tratamento de lesão de medula espinhal.<br />

A professora orientadora da <strong>pesquisa</strong> de Meirelles, Nance Beyer Nardi, disse<br />

que apesar do avanço <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s, a aplicação clínica <strong>das</strong> células-tronco<br />

ainda é muito incipiente. Segundo ela, nenhum ensaio clínico no mundo usa<br />

células-tronco embrionárias e alguns poucos experimentos utilizam célulastronco<br />

adultas e fetais em humanos. Nance relatou estudos realizados na<br />

cidade de Laranjeiras (RJ), em que 1.200 pacientes participarão de<br />

protocolos clínicos de terapia celular para cardiopatias.<br />

Antes do início da palestra, o deputado Paulo Brum informou que na<br />

próxima segunda-feira (10) estará com o médico Tarcízio Barros Filho. Ele<br />

ele é coordenador de <strong>pesquisa</strong> <strong>sobre</strong> a utilização de células-tronco adultas<br />

no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, realizada pelo<br />

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital <strong>das</strong> Clínicas da<br />

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O parlamentar é um<br />

dos voluntários da <strong>pesquisa</strong>.<br />

Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e José Farret (PP)<br />

e o pró-reitor de Pesquisa da UFRGS, Cesar Augusto Vasconcellos.<br />

CTMO quer aumentar número de transplantes<br />

Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias<br />

Data: 25/04/2006 Hora: 09:00<br />

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A relação entre células-tronco e transplante de medula óssea foi o tema da<br />

palestra do oncologista do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO)<br />

do Hospital da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM), Luís Carlos<br />

Antunes. O assunto foi abordado nesta segunda-feira (24), durante a<br />

audiência pública no anfiteatro do HUSM, da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a<br />

Pesquisa <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB).<br />

"Em 1990, o HUSM foi o primeiro hospital do Estado a realizar um<br />

transplante de medula óssea. Até o final de 2006, pretendemos realizar em<br />

torno de 40 procedimentos. Queremos ultrapassar os números registrados<br />

nos últimos anos", afirmou o especialista. Antunes ressaltou que o CTMO,<br />

implantado em 1997, atualmente recebe pacientes de to<strong>das</strong> as regiões do<br />

Estado e de Santa Catarina.<br />

O médico explicou que a medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas<br />

de células-tronco usa<strong>das</strong> no tratamento de doenças como leucemia aguda e<br />

crônica, linfoma, mieloma múltiplo e aplasia de medula. "O hospital<br />

universitário já utilizou este recurso para o transplante de medula óssea em<br />

aproximadamente 150 pacientes", estimou o especialista. Segundo ele, o<br />

CTMO realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou<br />

autogênicos. "No primeiro tipo a coleta de células-tronco é feita por meio de<br />

punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,<br />

posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as<br />

células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo<br />

novamente através de um catéter central", esclareceu Antunes.O oncologista<br />

afirmou que a cura de doenças verifica-se em 50% dos pacientes<br />

transplantados.<br />

187


Além do CTMO, o curso de pós-graduação de Medicina Veterinária da UFSM<br />

está desenvolvendo <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco em animais. "Fizemos a<br />

coleta do material, exames microscópicos e observamos as reações.<br />

Futuramente estas <strong>pesquisa</strong>s poderão beneficiar pacientes humanos e<br />

animais", previu o coordenador do grupo de <strong>pesquisa</strong>, professor Nei Peppi.<br />

O deputado Paulo Brum ressaltou a importância destes estudos e dos<br />

transplantes realizados no HUSM desde 1997. O parlamentar garantiu que a<br />

comissão estará levando aos órgãos competentes as reivindicações dos<br />

pacientes e da comunidade científica. A principal solicitação é a destinação<br />

de recursos financeiros para assegurar as <strong>pesquisa</strong>s.<br />

Participaram da audiência pública o coordenador de Pesquisa, Ensino e<br />

Extensão do HUSM, Sérgio Nunes Pereira, a coordenadora do curso de<br />

medicina da UFSM, Leris Haeffner, além de medicos, professores e<br />

estudantes da instituição.<br />

CTMO<br />

Após a palestra, a comissão visitou as instalações do Centro de Transplante<br />

de Médula Óssea. A instituição dispõe de sete quartos com ventilação<br />

especial, uma equipe médica formada por oncologistas, pediatras,<br />

geneticistas e hematologistas, além de enfermeiros, assistentes sociais,<br />

psicólogos, fisioterapêutas e nutricionistas. Há 76 dias, a paciente Cláudia<br />

Silva, que sofre de aplasia medular, foi submetida ao transplante de medula<br />

óssea. Cláudia recebeu a doação de células de sua irmã Fabiana. "Minha<br />

irmã está reagindo muito bem. Estou feliz porque ajudei a salvar sua vida.<br />

Hoje sinto-me um pessoa bem melhor", declarou Fabiana.<br />

188


Células-tronco são debati<strong>das</strong> na Assembléia Legislativa<br />

Daniela Bordinhão / Agência de Notícias<br />

04/05/2006<br />

As evidências clínicas do uso de células-tronco em pacientes vítimas<br />

de acidente vascular cerebral (AVC) foram tema da palestra do neurologista e<br />

chefe do Programa de Doenças Neurovasculares do Hospital São Lucas da<br />

PUCRS, Maurício Friedrich. O assunto foi abordado nesta quinta-feira (4)<br />

durante reunião da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a Pesquisa <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>,<br />

presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB ). O Hospital da PUC já realizou<br />

o tratamento experimental com as células-tronco de medula óssea em 20<br />

pacientes que apresentaram diagnóstico de acidente vascular cerebral<br />

isquêmico.<br />

O especialista explicou que o procedimento utilizado no hospital visa<br />

restabelecer as áreas neuronais que foram comprometi<strong>das</strong> com a doença.<br />

Segundo ele, os estudos mostram que as células-tronco retira<strong>das</strong> da medula<br />

óssea representam o caminho para a cura de problemas neurológicos. "Dos<br />

20 pacientes selecionados para o tratamento, 14 tiveram uma boa<br />

recuperação e, desses, três ficaram sem seqüelas", contabilizou. Friedrich<br />

189


disse que o tratamento experimental nestes pacientes representa a primeira<br />

etapa <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s. "Pretendemos ainda estender os estudos para todos os<br />

casos de isquemia cerebral, incluindo pacientes já seqüelados por AVC<br />

prévio", informou.<br />

O médico ressaltou que o derrame cerebral é a maior causa de morte<br />

no Brasil. No Rio Grande do Sul, cerca de 20 mil casos de AVC são<br />

diagnosticados por ano.<br />

O deputado Paulo Brum elogiou as <strong>pesquisa</strong>s desenvolvi<strong>das</strong> pela<br />

equipe do especialista que trazem esperança de cura às pessoas vítimas da<br />

doença. "Continuaremos ouvindo os estudiosos no assunto para<br />

acompanhar a evolução <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s do uso de células-tronco e levar<br />

informações às comunidades", assegurou o parlamentar.<br />

A doença<br />

O acidente vascular cerebral (AVC) é um distúrbio circulatório agudo<br />

cerebral em que um vaso sangüíneo é obstruído por um coágulo,<br />

ocasionando perda de funções motoras ou de linguagem.<br />

Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e<br />

José Farret (PP).<br />

190


Sugerida criação de fundo para financiar <strong>pesquisa</strong> com células-tronco<br />

Tatiana Fraga / Agência de Notícias<br />

11/05/2006<br />

O diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital da PUC,<br />

neurologista Jaderson da Costa, foi o palestrante da audiência pública<br />

promovida pela Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a Pesquisa <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>,<br />

realizada na manhã desta quinta-feira (11) na Assembléia Legislativa. Após<br />

falar do estudo desenvolvido naquela universidade <strong>sobre</strong> a utilização de<br />

células-tronco adultas no tratamento de doenças neurológicas, o médico fez<br />

um apelo ao poder público gaúcho que, segundo ele, negligencia<br />

financeiramente a <strong>pesquisa</strong> nesta área.<br />

Costa afirmou que foi o governo paranaense o principal patrocinador do<br />

estudo coordenado por ele. "Toda a tecnologia médica que estamos<br />

elaborando será transferida para a universidade federal daquele estado",<br />

lamentou. De acordo com o neurologista, enquanto a Fundação de Amparo à<br />

Pesquisa do Rio Grande do Sul liberou R$ 40 mil, o Executivo do Paraná<br />

disponibilizou R$ 370 mil para a realização da <strong>pesquisa</strong>.<br />

191


O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), defendeu a criação<br />

de um fundo para o financiamento dos estudos <strong>sobre</strong> a utilização <strong>das</strong><br />

células-tronco no tratamento de inúmeras doenças. "Desenvolvemos a<br />

<strong>pesquisa</strong>, ampliamos o conhecimento técnico na área e perdemos para outro<br />

Estado", disse. Brum garantiu que conversará com o governador Germano<br />

Rigotto <strong>sobre</strong> o assunto.<br />

Epilepsia<br />

Considerada uma lesão crônica, a epilepsia é o novo alvo dos <strong>pesquisa</strong>dores.<br />

Costa destacou que estudo realizado em camundongos epilépticos<br />

mostraram uma redução de 100% dos ataques, após aplicação de célulastronco<br />

da medula óssea. "Cerca de 30% <strong>das</strong> pessoas que sofrem da doença<br />

não respondem aos medicamentos e mais da metade não podem fazer<br />

cirurgia. Este é um grande passo para a medicina que pode estar<br />

encontrando um tratamento consistente para a doença", comemorou.<br />

O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.<br />

Audiência<br />

A próxima reunião do órgão técnico será no dia 18 de maio. Na ocasião, o<br />

chefe do serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e<br />

professor de medicina da Ufrgs, Luiz Fernando Jobim, falará <strong>sobre</strong><br />

imunologia dos transplantes e células-tronco.<br />

192


Transplante de medula é tema de audiência<br />

Tatiana Fraga / Agência de Notícias<br />

A Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo<br />

deputado Paulo Brum (PSDB), realizou audiência pública na manhã desta<br />

quinta-feira (18). Palestrante do encontro, o chefe do serviço de Imunologia<br />

do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de medicina da Ufrgs,<br />

Luiz Fernando Jobim, falou <strong>sobre</strong> seu trabalho em tipagem de Antígenos<br />

Leucocitários Humanos (HLA). O exame identifica a compatibilidade tecidual<br />

de doadores e pacientes receptores de medula óssea.<br />

O HLA é uma proteína genética localizada no cromossomo seis <strong>das</strong> células<br />

humanas. Jobim afirmou que o método de identificação deste conjunto de<br />

genes é fundamental para a realização dos transplantes de medula. "É<br />

preciso que haja compatibilidade para que o processo seja efetuado com<br />

sucesso", alertou. Segundo o médico, isso evita ou minimiza a rejeição do<br />

enxerto, que acontece por meio de uma resposta imunológica do receptor<br />

contra o HLA do doador.<br />

O transplante de medula é um procedimento que beneficia pessoas<br />

portadoras de doenças hematológicas, como as leucemias e as aplasias de<br />

medula. Pacientes com patologias imunológicas, em que as defesas do<br />

193


organismo estão comprometi<strong>das</strong>, também podem se curar com o<br />

transplante. Existem três tipos de transplante de medula: o alogênico, em<br />

que as células são transplanta<strong>das</strong> de um indivíduo para outro; o singênico,<br />

em que o processo é realizado entre gêmeos univitelinos; e o autólogo, em<br />

que células transplanta<strong>das</strong> pertencem ao próprio paciente.<br />

Seminário<br />

Elogiando a palestra do médico, o deputado José Farret (PP) sugeriu a<br />

realização de um seminário com a participação de todos os palestrantes que<br />

estiveram no órgão técnico.<br />

Comissão discute <strong>pesquisa</strong> com cordão umbilical<br />

Cibele Carneiro / Agência de Notícias<br />

O uso de células-tronco (CT) do sangue de cordão umbilical no tratamento<br />

de doenças é mais promissor do que as CT embrionárias e de medula óssea.<br />

A afirmação é da diretora-geral do Hemocord, Karolyn Sassi Oligari, que fez<br />

uma análise <strong>sobre</strong> o tema na reunião da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong><br />

<strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB). Segundo<br />

ela, além <strong>das</strong> inúmeras experiências positivas do uso do sangue umbilical<br />

para o tratamento de doenças cardíacas, o avanço nas <strong>pesquisa</strong>s permitirá<br />

que, em uma década, doenças como Alzheimer, Parkinsin, diabetes e<br />

paralisias possam ser reverti<strong>das</strong>. "Aposto nestas <strong>pesquisa</strong>s e acho que<br />

194


vamos poder aplicar as CT deste sangue para além <strong>das</strong> doenças cardíacas",<br />

ressaltou.<br />

Segundo a especialista em reprodução humana, uma <strong>das</strong> vantagens do uso<br />

desta técnica é que, diferentemente <strong>das</strong> CT de medula óssea, a coleta não<br />

oferece riscos para mãe ou para o bebê. "O uso do sangue também permite<br />

menor grau de incompatibilidade (aumentando a disponibilidade de<br />

potenciais doadores) o que não ocorre com a medula de um doador, que deve<br />

ser 100% compatível com a do paciente", explicou.<br />

Karolyn disse ainda que o sangue do cordão umbilical não possui barreiras<br />

éticas, como ocorre com as CT embrionárias, as quais precisaram da criação<br />

de legislação específica para poderem ser estuda<strong>das</strong>. "Não sabemos ainda<br />

quais os benefícios que as embrionárias podem trazer para os seres<br />

humanos. Os cientistas também ainda não sabem como controlar a<br />

multiplicação destas CT dentro do corpo humano, o que aumenta a<br />

probabilidade de desenvolvimento de tumores", avaliou a diretora,<br />

acrescentando que serão necessárias ainda duas gerações para poder aplicar<br />

esta técnica no tratamento de doenças humanas.<br />

Ela explicou ainda que a armazenagem do sangue de cordão umbilical pode<br />

ser feita de maneira pública ou privada. A doação para bancos de sangue<br />

públicos é para utilização de terceiros, geralmente pacientes com leucemia.<br />

"É como um complemento do banco de medula óssea", salientou. Já o<br />

sangue alocado em bancos privados é para uso próprio ou familiar, tem<br />

custos de manutenção, e geralmente é usado para doenças hematológicas<br />

adquiri<strong>das</strong> e no tratamento de tumores. "O serviço privado está avançando<br />

195


nas <strong>pesquisa</strong>s para o tratamento terapêutico e de doenças degenerativas.<br />

Mas entendo que os bancos públicos e privados se complementam e<br />

deveriam se unir para desenvolver o setor", avaliou Karolyn, ao lembrar que<br />

no Brasil existem cerca de oito bancos de sangue privados - sendo o<br />

Hemocord o único da Região Sul -, e quatro públicos.<br />

O deputado Brum lembrou que o relatório da comissão será entregue no dia<br />

6 de junho. "A nossa última reunião ocorre no dia 1º, com a presença do<br />

cardiologista Renato Kalil, que falará <strong>sobre</strong> as células-tronco nas<br />

cardiopatias", enfatizou. A comissão também editará um livro com a<br />

transcrição de to<strong>das</strong> as palestras proferi<strong>das</strong> durante os trabalhos.<br />

O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.<br />

RS avança em <strong>pesquisa</strong> com pacientes cardíacos<br />

Por: Roberta Amaral / Agência de Notícias<br />

O Rio Grande do Sul é pioneiro na América Latina, junto com São<br />

Paulo, em transplante de células-tronco no coração. O anúncio foi feito nesta<br />

quinta-feira (1º) pelo diretor científico do Instituto de Cardiologia, Renato<br />

Kalil, na última reunião da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<br />

<strong>Tronco</strong> da Assembléia Legislativa.<br />

Com o suporte financeiro de R$ 58 mil da Fundação de Amparo à<br />

Pesquisa do Estado (Fapergs), durante um ano, seis pacientes portadores de<br />

infarto agudo do miocárdio - doença isquêmica crônica do coração -<br />

196


cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica se submeteram ao<br />

transplante e responderam satisfatoriamente ao tratamento.<br />

O procedimento consiste na coleta do líquido da medula óssea, e as<br />

células são separa<strong>das</strong> para serem injeta<strong>das</strong> no coração do paciente.<br />

Conforme Kalil, apesar dos resultados positivos, ainda é preciso avançar na<br />

<strong>pesquisa</strong> <strong>sobre</strong> os tipos e o número de células, os efeitos e as causas de<br />

mortalidade após o tratamento, além de conhecer as doenças, os pacientes e<br />

o momento ideal para o tratamento.<br />

A equipe de cirurgia cardíaca agora se prepara para uma nova<br />

<strong>pesquisa</strong> com 40 pacientes. Financiado pelo Conselho Nacional de<br />

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a contrapartida do<br />

Instituto de Cardiologia do RS, serão investidos cerca de R$ 240 mil na<br />

análise do tratamento com células-tronco em 20 pacientes e somente com<br />

medicação em outros 20. O objetivo é comprovar os resultados já obtidos em<br />

<strong>pesquisa</strong>s isola<strong>das</strong> e verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos<br />

cardíacos tradicionais (inclusive o transplante de coração) pela terapia com<br />

células-tronco.<br />

No Brasil, 4 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca grave.<br />

Se ficar comprovado que as células-tronco podem melhorar as condições<br />

desses pacientes na mesma proporção que os estudos preliminares têm<br />

indicado, estima-se que 200 mil vi<strong>das</strong> poderão ser salvas em três anos e<br />

reduzido o custo do tratamento em aproximadamente R$ 37 milhões por<br />

mês.<br />

O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), adiantou<br />

que entre as sugestões que serão apresenta<strong>das</strong> no relatório final está a<br />

criação de um fundo para que o RS avance nos estudos <strong>sobre</strong> esta nova<br />

alternativa da medicina. "Sem sombra de dúvi<strong>das</strong>, é fundamental que o<br />

197


poder público incentive as <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco, para evitar que<br />

cientistas gaúchos busquem melhores condições de trabalho em outros<br />

estados, a exemplo do que vem acontecendo no Paraná", destacou o<br />

presidente.<br />

Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e<br />

José Farret (PP).<br />

Atas<br />

ATA DE INSTALAÇÃO<br />

Aos sete dias do mês de dezembro do ano dois mil e cinco, às dezoito horas e<br />

trinta minutos, no Salão Nobre do Gabinete da Presidência, localizado no 1 o<br />

andar do Palácio Farroupilha, o Digníssimo Presidente deste Poder<br />

Legislativo, Excelentíssimo Senhor Deputado Iradir Pietroski, reuniu-se com<br />

os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo Brum, Marquinho Lang e<br />

Adilson Troca com o objetivo de instalar a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong> que tem por finalidade estudar os avanços <strong>das</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s da utilização <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong> em seres humanos, com o<br />

propósito de contribuir na discussão <strong>sobre</strong> o tema e congregar esforços na<br />

busca de recursos e informações nas áreas governamental, empresarial e<br />

comunidade, a fim de que to<strong>das</strong> as metas sejam alcança<strong>das</strong>, requerida<br />

consoante o Processo nº 20039-0100 – RCE 7/2005. O Excelentíssimo<br />

Senhor Presidente desta Assembléia Legislativa saudou os Deputados<br />

presentes e declarou instalada a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong><br />

198


Células-<strong>Tronco</strong> , dando posse aos Deputados indicados pelas respectivas<br />

Banca<strong>das</strong> para comporem, como membros titulares e suplentes, a Comissão<br />

<strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>, sendo titulares os Senhores<br />

Deputados Edson Portilho - PT, Luis Fernando Schmidt- PT, José Farret- PP,<br />

Pedro Westphalen- PP, Elmar Schneider- PMDB, Kanan Buz- PMDB, Ciro<br />

Simoni- PDT, Giovani Cherini- PDT, Abílio dos Santos- PTB, Marquinho<br />

Lang- PFL, Paulo Brum- PSDB e Jussara Cony- PCdoB . Suplentes os<br />

Senhores Deputados Adão Villaverde - PT, Adilson troca-PSDB, Edson Brum<br />

- PMDB, Flavio Koutzii- PT, Floriza dos Santos- PDT, Jair Soares- PP, João<br />

Fischer- PP, José Sperotto- PFL, Márcio Biolchi- PMDB, Osmar Severo- PDT<br />

e Sérgio Peres- PTB. O Senhor Presidente, Deputado Iradir Pietroski declarou<br />

instalada a Comissão e empossados seus membros titulares e suplentes.<br />

Saudou os membros da Comissão destacando a relevância dos estudos<br />

acerca do assunto e a necessidade de aperfeiçoar a legislação existente. Logo<br />

após, desejou a todos um trabalho exitoso na busca de políticas públicas<br />

que viabilizem a terapia com Células-<strong>Tronco</strong>. O Senhor Deputado Paulo<br />

Brum afirmou que a instalação deste órgão técnico visa conhecer <strong>pesquisa</strong>s<br />

desenvolvi<strong>das</strong> na área para informar e divulgar os avanços que, muitas<br />

vezes, sustentam a esperança humana de encontrar tratamento ou até<br />

mesmo a cura para certas doenças.<br />

Conforme entendimento político entre as Banca<strong>das</strong>, foram eleitos por<br />

aclamação e empossados os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo<br />

Brum, como Presidente e Luis Fernando Schmidt como Vice-Presidente e,<br />

ainda, o Excelentíssimo Deputado Pedro Westphalen, como Relator.. E, nada<br />

mais havendo para registrar, lavrei a presente ata que, após lida e aprovada,<br />

será assinada pelo Digníssimo Presidente da Assembléia Legislativa do<br />

Estado do Rio Grande do Sul, Deputado Iradir Pietroski, pelo Senhor Paulo<br />

199


Brum, Presidente da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<br />

<strong>Tronco</strong>, e por mim, Secretária ad hoc desta Comissão. Palácio Farroupilha,<br />

sete de dezembro do ano de dois mil e cinco.<br />

Dep. Iradir Pietroski,<br />

Presidente da Assembléia Legislativa.<br />

Dep. Paulo Brum,<br />

Presidente da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>.<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária ad hoc da Comissão <strong>Especial</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>pesquisa</strong> <strong>das</strong> Células-<br />

<strong>Tronco</strong>.<br />

ATA nº 01/2005<br />

Aos nove dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas, na<br />

Sala Doutor Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum, e os Senhores Deputados Luis<br />

200


Fernando Schmidt e José Sperotto. Justificou ausência o Deputado José<br />

Farret. Abertos os trabalhos, o Senhor Presidente saudou os presentes e<br />

noticiou a presença do Senhor Luis Augusto Gemelli, Presidente da<br />

FADERS. O Senhor Presidente apresentou aos Senhores Deputados a<br />

Secretária da Comissão, Simone da Rosa Zuliani, e o Assessor Superior da<br />

Comissão, Antônio Cândido. Salientou que o objetivo desta primeira Reunião<br />

da Comissão é ouvir os Senhores Deputados, para que seja traçado o plano<br />

de ação da Comissão. Explanou <strong>sobre</strong> a relevância dos trabalhos da<br />

Comissão e <strong>sobre</strong> a importância de serem difundi<strong>das</strong> entre a população as<br />

inovadoras <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco. Afirmou que já manteve contato<br />

com diversos especialistas da área. Logo após, passou a palavra ao<br />

Deputado Luis Fernando Schmidt, que, após saudar os presentes,<br />

parabenizou a instalação da Comissão, ressaltando que o objetivo da mesma<br />

é de extrema importância para a vida humana, que a ciência está<br />

possibilitando verdadeiros milagres, e que muitas pessoas poderão passar a<br />

ter uma vida melhor com as descobertas feitas pelos estudos com célulastronco.<br />

Citou que há várias passagens bíblicas que impulsionam as pessoas<br />

a reagirem diante de situações difíceis e que um dos objetivos da ciência, na<br />

atualidade, é ajudar as pessoas a procurarem sua cura. Disse que considera<br />

importante que os trabalhos da Comissão se revelem democráticos, de<br />

maneira que não sejam debati<strong>das</strong> questões ideológicas ou religiosas.<br />

Acrescentou que nem sempre poderá estar presente nos trabalhos da<br />

Comissão que aconteçam nas quintas-feiras, vez que preside a Comissão de<br />

Serviços Públicos, a qual tem reuniões quintas-feiras às nove horas, muitas<br />

vezes estendendo-se até o meio-dia. o Senhor Presidente agradeceu a<br />

contribuição do Senhor Deputado Luis Fernando Schmidt e passou a<br />

palavra ao Deputado José Sperotto, que cumprimentou os presentes e<br />

201


parabenizou o Senhor Presidente pela iniciativa de criação da Comissão.<br />

Disse que, com a evolução da raça humana, vivenciamos, atualmente, a<br />

importância da informação e que, com esta, a Comissão deve utilizar-se de<br />

sua estrutura e da estrutura da Assembléia Legislativa, citando os exemplos<br />

da Rádio e TV Assembléia, para buscar o conhecimento e difundi-lo em<br />

nível municipal, estadual e federal. O Senhor Presidente, concordando com<br />

as afirmações do Deputado José Sperotto citou a passagem bíblica “Levantate<br />

e anda”, demonstrando a importância de difundir todo o conhecimento,<br />

salientando que a Comissão já fez contato com o Instituto de Pesquisas<br />

Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que<br />

desenvolve <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco do nervo periférico, acidente<br />

cardio-vascular e epilepsia. O Laboratório de Imunologia e o Departamento<br />

de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolvem<br />

<strong>pesquisa</strong> com células-tronco mesenquimais(adultas). O Hemocord, banco de<br />

cordão umbilical que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s <strong>sobre</strong> a plasticidade <strong>das</strong> célulastronco,<br />

o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s com<br />

cardiomiopatia dilatada, O ICFUC, Instituto Fundação Universitária de<br />

Cardiologia, que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s em cardiopatias, o Hospital de<br />

Clínicas de São Paulo que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s em lesado-medular,<br />

salientando que é voluntário deste Hopital nas <strong>pesquisa</strong>s com implante de<br />

células-tronco adultas . O Hospital de Clínicas do Rio de Janeiro, que<br />

desenvolve <strong>pesquisa</strong>s em cérebro, o Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto,<br />

que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s em sistema imunológico. Disse que é importante,<br />

além de ouvir os especialistas do Rio Grande do Sul, trazer também<br />

especialistas de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Sugeriu<br />

que os trabalhos da Comissão iniciem convidando a especialista Patrícia<br />

Pranke, <strong>pesquisa</strong>dora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

202


Também considera importante ouvir os especialistas: Jaderson Costa<br />

Dacosta, Doutor da Pontifícia Universidade Católica com <strong>pesquisa</strong> aprovada<br />

pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológicoem<br />

epilepsia; Dr. Maurício, que desenvolve <strong>pesquisa</strong>s em acidente cárdiovascular<br />

na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rogério<br />

Sarmento-Leite, <strong>pesquisa</strong>dor do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do<br />

Sul- Fundação Universitária de Cardiologia, que teve projeto selecionado<br />

como o melhor caso clínico nos Estados Unidos, Ivo Nesralla, Diretor do<br />

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de<br />

Cardiologia , Nance Nardi, bióloga e geneticista, coordenadora do programa<br />

de células-tronco do Departamento de Genética da Universidade Federal do<br />

rio Grande do Sul, Luis Eduardo Rohde, responsável pelas <strong>pesquisa</strong>s do<br />

Hospital de Clínicas de Porto Alegre, João Ricardo Santanna, <strong>pesquisa</strong>dor do<br />

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de<br />

Cardiologia e Mayana Zatz, geneticista da Universidade de São Paulo, entre<br />

outros <strong>pesquisa</strong>dores que possam contribuir para os trabalhos da Comissão.<br />

O Deputado José Sperotto pediu a palavra ao Senhor Presidente e sugeriu<br />

que ao término dos trabalhos da Comissão, o Relatório da Comissão seja<br />

distribuído à comunidade. O Senhor Presidente concordou com a sugestão<br />

do Senhor Deputado e sugeriu que ao final dos trabalhos da Comissão seja<br />

feito um Seminário difundindo aquilo que foi abordado nas Reuniões.<br />

Considerando relevante, foi aprovado que a Comissão realize Reuniões,<br />

acompanhada de um especialista do assunto, também no interior do Estado,<br />

contando com com a estrutura que a Casa oferece, inclusive locação de<br />

veículos. Solicitou aos Senhores Deputados integrantes da comissão que<br />

sugiram nomes de especialistas da área que possam ser convidados para as<br />

Reuniões da Comissão . Logo após, passou a palavra ao Senhor Luis<br />

203


Augusto Gemelli, o qual parabenizou a iniciativa da Comissão, agradeceu a<br />

oportunidade e disse que a FADERS- Fundação de Articulação e<br />

Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de<br />

Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul- está à disposição<br />

da Comissão naquilo que possa acrescentar aos trabalhos realizados.<br />

Ressaltou a importância da existência dos bancos públicos de cordãoumbilical<br />

e que deve-se ter restrições àquelas entidades que fazem mau uso<br />

do conhecimento adquirido. Considerou importante o deslocamento da<br />

Comissão ao interior do Estado. Logo após, o Senhor Presidente agradeceu a<br />

presença de todos e convocou os Senhores Deputados membros da<br />

Comissão para a próxima reunião, que acontecerá no dia dezesseis de março<br />

do corrente ano, às onze horas, em local a ser definido, para que na<br />

oportunidade seja ouvido um especialista no assunto. Nada mais havendo a<br />

tratar, agradeceu a presença de todos e contribuição dos Senhores<br />

Deputados e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,<br />

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,<br />

Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 02/2006<br />

204


Aos dezesseis dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze<br />

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado Luis Fernando Schmidt, o<br />

Deputado José Farret e o Deputado Reginaldo Pujol. Também estava<br />

presente a Assessoria Técnica da Comissão , o Doutor Paulo Mayorga,<br />

Diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul , o Doutor José Ângelo Zuanazzi, Vice-Diretor da Faculdade de Farmácia<br />

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Doutora Martina Fritsch,<br />

integrante do Grupo de Pesquisas em células-tronco do Hemocord. Após<br />

saudar os Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente determinou<br />

que fosse confeccionado e registrado em ata um documento contendo o<br />

Roteiro de Trabalho da Comissão, cuja transcrição segue: “Os Deputados<br />

membros da Comissão, abaixo assinados, estão de acordo com o<br />

encaminhamento dado pelo Presidente desta Comissão na Reunião de<br />

16/03/2006, com relação a proposta de Roteiro de Trabalho que constará do<br />

seguinte:Roteiro de trabalho: a)Envio de ofícios reportando a instalação da<br />

Comissão, sua duração e seu objeto, bem como solicitando colaboração, aos<br />

seguintes órgãos e instituições: Secretaria Estadual de Saúde - Sr. Osmar<br />

Gasparini Terra, Secretário; Famurs - Sr. Mauri Heinrich, Presidente;<br />

Secretaria Municipal de Saúde- . Sr. Pedro Gus, Secretário; Secretaria<br />

Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social- Sr. Tarcízio Teixeira Cardoso,<br />

Secretário; to<strong>das</strong> as 496 Prefeituras e Secretarias de Saúde do Estado do RS;<br />

Ministério da Saúde; Tribunal de Contas do Estado; Ministério Público do<br />

Estado; b)Realização de Audiências Públicas, através da oitiva <strong>das</strong><br />

Secretarias de Estado que interagem no processo da saúde, Municípios,<br />

órgãos nacionais e internacionais e comunidade em geral, tais como:<br />

205


Secretários de Estado ; Presidente da Famurs; Ministério da Saúde ;<br />

Ministério Público Estadual; Tribunal de Contas Estadual; Municípios;<br />

Convites a outras autoridades, a cargo da presidência da comissão;<br />

Realização de Reuniões Regionais, com interiorização, se necessário, para<br />

esclarecimentos e proposição de estudos, junto a Secretarias Municipais de<br />

Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, bem como Universidades, Hospitais e<br />

Centros de Pesquisa, <strong>sobre</strong> o tema objeto da Comissão; Oitiva de<br />

<strong>pesquisa</strong>dores do tema, em reuniões realiza<strong>das</strong> no Palácio Farroupilha ou fora<br />

da Casa. Visitas a Hospitais e Centros de Pesquisa que trabalhem com<br />

células-tronco ou pesquisem o tema; Visitas a Universidades com o intuito de<br />

obter informações em Centros de Pesquisa <strong>sobre</strong> Células-<strong>Tronco</strong>.” Feito isso,<br />

foi elaborado o documento, que após a aquiescência dos Senhores<br />

Deputados membros da Comissão, será anexado, fazendo parte integrante<br />

desta ata. Logo após, passou a palavra à Doutora Patrícia Pranke,<br />

Farmacêutica, Pesquisadora e Professora de Hematologia da Faculdade de<br />

Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que agradeceu a<br />

oportunidade de comparecer à Reunião e palestrou <strong>sobre</strong> as <strong>pesquisa</strong>s com<br />

células-tronco enfatizando as células-tronco do cordão umbilical. Dentre<br />

outros assuntos, explanou <strong>sobre</strong> o Projeto da Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul aprovado pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico- e defendeu a criação de um banco de cordão<br />

umbilical público no Rio Grande do Sul , demonstrando a importância <strong>das</strong><br />

células-tronco em diversos tipos de tratamento clínico em seres humanos.<br />

Após, o Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos. Nada mais<br />

havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais<br />

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,<br />

206


que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,<br />

Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária..<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 03/2006<br />

Aos vinte e três dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze<br />

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também<br />

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão , Elizabeth Cirne-Lima,<br />

Coordenadora do Laboratório de Embriologia e Diferenciação Celular do<br />

Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Bióloga, Mestre<br />

e Doutora em Bioquímica, palestrante da Reunião de hoje; Clarisse Sampaio<br />

Alho, Vice-Diretora da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade<br />

Católica do Rio Grande do Sul, alunos da Faculdade de Biociências da<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Belkis Moraes,<br />

Secretária-adjunta da Secretaria de Acessibilidade e Inclusão Social. Logo<br />

após saudar os Senhores Deputados e demais presentes e reafirmar a<br />

necessidade da interiorização da Comissão para a cidade de Santa Maria em<br />

abril do corrente ano, para que se possa discutir o assunto com outros<br />

órgãos, como Universidades, Secretarias de Município e Hospitais, bem como<br />

207


difundir as <strong>pesquisa</strong>s realiza<strong>das</strong>. O Senhor Presidente passou a palavra à<br />

Elizabeth Cirne-Lima, que agradeceu a oportunidade de comparecer à<br />

Reunião e palestrou <strong>sobre</strong> as <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco enfatizando as<br />

células-tronco embrionárias. Dentre outros assuntos, ressaltou a<br />

importância da continuidade da <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco embrionárias,<br />

afirmando que as mesmas, de acordo com recentes <strong>pesquisa</strong>s, são<br />

totipotentes, o que significa que podem transformar-se, in vitro, em<br />

qualquer tecido humano, possibilitando a cura de diversas doenças. A<br />

palestrante relatou que a primeira <strong>pesquisa</strong> do Brasil que obteve recursos de<br />

órgãos federais foi o “Estabelecimento da rotina de manutenção de célulastronco<br />

in vitro”. Relatou que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em várias<br />

de suas <strong>pesquisa</strong>s, mantém convênio com a Universidade de Munique, na<br />

Alemanha. Que <strong>pesquisa</strong>dores alemães e brasileiros têm realizado estudos<br />

juntos e obtido excelentes resultados. Após, o Senhor Presidente abriu<br />

espaço para questionamentos, passando a palavra à Doutora Clarisse<br />

Sampaio, que elogiou a inicitaiva da criação da Comissão, dizendo que este é<br />

um meio de a comunidade científica entrar em contato com a comunidade<br />

em geral e mais uma vez enfatizou que a <strong>pesquisa</strong> com células-tronco<br />

embrionárias é assunto de relevância na vida de pessoas que necessitam de<br />

tratamentos que podem vir a ser obtidos com o referido estudo. O Senhor<br />

Presidente, após agradecer pela contribuição <strong>das</strong> duas <strong>pesquisa</strong>doras<br />

anunciou que a Comissão, no dia trinta de março do corrente ano, terá como<br />

palestrante o Doutor Jefferson Braga da Silva, especialista em micro-cirurgia<br />

de mão e <strong>pesquisa</strong>dor de células-tronco do Hospital São Lucas. Nada mais<br />

havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais<br />

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,<br />

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,<br />

208


Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 04/2006<br />

Aos trinta dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas,<br />

na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a<br />

Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente da<br />

Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também<br />

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão e a Doutora Karolyn<br />

Sassi, Diretora-Geral do Hemocord . Logo após saudar os Senhores<br />

Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou a<br />

interiorização da Comissão ao município de Santa Maria no dia vinte e<br />

quatro de abril do corrente ano e passou a palavra ao palestrante, Doutor<br />

Jefferson Braga da Silva, Professor Livre- Docente em Cirurgia da mão e<br />

Professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do<br />

Rio Grande do Sul, que agradeceu a oportunidade de comparecer à Reunião<br />

e palestrou <strong>sobre</strong> as <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco enfatizando as<br />

209


perspectivas dessa terapia. O palestrante definiu o que são células, suas<br />

funções e diferenciação <strong>das</strong> células-tronco e suas diversas funções. Trouxe à<br />

tona a existência de células-tronco de medula óssea, de gordura, de<br />

células-olfativas e também de tecido neural e de músculos. Dentre outros<br />

assuntos, ressaltou a relevância <strong>das</strong> células-tronco de medula óssea e<br />

também do nervo periférico. Abordou questões acerca da Lei de<br />

Biossegurança, bioética e utilização de células-tronco embrionárias e, após,<br />

apresentou slides ilustrativos <strong>das</strong> experiências com células-tronco feitas com<br />

animais e humanos, demonstrando que é necessário incentivo de diversos<br />

ógãos a essas <strong>pesquisa</strong>s para que se evolua nesse campo da ciência. Após, o<br />

Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos, passando a palavra à<br />

Doutora Karolyn Sassi, que agradeceu a oportunidade e salientou que<br />

considera importante que os recursos sejam repassados a <strong>pesquisa</strong>s com<br />

viabilidade comprovada. Também explicou brevemente <strong>pesquisa</strong>s de célulastronco<br />

com cordão umbilical. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a<br />

presença dos Senhores Deputados e demais presentes e encerrou a reunião,<br />

e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai<br />

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,<br />

Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

210


ATA nº 05/2006<br />

Aos seis dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às onze horas,<br />

na Sala Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a<br />

Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente da<br />

Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado<br />

José Sperotto. Também estavam presentes a Assessoria Técnica da<br />

Comissão, a Doutora Nance Beyer Nardi, representando o Senhor Pedro<br />

Fonseca, Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o<br />

Professor César Augusto Zen Vasconcellos, Pró-Reitor de Pesquisa da<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul . Após saudar os Senhores<br />

Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou que a<br />

Comissão irá até São Paulo, representada por seu Presidente e Assessor<br />

Superior, no dia dez de abril do corrente ano, para audiência com o Doutor<br />

Tarcízio Barros Filho, Coordenador de Pesquisa <strong>sobre</strong> a utilização de célulastronco<br />

adultas no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, no<br />

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital <strong>das</strong> Clínicas da<br />

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Logo após, o Senhor<br />

Presidente passou a palavra ao palestrante, Senhor Lindolfo Meirelles,<br />

Mestre em Genética e Biologia molecular pela Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Genética e<br />

Biologia molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul . O<br />

palestrante explanou <strong>sobre</strong> a investigação da distribuição <strong>das</strong> células-tronco<br />

mesenquimais in vivo. Definindo o que são células-tronco, afirmou que são<br />

células capazes de renovação e geração de outros tipos celulares. Abordou,<br />

dentre outros assuntos, a plasticidade <strong>das</strong> células-tronco e como é feita sua<br />

diferenciação nos diversos tipos de tecido, como por exemplo, o tecido<br />

211


adiposo. Logo após, o Senhor Presidente passou a palavra ao Deputado José<br />

Sperotto, que parabenizou, na pessoa do palestrante, a Comunidade<br />

Científica do Estado do Rio Grande do Sul, pela evolução nos diversos ramos<br />

de <strong>pesquisa</strong>s. O Deputado iniciou um debate <strong>sobre</strong> o tempo de duração de<br />

uma célula-tronco no organismo humano e indagou se as células-tronco<br />

seriam uma possível descoberta para uma vida humana mais longa. O<br />

palestrante respondeu que as células-tronco existem no organismo humano<br />

durante toda a sua vida e que, atualmente, apenas é possível afirmar que o<br />

tratamento com essas células pode trazer uma melhor qualidade de vida ao<br />

ser humano. O Senhor Presidente indagou ao palestrante se há previsão,<br />

pela comunidade científica, de as <strong>pesquisa</strong>s serem aplica<strong>das</strong> em seres<br />

humanos. O palestrante esclareceu ao Senhor Presidente que já há projetos<br />

para o tratamento de cardiopatias em seres humanos. Logo após, o Senhor<br />

Presidente passou a palavra à Doutora Nance Nardi, que agradeceu a<br />

oportunidade e afirmou que há vários grupos de <strong>pesquisa</strong> <strong>sobre</strong> célulastronco<br />

na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que essa discussão é<br />

muito relevante hodiernamente. A mesma explicou, de maneira breve, a<br />

<strong>sobre</strong>vida <strong>das</strong> células-tronco e salientou que nenhum desses programas<br />

utiliza células-tronco embrionárias em suas <strong>pesquisa</strong>s. Também foi passada<br />

a palavra, pelo Senhor Presidente, ao Sr. Pedro Vasconcellos, que agradeceu<br />

a oportunidade e ressaltou que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

tem vanguarda em diversos programas de <strong>pesquisa</strong>. Nada mais havendo a<br />

tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença dos Senhores Deputados e<br />

demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a<br />

presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor<br />

Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.<br />

212


Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 06/2006<br />

Aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às<br />

quatorze horas, no Anfiteatro Gulerpe, anexo ao Hospital Universitário de<br />

Santa Maria, reuniu-se, em Audiência Pública, a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong><br />

Células-<strong>Tronco</strong>. Compuseram a mesa o Senhor Presidente da Comissão,<br />

Deputado Paulo Brum e o palestrante, Dr. Luís Carlos Antunes. Também<br />

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão, o Senhor Júlio Cézar<br />

de Almeida Brener, Vereador do município de Santa Maria, o Senhor Sérgio<br />

Nunes Pereira, Coordenador de Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital<br />

Universitário de Santa Maria, neste ato representando a Sra. Elaine Resener,<br />

Diretora do Hospital Universitário e o Sr. Larry Argenta, Diretor-Clínico do<br />

Hospital Universitário, a Senhora Léris Falet Haeffner, Coordenadora do<br />

Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, o Senhor Ney<br />

Pippi, integrante da Assessoria de Apoio Internacional do Gabinete da<br />

213


Reitoria, médicos, enfermeiros e demais funcionários do Hospital<br />

Universitário de Santa Maria, além de estudantes da Universidade Federal<br />

de Santa Maria. Após saudar os presentes, o Senhor Presidente explicou<br />

que o principal objetivo da Comissão, criada em sete de dezembro do ano<br />

passado, é informar a comunidade <strong>sobre</strong> os avanços <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s com<br />

células-tronco, em nível estadual e federal. Esclareceu brevemente quais<br />

foram os trabalhos já realiza<strong>das</strong> pela Comissão até o momento. Disse que a<br />

primeira interiorização da Comissão se dá em Santa Maria, no dia de hoje.<br />

Logo após, passou a palavra ao Senhor Sérgio Nunes Pereira, que disse que<br />

o assunto é muito importante e que embora haja especulações que em nada<br />

contribuem à ciência, o crescimento real <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco<br />

tem sido expressivo no mundo inteiro. O mesmo disse que a área de<br />

cardiologia já está sendo beneficiada atualmente mas to<strong>das</strong> as áreas da<br />

medicina poderão vir a ser beneficia<strong>das</strong> com o desenvolvimento <strong>das</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s. O Senhor Presidente então passou a palavra ao palestrante,<br />

Doutor Luís Carlos Antunes, Médico Oncologista do Centro de Transplante<br />

de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, que agradeceu a<br />

oportunidade e afirmou que o transplante de medula óssea é o uso<br />

terapêutico de células-tronco. Explanou que no ano de mil novecentos e<br />

noventa, o Hospital Universitário de Santa Maria foi o primeiro hospital do<br />

Estado a realizar um transplante de medula óssea. O médico explicou que a<br />

medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas de células-tronco usa<strong>das</strong><br />

no tratamento de doenças como leucemia aguda e crônica, linfoma, mieloma<br />

múltiplo e aplasia de medula. Segundo o palestrante, o Centro de<br />

Transplantes de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria<br />

realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou autogênicos.<br />

Explicou que, no primeiro tipo, a coleta de células-tronco é feita por meio de<br />

214


punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,<br />

posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as<br />

células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo<br />

novamente através de um catéter central. O palestrante também afirmou<br />

que há uma lista enorme de patologias que podem se beneficiar <strong>das</strong> célulastronco<br />

da medula óssea. Logo após, o Senhor Presidente abriu espaço para<br />

questionamentos dos presentes, que usaram da palavra promovendo debate<br />

<strong>sobre</strong> o assunto. Após, o Senhor Presidente disse que o intuito da Comissão<br />

é auxiliar as <strong>pesquisa</strong>s naquilo que for possível , para que no futuro muitas<br />

doenças considera<strong>das</strong> incuráveis tenham outra alternativa. Então, passou a<br />

palavra ao palestrante, que agradeceu a oportunidade. Nada mais havendo a<br />

tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos os presentes e<br />

encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de<br />

lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum,<br />

e por mim, Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Zuliani,<br />

Presidente da Comissão<br />

Simone da Rosa<br />

Secretária.<br />

ATA nº 07/2006<br />

215


Aos quatro dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze<br />

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado<br />

Edson Portilho. Também estava presente a Assessoria Técnica da Comissão.<br />

Justificou a ausência o Deputado Marquinho Lang. O Presidente da<br />

comissão saudou os presentes e explanou <strong>sobre</strong> a primeira interiorização da<br />

Comissão, que aconteceu em Santa Maria, no dia vinte e quatro de abril do<br />

corrente ano. Logo após, passou a palavra ao palestrante, Maurício<br />

Friedrich, Doutor em Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do<br />

Rio Grande do Sul , Chefe dos Programas de Doenças Neurovasculares do<br />

Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul<br />

e do Hospital Mãe de Deus, que proferiu a palestra "Perspectivas do uso de<br />

células-tronco em pacientes com derrame". Após agradecer a oportunidade,<br />

o palestrante salientou que o acidente vascular cerebral é a maior causa de<br />

mortes no Brasil e que desde o ano de dois mil e dois há <strong>pesquisa</strong>s com<br />

células-tronco nessa área específica. Também explanou acerca da<br />

potencialidade <strong>das</strong> células-tronco de medula óssea, dizendo que acredita<br />

que as mesmas podem ser mais eficazes do que as células-tronco<br />

embrionárias. Ilustrou sua palestra com vídeos <strong>sobre</strong> o assunto. Logo após o<br />

término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu o palestrante e<br />

mencionou que a próxima reunião da Comissão será no dia onze do corrente<br />

mês, na Sala Salzano Vieira da Assembléia Legislativa, às onze horas. Nada<br />

mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e<br />

demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a<br />

presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor<br />

Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.<br />

216


Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão.<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 08/2006<br />

Aos onze dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze horas,<br />

na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a<br />

Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente da<br />

Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também<br />

estavam presentes a Senhora Simone Denise Salamoni e a Senhora Zaquer<br />

Costa, <strong>pesquisa</strong>doras do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São<br />

Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Presente a<br />

Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão saudou os<br />

presentes e passou a palavra ao palestrante, Doutor Jaderson Costa da<br />

Costa, Neurologista, Diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor Titular de<br />

Neurologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do<br />

Rio Grande do Sul, Professor-orientador do Programa de Pós-graduação em<br />

Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor<br />

Adjunto Associado do Departamento de Medicina Interna da Universidade de<br />

Miami, que agradeceu a oportunidade e proferiu palestra <strong>sobre</strong> terapia com<br />

células-tronco em neurologia. Ilustrou sua palestra com vídeos <strong>sobre</strong> o<br />

assunto. Afirmou que, no ano de mil novecentos e noventa e oito, <strong>pesquisa</strong>s<br />

descobriram que havia células-tronco em cérebros humanos e que a<br />

217


Doutora Éva Mezey descobriu que a partir da medula óssea podem ser<br />

obti<strong>das</strong> células-tronco do sistema nervoso. O palestrante esclareceu que,<br />

apenas no ano de dois mil, as <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco do sistema<br />

nervoso iniciaram no mundo todo e o Rio Grande do Sul acompanha a<br />

evolução <strong>das</strong> <strong>pesquisa</strong>s na vanguarda. Disse que doenças como Mal de<br />

Parkinson, esclerose e isquemia cerebral, hoje em dia, já podem ser trata<strong>das</strong><br />

com células-tronco. O palestrante acredita que o século vinte e um é o<br />

século da esperança para remodelagem de órgãos e tecidos. Finalizou sua<br />

palestra explanando <strong>sobre</strong> o Primeiro Congresso Brasileiro de Células-<br />

<strong>Tronco</strong>, realizado em novembro do ano passado, no Hospital São Lucas da<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com o incentivo<br />

financeiro do governo estadual do Paraná. Logo após o término da palestra, o<br />

Senhor Presidente agradeceu o palestrante e passou a palavra à<br />

<strong>pesquisa</strong>dora Zaquer Costa, que agradeceu a oportunidade e disse que o<br />

Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul<br />

espera fazer muito pela população mundial no tangente às <strong>pesquisa</strong>s com<br />

células-tronco. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos<br />

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,<br />

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,<br />

Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão.<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 09/2006<br />

218


Aos dezoito dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze<br />

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também<br />

presentes o Doutor Paulo Mayorga, Diretor do Curso de Farmácia da<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Assessoria Técnica da<br />

Comissão. O Presidente da Comissão saudou os presentes e passou a<br />

palavra ao palestrante, Doutor Luiz Fernando Jobim, Chefe do Serviço de<br />

Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Professor de Medicina<br />

Interna da Universidade Federal do Rio grande do Sul, que proferiu palestra<br />

<strong>sobre</strong> a imunologia dos transplantes e células-tronco. Após agradecer a<br />

oportunidade, o palestrante explicou a plasticidade de diferentes tipos de<br />

células-tronco. Também explanou <strong>sobre</strong> os diversos tipos de transplantes,<br />

quais sejam, alogênico, autólogo e singênico. Falou <strong>sobre</strong> a Rede BrasilCord,<br />

projeto que visa criar cinco bancos públicos de cordão umbilical no Brasil e<br />

que no projeto está previsto um banco no Hospital de Clínicas de Porto<br />

Alegre. Afirmou que já existe toda a previsão administrativa mas os recursos<br />

financeiros não são liberados por parte do Governo Federal. O Deputado<br />

Paulo Brum solicitou ao palestrante que envie à Comissão dados <strong>sobre</strong> o<br />

projeto mencionado, para que seja verificada a possibilidade de colaborar<br />

com o mesmo. Na seqüência, o Doutor Jobim relatou um caso de uma<br />

criança que nasceu sem imunidades mas foi tratada com implante de<br />

células-tronco com sucesso. Após, explicou <strong>sobre</strong> os trabalhos do Hospital<br />

de Clínicas de Porto Alegre com tipagem de Antígenos Leucocitários<br />

Humanos, proteína localizada no cromossomo seis <strong>das</strong> células humanas.<br />

Logo após a palestra, o Deputado Presidente agradeceu e passou a palavra<br />

219


ao Deputado José Farret, que elogiou a palestra e sugeriu que seja feito um<br />

seminário <strong>sobre</strong> o assunto assim que possível. Após a explanação do<br />

Deputado José Farret, foi oferecida a palavra ao Senhor Paulo Mayorga, que<br />

agradeceu a oportunidade e elogiou a palestra afirmando que o palestrante<br />

foi muito esclarecedor em suas explanações. Nada mais havendo a tratar, o<br />

Senhor Presidente agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião,<br />

e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai<br />

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,<br />

Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão.<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária.<br />

ATA nº 10/2006<br />

Aos vinte e cinco dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às<br />

onze horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha,<br />

reuniu-se a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor<br />

Presidente da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret.<br />

Presente a Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão<br />

saudou os presentes e passou a palavra à palestrante, Doutora Karolyn<br />

Sassi, Diretora-Geral do Hemocord, <strong>Especial</strong>ista em Reprodução Humana e<br />

Doutoranda em Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Paulo,<br />

que proferiu palestra que tinha por foco central o assunto Bancos de<br />

Sangue de Cordão Umbilical e a Visão do Serviço Privado. Após agradecer a<br />

220


oportunidade, a palestrante afirmou que considera o uso de células-tronco<br />

do cordão umbilical promissor para o tratamento de diversas doenças e que<br />

os bancos privados de cordão umbilical podem ser parceiros dos bancos<br />

públicos, vez que visam ao tratamento de diferentes doenças. Explanou<br />

<strong>sobre</strong> a definição de células-tronco, diferenciou os genes importantes para a<br />

eficácia do tratamento com células-tronco e apresentou soluções para a<br />

rejeição da terapia por determinados pacientes, como por exemplo, a<br />

clonagem terapêutica. Também apresentou alternativas para eliminar o<br />

conflito ético que circunda as <strong>pesquisa</strong>s com células-tronco embrionárias,<br />

como fazer a partenogênese. Disse que há dúvi<strong>das</strong> em relação à eficácia do<br />

tratamento com células-tronco embrionárias em seres humanos, vez que até<br />

o momento as <strong>pesquisa</strong>s foram realiza<strong>das</strong> apenas com animais. Demonstrou<br />

dúvi<strong>das</strong> quanto ao congelamento de embriões e a Lei Federal que permite<br />

que embriões congelados sejam utilizados em <strong>pesquisa</strong>s. Relatando o<br />

histórico da terapia com células-tronco, a palestrante afirmou que desde mil<br />

novecentos e cinqüenta há experimentos com células-tronco hematopoéticas<br />

e que em mil novecentos e setenta e três foi realizado o primeiro transplante<br />

de células-tronco da medula óssea em seres humanos. A palestra foi<br />

ilustrada com vídeos <strong>sobre</strong> o assunto. O Senhor Presidente agradeceu a<br />

presença da palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a<br />

tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para<br />

constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai<br />

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,<br />

Secretária.<br />

221


Deputado PAULO BRUM,<br />

Presidente da Comissão.<br />

Simone da Rosa Zuliani,<br />

Secretária<br />

ATA nº 11/2006<br />

Ao primeiro dia do mês de junho do ano de dois mil e seis, às onze<br />

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniuse<br />

a Comissão <strong>Especial</strong> <strong>das</strong> Células-<strong>Tronco</strong>. Presentes o Senhor Presidente<br />

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado<br />

Edson Portilho. Presente a Assessoria Técnica da Comissão. Recebido ofício<br />

justificando as ausências do Deputado Edson Portilho nas reuniões dos dias<br />

seis de abril, vinte e cinco de abril, onze de maio, dezoito de maio e vinte e<br />

cinco de maio do corrente ano. O Presidente da Comissão saudou os<br />

presentes e passou a palavra ao palestrante, Renato Kalil, Doutor em<br />

Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Diretor-Científico<br />

e Cirurgião da equipe de cardiologia do IC-FUC(Instituto de Cardiologia do<br />

Rio Grande do Sul, Fundação Universitária de Cardiologia), que proferiu a<br />

palestra " células-tronco nas cardiopatias". Após agradecer a oportunidade, o<br />

palestrante afirmou que embora os tratamentos de doenças cardíacas<br />

estejam em potencial evolução, a terapia com células-tronco pode salvar a<br />

vida de muitos pacientes, vez que, quando a doença isquêmica é muito<br />

avançada e difusa, os métodos atualmente disponíveis não são efetivos.<br />

Explanou <strong>sobre</strong> os dois projetos que estão sendo desenvolvidos no Instituto<br />

de Cardiologia. Também explicou o projeto do Ministério da Saúde que visa<br />

reduzir os gastos com internação utilizando terapia com células-tronco. A<br />

palestra foi ilustrada com vídeos <strong>sobre</strong> o assunto, que apresentavam, dentre<br />

outros assuntos, a origem <strong>das</strong> células-tronco, dados estatísticos de cura de<br />

222


pacientes cardíacos tratados com células-tronco e terapias ideais que teriam<br />

como ações minimizar a perda de cardiomiócitos reduzindo a morte celular<br />

(apoptose), promover o retorno da função de miocárdio hibernante para um<br />

nível normal, estimular a revascularização de zonas isquêmicas pela<br />

angiogênese, e criar novos cardiomiócitos, para repor aqueles perdidos após<br />

a injúria inicial. Ao término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu a<br />

presença do palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a<br />

tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para<br />

constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai<br />

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,<br />

Secretária.<br />

Deputado PAULO BRUM,<br />

Zuliani,<br />

Presidente da Comissão.<br />

Simone da Rosa<br />

Secretária.<br />

223


224


É O RELATÓRIO.<br />

Deputado Paulo Brum,<br />

Presidente.<br />

Deputado Pedro Westphalen<br />

Relator<br />

Deputado Luis Fernando Schmidt,<br />

Vice-Presidente.<br />

Deputado Abílio dos Santos<br />

Deputado Edson Portilho<br />

Deputado José Farret<br />

Deputado Elmar Schneider<br />

Deputada Jussara Cony<br />

Deputado Giovani Cherini<br />

Deputado Kalil Sehbe<br />

DEPUTADOS SUPLENTES<br />

Deputado Adão Villaverde<br />

Deputado Adilson Troca<br />

Deputado Edson Brum<br />

Deputado Flávio Koutzii<br />

Deputado Floriza dos Santos<br />

Deputado Jair Soares<br />

Deputado José Sperotto<br />

Deputado Márcio Biolchi<br />

Deputado João Fischer<br />

Deputado Osmar Severo<br />

Deputado Sérgio Peres

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