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Márcio Abraham<br />

Ricardo Bonacorci<br />

São Paulo 2011


Copyright© 2011 por <strong>Setec</strong> Editora<br />

Todos os direitos dessa edição são reservados à <strong>Setec</strong> Qualitas Consultoria<br />

e Editora Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer<br />

forma ou por qualquer meio, desta obra, s<strong>em</strong> a prévia autorização da editora.<br />

A violação dos direitos da editora (lei número 9.610/98) é crime estabelecido<br />

pelo artigo 184 do Código Penal. Depósito legal na Biblioteca<br />

Nacional conforme decreto 1.825, de 20 de dez<strong>em</strong>bro de 1907.<br />

Produção Editorial: <strong>Setec</strong> Editora<br />

Direção Editorial: Jeannette Galbinski<br />

Assistente Editorial: Iris Pereira de Morais<br />

Revisão: Patrícia Sanchez, Mariana Zambon e Sandra Scapin<br />

Capa: Adilson Ap. Barbosa<br />

Projeto Gráfico e Diagramação: Kaeru Comunicação<br />

2ª edição: 2011<br />

Abraham, Márcio & Bonacorci, Ricardo.<br />

Explosão da Inovação: Aprenda e Inove de Forma Explosiva / Márcio<br />

Abraham e Ricardo Bonacorci – São Paulo: <strong>Setec</strong> Editora, 2011.<br />

194 p.: il.<br />

ISBN: 978-85-63093-17-2<br />

1. Inovação 2. Administração 3. Criatividade 4. Gestão Empresarial. I.<br />

Abraham, Márcio II. Bonacorci, Ricardo III. Título IV. Título: Aprenda e<br />

Inove de Forma Explosiva<br />

2011<br />

Impresso no Brasil/ Printed in Brazil<br />

Todos os direitos reservados à <strong>Setec</strong> Qualitas Consultoria e Editora Ltda.<br />

Avenida Lavandisca, 741 – conjunto 45 – Mo<strong>em</strong>a<br />

São Paulo, SP – CEP: 04515-011<br />

Site: www.setecnet.com.br<br />

E-mail: setec@setecnet.com.br


Agradecimento<br />

Escrever um livro com coautores é um excelente exercício<br />

de interação e trabalho <strong>em</strong> equipe. Foram inúmeras reuniões,<br />

pesquisas, reflexões, discussões, apresentações e revisões até a<br />

conclusão deste trabalho, também fruto de nossas crenças e de<br />

nossa experiência. Contudo, não nos enganamos <strong>em</strong> acreditar<br />

que os méritos são apenas dos dois autores. O livro Explosão<br />

da Inovação contou com a preciosa contribuição e o incansável<br />

apoio de várias organizações e de seus profissionais, decisivos<br />

para a conclusão dessa obra.<br />

Agradec<strong>em</strong>os primeiramente à equipe do Departamento<br />

Nacional da Unidade de Inovação e Tecnologia do SENAI, <strong>em</strong><br />

especial ao seu Gerente Executivo, Orlando Clapp Filho, e ao<br />

Gerente de Inovação Tecnológica, Marcelo Oliveira Gaspar de<br />

Carvalho, que nos concederam o patrocínio para a realização<br />

da primeira edição do livro. Foi um prazer ter compartilhado<br />

com vocês nossos estudos e nossas ideias. Sentimos muito orgulho<br />

de ter participado, a convite do SENAI, dos vários eventos<br />

de divulgação dessa obra, <strong>em</strong> diversas regiões do Brasil.<br />

Um agradecimento especial à Gerdau, que nos apoiou<br />

nesta segunda edição do livro, permitindo que o modelo seja<br />

difundido ainda mais pelo país. Esperamos que todos os seus<br />

colaboradores incorpor<strong>em</strong> e apliqu<strong>em</strong> os conceitos do Explo-


são da Inovação, contribuindo ainda mais para o futuro dessa<br />

<strong>em</strong>presa centenária e inovadora.<br />

Agradec<strong>em</strong>os também à Editora EPSE, nossa parceira<br />

<strong>em</strong> uma infinidade de projetos realizados nos últimos quinze<br />

anos, que contribuiu diretamente para a publicação da primeira<br />

edição do livro. Fernando Banas e Marisa Bernal, o nosso<br />

muito obrigado pela recomendação e pela confiança que depositaram<br />

<strong>em</strong> nós.<br />

Não pod<strong>em</strong>os nos esquecer dos profissionais do <strong>Setec</strong><br />

<strong>Consulting</strong> <strong>Group</strong>, que também contribuíram significativamente<br />

para a validação do modelo e para o desenvolvimento do<br />

livro. Foram dezenas de pessoas que colaboraram <strong>em</strong> todos os<br />

sentidos, contando s<strong>em</strong>pre com o apoio da Diretora Jeannette<br />

Galbinski.<br />

Também enviamos um obrigado especial aos clientes do<br />

<strong>Setec</strong> <strong>Consulting</strong> <strong>Group</strong> pelas experiências compartilhadas<br />

nos projetos de consultoria e a todas as <strong>em</strong>presas inovadoras<br />

que nos serviram de inspiração para os ex<strong>em</strong>plos práticos comentados<br />

nesta obra.<br />

Por fim, agradec<strong>em</strong>os carinhosamente às pessoas queridas,<br />

que compreenderam nossa ausência e nos deram suporte<br />

para que pudéss<strong>em</strong>os escrever este livro.<br />

Márcio Abraham e Ricardo Bonacorci


PREFÁCIO<br />

Uma das maiores discussões acerca da Inovação trata de<br />

como as pessoas encaram e compreend<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>a. Muitas vezes,<br />

o verbo inovar é utilizado no dia a dia para retratar uma<br />

nova ideia colocada <strong>em</strong> prática. Alguns chegam a usar até mesmo<br />

o termo “patente” de maneira informal.<br />

Há alguns anos, resolv<strong>em</strong>os fazer um piquenique com excolegas<br />

de escola. Uma amiga trouxe uma sacola e disse com<br />

essas palavras: “Tive uma ideia inovadora! Vejam essa patente<br />

que eu criei! Antes de sair de casa, aqueci essa bolsa térmica<br />

no forno micro-ondas e coloquei na sacola. Com isso, pude<br />

manter a comida aquecida por muito mais t<strong>em</strong>po. Gostaram<br />

da ideia?”. L<strong>em</strong>brei-me imediatamente da “bolsa térmica para<br />

tratamento quimioterápico”, produto que desenvolvi no curso<br />

de Engenharia de Produção da POLI-USP, no ano de 1986, e<br />

que me fez ganhar na época o “Prêmio Trol de Melhor Projeto<br />

do Produto”, no curso ministrado pelo Prof. Floriano Conrado<br />

do Amaral Gurgel. O objetivo da bolsa era prevenir a queda de<br />

cabelo gerada pela aplicação do tratamento de quimioterapia,<br />

utilizado no combate ao câncer.<br />

Sinceramente, eu nunca tinha visto uma aplicação como<br />

aquela proposta pela minha amiga para uma bolsa térmica.<br />

Não sei se outras pessoas tiveram essa ideia antes ou se ela já


havia visto alguma aplicação similar. O fato é que ela estava<br />

feliz com sua ideia colocada <strong>em</strong> prática e com os bons resultados<br />

obtidos. Contudo, um amigo meu naquele momento riu<br />

bastante da situação e arr<strong>em</strong>atou: “Não torture o conceito de<br />

Inovação com uma ideia medíocre! Inovar é muito mais do que<br />

isso!”. O que eu realmente me l<strong>em</strong>bro é de que tiv<strong>em</strong>os combustível<br />

suficiente para discutir o conceito de Inovação e sua<br />

abrangência até o final do piquenique. O curioso é que aquele<br />

dia me deixou com uma grande sensação de que, <strong>em</strong> termos<br />

de Inovação, sua aplicação era muito mais relevante do que a<br />

própria discussão.<br />

Passados alguns anos, resolvi retornar ao Departamento<br />

de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, dessa vez<br />

como aluno de doutoramento e como Professor da disciplina<br />

de Projeto do Produto, dividindo a turma com o Professor<br />

Floriano. Naquele momento o prêmio já havia sido extinto e<br />

criamos um novo prêmio com o apoio de outro patrocinador.<br />

Dessa vez passaria a se chamar “Prêmio Procter & Gamble de<br />

Projeto do Produto”. Dessa forma, centenas de alunos foram<br />

desafiados a criar e a desenvolver o seu potencial <strong>em</strong>preendedor,<br />

passando a entender a dimensão da Inovação. O que<br />

procurávamos reforçar é que uma grande ideia pode vir de um<br />

probl<strong>em</strong>a simples, mas t<strong>em</strong>os que estar s<strong>em</strong>pre atentos para<br />

aquelas d<strong>em</strong>andas que não são atendidas <strong>em</strong> sua totalidade e<br />

para o fato de que, infelizmente, algumas visões mais puristas<br />

sobre o que é inovar pod<strong>em</strong> tolher a criatividade e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

a própria Inovação.<br />

Márcio Abraham


SUMÁRIO<br />

Capítulo 1 | A Inovação e as Necessidades Mutáveis . . . . . . 11<br />

1.1 A Satisfação do Cliente como Peça Fundamental<br />

da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12<br />

1.2 Uma Proposta Realmente Inovadora . . . . . . . . . . . . . . 16<br />

1.3 Definições Teóricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />

1.4 Ex<strong>em</strong>plos e Benefícios da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

Capítulo 2 | Modelo da Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . 29<br />

2.1 Iniciação ao Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

2.2 Modelo da Explosão da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . 33<br />

Capítulo 3 | O Ambiente Externo como Comburente<br />

da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />

3.1 O Ambiente Externo como Base da Inovação . . . . . . 39<br />

3.2 O Papel do Ambiente Externo na Explosão<br />

da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45<br />

3.3 Tipos de Ambientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47<br />

3.4 Os El<strong>em</strong>entos do Ambiente Externo – CRIARE . . . 52<br />

3.4.1 Competição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55<br />

3.4.2 Recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />

3.4.3 Instabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64<br />

3.4.4 Acesso à Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68<br />

3.4.5 Ruptura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72


3.4.6 Evolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76<br />

3.5 Relação entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos de<br />

Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81<br />

Capítulo 4 | A Capacidade Interna como Combustível<br />

da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85<br />

4.1 A Capacidade Interna como Motor da Inovação . . . . 87<br />

4.2 O Papel da Capacidade Interna na Explosão<br />

da Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90<br />

4.3 Tipos de Empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93<br />

4.4 Os El<strong>em</strong>entos da Capacidade Interna – MACCS . . . 100<br />

4.4.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103<br />

4.4.2 Autonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108<br />

4.4.3 Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114<br />

4.4.4 Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121<br />

4.4.5 Sist<strong>em</strong>a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125<br />

4.5 Relação entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos<br />

de Empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131<br />

Capítulo 5 | A Ideia Criativa como Faísca da Inovação . . . 135<br />

5.1 A Ideia Criativa como Geradora da Inovação . . . . . . 137<br />

5.2 O Papel da Ideia Criativa na Explosão da<br />

Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141<br />

5.3 Tipos de Ideias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143<br />

5.4 Os El<strong>em</strong>entos da Ideia Criativa – SETEC . . . . . . . . . 147<br />

5.4.1 Sentidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150<br />

5.4.2 Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155<br />

5.4.3 Transpiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159<br />

5.4.4 Estalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163<br />

5.4.5 Confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167<br />

5.5 Relação entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos de Ideias . . . 172<br />

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177<br />

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186


Capítulo 1<br />

A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

11


Explosão da Inovação<br />

O conceito de Inovação é amplo e possui muitas definições.<br />

O objetivo deste capítulo é discutir esse conceito sob<br />

duas óticas principais. A primeira delas está focada na dinâmica<br />

entre necessidades mutáveis dos clientes, satisfação dos<br />

clientes, diferenciais competitivos e Inovação. A segunda traz<br />

as dimensões da Inovação subdivididas <strong>em</strong> quatro quadrantes<br />

relacionados ao nível de mudança esperado pela Inovação<br />

(incr<strong>em</strong>ental ou radical) e ao grau de impacto de qu<strong>em</strong> será<br />

afetado diretamente (cliente interno ou cliente externo). Por<br />

fim, são tratados os diversos benefícios da Inovação e alguns<br />

ex<strong>em</strong>plos práticos de casos associados à Inovação.<br />

1.1 A Satisfação do Cliente como<br />

Peça Fundamental da Inovação<br />

O ambiente de negócios enfrentado pelas <strong>em</strong>presas v<strong>em</strong><br />

se modificando a uma velocidade jamais vista. Novos produtos<br />

surg<strong>em</strong>, associados a novas d<strong>em</strong>andas que se modificam<br />

de forma frenética. A busca permanente pela satisfação e pelo<br />

encantamento dos clientes pode se resumir <strong>em</strong> uma simples e<br />

interessante equação:<br />

Equação da Satisfação do Cliente<br />

Se o resultado dessa equação for igual a 1, significa que<br />

os clientes estarão satisfeitos porque oferec<strong>em</strong>os exatamente<br />

aquilo que eles esperavam. Se o resultado da divisão for menor<br />

do que 1, d<strong>em</strong>onstra que não atend<strong>em</strong>os exatamente suas<br />

expectativas. Por fim, se o número obtido for superior a 1, tesatisfação<br />

do cliente =<br />

o que oferec<strong>em</strong>os<br />

o que o cliente espera<br />

12


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

r<strong>em</strong>os uma rara situação <strong>em</strong> que as expectativas dos clientes<br />

foram superadas, gerando algum tipo de encantamento.<br />

O grande probl<strong>em</strong>a dessa equação está na velocidade<br />

com que numerador (o que oferec<strong>em</strong>os) e denominador (o que<br />

o cliente espera) se modificam. Se, <strong>em</strong> algum momento, oferec<strong>em</strong>os,<br />

mais do que o cliente espera, essa razão pode ser superior<br />

a 1. Porém, imediatamente após esse momento, o denominador<br />

se altera e aquele diferencial passa a se tornar uma nova<br />

expectativa.<br />

Vamos a um ex<strong>em</strong>plo prático. Um casal de jovens está<br />

muito <strong>em</strong>polgado com o início do namoro. Digamos que ambos<br />

estejam, de fato, apaixonados. Com o intuito de surpreender<br />

a namorada ao final do primeiro mês, o namorado decide<br />

comprar-lhe um presente. Sai do trabalho e dirige-se imediatamente<br />

ao shopping center mais próximo. Vagando ansiosamente<br />

entre as lojas, depara com aquele que seria, <strong>em</strong> sua<br />

opinião, o presente ideal para aquela ocasião. Um lindo colar<br />

de diamantes o atrai de forma sedutora para uma das vitrines.<br />

Num impulso, adentra a loja de forma determinada e decide<br />

adquirir o objeto, que seria a comprovação da dimensão de seu<br />

encantamento pela moça. Parcela o pagamento do produto <strong>em</strong><br />

12 vezes e sai da loja triunfante, com a certeza de ter feito a<br />

escolha certa para a sua querida paixão. No momento da entrega,<br />

ela abre a <strong>em</strong>balag<strong>em</strong> e sorri, ao mesmo t<strong>em</strong>po assustada e<br />

radiante, diante daquela joia.<br />

Volt<strong>em</strong>os à nossa análise. Certamente, nessa situação, a<br />

qualidade percebida pelo cliente (no caso, a namorada) foi muito<br />

superior à sua expectativa, gerando encantamento. Sob o<br />

ponto de vista mat<strong>em</strong>ático, o resultado da fórmula apresentada<br />

seria muito superior a 1. Contudo, o probl<strong>em</strong>a está na mudança<br />

dos valores. A partir daquele momento, o denominador (o<br />

que o cliente espera) subiu radicalmente; afinal, a expectativa<br />

para os próximos presentes será alta. De forma até inconscien-<br />

13


Explosão da Inovação<br />

te, a jov<strong>em</strong> garota deve ter pensado: “Se eu ganhei um presente<br />

desses com um mês de namoro, o que posso esperar quando<br />

com<strong>em</strong>orarmos o primeiro ano?”. Como dificilmente o jov<strong>em</strong><br />

conseguirá manter esse nível de presentes, <strong>em</strong> algum momento<br />

ele gerará frustração <strong>em</strong> sua namorada, não conseguindo atender<br />

às suas expectativas básicas, as quais ele mesmo alimentou.<br />

Dessa história pod<strong>em</strong>os tirar duas lições importantes. A<br />

primeira está relacionada à dinâmica das expectativas. A tendência<br />

do denominador é s<strong>em</strong>pre aumentar! Isso faz com que<br />

tenhamos que melhorar continuamente. A metáfora mais natural<br />

seria considerar que estamos subindo uma escada rolante<br />

que desce: se não nos mexermos, descer<strong>em</strong>os com a escada. A<br />

segunda lição d<strong>em</strong>onstra que aquilo que oferec<strong>em</strong>os aos nossos<br />

clientes deve ser necessariamente sustentável. Em outras<br />

palavras, não adianta superar significativamente a expectativa<br />

dos nossos clientes se isso não puder ser mantido com o t<strong>em</strong>po.<br />

Uma forma diferente de compreender o conceito de Inovação<br />

é entender que t<strong>em</strong>os que melhorar permanent<strong>em</strong>ente<br />

para satisfazer as d<strong>em</strong>andas crescentes de nossos clientes, e<br />

isso requer Inovação. Afinal, para melhorar t<strong>em</strong>os que fazer<br />

algo novo e melhor do que fazíamos. O numerador depende essencialmente<br />

de nós, porque é aquilo que oferec<strong>em</strong>os. Em contrapartida,<br />

o denominador pode depender tanto de nós quanto<br />

de nossos concorrentes. A questão é que não somos os únicos<br />

a oferecer um diferencial. A mesma linha de raciocínio se aplicaria<br />

ao nosso negócio se os nossos concorrentes estivess<strong>em</strong><br />

oferecendo algo a mais. Em resumo, aquilo que oferecermos<br />

não será s<strong>em</strong>pre suficiente. Pense nisso! Viv<strong>em</strong>os num ambiente<br />

<strong>em</strong> constante mutação. O sucesso de hoje não garante o bom<br />

resultado de amanhã.<br />

Se os seus concorrentes não puder<strong>em</strong> oferecer o mesmo<br />

que você oferece, de forma sustentável, naturalmente a satisfação<br />

dos clientes quanto aos produtos e serviços oferecidos por<br />

14


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

eles será menor. Para isso, eles também terão que inovar sist<strong>em</strong>aticamente.<br />

Certamente, dev<strong>em</strong>os analisar Inovação sob essa<br />

ótica. O que faz<strong>em</strong>os de diferente que fará com que, num determinado<br />

instante, nosso cliente receba algo melhor e mude<br />

sua expectativa?<br />

Vamos discutir esses conceitos à luz de um novo ex<strong>em</strong>plo<br />

prático. Roberto, um hom<strong>em</strong> de aproximadamente 40 anos, decide<br />

presentear o seu filho de 10 anos com um violão. Afinal,<br />

ele s<strong>em</strong>pre acreditou que conhecer música e saber tocar um<br />

instrumento poderia ajudar muito no desenvolvimento social<br />

e artístico do menino Ronaldo. Consider<strong>em</strong>os dois cenários:<br />

Cenário 1 - Roberto entra <strong>em</strong> duas lojas parecidas que<br />

lhe oferec<strong>em</strong> exatamente o mesmo produto. Ambos os vendedores<br />

o tratam b<strong>em</strong>, apresentam exatamente o mesmo preço<br />

e diz<strong>em</strong> que se houver uma proposta melhor no mercado eles<br />

certamente vão cobrir, porque não são de perder negócio.<br />

Cenário 2 - Roberto entra na primeira loja com as características<br />

acima. Depois, entra <strong>em</strong> outra loja <strong>em</strong> que o vendedor,<br />

além de oferecer o produto nas mesmas condições da<br />

outra loja, também lhe oferece um mês de aulas gratuitas de<br />

violão.<br />

No primeiro cenário, Roberto terá que optar por uma loja<br />

com base <strong>em</strong> algum critério subjetivo. Por ex<strong>em</strong>plo, pode ter<br />

gostado mais do primeiro vendedor, ou pelo fato de já estar na<br />

segunda loja, comprar o produto naquele momento, evitando<br />

retornar à primeira. Por fim, poderia tentar negociar algum<br />

desconto que justificasse a sua decisão. No segundo cenário,<br />

pelo mesmo preço, uma loja lhe ofereceu algo a mais. Em termos<br />

da fórmula da satisfação do cliente, a segunda loja ofereceu<br />

mais que a primeira e, com esse diferencial, deveria incentivar<br />

uma decisão de compra <strong>em</strong> seu favor.<br />

De forma prática, no momento <strong>em</strong> que a segunda loja<br />

apresenta a promoção que inclui as aulas de violão, a expec-<br />

15


Explosão da Inovação<br />

tativa dos clientes do mercado aumenta e a primeira loja terá<br />

como consequência um decréscimo da sua qualidade. Para<br />

compensar esse desequilíbrio, poderá acompanhar a mesma<br />

ideia que foi criada pela segunda loja ou terá que gerar outro<br />

tipo de diferencial.<br />

Em suma, as <strong>em</strong>presas, o cliente e o produto são os mesmos,<br />

mas os valores atribuídos ao numerador (o que oferec<strong>em</strong>os)<br />

e ao denominador (o que o cliente espera) possu<strong>em</strong> uma<br />

dinâmica própria e são alterados sist<strong>em</strong>aticamente. Pod<strong>em</strong>os<br />

até mesmo dizer que a segunda <strong>em</strong>presa teve uma ideia inovadora<br />

e que a primeira terá que mudar algo caso queira competir<br />

e conquistar a satisfação do cliente.<br />

Basicamente, essa primeira <strong>em</strong>presa terá dois caminhos<br />

a seguir: copiar ou inovar. Se decidir fazer exatamente o que<br />

a outra fez, estará modificando o que é oferecido por ela, mas<br />

não de forma inovadora. Se buscar uma nova alternativa que<br />

supere a expectativa do cliente num primeiro momento para<br />

que, depois, esta seja modificada permanent<strong>em</strong>ente, estará efetivamente<br />

inovando.<br />

Mudando novamente a perspectiva, a cópia será uma alternativa<br />

viável <strong>em</strong> curto prazo somente se aquilo que foi oferecido<br />

pelo concorrente for possível e fácil de copiar, o que<br />

pode dar uma noção da dimensão das inovações que pod<strong>em</strong> ser<br />

desenvolvidas.<br />

1.2 Uma Proposta Realmente Inovadora<br />

Cham Kim e Mauborgne, especialistas do Insead de Fontainebleau,<br />

propuseram uma análise interessante <strong>em</strong> seu livro<br />

A Estratégia do Oceano Azul. Para eles, um mercado pode ser<br />

formado por dois tipos de oceano: um azul e outro vermelho.<br />

O oceano vermelho oferece uma competição tão acirrada que<br />

16


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

as águas se tornam sangrentas, reduzindo, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

as expectativas de melhores resultados às <strong>em</strong>presas que nele<br />

navegam. A principal referência é o próprio concorrente. O<br />

oceano azul, <strong>em</strong> contrapartida, é constituído por mercados intocados<br />

e por oportunidades de crescimento altamente rentáveis.<br />

As águas são amplas, profundas e inexploradas. Neste<br />

caso, é preciso criar d<strong>em</strong>anda, <strong>em</strong> vez de disputá-la com a concorrência.<br />

Criar um diferencial competitivo pode significar oferecer<br />

ao cliente algo que ele jamais imaginou ou que estava procurando<br />

há t<strong>em</strong>pos, s<strong>em</strong> encontrar. Quando uma <strong>em</strong>presa inova, oferecendo<br />

soluções inéditas aos clientes, ela muda completamente<br />

a dinâmica das relações de expectativa e satisfação, ingressa definitivamente<br />

num oceano azul e, sabendo trabalhar adequadamente,<br />

poderá colher muitos benefícios desse processo.<br />

Vejamos o próprio ex<strong>em</strong>plo deste livro. O que ele possui<br />

de inovador? Se tivermos que considerar que todos os livros<br />

que são lançados possu<strong>em</strong> um novo conteúdo, este, a princípio,<br />

não possui nenhum grande diferencial. É verdade que os autores<br />

que aqui escrev<strong>em</strong> pod<strong>em</strong> retrucar: “Epa! Mas e o conceito<br />

de Inovação que estamos apresentando? Ele é, sim, inovador.<br />

Esse conceito é fruto de nossas pesquisas e estudos de<br />

vários anos e não possui nenhuma metodologia parecida com<br />

ela <strong>em</strong> nenhum lugar do mundo!”. Isso é verdade. Mas a razão<br />

de existência de um livro de negócios é exatamente transmitir<br />

novos conceitos. Onde está a Inovação, portanto?<br />

No entanto, agora, os autores, com um sorrisinho no canto<br />

da boca, esclarec<strong>em</strong>: “Mas esse não é um livro isolado. Junto<br />

com essa obra é possível adquirir o Jogo Explosão da Inovação.<br />

Com ele, você poderá exercitar os conceitos aprendidos e propagá-los<br />

de forma mais divertida e prática para outras pessoas”.<br />

Agora o cenário mudou radicalmente. Um livro que v<strong>em</strong><br />

acompanhado de um jogo? Que história é essa? Isso eu nunca<br />

17


Explosão da Inovação<br />

tinha visto. Na verdade, n<strong>em</strong> tinha imaginado que era possível.<br />

Se eu gostar do conceito de Inovação aqui proposto, posso<br />

apresentar ao meu chefe esse modelo através da dinâmica do<br />

jogo. Além disso, para treinar minha equipe não farei um treinamento<br />

com velhas técnicas e com uso do PowerPoint. Posso,<br />

<strong>em</strong> vez disso, simplesmente jogar com eles. Provavelmente,<br />

permanecerão atentos por mais t<strong>em</strong>po e assimilarão mais conceitos<br />

do que <strong>em</strong> um treinamento convencional. Hummm, gostei<br />

disso... Quando o cliente ou o consumidor pensam assim, é<br />

sinal de que a Inovação aconteceu.<br />

1.3 Definições Teóricas<br />

Para melhor compreender os diversos significados que<br />

o termo Inovação assume, convém analisar, inicialmente, sua<br />

etimologia a partir da orig<strong>em</strong> no latim: innovatio, que significa<br />

“renovação”. O prefixo in assume valor de ingresso, movimento<br />

de introduzir algo, que, no termo innovatio significa introduzir<br />

novidade, fazer algo novo, fazer algo como não era feito<br />

antes.<br />

Um ponto importante para esclarecimento é a análise da<br />

diferença entre “Inovação” e “invenção”. Invenção está associada<br />

a pioneirismo e se caracteriza como a primeira ocorrência<br />

de uma ideia de um novo produto ou processo. Inovação é a<br />

aplicação prática de uma invenção, seja com objetivo social ou<br />

financeiro. Se um produto foi criado, até mesmo patenteado,<br />

significa que houve uma invenção.<br />

Um ex<strong>em</strong>plo bastante interessante é o uso da fibra de<br />

coco na indústria automotiva brasileira. Apesar de ainda custar<br />

mais caro do que as espumas de poliuretano, por ter um<br />

processo artesanal, há várias vantagens <strong>em</strong> seu uso: não gera<br />

impacto ambiental, pode ser mais confortável e ocupa menos<br />

18


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

espaço. Como o futuro da indústria automotiva está associado<br />

a carros menores, menos poluentes e mais confortáveis, poderá<br />

ser uma excelente matéria-prima alternativa. Contudo, a<br />

invenção tornou-se efetivamente Inovação <strong>em</strong> 1994, quando a<br />

Mercedez-Benz do Brasil utilizou a fibra de coco nos encostos<br />

de cabeça de seus caminhões. Não fosse a aplicação prática, o<br />

seu uso teria se limitado apenas à invenção. Como os custos<br />

ainda terão que ser reduzidos para que essa fibra natural seja<br />

competitiva, certamente as inovações incr<strong>em</strong>entais farão a diferença<br />

entre o sucesso e o fracasso dessa matéria-prima no<br />

futuro.<br />

Quando pedimos ex<strong>em</strong>plos sobre Inovação, muitas pessoas<br />

l<strong>em</strong>bram imediatamente do iPod, objeto de desejo de muitas<br />

crianças e adultos. O que t<strong>em</strong> esse produto de tão especial,<br />

se antes dele já havia vários tocadores de MP3 no mercado? O<br />

que tornou o iPod uma referência <strong>em</strong> Inovação não foi apenas<br />

o seu uso, mas uma combinação de design diferenciado, elegância,<br />

ergonomia, facilidade de uso e a criação das lojas virtuais<br />

iTunes e Apps Store, que vend<strong>em</strong> músicas, filmes e diversos<br />

aplicativos on-line, com alguns simples toques de dedo.<br />

O caso do iPod ilustra objetivamente que para inovar é<br />

importante considerar uma combinação de produtos e processos<br />

que permitam o sucesso de uma nova ideia e seu impacto<br />

na sociedade. Essa discussão nos r<strong>em</strong>ete a outra reflexão. Alguns<br />

profissionais defend<strong>em</strong> o uso da Inovação somente para<br />

mudanças radicais, enquanto outros consideram pertinente a<br />

extensão do uso para mudanças incr<strong>em</strong>entais. Entend<strong>em</strong>os<br />

que, apesar dos focos, abordagens e resultados ser<strong>em</strong> distintos<br />

<strong>em</strong> cada situação, o conceito de Inovação pode ser aplicado<br />

aos dois casos. Aliás, a abordag<strong>em</strong> seletiva e purista, focada<br />

apenas nas mudanças radicais, pode trazer danos irreversíveis<br />

para aqueles que não conseguiram enxergar o poder e o<br />

potencial das mudanças residuais. A somatória de várias pe-<br />

19


Explosão da Inovação<br />

quenas mudanças residuais pode se transformar numa mudança<br />

radical para um negócio. Portanto, os gestores não dev<strong>em</strong><br />

esperar que a Inovação seja imposta, mas dev<strong>em</strong> desenvolver<br />

um portfólio de possibilidades inovadoras, da incr<strong>em</strong>ental à<br />

mais radical.<br />

Quando tratamos de satisfação dos clientes, precisamos<br />

avaliar qu<strong>em</strong> são eles. Toda organização possui clientes externos<br />

e internos. Os clientes e os consumidores externos são<br />

impactados diretamente tanto pelos produtos entregues pela<br />

<strong>em</strong>presa quanto por alguns processos, e os clientes internos<br />

são impactados somente pelos processos da <strong>em</strong>presa. Sob o<br />

ponto de vista de gestão de processos, aqueles que afetam os<br />

clientes externos são considerados COP (do inglês, Customer<br />

Oriented Processes – processos orientados ao cliente) e merec<strong>em</strong><br />

atenção especial. Processos COP impactam o grau de<br />

satisfação do cliente externo com os serviços e os produtos<br />

que resultam de suas transformações. Os clientes internos<br />

acabam representando, de uma forma ou de outra, a visão do<br />

próprio negócio. Afinal, se o processo de produção é impactado<br />

positivamente pelo processo de compras, essa melhoria trará<br />

benefícios para o negócio. Essa análise pode, até mesmo, ser<br />

estendida ao processo de gestão <strong>em</strong>presarial, que determinará<br />

o planejamento estratégico da <strong>em</strong>presa, gerando impactos <strong>em</strong><br />

todos os d<strong>em</strong>ais processos da organização.<br />

Os níveis de mudanças e os impactos gerados determinam<br />

dois importantes aspectos da Inovação e pod<strong>em</strong> ser avaliados<br />

na matriz das Dimensões da Inovação, apresentada a seguir,<br />

com ex<strong>em</strong>plos para cada situação.<br />

20


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

Dimensões da Inovação<br />

MUDANÇA<br />

Incr<strong>em</strong>ental<br />

Radical<br />

IMPACTO<br />

nos negócios<br />

nos clientes<br />

Externos<br />

Melhoria<br />

contínua dos<br />

processos<br />

internos<br />

desenvolvimento<br />

de um novo<br />

produto para<br />

uma linha<br />

existente<br />

Instalação de<br />

um processo de<br />

manufatura com<br />

tecnologia<br />

inovadora<br />

lançamento de<br />

um produto<br />

revolucionário e<br />

inexistente no<br />

mercado<br />

Fonte: PADOVANI & ABRAHAM (abril de 2007)<br />

No primeiro quadrante, v<strong>em</strong>os a interface entre impacto<br />

nos negócios e mudança incr<strong>em</strong>ental. Em geral, essas melhorias<br />

estão relacionadas à otimização dos processos internos de<br />

uma organização, focando redução de desperdícios, redução de<br />

custos e melhoria de qualidade. O fato de ser residual e ter<br />

um foco interno não quer dizer que não possa haver Inovação.<br />

Tanto é verdade que conhec<strong>em</strong>os várias <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> que há<br />

a figura clássica do funcionário “Professor Pardal”, aquele sujeito<br />

da manutenção ou do processo produtivo que encontra<br />

soluções inovadoras para tudo. Estamos certos de que exist<strong>em</strong><br />

milhares de soluções brilhantes escondidas nos corredores das<br />

<strong>em</strong>presas brasileiras e que, infelizmente, ficam restritas ao ambiente<br />

de trabalho.<br />

21


Explosão da Inovação<br />

No segundo quadrante (linha superior, à direita), apresentamos<br />

a interface entre mudança radical e impacto nos negócios,<br />

s<strong>em</strong> afetar de forma direta os clientes externos. Qu<strong>em</strong> já<br />

participou da impl<strong>em</strong>entação de novas tecnologias de processo<br />

<strong>em</strong> uma <strong>em</strong>presa pode dimensionar a relevância dessa Inovação.<br />

Não necessariamente a nova tecnologia impl<strong>em</strong>entada é pioneira<br />

no mundo, mas para uma <strong>em</strong>presa implantar uma grande<br />

mudança s<strong>em</strong> ter referências anteriores é extr<strong>em</strong>amente desafiante.<br />

Um caso comum dessa situação são os muitos inventores<br />

que tentam vender suas ideias para as <strong>em</strong>presas, a fim de que<br />

possam se tornar Inovação de fato. Dependendo da relevância<br />

da mudança para a <strong>em</strong>presa, chamamos de “CONTROL-ALT-<br />

DEL”, aquelas três teclas do computador que quando pressionadas<br />

<strong>em</strong> conjunto, faz<strong>em</strong> com que a máquina seja reiniciada.<br />

Algumas <strong>em</strong>presas são obrigadas a mudar toda a sua estrutura<br />

organizacional <strong>em</strong> virtude de tais inovações.<br />

O terceiro quadrante (linha inferior, à esquerda) está<br />

mais focado nos produtos fornecidos pela <strong>em</strong>presa, já que t<strong>em</strong><br />

impacto direto nos clientes externos. Se tais inovações não<br />

foss<strong>em</strong> tão relevantes, não veríamos tantos modelos e versões<br />

gerados para um mesmo produto ou para uma linha de produtos.<br />

Há centenas de ex<strong>em</strong>plos de inovações que ocorr<strong>em</strong> nos<br />

produtos eletroeletrônicos e nos automóveis, mas que representam<br />

uma parcela pequena do produto <strong>em</strong> si. Em muitos casos,<br />

novos produtos acabam gerando novas necessidades para<br />

outros produtos. Se hoje há veículos com conexão Bluetooth<br />

ou com acesso a tocadores de MP3 é porque essas d<strong>em</strong>andas<br />

surgiram. Apesar de relevantes, tais inovações são consideradas<br />

apenas incr<strong>em</strong>entais, mas a somatória de pequenos incr<strong>em</strong>entos<br />

pode gerar uma mudança significativa na percepção<br />

dos clientes. Quando um aparelho de telefone celular apresenta<br />

várias pequenas inovações, a percepção dos clientes é de que<br />

estamos falando de um produto inovador.<br />

22


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

Já tratamos anteriormente da possibilidade que os concorrentes<br />

têm de copiar um produto, <strong>em</strong> vez de inovar. Certamente,<br />

quanto mais radical for a Inovação, menor será a probabilidade<br />

de um concorrente copiá-la. Em certos casos, anos<br />

de investimento <strong>em</strong> pesquisa e desenvolvimento são necessários<br />

para que uma <strong>em</strong>presa recupere o terreno perdido como<br />

consequência de ideias inovadoras de seus concorrentes. Nas<br />

situações mais graves, algumas n<strong>em</strong> chegam a se recuperar e<br />

acabam sucumbindo às inovações do mercado.<br />

Um ex<strong>em</strong>plo de <strong>em</strong>presa brasileira que quebrou por causa<br />

da Inovação dos concorrentes é a Brosol. Líder de mercado<br />

na venda de carburadores, a Brosol não conseguiu combater<br />

o ataque do novo produto concorrente, a injeção eletrônica.<br />

Quando se deu conta de que o fim dos carburadores estava<br />

próximo, já era tarde d<strong>em</strong>ais. Numa tentativa de se manter<br />

no mercado fornecedor da indústria automobilística, comprou<br />

outras <strong>em</strong>presas, com o objetivo de mudar o foco do negócio<br />

para mecanismos de portas, mas isso não foi suficiente para<br />

evitar a falência.<br />

Por fim, o quarto quadrante é aquele que gera menos dúvidas<br />

conceituais. Não há questionamentos sobre as inovações<br />

radicais que impactam diretamente os clientes externos de uma<br />

<strong>em</strong>presa. Há <strong>em</strong>presas centenárias que viv<strong>em</strong> de uma grande<br />

Inovação original. Xerox e Coca-Cola são ótimos ex<strong>em</strong>plos de<br />

<strong>em</strong>presas que nasceram com produtos que são sua referência<br />

até hoje. Um ponto que merece destaque é que a Inovação não<br />

necessariamente está restrita ao produto <strong>em</strong> si. O caso das<br />

Havaianas é interessante, porque o produto original, básico e<br />

orientado para a classe C, sofreu algumas modificações conceituais<br />

de cores e estampas, porém sua estratégia de marketing<br />

que buscou atingir as camadas mais ricas da população e alçou<br />

o produto ao mercado internacional acabou sendo o grande<br />

caso de Inovação.<br />

23


Explosão da Inovação<br />

24<br />

1.4 Ex<strong>em</strong>plos e Benefícios da Inovação<br />

Um caso interessante de Inovação de produto é o da Red<br />

Bull, bebida energética criada pelo austríaco Dietrich Mateschitz.<br />

O curioso foi o processo de Inovação do produto, que<br />

ocorreu na década de 1980. Ex-executivo de uma multinacional<br />

al<strong>em</strong>ã na Tailândia, Mateschitz viajava frequent<strong>em</strong>ente<br />

entre a Europa e a Ásia e sofria dos probl<strong>em</strong>as de jet lag. Esse<br />

probl<strong>em</strong>a fisiológico ocorre como consequência de viagens<br />

através de vários fusos horários, o que se tornou comum com<br />

os voos a jato, e daí o nome <strong>em</strong> inglês (jet, jato; lag, diferença de<br />

horário). Desta forma, após uma viag<strong>em</strong> que passe por vários<br />

fusos horários a pessoa se sente como se o seu relógio biológico<br />

não estivesse no mesmo do horário do local, o que gera<br />

alterações no ritmo cardíaco e probl<strong>em</strong>as de insônia. Em uma<br />

dessas viagens, Mateschitz foi aconselhado a tomar um tônico<br />

chamado Krating Daeng, produzido na própria Tailândia. Não<br />

gostou do sabor, mas ficou entusiasmado com o poder revigorante<br />

da bebida. Após algumas adaptações, Mateschitz lançou<br />

um novo produto chamado de Red Bull, que foi um fracasso<br />

no início, mas que depois mostrou seu poder de mercado, com<br />

bilhões de unidades vendidas anualmente.<br />

Há vários casos de <strong>em</strong>presas que são referências <strong>em</strong> Inovação.<br />

A 3M é considerada uma das <strong>em</strong>presas mais inovadoras<br />

do mundo. Foram centenas de invenções como o Post-it, a fita<br />

adesiva Scotch, o protetor de tecido Scotchgard e as esponjas<br />

de cozinha Scotch-Brite. Essa imag<strong>em</strong> de <strong>em</strong>presa inovadora<br />

é tão forte que a 3M oferece s<strong>em</strong>inários de Inovação orientados<br />

para <strong>em</strong>presários, executivos, professores, estudantes e<br />

consumidores, com o objetivo de compartilhar conhecimento<br />

e experiências.<br />

Outro caso de <strong>em</strong>presa focada <strong>em</strong> Inovação é a Procter<br />

& Gamble, reconhecida por deter marcas globais poderosas


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

como Gillette, Duracell e Hipoglós, e que t<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos de<br />

produtos inovadores, como as batatas Pringles. Na Procter &<br />

Gamble, a forma de inovar não se restringe apenas ao lançamento<br />

de novos produtos, mas estende-se à melhoria de seus<br />

processos. Um ex<strong>em</strong>plo de Inovação no marketing é o uso da<br />

tecnologia LVA (layered voice analysis - análise de voz <strong>em</strong> camadas),<br />

desenvolvida pela <strong>em</strong>presa israelense N<strong>em</strong>esysco, que<br />

permite analisar o tom <strong>em</strong>ocional dos consumidores entrevistados<br />

<strong>em</strong> suas pesquisas.<br />

Essa iniciativa, porém, não se restringe a grandes organizações.<br />

Na verdade, todas as <strong>em</strong>presas, independente de<br />

seu porte, dev<strong>em</strong> inovar. Em geral, esse é o caminho natural<br />

para que as <strong>em</strong>presas cresçam. Um dos maiores provedores de<br />

serviços de comércio eletrônico no Brasil, o grupo Buscapé,<br />

nasceu <strong>em</strong> 1999 com poucos recursos e uma grande ideia. No<br />

início, teve que superar a desconfiança dos consumidores com<br />

relação à publicidade pela Internet e, para atrair clientes no<br />

primeiro ano, a taxa de clique não era cobrada. Em set<strong>em</strong>bro<br />

de 2009, a Naspers Limited adquiriu mais de 90% das ações do<br />

grupo BuscaPé por US$ 342 milhões. Um excelente resultado<br />

para qu<strong>em</strong> inovou e teve visão, persistência e gestão.<br />

Os casos mais difundidos são o de pequenas <strong>em</strong>presas<br />

cujo princípio de criação fundamentou-se <strong>em</strong> algum tipo de<br />

Inovação. Se, por ex<strong>em</strong>plo, uma grande ideia for gerada por<br />

uma pessoa ou um grupo de pessoas e d<strong>em</strong>andar algum tipo<br />

de investimento ou conhecimento de mercado, associar-se a<br />

uma incubadora pode ser uma boa opção. Uma incubadora de<br />

<strong>em</strong>presas é uma entidade que oferece condições e facilidades<br />

necessárias para que uma nova <strong>em</strong>presa sobreviva, cresça e se<br />

desenvolva, principalmente nos três primeiros anos de vida,<br />

período <strong>em</strong> que se observa o maior número de fechamentos e<br />

falências de novos negócios. As incubadoras oferec<strong>em</strong> infraestrutura<br />

física e serviços compartilhados para micros e pe-<br />

25


Explosão da Inovação<br />

quenas <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> sua fase inicial, além de orientação na<br />

gestão <strong>em</strong>presarial, considerando aspectos técnicos, contábeis<br />

e comerciais.<br />

A Inovação pode ser entendida como um processo. Para<br />

que uma <strong>em</strong>presa possa tratá-la como estratégia <strong>em</strong>presarial<br />

e obter dela os ganhos desejados, a alta direção deve entender<br />

sua relevância e estar altamente comprometida. Pelas mudanças<br />

e incertezas associadas a esse processo, s<strong>em</strong>pre há riscos<br />

envolvidos e a <strong>em</strong>presa precisa estar disposta a assumi-los.<br />

Independente do quadrante do qual estivermos tratando,<br />

o essencial é l<strong>em</strong>brar que a Inovação está associada à aplicação<br />

b<strong>em</strong>-sucedida de uma nova ideia, podendo ser de processos, de<br />

produtos, tecnológica, de negócios, de estratégia, entre outras<br />

formas. Não pod<strong>em</strong>os nos esquecer de que a Inovação deverá<br />

s<strong>em</strong>pre gerar algum impacto significativo nos negócios ou nos<br />

clientes.<br />

São muitos os benefícios gerados pelas inovações. Elas<br />

são essenciais porque permit<strong>em</strong> que as <strong>em</strong>presas, oferecendo<br />

diferenciais para os seus clientes, aument<strong>em</strong> a receita, reduzam<br />

custos, atu<strong>em</strong> <strong>em</strong> novos mercados, desenvolvam novas parcerias,<br />

ger<strong>em</strong> plataformas para outras inovações e aument<strong>em</strong> o<br />

valor de suas marcas. Não raro se observam situações <strong>em</strong> que<br />

os impactos gerados se estende a outros níveis, chegando aos<br />

próprios parceiros ou até mesmo às regiões onde as inovações<br />

foram geradas.<br />

As parcerias realizam papel essencial na Inovação. O desenvolvimento<br />

de um novo produto se faz, por ex<strong>em</strong>plo, com<br />

a participação de fornecedores, distribuidores, laboratórios,<br />

institutos de pesquisa e várias outras entidades que precisam<br />

acompanhar esse movimento e acreditar nele. Numa pesquisa<br />

realizada pela <strong>em</strong>presa de consultoria Monitor com especialistas<br />

<strong>em</strong> Inovação sobre as grandes ideias lançadas por <strong>em</strong>presas<br />

nacionais nos últimos anos, o Ecosport foi um dos eleitos,<br />

26


A Inovação e as Necessidades Mutáveis<br />

acompanhado de outros produtos, como as aeronaves 170/190<br />

da Embraer, o sist<strong>em</strong>a bicombustível lançado pela Volkswagen<br />

e a água de coco <strong>em</strong> caixinha desenvolvida pela One, entre<br />

outros produtos. A principal justificativa para a escolha<br />

do Ecosport foi o fato de ter sido o primeiro carro no estilo<br />

off-road lançado no país com preço mais acessível que o dos<br />

modelos importados. S<strong>em</strong> dúvida, é uma boa explicação para<br />

sua escolha, mas não teria sido o sucesso de vendas que foi s<strong>em</strong><br />

a implantação muito b<strong>em</strong>-sucedida do condomínio industrial<br />

da Ford <strong>em</strong> Camaçari, um caso de sucesso que teve de contar<br />

com vários fornecedores que apostaram no projeto Amazon,<br />

liderado por Luc de Ferran.<br />

27


Capítulo 2<br />

Modelo da Explosão da Inovação<br />

29


Explosão da Inovação<br />

Recent<strong>em</strong>ente surgiram muitas definições de Inovação<br />

e explicações de como ela ocorre. Porém, ela é normalmente<br />

citada como sendo um tipo de estratégia que as companhias<br />

utilizam para agregar valor ao seu produto, marca, processo<br />

ou negócio. No capítulo anterior foi apresentada a matriz das<br />

Dimensões da Inovação.<br />

Mas, afinal, por que uma Inovação acontece? Por que algumas<br />

<strong>em</strong>presas consegu<strong>em</strong> ser mais inovadoras do que outras?<br />

O que faz determinada organização desenvolver mais<br />

produtos revolucionários do que suas concorrentes?<br />

São essas e outras perguntas que se pretende responder<br />

a partir desse capítulo. Elas serão respondidas por meio da<br />

apresentação de um modelo desenvolvido segundo a experiência,<br />

o trabalho e os estudos dos autores desta obra na área de<br />

Inovação. Esse modelo se chama Explosão da Inovação e explica<br />

os mecanismos que permit<strong>em</strong> o surgimento de produtos,<br />

serviços, modelos de negócios e processos inovadores.<br />

2.1 Iniciação ao Modelo<br />

A Inovação s<strong>em</strong>pre ocorre a partir da geração de uma<br />

boa ideia, e há várias associações possíveis para esse fato. Um<br />

caso clássico que pod<strong>em</strong>os mencionar é o grito de “Eureka” do<br />

sábio grego Arquimedes, um dos primeiros casos de insight registrados<br />

na história ou do momento da geração de uma ideia.<br />

Conta-se que o rei de Siracusa encomendou a um ourives uma<br />

coroa de ouro maciço. Desconfiado de que o ourives pudesse<br />

estar enganando-o, ele pediu a Arquimedes que descobrisse se<br />

a coroa era somente de ouro. Então de acordo com a lenda,<br />

Arquimedes estava <strong>em</strong> sua banheira entretido com o probl<strong>em</strong>a,<br />

quando, de repente, <strong>em</strong> razão de um lampejo súbito, passou a<br />

correr nu pela cidade gritando “Eureka, Eureka!”, que, <strong>em</strong> gre-<br />

30


MODELO DA EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

go, significa “Descobri, Descobri!”. Realmente, naquele momento<br />

o sábio havia descoberto a Lei de Arquimedes: “Todo<br />

o corpo mergulhado num líquido está sujeito a uma força de<br />

direção vertical (impulsão), de sentido de baixo para cima, e<br />

cuja grandeza é igual ao peso do volume de líquido deslocado”.<br />

Com essa conclusão, poderia avaliar se a coroa do rei fora feita<br />

de ouro maciço ou não. E, por fim, concluiu que o rei havia sido<br />

enganado.<br />

Essa antiga história ajuda a reforçar a importância do lampejo<br />

criativo. Além da palavra “Eureka”, outra representação<br />

comumente associada à geração de uma boa ideia é uma lâmpada<br />

acesa. Essa associação se deve ao fato de que novas ideias<br />

iluminam, traz<strong>em</strong> luz para as pessoas ou para os negócios.<br />

Entende-se que a Inovação acontece a partir da geração<br />

de uma boa ideia. A solução encontrada é, assim, apenas uma<br />

parte da Inovação. Na verdade, é a primeira etapa, o pontapé<br />

inicial. Para se criar algo inovador é necessário trabalhar essa<br />

ideia até conseguir chegar à condição de Inovação de fato.<br />

Na analogia com a luz, se uma boa ideia é representada<br />

pela lâmpada, a Inovação deve ser descrita como um vulcão.<br />

Todo vulcão <strong>em</strong> erupção apresenta grande quantidade de<br />

magma e provoca muito barulho e trepidação nos arredores.<br />

O poder da Inovação é muito similar. Se ela ocorrer, terá a intensidade<br />

e a magnitude de uma erupção. Mas se não ocorrer,<br />

será simplesmente um vulcão adormecido com o potencial de,<br />

qu<strong>em</strong> sabe um dia, provocar uma explosão.<br />

Esse paralelo entre Inovação e vulcão nos r<strong>em</strong>ete imediatamente<br />

ao conceito de explosão. Nela, a luz por si só é<br />

importante e necessária, mas não suficiente. A combustão, uma<br />

reação química exotérmica (que libera calor), é a geradora da<br />

explosão. Essa reação se dá pela combinação de três componentes<br />

que ag<strong>em</strong> de forma compl<strong>em</strong>entar: comburente, combustível<br />

e calor.<br />

31


Explosão da Inovação<br />

Os Componentes de uma Explosão<br />

Combustível<br />

Comburente<br />

Calor<br />

Uma explosão só é possível pela combinação desses três<br />

el<strong>em</strong>entos:<br />

• O combustível é o que fornece a energia para a queima<br />

e é o el<strong>em</strong>ento que entra, de fato, <strong>em</strong> combustão; pode ser gasolina,<br />

madeira, papel, pano, tinta ou alguns metais.<br />

• O comburente é todo el<strong>em</strong>ento que, associado quimicamente<br />

ao combustível, pode fazê-lo entrar <strong>em</strong> combustão; <strong>em</strong><br />

outras palavras, é a substância que reage quimicamente com o<br />

combustível, sendo o oxigênio o mais comum dos comburentes.<br />

A clássica experiência escolar <strong>em</strong> que se coloca um copo<br />

com a boca para baixo sobre uma vela mostra a importância do<br />

comburente, porque, depois de algum t<strong>em</strong>po, a vela se apaga<br />

por falta de oxigênio. Outros possíveis comburentes são o cloro,<br />

o bromo ou o enxofre.<br />

• O calor é o el<strong>em</strong>ento necessário para iniciar a reação<br />

entre combustível e comburente; pode ser uma faísca ou uma<br />

chama, s<strong>em</strong>pre associadas à t<strong>em</strong>peratura de ignição, ou seja,<br />

32


MODELO DA EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

aquela acima da qual um combustível pode queimar.<br />

Esses três el<strong>em</strong>entos combinados (combustível, comburente<br />

e calor) são chamados de O Triângulo do Fogo.<br />

Fórmula da Explosão<br />

E o que isso t<strong>em</strong> a ver com Inovação? Para ocorrer um<br />

processo inovador são necessários também três el<strong>em</strong>entos:<br />

ambiente inovador, que age como o comburente, alimentando e<br />

permitindo que a Inovação ocorra; capacidade interna da <strong>em</strong>presa,<br />

que age como o combustível, propagando a reação; e ideia<br />

inovadora que age como a faísca, dando início ao processo.<br />

2.2 Modelo da Explosão da Inovação<br />

Nesse modelo, a Inovação acontece de forma similar à<br />

combustão. Ela possui três el<strong>em</strong>entos que precisam estar juntos<br />

para que a reação aconteça: o Ambiente Externo, a Capacidade<br />

Interna e a Ideia Criativa. Na ausência de um deles, o<br />

processo não se inicia ou é encerrado no momento <strong>em</strong> que o<br />

el<strong>em</strong>ento necessário à sua continuidade não está presente. A<br />

intensidade e o impacto do processo também estão estritamente<br />

ligados à quantidade de cada um dos componentes presentes<br />

na reação.<br />

33


Explosão da Inovação<br />

Três El<strong>em</strong>entos da Explosão da Inovação<br />

Combustível<br />

Capacidade<br />

Interna<br />

ambiente<br />

Inovador<br />

Ideia<br />

Criativa<br />

Comburente<br />

Calor<br />

Por causa da grande s<strong>em</strong>elhança entre o processo de<br />

Inovação e o da explosão/combustão, o nome do modelo foi<br />

estabelecido como Explosão da Inovação. Esse nome ajuda a<br />

reforçar o conceito e a nortear o seu <strong>em</strong>basamento teórico.<br />

O primeiro componente do modelo é o Ambiente Externo,<br />

o qual t<strong>em</strong> um papel parecido com o comburente na combustão.<br />

Afinal, sua função é alimentar e permitir que a Inovação<br />

ocorra, assim como o comburente alimenta o fogo aceso<br />

permite a explosão e alimenta o fogo aceso. O Ambiente estimula<br />

a Inovação por meio das influências externas e das mudanças<br />

ocasionadas nele. Quando essas mudanças impactam<br />

diretamente a vida e a condição das pessoas e das <strong>em</strong>presas, estas<br />

são instigadas a mudar. Quando o ambiente se torna hostil,<br />

perigoso e probl<strong>em</strong>ático, os agentes que viv<strong>em</strong> nele passam a<br />

procurar formas alternativas de viver dentro dele, e é essa busca<br />

que força o aparecimento de novidades. Assim, é a influência<br />

do meio externo que possibilita o surgimento da Inovação.<br />

34


MODELO DA EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

O segundo el<strong>em</strong>ento é a Capacidade Interna. Ela faz o<br />

papel do combustível na reação explosiva, pois age como propagadora<br />

da reação. É o combustível que fornece a energia necessária<br />

e que, de fato, é queimado durante a combustão. Em<br />

outras palavras, a Capacidade Interna é a energia que o individuo<br />

ou a instituição necessita despender para que a Inovação<br />

ocorra. Além disso, o esforço, o envolvimento, a dedicação e a<br />

competência presentes internamente é que serão usados para<br />

desenvolver a solução proposta para resolver os probl<strong>em</strong>as impostos<br />

pelo Ambiente Externo. Assim, pode-se concluir que<br />

é a capacidade das pessoas e das organizações que promov<strong>em</strong><br />

as condições necessárias para a superação das limitações e dos<br />

desafios a elas impostos.<br />

O terceiro e último componente do modelo da Explosão<br />

da Inovação é a Ideia Criativa, que atua como o calor da combustão,<br />

dando início à reação através de uma faísca ou de uma<br />

fagulha. A ideia é a solução inusitada e não convencional para<br />

solucionar determinado probl<strong>em</strong>a. Por possuir características<br />

conceituais e abstratas (afinal é apenas uma ideia), ela precisa<br />

ser desenvolvida e trabalhada (pela capacidade interna) para se<br />

tornar de fato uma Inovação.<br />

Em resumo, segundo o modelo da Explosão da Inovação,<br />

a ideia criativa surge como reação natural de uma pessoa ou<br />

<strong>em</strong>presa diante de determinada dificuldade ou da hostilidade<br />

imposta pelo ambiente externo. A partir dessa ideia, a capacidade<br />

interna fornecerá a energia para a propagação da solução,<br />

transformando-a <strong>em</strong> algo concreto e viável. A força e a intensidade<br />

desse processo são diretamente proporcionais à quantidade<br />

e intensidade dos três el<strong>em</strong>entos do conjunto. Assim,<br />

quanto mais criativa for a ideia, mais adverso for o ambiente e<br />

maior for a capacidade inovadora da instituição, maiores serão<br />

as chances do surgimento da Inovação.<br />

35


Explosão da Inovação<br />

Os próximos três capítulos apresentarão de forma detalhada<br />

cada um dos el<strong>em</strong>entos da Explosão da Inovação. O<br />

Capítulo 3 trata das influências dos fatores ambientais no<br />

estímulo à Inovação e é intitulado “Ambiente Externo como<br />

Comburente da Inovação”. O Capítulo 4 aborda a capacidade<br />

organizacional de promover as mudanças necessárias e se<br />

chama “Capacidade Interna como Combustível da Inovação”.<br />

O Capítulo 5, “Ideia Criativa como Faísca da Inovação”, fecha<br />

a explicação da metodologia ao tratar da geração de soluções<br />

inusitadas e não convencionais.<br />

36


Capítulo 3<br />

O Ambiente Externo<br />

como Comburente da Inovação<br />

37


Explosão da Inovação<br />

Quando se fala <strong>em</strong> Inovação, <strong>em</strong> capacidade de gerar, desenvolver<br />

e promover produtos e serviços inovadores, primeiramente<br />

pensa-se quase que apenas, no poder e na capacidade<br />

de as <strong>em</strong>presas ou instituições se reinventar<strong>em</strong> no poder criativo<br />

de seus funcionários e na genialidade de um profissional<br />

para “ver o que ninguém viu”. Os méritos da Inovação são quase<br />

que exclusivos da <strong>em</strong>presa, da unidade de negócio, do <strong>em</strong>presário,<br />

do executivo ou da equipe que a concebeu. Segundo<br />

essa linha de pensamento, a geração da Inovação deve-se tão<br />

somente a criatividade humana, à ideia genial ou ao poder de<br />

pesquisa e desenvolvimento de uma equipe de profissionais.<br />

Mas será mesmo que esses pressupostos são válidos? A<br />

Inovação surge a partir do hom<strong>em</strong>, do seu poder criativo e da<br />

sua capacidade transformadora? Uma <strong>em</strong>presa é mais inovadora<br />

do que outra simplesmente pela sua superior capacidade<br />

cultural (cultura organizacional), técnica (habilidade profissional<br />

dos seus funcionários), mercadológica (de vendas e marketing)<br />

ou de previsão do mercado (compreensão das necessidades<br />

e desejos dos clientes)?<br />

A resposta tradicional para todas essas perguntas é<br />

“sim”. Esse é o senso comum. De acordo com essa concepção,<br />

as <strong>em</strong>presas e os indivíduos são os únicos responsáveis<br />

pela geração da Inovação. Essa ideia está tão diss<strong>em</strong>inada que<br />

o modelo mais utilizado pelas <strong>em</strong>presas para a promoção da<br />

Inovação é totalmente fundamentado nessa crença. Segundo o<br />

modelo de Hansen & Birkinshaw, também conhecido como Funil<br />

da Inovação, as <strong>em</strong>presas precisam gerar o maior número<br />

de ideias possíveis, depois dev<strong>em</strong> selecionar as melhores e, por<br />

fim, desenvolver as mais pertinentes. Segundo o modelo, qu<strong>em</strong><br />

tiver maior capacidade para filtrar, selecionar e desenvolver as<br />

ideias inovadoras é qu<strong>em</strong> inova mais.<br />

Porém, considerando esse pressuposto como verdadeiro,<br />

por que, então, algumas pessoas inovam mais <strong>em</strong> determina-<br />

38


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

dos momentos do que <strong>em</strong> outros? Por que pequenas <strong>em</strong>presas,<br />

recém-chegadas ao mercado, s<strong>em</strong> qualquer experiência e conhecimento,<br />

consegu<strong>em</strong> superar grandes e experientes <strong>em</strong>presas<br />

no quesito Inovação? Será mesmo que tudo na Inovação<br />

pode ser explicado apenas pela capacidade dos participantes<br />

do processo criativo?<br />

3.1 O Ambiente Externo como Base da Inovação<br />

Na verdade, o processo de Inovação começa pela influência<br />

externa e não pela capacidade interna da indústria <strong>em</strong> desenvolver<br />

algo inovador. A Inovação surge a partir de uma reação<br />

natural de uma <strong>em</strong>presa, de uma instituição ou de uma pessoa a<br />

fatores ambientais. Ninguém inova porque quer ou porque gosta,<br />

mas porque é preciso ou é levado a isso. É uma reação natural<br />

a um fato ou a uma ocorrência do ambiente externo. Assim, <strong>em</strong><br />

um primeiro momento, a Inovação está mais ligada ao poder de<br />

reação aos fatores ambientais do que à criatividade ou à ideia<br />

inspiradora do indivíduo ou da organização.<br />

O que levou, afinal, os europeus, no final da Idade Média,<br />

a se aventurar<strong>em</strong> <strong>em</strong> grandes expedições marítimas? A curiosidade,<br />

o apreço pela aventura, ou a necessidade de provar<br />

novas teorias <strong>em</strong> relação ao mundo físico? Nenhuma dessas<br />

alternativas. Os europeus se lançaram ao mar para encontrar<br />

uma nova rota para o comércio com as Índias. Os turcos, no<br />

final do século XV, tomaram a cidade de Constantinopla, bloqueando<br />

a rota terrestre que servia para a intermediação do<br />

comércio, deixando os europeus s<strong>em</strong> opção. Ou encontravam<br />

outra rota ou teriam que pagar elevados tributos aos turcos, o<br />

que inviabilizaria o comércio de especiarias com o Oriente. A<br />

solução foi se aventurar pelos mares para encontrar uma rota<br />

marítima. Para isso, desenvolveram grandes naus e aprimo-<br />

39


Explosão da Inovação<br />

raram os instrumentos de navegação. Assim, a Inovação (rota<br />

marítima, navios e modelo de navegação) surgiu a partir de<br />

uma reação a um fator ambiental: o fechamento da rota terrestre<br />

pelos turcos.<br />

A mesma explicação pode ser dada para a Revolução<br />

Francesa. Por que no final do século XVIII os franceses se opuseram<br />

ao poder real? Para promover a liberdade, a igualdade e<br />

a fraternidade? Para promover a divisão do poder que estava<br />

nas mãos de um único hom<strong>em</strong>? É curioso perceber que pouco<br />

mais de um ano após o início da Revolução, a França era<br />

governada pela ditadura de Napoleão Bonaparte (onde estão a<br />

liberdade e a divisão de poderes?), lançava-se <strong>em</strong> guerras contra<br />

os vizinhos (onde está a fraternidade?) e a divisão de classes<br />

continuava tão acentuada como antes (onde está a igualdade?).<br />

A principal explicação para a revolta dos camponeses <strong>em</strong> 1789<br />

foi a situação econômica <strong>em</strong> que o país se encontrava. Novamente,<br />

o ambiente suscitou os acontecimentos humanos. Os<br />

anos precedentes à Revolução foram marcados por inundações<br />

e secas que afetaram a produção de alimentos nas fazendas.<br />

Naquela época, dos 26 milhões de franceses, 20 milhões viviam<br />

no campo <strong>em</strong> condições de vida extr<strong>em</strong>amente precárias. Parte<br />

dos camponeses ainda estava sob o regime de servidão. Com<br />

a destruição da lavoura, os preços dos alimentos subiram excessivamente<br />

(somente os nobres poderiam comprá-los), muitos<br />

proprietários rurais foram à falência e, como conseqüência,<br />

os camponeses invadiram os castelos, executando famílias inteiras<br />

de nobres. Mais uma vez, fatores externos provocaram<br />

mudanças no comportamento humano que geraram inovações<br />

na sociedade, na política e na economia.<br />

Uma das maiores invenções humanas foi o modo de produzir<br />

o fogo. Por que um ancestral nosso juntou um montinho<br />

de mato seco, friccionou dois pedaços de madeira que esquentaram<br />

rapidamente, queimando-os com seu calor e produzindo<br />

40


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

o fogo? Por que ele era muito inteligente e conseguiu prever<br />

os diferentes usos futuros para o fogo? Ou por que ficou pesquisando<br />

várias técnicas para produzi-lo? O principal motivo<br />

é que o ambiente era extr<strong>em</strong>amente hostil. O hom<strong>em</strong> era, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, caça e caçador. À noite, no meio da escuridão,<br />

ele estava suscetível à investida dos seus predadores. Ao efetuar<br />

uma caça, era obrigado a consumir rapidamente a carne,<br />

se não ela apodrecia ou seu cheiro chamava a atenção de outros<br />

animais caçadores. E o frio limitava sua atuação. A descoberta<br />

de como gerar e manipular o fogo aconteceu como uma forma<br />

de auxiliar o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> seu aquecimento, no cozer, na iluminação<br />

e na sua proteção, dando-lhe uma importante vantag<strong>em</strong><br />

sobre os outros animais. Se o ambiente não fosse tão hostil e<br />

o fogo não fosse uma ferramenta importante para solucionar<br />

muitas dessas dificuldades, possivelmente o hom<strong>em</strong> não buscaria<br />

formas para produzi-lo.<br />

A Inovação acontece pelas mãos do hom<strong>em</strong>, mas é originada<br />

pelas causas naturais, situacionais ou ambientais. Não<br />

é muito bonito falar isso, afinal, todos nós gostamos de nos<br />

colocar como “centros geradores de uma ideia ou de uma Inovação”,<br />

mas estas surg<strong>em</strong> fundamentalmente como reações a<br />

fatos do ambiente. Quando o ambiente não pede nenhuma mudança<br />

de atitude, de comportamento ou de ferramenta, muito<br />

provavelmente a Inovação não acontecerá. Compreender a dinâmica<br />

do ambiente, sua influência e suas consequências é o<br />

primeiro passo para entender o processo inovador.<br />

Não está sendo dito aqui que a capacidade interna da <strong>em</strong>presa<br />

ou da instituição não seja importante para a produção da<br />

Inovação. Ela é e será tratada mais adiante no Capítulo 4 – “A<br />

Capacidade Interna como Combustível da Inovação”. O que<br />

se está dizendo é que a capacidade interna não é a única explicação<br />

para o processo inovador, apesar de tradicionalmente<br />

acharmos que sim. E, além disso, não é ela que origina o pro-<br />

41


Explosão da Inovação<br />

cesso de Inovação, mas sim os fatores ambientais.<br />

Aqui surge a primeira grande ruptura no processo de desenvolvimento<br />

da Inovação trabalhado segundo o modelo da<br />

Explosão da Inovação apresentado neste livro. Enquanto no<br />

modelo tradicional a capacidade da organização ou do indivíduo<br />

é que são a base para o surgimento da Inovação, no novo<br />

modelo é a influência do meio externo que possibilita o aparecimento<br />

da Inovação.<br />

Segundo a crença anterior, quanto mais capacitada, com<br />

maior conhecimento e mais criativa for uma <strong>em</strong>presa, mais<br />

inovadora ela será. Nela, a Inovação acontece simplesmente<br />

pela capacidade da <strong>em</strong>presa ser criativa, ser inovadora e desenvolver<br />

novos produtos e serviços que, até então, não existiam.<br />

O estopim do processo acontece no indivíduo (<strong>em</strong>presa<br />

ou pessoa).<br />

Porém, no modelo da Explosão da Inovação, é a característica<br />

do ambiente que forma a base para o surgimento da<br />

Inovação. Quanto mais hostil e desafiador for um ambiente,<br />

maior a chance de seus participantes recorrer<strong>em</strong> à Inovação<br />

para prosperar ou para simplesmente sobreviver. Esse tipo de<br />

ambiente costuma ser turbulento, escasso <strong>em</strong> recursos, com<br />

grande avanço tecnológico, de processos e ideias, com grandes<br />

rupturas, com elevada competitividade e com grande quantidade<br />

de informações disponíveis. A Inovação só acontece porque<br />

o ambiente suscita seu aparecimento.<br />

É importante perceber que não se está dizendo que o ambiente<br />

por si só é capaz de promover a Inovação. Não é o ambiente<br />

que gera a Inovação. Apenas pessoas, <strong>em</strong>presas, instituições,<br />

grupos de pessoas, organizações e governos são capazes de tal<br />

feito. Mas o pontapé inicial, a mola incentivadora, a orig<strong>em</strong> do<br />

processo, assim como os motivos e as causas, vêm do ambiente.<br />

É pela reação ao estímulo do ambiente que o hom<strong>em</strong> age.<br />

A Inovação surge da junção do ambiente com seus probl<strong>em</strong>as,<br />

42


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

da ideia criativa para resolvê-los e da capacidade interna do<br />

hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> colocar essa ideia <strong>em</strong> prática. Só é possível desenvolver<br />

uma ideia criativa após ela ter sido gerada. E só é possível<br />

conceber a ideia criativa se existir um probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> uma<br />

situação ou <strong>em</strong> um cenário.<br />

Veja o caso da Petrobras. Nele, é possível constatar que o<br />

ambiente no qual a <strong>em</strong>presa estava inserida foi determinante<br />

para a geração da Inovação. Em outubro de 1953, o presidente<br />

Getúlio Vargas fundava a Petróleo do Brasil S.A., a Petrobras.<br />

Uma estatal com a missão de desenvolver a atividade do setor<br />

de petróleo no Brasil. Ao longo de sua história, a <strong>em</strong>presa cresceu<br />

sist<strong>em</strong>aticamente, tornando-se líder mundial na produção<br />

<strong>em</strong> águas profundas e uma das maiores <strong>em</strong>presas do mundo.<br />

Afinal, como a Petrobras se tornou uma das grandes <strong>em</strong>presas<br />

do setor de petróleo e líder mundial na produção <strong>em</strong><br />

águas profundas? Por que desenvolveu ao longo dos anos uma<br />

tecnologia que permite a coleta e a extração de petróleo <strong>em</strong><br />

regiões marítimas com grande profundidade? Por que ela pesquisou<br />

e desenvolveu essa competência antes de suas outras<br />

concorrentes, a maioria delas muito maiores e com elevado valor<br />

<strong>em</strong> investimento <strong>em</strong> pesquisa?<br />

Estudando um pouco a história da companhia, é possível<br />

perceber o quanto o ambiente influenciou essa condição.<br />

Com a fundação da <strong>em</strong>presa, o sonho do governo brasileiro era<br />

torná-la uma grande produtora de petróleo (e, por consequência,<br />

o país também o seria) para diminuir a importação desse<br />

produto. E, para conseguir isso, a <strong>em</strong>presa se lançou na busca<br />

de novas reservas pelo país. Porém, um estudo realizado <strong>em</strong><br />

1960 por um grupo de 14 geólogos estrangeiros apresentava<br />

dados pessimistas sobre as reservas petrolíferas brasileiras. As<br />

reservas <strong>em</strong> terra eram poucas e limitadas. Somente com elas<br />

seria impossível o país alcançar uma boa escala de produção.<br />

Era recomendado, portanto, buscar petróleo no mar. A reper-<br />

43


Explosão da Inovação<br />

cussão do relatório foi tão negativa que o geólogo responsável<br />

pelo estudo foi acusado de estar a serviço das multinacionais<br />

estrangeiras.<br />

Porém, o caminho para o aumento da produção do petróleo<br />

no país estava claro. Em 1964, a Petrobras contratou <strong>em</strong>presas<br />

estrangeiras para estudos da extração <strong>em</strong> água. Quatro<br />

anos depois foi feita a primeira descoberta de petróleo no mar.<br />

O futuro da <strong>em</strong>presa estava no mar. A limitação proporcionada<br />

pelo ambiente uma vez que o combustível era escasso <strong>em</strong> terra,<br />

obrigou a <strong>em</strong>presa a orientar as suas pesquisas nessa direção.<br />

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes), criado <strong>em</strong><br />

1963, focava seus estudos <strong>em</strong> prospecção, perfuração e extração<br />

de petróleo no mar. O Cenpes se tornou, ao longo dos<br />

anos, o centro tecnológico que desenvolveu os processos de<br />

exploração e produção <strong>em</strong> águas profundas para a Petrobras.<br />

A produção marítima começou de fato <strong>em</strong> 1973. Em 1974,<br />

foi descoberto o primeiro campo na bacia de Campos, a megabacia<br />

que t<strong>em</strong> hoje aproximadamente 100 mil quilômetros e<br />

concentra a maior parte da produção brasileira. A produção de<br />

petróleo nessa bacia começou <strong>em</strong> 1977, com a tecnologia desenvolvida<br />

pelos pesquisadores da Petrobras para a extração a<br />

300 metros de profundidade. No final da década de 1970, 34%<br />

da produção da <strong>em</strong>presa já era feita no mar.<br />

Ao longo das décadas de 1980 e 1990 foram sendo descobertos<br />

novos campos na bacia de Campos, muitos <strong>em</strong> águas<br />

profundas. Em 1986, a <strong>em</strong>presa já conseguia perfurar poços a<br />

1.200 metros de profundidade e <strong>em</strong> 2000 já produzia a 1.877<br />

metros. Em 2003, a <strong>em</strong>presa passou a operar um campo de<br />

2.691 metros de profundidade e <strong>em</strong> 2004 bateu o recorde brasileiro<br />

ao perfurar um poço de 6.915 metros além do fundo do<br />

mar.<br />

Atualmente, a produção no mar é responsável por aproximadamente<br />

90% da produção nacional de petróleo. A pesqui-<br />

44


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

sa e a produção da Petrobras <strong>em</strong> águas profundas não dev<strong>em</strong><br />

parar nos próximos anos. Entre 2007 e 2008, foram descobertas<br />

novas reservas de petróleo <strong>em</strong> profundidades superiores a<br />

7 mil metros. Trata-se de uma camada chamada de pré-sal que<br />

deve, no mínimo, dobrar a reserva de petróleo do país.<br />

Assim, a posição invejável que a Petrobras alcançou de<br />

ser a líder mundial <strong>em</strong> produção de petróleo <strong>em</strong> águas profundas<br />

é fruto de uma reação da <strong>em</strong>presa a uma situação do<br />

ambiente. É claro que a posição alcançada também se deve ao<br />

trabalho, às pesquisas e à competência adquirida ao longo dos<br />

anos, mas esse esforço todo foi provocado por uma reação ao<br />

ambiente. Se não foss<strong>em</strong> os fatores externos (escassez de petróleo<br />

<strong>em</strong> terra), a <strong>em</strong>presa, provavelmente, não teria atingido<br />

a posição de liderança <strong>em</strong> que se encontra hoje.<br />

3.2 O Papel do Ambiente Externo na Explosão da Inovação<br />

O ambiente externo faz o papel do comburente na reação<br />

da Explosão da Inovação. Comburente é a substância que, <strong>em</strong><br />

uma combustão, estando no meio externo, reage quimicamente<br />

com o combustível, fazendo o calor se propagar.<br />

Na natureza, o principal comburente é o oxigênio presente<br />

no ar. Quanto maior a quantidade desse gás no meio,<br />

maior será a explosão provocada. Sua ausência, por consequência,<br />

inviabiliza a combustão, mesmo quando existe grande<br />

quantidade de combustível presente e calor abundante.<br />

É comum ler <strong>em</strong> jornais e revistas que algumas florestas<br />

estão sofrendo com grandes queimadas. Apesar de muitos<br />

incêndios ter<strong>em</strong> como causa a atividade humana, outros têm<br />

causas naturais. As florestas são áreas suscetíveis a queimadas<br />

pela grande quantidade de oxigênio presente <strong>em</strong> seu ar. Esse<br />

gás é proveniente da fotossíntese dos organismos vegetais, que<br />

45


Explosão da Inovação<br />

consom<strong>em</strong> o gás carbônico do ambiente e expel<strong>em</strong> oxigênio<br />

para a atmosfera. Com o excesso do comburente, qualquer pequena<br />

faísca isolada pode dar orig<strong>em</strong> a grandes incêndios.<br />

Por outro lado, na Lua é quase impossível os astronautas<br />

fazer<strong>em</strong> uma fogueira para se aquecer, devido à baixa quantidade<br />

do gás oxigênio no ar lunar. S<strong>em</strong> o comburente, o calor<br />

gerado por uma faísca não pode ser propagado.<br />

O ambiente externo t<strong>em</strong> para a Inovação o mesmo papel<br />

que o oxigênio t<strong>em</strong> para a combustão: ser o comburente da<br />

reação. O ambiente externo é qu<strong>em</strong> cria as condições para que<br />

o processo da Explosão da Inovação aconteça. Assim como a<br />

presença ou a ausência do oxigênio permite ou evita a combustão,<br />

o ambiente externo pode estimular ou não o surgimento<br />

da Inovação.<br />

Por que o hom<strong>em</strong> viajou para a Lua? Pelo espírito de<br />

aventura, para adquirir novas tecnologias a ser<strong>em</strong> usadas mais<br />

tarde <strong>em</strong> nossa vida cotidiana ou para ganhar conhecimento<br />

do espaço? Na verdade, nenhuma dessas alternativas. Os norte-americanos<br />

desenvolveram o programa Apollo para levar o<br />

hom<strong>em</strong> a Lua antes dos soviéticos como forma de propaganda<br />

política do capitalismo. Era uma maneira de mostrar que o capitalismo<br />

americano era melhor do que o comunismo soviético.<br />

Esse era o período da Guerra Fria, onde as duas potências<br />

duelavam <strong>em</strong> relação a suas ideologias. E se não houvesse a<br />

Guerra Fria haveria viag<strong>em</strong> à Lua? Provavelmente, não. Ou<br />

se houvesse não seria <strong>em</strong> 1969. A viag<strong>em</strong> aconteceria décadas<br />

depois. Do início do programa Apollo até a viag<strong>em</strong> à Lua<br />

se passaram apenas oito anos e foram consumidos cerca de<br />

US$25 bilhões, o equivalente a US$100 bilhões nos dias de hoje.<br />

Valores e prazos muito difíceis de ser<strong>em</strong> aprovados se a missão<br />

não fosse prioritária para o país.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o ambiente leva o hom<strong>em</strong> a<br />

inovar, ele também pode influenciar o hom<strong>em</strong> a não inovar.<br />

46


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

Pode-se ter uma grande ideia criativa e ter toda a capacidade<br />

para desenvolvê-la <strong>em</strong> algo profundamente inovador, mas se<br />

o ambiente externo não fizer a sua parte, essa Inovação pode<br />

d<strong>em</strong>orar muito t<strong>em</strong>po para se concretizar ou até mesmo nunca<br />

acontecer. Qu<strong>em</strong> nunca teve uma ideia criativa, mas não a tirou<br />

do papel ou da mente? Quase todas as pessoas, <strong>em</strong> algum<br />

momento da vida, passam por isso. A transformação do pensamento<br />

para o mundo real precisa sim da influência do ambiente.<br />

Porém, quando há pressão, exigência ou imposição do<br />

ambiente externo as chances de o indivíduo colocar suas ideias<br />

<strong>em</strong> prática são, com certeza, maiores.<br />

3.3 Os Tipos de Ambientes<br />

Exist<strong>em</strong>, metodologicamente, dois tipos de ambientes:<br />

aquele que estimula a Inovação e aquele não estimula a Inovação.<br />

O primeiro é chamado de Ambiente Inovador e o segundo<br />

de Ambiente Não Inovador.<br />

Tipos de Ambientes<br />

ambiente Inovador<br />

x<br />

ambiente não Inovador<br />

Estimula à Inovação<br />

não estimula à Inovação<br />

Ambiente Inovador é aquele que estimula os participantes<br />

ou agentes inseridos nele a mudar. Isso ocorre <strong>em</strong> função<br />

da existência de probl<strong>em</strong>as ou dos desafios impostos. Aqui o<br />

cenário é de elevada hostilidade, o que força os participantes a<br />

encontrar soluções, geralmente por meio de novas ideias, para<br />

os probl<strong>em</strong>as existentes. A mudança é algo latente, necessário<br />

47


Explosão da Inovação<br />

e forçado. As inovações geradas são frutos do instinto de sobrevivência<br />

e são a maneira encontrada para a superação dos<br />

desafios impostos pelo cenário hostil.<br />

Veja o caso da 3M, <strong>em</strong> que o Ambiente Inovador influenciou<br />

e estimulou a <strong>em</strong>presa a inovar. A 3M é considerada uma<br />

das <strong>em</strong>presas mais inovadoras do mundo. Sua capacidade de<br />

criar, produzir e comercializar novos produtos é impressionante.<br />

A companhia t<strong>em</strong> uma meta de pelo menos 30% de sua<br />

receita ser gerada pelos novos produtos criados nos últimos<br />

cinco anos. Essa cultura de devoção à Inovação t<strong>em</strong> raízes históricas.<br />

Fundada <strong>em</strong> 1902, na cidade de Crystak Bay <strong>em</strong> Minnesota,<br />

nos Estados Unidos, a <strong>em</strong>presa nasceu a partir de uma<br />

mina. O plano de negócio era extrair coríndon como abrasivo<br />

para ser vendido aos fabricantes de rebolos de esmeril.<br />

Porém, o destino pregou uma peça nos cinco sócios da<br />

3M: a péssima qualidade do produto que era retirado da mina<br />

inviabilizava sua venda. Não se encontrava comprador disposto<br />

a adquirir o produto. A <strong>em</strong>presa passou por sérias dificuldades<br />

nos primeiros anos e esteve a ponto de falir. Contudo,<br />

para superar esse probl<strong>em</strong>a, seus proprietários e os funcionários<br />

encontraram uma solução. A saída era ela mesma produzir<br />

alguns produtos a partir da matéria-prima extraída da mina.<br />

Escolheu-se a lixa e os rebolos de esmeril. Dessa forma, a 3M<br />

saiu da mineração e passou a ser uma <strong>em</strong>presa de materiais<br />

abrasivos. Foi a primeira grande mudança imposta (pelo ambiente)<br />

na companhia.<br />

A mudança feita naquele momento deu-se, portanto, muito<br />

mais por desespero da companhia e necessidade de resolução<br />

de uma situação limite do que por vontade própria ou gosto pela<br />

Inovação. Ou a <strong>em</strong>presa mudava ou morria. A situação imposta<br />

pelo ambiente (mina com matéria-prima de baixa qualidade e<br />

ausência de compradores) foi determinante para suas escolhas.<br />

48


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

Após se transformar <strong>em</strong> uma <strong>em</strong>presa de materiais abrasivos,<br />

os probl<strong>em</strong>as persistiam. Já com quase dez anos de existência,<br />

a 3M ainda sofria com a baixa qualidade de seus produtos<br />

(afinal, o coríndon usado ainda era de baixa qualidade)<br />

e com a acirrada concorrência que jogava as margens dos produtos<br />

para baixo. Não haveria saída se ela não investisse na<br />

melhoria da qualidade da matéria-prima extraída da sua mina.<br />

Por causa disso, a <strong>em</strong>presa criou seu primeiro laboratório para<br />

o estudo de novos materiais e da melhoria dos existentes. Perceba<br />

que, assim como no ex<strong>em</strong>plo da Petrobras, a criação de<br />

um centro de pesquisa aconteceu para resolver um probl<strong>em</strong>a<br />

ou uma dificuldade imposta pelo ambiente à companhia norteamericana.<br />

Após meses de pesquisa com um mineral artificial, a 3M<br />

lançou seu primeiro produto com sucesso: um novo abrasivo<br />

de tela que trouxe, depois de mais de dez anos, o primeiro lucro<br />

para a <strong>em</strong>presa. O sucesso do novo produto permitiu que<br />

a <strong>em</strong>presa crescesse nos anos seguintes e se livrasse do risco<br />

de falência. Novos produtos de sucesso foram criados pelo laboratório<br />

de pesquisa e a 3M se consolidou no mercado de<br />

abrasivos. Porém, por mais criativo que o laboratório fosse, as<br />

possibilidades de uso para as lixas e os rebolos de esmeril ficavam<br />

cada vez mais limitadas. Não havia muito que crescer<br />

nesse mercado, e o crescimento da <strong>em</strong>presa, por consequência,<br />

começou a diminuir.<br />

Para evitar os apuros que marcaram o início da sua história,<br />

a 3M passou, no início dos anos 1920, a investir <strong>em</strong> produtos<br />

que não foss<strong>em</strong> lixas. Passou a produzir inicialmente ceras<br />

para carros e, depois, fitas adesivas. O sucesso da fita crepe,<br />

<strong>em</strong> 1924, fez com que a diversificação para fora do mercado de<br />

materiais abrasivos fosse instituída. Assim, a companhia foi, ao<br />

longo dos anos, diversificando cada vez mais seu portfólio de<br />

produtos. Mesmo mantendo essa força inovadora ao longo das<br />

49


Explosão da Inovação<br />

décadas seguintes, é possível perceber que o que moveu a 3M<br />

para a mudança e para a busca constante pela Inovação foram<br />

as condições do ambiente.<br />

É um equívoco pensar que o Ambiente Inovador seja capaz<br />

de fazer “todo o serviço”, ou seja, levar as pessoas e <strong>em</strong>presas<br />

a inovar. Este pensamento é muito equivocado. O que<br />

ocorre é que o cenário desafiador e probl<strong>em</strong>ático estimula seus<br />

agentes a mudar oferecendo duas possibilidades: ou a mudança<br />

ocorre ou passa-se o t<strong>em</strong>po todo sofrendo e tendo sua sobrevivência<br />

ameaçada. É esse o ponto central deste capítulo. Não<br />

se está dizendo que o ambiente gera a Inovação. Qu<strong>em</strong> gera a<br />

Inovação é a capacidade interna das <strong>em</strong>presas e das pessoas.<br />

A 3M não teria inovado se não fosse a capacidade e a competência<br />

das pessoas que nela trabalharam e trabalham. Mas é o<br />

Ambiente Inovador que propicia, através da hostilidade e dos<br />

desafios impostos, o surgimento de motivos para <strong>em</strong>presas e<br />

pessoas se mobilizar<strong>em</strong> para a mudança. O Ambiente Inovador<br />

é aquele que apresenta os probl<strong>em</strong>as para ser<strong>em</strong> solucionados.<br />

Se não houver probl<strong>em</strong>a, também não haverá, por consequência,<br />

solução (Inovação).<br />

Nesse sentido, o Ambiente Não Inovador é aquele <strong>em</strong> que<br />

não há estímulos para que os agentes ou participantes mud<strong>em</strong>.<br />

Nele não há probl<strong>em</strong>as ou desafios a ser<strong>em</strong> superados. O cenário<br />

é extr<strong>em</strong>amente amigável, não havendo nenhum incentivo<br />

à mudança. Há um maior esforço para se manter o ambiente<br />

amigável do que para transformá-lo.<br />

Se o ambiente não exige uma mudança de atitude, de<br />

comportamento, de regras, de produtos e serviços e de formas<br />

de trabalho, não há motivo para se buscar algo diferente<br />

do que existe. Para que gastar t<strong>em</strong>po, energia e recursos a<br />

fim de promover uma Inovação <strong>em</strong> um ambiente que não a faz<br />

prioritária n<strong>em</strong> necessária? Esse esforço, nesse caso, pode até<br />

ser completamente inútil. Afinal, qu<strong>em</strong> garante que a Inova-<br />

50


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

ção trazida nesse contexto é necessária e vai ser aplicada de<br />

fato? Se o ambiente não a requer, para que vamos utilizá-la?<br />

Pode-se até estar gastando energia e recursos que mais tarde<br />

seriam necessários para adequar-se a um novo ambiente que<br />

exija Inovação como forma de adequação aos novos cenários.<br />

Porém, deve-se tomar muito cuidado com as afirmações<br />

dos dois parágrafos anteriores. Ambientes Não Inovadores<br />

exist<strong>em</strong>, mas são muito raros. Estes se tornam cada vez mais<br />

raros, a ponto de se poder dizer que se encontram <strong>em</strong> extinção.<br />

Afinal, qual é o ambiente que não apresenta nenhum tipo<br />

de hostilidade e desafios? Qual ambiente não sofre mudanças<br />

periodicamente?<br />

O mais comum é encontrar <strong>em</strong>presas e profissionais que<br />

estejam <strong>em</strong> tamanho estado de comodismo e paralisia que não<br />

perceb<strong>em</strong> que o ambiente à sua volta está <strong>em</strong> constante mutação.<br />

Eles criam uma bolha ao seu redor para se proteger do<br />

que acontece do lado de fora, mas uma hora essa bolha poderá<br />

se romper e eles sofrerão intensamente com a hostilidade externa.<br />

Não pod<strong>em</strong>os confundir agentes ambientais que criam<br />

bolhas artificiais de proteção com Ambientes Não Inovadores.<br />

São coisas diferentes. Os Ambientes Não Inovadores não exig<strong>em</strong><br />

qualquer tipo de Inovação dos seus participantes. Por outro<br />

lado, os agentes que se escond<strong>em</strong> ou fog<strong>em</strong> dos Ambientes<br />

Inovadores, tentando recriar ambientes falsamente estáveis e<br />

amigáveis, terão sérios probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> um futuro próximo.<br />

É equivocado, porém, imaginar que existam apenas esses<br />

dois tipos de ambientes: o Inovador e o Não Inovador. Perceba<br />

o que foi escrito na primeira linha desse tópico: “exist<strong>em</strong>,<br />

metodologicamente, dois tipos de ambientes”. A metodologia é<br />

uma coisa, a vida real é outra. Na prática, há uma infinidade de<br />

cenários distintos, criados a partir desses dois universos, mas<br />

todos eles permeiam esses dois cenários teóricos.<br />

51


Explosão da Inovação<br />

ambiente<br />

não Inovador<br />

Tipos de Ambientes<br />

Teoria<br />

ambiente<br />

Inovador<br />

Infinitos ambientes<br />

Prática<br />

É quase impossível um ambiente ser 100% Inovador<br />

ou 100% Não Inovador. Normalmente, os ambientes são uma<br />

variação desses dois, estando <strong>em</strong> algum ponto à direita do<br />

Ambiente Não Inovador e à esquerda do Ambiente Inovador.<br />

Quanto mais perto de um deles, mais características deste e<br />

menos características do outro ele terá.<br />

O que faz um ambiente ser Inovador ou Não Inovador<br />

são determinados el<strong>em</strong>entos que o compõ<strong>em</strong>. No próximo tópico<br />

serão apresentados esses el<strong>em</strong>entos.<br />

3.4 Os El<strong>em</strong>entos do Ambiente Externo – CRIARE<br />

São seis os el<strong>em</strong>entos que influenciam intimamente a<br />

característica do ambiente. Eles são chamados de CRIARE:<br />

Competição, Recursos, Instabilidade, Acesso à Informação, Ruptura<br />

e Evolução. O conjunto e a combinação do CRIARE é que<br />

apontarão se um ambiente é mais propenso ao surgimento de<br />

inovações ou não. Cada um dos fatores é mostrado a seguir:<br />

52


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

El<strong>em</strong>entos do Ambiente Externo – CRIARE<br />

Competição<br />

Recursos<br />

Instabilidade<br />

Acesso à Informação<br />

Ruptura<br />

Evolução<br />

A Competição refere-se ao nível de rivalidade que determinado<br />

ambiente possui. Quando exist<strong>em</strong> fortes competidores<br />

digladiando-se, t<strong>em</strong>os um ambiente de Rivalidade. Do contrário,<br />

quando não exist<strong>em</strong> concorrentes ou eles são muito fracos,<br />

t<strong>em</strong>os um ambiente de Isolamento.<br />

Os Recursos são os el<strong>em</strong>entos usados pelas <strong>em</strong>presas ou<br />

pessoas para transformar produtos e efetuar transações comerciais.<br />

Os ambientes com baixa quantidade de recursos são<br />

classificados como Escassos. E aqueles que apresentam grande<br />

quantidade de recursos são classificados como Abundantes.<br />

A Instabilidade refere-se ao grau de incerteza que as mudanças<br />

provocam <strong>em</strong> determinado ambiente. Quando ocorr<strong>em</strong><br />

muitas mudanças <strong>em</strong> um pequeno espaço de t<strong>em</strong>po, gerando<br />

elevada instabilidade, esse ambiente é Turbulento. Quando<br />

ocorr<strong>em</strong> poucas mudanças, s<strong>em</strong> afetar o ambiente, ele é considerado<br />

Estável.<br />

O Acesso à Informação, por sua vez, é a quantidade, a<br />

qualidade, a disponibilidade e a facilidade com que os dados<br />

presentes no ambiente são resgatados para uso. Quando um<br />

cenário possui grande quantidade de informações, de alta qualidade<br />

e de fácil acesso, o classificamos como um ambiente Ir-<br />

53


Explosão da Inovação<br />

restrito. Mas, quando o ambiente possui pouca variedade de<br />

informações, estas são de baixa qualidade e, ainda por cima, de<br />

difícil acesso, diz<strong>em</strong>os que esse ambiente é Restrito.<br />

A Ruptura refere-se ao grau de intensidade das mudanças<br />

que um ambiente sofre. Quando ocorre uma mudança radical,<br />

séria e sensível, que altera as bases pelas quais determinadas<br />

<strong>em</strong>presas ou pessoas interag<strong>em</strong>, estamos falando de um ambiente<br />

de Revolução. Mas, quando as mudanças não provocam<br />

a ruptura das bases <strong>em</strong> que se opera, trata-se de um ambiente<br />

de Continuidade.<br />

E, por fim, a Evolução é o grau de progresso que um ambiente<br />

está sujeito a sofrer. Quando a tecnologia, os processos<br />

e os pensamentos e/ou ideias evolu<strong>em</strong> constant<strong>em</strong>ente, o ambiente<br />

é de Progresso. Por outro lado, quando a tecnologia, os<br />

processos e os pensamentos e/ou ideias permanec<strong>em</strong> os mesmos<br />

ao longo do t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> sofrer uma evolução, o ambiente<br />

é de Estagnação.<br />

Neste ponto, pode-se ver que cada el<strong>em</strong>ento, isoladamente,<br />

pode afetar o ambiente à sua maneira, formando assim cenários<br />

distintos pela sua presença ou ausência parcial ou total.<br />

Relação entre os El<strong>em</strong>entos do CRIARE<br />

Isolamento<br />

abundância<br />

Estabilidade<br />

Restrito<br />

Continuidade<br />

Estagnação<br />

Competição<br />

Recursos<br />

Instabilidade<br />

Acesso à Informação<br />

Ruptura<br />

Evolução<br />

Rivalidade<br />

Escassez<br />

Turbulência<br />

Irrestrito<br />

Revolução<br />

progresso<br />

54


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

Antes de analisar a combinação entre esses el<strong>em</strong>entos,<br />

é importante discutir cada um dos seis fatores individualmente.<br />

Esse detalhamento permitirá uma maior compreensão de<br />

como cada um deles interfere na constituição do ambiente.<br />

3.4.1 Competição<br />

A Competição é o grau de disputa que existe <strong>em</strong> um ambiente.<br />

O confronto entre os competidores t<strong>em</strong> como finalidade<br />

a obtenção dos recursos disponíveis, e vence o <strong>em</strong>bate aquele<br />

concorrente que conquistar mais recursos. A Competição<br />

torna os rivais mais fortes e preparados para os desafios que o<br />

futuro reserva.<br />

É curioso notar, mas a maioria dos clubes de futebol que<br />

foram campeões mundiais t<strong>em</strong> pelo menos um grande rival<br />

<strong>em</strong> sua cidade. Muitos de seus principais adversários municipais<br />

também conquistaram o título máximo do futebol, como<br />

no caso de Milan e Internazionale (Milão), Independiente e<br />

Racing Club (Avellaneda), Grêmio e Internacional (Porto Alegre),<br />

e Real Madrid e Atlético de Madrid (Madrid). Apenas<br />

Borussia Dortmund, Santos e Feyennord não possu<strong>em</strong> grandes<br />

rivais na mesma cidade, tendo como principais adversários<br />

times de outros municípios. Com essa constatação, é visível<br />

que a Competição doméstica fortalece os envolvidos para as<br />

disputas internacionais.<br />

A intensidade da disputa entre os participantes está ligada<br />

diretamente ao nível de Competição. Quando exist<strong>em</strong> <strong>em</strong>bates<br />

fortes e constantes entre os oponentes, considera-se que<br />

o ambiente é de Rivalidade. Mas, quando o mercado, o cenário<br />

ou a situação não apresenta nenhum tipo de confronto entre os<br />

oponentes, considera-se como sendo um estado de Isolamento.<br />

Como acontece com todos os outros fatores, dificilmente um<br />

55


Explosão da Inovação<br />

ambiente é definido como de total Rivalidade ou de total Isolamento.<br />

A Competição varia entre essas duas situações.<br />

El<strong>em</strong>ento C – Competição<br />

Isolamento<br />

Rivalidade<br />

ambiente s<strong>em</strong><br />

competição<br />

ambiente com<br />

média competição<br />

ambiente com<br />

total competição<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

Quanto maior a Rivalidade <strong>em</strong> um ambiente (quanto<br />

mais para a direita estiver no eixo Rivalidade/Isolamento),<br />

maior a propensão para os participantes buscar<strong>em</strong> a Inovação.<br />

Neste caso, a <strong>em</strong>presa, a organização e o indivíduo estão condicionados<br />

e motivados para se superar<strong>em</strong> e para superar a concorrência.<br />

Isso ocorre porque a Competição intensa alimenta<br />

a busca incessante pela vitória e pela conquista sobre o outro.<br />

A ideia que norteia aqueles envolvidos pela Rivalidade é<br />

que é s<strong>em</strong>pre preciso melhorar e estar à frente dos outros. A<br />

busca pela vitória inclui a superação dos próprios limites ou a<br />

descoberta de formas mais eficientes e eficazes de fazer o que<br />

já é feito. Quanto mais intensa é a Rivalidade, maior será a<br />

importância dada a cada detalhe do processo. Cada ponto será<br />

observado, e se houver possibilidade de melhoria, ela será feita.<br />

É importante perceber que a rivalidade não t<strong>em</strong> nenhuma<br />

relação com a quantidade de concorrentes,sendo estabelecida<br />

pela qualidade da Competição. Muitas vezes, ter um ad-<br />

56


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

versário grande e importante torna a rivalidade maior do que<br />

ter vários adversários pequenos. Mas também o fato de haver<br />

poucos competidores pode determinar o nível de Competição<br />

entre os envolvidos.<br />

Todos os anos, nos dias 28, 29 e 30 de junho, é realizado<br />

o Festival Folclórico de Parintins. Trata-se da Festa do Boi,<br />

como é chamada pelo povo amazonense. O evento, considerado<br />

o maior espetáculo da floresta Amazônica, atrai anualmente<br />

100 mil pessoas que lotam o bumbódromo para ver a apresentação<br />

dos conjuntos folclóricos inspirados nas lendas de pajelanças<br />

indígenas de várias tribos e dos costumes caboclos da<br />

região.<br />

O maior atrativo da festa, porém, está na competição entre<br />

os dois bois: o Garantido (vermelho) e o Caprichoso (azul).<br />

A essência do festival é a disputa entre as duas agr<strong>em</strong>iações<br />

pela conquista do campeonato. A rivalidade entre os dois bois é<br />

tanta que as torcidas sentam <strong>em</strong> locais separados da arquibancada,<br />

como <strong>em</strong> um estádio de futebol. Quando o Caprichoso<br />

se apresenta, a torcida do Garantido fica <strong>em</strong> silêncio. Quando<br />

é a vez do Garantido se apresentar, a torcida do Caprichoso<br />

se silencia. As pessoas no dia a dia se apresentam como sendo<br />

Garantido ou Caprichoso. Muitas não vest<strong>em</strong> as cores do rival.<br />

Os preparativos e a confecção das alegorias, das fantasias<br />

e das coreografias têm início meses antes do festival. O ensaio<br />

propriamente dito começa com dois meses de antecedência.<br />

Cada boi possui um quartel general <strong>em</strong> que os preparativos,<br />

a produção dos materiais e os ensaios são feitos. Os turistas,<br />

o público e os participantes que visitam o Boi-Bumbá ficam<br />

impressionados e sa<strong>em</strong> contagiados com as alegorias representadas<br />

pelos carros alegóricos, com as fantasias, com o sincronismo<br />

das danças e com a música.<br />

O curioso é que a rivalidade entre os dois bois é tanta que<br />

qu<strong>em</strong> ganha é a festa. Cada detalhe da fantasia, da coreografia<br />

57


Explosão da Inovação<br />

e das músicas é levado <strong>em</strong> consideração. Os ensaios são realizados<br />

à exaustão. O nível técnico do evento é tamanho que<br />

os artistas parintinenses são muitas vezes contratados pelas<br />

principais escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo<br />

para assessorá-las no Carnaval. Os artistas e os técnicos do<br />

Caprichoso e do Garantido fornec<strong>em</strong> consultoria sobre fantasia,<br />

efeitos visuais dos carros alegóricos e evolução das escolas<br />

de samba na avenida.<br />

Por que as principais escolas de samba do eixo Rio-São<br />

Paulo têm que trazer profissionais do Amazonas, um estado<br />

tão distante, para enriquecer seu Carnaval? A justificativa é<br />

técnica. Os profissionais envolvidos no Festival de Parintins<br />

são de excelente qualidade, muitos sendo considerados os melhores<br />

do Brasil <strong>em</strong> sua área de atuação. A alta qualificação é<br />

uma consequência natural da grande rivalidade. A rivalidade<br />

que existe <strong>em</strong> Parintins supera <strong>em</strong> muito a existente entre as<br />

escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro. Vencer o<br />

Carnaval é o objetivo de cada escola, mas perdê-lo é algo que<br />

pode acontecer (na verdade, a probabilidade de derrota é maior<br />

que a de vitória, afinal, entre 12 e 16 escolas participam da<br />

disputa). No entanto, sair da festa do Boi-Bumbá derrotado é<br />

algo que será carregado por um ano inteiro. Ver seu principal<br />

e único adversário ostentar a vitória por doze meses é algo<br />

inimaginável e imperdoável para os fãs do Caprichoso e do Garantido.<br />

A vitória é questão de honra, por isso, o apreço pelos<br />

detalhes e a necessidade de se superar e de superar s<strong>em</strong>pre o<br />

concorrente. Nesse contexto, é natural a exigência pela elevada<br />

competência dos profissionais envolvidos e pela excelência<br />

no trabalho feito.<br />

Quanto mais isolado for um ambiente (mais para a esquerda<br />

ele estiver no eixo), menor será a propensão para a<br />

Inovação. Isso ocorre porque o desejo de mudança é alimentado<br />

pela ameaça que v<strong>em</strong> do outro, logo, quando uma pessoa ou<br />

58


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

<strong>em</strong>presa está sozinha, s<strong>em</strong> sofrer a influência e a pressão dos<br />

outros, ela não se sente ameaçada e não é impelida de mudar.<br />

Para que mudar algo se não há pressão de outro para isso?<br />

Para que alterar as formas como as coisas são feitas se não há<br />

ninguém influenciando a mudança? Não faz sentido provocar<br />

uma mudança se o cenário é de total isolamento. Nesse caso,<br />

a segurança proporcionada pela manutenção do isolamento é<br />

maior do que as oportunidades provenientes da possível alteração.<br />

Antes da privatização ocorrida <strong>em</strong> julho de 1998, o país<br />

tinha apenas uma <strong>em</strong>presa de telecomunicações: a Telebrás.<br />

Sendo a única fornecedora do serviço de telecomunicação, a<br />

companhia não tinha muita pressa n<strong>em</strong> necessidade de inovar<br />

ou de melhorar seus produtos e processos. Eram comuns nesse<br />

período filas para a obtenção de linhas de telefone fixo e a<br />

pouca disponibilidade de grandes e caros aparelhos de telefone<br />

celular. A regra era: qu<strong>em</strong> tiver interesse nos produtos e serviços<br />

de telecomunicações deve esperar e pagar o quanto for<br />

definido pela Telebrás. Nesse cenário, por que a <strong>em</strong>presa iria<br />

pensar <strong>em</strong> melhorar e inovar? Não fazia sentido. Os consumidores<br />

não iriam trocá-la por outra n<strong>em</strong> deixariam de utilizá-la.<br />

3.4.2 Recursos<br />

Os Recursos são usados pelas pessoas e pelas organizações<br />

ao longo da transformação dos produtos até a sua comercialização.<br />

Pod<strong>em</strong> ser considerados Recursos as matérias-primas,<br />

o dinheiro circulante no mercado, o t<strong>em</strong>po, a quantidade<br />

de funcionários disponíveis para se fazer determinados trabalhos<br />

etc.<br />

O Japão é um país habitado por aproximadamente 130<br />

milhões de pessoas distribuídas <strong>em</strong> um território formado por<br />

59


Explosão da Inovação<br />

3.900 ilhas. Ele pode ser considerado rico <strong>em</strong> relação a alguns<br />

Recursos e pobre <strong>em</strong> relação a outros. Pode-se afirmar que o<br />

Japão possui um grande número de pessoas com educação e<br />

conhecimento científico e tecnológico elevados, além de possuir<br />

uma grande frota pesqueira. Por outro lado, o país t<strong>em</strong><br />

poucas terras para cultivar (apenas 14% do território) e poucos<br />

Recursos naturais, como petróleo e minerais.<br />

Quando o ambiente apresenta baixa quantidade de determinado<br />

recurso, ele é considerado Escasso. Mas se o tiver<br />

grande quantidade, ele é tido como Abundante. Condições intermediárias<br />

ficarão situadas ao longo do eixo horizontal da<br />

figura a seguir.<br />

El<strong>em</strong>ento R – Recursos<br />

abundância<br />

Escassez<br />

ambiente com<br />

muitos recursos<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com uma<br />

quantidade de<br />

recursos mediana<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

poucos recursos<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

A quantidade de Recursos disponíveis <strong>em</strong> um ambiente<br />

afeta diretamente a vida e as ações dos homens inseridos nele.<br />

Ter muito ou pouco de algo condiciona o comportamento humano<br />

de maneira a obtê-lo, conservá-lo e gastá-lo. Toda cultura<br />

local é, <strong>em</strong> grande parte, originada pela característica dos<br />

Recursos da região.<br />

60


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

A percepção disso é muito clara no caso do japão. Qual é<br />

a consequência da falta de terras para o cultivo de alimentos<br />

para abastecer a grande população japonesa? O uso de cada espaço<br />

do solo precisa ser muito b<strong>em</strong> aproveitado. Dessa forma,<br />

as propriedades rurais são pequenas e os agricultores usam a<br />

terra com economia, aproveitando cada pequeno espaço. Eles<br />

plantam o máximo possível <strong>em</strong> cada hectare e utilizam técnicas<br />

e maquinário b<strong>em</strong> sofisticados. É incrível, mas mesmo com<br />

todas as limitações de Recursos, o Japão produz mais de dois<br />

terços das frutas, dos vegetais e do arroz consumidos pela sua<br />

população. Além disso, a cultura japonesa prima pelo não desperdício<br />

de alimentos e pela valorização do trabalho no campo,<br />

que é feito por uma pequena parcela da população. É uma<br />

situação muito diferente, por ex<strong>em</strong>plo, da Índia, onde há uma<br />

grande quantidade de terras cultiváveis, quase 50% do território<br />

indiano. Por consequência, a maioria das famílias indianas<br />

mora e trabalha no campo, onde se pratica uma agricultura<br />

completamente diferente da do Japão, com técnicas e máquinas<br />

muito simples e tendo como base do trabalho a força humana.<br />

A finalidade da produção é essencialmente abastecer a própria<br />

família. Há níveis elevados de desperdício e a produtividade é<br />

baixa.<br />

Assim, quanto mais escasso <strong>em</strong> Recursos for um ambiente<br />

(mais para a direita estiver no eixo Escassez/Abundância),<br />

maior a propensão para a Inovação. Isso ocorre porque, <strong>em</strong><br />

ambientes de Escassez, a obtenção dos Recursos pela forma<br />

convencional e tradicional não é suficiente. É necessário muito<br />

esforço e formas alternativas para obtê-los. Quando se pretende<br />

conseguir grandes quantidades de Recursos, os esforços e a<br />

Inovação na forma de consegui-los deve ser redobrada.<br />

A escassez dos Recursos traz um probl<strong>em</strong>a grave para<br />

os participantes do ambiente. Como obtê-los? Essa probl<strong>em</strong>ática<br />

suscita naturalmente uma solução, a qual, para ser b<strong>em</strong>-<br />

61


Explosão da Inovação<br />

sucedida, precisa ser inovadora. Quando uma ideia inovadora<br />

é colocada <strong>em</strong> prática de forma eficiente, qu<strong>em</strong> está inovando<br />

consegue muito mais Recursos do que os d<strong>em</strong>ais, forçando<br />

qu<strong>em</strong> não inovou e está tendo agora mais dificuldade <strong>em</strong> obter<br />

Recursos a inovar também. A falta de Recursos induz a uma<br />

competição desenfreada pela Inovação.<br />

Em 1979, com a interrupção da produção e venda do petróleo<br />

iraniano, o mundo passou pelo que ficaria conhecido<br />

como o Segundo Grande Choque do Petróleo. Nesse período, o<br />

preço médio do barril duplicou, passando de aproximadamente<br />

US$ 40 para US$ 80, <strong>em</strong> preços de hoje. Com isso, um recurso<br />

que era usado intensamente por todos os países, tornou-se extr<strong>em</strong>amente<br />

caro. O governo brasileiro, que importava a maior<br />

parte do petróleo consumido, ficou <strong>em</strong> uma situação delicada:<br />

o que fazer visto que a d<strong>em</strong>anda desse produto crescia ano a<br />

ano, estimulada pelo crescimento econômico do país? Parar de<br />

comprá-lo significava interromper o crescimento e comprá-lo<br />

significava acumular um grande déficit nas contas externas. A<br />

solução encontrada foi criar um programa de substituição dos<br />

derivados de petróleo por combustíveis feitos à base de álcool<br />

hidratado, o chamado Pró-Álcool. Além de estimular a produção<br />

do novo combustível, o governo obrigou o acréscimo de<br />

uma fração de álcool anidro (entre 1,1% a 25%) no volume de<br />

gasolina pura. O resultado desse programa foi que o país hoje<br />

é o líder mundial na produção de álcool como combustível,<br />

além de ser dono da melhor tecnologia de produção, distribuição<br />

e venda do produto. Muito provavelmente, o país não teria<br />

se dedicado tanto à busca de uma solução inovadora (um novo<br />

tipo de combustível) se não fosse a escassez que o ambiente lhe<br />

impôs.<br />

Quanto mais abundante de Recursos for um ambiente<br />

(mais para a esquerda ele estiver no eixo), menor será sua<br />

propensão para a Inovação. Afinal, para que se preocupar com<br />

62


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

formar alternativas criativas de se obter algo se o acesso ao<br />

que se quer é fácil? Para que se preocupar com a obtenção<br />

dos recursos se eles são fartos no cenário? Nesse caso, ficar<br />

pensando <strong>em</strong> formas inovadoras pode prejudicar a coleta de<br />

recursos (afinal, é preciso investir t<strong>em</strong>po e esforços para se<br />

produzir novas ideias).<br />

Um ambiente com grande quantidade de Recursos leva<br />

naturalmente as pessoas e as <strong>em</strong>presas inseridas nele ao conservadorismo.<br />

Qu<strong>em</strong> nunca ouviu dizer que “<strong>em</strong> time que está<br />

ganhando não se mexe!”.<br />

Imagine duas classes de alunos de faculdades distintas. A<br />

primeira é formada por 45 homens e 5 mulheres. A segunda é<br />

exatamente o oposto: 45 mulheres e 5 homens. Se, além de estudar,<br />

todos os alunos quiser<strong>em</strong> encontrar na própria sala uma<br />

pessoa do sexo oposto para namorar, muito provavelmente ter<strong>em</strong>os<br />

probl<strong>em</strong>as. As duas classes pod<strong>em</strong> formar apenas cinco<br />

casais cada uma. As d<strong>em</strong>ais 40 pessoas de cada uma ficarão<br />

s<strong>em</strong> namorado. Apesar de a situação ser parecida, ser hom<strong>em</strong><br />

ou mulher <strong>em</strong> cada uma delas é sensivelmente diferente. Se<br />

você faz parte do sexo minoritário da classe, sua chance de<br />

namorar é altíssima. Há muito mais pretendentes do que concorrentes,<br />

e seu leque de escolhas é muito alto. É você qu<strong>em</strong><br />

vai escolher seu par. A obtenção de um namorado ou de uma<br />

namorada, nesse caso, não exigirá tanto esforço da sua parte.<br />

Pelo contrário, provavelmente serão os outros que se esforçarão<br />

para se relacionar com você. Porém, se você fizer parte do<br />

sexo predominante da classe, sua chance diminui consideravelmente.<br />

Suas opções de escolha são de apenas cinco candidatos<br />

e a concorrência é de 44 pessoas. Muito provavelmente, seu<br />

esforço para conseguir um namorado ou uma namorada vai ser<br />

maior do que no primeiro caso. Para se destacar <strong>em</strong> relação aos<br />

outros pretendentes você terá que fazer coisas diferentes para<br />

atrair a atenção e usar a criatividade para conquistar um par.<br />

63


Explosão da Inovação<br />

É importante perceber que não se está dizendo que o ambiente<br />

determina a ação do hom<strong>em</strong>. Há uma teoria humana,<br />

chamada Determinismo, que afirma que o hom<strong>em</strong> é essencialmente<br />

fruto do meio. Não é isso o que estamos apontando. O<br />

que está sendo abordado é que o meio, a partir do excesso ou<br />

da falta de determinados Recursos, influencia de forma significativa<br />

a vida humana. Ele não determina, mas influencia.<br />

3.4.3 Instabilidade<br />

A Instabilidade refere-se ao grau de turbulência a que<br />

um ambiente está sujeito. Ela é caracterizada pela constância<br />

com que as mudanças ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> um determinado espaço de<br />

t<strong>em</strong>po.<br />

Um bom modo para se entender a Instabilidade é fazendo<br />

uma analogia com aviões. Quando eles voam s<strong>em</strong> balançar<br />

muito (s<strong>em</strong> mudar muito sua posição vertical ou horizontal),<br />

pode-se dizer que a viag<strong>em</strong> está tranquila e estável, ou seja,<br />

s<strong>em</strong> Instabilidade. Porém, se a viag<strong>em</strong> é caracterizada por<br />

muitas mudanças de altitude e de rumo, diz-se é instável e turbulenta,<br />

portanto, com grande Instabilidade.<br />

A Instabilidade não t<strong>em</strong> relação com a intensidade das<br />

mudanças, mas com a sua frequência. A intensidade da mudança<br />

é outro el<strong>em</strong>ento que compõe a formação do ambiente<br />

externo o que recebe o nome de Ruptura, mas isso será visto<br />

mais adiante. Essa é a principal diferença entre Instabilidade e<br />

Ruptura. Enquanto a primeira se refere a um medidor quantitativo<br />

das alterações pelas quais um ambiente passa, a segunda<br />

está ligada a indicadores qualitativos. Pode-se, assim, dizer que<br />

um avião caiu (evento brusco e intenso – grande ruptura com<br />

a situação anterior) mesmo tendo feito uma viag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> apresentar<br />

qualquer Instabilidade.<br />

64


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

O mesmo ocorre com as condições meteorológicas. Se<br />

um dia apresentou muitas mudanças no t<strong>em</strong>po, começando<br />

com sol, depois chuva, mudando para sol de novo e no fim da<br />

tarde outra chuva, afirma-se que o t<strong>em</strong>po foi instável. Essa<br />

afirmação não faz nenhuma referência à intensidade da chuva<br />

ou do calor provocado pelo sol, mas aponta apenas a grande<br />

quantidade de variações <strong>em</strong> um período.<br />

Quando o ambiente passa por mudanças constantes, ele<br />

é classificado como Turbulento. Por outro lado, quando o ambiente<br />

externo não muda, apresentando-se constante ao longo<br />

do t<strong>em</strong>po, ele é classificado como Estável. Porém, dificilmente<br />

um cenário pode ser caracterizado como totalmente instável ou<br />

totalmente estável. Ele normalmente varia no eixo horizontal.<br />

El<strong>em</strong>ento I – Instabilidade<br />

Estabilidade<br />

Turbulência<br />

ambiente<br />

totalmente<br />

estável<br />

ambiente equilibrado<br />

entre instabilidade<br />

e estabilidade<br />

ambiente<br />

totalmente<br />

instável<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

Quanto mais instável for um ambiente (mais para a direita<br />

estiver no eixo Turbulência/Estabilidade), maior a propensão<br />

para a mudança e, consequent<strong>em</strong>ente, para o surgimento<br />

da Inovação. Isso ocorre porque, <strong>em</strong> ambientes de Turbulência,<br />

o cenário externo sofre mudanças constantes, o que força<br />

65


Explosão da Inovação<br />

as <strong>em</strong>presas, as instituições e as pessoas a acompanhar<strong>em</strong> essas<br />

alterações. Mudanças rápidas e constantes provocam o aparecimento<br />

de muitas oportunidades e de várias ameaças ao status<br />

quo. Nesse caso, é mais perigoso “ficar parado” do que “movimentar-se<br />

para a mudança”. A Inovação ocorre naturalmente<br />

quando se é obrigado a tomar decisões sobre qual caminho<br />

seguir entre as várias opções que surg<strong>em</strong> no horizonte.<br />

Um ex<strong>em</strong>plo disso é o mercado brasileiro de bancos. Esse<br />

mercado sofria até o início da década de 1990 com o alto índice<br />

de inflação e com os vários pacotes econômicos que governo<br />

estabelecia. O cenário era de grande turbulência. A inflação<br />

corroia diariamente o valor da moeda e as regras econômicas<br />

mudavam constant<strong>em</strong>ente. O que fazer para sobreviver nesse<br />

ambiente? Os bancos partiram para a informatização de seu<br />

sist<strong>em</strong>a. Só com um controle automatizado do serviço bancário<br />

seria possível implantar as alterações de regras geradas<br />

pelo governo e atualizar o valor monetário do capital. Nesse<br />

ambiente altamente instável, a Inovação floresceu e o país passou<br />

a ostentar um dos sist<strong>em</strong>as bancários mais eficientes do<br />

mundo. Com o fim dos altos índices de inflação e dos pacotes<br />

econômicos <strong>em</strong> 1994, o ambiente tornou-se parcialmente estável.<br />

Nesse momento, vários bancos internacionais tentaram<br />

entrar no mercado brasileiro para competir com os bancos nacionais,<br />

mas não conseguiram. A vantag<strong>em</strong> competitiva criada<br />

nos t<strong>em</strong>pos de incerteza e de Instabilidade tornou os bancos<br />

brasileiros muito mais competitivos do que aqueles que estavam<br />

acostumados a operar <strong>em</strong> mercados estáveis.<br />

Quanto mais estável for um ambiente (mais para a esquerda<br />

ele estiver no eixo), menor será a propensão para a mudança.<br />

Isso ocorre porque quando o cenário externo não muda faltam<br />

novas oportunidades para se aventurar pelo desconhecido.<br />

Além disso, as ameaças já são velhas conhecidas e participam<br />

desse ambiente. Assim, é mais garantido aplicar as fórmulas de<br />

66


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

negócios que tiveram êxito no passado (e que provavelmente<br />

darão certo novamente – afinal, nada mudou) do que se arriscar<br />

por algo novo e, possivelmente, incerto.<br />

A indústria canavieira é a atividade legal mais antiga do<br />

país, juntamente com a extração de madeira. Em 1517, alguns<br />

anos depois da descoberta do Brasil, os portugueses já haviam<br />

instalado engenhos de açúcar <strong>em</strong> terras brasileiras. O nome<br />

engenho era atribuído, não apenas à fábrica de açúcar, mas<br />

a toda a estrutura na qual ela funcionava, incluindo a casagrande,<br />

a senzala, as terras e as plantações. Nas fazendas, a<br />

cana-de-açúcar era plantada, colhida e espr<strong>em</strong>ida, e o caldo<br />

era engrossado e solidificado, para depois secar e se purificar o<br />

açúcar. Nesse momento, o açúcar podia ser colocado <strong>em</strong> caixas<br />

para ser exportado. O tipo de trabalho usado era prioritariamente<br />

escravo – inicialmente com os índios e depois com os<br />

negros.<br />

Os anos foram se passando e a indústria canavieira cresceu<br />

ao ponto de se tornar o principal setor da economia brasileira.<br />

Já <strong>em</strong> 1560, o açúcar brasileiro era um it<strong>em</strong> importante<br />

no comércio com Portugal e, durante os séculos XVI, XVII<br />

e XVIII, permaneceu como o principal produto da economia<br />

do país. O lento declínio e a perda de importância desse setor<br />

iniciaram-se na segunda metade do século XVIII e aprofundaram-se<br />

durante o século XIX, quando o açúcar foi desbancado<br />

pela produção de café.<br />

Ao longo dos anos, o Brasil transformou-se, industrializou-se<br />

e tornou-se urbano. Sua economia cresceu e se diversificou,<br />

e as leis trabalhistas foram promulgadas, concedendo<br />

direitos aos trabalhadores. Porém, o cenário do qual os produtores<br />

de açúcar faziam parte mudou pouco ao longo dos séculos.<br />

S<strong>em</strong>pre que havia alguma turbulência no setor econômico<br />

ou produtivo do país, o governo se colocava à disposição para<br />

conceder subsídios e regalias. A legislação trabalhista nunca<br />

67


Explosão da Inovação<br />

foi aplicada aos trabalhadores do campo, de modo que o ambiente<br />

<strong>em</strong> que a indústria do açúcar operava não incentivava<br />

a mudança. Era um Ambiente Não Inovador, no qual nada de<br />

relevante aconteceu ao longo de quase cinco séculos.<br />

Assim, na metade da década de 1990, o setor era visto<br />

como um fiel retrato do Brasil arcaico: um sist<strong>em</strong>a econômico<br />

marcado pelo coronelismo e pela exploração do trabalho s<strong>em</strong>iescravo,<br />

alheio às leis trabalhistas, produtivamente ineficiência<br />

e recebedor de subsídios e regalias governamentais.<br />

Mas por que a indústria de açúcar não se modernizou até<br />

a metade da década de 1990? Porque não precisou! O ambiente<br />

s<strong>em</strong>pre foi tranquilo e muito amigável com suas <strong>em</strong>presas.<br />

Quando alguma coisa ameaçava torná-lo um pouco turbulento,<br />

diversas medidas eram tomadas para mantê-lo estável. A natureza<br />

dessa situação podou a geração da Inovação. As <strong>em</strong>presas<br />

dessa indústria mantiveram as práticas, os processos, os ideais e<br />

a forma produtiva de quinhentos anos atrás porque era confortável<br />

para elas. Para que mudar se estava tudo como s<strong>em</strong>pre foi?<br />

É verdade que nos últimos anos esse setor modernizou<br />

-se, passou a incorporar novas práticas de gestão e inovou <strong>em</strong><br />

seu processo produtivo, mas a explicação dessa mudança foi a<br />

alteração do ambiente externo. A possibilidade do uso do etanol<br />

brasileiro como alternativa mundial de combustível renovável,<br />

o maior interesse de grandes grupos nacionais e internacionais<br />

<strong>em</strong> ingressar nesse mercado e o fim dos subsídios governamentais<br />

tiraram esse mercado do marasmo <strong>em</strong> que se encontrava.<br />

3.4.4 Acesso à Informação<br />

O Acesso à Informação é a combinação entre qualidade,<br />

variedade e a facilidade com que os dados pod<strong>em</strong> ser resgatados<br />

<strong>em</strong> um determinado ambiente. A informação é importante,<br />

68


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

pois fornece aos agentes do ambiente o conhecimento e a capacidade<br />

necessária para gerar a Inovação. Em uma metáfora<br />

simples, a informação é para o ambiente o que o sangue é para<br />

o corpo humano. O sangue nutre cada célula do corpo com o<br />

alimento necessário para a sua sobrevivência. S<strong>em</strong> ele, as células<br />

morr<strong>em</strong>. Com ele, elas pod<strong>em</strong> des<strong>em</strong>penhar normalmente<br />

suas funções. A informação, por sua vez, nutre cada um dos<br />

agentes do ambiente com o conhecimento necessário para o<br />

crescimento e a adaptação ao meio externo. S<strong>em</strong> ela, os indivíduos<br />

ficam fracos e despreparados para interagir com o<br />

ambiente, podendo não sobreviver. Com ela, por outro lado,<br />

os indivíduos se tornam mais preparados para lidar com as<br />

adversidades externas.<br />

É interessante perceber a evolução do Acesso à Informação<br />

ao longo dos séculos. Na Idade Média, todo o conhecimento<br />

do povo europeu estava disponível <strong>em</strong> livros, os quais eram<br />

guardados <strong>em</strong> bibliotecas dentro de mosteiros. Nesse período,<br />

havia dois probl<strong>em</strong>as para diss<strong>em</strong>inação do conhecimento: a<br />

pequena quantidade de livros e a restrição ao seu acesso. As<br />

obras, para ser<strong>em</strong> produzidas, precisavam ser copiadas à mão,<br />

dando orig<strong>em</strong> a novas cópias dessa obra. Além disso, a leitura<br />

e a consulta desses dados eram privilégios dos religiosos, sendo<br />

vedada sua apresentação à população. Havia até a categoria<br />

de livros proibidos, chamada INDEX, que tinham sua circulação<br />

ainda mais limitada dentro do próprio clero. Não é a toa<br />

que a Idade Média é conhecida como a Idade das Trevas do<br />

conhecimento humano.<br />

No ano de 1455, Gut<strong>em</strong>berg revolucionou o Acesso à Informação<br />

ao criar a tipografia, tecnologia <strong>em</strong> que a impressão<br />

no papel se fazia de forma mecanizada. Dessa forma, aumentou-se<br />

a quantidade de meios para a propagação da informação,<br />

pois novas cópias de livros eram produzidas de forma muito<br />

mais rápida. Ao longo das décadas, surgiram outros meios de<br />

69


Explosão da Inovação<br />

informação, como jornais e revistas, que disponibilizavam as<br />

notícias mais rapidamente. Pode-se dizer que, nesse período,<br />

a biblioteca saiu de dentro dos mosteiros e foi para dentro das<br />

casas das famílias.<br />

Mais recent<strong>em</strong>ente, com o advento da Internet, a acessibilidade<br />

ao conhecimento humano ficou ainda maior. Mediante<br />

alguns cliques é possível consultar dados e informações sobre<br />

aquilo que se deseja, permitindo uma rápida proliferação do<br />

conhecimento.<br />

Quando um ambiente possui grande quantidade de informações<br />

de alta qualidade e de fácil disponibilidade ele é considerado<br />

Irrestrito. Porém, se possui pouca quantidade de dados<br />

de baixa qualidade e de difícil disponibilidade, ele é caracterizado<br />

como Restrito. Os cenários que apresentam características<br />

entre essas duas condições são classificados <strong>em</strong> algum<br />

ponto entre os pólos do eixo a seguir.<br />

El<strong>em</strong>ento A – Acesso à Informação<br />

Restrito<br />

Irrestrito<br />

ambiente com<br />

informações<br />

inacessíveis<br />

ambiente com<br />

informações parcialmente<br />

diss<strong>em</strong>inadas<br />

ambiente com<br />

informações<br />

diss<strong>em</strong>inadas<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

Assim, quanto mais informações estiver<strong>em</strong> disponíveis<br />

<strong>em</strong> um ambiente (mais para a direita estiver no eixo Irrestri-<br />

70


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

to/Restrito), maiores serão as chances de surgimento da Inovação.<br />

Afinal, <strong>em</strong> ambientes ricos <strong>em</strong> dados e notícias os participantes<br />

têm a possibilidade de aprender e de crescer cultural e<br />

intelectualmente. Esse ganho de conhecimento é fundamental<br />

para a geração de ideias criativas que alimentarão a Inovação<br />

(mais detalhes sobre esse processo serão descritos no Capítulo<br />

5, “A Ideia Criativa como Faísca da Inovação”).<br />

O conhecimento é a mola criadora da Inovação. Nenhum<br />

grande inovador era leigo no assunto <strong>em</strong> que se destacou. Leonardo<br />

da Vinci, Mozart e Michelangelo inovaram nos campos<br />

de atuação nos quais possuíam vasto domínio e conhecimento.<br />

O Economist Intelligence Unit (EIU) publica periodicamente<br />

um ranking que mede o grau de Inovação entre os países<br />

do mundo. No relatório divulgado <strong>em</strong> 2009 com dados de<br />

2008, os países que lideram a lista são aqueles que possu<strong>em</strong><br />

melhores níveis de educação e de liberdade de imprensa. O Japão,<br />

a Suíça, a Finlândia, os Estados Unidos e a Suécia são<br />

os líderes e conhecidos pela excelência na educação (Japão),<br />

na produção acadêmica (Estados Unidos) e na pluralidade da<br />

mídia (países nórdicos). Nas últimas posições estão Líbia, Angola,<br />

Bangladesh, Nigéria e Vietnã, países com baixa liberdade<br />

de imprensa (Líbia) e péssimo sist<strong>em</strong>a educacional (países africanos<br />

e aqueles que saíram de longos períodos de guerra civil).<br />

Quanto menos informações estiver<strong>em</strong> disponíveis <strong>em</strong> um<br />

ambiente (mais para a esquerda ele estiver no eixo), menores serão<br />

as chances de alguma Inovação acontecer. Afinal, como será<br />

possível ter uma ideia criativa que resultará <strong>em</strong> uma Inovação<br />

s<strong>em</strong> se conhecer todas as variáveis de determinado assunto?<br />

Apesar do avanço tecnológico e histórico dos meios de<br />

comunicação, o grau de disponibilidade da informação entre as<br />

regiões do planeta ainda é muito distinto. Em países que são<br />

regidos de forma ditatorial, é comum as informações ser<strong>em</strong><br />

restringidas e filtradas. Em locais <strong>em</strong> que a religião exerce<br />

71


Explosão da Inovação<br />

grande poder na vida política, cultural e econômica das famílias,<br />

muitos dados e notícias são censurados e proibidos. Em<br />

alguns países é vetada a transmissão da educação e do conhecimento<br />

para algumas pessoas, segundo sua casta ou sexo. Em<br />

outras, a desatualização tecnológica e a falta de estrutura básica,<br />

como a inexistência de energia elétrica <strong>em</strong> algumas regiões,<br />

dificulta também a transmissão dos dados. É interessante<br />

perceber que <strong>em</strong> todas as regiões nas quais há algum tipo de<br />

restrição para a circulação da informação e para a assimilação<br />

do conhecimento, há também baixíssimo nível de Inovação e<br />

de riqueza material acumulada.<br />

3.4.5 Ruptura<br />

O conceito de Ruptura está ligado à intensidade das mudanças<br />

ocorridas no ambiente. E é caracterizado pela força das<br />

transformações ocorridas. A medição de uma Ruptura é feita<br />

pelo impacto gerado ao ambiente. Quando esse impacto é intenso,<br />

ele altera sensivelmente a forma como <strong>em</strong>presas e indivíduos<br />

se relacionam com o ambiente.<br />

A vida é cheia de fatos que provocam grandes impactos<br />

<strong>em</strong> nosso dia a dia. Quando o casal t<strong>em</strong> seu primeiro filho, sua<br />

vida sofre uma considerável mudança. As rotinas, as preocupações,<br />

as necessidades e os desejos da família são transformados<br />

completamente. O mesmo ocorre quando as pessoas se mudam<br />

de casa ou de cidade, mudam de profissão ou perd<strong>em</strong> o <strong>em</strong>prego,<br />

se casam, ou trocam definitivamente o transporte público<br />

pelo carro próprio. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, há vários fatos que ocorr<strong>em</strong><br />

todos os dias e que não têm um impacto tão considerável<br />

no futuro das pessoas: a cor da camisa usada <strong>em</strong> uma reunião,<br />

a caneta escolhida para assinar um papel, o peso do pãozinho<br />

que foi comprado e mais um capítulo da novela que passou na<br />

72


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

televisão. Esses fatos têm graus de impacto b<strong>em</strong> menores <strong>em</strong><br />

nossa vida se comparadas com os primeiros que foram relacionados<br />

no início desse parágrafo.<br />

Assim, a Ruptura t<strong>em</strong> relação direta com a intensidade<br />

das mudanças e não com a sua frequência ou a sua evolução.<br />

Em outras palavras, uma grande Ruptura pode ser um fato<br />

que aconteceu apenas uma vez e provocou consequências por<br />

um bom t<strong>em</strong>po na vida do indivíduo ou dos indivíduos relacionados<br />

ao fato. Essa é a diferença entre Ruptura e Instabilidade,<br />

que vimos anteriormente. Já o que diferencia a Ruptura<br />

da Evolução (que será apresentada a seguir) é que, enquanto a<br />

primeira por si só muda completamente o ambiente, a segunda<br />

o altera aos poucos. A Ruptura é uma grande mudança, enquanto<br />

a Evolução é formada por um conjunto de mudanças<br />

menores.<br />

Quando um fato transforma completamente a condição e<br />

a dinâmica de um ambiente, ele é considerado uma Revolução.<br />

Entretanto, quando o fato não gera nenhum impacto e consequência<br />

nos cenários à sua volta, ele é tido como um ambiente<br />

de Continuidade. Os ambientes intermediários entre essas<br />

duas condições variam entre os dois eixos horizontais.<br />

73


Explosão da Inovação<br />

El<strong>em</strong>ento R – Ruptura<br />

Continuidade<br />

Revolução<br />

ambiente com<br />

mudanças<br />

insignificantes<br />

ambiente com<br />

mudanças de<br />

intensidade média<br />

ambiente com<br />

mudanças<br />

significantes<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

Quanto mais intensa e impactante for a transformação<br />

gerada <strong>em</strong> um ambiente (quanto mais para a direita estiver<br />

no eixo Revolução/Continuidade), maior a propensão para a<br />

Inovação brotar. A Inovação acontece nesse caso porque as<br />

mudanças provocadas no ambiente alteram completamente a<br />

ord<strong>em</strong> das coisas. Muito do que era feito anteriormente, tanto<br />

na forma quanto na intensidade, não pode mais ser feito.<br />

O novo cenário exige adaptação e, para tanto, surg<strong>em</strong> novas<br />

ideias e pensamentos.<br />

O início da década de 1970 foi traumático para a cidade<br />

de São Paulo, com duas tragédias que marcaram para s<strong>em</strong>pre<br />

a história dos paulistanos. Em fevereiro de 1972, o edifício<br />

Andraus pegou fogo, matando 16 pessoas e ferindo 336.<br />

Exatamente dois anos depois, outro edifício, o Joelma, sofreu<br />

também um grave incêndio. O número de vítimas dessa vez foi<br />

maior: 188 mortos e 345 feridos. As imagens de pessoas se atirando<br />

do alto dos prédios, fugindo desesperadas das chamas,<br />

de bombeiros s<strong>em</strong> equipamentos e s<strong>em</strong> estrutura para combater<br />

um incêndio de tamanhas proporções e de hospitais s<strong>em</strong><br />

74


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

preparo para receber tantos pacientes <strong>em</strong> estado tão grave de<br />

saúde chocaram a opinião pública. Esses acidentes puderam<br />

mostrar para a população da cidade o quanto elas corriam perigo<br />

de vida <strong>em</strong> prédios e construções s<strong>em</strong> nenhum sist<strong>em</strong>a de<br />

segurança. A comoção foi tamanha, que, uma s<strong>em</strong>ana após o<br />

acidente do Joelma, o então prefeito da cidade, Miguel Colassuono,<br />

criou decretos municipais instituindo normas de segurança<br />

<strong>em</strong> edifícios. Ao longo dos anos, as normas e os órgãos<br />

municipais de segurança predial foram se aprimorando, e hoje<br />

a cidade corre menos riscos de sofrer incêndios sist<strong>em</strong>áticos<br />

do que no início da década de 1970. Dessa forma, as tragédias<br />

ocorridas no Andraus e no Joelma foram eventos decisivos para<br />

a mudança da mentalidade coletiva que culminou na maior preocupação<br />

da população e dos órgãos públicos, e na criação de<br />

normas para a segurança <strong>em</strong> edifícios.<br />

Porém, é importante perceber que uma Ruptura não é necessariamente<br />

um evento ruim. Ela pode ser um evento positivo<br />

também. A descoberta da América, por ex<strong>em</strong>plo, mudou<br />

consideravelmente a forma de os países europeus enxergar<strong>em</strong> o<br />

mundo e de se organizar<strong>em</strong> de forma social, política e cultural.<br />

Os ex<strong>em</strong>plos de rupturas no mundo dos negócios são variados.<br />

O fim da reserva de mercado foi um divisor de águas<br />

no mercado nacional de informática. O fim da inflação mudou<br />

a forma como as <strong>em</strong>presas de varejo operavam e trabalhavam.<br />

A privatização do sist<strong>em</strong>a Telebrás mudou radicalmente a forma<br />

como o mercado de telecomunicações operava. A criação<br />

da União Europeia alterou a dinâmica de negócios na Europa<br />

e o NAFTA (North American Free Trade Agre<strong>em</strong>ent ou<br />

Acordo de Livre Comércio das Américas) permitiu a entrada<br />

dos produtos mexicanos nos mercados norte-americano e canadense.<br />

Cada uma dessas rupturas mudou consideravelmente<br />

o ambiente <strong>em</strong> que as <strong>em</strong>presas viviam, forçando-as a inovar<br />

<strong>em</strong> algum ponto.<br />

75


Explosão da Inovação<br />

Quanto menor for a força de uma mudança no ambiente<br />

(quanto mais para a esquerda ela estiver no eixo), menor será a<br />

chance de a Inovação ocorrer. Isso acontece porque o ambiente<br />

não se alterou. Os agentes inseridos nesse ambiente já estão<br />

adaptados à sua dinâmica e acostumados aos seus probl<strong>em</strong>as;<br />

não são forçados a se adaptar ou a superar os desafios, afinal,<br />

estão familiarizados com eles.<br />

O serviço principal de um posto de gasolina se mantém<br />

igual ao que s<strong>em</strong>pre foi: colocar combustível no tanque dos<br />

veículos. Apesar da criação das lojas de conveniência como<br />

um negócio à parte e da melhoria significativa nos serviços de<br />

atendimento aos clientes, os postos de gasolina mantém basicamente<br />

a mesma lógica de processo, sendo que o procedimento<br />

de abastecimento é praticamente o mesmo. Não houve<br />

grandes novidades nas últimas décadas cujo impacto causasse<br />

mudanças na forma como esse negócio opera. Por certo, o<br />

surgimento de carros elétricos e híbridos gerará mudanças no<br />

perfil e no processo principal dos postos de abastecimento.<br />

3.4.6 Evolução<br />

A Evolução são as mudanças tecnológicas, culturais, d<strong>em</strong>ográficas,<br />

econômicas, sociais e ambientais que acontec<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> um ambiente ao longo do t<strong>em</strong>po. Acompanhando essas mudanças<br />

<strong>em</strong> uma linha histórica, é possível ver um constante desenvolvimento<br />

e constatar que elas acontec<strong>em</strong> sucessivamente<br />

e que seu conjunto é inter-relacionado. Uma mudança é fruto<br />

de outras, por sua vez, origina novas mudanças. O conceito de<br />

Evolução não quer dizer necessariamente melhoria ou enriquecimento,<br />

mas representa a mudança evolutiva de algo, seja<br />

positiva ou negativa.<br />

76


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

O ser humano como o conhec<strong>em</strong>os é fruto de várias adaptações<br />

e mudanças ocorridas ao longo da história. Há milhões<br />

de anos, nossos ancestrais eram quadrúpedes e viviam essencialmente<br />

<strong>em</strong> árvores. À medida que começaram a viver mais<br />

no solo, passaram a ter uma postura mais ereta, tornando-se<br />

bípedes. A vida no solo abriu novas oportunidades e perigos.<br />

S<strong>em</strong> a necessidade de usar os m<strong>em</strong>bros superiores para andar,<br />

passaram a utilizá-los para criar e manusear ferramentas<br />

simples. Com o passar dos milhares de anos, os homens começaram<br />

a fabricar instrumentos de pedra e descobriram o uso<br />

do fogo. Os grupos humanos foram crescendo <strong>em</strong> quantidade.<br />

Com bandos maiores, a linguag<strong>em</strong> foi se aprimorando. E com<br />

mais ferramentas e maior domínio sobre os outros animais, já<br />

era possível criá-los para prover alimentação. A agricultura<br />

foi desenvolvida e os grupos humanos fixaram-se <strong>em</strong> regiões<br />

específicas. Agora não havia mais a necessidade de <strong>em</strong>igrar<br />

constant<strong>em</strong>ente n<strong>em</strong> de caçar para se alimentar. Dessa forma,<br />

os grupos humanos aumentaram consideravelmente e um sist<strong>em</strong>a<br />

de códigos sociais e de comunicação foi criado. Surg<strong>em</strong>,<br />

então, a escrita e as primeiras civilizações.<br />

Não é possível falar de civilização s<strong>em</strong> falar de escrita.<br />

N<strong>em</strong> é possível entender o surgimento da escrita s<strong>em</strong> compreender<br />

que o número de homens vivendo juntos aumentava.<br />

Isso era consequência da agricultura, que só foi possível<br />

por causa da criação de instrumentos sofisticados, que, por sua<br />

vez, estava ligada ao fato de a postura do hom<strong>em</strong> ter se tornado<br />

ereta. Isto, por fim, t<strong>em</strong> relação com o fato de o ser humano<br />

ter deixado de viver <strong>em</strong> árvores e passado a andar no chão.<br />

Uma coisa está relacionada à outra. Trata-se de uma linha histórica<br />

de mudanças que, <strong>em</strong> longo prazo, provocaram grandes<br />

transformações.<br />

Veja que há grande diferença, portanto, entre o conceito<br />

de Evolução e de Instabilidade. Evolução t<strong>em</strong> a ver com um<br />

77


Explosão da Inovação<br />

conjunto de mudanças relacionadas que levam a algum lugar.<br />

Instabilidade t<strong>em</strong> a ver com mudanças antagônicas que não<br />

necessariamente levam a algum lugar. Na Evolução, é possível<br />

dar dois passos e chegar a um novo lugar. Na Instabilidade, dáse<br />

um passo para lá e outro para cá, terminam no mesmo lugar<br />

ou próximo de onde se estava.<br />

Quando os el<strong>em</strong>entos tecnológicos e socioculturais mudam<br />

sensivelmente surge um ambiente de Progresso. Mas,<br />

quando esses el<strong>em</strong>entos não apresentam mudanças significativas<br />

<strong>em</strong> relação a um determinado passado existe um ambiente<br />

de Estagnação. Como acontec<strong>em</strong> com os outros el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> o ambiente externo, é difícil encontrar um cenário<br />

<strong>em</strong> que haja 100% de progresso, assim como um que apresente<br />

100% de estagnação. O mais comum é encontrarmos cenários<br />

intermediários entre os eixos horizontais.<br />

El<strong>em</strong>ento E – Evolução<br />

Estagnação<br />

progresso<br />

ambiente s<strong>em</strong><br />

nenhuma<br />

evolução<br />

ambiente <strong>em</strong><br />

uma evolução<br />

média<br />

ambiente <strong>em</strong><br />

constante<br />

evolução<br />

ambiente com<br />

baixíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

ambiente com<br />

média propensão<br />

à Inovação<br />

ambiente com<br />

altíssima<br />

propensão à<br />

Inovação<br />

Quanto mais mudanças inter-relacionadas acontecer<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> um ambiente (quanto mais para a direita estiver no eixo<br />

Progresso/Estagnação), maiores as chances de a Inovação<br />

78


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

acontecer. Como o ambiente sofreu sucessivas alterações, uma<br />

nova situação se faz presente. Ao viver nessa nova condição, os<br />

participantes precisam primeiro se adaptar e, depois, começar<br />

a utilizar as novidades da forma mais prática e inteligente possível.<br />

Quando isso é feito, o novo passa a interagir com antigos<br />

el<strong>em</strong>entos do ambiente e, a partir desse choque, novos produtos,<br />

processos e ideias vão sendo criados por meio da combinação<br />

entre o novo e o antigo.<br />

Um ex<strong>em</strong>plo disso é o comércio eletrônico. No final da<br />

década de 1980 e no começo da de 1990, o computador pessoal<br />

passou a ser usado com mais intensidade nos escritórios como<br />

ferramenta de trabalho e <strong>em</strong> casa como mais um aparelho de<br />

lazer, estudo e entretenimento. Com o surgimento da Internet,<br />

essas máquinas passaram a ser usadas para a comunicação e<br />

para o acesso a conteúdos <strong>em</strong> páginas chamadas de websites.<br />

Não d<strong>em</strong>orou muito e alguém teve a ideia de vender produtos<br />

pela Internet. Criaram-se websites <strong>em</strong> que o consumidor podia<br />

escolher alguns produtos e efetuar o pagamento por meio de<br />

cartão de crédito. Com isso, estava criado o comércio eletrônico.<br />

Mas, como isso foi possível? Como alguém teve a ideia de<br />

comercializar produtos pelo computador (Internet)? Na verdade,<br />

isso foi um passo natural. Se o uso dos computadores<br />

por pessoas não fosse diss<strong>em</strong>inado, não seria possível criar a<br />

Internet. S<strong>em</strong> a Internet não seria possível criar websites. Com<br />

a existência dos sites, foi possível criar uma infinidade de uso<br />

para eles: educação, controle de dados e informações, redes de<br />

relacionamento, propaganda institucional, canais de notícias,<br />

formas de comunicação etc. O comércio eletrônico foi apenas<br />

mais um dos usos dos websites. Seu nascimento foi a junção de<br />

uma ideia antiga (loja) com uma nova (Internet). Se percebermos,<br />

todas as outras ideias mencionadas antes são ligações de<br />

algo antigo com uma nova ferramenta.<br />

79


Explosão da Inovação<br />

Quanto menos mudanças inter-relacionadas um ambiente<br />

tiver (quanto mais para a esquerda ele estiver no eixo), menor<br />

será a chance de a Inovação acontecer. Isso ocorre porque quando<br />

o cenário externo não muda faltam estímulos para se aventurar<br />

pelo desconhecido. Essa permanente estagnação do ambiente<br />

é um <strong>em</strong>pecilho para o surgimento de novas ideias, que, por<br />

sua vez, não poderão entrar <strong>em</strong> contato com as ideias antigas e<br />

originar as novas, e o ciclo para a Inovação fica obstruído.<br />

A extração de ouro <strong>em</strong> países da América do Sul e da<br />

África possui, hoje, um processo de coleta de minério exatamente<br />

igual ao que existia nos séculos anteriores. Na maioria<br />

desses países, não há uma política explícita que normatize essa<br />

atividade. O garimpeiro é um trabalhador simples, s<strong>em</strong> estudo<br />

e que não possui vínculo <strong>em</strong>pregatício. Os garimpos costumam<br />

funcionar com infraestrutura precária, o que gera graves probl<strong>em</strong>as<br />

sociais. Os procedimentos de segurança e saúde também<br />

são mínimos, e a perfuração dos túneis é feita normalmente<br />

de forma rudimentar e s<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a adequado de<br />

ventilação. O impacto ambiental provocado pelo uso ilegal de<br />

mercúrio que é liberado nos rios, no solo e no ar é grande.<br />

Visitar um garimpo típico hoje é retroceder algumas dezenas<br />

de anos; essa é uma atividade que ficou parada no t<strong>em</strong>po. Não<br />

diz<strong>em</strong>os aqui que uma Inovação não pode ocorrer <strong>em</strong> um ambiente<br />

Estagnado. O que afirmamos é que a chance disso ocorrer<br />

é menor. A Inovação, neste caso, é mais difícil e d<strong>em</strong>orada,<br />

afinal, o ambiente Estagnado leva seus participantes a um estado<br />

de conforto e de previsibilidade. Todos sab<strong>em</strong> o que vai e<br />

o que não vai acontecer no ambiente.<br />

80


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

3.5 Relação Entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos de Ambiente<br />

Até aqui, vimos a análise individual de cada um dos<br />

el<strong>em</strong>entos do ambiente externo, também chamados de<br />

CRIARE. Porém, quando se pretende caracterizar o ambiente<br />

como sendo Inovador ou Não Inovador, não se pode analisálos<br />

de forma individual, pois eles não ag<strong>em</strong> sozinhos. Os<br />

el<strong>em</strong>entos se relacionam e se influenciam mutuamente uns aos<br />

outros. Um cenário, por ex<strong>em</strong>plo, com recursos escassos pode<br />

levar a alta rivalidade. Um mercado que sofre com rápidos e<br />

constantes progressos pode apresentar turbulências por conta<br />

dessa situação. Em outro caso, o acesso à informação pode ser<br />

restrito como consequência da continuidade histórica.<br />

No tópico anterior, a análise foi feita individualmente por<br />

conta da facilidade pedagógica da explicação, mas o correto é<br />

s<strong>em</strong>pre analisar <strong>em</strong> conjunto o CRIARE, formado pelos el<strong>em</strong>entos<br />

Competição, Recursos, Instabilidade, Acesso à Informação,<br />

Ruptura e a Evolução.<br />

Relação entre os El<strong>em</strong>entos do CRIARE<br />

Isolamento<br />

abundância<br />

Estabilidade<br />

Restrito<br />

Continuidade<br />

Estagnação<br />

Competição<br />

Recursos<br />

Instabilidade<br />

Acesso à Informação<br />

Ruptura<br />

Evolução<br />

Rivalidade<br />

Escassez<br />

Turbulência<br />

Irrestrito<br />

Revolução<br />

progresso<br />

Para se chegar a uma conclusão rica e fidedigna dos fatos,<br />

é essencial tomar três cuidados. O primeiro é envolver um<br />

81


Explosão da Inovação<br />

conjunto de pessoas que entendam profundamente do cenário<br />

analisado, que possuam uma visão abrangente e histórica de<br />

como ele funciona. O segundo é valer-se da comparação com<br />

outros cenários. Essa relação é o instrumento de balizamento<br />

do nível de cada um dos el<strong>em</strong>entos do CRIARE, o que só se<br />

pode compreender quando se compara com o nível de outras<br />

situações. Para isso é sugerida, muitas vezes, a participação de<br />

pessoas de fora desse mercado para contribuir com análises<br />

mais gerais. O terceiro é s<strong>em</strong>pre contar com pelo menos uma<br />

pessoa que conheça e domine os conceitos do modelo da Explosão<br />

da Inovação.<br />

O tipo de ambiente, portanto, é o resultado da combinação<br />

dos seis el<strong>em</strong>entos do CRIARE. Após estudo, análise e<br />

discussão de como os el<strong>em</strong>entos ag<strong>em</strong> e interfer<strong>em</strong> <strong>em</strong> determinado<br />

ambiente, deve-se classificá-los <strong>em</strong> uma escala de -3<br />

(quando estiver totalmente à esquerda) a +3 (quando estiver<br />

totalmente à direita). Veja o modelo a seguir.<br />

Modelo de Diagnóstico do Ambiente Externo – CRIARE<br />

82


O AMBIENTE EXTERNO COMO COMBURENTE DA INOVAÇÃO<br />

Vamos imaginar que um determinado cenário ou mercado<br />

foi analisado e a conclusão que se chegou foi que ele conta<br />

com altíssimo grau de rivalidade entre os concorrentes (+3),<br />

quantidade disponível de recursos intermediária (0), alto nível<br />

de turbulência (+2), acesso às informações praticamente<br />

irrestrito (+3), sofreu recent<strong>em</strong>ente uma grande ruptura (+2),<br />

mas é basicamente estagnado (-1). Essas informações dev<strong>em</strong><br />

ser colocadas na tabela, como mostra a próxima figura.<br />

Diagnóstico CRIARE<br />

(Comburente – Ambiente Externo)<br />

Com essas informações é possível montar o Gráfico do<br />

Comburente, que é do tipo “teia de aranha” ou “radar”. É esse<br />

gráfico que aponta, definitivamente, se o ambiente estudado é<br />

Inovador ou Não Inovador.<br />

83


Explosão da Inovação<br />

Gráfico do Comburente<br />

C<br />

E<br />

R<br />

R<br />

I<br />

a<br />

O ambiente externo é Inovador quando o gráfico apresenta<br />

uma grande área interna. Se a área interna for pequena,<br />

significa que ele não estimula com tanta intensidade a Inovação.<br />

No ex<strong>em</strong>plo <strong>em</strong> questão, pode-se concluir que há um ambiente<br />

Inovador. É verdade que a parte preenchida não ocupa<br />

todo o espaço reservado para ela, mas ocupa uma parte significativa<br />

do espaço disponível.<br />

Normalmente, a diferença entre ser Inovador ou Não Inovador<br />

está ligada à comparação entre ambientes diferentes. Um<br />

determinado ambiente pode ser mais inovador (com uma área<br />

no Gráfico do Comburente maior) quando comparado a um segundo,<br />

mas pode ser menos inovador (com uma área no Gráfico<br />

do Comburente menor) quando comparado a um terceiro.<br />

84


Capítulo 4<br />

A Capacidade Interna<br />

como Combustível da Inovação<br />

85


Explosão da Inovação<br />

No capítulo anterior, vimos que o Ambiente Externo instiga<br />

as pessoas e as <strong>em</strong>presas a mudar, a procurar algo novo, a<br />

inovar para crescer ou para sobreviver. Porém, o ambiente t<strong>em</strong><br />

um poder limitado sobre a promoção da Inovação. Ele pode<br />

instigar, exigir e até forçar as mudanças, mas não realiza diretamente<br />

a Inovação. Qu<strong>em</strong> a promove, de fato, são as pessoas,<br />

as equipes e as instituições. São elas que se mobilizam para<br />

transformar seus produtos, serviços, processos e modelos de<br />

negócio com o intuito de ganhar vantag<strong>em</strong> competitiva e destaque<br />

no cenário desafiador.<br />

Ter esse poder de transformação é essencial para a concretização<br />

da Inovação. Mas por que <strong>em</strong> alguns casos os indivíduos<br />

e as organizações consegu<strong>em</strong> aproveitar o ambiente<br />

inovador ao seu redor e promover grandes mudanças e, <strong>em</strong><br />

outras situações, acabam sendo “engolidos” pelas condições<br />

adversas do mundo externo? Há alguma diferença <strong>em</strong> relação<br />

à habilidade, à postura ou ao comportamento nas duas situações?<br />

O que faz uma <strong>em</strong>presa ter capacidade de desenvolver a<br />

Inovação e outra não, mesmo quando ambas estão no mesmo<br />

ambiente?<br />

Normalmente, imagina-se que a habilidade de promover<br />

a Inovação está ligada apenas à capacidade de gerar ideias criativas.<br />

Nessa concepção, quanto mais ideias for<strong>em</strong> criadas, mais<br />

Inovações surgirão. Portanto, se alguém promover a geração<br />

de um grande banco de ideias <strong>em</strong> sua <strong>em</strong>presa e conseguir que<br />

todos os funcionários, clientes, consumidores, fornecedores e<br />

parceiros particip<strong>em</strong> ativamente, com certeza conseguirá produtos<br />

e serviços inovadores.<br />

A realidade, porém, não é tão simples assim. A fórmula<br />

“muitas ideias = Inovação” não é necessariamente válida. Há<br />

casos <strong>em</strong> que é possível inovar com apenas uma ideia e outros<br />

<strong>em</strong> que várias ideias não produz<strong>em</strong> nenhuma Inovação.<br />

Isso ocorre pela diferença entre intenção e realização.<br />

86


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Afinal de contas, quantas vezes você teve uma boa ideia, mas<br />

não a colocou <strong>em</strong> prática ou não soube viabilizá-la? Pense.<br />

Provavelmente, várias vezes. Uma grande ideia criativa é algo<br />

fundamental para a Inovação, mas não é tudo. É necessário<br />

que a pessoa ou a <strong>em</strong>presa tenha capacidade para “pegar” essa<br />

ideia e torná-la real. Ela precisa transformar algo que está no<br />

plano conceitual, trazendo-o para o mundo concreto. A essa<br />

competência, que pode ser inata ou desenvolvida por pessoas<br />

e <strong>em</strong>presas, damos o nome de “capacidade interna”. É ela que<br />

desenvolverá a Inovação.<br />

4.1 A Capacidade Interna como Motor da Inovação<br />

A Capacidade Interna é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o motor e a<br />

base estrutural que leva alguém a promover a Inovação a partir<br />

das necessidades impostas pelo mundo externo. Esse motor<br />

é constituído de determinadas características que afetam diretamente<br />

o comportamento e as habilidades do agente inovador.<br />

E essa base estrutural é formada por sist<strong>em</strong>as e processos<br />

que condicionam a realização do projeto de Inovação.<br />

Conseguir viabilizar uma ideia não é algo fácil e simples.<br />

Requer muito planejamento, estudo e dedicação. É necessário<br />

aliar as capacidades analíticas, estratégicas e operacionais. Ou<br />

seja, é fundamental haver uma estrutura por trás, dando sustentação<br />

e estímulo para a realização do projeto.<br />

Desenvolver uma Inovação é um plano longo, complexo e<br />

arriscado. A análise de um ex<strong>em</strong>plo dado no capítulo anterior,<br />

permite-nos constatar esse fato. Os europeus, no final do século<br />

XV, lançaram-se ao mar <strong>em</strong> grandes expedições <strong>em</strong> busca de<br />

uma nova rota comercial para as Índias devido ao fechamento<br />

da rota terrestre por Constantinopla. Curiosamente, porém,<br />

não foram as cidades-estados italianas de Gênova e Veneza,<br />

87


Explosão da Inovação<br />

que até então dominavam a tecnologia naval, que se destacaram.<br />

O natural seria que elas encontrass<strong>em</strong> novos caminhos<br />

pelo mar com mais facilidade, mas qu<strong>em</strong> conseguiu, de fato,<br />

promover a Inovação foram dois países até então inexpressivos<br />

do continente: Espanha e Portugal. A capacidade desses<br />

dois pequenos estados se mostrou muito superior à dos d<strong>em</strong>ais<br />

para a promoção dessa Inovação.<br />

Portugal, quase um século antes de alcançar suas mais<br />

b<strong>em</strong>-sucedidas campanhas navais, fundou um centro de estudos<br />

e pesquisa marítima. Instituída <strong>em</strong> 1414, a Escola de<br />

Sagres reuniu os melhores cartógrafos, mat<strong>em</strong>áticos, astrônomos,<br />

construtores de navios e pilotos da época. Quase todos<br />

vieram de Gênova e Veneza, e foi desse centro de excelência<br />

que saíram as principais tecnologias marítimas portuguesas<br />

que permitiram suas grandes viagens.<br />

Nesse período, Portugal e Espanha eram os únicos estados<br />

europeus com um poder real central. A ambição dos reis<br />

de aumentar suas terras foi decisiva para a <strong>em</strong>preitada. Além<br />

disso, os dois países contavam com o patrocínio da Igreja Católica,<br />

a entidade mais rica e poderosa da Idade Média. Era a<br />

Igreja que financiava as expedições marítimas com o objetivo<br />

de conseguir mais adeptos nas novas terras descobertas. Por<br />

fim, havia uma população pobre que enxergava nos salários e,<br />

principalmente, na comissão proveniente da venda da carga<br />

trazida incentivos maiores do que os riscos expostos pela viag<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> si.<br />

Quando misturamos todos os ingredientes, fica fácil entender<br />

o porquê de esses países ter<strong>em</strong> dominado os mares no<br />

início da Idade Moderna. Os reis tinham autonomia para decidir<br />

pelos projetos marítimos. A Igreja os patrocinava, oferecendo<br />

o capital necessário. Grande parte da população estava<br />

motivada a participar de alguma forma, fosse indo nas viagens<br />

ou esperando os viajantes. Havia sido adquirida competência<br />

88


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

para realizar as viagens e fora criado um sist<strong>em</strong>a econômico e<br />

social <strong>em</strong> torno delas. Assim, com a combinação desses el<strong>em</strong>entos<br />

(autonomia, capital, motivação, conhecimento e sist<strong>em</strong>a),<br />

nada mais natural que a realização das missões marítimas<br />

e a descoberta de novas rotas comerciais para as Índias!<br />

A Capacidade Interna é, portanto, a condição que a <strong>em</strong>presa<br />

ou a pessoa t<strong>em</strong> para estruturar e executar a Inovação.<br />

Ela não acontece por acaso, simplesmente porque alguém quer<br />

ou precisa, mas surge quando existe uma condição ambiental<br />

propícia e quando se t<strong>em</strong> uma composição interna apropriada<br />

para gerá-la. Essa estrutura permite o desenvolvimento de<br />

um processo planejado e integrado que resultará <strong>em</strong> produtos<br />

inovadores. Nenhuma Inovação surge por sorte, tampouco<br />

é possível desenvolver várias Inovações de forma sist<strong>em</strong>ática<br />

s<strong>em</strong> que haja um esqueleto organizacional ou pessoal que leve<br />

a essa situação.<br />

Thomas Edison é considerado um dos maiores inventores<br />

do final do século XIX e do começo do século XX, juntamente<br />

com Henry Ford e Graham Bell. Ele criou uma série de<br />

produtos como o gramofone, a lâmpada elétrica, o projetor de<br />

cin<strong>em</strong>a, o fonógrafo, entre outros. Mas, afinal, o que Thomas<br />

Edison tinha de tão especial para inventar tantos produtos revolucionários?<br />

A resposta correta é a capacidade interna.<br />

Ele tinha uma fábrica exclusiva para desenvolver esses<br />

produtos. Nela, havia pranchetas de trabalho, livros, materiais<br />

elétricos e químicos para ser<strong>em</strong> usados <strong>em</strong> experiências, materiais<br />

de apoio e ferramentas, entre outros instrumentos. Ele<br />

também contratou um grupo de engenheiros que passavam o<br />

dia pensando <strong>em</strong> soluções para diversos probl<strong>em</strong>as cotidianos.<br />

Sua equipe era formada por jovens talentosos, profissionais<br />

experientes, e pessoas <strong>em</strong>preendedoras e motivadas. Nessa<br />

fábrica de invenções, eles podiam trabalhar <strong>em</strong> grupo e encontrar<br />

as mais variadas soluções para um mesmo probl<strong>em</strong>a.<br />

89


Explosão da Inovação<br />

Eles se preocupavam <strong>em</strong> desenvolver novos produtos e melhorar<br />

aqueles já existentes. Também recebiam parte do dinheiro<br />

oriundo da venda de seus inventos.<br />

Pode-se reparar, portanto, que por trás do conjunto de<br />

invenções de Thomas Edison e sua equipe havia uma estrutura<br />

e uma metodologia de trabalho que permitiu o surgimento<br />

desses novos produtos. Eles possuíam um local próprio para o<br />

estudo e para a pesquisa. Havia incentivo ao mérito e participação<br />

nos resultados alcançados provenientes das descobertas.<br />

A equipe de Thomas Edison tinha um processo de trabalho<br />

que se desenvolveu ao longo do t<strong>em</strong>po. Eles trabalhavam <strong>em</strong><br />

equipes integradas e compartilhavam ideias e soluções. Fica<br />

claro que as invenções que desenvolveram vieram, <strong>em</strong> grande<br />

parte, dessa capacidade interna superior.<br />

4.2 O Papel da Capacidade Interna na<br />

Explosão da Inovação<br />

No modelo da Explosão da Inovação, a capacidade interna<br />

age como combustível. Em uma explosão, o combustível,<br />

que pode ser papel, galhos de madeira, álcool, gasolina etc., é o<br />

el<strong>em</strong>ento que faz a faísca reagir com o comburente, propagando-se<br />

no ambiente.<br />

O combustível permite que a reação química se propague,<br />

ganhando dimensão. Além disso, ele faz com que o fogo se<br />

mantenha vivo por mais t<strong>em</strong>po. Quanto mais galhos de madeira<br />

estiver<strong>em</strong> presentes <strong>em</strong> uma fogueira, mais t<strong>em</strong>po ela ficará<br />

acesa. E quanto melhor a qualidade do combustível, mais intenso<br />

será o fogo. Se os galhos estiver<strong>em</strong> molhados, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

o fogo não será tão forte. Mas se os galhos estiver<strong>em</strong> b<strong>em</strong><br />

secos, o fogo será mais forte e, muito provavelmente, durará<br />

um t<strong>em</strong>po maior.<br />

90


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Uma bituca de cigarro jogada dentro de um rio t<strong>em</strong> pouca<br />

chance de resultar <strong>em</strong> uma explosão ou de se transformar<br />

<strong>em</strong> fogo. Mas, se a alguns metros dali, outra bituca, muitíssimo<br />

parecida com a primeira, for jogada perto de uma bomba de<br />

um posto de gasolina, o efeito pode ser violento, gerando uma<br />

grande explosão. Afinal, qual a diferença entre os dois casos?<br />

Em ambos, a faísca é a mesma, uma pequena chama. Nas duas<br />

situações, o comburente (oxigênio) também é o mesmo. A diferença<br />

está, portanto, no combustível.<br />

No primeiro caso, não há nenhum material que faça a faísca<br />

se propagar. A água do rio evita que isso aconteça, apagando<br />

rapidamente o fogo presente na bituca do cigarro. Mas a<br />

gasolina presente na bomba do posto fornece a condição ideal<br />

para a explosão. Além de ser inflamável, a grande quantidade<br />

de gasolina presente normalmente nesse tipo de local permite<br />

que a pequena chama se propague com intensidade. Assim,<br />

mesmo havendo uma pequena concentração de fogo, a grande<br />

quantidade de material inflamável potencializará a reação e<br />

provocará uma grande explosão.<br />

Esse é o motivo que torna lojas de fogos de artifício, caminhões<br />

que transportam álcool e plataformas de extração de<br />

petróleo locais tão perigosos. E este mesmo fato é que torna os<br />

acidentes <strong>em</strong> corridas de automobilismo mais perigosos quando<br />

os carros estão com o tanque cheio. Em 1976, na segunda<br />

volta do Grande Prêmio da Al<strong>em</strong>anha, o campeão mundial do<br />

ano anterior e líder até então daquele campeonato, Andreas<br />

Nikolaus Lauda, mais conhecido como Niki Lauda, perdeu o<br />

controle da sua Ferrari e bateu no guard-rail, rodando seguidamente.<br />

Como naquela época os carros largavam com todo<br />

o combustível que seria utilizado durante a corrida (não era<br />

permitido o reabastecimento), o tanque de combustível da Ferrari<br />

estava cheio de gasolina. Por conta disso, o impacto da<br />

batida provocou um grande incêndio. Alguns pilotos conse-<br />

91


Explosão da Inovação<br />

guiram parar e socorrer Lauda. Eles tiraram rapidamente o<br />

campeão de dentro do carro, que estava envolto <strong>em</strong> labaredas,<br />

e o resgate rápido permitiu que ele não fosse carbonizado. Com<br />

graves queimaduras no rosto, nas mãos e nos braços e a quebra<br />

de uma clavícula, Niki Lauda precisou passar por vários<br />

tratamentos de reabilitação. Apesar de ficar com a face deformada<br />

pelo horrível acidente, o austríaco surpreendeu a todos<br />

com sua rápida recuperação. Já no final daquele mesmo ano<br />

ele voltou às pistas e <strong>em</strong> 1977, no ano seguinte, foi bicampeão<br />

mundial. Sete anos mais tarde, depois de um período de inatividade,<br />

Lauda voltou a ser campeão pela terceira vez, agora<br />

na McLaren. Mesmo assim, o acidente que ele teve no circuito<br />

al<strong>em</strong>ão de Nurburgring poderia ter sido menos grave se não<br />

houvesse tanto combustível <strong>em</strong> seu carro. Se o mesmo acidente<br />

tivesse ocorrido nas duas últimas voltas, provavelmente o carro<br />

do austríaco n<strong>em</strong> teria se incendiado ou o fogo não teria se<br />

alastrado tanto.<br />

A capacidade interna de uma pessoa, de uma equipe ou<br />

de uma <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> a mesma propriedade <strong>em</strong> relação à Inovação<br />

que o combustível t<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação à reação explosiva. Em<br />

outras palavras, dependendo da capacidade interna, pode-se<br />

promover ou não a Inovação.<br />

É a capacidade interna que permitirá que uma ideia criativa<br />

seja desenvolvida, transformando-a <strong>em</strong> produtos e serviços<br />

inovadores. A partir de um ambiente hostil e probl<strong>em</strong>ático, são<br />

as pessoas e as organizações que poderão superar as limitações<br />

e os desafios a elas impostos. Quando há competência para<br />

transformar e mudar as coisas, a Inovação surge naturalmente.<br />

Mas quando não existe a habilidade para transformar n<strong>em</strong> alterar<br />

as coisas ao redor, a Inovação nunca virá, por maior que<br />

seja o esforço.<br />

92


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

4.3 Tipos de Empresas<br />

Há, teoricamente, dois tipos de <strong>em</strong>presas: as que consegu<strong>em</strong><br />

promover a Inovação e são chamadas de Empresas Inovadoras<br />

e as que não consegu<strong>em</strong> e são chamadas de Empresas<br />

Não Inovadoras.<br />

Tipos de Empresas<br />

Empresa Inovadora<br />

x<br />

Empresa não Inovadora<br />

promove à Inovação<br />

não promove à Inovação<br />

A Empresa Inovadora é aquela que possui determinadas<br />

características e competências que facilitam a promoção da<br />

Inovação. Algumas de suas habilidades facilitam o processo de<br />

desenvolvimento de projetos, trabalhos e atividades que resultam<br />

<strong>em</strong> produtos, serviços e el<strong>em</strong>entos inovadores. Ela t<strong>em</strong> ou<br />

desenvolveu a capacidade de aproveitar os estímulos gerados<br />

pelo ambiente externo para, por meio da sua organização e<br />

estrutura, mudar, transformar-se e trazer novidades.<br />

A classificação de <strong>em</strong>presa inovadora, segundo o Manual<br />

de Oslo, uma das principais fontes bibliográficas mundiais<br />

<strong>em</strong> relação à Inovação tecnológica, editado pela Organização<br />

para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), é a<br />

seguinte: “A condição de inovadora de uma <strong>em</strong>presa pode ser<br />

definida de várias formas. A definição básica de uma <strong>em</strong>presa<br />

inovadora é a <strong>em</strong>presa que impl<strong>em</strong>entou ao menos uma<br />

Inovação. Uma <strong>em</strong>presa inovadora de produto ou de processo<br />

é definida como uma <strong>em</strong>presa que impl<strong>em</strong>entou uma Inovação<br />

de produto ou de processo”.<br />

93


Explosão da Inovação<br />

Porém, para nós, <strong>em</strong>presa inovadora é aquela que t<strong>em</strong> a<br />

capacidade de promover a Inovação. Para tal, é composta por<br />

funcionários motivados, com grande autonomia de trabalho e<br />

com grande capacidade técnica e intelectual. Inseridas <strong>em</strong> uma<br />

estrutura aberta e orgânica, as equipes buscam soluções novas<br />

e criativas para os constantes desafios que surg<strong>em</strong>. A <strong>em</strong>presa<br />

inovadora possui capital para investir <strong>em</strong> novas alternativas e,<br />

acima de tudo, consegue inovar.<br />

Na metade da década de 1990, a multinacional Unilever<br />

estava incomodada com o fato de não possuir uma boa participação<br />

no mercado de sabão <strong>em</strong> pó na região Nordeste do<br />

Brasil. Com o objetivo de descobrir o que estava acontecendo,<br />

a companhia enviou uma equipe composta por executivos e<br />

sociólogos para investigar os hábitos das consumidoras dessa<br />

região. Após seis meses de imersão na nova realidade, onde os<br />

participantes da equipe puderam viver e acompanhar a rotina<br />

das moradoras, foram descobertos vários motivos para que os<br />

produtos da <strong>em</strong>presa não foss<strong>em</strong> comprados.<br />

As mulheres nordestinas achavam as marcas tradicionais<br />

de sabão <strong>em</strong> pó muito caras para a sua realidade. Por causa<br />

disso, usavam como alternativa mais econômica o sabão <strong>em</strong><br />

barra para lavar suas roupas e de sua família. Porém, depois<br />

de lavadas, elas usavam uma pequena quantidade de sabão<br />

<strong>em</strong> pó Omo para dar um cheiro mais agradável às roupas.<br />

As consumidoras mais pobres, moradoras das regiões rurais,<br />

lavavam suas roupas <strong>em</strong> rios e açudes distantes de suas casas,<br />

levando o sabão <strong>em</strong> pó na barra da saia. Para elas, as <strong>em</strong>balagens<br />

de papelão não eram nada práticas, pois quando colocadas<br />

na beira do rio molhavam e estragavam. A maioria dessas<br />

consumidoras não comprava o produto <strong>em</strong> supermercados e<br />

<strong>em</strong> redes de varejo, como as moradoras dos grandes centros<br />

urbanos do país. Elas compravam sist<strong>em</strong>aticamente <strong>em</strong><br />

pequenas lojas dos bairros onde moravam, por ser mais perto<br />

94


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

de suas casas e por contar<strong>em</strong>, às vezes, com um crédito informal<br />

para suas compras.<br />

Em 1996, a Unilever lançou o sabão Ala <strong>em</strong> uma <strong>em</strong>balag<strong>em</strong><br />

inovadora. Ele vinha <strong>em</strong> saquinhos plásticos para atender<br />

aos hábitos das donas de casa de lavar roupa próximo à água.<br />

Além disso, cada unidade continha 200 gramas do produto,<br />

uma quantidade menor para torná-lo mais barato e condizente<br />

com o bolso das consumidoras. Era possível comprar o<br />

Ala com uma nota de um real e ainda havia troco. O design da<br />

<strong>em</strong>balag<strong>em</strong> também recebeu atenção especial, com prioridade<br />

para cores fortes para chamar a atenção da consumidora no<br />

ponto de venda. A marca Ala, além de ser uma palavra simples,<br />

era escrita com letras grandes para aparecer ainda mais,<br />

facilitando a visualização das consumidoras, que nessa região<br />

do país apresentavam alto grau de analfabetismo. A composição<br />

do produto também foi desenvolvida para que, de forma<br />

econômica, as roupas ficass<strong>em</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po brancas e perfumadas.<br />

O sist<strong>em</strong>a de vendas e a logística da <strong>em</strong>presa foram<br />

alterados para entregar o produto <strong>em</strong> locais e <strong>em</strong> pontos de<br />

venda que até então a Unilever não chegava. Muitos pequenos<br />

estabelecimentos comerciais passaram a ser atendidos diretamente<br />

e puderam vender o Ala.<br />

O sucesso do novo produto foi imediato. Desenvolvido<br />

de acordo com a necessidade das consumidoras, o Ala tornouse<br />

a segunda marca com maior venda nessa região, perdendo<br />

apenas para o Omo, marca mais tradicional e líder <strong>em</strong> todas as<br />

regiões do país, também pertencente à Unilever.<br />

Nesse ex<strong>em</strong>plo, é possível perceber o esforço que a <strong>em</strong>presa<br />

fez para conseguir inovar. Ela precisou estudar profundamente<br />

as raízes do probl<strong>em</strong>a que enfrentava. Teve que<br />

deslocar uma equipe para tratar especificamente desse t<strong>em</strong>a,<br />

investindo t<strong>em</strong>po e recursos consideráveis. Incentivou a equipe<br />

a apresentar ideias criativas para os desafios impostos e,<br />

95


Explosão da Inovação<br />

a partir dessas ideias, desenvolveu novas soluções para cada<br />

composto mercadológico (produto, preço, praça e comunicação)<br />

da nova marca. Fica claro que havia uma metodologia de<br />

trabalho coerente e concisa por trás da Inovação, e é a isso que<br />

chamamos de capacidade interna.<br />

Empresa Não Inovadora é aquela que não possui as características<br />

e as competências necessárias para desenvolver<br />

uma Inovação. Ela simplesmente t<strong>em</strong> outras habilidades competitivas,<br />

mas não essa <strong>em</strong> particular, não conseguindo desenvolver<br />

algo novo a partir de ideias criativas levantadas.<br />

Não é porque uma <strong>em</strong>presa não é inovadora que ela<br />

necessariamente está fadada à morte ou à irrelevância. Exist<strong>em</strong><br />

várias <strong>em</strong>presas desse tipo que operam no mercado com<br />

certo êxito. Elas, <strong>em</strong> geral, possu<strong>em</strong> outras habilidades que<br />

compensam a inabilidade <strong>em</strong> desenvolver produtos e serviços<br />

inovadores.<br />

A cidade de São Paulo possui milhares de pizzarias. Em<br />

muitos bairros, é possível encontrar uma <strong>em</strong> cada esquina.<br />

Porém, as que consegu<strong>em</strong> promover alguma Inovação para o<br />

mercado são uma minoria. A maioria é apenas seguidora, copiando<br />

as novidades lançadas pelas outras. A última grande<br />

mudança desse setor foi o uso das máquinas de cartões de crédito<br />

e débito nas compras dellivery. Algumas pizzarias perceberam<br />

que, <strong>em</strong> muitas ocasiões, os clientes só possuíam formas<br />

de pagamento eletrônico para os pedidos enviados às suas residências.<br />

Por causa disso, seus entregadores passaram a levar<br />

máquinas de cartões s<strong>em</strong> fio, juntamente com a pizza, para que<br />

o cliente pudesse efetuar o pagamento. Outras impl<strong>em</strong>entaram<br />

um sist<strong>em</strong>a de pagamento por cartão de crédito diretamente<br />

pelo telefone. Mas a maioria desses estabelecimentos<br />

comerciais ainda não enxergou essa oportunidade e continua<br />

operando com as formas de pagamento tradicionais: dinheiro<br />

e cheque. Muito provavelmente, algumas só impl<strong>em</strong>entarão<br />

96


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

outra modalidade de pagamento quando a maioria do mercado<br />

já estiver oferecendo.<br />

As Empresas Não Inovadoras são tradicionalmente até<br />

mais b<strong>em</strong> preparadas para operar segundo o status quo presente.<br />

Sua estrutura e dinâmica de trabalho estão voltadas para<br />

a realização de tarefas, processos ou produtos já conhecidos.<br />

Como já realizam determinada função há muito t<strong>em</strong>po, frequent<strong>em</strong>ente<br />

apresentam níveis de qualidade e produtividade<br />

superiores. Em muitos casos, essas <strong>em</strong>presas são extr<strong>em</strong>amente<br />

rápidas <strong>em</strong> copiar as novidades que surg<strong>em</strong> dos concorrentes<br />

e consegu<strong>em</strong> uma relação custo-benefício maior com elas<br />

(não precisaram investir tanto <strong>em</strong> pesquisa e desenvolvimento,<br />

não correram riscos na fase de teste de mercado, não precisaram<br />

perder t<strong>em</strong>po na evolução e na aceitação do produto, entre<br />

outros fatores).<br />

Não é raro encontrar uma Empresa Não Inovadora que<br />

tenha inovado <strong>em</strong> determinado período do passado, mas que<br />

tenha perdido essa capacidade no presente. Por isso, é importante<br />

notar que a capacidade interna que se está descrevendo<br />

aqui faz parte do momento atual e não do passado. Uma <strong>em</strong>presa<br />

pode ter sido muito inovadora há algum t<strong>em</strong>po, promovido<br />

uma série de inovações, mas se tiver perdido essa capacidade,<br />

ela hoje pode ser considerada uma Empresa Não Inovadora.<br />

Quando a Inovação causa muito impacto, quando marca consideravelmente<br />

a companhia e quando é muito assimilada culturalmente<br />

dentro da <strong>em</strong>presa, ela passa a ficar impregnada nas<br />

estruturas e nos valores corporativos dessa <strong>em</strong>presa. Chega<br />

um ponto da vida dessa organização que a antiga Inovação<br />

poda ou dificulta o surgimento de novas ideias. E, quando isso<br />

acontece, a <strong>em</strong>presa que era inovadora deixa de ser.<br />

A Kodak é um bom ex<strong>em</strong>plo de qu<strong>em</strong> abraçou seu passado<br />

inovador e tornou-se uma Empresa Não Inovadora. Por<br />

mais de um século, a <strong>em</strong>presa foi referência mundial <strong>em</strong> produ-<br />

97


Explosão da Inovação<br />

tos fotográficos. Em seu auge, a Kodak possuía 60 mil funcionários<br />

e uma sede com mais de 220 prédios, entre escritórios e<br />

unidades de produção de filmes e papel fotográfico.<br />

A grande Inovação que a companhia fez foi desenvolver<br />

um modelo de negócio ancorado na venda e na revelação dos<br />

filmes fotográficos para o grande público. Até então, a receita<br />

gerada pelas <strong>em</strong>presas do setor estava na venda de máquinas<br />

para fotógrafos profissionais, aqueles que eram contratados<br />

quando se queria fotografar algo, alguém ou alguma situação.<br />

Com o surgimento de máquinas amadoras, menores e mais<br />

simples, foi possível criar um sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que todo mundo, até<br />

mesmo não profissionais, comprasse uma máquina para fotografar<br />

todos os momentos que quisesse. Para isso, as pessoas<br />

só precisavam comprar um rolo de filme e, depois de tirada a<br />

foto, contratar o serviço de revelação das imagens.<br />

Nesse cenário, a Kodak foi imbatível. Ela desenvolveu<br />

novas câmeras fotográficas, criou e lançou novos tipos de<br />

rolos de filmes, e oferecia serviços pioneiros de revelação aos<br />

consumidores. Na década de 1980, a companhia dominava<br />

85% do mercado fotográfico dos Estados Unidos, o principal<br />

do mundo. Não é exagero falar que, nessa época, praticamente<br />

o mundo fotografava com máquinas e, principalmente, com<br />

filmes da Kodak.<br />

Mas essa história começou a mudar com o surgimento<br />

das máquinas digitais. Com elas, era possível tirar fotos que<br />

depois eram disponibilizadas diretamente para os computadores<br />

das pessoas, s<strong>em</strong> a necessidade dos rolos de filmes. Nesse<br />

novo contexto, a Kodak começou a entrar <strong>em</strong> decadência. S<strong>em</strong><br />

o faturamento de seus filmes e da revelação deles, a <strong>em</strong>presa<br />

começou a caminhar para o desaparecimento. Curiosamente, a<br />

tecnologia da fotografia digital foi desenvolvida pela própria<br />

Kodak duas décadas antes de a concorrência fazê-la. Porém,<br />

com receio dos resultados dessa Inovação e querendo preser-<br />

98


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

var seu até então b<strong>em</strong>-sucedido modelo de negócio, a <strong>em</strong>presa<br />

abriu mão de inovar.<br />

Quando a decisão se mostrou obviamente equivocada, a<br />

<strong>em</strong>presa passou a investir nas máquinas digitais. A partir desse<br />

momento, a Kodak precisou de apenas dois anos para assumir<br />

a liderança na venda de máquinas digitais no mercado norteamericano.<br />

Mas o grande probl<strong>em</strong>a da <strong>em</strong>presa permanece: ela<br />

está vendendo máquinas digitais, mas seu modelo de ganhar<br />

dinheiro com os rolos de filmes ainda não foi substituído por<br />

algo melhor. Em resumo, apesar de desenvolver um novo mix<br />

de produtos e serviços, a Kodak ainda não conseguiu se destacar<br />

com uma grande inovação neste século.<br />

O calcanhar de Aquiles das Empresas Não Inovadoras<br />

está justamente na mudança do cenário. Quando isso ocorre,<br />

por ter suas bases fixadas solidamente <strong>em</strong> uma determinada<br />

situação, elas muitas vezes não sab<strong>em</strong> o que fazer. É nesse momento<br />

que a maioria das Empresas Não Inovadoras tende a<br />

falir e desaparecer.<br />

Nesse modelo teórico foram apresentados dois tipos de<br />

<strong>em</strong>presas: as que têm capacidade de inovar e as que não têm.<br />

Porém, dividir todas as <strong>em</strong>presas <strong>em</strong> apenas duas classificações<br />

seria uma atitude simplista. Dificilmente uma <strong>em</strong>presa é<br />

100% inovadora ou 100% não inovadora. De forma prática,<br />

as companhias estão situadas entre essas duas condições, formando<br />

uma infinidade de possibilidades. Elas se posicionam<br />

no eixo de Inovação a partir da capacidade interna de gerá-la.<br />

Quanto maior for essa capacidade, mais próximas de Empresas<br />

Inovadoras elas estarão, e quando menor, mais próximas de<br />

Empresas Não Inovadoras elas ficarão.<br />

99


Explosão da Inovação<br />

Empresa<br />

não Inovadora<br />

Tipos de Empresas<br />

Teoria<br />

Empresa<br />

Inovadora<br />

Infinitas Empresas<br />

Prática<br />

Porém, quais as características de uma Empresa Inovadora?<br />

Quais el<strong>em</strong>entos da capacidade interna a faz<strong>em</strong> inovar?<br />

Quais são as diferenças estruturais e de metodologia de trabalho<br />

para as Empresas Não Inovadoras?<br />

Essas questões serão respondidas na próxima sessão deste<br />

capítulo, na qual serão apresentados os el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong><br />

a capacidade interna das <strong>em</strong>presas.<br />

4.4 Os El<strong>em</strong>entos da Capacidade Interna – MACCS<br />

A Capacidade Interna que uma pessoa, um grupo de indivíduos<br />

ou uma organização t<strong>em</strong> para promover a Inovação<br />

está vinculada a cinco el<strong>em</strong>entos, aos quais nos referimos por<br />

MACCS, que reúne as iniciais das palavras Motivação, Autonomia,<br />

Conhecimento, Capital e Sist<strong>em</strong>a. O resultado da combinação<br />

entre esses el<strong>em</strong>entos fornecerá os aspectos culturais que<br />

facilitarão ou dificultarão o desenvolvimento da Inovação. Na<br />

imag<strong>em</strong> a seguir é possível visualizar os el<strong>em</strong>entos que constitu<strong>em</strong><br />

o MACCS.<br />

100


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

El<strong>em</strong>entos da Capacidade Interna – MACCS<br />

Motivação<br />

Autonomia<br />

Conhecimento<br />

Capital<br />

Sist<strong>em</strong>a<br />

Motivação é a <strong>em</strong>oção que impulsiona a ação e a forma de<br />

conduta de indivíduos e grupos. É a razão que leva as pessoas<br />

a um determinado comportamento. Quando exist<strong>em</strong> motivos<br />

e interesses para a pessoa agir, considera-se que ela está<br />

Motivada. Mas quando não há motivação para a realização<br />

de determinada ação, define-se a pessoa como estando<br />

Desmotivada.<br />

Autonomia, por sua vez, é o grau de liberdade conferido<br />

às pessoas ou grupos no desenvolver de suas tarefas. Essa<br />

liberdade está ligada às tomadas de decisões que afetam diretamente<br />

o resultado do trabalho proposto. Quando se t<strong>em</strong> total<br />

autonomia no que se está fazendo, considera-se o trabalho<br />

como Independente. E quando não há nenhuma liberdade na<br />

tomada de decisão das tarefas feitas, considera-se o trabalho<br />

como sendo Dependente de alguém ou de outros (aqueles que<br />

efetivamente decid<strong>em</strong>).<br />

Conhecimento é o conjunto de informações, aptidões e<br />

competências adquiridas ao logo do t<strong>em</strong>po por pessoas e grupos.<br />

É a habilidade de saber, fazer e aprender determinado<br />

t<strong>em</strong>a ou atividade. Quando se t<strong>em</strong> conhecimento sobre algo<br />

ou sobre alguma coisa, pode-se dizer que há Sabedoria. Porém,<br />

101


Explosão da Inovação<br />

quando não se conhece nada sobre um assunto ou atividade,<br />

considera-se que há Ignorância por parte de qu<strong>em</strong> não sabe.<br />

Capital é somatório de bens e valores que são investidos<br />

<strong>em</strong> um projeto específico. Ele pode ser um recurso monetário,<br />

humano ou de t<strong>em</strong>po. Quando uma pessoa ou <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> à<br />

sua disposição recursos infinitos, diz<strong>em</strong>os que o capital é Ilimitado.<br />

Entretanto, quando ela não dispõe de nenhum recurso<br />

para investimento, diz<strong>em</strong>os que esse capital é Limitado.<br />

Sist<strong>em</strong>a, por fim, é a forma como a organização se estrutura<br />

para o desenvolvimento de suas atividades internas. É o<br />

Sist<strong>em</strong>a que define como uma tarefa será distribuída, agrupada<br />

e coordenada. Quando a organização t<strong>em</strong> um modelo de rede<br />

fluida e flexível, ela t<strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a Orgânico. Mas quando a<br />

organização é calcada <strong>em</strong> formas burocráticas de comando e<br />

controle, trata-se de uma <strong>em</strong>presa com sist<strong>em</strong>a Mecanicista.<br />

A Capacidade Interna de uma <strong>em</strong>presa é constituída do<br />

conjunto integrado desses cinco el<strong>em</strong>entos e suas respectivas<br />

características. Cada um afeta de alguma forma a organização e<br />

influencia, a seu modo, sua capacidade de promover a Inovação.<br />

Na figura a seguir é possível visualizar cada el<strong>em</strong>ento e<br />

suas características principais.<br />

Relação entre os El<strong>em</strong>entos do MACCS<br />

desmotivado<br />

dependente<br />

Ignorância<br />

limitado<br />

Mecanicista<br />

Motivação<br />

Autonomia<br />

Conhecimento<br />

Capital<br />

Sist<strong>em</strong>a<br />

Motivado<br />

Independente<br />

sabedoria<br />

Ilimitado<br />

orgânico<br />

102


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Assim como foi feito com os el<strong>em</strong>entos do Ambiente Externo,<br />

agora serão apresentados os el<strong>em</strong>entos da Capacidade<br />

Interna de forma individual, relacionando-os com o poder de<br />

promoção da Inovação. Depois que cada um for devidamente<br />

descrito e compreendido, eles serão relacionados entre si <strong>em</strong><br />

um próximo tópico.<br />

4.4.1 Motivação<br />

A Motivação é o que leva os seres a uma determinada<br />

ação. É o motivo central ou original de um comportamento e o<br />

que condiciona a forma e a intensidade dessa ação.<br />

Na realidade, exist<strong>em</strong> várias teorias e definições sobre<br />

o que é motivação. Pode-se citar Maslow, que desenvolveu a<br />

teoria da hierarquia das necessidades. Nela, as necessidades do<br />

ser humano (Fisiológicas, de Segurança, Sociais, de Autoestima<br />

e de Autorrealização) são divididas e classificadas <strong>em</strong> uma<br />

pirâmide conforme sua prioridade. Há a teoria de Herzberg,<br />

que aponta dois tipos de fatores que influenciam a motivação:<br />

os Motivacionais (intrínsecos à condição do indivíduo) e os<br />

Higiênicos (relacionados às necessidades básicas). Os fatores<br />

Motivacionais levam à satisfação ou à não satisfação, enquanto<br />

os Higiênicos levam à insatisfação ou à não insatisfação. Para<br />

Chiavenato, a satisfação é fruto do ciclo motivacional (equilíbrio<br />

interno, estímulo ou incentivo, necessidade, tensão, comportamento<br />

ou ação e satisfação), e para Vroom, o comportamento<br />

humano pode ser direcionado por meio de recompensas<br />

e trocas de interesses.<br />

Não é pretensão desta obra analisar cada uma dessas teorias<br />

n<strong>em</strong> definir qual é a melhor. O interesse aqui é de explicar<br />

o que é motivação, a fim de relacioná-la à capacidade interna<br />

de promoção da Inovação. Para tanto, recorr<strong>em</strong>os às definições<br />

103


Explosão da Inovação<br />

de Lewin, que destaca como motivação o conjunto de motivos<br />

que impulsionam a pessoa a agir de certa forma. Esse impulso<br />

v<strong>em</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po, de fatores externos (do ambiente) e de<br />

fatores intrínsecos ao indivíduo (seu raciocínio e seu poder de<br />

cognição). Nesse conceito, um comportamento é causado por<br />

algum motivo particular ou por uma necessidade específica.<br />

Motivação é o desejo, declarado ou não, consciente ou inconsciente,<br />

por algo.<br />

O grau de motivação está intimamente ligado à intensidade<br />

e à quantidade de pretextos psicológicos existentes. Estar<br />

Motivado significa ter motivos reais e contundentes para se<br />

fazer algo, indicando que os estímulos internos condicionarão<br />

o comportamento. Estar Desmotivado, por outro lado, representa<br />

a ausência dessas razões, indicando que não há estímulos<br />

psicológicos suficientes para o incentivo do comportamento.<br />

Esses dois conceitos, porém, são caracterizados por condições<br />

radicalmente opostas: a total existência ou a completa ausência<br />

de uma causa. Na prática, o grau de motivação varia <strong>em</strong><br />

uma escala entre essas duas situações.<br />

El<strong>em</strong>ento M – Motivação<br />

desmotivado<br />

Motivado<br />

ausência total<br />

de motivos<br />

internos<br />

presença<br />

mediana de<br />

motivos internos<br />

Existência de<br />

muitos motivos<br />

internos<br />

Capacidade<br />

baixíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

mediana de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

altíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

104


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Quanto mais motivos se tiver para um comportamento<br />

diferente ou para a mudança de uma ação (quanto mais para a<br />

direita estiver no eixo Motivado/Desmotivado), maior será a<br />

capacidade de promoção da Inovação. A motivação para inovar<br />

é a primeira condição interna para o desenvolvimento de algo<br />

novo. S<strong>em</strong> motivação, dificilmente será possível sair do status<br />

quo e procurar algo diferente do que já estiver sendo feito. É a<br />

motivação que leva uma pessoa ou <strong>em</strong>presa a se esforçar para<br />

inovar.<br />

No ano de 2005, o bilionário britânico Richard Branson,<br />

dono da companhia aérea Virgin Atlantic Airways, iniciou as<br />

operações da Virgin Galactic, <strong>em</strong>presa de turismo espacial. A<br />

<strong>em</strong>presa é uma associação com o projetista Burt Rutan, que<br />

desenvolveu o SpaceShipOne, um modelo de aeronave capaz<br />

de levar passageiros ao espaço <strong>em</strong> viagens regulares com segurança.<br />

O primeiro voo comercial está previsto para os próximos<br />

anos. Por enquanto, a companhia está aprimorando sua<br />

aeronave e testando sua operação. Seu planejamento é começar<br />

com voos s<strong>em</strong>anais e chegar, cinco anos depois da primeira<br />

viag<strong>em</strong>, a um ou dois voos por dia. Porém, mesmo antes do primeiro<br />

voo, a Virgin Galactic é um sucesso comercial. Algumas<br />

centenas de pessoas já se inscreveram para comprar o serviço<br />

e pagaram adiantado o valor aproximado de US$ 200 mil cada<br />

uma. Com isso,a <strong>em</strong>presa pôde levantar recursos financeiros<br />

para subsidiar o início das operações.<br />

Mas, afinal, o que motiva uma <strong>em</strong>presa de aviação como<br />

a Virgin a lançar-se <strong>em</strong> um mercado ainda inexistente, que é o<br />

da aviação espacial? O que está por trás da decisão de desenvolver<br />

uma nova <strong>em</strong>presa com um conceito tão inovador? Para<br />

compreender a motivação de uma <strong>em</strong>presa é necessário, antes,<br />

interpretar a motivação da pessoa que lidera o negócio.<br />

Richard Branson nasceu na Inglaterra <strong>em</strong> 1950 e aos<br />

16 anos fundava uma revista chamada Student. Quatro anos<br />

105


Explosão da Inovação<br />

depois, inaugurava uma loja de discos que entregava o produto<br />

pelo correio. Dois anos mais tarde, quando completava 22<br />

anos, Branson abria uma gravadora de música chamada Virgin<br />

Records. E anos mais tarde lançava a Virgin Atlantic Airways,<br />

uma companhia aérea internacional. Nascia, assim, o grupo<br />

Virgin, conglomerado de <strong>em</strong>presas que atua <strong>em</strong> setores tão<br />

diferentes como transporte, editoras e desenvolvimento de<br />

softwares. Por isso, Richard Branson pode ser descrito como<br />

um <strong>em</strong>preendedor nato. Desde o final da adolescência, sua<br />

preocupação era abrir e construir <strong>em</strong>presas. Dessa forma, não<br />

chega a ser surpreendente o fato de ele decidir abrir mais uma<br />

nova <strong>em</strong>presa, a Virgin Galactic. Mas por que uma <strong>em</strong>presa de<br />

aviação espacial? Para entender isso é necessário conhecer um<br />

pouco mais do seu fundador.<br />

Além de ser um <strong>em</strong>presário, Richard Branson é um aventureiro.<br />

Ele s<strong>em</strong>pre gostou da <strong>em</strong>oção proporcionada por<br />

aventuras pioneiras. Na metade da década de 1980, ele bateu<br />

um recorde ao cruzar o oceano <strong>em</strong> um barco próprio. Alguns<br />

anos mais tarde, fez o primeiro voo pelo oceano Atlântico <strong>em</strong><br />

um balão de ar quente. Na década de 1990, realizou o mesmo<br />

feito, só que dessa vez sobre o oceano Pacífico, saindo do Japão<br />

e chegando ao Canadá.<br />

Branson é um hom<strong>em</strong> que gosta de aventuras no ar, de<br />

desafiar os limites impostos pelo espaço e se dedica a quebrar<br />

recordes e atingir feitos pioneiros. Nada mais natural que um<br />

hom<strong>em</strong> com esse perfil tenha motivação de ser o primeiro hom<strong>em</strong><br />

a levar comercialmente turistas para o espaço. Na primeira<br />

oportunidade que teve, o bilionário inglês fez uma parceria<br />

com o projetista Burt Rutan.<br />

Rutan era dono da Scaled Composites, <strong>em</strong>presa fundada<br />

especialmente para participar da Ansari X Prize, competição<br />

internacional que tinha como prêmio US$ 10 milhões<br />

para qu<strong>em</strong> construísse a primeira aeronave privada do mundo<br />

106


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

a levar com segurança e de maneira constante pessoas para o<br />

espaço. A companhia de Rutan saiu vitoriosa com o seu modelo<br />

SpaceShipOne, que cumpriu <strong>em</strong> janeiro de 2005 sua missão<br />

com êxito.<br />

Conhecendo um pouco mais as motivações e interesses de<br />

Richard Branson e Burt Rutan, fica evidente por que nenhuma<br />

outra <strong>em</strong>presa de aviação se lançou ainda nesse mercado.<br />

Afinal, é maior a preocupação delas <strong>em</strong> lucrar <strong>em</strong> um mercado<br />

tão competitivo quanto o da aviação comercial internacional do<br />

que se lançar <strong>em</strong> aventuras arriscadas e perigosas. Já no caso<br />

de Branson, essas prioridades são invertidas. Além disso, fica<br />

claro porque a missão técnica da nova <strong>em</strong>presa ficou nas mãos<br />

de Rutan, a primeira entre mais de 20 <strong>em</strong>presas a cumprir o<br />

desafio da Ansari X Prize. Agora sua motivação está <strong>em</strong> provar<br />

que sua aeronave pode voar de forma comercial para o espaço.<br />

Inovar d<strong>em</strong>anda muita dedicação e envolve um risco elevado,<br />

por isso não é um processo fácil. É necessário grande<br />

esforço tanto para descobrir uma ideia criativa quanto para<br />

promovê-la <strong>em</strong> uma Inovação propriamente dita. E é a motivação<br />

que alimenta o corpo e a mente para continuar prosseguindo<br />

nesse processo difícil e cansativo. S<strong>em</strong> ela, muito facilmente<br />

se desistiria no começo ou no meio do caminho. Além disso, é<br />

a motivação que faz as pessoas se aventurar<strong>em</strong> pelo desconhecido<br />

e as leva a correr riscos.<br />

Em uma metáfora simples, pode-se dizer que a motivação<br />

é o vento da Inovação. No mar, é o vento que faz as <strong>em</strong>barcações<br />

à vela navegar<strong>em</strong>. Quando o vento é forte e constante, a<br />

viag<strong>em</strong> pode prosseguir, mas ela passa a depender do rumo<br />

que o capitão dá para a <strong>em</strong>barcação e da capacidade da tripulação<br />

e dos equipamentos para aproveitar ao máximo todo<br />

o vento disponível. Quando o vento é inexistente, não adianta<br />

ter a melhor rota e os melhores equipamentos e tripulação<br />

possíveis. A <strong>em</strong>barcação não sairá do lugar ou estará comple-<br />

107


Explosão da Inovação<br />

tamente à mercê das correntes marítimas.<br />

Quanto menos motivação se t<strong>em</strong> para caminhar na direção<br />

da mudança e do novo (mais para a esquerda ela estiver no<br />

eixo), menores as chances de se promover a Inovação. Nesse<br />

caso, a capacidade interna fica bloqueada pela falta de incentivos<br />

internos.<br />

Ambientes de trabalho opressores, com clima ruim e concorrência<br />

interna depreciativa, tradicionalmente minam a motivação<br />

dos funcionários. Quando uma equipe se encontra nessa<br />

situação de Desmotivação, o trabalho realizado é meramente<br />

burocrático. Ela está lá para ganhar dinheiro e se sujeita a esperar<br />

as horas passar<strong>em</strong>. Segundo o conceito da Empresa de<br />

Corpo, Mente e Alma, de Roberto Tranjan, nessa condição, o<br />

funcionário traz o corpo para o trabalho, mas deixa a cabeça e o<br />

coração (alma) na portaria quando entra.<br />

A Desmotivação pode ser gerada também pela existência<br />

de objetivos diferentes entre a <strong>em</strong>presa e o funcionário. Quando<br />

um quer alguma coisa que o outro não prioriza ou não deseja,<br />

normalmente a consequência a médio e longo prazo é a<br />

Desmotivação.<br />

4.4.2 Autonomia<br />

Autonomia é o grau de liberdade que se t<strong>em</strong> para executar<br />

uma tarefa. É a possibilidade de você tomar decisões <strong>em</strong> relação<br />

ao seu trabalho s<strong>em</strong> depender da escolha prévia ou final<br />

de alguém que não esteja participando do processo.<br />

Uma pessoa ou uma equipe com autonomia é aquela que<br />

t<strong>em</strong> liberdade para planejar, criar, executar as ações propostas,<br />

distribuir os recursos humanos, financeiros e de t<strong>em</strong>po e,<br />

principalmente, se sente responsável pela atividade feita e pelo<br />

resultado final do trabalho.<br />

108


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Assim como a Motivação, a Autonomia t<strong>em</strong> vários significados<br />

e definições distintas, que converg<strong>em</strong> fundamentalmente<br />

para dois pontos: a independência de controles externos<br />

e a ação própria e proposital de alguém ou de um grupo.<br />

Esses dois pontos resum<strong>em</strong> e simplificam o conceito de<br />

Autonomia. Assim, pode-se dizer que Autonomia é a liberdade<br />

para se fazer algo <strong>em</strong> que se acredita e que se deseja. Quando<br />

alguém t<strong>em</strong> grande liberdade de atuação no desenvolvimento<br />

da sua atividade, considera-se que essa pessoa age de forma<br />

Independente. Porém, se tiver baixa liberdade de atuação, com<br />

a necessidade constante de permissão e de auxílio, considerase<br />

que essa pessoa trabalha de forma Dependente. <strong>em</strong> relação à<br />

Autonomia, toda atividade apresenta, uma variação entre esses<br />

dois polos.<br />

El<strong>em</strong>ento A – Autonomia<br />

dependente<br />

Independente<br />

Baixo grau<br />

de liberdade<br />

de ação<br />

Grau médio<br />

de liberdade<br />

de ação<br />

alto grau<br />

de liberdade<br />

de ação<br />

Capacidade<br />

baixíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

mediana de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

altíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Quanto mais autonomia uma pessoa ou um grupo tiver<strong>em</strong><br />

(quanto mais para a direita estiver no eixo Independente/<br />

Dependente), maior será sua capacidade de inovar. Dar autonomia<br />

para alguém é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, respeitar, valorizar e<br />

109


Explosão da Inovação<br />

confiar nele. É respeitar sua capacidade técnica e sua habilidade<br />

criativa. É valorizar suas opiniões e escolhas. É confiar <strong>em</strong><br />

seus propósitos e valores. Uma pessoa com grande autonomia<br />

t<strong>em</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po mais motivação e mais possibilidades<br />

para se superar e atingir seus objetivos. É da mistura da motivação<br />

para a autossuperação e das opções que são abertas pela<br />

formulação de hipóteses, cenários e ideias novas que surge a<br />

Inovação. Inovação envolve assumir riscos e enfrentar o desconhecido.<br />

Na seleção das “25 Empresas Mais Inovadoras do Brasil”<br />

<strong>em</strong> 2009, segundo pesquisa feita <strong>em</strong> conjunto pela Fundação<br />

Getúlio Vargas (FGV-Eaesp), pela Fundação Nacional da Qualidade<br />

(FNQ) e pelo Great Place To Work (GPTW), e divulgada<br />

pela Época Negócios, encontra-se uma grande “coincidência”:<br />

todas as <strong>em</strong>presas selecionadas dão grande autonomia<br />

para seus funcionários.<br />

As 25 Empresas Mais Inovadoras do Brasil <strong>em</strong> 2009<br />

Época Negócios<br />

Fonte: Revista Época Negócios de julho de 2009<br />

A grande vencedora de 2009 desse ranking foi a Ch<strong>em</strong>tech,<br />

<strong>em</strong>presa carioca de engenharia e software, descrita da seguinte<br />

forma pela Época Negócios:<br />

110


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

“Ch<strong>em</strong>tech, Rio de Janeiro - A competência tecnológica<br />

da Ch<strong>em</strong>tech, somada à política de gestão de pessoas,<br />

a qualifica como um ex<strong>em</strong>plo de Inovação no Brasil. A<br />

<strong>em</strong>presa, especializada <strong>em</strong> engenharia e software, investe<br />

<strong>em</strong> pesquisa, possui canais de comunicação direta com os<br />

funcionários e nutre um ambiente altamente criativo, <strong>em</strong><br />

que as pessoas têm liberdade para expressar suas ideias”.<br />

Uma <strong>em</strong>presa no qual os funcionários têm liberdade para<br />

expressar suas ideias e tomar decisões não é algo pontual nessa<br />

lista. Cada uma das <strong>em</strong>presas possui elevado grau de autonomia<br />

para que sua equipe busque as melhores soluções.<br />

A Ticket, criadora do conceito de convênio refeição, incentiva<br />

seus funcionários a fornecer<strong>em</strong> ideias <strong>em</strong> um portal<br />

corporativo para depois disponibilizar os recursos necessários<br />

àqueles que tiver<strong>em</strong> apresentado as melhores sugestões. Apesar<br />

de possuir um Comitê de Desenvolvimento de Negócios<br />

que promove reuniões mensais, o trabalho do dia a dia fica nas<br />

mãos daqueles que tiveram suas ideias selecionadas. Há acompanhamento<br />

constante do desenvolvimento de cada projeto<br />

pelo Comitê, mas as equipes possu<strong>em</strong> alto grau de liberdade<br />

na execução dos projetos.<br />

É importante não confundir liberdade com descaso. Não<br />

é porque se dá autonomia para um grupo que os líderes não<br />

dev<strong>em</strong> acompanhá-lo e auxiliá-lo no desenvolvimento de um<br />

projeto. Descaso é deixar a responsabilidade para outro e lavar<br />

as mãos, isentando-se de culpa. Quando isso ocorre, não se<br />

está dando liberdade para o trabalho, mas apenas transferindo<br />

responsabilidades de modo irresponsável. Autonomia requer<br />

comprometimento e acompanhamento.<br />

A unidade brasileira da IBM, multinacional de soluções<br />

de tecnologia da informação, criou várias ferramentas para<br />

promover a pesquisa e a melhoria dos processos dentro da<br />

companhia. Com elas, os funcionários são incentivados a tro-<br />

111


Explosão da Inovação<br />

car ideias e opiniões para o desenvolvimento de seus projetos.<br />

O resultado desse esforço foi o registro de trinta patentes nos<br />

últimos três anos, um número bastante alto, considerando-se<br />

que a <strong>em</strong>presa teve apenas três patentes registradas <strong>em</strong> toda a<br />

década de 1990.<br />

A Brasilata, fabricante de <strong>em</strong>balagens metálicas, a CI&T,<br />

prestadora de serviços de tecnologia de informação, e a Daichi<br />

Sankyo, laboratório farmacêutico, também promoveram uma<br />

série de soluções de estreitamento da comunicação entre seus<br />

funcionários, visando ao maior compartilhamento de ideias.<br />

Com isso, as equipes de trabalho puderam acelerar o desenvolvimento<br />

de seus projetos e atuar com menor dependência das<br />

outras áreas (normalmente requisitadas para fornecer informações<br />

ou apoio operacional).<br />

Quanto menor for a autonomia dada a uma equipe (mais<br />

para a esquerda ela estiver no eixo), menor é a chance de ela<br />

promover a Inovação necessária. Isso decorre da situação cômoda<br />

que ela passa a ter, tendo apenas de obedecer ao líder,<br />

que é qu<strong>em</strong> deve fornecer a solução para os probl<strong>em</strong>as e os<br />

desafios surgidos no dia a dia.<br />

Uma pessoa ou equipe que não possui nenhuma autonomia<br />

está presa a algo ou a alguém. Ela é apenas controlada e<br />

executa meramente o que lhe é designado. Trabalha apenas de<br />

forma operacional, abrindo mão de suas convicções, desejos,<br />

sonhos e propostas. Aquele que não trabalha com liberdade é<br />

dependente de uma segunda pessoa. Seu trabalho é fruto da<br />

coerção e, por isso, é tradicionalmente limitado e pobre. Ele<br />

se acostuma apenas a obedecer e a seguir ordens; desse modo,<br />

não desenvolve seu lado analítico, estratégico e criativo, tão<br />

importantes para se produzir a Inovação.<br />

Na cultura ocidental moderna, o casamento é fruto de<br />

decisão exclusiva do casal. Casa-se, normalmente, com qu<strong>em</strong>,<br />

quando, como e até quando se deseja. Os casamentos arranja-<br />

112


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

dos ou arrumados faz<strong>em</strong> parte de um passado distante, <strong>em</strong> que<br />

os indivíduos não tinham autonomia sobre suas vidas. Naquela<br />

época, as crianças tinham suas tarefas limitadas e controladas<br />

pelos pais. A profissão e o trabalho (no caso das mulheres, a<br />

possibilidade de trabalhar) estavam nas mãos do pai. Na sociedade<br />

patriarcal, fazia-se o que o “hom<strong>em</strong>” decidia. A escolha<br />

do parceiro também era uma prerrogativa dos pais. Casavase<br />

com qu<strong>em</strong> os pais achass<strong>em</strong> mais propício ou conveniente.<br />

Após o casamento, o hom<strong>em</strong> passava a conduzir as decisões da<br />

nova família e dava a palavra final sobre a vida da esposa.<br />

Esse arranjo de sociedade, porém, ainda persiste <strong>em</strong><br />

várias culturas do mundo, e, apesar do choque de visões tão<br />

antagônicas, é possível comparar esses estilos de vida com a<br />

capacidade de promoção da Inovação dessas sociedades. Toda<br />

sociedade que limita ao máximo a vida dos seus indivíduos, discriminando-os,<br />

segregando-os e controlando-os, é incapaz de<br />

trazer, de forma contínua, grandes inovações ao mundo. Pense<br />

<strong>em</strong> uma região onde as crianças não têm livre-arbítrio, onde as<br />

mulheres são oprimidas e/ou as minorias são discriminadas.<br />

Pensou? Muito provavelmente esse seria um dos lugares mais<br />

incapazes de produzir algo novo, diferente e moderno.<br />

A mesma comparação que se fez para uma sociedade inteira<br />

é possível fazer para microgrupos. Famílias e <strong>em</strong>presas<br />

também pod<strong>em</strong> ser comparadas dessa forma. Na lista das 25<br />

Empresas Mais Inovadoras do Brasil, divulgada pela revista<br />

Época, não encontramos <strong>em</strong>presas que não dão autonomia<br />

para seus colaboradores. Não é possível uma <strong>em</strong>presa inovar<br />

nos dias de hoje podando a liberdade dos funcionários, fornecedores<br />

e parceiros. É curioso, mas até mesmo fornecedores e<br />

parceiros estão sendo convidados para participar desse processo.<br />

Conhecido como conceito de Inovação Aberta, as <strong>em</strong>presas<br />

abr<strong>em</strong> seus projetos de pesquisa, desenvolvimento e melhoria<br />

para que agentes de fora particip<strong>em</strong> e contribuam.<br />

113


Explosão da Inovação<br />

A Cristália, laboratório farmacêutico do interior paulista,<br />

conta com parcerias de universidades no Rio de Janeiro, <strong>em</strong><br />

São Paulo, no Amazonas e no Rio Grande do Sul para o desenvolvimento<br />

de suas pesquisas. O C.E.S.A.R., centro de estudos<br />

especializado <strong>em</strong> serviços de informática do Recife, promove o<br />

uso de redes sociais para compartilhar as ideias de dentro da<br />

companhia com de fora.<br />

4.4.3 Conhecimento<br />

Conhecimento é a ciência de informações, de aquisição<br />

de habilidades e de criação de novas experiências de um indivíduo<br />

ou grupo sobre determinado assunto ou t<strong>em</strong>a. É, assim,<br />

a assimilação de um dado, o uso de uma aptidão ou a extensão<br />

de uma experiência. Fica mais fácil compreender esse conceito<br />

quando se faz três perguntas do estilo “você sabe?”.<br />

Você sabe qu<strong>em</strong> descobriu o Brasil? Se a resposta for Pedro<br />

Álvares Cabral, você assimilou um dado. Essa a primeira parte<br />

do conceito de conhecimento: a assimilação. É a ciência ou compreensão<br />

de algo, que pode ser uma notícia ou uma informação.<br />

Mas, você sabe andar de bicicleta? Se responder sim é<br />

porque t<strong>em</strong> essa habilidade, que veio do conhecimento da forma<br />

de pedalar e de se manter ereto no veículo, e, principalmente,<br />

da aplicação prática da habilidade adquirida. Essa é a<br />

segunda parte da teoria: a aptidão.<br />

E você sabe como eu posso trocar uma lâmpada se não tiver<br />

uma escada para usar? Se você encontrar uma nova solução<br />

para esse probl<strong>em</strong>a a partir do seu repertório de informações<br />

e experiências, você terá conseguido estender o uso do que foi<br />

aprendido e criado novas possibilidades. Essa é a terceira e<br />

última parte da formação do conhecimento: a criação de algo<br />

nova a partir do repertório já adquirido.<br />

114


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

Assim, conhecimento é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, saber, fazer<br />

e aprender. É o domínio da parte teórica e prática de um determinado<br />

assunto ou t<strong>em</strong>a. E, <strong>em</strong> um grau mais elevado, é a<br />

combinação deles com outros assuntos para a criação de mais<br />

informações e habilidades. A geração de conhecimento v<strong>em</strong> da<br />

capacidade de aprendizado, da prática e do uso estendido de algo.<br />

A excelência e o primor de um trabalho estão intimamente<br />

ligados ao conhecimento e à competência dos envolvidos<br />

nele. Não dá para imaginar o trabalho realizado por Michelangelo<br />

na Capela Sistina s<strong>em</strong> vinculá-lo diretamente à habilidade<br />

e ao conhecimento prévio do artista sobre história, pintura,<br />

escultura e anatomia humana. Em 1508, quando foi contratado<br />

pelo Papa Julio II para pintar o teto da Capela Sistina, o<br />

artista quase recusou. Ele se achava muito mais um escultor<br />

do que um pintor. Não imaginava que tivesse habilidade e conhecimento<br />

suficiente para fazer um bom trabalho. Mas tinha<br />

e o fez. Após se dedicar sozinho por quatro anos, o resultado é<br />

algo esplendoroso. A obra transmite grande harmonia e leveza.<br />

As imagens parec<strong>em</strong> saltar das paredes, dando a impressão<br />

de tridimensionalidade. No centro estão retratadas A Criação<br />

do Mundo, A Concepção do Hom<strong>em</strong>, A Expulsão do Paraíso<br />

e O Dilúvio. Nas laterais estão pintados os Profetas, As Sibilas<br />

e a História de David e Golias. Os personagens retratados<br />

possu<strong>em</strong> formas e movimentos perfeitos. O que possibilitou<br />

a criação de uma obra tão incrível como essa? A resposta é: o<br />

conhecimento.<br />

Michelangelo, assim como Leonardo da Vinci, era um<br />

grande anatomista. Após conseguir uma autorização especial<br />

do Vaticano para dissecar cadáveres, prática proibida na época,<br />

ele aprendeu tudo sobre os músculos, os tendões e as veias do<br />

corpo humano. Esse estudo de cada parte do corpo foi usado<br />

para a composição das figuras e dos personagens. Além disso,<br />

Michelangelo criou uma técnica de pintar de ponta cabeça<br />

115


Explosão da Inovação<br />

(afinal, como poderia pintar um teto?). A forma encontrada<br />

por ele é muito mais natural para os escultores do que para<br />

os pintores. Assim, ele se aproveitou da habilidade e do conhecimento<br />

adquiridos <strong>em</strong> outro campo das artes para pintar.<br />

A aplicação de gesso sobre a área pintada, o tipo de tinta e a<br />

combinação das cores usadas também são frutos das pesquisas<br />

do italiano. E, por fim, a interpretação pessoal para cada fato<br />

bíblico também retrata o nível elevado de conhecimento dessas<br />

passagens históricas.<br />

A obra de Michelangelo revelou-se tão impressionante<br />

que curiosamente, a Igreja Católica permitiu que seu principal<br />

t<strong>em</strong>plo exibisse imagens e desenhos com corpos nus e novas<br />

interpretações das cenas bíblicas. Só a genialidade e o conhecimento<br />

de um artista dessa magnitude foram capazes de conseguir<br />

isso.<br />

Quando alguém possui grande conhecimento sobre um<br />

t<strong>em</strong>a e sobre uma variedade de assuntos correlacionados, pod<strong>em</strong>os<br />

dizer que essa pessoa possui Sabedoria. Porém, quando<br />

possui pouco conhecimento <strong>em</strong> determinado assunto e nos t<strong>em</strong>as<br />

periféricos, considera-se que esse indivíduo sofre de Ignorância.<br />

As condições intermediárias entre essas duas situações<br />

são apresentadas no eixo horizontal, de forma proporcional à<br />

sua condição.<br />

116


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

El<strong>em</strong>ento C – Conhecimento<br />

Ignorância<br />

sabedoria<br />

ausência<br />

completa de<br />

conhecimento<br />

acúmulo<br />

intermediário<br />

de conhecimento<br />

acúmulo<br />

de grande<br />

conhecimento<br />

Capacidade<br />

baixíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

mediana de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

altíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Quando se t<strong>em</strong> mais conhecimento sobre determinado<br />

assunto e quanto mais variado for o repertório de aprendizado<br />

de uma pessoa sobre outros t<strong>em</strong>as (mais para a direita estiver<br />

no eixo Sabedoria/Ignorância), maior é sua capacidade de inovar.<br />

O conhecimento sobre determinado t<strong>em</strong>a ajuda a pessoa a<br />

procurar as melhores respostas para os desafios impostos pelo<br />

ambiente e fornece aptidão para a impl<strong>em</strong>entação das ideias<br />

que surgir<strong>em</strong>. Ninguém consegue inovar ou trabalhar de forma<br />

excelente <strong>em</strong> algo sobre o qual não tenha o mínimo de<br />

conhecimento. Além disso, adquirir conhecimento de outras<br />

áreas ajuda o indivíduo no momento de ter ideias criativas. A<br />

criatividade, muitas vezes, v<strong>em</strong> da combinação de informações<br />

de áreas distintas do conhecimento humano.<br />

A Magneti Marelli foi a <strong>em</strong>presa que desenvolveu o motor<br />

bicombustível <strong>em</strong> escala industrial. Essa <strong>em</strong>presa é especializada<br />

na fabricação de sist<strong>em</strong>as e componentes automotivos.<br />

Presente <strong>em</strong> vários países do mundo e com sede na Itália,<br />

ela é líder <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as de injeção eletrônica, amortecedores,<br />

iluminação, painéis de instrumentos e escapamentos. Os pri-<br />

117


Explosão da Inovação<br />

meiros estudos <strong>em</strong> relação a tecnologia do motor bicombustível<br />

datam da década de 80 e no meio da década seguinte já<br />

surg<strong>em</strong> os primeiros protótipos deste produto. Porém, havia<br />

um sério probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> relação ao sensor que media os tipos de<br />

combustíveis colocados no tanque. Essa peça era muito cara,<br />

o que inviabilizava sua incorporação nos carros comerciais.<br />

Pensando <strong>em</strong> uma alternativa para baratear essa tecnologia,<br />

a Magneti Marelli iniciou seus estudos a partir deste momento.<br />

Conduzidos por uma equipe multidisciplinar formada por<br />

profissionais brasileiros com o apoio de italianos da matriz, as<br />

pesquisas do grupo italiano duraram alguns anos e contaram<br />

com o intercâmbio de informações de muitas filiais do mundo.<br />

Após alguns anos, a unidade brasileira acabou concentrando<br />

todo o know-how dessa tecnologia e pode evoluir nas pesquisas.<br />

O resultado final foi a criação de um software que inserido<br />

diretamente no módulo do comando da injeção acaba por eliminar<br />

a necessidade do antigo sensor. Dessa forma, a nova tecnologia<br />

se tornava, enfim, viável financeiramente. A inovação<br />

foi fruto da busca incansável pelo conhecimento e pesquisa e<br />

mobilizou vários profissionais. Hoje <strong>em</strong> dia, a Magneti Marelli<br />

já desenvolveu a tecnologia de multicombustível para motores<br />

para vários tipos de veículos, inclusive para os aeronáuticos.<br />

Conhecimento é fruto de leitura, pesquisa, estudo, prática<br />

de habilidades, observação de relações intra e interpessoais<br />

e ganho sist<strong>em</strong>ático de novas aptidões. E Sabedoria é o nível de<br />

competência alcançado por uma pessoa ou <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> relação<br />

a determinado t<strong>em</strong>a. A medição desse grau de competência<br />

costuma ser feita por meio da comparação simples com outras<br />

pessoas ou <strong>em</strong>presas.<br />

A Whirlpool é a líder nacional de eletrodomésticos de<br />

linha branca (refrigeradores, freezers horizontais e verticais, fogões,<br />

lavadoras de roupa, secadoras, lava-louças, micro-ondas,<br />

fornos elétricos, condicionadores e depuradores de ar, coifas e<br />

118


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

climatizadores). Ela fabrica os produtos das marcas Brast<strong>em</strong>p<br />

e Consul e é considerada uma das <strong>em</strong>presas mais inovadoras<br />

do país. Para isso, a companhia investe anualmente R$ 100<br />

milhões <strong>em</strong> pesquisa e desenvolvimento. Esse valor é aplicado<br />

no estudo de novos produtos e na melhoria dos já existentes.<br />

Além disso, a companhia possui um programa de seleção e capacitação<br />

de jovens profissionais que busca incorporar <strong>em</strong> seu<br />

time os melhores estudantes de 36 faculdades de todo o país.<br />

Aliando capacidade técnica elevada e grande esforço <strong>em</strong> pesquisa<br />

e desenvolvimento, a Whirlpool é atualmente uma das<br />

líderes <strong>em</strong> número de patentes requeridas do Brasil.<br />

Perceba o esforço da Whirlpool <strong>em</strong> aumentar seu conhecimento<br />

na área de eletrodomésticos. Possivelmente, nenhuma<br />

outra corporação tenha uma competência tão alta nessa área<br />

como ela. Porém, qual o conhecimento dessa <strong>em</strong>presa e de seus<br />

funcionários <strong>em</strong> relação à indústria farmacêutica? Com certeza,<br />

seu nível de competência nessa área é baixíssimo.<br />

Na verdade, não é necessário conhecer muito de tudo<br />

para inovar. O essencial é ter grande conhecimento sobre o assunto<br />

proposto e ter um bom grau de competência sobre t<strong>em</strong>as<br />

variados, que possam ser usados no processo inovador.<br />

Porém, quanto menor for o conhecimento do indivíduo<br />

ou da equipe (mais para a esquerda ele estiver no eixo), menor<br />

será a chance de se promover a Inovação. A falta de competência<br />

<strong>em</strong> um t<strong>em</strong>a dificulta a análise da situação e a leitura do cenário,<br />

limitando as possibilidades de escolhas e <strong>em</strong>pobrecendo<br />

a tomada de decisão.<br />

Neste ponto, é importante abordar o conceito de Inteligência<br />

Emocional, criado por Daniel Gol<strong>em</strong>an. Segundo essa<br />

teoria, o hom<strong>em</strong> possui várias inteligências (inteligência múltipla),<br />

e cada uma proporciona uma habilidade específica. Esse<br />

conceito veio sobrepor-se à ideia de que a inteligência de uma<br />

pessoa é medida através do raciocínio lógico e de habilidades<br />

119


Explosão da Inovação<br />

mat<strong>em</strong>áticas e espaciais. O professor Howard Gardner compl<strong>em</strong>entou<br />

a teoria de Gol<strong>em</strong>an, apontando sete centros (ou<br />

tipos) de inteligência: Linguística (capacidade de ler, escrever<br />

e de se comunicar através de palavras), Lógica ou Mat<strong>em</strong>ática<br />

(capacidade de fazer contas e de raciocinar), Musical (capacidade<br />

de perceber o ritmo, o som e a melodia), Visual ou<br />

Espacial (controle da noção de espaço, volume e perspectiva),<br />

Sinestésica (domínio sobre os sentidos do próprio corpo), Interpessoal<br />

(estabelecer e manter relacionamentos entre as pessoas)<br />

e Intrapessoal (capacidade de conhecer a si mesmo, suas<br />

<strong>em</strong>oções e pensamentos).<br />

Em outras palavras, o conhecimento de uma pessoa pode<br />

ser dividido nessas categorias. Pelé foi o melhor jogador de<br />

futebol de todos os t<strong>em</strong>pos. Possuía uma grande inteligência<br />

sinestésica. Ele tinha grande controle dos movimentos do seu<br />

corpo dentro de campo e podia fazer gols e dar passes para<br />

seus companheiros com grande facilidade. Porém, habilidade<br />

musical não era seu ponto forte. Qu<strong>em</strong> teve grande inteligência<br />

musical foi Mozart, compositor que conseguia criar<br />

e tocar músicas de forma sensacional, mas não possuía uma<br />

capacidade interpessoal muito desenvolvida. Por sua vez, um<br />

presidente como Getúlio Vargas teve grande inteligência interpessoal,<br />

conseguindo se comunicar e negociar com grande<br />

sucesso, mas sua inteligência lógico/mat<strong>em</strong>ática não era muito<br />

desenvolvida – qu<strong>em</strong> teve esse tipo de habilidade foi Newton!<br />

É possível perceber que cada uma das pessoas relacionadas<br />

conseguiu inovar no campo <strong>em</strong> que tinha habilidade natural e<br />

grande inteligência.<br />

120


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

4.4.4 Capital<br />

Capital pode ser entendido como a riqueza ou os valores<br />

disponíveis para um investimento. É a quantidade de bens que<br />

pod<strong>em</strong> ser aplicados <strong>em</strong> uma ideia ou projeto, os quais pod<strong>em</strong><br />

ser tanto financeiros (monetários) quanto humanos (pessoas)<br />

ou de t<strong>em</strong>po (horas disponíveis). O valor total do capital é uma<br />

soma hipotética dessas três partes.<br />

Tradicionalmente, imagina-se o dinheiro como sendo o<br />

único capital possível de uma <strong>em</strong>presa, de uma pessoa ou família.<br />

Ele é importante, mas não é o único. Para algumas pessoas,<br />

ele é o mais difícil de conseguir, mas isso é relativo. Não raro,<br />

encontramos pessoas com muito dinheiro, mas s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po para<br />

investi-lo da forma correta. E como se consegue mais t<strong>em</strong>po?<br />

Difícil precisar. E há, aindam, as pessoas que receb<strong>em</strong> uma<br />

grande quantia monetária proveniente de heranças ou golpes<br />

de sorte e que não possu<strong>em</strong> competência para investi-la.<br />

Ter capital é fundamental, pois propicia às <strong>em</strong>presas investir<br />

<strong>em</strong> pesquisa e desenvolvimento. É o que permite aos países<br />

investir na educação e na cultura de seus habitantes. Além<br />

disso, é o que viabiliza o t<strong>em</strong>po necessário para o ócio criativo<br />

e para os insights.<br />

Quando há excesso de recursos financeiros disponíveis<br />

para se investir <strong>em</strong> uma ideia, considera-se que a pessoa ou a<br />

instituição como tendo capital Ilimitado. Mas se há baixa quantidade<br />

de bens que pod<strong>em</strong> ser alocados no projeto, considera-se<br />

que o indivíduo ou a organização t<strong>em</strong> capital Limitado. A variação<br />

entre a existência do total de capital necessário e a falta<br />

completa dele dá orig<strong>em</strong> a uma infinidade de gradações que<br />

pod<strong>em</strong> ser representadas no eixo horizontal da figura a seguir.<br />

121


Explosão da Inovação<br />

El<strong>em</strong>ento C – Capital<br />

Quando se t<strong>em</strong> elevado capital disponível (mais para a direita<br />

estiver no eixo Ilimitado/Limitado), maior é a capacidade<br />

de Inovação. Os bens necessários são fundamentais para o investimento<br />

<strong>em</strong> projetos de pesquisa e desenvolvimento de novos<br />

produtos e serviços. São essenciais para a contratação e a<br />

manutenção de profissionais de excelente competência técnica,<br />

e necessários para a compra de novas tecnologias. S<strong>em</strong> esses<br />

el<strong>em</strong>entos todos, dificilmente uma <strong>em</strong>presa conseguirá inovar.<br />

É importante entender que a existência de grande quantidade<br />

de capital disponível não necessariamente traz a Inovação.<br />

O capital aumenta a capacidade de a <strong>em</strong>presa promover<br />

a Inovação, mas não a faz produzi-la automaticamente. Esses<br />

recursos precisam ser b<strong>em</strong> aplicados e estar condizentes com<br />

uma estratégia coerente da organização. Se não for<strong>em</strong> b<strong>em</strong> investidos<br />

e alocados nos melhores projetos, os recursos pod<strong>em</strong><br />

acabar sendo dissolvidos ao longo do t<strong>em</strong>po, gerando desperdício<br />

de t<strong>em</strong>po, de dinheiro e de esforço humano.<br />

A Red Bull, <strong>em</strong>presa austríaca que produz e comercializa<br />

bebidas energéticas, t<strong>em</strong> uma política agressiva de investimenlimitado<br />

Ilimitado<br />

ausência de<br />

capital para<br />

investimento<br />

Capital<br />

intermediário para<br />

investimento<br />

disponibilidade<br />

total de capital<br />

para investimento<br />

Capacidade<br />

baixíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

mediana de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

altíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

122


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

to <strong>em</strong> marketing. Historicamente, a companhia investe um terço<br />

do seu faturamento <strong>em</strong> ações de comunicação e publicidade.<br />

Comparado com o valor médio alocado por outras companhias<br />

de outros setores industriais, esse valor é gigantesco. E para<br />

conseguir aplicar essa quantia o departamento de marketing<br />

da <strong>em</strong>presa está constant<strong>em</strong>ente procurando eventos e ações<br />

criativas para patrocinar e promover.<br />

Um dos eventos mais inovadores criados nos últimos<br />

anos foi o Red Bull Air Race. Trata-se de uma competição entre<br />

aviões, cujos pilotos disputam qu<strong>em</strong> consegue ser mais rápido<br />

<strong>em</strong> manobras e piruetas no céu. O campeonato (sim, a disputa<br />

se tornou um campeonato mundial) acontece <strong>em</strong> etapas <strong>em</strong><br />

algumas cidades do mundo, entre elas o Rio de Janeiro, e atrai<br />

milhares de pessoas para assistir ao espetáculo ao vivo, além<br />

da atenção da mídia. Para se ter uma ideia, a última etapa realizada<br />

no Brasil atraiu aproximadamente um milhão de pessoas<br />

na praia de Botafogo. A competição foi transmitida ao vivo<br />

para todo o país pela Rede Globo e depois foi reprisada pela<br />

SporTV, canal a cabo de esportes. Afinal, não é algo comum assistir<br />

a uma corrida de aviões. O retorno de mídia espontânea<br />

que a Red Bull conseguiu com o evento foi gigantesco.<br />

O capital está para a <strong>em</strong>presa ou para a pessoa assim como<br />

o sangue está para o corpo. É o sangue qu<strong>em</strong> alimenta cada uma<br />

das partes do organismo com os nutrientes necessários à sua sobrevivência.<br />

E é o capital é qu<strong>em</strong> fornece os subsídios necessários<br />

para um projeto se iniciar ou se manter <strong>em</strong> desenvolvimento.<br />

Porém, quanto menor for o capital disponível (mais para<br />

a direta ele estiver no eixo), menor será a chance de se promover<br />

a Inovação. A falta de recursos monetários, humanos e<br />

de t<strong>em</strong>po inviabilizam a transformação de ideias criativas <strong>em</strong><br />

produtos, serviços e projetos inovadores. S<strong>em</strong> capital para investimento,<br />

não há Inovação. Mas <strong>em</strong> alguns casos, as <strong>em</strong>presas<br />

consegu<strong>em</strong> promovê-la, mesmo contando com um capital<br />

123


Explosão da Inovação<br />

pequeno. Isso só é possível quando os esforços são potencializados<br />

e a ideia é muito criativa.<br />

Foi o que aconteceu com a companhia Sucos Dell Valle. A<br />

<strong>em</strong>presa, de orig<strong>em</strong> mexicana, chegou ao Brasil <strong>em</strong> 1997 com<br />

uma ideia inusitada: comercializar sucos <strong>em</strong> latas de alumínio.<br />

Até então, para o consumidor brasileiro, latas eram para refrigerantes,<br />

e sucos eram servidos <strong>em</strong> copos e feitos na hora,<br />

foss<strong>em</strong> naturais ou <strong>em</strong> polpa. Mas o que chama mais a atenção<br />

é que os mexicanos aportaram por aqui s<strong>em</strong> um grande capital<br />

para investir. Eles não investiram <strong>em</strong> propaganda n<strong>em</strong> montaram<br />

uma fábrica. Os produtos, no início, eram importados. Seu<br />

escritório era muito simples, com máquinas e equipamentos de<br />

TI muito desatualizados, e a equipe de profissionais contratada<br />

era minúscula.<br />

Com poucos recursos, os executivos da <strong>em</strong>presa optaram<br />

por investir <strong>em</strong> distribuição. Assim, seus produtos foram<br />

aos poucos chegando a vários pontos de venda da cidade de<br />

São Paulo. Com a boa aceitação, eles passaram a ser vendidos<br />

<strong>em</strong> outras cidades do estado, e depois <strong>em</strong> outros estados do<br />

país. Após dois anos de operação e vendo a oportunidade de<br />

crescimento, então a Sucos Dell Valle construiu uma fábrica,<br />

deixando de importar a bebida. A propaganda da <strong>em</strong>presa era<br />

seu produto no ponto de venda e a divulgação boca a boca dos<br />

seus consumidores. O portfólio de sucos com sabores diferentes<br />

dos usuais (não havia os sucos típicos como laranja, uva,<br />

limão etc.) contribuiu para que a <strong>em</strong>presa não competisse diretamente<br />

com os sucos naturais. Há alguns anos, o crescimento<br />

da <strong>em</strong>presa chamou a atenção da Coca-Cola, e ela foi comprada<br />

pela multinacional norte-americana.<br />

Com esse ex<strong>em</strong>plo, é possível perceber que Inovações<br />

pod<strong>em</strong> ocorrer mesmo que a <strong>em</strong>presa ou a pessoa possua um<br />

pequeno capital. Mas isso é mais perigoso, além de tornar o<br />

processo mais lento.<br />

124


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

4.4.5 Sist<strong>em</strong>a<br />

O Sist<strong>em</strong>a de uma <strong>em</strong>presa é o modo como ela se organiza<br />

e se estrutura para o desenvolvimento do seu trabalho. Nele, as<br />

tarefas são distribuídas, agrupadas e coordenadas segundo os<br />

princípios ou regras convencionados pela corporação. São características<br />

do sist<strong>em</strong>a: o grau de especialização do trabalho,<br />

a departamentalização, a cadeia de comando, a amplitude do<br />

controle, o grau de centralização e a formalização do trabalho.<br />

Grau de especialização é o quanto uma determinada atividade<br />

é subdividida. Quanto maior a quantidade de divisões,<br />

mais especializada é a tarefa. A especialização do trabalho faz<br />

que cada integrante do processo execute exclusivamente uma<br />

parte do serviço. Com isso, aumenta-se a rapidez de cada processo,<br />

mas o funcionário é alienado <strong>em</strong> relação às outras partes<br />

e ao todo. Ele passa a se preocupar apenas com a sua pequena<br />

parte, ignorando todo o restante do processo.<br />

Departamentalização é o meio de reunir as atividades que<br />

apresentam maiores ligações entre si e que pod<strong>em</strong> ser coordenadas<br />

de forma comum. A departamentalização pode ser por<br />

função (por ex<strong>em</strong>plo, atendimento ao consumidor, pesquisa e<br />

fabricação), por produto (carnes, cereais e lácteos), por região<br />

geográfica (sudeste, sul, nordeste), por processo (fundição,<br />

modelag<strong>em</strong>, acabamento, inspeção) e por cliente (corporativos<br />

e pessoas físicas).<br />

Cadeia de comando é a linha de autoridade que dirige a<br />

<strong>em</strong>presa, definindo qu<strong>em</strong> se reporta a qu<strong>em</strong>. Normalmente, ela<br />

segue do topo da organização até o escalão mais baixo. Mas<br />

há casos de chefias múltiplas e de equipes autogerenciadas e<br />

multifuncionais.<br />

Amplitude de controle refere-se ao número de funcionários<br />

que um administrador consegue dirigir com eficiência, e<br />

está associada à quantidade de níveis hierárquicos existentes<br />

125


Explosão da Inovação<br />

na <strong>em</strong>presa. A presença de muitos níveis na hierarquia ajuda<br />

o líder a coordenar sua equipe (tradicionalmente menor), mas<br />

dificulta o processo de tomada de decisão. Ter poucos níveis<br />

hierárquicos dificulta o líder na coordenação dos funcionários<br />

(a equipe tende a ser maior), mas aumenta a rapidez no processo<br />

decisório.<br />

Nível de centralização é o quanto uma decisão está concentrada<br />

<strong>em</strong> uma única pessoa. Em algumas instituições, o<br />

principal executivo, ou aqueles <strong>em</strong> posição mais alta, tomam<br />

todas as decisões. Em outras, muitas decisões são tomadas diretamente<br />

pela equipe envolvida na atividade, dependendo do<br />

grau de centralização da organização.<br />

Formalização refere-se a quanto as atividades e o trabalho<br />

dentro da <strong>em</strong>presa são padronizados. Quando há muita padronização,<br />

os responsáveis têm pouca autonomia para mudá-las<br />

ou adaptá-las. Mas quando não há nenhuma padronização, eles<br />

pod<strong>em</strong> inventar novos processos e procedimentos, adaptandoos<br />

às novas situações e necessidades.<br />

Por que, afinal, um sist<strong>em</strong>a está sendo descrito <strong>em</strong> seus<br />

detalhes? Porque suas características implicarão sensivelmente<br />

na forma como as pessoas da <strong>em</strong>presa trabalharão. E é essa<br />

forma de trabalho que as tornará mais apta a inovar ou não.<br />

Quando a organização t<strong>em</strong> um modelo de rede fluida e<br />

flexível, <strong>em</strong> que o talento do funcionário é valorizado, as equipes<br />

são autogeridas, soluções diferenciadas são buscadas e há<br />

baixo grau de hierarquia, trata-se de um sist<strong>em</strong>a Orgânico.<br />

Mas quando a organização é calcada <strong>em</strong> formas burocráticas<br />

de comando e controle, <strong>em</strong> que se prioriza a repetibilidade das<br />

ações e a hierarquia exerce grande poder nas relações profissionais,<br />

trata-se de um sist<strong>em</strong>a Mecanicista de <strong>em</strong>presa. Exist<strong>em</strong><br />

infinitas possibilidades entre essas duas situações tão contrárias,<br />

que se posicionam <strong>em</strong> algum ponto do eixo horizontal<br />

na figura a seguir.<br />

126


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

El<strong>em</strong>ento S – Sist<strong>em</strong>a<br />

Mecanicista<br />

orgânico<br />

sist<strong>em</strong>a burocrático,<br />

com comando e<br />

controles rígidos<br />

sist<strong>em</strong>a intermediário<br />

de burocracia,<br />

comando e controle<br />

sist<strong>em</strong>a aberto,<br />

com rede fluida<br />

e flexível<br />

Capacidade<br />

baixíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

mediana de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Capacidade<br />

altíssima de<br />

promoção da<br />

Inovação<br />

Quanto mais orgânica for uma <strong>em</strong>presa (mais para a direita<br />

estiver no eixo Orgânico/Mecanicista), maior capacidade<br />

de inovar ela t<strong>em</strong>. A <strong>em</strong>presa Orgânica é caracterizada<br />

como sendo formada por uma rede flexível. Os profissionais<br />

não são divididos <strong>em</strong> departamentos fixos ou estanques. Ao<br />

contrário, são agrupados <strong>em</strong> equipes ou <strong>em</strong> processos de trabalho.<br />

Suas atividades não são muito especializadas, o que limita<br />

sua responsabilidade para uma pequena parte do processo.<br />

Seu trabalho, na verdade, é sistêmico, exigindo habilidades<br />

multifuncionais maiores e provocando, por consequência, um<br />

comprometimento maior <strong>em</strong> relação ao resultado final. Com<br />

isso, esse grupo passa a se autogerir, não necessitando de um<br />

grande controle externo do trabalho desenvolvido, e os níveis<br />

hierárquicos são tradicionalmente menores. Além disso, como<br />

o mais importante é o resultado final apresentado, não há padronização<br />

ou normatização excessiva das atividades, fato permite<br />

aos grupos buscar soluções novas e diversificadas.<br />

Um bom ex<strong>em</strong>plo de trabalho orgânico foi o desenvolvido<br />

pela equipe da NASA no salvamento da equipe de astro-<br />

127


Explosão da Inovação<br />

nautas da nave Apolo 13, trabalho esse que é retratado com<br />

muita <strong>em</strong>oção no filme que leva o nome da aeronave, com Tom<br />

Hanks no papel principal. Em 1970, menos de um ano após<br />

o sucesso da Apolo 11, a agência norte-americana fazia sua<br />

terceira viag<strong>em</strong> tripulada para a Lua. Dois dias após o lançamento<br />

da aeronave, o tanque de oxigênio explodiu e mandou<br />

para o espaço um lado inteiro do módulo de serviço. A falta<br />

de oxigênio havia sido reparada, mas a respiração continuava<br />

a preocupar, porque os astronautas poderiam morrer sufocados<br />

pelo próprio gás carbônico que expeliam dos pulmões. O<br />

módulo tinha sido planejado para duas pessoas, não três, e os<br />

filtros do módulo lunar Aquarius não eram suficientes. A saída<br />

viável era aproveitar os filtros do módulo de comando, o Odissey,<br />

mas teriam que ser adaptados. Foi montada uma equipe <strong>em</strong><br />

Houston para resolver essa questão. Para isso, foram fornecidos<br />

ao grupo de trabalho todos os materiais que os astronautas<br />

teriam disponíveis na nave. O grupo se fechou <strong>em</strong> uma sala<br />

e lá permaneceu até que a solução fosse encontrada.<br />

Após horas de trabalho intenso, o grupo criou um filtro<br />

improvisado com fitas adesivas, papelão e sacos plásticos, denominado<br />

“caixa de correio”. A solução encontrada a distância<br />

foi depois transmitida aos astronautas, e após uma série de procedimentos<br />

b<strong>em</strong>-sucedidos, a tripulação, liderada pelo comandante<br />

Jim Lovell, conseguiu conduzir a nave de volta à Terra,<br />

mergulhando no Oceano Pacífico, com todos <strong>em</strong> segurança.<br />

Nesse caso, é possível perceber todos os el<strong>em</strong>entos de um<br />

sist<strong>em</strong>a orgânico. A equipe foi selecionada para uma atividade<br />

específica e multifuncional, s<strong>em</strong> uma rígida hierarquia dentro<br />

dela. Os envolvidos tinham total controle do processo e motivação<br />

para superar os desafios, e o líder não precisou ficar<br />

controlando cada passo da equipe, preocupando-se apenas <strong>em</strong><br />

fornecer os recursos necessários, ajudar no desenvolvimento<br />

e acompanhar os resultados. Além disso, a equipe de trabalho<br />

128


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

não se limitou a seguir um código de normas e procedimentos<br />

-padrão para executar a atividade.<br />

O trabalho estruturado <strong>em</strong> forma de redes abertas e flexíveis,<br />

no qual os participantes são alocados conforme a necessidade<br />

da tarefa, é ideal para a busca de novas soluções e para<br />

o atendimento de d<strong>em</strong>andas específicas. Além disso, quando as<br />

regras não são rígidas e não há burocracia, a equipe tende a<br />

ousar mais e a usar mais a criatividade. Tradicionalmente, as<br />

organizações orgânicas apresentam um nível maior de ousadia e<br />

aprendizado, e os talentos da equipe são mais b<strong>em</strong> aproveitados.<br />

A <strong>em</strong>presa orgânica é mais b<strong>em</strong> preparada para passar<br />

pelas mudanças resultantes do meio ambiente, pois seu processo<br />

estrutural e organizacional não é fixo. Por ser flexível, ela<br />

consegue se adaptar melhor às mudanças e reagir rapidamente<br />

às alterações a sua volta.<br />

Quanto mais mecanicista for uma <strong>em</strong>presa (mais para a<br />

esquerda ela estiver no eixo), menor é a chance de ela promover<br />

a Inovação. A <strong>em</strong>presa Mecanicista é aquela <strong>em</strong> que se<br />

estrutura por meio da burocracia. O comando e o controle são<br />

baseados na supervisão completa de cada etapa do trabalho e<br />

os profissionais são divididos <strong>em</strong> departamentos. O trabalho<br />

possui um grande grau de especialização, o que permite um<br />

maior domínio de cada um pela sua fase. Com isso se criam<br />

mais chances de se promover a repetibilidade rapidamente.<br />

Para tal, há grande padronização <strong>em</strong> tudo o que é feito. Como<br />

o trabalho desenvolvido é específico, os profissionais precisam<br />

ser especializados naquele assunto ou t<strong>em</strong>a. Apesar de se ganhar<br />

rapidez e constância, esse sist<strong>em</strong>a faz com que a pessoa<br />

perca a visão do todo. Como há várias tarefas específicas, existe<br />

a necessidade de uma liderança mais presencial e com maior<br />

controle de tudo o que ocorre. Para estruturar o fluxo fo trabalho<br />

e cada uma de suas fases é preciso uma grande normatização<br />

das atividades.<br />

129


Explosão da Inovação<br />

Um ex<strong>em</strong>plo clássico de instituição que se utiliza do sist<strong>em</strong>a<br />

mecanicista são as Forças Armadas. Nelas, há uma rígida<br />

estrutura hierárquica e de comando, na qual predominam a<br />

ord<strong>em</strong> e a disciplina. Numa organização militar, papéis e responsabilidades<br />

são definidos objetivamente e as relações de<br />

superiores e subordinados são muito b<strong>em</strong> estabelecidas. Apesar<br />

de os diversos níveis hierárquicos ser<strong>em</strong> pré-definidos, não<br />

há necessariamente uma unicidade de comando. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />

qualquer sargento de um determinado batalhão poderá<br />

ser responsável por um grupo de soldados ou cabos, nunca o<br />

contrário. Uniformes, patentes e, até mesmo cortes de cabelo<br />

ajudam a caracterizar e a identificar praças e oficiais <strong>em</strong> seus<br />

respectivos postos e graduações. Em termos gerais, a ciência<br />

militar considera três níveis de atuação ofensiva e defensiva:<br />

estratégico, tático e operacional. Soldados atuam, naturalmente,<br />

apenas no nível operacional, enquanto oficiais de alta patente<br />

atuarão no estratégico. Cada atividade, por mais simples<br />

que seja, possui um procedimento claro e normatizado, para<br />

minimizar a variabilidade dos processos. Atividades rotineiras<br />

são repetidas à exaustão, a ex<strong>em</strong>plo dos exercícios de ord<strong>em</strong><br />

unida, <strong>em</strong> que comandados dev<strong>em</strong> obedecer aos comandos do<br />

chefe do pelotão. Nesse ambiente, há muito pouco espaço para<br />

Inovação, ainda mais no nível operacional.<br />

As <strong>em</strong>presas mecanicistas são mais b<strong>em</strong> preparadas para<br />

manter a produtividade e o alto des<strong>em</strong>penho segundo um<br />

determinado status quo. Elas são constituídas para trabalhar<br />

segundo um modelo rígido e fixo, ideais para ambientes que<br />

apresentam pouca ou nenhuma mudança. Mas quando deparadas<br />

com cenários <strong>em</strong> mutação, elas têm grandes dificuldades<br />

para se adaptar; afinal, não foram constituídas para isso.<br />

130


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

4.5 Relação entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos de Empresas<br />

Após discutir a composição de cada um dos el<strong>em</strong>entos<br />

da capacidade interna, é possível definir qual é o tipo de <strong>em</strong>presa<br />

analisada. Antes, porém, é fundamental citar algo que<br />

já foi abordado no capítulo anterior, ou seja: esses el<strong>em</strong>entos<br />

também se relacionam e se influenciam mutuamente. Assim, o<br />

diagnóstico correto deve ser feito avaliando-os conjuntamente.<br />

No tópico anterior, essa análise foi individual, apenas para<br />

explicar mais facilmente cada uma delas.<br />

A combinação dos el<strong>em</strong>entos da capacidade interna, também<br />

chamados MACCS, que são motivação, autonomia, conhecimento,<br />

capital e sist<strong>em</strong>a, vão definir se a <strong>em</strong>presa é do tipo<br />

Inovadora ou Não Inovadora. A <strong>em</strong>presa Inovadora possui<br />

grande capacidade interna de promover a Inovação, enquanto<br />

a Não Inovadora t<strong>em</strong> sérias dificuldades para isso.<br />

Relação entre os El<strong>em</strong>entos do MACCS<br />

desmotivado<br />

dependente<br />

Ignorância<br />

limitado<br />

Mecanicista<br />

Motivação<br />

Autonomia<br />

Conhecimento<br />

Capital<br />

Sist<strong>em</strong>a<br />

Motivado<br />

Independente<br />

sabedoria<br />

Ilimitado<br />

orgânico<br />

Para a composição da equipe que vai analisar a <strong>em</strong>presa,<br />

é importante escolher pessoas que conheçam a organização,<br />

profissionais que tenham familiaridade com o modelo da<br />

Explosão da Inovação e pessoas de outros mercados. Aqueles<br />

que conhec<strong>em</strong> a <strong>em</strong>presa fornecerão informações sobre seus<br />

131


Explosão da Inovação<br />

processos, sobre como as atividades são organizadas, sobre a<br />

relação entre os funcionários, sobre a forma como a liderança<br />

age <strong>em</strong> diversas situações, sobre os produtos e serviços oferecidos<br />

etc. Os profissionais que conhec<strong>em</strong> o modelo ajudarão na<br />

parte metodológica da avaliação, enquanto os que são de outros<br />

mercados auxiliarão no momento de comparar os níveis<br />

dos el<strong>em</strong>entos.<br />

O tipo de <strong>em</strong>presa é definido pelo resultado final da combinação<br />

do MACCS. Da mesma forma como foi feita a avaliação<br />

dos el<strong>em</strong>entos do ambiente externo, a classificação dos el<strong>em</strong>entos<br />

da capacidade interna deve seguir escala de -3 (quando<br />

estiver totalmente à esquerda) a +3 (quando estiver totalmente<br />

à direita). Veja o modelo a seguir.<br />

Modelo de Diagnóstico da Capacidade Interna - MACCS<br />

Motivação<br />

desmotivado<br />

dependente<br />

Ignorância<br />

limitado<br />

Mecanicista<br />

Autonomia<br />

Conhecimento<br />

Capital<br />

Sist<strong>em</strong>a<br />

Motivado<br />

Independente<br />

sabedoria<br />

Ilimitado<br />

orgânico<br />

Vamos imaginar que uma <strong>em</strong>presa tenha sido avaliada<br />

segundo o modelo da Explosão da Inovação e que possua a seguintes<br />

características: t<strong>em</strong> certa motivação (+1), possui alto<br />

grau de autonomia (+3), conhece profundamente aquilo que<br />

132


A CAPACIDADE INTERNA COMO COMBUSTÍVEL DA INOVAÇÃO<br />

faz (+3), possui baixo capital (-1) e seu sist<strong>em</strong>a de trabalho é<br />

muito mecanicista (-2). Essas informações dev<strong>em</strong> ser colocadas<br />

na tabela de diagnóstico do MACCS a seguir.<br />

Diagnóstico MACCS<br />

Combustível – Capacidade Interna<br />

Motivação<br />

Autonomia<br />

Conhecimento<br />

Capital<br />

Sist<strong>em</strong>a<br />

O Gráfico do Combustível, do tipo “teia de aranha” ou<br />

“radar”, muito parecido com o Gráfico Comburente apresentado<br />

no final do Capítulo 3, é criado a partir dessas informações,<br />

como é mostrado a seguir.<br />

133


Explosão da Inovação<br />

Gráfico do Combustível<br />

M<br />

s<br />

a<br />

C<br />

C<br />

A capacidade interna da <strong>em</strong>presa é retratada pela área<br />

preenchida do gráfico. Quanto maior ela for, maior será a capacidade<br />

da companhia <strong>em</strong> promover a Inovação, sendo assim<br />

classificada como uma <strong>em</strong>presa Inovadora. Quanto menor ela<br />

for, menor é a capacidade dessa organização <strong>em</strong> promover a<br />

Inovação e, portanto, ela será considerada Não Inovadora.<br />

No ex<strong>em</strong>plo acima, percebe-se que essa <strong>em</strong>presa está <strong>em</strong><br />

uma situação intermediária, pois possui uma capacidade interna<br />

mediana. Ela t<strong>em</strong> pontos muito destacáveis (como Autonomia<br />

e Conhecimento) e outros muito baixos (como Sist<strong>em</strong>a e<br />

Capital). Ou seja, além de atestar a situação atual da companhia,<br />

o modelo da Explosão da Inovação também fornece a<br />

estudantes, executivos e <strong>em</strong>presários a oportunidade de identificar<br />

os pontos exatos que dev<strong>em</strong> ser trabalhados para a melhora<br />

da capacidade interna de promoção da Inovação.<br />

134


Capítulo 5<br />

A Ideia Criativa como Faísca da Inovação<br />

135


Explosão da Inovação<br />

De acordo com os dois capítulos anteriores, se o ambiente<br />

exigir mudanças de postura, transformações no modelo de<br />

negócio e alterações <strong>em</strong> relação aos produtos (Capítulo 3) e<br />

houver alguém com a capacidade interna para promovê-las<br />

(Capítulo 4), muito provavelmente a Inovação acontecerá. Porém,<br />

o processo inovador não é tão simples assim. Falta ainda<br />

um componente importante, que ainda não foi abordado <strong>em</strong><br />

detalhes. É esse componente que fornecerá a solução para o<br />

probl<strong>em</strong>a encontrado pela “sacada genial”, que será depois impl<strong>em</strong>entada<br />

pela pessoa ou pela <strong>em</strong>presa, resultando na Inovação<br />

propriamente dita.<br />

Um Ambiente Inovador fornece uma grande variedade<br />

de probl<strong>em</strong>as para qu<strong>em</strong> está dentro dele, cria uma atmosfera<br />

de hostilidade e perigo, forçando a mudança do status quo. Mas<br />

ele não aponta o caminho a ser seguido n<strong>em</strong> determina qual é<br />

a melhor resposta para as diversas indagações feitas. Essa é a<br />

d<strong>em</strong>anda que deve vir da pessoa ou da <strong>em</strong>presa inserida nesse<br />

cenário.<br />

A Empresa Inovadora t<strong>em</strong> a capacidade para superar esses<br />

desafios e a competência para promover as mudanças necessárias<br />

à sua sobrevivência e segurança, condição essa que<br />

v<strong>em</strong> da sua capacidade interna de transformação. No entanto,<br />

essa competência não t<strong>em</strong> a propriedade de gerar soluções;<br />

ela simplesmente pega uma solução já definida e a desenvolve,<br />

executando as ações necessárias para transformá-la <strong>em</strong> Inovações.<br />

Porém, a geração da solução <strong>em</strong> si não v<strong>em</strong> da capacidade<br />

interna.<br />

O apontamento do caminho da Inovação a ser seguido,<br />

portanto, não é uma característica do ambiente externo n<strong>em</strong><br />

da capacidade interna. Estes não possu<strong>em</strong> competência para<br />

escolher qual é a solução ideal para os desafios impostos, não<br />

estabelec<strong>em</strong> qual o rumo certo a ser tomado diante de uma<br />

encruzilhada de possibilidades. Mas de onde v<strong>em</strong> a solução?<br />

136


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

Qu<strong>em</strong> irá apontar o caminho inovador que deverá ser seguido<br />

é o terceiro integrante do modelo, chamado Ideia Criativa.<br />

Ela é completamente independente do ambiente externo<br />

e da capacidade interna e é qu<strong>em</strong> trará a solução e dirá qual<br />

caminho a Inovação deverá seguir. É ela que t<strong>em</strong> o poder de<br />

conceber a Inovação. Mas o que é uma Ideia Criativa? Quais<br />

são suas características e a sua importância?<br />

5.1 A Ideia Criativa como Geradora da Inovação<br />

A Ideia Criativa é a solução não convencional encontrada<br />

para superar um desafio ou resolver um probl<strong>em</strong>a. Ela possui<br />

uma característica mais conceitual do que prática, sendo mais<br />

abstrata do que concreta. Sua órbita é o mundo das idealizações<br />

e das aspirações e pode ser encarada como um sonho ou<br />

uma projeção futura originada na busca de superação das hostilidades<br />

do ambiente.<br />

Toda Inovação começa, necessariamente, com uma Ideia<br />

Criativa. É essa ideia que formará a base e os el<strong>em</strong>entos inovadores<br />

que serão desenvolvidos mais tarde. O papel da Ideia<br />

Criativa é gerar a Inovação responsabilizam-se por sua concepção<br />

e nascimento. Pode-se dizer que ela é a s<strong>em</strong>ente, pois<br />

apenas após sua germinação e seu desenvolvimento (resultado<br />

da capacidade interna) será possível transformá-la efetivamente<br />

<strong>em</strong> uma árvore com frutos inovadores. Em outras palavras,<br />

a Ideia Criativa é representada pela s<strong>em</strong>ente e a Inovação pela<br />

árvore que dará os frutos dessa s<strong>em</strong>ente.<br />

Em outra metáfora simples, a Ideia Criativa pode ser<br />

representada por um feto na barriga da mãe. Nesse estágio,<br />

todo cuidado é pouco, e é preciso atenção redobrada. Qualquer<br />

descuido pode comprometer a vida do pequeno ser ou trazer<br />

sequelas para toda a sua existência. Para que chegue à fase<br />

137


Explosão da Inovação<br />

adulta, ele precisará nascer, crescer e se desenvolver. O mesmo<br />

ocorre com a Ideia Criativa. Ela ainda não é uma Inovação,<br />

mas t<strong>em</strong> total condição de, um dia, tornar-se uma. Essa travessia<br />

da vida uterina (de ideia) para a vida adulta (de Inovação)<br />

é longa e requer atenção e acompanhamento dos pais (do feto<br />

ou da idéia), desde a gestação, passando pela infância e pela<br />

adolescência.<br />

No começo do século XVIII, o padre português Bartolomeu<br />

de Gusmão teve uma ideia: criar um balão que flutuasse<br />

no ar. A ideia surgiu da observação de como as bolhas de sabão<br />

flutuavam. Ele percebeu que o ar quente de dento delas<br />

era mais leve do que o ar de fora, fazendo com que as bolhas<br />

vagass<strong>em</strong> pelo ar. Dessa forma, sua ideia era criar um balão de<br />

ar quente que planasse no ar. Ela permaneceu como uma Ideia<br />

Criativa até o dia <strong>em</strong> que Gusmão desenvolveu um veículo parecido<br />

com um balão a ar quente. Em 1709, <strong>em</strong> uma d<strong>em</strong>onstração<br />

para o rei D. João VI, seu invento voou a quatro metros<br />

de altura, para a surpresa e a perplexidade dos presentes. Apesar<br />

de b<strong>em</strong>-sucedida, sua criação não despertou interesse de<br />

ninguém, sendo depois abandonada. Somente no final daquele<br />

século os franceses Étienne e Joseph Montgolfier criaram<br />

um balão nos mesmos moldes do português e entraram para<br />

a história como os inventores oficiais do balão a ar. Naquele<br />

momento, com o interesse do público, a Ideia Criativa original<br />

transformou-se efetivamente <strong>em</strong> Inovação.<br />

Outro ex<strong>em</strong>plo de Ideia Criativa relacionada ao sonho<br />

humano de voar envolve um brasileiro. Desde a sua infância, o<br />

mineiro, criado no Rio de Janeiro, Alberto Santos Dumont se<br />

interessou por máquinas e grandes aventuras. Com o passar<br />

dos anos, foi desenvolvendo a ideia de criar uma máquina <strong>em</strong><br />

que pudesse voar. Depois da morte de seu pai, <strong>em</strong> 1892, ele recebeu<br />

uma considerável herança, tornando-se um dos homens<br />

mais ricos do mundo. Com capital disponível e interesse vol-<br />

138


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

tado para a criação do avião, passou a se dedicar às suas ideias<br />

que, anos mais tarde, resultaram na sua mais famosa invenção.<br />

No começo do século XX, quando já morava na França,<br />

Santos Dumont disse a seguinte frase para aqueles que não<br />

acreditavam <strong>em</strong> suas ideias: “Haverá hoje, talvez, qu<strong>em</strong> ridicularize<br />

minhas previsões sobre o futuro dos aeroplanos. Qu<strong>em</strong><br />

viver, porém, verá!”. Ele estava certo. Depois de muitos planos,<br />

do desenvolvimento de vários projetos de nave e de dezenas<br />

de testes, que até mesmo colocaram <strong>em</strong> risco a sua vida, Santos<br />

Dumont finalmente conseguiu voar. Era set<strong>em</strong>bro de 1906<br />

quando ele conseguiu fazer o 14 Bis voar <strong>em</strong> Paris. Foi a primeira<br />

exibição pública <strong>em</strong> que uma máquina mais pesada que<br />

o ar levantava voo s<strong>em</strong> a necessidade de ser catapultada. Nesse<br />

dia, o Pai da Aviação, como é conhecido <strong>em</strong> muitos países do<br />

mundo, deu um passo fundamental para que sua Ideia Criativa<br />

fosse transformada <strong>em</strong> uma grande Inovação. A Inovação propriamente<br />

dita ocorreu quando a ideia se transformou <strong>em</strong> uso<br />

efetivo a partir da d<strong>em</strong>anda dos clientes.<br />

As Ideias Criativas surg<strong>em</strong> da condição humana de analisar<br />

uma situação e propor-lhe alternativas únicas e originais.<br />

Para isso, é necessário estar envolvido com o probl<strong>em</strong>a, dedicar-se<br />

incansavelmente para encontrar as soluções, usar e abusar<br />

da criatividade como forma de trabalho, ter persistência <strong>em</strong><br />

relação à ideia proposta e não ter nenhum bloqueio criativo ou<br />

algum tipo de censura no processo de geração das ideias.<br />

A criatividade está ligada diretamente à forma como o<br />

cérebro humano trabalha, o que, por sua vez, depende da maneira<br />

como a pessoa foi educada e pensa. Tradicionalmente,<br />

os modelos de educação valorizavam a forma racional e lógica<br />

de aprendizado <strong>em</strong> detrimento da subjetiva e <strong>em</strong>ocional. Em<br />

uma aula típica ou <strong>em</strong> um curso tradicional, o lado esquerdo<br />

do cérebro humano é muito mais trabalhado do que o direito.<br />

Por meio das palavras e dos números, o professor apresenta o<br />

139


Explosão da Inovação<br />

conteúdo de um determinado assunto, explicando os detalhes<br />

de uma parte dele. O estudo e o aprendizado são feitos normalmente<br />

pela leitura e pela audição. Assim, acaba-se aprendendo<br />

por meio dos aspectos lógicos e racionais uma fração do t<strong>em</strong>a<br />

abordado. Esse modelo é aplicado na maioria das escolas de<br />

ensino básico e fundamental e na maioria dos cursos de graduação<br />

com perfil técnico, como Engenharia, Mat<strong>em</strong>ática, Física<br />

etc. E o outro lado do cérebro, como fica? O lado direito é o<br />

responsável pela parte <strong>em</strong>ocional e subjetiva, que compreende<br />

o entendimento das cores, das imagens e dos sons. É ele que<br />

faz nossas <strong>em</strong>oções ser<strong>em</strong> ativadas e permite a compreensão<br />

do todo (da relação entre as diferentes partes de um t<strong>em</strong>a e das<br />

relações desse assunto com os d<strong>em</strong>ais). Os cursos com perfil<br />

humano, como Música, Artes, Psicologia, Cin<strong>em</strong>a, Publicidade,<br />

entre outros, estimulam mais o uso do lado direito do cérebro<br />

dos alunos.<br />

H<strong>em</strong>isférios do Cérebro<br />

LADO<br />

ESQUERDO<br />

lógico<br />

racional<br />

palavras<br />

números<br />

detalhes<br />

vê a parte<br />

lado tipicamente<br />

mais utilizado por<br />

engenheiros e mat<strong>em</strong>áticos<br />

LADO<br />

DIREITO<br />

subjetivo<br />

Emocional<br />

Imagens<br />

ritmo<br />

Geral<br />

vê o todo<br />

lado tipicamente<br />

mais utilizado por<br />

artistas e publicitários<br />

Mas, afinal, que lado do cérebro humano responde pela<br />

criatividade? Normalmente, imagina-se que seja o lado direito,<br />

140


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

mas isso é um equívoco. Estudos científicos comprovam que<br />

são os dois. Somente quando o cérebro trabalha concomitant<strong>em</strong>ente<br />

com os dois h<strong>em</strong>isférios, a criatividade é aflorada. Para<br />

ser criativo é necessário, portanto, ser racional e <strong>em</strong>ocional.<br />

Deve-se ser lógico e subjetivo ao mesmo t<strong>em</strong>po. É preciso focar<br />

<strong>em</strong> um detalhe do t<strong>em</strong>a, s<strong>em</strong> se esquecer do todo, da visão<br />

sistêmica. É necessário ser especialista no assunto estudado<br />

enquanto se analisa a conexão desse t<strong>em</strong>a com os outros.<br />

Exatamente por essa característica e pela condição física<br />

do cérebro é que se afirma que a Ideia Criativa é gerada a<br />

partir da combinação do envolvimento <strong>em</strong>ocional da situação<br />

com a necessidade de se pensar no probl<strong>em</strong>a de forma racional<br />

e lógica.<br />

S<strong>em</strong> uma grande ideia, o desenvolvimento da Inovação<br />

ficará comprometido. Não é possível gerar uma grande e bela<br />

planta se sua s<strong>em</strong>ente não for forte e saudável. A Ideia Criativa<br />

é o DNA da Inovação. Quanto melhor seu código genético,<br />

mais impactantes e intensas serão as transformações resultantes<br />

dela.<br />

Pelos motivos mencionados, fica clara a importância de<br />

se estimular ambos os lados do cérebro, independente do curso<br />

que se faça, pertença ele às ciências técnicas ou humanas. Apesar<br />

de haver iniciativas nesse sentido, esse tipo de estimulação<br />

do cérebro ainda é um grande desafio para os educadores do<br />

século XXI.<br />

5.2 O Papel da Ideia Criativa na Explosão da Inovação<br />

A Ideia Criativa t<strong>em</strong> o papel de desencadear a reação no<br />

modelo da Explosão da Inovação. Ou seja, ela age como a catalisadora<br />

de todo o processo. Em uma comparação com a combustão<br />

tradicional, ela é o calor. É a partir do seu contato com<br />

141


Explosão da Inovação<br />

o combustível que o fogo pode ser propagado, mas isso só é<br />

possível se o comburente mantiver o fogo aceso até sua expansão<br />

e propagação.<br />

O calor pode ser um fósforo, uma faísca, uma tocha ou<br />

uma chama, que possu<strong>em</strong> a função de fornecer o calor para o<br />

início da reação. Se a explosão vai acontecer e como vai ocorrer,<br />

não se sabe. A finalidade da chama e do fogo é dar o pontapé<br />

inicial para o processo.<br />

No final de 1994, um grave incêndio aconteceu no Egito,<br />

matando mais de 500 pessoas. Uma grande t<strong>em</strong>pestade com<br />

muita chuva atingiu uma montanhosa cidade egípcia, provocando<br />

uma enxurrada. A água desceu pela encosta e invadiu os<br />

trilhos de uma linha férrea, derrubando um tr<strong>em</strong> que carregava<br />

combustível, e litros e mais litros de óleo foram derramados.<br />

Apesar do cenário para uma grande tragédia estar armado,<br />

faltava um el<strong>em</strong>ento. Havia grande quantidade de combustível<br />

para provocar a explosão e o ambiente continha comburente<br />

(oxigênio) suficiente para provocar a reação. Mas e o<br />

calor? E a faísca de fogo para iniciar a explosão, onde estava?<br />

Se não houvesse nenhuma partícula contendo calor o incêndio<br />

não ocorreria, por mais material inflamável que houvesse no<br />

ambiente.<br />

Infelizmente, um raio caiu no local naquele momento. De<br />

forma instantânea, a faísca do raio reagiu com o combustível<br />

espalhado no local e o fogo se expandiu rapidamente, incendiando<br />

dezenas de casas que estavam no caminho. A rapidez<br />

da propagação do fogo não deu chances para que os moradores<br />

daquela região fugiss<strong>em</strong> e centenas deles foram queimados vivos<br />

<strong>em</strong> um triste episódio.<br />

A escolha desse ex<strong>em</strong>plo se deu pela presença do raio.<br />

Um fenômeno natural provocado pela chuva intensa gerou o<br />

calor necessário para o início da explosão. Foi um raio, mas o<br />

mesmo episódio poderia ter sido resultado de um fósforo ati-<br />

142


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

rado ao chão, da queda de um lampião ou mesmo da presença<br />

de uma partícula de fogo originada de uma fricção de dois materiais<br />

sólidos.<br />

A faísca pode ser grande ou pequena. Mesmo pequena,<br />

ela contém calor suficiente para provocar uma grande explosão.<br />

Isso só acontece porque as partículas de fogo estão comprimidas<br />

e concentradas <strong>em</strong> pequenos espaços. Um cigarro<br />

aceso carrega o fogo <strong>em</strong> uma pequena parte do seu “corpo”.<br />

Quanto maior e mais intensa for a faísca, maior será a probabilidade<br />

da explosão ocorrer.<br />

A Ideia Criativa t<strong>em</strong> a mesma particularidade da chama<br />

ou da faísca. É ela qu<strong>em</strong> inicia o processo inovador. Toda Inovação<br />

acontece a partir de uma ideia incomum. Quanto mais<br />

criativa for essa solução, maior a chance de a Inovação provocada<br />

por ela ser mais impactante e intensa. Pode-se comparar<br />

uma ideia s<strong>em</strong> criatividade a um cigarro apagado, a um fósforo<br />

s<strong>em</strong> estar acesso ou a uma tocha encharcada de água. Nenhum<br />

deles provocará o calor necessário para catalisar a reação. A<br />

criatividade é o calor, é a intensidade da chama e a partícula<br />

do fogo.<br />

5.3 Tipos de Ideias<br />

Exist<strong>em</strong> no campo metodológico dois tipos de ideias: as<br />

que possu<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos novos e originais, que são chamadas de<br />

Ideias Criativas, e as que têm como base os pressupostos e paradigmas<br />

existentes, que são chamadas de Ideias Não Criativas. O<br />

primeiro grupo é formado pelas ideias que têm mais chances de<br />

gerar uma Inovação, enquanto o segundo é constituído por aquelas<br />

que têm pequena possibilidade de prosperar como Inovação.<br />

143


Explosão da Inovação<br />

Tipos de Ideias<br />

Ideia criativa<br />

x<br />

Ideia não criativa<br />

Gera Inovação<br />

não gera Inovação<br />

A Ideia Criativa é o resultado da capacidade de geração<br />

de soluções novas, inusitadas e não convencionais. Ela é promovida<br />

tanto por pessoas quanto por grupos de trabalho.<br />

Segundo o livro Destruição criativa, que compilou as informações<br />

geradas <strong>em</strong> uma pesquisa realizada pela <strong>em</strong>presa<br />

de consultoria McKinsey, as <strong>em</strong>presas mais b<strong>em</strong>-sucedidas dos<br />

últimos anos foram aquelas que melhor promoveram o pensamento<br />

divergente. O choque de opiniões antagônicas, diferentes<br />

e inusitadas promove a geração de ideias criativas, que por<br />

sua vez, quando trabalhadas e tratadas, alimentam o processo<br />

de desenvolvimento da Inovação.<br />

Desenvolver a criatividade associada a novas habilidades<br />

de percepção e de raciocínio é de fundamental importância<br />

para a estratégia da organização na realização das mudanças<br />

necessárias. A Ideia Criativa estimula a solução inventiva de<br />

probl<strong>em</strong>as e desafios.<br />

Jornada nas Estrelas (Star Trek) era uma série de televisão<br />

da década de 1960 que narrava as aventuras dos homens<br />

<strong>em</strong> suas viagens interplanetárias e seu contato com seres de<br />

outras galáxias. Nessa ficção científica, era possível ver supercomputadores<br />

que controlavam tudo, telefones portáteis sendo<br />

usados corriqueiramente, o hom<strong>em</strong> viajando no espaço e as<br />

pessoas fazendo coisas a partir do clique de um botão.<br />

O que no passado foi previsto sobre o futuro t<strong>em</strong> muito<br />

a ver com o presente que viv<strong>em</strong>os hoje. Na década de 1930,<br />

imaginava-se que um dia seria possível duas pessoas se falar<strong>em</strong><br />

144


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

e se ver<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma conversa pelo telefone. Atualmente, isso<br />

pode ser feito através do Skype, uma das várias ferramentas<br />

de comunicação que aliam imag<strong>em</strong> e som. Na década de 1940,<br />

idealizava-se que uma pessoa poderia assistir às imagens pelo<br />

rádio. Há muitos anos existe a televisão, que faz isso. Na década<br />

de 1950, imaginava-se que no futuro seria possível fazer<br />

compras eletrônicas a partir das imagens geradas pela televisão.<br />

Atualmente, compras on-line pod<strong>em</strong> ser feitas diretamente<br />

pela internet.<br />

Tudo o que existe hoje surgiu antes na mente de uma<br />

pessoa como uma ideia absurda. Quanto mais absurda, improvável<br />

e inventiva é essa ideia, mais criativa ela é. As soluções<br />

criativas são a base da Inovação. Graças a elas o hom<strong>em</strong> consegue<br />

fugir do convencional e propor novas aplicações para o<br />

seu dia a dia. Dias, s<strong>em</strong>anas, meses, anos, décadas ou séculos<br />

pod<strong>em</strong> passar até elas se concretizar<strong>em</strong>.<br />

Leonardo da Vinci nasceu e viveu <strong>em</strong> Florença (Itália)<br />

entre os séculos XV e XVI e foi uma das mentes mais criativas<br />

de toda a história. Além de pintor (pintou a Monalisa,<br />

o quadro mais famoso da história ocidental), também tocava<br />

instrumentos inventados por ele, criava máquinas e objetos, e<br />

era cientista, mat<strong>em</strong>ático e mecânico. Foi ele qu<strong>em</strong> inventou o<br />

carro autopropelido (carro de madeira que se movia pela interação<br />

de molas com rodas engrenadas), o parafuso-voador<br />

(alguns cientistas consideram-no o protótipo rudimentar dos<br />

helicópteros modernos), o canhão de três canos (modelo mais<br />

rápido, mais leve e com maior poder de fogo), o planador com<br />

asas (um dos vários inventos dele que voavam, esse modelo de<br />

planador tinha asas que batiam), a ponte giratória (ponte feita<br />

com materiais leves e fortes fixados a um sist<strong>em</strong>a de cordas<br />

e polias), as engrenagens para mergulho submarino (traje de<br />

mergulho feito de couro, conectado a um snorkel feito de cana<br />

e com um cinto que flutuava na superfície) e a escrita reversa<br />

145


Explosão da Inovação<br />

(maneira encontrada por Leonardo para enganar os plagiadores<br />

que olhavam suas anotações e não as entendiam – era necessário<br />

colocá-las na frente do espelho para entendê-las). Mas<br />

de onde surgiu tamanha habilidade para criar tantas coisas?<br />

De sua criatividade. Antes de qualquer coisa, cada invenção de<br />

Da Vinci era um exercício de imaginação e ficção. Depois que<br />

ele criava na sua mente, começava o trabalho de materialização.<br />

Assim, a principal característica da Ideia Criativa é o<br />

seu alto potencial de ser transformada <strong>em</strong> uma Inovação. A<br />

Ideia Criativa é a chama de uma possível grande Explosão<br />

da Inovação.<br />

A Ideia Não Criativa, por sua vez, é aquela que não traz<br />

nenhum el<strong>em</strong>ento novo ao mundo. Ela simplesmente acompanha<br />

a tendência natural das coisas e faz um reagrupamento<br />

convencional dos el<strong>em</strong>entos já existentes. Muito dificilmente<br />

será possível utilizá-la para a promoção da Inovação.<br />

Mas por que exist<strong>em</strong> pessoas e <strong>em</strong>presas mais criativas<br />

do que outras? Por que algumas delas não consegu<strong>em</strong>, de alguma<br />

forma, conceber soluções inusitadas para os probl<strong>em</strong>as?<br />

Para a maioria dos especialistas, a criatividade não é uma mera<br />

característica da personalidade ou uma habilidade geral, mas<br />

um comportamento resultante de determinadas características<br />

pessoais e de habilidades cognitivas. Exist<strong>em</strong> várias descrições<br />

de comportamentos atrelados a indivíduos criativos,<br />

ou seja, as pessoas e as instituições que não consegu<strong>em</strong> ser<br />

criativas, provavelmente não possu<strong>em</strong> as características ou as<br />

habilidades para isso.<br />

Segundo a metodologia aqui apresentada, exist<strong>em</strong> dois<br />

tipos de ideias: as que têm potencial para ser transformadas<br />

<strong>em</strong> Inovação e são chamadas de Criativas e as que não têm esse<br />

potencial e são chamadas de Não Criativas. Porém, na prática,<br />

existe uma infinidade de outros tipos de ideias que variam<br />

entre essas duas condições. É quase impossível encontrar uma<br />

146


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

ideia totalmente criativa ou uma totalmente não criativa. Assim,<br />

todas se situam <strong>em</strong> alguma posição do eixo da criatividade.<br />

Tipos de Ideias<br />

Ideia<br />

não criativa<br />

Teoria<br />

Ideia<br />

criativa<br />

Infinitas Ideias<br />

Prática<br />

Mas, afinal, o que é uma Ideia Criativa? Quais são as características<br />

que difer<strong>em</strong> uma Ideia Criativa de uma Ideia Não<br />

Criativa? Quais são os el<strong>em</strong>entos que as compõ<strong>em</strong>? Essas interrogações<br />

serão solucionadas a seguir, no próximo tópico.<br />

Nele serão descritas, basicamente, as condições necessárias que<br />

aumentam a chance do surgimento das ideias criativas na mente<br />

de uma pessoa ou no trabalho de um grupo de profissionais.<br />

5.4 Os El<strong>em</strong>entos da Ideia Criativa – SETEC<br />

A Ideia Criativa, que dá orig<strong>em</strong> ao processo inovador,<br />

surge a partir de cinco el<strong>em</strong>entos, aos quais nos referimos<br />

por SETEC, que são as iniciais das palavras: Sentidos, Equipe,<br />

Transpiração, Estalo e Confiança. A união entre eles resultará na<br />

condição necessária para a geração da ideia criativa. A imag<strong>em</strong><br />

a seguir mostra cada um dos el<strong>em</strong>entos que compõe o SETEC.<br />

147


Explosão da Inovação<br />

El<strong>em</strong>entos da Ideia Criativa – SETEC<br />

Sentidos<br />

Equipe<br />

Transpiração<br />

Estalo<br />

Confiança<br />

Os Sentidos formam o conjunto de estímulos captados<br />

do ambiente e transmitidos ao cérebro para ser<strong>em</strong> transformados<br />

<strong>em</strong> sensações e pensamentos. Eles entram no organismo<br />

através dos órgãos do sentido que a pessoa concentra naquela<br />

situação. Quando muitos sentidos estão acionados ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, considera-se esse estado como Sinestésico. Mas quando<br />

nenhum sentido está canalizado para o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão,<br />

diz-se que o estado é Anestésico.<br />

A Equipe representa a variedade de características e opiniões<br />

dos m<strong>em</strong>bros participantes de um trabalho. Quanto mais<br />

variado for um grupo, maiores serão as chances de ocorrer<br />

choques de opiniões e de haver divergência. Esse conflito é<br />

extr<strong>em</strong>amente saudável para a criatividade. Grupos formados<br />

por pessoas muito diferentes são classificados com Heterogêneos,<br />

enquanto aqueles formados por pessoas muito parecidas<br />

são chamados de Homogêneos.<br />

A Transpiração é o tipo de envolvimento dos indivíduos<br />

e das instituições <strong>em</strong> relação a uma situação, caracterizando a<br />

intensidade do esforço despendida para a resolução de um probl<strong>em</strong>a.<br />

Quando há grande comprometimento com o probl<strong>em</strong>a<br />

e um grande esforço para a sua resolução, diz-se que existe<br />

Dedicação dos participantes. Por outro lado, quando não há<br />

148


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

comprometimento com a causa e nenhum esforço, mínimo que<br />

seja, para a descoberta de uma solução, o estado <strong>em</strong> que essas<br />

pessoas se encontram é de Acomodação.<br />

O quarto el<strong>em</strong>ento é o Estalo. Ele é o momento exato <strong>em</strong><br />

que a Ideia Criativa surge na mente de uma pessoa ou o instante<br />

quando alguém a cita dentro de um grupo de trabalho. Mas,<br />

para a sua geração, é necessário estimular a criatividade de<br />

todas as formas. Quando é possível explorar todos os campos<br />

da criatividade humana s<strong>em</strong> a preocupação com as convenções<br />

impostas e com as regras estabelecidas, diz-se que houve liberdade<br />

no processo de trabalho. Mas se as convenções e regras<br />

prevalecer<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação ao tipo de inventividade, ele será considerado<br />

um processo Bloqueado.<br />

E, por fim, depois que a ideia tiver sido gerada, é necessário<br />

acreditar nela. A Confiança, portanto, é o quanto se crê e o<br />

quanto se está disposto a trabalhar por uma ideia. É o esforço<br />

para manter a ideia viva e pulsando. Quanto mais se acredita<br />

e se luta por uma ideia, maior é a Crença nela. Porém, quanto<br />

menos se acredita e se batalha por ela, maior é Descrença <strong>em</strong><br />

relação à sua relevância e aplicação.<br />

A Ideia Criativa é um processo resultante do conjunto<br />

desses cinco el<strong>em</strong>entos. Cada um deles afeta de forma específica<br />

a geração da Inovação. Na figura a seguir é possível observar<br />

melhor as características inerentes a cada um deles.<br />

149


Explosão da Inovação<br />

Relação entre os El<strong>em</strong>entos do SETEC<br />

anestésico<br />

Homogênea<br />

acomodação<br />

Bloqueio<br />

descrença<br />

Sentidos<br />

Equipe<br />

Transpiração<br />

Estalo<br />

Confiança<br />

sinestésico<br />

Heterogênea<br />

dedicação<br />

liberdade<br />

crença<br />

Repetindo o que já foi feito com os el<strong>em</strong>entos do Ambiente<br />

Externo e da Capacidade Interna, é chegada a hora de<br />

conhecer profundamente cada um dos componentes que constitu<strong>em</strong><br />

a Ideia Criativa.<br />

5.4.1 Sentidos<br />

Os sentidos são a porta de entrada dos estímulos captados<br />

no ambiente. Eles são produzidos <strong>em</strong> diferentes órgãos<br />

do corpo humano e suas mensagens são levadas até o cérebro,<br />

onde estas são processadas e as sensações são geradas. Quanto<br />

mais os sentidos estiver<strong>em</strong> abertos e aguçados para o que<br />

acontece, mais estímulos serão gerados. E quanto mais diversificados<br />

for<strong>em</strong> esses sentidos, mais ricos serão os pensamentos<br />

produzidos no cérebro.<br />

O corpo humano possui cinco sentidos fundamentais: o<br />

paladar, que indica os sabores; o olfato, que permite a percepção<br />

dos odores; o tato, através do qual é possível sentir o calor<br />

e a textura de outros corpos; a audição, que capta os sons; e<br />

a visão, que permite observar as cores, as formas e os contornos<br />

dos objetos. Esses sentidos dispõ<strong>em</strong> órgãos específicos (a<br />

150


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

língua, as fossas nasais, a pele, os ouvidos e os olhos, respectivamente),<br />

que transmit<strong>em</strong> os diferentes estímulos do ambiente<br />

externo para o cérebro. É o cérebro que vai interpretar as<br />

mensagens que chegam <strong>em</strong> forma de sensações e que vai determinar<br />

as diferentes reações do organismo. Pode-se dizer,<br />

então, que tudo o que uma pessoa pensa e sente depende necessariamente<br />

do que seus sentidos captam. Dessa forma, quanto<br />

mais os órgãos dos sentidos trabalham, mais informações são<br />

levadas para o cérebro.<br />

O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda possui<br />

um sist<strong>em</strong>a um tanto peculiar de criação de suas músicas<br />

e po<strong>em</strong>as. Para se inspirar e conseguir material criativo para<br />

suas canções, ele percorre o Rio de Janeiro, cidade onde nasceu<br />

e mora, para coletar informações. Ele anda a pé pelo calçadão<br />

da praia olhando a paisag<strong>em</strong>, entra <strong>em</strong> ônibus para ver e ouvir<br />

as pessoas, visita o mercado municipal para sentir o cheiro<br />

das flores e das frutas, pega o tr<strong>em</strong> na Central do Brasil para<br />

vivenciar o aperto que os trabalhadores passam no fim do dia,<br />

toma um café <strong>em</strong> um bar para descansar, assiste a um jogo<br />

no Maracanã para sentir a <strong>em</strong>oção da torcida, e janta <strong>em</strong> um<br />

restaurante para degustar o sabor da comida. Ou seja, ele faz<br />

exatamente as mesmas coisas que qualquer pessoa faz cotidianamente.<br />

Mas faz diferente: faz com todos os sentidos aflorados,<br />

captando cada detalhe que acontece à sua volta, diferente<br />

das pessoas que não estão preocupadas <strong>em</strong> seu dia a dia com<br />

essas particularidades. Com isso, suas músicas apresentam um<br />

lado poético, criativo, humano e sentimental, que são sua marca.<br />

Veja um ex<strong>em</strong>plo de uma de suas letras, Cotidiano, de 1971.<br />

151


Explosão da Inovação<br />

Cotidiano<br />

Todo dia ela faz tudo s<strong>em</strong>pre igual<br />

Me sacode às seis horas da manhã<br />

Me sorri um sorriso pontual<br />

E me beija com a boca de hortelã<br />

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar<br />

E essas coisas que diz toda mulher<br />

Diz que está me esperando pro jantar<br />

E me beija com a boca de café (...)<br />

Chico Buarque de Holanda<br />

Pode-se reparar nos detalhes da letra, como ela passa<br />

sensações de diferentes órgãos do sentido. “Me sacode”: ela<br />

simplesmente não o acorda, mas, de forma tátil, o faz acordar<br />

de maneira intensa, provavelmente com as mãos ou com o<br />

próprio corpo. “Me sorri”: um gesto simpático percebido pelo<br />

olhar. “E me beija com a boca de hortelã”: um gesto que é captado<br />

de forma intensa pelo paladar e pelo olfato. “Todo dia ela<br />

diz que é pra eu me cuidar”: nesse momento é a audição que<br />

desperta para o primeiro plano. Ou seja, nos cinco primeiros<br />

versos, o artista transmite a <strong>em</strong>oção do relacionamento com a<br />

sua amada captada pelos cinco diferentes órgãos dos sentidos.<br />

Assim, há uma relação direta entre o grau de uso dos<br />

sentidos e o tipo de ideia produzida. Quando todos os sentidos<br />

humanos estão sendo estimulados ao mesmo t<strong>em</strong>po, classificamos<br />

essa situação como Sinestésica. Mas quando nenhum<br />

sentido está “ligado” ou concentrado <strong>em</strong> determinada ação,<br />

classificamos essa condição como Anestésica. Todas as outras<br />

circunstâncias variam entre essas duas posições, ficando mais<br />

perto da Sinestésica quanto maior o número de sentidos estimulados<br />

e mais próximo da Anestésica se for<strong>em</strong> poucos os<br />

sentidos envolvidos.<br />

152


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

El<strong>em</strong>ento S – Sentido<br />

anestésico<br />

sinestésico<br />

ausência dos<br />

sentidos na captação<br />

de estímulos<br />

Uso intermediário<br />

dos sentidos na<br />

captação de estímulos<br />

todos os sentidos<br />

usados na captação<br />

de estímulos<br />

Ideias com<br />

baixíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com mediana<br />

probabilidade<br />

de gerar Inovação<br />

Ideias com<br />

altíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Quanto mais sentidos for<strong>em</strong> captados pelos órgãos do<br />

corpo humano, (quanto mais para a direita estiver no eixo<br />

Sinestésico/Anestésico), maior será o fluxo de estímulos<br />

direcionados ao cérebro e, por consequência, maior será sua<br />

capacidade de produzir ideias criativas.<br />

Esse fato é uma consequência natural do processo “matéria-prima<br />

/ qualidade do produto”. Quanto melhor for a<br />

matéria-prima (estímulos), maior será a qualidade do produto<br />

formado por elas (ideia). As Ideias Criativas são originadas<br />

na mente daqueles que captam intensamente as diferentes<br />

informações que vêm do ambiente. As sensações que o corpo<br />

recebe e os pensamentos gerados no cérebro são o alimento<br />

das ideias. Quanto mais ricos e variados for<strong>em</strong> os ingredientes,<br />

melhor será a receita final.<br />

As Ideias são geradas a todo instante dentro do cérebro.<br />

Porém, pensamentos com doses de criatividade são mais raros.<br />

Como já foi visto anteriormente, eles acontec<strong>em</strong> quando os dois<br />

lados do cérebro passam a trabalhar <strong>em</strong> conjunto. Mas, para<br />

isso, é necessário estimular a parte lógico-racional e a parte<br />

153


Explosão da Inovação<br />

subjetivo-<strong>em</strong>ocional. E essa integração ocorre quando todos<br />

os órgãos dos sentidos estão “abertos”, alimentando o sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso central com uma enxurrada de estímulos e percepções.<br />

Uma forma de d<strong>em</strong>onstrar esse efeito e ensinar o poder<br />

dos sentidos para a criatividade humana é o Brainstorming<br />

dos Cinco Sentidos. A reunião de Brainstorming é a técnica de<br />

geração de ideias mais comum, utilizada mundialmente por<br />

várias <strong>em</strong>presas para a produção de uma grande quantidade<br />

de ideias. Nela, um probl<strong>em</strong>a é apresentado e cada um dos<br />

participantes é incentivado a fornecer ideias livr<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong><br />

a obrigação de provar sua viabilidade e lógica. Normalmente,<br />

as sugestões mais originais, criativas e viáveis são depois<br />

selecionadas para o desenvolvimento de projetos de Inovação.<br />

Porém, o Brainstorming dos Cinco Sentidos, criado pelo <strong>Setec</strong><br />

<strong>Consulting</strong> <strong>Group</strong>, uma das principais <strong>em</strong>presas de consultoria<br />

e treinamento da América Latina, permite que os participantes<br />

sintam as sensações geradas pelos estímulos e possam<br />

transformá-las <strong>em</strong> ideias criativas. Nesse aperfeiçoamento<br />

da técnica de geração de ideias, cada sentido é, inicialmente,<br />

estimulado de modo individual: primeiro o paladar, depois o<br />

olfato, <strong>em</strong> seguida o tato, na sequência a audição, e por último<br />

a visão. Em um segundo momento, os sentidos começam<br />

a ser cruzados entre si, até que na última etapa todos são<br />

estimulados ao mesmo t<strong>em</strong>po. Os participantes vão tendo a<br />

sensação de que começam a sofrer uma overdose de estímulos<br />

novos a cada nova fase. Em cada uma dessas etapas, é necessário<br />

que os participantes de<strong>em</strong> ideias e sugestões para o probl<strong>em</strong>a<br />

previamente apresentado. Assim, ao final da atividade, que<br />

dura de 4 ou 8 horas, os profissionais, com seus sentidos<br />

mais aguçados, consegu<strong>em</strong> naturalmente contribuir com um<br />

conjunto mais variado e rico de ideias.<br />

Quanto menos sentidos for<strong>em</strong> estimulados pelo organismo<br />

(quanto mais para a esquerda estiver no eixo), menor será<br />

154


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

o fluxo de estímulos enviados ao cérebro e menor será a capacidade<br />

do sist<strong>em</strong>a nervoso central de produzir ideias criativas.<br />

Pode-se comparar a variedade de estímulos com a variedade<br />

de cores de que um pintor dispõe para criar um quadro.<br />

Se ele dispuser de apenas uma ou duas cores, muito provavelmente<br />

sua obra ficará prejudicada. O pintor, nessas condições,<br />

precisará se esforçar muito, para fazer uma pintura próxima à<br />

que faria se dispusesse todas as cores. Dificilmente o quadro<br />

monocromático ou com poucas cores ficará tão belo quanto<br />

aquele totalmente colorido. E é essa a principal analogia com<br />

os sentidos: criar com apenas um sentido é trazer ideias monocromáticas<br />

para o mundo.<br />

5.4.2 Equipe<br />

A equipe é formada pelas pessoas que participam do<br />

processo de geração das ideias e t<strong>em</strong> a responsabilidade de<br />

promover as diversas soluções para determinado probl<strong>em</strong>a. Da<br />

mesma maneira que a equipe é formada por pessoas, as pessoas<br />

são constituídas de características, particularidades e opiniões.<br />

Ao integrar um grupo, esse conjunto de características<br />

individuais é somado e passa a compor a personalidade<br />

do coletivo. Assim sendo, a equipe pode possuir grande<br />

quantidade de características e opiniões diferentes ou uma<br />

grande quantidade de el<strong>em</strong>entos similares.<br />

Tradicionalmente, equipes com muitas diferenças tend<strong>em</strong><br />

a ter mais conflitos e choques de opiniões provocados exatamente<br />

pelo contraste de valores e conceitos. Grupos mais<br />

parecidos tend<strong>em</strong> a concordar com determinadas posições,<br />

afinal, todos ou a maioria partilham de uma mesma opinião<br />

individualmente.<br />

Quando a pluralidade dos m<strong>em</strong>bros de uma equipe é gran-<br />

155


Explosão da Inovação<br />

de, classifica-se esse grupo como sendo Heterogêneo, e quanto<br />

maior for a s<strong>em</strong>elhança entre os participantes, mais Homogêneo<br />

ele é. Todas as d<strong>em</strong>ais definições se situam entre essas duas<br />

posições e entram <strong>em</strong> algum ponto do eixo horizontal.<br />

El<strong>em</strong>ento E – Equipe<br />

Homogêneo<br />

Grupo com<br />

características<br />

e opiniões<br />

muito parecidas<br />

Grupo com<br />

características e<br />

opinões mediamente<br />

diferentes<br />

Heterogêneo<br />

Grupo com<br />

características e<br />

opiniões muito<br />

diferentes<br />

Ideias com<br />

baixíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com mediana<br />

probabilidade<br />

de gerar Inovação<br />

Ideias com<br />

altíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Quanto mais diferenças houver entre os m<strong>em</strong>bros de<br />

uma equipe (mais para a direita estiver no eixo Heterogêneo/<br />

Homogêneo), maior é a chance de conseguir<strong>em</strong> extrair ideias<br />

criativas. A criatividade é originada dos choques de pensamentos<br />

e visões distintas dos integrantes do grupo.<br />

As equipes heterogêneas estão mais b<strong>em</strong> preparadas para<br />

resolver probl<strong>em</strong>as, pois possu<strong>em</strong> diferentes conceitos, entendimentos,<br />

habilidades e competências. Dessa forma, a atividade<br />

torna-se mais completa e a equipe consegue resolver o probl<strong>em</strong>a<br />

de forma global, apresentando soluções mais ricas e variadas.<br />

É impossível imaginar, por ex<strong>em</strong>plo, a riqueza do legado<br />

artístico deixado pelos Beatles s<strong>em</strong> se l<strong>em</strong>brar da variedade<br />

de personalidades e habilidades de cada um dos integrantes<br />

do quarteto. Muito provavelmente, a banda tenha se torna-<br />

156


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

do a mais importante da história exatamente pelas diferenças<br />

pessoais e artísticas tão acentuadas entre John Lennon, Paul<br />

McCartney, George Harrison e Ringo Star.<br />

As músicas dos Beatles, grupo formado <strong>em</strong> 1956, <strong>em</strong><br />

Liverpool, Inglaterra, fizeram sucesso pelo seu estilo revolucionário,<br />

pelas letras marcantes e pelos efeitos de guitarra<br />

na sonoridade das melodias. As músicas e o som do quarteto<br />

representavam seus anseios, frustrações e desejos. Através da<br />

música, cada um dos integrantes podia canalizar suas opiniões<br />

e pensamentos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que cada um liberava sua<br />

criatividade <strong>em</strong> canções próprias, eles também se ajudavam,<br />

melhorando as músicas dos outros. Ou seja, apesar de cada um<br />

fazer sua própria música, com estilo e característica próprios,<br />

a música dos Beatles tinha a assinatura de todos.<br />

Lennon explorava seu talento poético e fazia canções<br />

mais densas e agressivas, sob influência do blues mais energético.<br />

Suas músicas mostravam uma grande inquietude, com<br />

lirismo e ironia. Ele era o líder natural do grupo. Sua personalidade<br />

era expansiva e carismática, mas muitas vezes mostrava<br />

seu lado atormentado e complexado. Era o mais passional de<br />

todos, sendo o coração da banda. Ele se preocupava com as<br />

questões filosóficas da vida e da humanidade. Juntamente com<br />

McCartney, era o principal letrista e poeta do grupo.<br />

McCartney, sob influência da música teatral, compôs<br />

obras com grande variedade na instrumentação. Além de ser<br />

compositor e intérprete, também toca inúmeros instrumentos,<br />

como baixo e bateria. Paul era o mais romântico dos Beatles,<br />

suas músicas falavam essencialmente dos relacionamentos e<br />

eram b<strong>em</strong> humoradas e melódicas. Porém, ele tinha uma personalidade<br />

forte e era o único que se opunha à liderança natural<br />

de Lennon.<br />

George Harrison era o guitarrista da banda. Ele foi<br />

s<strong>em</strong>pre o mais espiritualista e reflexivo dos rapazes de<br />

157


Explosão da Inovação<br />

Liverpool. Um pouco pela idade - era o mais jov<strong>em</strong> de todos<br />

- e outro tanto pela personalidade própria, ele s<strong>em</strong>pre foi o<br />

mais tímido e reflexivo. Era também o que teve a orig<strong>em</strong> mais<br />

pobre, vindo de uma cidade portuária inglesa, de uma família<br />

operária. Apesar de ser um grande intérprete e compositor,<br />

não se importava de suas músicas ser<strong>em</strong> preteridas frente às de<br />

Lennon e McCartney. Nos Beatles, des<strong>em</strong>penhava mais o papel<br />

de instrumentista.<br />

Ringo Star, por sua vez, era o baterista e foi o último a se<br />

integrar à banda. Por ser o mais velho dos quatro, era qu<strong>em</strong><br />

tinha a experiência e a habilidade de intermediar as diferenças<br />

pessoais e artísticas entre Lennon e McCartney. Apesar de<br />

discreto e de não se envolver <strong>em</strong> polêmicas, era qu<strong>em</strong> conseguia<br />

harmonizar melhor o clima dos Beatles. S<strong>em</strong>pre sorrindo<br />

e simpático com os fãs e com a imprensa, teve um papel fundamental,<br />

contribuindo com a sonoridade da banda, com uma<br />

abordag<strong>em</strong> rítmica inovadora para a época.<br />

Assim, grande parte do sucesso do grupo se deveu à sua<br />

heterogeneidade, pois seus integrantes, ao longo dos anos,<br />

conseguiram construir um mosaico artístico riquíssimo, muito<br />

superior à mera soma de suas personalidades e de seus talentos<br />

individuais.<br />

Em uma equipe heterogênea sinérgica, as pessoas quer<strong>em</strong><br />

e sab<strong>em</strong> que têm que dar o melhor de si, usando todas as<br />

suas habilidades para ajudar os companheiros durante a atividade.<br />

Esse grupo normalmente tende a enxergar soluções sob<br />

diferentes prismas, e a soma dessas visões, <strong>em</strong> geral, resulta<br />

<strong>em</strong> soluções mais eficientes e criativas.<br />

Quando mais homogênea for uma equipe (mais para<br />

a esquerda ela estiver no eixo), menor será a chance de esta<br />

gerar ideias criativas. Equipes formadas por el<strong>em</strong>entos muito<br />

parecidos não consegu<strong>em</strong> explorar todas as dimensões de um<br />

probl<strong>em</strong>a.<br />

158


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

É importante perceber que não diz<strong>em</strong>os aqui que equipes<br />

homogêneas possu<strong>em</strong> pior des<strong>em</strong>penho se comparadas às<br />

heterogêneas. Não é isso o que está sendo dito. Apontamos<br />

a perspectiva da produção de ideias criativas. Quando se fala<br />

<strong>em</strong> gerar ideias criativas, essas equipes têm mais dificuldades,<br />

mas <strong>em</strong> vários outros pontos elas pod<strong>em</strong> ter vantagens. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, por ter<strong>em</strong> menor número de conflito de ideias e opiniões,<br />

o trabalho desenvolvido por elas tende a ser mais rápido<br />

e tranquilo. A comunicação, fator crítico <strong>em</strong> qualquer trabalho<br />

<strong>em</strong> equipe, também tende a ser mais fácil.<br />

Porém, a característica da composição da equipe depende<br />

muito da finalidade do trabalho <strong>em</strong> si. Um técnico de futebol<br />

que quer ganhar o jogo não pode escalar um time com todos os<br />

jogadores tendo características defensivas (qu<strong>em</strong> é que vai atacar?).<br />

Também não pode selecionar apenas jogadores que saibam<br />

jogar pela direita (qu<strong>em</strong> vai jogar pela esquerda?). Além<br />

disso, não pode escolher apenas jogadores veteranos (provavelmente<br />

vai faltar fôlego no final da partida) ou apenas jovens<br />

(qu<strong>em</strong> vai dar a experiência necessária nos momentos decisivos<br />

e difíceis do jogo?).<br />

5.4.3 Transpiração<br />

A Transpiração está ligada ao esforço dispensado para<br />

a obtenção de uma ideia. Obter uma solução criativa para um<br />

probl<strong>em</strong>a não é tarefa fácil. Normalmente, é necessário um<br />

grande esforço para se conseguir isso. Em algumas situações,<br />

a “sacada criativa” surge com mais facilidade. Nesses casos, o<br />

envolvimento da pessoa ou do grupo de pessoas com o probl<strong>em</strong>a<br />

a ser resolvido é tão grande, que a solução se torna uma<br />

consequência da concentração da atenção <strong>em</strong>pregada. Dessa<br />

forma, a transpiração está vinculada tanto ao nível do esforço<br />

159


Explosão da Inovação<br />

quanto ao grau de envolvimento.<br />

Progresso e crescimento exig<strong>em</strong> uma sequência natural<br />

de desenvolvimentos. As crianças aprend<strong>em</strong> a correr, mas antes<br />

aprenderam a se virar, a sentar, a engatinhar e depois a andar.<br />

Cada etapa t<strong>em</strong> sua importância, e nenhuma delas deve ser<br />

evitada. Na escola, aprende-se aritmética antes de álgebra e<br />

álgebra antes de cálculo. Não é possível inverter a ord<strong>em</strong>. Para<br />

se obter uma boa colheita, o agricultor teve que respeitar cada<br />

uma das fases da plantação. Ele primeiro adubou a terra, arou<br />

o terreno, depois selecionou as melhores s<strong>em</strong>entes, plantou-as<br />

e, por fim, passou meses irrigando e cuidando da sua plantação.<br />

Esse esforço de meses normalmente é culminado <strong>em</strong> uma<br />

época <strong>em</strong> que é preciso colher o alimento gerado. A lição da<br />

agricultura pode ser estendida, na maioria das vezes, para cada<br />

atividade humana. O resultado obtido hoje é fruto do esforço<br />

orquestrado ont<strong>em</strong>, e a ação de hoje é que vai provocar a consequência<br />

de amanhã.<br />

A geração da Ideia Criativa segue esse padrão. É necessário<br />

um grande esforço para estudar o probl<strong>em</strong>a e desenvolver<br />

um grande número de hipóteses até se chegar a uma grande<br />

ideia. Em qual, acredita-se que a criatividade é oriunda muito<br />

mais do momento inspirador do que da transpiração e do esforço<br />

humano. É necessário, sim, ter inspiração, mas o esforço<br />

para a geração da ideia t<strong>em</strong> um papel muito maior. Ele é o protagonista<br />

da criatividade. S<strong>em</strong> transpiração, não há invenção<br />

n<strong>em</strong> novidade.<br />

Até mesmo nos casos <strong>em</strong> que a grande ideia surgiu <strong>em</strong><br />

momentos de descontração e relaxamento do corpo, houve<br />

previamente grande esforço por parte da pessoa. A desconcentração<br />

leva à ideia criativa quando ela é precedida de trabalho<br />

duro e intenso. Além disso, o indivíduo pode não estar preocupado<br />

com aquela resolução naquele exato momento (pensando<br />

que não está trabalhando no probl<strong>em</strong>a), mas seu subconscien-<br />

160


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

te continua atuando fort<strong>em</strong>ente e, no momento de inspiração,<br />

<strong>em</strong>ergirá para o consciente.<br />

Quando uma pessoa ou um grupo realiza muito esforço e<br />

t<strong>em</strong> grande comprometimento com a resolução de um probl<strong>em</strong>a,<br />

considera-se esse um trabalho de Dedicação. Mas quando<br />

não há muito envolvimento n<strong>em</strong> esforço por parte do indivíduo<br />

ou do grupo para a busca de ideias criativas, considera-se esse<br />

um trabalho de Acomodação. Como n<strong>em</strong> todos os trabalhos pod<strong>em</strong><br />

ser divididos entre essas duas modalidades, suas variações<br />

são inseridas <strong>em</strong> algum ponto do eixo horizontal.<br />

El<strong>em</strong>ento T – Transpiração<br />

acomodação<br />

dedicação<br />

Baixo<br />

envolvimento<br />

e esforço<br />

médio<br />

envolvimento<br />

e esforço<br />

alto<br />

envolvimento<br />

e esforço<br />

Ideias com<br />

baixíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com mediana<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com<br />

altíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Quanto maior for a dedicação dispensada para a busca de<br />

soluções (mais para a direita estiver no eixo Dedicação/Acomodação),<br />

maior será a possibilidade de que a ideia gerada seja<br />

Criativa. Para se obter uma grande ideia é necessário gerar<br />

várias, das quais apenas uma pequena parte t<strong>em</strong> o potencial<br />

de provocar a Inovação. A força de vontade da pessoa ou da<br />

equipe de trabalho é fundamental para catalisar esse processo.<br />

Reza a história que Isaac Newton estava sentado <strong>em</strong>baixo<br />

de uma árvore quando uma maçã caiu <strong>em</strong> sua cabeça. Intrigado<br />

161


Explosão da Inovação<br />

por aquele fato aparent<strong>em</strong>ente simples, Newton teria se<br />

perguntado: “Por que o fruto caiu?” e “Por que ele v<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

para baixo e não para cima”. Segundo a lenda, nesse momento,<br />

o inglês foi iluminado por uma grande inspiração e descobriu<br />

imediatamente a existência da gravidade. Ou seja, todo corpo<br />

é atraído para o centro da Terra por conta de uma força de<br />

atração dos corpos.<br />

Mas será mesmo que Isaac Newton descobriu a gravidade<br />

por conta de um momento de inspiração? Conhecendo um<br />

pouco mais a história e a vida desse hom<strong>em</strong>, percebe-se que ele<br />

foi um dos cientistas mais atuantes dos séculos XVII e XVIII.<br />

Newton estudou e pesquisou sobre química, física, mecânica e<br />

mat<strong>em</strong>ática. Em suas infinitas experiências e formulações, elaborou<br />

leis de física, o teor<strong>em</strong>a binomial e a natureza das cores.<br />

A lei da gravidade surgiu como consequência dos vários<br />

estudos desenvolvidos e das hipóteses físicas criadas por ele<br />

ao longo de sua vida. Pode ter havido sim algum momento de<br />

inspiração, mas, na maior parte do t<strong>em</strong>po, o cientista teve que<br />

se dedicar incansavelmente para chegar às suas conclusões.<br />

Apesar de possuir um t<strong>em</strong>peramento b<strong>em</strong> tranquilo e de ser<br />

uma pessoa pacata e modesta, Newton se esforçava muito <strong>em</strong><br />

seu trabalho. Invariavelmente deixava de se alimentar e até de<br />

dormir quando estava mergulhado <strong>em</strong> seu trabalho. Ele mesmo<br />

explica isso: “Nenhuma grande descoberta foi feita jamais<br />

s<strong>em</strong> um palpite ousado”. Porém, o principal mérito de suas<br />

descobertas estava no esforço concentrado para a obtenção de<br />

alguma resposta específica: “Se vi mais longe foi porque estava<br />

<strong>em</strong> pé sobre os ombros de gigantes”. Em outras palavras,<br />

é o esforço coletivo e evolutivo dos cientistas que propicia as<br />

grandes invenções.<br />

Só é possível tamanha dedicação a uma causa ou a um trabalho<br />

quando se está <strong>em</strong>ocionalmente envolvido com ele. Envolvimento<br />

é o grau de interesse e comprometimento de uma<br />

162


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

pessoa ou organização, e a criatividade de uma ideia está diretamente<br />

ligada à força de vontade que a pessoa t<strong>em</strong> <strong>em</strong> gerá-la.<br />

Quanto menor for o esforço e a dedicação de uma pessoa<br />

ou de uma equipe (mais para a esquerda ela estiver no eixo),<br />

menor será a chance do surgimento de Ideias Criativas. Isso<br />

se deve ao fato de a criatividade estar intrinsecamente ligada<br />

ao envolvimento da pessoa com uma situação. Se não houver<br />

envolvimento n<strong>em</strong> interesse, para que criar ideias? Para quê<br />

se preocupar <strong>em</strong> trazer soluções inventivas para os probl<strong>em</strong>as<br />

existentes? Para que trazer novas respostas para os velhos<br />

probl<strong>em</strong>as se a situação atual for cômoda?<br />

A acomodação não permite que novas ideias sejam geradas.<br />

Uma <strong>em</strong>presa acomodada é aquela que está <strong>em</strong> um patamar<br />

de conforto e nele permanece estagnada. Quando está<br />

nesse estado, as pessoas não se interessam pelos probl<strong>em</strong>as e,<br />

por consequência, não se preocupam <strong>em</strong> encontrar soluções<br />

para eles. Se for<strong>em</strong> desafiadas a criar ideias, até irão gerá-las,<br />

mas não com a reflexão necessária. E, muito provavelmente,<br />

nenhuma será criativa. As pessoas apresentarão soluções apenas<br />

para atender à d<strong>em</strong>anda pontual.<br />

5.4.4 Estalo<br />

Estalo é o instante <strong>em</strong> que a ideia criativa surge. É o<br />

momento <strong>em</strong> que ela aparece na mente da pessoa que busca a<br />

melhor solução para um probl<strong>em</strong>a ou quando um participante<br />

de um grupo de trabalho a propõe aos d<strong>em</strong>ais.<br />

O surgimento de estalos criativos são decorrências de estruturas<br />

e de formas de trabalho individuais ou coletivas para<br />

estimular a criação desse tipo de ideias. Exist<strong>em</strong> várias formas<br />

de se gerar novas ideias. Entre elas, destacam-se: Brainstorming<br />

tradicional (elaborado pelo publicitário Alex Osborn,<br />

163


Explosão da Inovação<br />

nos anos 1940), a Analogia (ter uma ideia a partir de uma palavra<br />

ou de um conceito aleatório), Box de Ideias (listag<strong>em</strong><br />

dos principais tópicos da ideia para que sejam explorados) e<br />

Brainwriting (versão silenciosa do Brainstorming, na qual cada<br />

pessoa escreve suas ideias e as passa para que outras pessoas<br />

as compl<strong>em</strong>ent<strong>em</strong> de forma escrita, buscando um nível maior<br />

de detalhes).<br />

Porém, aqui o que se avalia não é a técnica <strong>em</strong> si, mas os<br />

el<strong>em</strong>entos que estão à sua volta. Esses el<strong>em</strong>entos constitu<strong>em</strong><br />

uma forma que pode ser analisada sob uma determinada ótica.<br />

Nesse caso, a análise é feita de acordo com a liberdade criativa<br />

que se pode ter, entendendo-se por liberdade criativa o<br />

conjunto de opções que os participantes do grupo pod<strong>em</strong> usar<br />

para gerar as ideias. Historicamente, a criatividade é maior <strong>em</strong><br />

condições de maior liberdade de expressão, opinião, comportamento<br />

e valores.<br />

Na Idade Antiga, o povo que mais contribuiu cultural,<br />

econômica e politicamente para o mundo ocidental foi a Grécia,<br />

onde surgiram os pilares da civilização ocidental moderna. A<br />

d<strong>em</strong>ocracia, a filosofia, o teatro, o culto à beleza, a arquitetura,<br />

a valorização da educação e a concepção dos jogos olímpicos<br />

são alguns dos valores trazidos desse povo até os nossos dias.<br />

Entretanto, o que mais marcou a cultura helênica foi a grande<br />

liberdade concedida aos seus cidadãos (não estão sendo considerados<br />

os não cidadãos, aqueles que não tinham direitos e<br />

faziam trabalho escravo). Eles tinham completa liberdade religiosa,<br />

sexual, filosófica, política e de expressão. Nesse ambiente,<br />

surgiram grandes pensadores, como Tales de Mileto, Anaximandro,<br />

Heráclito, Platão, Sócrates, Aristóteles e Heródoto. A<br />

liberdade para o trabalho deles suscitou o surgimento de várias<br />

ideias criativas que formaram o esqueleto cultural da sociedade.<br />

É importante perceber que o conceito da liberdade ligase<br />

também ao ambiente externo ou até mesmo à capacidade<br />

164


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

interna de uma organização. Porém, o que se aborda neste<br />

tópico é o uso da liberdade como forma de criação, estimulando<br />

o momento do estalo criativo.<br />

Quando o processo de trabalho é baseado na livre expressão,<br />

considera-se que ele t<strong>em</strong> Liberdade. Porém, quando<br />

predomina a baixa liberdade de opinião, o processo de trabalho<br />

está <strong>em</strong> situação de Bloqueio. As condições intermediárias são<br />

d<strong>em</strong>onstradas no eixo horizontal da figura a seguir.<br />

El<strong>em</strong>ento E – Estalo<br />

Bloqueio<br />

liberdade<br />

Baixa<br />

liberdade<br />

criativa<br />

média<br />

liberdade<br />

criativa<br />

alta<br />

liberdade<br />

criativa<br />

Ideias com<br />

baixíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com mediana<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com<br />

altíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Quanto mais liberdade houver no processo de geração<br />

de ideias, (mais para a direita estiver no eixo Liberdade/Bloqueio),<br />

maior será a chance do surgimento de soluções criativas.<br />

A liberdade permite que os participantes da atividade ous<strong>em</strong><br />

mais, explor<strong>em</strong> um número maior de nuances e arrisqu<strong>em</strong><br />

mais. S<strong>em</strong> censura n<strong>em</strong> restrição, o trabalho tende a ser mais<br />

inventivo.<br />

Muitas vezes, as pessoas não sab<strong>em</strong> a orig<strong>em</strong> dos objetos<br />

que usam cotidianamente, pensando que sua invenção v<strong>em</strong> dos<br />

primórdios da civilização, da Antiguidade ou da Idade Média,<br />

165


Explosão da Inovação<br />

mas muitos deles são invenções recentes da humanidade. Esse<br />

é o caso do escorredor de arroz, uma criação brasileira da década<br />

de 1960.<br />

Cansada de chegar <strong>em</strong> casa depois do trabalho e ter que<br />

desentupir a pia por causa do arroz acumulado, a cirurgiã dentista<br />

Therezinha Beatriz Alves de Andrade Zorowich inventou<br />

o escorredor de arroz. Esse produto é uma espécie de bacia<br />

conjugada a uma peneira <strong>em</strong> uma de suas extr<strong>em</strong>idades, o que<br />

facilita a lavag<strong>em</strong> do alimento s<strong>em</strong> que ele seja descartado. O<br />

que sai das pequenas saliências na parte interna são as impurezas<br />

contidas no arroz.<br />

Com a ajuda do marido, Beatriz montou um protótipo e<br />

registrou a criação, que mais tarde foi licenciada pela <strong>em</strong>presa<br />

que passou a produzi-lo. O escorredor de arroz foi apresentado<br />

pela primeira vez ao público na Feira de Utilidades Domésticas<br />

de 1962, sendo considerado o grande sucesso daquele ano.<br />

Mas por que coube a Beatriz Andrade a iniciativa do invento<br />

e não às milhares de donas de casa que também vivenciavam<br />

diariamente o mesmo probl<strong>em</strong>a? A resposta é a liberdade<br />

criativa que essa brasileira tinha e as outras não. Primeiramente,<br />

Beatriz não cuidava exclusivamente da casa como a maioria<br />

das mulheres da época. Assim, o incômodo de ter que limpar<br />

a pia por causa do arroz era uma atividade inconcebível para<br />

ela, enquanto para as outras mulheres poderia ser encarada<br />

como “um mal necessário”. Além disso, a família dos Andrade<br />

Zorowich era constituída por muitos inventores. Para eles,<br />

cada probl<strong>em</strong>a merecia uma solução compatível. Vários produtos<br />

foram criados e patenteados não só pela Beatriz, como<br />

também por seu marido e por seus filhos, ao longo dos anos,<br />

apesar de nenhum com tanto sucesso quanto o escorredor de<br />

arroz. O amálgama de porcelana, a faca com um ligeiro estreitamento<br />

na largura e na espessura na extr<strong>em</strong>idade frontal, a<br />

caixa de fósforos com um retentor interno, a máscara com abas<br />

166


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

laterais aplicável ao monitor de computador, o massageador<br />

cardíaco, a escova dental com cabo e base separados e passíveis<br />

de ser<strong>em</strong> encaixados, e o t<strong>em</strong>porizador para cargas elétricas<br />

de aparelhos elétricos <strong>em</strong> geral são ex<strong>em</strong>plos da inventividade<br />

da família.<br />

Portanto, quanto menor for a liberdade concedida aos<br />

criadores (mais para a esquerda eles estiver<strong>em</strong> no eixo), menor<br />

será a chance das ideias ter<strong>em</strong> a criatividade necessária para<br />

produzir<strong>em</strong> produtos Inovadores. A censura e as limitações<br />

impostas pelas regras e convenções provocam verdadeiros bloqueios<br />

criativos aos inventores.<br />

5.4.5 Confiança<br />

Confiança é o grau de certeza que se t<strong>em</strong> sobre o poder de<br />

uma ideia. Quando se acredita na ideia, é mais provável que se<br />

invista t<strong>em</strong>po e dinheiro para tirá-la do papel. Normalmente,<br />

aqueles que cre<strong>em</strong> <strong>em</strong> determinada ideia possu<strong>em</strong> maior grau<br />

de engajamento e persistência para executá-la, passando a defendê-la<br />

das várias pessoas e das forças existentes nos ambientes<br />

externo e interno que quer<strong>em</strong> matá-la. Acreditar <strong>em</strong> uma<br />

ideia é conseguir imaginar sua realização e jamais desistir dela.<br />

Em 1920, após o massacre de 400 indianos por parte de<br />

soldados britânicos, Mohandas Karanshand Gandhi, filho de<br />

um importante político local, passou a apoiar a independência<br />

da Índia <strong>em</strong> relação à dominação da Inglaterra. Porém, esse<br />

hom<strong>em</strong> passou para a história com outro nome: Mahatma<br />

Gandhi. Mahatma na língua hindu significa Grande Alma. Sua<br />

vida toda foi baseada <strong>em</strong> uma única ideia: promover a independência<br />

do seu país de forma pacífica.<br />

A desvinculação política da Índia com a Inglaterra era<br />

algo necessário para o povo indiano, mas Gandhi acreditava<br />

167


Explosão da Inovação<br />

que tão importante quanto esse fato era a forma como isso se<br />

daria. Alimentar a violência contra os ingleses ou promover<br />

uma guerra para a independência contrariava seus princípios<br />

religiosos de agir s<strong>em</strong>pre pela não violência e sua crença na<br />

santidade de todos os seres vivos.<br />

Mahatma Gandhi acreditava tão fort<strong>em</strong>ente nos seus ideais<br />

que permaneceu fiel a eles por toda a vida. Suas atitudes pacíficas,<br />

como greve de fome, campanha da desobediência contra<br />

o imposto do sal e o incentivo ao produto indiano, foram ao<br />

longo dos anos desestabilizando o poder central inglês. Mesmo<br />

quando era preso (foi encarcerado inúmeras vezes), Gandhi<br />

nunca usou a violência. Em 1947, após décadas de desgaste<br />

por conta de suas atitudes truculentas e do contraste com a<br />

imag<strong>em</strong> de dignidade e pureza do líder indiano, os ingleses<br />

aceitaram conceder a independência à Índia. Assim, depois de<br />

27 anos de luta silenciosa e pacífica, Gandhi conseguiu o que<br />

s<strong>em</strong>pre pregou.<br />

Mas o que fez esse hom<strong>em</strong> permanecer fiel à sua ideia<br />

mesmo quando tudo à sua volta se contrapunha ao que ele pensava?<br />

Sua convicção. Ao acreditar tão profundamente <strong>em</strong> seus<br />

ideais, Gandhi conseguiu superar os obstáculos e as dificuldades<br />

que surgiram ao longo de t<strong>em</strong>po.<br />

Quando alguém acredita completamente <strong>em</strong> uma ideia,<br />

atinge a condição de Crença absoluta. Mas quando não acredita<br />

n<strong>em</strong> um pouco <strong>em</strong> uma solução proposta, existe uma condição<br />

de Descrença. As situações intermediárias entre essas<br />

duas condições são d<strong>em</strong>onstradas no eixo horizontal da figura<br />

a seguir:<br />

168


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

El<strong>em</strong>ento C – Confiança<br />

descrença<br />

crença<br />

Baixa<br />

confiança na<br />

ideia gerada<br />

média<br />

confiança na<br />

ideia gerada<br />

alta<br />

confiança na<br />

ideia gerada<br />

Ideias com<br />

baixíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com mediana<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Ideias com<br />

altíssima<br />

probabilidade de<br />

gerar Inovação<br />

Quando se t<strong>em</strong> elevada confiança na ideia que está sendo<br />

trabalhada (mais para a direita estiver no eixo Crença/Descrença),<br />

maior é a chance de torná-la uma Inovação. Ao crer<br />

nas ideias <strong>em</strong> que estão trabalhando, as pessoas ficam naturalmente<br />

mais motivadas e dispostas a desafiar os obstáculos que<br />

surg<strong>em</strong> no meio do caminho.<br />

Uma ideia criativa, por melhor que seja, se não tiver pelo<br />

menos uma pessoa ou instituição que acredite e lute por ela,<br />

estará fadada à morte. Em pouco t<strong>em</strong>po ela será assassinada<br />

pelas mentes conservadoras. Para a chama da ideia criativa não<br />

se apagar ela precisa de defensores. Quanto maior o número e<br />

a fidelidade desses defensores, maiores serão as chances dela<br />

prosperar.<br />

Em 2001, o executivo de negócios Fábio Bueno Netto<br />

teve uma ideia criativa. Ao passar na frente de uma máquina de<br />

vender doces e salgadinhos, ele pensou: “Por que não vender<br />

livros nessas máquinas?”. Afinal, se era possível vender chocolate,<br />

barra de cereal, refrigerante e salgadinho, era perfeitamente<br />

viável comercializar livros por elas. Com essa ideia na<br />

169


Explosão da Inovação<br />

cabeça, Fábio, que naquela época trabalhava <strong>em</strong> uma editora,<br />

montou um projeto para apresentar a seus superiores. Ele insistiu<br />

diversas vezes para provar o quanto e sua ideia era interessante,<br />

mas a resposta da <strong>em</strong>presa foi negativa. Acreditando<br />

nela e na possibilidade de torná-la uma Inovação, o executivo<br />

pediu d<strong>em</strong>issão da editora e resolveu abrir sua <strong>em</strong>presa. Dessa<br />

forma, era criada a 24x7 Cultural. O agora <strong>em</strong>presário tinha a<br />

chance de provar que estava certo.<br />

O modelo do novo negócio era vender livros por preços<br />

populares através das máquinas nas estações de metrô da cidade<br />

de São Paulo. Assim, enquanto os usuários aguardass<strong>em</strong><br />

a chegada dos trens ou estivess<strong>em</strong> dentro deles poderiam ler<br />

livros que custariam, no máximo, R$ 5,00. Ou seja, com algumas<br />

moedas seria possível adquirir um produto que proporcionaria<br />

a leitura para uma grande quantidade de pessoas que não<br />

tinham esse hábito.<br />

Mas os probl<strong>em</strong>as com os quais Fábio Bueno Netto se<br />

deparou para constituir a <strong>em</strong>presa foram inúmeros. Primeiramente,<br />

não havia uma máquina no mercado apropriada para<br />

essa finalidade. Fábio chegou a viajar o mundo procurando-a,<br />

mas não a encontrou. Dessa maneira, precisou desenvolver um<br />

projeto próprio. Depois de muito trabalho, conseguiu adaptar<br />

um equipamento para comercializar os livros. Em um segundo<br />

momento, a dificuldade foi convencer as editoras a vender<strong>em</strong><br />

os livros a um preço menor. Depois de muita insistência, algumas<br />

editoras aceitaram vender seus produtos por esse novo<br />

canal de distribuição. E, para terminar, o <strong>em</strong>presário precisou<br />

negociar com as estações do metrô para a colocação das máquinas.<br />

Colocadas as máquinas <strong>em</strong> operação, novos probl<strong>em</strong>as surgiram.<br />

Veja as palavras do <strong>em</strong>presário: “O primeiro dia foi realmente<br />

uma tragédia. Fiquei horas na estação de metrô São Joaquim,<br />

<strong>em</strong> São Paulo, só explicando o funcionamento da máquina<br />

170


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

para as pessoas que passavam, s<strong>em</strong> vender um livro sequer”.<br />

Mas Fábio acreditava na sua ideia e não desistiu. Hoje a<br />

<strong>em</strong>presa possui dezenas de máquinas espalhadas pela cidade,<br />

com vendas mensais de milhares de ex<strong>em</strong>plares. “Algumas vezes<br />

sou taxado de louco, outras de visionário. Acho isso engraçado,<br />

e cada vez mais tenho a consciência de que as pessoas têm<br />

percepções completamente diferentes sobre a mesma coisa. Às<br />

vezes me sinto falando com as paredes, mas não desanimo e<br />

s<strong>em</strong>pre incentivo as pessoas que quer<strong>em</strong> ter seu negócio próprio<br />

a lutar por seus sonhos (ideias)”, comenta Fábio Bueno Netto.<br />

Mas, quando não se acredita na ideia (quanto mais<br />

para a esquerda ela estiver no eixo), menor é a chance de<br />

transformá-la <strong>em</strong> uma Inovação. Normalmente, o bom senso<br />

não permite que todos acredit<strong>em</strong> nas soluções mais inusitadas,<br />

pitorescas e criativas que são dadas. O senso comum prega o<br />

conservadorismo. As pessoas e as <strong>em</strong>presas não gostam de<br />

correr riscos e sair da sua zona de conforto, principalmente<br />

com aquelas soluções <strong>em</strong> cuja viabilidade não acreditam.<br />

A descrença <strong>em</strong> determinada solução não permite que as<br />

pessoas envolvidas <strong>em</strong> um projeto tenham a persistência necessária<br />

para se expor<strong>em</strong> ao fracasso. Quando não consegu<strong>em</strong><br />

ver a vantag<strong>em</strong> que vão ter quando aquilo terminar, acabam<br />

n<strong>em</strong> começando.<br />

No modelo da Explosão da Inovação, há um personag<strong>em</strong><br />

chamado “mata-fogo” que é muito comum nas <strong>em</strong>presas. Essa<br />

figura é especialista <strong>em</strong> querer apagar a fagulha criativa das<br />

ideias logo que elas surg<strong>em</strong>. Sua frase mais famosa é “isso não<br />

vai dar certo”. Tradicionalmente, essa frase s<strong>em</strong>pre v<strong>em</strong> acompanhada<br />

por outras: “nós já tentamos isso no passado e não<br />

deu <strong>em</strong> nada”, “aqui nós não faz<strong>em</strong>os assim”, e “eu já estou<br />

vendo tudo, isso é uma perda de t<strong>em</strong>po, não vai levar a nada”.<br />

O “mata-fogo” t<strong>em</strong> essa reação porque não acredita nas novas<br />

ideias. E se a pessoa que deu a sugestão não acreditar <strong>em</strong><br />

171


Explosão da Inovação<br />

sua proposta, certamente abrirá espaço para que o “mata-fogo”<br />

apague a chama criativa.<br />

Não adianta uma <strong>em</strong>presa pedir a seus funcionários e<br />

clientes que contribuam com soluções criativas se existir <strong>em</strong><br />

seu quadro de colaboradores, <strong>em</strong> grande quantidade ou <strong>em</strong><br />

pontos-chave, “mata-fogos” prontos para apagá-las. Mas também<br />

não adianta os d<strong>em</strong>ais funcionários reclamar<strong>em</strong> disso.<br />

Eles precisam acreditar <strong>em</strong> suas convicções e superar mais<br />

essa adversidade. Quando se crê na importância e no impacto<br />

de uma ideia criativa, não há “mata-fogo” que consiga fazer<br />

direito o trabalho de podar a Inovação.<br />

5.5 Relação entre os El<strong>em</strong>entos e os Tipos de Ideias<br />

Depois que a análise da condição da geração da ideia criativa<br />

é feita, pode-se discutir a relação entre seus el<strong>em</strong>entos e<br />

os tipos de ideias geradas. Assim, como já foi feito nos dois capítulos<br />

anteriores, é válido rel<strong>em</strong>brar que os componentes que<br />

formam a Ideia Criativa, o chamado SETEC – sentidos, equipe,<br />

transpiração, estalo e confiança –, são inter-relacionados,<br />

existindo grande sinergia entre eles. Dessa forma, a melhor<br />

avaliação dos el<strong>em</strong>entos é feita de forma conjunta.<br />

172


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

Relação entre os el<strong>em</strong>entos do SETEC<br />

anestésico<br />

Homogênea<br />

acomodação<br />

Bloqueio<br />

descrença<br />

Sentidos<br />

Equipe<br />

Transpiração<br />

Estalo<br />

Confiança<br />

sinestésico<br />

Heterogênea<br />

dedicação<br />

liberdade<br />

crença<br />

A Ideia Criativa é aquela que possui grande probabilidade<br />

de gerar uma Inovação. A Ideia Não Criativa, por sua vez, t<strong>em</strong><br />

baixa probabilidade de provocar o mesmo fato. A definição sobre<br />

qual é o tipo de uma ideia é determinada pela combinação<br />

dos el<strong>em</strong>entos SETEC. Cada componente da <strong>em</strong>presa deve ser<br />

classificado segundo a escala de -3 (quando estiver totalmente<br />

à esquerda) a +3 (quando estiver totalmente à direita). Veja o<br />

modelo a seguir.<br />

Modelo de Diagnóstico da Ideia Criativa – SETEC<br />

Sentidos<br />

anestésico<br />

Homogênea<br />

acomodação<br />

Bloqueio<br />

descrença<br />

Equipe<br />

Transpiração<br />

Estalo<br />

Confiança<br />

sinestésico<br />

Heterogênea<br />

dedicação<br />

liberdade<br />

crença<br />

173


Explosão da Inovação<br />

Seguindo os ex<strong>em</strong>plos que estão sendo dados nos finais<br />

dos capítulos, uma <strong>em</strong>presa foi avaliada segundo sua condição<br />

de gerar ideias. Ela possui a seguinte característica: envolvimento<br />

de todos os sentidos (+3), uma equipe muito heterogênea<br />

(+2), grande dedicação para encontrar soluções (+3), um<br />

grau equilibrado entre bloqueio e liberdade criativa (0) e baixo<br />

índice de confiança na ideias geradas (-2). Essas informações<br />

dev<strong>em</strong> ser colocadas na tabela de diagnóstico SETEC a seguir:<br />

Diagnóstico SETEC<br />

(Calor – Ideia Criativa)<br />

Sentidos<br />

Equipe<br />

Transpiração<br />

Estalo<br />

Confiança<br />

O Gráfico do Calor é muito similar aos Gráficos do<br />

Comburente e do Combustível. Ele é do tipo “teia de aranha”<br />

ou “radar” e é criado a partir das informações da característica<br />

da <strong>em</strong>presa descrita antes. Veja o gráfico a seguir:<br />

174


A Ideia criativa como faísca da inovação<br />

Gráfico do Calor<br />

s<br />

c<br />

E<br />

E<br />

t<br />

A condição da <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> gerar ideias criativas está relacionada<br />

ao tamanho da área preenchida no gráfico. Quanto<br />

maior ela for, maior será a chance de se criar ideias criativas.<br />

Por outro lado, quanto menor ela for, menor será a probabilidade<br />

de ideias criativas ser<strong>em</strong> geradas.<br />

Segundo o caso <strong>em</strong> pauta, percebe-se que a <strong>em</strong>presa<br />

possui uma capacidade mediana de gerar ideias criativas. Sua<br />

maior dificuldade está no fato de ela não acreditar nas soluções<br />

propostas. Como ela vai transformar uma ideia <strong>em</strong> uma Inovação<br />

se ela não acredita, não confia, não crê nas saídas inventivas<br />

que ela mesma encontrou? Além disso, não há um grau<br />

elevado de liberdade para resultar no estalo criativo. A falta<br />

dessa condição pode estar afetando a confiança da organização.<br />

175


CONCLUSÃO<br />

177


O grande objetivo desse livro é compartilhar o modelo<br />

da Explosão da Inovação e d<strong>em</strong>onstrar que produtos e serviços<br />

inovadores surg<strong>em</strong> obrigatoriamente da junção das características<br />

do ambiente externo, da capacidade interna e da<br />

geração de idéias criativas. Este é o grande desafio de <strong>em</strong>presas,<br />

profissionais e <strong>em</strong>presários que trabalham com esse t<strong>em</strong>a<br />

e visam a sua promoção. Eles precisam compreender essas variáveis,<br />

gerenciá-las e conduzir o processo de forma a criar<br />

as condições necessárias para que sua equipe e seus projetos<br />

sejam b<strong>em</strong>-sucedidos.<br />

A ideia de construir esse modelo, e depois transformá<br />

-lo <strong>em</strong> livro, foi fruto de nossas crenças e estudos, mas,<br />

acima de tudo, de nossas inquietudes com relação às várias<br />

interpretações existentes acerca do t<strong>em</strong>a Inovação. O modelo<br />

da Explosão da Inovação foi construído a partir de estudos<br />

de caso, <strong>em</strong> que foram feitas comparações entre casos reais<br />

b<strong>em</strong>-sucedidos e projetos que fracassaram. Essas histórias<br />

trouxeram subsídios que apontaram quais são os el<strong>em</strong>entos<br />

que fortalec<strong>em</strong> o surgimento de Inovações. A construção da<br />

nossa proposta leva <strong>em</strong> consideração os fatores comuns que<br />

conduziram <strong>em</strong>presas e pessoas a ter<strong>em</strong> um histórico de<br />

sucesso ou de fracasso com relação à Inovação.<br />

A proposta do modelo não é gerar uma receita com os<br />

passos pré-definidos para uma <strong>em</strong>presa inovar, mas estabelecer<br />

uma base estruturada <strong>em</strong> que gestores possam compreender e<br />

refletir sobre seu processo de gestão da Inovação. Assim, sua<br />

aplicação pode ocorrer <strong>em</strong> vários setores, como nas artes, <strong>em</strong><br />

serviços, nos esportes, nos governos e nas indústrias, conforme<br />

ilustrado nos ex<strong>em</strong>plos ao longo da obra. O modelo também<br />

pode auxiliar <strong>em</strong> muito na ponderação sobre as condições<br />

existentes para que uma <strong>em</strong>presa inove. Sabendo quais são<br />

os el<strong>em</strong>entos mais críticos, a <strong>em</strong>presa pode gerar ações para<br />

desenvolvê-los ou pensar <strong>em</strong> alternativas para superar suas<br />

178


CONCLUSÃO<br />

restrições. O modelo da Explosão da Inovação pode ser aplicado<br />

tanto <strong>em</strong> uma <strong>em</strong>presa como <strong>em</strong> uma unidade de negócios<br />

ou até mesmo <strong>em</strong> uma área específica de uma companhia.<br />

Este estudo também serve para a análise comparativa entre<br />

<strong>em</strong>presas concorrentes e setores <strong>em</strong>presariais.<br />

Os Principais Obstáculos da Inovação<br />

Ao aplicar o modelo da Explosão da Inovação como ferramenta<br />

de diagnóstico nas <strong>em</strong>presas, encontramos costumeiramente<br />

quatro grandes probl<strong>em</strong>as, aos quais denominamos:<br />

“Asfixia Corporativa”, “Probl<strong>em</strong>a de Sísifo”, “Lâmpada Queimada“<br />

e “Terra Arrasada”. A explicação de cada uma dessas<br />

situações encontra-se a seguir.<br />

Asfixia Corporativa<br />

Apesar de termos falado no Capítulo 3 (O Ambiente<br />

Externo como Comburente da Inovação) que é cada vez mais<br />

raro encontrar ambientes pouco inovadores, a verdade é que<br />

eles ainda exist<strong>em</strong> e atrapalham sensivelmente as companhias<br />

neles inseridas. Normalmente, esse fato ocorre de forma<br />

artificial seja pelo desenvolvimento de monopólios e cartéis de<br />

mercado, seja pela criação de barreiras alfandegárias e subsídios<br />

estatais ou pelo estabelecimento de reservas de mercado. É<br />

curioso que as <strong>em</strong>presas que vivenciam essa realidade não<br />

quer<strong>em</strong> perder as vantagens atreladas a essa situação antes de<br />

se tornar<strong>em</strong> realmente competitivas e inovadoras, mas elas só<br />

vão conseguir esse novo status após competir<strong>em</strong> intensamente.<br />

Ou seja, é um círculo vicioso que não termina nunca.<br />

Esse cenário é chamado de “Asfixia Corporativa”, pois<br />

falta oxigênio (comburente) para a <strong>em</strong>presa respirar o ar da<br />

Inovação. Como ela vive <strong>em</strong> uma bolha isolada do mundo<br />

179


EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

<strong>em</strong>presarial, não é estimulada a procurar o novo e o diferente,<br />

preferindo manter suas rotinas, seus produtos e seus negócios<br />

como s<strong>em</strong>pre foram.<br />

O papel dos líderes e dos consultores envolvidos <strong>em</strong> projetos<br />

de Inovação <strong>em</strong> <strong>em</strong>presas que vivenciam essa realidade é<br />

de, primeiramente, mostrar os riscos dessa situação a médio e<br />

a longo prazos e, <strong>em</strong> seguida, de propiciar que todos vejam o<br />

ambiente como ele realmente é: hostil e desafiador. O trabalho<br />

aqui é “estourar” a bolha de maneira progressiva, deixando<br />

que o ar de fora (turbulência do mercado, escassez de recursos,<br />

avanço tecnológico e ideias, níveis de rupturas, grau de competição<br />

e quantidade de informações disponíveis) entre, acelerando<br />

de forma controlada o processo de Inovação.<br />

Probl<strong>em</strong>a de Sísifo<br />

Antes de tudo, é necessária a explicação de qu<strong>em</strong> foi Sísifo<br />

na Mitologia grega. Condenado pelos deuses por menosprezar<br />

os seres divinos e por não t<strong>em</strong>er a morte, Sísifo foi sentenciado<br />

a uma tarefa inglória por toda a eternidade: <strong>em</strong>purrar uma<br />

enorme pedra até o alto de uma montanha. O probl<strong>em</strong>a estava<br />

que, ao chegar ao cume, a pedra s<strong>em</strong>pre rolava de volta para a<br />

base da montanha. Dessa maneira, o trabalho de Sísifo s<strong>em</strong>pre<br />

recomeçava a partir do zero e era feito s<strong>em</strong> descanso.<br />

Essa é a situação que algumas <strong>em</strong>presas vivenciam <strong>em</strong><br />

relação à Inovação. Quer<strong>em</strong> inovar, tentam inovar, se esforçam<br />

para inovar, mas não consegu<strong>em</strong>. Tudo por causa de uma baixa<br />

capacidade interna: elas não consegu<strong>em</strong> promover ideias<br />

criativas <strong>em</strong> novos produtos e serviços e ficam com a sensação<br />

amarga de que o trabalho foi desperdiçado ou de que ele nunca<br />

termina. Os motivos para isso são os mais variados: liderança<br />

que não consegue motivar sua equipe, baixo grau de envolvimento<br />

dos funcionários, falta de capital para investimento,<br />

estruturas burocráticas, ausência de pesquisa, conhecimento e<br />

180


CONCLUSÃO<br />

tecnologia, entre outros.<br />

Tradicionalmente, as <strong>em</strong>presas que estão neste cenário<br />

não consegu<strong>em</strong> perceber que o seu real probl<strong>em</strong>a está na baixa<br />

capacidade interna de desenvolver projetos de Inovação. Para<br />

elas, o probl<strong>em</strong>a está s<strong>em</strong>pre atrelado à qualidade ou à quantidade<br />

de ideias. Assim, o trabalho recomeça com a busca por<br />

mais ideias. Essas novas soluções darão origens a novos projetos<br />

que, por sua vez, serão mal desenvolvidos e, provavelmente,<br />

desperdiçados. E a culpa novamente será das ideias geradas.<br />

O papel dos líderes e dos consultores, neste caso, é mostrar<br />

que não adianta se preocupar exclusivamente com a coleta,<br />

a avaliação e a seleção de ideias criativas. N<strong>em</strong> se deve<br />

gastar mais energia do que já é dispensada nestas atividades.<br />

O trabalho deve estar focado <strong>em</strong> tornar a companhia apta a<br />

desenvolver seus projetos <strong>em</strong> produtos e serviços inovadores.<br />

Caso contrário, ela continuará carregando a pedra para o alto<br />

da montanha eternamente.<br />

Lâmpada Queimada<br />

Há casos <strong>em</strong> que a grande dificuldade da <strong>em</strong>presa está<br />

<strong>em</strong> gerar ideias criativas para os seus produtos e para o seu<br />

negócio. Essa dificuldade está vinculada a uma série de fatos,<br />

sendo que o principal deles é o medo de mudar. Companhias<br />

que tiveram um grande sucesso recente e que cresceram consideravelmente<br />

nos últimos t<strong>em</strong>pos acabam ficando receosas<br />

de alterar as bases de sua consagração. Com medo de perder<br />

tudo aquilo que conquistaram até então (muitas vezes por<br />

meio da ousadia e do imprevisível), tornam-se naturalmente<br />

mais conservadoras. S<strong>em</strong> perceber, passam a trabalhar para<br />

manter sua participação no mercado e seu status quo <strong>em</strong> vez de<br />

surpreender o mercado e seus consumidores. Em muitos casos,<br />

elas possu<strong>em</strong> uma excelente capacidade interna (funcionários<br />

motivados e competentes, capital para o investimento e um<br />

181


EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

sist<strong>em</strong>a de trabalho aberto, fluído e flexível), mas sua cultura<br />

corporativa limita a criatividade das ideias.<br />

Exist<strong>em</strong> também instituições <strong>em</strong> que os líderes atuam<br />

como autênticos “mata-fogos” (ou “mata-chamas”). Essas figuras<br />

têm a capacidade de podar todas as ideias (até mesmo<br />

as mais criativas) logo no início, inviabilizando o processo de<br />

inovação (na geração da ideia). A inibição da equipe é tamanha<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas com grandes e importantes “mata-fogos”, que as<br />

ideias não surg<strong>em</strong> espontaneamente. Afinal, qu<strong>em</strong> é ingênuo<br />

de trazer uma solução sabendo que ela logo será descartada?<br />

A <strong>em</strong>presa com este perfil recebe o nome de “Lâmpada<br />

Queimada”, pois suas ideias criativas são nulas. O papel da alta<br />

direção e dos consultores envolvidos <strong>em</strong> projetos nesse tipo<br />

de <strong>em</strong>presa é de criar um ambiente saudável de criatividade e<br />

de cooperação, no qual os funcionários sejam incentivados a<br />

promover ideias de melhorias.<br />

Terra Arrasada<br />

A situação da <strong>em</strong>presa denominada “Terra Arrasada” é<br />

a mais complexa de todas. Essa companhia possui baixa capacidade<br />

interna para a promoção da inovação e t<strong>em</strong> um nível<br />

pobre de geração de ideias criativas. Os motivos que a levaram<br />

a esta condição são: probl<strong>em</strong>as financeiros que destruíram a<br />

forma de trabalho da <strong>em</strong>presa e o moral de seus funcionários,<br />

liderança centralizadora e destrutiva que não confia <strong>em</strong> sua<br />

equipe, briga intensa pelo poder dentro da <strong>em</strong>presa, deixando<br />

a Inovação <strong>em</strong> segundo plano, ou probl<strong>em</strong>as de sucessão (normalmente<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas familiares) que ninguém sabe o que vai<br />

acontecer.<br />

A principal característica da <strong>em</strong>presa “Terra Arrasada” é<br />

pensar apenas no presente. Sua função primordial é a sobrevivência.<br />

Inovar ou pensar no amanhã são luxos que ela não se<br />

dá ao direito de cogitar. Dessa forma, não consegue pensar <strong>em</strong><br />

182


CONCLUSÃO<br />

soluções criativas para resolver seus probl<strong>em</strong>as n<strong>em</strong> consegue<br />

desenvolvê-las, mesmo quando alguém as traz (geralmente de<br />

fora).<br />

Neste caso, o trabalho da alta administração e dos consultores<br />

está <strong>em</strong> mostrar que é nos momentos mais críticos e<br />

difíceis que a Inovação é mais importante. Além disso, o trabalho<br />

aqui é duplo: de capacitação da corporação para desenvolver<br />

a inovação e de alimentar a criatividade da equipe. Em<br />

geral, esses trabalhos são os mais difíceis e requer<strong>em</strong> maior<br />

t<strong>em</strong>po de maturação.<br />

Considerações Finais<br />

O modelo que criamos t<strong>em</strong> a finalidade de servir de norte<br />

para profissionais, <strong>em</strong>presários e estudantes que apreciam<br />

esse t<strong>em</strong>a e possu<strong>em</strong> o desafio de inovar constant<strong>em</strong>ente. A<br />

proposta de associar nosso modelo ao processo de combustão,<br />

utilizando os conceitos do “Triângulo de Fogo”, é de tonar<br />

sua compreensão mais fácil e intuitiva. Além disso, os el<strong>em</strong>entos<br />

do ambiente externo (CRIARE), da capacidade interna<br />

(MACCS) e da ideia criativa (SETEC) foram definidos a partir<br />

de nossas experiências e vivências <strong>em</strong> trabalhos acadêmicos,<br />

profissionais e de consultoria e nos estudos de casos estabelecidos.<br />

E estamos certos de que, apesar de ser um modelo<br />

concreto e viável, ele pode ainda não estar inteiramente consolidado.<br />

Acreditamos que seja passível de aprimoramento e<br />

de enriquecimento. Por tanto, estamos abertos a discussões e a<br />

propostas de novas contribuições a ele.<br />

Além do modelo proposto, procuramos inovar na forma<br />

de transmitir os conceitos ao leitor, apresentando o jogo da<br />

Explosão da Inovação. O objetivo deste é colocar <strong>em</strong> prática<br />

o modelo proposto nesse livro de forma divertida e lúdi-<br />

183


EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

ca, além de possibilitar a geração efetiva de ideias inovadoras<br />

para qualquer t<strong>em</strong>a previamente definido. O Jogo Explosão da<br />

Inovação é diversão certa e pode ser adquirido nas principais<br />

livrarias do país ou pelo site da <strong>em</strong>presa Games for Business<br />

(www.games4b.com.br).<br />

Resumo do Modelo Explosão da Inovação<br />

Para finalizar, apresentamos novamente os el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> cada uma das dimensões da Explosão da Inovação:<br />

Ambiente Externo – CRIARE:<br />

C – Competição (do Isolamento à Rivalidade)<br />

R – Recursos (da Abundância à Escassez)<br />

I – Instabilidade (da Estabilidade à Turbulência)<br />

A – Acesso à Informação (do Restrito ao Irrestrito)<br />

R – Ruptura (da Continuidade à Revolução)<br />

E – Evolução (da Estagnação ao Progresso)<br />

Capacidade Interna – MACCS:<br />

M – Motivação (do Desmotivado ao Motivado)<br />

A – Autonomia (do Dependente ao Independente)<br />

C – Conhecimento (da Ignorância à Sabedoria)<br />

C – Capital (do Restrito ao Ilimitado)<br />

S – Sist<strong>em</strong>a (do Mecanicista ao Orgânico)<br />

Ideia Criativa – SETEC:<br />

S – Sentido (do Anestésico ao Sinestésico)<br />

E – Equipe (do Homogêneo ao Heterogêneo)<br />

T – Transpiração (da Acomodação à Dedicação)<br />

E – Estalo (do Bloqueio à Liberdade)<br />

C – Confiança (da Descrença à Crença)<br />

184


CONSIDERAÇÃO FINAL<br />

Mensag<strong>em</strong> Final<br />

Inove S<strong>em</strong>pre!<br />

185


BIBLIOGRAFIA<br />

AKTOUF, Omar. A Administração entre a Tradição e a Renovação.<br />

São Paulo: Atlas, 1996.<br />

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Biomedical Ethics. New York: Oxford University Press, 2001.<br />

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São Paulo: Bookman, 2009.<br />

BLAINEY, GEOFFREY. Uma Breve História do Mundo. São<br />

Paulo: Fundamento, 2007.<br />

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Prática. São Paulo: Atlas, 2002.<br />

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Innovator’s Solution: Creating and Sustaining Successful Growth.<br />

Hardcover, 2003.<br />

COLLINS, James C. & PORRAS, Jerry I. Feitas para Durar:<br />

Práticas B<strong>em</strong> Sucedidas de Empresas Visionárias. Rio de Janeiro:<br />

Rocco, 2007<br />

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Janeiro: Editora Campus, 2002.<br />

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FAGERBERG, Jan, MOWERY, David C. e NELSON, Richard<br />

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Oxford University Press, 2006.<br />

FOSTER, Richard. Destruição Criativa. São Paulo: Campus, 2002.<br />

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2008.<br />

GRUZINSKI, Serge & BERNARD, Carmen. História Do<br />

Novo Mundo – volume 1 - Da Descoberta a Conquista, Uma Experiência<br />

Européia. São Paulo: EDUSP, 2001.<br />

JANSON, H. W. História Geral da Arte. São Paulo: Martins<br />

Editora, 2001.<br />

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Nascença. São Paulo: Edições SESC-SP, 2008.<br />

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EXPLOSÃO DA INOVAÇÃO<br />

PETERS, Tom. O Círculo da Inovação. São Paulo: Harbra, 1998.<br />

PUGIALLI, Ricardo. Beatl<strong>em</strong>ania. São Paulo: Ediouro, 2008.<br />

READER´S DIGEST. A História Completa do Mundo. São<br />

Paulo: Reader’s Digest, 2009.<br />

ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São<br />

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.<br />

TEIXEIRA, Elson A. Criatividade: Ousadia & Competência.<br />

São Paulo: Makron Books, 2002.<br />

TRANJAN, Roberto Adami. A Empresa de Mente, Corpo e<br />

Alma. São Paulo: Gente, 2004.<br />

TRANJAN, Roberto Adami. Pegadas: Descubra Por Que Fazer<br />

a Travessia Traz Abundância nos Negócios e na Vida. São Paulo:<br />

Gente, 2005.<br />

WEISZ, Joel. Projetos de Inovação Tecnológica: Planejamento,<br />

Formulação, Avaliação, Tomada de Decisão. Brasília: Protec, 2009.<br />

Innovation: Transforming the Way Business Creates. Relatório<br />

divulgado pelo Economist Intelligence Unit com patrocínio<br />

da CISCO. Edição de 2009.<br />

Manual de Oslo – Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados<br />

sobre Inovação –3ª edição. Publicação conjunta de OCDE e<br />

Eurostat.<br />

188


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Chain. Artigo publicado na Harvard Business Review, junho<br />

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PADOVANI, Cristina B. & ABRAHAM, Márcio. Inovação<br />

como Ação de Estratégia. Artigo publicado na Revista Banas<br />

Qualidade. São Paulo: Editoria EPSE, abril de 2007.<br />

TEIXEIRA, Evelyn Carvalho. Desenvolvimento da Tecnologia<br />

Flex Fuel no Brasil. São Paulo, outubro de 2005. Instituto<br />

DNA Brasil.<br />

As Empresas mais Inovadoras do Brasil 2009. Conjunto de reportagens<br />

publicadas na Revista Época Negócios. São Paulo:<br />

Editora Globo, julho de 2009.<br />

Inovação e Tecnologia – Programa Espaço Aberto. Programa<br />

de Televisão transmitido pelo canal de notícias Globonews<br />

<strong>em</strong> 18 de maio de 2009.<br />

Portal da Inovação – www.portalinovacao.mct.gov.br<br />

Site da Fifa – www.fifa.com<br />

Site da Fórmula 1 – www.formula1.com<br />

189


CURRÍCULO DOS AUTORES<br />

Márcio Abraham:<br />

Master of Science <strong>em</strong> Engenharia Industrial pelo Technion<br />

Institute of Technology e Doutor <strong>em</strong> Engenharia de<br />

Produção pela Escola Politécnica da USP, onde foi professor<br />

por 10 anos e criador do Prêmio Procter & Gamble de Desenvolvimento<br />

de Novos Produtos da Poli-USP. Master Black Belt<br />

e consultor internacional, com ampla experiência <strong>em</strong> Inovação,<br />

Gestão Empresarial, Lean Seis Sigma e Redução de Custos. É<br />

Diretor Presidente do <strong>Setec</strong> <strong>Consulting</strong> <strong>Group</strong> e Comentarista<br />

do Programa Eldorado Gestão.<br />

Ricardo Bonacorci:<br />

Coordenador de Projetos da Games for Business, <strong>em</strong>presa<br />

especializada no desenvolvimento de jogos <strong>em</strong>presariais.<br />

Especialista <strong>em</strong> Administração de Empresas pela FGV-SP,<br />

Pós-graduado <strong>em</strong> Gestão de Inovação pela ESPM e Bacharel<br />

<strong>em</strong> Propaganda e Marketing também pela ESPM. Trabalhou<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas como Coca-Cola (Brasil e Argentina), Gradiente,<br />

Lojas Renner e <strong>Setec</strong> <strong>Consulting</strong> <strong>Group</strong>.

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