AGENDA 21 LOCAL E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Pedro Macedo ...
AGENDA 21 LOCAL E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Pedro Macedo ...
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<strong>AGENDA</strong> <strong>21</strong> <strong>LOCAL</strong> E <strong>ALTERAÇÕES</strong> <strong>CLIMÁTICAS</strong><br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Macedo</strong>, Helena Ferreira, Marta <strong>Macedo</strong><br />
pamacedo@intervirmais.pt | haferreira@esb.ucp.pt | mlmacedo@intervirmais.pt<br />
Instituto Intervir Mais – Serviços à Comunidade | Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa<br />
Rua Dr. António Bernardino de Almeida | 4200-072 Porto | Tel./Fax: +351 22 5580048<br />
SUMÁRIO<br />
A Agenda <strong>21</strong> Local é um processo de envolvimento dos cidadãos e organizações numa estratégia de<br />
promoção da sustentabilidade local. O que se pretende é abordar a importância de estabelecer metodologias<br />
de educação para a sustentabilidade e participação pública no combate às alterações climáticas. Em particular<br />
apresentar-se-ão dois casos concretos de elaboração de matrizes energéticas e planos regionais de energia e<br />
alterações climáticas no âmbito das Agendas <strong>21</strong> Locais do Vale do Minho e do Nordeste Transmontano.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Agenda <strong>21</strong> Local (A<strong>21</strong>L); Alterações Climáticas; Matriz Energética; Planos Energéticos<br />
INTRODUÇÃO<br />
Na sequência da necessidade em criar mecanismos que proporcionem um desenvolvimento consciente, aliando o<br />
desenvolvimento ambiental ao socioeconómico, surgiu em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio<br />
Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda <strong>21</strong>. Nesse documento é referida a necessidade da sua implementação a<br />
nível local – Agenda <strong>21</strong> Local (A<strong>21</strong>L), por se considerar que os impactes directos são mais bem sucedidos.<br />
O objectivo da A<strong>21</strong>L é promover a sustentabilidade ao nível local, aumentando a qualidade de vida, promovendo<br />
a justiça social e o crescimento económico, sem destruir o ambiente.<br />
Salienta-se que nos documentos aprovados na Agenda <strong>21</strong> o tema “Energia e Alterações Climáticas” se evidencia.<br />
Ao longo de 13 capítulos são apresentados e recomendados diferentes meios para a protecção da atmosfera e<br />
para a viabilização da transição energética, onde se destaca o desenvolvimento, eficiência e consumo de energia<br />
e transportes.<br />
Dado que muitos dos problemas e soluções tratados na Agenda <strong>21</strong> têm as suas raízes nas actividades locais é<br />
imperativa a participação activa das populações e das autoridades para a concretização dos objectivos propostos.<br />
Conscientes deste papel activo, na dinamização de actividades em prol do desenvolvimento sustentável, são cada<br />
vez mais as autarquias locais que implementam processos de A<strong>21</strong>L e que procuram estabelecer metodologias de<br />
educação para a sustentabilidade e participação pública no combate às alterações climáticas.<br />
Dois casos concretos de A<strong>21</strong>L que conduziram à elaboração de matrizes energéticas e planos regionais de<br />
energia e alterações climáticas são a A<strong>21</strong>L do Nordeste Transmontano e a A<strong>21</strong>L do Vale do Minho (Figura 1).<br />
Figura 1: Logótipos das Agendas <strong>21</strong> Locais do Nordeste Transmontano de do Vale do Minho<br />
Agenda <strong>21</strong> Local do Nordeste Transmontano - Nordeste <strong>21</strong> (N<strong>21</strong>)<br />
Em Março de 2006 arrancou a Agenda <strong>21</strong> do Nordeste Transmontano – Nordeste <strong>21</strong> (N<strong>21</strong>). Este processo teve<br />
como promotor a Empresa InterMunicipal Resíduos do Nordeste e contou com o trabalho técnico de uma equipa<br />
multidisciplinar da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESB-UCP). O N<strong>21</strong><br />
abrange oito municípios transmontanos (Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, <strong>Macedo</strong> de Cavaleiros,<br />
Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vila Flor e Vimioso) (Figura 2). A sua implementação pressupôs a<br />
auscultação da população para identificação dos principais problemas e prioridades para a região. Desta<br />
identificação resultou, nomeadamente, a selecção do tema “Energia” como um dos eixos estratégicos do N<strong>21</strong>.
PROMOTOR<br />
EQUIPA TÉCNICA<br />
Figura 2: Mapa dos municípios que integram o N<strong>21</strong><br />
Agenda <strong>21</strong> Local do Vale do Minho<br />
Com início em Outubro de 2006 cinco municípios da região do Vale do Minho (Melgaço, Monção, Paredes de<br />
Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira) (Figura 3) apostaram na qualificação de um conjunto transdisciplinar de<br />
profissionais, provenientes dos seus quadros técnicos e de nove entidades com intervenção no território da<br />
Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho. Através de uma Pós-Graduação dada pela Associação para a<br />
Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (AESBUC) foram dinamizados os trabalhos de<br />
auscultação e recolha de dados e de elaboração do Plano de Acção, município a município. Na busca de sinergias<br />
e escala, paralelamente, os eixos prioritários transversais foram objecto de um Plano de Acção Supramunicipal.<br />
Um dos eixos prioritários identificados foi o eixo “Energia e Alterações Climáticas”.<br />
PROMOTORES<br />
Figura 3: Mapa dos municípios que integram da A<strong>21</strong>L do Vale do Minho<br />
METODOLOGIA<br />
A implementação de uma A<strong>21</strong>L pressupõe a auscultação da população como forma de identificação dos<br />
principais problemas e prioridades para a região, para posterior desenvolvimento de um Plano de Acção para a<br />
Sustentabilidade. Para além da população em geral, são também intervenientes os representantes das entidades<br />
da região e os executivos que se comprometeram com a implementação das medidas estabelecidas ao longo do<br />
projecto.<br />
Em ambos os processos de A<strong>21</strong>L aqui abordados, o N<strong>21</strong> e o Vale do Minho, foram encetados processos de<br />
participação pública. Através de dinamização de sessões participativas no seio dos Grupos Coordenadores, nas<br />
Juntas de Freguesia, nos Fóruns Participativos, em Inquéritos à População, Seminários Temáticos, Entrevistas,
Campanhas de Sensibilização, entre outros, foi possível identificar os problemas que mais afectam os cidadãos e<br />
as potencialidades que estes identificam nos concelhos.<br />
Nordeste <strong>21</strong><br />
No N<strong>21</strong>, foram contabilizadas mais de cinquenta reuniões onde<br />
participaram mais de seiscentas pessoas.<br />
Uma vez que o desenvolvimento local, pretendendo visar a<br />
sustentabilidade, necessita de assumir uma posição relativamente à forma<br />
como as várias componentes concelhias, nomeadamente, cidadão,<br />
empresas e autarquia se comportam no tema da energia. Esta premência é<br />
exacerbada quando se avaliam as implicações que o sector energético tem<br />
na dinamização de economias saudáveis e nos impactes associados como<br />
sejam a emissão de gases de efeito de estufa (GEE), como contribuintes<br />
para as alterações climáticas.<br />
É nesta contextualização que surge a elaboração da matriz energética,<br />
respondendo à necessidade dos municípios conhecerem o seu<br />
desempenho e com base nele delinearem as estratégias a implementar.<br />
Este trabalho tem a sua génese na implementação do N<strong>21</strong> e no Programa<br />
Gulbenkian Ambiente.<br />
De facto a energia surge como um dos eixos estratégicos a aprofundar no<br />
âmbito do plano de sustentabilidade do N<strong>21</strong> e, na sua ligação com as<br />
mudanças climáticas, faz parte dos temas para os quais a Fundação<br />
Calouste Gulbenkian pretende mobilizar a sociedade civil, numa<br />
perspectiva de estimular a introdução de novos comportamentos.<br />
Figura 4: Seminário Temático do N<strong>21</strong><br />
realizado no município de Mirandela<br />
O projecto N<strong>21</strong> tem como objectivo prioritário, através da A<strong>21</strong>L e seus<br />
mecanismos participativos, criar o ambiente consensual e partilhado para<br />
o avanço de projectos assentes numa lógica integrada e sustentável,<br />
respeitando o equilíbrio entre ambiente, social e economia.<br />
Figura 5: Apresentação Pública da<br />
Matriz Energética do Nordeste<br />
Transmontano<br />
Se, numa primeira fase, o estudo apenas incidia nos municípios do N<strong>21</strong>, já referidos, logo se revelou vantajoso<br />
estendê-lo a todo o distrito em que estão inseridos, Bragança, pela pertinência de se equacionar a assunção de<br />
uma lógica verdadeiramente regional nas questões da energia e entender o impacte que estes oito municípios,<br />
unidos através do N<strong>21</strong>, têm no Nordeste Transmontano. Neste âmbito foi elaborado o Programa Estratégico<br />
Transmontano Alterações Climáticas.<br />
Vale do Minho<br />
Figura 6: Reunião da A<strong>21</strong>L do Vale do<br />
Minho<br />
No que diz respeito à A<strong>21</strong>L do Vale do Minho, ao todo, foram efectuadas<br />
mais de quatrocentas reuniões, fóruns e eventos onde participaram cerca<br />
de quinhentas entidades e três mil pessoas (equivalente a 5% da população<br />
do Vale do Minho), tendo resultado na identificação do Eixo Prioritário<br />
“Energia e Alterações Climáticas”, entre outros.<br />
Tornou-se então necessário avaliar as implicações que, nomeadamente, o<br />
sector energético tem na dinamização desta economia. A ligação entre<br />
Energia e Alterações Climáticas foi abordada, pela A<strong>21</strong>L do Vale do<br />
Minho, de forma a mobilizar e estimular a introdução de novos<br />
comportamentos nas populações locais. Com a elaboração da matriz<br />
energética tornou-se possível delinear os objectivos e acções para a<br />
redução das emissões de GEE, provenientes do sector energético. Estes<br />
objectivos e acções fazem parte do Plano de Acção para a Energia e Alterações Energéticas do Vale do Minho, o<br />
qual pretende contribuir para a definição de políticas regionais que promovam a melhoria da eficiência<br />
energética e contribuam para o combate às alterações climáticas.
No caso da A<strong>21</strong>L do Vale do Minho foram ainda efectuados Diagnósticos<br />
Energéticos a algumas infra-estruturas dos municípios, nomeadamente às<br />
Piscinas Municipais de Vila Nova de Cerveira, Monção, Paredes de Coura<br />
e Valença, e ainda ao Complexo Desportivo e de Lazer de Melgaço. Em<br />
todos estes diagnósticos o objectivo era identificar oportunidades de<br />
poupança de energia ou redução da factura energética associada a cada<br />
recinto.<br />
Figura 7: Reunião da A<strong>21</strong>L do Vale do<br />
Minho<br />
A determinação dos consumos energéticos para as duas regiões baseou-se essencialmente na recolha e<br />
tratamento de dados disponíveis na Direcção Geral de Geologia e Energia (DGGE), nas Câmaras Municipais e<br />
outras entidades que operam no sector energético.<br />
Nordeste <strong>21</strong> 1<br />
PRINCIPAIS RESULTADOS<br />
O trabalho realizado para o eixo estratégico da Energia está organizado em duas partes, sendo que a primeira está<br />
orientada para uma estratégia regional, apresentando-se os resultados e conclusões da Matriz Energética do<br />
Nordeste Transmontano e o Programa Estratégico Transmontano para as Alterações Climáticas (PETAC) e uma<br />
segunda parte para consumo interno de cada autarquia do N<strong>21</strong>, em que os resultados individuais de cada<br />
concelho permitem aprofundar o conhecimento do seu desempenho e, dessa forma, adaptar a estratégia e o plano<br />
de acção à realidade de cada um.<br />
O Nordeste Transmontano utilizou, em 2005, 180.000 tep de energia final (Erro! A origem da referência não<br />
foi encontrada.), o que representou 1,23 tep/hab., capitação 32% inferior à média nacional. Contudo este<br />
consumo regista, entre 1994 e 2005, acréscimos médios na ordem dos 33%, mais significativos no caso da<br />
electricidade e do gasóleo.<br />
Figura 8: Consumo energético na região norte<br />
1 Tal como já foi referido na secção METODOLOGIA, numa primeira fase, o estudo apenas incidia nos oito municípios do<br />
N2. Tendo vindo a mostrar-se vantajoso estendê-lo a todo o distrito de Bragança. Pelo que, todos os resultados aqui<br />
apresentados referem-se ao conjunto de municípios do N<strong>21</strong> e restantes municípios do distrito de Bragança.
O consumo da electricidade sofre uma tendência crescente galopante na ordem dos 107%, enquanto que a média<br />
nacional regista 70% nos 12 anos de análise. Nesse mesmo período, no Nordeste Transmontano, os gasóleos<br />
aumentam 51% e as gasolinas regridem 22%. Desta forma os vectores energéticos prioritários para actuação são<br />
a electricidade e os gasóleos.<br />
Na perspectiva da oferta dominam os gasóleos com 36% do total, as lenhas com 27% e a electricidade com 18%<br />
(Figura 9). As lenhas têm um peso muito significativo no consumo energético dos transmontanos, principalmente<br />
na componente de aquecimento, com 75% dos lares a utilizarem lareiras, porém os sistemas revelam eficiências<br />
muito baixas, com perdas substanciais de calor para a atmosfera. Os gasóleos subdividem-se em gasóleo<br />
rodoviário com 74%, gasóleo colorido para o sector agrícola com 14% e o gasóleo para aquecimento 12%.<br />
Neste último item acrescente-se que o valor representa 8% do total<br />
dos combustíveis derivados do petróleo utilizado, o que acarreta<br />
impactes em termos de emissão de GEE e abre a porta para<br />
incrementar melhorias nesta área, associada a melhorias na<br />
eficiência de utilização da biomassa. O consumo de gás natural<br />
ainda é pouco significativo com 2% do total, com incidência no<br />
sector doméstico, mas com notória tendência crescente.<br />
Na perspectiva da procura o sector doméstico consome 39% da<br />
energia total, os transportes 30% e os serviços 17%. Se na<br />
desagregação da informação energética se tiver em conta os<br />
edifícios, estes consomem 51% da energia total, distribuídos<br />
maioritariamente pelo sector residencial. Desta forma a Matriz<br />
Energética do Nordeste Transmontano identifica, claramente, os<br />
edifícios e os transportes, como áreas prioritárias a incluir no<br />
plano de acção futuro.<br />
Os edifícios consomem-se 83% da electricidade total gasta no<br />
distrito de Bragança. Analisando a distribuição do consumo pelas<br />
diferentes formas de energia constata-se a importância que o<br />
recurso à biomassa ainda tem como forma de aquecimento das residências e, nalguns casos, na confecção dos<br />
alimentos, ou seja, 48% dos teps totais nos edifícios pertencem às lenhas, 30% à electricidade, 10% ao GPL, 8%<br />
ao gasóleo para aquecimento. O gás natural, ainda com uma diminuta penetração, tem apenas um significado de<br />
4% no total do consumo nos edifícios.<br />
Os usos de energia nos edifícios distribuem-se, na sua grande maioria, para fins de calor, seja na preparação de<br />
refeições e aquecimento ambiente e das águas sanitárias. A iluminação e o frio são outros dos destinos dos<br />
consumos energéticos. Saliente-se que, apesar dos elevados valores que se verificam, 48% desta energia já<br />
provém de base renovável, ou seja, da biomassa, embora as lareiras, principalmente sem recuperador de calor<br />
apresentem baixas eficiências, pelo que existem grandes perdas de calor para o exterior. Este é uma área a<br />
investir e melhorar na procura de um maior conforto térmico, tendo em conta que esta é uma região com índices<br />
de conforto bioclimático pouco favoráveis.<br />
Figura 10: Evolução, de 1999 até 2005, dos custos<br />
referentes à iluminação de vias públicas<br />
Figura 9: Desagregação do consumo final de<br />
energia por fontes de energia, dados de 2005<br />
para o distrito de Bragança<br />
No Nordeste Transmontano, em 2005, a iluminação<br />
pública (IP) gastou aos cofres camarários mais de 3,2<br />
milhões de euros (Figura 10), a que se somaram mais 3,3<br />
milhões de euros em iluminação de edifícios do Estado<br />
(edifícios municipais, tribunais, finanças, escolas,<br />
hospitais, etc) (Figura 11), perfazendo um total de 6,5<br />
milhões de euros gastos em iluminação pelo Estado.<br />
Estes gastos sofreram um acréscimo, nos seis anos de<br />
análise deste item, na ordem dos 53%.<br />
O Nordeste Transmontano é responsável por 1% das<br />
emissões totais nacionais de GEE, emitindo cerca de<br />
676 mil toneladas de CO 2 eq., com 4,6 ton CO 2<br />
eq./habitante e 22% inferior à capitação de GEE<br />
nacional, referente à energia.
Figura 11: Evolução, de 1999 até 2005, dos custos<br />
referentes à iluminação dos edifícios públicos<br />
A produção de energias renováveis, excepto grandes<br />
hídricas, é incipiente, com cerca de 39 Mw de potência<br />
instalada, não considerando as grandes hidroeléctricas,<br />
existindo contudo um grande potencial endógeno<br />
completamente subaproveitado, seja na perspectiva,<br />
solar, eólica ou de biomassa. Refira-se que o Nordeste<br />
Transmontano, considerando os valores de insolação e<br />
radiação solar é a zona da Região Norte que reúne as<br />
condições mais favoráveis para o aproveitamento da<br />
energia solar. Por outro lado as grandes hídricas<br />
nordestinas produzem 16,25% da energia do total de<br />
energia renovável nacional, ou seja cerca de 677% da<br />
electricidade consumida no Nordeste Transmontano,<br />
pelo que esta região já é hiper-excedentária na produção<br />
de energia e contribui largamente para o cumprimento<br />
do Protocolo de Quioto, sendo necessário equacionar<br />
compensações reais por estes contributos, medidos em<br />
toneladas de CO 2 evitadas.<br />
Com base nos dados recolhidos e analisados na matriz energética foi elaborado o Programa Estratégico<br />
Transmontano para as Alterações Climáticas - PETAC. Este documento estratégico apresenta as seguintes<br />
propostas de linhas estratégicas para implementar futuramente na região:<br />
OBJECTIVO<br />
PROGRAMA DE ACTUAÇÕES<br />
LINHA ESTRATÉGICA<br />
Cidadão e<br />
Comunidades como<br />
Motores no Combate<br />
às Alterações<br />
Climáticas<br />
Autarquia <strong>21</strong> –<br />
Conhecimento, Ecoeficiência<br />
e Exemplo<br />
ESTRATÉGICO<br />
Pretende-se consciencializar<br />
o cidadão como elemento<br />
integrante da comunidade<br />
para o seu papel na mudança<br />
de paradigma energético<br />
como combate às alterações<br />
climáticas, apostando nas<br />
mudanças do perfil de<br />
consumo e estrutura<br />
económica<br />
Esta medida procura que as<br />
autarquias do Nordeste<br />
Transmontano se<br />
comprometam com práticas<br />
que promovam a eficiência<br />
energética, a baixa<br />
intensidade energética dos<br />
seus sistemas de<br />
funcionamento e a utilização<br />
de energias renováveis,<br />
assumindo-se, perante a<br />
sociedade, como exemplo<br />
demonstrativo<br />
- Comunidades Baixo Carbono<br />
- A<strong>21</strong>L para as Alterações Climáticas<br />
- Olimpíadas de Energia do Nordeste Transmontano<br />
- Plano de Optimização Energética nos Edifícios Municipais<br />
- Até 2015, 75% dos edifícios municipais existentes<br />
atingirem o nível “A” de eficiência energética<br />
- Regulamento Regional de Iluminação Pública<br />
- Gestão e controlo dos custos operacionais dos municípios<br />
com iluminação pública, com vista à sua redução e<br />
optimização da Iluminação monumental, artística e festiva<br />
- Promover a recolha de óleos usados para a produção de<br />
biodiesel com vista à sua utilização nas frotas municipais<br />
- Sistema centralizado de gestão eficiente de frota municipal<br />
com rotas optimizadas por GPS<br />
- Aplicação de normativas de eficiência energética para todos<br />
os espaços e equipamentos públicos (jardins, rotundas,<br />
iluminação exterior, etc.)<br />
- Aquecimento a biomassa para equipamentos municipais<br />
- Aplicar, num prazo temporal de 3 anos, em 100% das<br />
piscinas e equipamentos desportivos municipais do Nordeste<br />
Transmontano sistemas de aquecimento de águas com<br />
recurso à biomassa e solar térmico<br />
- Dinamização do Netautarquia, através da colocação dos<br />
serviços municipais on-line de forma transaccional<br />
(pagamento de taxas, serviços urbanísticos, consulta de<br />
processos) e optar por sistemas de preenchimento on-line<br />
directo dos formulários<br />
- Inserção de conselhos úteis na área de energia nas páginas<br />
de internet das autarquias e no edição de material<br />
informativo, por exemplo, nas agendas culturais
Edifícios Eficientes e<br />
Inteligentes<br />
Produção<br />
Descentralizada de<br />
Energias Renováveis<br />
como Factor para o<br />
Desenvolvimento<br />
Regional<br />
Transportes e<br />
Mobilidade<br />
Sustentáveis<br />
Plataforma Regional<br />
de Serviços de<br />
Energia<br />
Com esta medida o objectivo<br />
é o de garantir níveis<br />
elevados de eficiência<br />
energética na edificação<br />
urbana, garantindo uma<br />
plena articulação entre o<br />
planeamento urbano e a<br />
componente energética do<br />
território<br />
A concretização desta linha<br />
estratégica permitirá<br />
aumentar o nível de<br />
autonomia energética do<br />
território, potenciando os<br />
projectos já existentes,<br />
criando novas oportunidades<br />
de investimento local e<br />
dinamizando nichos de<br />
mercado no território<br />
A implementação desta<br />
medida permitirá a<br />
diminuição da emissão de<br />
Gases de Efeito Estufa<br />
provenientes do sector dos<br />
transportes<br />
Procura-se desenvolver<br />
mercados de âmbito<br />
regional, devendo focalizar a<br />
sua área de intervenção do<br />
mercado energético<br />
transmontano,<br />
potenciamento o<br />
desenvolvimento da<br />
economia local e a criação de<br />
emprego, bem como a<br />
fixação e atracção da<br />
população para o território<br />
- Formação em Arquitectura e Construção Sustentável aos<br />
técnicos da área<br />
- Incorporação de critérios bioclimáticos nas novas<br />
urbanizações, nas reabilitações e nos edifícios e vivendas<br />
existentes<br />
- Privilegiar a reabilitação de edifícios em detrimento de<br />
novas construções<br />
- Promoção de técnicas e materiais de construção sustentável<br />
- Potenciar e incentivar o recurso às redes colectivas de<br />
distribuição de calor e frio<br />
- Substituição das caldeias de aquecimento a gasóleo no<br />
sector doméstico e de serviços por outros sistemas mais<br />
eficientes: gás natural, biomassa, bombas de calor, etc.<br />
- Incremento de redes inteligentes de distribuição de energia<br />
nos edifícios<br />
- Promoção de Trás-os-Montes e Alto Douro – a Região<br />
Solar<br />
- Roteiro das Energias Renováveis do Nordeste<br />
Transmontano com identificação do potencial de produção no<br />
território de energia eólica, solar e biomassa e sua<br />
disponibilização, via internet, ao público<br />
- Eco-aldeia: potenciar aldeias energeticamente autónomas<br />
- Sistemas solares térmicos para aquecimento de águas<br />
sanitárias<br />
- Instalação de micro-turbinas eólicas para auto-consumo nos<br />
sectores doméstico, serviços e indústria<br />
- Exploração do potencial geotérmico para sistemas<br />
individuais passivos e activos de climatização<br />
- Reconversão de moinhos ou mini-hídricas desactivadas para<br />
produção de energia eléctrica<br />
- Incentivo aos transportes não motorizados, criando redes de<br />
percursos cicláveis e pedonais urbanos e não urbanos<br />
- Estratégia e desenho urbano dissuasores da dependência do<br />
transporte rodoviário individual<br />
- Campanhas de educação e consciencialização para a ecocondução<br />
e manutenção dos veículos como factor de<br />
diminuição de consumo energético<br />
- Implantar um sistema de car-sharing para servir aldeias e<br />
vilas (sistema de aluguer simplificado e partilhado de<br />
automóveis destinado fundamentalmente a viagens de curta<br />
distância: por ex., para ir às compras e aceder aos serviços<br />
públicos)<br />
- Estudar a exequibilidade futura do modo ferroviário como<br />
ligação transfronteiriça e entre cidades<br />
- Criação da Agência Regional de Energia do Nordeste<br />
Transmontano<br />
- Incentivar a criação de PMEs e projectos de I&D<br />
relacionados com o sector das energias renováveis e<br />
protecção ambiental<br />
- Criação de plataforma logística de distribuição de recursos e<br />
equipamentos energéticos para Trás-os-Montes e Alto Douro<br />
- Estabelecimento de uma ou mais indústrias de produção de<br />
biomassa (pellets e estilha) para utilização local e exportação<br />
- Promoção do empreendedorismo qualificado em serviços de<br />
energia<br />
- Realização de mostras tecnológicas e seminários orientados<br />
para o sector da energia<br />
Uma maior eficiência energética pelo lado da procura, a redução da dependência de combustíveis fósseis e o<br />
aumento do contributo de energias renováveis para o balanço energético local – oferecendo à região uma<br />
expressão de geradora de energia renovável, a grande escala (independentemente das grandes hídricas) e não<br />
apenas de consumidora – são alguns dos desafios implícitos neste trabalho.
Agenda <strong>21</strong> Local do Vale do Minho<br />
No caso da A<strong>21</strong>L do Vale do Minho também foi feita uma Matriz Energética para a região e posteriormente<br />
definido o Plano Estratégico para a Energia e Alterações Climáticas – PEEAC - do Vale do Minho.<br />
A Matriz Energética, referente ao ano de 2005, pretende ser um instrumento de fundamentação de uma estratégia<br />
de intervenção futura para a racionalização dos desempenhos energéticos dos concelhos envolvidos. Com este<br />
documento é possível às autarquias identificarem as oportunidades no domínio da eficiência energética e<br />
consequentemente na diminuição das emissões de GEE nos municípios da Comunidade do Vale do Minho 2 .<br />
A matriz energética do Vale do Minho indica<br />
que o consumo de energia eléctrica, em<br />
2005, nos cinco municípios, aumentou cerca<br />
de 185 GWh (Figura 12) e que desde 2004 o<br />
crescimento médio anual ronda os 8% face<br />
aos 5% da média nacional.<br />
Analisando os consumos numa perspectiva<br />
sectorial, o número de consumidores de<br />
energia eléctrica tem como origem<br />
predominante o sector doméstico.<br />
Figura 12: Evolução do consumo de energia eléctrica nos concelhos do<br />
Vale do Minho<br />
No que diz respeito à venda de combustíveis, esta atingiu as 27 mil toneladas em 2005, no conjunto dos<br />
concelhos da Comunidade do Vale do Minho. No entanto verifica-se, desde 2001, uma queda constante nas<br />
vendas. No contexto nacional, a procura de combustíveis neste conjunto de concelhos representa 0,3% da<br />
procura em Portugal Continental (2005).<br />
Em 2005, a forma de energia com maior peso no consumo<br />
final de energia é o gasóleo (Figura 13), que representa por<br />
si só cerca de 44% do consumo total em Vale do Minho,<br />
enquanto em Portugal Continental foi de 29%.<br />
Em relação ao consumo de energia primária observou-se<br />
que, em 2005, os consumos de energia eléctrica são muito<br />
superiores aos de produtos petrolíferos. Ao nível do<br />
consumo total de energia primária a Comunidade do Vale<br />
do Minho detêm consumos de cerca de <strong>21</strong>% só no sector<br />
dos serviços e doméstico (Edifícios). Já o sector dos<br />
transportes representa 38% do consumo total de energia<br />
primária da Comunidade do Vale do Minho (Figura 14).<br />
Outro dado retirado é que os consumos de energia primária<br />
por habitante da Comunidade do Vale do Minho revelam<br />
uma capitação inferior à média nacional.<br />
Figura 13: Desagregação dos consumos de energia,<br />
2005<br />
2 A Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho é constituída pelos municípios de Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de<br />
Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira. Como a A<strong>21</strong>L do Vale do Minho engloba os municípios anteriores com excepção<br />
de Caminha, sempre que surgir o termo “Comunidade do Vale do Minho” este deverá ser entendido como o conjunto de<br />
municípios da A<strong>21</strong>L do Vale do Minho.
No que concerne à produção de energias renováveis, o Vale do Minho é caracterizado por possuir, nos seus<br />
concelhos, parques eólicos construídos e em construção que o tornarão um dos maiores produtores de energia<br />
renovável em Portugal e na Europa.<br />
Figura 14: Desagregação, por sector, do consumo de energia primária, 2005<br />
Considerando o conjunto de parques eólicos em pleno funcionamento, a produção total anual permitirá à região<br />
ser exportadora de energia eléctrica.<br />
Assim sendo, os principais desafios para a melhoria da eficiência energética passam pelo lado da procura,<br />
nomeadamente no sector dos transportes, serviços e doméstico onde existem diversas medidas de eficiência<br />
energética a executar.<br />
Face a estes dados o PEEAC do Vale do Minho agrupa as medidas estratégicas para o desenvolvimento de<br />
políticas sustentáveis, no domínio da eficiência energética e das alterações climáticas, em dois Eixos<br />
Estratégicos:
Em consonância com os eixos estratégicos fundamentais propostos, foram delineados objectivos específicos e<br />
acções que deverão ter impacto quer na gestão da produção de energia (Supply Side Management), quer na<br />
gestão da procura de energia (Demand Side Management) da Comunidade do Vale do Minho.<br />
Refira-se, no entanto, que as acções no domínio da energia e das alterações climáticas são muito vastas, optandose<br />
por seleccionar e explicitar as acções mais relevantes, as quais constituem objecto das prioridades de<br />
actuação.<br />
Para cada acção, é indicado um conjunto de potenciais parcerias, que tem como função coordenar a intervenção<br />
de outras entidades que actuam ou têm competências nessa matéria. Refira-se que algumas acções interceptam-se<br />
com outras políticas sectoriais e/ou nacionais, o que requer uma articulação entre os diversos domínios e uma<br />
coordenação das diversas intervenções.<br />
Este documento, o PEEAC, corresponde a uma base de trabalho para análise e discussão de eventuais acções a<br />
serem concretizadas pela Agenda <strong>21</strong> na Comunidade do Vale do Minho.<br />
CONCLUSÕES<br />
A inclusão do tema “Energia e Alterações Climáticas” nos processos de implementação de A<strong>21</strong>L aqui analisados<br />
resultou de um processo participativo. As populações identificaram o tema como de extrema importância para o<br />
desenvolvimento local e daí partiu-se para a elaboração de ferramentas de diagnóstico (Matriz Energética) e<br />
ferramentas de trabalho que sustentem e direccionem a estratégia futura a implementar localmente em matéria<br />
energética (Programa Estratégico Transmontano para as Alterações Climáticas e o Plano Estratégico para a<br />
Energia e Alterações Climáticas do Vale do Minho).<br />
Estas ferramentas irão facilitar uma actuação directa nos alvos prioritários, por parte dos agentes decisores e<br />
revelaram ser boas bases de reflexão, no sentido de se seguir estratégias energéticas e de alterações climáticas<br />
sustentáveis baseadas na premissa de “pensar globalmente agir localmente”, um dos princípios da A<strong>21</strong>L.<br />
A elaboração de matrizes energéticas mostrou que estes documentos são importantes instrumentos de apoio à<br />
decisão, para a implementação das respectivas Agendas <strong>21</strong> Locais. As matrizes demonstraram um enorme<br />
potencial para a posterior definição de medidas concretas que visem a melhoria do desempenho energético e<br />
ambiental das suas regiões, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região e para uma melhor gestão<br />
das questões relacionadas com as alterações climáticas.<br />
Na prática o trabalho desenvolvido teve também em conta uma vertente de políticas de consciencialização dos<br />
actores locais, conjugado e orientado para a implementação a nível territorial de estratégias de intervenção<br />
prementes, quer a nível de melhoramento das emissões de GEE, quer da racionalização dos desempenhos<br />
energéticos na região, em suma constituem um instrumento de gestão sustentável e de combate às alterações<br />
climáticas.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
Agenda <strong>21</strong> Local do Nordeste Transmontano, Maio de 2008 - Matriz Energética do Nordeste Transmontano – uma<br />
Ferramenta Contra as Alterações Climáticas.<br />
Agenda <strong>21</strong> Local do Vale do Minho, Fevereiro de 2008 – Matriz Energética do Vale do Minho.<br />
Agenda <strong>21</strong> Local do Vale do Minho, Janeiro de 2008 - Plano Estratégico Para a Energia e Alterações Climáticas do Vale<br />
do Minho 2008-2013.