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01 Vitruvius - Histeo.dec.ufms.br

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Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

1. O arquiteto deve ser dotado com o<<strong>br</strong> />

conhecimento de muitos ramos do saber e<<strong>br</strong> />

variados tipos de aprendizados, pois é por seu<<strong>br</strong> />

julgamento que todo trabalho feito nas outras<<strong>br</strong> />

artes é colocado a teste.<<strong>br</strong> />

Este conhecimento nasce da prática e da teoria.<<strong>br</strong> />

Prática é o exercício contínuo e regular de<<strong>br</strong> />

atividades em que trabalhos concretos são feitos<<strong>br</strong> />

com quaisquer materiais necessários e de acordo<<strong>br</strong> />

com os projetos devidamente representados.<<strong>br</strong> />

Teoria, por outro lado, é a habilidade de<<strong>br</strong> />

demonstrar e explicar aquela hábil produção feita<<strong>br</strong> />

segundo os princípios das proporções.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

2. Segue-se, portanto, que aqueles arquitetos que se<<strong>br</strong> />

esforçaram em adquirir habilidades práticas ou manuais<<strong>br</strong> />

sem uma adequada preparação teórica nunca se<<strong>br</strong> />

tornaram capazes de atingir posições de autoridade<<strong>br</strong> />

correspondente a seus esforços, enquanto aqueles que<<strong>br</strong> />

se apoiaram apenas em teorias e na erudição estiveram<<strong>br</strong> />

obviamente caçando som<strong>br</strong>as sem atinar com a<<strong>br</strong> />

substância de seu ofício.<<strong>br</strong> />

Mas aqueles que conseguiram um completo domínio da<<strong>br</strong> />

teoria e da prática, como homens guarnecidos por todos<<strong>br</strong> />

os lados rapidamente atingiram seus objetivos e<<strong>br</strong> />

detiveram consigo a autoridade de seu ofício.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

3. Em todos os assuntos, mas especialmente na arquitetura, devem-se considerar<<strong>br</strong> />

dois aspectos: a coisa significada, e aquilo que dá à coisa a sua significância. Aquilo<<strong>br</strong> />

que é significado é o objeto do qual nós falamos no momento; e aquilo que lhe dá<<strong>br</strong> />

significância é uma demonstração baseada em princípios científicos. É aparente<<strong>br</strong> />

que, aquele que se acredita arquiteto, deva ser bem preparado nessas duas<<strong>br</strong> />

direções.<<strong>br</strong> />

Ele deve, portanto, ser tão naturalmente dotado quanto aberto ao aprendizado.<<strong>br</strong> />

Nem a habilidade natural sem adequada instrução, nem a instrução desprovida de<<strong>br</strong> />

habilidade natural conseguem perfazer o artista perfeito.<<strong>br</strong> />

Que o arquiteto seja educado, que seja habilidoso com o traço, instruído em<<strong>br</strong> />

geometria, que conheça muito bem a história, que haja aprendido com os filósofos<<strong>br</strong> />

de forma atenta, que entenda música, que tenha algum conhecimento de medicina,<<strong>br</strong> />

que conheça as opiniões dos juristas, que seja familiar com a astronomia e com a<<strong>br</strong> />

teoria dos céus.


4. Saibamos as razões para tudo isso. O arquiteto deve ser um homem educado de<<strong>br</strong> />

modo a deixar a mais duradoura herança em seus tratados. Em segundo lugar, ele deve<<strong>br</strong> />

ter tal conhecimento do desenho de modo a rapidamente representar as o<strong>br</strong>as que<<strong>br</strong> />

projeta.<<strong>br</strong> />

A geometria, também é de grande auxílio em arquitetura, ensinando em particular o<<strong>br</strong> />

uso da régua e do compasso o que nos faz hábeis no desenvolvimento de projetos para<<strong>br</strong> />

edifícios desde suas fundações, e corretamente aplicar o esquadro, o nível e o prumo.<<strong>br</strong> />

Pelo conhecimento da óptica a luz nos edifícios pode ser representada a partir de<<strong>br</strong> />

quaisquer pontos da cúpula celeste.<<strong>br</strong> />

É verdadeiro que através da aritmética o custo total dos edifícios é calculado e são<<strong>br</strong> />

computadas as suas medidas, mas as difíceis questões envolvendo simetria são<<strong>br</strong> />

solucionadas por meio das teorias e métodos da geometria.<<strong>br</strong> />

Grupo: Aline Miranda, Alisson Ribas e Ana Paula Pastorello


No livro, Vitrúvio cita a história das mulheres de Caryae, uma cidade do Peloponeso<<strong>br</strong> />

cujos habitantes tomam o partido do inimigo, a Pérsia, contra a Grécia, e são feitos<<strong>br</strong> />

prisioneiros após sua derrota. E diz que melhor que simplesmente exibi-los em uma<<strong>br</strong> />

única procissão triunfal, os arquitetos “incorporaram imagens destas mulheres em<<strong>br</strong> />

edifícios públicos como sustentadoras da estrutura” de modo que “sentissem o<<strong>br</strong> />

pesado fardo da vergonha, forçadas a pagar o preço por tal deslealdade grave em<<strong>br</strong> />

nome de sua cidade inteira,” e para ser recordado às gerações futuras.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

6. O mesmo ocorreu com os<<strong>br</strong> />

lacedemonianos sob a liderança de<<strong>br</strong> />

Pausanias de Agesipolis, depois de<<strong>br</strong> />

baterem os exércitos persas, infinitos em<<strong>br</strong> />

número, com um pequeno contingente na<<strong>br</strong> />

batalha Platea, cele<strong>br</strong>ando seu glorioso<<strong>br</strong> />

triunfo com o rico espólio do adversário.<<strong>br</strong> />

Com o dinheiro obtido de sua venda,<<strong>br</strong> />

construiram o Pórtico Persa, como<<strong>br</strong> />

monumento ao renome e valor<<strong>br</strong> />

lacedemoniano e um troféu de vitória para a<<strong>br</strong> />

sua posteridade.<<strong>br</strong> />

Nesse pórtico, representaram em relevo os<<strong>br</strong> />

prisioneiros, vestidos em seus costumes<<strong>br</strong> />

bárbaros, sendo arrastados na direção do<<strong>br</strong> />

teto, mostrando como sua arrogância fora<<strong>br</strong> />

devidamente punida, e que os inimigos dos<<strong>br</strong> />

lacedemonianos deveriam temer pelos<<strong>br</strong> />

feitos de sua coragem; seu próprio povo, ao<<strong>br</strong> />

contemplar essa demonstração de seu<<strong>br</strong> />

valor, encorajando por sua própria glória,<<strong>br</strong> />

deveria estar sempre prestes a defender<<strong>br</strong> />

sua independência.


Então, a partir dessa época<<strong>br</strong> />

em muitas o<strong>br</strong>as se colocou<<strong>br</strong> />

estátuas de persas<<strong>br</strong> />

substituindo as colunas,<<strong>br</strong> />

suportando pesadas<<strong>br</strong> />

entablaturas e seus<<strong>br</strong> />

ornamentos - motivo<<strong>br</strong> />

arquitetônico que muito<<strong>br</strong> />

enriqueceu a diversidade de<<strong>br</strong> />

seus trabalhos. Há ainda<<strong>br</strong> />

outras histórias do mesmo<<strong>br</strong> />

tipo, que os arquitetos devem<<strong>br</strong> />

conhecer.


Estes estão entre os preceitos da<<strong>br</strong> />

filosofia. Além disso, a filosofia<<strong>br</strong> />

trata da física (em grego<<strong>br</strong> />

fusiologia), onde um conhecimento<<strong>br</strong> />

mais cuidadoso é necessário dado<<strong>br</strong> />

que os problemas tratados nesse<<strong>br</strong> />

assunto são numerosos e de<<strong>br</strong> />

diversos tipos; como no caso, por<<strong>br</strong> />

exemplo, do abastecimento de<<strong>br</strong> />

água. Pois, nos pontos de tomada<<strong>br</strong> />

de água, nas curvas, e nos lugares<<strong>br</strong> />

onde a água é elevada em nível,<<strong>br</strong> />

correntes de ar formam-se<<strong>br</strong> />

naturalmente em uma ou outra<<strong>br</strong> />

direção; e ninguém que não tenha<<strong>br</strong> />

aprendido os princípios<<strong>br</strong> />

fundamentais de física desde a<<strong>br</strong> />

filosofia será capaz de precaver-se<<strong>br</strong> />

contra os danos que tais correntes<<strong>br</strong> />

podem provocar.<<strong>br</strong> />

Assim, o leitor de Ctesibius ou<<strong>br</strong> />

Arquimedes e os outros autores de<<strong>br</strong> />

tratados do mesmo tipo, não será<<strong>br</strong> />

capaz de apreciá-los a não ser que<<strong>br</strong> />

tenha sido educado nesses<<strong>br</strong> />

assuntos pelos filósofos.


A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

Também m a filosofia deve elevar o<<strong>br</strong> />

espírito do arquiteto, tornando-o<<strong>br</strong> />

menos pretensioso, mas fazendo-o<<strong>br</strong> />

mais cortês, justo e honesto, sem ser<<strong>br</strong> />

avaro. Isto é muito importante, pois<<strong>br</strong> />

nenhum trabalho pode ser<<strong>br</strong> />

corretamente feito sem honestidade<<strong>br</strong> />

e incorruptibilidade. Que o arquiteto<<strong>br</strong> />

não seja ganancioso nem se torne<<strong>br</strong> />

interessado pelas vantagens de<<strong>br</strong> />

receber propinas mas que com<<strong>br</strong> />

dignidade mantenha a sua posição,<<strong>br</strong> />

conquistando uma boa reputação.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

8. O arquiteto também deve conhecer<<strong>br</strong> />

a música, e compreendê-la de modo a<<strong>br</strong> />

dominar a teoria matemática e<<strong>br</strong> />

canônica e além disso ser capaz de<<strong>br</strong> />

afinar as ballistae, as catapultae e os<<strong>br</strong> />

scorpiones, como se fossem<<strong>br</strong> />

instrumentos musicais, na escala<<strong>br</strong> />

certa.<<strong>br</strong> />

Também à direita e à esquerda de<<strong>br</strong> />

suas vigas estão os furos em suas<<strong>br</strong> />

estruturas através dos quais as cordas<<strong>br</strong> />

entrançadas são esticadas por meio de<<strong>br</strong> />

roldanas e barras, sendo que tais<<strong>br</strong> />

cordas não podem ser fixadas e<<strong>br</strong> />

apertadas até que produzam a correta<<strong>br</strong> />

nota sonora, somente audível aos<<strong>br</strong> />

ouvidos do habilidoso profissional;<<strong>br</strong> />

pois os <strong>br</strong>aços do aparelho acionados<<strong>br</strong> />

por essas entrançadas cordas devem,<<strong>br</strong> />

ao ser liberadas, atingir a peça de<<strong>br</strong> />

artilharia juntos e ao mesmo tempo.<<strong>br</strong> />

Fig.1 – Catapulta Fig.2 - Balista<<strong>br</strong> />

Caso não o façam em simultaneidade,<<strong>br</strong> />

não se conseguirá uma trajetória<<strong>br</strong> />

previsível dos projéteis.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

8. O arquiteto também deve conhecer a<<strong>br</strong> />

música, e compreendê-la de modo a dominar a<<strong>br</strong> />

teoria matemática e canônica e além disso ser<<strong>br</strong> />

capaz de afinar as ballistae, as catapultae e os<<strong>br</strong> />

scorpiones, como se fossem instrumentos<<strong>br</strong> />

musicais, na escala certa.<<strong>br</strong> />

Também à direita e à esquerda de suas vigas<<strong>br</strong> />

estão os furos em suas estruturas através dos<<strong>br</strong> />

quais as cordas entrançadas são esticadas por<<strong>br</strong> />

meio de roldanas e barras, sendo que tais<<strong>br</strong> />

cordas não podem ser fixadas e apertadas até<<strong>br</strong> />

que produzam a correta nota sonora, somente<<strong>br</strong> />

audível aos ouvidos do habilidoso profissional;<<strong>br</strong> />

pois os <strong>br</strong>aços do aparelho acionados por essas<<strong>br</strong> />

entrançadas cordas devem, ao ser liberadas,<<strong>br</strong> />

atingir a peça de artilharia juntos e ao mesmo<<strong>br</strong> />

tempo.<<strong>br</strong> />

Caso não o façam em simultaneidade, não se<<strong>br</strong> />

conseguirá uma trajetória previsível dos<<strong>br</strong> />

projéteis.<<strong>br</strong> />

Casa da Musica<<strong>br</strong> />

Portugal, Porto<<strong>br</strong> />

Piano House<<strong>br</strong> />

China


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

9.Também nos teatros são utilizados vasos de<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>onze (em grego hceia), que são colocados em<<strong>br</strong> />

nichos sob as cadeiras, de acordo com a<<strong>br</strong> />

modulação de intervalos musicais, a partir de<<strong>br</strong> />

princípios matemáticos.<<strong>br</strong> />

Esses vasos são arranjados buscando a<<strong>br</strong> />

harmonia musical, e proporcionados com<<strong>br</strong> />

relação ao compasso de uma quarta, uma<<strong>br</strong> />

quinta, uma oitava, e assim por diante, até que<<strong>br</strong> />

se atinja a dupla oitava, de uma tal maneira<<strong>br</strong> />

que, quando a voz de um ator se posta em<<strong>br</strong> />

uníssono com qualquer dessas alturas, seu<<strong>br</strong> />

poder é ampliado, e ela alcançará os ouvidos da<<strong>br</strong> />

audiência com muito maior clareza e doçura.<<strong>br</strong> />

Órgãos hidráulicos e outros instrumentos<<strong>br</strong> />

assemelhados também não podem ser<<strong>br</strong> />

construídos por aqueles que não sejam<<strong>br</strong> />

familiarizados com os princípios da música.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

10. O arquiteto também deve ter conhecimento<<strong>br</strong> />

dos estudos da medicina, ao considerar questões<<strong>br</strong> />

relacionadas ao clima (do grego klimata), ao ar, à<<strong>br</strong> />

salu<strong>br</strong>idade e à insalu<strong>br</strong>idade dos sítios, e ao uso<<strong>br</strong> />

de diferentes águas. Pois, sem essas<<strong>br</strong> />

considerações, a higiene de um edifício não pode<<strong>br</strong> />

ser assegurada.<<strong>br</strong> />

O mesmo se dá com relação aos princípios legais<<strong>br</strong> />

que o arquiteto deve conhecer, como os que se<<strong>br</strong> />

aplicam aos edifícios que possuem paredes<<strong>br</strong> />

comuns, com respeito ao derramamento de água<<strong>br</strong> />

desde calhas ou gárgulas, bem como as leis so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

esgotos, drenos, janelas e suprimento de água.<<strong>br</strong> />

E outras coisas desta sorte devem ser conhecidas<<strong>br</strong> />

pelos arquitetos de modo que, antes de<<strong>br</strong> />

começarem a construir devem ser cuidadosos ao<<strong>br</strong> />

não deixarem pontos omissos ou lapsos a serem<<strong>br</strong> />

resolvidos com os proprietários após a conclusão<<strong>br</strong> />

das o<strong>br</strong>as, e de modo a que, na definição dos<<strong>br</strong> />

contratos de o<strong>br</strong>as, os interesses do contratante,<<strong>br</strong> />

do contratado e seus empregados sejam<<strong>br</strong> />

sabiamente resguardados.


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Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

11. Conseqüentemente, dado que<<strong>br</strong> />

estes estudos são tão vastos em<<strong>br</strong> />

sua extensão, tão enriquecidos e<<strong>br</strong> />

tornados atrativos com tantos<<strong>br</strong> />

diferentes tipos de aprendizado,<<strong>br</strong> />

que eu penso que ninguém tem o<<strong>br</strong> />

direito de se dizer, de súbito,<<strong>br</strong> />

arquiteto, sem ter escalado desde<<strong>br</strong> />

sua juventude os degraus destes<<strong>br</strong> />

estudos, e então, nutrido pelo<<strong>br</strong> />

conhecimento das artes e ciências,<<strong>br</strong> />

ter alcançado as elevações do<<strong>br</strong> />

sagrado solo da arquitetura.


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Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

12. Talvez, para as pessoas inexperientes, pareça fabuloso<<strong>br</strong> />

que a natureza humana possa compreender um tal<<strong>br</strong> />

extraordinário número de estudos, e ainda mantê-los na<<strong>br</strong> />

memória.<<strong>br</strong> />

Ainda assim, a observação de que todos os estudos<<strong>br</strong> />

possuem vínculos comuns de união e associação uns com os<<strong>br</strong> />

outros, levará à compreensão de que possam ser facilmente<<strong>br</strong> />

dominados. Pois uma educação liberal forma um corpo<<strong>br</strong> />

comum, feito desses mem<strong>br</strong>os.<<strong>br</strong> />

Aqueles, portanto, que desde a juventude recebem sua<<strong>br</strong> />

instrução nas várias formas de conhecimento, reconhecem o<<strong>br</strong> />

mesmo caráter em todas as artes, e uma associação entre<<strong>br</strong> />

todos os estudos, podendo ainda mais prontamente<<strong>br</strong> />

compreendê-los todos. Isso é o que levou um dos antigos<<strong>br</strong> />

arquitetos, Pytheos, o cele<strong>br</strong>ado construtor do templo de<<strong>br</strong> />

Minerva em Priene, a dizer em seus Comentários que um<<strong>br</strong> />

arquiteto deveria ser capaz de compreender muito mais em<<strong>br</strong> />

todas as artes e ciências que os homens que, por seus tipos<<strong>br</strong> />

particulares de trabalho, por sua prática, levaram suas<<strong>br</strong> />

delimitadas o<strong>br</strong>as à mais elevada perfeição. Contudo, na<<strong>br</strong> />

realidade, isso não acontece.



Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

Pois um arquiteto<<strong>br</strong> />

não pode pretender ser, nem<<strong>br</strong> />

pode realmente ser, um<<strong>br</strong> />

filólogo como o foi Aristarchus,<<strong>br</strong> />

embora não possa ser iletrado;<<strong>br</strong> />

nem um músico como<<strong>br</strong> />

Aristoxenus, embora não possa<<strong>br</strong> />

ser completamente ignorante<<strong>br</strong> />

da música; nem um pintor<<strong>br</strong> />

como Apelles, embora não<<strong>br</strong> />

possa ser inábil no desenho;<<strong>br</strong> />

nem um escultor como o foi<<strong>br</strong> />

Myron ou Polyclitus, embora<<strong>br</strong> />

não possa ser pouco<<strong>br</strong> />

familiarizado com as artes<<strong>br</strong> />

plásticas; nem tampouco um<<strong>br</strong> />

médico como Hippocrates,<<strong>br</strong> />

embora não possa ser ignorante<<strong>br</strong> />

da medicina; nem em cada uma<<strong>br</strong> />

das outras ciências deva ser proficiente, embora ele não possa ser ignorante delas.<<strong>br</strong> />

Livraria Lello no Porto, em Portugal<<strong>br</strong> />

Pois, em meio a toda essa grande variedade de assuntos, um indivíduo não pode atingir a<<strong>br</strong> />

perfeição em cada em deles, porque dificilmente estará em seu poder compreender e dominar suas teorias<<strong>br</strong> />

gerais.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

14. Da mesma forma não apenas os arquitetos são<<strong>br</strong> />

impedidos de alcançar a perfeição em todos os<<strong>br</strong> />

assuntos, mas mesmo os homens que<<strong>br</strong> />

individualmente praticam especialidades nas<<strong>br</strong> />

artes não atingem o mais elevado ponto de<<strong>br</strong> />

mérito. Se, dentre os artistas que trabalham em<<strong>br</strong> />

um singelo campo das artes, muito poucos em<<strong>br</strong> />

toda uma geração adquirem fama - e ainda<<strong>br</strong> />

assim com grande dificuldade - , como pode um<<strong>br</strong> />

arquiteto, que deve ser competente em muitas<<strong>br</strong> />

artes, atingir não apenas o feito (que, em si, é<<strong>br</strong> />

uma grande maravilha) de não ser deficiente em<<strong>br</strong> />

nenhuma delas, mas ainda ultrapassar todos<<strong>br</strong> />

aqueles artistas que se devotaram com enorme<<strong>br</strong> />

esforço a determinadas artes?


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

15. Fica a parecer, então, que Pytheos cometeu um erro ao<<strong>br</strong> />

não observar que as artes são compostas de duas partes: o<<strong>br</strong> />

trabalho realizado e a sua teoria. Uma dessas partes, o fazer<<strong>br</strong> />

do trabalho, é própria dos homens treinados em assunto<<strong>br</strong> />

específico, enquanto a outra, a teoria, é comum a todos os<<strong>br</strong> />

estudiosos. Por exemplo, para os médicos e para os músicos é<<strong>br</strong> />

comum o rítmico batimento do pulso e a métrica de seu<<strong>br</strong> />

movimento.<<strong>br</strong> />

Mas, havendo uma ferida a ser tratada ou um homem<<strong>br</strong> />

doente a ser salvo do perigo, ninguém chamará um músico,<<strong>br</strong> />

pois o trabalho será apropriado ao médico. Assim também no<<strong>br</strong> />

caso de um instrumento musical, não será o médico mas o<<strong>br</strong> />

músico, o homem a ser chamado a afiná-lo de modo a que os<<strong>br</strong> />

ouvidos encontrem o devido prazer em seus sons.<<strong>br</strong> />

Bárbara Cristine<<strong>br</strong> />

Filgueiras Pereira


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

15.<<strong>br</strong> />

+


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Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

16. Também os astrônomos possuem um campo<<strong>br</strong> />

comum de discussão com os músicos, na harmonia das<<strong>br</strong> />

estrelas e nas concórdias musicais nas tétrades e tríades das<<strong>br</strong> />

quartas e das quintas, e com os geômetras nos assuntos da<<strong>br</strong> />

visão (em grego logoζ optikoζ); e em todas as outras<<strong>br</strong> />

ciências muitos pontos, talvez todos, são comuns, até onde<<strong>br</strong> />

sua discussão seja cabível.<<strong>br</strong> />

Mas a efetiva realização de trabalhos que são levados à<<strong>br</strong> />

perfeição pelas mãos é função daqueles que foram<<strong>br</strong> />

especialmente treinados para lidar com uma das artes.<<strong>br</strong> />

Parece-me que esse artista faz o que é suficiente com sua<<strong>br</strong> />

arte, poupando aquele que em cada assunto possui um<<strong>br</strong> />

amplo conhecimento de suas partes, de seus princípios,<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>etudo aqueles que são indispensáveis para a arquitetura;<<strong>br</strong> />

se este último for requerido para julgar e para expressar sua<<strong>br</strong> />

aprovação no caso desses assuntos ou artes, não será<<strong>br</strong> />

encontrado à nossa disposição. Assim é para os homens<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e os quais a natureza depositou tanta inteligência,<<strong>br</strong> />

agudeza e memória, que eles são capazes de portar um<<strong>br</strong> />

completo conhecimento da geometria, da astronomia, da<<strong>br</strong> />

música, e das outras artes, indo além da função de<<strong>br</strong> />

arquitetos, e tornando-se puros matemáticos. Eles podem<<strong>br</strong> />

até mesmo tomar posições críticas às artes pois muitas são<<strong>br</strong> />

as armas artísticas de que estão guarnecidos. Tais homens,<<strong>br</strong> />

no entanto, são raramente encontrados, ainda que existam<<strong>br</strong> />

de tempos em tempos; por exemplo, Aristarchus de Samos,<<strong>br</strong> />

Philolaus e Archytas de Tarentum, Apollonius de Perga,<<strong>br</strong> />

Eratosthenes de Cyrene, e entre os sábios de Siracusa,<<strong>br</strong> />

Archimedes e Scopinas, que através da matemática e da<<strong>br</strong> />

filosofia natural, desco<strong>br</strong>iram, expuseram e legaram muitos<<strong>br</strong> />

conhecimentos so<strong>br</strong>e a mecânica e so<strong>br</strong>e os relógios de sol.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

17. Dado que, a posse de tais talentos devidos à<<strong>br</strong> />

capacidade natural não é distribuída aleatoriamente às<<strong>br</strong> />

populações de quaisquer nações, mas somente a<<strong>br</strong> />

poucos grandes homens; dado que, acima de tudo, a<<strong>br</strong> />

função do arquiteto requer treinamento em todos os<<strong>br</strong> />

aspectos do conhecimento; e dado que a razão,<<strong>br</strong> />

considerando-se a ampla extensão desses assuntos,<<strong>br</strong> />

impõe que ele deva possuir nem o mais elevado, nem<<strong>br</strong> />

mesmo um moderado conhecimento das artes e<<strong>br</strong> />

ciências, eu requeiro, Caesar, tanto de vós quanto<<strong>br</strong> />

daqueles que venham a ler esses livros que se algo for<<strong>br</strong> />

aqui escrito com pouca atenção às normas<<strong>br</strong> />

gramaticais, que me seja perdoado.


Vitrúvio - Os Dez Livros So<strong>br</strong>e Arquitetura<<strong>br</strong> />

Livro 1 (Capítulo I)<<strong>br</strong> />

A educação do arquiteto<<strong>br</strong> />

Pois não foi como um grande filósofo, nem como<<strong>br</strong> />

eloqüente retórico, nem como um gramático treinado<<strong>br</strong> />

nos mais elevados princípios de sua arte, que me<<strong>br</strong> />

lancei a escrever esta o<strong>br</strong>a, mas como um arquiteto<<strong>br</strong> />

que apenas mergulhou nesses assuntos.<<strong>br</strong> />

Em respeito à eficácia da arte e de suas teorias, eu<<strong>br</strong> />

prometo e espero que nestes volumes, possa<<strong>br</strong> />

indubitavelmente mostrar-me importante não apenas<<strong>br</strong> />

para aqueles que constroem, mas também a todos os<<strong>br</strong> />

estudiosos.

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