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Sapateado, jazz, hip-hop Sapateado - DanceMotion USA

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<strong>Sapateado</strong>, <strong>jazz</strong>, <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong><br />

A dança contemporânea americana evoluiu para vários estilos divergentes.<br />

Cada um deles é único como as línguas o são entre si, no entanto, tal como as<br />

línguas românicas partilham as suas raízes no Latim, estes estilos também<br />

partilham o mesmo ADN. Os géneros do sapateado, <strong>jazz</strong>, e <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> são distintos<br />

entre si, no entanto todos dão um ênfase à música: seja ilustrando ritmicamente<br />

a música de acompanhamento ou, no caso do sapateado, por vezes criando<br />

mesmo a música. Estes três estilos também colocam a ênfase no<br />

entretenimento, seja num sentido mais tradicional de envolver o público numa<br />

base individual ou organizando competições com outros bailarinos, como é<br />

comum no sapateado e no <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>. No entanto, os três apresentam o melhor do<br />

espírito do "melting pot" da Américaem estilos de dança vivos, altamente<br />

interpretativos, físicos e expressivos.<br />

Os três estilos foram em grande parte fundados pelos americanos de<br />

ascendência africana, com vertentes das Ilhas Britânicas. Mas enquanto o<br />

<strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> é uma forma jovem, com início nos anos 70, o sapateado é<br />

relativamente antigo, tendo-se desenvolvido em paralelo com a mudança de<br />

papéis dos afro-americanos durante a sua longa luta pelos direitos civis e<br />

acabando por se ramificar no <strong>jazz</strong> do século XX.<br />

<strong>Sapateado</strong><br />

Na América e com início em meados do século XVII, o sapateado evoluiu a partir<br />

das danças da África Ocidental feitas pelos escravos e com influências das Ilhas<br />

Britânicas, incluindo a dança de sapateado irlandês e a dança de socos inglesa.<br />

As qualidades de ambas as influências geográficas misturaram-se - com ênfase<br />

africano na dinâmica e na fluidez e ênfase britânico na técnica e no trabalho de<br />

pés. As diferentes características predominantes de ambas ainda podem ser<br />

detectadas na ampla variedade das abordagens actuais ao sapateado.<br />

O crescimento do sapateado pode, em parte, ser atribuído à repressão artística.<br />

Uma insurreição de escravos nos anos 30 do século XVIII levou os senhores<br />

esclavagistas brancos a banir o uso de tambores, que eles consideravam ser<br />

uma ferramenta para organizar a revolução. Daí em diante, a criatividade e a<br />

ingenuidade levaram as pessoas a fazerem ritmos com o seu corpo e, mais<br />

especificamente, com os seus pés. No final do século XVIII, eram realizados<br />

concursos de danças jig em “palcos” fabricados com tábuas de madeira,<br />

premiando as rotinas mais elaboradas e os bailarinos mais empolgantes que<br />

mantivessem o equilíbrio.<br />

Os espectáculos de menestréis, muitíssimo populares no início e em meados do<br />

século XIX, apresentavam artistas caucasianos (e mais tarde descendentes de<br />

africanos) com o rosto pintado de preto, simulando um comportamento de negro


e simultaneamente expondo elementos da cultura africana que ganharam<br />

popularidade no Vaudeville quando as políticas dos menestréis caíram em<br />

desuso. William Henry Lane (“Mestre Juba”) actuava em espectáculos de<br />

menestréis, sendo na altura um raro artista negro entre brancos. O espectáculo<br />

de menestréis, que ao mesmo tempo imitava e prestava homenagem à cultura<br />

negra, reflecte um país tumultuoso e jovem com um norte industrial e orientado<br />

pelo capital e com plantações e escravatura no sul. O espectáculo Vaudeville,<br />

que teve o seu arranque na década de 80 do século XIX, incluía uma variedade<br />

de actuações, de monólogos sérios a acrobacias e danças. Foram estabelecidos<br />

diversos circuitos, formando uma rede de teatros nos quais actuações com êxito<br />

podiam fazer tournées de um modo organizado.<br />

Por volta de 1900, a forma de dança era ainda conhecida como clog (socos),<br />

step (passos), buck ou dança buck-and-wing. A sua popularidade crescia,<br />

embora fosse essencialmente segregada. Os teatros formaram redes de<br />

tournées, o que catalisou a disseminação deste género. Uma organização<br />

chamada Theater Owners’ Booking Association (TOBA) associou os teatros e<br />

artistas Vaudeville negros. A popularidade da Broadway também estava a<br />

aumentar, mas seria o Vaudeville a alimentar o legado do sapateado. Esta área<br />

em constante crescimento expandir-se-ia para acolher um conhecimento mais<br />

técnico e uma maior individualidade.<br />

Os artistas mais conhecidos do século XX incluem os Nicholas Brothers (Harold<br />

e Fayard Thomas), cujas acrobacias arrojadas — saltando para palcos divididos<br />

e entre plataformas sobre a banda — deixavam o público sem fôlego. Os pares<br />

de bailarinos surgiram em parte como resultado de uma regra que proibia os<br />

negros de actuarem sozinhos. “Buck and Bubbles,” John “Bubbles” Sublett e<br />

Ford “Buck” Washington distinguiram-se pelos fraques elegantes e pelo<br />

acompanhamento ao piano e eram frequentadores habituais do Harlem’s<br />

Hoofers’ Club, onde tinham lugar danças informais, mas competitivas. Bill<br />

“Bojangles” Robinson era exemplo de um polimento suave e fresco; as suas<br />

danças em escadarias tornaram-se a sua assinatura singular.<br />

Nos anos 30, o Vaudeville estava em declínio, mas a Broadway e os filmes<br />

ganhavam popularidade. Tal significou que números de produção elaborada e<br />

exuberante, criados ao gosto de Busby Berkeley, passaram a ser um gosto<br />

avidamente adquirido pelas audiências, enquanto apresentações de<br />

improvisação mais íntimas foram afastadas do olhar do público. Artistas que<br />

surgiram nessa era continuam a ser ícones do género —Ann Miller, Ray Bolger,<br />

Donald O’Connor, Gene Kelly e, mais indelevelmente, Fred Astaire e a sua<br />

parceira frequente Ginger Rogers.<br />

Kelly e Astaire representaram duas faces do sapateado muito diferentes e<br />

ambas atraentes. Kelly usava vestuário desportivo justo e misturava o sapateado<br />

com os expressivos movimentos do <strong>jazz</strong>, com os seus pliés profundos e braços<br />

flectidos afastados do tronco. Movia-se com uma atitude confiante que parecia


personificar os EUA, como se viu no filme épico a cores, Um Americano em<br />

Paris. As notas de <strong>jazz</strong> encontradas nas rotinas de Kelly cresceram rapidamente<br />

na Broadway e em filme. Astaire, por sua vez, exibia elegância e graça.<br />

Frequentemente envergando um fraque com uma cartola ou uma bengala, era<br />

uma estrela do grande ecrã que evoluiu com facilidade do preto e branco para a<br />

cor. Ginger Rogers era sua parceira frequente; juntos personificavam o romance,<br />

o humor, o optimismo americano e a ingenuidade coreográfica.<br />

O sapateado pode ter-se afastado do olhar do público em meados do século XX,<br />

mas encontrou muitos defensores nas salas de aula e nos festivais. Embora os<br />

passos do sapateado sejam, até certo ponto, codificados e o seu vocabulário<br />

padronizado, sempre foi uma forma de dança individualista, evoluindo<br />

continuamente com cada novo intérprete. Assim, a forma artística foi mantida<br />

viva por praticantes como Jimmy Slyde, Charles “Honi” Coles e John Bubbles. A<br />

geração seguinte incluiu muitas mulheres, como Dianne Walker, Brenda<br />

Bufalino, Lynn Dally e Jane Goldberg, que, através da sua organização Word of<br />

Foot, organizava conferências e mantinha vivas as tradições do género desde o<br />

início dos anos 80.<br />

Pouco tempo depois, uma nova geração de aficionados veria o dançarino de<br />

sapateado americano Gregory Hines confrontar a estrela do ballet russo Mikhail<br />

Baryshnikov no filme Noites Brancas. Os respectivos géneros de dança podiam<br />

ser vistos como indicativos das características das suas nações. Hines<br />

apresentava atletismo, virtuosismo e grande carisma no ecrã. Participou no filme<br />

Jelly’s Last Jam (1992) com o jovem Savion Glover, que inúmeras pessoas<br />

consideram estar entre os melhores bailarinos de sapateado de sempre. Glover<br />

salienta a estrutura musical e o contraponto, desempenhando ritmos cada vez<br />

mais complexos numa grande variedade musical, incluindo a música clássica.<br />

Ganhou um Prémio Tony pela melhor coreografia para o show da Broadway de<br />

1996, Bring in ‘Da Noise, Bring in ‘Da Funk e inspirou outra nova geração.<br />

São organizados festivais em todos os EUA, em especial em cidades como St.<br />

Louis, Chicago e Boston. O Tap Extravaganza, que teve início em 1989, celebra<br />

o Dia Nacional do <strong>Sapateado</strong> e selecciona um bailarino para receber um prémio<br />

anual de conquistas ao longo da vida. Os últimos anos viram surgir uma nova<br />

geração diversificada de bailarinos de sapateado, com floreados estilísticos cada<br />

vez mais individualizados. Nestes incluem-se Max Pollack, Roxanne Butterfly,<br />

Tamango, Dormeshia Sumbry-Edwards, Michelle Dorrance e Jason Samuels<br />

Smith, que aparece ao lado do ícone do sapateado Arthur Duncan na curtametragem<br />

Tap Heat. [na versão web ao clicar em Tap Heat obtém a<br />

<strong>hip</strong>erligação, mas o título não está sublinhado indicando que se trata de uma<br />

<strong>hip</strong>erligação]<br />

Na cultura pop mais ampla, o sapateado tem uma eterna presença na<br />

Broadway, como se viu em recentes espectáculos revivalistas como 42 nd Street<br />

e Anything Goes. Os espectáculos de sapateado irlandês, encabeçados por


Riverdance, revelaram-se muitíssimo populares e podem ser encontradas na<br />

Broadway produções teatrais que apresentam sapateado irlandês. E ambas as<br />

formas podem ocasionalmente ser vistas em alguns dos populares programas<br />

de competição de dança e de talentos da televisão. Na área dos concertos de<br />

dança, companhias como a Jazz Tap Ensemble de Lynn Dally, uma companhia<br />

da 2012 <strong>DanceMotion</strong> <strong>USA</strong>, fazem espectáculos por todo o país e<br />

internacionalmente. O género evoluiu de modo a acomodar tanto as danças<br />

rigorosamente coreografadas como o tipo de improvisação engenhosa que<br />

encontra um paralelismo nos "jams" musicais.<br />

Jazz<br />

De entre o sapateado, o <strong>jazz</strong> e a dança <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>, o <strong>jazz</strong> é o género mais<br />

abrangente em termos de técnica. Tal como a música que lhe deu o nome,<br />

assenta fortemente em interpretações pessoais de ritmo e dinâmica. A árvore<br />

genealógica do <strong>jazz</strong> partilha o seu tronco com o sapateado, que teve início cedo<br />

na história da América, quando os escravos usavam o seu corpo e os pés como<br />

instrumentos de percussão, à medida que os tambores eram banidos por serem<br />

considerados instrumentos de revolução. As danças africanas misturaram-se<br />

com as das Ilhas Britânicas e tinham lugar competições informais. Com algumas<br />

excepções, inicialmente não era permitido aos negros participarem, mas a<br />

popularidade da cultura africana arrancou em finais do século XIX através da<br />

forma dominante de entretenimento, o espectáculo de menestréis.<br />

No início do século XX, ao som de música ragtime, de orquestras de salão e de<br />

grandes bandas, a dança firmou o passo na imaginação, através de revistas<br />

(Darktown Follies, Ziegfeld Follies), clubes (Hoofers Club, Cotton Club, Savoy<br />

Ballroom) e do teatro musical. A revista de 1921 Shuffle Along incluía no seu<br />

elenco Josephine Baker, a qual se tornou uma das maiores estrelas da época.<br />

Danças sociais como o Lindy Hop (mais tarde chamada jitterbug) eram uma<br />

forma de a população ter acesso a este estilo de dança mais livre descoberto<br />

recentemente — de certa forma, para muitos foi uma porta de entrada nas<br />

influências culturais africanas.<br />

O <strong>jazz</strong> e o sapateado eram frequentemente apresentados em filmes, espalhando<br />

a sua popularidade através de estrelas como Bill “Bojangles” Robinson, Fred<br />

Astaire & Ginger Rogers e Gene Kelly. Na Broadway, coreógrafos que<br />

trabalhavam principalmente no ballet clássico e moderno começaram a<br />

coreografar espectáculos, como Agnes De Mille, Donald McKayle, George<br />

Balanchine e Jerome Robbins. Fortes influências do <strong>jazz</strong> continuavam a vir à<br />

superfície em todo o repertório de ballet clássico destes coreógrafos, por<br />

exemplo, posições paralelas e mãos e pés flectidos.


O West Side Story de Robbins foi um sucesso tanto na Broadway (1957) como<br />

no grande ecrã (1961); ganhou 10 Óscares, incluindo o de melhor fotografia e<br />

melhor realização para Robbins e Robert Wise. Em 1995, as suas danças foram<br />

condensadas no West Side Story Suite , para o New York City Ballet, que<br />

continua a apresentá-lo. A companhia tem muitos ballets de Robbins no seu<br />

repertório, incluindo o New York Export, de 1958: Opus Jazz, relançado em<br />

2005. Foi adaptado como filme aclamado pela crítica em 2010, com danças<br />

filmadas em vários locais da cidade de Nova Iorque.<br />

Jack Cole coreografou muitos filmes num estilo marcante que revelava<br />

descontracção, com os seus joelhos profundamente flectidos, mãos moles de<br />

“cachorrinho” e movimentos de braços de ponteiro de bússola. Partilhou ideias<br />

com o movimento de Bob Fosse, que acrescentou detalhes dramáticos —<br />

ombros sensuais e floreados com as ancas e chapéu de coco e bengala. Matt<br />

Mattox, um dos bailarinos de Cole que participou em muito filmes, desenvolveu<br />

uma aula de <strong>jazz</strong> padronizada, segundo a estrutura de uma aula de ballet, e<br />

tornou-se um professor altamente respeitado e influente e um proponente do<br />

estilo.<br />

O crescimento da dança moderna complementou algumas das estirpes mais<br />

líricas do <strong>jazz</strong>. Alvin Ailey estudou e depois participou em espectáculos com<br />

Lester Horton, um professor e coreógrafo muito conhecido, antes de estabelecer<br />

a sua própria companhia em 1958. Ailey combinou alguns dos elementos mais<br />

formais do <strong>jazz</strong> com o ballet, danças africanas e dança moderna para criar um<br />

repertório para a sua companhia, agora de renome internacional, cuja assinatura<br />

é Revelations.<br />

Por volta dessa altura, os estúdios e as escolas de <strong>jazz</strong> estavam em<br />

crescimento. Luigi, sedeado em Nova Iorque, possuía um estilo pulsante e<br />

suave como seda desenvolvido, em parte, como resposta terapêutica a um<br />

grave acidente; as suas aulas atraíam grandes multidões, ainda que o estilo não<br />

se impusesse muito em palco. O estúdio de Phil Black, localizado imediatamente<br />

a norte da Times Square na Broadway, era um ponto de encontro de estudantes<br />

de <strong>jazz</strong>. Gus Giordano, em Chicago, foi um forte defensor do género <strong>jazz</strong>, tendo<br />

escrito a Antologia da Dança Jazz Americana e organizado o Congresso Mundial<br />

de Dança Jazz. Em 1983, Lynn Simonson co-fundou o Dance Space Center em<br />

Nova Iorque, onde o seu estilo de <strong>jazz</strong> fluído e enérgico se tornou popular (o<br />

centro evoluiu para o actualmente denominado Dance New Amsterdam).<br />

O repertório de Twyla Tharp é tão variado e profundo que escapa a<br />

classificações, embora tenha ganhado seguidores durante o tempo dos pósmodernistas<br />

do Judson Church. Algumas das suas danças podem ser descritas<br />

como típicas do <strong>jazz</strong>, com ancas reboladas, atitude duvidosa de beatnik e<br />

síncope musical lúdica. Também criou ballets de grande escala para casas de<br />

ópera e musicais da Broadway de grande sucesso, tais como Movin’ Out.


Lou Conte fundou a Hubbard Street Dance Chicago em 1977; esta tornou-se<br />

uma força respeitada na interpretação de um repertório contemporâneo, com<br />

uma tendência <strong>jazz</strong> e técnica forte. Além das contribuições coreográficas iniciais<br />

de Conte, actualmente exibe um repertório dos principais coreógrafos<br />

internacionais. A Broadway continua a ser um grande repositório de <strong>jazz</strong> de<br />

teatro musical, bem ao gosto de Lynne Taylor-Corbett, Rob Marshall, Graciela<br />

Daniele e Susan Stroman, muitos dos quais realizam e também coreografam.<br />

Muitos coreógrafos contemporâneos incorporam elementos de <strong>jazz</strong> em parte do<br />

seu repertório, como Lar Lubovitch e Trey McIntyre, um artista do 2012<br />

<strong>DanceMotion</strong> <strong>USA</strong>.<br />

Michael Jackson era uma estrela pop desde criança, mas quando a MTV<br />

finalmente acedeu a mostrar os seus vídeos (antes não apresentavam artistas<br />

negros), o género arrancou. Os seus vídeos musicais de "Beat It," "Billie Jean," e<br />

"Thriller" foram sucessos gigantescos, em parte graças à sua dança magnética,<br />

com inspirações em Bob Fosse e outros artistas de <strong>jazz</strong>. Com a recente<br />

explosão de dança nos "reality shows" da televisão, tais como So You Think You<br />

Can Dance (Achas que Sabes Dançar), a dança "contemporânea” tornou-se um<br />

subgénero do <strong>jazz</strong>. Consiste mais ou menos numa mistura de estilos modernos<br />

e de <strong>jazz</strong> — líricos, com dificuldade técnica, com grandes saltos e múltiplos giros<br />

e infundidos com emoção dramática, realizados por coreógrafos como Mia<br />

Michaels. Estúdios de dança como o Broadway Dance Center acrescentaram<br />

este género às suas ofertas de classes, lado a lado com os estilos já<br />

estabelecidos.<br />

A Broadway tem sido um local habitual para os coreógrafos de <strong>jazz</strong>, mas vários<br />

coreógrafos conhecidos de outros géneros tiveram grande sucesso<br />

recentemente — Bill T. Jones, que surgiu nos anos 80 como coreógrafo pósmoderno,<br />

e Karole Armitage, conhecida pelo seu ballet punk, para citar dois<br />

deles. Aquilo que todos estes artistas partilham é o desejo de comunicar e<br />

entreter através da dança ao som de, ou em síncope com a, música rítmica.<br />

Hip-<strong>hop</strong><br />

A dança <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> surgiu como uma vertente de um movimento maior que era<br />

constituído por quatro elementos: os DJ's, MC's, o breakdance e o grafiti. Teve<br />

as suas raízes no Bronx, onde o DJ Kool Herc, usando alguns gira-discos e um<br />

misturador, arrancava as quebras em discos de funk e repetia estes segmentos<br />

de amostras de percussão em longo ciclos repetitivos. Os bailarinos<br />

desenvolveram passos especiais para acompanhar estas quebras e ficaram<br />

conhecidos como b-boys ou b-girls, sendo o “b” de break (quebra).


Em festas de dança isso tornou-se tão popular que acabaram por se deslocar<br />

para o exterior, para parques; as exortações de Kool Herc e as mensagens e<br />

rimas para os bailarinos e para os frequentadores das festas foram<br />

fundamentais para o início do rap, que evoluiu à medida que os MC's<br />

desenvolveram estilos e assuntos temáticos próprios. Frequentemente a letra<br />

exprimia opiniões políticas ou frustração decorrente do movimento dos direitos<br />

civis. Mais tarde, os artistas tomaram liberdade para personalizar o rap de forma<br />

a reflectir escolhas de estilos de vida que surgiam da obtenção de sucesso<br />

lucrativo na indústria da música.<br />

O DJ Afrika Bambaataa cunhou o termo “<strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>”, que começou a surgir na<br />

década de 70, quando a cidade de Nova Iorque, particularmente o Bronx, era<br />

comandada pelo crime e se encontrava em degradação. O Bronx parecia e<br />

tornara-se mesmo uma zona de guerra devido às drogas e gangues. Mas sem<br />

uma certa atitude de ausência de lei e o abandono da cidade pelas classes<br />

média e empresarial, as sementes que se transformaram no <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> poderiam<br />

nunca ter encontrado terreno fértil. A juventude inquieta que não tinha saída<br />

encontrou um escape expressivo e um sentido de comunidade nos diversos<br />

géneros do <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>. Aquilo que poderia ter-se manifestado como violência<br />

muitas vezes tornou-se uma competição entre artistas, embora a violência brutal<br />

continuasse a estar presente no mundo da música.<br />

O grafiti cobriu as carruagens do metropolitano por fora e por dentro, e os<br />

"taggers" (autores de grafitis que consistem em assinaturas) competiam uns com<br />

os outros para ver quem tinha mais domínio. Desenvolviam estilos individuais<br />

que se tornaram instantaneamente reconhecíveis de longe, muitas vezes<br />

representando letras grandes, arredondadas e coloridas e imagens de<br />

assinatura como personagens de banda desenhada ou gráficas. Reflectia as<br />

guerras de territórios travadas pelos gangues nas ruas, mas de um modo muito<br />

menos sangrento, ainda que o grafiti constituísse uma forma de destruição da<br />

propriedade. Mas em parte graças a uma galeria do Bronx com uma forma de<br />

pensar progressista chamada Fashion Moda, o grafiti passou das carruagens do<br />

metropolitano para as paredes das galerias. Muitos dos principais praticantes<br />

tornaram-se celebridades, como Futura 2000, Keith Haring e Dondi. Esta<br />

mudança — passar de manifestação visual de uma batalha de territórios travada<br />

na rua à comodidade comercializada internacionalmente em troca de grandes<br />

somas de dinheiro — ecoaria pelas formas mais populares de <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>,<br />

particularmente a música.<br />

As batidas agressivas e repetitivas tocadas pelos DJ's conduziam a competições<br />

nas pistas de dança entre b-girls e b-boys, que improvisavam e tentavam<br />

impressionar as multidões com os seus melhores passos. O estilo começou em<br />

pé com o "top rocking", um passo básico de cruzar e saltar que dá uma<br />

aparência de movimento, mas sem sair do lugar, como o exigiam os espaços<br />

confinados do círculo (ou cifra). A necessidade de permanecer basicamente no


mesmo sítio forçou os bailarinos de <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> a usar a criatividade para fazer<br />

parecer que está a acontecer algum movimento. Acrescentaram o "popping" e<br />

"locking" (ou "smurfing") e movimentos de robô com paragens exageradas e<br />

poses imóveis. Um dos primeiros grupos e mais conhecidos foi o Rock Steady<br />

Crew, formado em 1977.<br />

O vocabulário desceu pelo corpo para incluir passos no solo, por vezes<br />

denominados movimentos de pés ou floor rocking, formando "freezes" (poses<br />

imóveis suportadas pelas mãos e com os pés no ar) e giros. Os giros<br />

começavam na cabeça com rotações simples (lápis), aumentando de velocidade<br />

e de voltas. Os bailarinos giravam sobre o traseiro, acabando por girar sobre as<br />

costas como tartarugas de pernas para o ar, rodando múltiplas vezes para dar<br />

um efeito estonteante ou fazendo moinhos impressionantes em que as pernas<br />

cortavam o ar. Outras formas de dança influenciaram o género, incluindo o<br />

sapateado e a capoeira, a forma brasileira derivada das artes marciais em que<br />

os praticantes usam todos os membros igualmente e estão tantas vezes em<br />

posição invertida como em posição vertical. O contingente da costa oeste<br />

desenvolveu os seus próprios estilos distintos como o "popping", o "strutting" e o<br />

"krumping".<br />

Na sua maioria, essas danças não eram vistas habitualmente nos teatros<br />

tradicionais, onde a dança moderna, o ballet e o sapateado eram apresentados.<br />

A partir da década de 80, começaram a ser vistas variações da dança de <strong>hip</strong><strong>hop</strong><br />

em plataformas amplas. O estilo de Michael Jackson, tremendamente<br />

popularizado pelos seus vídeos musicais na MTV, era mais baseado no <strong>jazz</strong>,<br />

mas abriu caminho a outros artistas negros e as suas danças em grupo foram<br />

precursoras de algumas das "crews" de <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> de hoje, que realizam rotinas<br />

elaboradas e dramáticas, as quais requerem uma sincronização precisa. Hoje<br />

em dia, os festivais e competições vão buscar artistas a todo o mundo.<br />

Uma versão comercial muito divulgada de <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> foi vista no programa de<br />

televisão de variedades e sketchs In Living Color. O programa utilizava um grupo<br />

regular de “fly dancers” que apresentavam sequências rápidas de dança e<br />

incluíam futuras estrelas como Jennifer Lopez. Embora a coreografia variasse<br />

muito e, por vezes, passasse pela dança <strong>jazz</strong> ou moderna, os números incluíam<br />

frequentemente uma fisicalidade arrojada, trabalhos de pés saltitantes e<br />

combinações que permaneciam no mesmo lugar, como o <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>. Os músicos<br />

pop começaram a incluir danças semelhantes como atracções regulares em<br />

concertos realizados em estádios.<br />

Nos anos 90, formaram-se grupos que seguiam mais um padrão segundo as<br />

linhas das companhias de dança moderna. A Rennie Harris Puremovement, uma<br />

companhia da 2012 <strong>DanceMotion</strong> <strong>USA</strong> fundada em Filadélfia, Pensilvânia, em<br />

1992, apresentava passos rápidos e movimentos atléticos num espaço de teatro.<br />

Em anos recentes, Harris foi contratada pelo Alvin Ailey American Dance<br />

Theater, levando o <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> a um dos mais respeitados repertórios de dança


contemporânea. Ana "Rokafella" Garcia aventurou-se num mundo<br />

principalmente dominado pelo sexo masculino, ganhando fãs fiéis nos seus<br />

espectáculos; fez recentemente um filme, All the Ladies Say, sobre seis<br />

mulheres que dançavam break.<br />

A Compagnie Kafig, uma companhia francesa fundada em 1996, foi uma das<br />

principais apresentadoras de <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> em teatros tradicionais e incorporou rotinas<br />

de dança com um contexto dramático, apoiado por um envolvimento teatral.<br />

Vários indivíduos também se distinguiram nessa área. Danny Hoch, um artista<br />

de espectáculos que se estabeleceu em teatros na "downtown" da cidade de<br />

Nova Iorque, organizou um festival de dança <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>. Bill Shannon dança com<br />

canadianas, acrescentando uma nova dimensão ao <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>. E do Brasil chega o<br />

Grupo de Rua, que mantém a aspereza da rua nas suas produções<br />

conceptualmente ambiciosas e elaboradas. E pode ser visto em programas<br />

televisivos de competição, tais como o America’s Best Dance Crew e, de forma<br />

relativamente comercial, So You Think You Can Dance (Achas que Sabes<br />

Dançar). Como o filme Planet B-Boy documenta, o <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> tornou-se um<br />

fenómeno mundial.<br />

O <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong>, em todas as suas manifestações, evoluiu em duas vertentes e<br />

continua a provocar grandes debates. A sua música e rap desenvolveram-se a<br />

ponto de se tornarem um negócio, por vezes, tremendamente lucrativo, em que<br />

muitos artistas criticam o seu próprio sucesso, para o melhor e para o pior,<br />

simbolizado pelo materialismo. Ainda há proponentes das suas origens, que se<br />

concentravam nos direitos civis e na condição dos afro-americanos. O<br />

surgimento do grafiti conheceu o seu pico há muito tempo, mas sofreu um<br />

grande crescimento durante o qual alguns artistas beneficiaram grandemente,<br />

enquanto outros passaram despercebidos.<br />

Contrastantemente, a dança <strong>hip</strong>-<strong>hop</strong> teve de longe muito menos oportunidades<br />

de capitalizar os seus artistas do que a música ou o rap. É possível que tenha<br />

permanecido num estado mais puro, imune às tentações que as riquezas podem<br />

trazer. E o sucesso da sua transição das ruas e clubes para o teatro de cena é<br />

ainda discutível. No entanto, continua a ser praticado pelo povo - no<br />

metropolitano, na Times Square, onde mantém o apelo de autenticidade com<br />

que nasceu, em teatros, competições e clubes.<br />

—Susan Yung


Referências<br />

Chang, Jeff. Can’t Stop Won’t Stop. 2005, St. Martin’s Press, New York<br />

http://www.daveyd.com/historyphysicalgrafittifabel.html<br />

Giordano, Gus (author/editor), Anthology of American Jazz Dance. 1978, Orion<br />

Publishing House, Evanston, IL.<br />

Malone, Jacqui. Steppin’ on the Blues, 1996, University of Illinois Press, Urbana<br />

and Chicago.<br />

Sommer, Sally R. “Tap Dance,” in International Encyclopedia of Dance, Vol. 6,<br />

ed. Selma Jeanne Cohen. New York: Oxford University Press, 1998, pgs. 95-<br />

104.<br />

Stearns, Marshall & Jean. Jazz Dance: The Story of American Vernacular<br />

Dance. 1994, Da Capo, New York.<br />

Valis Hill, Constance. Tap Dancing America: A Cultural History. 2010, Oxford<br />

University Press, New York

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