Os municÃpios e as polÃticas públicas de segurança: Uma ... - Dilemas
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1. As relações entre o po<strong>de</strong>r central e os po<strong>de</strong>res locais<br />
Em meados do século XIX, época <strong>de</strong> vigência do chamado<br />
Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador, encarnado na figura do imperador,<br />
<strong>de</strong>u-se um esforço no sentido <strong>de</strong> promover uma maior<br />
centralização do po<strong>de</strong>r. O Br<strong>as</strong>il vivia a ameaça <strong>de</strong> perda <strong>de</strong><br />
território e o espectro <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> rebeliões intern<strong>as</strong>. Havia a<br />
procura <strong>de</strong> maior expressão por parte dos po<strong>de</strong>res locais,<br />
herança dos tempos coloniais, marcados pela ocupação <strong>de</strong><br />
terr<strong>as</strong> por meio da força dos mais po<strong>de</strong>rosos.<br />
Como na época não havia sequer um exército <strong>de</strong> linha<br />
suficiente para <strong>as</strong>segurar a or<strong>de</strong>m e a unida<strong>de</strong> territorial,<br />
foi criada a Guarda Nacional, conce<strong>de</strong>ndo-se títulos militares<br />
aos homens <strong>de</strong>signados a comandá-la, conforme a<br />
condição social <strong>de</strong> cada um. <strong>Os</strong> donos <strong>de</strong> terr<strong>as</strong>, latifundiários,<br />
receberam então o título <strong>de</strong> coronel da Guarda Nacional,<br />
que estava submetida ao po<strong>de</strong>r central. A criação<br />
<strong>de</strong>ssa guarda visava permitir a esse po<strong>de</strong>r central, ao Estado,<br />
o controle sobre os po<strong>de</strong>rosos, acabando, <strong>de</strong>ssa forma,<br />
com o mandonismo local – e, ao mesmo tempo, reforçava o<br />
exército <strong>de</strong> linha na <strong>de</strong>fesa do território. As relações entre<br />
os po<strong>de</strong>res locais e o po<strong>de</strong>r central e su<strong>as</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dominação<br />
já foiram tema <strong>de</strong> vários estudos no campo d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong><br />
sociais e remetem ao período imperial da história do<br />
país (QUEIROZ, 1970; AMORIM, 1975; LEAL, 1993).<br />
A longo prazo, porém, a iniciativa mostrou-se contraproducente.<br />
Victor Nunes Leal (1993), falando já do Br<strong>as</strong>il<br />
republicano do início do século XX, analisa com profundida<strong>de</strong><br />
o fenômeno do coronelismo, tributário <strong>de</strong>ssa época,<br />
da criação da Guarda Nacional. O que ocorre é que<br />
o coronelismo – um tipo <strong>de</strong> mandonismo local – n<strong>as</strong>ceu<br />
dos coronéis da Guarda. O movimento ocorrido no Br<strong>as</strong>il<br />
como uma tentativa <strong>de</strong> centralizar o po<strong>de</strong>r e o controle do<br />
Estado em meados do século XIX acabou, <strong>de</strong> forma contraditória,<br />
gerando uma espécie <strong>de</strong> reforço extralegal do<br />
po<strong>de</strong>r para on<strong>de</strong> fora <strong>de</strong>scentralizado. Ou seja, criam-se<br />
novos centros, ou nov<strong>as</strong> concentrações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, em pesso<strong>as</strong><br />
que p<strong>as</strong>saram a disputar o po<strong>de</strong>r com outr<strong>as</strong>, a el<strong>as</strong><br />
similares. Primeiro em pequen<strong>as</strong> concentrações, como no<br />
c<strong>as</strong>o dos coronéis, que vão ampliando seus po<strong>de</strong>res, agregando<br />
outr<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> sob seu comando.<br />
82 DILEMAS <strong>Os</strong> municípios e <strong>as</strong> polític<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança Marcos Veríssimo