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LAZER E ESPORTES NA NATUREZA: IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS.<br />

RESUMO:<br />

MIRLEIDE CHAAR BAHIA/UNIMEP ∗<br />

MESTRANDA EM EDUCAÇÃO FÍSICA<br />

Profª. Dra. TANIA MARA VIEIRA SAMPAIO/UNIMEP ∗<br />

O ritmo e as condições de vida nos grandes centros urbanos, o excesso de<br />

trabalho, o estresse no tráfego, a preocupação com a violência, mostram-se ape<strong>na</strong>s como<br />

alguns dos fatores que vêm fazendo com que sejam procuradas alter<strong>na</strong>tivas para aliviar<br />

as tensões, como a prática de <strong>esportes</strong> de aventura e outros tipos de atividades de lazer<br />

relacio<strong>na</strong>das, principalmente, ao contato e integração com a <strong>na</strong>tureza. Essa prática,<br />

quando mal orientada, pode vir a causar uma série de <strong>impactos</strong> tanto <strong>na</strong>s comunidades<br />

envolvidas, quanto no ambiente <strong>na</strong>tural em que se realizam. Assim, a importância de<br />

verificar a quantidade de eventos, competições e grupos que realizam este tipo de<br />

atividade, bem como apontar alguns <strong>impactos</strong> sócio-<strong>ambientais</strong> possíveis de serem<br />

causados com esta prática e alguns procedimentos pertinentes, tor<strong>na</strong>-se essencial para a<br />

adoção de atitudes mais crítico-criativas, conscientes e sustentáveis do lazer realizado<br />

<strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a bibliográfica, tendo como<br />

fontes livros, revistas especializadas, sites, artigos, entre outros.Apresentando como<br />

resultados um levantamento da quantidade de eventos e grupos diretamente<br />

relacio<strong>na</strong>dos a este tipo de prática no Estado do Pará, com a elaboração de um mapa,<br />

identificando áreas de intenso “uso” e apontando, não ape<strong>na</strong>s os <strong>impactos</strong> sócio<strong>ambientais</strong><br />

causados pela prática de diversas modalidades esportivas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, como<br />

alguns procedimentos básicos para uma prática sustentável do lazer em áreas <strong>na</strong>turais.<br />

INTRODUÇÃO:<br />

O processo de industrialização, típico de sociedades capitalistas, e a<br />

supervalorização do progresso técnico-científico vêm cada vez mais causando um<br />

distanciamento progressivo e contínuo <strong>na</strong> relação ser humano-<strong>na</strong>tureza, o que reflete <strong>na</strong>s<br />

práticas cotidia<strong>na</strong>s das pessoas e, mais especificamente, em atividades motoras,<br />

esportivas e de lazer relacio<strong>na</strong>das à <strong>na</strong>tureza.<br />

Para Tubino (1994, p. 24), “a impressão que se tem é que esta chamada para<br />

assuntos ecológicos tem muita relação com a criação destas modalidades esportivas<br />

ligadas à <strong>na</strong>tureza”. E complementa que até mesmo algumas modalidades mais antigas,<br />

∗ Rua Alferes José Caetano 1745-Ed. Saint Paul, aptº 82- Piracicaba-SP-mirla@amazon.com.br/(19)3433-<br />

7286<br />

∗ tsampaio@unimep.br/(19)34241510


como o montanhismo, surgem rejuvenescidas e com um número de adeptos cada vez<br />

maior.<br />

Alguns meios de comunicação veiculam propagandas e programas voltados<br />

exclusivamente ao incentivo e ao consumo de <strong>esportes</strong> de ação, de aventura e ligados à<br />

<strong>na</strong>tureza. Percebemos a grande e decisiva participação da televisão como fi<strong>na</strong>nciadora<br />

de competições esportivas e promotora de profissio<strong>na</strong>lismo que se faz presente<br />

atualmente nos ‘<strong>esportes</strong> radicais’, transformando o espetáculo esportivo em um<br />

produto de consumo. (FERNANDES, 1998, p. 103).<br />

Segundo Fer<strong>na</strong>ndes (1998, p. 96), a maioria das informações existentes acerca<br />

do que a autora denomi<strong>na</strong> de “<strong>esportes</strong> radicais” “limitam-se ape<strong>na</strong>s a tratar de técnicas<br />

ou descrições de eventos e competições ocorridas”. É provável que as dificuldades em<br />

situar conceitualmente tais termos, causando confusões interpretativas, se devam ao que<br />

Parlebás (1987, p.42) cita como “uma proliferação de técnicas, métodos e práticas, cada<br />

ano surgindo novas práticas desportivas: wind-surf, asa-delta, bicicross, hockey<br />

subaquático”. E acrescenta: “nesta proliferação, a Educação Física se fragmenta até o<br />

infinito, é vítima de modas fugitivas e perde toda a unidade”.<br />

Muitos eventos se destacam com a perspectiva de colocar em evidência a relação<br />

esporte-<strong>na</strong>tureza; em um deles, os “Jogos Mundiais da Natureza”, “a idéia principal é a<br />

de que não deve haver <strong>esportes</strong> “urbanos”, nem <strong>esportes</strong> do programa olímpico e nem<br />

<strong>esportes</strong> em lugares fechados onde destruiria a idéia da <strong>na</strong>tureza”. As modalidades<br />

seguintes são estabelecidas como <strong>esportes</strong> integrantes da primeira edição dos Jogos<br />

Mundiais da Natureza: Balonismo, Pára-quedismo, Canoagem de travessia, Rafting,<br />

Slalom, Pesca, Vela, Orientação com Arco, Golfe, Escalada, Ciclismo, Hipismo e<br />

Triatlon (MARCHI, K. e MARCHI JÚNIOR, 1999, p. 7).<br />

Sabe-se, no entanto, que algumas das modalidades descritas acima também são<br />

classificadas como <strong>esportes</strong> radicais, por terem características que Parlebás (1987)<br />

descreve como “atividades abertas ou de risco imprevisível”. Em estudos de análise<br />

sobre <strong>esportes</strong> radicais <strong>na</strong> mídia, Cavalcanti e Dantas (1999) focalizam matérias da<br />

Revista Boa Forma, de modo que uma das categorizações feitas seria a de separar as<br />

práticas corporais realizadas em ambientes <strong>na</strong>turais daquelas realizadas em ambientes<br />

artificiais. As práticas esportivas realizadas em ambientes <strong>na</strong>turais, muitas vezes por não<br />

apresentarem sustentabilidade e respeito ao Meio Ambiente, passam a fazer parte das<br />

preocupações atuais, como citam Cavalcanti e Dantas (1999).<br />

Esse aumento das práticas corporais em ambientes <strong>na</strong>turais, porém não significa<br />

que o enfoque dado à questão ambiental esteja crescendo de maneira totalmente<br />

adequada quando a mesma é vista junto a essas práticas. A questão da preservação<br />

ambiental não é comumente mencio<strong>na</strong>da, havendo uma pura e simples utilização do<br />

ambiente <strong>na</strong>tural, que se não é predatória, tampouco é de precaução quanto aos<br />

problemas <strong>ambientais</strong> (CAVALCANTI e DANTAS, 1999).<br />

A utilização do meio ambiente para práticas de <strong>esportes</strong> e lazer requer pensar<br />

nos preceitos citados por Boff (1999), centralizando argumentos como o de que cuidar


do ser (a <strong>na</strong>tureza dentro-ecologia interior) é também cuidar da <strong>na</strong>tureza (ecologia social<br />

e ambiental).<br />

Embora diversos e advindos de tradições diferentes, alguns preceitos<br />

éticos alimentarão um propósito comum de salvaguardar o planeta e<br />

assegurar as condições de desenvolvimento e co-evolução do ser<br />

humano rumo a formas cada vez mais coletivas, mais interiorizadas e<br />

espiritualizadas de realização da essência huma<strong>na</strong>. (BOFF, 1999, p.27)<br />

Para o entendimento dialético sobre ser humano-esporte-lazer-<strong>na</strong>tureza, faz-se<br />

necessário compreender conceitos, classificações, categorias, ou seja, esmiuçar as raízes<br />

de concepções justapostas e interligadas ao tema, a fim de obter um melhor<br />

esclarecimento, não ape<strong>na</strong>s em nível teórico-conceitual, mas também de possíveis<br />

<strong>impactos</strong> que a forma não-sustentável de planejamento e prática desses <strong>esportes</strong> é capaz<br />

de produzir no meio ambiente.<br />

METODOLOGIA:<br />

A metodologia utilizada foi a bibliográfica, tendo sido efetuada por meio de<br />

consultas a livros, revistas, artigos, a<strong>na</strong>is de Encontros/Congressos, sites da internet,<br />

entre outros (SEVERINO, 2000).<br />

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:<br />

A perspectiva de uma vida urba<strong>na</strong> pós-industrial sobrecarregada por aspectos<br />

negativos do desenvolvimento desenfreado dos grandes centros urbanos (poluição<br />

sonora, poluição ambiental, espaços de lazer inexistentes ou mal utilizados), tem feito<br />

com que uma parcela significativa de pessoas busque uma reaproximação com o meio<br />

ambiente através de práticas de lazer <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />

Figueiredo aponta algumas fases de relacio<strong>na</strong>mento do Turismo com o Meio<br />

Ambiente, demonstrando que através desta prática de lazer, houve um afastamento e,<br />

atualmente, uma reaproximação ser humano-<strong>na</strong>tureza.<br />

1ª Fase Revelação do<br />

Meio<br />

Ambiente<br />

2ª Fase Caracterizada<br />

pelo Turismo<br />

Elitista<br />

3ª Fase Modificação e<br />

degradação<br />

Fase pioneira, caracterizou-se pela descoberta da <strong>na</strong>tureza e das<br />

comunidades receptoras. Apresenta os primeiros equipamentos<br />

turísticos e a busca do conhecimento e diversão.<br />

Não havia a preocupação com a proteção do meio ambiente, e foi<br />

estimulada a construção de grandes e audaciosos equipamentos. No<br />

entanto, a <strong>na</strong>tureza é domesticada, mas não sofre impacto muito grande<br />

em virtude das limitações das instalações.<br />

Corresponde ao turismo de massa e ocorre a partir dos anos 50, com<br />

apogeu entre 70 e 80. A demanda aumenta, há a saturação de locais<br />

turísticos, urbanização de áreas não urba<strong>na</strong>s e litorâneas. Há um


ápida<br />

4ª Fase Reparação e<br />

Reconciliação<br />

domínio brutal do turismo sobre a <strong>na</strong>tureza e as comunidades<br />

receptoras. Trata-se de uma fase de excessos, com crescimento<br />

desorde<strong>na</strong>do, um período catastrófico para a proteção do meio<br />

ambiente.<br />

Fase <strong>na</strong> qual os gestores do turismo passam a considerar os problemas<br />

do meio ambiente, com a ocorrência maior do chamado ecoturismo ou<br />

turismo ecológico. Baseia-se e apóia-se nos conceitos de<br />

desenvolvimento sustentável em voga <strong>na</strong> sociedade.<br />

Quadro 1:Fases de Relacio<strong>na</strong>mento do Turismo com o Meio<br />

Ambiente/FONTE: FIGUEIREDO (1999, p. 54).<br />

Assim, a crescente expansão de práticas de lazer realizadas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza vem<br />

ganhando adeptos a cada dia, causando uma preocupação em relação aos procedimentos<br />

adotados neste tipo de prática, tanto em relação à utilização do lazer enquanto<br />

“mercadoria”, quanto pelo “uso” indiscrimi<strong>na</strong>do e mal planejado do meio ambiente<br />

<strong>na</strong>tural.<br />

Não há como defender um modelo hegemônico baseado em visões androcêntricas<br />

e antropocêntricas, as quais precisam, urgentemente serem superadas. Assim como não<br />

é possível vivenciar um lazer numa ótica consumista e alie<strong>na</strong>da.<br />

O estudo aqui proposto se alicerça numa compreensão de lazer, historicamente<br />

situado, considerando o tempo e a atitude, defendido por Marcellino como:<br />

Cultura entendida no seu sentido mais amplo, vivenciada,<br />

consumida, ou conhecida no tempo disponível, que requer<br />

determi<strong>na</strong>das características como a livre adesão e o prazer,<br />

propiciando condições de descanso, divertimento e<br />

desenvolvimento tanto pessoal quanto social. MARCELLINO<br />

(2003, p.31)<br />

E possui como noção de cultura o entendimento a partir de uma concepção<br />

antropológica “num conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que,<br />

produzidos socialmente, envolvem simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo<br />

qual a vida social se desenvolve” MACEDO (1979, p.35).<br />

Falar de <strong>Lazer</strong> remete a um campo amplo de possibilidades, as quais<br />

DUMAZEDIER(1980) classifica e distingue segundo os interesses 1 verificados pelas<br />

vivências de lazer, tendo como conteúdos culturais atividades com interesses: artísticos,<br />

intelectuais, manuais, sociais e físicos 2 . O foco deste estudo tem como referência<br />

atividades de caráter físico-esportivo no âmbito do lazer, caracterizadas como “<strong>esportes</strong><br />

de aventura”, as quais acontecem, primordialmente, em meio ambiente <strong>na</strong>tural.<br />

1 O interesse deve ser entendido como o “conhecimento que está enraizado <strong>na</strong> sensibilidade, <strong>na</strong> cultura<br />

vivida” (DUMAZEDIER, 1980, p 36).<br />

2 CAMARGO (1992) acrescenta ainda os interesses turísticos.


DUMAZEDIER (1980) também estabelece três dimensões, as quais se<br />

apresentam como: prático, o conhecimento e a fruição ou assistência propiciada pelo<br />

consumo a um espetáculo. Estando estas interligadas ao nível de envolvimento <strong>na</strong><br />

atividade em questão, podendo estar caracterizados como: elementar (conformismo),<br />

médio (criticidade) e superior (criatividade).<br />

A lógica do mercado estabelece um lazer e um esporte impreg<strong>na</strong>dos de valores<br />

mercadológicos a serem consumidos no tempo disponível (MARCELLINO, 2002) da<br />

população, transformando-os em um “lazer-mercadoria” e um “esporte-mercadoria”, os<br />

quais fazem um “uso instrumental” da <strong>na</strong>tureza. Dentro desta perspectiva, é possível<br />

apontar algumas características observadas <strong>na</strong>s práticas de <strong>esportes</strong> de aventura<br />

atualmente. Muito do que é possível perceber, remete à análise de VEBLEN (1965)<br />

sobre sua tese defendida <strong>na</strong> obra “A Teoria da Classe Ociosa”, <strong>na</strong> qual expõe a<br />

característica consumista e ostentatória do lazer, traduzindo-a como “consumo<br />

conspícuo”.<br />

A forma de obtenção de “status” através da prática de <strong>esportes</strong> de aventura é<br />

comumente detectada através de um “consumismo” de equipamentos esportivos<br />

específicos de alto valor; a compra de vestimentas específicas e seu uso, mesmo que as<br />

mesmas não se destinem à concreta prática do esporte; a compra de automóveis ditos<br />

para “ecosport”.<br />

O “uso” da <strong>na</strong>tureza também é manifestado de forma a demonstrar “status”<br />

quanto à vinculação de termos como: “ecológico”, “ecoturismo”, “turismo ecológico”,<br />

“turismo sustentável”, às práticas e comportamentos, nem sempre tão comprometidos<br />

com tais filosofias.<br />

Assim, VEBLEN (1965) ao caracterizar o “ócio conspícuo”, (lazer em busca de<br />

“status”) como forma de lazer manifestada por uma classe pecuniária (econômica) mais<br />

abastada consegue “flagrar” o consumismo eminentemente característico de sua época,<br />

bastante presente nos tempos modernos.<br />

Compreendendo-se, portanto, as dimensões sociais do esporte e as concepções<br />

de Dumazedier (1980) acerca dos conteúdos culturais do lazer, é possível situar os<br />

<strong>esportes</strong> de que trata o presente estudo <strong>na</strong> perspectiva lúdica, de prazer e de lazer,<br />

classificados por Tubino (1994) como “esporte-participação ou popular” ou mesmo,<br />

como tratam alguns autores, “Esportes de <strong>Lazer</strong>” 3 .<br />

Assim, a causa ecológica surge como compreensão huma<strong>na</strong> de que urge uma<br />

aproximação dialética com o meio ambiente e uma mudança de postura perante a<br />

sociedade, o que vai ao encontro da filosofia defendida por Guattari em seu livro “As<br />

três ecologias”.<br />

3 Jurgen Dieckert, em “Esporte de lazer: tarefa e chance para todos”, defende tal nomenclatura. Além do<br />

referido autor, Pierre Parlebás, em “Perspectivas para uma educação física moder<strong>na</strong>”, discute a<br />

configuração de uma ciência da ação motriz, destacando os campos de investigação, formação e<br />

intervenção, sendo que neste último inclui o “esporte de lazer” (MARCELLINO, 2003, p. 92). Gaya,<br />

Campos e Balbinotte (2000, p. 113) também utilizam o termo “Desporto de <strong>Lazer</strong>”.


Se não se trata mais – como nos períodos anteriores de luta de classe<br />

ou de defesa da “prática do socialismo” – de fazer funcio<strong>na</strong>r uma<br />

ideologia de maneira unívoca, é concebível em compensação que a<br />

nova referência “ecosófica” indique linhas de recomposição das<br />

praxes huma<strong>na</strong>s nos mais variados domínios (...) (GUATTARI, 1990,<br />

p. 15).<br />

E complementa:<br />

Em todas as escalas individuais e coletivas, <strong>na</strong>quilo que concerne<br />

tanto à vida cotidia<strong>na</strong> quanto à reinvenção da democracia – no registro<br />

do urbanismo, da criação artística, do esporte, etc. – trata-se, a cada<br />

vez, de se debruçar sobre o que poderiam ser os dispositivos de<br />

produção de subjetividade, indo no sentido de uma re-singularização<br />

individual e/ou coletiva, ao invés de ir no sentido de uma usi<strong>na</strong>gem<br />

pela mídia, sinônimo de desolação e desespero (GUATTARI, 1990, p.<br />

15).<br />

A compreensão da lógica de Guattari sobre uma “ecosofia” tor<strong>na</strong>r-se o vetor<br />

para onde todas as práticas devam se dirigir é reforçada quando o autor afirma que se<br />

deve somar esforços “<strong>na</strong> busca de uma reinvenção de maneiras do SER no seio do casal,<br />

da família, do contexto urbano, do trabalho, etc.” (1990, p. 16).<br />

O esporte mostra que o ser humano tem procurado dar importância a uma<br />

relação mais profunda e comprometida com aspectos ecológicos e que tem buscado uma<br />

aproximação mais dialética com a <strong>na</strong>tureza por meio da prática de <strong>esportes</strong> classificados<br />

com nomenclaturas diversas: <strong>esportes</strong> radicais, <strong>esportes</strong> de ação, <strong>esportes</strong> de aventura,<br />

<strong>esportes</strong> <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, entre outros.<br />

A impressão que se tem é que esta chamada para os assuntos<br />

ecológicos tem muita relação com a criação destas modalidades<br />

esportivas ligadas à <strong>na</strong>tureza. Até mesmo modalidades mais antigas,<br />

como o montanhismo, parecem rejuvenescidas e o número de adeptos<br />

aumenta a cada dia. Estão surgindo também novos <strong>esportes</strong>, adaptados<br />

de outros, mas agora, com a dependência de um ambiente <strong>na</strong>tural,<br />

como é o caso da corrida de orientação e o “mountain-bike”<br />

(TUBINO, 1994, p. 26).<br />

Apesar da escassez de estudos sobre essa “nova onda”, algumas experiências já<br />

estão sendo sistematizadas 4 e o presente estudo pretende colaborar com o<br />

enriquecimento de dados <strong>na</strong> área, com um olhar focado no “local”, apesar de manter a<br />

percepção no “global”. Assim, as preocupações com a ação huma<strong>na</strong> em ambientes<br />

4 Ver a obra “Juventude, lazer e <strong>esportes</strong> radicais” de Ricardo Uvinha, e a tese de doutorado da profª Vera<br />

Lúcia de Menezes Costa: “Esportes de aventura e risco <strong>na</strong> montanha: uma trajetória de jogo com limites e<br />

incertezas”; Heloísa Turini Bruhs, em suas obras, tem abordado temáticas de meio ambiente e lazer.


<strong>na</strong>turais serão focalizadas mediante o levantamento da quantidade de eventos e grupos<br />

diretamente relacio<strong>na</strong>dos a este tipo de prática no Estado do Pará, com a elaboração de<br />

um mapa, detalhadamente elaborado, capaz de identificar áreas de intenso “uso”.<br />

Também são levantados os <strong>impactos</strong> sócio-<strong>ambientais</strong> de cada modalidade e alguns<br />

procedimentos conscientes , capazes de minimizar tais <strong>impactos</strong>.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS:<br />

Na perspectiva de compreensão dos valores implícitos <strong>na</strong>s vivências físicoesportivas<br />

realizadas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza enquanto conteúdo cultural de lazer, e do<br />

entendimento de uma prática ecologicamente sustentável, há urgência <strong>na</strong> adoção de uma<br />

postura crítico-criativa em relação a este tipo de lazer, bem como a adoção de atitudes<br />

conscientes que possam vir ao encontro de preceitos defendidos pelo “Desenvolvimento<br />

Sustentável” 3 , alicerçados no tripé econômico, ecológico e sócio-cultural.<br />

Assim, os estudos acadêmicos devem estar, minimamente, comprometidos com<br />

a capacidade de rompimento de uma lógica hegemonicamente voltada ao consumismo e<br />

ao conformismo, sendo capazes de denunciar, discutir e apontar alter<strong>na</strong>tivas viáveis<br />

dentro da área de conhecimento da Educação Física.<br />

Desta forma, o presente estudo possuí a intenção de poder contribuir <strong>na</strong>s<br />

discussões a respeito da temática, si<strong>na</strong>lizando interfaces possíveis e caminhos prováveis<br />

a uma prática mais consciente e verdadeiramente comprometida com atitudes críticocriativas<br />

dentro da área específica do lazer realizado <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />

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do Iguaçu, PR, 1999.<br />

3 Desenvolvimento Sustentável vem sendo comumente definido como desenvolvimento que leva em<br />

consideração a finitude dos recursos <strong>na</strong>turais, a sustentabilidade ou durabilidade no uso dos recursos com<br />

vista às gerações futuras. Além da sustentabilidade social, econômica e ecológica, neste conceito de<br />

desenvolvimento é também ressaltada, com propriedade, a sustentabilidade cultural. SACHS apud<br />

COELHO (1999, p. 57),


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