Lazer e esportes na natureza - impactos sócio-ambientais.pdf
Lazer e esportes na natureza - impactos sócio-ambientais.pdf
Lazer e esportes na natureza - impactos sócio-ambientais.pdf
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
LAZER E ESPORTES NA NATUREZA: IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS.<br />
RESUMO:<br />
MIRLEIDE CHAAR BAHIA/UNIMEP ∗<br />
MESTRANDA EM EDUCAÇÃO FÍSICA<br />
Profª. Dra. TANIA MARA VIEIRA SAMPAIO/UNIMEP ∗<br />
O ritmo e as condições de vida nos grandes centros urbanos, o excesso de<br />
trabalho, o estresse no tráfego, a preocupação com a violência, mostram-se ape<strong>na</strong>s como<br />
alguns dos fatores que vêm fazendo com que sejam procuradas alter<strong>na</strong>tivas para aliviar<br />
as tensões, como a prática de <strong>esportes</strong> de aventura e outros tipos de atividades de lazer<br />
relacio<strong>na</strong>das, principalmente, ao contato e integração com a <strong>na</strong>tureza. Essa prática,<br />
quando mal orientada, pode vir a causar uma série de <strong>impactos</strong> tanto <strong>na</strong>s comunidades<br />
envolvidas, quanto no ambiente <strong>na</strong>tural em que se realizam. Assim, a importância de<br />
verificar a quantidade de eventos, competições e grupos que realizam este tipo de<br />
atividade, bem como apontar alguns <strong>impactos</strong> sócio-<strong>ambientais</strong> possíveis de serem<br />
causados com esta prática e alguns procedimentos pertinentes, tor<strong>na</strong>-se essencial para a<br />
adoção de atitudes mais crítico-criativas, conscientes e sustentáveis do lazer realizado<br />
<strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a bibliográfica, tendo como<br />
fontes livros, revistas especializadas, sites, artigos, entre outros.Apresentando como<br />
resultados um levantamento da quantidade de eventos e grupos diretamente<br />
relacio<strong>na</strong>dos a este tipo de prática no Estado do Pará, com a elaboração de um mapa,<br />
identificando áreas de intenso “uso” e apontando, não ape<strong>na</strong>s os <strong>impactos</strong> sócio<strong>ambientais</strong><br />
causados pela prática de diversas modalidades esportivas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, como<br />
alguns procedimentos básicos para uma prática sustentável do lazer em áreas <strong>na</strong>turais.<br />
INTRODUÇÃO:<br />
O processo de industrialização, típico de sociedades capitalistas, e a<br />
supervalorização do progresso técnico-científico vêm cada vez mais causando um<br />
distanciamento progressivo e contínuo <strong>na</strong> relação ser humano-<strong>na</strong>tureza, o que reflete <strong>na</strong>s<br />
práticas cotidia<strong>na</strong>s das pessoas e, mais especificamente, em atividades motoras,<br />
esportivas e de lazer relacio<strong>na</strong>das à <strong>na</strong>tureza.<br />
Para Tubino (1994, p. 24), “a impressão que se tem é que esta chamada para<br />
assuntos ecológicos tem muita relação com a criação destas modalidades esportivas<br />
ligadas à <strong>na</strong>tureza”. E complementa que até mesmo algumas modalidades mais antigas,<br />
∗ Rua Alferes José Caetano 1745-Ed. Saint Paul, aptº 82- Piracicaba-SP-mirla@amazon.com.br/(19)3433-<br />
7286<br />
∗ tsampaio@unimep.br/(19)34241510
como o montanhismo, surgem rejuvenescidas e com um número de adeptos cada vez<br />
maior.<br />
Alguns meios de comunicação veiculam propagandas e programas voltados<br />
exclusivamente ao incentivo e ao consumo de <strong>esportes</strong> de ação, de aventura e ligados à<br />
<strong>na</strong>tureza. Percebemos a grande e decisiva participação da televisão como fi<strong>na</strong>nciadora<br />
de competições esportivas e promotora de profissio<strong>na</strong>lismo que se faz presente<br />
atualmente nos ‘<strong>esportes</strong> radicais’, transformando o espetáculo esportivo em um<br />
produto de consumo. (FERNANDES, 1998, p. 103).<br />
Segundo Fer<strong>na</strong>ndes (1998, p. 96), a maioria das informações existentes acerca<br />
do que a autora denomi<strong>na</strong> de “<strong>esportes</strong> radicais” “limitam-se ape<strong>na</strong>s a tratar de técnicas<br />
ou descrições de eventos e competições ocorridas”. É provável que as dificuldades em<br />
situar conceitualmente tais termos, causando confusões interpretativas, se devam ao que<br />
Parlebás (1987, p.42) cita como “uma proliferação de técnicas, métodos e práticas, cada<br />
ano surgindo novas práticas desportivas: wind-surf, asa-delta, bicicross, hockey<br />
subaquático”. E acrescenta: “nesta proliferação, a Educação Física se fragmenta até o<br />
infinito, é vítima de modas fugitivas e perde toda a unidade”.<br />
Muitos eventos se destacam com a perspectiva de colocar em evidência a relação<br />
esporte-<strong>na</strong>tureza; em um deles, os “Jogos Mundiais da Natureza”, “a idéia principal é a<br />
de que não deve haver <strong>esportes</strong> “urbanos”, nem <strong>esportes</strong> do programa olímpico e nem<br />
<strong>esportes</strong> em lugares fechados onde destruiria a idéia da <strong>na</strong>tureza”. As modalidades<br />
seguintes são estabelecidas como <strong>esportes</strong> integrantes da primeira edição dos Jogos<br />
Mundiais da Natureza: Balonismo, Pára-quedismo, Canoagem de travessia, Rafting,<br />
Slalom, Pesca, Vela, Orientação com Arco, Golfe, Escalada, Ciclismo, Hipismo e<br />
Triatlon (MARCHI, K. e MARCHI JÚNIOR, 1999, p. 7).<br />
Sabe-se, no entanto, que algumas das modalidades descritas acima também são<br />
classificadas como <strong>esportes</strong> radicais, por terem características que Parlebás (1987)<br />
descreve como “atividades abertas ou de risco imprevisível”. Em estudos de análise<br />
sobre <strong>esportes</strong> radicais <strong>na</strong> mídia, Cavalcanti e Dantas (1999) focalizam matérias da<br />
Revista Boa Forma, de modo que uma das categorizações feitas seria a de separar as<br />
práticas corporais realizadas em ambientes <strong>na</strong>turais daquelas realizadas em ambientes<br />
artificiais. As práticas esportivas realizadas em ambientes <strong>na</strong>turais, muitas vezes por não<br />
apresentarem sustentabilidade e respeito ao Meio Ambiente, passam a fazer parte das<br />
preocupações atuais, como citam Cavalcanti e Dantas (1999).<br />
Esse aumento das práticas corporais em ambientes <strong>na</strong>turais, porém não significa<br />
que o enfoque dado à questão ambiental esteja crescendo de maneira totalmente<br />
adequada quando a mesma é vista junto a essas práticas. A questão da preservação<br />
ambiental não é comumente mencio<strong>na</strong>da, havendo uma pura e simples utilização do<br />
ambiente <strong>na</strong>tural, que se não é predatória, tampouco é de precaução quanto aos<br />
problemas <strong>ambientais</strong> (CAVALCANTI e DANTAS, 1999).<br />
A utilização do meio ambiente para práticas de <strong>esportes</strong> e lazer requer pensar<br />
nos preceitos citados por Boff (1999), centralizando argumentos como o de que cuidar
do ser (a <strong>na</strong>tureza dentro-ecologia interior) é também cuidar da <strong>na</strong>tureza (ecologia social<br />
e ambiental).<br />
Embora diversos e advindos de tradições diferentes, alguns preceitos<br />
éticos alimentarão um propósito comum de salvaguardar o planeta e<br />
assegurar as condições de desenvolvimento e co-evolução do ser<br />
humano rumo a formas cada vez mais coletivas, mais interiorizadas e<br />
espiritualizadas de realização da essência huma<strong>na</strong>. (BOFF, 1999, p.27)<br />
Para o entendimento dialético sobre ser humano-esporte-lazer-<strong>na</strong>tureza, faz-se<br />
necessário compreender conceitos, classificações, categorias, ou seja, esmiuçar as raízes<br />
de concepções justapostas e interligadas ao tema, a fim de obter um melhor<br />
esclarecimento, não ape<strong>na</strong>s em nível teórico-conceitual, mas também de possíveis<br />
<strong>impactos</strong> que a forma não-sustentável de planejamento e prática desses <strong>esportes</strong> é capaz<br />
de produzir no meio ambiente.<br />
METODOLOGIA:<br />
A metodologia utilizada foi a bibliográfica, tendo sido efetuada por meio de<br />
consultas a livros, revistas, artigos, a<strong>na</strong>is de Encontros/Congressos, sites da internet,<br />
entre outros (SEVERINO, 2000).<br />
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:<br />
A perspectiva de uma vida urba<strong>na</strong> pós-industrial sobrecarregada por aspectos<br />
negativos do desenvolvimento desenfreado dos grandes centros urbanos (poluição<br />
sonora, poluição ambiental, espaços de lazer inexistentes ou mal utilizados), tem feito<br />
com que uma parcela significativa de pessoas busque uma reaproximação com o meio<br />
ambiente através de práticas de lazer <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />
Figueiredo aponta algumas fases de relacio<strong>na</strong>mento do Turismo com o Meio<br />
Ambiente, demonstrando que através desta prática de lazer, houve um afastamento e,<br />
atualmente, uma reaproximação ser humano-<strong>na</strong>tureza.<br />
1ª Fase Revelação do<br />
Meio<br />
Ambiente<br />
2ª Fase Caracterizada<br />
pelo Turismo<br />
Elitista<br />
3ª Fase Modificação e<br />
degradação<br />
Fase pioneira, caracterizou-se pela descoberta da <strong>na</strong>tureza e das<br />
comunidades receptoras. Apresenta os primeiros equipamentos<br />
turísticos e a busca do conhecimento e diversão.<br />
Não havia a preocupação com a proteção do meio ambiente, e foi<br />
estimulada a construção de grandes e audaciosos equipamentos. No<br />
entanto, a <strong>na</strong>tureza é domesticada, mas não sofre impacto muito grande<br />
em virtude das limitações das instalações.<br />
Corresponde ao turismo de massa e ocorre a partir dos anos 50, com<br />
apogeu entre 70 e 80. A demanda aumenta, há a saturação de locais<br />
turísticos, urbanização de áreas não urba<strong>na</strong>s e litorâneas. Há um
ápida<br />
4ª Fase Reparação e<br />
Reconciliação<br />
domínio brutal do turismo sobre a <strong>na</strong>tureza e as comunidades<br />
receptoras. Trata-se de uma fase de excessos, com crescimento<br />
desorde<strong>na</strong>do, um período catastrófico para a proteção do meio<br />
ambiente.<br />
Fase <strong>na</strong> qual os gestores do turismo passam a considerar os problemas<br />
do meio ambiente, com a ocorrência maior do chamado ecoturismo ou<br />
turismo ecológico. Baseia-se e apóia-se nos conceitos de<br />
desenvolvimento sustentável em voga <strong>na</strong> sociedade.<br />
Quadro 1:Fases de Relacio<strong>na</strong>mento do Turismo com o Meio<br />
Ambiente/FONTE: FIGUEIREDO (1999, p. 54).<br />
Assim, a crescente expansão de práticas de lazer realizadas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza vem<br />
ganhando adeptos a cada dia, causando uma preocupação em relação aos procedimentos<br />
adotados neste tipo de prática, tanto em relação à utilização do lazer enquanto<br />
“mercadoria”, quanto pelo “uso” indiscrimi<strong>na</strong>do e mal planejado do meio ambiente<br />
<strong>na</strong>tural.<br />
Não há como defender um modelo hegemônico baseado em visões androcêntricas<br />
e antropocêntricas, as quais precisam, urgentemente serem superadas. Assim como não<br />
é possível vivenciar um lazer numa ótica consumista e alie<strong>na</strong>da.<br />
O estudo aqui proposto se alicerça numa compreensão de lazer, historicamente<br />
situado, considerando o tempo e a atitude, defendido por Marcellino como:<br />
Cultura entendida no seu sentido mais amplo, vivenciada,<br />
consumida, ou conhecida no tempo disponível, que requer<br />
determi<strong>na</strong>das características como a livre adesão e o prazer,<br />
propiciando condições de descanso, divertimento e<br />
desenvolvimento tanto pessoal quanto social. MARCELLINO<br />
(2003, p.31)<br />
E possui como noção de cultura o entendimento a partir de uma concepção<br />
antropológica “num conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que,<br />
produzidos socialmente, envolvem simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo<br />
qual a vida social se desenvolve” MACEDO (1979, p.35).<br />
Falar de <strong>Lazer</strong> remete a um campo amplo de possibilidades, as quais<br />
DUMAZEDIER(1980) classifica e distingue segundo os interesses 1 verificados pelas<br />
vivências de lazer, tendo como conteúdos culturais atividades com interesses: artísticos,<br />
intelectuais, manuais, sociais e físicos 2 . O foco deste estudo tem como referência<br />
atividades de caráter físico-esportivo no âmbito do lazer, caracterizadas como “<strong>esportes</strong><br />
de aventura”, as quais acontecem, primordialmente, em meio ambiente <strong>na</strong>tural.<br />
1 O interesse deve ser entendido como o “conhecimento que está enraizado <strong>na</strong> sensibilidade, <strong>na</strong> cultura<br />
vivida” (DUMAZEDIER, 1980, p 36).<br />
2 CAMARGO (1992) acrescenta ainda os interesses turísticos.
DUMAZEDIER (1980) também estabelece três dimensões, as quais se<br />
apresentam como: prático, o conhecimento e a fruição ou assistência propiciada pelo<br />
consumo a um espetáculo. Estando estas interligadas ao nível de envolvimento <strong>na</strong><br />
atividade em questão, podendo estar caracterizados como: elementar (conformismo),<br />
médio (criticidade) e superior (criatividade).<br />
A lógica do mercado estabelece um lazer e um esporte impreg<strong>na</strong>dos de valores<br />
mercadológicos a serem consumidos no tempo disponível (MARCELLINO, 2002) da<br />
população, transformando-os em um “lazer-mercadoria” e um “esporte-mercadoria”, os<br />
quais fazem um “uso instrumental” da <strong>na</strong>tureza. Dentro desta perspectiva, é possível<br />
apontar algumas características observadas <strong>na</strong>s práticas de <strong>esportes</strong> de aventura<br />
atualmente. Muito do que é possível perceber, remete à análise de VEBLEN (1965)<br />
sobre sua tese defendida <strong>na</strong> obra “A Teoria da Classe Ociosa”, <strong>na</strong> qual expõe a<br />
característica consumista e ostentatória do lazer, traduzindo-a como “consumo<br />
conspícuo”.<br />
A forma de obtenção de “status” através da prática de <strong>esportes</strong> de aventura é<br />
comumente detectada através de um “consumismo” de equipamentos esportivos<br />
específicos de alto valor; a compra de vestimentas específicas e seu uso, mesmo que as<br />
mesmas não se destinem à concreta prática do esporte; a compra de automóveis ditos<br />
para “ecosport”.<br />
O “uso” da <strong>na</strong>tureza também é manifestado de forma a demonstrar “status”<br />
quanto à vinculação de termos como: “ecológico”, “ecoturismo”, “turismo ecológico”,<br />
“turismo sustentável”, às práticas e comportamentos, nem sempre tão comprometidos<br />
com tais filosofias.<br />
Assim, VEBLEN (1965) ao caracterizar o “ócio conspícuo”, (lazer em busca de<br />
“status”) como forma de lazer manifestada por uma classe pecuniária (econômica) mais<br />
abastada consegue “flagrar” o consumismo eminentemente característico de sua época,<br />
bastante presente nos tempos modernos.<br />
Compreendendo-se, portanto, as dimensões sociais do esporte e as concepções<br />
de Dumazedier (1980) acerca dos conteúdos culturais do lazer, é possível situar os<br />
<strong>esportes</strong> de que trata o presente estudo <strong>na</strong> perspectiva lúdica, de prazer e de lazer,<br />
classificados por Tubino (1994) como “esporte-participação ou popular” ou mesmo,<br />
como tratam alguns autores, “Esportes de <strong>Lazer</strong>” 3 .<br />
Assim, a causa ecológica surge como compreensão huma<strong>na</strong> de que urge uma<br />
aproximação dialética com o meio ambiente e uma mudança de postura perante a<br />
sociedade, o que vai ao encontro da filosofia defendida por Guattari em seu livro “As<br />
três ecologias”.<br />
3 Jurgen Dieckert, em “Esporte de lazer: tarefa e chance para todos”, defende tal nomenclatura. Além do<br />
referido autor, Pierre Parlebás, em “Perspectivas para uma educação física moder<strong>na</strong>”, discute a<br />
configuração de uma ciência da ação motriz, destacando os campos de investigação, formação e<br />
intervenção, sendo que neste último inclui o “esporte de lazer” (MARCELLINO, 2003, p. 92). Gaya,<br />
Campos e Balbinotte (2000, p. 113) também utilizam o termo “Desporto de <strong>Lazer</strong>”.
Se não se trata mais – como nos períodos anteriores de luta de classe<br />
ou de defesa da “prática do socialismo” – de fazer funcio<strong>na</strong>r uma<br />
ideologia de maneira unívoca, é concebível em compensação que a<br />
nova referência “ecosófica” indique linhas de recomposição das<br />
praxes huma<strong>na</strong>s nos mais variados domínios (...) (GUATTARI, 1990,<br />
p. 15).<br />
E complementa:<br />
Em todas as escalas individuais e coletivas, <strong>na</strong>quilo que concerne<br />
tanto à vida cotidia<strong>na</strong> quanto à reinvenção da democracia – no registro<br />
do urbanismo, da criação artística, do esporte, etc. – trata-se, a cada<br />
vez, de se debruçar sobre o que poderiam ser os dispositivos de<br />
produção de subjetividade, indo no sentido de uma re-singularização<br />
individual e/ou coletiva, ao invés de ir no sentido de uma usi<strong>na</strong>gem<br />
pela mídia, sinônimo de desolação e desespero (GUATTARI, 1990, p.<br />
15).<br />
A compreensão da lógica de Guattari sobre uma “ecosofia” tor<strong>na</strong>r-se o vetor<br />
para onde todas as práticas devam se dirigir é reforçada quando o autor afirma que se<br />
deve somar esforços “<strong>na</strong> busca de uma reinvenção de maneiras do SER no seio do casal,<br />
da família, do contexto urbano, do trabalho, etc.” (1990, p. 16).<br />
O esporte mostra que o ser humano tem procurado dar importância a uma<br />
relação mais profunda e comprometida com aspectos ecológicos e que tem buscado uma<br />
aproximação mais dialética com a <strong>na</strong>tureza por meio da prática de <strong>esportes</strong> classificados<br />
com nomenclaturas diversas: <strong>esportes</strong> radicais, <strong>esportes</strong> de ação, <strong>esportes</strong> de aventura,<br />
<strong>esportes</strong> <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, entre outros.<br />
A impressão que se tem é que esta chamada para os assuntos<br />
ecológicos tem muita relação com a criação destas modalidades<br />
esportivas ligadas à <strong>na</strong>tureza. Até mesmo modalidades mais antigas,<br />
como o montanhismo, parecem rejuvenescidas e o número de adeptos<br />
aumenta a cada dia. Estão surgindo também novos <strong>esportes</strong>, adaptados<br />
de outros, mas agora, com a dependência de um ambiente <strong>na</strong>tural,<br />
como é o caso da corrida de orientação e o “mountain-bike”<br />
(TUBINO, 1994, p. 26).<br />
Apesar da escassez de estudos sobre essa “nova onda”, algumas experiências já<br />
estão sendo sistematizadas 4 e o presente estudo pretende colaborar com o<br />
enriquecimento de dados <strong>na</strong> área, com um olhar focado no “local”, apesar de manter a<br />
percepção no “global”. Assim, as preocupações com a ação huma<strong>na</strong> em ambientes<br />
4 Ver a obra “Juventude, lazer e <strong>esportes</strong> radicais” de Ricardo Uvinha, e a tese de doutorado da profª Vera<br />
Lúcia de Menezes Costa: “Esportes de aventura e risco <strong>na</strong> montanha: uma trajetória de jogo com limites e<br />
incertezas”; Heloísa Turini Bruhs, em suas obras, tem abordado temáticas de meio ambiente e lazer.
<strong>na</strong>turais serão focalizadas mediante o levantamento da quantidade de eventos e grupos<br />
diretamente relacio<strong>na</strong>dos a este tipo de prática no Estado do Pará, com a elaboração de<br />
um mapa, detalhadamente elaborado, capaz de identificar áreas de intenso “uso”.<br />
Também são levantados os <strong>impactos</strong> sócio-<strong>ambientais</strong> de cada modalidade e alguns<br />
procedimentos conscientes , capazes de minimizar tais <strong>impactos</strong>.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS:<br />
Na perspectiva de compreensão dos valores implícitos <strong>na</strong>s vivências físicoesportivas<br />
realizadas <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza enquanto conteúdo cultural de lazer, e do<br />
entendimento de uma prática ecologicamente sustentável, há urgência <strong>na</strong> adoção de uma<br />
postura crítico-criativa em relação a este tipo de lazer, bem como a adoção de atitudes<br />
conscientes que possam vir ao encontro de preceitos defendidos pelo “Desenvolvimento<br />
Sustentável” 3 , alicerçados no tripé econômico, ecológico e sócio-cultural.<br />
Assim, os estudos acadêmicos devem estar, minimamente, comprometidos com<br />
a capacidade de rompimento de uma lógica hegemonicamente voltada ao consumismo e<br />
ao conformismo, sendo capazes de denunciar, discutir e apontar alter<strong>na</strong>tivas viáveis<br />
dentro da área de conhecimento da Educação Física.<br />
Desta forma, o presente estudo possuí a intenção de poder contribuir <strong>na</strong>s<br />
discussões a respeito da temática, si<strong>na</strong>lizando interfaces possíveis e caminhos prováveis<br />
a uma prática mais consciente e verdadeiramente comprometida com atitudes críticocriativas<br />
dentro da área específica do lazer realizado <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
BOFF, Leo<strong>na</strong>rdo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ:<br />
Vozes, 1999.<br />
BRUHNS, Heloisa Turini. Visitando a <strong>na</strong>tureza, experimentando intensidades. In: Vasconcelos,<br />
Fábio Perdigão (Org.). Turismo e meio ambiente. Fortaleza, CE: UECE, 1998.<br />
CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. O que é <strong>Lazer</strong>. 3 a ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.<br />
CAVALCANTI, Kátia Brandão; DANTAS, Eduardo Ribeiro. Esportes radicais <strong>na</strong> mídia: um<br />
estudo da revista Boa Forma. In: A<strong>na</strong>is do XI Encontro Nacio<strong>na</strong>l de Recreação e <strong>Lazer</strong>. Foz<br />
do Iguaçu, PR, 1999.<br />
3 Desenvolvimento Sustentável vem sendo comumente definido como desenvolvimento que leva em<br />
consideração a finitude dos recursos <strong>na</strong>turais, a sustentabilidade ou durabilidade no uso dos recursos com<br />
vista às gerações futuras. Além da sustentabilidade social, econômica e ecológica, neste conceito de<br />
desenvolvimento é também ressaltada, com propriedade, a sustentabilidade cultural. SACHS apud<br />
COELHO (1999, p. 57),
COELHO, Maria Célia Nunes. Reflexões sobre ecoturismo <strong>na</strong> Amazônia. In: FIGUEIREDO,<br />
Sílvio Lima (Org.). O ecoturismo e a questão ambiental <strong>na</strong> Amazônia. Belém: UFPA/NAEA,<br />
1999.<br />
COSTA, Vera Lúcia de Menezes. Esportes de aventura e risco <strong>na</strong> montanha: um mergulho<br />
no imaginário. São Paulo: Manole, 2000.<br />
DUMAZEDIER, Joffre . Valores e conteúdos culturais do lazer. Trad. Regi<strong>na</strong> Maria Vieira.<br />
São Paulo: SESC, 1980. (Série <strong>Lazer</strong>)<br />
FERNANDES, R.C. Esportes Radicais: referências para um estudo acadêmico. Conexões:<br />
educação, esporte e lazer. Campi<strong>na</strong>s, SP: v. 1, n. 1, p. 96-105, 1998.<br />
FIGUEIREDO, Sílvio Lima. Ecoturismo e desenvolvimento sustentável: alter<strong>na</strong>tiva para o<br />
desenvolvimento da Amazônia? In: FIGUEIREDO, Sílvio Lima (org). O ecoturismo e a<br />
questão ambiental <strong>na</strong> Amazônia. Belém: UFPA/NAEA, 1999.<br />
GAYA, Adroaldo; CAMPOS, Jorge e BALBINOTE, Carlos. Esporte, história e cultura:<br />
fundamentos de filosofia sobre a <strong>na</strong>tureza do desporto. In: MOREIRA, Wagner Wey e<br />
SIMÕES, Regi<strong>na</strong> (org). Fenômeno esportivo e o terceiro milênio. Piracicaba: Editora<br />
UNIMEP, 2000.<br />
GUATTARI, Felix. As três ecologias. Trad. Maria Cristi<strong>na</strong> F. Bittencourt. Campi<strong>na</strong>s, SP:<br />
Papirus, 1990.<br />
MACEDO, Cármen Cinira. Algumas observações sobre a cultura do povo. In: VALLE, Edenio<br />
(org). A cultura do povo. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979. (Coleção do Instituto de estudos<br />
especiais, PUCSP, n. 1)<br />
MARCELLINO, Nélson Carvalho. <strong>Lazer</strong> e educação. 9 a ed. Campi<strong>na</strong>s: Papirus, 2002.<br />
____________________________ Pedagogia da animação. 5 a ed. Campi<strong>na</strong>s:Papirus, 2003.<br />
MARCHI, Kátia Bortolotti; MARCHI JÚNIOR, Wanderley. Jogos mundiais da <strong>na</strong>tureza:<br />
Contando a história de um sonho que se tornou realidade. In: A<strong>na</strong>is do XI Encontro Nacio<strong>na</strong>l<br />
de Recreação e <strong>Lazer</strong>. <strong>Lazer</strong>, Meio Ambiente e Participação Huma<strong>na</strong>. Foz do Iguaçu, PR,<br />
1999.<br />
PARLEBÁS, P. Perspectivas para u<strong>na</strong> educación fisica moder<strong>na</strong>. Espanha: Unisport, 1987.<br />
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do Trabalho Científico: Aspectos técnicos da redação.<br />
21ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />
TUBINO, Manoel. O que é esporte. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />
UVINHA, Ricardo R. Juventude, lazer e <strong>esportes</strong> radicais. São Paulo: Manole, 2001.<br />
VEBLEN, T. A teoria da classe ociosa: Um estudo econômico das instituições. São Paulo:<br />
Pioneira, 1965.