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distribuição espacial e profundidade de tocas de maria-farinha ...

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DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E PROFUNDIDADE DE TOCAS DE<br />

MARIA-FARINHA OCYPODE QUADRATA (CRUSTACEA:<br />

DECAPODA ) NA PRAIA DE TUCURUÇÁ, CANANÉIA<br />

Cristiano Menezes,Gabriela Paise, Gisele Levy & Luiz Oliveira<br />

INTRODUÇÃO<br />

O caranguejo Ocypo<strong>de</strong> quadrata (Crustacea: Decapoda),<br />

conhecido popularmente como <strong>maria</strong>-<strong>farinha</strong>, possui<br />

uma ampla <strong>distribuição</strong> geográfica, ocorrendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

litoral sul do Brasil até a América do Norte (Melo 1996).<br />

Assim como muitas espécies <strong>de</strong> caranguejos, constroem<br />

<strong>tocas</strong> nas áreas do médio e supralitoral <strong>de</strong> praias<br />

arenosas (Turra et al. 2005). Os jovens ocorrem principalmente<br />

na região mediana do mediolitoral, mas também<br />

no supralitoral, enquanto os adultos ocupam, predominantemente,<br />

o supralitoral (Turra et al. 2005).<br />

Vários fatores po<strong>de</strong>m regular a <strong>distribuição</strong> <strong>de</strong> caranguejos<br />

do gênero Ocypo<strong>de</strong> ao longo das zonas da praia.<br />

Turra et al. (2005), por exemplo, propuseram que a <strong>distribuição</strong><br />

<strong>espacial</strong> <strong>de</strong> O. quadrata parece estar relacionada<br />

com a capacida<strong>de</strong> dos indivíduos maiores ocuparem<br />

um gradiente <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> maior que indivíduos menores.<br />

Os indivíduos pequenos, entretanto, estariam restritos<br />

a áreas mais úmidas <strong>de</strong>vido à sua menor resistência<br />

à <strong>de</strong>sidratação e menor habilida<strong>de</strong> para escavar buracos<br />

profundos. Contudo, essa hipótese ainda não foi<br />

a<strong>de</strong>quadamente testada.<br />

O objetivo do presente trabalho foi respon<strong>de</strong>r às seguintes<br />

questões: (1) Existe uma <strong>distribuição</strong> diferenciada<br />

entre indivíduos jovens e adultos <strong>de</strong> O. quadrata em<br />

relação à linha d’água A hipótese é que indivíduos jovens<br />

prefiram cavar <strong>tocas</strong> próximas à água e indivíduos<br />

adultos prefiram cavar na região do supralitoral. (2) A<br />

<strong>profundida<strong>de</strong></strong> da toca po<strong>de</strong> ser explicada pelo tamanho<br />

<strong>de</strong> O. quadrata e pela distância da sua toca em relação<br />

à linha d’água A hipótese é que as <strong>tocas</strong> ten<strong>de</strong>m a ser<br />

mais profundas quanto mais distantes estiverem da<br />

água. As previsões são que: (1) <strong>tocas</strong> com abertura menor<br />

localizam-se mais próximas à linha d’água, e que (2)<br />

quanto mais distante da linha d’água e quanto maiores<br />

os indivíduos, mais profundas serão as <strong>tocas</strong>.<br />

(próximo do mar, sendo invadido pela água do mar periodicamente<br />

ao longo do dia).<br />

Recentemente, Turra et al. (2005) confirmaram que em<br />

O. quadrata, o tamanho dos indivíduos po<strong>de</strong> ser inferido<br />

pelo diâmetro da sua toca. Isso permite a realização <strong>de</strong><br />

estudos sobre a <strong>distribuição</strong> dos indivíduos no ambiente<br />

sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captura e medição direta dos<br />

animais, consi<strong>de</strong>rando-se simplesmente a <strong>distribuição</strong><br />

e diâmetro das <strong>tocas</strong>.<br />

Foram amostradas todas as <strong>tocas</strong> (n=149) construídas<br />

no supra e mediolitoral <strong>de</strong> uma faixa <strong>de</strong> areia <strong>de</strong> aproximadamente<br />

10 m <strong>de</strong> largura. Em cada toca foram medidos:<br />

o diâmetro da abertura, utilizando um paquímetro, o<br />

comprimento da toca, com auxílio <strong>de</strong> uma vareta<br />

milimetrada e a distância até a linha <strong>de</strong> maré. Para calcular<br />

a <strong>profundida<strong>de</strong></strong> da toca, a inclinação da mesma foi<br />

medida com um transferidor <strong>de</strong> graus e o seno do ângulo<br />

obtido foi multiplicado pelo comprimento da toca (Fig. 1).<br />

Devido à variação da linha d’água durante a coleta <strong>de</strong><br />

dados, a distância entre esta linha e as <strong>tocas</strong> foi inferida<br />

a partir da distância da linha da maré. Tocas construídas<br />

abaixo da região <strong>de</strong> transição do médio para o<br />

supralitoral receberam valores negativos e aquelas<br />

construídas acima receberam valores positivos. Para<br />

efeito <strong>de</strong> cálculo, a toca com o valor mais negativo (mais<br />

próxima da água) foi tomada como ponto inicial e todas<br />

as outras medidas referenciadas a partir <strong>de</strong>la. Esta medida<br />

foi <strong>de</strong>nominada “distância relativa” e será mencionada<br />

<strong>de</strong>sta forma no restante do trabalho.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O estudo foi realizado na praia arenosa <strong>de</strong> Tucuruça, na<br />

Ilha do Cardoso, município <strong>de</strong> Cananéia, litoral sul <strong>de</strong><br />

São Paulo, Brasil (25°03’ S e 47°53’ W). A praia divi<strong>de</strong>se<br />

em supralitoral (localizado mais próximo ao remanescente<br />

<strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> restinga, sendo invadido pela<br />

água do mar somente em marés altas) e mediolitoral<br />

Figura 1. Desenho esquemático <strong>de</strong> uma toca <strong>de</strong> Ocypo<strong>de</strong><br />

quadrata (Crustacea: Decapoda) na praia arenosa <strong>de</strong><br />

Itacuruça, Ilha do Cardoso. A <strong>profundida<strong>de</strong></strong> da toca foi calculada<br />

multiplicando o comprimento pelo seno do ângulo a.<br />

1


Para analisar se havia relação entre o diâmetro da toca<br />

e a distância da linha d’água foi realizada uma regressão<br />

linear simples. Como as variáveis diâmetro da toca<br />

e distância da linha d’água mostraram-se relacionadas<br />

(Fig. 2), não foi possível realizar uma regressão linear<br />

múltipla para analisar o efeito <strong>de</strong>stas variáveis na <strong>profundida<strong>de</strong></strong><br />

das <strong>tocas</strong>. Assim, a relação entre o diâmetro<br />

e a <strong>profundida<strong>de</strong></strong> das <strong>tocas</strong> foi analisada através <strong>de</strong> uma<br />

regressão linear simples e os resíduos gerados nesta<br />

regressão foram relacionados à distância da linha da<br />

maré.<br />

RESULTADOS<br />

Indivíduos com <strong>tocas</strong> gran<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a se localizar mais<br />

distantes da linha d’água enquanto indivíduos com <strong>tocas</strong><br />

pequenas foram encontrados em toda a região<br />

amostrada. A relação entre diâmetro da toca e a distância<br />

da linha d’água foi melhor <strong>de</strong>scrita por uma curva<br />

logarítmica (R 2 =0,413; p


A segunda hipótese, <strong>de</strong> que tanto o tamanho dos indivíduos<br />

quanto a distância da linha d’água po<strong>de</strong>riam explicar<br />

a <strong>profundida<strong>de</strong></strong> das <strong>tocas</strong> foi confirmada. Porém, não<br />

foi possível analisar separadamente a influência <strong>de</strong> cada<br />

uma <strong>de</strong>ssas variáveis, pois elas estavam relacionadas.<br />

Pelos resultados encontrados, os indivíduos que constroem<br />

<strong>tocas</strong> próximas à água estão construindo <strong>tocas</strong><br />

mais rasas do que o esperado pelo seu tamanho. A constante<br />

<strong>de</strong>struição das <strong>tocas</strong> pela maré po<strong>de</strong> explicar esse<br />

fenômeno, pois isso forçaria os indivíduos a reconstruírem<br />

suas <strong>tocas</strong> constantemente, levando a uma diminuição<br />

da <strong>profundida<strong>de</strong></strong> da toca. Os indivíduos que construíram<br />

<strong>tocas</strong> mais profundas do que o esperado pela<br />

análise realizada, encontram-se nas maiores distâncias<br />

em relação à água e, portanto, mais abrigados do efeito<br />

das marés. Isso po<strong>de</strong>ria favorecer a construção <strong>de</strong> <strong>tocas</strong><br />

mais profundas, pois os indivíduos po<strong>de</strong>riam ocupar a<br />

toca por mais tempo. Conclui-se, portanto, que as variáveis<br />

estudadas estão atuando sinergicamente na <strong>distribuição</strong><br />

e <strong>profundida<strong>de</strong></strong> das <strong>tocas</strong> <strong>de</strong> O. quadrata.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Alberto, R.M.F. & Fontoura, N.F. 1999. Distribuição e<br />

estrutura etária <strong>de</strong> Ocypo<strong>de</strong> quadrata (Fabricius,<br />

1787) (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) em praia<br />

arenosa do litoral sul do Brasil. Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Biologia 59: 95-108.<br />

Fischer, J.B. & Tevesz, M.J.S. 1979. Within-habitat<br />

patterns of Ocypo<strong>de</strong> quadrata (Fabricius) (Decapoda,<br />

Brachyura). Crustaceana Supplements 5: 31-36.<br />

Leber, K. 1981. Spatial pattern of Ocypo<strong>de</strong> quadrata: a<br />

re-evaluation (Decapoda, Brachyura). Crustaceana 41:<br />

110-112.<br />

Melo, G.A.S. 1996. Manual <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro.<br />

Plêia<strong>de</strong>, São Paulo.<br />

Turra, A.; Gonçalves, M. A. O. & Denadai, M.R. 2005. Spatial<br />

distribution of the ghost crab Ocypo<strong>de</strong> quadrata in<br />

low-energy ti<strong>de</strong>-dominated sand beaches. Journal of<br />

Natural History 39: 2163-2177.<br />

Orientação: Gustavo Muniz Dias<br />

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