relação entre o tamanho das larvas de formiga- leão
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RELAÇÃO ENTRE O TAMANHO DAS LARVAS DE FORMIGA-<br />
LEÃO (NEUROPTERA: MYRMELEONTIDAE) E O DIÂMETRO DE<br />
SUAS ARMADILHAS EM FUNIL: VARIAÇÕES AMBIENTAIS E<br />
SUCESSO DE CAPTURA DE PRESAS<br />
Bruno T. Pinotti, Denise <strong>de</strong> A. Alves, Luiz E. C. <strong>de</strong> Oliveira, Marcia Pannuti<br />
INTRODUÇÃO<br />
Os animais utilizam diferentes estratégias <strong>de</strong><br />
forrageamento e, <strong>de</strong> acordo com a teoria <strong>de</strong><br />
forrageamento ótimo (Emlen 1966; MacArthur &<br />
Pianka 1966), são selecionados comportamentos que<br />
maximizam a taxa <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> energia (Kamil et<br />
al. 1987). Dentro <strong>de</strong> uma gradação <strong>de</strong> estratégias<br />
possíveis, dois extremos distintos po<strong>de</strong>m ser reconhecidos:<br />
(1) a estratégia <strong>de</strong> procura ativa, na qual<br />
o animal se locomove em busca <strong>de</strong> seu alimento e (2)<br />
a procura passiva (ou senta-e-espera), na qual o animal<br />
permanece imóvel e espera a passagem <strong>de</strong> sua<br />
presa para capturá-la (Pianka 1983). Um exemplo<br />
<strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong> procura passiva é a utilizada pelas<br />
<strong>larvas</strong> <strong>de</strong> <strong>formiga</strong>-<strong>leão</strong> (Neuroptera:<br />
Myrmeleontidae), que constroem armadilhas em forma<br />
<strong>de</strong> funil em solos arenosos (Dias et al. 2006). A<br />
estratégia <strong>de</strong> captura utilizada por esses animais<br />
consiste em esperar a chegada <strong>de</strong> uma presa que,<br />
após entrar na armadilha, não consegue escalar suas<br />
pare<strong>de</strong>s e é capturada pela larva com o auxílio <strong>de</strong><br />
suas mandíbulas. Após capturar uma presa, a larva<br />
suga seus líquidos corporais através <strong>de</strong> um estreito<br />
canal formado <strong>entre</strong> suas mandíbulas e maxilas<br />
(Daly et al. 1978; Borror 1988).<br />
Diversos fatores po<strong>de</strong>m influenciar o <strong>tamanho</strong> dos<br />
funis construídos pelas <strong>larvas</strong> <strong>de</strong> <strong>formiga</strong>-<strong>leão</strong>, como<br />
o <strong>tamanho</strong> da larva resi<strong>de</strong>nte, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
presas, granulometria do solo, nível <strong>de</strong> sacieda<strong>de</strong> da<br />
larva e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> co-específicos na população<br />
(Farji-Brener 1999; Scharf & Ovadia 2006). Além<br />
disso, o <strong>tamanho</strong> <strong>das</strong> armadilhas também é influenciado<br />
pelo nível <strong>de</strong> exposição às intempéries no local<br />
on<strong>de</strong> são construí<strong>das</strong>, já que armadilhas em locais<br />
expostos estão mais sujeitas a danificações por ação<br />
<strong>das</strong> intempéries do que armadilhas em locais abrigados<br />
(Scharf & Ovadia 2006). Com <strong>relação</strong> à eficiência<br />
<strong>de</strong> captura <strong>de</strong> presas dos funis, alguns trabalhos<br />
encontraram uma cor<strong>relação</strong> negativa <strong>entre</strong> o<br />
diâmetro <strong>das</strong> armadilhas <strong>de</strong> <strong>formiga</strong>-<strong>leão</strong> e a probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fuga <strong>de</strong> presas (Wilson 1974; Griffiths<br />
1980). Aparentemente, armadilhas maiores têm<br />
maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capturar presas maiores.<br />
D<strong>entre</strong> os vários fatores que po<strong>de</strong>riam influenciar o<br />
<strong>tamanho</strong> da armadilha, o presente trabalho visou<br />
investigar se há uma <strong>relação</strong> <strong>entre</strong> o <strong>tamanho</strong> <strong>das</strong><br />
<strong>larvas</strong> <strong>de</strong> Myrmeleon sp. e o <strong>tamanho</strong> dos respectivos<br />
funis. Nossa hipótese é que durante o crescimento<br />
da larva, conforme seu <strong>tamanho</strong> corporal aumenta,<br />
o <strong>tamanho</strong> da armadilha construída por ela<br />
aumenta proporcionalmente. Se isso for verda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>ve haver uma <strong>relação</strong> positiva <strong>entre</strong> o comprimento<br />
da larva e o diâmetro do seu funil. Além disso,<br />
este trabalho também investigou se a <strong>relação</strong> <strong>entre</strong><br />
o <strong>tamanho</strong> da larva e o <strong>tamanho</strong> do seu funil difere<br />
<strong>entre</strong> ambientes abrigados <strong>de</strong> intempéries e ambientes<br />
expostos. Nossa hipótese neste caso é que, em<br />
locais mais expostos, as armadilhas estariam mais<br />
sujeitas a danos causados pelas intempéries e esses<br />
danos levariam a uma maior variação no <strong>tamanho</strong><br />
do funil que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do <strong>tamanho</strong> da larva que o<br />
construiu. Assim, em ambientes expostos, o coeficiente<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação gerado pela regressão <strong>entre</strong> as<br />
medi<strong>das</strong> <strong>de</strong> comprimento da larva e as medi<strong>das</strong> <strong>de</strong><br />
diâmetro do seu funil seria menor em <strong>relação</strong> ao<br />
encontrado em ambientes abrigados. Finalmente, o<br />
trabalho investigou se o <strong>tamanho</strong> do funil influencia<br />
o sucesso <strong>de</strong> captura <strong>de</strong> presas. Nossa hipótese<br />
prevê que em um funil pequeno, uma presa teria<br />
maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escalar as pare<strong>de</strong>s e fugir do que<br />
em um funil maior, <strong>de</strong>vido à maior distância <strong>entre</strong> o<br />
fundo e a borda em funis gran<strong>de</strong>s do que em funis<br />
pequenos. A previsão é que uma presa terá menor<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga quanto maior for o diâmetro<br />
do funil no qual ela cai.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Área <strong>de</strong> estudo e organismo mo<strong>de</strong>lo<br />
O presente estudo foi realizado no Parque Estadual<br />
da Ilha do Cardoso (25°03’S, 48°05’W), no município<br />
<strong>de</strong> Cananéia, litoral sul do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
A ilha encontra-se <strong>de</strong>ntro do complexo estuarino<br />
lagunar <strong>de</strong> Iguape-Cananéia-Paranaguá e tem uma<br />
área aproximada <strong>de</strong> 22.500 ha (Barros et al. 1991).<br />
D<strong>entre</strong> os cinco tipos <strong>de</strong> solos encontrados nessa área,<br />
estão os solos aluviais que incluem o solo arenoso<br />
que predomina nas regiões costeiras (Pfeifer 1981).<br />
Nos locais <strong>de</strong> solo arenoso com granulação mais fina<br />
1
é comum encontrar armadilhas construí<strong>das</strong> por <strong>larvas</strong><br />
da <strong>formiga</strong>-<strong>leão</strong> Myrmeleon sp. (Neuroptera:<br />
Myrmeleontidae). Essas <strong>larvas</strong> possuem três estádios<br />
(Arnet & Gotelli 2003) e, durante toda a fase<br />
larval, são predadoras <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s, capturando<br />
suas presas em armadilhas construí<strong>das</strong> em formato<br />
<strong>de</strong> funil (Santos et al. 2006).<br />
Coleta <strong>de</strong> dados<br />
Para relacionar o <strong>tamanho</strong> corporal da larva com o<br />
diâmetro do funil, bem como comparar essa <strong>relação</strong><br />
<strong>entre</strong> ambientes, foram escolhidos dois locais próximos<br />
na “Trilha Didática”, localizada na restinga alta<br />
do Núcleo Perequê. O primeiro local possuía um toldo<br />
que protegia os funis <strong>de</strong> intempéries, tais como<br />
chuva e queda <strong>de</strong> folhas (ambiente abrigado). No<br />
segundo não havia estrutura alguma que pu<strong>de</strong>sse<br />
proteger as armadilhas (ambiente exposto). Em cada<br />
um dos ambientes foram medidos os diâmetros <strong>de</strong><br />
25 armadilhas <strong>de</strong> <strong>tamanho</strong>s variados, com o auxílio<br />
<strong>de</strong> um paquímetro. Como critério para estabelecer o<br />
diâmetro <strong>das</strong> armadilhas foram usados os limites<br />
mais internos <strong>das</strong> bor<strong>das</strong> dos funis. Posteriormente,<br />
a armadilha era escavada com uma pá e a areia<br />
peneirada para que a larva resi<strong>de</strong>nte fosse encontrada.<br />
Cada larva foi colocada em um tubo <strong>de</strong> acrílico,<br />
para posterior mensuração em laboratório (com<br />
auxílio <strong>de</strong> um paquímetro) e <strong>de</strong>volvida ao ambiente<br />
<strong>de</strong> origem após a tomada <strong>de</strong> dados. Como critério<br />
para o comprimento da larva adotou-se a distância<br />
<strong>entre</strong> o final do abdômen e o ponto <strong>de</strong> inserção <strong>das</strong><br />
mandíbulas.<br />
Para testar a <strong>relação</strong> <strong>entre</strong> o diâmetro do funil e a<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga <strong>das</strong> presas foram seleciona<strong>das</strong><br />
32 armadilhas <strong>de</strong> <strong>tamanho</strong>s variados, localiza<strong>das</strong> na<br />
“Trilha Didática” e nas margens da estrada Trans-<br />
Cardoso. Em cada armadilha foi oferecida uma operária<br />
da <strong>formiga</strong> saúva Atta sp. (Fomicidae:<br />
Myrmecinae) com <strong>tamanho</strong> <strong>entre</strong> 6 e 7 mm. O diâmetro<br />
<strong>de</strong> cada armadilha foi mensurado com o auxílio<br />
<strong>de</strong> paquímetro antes da <strong>formiga</strong> ser introduzida<br />
no funil. Foram consi<strong>de</strong>rados como fuga (categoria<br />
0) os casos em que as <strong>formiga</strong>s saíam <strong>das</strong> armadilhas<br />
em tempo inferior a 1 min, e como captura (categoria<br />
1), os casos em que as <strong>formiga</strong>s foram captura<strong>das</strong><br />
ou permaneceram por mais <strong>de</strong> 1 min no interior<br />
do funil.<br />
Análise estatística<br />
Para relacionar o comprimento corporal da larva com<br />
o diâmetro do funil foi utilizada uma regressão linear<br />
simples, por se tratar da investigação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong><br />
<strong>entre</strong> duas variáveis contínuas. Essa análise<br />
foi realizada com o conjunto total <strong>de</strong> dados (n=50<br />
armadilhas) e separadamente para os dois tipos <strong>de</strong><br />
ambientes para comparar o coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação<br />
e o coeficiente angular <strong>entre</strong> o local abrigado<br />
(n=25 armadilhas) e o local exposto (n=25 armadilhas).<br />
Para testar a <strong>relação</strong> <strong>entre</strong> o diâmetro do funil<br />
e a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga <strong>das</strong> presas foi utilizada<br />
uma regressão logística, por se tratar da investigação<br />
<strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> <strong>entre</strong> uma variável contínua e<br />
uma categórica.<br />
RESULTADOS<br />
A variação do diâmetro do funil <strong>de</strong> acordo<br />
com o <strong>tamanho</strong> da larva<br />
As armadilhas <strong>das</strong> <strong>larvas</strong> <strong>de</strong> Myrmeleon sp. apresentaram<br />
uma gran<strong>de</strong> variação <strong>de</strong> diâmetro (12,1 –<br />
58,0 mm), assim como as próprias <strong>larvas</strong>, que apresentaram<br />
comprimentos <strong>entre</strong> 3,8 e 11,1 mm. O diâmetro<br />
dos funis (média ± DP= 30,3 ± 10,7 mm) foi<br />
positivamente relacionado com o comprimento corporal<br />
<strong>das</strong> <strong>larvas</strong> (média ± DP= 7,0 ± 1,9 mm; R 2 =0,42,<br />
p
dilha ( χ² =11,66, p
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